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NIETZSCHE O Filósofo da suspeita O Filósofo da suspeita

NIETZSCHE O Filósofo da suspeita. Observação preliminar: Schopenhauer termina por negar o noumeno (o fundo ontológico). –Se tudo o que existe é constituído

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NIETZSCHE

O Filósofo da suspeita

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Observação preliminar:

• Schopenhauer termina por negar o noumeno (o fundo ontológico). – Se tudo o que existe é constituído pelo sujeito

através dos próprios princípios a priori e das próprias categorias, o mundo se reduz a uma minha representação, daí somente o sujeito poder ao fenômeno.

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Schopenhauer

Sob a influência de Kant

Fenômeno

Noumeno

Minha representação

Fundo ontológico

Coisa p/ mim

Coisa em si

Vida

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Principais temas de Nietzsche:• O que é Zaratustra?

–“Uma luz se acendeu para mim: é de companheiros de viagem que eu preciso, e vivos – não de companheiros mortos e cadáveres, que carrego comigo pra onde eu quero ir. Mas é de companheiros vivos que eu preciso, que me sigam porque querem seguir a si próprios – e para onde eu quero ir. Uma luz se acendeu para mim: não é ao povo que deva falar Zaratustra, mas a companheiros! Não deve Zaratustra tornar-se pastor e cão de um rebanho. Desgarrar muitos do rebanho – foi para isso que eu vim. Devem vociferar contra mim povo e rebanho: rapinante quer chamar-se Zaratustra para os pastores. Pastores digo eu, mas eles se denominam os bons e justos. Pastores digo eu: mas eles se denominam os crentes da verdadeira crença. Vede os bons e justos! Quem eles odeiam mais? Aquele que quebra suas tábuas de valores, o quebrador, o infrator: - mas este é o criador. Vede os crentes de toda crença! Quem eles odeiam mais? Aquele que quebra suas tábuas de valores, o quebrador, o infrator: - mas este é o criador (...)”

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• O que é Niilismo?– Do francês nihilisme:

• 1. Redução a nada; Aniquilamento; • 2. Descrença absoluta; • 3. Filosofia:

– Doutrina segundo a qual nada existe de absoluto;

• 4. Ética: – Doutrina segundo a qual não há verdade moral nem

hierarquia de valores;

• 5. Política: – Doutrina segundo a qual só será possível o progresso

da sociedade após a destruição do que socialmente existe.

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• O que é Amor Fati?– Amor à vida como a vida é!!!

• “A noção de “Deus” inventada como noção-antítese à vida – tudo nocivo, venenoso, caluniador, toda a inimizade de morte à vida, tudo enfeixado em uma horrorosa unidade! Inventada a noção de “além”, “mundo verdadeiro”, para desvalorizar o único mundo que existe – para não deixar à nossa realidade terrena nenhum fim, nenhuma razão, nenhuma tarefa! A noção de “alma”, “espírito”, por fim “alma imortal”, inventada para desprezar o corpo, torná-lo doente – “Santo” - , para tratar com terrível frivolidade todas as coisas que na vida merecem seriedade, as questões de alimentação, habitação, dieta espiritual, assistência a doentes, limpeza, clima! Em lugar da saúde a “salvação da alma” – isto é, uma loucura circular entre convulsões de penitência e histeria de redenção!

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• A noção de “pecado” inventada juntamente com o seu instrumento de tortura, a noção de “livre-arbítrio”, para confundir os instintos, para fazer da desconfiança frente aos instintos uma segunda natureza! Na noção de “desinteressado”, de “negador de si mesmo”, a verdadeira marca de décadence, a sedução do nocivo, a incapacidade de encontrar o próprio proveito, a autodestruição, convertidos no signo de valor absolutamente, no “dever”, na “santidade”, no “divino” no homem! Por fim – é o mais terrível – na noção do homem bom a defesa de tudo o que é fraco, doente, malogrado, que sofre de si mesmo, tudo o que deve perecer - , contrariada a lei da seleção, tornada um ideal a oposição ao homem orgulhoso, que vingou, que diz Sim, que está seguro, que dá garantia do futuro – este chama-se agora o mau... E nisso tudo acreditou-se como moral!”

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• O que é Eterno Retorno?• O mais pesado dos pesos – artigo 341 de “A

Gaia Ciência”: – “E se um dia ou uma noite um demônio se

esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: ‘Esta vida, assim como tu a vives e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes; e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indizivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e seqüência – e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio.

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• A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez – e tu com ela, poeirinha da poeira!’ – não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias: ‘Tu és um deus, e nunca ouvi nada mais divino!’ Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse; a pergunta diante de tudo e de cada coisa: ‘quero isto ainda uma vez e ainda inúmeras vezes?’ pesaria como o mais pesado dos pesos sobre teu agir! Ou então, como terias de ficar de bem contigo mesmo e com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?”

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• Nietzsche o apresenta: – Por um lado como assustador, mortífero,

misterioso e extraordinário;– Por outro como libertador e como a ‘fórmula

suprema da afirmação’; • Mas o que é o eterno retorno:

– Seria a doutrina de que o curso do mundo se repete em ciclos idênticos? (Heráclito e o estoicismo já pensavam assim);

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• Três aspectos que levam a radicalizar o pensamento do eterno retorno:

• A repetição de tudo = nada se perde; até o menor suspiro, cada pensamento, cada prazer e cada dor, todos os pequenos e grandes acontecimentos retornarão;

• O retorno de tudo, na mesma disposição, sem qualquer possibilidade de variação: “tudo na mesma ordem e seqüência”;

• O retorno de tudo, que acontece sempre outra vez, na mesma ordem e seqüência:

– O interlocutor terá de viver esta sua vida atual não apenas uma vez, mas ainda incontáveis vezes;

– A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez;

– Isso também implica sem dúvida que ele já a viveu infinitas vezes.

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• A luta para aceitar o eterno retorno: (contra o abismo interior) – as armas de Zaratustra: apresta-se como sendo:

– O sem Deus – que ensina que Deus está morto;– O porta-voz da vida, que se volta contra a fuga e

negação do mundo;– O porta-voz do sofrimento, para quem o sofrimento

não representa uma objeção contra a vida;– O porta-voz do círculo, que se pronuncia contra

toda forma de consideração teleológica;

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Os animais de Zaratustra, o que são: serpente = esperteza, águia =orgulho.

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Mito da caverna“Zaratustra x Platonismo”

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“Zaratustra X Jesus – Cristianismo”

Zaratustra quer naturalizar a vida Quer desnaturalizar a vida

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A obra - estilo literário“Assim falava Zaratustra”

• É uma espécie original de pregação moral?• É uma poesia ou um quinto evangelho ou algo para o

qual ainda não existe nome? – Lembrando que Nietzsche sempre combateu o estilo poeta;

• Afirma o próprio Nietzsche: – “a que rubrica pertence com efeito esse Zaratustra? Creio que

é quase à das sinfonias”. (carta de 2 de abril de 1883);• A obra segundo Gast pertence aos escritos sagrados.

(carta de 6 de abril de 1883);• A obra é pregação, mas não somente, pois também é

anti-pregação, exige de nós que deixemos falar nosso si-mesmo e nada aceitemos por mera autoridade;

• A obra é poesia, mas não somente, pois os poetas são desmascarados como mentirosos;

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• A obra é um quinto evangelho, mas não somente, pois anuncia a morte de Deus e representa todo sagrado como estabelecido por uma vontade de potência humana:

– (...) “Ai, meus irmãos, esse deus, que eu criei, era obra humana e delírio humano, igual a todos os deuses! Homem era ele, e apenas um pobre pedaço de homem e de eu: de minha própria cinza e brasa ele veio a mim, esse espectro, e – em verdade! Não me veio do além! O que aconteceu, meus irmãos? Eu me superei, a mim sofredor, eu levei minha própria cinza à montanha, uma chama mais clara inventei para mim. E vede! O espectro se afastou de mim! Sofrimento seria para mim agora, e tormento para o convalescente, acreditar em tais espectros: sofrimento seria para mim agora, e rebaixamento. Assim falo eu aos ultramundanos. Sofrimento foi, e foi impotência – o que criou todos os ultramundos; e aquele curto delírio de felicidade, que somente o mais sofredor experimenta. Cansaço, que de um salto quer chegar até o último, de um salto mortal; um pobre cansaço ignorante, que nem mesmo querer quer mais: foi ele que criou todos os deuses e ultramundos” (...).

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• A obra é uma pregação moral, mas não somente, pois incita a quebrar todas as “velhas tábuas”. “Tomar para si o direito a novos valores.”– (...) “Em verdade, os homens se deram todo o seu bem e mal.

Em verdade, eles não o tomaram, eles não o encontraram, não lhes caiu como uma voz do céu. Valores foi somente o homem que pôs nas coisas, para se conservar – foi ele somente que criou sentido para as coisas, um sentido de homem! Por isso ele se chama de ‘homem’, isto é: o estimador. Estimar é criar: ouvi isto, ó criadores! O próprio estimar é, para todos as coisas estimadas, tesouro e jóia. Somente pelo estimar há valor: e sem o estimar a noz da existência seria oca. Ouvi isto, ó criadores! Mutação dos valores – essa é a mutação daqueles que criam. Sempre aniquila, quem quer ser um criador. Criadores foram primeiro os povos, e só mais tarde os indivíduos; em verdade, o próprio indivíduo é ainda a mais jovem das criações. Povos suspendiam outrora uma tábua do bem sobre si. Amor, que quer dominar, e amor que quer obedecer, criaram juntos, para si, tais tábuas” (...).

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Quem é Zaratustra?• Ele é poeta;• Ele é profeta• Ele é fundador de religião;• Ele é moralista;• E, sem dúvida, nada disso!• Ele é um sedutor, mas tal que gostaria de seduzir

cada um para si mesmo;• Visa ao tornar-se si-mesmo, não tem nenhum si-

mesmo pelo qual responde?• Visa à auto-suficiência, à síntese, ao futuro do

indivíduo como da humanidade;• Em tudo busca a superação, auto-superação da moral

= “espírito do peso”.

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O que temos de superar?• A preguiça e a pusilanimidade = renegar nosso

verdadeiro si-mesmo:– “Ainda combatemos palmo a palmo com o gigante Acaso, e

sobre a humanidade inteira reinou até agora a insensatez, o sem-sentido. Que vosso espírito e vossa virtude sirvam ao sentido da terra, meus irmãos: que o valor de todas as coisas seja renovado por vós! Para isso devíeis ser combatentes! Para isso deveis ser criadores! Sabendo purifica-se o corpo; ensaiando com saber ele se eleva; naquele que conhece santificam-se todos os impulsos; naquele que se elevou, a alma se torna gaia. Médico, ajuda a ti próprio: assim ajudas também a teu doente. Seja esta tua melhor ajuda, que ele veja com seus olhos aquele que cura a si próprio. Mil veredas há, que nunca foram andadas ainda, mil saúdes e ilhas escondidas da vida. Inesgotados e enexplorados estão ainda o homem e a terra do homem” (...).

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• Minha doutrina está em perigo: por quê? Isto pois, sentenças e pensamentos, intenções tomadas ao pé da letra por pessoas que não os conquistaram e vivenciaram e por isso não têm nenhum direito sobre eles;

• Zaratustra (fim da primeira parte) exorta seus discípulos a renegá-lo e a procurarem a si mesmos. (quem repete maquinalmente, o macaco de Zaratustra);

• Homens superiores – têm coragem de voltarem-se para si mesmos (torna-te que tu és! – o homem que quer encontrar a si mesmo precisa ter coragem de sustentar suas opiniões como de atacá-las;

• O que quer Zaratustra: ‘conceber a realidade como ela é, ele é forte o bastante para isso, ele não é a ela estranho, ele é ele mesma, ele também tem ainda em si tudo o que nela é terrível e questionável’.

O medo de Zaratustra

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• Da concepção do eterno retorno ao Niilismo:

– Depois da superação dos pressupostos platônicos – cristãos, vem a experiência do Niilismo – depois de superar toda metafísica: “de que vale caminhar para diante e para cima: por mais longa e alto que alguém possa chegar, de novo cairá, recairá em si mesmo”.

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• Imagem de Schopenhauer:– O cego poderoso = a vontade;– Carrega o vidente paralítico = o intelecto;– O anão – personificação do Niilismo fraco,

fuga do mundo = Schopenhauer;– A imagem para Nietzsche – caricatura do

homem platônico-cristão: “o cavaleiro paralítico (intelecto) usurpou o domínio às custas do corpo, escravizou-o, fez da terra um vale de lágrimas e deixou a nós, homens, como única esperança extinguir-se no nada”.

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Quem é mais forte?

– A vontade criadora de Zaratustra?– O paralisante espírito de peso?– A luta se dá na solução de um enigma: quem pode

suportar o pensamento abissal?– Livrar-se da carga: “anão! Tu! Ou eu!”;– Consciência: “tu anão, não conheces meu

pensamento abissal! Esse – tu não poderias carregar”.

– O pensamento do curso circular certamente também lhe é familiar;

– O anão: há tempo é ateu, canta uma canção de sofrimento.