Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE MEDICINA TROPICAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOENÇAS TROPICAIS
PATRICIA REYES DE CAMPOS FERREIRA
AVALIAÇÃO DA FORÇA DE PREENSÃO MANUAL COMO INDICADOR DE
DANO NEUROMUSCULAR CAUSADO PELO MERCÚRIO EM RIBEIRINHOS DA REGIÃO DO TAPAJÓS-PARÁ
SANTARÉM 2014
2
PATRICIA REYES DE CAMPOS FERREIRA
AVALIAÇÃO DA FORÇA DE PREENSÃO MANUAL COMO INDICADOR DE
DANO NEUROMUSCULAR CAUSADO PELO MERCÚRIO EM RIBEIRINHOS DA REGIÃO DO TAPAJÓS-PARÁ
Tese de doutorado apresentada a Banca examinadora do Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais, do Núcleo de Medicina Tropical, da Universidade Federal do Pará para obtenção do título de Doutor em Doenças Tropicais. Orientador: Prof. Dra. Maria da Conceição N. Pinheiro.
SANTARÉM
2014
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE MEDICINA TROPICAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DOENÇAS TROPICAIS
PATRICIA REYES DE CAMPOS FERREIRA
AVALIAÇÃO DA FORÇA DE PREENSÃO MANUAL COMO INDICADOR DE DANO NEUROMUSCULAR CAUSADO PELO MERCÚRIO EM RIBEIRINHOS DA
REGIÃO DO TAPAJÓS-PARÁ
Tese de Doutorado apresentada para obtenção do título de Doutor em Doenças Tropicais.
Aprovada em: Conceito:
Banca Examinadora
_______________________________________ Profa. Dra. Maria da Conceição N. Pinheiro
Orientadora – NMT/UFPA
_______________________________________ Prof. Dr. Givago Souza
Membro Titular
______________________________________ Profa. Dra. Teresa Cristina Corvelo
Membro Titular
______________________________________ Profa. Dra. Marília Brasil Xavier
Membro Titular
______________________________________ Profa. Dra. Helen Thais Fuzzi
Membro Titular
4
DEDICATÓRIA
A minha mãe e meu pai (in memorian), em comemoração e agradecimento pelo
constante incentivo aos estudos; a minha família, Eros, Gabriela e Diego, pela
compreensão e companheirismo nesse momento tão especial
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela assistência constante e acolhimento nos momentos de insegurança.
A minha orientadora, Professora Maria da Conceição N. Pinheiro, pelo direcionamento
nesse trabalho, pela persistência e paciência na orientação, e pelo exemplo de
comprometimento como pesquisadora e de pesquisas realizadas em comunidades.
Ao Prof. Givago Souza, pelas valiosas diretrizes dadas na elaboração das análises
desse estudo.
Aos professores Livia Valentin, Rodrigo L. F. da Silva, Luiz Fernando G. Silva,
Alexandre R. B. Oliveira, André S. Cabral, Silvania Y. L. Takanashi e Marinete
Pantoja, pelos auxílios diversos, em diferentes momentos para concretização desse
trabalho.
Aos acadêmicos Elizandra Carvalho, Pablo Esquerdo e Laena Cunha, pela ajuda
inegável e parceria na coleta dos dados.
Aos ribeirinhos de Barreiras e Alter do Chão que contribuíram, aceitando participar
dessa pesquisa.
Ao Núcleo de Medicina Tropical, Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais
e a Universidade do Estado do Pará, pela oportunidade de engrandecimento.
Ao Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação e Saúde de Populações Amazônidas
da Universidade do Estado do Pará, Campus de Santarém, pelo auxílio no empréstimo
do aparelho de eletromiografia.
6
RESUMO
Mercúrio é um elemento químico que forma compostos orgânicos e
inorgânicos, altamente tóxicos para os seres vivos. Das espécies químicas com maior ação neurotóxica incluem-se o metilmercúrio que contamina alimentos habitualmente consumidos pelo homem sendo o peixe e frutos do mar os mais envolvidos nessa contaminação. Algumas alterações relacionadas ao sistema motor na intoxicação por mercúrio são apontadas como ataxia no padrão de marcha, tremor, disartria associados ou não a distúrbios somatossensoriais. Estudos realizados na região do Tapajós, Pará, Brasil, desde a década de 90 veem sendo realizados e comprovam a existência dos níveis de mercúrio acima do esperado pela OMS nas comunidades ribeirinhas, em especial, comunidade de Barreiras, do município de Itaituba, público alvo dessa pesquisa, o qual tem o hábito alimentar bastante frequente em pescado. Apesar dos estudos frequentes na região, poucos foram os trabalhos que relacionaram a contaminação pelo mercúrio e a força muscular. Assim esse trabalho tem como objetivo avaliar os índices de força muscular (estática e a eletromiografia) como indicador de dano neuromuscular em indivíduos submetidos à exposição prolongada ao metilmercúrio. A metodologia utilizada foi caso controle, com levantamento do nível de mercúrio, índice de massa corporal, % de gordura, e teste de força de preensão manual, realizado com dinamômetro, além da análise eletromiografica do sinal de força produzido pelo teste, analisando-se o valor médio da raiz quadrada e a frequência mediana. A amostra constitui-se de 20 (10 homens e 10 mulheres) ribeirinhos de Barreiras, grupo exposto ao mercúrio, e 20 (12 homens e 08 mulheres) do grupo residentes na comunidade de Alter do Chão, Santarém, grupo não exposto ao mercúrio. Os achados revelam que em relação ao IMC, % de gordura, consumo de peixe e nível de atividade física, as comunidade se assemelham. Assim como nas medidas relacionadas a força muscular pela dinamometria e pela eletromiografia, não demonstrando uma diferença significativa p<0,05 para os dados encontrados. Em relação a força muscular de contração voluntaria máxima, a amostra total de Barreiras (33,52±10,7), em Itaituba, foi maior que a de Alter do Chão, em Santarém (30,03±9,47), contudo, na análise eletromiográfica, analisou-se o RMS e a frequência mediada, e, a encontrada na comunidade de Barreiras (5,23±1,80 e 75,32±9,56) se mostrou menor do que a encontrada na comunidade de Alter do Chão (6,71±3,07 e 78,25±14,57), embora sem diferença significativa p<0,05, esses achados podem sugerir, levemente alguma relação na apresentação de fadiga muscular, ou ainda por conta de disfunções neuromotoras decorrentes da contaminação pelo mercúrio. No entanto, como esse foi um primeiro estudo realizado para avaliar a força e possíveis danos associados ao mercúrio, há necessidade de novos estudos e extensão deste, bem como com uma amostra maior, para posterior comprovação e possibilidade de novas técnicas como marcador prático e aplicável na identificação de dano inicial na exposição prolongada ao mercúrio.
Palavras-chave: mercúrio, ribeirinhos, força preensao manual, eletromiografia
7
ABSTRACT
Mercury is a chemical element that form organic and inorganic compounds, highly toxic to living things. Of chemical species with the highest neurotoxic include methyl mercury that contaminates food commonly consumed by man and the fish and seafood the most involved in the contamination. Some changes related to the motor system in mercury poisoning are identified as ataxia in gait pattern, tremor, dysarthria associated or not the somatosensory disorders. Studies conducted in the Tapajós region, Pará, Brazil, from the 90's see being done and prove the existence of mercury levels higher than expected by WHO in riverside communities, in particular Barriers community, the city of Itaituba, target this research, which is quite common in fish feeding habits. Despite the frequent studies in the region, few studies related to mercury contamination and muscle strength. Thus, this work aims to evaluate the muscle strength index (static and electromyography) and neuromuscular damage indicator in patients undergoing prolonged exposure to methylmercury. The methodology used was the case control, a survey of mercury levels, body mass index,% fat, and grip strength test, carried out with a dynamometer, beyond the electromyographic analysis of the strength of signal produced by the test. The sample consisted of 25 coastal barriers and 35 in the control group, living in Alter do Chao community, Santarém, Pará. According to the findings in relation to BMI,% fat, fish consumption and level of physical activity, community resemble. As with measures related to muscle strength by dynamometry and by electromyography, not demonstrating a significant difference p <0.05 for the data found. Regarding the muscular strength of maximum voluntary contraction, the total sample of barriers (33.52 ± 10.7) in Itaituba, was higher than that of Alter do Chão, in Santarém (30.03 ± 9.47), however in electromyographic analysis, we analyzed the RMS and the mediated frequency, and the barriers found in the community (5.23 ± 1.80 and 75.32 ± 9.56) was lower than that found in the community Alter do Chão (6.71 ± 3.07 and 78.25 ± 14.57), but no significant difference p <0.05, these findings may suggest, slightly something to the presentation of muscle fatigue, or on account of neuromotor dysfunctions resulting from mercury contamination. However, as this was the first study to assess the strength and possible damage associated with mercury, there is need for further research and extension of this, and with a larger sample for further evidence and the possibility of new techniques and practical marker and applicable identifying initial damage on prolonged exposure to mercury. Key-words: mercury, riverain, hand grip, eletromyography
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Organização do musculo esquelético 31
Figura 2. Organização da fibra muscular 32
Figura 3. Potencial de ação elétrico e as estruturas envolvidas 33
Figura 4. Posição recomendada para utilização do dinamômetro 37
Figura 5. Representação esquemática de um EMGs de uma UM 40
Figura 6. Representação do somatório dos potenciais de ação de uma única UM 41 Figura 7. Superposição dos potenciais de ação de todas as UM
ativas q estão sob a área de detecção dos eletrodos 42 Figura 8. Localização da comunidade de Barreiras, pertencente ao município de Itaituba 46 Figura 9: Localização da comunidade de Alter do Chão, pertencente ao
município de Santarém 46
Figura 10: Aparelho de eletromiografia utilizado 52
Figura 11. Dinamômetro acoplado a célula de carga 52
Figura 12. Posicionamento adequando para o teste, segundo a ASHT + apoio para os braços 53
Figura 13. Fixação dos eletrodos 55
Figura 14. Posicionamento adequado da altura do membro e distância da empunhadura 56 Figura 15. Exemplificação do gráfico de força e o momento
selecionado para analise com o pico de força máxima 56 Figura 16. Exemplificação do momento selecionado para a análise com pico de força máxima, seguido do mesmo trecho de sinal de força da eletromiografia, para análise. 57
9
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com o percentual de gordura, massa magra e índice de massa corporal entre os grupos 62 Gráfico 2: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com força muscular, RMS e frequência mediana entre os grupos 63 Grafico3: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com força muscular, RMS e frequência mediana entre os grupos. 64 Gráfico 4: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com força muscular, RMS e frequência mediana entre os grupos 65
Gráfico 5: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com força
muscular, RMS e frequência mediana entre os grupos 66
10
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1. Valores de referência para a classificação do índice de massa corporal 50 Quadro 2: Valores de referência para a classificação do percentual de gordura 50 Tabela 1. Característica dos participantes submetidos ao estudo, em relação a idade, índice de massa corporal, nível de mercúrio, percentual de gordura, força muscular, RMS e frequência mediana 59 Tabela 2: Demonstrativo do consumo de peixe semanal dos grupo avaliados 60
Tabela 3: Classificação dos participantes quanto ao índice de massa corporal 60
Tabela 4: Classificação dos participantes quanto ao nível de atividade física 61
Tabela 5: Classificação dos participantes quanto ao percentual de gordura 61
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
OMS – Organização Mundial da Saúde
IMC – Índice de Massa Corporal
EMG – Eletromiografia
EMGs – Sinal eletromiográfico
UMs – Unidades Motoras
CVM – Contração Voluntária Máxima
GB – Grupo de Barreiras – comunidade exposta ao mercúrio
GZ – Grupo da Z20 - comunidade não exposta ao mercúrio
IPAQ – Questionário Internacional de Atividade Física
ASHT – Sociedade Americana de Terapeuta de Mãos
A/D – conversor analógico digital
RMS – Root Mean Square
PNAFS – Pesquisa de Nutrição, Atividade Fisica e Saúde
FPM – Força de Preensão Manual
SNC – Sistema Nervoso Central
NMT – Núcleo de Medicina Tropical
Freq. Med – Frequência Mediana
12
LISTA DE SÍMBOLOS
Hg – Mercúrio
Hg + 2 – íon mercúrio
Ug/g – micrograma por grama
Hg o – mercúrio metálico ou elementar
MeHg – metilmercúrio
Me2Hg – dimetilmercúrio
THg – mercúrio total
Mg/g – miligrama por grama
LOQ –Limite de Quantificação
POPS – Poluente que permanece no ambiente por muito tempo e altamente toxico
Hz –Hertz
± DP – Desvio Padrão
_ X – Média F – feminino
M – masculino
Fmed – Frequência Mediana
Md - Mediana
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 15
2 JUSTIFICATIVA 18
3 OBJETIVO 20
4 REFERENCIAL TEÓRICO 21
4.1 MERCÚRIO E SEUS COMPOSTOS 21
4.1.2 Histórico 21
4.1.3 Ciclo do mercúrio no ambiente 22
4.1.4 Utilização e formas de exposição ao mercúrio 24
4.1.5 Exposição humana ao mercúrio na amazônia 25
4.1.6 Mercúrio e distúrbios neuromusculares 28
4.2 SISTEMA NEUROMUSCULAR E FORÇA 31
4.2.1 Considerações anatomicas e fisiológicas 31
4.2.2 Tecido muscular esquelético 32
4.2.3 Unidade motora 33
4.2.4 A força de contração 35
4.2.5 Força de preensão manual 36
4.2.6 Métodos de avaliação de preensão manual 37
4.3 FORÇA MUSCULAR E ELETROMIOGRAFIA 38
4.3.1 Definição de eletromiografia 40
5 METODOLOGIA 45
5.1 DESENHO DO ESTUDO 45
14
5.2 ETAPAS E PROCEDIMENTOS DO ESTUDO 47
5.2.1 Mensuração da força muscular 53
5.2.2 Registro da Atividade Eletromiográfica 55
5.2.3 Seleção dos trechos de EMGs para análise 56
6 RESULTADOS 58
7 DISCUSSÃO 67
8 CONCLUSÃO 75
REFERÊNCIAS 76
15
1. INTRODUÇÃO
Mercúrio é um elemento químico que forma compostos orgânicos e
inorgânicos, os quais são altamente tóxicos para os organismos vivos.
É um dos metais de uso mais antigo na história da humanidade. Foi muito
utilizado em pinturas pelos chineses, egípcios e sírios (BATTIGELLI apud: PICAZO
SANCHES ; FERNANDEZ VOZMEDIANO, 1994). Fora utilizado inclusive para fins
medicinais até o século XV, mas no século XIX fora negado seu benefício terapêutico
e se estabeleceu então seu potencial tóxico. (O´SHEA, 1990)
As formas de exposição a esse metal podem ser resumidas de três formas:
pela pele, através do mercúrio líquido; pelos pulmões, através do vapor do mercúrio;
e pela fauna e flora, por meio do mercúrio orgânico depositado no ar, na água e no
solo. Dentre as espécies químicas com maior ação neurotóxica incluem os compostos
orgânicos, principalmente, o metilmercúrio que contamina alimentos habitualmente
consumidos pelo homem sendo o peixe e frutos do mar os mais envolvidos nessa
contaminação.
O metilmercúrio é tóxico para o feto e para o desenvolvimento infantil. Por ser
solúvel em meio lipofílico tem tropismo para o sistema nervoso central e periférico com
habilidade para atravessar membranas celulares, principalmente, a de neurônios
causando danos, por vezes, irreversíveis (CLARKSON, 2003).
Em adultos, os efeitos tóxicos estão relacionados a distúrbios
neurocomportamentais, neurosensoriais visuais, somatossensoriais. tais como,
paresias, parestesias com distribuição tipo luva e meia, há também tremores, ataxia e
constricção do campo visual. As alterações no desenvolvimento incluem deficiência
na fala e desvio no padrão motor, além de mudanças no tônus muscular e dos reflexos
em crianças; (HARADA et al, 1995; DUMONT et al., 1998).
Algumas alterações relacionadas ao sistema motor na intoxicação por mercúrio
são apontadas como ataxia no padrão de marcha, tremor, disartria associados ou não
a distúrbios somatossensoriais, tais como perda de sensibilidade distal dos membros
(OLSON,2002; KHOURY et al,2013).
16
Estudos neurocomportamentais com indivíduos altamente expostos ao Hg
elementar mostraram dificuldades na formação de conceitos verbais além de
alterações neuromusculares e redução na destreza motora (ELLINGSEN et al., 2001).
Nos acidentes ambientais envolvendo contaminação de pescado, a exemplo
dos ocorridos no Japão e Iraque, inúmeros estudos demonstraram os efeitos
neurocomportamentais e neurossensoriais decorrente dos elevados níveis de
exposição através do consumo desses alimentos, entretanto, poucos são os que
avaliaram os danos neuromusculares na exposição ambiental em baixas
concentrações de mercúrio.
Alterações motoras associadas a distúrbios neurossensoriais em crianças
foram muito bem descritas na Doença de Minamata, na qual, elevada frequência de
crianças apresentaram severo retardo mental e motor, ataxia, atetoses, surdez,
cegueira, diplegia ou quadriplegia espartica e outros sintomas similares a paralisia
cerebral (Kondo, 2000). Casos similares foram registrados no acidente do Iraque
(Bakir et al, 1980; WHO,1990).
Um estudo envolvendo crianças submetida a exposição pré-natal ao
metilmercúrio nas Ilhas Faroé (EUA), Grandjean e colaboradores (1988) encontraram
pior desempenho em meninos, no teste de força muscular associado à exposição ao
mercúrio.
Em adultos há poucos relatos sobre os efeitos do metilmercúrio em indivíduos
expostos em longo prazo ao mercúrio através da alimentação de pescado.
Estudo transversal envolvendo população ribeirinha do Tapajós, na Amazônia
brasileira Lebel et al (1988) observaram alterações na função motora, destreza
manual, na coordenação alternada das mãos e em menor extensão a fadiga
muscular, as quais foram associadas com os níveis de mercúrio em cabelo. Nesse
estudo, a diminuição da força de preensão manual se associou com o aumento dos
níveis de mercúrio em amostras de cabelo, em mulheres. Dolbec et al (2000), não
encontrou diferença nessa associação, e , sugeriu considerar em novos estudos o
índice de massa corporal na associação entre mercúrio e força muscular para explicar
melhor os resultados contraditórios de diversos estudos realizados, nesta região.
17
Mais recentemente, Khoury et al (2013) avaliando uma comunidade ribeirinha
exposta em longo prazo ao mercúrio, na região do Tapajós e comparando com área
controle detectaram alterações na marcha e na coordenação motora na população
exposta. Não foi realizado exame específico para medir a força muscular.
A proposta desse estudo é testar a hipótese que a exposição prolongada ao
mercúrio altera a intensidade de força muscular em ribeirinhos do Tapajós;
18
2. JUSTIFICATIVA
Na região do Tapajós, comunidades ribeirinhas têm no pescado sua principal
fonte de alimentação. Famílias de pescadores, e mesmo não pescadores apostam
nesse alimento, tanto pelo valor cultural e nutritivo, e principalmente pelo fácil acesso
geográfico e condições econômicas. Entretanto, os níveis de contaminação por
mercúrio encontrado em diferentes espécies consumidas por essa população
preocupam as autoridades de saúde, tendo em vista os danos à saúde resultante do
consumo frequente de peixes da região, principalmente, das espécies carnívoras.
Alterações do sistema nervoso com comprometimento da função sensorial e
motora foram as principais manifestações registradas em acidentes ambientes
envolvendo ingestão de alimentos contaminados por metilmercúrio.
No estudo de Khoury et al (2013), os níveis de mercúrio nas amostras de cabelo
apresentadas por comunidades ribeirinhas amazônicas expostas ao metilmercúrio
apresentaram valores abaixo dos níveis que a OMS considera de risco para alterações
funcionais do sistema nervoso (50µg/g). Apesar disso, vários trabalhos têm mostrado
que sujeitos dessas comunidades apresentam algum tipo de perda sensório-motora
ou neuropsicológica.
Os métodos para identificação das alterações neurológicas nesses estudos, em
sua maioria, são procedimentos experimentais menos convencionais da prática
neurológica de rotina, como visão de cores, visão de contraste e baterias
neuropsicológicas.
Até o momento, na Amazônia, os estudos clínico-diagnósticos realizados na
população exposta ao mercúrio, deram pouco enfoque para a questão motora e força
muscular.
A força muscular, em graus variados, é necessária para a realização das
tarefas físicas diárias executadas pelos indivíduos. A forma mais utilizada, em estudos
clínicos e epidemiológicos para verificar a força muscular dos membros superiores, é
através da força de preensão manual, por ser de fácil execução, além dessa medida
também ser considerada um marcador de estado de força geral do indivíduo.
19
A força de preensão manual tem sido associada com a limitação funcional,
incapacidade e estado nutricional (BOHANNON, 2001; HANTEN et al., 1999).
Contudo, pouco se sabe sobre a associação entre exposição a tóxicos ambientais a
exemplo do mercúrio e a força de preensão manual, em países em desenvolvimento.
Considerando que a força desenvolvida por um músculo em contração depende
da excitação neural que lhe é aplicada, a eletromiografia ao medir o nível de excitação,
pode registrar o grau da força muscular e o resultado pode ser utilizado como indicador
de força (LINDSTROM, L KADERFORS, R e PETERSEN, I 1977).
A tentativa de validação da Eletromiografia como forma de quantificar o trabalho
muscular tem dado origem à publicação de muitos trabalhos experimentais nos
últimos anos, centrados na relação entre a magnitude do sinal de EMG e a força
produzida pelo músculo (LOSS et al, 1998).
A avaliação do índice de força muscular estática em indivíduos submetidos a
exposição prolongada ao metilmercúrio ainda não foi realizado na Amazônia, e
espera-se revelar o teste como indicador de dano neuromuscular precoce,
considerando que, a capacidade motora dos indivíduos expostos, pode apresentar
alguma alteração, sem necessariamente estar associada com alguma sintomatologia
aparente, o que, se comprovado, auxiliará na busca de tratamento específico, e meios
para melhoria dessa capacidade motora.
20
3. OBJETIVOS
3.1 GERAL:
Avaliar os índices de força muscular (estática e a eletromiografia) como indicador de
dano neuromuscular em indivíduos submetidos à exposição prolongada ao
metilmercúrio.
3.2 ESPECÍFICOS:
- Determinar os níveis de Hgtotal em amostras de cabelo e correlacionar com o índice
de massa corporal (IMC);
- Medir o desempenho de força muscular estática nas mãos através da manometria
manual e da eletromiografia ;
- Comparar o desempenho motor em adultos expostos em longo prazo ao mercúrio
com os não expostos, considerando o limite de tolerância biológica,
- Verificar a associação do desempenho motor com o IMC e os níveis de exposição
ao mercúrio
21
4. REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 O MERCURIO E SEUS COMPOSTOS
O mercúrio (Hg) e um elemento químico identificado na tabela periódica como
metal de peso atômico 200,6, numero atômico 80, densidade 13,6, ponto de fusão
38,9 oC e ponto de ebulição 356,6 o. Em seu estado elementar apresenta-se como
um liquido branco-prateado, sendo também conhecido como mercúrio metálico ou
elementar (Hg°). Pode ocorrer também em duas formas oxidadas: íon mercuroso (Hg2
+2) e íon mercúrico (Hg+2) além de diferentes espécies orgânicas (alquilmercuriais,
alcoximercuriais e fenilmercuriais) sendo os de maior interesse toxicológico os
alquilmercuriais de cadeia curta, particularmente o monometilmercurio (MeHg)
CH3Hg+ e o dimetilmercurio (Me2Hg) (CH3)2Hg. Cada um desses compostos
apresenta diferentes propriedades fisico-quimicas e toxicológicas (BERLIN, 1986).
4.1.2- Histórico
Mercúrio é um dos metais de uso mais antigo na história da humanidade. Foi
muito utilizado em pinturas pelos chineses, egipsios e sírios BATTIGELLI apud:
PICAZO SANCHES ; FERNANDEZ VOZMEDIANO, 1994).
Acredita-se que foi Aristoteles, por volta do ano 350 a.C., que denominou pela
primeira vez ao mercúrio o termo Hidrargirum que significa prata viva ou prata rápida,
dando origem ao simbolo quimico Hg(BATTIGELLI apud:PICAZO SANCHES ;
FERNANDEZ VOZMEDIANO, 1994).
No mundo civilizado, o mercúrio adquiriu grande importância, para os romanos
que já conheciam as propriedades do metal na decoração de vilas e na confecção de
22
produtos de beleza. Com a queda do Império Romano, o consumo de Hg comecou a
diminuir, ficando restrito ao uso medicinal (CALABRESE, 1972).
A toxicidade do mercúrio e seus compostos também conhecida desde a
antiguidade. Durante o Império Romano, a escravidão nas minas de cinábrio era
usada como método de punição para indivíduos desobedientes, resultando
geralmente em morte lenta e dolorosa (PAVLOGEORGATOS, 2002). O mercúrio na
forma de nitrato foi utilizado na limpeza e no processamento de pele de animais para
a confecção de chapéus resultando em um quadro tóxico nos trabalhadores
representado por distúrbios psiquiátricos associado a curiosa marcha, tremores nas
mãos, depressão, taquicardia, perda da concentração e outras manifestações
cognitivas , quadro que ficou conhecido como chapeleiro maluco contado na obra ,
“Alice no Pais das Maravilhas”, de Lewis Caroll , (SHRADER; HOBBINS, 1983).
Por suas propriedades medicinais, o mercúrio também foi utilizado como
antisséptico, diurético, purgativo (calomelano) e cicatrizante nas queimaduras e
pústulas. Teve ainda importante uso no tratamento da sífilis durante a pandemia da
Europa, no século XV. Por volta do século XIX, foram escritos tratados extensos
negando o benefício terapêutico do mercúrio e estabelecendo seu potencial toxico
(O'SHEA, 1990).
Os compostos orgânicos de Hg foram usados pela primeira vez na pesquisa
química, em 1863, na terapêutica, em 1887, e na manufatura de sementes, em 1914.
Antes da Segunda Guerra Mundial, foram conduzidas investigações sobre as
propriedades químicas do Hg usando dimetilmercurio, tendo resultado em profundos
distúrbios neurológicos em quatro trabalhadores, um dos quais veio a falecer. Como
esses pacientes foram vitimas de um acidente industrial, a doença foi uma advertência
para a ciência medica da possibilidade da exposição ao Hg.
4.1.3- Ciclo do mercúrio no ambiente
A progressiva utilização do mercúrio para fins industriais e o emprego de
compostos mercuriais durante décadas na agricultura resultaram no aumento
significativo da contaminação ambiental, especialmente da água e dos alimentos.
23
Uma das razões que contribuem para o agravamento dessa contaminação é a
característica singular do Ciclo do Mercúrio no meio ambiente. A biotransformação por
bactérias do mercúrio inorgânico a metilmercúrio é o processo responsável pelos
elevados níveis do metal no ambiente (WASSERMAN,JC, HACON,SS,
WASSERMAN,MA, 2001).
O ciclo do mercúrio pode ser explicado resumidamente da seguinte forma: as
concentrações de mercúrio nas águas devem ser baixas, em razão da baixa
solubilidade do elemento (SANEMASA, 1975). Por outro lado a parte atmosférica do
ciclo do mercúrio deve ter importância significativa dada a baixa pressão de vapor do
elemento (AMOUROUX et al, 1999). Assim, o mercúrio é volatilizado para a atmosfera
como mercúrio metálico (Hg0), sofre oxidação, e deve retornar junto com a água de
chuva na forma iônica (Hg+2) (LACERDA e SALOMONS, 1998). Os solos representam
um reservatório de mercúrio onde a sua permanência é mais longa do que nos outros
compartimentos, justificando assim sua maior concentração. Nos sedimentos do fundo
dos rios as concentrações de mercúrio observadas são relativamente baixas. No
entanto, é interessante notar que quando comparamos o ciclo do mercúrio no
ambiente amazônico com o ciclo de outros elementos existem diferenças
consideráveis.
O mercúrio pode ser encontrado em sua forma elementar (Hgº), iônica (Hg+¹
ou Hg+²) ou ainda como organometálico (metil ou dimetilmercúrio, por exemplo). Estas
diferentes apresentações do mercúrio diferem em suas propriedades físico-químicas
e principalmente as toxicológicas (OLIVARES, 2003).
A concentração de mercúrio no meio ambiente, com sua disseminação no solo,
água e atmosfera tem sido motivo de preocupação no mundo. Como exemplo no
Japão ocorreu envenenamento com metil mercúrio na Baia de Minamata onde
dezenas de pessoas morreram e centenas adquiriram deficiências físicas
permanentes. Outros registros aconteceram no Iraque quando sementes para plantio,
tratadas com produtos mercuriais (sais), foram usadas como alimentos. Já no Brasil,
foram relatados casos de contaminação humana na enseada dos Tainheiros, devido
ao lançamento de mercúrio por uma indústria de cloro-álcalis (SOARES, 1990).
24
A forma orgânica do mercúrio é extremamente tóxica, tanto para a biota quanto
para os seres humanos, devido a sua solubilidade lipídica, estabilidade e propriedade
iônica que lhe permite atravessar a membrana plasmática (ATSDR, 1999). As
emissões naturais de mercúrio originam-se a partir de solos e vegetação, queimadas
naturais de florestas, superfície de águas naturais e fontes geológicas como atividades
vulcânicas e terremotos (OLIVARES, 2003).
As concentrações de mercúrio em diferentes fontes naturais apresentam uma
grande variação, no entanto é possível destacar os quatro principais processos que
emitem mercúrio para atmosfera: a) evaporação de depósitos geológicos minerais; b)
emissões de atividades vulcânicas; c) fotorredução do mercúrio bivalente em águas
naturais e d) formação biológica do dimetilmercúrio.
4.1.4- Utilização e formas de exposição ao mercúrio
As mais importantes formas de contaminação pelo mercúrio podem ser
consideradas: i) pelo contato dérmico acidental com líquido ou sais empregados na
manipulação de componentes eletrônicos; ii) pela inalação do vapor, por exemplo, em
exposição ocupacional; e iii) pela ingestão alimentar, para indivíduos que
destacadamente seguem uma dieta piscívora (VECCHIO, 2005). Sendo essa última a
mais encontrada na Amazônia, principalmente pelos ribeirinhos.
O metilmercúrio por ser lipossolúvel é muito bem absorvido pelas membranas
biológicas em geral, assim como pelos tratos digestivos de praticamente todas as
cadeias alimentares. Esses processos facilitam a permanência e o transporte de
mercúrio no meio aquático, assim como transferem a contaminação para
ecossistemas bastante afastados da fonte de contaminação (LACERDA E MALM,
2008). Assim, a organificação do mercúrio acelera a bioacumulação na cadeia
alimentar e maximiza seus efeitos sobre riscos em ecossistemas naturais e a saúde
humana (PORCELLA, 1994).
25
Para Pavasi (2006), a principal via de absorção do mercúrio metálico e
inorgânico é a inalação do vapor, com penetração de 75% da dose inalada através da
membrana alvéolo-capilar.
A via alimentar é a segunda via por meio da qual o mercúrio, já agora em sua
forma orgânica, ingressa no organismo humano, através do consumo de peixe. É uma
via de alcance mais amplo, e envolve as populações ribeirinhas, inclusive as
indígenas, cuja principal, e as vezes única, fonte de proteínas é o pescado, no qual o
consumo constitui hábito cultural antigo. A exposição por essa via é alarmante, pois
na medida em que se propaga contaminando o meio ambiente, não pode ser
controlada apenas por recomendações de saúde individual ou coletiva, e cuja solução
envolve os interesses econômicos de uma atividade produtiva de fiscalização difícil,
como é o processo garimpeiro (SANTOS, 2003).
O mercúrio pode ser absorvido de 7 a 8% por meio da ingestão de nutrientes
sólidos e 15% ou menos por meio líquido. Facilmente vaporizado, é altamente
absorvível (80%) em temperatura ambiente, por inalação, pois tem destacada
propriedade lipossolúvel que permite a passagem dos alvéolos para dentro da
corrente sanguínea e hemácias, assim como ocorre transposição da barreira
hematoencefálica, com conseqüente depósito no Sistema Nervoso Central
(MAGALHÃES & TUBINO, 1995).
Uma indicação de contaminação pelo mercúrio, que vem recebendo diversas
pesquisas, é a contaminação atraves do consumo alimentar de peixe (LIU, JL et al,
2014; CERVENY, D, 2014). Para avaliar esse nivel de contaminação em humanos, o
cabelo tem sido reconhecido como um bom biomarcador de exposição humana ao
Hg.
No estudo de Liu (2014), as concentrações de mercúrio em 14 espécies de
peixes e amostras de cabelo marinhos de 177 moradores de áreas costeiras em
Hainan, Mar do Sul da China foram investigadas para avaliar a situação de exposição
ao mercúrio associado ao consumo de peixes marinhos. As concentrações de Hg total
(THg) e metilmercúrio (MeHg) nos músculos de peixes foram 0,094 ± 0,008 e 0,066 ±
0.006μg / GWW, respectivamente, que foram muito abaixo do limite considerado
seguro para o consumo (0,5 ug / g). As concentrações médias de THG no cabelo de
26
adultos (1,02 ± 0.92μg / g) foram menores do que o consumo semanal (DSAP) nível
tolerável provisória de 2.2μg / g.
No entanto, 23,7% das crianças tinham um nível THg cabelo excedendo o nível
RfD de 1 ug / g, indicando um grande risco de exposição Hg para as crianças através
do consumo de peixe. A concentração de THg no cabelo foi significativamente
correlacionada com o consumo de peixe, mas não com a ingestão de peixe específica
de gênero. Com maior freqüência de consumo de peixe, os pescadores tinham
significativamente elevados níveis de Hg de cabelo em comparação com os
estudantes e outro público em geral, que tinham níveis THG cabelo semelhante, mas
diferentes padrões de consumo de peixe, indicando a existência de outras fontes de
exposição Hg para os moradores de Hainan Island.
4.1.5- Exposição humana ao mercúrio na Amazônia
A contaminação por mercúrio no Brasil mostra duas diferentes fontes
deslocadas temporalmente e geograficamente no país. A primeira originada na
indústria de cloro-soda responsável pela principal importação de mercúrio para o país
e pelas principais emissões para o meio ambiente até a década de 80, localizadas
particularmente na região sul-sudeste (LACERDA, 1996). A partir da década de 80, o
garimpo de ouro, localizado principalmente na Amazônia, tornou-se o principal
comprador de mercúrio no Brasil, e hoje se acredita que este seja o principal
responsável pela maior emissão deste poluente para o meio ambiente (LACERDA,
1996).
No garimpo, a obtenção de ouro inicia-se com uma pré-concentração do
mercúrio por processos gravimétricos. O material pré-concentrado é misturado com
mercúrio, ocorrendo amalgamação com as partículas de ouro. O amalgama é
aquecido com tochas de gás propano, com a liberação de mercúrio vapor diretamente
para a atmosfera; o excesso, na forma de mercúrio metálico, é lançado nos cursos
d’água indo se depositar nos sedimentos de fundo. Conforme Soares (1990), o
processo de produção do ouro com a utilização de mercúrio relata três formas
27
principais que podem afetar a saúde pública: 1) a contaminação com mercúrio vapor,
diretamente sobre os trabalhadores dos garimpos, e do ar dos arredores durante a
fase de amalgamação e queima; 2) a poluição das águas e sedimentos com
possibilidade de metilação do mercúrio e sua absorção pelos peixes, entrando na
cadeia alimentar da população local, e 3) a contaminação com mercúrio vapor nos
numerosos pontos de comercialização do ouro, onde, mais uma vez ele é queimado.
As altas concentrações de mercúrio encontradas no ecossistema amazônico
foram, via de regra, atribuídas à mineração de ouro (PFEIFFER & LACERDA, 1988;
MALM ET AL., 1990; NRIAGU, 1992), à presença de solos com concentrações
relativamente elevadas de mercúrio de origem natural (ROULET & LUCOTTE, 1995;
LECHLER et al., 2000), e ao transporte atmosférico e à deposição de mercúrio de
origem antrópica (HACON et al., 1995, 1997; LACERDA, 1995).
O desmatamento da Amazônia seguido pela conversão dos solos para
diferentes usos que vem ocorrendo desde o início da década de 1970, e agravado a
partir do século XXI, também é apontado como uma das causas da remobilização do
mercúrio seja de origem natural seja de antrópica. A erosão e lixiviação do mercúrio
presente nos solos e a sua reemissão para a atmosfera mantêm elevadas
concentrações no ecossistema amazônico, mesmo após a diminuição do garimpo de
ouro (ALMEIDA et al., 2005; CORDEIRO et al., 2002; LACERDA, 1995). Outro fator
que também favorece a mobilização do mercúrio e possivelmente a produção de
metilmercúrio na Amazônia é a formação de grandes lagos para geração de energia
hidroelétrica, via de regra resultando na inundação de extensas áreas florestadas
(MALM et al., 2004; KEHRIG et al., 1998; PALERMO et al., 2004a,b; GONÇALVES,
2004).
Alguns trabalhos têm relatado a remobilização de mercúrio de solos submetidos
a mudanças de uso, particularmente pela retirada da floresta por queimada e sua
conversão para pastos e/ou atividades agrícolas (LACERDA et al., 2004; ALMEIDA et
al., 2005). Portanto, a expansão do desmatamento para aumentar a área agropecuária
poderia ser responsável pela manutenção das elevadas concentrações de mercúrio
verificadas.
28
Outro fator que expõe os ribeirinhos a situação de risco com áreas
contaminadas pelo mercúrio é referente às elevadas concentrações do metilmercúrio,
nas espécies de peixes carnívoros, situadas no topo da cadeia alimentar aquática.
Estudos (PINHEIRO, MC et al, 2000) comprovam que o consumo de peixes
provenientes de regiões próximas a zonas de garimpagem tem sido admitido como
potencial via de exposição humana ao mercúrio na Amazônia. A maioria das
comunidades deste estudo apresentou concentração média de mercúrio total em
amostras de cabelo acima do limite de tolerância biológica, de 10µg/g-1, estabelecido
pelo International Programme of Chemical Safety (PINHEIRO, 2005; SÁ 2006)
Num estudo realizado recentemente (KHOURY,EDT et al, 2013) na região do
Tapajós, além da análise da contaminação do mercúrio, avaliou-se a possibilidade de
alterações neurológicas, a partir de testes neurológicos convencionais. Os dados não
mostraram diferença significativa entre as comunidades das áreas expostas e controle
para os resultados observados pelo exame neurológico convencional, exceto para
desvio da marcha (p < 0,05). Esse estudo sugere que a avaliação de alterações
neurológicas encontradas nas áreas expostas ao mercúrio necessitam de aplicação
de técnicas quantitativas para avaliação das funções somatossensoriais, bem como o
monitoramento clínico e toxicológico periódico, tendo em vista a possibilidade do
diagnóstico de casos leves de intoxicação por mercúrio em comunidades ribeirinhas
do Tapajós.
4.1.6- Mercúrio e distúrbios neurológicos
As alterações que ocorrem no corpo humano pela intoxicação do mercúrio
metálico são variadas e citadas de diferentes formas por diversos autores, como por
exemplo o hidrargirismo, são decorrentes de lesões que podem acometer o sistema
nervoso central, fígado, medula óssea, vias aéreas superiores, pulmão, gengiva, pele,
parede intestinal, glândulas salivares, coração, músculos, placenta e rim (ZAVARIZ,
1993; BUSCHINELLI, 2000).
29
De forma geral a exposição crônica a este metal pode causar perdas na função
dos rins e danos neurológicos (ATSDR, 1999). Na intoxicação crônica destacam-se
os danos cerebrais com perda da coordenação motora e do equilíbrio, alteração da
fala e na marcha, tremores de extremidades, diminuição do campo visual e cegueira,
síndromes neuropáticas, mudanças de personalidade, distúrbios da fala, delírios e
rigidez (ATSDR,1999). A exposição fetal se associa a quadros de teratogênia com
microcefalia, danos mentais e motores (OLIVARES, 2003).
De acordo com Zavariz e Glina (1992), a intoxicação crônica pelo mercúrio,
afeta basicamente o aparelho gastrointestinal, o sistema nervoso e o psíquico, na qual
as alterações e sintomatologias podem variar de leves, moderadas a graves.
No caso da persistência da exposição ao tóxico, o quadro pode evoluir para
uma psicosíndrome orgânica, que pode se manifestar por uma perda de iniciativa e
de espontaneidade e dificuldades de lidar com situações corriqueiras do dia-a-dia. A
contaminação pelo mercúrio, dentre as alterações ditas anteriormente, podem afetar
também o sistema motor, no qual medidas de velocidade motora, coordenação motora
fina, destreza manual, memória e eficiência cognitiva podem ser afetadas (DOLBEC
et al, 2000).
De acordo Sá et al (2006), existem populações na Amazônia que vivem com
níveis de mercúrio no limite superior da OMS como: São Luis do Tapajós, Brasília
Legal, Barreiras, Rainha, Sai Cinza. A manutenção de níveis tão elevados pode
contribuir para o desenvolvimento da forma branda da doença de Minamata, com
deficits neurosensoriais, os quais podem ser avaliados e monitorados frequentemente,
a fim de minimizar seus efeitos e consequências.
Um estudo realizado na comunidade ribeirinha do Tapajós, Pará, ocorreu desde
1995, intitulado de Projeto Caruso, o qual se utiliza de uma abordagem ecossistémica
da Saúde Humana, tendo como objetivo examinar o mercúrio (Hg) e sua exposição
em comunidades com consumo alimentar frequente de peixe na Amazônia brasileira
e desenvolver intervenções para maximizar a nutrição da dieta tradicional e minimizar
o risco tóxico (FILLION, M et al, 2011). Esse estudo realizado em 1995, 2000 e 2006,
verificou o consumo de peixe, os níveis de Hg, e funções visuais e motoras em 31
aldeões. Foram coletadas informações sobre características sócio-demográficas e a
30
dieta, através de questionário, e os níveis de mercúrio foram medidos por coletas
retiradas de cabelo Hg (H-Hg). A acuidade visual, visão de cores, destreza manual e
força de preensão também foram avaliadas. Os dados foram analisados por meio de
modelos lineares gerais de medidas repetidas. O consumo total de peixe, semelhante
em 1995 e 2000, diminuiu em 2006. Da espécie de peixe carnívoro, o consumo de
peixes diminuiu inicialmente e, em seguida, manteve-se estável, enquanto o consumo
de peixe dos não-carnívoros aumentou e depois diminuiu. O nível de H-Hg diminuiu
no decorrer desses anos, 17,6-7,8 ug / g. Funções visuais mostraram uma diminuição
significativa ao longo do tempo, com aqueles com H-Hg ≥ 20 mg / g, em 1995,
mostrando uma maior perda. Funções motoras sismostraram melhora inicial e, em
seguida, retornou ao nível da performance de 1995. O estudo sugere que a diminuição
da exposição ao Hg é atribuída às mudanças decorrentes da intervenção na aldeia,
bem como no aspecto socioeconómicos dos mesmos. Embora possa haver uma certa
reversibilidade dos défices motores, as capacidades visuais podem diminuir
progressivamente no que diz respeito à exposição antes da intervenção.
Um outro estudo, realizado numa comunidade indígena de Wayana Puleowime
(Apetina) no Suriname (PEPLOW, D; AUGUSTINE,S, 2014) também discute os
efeitos do mercúrio nessa comunidade, visto que eles consomem grandes
quantidades de peixe em comparação com as comunidades tradicionais. Pequena
escala e atividades de mineração artesanal de ouro ocorrem em vários locais no leste
e sudeste do Suriname colocando os Wayana em risco de exposição ao mercúrio
lançado no meio ambiente. Um estudo de avaliação de riscos anterior liderado pela
comunidade mostrou que os Wayana estavam em um risco elevado de vida dos
efeitos adversos da exposição ao mercúrio. Na sequência deste estudo anterior, os
moradores de Puleowime solicitaram assistência em um projeto de pesquisa liderado
pela comunidade de acompanhamento para determinar por si próprios se houve
impactos para a saúde associados com a exposição à contaminação por mercúrio.
Efeitos neurotóxicos consistentes com exposição ao metilmercúrio foram
documentados em uma população exposta através de uma bateria de testes
neurológicos. Esses mesmos efeitos não foram exatamente observados com outros
estudos realizados em comparação na região da Amazônia, onde os níveis médios de
mercúrio cabelo estavam na faixa subaguda.
31
Ainda sobre a contaminação do mercurio através do pescado, um estudo
realizado na República Checa (CERVENY, D et al 2014) teve como objetivo comparar
os níveis de contaminação de determinados pesqueiros importantes na República
Checa e avaliar o risco para a saúde do consumo de peixe a partir dessas localidades.
A avaliação foi realizada 2006-2010 em 27 pesqueiros. No âmbito deste projeto, 707
peixes de 14 espécies diferentes foram amostrados. O Sargo comum (Abramis brama)
foi escolhido como uma espécie de peixe de referência para a comparação dos
pesqueiros. O mercúrio foi encontrado como um dos principais poluentes em carne de
peixe em todos os locais de amostragem. Concentrações superiores ao nível máximo
(ML) de mercúrio no tecido muscular dos peixes (0,5 mg kg (-1)) foram registradas em
32 amostras. As concentrações de outros metais tóxicos monitorizados no músculo
dos peixes foram baixas, tipicamente abaixo do limite de quantificação (LOQ). A partir
dos POPs testados, DDT e NDL-PCB foram encontradas como principais poluentes.
ML para NDL-PCB (CIEM-6) no tecido muscular de peixes (0.125 mg kg (-1)) foi
excedido em 7 amostras.
4.2 SISTEMA NEUROMUSCULAR E FORÇA
4.2.1 Considerações anatômicas e fisiológicas do sistema neuromuscular
Estruturalmente, o sistema neuromuscular é composto pelas células
musculares, neurônios, tecido conjuntivo, tecido ósseo e vasos sanguíneos. Sua
principal função é realizar a conversão de energia química em tensão mecânica
(POWERS e HOWLEY, 2008). Neste capítulo, iremos apresentar a revisão do sistema
neuromuscular limitando-o aos componentes musculares e neurais deste sistema,
respectivamente.
32
4.2.2 Tecido Muscular Esquelético
Na figura 1 encontra-se a representação esquemática da anatomia fisiológica
do tecido muscular esquelético. Podemos observar, que a estrutura do tecido
muscular esquelético é baseada no agrupamento de fascículos de fibras de diferentes
tamanhos e diâmetros, organizadas de maneira seriada e paralelas umas as outras
envoltas por uma fáscia de tecido conjuntivo.
A fibra muscular (figura 2) é uma célula fina e alongada, constituída por
sarcolema, sarcoplasma e miofibrilas (COHEN, 2001). O sarcolema e o sarcoplasma
são respectivamente a membrana celular e a matriz intra-celular da fibra muscular.
Suspensas no sarcoplasma, encontram-se organelas, como o retículo
sarcoplasmático e as mitocôndrias, além de várias centenas de miofilamentos
denominados miofibrilas, responsáveis pela contração muscular. Estes miofilamentos,
são de dois tipos, actina e miosina, e se interdigitam parcialmente determinando um
padrão microscópico de estrias que percorre toda a extensão da fibra muscular. A
repetição deste padrão denomina-se sarcômero, a unidade contrátil muscular
propriamente dita (HAMILL, KNUTZEN, 1999). As fibras musculares são inervadas
por neurônios do sistema nervoso periférico, os motoneurônios inferiores .
Figura 1. Organização do músculo esquelético. Fonte: www.ebah.com.br
33
4.2.3 Unidade Motora
O sistema neuromuscular é estruturalmente organizado em estruturas
funcionais básicas denominadas de unidades motoras. Cada unidade motora é
constituída por um motoneurônio-alfa e todas as fibras inervadas por ele.
Os motoneurônios inferiores, alfa e gama, apresentam seus corpos celulares
no corno ventral da medula espinhal e seus axônios deixam a medula pela raiz ventral,
cursando pelo nervo espinhal correspondente e em seguida pelo nervo periférico até
atingir o músculo (Figura 3).
As unidades motoras são classificadas de acordo com a velocidade de
contração capaz de desempenhar. Os motoneurônios alfa, com axônio pouco
calibroso e diminuída velocidade de condução inervam fibras musculares de
contração lenta, enquanto que os de maior calibre e maior condução inervam as fibras
de contração rápida.
A principal função das unidades motoras é gerar tensão mecânica. Para isso,
é necessário que um potencial de ação elétrico, gerado pelo sistema nervoso central,
seja transmitido pelo motoneurônio até as fibras musculares.
Figura 2. Organização da fibra muscular. Fonte: plantaoescolar.wordpress.com
34
Figura 3 – Potencial de ação elétrico e as estruturas envolvidas. Fonte: www.ebah.com.br
De acordo com Burke (1981), a capacidade de produção de força das
unidades motoras varia amplamente e é dependente das suas características
fisiológicas, bioquímicas e anatômicas.
De acordo com Milner-Brown, Stein e Yemm (1973), Contessa et al., (2009) e
De Luca e Hostage (2010) a produção de força muscular depende do sistema nervoso
central e do processo de modulação que ele exerce sobre os diferentes tipos de
unidades motoras do músculo. A quantidade de força gerada durante uma contração
depende, basicamente, do número de unidades motoras ativas. Em situações de
baixo nível de força, o processo de modulação acontece de tal modo que somente as
unidades motoras de contração lenta são ativadas. À medida que a demanda por força
muscular aumenta, novas unidades motoras são recrutadas, com aumento gradual da
participação das unidades motoras de contração intermediária e rápida, até que em
situação de contração máxima todas as unidades motoras encontram-se ativadas. A
este processo foi dada a denominação de princípio do tamanho e baseia-se na
frequência necessária para ativar a unidade motora (HENNEMAN e OLSON, 1965;
OLSON, CARPENTER e HENNEMAN, 1968). Em situações de contração voluntária,
a produção de força é modulada pela combinação entre o recrutamento e a frequência
35
de ativação das unidades motoras (MILNER-BROWN, STEEIN e YEMM 1973; De
LUCA, 1985).
Cada unidade motora produz uma determinada quantidade de força que varia
conforme a frequência de estimulação do seu motoneurônio. De acordo com Hannertz
(1974), as unidades motoras possuem diferentes faixas de frequência de estimulação
mínima, que variam próximo de 10 Hz para unidades motoras de contração lenta,
entre 10 e 15 Hz para unidades motoras de contração intermediária, e próximo a 20
Hz para unidades motoras de contração rápida. Desta forma, segundo Sale (2003),
para que haja aumento da força muscular, é necessário ocorrer um aumento na
frequência de ativação das unidades motoras.
4.2.4 A força de contração
O sistema nervoso pode graduar a força de contração de duas maneiras
diferentes. A primeira é variando o número de unidades motoras que serão ativadas.
Esse mecanismo é chamado de recrutamento. A segunda maneira é variando a
frequência de disparo dos potenciais de ação pelo motoneurônio. Esse mecanismo é
chamado de modulação de frequência (KAMEN, CALDWELL, 1996; KANDEL, 2000).
O recrutamento se dá atendendo ao princípio do tamanho, isto é, quando um
grupo funcional de motoneurônios é ativado por via sináptica, as entradas fracas
iniciais estimulam as unidades motoras de mais baixo limiar de excitação, as de menor
tamanho de corpo celular. À medida que as entradas aumentam de intensidade, as
unidades motoras de corpos celulares maiores vão sendo ativadas em sequência, de
acordo com seu tamanho. Para essa ativação sequencial existem duas
consequências. A primeira, que o recrutamento ordenado simplifica a tarefa de
modulação da força muscular, ou seja, os centros superiores somente precisam
determinar o grau de estimulação sináptica que deve ser aplicada ao músculo, sendo
desnecessário gerenciar a seleção de combinações específicas de unidades motoras
para gerar a intensidade necessária de força. A segunda, que as unidades motoras
mais lentas são as mais intensamente utilizadas, uma vez que são recrutadas em
todas as contrações. As unidades motoras rápidas somente serão mobilizadas
quando a tarefa exigir um alto grau de força (KANDEL, 2000).
36
O aumento da frequência de disparo dos potenciais de ação resulta em um
novo abalo muscular antes mesmo de o abalo anterior ser concluído. Uma vez que se
inicia com o músculo em estado de contração parcial, o novo abalo resulta em um
grau de encurtamento maior do que de um abalo isolado. Aumentando-se
progressivamente a frequência de estimulação atinge-se por fim uma frequência tal
que se torna impossível distinguir contrações individuais sucessivas.
4.2.5 Força de Preensão Palmar
A mão é considerada um dos principais instrumentos do corpo humano, tendo
uma característica peculiar de possibilitar movimentos de preensão, a qual consiste
na ação de flexão dos dedos sobre a região palmar. Segundo Dias et al (2010),
frequentemente, a avaliação da força de preensão manual (FPM) é utilizada como
parâmetro na prática clínica, desempenhando um papel importante no controle de
processos de reabilitação (UCHIYAMA M,2007) na avaliação e tratamento de
desordens músculo- esqueléticas da mão (TREDGETT MW, DAVIS TRC, 2000) e na
avaliação de pessoas com patologias neurológicas (MELDRUM D., 2001)
Além disso, a FPM é entendida como indicador geral de força e potência
musculares, podendo ser relacionada a taxas de mortalidade (FRIED LP, GURALNIK,
JM, 2003). É útil, ainda, na área esportiva, na reabilitação ocupacional, em testes de
admissão em diversos tipos de trabalho e na ergonomia. Alguns fatores podem
dificultar o estabelecimento de valores normativos universalmente aceitos. Entre eles
podem ser citados: sexo, idade, dominância, posicionamento corporal e
características antropométricas (CLERKE, AM.2005); O ajuste do tamanho da
empunhadura utilizada no dinamômetro de preensão manual também é bastante
debatido na literatura (RUIZ-RUIZ, 1999; CASTILLO, 2006) de maneira que parece
haver a necessidade de ajustar o equipamento para diferentes tamanhos de mão. De
acordo com essa necessidade descrita, o dinamômetro construído para os testes
realizados seguiu as mesmas proporções de tamanho e distancias disponíveis para
os diferentes tipos de empunhadura, conforme o Dinamômetro Jamar, que é indicado
para os testes científicos de FPM (FIGUEIREDO, 200?). Dessa forma, o participante
37
da pesquisa deveria se adequar à melhor distância das empunhaduras, antes de
iniciarem os testes.
4.2.6 Métodos de avaliação da preensão manual
A FPM tem sido investigada, principalmente, por meio da medição da força
isométrica máxima que pode ser exercida sobre um dinamômetro, em inúmeros
padrões de empunhadura ou pegada. A preensão power grip, conhecida como palmar
e a mais referenciada na literatura, origina-se do termo grasp, que significa apertar um
objeto cilíndrico. Nesse tipo de pegada existe a inibição da ação do polegar.
Dinamômetros são equipamentos que permitem a mensuração da força
aplicada em um sistema baseado em células de carga. São divididos nos tipos isomé-
trico e isocinético, sendo que para medidas de FPM, tradicionalmente, têm sido
usados dinamômetros isométricos (ACHE DIAS et al, 2010). Diferentes métodos têm
sido utilizados para avaliar a FPM, sendo que as diferenças estão relacionadas à
intensidade da contração (máxima ou sub-máxima), ao tempo de duração da
contração e ao número de repetições realizadas (contínuas ou intermitentes). A
maioria dos trabalhos encontrados na literatura avalia o pico de força alcançado em
um intervalo de três a 10 segundos. (SIERS, 2006; GUNTHER, 2006)
Valores normativos da FPM medida por esse método têm sido sugeridos e são
apresentados, por exemplo, nos trabalhos de Luna-Heredia, Martín-Peña e Ruiz-
Galiana(2005), Bohannon et al.(2006) e Günther et al. (2008).
Outro fator que pode influenciar na FPM e suas associações a demais
trabalhos, é o posicionamento do indivíduo para realização do teste. A Sociedade
Americana de Terapeutas da Mão (ASHT) recomenda que os sujeitos devem
permanecer sentados em uma cadeira tipo escritório (sem braços) com a coluna ereta,
mantendo o ângulo de flexão do joelho em 90°, o ombro posicionado em adução e
rotação neutra, o cotovelo flexionado a 90º, com antebraço em meia pronação e punho
neutro, podendo movimentá-lo até 30° graus de extensão.
38
Figura 4. Posição recomendada para utilização do dinamômetro Fonte: www.actafisiatrica.org.br
4.3 FORÇA MUSCULAR E A ELETROMIOGRAFIA
A força muscular pode ser definida como a máxima tensão produzida por um
músculo ou grupamento muscular (KNUTTGEN e KRAEMER, 1987). Sua
manifestação depende, essencialmente, da integridade e do adequado funcionamento
dos sistemas neural e metabólico e de suas estruturas proteicas. Fatores como idade,
sexo, nível de atividade física e características antropométricas podem influenciar
diretamente na capacidade de geração de força muscular.
A avaliação eletromiográfica tem sido consagrada por mais de 40 anos por
proporcionar um exame objetivo e preciso, determinando as características elétricas
de um músculo particular ou grupo muscular. Tem sido muito utilizada por possibilitar
a observação da atividade muscular global durante atividades específicas, além de
possibilitar a quantificação do sinal, que é frequentemente desejável para a descrição
e comparação das alterações na magnitude e padrão da resposta muscular, podendo
ser empregada na análise da função muscular em determinadas tarefas (De Luca,
1997; Portney, 1993).
A EMG de superfície é um método não-invasivo para avaliar a atividade
muscular in situ, tendo sido usada e validada para exercícios dinâmicos e estáticos.
39
Pretende-se, com o uso da Eletromiografia (EMG), estimar qualitativamente a força
muscular, durante contrações isométrica.
Trata-se de um método de registro dos potenciais elétricos gerados nas fibras
musculares em ação, e sua técnica consiste na aquisição e tratamento do sinal elétrico
produzido na musculatura a partir da estimulação de unidades motoras (UMs).
Sendo o EMG “uma média“ dos potenciais individuais das inúmeras fibras
ativas no músculo, quanto maior for o número de fibras contribuindo para esse
somatório, melhor será a representação do trabalho muscular. Esse resultado indica
que, ao usar o método proposto, deve-se solicitar ao paciente fazer o máximo esforço
possível, ou seja, uma contração voluntária máxima (CVM).
O registro da atividade eletromiográfica permite a investigação de quais
músculos são utilizados em determinado movimento, o nível de ativação muscular
durante a execução do movimento, a intensidade e duração da solicitação muscular,
além de possibilitar inferências relativas à fadiga muscular.
O processo de modulação da força muscular depende da integridade e do
adequado funcionamento dos componentes do sistema neuromuscular. Qualquer,
disfunção, seja na via neural, no tecido muscular ou em ambos, pode gerar impactos
negativos nos mecanismos de contração.
Nesse sentido, Casale et al. (2009) ao investigarem as propriedades do
controle motor, por meio de eletromiografia de superfície, durante contração estática
voluntária e contração eletroestimulada, notaram que o controle motor de portadores
de fibromialgia encontra-se alterado em virtude das alterações nas propriedades
neurais e musculares provocadas pela doença.
A fim de investigar parte das estratégias envolvidas no controle motor Farina,
Fosci e Merlleti (2002) mostraram que tanto o nível de recrutamento quanto a
frequência de disparo das unidades motoras podem ser averiguadas através da
análise das propriedades do sinal eletromiográfico. Além disso, devido a sua
sensibilidade às alterações fisiológicas e morfológicas do músculo, a EMG tem sido
empregada como uma ferramenta válida para avaliação de disfunções na modulação
40
da força muscular desencadeadas por diferentes condições fisiológicas e patológicas
(GOMES et al., 2011).
4.3.1 Definição da eletromiografia
A eletromiografia de superfície (EMG) compreende o exame dos potenciais
elétricos dos músculos voluntários e se destaca entre os métodos não invasivos para
avaliação da atividade da musculatura esquelética.(ROBINSON; SNYDER-
MACKLER, 2001;MERLETTI; PARKER, 2004)
A EMG permite avaliar o grau e a duração da atividade muscular, a ocorrência
de fadiga, a alteração da composição das Unidades Motoras (UM) resultante de
programas de treinamento muscular, assim como as estratégias neurais de
recrutamento. (FARINA, MERLETTI, ENOKA, 2004); É uma técnica experimental que
permite o registro e monitoramento das atividades eletroquímicas das fibras
musculares ativas. O sinal eletromiográfico (sEMG) é a medida dos potenciais de
ação, como efeito de tensão elétrica em função do tempo, obtido como somatório
algébrico dos sinais captados por eletrodos colocados em posições anatômicas
específicas. As propriedades musculares, anatômicas, fisiológicas e patológicas, bem
como o controle do sistema neuromuscular, podem afetar as características do sinal
(De LUCA, 1997; ENOKA, 2000; KONRAD, 2005).
O sinal eletromiográfico resulta do desequilíbrio eletroquímico gerado pelos
processos de despolarização e repolarização da membrana celular das fibras
musculares. Para acontecer a contração muscular, é necessário que o sistema
nervoso central envie um estímulo, em formato de potencial de ação elétrico, por meio
do motoneurônio, até a placa motora final. Após o potencial elétrico atingir a placa
motora, processos bioquímicos serão desencadeados resultando na formação de um
potencial de ação químico em cada fibra muscular. Na fibra muscular, imediatamente
após o potencial de ação ser gerado, ele irá se propagar ao longo de sua extensão
para ambos os lados e para o interior da fibra. O deslocamento do potencial de ação
pela fibra muscular pode ser registrado através de eletrodos implantados diretamente
41
na fibra ou utilizando eletrodos posicionados na superfície da pele. A figura 5 é uma
apresentação esquemática de um sEMG de uma única unidade motora. Neste
esquema observa-se que a forma de onda do sEMG relaciona-se ao somatório dos
potenciais de ação das fibras musculares próximos ao eletrodo.
Figura 5. Representação esquemática de um sinal eletromiografico de uma
unidade motora. Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/1595752
Figura 6. Representação do somatório dos potenciais de ação de uma unidade motora Fonte: www.slideplayer.com.br
42
Storey (1991) reforçou a melhor atuação dos eletrodos superficiais ao afirmar
que estes registram maior quantidade de fibras do que os eletrodos de agulha. A
função do eletrodo superficial é registrar o potencial de atividade da membrana em
uma única unidade motora. Assim, esse potencial de atividade da membrana pode
chegar em momentos variados, vindo de cada fibra em particular até às muitas fibras,
resultando um sinal único para aquela unidade enquanto não se movimente o
eletrodo, possibilitando ao pesquisador investigar como as unidades motoras são
requisitadas e como reagem.
Na EMG, os sinais resultam da superposição dos potenciais de ação de todas
as unidades motoras ativas que estão sob a área de detecção dos eletrodos, como
exemplificado na figura 7, resultando em um único sinal, denominado de padrão de
interferência. Neste caso, cada unidade motora, após atingir o seu limiar de ativação,
gera um trem individual de impulsos que será somado aos demais trens de impulsos
das outras unidades motoras, resultando em um único sinal. A partir deste sinal é
possível investigar as características e a influência das unidades motoras no processo
de modulação da força muscular (STEGEMAN et al., 2000; KONRAD, 2005).
Figura 7. Superposição dos potenciais de ação de todas as unidades motoras ativas
que estão sob a área de detecção dos eletrodos Fonte: Fonte: www.slideplayer.com.br
43
As propriedades do sinal eletromiográfico, podem ser investigadas a partir da
variação da sua magnitude em função do tempo e/ou da função de densidade
espectral de potência (De LUCA, 1997; KONRAD, 2005). A partir da análise espectral
do sEMG é possível, também, investigar como diferentes estados fisiológicos, como
a fadiga, ou condições patológicas, podem influenciar nas propriedades
eletrofisiológicas do sistema neuromuscular (FARINA, MERLETTI e ENOKA, 2004;
CONTESSA et al., 2009; De LUCA e HOSTAGE, 2010; GOMES et al. 2011;
ONODERA et al., 2011).
Parâmetros como a potência total, a potência pico, a frequência média e a
frequência mediana podem ser calculados a partir do conteúdo espectral de potência
(KONRAND, 2005; De LUCA et al., 2006). Dentre estes parâmetros, a frequência
mediana, devido a sua sensibilidade às modificações fisiológicas, tem sido
amplamente utilizada em estudos sobre fadiga muscular e doenças de ordem
neuromuscular (FARINA, FOSCI e MERLETTI, 2002; FARINA, MERLETTI e ENOKA,
2004; CASALE et al., 2009).
A Análise no Domínio da Frequência, relacionada a função da densidade
espectral de potência é um procedimento matemático que permite descrever, em
função da frequência, a distribuição de potência de um determinado sinal. No caso do
sinal de EMG, possibilita a extração de informações sobre as propriedades fisiológicas
do sistema neuromuscular durante a modulação da força (De LUCA e VANDYK, 1975;
FARINA, MERLETTI e ENOKA, 2004). O espectro de frequências X(f) de um sinal
x(t), contínuo no tempo, pode ser calculado através da Transformada de Fourier. A
magnitude das componentes de frequências é calculada como o valor do módulo das
componentes de frequências, estimadas no espectro de frequências (BENDAT e
PIERSOL, 1971; BRIGHAN, 1974, LATHI, 2008).
A análise do Root Mean Square ou Médio Quadrático (RMS), é representado
pelo valor médio do quadrado da magnitude de um sinal, avaliado durante o intervalo
de tempo. Este valor também pode ser avaliado para um intervalo de tempo definido
entre dois instantes de tempo específicos.
44
O valor root mean square (RMS) é definido como a raiz quadrada do valor
médio quadrático e representa a potência do sinal ou de um trecho do mesmo.
A metodologia utilizada para análise dos sinais eletromiográficos desse estudo,
foi baseado e discutido em cima dos resultados encontrados sobre a força muscular
máxima, RMS e frequência mediana encontrada entre os grupos.
45
5. METODOLOGIA
5.1 DESENHO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo caso controle para avaliar a força muscular de população
exposta ao mercúrio, através da força de preensão manual (FPM). A FPM é utilizada
para grandes populações, no entanto, como pouco foram os estudos relacionando
força e exposição ao mercúrio (FILLION, M. 2011;), optamos por realiza-lo, utilizando
porem, além da FPM, a análise eletromiografica na realização dessa força, a fim de
verificarmos se não somente a força, mas a condução desse sinal elétrico para
realização dessa força poderia estar sendo afetado de alguma forma, devido a essa
exposição ao mercúrio.
A análise foi feita comparativamente relacionando o nível de mercúrio e a força
muscular entre populações culturalmente parecidas e com mesmo padrão alimentar.
A população alvo do estudo caracteriza-se como uma população com índice de
exposição ao mercúrio e nível de contaminação já comprovados conforme estudos
realizados por Pinheiro (2006) e Lebel (1998), que é a comunidade de Barreiras (GB)
sendo considerada nesse estudo como grupo exposto. A comparação foi realizada
com a população não exposta, que foram os participantes da Associação de
Pescadores da Z20 (GZ), os quais possuem os mesmos hábitos alimentares, porém
não estão expostos ao mercúrio.
a) Local da pesquisa
A pesquisa foi realizada em duas comunidades ribeirinhas. Uma conhecida pelo
nome de Barreiras, situada na região do médio Tapajós, no Municipio de Itaituba, área
sob influencia da garimpagem de ouro e derrubada de floresta (fontes de
contaminação ambiental por mercúrio). A comunidade “de Barreiras, com as
coordenadas geográficas 04º05’52” de latitude sul e 55º40'59" de longitude oeste,
encontra-se a jusante da cidade de Itaituba e está à margem esquerda do rio Tapajós.
46
Essa área é um local em que a exposição ao mercúrio se apresenta maior do que os
níveis de regulação ou superior à da população geral, além de permanecer com essa
exposição por tempo prolongado, mesmo apresentando baixo nível de exposição ao
mesmo (PINHEIRO, 2012).
Figura 8: Localização da comunidade de Barreiras, pertencente ao município
de Itaituba.
A população do grupo controle, foi composta por indivíduos Associados à
Colônia de Pescadores – AZ 20, situada no baixo Tapajós, Município de Santarém,
região sem evidencia de fontes poluidoras de mercúrio.
A maioria da população do grupo controle é de pescadores residentes na
comunidade de Alter do Chão, que se distancia a 30 km do centro de Santarem-PA.
Figura 9: Localização da comunidade de Alter do Chão, pertencente ao município de Santarém
47
b) Características da amostra
Participaram do estudo 20 ribeirinhos, com idade entre 17 e 69 anos, de ambos os
sexos (10 homens e 10 mulheres), que tivessem residência fixa há mais de 2 anos na
comunidade de Barreiras (GB) e, q apresentaram a medida de mercúrio em amostra
de cabelo maior de 10,0µg/g .
Para a população do grupo controle, participaram do estudo 20 associados da
Comunidade de Pescadores AZ-20 (GZ), com idade entre 18 e 65 anos, de ambos os
sexos (12 homens e 8 mulheres), que apresentaram a medida de mercúrio em
amostra de cabelo menor de 10,0µg/g.
Foram excluídos da amostra os indivíduos que estivessem impossibilitados de
prestar informações, gestantes, portadores de doenças reumáticas e
osteomusculares com diagnóstico definido.
5.2 ETAPAS E PROCEDIMENTOS DO ESTUDO
Os participantes foram completamente informados sobre o estudo e aceitaram
participar assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para a
pesquisa em Avaliação da força de preensão manual como indicador de dano
neuromuscular causado pelo mercúrio em ribeirinhos da região do Tapajós-Pará de
acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde – Brasil, aprovado
no CEP sob n. CAAE: 37237414.9.0000.5172.
Após assinatura do TCLE, os participantes foram questionados a respeito de
informações que incluem as seguintes características: sexo, idade, tempo de
residência, frequência de consumo semanal de pescado, aplicando a escala de Brune
et al (1991) que define as seguintes categorias; 1- ausência de consumo , 2- consumo
semanal menor que duas refeições, 3- consumo semanal entre 2 a 4 refeições, 4-
consumo semanal maior que 4 refeições por semana, 5- consumo desconhecido; e
frequência de atividade física realizada semanalmente, para identificar o nível de
atividade física dos participantes, segundo o protocolo do IPAQ (MATSUDO, 2001)
48
Nível de atividade física
Para avaliar o nível de atividade física, este estudo optou por utilizar o
questionário IPAQ- versão curta (Questionário Internacional de Atividade Física;
Anexo 10.1) por ser um instrumento de fácil aplicação e de baixo custo. Este
instrumento surgiu quando a Organização Mundial da saúde, o Instituto Karolinska da
Suécia e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos reuniram
um grupo de especialistas e delegaram aos mesmos a missão de desenvolver um
instrumento internacional para medir a atividade física (MATSUDO et al., 2001).
O questionário contém perguntas relacionadas à frequência (dia por semana) e
duração (tempo por dia) da realização de atividades físicas moderadas, vigorosas e
da caminhada.
A classificação das atividades se dá quanto à intensidade, excluindo a
caminhada, moderada ou vigorosa, definida pelo CELAFISCS (Centro de Estudos do
Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul):
Moderada: são aquelas que precisam de algum esforço físico e que fazem respirar
um pouco mais forte que o normal;
Vigorosa: são aquelas que precisam de um grande esforço físico e que fazem respirar
muito mais forte que o normal;
Considerando os critérios de frequência, duração e tipo de atividade física,
que são a caminhada, atividades vigorosas e moderadas, os indivíduos que compõem
a amostra foram classificados em:
Muito ativos: indivíduos que realizam:
a) atividades vigorosas em cinco ou mais dias na semana em sessões com duração
de 30 minutos ou mais; ou.
b) atividades vigorosas em três dias ou mais por semana, em sessões de 20 minutos
ou mais acrescidas de atividades moderadas e/ou caminhadas em cinco ou mais dias
por semana, por 30 minutos ou mais por sessão.
Ativos: indivíduos que realizam:
a) atividades vigorosas em três dias ou mais por semana com duração de 20 minutos
ou por sessão; ou.
b) atividade moderada ou caminhada em cinco dias ou mais por semana de 30
minutos ou mais de duração por sessão, ou.
49
c) qualquer atividade somada (caminhada, moderada ou vigorosa) que resulte em
uma frequência igual ou maior que cinco dias por semana e com duração igual ou
superior a 150 minutos por semana.
Insuficientemente ativo: realiza atividade física por pelo menos 10 minutos por
semana, porém insuficiente para ser classificado como ativo. Pode ser dividido em
dois grupos:
1- Atinge pelo menos um dos critérios da recomendação:
a- Frequência: 5 dias / semana ou
b- Duração: 150 min / semana
2- Não atingiu nenhum dos critérios da recomendação que não alcança nenhum dos
critérios recomendados quanto a frequência ou a duração das atividades. Para realizar
essa classificação soma-se a frequência e a duração dos diferentes tipos de atividade
(CAMINHADA + MODERADA + VIGOROSA).
Sedentário: Não realizou nenhuma atividade física por pelo menos de 10 minutos
contínuos durante a semana.
Para o estudo em questão foram trabalhadas apenas duas classificações, ativo
e inativo, onde o ativo agrupou os pacientes classificados como muito ativo e ativo, e
o inativo as classificações de sedentário, insuficientemente ativo.
Composição corporal
Para obtenção de dados da avaliação nutricional, os participantes foram
submetidos a análise da tomada das medidas de peso, altura, índice de massa
corpórea (IMC) e porcentagem de gordura corporal.
A avaliação da Composição Corporal foi determinada em balança digital de
Bioimpedância Bipolar da marca EKS com precisão de 100 gramas, estando os
participantes sem sapatos e trajando roupas leves. A estatura foi obtida em
estadiômetro da marca Sanny com precisão de 0,1 cm, de acordo com os
procedimentos descritos por Gordon et al. (1988). O índice de massa corporal (IMC)
foi calculado dividindo a massa corporal (kg) pela estatura (m2) ao quadrado.
A classificação do IMC seguiu as propostas sugeridas por WHO (2000), a
qual se dividem em:
50
Quadro 1. Valores de referência para a classificação do índice de massa corporal.
Valor do IMC (Kg/m2) Classificação
Menor que 18.5 Baixo peso
18.5 a 24.9 Normal
25 a 29.9 Sobrepeso
Igual ou acima de 30 Obesidade
Legenda: IMC – índice de massa corporal
Fonte: WHO (2000)
A avaliação da composição corporal, após diagnosticada na balança, foi
classificada de acordo com a tabela de Pollock & Wilmore,1993, conforme
demonstrada a seguir, separada por gênero:
Quadro 2. Valores de referência para a classificação do percentual de gordura.
Gênero masculino
Classificação
/ Idade 18-25 26-35 36-45 46-55 56-65
Excelente 4 a 6 % 8 a 11% 10 a 14% 12 a 16% 13 a 18%
Bom 8 a 10% 12 a 15% 16 a 18% 18 a 20% 20 a 21%
Acima da
média 12 a 13% 16 a 18% 19 a 21% 21 a 23% 22 a 23%
Média 14 a 16% 18 a 20% 21 a 23% 24 a 25% 24 a 25%
Abaixo da
Média 17 a 20% 21 a 24% 24 a 25% 26 a 27% 26 a 27%
Ruim 20 a 24% 24 a 27% 27 a 29% 28 a 30% 28 a 30%
Muito ruim 26 a 36% 28 a 36% 30 a 39% 32 a 38% 32 a 38%
Gênero feminino
Excelente 13 a 16% 14 a 16% 16 a 19% 17 a 21% 18 a 22%
Bom 17 a 19% 18 a 20% 20 a 23% 23 a 25% 24 a 26%
Acima da
média 20 a 22% 21 a 23% 24 a 26% 26 a 28% 27 a 29%
Média 23 a 25% 24 a 25% 27 a 29% 29 a 31% 30 a 32%
Abaixo da
Média 26 a 28% 27 a 29% 30 a 32% 32 a 34% 33 a 35%
Ruim 29 a 31% 31 a 33% 33 a 36% 35 a 38% 36 a 38%
Muito ruim 33 a 43% 36 a 49% 38 a 48% 39 a 50% 39 a 49%
Fonte: Pollock e Wilmore (1993).
51
Para determinação dos níveis de mercúrio foram coletadas amostras de cabelo
de aproximadamente 100 fios, dos quais foram obtidos do couro cabeludo na região
occipital, utilizando tesoura de aço inoxidável, sem ponta.
Após a pesagem, 20 a 30 mg da amostra de cabelo foi colocada em um béquer
para lavagem com detergente neutro e água destilada através de decantação, e
lavado novamente com uma pequena quantidade de acetona para remover a água. A
acetona residual foi removida sob pressão reduzida. Transferiu-se a amostra de
cabelo para um frasco de 20 mL e cortou-se o cabelo a fragmentos milimétricos
(estado aproximado de pó) com tesoura de dissecação para preparo de uma amostra
para análise. As análises foram realizadas na Universidade Federal do Pará, no
Laboratório de Toxicologia Humana e Ambiental, do Núcleo de Medicina Tropical.
As amostras foram submetidas à análise pelo SP3D seguindo as seguintes
etapas: a) Após lavagem do cabelo em água destilada e acetona, foram colocadas
para secar em capela de exaustão e, em seguida picotadas; b) os microfragmentos
foram submetidos à análise de mercúrio-total através da espectrofotometria de
absorção atômica com amalgamação em lâmina de ouro, utilizando um detector de
mercúrio automático o Mercury Analyzer, modelo SP3D da Nippon Corporation-
Japão.c) este equipamento é composto de duas partes. O Mercury Atomizer que
decompõe as amostras analíticas pelo calor. O mercúrio separado é enviado para o
Mercury onde o método de absorção atômica por vapor frio é aplicado para
determinação de sua quantidade; d) o espectro mostra a quantidade de mercúrio
contida em peso (ng) e concentração de mercúrio em ppm.
O controle da qualidade analítica foi avaliado pelo uso de padrão de mercúrio
de referência internacional (Human Hair 085) da International Atomic Energy Agency
(IAEA). Os resultados são expressos em µg/g (ppm).
Os testes de contração estática voluntária máxima foram realizados utilizando-
se um dinamômetro acoplado a uma célula de carga com limite de 500kg, composto
por um transdutor para tensiometria e um conversor analógico-digital de 8 canais, 12
bits de resolução, da marca EMG System do Brasil ® (ver figura 8). Os equipamentos
foram integrados a um microcomputador que permitia, em tempo real, o
monitoramento e o registro dos valores de força (ver figura 9).
52
O dinamômetro utilizado foi elaborado de acordo com as medidas e precisões
descritas no dinamômetro Jamar, o qual já está comprovado e validado para uso em
pesquisas científicas (FIGUEIREDO, I M et al, 2007)
Os participantes foram orientados a permanecer sentados (ver figura 10)
seguindo a posição padronizada da Sociedade Norte Americana de Terapeutas da
Mão (ASHT), ou seja, os quadris e joelhos devem estar fletidos a 90º, com ombros
aduzidos, cotovelo também a 90º e antebraço em posição neutra (FESS, 1992). Como
o dinamômetro estava acoplado à célula de carga, foi necessário colocar um apoio
abaixo do braço, para não alterar a intensidade da força de preensão manual. Nesse
apoio, verificamos a altura adequada e a ajustávamos se necessário, para garantir o
posicionamento sugerido pela ASHT.
Figura10. Aparelho de eletromiografia utilizado. Fonte: fotos do próprio autor
Figura 11. Dinamômetro acoplado a célula de carga. Fonte: fotos do próprio autor
53
5.2.1 Mensuração da Força Muscular – Força de Preensão Manual (FPM)
Os testes de força de preensão são comumente usados para avaliar pacientes
com desordens da extremidade superior, antes e após procedimentos terapêuticos.
São testes simples de administrar e quando adequadamente realizados, podem
fornecer informações objetivas que contribuem para análise da função da mão.
A avaliação válida e confiável da força de preensão da mão é um parâmetro
importante para comparar a efetividade de vários procedimentos cirúrgicos e
terapêuticos, definir metas de tratamento e avaliar a habilidade do paciente para
retornar a atividades funcionais, além de influenciar diretamente no desenvolvimento
de pesquisas científicas (FIGUEIREDO, 2007).
O instrumento utilizado para medir a FPM nesse estudo, foi um dinamômetro
(Figura 9), com ajuste contínuo da empunhadura, seguindo as medidas e delimitações
do dinamômetro da marca Jamar, o qual, como já mencionado, é validado para esse
tipo de estudo (MACANIFF et al, 2002)
Figura 12. Posicionamento para efeticação do teste, segundo a ASHT + o apoio dos braços. Fonte: fotos do próprio autor
54
Em relação ao protocolo utilizado para o teste de força, Mathiowetz et al. (1984).
compararam os resultados do teste de força de preensão de quatro formas diferentes:
usando uma medida, usando a média de duas medidas, a média de três medidas, e
usando o mais alto valor de três medidas. A média de três medidas obteve a
correlação mais alta, enquanto que a correlação mais baixa foi obtida quando somente
uma medida foi usada. Macdermid et al (1994) encontraram resultados similares
quando utilizaram a média de três medidas. Porém, quando uma medida foi
comparada, embora os coeficientes de correlação intraclasse tendessem a ser
ligeiramente mais altos para a média de três medidas do que para uma única medida,
não houve diferença significativa entre os coeficientes de confiabilidade para estes
diferentes escores. Outros estudos, porém, apontaram vantagens na utilização de
apenas uma medida da força de preensão (PEOLSSON A, et al, 2001).
A Sociedade Americana de Terapeutas de Mão (ASHT) reuniu pesquisas que
investigaram aspectos envolvidos na avaliação e recomendou um protocolo incluindo
a posição de teste, o qual é utilizado nas clínicas e na maioria dos trabalhos científicos
(ver figura 10) e, no procedimento de avaliação da força de preensão é recomendado
que a média de três medidas seja usada, não havendo necessidade de estender
períodos de descanso entre as medidas.
Em um estudo similar de Trossman (1989) foi investigado o efeito do período
de descanso entre cinco medidas. Não foi encontrada diferença significativa entre
períodos de descanso com duração de 60, 30 e 15 segundos entre medidas, embora
tenha sido observado um padrão de declínio de força de preensão no decorrer das
cinco medidas. A partir destes resultados, é recomendado um período de descanso
de 60 segundos entre as medidas em testes isométricos. Entretanto, Mathiowetz
(1984) considera que não é necessário estender o tempo de teste com este período
de descanso porque as diferenças de medidas são muito pequenas.
Dessa forma, para a medida dos níveis de força nesse estudo, foram utilizados
os protocolos de avaliação proposto pela Sociedade Americana de Terapeutas de
Mão, baseado nos estudos descritos acima, no qual os testes de força foram
realizados apenas do lado dominante, em três tentativas, após comando verbal
durante 10 segundos, com intervalos de 1 minuto entre cada preensão, para
descanso.
55
5.2.2 Registro da Atividade Eletromiográfica
Simultaneamente aos testes de força, foi registrada a ativação dos músculos
flexores superficiais dos dedos. Para obtenção dos sinais, foi utilizado um
eletromiógrafo de superfície com oito canais (EMG System do Brasil®), composto por
um conversor A/D (conversor analógico-digital) de 12 bits, com filtro passa-faixa de
10-500 Hz, e amplificação total 2000x. Para evitar interferência da rede elétrica do
ambiente, os equipamentos foram todos ligados em bateria. Os sinais
eletromiográficos foram captados utilizando-se eletrodos circulares de Ag/AgCl de
diâmetro de 10 mm. Para fixação dos eletrodos sobre os músculos, adotou-se as
recomendações feitas pela The European Recommendations for Surface
Electromyography-SENIAM (HERMENS et al., 2000), com distância entre eletrodos,
centro a centro, de 20 mm (figura 11). Antes da fixação dos eletrodos foi feita a
tricotomia da área com lâmina de barbear, limpeza da pele com álcool 70% e gazes
esterilizadas, de modo que os valores de impedância se encontrassem abaixo de 10
KOhm (KONRAD, 2005).
Já posicionado e com os eletrodos fixados, verificamos o posicionamento do
dinamômetro, em relação a distância dos bastões, de acordo com a empunhadura do
participante (figura 12).
Figura 13. Fixação dos eletrodos. Fonte: fotos do próprio autor
56
5.2.3 Seleção dos Trechos do Sinal Eletromiográfico para Análise
Após o processamento das curvas de força e da determinação do ponto de
maior valor de força muscular, foram determinados trechos dos sinais de força e de
eletromiografia para análise. O trecho do sinal selecionado para análise foi 250ms
antes e 250ms depois do pico de força, analisado pelo próprio programa,
demonstrando nesse intervalo o valor da força máxima realizado pelo participante.
Esse valor é representado em kgf (Figura 13).
Figura 15. Exemplificação do gráfico de força, e o momento selecionado para a análise com pico de força máxima. Fonte: dados analisados do autor no Mat Lab.
Figura 14. Posicionamento adequado da altura do membro e distância da empunhadura Fonte: fotos do próprio autor
57
Figura 16. Exemplificação do momento selecionado para a análise com pico de força máxima, seguido do mesmo trecho de sinal de força da eletromiografia, para análise.
O programa matemático utilizado para análise dos sinais eletromiográficos foi
utilizado o MatlabA/2012 e para as análises estatísticas utilizamos o Bioestat com
nível de significância de p < 0,05.
Os dados foram tabulados e analisados por meio de uma estatística descritiva
e inferencial, com o objetivo de descrever os valores médios, desvio padrão, mínimo,
máximo, frequência relativa, de comparações e correlações. Para tanto, foi
empregado o software BioEstat 5.0 para o cálculo da normalidade (Shapiro Wilk) e
para as análises descritivas e inferenciais, adotando-se o nível de significância de
p<0.05.
As análises de comparações entre médias das variáveis analisadas neste
estudo, adotou-se o Teste t para amostras independentes ou o Mann-Whitney, sendo
que o primeiro foi utilizado para dados paramétricos e o segundo para dados não
paramétricos. Já para identificar as correlações propostas utilizou-se a correlação de
Pearson, para os dados paramétricos, e a Spearman, para dados não paramétricos.
58
6. RESULTADOS
Para testar a hipótese que pessoas expostas ao mercúrio apresentando
concentrações de mercúrio em amostras de cabelo acima de 10ppm incluímos 20
participantes de Barreiras (GB) e 20 da Associação da Z-20 do município de Santarém
(GZ) com proporções similares de homens e mulheres por localidade.
Na tabela 1, demonstramos a caracterização das variáveis estudadas, as quais
não apresentaram diferença significativa em relação a idade, ao índice de massa
corporal, percentual de gordura, força muscular, massa magra, RMS e frequência
mediana (p>0,05), contudo, em relação ao nível de mercúrio, ocorreu diferença
estatística significativa (p<0,001), ou seja, Barreiras, local onde a comunidade é
exposta ao metal, apresentou concentração de mercúrio 454% maior que Santarém,
no grupo não exposto.
As idades mediana, mínima e máxima do grupo GB, residente na região do
médio Tapajós foi 37, 16 e 69 respectivamente. No grupo GZ, a região do baixo
Tapajós foram respectivamente 39, 18 e 64 anos. A média de idade do grupo de
Barreiras (E) ficou em 38,7, com DP± 15,5, e para o grupo da Z20-Santarem (NE)
ficou em 40,3 com DP ± 12,41.
O grupo GB em relação ao grupo da GZ apresentou valores superiores para o
índice de massa corporal (1,54%), percentual de gordura (10,74%), força muscular
(11,62%), e valores inferiores para RMS (-22,06%) e frequência mediana (-3,74%).
59
Tabela 1. Característica dos participantes submetidos ao estudo, em relação a idade, índice de
massa corporal, nível de mercúrio, percentual de gordura, força muscular, RMS e frequência
mediana.
Características Barreiras Alter do Chão p valor ∆%
Idade (anos)
X ± DP 38,7 ± 15,5 40,3 ± 12,41 0,33 -8,25
IMC (kg/m2)
X ± DP 26,97 ± 3,85 26,56 ± 4,15 0,47 1,54
Hg (ug/g)
X ± DP 17,5 ± 8,47 3,1 ± 2,28 <0,001 454
%G (%)
X ± DP 26,8 ± 11.65 24,20 ± 8,97 0,43 10,74
FM (kg)
X ± DP 33,52 ± 10,07 30,03 ± 9,47 0,26 11,62
RMS
X ± DP 5,23 ± 1.80 6,71 ± 3,07 0,15 -22,06
Fmed
X ± DP 75,32 ± 9,56 78,25 ± 14,57 0,26 -3,74
Fonte: dados obtidos a partir de trabalho de campo realizados pela equipe do NMT em
2014.
Considerando o consumo de peixes mais de duas vezes por semana, embora
os grupos se assemelhem, percebe-se que a comunidade de Barreiras (GB) se
mostra superior, apresentando 90% de pessoas com esse perfil de consumo, em
relação ao que o grupo da Z20 (GZ) com 80% (Tabela 2).
60
Tabela 2. Demonstrativo do consumo de peixe semanal dos grupo avaliados
Características Barreiras Alter do Chão
Consumo peixe n(%)
< 2 refeições 2 (10) 4 (20)
2 – 4 refeições 6 (30) 4 (20)
> 4 refeições 12(60) 12 (60)
Fonte: dados obtidos a partir de trabalho de campo realizados pela equipe do NMT em
2014.
Em relação a classificação dos participantes quanto índice de massa corporal
(tabela 3), percebe-se que nenhum dos grupos foi encontrado pessoas com baixo
peso. Com relação a Barreiras (GB) nota-se que predominou a classificação de
sobrepeso (65%) seguido pelo peso normal (20%) e obesidade (15%), bem como
observado nos participantes do GZ (45%,40% e 15%, respectivamente) (Tabela 3).
Tabela 3: Classificação dos participantes quanto ao índice de massa corporal
Classificação Barreiras - n(%) Z20 - n(%)
Baixo peso 0 (0) 0 (0)
Peso normal 4 (20) 8 (40)
Sobrepeso 13 (65) 9 (45)
Obesidade 3 (15) 3 (15)
Quando classificados em relação ao nível de atividade física (tabela 4), em
ambos os grupos, não houve nenhum participante classificado como
insuficientemente ativo ou sedentário. Quanto a classificação de muito ativo,
encontrou-se em Barreiras (GB) 65% e na Z20 (GZ) 45%. Já os ativos, notou-se que
Barreiras apresentou 35% e na Z20 55%.
61
Tabela 4: Classificação dos participantes quanto ao nível de atividade física
Classificação Barreiras - n(%) Z20 - n(%)
Muito ativo 13 (65) 9 (45)
Ativo 7 (35) 11 (55)
Insuficientemente Ativo 0 (0) 0 (0)
Sedentario 0 (0) 0 (0)
A tabela 5 demonstra a distribuição da classificação dos participantes para o
percentual de gordura. Na comunidade de Barreiras nota-se que 50% dos
participantes estavam com sua classificação inadequada (abaixo da média, ruim e
muito ruim), enquanto na Z20, esse percentual foi de 35%.
Tabela 5: Classificação dos participantes quanto ao percentual de gordura
Classificação Barreiras - n(%) Z20 - n(%)
Excelente 2 (10) 4 (20)
Bom 2 (10) 2 (10)
Acima da Média 2 (10) 7 (35)
Media 4 (20) 0 (0)
Abaixo da Média 3 (15) 1 (5)
Ruim 4 (20) 4 (20)
Muito ruim 3 (15) 2 (10)
Fonte: **dados obtidos a partir de trabalho de campo realizado pela equipe do NMT em
2014.
Fazendo a correlação entre o nível de Hg e as demais variáveis (percentual de
gordura, Indice de Massa Corporal – IMC e Massa Magra – MM) demonstrados no
gráfico 1, notou-se que nenhuma das correlações apresentou p<0.05. Contudo,
ressalta-se que o nível de mercúrio apresentou uma tendência de correlação positiva
62
com o percentual de gordura com a comunidade de Barreiras (Grafico 1, A) e negativa
com a Z20 (Grafico 1, B). Já o nível de mercúrio com o massa magra na comunidade
de Barreiras, quanto na Z20, demonstraram uma tendência de correlação negativa.
(gráfico 1, C e D). Por fim, o nível de mercúrio apresentou a tendência de correlação
negativa com o IMC no grupo da Z20 (Grafico 1, F), o que não foi observado com a
comunidade de Barreiras (Grafico 1, E).
Gráfico 1: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com o percentual de gordura, massa magra e índice de massa corporal entre os grupos.
r= 0.30 p=0.1985 A
r= -0.28 p=0.2332 B
r= -0.37 p=0.1059 C
r= -0.20 p=0.3995 D
r= 0.06 p= 0.8046 E
r= -0.28 p=0.2295 F
63
Os resultados do Gráfico 2 demonstram que o nível de mercúrio não
apresentou correlação significativa com a força muscular, o RMS e a frequência
mediana da comunidade de Barreiras e do grupo da Z-20. Entretanto, ressalta-se que
a tendência de correlação negativa do nível de mercúrio com a força muscular (A),
RMS (C) e frequência mediana (E) na comunidade de Barreiras. Já no grupo da Z-20
a correlação do nível de mercúrio com essas variáveis (B; D; F) tendeu a ser positiva.
Gráfico 2: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com força muscular, RMS e frequência mediana entre os grupos.
r= -0.31 p=0.1869
A
r= 0.11 p=0.6313
B
r= -0.25 p=0.2838
C
r= 0.36 p=0.1227
F
r= -0.11 p=0.6561
E
r= 0.09 p=0.7193
D
64
O IMC, conforme demonstrado no Gráfico 3, não apresentou correlação
significativa com a força muscular, RMS e frequência mediana dos grupos analisados.
Contudo, notou-se uma tendência de correlação negativa do IMC com o RMS na
comunidade de Barriras (C) e no grupo Z-20 (D). Além disso, o grupo Z-20 também
apresentou tendência de correlação negativa do IMC com a frequência mediana (F).
Grafico3: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com força muscular, RMS e frequência mediana entre os grupos.
r= -0.42 p=0.0681
C
r= 0.06 p=0.8154
A
r= 0.18 p=0.4440
E
r= 0.15 p=0.5231
B
r= -0.43 p=0.0613
D
r= -0.37 p=0.1038
F
65
No Gráfico 4 nota-se que o percentual de gordura apresentou correlação
negativa com o RMS (D) e com a frequência mediana (F) do grupo da Z-20. Já para
as força muscular não foi observada correlação significativa e nem para as análises
da comunidade de Barreiras. Entretanto, aponta-se que o percentual de gordura
tendeu a apresentar uma correlação negativa com a força muscular na comunidade
de Barreiras (A) e do grupo de Z-20 (B), além da comunidade de Barreiras também
demonstrar uma tendência de correlação negativa do percentual de gordura com o
RMS (C).
Gráfico 4: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com força muscular, RMS e frequência mediana entre os grupos
r= -0.43 p= 0.0613
C
r= 0.05 p= 0.8304
E
r= -0.25 p= 0.2961
A
r= -0.27 p= 0.2552
B
r= -0.47 p= 0.0378
D
r= -0.46 p= 0.0388
F
66
Conforme demonstrado no Gráfico 5, nota-se ausência de correlação
significativa da massa magra com o RMS (C; D) e frequência mediana (E; F) dos dois
grupos analisados. Já na análise de correlação da massa magra com a força muscular
notou-se correlação positiva, tanto na comunidade de Barreiras (A) como no grupo da
Z-20 (B).
Gráfico 5: Demonstrativo da correlação entre o nível de mercúrio com força muscular, RMS
e frequência mediana entre os grupos
r= 0.79 p=<0.0001
A
r= 0.47 p= 0.0373
B
r= -0.05 p= 0.8453
C
r= -0.12 p= 0.6289
E
r= -0.01 p= 0.9849
D
r= -0.04 p= 0.8799
F
67
7. DISCUSSÃO
A medida da força muscular é fundamental para a avaliação funcional dos
indivíduos e tem sido aplicada para identificar idosos com limitações (GIAMPAOLI et
al (1999), em doenças infecciosas como na hanseníase (SURESH et al, 2008;
FRAZÃO, 2012), em indivíduos com resistência insulínica (ABBATECOLA et al, 2005),
na intoxicação por inseticidas organofosforados (MIRANDA et al , 2002), e em
indivíduos expostos ao mercúrio (DOLBEC et al, 2000).
Nosso estudo, apesar de ter apresentado uma limitação em relação a
quantidade de participantes, mostra resultados da força de preensão palmar medidos
através de dinamômetro manual em ribeirinhos em duas áreas geograficamente
diferentes em relação a exposição ao mercúrio, porém semelhantes em relação ao
hábito de consumo dietético de pescado e condições socioeconômicas. A força
muscular máxima foi, aparentemente maior na área reconhecidamente contaminada
por metilmercúrio quando comparada com a comunidade que apresenta baixos níveis
de exposição. Contudo essa superioridade não apresentou diferença significativa
entre os grupos.
Esperava-se que o mercúrio pudesse influenciar na força muscular mostrando
diminuição na força de preensão palmar, entretanto, a resposta foi contrária.
Argumenta-se que os níveis de mercúrio a que estão expostos, mesmo em longo
prazo não foram suficientes para causar danos que alterasse a força muscular,
embora Dolbec (2000) em seus estudos tenha sugerido essa possibilidade, mas
indicou também a necessidade de outros estudos para a confirmação de tal aspecto.
A intensidade da força máxima maior observada nos ribeirinhos de Barreiras
em relação aos de Santarém pode ser atribuída ao tipo de atividade física mais intensa
realizada por esses ribeirinhos, como as atividades da vida diária tais como, remar,
nadar, pescar, lavar roupa no rio, puxar água de poço entre outras que a vida de
ribeirinho exige. No entanto, quando classificados e comparados em relação ao nível
de atividade física nas duas comunidades, ambas se mostraram bastante
semelhantes, conforme vemos na tabela 1, sem diferença significativa entre elas.
Contudo, essas atividades parecem ser menos intensas entre os ribeirinhos de
68
Santarém, dada a proximidade e a facilidade de acesso ao centro do Município de
Santarém exigindo menor esforço físico desse grupo.
Nossos resultados (gráfico 2, A) se assemelham aos estudos transversais
realizados com ribeirinhos da região do Tapajós na década passada, os quais
mostraram níveis de exposição ao mercúrio que se associaram a uma performance
motora diminuída em uma relação dose-efeito observada a níveis de Hgtotal em
amostras de cabelo abaixo de 50 µg/g (Dolbec et al, 2000; Lebel et al. 1998; Lebel et
al. 1996). Percebe-se que o gráfico apresenta uma tendência negativa em relação ao
nível de mercúrio e grau de força muscular, onde nota-se que quanto menor o nível
de mercúrio, maior o grau de força muscular apresentado pelos participantes.
Dolbec et al, (2000) que estudaram os efeitos do metilmercúrio sobre a
performance motora em outra população ribeirinha do Tapajós, encontraram
alterações no desempenho motor relacionadas com dose-efeito em uma população
de estudo de 67 ribeirinhos maiores de 16 anos de idade com média de mercúrio total
em amostras de cabelo de 10,8µg/g. Baixo desempenho motor foi também
encontrado por Lebel et al (2008) em adultos ribeirinhos do Tapajós com níveis médios
de mercúrio que variaram de 12,6±7,0 (mulheres) a 23,9±9,3(homens).
A explicação para as diferenças quanto aos resultados encontrados pode estar
na hipótese que foi testada. Neste estudo, a hipótese foi se a função motora estava
alterada na população submetida a longo período de exposição ao mercúrio
adquiridos através da dieta de pescado. Neste, o desempenho motor foi avaliado
também pela dinamometria manual, porém em dois grupos de ribeirinhos com níveis
de exposição ao mercúrio significativamente diferente, através de estudo caso
controle, no qual o grupo de Barreiras representou a população exposta ao mercúrio
por mais de uma década (Pinheiro et al, 2012), e a da Z20, Alter do Chão-Santarem,
no qual os níveis de exposição foram considerados seguros para a saúde humana, ou
seja, em média, menor que 6µg/g (WHO, 2008). Nos estudos anteriores de Dolbec
et al, 2000, Lebel et al, 1996 e Lebel et al, 1998) a função motora foi avaliada através
de estudos transversais para investigar os efeitos neurotóxicos do metilmercúrio na
população exposta, onde a função motora foi um dos objetivos.
69
Outro fator que poderia explicar os nossos achados é que a força muscular da
população exposta vem sendo permanente estimulada a ponto de superar os efeitos
dos mercúrio por longo período de exposição, além disso, pode ser que outros fatores
tais como dieta com antioxidantes naturais associados ao peixe habitualmente
consumidos minimizem os efeitos sobre a intensidade da força muscular determinada
pela dinamometria.
Várias condições podem reduzir a força de preensão palmar incluindo
transtornos articulares das mãos, distúrbios cognitivos, neuropatia diabéticas,
doenças infecciosas como a hanseníase. No corrente estudo a força de preensão
palmar foi avaliada através de um teste de fácil aplicação usando um instrumento
utilizado em vários estudos para avaliar força muscular considerando possíveis fatores
que influenciasse na intensidade da força, a exceção da história de exposição ao
mercúrio, nossa variável dependente para avaliação da força.
O padrão de referência de força muscular baseado no PNAFS,(2003), adaptado
de Schlussel, (2006) a Força máxima de preensão palmar para homens é 42,82Kg/ e
para mulher é 25,26Kg/ . Neste estudo a força muscular medida pela força máxima de
preensão palmar observada em homens e mulheres nas comunidades estudadas
estavam abaixo do valor de referência, em ambas as comunidades.
Estudo de base populacional australiana para descrever dados normativos de
força de preensão palmar e secundariamente investigar a relação entre índice de
massa corporal e força de preensão palmar comparando com os da norma
internacional mostrou que esta população tinha mais alto IMC e menor força de
preensão palmar em participantes jovens que muitos dados da população mundial
publicados . Valores de força de preensão muscular por idade e sexo são menores
em adultos jovens que aqueles relatados em normas internacionais. Normas
Australianas dessa amostra tem entre a mais baixa força de preensão manual dentre
as normas internacionais publicadas, exceto aquelas de população de baixo peso.
Esta população demonstrou mais alto IMC e mais baixa força de prensão palmar em
participantes jovens (MASSY-WESTROPP et al, 2011). Nosso estudo não apresentou
correlação entre os grupos, quando analisados os valores de IMC e força de preensão
palmar, conforme vemos no gráfico 3, A e B)
70
Giampaoli et al (1999) avaliando a performance da força de preensão palmar
através de um coorte de homens idosos de 71 a 91 anos saudáveis verificou que o
teste é um bom indicador de desabilidade muscular em pessoas mais idosas. Neste
estudo, evitamos incluir idosos para não haver influencia desta variável. O único idoso
incluído da área contaminada pelo mercúrio neste estudo foi pareado com outro da
área controle que tinha idade similar.
Vários estudos envolvendo ribeirinhos realizados na região do médio e alto
Tapajós para avaliar os níveis de exposição ao mercúrio através da dieta confirmaram
que essa região está impactada pelo mercúrio oriundo de várias fontes, incluindo a
garimpagem de ouro e a devastação da floresta. Poucos estudos avaliaram os níveis
de exposição no baixo Tapajós, área compreendida ao Município de Santarém. Este
estudo, mostra que pelo menos, uma parte da população de pescadores de Santarém,
cuja dieta predomina o consumo de pescado local não apresenta níveis inseguros de
mercúrio em amostras de cabelo, que é o indicador para avaliação de riscos para
intoxicação por metilmercúrio.
Os casos de intoxicação por altas concentrações de metilmercúrio são
representados por sinais e sintomas caracterizados por parestesias, ataxia, disartria,
constrição de campo visual, perda da audição. Severa intoxicação relembra uma
encefalopatia e desfecho em coma e morte. A natureza dramática dos sintomas tem
focado na atenção para o SNC como o sítio primário do envolvimento após a
exposição ao MeHg. Material de autópsia de humanos e animais demostraram
deposição de mercúrio e lesão celular principalmente no cerebelo e no córtex do lobo
occipital e parietal. Como consequência o sistema nervoso periférico. Estudo em uma
amostra populacional randomizada, no Iraque direcionada ao estudo do sistema
nervoso periférico, por meio da medida de velocidade de condução foi encontrada
uma alta incidência (14%) de desordem neuromuscular comprometendo a força
muscular em intoxicados por mercúrio que respondeu prontamente ao uso de
neostigmine (RUSTAM et al, 1975).
Na exposição a baixas concentrações de mercúrio por longo período como no
caso da população de Barreiras os níveis de exposição ao mercúrio foram muito mais
elevados na década passada (Santos et al, 2000; Pinheiro et al, 2012). Estudos mais
recentes envolvendo adultos em geral, realizados por Pinheiro et al, (2012) e Koury et
71
al, (2014), em mulheres, por Corvelo et al, (2013) mostraram níveis médios de
mercúrio em amostras de cabelo menores que os do passado, abaixo de 10µg/g,
valor limite de segurança para riscos materno-fetais estabelecido pela WHO,(1990) e
considerado até a presente data.
Os dados relacionados a força máxima não demonstraram diferença
significativa para as comunidades estudadas. O mesmo ocorreu em relação aos sinais
eletromiográficos, no qual essa diferença não se apresentou de maneira significativa,
em relação ao valor médio da raiz quadrada (RMS) e na análise da frequência
mediana, embora ambos apresentaram valores menores na comunidade de Barreiras
(GB), em relação a comunidade de Alter do Chão (GZ).
De acordo com Soderberg e Knuston (2000), os dados da EMG podem ser
submetidos a diversos tipos de análise, sendo um deles o do domínio da frequência,
ou seja, através da análise espectral do EMGs, é possível observar o processo de
fadiga muscular, informações sobre o recrutamento e sincronização das UM em
condições normais e patológicas. Outro dado da EMG que pode ser observado e
analisado são os valores de RMS que estão relacionados com a duração do potencial
de ação das unidades motoras e ao disparo de sincronização de potenciais
observados (CHOPRA, 1969).
Para Merletti (1984), a Frequência Mediana (Fmed) é a frequência
característica do EMGs que melhor demonstra as alterações na velocidade de
condução das fibras musculares esquelética, podendo inclusive demonstrar variações
que podem ser monitoradas, tais como as manifestações mioelétricas de fadiga (DE
LUCA, 1984; MERLETTI, et al, 1990) através da diminuição do espectro da frequência
para a diminuição da Fmed.
Assim, a Fmed está correlacionada com a velocidade média de condução dos
potenciais de ação da fibra muscular, o que permite avaliar a fadiga muscular e
doenças neuromusculares.
Dessa forma, os achados no nosso estudo, mostram que, a Fmed da
comunidade de Barreiras, embora sem ser uma diferença significativa, quando
analisada com a população não exposta ao mercúrio, apresentam valores inferiores
de Fmed, que pode sugerir alguma interferência desse metal na condução elétrica
72
dessas UM, sem, no entanto estar afetando diretamente a força máxima do indivíduo,
mas podendo sugerir um início de fadiga muscular ou outra patologia existente.
Essa analogia pode ser considerada, comparando esses achados com outros
estudos realizados no qual o valor da Fmed encontrado, faz relação com a patologia
encontrada, como ressalta Al-Hashel et al (2014), num estudo realizado com
pacientes diabéticos com neuropatia e sem neuropatia, a fim de comparar as
anormalidades do EMGs do musculo extensor dos dedos. O estudo aconteceu com
30 pacientes com neuropatia e 20 sem neuropatia. Algumas anormalidades, foram
significativamente encontradas nos pacientes diabéticos, embora também se
encontrou em alguns (7) dos pacientes sem neuropatia. Conclui-se que nos pacientes
com diabetes, a Fmed apresenta mudanças no EMGs, embora raros e leves, mas
sugere que esse musculo seja adequado para análise do sinal em pacientes
diabéticos com suspeita clínica de transtorno sináptico.
Outro estudo realizado por Andrzejewska et al (2014) propôs utilizar a EMG e
análise do domínio de frequência (Fmed) como uma ferramenta para auxiliar no
conhecimento das estratégias de controle motor das UM. O estudo foi realizado em
11 homens sedentários utilizando o músculo bíceps braquial, no qual verificou-se que
o sEMG, junto ao protocolo utilizado para teste, se mostra como uma ferramenta
importante para divulgar alterações no controle motor, principalmente relacionado a
fadiga.
Contrariando porem esses estudos, Lauriti et al (2013), com objetivo de avaliar
o comportamento das frequências média e mediana do EMGs dos músculos
mastigatórios em adolescentes com diferentes graus de severidade da disfunção
temporomandibular (DTM), analisou 42 adolescentes com diagnostico definido e 14
adolescentes para o grupo controle. O estudo foi realizado com três leituras da CVM,
com duração de 10 segundos cada. Conclui-se que os adolescentes que
apresentavam maior gravidade de sinais e sintoma da DTM, foram os que
apresentaram maior Fmed do sinal eletromiografico, indicando hiperatividade desses
músculos em repouso e durante o movimento de deglutição.
A relação da força e EMGs vem sendo bastante discutida e estudada, porem
muitas divergências ainda existem na literatura quanto a sua relação linear e sua
73
correlação relacionada aos valores encontrados nos estudos. Onishi et al.(2000), não
encontraram qualquer correlação linear entre Fmed e força de extensão do joelho.
Farina et al. (2002), baseados em simulações e experimentos utilizando o músculo
bíceps braquial em seus experimentos, concluíram que não parece ser razoável
esperar uma relação geral entre variáveis espectrais e força.
Bazzichi et al (2009) avaliou as possíveis modificações musculares em
mulheres que apresentavam fibromialgia, comparando com uma amostra saudável, a
fim de investigar as relações entre os parâmetros de EMG e os aspectos clínicos da
doença. Participaram do estudo 100 mulheres com fibromialgia e 50 do grupo controle
saudáveis.. Os achados encontrados demonstram que os valores absolutos de Fmed
foram significativamente menores em ambos os músculos estudados em pacientes
com fibromialgia em relação aos controles saudáveis. Conclui-se que foram
encontrados algumas modificações musculares interessantes em paciente com
fibromialgia e que os valores resultam numa diminuição significativa da Fmed dos
mesmos, em comparação com o grupo controle.
Num estudo realizado por Castro (2012), as diferenças nos valores de Fmed
encontradas com pacientes diabéticos, apresentadas com valores inferiores aos
pacientes não diabéticos, podem estar associadas, segundo o autor, ao menos em
parte, a disfunções no tecido neural, mudanças estruturais desencadeadas pela
resistência insulínica no tecido muscular e alterações metabólicas apresentadas pelos
diabéticos.
As razões para essas inconsistências podem incluir: as técnicas para detectar
alterações na FM/Fmed, o protocolo utilizado para obter a relação FM/Fmed-força e o
tipo de músculo em estudo investigado. Apesar disso, Guimarães et al. (1994), relatou
em seu estudo que alguns músculos têm uma relação EMG/força de forma linear.
Solomonow et al.(1990), encontraram que as relações entre EMG/força
também dependem da estratégia de controle muscular exercidas durante a contração
muscular.
Em relação aos valores de RMS, em nosso estudo, nota-se uma diferença, não
significativa, mas inferior aos valores encontrados nos participantes do estudo da
comunidade de Barreiras em detrimento dos participantes da Z20 – Alter do Chão.
74
No estudo de Castro (2012), o autor coloca que, embora não tenham sido
observadas diferenças significativas entre os grupos estudados, nota-se que os
valores de RMS para o grupo de diabéticos foram aparentemente superiores para
ambos os sinais de EMG. O autor sugere que, tal fato, se deve em partes, ao aumento
na duração dos potenciais de ação das UM e a uma maior taxa de sincronização de
potenciais observados em pacientes com diabetes.
Porém, nos estudos de Coriolano (2011), o RMS de sujeitos “normais” foi
levemente maior em todos os canais que o RMS dos sujeitos que apresentam
diagnóstico de Doença de Parkison, situação semelhante encontrada em nossos
estudos.
Nos estudos de Kaishou (2012), realizado com crianças que apresentavam
sequelas de paralisia cerebral, o presente estudo indicou que o RMS da mão não
afetada durante a contração/teste de força muscular para as crianças com paralisia
cerebral foi maior do que o RMS da mão afetada durante a contração, o que pode
sugerir, segundo o autor, uma fraca capacidade de recrutamento muscular no laco
acometido das crianças com paralisia cerebral.
75
8. CONCLUSÃO
Os resultados mostraram que no teste de força de preensão palmar medida
através da dinamometria manual na população exposta ao mercúrio, a intensidade da
função motora não foi afetada, assim como quando a força muscular foi avaliada
funcionalmente através da eletromiografia entre os grupos estudados. Contudo, os
achados da avaliação eletromiográfica (RMS e frequência mediana), demonstram
valores inferiores, não estatisticamente significantes, para a comunidade de Barreiras
do que na população de Santarém, o que pode sugerir uma tendência nos músculos
que deveriam estar envolvidos para promover a força, em não estarem sendo
recrutados de maneira adequada, ou possam estar entrando em fadiga ou ainda
demonstrando disfunções neuromotoras, de acordo com os estudos semelhantes.
O IMC não influenciou na intensidade da força e na avaliação eletromiografica
dos indivíduos expostos ao mercúrio nem dos não expostos. Já o percentual de
gordura da comunidade não exposta (GZ) demonstrou uma correlação negativa com
a frequência mediana e RMS, bem como a massa magra demonstrou correlação
positiva com a força muscular nas duas comunidades estudadas.
Considerando a técnica inovadora na avaliação da força muscular em
indivíduos expostos ao mercúrio por meio da eletromiografia, há necessidade de
novos estudos e extensão deste, tendo em vista a recomendação desta técnica como
um marcador prático e aplicável na identificação de dano inicial na exposição
prolongada a baixos níveis de mercúrio oriundo da dieta.
76
REFERÊNCIAS
ABBATECOLA, AM; FERRUCCI,L; CEDA, GP; RUSSO,CR; LAURETANI, F; BANDINELLI, S; BARBIERI, M; VALENTI,G AND PAOLISSO,G. Insulin Resistance and Muscle Strength in Older Persons. J Gerontol A BiolSci Med, v.60,n.10,p.1278-1282, 2005. doi: 10.1093/gerona/60.10.1278
AL SNIH S, MARKIDES KS, RAY L, OSTIR GV, GOODWIN JS. Handgrip strength and mortality in older Mexican Americans. J Am GeriatrSoc., v.50, p.1250-56, 2002
AL-HASHEL, JASEMY. ; ROUSSEFF,ROSSENT. ; KHURAIBET, ADNANJ. ; TZVETANOV, PLAMEN†. Single-Fiber Eletromiografiados músculos faciaisede membros empacientes diabéticoscom ousem neuropatia. Journal of Clinical Neurophysiology: October – v.31, Issue 5, p.450-455. 2014 ALMEIDA, CAROLINA ANTUNES PEREIRA. Investigação de Parâmetros Espectrais do EMG Aplicáveis à Terapia por Biofeedback. Dissertação de mestrado do Programa de Engenharia Biomédica da UFRJ/COPPE/. Rio de Janeiro: UFRJ, p.76, 2010. ANDRZEJEWSKA, R; JASKÓLSKI, A; JASKÓLSKA, A; GOBBO, M; ORIZIO, C.Eletromiograma apresenta durante a diminuição de torque linear e suas alterações com a fadiga. Eur J Appl Physiol. Outubro – v.114 n.10, p.2105-17, 2014. BAKIR F, H RUSTAM, S TIKRITI, SF AL-DAMLUJI AND H SHIHRISTANI. Clinical and epidemiological aspects of methylmercury poisoning. Postgrad. Med. J., v.56, p. 1-10, 1980 BANDPEIM,A; RAHMANI,N; MAJDOLESLAM,B; ABDOLLAHI,I; ALI S,S; AHMAD,A.Confiabilidadeda eletromiografia de superfíciena avaliaçãoda fadiga muscularparavertebral: uma revisão sistemática atualizada. J manipulativo PhysiolTher. setembro; v.37 n.7, p.510-21, 2014 BARBOSA, R; SOUZA, JMP; LEBRÃO, ML; LAURENTI, R; MARUCCI, MFN. Functional limitation of the Brazilian elderly: data from SABE. Cad SaúdePública, v.21, n.4, p.1177-85, 2005. BARTUZI,P; ROMAN,LIU. D. Avaliação da carga de fadiga muscular e com autilização de frequência e o tempo de análise de frequências do sinal de EMG. Acta Bioeng Biomech, 2011 BASSEY EJ. Longitudinal changes in selected physical capabilities: muscle strength, flexibility and body size. Age Ageing; v.27, n.S3, p.12-16,1998. BAZZICHIL, DINIM, ROSSIA, CORBIANCOS, DE FEOF, GIACOMELLIC, ZIRAFAC, CFERRARI, ROSSIB, BOMBARDIERIS. Muscle modifications in fibromyalgic patients revealed by surface electromyography (SEMG) analysis. BMC Musculoskelet Disord. Apr 15, 2009.
77
BELO LR, GOMES NA, CORIOLANO MD, DE SOUZA ES, MOURA DA, ASANO AG, LINS OG.The relationship between limit of Dysphagia and average volume per swallow in patients with Parkinson's disease.Disfagia. Ago, v.29, 2014. BERTUZZI RCM, FRANCHINI E, KISS MAPD. Análise da força e da resistência de preensão manual e as suas relações com variáveis antropométricas em escaladores esportivos. Rev Bras Ciên Mov; v.13, n.1, p.87-93, 2005 BIAGETTIL, PCRIPPA, CURZIA,ORCIONIS, TURCHETTIC.Análise do sinalEMGdurante os movimentoscíclicosUsandoMulticomponentesAM-FM de decomposição. IEEE J Biomed Saúde Inform. Setembro, v.8, 2014 BOHANNON, R.W..Hand-grip dynamometry predicts future outcomes in aging adults. Journal of Geriatric Physical Therapy, v.31, n.1, p.3-10, 2008. BROWNDM,BRAYSR. Isometric exercise and cognitive function: an investigation of acute dose-response effects during submaximal fatiguing contractions. J Sports Sci. p.1-11. Sep 26. 2014. BRUNE,D.;NORDBERG G.F.; VESTERBERG O.; GERHARDSSON, L.; WESTER, P.O. The Science of the Total Environment, Elsevier Science Publishers, v. 100 p.235-282, Amsterdam 1991 CAPORRINO FA, FALOPPA F, SANTOS JBG, RESSIO C, SOARES FHC, NAKACHIMA LR. Estudo populacional da força de preensão palmar com dinamômetro Jamar. Rev Bras Ortop.;v. 33, n. 2, p.150-4. 1998 CASALE, R. et al.. Central motor control failure in fibromyalgia: a surface. BMC Musculoskeletal Disorders, v. 10, n. 78, 2009. CASTRO e SOUZA, LA; MARTINS, JC; TEIXEIRA-SALMELA, LF; GODOY, MR; AGUIAR, LT; FARIA, CDCM. Avaliação da força muscular pelo teste do esfigmomanômetro modificado: uma revisão da literatura. Fisioter. Mov., Curitiba, v. 26, n. 2, p. 437-452, abr./jun. 2013. CAVAZZOTTO, T. G.; TRATIS, L.; FERREIRA, S.A.; FERNANDES, R.A.; QUEIROGA, M.R. Desempenho em testes de força estática: comparação entre trabalhadores hipertensos e normotensos.Rev Assoc Med Bras, v.58, n.5, p.574-579,2012. CERVENY D, ZLABEK V, VELISEK J, TUREK J, GRABIC R, GRABICOVA K, FEDOROVA G, ROSMUS J, LEPIC P, RANDAK T. Contamination of fish in important fishing grounds of the Czech Republic. Ecotoxicol Environ Saf. Nov, v.109, p.101-9. 2014 CHILIMA DM, ISMAIL SJ. Nutrition and handgrip strength of older adults in rural Malawi. Public Health Nutr; v.4, n.1, p.11-17, 2001.
78
COLDHAM F, LEWIS J, LEE H. The reliability of one vs. three grip trials in symptomatic and asymptomatic subjects. J Hand Ther., v. 19, n.3, p.318-27, 2006 COSTA, L.C.A.; ROHLFS, D.B. O mercúrio e suas consequências para a saúde. Monografia de Especialização em Programa De Pós-Graduação Em Biociências Forenses da Pontifícia Universidade Católica De Goiás, 2012 CVIJETIĆ,S; GRAZIO,S; GOMZI,M; KRAPAC,L; NEMČIĆ,T; UREMOVIĆ, M; BOBIĆ, J. Muscle strength and bone density in patients with different rheumatic conditions: cross-sectional study. Croat Med J. v. 52, p.164-70,2011. DAVIS JW, ROSS PD, PRESTON SD, NEVITT MC, WASNICH RD. Strength, physical activity, and body mass index: relationship to performance-based measures and activities of daily living among older Japanese women in Hawaii. J Am GeriatrSoc, p.274-79, 1998 De LUCA, C. J.. The Use of Surface Electromyography in Biomechanics. Journal of Applied Biomechanics, v. 13, p.: 135-1 63, 1997. DEL VECCHIO, F.B. Qualidade de vida e avaliação física em intoxicados por mercúrio: estudo observacional transversal. Revista Conexõesv.3, n.1,p.113, 2005. DOLBEC, J; MERGLER,D; SOUSA PASSOS, CJ; SOUSA DE MORAIS, S; LEBEL,J. Methylmercury exposure affects motor performance of a riverine population of the Tapajos river, Brazilian Amazon. Int Arch Occup Environ Health , v.73, p. 195-203, 2000. ENOKA, R. M.. Bases Neuromecânicas da Cinesiologia. São Paulo: Ed. Manole, 2000. FARIAS, LA. Avaliação do conteúdo de mercúrio, metilmercúrio e outros elementos de interesse em peixes e em amostras de cabelos e dietas de pré-escolares da região amazônica. Tese de doutorado. Instituto de pesquisas energéticas e nucleares/Ciências na área de tecnologia nuclear-aplicações/USP. São Paulo, 2006 FARINA D, FOSCI M, MERLETTI R. Motor unit recruitment strategies investigated by surface EMG variables. J Appl Physiol. V. 92, n.1, p. 235-247, 2002 FESS, E.E. Grip Strength. Clinical Assessment Recommendations, 2ª edição. Chicago: American Society of Hand Therapistis, 1992. FIGUEIREDO, I M; SAMPAIO, R F; MANCINI, M C; SILVA, F.C.M; SOUZA, M.A.P. Teste de força de preensão utilizando o dinamômetro Jamar. Acta Fisiatr; v.14 n.2, p. 104 – 110, 2007
FILLION M, PHILIBERT A, MERTENS F, LEMIRE M, PASSOS CJ, FRENETTE B, GUIMARÃES JR, MERGLER D.Neurotoxic sequelae of mercury exposure: an intervention and follow-up study in the Brazilian Amazon. Ecohealth. Jun; v.8,n.2, p.210-22, 2011
79
GENÇPINAR, P; BÜYÜKTAHTAKIN, B; IBIŞOĞLU, Z; GENÇ, S; YILMAZ, A; MIHÇI, E.Intoxicação por Mercúrio como Causa de Hipertensão Intracraniana.J Neurol Criança. Agosto, v. 13. 2014 GHOSHP, S; SORENSONE,J. Rendimento diagnóstico de eletromiografia em crianças com distúrbios de miopatias. Pediatr Neurología. Ago. 2014. GIAMPAOLI,S; FERRUCCI, L; CECCHI,F; LO NOCE,C; POCE, A; DIMA,F; SANTAQUILANI, A; VESCIO,MF;MENOTTI,A. Hand-grip strength predicts incidente disability in non-disabled older men. Age and Ageing, v.28,p.283-288,1999. GOMES, A. A. et al.. Electromyography and Kinematic Changes of Gait Cycle at Different Cadences in Diabetic Neuropathic Individuals. Muscle Nerve, v. 44, p.: 258–268, 2011. GONÇALVES, A.; GOLÇALVES E SILVA, N.N. Exposição humana ao mercúrio na Amazônia brasileira: uma perspectiva histórica. Revista Panamericana de Salud Pública. Washington,v.16, n.6 Dec. 2004 GUIMARÃES AC, HERZOG W, HULLIGER M, ZHANG YT, DAY S. EMG-force relationship of the cat soleus muscle studied with distributed and non-periodic stimulation of ventral root filaments. J Exp Biol.; 186: 75-93.1994
HAWKESD, H; ALIZADEHKHAIYAT, O; KEMP, GJ; FISHER, AC; ROEBUCKM, M; FROSTICKS, P. Avaliação eletromiográfica da fadiga muscular em grande ruptura do manguito rotador.J Electromyogr Kinesiol. Sep 28. V. 11, n. 14, p. 00197-7, 2014 HERMENS, H.J.; FRERIKS, BART; DISSELHORST-KLUG, C.; RAU, G.Development of recommendations for SEMG sensors and sensor placement procedures. Journal of Electromyography and Kinesiology, 10, 361–374. 2000 IBITOYEM, O; ESTIGONIE, H; HAMZAIDN, A; WAHABA, K; DAVIS, GM.A eficáciade potenciais EMG FES-evocadas para avaliara força musculare fadigaem indivíduos comlesão medular. Sensores(Basel).julho; v. 14, n. 7, p.12598-622, 2014 IKEMOTO Y, DEMURA S, YAMAJI S, MINAMI M, NAKADA M,. UCHIYAMA M. Force-time parameters during explosive isometric grip correlate with muscle power. Sport Sci Health; v.2, n.2, p. 64-70, 2007 KALLIOJ; SØGAARDK; AVELAJ; KOMIPV; SELANNEH; LINNAMOV. Motor unit discharge rate in dynamic movements of the aging soleus.Frente Hum Neurose., Sep, v. 29, 2014. KANGSK, KIM J, KWONM, EOMH. A objetividade e a validade do método de EMG na estimativado limiar anaeróbio.Int J Sports Med. agosto; v.35, n.9, p. 737-42, 2014 KARLSSON S, GERDLE B. Mean frequency and signal amplitude of the surface EMG of the quadriceps muscles increase with increasing torque – a study using continuous walvelet transform. J Electromyogr Kinesiol.; v.11, n.2, p. 131-140, 2001
80
KHOURY; EDT; SOUZA,GS; SILVEIRA, LCL; COSTA,CA; ARAÚJO, AA; PINHEIRO, MCN. Manifestações neurológicas em ribeirinhos de áreas expostas ao mercúrio na Amazônia brasileira. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,v. 29, n.11,p.2307-2318, nov, 2013 KNUTTGEN, G. H.; KRAEMER, W. J. Terminology and Measurement in Exercise Performance. J ApplPhysiol Sport Sci Res, v. 1, n. 1, p:.1-10, 1987. KONRAD, P. The ABC of EMG. A Pratical Introduction to Kinesiological electromyography. Norax Inc. USA, 2005. LACERDA, L.D.; MALM, O. Contaminação por mercúrio em ecossistemas aquáticos: uma análise das áreas críticas. Estudos avançados, v.22,n.63, p. 173-190,2008. LACERDA L.D.; SALOMONS, W.Mercury from Gold and Silver Mining: A chemincal Time Bomb.Springer-Verlag, 1998. LATRONICON,NATTINOG, GUARNERIB,FAGONIN, AMANTINIA, BERTOLINIG; G. Validation of the peroneal nerve test to diagnose critical illness polyneuropathy and myopathy in the intensive care unit: the multicentre Italian CRIMYNE-2 Diagnostic accuracy study.jun.eCollection, 2014. LAURITIL,SILVAPF, POLITTIF,BIASOTTO-GONZALEZ DA,FERNANDESKP, MESQUITA-FERRARI RA, BUSSADORISK.Pattern of electromyographic activity in mastication muscles of adolescents with temporomandibular disorder.J Phys Ther Sci. Oct 25, 2013 LEBEL J, MERGLER D, LUCOTTE M, AMORIM M, DOLBEC J, MIRANDA D, ARANTEÁ S G, RHEAULT I, PICHET P. Evidence of early nervous system dysfunction in Amazonian populations exposed to low-levels of methylmercury. Neurotoxicology, v.17, p.157-168, 1996. LEBEL J, MERGLER D, BRANCHES F, LUCOTTE M, AMORIM M, LARRIBE F, DOLBEC J. Neurotoxic effects of low-level methylmercury contamination in the Amazonian basin. Environ Res, v.79,p.20-32, 1998. LIMONTAE,RAMPICHINIS, CE E,ESPOSITOF.Effects of visual feedback absence on force control during isometric contraction.EurJApplPhysiol. Nov 04.2014. LINDSTROM, L.; KADERFORS,R.; PETERSEN,I. Na electromyographic index for localized muscle fatigue. JournalofAppliedPhysiology, v.43, p. 750-754, 1977 LIU JL, XU XR, YU S, CHENG H, PENG JX, HONG YG, FENG XB.Mercury contamination in fish and human hair from Hainan Island, South China Sea: Implication for human exposure. Environ Res. Sep 25;135C:42-47. 2014 LOSS, J.; ZARO, M.; GODOLPHIM, B.H.; GODOLPHIM, B.; MICHEL, C. Sugestão de método para correlacionar força muscular e eletromigorafia. Revista Movimento. Ano IV, n.8 – 1998/1.
81
LUAH,KIMC,KWONM, CHEN YT, ONUSHKOT,LODHAN,CHRISTOUEA.Force Control Is Related to Low-Frequency Oscillations in Force and Surface EMG.PLoS One. Nov, v. 05, 2014. MARSH D.O. Organic mercury: methylmercury compounds, In Intoxications of the Nervous System – Part I. Handbook of Clinical Neurology, Vol. 36, North Holland: Amsterdam, The Netherland, p. 73-81, 1979 MARSH DO, TW CLARKSON, C COX, GJ MYERS, L AMIN-ZAKI AND S AL- TIKRITI Fetal methylmercury poisoning. Relationship between concentration in single strands of maternal hair and child effects. Arch. Neurol. V.44, p. 1017-1022. 1987 MASSY-WESTROPP,NM; GILL,TK; TAYLOR,AW; BOHANNON, RW; HILL, CL. Hand Grip Strength: age and gender stratified normative data in a population-based study. BMC Research Notes , v. 4, p. 127, 2011, http://www.biomedcentral.com/1756-0500/4/127. MATHIOWETZ V, WEBER K, VOLLAND G, KASHMAN N. Reliability and validity of grip and pinch strength evaluations. J Hand Surg.; v. 9 n.2, p.222-6, 1984 MATSUDO, S; ARAÚJO, T; MATSUDO, V; ANDRADE, D; ANDRADE, E; OLIVEIRA, LC; BRAGGION, G. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Ver. Bras. Ativ. Fis. Saúde. V.6, n.2, p 05-18, 2001 MIRANDA, J; LUNDBERG,I; MCCONNELL,R; DELGADO,E; CUADRA,R; TORRES,E; WESSELING,C; KEIFER,M . Onset of Grip- and Pinch-Strength Impairment after Acute Poisonings with Organophosphate Insecticides., v. 8, n.1, p. 19-26, 2002. MACANIFF CM, BOHANNON RW. Validity of grip strength dynamometry in acute reha- bilitation. J Phys Ther Sci.;v. 14, n.1, p.41-6, 2002 MACDERMID JC, KRAMER JF, WOODBURY MG, MCFARLANE RM, ROTH JH. Interrater reliability of pinch and grip strength measurements in patients with cumulative trauma disorders. J Hand Ther.;v. 7, n.1, p.10-4, 1994 MATSUDO, S.; ARAUJO, T.; MATSUDO, V.; ANDRADE, D.; ANDRADE, E.; OLIVEIRA, L.C.; BRAGGION.G. Questionário internacional de atividade física (IPAQ): estudo de validade e reprodutibilidade no Brasil. Rev. Bras. Ativ. Fís. Saúde., v. 6, n. 2, p. 5-12, 2001. MCN, MACCHI BM, VIEIRA JLF, OIKAWA T, AMORAS WW, GUIMARÃES GA, et al. Mercury exposure and antioxidant defenses in women: a comparative study in the Amazon region. Environ Res, v. 107, p.53-9, 2008 MELDRUM D, CAHALANE E, CONROY R, GUTHRIE R, HAR-DIMAN O. Quantitative assessment of motor fatigue: normative values and comparison with prior-polio patients. Amyotroph Lateral Scler; v, 8, n. 3, p.170-176, 2007
82
MOHAMMADIP1,AKBARIM,SARRAFZADEHJ, MORADIZ.Comparação daatividade dos músculos respiratórios e da capacidade de exercício em pacientes com escoliose idiopática e indivíduos saudáveis.PhysiotherTeoriaPract. novembro; v. 30, n.8, p. 552-6, 2014 MYERS GJ, PW DAVIDSON, C COX, C SHAMLAYE, E CERNICHIARI AND TW CLARKSON. Twenty-seven years studying the human neurotoxicity of methylmercury exposure. Environ. Res.v. 83, p.275-285, 2000
ONISHI H, YAGI R, AKASAKA K, MOMOSE K, IHASHI K, HANDA Y. Relationship between EMG signals and force in human vastus lateralis muscle using multiple bipolar wire electrodes. J Electromyogr Kinesiol.; v.10, n.1, p. 59-67, 2000
PAIKM.KAMATHA.GOELV. Effect of Red Bull energy drink on muscle performance: an electromyographic overview. J Sports Med Phys Fitness. Oct, 2014. PEPLOW D, AUGUSTINE S.Neurological abnormalities in a mercury exposed population among indigenous Wayana in Southeast Suriname. Environ Sci Process Impacts. Oct;v. 16, n.10):2415-22. 2014 PEOLSSON A, HEDLUND R, OBERG B. Intra- and Inter-Tester Reliability and Reference Values For Hand Strength. J Rehab Med.;v. 33, n.1, p.36-41. 2001 PICOLOTO, D.; SILVEIRA, E. Prevalência de sintomas osteomusculares e fatores associados em trabalhadores de uma indústria metalúrgica de Canoas – RS .Ciência & Saúde Coletiva, v.13, n.2, p.507-516, 2008. PIGINIL; COLOMBINID; RABUFFETTIM; FERRARINM. Avaliação da sobrecarga biomecânica relacionada ao trabalho: técnicas para a aquisiçãoe análise do sinal EMG de superfície. MedLav. Mar-Apr, 2010. PINHEIRO MCN, FARRIPAS SSM, OIKAWA T, COSTA CA, AMORAS WW, VIEIRA JLF, et al. Temporal Evolution of exposure to mercury in riverside communities in the Tapajós Basin, from 1994 to 2010. Bull Environ Contam Toxicol; v. 89, p.119-24, 2012. PINHEIRO, M.C.N. Exposição mercurial e defesas antioxidantes em mulheres ribeirinhas da Amazônia. 144 f. Tese Núcleo de Medicina Tropical. Universidade Federal do Pará, Belém.2005. PINHEIRO, M.C.N.; CRESPO-LÓPEZ, M.E.; VIEIRA, J.L.F.; OIKAWA, T.; GUIMARÃES, G.A.; ARAÚJO, C.C.; AMORAS, W.W.; RIBEIRO, D.R.G.; HERCULANO, A.M.; NASCIMENTO, J.L.M.; SILVEIRA, L.C.L. Mercury pollution and childhood in Amazon riverside villages. Environ. Int. v. 33, p. 56–61, 2007. PINHEIRO, M.C.N.; GUIMARÃES,G.A.; NAKANISHI, J.; OIKAWA, T.; VIEIRA, J.L.; QUARESMA, M.; CARDOSO, B.; AMORAS, W. Avaliação da contaminação mercurial mediante análise do teor de Hg total em amostras de cabelo em comunidades
83
ribeirinhas do Tapajós, Pará, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med.Trop., v.33,n.2,p.181-184, mar-abr, 2000. PINHEIRO, M.C.N.; GUIMARÃES,G.A.; NAKANISHI, J.; OIKAWA, T.; VIEIRA, J.L.; QUARESMA, M.; CARDOSO, B.; AMORAS, W.; HARADA, M.; MAGNO, C.; XAVIER, M.B.; BACELAR, D.R.Exposição humana ao metilmercúrio em comunidades ribeirinhas da Região do Tapajós, Pará, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical vol.33 n.3 Uberaba May/June , 2000 PINHEIRO, M.C.N.; OIKAWA, T.; VIEIRA, J.L.F.; GOMES, M.S.V.; GUIMARÃES, G.A.; CRESPO-LÓPEZ, M.E.; MÜLLER, R.C.S.; AMORAS, W.W.; RIBEIRO, D.R.G.; RODRIGUES, A.R.; CÔRTES, M.I.T.; SILVEIRA, L.C.L. Comparativestudyofhumanexposuretomercury in riversidecommunities in theAmazon region.Braz J MedBiol Res, v. 39, n. 3, p. 411-414, 2006. PINHEIRO, M.C.N.; MACCHI BM, VIEIRA, J.L.F.; GOMES, AMORAS WW.; GUIMARÃES G.A.; et al. Mercury exposure and antioxidant defenses in womem: a comparative study in the Amazon region. Environ Res, v. 107, n. 53-9, 2008. PINHEIRO, M.C.N.; GUIMARÃES,G.A.; NAKANISHI, J.; OIKAWA, T.; VIEIRA, J.L.; QUARESMA, M.; CARDOSO, B.; AMORAS, W.; HARADA, M.; MAGNO, C.; XAVIER, M.B.; BACELAR, D.R.Exposição humana ao metilmercúrio em comunidades ribeirinhas da Região do Tapajós, Pará, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical vol.33 n.3 Uberaba May/June , 2000. POLLOCK, M.L.; WILMORE, J.H. Exercício na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. São Paulo: Medsi, 1993.
PORTNEY L. Eletromiografia e testes de velocidade de condução nervosa. In: Sullivan O, Susan B, Shmitz-Thomaz J. Reabilitação Física: avaliação e tratamento. 2 ed. São Paulo: Manole;. p.183-223.1993 RANTANEN T, VOLPATO S, FERRUCCI L, HEIKKINEN E, FRIED LP, GURALNICK JM. Handgrip strength and cause- especific and total mortality in older disabled women: exploring the mechanism. J AmGeriatr Soc., v. 51,p.636- 641, 2003. RUMBOLTCB, HOOPERDR. Which hand is worse? Concordance between patient perception and electrodiagnostic results in carpal tunnel syndrome. MuscleNerve. Oct 7. 2014. RUSTAM,H; VON BURG, R; AMIN-ZAKI,LM; HASSANI,SE. Evidence for a neuromuscular disorder in methylmercury poisoning. Clinical and electrophysiological findings in moderate to severe cases. Arch. Environ Health, v.30, p. 190- abril 1975. SANDE LP, COURY HJCG, OISHI J, KUMAR S. Effect of muscoloskeletal disorders on prehension strength. Appl Ergon;32(6):609-616. 2001
84
SÁ, A L, HERCULANO, A M, PINHEIRO, M C, SILVEIRA, L C L, NASCIMENTO, J LM e CRESPO, M E. Exposição Humana Ao Mercúrio Na Região Oeste Do Estado Do Pará. Revista Paraense de Medicina, v.20, n.1, janeiro - março 2006 SABUTSK, LENKAPK, KUMARR, M.MAHADEVAPPA. Effect of functional electrical stimulation on the effort and walking speed, surface electromyography activity, and metabolic responses in stroke subjects.J Electromyogr Kinesiol. Dec 20. 2010. SANEMASA, I. The solubility of elemental Mercury vapor in water. Bulletin of the Chemical Society of Japan, v.48, p.1795-1798, 1975. SANTOS,EOS; JESUS,IMJ; BRABO,ESB; LOUREIRO,ESB; MASCARENHAS,AFS; WEIRICH,J; CAMARA, VM; CLEARY, D. Mercury Exposures in Riverside Amazon Communities in Para, Brazil. Environmental Research Section A, n.84,p.100-107, 2000. SEGIZBAEVAMO; TIMOFEEVNN; DONINAZA; KUR'YANOVICHEE; ALEKSANDROVANP.Efeitosdo treinamento muscular inspiratóriosobrea resistência à fadigados músculos respiratóriosdurante o exercícioexaustivo. Adv Exp Med Biol, 2014
SCHLÜSSEL, M. M. Dinamometria manual de adultos residentes em Niterói, Rio de Janeiro: estudo de base populacional. Dissertação de mestrado. Universidade federal do Rio de Janeiro. 2006
SODERBERG GL, KNUTSON LN. A Guide for use and interpretation of kinesiology electromyographic data. Phys Ther. V.80, n.5, p. 485-498, 2000
SOLOMONOW M. The EMG-force relationship of skeletal muscle dependence on contraction rate, and motor units control strategy. Electromyogr Clin Neurophysiol.; v.30, n. (3), p. 141-152, 1990
SURESH,M; NICHOLLS, PG; DAS, L & WIM H. VAN BRAKEL. Voluntary muscle testing and dynamometry in diagnosis of motor impairment in leprosy: a comparative study within the INFIR Cohort Study. Lepr Rev ,v.79, p.277–294, 2008. TAKEUCHI T, N MORIKAWA, H MATSUMOTO AND Y SHIRAISHI. A pathological study of Minamata disease in Japan. Acta Neruropathol., v. 2, p. 40-57, 1962. TREDGETT MW, DAVIS TRC. Rapid repeat testing of grip 1. strength for detection of faked hand weakness. J Hand Surg [Br], v. 25, n.4, p.372-375, 2000 TROSSMAN PB, LI PW. The effect of the duration of intertrial rest periods on isometric grip strength performance in young adults. OccupTher J Res.v.9, p.362-78, 1989 VALENTINI, J. Efeito da sazonalidade na exposição ao mercúrio e nos marcadores de estresse oxidativo e de inflamação em populações ribeirinhas da Amazônia. Ribeirão Preto,. 140p.: Il,;30 cm. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto/USP – Área de concentração: Toxicologia. 2012
85
WHO. Environmental Health Criteria 101: Methylmercury. International Programme of Chemical Safety, (World Health Organization, Geneve, Switzerland). 1990 WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and manging the global epidemic report of a WHO consultation on obesity. Geneva: World health Organization, 2000. WASSSERMAN, J.C, HACON, S.S., WASSERMAN, M.A. O ciclos do mercúrio no ambiente amazônico. Rev. Mundo e Vida, v.2, n.1/2, 2001. XUK, MAIJ, ELEL, YANX, Y.CHEN. Surface Electromyography of Wrist Flexors and Extensors in Children with Hemiplegic Cerebral Palsy.PMR. Sep, v.19, 2014. YOON BN, CHOI SH, RHA JH, KANG SY, LEE KW, SUNG JJ.Comparison between Flail Arm Syndrome and Upper Limb Onset Amyotrophic Lateral Sclerosis: Clinical Features and Electromyographic Findings.Exp Neurobiol. Sep, v. 23, n.3, p.253-7. 2014 ZAVARIZ, C. GLINA, D.M.R. Avaliação clínico-neuro-psicológica de trabalhadores expostos a mercúrio metálico em indústria de lâmpadas elétricas. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v.26, n.5, p.356-65,1992. ZIAMBARAS,K; DAGOGO-JACK,S. Reversible Muscle Weakness in Patients With Vitamin D Deficiency. Alerts, Notices, and Case Reports 435. WJM, v. 167; n. 6, December 1997.
86
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Prof. José Maria Araújo da UEPA, Santarém – PA
Ferreira, Patricia Reyes de Campos
Avaliação da força de preensão manual como indicador de dano neuromuscular causado pelo
mercúrio em ribeirinhos da região do Tapajós-Pará/ Patrícia Reyes de Campos Ferreira; Orientador,
Maria da Conceição Nascimento Pinheiro, Belém, 2014.
86f.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Medicina Tropical, Pós Graduação
em Doenças Tropicais/ Belém-PA, 2014.
1. Mercúrio 2. Ribeirinhos 3. Força de preensão manual 4. Eletromiografia I. Título
CDD 615.925663