Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
MedievalistaOnline
28 | 2020Número 28Luís Filipe Oliveira (dir.)
Édition électroniqueURL : http://journals.openedition.org/medievalista/3267DOI : 10.4000/medievalista.3267ISSN : 1646-740X
ÉditeurInstituto de Estudos Medievais - FCSH-UNL
Référence électroniqueLuís Filipe Oliveira (dir.), Medievalista, 28 | 2020, « Número 28 » [En ligne], mis en ligne le 01 juillet 2020,consulté le 24 mars 2021. URL : http://journals.openedition.org/medievalista/3267 ; DOI : https://doi.org/10.4000/medievalista.3267
Ce document a été généré automatiquement le 24 mars 2021.
Mediavalista está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0Internacional.
SOMMAIRE
A Medievalista e a continuidade das mudanças
EditorialA Medievalista e a continuidade das mudançasA Redacção
Destaque
dois insignes medievistas franceses que o COVID 19 vitimou
In memoriam Francisc Rapp (n. 1926) e Michel Parisse (n. 1936)dois insignes medievistas franceses que o COVID 19 vitimouArmando Luís de Carvalho Homem
Dossier Temático: Eclesiásticos na diplomacia, na administração e nalegitimação das monarquias medievaisPortugal, Leão e Castela, França e Inglaterra
Portugal, Leão e Castela, França e Inglaterra: uma apresentação
Eclesiásticos na diplomacia, na administração e na legitimação das monarquias medievaisPortugal, Leão e Castela, França e Inglaterra: uma apresentaçãoMaria João Branco et Hermínia Vilar
redes e protagonistas ao tempo de D. Pedro
O clero e as Cortes de 1361redes e protagonistas ao tempo de D. PedroHermínia Vasconcelos Vilar
os legistas na afirmação da nova dinastia
De João das Regras ao Conselho Régioos legistas na afirmação da nova dinastiaArmando Luís de Carvalho Homem
El rol de los eclesiásticos en la construcción de la legitimidad “internacional” de la dinastíaportuguesa de los Avis (1383-1433)Néstor Vigil Montes
administración y esfera doméstica (siglos XII-XV)
Clérigos al servicio de las Coronas de León y Castillaadministración y esfera doméstica (siglos XII-XV)Francisco José Díaz Marcilla
la participación eclesiástica castellana
Diplomacia y construcción monárquicala participación eclesiástica castellanaÓscar Villarroel González
Les évêques de Provence et la diplomatie royale sous Charles II (1285-1309)Thierry Pécout
Faction and Politics in the International Career of a Lancastrian Servant
Clerk, Chancellor, Castaway (1374–1419)Faction and Politics in the International Career of a Lancastrian ServantTiago Viúla de Faria
Medievalista, 28 | 2020
1
Artigos
monges e bispos medievais em uma disputa pelas emoções públicas
A Santidade Enfurecidamonges e bispos medievais em uma disputa pelas emoções públicasLeandro Duarte Rust
análise e objecções
O realismo direto na teoria da cognição intelectual de Tomás de Aquinoanálise e objecçõesGilson Damasceno Linhares
The Evolution of Different Fonts in the Coptic Churches Throughout the CenturiesMary Magdy Anwar
Recensões
ANDRADE, Amélia Aguiar; TENTE, Catarina; SILVA, Gonçalo Melo; PRATA, Sara (eds.) –Inclusão e Exclusão na Europa Urbana Medieval. Inclusion and Exclusion inMedieval Urban Europe. Lisboa: Instituto de Estudos Medievais-Câmara Municipal deCastelo de Vide, 2019 (552 pp.)Maria Helena da Cruz Coelho
CLÉMENT, François (dir.) – Épidémies, épizooties. Des représentations anciennes auxapproches actuelles. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2017 (264 pp.)André Filipe Oliveira da Silva
MUÑOZ GÓMEZ, Víctor – El poder señorial de Fernando “el de Antequera” y los de suCasa. Señorío, redes clientelares y sociedad feudal en Castilla durante la baja EdadMedia. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 2018, (533 pp.).Arsenio Dacosta
LADERO QUESADA, Miguel Ángel – Ciudades de la España Medieval. Introducción a suestúdio. Madrid: Dykinson, 2019 (264 pp.)Paula Pinto Costa
DONNELLY, Andrew - Cooking pots, and cultural transformation in Imperial and LateAntique Italy. PhD thesis. Loyola University Chicago, 2016 (298 pp.)José Carlos Quaresma
Apresentação de Teses
Arquivos e práticas arquivísticas de famílias de elite (Portugal, séculos XV-XVII).Tese de Doutoramento em História/Arquivística Histórica, apresentada à FCSH-UNL emNovembro de 2019. Orientação da Professora Doutora Maria de Lurdes RosaAlice Borges Gago
Paisajes monásticos. El monacato altomedieval en los condados catalanes (siglos IX-X). Tese de Doutoramento em História apresentada à Universidade de Barcelona (Espanha),Julho de 2019. Orientação das Professoras Blanca Garí e Maria Soler-SalaXavier Costa Badia
Medievalista, 28 | 2020
2
The Discourses of Holy War and the Memory of the First Battles of Islam. Al-Andalus, 10th - 13th centuries. Tese de doutoramento em História Medieval, apresentada àUniversidad Autónoma de Madrid, 2020. Orientação dos Professores Carlos de AyalaMartínez e Mercedes García-ArenalJavier Albarrán Iruela
Varia
Materialidades e Devoções (sécs. V-XV)Vincent Debiais
novas pistas de trabalho
Investigando os cancioneiros medievais galego-portuguesesnovas pistas de trabalhoMargarida Leme et Graça Videira Lopes
Um pintor português em Itália nas vésperas do Renascimento
Exposição MNAA: Alvaro Pirez d’ÉvoraUm pintor português em Itália nas vésperas do RenascimentoIsabel Cristina Fernandes
Jornadas Internacionais
Terra, Pedras e Cacos do Garb al-AndalusJornadas InternacionaisIsabel Cristina Fernandes
Medievalista, 28 | 2020
3
A Medievalista e a continuidade das mudanças
EditorialA Medievalista e a continuidade das mudanças
Editorial : Medievalista – continuity and change
A Redacção
1 A Medievalista renovou-se e a vários títulos. Para começar, simplificou o nome e
renunciou ao on line no título, que fizera sentido em 2005, quando Luís Krus a criou eeram poucas as revistas electrónicas. Se o apodo era testemunho do suporte que arevista escolhia, não havia então, nem há agora, outra Medievalista e ele nunca foinecessário para a designar, nem para a distinguir. Desapareceu desta vez, sem que ofacto altere a natureza electrónica da revista e a sua disponibilização em acesso aberto.
2 A mudança do nome acompanhou outras modificações. Uma foi interna e consistiu na
alteração do director da Medievalista. O facto não é novidade na história da revista, ondea rotação dos mandatos sempre se encarou como uma rotina habitual, salutar em todosos grupos e instituições. Essa alternância não terá outras consequências, tanto mais queo anterior director se manterá como membro activo da Redacção. A segunda delas émais facilmente reconhecível e passou pela renovação do grafismo que a revista agoraapresenta e que se manterá nos próximos números. Não foi a primeira vez que issoaconteceu: em 2010, ao celebrar os primeiros cinco anos de publicação, já se modificarao figurino precedente.
3 Mas a actual renovação gráfica é diferente. Em boa parte, porque resulta de uma
decisão estratégica, que vinha a ser há muito discutida e preparada pela Redacção e queera necessária para resolver os custos e os problemas postos pela comunicação entre osconteúdos da Medievalista e as plataformas que a indexavam e divulgavam (Scielo,Lusopen, Dialnet, Latindex, etc). Do ponto de vista técnico, a transferência entre elasexigia trabalhos adicionais para adequar os textos aos seus distintos critérios e uminvestimento que nos últimos anos crescera mais que o orçamento da Medievalista. Oproblema resolveu-se através do abandono do sistema anterior e da adopção de umprograma de gestão e de edição de revistas electrónicas, o Open Journals Systems (OJS), deacesso aberto e que facilita a migração dos conteúdos para aquelas plataformas. Pelas
Medievalista, 28 | 2020
4
novidades e alterações que implicava, a transferência para o novo programa foiaproveitada para renovar o grafismo da revista.
4 Com tantas mudanças, manteve-se o que era essencial. A Medievalista preservou a
herança do passado — processo de avaliação duplamente anónimo (autor e avaliadores),abertura a investigadores doutras geografias e doutras línguas, aposta na difusão denovos estudos através da organização de dossiers e de números temáticos —, econservou boa parte da sua identidade gráfica, talvez até com algum ganho de causa.Mas ela pode fazer mais e quer fazer melhor. Se é verdade que o novo programa degestão e de edição simplifica o processo de submissão de artigos e de proposta dedossiers e de números temáticos, podendo permitir o aumento das submissões comoutras proveniências, a Medievalista pretende multiplicar essas colaborações e afirmar-se como uma revista de referência internacional nos estudos medievais. Tal como jáaconteceu em números anteriores e volta a suceder no actual, apostará na ediçãoregular de dossiers com abordagens inovadoras e multidisciplinares, capazes de cruzardiferentes realidades e perspectivas. Mas procurará dar, de igual modo, um caráctermais sistemático e mais abrangente a algumas das rubricas habituais. Como asrecensões, as notícias, e, em particular, as apresentações de teses, que podem e devemservir como montra do que de melhor se vai fazendo num medievalismo que ganhacada vez mais uma escala global. Por estar certa do interesse e da competência dotrabalho já realizado, a Medievalista espera que a qualidade da sua actividade editorialseja reconhecida, à imagem do que aconteceu recentemente com a investigaçãodesenvolvida nos últimos anos pelo Instituto de Estudos Medievais.
5 O número actual não foge aos propósitos atrás enunciados. Dele faz parte um dossier
sobre o papel dos eclesiásticos na diplomacia, na administração e na legitimação dasmonarquias medievais, coordenado por Maria João Branco e por Hermínia Vilar. Aindaque este seja adiante apresentado por quem de direito, há que sublinhar a diversidadedos estudos e das perspectivas, bem como a importância das colaborações vindas deoutros países e de outras historiografias. Que se regista com agrado.
6 O número integra, ainda, outros três artigos, vindos de áreas disciplinares distintas e
todos de autores exteriores à península. No primeiro deles, Leandro Rust oferece umaestimulante análise dos processos de confronto e de afirmação dos poderes eclesiásticosna Florença do século XI, feita a partir do questionamento específico do papel dasemoções nessas dinâmicas. Insere-se num campo historiográfico em afirmação, e, pelavariedade das fontes e pelo prisma com que estas foram analisadas, traz observaçõesimportantes sobre a relação do discurso histórico com a narrativa literária e sobre opapel das emoções na construção de uma visão mais complexa do passado. Por outrolado, Gilson Linhares trata o universo da filosofia tomista, discutindo eproblematizando o lugar do realismo directo na gnoseologia do Doutor dominicano. Porfim, Mary Magdy Anwar propõe um itinerário pela geografia do mundo cristão copta.Pelas suas igrejas e pelo papel que nelas tinham as diferentes fontes, evocativas, desdelogo, da centralidade do baptismo na tradição cristã, sem descartar outros usos da água,como elemento de purificação ritual, ou integrador de outras celebrações sacramentais,como a unção dos doentes. Os dados apresentados estimulam o interesse pelo universomenos conhecido desta outra tradição cristã, que desde os primeiros séculos medievaisse distinguiu da ortodoxia vigente e se afirmou através de costumes muito próprios.
7 Nas secções seguintes mantém-se a diversidade das abordagens e das proveniências dos
autores. Assim nas recensões, com a apresentação de obras sobre a história urbana e a
Medievalista, 28 | 2020
5
estruturação das casas senhoriais, a arqueologia tardoantiga e altomedieval, ou sobre otema das epidemias, infelizmente tão actual. Assim nas teses apresentadas, agora comum maior peso das que foram defendidas em Espanha. Aí se divulgam investigaçõesinovadoras nos domínios da arquivística histórica, em particular dos arquivos defamília, pela mão de Alice Borges Gago; da configuração do monacato nos condadoscatalães dos séculos IX e X, numa região de fronteira entre a área de influênciacarolíngia e o espaço ibérico, estudada por Xavier Costa Badia; e dos discursos de guerrasanta e da construção da memória das primeiras batalhas do Islão no al-Andaluz,analisados com perspicácia por Javier Albarrán Iruela. Assim, também, na Varia, comnotícias de eventos promovidos por várias entidades, desde congressos a exposições.Como se desta junção de áreas diversas, da história à arqueologia, à literatura e àhistória da arte, resultasse uma outra polifonia.
8 Como seria de esperar, termina-se com o texto de abertura. Da responsabilidade de
Armando Luís de Carvalho Homem, faz-se nele uma justa e sentida homenagem a doishistoriadores franceses recentemente falecidos, por causa da actual pandemia: FrancisRapp e Michel Parisse. Fazer memória do seu contributo é um dever de elementarjustiça no âmbito do medievalismo europeu, que tanto recebeu dos seus estudos, dasequipas e projectos que lideraram, ou das sínteses que propuseram sobre aspectos tãofundamentais da história comum. Ao mesmo tempo, eles constituem um desafio àconstante reinvenção da investigação no campo das ciências sociais e humanas, ao rigore à abertura ao novo e ao diferente e aos questionamentos com que se abrem outrasperspectivas. É com estes singelos avanços que se constrói um saber que procura, afinal,a compreensão mais profunda e integradora da condição humana e dos traços da suaconstrução no espaço e no tempo em que esta inevitavelmente acontece.
9 A Medievalista
Medievalista, 28 | 2020
6
Destaque
Medievalista, 28 | 2020
7
dois insignes medievistas franceses que o COVID 19 vitimou
In memoriam Francisc Rapp (n. 1926)e Michel Parisse (n. 1936)dois insignes medievistas franceses que o COVID 19 vitimou
In memoriam Francisc Rapp (b. 1926) and Michel Parisse (b.1936): two
distinguished medievalists victims of COVID 19
Armando Luís de Carvalho Homem
Francis Rapp
Medievalista, 28 | 2020
8
Michel Parisse
1 A pandemia em que estamos mergulhados não tem poupado homens e mulheres de
Ciência, artistas, criadores literários, músicos, actores …: pensemos, tão somente eentre nós, na imunologista Maria de Sousa (1939-2020).
2 Março e Abril do ano em curso levaram-nos dois nomes sonantes do medievismo
francês. Evoquemo-los, portanto.
3 Membro do Institut de France (Académie des Inscriptions et Belles-Lettres) [1993 ss.],
professor emérito da Universidade de Estrasburgo, Francis Rapp nasceu nesta cidade a27 de Junho de 1926. Feitos os estudos secundários e superiores em colégios e liceus epor último na Universidade da sua cidade-natal; entusiasta, também, do escotismo1, em1952 obterá a agrégation d’Histoire, com elevada classificação.
4 Seguiram-se alguns tempos como bolseiro da Fondation Dosne-Thiers (1956-1961). No
último ano mencionado torna-se chargé de cours da Universidade de Nancy e em 1972assistente de História Medieval da Université Marc Bloch de Estrasburgo2. No mesmoano obtém o doctorat d’État, e em 1974 ascende a maître de conférences e depois aprofessor em Estrasburgo.
5 A tese principal para o doctorat intitulou-se Réformes et réformation à Strasbourg. Église et
socièté dans le diocese de Strasbourg (1450-1525)3. Teve como orientador Robert Folz(1910-1996)4 e como co-orientador Jean Schneider (1903-2004)5. Ou seja, Rapp surge-nosgeograficamente marcado por cidades, figuras e instituições da Alsácia-Lorena, bemcomo pelos destinos iniciais dos Annales. Para além disto, a sua geografia predominantetê-lo-á levado a um encarar em termos colaborantes do catolicismo e doprotestantismo.
6 A sua cátedra de Estrasburgo não o impediu de ensinar também “História do
Cristianismo” na Faculdade de Teologia Protestante da mesma cidade (1972-1991), eainda na Universidade de Neuchâtel e em múltiplas escolas superiores da Europa e daAmérica.
7 Em 1971 editou, na colecção “Nouvelle Clio”, o volume sobre Igreja e vida religiosa nos
finais da Idade Média6, que de algum modo faz conjunto com os volumes sincrónicos deJacques Heers (1924-2013) – para a história económica e social – e de Bernard Guenée(1927-2010) – para as estruturas políticas7.
Medievalista, 28 | 2020
9
8 E em 1989 dar-nos-ia Les origines médiévales de l’Allemagne moderne8. As sínteses, aliás,
nunca deixaram de o atrair, sobre o Império germânico, Estrasburgo (a cidade, religiãoe reformas religiosas, a diocese…), a Alsácia, instituições monásticas alemãs9, entreoutros.
9 Morreu a 29 de Março do ano em curso, no Centre hospitalier universitaire d’Angers,
onde se encontrava internado.
10 Foi casado com Marie-Rose Sutter (1936-2018), e de tal matrimónio houve três filhos.
11 Michel Parisse nasceu em 1936 em Void-Vacon (Mosa). Fez os seus estudos liceais e
superiores em Nancy, e em 1959 obteve a agrégation d’histoire. Professor liceal em Metzde 1959 a 1965, neste último ano começa a ensinar, primeiro como assistente, depoiscomo professor de História Medieval, na Universidade de Nancy-II10. Obtido, entretanto,o doctorat de IIIe cycle (1966, tese: Actes des évêques de Metz [1120-1179]) e o doctorat d’État
(1975, tese: La Noblesse lorraine [XIe – XIIIe siècle]), torna-se definitivamente professor emNancy-II, instituição a que ficará ligado até 1992.
12 Será entretanto Director do ARTEM (Atelier de recherche sur les textes médiévaux et
leur traitement assisté), de 1983 à 1993. O ARTEM, fundado em 1966 enquanto “Centrede Recherches et d’Applications Linguistiques”, pela iniciativa de Jean Schneider dedesenvolver a pesquisa sobre os textos, graças aos recém-nascidos utensílios da ciênciainformática, assume à partida como tarefa o estudo do vocabulário e da língua dostextos diplomatísticos da Idade Média, constituindo um recenseamento exaustivo dosactos originais conservados em França até 1120 (neste eixo de trabalho, a sucessão deMichel Parisse foi assegurada por Benoît-Michel Tock). Outros eixos ou “ateliers”vieram completar o primeiro (atelier Vincent de Beauvais em 1974, atelier de textosmonásticos em 1986 e atelier de prosopografia e de história social em 1994). Enquantodirector do ARTEM, Michel Parisse foi substituído por Pierre Pégeot.
13 Dirigiu igualmente a Mission historique française na Alemanha, em Göttingen, de 1985 a
1991. E em 1991-1992 estava de regresso a Nancy.
14 Em 1993 foi eleito professor de História Medieval em Paris-I, e aí ficará até se aposentar
(2002).
15 Pela sua acção à frente do ARTEM e depois na Universidade de Paris-I, nomeadamente
no seio do Laboratoire de médiévistique occidentale de Paris (LaMOP), contribuiu parao desenvolvimento dos estudos medio-latinos (introduziu o estudo do latim medievalnos cursos de licenciatura e de post-graduação de Paris-I) e estudos de diplomática e depaleografia, particularmente no que toca os actos episcopais, as pancartas e oscartulários.
16 Num balanço de carreira, dir-se-á que os seus campos de investigação foram a Lorena
medieval (incluindo a nobreza respectiva), o Sacro-Império, os cónegos regulares e asreligiosas, o latim e as fontes diplomatísticas.
17 Embora as notícias biográficas a que tive acesso não indiquem o(s) orientador(es) de
tese, pude, entretanto, verificar a muita consideração que suscitava junto de figurascomo Robert-Henri Bautier (1922-2010) e Robert Fossier (1927-2012).
18 Lisboa, 3 de Maio de 2020
Medievalista, 28 | 2020
10
BIBLIOGRAFIA
Francis Rapp: Bibliografia activa (selecção)
Inventaire des sources manuscrites de l’histoire d’Alsace conservées dans les bibliothèques publiques de
France. Paris: Fédération des sociétés d’histoire et d’archéologie d'Alsace, 1956.
Le Château-Fort dans la vie médiévale: Le Château-Fort et la Politique territoriale. Strasbourg: Centre
d'Archéologie médiévale, 1968.
L’Église et la Vie Religieuse en Occident à la fin du Moyen Âge. Paris: PUF, 1971 [coll. “Nouvelle Clio”,
n.º 25].
Réformes et Réformation à Strasbourg. Église et Société dans le diocèse de Strasbourg (1450-1525). Paris:
Ophrys, 1974.
(Dir.) Grandes Figures de l’humanisme alsacien. Courants, milieux, destins. Strasbourg: Istra, 1978.
(Dir.) Histoire de Strasbourg des origines à nos jours. 9 vols. Strasbourg: Dernières nouvelles de
Strasbourg, 1981.
Les Origines médiévales de l’Allemagne moderne. De Charles IV à Charles Quint (1346-1519). Paris: Aubier,
1989.
Histoire des diocèses de France: Le Diocèse de Strasbourg. Paris: Éditions Beauchesne, 1997.
(Colaboration avec. Claude Muller) Koenigsbruck : l’histoire d’une abbaye cistercienne. Strasbourg:
Société d’histoire et d’archéologie du Ried Nord, 1998.
Le Saint-Empire romain germanique, d’Otton le Grand à Charles Quint. Paris: Éditions du Seuil, 2003.
(Dir.) Christentum und Kirche im 4. und 5. Jahrhundert. Heidelberga: Universitätsverlag Winter, 2003
(Dir.) Christentum IV: Zwischen Mittelalter und Neuzeit (1378-1552). Stugard: Kohlhammer, 2006.
Maximilien d'Autriche. Paris: Éditions Tallandier, 2007.
(Dir.) Protestants et Protestantisme en Alsace de 1517 à nos jours. Strasbourg: Fédération des sociétés
d’histoire et d’archéologie d'Alsace, 2007.
(Dir.) Strasbourg. Paris: La Nuée Bleue, 2010.
Francis Rapp: Bibliografia passiva
BISCHOFF, Georges – “Francis Rapp”. Arche. Arts, Civilisation et histoire de l’Europe (2020/03/20) [em
linha]. [Consultado a 2 Maio 2020]. Disponível em https://arche.unistra.fr/actualites-agenda/fil-
infos/actualite/?tx_ttnews%5Btt_news%5D=11535&cHash=5cfb23a51f7fe7647d6d21be42cd1a85.
CATINCHI, Philippe-Jean – “Le Médiéviste Francis Rapp est mort”. Le Monde [em linha]
(2020/03/30). [Consultado a 2 Maio 2020]. Disponível em https://www.lemonde.fr/disparitions/
article/2020/ 03/30/le-medieviste-francis-rapp-est-mort_6034926_3382.html.
“Francis Rapp”. Académie d’Alsace des Sciences, Lettres et Arts [em linha]. [Consultado a 3 Maio
2020]. Disponível em http://www.academie-alsace.fr/comit%C3%A9/comit%C3%A9-d-honneur/
francis-rapp/.
FUCHS, François-Joseph – “Francis Rapp”. in Nouveau Dictionnaire de Biographie alsacienne. Fasc. 30.
Strasbourg: Fédération des Sociétés d'Histoire et d'Archéologie d'Alsace, 1997, pp. 3083-3084.
Medievalista, 28 | 2020
11
“L’Historien Francis Rapp meurt à 93 ans du coronavírus”, Le Figaro [em linha] (2020/03/30).
[Consultado a 2 Maio 2020]. Disponível em https://www.lefigaro.fr/culture/l-historien-francis-
rapp-meurt-a-93-ans-du-coronavirus-20200330.
MEHL, Jean-Michel – “Francis Rapp: un historien amoureux”. Mélanges offerts à Francis Rapp, Revue
d’Alsace 122 (1996), pp. 5-8.
RACINE, Pierre – “Hommage à Francis Rapp”. Revue des Sciences religieuses 69-2 (1995), pp. 143-145.
“Rapp Francis, Jean, Josep”. in Académie des Inscriptions et Belles-Lettres [em linha]. [Consultado a 2
Maio 2020]. Disponível em https://www.aibl.fr/membres/academiciens-depuis-1663/article/
rapp-francis-jean-joseph?lang=fr.
THEIS, Laurent – “Francis Rapp est mort”, L’histoire [em linha] (2020/04/02). [Consultado a 2 Maio
2020]. Disponível em https://www.lhistoire.fr/hommage/francis-rapp-est-mort.
Michel Parisse: Bibliografia activa (selecção)
“Le nécrologe de Gorze. Contribution à l’histoire monastique”. Mémoires des Annales de l’Est 40
(1971).
Actes des princes lorrains. Nancy: Université de Nancy-II, U.E.R. de recherche régionale, 1972-1974.
“Les chartes des évêques de Metz au XIIe siècle: étude diplomatique et paléographique”. Archiv für
Diplomatik 22 (1976), pp. 272-316.
Histoire de Nancy. Toulouse: Privat, 1978.
La Lorraine monastique au Moyen Âge. Nancy: Service des publications de l'Université de Nancy II,
1981.
“Les Benedictines de Lorraine et leurs Documents Necrologiques”. Consuetudines monasticae: eine
Festgabe für Kassius Hallinger aus Anlass seines 70. Geburtstages (Rome: Pontificio Atenos S. Anselmo)
85 (1982), pp. 249-262.
La Noblesse lorraine (XIe – XIIIe siècle). Ed. parcial: Noblesse et chevalerie en Lorraine médiévale: les
familles nobles du XIe au XIIIe siècle. Nancy: Service des publications de l'Université de Nancy II,
1982.
Les Nonnes au Moyen Âge. Lepuy-en-Velay: C. Benneton, 1983.
La tapisserie de Bayeux: Un documentaire du XIe siècle. S.l.: Denoël, 1983.
Les religieuses en France au XIIIe siècle. Nancy: Service des publications de l'Université de Nancy II,
1985 (2e éd., 1989).
Histoire de la Lorraine. Toulouse: Privat, 1987.
Austrasie, Lotharingie, Lorraine. Metz: Editions Serpenoise; Nancy: Presses universitaires de Nancy,
1990.
Actes des évêques de France. Nancy: Presses universitaires de Nancy, 1991.
Atlas de la France de l'an Mil: état de nos connaissances. Paris: Picard, 1994.
Atlas de l’an Mil. Paris: Picard, 1994.
La Vie de Jean, abbé de Gorze. Paris: Picard, 1999. Apresentação e tradução da obra.
Les Médiévistes français. Paris: Picard, 2001.
Allemagne et Empire au Moyen Âge: 400-1510. Paris: Hachette, 2002.
Medievalista, 28 | 2020
12
Manuel de paléographie médiévale: manuel pour grands commençants. Paris: Picard, 2006.
Allemagne et Empire au Moyen âge. 2e éd. revue et augmentée. Paris: Hachette supérieur, 2008.
Michel Parisse: obras colectivas
(Dir., c/ Stéphane Gaber et Gérard Canini). Grandes dates de l'histoire lorraine. Nancy: Service des
publications de l'Université de Nancy-II, 1982.
(Dir., c/ Xavier Barral i Altet). Colloque Hugues Capet, 987-1987, la France de l'an mil. Le roi de France et
son royaume autour de l'An mil. Paris: Picard, 1992.
(Dir., c/ Otto Gerhard Oexle). L'abbaye de Gorze au Xe siècle: table ronde de Gorze, septembre 1988.
Nancy: Presses universitaires de Nancy, 1993.
(Dir., c/ Olivier Guyotjeannin e Laurent Morelle). Les cartulaires: actes de la Table ronde organisée par
l'Ecole nationale des chartes et le GDR 121 du CNRS, Paris, 5-7 décembre 1991. Paris: École des chartes,
1993.
(Dir., c/ Sylvain Gouguenheim, Pierre Monnet e Joseph Morsel). L'Allemagne au XIIIe siècle: de la
Meuse à l'Oder. Paris: Picard, 1994.
(Dir., c/ Pierre Heili). Les chapitres de dames nobles entre France et Empire: actes du colloque d'avril
1996. Remiremont: Société d'histoire locale de Remiremont / Messene, 1998.
(Dir., c/ Monique Bourin). L’Europe au siècle de l’an Mil. Paris: Hachette, 1999.
(Dir., c/ Monique Goullet). Les historiens et le latin médiéval: colloque tenu à la Sorbonne, les 9, 10 et 11
septembre 1999. Paris: Presses de la Sorbonne, 2001.
(Dir., c/ Monique Goullet). Apprendre le latin médiéval: manuel pour grands commençants, 3e éd. Revue
et corrigée. Paris: Picard, 2005.
(Dir.) Les chanoines réguliers: émergence et expansion, XIe – XIIIe siècles, Colloque international du Puy-
en-Velay, 29 juin-1er juillet 2006. Saint-Étienne: Publications de l'Université de Saint-Étienne, 2009.
Michel Parisse: Bibliografia passiva
GAZEAU, Véronique – “Michel Parisse est mort”. L’histoire [em linha] (2020/04/06). [Consultado a
2 Maio 2020]. Disponível em https://www.lhistoire.fr/hommage/michel-parisse-est-mort.
MORELLE, Laurent – “Mort du médiéviste Michel Parisse, emporté par le Covid-19 à l’âge de 83
ans”. Le Monde [em linha] (2020/04/20). [Consultado a 2 Maio 2020]. Disponível em https://
www.lemonde.fr/disparitions/article/2020/04/20/la-mort-du-medieviste-michel-
parisse_6037180_3382.html.
PERREAUX, N. – “Décès de Michel Parisse”. Les Carnets du LaMOP [em linha] (2020/04/07).
[Consultado a 3 Maio 2020]. Disponível em https://lamop.hypotheses.org/6738.
NOTAS
1. O que, a partir de 1942, lhe serviu para evitar a incorporação conscrita nas forças alemãs, ao
que era refractário.
2. Entre 1968 e 2008 a Universidade em causa dividiu-se em Strasbourg-I, II, e III, sendo que
Strasbourg-II chegou a ostentar o nome de Université Marc Bloch.
3. Paris: Ophrys, 1974.
4. Natural de Metz, estudou também em Estrasburgo, mas a Guerra retardou-lhe o doctorat para
1949. Viria a ensinar longamente em Dijon (1950-1986). De qualquer modo, tornar-se-ia um
Medievalista, 28 | 2020
13
verdadeiro mediador historiográfico entre a Alemanha e a França (foi um notável estudioso de
Carlos Magno, da sua memória e da sua lenda, bem como da santidade de reis e rainhas
medievais), onde teve o seu papel na divulgação de autores como E.-H. Kantorowicz (1895-1963).
Membro correspondente do Institut de France.
5. Membro do Institut de France, natural de Metz, estudou em Besançon e Estrasburgo, e
começou por ensinar nos liceus de Sarreguemines, Metz (1932-1939) e Montpellier, e por último
na Universidade de Nancy, como chargé d’enseignement (1943). Mas no ano seguinte é preso pela
Gestapo e deportado para Struthof e depois para Dachau. Regressa a Nice com o fim da guerra, e
em 1948 aí obtém o doctorat d’État (tese: La Ville de Metz aux XIIIe et XIVe siècles, 1950). Em Nancy vai
ensinar longamente, tornando-se também directeur d'études da École pratique des hautes études
(1957-1974).
6. V. infra, bibliografia activa.
7. Cf., respectivamente: L’Occident aux XIVe et XVe siècles. Aspects économiques et sociaux. Paris: PUF,
1970 (com reedições) e L’Occident aux XIVe et XVe siècles. Les États, 4.ª ed. Paris: PUF, 1991.
8. V. infra, bibliografia activa.
9. V. infra, bibliografia activa, títulos publicados entre 1971 e 2010.
10. Entre 1970 e 2012, esta Universidade dividiu-se em Nancy-I e Nancy-II. No último ano
mencionado, e seguindo uma tendência que é já do século XXI, deu-se a reunificação, que
englobou ainda a Universidade Paul Verlaine – Metz e o l'Institut national polytechnique de
Lorraine, tudo isto dando origem à nova Universidade da Lorena.
AUTOR
ARMANDO LUÍS DE CARVALHO HOMEM
Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Departamento de História e de Estudos Políticos e
Internacionais; Universidade do Porto, Centro de Estudos de População, Economia e Sociedade;
Universidade Autónoma de Lisboa, Centro de Investigação em Ciências Históricas 4099-002 Porto;
1169-023 Lisboa, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0001-9337-6995
Medievalista, 28 | 2020
14
Dossier Temático: Eclesiásticos nadiplomacia, na administração e nalegitimação das monarquiasmedievaisPortugal, Leão e Castela, França e Inglaterra
Medievalista, 28 | 2020
15
Portugal, Leão e Castela, França e Inglaterra: uma apresentação
Eclesiásticos na diplomacia, naadministração e na legitimação dasmonarquias medievaisPortugal, Leão e Castela, França e Inglaterra: uma apresentação
“Ecclesiastics in diplomatic affairs, the administration of the Realm and the
Legitimation of Medieval Monarchies: Portugal, León and Castile, France and
England“: a foreword
Maria João Branco e Hermínia Vilar
1 Em Setembro de 2013, dávamos início ao projecto DEGRUPE, acrónimo do título A
Dimensão Europeia de um Grupo de Poder: o clero na construção política das Monarquias
Peninsulares (sécs. XIII-XV)1, liderado por Hermínia Vilar e sediado no CIDHEUS, com acolaboração activa de diversos outros Centros de Estudos portugueses, entre os quais oIEM. O DEGRUPE, como ficou conhecido, propunha-se elaborar uma base de dadosprosopográfica sobre os membros do clero com ligações às monarquias peninsulares, deforma a permitir aprofundar a nossa reflexão sobre o papel e a importância desse gruposocial, maxime do clero secular, na criação de um espaço de mobilidade e de circulaçãode modelos culturais e políticos extensível ao conjunto da christianitas europeia econsequentemente do seu contributo para o perfil das monarquias peninsulares.
2 O projecto, que decorreu durante os dois anos e meio subsequentes, nasceu de forma
muito subsidiária de um anterior, no qual a grande maioria dos membros da equipatambém tinha estado envolvida, e que influenciou, de forma decisiva, o progresso nonosso conhecimento acerca do grupo social e a esfera de influência que este projecto sepropunha estudar. Falamos, obviamente dos Fasti Ecclesiae Portugaliae: prosopografia do
clero catedralício português (1071-1325)2, cujo decurso e resultados nos tinham abertomuitas perspectivas críticas de investigação e que nos permitira já determinar umconjunto de dinâmicas internas destes eclesiásticos, as quais, dez anos mais tarde,queríamos explorar. O DEGRUPE nascia também em estreita colaboração com um Grupode Investigação Europeia do CNRS que entretanto se formara, e no qual participava
Medievalista, 28 | 2020
16
activamente o GDRE - At the Foudations of the Modern European State: the Legacy of the
Medieval Clergy. Todos estes elementos – todos os projectos têm a sua história, e este nãoé excepção a essa regra – contribuíram de forma fundamental para a forma como otrabalho decorreu, para os resultados a que chegámos e para a formulação de questõesde investigação que, depois de tantos anos de trabalho, continuam a mostrar-se plenasde novidade.
3 É esta a história e a razão de existir do dossier temático que hoje trazemos a público,
um dossier que teve origem no segundo encontro internacional do Projecto DEGRUPE(realizado em Setembro de 2015), subordinado ao tema “The Medieval Monarchy and its
Legitimating Strategies: The Role of Ecclesiastics, Scholars and Jurists (12th-15th centuries)”,mas que, passados cinco atribulados anos e fruto da erosão que o tempo sempre causanos formatos e planos iniciais, acaba por se concretizar de forma bastante autónomaem relação aos trabalhos desse encontro de 2015, embora fiel ao seu espírito inicial.
4 É impossível evitar comparar o estado da produção sobre o papel dos eclesiásticos junto
ao poder régio, quer do ponto de vista da sua intervenção como agentes políticosactivos, quer da perspectiva da sua contribuição teórica para a consolidação elegitimação das monarquias, nos anos 10s deste século, quando este processo começoua tomar forma, e nos dias de hoje, período durante o qual o panorama historiográfico sealterou de forma muito sensível.
5 Os progressos feitos nos estudos sobre a importância do clero como elemento
fundamental na fase de constituição e afirmação das monarquias, a diferentes níveis,desde o da influência pessoal e jurídica ao contributo dado na construção dalegitimação política, do exercício de cargos administrativos ou no oficialato régios aocontrole de redes de influência, do exercício de funções e responsabilidade por missõesdiplomáticas até ao mais expectável papel de capelães ou confessores régios, têm vindoa ser sistematicamente escalpelizados por autores de quase todas as nacionalidades.
6 Embora dependendo do diferente grau de tratamento dos dados de base, ou seja, do
melhor ou pior conhecimento que temos das circunstâncias das vidas destaspersonagens eclesiásticas e dos que circulavam no seu entorno, bem como doprogressivo alargamento dos estudos que pretendem observar as suas carreirasindividuais como integradas em tendências e modelos que os interligavam a todos numcomum ambiente politico-cultural, os últimos anos têm assistido a uma proliferação detrabalhos sobre indivíduos específicos, sobre dioceses, regiões e relações entrediferentes instituições. Mais recentemente, o papel dos eclesiásticos na diplomacia temsido objecto de uma particular atenção através dos estudos dos seus percursos comoagentes diplomáticos e das suas estratégias de desempenho.
7 Muito embora se tenha operado um progresso decisivo nos estudos sobre o papel dos
eclesiásticos junto aos poderes temporais e espirituais, e sobre a influência quecarreiras individuais ou de grupos de indivíduos tiveram na constituição de modelos deinter-relacionamento entre poderes de naturezas distintas – por vezes opostas – emesmo na criação de uma auto-percepção desses indivíduos em relação ao seu próprioestatuto e ao seu grupo de pertença, essa evolução não foi homogénea, e variou muitode país para país. As bibliografias patentes nos artigos colacionados no presente dossierrevelam com clareza esta realidade díspar.
8 Talvez se possa aventar a hipótese de que, nesta evolução dissemelhante, o papel
desempenhado pela pré-existência de bem sucedidos projectos prosopográficos ourepositórios de referências documentais, como é o caso dos Fasti Ecclesiae Anglicanae
Medievalista, 28 | 2020
17
para Inglaterra e dos Fasti Ecclesiae Gallicanae para França, seja a chave para acompreensão dessa diferente produção historiográfica. Os projectos inglês e francêsnão estão separados apenas pela geografia ou pela cronologia de produção que ossepara, antes foram concebidos em moldes muito diversos e com objectivos, tambémeles, fundamentalmente diferentes, num caso listas de bispos e dignitários com asrespectivas referências documentais exaustivas, noutro reconstituição prosopográfica eenquadramento institucional na diocese.
9 Parece lógico que, detentora de um tal poderoso mecanismo de busca e recurso de
investigação com o potencial dos Fasti Ecclesiae Gallicanae, a França pareça, nestemomento protagonizar uma profícua e inovadora investigação de “segunda” e“terceira” geração, sobre o papel destes eclesiásticos, quer ao nível das suas dioceses,quer ao nível da representação junto à monarquia, quer ao nível diplomático. Umahistoriografia que alterna entre a análise de percursos individuais e sínteses deconjunto que os dados ao seu dispor permitem.
10 Os estudos em Inglaterra, com base nos levantamentos documentais, se parecem menos
exuberantemente numerosos, não abandonam a já antiga e profícua tradição daobservação das carreiras de eclesiásticos – e não eclesiásticos – junto ao poder régio, nacorte e na administração, no tesouro, na justiça, na escrita e no aconselhamentoespiritual. O papel dos bispos e das dioceses junto à Realeza e como agentes dascomunidades políticas acompanha sintetizando, esse esforço. Para a Península Ibérica, arealidade dos estudos sobre estas relações tem-se centrado sobretudo em torno dehistoriadores que investigam estes homens e estas carreiras no âmbito de trabalhosobre as dioceses, ou no âmbito da biografia de personagens - chave que representambem o grupo, ou que estudam a realidade política e pactual da realeza medieval e dasrelações entre poder político e eclesiásticos, com especial enfoque para os séculos maistardios da Idade Média.
11 Em Portugal, os anos mais recentes, no rescaldo dos trabalhos do projecto Fasti Ecclesiae
Portugaliae3 e do empenho das diversas gerações que nesse projecto confluíram, e quedesde então se têm sentido seduzidas pelo tema, assistem também a uma renovadaprodução nos mesmos âmbitos, com um crescimento que se poderia apelidar desensível, muito embora moderado pelo número daqueles que se dedicam a estes temas epelas hipóteses de poder continuar a trabalhar em investigação depois dodoutoramento. Ainda assim, algumas obras de vulto sobre diversos episcopados emicro-biografias sobre clero catedralício, bem como teses de Mestrado e Doutoramentoonde as carreiras de eclesiásticos e o seu papel como agentes diplomáticos, jurídicos,culturais e políticos junto à monarquia e em Roma, têm vindo a proliferar, parecemrevelar uma renovada apetência, plena de promessa e possibilidade.
12 O conjunto de artigos que hoje apresentamos à vossa apreciação crítica deriva, como já
se disse, da reestruturação dos trabalhos realizados nesse encontro de 2015, masintegra também colaborações de investigadores membros do projecto que nãoparticiparam nesse evento ou que nele participaram com outras comunicações. Todasforam profundamente reestruturadas e actualizadas.
13 Apesar das vicissitudes, o dossier que vos apresentamos, subordinado ao tema
“Eclesiásticos na diplomacia, na administração e na legitimação das monarquiasmedievais: Portugal, Leão e Castela, França e Inglaterra”, título que pretendecorresponder ao conteúdo da colectânea, constitui mais um output do projecto queenvolveu a equipa de investigadores, os consultores e todos os colegas de outras
Medievalista, 28 | 2020
18
latitudes que deram a sua contribuição nos nossos encontros e debates. Os artigospresentes nesta compilação alternam entre a revisão da síntese de conjunto e osestudos de caso tendentes a apresentar resultados que questionam realidades há muitotomadas como consensuais, interpelando o leitor a repensar as lógicas de interpretaçãopor vezes reproduzidas sem bases, colocando-lhes novas questões.
14 O texto de Hermínia Vilar, ao analisar as petições e respostas do clero do tempo de D.
Pedro I, tal como ficou patente nas cortes de 1361, acaba por nos colocar, ou recolocar,a questão da relevância do elemento eclesiástico na governança, especialmente numtempo em que as relações entre o rei e o clero estavam tensas e pouco claras. Com a suaanálise, reforça não só algumas constatações já levadas a cabo por Armando Luís deCarvalho Homem, mas, recorrendo a dados recolhidos no âmbito do Projecto DEGRUPEde forma mais sistemática que anteriormente, reitera a ideia de que o século XIVassistiu, em determinadas cronologias e conjunturas, neste caso, no reinado de D.Pedro, a um recuo da influência da presença dos eclesiásticos junto à corte régia.Designados como executores ou diplomatas para missões e questões específicas, o seupapel deixa de ser sistémico e passa a ser mais pontual, pautado pela necessidade domomento e não pela centralidade da sua presença como únicos possíveis conselheirosrégios. Verificando embora esta realidade, a autora não deixa de constatar, de formabastante eloquente, como o clero acaba por encontrar formas “alternativas” departicipar e beneficiar do favor régio e da proximidade da corte do rei, reencontrandoassim um lugar na ordem da res política.
15 O texto de Armando Luís de Carvalho Homem, investigador do Projecto DEGRUPE, cuja
participação não decorreu dentro do marco do encontro de 2015, mas que se integrouneste dossier pela coerência temática óbvia, alerta-nos com especial acuidade para arealidade oposta àquela que Hermínia Vilar tinha identificado para D. Pedro I dePortugal, a saber, a da presença numericamente considerável de eclesiásticos junto a D.João I, quer como juristas e legistas, primeiro, quer como conselheiros régios maistarde. Descrita por ele como a primeira geração de homens junto ao rei no que elemesmo qualifica de dernier souffle dos clérigos junto aos monarcas, o autor descreve-noscomo esta conjuntura abriu aos eclesiásticos que se encontravam junto de D. João I eintegravam o seu controverso Conselho, a possibilidade de um protagonismo activo,num último fulgor, a fazer lembrar o seu peso e influência em séculos anteriores. Mastambém nos alerta para as renovações levadas a cabo pelo primeiro rei dos de Avis, nosentido de trazer um conjunto de homens novos para a sua administração e justiça, queno futuro permitiria encarar este tipo de funções como “carreiras” de corte, afastandoassim os eclesiásticos da cena política. Neste contexto, o recurso à capacidadelegislativa régia como elemento e símbolo de afirmação inquestionável e legitimador dasoberania régia, presente já desde o século XIII, mas apenas evidente aos olhos de todosa partir dos séculos XIV e XV, resulta evidente na sua análise conjuntural, que englobaos anos finais de D. João, mas também o período de governação de D. Duarte, que ganhade novo um protagonismo destacado na sua análise.
16 O estudo prosopográfico do clero que assessorou a construção da legitimidade
“internacional” da dinastia de Avis, que o artigo de Néstor Vigil Montes põe em relevo,vem muito na linha do artigo anterior e permite, com uma abordagem minuciosa,reafirmar e confirmar com casos concretos todas as afirmações do artigo que o precede.A sua abordagem dos homens novos de D. João I, entretanto reconfirmada pelasmicrobiografias publicadas, em 2018, na obra Bispos e Arcebispos de Lisboa, permite-nos
Medievalista, 28 | 2020
19
olhar para estes homens à luz de uma nova perspectiva. Ao analisar o seu papel naesfera internacional e nas negociações diplomáticas, Néstor Vigil desvenda um mundomais dinâmico, mais multifacetado, que não pretende já reduzir os eclesiásticos alógicas unívocas de interpretação, mas que acolhe a ideia de alterações na orgânicadeste relacionamento em períodos mais curtos, o que nos permite olhar as diferentessituações à luz de cambiantes raramente equacionadas, ou seja, à luz de mudanças quepodem inverter as equações do poder consoante os reinados, as épocas, os contextoshistóricos, políticos e teóricos. E isto não só de um reinado a outro, mas até mesmodentro do mesmo reinado.
17 Estes três artigos permitem e promovem a ideia de que o mundo medieval dos homens
de poder e nesse o relacionamento entre os poderes temporais e espirituais, nem éestático nem permanente, nem unívoco. Tem de ser visto à luz das dinâmicas da épocae dos contextos específicos em que se desenrola. Não deveremos mais pretenderverificar a presença ou ausência continuada de eclesiásticos junto às monarquias nemquerer para eles papéis que, uma vez alterados, não possam ser revertidos, oupretender que neste jogo de influências recíprocas possa haver estabilidadepermanente, ou tendências constantes, ou fluindo sempre num ou noutro sentido. Arealidade, quando estudada com profundidade, revela-se sempre muito mais complexado que poderíamos imaginar.
18 De natureza diferente é o artigo de Francisco Diaz Marcilla, que nesses anos de 2013 a
2015 foi um dos bolseiros do Projecto DEGRUPE. O seu trabalho incide sobre os dadoscompilados pela equipa de investigação e parte da recolha inserida na base de dados doProjecto DEGRUPE. Disponível para consulta, embora em constante construção eactualização, foi pensada tendo como base os objectivos específicos do projecto, ou seja,os eclesiásticos que encontramos junto à corte e na esfera de influência dos reispeninsulares. E é disso que nos falam as extensas tabelas e listas de nomes com queFrancisco Diaz nos brinda. Neste momento, há uma recolha considerável de dados quepodemos começar a trabalhar, para podermos olhar com outros olhos o conjunto doseclesiásticos peninsulares. Os oficiais da administração e da esfera doméstica em Leão eCastela recenseados por este investigador permitem-nos vislumbrar com bastanteprecisão a riqueza dos dados que a base de dados pode oferecer no que respeita, quer àsfunções e suas designações, quer àqueles que ocuparam essas funções e cargos. Nestemomento, pouco mais temos que as listagens, mas a exploração dos documentos quelevantámos sobre todas e cada uma das personagens por ele elencadas revelam umpromissor campo de trabalho, onde os estudos de caso poderão alimentar as síntesesmais inovadoras.
19 Um exemplo diverso do que se pode fazer com uma base de dados prosopográfica bem
estruturada e ricamente fornecida é o artigo de Óscar Villarroel, que desde há muitotrabalha com clero castelhano na baixa Idade Média e com a sua relação com amonarquia, e que recentemente tem estudado o papel dos eclesiásticos ao serviço dadiplomacia régia e dos processos diplomáticos. Num trabalho exaustivo e bem ilustrado,Óscar Villaroel leva-nos pelos meandros da construção e legitimação da monarquiacastelhana, pela mão dos eclesiásticos ao serviço dos reis, através do estudo dasbiografias dos clérigos, mas também dos processos diplomáticos onde eles se envolvemou são envolvidos. Nesse percurso, atravessamos reinados e conjunturas políticas quemudam de forma sensível a nomenclatura dos cargos e da relevância que eles vãoganhando, assim como as diversas missões diplomáticas formais e as redes de influência
Medievalista, 28 | 2020
20
informais que esses homens integraram. Os muitos casos e carreiras por ele trabalhadosconvergem no sentido de nos alertarem para outro elemento relevante neste tipo deabordagem, ou seja, como as conjunturas globais e os conhecimentos pessoais podempermitir e facilitar a ascensão e o protagonismo de indivíduos que por seu lado tambémse esforçam por conseguir chegar aos lugares onde sabem que podem ter influência epoder.
20 Thierry Pécout brinda-nos com um impressionante quadro, quer sob o ponto de vista
da teorização das relações entre o poder real e os bispos no mundo angevino, demeados do século XIII aos inícios do XIV, no que toca ao papel desempenhado pelossegundos como diplomatas ao serviço do rei, quer sob o ponto de vista daexemplificação que leva a cabo, através de quatro casos paradigmáticos que escolheu deforma cirúrgica, para ilustrar os pontos que pretende realçar.
21 Começando por esclarecer o que para ele é e deve ser considerado diplomacia e
diplomata, nos finais do século XIII e no século XIV, é com pragmatismo que nos fala decomo a diplomacia pode estar ligada ao nascimento e desenvolvimento do direito dasgentes e do conceito jurídico de paz, mas como ela também é uma necessidade básica degestão de conflitos e de relações de força entre poderes temporais. Não restam dúvidasquanto à importância dos homens que devem desempenhar este papel de pacificadorese mediadores e da influência que daí lhes advém. Do artigo de Thierry Pécout ressaltacom muita força o poder desta combinação de vontade e determinação - ambiçãopessoal e conjuntura política, ao mesmo tempo que se entende como a monarquia e ossectores eclesiásticos mais influentes beneficiam reciprocamente da entreajuda que seproporcionam. E de quão frágil essas harmonias também podem ser, sujeitas àinfluência de um elemento externo ou interno, de um mau passo ou uma má palavra,que podem condicionar esse mesmo relacionamento e alterar os pactos não escritos delealdade e colaboração entre as duas instâncias de poder. Mas o artigo de ThierryPécout também nos alerta para como o desempenho de cargos importantes nas missõesdiplomáticas relacionadas com questões do interesse régio também foi utilizado porestes homens como uma forma de notoriedade que, pelo menos em dois dos casosestudados, os conduziram ao cardinalato, sem passar pelo episcopado. Mais uma vez,um artigo muito sugestivo, que nos leva pelo mundo da diplomacia, das ambiçõespessoais e do não conformismo à aceitação de modelos pré-convencionados, que umestudo menos minucioso desta realidade poderia enganosamente distorcer no sentidoda generalização grosseira.
22 O artigo de Tiago Viúla Faria fecha este dossier, com um estudo biográfico de caso, que
analisa, com um extraordinário detalhe, a vida de um clérigo inglês que acompanhou arainha D. Filipa de Lencastre para Portugal e que aqui viveu e foi seu chanceler privadodurante muitos anos. Este artigo fecha de forma singularmente interessante o conjuntode estudos que compõem este dossier, pois o clérigo cujo percurso o autor escolheucomo objecto de estudo tem uma vida particularmente relevante, na medida em que,por um lado, se enquadra no paradigma do oficial régio, neste caso chanceler da rainha,mas que, por outro lado, não se adequa ao “nosso” preconcebido paradigma sobre o quedeveria ser a carreira de um chanceler da rainha Filipa de Lencastre. Este foi umsimples clérigo de uma paróquia pouco notável de Inglaterra, que acaba por serescolhido pelos Lencastre para acompanhar a futura rainha de Portugal, ascendeu aocargo de seu chanceler e homem de sua confiança e aparentemente também de D. JoãoI, envolvido em diversos processos diplomáticos, e que acaba por regressar a Inglaterra,
Medievalista, 28 | 2020
21
aparentemente por vontade própria, onde as suas expectativas eram apenas as deconseguir um benefício modesto que lhe permitisse sustentar-se com dignidade, noutraparóquia decente. Este é um caso que permite colocar de novo em perspectiva muitasdas asserções sobre o tipo e formas de poder que a influência junto à realeza podegranjear aos eclesiásticos, sobre o tipo de clérigos que esperamos ver a desempenharcargos destacados e alegadamente de poder e sobre as ambições que os próprios actoresdesse relacionamento acalentam. Despertando-nos, de forma ainda mais acutilante,para a necessidade de mantermos sempre em aberto a forma como encaramos estarealidade e a necessidade de continuarmos a entender quão fundamental é não sermosreducionistas quando tentamos construir modelos e esquemas interpretativos para ummundo muito mais plurifacetado do que por vezes aceitamos, sob pena de não nosapercebermos de todas as nuances de um universo humano muito mais rico do que nósconseguimos imaginar.
23 Todo o dossier, na sua análise deste complexo universo humano sob tão diversas
perspectivas, nos convida à já diversas vezes mencionada revisitação das nossasanteriores concepções acerca dos papéis e desempenhos dos agentes e actores desterelacionamento, ao longo da leitura dos sete artigos que o compõem. O estudoaprofundado dos casos que agora vêm a público permite-nos reposicionar e questionartemas e certezas anteriores, que à luz destas multifacetadas mas coerentes abordagensresultam muito mais ricos e potencialmente desafiantes do que antes de os termospodido analisar. Reassegurando-nos que o estudo da História em geral é sempre umcampo inesgotável de novas e provisórias observações e hipóteses e o estudo dasrelações entre os eclesiásticos e o poder real nas suas inúmeras vertentes um campo deestudo inesgotável.
NOTAS
1. DEGRUPE – A dimensão europeia de um grupo de poder: o clero e a construção política das
monarquias ibéricas (XIII-XV) / The european dimension of a group of power: ecclesiastics and
the political state building of the iberian monarchies (13th-15th centuries), com referência FCTPTDC/EPH-HIS/4964/2012 financiado por fundos FEDER através do ProgramaOperacional Factores de Competitividade – COMPETE e por Fundos Nacionais através daFCT- Fundação para a Ciência e Tecnologia.
2. Fasti Ecclesiae Portugaliae: prosopografia do clero catedralício português, 1071-1325, com referência
POCTI/HAR/42885/2001, financiado pela FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia e sedeado
no Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR-UCP).
3. Cuja base de dados ainda não está disponível ao público.
Medievalista, 28 | 2020
22
AUTORES
MARIA JOÃO BRANCO
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais 1070-312 Lisboa, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/
0000-0002-7165-5958.
HERMÍNIA VILAR
Universidade de Évora, CIDEHUS - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades
7000-803 Évora, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0003-3300-8335.
Medievalista, 28 | 2020
23
redes e protagonistas ao tempo de D. Pedro
O clero e as Cortes de 1361redes e protagonistas ao tempo de D. Pedro
The clergy and the Cortes of 1361: networks and protagonists in the time of Pedro
I of Portugal
Hermínia Vasconcelos Vilar
1 Quando as Ordenações Afonsinas tomaram forma 1, os seus compiladores acharam por
bem integrar, enquanto documentos representativos da relação entre reis e Igreja, oscapítulos apresentados pelo clero nas Cortes de 1361, realizadas em Elvas. Eintercalaram-nos entre, por um lado, a publicação dos acordos firmados em 1289 entreD. Dinis e o conjunto dos bispos das dioceses portuguesas, sob a égide e mercê daintervenção papal, em 1292, entre o mesmo monarca e quatro dos bispos responsáveispelas dioceses do Porto, Guarda, Lamego e Viseu e, em 1309, com o Bispo de Lisboa JoãoMartins de Soalhães e, por outro, os artigos estabelecidos entre D. João I e a cleresia doreino em 1390/91 e em 14272.
2 Os documentos integrados nos primeiros títulos do segundo livro das Ordenações
Afonsinas parecem, pois, corresponder a um grupo documental cuja importância,reconhecida pelos compiladores, justificava a sua fixação na memória legislativa queesta compilação representava. Firmados ao longo de um período que se estende desde1289 a 1427, estes documentos têm em comum o facto de terem, na base, listas deagravos apresentadas pelos bispos ao papa, no caso da concordata de 1289, ou apenaspor alguns prelados ao rei como é o caso dos acordos parciais de 1292 e de 1309 ou peloclero, aqui denominado de forma mais indistinta, como acontece nos documentosdatados do reinado de D. Pedro I e de D. João I. Contudo, nada nos autoriza a pensar queos documentos coligidos compreendam a totalidade dos agravos apresentados duranteestas décadas. Nada nos é dito, aliás, sobre os critérios subjacentes a esta escolha nemmesmo sobre a existência ou não de outras listas de queixas aqui não consideradas.
3 Torna-se claro, contudo, que, para os compiladores, o acento é colocado no acordo, ou
seja, na integração da resposta régia, pelo que os artigos apresentados o são em funçãodessa mesma resposta e não em função das situações que o clero pretendia vercorrigidas. Ou seja, o que as Ordenações Afonsinas fixaram foi, predominantemente, o
Medievalista, 28 | 2020
24
texto que resulta da conjugação dos agravos com as respostas dadas pelos diferentesmonarcas.
4 Sendo esta uma prática comum a outros reinos europeus desde, pelo menos, meados do
século XIII3, a verdade é que a apresentação de listas de agravos não vale apenas pelorol de queixas apresentadas e pelos que estas nos deixam entrever sobre o quotidianodas relações entre poderes e dos níveis de interferência mútua nas respectivas esferasde actuação, mas também pelo que reflectem de aceitação tácita da realeza comoprotagonista do espaço político e destinatário privilegiado das queixas eclesiásticas.Neste quadro, os agravos apresentados pelos bispos das dioceses portuguesas na Cúria,em 1268, parecem constituir uma excepção e não a regra. Em Portugal, tal comonoutros reinos, os agravos eram, muitas vezes, enviados ou apresentados ao rei, fosseem contexto de Cortes, fosse em contexto específico de diálogo entre poderes.
5 No caso dos artigos de 1361, a sua apresentação terá sido feita no quadro das Cortes
convocadas para Elvas por D. Pedro. Realizadas em Maio deste ano, numa localidaderelativamente excêntrica, se tivermos em consideração os locais escolhidos para arealização destas reuniões em reinados anteriores, mas cuja escolha se poderá explicarpelos circuitos da itinerância régia4, as actas das Cortes de 1361 constituem umelemento documental privilegiado no quadro da documentação sobrevivente para osdez anos da governação de D. Pedro. A par dos capítulos gerais e especiais do povo e dedois artigos gerais da nobreza que surgem preservados, realçam-se os trinta e trêsartigos coligidos respeitantes ao clero 5.
6 Assim, e apesar das referências a estas Cortes, dispersas por diferentes obras, vale a
pena ainda reflectir sobre as razões subjacentes à apresentação destes capítulos e aimportância que lhes foi conferida nas décadas seguintes e que explicam a sua inclusãonas Ordenações Afonsinas.
7 Desta forma, e sem propor encetar uma análise exaustiva do seu conteúdo,
procuraremos realçar alguns aspectos que individualizam estes capítulos nacomparação com os acordos estabelecidos no reinado de D. Dinis e também coligidosnas Ordenações, para, num segundo momento, reflectir sobre a conjunturacompreendida entre os anos finais do reinado de D. Afonso IV e os primeiros de D.Pedro, anos de transição e de passagem, nem sempre pacífica, entre dois reinados e nocontexto dos quais, mais uma vez e à semelhança do que já tinha ocorrido algumasdécadas antes, no final do reinado de D. Dinis, grupos e facções se definiram e dividiramem torno do monarca em exercício e do infante herdeiro.
8 Sobre este pano de fundo, os bispos são elementos cuja centralidade política oscila
entre a representatividade de um grupo, nem sempre coeso e muito menos comidentidade própria, e as trajetórias individuais realizadas em função de interesses erelações que em muito ultrapassam o campo eclesiástico6.
9 Assim, embora a apresentação destes capítulos nos reenvie para uma imagem de coesão
entre membros do clero, aquela poderá não reflectir mais do que a partilha possível deum conjunto de preocupações por alguns membros cuja identificação nos escapa,contudo, por completo, se considerarmos apenas o texto das actas das Cortes.
10 Atender aos protagonistas episcopais para os anos que se estendem entre o final do
reinado de D. Afonso IV e 1361 será, pois, também um dos objetivos deste trabalho, semque tal implique qualquer pretensão de reconstituição detalhada de percursos ou
Medievalista, 28 | 2020
25
carreiras, mas apenas uma reflexão sobre as redes e a importância do serviço nadefinição da amplitude dessas redes.
Rei e clero no discurso das Cortes de 1361
11 À semelhança das razões invocadas por seu pai para a convocação das Cortes de 13527,
também D. Pedro expressa, no preâmbulo com que inicia as actas sobreviventes dareunião de 1361, a sua preocupação com a correção dos agravamentos que os seus povossofriam em virtude da acção dos oficiais régios e apresenta-a como uma das razõessubjacente à realização destas Cortes de Elvas. E mencionava ainda que nessa vila seencontravam então os infantes, seus filhos, bem como o arcebispo de Braga, bispos,abades e priores além dos ricos homens e vários filhos de algo. Tal como é realçado porArmindo de Sousa8, para uma cronologia um pouco posterior, é bem possível que estapresença tão numerosa, a ser real, cedo se dispersasse após os primeiros dias dereunião. As negociações dos capítulos apresentados pelos concelhos implicavam, nãoraras vezes, um prolongamento temporal que nem sempre os representantes dosgrupos dominantes estavam disponíveis nem interessados em acompanhar. No casoespecífico do clero, a sua presença nem sempre é atestada nas reuniões de Cortes, fruto,por um lado, da escassez documental e, por outro, de um efectivo distanciamento emrelação a estas reuniões. Distanciamento que se saldaria por uma presença parcial oulimitada a alguns membros ou por uma participação limitada e curta no evoluir dostrabalhos.
12 No entanto, quando presente, é de supor que o clero se faria representar,
tendencialmente, por membros do clero episcopal9, embora a identificação dessesrepresentantes raramente seja feita, o que é também o caso dos capítulos apresentadosem 1361.
13 Silêncio que se estende ao conteúdo dos próprios artigos. Com efeito, o perfil de
agravos, tal como foi fixado pelas actas das Cortes, reenvia-nos para um discursogenérico, alusivo às acções que o clero pretende ver condenar ou corrigir por parte dorei, mas sem que seja feita qualquer alusão específica a um espaço ou a figuras às quaisse reportam as queixas. Opção também ela comum a todos os demais textos de acordos.Ou seja, o articulado é sempre estabelecido em função de um perfil genérico que apontapara um abuso ou para um desrespeito, sem indicar protagonistas nem vítimas.
14 E são a estes agravos, sem alusões individualizadoras de quem as pratica ou de quem as
sofre, que os monarcas respondem.
15 De uma forma geral os capítulos apresentados ou melhor os artigos respondidos pelo
rei em 1361 não parecem trazer grandes novidades quando comparados com os artigosincluídos nos acordos de 1289 e de 1292. Daí a tendência para concluir que o retomar e alongevidade dos temas em discussão entre realeza e clero, constitua o reflexo de umaprática continuada de desrespeito pelos compromissos anteriormente assumidos10.
16 No entanto, e sem questionar a continuidade dessas práticas, a questão que se deve
colocar reside, também, na inevitabilidade ou não dessas práticas e logo das queixasque elas suscitam. Ou seja, mais do que reflexos de problemas conjunturais, os agravosapresentados pelo clero e respondidos por D. Pedro correspondem à modelaçãoprogressiva da actuação dos poderes em presença e à redefinição das respectivasesferas de actuação. E assim, da mesma forma que D. Pedro reitera princípios de diálogo
Medievalista, 28 | 2020
26
e de respeito pelos direitos e liberdades religiosas sem questionar ou obstaculizar deforma clara a actividade dos seus oficiais, também prelados e membros do clero sevêem obrigados a reiterar, de forma recorrente, a necessidade de acatar e de respeitaros privilégios e as isenções eclesiásticas.
17 O discurso vertido nas respostas régias reflecte assim o equilíbrio possível entre
poderes e os limites implícitos da actuação régia e da reivindicação eclesiástica.
18 Contudo, isto não impede a constatação da continuidade das temáticas inerentes aos
agravos. Continuidade que se estende também à argumentação utilizada pelo rei, bemcomo à noção de uma articulação temporal entre estes capítulos apresentados em 1361e os agravos avançados em datas anteriores. Ou seja, tanto os representantes do clerocomo o próprio monarca estão cientes da continuidade temporal das temáticasabordadas e do retomar de velhos problemas que viram já soluções de consenso e deconcórdia anteriormente estabelecidas e depois não cumpridas.
19 As referências feitas a cartas assinadas no reinado de D. Dinis e de D. Afonso IV bem
como as menções explícitas ao acordo de 1289 pressupõem o recurso a estes textospelas partes em presença, tanto na altura da redacção dos capítulos como no momentode elaboração das respostas, sendo esgrimidas como fontes de legitimidade paracaucionar comportamentos ou como limites à actuação de oficiais e nobres, cujoscomportamentos, quando desrespeitadores desses mesmos limites, recaíam na esferado condenável.
20 E daí que a invocação do acordado entre monarcas e clero não fosse um exclusivo do
discurso régio. Também os representantes do clero faziam eco desses acordos comoelemento de fixação de uma prática que cabia preservar, ou seja, filiavam nodesrespeito pelo acordado a justificação para a apresentação de queixas, assumindoassim que o estabelecido tinha correspondido a momentos de negociação e de fixaçãode equilíbrios. Os artigos 9º e 15º são particularmente elucidativos a este respeito11.Neles, os representantes do clero invocam, de forma clara, as cartas de D. Dinis e oartigo “que antre El rey e a Igreja he prometido e jurado em Corte de Roma” a propósitodos atentados praticados pelos corregedores do rei no que respeitava às jurisdiçõesexercidas pelo clero nos seus espaços coutados12.
21 Mas, ao contrário do que ficou fixado no texto de 1289 vertido nas Ordenações Afonsinas,
em 1361 D. Pedro não se limitou a assumir compromissos futuros de respeito peloestabelecido ou a negar tais práticas, como seu avô D. Dinis fez, através dos seusprocuradores. As respostas de 1361 são bastante mais elaboradas e denotam umapreocupação em assegurar o cumprimento das disposições régias, dentro dos limites derespeito por alguns privilégios da Igreja.
22 Assim, se bem que o rei assuma o respeito pelos direitos e liberdades da igreja, fá-lo
sem deixar de afirmar o espaço de actuação dos seus oficiais no quadro do disposto emcartas e legislação anterior e exigindo documentos que comprovassem os abusospraticados pelos mesmos e dos quais os clérigos se queixavam.
23 Estas queixas incidiam, na sua maioria, sobre a intervenção dos oficiais ligados ao
exercício da justiça e ao desrespeito pela aplicação do foro eclesiástico, sobre os abusospraticados pela nobreza e família real no exercício do direito de aposentadoria e sobre adesconsideração pelas sentenças eclesiásticas e mesmo pelas normas religiosas quemuitos oficiais régios evidenciavam na sua actuação. O artigo 31º faz eco dessas práticasao relatar que os representantes régios não hesitavam em realizar reuniões e
Medievalista, 28 | 2020
27
audiências aos domingos e dias de festas nas igrejas e nos seus adros, ignorando ocarácter sagrado destes dias dedicados à oração. E, quando admoestados, ameaçavamprelados e vigários escarnecendo das penas com que eram ameaçados ao declararemque “a escumunham nom brita osso e que o vinho nom amargua ao escumungado”13.Queixa face à qual o rei se limitou a exortar as suas justiças a que respeitassem osofícios divinos e se abstivessem de causar conflitos com os clérigos. Recomendaçãobastante genérica, fundamentada mais na capacidade de acatamento dos oficiais do quena condenação explícita dos comportamentos.
24 Algo de semelhante acontece com o artigo seguinte, no qual o clero se referia ao
chamado beneplácito régio, queixando-se do atraso na publicação das cartas papais emvirtude da ordenação régia que estabelecia a obrigatoriedade de uma prévia aprovaçãopor parte do rei, situação que suscitava o envio de repreensões papais para as quais osbispos portugueses não tinham resposta. Face a este agravo, D. Pedro limitou-se aresponder “Que nos mostrem estes rrescriptos e lletras e ve llas emos e mandaremosque sse provyquem pela guyssa que devem”14, ignorando desta forma o pedido feitopara a revogação da referida ordenação.
25 Centrados, como já referimos, na acção dos oficiais ligados à justiça, no desrespeito pelo
disposto pelo direito canónico e nos abusos protagonizados pelos ricos homens, oscapítulos de 1361 parecem ignorar temáticas presentes em 1289, com realce para osproblemas decorrentes das eleições episcopais e da intervenção indevida do rei nestesprocessos, bem como do exercício do direito de padroado ou mais especificamente doexercício da capacidade de confirmação dos apresentados pelo bispo.
26 Estas ausências podem ser consideradas, à partida, aleatórias ou tidas como resultados
das escolhas feitas pelos representantes do clero ou pelos compiladores das respostassobre o que seriam os problemas mais prementes em 1361 e que deveriam ser, assim,sujeitos ao registo escrito. Contudo, ausências como as referidas acima podem tambémreflectir novos equilíbrios entre os protagonistas dos processos de designaçãoepiscopal, com a crescente capacidade de intervenção papal no sistema de escolha e oimplícito reconhecimento do espaço de intervenção real15. Desta forma, a capacidade dereivindicação dos bispos em 1268 e vertida na concordata de 1289 talvez não fosse amesma em 1361, nomeadamente no que se referia à possibilidade de controlar acapacidade de intervenção do rei nos processos de designação, sobretudo quando estesdecorriam no âmbito capitular. Até porque desde o final do século XIII que o papadotinha também vindo a desenhar e a circunscrever um novo espaço para a suaintervenção.
27 À partida, os agravos apresentados em 1361 podem ser encarados como reflexo de um
mal-estar latente que os representantes do clero fazem chegar ao rei nestas Cortesconvocadas quatro anos após o início do seu reinado. Para alguns autores, os artigosapresentados expressam os problemas derivados de uma relação conflituosa entre D.Pedro e o clero16. No entanto esta poderá ser uma leitura parcial.
28 A apresentação de agravos a um rei, sobretudo em contexto de Cortes, pode não ser
sinónimo obrigatório de mal-estar ou de conflito latente, mas antes da capacidade derepensar equilíbrios e obter compromissos.
29 Para aferir vale a pena reflectir sobre o lugar ocupado por estas Cortes no contexto do
reinado de D. Pedro e determo-nos sobre os indícios documentais de umrelacionamento.
Medievalista, 28 | 2020
28
Rei e clero na chancelaria
30 Num reinado marcado por uma acentuada escassez documental, o ano de 1361
caracteriza-se pela existência de um volume assinalável de documentação, dirigida adiferentes prelados do reino17. No decurso do mês de Maio e estando o rei em Elvas, achancelaria de D. Pedro exarou, pelo menos, seis cartas dirigidas aos bispos de Lamegoe de Silves e ao arcebispo de Braga. Datadas de entre 21 e 27 de Maio, será lícitopressupor que a sua redacção foi paralela à realização das Cortes e visaramrecompensar os ou alguns dos bispos presentes. No caso, tiveram como destinatáriosDurão Lourenço de Lamego, Vasco Lourenço de Silves e Guilherme de La Garde,arcebispo de Braga.
31 Ao primeiro, o rei confirmou os privilégios detidos pelo bispo e cabido ainda a 12 de
Maio, estando em Évora18 e cerca de dez dias mais tarde, a 23 de Maio, reforçou odisposto em cartas anteriores de seu pai e avô sobre a proibição de aposentadoria noscoutos, celeiros, honras e lugares do bispo e do cabido de Lamego19. Cartas feitas apedido de D. Durão, delas foram elaboradas cópias guardadas no arquivo da diocese20,além das registadas na chancelaria.
32 Também ao bispo e ao cabido de Silves D. Pedro confirmou privilégios e liberdades em
carta datada de 21 de Maio21 e, alguns dias mais tarde, foi a vez de D. Guilherme de LaGarde, arcebispo de Braga, ser agraciado com o favor régio.
33 Nas vésperas da sua transferência para Arles22, Guilherme de La Garde foi o destinatário
de quatro cartas, todas elas datadas de 27 de Maio e através das quais o rei lhereconheceu a posse de privilégios e direitos, como foi o caso das competênciasexercidas pelos tabeliães, nomeados pelo arcebispo, em todo o território doarcebispado. Nesta carta, D. Pedro ordenou o retorno aos termos dispostos pelo pai eanteriores ao embargo colocado por ele próprio23. E dispôs o mesmo no que se refere aoexercício de jurisdição sobre Braga e outros lugares, a qual lhe tinha sido tomada a seumandado 24e sobre Provesende, nas condições em que o arcebispo a exercia, antes dodisposto por seu pai e isto enquanto fosse sua mercê25.
34 Desta forma, e através destas cartas, D. Pedro fazia alusão à existência de conflitos
anteriores e de sentenças que teriam julgado a apropriação do exercício da jurisdiçãopor parte do rei. Por um lado, D. Pedro aludia, possivelmente, às consequênciasinerentes ao “chamamento geral” realizado por seu pai para confirmação do exercícioda jurisdição cível e crime por parte de diferentes senhores e aos duros conflitostravados entre D. Afonso e o arcebispo D. Gonçalo Pereira sobre a amplitude dajurisdição exercida pelo arcebispo em Braga e especificamente em torno dalegitimidade de nomeação dos tabeliães26, mas, por outro, aludia aos seus própriosmandados, os quais teriam resultado na apropriação de direitos que agora o reidevolvia. Mandados que incidiriam sobre o âmbito da jurisdição exercida pelo arcebispoem Braga, questão à qual D. Pedro retornaria nos anos seguintes, numa altura em quetambém a jurisdição episcopal sobre o Porto se mantinha em discussão27.
35 No que se refere a esta diocese, logo no início do reinado, D. Pedro dirigiu ao bispo do
Porto uma carta de reconhecimento de privilégios28, mantendo com o prelado umarelação aparentemente pacífica, não obstante os problemas latentes sobre o senhorioda cidade29.
Medievalista, 28 | 2020
29
36 A sucessão de cartas dirigidas a bispos e redigidas durante os meses centrais de 1361,
surge assim articulada com a realização das Cortes.
37 À semelhança de cronologias anteriores, tanto o rei como os prelados parecem
aproveitar a realização destas reuniões para obterem novas cartas de confirmação deprivilégios ou para verem corrigidos aspectos menos claros do funcionamento dajustiça régia e do exercício da jurisdição eclesiástica. Mas a elaboração destas cartastambém atesta o que já tem vindo a ser realçado sobre a amplitude dos intercâmbios edas manobras políticas desenvolvidas dentro e fora das reuniões, ou seja, osrepresentantes do clero e da nobreza, tal como os procuradores dos povos, mas talvezcom mais realce para os primeiros, não se deslocavam à localidade onde as Cortes serealizavam apenas para apresentar os seus agravos sob a forma de capítulos. Tão oumais importante era a negociação paralela entrevista na promulgação coeva de cartasou de privilégios.
38 Assim, as cartas exaradas nestes dias de Maio e Junho parecem completar o acordo
estabelecido em torno dos artigos apresentados nas Cortes, demarcando o âmbito doexercício das jurisdições e privilégios. Mas o que parece ressaltar destas cartas étambém a referência constante à situação existente no reinado de seu pai D. Afonso IV.
39 Aludindo muito possivelmente aos efeitos e às consequências derivadas do lançamento
do já mencionado “chamamento geral” e às sentenças que resultaram da obrigação dedemonstração por parte dos senhores dos documentos que fundamentavam a posse dejurisdição cível e crime, D. Pedro menciona em quase todas os documentos o dispostopelo pai, ora para acatar e confirmar, ora para questionar ou mesmo negar.
40 É o que parece acontecer com uma das cartas já referida e dirigida a D. Guilherme de La
Garde, arcebispo de Braga, sobre a jurisdição exercida sobre Provesende e na qual o reilhe permitia regressar ao exercício da sua jurisdição nos termos anteriores àapropriação feita pelo pai30.
41 Aliás a invocação do disposto por Afonso IV e o contraponto com o estabelecido nos
anos do seu governo não se limita às cartas exaradas em 1361. Desde os primeiros anos,ou seja, logo desde 1357, que D. Pedro responde a solicitações dos bispos em exercíciosobre o exercício de jurisdições e sobre a continuidade ou não da aplicação das regrasdispostas por Afonso IV.
42 Logo em Agosto de 1357, D. Pedro respondeu a uma solicitação de D. Durão, bispo de
Lamego, sobre a jurisdição episcopal nos coutos de Lamego, Parada, Vila Seca e outroslugares31. D. Durão pedia ao rei o regresso à situação anterior à sentença favorávelobtida por Afonso IV sobre a jurisdição episcopal nestes locais, a qual tinha impedido obispo de a exercer nos termos do que acontecia anteriormente. Pedido que D. Pedroautorizou, ressalvando que o fazia apenas em vida do bispo e não embargando asentença obtida pelo monarca anterior. Desta forma, após a morte de D. Durão, todos osdireitos reverteriam para o rei nos termos anteriores.
43 No mesmo sentido foi a carta exarada em Outubro do mesmo ano, na qual D. Pedro
outorgou ao bispo de Tui o padroado da igreja de Santo Estêvão de Valença,mencionando que o fazia para impedir conflitos entre ele e o bispo sobre a posse destaigreja que D. Afonso IV tinha reivindicado e, embora D. Pedro afirmasse possuir provasconcretas dos seus direitos sobre esta igreja, fazia dela doação em virtude do muitoserviço prestado pelo bispo e pela igreja de Tui32.
Medievalista, 28 | 2020
30
44 Também no ano seguinte, mas em Junho, D. Pedro respondeu a uma solicitação de D.
Lourenço Martins, bispo de Coimbra, no sentido de confirmar a amplitude e alegitimidade da jurisdição exercida pelo bispo e cabido em vários locais e coutos. Acarta exarada deteve-se no elenco pormenorizado dos diferentes locais, identificando aforma como devia ser aplicada em cada lugar, ressalvando que a doação seria válidaenquanto sua mercê fosse e sem prejuízo de si nem dos seus sucessores 33.
45 E também ao bispo e igreja da Guarda confirmou privilégios e direitos em Abril de
136034.
46 À partida, todas estas cartas poderiam não representar mais do que a preocupação
legítima dos prelados em verem confirmados os seus privilégios no início de um novoreinado35. Contudo, mais do que essa preocupação, o que estas cartas também parecemreflectir são tentativas de alteração ou de reversão, parcial ou integral, de processos esentenças recentes sobre o exercício jurisdicional, aproveitando a mudança de reinadoe as oscilações nas alianças. E D. Pedro parece também aproveitar essa mudança paraalterar, circunstancialmente, algumas situações e reconfirmar outras, alargando assimo espaço de intervenção do novo rei.
47 Aliás, não o fará apenas em favor do clero episcopal. Também ao convento e abade de
Alcobaça, por exemplo, exarou uma carta de resposta ao pedido feito pelo abade sobre ocouto de Beringel, cuja jurisdição lhes teria sido retirada por Afonso IV, após contendacom o concelho de Beja. E invocava então o abade que sempre tinha sido sua pretensãopedir a revisão da sentença, mas que, em virtude da peste e de outras situações, o nãotinha feito até agora. Face a este pedido, de novo D. Pedro altera a situação anterior,restituindo ao abade a capacidade de exercício da jurisdição cível e crime, bem comotodos os direitos reais sobre o couto de Beringel36.
48 Não pretendendo reflectir sobre a política mais geral de D. Pedro a propósito do
exercício das jurisdições senhoriais, a verdade é que a acumulação de pedidos derevisão e alteração de situações logo nos primeiros anos de governo e reportadas asentenças ou decisões tomadas no reinado anterior não pode ser entendida à margemdo processo de transição entre reinados, reforçada pelo facto de os últimos anos dogoverno de Afonso IV terem sido marcados pela conflitualidade com o infante herdeiro.
49 Esta crise que parece repetir, em vários aspectos, um conflito similar ocorrido entre
1319 e 1324 entre D. Dinis e o então infante Afonso, surge aclarada num conjunto dedocumentos de concórdia firmados entre 1355 e 1356, os quais merecem uma pequenaanálise no quadro das relações com o clero.
50 Estas cartas exaradas entre Agosto de 1355 e Janeiro de 1356 reúnem os compromissos
realizados, individualmente, pelo infante, pelo rei e pela rainha, a lista de mercêsconcedidas pelo rei ao infante e o outorgamento feito pelo rei dessas mesmas doações,bem como as cartas de procuração dos representantes do rei e do infante. Juntam-se aeste conjunto duas cartas abertas de D. Pedro, uma dirigida aos mestres das ordensmilitares de Avis e de Santiago e ao prior do Hospital e outra a todos os concelhos doreino solicitando a confirmação do acordado e o compromisso em cumprir o disposto37.
51 De entre a numerosa informação colhida nestes documentos, vários autores têm
ressaltado a lista de vassalos que, de um e de outro lado, asseguravam o respeito do reie do infante pelo cumprimento do estabelecido. A partir dos nomes dos doze vassalosdo infante, bem como dos nomes dos doze vassalos indicados pelo rei, desenham-se
Medievalista, 28 | 2020
31
alianças e apoios e perfilam-se divisões entre linhagens no apoio ao monarca ou aojovem infante.
52 Mas, a par dessas identificações que permitiram, por exemplo, a Bernardo Vasconcelos
e Sousa afirmar o possível domínio político do jovem infante face ao rei38, domínio quelhe teria permitido negociar e obter do rei mercês e favores que o seu próprio pai nãotinha obtido quando era ainda um infante rebelde, a verdade é que o conjunto destesdocumentos nos permite ainda entrever aspectos vários do processo de negociação.
53 Os motivos tradicionalmente avançados para explicar este confronto entre Afonso e
Pedro residem na morte violenta de D. Inês, às mãos de alguns fidalgos próximos do rei,em Janeiro de 1355. E com efeito, essa morte é assinalada e referida como estando naorigem do “desvayro” havido entre o rei e seu filho. Mas aos efeitos decorrentes destamorte, o texto refere ainda “alguas outras cousas que des entom aaca recrecerom”. Enas cartas enviadas por D. Pedro, tanto aos mestres das ordens militares como aosconcelhos, o infante limitar-se-á a invocar “os desvairos que antre nos recreçeromsobre alguas cousas”, não fazendo então qualquer menção à morte de D. Inês.
54 Assim, de uma forma ou de outra, a morte da Castro terá acelerado um movimento de
revolta do infante, cujo protagonismo político se tinha, contudo, vindo a acentuar jádesde o início da década de 1350, mesmo no contexto dos equilíbrios políticospeninsulares39.
55 A reivindicação do exercício da justiça pelo infante, é um dos indícios mais presentes
desse protagonismo e da amplitude do que estava em causa.
56 As primeiras cartas referem-se à aceitação e juramento pelas partes das condições
acordadas. O infante jurou a 5 de Agosto em Canaveses, onde então sua mãe seencontrava, mas a partir daí passou a estar em Braga, nos paços do arcebispo, e aíexarou todas as restantes cartas. Já Afonso IV jurou as condições em S. Francisco deGuimarães a 14 de Agosto, mas a partir desta data permaneceu no Porto, nos paços dobispo. Enquanto isto, a rainha D. Beatriz, presente tanto em Canaveses como emGuimarães, parece também ela ter-se dirigido ao Porto, onde, no mosteiro de S.Domingos, se comprometeu, a 20 de Agosto, a respeitar as condições estabelecidas.
57 Ressalta assim, numa primeira leitura, o deambular dos diferentes protagonistas, sem
que nunca rei e infante se encontrem face a face. E numa segunda leitura, ressalta ofacto de quase todos os juramentos ou actos de registo coincidirem com espaçosreligiosos, nomeadamente mosteiros mendicantes de Guimarães e do Porto, mastambém paços episcopais das duas cidades que eram então e ainda senhoriosepiscopais, apesar dos conflitos que tinham marcado as décadas anteriores.
58 Guilherme de La Garde, arcebispo de Braga, não se limitará aliás a albergar o infante. A
sua presença é referida amiúde no texto, a par da rainha e enquanto testemunha doscompromissos assumidos. Já no caso do bispo do Porto, o rei parece limitar-se a ocuparos seus paços, pelo menos nos momentos de redacção e de registo documental, factoque se poderá ter ficado a dever ao facto desta diocese se encontrar num processo detransição entre o governo de Pedro Afonso e de Afonso Pires, nomeado em Outubro de135540.
59 O deambular assim desenhado pelo rei e pelo infante, sem que qualquer encontro entre
eles se efective, pode reflectir a situação tensa ainda vivida. Da mesma forma que afixação de Afonso no Porto e de Pedro em Braga pode corresponder ao resultado das
Medievalista, 28 | 2020
32
campanhas militares encabeçadas pelo infante contra o Entre-Douro e Minho, Trás-os-Montes e mesmo contra a cidade do Porto, nos primeiros meses de 1355.
60 Um outro aspecto que ressalta da leitura destes primeiros documentos é a presença e a
importância da intervenção da rainha D. Beatriz em todo este processo. D. Pedroafirma, de forma repetida, que o compromisso de tréguas que assume se deve ao pedidode sua mãe, jurando, tal como é descrito, sobre os Santos Evangelhos e a cruz que seencontrava nas mãos da rainha, enquanto o rei jurará sobre os Evangelhos e a cruz quese encontrava nas mãos de D. Guilherme, arcebispo de Braga. Aliás o acordo identifica,desde o início, a rainha, bem como o arcebispo D. Guilherme, como os responsáveis peloestabelecimento da composição e confere o papel central que lhes é devido nodesenrolar do processo.
61 Mas o que parece igualmente retirar-se da leitura dos primeiros documentos é o
aparente estatuto de igualdade que o texto reconhece aos dois protagonistas.
62 Tal como refere Bernardo Vasconcelos e Sousa, o exercício da justiça bem como do
poder terão sido partilhados entre esta data e a morte do rei41. A aparente igualdadeque ressalta da leitura destes textos e que é formalizada na repetição integral doscerimoniais de juramento, no reconhecimento da validade dos respectivos selos devalidação das cartas, nas lógicas semelhantes de preservação das cópias produzidas eguardadas nos respectivos arquivos, nos processos de designação dos vassalos queassumiriam os compromissos em nome dos dois protagonistas, no próprio exarar decartas em paralelo – tal como a carta dirigida aos concelhos por D. Pedro deixaentrever, ao mencionar que uma carta semelhante de convocatória dos procuradoresdos concelhos para virem jurar os acordos, tinha já sido feita por seu pai –, saireforçada pelo texto que formaliza a entrega do exercício da justiça ao infante.
63 Em todo este processo ressaltam duas figuras do clero episcopal: D. Guilherme de La
Garde, arcebispo de Braga e Afonso Pires, bispo do Porto. Figuras que veremos seremagraciadas, o primeiro ainda no contexto das Cortes, o segundo, tal como já referimos,numa carta logo no início do reinado e, mais tarde, em 1362. Duas figuras centrais noconjunto do clero episcopal português ou não fossem estes dois bispos os senhores dasrespectivas cidades.
Bispos e serviço régio: uma dicotomia central?
64 Tal como acima referimos, não sabemos ao certo quais os prelados presentes nas Cortes
de 1361. É possível, dada a importância dos artigos apresentados, que uma partesignificativa desse grupo tenha estado presente ou se tenha feito representar. É mesmopossível supor, como foi mencionado, que as cartas exaradas em 1361 correspondam apresenças efectivas dos prelados em causa. Mas pouco mais é possível afirmar.
65 Tal não impede, bem pelo contrário, que possamos olhar para o conjunto de
eclesiásticos que estavam, por estes anos, no governo das dioceses portuguesas e que,de uma forma ou de outra, fizeram eco do mal-estar que dominava as relações com arealeza e com a nobreza.
66 E uma das características que ressalta deste grupo, se tomarmos o ano de 1361 como
referencial, reside no número de bispos nomeados durante a década de 1350, e logo,contemporâneos dos últimos anos do reinado de Afonso IV e, em alguns casos, da criseque marcou os anos de 1355-1356.
Medievalista, 28 | 2020
33
67 Guilherme de la Garde de Braga, nomeado em 1349 e Afonso Pires do Porto, confirmado
nos últimos meses de 135542, são dois dos casos já mencionados, aos quais se juntamDurão Lourenço de Lamego, João Martins de Viseu, João Gomes de Chaves de Évora eVasco de Silves43. Este facto, embora possa parecer fortuito, coloca-os comotestemunhas de um processo de transição política e de reconfiguração de alianças emtorno dos dois protagonistas régios.
68 A estes junta-se um pequeno grupo de prelados nomeados ou transferidos entre
dioceses, em 1358, e cujos governos se estendem até 1363 ou 1364, como é o caso deLourenço Martins de Lisboa, Pedro Gomes de Coimbra e Gil Viana da Guarda44. Noentanto, todos estes exerciam cargos na hierarquia eclesiástica nos anos anteriores,fosse como bispos de outras dioceses fosse na estrutura capitular, como era o caso deGil de Viana, deão da Guarda antes da sua nomeação para bispo 45.
69 Se alargarmos um pouco o âmbito de análise e olharmos para o conjunto de prelados
responsáveis pelas dioceses portuguesas, entre 1355 e 1361, um curto espaço de temposem dúvida e que não permite grandes conclusões, outros dados parecem ressaltar eprendem-se com a importância das transferências e com as linhas descritas por estesprocessos de transferência.
70 Com efeito, e sem particular admiração, tendo em conta a crescente importância da
intervenção papal nas designações episcopais, assistimos a um número importante detransferências realizadas, aparentemente, por iniciativa do Papa. Estas parecem afectarparticularmente as dioceses de Braga, Lisboa e Coimbra. A par dos clérigos estrangeirosque foram transferidos de dioceses estrangeiras e que ocuparam, a título passageiro,lugares em dioceses portuguesas, como é o caso de Reginaldo de Maubernard em Braga,o que merece destaque são as transferências internas: entre 1358 e 1369 a diocese deLisboa conhece dois bispos sucessivos que são transferidos a partir de Coimbra46. Estadiocese, por seu turno, também recebe dois prelados que vêm de diferentes dioceses:Lourenço Rodrigues, proveniente da Guarda, onde era bispo, e Pedro Gómez Barroso,prelado de Siguença, os quais serão sucessivamente transferidos para Lisboa. Seampliarmos a cronologia, vemos que também Vasco Fernandes, bispo de Coimbra entre1364 e 1371, transitou da Guarda para Coimbra e daqui para Lisboa47. Em outrasdioceses, mantém-se a tendência para a escolha de membros do próprio cabido, comoaconteceu com Durão de Lamego, anteriormente cónego dessa diocese, com Gil deViana, deão da Guarda e com João Martins deão, também, de Viseu.
71 Os trajectos desenhados pelas transferências reforçam assim a centralidade de Lisboa
enquanto destino privilegiado do cursus honorum episcopal entre dioceses portuguesas eum reforço das hierarquias internas já entrevistas em décadas anteriores. Em paralelo,a manutenção do cursus honorum entre cabido e prelazia parece manter-se, quandopossível, em dioceses nas quais a pressão externa pela procura de benefícios era menor.
72 Os bispos das dioceses portuguesas destes anos parecem refletir nos seus trajectos, em
alguns casos apenas parcialmente conhecidos, redes de diferente amplitude econstituição. Ao predomínio das relações curiais e dos percursos feitos na Cúria ou aoserviço do Papa, contrapõe-se uma aparente menor notoriedade do serviço régio.Embora alguns, como Lourenço Rodrigues /Martins de Barbudo se possam identificarcomo clérigos do rei nos anos anteriores ao reinado de D. Pedro e apesar de vermosGuilherme de la Garde e Afonso Pires na vanguarda do processo de estabelecimento dosacordos entre Afonso IV e o infante, a verdade é que nem a chancelaria régia nem os
Medievalista, 28 | 2020
34
trajectos passíveis de serem estabelecidos permitem afirmar a presença decolaboradores próximos do rei à frente das dioceses portuguesas nestes anos48.
73 Facto que não deixa de ir ao encontro do já analisado por Armando Luís de Carvalho
Homem no início dos anos 90 quando afirmava a queda assinalável de eclesiásticos nodesembargo de D. Pedro49 e em particular a partir de 1361, ano de realização das Cortesde Elvas, bem como a perda de importância dos cargos tradicionalmente entregues aeclesiásticos. Mas mesmo para os anos anteriores, coincidentes com o início do reinado,a presença dos eclesiásticos parece limitada a alguns clérigos cujos trajectos nãoculminam com a obtenção de postos na estrutura episcopal, como é o caso de MestreGonçalo das “Decretais”50. Ou seja, o que parece assinalável para estes curtos anos dogoverno de D. Pedro é uma aparente dissociação entre o serviço régio prestado nodesembargo e os detentores de cargos episcopais. É obvio que o preenchimento destesestava sempre dependente da existência de momentos de vacância, mas é também claroque quando estes se apresentam, os candidatos escolhidos não se caracterizam portrajectos de acentuado serviço régio.
74 Tal não significa que a retribuição do serviço prestado não estivesse entre as
preocupações de D. Pedro51. O próprio rei se faz eco dessa preocupação em muitas dascartas exaradas, e podemos entrever nas doações feitas e, sobretudo, na reversão dedeterminadas sentenças uma preocupação com a recompensa da lealdade e do serviço,bem como uma tendência para acentuar a diferença com alguns dos aspectos da políticade seu pai.
75 Por outro lado, esta aparente dissociação não impede a colaboração entre bispos e rei,
tal como é atestada no relato feito por Fernão Lopes sobre a declaração feita por D.Pedro sobre o seu casamento com D. Inês em Junho de 1360, ou seja, no ano anterior àrealização das Cortes. Uma das testemunhas chamada para confirmar a declaração foi obispo da Guarda, D. Gil, mas outros bispos, como D. Lourenço de Lisboa, D. Afonso doPorto e D. João de Viseu, presenciaram esta declaração, dando o aval a esta declaração epretensão de D. Pedro52.
76 No entanto, como também já foi realçado por Carvalho Homem, D. Pedro não deixará de
retomar e mesmo de acentuar muitos dos aspectos da política anteriormentedesenvolvida por seu pai, muito em particular a partir de 1361, quando uma novareforma do Desembargo toma corpo e novas ordenações alteram os trâmites judiciais.
77 A questão, no que ao clero episcopal diz respeito, passa pela necessidade de entender a
aparente menor importância do serviço régio entre o clero episcopal não como umindício da menor capacidade de intervenção do rei, mas como um indício da mudançana relação entre intervenientes no processo de designação episcopal, com realce para opapa e os monarcas. Ou seja, a multiplicação das situações que implicavam aintervenção papal nos processos de designação não diminuía a capacidade deintervenção régia, da mesma forma que o aumento da presença de clérigos estrangeirosem Portugal precipitaria muitos clérigos portugueses a integrarem os círculos maispróximos do rei e a dependerem dele para a obtenção de novos benefícios53. Mesmo queestes não fossem lugares na hierarquia episcopal.
78 Desta feita, que dizer sobre a importância destes artigos apresentados nas Cortes de
1361 pelo clero e que dizer deste clero episcopal?
79 Nomeados no decurso da década de 1350, muitos dos bispos governantes em 1361
tinham sido testemunhas da crise de 1355-56 e nela tinham participado de forma mais
Medievalista, 28 | 2020
35
ou menos directa ou tinham, pelo menos, acompanhado a progressiva implantação dopoder do infante nos últimos anos do reinado de D. Afonso IV. Herdeiros de sentençasque, promulgadas nos anos anteriores, tinham alterado as formas de exercício dajurisdição detida por muitos prelados nos seus coutos e em diversos lugares das suasdioceses, cedo muitos deles tentam alterar situações, aproveitando a mudança dereinado e de alguns dos protagonistas dos círculos políticos. E fazem-no, com maior oumenor êxito, através de esforços individuais que se saldam pela promulgação de cartasparticulares onde o favor régio se formaliza e a recompensa do serviço surge comoargumento central da outorga, ou através de pedidos gerais como são os artigosapresentados em 1361.
80 Ao contrário de outros anteriormente apresentados, os capítulos de 1361 não me
parecem reflectir a existência de uma crise particular ou próxima, para lá da queresultava da necessidade de reavaliação recorrente dos equilíbrios políticos, mas antesuma tentativa de formalizar nas Cortes um conjunto de pedidos que resultavam dapolítica prosseguida por Afonso IV e que os bispos de alguma forma tentam inverter em1361.
81 Já para D. Pedro este aparente acordo poderá ter representado um ponto de chegada
possível entre os interesses dos bispos e a reafirmação do poder régio, após uma crise, aqual mais uma vez tinha demonstrado a fragilidade inerente ao poder real emmomentos de transição. Sem questionar a amplitude do exercício do poder real, D.Pedro concedia aos bispos a revisão de alguns abusos praticados pelos nobres, agarantia do respeito pelo foro canónico dentro dos limites do exercício da justiça quecabia ao rei, a isenção do pagamento ilegítimo de alguns tributos extraordinários,reafirmando, em muitos casos, o carácter temporário e excepcional destas doações,porque dependentes da mercê e do favor régios. Tal como em outros momentos, asCortes assumiam-se como o palco de reequilíbrios e de afirmação dos discursos do(s)poder(es) em presença.
BIBLIOGRAFIA
Fontes
Fontes manuscritas
Lisboa, ANTT
- Cabido da Sé de Lamego, maço 3 de doações, cartas e mercês régias, n.º8 e 10.
- Gavetas, Gaveta XIII, maço 5, nº 4.
Fontes impressas
Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1984.
Cortes Portuguesas. Reinado de D. Afonso IV (1325-1357). Lisboa: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1982.
Medievalista, 28 | 2020
36
Cortes Portuguesas. Reinado de D. Pedro I (1357-1367). Lisboa: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1986.
COSTA, António Domingues de Sousa (ed.) – Monumenta Portugaliae Vaticana. I Súplicas dos
pontificados de Clemente VI, Inocêncio VI e Urbano V. Braga/ Porto: Editorial Franciscana, 1968.
Innocent VI (1352-1362). Lettres secrètes et curiales, publiées ou analysées par Pierre Gasnault.
Tome III, fascicule IV. Paris: Éd. de Boccard, 1968.
Livro I de Místicos de Reis, Livro II dos Reis D. Dinis, D. Afonso IV D. Pedro. Documentos para a História da
Cidade de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1947.
LOPES, Fernão – Crónica de D. Pedro. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2007.
Ordenações Afonsinas, 2ª ed., livros I-V. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1998.
Estudos
AMBLER, S. T. – Bishops in the Political Community of England, 1213-1272. Oxford: Oxford University
Press, 2017.
ARNAUT, Salvador Dias – A Crise Nacional Dos Fins Do Século XIV. I - A Sucessão de D. Fernando. Lisboa:
Imprensa de Coimbra, 1960.
ARRANZ DE GUZMAN, Ana – “Reconstrucción y verificación de las Cortes castellano-leonesas: la
participación del clero”. En La España Medieval 13 (1990) pp. 33-132.
CAETANO, Marcello – História Do Direito Português. Fontes- Direito Público (1140-1495), 2a ed. Lisboa:
Editorial Verbo, 1985.
CASTRO, José Osório da Gama e – Diocese e Districto da Guarda. Porto: [s.e.] 1902.
COELHO, Maria Helena da Cruz – “O arcebispo D. Gonçalo Pereira: um querer, um agir”. in IX
Centenário da Dedicação da Sé de Braga. Congresso Internacional. Actas, volume II/1 - A Catedral de
Braga na História e na Arte (séculos XII-XIX). Braga: Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de
Teologia, Cabido Metropolitano e Primacial de Braga, 1990, pp. 389-462.
COSTA, Adelaide Millán – “Comunidades urbanas de senhorio eclesiástico; a divergente
experiência das Cidades do Porto e de Braga”. in Estudos em Homenagem ao Prof. Dr. José Marques.
Vol. I. Porto: FLUP, 2006, pp. 77-85.
COSTA, Adelaide Pereira Millán da, “As mulheres de D. Pedro I. Branca de Castela, Constança
Manuel e Inês de Castro”. in MENINO, Vanda Lourenço; COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millán – A
rainha, as infantas e a aia: Beatriz de Castela, Branca de Castela, Constança Manuel, Inês de Castro. Lisboa:
Círculo de Leitores, 2012
CRUZ, António – “Os bispos senhores da cidade. II – de D. Pedro Salvadores a D. Vasco Martins”.
in PERES, Damião e CRUZ, António (eds.) – História da cidade do Porto. Vol. I. Porto: Portucalense
Editora, 1962, pp. 184-248.
DENTON, J. H. – “The Making of the “Articuli Cleri” of 1316”. The English Historical Review 101.400
(1986), pp. 564–595.
DIAZ IBÁNEZ, JORGE; FARELO, Mário – “Pedro Gómez Barroso, O jovem”. in FONTES, João Luis
(dir); GOUVEIA, António Camões, ANDRADE, Maria Filomena e FARELO, Mário (coord.) – Bispos e
Arcebispos de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 2018, pp. 345-351.
DOMINGUES, José – As Ordenações Afonsinas: três séculos de direito medieval [1211-1512]. Sintra: Zéfiro,
2008.
Medievalista, 28 | 2020
37
EUBEL, Conradus – Hierarchia Catholica Medii Aevi sive Summorum Pontificum, S.R.E. Cardinalium,
Ecclesiarum Antistitum Series: ab Anno 1198 usque ad annum 1431 perducta:et Documentis tabularii
praesertim Vaticani collecta, digesta. Monasterii, 1935-1978.
FERREIRA, Monsenhor J. Augusto – Memórias Archeológico-Históricas da cidade do Porto. Braga:
Livraria Cruz, 1923.
FREITAS, Eugénio Cunha e – “Os bispos senhores da cidade. III- de D. Pedro Afonso a D. Gil Alma”.
in PERES, Damião e CRUZ, António (eds) – História da cidade do Porto. Vol. I. Porto: Portucalense
Editora, 1962, pp. 249-279.
GOMES, Jesué Pinharanda – História da Diocese da Guarda. Braga: [edição do autor] 1981.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O Desembargo Régio (1320-1433). Porto: Instituto Nacional de
Investigação Científica, Centro de História da Universidade do Porto, 1990.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Subsídios para o estudo da administração central no
reinado de D. Pedro I”. in HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Portugal nos finais da Idade Média:
Estado, Instituições, Sociedade Política. Lisboa: Livros Horizonte, 1990, pp. 63-107.
JONES, W. R. – “Bishops, Politics, and the Two Laws: The Gravamina of the English Clergy”.
Speculum 41:2 (1966), pp. 209–245.
LEITÃO, André de Oliveira – “Lourenço Rodrigues (ou Lourenço Martins de Barbudo)”. in FONTES,
João Luis (dir); GOUVEIA, António Camões, ANDRADE, Maria Filomena; FARELO, Mário (coord.) –
Bispos e Arcebispos de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 2018, pp. 329-344.
LEITÃO, André de Oliveira; NORTE, Armando – “Vasco Rodrigues”. in FONTES, João Luis (dir);
GOUVEIA, António Camões, ANDRADE, Maria Filomena; FARELO, Mário (coord.) – Bispos e
Arcebispos de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 2018, pp. 361-379.
LINEHAN, Peter – At the Edge of Reformation: Iberia before the Black Death. New York: Oxford
University Press, 2019.
LINEHAN, Peter - The Spanish Church and the Papacy in the Thirteenth Century. Cambridge:
Cambridge University Press, 2005.
LOUREIRO, Sara – “O conflito entre D. Afonso IV e o infante D. Pedro (1355-1356)”. Cadernos do
Arquivo Municipal, 1ª série, 7 (2003), pp. 8-62.
MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na Crise dos séculos XIV e XV. Vol. IV. Nova História de Portugal.
Dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques. Lisboa: Estampa, 1987.
MARQUES, A. H. de Oliveira; DIAS, João Alves – Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português.
Lisboa: Centro de Estudos Históricos, 2003.
MARQUES, José – “D. Afonso IV e as jurisdições senhoriais”. in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas
de História Medieval. Vol. IV. Porto: INIC, 1990, pp. 1527-1566.
MARQUES, José – “Igreja e poder régio”. in A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-medievo.
Ciclo de conferências. Lisboa: Universidade Autónoma de Lisboa, 1999, pp. 217-256.
MACHADO, J.T. Montalvão – Itinerários de El-Rei D. Pedro (1357-1367) Lisboa: Academia Portuguesa
de História, 1978.
MORUJÃO, Maria do Rosário – “Bispos em tempo de guerra: os prelados de Coimbra na segunda
metade do século XIV”. in A Guerra e a sociedade na Idade Média. Actas das VI Jornadas Luso-
Espanholas de Estudos Medievais, 2 vols. Coimbra: Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais, 2009,
vol. II, pp. 539-550.
Medievalista, 28 | 2020
38
MUXAGATA, Ana Filipa Coelho – A Corte de D. Pedro I (1320-1367). Lisboa: Universidade de Lisboa,
2019. Dissertação de Mestrado.
O’CALLAGHAN, Joseph – “The Ecclesiastical Estate in the Cortes of Leon-Castille, 1252-1350”. The
Catholic Historical Review, 67.2 (1981), pp. 185-213.
PIMENTA, Cristina – D. Pedro I. Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2005.
SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa - “O processo de inquirição do espólio de um prelado
trecentista: D. Afonso Pires, bispo do Porto (1359-1372).” Lusitania Sacra, 2ª série, 13-14
(2001-2002), pp. 197-228.
SOUSA, Armindo de – As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490), 2 vols. Porto: Instituto Nacional
de Investigação Científica, 1990.
SOUSA, Bernardo Vasconcelos e - D. Afonso IV. Lisboa: Círculo de Leitores, 2005.
SOUSA, Bernardo Vasconcelos e – “A Guerra Civil de 1355”. in A Guerra e a sociedade na Idade Média.
Actas das VI Jornadas Luso-Espanholas de Estudos Medievais. Vol. II. Coimbra: Sociedade Portuguesa
de Estudos Medievais, 2009, pp. 393-407.
TABBAGH, Vincent – Les Évêques dans le Royaume de France au XIVe Siècle. Dijon: Éditions
universitaires de Dijon, 2015.
VILAR, Hermínia Vasconcelos – “Episcopal appointments and royal power: theory and practice of
an unwritten privilege in medieval Portugal”. Imago Temporis. Medium Aevum 11 (2017), pp.
233-254.
VILAR, Hermínia Vasconcelos – “No tempo de Avinhão: Afonso IV e o episcopado em meados de
Trezentos”. Lusitania Sacra. 2ª série, 22 (2010), pp. 149-168.
ZUTSHI, Patrick – “Petitions to the Pope in the Fourteenth Century”. in ORMROD, W. Mark, et al.
(ed.) – Medieval Petitions: Grace and Grievance. Suffolk: Boydell & Brewer, 2009, pp. 82-98.
NOTAS
1. Sobre o processo de constituição e divulgação das Ordenações Afonsinas e sobre a sua
organização em cinco livros veja-se DOMINGUES, José – As Ordenações Afonsinas: três séculos de
direito medieval [1211-1512]. Sintra: Zéfiro, 2008.
2. Ordenações Afonsinas, 2ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1998, Livro II, pp. 3 a 156
para todos os acordos. Os capítulos respeitantes a Elvas estão inseridos entre as páginas 61 e 87.
Ainda sobre estes acordos e a sua integração nas Ordenações Afonsinas veja-se CAETANO, Marcello
– História Do Direito Português. Fontes- Direito Público (1140-1495). 2a ed. Lisboa: Editorial Verbo, 1985,
em especial pp. 538-540.
3. Para o caso inglês veja-se JONES, W. R. – “Bishops, Politics, and the Two Laws: The Gravamina of
the English Clergy”. Speculum 41:2 (1966), pp. 209-245 e DENTON, J. H. – “The Making of the
“Articuli Cleri” of 1316”. The English Historical Review 101.400 (1986), pp. 564-595. No caso de
Castela atente-se na importância dessas listas realçada por LINEHAN, Peter – The Spanish Church
and the Papacy in the Thirteenth Century. Cambridge: University Press, 2005.
4. A itinerância de D. Pedro foi estudada por MACHADO, J. T. Montalvão – Itinerários de El-Rei D.
Pedro (1357-1367), Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1978. Sobre os locais escolhidos para
as reuniões de Cortes entre 1250 e 1490 atente-se no mapa incluído em MARQUES, A. H. de
Oliveira e DIAS, João Alves – Atlas Histórico de Portugal e do Ultramar Português. Lisboa: Centro de
Estudos Históricos, 2003, p. 110, no qual é visível a escolha exclusiva de Elvas por D. Pedro. A
Medievalista, 28 | 2020
39
representação gráfica dos itinerários descritos pelos diferentes reis a partir de Afonso III e até D.
Pedro encontra-se na mesma obra nas páginas 101 a 104.
5. Cortes Portuguesas. Reinado de D. Pedro I (1357-1367). Lisboa: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1986.
6. Uma reflexão interessante sobre o papel dos bispos na comunidade política, embora centrada
no caso inglês, pode ser encontrada em AMBLER, S. T. – Bishops in the Political Community of
England, 1213-1272. Oxford: Oxford University Press, 2017, pp. 12-31. Para o caso francês merece
realce a análise feita por TABBAGH, Vincent – Les Évêques dans Le Royaume de France au XIVe Siècle.
Dijon: Éditions universitaires de Dijon, 2015.
7. Cortes Portuguesas. Reinado de D. Afonso IV (1325-1357). Lisboa: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1982, p. 123.
8. SOUSA, Armindo de – As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490). 2 vols, Porto: Instituto Nacional
de Investigação Científica, 1990 em especial pp. 184-189.
9. SOUSA, Armindo de – As Cortes Medievais Portuguesas (1385-1490) …, vol. I, p. 184 e sobre a
participação do clero nas cortes castelhanas: O’ CALLAGHAN, Joseph – “The Ecclesiastical Estate
in the Cortes of Leon-Castille, 1252-1350’. The Catholic Historical Review LXVII.2 (1981), pp. 185-213
e ARRANZ DE GUZMAN, Ana – “Reconstrucción y verificación de las Cortes castellano-leonesas: la
participación del clero”. En La España Medieval 13 (1990), pp. 33-132.
10. MARQUES, José – “Igreja e poder régio”. in A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-
medievo. Ciclo de conferências. Lisboa: Universidade Autónoma de Lisboa, 1999, pp. 217-256, em
especial, pp. 227-228.
11. Cortes Portuguesas. Reinado de D. Pedro I …, respetivamente p. 17 e p. 19.
12. Cortes Portuguesas. Reinado de D. Pedro I …, p. 19.
13. Cortes Portuguesas. Reinado de D. Pedro I …, p. 26.
14. Cortes Portuguesas. Reinado de D. Pedro I …, p. 26.
15. VILAR, Hermínia Vasconcelos – “Episcopal appointments and royal power: theory and
practice of an unwritten privilege in medieval Portugal”. Imago Temporis. Medium Aevum 11 (2017),
pp. 233-254.
16. Oliveira Marques frisava-o em 1987 aquando da publicação do IV volume da Nova História de
Portugal, argumentando que D. Pedro tinha perseguido o clero, sendo os capítulos de 1361 um
reflexo das queixas que o clero dirigia contra o rei, senhores e mesmo contra os concelhos
protegidos por D. Pedro. MARQUES, A.H. de Oliveira – Portugal na Crise dos séculos XIV e XV. Vol. IV.
Nova História de Portugal. Lisboa: Estampa, 1987, p. 507.
17. De entre os reis da Primeira Dinastia, D. Pedro é talvez o monarca sobre cujogoverno mais incidem os problemas decorrentes da escassez documental. Asobrevivência de um único livro de chancelaria é um limite claro ao conhecimentodesta governação e nem mesmo o facto deste livro incluir documentação oriunda dosdez anos do reinado permite ultrapassar, de forma clara, as consequências dessaescassez documental. E se bem que a Crónica de D. Pedro constitua um elemento adicionalde inegável importância para o conhecimento destes anos, a verdade é que avalorização de determinados acontecimentos tem igualmente limitado ou enviesado areflexão sobre este período.
18. Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I, nº 538, p. 219.
19. Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I, nº 547, pp. 234-235.
20. ANTT, Cabido da Sé de Lamego, maço 3 de doações, cartas e mercês régias, nº 8 e 10.
21. Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I, nº 558, p. 241.
22. A nomeação do seu sucessor data de 18 de Junho de 1361 e a sua transferência terápossivelmente sido autorizada em 16 de Junho de 1361. EUBEL, Conradus – Hierarchia
Catholica Medii Aevi sive Summorum Pontificum, S.R.E. Cardinalium, Ecclesiarum Antistitum
Medievalista, 28 | 2020
40
Series: ab Anno 1198 usque ad annum 1431 perducta:et Documentis tabularii praesertim Vaticani
collecta, digesta. Monasterii, 1935-1978, p. 144.
23. Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I, nº 554 e 555, pp. 237-238. Em carta de 1341, Afonso IV
reconhecia ao arcebispo de Braga, então Gonçalo Pereira, vários privilégios, entre os quais a
capacidade de nomear tabeliães, embora tenha ressalvado a correição entregue ao rei. Com esta
carta, Afonso IV fechava o conflito iniciado alguns meses antes com D. Gonçalo Pereira, arcebispo
cujo percurso foi estudado por COELHO, Maria Helena – “O arcebispo D. Gonçalo Pereira: um
querer, um agir”. in IX Centenário da Dedicação da Sé de Braga. Congresso Internacional. Actas. Vol. II/
1. A Catedral de Braga na História e na Arte (séculos XII-XIX) . Braga: Universidade Católica
Portuguesa, Faculdade de Teologia, Cabido Metropolitano e Primacial de Braga, 1990, pp, 389-462.
Ainda sobre este conflito, VILAR, Hermínia Vasconcelos – “No tempo de Avinhão: Afonso IV e o
episcopado em meados de Trezentos”. Lusitania Sacra, 2ª série, 22 (2010), pp. 149-168, COSTA,
Adelaide Millán – “Comunidades urbanas de senhorio eclesiástico; a divergente experiência das
Cidades do Porto e de Braga”. in Estudos em Homenagem ao Prof. Dr. José Marques. Vol. I. Porto: FLUP,
2006, pp. 77-85.
24. Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I, nº 552, pp. 236-237.
25. Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I, nº 553, p. 237.
26. Uma reflexão recente e sugestiva sobre as relações entre rei e Igreja no que se refere, em
particular, a Portugal e Castela na primeira metade do século XIV é a de LINEHAN, Peter – At the
Edge of Reformation: Iberia before the Black Death. New York: Oxford University Press, 2019, obra na
qual algumas destas questões e protagonistas são analisados. O chamado “chamamento geral”
datado da primeira metade de 1334 é conhecido a partir das cartas que resultaram das
confirmações e inquirições feitas a partir da apresentação dos documentos por parte dos
detentores das jurisdições, tal como é realçado por MARQUES, José – “D. Afonso IV e as
jurisdições senhoriais”. in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval. Vol. IV. Porto:
INIC, 1990, pp. 1527-1566 e SOUSA, Bernardo Vasconcelos e – D. Afonso IV. Rio de Mouro: Círculo
de Leitores: 2005, p. 102 e seguintes.
27. COSTA, Adelaide Millán da – “Comunidades urbanas de senhorio eclesiástico” …, pp. 77-85;
CRUZ, António – “Os bispos senhores da cidade. II – de D. Pedro Salvadores a D. Vasco Martins”.
in PERES, Damião e CRUZ, António (eds.) – História da cidade do Porto. Vol.I. Porto: Portucalense
Editora, 1962, pp. 184-248.
28. Chancelaria de D. Pedro I, nº 130, p. 57. Também em Junho de 1361 um novo acordo é
estabelecido entre o rei e bispo. ANTT, Gavetas, Gaveta XIII, maço 5, nº 4. Monsenhor José Augusto
Ferreira refere ainda uma outra confirmação de jurisdição datada de 1359 e referente aos coutos
de Paranhos, Crestuma, Loriz e Régua e uma carta de restituição de propriedades, anteriormente
usurpadas, datada de 1360. FERREIRA, Monsenhor J. Augusto – Memórias Archeológico-Históricas da
cidade do Porto. Braga: Livraria Cruz, 1923, p. 375.
29. FREITAS, Eugénio Cunha e – “Os bispos senhores da cidade. III- de D. Pedro Afonso a D. Gil
Alma”. in PERES, Damião e CRUZ, António (eds.) – História da cidade do Porto. Vol. I, …, pp. 249-297.
Nesse sentido vai também a opinião de Cristina Pimenta numa perspectiva ampla sobre as
relações com o clero. PIMENTA, Cristina – D. Pedro I. Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2005, pp.
126-127. Em Janeiro de 1360, D. Pedro pede ao papa a confirmação do acordo estabelecido entre
Afonso IV e o Bispo do Porto, argumentando que o acordo não teria seguido os trâmites normais
em virtude da morte do bispo, referindo-se então a Pedro Afonso. COSTA, António Domingues de
Sousa (ed.) – Monumenta Portugaliae Vaticana. I - Súplicas dos pontificados de Clemente VI, Inocêncio VI
e Urbano V. Braga - Porto: Editorial Franciscana, 1968, p. 362.
30. Chancelaria de D. Pedro I, nº 553, p. 237.
31. Chancelaria de D. Pedro I, nº 112, p. 50.
32. Chancelaria de D. Pedro I, nº 181, pp. 70-71.
33. Chancelaria de D. Pedro I, nº 310, pp. 113-116.
Medievalista, 28 | 2020
41
34. Chancelaria de D. Pedro I, nº 438, p. 174.
35. É o que parece acontecer com o Porto, Coimbra e Viseu e com as cartas genéricas de
confirmação exaradas logo em 1357. Chancelaria de D. Pedro I, nº 130, p. 57; nº 161, p. 63 e nº 236, p.
84.
36. Chancelaria de D. Pedro I, nº 408, pp. 162-163.
37. O conjunto destas cartas, existente no Arquivo Municipal de Lisboa foi publicado,
recentemente, por LOUREIRO, Sara – “O conflito entre D. Afonso IV e o infante D. Pedro
(1355-1356).” Cadernos do Arquivo Municipal, 1ª série, 7 (2003), pp. 8-62. Entre outras publicações,
refira-se a realizada em Livro I de Místicos de Reis, Livro II dos Reis D. Dinis, D. Afonso IV D. Pedro –
Documentos para a História da Cidade de Lisboa. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1947.
38. SOUSA, Bernardo Vasconcelos e – D. Afonso IV …, pp. 168-173. Ainda deste autor, ver “A Guerra
Civil de 1355”. in A Guerra e a sociedade na Idade Média. Actas das VI Jornadas Luso-Espanholas de
Estudos Medievais, 2 vols. Coimbra: Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais, 2009, vol. II, pp.
393-407, onde analisa detalhadamente as fases deste processo de estabelecimento de acordos.
39. O contexto peninsular subjacente à morte de Inês de Castro foi analisado na recentebiografia dedicada a esta figura da autoria de COSTA, Adelaide Pereira Millán da – “Asmulheres de D. Pedro I. Branca de Castela, Constança Manuel e Inês de Castro.” inMENINO, Vanda Lourenço; COSTA, Adelaide Lopes Pereira Millán – A rainha, as infantas e
a aia: Beatriz de Castela, Branca de Castela, Constança Manuel, Inês de Castro. Lisboa: Círculode Leitores, 2012, em especial, pp. 339-457.
40. Em Dezembro de 1355, Inocêncio VI dirigia uma carta ao rei de Portugal, aindaAfonso IV, e pedia-lhe que não transferisse para o actual bispo os rancores que tinhapara com o anterior, Pedro Afonso, numa clara alusão aos problemas havidos sobre osenhorio do Porto. Innocent VI (1352-1362). Lettres secrètes et curiales, publiées ouanalysées par Pierre Gasnault. Tome III, fascicule IV. Paris: Éd. de Boccard, 1968, p. 160.
41. SOUSA, Bernardo Vasconcelos e – D. Afonso IV …, p. 172.
42. EUBEL, Conradus – Hierarchia Catholica Medii Aevi …, p. 144 para Guilherme de La Garde,
nomeado a 27 de Julho de 1349 e p. 406 para Afonso Pires do Porto, nomeado por carta de 26 de
Outubro de 1355.
43. EUBEL, Conradus – Hierarchia Catholica Medii Aevi …, pp. 236 (Évora), 291 (Lamego), 452 (Silves)
e 531 (Viseu). O intervalo de nomeações vai de Junho de 1349 a Fevereiro de 1350, com a excepção
de João Gomes, confirmado em Novembro de 1356.
44. EUBEL, Conradus – Hierarchia Catholica Medii Aevi …, pp. 196 (Coimbra), 235 (Guarda) e 507
(Lisboa).
45. EUBEL, Conradus – Hierarchia Catholica Medii Aevi …, p, 235 e CASTRO, José Osório da Gama e,
Diocese e Districto da Guarda. Porto: [s.e.], 1902, pp. 414-416 e GOMES, Josué Pinharanda - História da
Diocese da Guarda, Braga: [edição de autor], 1981, p. 153.
46. São eles Lourenço Rodrigues, identificado por Mário Farelo como Lourenço Martins de
Barbudo, e Pedro Gómez Barroso. O primeiro é transferido em 1358 e permanecerá em Lisboa até
1364. O segundo vai para Lisboa em 1364, onde permanece até 1369 e à sua transferência para
Sevilha. LEITÃO, André de Oliveira – “Lourenço Rodrigues (ou Lourenço Martins de Barbudo)”. in
FONTES, João Luis (dir); GOUVEIA, António Camões; ANDRADE, Maria Filomena; FARELO, Mário
(coord.) – Bispos e Arcebispos de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 2018, pp. 329-344 e DIAZ IBÁNEZ,
Jorge; FARELO, Mário – “Pedro Gómez Barroso, O jovem”. in FONTES, João Luis (dir); GOUVEIA,
António Camões; ANDRADE, Maria Filomena; FARELO, Mário (coord.) – Bispos e Arcebispos de
Lisboa …, pp. 345-351.
47. E poucos meses depois será transferido para Braga. Uma síntese dos percursos destes bispos
de Coimbra da segunda metade do século XIV encontra-se em MORUJÃO, Maria do Rosário –
“Bispos em tempo de guerra: os prelados de Coimbra na segunda metade do século XIV”. in A
Medievalista, 28 | 2020
42
Guerra e a sociedade na Idade Média. Actas das VI Jornadas Luso-Espanholas de Estudos Medievais. Vol. II,
…, pp. 539-550 e mais recentemente em LEITÃO, André de Oliveira; NORTE, Armando – “Vasco
Rodrigues”. in Bispos e Arcebispos de Lisboa …, pp. 361-379.
48. Alguns destes prelados pertenciam a linhagens que se caracterizam pelacontinuidade do serviço eclesiástico como é o caso de Afonso Pires, bispo do Porto.Sobre este prelado SARAIVA, Anísio Miguel de Sousa – “O processo de inquirição doespólio de um prelado trecentista: D. Afonso Pires, bispo do Porto (1359-1372).”Lusitania Sacra, 2ª série, 13-14 (2001-2002), pp. 197-228.
49. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O Desembargo Régio (1320-1433). Porto: Instituto Nacional
de Investigação Científica, Centro de História da Universidade do Porto, 1990, pp. 176-179 e do
mesmo autor “Subsídios para o estudo da administração central no reinado de D. Pedro I”. in
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Portugal Nos Finais Da Idade Média: Estado, Instituições,
Sociedade Política. Lisboa: Livros Horizonte, 1990, pp. 63-107. Um levantamento de alguns dos mais
próximos colaboradores do rei foi realizado mais recentemente por MUXAGATA, Ana Filipa
Coelho – A Corte de D. Pedro I (1320-1367). Lisboa: Universidade de Lisboa, 2019. Dissertação de
Mestrado.
50. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O Desembargo Régio (1320-1433) …, pp. 315-317. Para um
período posterior ver o trajecto de Vicente Domingues sintetizado na pp. 391-392.
51. Fernão Lopes escreve mesmo que o rei afirmava que “dia que o rrei não dava não devia seer
avudo por rrei”, realçando assim a centralidade do rei enquanto distribuidor de graça. LOPES,
Fernão - Crónica de D. Pedro. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2007, p. 8.
52. LOPES, Fernão – Crónica de D. Pedro …, pp. 125-127 e ARNAUT, Salvador Dias – A Crise Nacional
Dos Fins Do Século XIV. I - A Sucessão de D. Fernando. Lisboa: Imprensa de Coimbra, 1960, pp. 82-84.
53. A este nível, vale a pena realçar o número relativamente importante de súplicas dirigidas por
D. Pedro ao papa no decurso do seu reinado. Súplicas que contemplam vários eclesiásticos e seus
colaboradores, como é o caso de Guilherme de Piloti, Afonso Domingues de Linhares, Gonçalo
Vasques, Lourenço Esteves filho de Lourenço Esteves, um membro do Desembargo régio e do
Conselho do rei, Vasco Gonçalves, João Eanes, Gomes Lourenço do Avelal. Identificados em alguns
casos como comensais do rei, seus servidores ou familiares, esta lista reflecte o papel do rei como
intermediário e como elemento de pressão junto ao Papado na obtenção de favores para
eclesiásticos que eram seus protegidos, mas também a importância e a amplitude das redes que
atravessam e unem leigos e eclesiásticos na órbita régia e nos círculos administrativos. Lógicas e
articulações que matizam o impacto da ausência dos eclesiásticos do desembargo régio e o que
esta ausência pode indicar de diminuição da influência dos clérigos. COSTA, António Domingues
de Sousa (ed.) – Monumenta Portugaliae Vaticana. I - Súplicas dos pontificados de Clemente VI, Inocêncio
VI e Urbano V. Braga- Porto: Editorial Franciscana, 1968. Sobre as implicações e caracteristicas
destas petições no século XIV vejam-se as interessantes reflexões de ZUTSHI, Patrick – “Petitions
to the Pope in the Fourteenth Century”. in ORMROD, W. Mark, et al. (ed.) – Medieval Petitions:
Grace and Grievance. Suffolk: Boydell & Brewer, 2009, pp. 82-98.
RESUMOS
Em 1361 D. Pedro reunia Cortes em Elvas, lugar excêntrico no quadro do que até então tinham
sido os lugares escolhidos para essas reuniões. Das actas dessas Cortes ressalta um conjunto de
Medievalista, 28 | 2020
43
capítulos, apresentado pelo clero português, e coligidos, mais tarde, nas Ordenações Afonsinas.
Tidos como um reflexo da permanência de problemas anteriores, o conteúdo destes capítulos
bem como o contexto da sua apresentação merecem uma análise mais detalhada, tendo em linha
de conta o quadro mais amplo das relações clero - realeza em meados do século XIV em Portugal.
O questionário subjacente a esta análise tem assim em linha de conta, por um lado, as implicações
e condicionalismos do recurso à apresentação de queixas por parte do clero ao rei ou ao papa e,
por outro, a importância que a crise de 1355-56, bem como as sequelas da política afonsina,
podem ter tido nestes primeiros anos do reinado de D. Pedro.
In 1361 D. Pedro gathered Cortes in Elvas, a very uncommon place if we take in account the
places chosen for these meetings. One of things most remarkable of this Cortes was the
presentation of a list of grievances by the Portuguese clergy to the king. List that was, several
decades after, collected in the Ordenações Afonsinas.
Normally seen as a reflection of the persistence of previous problems between clergy and kings,
the content and context of these grievances deserve a more detailed analysis. In this article, we
intend to draw attention to the implications of the frequent presentation of grievances by the
clergy to the king or pope and also to the importance of the crisis of 1355 -1356 in the first years
of governance of D. Pedro.
ÍNDICE
Keywords: Kingship, “Cortes” of 1361, Bishops, Grievances
Palavras-chave: Realeza, Cortes 1361, Bispos, Agravos
AUTOR
HERMÍNIA VASCONCELOS VILAR
Universidade de Évora, CIDEHUS - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades
7000-803 Évora, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0003-3300-8335.
Medievalista, 28 | 2020
44
os legistas na afirmação da nova dinastia
De João das Regras ao ConselhoRégioos legistas na afirmação da nova dinastia
From João das Regras to the Royal Council: men of law in the affirmation of the
new dinasty
Armando Luís de Carvalho Homem
1383 e depois…: as instituições e os indivíduos
1 Começarei por uma ideia que anteriormente expus já, mas em que creio não ser demais
insistir: o desfecho de 1383-1385 não é propriamente revolucionário em termos deestritos quadros institucionais do poder régio. Com efeito, o organograma daoficialidade burocrática joanina reproduz no essencial aquilo que se fora esboçandoentre as décadas de 30 e de 70, reinando os três últimos monarcas da dinastiafundadora. E significativo é, a tal respeito, o ‘desencontro’ revelado entre asreivindicações dos artigos 2.º e 3.º dos Capítulos Gerais das Cortes de Coimbra e asrespectivas respostas do Rei:
2 - Assim, no primeiro dos mencionados artigos, os povos reivindicam para o regimento
do que chamam o Conselho régio a existência de um ofício de Chancelaria, outro deTesouraria, outro do livramento da Fazenda e um último do livramento das graças; oarticulado mostra um conhecimento ténue da orgânica existente à data da morte de D.Fernando, ao omitir a existência de ofícios como o de Corregedor da Corte (que vinhados tempos finais de Afonso IV) e o de Vedor da Fazenda (remontando ao terminus dadécada de 1360), e isto para já não falar dos escrivães vários, maxime o da Puridade;
3 - a resposta régia é algo ‘esquiva’, escudando-se em expressões tais como “El [o Rei]
dara carrego a estes que ham de estar em seu Conselho que muito melhor sabem fazercomo ajam introduzir em no Conselho os negocios e cousas que se ouverem de Livrar”,e referindo sequentemente os Vedores da Fazenda para os feitos respectivos;
Medievalista, 28 | 2020
45
4 - quanto ao artigo 3.º, de menor importância no contexto, prende-se com a
reivindicação da existência, em Lisboa, de dois ouvidores, com competência tanto cívelquanto criminal na área da urbe e do bispado, e do Chanceler; complementarmente sepede a existência de casas de Justiça em Évora e em Coimbra, com competência,respectivamente, a Sul e a Norte do Tejo;
5 - a resposta, uma vez mais, patenteia a desactualização do requerido: se o Rei concorda
com a territorialização das Justiças nos moldes pedidos, já considera escassos doisoficiais para livramento dos feitos de Justiça, subindo o seu número para três, emarticulação com o Chanceler1.
6 Ou seja: reivindicações não plenamente assentes na realidade próxima-passada das
instituições, respostas esquivas, ambíguas (v.g. pelo reiterado uso do termo “Conselho”)e não propriamente expressantes de qualquer programa régio para os órgãos do poder; oque, note-se, nada tem de surpreendente em Cortes.
Meio século de reinado como factor deinstitucionalização das carreiras burocráticas: as trêsgerações dos oficiais joaninos
7 Mas se da orgânica institucional passarmos aos oficiais concretos o panorama difere.
Desde logo por uma circunstância que se prende ao simples fluir das existências:vivendo até meio da casa dos 70, D. João I terá o mais longo reinado da Idade Médiaportuguesa, de praticamente meio século; apenas D. Dinis, com 46 régios anos, dele seaproxima. Tal meio século, ainda por cima sem situações de ruptura que se nãoprendam à simples caducidade biológica das gerações, tem desde logo umaconsequência e permite, por outro lado, dar-nos conta de um facto primacial em termosde evolução das instituições:
8 - Assim, e em primeiro lugar, uma consequência: os oficiais joaninos vão normalmente
permanecer em funções até ao fim da existência ou até que a falta de saúde ou de boaforma física (v.g., a capacidade para montar a cavalo, no quadro de uma Corteitinerante) os impeçam de continuar no ofício; e assim poderemos neste reinado, a bemdizer pela vez primeira, dar-nos conta da sucessão de três gerações de servidores doaparelho burocrático da Coroa: 1384-ca. 1405; ca. 1405-ca. 1420; e ca. 1420 ss.
9 - Em segundo lugar uma constatação de facto: Trezentos havia sido ainda um tempo de
fragilidade dos ofícios régios, sendo mesmo problemático o poder falar-se de carreiras
burocráticas; situações de mudança de reinado, de guerra, de crise política, de mutaçõesna Corte eram normalmente o suficiente para desencadear uma substituição, radical ouacentuada, do pessoal da Chancelaria; aliás, pode dizer-se que o século XIV conheceuuma única transição de reinado qualificável como normal: a de D. Pedro I para D.Fernando. Ora, Quatrocentos vai afirmar-se, logo em tempos joaninos, como um tempode desempenhos da oficialidade mais longos e cada vez mais qualificáveis comocarreiras, situação que poderá dizer-se consolidada em tempos manuelinos, semembargo, até lá, da complexidade, por exemplo, dos anos 1438-1449 e 1480-1483; mas averdade é que percursos da oficialidade estendendo-se por mais de duas ou de trêsdécadas, clara raridade até então, tendem a tornar-se algo de relativa e crescentementecorrente e normal.
Medievalista, 28 | 2020
46
10 Voltando, entretanto, aos tempos iniciais do fundador da dinastia de Avis, e retomando
uma ideia já exposta: continuidade, portanto, de uma orgânica institucional, masdesempenho dos ofícios predominantemente por indivíduos sem antecedentes (ou comescassos antecedentes) no serviço régio. De facto, dos 16 oficiais em funções nos temposterminais de D. Fernando, 12 desaparecem definitivamente da cena pública, havendosupletivamente a ter em conta 2 casos de continuidade quase linear e mais 2 deafastamento com ulterior reintegração, sendo que num destes casos o intervalo defunções é de 8 anos.
11 Quanto ao total de 24 oficiais que vão estar em funções no período 1384-1395, uma
primeira e reiterada observação diz respeito à sua falta de antecedentes pessoais noserviço régio (apenas, pontualmente, no serviço do município de Lisboa). Homens novos,portanto, e até a mais de um título, já que de um modo geral bem poderiam ser maisjovens ao entrar no serviço do Rei do que os seus predecessores. Mas antecedentes deoutro tipo podem existir: a circunstância, por demais conhecida, de João das Regrascomo enteado do antigo oficial petrino e fernandino Álvaro Pais, está longe de serúnica. Com efeito, uma investigação já antiga de Maria de Lurdes Rosa2 veio chamar aatenção para um total de 4 situações de parentesco entre novos desembargadores de D.João I e antigos oficiais de D. Fernando, os quais já não se encontrariam em funções em1383, mas antes em situações de alguma ‘dissidência’ no quadro de uma sociedade de
Corte que, e desde os alvores da década de 1370, vivia algumas perturbações, ligadas acircunstâncias que depois poderei particularizar.
12 As novidades dos burocratas joaninos não se ficam por aqui:
13 - Quase ausentes do Desembargo tardo-fernandino, clérigos e homens de Leis vão ter
presença destacada nos tempos subsequentes a 1383. Só que, com uma diferença entreuns e outros: os clérigos, em declínio desde o segundo quartel do século, vão ter, naprimeira geração joanina, um dernier souffle, prolongado até meados da década de 1410:é o caso de homens como João Afonso da Azambuja, João Afonso Aranha, Martim AfonsoCharneca (ulteriores prelados) ou Rui Lourenço (deão do cabido de Coimbra), entreoutros. Depois será o quase desaparecimento no âmbito deste subsector da sociedadepolítica (ainda que, por Quatrocentos adiante, prelados, clérigos e mais pontualmenteabades de mosteiros possam ser membros do Conselho, encarregados de missõesdiplomáticas ou presidentes de um dos tribunais superiores do Reino, entre outrastarefas).
14 - Relativamente aos legistas, não raro, à partida, membros do clero secular, retomam,
com a nova dinastia, o caminho ascendente que vinha da quarta década de Trezentos,chegando, nos alvores do novo século, a ultrapassar o terço da totalidade dos oficiais;destaquem-se nomes como o Lic.º Fernão Gonçalves, os irmãos Dr. Diogo Martins e Dr.Gil Martins, o Bach. João Afonso da Azambuja, o escolar João Afonso de Santarém, o Dr.João das Regras, o Dr. Lançarote Esteves, o Dr. Martim Afonso Charneca, o mais tardioDr. Rui Fernandes ou o Lic.º Rui Lourenço; acrescente-se uma particularidade: a tomadade peso, a partir do início de Quatrocentos, dos doutores em Leis, por vezes formadospor Universidades italianas, circunstância iniciada em tempos fernandinos e que agorase retoma, se reforça e se prolonga pela centúria.
Medievalista, 28 | 2020
47
A instância política: rumos do Conselho de D. João I
15 Passemos agora à instância propriamente política dos órgãos do Poder, ou seja, o
Conselho Régio.
16 É corrente afirmar-se que os conselhos régios de finais da Idade Média oscilam entre o
carácter de órgão representativo da comunidade (qual “micro-parlamento”, micro-Cortes)e o carácter de órgão assessor da realeza. As duas situações acabam por ser verificáveisem tempos joaninos.
17 Remontemos, uma vez mais, às Cortes de Coimbra e ao que nelas se pede e se responde
em matéria de Conselho (salientando de novo que os textos dos Capítulos utilizamentão o substantivo “conselho” para referir tanto o propriamente dito quanto aburocracia do Desembargo). A este respeito é também conhecido de há muito o artigo1.º dos Capítulos Gerais:
18 - Considerando que o Rei teria “mister” de “boos consilheiros” recrutados nos quatro
estados do Reino, propõem os povos a inclusão no Conselho de 14 personalidades, asaber, 2 pelos prelados, 4 pelos fidalgos, 4 pelos letrados e 4 pelos cidadãos de Lisboa,Porto, Coimbra e Évora;
19 - o monarca confirma apenas 6 dos propostos, concretamente D. João Eanes (bispo de
Évora), Diogo Lopes Pacheco, Vasco Martins de Melo, o Dr. Gil do Sem, o Dr. João dasRegras e o Dr. Martim Afonso Charneca; a resposta refere ainda, em termos algoambíguos, o(s) representante(s) dos quatro meios urbanos referidos3; de salientar,entretanto, que nenhum dos nomeados por D. João I possui qualquer antecedente noConselho fernandino, ainda que um ou outro pontualmente possam ter detido algumapresença na Corte antes de 1383.
20 Ou seja, o Rei, em última análise, reserva-se o direito de organização do seu Conselho e
de designação dos titulares respectivos. A reivindicação em Cortes configuraria umConselho formado na base da representação “estamental”, conceito este de algumaprática na Historiografia jurídica incidente sobre a Idade Média castelhana4. Na prática,uma “estamentalização” racionalizada, isto é, mediante a presença, entre osconselheiros, de indivíduos de todas as condições com poder suficiente para ter acesso atal órgão do Poder, ainda que o estado dos fidalgos tenda para algum predomínio, que osletrados detenham um montante de presenças que o futuro não confirmará e que oestado dos “cidadãos” se paute normalmente por uma presença algo discreta.
21 Certo é também que os primeiros 10 / 15 anos do reinado joanino conhecerão, com
certa naturalidade, um funcionamento mais assíduo do Conselho e em termos de umacerta colegialidade; o órgão de assessoramento político da realeza intervirá então, e porexemplo, previamente à resposta a agravos em Cortes, em questões diplomáticas, emquestões jurisdicionais (normalmente quando estão em jogo direitos na matéria de altasindividualidades) e até previamente ao despacho de actos de Chancelaria.
22 Depois… a assiduidade e a colegialidade atenuam-se, as marcas documentais da
actuação do Conselho pontualizam-se, a renovação do mesmo permanece limitada até àdécada de 1410 e só na ponta final do reinado assistiremos a uma reintensificação dasua actividade. Mas verdadeiramente só a diplomacia e as jurisdições manterão pesoconstante entre os domínios da actividade do Conselho. Mas quando, em fim dereinado, a tal reintensificação ocorrer, já os protagonismos na condução dos destinosdo Reino se terão diversificado.
Medievalista, 28 | 2020
48
A afirmação de D. Duarte-Infante (1411 ss.)
23 E isto leva-nos a um último feixe de questões que por hoje quererei abordar. Os 22 anos
finais do reinado joanino serão tempo como que de governo a duo, aqui tirei as aspas àfrancesa e coloquei em itálico por ser uma expressão feita entre o monarca e o herdeiroda Coroa. Dispondo de Casa própria e de um património de elevado montante dedireitos a partir de 1408, D. Duarte cedo passará da gestão pessoal da dita Casa edireitos à intervenção directa em assuntos ‘de Estado’, com um corpo próprio de oficiaise conselheiros e produção própria de actos escritos. O monarca atingira, entretanto, os50 anos (fronteira medieval da juventude e da velhice, considerada esta como tempo deplena maturidade, experiência e sabedoria), e a partir de então – mormente depois deCeuta – irá reduzir acentuadamente a sua intervenção no quotidiano governativo.
24 Ora, em 1418, nas Cortes de Santarém, os povos apontam ao Rei os problemas
referentes à vigência das múltiplas leis dos monarcas portugueses decretadas desdeDuzentos: documentalmente dispersas, muitas delas redigidas em Latim, ou então numPortuguês já não familiar aos oficiais régios de Quatrocentos, por vezes árduas deinterpretar pela dissociação entre o conteúdo original e os posteriores e sucessivosaditamentos e modificações de outros monarcas… E requer-se então, para além doaclaramento dos conteúdos, a organização de uma recolha da legislação régia queobviasse os inconvenientes apontados. D. João I mostra-se de acordo. E é este o ponto departida de um processo que culminará apenas cerca de três décadas mais tarde, com asOrdenações Afonsinas (1446-1448).
25 A situação presente às Cortes de 1418 não era nova. Pela década de 1390, e no seio da
oficialidade régia, concretizara-se um primeiro ‘ensaio’ de recolha legislativa, plasmadano chamado Livro das Leis e Posturas, um códice constando hoje do Núcleo Antigo da Torredo Tombo5 e contendo um total de 264 leis régias. O critério de organização não seapresenta como particularmente apurado, à luz das subsequentes experiênciasquatrocentistas: de facto, o conteúdo não se encontra ‘arrumado’ por reinados oumatérias, havendo além disso diversos casos de repetição de textos, não raro comdivergências de datação e não total coincidência de conteúdo. Não se pensa hoje queesta primeira recolha deva incluir-se na decorrência de 1418, nem se continua aatribuir a responsabilidade máxima ao Corregedor da Corte João Mendes. Pelocontrário, e apesar de o assunto requerer ainda longo e atento estudo, tende-se aconsiderar o Livro das Leis e Posturas como algo de pioneiro, sem dúvida, mas isolado facea iniciativas posteriores, em relação às quais é bem mais antigo.
26 Ora, o ulterior processo de recolha dos textos legais arrancado em 1418 será portanto
demorado, e até algo acidentado (apanhou pelo meio com duas sucessões régias – 1433e 1438 – e uma regência), e o seu grande protagonista, ao nível dos cumes do poderpolítico, será justamente D. Duarte, sucessivamente enquanto Infante associado àgovernação e enquanto Rei.
27 O nome de D. Duarte aparece desde logo ligado ao título de uma segunda recolha de
textos legais: o códice dos Reservados da Biblioteca Nacional conhecido justamente comoOrdenações del-Rei Dom Duarte6. Bastante mais apurada na sua organização do que o Livro
das Leis e Posturas, esta segunda iniciativa recolectora de leis (num total de 409)apresenta as mesmas arrumadas por reinado e, até certo ponto, sistematizadas pormatérias. Remontante, provavelmente, a meados da década de 1430, estas Ordenações
Medievalista, 28 | 2020
49
poderão ter sido ‘encomendadas’ por D. Duarte como instrumento de consulta dossuperiores titulares do Poder – e não para funcionarem como Direito vigente –, poderáo próprio D. Duarte ser o autor da “tauoa” de matérias que as abre, poderão terintegrado a livraria pessoal do segundo dinasta de Avis; e são claramente trabalhopreambular às Ordenações Afonsinas 7.
Os homens de Leis e a legitimação da dinastia pelaconstrução do “corpus jurídico-normativo”: do Livrodas Leis e Posturas às Ordenações Afonsinas
28 No processo de, como já disse, cerca de três décadas a elas conducente terão
sucessivamente intervenção os oficiais régios João Mendes (Corregedor da Corte), Dr.Rui Fernandes (ao tempo Chanceler), Dr. Lopo Vasques de Serpa (Corregedor de Lisboa)e ainda os Desembargadores Luís Martins e Fernão Rodrigues. Nem todos serãoestritamente homens de Leis, i.e., com habilitações jurídicas académicas. Mas faça-senotar que o Corregedor João Mendes, o primeiro a superintender no empreendimento,era à data alguém com quase duas décadas numa área fulcral do serviço régio como eraa intervenção em matérias jurisdicionais8; e, para além disto, interveniente naelaboração e publicitação da maior parte das leis de D. João I subsequentes a 14029.
29 Processo longo e acidentado, repito. Legislar era algo já remoto no reino de Portugal.
Fizera-o, pioneiramente, Afonso II, em 1211, coevamente à Magna Carta inglesa ou aFilipe Augusto de França. Continuadamente se voltara a fazer, e agora sem soluções decontinuidade, a partir de Afonso III. O primeiro dinasta de Avis, sem deixar de legislar,iria no entanto presenciar e ajudar a protagonizar os primeiros tentames de compilaçãodos textos; e, também nisto, os Reis de Portugal foram precoces em termos ocidentais. Ainiciativa essencial (1418) deu-se, entretanto, já em fase de protagonismo, outrossim, doherdeiro da Coroa, que nessa matéria será mesmo de protagonismo redobrado. Ou seja,se dos tempos pré-1383 nos ficara mais de um século de normativização régia, a novadinastia logo iria reforçar a imagem jurídica da realeza pela vertente do rei-legislador 10,não tanto agora pela criação como pela recolha e sistematização do Direito vigente.
30 Um superavit legitimatório? Sem dúvida. Mas, pelas circunstâncias apontadas, com
algumas consequências porventura inesperadas. Assim, as “Ordenações Afonsinas” irão,antes de mais, apresentar, qual reflexo de diferentes mãos organizadoras, um contrastede fundo entre:
31 - Por um lado, o livro I, cujos artigos apresentam aquilo que o jargon histórico-jurídico
costuma designar como estilo decretório, i.e., uma abstracção e uma impessoalidade queo aproximam do discurso jurídico que vimos conhecendo a partir de Oitocentos;
32 - e, por outro, os livros II a V, onde nos sucessivos títulos frequentemente se apresenta
a genealogia da norma, por vezes a partir de monarcas de Duzentos, e até à forma final,procedimento este, está bem de ver, claramente mais arcaico.
33 Para além disto, e talvez até mais fundamental, o Código Afonsino, em termos de
conteúdo, apresenta-se-nos mais como uma compilação e adaptação de sucessivas leisde Duzentos e de Trezentos, bem mais do que um legislar ex novo. E não é por acaso que,mal entradas em vigor, se começa a legislar sobre matérias omissas ou a alterarmatérias efectivamente consignadas. Não será, pois, de estranhar que diversoshistoriadores, para além de apontarem a vigência relativamente efémera das Ordenações
Medievalista, 28 | 2020
50
Afonsinas (1448-1521), questionem a própria intensidade da sua vigência, tendo até emconta o baixo número dos manuscritos quatrocentistas.
34 Ou seja: a recolha legislativa com o seu minuto zero no ano de 1418 acaba por se revelar
uma das circunstâncias responsáveis por um acentuado cristalizar do legadoinstitucional da nossa Idade Média Tardia, sobrevivendo inclusivamente às duasversões (1512-1514 e 1521) da reforma manuelina das Ordenações, para só se deter,verificada em Quinhentos a feição já bem diversa do montante da população do Reino,perante – quem diria? – os impulsos reformadores do monarca predominantementeainda recordado pela introdução entre nós do Tribunal do Santo Ofício…
Ofícios da burocracia régia em tempos joaninos (1384-1433)
Chanceler-Mor
Escrivão da Puridade
Escrivão da Chancelaria
Corregedor da Corte
Vedores da Fazenda (quatro)
Desembargadores (três)
Sobrejuízes [cível] (quatro)
Ouvidores [crime] (três)
Contadores (quatro)
BIBLIOGRAFIA
Fontes impressas:
LIVRO das Leis e Posturas. Ed. Nuno Espinosa Gomes da SILVA e Maria Teresa Campos RODRIGUES.
Lisboa: Faculdade de Direito, 1981.
ORDENAÇÕES AFONSINAS, livs. I-V, reimpr. da ed. de 1792. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.,
1984.
ORDENAÇÕES DEL-REI Dom Duarte. Ed. Martim de ALBUQUERQUE e Eduardo Borges NUNES. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1988.
Estudos:
ALBUQUERQUE, Ruy de; ALBUQUERQUE, Martim de – História do Direito Português, 10.ª ed.. Lisboa:
Pedro Ferreira – Artes Gráficas, 1999.
BARROS, Henrique da Gama – Historia da Administração Publica em Portugal nos seculos XII a XV. Ed.
Torquato de Sousa SOARES, t. III. Lisboa: Sá da Costa, 1947.
CAETANO, Marcello – A Crise Nacional de 1383-1385. Subsídios para o Seu Estudo. Lisboa / São Paulo:
Verbo, [1985].
A.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Medievalista, 28 | 2020
51
CAETANO, Marcello – História do Direito Português. 4ª ed., seguida de “Subsídios para a História das
fontes de Direito em Portugal no século XVI”, textos introdutórios e notas de Nuno Espinosa
Gomes da SILVA. Lisboa / São Paulo: Verbo, 2000.
COELHO, Maria Helena da Cruz – D. João I. Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2006.
COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando Luís de Carvalho (coord.) – A Génese do Estado
Moderno no Portugal Tardo-Medievo (séculos XIII-XV). Lisboa: UAL, 1999.
DIOS, Salustiano de – El Consejo Real de Castilla (1385-1522). Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1982.
FAVIER, Jean (dir.) – XIVe et XVe siècles: crises et genèses. Paris: PUF, 1996.
FREITAS, Judite A. Gonçalves de – A Burocracia do “Eloquente” (1433 -1438). Os textos, as normas, as
gentes. Cascais: Patrimonia, 1996.
FREITAS, Judite A. Gonçalves de – “Teemos por bem e mandamos”. A Burocracia Régia e os seus oficiais
em meados de Quatrocentos (1439-1460). Cascais: Patrimonia, 2001.
GOMES, Rita Costa – A Corte dos Reis de Portugal no final da Idade Média. Lisboa: Difel, 1995.
GRAF, Carlos Eduardo de Verdier – D. João Esteves da Azambuja: exemplo da interligação de poderes
(séculos XIV e XV). Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2011. Tese de mestrado.
GUENÉE, Bernard – L’Occident aux XIVe et XVe siècles. Les États, 4.ª ed. Paris: PUF, 1991.
HESPANHA, António M. – História das Instituições. Épocas medieval e moderna. Coimbra: Almedina,
1982.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “O Doutor João das Regras no Desembargo e no Conselho
Régios (1384-1404). Breves notas”. in Estudos de História de Portugal, I. Séculos X-XV. Homenagem a A.
H. de Oliveira Marques. Lisboa: Estampa, 1982, pp. 241-253. Reed. in HOMEM, Armando Luís de
Carvalho – Portugal nos Finais da Idade Média: Estado, Instituições, Sociedade Política. Lisboa: Livros
Horizonte, 1990, pp. 149-158.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Uma crise que sai d’ “A Crise” ou o Desembargo Régio na
década de 1380”. Revista de História (Centro de História da UP) 5 (1983-1984), pp. 53-92. Reed. in
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Portugal nos Finais da Idade Média: Estado, Instituições,
Sociedade Política. Lisboa: Livros Horizonte, 1990, pp. 175-213.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Em torno de Álvaro Pais”. Estudos Medievais 3/4 (1983/84),
pp. 93-130. Reed. in HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Portugal nos Finais da Idade Média: Estado,
Instituições, Sociedade Política. Lisboa: Livros Horizonte, 1990, pp. 108-148.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Conselho Real ou Conselheiros do Rei? A propósito dos
‘Privados’ de D. João I”. Revista da Faculdade de Letras [UP]. História, II sér., 4 (1987), pp. 9-68
(Separata, Porto, 1987). Reed. in HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Portugal nos Finais da Idade
Média: Estado, Instituições, Sociedade Política. Lisboa: Livros Horizonte, 1990, pp. 221-278.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “A sociedade política joanina (1384-1433): para uma visão
de conjunto”. En la España Medieval 12 (1989), pp. 231-241.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “État, institutions, société politique sous Jean Ier et Édouard
Ier (1384-1438) ”. Arquivos do Centro Cultural Português 26 (1989), pp. 35-48.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – Portugal nos Finais da Idade Média: Estado, Instituições,
Sociedade Política. Lisboa: Livros Horizonte, 1990.
Medievalista, 28 | 2020
52
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O Desembargo Régio (1320-1433). Porto: INIC – Centro de
História da Universidade do Porto, 1990.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Prelados e Clérigos Régios no meio-século joanino
(1384-1433): para uma reapreciação de situações”. in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Martim
de Albuquerque, vol. I. Lisboa - Coimbra: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa - Coimbra
Editora, 2010, pp. 205-211.
MARQUES, A. H. de Oliveira – Portugal na crise dos séculos XIV e XV (= Nova História de Portugal, dir.
Joel Serrão; A. H. de Oliveira Marques, vol. IV). Lisboa: Presença, 1987.
MATTOSO, José (dir.) – A Monarquia Feudal (1096-1480) (= História de Portugal, dir. José Mattoso, vol.
2). Lisboa: Círculo de Leitores, 1993.
MORENO, Humberto Baquero (coord.) – História de Portugal Medievo: político e institucional. 2 vols.
Lisboa: Universidade Aberta, 1995.
NIETO SORIA, José Manuel – Fundamentos ideológicos del poder real en Castilla (siglos XIII-XVI).
Madrid: EUDEMA, 1988.
NIETO SORIA, José Manuel (dir.) – Orígenes de la monarquía hispánica: propaganda y legitimación (ca.
1400-1520). Madrid: Dykinson, 1999.
ROSA, Maria de Lurdes – Pero Afonso Mealha. Os bens e a gestão de riqueza de um proprietário leigo do
século XIV. Redondo: Patrimonia, 1995.
SILVA, Nuno J. Espinosa Gomes da – História do Direito Português. Fontes de Direito. 4.ª ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2006.
SOUSA, João Silva de – A Casa Senhorial do Infante D. Henrique. Lisboa: Livros Horizonte, 1990.
TAVARES, Maria José Ferro – “Jaime Cortesão: a Revolução de 1383 e Álvaro Pais”. in Cidadania e
História: em homenagem a Jaime Cortesão. Lisboa: Sá da Costa, 1985, pp. 111-125 (“Cadernos da
Revista de História Económica e Social”, n.os 6-7).
TORRES SANZ, David – La Administracion Central Castellana en la Baja Edad Media. Valladolid:
Universidad de Valladolid, 1982.
VENTURA, Margarida Garcez – Igreja e Poder no século XV. Dinastia de Avis e Liberdades Eclesiásticas.
Lisboa: Colibri, 1997.
ANEXOS
10. Juiz dos feitos de el-Rei (1391 ss.)
B. Oficiais burocratas
1. Primeira geração (1384-ca. 1405)
Álvaro Gonçalves
Álvaro Gonçalves Machado
Bach. João Afonso da Azambuja
João Afonso de Santarém
Dr. João das Regras
Medievalista, 28 | 2020
53
Lourenço Anes Fogaça
Dr. Martim Afonso Charneca
Martim da Maia
Lic.º Rui Lourenço
--------------------------------------
Segunda geração (ca. 1405-ca. 1420)
Álvaro Gonçalves de Freitas
Dr. Diogo Martins
Lic.º Fernão Gonçalves
Dr. Gil Martins
Dr. Gomes Martins
Gonçalo Caldeira
Gonçalo Lourenço de Gomide
João Afonso de Alenquer
João Afonso Aranha
João Mendes
Dr. Lançarote Esteves
Lic.º Vasco Gil de Pedroso
----------------------------------------
3. Terceira geração (ca. 1420 ss.)
Diogo Afonso
Dr. Fernando Afonso da Silveira
D. Fernando da Guerra
Fernão Álvares
Fernão Lopes
João de Alpoim
Luís Martins
Pero Gonçalves Malafaia
Dr. Rui Fernandes
--------------------------------------
Conselheiros de D. João INomeados em 1384-1400
Afonso Eanes Nogueira
Diogo Lopes Pacheco
Dr. Gil do Sem
1.
A. 1.
Medievalista, 28 | 2020
54
Gomes Martins de Lemos
Gonçalo Peres
Gonçalo Vasques de Melo
Bach. João Afonso da Azambuja
João Afonso de Santarém
D. João Eanes
João Fernandes Pacheco
Dr. João das Regras
Lourenço Esteves («o Moço»)
Dr. Martim Afonso Charneca
Martim Afonso de Melo
Nuno Álvares Pereira
Vasco Martins de Melo
----------------------------------
2. Ulteriores
D. Afonso de Cascais
Aires Gomes da Silva
Álvaro Gonçalves de Ataíde
D. Fernando da Guerra
D. Fernando de Castro
D. Fernando de Noronha
Fernão Álvares
João Gomes da Silva
João Vaz de Almada
Luís Gonçalves Malafaia
Dr. Martim do Sem
Pero Gonçalves Malafaia
---------------------------------------
NOTAS
1. Torre do Tombo [TT] – Livro II de Cortes, fls. 1-18; publ. em apêndice, doc. n.º 4, aCAETANO, Marcello – “As Cortes de 1385” [1951], reed.in CAETANO, Marcello – A Crise
Nacional de 1383-1385. Subsídios para o Seu Estudo. Lisboa / São Paulo: Verbo, 1985, pp.109-111.
Medievalista, 28 | 2020
55
2. ROSA, Maria de Lurdes – Pero Afonso Mealha. Os bens e a gestão de riqueza de um
proprietário leigo do século XIV. Redondo: Patrimonia, 1995.
3. Fonte cit. supra, nota 1; publ.: CAETANO, Marcello – A Crise Nacional de 1383-1385. Subsídios para o
Seu Estudo …, pp. 108-109.
4. DIOS, Salustiano de – El Consejo Real de Castilla (1385-1522). Madrid: Centro de EstudiosConstitucionales, 1982; TORRES SANZ, David – La Administracion Central Castellana en la
Baja Edad Media. Valladolid: Universidad de Valladolid, 1982.
5. Livro das Leis e Posturas. Ed. Nuno Espinosa Gomes da Silva e Maria Teresa Campos Rodrigues.
Lisboa: Faculdade de Direito, 1971.
6. Ordenações del-Rei Dom Duarte. Ed. Martim de Albuquerque e Eduardo Borges Nunes. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian. 1988.
7. Veja-se um ponto da situação, com indicações de Fontes e de Bibliografia, em HOMEM,Armando Luís de Carvalho – “Estado moderno e legislação régia: produção e compilaçãolegislativa em Portugal (séculos XIII-XV)”. in COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM,Armando Luís de Carvalho (coord.) – A Génese do Estado Moderno no Portugal Tardo-
Medievo (séculos XIII-XV). Lisboa: UAL, 1999, pp. 111-130.
8. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O Desembargo Régio (1320-1433). Porto: INIC/CHUP, 1990,
pp. 346 e 442-443.
9. Cf. o trabalho cit. supra, nota 7.
10. NIETO SORIA, José Manuel – Fundamentos ideológicos del poder real en Castilla (siglos XIII-XVI).
Madrid: EUDEMA, 1988, pp. 151-164.
RESUMOS
O organograma da oficialidade burocrática após 1383-1385 reproduz, no essencial, o que se
esboçara entre as décadas de 30 e de 70 de Trezentos. Quando se passa aos oficiais concretos o
panorama difere, uma vez que se verifica uma acentuada renovação dos burocratas, com
destaque para clérigos e homens de Leis. O século XV vai afirmar-se, logo em tempos joaninos,
como um tempo de desempenhos da oficialidade mais longos e cada vez mais qualificáveis como
carreiras. Quanto ao Conselho Régio, a instância política dos órgãos do poder, com actividade mais
ou menos intensa, o monarca reserva-se o direito de o organizar e de designar os seus titulares. A
nova dinastia irá ainda reforçar a imagem jurídica da realeza pela vertente do rei-legislador, não
tanto agora pela criação como pela recolha e sistematização do Direito vigente.
The organization of bureaucratic officiality after 1383-1385 essentially reproduces what had been
outlined between the 30s and the 70s of the 14th Century. When it comes to specific officers, the
scene differs, since there is an obvious renewal of bureaucrats, mainly clerics and lawmen. The
15th Century will be, already in the days of King John I, a time when official status is held longer,
being increasingly categorized as careers. As for the Royal Council, the king reserves to himself
the right to organize the political level of the governmental organs (of more or less intense
activity), and to appoint their members. The new dynasty will also reinforce the legal image of
royalty, through idea of King-legislator, not so much as the result of creation, as of collection and
systematization of the law in force.
Medievalista, 28 | 2020
56
ÍNDICE
Keywords: Royal bureaucracy, Royal Council, Legislative codes, Jurists
Palavras-chave: Burocracia régia, Conselho Régio, Códigos legislativos, Legistas
AUTOR
ARMANDO LUÍS DE CARVALHO HOMEM
Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Departamento de História e de Estudos Políticos e
Internacionais; Universidade do Porto, Centro de Estudos de População, Economia e Sociedade;
Universidade Autónoma de Lisboa, Centro de Investigação em Ciências Históricas 4099-002 Porto;
1169-023 Lisboa, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0001-9337-6995.
Medievalista, 28 | 2020
57
El rol de los eclesiásticos en laconstrucción de la legitimidad“internacional” de la dinastíaportuguesa de los Avis (1383-1433)The role of ecclesiastics in the construction of “international” legitimacy of the
Portuguese Avis dynasty (1383-1433)
Néstor Vigil Montes
NOTA DEL AUTOR
Este estudio ha sido posible gracias al disfrute de una beca posdoctoral (bolsa de pós-doutoramento) financiada por la Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministérioda Educação e Ciência de Portugal (SFRH/BPD/94257/2013), e inserto dentro delproyecto “DEGRUPE - A dimensão europeia de um grupo de poder: o clero e aconstrução política das monarquias ibéricas (XIII-XV) / The European Dimension of aGroup of Power: Ecclesiastics and the political State Building of the Iberian Monarchies(13th-15th centuries)” financiado por fondos nacionales a través de la FCT/MCTES ycofinanciado por los fondos europeos FEDER a través del programa COMPETE (PDTC/EPH-HIS/4964/2012).
1 La proclamación de Juan I como soberano de Portugal en las Cortes de Coimbra de 1385
supuso un auténtico “golpe de estado”1, ya que el advenimiento de la nueva dinastíaAvis significó la ruptura con la legalidad vigente, según la cual el trono portuguésdebería haber sido ocupado por Beatriz de Portugal, hija de Fernando I de Portugal.Todo “golpe de estado” implica un proceso de legitimidad, y en el caso de Juan I dePortugal este supuso llevar a cabo una ingente actividad diplomática en la que procuróla superviviencia y la legitimidad de la nueva dinastía Avis. Comprender las claves“internacionales”2 de este contexto supone entender muchas de las tendencias
Medievalista, 28 | 2020
58
geoestratégicas de la política exterior portuguesa, que con algunos matices perduraronhasta la actualidad, y es que los avatares de la llegada al trono portugués de la dinastíaAvis supusieron una obligada entrada en el complejo contexto europeo con laelaboración de una primera política exterior coherente, esto supuso dejar atrás laactitud dubidativa en esta materia de su antedecesor en el trono, Fernando I dePortugal, y tomar partido con firmeza en cuestiones como la Guerra de los Cien Años oel Gran Cisma de Occidente3.
2 El nuevo monarca mediante una calculada estrategia logró cumplir el primer objetivo
encomendado por los sectores sociales en rebeldía que le encumbraron4, el deconsolidar la independencia del reino de Portugal frente a la amenaza exteriorproveniente del poderoso vecino castellano, cuyo monarca Juan I de Castilla reclamabalos derechos sucesorios al trono luso de su esposa Beatriz de Portugal5. Para manteneresa independencia frente a un adversario que le superaba en tamaño y población, seencontró con la necesidad de conseguir apoyos provenientes de otros reinosinteresados en oponerse a las aspiraciones castellanas. En este sentido, su aliadonatural en la política peninsular, la Corona de Aragón, no pudo ser su aliado frente aCastilla, puesto que se encontraba en una situación interna delicada6, y además, habíaentrado en la órbita de los intereses castellanos y franceses, al haberse decantado por elpapado aviñonense7. Por consiguiente, el único reino que podía garantizar lasupervivencia de la nueva dinastía era el de Inglaterra, cuya dinastía gobernante estabaenfrentada con la dinastía castellana de los Trastámara desde sus orígenes, dado que enla Guerra Civil Castellana (1351-1369) tomaron partido por los derrotados petristas yposteriormente reclamaron los derechos al trono de Constanza de Castilla, casada conel infante Juan de Gante desde 13718. La alianza entre las monarquías inglesa yportuguesa fue ratificada en el Tratado de Windsor de 1386 entre Juan I de Portugal yRicardo II de Inglaterra9.
3 El advenimiento de la nueva dinastía también supuso una nueva alteración en la
política de fidelidades en el Gran Cisma de Occidente. El precedesor en el tronoportugués de Juan I de Portugal, Fernando I de Portugal, había llevado a cabo unaerrática estrategia en este sentido en la que incluso llegó a cambiar en varias ocasionessu fidelidad entre los distintos pontífices dependiendo de la situación en la que seencontraban sus relaciones con los vecinos castellanos10. Fernando I de Portugal sedecantó en un primer momento (1378-1379) por Clemente VII, es decir, por el papaaviñonés, pero la guerra con Castilla de 1380 y la alianza con Inglaterra forzaron uncambio de obediencia, y por tanto, al consecuente reconocimiento de la autoridad deUrbano VI. Finalmente se alcanzó un acuerdo de paz con Castilla que supuso un nuevoacercamiento al reino vecino, esto se tradujo en volver a tomar partido por la causaclementista11, al mismo tiempo que concedió a Juan I de Castilla en matrimonio a suheredera Beatriz de Portugal. Una vez que falleció Fernando I de Portugal, la causa desu hija y de Juan I de Castilla fue defendida por los sectores clementistas, y el futuroJuan I de Portugal, entonces maestre de Avis, aglutinó la causa urbanista, la única quetenía sentido geoestratégico para mantener la independencia del reino de Portugalfrente a Castilla, al unirse al pontífice que se encontraba enfrentado a los castellanos, yal que seguían sus potenciales aliados ingleses. Con el acercamiento al pontíficeromano, el monarca portugués obtuvo, no sin antes de llevar a cabo un proceso arduode negociación, la eliminación de los dos impedimentos que pesaban sobre la personade Juan I para ejercer como monarca portugués: su condición de bastardo como hijo
Medievalista, 28 | 2020
59
natural de Pedro I de Portugal12, y su estatus de religioso como Maestre de Avis que leimpedía contraer matrimonio con Filipa de Lancaster13.
4 El nuevo monarca habiendo alcanzado los suficientes acuerdos con otros poderes
políticos para procurarse su supervivencia y su legitimidad, tras décadas de conflictocon los castellanos y diversas negociaciones de treguas, logró alcanzar un primeracuerdo de paz, el Tratado de Ayllón de 1411, por el que la monarquía castellana loreconoció definitivamente como soberano legítimo de Portugal y rechazaba continuarluchando por las aspiraciones dinásticas de Beatriz de Portugal14. Igualmente Carlos VIde Francia como aliado de los castellanos se avino a aprobar el tratado de paz y tambiénreconocer al soberano luso15. Posteriormente este acuerdo con los castellanos fuerenovado con un nuevo tratado de paz en 142316 y establecida definitivamente en elTratado de Medina del Campo de 143317. Una vez garantizada la supervivencia de sureinado, el monarca portugués emprendió diversas acciones en política exteriorconducentes a aumentar el prestigio de la nueva dinastía Avis en las que loseclesiásticos tuvieron cierta influencia. Las más destacadas fueron la continuación de laempresa bélica contra los sarracenos en los territorios norteafricanos con la conquistade Ceuta en 141518 y la actuación portuguesa en los concilios ecuménicos con el objetivode tener un protagonismo en la solución del cisma19.
5 En toda esa ingente actividad diplomática destinada a la construcción de la legitimidad
“internacional” de la dinastía portuguesa de Avis observamos una destacada actuaciónde diversos eclesiásticos, algunos de ellos figuras destacadas como João Afonso Estevesde Azambuja o Rui Lourenço. Un hecho que no había pasado inadvertido en lahistoriografía sobre el reinado de Juan I de Portugal, pero sobre el que todavía quedanalgunas cuestiones por responder, tales como: ¿quiénes fueron los diversos eclesiásticosque intervinieron en esa política exterior?, ¿por qué fueron elegidos para dicha tarea?,¿en qué situaciones fueron requeridos y en cuáles no?, ¿cuáles son los intereses de cadauno de los eclesiásticos?, ¿Cuál fue el resultado de esa aportación?
6 Para alcanzar respuestas claras sobre estas cuestiones hemos procedido a realizar un
estudio prosopográfico de los principales eclesiásticos que han participado en ladiplomacia joanina, en este sentido hemos tenido en cuenta no solamente su aportaciónen labores diplomáticos sino que también hemos analizado otros factores importantesen este tipo de análisis, tales como: orígenes familiares, formación académica, relacióncon la dinastía reinante, participación en otros órganos de la administración regia,colaboración en la política eclesiástica, y recompensa regia y trayectoria eclesiástica.
7 Con tal fin hemos recurrido a la bibliografía sobre esta cuestión20 y a toda la
documentación necesaria para ampliar los datos aportados por otros historiadores, deeste modo hemos analizado documentación de múltiples archivos dependiendo de cadauno de estos objetivos. En primer lugar, para ampliar sobre la cuestión de laparticipación de los eclesiásticos en diplomacia resulto de enorme utilidad acceder a losgrandes corpora en los que se recopila documentación para la diplomacia del ArquivoNacional de Torre do Tombo y del Archivo General de Simancas21. En segundo lugar,para adentrarnos en las cuestiones relacionadas con la concesión pontificia deprivilegios al monarca portugués y a los eclesiásticos que acudían a la corte papal enrepresentación de su rey, resultan enormemente interesantes los asientos de losregistros pontificios del Archivo Secreto Vaticano y la colección de bulas del ArquivoNacional da Torre do Tombo22. Finalmente, para conocer los detalles de la formaciónacadémica de aquellos eclesiásticos que han podido acudir a la Universidad de Bolonia,
Medievalista, 28 | 2020
60
hemos podido analizar los libros de registro de títulos de esa institución académica ylos registros de los notarios de esa localidad italiana23.
8 Con todo ello podremos finalmente determinar el grado de influencia de los
eclesiásticos en la política exterior joanina, y definir las pautas de un casoparadigmático en el estudio de la aportación de los eclesiásticos en la construcciónpolítica de las monarquías medievales del Occidente Europeo.
1. Los eclesiásticos en la elaboración de la políticaexterior joanina
9 Durante la Baja Edad Media, la política exterior de los reinos fue controlada y
determinada directamente por el monarca siguiendo las recomendaciones de susconsejeros y otros personajes de destacada relevancia en la administración. Un carácterpersonalista de la política exterior, cuya principal razón es que eran conscientes de quese trataba de una materia de especial responsabilidad y competencia como paradelegarla a administradores profesionales24. No podemos conocer con exactitud cómose elaboraba esa política exterior, puesto que no contamos con fuentes documentalesde la actividad del consejo regio y menos aún de los posibles debates extraoficiales quepudieran tener consecuencias en las decisiones tomadas por el monarca. Lo que sípodemos reconstruir a través del análisis prosopográfico, es la trayectoria de aquelloseclesiásticos que sabemos de su influencia en la diplomacia regia, para poderacercarnos a cuáles podrían ser sus intereses y su valía en la elaboración de lasrelaciones “internacionales”.
10 Las bases de la política exterior joanina se desarrollaron en su primera etapa de
gobierno caracterizada por la búsqueda de supervivencia y reconocimiento de esanueva dinastía, la cual podemos demarcar entre la llegada al poder en 1383 y los iniciosde la expansión africana con la conquista de Ceuta en 1415. Una etapa que coincide conun protagonismo de primera magnitud de los eclesiásticos dentro del gobierno de lanueva dinastía, una etapa de connivencia entre el nuevo monarca y un renovadoestamento clerical compuesto por eclesiásticos fieles a la monarquía25.
11 La composición del alto clero en los primeros compases del reinado de Juan I de
Portugal tuvo una relación directa con la defensa de la causa romana y de la nuevadinastía portuguesa. En ese sentido hubo una purga de los obispos simpatizantes de lacausa aviñonense, los cuales pertenecían a sedes sufragáneas de los arzobispados deSantiago de Compostela y Sevilla26, nos referimos a hombres como: Martinho Zamora(Lisboa)27, Martinho (Évora), Pedro Lourenço (Lamego), Afonso Domingues de Linhares(Guarda) o Pedro (Silves)28.
12 En la mencionada cronología, los eclesiásticos desempeñaron un importante papel en
las dos principales instituciones de la administración joanina: el consejo regio29 y lacancillería regia (desembargo)30, conformando un tercio y un sexto de sus integrantesrespectivamente. En esa primera administración joanina podemos reconocerclaramente dos perfiles de eclesiástico en la alta administración: el de “hombre nuevo”que por su apoyo desde los primeros momentos del reinado recibe la confianza regia yes premiado con una carrera eclesiástica; y el de eclesiástico ligado a anterioresreinados que toma partido por el cambio dinástico. Por consiguiente, no existiódiscordia alguna entre el clero como estamento y las relaciones “internacionales”, ni de
Medievalista, 28 | 2020
61
forma individual ni tampoco colectivamente como podemos comprobar en la falta deconstancia de su protagonismo en las cortes portuguesas, una asamblea que en esteperiodo fue llamada con frecuencia por la necesidad de financiación para mantener lasactuaciones bélicas contra los castellanos31.
13 Posteriormente, en la segunda etapa del reinado de D. João I que se desarrolló entre
1416 y 1433, fueron asentadas las bases de la política exterior y solamente se buscóprofundizar la posición de la nueva dinastía en el contexto “internacional”. Sinembargo, en este momento la presencia de los eclesiásticos se vió reducida al mínimo alproducirse un divorcio entre la monarquía y la iglesia portuguesa32. Las causasanteriores de unión entre el monarca y los eclesiásticos portugueses habían dejado detener efecto ya que ese catalizador que era el cisma se había extinguido con elconciliarismo, a lo que debemos de añadir unas ansias regalistas de una monarquíafortalecida y legitimada en el espíritu de expansión ultramar de la fe cristiana. Elmomento coincide con el fallecimiento de todos los eclesiásticos del primer periodo delreinado, y a pesar de que las principales mitras fueron ocupadas por familiares delmonarca como Fernando da Guerra en Braga y Pedro de Noronha en Lisboa33, loseclesiásticos fueron apartados sistemáticamente de la administración joanina y de granparte de la labor diplomática.
14 A continuación, analizaremos detenidamente las personalidades eclesiásticas que
influyeron directamente en la primera fase del reinado joanino, la de construcción de lapolítica exterior de la nueva dinastía. De esta forma pretendemos desvelar quienesdentro del clero eran esos “hombres nuevos” de la administración joanina y quieneseran esos hombres procedentes de la administración fernandina, para determinar cuálera su aportación en la construcción de la política exterior.
1.1. Eclesiásticos en los “hombres nuevos” de la primeraadministración joanina
15 Los eclesiásticos que forman parte de los “hombres nuevos” en los inicios de la
administración joanina son nobles de segundo rango que decidieron apoyar desde unprimer momento la causa del mastre de Avis. Consecuencia de ello destacaron por suenorme cercanía y confianza a la figura regia, siendo designados como miembros delconsejo real34. Al mismo tiempo fueron recompensados con una meteórica carreraeclesiástica de nuevo cuño en la que desempeñaron cargos de relevancia desde unprimer momento. Dentro de este grupo de “hombres nuevos” encontramos aeclesiásticos como Martim Afonso de Charneca que fue nombrado obispo de Coimbra en138635 y arzobispo de Braga en 1398 36; a João Afonso Esteves Azambuja que fuenombrado obispo de Silves en 1389, de Oporto en 1391, de Coimbra en 1398, arzobispode Lisboa en 1402, y finalmente alcanzó el cardenalato con el papa pisano João XXIII en141137; y a João Eanes de quien tenemos las primeras noticias de su designación comoobispo de Évora en 138538.
16 Aquellos “hombres nuevos” cuyos orígenes familiares nos son conocidos comparten el
hecho de que procedían de familias de la baja nobleza que ya habían colaborado en lacorte de anteriores monarcas, pero que fueron firmes defensoras del cambio dinásticoante la esperanza de progresar socialmente. Martim Afonso da Charneca era hijo deAfonso Pires da Charneca, castellano de nacimiento, pero que tuvo que refugiarse enPortugal tras haber sido perseguido por Pedro I de Castilla39. Una vez allí entró al
Medievalista, 28 | 2020
62
servicio de la corte de Fernando I de Portugal como escribano de la puridad40.Asimismo, Martim era hermano de Afonso Peres da Charneca, una de las personas queayudaron al maestre en la defensa del Reino41 y participaron en la batalla deAljubarrota en 1385, en la que fue nombrado caballero42. Por todos estos servicios fuepremiado con la concesión regia del señorío de Alcáçovas43 y de unas viñas y lagares enLisboa44. Por su parte, João Afonso Esteves de Azambuja era nieto de João Esteves deAzambuja, vasallo de Pedro I de Castilla45, e hijo de Afonso Esteves de Azambuja,reposteiro-mor de Pedro I de Portugal46 y vasallo del conde João Afonso Tello47, por lo queparticipó en la armada que este capitaneó en la Tercera Guerra Fernandina48.Posteriormente, defendió la causa del maestre de Avis y fue premiado en 1384 con elseñorío de Salvaterra de Magos, Sacarabotão y Lezíria da Atalaia (Vila Nova deBarquinha) por los servicios realizados “en esta guerra que habíamos por exaltación delreino” y por los prestados a sus antecesores Pedro I y Fernando I de Portugal49. AfonsoEsteves de Azambuja falleció antes del 16 de junio de 1393, fecha en la que Juan I dePortugal concedió su señorío a su hijo, que entonces era obispo de Oporto50. Asimismo,João Afonso Esteves de Azambuja era sobrino de João Esteves de Azambuja, alcaidemayor de Lisboa y privado de Fernando I de Portugal51.
17 En cuanto a la formación académica no encontramos tanta homogeneidad, puesto que
mientras Martim Afonso da Charneca tuvo una reconocida etapa boloñesa, otraspersonalidades no alcanzaron ese nivel académico. Como hemos señalado MartimAfonso da Charneca estudió en la Universidad de Bolonia52 y alcanzó el título de doctoren derecho civil el 4 de julio de 1382, así como atestigua el correspondiente apunte en elLibri segreti del Collegio di diritto civile53. Este fue resultado de una prolongada estanciacomo estudiante en la mencionada universidad, desde al menos 137654, en la quetambién obtuvo el grado de licenciado en decretos – es decir, en derecho canónico –entre esa fecha y la obtención del título de doctor55. Asimismo, parece que su intencióninicial no era la de regresar a su lugar natal, sino la de desarrollar su carrera comodocente en la propia universidad, donde llegó a ejercer como profesor en 138356. Sinembargo, es probable que la muerte de Fernando I de Portugal y la crisis sucesoriaprecipitasen su vuelta a Portugal y el cambio en su itinerario profesional. Todo estocontrasta con el caso de João Afonso Esteves de Azambuja, del que únicamente sabemosque alcanzó el título de bachiller en decretos en un momento anterior a mayo de 138457,el cual probablemente fue obtenido en el Estudio Geral de Lisboa58. También, con el casode João Eanes, del que no tenemos constancia de que hubiese obtenido titulo alguno59.
18 Como su propio nombre indica, son hombres nuevos sin apenas experiencia en
gobernación que entraron a dirigir los órganos más importantes de la administraciónregia. Además de su aportación al consejo regio de estas tres personalidades, tenemosconstancia del trabajo en la cancillería regia (en Portugal conocida como el desembargoregio) como encargados de la redacción de las cartas regias de Martim Afonso deCharneca (1384-1397)60 y João Afonso Esteves de Azambuja (1384-1395)61. Asimismo, taly como analizaremos con detenimiento en el siguiente capítulo, como personas deconfianza del monarca también colaboraron en diversas embajadas, aunque en estafaceta particular destaca la participación de João Afonso Esteves de Azambuja que conal menos media docena de misiones en el exterior en diversos ámbitos: corte papal,reino castellano, concilios ecumémicos…, alcanzó cierta especialización en larepresentación exterior.
Medievalista, 28 | 2020
63
19 Podemos señalar que estamos ante casos de carreras directamente patrocinadas por la
corona. Por tanto se trata de personas cuyas carreras dependen de su fidelidad a lafigura regia y que supeditan todas sus acciones al interés del monarca, son lo queBernard Guenee definió como: “servidores de la corona que a su vez se sirven de lapropia corona”62. No van a tener ningún problema para seguir la política eclesiástica demayor interés para la corona aunque sea costa de sus propias diócesis, como podemosinterpretar de la permuta a la corona del señorío episcopal bracarense realizada porMartim Afonso de Charneca en 140263 o de la venta a la corona del señorio epicopalportocalense por parte de João Afonso Esteves de Azambuja en 140664. En las relacionescon la cabeza de la iglesia también seguirán la defensa de los intereses reales, por lo queno tendrán problema por comenzar siendo urbanistas convencidos y cuando lostiempos cambien convertirse en patrocinadores de la solución conciliar o inclusoapoyar al papado pisano.
1.2. Rui Lourenço, un eclesiástico de carrera en la primeraadministración joanina
20 La administración joanina no se limitó a reclutar “hombres nuevos” recompensados
con carreras eclesiásticas, sino que también se nutrió de un eclesiástico con experienciaen la burocracia de los anteriores monarcas, pero que por diversas razones decidieronformar parte de la causa del maestre de Avis, ese eclesiástico es Rui Lourenço65.
21 Rui Lourenço fue uno de los protagonistas de la embajada compartida con los
castellanos en 1379 que tenía por objeto recabar información en la corte de los dospapas sobre lo sucedido en los prolegomenos del Gran Cisma de Occidente66, la cual tuvocomo desenlace el apoyo inicial a la causa clementista de ambas monarquías.Posteriormente, no tendría reparos en seguir el cambio de fidelidad a la causa urbanistade Fernando I de Portugal en 1381 coincidiendo con la alianza con los ingleses para elreinicio de las hostilidades con los castellanos conocido como Tercera GuerraFernandina en la que de este modo un conflicto por la legitimidad dinástica se encubriócomo cruzada cismática. Sin embargo, Rui Lourenço no estuvo dispuesto a retornar a lacausa clementista cuando D. Fernando I de Portugal firmó el Tratado de Salvaterra deMagos en 1383 por el que finalizaba las hostilidades y acordaba el enlace matrimonialentre Juan I de Castilla y Beatriz de Portugal, su hija y única heredera del trono luso67.De hecho el eclesiástico fue protagonista en la Asamblea de Santarem de 1383 donde sedio una réplica de los urbanistas a la arenga proclamada por el cardenal Pedro de Lunacon la intención de convencer a los portugueses del retorno a la causa clementista68.Por tanto, no vió con malos ojos la llegada de un candidato regio cuyas pretensionessobre la fidelidad pontificia eran similares, y formó parte en la proclamación de Juan Ide Portugal69.
22 Estamos ante una de las personalidades más cultas dentro de la corte portuguesa, algo
de lo que era consciente el cronista Fernão Lopes al presentarlo como “grandeleterado”70. Rui Lourenço había alcanzado el título de licenciado en decretos en laespecialidad de derecho canónico por la Universidad de Bolonia desde 137671 y habíademostrando sólidos conocimientos de derecho romano (Corpus Iuris Civilis, Digesto…) yde derecho canónico (decretales de Graciano y de Gregorio IX) en la mencionadarespuesta a la arenga del clementista Pedro de Luna72. A todo esto hay que añadir quesu bien más preciado era una biblioteca repleta de títulos de derecho, la cual fue legada
Medievalista, 28 | 2020
64
en su testamento a favor de las iglesias de Coimbra, Lisboa y Silves a cambio de misas deaniversaria73. En un documento por el que se da fe de la entrega de los libros por partede su sobrino y testamentario Álvaro Martínez74, podemos observar la enumeración delas obras que componían la colección, entre ellas algunas referencias del saber jurídicode la época que entremezcla las obras clásicas del derecho romano, las coleccionesdecretales de los pontífices, y los comentarios de juristas de la escuela de Bolonia.
23 Además, era una personalidad con enorme experiencia en la burocracia que desempeñó
un papel de consejero en la corte de D. Fernando I sin ser reconocido como tal75, aunquepuede que ese antiguo cargo fuera ocultado a propósito por la administración joaninaante el establecimiento de la prohibición de ejercer cargos públicos a aquellos quefueran consejeros en el reinado fernandino, acordada por las cortes de Coimbra de138576. En la corte fernandina le fueron confiadas diversas misiones en Castilla como laembajada de 1380 para negociar el matrimonio de la infanta Beatriz de Portugal con elpríncipe Enrique de Castilla77, o la negociación del Tratado de Pinto de 1382, en el quese profundizó sobre las consecuencias del matrimonio que finalmente tendría lugarentre Beatriz de Portugal y el recién enviudado Juan I de Castilla78, en lugar de su jovenheredero. Posiblemente, por aquel entonces Rui Lourenço mantenía comunicación conla oposición liderada por el maestre de Avis, e incluso se llega a afirmar que eleclesiástico comunicó al futuro monarca que no pudo hacer más para que el tratadofuese más favorable a sus intereses79.
24 Rui Lourenço participó activamente en la administración joanina desde su contribución
en las cortes de Coimbra de 1385. En ningún documento aparece nombrado comoconsejero real, pero tenemos sospecha de que pudo ejercer este cargo de facto80 y nofuese reconocido por su pasado fernandino, por otra parte tenemos la noticia de supropuesta como consejero por parte de los representantes urbanos de las cortes deCoimbra81. Sin embargo si aparece en los registros como desembargador real(1386-1401), conservándose un total de 277 documentos suscritos bajo su autorización82,un cargo que nos indica su proximidad a la corte joanina ya que según Armando Luís deCarvalho Homem en aquella cronología no se diferenciaba claramente del puesto deconsejero83.
25 A diferencia de los “hombres nuevos”, este eclesiástico destaca más por su trayectoria
que por su fidelidad a la monarquía, tanto en sus inicios en el reinado fernandino comoen la etapa joanina. No parece que su interés sea la promoción en su carrera sino ladefensa de la causa del papa romano convergiendo de este modo con los intereses“internacionales” del cambio dinástico. No obstante, su preparación y su trayectoriaresultan de enorme utilidad a la nueva administración para cuestiones de políticaexterior ya que tiene una forjada experiencia en dos cuestiones vitales para la nuevaestrategia joanina: la cuestión del Cisma de Occidente y el eterno conflicto con el vecinocastellano. Por todo ello podemos considerar a Rui Lourenço como un verdaderoservidor del estado, o mejor dicho, de la corona84, que sin esperar recompensa alguna,consagró sus fuerzas a una causa como la del papado romano que consideraba comorepresentativa del bien común de los súbditos de la monarquía portuguesa comomiembros de la Universitas Christiana.
26 A pesar de ser una de las figuras clave para la comprensión de la política exterior
joanina, no disponemos de un estudio sobre su trayectoria, cuya importancia escomparable a la de otros jurisconsultos laicos que también contaban con experiencia enla corte fernandina cuando decidieron apoyar a la nueva dinastía, a saber: João das
Medievalista, 28 | 2020
65
Regras85 y Gil do Sem, acompañantes de Rui Lourenço en la respuesta contra Pedro deLuna en la asamblea de Santarém; y Lourenço Anes de Fogaça, la personalidad conmayor experiencia en cuestiones diplomáticas que fue enviado a las cortes papal y delos reinos de Inglaterra, Francia y Castilla86.
2. Los eclesiásticos como ejecutores de la políticaexterior de Juan I de Portugal en misionesdiplomáticas
27 La labor de los eclesiásticos en política exterior no se limitaba a su cuota de
participación en las instancias de decisión regia, y fueron empleados como importantesactivos en la ejecución de las misiones diplomáticas. A pesar de que las posibilidades denegociación de los miembros de las embajadas bajomedievales eran muy limitadas altener que atenerse a los dictamentes del monarca registrados en poderes einstrucciones, se solía designar a personas de confianza que por su lealtad y suformación, generalmente coincidían con los miembros que trabajan en la altaadministración del gobierno87.
28 Los eclesiásticos por el protagonismo activo en política exterior mantenido en el
contexto del Gran Cisma de Occidente contaban con una enorme experiencia en asuntosdiplomáticos88. Si a esta experiencia práctica, le añadimos una excelente formación89 enderecho, retórica y latín; su prestigio90 y el valor legitimador de su juramento 91, laimportancia de la representación social del reino92, y sobre todo su fidelidad a la causamonárquica; hacen de los eclesiásticos un factor humano de indudable valor para larepresentación diplomática en todos los ámbitos.
29 El trabajo diplomático de los eclesiásticos en otros reinos occidentales se enmarcó
dentro de sus labores dentro de la administración monárquica, como recursoseconómicos pero no por ello poco preparados ni carentes de lealtad a la causa de susreyes, y fue muchas veces recompensado dentro de su carrera política y eclesiástica93.Por consiguiente, las etapas de mayor actividad de los eclesiásticos en embajadassiempre son coincidentes con una amplia participación de éstos en la administracióndel reino, aunque esta a su vez se puede relacionar con las necesidades de políticaexterior ante la influencia meditizadora del cisma. En el caso portugués es claramentepalpable dentro de los cambios sufridos en la administración joanina, mientras en laprimera etapa observamos como los eclesiásticos tuvieron un amplio papel en todos losórganos de poder y a su vez en las misiones diplomáticas, posteriormente en la segundaetapa percibimos lo contrario.
30 A continuación, analizaremos los tres escenarios de negociaciones diplomáticos en los
que participaron decisivamente los eclesiásticos portugueses en pro de la legitimaciónde Juan I de Portugal y la dinastía Avis: la búsqueda del reconocimiento del pontíficeromano (1385-1391), las negociaciones de las treguas con Castilla (1389-1411) y laparticipación en la solución conciliar (1409-1417).
Medievalista, 28 | 2020
66
2.1. Los eclesiásticos como embajadores en la búsqueda delreconocimiento del pontífice romano (1385-1391)
31 Juan I de Portugal buscó obtener el reconocimiento del papado romano como nuevo
monarca portugués, lo cual era especialmente interesante para conseguir eliminar losdos impedimentos que pesaban sobre su persona para poder ser un monarca legítimo ydispuesto a conformar una nueva dinastía: su condición de bastardo y su estatusreligioso como maestre de Avis. Por ello, tras su proclamación como soberano de lascortes de Coimbra de 1385, Juan I de Portugal envió una delegación a la corte de UrbanoVI conformada por João Eanes, obispo de Évora, y Gonçalo Gomes de Silva, que si bienobtuvo la dispensa del pontífice de forma oral, no pudo obtener su confirmaciónmediante bula papal. La crónica de Fernão Lopes lo achacó a la interferencia de unenviado inglés de Juan de Gante, duque de Lancaster, que en opinión del cronistadefendió erróneamente los posibles derechos del duque sobre la corona portuguesa, enun momento donde Ricardo II de Inglaterra iba a establecer una alianza con la nuevadinastía portuguesa94.
32 Una segunda delegación fue enviada tres años después en 138895, momento en el que
había quedado clara la posición inglesa en torno a la dinastía Avis con elestablecimiento de una alianza permanente mediante el Tratado de Windsor de 138696 yla cesión de cualesquier derechos que los Lancaster ingleses tuvieran sobre la coronaportuguesa97. La embajada a la corte pontificia fue conformada por tres eclesiásticos:João Eanes, obispo de Évora, João Afonso Esteves de Azambuja, por aquel entoncestodavía prior de Santa Maria da Alcáçova de Santarém, y Rodrigo Anes, canónigo deLisboa. En esta ocasión la delegación volvió a repetir el fracaso de 1385, puesto queUrbano VI seguía negandose a conceder la ansiada bula, algo que en esta ocasión en laque el motivo político había desaparecido, se atribuyó a diferencias económicas. En lacrónica de Fernão Lopes se retrató un enfrentamiento entre el pontífice y João AfonsoEsteves de Azambuja, por el que el eclesiástico portugues le hizo saber su preocupaciónpor la demora en la expedición de dicha bula, y finalmente cumplió la amenaza deretirarse. Parece que la cesión pontificia de la mitra algarvia a João Afonso Esteves deAzambuja fue una especie de premio de consolación al “impertinente” eclesiástico98. Enla vuelta a territorio luso, la delegación fue apresada cuando atravesaban territoriosalemanes99, posiblemente como represalia a su atrevida actitud, lo que sin duda fueutilizado como prueba de su esfuerzo al servicio del monarca por parte de João AfonsoEsteves de Azambuja, como podremos observar posteriormente en el reconocimientode Juan I de Portugal cuando finalmente alcanzó a cumplir los objetivos regios.
33 El monarca portugués no desistió en su intento de obtener esa bula imprescindible para
el reconocimiento de la nueva dinastía, y aprovechó el cambio de pontífice tras elfallecimiento de Urbano VI en 1389. Por consiguiente, se envió una nueva delegación ala corte de Bonifacio IX en 1390 compuesta por João Afonso Esteves de Azambuja,obispo de Silves, y el caballero João Rodrigues de Sá. La embajada se tradujo en un éxitorotundo con la obtención de las bulas Divina disponente clementia100 y Quia rationi
congruit101 de enero de 1391. Las bulas significaban la oficialización de la dispensa delanterior pontífice y ratificar la validez de la proclamación de Juan I de Portugal y de lacelebración de su matrimonio con Filipa de Lancaster. Asimismo, también lograron queel papa absolviese de las penas en que incurrían todos los eclesiásticos que habíanparticipado en armas, es decir, a todos los clérigos y prelados que combatieron en la
Medievalista, 28 | 2020
67
guerra contra el Reino de Castilla, lo cual se había autorizado dada la condición decismáticos de los castellanos102. Finalmente, consiguieron que los cismáticos queretornasen a la obediencia romana fuesen perdonados de las penas que recaían sobreellos por parte de los decretos establecidos por Urbano VI103, algo que resultabaproblemático en un reino como el de Portugal que había mudado varias veces defidelidad, y que al mismo tiempo también resultaba provechoso para recuperar eseelemento propagandístico que eran los exiliados castellanos. El más importante detodos ellos fue el arzobispo compostelano Juan García Manrique, que tras ser derrotadoen el enfrentamiento con el arzobispo toledano Pedro Tenorio por mediatizar laregencia de Enrique III de Castilla104, aceptó el acogimiento ofrecido por Juan I dePortugal en 1395105 y no tuvo reparos en declararse romanista, e incluso utilizar estacuestión como excusa de su escapada al reino vecino. Las noticias sobre la trayectoriaportuguesa de este eclesiástico son escasas y confusas, si bien se le atribuye la mitrabracarense entre 1398 y 1399106, solamente tenemos certeza de que haya ocupado lamitra conimbricense desde 1402107 hasta su muerte en 1404108.
34 Otra consecuencia a posteriori del establecimiento de unas buenas relaciones entre el
reino de Portugal y el papado romano fue el otorgamiento en 1393 de la bula In
eminentissimae dignitatis por la que todos los obispados que dependían de arzobispadoscastellanos: Lisboa, Évora, Lamego y Guarda (sufraganeas de Santiago de Compostela) ySilves (sufraganea de Sevilla), quedaban anexadas a un nuevo arzobispado de Lisboa109.De esta forma se sancionó la separación existente de facto entre las iglesias castellana yportuguesa.
35 La embajada de 1391 supuso para João Afonso Esteves de Azambuja el nombramiento
como obispo de Oporto110, y también el reconocimiento de su monarca con la entregadel padroado de la iglesia de Salvador de Lisboa y la jurisdicción de la villa de Aveiras,como reconocimiento a sus “muitos e stremados serviços… specialmente como duasvezes, poendo seu corpo em aventura, foe por nosso embaxador a corte de Romaaderençar nosso fectos e negocios, que nos muito compriam, e aderençou segundo a nosfazia menester”111.
36 Esta primera misión diplomática trascendental para el futuro de la dinastía Avis supuso
la utilización de dos recursos eclesiásticos de primera fila en la administración joanina,los consejeros João Eanes y João Afonso Esteves de Azambuja. El empleo de estoseclesiásticos era obligatorio al tratarse de una negociación con el papado, pero estaoportunidad no fue desaprovechada por João Afonso Esteves de Azambuja, cuyosméritos fueron reconocidos por su monarca y al que se le confiaron algunos de losnegocios más importantes de la política exterior portuguesa: las negociaciones de pazcon los castellanos y la participación portuguesa en los concilios que llevaron a lasolución del Gran Cisma de Occidente.
2.2. La participación de los eclesiásticos en lanegociación de las treguas con los castellanos(1389-1411)
37 La supervivencia de la nueva dinastía Avis dependía de dos factores en el contexto
“internacional”: una alianza permanente con el Reino de Inglaterra que sirviera decontrapeso a la amenaza castellana, y un tratado de paz con garantias con el Reino de
Medievalista, 28 | 2020
68
Castilla. Consecuencia de ello se abrió un periodo de intensas relaciones diplomáticasen las que los eclesiásticos tuvieron una desigual participación, mientras que notuvieron participación directa en los acuerdos con los ingleses, confiadas al sectoranglófilo de la nobleza portuguesa representado en Fernão Afonso de Albuquerque,maestre de la orden de Santiago, y a Lourenço Anes de Fogaça112, sí tuvieron un papeldestacado en la negociación de las diferentes treguas con los castellanos.
38 Los eclesiásticos no fueron protagonistas directos en las primeras negociaciones con los
castellanos que derivaron en las treguas de Monção de 1389113, pero si estuvieronpresentes en ellas dado que aparecen Lourenço Vicente, arzobispo de Braga, y JoãoEanes, obispo de Évora, como testigos del documento114. En cambio, en la renovación deesas treguas en 1392115 sí observamos la participación directa de Rui Lourenço, deán deCoimbra, hasta entonces el único eclesiástico con experiencia en cuestiones castellanas.Su aparición tiene lugar en la última fase de las negociaciones, no como embajador delos portugueses sino como testigo presencial de lo negociado116, lo que puede sersíntoma de que haya podido tener cierto protagonismo a la hora de desbloquear losacuerdos.
39 Un año más tarde el propio Rui Lourenço fue enviado por Juan I de Portugal117 para
exigir al consejo de regencia Enrique III de Castilla, la entrega de un documento deratificación de las treguas que cumpliese la cláusula de ser signado por todos losmagnates más poderosos del reino, garantía exigida por el monarca portugués,consciente de las divisiones internas de la política castellana. A pesar de que loscastellanos tenían de plazo hasta el mes de noviembre, la misión se dilató unos mesesmás en un intento de los regentes de obtener la suscripción de todos los nobles, intentoque finalmente fracasó ante la negativa de Alfonso Enríquez de Noreña, conde deNoreña y de Gijón, y del marqués de Villena118. Rui Lourenço tras una estancia de cincomeses en la corte castellana, tuvo que regresar en marzo de 1393 con una ratificaciónque no cumplía todo lo requerido y con un documento de la cancillería castellana quejustificaba el retraso119. Este hecho fue utilizado posteriormente por el monarcaportugués para romper unilateralmente la tregua en 1396 e iniciar una campaña militarque tuvo su epicentro en la toma de Badajoz120, la cual era una respuesta al temor quecausaba el fortalecimiento del vecino castellano121.
40 Las negociaciones para superar esta nueva situación de conflicto se abrieron en 1399122
y en ellas se designó como embajador portugués a João Afonso Esteves de Azambuja,por aquel entonces obispo de Oporto y célebre por el éxito en las misiones en el papado.Sin embargo, también se contó con Rui Lourenço en calidad de asesor jurídico123,probablemente para suplir la falta de experiencia del primero en asuntos castellanos.En esas negociaciones se produce un choque entre la estrella del “hombre nuevo” y elsaber del “grande leterado” en las desavenencias en torno a las condiciones que se letenían que exigir a los castellanos. João Afonso Esteves de Azambuja partidario deimponer mayores exigencias para alcanzar un acuerdo, informó a su monarca en unaexpresiva misiva con data el 28 de febrero de 1399124, que no apartó a Rui Lourenço porla intervención del otro embajador, el condestable Nuno Álvares Pereira125, y queinformaría de sus actuaciones para que sean juzgados por ello. El monarca eraconsciente de tal situación y probablemente pensaba que si dos caracteres tandiferentes se ponían de acuerdo, siempre seria en pro de su reino. Por ello Juan I dePortugal impuso a João Afonso Esteves de Azambuja la presencia de Rui Lourenço hastael final de la misión y exigió la unanimidad de los embajadores para tomar decisiones,
Medievalista, 28 | 2020
69
tal y como atestigua una misiva redactada el 4 de diciembre de 1399126, hecho quecoincidía con los últimos compases de unas negociaciones que resultaron ser unestrepitoso fracaso ante dos partes que no querían ceder un ápice en sus posiciones yque mantuvieron las escaramuzas fronterizas127. A pesar del fracaso, la participación deJoão Afonso Esteves de Azambuja en la negociación había sido recompensada con lamitra conimbricense, la misma sede en la que Rui Lourenço ejercía como deán, desde elcomienzo de la misma. En el salvoconducto que le otorgó el monarca castellano parapoder acudir a las negociaciones en mayo de 1399, lo vemos por primera vez comoobispo electo de Coimbra128, dignidad que ocupó plenamente en noviembre de 1399129.
41 Rui Lourenço falleció el 21 de julio de 1401 en Medina del Campo cuando se encaminaba
a la corte regia de Enrique III, situada en ese momento en Segovia130, para acordar elretorno de las negociaciones. No se trataba de una embajada solemne, sino de unanegociación puntual, de ahí que no se conservase testimonio alguno en crónicas ydocumentos de archivo, y conozcamos solamente la noticia de la muerte del deán enplena misión diplomática a través del asiento de su obiturario en el libro deaniversarias de la catedral de Coimbra131.
42 La embajada solemne para celebrar unas nuevas treguas de mayor entidad se celebró
un año después132, todo ello a pesar de la oposición mostrada por el infante Fernando deCastilla en una carta dirigida a la delegación portuguesa133, que ya por aquel entoncestenía un protagonismo en la corte castellana. En abril de 1402, Juan I de Portugalapoderó a João Afonso Esteves de Azambuja, entonces obispo de Coimbra, junto a JuanVázquez de Almada, caballero, y Martim do Sem, doctor en leyes134, para acudir aSegovia para negociar unas nuevas treguas, que finalmente se alcanzaron el 15 deagosto135. Sin embargo, la misión se quedó en Castilla hasta el 6 de octubre esperando aque Enrique III de Castilla confirmase las treguas con el juramento de los principalespersonajes del reino136, para después estar presente el 18 de noviembre en lacorrespondiente confirmación de Juan I de Portugal con los juramentos debidos, la cualtuvo lugar en el palacio que el propio João Afonso tenía en Santarém137. Lasnegociaciones fueron un éxito rotundo, puesto que se logró una tregua que finalmenteterminó siendo el punto y final a los enfrentamientos entre ambos reinos, cuestión queremarcó Fernão Lopes: “E d’esta guisa cessou entonce a guerra que entre Portugal eCastella havia”138. Para el exitoso João Afonso Esteves de Azambuja supuso sernombrado arzobispado de Lisboa, si bien en el mencionado documento de poder deabril de 1402 aparece como postulante de Lisboa139, posteriormente figura como electoconfirmado en el momento de su presencia en la confirmación de las treguas por el reycastellano140, pero por razones lógicas no pudo tomar posesión del arzobispado hasta suvuelta a Portugal en noviembre en el momento de la confirmación de las treguas por supropio monarca141.
43 En los años siguientes, el arzobispo de Lisboa fue responsable de los asuntos cotidianos
que tenían que ver con el reino de Castilla. Por ejemplo, a finales de 1405 escribió aDiego López de Estúñiga para comunicarle que el monarca luso había dispuesto enviarleun escribano para tomar nota de sus reclamaciones de asaltos a sus navíos por parte debarcos portugueses142. Posteriormente, en agosto de 1407 vuelve a ser el protagonistade unas negociaciones diplomáticas con Castilla para renovar las treguas de 1402 antela temprana muerte de Enrique III de Castilla y el inicio de una nueva problemáticaregencia en el Reino de Castilla143. Unas negociaciones en las que únicamente se acordóun aplazamiento de estas para agosto de 1408144, un nuevo encuentro que parece que
Medievalista, 28 | 2020
70
nunca tuvo lugar ante el silencio de las fuentes. A pesar de que las treguas semantuvieron de facto hasta el Tratado de paz de Ayllón de 1411, las divisiones en elconsejo de regencia castellano entre la madre de Juan II de Castilla, Catarina deLancaster, cercana a su hermana la reina portuguesa, y el tío de nuevo monarca, elinfante Fernando, este último menos partidario de la negociación con el reino vecino145,impidieron alcanzar un nuevo acuerdo inmediato con los portugueses146. En elmencionado aplazamiento se requería que cada una de las dos delegaciones de la futuraembajada debería estar compuesta por tres personas: un obispo o arzobispo, uncaballero y un letrado. Una disposición basada en la costumbre que no fue seguidarigurosamente en la última fase de la construcción de las paces con Castilla (1411-1432),ya que ningún eclesiástico portugués volvió a participar en ella. Esto se debe a que dosfactores: la pérdida de protagonismo de los eclesiásticos en la administración joanina ysu ocupación en la larga serie de concilios celebrados para superar el Cisma deOccidente.
44 Desde entonces la única misión diplomática enviada por Juan I de Portugal a otro reino
en la que participó un eclesiástico portugués fue la negociación del matrimonio delpríncipe Duarte de Portugal con Leonor de Aragón en 1428, en la que Pedro deNoronha, arzobispo de Lisboa, tuvo un enorme protagonismo al estar relacionado conla futura princesa y reina de Portugal, al ser ambos descendientes de Enrique II deCastilla, fundador de la dinastía Trastámara147. Esta misma tendencia es la que seobserva en los siguientes reinados, los eclesiásticos fueron apartados sistemáticamentede la diplomacia portuguesa con otros monarcas148, salvo algunas excepciones duranteel reinado de Alfonso V de Portugal como las de João Galvão149 o Jorge da Costa150.
2.3 Eclesiásticos portugueses como protagonistas en la soluciónconciliar (1409-1417)
45 Los concilios celebrados con el objetivo de buscar una solución a la crisis del Gran
Cisma Occidental, el primero fallido en Pisa (1409) y el segundo finalizado con éxito enConstanza (1414-1417), canalizaron los recursos eclesiásticos de la diplomaciaportuguesa, puesto que eran recursos de obligado concurso al tratarse cuestiones deíndole eclesiástica.
46 En este sentido, destaca la presencia de estos eclesiásticos en la delegación portuguesa
del concilio de Pisa de 1409; la embajada estuvo capitaneada por el entoncesexperimentado João Afonso Esteves de Azambuja, arzobispo de Lisboa, acompañado dedos letrados de primer nivel como eran Lançarote Esteves y Diogo Martins, y de unaserie de eclesiásticos de menor rango como eran Gonçalo Gonçalves, obispo de Lamego,el franciscano João Xira, confensor de Juan I de Portugal, y mestre Lorenço151; quienesno volveran a tener más protagonismo en otros concilios y en otras misionesdiplomáticas. Los embajadores fueron los encargados de apoyar decididamente elnombramiento de Alejandro V tras el cambio de actitud del monarca portugués, quepasó de la neutralidad en la cuestión a intentar sacar réditos del apoyo a un nuevopontífice pisano. Bajo el pontificado de su sucesor, Juan XXIII, se obtuvo la bula “EximieDevocionis” el 20 de marzo de 1411 a petición de Juan I de Portugal que autorizaba a lacorona lusa a ejercer la guerra justa contra los sarracenos152, la cual fue probablementeaquella que publicó el franciscano João de Xira153 en los prolegómenos de la conquistade Ceuta para legitimar la empresa que impulsó a la dinastía Avis en el contexto
Medievalista, 28 | 2020
71
“internacional”. Todo apunta a que la persona encargada de gestionar la obtención deesta bula fuese João Afonso Esteves de Azambuja154, que en junio de 1411 fuepromocionado al cardenalato de Sancti Petri ad vincula155. De esta forma, Juan I dePortugal tuvo la suficiente legitimidad para iniciar esa campaña que ligaría a sudinastía con la defensa de la cristiandad y que le permitiría relegar al estamentoeclesiástico a un segundo plano, cuestión que es visible desde la propia gestión de lacampaña de Ceuta en la que los eclesiásticos no tuvieron protagonismo alguno156.
47 En las primeras sesiones del concilio de Constanza en 1414 se volvió a conformar otra
embajada portuguesa liderada por el cardenal João Afonso Esteves de Azambuja, el cualestaba acompañado por Antão Martins de Chaves, deán de Évora, y un misteriosoobispo de Oporto, que bien podría ser Fernando da Guerra157. El avezado eclesiásticollegó a presentarse en el concilio, pero falleció en Brujas a su regreso a Portugal en1416158, por lo que tuvo que modificarse la composición de la delegación lusa y seincorporó a Vasco Peres, canónigo de Coimbra, junto con laicos como el doctor en leyesGil Martins, desembargador y protector de la Universidad de Lisboa, y Fernando deCastro y Álvaro Fernandes de Ataíde, caballeros que habían participado en la conquistade Ceuta159. El concilio coincidió con la presentación del monarca portugués comonuevo cruzado de la cristandad, y este hecho que sirvió para que en los últimoscompases antes del cierre del concilio, la delegación portuguesa pudiese plantear alrecién nombrado Martín V una serie de peticiones como el reconocimiento de losderechos portugueses en las tierras que tomase a los sarracenos, la posibilidad desolicitar el subsidio de cruzada para proseguir las conquistas, y la creación de unadiócesis en el nuevo territorio. Asimismo, también solicitó que el nuevo pontíficedispensase a todos sus hijos para poder iniciar una política matrimonial destinada agarantizar la supervivencia de la dinastía Avis, una disposición que realmente estabadirigida a su hijo Enrique el Navegante, quien iba a ser nombrado maeste de la orden deCristo160. El nuevo pontífice en respuesta le concedió una bula de cruzada Rex Regum porla que le concedió indulgencia plenaria y la predicación de cruzada para todas lasempresas portuguesas contra los sarracenos161; y la bula Romanus Pontifex por la que seautorizaba la erección de una catedral en Ceuta162.
48 A partir de entonces se abre una intensa línea diplomática entre el monarca portugués
y el nuevo pontífice entre 1418 y 1426 en la que Juan I de Portugal fue arrancandodiversos privilegios en torno a los intereses norteafricanos y canarios, o sobre el estatusde su hijo Enrique el Navegante163. En estas pequeñas misiones se emplearon recursosdiplomáticos eclesiásticos como el mencionado Antão Martins de Chaves, entoncesobispo de Oporto desde 1423164, o Pedro de Noronha, obispo de Évora en 1419165 yarzobispo de Lisboa en 1424166, los cuales las utilizaron para catapultar suscorrespondientes carreras eclesiásticas.
49 Como hemos observado la actuación portuguesa en los concilios tuvo como objetivo la
defensa de los intereses dinásticos, donde se apoyaron determinadas solucionessiempre con miras a la obtención de prebendas que legitimasen la nueva políticaexterior de la corona portuguesa como defensora del cristianismo ultramar, un objetivoen el que los eclesiásticos designados por el monarca actuaron como meros peones desus intereses.
Medievalista, 28 | 2020
72
3. Conclusiones
50 El elemento eclesiástico fue fundamental en la legitimación de la nueva dinastía
portuguesa Avis, tanto en el ámbito interior como en la política exterior. Loseclesiásticos que fueron promocionados por la defensa de la causa urbanista encarnadaen la figura del maestre de Avis, bien como “hombres nuevos” o bien cambiando suservicio al nuevo candidato, se convirtieron en recursos humanos de granpotencialidad para la diplomacia de Juan I de Portugal. Los eclesiásticos contaban conuna enorme experiencia en asuntos de administración, participando en el consejo real yen el desembargo regio, y también en diplomacia, en una época de enorme actividadexterior derivada del Gran Cisma de Occidente. Asimismo, se debe de tener en cuentade que eran recursos humanos con una excelente formación, sobre todo en derechocivil y canónico, en un contexto en el que los jurisconsultos laicos no eran abundantes.Asimismo, por su condición resultaban fundamentales ideológicamente para sancionarcuestiones como la obtención de prebendas papales, la aportación en las sesionesconciliares, la construcción de una paz entre reinos cristianos (la pax cristiana), o lacelebración de matrimonios; todas ellas fundamentales para los objetivos desupervivencia y legitimación en la política externa de la dinastía Avis.
51 No obstante, los eclesiásticos eran recursos finitos que no podían abarcar toda la
enorme amplitud de la política exterior joanina, siendo la prioridad todo lo relacionadocon la cabeza de la Iglesia, por ello cuando estaban negociando el reconocimientoinicial del papado romano (1385-1391), desaparecieron de algunos ámbitos como lasnegociaciones del Tratado de Windsor de 1386 con el Reino de Inglaterra o en lasprimeras compases de la pacificación con los castellanos, las Treguas de Monção de1389; o en el momento de elaborar la solución conciliar (1409-1418) y obtenerprebendas de Martín V (1417-1431), se ausentaron de la celebración de las paces con loscastellanos en Ayllón en 1411 y su posterior ratificación en 1423, o en Medina delCampo en 1433. Al mismo tiempo debemos tener en cuenta de que en la segunda partedel reinado de Juan I de Portugal hubo una marginación sistemática del elementoeclesiástico en la administración joanina derivada del rumbo regalista que habíatomado el gobernante luso tras haber logrado su legitimación, lo que reducirá aun mássi cabe la cantidad de recursos eclesiásticos disponibles para la diplomacia portuguesa.
52 Los eclesiásticos defendieron con ahinco los intereses de la monarquía, aunque siempre
mediatizados por la búsqueda de una contrapartida en forma de beneficioseclesiásticos, ésto se observa especialmente en la trayectoria de eclesiásticos como JoãoAfonso Esteves de Azambuja en el que cada misión se traducía directamente con unascenso en la Iglesia, desde el priorato de Santa Maria da Alcáçova de Santarém hasta elcardinalato de Sancti Petri ad vincula, pasando por diferentes mitras portuguesas talescomo Silves, Oporto, Coimbra o Lisboa. Aunque en otros casos no había unacorrespondencia tan evidente como es el caso de Rui Lourenço, por lo que podemosentrever la posible existencia de servidores del estado, o al menos, de la dinastía.
53 Con todo, los eclesiásticos fueron un elemento imprescindible para la consecución de
los objetivos en política exterior encaminados a la consolidación de la dinastía Avis,teniendo un protagonismo incluso más importante que lo conocido en situacionessimilares de surgimiento de nuevas dinastías europeas en contextos de ilegitimidadcomo puede ser el caso de los Trastámaras castellanos167. Prueba de la estrechavinculación entre la colaboración del estamento eclesiástico y la legitimación del
Medievalista, 28 | 2020
73
empoderamiento de las monarquías en el occidente medieval que pretendimosdilucidar en el proyecto “La dimensión europea de un grupo de poder: el clero y laconstrucción política de las monarquías ibéricas entre los siglos XIII y XV” en el que seenmarca este trabajo.
BIBLIOGRAFÍA
1. Fuentes manuscritas
Archivo Secreto Vaticano (ASV)
Obligationes: registro 48A, fols. 101r. y 110r.; registro 57, fol. 35.
Obligationes et Solutiones: registro 48, fol. 152v.; registro 51, fols. 20v. y 66r.
Registra Lateranensia: registro 12, fols. 10v.-12v., 40r.-41r., 64v.-65r.; registro 17, 47r.; registro 29,
fols. 188r.-188v.; registro 32, 131r.; registro 195, 289r.; registro 233, 301r.
Registra Supplicationum, registro 110, fol. 178r.; registro 145, fol. 145r.
Registra Vaticana, registro 352, fol. 153v.
Biblioteca Apostolica Vaticana (BAV)
Barberiniani latini: códice 872, fol. 99r-104r.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT)
Bulas: maço 5, documento 9; maço 11, documento 13; maço 26, documento 15.
Cabido da Sé de Coimbra: livro 5 (livro das calendas 2), 81v.; 2ª Incorporação, maço 94, documento
4498.
Chancelaria de D. João I: livro 2, fols. 45r.-45v. y 91v.-92r.
Gavetas: gaveta 14, maço 1, documento 20, fols. 3v-10r.; gaveta 17, maço 4, documento 8; gaveta
17, maço 6, documentos 7, 10, 11 y 16; gaveta 18, maço 3, documentos 25 y 26; gaveta 18, maço 11,
documento 4.
Leitura Nova: livro 38 (Livro I dos Reis), fols. 8r.-9v.; livro 61 (Livro das pazes), fol. 142r.-165r.
Manuscritos: número 364, fol. 457r.
Arquivo da Casa da Moeda de Lisboa (ACML)
Livro dos moedeiros, fol. 2v.
Arquivo Histórico da Câmara do Porto (AHMP)
Livro B, fols. 302-308v.
Vereações: livro 2, fol. 47v.
Archivo General de Simancas (AGS)
Patronato Regio: legajo 47, documentos 27, 29.4, 30, 31, 32, 33 y 34; legajo 49, documentos 1, 3, 4, 7,
8, 9, 10, 14, 15 y 53
Medievalista, 28 | 2020
74
Estado, Castilla: legajo 1-1º, fol. 86.
Archivo General de la Corona de Aragón (ACA)
Cancillería Real: Registro 1256, fol. 188r.; Registro 2692, fols. 13v.-19v.
D. Fernando I, caja 12, documento 2120.
British Museum of London (BML)
Biblioteca Cotton, Nero, B. I., fol. 41r.
Archivio di Stato di Bologna (ASB)
Liber secretus iuris cesarei ab anno 1378 ad annum 1512, fol. 6v.
Rogiti di Paolo Cospi, busta protoc. 16, fol. 37v.
2. Fuentes impresas
As Gavetas da Torre do Tombo. Vol. 1, 2, 7, 8, 9. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos,
1960-1971.
CARRILLO DE HUETE, Pedro – Crónica de Pedro Carrillo de Huete, halconero de Juan II de Castilla. Ed.
Juan de Mata Carriazo. Madrid: Espasa-Calpe, 1946.
COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana. Vol. 2. Roma-Braga:
Livraria Editorial Franciscana, 1970.
Liber anniversariorum ecclesiae cathedralis colimbriensis: livro das kalendas. Ed. Pierre David y
Torquato da Sousa Soares, Vol. 2. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1947.
LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. Fernando. Ed. Luciano Cordeiro. Vol. 2 e 3. Lisboa: Escriptorio,
1895-1896.
LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I. Ed. Luciano Cordeiro. Vol. 2-7. Lisboa: Escriptorio,
1897-1898.
LÓPEZ DE AYALA, Pedro – Crónica de Enrique III. in Crónicas de los reyes de Castilla. Ed. Eugenio
Llaguno Amirola. Vol. 1: Crónicas de Pedro I, Enrique II, Juan I y Enrique III. Madrid: Imprenta de Don
Antonio de Sancha, 1779.
Monumenta Henricina. Ed. A. J. Dias Dinis. Vol. 1-3. Coimbra: Comissão Executiva das
Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1960-1961.
PIANA, Celestino – Nuovi documenti sull'Università di Bologna e sul Collegio di Spagna. Vol. 1. Bolonia:
Publicaciones del Real Colegio de España, 1976.
PRATI, Ludovico – Chartularium Studii Bononiensis. Vol. 4. Bologna: Commisione per la Storia
dell’Università di Bologna, 1919.
SÁ, Artur Moreira de (ed.) – Chartularium Universitatis Portugalensis (1288-1537). Vol. 2: 1377-1408.
Lisboa: Instituto de Alta Cultura, 1968.
SANTARÉM, Visconde de – Quadro elementar das relações politicas e diplomaticas de Portugal com as
diversas potencias do mundo, desde o principio da monarchia portugueza ate aos nossos dias. Vol. 1, 3, 8,
14. París: J. P. Aillaud, 1842-1865.
SILVA, Manuel Telles de – Collecçam dos documentos e memorias da Academia Real da Historia
Portuguesa. Lisboa: Oficina de Pascual de Silva, 1724.
SYLVA, Joseph Soares de – Memorias para a História de Portugal que comprehendem o governo delrey D.
João I. Vol. 2. Lisboa: Officina de Joseph Antonio da Sylva, 1730.
Medievalista, 28 | 2020
75
SORBELLI, Albano (ed.) – Liber secretus iuris cesarei dell’Universitá di Bologna. Vol. 1: 1378-1420.
Bolonia: Università di Bologna, 1938
SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis; TORRE, Antonio de la – Documentos referentes a las relaciones con Portugal
durante el reinado de los Reyes Católicos. Vol. 1. Valladolid, 1958.
ZURARA, Gomes Eanes de – Crónica da Tomada de Ceuta. Ed. Francisco Maria Esteves Pereira.
Lisboa: Academia das Sciencias de Lisboa, 1915.
3. Bibliografia / Estudos
ALMEIDA, Fortunato – História da Igreja em Portugal. Vol. 2. Porto: Editorial Portucalense, 1967.
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente – “Relations between Portugal and Castile in the Late Middle
Ages - 13th-16th centuries”. E-Journal of Portuguese History 1/1 (2003).
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente – “El restablecimiento de la paz entre Castilla y Portugal:
1402-1431”. in COSTA, Paula Maria de Carvalho Pinto; HOMEM, Armando Luis de Carvalho;
PIZARRO, José Augusto de Sotto Mayor (eds.) – Ibéria, quatrocentos/quinhentos, duas décadas de
cátedra (1984-2006): homenagem a Luís Adão da Fonseca. Porto: CEPESE, 2009, pp. 47-90.
ARÁUJO, Julieta – Portugal e Castela na Idade Média. Lisboa: Edições Colibri, 2009.
ARNAUT, Salvador Dias – A crise nacional dos fins do século XIV. Vol. 1: A sucessão de D. Fernando.
Coimbra: Universidade de Coimbra, 1960.
BABO, Duarte – Os embaixadores portugueses nos reinos ibéricos (1431-1474): um estudo
sociodemográfico. Porto: Universidade do Porto, 2017. Tese de Doutoramento.
BAEZA HERRATZI, Alberto – Bulas de cruzada en la reconquista de Ceuta. Ceuta: Caja de ahorros y
monte de piedad de Ceuta, 1987.
BAPTISTA, Julio – “Portugal e o Cisma de Ocidente”. Lusitania Sacra 1 (1956), pp. 65-203.
BECEIRO PITA, Isabel – “Las negociaciones entre Castilla y Portugal en 1399”. Revista da Faculdade
de Letras da Universidade do Porto: História (Série II) 13 (1996), pp. 149-185.
BECEIRO PITA, Isabel – “La consolidación del personal diplomático entre Castilla y Portugal,
1392-1455”. in GONZÁLEZ JIMÉNEZ, Manuel (ed.) – La Península Ibérica en la era de los
descubrimientos 1391-1492, Actas de las III Jornadas Hispano-Portuguesas de Historia Medieval. Vol. 2.
Sevilla: Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía, 1997, pp. 1735-1744.
BRÁSIO, António – “Erecção da Metrópole Lisbonense”. Lusitania Sacra 2 (1957), pp. 51-56.
COELHO, André Madruga – “Ecclesiastical Support to the Master of Avis: An Analysis from the
Aclamation Act of 1385”. En la España Medieval 40 (2017), pp. 147-162.
COELHO, Maria Helena da Cruz – D. João I: o que re-colheu Boa Memória. Mem Martins : Círculo de
Leitores, 2005.
CONTAMINE, Philippe – “Le moyen âge occidental a-t-il connu des serviteurs de l’état?”. in Les
serviteurs de l’état au moyen âge. Actes du 29e congrês de la Societé des historiens médiévistes de
l’enseigneiment supérieur public. Pau: Publications de la Sorbonne, 1998, pp. 9-20.
COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana. Vol. III/1: A Península
Ibérica e o Cisma de Ocidente, repercussão do cisma na nacionalidade portuguesa do século XIV e XV.
Roma-Braga: Livraria Editorial Franciscana, 1982.
Medievalista, 28 | 2020
76
COSTA, António Domingues de Sousa – “D. João Afonso de Azambuja, cortesão, bispo, arcebispo,
cardeal e fundador do convento das dominicanas do Salvador de Lisboa”. Arquivo Histórico
Dominicano Português 4/2 (1989), pp. 1-150.
COSTA, António Domingues de Sousa – Portugueses no Colégio de S. Clemente e Universidade de
Bolonha durante o século XV. Vol. 1. Bolonha: Publicaciones del Real Colegio de España, 1990.
COSTA, Avelino de Jesus da – “A biblioteca e o tesouro da Sé de Coimbra nos séculos XI a XVI”.
Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra 38 (1983), pp. 1-220.
CUNHA, Maria Cristina; FREITAS, Judite – “Homens de estado, crises políticas e guerra: Portugal,
séculos XIV-XV”. in COELHO, Maria Helena da Cruz; GOMES, Saul António; REBELO, António
Manuel Ribeiro (coords.) – A guerra e a sociedade na Idade Média. VI Jornadas Luso-Espanholas de
Estudos Medievais. Vol. 2. Coimbra: Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais, 2009, pp. 121-139.
CUNHA, Rodrigo da – Historia ecclesiastica dos arcebispos de Braga. Vol. 2. Braga: Imprenta Manoel
Cardozo, 1635.
CUNHA, Rodrigo da – Catálogo dos bispos do Porto (Segunda impressam addicionado e com supplementos
de varias memorias ecclesiasticas). Vol. 2. Porto: Oficina prototypa episcopal, 1742.
DÍAZ MARCILLA, Francisco José – “El papel del clero en el cambio dinástico en Portugal
(1378-1388)”. Reti Medievali 19/2 (2018), pp. 131-170.
DÍAZ MARCILLA, Francisco José – “El clero en el contexto diplomático de la Guerra de los Cien
Años: una mirada desde las crónicas oficiales al período ibérico (1366-1388)”. in VIGIL MONTES,
Néstor (dir.) – Comunicación política y diplomacia en la Baja Edad Media. Évora: Publicações do
CIDEHUS, 2019, pp. 47-74.
DÍAZ MARTÍN, Luis Vicente – “Los inicios en política internacional de Castilla (1360-1410)”. in
RUCQUOI, Adeline (coord.) – Realidad e imágenes de poder. España a fines de la Edad Media. Valladolid:
Ámbito Ediciones, 1988, pp. 57-83.
DUARTE, Luis Miguel – Ceuta 1415, seiscentos anos depois. Lisboa: Livros Horizonte, 2015.
EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica Medii Aevi. Vol. 1. Ratisbona: Monasterii Sumptibus et typis
librariae Regensbergianae, 1913.
FARELO, Mário – A oligarquia camarária de Lisboa (1325-1433). Lisboa: Universidade de Lisboa, 2009.
Tese de doutoramento.
FARELO, Mário – “La représentation de la couronne portugaise à Avignon et ses agents
(1305-1377)”. Anuario de Estudios Medievales 40/2 (2010), pp. 723-763
FARIA, Tiago Viúla de – “Por proll e serviço do reino? O desempenho dos negociantes
portugueses do Tratado de Windsor e suas consequências nas relações com Inglaterra”. in
COELHO, Maria Helena da Cruz; GOMES, Saul António; REBELO, António Manuel Ribeiro (coords.)
– A guerra e a sociedade na Idade Média. VI Jornadas Luso-Espanholas de Estudos Medievais. Vol. 2.
Coimbra: Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais, 2009, pp. 209-227.
FILHO, Franklin Manuel Tavares – “Os Portugueses no Concílio de Constança (1416-1418):
Questões e Problemas”. Plêthos 4/1 (2014), pp. 187-203.
FONSECA, Luis Adão de – O essencial sobre o Tratado de Windsor. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da
Moeda, 1986.
FONSECA, Luis Adão de – “Significado da Batalha de Aljubarrota no contexto da conjuntura
política europeia no último quartel do século XIV”. in COELHO, Maria Helena da Cruz; GOMES,
Saul António; REBELO, António Manuel Ribeiro (coords.) – A guerra e a sociedade na Idade Média. VI
Medievalista, 28 | 2020
77
Jornadas Luso-Espanholas de Estudos Medievais. Vol. 1. Coimbra: Sociedade Portuguesa de Estudos
Medievais, 2009, pp. 57-74.
FONTES, João Luís Inglês – “João Afonso Esteves de Azambuja (1402-1415)”. in FONTES, João Luís
Inglês (ed.) – Bispos e arcebispos de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 2018, pp. 471-484.
GENET, Jean-Philippe – “Le coup d’État ou les légitimités contrariées”. in FORONDA, François;
GENET, Jean-Philippe; NIETO SORIA, José Manuel (eds.) – Coups d’État à la fin du Moyen Âge? Aux
fondements du pouvoir politique en Europe occidentale, Madrid: Casa de Velázquez, 2005, pp. 1-17.
GOMES, Rita Costa – The Making of a Court Society. Kings and Nobles in Late Medieval Portugal.
Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
GOMES, Saul António – “Três bibliotecas particulares na Coimbra de Trezentos, em torno das
elites e das culturas urbanas medievais”. Revista de História das Ideias 24 (2003), pp. 9-49.
GONZÁLEZ SÁNCHEZ, Santiago – Las relaciones exteriores de Castilla a comienzos del siglo XV. La
minoría de Juan II (1407-1420). Madrid: Comité Español de Ciencias Históricas, 2013, pp. 134-142.
GRAF, Carlos Eduardo de Verdier – D. João Esteves da Azambuja: exemplo da interligação de poderes
(séculos XIV e XV). Porto: Universidade do Porto. 2011. Dissertação de Mestrado.
GROHE, Johannes – “Spanien und die groβen Jonzilien von Konstanz und Basel”. In HERBERS,
Klaus, JASPERT, Nikolas (ed.) – "Das kommt mir spanisch vor" - Eigenes und Fremdes in den deutsch-
spanischen Beziehungen des späten Mittelalters. Münster: LIT Verlag, 2004, pp. 493-509.
GUENÉE, Bernard – Occidente durante los siglos XIV y XV, los estados. Barcelona: Labor, 1973.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “O doutor João das Regras no desembargo e no conselho
régios (1384-1404). Breves notas”. in Estudos de história de Portugal, Homenagem a A. H. de Oliveira
Marques. Vol. 1: séculos X-XV. Lisboa: Estampa, 1982. pp. 241-253.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O desembargo régio: 1320-1433. Porto: Instituto Nacional de
Investigação Cientifica. Centro de História da Universidade do Porto, 1985.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Diplomacia e diplomatas nos finais da Idade Média: a
propósito de Lourenço Anes Fogaça, chanceler-mor (1374-99) e negociador do Tratado de
Windsor”. in Colóquio comemorativo do VI Centenário do Tratado de Windsor. Porto: Universidade do
Porto, 1986. pp. 221-240.
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Conselho real ou conselheiros do rei? A propósito dos
privados de D. João I”. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto: História (Série II) 4
(1987), pp. 9-68.
LEITÃO, André de Oliveira – “Leges et canones. Portuguese law students in 14th and 15th century
Italy. Methodological horizons and problems”. in VILAR, Hermínia; BRANCO, Maria João (Eds.) –
Ecclesiastics and political state building in the Iberian monarchies, 13th-15th centuries, Évora:
Publicações do CIDEHUS, 2016, pp. 275-290.
MARQUES, António Henrique de Oliveira – Nova História de Portugal. Direcção de Joel Serrão e
António Henrique de Oliveira Marques. Vol. 4: Portugal na crise dos séculos XIV e XV. Lisboa:
Editorial Presença, 1989.
MARQUES, José – “Legislação e práctica judicial como fontes de tensões entre D. João I e a Igreja”.
Revista de História 10 (1990), pp. 9-34.
MARQUES, José – “Relações entre a Igreja e o Estado em Portugal, no século XV”. Revista da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto: História (Série II) 11 (1994), pp. 137-172.
Medievalista, 28 | 2020
78
MARQUES, José – “O senhorio de Braga no século XV: principais documentos para o seu estudo”.
Bracara Augusta 46 (1997), pp. 5-136.
MATTOSO, José – “Lutas de classes?”. in SARAIVA, José Hermano (dir.) – História de Portugal. Vol.
3. Lisboa: Publicaciones Alfa, 1983, pp. 193-199.
MAZZETTI, Serafino – Repertorio di tutti i professori antichi e moderni della famosa Università e del
célebre istituto delle scienze di Bologna. Bolonia: Arnaldo Forni Editore, 1988.
MENDONÇA, Manuela – D. Jorge da Costa, cardeal de Alpedrinha. Lisboa: Edições Colibri, 1991.
MILLET, Hélène – “La participation de Portugal au Concile de Pise (1409)”. in A igreja e o clero
português no contexto europeu. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade
Católica Portuguesa, 2005, pp. 233-254.
MITRE FERNÁNDEZ, Emilio – “Notas sobre la ruptura castellano-portuguesa de 1396”. Revista
Portuguesa de História 12 (1969), pp. 213-221.
MOEGLIN, Jean-Marie; PÉQUIGNOT, Stéphane – Diplomatie et “relations internationales” au Moyen
Âge (IXe-XVe siècle). París: Publications Universitaires de France, 2017.
MONTOJO JIMÉNEZ, Carlos – La diplomacia castellana bajo Enrique III, estudio especial de la embajada
de Ruy González de Clavijo a la corte de Tamerlán. Madrid: Escuela Diplomática, 2004 (1944).
MUHAJ, Ardian – Portugal e a Coroa de Aragão nos séculos XIV-XV. A guerra dos Cem Anos e a sua
influência na decadência da Catalunha e na expansão de Portugal. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2006.
Dissertação de Mestrado.
NIETO SORIA, José Manuel – Iglesia y génesis del estado moderno en Castilla (1369-1480). Madrid:
Editorial Complutense, 2009.
OLAVO, Carlos – João das Regras, jurisconsulto e homem de estado. Guimarães: Lisboa: Livraria Editora
Guimarães e Cª, 1941.
OLIVEIRA SERRANO, César – Beatriz de Portugal, la pugna dinástica Avis-Trastámara. Santiago de
Compostela: Instituto de Estudios Gallegos Padre Sarmiento, 2005.
PÉQUIGNOT, Stephane – Au nom du roi: practique diplomatique et pouvoir durant le règne de Jacques II
d’Aragon, 1291-1327. Madrid: Casa de Velázquez, 2009.
PEREIRA, Reina Marisol Troca – Discursos dos embaixadores portugueseses no Concílio de Constança:
1415. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1999. Dissertação de mestrado.
PERES, Damião – História dos moedeiros de Lisboa como classe privilegiada. Vol. 1. Lisboa: Academia
Portuguesa da História, 1964.
PIMENTA, Alfredo – “As treguas de Monção de 1389”. in Idade-Média (Problemas & soluçõens).
Lisboa: Edições Ultramar, 1946. pp. 317-328.
RIBEIRO, Luís Mário Araújo – A transição do senhorio episcopal portucalense para a Coroa em 1406.
Porto: Universidade do Porto, 2009. Dissertação de mestrado.
RUSSELL, Peter Edward – The English intervention in Spain and Portugal in the time of Edward III and
Richard II. Oxford: Clarendon Press, 1955.
SÁNCHEZ HERRERO, José – “Los obispos castellanos y su participación en el gobierno de Castilla,
1350-1406”. in RUCQUOI, Adeline (coord.) – Realidad e imágenes de poder. España a fines de la Edad
Media. Valladolid: Ámbito Ediciones, 1988, pp. 85-114.
Medievalista, 28 | 2020
79
SÁNCHEZ SESA, Rafael – “El Cisma de Occidente en la Península Ibérica: religión y propaganda en
la guerra castellano-portuguesa”. in Estudos em homenagem ao professor doutor José Marques. Vol. 4.
Porto: Universidade do Porto, 2006, pp. 307-320.
SANTOS, Maria Alice Pereira – A sociología da representação político-diplomática no Portugal de D. João
I. Lisboa: Universidade Aberta, 2015. Tese de doutoramento.
SILVA, Nuno Espinosa Gomes da – “João das Regras e outros juristas portugueses da Universidade
de Bolonha (1378-1421)”. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 12 (1960). pp.
223-253.
SOUSA, Armindo de – As cortes medievais portuguesas: 1385-1490. Vol. 1-2. Lisboa: Instituto Nacional
de Investigação Científica, 1990.
SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis – Castilla, el cisma y la crisis conciliar (1378-1440). Madrid: Consejo
Superior de Investigaciones Científicas, Escuela de Estudios Medievales, 1960.
SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla en la época del infante don Enrique.
Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Escuela de Estudios Medievales, 1960.
VEAS ARTESEROS, Francisco de Asís – Itinerario de Enrique III. Murcia: Universidad de Murcia,
2003.
VENTURA, Margarida Garcez – Igreja e poder no século XV. Dinastia de Avis e liberdades eclesiásticas
(1383-1450). Lisboa: Edições Colibri, 1997.
VIGIL MONTES, Néstor – “João Afonso Esteves de Azambuja y Rui Lourenço, dos perfiles de
eclesiástico diferentes en los primeros compases de la construcción de las paces entre Portugal y
Castilla (1389-1407)”. in VILAR, Hermínia; BRANCO, Maria João (eds.) – Ecclesiastics and political
state building in the Iberian monarchies, 13th-15th centuries, Évora: Publicações do CIDEHUS, 2016, pp.
129-146.
VIGIL MONTES, Néstor – “Un eclesiástico para un reinado: el servicio del obispo conimbricense
João Galvão a D. Afonso V de Portugal”. Lusitania Sacra 35 (2017), pp. 185-206.
VIGIL MONTES, Néstor – “Cuestiones metodológicas acerca del rol de los eclesiásticos en la
formación de la diplomacia de las monarquías europeas en la Baja Edad Media”. Vegueta, Anuario
de la Facultad de Geografía e Historia de la Universidad de las Palmas de Gran Canaria 18 (2018), pp.
403-423.
VIGIL MONTES, Néstor – “Pedro de Noronha (1423-1452)”. in FONTES, João Luís Inglês (ed.) –
Bispos e arcebispos de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, 2018, pp. 495-501.
VIGIL MONTES, Néstor – “Eclesiásticos en la construcción política de una nueva dinastía: los
clerici regis de la primera generación de la administración de Juan I de Portugal (1385-1415)”. e-
Humanista 43 (2019), pp. 89-106.
VILAR, Hermínia Vasconcelos – As dimensiões de um poder, a diocese de Évora na Idade Média. Lisboa:
Editorial Estampa, 1999.
VILAR, Hermínia Vasconcelos – “Na sombra da crise de 1383-85: o governo do bispo D. João de
Évora”. Eborensia 39-40 (2008), pp. 103-116.
VILAR, Hermínia Vasconcelos – “Bispos na conquista de Ceuta ou os possiveis significados de uma
ausência”. in COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando Carvalho (coords.) – As décadas de
Ceuta (1385-1460). Lisboa: Caleidoscópio e Universidade Autónoma de Lisboa Luís de Camões, 2018,
pp. 93-108.
Medievalista, 28 | 2020
80
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar – “Eclesiásticos en la diplomacia castellana en el siglo XV”.
Anuario de Estudios Medievales 40/2 (2010), pp. 791-819.
WITTE, Charles-Martial de – Les bulles pontificales et l’expansion portugaise au XVe siècle. Lovaina la
Nueva: Université catholique de Louvain, 1958.
NOTAS
1. El término “golpe de estado” ha sido utilizado de forma anacrónica por los medievalistas para
referirse a los diversos cambios dinásticos producidos en el periodo bajomedieval, en los cuales
un candidato alternativo lograba suplantar al monarca legítimo y establecer una nueva dinastía.
GENET, Jean-Philippe – “Le coup d’État ou les légitimités contrariées”. in FORONDA, François;
GENET, Jean-Philippe; NIETO SORIA, José Manuel (eds.) – Coups d’État à la fin du Moyen Âge? Aux
fondements du pouvoir politique en Europe occidentale. Madrid: Casa de Velázquez, 2005, pp. 1-17. La
cuestión de los cambios dinásticos y la legitimidad fue objeto de debate más recientemente en
dos congresos celebrados en Lisboa en 2015, uno de ellos tuvo por título Kings and Queens 4:
Dynastic changes and Legitimacy, y el otro Debuerit habere regnum: Deponer y proclamar reyes en la
Edad Media. Cabe destacar que algunos de los trabajos presentados en este último congreso fueron
publicados en el número 23 de la revista Medievalista online.
2. El término internacional se tiene que utilizar de forma anacrónica para describir las
implicaciones que tuvo el ascenso al trono de la dinastía Avis en otras formaciones políticas de su
entorno, es decir, del Occidente Medieval Europeo. Por ello nos hemos decantado por
entrecomillarlo, así como han hecho Stéphane Péquignot y Jean-Marie Moeglin en su reciente
manual sobre diplomacia y “relaciones internacionales” en la Edad Media. MOEGLIN, Jean-Marie;
PÉQUIGNOT, Stéphane – Diplomatie et “relations internationales” au Moyen Âge (IXe-XVe siècle). Paris:
Publications Universitaires de France, 2017.
3. FONSECA, Luis Adão de – “Significado da Batalha de Aljubarrota no contexto da conjuntura
política europeia no último quartel do século XIV”. in COELHO, Maria Helena da Cruz; GOMES,
Saul António; REBELO, António Manuel Ribeiro (coords.) – A guerra e a sociedade na Idade Média. VI
Jornadas Luso-Espanholas de Estudos Medievais. Vol. 2. Coimbra: Sociedade Portuguesa de Estudos
Medievais, 2009, pp. 57-74.
4. MATTOSO, José – “Lutas de classes?”. in SARAIVA, José Hermano (dir.) – História de Portugal.
Vol. 3. Lisboa: Publicaciones Alfa, 1983, pp. 193-199.
5. Las relaciones luso-castellanas durante el reinado de D. João I de Portugal han sido analizadas
por diversos autores. SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla en la época del
infante don Enrique. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Escuela de Estudios
Medievales, 1960. ARÁUJO, Julieta – Portugal e Castela na Idade Média. Lisboa: Edições Colibri, 2009.
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente – “El restablecimiento de la paz entre Castilla y Portugal:
1402-1431”. in COSTA, Paula Maria de Carvalho Pinto; HOMEM, Armando Luis de Carvalho;
PIZARRO, José Augusto de Sotto Mayor (eds.) – Ibéria, quatrocentos/quinhentos, duas décadas de
cátedra (1984-2006): homenagem a Luís Adão da Fonseca. Porto: CEPESE, 2009, pp. 47-90.
6. MUHAJ, Ardian – Portugal e a Coroa de Aragão nos séculos XIV-XV. A guerra dos Cem Anos e a sua
influência na decadência da Catalunha e na expansão de Portugal. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2006.
Dissertação de Mestrado, pp. 55-56.
7. SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis – Castilla, el cisma y la crisis conciliar (1378-1440). Madrid: Consejo
Superior de Investigaciones Científicas, Escuela de Estudios Medievales, 1960, pp. 16-19.
8. RUSSELL, Peter Edward – The English intervention in Spain and Portugal in the time of Edward III and
Richard II. Oxford: Clarendon Press, 1955.
Medievalista, 28 | 2020
81
9. FONSECA, Luis Adão de – O essencial sobre o Tratado de Windsor. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa
da Moeda, 1986.
10. SÁNCHEZ SESA, Rafael – “El Cisma de Occidente en la Península Ibérica: religión y propaganda
en la guerra castellano-portuguesa”. in Estudos em homenagem ao professor doutor José Marques. Vol.
4. Porto: Universidade do Porto, 2006, pp. 307-320.
11. Para el conocimiento de la situación portuguesa en el Cisma de Occidente contamos con dos
monografías: BAPTISTA, Julio – “Portugal e o Cisma de Ocidente”. Lusitania Sacra 1 (1956), pp.
65-203; y COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana. Vol. 3/1: A
Península Ibérica e o Cisma de Ocidente, repercussão do cisma na nacionalidade portuguesa do século XIV e
XV. Roma-Braga: Livraria Editorial Franciscana, 1982.
12. Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), Bulas, maço 26, documento 15. Editado en
COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana. Vol. 2. Roma-Braga:
Livraria Editorial Franciscana, 1970, pp. CVIII-CXXII.
13. ANTT, Bulas, maço 5, documento 9, y ASV, Registra Lateraniensia, 12, fols. 10v.-12v. Editado en
COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana. Vol. 2, pp. CVIII-CXXII.
14. ANTT, Gavetas, gaveta 18, maço 11, documento 4. Editado como documento 5 en Monumenta
Henricina. Vol. 2. Coimbra: Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do
Infante D. Henrique, 1961, pp. 7-32; y como documento 4576 en As Gavetas da Torre do Tombo. Vol.
9. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1971, pp. 608-636.
15. Archivo General de Simancas (AGS), Patronato Regio, legajo 49, documento 15. Editado como
documento 43 en SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla…, pp. 177-178.
SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar das relações politicas e diplomaticas de Portugal com as
diversas potencias do mundo, desde o principio da monarchia portugueza ate aos nossos dias. Vol. 3. París:
J. P. Aillaud, 1843, pp. 40-41.
16. ANTT, Gavetas, gaveta 18, maço 11, documento 4. Editado como documento 37 en Monumenta
Henricina. Vol. 3. Coimbra: Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do
Infante D. Henrique, 1961, pp. 58-69; y como documento 4576 en As Gavetas da Torre do Tombo...
Vol. 9, pp. 608-636.
17. AGS, Patronato Regio, legajo 49, documentos 15 y 53. ANTT, Gavetas, gaveta 17, maço 6,
documento 16. ANTT, Leitura Nova, livro 61 (livro das pazes), fols. 142r.-165r. Editado como
documento 9 en Monumenta Henricina. Vol. 4. Coimbra: Comissão Executiva das Comemorações do
V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1961, pp. 18-53; como documento 4555 en As
Gavetas da Torre do Tombo... Vol. 9, pp. 500-501; y como documento 165 en SUÁREZ FERNÁNDEZ,
Luis, TORRE, Antonio de la – Documentos referentes a las relaciones con Portugal durante el reinado de
los Reyes Católicos. Vol. 1. Valladolid: Consejo Superiore de InvestigationesCientíficas, 1958, pp.
253-273.
18. DUARTE, Luis Miguel – Ceuta 1415, seicentos anos depois. Lisboa: Livros Horizonte, 2015.
19. La participación de Portugal en los concilios de Pisa (1409) y de Constanza (1414-1418) ha sido
estudiada en MILLET, Hélène – “La participation de Portugal au Concile de Pise (1409)”. in A Igreja
e o clero português no contexto europeu. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa da
Universidade Católica Portuguesa, 2005, pp. 233-254; FILHO, Franklin Manuel Tavares – “Os
Portugueses no Concílio de Constança (1416-1418): Questões e Problemas”. Plêthos. Niterói 4, 1
(2014), pp. 187-203; GROHE, Johannes – “Spanien und die groβen Jonzilien von Konstanz und
Basel”. in HERBERS, Klaus, JASPERT, Nikolas (ed.) – "Das kommt mir spanisch vor" - Eigenes und
Fremdes in den deutsch-spanischen Beziehungen des späten Mittelalters. Münster: LIT Verlag, 2004, pp.
493-509.
20. En este sentido resulta interesantes trabajos de conjunto como los de ALMEIDA, Fortunato –
História da Igreja em Portugal. Vol. 2. Porto: Editorial Portucalense, 1967, y VIGIL MONTES, Néstor –
“Eclesiásticos en la construcción política de una nueva dinastía: los clerici regis de la primera
generación de la administración de Juan I de Portugal (1385-1415)”. e-Humanista 43 (2019), pp.
Medievalista, 28 | 2020
82
89-106; así como algunos que tratan sobre cuestiones particulares como los de SANTOS, Maria
Alice Pereira – A sociología da representação político-diplomática no Portugal de D. João I. Lisboa:
Universidade Aberta, 2015. Tese de doutoramento; GOMES, Rita Costa – The Making of a Court
Society. Kings and Nobles in Late Medieval Portugal. Cambridge: Cambridge University Press, 2003;
HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O desembargo régio: 1320-1433. Porto: Instituto Nacional de
Investigação Cientifica. Centro de História da Universidade do Porto, 1985. HOMEM, Armando
Luís de Carvalho – “Conselho real ou conselheiros do rei? A propósito dos privados de D. João I”.
Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto: História (Série II) 4 (1987), pp. 9-68. Tampoco
debemos olvidar las biografías de alguno de estos eclesiásticos que serán destacadas en el
momento de introducirlos.
21. En este sentido resultan de enorme interés las recopìlaciones de documentos de la Monumenta
Henricina, de las Gavetas da Torre do Tombo y la obra de Luis Suárez Fernández sobre las
relaciones entre Castilla y Portugal en época del infante don Enrique. Monumenta Henricina. Vols.
1-3. Coimbra: Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D.
Henrique, 1960-1961. As Gavetas da Torre do Tombo. Vols. 1, 2, 7, 8 y 9. Lisboa: Centro de Estudos
Históricos Ultramarinos, 1960-1971. SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla
...
22. Para el conocimiento de las fuentes documentales procedentes del Archivo Secreto Vaticano
es fundamental acudir a la Monumenta Portugaliae Vaticana de António Domingues da Sousa Costa.
COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana …., Vol. 2. COSTA, António
Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana …., Vol. 3/1.
23. La documentación boloñesa fue objeto de edición por parte de algunos investigadores
italianos de comienzos del siglo XX como Ludovico Prati o Albano Sorbelli. Asimismo, para el caso
portugués algunos de estos datos fueron ampliados por Artur Moreira de Sá en la obra
Chartularium Universitatis Portugalensis. PRATI, Ludovico – Chartularium Studii Bononiensis. Vol. 4.
Bologna: Commisione per la Storia dell’Università di Bologna, 1919. SORBELLI, Albano (ed.) – Liber
secretus iuris cesarei dell’Universitá di Bologna. Vol. 1: 1378-1420. Bolonia: Università di Bologna,
1938. SÁ, Artur Moreira de (ed.) – Chartularium Universitatis Portugalensis (1288-1537). Vol. 2:
1377-1408. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, 1968.
24. BECEIRO PITA, Isabel – “La consolidación del personal diplomático entre Castilla y Portugal,
1392-1455”. in GONZÁLEZ JIMÉNEZ, Manuel (ed.) – La Península Ibérica en la era de los
descubrimientos 1391-1492, Actas de las III Jornadas Hispano-Portuguesas de Historia Medieval. Vol. 2.
Sevilla: Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía, 1997, p. 1735.
25. VENTURA, Margarida Garcez – Igreja e poder no século XV. Dinastia de Avis e liberdades
eclesiásticas (1383-1450). Lisboa: Edições Colibri, 1997, pp. 95-99. MARQUES, José – “Relações entre a
Igreja e o Estado em Portugal, no século XV”. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto:
História (Série II) 11 (1994), pp. 141-145.
26. BRÁSIO, António – “Erecção da Metrópole Lisbonense”. Lusitania Sacra 2 (1957), pp. 51-56.
27. MARQUES, António Henrique de Oliveira – Nova História de Portugal. Direcção de Joel Serrão e
António Henrique de Oliveira Marques. Vol. 4: Portugal na crise dos séculos XIV e XV. Lisboa:
Editorial Presença, 2000, p. 379. OLIVEIRA SERRANO, César – Beatriz de Portugal, la pugna dinástica
Avis-Trastámara. Santiago de Compostela: Instituto de Estudios Gallegos Padre Sarmiento, 2005, p.
82 y 96.
28. Este proceso de purga fue analizado en DÍAZ MARCILLA, Francisco José – “El papel del clero
en el cambio dinástico en Portugal (1378-1388)”. Reti Medievali 19/2 (2018), pp. 131-170.
29. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Conselho real ou conselheiros do rei? A propósito dos
privados de D. João I” ..., pp. 9-68.
30. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O desembargo régio: 1320-1433 ...
31. SOUSA, Armindo de – As cortes medievais portuguesas: 1385-1490. Vol. 1. Lisboa: Instituto
Nacional de Investigação Científica, 1990.
Medievalista, 28 | 2020
83
32. VENTURA, Margarida Garcez – Igreja e poder no século XV…, pp. 95-99. MARQUES, José –
“Relações entre a Igreja e o Estado em Portugal, no século XV”..., pp. 141-145. MARQUES, José –
“Legislação e práctica judicial como fontes de tensões entre D. João I e a Igreja”. Revista de História
10 (1990), pp. 9-34.
33. Una biografía sobre este eclesiástico se puede encontrar en VIGIL MONTES, Néstor – “Pedro
de Noronha (1423-1452)”. in FONTES, João Luís Inglês (ed.) – Bispos e arcebispos de Lisboa. Lisboa:
Livros Horizonte, 2018, pp. 495-501.
34. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Conselho real ou conselheiros do rei? A propósito dos
privados de D. João I” …, pp. 56-60.
35. ASV, Obligationes, registro 48A, fol. 110r. Citado en EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica Medii
Aevi. Vol.1. Ratisbona: Monasterii Sumptibus et typis librariae Regensbergianae, 1913, p. 196.
36. ASV, Obligationes, registro 48A, fol. 101r. Citado en EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica Medii
Aevi ..., p. 144.
37. Los hitos de la carrera eclesiástica de João Afonso Esteves de Azambuja, enormemente ligados
a su trayectoría diplomática, serán analizados detalladamente en el transcurso del artículo. Una
biografía de enorme interés sobre su figura la escribió COSTA, Antonio Domingues de Sousa – “D.
João Afonso de Azambuja, cortesão, bispo, arcebispo, cardeal e fundador do convento das
dominicanas do Salvador de Lisboa”. Arquivo Histórico Dominicano Português 4/2 (1989), pp. 1-150.
También resultan interesantes los trabajo de GRAF, Carlos Eduardo de Verdier – D. João Esteves da
Azambuja: exemplo da interligação de poderes (séculos XIV e XV). Porto: Universidade do Porto, 2011.
Dissertação de Mestrado; y de FONTES, João Luís Inglês – “João Afonso Esteves de Azambuja
(1402-1415)”. in FONTES, João Luís Inglês (ed.) – Bispos e arcebispos de Lisboa. Lisboa: Livros
Horizonte, 2018, pp. 471-484.
38. VILAR, Hermínia Vasconcelos – As dimensiões de um poder, a diocese de Évora na Idade Média.
Lisboa: Editorial Estampa, 1999, p. 97. VILAR, Hermínia Vasconcelos – “Na sombra da crise de
1383-85: o governo do bispo D. João de Évora”. Eborensia 39-40 (2008), pp. 103-116.
39. CUNHA, Rodrigo da – Historia ecclesiastica dos arcebispos de Braga. Vol. 2. Braga: Imprenta
Manoel Cardozo, 1635, p. 216.
40. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O desembargo régio: 1320-1433 …, p. 272.
41. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I editada por Luciano Cordeiro. Vol. 3. Lisboa:
Escriptorio, 1898, pp. 98-103 (parte I, cap. CLIX).
42. GOMES, Rita Costa – The Making of a Court Society …, p. 64.
43. ANTT, Chancelaria de D. João I, liv. 1, 29r.
44. ANTT, Chancelaria de D. João I, liv. 1, 113r.
45. CUNHA, Rodrigo da – Catálogo dos bispos do Porto (Segunda impressam addicionado e com
supplementos de varias memorias ecclesiasticas). Vol. 2. Porto: Oficina prototypa episcopal, 1742.
46. SYLVA, Joseph Soares de – Memorias para a História de Portugal que comprehendem o governo
delrey D. João I. Vol. 2. Lisboa: Officina de Joseph Antonio da Sylva, 1730, p. 581.
47. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. Fernando. Ed. Luciano Cordeiro. Vol. 2. Lisboa: Escriptorio,
1895, pp. 17-20 (cap. LXV). Citado en GOMES, Rita Costa – The Making of a Court Society. Kings and
Nobles in Late Medieval Portugal. Cambridge: Cambridge University Press, 2003, p. 115.
48. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. Fernando. Ed. Luciano Cordeiro. Vol. 3. Lisboa: Escriptorio,
1896, pp. 28-30 (cap. CXXIV).
49. COSTA, Antonio Domingues de Sousa – “D. João Afonso de Azambuja” …, p. 15.
50. ANTT, Chancelaria de D. João I, liv. 2, 87r.
51. FARELO, Mário – A oligarquía camarária de Lisboa (1325-1433). Lisboa: Universidade de Lisboa,
2009. Tese de doutoramento, p. 735.
52. LEITÃO, André de Oliveira – “Leges et canones. Portuguese law students in 14th and 15th
century Italy. Methodological horizons and problems”. in VILAR, Hermínia; BRANCO, Maria João
Medievalista, 28 | 2020
84
(Eds.) – Ecclesiastics and political state building in the Iberian monarchies, 13th-15th centuries, Évora:
Publicações do CIDEHUS, 2016, pp. 275-290.
53. ASB, Liber Secretus Iuris Caesarei, liber 1, 6v. Editado en SORBELLI, Albano (ed.) – Liber secretus
iuris cesarei dell’Universitá di Bologna. Vol. 1: 1378-1420. Bolonia: Università di Bologna, 1938, pp.
19-20; y en SÁ, Artur Moreira de (ed.) – Chartularium Universitatis Portugalensis (1288-1537). Vol. 2:
1377-1408. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, 1968, p. 206. SILVA, Nuno Espinosa Gomes da – “João
das Regras e outros juristas portugueses da Universidade de Bolonha (1378-1421)”. Revista da
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa 12 (1960), pp. 16-17.
54. COSTA, António Domingues de Sousa – Portugueses no Colégio de S. Clemente e Universidade de
Bolonha durante o século XV. Vol. 1. Bolonia: Publicaciones del Real Colegio de España, 1990, p. 269.
55. PIANA, Celestino – Nuovi documenti sull'Università di Bologna e sul Collegio di Spagna. Vol. 1.
Bolonia: Publicaciones del Real Colegio de España, 1976, p. 313.
56. MAZZETTI, Serafino – Repertorio di tutti i professori antichi e moderni della famosa Università e del
célebre istituto delle scienze di Bologna. Bolonia: Arnaldo Forni Editore, 1988, p. 203.
57. Arquivo da Casa da Moeda de Lisboa (ACML), Livro dos moedeiros, 2v. Editado como documento
4 en PERES, Damião – História dos moedeiros de Lisboa como classe privilegiada . Vol. 1. Lisboa:
Academia Portuguesa da História, 1964, p. 105
58. FONTES, João Luís Inglês – “João Afonso Esteves de Azambuja (1402-1415)” …, p. 472.
59. VILAR, Hermínia Vasconcelos – “Na sombra da crise de 1383-85: o governo do bispo D. João de
Évora” …, pp. 108.
60. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O desembargo régio: 1320-1433 …, p. 349.
61. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O desembargo régio: 1320-1433 …, pp. 330-331.
62. GUENÉE, Bernard – Occidente durante los siglos XIV y XV, los estados. Barcelona: Labor, 1973, p.
215.
63. ANTT, Gavetas, gaveta 14, maço 1, documento 20, fols. 3v.-10r. Editado en MARQUES, José – “O
senhorio de Braga no século XV: principais documentos para o seu estudo”. Bracara Augusta 46
(1997), pp. 39-51.
64. RIBEIRO, Luís Mário Araújo – A transição do senhorio episcopal portucalense para a Coroa em 1406.
Porto: Universidade do Porto, 2009. Dissertação de mestrado.
65. Podemos encontrar algunos datos sobre la biografía de este eclesiástico en ALMEIDA,
Fortunato – História da Igreja em Portugal. Vol. 2. Porto: Editorial Portucalense, 1967, p. 380.
66. Archivo General de la Corona de Aragón (ACA), Chancillería, registro 1256, fol. 188r. Editado en
ARNAUT, Salvador Dias – A crise nacional dos fins do século XIV. Vol. 1: A sucessão de D. Fernando.
Coimbra: Universidade de Coimbra, 1960, pp. 143-144.
67. Para conocer con más detenimiento las relaciones entre los cambios de fidelidad entre los
papas del Cisma de Occidente protagonizados por D. Fernando I de Portugal y sus vaivenes en
política exterior. OLIVEIRA SERRANO, César – Beatriz de Portugal, la pugna dinástica Avis-
Trastámara. Santiago de Compostela: Instituto de Estudios Gallegos Padre Sarmiento, 2005, pp.
72-82.
68. Biblioteca Apostolica Vaticana (BAV), Barberiniani latini, códice 872, fol. 99r-104r. Publicado en
COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana ..., Vol. 3/1, pp. 387-392.
69. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I... Vol. 3, p. 172 (parte I, cap. CLXXXII). COELHO,
André Madruga – “Ecclesiastical Support to the Master of Avis: An Analysis from the Aclamation
Act of 1385”. En la España Medieval 40 (2017), p. 153.
70. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I. Vol. 3, p. 172 (parte I, cap. CLXXXII).
71. Archivio di Stato di Bologna (ASB), Rogiti di Paolo Cospi, busta protoc. 16, fol. 37v. Editado como
documento 219 en PRATI, Ludovico – Chartularium Studii Bononiensis…, pp. 139-140, y en COSTA,
António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana …, Vol. 3/1, pp. 616-617.
72. Así lo sugiere COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana …, Vol.
3/1, pp. 387-392.
Medievalista, 28 | 2020
85
73. Se conserva la entrada correspondiente en el libro de aniversarias de la catedral de Coimbra,
ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, livro 5 (livro das calendas 2), 81v., editado en DAVID, Pierre, y
SOARES, Torquato da Sousa – Liber anniversariorum ecclesiae cathedralis colimbriensis: livro das
kalendas. Vol. 2. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1947, p. 45.
74. ANTT, Sé de Coimbra, 2º Incorporação, maço 94, documento 4498. Editado en GOMES, Saul
António – “Três bibliotecas particulares na Coimbra de Trezentos, em torno das elites e das
culturas urbanas medievais”. Revista de História das Ideias 24 (2003), pp. 45-49, y en COSTA, Avelino
de Jesus da – “A biblioteca e o tesouro da Sé de Coimbra nos séculos XI a XVI”. Boletim da Biblioteca
da Universidade de Coimbra 38 (1983), pp. 201-203.
75. Cristina Cunha y Judite Freitas lo consideraron conselheiro ad-hoc de D. Fernando, en CUNHA,
Maria Cristina; FREITAS, Judite – “Homens de estado, crises políticas e guerra: Portugal, séculos
XIV-XV”. in COELHO, Maria Helena da Cruz; GOMES, Saul António; REBELO, António Manuel
Ribeiro (coords.) – A guerra e a sociedade na Idade Média. VI Jornadas Luso-Espanholas de Estudos
Medievais. Vol. 2. Coimbra: Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais 2009, p. 139.
76. Arquivo Histórico da Câmara do Porto (AHMP), Livro B, fols. 302-308v. SOUSA, Armindo de – As
cortes medievais portuguesas: 1385-1490. Vol. 2. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica,
1990.
77. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I. Ed Luciano Cordeiro. Vol. 2. Lisboa: Escriptorio,
1897, pp. 185-188 (parte I, cap. CXII), y ANTT, Gavetas, gaveta 17, maço 6, documento 11, editado
como documento 4190 en As Gavetas da Torre do Tombo. Vol. 7. Lisboa: Centro de Estudos Históricos
Ultramarinos, 1968, pp. 252-255. SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar das relações politicas e
diplomaticas de Portugal com as diversas potencias do mundo, desde o principio da monarchia portugueza
ate aos nossos dias. Vol. 1. París: J. P. Aillaud, 1842, p. 247.
78. ANTT, Gavetas, gaveta XVII, maço 6, documento 10, editado como documento 4189 en As
Gavetas da Torre do Tombo. Vol. 7. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1968, pp.
198-241. SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar …, Vol. 1, p. 242.
79. Así lo señaló Salvador Días Arnaut pero no podemos confirmarlo ya que este autor no
refrenda este dato con una fuente primaria que tampoco hemos encontrado. ARNAUT, Salvador
Dias – A crise nacional dos fins do século XIV …, p. 43.
80. CUNHA, Maria Cristina; FREITAS, Judite – “Homens de estado, crises políticas e guerra:
Portugal, séculos XIV-XV”…, p. 139.
81. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I, ed. cit. Vol. 4. Lisboa: Escriptorio, 1897, p. 12 (parte
II, cap. I).
82. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O desembargo régio: 1320-1433 …, pp. 382-383.
83. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Conselho real ou conselheiros do rei? A propósito dos
privados de D. João I” …, pp. 9-68.
84. CONTAMINE, Philippe – “Le moyen âge occidental a-t-il connu des serviteurs de l’État?”. in
Les serviteurs de l’état au moyen âge. Actes du 29e congrês de la Societé des historiens médiévistes de
l’enseigneiment supérieur public. Pau: Publications de la Sorbonne, 1998, pp. 9-20.
85. OLAVO, Carlos – João das Regras, jurisconsulto e homem de estado, Guimarães: Lisboa: Livraria
Editora Guimarães e Cª, 1941. SILVA, Nuno Espinosa Gomes da – “João das Regras e outros juristas
portugueses da Universidade de Bolonha (1378-1421)”. Revista da Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa 12 (1960), pp. 5-35. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “O doutor João das
Regras no desembargo e no conselho régios (1384-1404). Breves notas”. in Estudos de história de
Portugal, Homenagem a A. H. de Oliveira Marques. Vol. 1: séculos X-XV. Lisboa: Estampa, 1982, pp.
241-253.
86. HOMEM, Armando Luís de Carvalho – “Diplomacia e diplomatas nos finais da Idade Média: a
propósito de Lourenço Anes Fogaça, chanceler-mor (1374-99) e negociador do Tratado de
Windsor”. in Colóquio comemorativo do VI Centenário do Tratado de Windsor. Porto: Universidade do
Porto, 1986, pp. 221-240. FARELO, Mario – “La représentation de la couronne portugaise à
Medievalista, 28 | 2020
86
Avignon et ses agents (1305-1377)”. Anuario de Estudios Medievales 40/2 (2010), pp. 723-763. FARIA,
Tiago Viúla de – “Por proll e serviço do reino? O desempenho dos negociantes portugueses do
Tratado de Windsor e suas consequências nas relações com Inglaterra”. in COELHO, Maria Helena
da Cruz; GOMES, Saul António; REBELO, António Manuel Ribeiro (coords.) – A guerra e a sociedade
na Idade Média. VI Jornadas Luso-Espanholas de Estudos Medievais. Vol. 2. Coimbra: Sociedade
Portuguesa de Estudos Medievais, 2009, pp. 209-227.
87. VIGIL MONTES, Néstor – “Cuestiones metodológicas acerca del rol de los eclesiásticos en la
formación de la diplomacia de las monarquías europeas en la Baja Edad Media”. Vegueta, Anuario
de la Facultad de Geografía e Historia de la Universidad de las Palmas de Gran Canaria 18 (2018), pp.
403-423.
88. NIETO SORIA, José Manuel – Iglesia y génesis del estado moderno en Castilla (1369-1480). Madrid:
Editorial Complutense, 2009, p. 291. Para observar el caso portugués DÍAZ MARCILLA, Francisco
José – “El clero en el contexto diplomático de la Guerra de los Cien Años: una mirada desde las
crónicas oficiales al período ibérico (1366-1388)”. in VIGIL MONTES, Néstor (dir.) – Comunicación
política y diplomacia en la Baja Edad Media. Évora: Publicações do CIDEHUS, 2019, pp. 47-74.
89. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar – “Eclesiásticos en la diplomacia castellana en el siglo XV”.
Anuario de Estudios Medievales 40/2 (2010), pp. 810-812.
90. PÉQUIGNOT, Stephane – Au nom du roi: practique diplomatique et pouvoir durant le règne de
Jacques II d’Aragon, 1291-1327. Madrid: Casa de Velázquez, 2009, p. 193.
91. NIETO SORIA, José Manuel – Iglesia y génesis del estado moderno en Castilla …, p. 292.
92. BECEIRO PITA, Isabel – “La consolidación del personal diplomático entre Castilla y Portugal,
1392-1455”. in GONZÁLEZ JIMÉNEZ, Manuel (ed.) – La Península Ibérica en la era de los
descubrimientos 1391-1492, Actas de las III Jornadas Hispano-Portuguesas de Historia Medieval. Vol. 2.
Sevilla: Consejería de Cultura de la Junta de Andalucía, 1997, p. 1736
93. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar – “Eclesiásticos en la diplomacia castellana”…, pp. 816-817.
94. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I, ed. cit., vol. 6. Lisboa: Escriptorio, 1898, pp. 9-12
(parte II, cap. CLXXIII). Citado en COELHO, Maria Helena da Cruz – D. João I: o que re-colheu Boa
Memória. Mem Martins: Círculo de Leitores, 2005, pp. 66-68.
95. No contamos con un testimonio escrito sobre el desarrollo de la embajada, pero podemos
datarla a través de un documento de 25 de junio de ese año en el que se da testimonio de unos
dineros que mercaderes genoves habían prestado a los delegados de la embajada y otro
documento de 1 de julio en el que se recompensan los servicios prestados en la embajada al
canónigo de Lisboa, ANTT, Chancelaria de D. João I, livro 5, 9r. y 5v. Publicados en COSTA, António
Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana…, Vol. 3/1, pp. 587-588.
96. ANTT, Gavetas, gaveta 18, maço 3, documento 25. Editado As Gavetas da Torre do
Tombo. Vol. 8. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1970, pp. 312-320.
97. ANTT, Gavetas, gaveta 17, maço 6, documento 7; y ANTT, Gavetas, gaveta 18, maço 3,
documento 26. Publicadas en As Gavetas da Torre do Tombo. Vol. 7. Lisboa: Centro de Estudos
Históricos Ultramarinos, 1968, pp. 161-163, y en As Gavetas da Torre do Tombo ..., Vol. 8, pp.
321-323.
98. ASV, Obligationes et Solutiones, registro 51, fols. 20v. y 66r. Publicado en COSTA, António
Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana ..., Vol. 3/1, pp. 515-516.
99. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I ..., Vol. 6, pp. 13-14 (parte II, cap. CLXXIV).
100. ANTT, Bulas, maço 5, documento 9; ASV, Registra Lateranensia, registro 12, fols. 10v.-12v.; y
ANTT, Leitura Nova, livro 38 (Livro I dos Reis), fols. 8r.-9v. Publicado en COSTA, António
Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana…, Vol. 2, p. CVIII-CXXII. Traducida al
portugués en la crónica de LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I ..., Vol. 6, pp. 17-21 (parte II,
cap. CLXXV). Citada en SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar das relações politicas e
Medievalista, 28 | 2020
87
diplomaticas de Portugal com as diversas potencias do mundo, desde o principio da monarchia portugueza
ate aos nossos dias. Vol. 8. Paris: J. P. Aillaud, 1853, pp. 393-394.
101. ANTT, Bulas, maço 26, documento 15; ASV, Registra Lateranensia, registro 12, fols. 40r.-41r.; y
ANTT, Leitura Nova, livro 38 (Livro I dos Reis), fols. 8r.-9v. Publicado en COSTA, António
Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana ..., Vol. 2, p. CVIII-CXXII. Traducida al
portugués en la crónica de LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I ..., Vol. 6, pp. 21-28 (parte II,
cap. CLXXVI). Citada en SANTAREM, Visconde de – Quadro elementa ..., Vol. 8, pp. 395-396.
102. ASV, Registra Lateranensia, registro 17, fol. 47r. Publicado en COSTA, António Domingues de
Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana…, Vol. 3/1, p. 589.
103. ASV, Registra Lateranensia, registro 12, fols. 64v.-65r., 159v. Publicado en COSTA, António
Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana…, Vol. 3/1, pp. 590-591.
104. SÁNCHEZ HERRERO, José – “Los obispos castellanos y su participación en el gobierno de
Castilla, 1350-1406”. in RUCQUOI, Adeline (coord.) – Realidad e imágenes de poder. España a fines de la
Edad Media. Valladolid: Ámbito Ediciones, 1988, pp. 106-107.
105. CUNHA, Rodrigo da – Historia ecclesiastica dos arcebispos de Braga …, p. 214.
106. CUNHA, Rodrigo da – Historia ecclesiastica dos arcebispos de Braga …, pp. 212-215.
107. ASV, Obligationes, registro 57, fol. 35. Citado en EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica Medii
Aevi…, p. 196.
108. SILVA, Manuel Telles de – Collecçam dos documentos e memorias da Academia Real da Historia
Portuguesa. Lisboa: Oficina de Pascual de Silva, 1724, pp. 138-139.
109. ASV, Registra Lateranensia, registro 29, fols. 188r.-188v. Publicado en BRÁSIO,António – “Erecção da Metrópole Lisbonense”. Lusitania Sacra. Lisboa 2 (1957), pp. 51-56.
110. ASV, Obligationes et Solutiones, registro 48, 152v. Publicado en COSTA, António Domingues de
Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana …, Vol. 3/1, p. 592.
111. Expresión repetida en las dos concesiones, la del padroado en ANTT, Chancelaria de D. João I,
livro 2, 45r.-45v. Publicado en COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae
Vaticana ..., Vol. 3/1, pp. 776-777; y la de la jurisdicción en ANTT, Chancelaria de D. João I, livro 2,
91v.-92r. Publicado en COSTA, António Domingues de Sousa – Monumenta Portugaliae Vaticana…,
Vol. 3/1, pp. 777-778.
112. RUSSELL, Peter Edward – The English intervention in Spain and Portugal…, pp. 398-399.
SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar das relações politicas e diplomaticas de Portugal com as
diversas potencias do mundo, desde o principio da monarchia portugueza ate aos nossos dias. Vol. 14.
París: J. P. Aillaud, 1865, pp. 82-94.
113. AGS, Patronato Real, legajo 47, documento 27. SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar....
Vol. 1, pp. 275.
114. ANTT, Manuscritos, número 364, fol. 457r. British Museum of London (BML), Biblioteca Cotton,
Nero, B. I., fol. 41r. Editado en PIMENTA, Alfredo – “As treguas de Monção de 1389”. in Idade-Média
(Problemas & soluçõens). Lisboa: Edições Ultramar, 1946, pp. 320-328.
115. SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar..., Vol. 1, pp. 276-277.
116. AGS, Patronato Real, legajo 47, documentos 29,4, 30, 31 y 32, y legajo 49, documento 1.
117. AGS, Patronato Real, legajo 47, documento 33, editado como documento 5 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 93-96.
118. LÓPEZ DE AYALA, Pedro – Crónica de Enrique III. in Crónicas de los reyes de Castilla. Ed. Eugenio
Llaguno Amirola. Vol. 1: Crónicas de Pedro I, Enrique II, Juan I y Enrique III. Madrid: Imprenta de
Don Antonio de Sancha, 1779, pp. 509-510 (Crónica de Enrique III, año IV, cap. V).
119. AGS, Patronato Real, legajo 49, documento 10 editado como documento 7 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 96-98.
120. SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar ..., Vol. 1, p. 278.
Medievalista, 28 | 2020
88
121. MONTOJO JIMÉNEZ, Carlos – La diplomacia castellana bajo Enrique III, estudio especial de la
embajada de Ruy González de Clavijo a la corte de Tamerlán. Madrid: Escuela Diplomática, 2004 (1944),
p. 67. MITRE FERNÁNDEZ, Emilio – “Notas sobre la ruptura castellano-portuguesa de 1396”.
Revista Portuguesa de História 12 (1969), pp. 213-221.
122. SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar ..., Vol. 1, pp. 281-282.
123. BECEIRO PITA, Isabel – “Las negociaciones entre Castilla y Portugal en 1399”. Revista da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto: História (Série II) 13 (1996), p. 168.
124. ANTT, Gavetas, gaveta 17, maço 8, documento 32, editada con datación errónea en 28 de
febrero de 1392, que debemos de corregir a 1399 por encontrarse todos los protagonistas y la
coyuntura de las negociaciones de esa fecha, editado como documento 2391 en As Gavetas da Torre
do Tombo. Vol. 2. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1962, pp. 762-764.
125. Paradojicamente en la breve descripción de la actuación de Nuno Álvares de Pereira en su
propia crónica del Condestable, se omite la participación de Rui Lourenço y Álvaro Peres. LOPES,
Fernão – Chronica do Condestabre de Portugal Dom Nuno Alvarez Pereira. Ed. Joaquim Mendes dos
Remédios. Lisboa: F. Franca Amado, 1911, pp. 188-191 (cap. LXXII).
126. En palabras de Fernão Lopes, el poder otorgado por D. João I para las negociaciones a sus
cuatro delegados: Nuno Álvares Pereira, João Afonso Esteves de Azambuja, Rui Lourenço y Álvaro
Peres, exigía la unanimidad para las decisiones tomadas: “E posto que os quoatro acordasem e
huu delles nã, que seu acordo fose nada”; LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I, ed. cit., vol. 7.
Lisboa: Escriptorio, 1898, p. 44 (parte II, cap. CLXXIX).
127. SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar ..., Vol. 1, p. 282.
128. AGS, Patronato Real, legajo 47, documento 34, editado como documento 18 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 116-117.
129. EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica Medii Aevi …, p. 196.
130. VEAS ARTESEROS, Francisco de Asís – Itinerario de Enrique III. Murcia: Universidad de Murcia,
2003, p. 111.
131. ANTT, Cabido da Sé de Coimbra, livro 5 (livro das calendas 2), fol 81v., editado en DAVID,
Pierre, y SOARES, Torquato da Sousa – Liber anniversariorum ecclesiae cathedralis colimbriensis …, p.
45.
132. SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar ..., Vol. 1, pp. 283-285.
133. Arquivo Histórico da Câmara do Porto (AHCP), Vereações, livro 2, fol 47v., editada como
documento 119 en Monumenta Henricina. Vol. 1. Coimbra: Comissão Executiva das Comemorações
do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1960, p. 277.
134. AGS, Patronato Real, legajo. 49, documento 7, editado como documento 31 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 135-136.
135. AGS, Patronato Real, legajo 49, documentos 3 y 9, editados como documentos 32 y 34 en
SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 136-158 y 162-164.
136. AGS, Patronato Real, legajo 49, documento 4, editado como documento 33 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 159-162.
137. AGS, Patronato Real, legajo 49, documento 9, editado como documento 34 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 162-164.
138. LOPES, Fernão – Chronica de el-rei D. João I …, Vol. 7, p. 70 (parte II, cap. CLXXXVIII).
139. AGS, Patronato Real, legajo 49, documento 7, editado como documento 31 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 135-136.
140. AGS, Patronato Real, legajo 49, documento 4, como documento 33 en SUÁREZ FERNÁNDEZ,
Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 159-162.
141. AGS, Patronato Real, legajo 49, documento 9, editado como documento 34 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla…, pp. 162-164. Esto supone que debemos de
refutar la datación del 29 de mayo de 1402 dada por EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica Medii
Aevi …, Vol.1, p. 507.
Medievalista, 28 | 2020
89
142. AGS, Estado, Castilla, legajo 1-1º, fol. 86. Documento en cuya edición se data sinargumentos suficientes en diciembre de 1405, editado como documento 372 en SUÁREZFERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, p. 186.
143. AGS, Patronato Real, legajo 49, documento 8, editado como documento 42 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis, SUÁREZ FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 170-171.
144. AGS, Patronato Real, legajo 49, documento 14, editado como documento 43 en SUÁREZ
FERNÁNDEZ, Luis – Relaciones entre Portugal y Castilla …, pp. 172-175.
145. GONZÁLEZ SÁNCHEZ, Santiago – Las relaciones exteriores de Castilla a comienzos del siglo XV. La
minoría de Juan II (1407-1420). Madrid: Comité Español de Ciencias Históricas, 2013, pp. 134-142.
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente – “Relations between Portugal and Castile in the Late Middle
Ages - 13th-16th centuries”. E-Journal of Portuguese History 1/1 (2003), p. 13.
146. Todo este proceso de las frustradas negociaciones de renovación de las treguas de 1402
sucedidas entre 1407 y 1411 aparece descrito en SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar ...,
Vol. 1., pp. 285-288.
147. Pedro de Noronha representó a D. Duarte en la celebración por poderes de su matrimonio
con Leonor de Aragón. ANTT, Gavetas, gaveta 17, maço 4, documento 8, y Archivo General de la
Corona de Aragón (ACA), Cancillería Real, Registro 2692, fols. 13v.-19v. editado como documento
91 en Monumenta Henricina … Vol. 3, pp. 180-197. Posteriormente acompañó a la princesa en su
viaje hacia Portugal a través de Castilla como se relata en la crónica de CARRILLO DE HUETE,
Pedro – Crónica de Pedro Carrillo de Huete, halconero de Juan II de Castilla. Ed. Juan de Mata Carriazo.
Madrid: Espasa-Calpe, 1946, pp. 18-19 (cap. 1). SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar .... Vol.
1, p. 291.
148. BABO, Duarte – Os embaixadores portugueses nos reinos ibéricos (1431-1474): um estudo
sociodemográfico. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2017. Tese de
Doutoramento.
149. VIGIL MONTES, Néstor – “Un eclesiástico para un reinado: el servicio del obispo
conimbricense João Galvão a D. Afonso V de Portugal”. Lusitania Sacra 35 (2017), pp. 185-206.
150. MENDONÇA, Manuela – D. Jorge da Costa, cardeal de Alpedrinha. Lisboa: Edições Colibri, 1991.
151. MILLET, Hélène – “La participation de Portugal au Concile de Pise (1409)” …, pp. 233-254.
152. ASV, Registra Supplicationum, registro 145, fol. 145r. Editado como documento 147 en
Monumenta Henricina …, Vol. 1, p. 336. Citada en SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar ...,
Vol. 8, p. 402.
153. ZURARA, Gomes Eanes de – Crónica da Tomada de Ceuta. Ed. Francisco Maria Esteves Pereira.
Lisboa: Academia das Sciencias de Lisboa, 1915, p. 56 (cap. 52).
154. BAEZA HERRATZI, Alberto – Bulas de cruzada en la reconquista de Ceuta. Ceuta: Caja de ahorros
y monte de piedad de Ceuta, 1987, p. 12.
155. EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica Medii Aevi …, p. 507.
156. VILAR, Hermínia Vasconcelos – “Bispos na conquista de Ceuta ou os possiveis significados de
uma ausência”. in COELHO, Maria Helena da Cruz; HOMEM, Armando Carvalho (coord.) – As
décadas de Ceuta (1385-1460). Lisboa: Caleidoscópio e Universidade Autónoma de Lisboa Luís de
Camões, 2018, pp. 93-108.
157. PEREIRA, Reina Marisol Troca – Discursos dos embaixadores portugueseses no Concílio de
Constança: 1415. Coimbra: Universidade de Coimbra, 1999. Disertação de mestrado, pp. 42-45.
158. En este caso seguimos la teoría apuntada por HOMEM, Armando Luís de Carvalho – O
desembargo régio: 1320-1433…, pp. 330-331.
159. ACA, D. Fernando I, caja 12, documento 2120. Editado como documento 114 en Monumenta
Henricina…, Vol. 2, pp. 237-239.
Medievalista, 28 | 2020
90
160. Así aparece en la suplica enviada por D. João I de Portugal al papa Martin V el 4 de abril de
1418 ASV, Registra Supplicationum, registro 110, fol. 178r. Editado como documento 141 en
Monumenta Henricina…, Vol. 2, pp. 277-281.
161. ASV, Registra Vaticana, registro 352, fol. 153v. Editado como documento 143 en Monumenta
Henricina … Vol. 2, pp. 282-286. Citada en SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar ... Vol. 8, pp.
393-394.
162. ASV, Registra Lateraniense, registro 195, 289r. ANTT, Bulas, maço 11, documento 13. Editado
como documento 144 en Monumenta Henricina. Vol. 2. Coimbra: Comissão Executiva das
Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1962, pp. 287-289. Citada en
SANTAREM, Visconde de – Quadro elementar ... Vol. 8, pp. 404-405.
163. Así lo atestiguan las numerosas súplicas y bulas publicadas en Monumenta Henricina. Vols.
2-3. Coimbra: Comissão Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D.
Henrique, 1962-1964. Siendo la base material de la expasión portuguesa según WITTE, Charles-
Martial de – Les bulles pontificales et l’expansion portugaise au XVe siècle. Lovaina la Nueva:
Université catholique de Louvain, 1958.
164. EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica Medii Aevi …, p. 407.
165. ASV, Registra Lateraniense, registro 32, 131r. Citado en EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica
Medii Aevi …, p. 236.
166. ASV, Registra Lateraniense, registro 233, 301r. Citado en EUBEL, Konrad – Hierarchia Catholica
Medii Aevi …, p. 507.
167. DÍAZ MARTÍN, Luis Vicente – “Los inicios en política internacional de Castilla (1360-1410)”.
in RUCQUOI, Adeline (coord.) – Realidad e imágenes de poder. España a fines de la Edad Media.
Valladolid: Ámbito Ediciones, 1988, pp. 57-83.
RESÚMENES
La llegada al trono de la dinastía portuguesa Avis encarnada en la persona de Juan I de Portugal
supuso la necesidad de llevar a cabo iniciativas diplomáticas destinadas a garantizar la
supervivencia de la dinastía, la cual entrañaba alcanzar la legitimación de la nueva situación
política. Eclesiásticos ligados a la administración del reino, entre los que destacan figuras como
João Afonso Esteves de Azambuja o Rui Lorenço, pusieron sus conocimientos, su experiencia y su
prestigio al servicio de las exigencias del programa diplomático de la nueva dinastía. Unos
recursos humanos escasos y apreciados que no pudieron abarcar todos los campos de actuación
de la política exterior joanina, y se especializaron en tres cuestiones: las negociaciones con el
pontificado, la construcción de la paz con los castellanos y la participación en la solución del
Gran Cisma de Occidente mediante los concilios ecuménicos. Negociadores duros y persistentes
que aprovecharon estos encargos para progresar en su carrera eclesiástica mediante la
consecución de beneficios, unas veces ofrecidos por el pontífice para ganarse su favor, y otras
veces por su monarca como reconocimiento tras alcanzar exitosamente los objetivos marcados.
The accesion to the throne of the Portuguese Avis dynasty embodied in the person of John I of
Portugal implied the need to carry out diplomatic initiatives aimed at guaranteeing the survival,
which involved achieving the legitimation of the new political situation. Distinguised
ecclesiastics linked to the administration of the kingdom, among which was João Afonso Esteves
de Azambuja or Rui Lorenço, put their knowledge, experience and prestige at the service of the
Medievalista, 28 | 2020
91
demands of the diplomatic program of the new dynasty. Scarce and appreciated human
resources that they could not cover all the fields of action of the John I of Portugal’s foreign
policy, reason why they specialized in three questions: the negotiations with the pontificate to
legitimize John I of Portugal, the construction of peace with the Kingdom of Castile, and the
participacion in the ecumenical councils that led to a solution for the Great Occidental Schism.
Hard and persistent negotiators who took advantage of these diplomatic assignments to advance
in their ecclesiastical career by achieving ecclesiastical benefits, sometimes offered by a Pope,
which tried to win their favor, and other times offered by their monarch as recognition after
successfully achieving the diplomatic objectives.
ÍNDICE
Keywords: Diplomacy, Ambassadors, Ecclesiastics, Legitimation, Avis dynasty
Palabras claves: Diplomacia, Embajadores, Eclesiásticos, Legitimación, Dinastia Avis
AUTOR
NÉSTOR VIGIL MONTES
Universidade de Évora, CIDEHUS - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades 7000
Évora, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0002-1163-2228
Medievalista, 28 | 2020
92
administración y esfera doméstica (siglos XII-XV)
Clérigos al servicio de las Coronasde León y Castillaadministración y esfera doméstica (siglos XII-XV)
Clergy at the service of the Crown: Leon and Castile administration and kings’
domestic sphere (12th-15th centuries)
Francisco José Díaz Marcilla
NOTA DEL AUTOR
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para aCiência e a Tecnologia, I.P., no âmbito da celebração do contrato-programa previsto nosnúmeros 4, 5 e 6 do art. 23.º do D.L. n.º 57/2016, de 29 de agosto, alterado pela Lei n.º57/2017, de 19 de julho.
Introducción
1 El presente artículo recoge los resultados de la investigación que se llevó a cabo en el
marco del proyecto DEGRUPE (“A dimensão europeia de um grupo de poder: o clero e aconstrução política das monarquias ibéricas, séculos XIII-XV”), realizado entre 2013 y2015. En ese proyecto tuve ocasión de trabajar como becario de investigación,ocupándome principalmente de la documentación relativa a los reinos de Castilla yLeón desde 1157 hasta 1454. Fue así posible individuar a 1985 perfiles de clérigos alservicio de la Corona o vinculados de algún modo con ella, presentes en 2385documentos de cancillería relativos a los reinos de León y Castilla, tanto en su fase dereinos diferenciados como único reino a partir de 1230, hasta el final del reinado deJuan II1. Todos estos clérigos desempeñaban sus funciones en dos ámbitos concretos: laadministración real y la esfera del servicio doméstico a la monarquía.
Medievalista, 28 | 2020
93
2 Tanto el tema de los clérigos y sus relaciones de la monarquía, como la constitución y
características de las diferentes cancillerías regias, son asuntos que ya han sidotratados y analizados convenientemente para varios de los reinados estudiados2. Elpresente trabajo pretende aportar una información más detallada de los clérigospresentes en la documentación de cancillería, presentando las listas de componentes deese estamento que desempeñan funciones tanto en la administración central como enel servicio doméstico a la monarquía. Tarea secundaria de este trabajo será indicar laposible evolución de los diferentes tipos de cargos desde un punto de vista diacrónico.
3 Por tanto, se acometerá, en primer lugar, una presentación por categorías de los roles
ocupados por eclesiásticos en la administración del reino; y, en segundo lugar, seanalizarán los tipos de funciones desempeñados por los clérigos en el ámbito de laesfera doméstica de la monarquía, ámbito más restringido, pero igual de relevante en elfuncionamiento de la monarquía medieval.
4 No obstante, conviene hacer una aclaración muy importante. Las tablas que se
encontrarán a lo largo del artículo han sido elaboradas con los datos extraídosexclusivamente de la documentación de la cancillería regia y de las cancillerías de lasprincipales sedes episcopales – como los arzobispados de Toledo, Santiago y Sevilla –,motivo por el cual no siempre aparecen todos los eclesiásticos que se sabe queejercieron determinados cargos. La motivación de esta elección fue la de anteponer lainformación que emana directamente del círculo monárquico a la proveniente de otrasfuentes literarias o de otra índole. Así, se pueden comprobar, de una manera másfidedigna, las preferencias de los monarcas a la hora de mencionar o especificar quiénesestaban a su lado.
1. Clérigos en la administración real: cargos yfunciones
1.1. Consejero real
5 Siguiendo con el primer aspecto que se va a estudiar – los cargos y las funciones en el
aparato administrativo del reino –, existe una primera posición de alto rango, elconsejero real. Han sido identificados 64 clérigos en la documentación de cancillería3.
Tabla 1
NOMBRE CARGO Y AÑOS4 CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Mauricio*5 Consejero Real (1232) Obispo de BurgosFernando
III
2. Bernardo* Consejero Real (1239) Obispo de SegoviaFernando
III
3. Gonzalo* Consejero Real (1239) Obispo de CuencaFernando
III
Medievalista, 28 | 2020
94
4. Juan de Soria*
= T3N236Consejero Real (1239) Obispo de Osma
Fernando
III
5. Lope* Consejero Real (1239) Obispo de CórdobaFernando
III
6. Rodrigo
Jiménez de Rada*
= T3N27 y T18N5
Consejero Real (1239) Arzobispo de ToledoFernando
III
7. Martín
Rodríguez*Consejero Real (1239) Maestre de Calatrava
Fernando
III
8. (Anónimo)* Consejero Real (1250-1251)Gran Comendador de la Orden del
Hospital
Fernando
III
9. Payo Gómez* Consejero Real (1250-1251) Maestre de la Orden del TempleFernando
III
10. Juan Arias*
= T3N29Consejero Real (1250) Arzobispo de Santiago
Fernando
III
11. Raimundo de
Losana*
= T4N13, T14N1 y
T18N9
Consejero Real (1250-1251) Obispo de SegoviaFernando
III
12. Fernando
Ordóñez*Consejero Real (1250-1251) Maestre de la Orden de Calatrava
Fernando
III
13. Pelayo Pérez
Correa*
= T10N2
Consejero Real (1250-1251) Maestre de SantiagoFernando
III
14. Rodrigo* Consejero Real (1250-1251) Obispo de PalenciaFernando
III
15. Felipe* Consejero Real (1261) Arzobispo de Sevilla Alfonso X
16. Sancho de
Castilla*
= T3N30
Consejero Real (1261) Arzobispo de Toledo Alfonso X
17. Sancho de
Aragón
= T3N31 y T16N11
Consejero del Príncipe D.
Fernando (1275)Arzobispo de Toledo Alfonso X
18. Fernán Pérez
= T4N22Consejero Real (1287-1288) Arzobispo de Sevilla Sancho IV
Medievalista, 28 | 2020
95
19. Gonzalo
García Gudiel
= T3N35 y T4N18
Consejero Real (1287) Arzobispo de Toledo Sancho IV
20. Juan
Fernández de
Sotomayor*
= T4N25 y T3N36
Consejero Real (1287) Obispo de Tuy Sancho IV
21. Martín
= T4N23, T6N11 y
T10N4
Consejero Real (1287) Obispo de Astorga Sancho IV
22. Juan Osorez
= T10N5, T11N1 y
T20N4
Consejero Real (1295-1301) Maestre de SantiagoFernando
IV
23. Rodrigo Pérez
= T19N1 y T20N3Consejero Real (1301) Maestre de Calatrava
Fernando
IV
24. Alfonso*
=T3N34Consejero Real (1302) Obispo de Coria
Fernando
IV
25. García López* Consejero Real (1305) Maestre de CalatravaFernando
IV
26. Juan Núñez*
= T4N39Consejero Real (1345) Maestre de Calatrava Alfonso XI
27. Gil* Consejero Real (1345) Arzobispo de Toledo Alfonso XI
28. Pedro*
= T16N26Consejero Real (1345) Arzobispo de Santiago Alfonso XI
29. Diego Arias
MaldonadoConsejero Real (1355) Arcediano de Toro Pedro I
30. Juan Serrano Consejero Real (1401) Obispo de SigüenzaEnrique
III
31. Juan Vázquez
de CepedaConsejero Real (1407) Obispo de Segovia Juan II
32. Sancho de
Rojas
= T2N2, T3N66,
T8N12 y T9N22
Consejero del regente
infante D. Fernando
(1407-1410)
Obispo de Palencia Juan II
Medievalista, 28 | 2020
96
33. Juan de
Illescas
= T2N3 y T8N15
Consejero Real (1407-1408
y 1413-1414)Obispo de Sigüenza Juan II
34. Gutierre
Álvarez de Toledo
= T3N68 y T10N10
Consejero Real (1413-1445)
Obispo de Palencia (1423-1439);
Arzobispo de Sevilla (1439-1442);
Arzobispo de Toledo (1442-1445)
Juan II
35. Fernando de
Illescas
= T9N10, T15N5 y
T18N10
Consejero Real (1416) Fraile Franciscano Juan II
36. Fernando
Pérez de Ayala
=T9N30
Consejero Real (1416) Clérigo Juan II
37. Diego de
Anaya y
Maldonado
= T8N9 y T9N27
Consejero Real (1416 y
1421)
Obispo de Cuenca (1407-1418);
Arzobispo de Sevilla (1418-1431)Juan II
38. Alfonso de
Cartagena
= T8N18 y T9N35
Consejero Real (1418 y
1427)
Deán de Segovia (1418), Canónigo de
Burgos (1427)Juan II
39. Lope de
Mendoza
= T8N6, T9N12 y
T16N49
Consejero del infante
Enrique de Aragón (1420);
Consejero Real (1427-1441)
Arzobispo de Santiago Juan II
40. Diego Gómez
de Fuensalida
= T8N20
Consejero Real (1421-1429)Obispo de Zamora (1413-1424); Obispo
de Ávila (1424-1437)Juan II
41. Fortún
Velázquez de
Cuéllar
= T8N21, T10N11
y T16N80
Consejero Real (1421-1453)
Canónigo de Segovia (1426); Canónigo
de Oviedo y León (1434); Deán de
Segovia (1435)
Juan II
42. Juan Martínez
de ContrerasConsejero Real (1422-1433) Arzobispo de Toledo Juan II
43. Diego Bedán
de Mayorga
= T9N40
Consejero Real (1424-1437) Obispo de Cartagena Juan II
Medievalista, 28 | 2020
97
44. Sancho López
de Velasco
= T9N39
Consejero Real (1424) Obispo de Salamanca Juan II
45. Francisco de
Soria
= T9N41
Consejero Real (1427) Fraile Franciscano Juan II
46. Gonzalo de
Santa María
= T8N23 y T9N31
Consejero Real (1427) Obispo de Plasencia Juan II
47. Pedro López
de Miranda
= T8N24 y T16N77
Consejero Real (1427-1444)
Canónigo de Burgos (1425); Abad de
Santander (1431); Obispo de Coria
(1438-1443); Obispo de Calahorra
(1443-1453)
Juan II
48. Alfonso de
Cusanza
= T15N16
Consejero Real (1427-1437) Obispo de León (1424-1437) Juan II
49. Álvaro Núñez
de Isorna
= T3N67, T8N14 y
T9N23
Consejero Real (1427-1442) Obispo de Cuenca (1418-1445) Juan II
50. Sancho de
Rojas
= T8N22 y T9N44
Presidente del Consejo
Real (1431); Consejero Real
(1441-1447)
Obispo de Astorga (1423-1440); Obispo
de Córdoba (1440-1447)Juan II
51. Pedro de
Bocanegra
= T9N42 y T16N84
Consejero Real (1436) Obispo de Tuy Juan II
52. Pedro de
Castilla
= T8N25
Consejero Real (1436,
1441-1442 y 1452)
Obispo de Osma (1433-1440); Obispo de
Palencia (1440-1461)Juan II
53. Lope de
Barrientos
= T3N73, T8N28,
T15N17 y T19N5
Consejero Real (1439-1440
y 1441-1469); Consejero
del Príncipe (1443-1444)
Obispo de Segovia (1438-1441); Obispo
de Ávila (1441-1445); Obispo de Cuenca
(1445-1469)
Juan II
54. Juan de
Cervantes
= T9N32
Consejero Real (1440) Obispo de Ávila Juan II
55. Pedro
Fernández
Cabeza de Vaca
Consejero Real (1440-1448) Obispo de León Juan II
Medievalista, 28 | 2020
98
56. Juan de
Cerezuela
= T3N72
Consejero Real (1441) Arzobispo de Toledo Juan II
57. Gonzalo de
Estúñiga
= T11N8
Consejero Real (1441-1443) Obispo de Jaén Juan II
58. Juan Alfonso
de Cuenca o
Cherino
= T9N63 y T16N75
Consejero Real (1442) Clérigo Juan II
59. Alfonso
Carrillo de Acuña
=T9N49
Consejero Real (1446) Arzobispo de Toledo Juan II
60. Rodrigo de
Luna
= T8N30 y
T16N117
Consejero Real (1448) Abad de Jerez Juan II
61. Gonzalo de
Vivero
= T8N31
Consejero Real (1449) Obispo de Salamanca Juan II
62. Alfonso de
Madrigal
= T8N32, T9N62 y
T16N90
Consejero Real (1453)Maestrescuela de Salamanca (1446);
Obispo de Ávila (1454-1455)Juan II
63. Alfonso de
FonsecaConsejero Real (1453) Obispo de Ávila (1445-1454) Juan II
64. Alfonso
Vázquez Peleas
=T15N19 y
T16N121
Consejero Real (1454) Abad de Parraces (1454) Juan II
6 Es uno de los cargos más importantes de la administración, ya que el consejero real está a
contacto directo con el rey, sugiriendo estrategias y acciones, así como dandorecomendaciones sobre aspectos concretos7.
7 A la vista de los datos, se pueden realizar una serie de observaciones de sumo interés
sobre la evolución histórica de la clerecía ocupando esta figura de la administraciónreal. En primer lugar, hay que comentar que, con la definición expresa en ladocumentación de consejero real, no es hasta el reinado de Fernando III, ya en 1232,cuando aparece. Además, todos los denominados de esta manera lo son únicamenteporque el rey les pide su presencia en la corte para dirimir una cuestión, que puede serun pleito o un asunto puntual. Es decir, no son un cargo como tal, sino una función que
Medievalista, 28 | 2020
99
puntualmente el rey delega en personas de su confianza y que, una vez terminada esanecesidad, finaliza. Quizá este sea el motivo para que la denominación de consejero real
no acompañe en la documentación a ninguno de los clérigos que ejercieronmomentáneamente esa tarea, como ocurre en cambio con casi todo el resto de loscargos que veremos más adelante.
8 Se observa una cierta cuestión de confianza con el pasar del tiempo. Si durante los
reinados de Fernando III hasta Alfonso XI, los clérigos son mencionados como consejeros
explícitamente porque son llamados para ayudar al rey a tomar una decisión, conposterioridad las menciones parecen aludir a una presencia más constante. De hecho,sabemos de estos consejeros muchas veces porque el rey les otorga un privilegio, conexpresiones como “de quien yo más me fío”8.
9 Sobre el grado jerárquico en el seno de la Iglesia que ocupaban estos eclesiásticos, cabe
comentar que la mayoría pertenecen a las más altas esferas de la Iglesia castellana,tanto arzobispos como obispos. Especial mención hay que hacer de los maestres de lasórdenes militares, presentes como consejeros en los reinados de Fernando III, FernandoIV y Alfonso XI, pero desapareciendo después de este cargo con posterioridad. Latendencia antes mencionada cambia con Juan II – con la excepción del único clérigo queocupa ese cargo en el reinado de Pedro I – ya que a los prelados se les suman clérigos demenor rango, como abades o canónigos, o, incluso, simples frailes.
10 No obstante, no hay que olvidar el vínculo existente entre los consejeros y otras figuras
relevantes dentro del ámbito de la esfera doméstica, como es el caso de los confesores ylos cancilleres. Se puede comprobar también cómo varios de los nombres que aparecencomo consejeros desempeñarán igualmente las funciones de confesor o canciller,especialmente durante el siglo XV.
11 Antes de cerrar este apartado, cabe incluir en él a aquellos religiosos que
desempeñaron la importantísima y crucial tarea de regencia, especificada como tal enla documentación solamente en el período de menoridad de Enrique III y Juan II. Elnúmero es muy escaso (4), pues no es hasta la llegada de los Trastámara que la Iglesia esrequerida para desempeñar esta función. Siendo siempre una función colegiada conotros miembros de la realeza o de la nobleza, puede equipararse al cargo de consejero.
Tabla 2
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Pedro TenorioMiembro del Consejo de
Regencia (1390-1393)Arzobispo de Toledo (1377-1399)
Enrique
III
2. Sancho de Rojas
= T1N32, T3N66,
T8N12 y T9N22
Regente (1411-1419)Obispo de Palencia (1403-1415);
Arzobispo de Toledo (1415-1422)Juan II
3. Juan de Illescas
= T1N33 y T8N15Regente (1412-1413) Obispo de Sigüenza Juan II
Medievalista, 28 | 2020
100
4. Pablo de Santa
María
= T3N64, T9N21,
T16N42 y T19N3
Regente (1412-1416)
representando a Fernando I de
Aragón
Obispo de Cartagena Juan II
1.2. Canciller
12 Se va a utilizar aquí la división entre las dos funciones, detectadas en las cancillerías
medievales castellanas en los reinados de Alfonso X hasta Alfonso XI, identificadas porMarina Kleine9: la figura del canciller, que parece más ligada a una cuestión de prestigioque a una función específica en la corte; y la del iussor o aquel que transmite o manda laorden real de redactar un documento legal, quien sí tiene una función bien clara dentrode la cancillería real, aunque careciendo de un título específico para el cargo, pudiendoasí ser desempeñada por el propio canciller, un notario mayor, un escribano o la figura quese ha denominado iussor. El primero tendría una cierta función de supervisor de lossegundos, si bien no se puede concluir, por los datos emanados de la documentación,que esta aseveración sea la correcta.
13 En lo concerniente a la función de canciller, se puede afirmar que es la figura que ejerce
el control último teórico sobre la manera definitiva en que se redactan los textos quetransmiten las órdenes reales10. Cabe comentar que desde 1206 la cancillería real deCastilla fue asignada al arzobispo de Toledo, a través de un privilegio otorgado porAlfonso VIII. Por su parte, Fernando II de León confirmó en 1180 el privilegio que hacíarecaer el cargo de canciller real de ese reino en el arzobispo de Santiago de Composteladesde que así lo decretara Alfonso VII en 114011. Sin embargo, concretamente paraLeón, se puede constatar la existencia de varios cancilleres al mismo tiempo durante losreinados de Fernando II y Alfonso IX, como se podrá apreciar en la Tabla 3. Igualmente,en Castilla se dan casos de convivencia entre el teórico canciller real, el arzobispo deToledo, y otros cancilleres que ejercieron el cargo con mucho más poder efectivo. Deahí, el pensar que se trató de un privilegio de carácter más económico queadministrativo, en cuanto la extensión de un documento válido por la cancillería regiaconllevaba unas tasas que irían a las arcas del arzobispo en cuestión12.
14 Tras la unión de los reinos de León y Castilla, Fernando III certificó la disociación entre
la connotación honorífica y la función administrativa efectiva. Con todo, fue conAlfonso X que se procedió a desenvolver la cancillería en cuatro figurasadministrativas: canciller mayor de Castilla, canciller mayor de León, canciller mayor de
Andalucía y un menos específico canciller mayor del Rey13. Esta división también seprodujo en la categoría administrativa inmediatamente inferior, las notarías, como severá en breve.
15 Cabe comentar aquí que una atenta lectura de lo que disponen las Partidas respecto al
cargo de canciller, podría llevar a pensar que no se contemplaba en un primermomento la presencia de eclesiásticos. Son dos los motivos de esta idea: por un lado, elhecho de diferenciarse de una manera bastante explícita el ámbito del capellán del quepertenecerá al canciller, especificándose que el primero atañe a las cuestionesespirituales, mientras que el segundo se vincula a las cuestiones temporales; por otrolado, cuando el texto indica que “el rey debe escoger tal hombre para este oficio que sea
Medievalista, 28 | 2020
101
de buen linaje”, siendo mediados del siglo XIII una época en que aún no hay presenciamasiva de nobles entre la clerecía, resulta dudoso que Alfonso X pensaraespecíficamente en clérigos para la cancillería14.
16 Tras el reinado del Rey Sabio, sucede en época de Sancho IV que dos eclesiásticos
desempeñarán las tres funciones administrativas territoriales al mismo tiempo, tanto anivel de la cancillería como a nivel de las notarías. Se trata de Gonzalo García Gudiel,arzobispo de Toledo, y de Martín, obispo de Astorga, desde 1290 hasta el final delreinado en 1295. Las causas de esta especie de intento de unificación administrativa noestán claras, aunque ya con Fernando IV se vuelve a la división por territorios. Amediados de la centuria siguiente se añadió otro tipo de canciller: el canciller mayor de la
Poridat (Secretos), del Sello de la Poridat o del Sello. Probablemente, era el encargado dellevar expresamente el sello real, con el que se sigilaban todas las cartas importantes15.Solo en tres ocasiones recayó el cargo en un clérigo, con Enrique II y con Juan II.
17 Por otro lado, parece existir alguna correspondencia, tras la unión de las coronas de
León y Castilla en 1230, entre la función de canciller mayor de Castilla y la de canciller
mayor del Rey, como se aprecia en el hecho de que, en cinco ocasiones, hasta el reinadode Alfonso XI ambos cargos son ejercidos por la misma persona. Al mismo tiempo, otracorrespondencia se puede observar entre las funciones de canciller mayor de León y denotario mayor de León, siendo el arzobispo de Santiago quien ocupará en varias ocasioneslos dos cargos.
18 La aparición de eclesiásticos para cargos de canciller asociados ya no al rey, sino a
alguno de los otros miembros de la realeza (reina, príncipe o infantes) se produce apartir del reinado de Sancho IV, siendo práctica común en adelante.
19 Concluyo este apartado indicando que resulta bastante significativo el hecho de que no
haya ningún clérigo ejerciendo estos cargos de cancillería durante el reinado de PedroI. La razón podría encontrarse en una decisión premeditada del rey, como ocurrió conlos consejeros reales. Esto ayudaría a explicar en parte el por qué la alta clerecíacastellana se pasó mayoritariamente al bando de Enrique II tras 136616.
Tabla 3
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Ferdinando Canciller real (1159) Arcediano de la Corte (1159)Fernando II
de León
2. Pedro Suárez Canciller real (1165) Obispo de SalamancaFernando II
de León
3. Adam Canciller real (1166) Prior (no especificado)Fernando II
de León
4. Pedro Canciller real (1168) Maestrescuela de SantiagoFernando II
de León
5. Rodrigo Canciller real (1168) Arcediano (no especificado)Fernando II
de León
Medievalista, 28 | 2020
102
6. Pelayo de
LauroCanciller real (1169-1181) Arcediano de Santiago
Fernando II
de León
7. Guillermo de
Hasta FortiCanciller real (1178) Arcediano de Toledo
Alfonso VIII
de Castilla
8. Pedro de
CardonaCanciller real (1178-1182)
Abad de Husillos (1178-1181);
Arzobispo de Toledo (1181-1182)
Alfonso VIII
de Castilla
9. Pedro (III)
SuárezCanciller real (1182-1185) Arzobispo de Santiago
Alfonso IX de
León
10. Gonzalo Canciller real (1183) Arzobispo de ToledoAlfonso VIII
de Castilla
11. Pedro Vele
= T20N1Canciller real (1184-1188) Arcediano de Santiago
Alfonso IX de
León
12. Pedro17 Canciller real (1200) ClérigoAlfonso IX de
León
13. Froila
= T4N5Canciller real (1202-1203) Canónigo de Santiago
Alfonso IX de
León
14. Pedro
SuárezCanciller real (1202-1203) Arcediano (no especificado)
Alfonso IX de
León
15. Fernando Canciller real (1203-1209) Deán de SantiagoAlfonso IX de
León
16. Martín
López de
Pisuerga
= T18N3
Canciller real (1206) Arzobispo de ToledoAlfonso VIII
de Castilla
17. Juan Arias Canciller real (1210) Canónigo de SantiagoAlfonso IX de
León
18. Fernando
AriasCanciller real (1211) Canónigo de Santiago
Alfonso IX de
León
19. Martín
MuñozCanciller real (1213-1214) Abad de Arbás
Alfonso IX de
León
20. Pedro
SuárezCanciller real (1213) Deán de Astorga
Alfonso IX de
León
21. Pedro Pérez Canciller real (1213-1224)
Arcediano de Salamanca
(1213-1220); Maestrescuela de
Ourense (1224)
Alfonso IX de
León
Medievalista, 28 | 2020
103
22. (Anónimo) Canciller real (1217) Abad de OurenseAlfonso IX de
León
23. Juan de
Soria
= T1N4
Canciller real (1217-1245)
Abad de Santander (1217); Abad
de Valladolid (1219-1231);
Obispo de Osma (1231-1240);
Obispo de Burgos (1241-1245)
Fernando III
24. Bernardo
= T16N3
Canciller real (1222); Canciller
real de León (hasta 1231)
Deán de Santiago (1222);
Arzobispo de Santiago
(1224-1237)
Alfonso IX de
León,
Fernando III
25. MartínCanciller real (1222) en nombre
de BernardoCanónigo de Santiago
Alfonso IX de
León
26. Ainense Canciller real (1228) Canónigo de SantiagoAlfonso IX de
León
27. Rodrigo
Jiménez de
Rada
= T1N6 y T18N5
Canciller real (1231) Arzobispo de Toledo Fernando III
28. Pedro Canciller real (1249) Obispo de Jaén Fernando III
29. Juan Arias
= T1N10Canciller real (1255) Arzobispo de Santiago Alfonso X
30. Sancho de
Castilla
= T1N16
Canciller real (1255-1261) Arzobispo de Toledo Alfonso X
31. Sancho de
Aragón
= T1N17 y
T16N11
Canciller de Castilla (1266);
Canciller real (1267-1272)Arzobispo de Toledo Alfonso X
32. Pelayo
PedroCanciller real (1283) Abad de Valladolid Alfonso X
33. Juan Alfonso
de MolinaCanciller real (1284-1286) Obispo de Palencia Sancho IV
34. Alfonso
= T1N24
Canciller de la reina María
(1284-1286)Obispo de Coria Sancho IV
35. Gonzalo
García Gudiel
= T1N19 y
T4N18
Canciller mayor de Castilla
(1286-1295); Canciller mayor de
Castilla, León y Andalucía
(1290-1295); Canciller mayor del
rey (1297)
Arzobispo de ToledoSancho IV,
Fernando IV
Medievalista, 28 | 2020
104
36. Juan
Fernández de
Sotomayor
= T1N20 y
T4N25
Canciller de la reina María
(1290-1300)Obispo de Tuy
Sancho IV,
Fernando IV
37. Rodrigo
González
Canciller de León (1290, 129218 y
1299-1302)Arzobispo de Santiago
Sancho IV,
Fernando IV
38. Juan GarcíaCanciller del infante regente D.
Enrique de Castilla (1298)Abad de Covarrubias Fernando IV
39. Gonzalo
Díaz
Canciller mayor de Castilla
(1299-1310); Canciller real
(1301-1310)
Arzobispo de Toledo Fernando IV
40. Monio Pérez
= T4N32
Canciller de la reina María
(1301-1308)
Abad de Santander (1301-1325);
Arcediano de Campos y
Canónigo de Burgos (1308)
Fernando IV
41. Gutier
Gómez
Canciller de la reina Constanza
(1309)Arcediano de Toledo Fernando IV
42. Rodrigo
Padrón
= T4N28 y
T16N19
Canciller mayor de León
(1309-1315)Arzobispo de Santiago
Fernando IV,
Alfonso XI
43. Gutierre
Canciller mayor de Castilla
(1310-1315); Canciller real
(1318)
Arzobispo de ToledoFernando IV,
Alfonso XI
44. Gonzalo
= T4N27, T6N17
y T16N17
Canciller de la reina Constanza
(1312)Abad de Arbás Fernando IV
45. Simón Canciller real (1314) Obispo de Sigüenza Alfonso XI
46. Berenguel
= T4N31 y
T16N24
Canciller mayor de León
(1318-1330)Arzobispo de Santiago Alfonso XI
47. Sancho
Blázquez
= T4N29
Canciller mayor del rey (1325);
Canciller mayor de Castilla
(1326)
Obispo de Ávila Alfonso XI
48. Juan de
Aragón
Canciller mayor de Castilla
(1326)Arzobispo de Toledo Alfonso XI
49. JimenoCanciller mayor de Castilla
(1329-1331)Arzobispo de Toledo Alfonso XI
Medievalista, 28 | 2020
105
50. Juan
Fernández de
Limia
= T4N35 y
T16N25
Canciller mayor de León (1331) Arzobispo de Santiago Alfonso XI
51. JuanCanciller mayor del príncipe D.
Pedro (1335)Obispo de Palencia Alfonso XI
52. BernabéCanciller mayor del príncipe D.
Pedro (1342)Obispo de Osma Alfonso XI
53. Vasco
= T4N40
Canciller mayor de la reina
María (1345-1353)Obispo de Palencia
Alfonso XI,
Pedro I
54. Gómez
Manrique
= T4N44
Canciller mayor del Rey
(1366-1374); Canciller mayor de
Castilla (1369-1371)
Arzobispo de Toledo Enrique II
55. Juan Canciller de la Poridat (1367) Obispo de Badajoz Enrique II
56. Sancho
= T9N9
Canciller mayor del príncipe D.
Juan (1367)Obispo de Oviedo Enrique II
57. Gutierre
= T4N45 y T8N2
Canciller mayor de la reina
(1368-1376)Obispo de Palencia Enrique II
58. Rodrigo de
Moscoso
= T4N48 y
T16N34
Canciller mayor de León
(1371-1374)Arzobispo de Santiago Enrique II
59. Juan García
Manrique
= T4N50, T7N16,
T8N3, T10N8 y
T16N37
Canciller mayor del rey
(1376-1392)
Obispo de Sigüenza (1376-1381);
Obispo de Burgos (1381-1382);
Arzobispo de Santiago
(1383-1388)
Enrique II,
Juan I,
Enrique III
60. Gutierre
Gómez de
Toledo
= T16N36
Canciller de la reina (1377-1379) Abad de Husillos Enrique II
61. Juan
Serrano
Canciller del Sello de la Poridat
(1385-1390)
Prior de Santa María de
GuadalupeJuan I
62. JuanCanciller mayor de la reina
(1392)Obispo de Calahorra Enrique III
Medievalista, 28 | 2020
106
63. Juan Alfonso
de Madrid Canciller real (1404-1405)
Chantre de Segovia (1404);
Arcediano de Alcaraz (1404);
Deán de Santiago (1405)
Enrique III
64. Pablo de
Santa María
= T2N4, T9N21,
T16N42 y T19N3
Canciller mayor del Príncipe D.
Juan (1405); Canciller mayor de
Castilla (1406 y 1420)
Obispo de Cartagena
(1403-1415); Obispo de Burgos
(1415-1435)
Enrique III,
Juan II
65. Pedro Díaz
= T8N11
Canciller mayor de la reina
Catalina (1406-1407)Obispo de Ourense Juan II
66. Sancho de
Rojas
= T1N32, T2N2,
8N12 y T9N22
Canciller mayor del Sello de la
Poridat (1415)Obispo de Palencia Juan II
67. Álvaro
Núñez de Isorna
= T1N49, T8N14
y T9N23
Canciller mayor de la infanta
Catalina (1419)Obispo de Cuenca (1418-1445) Juan II
68. Gutierre
Álvarez de
Toledo
= T1N34 y
T10N10
Canciller mayor de la reina
(1420)Arcediano de Guadalajara Juan II
69. Fernando
Díaz de Toledo
= T16N48 y
T21N4
Canciller mayor del infante
Enrique (1427)Canónigo de Sevilla y Toledo Juan II
70. Luis
Martínez de
Toledo
= T16N81
Canciller real (1429)Chantre de Burgos; Canónigo de
Salamanca; Canónigo de BurgosJuan II
71. García
Sánchez de
Quincoces
Canciller mayor de la infanta
Catalina (1429)Clérigo de Burgos Juan II
72. Juan de
Cerezuela
= T1N56
Canciller mayor de Castilla
(1436)Arzobispo de Toledo Juan II
73. Lope de
Barrientos
= T1N53, T8N28,
T15N17 y T19N5
Canciller mayor del Príncipe D.
Enrique (1440)Obispo de Segovia Juan II
Medievalista, 28 | 2020
107
74. Martín
Fernández de
Vilches
= T5N10 y
T16N98
Canciller del Sello (1454) Canónigo de Jaén y Segovia Juan II
1.3. Notario real y secretario
20 El cargo de notario real tuvo una evolución similar a la de canciller: diversificación en
paralelo con las conquistas. El número de clérigos que ejercieron este tipo de cargo es51, si bien hay que tener presente que, a partir de principios del siglo XV, a finales delreinado de Enrique III aparece un nuevo cargo, el secretario real, que sustituirá al notario.
Tabla 4
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Pelayo de
VizuNotario real (1158) Subdiácono de Santiago
Fernando II
de León
2. Domingo Notario real (1180-1207) Abad de Valladolid
Alfonso
VIII de
Castilla
3. Geraldo
(magister)Notario real (1184) Arcediano de Palencia
Alfonso
VIII de
Castilla
4. Mica Notario real (1192) Canónigo de Toledo
Alfonso
VIII de
Castilla
5. Froila
= T3N13Notario real (1197) Canónigo de Santiago
Alfonso IX
de León
6. Pedro Pérez Notario real (1208-1209)Canónigo de Ourense (1208);
Canónigo de Santiago (1209)
Alfonso IX
de León
7. Martín
Muñoz(Notario o escribano) (1211) Subdiácono (no especificado)
Alfonso IX
de León
8. Martín (Notario o escribano) (1223) Arcediano de SalamancaAlfonso IX
de León
9. Miguel
RodríguezNotario real (1223) Canónigo de Mondoñedo
Alfonso IX
de León
10. Jordanus Notario real (1223) Canónigo de SantiagoAlfonso IX
de León
Medievalista, 28 | 2020
108
11. Sancho
FernándezNotario real (1225) Clérigo de Ourense
Alfonso IX
de León
12. Martín
Pérez(Notario o escribano) (1237) Canónigo de Segovia
Fernando
III
13. Raimundo
de Losana
= T1N11, T14N1
y T18N9
Notario real (1250-1252) Obispo de SegoviaFernando
III
14. Fernando
= T17N11
Notario real (1252-1256);
Notario mayor de Castilla
(1255-1256)
Arcediano de Reina (1253-1255);
Obispo de Palencia (1256-1265)Alfonso X
15. Juan AlfonsoNotario real (1254); Notario
real en León (1259-1266)Arcediano de Santiago Alfonso X
16. Suero PérezNotario mayor de León
(1255)Obispo de Zamora Alfonso X
17. Fernando
Anes
= T9N4
Notario real (1263) Deán de Braga Alfonso X
18. Gonzalo
García Gudiel
= T1N19 y
T3N35
Notario mayor de Castilla
(1270-1276); Notario real
(1271-1278)
Arcediano de Toledo (1270-1271),
Obispo de Cuenca (1274), Obispo de
Burgos (1275-1278)
Alfonso X
19.Fernando
(magister)
Notario real de León
(1273-1274)
Obispo de Oviedo; Arcediano de
ZamoraAlfonso X
20. Sancho
Pérez
= T6N10
Notario de la Cámara Real
(1276)Arcediano de Baeza Alfonso X
21. Gómez
García
Notario mayor de León
(1284-1286)Abad de Valladolid Sancho IV
22. Fernán
Pérez
= T1N18
Notario mayor de Castilla
(1284-1287); Notario mayor
de León (1289)
Obispo de Sigüenza (1284-1286);
Arzobispo de Sevilla (1287-1289, no
consagrado); Deán de Sevilla (1289)
Sancho IV
23. Martín
= T1N21, T6N11
y T10N4
Notario mayor de Andalucía
(1284-1286); Notario mayor
de León (1286-1288); Notario
mayor de Castilla, León y
Andalucía (1290-1295)
Obispo de Calahorra (1284-1286);
Obispo de Astorga (1287-1295)Sancho IV
Medievalista, 28 | 2020
109
24. GilNotario mayor de la Cámara
Real (1285-1286)Obispo de Badajoz Sancho IV
25. Juan
Fernández de
Sotomayor
= T1N20 y
T3N36
Notario mayor de Andalucía
(1286-1287); Notario mayor
de León (1301)
Obispo de Tuy
Sancho IV,
Fernando
IV
26. AlonsoNotario mayor de León
(1297-1310)Obispo de Astorga
Fernando
IV
27. Gonzalo
= T3N44, T6N17
y T16N17
Notario mayor de Andalucía
(1310-1312)Abad de Arbás
Fernando
IV
28. Rodrigo
Padrón
= T3N42 y
T16N19
Notario mayor de León
(1310-1315)Arzobispo de Santiago
Fernando
IV
29. Sancho
Blázquez
= T3N47
Notario mayor de Castilla
(1314)Obispo de Ávila Alfonso XI
30. Fernando
= T7N13
Notario mayor de Andalucía
(1314-1315)Arzobispo de Sevilla Alfonso XI
31. Berenguel
= T3N46 y
T16N24
Notario mayor de León
(1318-1330)Arzobispo de Santiago Alfonso XI
32. Monio Pérez
= T3N40
Notario mayor de Castilla
(1325)Abad de Santander Alfonso XI
33. Pedro
(magister)
Notario mayor de Toledo
(1325-1327); Notario mayor
de Andalucía (1328)
Maestrescuela de Toledo (1325);
Obispo de Cartagena (1327-1328)Alfonso XI
34. Juan del
Campo
Notario mayor de Andalucía
(1325-1328 y 1329); Notario
mayor de León (1328);
Notario mayor de Castilla
(1332-1333)
Arcediano de Sarria (1325);
Arcediano de Lugo (1326); Arcediano
de Carballeda (1327); Obispo de
Cuenca (1328); Obispo de Oviedo
(1328-1333); Obispo de León
(1333-1344)
Alfonso XI
Medievalista, 28 | 2020
110
35. Juan
Fernández de
Limia
= T3N50 y
T16N25
Notario mayor de León
(1331)Arzobispo de Santiago Alfonso XI
36. Suero PérezNotario mayor de Castilla
(1335)Maestre de Alcántara Alfonso XI
37. GonzaloNotario mayor de León
(1345)Obispo de Sigüenza Alfonso XI
38. NuñoNotario mayor de Andalucía
(1348)Obispo de Astorga Alfonso XI
39. Juan Núñez
= T1N26
Notario mayor de Castilla
(1350-1353)Maestre de Calatrava Pedro I
40. Vasco
= T3N53
Notario mayor de León
(1351-1353)Obispo de Palencia Pedro I
41. Pedro
Alfonso
= T16N29 y
T17N38
Notario de Castilla (1351);
Notario de Andalucía (1353)Arcediano de Castro Pedro I
42. Gutier
Gomes
Notario mayor de Latín
(1352)Chantre de Santiago Pedro I
43. Gómez
= T16N30
Notario mayor de León
(1354-1357); Notario mayor
de Castilla (1360-1361)
Arzobispo de Santiago Pedro I
44. Gómez
Manrique
= T3N54
Notario mayor de Castilla
(1363-1364)Arzobispo de Toledo Pedro I
45. Gutierre
= T3N57 y T8N2
Notario mayor de Andalucía
(1367)Obispo de Palencia Enrique II
46. Juan Martín
Manrique
Notario mayor de los
Privilegios rodados (1367)Arcediano de Calatrava Enrique II
47. Alfonso
Barrasa
= T8N4
Notario mayor de León
(1368); Notario mayor de
Andalucía (1371-1374)
Obispo de Salamanca (1361-1382) Enrique II
48. Rodrigo de
Moscoso
= T3N58 y
T16N34
Notario mayor de León
(1369-1374)Arzobispo de Santiago Enrique II
Medievalista, 28 | 2020
111
49. Pedro
Fernández de
Soria
Notario mayor de los
Privilegios rodados
(1369-1374)
Arcediano de Alcaraz Enrique II
50. Juan García
Manrique
= T3N59, T7N16,
T8N3, T10N8 y
T16N37
Notario mayor de León
(1384-1392)Arzobispo de Santiago
Juan I,
Enrique III
51. PedroNotario mayor de los
Privilegios rodados (1392)Obispo de Plasencia Enrique III
21 Se puede observar una cierta evolución – cursus honorum dentro de la administración –
para aquellos prelados que ocuparon el cargo de notario mayor de alguna de las regionesadministrativas y acabaron ejerciendo el de canciller mayor (destacados en la Tabla 3).
22 El primer cargo de notario real ocupado por un eclesiástico de la alta jerarquía aparece
solamente a partir de 1250, en los últimos años del reinado de Fernando III, siendotodos los restantes canónigos, arcedianos, frailes o clérigos, a excepción de Domingo,abad de Valladolid. Con su hijo, Alfonso X, los prelados empiezan a desempeñar conasiduidad los cargos de notario mayor de Castilla, notario mayor de León y notario mayor de
Andalucía.
23 Como ya se comentó anteriormente, existe solo un caso de un prelado que ocupara los
tres cargos al mismo tiempo, también entre 1290 y 1295, como ocurrió con el cargo decanciller. En este caso, se trató de Martín, obispo de Astorga, en la época de Sancho IV.Se podría conjeturar una cierta intencionalidad del rey por centralizar laadministración real, precisamente después de las disputas con su padre y la hipótesisde cercenar el reino para favorecer a los hijos del fallecido heredero al trono y hermanode Sancho IV, Fernando de la Cerda19. No obstante, al no haber datos concluyentes,queda en simple posibilidad, puesto que, tras la muerte del rey en 1295, esos cargosvuelven a quedar separados territorialmente.
24 Otros cargos de notario que han sido desempeñados por eclesiásticos son los de notario
de la Cámara Real (durante los reinados de Alfonso X y Sancho IV), notario mayor de latín
(solamente durante el reinado de Pedro I) y notario mayor de los privilegios rodados (conEnrique II y Enrique III).
25 Estrechamente ligado al cargo de notario se encuentra el de secretario, que aparece por
primera vez en la cancillería regia, para eclesiásticos, en 1403. No hay un motivo claro,pero podría intuirse que ese cambio se produce por una cuestión semántica, ya que segeneraliza el término “notario” para todos aquellos que ejercen funciones de redacciónde documentos legales, desde el ámbito de la ciudad y los gremios hasta instancias mássuperiores como cortes de nobles o eclesiásticas. En cambio, el “secretario” secircunscribiría a la estricta esfera de la monarquía.
26 Se recogen 10 personajes que desempeñaron esa función, no siendo ninguno de ellos un
miembro del alto clero (clérigos simples, canónigos catedralicios o arcedianos). Parecentrabajar varios al mismo tiempo y, en época de Juan II, suelen compaginar este cargocon el de embajador y de capellán real.
Medievalista, 28 | 2020
112
Tabla 5
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Pedro Fernández de la
Cámara
= T9N16
Secretario real (1403) ClérigoEnrique
III
2. Enrico Schulte
= T9N37
Secretario real
(1419-1424)Clérigo de Utrecht Juan II
3. Juan Alfonso de Zamora
= T9N34
Secretario real
(1421-1424)Canónigo de León Juan II
4. Rodrigo Gutiérrez de
Barcenilla
= T9N47
Secretario real (1431) Arcediano de Toro Juan II
5. Luis González de los
Llanos
Secretario real
(1433-1442)Canónigo de León Juan II
6. Juan González de la
Maina
= T9N56 y T16N113
Secretario real
(1434-1435)Maestrescuela de Sigüenza Juan II
7. Juan González de
Valladolid
= T16N47
Secretario real (1435) Abad de Covarrubias Juan II
8. Rodrigo Sánchez de
Arévalo
= T9N59 y T16N100
Secretario real (1441)Canónigo de Burgos y Arcediano
de Treviño Juan II
9. Fernando González de
Sigüenza
= T16N118
Secretario real (1448) Chantre de Sigüenza Juan II
10. Martín Fernández de
Vilches
= T3N74 y T16N98
Secretario del Príncipe
(1452)Canónigo de Jaén y Segovia Juan II
1.4. Iussor y escribano
27 Como se comentó anteriormente, la función de iussor es un apelativo que,
recientemente, la Marina Kleine20 ha utilizado, con mucho criterio, para denominar aaquel que transmite la orden regia para que sea transformada en texto escrito. Esatransformación es la que corre a cargo de los escribanos. No está clara la asignación detareas entre iussores, notarios, cancilleres y escribanos, por lo menos en los primeros
Medievalista, 28 | 2020
113
reinados en León y Castilla hasta Alfonso X, pudiéndonos encontrar con textosredactados o “mandados hacer” por alguno de estos perfiles indistintamente. Se puede,además, evidenciar el recorrido curricular de algunos de ellos pues van subiendo en elescalafón de iussores a notarios y de ahí, en el caso solamente de Gonzalo, abad de Arbás,a canciller. Sí parece claro que los clérigos que desempeñaban esta función de iussor
dejaron de hacerlo tras el reinado de Alfonso XI.
28 Para el caso de los escribanos, queda también patente que fueron muy pocos los
clérigos implicados en esa tarea (solamente 2 y en los primeros reinados), no volviendoa aparecer después. Se ha optado por incluir a un clérigo denominado letrado pues seconsidera que su función era muy semejante a la de los escribanos.
Tabla 6
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Martino Iussor (1159) Arzobispo de SantiagoFernando II
de León
2. Pedro Iussor (1159) Obispo de MondoñedoFernando II
de León
3. Ferdinando Iussor (1161) Arzobispo de Santiago (1161)Fernando II
de León
4. Michaelis Scriptor (1210)Clérigo de S. Vicente de la
Barquera
Alfonso VIII
de Castilla
5. Fernando
VelascoEscribano (1227) Fraile de Junquera
Alfonso IX de
León
6. Suero Iussor (1253) Arcediano (no especificado) Alfonso X
7. Pedro Iussor (1262-1263) Obispo de Cuenca Alfonso X
8. Fernán García
= T14N3 y
T17N14
Iussor (1263-1273); Iussor del
infante D. Fernando de la Cerda
(1275)
Arcediano de Niebla Alfonso X
9. Juan Pérez Iussor (1274) Arcediano de Murcia Alfonso X
10. Sancho Pérez
= T4N20Iussor (1278) Arcediano de Baeza Alfonso X
11. Martín
= T1N21, T4N23
y T10N4
Iussor (1282) del infante Sancho Deán de Astorga Alfonso X
12. Rodrigo Díaz
= T13N3 y
T17N24
Iussor (1284-1296) Abad de ValladolidSancho IV,
Fernando IV
Medievalista, 28 | 2020
114
13. Rodrigo
MartínezIussor (1286-1290) Chantre de Toledo Sancho IV
14.Bartolomé
EstébanezIussor (1289) Canónigo de Astorga Sancho IV
15. Gonzalo
= T16N13Iussor (1290-1292) Abad de Alfaro Sancho IV
16. Gonzalo
PérezIussor (1291-1292) Arcediano de Úbeda Sancho IV
17. Gonzalo
= T3N44, T4N27
y T16N17
Iussor (1292-1310) Abad de ArbásSancho IV,
Fernando IV
18. Gonzalo
RodríguezIussor (1293) Arcediano de Salamanca Sancho IV
19. Juan Gil Iussor (1293-1294) Chantre de Astorga Sancho IV
20. Juan Pérez Iussor (1294) Canónigo de Córdoba Sancho IV
21. Pedro Yáñez
= T17N28
Iussor de la reina (1294); Iussor
del rey y del regente D. Enrique
(1301)
Maestrescuela de Lugo
(1294-1301); Arcediano de
Cervera (1301)
Sancho IV,
Fernando IV
22. Sancho Iussor (1304) Abad de Arbás Fernando IV
23. Juan
MartínezIussor (1326) Arcediano de Huete Alfonso XI
24. Pedro
FernándezIussor (1326) Canónigo de Oviedo Alfonso XI
25. Pedro
Sánchez
Letrado de la Cancillería real
(1428)Clérigo Juan II
1.5. Otros cargos
29 Para terminar esta exposición de eclesiásticos en el servicio de la administración real,
es necesario hacer referencia a otros cargos que han ocupado a lo largo del períodoestudiado, si bien no con continuidad ni con tanta presencia. En primer lugar, nosreferiremos al cargo de pesquisador, es decir, aquel al que el rey le encarga dirimir unacuestión concreta, como un pleito, una delimitación de lindes o una cuestión dejurisdicciones. Como se puede observar por los años de desempeño, no es una funcióncontinuada en el tiempo, sino circunstancial y, solo en un caso, repite la mismapersona. Es una tarea que fue encargada a clérigos más profusamente en los reinados deFernando III y su nieto, y mucho más esporádicamente en el resto, hasta ir siendosustituido por un cargo mucho más orgánico, estable y atinente a las cuestiones
Medievalista, 28 | 2020
115
judiciales como el de oidor de la Real Audiencia, que se verá a continuación. Por último,comentar que prácticamente no aparecen nada más que 2 clérigos de alto rango(obispos): uno en 1314, siendo la siguiente aparición precisamente la última, ya en 1379y en concomitancia con la articulación de los oidores.
Tabla 7
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Primitus Pesquisador (1225) Arcipreste de FríasFernando
III
2. S.Pesquisador (1226 y
1232)
Abad de San Pedro de
Gumiel
Fernando
III
3. Stephanus Pesquisador (1226)Abad de Santa María de la
Vid
Fernando
III
4. Pedro Fernández
= T16N5Pesquisador (1238) Arcediano de Astorga
Fernando
III
5. Pedro Guillérmez Pesquisador (1250) Chantre de SantiagoFernando
III
6. Pedro Martínez Pesquisador (1250) Arcediano de SantiagoFernando
III
7. Garci Campos Pesquisador (1262) Chantre de Burgos Alfonso X
8. José de Medina Pesquisador (1262) Abad de San Quirce Alfonso X
9. Fernán Juez del rey (1285) Maestrescuela de Córdoba Sancho IV
10. Pascual
= T17N21Pesquisador (1291) Arcediano de Olmedo Sancho IV
11. Pedro Díaz Pesquisador (1294) Arcediano de Montenegro Sancho IV
12. Gonzalo Pérez Juez (1305) Maestre de AlcántaraFernando
IV
13. Fernando
= T4N30Pesquisador (1311) Arzobispo de Sevilla
Fernando
IV
14. Gonzalo Juez (1314) Obispo de Burgos Alfonso XI
15. Juan Alfonso de Ribadeo Pesquisador (1352) Canónigo de Mondoñedo Pedro I
16. Juan García Manrique
= T3N59, T4N50, T8N3, T10N8 y
T16N37
Pesquisador (1379) Obispo de Sigüenza Juan I
Medievalista, 28 | 2020
116
30 Es más que probable que, en la articulación del estado que se va haciendo necesaria a lo
largo del siglo XIV, la monarquía prefiriera estructurar la gestión de la justiciaordinaria con la creación del cargo de los oidores de la Real Audiencia21. La administraciónde justicia deja entonces de ser algo esporádico y de competencia exclusiva delmonarca, para articularse en un organismo como la Real Audiencia que actúa ennombre del rey, pero requiriéndolo solamente para refrendar sentencias o ser la últimainstancia. Cabe el honor de incorporar a clérigos en esta nueva tarea a Pedro I, aunquesolo fuera una vez. Posteriormente, serán los Trastámara quienes generalicen estecargo, con la presencia de dos o más oidores al mismo tiempo y los estabilicen en eltiempo.
Tabla 8
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Fernán Estébanez Oidor (1358) Abad de Santa Coloma Pedro I
2. Gutierre
= T3N57 y T4N45Oidor (1371) Obispo de Palencia Enrique II
3. Juan García
Manrique
= T3N59, T4N50,
T7N16, T10N8 y
T16N37
Oidor (1371 y
1376-1381)
Obispo de Orense (1370-1375; Obispo de
Sigüenza (1376-1381)
Enrique II,
Juan I
4. Alfonso Barrasa
= T4N47Oidor (1378) Obispo de Salamanca Enrique II
5. Gonzalo Oidor (1391) Obispo de Segovia Enrique III
6. Lope de Mendoza
= T1N39, T9N12 y
T16N49
Oidor (1391) Abad de Husillos Enrique III
7. Juan Ramírez de
GuzmánOidor (1394) Obispo de Tuy Enrique III
8. Vicente Arias de
Balboa
= T9N13
Oidor (1396 y
1413)
Arcediano de Toledo (1396); Obispo de
Plasencia (1413)
Enrique III,
Juan II
9. Diego de Anaya y
Maldonado
= T1N37 y T9N27
Oidor (1401 y
1415)Obispo de Salamanca; Obispo de Cuenca
Enrique III,
Juan II
10. Gonzalo
Rodríguez de NeyraOidor (1406) Arcediano de Almazán Enrique III
Medievalista, 28 | 2020
117
11. Pedro Díaz
= T3N65Oidor (1407) Obispo de Ourense Juan II
12. Sancho de Rojas
= T1N32, T2N2, T3N66
y T9N22
Oidor (1407 y
1415)Obispo de Palencia Juan II
13. Alfonso de IllescasOidor
(1410-1414)
Deán de Segovia (1403); Obispo de Zamora
(1403-1413); Obispo de Burgos (1413-1415)Juan II
14. Álvaro Núñez de
Isorna
= T1N49, T3N67 y
T9N23
Oidor
(1410-1442)
Obispo de Mondoñedo (1400-1415); Obispo
de León (1415-1418); Obispo de Cuenca
(1418-1445)
Juan II
15. Juan de Illescas
= T1N33 y T2N3Oidor (1413) Obispo de Sigüenza Juan II
16. Gonzalo SánchezOidor
(1413-1419)
Arcediano de Salnes (1413-1415); Arcediano
de Calatrava (1416)Juan II
17. Alfonso
FernándezOidor (1415) Obispo de Salamanca (1412-1422) Juan II
18. Alfonso de
Cartagena
= T1N38 y T9N35
Oidor (1415 y
1440)
Deán de Santiago (1415); Obispo de Burgos
(1435-1456)Juan II
19. Fernando
Martínez Dávalos
= T9N29
Oidor (1416) Deán de Segovia Juan II
20. Diego Gómez de
Fuensalida
= T1N40
Oidor (1419) Obispo de Zamora Juan II
21. Fortún Velázquez
de Cuéllar
= T1N41, T10N11 y
T16N80
Oidor (1419) Canónigo de Palencia Juan II
22. Sancho de Rojas
= T1N50 y T9N44Oidor (1423) Obispo de Astorga Juan II
23. Gonzalo de Santa
María
= T1N46 y T9N31
Oidor (1427) Obispo de Plasencia Juan II
Medievalista, 28 | 2020
118
24. Pedro López de
Miranda
= T1N47 y T16N77
Oidor (1431) Abad de Santander Juan II
25. Pedro de Castilla
= T1N52
Oidor (1435 y
1452)
Obispo de Osma (1433-1440); Obispo de
Palencia (1440-1461)Juan II
26. Luis Álvarez de
Paz
= T9N53
Oidor (1436) Clérigo Juan II
27. Pedro Alfonso de
Valladolid
= T9N58 y T16N45
Oidor (1438) Obispo de Zamora Juan II
28. Lope de
Barrientos
= T1N53, T3N73,
T15N17 y T19N5
Oidor (1440) Obispo de Segovia Juan II
29. Pedro García de
Huete
= T16N120
Oidor (1449) Canónigo de Toledo Juan II
30. Rodrigo de Luna
= T1N60 y T16N117Oidor (1448) Abad de Jerez Juan II
31. Gonzalo de Vivero
= T1N61Oidor (1449) Obispo de Salamanca Juan II
32. Alfonso de
Madrigal
= T1N62, T9N62 y
T16N90
Oidor (1453)Canónigo de Salamanca (1442);
Maestrescuela de Salamanca (1446)Juan II
31 Ni qué decir tiene que el cargo de embajador fue ampliamente ejercido por clérigos
desde los inicios del período22, si bien no hay constancia documental para los reinadosde las monarquías leonesas y castellanas antes de la unión. Por sus conocimientos delatín, lengua franca de la época, y las posibilidades de conexiones con clérigos de otrosreinos europeos, la profusa presencia de religiosos en la siguiente tabla no es deextrañar, llegando al número de 66. No hay constancia de clérigos como embajadores
únicamente para los reinados de Fernando IV, Alfonso XI y Enrique II. Porcontrapartida, la presencia de 51 clérigos como embajadores solamente en el reinado deJuan II tiene una explicación lógica: es en ese momento que se producen los sucesivosconcilios de Pisa, Constanza, Siena y Basilea para acabar con el Cisma de Occidente23.
Medievalista, 28 | 2020
119
Tabla 9
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Juan Embajador: Alemania (1220) Abad de San Zoilo de CarriónFernando
III
2. Guillermo Embajador: Roma (1239) Abad de SahagúnFernando
III
3. Martín Núñez
= T10N1
Embajador-Procurador:
Portugal (1263)Maestre del Temple Alfonso X
4. Fernando
Anes
= T4N17
Embajador-Procurador:
Portugal (1263)Deán de Braga Alfonso X
5. Suero Embajador: Francia (1283) Obispo de Cádiz Alfonso X
6. Ademaro Embajador: Santa Sede (1283) Obispo de Ávila Alfonso X
7. (Anónimo) Embajador: Aragón (1294) Arcediano de Segovia Sancho IV
8. Alberto Embajador: Aragón (1294) Fraile franciscano Sancho IV
9. Sancho
= T3N56Embajador: Navarra (1364) Obispo de Oviedo Pedro I
10. Fernando de
Illescas
= T1N35, T15N5
y T18N10
Embajador: Navarra (1383);
Juan de Gante (1387); Francia
(1396); Corte Benedicto XIII
(1416); Constanza (1417)
Fraile franciscano Juan II
11. Gómez
FernándezEmbajador: Aviñón (1389) Clérigo Juan I
12. Lope de
Mendoza
= T1N39, T8N6 y
T16N49
Embajador: Francia y Aviñón
(1393-1395)Obispo de Mondoñedo Enrique III
13. Vicente Arias
de Balboa
= T8N8
Embajador: Aviñón (1395) Arcediano de Toledo Enrique III
14. Alfonso de
ArgüellesEmbajador: Aviñón (1401) Obispo de León (1403-1415) Enrique III
15. Juan de
Guzmán
Embajador: Corte de
Benedicto XIII (1402)Obispo de Zamora Enrique III
Medievalista, 28 | 2020
120
16. Pedro
Fernández de la
Cámara
= T5N1
Embajador: Inglaterra (1403);
Corte de Benedicto XIII
(1408); Constanza (1417)
Clérigo (1403 y 1408); Canónigo de
Burgos y Arcediano de Grado (1417)
Enrique III,
Juan II
17. Alonso de
Egea
Embajador: Corte Benedicto
XIII (1405)Obispo de Ávila; Arzobispo de Sevilla Enrique III
18. Alfonso de
Alcocer
=T15N6
Embajador: Corte Benedicto
XIII e Inocencio VII
(1405-1406)
Fraile franciscano Enrique III
19. Fernando
García
Embajador: Corte de
Benedicto XIII (1407) por la
reina Catalina de Lancaster
Prior de Medina Juan II
20. Juan
Rodríguez de
Villalón
= T10N9 y
T16N46
Embajador: Corte de
Benedicto XIII (1407);
Constanza (1416-1417).
Prior de Husillos (1407); Deán de
Ourense (1407); Canónigo de Oviedo
(1407); Arcediano de Gordón (1407);
Obispo de Badajoz (1415-1417)
Juan II
21. Pablo de
Santa María
= T2N4, T3N64,
T16N42 y T19N3
Embajador: Perpiñán (1408) Obispo de Cartagena Juan II
22. Sancho de
Rojas
= T1N32, T2N2,
T3N66 y T8N12
Embajador: Aragón (1411)
por el regente infante D.
Fernando
Obispo de Palencia Juan II
23. Álvaro Núñez
de Isorna
= T1N49, T3N67
y T8N14
Embajador: Roma (1415 y
1421); Basilea (1434-1436)
Obispo de Mondoñedo (1400-1415);
Obispo de León (1415-1418); Obispo
de Cuenca (1418-1445)
Juan II
24. Luis de
Valladolid
Embajador: Constanza
(1416-1417); Aragón (1422)Fraile Dominico Juan II
25. Juan Embajador: Constanza (1416) Obispo de Badajoz Juan II
26. Juan
Fernández de
Rupello
Embajador: Constanza (1416) Clérigo Juan II
27. Diego de
Anaya y
Maldonado
= T1N37 y T8N9
Embajador: Constanza
(1416-1417); Francia
(1419-1420)
Obispo de Cuenca; Arzobispo de
SevillaJuan II
Medievalista, 28 | 2020
121
28. Rodrigo Díaz
de Torres
Embajador: Corte de
Benedicto XIII (1416) por la
reina Catalina
Canónigo y Arcediano de Gordón Juan II
29. Fernando
Martínez
Dávalos
= T8N19
Embajador: Constanza
(1416-1417)Deán de Segovia Juan II
30. Fernando
Pérez de Ayala
= T1N36
Embajador: Constanza
(1416-1417)Clérigo Juan II
31. Gonzalo de
Santa María
= T1N46 y T8N23
Embajador: Corte de
Benedicto XIII (1416); Basilea
(1434-1436)
Arcediano de Briviesca (1410-1422);
Maestrescuela de Cartagena
(1418-1422)
Juan II
32. Juan de
Cervantes
= T1N54
Embajador: Corte de
Benedicto XIII (1417) por la
reina Catalina; Siena
(1423-1424)
Canónigo de Toledo (1415);
Arcediano de Sevilla (1423);
Canónigo de Burgos (1423); Obispo
de Astorga (1423-1430)
Juan II
33. Rodrigo de
BernalEmbajador: Francia (1419) Canónigo de Sevilla Juan II
34. Juan Alfonso
de Zamora
= T5N3
Embajador: Portugal (1421);
Basilea (1434)
Canónigo de León (1410); Racionero
de León (1433)Juan II
35. Alfonso de
Cartagena
= T1N28 y T8N18
Embajador: Emisario regio
(1421); Portugal (1421, 1423 y
1424); Alemania (1437-1439)
Canónigo de Burgos (1421-1435);
Obispo de Burgos (1435-1456)Juan II
36. Alfonso (el
Licenciado)Embajador: Roma (1423) Licenciado en Decretos Juan II
37. Enrico
Schulte
= T5N2
Embajador: Siena (1423-1424) Clérigo de Utrecht Juan II
38. Alfonso
Martínez de
Toledo
= T16N87
Embajador: Aragón (1424) Arcediano de Talavera (1424-1433) Juan II
39. Sancho
López de Velasco
= T1N44
Embajador: Aragón (1424) Obispo de Salamanca Juan II
Medievalista, 28 | 2020
122
40. Diego Bedán
de Mayorga
= T1N43
Embajador: Aragón (1424) Obispo de Cartagena Juan II
41. Francisco de
Soria
= T1N45
Embajador: Navarra (1429) Fraile franciscano Juan II
42. Pedro de
Bocanegra
= T1N51 y
T16N84
Embajador: Navarra (1429);
Florencia (1436)Obispo de Tuy Juan II
43. Juan Álvarez
de ToledoEmbajador: Roma (1429) Canónigo de Palencia Juan II
44. Sancho de
Rojas
= T1N50 y T8N22
Embajador: Inglaterra (1430) Obispo de Astorga Juan II
45. Juan del
Corral
Embajador: Inglaterra (1430);
Basilea (1434)Fraile dominico Juan II
46. Alonso
Carrillo de
Albornoz
Embajador: legado de Castilla
en Basilea (1431 y 1432)Cardenal de San Eustaquio Juan II
47. Rodrigo
Gutiérrez de
Barcenilla
= T5N4
Embajador: Roma (1432) Arcediano de Toro Juan II
48. Juan de
Torquemada
Embajador: Basilea
(1432-1434); Roma (1449)
Fraile dominico (1432-1434);
Cardenal de San Sixto (1449)Juan II
49. Alfonso
Carrillo de
Acuña
= T1N59
Embajador: Basilea (1434)Obispo de Sigüenza (1434-1446);
Arzobispo de Toledo (1446-1482)Juan II
50. Alfonso de
Santa MaríaEmbajador: Basilea (1434) Deán de Santiago (1434) Juan II
51. Juan de Silva Embajador: Basilea (1434) Clérigo Juan II
52. Lope de
GaldoEmbajador: Basilea (1434)
Ministro Provincial en Hispania de
la O. DominicaJuan II
53. Luis Álvarez
de Paz
= T8N26
Embajador: Basilea (1434) Clérigo Juan II
Medievalista, 28 | 2020
123
54. Pedro
SánchezEmbajador: Basilea (1434) Clérigo Juan II
55. Gil
Fernández de
Toledo
= T16N86
Embajador: Roma (1434) Abad de Alfaro Juan II
56. Juan
González de la
Maina
= T5N6 y
T16N113
Embajador: Basilea (1434);
Aragón (1451, 1454 y 1456)
Maestrescuela de Sigüenza
(1417-1443); Tesorero de León (1448)Juan II
57. Juan Carrillo Embajador: Francia (1435) Arcediano de Cuenca Juan II
58. Pedro
Alfonso de
Valladolid
= T8N27 y
T16N45
Emisario regio: en Jaén
(1438-1439)Obispo de Zamora Juan II
59. Rodrigo
Sánchez de
Arévalo
= T5N8 y
T16N100
Embajador: Alemania (1438 y
1442-1443)
Clérigo de Segovia (1438); Canónigo
de Burgos y Arcediano de Treviño
(1440)
Juan II
60. Alfonso
González de
Herrera
Embajador: Roma (1439-1442) Abad de Santa Colomba (1439-1447) Juan II
61. Alfonso de
VelascoEmbajador: Navarra (1440)
Abad de Valladolid y Arcediano de
Valpuesta (1440)Juan II
62. Alfonso de
Madrigal
= T1N62, T8N32
y T16N90
Embajador: Nápoles (1443) Canónigo de Salamanca (1442) Juan II
63. Juan Alfonso
de Cuenca o
Cherino
= T1N58 y
T16N75
Embajador: Silicia (1444);
Aragón (1445)Abad de Alcalá la Real Juan II
64. Pedro de
Cervantes
= T16N114
Embajador: Aragón (1444) Canónigo de Burgos y de Cuenca Juan II
Medievalista, 28 | 2020
124
65.Antonio de
RegondiEmbajador: Aragón (1445) Clérigo de Jaén Juan II
66. Alfonso de
SeguraEmbajador: Portugal (1445) Deán de Sevilla Juan II
32 Existe otra figura, calificada por la documentación como emisario o procurador, que
tendría la misma potestad plena que un embajador, pero sin salir del territorio. Estárelacionado principalmente con las reuniones que se producen entre embajadores deotros reinos o estados, o con reuniones entre grupos de poder, que buscan solucionarun conflicto o problema. Estas figuras representan al rey en las negociaciones, pero sinestar presente el mismo, bien por ser un asunto no excesivamente importante, bienpara salvaguardar su seguridad. Las veces que los clérigos han desempeñado estafunción es mucho menor, con un total de 12. Hay reinados que no cuentan con ningunoy otros, como los de Alfonso X o Juan II que sí contaron con hasta tres y cuatro clérigos.Cabe terminar resaltando que la vinculación entre embajadores y procuradores es másbien escasa, contándose únicamente con dos clérigos que ejercieron ambas funciones.
Tabla 10
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Martín
Núñez
= T9N3
Procurador-Embajador (1263) Maestre del Temple Alfonso X
2. Pelayo Pérez
Correa
= T1N13
Procurador-Embajador (1263) Maestre de Santiago Alfonso X
3. Pascual Procurador (1263) Obispo de Jaén Alfonso X
4. Martín
= T1N21,
T4N23 y T6N11
Representante del Rey (1284) en
BurgosObispo de Calahorra Sancho IV
5. Juan Osorez
= T1N22,
T11N1 y T20N4
Procurador (1304-1305) Maestre de SantiagoFernando
IV
6. Gonzalo Procurador (1308) Obispo de ZamoraFernando
IV
7. Juan
Sánchez de
Roelas
Apoderado (1351) Obispo de Segovia Pedro I
Medievalista, 28 | 2020
125
8. Juan García
Manrique
= T3N59,
T4N50, T7N16,
T8N3 y T16N37
Procurador (1383) Arzobispo de Santiago Juan I
9. Juan
Rodríguez de
Villalón
= T9N20 y
T16N46
Emisario regio: ante la embajada
portuguesa (1408); ante la
embajada francesa (1408)
Prior de Husillos (1407); Deán de
Ourense (1407); Canónigo de
Oviedo (1407); Arcediano de
Gordón (1407).
Juan II
10. Gutierre
Álvarez de
Toledo
= T1N34 y
T3N68
Emisario regio ante embajada de
Francia (1408); Emisario regio en
las conversaciones con los
Infantes de Aragón (1429-1445)
Arcediano de Guadalajara (1408);
Obispo de Palencia (1423-1439);
Arzobispo de Sevilla (1439-1442);
Arzobispo de Toledo (1442-1445)
Juan II
11. Fortún
Velázquez de
Cuéllar
= T1N41,
T8N21 y
T16N80
Representante del Rey (1443) en
RomaDeán de Segovia Juan II
12. Juan de
CastroProcurador (1451) Canónigo de Burgos Juan II
33 Entrando ya en la categoría de cargos más relacionados con la gestión administrativa de
cuestiones más territoriales como la hacienda o la guerra, donde el cargo se sueledesempeñar ya lejos de la corte, se debe comentar en primer lugar el cargo deadelantado mayor24. Dadas las características principalmente militares que implica, losadelantados mayores de la Frontera, de Murcia o de Galicia, han recaído – cuando estánen manos de religiosos – en maestres de las órdenes militares.
34 Como se puede observar en la tabla, no fueron muchos (6) ni tampoco en todos los
reinados. De hecho, el primero no aparece hasta el siglo XIV, con Fernando IV, época enla que también aparece el último, con Juan I. Ningún maestre o prior ocupó el cargo deadelantado mayor de Castilla, de León o de Andalucía, siendo principalmente destinados alas zonas “calientes” como la frontera o Murcia, con la excepción de Galicia, si bien, enplena guerra entre Enrique II y Pedro I.
Tabla 11
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Juan Osorez
= T1N22, T10N5 y
T20N4
Adelantado mayor de
Murcia (1300-1305)Maestre de Santiago Fernando IV
Medievalista, 28 | 2020
126
2. Vasco
Rodríguez
= T19N2 y T20N6
Adelantado mayor de la
Frontera (1328)Maestre de Santiago Alfonso XI
3. Gutier Gómez
de Toledo
= T20N9
Adelantado mayor de
Murcia (1360-1365)
Prior de San Juan (1360-1365);
Maestre de Alcántara (1364)Pedro I
4. Martín LópezAdelantado mayor de
Murcia (1365)Maestre de Alcántara Pedro I
5. Gómez Pérez
de Porres
Adelantado mayor de
Galicia (1367)Prior de San Juan Enrique II
6. Pedro MuñizAdelantado mayor de la
Frontera (1367-1382)Maestre de Calatrava
Enrique II,
Juan I
35 Cabe añadir a esta lista unas definiciones de funciones en la documentación, que, si
bien sin especificar un título concreto, podrían asociarse a la función del adelantado
mayor, por tratarse de asuntos militares. Se trata de estos puestos:
7. Lorenzo Suárez de
Figueroa
Responsable de la frontera de Badajoz
(1402)
Maestre de
Santiago
Enrique
III
8. Gonzalo de Estúñiga
= T1N57Defensor de Jaén (1439) Obispo de Jaén Juan II
36 Otro cargo que está a mitad de camino entre el ámbito de la justicia y el de la
administración territorial es el merino. Clérigos ejerciendo esta función son solamente3, ya que el cargo de merino recayó desde temprano entre los miembros de la nobleza.
Tabla 12
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Gutierre Merino (1170) Abad (no especificado) Alfonso VIII
2. FernandoMerino real en Galicia
(1194)Abad (no especificado)
Alfonso IX de
León
3. Fernando Rodríguez de
Valbuena
= T19N5
Merino mayor de
Galicia (1332)
Prior del Hospital de San
JuanAlfonso XI
37 Algunos religiosos más (6) desempeñaron la función de colector de rentas, cargo
estrechamente vinculado a la hacienda real. Cabe destacar que solamente actuaron bajolos reinados de Sancho IV y Fernando IV, nunca tratándose de altos prelados.
Medievalista, 28 | 2020
127
Tabla 13
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Alfonso MartínezRecaudador del diezmo en León
(1285)Canónigo de Astorga Sancho IV
2. Fernán Fernández
= T17N23Recaudador real en Tuy (1294) Canónigo de Tuy Sancho IV
3. Rodrigo Díaz
= T6N12 y T17N24Recaudador real (1294) Abad de Valladolid Sancho IV
4. Bartolomeo Sánchez
de Sevilla
= T17N29
Recaudador de la "cruzada" para la
O. de Santiago (1303)
Clérigo del Maestre de
Santiago
Fernando
IV
5. Gonzalo PérezRecaudador de la infanta D. Blanca
(1312)Clérigo
Fernando
IV
6. Sancho YáñezRecaudador de la infanta D. Blanca
(1312)
Criado de la infanta
(sacerdote)
Fernando
IV
38 Hay un puesto administrativo, que solo tuvo vigencia en el reinado de Alfonso X y que
atañe de lleno al asunto del reparto de las nuevas tierras conquistadas en Andalucíaprincipalmente. En la documentación aparece como partidor, que es el término quehemos preferido conservar. Estos son los 5 clérigos que actuaron como tales:
Tabla 14
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Raimundo de Losana
= T1N11, T4N13 y T18N9Partidor (1253) Obispo de Segovia Alfonso X
2. Martín de Fitero
= T17N13Partidor (1263) Arcediano de Córdoba Alfonso X
3. Fernán García
= T6N8 y T17N14Censor (1263) y Partidor (1267) Arcediano de Niebla Alfonso X
4. Miguel Partidor (1263) Obispo de Lugo Alfonso X
5. Juan Partidor (1264) Obispo de Ourense Alfonso X
Medievalista, 28 | 2020
128
2. Clérigos en la esfera doméstica de la monarquía:cargos y funciones
2.1. El confesor real
39 En lo concerniente al servicio doméstico en la casa real, también aquí encontraremos
una amplia gama de cargos y funciones, con la especificidad de que algunos de ellos soncompetencia exclusiva de la clerecía. Es lo que ocurre con el primero que se va aanalizar: la figura del confesor real. El conocimiento sobre esta importantísima einfluyente figura ha tenido un cierto auge en las últimas décadas25, si bien sigue siendoun cargo poco estudiado. Cierto es que el carácter secreto y reservado de susdeliberaciones con el monarca, reina o los infantes impide poder esclarecer conseguridad qué papel jugó en la toma de decisiones de cariz político. 19 son losconfesores identificados hasta ahora, aunque nada menos que 14 pertenecen a la épocade Juan II. Esto, obviamente, no quiere decir que antes no hubiera confesores, sino queestos personajes difícilmente aparecen en la documentación producida por lascancillerías reales. Se sabe que cada miembro de la casa real (rey, reina, infantes yherederos) tenía su propio confesor.
40 El motivo para que no aparezca claramente puede deberse a que esté implícita su
función en otras categorías, como el clérigo del rey, testamentero o incluso consejero ocanciller, dependiendo de la época. Dado que no es el objetivo de este estudio averiguarla causa de este asunto, pasaremos a enumerar la lista de los confesores:
Tabla 15
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Pedro Ruiz
Confesor del infante
regente D. Enrique de
Castilla (1303)
FraileFernando
IV
2. Pedro Pérez
Confesor del infante
regente D. Pedro de
Castilla (1317)
Fraile franciscano Alfonso XI
3. Pedro López de
AguiarConfesor real (1352) Obispo de Lugo Pedro I
4. Pedro de
BeloradoConfesor real (1380) Fraile Juan I
5. Fernando de
Illescas
= T1N35, T9N10 y
T18N10
Confesor real (1389 y 1416) Fraile franciscanoJuan I; Juan
II
6. Alfonso de
Alcocer
= T9N18
Confesor real (1406-1410) Fraile franciscanoEnrique III,
Juan II
Medievalista, 28 | 2020
129
7. AntonioConfesor del infante D.
Fernando (1410)Prior de Caleruega Juan II
8. PedroConfesor del infante D.
Fernando (1410)Fraile Juan II
9. Juan de
Santiago
Confesor del infante D.
Enrique de Aragon (1416)Fraile franciscano Juan II
10. Juan de
Morales
Confesor de la reina
Catalina (1417)Fraile Juan II
11. Diego de
Támara
Confesor de la reina
Leónor de Alburquerque
(1418)
Desconocido Juan II
12. García de
Castronuño
Confesor de la reina
Catalina (1418)Obispo de Coria Juan II
13. Juan ConejoConfesor de la infanta D.
Catalina de Castilla (1419)Fraile dominico Juan II
14. Luis de
ValladolidConfesor real (1422)
Deán de la Facultad de Teología de
ValladolidJuan II
15. Álvaro de
Córdoba
Confesor de la reina
Catalina (1423)
Vicario de los dominicos en Hispania
(1427)Juan II
16. Alfonso de
Cusanza
= T1N48
Confesor real (1423-1437)
Fraile dominico; Obispo de Ourense
(1420-1424); Obispo de León
(1424-1437)
Juan II
17. Lope de
Barrientos
= T1N53, T3N73,
T8N28 y T19N5
Confesor real (1438-1454)
Obispo de Segovia (1438-1441);
Obispo de Ávila (1441-1445); Obispo
de Cuenca (1445-1469)
Juan II
18. Sancho de
Canales
Confesor de la reina Maria
de Aragón (1441)Fraile franciscano Juan II
19. Alfonso
Vázquez Peleas
= T1N64 y
T16N121
Confesor del príncipe D.
Enrique (1452)Canónigo de Segovia Juan II
2.2. El capellán real y el clérigo del rey
41 Un cargo que perdura en el tiempo es el de capellán real26. Desde los primeros reinados
por separado de León y Castilla – con la excepción de Alfonso VIII –, al principio delperíodo objeto de estudio, hasta Juan II, quien fomentó notablemente la estructuración
Medievalista, 28 | 2020
130
de la Capilla Real, encontramos nada menos que 123 clérigos ocupando esta función.Cabe indicar, a la vista de la evolución del cargo, una tendencia a la “honorificación”, yaque si para Alfonso X el capellán del rey estaba equiparado con el canciller en lo alto de lajerarquía administrativa del reino27, posteriormente encontramos que Enrique IIestipuló en 1366 que todos los abades de monasterios de patronato regio fueranreconocidos automáticamente como capellanes reales28. Cabe comentar, además, que elarzobispo de Santiago de Compostela fue designado casi siempre como capellán mayor
del rey desde Fernando IV en adelante, confirmando esta hipótesis del cargo honorífico.
Tabla 16
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Martín
MuñozCapellán Real (1163) Clérigo
Fernando II
de León
2. Pedro Capellán de la Reina (1200-1209) ClérigoAlfonso IX
de León
3. Bernardo
= T3N24Capellán real de León (1231) Arzobispo de Santiago
Fernando
III
4. MartínCapellán de la Reina-madre
(1231)Abad de Santo Domingo de Silos
Fernando
III
5. Pedro
Fernández
= T7N4
Capellán Real (1238 y 1248)Arcediano de Astorga (1238);
Obispo de Astorga (1248-1250)
Fernando
III
6. Fernando Capellán Real (1253-1258)Abad de Santillana (1253); Obispo
de Córdoba (1258)Alfonso X
7. Garci Perez Capellán Real (1253) Canónigo de Sevilla Alfonso X
8. Juan Capellán real (1253) Canónigo de Sevilla Alfonso X
9. Domingo Capellán de la reina Juana (1255) Clérigo Alfonso X
10. PoloCapellán de la reina Violante
(1255)Clérigo Alfonso X
11. Sancho de
Aragón
= T1N17 y
T3N31
Capellán mayor del rey (1272) Arzobispo de Toledo Alfonso X
12. Juan
Martínez
Capellán mayor de la Capilla Real
(1283-1284)Clérigo Alfonso X
13. Gonzalo
= T6N15Capellán real (1288-1290) Abad de Alfaro Sancho IV
Medievalista, 28 | 2020
131
14.Pedro
MartínezCapellán Real (1291) Abad de Covarrubias Sancho IV
15. Ruy Pérez Clérigo de la Capilla real (1291) Abad de Santillana Sancho IV
16. Gonzalo
PérezCapellán Real (1294) Abad de Santander Sancho IV
17. Gonzalo
= T3N44,
T4N27 y
T6N17
Capellán Real (1294-1297) Abad de Arbás
Sancho IV,
Fernando
IV
18. Alfon
PérezCapellán Real (1303-1304) Abad de Santillana
Fernando
IV
19. Rodrigo
Padrón
= T3N42 y
T4N28
Capellán mayor del rey
(1310-1315)Arzobispo de Santiago
Fernando
IV, Alfonso
XI
20. Gonzalo
MartínezCapellán real (1311) Clérigo
Fernando
IV
21. Pedro
ÁlvarezCapellán real (1311) Clérigo
Fernando
IV
22. Domingo
MartínCapellán Real (1312) (Desconocido)
Fernando
IV
23. Francisco
MartínezCapellán de la reina María (1312) Clérigo Alfonso XI
24. Berenguel
= T3N46 y
T4N31
Capellán mayor del rey
(1318-1330)Arzobispo de Santiago Alfonso XI
25. Juan
Fernández de
Limia
= T3N50 y
T4N35
Capellán mayor del rey (1331) Arzobispo de Santiago Alfonso XI
26. Pedro
= T1N28Capellán mayor del rey (1345) Arzobispo de Santiago Alfonso XI
27. Diego
González
= T17N36
Prior de la Capilla real de Toledo
(1347)Arcediano de Talavera Alfonso XI
28. García Capellán Real (1348) Abad de Valdedios Alfonso XI
Medievalista, 28 | 2020
132
29. Pedro
Alfonso
= T4N41 y
T17N38
Capellán mayor de la Capilla Real
de Córdoba (1351)Arcediano de Castro Pedro I
30. Gómez
= T4N43Capellán mayor del rey (1354) Arzobispo de Santiago Pedro I
31. Suer
Gomes
Capellán mayor del rey
(1363-1364)Arzobispo de Santiago Pedro I
32. Juan
Martínez
Capellán mayor de la Capilla Real
en Toledo (con Enrique II)Clérigo Enrique II
33. LopeCapellán real o Capellán mayor
del rey (1366-1371)Abad de San Salvador de Oña Enrique II
34. Rodrigo de
Moscoso
= T3N58 y
T4N48
Capellán mayor del rey
(1368-1374)Arzobispo de Santiago Enrique II
35. Diego
Fernández
= T17N40
Capellán real (1371)Prior de Santa María de
GuadalupeEnrique II
36. Gutierre
Gómez de
Toledo
= T3N60
Capellán mayor de la reina (1379) Abad de Husillos Enrique II
37. Juan
García
Manrique
= T3N59,
T4N51, T7N16
y T8N3
Capellán real (1384) Arzobispo de Santiago Juan I
38. Juan
Martínez de
Melgar
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1385,
1397, 1403 y 1422)
Clérigo
Juan I,
Enrique III,
Juan II
39. Juan
Martínez de
Burgos
Capellán real (con Juan I) Clérigo Juan I
40. Gonzalo
Sanchez de
Mena
Capellán real (1393) Clérigo Enrique III
Medievalista, 28 | 2020
133
41. Juan
Martínez de
Vitoria
Capellán real (1393) Arcediano de Berberiego Enrique III
42. Pablo de
Santa María
= T2N4,
T3N64, T9N21
y T19N3
Capellán mayor del rey (1403) Obispo de Cartagena Enrique III
43. Martín
GonzálezCapellán real (1407) Clérigo de Medina de Pomar Juan II
44. Francisco
DíazCapellán real (1407) Racionero de Toledo Juan II
45. Pedro
Alfonso de
Valladolid
= T8N27 y
T9N58
Capellán real (1407) Racionero de Toledo Juan II
46. Juan
Rodríguez de
Villalón
= T9N20 y
T10N9
Capellán de la reina (1407-1417)
Prior de Husillos (1407); Deán de
Ourense (1407); Canónigo de
Oviedo (1407); Arcediano de
Gordón (1407); Obispo de Badajoz
(1415-1417)
Juan II
47. Juan
González de
Valladolid
= T5N7
Capellán real (1418-1436)Abad de Covarrubias (1427);
Canónigo de Burgos (1436)Juan II
48. Fernando
Díaz de Toledo
= T3N69 y
T21N4
Capellán mayor de la reina
Leonor de Alburquerque (1418);
Capellán mayor de la Capilla Real
de Toledo (1426)
Arcediano de Alzira (1418);
Canónigo de Sevilla y Toledo
(1426)
Juan II
49. Lope de
Mendoza
= T1N39, T8N6
y T9N12
Capellán mayor del rey (1420) Arzobispo de Santiago Juan II
50. Juan
García
Capellán mayor del rey (con Juan
II, muerto en 1424)Abad de Santander Juan II
51. Pedro
Rodríguez de
Moya
Capellán mayor de la Capilla de
Catalina de Lancaster en Toledo
(1415); Capellám mayor de la
Capilla de los reyes nuevos de
Toledo (1420)
Clérigo Juan II
Medievalista, 28 | 2020
134
52. Pablo
García
Capellán real de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1420)Canónigo de Toledo Juan II
53. Alfonso
Martínez
Logrosán
Capellán real de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo
(1420-1422); Capellán de la reina-
madre D. Leonor de
Alburquerque (1420-1422)
Clérigo Juan II
54. Alfonso
Fernández de
Villalón
Capellán real de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
55. Alfonso
Rodríguez de
Peñalver
Capellán real de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
56. Antonio
Fernández
Capellán real de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
57. Antonio
Martínez de
Utrera
Capellán real de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
58. Diego
Gómez
Capellán real de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
59. Fernando
Alfonso de
Guadalupe
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
60. Fernando
Gómez de
Madrigal
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
61. Juan
Fernández de
Pedrosa
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
62. Juan
Fernández de
Santander
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
63. Juan
González
Frato
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
64. Juan
Martínez de
Toledo
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Abad de Covarrubias Juan II
Medievalista, 28 | 2020
135
65. Martín
Fernández de
Sevilla
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
66. Miguel
Sánchez
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
67. Nuño
González de
Cáceres
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
68. Pedro
Alfonso de
Cruz
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
69. Pedro
Fernández de
Carrera
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
70. Pedro
Fernández de
las Cañas
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
71. Pedro
González de
Ocaña
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
72. Pedro
Ramírez
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
73. Toribio
Fernández
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422)Clérigo Juan II
74. Juan
Martínez de
Villarreal
Chantre de la Capilla de los Reyes
Nuevos de Toledo (1422-1454)Clérigo Juan II
75. Juan
Alfonso de
Cuenca o
Cherino
= T1N58 y
T9N63
Capellán de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1422);
Capellán real (1433-1445)
Clérigo (1422-1436); Abad de
Alcalá la Real (1436-1445)Juan II
76. Alfonso
Martínez de
Burguillos
Capellán en la Capilla de los
Reyes Viejos de Toledo
(1422-1436)
Arcipreste de Canales (1422);
Tesorero de Toledo (1425); Prior
de la Algaba (1434-1436)
Juan II
Medievalista, 28 | 2020
136
77. Pedro
López de
Miranda
= T1N47 y
T8N24
Capellán mayor del rey
(1425-1438)
Abad de Santillana (1424);
Canónigo de Oviedo (1424);
Canónigo de Burgos (1425); Abad
de Santander (1431)
Juan II
78. Alfonso
Sánchez de
Valladolid
Capellán real (1425-1430)Arcediano de Gordón (1430); Abad
de Jerez (1430-1433)Juan II
79. Pedro
Fernández de
Fonte
Capellán de la reina (1426) Deán de Astorga Juan II
80. Fortún
Velázquez de
Cuéllar
= T1N41,
T8N21 y
T10N11
Capellán mayor (1427) Canónigo de Segovia Juan II
81. Luis
Martínez de
Toledo
= T3N70
Capellán real (1429) Canónigo de Burgos y Salamanca Juan II
82. Diego
Fernández de
Vadillo
Capellán real (1429-1444)
Canónigo de Burgos (1429); Abad
de Truiga (1436); Canónigo de
Toro (1444)
Juan II
83. Fernando
Ruiz de
Aguayo
Capellán real (1430) Chantre de Córdoba Juan II
84. Pedro de
Bocanegra
= T1N51 y
T9N42
Capellán real (1430) Obispo de Tuy Juan II
85. Alfonso de
VillegasCapellán real (1431) Arcediano de Lara (1431) Juan II
86. Gil
Fernández de
Toledo
= T9N55
Capellán real (1431) Abad de Alfaro Juan II
87. Alfonso
Martínez de
Toledo
= T9N38
Capellán de la Capilla de los
Reyes Viejos de Toledo
(1432-1438)
Arcediano de Talavera
(1424-1433)Juan II
Medievalista, 28 | 2020
137
88. Juan
AlfonsoCapellán real (1433-1436) Presbítero de Zamora Juan II
89. Juan López
de CastroCapellán real (1434)
Canónigo de Toledo (1434-1440);
Arcediano de Palenzuela (1434)Juan II
90. Alfonso de
Madrigal
= T1N62,
T8N32 y
T9N62
Capellán real de la Capilla de los
Reyes Nuevos de Toledo (1436)Canónigo de Salamanca (1442) Juan II
91. Alfonso
SolísCapellán real (1436) Canónigo de Salamanca (1436) Juan II
92. Francisco
FernándezCapellán real (1436) Canónigo de Coria Juan II
93. García
ÁlvarezCapellán real (1436) Clérigo Juan II
94. Juan
Rodríguez de
Camargo
Capellán real (1436) Canónigo de Coria Juan II
95. Juan
SánchezCapellán real (1436) Abad de San Salvador de Sevilla Juan II
96. Juan
VázquezCapellán real (1436) Prior de Aroche Juan II
97. Luis Núñez
de ToledoCapellán real (1436) Clérigo Juan II
98. Martín
Fernández de
Vilches
= T3N74 y
T5N10
Capellán real (1436) Maestro de la Capilla Real Juan II
99. Pedro de
CabañasCapellán real (1436) Clérigo Juan II
100. Rodrigo
Sánchez de
Arévalo
= T5N8 y
T9N59
Capellán real (1436) Clérigo de Segovia Juan II
101. Sancho
Martín Capellán real (1436) Provisor de Villafranca Juan II
Medievalista, 28 | 2020
138
102. Juan
GonzálezChantre de la Capilla real (1436) Clérigo Juan II
103. Vasco
López
Capellán real (1436); Capellán
mayor del rey (1439)Prior de Aracena Juan II
104. Alfonso
Sánchez de
Jaén
Capellán real (1436-1442) Canónigo de Toledo (1436) Juan II
105. Juan
Martínez
Capellán y Tesorero de la Capilla
Real (1436)Canónigo de Santiago Juan II
106. Juan
Rodríguez de
Toro
Capellán y Sacristán real (1437) Arcediano de Valderas Juan II
107. Juan
CarrilloCapellán real (1438) Arcediano de Ledesma Juan II
108. Diego
García de
Comontes
Capellán real (1439) Arcediano de Cartagena Juan II
109. Alfonso
de ContrerasCapellán real (1440) Canónigo de León Juan II
110. Juan
NúñezCapellán de la reina (1440) Arcipreste de Madrid Juan II
111. Fernando
Vázquez
Capellán mayor de la reina María
(1442-1445)Deán de Palencia Juan II
112. Juan
García de
Melgosa
Capellán real (1443) Deán de Lugo Juan II
113. Juan
González de
Maina
= T5N6 y
T9N56
Capellán real (1443) Maestrescuela de Sigüenza Juan II
114. Pedro de
Cervantes
= T9N64
Capellán real (1444) Canónigo de Cuenca y de Burgos Juan II
115. Gome
Díaz de YslaCapellán real (1445) Arcediano de Carballeda Juan II
116. Pedro de
VegaCapellán real (1447) Canónigo de Palencia Juan II
Medievalista, 28 | 2020
139
117. Rodrigo
de Luna
= T1N60 y
T8N30
Capellán mayor del rey (1448) Abad de Jerez Juan II
118. Fernando
González de
Sigüenza
= T5N9
Capellán real (1448) Chantre de Sigüenza Juan II
119. Rodrigo
Díaz de
Teixeiro
Capellán real (1448) Tesorero de Ourense Juan II
120. Pedro
García de
Huete
= T8N29
Capellán real (1449); Capellán
mayor del rey (1453)
Canónigo de Toledo (1448); Deán
de Toledo (1453)Juan II
121. Alfonso
Vázquez
Peleas
= T1N64 y
T15N19
Capellán real (1452) Canónigo de Segovia (1452) Juan II
122. Arias Díaz Capellán real (1453) Presbítero de Toledo Juan II
123. Diego de
Durango Capellán real (1453) Canónigo de Palencia Juan II
42 En consonancia con el cargo anterior, existe un puesto dentro de la esfera doméstica
que estaría más estrechamente vinculado con el asesoramiento espiritual – y por lotanto también temporal – a los monarcas: el clérigo del rey . Su vinculación es másestrecha y personal pues están continuamente en la corte, a diferencia de los capellanes,cuya presencia ante el monarca es requerida muchas veces solo para eventos especiales.Como se comentó anteriormente, podría pensarse que estos clérigos del rey tambiénhabrían ejercido la función de confesores, ya que su presencia en la documentación seremonta al principio del período estudiado y desaparecen con Enrique II, precisamenteel momento en que el capellán real aumenta en número y en presencia. Del por qué nohay constancia con Fernando III no hay una respuesta clara, pudiendo ser que elcapellán ya incluía esta figura o que otros clérigos con otros cargos la desempeñaran. Decualquier forma, el número total es de 40.
Tabla 17
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Fernando Martínez Clérigo del rey (1162) Canónigo de LeónFernando II de
León
Medievalista, 28 | 2020
140
2. Nuño Díaz Clérigo del rey (1162) ClérigoFernando II de
León
3. Martín Xira Clérigo del rey (1164) ClérigoFernando II de
León
4. Pelayo Íñiguez Clérigo del rey (1179) Canónigo de MondoñedoFernando II de
León
5. Pedro Clérigo del rey (1188)Arcediano de Plasencia y
Arcipreste de Ávila
Alfonso VIII de
Castilla
6. Michael Vasallo del rey (1193) ClérigoAlfonso VIII de
Castilla
7. Pedro FrancoClérigo y Vasallo del
Rey (1195)Canónigo de Astorga
Alfonso IX de
León
8. Nicholaus Clérigo del rey (1229) ClérigoAlfonso IX de
León
9. Lope Pérez Clérigo del rey (1254) Obispo de Córdoba Alfonso X
10. Pedro Pérez Clérigo del rey (1255) Clérigo Alfonso X
11. Fernando (maese)
= T4N14Clérigo del rey (1263) Arcediano de Reina Alfonso X
12. Bernaldo Clérigo del Rey (1263) Clérigo Alfonso X
13. Martín de Fitero
= T14N2Clérigo del Rey (1263) Arcediano de Córdoba Alfonso X
14. Fernán García
= T6N8 y T14N3Clérigo del Rey (1267) Arcediano de Niebla Alfonso X
15. Miguel DíazClérigo del Rey
(1267-1270)Arcediano de Córdoba Alfonso X
16. García Martínez Clérigo del Rey (1268) Deán de Cartagena Alfonso X
17. Juan Mateo Clérigo del Rey (1277) Maestrescuela de Córdoba Alfonso X
18. Gonzalo Clérigo del Rey (1284) Clérigo Alfonso X
19. García Martínez Clérigo del Rey (1289) Abad de Santa Pía Sancho IV
20. Gutier González Clérigo del Rey (1290) Clérigo Sancho IV
21. Pascual
= T7N10Clérigo del Rey (1291) Arcediano de Olmedo Sancho IV
Medievalista, 28 | 2020
141
22. Pedro Clérigo del Rey (1293) Obispo de Ávila Sancho IV
23. Fernán Fernández
= T13N2Clérigo del Rey (1294) Canónigo de Tuy Sancho IV
24. Rodrigo Díaz
= T6N12 y T13N3Clérigo del Rey (1294) Abad de Valladolid Sancho IV
25. Alfonso Martínez Clérigo del Rey (1294) Arcediano de Álava (1294) Sancho IV
26. Jufré de Loaysa Clérigo del Rey (1294) Arcediano de Toledo Sancho IV
27. Pedro Domínguez Clérigo del Rey (1297)Arcediano de Segovia y
Canónigo de Toledo Fernando IV
28. Pedro Yáñez
= T6N21Clérigo del Rey (1300)
Arcediano de Murcia y
Maestrescuela de LugoFernando IV
29. Bartolomeo
Sánchez de Sevilla
= T13N4
Clérigo del Rey (1303) Clérigo del Maestre de Santiago Fernando IV
30. Pedro González de
VillarealClérigo del Rey (1303) Clérigo del Maestre de Santiago Fernando IV
31. Gonzalo PérezClérigo del rey
(1304-1311)Abad de Covarrubias Fernando IV
32. Martín Sánchez Clérigo del Rey (1311) Clérigo Fernando IV
33. Alfonso Martínez Clérigo del Rey (1312)Prior de San Marcos de León
(1303)Fernando IV
34. Gil PérezClérigo de la Reina
(1312)Arcediano de Pedroche Alfonso XI
35. Pedro Clérigo del Rey (1340)Prior de Guadalupe y Cardenal
de EspañaAlfonso XI
36. Diego González
= T16N27Clérigo del Rey (1347) Arcediano de Talavera Alfonso XI
37. Toribio FernándezClérigo del Rey
(1348-1365)
Prior de Santa María de
Guadalupe
Alfonso XI,
Pedro I
38. Pedro Alfonso
= T4N41 y T16N29Clérigo del Rey (1353) Arcediano de Castro Pedro I
39. Martín García Clérigo del Rey (1358) Prior de La Algaba Pedro I
Medievalista, 28 | 2020
142
40. Diego Fernández
= T16N35
Clérigo del Rey
(1368-1376)
Prior de Santa María de
GuadalupeEnrique II
43 Cabe hacer un inciso, antes de continuar, para aclarar que existieron otros cargos
vinculados con la esfera doméstica de la casa real y su faceta religiosa, como loslimosneros, cantores, organistas, etc. Sin embargo, dado que no aparecen explícitamenteen la documentación de cancillería, se decidió no incluirlos entre los listados29.
2.3. Otros cargos
44 Muchas veces, los eclesiásticos que desempeñan el papel de testamentarios tienen una
relevancia mayor que otras posiciones teóricamente más altas, incluso en casos en quelos clérigos no hayan ejercido ningún cargo en el servicio regio administrativo odoméstico. Son aquellos en los que es depositado el mandato regio y son los veladoresde que se cumpla. No obstante, se encuentran en esta categoría solamente 11 clérigos,siendo los reyes que confiaron en ellos Alfonso VIII de Castilla, Alfonso X y Enrique III.
Tabla 18
NOMBRE CARGO Y AÑOSCARGO
ECLESIÁSTICOREINADO
1. Fernando Díaz Testamentario real (1204) Maestre de SantiagoAlfonso VIII de
Castilla
2. Guterius Ermildi Testamentario real (1204) Prior del HospitalAlfonso VIII de
Castilla
3. Martín López de
Pisuerga
= T3N16
Testamentario real (1204) Arzobispo de ToledoAlfonso VIII de
Castilla
4. Rodrigo Testamentario real (1204) Obispo de SegoviaAlfonso VIII de
Castilla
5. Rodrigo Jiménez de
Rada
= T1N6 y T3N27
Testamentario real (1214) Arzobispo de ToledoAlfonso VIII de
Castilla
6. TelliusTestamentario real
(1214-1215)Obispo de Palencia
Alfonso VIII de
Castilla
7. Garci Fernández Testamentario real (1284) Maestre de Alcántara Alfonso X
8. Juan Martínez Testamentario real (1284) Clérigo Alfonso X
9. Raimundo de Losana
= T1N11, T4N13 y T14N1Testamentario real (1284) Arzobispo de Sevilla Alfonso X
Medievalista, 28 | 2020
143
10. Fernando de Illescas
= T1N35, T9N10 y T15N5Testamentario real (1406) Fraile franciscano Enrique III
11. Juan Enríquez Testamentario real (1406) Ministro franciscano Enrique III
45 Un cargo relevante dentro de la esfera doméstica de la monarquía, más por su impacto
en el futuro que en el presente, es el de ayo o maestro, es decir, el encargado de laeducación y formación de los príncipes. En la documentación, sin embargo, aparecenmencionados explícitamente, como cargo reconocido, muy pocas veces, encontrándoseentre los clérigos que desempeñaron esta función los cinco siguientes:
Tabla 19
NOMBRE CARGO Y AÑOSCARGO
ECLESIÁSTICOREINADO
1. Rodrigo Pérez
= T1N23 y T20N3"Amo" del rey (1293-1295) Maestre de Calatrava Sancho IV
2. Vasco Rodríguez
= T11N2 y T20N6Ayo del infante D. Pedro (1335) Maestre de Santiago
Alfonso
XI
3. Pablo de Santa María
= T2N4, T3N64, T9N21 y
T16N42
Maestro del Príncipe (1405) Obispo de Cartagena Juan II
4. Juan Maestro del rey (1419) Obispo de Badajoz Juan II
5. Lope de Barrientos
= T1N53, T3N73, T8N28 y
T15N17
Maestro del Príncipe
(1429-1434)Fraile Juan II
46 También muy cercanos a la vida cotidiana de los monarcas y la familia real se
encuentran los mayordomos mayores30, quienes, prácticamente desde Sancho IV enadelante, fueron únicamente maestres y priores de órdenes militares, quizá debido a laintrínseca función derivada de servir de guardia personal del rey. De cualquier forma,los reyes Trastámara optaron por la nobleza para este cargo.
Tabla 20
NOMBRE CARGO Y AÑOS CARGO ECLESIÁSTICO REINADO
1. Pedro Vele
= T3N11Mayordomo real (1188) Arcediano de Santiago Alfonso IX
2. Juan Arias Vice-Mayordomo del rey (1218) Clérigo Alfonso IX
Medievalista, 28 | 2020
144
3. Rodrigo Pérez
= T1N23 y T19N1Mayordomo del rey (1293-1294) Maestre de Calatrava Sancho IV
4. Juan Osorez
= T1N22, T10N5 y T11N1
Mayordomo mayor del rey
(1298-1301)Maestre de Santiago
Fernando
IV
5. Fernando Rodríguez
de Valbuena
= T12N3
Mayordomo mayor del rey
(1328-1332)
Prior del Hospital de
San JuanAlfonso XI
6. Vasco Rodríguez
= T11N2 y T19N2
Mayordomo mayor del infante D.
Pedro (1335)Maestre de Santiago Alfonso XI
7. Garci ÁlvarezMayordomo mayor del infante D.
Alfonso (1360-1361)Maestre de Santiago Pedro I
8. Diego GarcíaMayordomo mayor del rey
(1361-1364)Maestre de Calatrava Pedro I
9. Gutier Gómez de
Toledo
= T11N3
Mayordomo mayor del infante D.
Fernando (1363)
Prior del Hospital de
San JuanPedro I
47 Otros cargos también vinculados a la gestión cotidiana de la casa real son los de
despensero mayor, camarero mayor o médico. Dado que solamente hay un clérigo para cadauno de estos cargos recogidos en la documentación, los presentamos todos juntos,incluyendo un colaborador del rey y un servicio regio, cuya función no queda clara, aunquese intuye que tiene que ver con esa ayuda diaria en la casa del rey.
Tabla 21
NOMBRE CARGO Y AÑOSCARGO
ECLESIÁSTICOREINADO
1. Gonzalo Martínez Despensero mayor del Rey (1338)Maestre de
Calatrava
Alfonso
XI
2. Pedro Fernández
de VelascoCamarero mayor del rey (1374)
Obispo de
PalenciaEnrique II
3. Pedro Fernández
de FríasColaborador del rey (1394) Obispo de Osma
Enrique
III
4. Fernando Díaz de
Toledo
= T3N69 y T16N48
Médico del infante Enrique de Aragón
(1411); Médico de Fernando I de Aragón
(1412)
ClérigoEnrique
III
5. Pedro Fernández
de PoblacionesServicio regio (1412) Clérigo Juan II
Medievalista, 28 | 2020
145
3. Conclusiones
48 Dadas la extensión del artículo y el objetivo último – que era la presentación de los
resultados, distribuidos por listas, del análisis documental – las conclusiones seránbreves. No obstante, antes de ir a ellas, cabe destacar un dato más que sirve paracontextualizar toda esta información. Hay documentos, principalmente catedralicios ypontificios, y otro tipo de fuentes, como las crónicas, que evidencian que las decisionespolíticas tomadas por clérigos en momentos especialmente delicados – como la pugnaentre Alfonso X y su hijo Sancho, o Pedro I contra su hermanastro Enrique – jugaron unpapel crucial, a pesar de no tener un cargo específico asignado, o aparecer ocupando uncargo menor. Esto no queda reflejado en la documentación de cancillería, por lo queremitimos a futuros estudios sobre el tema31.
49 A esto habría que sumar toda la información concerniente a los beneficios y privilegios
que la Corona otorgó a determinados clérigos y/o a comunidades de clérigos (cabildoscatedralicios y monasterios), que puede ser consultada en la página web del proyectoDEGRUPE, pero que se ha decidido no incluir en este trabajo por necesitar de un estudioseparado y detallado.
50 Dicho esto, una primera conclusión es que la presencia de eclesiásticos en las esferas
doméstica y administrativa de la Corona es constante y significativa. Muchos de ellosdesempeñan más de una función dentro del sistema de gestión del reino, o bien vanocupando cargos de mayor responsabilidad, a la par que van ascendiendo en elescalafón interno de la Iglesia. Es evidente que algunos de ellos llegan a puestos como elde arzobispo de Toledo o Sevilla, precisamente por el servicio al rey, aunque tambiénhay ejemplos de prelados elegidos por los papas que colaborarán estrechamente con losmonarcas. Lo que sí está claro es que no hay Iglesia sin monarquía, ni mucho menosmonarquía sin Iglesia.
51 Trazar las carreras eclesiásticas y políticas de cada uno de los clérigos mencionados en
las listas que se han visto será tarea de un trabajo posterior, que podrá especificar dequé manera influyen la una en la otra y de qué manera los monarcas han usado oaprovechado los conocimientos de los clérigos. Sirva, de todas formas, como datointeresante el hecho de que los clérigos que quizá más influencia han ejercido sobre losmonarcas, como es el caso de los confesores y clérigos del rey raramente han ocupadootros puestos en la administración o la esfera doméstica (4 de 18 en el primer caso; 9 de40 en el segundo). En cambio, otros cargos como el de consejero, canciller , notario, secretario u oidor presentan una tasa de más del 50% de compaginar y/o evolucionar aotros cargos. Se podría concluir, por lo tanto, en un primer momento, que los clérigosque desempeñan su función en el ámbito de la administración del reino y de lacancillería real – entendida en sentido amplio como el conjunto de cargos que redactano mandan redactar documentos regios y/o se ocupan de la administración de justicia –tienden a ocupar otros cargos, mientras que los que pertenecen a la esfera domésticasuelen entrar y salir del foco político sin interaccionar con otras parcelas de la gestióndel reino.
52 Cabe terminar con unas palabras de invitación a la comunidad científica para utilizar
de la mejor manera que consideren los datos que aquí se presentan, esperando quepuedan, además, verse incrementados con otros estudios sobre otros reinos – pararealizar comparaciones – y otras cancillerías como las catedralicias, monásticas o
Medievalista, 28 | 2020
146
pontificias – para ampliar la información prosopográfica –, y completar así el cuadrogeneral de la participación de los clérigos en la construcción y consolidación de lasmonarquías modernas.
BIBLIOGRAFÍA
Fuentes escritas:
Archivo Histórico Nacional, Clero-Secular Regular, c. 313, n. 19.
Fuentes impresas:
ALFONSO X – Las Siete Partidas. SÁNCHEZ-ARCILLA BERNAL, José (ed.). Madrid: Reus, 2004.
Estudios:
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente Ángel – “Iglesia y monarquía en el reinado de Fernando II”. in
San Martino de León: ponencias del I Congreso Internacional sobre San Martino en el VIII centenario de su
obra literaria. León: Isidoriana, 1987, pp. 133-152.
ARQUERO CABALLERO, Guillermo Fernando – El confesor real en la Castilla de los Trastámara:
1366-1504. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 2016. Tesis Doctoral.
AYALA MARTÍNEZ, Carlos de – “Alfonso VIII y la iglesia de su reino”. in LÓPEZ OJEDA, Esther –
1212, un año, un reinado, un tiempo de despegue. Nájera: Instituto de Estudios Riojanos, 2013, pp.
237-296.
CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula – “La Casa de Juan I de Castilla: aspectos domésticos y ámbitos
privados de la realeza castellana a finales del siglo XIV (ca. 1370-1390)”. En la España Medieval 34
(2011), pp. 133-180.
DÍAZ IBÁÑEZ, Jorge – “Fernando III, Inocencio IV y los fundamentos de la soberanía regia sobre la
iglesia en la corona de Castilla”. in Fernando III y su tiempo (1201-1252). Madrid: Fundación Sánchez
Albornoz, 2003, pp. 323-342.
DÍAZ MARCILLA, Francisco José – “Lealtades y deslealtades eclesiásticas durante la cuestión
sucesoria entre Alfonso X y Sancho IV (1282-1284)”. Edad Media. Revista de Historia 18 (2017), pp.
177-206.
DIOS, Salustiano de – El consejo real de Castilla (1385-1522). Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1982.
GARCÍA MARÍA, José María – El oficio público en Castilla durante la Baja Edad Media. Madrid: Instituto
Nacional de la Administración Pública, 1987.
KLEINE, Marina – “Para la guarda de la poridad, del cuerpo y de la tierra del rey: los oficiales
reales y la organización de la corte de Alfonso X”. Historia, Instituciones, Documentos 35 (2008), pp.
229-240.
KLEINE, Marina – La cancillería real de Alfonso X. Sevilla: Editorial de la Universidad de Sevilla,
2015.
Medievalista, 28 | 2020
147
NIETO SORIA, José Manuel – “Iglesia y orígenes del Estado moderno en la Castilla Tratámara”.
Espacio, Tiempo y Forma. Serie III: Historia Medieval 4 (1991), pp. 137-160.
NIETO SORIA, José Manuel – Iglesia y génesis del estado moderno en Castilla (1369-1480). Madrid:
Editorial Complutense, 1993.
NOGALES RINCÓN, David – La representación religiosa de la monarquía Castellano-leonesa: la Capilla
Real (1252-1504). Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 2009.
ORTUÑO SÁNCHEZ-PEDREÑO, José María – El Adelantado de la Corona de Castilla. Murcia: EDITUM,
1993.
OSTOLAZA ELIZONDO, María Isabel – “La cancillería y otros organismos de expedición de
documentos durante el reinado de Alfonso XI (1312-1350)”. Anuario de Estudios Medievales 16
(1986), pp. 147-226.
PASCUAL MARTÍNEZ, Lope – “Notas para un estudio de la cancillería castellana en el siglo XIV: la
cancillería de Pedro I (1350-1369)”. Miscelánea Medieval Murciana 5 (1980), pp. 189-243.
SALAZAR Y ACHA, Jaime de – “La cancillería real en la Corona de Castilla”. in SARASA SÁNCHEZ,
Esteban – Monarquía, crónicas, archivos y cancillerías en los reinos hispano-cristianos: siglos XIII-XV.
Zaragoza: Institución Fernando el Católico, 2014, pp. 309-324.
SALAZAR Y CASTRO, Luis – Historia genealógica de la Casa de Lara. Vol. 1. Madrid: Imprenta Real,
1697.
SÁNCHEZ BELDA, Luis – “La cancillería castellana durante el reinado de Sancho IV (1284-1295)”.
Anuario de Historia del Derecho Español 21-22 (1951-1952), pp. 171-223.
SÁNCHEZ HERRERO, José – “Los obispos castellanos y su participación en el gobierno de Castilla,
1350-1406”. in RUCQUOI, Adeline – Realidad e imágenes del poder. España a fines de la Edad Media.
Valladolid: Universidad de Valladolid, 1988, pp. 85-113.
TORRES SANZ, David – La administración central castellana en la Baja Edad Media. Valladolid:
Universidad de Valladolid, 1982.
VEAS ARTESEROS, Francisco de Asís; VEAS ARTESEROS, María del Carmen – “Alférez y
mayordomo real en el siglo XIII”. Miscelánea medieval murciana 13 (1986), pp. 29-48.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar - Las relaciones monarquía - iglesia en época de Juan II de Castilla
(1406-1454). Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 2006. Tesis Doctoral.
NOTAS
1. Cabe comentar, a modo de aclaración, que el proyecto analizó también perfiles de eclesiásticos
vinculados con la Corona para los reinos de Portugal (trabajo prácticamente completado),
Navarra y Aragón (ambos trabajados parcialmente). Tanto estos perfiles como los que van a ser
presentados en este artículo – así como la información más específica de cada uno que, por
motivos de espacio, no se incluirá aquí – pueden ser consultados y estudiados en la base de datos
del proyecto DEGRUPE: http://degrupe.cidehus.uevora.pt. Un agradecimiento especial va para el
Prof. Óscar Villarroel (UCM).
2. Remitimos a los siguientes trabajos, entre los muchos posibles, por responder a criterios de
mayor amplitud y sistematización: GARCÍA MARÍA, José María – El oficio público en Castilla durante
la Baja Edad Media. Madrid: Instituto Nacional de la Administración Pública, 1987; TORRES SANZ,
David – La administración central castellana en la Baja Edad Media. Valladolid: Universidad de
Valladolid, 1982; ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente Ángel – “Iglesia y monarquía en el reinado de
Medievalista, 28 | 2020
148
Fernando II”. in San Martino de León: ponencias del I Congreso Internacional sobre San Martino en el VIII
centenario de su obra literaria. León: Isidoriana, 1987, pp. 133-152; AYALA MARTÍNEZ, Carlos de –
“Alfonso VIII y la iglesia de su reino”. in LÓPEZ OJEDA, Esther – 1212, un año, un reinado, un tiempo
de despegue. Nájera: Instituto de Estudios Riojanos, 2013, pp. 237-296; DÍAZ IBÁÑEZ, Jorge –
“Fernando III, Inocencio IV y los fundamentos de la soberanía regia sobre la iglesia en la corona
de Castilla”. in Fernando III y su tiempo (1201-1252). Madrid: Fundación Sánchez Albornoz, 2003, pp.
323-342; KLEINE, Marina – La cancillería real de Alfonso X. Sevilla: Editorial de la Universidad de
Sevilla, 2015; SÁNCHEZ BELDA, Luis – “La cancillería castellana durante el reinado de Sancho IV
(1284-1295)”. Anuario de Historia del Derecho Español 21-22 (1951-1952), pp. 171-223; OSTOLAZA
ELIZONDO, María Isabel – “La cancillería y otros organismos de expedición de documentos
durante el reinado de Alfonso XI (1312-1350)”. Anuario de Estudios Medievales 16 (1986), pp.
147-226; PASCUAL MARTÍNEZ, Lope – “Notas para un estudio de la cancillería castellana en el
siglo XIV: la cancillería de Pedro I (1350-1369)”. Miscelánea Medieval Murciana 5 (1980), pp. 189-243;
SÁNCHEZ HERRERO, José – “Los obispos castellanos y su participación en el gobierno de Castilla,
1350-1406”. in RUCQUOI, Adeline – Realidad e imágenes del poder. España a fines de la Edad Media.
Valladolid: Universidad de Valladolid, 1988, pp. 85-113; NIETO SORIA, José Manuel – Iglesia y
génesis del estado moderno en Castilla (1369-1480). Madrid: Editorial Complutense, 1993; VILLARROEL
GONZÁLEZ, Óscar – Las relaciones monarquía - iglesia en época de Juan II de Castilla (1406-1454). Madrid:
Universidad Complutense de Madrid, 2006. Tesis Doctoral.
3. Para aligerar el artículo de referencias, invitamos a los investigadores a utilizar la base de
datos del proyecto DEGRUPE (ver nota 1), pues en ella encontrarán toda la bibliografía y la
documentación utilizada, de la cual se han obtenido los datos y fechas que aquí se exponen. Valga
esta información para el resto de los perfiles que serán analizados.
4. Los años se refieren a los documentos en que aparece la mención al cargo, no a los años
efectivos de desempeño del cargo.
5. Todos los nombres seguidos por un asterisco (*) indican que en la documentación aparecen
como consejeros del rey para resolver un caso concreto y en un momento concreto, no
desempeñando por tanto una función continuada.
6. Cada vez que un mismo personaje ocupe varios cargos, se hará referencia a la Tabla (T) y
Número (N) donde aparece.
7. Si bien no cubre todo el período objeto de análisis, cabe consultar la obra de DIOS, Salustiano
de – El consejo real de Castilla (1385-1522). Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1982.
8. Como fue el caso de Juan, obispo de Sigüenza, cuando es presentado al cabildo de Sevilla por
Enrique III para que fuera elegido arzobispo en 1401. Archivo de la Catedral de Sevilla, Fondo
Histórico General, c. 185, d. 7/4.
9. KLEINE, Marina – La cancillería real de Alfonso X …, pp. 52-57.
10. SALAZAR Y ACHA, Jaime de – “La cancillería real en la Corona de Castilla”. in SARASA
SÁNCHEZ, Esteban – Monarquía, crónicas, archivos y cancillerías en los reinos hispano-cristianos: siglos
XIII-XV. Zaragoza: Institución Fernando el Católico, 2014, p. 313.
11. SALAZAR Y ACHA, Jaime de – “La cancillería real en la Corona de Castilla” …, pp. 311-312. El
autor comparte la opinión de que es por influencia ultrapirenaica, ya que Alfonso VII, al ser
designado emperador, optó por ampliar la estructura burocrática copiando la del Sacro Imperio
para adaptarse mejor a las nuevas necesidades de gobierno.
12. Esta es la opinión que ya formuló en el siglo XVII SALAZAR Y CASTRO, Luis – Historia
genealógica de la Casa de Lara. Vol. 1. Madrid: Imprenta Real, 1697, p. 13, y que han seguido hasta
hoy muchos investigadores. Ciertamente, muchos arzobispos de Santiago o Toledo no han
participado activamente en las cancillerías regias, pero afirmar que todos no lo hicieron sería
excesivo, ya que ejemplos como los de Gonzalo García Gudiel o Pablo de Santa María, lo
desmentiría.
Medievalista, 28 | 2020
149
13. No es tarea de este estudio entrar a analizar cuestiones más problemáticas, pero cabe indicar
que se piensa que la mención “domini regis chancellarius” – que se encuentra en la
documentación de los reinados de Fernando II y Alfonso IX de León, y Alfonso VIII y Fernando III
de Castilla – sería indicativo de un canciller específico cercano al monarca y verdadero ejecutor
de las órdenes reales, existiendo por tanto desde antes.
14. ALFONSO X – Las Siete Partidas. SÁNCHEZ-ARCILLA BERNAL, José (ed.). Madrid: Reus, 2004. La
cita, siguiendo la nomenclatura al uso, en Partidas II, 9, 4.
15. Así lo comentan las crónicas de la época. SALAZAR Y ACHA, Jaime de – “La cancillería real en
la Corona de Castilla” …, pp. 313-314.
16. NIETO SORIA, José Manuel – “Iglesia y orígenes del Estado moderno en la Castilla Tratámara”.
Espacio, Tiempo y Forma. Serie III: Historia Medieval 4 (1991), p. 143.
17. Como ocurre en este caso, en que podría pensarse en que este Pedro, clérigo, y Pedro Suárez,
arcediano, fueran la misma persona, no existiendo la certeza absoluta, como sí que la hay en
otros casos, se ha optado por mencionar a los dos de forma separada. Mismo criterio se ha
aplicado para otros casos de homonimia.
18. Al tratarse de un documento donde el propio arzobispo es el autor, autodenominándose
canciller, y no siendo pues emanado por la cancillería regia, puede pensarse que el por entonces
oficialmente canciller mayor de León, el arzobispo Gonzalo, seguía siéndolo a todos los efectos.
Archivo de la Catedral de Sevilla, Fondo Histórico General, c. 133, d. 9/4.
19. DÍAZ MARCILLA, Francisco José – “Lealtades y deslealtades eclesiásticas durante la cuestión
sucesoria entre Alfonso X y Sancho IV (1282-1284)”. Edad Media. Revista de Historia 18 (2017), p. 200.
20. KLEINE, Marina – La cancillería real de Alfonso X …, pp. 58-66.
21. DÍAZ MARTÍN, Luis Vicente – “Sobre los orígenes de la Real Audiencia”. Historia, Instituciones,
Documentos 21 (1994), pp. 125-308.
22. Una aproximación general en VIGIL MONTES, Néstor – “Cuestiones metodológicas acerca del
rol de los eclesiásticos en la formación de la diplomacia de las monarquías europeas en la Baja
Edad Media”. Vegueta 18 (2018), pp. 403-423.
23. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar – “Eclesiásticos en la diplomacia castellana en el siglo XV”.
Anuario de Estudios Medievales 40/2 (2010), pp. 791-819.
24. ORTUÑO SÁNCHEZ-PEDREÑO, José María – El Adelantado de la Corona de Castilla. Murcia:
EDITUM, 1993.
25. ARQUERO CABALLERO, Guillermo Fernando – El confesor real en la Castilla de los Trastámara:
1366-1504. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 2016. Tesis Doctoral.
26. Uno de los estudios más completos en: NOGALES RINCÓN, David – La representación religiosa de
la monarquía Castellano-leonesa: la Capilla Real (1252-1504). Madrid: Universidad Complutense de
Madrid, 2009.
27. KLEINE, Marina – “Para la guarda de la poridad, del cuerpo y de la tierra del rey: los oficiales
reales y la organización de la corte de Alfonso X”. Historia, Instituciones, Documentos 35 (2008), pp.
236-237.
28. Archivo Histórico Nacional, Clero-Secular Regular, c. 313, n. 19.
29. Remitimos en este sentido a CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula – “La Casa de Juan I de
Castilla: aspectos domésticos y ámbitos privados de la realeza castellana a finales del siglo XIV
(ca. 1370-1390)”. En la España Medieval 34 (2011), pp. 133-180.
30. Para una panorámica general del cargo: VEAS ARTESEROS, Francisco de Asís; VEAS
ARTESEROS, María del Carmen – “Alférez y mayordomo real en el siglo XIII”. Miscelánea medieval
murciana 13 (1986), pp. 29-48.
31. El autor de este artículo ha desarrollado durante tres años un estudio sistemático sobre la
presencia de clérigos en las crónicas oficiales de los reinos de Castilla, Portugal, Aragón y Navarra
durante el período de la Guerra de los Cien Años. Aunque todavía se está trabajando en futuras
publicaciones que den a la luz más datos, sirva como ejemplo este estudio: DÍAZ MARCILLA,
Medievalista, 28 | 2020
150
Francisco José – “El período aviñonés y el Cisma como trasfondo de los conflictos internos en la
cristiandad: una perspectiva desde la narrativa historiográfica (1309-1417)”. in ARAUS
BALLESTEROS, Luis; PRIETO SAYAGÜÉS, Juan Antonio (eds.) – Las tres religiones en la Baja Edad
Media peninsular. Espacios, percepciones y manifestaciones. Madrid: La Ergástula, 2018, pp. 187-202.
RESÚMENES
El presente artículo muestra los resultados de la investigación que se llevó a cabo en el Proyecto
DEGRUPE (2013-2015) sobre los clérigos que participaron en la conformación de las monarquías
bajomedievales peninsulares, concretamente en lo referido a los reinos de León y Castilla, tanto
por separado desde 1157, como en conjunto desde 1230. El estudio analiza los diferentes cargos
ocupados por clérigos dentro de la administración regia, así como los cargos dentro de la esfera
doméstica de las casas reales.
This article aims to show the research results of the DEGRUPE Project (2013-2015), focused on the
clergy involved in the consolidation of Late Medieval Iberian monarchies. In this case, the data
are related to the kingdoms of Leon and Castile, both separately (1157 to 1230) and united (from
1230 onwords). The study analyses all the positions held by clerics within the royal
administration, as well as within the royal house, as royal private service.
ÍNDICE
Keywords: Medieval Church, royal administration, royal service, Castile and Leon, monarchy
Palabras claves: Iglesia medieval, Administración real, Servicio regio, Castilla y León,
Monarquía
AUTOR
FRANCISCO JOSÉ DÍAZ MARCILLA
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais 1070-312 Lisboa, Portugal
. https://orcid.org/0000-0002-2651-1664
Medievalista, 28 | 2020
151
la participación eclesiástica castellana
Diplomacia y construcciónmonárquicala participación eclesiástica castellana
Diplomacy and the building of monarchy: the participation of ecclesiastics in
Castile
Óscar Villarroel González
Introducción
1 La participación de eclesiásticos en la diplomacia no supone ninguna novedad para la
historiografía actual. Son múltiples los casos de análisis en los que, desde un punto devista u otro (el análisis de la monarquía, de la diplomacia, de los conflictos…), se hapodido constatar la presencia de eclesiásticos en funciones diplomáticas. Esto esextensible para la historiografía de la Corona de Castilla y yo mismo, en alguna ocasiónanterior, he participado en ese análisis1. No vamos aquí a descubrir nuevosmediterráneos, ni a transitar rutas ya conocidas. El objetivo de este trabajo esprofundizar en una vía que está apenas esbozada: el funcionamiento de la diplomaciacastellana y la participación eclesiástica en su evolución.
2 Hoy día empezamos a comprender cómo funcionaba la diplomacia en el periodo
medieval: los usos, formas, documentos, la organización institucional… No importa yatanto (aunque también) conocer todas las embajadas y su evolución, sino que se pone elfoco de atención en cómo funcionaba todo el sistema y sus aparatos2. Esto esprácticamente común a la mayor parte de los reinos occidentales, aunque el casocastellano supone una excepción, puede que parcial. Como se sabe, la falta dedocumentación es la fuente del problema, al no conservarse apenas documentacióndiplomática castellana3. Sólo ahora estamos siquiera empezando a caminar en un mejoranálisis y comprensión de su organización y funcionamiento. Todo ello por dos vías: porun lado, gracias al análisis, según nuevos puntos de vista, de la documentación
Medievalista, 28 | 2020
152
existente y ya conocida; y en segundo lugar de las nuevas fuentes que van apareciendocon el rastreo de archivos extranjeros a Castilla.
3 Y ahora lo que se plantea, aunque sea de forma tímida y apenas tanteando el terreno, es
analizar si hubo eclesiásticos que participasen de una forma u otra en la organización omejora de los aparatos diplomáticos de la monarquía. Es decir, si ayudaron a construirla monarquía por medio de la diplomacia, y especialmente por medio de la organizaciónde las tareas diplomáticas. Esta participación en la génesis del Estado, que se haanalizado de forma exhaustiva de forma general en los diversos poderes occidentales,no se ha tratado de forma específica en lo que toca a la organización de la diplomacia. Sísu participación en ella, como se ha dicho, pero no la impronta que pudieron dejar en lamisma.
4 Esta participación en la construcción paulatina de la diplomacia castellana y sus formas
organizativas pudo llevarse a cabo de diversas formas:
Organización de misiones concretas de una forma específica y que luego perdurase en el
tiempo.
Colaboración en la organización de una base institucional para la dipomacia en la corte
castellana, es decir, en su vertiente más burocrática.
5 Ciertamente, cualquiera de los dos caminos es complicado por la falta de fuentes. Sin
embargo, sí podemos encontrar algunos jalones y retazos de noticias que nos muestrana eclesiásticos realizando tareas específicas en ese sentido. Por un lado, podemosatender a cómo participaron en los diversos niveles burocráticos de la diplomacia.Tanto en el interior de la propia organización institucional, como en los puestos másrepresentativos de la misma (los que participaban en embajadas). De esta forma,podemos llegar a vislumbrar tanto la propia organización interna, como el papel de loseclesiásticos en ella.
6 Por otro lado, nos encontramos también con el desarrollo de lo que podríamos
denominar auténticas misiones ejemplares, que nos sirven para observar elfuncionamiento de la diplomacia (y del servicio de estos eclesiásticos). Las que asídenominamos pueden serlo por dos vías distintas. O bien porque encontramos quealgunos eclesiásticos desarrollaron su misión con tal capacidad que suponen clarosejemplos a imitar en otras posteriores, o bien porque tenemos conjuntos documentalesexcepcionales de esas misiones que nos permiten un mejor conocimiento de las mismas.Sea como fuere, en ambos casos nos permiten vislumbrar por un lado una vertienterepresentativa o simbólica: la preocupación por mostrar y defender una imagendeterminada de la monarquía castellana. Por otro lado, merced a esa documentaciónexcepcional, podemos atender a la vertiente organizativa (cómo se preparaban lascuestiones, qué documentación se utilizaba, quién la gestionaba y cómo, la división delos roles a jugar…).
7 A estas dos vías de aproximación dedicaremos el presente trabajo. Por un lado,
tantearemos si es posible detectar la presencia de eclesiásticos en la formación de laburocracia en el entorno de la diplomacia (si es que esta existió: no se ha visto oapreciado hasta ahora nada parecido, salvo los análisis ingleses4, si acaso la especialrelación que en los archivos tiene, en ocasiones, la documentación diplomática5). Porotro, veremos cómo cuando participaban en las embajadas también podían suponer unejemplo organizativo. Con ello se pretende ilustrar cómo los eclesiásticos participabantambién en la construcción de un importante aparato regio como era la diplomacia, asícomo alguno de sus principales aportes en el caso castellano.
•
•
Medievalista, 28 | 2020
153
La participación de eclesiásticos en el desarrollo de ladiplomacia
8 Como se ha comentado ya, la participación de eclesiásticos en la diplomacia en Castilla
es un hecho ya conocido y analizado, aunque sea de forma general en ocasiones, odemasiado concreta en otros6. Gracias a ello sabemos que estamos en un puntorealmente inicial de la aproximación a su conocimiento. La falta de fuentes no permite,de momento, un análisis exhaustivo. Lo que conocemos, sin lugar a dudas, no es másque una parte muy superficial de lo que esperamos conocer en los próximos años7. Pesea ello, podemos esbozar la forma en la que estos eclesiásticos participaron en eldesarrollo del aparato diplomático monárquico.
9 ¿Es viable este tipo de análisis? No podemos negar que puede resultar complicado por
la falta de fuentes. Y que esto tiene como consecuencia que cualquier resultado que seextraiga en estos estadios iniciales de la investigación serán siempre inestables yprovisionales, al albur siempre de que nuevos hallazgos documentales o inclusoreinterpretaciones y relecturas de los ya conservados, sirvan para modificar (en parte oen todo) lo ya indicado. Pese a ello, a día de hoy existen menciones y documentaciónque permiten hilvanar una evolución (aunque sea muy superficial y a grandes rasgos)de la presencia de eclesiásticos en la organización burocrática y con ello de suparticipación en el funcionamiento del sistema.
La presencia en la organización burocrática
10 Interesa especialmente el desarrollo que pudieron tener los eclesiásticos en este tipo de
papeles, fundamentales para el buen funcionamiento de la diplomacia. Es obvio queparticiparon como embajadores, y también con otros roles entre los enviados (comoveremos), pero lo cierto es que también en la propia corte podemos rastrear otro tipode actuaciones. Dentro del personal al servicio regio en ocasiones nos encontramos confunciones específicas que tenían un especial significado para la diplomacia y, sobretodo, una especial funcionalidad. Obviamente no era, en muchas ocasiones, algo único eincompatible. Es conocido cómo desde mediados del XIII se fue desarrollando laadministración regia en diversos aparatos con funciones específicas: las cámaras decuentas, los tribunales de justicia y los órganos de asesoramiento político fueronapareciendo de forma casi simultánea en todo el occidente, y Castilla no fue unaexcepción. La aparición y/o evolución de la fiscalidad regia8, de la Cancillería Real9, dela Audiencia Real10 o del Consejo Real11 han sido tratadas tanto desde el punto de vistainstitucional como en su papel en la génesis del Estado Moderno. En todo ello, además,había una cierta tendencia a la burocratización, con personal dedicado a esasinstituciones de forma específica y especializada12. En algunos casos, ocurría que dentrode alguno de estos organismos había algunos oficios que tenían especial relación con ladiplomacia, o que llevaban a cabo tareas de especial peso para la diplomacia.
11 La cuestión que se nos plantea es si, dentro de ese cada vez más abundante personal,
encontramos algunos con un peso específico en el servicio diplomático o, al menos, condedicación a estas tareas. Ciertamente desde el siglo XV empezamos a encontrar
Medievalista, 28 | 2020
154
algunos de sus nombres, así como las funciones que llevaron a cabo, especialmente enalgunas áreas.
12 Así, por ejemplo, cabe destacar la secretaría de latín. La existencia de esta secretaría,
que podemos documentar desde la década de los años treinta del siglo XV13, tenía, en elcaso castellano una especial importancia para la comunicación diplomática. En laCorona de Castilla convivían diversas lenguas romances (gallego, leonés, castellano) yuna lengua no romance (la lengua vascona evolucionando hacia los dialectos actualesdel euskera). Eso la asemejaba a otros ámbitos peninsulares donde ocurría lo mismo (laCorona de Aragón, por ejemplo, con el aragonés, catalán y siciliano). Sin embargo,había una diferencia fundamental con todos ellos: la lengua oficial de la monarquía. Deforma efectiva desde el siglo XIII (y con antecedentes en el reinado de Alfonso VIII) lalengua que utilizaba la monarquía en todas sus facetas administrativas del reino era elcastellano. Esto la diferenciaba de la cancillería aragonesa, donde además de utilizar lasdiversas lenguas romances de la Corona el latín actuaba como lengua de laadministración14. Es por ello que en Castilla la utilización de la lengua latina en lacancillería y el resto de las instituciones regias tenga una especial característica.Efectivamente, el latín era utilizado para algunas comunicaciones con la Iglesia(siempre hacia el exterior y no de forma exclusiva), y para cuestiones diplomáticas yrelaciones exteriores del reino. No era la única, ciertamente, pues sabemos que tambiénhabía especialistas en árabe en la corte castellana, aunque no conozcamos mucho ni desu funcionamiento orgánico ni de la producción documental que emanaba de ellos(pues no se conserva)15.
13 Uno de los primeros jalones de su existencia lo encontramos en 1312, cuando en las
Cortes de Valladolid se establece la figura del escribano de latín y su salario16. ¿Data deese momento la primera presencia de tal cargo? De momento es la primera noticia quetenemos.
14 Anteriormente sí nos encontramos, obviamente, escribanos regios que dominan el latín
y que redactan documentos regios en esta lengua, pero no tienen ningún cargoespecial. Así, por ejemplo, durante el reinado de Alfonso X, cuyo entorno cancillerescoconocemos bastante bien gracias al trabajo de Marina Kleine, nos encontramos conescribanos que escriben de forma recurrente en latín, aunque no de forma exclusiva:Diego Ibáñez, por ejemplo, aparece redactando en diversas ocasiones documentacióndiplomática, pero no era su único cometido, aunque es relevante que tienen eseobjetivo 6 de los 10 documentos que recopiló Kleine, es decir un 60%17; otro ejemplo,Sancho Pérez, que actuó en tres cartas del infante Alfonso, hijo de Alfonso X, dirigidas aJaime I (aunque sólo el protocolo y escatocolo estaban en castellano), suponiendo un100% de sus actuaciones al servicio del infante, pero solo un 3,7% dentro de las 82actuaciones al servicio de la monarquía18; o Juan Pérez de León, que escribió en latíndos cartas con destino diplomático, de entre 15 que se tienen documentadas (un13,3%)19. No deja de ser curioso, eso sí, que cuando escribían en latín siempre era condestino diplomático.
15 Sea como fuere, desde principios del XIV encontramos, pues, al menos a personal
destinado específicamente para la documentación en latín. Eso continuaría a lo largodel siglo, aunque conocemos muy poco al respecto y solo menciones aisladas. Así, en1352 aparece mencionado Gutier Gómez, que era chantre de Santiago de Compostela,como notario mayor de latín20. No es baladí, además, el hecho de que aparezca como talen una carta de nombramiento de embajadores para negociar la paz con el rey Pedro IV
Medievalista, 28 | 2020
155
de Aragón. Sin lugar a dudas es un salto cualitativo el pasar de la existencia deescribanos de latín a la de un notario mayor de latín, puesto que nos hablaría, sin duda,de una mayor organización institucional bajo el notario, con escribanos a su servicio.
16 Durante el resto del reinado de Pedro I esa estructura administrativa seguía existiendo,
y el cargo también era ejercido por un eclesiástico. Al menos así se puede afirmar en1364 cuando era notario mayor de latín Fernán González de Castro, arcediano deAlcaraz y vicario en el arzobispado de Toledo por el primado Gómez Manrique21. Undato de interés nos aporta este nuevo notario mayor: su vinculación con el arzobispadode Toledo, algo que se repitió en los decenios siguientes.
17 Las siguientes noticias, sin embargo, nos llevan a principios del siglo XV y damos un
paso atrás en cuanto a la organización institucional. En este caso nos encontramos conla mención del cargo específico de escribano en latín. La primera mención hallada a lapresencia de este puesto lo encontramos en 1407. Se trata en concreto de PedroFernández de la Guardia. En la carta que se dirigió al reino el 15 de enero de 1407 conlos acuerdos para la gobernación del reino de Catalina de Lancáster y el infanteFernando, aparece el dicho Fernández de la Guardia entre los testigos, con la titulación“escrivano de latín”22. No deja de ser curiosa esa posición, teniendo en cuenta que unosaños antes era secretario del rey Enrique III y embajador en Inglaterra23, así como susimportantes funciones diplomáticas posteriores24, y que ese mismo año de 1407 vuelve aaparecer como secretario, esta vez de Juan II25. Una carrera al servicio regio quecompaginó con su condición eclesiástica: canónigo de Burgos, arcediano de grado,arcediano de Madrid …26.
18 De esta forma, aparentemente nos encontramos con una reducción o destrucción de un
aparato más consolidado (con un notario mayor de latín), que tras la primera guerracivil castellana pasa a tener solo escribanos de latín (al menos aparentemente pues nohay menciones a notarios mayores). Sin embargo, desde este punto se avanzaría haciauna organización centrada en torno a un personaje específico para el trabajo en latín: elsecretario de latín. Con ello nos encontraríamos con que se produce el mismo cambioque, en general, se introduce en la forma de trabajo de la monarquía con la llegada de ladinastía tratámara dentro de la dinámica de cambios administrativos. Al tiempo que elsistema de los secretarios empieza a imponerse27, como personajes trabajando enestrecha colaboración con el rey. Es digno de reseña que los secretarios tuvieronnotables funciones diplomáticas también (fruto, sin duda, de esa estrecha colaboracióncon el monarca). El mejor ejemplo de ese cambio sería el ya mencionado PedroFernández de la Guardia: secretario, embajador y también escribano de latín. En él seunen ambas facetas: secretario y especialista en latín. El paso a dar, pues, era breve.
19 La existencia del secretario de latín la tenemos documentada ya desde 1429, cuando
ejerce tal función Gonzalo González Capoche28. Después de él conocemos, antes demediados de siglo, otros tres secretarios de latín: Luis González de Llanos en 143329,Martín de Ávila en 144930 y entorno a esa fecha, pero con seguridad en 1452 a Juan deMena31. Es decir, empezamos a encontrar una continuidad en la existencia del puesto.Lo relevante, además de su propia existencia, es que de nuevo encontramos unaespecial vinculación entre estos personajes y la diplomacia. Así, Gonzalo GonzálezCapoche, por ejemplo, participó en las negociaciones de Ágreda-Tarazona de1430-143332 y Luis González de Llanos estuvo en el Concilio de Basilea33.
20 Martín de Ávila y Juan de Mena, sin embargo, suponen cambios relevantes. En primer
lugar forman parte del entorno cultural de la corte (aunque también lo sean del
Medievalista, 28 | 2020
156
burocrático), y en segundo lugar, algo achacable al final solo al primero, no era clérigo.Así, Martín de Ávila, del entorno del marqués de Santillana y luego de Alonso Carrillo34,además de secretario de latín y luego cronista, también realizó diversas traduccionesdel latín, alguna por orden del marqués de Santillana35. Juan de Mena, por su parte, fuetambién cronista y secretario de latín, como se ha dicho. Este insigne poeta no pareceque participase en la diplomacia, aunque sí sabemos que estuvo en Italia. Primero sesupuso que estuvo en Roma y se decía que en la comitiva del cardenal Cervantes, perono hay datos al respecto36; y más tarde se supo que había estado en Florencia en lacomitiva, como familiar continuo comensal, del cardenal Juan de Torquemada al menoshasta 144337. Noticia relevante, sabemos además de que era clérigo (pero sólo detonsura, y que sobre los años 50 dejó tal condición al contraer matrimonio), que teníaalgún beneficio y que aspiraba a algún otro38.
21 Hay otro elemento en común entre algunos de estos secretarios de latín: su paso del
servicio a los arzobispos de Toledo al del rey. Esto ocurre en el caso de GonzaloGonzález Capoche y en el de Martín de Ávila. No es extraño que el servidor de ungrande del reino acabase sirviendo al monarca, por la misma colaboración del noble oeclesiástico con el rey, y no fue la primera ni la última ocasión en que ocurrió, pero nodeja de ser digno de reseña también esa coincidencia.
22 De esta forma, podemos ver cómo en la organización de la secretaría de latín, que
consideramos especialmente vinculada a la diplomacia, tuvieron un cierto pesoescribanos, notarios y luego secretarios que tenían condición eclesiástica. Unacondición que unieron a su participación en actos diplomáticos (embajadas,negociaciones…) y que sin duda fueron una base para su participación en ese nuevopuesto que estaba desarrollándose en la corte.
Presencia en embajadas: embajadores y otrosservidores
23 Es obvio que, además de en el aparato burocrático, los eclesiásticos también
desempeñaron importantes funciones incardinados dentro de alguna embajada. De estaforma tuvieron también una participación relevante que influyó, en algunos casos, en lapropia organización diplomática de la monarquía. Principalmente los encontramosmencionados en las embajadas de tres formas distintas: como secretarios, comodoctores y como embajadores.
24 Los secretarios de embajada están claramente documentados en las misiones enviadas a
los Concilios del siglo XV, donde se les menciona con ese cargo concreto. Así, lostenemos localizados en Constanza, Siena y Basilea. En el caso de Constanza actuó comotal Pedro Fernández de Cámara, personaje ya conocido, que era ya secretario real y queactuó como secretario de la legación y como tal se especificaba en su nombramiento39.En Siena fue Enrico Schulte, secretario real de origen neerlandés, que actuó a la vezcomo secretario del presidente de legación y como notario de la misma40. Y en Basilea,por último, fue Juan González de la Maina (o de Atienza), también secretario real41.Como vemos, son nombrados secretarios de las legaciones por el monarca (claramentedocumentado en dos de ellos), pero es más significativo el hecho de que todos eran,además, secretarios reales. Un nuevo dato curioso, de nuevo nos encontramos un
Medievalista, 28 | 2020
157
eclesiástico, embajador y secretario regio que actúa también al servicio de losarzobispos de Toledo: Enrico Schulte.
25 No es la única ocasión en la que encontramos a eclesiásticos actuando como secretarios
de una embajada. Así, por ejemplo, en 1422 estaba en Portugal, negociando junto aAlfonso de Cartagena, y posiblemente en calidad de secretario de la legación, JuanAlfonso de Zamora42. No es baladí: también era secretario regio. También tuvo un papelrelevante como notario de una legación castellana Gonzalo González Capoche, en lasnegociaciones de Ágreda de 1431, donde actuó, además, junto a un aragonés, comofedatario de todas las negociaciones43.
26 ¿Hubo más secretarios de embajadas eclesiásticos? Es muy plausible que sí, sin
embargo, en pocas ocasiones, como vemos, hay mención expresa. Parece lógico que enlas misiones más amplias e importantes ocurriese así, como es el caso de los concilios ode negociaciones de paz de cierta importancia; pero es difícil estimarlo en el conjuntode las embajadas que, normalmente, no eran ni tan duraderas ni contaban con tantopersonal. De todas formas, podemos ver que muchos eclesiásticos embajadores eransecretarios regios, pero los que mencionaremos actuaban como lo primero y no tantocomo secretarios de embajada.
27 Además de secretarios de embajada en muchas ocasiones nos encontramos otros
eclesiásticos sirviendo en embajadas. En muchas ocasiones es difícil deslindar quienesacudían como embajadores y quiénes como servidores de la embajada, dado el carácterde las fuentes. En las ocasiones en que se conservan las cartas de creencia ynombramiento, lo que no es nada habitual en el caso castellano, podemos delimitarclaramente quiénes eran nombrados como embajadores. Con ello el resto del personalque aparece mencionado en ocasiones podemos considerarlo como servidores de otrotipo de las embajadas. Normalmente actuaban como consejeros y colaboradores en unsentido amplio, la mayor parte de las veces por su formación jurídica. Es por ello queencontramos muchos doctores y licenciados entre ellos. No hay estudios estadísticos alrespecto, con lo que hemos de conformarnos con mostrar algunos ejemplos. Porejemplo, los letrados suponían el 36% de los enviados castellanos a Portugal en laprimera mitad del siglo XV, frente al 26% de eclesiásticos titulados44; sin embargo, hayque tener en cuenta que muchos de esos letrados, que actuaban como doctores olicenciados, también eran eclesiásticos, beneficiados, canónigos e incluso prebendados.Un buen ejemplo es Juan Alfonso de Zamora, que era secretario real, pero tambiéncanónigo de León45. De cualquier forma, en la mayor parte de las ocasiones es difícildeslindar este tipo de personal de los embajadores.
28 Los embajadores, pues, eran el principal elemento de las misiones diplomáticas y entre
ellos es muy habitual encontrar eclesiásticos. Con su servicio ayudaron a construir,como poco, la diplomacia regia por medio de su desarrollo cotidiano. Es muy habitualencontrar eclesiásticos de todo tipo dentro de este grupo, del que ya se ha realizadoalgún análisis de forma general (aunque los resultados sean, sin duda, revisables encuanto a las cifras, a la luz de nueva documentación46). Sin embargo, nos sirve al menospara comprobar el elevado número de eclesiásticos que, a lo largo del siglo XV,actuaron al servicio de la monarquía en el ámbito diplomático: un total de 9047. Analizarel papel de cada uno de ellos sería extenso y no hay lugar aquí para ello. Del mismomodo, analizar el rol en cada una de sus embajadas daría lugar a algo más que unamonografía, trabajo que, además, está en gran parte por hacer. Sin embargo, huboalgunas de esas participaciones de eclesiásticos en embajadas que brillan con luz
Medievalista, 28 | 2020
158
propia, y que supusieron un avance importante en la construcción de los aparatosmonárquicos y de la imagen monárquica. Algunas de esas misiones diplomáticas,dirigidas por eclesiásticos, supusieron auténticos ejemplos a imitar en cuanto al trabajorealizado.
Las misiones ejemplares
29 Efectivamente algunas de las embajadas llevadas a cabo por eclesiásticos pueden ser
tomadas como auténticas misiones ejemplares por el hecho de suponer un notableavance en alguno de los aspectos que interesaban a la monarquía. En general podemosver que brillan por la capacidad de dirigir la negociación y la delegación castellana, enotras ocasiones por la elaboración de una defensa específica de la posición de sumonarca y reino. También hay misiones que destacan por la construcción de unaimagen determinada del rey castellano (principalmente de cara a la escenainternacional: la magnificencia regia de la entrada en Basilea, por ejemplo; o la defensade la prelación castellana). Sea como fuere, en muchas de esas ocasiones nos sirvenpara ver el funcionamiento interno de esa diplomacia.
30 En este sentido analizaremos aquí, aunque sea someramente, algunas de esas misiones
ejemplares dirigidas por eclesiásticos y que suponen, desde nuestro punto de vista, unmomento de especial relevancia en la organización de la diplomacia. Misiones quedestacan desde dos puntos de vista concretos y que atañen al interés del presenteestudio: la organización concreta del trabajo diplomático. Misiones que fueron imitadasa posteriori, lo que confirma, efectivamente, que supusieron un jalón en laconstrucción del aparato regio. Como veremos, en algunos casos el conocimiento quetenemos de estas misiones se debe a la excepcional conservación de fuentesdocumentales.
La construcción de una imagen simbólica
31 Como se ha comentado en diversas ocasiones una embajada sirvió para crear, defender
o ensalzar una imagen determinada de la monarquía castellana. Esto tenía una utilidadclara en el ámbito internacional: el mostrar al rey y reino de Castilla con una entidaddeterminada dentro del juego político de Europa occidental. Esto supuso, en algunasocasiones, una auténtica preocupación para la monarquía48, y sabemos que algunaslegaciones tuvieron especial cuidado (y tenían órdenes al respecto) para que la posicióncastellana no se viese menoscabada49.
32 En este caso, nos encontramos con varias misiones en las que se produjo una defensa de
la preeminencia castellana. A lo largo de los sucesivos conflictos se ha visto cómo setenía conocimiento del estado de la cuestión en anteriores misiones, con lo cualmuestran la preocupación regia porque esa posición e imagen del reino castellano no seviese menoscabada. En ellas, además, por medio de la labor de los embajadores al frentede la misión, se iba construyendo y presentando en el ámbito internacional una visióndeterminada del reino. Son tres las misiones que destacan en este aspecto, y todasfueron dirigidas por un eclesiástico: la misión en la Curia de Álvaro de Isorna de 1422; ladel Concilio de Siena de 1423-1424 dirigida por Juan Martínez Contreras, arzobispo deToledo; y la de Alfonso de Cartagena en el Concilio de Basilea de 1434 a 143850.
Medievalista, 28 | 2020
159
33 Álvaro de Isorna, obispo de Cuenca, encabezó la misión dirigida por el rey ante el papa
para presentar una serie de solicitudes y oponerse, a su vez, a la misión enviada por elinfante Enrique51. Sin embargo, en el transcurso de la misma el obispo tuvo que hacerfrente a un enfrentamiento con los enviados ingleses por la preeminencia de ambosreinos. Castilla alegaba precedencia sobre Inglaterra, lo que llevó, incluso, alenfrentamiento violento de los embajadores52. En dos ocasiones Álvaro de Isorna seopuso a que los ingleses tuviesen precedencia sobre los castellanos: en las celebracioneslitúrgicas de la fiesta de la Candelaria, y en las celebraciones de la Pascua53. En este casonos encontramos con una misión que supuso un antecedente para otras posterioresdado que por primera vez se enfrentaban castellanos e ingleses por la posición de cadareino.
34 Más relevante, en cuanto a la construcción ideológica, fue la misión encabezada por
Juan Martínez Contreras en Siena54. En esa reunión conciliar de nuevo surgieron losroces entre los embajadores ingleses y, de una forma más amplia, los hispanos. A lolargo del mismo el primado toledano organizó la defensa de la posición hispana pormedio de la elaboración de los discursos en los que se sostenía la primacía hispana(aunque en ocasiones se deslizaba el caso castellano). En esta ocasión nos encontramoscon una construcción ideológica para defender la primacía hispana, elaborada por elpresidente de la legación (aunque indicaba que con el apoyo de doctores de laembajada). Con el uso de la historia, de la geografía eclesiástica y de la legislaciónpontificia y conciliar el embajador castellano buscaba mostrar la superioridad hispana,basando en ello las razones para la preeminencia55. De esta forma, aunque se basaba enun conflicto semejante de Constanza (que fue gestionado por los embajadores francesesprincipalmente), Martínez Contreras tuvo un papel ciertamente relevante y porprimera vez Castilla era tomada como actor en ese discurso, en el que se mostrabaconocer lo ocurrido en Constanza56.
35 La más relevante de las actuaciones de este tipo, sin embargo, es la conocida de Alfonso
de Cartagena en el entorno cronológico del Concilio de Basilea. En primer lugar, por lacontinuación de la defensa de la preeminencia ante Inglaterra (ahora yaexclusivamente castellana) y que se llevó a cabo en el mismo Concilio. Y en segundolugar por llevar a cabo el mismo papel en la defensa de la posesión castellana de lasislas Canarias, frente a Portugal, que se llevó a cabo en la Curia pontificia radicada enFlorencia57. Recordemos que fue él el que realizó los alegatos castellanos en ambascuestiones, demostrando su erudición y capacidad dialéctica a lo largo de los mismos58.A lo largo de ambas piezas (una compuesta como un discurso y la segunda como unaprueba jurídica) Alfonso de Cartagena utilizó todo su saber histórico y jurídico, asícomo su experiencia diplomática, para defender los intereses castellanos, presentandocon ello una imagen determinada de los derechos del reino59.
36 Estos son tres buenos ejemplos de cómo los eclesiásticos al frente de la legación podían
asumir un papel principal en la defensa de la posición del rey de Castilla en el exterior,con lo que colaboraban en la construcción de una imagen simbólica del reino y sumonarca. Lo relevante, además del hecho de su propia participación, es que nosmuestran una forma de trabajar siguiendo una línea determinada con el paso de losaños. Así, vemos cómo de la defensa que hace Álvaro de Isorna en la curia en 1422,basada simplemente en la preminencia y en evitar que se vea menoscabada la posicióncastellana, se pasó a una defensa sistemática utilizando el derecho, la cultura y lahistoria. Esto, que ya lo vemos en el trabajo de Juan Martínez Contreras en Siena llegó a
Medievalista, 28 | 2020
160
su punto más elevado con Alonso de Cartagena en Basilea, al profundizar en las líneasmarcadas por el arzobispo toledano. Así, entre la dialéctica (ya fuese verbal o física) y laelocuencia, los eclesiásticos participaron en esa construcción paulatina.
37 Asistimos, así, a una paulatina evolución y mejora en la línea trazada con anterioridad.
Esto denota el conocimiento de lo que había ocurrido en casos anteriores, así como lapreparación de las embajadas de forma cuidadosa, atendiendo a las posiblesnecesidades. Así, por ejemplo, sabemos que Juan Martínez Contreras y Alonso deCartagena contaron con materiales procedentes de las misiones anteriores (como lasactas de los concilios y obras de diverso tipo que podían ser utilizadas y mencionadasen sustento de sus teorías60). Eso nos lleva a lo que parece más relevante en el sentidode este trabajo: nos muestra cómo había una continuidad en el trabajo diplomático. Seconservaba y consultaba la documentación de misiones anteriores, como forma degarantizar el éxito de una misión. La repetición de temas y líneas de acción lodemuestra, como veremos a continuación y nos muestra claramente esa segunda facetade la participación activa de los eclesiásticos en la construcción de ese aparatodiplomático.
La organización y funcionamiento de la basediplomática
38 De esta forma, al hilo de lo que las fuentes nos muestran podemos ver cómo se estaba
llevando a cabo toda una organización de la función diplomática. Estas “misionesejemplares” nos sirven en ocasión para conocer mejor ese funcionamiento y podemosapreciar, como se verá, que en todo ello hubo algunos eclesiásticos que tuvieron, comocolaboradores regios, un papel de cierto peso.
39 Un papel que les venía dado por el hecho de que fuesen los presidentes de la legación,
de iure o de facto, es decir, hubiesen sido nombrados como tal o no, puesto que hayocasiones en las que no se conserva un nombramiento como tal en el que se especifiqueque actúan como cabeza de la misma61. Sea como fuere, lo cierto es que actúan como taly con esa actuación nos muestran su labor y organización de la misión lo que, enocasiones, fue imitado a posteriori como veremos.
40 A la hora de atender a cómo lo hicieron podemos llegar a vislumbrar tres aspectos
distintos: preparación de la embajada, organización de la misión y organización de lostestimonios de lo que se había hecho.
41 En la preparación de la embajada tuvieron que tener un papel fundamental. Podemos
sospechar una preparación previa (algo lógico) por los materiales que utilizan a lo largode su misión, que debieron ser llevados por ellos desde Castilla. Esto se puedeidentificar en los materiales que se mencionan y que utilizaban en sus tareasdiplomáticas. Como se ha comentado al hilo de la creación de una imagen del reinocastellano, estos solían proceder de reuniones anteriores y, a veces, son claramenteidentificables: actas, obras jurídicas e históricas…
42 Así, por ejemplo, en 1422 Juan Martínez Contreras, enviado a la Curia a Roma, impartía
órdenes a los embajadores que iban a hablar ante el papado aportando documentaciónregia. Es decir, se había recopilado previamente lo que pudiese ser necesario y lo habíallevado consigo a Roma62. Esto entra dentro de lo que podríamos pensar como algobásico: llevar los materiales necesarios para la misión; pero en muchas ocasiones se iba
Medievalista, 28 | 2020
161
más allá y se era previsor. Por ejemplo, sabemos que el mismo Juan Martínez Contreras,ya en el Concilio de Siena de 1424, y como presidente de la natio hispana, tenía a sudisposición obras históricas y las actas del Concilio de Constanza63. Para todo ello tuvoque contar, sin duda, con la colaboración del secretario regio Enrico Schulte. Materialque, como sabemos, se utilizó para la elaboración de diversos textos.
43 El mismo Juan Martínez Contreras acudió a las negociaciones en la frontera de Ágreda
con Navarra y Aragón, y de nuevo aparece gestionando toda la comunicación con losembajadores rivales (a ellos les escribe en diversas ocasiones), así como la propia (en lasactas de la negociación se reflejan sus poderes y los de sus compañeros de embajada)64.
44 Ejemplo capital de todo ello es el ya mencionado Concilio de Basilea. Gracias a los
trabajos que allí realizó Cartagena (su defensa de la preeminencia castellana y delderecho de propiedad sobre Canarias), sabemos que contaba con diversas obrashistóricas (algunas ya utilizadas por Martínez Contreras en Siena), con las actas de losconcilios de Siena y de Constanza… Además, sabemos que conocía los discursos deSiena, pues utiliza los mismos recursos y ejemplos65. En el material preparado para ladefensa de la propiedad castellana de las Canarias nos encontramos de nuevo con lamuestra de ese aporte de obras posiblemente necesarias para cumplir su misión, en estecaso con un mayor peso del carácter jurídico66, aunque utiliza obras como las Etimologías
de Isidoro de Sevilla67, también textos jurídicos como el Codex Iustiniani o textoshistóricos de Landulfo de Colonia68.
45 Obviamente, en la organización de la propia misión diplomática tenían un papel
fundamental, y de nuevo podemos rastrear en esas misiones el buen trabajo realizado.Por ejemplo, Juan Martínez Contreras dio instrucciones a los emisarios que iban ahablar ante el papa69. En ellas había cuestiones concretas en las que se maneja lainformación. Se indicaba, por ejemplo, cómo se debían comunicar las cuestiones alpapa, ocultando o manejando los datos y hechos (en un juego de información ydesinformación muy interesante70): indicaba que debían ser escuchados primero, queconsiguiesen que el tema no se tratase en público y solo en consistorio secreto (donderealizaría un curioso alegato contra el entorno de la Curia71). Es decir, muestra un clarocontrol del funcionamiento de la misión.
46 Parecido papel desempeñaba de nuevo Martínez Contreras poco después en Siena,
aunque en esta ocasión era incluso más relevante, al asumir la cabeza de la natio
hispana, que englobaba en el Concilio a todos los reinos peninsulares. Sin embargo,incluso como tal demostró que era capaz de hacerse cargo de la organización. Así, porejemplo, le vemos aceptar a los embajadores aragoneses ante el Concilio aunque fuesenlaicos, utilizando la misma fórmula empleada en Constanza. En esto, además, sirviótambién a los intereses castellanos, pues en tal Concilio Aragón no contaba con losvotos de sus sedes italianas y, con ello, la primacía de la natio quedaba en Castilla 72.Además, actuó en nombre de esta y como su representante en los actos conciliares, loque le situó en una posición relevante. Y ahí supo desenvolverse con soltura, conscientede su posición y de lo que eso suponía. Buen ejemplo es la cuestión del doble voto queexigió (y que utilizó) a la hora de elegir la sede del siguiente Concilio: uno comoprimado (que equivalía a patriarca) y otro como presidente de la natio hispana 73,además de muchos otros actos en los que participó y tuvo un papel fundamental74. Suprincipal labor organizativa, sin embargo, se pudo apreciar en el conflicto conInglaterra donde, junto a doctores de legación peninsular, se encargó de presentar ydefender su posición75.
Medievalista, 28 | 2020
162
47 En este arzobispo tenemos, sin lugar a dudas, a uno de los principales eclesiásticos al
servicio diplomático de Castilla de los años 20 y 30 del siglo XV. Sus buenas laboresfueron apreciadas por Juan II, razón por la que actuaría en diversas ocasiones, comovemos. Aún después de Siena participó en diplomacia, y de nuevo al frente de unamisión amplia y complicada, en este caso las negociaciones con Aragón y Navarra de1430 a 1433. En este caso nos encontramos con uno de los casos de los que tenemos unaexcepcional documentación que nos permite un conocimiento único sobre sufuncionamiento y el papel de un eclesiástico en ella. Pese a que aún conocemos poco,supuso un nuevo reto organizativo para Juan Martínez Contreras, era una misiónamplia en el tiempo, con numeroso personal, y en la que la negociación a tres bandas ycon múltiples problemas que se mezclaron complicaron su evolución76.
48 A lo largo de esta misión Juan Martínez Contreras tuvo que ordenar una amplia
embajada, que por la peste que se declaró en Ágreda tuvo que repartirse entre diversaslocalidades menores de la frontera77, que afrontó un largo periodo de negociaciones(con la consiguiente renovación de poderes78), que negoció tanto en Tarazona como conlos representantes de los reyes situados en diversos lugares (se conservan actas denegociación79 y decenas de cartas enviadas por Martínez Contreras a los diversosdelegados de Aragón o Navarra, o a los mismos monarcas80). Es decir, el arzobispo deToledo en esta ocasión, sin duda con la colaboración de los burócratas del monarca quele acompañaron (desde un secretario real, Gonzalo González Capoche81 a oidores de laAudiencia o un refrendario82), demostró de nuevo una notable capacidad deorganización de una misión diplomática que, debido a su muerte, no vio culminar.
49 Y un último ejemplo de la capacidad organizativa de los eclesiásticos en las misiones
diplomáticas lo tenemos de nuevo en Basilea. En esta ocasión Alonso de Cartagena esquien la dirigió de hecho, como se ha dicho, y el que aparece ordenando qué debehacerse y cuándo. Casi se podría decir que, incluso, el obispo Isorna, que era superior enjerarquía y tenía también experiencia diplomática, seguía sus instrucciones. En estecaso, además, contó con la colaboración de Juan González de la Maina a la hora de todoel manejo documental. En este caso nos encontramos de nuevo con un conjunto defuentes excepcional, que nos permite conocer mejor cómo pudo organizarse y trabajaresa legación, en este caso guiada por un eclesiástico y con un secretario tambiéneclesiástico. Se conservan las cartas de nombramiento, documentación que recibió laembajada, la comunicación con otras embajadas presentes en el Concilio, materialesorganizados por Cartagena para la defensa de los intereses castellanos (la precedencia yel caso de las Canarias)… La mayor parte de ello recopilado en el famoso volumen K1711del Archivo General de Simancas.
50 ¿Acaso este volumen es un ejemplo de cómo trabajaban esas embajadas? ¿La
recopilación de información que se produce en ese legajo pudo ser el fruto del trabajode Cartagena y del secretario González de la Maina, en su afán por dejar testimonio detodo el trabajo realizado para que luego se pudiese informar al monarca?83
51 Se ha podido comprobar, de hecho, que en algunas de estas embajadas que se han ido
describiendo los embajadores contaban con material y conocimiento de anterioresmisiones. ¿Acaso cada misión realizó el mismo trabajo y esos materiales pudieron serconsultados por los embajadores antes de partir? ¿Podría ser que el legajo K1711 nofuese más que uno de muchos, pero sí el único que se nos ha conservado? Como se veson muchas preguntas e hipótesis más o menos lógicas pero, de momento, de difícilrespuesta. Lo cierto es que sí parece plausible pensar que efectivamente en los archivos
Medievalista, 28 | 2020
163
regios se conservase la documentación de misiones anteriores y que esta era consultadaen aras de preparar mejor la misión que se encomendaba a los embajadores (lo queexplicaba que fuesen preparados para determinadas cuestiones y conflictos conociendolos hechos pasados, o que Cartagena reutilizase temas empleados por MartínezContreras, y este por los franceses en Constanza). Esa documentación, como es el casodel K1711 nos permite observar cómo se organizaba esa diplomacia y cómo funcionaba.Por casualidad, de nuevo, es por un eclesiástico.
Conclusiones
52 A lo largo del presente trabajo se ha analizado cómo los eclesiásticos participaron de
forma activa en la construcción del aparato diplomático castellano. Aún conocemosmuy poco del mismo y casi se ha ido construyendo a la par que este relato en algunascuestiones, pero no cabe duda que ya desde el siglo XIV algunos eclesiásticos tuvieronun papel muy activo en el desarrollo de esa diplomacia.
53 Es obvio que su papel lo desempeñaban por su condición de servidores regios, y no
como eclesiásticos. También que sus conocimientos y estudios era lo que les capacitabapara el desarrollo de esas funciones, así como su propia valía. Pero aun así es evidenteque esos clérigos participaron en la construcción paulatina de un aparato de gobiernode la monarquía de tanto peso como era la diplomacia.
54 De esta forma hemos podido ver cómo de forma paulatina se fue produciendo una
especialización en el ámbito de la administración regia, que en el caso castellano sedetecta en el ámbito del latín, que acabó desembocando en una estructura bastanterelevante a mediados del siglo XIV, con la existencia del notario mayor de latín. En esospuestos, además, encontramos usualmente a eclesiásticos que servían al monarca. ¿Yantes de principios del siglo XIV? No tenemos datos todavía, pero sin duda hemos deseguir buscando, pues la presencia de especialistas en latín en la cancillería regia deAlfonso X con una especial participación en diplomacia nos hace sospechar que yaentonces estaba iniciándose ese procedimiento. Nos falta encontrar datos másconcretos y específicos o realizar una estadística más completa que nos permita llegar aconclusiones más firmes.
55 Con la primera guerra civil castellana y la llegada de la dinastía Trastámara nos
encontramos el fin de esa estructura, al desaparecer los notarios mayores de latín. Sinembargo, poco a poco se irá reconstruyendo con unas fechas que nos son bastantedesconocidas. Reconstruyéndose y tomando nueva forma por medio de escribanos delatín y ya en el XV con secretarios de latín. La unión de esta figura con secretariosregios nos permite ver cómo se une a la más estrecha colaboración con el monarca(algo lógico si tenemos en cuenta que la diplomacia podía tener una importanciacapital). De nuevo en estos puestos localizamos a eclesiásticos de forma muy habitual, sino constante. Aún no sabemos claramente cuándo y cómo se desarrolló de formaefectiva, tampoco su organización funcional, pero paulatinamente vamos teniendopruebas y rastros que nos permiten hacer un dibujo siquiera esquemático de sufuncionamiento.
56 Pero, además, se ha visto cómo los eclesiásticos colaboraban también en el desarrollo
de la propia diplomacia y cómo, a través de ella, se iba perfilando una forma de trabajodeterminada. Esas formas de trabajo, además, podemos sospechar (al menos hasta queexistan más pruebas) que fueron desarrollándose gracias al aporte de alguno de esos
Medievalista, 28 | 2020
164
eclesiásticos. La documentación existente al menos nos permite en algunos casosconcretos (y gracias a conjuntos ciertamente excepcionales) ver cómo algunascuestiones y usos eran repetidos de una misión a la otra (sin duda por la conciencia desu buen funcionamiento), pero también mejorados.
57 Gracias a ello las figuras de Juan Martínez Contreras y Alonso de Cartagena se muestran
como dos grandes organizadores de embajadas. Si en el caso del segundo era másconocido, no es así sobre el primero de ellos, a quien, poco a poco, vamos conociendomás y mejor y de quien en el futuro seguramente conoceremos más. De esta forma, conlos nuevos aportes documentales que se van realizando y con el nuevo análisis yreinterpretación de los que ya teníamos avanzamos poco a poco en un mejorconocimiento de la diplomacia regia. Y con ello, se nos va mostrando claramente cómolos eclesiásticos participaron de forma activa en todo el proceso colaborando con elmonarca y adoptando, en ocasiones, papeles fundamentales.
BIBLIOGRAFÍA
Fuentes manuscritas
ACA, Cancillería, Cartas Reales, Alfonso IV [V], 1514 hasta 2413.
ACA, Cancillería, Reg. 557.
ACA, Cartas Reales, Jaime I, caja 1.
ACT, A-8. L.1.1. ; I.11.3.C.62.
AGS, Estado-Francia, K. 1711
AGS, Patronato Real, caj. 21, nº 9.
BNE, mss. 7815 y 13018.
AHNob, Osuna, C. 3484, doc. 22.
Fuentes impresas
BOFARULL Y SARTORIO, Manuel F02D Guerra entre Castilla, Aragón y Navarra: compromiso para
terminarla (año 1431). Barcelona: Colección de Documentos Inéditos del Archivo de la Corona de
Aragón, 1869.
CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Colección diplomática de Santo Domingo el Real de Toledo.
Documentos Reales I. 1249-1473. Madrid: Sílex ediciones, 2010.
Cortes de los antiguos reinos de León y Castilla. Madrid: Real Academia de la Historia, 1861, vol. 1.
DÍAZ MARTÍN, Luis Vicente F02D Colección documental de Pedro I de Castilla (1350-1369), Salamanca:
Junta de Castilla y León, 1999, vol. 3.
ECHEVARRÍA GAZTELUMENDI, María Victoria F02D Edición crítica del Discurso de Alfonso de Cartagena
"Propositio super altercatione praeminentia sedium inter oratores regum castellae et angliae in
Medievalista, 28 | 2020
165
Concilio Basiliense", versiones en latín y castellano. Madrid: Universidad Complutense, Servicio de
Reprografía, 1992.
GALÍNDEZ DE CARVAJAL, Lorenzo (comp.) F02D Crónica del serenísimo príncipe don Juan, en Crónicas de
los Reyes de Castilla. Madrid, 1877, en el volumen 69 de la Biblioteca de Autores Españoles.
GONZÁLEZ ROLÁN, T.; HERNÁNDEZ GONZÁLEZ, F.; SAQUERO SUÁREZ-SOMONTE, P. F02D Diplomacia y
humanismo en el siglo XV Edición crítica, traducción y notas de las «Allegationes super conquesta
Insularum Canariae contra portugalenses» de Alfonso de Cartagena. Madrid: UNED, Universidad
Nacional de Educación a Distancia, 1994.
RYMER, Thomas F02D Foedera, conventiones, litterae, et cujuscunque generis acta publica, inter reges
Angliae et alios quosvis imperatores, reges, pontifices, principes, vel communitates: ab ingressu Gulielmi I.
in Angliam, A.D. 1066, ad nostra usque tempora habita aut tractata. Londres, 1816-1869, vol. I-1,
Estudios
ÁLVAREZ PALENZUELA, Vicente Ángel F02D La situación europea en época del Concilio de Basilea. Informe
de la delegación del reino de Castilla. León: Centro de Estudios e Investigación San Isidoro, 1992.
BECEIRO PITA, Isabel F02D “La consolidación del personal diplomático entre Castilla y Portugal
(1392-1455).” in GONZÁLEZ JIMÉNEZ, Manuel (ed.) F02D La península ibérica en la era de los
descubrimientos 1301-1492. Actas de las III jornadas hispano portuguesas de Historia Medieval. Sevilla:
1997, pp. 1735-1744.
BELTRÁN DE HEREDIA, Vicente, “Nuevos documentos inéditos sobre el poeta Juan de Mena”.
Salmanticensis 3-1 (1956), pp. 502-508.
BRANDMÜLLER, Walter F02D Das Konzil von Pavia-Siena. Munster: Aschendorf, 1968-1974, vol. 2.
CARTAGENA, Alfonso de F02D “Discurso sobre la precedencia del rey Católico sobre el de Inglaterra
en el Concilio de Basilea.” in PENNA, Mario (ed.) F02D Prosistas castellanos del siglo XV. Vol. I. Madrid:
Atlas, 1959.
CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula, “La diplomacia castellana durante el Reinado de Juan II: la
participación de los letrados de la cancillería real en las embajadas regias”. Anuario de estudios
medievales 40-2 (2010), pp. 691-722.
CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia y cancillería en la corte de Juan II de Castilla
(1406-1454) estudio institucional y prosopográfico. Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca,
2012.
CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D “Juan de Mena: secretario de latín y cronista del rey.” in
MOYA GARCÍA, Cristina (ed.) F02D Juan de Mena. De letrado a poeta. Woodbridge: Tamesis books, 2015,
pp. 11-22.
CHAPLAIS, Pierre F02D Essays in Medieval Diplomacy and Administration. Londres, Hambledon, 1981.
CUTTINO, George Peddy F02D English Diplomatic Administration, 1259-1399. Londres: Oxford University
Press, 1940.
DÍAZ MARTÍN, Luis Vicente F02D Los orígenes de la Audiencia Real castellana. Sevilla: Universidad de
Sevilla, 1997.
DIOS, Salustiano de F02D El Consejo Real de Castilla (1285-1522). Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1982.
FERNÁNDEZ GALLARDO, Luis F02D Alonso de Cartagena (1385-1456). Una biografía política en la Castilla del
siglo XV. Valladolid: Junta de Castilla y León, 2002.
Medievalista, 28 | 2020
166
FERNÁNDEZ GALLARDO, Luis F02D Alonso de Cartagena. Iglesia, política y cultura en la Castilla Castilla del
siglo XV, Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 1998, pp. 924-1004. Tesis doctoral.
[consultada el 12 junio 2020]. Disponible en http://eprints.ucm.es/2509/.
FERRER I MALLOL, María Teresa F02D Entre la paz y la guerra. La Corona catalano-aragonesa y Castilla en
la Baja Edad Media. Barcelona: CSIC, 2005.
GARRIGA ACOSTA, Carlos Antonio F02D La Audiencia y las chancillerías castellanas (1371-1525): historia
política, régimen jurídico y práctica institucional. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1994.
GÓMEZ REDONDO, Fernando F02D Historia de la prosa medieval castellana. III. Los orígenes del
humanismo. El marco cultural de Enrique III y Juan II. Madrid: Cátedra, 2002.
GONZÁLEZ CRESPO, Esther F02D “Organización de la cancillería castellana en la primera mitad del
siglo XIV”. En la España Medieval 8 (1986), pp. 447-470.
GOÑI GAZTAMBIDE, José F02D “Los españoles en el Concilio de Constanza II”. Hispania Sacra 16
(1963), pp. 106-200.
KLEINE, Marina F02D La cancillería real de Alfonso X: actores y prácticas en la producción documental.
Sevilla: Universidad de Sevilla, 2015.
LADERO QUESADA, Miguel Ángel F02D La Hacienda Real de Castilla (1369-1504). Madrid: Real Academia
de la Historia, 2009.
MARTÍN PRIETO, Pablo F02D “Invención y tradición en la cancillería de Alfonso VIII de Castilla
(1158-1214)”. Espacio, Tiempo y Forma. Serie III Historia Medieval 26 (2013), pp. 209-244.
MOEGLIN, Jean-Marie ; PÉQUIGNOT, Stéphane F02D Diplomatie et «relations internationales» au Moyen
Âge (IX-XV siècles). París: Presses Universitaires de France, 2017.
NIETO SORIA, José Manuel F02D Iglesia y poder real en Castilla: el episcopado 1250-1350. Madrid:
Universidad Complutense, 1998.
PECQUIGNOT, Stéphane F02D Au nom du roi. Pratique diplomatique et pouvoir durant le règne de Jacques II
d’Aragon (1291-1327). Madrid: Casa de Velázquez, 2009.
SERRANO, Luciano F02D Los conversos don Pablo de Santamaría y Alonso de Cartagena. Obispos de Burgos,
gobernantes, diplomáticos y escritores, Madrid: CSIC, 1942.
STREET, Florence F02D “La vida de Juan de Mena”. Bulletin Hispanique 55-2 (1953), pp. 154-155.
VERDON, Jean F02D Information et désinformation au Moyen Âge. París: Perrin, 2010.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Castilla y el Concilio de Siena (1423-1424): la embajada regia y
su actuación”. En la España Medieval 30 (2007), pp. 131-172.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D El rey y el papa. Política y diplomacia en los albores del Renacimiento
(el siglo XV en Castilla), Madrid: Sílex ediciones, 2009.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Eclesiásticos en la diplomacia castellana en el siglo XV”.
Anuario de Estudios Medievales 40-2 (2010), pp. 791-819.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D El rey y la Iglesia castellana. Relaciones de poder en época de Juan II.
Madrid: Fundación Ramón Areces, 2011.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Corte y diplomacia en la Castilla bajomedieval”. Mélanges de la
Casa de Velázquez. Nouvelle série 45-2 (2015), pp. 105-124.
Medievalista, 28 | 2020
167
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Autoridad, legitimidad y honor en la diplomacia: los conflictos
anglo-castellanos en los concilios del siglo XV”. Espacio, Tiempo y Forma. Serie III Historia Medieval
29 (2016), pp. 777-813.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Juan Martínez Contreras: el ascenso de un clérigo menor y el
servicio regio.” in VILAR, Hermínia Vasconcelos; BRANCO, Maria João (eds.) F02D Ecclesiastics and
political state building in the Iberian monarchies, 13th-15th centuries. Lisboa: Publicações do Cidehus,
2016 [Consultado el 17 octubre 2019]. Disponible en http://books.openedition.org/cidehus/1539.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Alvaro Núñez de Isorna: un prelado y el poder”. Edad Media.
Revista de Historia 18 (2017), pp. 263-292.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Castilla, Navarra y Aragón: negociación y conflicto en los años
30 del siglo XV.” in NIETO SORIA, José Manuel; VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar (coords.) F02D
Comunicación y conflicto en la cultura política peninsular (siglos XIII al XV). Madrid: Sílex, 2018, pp.
83-112.
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Comunicar y negociar por el rey: los eclesiásticos al frente de
embajadas en la diplomacia castellana (siglos XIII al XV)” in VIGIL MONTES, Néstor (dir.) F02D
Comunicación política y diplomacia en la Baja Edad Media. Évora: Publicações do Cidehus, 2019
[Consultado el 17 octubre 2019]. Disponible en http://books.openedition.org/cidehus/6979.
ZALDÍVAR, Antonio F02D Language and Power in the Medieval Crown of Aragon: The Rise of Vernacular
Writing and Codeswitching Strategies in the Thirteenth-Century Royal Chancery. Los Angeles:
Universidad de California en Los Ángles, 2014. Tesis doctoral.
NOTAS
1. Puede verse: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Eclesiásticos en la diplomacia castellana en el
siglo XV”. Anuario de Estudios Medievales 40-2 (2010), pp. 791-819.
2. Véanse las apreciaciones que realiza PÉCQUIGNOT, Stéphane F02D Au nom du roi. Pratique
diplomatique et pouvoir durant le règne de Jacques II d’Aragon (1291-1327). Madrid: Casa de Velázquez,
2009, pp. 1-8.
3. Véase lo ya expuesto en: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Corte y diplomacia en la Castilla
bajomedieval”. Mélanges de la Casa de Velázquez. Nouvelle série 45-2 (2015), pp. 105-124, en concreto
pp. 110-113.
4. CUTTINO, George Peddy F02D English Diplomatic Administration, 1259-1399. Londres: Oxford
University Press, 1940; CHAPLAIS, Pierre F02D Essays in Medieval Diplomacy and Administration.
Londres: Hambledon, 1981.
5. MOEGLIN, Jean-Marie; PÉQUIGNOT, Stéphane F02D Diplomatie et «relations internationales» au Moyen
Âge (IX-XV siècles). París: Presses Universitaires de France, 2017, pp. 145 y ss.
6. Por ejemplo, como las razones para su importancia en la diplomacia: dominio del latín, el peso
del juramento… NIETO SORIA, José Manuel F02D Iglesia y poder real en Castilla: el episcopado 1250-1350.
Madrid: Universidad Complutense, 1998, pp. 48-58.
7. Buen ejemplo es la misma nómina de embajadores. A las ya realizadas (véase, por ejemplo:
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Eclesiásticos en la diplomacia castellana en el siglo XV” …, pp.
792-801; VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Comunicar y negociar por el rey: los eclesiásticos al
frente de embajadas en la diplomacia castellana (siglos XIII al XV)”. in VIGIL MONTES, Néstor
(dir.) F02D Comunicación política y diplomacia en la Baja Edad Media. Évora: Publicações do Cidehus, 2019
[Consultado a 17 Octubre 2019]. Disponible en http://books.openedition.org/cidehus/6979. Se
podrán añadir muchos más nombres en los próximos años.
Medievalista, 28 | 2020
168
8. LADERO QUESADA, Miguel Ángel F02D La Hacienda Real de Castilla (1369-1504). Madrid: Real
Academia de la Historia, 2009.
9. Sin duda el más antiguo de los aparatos regios, que siguió evolucionando ya en la Baja Edad
Media. Para los orígenes plenomedievales: MARTÍN PRIETO, Pablo F02D “Invención y tradición en la
cancillería de Alfonso VIII de Castilla (1158-1214)”. Espacio Tiempo y Forma. Serie III Historia
Medieval 26 (2013), pp. 209-244; KLEINE, Marina F02D La cancillería real de Alfonso X: actores y prácticas
en la producción documental. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2015. Un ejemplo de participación en
diplomacia: CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D “La diplomacia castellana durante el Reinado
de Juan II: la participación de los letrados de la cancillería real en las embajadas regias”. Anuario
de Estudios Medievales 40-2 (2010), pp. 691-722.
10. GARRIGA ACOSTA, Carlos Antonio F02D La Audiencia y las chancillerías castellanas (1371-1525):
historia política, régimen jurídico y práctica institucional, Madrid: Centro de Estudios
Constitucionales, 1994; sobre su origen DÍAZ MARTÍN, Luis Vicente F02DLos orígenes de la Audiencia
Real castellana. Sevilla: Universidad de Sevilla, 1997.
11. Es clásico y básico el trabajo de DIOS, Salustiano de F02D El Consejo Real de Castilla (1285-1522).
Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1982.
12. Sobre la burocracia regia véase: CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia y cancillería
en la corte de Juan II de Castilla (1406-1454) estudio institucional y prosopográfico. Salamanca: Ediciones
Universidad de Salamanca, 2012.
13. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia …, p. 184.
14. Una aproximación a esa variedad y su importancia en: ZALDÍVAR, Antonio F02D Language and
Power in the Medieval Crown of Aragon: The Rise of Vernacular Writing and Codeswitching Strategies in
the Thirteenth-Century Royal Chancery. Los Angeles: Universidad de California en Los Ángles, 2014.
Tesis doctoral.
15. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia…, pp. 150-151.
16. GONZÁLEZ CRESPO, Esther F02D “Organización de la cancillería castellana en la primera mitad
del siglo XIV”. En la España Medieval 8 (1986), pp. 447-470, en concreto p. 449. La noticia la toma de
Cortes de los antiguos reinos de León y Castilla. Madrid: Real Academia de la Historia, 1861, vol. 1, p.
203.
17. KLEINE, Marina F02D La cancillería real de Alfonso X. Actores y prácticas en la producción documental,
Sevilla: Universidad de Sevilla, 2015, anexo prosopográfico, p. 336 y ss. En concreto tienen un
destino diplomático las de 1255, 06, 15 (archivo de la Catedral de Toledo (en adelante ACT), I.
11.3.C.62, doc. 1); 1254, 04, 01 (RYMER, Thomas F02D Foedera, conventiones, litterae, et cujuscunque
generis acta publica, inter reges Angliae et alios quosvis imperatores, reges, pontifices, principes, vel
communitates : ab ingressu Gulielmi I. in Angliam, A.D. 1066, ad nostra usque tempora habita aut tractata.
Londres, 1816-1869, vol. I-1, p. 179); 1254, 04, 22 (RYMER, Thomas F02D Foedera…, vol. I-1, pp.
180-181); 1255, 05, 05 (ACT, I.11.3.C.62 doc. 4); 1255, 05, 05 (ACT, I.11.3.C.62 doc. 2); y 1255, 06, 15
(ACT, I.11.3.C.62 doc. 1).
18. KLEINE, Marina F02D La cancillería…, apéndice prosopográfico, p. 522; Archivo de la Corona de
Aragón (en adelante ACA), Cartas Reales, Jaime I, caja 1, nº 101, 101bis y 125.
19. KLEINE, Marina F02D La cancillería…, apéndice prosopográfico, pp. 83-84.
20. DÍAZ MARTÍN, Luis Vicente F02D Colección documental de Pedro I de Castilla (1350-1369). Salamanca:
Junta de Castilla y León, 1999, vol. 3, doc. 749, p. 95. Agradezco a Francisco José Díaz Marcilla
haberme facilitado esta noticia. También aparece mencionado como tal, ese mismo año, en el
convenio de paz firmado entre Pedro I de Castilla y Pedro el Ceremonioso de Aragón: ACA,
Cancillería, Reg. 557, ff. 142v-147r; publicado en FERRER I MALLOL, María Teresa F02D Entre la paz y
la guerra. La Corona catalano-aragonesa y Castilla en la Baja Edad Media. Barcelona: CSIC, 2005, p. 555.
21. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Colección diplomática de Santo Domingo el Real de Toledo.
Documentos Reales I. 1249-1473. Madrid: Sílex ediciones, 2010, doc. 17, p. 52 y ss.
22. Archivo Histórico de la Nobleza (en adelante AHNob), Osuna, C. 3484, doc. 22, f. 2r.
Medievalista, 28 | 2020
169
23. GOÑI GAZTAMBIDE, José F02D “Los españoles en el Concilio de Constanza II”. Hispania Sacra 16
(1963), pp. 106-200, en concreto p. 197.
24. Véanse, sucintamente, en Villarroel González, Óscar, El rey y la Iglesia castellana. Relaciones de
poder en época de Juan II. Madrid: Fundación Ramón Areces, 2011, pp. 607-608.
25. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia…, p. 311.
26. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D El rey y la Iglesia castellana …, pp. 607-608.
27. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia …, p. 182.
28. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia …, p. 196.
29. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia …, p. 374.
30. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia …, p. 289.
31. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia …, p. 413.
32. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Castilla, Navarra y Aragón: negociación y conflicto en los
años 30 del siglo XV.” in NIETO SORIA, José Manuel; VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar (coords.) F02D
Comunicación y conflicto en la cultura política peninsular (siglos XIII al XV). Madrid: Sílex, 2018, pp.
83-112.
33. SERRANO, Luciano, Los conversos don Pablo de Santamaría y Alonso de Cartagena. Obispos de Burgos,
gobernantes, diplomáticos y escritores. Madrid: CSIC, 1942, p. 187.
34. CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D Burocracia …, pp. 288-289.
35. GÓMEZ REDONDO, Fernando F02D Historia de la prosa medieval castellana. III. Los orígenes del
humanismo. El marco cultural de Enrique III y Juan II. Madrid: Cátedra, 2002, pp. 2541-2542.
36. STREET, Florence, “La vida de Juan de Mena”. Bulletin Hispanique 55-2 (1953), pp. 154-155.
37. BELTRÁN DE HEREDIA, Vicente F02D “Nuevos documentos inéditos sobre el poeta Juan de
Mena”. Salmanticensis 3-1 (1956), pp. 502-508, en concreto p. 505 y ss.
38. Sobre este personaje véase: CAÑAS GÁLVEZ, Francisco de Paula F02D “Juan de Mena: secretario
de latín y cronista del rey.” in MOYA GARCÍA, Cristina (ed.) F02D Juan de Mena. De letrado a poeta.
Woodbridge, 2015, pp. 11-22.
39. Archivo General de Simancas (en adelante AGS), Patronato Real, caj. 21, nº 9, f. 20v.
40. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Castilla y el Concilio de Siena (1423-1424): la embajada
regia y su actuación”. En la España Medieval 30 (2007), pp. 131-172, en concreto p. 141.
41. AGS, Estado-Francia, K.1711, ff. 445v.
42. Así lo presentó Luciano Serrano (Los conversos…, p. 126). La crónica de Juan II indica que envió
a Alonso de Cartagena “e mandó que fuese con él un escribano de Cámara suyo que llamaban Joan
Alfonso de Zamora” (GALÍNDEZ DE CARVAJAL, Lorenzo (comp.) F02D Crónica del serenísimo príncipe
don Juan, en Crónicas de los Reyes de Castilla. Madrid, 1877, en el volumen 69 de la Biblioteca de
Autores Españoles, p. 411b). La indicación de cómo se le envió hace plausible que su misión fuese
más como secretario que como embajador. En el prólogo a la traducción de Cicerón que hizo
Cartagena a petición de Alonso de Zamora estando en Portugal, se presenta a éste último como
secretario real (Biblioteca Nacional de España (en adelante BNE), ms. 7815, f. 5r. Y el mismo
Cartagena presenta a ambos como embajadores (f. 6r).
43. Véase tal condición en: BOFARULL Y SARTORIO, Manuel F02D Guerra entre Castilla, Aragón y
Navarra: compromiso para terminarla (año 1431). Barcelona: Colección de Documentos Inéditos del
Archivo de la Corona de Aragón, 1869, p. 26. Sobre las negociaciones: VILLARROEL GONZÁLEZ,
Óscar F02D “Castilla, Navarra y Aragón (…)”… .
44. BECEIRO PITA, Isabel F02D “La consolidación del personal diplomático entre Castilla y Portugal
(1392-1455).” in GONZÁLEZ JIMÉNEZ, Manuel (ed.) F02DLa península ibérica en la era de los
descubrimientos 1301-1492. Actas de las III jornadas hispano portuguesas de Historia Medieval. Sevilla,
1997, pp. 1735-1744, en concreto p. 1741-1742.
45. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D El rey y la Iglesia castellana …, pp. 561-562.
46. Véase por ejemplo: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Eclesiásticos en la diplomacia
castellana en el siglo XV” … .
Medievalista, 28 | 2020
170
47. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Eclesiásticos en la diplomacia castellana en el siglo XV” …,
pp. 793-801.
48. Véase: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Autoridad, legitimidad y honor en la diplomacia: los
conflictos anglo-castellanos en los concilios del siglo XV”. Espacio, Tiempo y Forma. Serie III Historia
Medieval 29 (2016), pp. 777-813.
49. Véase al caso de Basilea: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Autoridad, legitimidad y honor en
la diplomacia (…)” …, p. 798.
50. Sobre la continuidad de este conflicto y su reflejo en las fuentes me remito a la obra citada en
las dos notas anteriores.
51. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D El rey y el papa. Política y diplomacia en los albores del
Renacimiento (el siglo XV en Castilla). Madrid: Sílex ediciones, 2009, pp. 93-94 y, especialmente,
128-130.
52. Sobre la labor diplomática del prelado y esta misión: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D
“Alvaro Núñez de Isorna: un prelado y el poder”. Edad Media. Revista de Historia 18 (2017), pp.
263-292.
53. Sobre el conflicto: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Autoridad, legitimidad y honor en la
diplomacia (…)” …, pp. 789-792.
54. Sobre este Concilio y la actuación castellana: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Castilla y el
Concilio de Siena (1423-1424): la embajada regia y su actuación”, … .
55. El desarrollo del conflicto, con los discursos de ambas legaciones, en: VILLARROEL GONZÁLEZ,
Óscar F02D “Castilla y el Concilio de Siena (1423-1424): la embajada regia y su actuación” …, pp.
162-168. El texto original donde se copiaron los discursos en: BRANDMÜLLER, Walter, Das Konzil
von Pavia-Siena. Munster: Aschendorf, 1968-1974, vol. 2, pp. 303-432.
56. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Autoridad, legitimidad y honor en la diplomacia (…)” …,
pp. 793-795.
57. El mejor análisis del conflicto se encuentra en: FERNÁNDEZ GALLARDO, L. F02D Alonso de
Cartagena. Iglesia, política y cultura en la Castilla del siglo XV, Madrid: Universidad Complutense de
Madrid, 1998, pp. 924-1004. Tesis doctoral. [Consultado el 12 junio 2020] Disponible en http://
eprints.ucm.es/2509/.
58. Ambos trabajos han sido editados y analizados en diversas ocasiones. Sobre la precedencia
con Inglaterra: ECHEVARRÍA GAZTELUMENDI, María Victoria F02D Edición crítica del Discurso de
Alfonso de Cartagena "Propositio super altercatione praeminentia sedium inter oratores regum castellae et
angliae in Concilio Basiliense", versiones en latín y castellano. Madrid: Universidad Complutense,
Servicio de Reprografía, 1992. Es una edición difícil de localizar, sin embargo, de ahí que sea más
utilizada la más antigua: CARTAGENA, Alfonso de F02D “ Discurso sobre la precedencia del rey
Católico sobre el de Inglaterra en el Concilio de Basilea.” in PENNA, Mario (ed.) F02D Prosistas
castellanos del siglo XV. Vol. I. Madrid: Atlas, 1959, pp. 205-233. Y sobre el conflicto con Portugal:
GONZÁLEZ ROLÁN, T.; HERNÁNDEZ GONZÁLEZ, F.; SAQUERO SUÁREZ-SOMONTE, P. F02D Diplomacia y
humanismo en el siglo XV Edición crítica, traducción y notas de las «Allegationes super conquesta
Insularum Canariae contra portugalenses» de Alfonso de Cartagena. Madrid: UNED, Universidad
Nacional de Educación a Distancia, 1994.
59. Sobre ambas cuestiones puede verse: FERNÁNDEZ GALLARDO, Luis F02D Alonso de Cartagena
(1385-1456). Una biografía política en la Castilla del siglo XV. Valladolid: Junta de Castilla y León, 2002,
pp. 133-160 (conflicto anglo-castellano), y 185-208 (luso-castellano). También ÁLVAREZ
PALENZUELA, Vicente Ángel F02D La situación europea en época del Concilio de Basilea. Informe de la
delegación del reino de Castilla. León: Centro de Estudios e Investigación San Isidoro, 1992, pp. 55-70
(conflicto anglo-castellano), y pp. 81-95 (luso-castellano).
60. Véase, por ejemplo, como eso ocurre en el transcurso de los conflictos anglocastellanos:
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Autoridad, legitimidad y honor en la diplomacia (…)” …, pp.
805-807.
Medievalista, 28 | 2020
171
61. Se ha dicho de alguno, como Gonzálo de Santa María de Basilea (ÁLVAREZ PALENZUELA,
Vicente Ángel F02D La situación…, p. 299; cfr. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F0
2D “Comunicar y
negociar …”, p. 6).
62. A Roma se llevaron, por ejemplo, copia de las cartas que el rey había enviado a cardenales, así
como al mismo arzobispo, también del cabildo al papa. También muestra el conocimiento del
derecho canónico en lo tocante a las elecciones y quién puede y quién no reclamar. Todo ello,
junto a otras piezas que se recogen en: AC Toledo, A-8. L.1. 1., también copias en BNE, ms. 13018,
ff. 147r-181r.
63. Los mismos hispanos citan las actas y los ingleses les remiten a ellas en otra ocasión
(asumiendo que las tienen): BRANDMÜLLER, Walter F02D Das Konzil…, vol. 2, pp. 375-378. La remisión
inglesa en pp. 410-412. Las obras las identifica el mismo Brandmüller: la historia eccelsiástica
tripartita de Casiodoro Epifanio, el Chronicon Mundi de Lucas de Tuy (BRANDMÜLLER, Walter F02D Das
Konzil…, vol. 2, pp. 375).
64. Las cartas de Juan Martínez Contreras, por ejemplo, ACA, Cancillería Real, Cartas Reales,
Alfonso el Magnánimo, 1698, 1699, 1705, 1710… (a los diputados de los reinos de Aragón y
Navarra); 1519 (a los consejeros de Barcelona), 1601 (a los oficiales reales de Aragón). Sobre estas
negociaciones véase: VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Castilla, Navarra y Aragón (…)” … .
65. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Castilla y el Concilio de Siena (1423-1424): la embajada
regia y su actuación” …, p. 169.
66. FERNÁNDEZ GALLARDO, Luis F02D Alonso de Cartagena …, pp. 188-189.
67. FERNÁNDEZ GALLARDO, Luis F02D Alonso de Cartagena …, p. 192.
68. FERNÁNDEZ GALLARDO, Luis F02D Alonso de Cartagena …, pp. 196-197.
69. Conservadas todas ellas en ACT, A.8.L.1.1., con copia en BNE, ms. 13018, ff. 147-149v. Véase
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Juan Martínez Contreras: el ascenso de un clérigo menor y el
servicio regio.” in VILAR, Hermínia Vasconcelos; BRANCO, Maria João (eds.) F02D Ecclesiastics and
political state building in the Iberian monarchies, 13th-15th centuries. Lisboa: Publicações do Cidehus,
2016 [Consultado el 17 octubre 2019]. Disponible en http://books.openedition.org/cidehus/1539,
pp. 183-201, en concreto pp. 188-189.
70. Sobre la desinformación en el periodo medieval puede verse: VERDON, Jean F02D Information et
désinformation au Moyen Âge. París: Perrin, 2010.
71. “Tamen debet laborari ne audiantur in publico consistorio, quia transire per linguas
advocatorum in publico consistorio peius est quam transire per linguas diabolorum, qui propter
pecunias iterum venderent papam et beatum Petrum si viveret, deponendum de papatu facerent,
sed dato quod debuissent audiri quod audiantur solum coram cardinalibus commisariis uel coram
papa et cardinalibus in secreto consistorio et non in publico”, ACT, A.8. L.1. 1a, f. 6r. Obviamente
al final del mismo se preocupa porque todo lo dicho no salga del secreto entre ambos enviados
“ista quod persona scribens nullo modo detegatur”, ibídem.
72. BRANDMÜLLER, Walter F02D Das Konzil…, II, p. 252.
73. BRANDMÜLLER, Walter F02D Das Konzi …, II, p. 314.
74. Veáse al respecto: VILLARROEL GONZÁLEZ. Óscar F02D “Castilla y el Concilio de Siena
(1423-1424): la embajada regia y su actuación” …, p. 146 y ss.
75. VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar F02D “Legitimidad, autoridad y conflicto…”, passim.
76. En la actualdidad estoy analizando su evolución y los frutos espero vean la luz pronto. Puede
verse una somera descripción de la embajada y de las fuentes disponibles en: VILLARROEL
GONZÁLEZ, Óscar F02D “Corte y diplomacian en la Castilla bajomedieval. En busca de las fuentes”.
Mélanges de la Casa de Velázquez 45-2 (2015), pp. 105-124, en concreto pp. 115-118; también en
VILLARROEL GONZÁLEZ, Óscar, “Castilla, Navarra y Aragón (...)”, … .
77. ACA, Cancillería, Cartas reales, Alfonso IV [V], 1514.
78. BOFARUL Y SARTORIO, Manuel F02D Guerra …, p. 349.
79. BOFARUL Y SATORIO, Manuel F02D Guerra …, p. 184 y ss.
Medievalista, 28 | 2020
172
80. Véase, por ejemplo, ACA, Cancillería, Cartas reales, Alfonso IV [V], desde 1514 hasta 2413. En
ese lapso (todo de cartas relativas a la negociación) hay 44 cartas del prelado.
81. Por ejemplo en: ACA, Cancillería, Cartas Reales, Alfonso IV [V], 1552.
82. BOFARUL Y SARTORIO, Manuel F02D Guerra …, pp. 18-19.
83. De hecho a lo largo del indicado legajo se conservan múltiples menciones a cosas que ya se
han comunicado al rey, véase, por ejemplo, como en el margen del f. 67r se indica cómo se le
había enviado ya un salvoconducto que se indica en el texto fue enviado al rey con más copias de
escrituras el 3 de abril de ese mismo año: AGS, Estado-Francia, leg. K1711, f. 67r.
RESÚMENES
A lo largo del presente trabajo se analiza el desarrollo de la diplomacia regia y la contribución de
algunos eclesiásticos, a lo largo de los siglos XIV y XV, en Castilla. A través del análisis de la
aparición y desarrollo de algunos oficios de la corte con especial relevancia para la diplomacia,
así como del análisis de algunos casos un tanto especiales de eclesiásticos al servicio regio en
embajadas, se ofrecen algunas respuestas y otras preguntas para la futura investigación del
funcionamiento y organización de la diplomacia castellana.
ÍNDICE
Keywords: In this paper we analyse the development of the royal diplomacy and the
contributions of some ecclesiastics among the fourteenth and fifteenth century in Castile.
Through the analysis of the birth and grown of the special diplomatic offices in the court a, and
through some special cases of study of the role played by churchmen in the royal service, here
offer some initial results and answers to some questions, and many questions for the future
about the operation and development of the castillian diplomacy.
Palabras claves: Diplomacia, Monarquía, Castilla, Burocracia, Embajadores
AUTOR
ÓSCAR VILLARROEL GONZÁLEZ
Universidad Complutense de Madrid, Departamento de Historia Medieval 28040 Madrid, España.
[email protected]. https://orcid.org/0000-0001-6221-5689
Medievalista, 28 | 2020
173
Les évêques de Provence et ladiplomatie royale sous Charles II(1285-1309)The Bishops of Provence and royal diplomacy under Charles II, 1285-1309
Thierry Pécout
NOTE DE L'AUTEUR
Registres des papes édités par l’École française de Rome: abréviations suivies du nomdu pontife; L: lettres ou registres, LC: Lettres communes, LCu: Lettres curiales. Pouralléger des notes déjà nourries, nous n’avons pas cité systématiquement ces mêmeslettres avec, quand le cas se présente, un renvoi à leur édition intégrale dans DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Martin IV (1281-1285) referentes a
España. León: Universidad de León, 2010; DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Honorio IV (1285-1287) referentes a España. León: Universidad de León, 2015; DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Nicolás IV (1288-1292) referentes a
España. León: Universidad de León, 2009; DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Bonifacio VIII (1294-1303) referentes a España. León: Universidad de León,2006; DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Clemente V (1305-1314)
referentes a España. León: Universidad de León, 2014.
1 Lors d’un colloque tenu à Szeged en 2007, j’avais étudié l’activité d’un procureur de la
reine Jeanne de Naples in Romana Curia, au milieu du XIVe siècle1. À l’occasion de laprésentation des actes de cette manifestation par l’Institutum Pontificium Ecclesiasticum
Hungaricum in Urbe, je m’étais interrogé comme bien d’autres sur l’existence de ladiplomatie aux temps médiévaux. Évidemment, nous entendions par là que la pratiquediplomatique ne connaissait pas alors de spécialisation, ni en tant qu’art politiqueautonome, ni en tant que profession. La diplomatie et le diplomate sont intimement liésà l’émergence d’un droit des gens et de la notion juridique d’état de paix. Maisassurément aussi, la diplomatie en tant que nécessité politique de gestion des rapports
Medievalista, 28 | 2020
174
de force et des rivalités entre puissances, quelle que soit leur échelle, n’a pas attendules temps modernes pour émerger2. Et c’est là justement la spécificité de la diplomatiemédiévale, que de n’être avant tout que praxis et de s’intégrer dans une relationglobale. Le “diplomate” de ces temps, est celui qui met à disposition un réseaupersonnel et professionnel, issu tant de sa parenté que des affinités créées au cours deses études et de sa carrière ; qui entretient avec le prince des relations personnelles,voire intime, puisqu’il en est la bouche et les yeux; qui s’avère expert dans le ministèrede la parole, de la négociation et qui impose sa reconnaissance à ses interlocuteurs parcertaine vertu politique, renommée ou charisme. À la lecture de cette énumération, onne s’étonnera guère de voir ainsi se profiler avec elle un personnel issu du sacerdoce,de l’hôtel, de la ville et de l’Université. À propos des Angevins de Provence-Sicile,quelques carrières significatives nous permettront d’illustrer ces considérations, entreles années 1280 et les premiers temps de la papauté d’Avignon, moment où le cadreprovençal s’impose comme haut-lieu de pourparlers et zone de contacts, dans uncontexte hautement conflictuel en Méditerranée occidentale3. La première maisond’Anjou-Provence-Sicile régna en effet sur les comtés de Provence et de Forcalquierpuis d’Anjou et du Maine à partir de 1246 et accéda à la couronne de Sicile en 1265 avecle soutien de la papauté. À partir de 1282, elle entra dans un cycle de conflits avec lacouronne d’Aragon.
2 À compter du règne de Charles II (1285-1309), l’épiscopat de Provence semble se
déterminer en fonction du rôle que lui assigne la monarchie dans son projetd’administration du peuple chrétien. En cela, il se rapproche de plus en plus du milieudes grands officiers. L’épiscopat poursuit un processus d’homogénéisation politiqueentamé au début du siècle4. Il s’achemine vers une communauté de pensée reposant surune formation intellectuelle dominée par le droit, un même idéal de rationalisation dugouvernement chrétien, déployant particulièrement une fonction médiatrice quis’investit dans la diplomatie5.
3 Deux types d’hommes d’Église caractérisent ce processus. Tout d’abord, des proches du
souverain qui s’illustrent par une carrière bénéficiale prestigieuse, mais d’un rangauprès du prince bien supérieur à leur statut dans l’Église locale. Ils préfèrent desbénéfices sine cura, avec une ordination sacerdotale tardive, et n’accèdent pas àl’épiscopat, en partie par choix. Ils font un usage pragmatique du bénéficeecclésiastique. Ainsi de Guillaume de Ferrières († 1295) et de Guillaume Agarini († 1311),qui demeurent prévôts pendant presque toute leur carrière, respectivement à Marseilleet à Apt. Toutefois, le premier accède au cardinalat, tandis que l’autre échoue àl’épiscopat. Au service du roi, Guillaume Agarini a grandement concouru à structurerl’office de procureur in romana curia. À côté d’eux, viennent des prélats ponctuellementchargés de missions diplomatiques. Ce sont des auxiliaires du souverain, sans postesdans l’appareil administratif. Ainsi de Rostaing de Capra (1286-1303), Rostaing de Noves(1283-1311), archevêques d’Arles et d’Aix, et d’André d’Anguissola (1291-1294), évêqued’Avignon6.
4 Guillaume de Ferrières illustrera ici le premier cas de figure, car je n’insisterai pas sur
Guillaume Agarini dont j’ai déjà présenté ailleurs l’action fondatrice comme procureurroyal7. Guillaume de Ferrières est un universitaire et un homme de loi. Issu d’unefamille toulousaine, il se forme à l’université d’Orléans. Professeur de droit civil, ilenseigne à Toulouse entre 1284 et 1289: il en est le premier docteur dont l’œuvre soitconnue. Quand il paraît aux côtés du roi, il dispose déjà d’une longue expérience
Medievalista, 28 | 2020
175
savante, qui s’est exercée dans la consultation juridique et illustrée en un recueil sur lacoutume, des leçons sur les Institutes de 1285-1286, des traités et gloses. Il est fiscaliste,spécialiste de droit municipal et de procédure, ainsi que des juridictions entre roi etseigneurs8. Il mène une belle carrière bénéficiale en Provence en œuvrant au service deCharles II. Il est pourvu de la prévôté de Marseille en mai 1289 par Nicolas IV, alors qu’iln’est que clerc tonsuré, après la nomination du catalan Hugo de Mataplana au siège deSaragosse9. C’est sa fonction auprès du prince qui explique sa promotion: dès 1290,Guillaume porte la titulature de familier et conseiller, tout comme celles de clerc du roiet de chapelain de Nicolas IV. Du reste, il est nommé vice-chancelier du royaume deSicile peu avant mai 129010. Il entretient une grande proximité avec les milieuxgouvernant alors la Provence. On le rencontre fréquemment aux côtés des grandsofficiers de la cour d’Aix entre 1291 et 129411. Il est probablement présent à Perugiaavec Charles II et son fils Charles Martel († 1295) lors du conclave en mars 129412. Sonaccession au cardinalat, comme prêtre de San Clemente le 18 septembre 1294 par lagrâce de Célestin V, en fait l’un des chefs de file du parti angevin au Sacré Collège13. Ildemeure bien en cour auprès de Boniface VIII aussi14. Il supervise les négociations demariage entre Blanche d’Anjou († 1310), fille de Charles II, et Jacques II d’Aragon(1291-1327) qui vient de laisser la couronne de Sicile à son frère Frédéric15. C’est alorsune période complexe des relations entre Angevins et Aragonais, entre état de guerreet négociations. Une paix se conclut le 12 juin 1295 à Agnani, avec comme dispositif larenonciation à toute union entre Sicile et Aragon, l’indépendance du royaume deMajorque, la création d’un royaume de Sardaigne et Corse pour Jacques, l’abandon parPhilippe IV (1285-1314) de toute prétention sur l’Aragon, le mariage de Jacques etBlanche, dont la dot sera financée par le pape (le mariage est célébré le 1er novembre1295), et la libération des fils de Charles II16. Mais Guillaume de Ferrières décèdeprématurément à Perpignan, le 7 septembre 1295. D’autres négociateurs prennent lerelais, tandis que son neveu ou frère Pierre de Ferrières prolonge sa carrière par biendes aspects.
5 L’action diplomatique fut vraisemblablement le principal ressort de l’éphémère
carrière de Guillaume de Ferrières. Pour certains de ses collègues elle ne joue qu’unrôle secondaire, à l’occasion de missions ponctuelles. Des liens étroits noués avecl’entourage pontifical ont sans doute incliné le souverain à les leur confier. Au vrai, lesdeux cas ici évoqués sont liés au Sacré Collège et plus particulièrement au cardinal dePorto Bernard d’Anguissola († 1291), archevêque d’Arles en 1274 sous Clément IV etnommé cardinal par Martin IV en 1281. Ils occupent des sièges où l’emprise royale esttraditionnellement peu présente, au profit de celle du pape. Ce statut leur permetd’occuper des fonctions médiatrices dans les négociations des années 1290.
6 Rostaing de Capra († 22 août 1303) procède du chapitre cathédral d’Arles et
vraisemblablement d’une famille locale. C’est un régulier, comme l’est ce chapitre. Il estchanoine et prêtre depuis 1278, ouvrier et administrateur des anniversaires en 128417.Le 5 août 1286, il est pourvu comme archevêque d’Arles, en pleine période de vacancedu pouvoir royal, alors que Charles II est en captivité en Aragon18. Il est membre de lafamilia du cardinal Bernard d’Anguissola, son prélat consécrateur. Le pape l’affecte àdes tâches concourant au sauvetage de la monarchie angevine. À la fin de sonpontificat, Honorius IV (1285-1287) lui confie ainsi le soin de transférer la décime enfaveur du roi de Sicile et derechef sous Nicolas IV (1288-1292)19. Après le retour du roi,Rostaing est attesté dans sa suite, ce qui est inédit pour un archevêque d’Arles. Il porteles titres de familier et conseiller en 1294, sans pour autant exercer de fonction dans
Medievalista, 28 | 2020
176
l’appareil administratif angevin20. Il effectue un voyage diplomatique dans les Pyrénéesavec Charles II, ponctué par l’échec des négociations de Guillaume de Villaret, prieurhospitalier de Saint-Gilles21. En septembre 1295, il se trouve à Perpignan avec Guillaumede Ferrières22. Il le remplace sur ordre de Boniface VIII23. L’année suivante, il est noncedu pape24. Il joue ainsi un rôle de médiation et d’information entre la curie et la cour,particulièrement au sujet des affaires de Sicile et d’Aragon.
7 Son collègue André d’Anguissola († 1296) procède du même milieu, mais son action est
bien plus limitée. Il est frère du cardinal de Porto. L’aide de l’aîné est déterminantepour la carrière du cadet25. En 1290, André accède au siège d’Avignon par la faveur dupape26. Son épiscopat dans une cité frontalière le conduit à jouer un rôle diplomatiqueprécis. Au début de l’année 1291, il participe ainsi aux négociations de Tarascon,associant Charles II, le légat et cardinal Gerardo Bianchi, Benedetto Caetani, Charles deValois, Jacques de Majorque, des représentants de Philippe IV, d’Édouard Ier
d’Angleterre (1272-1307), d’Alphonse III de Castille (1285-1291) et des Cortes d’Aragon27.Elles aboutissent au traité de Brignoles, du 19 février 129128. André d’Anguissolan’intervient alors qu’en tant qu’évêque d’Avignon, la coseigneurie de celle ville étantl’objet d’un échange entre Philippe IV et Charles II qui l’obtient moyennant la cessionde l’Anjou et du Maine à Charles de Valois29. André est toutefois membre du conseilroyal et familier en 129230.
8 Sous Charles II, le clergé séculier et singulièrement l’épiscopat exercent une activité
accrue dans le gouvernement de la monarchie, à la mesure de leur rôle déterminantdans la survie de celle-là durant la crise de 1282-1288, après les Vêpres siciliennes, ladéfaite et la captivité en Aragon du jeune souverain. Tandis que se déploie leurmagistère et que se redéfinit l’officium episcopi au sein de la théocratie pontificale, leurfonction médiatrice s’investit dans l’activité diplomatique.
9 Mais le sacerdoce n’est point toujours le socle à partir duquel se déploie celle-ci. Pour
certains de nos clercs, la prélature couronne à l’inverse ou accompagne une éminentecarrière de grand officier. Elle s’appuie sur des stratégies bénéficiales différenciées.Dans tous les cas cependant, office et prélature trouvent à s’imbriquer car ilsparticipent d’un même magistère de la parole. À chaque fois aussi, un milieu s’esquissedont les réseaux mettent en jeu la nécessité désormais de disposer de solides capacitésde recueil de l’information auprès du gouvernement central de l’Église.
10 Voici en premier lieu deux distingués ministres, entre Église et État pour paraphraser
Bernard Guenée31. Pierre de Ferrières et Guillaume de Mandagout se caractérisent parune indéniable stature intellectuelle, l’un dans le droit civil, l’autre dans le droit canon.Ils œuvrent chacun au service de deux appareils d’État, le premier pour le roi, le secondpour le pape. L’obtention de l’archiépiscopat marque leur cursus bénéficial, dont l’unseulement aboutit au cardinalat, faute de longévité suffisante pour l’autre. Ladiplomatie y occupe une place singulière, parmi les activités qui distinguent ces deuxhommes d’État.
11 Pierre de Ferrières († 1308), procède de la familia cardinalice de Guillaume, son parent32.
Il est aussi familier de Louis d’Anjou, comme toute une génération33. Chez lui, lebénéfice rétribue l’office exercé auprès du souverain. Il préfigure par bien des aspectsl’ascension de Jacques Duèze et sans doute Pierre aurait-il reçu le cardinalat s’il avaitvécu davantage. Docteur en droit civil de l’université de Toulouse et gradué dans lesdeux droits, il y enseigne jusqu’en 1294. Il devient recteur du studium de Naples 34.Trésorier, vice-chancelier du royaume de Sicile dès novembre 1295, avec le titre
Medievalista, 28 | 2020
177
d’auditeur en 1298, c’est un grand officier35. Il est vicaire général dans le Regno en 1305et promulgue des statuts sur les juridictions en Provence en 1304. Doté de la prêtrise en1295, il cumule les bénéfices36: doyen du Puy en 1295, puis de Douai, évêque de Lectoureen 1299, de Noyon en 1301, chanoine de Lyon et d’Auch, outre divers revenus dans lesdiocèses du Puy et de Viviers37. Il refuse cependant l’archevêché de Salerno en 129838,mais accepte celui d’Arles en 130439: sa résidence en Provence semble essentielle à sesfonctions.
12 Il assure de nombreuses missions pour son maître le roi. En Italie du nord tout d’abord,
auprès de Manfredo marquis de Saluzzo en 1305 et de la commune de Gênes en 130740.Puis auprès du nouveau pape Clément V, à Poitiers avec son maître Charles II en 1307. Ilprésente alors un mémoire sur les dettes de la monarchie, avec le protonotaire etlogothète Bartolomeo di Capua, en arguant du rôle joué par celle-ci dans la défense del’Église romaine41. Il combine la maîtrise de la parole et de l’art oratoire, le savoirjuridique et la connaissance des milieux entourant le pontife. Comme la premièregénération de professeurs de droit civil entourant les Angevins en Provence, le droitsemble pour lui continuer une entreprise de domination politique et militaire42. Mais lagénération de Pierre de Ferrières ajoute une œuvre considérable de mise en ordre desjuridictions et des instances dans les comtés provençaux.
13 De son côté, Guillaume de Mandagout († 1321) provient de la basse vallée du Rhône et
du royaume de France43. Il débute dans le chapitre de Nîmes dès 1275. Il s’inscrit àl’origine dans ce modèle d’ascension bénéficiale dont le point de départ est la familia ducardinal Bernard d’Anguissola, mais il s’en distingue rapidement44. Par ses compétencesintellectuelles, il dépasse des collègues tels Jacques Duèze, Bérenger Frédol et Pierre deFerrières45. En outre, son cursus prolonge une stratégie de promotion lignagère mise enplace par les siens dès les années 1260 et fondée sur le cumul bénéficial. Bien plus quepour Pierre de Ferrières étroitement lié au seul Charles II, sa fonction de médiation estremarquable, entre papauté, capétiens et Angevins et marque toute sa carrière, ycompris lors de ses tentatives d’élection en conclave.
14 Guillaume de Mandagout est docteur du studium de Bologne et doit son ascension à son
statut de savant juriste. Il est archidiacre d’Uzès, notaire apostolique en 1291, chapelaindu cardinal Bernard d’Anguissola en 1286, prévôt de Toulouse en 129146. En avril 1295,Boniface VIII le pourvoit archevêque d’Embrun47. Parallèlement, il débute un travail decompilation juridique en 1296: le Sexte promulgué en 1298, les Clémentines
probablement aussi, ainsi qu’un libelle sur les élections48. Clément V le promeutarchevêque d’Aix en mai 1311, tandis que son chapelain lui succède à Embrun49.En décembre 1312 enfin, il devient évêque de Palestrina.
15 Son activité diplomatique est intense. Elle est favorisée par sa dispense de résidence
dans ses bénéfices obtenue en 129750. Mais dès 1291 il est dépêché auprès du roid’Aragon et à Majorque51. Les questions touchant au royaume de Sicile occupent uneplace prépondérante. Guillaume de Mandagout est un intermédiaire précieux auprès dupape. Il participe lui aussi à la mission de 1295 à la suite de la mort de Guillaume deFerrières, notamment lors des négociations finales de la fin de l’année 1295 et du débutde la suivante, qui débouchent sur le mariage de Blanche d’Anjou et de Jacquesd’Aragon en novembre 129552. Il œuvre aussi à propos du Dauphiné, en particulier autemps de son épiscopat à Embrun. En juillet 1301, il mène les tractations entre ledauphin et Amédée V de Savoie, sous l’arbitrage de Charles de Valois et avec l’épiscopatlocal, ses collègues de Gap, Valence et Vienne53. En 1304, il est désigné par Clément V
Medievalista, 28 | 2020
178
comme protecteur de Béatrice de Savoie Faucigny54. En 1300, il arbitre entre Charles IIet le dauphin sur la question de Gap et de ses juridictions, aux côtés de Jacques Duèze55.Enfin, tout comme Bernard d’Anguissola à l’issue de son archiépiscopat à Arles, il estdésigné comme recteur du comté Venaissin, où il est attesté entre 1303 et 131056. En1304, il prononce une consultation juridique sur l’héritage des Montauban, un lignagedes confins dauphinois de la Provence, mais essuie les reproches de Charles II57. En1307, il joue sans doute un rôle déterminant dans le transfert de la moitié de la citéd’Orange au roi, ce qui occasionne un bouleversement des rapports de force aux margesdu Venaissin pontifical58.
16 Son activité diplomatique est l’une des manifestations de la puissance et de l’étendue
de ses réseaux personnels. Elle le conduit souvent à rechercher un difficile équilibreentre les puissances, dont il fait les frais en 1307 à propos des Montauban. Il ne s’agitpas, à la différence de Pierre de Ferrières, d’un agent angevin. Il dispose d’un réseau derelations qui tend à s’autonomiser et qu’il s’efforce de mettre au service de sa proprecarrière bénéficiale.
17 Pour certains clercs, la fonction médiatrice et diplomatique passe enfin par des
missions fiscales, qui structurent leurs carrières bénéficiales. La décime, arme politiquepar excellence dès ses régulières concessions au roi de Sicile, en est le principal acteur.La fonction de collecteur échoit souvent à des prévôts de chapitres cathédraux. Cettedignité comporte déjà des obligations de gestion temporelle et de reddition descomptes et c’est sans conteste une excellente école pour le futur comptable59. Cebénéfice peut de surcroît être occupé par un titulaire absentéiste. La collecte de ladécime, ou du moins sa supervision, est une activité qui prépare à la diplomatie ou,bien plus, qui lui est intrinsèquement liée. Elle intègre en outre le prélat ou le dignitairedans des stratégies militaires60.
18 Un exemple significatif est celui de Durand de Tres Eminas, évêque de Marseille
(1289-1312). Il provient lui aussi d’un milieu identique aux précédents, la familia deBernard d’Anguissola61. Il reçoit d’importantes commissions de Nicolas IV etBoniface VIII62. Dès le retour de captivité de Charles II, Durand intègre l’entourageroyal, sans doute comme conseiller, mais sans détenir de fonction administrative. Ilveille sur les fondations royales de Notre-Dame de Nazareth d’Aix, devenue nécropolede Charles II en 1309, et du couvent de Saint-Maximin voué au culte dynastique de laMadeleine63. Son action politique s’investit dans la fiscalité pontificale. Entre 1296 et1304, il est collecteur de la décime alors levée pro negotio regni Sicilie. Il opère dans lesprovinces de Lyon, Vienne, Besançon, Tarentaise, Aix, Arles et Embrun, autrement ditle royaume d’Arles64. Tandis que Guillaume de Mandagout se voit simultanémentconfier celles de Lyon, Vienne, Tarentaise, Besançon et Embrun. Durand doit veiller àl’assignation des sommes destinées à l’armement de la flotte en 129665. Sur ce plan, onpeut lui rapprocher son collègue Geoffroi de Lincel, avocat et canoniste, prévôt d’Aptpuis évêque de Gap, dont nous avons retracé ailleurs la carrière66.
19 La décime est une opération en soi diplomatique et militaire. Chez nos clercs, elle met
en œuvre les compétences du négociateur, la délégation pontificale, le service de lamonarchie. Elle contribue à la mobilisation du clergé, qu’il soit contribuable oucollecteur, dans la défense d’une monarchie vassale du pape. Elle concourt à intégrerl’épiscopat de Provence au sein d’une société politique, dont les premières assemblées àla fin du règne de Charles II manifestent les formes d’organisation primordiales67.
Medievalista, 28 | 2020
179
20 En dépit de la diversité des cursus, le milieu ainsi esquissé se caractérise par sa grande
cohésion. La formation intellectuelle y joue pour beaucoup, tout comme lareconnaissance de ses compétences par l’Église et l’État angevin. La collaboration avecl’une les met toujours en relation avec l’autre dans les terres angevines. Comme l’ontsouligné les travaux sur les sacres royaux de 1266, 1289 et 130968, le modèlemonarchique qui y est à l’œuvre ne saurait imposer à l’épiscopat de choisir entre leservice du pape et celui du prince. Il s’inscrit pleinement dans le discours théocratique.Le cardinalat couronne la carrière de ceux qui vivent le plus longtemps et qui ont suconstituer les réseaux de soutien les plus influents. Ces prélats savent mener à sonterme les potentialités du sacerdoce, dont la fonction médiatrice et pacificatrice estmise au service de l’ordre politique. Elle s’exerce dans le domaine de la paix, parl’arbitrage, l’exécution de commissions pontificales, la négociation. Elle conduit lepasteur à occuper une place centrale dans la fiscalité pontificale, quand son affectationà la sauvegarde de la monarchie angevine ajoute encore à son rôle d’intermédiaire. EnProvence, la médiation procède aussi d’une position géopolitique précise, cœur d’undispositif entre capétiens, papauté, couronne d’Aragon, couronne de Sicile, quipréexiste à l’installation de la papauté en Avignon et qui a certes présidé au choix de celieu comme résidence pontificale.
BIBLIOGRAPHIE
Sources manuscrites
France, Digne-les-Bains, Arch. départementales des Alpes-de-Haute-Provence
- 1G 25
France, Marseille, Archives départementales des Bouches-du-Rhône
- 4G 1, no 12, 21, 22, 65; 4G 2, no 133, 138; 4G 3, no 283, 291, 304, 317; 4G 4, no 97; 4G 5, ns 160, 161;
4G 6, no 252; 4G 9, no 223, 224;
- 5G 17, no 114;
- B 1088;
Vatican, Archivio Apostolico Vaticano
- Instr. Misc. 359
Sources publiées
ALBANÈS, Joseph Hyacinthe – Histoire des évêques de Saint-Paul-Trois-Châteaux au quatorzième siècle.
Corrections et documents. Montbéliard: Imprimerie de P. Hoffmann, 1885.
ALBANÈS, Joseph Hyacinthe – Gallia christiana novissima, Marseille. / d'après les documents
authentiques recueillis dans les registres du Vatican et les archives locales par le chanoine J.-H. Albanès
[…]; completée, annotée et publiée par le chanoine Ulysse Chevalier […]. Marseille: P. Hoffmann
(Montbéliard); impr. valentinoise (puis), 1899.
Medievalista, 28 | 2020
180
ALBANÈS, Joseph Hyacinthe – Gallia christiana novissima, Arles / d'après les documents authentiques
recueillis dans les registres du Vatican et les archives locales par le chanoine J.-H. Albanès […]; completée,
annotée et publiée par le chanoine Ulysse Chevalier […]. Valence: P. Hoffmann (Montbéliard) / impr.
valentinoise (puis), 1900.
ALBANÈS, Joseph Hyacinthe – Gallia christiana novissima, Avignon / par feu le chanoine J.-H. Albanès
[…]; complétée, annotée et publiée par le chanoine Ulysse Chevalier […]. Valence: impr. valentinoise,
1920.
BLANCARD, Louis – Documents inédits sur le commerce de Marseille au Moyen Âge. T. 2-4. Pièces
commerciales diverses tirées des archives marseillaises du XIIIe siècle. Marseille: Typographie et
Litographie Barlatier-Feissat Père et Fils, 1885.
BRESC, Henri (éd.) – La correspondance de Pierre Ameilh, archevêque de Naples puis d’Embrun
(1363-1369). Paris: Editions du Centre National de la Recherche Scientifique, 1972.
BUGHETTI, P. Benvenutus (éd.) – Processus canonizationis et legendæ variæ sancti Ludovici O. F. M.
episcopi Tolosani, Analecta franciscana. T. 7. Quaracchi-Firenze: ex Typographia Collegii S.
Bonaventurae, 1951.
CHEVALIER, Ulysse – Regeste dauphinois. Répertoire chronologique et analytique des documents
imprimés et manuscrits relatifs à l’histoire du Dauphiné, des origines chrétiennes à l’an 1349. Valence:
L'Imprimerie Valentinoise, 1913-1926.
DIGARD, Georges; FAUCON, Maurice; THOMAS, Antoine; FAWTIER, Robert (éd.) – Les registres de
Boniface VIII : recueil des bulles de ce pape publiées ou analysées d'après les manuscrits originaux des
Archives du Vatican. Paris: E. Thorin, 1907-1939, 4 vols. (BEFAR, 2e série, 4).
DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Bonifacio VIII (1294-1303) referentes a España.
León: Universidad de León, 2006.
DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago(éd.) – Documentos de Nicolás IV (1288-1292) referentes a España.
León: Universidad de León, 2009.
DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Martin IV (1281-1285) referentes a España.
León: Universidad de León, 2010.
DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Clemente V (1305-1314) referentes a España.
León: Universidad de León, 2014.
DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago (éd.) – Documentos de Honorio IV (1285-1287) referentes a España.
León: Universidad de León, 2015.
FAILLON, M. – Monuments inédits sur l’apostolat de Sainte Marie Madeleine en Provence. T. 2. Paris:
Jacques-Paul Migne, 1848.
FILANGIERI, Riccardo (éd.) – I registri della cancellaria angioina ricostruiti. Naples: Regia Cancellaria,
1950.
GRANDJEAN, Charles (éd) – Le registre de Benoît XI: recueil des bulles de ce pape publiées ou analysées
d'après le manuscrit original des archives du Vatican. Paris: E. Thorin, 1905, 1 vol. (BEFAR, 2e série).
LANGLOIS, Ernest (éd.) – Les registres de Nicolas IV: recueil des bulles de ce pape publiées ou analysées
d'aprés les manuscrits originaux des Archives du Vatican. Paris: E. Thorin, 1886-1892, 2 vols. (BEFAR,
2e série, 5).
MARTINI, A. (éd.) – ASV, Archivum Arcis, Arm. I-XVIII, 2177 et 2178. Cité du Vatican, 2008,
dactylographié.
Medievalista, 28 | 2020
181
PAPON, Jean-Pierre – Histoire générale de Provence. T. 3. Paris: L’Imprimerie de Ph. D. Pierres, 1784.
PÉCOUT, Thierry (dir.); BERNARDI, Philippe; BONNAUD, Jean-Luc; CASSIOLI, Marco; MAILLOUX,
Anne et al. (éd.) – L’enquête générale de Leopardo da Foligno dans le comté de Forcalquier (juin-septembre
1332). Paris: Comité des travaux historiques et scientifiques, 2017.
POMMEROL, Marie-Henriette Jullien de; MONFRIN, Jacques (éd.) – Bibliothèques ecclésiastiques au
temps de la papauté d’Avignon. T. 2. Inventaires de prélats et de clercs français. Édition. Paris: CNRS
éditions, 2001.
Regestum Clementis papae V […]. nunc primum editi cura et studio monachrorum ordinis S. Benedicti […].
Rome: ex Typogr. Vaticana, 1885-1892. 9 vols. et appendice.
RYMER, Thomas – Fœdera, conventiones, literæ et cujuscumque generis acta publica, inter reges Angliæ
et alios. T. 1-2. Hagae comitis (apud Joannem Neauline), 1745.
SCARLATA, Marina (éd.) – Carte reali diplomatiche di Giacomo II d’Aragona (1291-1327) riguardanti
l’Italia. Palermo: Societa Siciliana per la Storia Patri, 1993.
SCHULTE, Johann Friedrich von – Die Geschichte der Quellen und Literatur des Canonischen Rechts von
Papst Gregor IX. bis zum Concil von Trient. Stuttgart: Ferdinand Enke, 1877.
Études
ANDRETTA, Stefano; PEQUIGNOT, Stéphane; WAQUET, Jean-Claude (dir.) – De l’ambassadeur: les
écrits relatifs à l’ambassadeur et à l’art de négocier du Moyen Âge au début du XIXe siècle. Rome: École
française de Rome, 2015.
BACHRACH, David S. – Religion and the Conduct of War, c. 300 - c. 1215. Woodbridge: Boydell Press,
2003.
BAGLIANI, Agostino Paravicini – I testamenti dei cardinali del duecento. Rome: Società alla Biblioteca
Vallicelliana, 1980.
BAGLIANI, Agostino Paravicini – Boniface VIII. Un pape hérétique? Paris: Editions Payot & Rivages,
2003.
BALBERGHE, Émile van – “Une copie exceptionnelle du Libellus de episcoporum electionibus de
Guillaume de Mandagout”. in RAMAN, Anny; MANNING, Eugéne (éd.) – Miscellanea Martin Wittek.
Album de codicologie et de paléographie offert à Martin Wittek. Louvain-Paris: Peters, 1993, pp.315-322.
BEAUMONT, Jean-Pierre – Une famille de banquiers italiens, les Anguissola de Plaisance (première moitié
du XIVe siècle). Chartres: École Nationale des Chartes, 1968. Thèse de Promotion.
BÉGOU-DAVIA, Michèle – “Guillaume de Mandagout”. in ARABEYRE, Patrick; HALPÉRIN, Jean-
Louis; KRYNEN, Jacques - Dictionnaire historique des juristes français, XIIe-XXe siècle. Paris: Éditions
PUF, 2007, p. 533.
BERTHE, Pierre-Marie – Les procureurs français à la cour pontificale d’Avignon, 1309-1376. Paris:
Université Paris 4, 2014. Thèse de doctorat en Histoire médiévale.
BOESPFLUG, Thérese – La Curie au temps de Boniface VIII. Étude prosopographique. Rome: Istituto
Storico Italiano per il Medioevo, 2005.
BONNOT-RAMBAUD, Isabelle (éd.) – Marseille et ses rois de Naples. La diagonale angevine (1265-1382).
Marseille / Aix-en-Provence: Archives Municipales / Edisud, 1988.
BOYER, Jean-Paul – “Sacre et théocratie. Le cas des rois de Sicile Charles II (1289) et Robert
(1309)”. Revue des Sciences philosophiques et théologiques 81/4 (1997), pp. 561-607.
Medievalista, 28 | 2020
182
BOYER, Jean-Paul – “Le droit civil entre studium et cour de Naples”. in BOYER, Jean-Paul;
MAILLOUX, Anne; VERDON, Laure (dir.) – La justice temporelle dans les territoires angevins aux XIIIe et
XIVe siècles. Théories et pratiques (colloque d’Aix-en-Provence, 21-23 février 2002). Paris: École Française
de Rome, 2005, pp. 47-82.
BRESC, Henri – “Les partis cardinalices et leurs ambitions dynastiques”. in FAVIER, Jean; et al.
(dir.) – Genèse et débuts du Grand Schisme d’Occident (actes du colloque international du CNRS, Avignon
25-28 septembre 1978). Paris: Éditions du Centre national de la recherche scientifique, 1980,
pp. 45-57.
BRESC, Henri – “Marseille dans la guerre des Vêpres siciliennes”. in BONNOT-RAMBAUD, Isabelle
(éd.) – Marseille et ses rois de Naples. La diagonale angevine (1265-1382). Marseille / Aix-en-Provence:
Archives Municipales / Edisud, 1988, pp. 43-49.
BRUNEL, Clovis – “Une table pascale de Guillaume de Mandagout”. Bibliothèque de l’École des
chartes 84 (1923), pp. 161-165.
CADIER, Léon – Essai sur l’administration du royaume de Sicile sous Charles Ier et Charles II d’Anjou.
Paris: E. Thorin, 1891.
CALENDINI, Paul – “Capre, Bx Rostang de”. in BAUDRILLART, Alfred ; VOGT, Albert ; ROUZIÈS,
Urbain (dir.) – Dictionnaire d’histoire et de géographie ecclésiastiques. T. 11. Paris: Letouzey et Ané,
1949, col. 957-958.
CANTEAUT, Olivier; HÉLARY, Xavier; THÉRY, Julien (dir.) – 1314, une Europe en crise? La conjoncture
politique européenne à la mort de Philippe le Bel (Université de Paris-Sorbonne, 2-4 octobre 2014), à
paraître.
COLLARD, Franck ; COTTRET, Monique. (dir.) – Conciliation, réconciliation aux temps médiévaux et
modernes [en ligne]. Nanterre: Presses universitaires de Paris Nanterre, 2012. [Consulté le 31
décembre 2015]. Accessible in https://doi.org/10.4000/books.pupo.2016.
COULET, Noël – “Un couvent royal: les Dominicaines de Notre-Dame-de-Nazareth d’Aix au
XIIIe s.”. Cahiers de Fanjeaux: Les Mendiants en Pays d'Oc au XIIIe siècle 8 (1973), pp. 233-262.
DÉLIVRÉ, Fabrice – “Le Libellus super electionibus de Guillaume de Mandagout (1286/1287). Histoire
d’un succès dans l’Occident médiéval”. in GOERING, Joseph Ward; DUSIL, Stephan; THEIR,
Andreas (dir.) – Proceedings of the Fourteenth International Congress of Medieval Canon Law, Toronto,
5-11 August 2012. Cité du Vatican: Biblioteca Apostolica Vaticana, 2016, pp. 233-242.
DÉLIVRÉ, Fabrice – “Mandagotus. Les avatars d’un traité juridique à succès”. in BILOTTA, Maria
Alesssandra (dir.) – Medieval Europe in Motion. Circulations juridiques et pratiques artistiques,
intellectuelles et culturelles en Europe au Moyen Âge (XIIIe-XVe siècle). Lisbonne, 25-25 février 2016, à
paraître.
DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago – Los procuradores de los reinos hispánicos ante la curia romana en el
siglo XIII. León: Universidad de León, 2007.
DOSSAT, Yves – “L’Université de Toulouse, Raymond VII, les Capitouls et le roi”. Cahiers de
Fanjeaux: Les Universités du Languedoc au XIIIe siècle 5 (1970), pp. 58-91.
DROCOURT, Nicolas – “Ambassadeurs étrangers à Constantinople: moyens de contacts,
d’échanges et de connaissances partielles du monde byzantin (VIIIe-XIIe siècles)”. in CLÉMENT,
François; TOLAN, John; WILGAUX, Jérôme (dir.) – Espaces d’échanges en Méditerranée. Antiquité et
Moyen Âge [en ligne]. Rennes: Presses universitaires de Rennes, 2006, pp. 107-134. [Consulté le 31
décembre 2015]. Accessible in https://doi.org/10.4000/books.pur.7841.
Medievalista, 28 | 2020
183
FERRER MALLOL, María Teresa; MOEGLIN, Jean-Marie; PÉQUIGNOT, Stéphane; SÁNCHEZ
MARTÍNEZ, Manuel (eds.) – Negociar en la Edad Media - Négocier au Moyen Âge. Barcelone: CSIC,
2005.
GALLAND, Bruno – “Les hommes de culture dans la diplomatie pontificale au XIIIe siècle”.
Mélanges de l’École française de Rome. Moyen Âge, Temps modernes 108/2 (1996), pp. 615-643.
GALLO, Alexandra – “Le développement d’un réseau diplomatique par le conseil de ville de
Sisteron au XIVe siècle”. in Les relations diplomatiques au Moyen Âge. Formes et enjeux [en ligne].
Paris: Éditions de la Sobornne, 2011, pp. 219-225 [Consulté le 31 décembre 2015]. Accessible in
https://doi.org/10.4000/books.psorbonne.16469.
GILLES, Henri – “Le traité de la coutume de Guillaume de Ferrières”. in GILLES, Henri – Université
de Toulouse et enseignement du droit, XIIIe - XVIe siècles. Toulouse: Presses de l’Université Toulouse I
Capitole, 1992, pp. 127-138.
GIORDANENGO, Gérard – Lexikon des Mittelalters. T. 4. Erzkanzler bis Hiddensee. Munchen. Zurich:
Artemis, 1989.
GIORDANENGO, Gérard – “Ferrières, Pierre de”. in ARABEYRE, Patrick; HALPÉRIN, Jean-Louis;
KRYNEN, Jacques – Dictionnaire historique des juristes français, XIIe XXe siècle. Paris: Éditions PUF,
2007, pp. 327-328.
GIUNTA, Francesco; CORRAO, Pietro (dir.) – La società mediterranea all’epoca del Vespro, 11o Congresso
di Storia della Corona d’Aragona, Palermo, Trapani, Erice, 23-30 aprile 1982. Palerme: Accademia di
scienze lettere e arti, 1983-1984.
GRAVA, Yves – “Les ambassades provençales au XIVe siècle et les enjeux de la communication”. in
Actes des congrès de la Société des historiens médiévistes de l'enseignement supérieur public,
24ᵉ congrès, Avignon. La circulation des nouvelles au Moyen Âge. Paris-Rome: Éditions de la
Sorbonne, École française de Rome, 1994, pp. 25-36.
GUENÉE, Benard – Entre l’Église et l’État. Quatre vies de prélats français à la fin du Moyen Âge (XIIIe-
XVe siècles). Paris: Gallimard, 1987.
GUILLEMAIN, Bernard – “Le milieu épiscopal et cardinalice de Bernard Gui”. Cahiers de Fanjeaux:
Bernard Gui et son monde 16 (1981), pp. 317-332.
HÉBERT, Michel – “Une identité mise en scène: les premières assemblées représentatives dans les
comtés de Provence et de Forcalquier (XIIIe-début XIVe siècles)”. in BOYER, Jean-Paul; MAILLOUX,
Anne; VERDON, Laure (dir.) – Identités angevines. Entre Provence et Naples (Aix-en-Provence,
20-22 octobre 2011). Aix-en-Provence: Presses universitaires de Provence, 2016, pp. 183-194.
HOUSLEY, Norman – The Italian Crusades. The Papal-Angevin Alliance and the Crusades against
Christian Lay Powers, 1254-1343. Oxford: Claredon Press, 1982.
JUGIE, Pierre – “L’activité diplomatique du cardinal Gui de Boulogne en France au milieu du
XIVe siècle”. Bibliothèque de l’École des chartes 145/1 (1987), pp. 99-127.
KIESEWETTER, Andreas – “Karl II. von Anjou, Marseille und Neapel”. in BONNOT-RAMBAUD,
Isabelle (dir.) – Marseille et ses rois de Naples. La diagonale angevine (1265-1382). Marseille / Aix-en-
Provence: Archives Municipales / Edisud, 1988, pp. 61-75.
KIESEWETTER, Andreas – “La cancelleria angioina”. in L’État angevin. Pouvoir, culture et société entre
XIIIe et XIVe siècle. Actes du colloque international, Rome-Naples, novembre 1995. Paris-Rome: École
Française de Rome, 1998, pp. 361-415.
Medievalista, 28 | 2020
184
LAZZARINI, Isabella – “À propos de diplomatie médiévale: pratiques, modèles et langages de la
négociation en Italie (XIVe-XVe siècles)”. Médiévales [en ligne] 74 (2018), pp. 133-154 [Consulté le
31 décembre 2019]. Accessible in https://doi.org/10.4000/medievales.8653.
LE ROUX, Amandine – “Mise en place des collecteurs et des collectories dans le royaume de
France et en Provence (1316-1378)”. Lusitania sacra. O papado de Avinhão nos reinos do Ocidente 22
(2010), pp. 45-62.
LE ROUX, Amandine – “Des collecteurs spécialisés aux collecteurs généralistes, l’établissement du
système collectoral en Provence (1249-1514)”. in MORELLO BAGET, Jordi (dir.) – Financiar el reino
terrenal. La contribución de la Iglesia a finales de la Edad Media (s. XIII-XVI). Barcelone: CSIC, 2013,
pp. 107-129.
LE ROUX, Amandine – “L’écrit, un outil de gouvernement financier de la papauté. L’exemple de la
correspondance entre la papauté et ses collecteurs”. in BÉRENGER, Agnès; DARD, Olivier (éd.) –
Gouverner par les lettres, de l’Antiquité à l’époque contemporaine. Actes du colloque de Metz, 10-12 octobre
2013. Metz: Centre de Recherche Universitaire Lorrain d'Histoire, 2015, pp. 287-311.
LE ROUX, Amandine – “Le recouvrement de la décime par les collecteurs pontificaux de 1316 à
1503 (royaume de France et Provence)”. in BALOUP, Daniel; SÁNCHEZ MARTÍNEZ, Manuel (dir.) –
Partir en croisade à la fin du Moyen Âge. Financement et logistique. Toulouse: Presses Universitaires du
Midi, 2015, pp. 55-80.
LE ROUX, Amandine – “Pratiques comptables du gouvernement pontifical. L’histoire scripturale
des comptes des collecteurs pontificaux provençaux (1274-1406)”. Comptabilités [en ligne] 10
(2019) [Consulté le 31 décembre 2019]. Accessible in https://journals.openedition.org/
comptabilites/2545.
MALECZEK, Werner – “Die Urkunden des päpstlichen Legaten Johannes Boccamazza,
Kardinalbischofs von Tusculum, aus den Jahren 1286 und 1287 (Legation ins Reich in der Spätzeit
König Rudolfs von Habsburg)”. Archiv für Diplomatik. Schriftgeschichte, Siegel- und Wappenkunde 59
(2013), pp. 35-132.
MEIJERS, Eduard Maurits – “La première époque d’épanouissement de l’enseignement du droit à
l’université de Toulouse (1280-1330)”. in MEIJERS, Eduard Maurits; FEENSTRA, Robert; FISCHER,
Herman Frederik Willem Daniel (éd.) – Études d’histoire du droit. T. 3. Le droit romain au Moyen Âge.
Leyde: Universitaire Pers Leiden, 1959, pp. 167-208.
MINIERI-RICCIO, Camillo – Genealogia di Carlo I d’Angiò, prima generazione. Naples: Stabilimento
Tipografico di Vincenzo Priggioba, 1857.
MISCHLEWSKI, Adalbert – Un ordre hospitalier au Moyen Âge. Les chanoines réguliers de Saint-Antoine-
en-Viennois. Grenoble: Presses Universitaires de Grenoble, 1995.
MOLLAT, Guillaume – “Guillaume de Mandagout”. in NAZ, Raoul (dir.) – Dictionnaire de droit
canonique. T. 5. Paris: Letouzey ey Ané, 1953, col. 1077-1078.
MONTI, Gennaro Maria – “Carlo II e i debiti angioino verso la Santa Sede”. in MONTI, Gennaro
Maria – Da Carlo I a Roberto d’Angiò. Ricerche e documenti. Trani: Vecchi, 1936, pp. 117-132.
MOREMBERT, Henri Tribout de – “Capre, Rostang de”. in PRÉVOST, Michel; D’AMAT, Jean-Charles
Roman – Dictionnaire de biographie française. T. 7. Paris: Letouzey et Ané, 1956, col. 1081.
MOREMBERT, Henri Tribout de – “Ferrières, Pierre de”. in BAUDRILLART, Alfred ; VOGT, Albert ;
ROUZIÈS, Urbain (dir.) – Dictionnaire d’histoire et de géographie ecclésiastique. T. 16. Paris: Letouzey
et Ané, 1967, col. 1287-1288.
Medievalista, 28 | 2020
185
OTCHAKOVSKY-LAURENS, François – “Le statut des ambassadeurs marseillais au regard des
pratiques diplomatiques au XIVe siècle”. in La diplomatie des villes au Moyen Âge et au premier âge
moderne, XIIe-XVIe siècle (actes du colloque international, Montpellier, 17-18 novembre 2017), à paraître.
PALMIERI, Stefano – La cancelleria del regno di Sicilia in età angioina. Naples: M. D'Auria Editore,
2006.
PÉCOUT, Thierry – “Une technocratie au service d’une théocratie. Culture et formation
intellectuelle des évêques de Provence (milieu du XIIIe siècle - milieu du XIVe siècle)”. in CÉVINS,
Marie-Madeleine; MATZ, Jean-Michel (dir.) – Formation intellectuelle et culture du clergé dans les
territoires angevins (milieu du XIIIe-fin du XVe siècle), colloque d’Angers, 15-16 novembre 2002. Paris:
École Française de Rome, 2005, pp. 95-116.
PÉCOUT, Thierry – “Diplômes, diplomates et diplomatie: le registre du maître rational Jean de
Revest, procureur de la reine Jeanne in Romana Curia, 1343-1347”. in KORDÉ, Zoltán; PETROVICS,
István (dir.) – La diplomatie des États angevins aux XIIIe et XIVe siècles, Actes du colloque international de
Szeged, Visegràd et Budapest, 13-16 septembre 2007. Rome-Szeged: Accademia d'Ungheria in Roma,
2010, pp. 251-287.
PÉCOUT, Thierry – Ultima ratio. Vers un État de raison. L’épiscopat, les chanoines et le pouvoir des années
1230 au début du XIVe siècle (provinces ecclésiastiques d’Arles, Aix et Embrun). Paris: Université de
Paris I, 2011. Mémoire d’Habilitation à diriger les recherches.
PÉCOUT, Thierry – “Jacques Duèze, évêque de Fréjus (1300-1310)”. Cahiers de Fanjeaux: Jacques
Duèze-Jean XXII et le Midi 45 (2013), pp. 41-68.
PÉCOUT, Thierry – “Épiscopat et papauté en Provence: une refondation”. Cahiers de Fanjeaux:
Innocent III et le Midi 50 (2015), pp. 419-452.
PÉCOUT, Thierry – “Les évêques de Gap, XIIe-XIVe siècle: les enjeux d’un contrôle politique entre
Provence et Dauphiné”. in PLAYOUST, Pierre-Yves (dir.) – Gap et les territoires gapençais de la
préhistoire à nos jours. Grenoble: Presses universitaires de Grenoble, 2016, pp. 15-53.
PÉCOUT, Thierry – “Aux origines d’une culture administrative: le clergé des cathédrales et la
genèse d’une comptabilité princière en Provence à la fin du XIIIe siècle”. in PÉCOUT, Thierry (dir.)
– De l’autel à l’écritoire. Aux origines des comptabilités princières en Occident (XIIe-XIVe siècle), Actes du
colloque international d’Aix-en-Provence, 13-14 juin 2013. Paris: De Boccard, 2017, pp. 49-67.
PÉCOUT, Thierry – “Docteurs et professeurs de droit civil parmi les grands officiers de Provence
angevine, 1246-1343”. in MATHIEU, Isabelle; MATZ, Jean-Michel (dir.) – Formations et cultures des
officiers et de l’entourage des princes dans les territoires angevins (milieu XIIIe-fin XVe siècle) - Percorsi di
formazione e culture degli ufficiali e dell’entourage dei principi nei territori angioini (metà XIII-fine XV
secolo) [en ligne]. Rome: Publications de l’École Française de Rome, 2019, pp. 119-142 [Consulté le
31 décembre 2019]. Accessible in https://doi.org/10.4000/books.efr.4047.
PÉQUIGNOT, Stéphane – Au nom du roi. Pratique diplomatique et pouvoir durant le règne de Jacques II
d’Aragon (1291-1327). Madrid: Casa de Velazquez, 2009.
REYNAUD, Marcelle-Renée – “La politique de la Maison d’Anjou et la soustraction d’obédience en
Provence (1398-1402)”. Cahiers d’histoire 24 (1979), pp. 45-57.
RUSSEL, Frederick H. – The Just War in the Middle Ages. Cambridge: Cambridge University Press,
1975.
SALAVERT Y ROCA, Vicente – Cerdeña y la expansiòn mediterrànea de la corona de Aragòn (1297-1314).
Madrid: CSIC, 1956.
Medievalista, 28 | 2020
186
SAXER, Victor – “Les ossements dits de sainte Marie-Madeleine conservés à Saint-Maximin-la-
Sainte-Baume”. Provence historique 27 (1977), pp. 257-302.
SOCIETE DES HISTORIENS MEDIEVISTES DE L'ENSEIGNEMENT SUPERIEUR PUBLIC (FRANCE),</
NOTES
1. PÉCOUT, Thierry – “Diplômes, diplomates et diplomatie: le registre du maîtrerational Jean de Revest, procureur de la reine Jeanne in Romana Curia, 1343-1347”. inKordé, Zoltán; PETROVICS, István (dir.) – La diplomatie des États angevins aux XIIIe et
XIVe siècles, Actes du colloque international de Szeged, Visegràd et Budapest, 13-16 septembre
2007. Rome-Szeged: Accademia d'Ungheria in Roma, 2010, pp. 251-287.
2. La négociation à la Curie et les réseaux cardinalices qui la sous-tendent ont fait l’objet de
travaux précurseurs, à la suite des ouvrages classiques sur la légation: BRESC, Henri (éd.) – La
correspondance de Pierre Ameilh, archevêque de Naples puis d’Embrun (1363-1369). Paris: Editions du
Centre national de la recherche scientifique, 1972; BRESC, Henri – “Les partis cardinalices et leurs
ambitions dynastiques”. in FAVIER, Jean; et al. (dir.) – Genèse et débuts du Grand Schisme d’Occident
(actes du colloque international du CNRS, Avignon 25-28 septembre 1978). Paris: Éditions du Centre
national de la recherche scientifique, 1980, pp. 45-57; GALLAND, Bruno – “Les hommes de culture
dans la diplomatie pontificale au XIIIe siècle”. Mélanges de l’École française de Rome. Moyen Âge,
Temps modernes 108/2 (1996), pp. 615-643; JUGIE, Pierre – “L’activité diplomatique du cardinal Gui
de Boulogne en France au milieu du XIVe siècle”. Bibliothèque de l’École des chartes 145/1 (1987),
pp. 99-127. Tout particulièrement, la dernière génération de recherches insiste sur les méthodes
et le personnel de la négociation. FERRER MALLOL, María Teresa; MOEGLIN, Jean-Marie;
PÉQUIGNOT, Stéphane; SÁNCHEZ MARTÍNEZ, Manuel (eds.) – Negociar en la Edad Media – Négocier
au Moyen Âge. Barcelone: CSIC, 2005; DROCOURT, Nicolas – “Ambassadeurs étrangers à
Constantinople: moyens de contacts, d’échanges et de connaissances partielles du monde
byzantin (VIIIe-XIIe siècles)”. in CLÉMENT, François; TOLAN, John; WILGAUX, Jérôme (dir.) –
Espaces d’échanges en Méditerranée. Antiquité et Moyen Âge [en ligne]. Rennes: Presses universitaires
de Rennes, 2006, pp. 107-134. [Consulté le 31 décembre 2015]. Accessible in https://doi.org/
10.4000/books.pur.7841; DOMÍNGUEZ SÁNCHEZ, Santiago – Los procuradores de los reinos hispánicos
ante la curia romana en el siglo XIII. León: Universidad de León, 2007; VALÉRIAN, Dominique – “Les
agents de la diplomatie des souverains maghrébins avec le monde chrétien (XIIe-XVe siècle)”.
Anuario de Estudios Medievales 38/2 (2008), pp. 985-900; PÉQUIGNOT, Stéphane – Au nom du roi.
Pratique diplomatique et pouvoir durant le règne de Jacques II d’Aragon (1291-1327). Madrid: Madrid:
Casa de Velazquez, 2009; SOCIETE DES HISTORIENS MEDIEVISTES DE L'ENSEIGNEMENT
SUPERIEUR PUBLIC (FRANCE), Congre s – Les relations diplomatiques au Moyen Âge. Formes et enjeux.
Paris: Publications de la Sorbonne, 2011; COLLARD, Franck; COTTRET, Monique (dir.) –
Conciliation, réconciliation aux temps médiévaux et modernes [en ligne]. Nanterre: Presses
universitaires de Paris Nanterre, 2012. [Consulté le 31 décembre 2015]. Accessible in https://
doi.org/10.4000/books.pupo.2016; BERTHE, Pierre-Marie – Les procureurs français à la cour
pontificale d’Avignon, 1309-1376. Paris: Université Paris 4, 2014. Thèse de doctorat en Histoire
médiévale; VALLERY-RADOT, Sophie – “La diplomatie menée par l’ambassade du roi de France au
Concile de Constance”. in SIGNORI, Gabriela; STUDT, Birgit (dir.) – Das Konstanzer Konzil als
europäisches Ereignis: Begegnungen, Medien und Rituale [en ligne] 79 (2014), pp. 89-106 [Consulté le
31 décembre 2015]. Accessible in https://doi.org/10.11588/vuf.2014.0.41846; ANDRETTA, Stefano;
PEQUIGNOT, Stéphane; WAQUET, Jean-Claude (dir.) – De l’ambassadeur: les écrits relatifs à
l’ambassadeur et à l’art de négocier du Moyen Âge au début du XIXe siècle. Rome: École française de
Rome, 2015; LAZZARINI, Isabella – “À propos de diplomatie médiévale: pratiques, modèles et
Medievalista, 28 | 2020
187
langages de la négociation en Italie (XIVe-XVe siècles)”. Médiévales [en ligne] 74 (2018), pp. 133-154
[Consulté le 31 décembre 2019]. Accessible in https://doi.org/10.4000/medievales.8653. L’édition
scientifique s’est également orientée vers une diplomatique de la diplomatie: SCARLATA, Marina
(éd.) – Carte reali diplomatiche di Giacomo II d’Aragona (1291-1327) riguardanti l’Italia. Palermo: Societa
Siciliana per la Storia Patri, 1993. Ces processus s’insèrent dans une lente construction des
conditions juridiques de l’état de belligérance, que l’on doit aux canonistes, ainsi que de ses rites:
RUSSEL, Frederick H. – The Just War in the Middle Ages. Cambridge: Cambridge University Press,
1975; BACHRACH, David S. – Religion and the Conduct of War, c. 300 - c. 1215. Woodbridge: Boydell
Press, 2003.
3. Sur ces enjeux européens, on pourra se rapporter à deux actes de colloques: GIUNTA,
Francesco; CORRAO, Pietro (dir.) – La società mediterranea all’epoca del Vespro, 11o Congresso di Storia
della Corona d’Aragona, Palermo, Trapani, Erice, 23-30 aprile 1982. Palerme: Accademia di Scienze
Lettere e Arti, 1983-1984; CANTEAUT, Olivier, HÉLARY, Xavier, THÉRY, Julien (dir.) – 1314, une
Europe en crise? La conjoncture politique européenne à la mort de Philippe le Bel (Université de Paris-
Sorbonne, 2-4 octobre 2014), à paraître. Sur les négociations propres à l’empire : MALECZEK, Werner
– “Die Urkunden des päpstlichen Legaten Johannes Boccamazza, Kardinalbischofs von Tusculum,
aus den Jahren 1286 und 1287 (Legation ins Reich in der Spätzeit König Rudolfs von Habsburg)”.
Archiv für Diplomatik. Schriftgeschichte, Siegel- und Wappenkunde 59 (2013), pp. 35-132.
4. PÉCOUT, Thierry – “Épiscopat et papauté en Provence: une refondation”. Cahiers de Fanjeaux:
Innocent III et le Midi 50 (2015), pp. 419-452.
5. PÉCOUT, Thierry – Ultima ratio. Vers un État de raison. L’épiscopat, les chanoines et le pouvoir des
années 1230 au début du XIVe siècle (provinces ecclésiastiques d’Arles, Aix et Embrun). Paris: Université
de Paris I, 2011. Mémoire d’Habilitation à diriger les recherches. PÉCOUT, Thierry – “Une
technocratie au service d’une théocratie. Culture et formation intellectuelle des évêques de
Provence (milieu du XIIIe siècle - milieu du XIVe siècle)”. in CÉVINS, Marie-Madeleine; MATZ,
Jean-Michel (dir.) - Formation intellectuelle et culture du clergé dans les territoires angevins (milieu du
XIIIe-fin du XVe siècle), colloque d’Angers, 15-16 novembre 2002. Rome: École française de Rome, 2005,
pp. 95-116. Les travaux sur le rôle des “hommes de culture” dans les activités diplomatiques ont
tendance à privilégier le milieu cardinalice plutôt que l’épiscopat: GALLAND, Bruno – “Les
hommes de culture dans la diplomatie pontificale au XIIIe siècle” …, pp. 615-643. Au sujet de la
Provence angevine, les recherches concernant les échanges diplomatiques ont fait la part belle
aux villes, mais le clergé séculier a peu attiré l’attention: GRAVA, Yves – “Les ambassades
provençales au XIVe siècle et les enjeux de la communication”. in Actes des congrès de la Société
des historiens médiévistes de l'enseignement supérieur public, 24ᵉ congrès, Avignon. La
circulation des nouvelles au Moyen Âge. Paris-Rome: Éditions de la Sorbonne, École française de
Rome, 1994, pp. 25-36; REYNAUD, Marcelle-Renée – “La politique de la Maison d’Anjou et la
soustraction d’obédience en Provence (1398-1402)”. Cahiers d’histoire 24 (1979), pp. 45-57; GALLO,
Alexandra – “Le développement d’un réseau diplomatique par le conseil de ville de Sisteron au
XIVe siècle”. in Les relations diplomatiques au Moyen Âge. Formes et enjeux [en ligne]. Paris: Éditions
de la Sobornne, 2011, pp. 219-225 [Consulté le 31 décembre 2015]. Accessible in https://doi.org/
10.4000/books.psorbonne.16469; OTCHAKOVSKY-LAURENS, François – “Le statut des
ambassadeurs marseillais au regard des pratiques diplomatiques au XIVe siècle”. in La diplomatie
des villes au Moyen Âge et au premier âge moderne, XIIe-XVIe siècle (actes du colloque international,
Montpellier, 17-18 novembre 2017), à paraître.
6. Ou plutôt Andrea d’Anguissola. Anguissola, d’une famille d’origine placentine, plutôt que
Languissel, patronyme francisé habituellement utilisé par l’historiographie. BEAUMONT, Jean-
Pierre – Une famille de banquiers italiens, les Anguissola de Plaisance (première moitié du XIVe siècle).
Chartres: École Nationale des Chartes, 1968. Thèse de la Promotion.
7. PÉCOUT, Thierry – “Diplômes, diplomates et diplomatie: le registre du maître rational Jean de
Revest, procureur de la reine Jeanne in Romana Curia, 1343-1347” …, pp. 251-287.
Medievalista, 28 | 2020
188
8. MEIJERS, Eduard Maurits – “La première époque d‘épanouissement de l’enseignement du droit
à l’université de Toulouse (1280-1330)”. in MEIJERS, Eduard Maurits; FEENSTRA, Robert; FISCHER,
Herman Frederik Willem Daniel (éd.) – Études d’histoire du droit. T. 3. Le droit romain au Moyen Âge.
Leyde: Universitaire Pers Leiden, 1959, pp. 167-208; GILLES, Henri – “Le traité de la coutume de
Guillaume de Ferrières”. in GILLES, Henri - Université de Toulouse et enseignement du droit, XIIIe -
XVIe siècles. Toulouse; Presses de l’Université Toulouse I Capitole, 1992, pp. 127-138, qui place ses
études à Bologne; DOSSAT, Yves – “L’Université de Toulouse, Raymond VII, les Capitouls et le
roi”. Cahiers de Fanjeaux: Les Universités du Languedoc au XIIIe siècle 5 (1970), pp. 75-76; CADIER, Léon
- Essai sur l’administration du royaume de Sicile sous Charles Ier et Charles II d’Anjou. Paris: E. Thorin,
1891, p. 240; GIORDANENGO, Gérard – “Ferrières, Guillaume de”. in ARABEYRE, Patrick;
HALPÉRIN, Jean-Louis; KRYNEN, Jacques – Dictionnaire historique des juristes français, XIIe-XXe siècle.
Paris: Éditions PUF, 2007, p. 327.
9. ALBANÈS, Joseph Hyacinthe – Gallia christiana novissima, Marseille. / d'après les documents
authentiques recueillis dans les registres du Vatican et les archives locales par le chanoine J.-H. Albanès
[…]; completée, annotée et publiée par le chanoine Ulysse Chevalier […]. Marseille: P. Hoffmann
(Montbéliard); impr. valentinoise (puis), 1899 [désormais GCNN, Marseille], col. 771-777; le 11 août
1291, la provision pontificale ajoute à sa prévôté la perception des revenus des églises de Saint-
Anatole et Causideriis au diocèse de Toulon, attachées à sa prébende, ce qui nécessite l’ordination
de Guillaume par l’évêque de Marseille, à laquelle il s’engage pour l’année suivant sa provision, ce
qui lui permet d’obtenir dispense pour en percevoir les fruits (L Nicolas IV, no 5823; GCNN,
Marseille, no 1272).
10. KIESEWETTER, Andreas – “La cancelleria angioina”. in L’État angevin. Pouvoir, culture et société
entre XIIIe et XIVe siècle. Actes du colloque international, Rome-Naples, novembre 1995. Paris-Rome: École
Française de Rome, 1998, p. 383.
11. GCNN, Marseille, no 1276. FILANGIERI, Riccardo (éd.) – I registri della cancellaria angioina
ricostruiti. Naples: Regia Cancellaria, 1950 sqq. [désormais RCA], t. 39, no 10-12, pp. 12-18,
23-27 avril 1291; RCA, t. 49, no 99, pp. 59; RCA, t. 49, no 181, pp. 101; RCA, t. 47, no 580, pp. 207; RCA,
t. 47, no 722, pp. 248. RCA, t. 48, no 49, pp. 34, 4 février 1294, concession à Philippe de la
principauté de Tarente; RCA, t. 48, no 45, pp. 29, 5 février 1294, en faveur de Tommaso Scillato de
Salerno; RCA, t. 48, no 13, pp. 11, 5 janvier 1294, en faveur d’Othon de Tucziaco.
12. Le 8 mars il est encore à Arles (GCNN, Marseille, no 1276) et le 27 juillet il est de retour à Aix.
13. Parmi les nominations du 18 septembre 1294, la quasi-totalité des promus est proche du roi
angevin. Le cardinal Latino Malabranca (OP), neveu de Nicolas III, doyen du Sacré Collège est
rallié par Charles II, mais il décède dès août 1294. Guglielmo Longhi († 1319), créé cardinal diacre
par Célestin V le 18 septembre à l’instigation de Charles II, devient quant à lui son chancelier vers
1294-1295. Voir aussi le Sacré Collège lors du conclave de juillet 1294: ASV, Archivum Arcis, Arm. I-
XVIII, 2177 et 2178 (édités par A. Martini, Cité du Vatican, 2008, dactylographié); T RINCI,
Annalaura – “Il collegio cardinalizio di Celestino V”. in CAPEZZALI, Walter (dir.) – Celestino V e i
suoi tempi: realtà spirituale et realtà politica. L’Aquila: Centro Celestiniano/Sezione storica, 1990,
pp. 19-34; PALMIERI, Stefano – La cancelleria del regno di Sicilia in età angioina. Naples: M. D'Auria
Editore, 2006, p. 168.
14. L Boniface VIII, no 227. L Boniface VIII, no 797: prévôté, canonicat et prébende de Marseille,
revenus des églises de Saint-Anatole et de Causideriis.
15. Allusion à son incapacité pour maladie, dans une lettre du 19 septembre 1295:
LCu Boniface VIII, no 827. Guillaume avait reçu licence de tester le 11 juillet 1295, mais son
testament ne nous est pas parvenu: BAGLIANI, Agostino Paravicini – I testamenti dei cardinali del
duecento. Rome: Società alla Biblioteca Vallicelliana, 1980, p. 59.
16. SALAVERT Y ROCA, Vicente – Cerdeña y la expansiòn mediterrànea de la corona de Aragòn
(1297-1314). Madrid: CSIC, 1956, pp. 47-117, jusqu’au traité d’Agnani.
Medievalista, 28 | 2020
189
17. MOREMBERT, Henri Tribout de – “Capre, Rostang de”. in PRÉVOST, Michel; D’AMAT, Jean-
Charles Roman – Dictionnaire de biographie française. T. 7. Paris: Letouzey et Ané, 1956, col. 1081;
CALENDINI, Paul – “Capre, Bx Rostang de”. in BAUDRILLART, Alfred ; VOGT, Albert ; ROUZIÈS,
Urbain (dir.) – Dictionnaire d’histoire et de géographie ecclésiastiques. T. 11. Paris: Letouzey et Ané,
1949, col. 957-958; ALBANÈS, Joseph Hyacinthe – Gallia christiana novissima, Arles / d'après les
documents authentiques recueillis dans les registres du Vatican et les archives locales par le chanoine J.-H.
Albanès […]; completée, annotée et publiée par le chanoine Ulysse Chevalier […]. Valence: P. Hoffmann
(Montbéliard) / impr. valentinoise (puis), 1900 [désormais GCNN, Arles], no 1301, 8 avril 1278.
Marseille, Archives départementales des Bouches-du-Rhône [désormais AD13], 4G 6, no 252 et
GCNN, Arles, no 1302, 4 juin 1278. GCNN, Arles, no 1280, 29 janvier 1285. Avant son épiscopat,
Rostaing apparaît comme chanoine (AD13, 4G 1, no 12, 12 novembre 1284, et 4G 9, no 224,
13 octobre 1285), mais beaucoup plus fréquemment avec son titre d’ouvrier: AD13, 4G 3, no 283,
8 avril 1276; 4G 3, no 317, 9 février 1284; 4G 2, nos 133 et 138, 29 avril 1284; 4G 3, no 291, 29 avril
1284; 4G 5, nos 160-161, 29 avril 1284 et 16 novembre 1284; 4G 1, n os 65, 21 et 22, les 2, 12 et
16 novembre 1284; 4G 3, no 304 et 4G 9, no 223, 12 novembre 1284; 4G 4, no 97, 20 juillet 1286.
18. GCNN, Arles, no 1332 et L Nicolas IV, no 587. Le chapitre, après la mort de Bertrand Amalrici, a
désigné trois compromissaires qui se sont accordés sur son nom, le précenteur Raymond Saboni,
le prieur claustral Raymond de Coirano et Raymond de Auraga, prieur de Châteauneuf, ce dernier
l’emportant en cas de désaccord des trois. Rostaing est pourvu avec le conseil des cardinaux
Girolamo Masci OFM, évêque de Palestrina, Gervais Jeancolet de Clinchamp, du titre de San
Martino in Montibus, et Benedetto Caetani, diacre de San Niccolò in Carcere Tulliano.
19. GCNN, Arles, no 1333-1334, 19-20 septembre 1286. GCNN, Arles, no 1340 LCu Nicolas IV, no 583,
3 mai 1288; no 1342 et L Nicolas IV, no 601-603, 12 août 1288. L Nicolas IV, no 1095 et GCNN, Arles,
no 1345 et L Nicolas IV, no 1095 et 1136, 23 juillet 1289, sur les versements au sénéchal de Provence.
20. RCA, t. 49, no 167, 22 février 1294, si l’on en croit la titulature du prévôt de Grasse (no 166)
bénéficiant de la même protection et sur la lettre duquel celle-ci est copiée.
21. GCNN, Arles, nos 1347-1348. MINIERI-RICCIO, Camillo – Genealogia di Carlo I d’Angiò, prima
generazione. Naples: Stabilimento Tipografico di Vincenzo Priggioba, 1857, no 38, pp. 176-178:
Charles II se rend au col de Panissars, mais le roi d’Aragon ne s’y trouve pas; un procès-verbal est
alors dressé, auxquels souscrivent notamment Albert archidiacre d’Arles, maître Guillaume
sacriste de Riez, Amiel Botella sacriste d’Aix, Elzéar de Sabran, Raymond de Puyricard, Raynaud
Porcelet de Sénas, Jean de Burlats le vieux, Philippe de Laveno.
22. GCNN, Arles, no 1359, 7 septembre 1295.
23. L Boniface VIII, no 1691, 5 février 1297.
24. LCu Boniface VIII, no 856, 2 janvier 1296.
25. En revanche, on connaît peu de choses sur l’entourage d’André: Guillaume de Rabastens est
son procureur et clavaire en 1303 (ALBANÈS, Joseph Hyacinthe – Gallia christiana novissima,
Avignon / par feu le chanoine J.-H. Albanès […]; complétée, annotée et publiée par le chanoine Ulysse
Chevalier […]. Valence: impr. Valentinoise, 1920 [désormais GCNN, Avignon], no 783, 17 avril 1303).
26. GCNN, Avignon, no 755.
27. GCNN, Avignon, no 758-759: il ne peut ainsi assister à l’élection de l’abbé de Saint-André de
Villeneuve-lès-Avignon, Bertrand de Laudun, vers le début du mois de janvier 1291.
28. RYMER, Thomas – Fœdera, conventiones, literæ et cujuscumque generis acta publica, inter reges
Angliæ et alios. T. 1-2. Hagae comitis (apud Joannem Neauline), 1745, pp. 77-78.
29. THEIS, Valérie – Le gouvernement pontifical du Comtat Venaissin (v. 1270-v. 1350). Rome: École
Française de Rome, 2012, p. 230.
30. RCA, t. 44, no 572, pp. 757-758, 21 mai 1292, lettre royale aux officiers d’Avignon et de
Tarascon pour faciliter à l’évêque le recouvrement des dettes auprès de particuliers.
31. GUENÉE, Benard – Entre l’Église et l’État. Quatre vies de prélats français à la fin du Moyen Âge (XIIIe-
XVe siècles). Paris: Gallimard, 1987.
Medievalista, 28 | 2020
190
32. MOREMBERT, Henri Tribout de – “Ferrières, Pierre de“. in BAUDRILLART, Alfred; VOGT,
Albert; ROUZIÈS, Urbain (dir.) – Dictionnaire d’histoire et de géographie ecclésiastique. T. 16. Paris:
Letouzey et Ané, 1967, col. 1287-1288; GIORDANENGO, Gérard – Lexikon des Mittelalters. T. 4.
Erzkanzler bis Hiddensee. Munchen. Zu rich: Artemis, 1989, pp. 397-398. Il est l’auteur d’un petit
traité, De mero et mixto imperio (Naples, Bibl. Nazionale, III A 6, fol. 167av-168b, cité par Gérard
GIORDANENGO, Lexikon des Mittelalters …), d’additions à la Glose d’Accurse, au Digeste et au Code. On
connaît le contenu de sa bibliothèque: POMMEROL, Marie-Henriette Jullien de; MONFRIN, Jacques
(éd.) – Bibliothèques ecclésiastiques au temps de la papauté d’Avignon. T. 2. Inventaires de prélats et de
clercs français. Édition. Paris: CNRS éditions, 2001, 2, 307.8, pp. 52-54.
33. Il est familier de Louis d’Anjou et l’assiste lors de sa mort en août 1297. BUGHETTI, P.
Benvenutus (éd.) – Processus canonizationis et legendæ variæ sancti Ludovici O. F. M. episcopi Tolosani,
Analecta franciscana. T. 7. Quaracchi - Firenze: ex Typographia Collegii S. Bonaventurae, 1951,
p. 76 et no 29, pp. 452-455. PÉCOUT, Thierry – “Jacques Duèze, évêque de Fréjus (1300-1310)”.
Cahiers de Fanjeaux: Jacques Duèze-Jean XXII et le Midi 45 (2013), pp. 41-68.
34. Sur ce milieu: BOYER, Jean-Paul – “Le droit civil entre studium et cour de Naples”. in BOYER,
Jean-Paul; MAILLOUX, Anne; VERDON, Laure (dir.) – La justice temporelle dans les territoires angevins
aux XIIIe et XIVe siècles. Théories et pratiques, colloque d’Aix-en-Provence, 21-23 février 2002. Paris: École
française de Rome, 2005, pp. 47-82.
35. Sa première mention comme chancelier date du 15 avril 1296 (PALMIERI, Stefano – La
cancelleria…, pp. 167 et n. 299); de même, 3 octobre 1298 (L Boniface VIII no 2789). Bien que l’époque
voie la charge de chancelier perdre de sa valeur au profit du lieutenant du logothète, l’activité de
Pierre de Ferrières en Provence est loin d’être négligeable (Palmieri, Stefano – La cancelleria…,
pp. 167-168). Sur les chanceliers et vice-chanceliers de Charles II: KIESEWETTER, Andreas – “La
cancelleria angioina” …, pp. 383-384: Pierre de Ferrières succède à Adam de Douzy, attesté en
1291 et mort le 25 août 1294 (Adam de Douzy, chanoine de Chartres, est élu archevêque de
Cosenza mais fait reporter plusieurs fois le délai de sa consécration: L Nicolas IV, no 5481, 29 juin
1291); il est suivi lui-même par Jacques Duèze en 1308-1310. Digne-les-Bains, Arch.
départementales des Alpes-de-Haute-Provence, 1G 25, 14 avril 1298.
36. L Boniface VIII, no 4080.
37. Le 23 décembre 1299, il est nommé évêque de Lectoure, grâce à l’intervention de Boniface VIII
dans l’élection du chapitre (L Boniface VIII, no 3289), et en février suivant il réorganise le temporel
suite aux aliénations de son prédécesseur (L Boniface VIII, no 3439). Le 22 décembre 1301, il est
transféré à Noyon (L Boniface VIII, no 4260).
38. L Boniface VIII, no 2790, à la mort de l’archevêque de Salerno Filippo. Guillaume de Godonio est
originaire du Quercy. Il est lieutenant du chancelier de Sicile en 1296 puis chancelier du duc de
Calabre. Il obtient l’archevêché de Salerno après la renonciation de Pierre de Ferrières le
3 octobre 1298, puis reçoit plusieurs dispenses pour différer sa consécration entre 1299 et 1303,
grâce à l’appui de Robert de Calabre. Il est mort avant le 22 janvier 1306. PALMIERI, Stefano – La
cancelleria…, pp. 169 et 176.
39. Pierre de Ferrières est élu archevêque par voie de scrutin dès le 23 août 1303, mais il n’est
pourvu par le pape que le 30 janvier 1304: GCNN, Arles, no 1412. CADIER, Léon – Essai sur
l’administration du royaume de Sicile …, pp. 251-252. DOSSAT, Yves – “L’Université de Toulouse,
Raymond VII, les Capitouls et le roi”, pp. 75-76. GIORDANENGO, Gérard – “Ferrières, Pierre de”. in
ARABEYRE, Patrick; HALPÉRIN, Jean-Louis; KRYNEN, Jacques – Dictionnaire historique des juristes
français, XIIe XXe siècle …, pp. 327-328.
40. PAPON, Jean-Pierre – Histoire générale de Provence. T. 3. Paris: L’Imprimerie de Ph. D. Pierres,
1784, p. XLIX.
41. MONTI , Gennaro Maria – “Carlo II e i debiti angioino verso la Santa Sede”. in MONTI,
Gennario Maria – Da Carlo I a Roberto d’Angio. Ricerche e documenti. Trani: Vecchi, 1936,
Medievalista, 28 | 2020
191
pp. 117-132 et ici pp. 121-123; HOUSLEY, Norman - The Italian Crusades. The Papal-Angevin Alliance
and the Crusades against Christian Lay Powers, 1254-1343. Oxford: Claredon Press, 1982, p. 244.
42. PÉCOUT, Thierry – “Docteurs et professeurs de droit civil parmi les grands officiers de
Provence angevine, 1246-1343”. in MATHIEU, Isabelle; MATZ, Jean-Michel (dir.) – Formations et
cultures des officiers et de l’entourage des princes dans les territoires angevins (milieu XIIIe-fin XVe siècle) -
Percorsi di formazione e culture degli ufficiali e dell’entourage dei principi nei territori angioini (metà XIII-
fine XV secolo) [en ligne]. Rome: Publications de l’École Française de Rome, 2019, pp. 119-142
[Consulté le 31 décembre 2019]. Accessible in https: //doi.org/10.4000/books.efr.4047.
43. La carrière de Guillaume de Mandagout est retracée par VIOLLET, Paul – “Guillaume de
Mandagout, canoniste”. in Histoire littéraire de la France. T. 34. Paris: Imprimerie Nationale, 1915,
pp. 1-61, dont nous reprenons bon nombre de références.
44. GUILLEMAIN, Bernard – “Le milieu épiscopal et cardinalice de Bernard Gui”. Cahiers de
Fanjeaux: Bernard Gui et son monde 16 (1981), pp. 317-332, et ici pp. 324-325.
45. Son opuscule sur la date de Pâques composé après 1280 est destiné vraisemblablement au
sénéchal de Beaucaire: BRUNEL, Clovis – “Une table pascale de Guillaume de Mandagout”.
Bibliothèque de l’École des chartes [en ligne] 84 (1923), pp. 161-165 [Consulté le 31 décembre 2015].
Accessible in https: //doi.org/10.3406/bec.1923.448690.
46. GCNN, Arles, no 2760, 28 août 1286.
47. L Boniface VIII, no 63 et Gallia christiana, t. 3, Paris, 1725, Instr., no 5, col. 183-184: Guillaume est
pourvu archevêque le 28 mars 1295, est consacré le 10 avril et reçoit le pallium le 13 avril suivant.
L’archevêque délègue alors Bertrand Planterii, vicaire, et Rifridus Siguini, camérier, pour prendre
possession de sa charge, ce qui est fait le 1er mai. Il se rend à Embrun le 19 juin et fait son entrée
dans la cité le 25 juin.
48. SCHULTE, Johann Friedrich von – Die Geschichte der Quellen und Literatur des Canonischen Rechts
von Papst Gregor IX. bis zum Concil von Trient. Stuttgart: Ferdinand Enke, 1877, pp. 183-185. MOLLAT,
Guillaume – “Guillaume de Mandagout”. in NAZ, Raoul (dir.) – Dictionnaire de droit canonique.
T. 5. Paris: Letouzey ey Ané, 1953, col. 1077-1078. BÉGOU-DAVIA, Michèle – “Mandagout
Guillaume de”. in Arabeyre, Patrick; HALPÉRIN, Jean-Louis; KRYNEN, Jacques – Dictionnaire
historique des juristes français, XIIe-XXe siècle…, p. 533; BAGLIANI, Agostino Paravicini – Boniface VIII.
Un pape hérétique? Paris: Editions Payot & Rivages, 2003, p. 201. Le Tractatus de electionibus ou
Libellus de episcoporum electionibus, composé de 60 chapitres et rédigé peu avant 1294, propose une
synthèse de l’apport des décrétalistes plutôt qu’une réflexion théorique sur l’élection. Il s’agit
d’un manuel de patricien (présentation analytique dans VIOLLET, Paul – “Guillaume de
Mandagout, canoniste”…, pp. 1-61). VIOLLET, Paul – “Les élections ecclésiastiques au Moyen Âge
d’après Guillaume de Mandagout”. Revue canonique des églises 4 (1907), pp. 65-91; BALBERGHE,
Émile van – “Une copie exceptionnelle du Libellus de episcoporum electionibus de Guillaume de
Mandagout”. in RAMAN, Anny; Manning, Eugéne (éd.) – Miscellanea Martin Wittek. Album de
codicologie et de paléographie offert à Martin Wittek. Louvain-Paris: Peters, 1993, pp. 315-322;
DÉLIVRÉ, Fabrice – “Le Libellus super electionibus de Guillaume de Mandagout (1286/1287). Histoire
d’un succès dans l’Occident médiéval”. in GOERING, Joseph Ward; DUSIL, Stephan; THEIR,
Andreas (dir.) – Proceedings of the Fourteenth International Congress of Medieval Canon Law, Toronto,
5-11 August 2012. Cité du Vatican: Biblioteca Apostolica Vaticana, 2016, pp. 233-242; D ÉLIVRÉ,
Fabrice – “Mandagotus. Les avatars d’un traité juridique à succès”. in BILOTTA, Maria Alesssandra
(dir.) – Medieval Europe in Motion. Circulations juridiques et pratiques artistiques, intellectuelles et
culturelles en Europe au Moyen Âge (XIIIe-XVe siècle). Lisbonne, 25-25 février 2016, à paraître.
49. LC Clément V, nos 7001, 6865.
50. L Boniface VIII, no 1919, 1er juin 1297.
51. LCu Nicolas IV, nos 6761, 6763, 6764, 6774-6777, 1er-21 août 1291, diverses instructions à
Guillaume au sujet de sa mission auprès de Jacques, roi d’Aragon et sa citation à comparaître, et
du clergé du royaume d’Aragon. LCu Nicolas IV, nos 6762 et 6835, 1er août et 1er octobre 1291,
Medievalista, 28 | 2020
192
exhortations du pape au roi d’Aragon et appel à l’aide au roi de France. LCu Nicolas IV, no 6733,
22 août 1291: lettre du pape au clergé de Majorque au sujet de l’envoi de Guillaume de
Mandagout, son notaire, pour veiller à la prestation de fidélité au roi Jacques.
52. L Boniface VIII, no 827 et App., nos 5575, 5577, 5579, 5580, 19 septembre 1295; L Boniface VIII,
App., no 5581, après novembre 1295. LCu Boniface VIII, no 856, 2 janvier 1296. L’accord débouche
aussi sur la révocation de Frédéric III comme roi de Sicile et sur la renonciation par le roi
d’Aragon ou sa mère Constance à toute aide en sa faveur. Il est probable alors que Guillaume de
Mandagout ait eu à négocier avec Guillelm Llul, conseiller du roi d’Aragon, actif diplomate entre
1291 et 1301, et fréquemment en contact avec Charles II, mais leurs profils sociaux et intellectuels
sont tout à fait différents: PÉQUIGNOT, Stéphane – Au nom du roi ..., pp. 240-241.
53. CHEVALIER, Ulysse – Regeste dauphinois. Répertoire chronologique et analytique des documents
imprimés et manuscrits relatifs à l’histoire du Dauphiné, des origines chrétiennes à l’an 1349, Valence:
L'Imprimerie Valentinoise, 1913-1926, nos 15863-15865, 3 juillet 1301.
54. L Benoît XI, no 847, 19 février 1304.
55. PÉCOUT, Thierry – Jacques Duèze…, pp. 41-68.
56. LCu Benoît XI, no 1121. LC Clément V, no 2228, 23 octobre 1307 (à propos de Carpentras); no 4775,
11 octobre 1309. Son successeur Raymond Guilhem de Budos est nommé le 13 septembre 1310.
THEIS, Valérie – Le gouvernement pontifical du Comtat Venaissin (v. 1270-v. 1350) …, pp. 262-264 et
268-269.
57. AD13, B 1088 (48 folios), 25 octobre - 1er novembre 1304: procédure concernant la dévolution
des biens de Roncelin de Lunel et de Montauban, qui teste en 1294. Les clauses de son testament
n’ayant pas été respectées par son héritier Hugues Adémar, les biens passent donc au roi. Le
25 octobre 1304, les procureurs de Charles II, dont Pierre Gomberti, cherchent à éviter que les
domaines de Montauban n’échoient au dauphin, avec la complicité des exécuteurs
testamentaires, les évêques de Tricastin et de Vaison, le provincial et le custode OFM d’Avignon.
Ces derniers s’en remettent à l’archevêque, qui préconise de vendre la baronnie au dauphin, ce
qui suscite l’opposition de Charles II. Guillaume de Mandagout recule alors et proteste de son
ignorance des clauses du testament, expédiant deux lettres aux deux évêques où il récuse son
conseil. ALBANÈS, Joseph Hyacinthe – Histoire des évêques de Saint-Paul-Trois-Châteaux au
quatorzième siècle. Corrections et documents. Montbéliard: Imprimerie de P. Hoffmann, 1885, pp. 3-5
et nos 3-4. VIOLLET, Paul – “Guillaume de Mandagout, canoniste”…, pp. 1-61. PÉCOUT, Thierry
(dir.); BERNARDI, Philippe; BONNAUD, Jean-Luc; CASSIOLI, Marco; MAILLOUX, Anne et al. (éd.) –
L’enquête générale de Leopardo da Foligno dans le comté de Forcalquier (juin-septembre 1332). Paris:
Comité des travaux historiques et scientifiques, 2017, pp. 1007-1009.
58. THEIS, Valérie – Le gouvernement pontifical du Comtat Venaissin (v. 1270-v. 1350)…, pp. 263-264.
59. PÉCOUT, Thierry - “Aux origines d’une culture administrative: le clergé des cathédrales et la
genèse d’une comptabilité princière en Provence à la fin du XIIIe siècle”. in PÉCOUT, Thierry (dir.)
– De l’autel à l’écritoire. Aux origines des comptabilités princières en Occident (XIIe-XIVe siècle), Actes du
colloque international d’Aix-en-Provence, 13-14 juin 2013. Paris: De Boccard, 2017, pp. 49-67.
60. TOOMASPOEG, Kristjan – Decimae. Il sostegno economico dei sovrani alla Chiesa del Mezzogiorno nel
XIII secolo. Dai lasciti di Eduard Sthamer e Norbert Kamp. Rome: Roma Viella, 2009, pp. 71-83;
TOOMASPOEG, Kristjan – “L’Église et la fiscalité au royaume de Sicile (XIe-XIVe siècles)”. in
MENJOT, Denis; SÁNCHEZ MARTÍNEZ, Manuel (dir.) – El dinero de Dios. Iglesia y fiscalidad en el
Occidente medieval (siglos XIII-XV). Madrid: Instituto de Estudios Fiscales, 2011, pp. 91-100. On
dispose désormais de précieux travaux sur la collecte de la décime et le milieu des collecteurs,
avec une attention particulière pour les diocèses de Provence: LE ROUX, Amandine – “Mise en
place des collecteurs et des collectories dans le royaume de France et en Provence (1316-1378)”.
Lusitania sacra. O papado de Avinhão nos reinos do Ocidente 22 (2010), pp. 45-62; LE ROUX, Amandine
– “Des collecteurs spécialisés aux collecteurs généralistes, l’établissement du système collectoral
en Provence (1249-1514)”. in MORELLO BAGET, Jordi (dir.) – Financiar el reino terrenal. La
Medievalista, 28 | 2020
193
contribución de la Iglesia a finales de la Edad Media (s. XIII-XVI). Barcelone: CSIC, 2013, pp. 107-129;
LE ROUX, Amandine – “L’écrit, un outil de gouvernement financier de la papauté. L’exemple de la
correspondance entre la papauté et ses collecteurs”. in BÉRENGER, Agnès; DARD, Olivier (éd.) –
Gouverner par les lettres, de l’Antiquité à l’époque contemporaine. Actes du colloque de Metz, 10-12 octobre
2013. Metz: Centre de Recherche Universitaire Lorrain d'Histoire, 2015, pp. 287-311; LE ROUX,
Amandine – “Le recouvrement de la décime par les collecteurs pontificaux de 1316 à 1503
(royaume de France et Provence)”. in BALOUP, Daniel; SÁNCHEZ MARTÍNEZ, Manuel (dir.) – Partir
en croisade à la fin du Moyen Âge. Financement et logistique. Toulouse: Presses Universitaires du Midi,
2015, pp. 55-80; LE ROUX, Amandine – “Pratiques comptables du gouvernement pontifical.
L’histoire scripturale des comptes des collecteurs pontificaux provençaux (1274-1406)”.
Comptabilités [en ligne] 10 (2019) [Consulté le 31 décembre 2019 ]. Accessible in https://
journals.openedition.org/comptabilites/2545.
61. GCNN, Marseille, no 322, 21 mars 1287, à Rome. Quand Nicolas IV le pourvoit du siège de
Marseille le 17 avril 1289, c’est le cardinal de Porto Bernard qui est chargé de le consacrer (GCNN,
Marseille, no 323 et L Nicolas IV, no 943; BOESPFLUG, Thérese – La Curie au temps de Boniface VIII.
Étude prosopographique. Rome: Istituto Storico Italiano per il Medioevo, 2005, no 204, p. 125).
62. L Nicolas IV, 15 juillet 1290. En 1296, il assiste ainsi Boniface VIII pour régler le délicat conflit
entre Étienne de Monte Areno, abbé de Montmajour, et Aimone di Montanaro (ou Aymon de
Montagne), grand maître de Saint Antoine. Ce différend finit par mettre en jeu les intérêts
politiques du dauphin face à ceux de Charles II. Le conflit porte notamment sur la gestion des legs
et des testaments disputés entre l’hôpital et le prieuré OSB de Saint-Antoine. L Boniface VIII,
no 2032 et MISCHLEWSKI, Adalbert – Un ordre hospitalier au Moyen Âge. Les chanoines réguliers de
Saint-Antoine-en-Viennois. Grenoble: Presses Universitaires de Grenoble, 1995, pp. 27-37 et n o 5,
pp. 146-155, 10 juin 1297, aux côtés de l’archevêque d’Embrun et de l’évêque de Viviers,
Guillaume OFM. L’abbé de Montmajour s’efforce en effet de reprendre le contrôle de l’hôpital
Saint-Antoine, qui relève en théorie de sa mense, fort de la décision de Clément IV qui attribuait
en juillet 1267 les bénéfices et dons indéterminés en priorité à son prieuré détenteur des reliques,
au détriment de l’hôpital. Malgré un premier arbitrage de Bertrand d’Anguissola, évêque de
Nîmes, l’affaire est portée devant Nicolas IV qui délègue une commission de cardinaux, avec
Bernard d’Anguissola, Giacomo Colonna, Pietro Peregrosso et Benedetto Caetani. Le conflit
devenant particulièrement violent et embrasant la région, il met en jeu le dauphin protecteur des
Antonins et Charles II qui obtient la tutelle du prieuré. L’arbitrage finalement conclu à Romans
en 1292 est contesté par Montmajour qui en appelle à Boniface VIII. Le pape désigne alors Durand
de Tres Eminas en 1296, mais la procédure ne connaît une conclusion qu’en juin 1297 du fait des
occupations fiscales de l’évêque de Marseille. Le pape prononce ainsi le 10 juin 1297 une
séparation entre les Antonins érigés en ordre canonial et l’abbaye de Montmajour qui reçoit une
compensation financière.
63. FAILLON, M. – Monuments inédits sur l’apostolat de Sainte Marie Madeleine en Provence. T. 2. Paris:
Jacques-Paul Migne, 1848, no 98, col. 841-846; SAXER, Victor – “Les ossements dits de sainte
Marie-Madeleine conservés à Saint-Maximin-la-Sainte-Baume”. Provence historique 27 (1977),
pp. 257-302; COULET, Noël – “Un couvent royal: les Dominicaines de Notre-Dame-de-Nazareth
d’Aix au XIIIe s.”. Cahiers de Fanjeaux: Les Mendiants en Pays d'Oc au XIIIe siècle 8 (1973), pp. 233-262.
64. L Boniface VIII, no 1818, 18 février 1297, faculté d’absoudre les censures contre ceux qui
n’auraient pas payé correctement la décime; no 3064, 28 mai 1299, no 3467, 3469, 17-20 février
1300, no 3641, 21 juin 1300, no 4173, 28 septembre 1301, ordres d’assignation aux Spini et aux
divers mercatores camere; no 3068, 18 juin 1299, sur l’exemption de décime en faveur des moniales
de Notre-Dame de Nazareth d’Aix, à la demande de Charles II. Assignations du produit de la
décime à la chambre royale, en vue d’armer des navires, le 8 juillet 1298 (AD13, 5G 17, no 114).
LCu Boniface VIII, no 4396-4397, les 8 et 24 septembre 1301. GCNN, Marseille, no 343, 7 avril 1296:
l’Hôpital n’est pas tenu à la décime comme l’a rappelé le pape; BLANCARD, Louis – Documents
Medievalista, 28 | 2020
194
inédits sur le commerce de Marseille au Moyen Âge. T. 2-4. Pièces commerciales diverses tirées des
archives marseillaises du XIIIe siècle. Marseille: Typographie et Litographie Barlatier-Feissat Père et
Fils, 1885, no 91, pp. 450-451, quittance du 21 août 1296 pour la décime du diocèse de Marseille
levée par le sacriste Guillaume de Florensiaco, pour l’an 1, par des marchands toscans; GCNN,
Marseille, no 355, 18 février 1297; no 361, 1er octobre 1298; no 358, 17 mai 1298: lettre du collecteur
au sacriste Guillaume de Florensiaco sur une sentence d’excommunication contre l’aumônier de
Saint-Victor; no 360, 8 juillet 1298: quittance de Charles II après versement du produit de la
décime par des sociétés florentines; no 364 (et BLANCARD, Louis – Documents inédits sur le
commerce de Marseille au Moyen Âge…, no 112), 14 juillet 1299: instructions du pape à propos des
assignations aux sociétés; BLANCARD, Louis – Documents inéditssur le commerce de Marseille au
Moyen Âge…, no 112, quittance par les Spini au collecteur Guillaume de Florensiaco et opérations de
change entre royaux et provençaux coronats, 16 juillet 1299; GCNN, Marseille, no 368, 24 septembre
1302: lettre du pape à Durand; no 372, 13 janvier 1304, lettre de Benoît XI. L Benoît XI, no 181,
13 janvier 1304, assignations aux Ciruli de Florence. L Boniface VIII, no 497b, 28 octobre 1295,
concession de la décime au roi de Sicile; L Boniface VIII, no 1818, 18 février 1297, pouvoir de lever
l’excommunication pour défaut de paiement; LCu Boniface VIII, no 2888, 1er octobre 1298;
L Boniface VIII, no 3064, 20 mai 1299; L Boniface VIII, no 3064, 28 mai 1299 et no 3467, 17 février 1300,
assignations aux Spini; L Boniface VIII, no 3495, 4 janvier 1300; L Boniface VIII, no 3641, 21 juin 1300;
L Boniface VIII, no 4173, 28 septembre 1301; LCu Boniface VIII, no 4396-4397, 8 et 24 septembre 1301.
En 1296, sur le conflit opposant les Mozzi, Spini et Clarenti au sénéchal, à propos des
reversements non effectués, ce qui conduit ce dernier à saisir leurs marchandises dans le port de
Marseille: HOUSLEY, Nornam – The Italian Crusades…, pp. 236. ASV, Instr. Misc. 359: l’instrument
est passé dans le palais épiscopal le 23 août 1303, en présence d’Hugues Lautandi vicaire du
Castellet, du prêtre Pierre Picordi de Méounes, de Bernard de Hamis, Pons Samuelis, du diocèse de
Nîmes, de Pons de Crota et de son fils, de Beaucaire. Il s’agit vraisemblablement de membres de la
familia de l’évêque Durand. Le procureur de la société des Spini, à l’appui de sa procuration du
5 décembre 1301, reconnaît avoir perçu divers montants de la part des sous-collecteurs, à la date
du 24 juin 1303, échéance de la deuxième année, y compris les reliquats de la première année de
la décime concédée par le pape en 1301. Les sous-collecteurs sont alors, pour Gap: Hugues de
Sancto Marcello, chanoine, et Henri Edulphi, précenteur; pour Sisteron, le chanoine Raymond de
Mura; pour Apt, le sacriste Pierre Ruffi; pour Cavaillon, le chanoine Bertrand Gerardi; pour Arles, le
prévôt Bertrand et l’archiprêtre Bertrand d’Eyguières; pour Avignon, le chanoine Bertrand
deAuriaco; pour Aix, le chanoine Visdomino dei Visdomini; pour Toulon, le chanoine Marquesius
d’Anduze; pour Fréjus, l’archidiacre Boniface Dalmacii; pour Riez, l’archidiacre Raymond Robaudi;
pour Carpentras, le chanoine Siffred Raffini; pour Saint-Paul-Trois-Châteaux, le sacriste Pons
Salardi; pour Orange, le sacriste Hugues Jordanis; pour Vaison, le prévôt Guillaume de Seinhano;
pour Marseille, le chanoine Raymond Egidii..
65. LCu Boniface VIII, no 1637, 1er août 1296, et L Boniface VIII, App., no 5591, août 1296, sommes
allouées à la construction de galères; L Boniface VIII, registre caméral, nos 5468-5469, 13 décembre
1296, assignations aux sociétés florentines de sommes destinées à la construction de galères;
L Boniface VIII, registre caméral, no 5500, 7 février 1298, financement d’armement naval. Sur les
constructions navales à Marseille à ce moment et le rôle de Durand: KIESEWETTER, Andreas –
“Karl II. von Anjou, Marseille und Neapel”. in BONNOT-RAMBAUD, Isabelle (dir.) – Marseille et ses
rois de Naples. La diagonale angevine (1265-1382). Marseille / Aix-en-Provence: Archives Municipales
/ Edisud, 1988, pp. 61-75, et ici pp. 64-65; BRESC, Henri – “Marseille dans la guerre des Vêpres
siciliennes”. in BONNOT-RAMBAUD, Isabelle (dir.) – Marseille et ses rois de Naples…, 1988, pp. 43-49.
66. PÉCOUT, Thierry – “Les évêques de Gap, XIIe-XIVe siècle: les enjeux d’un contrôle politique
entre Provence et Dauphiné”. in PLAYOUST, Pierre-Yves (dir.) – Gap et les territoires gapençais de la
préhistoire à nos jours. Grenoble: Presses universitaires de Grenoble, 2016, pp. 15-53.
Medievalista, 28 | 2020
195
67. Plus largement, sur les premières étapes d’un processus menant aux assemblées d’états:
HÉBERT, Michel – “Une identité mise en scène: les premières assemblées représentatives dans les
comtés de Provence et de Forcalquier (XIIIe-début XIVe siècles)”. in BOYER, Jean-Paul; MAILLOUX,
Anne; VERDON, Laure (dir.) – Identités angevines. Entre Provence et Naples (Aix-en-Provence,
20-22 octobre 2011). Aix-en-Provence: Presses universitaires de Provence, 2016, pp. 183-194.
68. BOYER, Jean-Paul – “Sacre et théocratie. Le cas des rois de Sicile Charles II (1289) et Robert
(1309)”. Revue des Sciences philosophiques et théologiques 81/4 (1997), pp. 561-607.
RÉSUMÉS
L’épiscopat et les prévôts des cathédrales ont joué sous Charles II un rôle politique accru,
s’intégrant aux rouages du gouvernement sous une forme plus aboutie au regard du règne de
Charles d’Anjou. La diplomatie en constitue l’un des aspects, quand le magistère de la parole, les
compétences en matière de droit canonique et les réseaux personnels ou bénéficiaux, sont mis à
profit pour servir les ambitions méditerranéennes de la monarchie.
In comparison to the reign of Charles of Anjou, the bishops and provosts of the cathedrals of
Provence gained an increasing political importance under Charles II inasmuch as they were able
to smoothly integrate themselves into the government apparatus. One aspect of this integration
is diplomacy, which through the magisterium of speech, skills in canon law and personal or
beneficial networks serves the Mediterranean ambitions of the Monarchy.
INDEX
Keywords : Épiscopat, Provence, Diplomatie, Prévôt, Angevins de Provence-Sicile
AUTEUR
THIERRY PÉCOUT
Université de Saint-Étienne, UMR LEM-CERCOR 42023 Saint-Étienne Cedex 2, France.
[email protected]. https://orcid.org/0000-0001-9969-3334.
Medievalista, 28 | 2020
196
Faction and Politics in the International Career of a LancastrianServant
Clerk, Chancellor, Castaway (1374–1419)Faction and Politics in the International Career of a Lancastrian Servant
Partidarismo e política na carreira internacional de um servidor da Casa de
Lencastre (1374–1419)
Tiago Viúla de Faria
AUTHOR'S NOTE
FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., and Norma Transitória – DL57/2016/CP, funded the research for this paper.
Introduction
1 The primary focus of this biographical paper is the international trajectory of Adam
Davenport. The professional career of this otherwise fairly unknown character startedat the parish level and the local church, progressing to the royal administration, as aprosperous high officer, and eventually it finished in anonymity and almostredundancy. These three stages were separated by Davenport’s travels, first fromEngland to Lisbon, and then from Lisbon to the English southwest. As this career,spanning the period between 1374 and 1419, developed so did the political backdrop.The circumstances of Adam Davenport will be considered accordingly, in the remit of abackground discussion about migration, displacement, service, and adaptation inbetween changing geographical and political conditions.
Medievalista, 28 | 2020
197
Clerk
2 Adam Davenport, clericus, is known to have taken a first degree in Law and to have been
ordained into the higher orders sometime in his career1. We first hear of him as therector of St Peter Mancroft in Norwich, in 13742. Probably in his mid-twenties at thattime, he was a quite active member of the local church. Between September 1378 andSeptember 1379, Davenport — described as “master” — held a centum solidorum prebendfrom the diocese of Lincoln, which on 17 March 1382 he had exchanged for anotherprebend, in Dinder, diocese of Wells, to which he was admitted on the following 5 ofMay3. For some time until 1381, he had tithes from the prebend of Caddington Major(Beds.), a manor belonging to the dean and chapter of St Paul’s cathedral, London4. Bythe mid 1380s, therefore, it is likely that a young Adam Davenport enjoyed acomfortable livelihood, prospering as parish clergy.
3 It is conceivable that the connection to St Paul’s either facilitated contacts with the
crown or that it was an upshot of such contacts. Indeed, not only was Davenport underthe eye of Richard II’s government, he appears to have been in the king’s confidence toa considerable degree. In 1379 or 1380, Richard sent him on a mission to the Romancuria, to personally deliver to Urban VI the king’s letters, requesting certain beneficesto be allotted to three prominent English clerks and royal administrators — the keeperof the privy seal, the treasurer, and the comptroller of the royal household5. In 1382,the Westminster courts also decided for Adam Davenport, clerk, and two associates in acivil lawsuit, the full circumstances of which are unspecified, that opposed them toother men6. In 1386, a second recorded voyage followed, as an expeditionary armyassembled under the banner of John of Gaunt, the duke of Lancaster, as claimant to theCastilian throne. In early January that year, letters of protection were issued for overone hundred men going with Gaunt to “Spain”, meaning the Iberian Peninsula. On 6March 1386, protections were granted to a further two hundred fifty, or so,individuals7. There can be no doubt regarding the identity of the person in question,since Adam Davenport’s name and occupation were reproduced in two further lettersof protection8.
4 Administrative military records can be particularly sparse in detail, and the letters of
protection in question are no exception. They are concise — and yet consistent — inthat they record “Adam Damport, clericus” among the many members of Lancaster’sfollowing. Clarification on the standing, as declared, of Davenport as clericus shouldhelp appreciate his existing and future career. It seems important, therefore, toascertain in what quality did Davenport embark on this journey. The term clericus isparticularly elusive. In accordance with custom, it should stand for the recipient oftonsure, or otherwise someone in the church’s orders. In practice, it denotes theambiguity existing between the clergyman and the educated, literate layperson. By thisperiod, being a clericus certainly did not imply that there was a clear-cut separationfrom the laity. Certainly, in some parts of England, men of that description filled a widerange of administrative occupations, from religious to secular9. It would be wrong,therefore, to presume that a member of such a polymorphous group would exclusivelycommit to the ecclesiastical life, even if ecclesiastical patronage was at stake10.
5 In this context, it seems sensible to accept the meaning of clericus as that of “clerk” —
as an occupation, rather than a socio-cultural construct. To witness, staffers in theduke of Lancaster’s military convoy were variously described as goldsmiths,
Medievalista, 28 | 2020
198
bowmakers, saddlers, embroiderers, painters; all of whom were clearly laymen. Therewere others whose attributions ranged from chaplain to parson to archdeacon — mensuch as Walter Levenaunt, Philip Kelsey, or John Chrischirch — indicating theiremployment as religious personnel. A small army of clerici followed along, made up ofAdam Davenport, Peter Tebaud, Edmund Langham, Richard de Elnet, Master RobertEldesley, Richard Stapildon, Hugh de Herle, and others11. Neither soldiers, craftsmennor clerics, the clerks formed the backbone of Gaunt’s itinerant officialdom.
Chancellor
6 The armed force would leave to the Iberian Peninsula during the following summer, led
by arguably the grandest magnate in England, second only to Richard II. Theinvolvement of the house of Lancaster in Iberian affairs came on the tail oflongstanding English interests in the region, although the key motivations of themoment stemmed from Gaunt’s own circumstances. It is necessary to outline thosecircumstances if we are to make sense of Adam Davenport’s presence in Portugal12.
7 In September 1371, John of Gaunt had taken as his second wife Constanza, the heiress of
Pedro I of Castile. King Pedro had benefited from the enduring support of the English,including at the Battle of Nájera in April 1367, out of which Pedro’s half-brotherEnrique of Trastámara came defeated. The contribution of Gaunt, and especially of hisolder brother, the Black Prince, proved insufficient since two years later Pedro waskilled at Enrique’s own hands. Following through, Enrique lost no time in havinghimself crowned. By then, an explicitly anti-English treaty, signed between Enrique andCharles V of France in line with previous Franco-Castilian agreements, was already inforce13. All of that made Gaunt — a bona fide candidate to becoming the king of Castile,as the consort of Pedro’s rightful heiress — and his exile court the kernel of petrismo, attracting numerous partisans of the murdered king14. By the mid 1380s, Gaunt wasfinally able to persuade the English parliament to part-finance the armed interventionin Castile which he was to lead15.
8 Meanwhile, another understanding was being reached, by which Richard II and the
Portuguese king João I came together against the Trastámaras. The covenant, known asthe Windsor treaty, was signed in May 1386. It enabled João to levy troops for hisdefence against Juan I of Castile, Enrique II’s successor. The promises that João made inreturn, to champion the English — or should we say the Lancastrian — ambitions in theIberian Peninsula, soon materialised. As John of Gaunt and Doña Constanza’s armiesdescended upon Galicia, in northwestern Iberia, in summer 1386, their intent wastwofold. On the one hand, they sought to disrupt Castilian politics by pressing the royalclaim on the enemy’s own ground, and on the other to draw their Portuguese allieseven closer. As he prepared to utilise the armies of João I, Gaunt was ready to give awayone of his daughters in marriage. A settlement to marry his eldest (from his firstmarriage, to Blanche of Lancaster) to João was contracted in northern Portugal at Pontedo Mouro on 1 November 1386. Gaunt and Constanza ratified it soon thereafter16.
9 Philippa of Lancaster married the Portuguese king in the city of Porto the following
February (1387). This was a good fit for João, for besides Lancastrian wealth it broughtalong Plantagenet prestige, especially if one considers the Portuguese king’s greatestshortcoming. The half-brother of the preceeding monarch, Fernando I, João had beenborn out of wedlock. Rather than coming to him by right of succession, the crown had
Medievalista, 28 | 2020
199
been presented to João by a fraction of the political society, in the midst of a civil war.João’s entitlement to kingship thus remained controversial and contested. For thesereasons, it was essential for the new regime to rely on a dignified, aptly-serviced royalhousehold. The queen’s household should be just as adequate17. This was to be theblueprint for Adam Davenport’s entire Portuguese career.
10 The fifteenth-century Portuguese chronicler Fernão Lopes remains the main source for
the makeup of Queen Philippa’s household. Adam Davenport does not appear in Lopes’slist of reginal officials, which included positions such as “mordomo-mor” (the masterchamberlain, Lopo Dias de Sousa), “governador de sua fazemda” (the treasurer of theexchequer, Lourenço Eanes Fogaça), and “vedor da casa [da rainha]” (thesuperintendent of the queen’s estate, Afonso Martins), but not that of chancellor. Infact, notwithstanding the queen’s origins, no English names are mentioned whatsoever;although Lopes does point out that the queen’s esquires were a mix of “imgresses eportugueses”, that is people of English and Portuguese descent18. At some point, theEnglishman Sir Thomas Elie Payn would replace Lourenço Eanes Fogaça as thetreasurer of the exchequer, on account of Fogaça’s absence as the crown’s diplomaticenvoy19.
11 It is certain, however, that Adam Davenport had remained in Portugal, and that he was
attached to Philippa’s retinue. On 28 September 1387, that is about seven months intothe creation of the queen’s household, he was made rector of St Mary’s church inPovos. He was referred to at this point as the queen’s chancellor (“chanceller daRainha”)20; a position, we shall see, that would remain his for a further nine years. Hisbenefice in Povos had come directly from the king’s patronage, on the death of GonçaloMartins, the previous rector21. The presentation of Davenport to St Mary’s ought tohave yielded a substantial income. Sitting at the heart of the fertile lezíria plains, theriparian town of Povos, with its anchorage on the Tagus river, was located some thirty-five kilometers upstream from Lisbon22. St Mary’s in Povos was provided with anendowment to match. A survey from 1320/1321 lists it as being worth 350 libras with itschaplaincy, while an estimate dating from before 1336 says 700 libras23. This placed StMary’s among the wealthiest foundations within the entire Lisbon bishopric. Centurieslater, the clergy of St Mary were historically believed to have possessed numerousprivileges24. As chancellor to the queen, Davenport was evidently also a wagedhousehold member in addition to his rectorship income. The office came with anannuity of no less than six or seven thousand libras — over twice as much as theaverage fee of a knight of the king’s household25. Not only did this mean that Davenporthad come under the royal protection, he had also been elevated to high office and giventhe corresponding means of income.
12 Davenport’s appointment to St Mary’s has been regarded as a mark of João I’s affinity
and trust26. The same is suggested by the fact that in 1394 a servant of ChancellorDavenport, a man named Diogo, was awarded the privilege of ringing the church bellsin Porto — presumably in lieu of his master — in commemoration of the birth of theroyal prince Henrique, the future Henry the Navigator. The gesture earned Diogo alavish 150 libras27. The fact that Adam Davenport had been deemed deserving of thechancellorship in the first place, and that he should stay in office seem to vouch for hisprofessional and intellectual abilities. This firmly placed him in the top echelon of thenon-noble court elite, as the highest standing member of the queen’s administrationbesides the vedor. At some point in this period, the clergyman fathered a baby boy from
Medievalista, 28 | 2020
200
an unmarried woman28. Well catered for and apparently in the good graces of the kingand queen, there is no apparent reason why Davenport would question what appears tohave been a rather comfortable existence.
Castaway
13 About two years later, Davenport was the subject of correspondence between his queen
and Richard II. Writing on 1 October 1396, Philippa personally informed her cousin thatafter eight or nine years of service it had become her chancellor’s wish to return to hishomeland of England — “son propre paijs, de naturele inclinacioun”. Philippa added, “ilad tresgrande desire si dieux li voleit ottroier de fe[re] ses darreins jours en v[ost]retresnoble terre Dengleterre”29. As she recommended to Richard the letter-bearer, it wasPhilippa’s strong expectation that Davenport be given the best prospects possible.Indeed, at this point in his career, Davenport was a well-qualified and seasoned civilservant, besides the protégé of Richard’s Portuguese ally. Philippa’s appeal was ofgreater import because it explicitly acknowledged that Master Adam had no means leftto support himself back at home30. For him, having left the country some ten yearspreviously also meant leaving behind his prebends in Norwich and Wells, plus the oneattached to St Paul’s. Considering his mission to the papal curia on Richard II’s orders,Davenport’s absence from the country may have meant missing out on furtheropportunities for advancement in the English crown’s service. As he was summonedbefore Richard in 1396, it must have seemed vital for him to reclaim back something ofhis former connections and benefices.
14 From the available records, it is certain that the former chancellor was far from
contented after his return to England, even years since Philippa had first committedhim to Richard II. This is abundantly clear from a string of communications about theliving of Stokenham, Devonshire. On learning that the prebend had fallen vacant,Thomas FitzAlan, earl of Arundel and Surrey, addressed Richard II’s successor, HenryIV, probably in June 1403, requesting that it be given to “Mestre Adam Damport leChaunceller du Roigne de Portugal”. Davenport, he added, had proved valuable inassisting the earl with his own affairs. FitzAlan — a protegé of Henry, who re-investedhim in the earldom after Richard II had Thomas’ father convicted and executed fortreason — must have been referring to his projected marriage with Beatriz of Avis,Philippa’s Portuguese step-daughter, the planning of which likely involved Davenport.One might expect that his nomination for the prebend would do honour to the queen ofPortugal, Henry’s own sister31. In fact, by enlisting FitzAlan’s support on the matter,Philippa had plausibly continued to look after her former attendant. She would alsohave counted on her brother’s endorsement.
15 Yet another magnate seems to have taken Davenport’s plea before King Henry. This was
none other than the primate of England, Thomas Arundel32. The archbishop ofCanterbury (who was Thomas FitzAlan’s uncle) was a staunch supporter of Henry. OnceRichard II’s chancellor, Arundel had since become one of the closest advisers to the newking. It is likely that Queen Philippa had reached out beforehand to ArchbishopArundel in Davenport’s defence33. All factored in, Henry IV’s refusal would have goneagainst the grain, but this was exactly what happened: the king did not nominateDavenport, and it was on his decision that the prebend fell on Richard Prentys, on 14July 140434.
Medievalista, 28 | 2020
201
16 It would be another twelve years before the living of Stokenham fell vacant once again,
on 1 October 1416, by death of the said Richard Prentys35. Once again, two clerici viedfor the position. One was Edward Prentys, possibly a relative of Richard, and the otheran elderly Adam Davenport. The right of appointment to Stokenham had reverted toThomas Montacute, fourth earl of Salisbury. On 14 October Montacute had Edwardnominated. According to the register of Edmund Stafford (bishop of Exeter, 1395–1419),Edward Prentys was already “well beneficed elsewhere” as the archdeacon of Essex inSt Paul’s Cathedral, London. Interestingly, Thomas Montacute’s mother, the CountessMatilda (the widow of John Montacute, beheaded for high treason in 1400), challengedhim by presenting Adam Davenport as her own candidate, in turn. On 15 October 1416 acommission was instructed to enquire after the validity of Matilda's right ofappointment. The commission found Davenport to be a clerk in his sixties, in priest'sorders, deprived of any benefice36. Two decades after having abandoned a privilegedposition in the Portuguese royal court, Davenport was still effectively unwaged.
17 On 28 October 1416, upon the commission’s decision in favour of Thomas Montacute,
Edward Prentys was appointed to Stokenham without reservation. Yet, Matilda decidedto appeal to the Westminster courts. This time around, the verdict was in her favourand the commission’s ruling was overturned. As she recovered the right ofpresentation to the prebend, Davenport came again on the cards. A mandate to BishopStafford to have him admitted was duly issued on 28 April 1417. On 10 May following,Davenport was finally invested into the rectory of Stokenham with its stipend, taxed at£33 6s. 8d.. His appointment of a proxy, one John Shyllyngford, seems to suggest thatDavenport either lived elsewhere or was already in poor health37. Nonetheless, the oldclerk did move to Stokenham, as he was allowed a three-month licence of non-residence, for between 1 August and 1 November 141938. This is the last we hear of him.
18 His advancing age notwithstanding, the moment he was provided for Davenport moved
a complaint against his old rival, the late Richard Prentys, alleging dilapidations.Accordingly, a commission of enquiry was set in motion, on 15 May 1417. Two weeksfrom that day, on the ruling of the archdeacon of Totnes, a commission forsequestration was in place. It found that there indeed had been dilapidations, thedamage amounting to £50 or more39. Davenport had been proven right. If the onetimeroyal chancellor had been resentful of Prentys, this was the satisfaction he got.
Faction and Politics
19 It is striking that Davenport was turned down, even for a comparatively modest
benefaction, despite his name having been suggested by some of Henry IV’s main co-religionists. A queen and ally — and Henry’s own sister — had personally insisted on it.If Davenport had proven incapable to recoup any reasonable means of livelihood before1416 (that is, three years after Henry IV’s death), that must have been down to theking’s ill will. What reasons lay behind Henry’s continued disapproval?
20 The most reasonable explanation lies in political change, the restructuring of affinities
around the crown, and personal preference in the dispensation of grace, all of whichwere synonym with Henry IV. Henry’s choice for Stokenham had been Richard Prentys,hardly a chance pick. Prentys was already among the ecclesiastic administrators closestto the crown. In 1401, he had been reappointed (and seemingly promoted) a canon ofthe royal chapel of St Stephen at Westminster. Two years later, Henry created him dean
Medievalista, 28 | 2020
202
of the chapel royal. Prentys’s endowments beside the seat of royal power in Londonwere further consolidated through his being appointed, in 1402, the master of the RoyalHospital and Collegiate Church of St. Katharine by the Tower. He held the positions ofmaster of St. Katharine and dean of the chapel royal into the 1410s. As to Prentys’s seatin the chapter of St Stephen’s, it was eventually exchanged for another in St George’schapel in Windsor castle, of which he became a canon in April 140340. The prestige of StGeorge’s chapel was perhaps unmatched among English royal foundations. Besides, itwas the seat of the Order of the Garter, an institution whose pre-eminence in the earlyyears of Henry IV’s regime has been well proven41. It was therefore at the height of hiscareer, and very much in the confidence of the king, that in 1404 Richard Prentys cameup to Stokenham.
21 Although at some point both men had been in the patronage of Richard II, Adam
Davenport was not nearly as successful as Prentys in coping with Henry of Lancaster’scoming into power. Probably, this was more to do with Henry’s political judgementthan with the individual merits of either clerk, as both were equally accomplished.Adam Davenport’s origins can perhaps be traced back to a gentry family variouslyknown as Damport, Daumport, and Davenport — the Portuguese spelling of Adam’sname, “Adam Porto” and “Adom Porte”, suggesting the reading Daumport42. Themedieval Davenport estates, located in Marton, in Woodford, in Broomhall, and in thetownship of Davenport itself, were therefore concentrated in the hundred ofMacclesfield, County Cheshire43. The protection which, as we saw, Adam Davenportenjoyed from Countess Matilda may further point towards his Cheshire origins, sincethe Montagues had control over a number of lordships in that county, includingHawarden, where the Davenports are known to have been based44.
22 Richard II’s fondness for Chester and its people is well attested. The county was
elevated to a principality in 1397 (only to be deprived of that honour by Henry IV, amere two years later) and it provided the recruiting grounds for a permanent force ofseven squadrons of archers, created with Richard’s personal protection in mind. One ofthese squadrons had Ralph Davenport as its commander45. According to the Dieulacreschronicle, Ralph Davenport was among the captains that remained loyal to Richard inearly August 1399, as the king’s depleted royal army returned from Ireland, to face thefuture Henry IV46. Just a few months before, Richard had made by writ of privy sealRalph Davenport, esquire, the grant of goods and chattels worth 100 l., belonging toArcher and Henry Davenport, as the two men had been tried for murder47.
23 Members of the Davenport family besides Adam Davenport had links with the house of
Lancaster, namely in the local echelons of the duchy. In July 1383, John of Gaunt had“nostre trescher et bien ame Roger Daunport” nominated as his justice in Lancashire48.Another local justice was John Davenport49. Maybe this was the same John Damportwho took letters of attorney for one year, starting on 14 May 1381, so as to follow JuanFernández Andeiro, a knight “of Spain” and a retainer of Gaunt, to Portugal50.Considering the association of both Davenports — John and Adam — to the duchy ofLancaster, the possibility that they were related can be admitted. John’s voyage toPortugal might mean that knowledge of this country was passed on following hisreturn.
24 Henry IV himself can be tied to certain individuals of the Davenport stock, but it is
equally clear that he had serious misgivings about others. In 1401 a certain GeoffreyDavenport, described as the king’s clerk, was confirmed as the prebendary of Blackrath,
Medievalista, 28 | 2020
203
diocese of Ossory, Ireland. Subsequently, he was allowed to receive his stipend outsideof Ireland51. Six years later, he was still tied to the king in some capacity, havingreceived 100 marks from the royal coffers52. As part of the household confirmationsmade in August 1413, Henry V rewarded one John Damport for life in the office ofking’s messenger, which he had held from Henry IV’s time53. Others hardly fared sowell. As Henry IV faced insurrection from Ricardian loyalists early in the reign, Robert,the son of John de Davenport of Broomhall, and the tailor Thomas Davenport were sued“specially and severely” for their treasonous conduct along with a number of otherChester men. They were notorious exceptions to the general pardon granted by theking to his people of Chester54. Two others — Arthur de Davenport, the owner of beastsand goods valued at 40 l., and Roger Davenport, parson of Hawarden — would side withHenry Hotspur against the king at Shrewsbury, in 140355.
Conclusion
25 Even Alcuin of York, a resident of Charlemagne’s magnificent Aachen court, had been
memorably homesick of his native England. Whatever Adam Davenport’s own reasonswere to return to his native country, they came at a risk. We stand reminded that thesuccess of middling members of the clerical class, of which Davenport is but a singleexample, often depended upon the successful acquisition and maintainance of ties ofsolidarity and patronage before their regional lords, and ultimately before the crownitself. The former parish clerk had willingly let go of a privileged position in Portugal asa royal chancellor in return for uncertainty back home. In the decade spanning from1386 to 1396, Davenport’s working connections in England had been severed, at bestdramatically weakened. Above all else, the 1399 regime change witnessed a fullreshuffling of privilege and grace. Perceived as a player of little consequence, incapableof contributing to the new king’s agenda, Davenport was left out of that new orderperhaps deliberately — notwithstanding the repeated efforts from his high-flyingpatrons, including the king’s own sister (the wife of a sworn overseas ally).
26 It is indeed striking that no dynastic and political considerations seem to have been
taken into account in Henry IV’s handling of Adam Davenport. Even as he provedhimself a valuable go-between for Thomas FitzAlan in the early 1400s — playingsmoothly into Henry’s hands, as the earl’s wedding with Beatriz helped with the Anglo-Portuguese alliance56 — Davenport and his protectors found themselves utterlyincapable of bending the king’s will. As far as can be told, Henry could not findsufficient use for a well-schooled, seasoned civil servant with an “international”background of consequence; not even in the busy Lancastrian diplomacy with theIberian kingdoms, Portugal in particular. For all its merits, Davenport’s transboundaryclerical and administrative career could not hold up to the dramatic political changesof 1399.
Medievalista, 28 | 2020
204
BIBLIOGRAPHY
Manuscript sources
London
The British Library, MS Royal 10 B IX
The National Archives, C 76/65, C 76/70, C 76/71
Printed sources
ANGLO-NORMAN LETTERS and Petitions from All Souls MS. 182. Ed. Mary Dominica Legge. Oxford:
Blackwell, 1941.
BOISSELLIER, Stéphane – La construction administrative d'un royaume: registres de bénéfices
ecclésiastiques portugais (XIII-XIVe siècles). Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa,
Universidade Católica Portuguesa, 2012.
CALENDAR of the Close Rolls preserved in the Public Record Office. A.D. 1405-1409. Ed. A. E. Stamps.
London: His Majesty’s Stationery Office, 1931.
CALENDAR of the Close Rolls preserved in the Public Record Office. Henry IV, vol. 5: Index volume. Ed. A. E.
Stamp, with an Index by J. J. O’Reilly. London: His Majesty’s Stationery Office, 1938.
CALENDAR of the Patent Rolls preserved in the Public Record Office. A.D. 1381-1385. Coord. H. C. Maxwell-
Lyte. London: His Majesty’s Stationery Office, 1920.
CALENDAR of the Patent Rolls preserved in the Public Record Office. A.D. 1396-1399. Coord. H. C. Maxwell-
Lyte. London: His Majesty’s Stationery Office, 1909.
CALENDAR of the Patent Rolls preserved in the Public Record Office. A.D. 1399-1401. Coord. H. C. Maxwell-
Lyte. London: His Majesty’s Stationery Office, 1903.
CALENDAR of the Patent Rolls preserved in the Public Record Office. A.D. 1401-1405. Coord. H. C. Maxwell-
Lyte. London: His Majesty’s Stationery Office, 1905.
CALENDAR of the Patent Rolls Rolls preserved in the Public Record Office. A.D. 1413-1416. Coord. H. C.
Maxwell-Lyte. London: His Majesty’s Stationery Office, 1910.
CHANCELARIAS Portuguesas. D. João I. Ed. João José Alves Dias, vol. 2, tomo 1 and vol. 3, tomo 2.
Lisboa: Centro de Estudos Históricos, Universidade Nova de Lisboa, 2005-2006.
CHRONICLES of the Revolution, 1397-1400: The Reign of Richard II. Ed. Chris Given-Wilson. Manchester
and New York: Manchester University Press, 1993.
THE DIPLOMATIC CORRESPONDENCE of Richard II. Ed. Édouard Perroy. London: Camden Society,
1933.
FARO, Jorge – Receitas e despesas da fazenda real de 1384 a 1481 (Subsídios documentais). Lisboa:
Instituto Nacional de Estatística, 1965.
FŒDERA, conventiones, literæ, et cujuscunque generis acta publica, inter reges Angliæ, et alios quosvis
imperatoris, reges, pontifices, principes, vel communitates … Ed. Thomas Rymer. London: A. & J.
Churchill, 20 vols, 1704-1735, vol. 7.
HINGESTON-RANDOLPH, F. C. – The Register of Edmund Stafford (A.D. 1395-1419): An Index and Abstract
of its Contents. London: George Bell & Sons, 1886.
Medievalista, 28 | 2020
205
HORN, Joyce M. – “Prebendaries: Caddington Major”. in LE NEVE, John (ed.) – Fasti Ecclesiae
Anglicanae, 1300-1541. Vol. 5, St Paul's, London. London: Institute of Historical Research, University
of London, 1963, pp. 23-25.
JOHN OF GAUNT’S Register, 1379-1383. Ed. Robert Somerville and Eleanor C. Lodge, vol. 2. London:
Offices of the Royal Historical Society, 1937.
JONES, B. – “Prebendaries: Dinder”. in LE NEVE, John (ed.) – Fasti Ecclesiae Anglicanae, 1300-1541.
Vol. 8, Bath and Wells Diocese. London: Institute of Historical Research, University of London, 1964,
pp. 42-44.
KING, H. P. F. – “Prebendaries: Centum Solidorum (de prepositis)”. in LE NEVE, John (ed.) – Fasti
Ecclesiae Anglicanae, 1300-1541. Vol. 1, Lincoln Diocese. London: Institute of Historical Research,
University of London, 1962, pp. 50-52.
LOPES, Fernão – Cronica del Rei Dom Joham I de boa memoria e dos Reis de Portugal o decimo. Parte
Segunda. Ed. William J. Entwistle. Lisboa: Imprensa Nacional, 1968.
MONUMENTA Henricina. Ed. António Joaquim Dias Dinis, vol. 1 (1143-1411). Coimbra: Comissão
Executiva das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1960.
NASCIMENTO, Aires Augusto (ed.) – Princesas de Portugal: Contratos matrimoniais dos Séculos XV e
XVI. Lisboa: Cosmos, 1992.
ORIGINAL LETTERS Illustrative of English History; including Numerous Royal Letters […]. Ed. Henry Ellis.
London: Richard Bentley, vol. 1, 1846.
SANTA MARIA, Fr. Agostinho de – Santuario Mariano, e Historia das Imagẽs milagrosas de Nossa
Senhora, e das milagrosamente apparecidas, em graça dos Prègadores, & dos devotos da mesma Senhora,
vol. 2. Lisboa: Officina de Antonio Pedrozo Galraõ, 1707.
SILVA, José Soares da – Collecçam dos documentos, com que se authorizam as memorias para a vida del
Rey D. João o I, escitas nos primeiros três tomos. Tomo 4. Lisboa Occidental: na Officina de Joseph
Antonio da Sylva, 1734.
SILVA, José Soares da – Memorias para a História de Portugal, que comprehendem o governo del rey D.
Joaõ o I., do anno de mil e trezentos e oitenta e tres, até o anno de mil e quatrocentos e trinta e três. Tomo 2.
Lisboa: Joseph Antonio da Sylva, 1731.
Studies
CLANCHY, Michael T. – From Memory to Written Record: England 1066-1307. Oxford and Malden, MA:
Wiley-Blackwell, 2013 (1979).
COELHO, Maria Helena da Cruz – D. João I. O que re-colheu Boa Memória. Lisboa: Círculo de Leitores,
2005.
COLLINS, Hugh E. – The Order of the Garter, 1348-1461: Chivalry and Politics in Late Medieval England.
Oxford: Oxford University Press, 2000.
CONDE, Sílvio Alves – “A vila de Povos na Idade Média”. in Senhor da Boa Morte: Mitos, História e
Devoção. Vila Franca de Xira: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 2000, pp. 53-66.
DAUMET, Georges – Étude sur l'Alliance de la France et de la Castille au XIVe et XVe siècles. Paris: E.
Bouillon, 1898.
DAVIES, R. R. – “Richard and the Principality of Chester, 1397-9”. in BOULAY, F. R. H. du;
BARRON, Caroline M. (eds.) – The Reign of Richard II: essays in honour of May McKisack. London:
University of London and Athlone Press, 1971, pp. 256-279.
Medievalista, 28 | 2020
206
DAVIS, Virginia – "Clerics and the King’s Service in Late Medieval England". in BARRALIS,
Christine; BOUDET, Jean-Patrice; DELIVRÉ, Fabrice; GENET, Jean-Philippe (eds.) – Église et État,
Église ou État? Les clercs et la genèse de l’État moderne. Paris: Éditions de la Sorbonne, 2014, pp. 25-33.
ENTWISTLE, William J.; RUSSELL, Peter E. – “A Rainha D. Felipa e a sua Côrte”. in Congresso do
Mundo Português: Publicações. Vol. II: Memórias e comunicações apresentadas ao Congresso de História
Medieval (II Congresso). Lisboa: Comissão Executiva dos Centenários, 1940, pp. 319-346.
FARELO, Mário – “O padroado régio na diocese de Lisboa durante a Idade Média: uma instituição
in diminuendo”. Fragmenta Historica 1 (2013), pp. 39-107.
FARIA, Tiago Viúla de – “From Norwich to Lisbon: Factionalism, Personal Association, and
Conveying the Confessio Amantis”. in SÁEZ-HIDALGO, Ana; YEAGER, Robert F. (eds.) – John Gower in
England and Iberia: Manuscripts, Influences, Reception. Woodbridge: Boydell & Brewer, 2014, pp.
131-138.
GOODMAN, Anthony – “England and Iberia in the Middle Ages”. in JONES, Michael; VALE,
Malcolm (eds.) – England and her Neighbours, 1066–1453. Essays in Honour of Pierre Chaplais. London
and Ronceverte: The Hambledon Press, 1989, pp. 73-96.
GOODMAN, Anthony – John of Gaunt: The Exercise of Princely Power in Fourteenth-Century Europe.
Harlow: Longman, 1992.
OEXLE, Otto Gerhard – “Perceiving Social Reality in the Early and High Middle Ages: A
Contribution to a History of Social Knowledge”. in JUSSEN, Bernhard (ed.) – Ordering Medieval
Society: Perspectives on Intellectual and Practical Modes of Shaping Social Relations. Philadelphia:
University of Pennsylvania Press, 2001, pp. 92-143.
OLLARD, Sidney Leslie – Fasti Wyndesorienses: The Deans and Canons of Windsor. Windsor: Oxley and
Son, 1950.
RIBEIRO, José Alberto – “A capela do Senhor da Boa Morte”. in Senhor da Boa Morte: Mitos, História e
Devoção. Vila Franca de Xira: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 2000, pp. 67-76.
RUSSELL, Peter E. – The English Intervention in Spain and Portugal in the Time of Edward III and Richard
II. Oxford: Oxford University Press, 1955.
RUTLEDGE, Elizabeth – “Lawyers and Administrators: The Clerks of Late-Thirteenth-Century
Norwich”. in HARPER-BILL, Christopher (ed.) – Medieval East Anglia. Woodbridge: Boydell Press,
2005, pp. 83-98.
SILVA, Manuela Santos – “O casamento de D. Beatriz (filha natural de D. João I) com Thomas
Fitzalan (Conde de Arundel) – paradigma documental da negociação de uma aliança”. in BRAGA,
Isabel Drumond; FARIA, Ana Leal de (eds.) – Problematizar a História: Estudos de História Moderna em
Homenagem a Maria do Rosário Themudo Barata. Lisboa: Caleidoscópio, 2007, pp. 77-91.
SILVA, Manuela Santos – Filipa de Lencastre: A rainha inglesa de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores,
2012.
VENTURA, Margarida Garcês – Poder régio e liberdades eclesiasticas (1383-1450), 2 vols. Lisboa:
Universidade de Lisboa, 1993. Doctoral thesis.
WALKER, Simon – The Lancastrian Affinity, 1361-1399. Oxford: Oxford University Press, 1990.
YEAGER, Robert F. – “Gower's Lancastrian Affinity: The Iberian Connection”. Viator 35 (2004), pp.
483-515.
Medievalista, 28 | 2020
207
NOTES
1. Around 1379 or 1380, Davenport was described as “licenciatus in legibus”: The Diplomatic
Correspondence of Richard II. Ed. Édouard Perroy. London: Camden Society, 1933, doc. 8, p. 5. In
1416, he was in priest’s orders: HINGESTON-RANDOLPH, F. C. – The Register of Edmund Stafford (A.D.
1395-1419); An Index and Abstract of its Contents. London: George Bell & Sons, 1886, pp. 211, 339-340.
2. Anglo-Norman Letters and Petitions from All Souls MS. 182. Ed. Mary Dominica Legge. Oxford:
Blackwell, 1941, doc. 28, pp. 73-74.
3. KING, H. P. F. – “Prebendaries: Centum Solidorum (de prepositis)”. in LE NEVE, John (ed.) – Fasti
Ecclesiae Anglicanae, 1300-1541. Vol. 1, Lincoln Diocese . London: Institute of Historical Research,
University of London, 1962, pp. 50-52, p. 50; JONES, B. – “Prebendaries: Dinder”. in LE NEVE, John
(ed.) – Fasti Ecclesiae Anglicanae, 1300-1541. Vol. 8, Bath and Wells Diocese . London: Institute of
Historical Research, University of London, 1964, pp. 42-44, p. 42.
4. HORN, Joyce M. – “Prebendaries: Caddington Major”. in LE NEVE, John (ed.) – Fasti Ecclesiae
Anglicanae, 1300-1541. Vol. 5, St Paul's, London. London: Institute of Historical Research, University
of London, 1963, pp. 23-25, p. 23; RUSSELL, Peter E. – The English Intervention in Spain and Portugal
in the Time of Edward III and Richard II. Oxford: Oxford University Press, 1955, p. 542.
5. The Diplomatic Correspondence of Richard II, doc. 8, p. 5.
6. Calendar of the Patent Rolls preserved in the Public Record Office. A.D. 1381-1385. Coord. H. C.
Maxwell-Lyte. London: His Majesty’s Stationery Office, 1920, p. 137.
7. Fœdera, conventiones, literæ, et cujuscunque generis acta publica, inter reges Angliæ, et alios quosvis
imperatoris, reges, pontifices, principes, vel communitates… Ed. Thomas Rymer. London: A. & J.
Churchill, 20 vols, 1704-1735, vol. 7, pp. 490-491, 499-501.
8. Since letters of protection remained valid for one year only, and Gaunt’s departure seems to
have suffered delay, reissuing them made sure that they remained up-to-date: London (Kew), The
National Archives (henceforth TNA) C 76/70, m. 19 (of 1 April) and C 76/71, m. 11 (of 28 May).
9. RUTLEDGE, Elizabeth – “Lawyers and Administrators: The Clerks of Late-Thirteenth-Century
Norwich”. in HARPER-BILL, Christopher (ed.) – Medieval East Anglia. Woodbridge: Boydell Press,
2005, pp. 83-98, p. 84. More widely, see CLANCHY, Michael T. – From Memory to Written Record:
England 1066-1307. Oxford and Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2013 (1979); and OEXLE, Otto Gerhard
– “Perceiving Social Reality in the Early and High Middle Ages: A Contribution to a History of
Social Knowledge”. in JUSSEN, Bernhard (ed.) – Ordering Medieval Society: Perspectives on Intellectual
and Practical Modes of Shaping Social Relations. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2001,
pp. 92-143.
10. DAVIS, Virginia – "Clerics and the King’s Service in Late Medieval England". in BARRALIS,
Christine; BOUDET, Jean-Patrice; DELIVRÉ, Fabrice; GENET, Jean-Philippe (eds.) – Église et État,
Église ou État? Les clercs et la genèse de l’État moderne. Paris: Éditions de la Sorbonne, 2014, pp. 25-33,
§15.
11. TNA C 76/70, m. 3, 11, 17, 20, 22, 26.
12. GOODMAN, Anthony – “England and Iberia in the Middle Ages”. in JONES, Michael; VALE,
Malcolm (eds.) – England and her Neighbours, 1066–1453. Essays in Honour of Pierre Chaplais. London
and Ronceverte: The Hambledon Press, 1989, pp. 73-96, encapsulates well Anglo-Iberian relations
up until the mid-fourteenth century.
13. DAUMET, Georges – Étude sur l'Alliance de la France et de la Castille au XIVe et XVe siècles. Paris: E.
Bouillon, 1898, pp. 30-31.
14. YEAGER, Robert F. – “Gower's Lancastrian Affinity: The Iberian Connection”. Viator 35 (2004),
pp. 483-515.
15. GOODMAN, Anthony – John of Gaunt: The Exercise of Princely Power in Fourteenth-Century Europe.
Harlow: Longman, 1992, pp. 115-116.
Medievalista, 28 | 2020
208
16. RUSSELL, Peter E. – The English Intervention in Spain and Portugal in the Time of Edward III and
Richard II. Oxford: Oxford University Press, 1955, p. 439.
17. All of this is described for example in COELHO, Maria Helena da Cruz – D. João I. O que re-
colheu Boa Memória. Lisboa: Círculo de Leitores, 2005, and SILVA, Manuela Santos – Filipa de
Lencastre: A rainha inglesa de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2012.
18. LOPES, Fernão – Cronica del Rei Dom Joham I de boa memoria e dos Reis de Portugal o decimo. Parte
Segunda. Ed. William J. Entwistle. Lisboa: Imprensa Nacional, 1968, ch. 97, p. 210. Soares da Silva,
drawing from original sources, was also unable to identify the chancellor: SILVA, José Soares da –
Memorias para a História de Portugal, que comprehendem o governo del rey D. Joaõ o I., do anno de mil e
trezentos e oitenta e tres, até o anno de mil e quatrocentos e trinta e tres, vol. 2. Lisboa: Joseph Antonio
da Sylva, 1731, p. 558.
19. RUSSELL, Peter E. – The English Intervention in Spain and Portugal in the Time of Edward III and
Richard II. Oxford: Oxford University Press, 1955, p. 542 and n. 2.
20. Chancelarias Portuguesas. D. João I. Ed. João José Alves Dias, vol. 2, tomo 1. Lisboa: Centro de
Estudos Históricos, Universidade Nova de Lisboa, 2005, doc. 272, p. 157.
21. FARELO, Mário – “O padroado régio na diocese de Lisboa durante a Idade Média: uma
instituição in diminuendo”. Fragmenta Historica 1 (2013), pp. 39-107, table on p. 97 (“Santa Maria de
Povos”).
22. CONDE, Sílvio Alves – “A vila de Povos na Idade Média”. in Senhor da Boa Morte: Mitos, História e
Devoção. Vila Franca de Xira: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 2000, pp. 53-66; RIBEIRO,
José Alberto – “A capela do Senhor da Boa Morte”. in Senhor da Boa Morte: Mitos, História e Devoção.
Vila Franca de Xira: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, 2000, pp. 67-76.
23. BOISSELLIER, Stéphane – La construction administrative d'un royaume: registres de bénéfices
ecclésiastiques portugais (XIII-XIVe siècles) . Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa,
Universidade Católica Portuguesa, 2012, docs. 2 and 4.
24. SANTA MARIA, Fr. Agostinho de – Santuario Mariano, e Historia das Imagẽs milagrosas de Nossa
Senhora, e das milagrosamente apparecidas, em graça dos Prègadores, & dos devotos da mesma Senhora,
vol. 2. Lisboa: Officina de Antonio Pedrozo Galraõ, 1707, p. 377: “os Parochos desta Igreja [de
Santa Maria] gozavão de muytos privilegios”.
25. This would have been the chancellor’s fee somewhere between 1402 and 1406. See, with
editorial variance: FARO, Jorge – Receitas e despesas da fazenda real de 1384 a 1481 (Subsídios
documentais). Lisboa: Instituto Nacional de Estatística, 1965, pp. 22–47, at p. 42; Monumenta
Henricina. Ed. António Joaquim Dias Dinis, vol. 1 (1143-1411). Coimbra: Comissão Executiva das
Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, 1960, pp. 280-293 (on p. 289);
SILVA, José Soares da – Collecçam dos documentos, com que se authorizam as memorias para a vida del
Rey D. João o I, escitas nos primeiros três tomos. Tomo 4. Lisboa Occidental: na Officina de Joseph
Antonio da Sylva, 1734, pp. 214-221, on p. 218.
26. VENTURA, Margarida Garcês – Poder régio e liberdades eclesiasticas (1383-1450), 2 vols. Lisboa:
Universidade de Lisboa, 1993. Doctoral thesis, vol. 1, p. 280.
27. Monumenta Henricina …, vol. 1, p. 271.
28. “Tomas Porte” would not be legitimised until 1 February 1415: Chancelarias Portuguesas. D. João
I. Ed. João José Alves Dias, vol. 3, tomo 2. Lisboa: Centro de Estudos Históricos, Universidade Nova
de Lisboa, 2006, doc. 756, p. 223.
29. London, British Library MS Royal 10 B IX, ff. 7v-8.
30. “[P]our tant qil nad b[ie]nfices nautre possession par q[ue] Il se purra honestement sustener
sicome app[er]tient a son estat”.
31. Original Letters Illustrative of English History; including Numerous Royal Letters […]. Ed. Henry Ellis,
vol. 1. London: Richard Bentley, 1846, letter 24, pp. 52-53. On the planning of the Anglo-
Portuguese match, see especially SILVA, Manuela Santos – “O casamento de D. Beatriz (filha
natural de D. João I) com Thomas Fitzalan (Conde de Arundel) – paradigma documental da
Medievalista, 28 | 2020
209
negociação de uma aliança”. in BRAGA, Isabel Drumond; FARIA, Ana Leal de (eds.) – Problematizar
a História: Estudos de História Moderna em Homenagem a Maria do Rosário Themudo Barata. Lisboa:
Caleidoscópio, 2007, pp. 77-91.
32. ENTWISTLE, William J.; RUSSELL, Peter E. – “A Rainha D. Felipa e a sua Côrte”. in Congresso do
Mundo Português: Publicações. Vol. II: Memórias e comunicações apresentadas ao Congresso de História
Medieval (II Congresso). Lisboa: Comissão Executiva dos Centenários, 1940, pp. 319-346, at p. 346, n.
1, though failing to identify their source.
33. Further on Philippa of Lancaster’s English correspondents, see FARIA, Tiago Viúla de, “From
Norwich to Lisbon: Factionalism, Personal Association, and Conveying the Confessio Amantis”. in
SÁEZ-HIDALGO, Ana; YEAGER, Robert F. (eds.) – John Gower in England and Iberia: Manuscripts,
Influences, Reception. Woodbridge: Boydell & Brewer, 2014, pp. 131-138.
34. HINGESTON-RANDOLPH, F. C. – The Register of Edmund Stafford (A.D. 1395-1419); An Index and
Abstract of its Contents. London: George Bell & Sons, 1886.
35. Unless otherwise indicated, the data on Stokenham is drawn from HINGESTON-RANDOLPH, F.
C. – The Register of Edmund Stafford (A.D. 1395-1419) …, pp. 339-340.
36. It is not known when Davenport was admitted into the higher orders.
37. HINGESTON-RANDOLPH, F. C. – The Register of Edmund Stafford (A.D. 1395-1419) …, p. 211.
38. HINGESTON-RANDOLPH, F. C. – The Register of Edmund Stafford (A.D. 1395-1419) …, p. 340.
39. HINGESTON-RANDOLPH, F. C. – The Register of Edmund Stafford (A.D. 1395-1419) …, p. 340.
40. OLLARD, S. L. – Fasti Wyndesorienses: The Deans and Canons of Windsor. Windsor: Oxley and Son,
1950, p. 98.
41. COLLINS, Hugh E. – The Order of the Garter, 1348-1461: Chivalry and Politics in Late Medieval
England. Oxford: Oxford University Press, 2000, pp. 107-118.
42. Examples in the Calendar of the Close Rolls preserved in the Public Record Office. Henry IV, vol. 5:
Index volume. Ed. A E. Stamp, with an Index by J. J. O’Reilly. London: His Majesty’s Stationery
Office, 1938, pp. 232, 235; in Portuguese, Chancelarias Portuguesas. D. João I. Ed. João José Alves Dias,
vol. 2, tomo 1. Lisboa: Centro de Estudos Históricos, Universidade Nova de Lisboa, 2005, doc. 272,
p. 157, and vol. 3, tomo 2, doc. 756, p. 223.
43. Consultation of the Bromley Davenport Muniments (BDM) in the University of Manchester
Library, which was not possible during the preparation of this paper, might illuminate Adam
Davenport’s putative links with the family.
44. DAVIES, R. R. – “Richard and the Principality of Chester, 1397-9”. in BOULAY, F. R. H. du;
BARRON, Caroline M. (eds.) – The Reign of Richard II: essays in honour os Mary McKisak. London:
University of London and Athlone Press, 1971, pp. 256-279, p. 260.
45. DAVIES, R. R. – “Richard and the Principality of Chester, 1397-9” …, pp. 256-279, p. 269.
46. Chronicles of the Revolution, 1397-1400: The Reign of Richard II. Ed. Chris Given-Wilson. Manchester
and New York: Manchester University Press, 1993, pp. 170-173.
47. Calendar of the Patent Rolls preserved in the Public Record Office. A.D. 1396-1399. Coord. H. C.
Maxwell-Lyte. London: His Majesty’s Stationery Office, 1909, p. 544 (23 April 1399).
48. John of Gaunt’s Register, 1379-1383. Ed. Robert Somerville and Eleanor C. Lodge, vol. 2. London:
Offices of the Royal Historical Society, 1937, p. xxvii, doc. 900 (p. 283).
49. WALKER, Simon – The Lancastrian Affinity, 1361-1399. Oxford: Oxford University Press, 1990, p.
122, n. 28. No Davenports, however, are found among Gaunt’s retainers, annuitants (Appendix 1,
pp. 262-284), and officials (Appendix 2, pp. 285-291).
50. TNA C 76/65, m. 7.
51. Calendar of the Patent Rolls… A.D. 1399-1401 …, pp. 410, 424.
52. Calendar of the Close Rolls… A.D. 1405-1409 …, p. 195.
53. Calendar of the Patent Rolls… A.D. 1413-1416 …, p. 103.
54. Calendar of the Patent Rolls… A.D. 1399-1401 …, pp. 285-286.
55. Calendar of the Patent Rolls… A.D. 1401-1405 …, pp. 264, 365.
Medievalista, 28 | 2020
210
56. NASCIMENTO, Aires Augusto (ed.) – Princesas de Portugal: Contratos matrimoniais dos Séculos XV e
XVI. Lisboa: Cosmos, 1992, doc. 2, pp. 22-29.
ABSTRACTS
A former member of the parish clergy and an occasional servant of Richard II, the scholar Adam
Davenport became one of the main household officials of the Portuguese queen, Philippa of
Lancaster, the daughter of John of Gaunt and the sister of Richard II’s usurper, Henry IV. On
stepping down from office and Portugal’s royal court, he returned to his native country only to
meet with Henry IV’s continued disapproval, which eventually led him to a terminus vitae in
relative modesty and obscurity.
This paper traces Adam Davenport’s professional trajectory of 45 years, from 1374 to 1419, across
contrastive political regimes in two different countries, first as a local cleric, then as a senior
administrator, and eventually as an unwaged outsider. As the social and financial ties between
Davenport and his consecutive benefactors were kept or lost, according to the distribution of
grace and the varying configuration of affinities, so Davenport’s fortune changed. The details of
this three-tiered career put into focus the critical role played by displacement (geographical as
much as societal) and the secular patronage on which men like Davenport — a middling member
of an expanding clerical class — came to depend for survival.
Antigo membro da clerezia paroquial e servidor de Ricardo II de Inglaterra, Adam Davenport
tornar-se-ia, em Portugal, num dos principais oficiais régios da rainha D. Filipa de Lencastre, filha
de João de Gante (John of Gaunt) e irmã do futuro Henrique IV, alçado por rei após a deposição de
Ricardo II. Desejando regressar ao país que o viu nascer, e como tal abandonando a corte
portuguesa, Davenport irá enfrentar a resistência de Henrique IV, o que acabará por levá-lo a um
terminus vitae em condições de relativa modéstia.
Este artigo delineia, pois, a carreira de Adam Davenport, ao longo de 45 anos (entre 1374 e 1419),
através de dois países e de regimes políticos distintos, primeiro como beneficiado ao nível
paroquial, depois como administrador régio e, por fim, como forasteiro no seu país de origem. À
medida que as associações pessoais e laborais de Davenport com os seus sucessivos patronos se
mantêm ou vão sendo perdidas, vê-se condicionado o seu acesso a redes de patronato e
distribuição de mercês. Ao pôr em evidência o percurso tripartido de Adam Davenport, o artigo
pretende chamar a atenção para a acção do desenraizamento (geográfico e socioeconómico) e dos
poderes seculares sobre um grupo social em afirmação.
INDEX
Keywords: Henry IV of England, House of Lancaster, Royal administration, Reginal / the queen’s
household, Medieval migration
Palavras-chave: Henrique IV de Inglaterra, Casa e Dinastia de Lencastre, funcionalismo régio,
Casa real e da rainha, Migração medieval
Medievalista, 28 | 2020
211
AUTHOR
TIAGO VIÚLA DE FARIA
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais 1070-312 Lisboa, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0001-6832-7024
Medievalista, 28 | 2020
212
Artigos
Medievalista, 28 | 2020
213
monges e bispos medievais em uma disputa pelas emoções públicas
A Santidade Enfurecidamonges e bispos medievais em uma disputa pelas emoções públicas
The Infuriated Holiness: Medieval Monks and Bishops in a Struggle for Public
Emotions
Leandro Duarte Rust
“Uma vez que os cristãos interiorizam a proibiçãoà ira e à vingança que lhes é imposta, desenvolve-se neles um interesse apaixonado pela capacidade
de ira. Eles percebem que o enraivecer-se é umprivilégio ao qual eles renunciam em favor do
único ser que se pode enraivecer: Deus.” (PeterSloterdijk, 2010)
Um poder público dirige emoções. Ele as localiza, as transforma e direciona como açõescoletivas. Entre as razões que levam uma pessoa ou um grupo a desempenhar o papelde autoridade está a eficiência em orquestrar os sentimentos, em dominar certosrepertórios de comunicação dos afetos. Reger as maneiras de reconhecer e expressar asemoções afeta as tramas do poder, pois desloca o campo de oportunidades paralegitimar a concentração de riqueza, coerção, prestígio. Esculpida pela lógica e pelarazão instrumental, a geografia do público é constantemente talhada pela paixão e pelaemoção mobilizadora. Seu traçado é obra conjunta desses dois artesãos: o logos e opathos. Consequentemente, a emergência pública de uma força social é um processoheterogêneo, aberto a combinações inesperadas entre ideias e condutas, asobreposições desconcertantes de propósitos e práticas que um observador externo (ouposterior) pode julgar incongruentes, disparatadas e até mesmo sem sentido algum.
O parágrafo anterior enuncia uma hipótese para um trabalho historiográfico. Trata-sede uma resposta provisória para a pergunta “historicamente, como ocorre aemergência ou a alternância de forças públicas?”. Uma resposta de alcance restrito,ajustado a um objetivo preciso, comedido – se pode dizer. Seus limites têm a extensãodo interesse pela dinâmica da mudança, a atenção às causas está além, noutroterritório. Aqui, nestas poucas páginas, busca-se compreender o como, não o porquê.
Medievalista, 28 | 2020
214
Porém, ainda que circunscrita, essa hipótese articula um pressuposto de largo alcance,uma premissa que, graças a um rol crescente de estudos originais, tem se revelado aideia guia para um admirável mundo novo de relações sociais: emoções são repertóriosde organização do mundo. Um vigoroso debate tem sido travado em torno dessa ideia,sobre como decifrá-la. Atualmente, as perspectivas de maior repercussão sobre aliteratura científica as definem como “algoritmos biológicos”1. A expressão é umindicador loquaz da distância percorrida pelo estudo das emoções. Quase não há espaçopara tratá-las como reações de uma mecânica sensorial ou como efeitos da excitaçãoque embriaga uma consciência. Cada vez mais longínquas das ideias de pulsõessomáticas e de singularidades do eu interior, tais abordagens têm apresentado asemoções como condutas avaliativas, isto é, maneiras de encadear certos índices deconvívio: elas prescrevem regras, perpetuam diferenças, ajustam finalidades, validamfuncionalidades2. Entre os historiadores, esse deslocamento dos modos de interpretarparece ter alcançado visibilidade quando Barbara Rosenwein reformulou o conceito de“regimes emocionais”3. Como regime, os afetos compõem um sistema implícito atravésdo qual as comunidades se realizam, estabelecendo o que é valioso e o que é prejudiciala seus integrantes. Como regime, portanto, emoções são performances políticas docotidiano e concentram enorme potencial para repercutir sobre a constituição ou adesestruturação dos espaços de poder4. Entre os gatilhos que disparam essapotencialidade, estão as lutas pelo controle de postos e recursos institucionais.
Emoções instituem espaços políticos, enquanto a vida política temporalizacomunidades emocionais. Reencontramos o cerne da hipótese. Cabe agora testá-la,submetê-la ao crivo daquilo que os historiadores veem: as evidências. Embora faça asvezes de nome cabível a uma impressão diretamente criada pelo vivido, como umamarca deixada pelo peso dos traços característicos do real, uma “evidência” não é umfragmento desnudo das coisas e dos seres, mas uma artesania da percepção. Ou naelegante definição de François Hartog: a evidência não é a visão em si, mas o como se davisão; não é a imagem, mas a potência da imagem5. Antes de ser o sinal judicial daverdade – prova –, ela é uma ferramenta para fazer ver. Tal definição é o fio de Ariadnepara a metodologia que resultou nas páginas a seguir, com as quais buscamoscompreender uma história ambientada na península itálica, nas cercanias do ano 1000.Época em que uma comunidade monástica protagonizou uma disputa políticaimprevisível, que a levou das raias da heresia às glórias do cardinalato; uma história deum julgamento divino, uma corte papal impiedosa, assassinatos noturnos, comoçõespopulares e produção do direito.
Uma disputa pelas emoções públicas.
Ardor
Em pé, imóvel sob vestes sacerdotais, o monge mantinha o olhar vidrado sobre ocaminho incandescente6. Segurando uma cruz com a imagem do Salvador, Pedro sedeteve diante do calor inumano que imanava do chão. Horas antes, havia ali duas pilhasde lenha de grandes proporções: dez pés de comprimento, cinco pés de largura e quatroe meio de altura – segundo a medida da época. Com três metros de extensão, um e meiode espessura e um pouco menos de tamanho, os dois paredões de madeira haviamcumprido seu destino ao estalar como fogueiras de apetite aterrador. As chamasmastigaram vorazmente a lenha e cuspiram de volta uma larga trilha de carvão
Medievalista, 28 | 2020
215
ardente. As brasas formavam uma camada tão espessa que os pés daquele que alipisasse afundariam até os calcanhares7. E esse era o propósito. Para isso as fogueirasforam acesas sob o olhar estupefato de três mil pessoas naquela manhã de quarta-feira:criar o caminho flamejante que o monge deveria percorrer vagarosamente.
Pedro, então, tracejou o sinal da cruz contra fogo e brasa e, retorcendo as mãos aoredor do crucifixo, ergueu o joelho e embarcou na coluna de ar fervente. Com “afisionomia de uma coragem inabalada”, caminhou sobre as labaredas “com passoslentos e solenes”. A cada instante, as chamas revoavam ao seu redor, “envolvendo-o portodas as direções”, penetrando na camisa de linho, que estufava, percorrida porcorredeiras de ar vulcânico. O calor soprava seus cabelos como um hálito infernal,agitando-os de uma parte a outra. Às suas costas, surgia uma trilha de pegadasenegrecidas, um rastro dos sulcos profundos criados a cada vez que os pés cavavam ochão de brilho avermelhado. O monge cumpriu toda a travessia. Ao final da marchacausticante, ele estava “miraculosamente ileso”. Não apenas “seu corpo, todos osparamentos que portava pela virtude de Jesus Cristo” estavam intactos. As chamas oenvolveram como se esquecidas da própria natureza, “sem deixar qualquer sinal dequeimadura”. O manípulo, a estola, as barras da batina: era inútil insistir, nada forachamuscado. Nem mesmo os pelos dos pés, imersos no carvão ardente, haviam sidoafetados, estavam intocados. Talhada no crucifixo, a presença de Deus privou o fogo doefeito natural: Sua bondade fez com que as “chamas o tivessem envolvido por todos oslados para manifestar a maravilhosa virtude do Salvador, não o poder da combustão”.Pedro “não queimava porque sentia o ardor da fé católica. Certamente nosso Deus, queé um fogo devorador, era presente e contra a Sua vontade o fogo corpóreo não podiacausar nenhum dano”8.
No dia 13 de fevereiro de 1068, Pedro, um monge florentino, teria se submetido a umordálio do fogo. Sua vitória sobre essa dramática prova corporal se tornou a memóriade uma proeza espiritual arrebatadora. O relato foi composto por outro religioso,Andrea9. Nascido por volta do ano mil, o autor é figura cercada por incertezas, mas opouco que se sabe faz dele um personagem complexo. É tarefa penosa saber onde eleestava quando o caminho de brasas supostamente foi trilhado. Há indícios de que viajoupara Milão anos antes; alguns registros o colocam de volta a Florença no início dos anos1070. O paradeiro incerto entre 1067 e 1073 torna difícil considerá-lo uma testemunhaocular10. Difícil, mas não impossível. Não se pode refutar que ele fosse um dos três milrostos que presenciaram a proeza. Mas, a bem dizer, sabe-se que o relato foi redigidopor volta de 1092, quase um quarto de século após o momento em que teria ocorrido. Anarrativa pode ser um registro lavrado pelos olhos e, simultaneamente, urdido pelaimaginação. E não é só a cronologia da versão que se revela escorregadia: a ortodoxiatambém.
Andrea havia tomado a estrada até Milão para se juntar aos seguidores de Arialdo, umdiácono que liderava uma campanha de rejeição ao alto clero local. Há mais de dez anosele surgira na terra milanesa. Primeiro, perambulara pelo interior rural, abordandoquem passava pelas estradas para anunciar uma verdade terrível: ali, naquele canto domundo, todas as almas estavam em perigo. Em pouco tempo, o diácono de feiçõestacanhas e voz trovejante ganhou o interior das muralhas e transformou ruas e praçasem púlpito habitual. Em sermões frequentes, Arialdo denunciava o bispo e os clérigos,acusando-os de manter esposas e viver como magnatas mundanos. Violavam o celibato,rejeitavam a pobreza e se entregavam à caça, a jogatinas, bebedeiras, roupas ostensivas,
Medievalista, 28 | 2020
216
ao luxo dos castelos. Em Milão, o clero evitava o reto caminho das virtudes, se afastavada luz espiritual, caía nas sombras da materialidade, negava Cristo – fulminava odiácono. Entre aqueles muros, as almas estavam mais próximas da perdição11. Oshistoriadores se referem a Arialdo como um reformador, mas o nome que se ouvia doslábios de grande parte dos contemporâneos era outro: herege. O pregador de vozeletrizante e seus seguidores ganharam fama como adversários do poder episcopal,inimigos de uma instituição cristã e não só de “um” bispo. O antagonismo se difundiurápido. Convocados por seu irmão milanês, numerosos bispos do norte itálico sereuniram em um sínodo que condenou o grupo e declarou que aquelas almas insolentesestavam marcadas com o ferrete da excomunhão12. Não foi o suficiente. As campanhasnão cessaram. Na realidade, o antagonismo se intensificou e impulsionou uma guerrade propaganda, em que ambos os lados descreviam suas histórias por meio de episódiosenvolvendo visões, milagres e aparições para demonstrar a justiça de sua causa,legitimar suas decisões e edificar uma reputação gloriosa para suas condutas.
O relato sobre o ordálio do fogo é um desses episódios. Ele desponta como claro sinal deque Deus cerrava fileiras com o baixo clero citadino, com diáconos e monges comoPedro e Arialdo. Conquanto fosse abade do mosteiro de São Fedele de Strumi – posiçãoque o eximia das obrigações e aflições do baixo clero –, Andrea narrou aquele episódioapós ter escrito a Vida de São Arialdo. Aos seus olhos, o diácono condenado por heresiaseguira o exemplo de Cristo, sacrificando-se pela fé e pela verdade. Seu alinhamentoideológico no conflito não poderia ser mais claro. Logo, o relato sobre o ordálio integrauma narrativa militante, engajada, elaborada para recrutar o real como instrumento deconvencimento e de justificação. Ter sido ou não uma testemunha ocular não desfaz acondição de se tratar de uma recordação seletiva, interessada, elaborada para ajustar ecorrigir acontecimentos – não meramente descrevê-los13. Mas e então? O que se podedemonstrar através de uma recordação como essa? Qual a sua relevância histórica?Aliás, ela é relevante? Sim. Ainda que o fato ali narrado seja uma fantasia, a invenção dealgo que nunca ocorrera senão na imaginação de uma parcela dos florentinos, o sentidoconferido a essa criação era real. A data, o cenário, a multidão e a proeza podem seridealizações, qual elementos de um faz-de-conta tornado crível em função deprivilégios, interesses e reputações implicados. No entanto, o sentido geral que lheconfere unidade e coerência é ocorrência história: a trama deslindada, o enredo quedispõe as peças do faz-de-conta numa ordem específica resulta de experiências que onarrador não controla, das quais não pode dispor livremente14. Ele não as controlaporque não são fenômenos estritamente pessoais, e, sim, intersubjetivos, partilhadoscoletivamente – razão pela qual o relato podia ser reconhecido e considerado plausívelpor ouvintes e leitores que sequer sabiam da existência de Andrea. O ordálio do fogotalvez nunca tenha ocorrido15, mas a maneira como ele é narrado tem um fundamentoobjetivo. O significado do relato é histórico. É preciso tentar decifrá-lo.
Um ponto de partida para a busca pode ser encontrado na caracterização da açãorelatada. Voltemos à trama. Andrea foi incisivo ao identificar quem era o protagonistado ordálio. Não era o monge, mas Cristo. Pedro figura aí como um material humanoatravés do qual a graça divina se desloca e desce dos céus para a terra, um condutorespiritual em sangue e pele. Ele não é o sujeito do relato, mas o instrumento animadoque se coloca ao dispor do verdadeiro autor da cena, Deus. Por certo que o religioso édescrito como um portador de valores excepcionais. A narrativa o aclama: quando eledeu o primeiro passo fora da trilha incandescente, a multidão se lançou sobre eleextasiada; suas vestes foram agarradas por mãos ávidas, centenas de bocas beijaram-lhe
Medievalista, 28 | 2020
217
os pés com fervor – detalhes fornecidos pela própria documentação. Todavia, odestinatário daqueles gestos de adoração não era o corpo mortal que acabara de resistirao fogo: “todos exaltavam o Senhor com lágrimas de glória, convictos de que a palavrade Deus se manifestara”16. A ação narrada como um ordálio ultrapassa as fronteiras deum ato devocional – inspirado ou guiado por Deus. Sua figuração é de uma açãoefetivamente divina, de um desdobramento da presença celeste. As vozes querodopiavam o ar em júbilo eram dirigidas aos ouvidos a Deus (miserabilis ad Deum voces
mittendo). O ardor que fez o fogo das lenhas esquecer a própria natureza imanava doCriador, era Sua vontade (Domini potentia) revelando-se17. A caracterização tornaplausível uma dedução: o episódio se passa em meio a uma participação humanaseveramente restringida.
O relato está estruturado sobre essa premissa. O que quer que fosse indicado comomotivo para a realização do ordálio não afetaria a caracterização do monge e dosflorentinos como agentes que careciam de meios de ação. Não havia outra opçãodisponível a não ser reunir coragem sobre-humana e esperar por um milagre(miraculum): que Deus recompensasse um sacrifício pessoal suspendendo ofuncionamento que Ele mesmo conferiu à natureza, impedindo que as brasas varassemum corpo puro, inocente. A crença ressignificava um dado histórico, redizendo comtemas da fé inefável uma realidade demasiado concreta: o dramático caso de umacomunidade que enfrentava a escassez de oportunidades para agir, que estava, poralguma razão, encurralada pelas relações sociais ao seu redor. Impedida oudesacreditada em seu recurso a competências e a condutas humanas, só restava apelarao ardor divino, essa “maravilhosa” “virtude do Salvador” (mirabilia, virtus Salvatoris).Essa noção de “maravilhoso” empregada pelo relato é um topos retórico: falar em algoque ocorre maravilhosamente (mirabiliter) é conferir autoridade ao visual, àquilo que sepode admirar com os olhos: se o ouvinte não foi testemunha ocular do narrado, cabe aele acatar a autoridade da imagem apresentada sobre a lógica18. Na época em que oabade Andrea escrevia, o maravilhoso se impunha ao racional – como percebeu JacquesLe Goff19. No entanto, mencionar uma “maravilha” era também uma maneira de situar olimite da ação humana. O maravilhoso frequentemente surgia quando uma comunidadejá não podia contar com outros grupos ou instituições.
O ardor divino era o contra-ataque da memória sobre a impotência para interferir nocurso de certas relações sociais. No milagre das chamas, a revanche simbólica sobre aderrota em alguma disputa pelo poder. Que disputa?
Frustração
A comunidade monástica à qual foi atribuído o ordálio do fogo teria nascido de umarixa deflagrada por volta de 1034. Naquele ano, a cizânia se alastrou pelo riquíssimomosteiro florentino de São Miniato. Um monge se recusou a aceitar o abade eleito porseus irmãos. Ao que parece, o religioso, João Gualberto, havia amealhado liderançasuficiente para se rebelar contra Umberto, o novo superior20. Como o desacato violavadeveres monásticos, João buscou apoio externo, indo aconselhar-se com um eremitainfluente na região, certo Teuzo. O conselheiro era um ancião experimentado naqueletipo de assunto, tendo vivido algo muito similar. Ele havia deixado seu mosteiro deorigem após desentender-se com o abade. Desterrado, Teuzo adotou uma vidaincomum: não deixou de ser monge, mas não se juntou a outra congregação, tampouco
Medievalista, 28 | 2020
218
fundou uma casa religiosa. Na realidade, sequer fora longe. Instalou-se nasproximidades do mosteiro, levando uma vida duríssima. Suas frequentesautoflagelações eram comentadas entre a população local e logo renderam-lhe areputação de homem santo e, com ela, generosas doações dos habitantes de Florença edos príncipes itálicos. O eremita desertor era uma figura controversa, ambígua. O“ancião famosíssimo e de imensa reputação” (magnum et famosissimum senem) eravenerado por imperadores – Conrado II e Henrique III estavam entre os peregrinos quebuscavam seu conselho e cuja gratidão era demonstrada com valiosos regalia –,administrava a riqueza que a piedade popular sedimentava ao seu redor com umacascata de oferendas, mas não estava sob a vigilância de um superior, de uma regramonástica e não observava o silêncio prescrito pela tradição. Para muitoscontemporâneos, uma vida confusa, desajustada, um homem às vésperas da cegueiraespiritual. Entre as lideranças cristãs, era censurado como o praticante de uma vidareligiosa equivocada, “mais suscetível à voz da turba do que à da própria consciência”21.
O encontro com Teuzo deixou profundas marcas em João. Ao retornar, ele reuniu umaparcela dos irmãos de claustro e os dirigiu para o “foro público da cidade” (foro publico
civitatis). Ladeado pelos companheiros, ele pregou em plena praça do mercado,bradando a remoção do abade e condenando o bispo local, responsável por aprovaraquela eleição que, João sentenciava, não passara de uma negociata vergonhosa daautoridade espiritual. Mas a medida da indignação escapou ao controle dos acusadores.Seguiu-se um tumulto. A denúncia acendeu o pavio do ódio popular, que explodiu napresença do jovem monge: “não queremos que seja removido, queremos que sejamorto”22 – teria gritado a multidão. Nem o abade, nem o bispo foram mortos. Odesfecho daquela irrupção coletiva foi outro: João deixou o mosteiro de São Miniato.Tornou-se errante, instalando-se provisoriamente em uma comunidade religiosa,depois em outra, e em outra... Até alcançar Aquabella, a um dia de distância deFlorença, onde ele estabeleceu um eremitério conhecido pelo nome de “Vallombrosa”.A primeira menção documental ao novo estabelecimento é de 27 de janeiro de 1037. Afundação prosperou rapidamente. Promovido a prior, João Gualberto, recebeu dasfamílias locais a propriedade sobre outros mosteiros: São Pedro in Moscheto, São Paulo inRazzuolo, São Cassiano in Monte Scalari. Em algum momento entre 1040 e 1046, umapoderosa linhagem de condes, os Cadolingi, colocou a abadia de São Salvador di Settimo
sob sua direção nominal. Em 1048, uma pequena igreja foi doada aos monges, que aconsagraram a São Salvi: era o início do convento que levaria o nome daquele santo – eque será um palco crucial na história da comunidade. Em pouco mais de uma década,Vallombrosa saltou do patamar de edificação idealizada por um monge andarilho parao de uma congregação numerosa, socialmente enraizada, inserida nas redes dadominação aristocrática local. No mesmo ano, 1048, os monges adotaram a regrabeneditina, marca espiritual de sua consolidação patrimonial23.
A expansão sobre a paisagem rural não desfez o fracasso inicial. Vallombrosa era obrade homens movidos por uma espiritualidade urbana. Teuzo e Gualberto eram filhos deum monasticismo singular, orientado para a mobilização popular e que zelava pela “vozda multidão” ao invés da solidão contemplativa do “deserto espiritual”, o claustro.Como notou Kaspar Elm, a vida religiosa modelada por suas condutas implicava umaparticipação direta nas tensões sociais da cidade, onde acreditavam ser travada a lutacontra os erros e os vícios, adversários mortais da Libertas Ecclesiae – a “Liberdade daIgreja”24. O espaço urbano florentino permanecia além de sua crescente influência. Nãose pode esquecer que o apelo primordial ao fervor popular terminara desastrosamente:
Medievalista, 28 | 2020
219
a tentativa de fazer a voz das ruas ecoar o clamor pela deposição do abade Umbertosaíra de controle. O desfecho transformou João Gualberto na figura itinerante quefundou Vallombrosa, mas o manteve longe do “foro público”, seu berço espiritual.Agora, como prior de uma congregação que amealhara imensa fortuna em terras,rendas e reputação espiritual, ele estava em condição de voltar à carga e reparar afrustração. Mas a conquista religiosa de Florença seria uma empresa dificílima. Umconcorrente à altura havia surgido. A cidade tinha um novo bispo.
Escândalo
Os registros documentais sobre o prelado recém-chegado são minguados. Contudo, há osuficiente para considerar que Pedro Mezzabarba foi, quase imediatamente, a face deuma nova época para a autoridade episcopal. Os florentinos prestaram-lhe juramentologo após a eleição para o episcopado, em 106225. Um dos primeiros gestos do novopastor de almas foi doar, a título de livello, a igreja de São Procolo de Florença,juntamente com todas as suas possessões, ao abade de Santa Maria da Badia em troca deuma pensão anual de doze denários de prata. Comum entre o clero da época, esse tipode acordo, o livello, permitia cumprir o papel de benfeitor de mosteiros, sendo uma dasmaneiras mais eficientes para apresentar-se como continuador das tradições locais,como o legítimo sucessor dos bispos falecidos à frente da igreja florentina. Além disso, adoação muito provavelmente levara seu nome até os salões da mais poderosa linhagemaristocrática de todo o norte itálico: os canossanos. A abadia em questão contararecentemente com generosos atos de proteção da marquesa de Canossa, Beatriz, que,por meio de sentença pública, havia assegurado a inviolabilidade de todos os benssupervisionados pelo abade em um raio de duas milhas daquela mesma igreja e domosteiro no lugar chamado Mandria26. Entre 1062 e 1066, o novo bispo concluiu aquelaque se tornaria sua principal realização: a reedificação da hospedaria (hospitio) domosteiro da Badia. O próprio abade louvara o empenho do bispo, que assegurou arestituição de todo patrimônio já doado para a hospedaria27. Numa época quemonumentalizava a ideia de Igreja, quando o acesso ao sagrado cristão era delimitadono espaço e contido com formas arquitetônicas,28 assegurar a integridade daspossessões eclesiásticas era edificar a comunhão espiritual. Mezzabarba agia comobispo exemplar, que, por fortalecer a unidade florentina, a poupava do fracionamento eda dissidência, mantendo-a intacta e purificada. Progressivamente, ele cumpria osrequisitos sociais que asseguraram a muitos outros dignitários da época uma reputaçãode “reformador”.
Não aos olhos vallombrosanos. Os monges viam Mezzabarba como concorrente peloforo público. Enquanto o bispo atuava como patrono eclesial, os religiosos percorriamas ruas acusando-o de ter recebido a autoridade pastoral em troca de dinheiro, muitodinheiro. As pregações parecem ter se iniciado no próprio ano da eleição, em 1062. Mas,pelo que se viu há pouco, as enérgicas investidas retóricas não surtiram o efeitodesejado. Mezzabarba seguia desempenhando a função regularmente e seus atos eramacolhidos como legítimos por outras casas monásticas. Os seguidores de Gualberto,então, aguçaram o antagonismo. Em 1065, o denunciaram à Sé Apostólica. Os rumoresde que o pai de Pedro havia obtido o episcopado para o filho pela polpuda soma de 3.000libras embasaram uma carta que informava o Papa Alexandre II: a cabeça da igreja
Medievalista, 28 | 2020
220
florentina estava publicamente tomada pela simonia 29. Uma acusação difícil de serconfirmada.
Um dos maiores combatentes do tráfico material de bens clericais e dignidadesespirituais (simonia) era o cardeal-bispo Pedro Damião. Suas campanhas incansáveiscirculavam por muitas paisagens através de cartas pessoalmente ditadas. Duas de suasepístolas, de 1066, contêm os argumentos de um debate farpado com dois capelãesitálicos sobre a natureza da simonia. Damião não faz qualquer alusão a irregularidadesno episcopado de Florença: e não era do seu feitio ignorar um caso tão próximo e doconhecimento da Santa Sé30. No ano seguinte, o próprio pontífice se correspondeu como acusado. Já ciente da denúncia, Alexandre fez chegar às mãos de Mezzabarba oprivilégio em que confirmava a proteção apostólica à sua recente fundação, o mosteirode São Pedro Maior. Por linhas elogiosas, o papa tratava o homem incriminado pelosvallombrosanos por “caríssimo filho Pedro, o bispo de Florença”31. É pouco provávelque esse fosse o tratamento reservado pelo papado para um simoníaco. Ao que tudoindica, Alexandre enxergava no destinatário a iluminada figura do dignitário local quefundara um mosteiro feminino, dotando-o sozinho de bens e rendas. Ele não era oúnico. O ato de fundação atesta que o bispo agira respaldado pelo testemunho domarquês de Canossa em pessoa, Godofredo, além “de todos os clérigos e laicos deFlorença”32. Há indícios suficientes para afirmar que Mezzabarba tenha sido um dosmuitos casos identificados por Rudolf Schieffer de eclesiásticos acusados de simonianão porque a tivessem cometido, mas porque a denúncia era dotada de imensopotencial comunicativo e jurídico. Antes de ser a marca de uma “verdade”, denunciaralguém como um “ladrão espiritual” era uma tática promissora para deslegitimá-lo eprovocar sua ruína entre o clero33. Apresentada ao mundo como uma evidência, a táticafoi um caminho sem volta.
A escalada de tensões foi aguda; a discórdia, irrefreável. Nos meses seguintes, osmonges multiplicaram as pregações. Suas vozes pairavam sobre ruas e mercados.Respaldado por um histórico de cooperação cultivado com outros bispados,especialmente os de Volterra e Todi, ocupados por prelados imperiais, João Gualbertoenviou um grupo de cônegos até a corte de Henrique IV, para que averiguassem oingresso de Mezzabarba no episcopado. Enquanto isso, uma névoa de rumores sinistrosse adensava ao redor do bispo. As notícias eram cada vez mais perturbadoras. Em Roma,o cardeal Damião relatava que chegara aos seus ouvidos que os vallombrosanosadministravam o batismo em três pias sem aspergir o santo crisma porque o que estavadisponível fora consagrado por Mezzabarba. Não só. Em razão do comportamento dosmonges, quase mil pessoas se convenceram de que era melhor morrer sem ossacramentos do que recebê-los de mãos clericais ordenadas pelo bispo34. Que retaliava.Por ordem sua, em 1066, os cônegos foram privados do direito de administrar aspróprias possessões. Pouco depois, uma notícia acirrou os ânimos.
Arialdo, o austero diácono milanês seguido pelos vallombrosanos, surgiu flutuandosobre um espelho d’água. As marcas de tortura naquele corpo inchado pelo frio lagoMaggiore indicavam que o bispo retomava a ferro o controle sobre a igreja e a cidadevizinhas. A causa do baixo clero desmoronava. De Milão sopravam ventos favoráveis àretomada da hegemonia do poder episcopal35. Esse giro da roda da fortuna parece terencorajado um grupo de cavaleiros, homens de Mezzabarba, a selar suas montarias sobo manto da noite e fazê-las deitar espuma sobre as rédeas. Eles desmontaram às portasdo convento de São Salvi. Os monges foram surpreendidos em pleno altar. As oraçõesforam interrompidas pelo tilintar das espadas, o conhecido anúncio de que as bainhas
Medievalista, 28 | 2020
221
estavam soltas à cintura. A cena seguinte é aterrorizante. Um dos monges teve o crânioinstantaneamente rachado. Outro foi golpeado na altura dos olhos tão impiedosamenteque parte do nariz, do lábio superior e muitos dentes pendiam do rosto, presos à barba.Outro, com o ventre fendido, tentava reter as entranhas entre dedos sôfregos. Após oataque, os cavaleiros saquearam o altar e atearam fogo, não sem antes arrancar asroupas dos religiosos, deixados nus e semimortos36.
Deste ponto em diante, Roma se envolveu diretamente. Pedro Damião chegara à cidade– não se sabe se antes ou depois do ataque a São Salvi, pois a cronologia não é precisa37.A bem dizer, o cardeal não havia sido enviado pelo papa: a força da amizade comcônegos motivara a viagem até Florença. Não obstante falasse apenas em nome de seusinteresses pessoais, Damião exortou “o clero e o povo” a encaminharem o caso parajulgamento em Roma, em um concílio da Santa Sé38. Assim foi feito. Na quaresma, osvallombrosanos compareceram a uma assembleia convocada por Alexandre. A decisãose revelaria fatal.
O pontífice não os via com bons olhos. Ele mesmo o dissera. Alguns anos antes, a abadiade Vallombrosa foi um dos destinatários da epístola em que o papa advertia sobre odever elementar de todo religioso: separar-se do mundo. A Regra de São Bento e oConcílio da Calcedônia exigem que monges se mantenham dentro dos muros domosteiro, proibidos de pregar nos campos, nas cidades e fortificações – repreendia otexto39. Outra carta, de datação incerta, mas que parece mencionar o que transcorriaentre 1065 e 1066, gravou a indignação de Alexandre ao saber que cônegos florentinosbuscaram a corte imperial para arbitrar a elevação do bispo40. O concílio não era umtribunal favorável à causa daqueles monges. Mas o que era desaprovação semetamorfoseou em hostilidade no momento que Pedro Damião tomou a palavra. Suaboca ressoava como a trombeta de um anjo vingador: “senhor Papa, eis os gafanhotosque destroem o verdor da Santa Igreja!”41. Esses monges se tornaram tão heréticosquanto a simonia que denunciam – disse o cardeal. Desprezaram a missa e rejeitaram ossacramentos ministrados por sacerdotes. Amaldiçoando bençãos e absolvições comoatos meramente humanos, eles pisotearam as graças que o Altíssimo derrama sobre ahumanidade – Damião era mordaz. Por sua causa, centenas deixaram este mundo semreceber o corpo e o sangue de Cristo42. Os demais bispos logo fizeram eco ao alarme deescândalo, vociferando que os florentinos foram contaminados pela blasfêmia, vaidadee desobediência daqueles monges caídos em desgraça. O plenário encolerizado teriaproclamado a condenação não fosse a interferência de um diácono romano chamadoHildebrando de Soana43.
Encerrou-se o concílio sem sentença; nenhuma decisão foi formalmente anunciada.Nada parecia ter mudado – exceto para os vallombrosanos. A assembleia pincelou coresainda mais trágicas sobre sua comunidade. Quando deixaram Roma, estavam à beira daderrota. O efeito político foi o de um isolamento no interior da eclesiologia itálica. Jánão podiam contar com os “reformadores” milaneses, em debandada desde oassassinato de Arialdo; o episcopado da região tomara o partido de Mezzabarba, quecontava ainda com o suporte das grandes famílias senhoriais, entre elas os canossanos;a corte imperial não entraria em rota de colisão com Alexandre, com quem sereconciliara há pouco44; o pontífice e o clero romano estavam dispostos a entregá-losaos bispos como “ovelhas aos lobos” – segundo um cronista daquela época45. Os mongesnão dispunham da aliança com uma força social expressiva. Não havia um poder ouuma autoridade disposta a respaldar suas acusações. Ao menos não neste mundo.
Medievalista, 28 | 2020
222
Fúria
Pedro, um monge vallombrosano, ocupa o centro da cena no ordálio do fogo, mas nãoera o personagem terreno mais importante naquela trama repleta de maravilhoso. Esselugar de honra cabe ao “povo de Florença” (populi Florentini). Na narrativa de Andrea, opovo envia uma carta ao papa anunciando que a prova das chamas despiu a “leprasimoníaca” de Mezzabarba perante o juiz justo e supremo – Deus. Aqui, uma ressalva:“povo” não é um vocábulo classista. Ele não caracteriza uma classe ou nomeia aconfluência de certos extratos sociais. Trata-se de um vocábulo político: “povo” é umaprosopopeia do espaço público, a cidade metaforizada como humanidade, dotada devoz, consciência e emoções. Tal função representacional é razão para o termo serintercambiável com outro, a “plebe” (plebi Florentinae). Tais nomes emergem paratornar tangível um argumento decisivo: a cidade tomara o partido dos monges, cujaação era inquestionavelmente pública46. Ênfase ampliada pela declaração de que adecisão de realizar o ordálio contara com o apoio da maior parte do clero secular, dosdistintos integrantes do Capítulo da igreja de São João Batista – os cônegos – e dospadres das ordens menores47. Segundo o cronista, a decisão era apenas o mais recentedesdobramento do clamor popular suscitado pela crueldade do bispo e seus homens. Eisa sequência de acontecimentos que se lê na carta.
No dia 9 de fevereiro, no sábado que precedia o início do jejum quaresmal, padresforam caçados à luz do dia pelo magistrado da cidade. A mando do bispo, ele osperseguiu até a igreja de São Pedro in Ciel d’Oro, invadiu o sacrossanto recinto e arrastoupara fora os acusados de recusar obediência a Mezzabarba. Ao testemunhar tamanho“crime” (scelere concursus), quem estava presente foi arrebatado por uma comoçãoindizível. Os homens levaram as mãos à cabeça em gestos nervosos, como searrancassem os próprios cabelos, no que foram seguidos pelas mulheres, que agitaramos véus e, desgrenhadas, começaram a bater duramente sobre o próprio tórax, gritandoe suplicando a Deus com “triste lamento pela morte de seus homens e filhos”. A gritarapidamente se voltou contra os clérigos que foram deixados na igreja. Em meio aoslamentos rasgados, “os homens e, especialmente, as mulheres católicas” (catholicorum
virorum et maxime feminarum) os chamavam, aos berros, de asseclas de um criminosoespiritual. Os gritos de cúmplices foram rapidamente sucedidos pelo rugido de“heresia! heresia!”. Amedrontados, os sacerdotes fecharam as portas do santuário einterromperam a missa. Essa dramática reação é a primeira descrição de um apelopopular à fúria celestial: a uma manifestação divina capaz de “defender a fé católica e,combatendo a heresia simoníaca, destruí-la” (catholicam fidem [...] defendere et
symoniacam haeresim impugnando destruere). Um clamor pela aniquilação48.
No dia seguinte, ainda aturdidos pela comoção (acclamabamur), os clérigos recorrem aosmonges, para que, juntos, encontrassem uma maneira de pôr um fim àquele conflitoque se prolongava, sangrento e traumatizante: era preciso “dissipar toda dúvida econhecer a verdade”. Em poucas horas, o mensageiro enviado ao mosteiro de SãoSalvador retornou com a notícia de que os religiosos conheciam um procedimento quecontinha a “virtude do Salvador” (virtus Salvatoris) e que, como tal, era capaz de“eliminar toda a dúvida dos corações”. Eles se propunham a realizá-lo em três dias. Arevelação teria lugar na quarta-feira. O clero aderiu unanimemente. A segunda e a terçaseriam passadas em orações, nas quais todos implorariam a Deus para que a verdade, a
Medievalista, 28 | 2020
223
única palavra que seria obedecida, fosse revelada, e que “seus efeitos recaíssem sobre oinimigo” (veritatis huius reseraret hostium)49. Aqui, façamos ponto. É preciso ser enfático.A história relembrada por Andrea não é apenas uma busca pela verdade. Mas, isto sim,uma busca pela verdade transmissora de uma emoção divina: a fúria justiceira. Suanarrativa rege o ritmo de uma revelação que eclodiria como a sentença desapiedadaque desceria sobre um adversário há muito tempo impune. A face enfurecida de Deusseria a vara que conduziria a cidade de Florença para a unidade. Como o resultadoesperado era a restauração da união citadina, o “povo” era o personagemimprescindível. Razão pela qual é ele quem inaugura e encerra os eventos do dia 13.
Na manhã de quarta-feira, três mil pessoas estavam diante do mosteiro escolhido pelosvallombrosanos. Um dos “servos de Deus”, então, se dirige à multidão: “irmãos, porquevos reunis aqui?”. Segundo Andrea, “todos os clérigos e laicos, de ambos os sexos etodas as idades” (omnibus clericis et laicis promiscui sexus et etatis) responderam emuníssono: “para que abandonemos o erro e sigamos a verdade”. A voz inquisidora voltaà carga: “e de que modo, assim ordenamos, desejam ser iluminados?”. E, mais uma vez:“prove, com um fogo de grandes proporções, isto que sustentais sobre Pedro[Mezzabarba]”. O povo não apenas proclama o ordálio como é descrito erguendo aspilhas de lenha que formariam a trilha de brasas. Uma vez preparado o madeiro seco, aliturgia foi celebrada. Mas o ato exclusivamente clerical não diminui a relevânciaatribuída à multidão. Andrea afirma que todos cantavam com máxima devoção, “não sóo coro dos monges e o clero, mas também os laicos, que choravam copiosamente”(chorus monachorum et clericorum necnon et laicorum ex corde lacrimatur). Enquanto oAgnus Dei era entoado, quatro monges foram até as pilhas de lenha: o primeiro,portando a imagem do Cristo crucificado; o segundo, água benta; o terceiro, doze velasabençoadas acesas; o quarto, o turíbulo fumegante. Eles acenderam as chamas e então“o clamor geral se elevou aos céus” (His igitur visis clamor omnium in celum attollitur)50.Muitos homens, e um número ainda maior de mulheres, se voltavam para Maria,suplicando sua intervenção. Em mil direções ressoava o nome do apóstolo Pedro –assegura o cronista.
Viris plurimumque a feminis: “pelos homens e ainda mais pelas mulheres” 51. A ênfase napresença de mulheres é recorrente no relato. Talvez seja mais preciso afirmar que umuso estratégico da alusão às mulheres é recorrente. Nesse ponto, Andrea faz das palavrasum contrapeso a uma das maiores vantagens reputadas ao bispo. Mezzabarba era ofundador de um mosteiro feminino consagrado a São Pedro Maior e que contava com aproteção pontifícia. Ao enfatizar a participação feminina na prova dirigida pelosmonges, o relato qualifica os vallombrosanos como uma instância capaz de suprir umademanda religiosa que vinha sendo publicamente absorvida pelo prelado. A narrativamaravilhosa surte um efeito jurídico ao apresentar a congregação como instituiçãocapaz de prover às mulheres, publicamente, espaço para participar diretamente nacomunicação com o sagrado. Afinal, o clamor que subia aos céus e roçava os ouvidos dePedro e Maria era dos homens tanto quanto delas. Noutras palavras, as vozes femininasda narrativa não são necessariamente indícios de uma igualdade espiritual entre osgêneros, mas uma evidência da necessidade da abadia de Vallombrosa de se apresentarcomo um concorrente legítimo dos privilégios institucionais assegurados pelo papadoao bispo. A narrativa de Andrea foi composta para seduzir o olhar e convencê-lo de queas vozes das esposas e filhas florentinas eram mais numerosas e sonoras sob a direçãomonástica. Mas, essa potência visual não era um dado ou algum depoimento. Era uma
Medievalista, 28 | 2020
224
técnica forjada para criar um efeito: tornar presente uma autoridade que JoãoGualberto e seus seguidores não possuíam52.
Mal havia saído do caminho ardente e o monge Pedro girou sobre os calcanhares,pronto a retornar às labaredas, mas foi “contido pelo povo” (capitur a populo). Os lábiosque não buscavam tocar-lhe os pés cantavam aos céus, exaltando o Senhor por revelar averdade. É relevante notar como a carta nomeia a natureza divina: “nosso Deus é fogodevorador” contra o qual o “fogo corpóreo” nada pode. Deus noster ignis consumens est
(“nosso Deus é um fogo devorador”) não é uma frase cunhada pela epístola. Essa asolicitou a um livro bíblico, tal como transcrito na Vulgata53. E a frase não parece tersido a única referência buscada naquelas páginas. Muitos elementos da cena do ordálioressurgem de uma leitura da Epístola aos Hebreus: o jugo imposto pelos pecadores, aresiliência para suportar repreensões, a devassidão profana que surge da venda de umdireito sagrado. Mas chama especial atenção a fórmula de santidade aí mencionada:“fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que manqueja não se desvieinteiramente, antes seja sarado. Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qualninguém verá o Senhor” (12: 13-14, 29). É o arquétipo do ordálio vallombrosano.Narrando aquela fria manhã de fevereiro, a epístola redizia a Sagrada Escritura. Éimpossível saber onde termina a autoridade bíblica e onde começa a realidadeflorentina. Mas isto é certo: os monges de João Gualberto trouxeram de volta à vidauma emoção que, segundo a Epístola aos Hebreus, um dia açoitara a mente de Moisés. Osentimento terrível, assombroso, de estar na presença de Deus, juiz de todos, queprometera: “ainda uma vez comoverei, não só a terra, senão também o céu” (12:26). Osvallombrosanos tornaram-se instrumentos da vontade inefável, do fogo que consome,destrói e aniquila no céu e na terra. Os derrotados canalizaram a fúria da santidade.
As Sagradas Escrituras não teriam sido as únicas páginas a ganhar vida naquele dia. Oque quer que tenha ocorrido em 13 de fevereiro de 1068 foi uma performance jurídica dealto rendimento. Ao tornar os florentinos partícipes da santa fúria, os mongescumpriam à risca uma exigência do Digesto. Essa seção da obra monumental compiladapor ordem do imperador Justiniano no longínquo ano de 533 carregava a autoridadepara determinar o que era público. A definição, curta e certeira: “direito público éaquilo que compete ao estado das coisas romanas”54. Como notou Maria FilomenaCoelho, nessa formulação, a palavra “estado” não era uma referência a um aparatogovernamental ou a algum conjunto de instituições centralizadas. Status significa aí“uma condição das coisas romanas”55. O termo se refere ao que pertence ao populus, aoque caracteriza particularidades do “povo”. Esse é precisamente um dos sentidosmaiores da narrativa de Andrea. O ordálio é a forma visível de algo que dizia respeitosingularmente ao “povo da cidade de Florença” (populus Florentinae civitatis). Redizendoa Vulgata e o Digesto, o relato sobre a prova do fogo é a narrativa de uma experiênciacontrolada de manipulação da produção do direito e, como tal de localização daconduta pública. Expressadas como crença maravilhosa, as emoções ocupavam posiçãocentral na capacidade de construir a cooperação, expressar a agressão, intermediar aderrota e, finalmente, apresentar-se como um legítimo detentor da faculdade de julgar.Apelar à santificação pela fúria divina modificou o campo de ação disponível aosvallombrosanos ou, no mínimo, legitimou a ação do que quer que, naquela manhã defevereiro, tenha ocorrido, deslocando tal campo. Modificação coroada com a deposiçãode Mezzabarba naquele mesmo ano e com a elevação do monge Pedro – posteriormenteconhecido como “Pedro Igneo” – a cardeal da Sé Romana. Com o “indubitável prestígioadquirido por Pedro Igneo graças à prova do fogo”56, instituições eclesiásticas citadinas
Medievalista, 28 | 2020
225
estavam finalmente abertas à influência dos monges de Vallombrosa, que contavamagora com duas novas frentes para reaver seu berço espiritual, o “foro público”: obispado e o cardinalato.
No século XI, um poder público dirige emoções.
BIBLIOGRAFIA
Fontes impressas
ALEXANDRE II – Epistolas. PL 146: 1330.
ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Arialdi. MGH 30/2.
ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johanni Gvalberti. MGH SS 30/2.
ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul.
ARNULFO – Gesta archiepiscoporum Mediolanensium. MGH SS 8.
ATO DE PISTOIA – Vita Altera. AASS Iul. 3.
ATO DE PISTOIA – Vita Sancti Iohannis Gvalberti. PL 146.
BERNOLDO DE COSTANÇA – De solution iuramentorum. MGH Ldl 2.
BONIZO DE SUTRI – Liber Ad Amicum. MGH Ldl 1.
CONRADO II – Diplomae. MGH DD K II.
Corpus iuris civilis. Vol.2. Codex Justinianus. Berlim: Weidmannos, 1906.
D’ACUNTO, Nicolangelo; SARACENO, Lorenzo (Org.) – Opere di Pier Damiani: Lettere (41-67). Roma:
Città Nuova, 2002.
DESIDERIO DE MONTE CASSINO – Dialogi de Miraculis sancti Benedicti. MGH SS 30/2.
GAROFALO, Salvatore (Ed.) – Biblia sacra Vulgatae editionis Sixti V Pont. Max. iussu recognita et
Clementis VIII auctoritate edita. Editio emendatissima apparatu critico instructa, cura et studio
Monachorum Abbatiae Pontificiae Sancti Hieronymi in Urbe Ordinis Sancti Benedicti. Turim:
Marietti, 1965.
LANDOLFO – Historia Mediolanensis. MGH 8: 76-96.
MOSIICI, Luciana (Ed.) – Le carte del monastero di San Miniato al Monte (secoli IX-XII). Florença:
Olschki, 1990.
PIATOLLI, Renato (Ed.) – Le Carte della canonica della cattedrale di Firenze. Florença: Istituto storico
italiano per il Medio Evo, 1938.
PEDRO DAMIÃO – Epistolas. MGH Briefe 2.
SCHIAPARELLI, Luigi (Ed.) – Le Carte del monastero di. S. Maria di Firenze (Badia). Vol.1. Roma:
Ermanno Loescher, 1913.
SIGEBERTO DE GEMBLOUX – Chronica. MGH SS 6: 363.
Medievalista, 28 | 2020
226
UGHELLI – Italia Sacra, 3.
Vita Sancti Iohannis Gvalberti Anonyma. MGH SS 30/2: 1106.
Estudos
ADOLPHS, Ralph; ANDLER, Daniel – “Investigating Emotions as Functional States Distinct from
Feelings”. Emotion Review 10/3 (2018), pp. 191–201.
ANGELINI, Roberto – La “Vita Sancti Iohannis Gualberti” di Andrea da Genova. Florença: Sismel/Ed.
Del Galuzzo, 2011.
ANGELINI, Roberto – “Iniuriam pertulit: dell'offesa ricevuta dal beato padre Giovanni Gualberto,
fondatore di Vallombrosa, durante il soggiorno a Camaldoli: testimonianze, reticenze e
trasformazioni nella tradizione agiografica”. in SALVESTRINI, Francesco (Ed.) – Monaci e pellegrini
nell'Europa medievale: viaggi, sperimentazioni, conflitti e forme di mediazione. Florença: Ed. Polistampa,
2014, pp. 157-168.
APECITI, Ennio – “Andrea di Strumi, beato (sec. XI)”. Dizionario dela Chiesa Ambrosiana. Vol.1.
Milão: NED, 1987, pp. 145-146.
BACK, Dominik; DAYAN, Peter – “Algorithms for survival: a comparative perspective on
emotions”. Nature Reviews/Neuroscience 18 (2017), pp. 311-319.
BOESCH GAJANO, Sofia – “Storia e tradizioni vallombrosane”. Bullettino dell’Istituto Storico Italiano
per il Medio Evo 76 (1964), pp. 99-125.
BOUCHERON, Patrick – “Palimpsestes ambroisienes: la commune, la liberte et le saint patron
(Milan, XIe-XVe siècle)”. in CHASTANG, Pierre (Dir.) – Le Passé à l'Épreuve du Présent: appropriations
et usages du passé du Moyen Âge à la Renaissance. Paris: PUPS, 2008, pp. 15-37.
BOVO, Claudia Regina – Em busca da Renovatio cristã: simonia e institucionalidade eremítica na
correspondência de Pedro Damiano (1041-1072). Campinas, São Paulo: Unicamp, 2012. Tese de
Doutorado.
CASTANHO, Gabriel – “A construção de uma comunidade sensível: corpo, afeto e emoção nos
escritos de Guigo I (Grande Cartuxa, 1109-1136)”. Pasado Abierto 9 (2019), pp. 34-59.
COELHO, Maria Filomena – “Um universo plural: política e poderes públicos na Idade Média (séc.
XII-XIII)”. in TORRES FAUAZ, Armando (Ed.) – La Edad Media en perspectiva latinoamericana.
Heredia: Ed. de la Universidad Nacional de Costa Rica, 2018, pp. 145-146.
COLLINGWOOD, Robin George – A Ideia de História. Lisboa: Ed. Presença, 2001.
D’ ACUNTO, Nicolangelo – “Lotte religiose a Firenze nel secolo XI: aspetti della rivolta contro il
vescovo Pietro Mezzabarba”. Aevum 66/2 (1993), pp. 279-312.
D’ ACUNTO, Nicolangelo – “Pietro Igneo”. in Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 83 (2015)
[Consultado a 13 novembro 2019]. Disponível em http://www.treccani.it/enciclopedia/pietro-
igneo_(Dizionario-Biografico).
DAMERON, George – “The cult of St Minias and the struggle for power in the diocese of Florence,
1011-1018”. Journal of Medieval History 13/2 (1987), pp. 125-141.
DAMERON, George – Episcopal Power and Florentine Society (1000-1320). Cambridge: Harvard
University Press, 1991.
DASTON, Lorraine; PARK, Katharine – Le Meraviglie del Mondo. Mostri, prodigi e fatti strani dal
Medioevo all'Illuminismo. Roma: Carocci, 2000.
Medievalista, 28 | 2020
227
DE CERTEAU, Michel – História e psicanálise: entre ciência e ficção. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
DI FEBO, Martina – Mirabilia e Merveille: le trasformazioni del meraviglioso nei secoli XII-XV. Macerata:
Edizioni Università di Macerata, 2015.
ELM, Kaspar – “La Congregazione di Vallombrosa nello Sviluppo della vita religiosa
altomedievale”. in COMPAGNONI, Giordano Monzio (Org.) – I Vallombrosani nella società italiana dei
secoli XI e XII. Vallombrosa: Ed. Vallombrosa, 1995, pp. 13-34.
EWALD, Paul – “Die Papstbriefe der Britischen Sammlung”. Neues Archiv der Gesellschaft für ältere
deutsche Geschichtskunde 5 (1880), pp. 274-414.
GINZBURG, Carlo – “Controlando a evidência: o juiz e o historiador”. in NOVAIS, Fernando; SILVA,
Rogério (Org.) – Nova História em Perspectiva. São Paulo: Cosa & Naify, 2011, pp. 341-358.
GOLINELLI, Paolo – “I Vallombrosani e I movimenti patarinici”. in COMPAGNONI, Giordano
Monzio (Org.) – I Vallombrosani nella società italiana dei secoli XI e XII. Vallombrosa: Ed. Vallombrosa,
1995, pp. 35-56.
GOLINELLI, Paolo – La Pataria: lotte religiose e social nella Milano dell’XI secolo. Milão: Europía-Jaca
Book, 1984.
HARARI, Yuval Noah – Homo Deus: Uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras,
2016.
HARTOG, François – Memória de Ulisses: narrativas sobre a fronteira na Grécia Antiga. Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 2004.
HARTOG, François – Evidência da História: o que os historiadores veem. Belo Horizonte: Autêntica,
2017.
HOWE, John McDonald – Before the Gregorian Reform: the Latin Church at the turn of the first
millenium. Ithaca: Cornell University Press, 2016.
IOGNA-PRAT, Dominique – La Maison Dieu: une histoire monumentale de l’Église au Moyen Âge. Paris:
Seuil, 2006.
JESTICE, Phyllis G. – Wayward monks and the religious revolution of the eleventh century. Leiden: Brill,
1997.
KARANT-NUNN, Susan C. – The Reformation of Feeling: Shaping the Religious Emotions in Early
Modern Germany. New York: Oxford University Press, 2010.
LE GOFF, Jacques – O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente Medieval. Lisboa: Edições 70, 1990.
LEYSER, Henrietta – Hermits and the New Monasticism: A Study of Religious Communities in Western
Europe 1000-1150. Nova York: Macmillan Publishers Limited, 1984.
LUCCHESI, Giovanni – “Per una Vita di San Pier Damiani. Componenti cronologiche e
topografiche”. in San Pier Damiano. Nel IX centenario della morte (1072-1972). Vol.1. Cesena: Centro
studi e ricerche sulla antica provincia ecclesiastica ravennate, 1972, pp. 13-179.
MEADE, Denis – “'From Turmoil to Solidarity: The Emergence of the Vallumbrosan Monastic
Congregation”. The American Benedictine Review 19 (1968), pp. 323-357.
MICCOLI, Giovanni – Pietro Igneo: studi sull’età gregoriana. Roma: Istituto Storico Italiano per il
Medio Evo, 1962.
MICCOLI, Giovanni – Chiesa Gregoriana: ricerche sulla Riforma del secolo XI. Roma: Herder, 1999.
Medievalista, 28 | 2020
228
MILO, Yuram – Tuscany and the Dynamics of Church Reform in the Eleventh Century. Stanford, CA:
Stanford University, 1979. Ph.D. Thesis.
MOORE, Robert Ian – “Family, Community, and Cult on the Eve of the Gregorian Reform”.
Transactions of the Royal Historical Society 5 (1980), pp. 49-69.
NAGY, Piroska – “Collective Emotions, History Writing and Change: The Case of the Pataria
(Milan, Eleventh Century)”. Emotions: History, Culture, Society 2/1 (2018), pp. 132–152.
ROMERO, Mariza – “Entrevista: François Hartog”. Revista Brasileira de História 35/70 (2015), pp.
281-291.
RONZANI, Mauro – “Pietro Mezzabarba e I suoi confratelli”. in BALOSSINO, Simones; GARBARINO,
Gian Battista (Org.) – Organizzatione ecclesiastica nel tempo di San Guido: istituzioni e territorio nel
secolo XI. Acqui Terme: Impressioni Grafiche, 2007, pp. 139-186.
ROSENWEIN, Barbara H. – Emotional Communities in the Early Middle Ages. Ithaca: Cornell University
Press, 2006.
ROSENWEIN, Barbara H. – “Problems and Methods in the History of Emotions”. Passions in
Context: International Journal for the History and Theory of Emotions [em linha] 1 (2010).
[Consultado a 6 julho 2019]. Disponível em: http://www.passionsincontext.de.
ROSENWEIN, Barbara H. – “Worrying about Emotions in History”. American Historical Review 107
(2010), pp. 821–845.
RUST, Leandro Duarte – “A autoridade, o desejo e a alquimia da política: linguagem e poder na
constituição do papado medieval (1060-1120)”. Varia Historia [em linha] 27/45 (2011), pp. 161-187
[Consultado a 6 julho 2019]. Disponível em https://doi.org/10.1590/S0104-87752011000100008].
RUST, Leandro Duarte – Bispos Guerreiros: violência e fé antes das cruzadas. Petrópolis: Vozes, 2018.
SALA, Torello (Ed.) – Dizionario Storico Biografico di scrittori, letterati ed artisti dell'ordine di
Vallombrosa. Vol.1. Firenze: Iacobus Faber, 1929.
SCHIEFFER, Rudolf – “Spirituales Latrones. Zu den Hintergrunden der Simonieprozesse in
Deutschland zwischen 1069 und 1077”. Historisches Jahrbuch 92 (1972), pp. 19-60.
SLOTERDIJK, Peter – Ira e Tempo: ensaio político-psicológico. Belo Horizonte: Estação Liberdade,
2010.
SOMERS, Margaret – “The Narrative Constitution of Identity: a relationship and network
approach”. Theory and Society 23/5 (1994), pp. 605-660.
SPINELLI, Giovanni; ROSSI, Giustino (Org.) – Alle Origini di Vallombrosa: Giovanni Gualberto nella
societá dell’IX secolo. Milão: Europía-Jaca Book, 1984.
UTZ, Richard – Medievalism: A Manifesto. Kalamazoo: ARC Humanities Press, 2017.
VOLLRATH, Hannah – “L’accusa di simonia tra le fazioni contrapposte nella lotta per le
investitura”. in VIOLANTE, Cinzio; FRIED, Johannes (Ed.) – Il Secolo XI: una svolta? Bolonha: Il
Mulino, 1993, pp. 131-156.
ZHUANG, Jyun-Rong; GUAN, Ya-Jing; NAGAYOSHI, HAYATO; YUGE, LOUIS; LEE, Hee-Hyol,
TANAKA, Eiichiro. “Two-Dimensional Emotion Evaluation with Multiple Physiological Signals”.
Advances in Affective and Pleasurable Design. AHFE (2018); vol 774, 2019, pp. 158-168.
Medievalista, 28 | 2020
229
NOTAS
1. ADOLPHS, Ralph; ANDLER, Daniel – “Investigating Emotions as Functional States Distinct from
Feelings”. Emotion Review 10/3 (2018), pp. 191–201; BACK, Dominik; DAYAN, Peter – “Algorithms
for survival: a comparative perspective on emotions”. Nature Reviews/Neuroscience 18 (2017), pp.
311-319; ZHUANG, Jyun-Rong; GUAN, Ya-Jing; NAGAYOSHI, Hayato; YUGE, Louis; LEE, Hee-Hyol;
TANAKA, Eiichiro – “Two-Dimensional Emotion Evaluation with Multiple Physiological Signals”.
in Advances in Affective and Pleasurable Design. Proceedings of the AHFE 2018 International Conference on
Affective and Pleasurable Design, July 21-25, 2018, Loews Sapphire Falls Resort at Universal Studios,
Orlando, Florida, USA. Ed. Shuichi Fukuda. S.l.: Springler, 2019, pp. 158-168. Ver ainda: HARARI,
Yuval Noah – Homo Deus: Uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, pp.
90-157.
2. Para um panorama da trajetória da “História das Emoções”, ver: CASTANHO, Gabriel – “A
construção de uma comunidade sensível: corpo, afeto e emoção nos escritos de Guigo I (Grande
Cartuxa, 1109-1136)”. Pasado Abierto 9 (2019), pp. 34-59.
3. Ver: ROSENWEIN, Barbara H. – “Worrying about Emotions in History”. American Historical
Review 107 (2002), pp. 821–845; ROSENWEIN, Barbara H. – Emotional Communities in the Early Middle
Ages. Ithaca: Cornell University Press, 2006; ROSENWEIN, Barbara H. – “Problems and Methods in
the History of Emotions”. Passions in Context: International Journal for the History and Theory
of Emotions [em linha] 1 (2010) [Consultado a 6 julho 2019]. Disponível em http://
www.passionsincontext.de.
4. KARANT-NUNN, Susan C. – The Reformation of Feeling: Shaping the Religious Emotions in
Early Modern Germany. New York: Oxford University Press, 2010.
5. HARTOG, François – Evidência da História: o que os historiadores veem. Belo Horizonte: Autêntica,
2017, pp. 11-16, 203-204. Ver ainda: ROMERO, Mariza – “Entrevista: François Hartog”. Revista
Brasileira de História 35/70 (2015), pp. 281-291.
6. Um esclarecimento. Como o leitor poderá notar desde aqui, faço um uso explícito de recursos
estilísticos na composição do enredo histórico, especificamente da dramatização. Uma expressão
como “olhar vidrado” é de minha lavra e não será encontrada na documentação. Mas não faço tal
uso de maneira inadvertida ou descuidada – na realidade, sequer espontânea. Trata-se de um
procedimento metodológico controlado e planejado. Sua aplicação foi integralmente regida por
três critérios: 1) a seletividade da análise histórica deve ser evidenciada como procedimento narrativo, ao
invés de ocultada sob o frágil verniz de um pretenso mimetismo documental (portanto, recorro à
dramatização para marcar minha ênfase em certas informações documentais); 2) tornar o elemento
ficcional tangível é exigência para delimitar sua operacionalidade, ao invés de, quixotescamente, travar
a batalha para negar sua presença performática na escrita acadêmica da história (neste caso,
evidenciando-o na narrativa, busco vinculá-lo a uma categoria, a seletividade da leitura das
fontes, mais do que a outras, como a construção de relações causais. Portanto, o leitor atento
perceberá que trechos como esse ocupam um papel tão somente preliminar na maneira como
apresento relações de causalidade entre os fenômenos históricos); 3) o recurso ficcional deve ser
plausível à luz das informações documentais (logo, a dramatização obedece aos limites de um campo
de possibilidades que não crio ou escolho arbitrariamente, já que demarcado a partir dos
documentos). O esclarecimento é necessário em face da perpectiva corrente que apresenta tal
procedimento como mero “recurso literário”, expressão que, por seu turno, costuma implicar o
juízo de tratar o estilo como uma forma sem conteúdo científico ou função analítica, uma
“impureza” no rigor do conhecimento histórico. Em face dessa leitura, é preciso recordar lições
aprendidas há quase um século: “nenhum historiador, nem mesmo o pior de todos, se limita a
copiar suas fontes. Mesmo que não acrescente nada de seu [...] é ele que é responsável pelo que se
passa”, como dizia R. G. Collingwood. Ou, nos termos mais diretos de Michel de Certeau, isso
implica reconhecer que: “o aparato científico possui igualmente aspectos de ficção no trabalho do
Medievalista, 28 | 2020
230
historiador” – a configuração narrativa é condição da escrita acadêmica da história. Faço uso de
um recurso estilístico para evidenciar minha perspectiva, denunciar minha presença no texto e,
assim, tornar mais transparente o direcionamento imposto a certo exercício de crítica e análise
documental. É uma tentativa de evidenciar ainda mais minha práxis, ao invés de refugiar-me na
pretensão erudita de que a historiografia meramente rediz um real original. Logo, é um modo de
reconhecer que “a linguagem do historiador tem papel cognitivo e não meramente retórico”,
como lembrou Carlo Ginzburg. Modo arriscado, controverso – sem dúvida! Afinal, como advertiu
Richard Utz, evidenciar a personalização da exposição científica cria o risco de fragmentar a
história como disciplina, além de elevar o grau de instabilidade dos modelos interpretativos. Mas
sigo o autor igualmente noutra constatação: tal prática é o passo adiante mais decisivo para a
cientificidade das humanidades – e dos estudos medievais – atualmente. Ver: UTZ, Richard –
Medievalism: A Manifesto. Kalamazoo: ARC Humanities Press, 2017, especialmente pp. 1-16. Quanto
às demais citações e sobre a própria argumentação presente nesta nota, ver: COLLINGWOOD,
Robin George – A Ideia de História. Lisboa: Ed. Presença, 2001, pp. 244-259, especificamente p. 248;
DE CERTEAU, Michel – História e psicanálise: entre ciência e ficção. Belo Horizonte: Autêntica, 2001,
pp. 45-70, em especial p. 48; GINZBURG, Carlo – “Controlando a evidência: o juiz e o historiador”.
in NOVAIS, Fernando; SILVA, Rogério (Org.) – Nova História em Perspectiva. São Paulo: Cosa & Naify,
2011, pp. 342-358, especificamente p. 358.
7. A descrição, incluindo as medidas das pilhas de madeira, consta em: ANDREA DE STRUMI – Vita
Sancti Johanni Gvalberti. MGH SS 30/2: 1098-1099; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 359-361.
8. Todas as citações apresentadas nesse parágrafo e demarcadas entre aspas são retiradas do
trecho a seguir: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johanni Gvalberti. MGH SS 30/2: 1098-1099;
ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 358-361. Sobre os detalhes da narrativa, ver também:
MICCOLI, Giovanni – Pietro Igneo: studi sull’età gregoriana. Roma: Istituto Storico Italiano per il
Medio Evo, 1962, pp. 150-154; SPINELLI, Giovanni; ROSSI, Giustino (Org.) – Alle Origini di
Vallombrosa: Giovanni Gualberto nella societá dell’IX secolo. Milão: Europía-Jaca Book, 1984, pp.
108-114.
9. Tal autoria está cercada de controvérsias. O autor aqui selecionado como ancoragem
documental é Andrea, abade de Strumi, cujo relato consiste na transcrição de uma carta enviada
pelo clero e povo de Florença ao papa Alexandre II: tal epístola é a memória originária do relato,
versão fundadora. Mas a correspondência de Alexandre não conta com um registro oficial;
estruturado, organizado e preservado por uma chancelaria. Lidamos, portanto, com um universo
documental repleto de incertezas: disperso, fragmentado, lacunar e, consequentemente, povoado
por dúvidas e contestações. Diante desse cenário, parece-me consistente que a transcrição da
epístola por Andrea seja tomada como parte do processo de construção histórica da autoria – e da
autoridade – da mesma. A narrativa contida na missiva ganhou relevo histórico em razão de
escolhas de Andrea. Ainda que não a tenha criado ex nihilo, Andrea foi o responsável por
estabelecer essa versão, por perpetuar especificamente esse registro, como narrativa primordial do
episódio, algo comprovado por sua incidência em versões posteriores, como a de Ato de Pistoia,
composta posteriormente, no século XII. Para o conceito de “narrativa primordial” – modelo
sociológico adotado para a configuração de autoria –, ver: SOMERS, Margaret – “The Narrative
Constitution of Identity: a relationship and network approach”. Theory and Society 23/5 (1994), pp.
605-660; especialmente 605-629. Além disso, já se aventou que o relato de Ato deveria ser
considerado a versão mais adequada para se conhecer o ordálio, por ser uma versão mais
detalhada e, supostamente, “mais completa”. Quanto a isso, basta recordar que a versão de Ato é
posterior e é, reconhecidamente, “um refazer do testemunho strumense, reelaborado [por Ato]
de forma atenuada e acrecentado de detalhes específicos”, conforme lembra ANGELINI, Roberto –
La “Vita Sancti Iohannis Gualberti” di Andrea da Genova. Florença: Sismel/Ed. Del Galuzzo, 2011, p.
xxxii.
Medievalista, 28 | 2020
231
10. Os indícios e registros aqui indiretamente mencionados constam em: SALA, Torello (Ed.) -
Dizionario Storico Biografico di scrittori, letterati ed artisti dell'ordine di Vallombrosa. Vol. 1. Firenze:
Iacobus Faber, 1929, pp. 250-251; BOESCH GAJANO, Sofia – “Storia e tradizioni vallombrosane”.
Bullettino dell’Istituto Storico Italiano per il Medio Evo 76 (1964), pp. 99-125; ANGELINI, Roberto –
“Iniuriam pertulit: dell'offesa ricevuta dal beato padre Giovanni Gualberto, fondatore di
Vallombrosa, durante il soggiorno a Camaldoli: testimonianze, reticenze e trasformazioni nella
tradizione agiografica”. in SALVESTRINI, Francesco (Ed.) – Monaci e pellegrini nell'Europa medievale:
viaggi, sperimentazioni, conflitti e forme di mediazione. Florença: Ed. Polistampa, 2014, pp. 157-168.
11. Os registros documentais sobre a biografia e as pregações de Arialdo: ANDREA DE STRUMI –
Vita Sancti Arialdi. MGH 30/2: 1051-1070; LANDOLFO – Historia Mediolanensis. MGH 8: 76-96;
ARNULFO – Gesta archiepiscoporum Mediolanensium. MGH SS 8: 18-25; BONIZO DE SUTRI – Liber Ad
Amicum. MGH Ldl 1: 591-592. Ver ainda: MICCOLI, Giovanni – Chiesa Gregoriana: ricerche sulla
Riforma del secolo XI. Roma: Herder, 1999, pp. 130-159; GOLINELLI, Paolo – La Pataria: lotte religiose e
social nella Milano dell’XI secolo. Milão: Europía-Jaca Book, 1984, pp. 13-19; NAGY, Piroska –
“Collective Emotions, History Writing and Change: The Case of the Pataria (Milan, Eleventh
Century)”. Emotions: History, Culture, Society 2/1 (2018), pp. 132-152.
12. ARNULFO – Gesta archiepiscoporum Mediolanensium. MGH SS 8: 20; ANDREA DE STRUMI – Vita
Sancti Arialdi. MGH 30/2: 1054-1056.
13. BOESCH GAJANO, Sofia – “Storia e tradizioni vallombrosane” …, pp. 99-125; APECITI, Ennio –
“Andrea di Strumi, beato (sec. XI)”. Dizionario dela Chiesa Ambrosiana. Vol. 1. Milão: NED, 1987, pp.
145-146; BOUCHERON, Patrick – “Palimpsestes ambroisienes: la commune, la liberte et le saint
patron (Milan, XIe-XVe siècle)”. in CHASTANG, Pierre (Dir.) – Le Passé à l'Épreuve du Présent:
appropriations et usages du passé du Moyen Âge à la Renaissance. Paris: PUPS, 2008, pp. 15-37.
14. A argumentação adota o modelo heurístico para um exame narrativo proposto em: HARTOG,
François – Memória de Ulisses: narrativas sobre a fronteira na Grécia Antiga. Belo Horizonte: EdUFMG,
2004.
15. Sobre os historiadores e o problema do realismo do ordálio: D’ ACUNTO, Nicolangelo – “Pietro
Igneo”. in Dizionario Biografico degli Italiani, vol. 83 (2015) [Consultado a 13 novembro 2019].
Disponível em http://www.treccani.it/enciclopedia/pietro-igneo_(Dizionario-Biografico).
16. ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johanni Gvalberti. MGH SS 30/2: 1099; ANDREA DE STRUMI –
Vita. AASS Iul. 3: 360.
17. ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johanni Gvalberti. MGH SS 30/2: 1098; ANDREA DE STRUMI –
Vita. AASS Iul. 3: 359.
18. Os termos miraculum, miracula e mirabiliter são reincidentes, surgindo em várias passagens
documentais além do próprio enredo do ordálio. Ver: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johanni
Gvalberti. MGH SS 30/2: 1083, 1089, 1098-1099; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 350-351,
356-361; ATO DE PISTOIA – Vita Altera. AASS Iul. 3: 370-382. Os termos miraculum e mirabiliter estão
igualmente presentes na Vida de São Arialdo composta pelo abade strumense: ANDREA DE STRUMI
– Vita Sancti Arialdi. MGH 30/2: 1058, 1070-1071, 1075.
19. LE GOFF, Jacques – O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente Medieval. Lisboa: Edições 70, 1990.
Ver igualmente: DASTON, Lorraine; PARK, Katharine – Le Meraviglie del Mondo. Mostri, prodigi e
fatti strani dal Medioevo all'Illuminismo. Roma: Carocci, 2000; DI FEBO, Martina – Mirabilia e
Merveille: le trasformazioni del meraviglioso nei secoli XII-XV. Macerata: Edizioni Università di
Macerata, 2015.
20. Consagrada pelo bispo Hildebrando (1008-1025) em 1018, a abadia de São Miniato era uma das
principais instituições de Florença. Bastião dos favores imperiais, a abadia resultava dos planos
episcopais para expansão do controle sobre a região. Ver: MOSIICI, Luciana (Ed.) – Le carte del
monastero di San Miniato al Monte (secoli IX-XII). Florença: Olschki, 1990, pp. 124-128; DAMERON,
George – “The cult of St Minias and the struggle for power in the diocese of Florence, 1011-1018”.
Journal of Medieval History 13/2 (1987), pp. 125-141; MOORE, Robert Ian – “Family, Community, and
Medievalista, 28 | 2020
232
Cult on the Eve of the Gregorian Reform”. Transactions of the Royal Historical Society 5 (1980), pp.
49-69.
21. Sobre a reputação de santidade de Teuzo: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johanni Gvalberti.
MGH SS 30/2: 1081; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 345-349; ATO DE PISTOIA – Vita Altera.
AASS Iul. 3: 367-370. Quanto à influência junto à corte imperial, ver: CONRADO II – Diploma 273.
MGH DD K II: 378; Vita S. Iohannis Gvalberti Anonyma. MGH SS 30/2: 1106. Sobre a reprovação por
parte de seguimentos eclesiásticos da época, ver: PEDRO DAMIÃO – Epístolas 44 e 45. MGH Briefe
2: 13, 34-39; D’ ACUNTO, Nicolangelo; SARACENO, Lorenzo (Org.) – Opere di Pier Damiani: Lettere
(41-67). Roma: Città Nuova, 2002, pp. 56-59, 84-91. Ver ainda: JESTICE, Phyllis G. – Wayward monks
and the religious revolution of the eleventh century. Leiden: Brill, 1997, pp. 218-228.
22. ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johanni Gvalberti. MGH SS 30/2: 1082. Ver ainda: ATO DE
PISTOIA – Vita Sancti Iohannis Gvalberti. PL 146: 674-675; ATO DE PISTOIA – Vita Altera. AASS Iul. 3:
367.
23. SPINELLI, Giovanni; ROSSI, Giustino (Org.) – Alle Origini di Vallombrosa: Giovanni Gualberto nella
societá dell’IX secolo …, p. 30; MEADE, Denis – “From Turmoil to Solidarity: The Emergence of the
Vallumbrosan Monastic Congregation”. The American Benedictine Review 19 (1968), pp. 323-357,
especificamente pp. 329-330; JESTICE, Phyllis G. – Wayward monks … pp. 228-229; MILO, Yuram –
Tuscany and the Dynamics of Church Reform in the Eleventh Century. Stanford, CA: Stanford
University, 1979. Ph.D. Thesis. pp. 172-176; DAMERON, George – Episcopal Power and Florentine
Society (1000-1320). Cambridge: Harvard University Press, 1991, pp. 42-44.
24. ELM, Kaspar – “La Congregazione di Vallombrosa nello Sviluppo della vita religiosa
altomedievale”. in COMPAGNONI, Giordano Monzio (Org.) – I Vallombrosani nella società italiana dei
secoli XI e XII. Vallombrosa: Ed. Vallombrosa, 1995, pp. 13-34. Para um panorama sobre o “novo
monasticismo” que se difundiu pela Europa a partir do ano mil: LEYSER, Henrietta – Hermits and
the New Monasticism: A Study of Religious Communities in Western Europe 1000-1150. Nova York:
Macmillan Publishers Limited, 1984.
25. BERNOLDO DE COSTANÇA – De solution iuramentorum. MGH Ldl 2: 149. Ver ainda: RUST,
Leandro Duarte – “A autoridade, o desejo e a alquimia da política: linguagem e poder na
constituição do papado medieval (1060-1120)”. Varia Historia [em linha] 27/45 (2011), pp. 161-187
[Consultado a 6 julho 2019]. Disponível em https://doi.org/10.1590/S0104-87752011000100008.
26. SCHIAPARELLI, Luigi (Ed.) – Le Carte del monastero di. S. Maria di Firenze (Badia). Vol.1. Roma:
Ermanno Loescher, 1913, pp. 150-152, 146-148.
27. SCHIAPARELLI, Luigi (Ed.) – Le Carte del monastero..., pp. 158-165. Ver ainda: D’ ACUNTO,
Nicolangelo – “Lotte religiose a Firenze nel secolo XI: aspetti della rivolta contro il vescovo Pietro
Mezzabarba”. Aevum 66/2 (1993), pp. 279-312, especificamente p. 289.
28. IOGNA-PRAT, Dominique – La Maison Dieu: une histoire monumentale de l’Église au
Moyen Âge. Paris: Seuil, 2006, pp. 331-360; HOWE, John McDonald – Before the Gregorian
Reform: the Latin Church at the turn of the first millenium. Ithaca: Cornell University Press,2016, pp. 86-112.
29. O advérbio “publicamente” – aqui considerado um indicador de se tratar de uma disputa
eminentemente citadina pelo poder – se repete significativamente na documentação analisada,
ver: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johannis Gvalberti. MGH SS 30/2: 1094; ANDREA DE STRUMI –
Vita. AASS Iul. 3: 357, 360-361.; Vita S. Iohannis Gvalberti Anonyma. MGH SS 30/2: 1106. Versão
acatada por: DESIDERIO DE MONTE CASSINO – Dialogi de Miraculis Sancti Benedicti. MGH SS 30/2:
1146.
30. PEDRO DAMIÃO – Epístolas 140 e 141. MGH Briefe 3: 478-502; BOVO, Claudia Regina – Em busca
da Renovatio cristã: simonia e institucionalidade eremítica na correspondência de Pedro Damiano
(1041-1072). Campinas, São Paulo: Unicamp, 2012. Tese de Doutorado; D’ ACUNTO, Nicolangelo –
“Lotte religiose a Firenze nel secolo XI […]” …, pp. 294-295.
Medievalista, 28 | 2020
233
31. ALEXANDRE II – Epístola a Pedro de Florença. PL 146: 1330.
32. UGHELLI – Italia Sacra 3: 75-76. Ver ainda: D’ ACUNTO, Nicolangelo – “Lotte religiose a Firenze
nel secolo XI […]” …, pp. 292-293.
33. SCHIEFFER, Rudolf – “Spirituales Latrones. Zu den Hintergrunden der Simonieprozesse in
Deutschland zwischen 1069 und 1077”. Historisches Jahrbuch 92 (1972), pp. 19-60. Sobre a retórica
da simonia como estratégia jurídica: ver também: VOLLRATH, Hannah – “L’accusa di simonia tra
le fazioni contrapposte nella lotta per le investitura”. in VIOLANTE, Cinzio; FRIED, Johannes (Ed.)
– Il Secolo XI: una svolta? Bolonha: Il Mulino, 1993, pp. 131-156; RONZANI, Mauro – “Pietro
Mezzabarba e I suoi confratelli”. in BALOSSINO, Simones; GARBARINO, Gian Battista (Org.) –
Organizzatione ecclesiastica nel tempo di San Guido: istituzioni e territorio nel secolo XI. Acqui Terme:
Impressioni Grafiche, 2007, pp. 139-186, mais especificamente pp. 144-145.
34. PEDRO DAMIÃO – Epístola 146. MGH Briefe 3: 535-539; ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti
Johannis Gvalberti. MGH SS 30/2: 1094-1095, 1100; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 356-357.
SIGEBERTO DE GEMBLOUX – Chronica. MGH SS 6: 363.
35. UGHELLI – Italia Sacra 3: 53-62; PIATOLLI, Renato (Ed.) – Le Carte della canonica della cattedrale
di Firenze. Florença: Istituto Storico Italiano per il Medio Evo, 1938, pp. 114-116, 167. GOLINELLI,
Paolo – “I Vallombrosani e I movimenti patarinici”. in COMPAGNONI, Giordano Monzio (Org.) – I
Vallombrosani nella società italiana dei secoli XI e XII. Vallombrosa: Ed. Vallombrosa, 1995, pp. 35-56,
especificamente pp. 44-45.
36. A descrição da invasão ao mosteiro, incluindo a caracterização de ferimentos, golpes
desferidos e cenário, encontram-se em: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johannis Gvalberti. MGH
SS 30/2: 1094-1095; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 357; ATO DE PISTOIA – Vita Sancti
Iohannis Gvalberti. PL 146: 691-693.
37. LUCCHESI, Giovanni – “Per una Vita di San Pier Damiani. Componenti cronologiche e
topografiche”. in San Pier Damiano. Nel IX centenario della morte (1072-1972). Vol. 1. Cesena: Centro
studi e ricerche sulla antica provincia ecclesiastica ravennate, 1972, pp. 13-179, especificamente
p. 59.
38. PEDRO DAMIÃO – Epístola 146. MGH Briefe 3: 531-542.
39. ALEXANDRE II – Epístola ao Clero e Povo Florentino. PL 146: 1406; EWALD, Paul – “Die
Papstbriefe der Britischen Sammlung”. Neues Archiv der Gesellschaft für ältere deutsche
Geschichtskunde, vol. 5 (1880), pp. 274-414, especificamente p. 333.
40. EWALD, Paul – “Die Papstbriefe der Britischen Sammlung” …, p. 340.
41. Vita S. Iohannis Gvalberti Anonyma. MGH SS 30/2: 1107.
42. PEDRO DAMIÃO – Epístola 146. MGH Briefe 3: 531-542.
43. Vita S. Iohannis Gvalberti Anonyma. MGH SS 30/2: 1107.
44. Para o conflito envolvendo Alexandre e a Corte: RUST, Leandro Duarte – Bispos Guerreiros:
violência e fé antes das cruzadas. Petrópolis: Vozes, 2018.
45. LANDOLFO – Historia Mediolanensis. MGH 8: 77, 80-81. Ver: ARNULFO – Gesta archiepiscoporum
Mediolanensium. MGH SS 8: 19; ANDREA DE STRUMI - Vita Sancti Arialdi. MGH 30/2: 1054.
46. Para as referências sobre populus e plebi: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johannis Gvalberti.
MGH SS 30/2: 1096; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 358. O mesmo sentido povoa a redação
da Vida de São Arialdo: ANDREA DE STRUMI - Vita Sancti Arialdi. MGH 30/2: 1053, 1058, 1064, 1066,
1069, 1070.
47. ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johannis Gvalberti. MGH SS 30/2: 1096-1098; ANDREA DE
STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 358-360.
48. Para todas as citações deste parágrafo: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johannis Gvalberti.
MGH SS 30/2: 1097; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 359. O trecho que descreve a reação
do “povo” – “arrancassem os próprios cabelos [...] agitaram os véus e, desgrenhadas, começaram
a bater duramente sobre o próprio tórax, gritando e suplicando à Deus com “triste lamento pela
morte de seus homens e filhos” – é quase uma tradução da seguinte passagem: “[...] velamina
Medievalista, 28 | 2020
234
capitum a proicientium et passis ab crinibus flebiliter incedentium, pectora pugnis miserabiles ad
Deum voces mittendo dure tundentium et super virorum ac filiorum mortem triste
lamentantium”.
49. ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johannis Gvalberti. MGH SS 30/2: 1097; ANDREA DE STRUMI –
Vita. AASS Iul. 3: 359.
50. Para todas as citações deste parágrafo: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti Johannis Gvalberti.
MGH SS 30/2: 1097-1098; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 359-360.
51. Ênfase que repercute também no clamor pela intervenção espiríto, afinal o ordálio era
realizado em nome do Apóstolo Pedro e da Virgem Maria: ANDREA DE STRUMI – Vita Sancti
Johannis Gvalberti. MGH SS 30/2: 1097-1098; ANDREA DE STRUMI – Vita. AASS Iul. 3: 359-360.
52. Ver: HARTOG, François – Evidência da História ..., pp. 253-264.
53. Versão utilizada para consulta: GAROFALO, Salvatore (Ed.) – Biblia sacra Vulgatae editionis Sixti
V Pont. Max. iussu recognita et Clementis VIII auctoritate edita. Turim: Marietti, 1965.
54. Digesto 1.1,2. Ver: Corpus iuris civilis. Vol.2. Codex Justinianus. Berlim: Weidmannos, 1906.
55. COELHO, Maria Filomena – “Um universo plural: política e poderes públicos naIdade Média (séc. XII XIII)”. in TORRES FAUAZ, Armando (ed.) – La Edad Media en
perspectiva latinoamericana. Heredia: Ed. de la Universidad Nacional de Costa Rica, 2018,pp. 145-146. 56. D’ ACUNTO, Nicolangelo – “Pietro Igneo” ...; ver também: MICCOLI, Giovanni – Pietro Igneo …,
pp. 150-154.
RESUMOS
A Europa do século XI foi marcada por conflitos eclesiásticos. Embora as tensões entre laicos e
clérigos atraiam, há mais de um século, a maior parcela da atenção dos historiadores –
especialmente as chamadas lutas entre o sacerdócio e o império -, as disputas travadas entre
segmentos da própria Igreja se multiplicaram e intensificaram, logrando grande repercussão
documental. Entre os casos mais frequentes da escalada de embates na “Era da Reforma
Gregoriana”, estavam os confrontos entre monges e bispos, cuja eclosão repercutia em
numerosas direções: sobre a dominação aristocrática, as cadeias de controle patrimonial, os
fundamentos da eclesiologia, as mobilizações urbanas, os consensos jurídicos. As páginas a seguir
consistem em um estudo sobre um caso assim: por volta de 1034, uma desavença opôs a alta
cúpula do bispado florentino a uma parcela do monacato local preenchendo décadas com relatos
de milagres aterradores, clamores populares, desafios abertos ao papado e disputas sangrentas
pela autoridade jurídica. A análise histórica desse conflito articula crônicas, cartulários,
epistolários e diplomática, orientada pela hipótese de que o campo de atuação dos agentes teria
sido afetado por um fator singular: o desvelamento de certas emoções deslocava a geografia das
prerrogativas públicas.
In the 11th century, Europe was marked by ecclesiastical conflicts. Although tensions between
lay and clergy attracted, for more than a century, the largest share of the historians' attention -
especially the so-called struggles between the priesthood and the empire -, the struggles between
segments of the Church itself multiplied and intensified, achieving great documentary
repercussion. Among the most frequent cases of disputes during the "Gregorian Reformation
Era" were clashes between monks and bishops, whose outbreak had repercussions in numerous
Medievalista, 28 | 2020
235
directions: on aristocratic domination, patrimonial control networks, foundations of
ecclesiology, urban mobilizations, legal consensus. The following pages consist of a study of such
a case: around 1034 a quarrel opposed the high echelon of the Florentine bishopric to a portion of
local monasticism filling in decades with reports of terrifying miracles, popular clamours, open
challenges to the papacy and bloody disputes by legal authority. The historical analysis of this
conflict articulates chronicles, cartulars, epistolary and diplomatic, guided by the hypothesis that
the field of action of agents would have been affected by a singular factor: the unveiling of
certain emotions shifted the geography of public prerogatives.
ÍNDICE
Keywords: Political History, Emotions, 11th century
Palavras-chave: História Política, Emoções, Século XI
AUTOR
LEANDRO DUARTE RUST
Departamento de História, Universidade de Brasília 70910-900 Brasília, Brasil.
[email protected]. https://orcid.org/0000-0002-7410-1635
Medievalista, 28 | 2020
236
análise e objecções
O realismo direto na teoria dacognição intelectual de Tomás deAquinoanálise e objecções
Direct realism in Tomás de Aquino's theory of intellectual cognition: analysis
and objections
Gilson Damasceno Linhares
1 O conceito é o produto do ato intelectivo, mas o que se encontra em nosso intelecto é a
mesma forma da coisa ou uma representação da essência desta? Neste contexto surgemduas interpretações possíveis que aparecem no século XX, a saber, o realismo direto e orepresentacionalismo. Tais interpretações divergem a respeito da relação que oconceito tem com o objeto externo, na teoria do conhecimento, elaborada por Tomás deAquino ao longo de suas obras. O foco do presente texto será apresentar apenas ainterpretação do realismo direto e veremos algumas possiveis objeções.
2 Começaremos apresentando a intepretação do realismo direto a respeito da relação
entre conceito e objeto em Tomás, de acordo com as três teses argumentativasprincipais. Os realistas, pelo fato de defenderem uma cognição direta da coisa,reclamam para si a afirmação de que o objeto imediato de conhecimento do nossointelecto são as coisas do mundo exterior. O principal motivo pelo qual os realistasnegam o representacionalismo, pelo menos do modo como eles o apresentam, é que se oconceito é uma entidade representacional, ela passa a ser necessariamente o nossoobjeto imediato de conhecimento. Para conhecer o objeto externo, primeiroprecisaríamos direcionar a nossa atenção para o conceito e só depois conhecer o mundoexterior. Por isto deve-se negar o representacionalismo.
3 A segunda tese que iremos expor é que o termo “semelhança” ou “similitude” em
outras traduções deve ser entendido no sentido de que há uma identidade formal entrea forma da coisa e o conteúdo formal do conceito. A terceira tese é a noção de
Medievalista, 28 | 2020
237
intencionalidade. Esta é a maneira como Kenny procura explicar o duplo modo deexistência das formas na filosofia do aquinate. Um é o modo natural1, tal como seencontra no mundo, unida à matéria. O segundo modo é intencional2, tal como existeno intelecto, sem matéria. Esta tese procura defender que, apesar da forma existir narealidade de uma maneira e no intelecto de outra, não há falsidade no conhecimento detal forma, pois há a preservação dos aspectos essenciais destas.
Intelecção direta e o objeto imediato do conhecimentohumano.
4 O realismo direto se caracteriza pela afirmação de que nosso conhecimento intelectual
a respeito da coisa material é direto. Por isso, o nosso intelecto tem como objetoimediato de conhecimento as coisas do mundo exterior. A partir daí se pode afirmarque é a coisa material que se encontra em nosso intelecto. Claro que se encontrapresente neste ao modo do intelecto, sem matéria.
5 Portanto, no realismo direto nega-se uma entidade mental que garanta o acesso ao
objeto material. Isto é, não há representações intermediárias entre o sujeito e a coisaconhecida. Ou pelo menos, não há intermediários que sejam necessários para quepossamos conhecer a coisa externa. Então, basta para os realistas admitirem apenasdois elementos no ato cognitivo humano, o sujeito cognoscente e a coisa material.
6 Entretanto, segundo Stump é importante evitar uma leitura tão rigorosa, quando
olharmos o realismo direto, como uma interpretação que diz que temos uma cogniçãodireta das coisas. Pois, quando dizemos cognição direta, compreende-se que a nossaapreensão de um objeto ocorre através de um ato indivisível, isto é, sem que haja anecessidade de que algo cause a nossa percepção desta coisa. Não haveria também anecessidade de nenhum processo intermediário entre o conhecedor e a coisa conhecida.Segundo Stump, isto nos levaria a um realismo ingênuo, pois conhecer deste modocompete apenas a Deus3.
7 Devemos compreender a cognição4 direta como uma apreensão que tem como objeto de
conhecimento a coisa externa e não uma species interna. Tal species é apenas asemelhança, efeito da afecção causada em nós pela coisa, e pela qual nós conhecemos oobjeto externo. A species aparece como a presença, em nós, da coisa que se encontra nomundo externo. Assim como sei o que acontece em uma partida de futebol, mesmo nãoestando no estádio, quando a assistimos pela televisão. O que acontece na TV é atransmissão do que ocorre no estádio, porque a TV transmite os dados captados do queestá acontecendo no estádio. De fato, há diversas passagens onde Tomás procurareforçar5 que as species são o modo pelo qual conhecemos o mundo externo.
8 Portanto, podemos distinguir duas versões do realismo direto segundo o que foi dito. A
primeira versão é chamada de realismo ingênuo, onde não admitiria nenhum processointermediário entre o sujeito e o objeto. A segunda versão seria um realismo diretomodificado, pois admite que há um processo intermediário, contudo, este intermediárionão impediria um conhecimento direto. Isto se tornaria possível apenas seadmitissemos que esse intermediário, species intelligibilis, possui uma relação deidentidade formal para com a forma presente na coisa material.
9 Feita a ressalva para evitar uma leitura ingênua do realismo direto em Tomás, iremos
focar na segunda versão do realismo. Vejamos como se apresenta o primeiro argumento
Medievalista, 28 | 2020
238
que caracteriza o realismo direto, que é como o objeto imediato do nosso intelecto sãoas coisas do mundo externo.
10 Precisamos deixar claro neste tópico da interpretação representacionalista que sempre
que nos referirmos a esta intepretação, falaremos dela sob a ótica dos realistas diretos.Os realistas6 parecem se concentrar em um representacionalismo inferencial ouidealista, como chama Pasnau. Este representacionalismo é claramente rejeitado porTomás em diversas passagens, como veremos no decorrer do texto. Tal leitura temcomo característica central a afirmação de que objeto imediato do nosso conhecimentoé o conceito e apenas secundariamente e indiretamente conheceríamos a coisa externa.
11 Dois argumentos ganham destaque, contra a tese de que os conceitos são o objeto de
nossa cognição. O primeiro é de que seriam impossíveis as ciências naturais, tais como afísica, pois esta tem como objeto as coisas que existem fora do intelecto7. Se o objeto danossa cognição fosse o conceito, não conheceríamos os corpos externos e issoimpossibilitaria a produção de ciências como a física.
12 O segundo é de que o relativismo seria inevitável. Isso ocorreria pelo fato de que nossos
julgamentos se dão sempre sobre aquilo que apreendemos individualmente. Cadaindivíduo formaria para si um conceito com base em sua percepção individual e otomaria como verdadeiro. Isto faria com que todos os nossos julgamentos fossemverdadeiros, mesmo que eles se contradissessem entre si. Com base nesses doisargumentos, Perler se apoia para afirmar que Tomás defende um realismo direto, ondeos objetos do nosso intelecto são as formas das coisas do mundo exterior. Portanto,podemos acessá-las diretamente, garantindo assim a objetividade do nossoconhecimento.
13 Para afirmar que a coisa material é o objeto imediato da nossa cognição, por que nossa
cognição é direta, os realistas se apoiam em algumas teses para fundamentar suainterpretação da epistemologia tomasiana. A cognição só é dita direta, porque estasteses são pressupostas. A primeira que veremos a seguir é como o termo similitudecostuma ser interpretado pelos realistas. O segundo argumento é o da identidadeformal, esta prega a igualdade entre o intelecto e a coisa pensada8. Aliada a esta, está atese ontológica da dupla existência da forma, que existe de um modo no intelecto e deoutro na coisa. Só é possível admitir a tese da identidade formal, se admitirmos que amesma forma esteja presente no sujeito e na coisa. Estas teses serão objeto deinvestigação das próximas seções. Outra tese é que o acesso direto do intelecto à coisa,ocorre porque há uma relação de intencionalidade9 entre o ato intelectual e a coisaexterna. A intencionalidade nos permitiria prescindir de intermediários cognitivos.Assim, a cognição das coisas materiais é direta e imediata. Não caberia a acusação deum realismo ingênuo, pois a coisa causa sobre nós uma afecção e é recebida comospecies, isto é, ao modo do sujeito. Contudo, tais species possuem um mero papelinstrumental, como veremos. As species possuem um papel fundamental no processo deatualização do intelecto, tornando possível a intelecção, mas não é o alvo de nossoconhecimento. Tornam-se objeto de conhecimento apenas secundariamente. Porém,agora a coisa material já não é mais o alvo do conhecimento.
Medievalista, 28 | 2020
239
Interpretação do Realismo Direto sobre o termo similitude em Tomás de Aquino.
14 O termo “similitude” é a palavra-chave sobre a qual há uma divergência interpretativa
entre os realistas diretos e os representacionalistas. Como visto anteriormente, a species
é uma forma intencional, isto é, é o modo como a forma da coisa se torna presente emnossa faculdade cognitiva. Tal species é descrita como uma similitude da forma presentena coisa.
15 Portanto, o termo “similitude”10 aparece nesta discussão com dois modos possíveis de
interpretação. De um lado, o realismo direto interpreta a similitude ou semelhançacomo uma identidade formal entre as species e a coisa externa. O representacionalismocompreende a species como uma representação mental da forma presente na coisa. Aescolha de um dos modos de interpretar obviamente nos conduz a uma compreensãoradicalmente distinta da epistemologia tomasiana.
16 Os realistas negam que o termo similitude traga a conotação de representação. Além
disso, há muito mais passagens que afirmam a relação de identidade entre o objeto e anossa faculdade cognitiva11.
17 Segundo os realistas, o termo similitude deve ser visto à luz geral do processo de
conhecimento humano. Isto significa dizer que o conhecimento ocorre mediante umaidentidade formal, pois a cognição acontece sempre quando a forma da coisa estápresente no sujeito. A forma se encontra presente no sujeito de modo composto.Todavia, a forma do sensível se encontra no sujeito ao modo de species sensibilis. A formainteligível se encontra no intelecto ao modo de species intelligibilis.
18 Em seu artigo, D. Perler apresenta o motivo pelo qual devemos negar o
representacionalismo, se a justificativa for apenas as passagens onde o termo similitudesugerisse representação. Por isso, ele defende como, segundo o realismo, deve serentendida a noção de similitude:
“Dado esse entendimento técnico do termo latino similitudo, seria bastante errôneoatribuir uma posição representacionalista a Tomás de Aquino com base em suasdeclarações sobre similitude. Pelo contrário, essas afirmações claramente falam afavor de uma versão modificada do realismo direto. Para o que está imediatamentepresente ao intelecto quando apreende uma species como semelhança, é a forma deuma coisa - a mesma forma que também é presente na coisa material. É de fato essarelação de identidade, não uma relação de similaridade, que faz uma species umasemelhança. A species funciona como uma semelhança e é, portanto, sobre algo,porque a mesma forma é instanciada em dois lugares diferentes: dentro e fora dointelecto”12.
19 Nesta passagem, Perler indica como o termo similitude é interpretado no realismo
direto. A similitude não deve ser interpretada como uma semelhança representacional,isto é, o conceito não é um intermediário entre o sujeito e a coisa. Nem deve serentendida como imagem da coisa. Antes, deve ser lido com base em duas teses: a noçãode identidade formal e de que a forma é algo instanciável. Portanto, similitude deve serentendida ao modo de identidade formal, assim a species intelligibilis é idêntica à formada coisa. Só há identidade formal quando similitude é entendida como umcompartilhamento de formas. A forma só pode ser compartilhada entre sujeito e coisaquando afirmamos a tese de que a forma é um instanciável. Pois, é a mesma forma queexiste no intelecto e fora dele.
Medievalista, 28 | 2020
240
20 Com a união das duas teses realistas, o termo similitude ganha o significado de
compartilhamento de formas13, em seu sentido mais técnico do realismo direto. Namesma página do texto Perler distingue três modos de similitude, ou seja, três maneirascomo pode ocorrer um compartilhamento de formas.
21 O primeiro sentido é quando X e Y compartilham a mesma forma sobre aspecto e modo
iguais. Assim como duas coisas compartilham o mesmo grau de brancura. No segundosentido, X e Y compartilham a mesma forma, segundo o mesmo aspecto, todavia demodos distintos. Duas coisas compartilham a forma da brancura, todavia, em X abrancura possui grau mais forte do que em Y. No terceiro sentido de similitude, X e Ycompartilham a mesma forma, contudo, o aspecto e modo são distintos. Como quandouma coisa quente aquece a outra. A coisa X compartilha a forma da quentura com Y,contudo, o faz em graus e aspectos distintos. Pois, X é a causa da quentura de Y. ParaPerler, o que é evidenciado com esta distinção entre os sentidos de similitude é ocompartilhamento das formas que é comum aos três tipos. Ainda que eles sejamcompartilhados de modos e aspectos distintos, não perdem a similitude.
22 Apenas quando se admite que a species é a presença da mesma forma da coisa, quando
instanciada no sujeito, temos a tese de que a mesma forma é compartilhada entreambos. A partir daí, poderíamos admitir que nossa faculdade cognitiva tivesse a coisaexterna como objeto imediato de cognição.
2.1. Forma comum e a tese da identidade formal.
23 Antes de falarmos sobre a identidade formal, vale ressaltar certo pressuposto que está
conectado a tal tese. Vimos no tópico anterior que os realistas reduzem a noção desimilitude à identidade formal. O termo similitude aparece com significado técnico decompartilhamento de formas, daí ser possível admitir identidade entre a formapresente no intelecto e na coisa. Neste sentido, a relação de conhecimento entre sujeitoe objeto se concretiza quando o sujeito tem presente consigo a mesma forma do objeto.Em outros termos, podemos afirmar que a coisa compartilha a sua forma com o sujeito,já que a coisa é a causa da existência da forma no intelecto humano. Por isso, nestarelação a forma é o que há de comum entre sujeito e objeto. Esta forma comum é o quefundamenta e torna possível a tese da identidade formal do realismo direto. Justamenteela será alvo de breve apresentação, antes de expormos a tese da identidade formal.
2.1.1. Forma comum
24 Para que a mesma forma esteja instanciada em mais de um objeto ou intelecto, devemos
admitir que ela possuísse certa universalidade14. É justamente a partir daí que Perlerafirma que as formas precisam ser universais15, apenas assim poderiam estar presentesno intelecto e na coisa ao mesmo tempo. Universal é definido como aquilo que é oudeve ser apto para estar instanciado em diversos.
25 A forma tomada como universal é essencial para que se possa afirmar a tese da
identidade formal. Pois ela nada mais é do que a afirmação de que uma mesma formaexiste instanciada na coisa e no intelecto do sujeito de modo conceitual. Se a forma nãofor, por si, um universal, não poderia encontrar-se nos diversos entes, menos ainda nointelecto. Por consequência, seria impossível conhecermos a coisa, visto que segundo ainterpretação realista conhecer é receber a mesma forma da coisa individual.
Medievalista, 28 | 2020
241
26 A epistemologia do realismo direto se caracteriza por dois pontos principais em Tomás,
a cognição direta e o processo de assemelhação. Na cognição direta se afirma que não énecessário admitir formas representacionais. Mesmo as species são apenas resultado doprocesso de assemelhação. Portanto, conhecemos a coisa diretamente. Não é precisoconhecer a species e depois conhecer a coisa. Isto não é necessário simplesmente porqueelas não diferem quanto aos dados estruturais (essenciais). Quanto ao processo deassemelhação, no qual as species são o resultado da atividade de recepção da forma dacoisa, a forma recebida dos objetos se adequa ao sujeito cognoscente. Por isso, ointelecto recebe a forma inteligível.
27 Na tentativa de explicar como a mesma forma se encontra no intelecto e fora dele,
Perler afirma:
“... há uma segunda tese metafísica à espreita no fundo do realismo direto de Tomásde Aquino. Ele assume que a forma (às vezes também chamada de "natureza") deuma coisa pode ter dois tipos de existência. “Mas essa mesma natureza”, afirma, “achamada natureza humana, tem uma dupla existência: uma material, segundo omodo natural tal como está na matéria, e [outra] imaterial, tal como está nointelecto.” O ponto é que é uma e a mesma forma (ou natureza) que pode existirtanto na realidade extramental quanto no intelecto”16.
28 Para explicar a característica de universalidade desta forma comum entre o intelecto e
o objeto, segundo Perler, há uma tese metafísica sustentada por Tomás. Esta consiste naafirmação de que a forma possui duplo modo de existência: material e imaterial17. Aexistência material é o modo natural da forma, que existe unida a matéria. A existênciaimaterial é o modo como se encontra no intelecto. Devido à possibilidade de umamesma forma manter sua identidade mesmo neste duplo modo de existência é quepodemos afirmar a tese da identidade formal. Pois, é a mesma forma que estáinstanciada em distintos.
29 Procuraremos analisar algumas dificuldades desta tese em contraposição com outros
pontos da filosofia tomasiana. Isto será feito no tópico dificuldades na interpretaçãorealista.
2.1.2. Identidade formal
30 Esta talvez seja a principal tese do realismo direto: a identidade formal entre a forma da
coisa e o conceito presente no intelecto. Para explorar essa tese, veremos as principaispassagens tomasianas utilizadas para fundamentá-la. Acompanhada destas passagensveremos os argumentos desta proposta interpretativa.
31 A tese da identidade formal é tão fundamental para a interpretação realista que
Norman Kretzmann afirma o seguinte:
“A garantia de que o acesso é totalmente direto, ao ponto de [haver] identidadeformal entre o objeto extra mental e a faculdade cognitiva ao conhecer esseobjeto...”18.
32 Então a identidade formal é o que garante que o acesso intelectual ao objeto seja
totalmente direto. Isto se deve ao fato de que, quando o intelecto está conhecendo oobjeto, ambos são formalmente idênticos. A identidade ocorre no ato de conhecer.Tomás de fato afirma algo neste sentido em alguns textos. N. Kretzmann se apoia naseguinte passagem para afirmar isto: “o intelecto em ato e o inteligível em ato são amesma coisa da mesma maneira que os sentidos em ato e os sensíveis em ato”.19 Aconcordância entre intelecto e coisa é tal que não basta que a coisa esteja em ato para
Medievalista, 28 | 2020
242
haver identidade entre eles. O intelecto deve estar necessariamente em ato ao mesmotempo. Apenas quando está em ato, o intelecto está atualmente conhecendo. ParaTomás o ato de conhecer significa ter presente consigo a forma daquilo que se conhece.Todavia, com a afirmação de identidade formal apresentada pelos realistas, podemosinferir que conhecer é ser, em certa medida, a forma que se conhece, visto que aafirmação tomasiana diz que o intelecto enquanto conhece é a mesma coisa que oobjeto. A tese de que conhecer é se assemelhar a coisa conhecida pode reforçar aindamais esta ideia. Conhecer deste modo, com identidade formal, garante certaobjetividade da atualização da faculdade cognoscitiva em relação ao seu objeto. Ora, é amesma coisa que está no objeto que também atualiza o nosso intelecto. Há ainda agarantia de que todos os seres acessam a mesma forma. Assim formamosuniversalmente o conhecimento.
33 Além de a forma comum fundamentar a possibilidade de haver identidade formal, é
preciso também que esta forma possua outra característica, como vimos que é auniversalidade. Só podemos admitir identidade formal porque é a mesma forma que seencontra atualmente presente no intelecto do sujeito e no objeto conhecido. Por isso,vamos falar sobre esta condição postulada pelos realistas da forma estar instanciada dedois modos.
34 Kenny, ao falar desta dupla instanciabilidade da forma, apresenta resumidamente o que
P. Geach diz sobre as ocorrências individuais da forma:
“O que faz uma sensação ou pensamento de um X ser um X é que é uma ocorrênciaindividual dessa mesma forma ou natureza que ocorre em um X — é assim quenossa mente 'alcança a realidade'; o que faz com que seja uma sensação oupensamento de um X em vez de um X real ou um X (...) é que ocorre aqui damaneira especial chamada esse intencionale, e não da maneira “comum” chamadaesse naturale”20.
35 Segundo Kenny, a forma pode ser instanciada de dois modos: intencional e natural21. O
modo intencional22 é a maneira característica de como recebemos a forma do objetoconhecido, sem o acompanhamento da matéria individual. O modo natural é a maneiracomo a coisa existe, materialmente. Assim, a identidade formal pode ser justificadaporque a mesma forma vem a existir de modo duplo. Existe intencionalmente nointelecto e naturalmente no objeto.
36 Uma questão que surge a esta tese é a de que o objeto seria apreendido de modo
distinto da realidade. Isto, por conseguinte, nos levaria a apreender falsamente o objetoexterno. Todavia, Kenny diz que não haveria falsidade alguma, na apreensãointencional das coisas. Pois, a forma intencional traz consigo a mesma estruturaessencial que se encontra no objeto externo. A única distinção entre tais formas é omodo como elas estão instanciadas23.
37 É possível encontrar algumas passagens nos textos de Tomás que se referem à dupla
existência da forma. No comentário ao De Anima o filósofo diz:
“Agora uma natureza - digamos a natureza humana -, que pode ser pensadauniversalmente, tem dois modos de existência: um, material, na matéria fornecidapela natureza; o outro, imaterial, no intelecto”24.
38 Com base nesta passagem, a tese da recepção intencional da forma, apresentada por
Kenny, tem fundamento na filosofia de Tomás, onde a forma existe unida à matéria25,na coisa, no caso das substâncias compostas e sem esta, quando recebida no intelecto.Uma questão pode ser levantada. O que torna possível a forma ter a chamada, por
Medievalista, 28 | 2020
243
Kenny, existência intencional? É a noção de intencionalidade que será abordada notópico seguinte.
3. Intencionalidade
39 Em seu artigo26, Kenny procura fazer uma análise sobre a noção de intencionalidade em
Tomás. De modo resumido Kenny apresenta a noção de intencionalidade da seguintemaneira:
“Ambos a percepção dos sentidos e a aquisição de informações intelectuais, arecepção de formas de maneira, mais ou menos imaterial, por um ser humano.Tanto na percepção quanto no pensamento, existe uma forma intencional. Quandoeu vejo a vermelhidão do sol poente, a vermelhidão existe intencionalmente emminha visão; quando penso na redondeza da terra, a sua forma circular existe nomeu intelecto. Em cada caso, a forma existe sem a matéria à qual está associada narealidade: o sol em si não entra nos meus olhos, nem a terra, com toda a sua massa,muda para o meu intelecto”27.
40 Portanto, a intencionalidade trata do modo humano de recepção de dados do mundo
externo. A intencionalidade procura explicar como a forma da coisa passa a existir nosujeito que conhece. Este modo de existência se aplica tanto às formas sensíveis, quepassam a existir nos sentidos – como visto, o processo de recepção de tais formasconservam as características individuais da coisa –, quanto às formas inteligíveis queexistem no intelecto. Esta forma existe no intelecto sem nenhum traço deindividualidade, pois é pensada sem matéria individual.
41 Kenny procura, ainda, distinguir existência intencional de existência imaterial. Para
isto, o autor oferece dois exemplos que se referem à existência de algo e à recepçãodeste algo. Basicamente, a distinção entre a existência intencional e a imaterial é esta. Acoisa B pode existir imaterialmente, mas quando pensada, ela é recebidaintencionalmente. Sua existência é intencional quando está presente em um sujeito.Kenny oferece dois exemplos, um se refere à recepção de uma forma sensível e outro àde uma inteligível. Na recepção da forma sensível ele oferece o seguinte exemplo: umacoisa existe natural e materialmente em um objeto colorido. Entretanto, quando érecebido no olho, passa a existir intencionalmente. No exemplo da recepção de umaforma inteligível ele diz: o arcanjo Gabriel é uma forma naturalmente imaterial, mas,quando pensado por Rafael, então toma uma existência imaterial e intencional nointelecto do sujeito cognoscente. Para Kenny este é o modo característico dopensamento intelectual humano, a imaterialidade. Pois o intelecto é imaterial, e aintencionalidade, modo como este recebe a forma da coisa externa.
4. Dificuldades na interpretação realista
42 Neste tópico, pretendemos apresentar algumas dificuldades que surgem na admissão
das teses realistas. Iniciaremos analisando a tese de identidade formal. Esta é umasuposição metafísica do realismo direto que, como demonstrado em tópicos anteriores,visa tornar possível a objetivação do conhecimento intelectual humano. Estaobjetividade se tornaria possível através do estabelecimento de uma forma comumentre o intelecto e a coisa. Após isto, apontaremos a dificuldade na aceitação da tese a
Medievalista, 28 | 2020
244
respeito da forma comum. Pois esta é tomada como um universal que existe na coisasingular. Todavia, Tomás diz que tudo no indivíduo é totalmente individualizado.
43 Passaremos agora para a análise da dificuldade que a tese da identidade formal nos
impõe.
4.1. Dificuldades na tese da identidade formal
44 A tese central do realismo direto é a noção de identidade formal. Para ficarem claras as
dificuldades que pretendemos apontar, vamos relembrar algumas coisas. Esta teseafirma a identidade entre a forma presente no intelecto e na coisa material. Segundo osrealistas, a mesma forma está instanciada em dois lugares distintos. Isto, porque aforma possui um duplo modo de existência intencional no intelecto e natural, quandoinstanciada na coisa.
45 A tese da identidade formal é defendida pelos realistas com base em passagens onde
Tomás sugere coisas como “o intelecto em ato e o inteligível em ato são uma e a mesmacoisa, da mesma maneira que o sentido em ato e o sensível em ato”.28
46 Duas são as dificuldades que podemos apontar com base nesta passagem. A primeira é a
transposição da relação, no âmbito sensível, entre os sentidos e os sensíveis, para arelação, no âmbito inteligível, entre o intelecto e os inteligíveis. A segunda é aidentidade entre o intelecto e o inteligível, tese negada por Tomás. Afirmar isto seriaum erro ainda pior cometido pelos realistas.
47 Quanto a esta transposição da relação das faculdades cognitivas com seus objetos será
analisada. Na faculdade sensível os sentidos são colocados em ato na recepção dossensíveis. Ora os objetos sensíveis já se encontram em ato. Por isso, eles podematualizar os nossos sentidos que antes estavam em potência. Esta é a primeira diferençaentre as faculdades sensível e inteligível, a passividade inicial na cognição da coisa.
48 O segundo ponto é que no âmbito sensível não há diferença genérica entre a natureza
dos sentidos e dos objetos. Ambos são compostos de matéria. Portanto, há apreservação de todas as características singulares do objeto sensível. Ficando patente aidentidade em ato entre os sentidos e sensíveis.
49 Surge um problema quando os realistas tentam igualar este processo que ocorre no
âmbito sensível ao ato intelectivo. Pois, o inteligível só existe em ato no intelecto. Suaexistência na coisa é apenas potencialmente inteligível. Verificamos nesta relação ooposto do que ocorre entre os sentidos e os sensíveis. Se lá havia igualdade genéricaentre a natureza dos sentidos e os respectivos objetos, aqui não há essa igualdade, pois,o intelecto sendo totalmente imaterial só conhece inicialmente os universais. Todavia, aforma sobre a qual ele abstrai está unida à matéria. Sendo, portanto, uma formaindividual.
50 Então para haver identidade formal entre conceito e objeto é preciso enfrentar duas
teses: 1. O inteligível em ato só existe no intelecto, como resultante da abstração; 2. Acoisa é inteligível apenas potencialmente, pois está unida à matéria.
51 A segunda dificuldade da passagem e que seria um erro absurdo dos realistas é a
afirmação da identidade entre o intelecto e o inteligível em ato. Aqui já não é a relaçãoentre o inteligível potencial, tal como existe na coisa, e o intelecto. Entretanto, ointeligível em ato no intelecto, como resultado da abstração, ao modo de species
Medievalista, 28 | 2020
245
intelligibilis, que se tornará conceito, como produto final do ato intelectivo. Ambos nãopodem ser igualados, como o próprio Tomás afirma:
“Ademais, que a intenção inteligida em nós não se identifica com o intelecto,depreende-se do fato de que o ser da intenção inteligida consiste na própriaintelecção; não, porém, o ser do nosso intelecto, pois este ser não se identifica”29.
52 Esta passagem deixa claro que Tomás distingue o inteligível, o conceito30, e o intelecto.
Podemos afirmar a identidade entre o inteligível e o ato do intelecto, mas este tambémé distinto do intelecto. Tomás afirma em outras passagens que apenas em Deus o ato e oser se identificam. Pois, Deus é ato puro. Nosso intelecto, por outro lado, precisa seratualizado na recepção do universal. Enquanto isso está em potência para seu objeto deconhecimento.
53 Para falarmos de identidade formal no realismo direto, precisamos ter claro que esta
relação não é entre intelecto e inteligível. Todavia, é uma relação entre o conteúdoformal do conceito atualmente no intelecto e a forma presente na coisa.
54 Como solução para a identidade entre a forma presente no intelecto, ao modo de
conceito, e a que atualiza a coisa, os realistas propõem a tese da dupla existência damesma forma, a saber, intencional e natural. Esta tese pode ser encontradatextualmente em Tomás. A partir disto surge o termo forma comum: a forma que écompartilhada entre intelecto e a coisa, no ato do conhecimento. Tal tese da formacomum enquanto universal existente na coisa será nosso objeto de análise a seguir.
4.2. Dificuldade na tese da forma comum
55 A noção de forma comum31 exige dois elementos fundamentais. O primeiro é a
composição hilemórfica das coisas materiais. Estas são as substâncias compostas deforma e matéria, onde os dois princípios, formal e material, constituem a essência dacoisa. O segundo elemento fundamental é a tese da dupla existência da mesma forma.Vimos que a mesma forma pode existir de dois modos. Uma é a existência imaterial,segundo está disposta no intelecto, outra é a existência material, tal como está dispostana coisa, unida à matéria.
56 A dificuldade que apontaremos se concentrará na segunda tese, a saber, a dupla
existência da forma. Ora, a forma comum que existe de modo duplo, no intelecto e nacoisa material, como afirmado anteriormente, é universal. No primeiro modo deexistência afirmado, no intelecto, existe sem matéria. Portanto, não há nenhumacontradição. Visto que a forma é universal e está no intelecto sem a matéria. Todavia, atese do realismo direto afirma que é a mesma forma que está instanciada no intelecto eno sujeito. Isto nos leva a afirmar que a mesma forma universal32 que se encontra nointelecto está presente na coisa material.
57 O problema que surge com esta suposição da coisa ser composta por forma universal e
matéria determinada é uma tese metafísica tomasiana. Em tal tese Tomás afirma quetudo no indivíduo é totalmente individualizado33. Então a forma presente no sujeito nãopode ser universal.
58 Além disso, admitir a tese da forma comum, entendida como universal presente nas
coisas, seria ao mesmo tempo admitir a existência de universais independentes dointelecto. Se houver a admissão da existência de tal forma, independente da cogniçãointelectual, então seria possível defender a tese da identidade formal. Pois, haveria a
Medievalista, 28 | 2020
246
ocorrência da mesma forma. De um modo a mesma forma seria especificadora daessência da coisa. De outro modo especificaria o conteúdo inteligido.
59 Parece que, segundo a interpretação realista, a essência da coisa material é composta de
uma forma universal e matéria determinada34, onde a forma universal ao ser recebidapela matéria determinada se torna algo individual. A forma qualifica a espécie doindivíduo, contudo, não o determina enquanto singular. Tal forma seria a propriedadeque pode ser afirmada de muitos, visto que é universal. Todavia, não nos permitiriadistinguir as coisas. Entretanto, garantiria a unidade e a identidade formal dos diversosindivíduos.
60 Todavia, este é o papel da matéria, a individuação da coisa. Nesta visão das substâncias
hilemórficas que é a coisa material, o único componente que a tornaria individual é asua matéria, visto que tal matéria, enquanto princípio de individuação, é a única coisaque não é comum a outros indivíduos. A matéria enquanto propriedade singular nospermitir distinguir os indivíduos entre si. Então tudo que corresponde à parte formal,como o intelecto, por exemplo, seria compartilhado entre os indivíduos da mesmaespécie? Seria absurdo admitir isso para Tomás.
61 Portanto, se a parte formal das substâncias materiais for um universal, como os
realistas a interpretam, precisaríamos negar a tese metafísica tomasiana de que tudo noindivíduo é totalmente individualizado. Pois, o aspecto formal, enquanto compõe asubstância hilemórfica, não é algo individualizado, segundo os realistas.
62 Com as teses da identidade formal e forma comum, os realistas não conseguem explicar
como conhecemos as coisas singulares em Tomás. Visto que a matéria seria o únicoprincípio de individuação, esta, a matéria, não pode ser conhecida diretamente pelointelecto devido à imaterialidade deste.
BIBLIOGRAFIA
Fontes (Obras de Tomás de Aquino):
THOMAS AQUINAS in English. Org. Joseph Kenny. Dominican House of Philosophy, 1963. Versão
eletrônica disponível em http://www.dhspriory.org/thomas/
TOMÁS DE AQUINO – Comentário ao Tratado da Trindade de Boécio. Trad. Carlos Arthur Ribeiro do
Nascimento. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.
TOMÁS DE AQUINO – Corpus Thomisticum. Org. Enrique Alárcon. Panplona: Universidade de
Navarra, 200. Versão eletrônica disponível em http://www.corpusthomisticum.org/iopera.html.
TOMÁS DE AQUINO – O ente e a essência. Trad.: Mário Santiago de Carvalho, Covilhão: LusoSofia,
2008.
TOMÁS DE AQUINO – Questões Disputadas sobre a Alma. Trad. Luiz Astroga. São Paulo: Realizações,
2012.
TOMÁS DE AQUINO – Suma contra os gentios. 2 vols. Trad. D. Odilão Moura. Porto Alegre: Sulina,
1990.
Medievalista, 28 | 2020
247
TOMÁS DE AQUINO – Suma teológica. Primeira parte. v. I e II. Trad. Carlos Josaphat. São Paulo:
Loyola, 2001.
Estudos:
DAVIES, Brian (ed.) – Thomas Aquinas. Contemporary philosophical perspectives Oxford: Oxford
University Press, 2002.
HALDANE, John – “Aquinas on Sense-Perception”. The Philosophical Review 92:2 (1983), pp. 233-239.
HOFFMAN, Paul – “Direct Realism, Intentionality and the Objective Being of Ideas”. Pacific
Philosophical Quartely 83 (2002), pp. 163-179.
JANUNZI NETO, Antonio – Tomás de Aquino e a viabilidade do Realismo Direto: questões sobre a natura
communis. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017. Tese de Doutoramento.
KENNY, Anthony – Aquinas: A collection of critical essays. Garden City, N.Y.: Anchor Books, 1969.
KENNY, Anthony – Aquinas on Mind. New York: Routledge, 1994.
KENNY, Anthony – Aquinas on Being. Oxford: Oxford University Press, 2002.
KENNY, Anthony – “Intentionality: Aquinas and Wittgenstein”. In DAVIES, Brian (ed.) – Thomas
Aquinas. Contemporary Philosophical Perspectives. Oxford: Oxford University Press, 2002, pp. 243-256.
KRETZMANN, Norman – “Infallibility, error, and ignorance”. Canadian Journal of Philosophy 21,
suppementary volume 27 (1991), pp. 159-194.
KRETZMANN, Norman – “Philosophy of mind”. in KRETZMANN, Norman: STUMP, Eleonore (org.)
– The Cambridge companion to Aquinas. Cambridge: Cambridge University Press. 1993, pp. 128-159.
KRETZMANN, Norman – The Metaphysics of Creation. Oxford: Oxford Clarendon Press, 2005.
KRETZMANN, Norman; STUMP, Eleonore (org.) – The Cambridge companion to Aquinas. Cambridge:
Cambridge University Press, 1993.
LANDIM FILHO, Raúl F. – “Tomás de Aquino: Realista Direto?”. Analytica 15:2 (2011), pp. 13-38.
PASNAU, Robert – The Identity of Knower and Known. Chicago/Illinois: American Philosophical
Association Central Division, April 25, 1996. Disponível em https://faculty.fordham.edu/klima/
APAPasnau.htm
PERLER, Dominik – “Essentialism and Direct Realism: Some Late Medieval Perspectives”. Topoi 19
(2000), pp. 111-122.
SPRUIT, Leen – Species Intelligibilis: From Perception to Knowlegde. Leiden: Brill, 1994.
STUMP, Eleonore – Aquinas. London: Routledge, 2003.
TORRELL, Jean-Pierre – Iniciação a Santo Tomás de Aquino: segundo sua pessoa e obra. Tradução de
Luiz Paulo Rouanet. 2º ed. São Paulo: Loyola, 1999.
NOTAS
1. KENNY, Anthony – “Intentionality: Aquinas and Wittgenstein“. In Thomas Aquinas.
Contemporary Philosophical Perspectives. Ed. B. Davies. Oxford: Oxford University Press, 2002, p. 146.
2. KENNY, Anthony – “Intentionality: Aquinas and Wittgenstein“ ..., p. 146.
3. STUMP, Eleonore – Aquinas. London: Routledge, 2003, p. 245.
4. O termo cognição se repetirá muito ao longo do nosso texto. Ele deve ser entendido como o
processo de aquisição dos dados intelectuais recebidos.
Medievalista, 28 | 2020
248
5. TOMÁS DE AQUINO – Suma de Teologia I° q.85, a.2, ad.2. p. 522
6. Apenas para citar alguns: KRETZMANN, Norman – “Philosophy in Mind”. in KRETZMANN,
Norman; STUMP, Eleonore (org.) – The Cambridge companion to Aquinas. Cambridge: Cambridge
University Press, 1993, pp. 128-159; PERLER, Dominik – “Essencialism and Direct Realism: Some
Late Medieval Perspectives”. Topoi 19 (2000), pp. 111-122.
7. TOMÁS DE AQUINO – Suma de Teologia I° questão 84, artigo 1, p. 509.
8. Norman Kretzmann se apoia na seguinte passagem para afirmar isto: “o intelecto em ato e o
inteligível em ato são a mesma coisa da mesma maneira que os sentidos em ato e os sensíveis em
ato”. TOMÁS DE AQUINO – Suma Contra os Gentios, livro IV, capítulo II, n°59, p. 721.
9. Estamos utilizando o termo intencionalidade aqui apoiados no artigo de Anthony Kenny, onde
ele descreve a noção de intencionalidade na filosofia do aquinate como um modo de recepção das
formas sensível e inteligível: “Tanto na percepção sensorial quanto na aquisição de informação
intelectual, a recepção da forma é feita de uma maneira mais ou menos imaterial, por um ser
humano. Em ambos, na percepção e no pensamento, existe uma forma intencional. Quando vejo a
vermelhidão do sol poente, a vermelhidão existe intencionalmente na minha visão, quando penso
na redondeza da Terra, a circularidade existe no meu intelecto. Em cada caso a forma existe sem
a matéria a que se juntou na realidade: o próprio sol não entra no meu olho, nem a Terra, com
toda a sua massa, passa para o meu intelecto” (KENNY, Anthony – “Intentionality: Aquinas and
Wittgenstein” …, p. 253).
10. Em latim similitudo.
11. As principais passagens mais utilizadas pelos realistas que afirmam uma relação de
identidade e que o objeto imediato de cognição é a coisa externa são: TOMÁS DE AQUINO – Suma
de Teologia I° q.78, a.3 c, p. 402.
12. PERLER, Dominik – “Essentialism and Direct Realism” …, p. 116.
13. PERLER, Dominik – “Essentialism and Direct Realism” …, p. 115.
14. Há diversas passagens onde Tomás afirma a existência desta forma comum ou natureza
comum. Como se segue: “toda forma recebida em um refratário singular (matéria) pelo qual é
individualizada é comum a muitos, seja realmente, seja pelo menos quanto à razão. Por exemplo,
a natureza humana é comum a muitos, realmente e quanto à razão” – TOMÁS DE AQUINO – Suma
de Teologia I ª q.19, a.1 ad.3, p. 262.
15. PERLER, Dominik – “Essentialism and Direct Realism” …, p. 116.
16. PERLER, Dominik – “Essentialism and Direct Realism” …, p. 113.
17. TOMÁS DE AQUINO – De Anima II, 12, Leonina XLV/1, 116 (Marietti edition: II, 12, n. 378)
18. KRETZMANN, Norman – “Philosophy of Mind” …, p. 138.
19. Tomás também afirma algo semelhante em: Suma Contra os Gentios, livro IV, cap. II,n°59, p. 721.
20. KENNY, Anthony – “Intentionality: Aquinas and Wittgenstein” …, p.247.
21. KENNY, Anthony – “Intentionality: Aquinas and Wittgenstein” …, p. 248.
22. O termo intencional ou intencionalidade será objeto de atenção no próximo tópico, onde
explicaremos com mais detalhes como Kenny apresenta a intencionalidade na filosofia
tomasiana.
23. Especificamente Norman Kretzmann fala sobre isto em seus dois textos: “Philosophy of
mind”, cit. e The Metaphysics of Creation. Oxford: Oxford Clarendon Press: 2005.
24. TOMÁS DE AQUINO – De Anima II, 12, Leonina XLV/1, 116 (Marietti edition: II, 12, n.378): “Ista autem natura, cui advenit intentio universalitatis, puta natura hominis,habet duplex, tal: unum quidem materiale, secundarium quod est in materianaturali; aliud autem imateriale, secundarium quod est in intellectu”.
25. Neste caso, a matéria tomada como princípio de individuação.
Medievalista, 28 | 2020
249
26. KENNY, Anthony – “Intentionality: Aquinas and Wittgenstein“ ..., p. 252.
27. KENNY, Anthony – “Intentionality: Aquinas and Wittgenstein” …, p. 253.
28. TOMÁS DE AQUINO – Suma Contra os Gentios, livro IV, cap. II, nº 59, p. 722.
29. TOMÁS DE AQUINO – Suma Contra os Gentios, livro IV, cap. 11, n.3466, p. 722: “Quodautem intentio intellecta non sit ipse intellectus in nobis, ex hoc patet quod esseintentionis intellectae in ipso intelligi consist: non autem esse intellectus nostri, cuiusesse non est suum intelligere.”
30. No decorrer desta passagem, Tomás se refere ao conceito como verbo ou intenção inteligida.
31. Isto é, apto a existir em muitos ou algo que é comum a muitos. Daí o nome forma comum ou
natureza comum.
32. Estamos utilizando o termo forma comum no mesmo sentido de forma universal.
33. TOMÁS DE AQUINO – Ente e a essência …, p. 32. Neste trecho específico, Tomás fala sobre o
modo de existência da forma universal nas coisas singulares. Mesmo que a forma seja um
universal, quando existente nas coisas singulares, ela existe individualizada no indivíduo.
34. O termo matéria determinada é o princípio de individuação.
RESUMOS
Este texto tem como objetivo uma apresentação introdutória da hipótese interpretativa do
realismo direto, no que diz respeito à relação entre o conceito e o objeto, na gnosiologia
tomasiana. O realismo direto levanta a hipótese de que há uma relação de identidade formal
entre a species intelligibilis/conceito e a coisa externa. Devido a esta tese da identidade formal,
devemos negar que tais entidades sejam intermediárias entre o intelecto e a coisa. Portanto, a
negação de uma entidade mental intermediária excluiria uma interpretação representacionalista.
Pretendemos, após analisar as principais teses do realismo direto, propor algumas objeções a
estas. Teremos como foco de objeção a tese central da identidade formal e o fundamento desta, a
saber, a forma comum.
This text aims at an introductory presentation of the interpretative hypothesis of direct realism,
with regard to the relationship between the concept and the object, in Thomasian gnosiology.
Direct realism raises the hypothesis that there is a formal identity relationship between the
species intelligibilis / concept and the external thing. Due to this thesis of formal identity, we
must deny that such entities are intermediaries between the intellect and the thing. Therefore,
the denial of an intermediate mental entity would exclude a representationalist interpretation.
After analyzing the main theses of direct realism, we intend to propose some objections to these.
We will object to the central thesis of formal identity and its basis, namely, the common form.
ÍNDICE
Keywords: Thomas Aquinas, Concept, Object, Identity, Intellect, Thing
Palavras-chave: Tomás de Aquino, Conceito, Objeto, Identidade, Intelecto, Coisa
Medievalista, 28 | 2020
250
AUTOR
GILSON DAMASCENO LINHARES
Bolsista da FAPESB (Fundação de Amparo a Pesquisa da Bahia) 42738845 Lauro de Freitas, Bahia,
Brasil. [email protected]. https://orcid.org/0000-0002-4008-3379
Medievalista, 28 | 2020
251
The Evolution of Different Fonts inthe Coptic Churches Throughout theCenturies
A evolução das diferentes fontes de água nas igrejas coptas ao longo dos séculos
Mary Magdy Anwar
1 Only after the promulgation of the Milan decree of Emperor Constantine I in 313 A.
D. that Christians in Egypt had the right, after long years of persecution, to buildchurches by adopting the architectural styles of rectangular basilica and Byzantine
known as
domes. The church consisted of a nave, choirs, aisles and shrines. Baptisteries, fonts ofthe
laqqān, as well as a basin namedAl Maghtas
were also built in the architecture of the Coptic Orthodox churches during thecenturies that followed.
2
Our research aims to first of all emphasize the differences between these basins, theiruse
andtheir evolution. Second to highlight their importance by exposing various examples
appearing in the different ancient monasteries and churches, especially that thesebuildings represent a significant part of the Coptic Egyptian heritage that should not be
overlooked.
The rite of Baptism and the Baptisteries
3 The baptism, in arabicEl-Maʽmūdia ( ةيدومعملا ) is derived from Greekbaptisma
(βάπτισμα) which means “dyeing”1.
Medievalista, 28 | 2020
252
It is surnamed “gate of the mysteries” and represents the first sacrament of the CopticChurch where pure water is used
2.
4 The priest performs trine immersion3
, which symbolizes the three days since the death until the Resurrection of Christ.Those three days evoke also the crossing of the
Red Seaby Moses and the Israelis and related to the Trinity4
. In the first centuries, the immersion was total (that was why the baptisteries weredeep in the old churches). Then the custom changed, only the last immersion remainedtotal, the first two became partial; one to the half of the body and the other to the neck
5.
5 The priest pours oil of gladness (ghâlîlâû, نولايلاغلا ) andChrism(Myron
) on the baptismal waters, then he takes theMyron
and applies 36 unctions to the different parts of the neophyte's body for confirmation6.
6
Although, this rite recalls the one that was established by Saint John the Baptist on thebanks of the Jordan and to which he invited the sinners as a sign of repentance, Jesus
himself was baptized there (Matthew 3:6). The date of the beginning of baptism by theApostles is not known. The ritual took place in the rivers, as happened to the first three
thousand converts by Peter and the Apostles (Acts 2:41), and in the case of Philip andthe Ethiopian's eunuch (Acts 8:36)
7.
7 We note that thetimingof baptismwas changeable. From the 2ndto the 4th
century, baptism only took place during the feasts of the Resurrection or Pentecost.Then from the 4
thto the 7thcentury, the Epiphany became the day consecrated to baptism8
. However, Ibn El Sebaʽ wrote that in the first centuries, baptismal rites were held onlyon one day which was the Holy Friday: the baptized person is buried in the baptismal
font in the image of Christ who died and who entered the tomb9.Thus, baptism is literally and symbolically not only cleansing, but also dying andrising again with Christ.
8
On the other hand, Butler and Ceres pointed out that it was forbidden to baptize duringthe Holy Week, Easter Time (
Al-ḫmāsin, نيسامخلا )10as well as during all Lent except on the 6thSunday of Lent atāḥdāl-tnāṣir, and thiswasaccording to the recommendations of Christodolus in the 11th
century11, who was the patriarch that applied baptism12.
9
During the era of martyrdom and strong persecution, services took place in houseswhere baptism was carried out secretly. When Christians were allowed to build
churches, they built baptismal tanks13.
10
As for the age of the baptized person, in the first centuries he had to wait until the ageof 30, exactly like the age of Christ when he was baptized
14
. Since many people died before that age, the newborns were baptized, 40 days after theboy's birth and 80 days for the girl
15.
Medievalista, 28 | 2020
253
The Baptistery: Forms, Evolution and Emplacement
11 The term “baptismal font – baptistery” is derived from the Latin wordbaptistērium and
from the ancient Greek βαπτιστήριον, which comes from the Greek verb βαπτίζω(baptízô).This means “plunges”or “immerses”, while the Latin word fons means “source”,“fountain”16.
12 According to the Didaskalia, the building of the font should be located at the end of the
north-west aisle of the church, in the narthex to the left of the entrance17. However,this habit was not always respected18. Some historians explained that there was adifference between the location of the font and the location of the baptismalceremony19. The baptistery usually consisted of a double portico: the baptized personentered the baptistery by one of the doors on the west side, then after baptism andconfirmation, he passed through the other door on the east side which overlooked thechurch to receive the Eucharist20.
13 In some early churches, the baptistery consisted of a single room, but in others it
contained an adjoining “Myron anointing room” and a vestibule for dressing21. It is rareto find a baptistery outside the church building22, with the exception of the one locatedin the place of Saint Mina in Mariout; and the one that exists in the Ashmunein Basilicain the northern part of the church and finally the one of Dayr Anba Shenouda (TheWhite monastery) in Sohag, which is located in the northern part of the South aisleoutside the church. The latter consisted of a square room, sometimes used as a chapelbecause it includes a limestone niche dating from the 4th century and which contained adeep font that was accessed by the help of steps23. Their importance lies in the fact thatthey represent Episcopal places or pilgrimage sites24.
The Forms of the Baptismal Tanks
14 In certain places, the font stands on a central pillar or a support, which is considered as
a symbol of the axis of the world, in others it is raised by four columns – the fourcardinal points of the universe – that allude to the four evangelists25. The baptismalfont is known among the Copts as “the Jordan”26.
15 When the baptistery became a single room not separate from the church, it was built in
a rectangular or square form that is due to:
16 1 - The influence of the normal form of rooms built inside houses.
17 2 - The baptisteries that underwent the same evolutions of cubic frigidarium rooms in
public baths (Thermee).
18 3 - The shape of square or cubic mausoleums27.
19 The baptismal fonts are divided into two types:
20 I - One is dug in the ground. It consists of a basin with stairs on both sides by which the
catechumen descends to receive the baptism and an upper step for the priest to applybaptism by immersion28. This shape is inspired by the image of the Jordan River whichcontains marble steps29.
21 Several kinds of geometric shapes are derived from this type:
Medievalista, 28 | 2020
254
22 1 - The square-rectangular form represents the shape of the tombs of the martyrs of
the first centuries with internal steps and also symbolizes the tomb of Christ30.
23 Examples illustrate this aspect as the circular baptismal basin inscribed in a
rectangular form without steps, located in the north-eastern part of the temple churchof Abusir (Taposiris Magna, Borg El Arab) (Fig.1) discovered in 1990, which dates backto the 4th and 5th centuries and the reminiscent of the form of the baptistery of themonastery of Saint Simon in Aswan31.
24 2 - The hexagonal form refers to the 6th day of the week (Good Friday).
25 3 - The octagonal, 8th day of the week, evokes the day of the resurrection; a rare form in
Egypt.
Fig. 1 – The circular baptismal basin inscribed in a rectangular in the north-eastern part of the templechurch of Abusir, red brick stone, dates back to the 4th century.
(©Author’s photography)
26 4 - The cylindrical shape symbolizes the matrix: baptism is the second birth of the
church matrix. It also symbolizes eternity: the circle is the infinity of God32. This is themost common form, with two steps to get down. There are many examples, such as:
27 The Basilica in Ashmunein and the North Basilica of Abu Mina in Mariout33, the
patriarchal residence, located in the southern part of the church, surrounded by smallchapels and that includes a cylindrical font surmounted by a dome supported by sixcolumns. It dates back to the 6th century34. An adjoining baptistery room with threeniches in the east was likely to contain the Myron35.
28
Cylindrical forms without stairs appear in the Old Cairo churches as the one situated inthe western of the narthex of Abu Sergah church
36(Fig. 2), constructed in limestone sculpted in high relief with cross forms, with a
Medievalista, 28 | 2020
255
pedestal decorated with crosses surrounded by birds and gazelles, placed inside aniche; it dates back to the 4th century.
Fig. 2 – The cylindrical baptismal font, in the western of the narthex of Abu Sergah church, limestone,dates back to the 4th century.
(©Author’s photography)
29 The exceptional example is the stone baptismal font recently discovered in the south-
eastern part inside the Holy Family crypt in Abu Sergah dates back to the 4th/5th
centuries37.
30 5 - The cruciform shape that symbolizes the crucifixion of Christ, with stairs like the
one in Pelusium (Al-Farama) (Fig. 3), discovered near the western church, dates back tothe 4th century. These remains exist actually in the north-western side, with a marblesailing and ruins of steps in the eastern and the western of the pool38.
Fig. 3 - The cruciform baptismal font discovered near the western church in Pelusium, red brick stone,dates back to the 4th century.
(© Author’s photography)
Medievalista, 28 | 2020
256
31 6 - The shape of four-petal flowers that resemble the cross39.
32 II - The other kind is built above the floor level. It contains a cylindrical basin not deep
but which suits children to plunge into the water. It is built in marble or stone, itsdiameter varies between 0.80 to 1m. It stands on a pedestal fixed to the wall inside theniche usually ornamented by the image of Jesus Christ’s baptism. In this way, water isfilled and emptied manually. It is a current model which we find it in Al Moallaqachurch in old Cairo. This font goes back to the 10th century (Fig. 4). It is a cylindricalshape in pink granite decorated with lines in the form of waves that represent thehieroglyphic sign of water (MW) fixed to the wall in a niche ornamented with mosaicwith different geometrical forms and lotus flowers40.
Fig. 4 – The cylindrical baptismal font in Al Moallaqa church in old Cairo, in pink granite, dates back tothe 10th century, 1.50 mdeep.
(©Author’s photography)
33 In Abu Hennes at Melawi, the font is dug inside a wall in the western of the north
sanctuary with two openings from the two sides that serve in maintaining the jars ofthe holy oil41. In Dayr El Anba Bichay (Red monastery), we find a small font that datesback to the 4th century42, flanked to the wall without any decorations, only with a smallhole in its pedestal that helps to empty the water after baptism (Fig. 5).
Medievalista, 28 | 2020
257
Fig. 5 – The small font in Dayr El Anba Bichay, stone, that dates back to the 4th century, 65cm deep.
(©Author’s photography)
34
In ancient times, the large capitals of columns sometimes served as baptismal basins. Ahole was made to clear the water after baptism. The splendid marble capital found in
the Coptic Museum in Cairo provides a good example. It was discovered in the ruins ofthe
Suspended Church of Saint Mark in Alexandria,which dates back to the 6th
century. It takes the shape of a basket with reliefs ofpalm treesin the four corners43.
35 In the 6th
century, a double font was built; one of small size for infants and the other larger foradults, accompanied by an annex that contains the holy oil
44. The baptistery of Saint Mina at Mariout, west ofMartyrium
, discovered in 1905-1907, bears witness to this type. It dates back to the 6th
century in the time of Pope Timothy and consists of several pieces: the first largesquare-shaped on the outside and octagonal on the inside. It contains a large circular
marble basin, 1.55 m deep and 2.30 m diameter covered with a dome with steps on bothsides for adults. Its walls are composed of four niches covered with two layers of
mosaics. As for the second, it also consists of several niches, with a small font made forchildren
45.
36
A different type of baptismal font exists in Catholic churches known as the "chalicecup" where the practice of baptism is by
aspersion.This font is built of marble and is adorned with different motifs46
, such as that which appears in the font of the Church of Saint Catherine in Alexandria,which dates back to the 18
Medievalista, 28 | 2020
258
th/19thcentury and is decorated by the statue of Christ, surrounded by high relief motifs47 (Fig. 6).
Fig. 6 - The marble font in the Church of Saint Catherine in Alexandria, this dates back to the 18th/ 19th
century.
(©Author’s photography)
Other Examples of Ancient Baptisteries
37
The “Sultan's Baptistery” found in the Abu Seifein Church in Old Cairo dates back to the10
th
century and is erected in stone. It is located to the right of the chapel of Mari Yacub elMocata', 92 cm deep, 1.58 cm high and 33 cm wide
48.
38
Dayr Al-Maimoun at Atfih embraces two baptismal fonts; one in the church of SaintAnthony placed in the left sanctuary in the shape of a circular limestone, the other is in
the church of Abu Seifein
asquare shaped shallow stone used for children (Fig.7)49
. Gothic graffiti of pilgrims with escutcheons decorate their walls50
. The Wadamon El Armanty Church also contains a circular large hole for emptying thewater
51.
Medievalista, 28 | 2020
259
Fig. 7 - Squarefont in the Church of of Abu Seifein in Dayr Al-Maimoun at Atfih, limestone, 95 cm deep.
(©Author’s photography)
The “Laqan” Basin
39
This basin, which appears in the ancient churches, is used in three ceremonies by thesanctification of water: the eve of the Epiphany (19-20 January), to memorize the
baptism of Christ; Holy Thursday, when Christians commemorate the washing of thefeet made by Christ to all his Apostles, and the feast of the Apostles (12
thof July)52.
40
It is a 60 cm long and 30 cm wide tank that is dug into the ground, in the center of thewestern end of the third
khurus53, of the central nave54
. It is filled with pure water and a pottery jar is placed at its side. The priest wears theepitrichalion55during the ritual56.
41 The ancient sources insist on the importance oflaqân. Sawiris Ibn El Moqaffa in the 10th
century considered thelaqânas purgatory and explained inTartib al-Kahanŵt
that all the churches were provided with a basin so that the faithful wash their feet onHoly Thursday
57
. This basin was located to the west of the church, because the priest officiates whiledirecting his eyes during the ritual towards the East in the direction of the sanctuary
58.
42 Abu El Makarm (12thcentury), also testified to the presence oflaqân
at Deir Abu Maqar in Wadi Habib (Wadi El-Natroun). After the celebration of HolyThursday, the monks took water from the
laqânand poured it into the Nile to bless it and thus served its flood59
. Otherwise, Ibn El Saba (13thcentury) noted the ritual oflaqân
Medievalista, 28 | 2020
260
in his book, chapter 99, saying that the priest takes a cloth and wraps it round his waistas Jesus has done before (John 13, 4), begins to wash the feet of the faithful and then
wipe with the linen with which he is girded60.
43
Butler pointed out that the first Christians who entered the church barefoot, followingthe recommendations of the decree of Pope Christodolus in the 11
th
century, were to purify their feet in these pools called “basins of purification, washingor ablution”
61. However, this habit fell into disuse in the 14th
century. In fact, these vats recall the basins that were held at the entrance of ancientEgyptian temples
62.
44
Butler asserted the existence of such basins. Indeed, a stone basin, below the level ofpavement, devoted to washing, located at the entrance of the main church of the Anba
Bishay monastery (The Red Convent) in Sohag, was discovered in 2017 (Fig. 8)63.
Fig. 8 - The stone basin, located at the entrance of the church of the AnbaBishay monastery in Sohag, 15 cm
deep.
(©Author’s photography)
The Forms ofLaqânBasins:
45
1 - Octagonal form, inscribed in a square, exists to the west of the nave in the templechurch of Habou in Luxor and it dates back to the 4
thcentury64
Medievalista, 28 | 2020
261
. The other is at Abu Seifein Church in Old Cairo. It is made of marble, inlaid with redand black marble, 90 cm x 90 cm (length and width), 25 cm deep, decorated on the
inside with semi-circular shapes of the four corners65.
46 2 - Square shape inscribed in a rectangle with interrupted sides by circular beads,in
the church of the Virgin Mary in the village of Oskar in Helwan,anddates back to the 18th/19thcentury66.
47 3 - The most famous form in Egypt is the circularlaqân
inscribed in a rectangle or a square. The oldest was located at the Basilica El Ashmuneinin the central nave between the sixth and seventh columns, which dates back to the 4
thcentury67
. In the monasteries of Wadi El-Natroun, to the west of the central nave of the churches,there is the marble
laqân, like that of the Baramus, which dates back to the 7th
century, with a depth of 14 cm, 35 cm diameter68
. It is also found in Anba Bishoy and El-Surian monasteries. At Dayr of El-Maimun, inthe Abu Seifein church in front of the entrance, there is a stone
laqân(Fig. 9)69.
48 These forms oflaqân
are also numerous in the old churches of Old Cairo: in El-Moallaqah where alaqân
is located west of the central nave between the first and the second column70;inthe church of Santa Barbara and Abu Sergah (Fig. 10).
Fig. 9 - The stonelaqânin the Abu Seifein church at Dayr of El-Maimum, in a bad situation.
(©Author’s photography)
Medievalista, 28 | 2020
262
Fig. 10 – The laqânbasin in Abu Sergah church in Old Cairo, marble, 15 cm deep.
(©Author’s photography)
El Maghtas(Epiphany Pool):
49
Formerly, according to an ancient Coptic tradition, a region of the Nile was chosen toplung
ein before the Epiphany celebration, and children were brought down there, in spite of
the cold, to imitate Christ who had descended into the Jordan71.
50
El Maqrizi specified that sometimes several governors participated in the celebration ofthis festival, as Mohamed Ibn-Tougague in 941 A.D. and some Fatimid Caliphs like El
Zaher Aziz Allah. Others completely canceled the celebration, like El-Moazz and El-Aziz.As for El-Hakim (according to his mood), he participated a few times but in 1008 A.D. he
promulgated a decree that totally prohibited this kind of celebration72. This is why the pool of theMaghtas
is currently inside the churches as an alternative to the Nile73.
51 In the 10th
century, Sawiris Ibn El Moqaffa wrote that the faithful, men and women, required thepresence of the
Maghtasinside the church to help them to be purified from their sins74
. Abu El Makarem also mentioned the presence of theMaghtas
that was cleaned from sand and filled with water at Abu Maqar Monastery75
. In turn, Ibn El Seba' in the 13th
century, quoted that the Epiphany celebration was held at night, in front of theMaghtas
and that it was better to seek water from the Jordan and pour it into theMaghtas76.
Ibn Kabr confirmed the presence of theMaghtasin the 14thcentury churches77.
The Form ofel Maghtas:
52
No details indicate its exact location, outside or inside the church. It is an undergroundroom in cubic, rectangular, round or parallelogram shape, 1.5 m deep. This basin is
capped with a wooden cover (no longer used)78.
53 Different examples of theMaghtasin the old churches:
54 1 - Inside the churches of Old Cairo at Abu Sergah, there is a sumptuous rectangular
Maghtascovered with marble (Fig. 11
Medievalista, 28 | 2020
263
) in the middle of the narthex to the west of the central nave, 1.40 m deep (2.60 x 1.7 mlength and width)
79.It is in laid with black and red marble.
Fig. 11 - The rectangularMaghtascovered with marble in the Abu Sergah church,black and red marble,1.40 m deep, 2.60 x 1.7 m length and width.
(©Author’s photography)
55 2 - A beautiful Pharaonic lotus shapedMaghtas
with circular pearls, located at the ancient church of Saint Mina in Taha El-Ama'da atSamalut, 1.75 m deep,
80
was used until 1975, then it was abandoned because of a strange conflict between twofamilies. Each of these two families sought to descend first into this
Maghtas
. Then, to take revenge, one of them decided to throw in it pieces of glass. Followingthis aggressive act, several people were seriously injured; therefore, the priests forbade
the use of this Maghtas81.
56
3 - The church of the Archangel Gabriel in the Beni-Magued village in Manfalout, has anoctagonal
Maghtas
, inscribed in a square behind the sanctuaries in the East, 2m x 2m (length and width)82
(Fig. 12).
Medievalista, 28 | 2020
264
Fig. 12 - The octagonalMaghtas, inscribed in a square in the church of the Archangel Gabriel in Manfalout, stone, 2m x 2m length and
width.
(©Author’s photography)
57
4 - In the west wall of a special room at Saint Anthony's Church in Deir El-Maimoun,there is a 2.60 x 2.50 cubic stone
Maghtaswith two steps83.
58 5 -
The palace of Saint Helena in the monastery of Saint Bishay (Deir El Ahmar), which isbeing restored, embraces the ancient monumental
Maghtas
of stone octagon form inscribed in a square. It was used previously by lay people andnot monks
84(Fig. 13).
Medievalista, 28 | 2020
265
Fig. 13 - The octagonMaghtas, inscribed in a square in the palace of Saint Helena in the monastery of Saint Bishay, stone, 1.50 m
deep.
(©Author’s photography)
59
6 - In the ancient Monastery of Anba Moussa El Baramus, discovered between 2002 and2005, which fell into ruins, a 1.5 cubic meter limestone
Maghtas
was found dug in the plastered rocks, with steps. It appears in a room in the East nextto the sanctuary of the second church
85.
60
7 - Finally in July 2017, by undertaking extensions to the church of the Virgin SittMiriam at El-Surian monastery, accidentally a
Maghtas
was also discovered towards the western end glued to the wall, 80 cm deep, higher thanthe ground of the church of two bleachers because this
Maghtasbelonged to another church (the church of Mari- Rutaʼ)86(Fig. 14).
Medievalista, 28 | 2020
266
Fig. 14 - The Maghtasdiscovered in July 2017 in the church of the Virgin Sitt Miriam at El-Surian monastery, stone, 80 cm
deep.
(©Author’s photography)
The Pool of Extreme Unction
61
We found only one example of this basin. It is the one that dates back to 1395, and thatexists in the church of Saint Abaskhirion El Qalini, Deir Abu Maqar in Wadi El Natroun,
in the sanctuary on the left, towards the North-West part, flanked on the wall87(Fig. 15).
Fig.15 - The Pool of Extreme Unction in the church of Saint Abaskhirion El Qalini, Deir Abu Maqar in Wadi El
Natroun, marble, dates back to 1395.
(©Author’s photography)
62 This demonstration confirms that
63
1 - The fonts (baptismal vessels) of the ancient Orthodox Coptic churches are variedand totally different from those of the Catholic churches in their structure and form.
They are generally simpler than others that are artistically made.
64 2 - The basin ofel laqânand theMaghtasare confined to the Coptic Orthodox Church.
Medievalista, 28 | 2020
267
65
3 - The fonts erected in the monasteries, churches of the province and the countrysideare simpler than those built in the urban churches; inlaid with marble and mosaic.
66
4 - The largest number of basins has fallen into disuse; however, we continue to coverthem in glass to preserve them as witnesses of Coptic heritage.
67
5 - All ancient churches and monasteries contain treasures often hidden that must bediscovered, so it would be necessary to conduct continuous excavations in different
locations.
68
The fonts were only used as baptisteries in the first centuries while other fonts wereadded successively for other uses and celebrations.
69
In conclusion, the fonts are an authentic legacy that links the past to the present andreflects our traditions. It is a heritage difficult to find elsewhere and of which we
should be proud.
BIBLIOGRAPHY
ABŪ AL-MAKARAM F02D Tāriḫ ālkanā’s wa ālādiraʼ. Edited by Bishop Samuel. Cairo: 1984.
ANWAR, Mary Magdy F02D “Des pièces représentant les insignes et les vêtements liturgiques coptes
conservés dans les musées archéologiques d’Egypte”. Journal of the Faculty of Tourism and Hotels 12
(2015), pp. 13-35
ATHANASIUS EL MAKARY F02D Mʽğm ālmṣṭlḥāt ālknsiaʼ. 3 vols. Cairo: Nubar Publishing company,
2002-2011.
AWAD ALLAH, Mancarius F02D Mnārt ālāqdās fi šrḥtqws ālknisaʼālqbṭiaʼwaālqdās. Cairo:
ālmṭbʽaāltğāriaʼālḥdiṯa, 1969.
Archibishop BASILIOS – “Baptism”.in The Coptic Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya, Vol. II. New
York: Macmillan publishing company, 1991, pp. 339-342.
Archibishop BASILIOS F02D “Epiphany (liturgy of)”. in The Coptic Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya,
Vol. III. New York: Macmillan publishing company, 1991, pp. 967-968.
BEATRICE, P. F. F02D “Foot washing”. in Encyclopedia of Ancient Christianity. Edited by Angelo Di
Berardino, Vol. II. Dowhers Grove, Illinois: IVP Academic, 2014, pp. 49-51.
BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02D A Guide to the Monasteries of the Wadi ‘N-Natrun. Le Caire:
Société d’Archéologie Copte, 1954.
BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02D A Guide to the Ancient Coptic Churches of Cairo. Le Caire: Société
d’Archéologie Copte, 1955.
BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02DThe Egyptian or Coptic Church (A detailed description of her
liturgical services and the rites and ceremonies observed in the administration of her sacraments). Le
Caire: Société d’Archéologie Copte, 1967.
BUTLER, Alfred F02D The Ancient Coptic Churches in Egypt. Translated by Ibrahim Salama Ibrahim, 2
vols. Cairo: ālhiaaʼālʽmallktāb, 2001.
Medievalista, 28 | 2020
268
CAPUANI, Massimo F02D Christian Egypt: Coptic Art and Monuments Through Two Millenia. Cairo: AUC
Press, 2002.
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain F02D A Dictionary of Symbols. Translated by John Buchanan-
Brown. Oxford (USA): Basil Blackwell, 1994.
COQUIN, Charalambia F02D Les Edifices chrétiens du Vieux Caire. Vol. I (Bibliographie et topographique
historiques). Tome XI. Le Caire: Institut Français d’Archéologie du Caire, 1974.
CROSS, F. L. F02D The Oxford Dictionary of the Christian Church. Oxford: Oxford UniversityPress, 1990.
DAOUAD, Nabih; FAKHRY, Adel F02D Tāriḫ ālmsiḥiʼ waālrhbnaʼ waʼātārhmā fi āibāršitālğizaʼ. Cairo:
Saint Marc Foundation of Coptic history, 2011.
DUVAL, N. F02D “Church buildings: baptistery”. in Encyclopedia of Ancient Christianity, edited by
Angelo Di Berardino, Vol. II. Dowhers Grove, Illinois: IVP Academic, 2014, pp. 524-537.
EL FARAS, Robert F02D Mbānymnbḫwr (knāʼs waādirt mṣriaʼ). Cairo: ālhiaʼālʽmāllqṣwrālṯqāfaʼ, 2012.
EL HEWMY, Youssef F02D ālāḥtfālbʽ idālġṭāsālmğid (Epiphania) fi ktbālmwrḫinālʽrb. Alexandria-Cairo:
Biblioteca Alexandrina, 2016.
EL MAQRIZI F02D Ktāb ālmwāʽz waālʽtbār fi ḏkr ālḫṭṭ waālaʼṯār. Edited by Ayman Fouad El Saïd.
London: ālfrqān institute, 2002.
EL MESKIN, Matta F02D ālrhbnaʼ ālqbṯiaʼ fi ʼaṯr ālqdis AbwMaqār. Wadi El Natrun, Egypt: Monastery of
Saint Maqar, 1972.
EL MESKIN, Matta F02D ālmʽmwdiaʼ (ālāṣwl ālāwly llmsiḥin). Wadi El Natrun, Egypt: Monastery of Saint
Maqar, 2000.
EVELYN WHITE, H. G. F02D The Monasteries of the Wadi N-Natrun, Part III (The Architecture and
Archeology). New York: The Metropolitan Museum of Art, 1973.
GARIN, Alberto – Abu Sirga: la iglesia copta de San Sergio y San Baco del Viejo Cairo: las primeras huellas
del cristianismo en Egipto. Madrid: Ministerio de Asuntos Exteriores, Agencia Española de
Cooperación Internacional, Fundación Carolina, El Viso, 2004.
GODLEWSKI, W F02D “Baptistery (Architectural elements of churches)”.in The Coptic Encyclopedia.
Edited by Aziz S. Atiya, Vol I. New York: Macmillan publishing company, 1991, pp. 197-200.
GROSSMANN, Peter F02D “Epiphany Tanks”. in The Coptic Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya. Vol.
III. New York: Macmillan publishing company, 1991, p. 968.
GROSSMANN, Peter F02D “Abu Mina”. in The Coptic Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya. Vol I. New
York: Macmillan publishing company, 1991, pp. 24-29.
GROSSMANN, Peter F02D “Khūrus”. in The Coptic Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya, vol. I. New
York: Macmillan publishing company, 1991, pp. 212-213.
GROSSMANN, Peter F02D “A new church at Taposiris Magna- Abusir”. Bulletin de la Société
d’Archéologie Copte 31 (1992), pp. 24-30.
GROSSMANN, Peter; HAFEZ, Mohamed F02D “Results of the 1997 excavations in the North-West
church of Pelusium (Farama- west)”. Bulletin de la Société d’Archéologie Copte 40 (2001), pp. 109-116.
GROSSMANN, Peter; KOSCIUK, Jacek – “Report on the excavations at Abu Mina in spring 2000”.
Bulletin de la Société d’Archéologie Copte 40 (2001), pp. 97-108.
GUIRGUIS, Habib F02D Āsrār ālknisaʼ ālsbʽa. Cairo: El Tawfik Coptic Publisher,1934.
Medievalista, 28 | 2020
269
GUIRGUIS, Benjamin F02D Ttbʽtāriḫy lāğrāʼāt srālmʽmwdiaʼ ālmqds ldy ālāqbā ālārṯwḏk. Cairo: Institut
of Coptic studies, n.d. Master unpublished.
HABIB, George F02D Almʽmwdiaʼ fi ālknisaʼāwāḥdh ālğmʽaʼ ālrswliaʼ. 1st book. Cambridge: 2012.
HELMY, Bishoy F02D Knisty ālārṯksiaʼ..mā āğmlk‼ Cairo: Nubar Publishing Company, 2013.
IBN ALMOQAFFAʽ F02D Die Ordnung des Priestertums ein altes liturgisches Handbuch der koptischen Kirche
(Tartīb al-Kahanūt). II Teil. Edited by Julius Assfalg. Le Caire: Publications du Centre d’Etudes
Orientales de la Custodie Franciscaine de Terre Sainte, 1955.
IBN ELSEBAʽF02D Ktāb ālğwhraʼ ālnfisaʼ fi ʽlm ālknisaʼ. Edited by Victor Mansur El-Francicie. Le Caire:
Institut Franciscaine chrétienne orientale, 1966.
IBN IAA’S F02D Bdāʽ ālzhwr fi wqāʽ āldhwr. Cairo: Dārālktb, 2008.
IBN KABR F02D Msbāḥ ālzlmʼ fi āidāḫ ālḫdmʼ. Edited by Samuel El Suriany. Cairo: Dayr al-Suryan 1992.
INNEMÉE, Karel F02D Excavations at the site of Deir Al-Baramus 2002-2005. Leiden: Leiden University,
2005.
KHALIL, Morcos – Ālqdis ālʽzim ālšhid Filwbātir Mrqūriũs ālšhir baby Sifin. Cairo: AnbaRwiyas
Publisher, 1995.
KILLEN, William – The Ancient Church: Its History. Doctrine, Worship and Constitution. Alexandria: The
Library of Alexandria, 2005 (Original Publishing 1859).
MALATY, Tadros – Alknisaʼ bit Allah. Alexandria: church of Saint Georges Sporting, 1979.
MARTIN, Maurice F02D Monastères et Sites Monastiques d’Egypte. Le Caire: Institut Français
d’Archéologie Orientale, 2015.
MOHAMED, Hagagy F02D “āllaqān fi ālknisaʼsālāṯriaʼ mn ālGizaʼḥty Aswān”. Journal of the faculty of
Arts in Tanta (n.d): pp. 819-823.
MULDER, Nicole. F. F02D “The early Christian Pilgrimage: The Case of Abu Mena”. Essays on Coptic Art
and Culture 1 (1994), pp. 18-35.
PERKINS, Ward – “The Monastery of Taposiris Magna”.Bulletin de la Société Royale d’Archéologie
d’Alexandrie 36 (1944), pp. 48-53.
QASD ALLAH, Nusrat F02D Tāṯir āsālib wa ṭrqālānšaʼʽlyāltʽbirālmʽmāry llʽmārʼ. Cairo: Ain Shams
University, Faculty of Engineering, 2006. Master unpublished.
Bishop SAMUEL F02D Dlilāl knās wa ālādiraʼ ālqdimh fi mṣr. Vol. I. Cairo: 2002.
SIMAIKA, Marcus F02D A Brief Guide to the Coptic Museum and the Ancient Coptic Churches and
Monasteries. 2 vols. Cairo: El Amiriaʼ publishing, 1932.
STATY, Essam F02D Mqdmaʼ ālfwlklwr ālqbṭy. Cairo: ālhiāālmṣriaʼālʽmaʼllktāb, 2010.
TROSTYANSKIY, Sergey F02D “Baptism”. in The Encyclopedia of Easter Orthodox Christianity. Edited by
John Anthony Mcguckin, Vol I. Singapore: Wiley Blackweell, 2011, pp. 65-67.
VIAUD, Gerard F02D La liturgie des coptes d’Egypte. Paris: Librairie d’Amérique et d’Orient, 1978.
WACE, Alan John Bayard F02D Hermopolis Magna, Ashmunein: the Ptolemaic sanctuary and the basilica.
Alexandria: Alexandria University Press, 1959.
WALTERS, Colin Christopher F02D Monastic Archeology in Egypt. Warminster: Aris et Phillips, 1974.
WASSEF, Céres W. F02D Pratiques rituelles et alimentaires coptes. Le Caire: Institut Français
d’Archéologie Orientale, 1971.
Medievalista, 28 | 2020
270
YOUSSEF, Hanan F02D Tṭwrʽm ārtālṭrāz ālbāziliky fi mṣr fi ālʽṣrālrwmāny. Tanta: Tanta University,
faculty of Arts, 2008. Master unpublished.
YOUSSEF, Samer F02D Tāṯir ālātğāht ālʽqādiaʼʽlytṣ mim ālknisa. Cairo: Helwan University, faculty of
Arts, 2004-2005. Master unpublished.
YOUSSEF, Youhanna F02D “The Book Order of the Priesthood, by Severus Ibn Al-Muqaffaʼ Bishop of
Al-Ashmunein”.Bulletin de la Société d’ Archéologie Copte 45 (2006), pp. 135-145.
NOTES
1. GUIRGUIS, Benjamin F02D Ttbʽtāriḫylāğrāʼātsrālmʽmwdiaʼālmqdsldyālāqbāālārṯwḏk. Cairo:Institut of Coptic studies, n.d. Master unpublished., p.95; GUIRGUIS, Habib –Āsrārālknisaʼālsbʽa. Cairo: El Tawfik Coptic Publisher, 1934, p. 44.
2. TROSTYANSKIY, Sergey F02D “Baptism”. in The Encyclopedia of Easter Orthodox Christianity. Edited
by John Anthony Mcguckin, vol. I. Singapore: Wiley Blackweell, 2011, pp. 65-67.
3. WASSEF, Céres. W. F02D Pratiques rituelles et alimentaires coptes. Le Caire: Institut Françaisde l’Archéologie Orientale, 1971, p.156.
4. TROSTYANSKIY, Sergey F02D “Baptism” …, p. 66.
5. WASSEF, Céres. W. F02D Pratiques rituelles …, pp. 156-157.
6. VIAUD, Gerard F02D La liturgie des coptes d’Egypte. Paris: Librairie d’Amérique et d’Orient,1978, pp. 78-79.
7. El MESKIN, Matta F02D ālmʽmwdiaʼ (ālāṣwlālāwlyllmsiḥin). Wadi El Natrun, Egypt:
Monastery of Saint Maqar, 2000, p.322; KILLEN, William F02D The Ancient Church: Its History.
Doctrine, Worship and Constitution. Alexandria: The Library of Alexandria, 2005, p. 306.
8. BASILIOS F02D“Baptism”.in The Coptic Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya, Vol. II. New
York: Macmillan publishing company, 1991, pp. 339-342; BUTLER, Alfred F02D The Ancient
Coptic Churches in Egypt. Translated by Ibrahim Salama Ibrahim, vol. II. Cairo:ālhiaaʼālʽmallktāb, 2001, p. 208.
9. IBN EL SEBAʽF02D Ktābālğwhraʼālnfisaʼ fi ʽlmālknisaʼ. Edited by Victor Mansur El-Francicie. Le Caire: Institut Franciscaine chrétienne orientale, 1966, p. 78.
10. WASSEF, Céres W. – Pratiques rituelles …, p. 157.
11. BUTLER, Alfred F02D The Ancient Coptic Churches …, vol. II, pp. 208-213; CROSS, F.L. – The
Oxford Dictionary of the Christian Church. Oxford: Oxford University Press, 1990, p.126.
12. DUVAL, N. F02D “Church buildings: baptistery.” in Encyclopedia of Ancient Christianity. Edited by
Angelo Di Berardino, vol. II. Dowhers Grove, Illinois: IVP Academic, 2014, pp.524-537.
13. HABIB, Georges – Almʽmwdiaʼ fi ālknisaʼāwāḥdhālğmʽaʼālrswliaʼ. 1st book. Cambridge:2012, p.113.
14. IBN EL SEBAʽ – Ktābālğwhraʼālnfisaʼ…, p. 78.
15. BASILIOS F02D “Baptism” …,p. 338.
16. ATHANASIUS EL MAKARY – Mʽğmālmṣṭlḥātālknsiaʼ. Vol. III. Cairo: Nubar Publishing company,
2002, p. 233.
17. BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02D A Guide to the Ancient Coptic Churches of Cairo. Le
Caire: Société d’Archéologie Copte, 1955, p. 14; MALATY, Tadros F02D Alknisaʼ bit Allah .
Medievalista, 28 | 2020
271
Alexandria: church of Saint Georges Sporting, 1979, p. 402; EL FARAS, Robert F02D Mbāny
mn bḫwr (knāʼswaādirt mṣriaʼ). Cairo: ālhiaʼālʽmāllqṣwrālṯqāfaʼ, 2012, p. 39.
18. GODLEWSKI, W. F02D “Baptistery (Architectural elements of churches)”. in The Coptic
Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya, vol. I. New York: Macmillan publishing company, 1991, pp.
197-200.
19. ATHANASIUS EL MAKARY F02D Mʽğm ālmṣṭlḥāt ālknsiaʼ. Vol. I. Cairo: Nubar Publishing company,
2011, p. 342.
20. AWAD ALLAH, Mancarius F02D Mnārt ālāqdās fi šrḥtqws ālknisaʼālqbṭiaʼwaālqdās. Cairo:
ālmṭbʽaāltğāriaʼālḥdiṯa, 1969, p. 105; QASD ALLAH, Nusrat F02D Tāṯir āsālib wa ṭrq
ālānšaʼʽlyāltʽbirālmʽmāryllʽmārʼ. Cairo: Ain Shams University, Faculty of Engineering,2006. Master unpublished, p. 12.
21. DUVAL, N. F02D “Church buildings” …, p. 534.
22. ATHANASIUS EL MAKARY – Mʽğm ālmṣṭlḥāt …, p.343.
23. WALTERS, Colin Christopher F02D Monastic Archeology in Egypt. Warminster: Aris et
Philips, 1974, p.73; BUTLER, Alfred F02D Ancient Coptic Churches…, p. 289.
24. GODLEWSKI, W F02D “Baptistery (Archeological elements of churches)” …, p. 197.
25. CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain F02D A Dictionary of Symbols. Translated by JohnBuchanan-Brown. Oxford (USA): Basil Blackwell, 1994, p. 397.
26. GUIRGUIS, Benjamin F02D Ttbʽtāriḫy…, p. 182.
27. El MESKIN, Matta F02D ālmʽmwdiaʼ (ālāṣwlālāwlyllmsiḥin). Wadi El Natrun, Egypt: Monastery of
Saint Maqar, 2000, p. 329.
28. YOUSSEF, Samer F02D Tāṯir ālātğāht ālʽqādiaʼʽly tṣmim ālknisa. Cairo: Helwan University,
faculty of Arts, 2004-2005. Master unpublished, p. 145; GUIRGUIS, Benjamin F02DTtbʽtāriḫy,
pp. 188-189.
29. YOUSSEF, Hanan F02D Tṭwrʽmārtālṭrāz ālbāziliky fi mṣr fi ālʽṣr ālrwmāny. Tanta: TantaUniversity, faculty of Arts, 2008. Master unpublished, p. 322.
30. GUIRGUIS, Benjamin – Ttbʽtāriḫy…, p. 187; HELMY, Bishoy F02D Knisty ālārṯksiaʼ..mā
āğmlk‼ Cairo: Nubar Publishing Company, 2013, p. 62.
31. PERKINS, Ward F02D “The Monastery of Taposiris Magna”. Bulletin de la Société Royale
d’Archéologie d’Alexandrie 36 (1944), pp. 48-53; GROSSMANN, Peter F02D “A new church at Taposiris
Magna- Abusir”.Bulletin de la Société Royale d’Archéologie d’Alexandrie 31 (1992), pp. 24-30.
32. MALATY, Tadros F02D Alknisaʼ bit Allah…, p. 407; EL FARAS, Robert F02D Mbāny mn bḫwr…, p. 40.
33. GODLEWSKI, W. F02D “Baptistery” …, p. 199.
34. GROSSMANN, Peter F02D “Abu Mina.” in The Coptic Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya,vol. I. New York: Macmillan publishing company, 1991, pp. 24-29.
35. Bishop SAMUEL F02D Dlilāl knās wa ālādiraʼ ālqdimh fi mṣr. Vol. I. Cairo: 2002, p. 37.
36. SIMAIKA, Marcus F02D A Brief Guide to the Coptic Musueum and the Ancient Coptic Churches
and Monasteries. 2 vols. Cairo: El Amiriaʼpublishing, 1932, p. 211; COQUIN, CharalambiaF02D Les Edifices chrétiens du Vieux Caire. Vol. I. Le Caire: Institut Français d’ArchéologieOrientale, 1974, p. 103.
37. CAPUANI, Massimo F02D Christian Egypt: Coptic Art and Monuments Through Two Millenia.
Cairo: AUC Press, 2002, p.108; GARIN, Alberto – Abu Sirga: la iglesia copta de San Sergio y
San Baco del Viejo Cairo: las primeras huellas del cristianismo en Egipto. Madrid: Ministerio deAsuntos Exteriores, Agencia Española de Cooperación Internacional, FundaciónCarolina, El Viso, 2004, p. 35.
Medievalista, 28 | 2020
272
38. GROSSMANN, Peter; HAFEZ, Mohamed F02D“Results of the 1997 excavations in the North-West
church of Pelusium (Farama- west).” Bulletin de la Société d’Archéologie Copte 40 (2001), pp. 109-116.
39. El MESKIN, Matta F02D ālmʽmwdiaʼ…, pp. 323-324.
40. SIMAIKA, Marcus F02D A Brief Guide to the Coptic Museum…, p. 190; BURMESTER, Oswald Hugh
Ewart F02D A Guide do The Ancient Coptic Churches …, p. 30; BUTLER, Alfred F02D The Ancient Coptic
Churches…, p. 195.
41. Visit on the field.
42. WALTERS, Colin Christpher F02D Monastic Archeology …, pp. 73-74.
43. Visit on the field.
44. DUVAL, N. F02D “Church buildings” …, p. 534.
45. MULDER, Nicole F. F02D “The early Christian Pilgrimage: The Case of Abu Mena”. Essays
on Coptic Art and Culture 1 (1994), pp. 18-35; GROSSMANN, Peter; KOSCIUK, Jack F02D“
Report on the excavations at Abu Mina in spring 2000”.Bulletin de la Société d’Archéologie
Copte 40 (2001), pp. 97-108.
46. YOUSSEF, Samer F02D Tāṯir ālātğāht…, p. 141.
47. Visit on the field.
48. KHALIL, Morcos F02D Ālqdis ālʽzim ālšhid Filwbātir Mrqūriũs ālšhir bāby Sifin. Cairo:
AnbaRwiyas Publisher, 1995, p. 109.
49. DAOUAD, Nabih; FAKHRY, Adel F02D Tāriḫālmsiḥiʼwaālrhbnaʼwaʼātārhmā fi
āibāršitālğizaʼ. Cairo: Saint Marc Foundation of Coptic history, 2011, p.361.
50. MARTIN, Maurice F02D Monastères et Sites Monastiques d’Egypte. Le Caire: Institut
Français d’Archéologie Orientale, 2015, p. 69.
51. Visit on the field.
52. VIAUD, Gerard F02D La liturgie des coptes…, p.76.
53. Khurus (greek choros) presumably derived from a row of columns, unconnected to the ceiling,
that was set up in front of the opening of the apse and whose purpose was purely aesthetic, to
enrich the appearance of apsidal openings that in some churches appeared small. It can be as a
row in the western wall (as a type of cancelli). GROSSMANN, Peter F02D “Khūrus”. in The Coptic
Encyclopedia. Edited by Aziz S. Atiya, vol. I. New York: Macmillan publishing company, 1991, pp.
212-213.
54. Archibishop BASILIOS F02D “Epiphany (liturgy of)”. in The Coptic Encyclopedia. Edited byAziz S. Atiya, vol. III. New York: Macmillan publishing company, 1991, pp. 967-968;
MOHAMED, Hagagy F02D “āllaqān fi ālknisaʼsālāṯriaʼmn ālGizaʼḥty Aswān”. Journal of the
faculty of Arts in Tanta (n.d), pp. 819-823.
55. Epitrichalion of the priest named sadriah is a long band that covers the chest and asmall part of which descends on the back, with an interlock in the middle for the head
[ANWAR, Mary Magdy F02D “Des pieces représentant les insignes et les vêtements
liturgiques coptes conservés dans les musées archéologiques d’Egypte”. Journal of the
Faculty of Tourism and Hotels 12 (2015), pp. 13-35].
56. BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02D The Egyptian or Coptic Church (A detailed description of her
liturgical services and the rites and ceremonies observed in the administration of her sacraments). Le
Caire: Société d’archéologiecopte, 1967, pp. 256-261.
57. YOUSSEF, Youhanna F02D ”The Book Order of the Priesthood, by Severus Ibn Al-Muqaffaʼ Bishop
of Al-Ashmunein”.Bulletin de la Société d’Archéologie Copte 45 (2006), pp. 135-145.
58. IBN AL MOQAFFAʽ F02D Die Ordnung des Priestertums ein altes liturgisches Handbuch der
koptischen Kirche (Tartīb al-Kahanūt). II Teil. Edited by Julius Assfalg. Le Caire:
Medievalista, 28 | 2020
273
Publications du Centre d’Etudes Orientales de la Custodie Franciscaine de Terre Sainte,1955, p.20.
59. ABŪ AL-MAKARAM F02D Tāriḫ ālkanā’s wa ālādiraʼ. Edited by Bishop Samuel, vol.1.
Cairo: 1984, p. 100.
60. IBN EL SEBAʽ F02D Ktāb ālğwhraʼālnfisaʼ…, p.333.
61. BUTLER, Alfred F02D The Ancient Coptic Churches …, pp. 35-36.
62. QASD ALLAH F02D Tāṯir āsālib…, p. 14.
63. Visit on the field.
64. YOUSSEF, Hanan F02D Tṭwrʽmārtālṭrāz …, p. 263.
65. BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02D A Guide to the Ancient Coptic Churches …, p. 42.
66. Bishop SAMUEL F02D Dlilāl knās …, p. 26.
67. WACE, Alain John Bayard F02D Hermopolis Magna, Ashmunein: the Ptolomaic sanctuary and
the basilica. Alexandria: Alexandria University Press, 1959, p. 38.
68. EVELYN WHITE, H. G. F02D The Monasteries of the Wadi ‘N-Natrun, Part III (The
Architecture and Archeology). New York: The Metropolitan Museum of Art, 1973, p.
146; BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02D A Guide to the Monasteries of the Wadi ‘N-Natrun.Le Caire: Société d’archéologiecopte, 1954, p. 26.
69. DAOUAD, Nabih; FAKHRY, Adel F02D Tāriḫ ālmsiḥiʼwa ālrhbnaʼ…, p. 361.
70. BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02D A Guide to the Ancient Coptic Churches …, p. 26.
71. GROSSMANN, Peter F02D “Epiphany Tanks”. in The Coptic Encyclopedia. Edited by Aziz S.
Atiya, vol. III. New York: Macmillan publishing company, 1991, p. 968; STATY, Essam F02D Mqdmaʼ ālfwlklwr ālqbṭy. Cairo: ālhiāālmṣriaʼālʽmaʼllktāb, 2010, p. 119.
72. EL MAQRIZI F02D Ktāb ālmwāʽz waālʽtbār fi ḏkr ālḫṭṭ waālaʼṯār. Edited by Ayman Fouad El
Saïd, vol. I. London: ālfrqān institute, 2002, pp. 256-266; IBN IAA’S F02D Bdāʽ ālzhwr fi wqāʽāldhwr. Vol. I. Cairo: Dārālktb, 2008, p. 190.
73. WASSEF, Céres. W. F02D Pratiques rituelles …, p. 192.
74. IBN AL MOQAFFAʽ F02D Die Ordnung des Priestertums …, p. 18.
75. ABŪ AL-MAKARAM F02D Tāriḫālkanā’…, p. 98.
76. IBN EL SEBAʽ F02D Ktābālğwhraʼālnfisaʼ…, p. 313.
77. IBN KABR F02D Msbāḥālzlmʼ fi āidāḫālḫdmʼ. Edited by Samuel El Suriany. Cairo: Dayr al-Suryan, 1992, p. 227.
78. BURMESTER, Oswald Hugh Ewart F02D The Egyptian or Coptic Church…, pp. 251-252.
79. GROSSMANN, Peter F02D “Epiphany Tanks”, p. 968; BURMESTER, Oswald Hugh Ewart – A Guide to
the Ancient Coptic Churches…, p. 19.
80. Bishop SAMUEL F02D Dlilālknās …, p. 53.
81. EL HEWMY, Youssef F02D ālāḥtfālbʽidālġṭāsālmğid (Epiphania) fi ktbālmwrḫinālʽrb.
Alexandria-Cairo: Biblioteca Alexandrina, 2016, p. 18.
82. YOUSSEF, Samer F02D Tāṯir ālātğāht ālʽqādiaʼʽ…, p. 150.
83. Visit on the field.
84. Visit on the field.
85. INNEMÉE, Karel F02D Excavations at the site of Deir Al-Baramus 2002-2005. Leiden: Leiden University,
2005, p. 4.
86. Visit on the field - first publication.
87. EVELYN WHITE, H. G. F02D The Monasteries of the Wadi ‘N-Natrun …, p. 117; El MESKIN, Matta –
ālrhbnaʼ ālqbṯiaʼ …, pp. 675-676.
Medievalista, 28 | 2020
274
ABSTRACTS
Although Christianity was widespread in Egypt since the 1st century, Christians were only
allowed to exercise their worship freely after the Milan decree. From this date, Christianity was
recognized and the churches were built.
The architecture adopted in the foundation of the churches involved the construction of some
basins for different uses such as the baptismal basin which changed shape and location over the
centuries. The churches also contained "El Maghtas" used for holy water during the feast of the
Epiphany. The basin called "El Laqân" of circular shape not deep was carved on the floor of the
old churches. Besides these, other pools were used for washing and for exercising Extreme
Unction.
Thus, we will explain in this research the difference between the basins, their evolution and their
importance while referring to examples from various ancient Coptic churches.
Bien que le Christianisme fût répandu en Egypte dès le premier siècle, les Chrétiens n'eurent le
droit d'exercer librement leur culte qu'après le décret de Milan. A partir de cette date, le
Christianisme fut reconnu et les églises furent édifiées.
L'architecture adoptée dans la fondation des églises impliquait la construction de quelques
bassins pour différents usages comme le bassin baptismal qui changea de forme et
d'emplacement au cours des siècles. Les églises contenaient également "El Maghtas" utilisé pour
l'eau bénite durant la fête de l'Epiphanie. Le bassin appelé "El Laqân" de forme circulaire pas
profond était sculpté sur le sol des anciennes églises. A part ceux-ci, on utilisait d'autres bassins
pour se laver et pour exercer l'Extrême-Onction.
Ainsi, nous expliquerons dans la recherche la différence entre les bassins, leur évolution et leur
importance tout en se référant sur des exemples figurant dans différentes anciennes églises
coptes.
INDEX
Mots-clés: Architecture, Bassin, Patrimoine, Maghtas, Laqân
Keywords: Architecture, Basin, Heritage, Maghtas, Laqân
AUTHOR
MARY MAGDY ANWAR
Faculty of Tourism and Hotels Alexandria University, Tourist Guidance Department 21500
Alexandria, Egypt. [email protected]. https://orcid.org/0000-0001-8974-0598
Medievalista, 28 | 2020
275
Recensões
Medievalista, 28 | 2020
276
ANDRADE, Amélia Aguiar; TENTE,Catarina; SILVA, Gonçalo Melo;PRATA, Sara (eds.) – Inclusão eExclusão na Europa Urbana Medieval.Inclusion and Exclusion in MedievalUrban Europe. Lisboa: Instituto deEstudos Medievais-CâmaraMunicipal de Castelo de Vide, 2019(552 pp.)Maria Helena da Cruz Coelho
REFERÊNCIA
ANDRADE, Amélia Aguiar, TENTE, Catarina, SILVA, Gonçalo Melo, PRATA, Sara (eds.) –Inclusão e Exclusão na Europa Urbana Medieval. Inclusion and Exclusion in Medieval Urban
Europe, Lisboa : Institudo de Estudos Medievais / Câmara Municipal de Castelo de Vide,552 pp.
NOTA DO EDITOR
Esta recensão corresponde ao texto de apresentação do livro Inclusão e Exclusão na
Europa Urbana Medieval. Inclusion and Exclusion in Medieval Urban Europe (2019),apresentado a 10 de Outubro de 2019, em Castelo de Vide, durante as IV Jornadas
Medievalista, 28 | 2020
277
Medievais Internacionais de Idade Média: Abastecer a Cidade na Europa Medieval, quedecorreram entre os dias 10 e 12 de Outubro de 2019.
1 Com muito proveito li este livro que desenvolve o seu conteúdo em cinco partes: I – A
intervenção dos poderes; II – Instituições e Processos; III – Marcas de exclusão no urbanismo
medieval; IV – Inclusão e exclusão no registo material. Perspectivas desde a Arqueologia; V –Acolher ou excluir: os estrangeiros na cidade.
2 Percebemos claramente por estas denominações que estamos perante uma temática
desenvolvida a partir de diversas fontes – das arqueológicas às escritas – eperspectivada sob múltiplos enfoques históricos, percorrendo poderes, instituições,sociedades, economias e urbanismo. Cruzam-se espaços da Europa urbana etemporalidades. Combinam-se metodologias e conceptualizações. Entrecruzam-seespecialistas, dos mais experientes aos mais jovens, entre historiadores, filólogos,arqueólogos, arquitectos e juristas, dos nacionais aos estrangeiros de Espanha, França,Alemanha, Holanda e Itália. Constrói-se uma obra com vinte e dois estudos, saídos dapena de vinte e oito especialistas.
3 A primeira parte – A intervenção dos poderes – inicia-se com uma ampla e clarividente
síntese de Wim Blockmans que nos apresenta o quadro da inclusão e da exclusão nasociedade medieval. Os padrões de inclusão/exclusão podem advir do género – e asmulheres são evidentemente as grandes excluídas –, das crenças – e o Cristianismoreinante exclui os demais credos religiosos –, da etnicidade, da nacionalidade, dafamília ou parentesco, da pertença a uma comunidade. Os estratos privilegiados dasociedade são por natureza excludentes. Mas os códigos sociais da aristocracia vão serjustamente os que o patriciado urbano irá reproduzir. Aliás a cidade, com os seusmuros, torres e portas, mimetizando o modelo do castelo feudal, é inclusiva para osseus cidadãos e exclusora para os de fora. Detem-se ainda o Autor na formação dascomunidades urbanas no norte e centro da Europa com as suas associaçõessocioeconómicas, religiosas ou culturais, das hansas, dos mercadores e guildas dosartesãos às confrarias e universidades demonstrando como elas são inclusivas para osseus membros, mas fechadas e exclusoras para os demais. Virá assim a concluir que apaisagem urbana medieval, prolongada por tempos de Antigo Regime, era umatessitura complexa de variados privilégios e privilegiados locais, identificados pordiferentes códigos e marcas sociais.
4 Abre o caso português Hermínia Vilar com um texto sobre a comunicação entre o rei e
as cidades na Idade Média. Definem-se nele as fronteiras e os limites dos intervenientesnesse espaço político e os níveis de sobreposição ou confluência do discurso entre o reie a cidade. Põem-se em destaque as linhas de interaccão no governo do reino, como noda cidade, que exigiam a ambos os poderes uma política de negociação e de equilíbrios.Analisando a documentação de produção régia – as leis gerais – e de produção local – asposturas e as vereações – evidencia as temáticas centrais e comuns aos dois corposlegislativos, bem como a denominação e justificação das leis produzidas, que nosremetem para os modelos de governação e de articulação entre os diferentes níveis daprática política. No seu todo percebe-se que há mais convergências que divergências delinhas políticas no governo do reino e da urbe e uma profunda contaminação einteracção entre os objectivos e a prática do poder régio e do poder local.
Medievalista, 28 | 2020
278
5 Após estes dois textos, que diríamos introdutórios, mergulhamos na questão das
minorias religiosas – judeus e muçulmanos – que, na sociedade cristã medieval, deimediato nos remete para a problemática da exclusão e inclusão.
6 Jean-Luc Fray, revisitando a historiografia francesa e alemã sobre as novas noções de
concivilitas de sentido político, de evolução paralela e de convergência, e convocando aprodução historiográfica sobre as pequenas cidades, lança um outro olhar sobre ainserção das comunidades judaicas na “paisagem social” urbana. Seguirádesenvolvendo os paralelismos, as influências e as trocas de serviços entre cristãos ejudeus no meio urbano. Demonstra como a progressão geográfica de judeus naAlemanha medieval desenvolveu o processo de urbanização, comercialização emonetarização; como a implantação das comunidades e bairros judaicos na topografiaurbana abria espaço à convivência quotidiana; como existia uma colaboraçãointelectual entre ambos. Em síntese, como afirma, a presença das comunidades judaicasna rede urbana do ocidente medieval apresenta-se como um espelho da própria Europamedieval cristã, que se articula entre coabitações frequentes, numerosas trocas eincontestáveis tensões.
7 Maria Filomena Barros põe-nos perante o relacionamento entre cristãos, judeus e
muçulmanos em que confluem, consoante os tempos e a diferentes níveis, inclusões,exclusões e interacções. Releva para esta análise o conceito de “entrelaçamento”,caracterizando-o desde a formação dos reinos ibéricos até à expulsão dos judeus de
Castela e Portugal. Particulariza a inclusão, aludindo ao contexto político daorganização e governo das comunas de judeus e mouros e à sua comunicação com osdemais poderes, do régio ao concelhio. Acentua depois as exclusões legislativas,exigidas pela Igreja e reproduzidas pelo poder real, particularmente no que se refere àsleis do vestuário, em que se visa, através do corpo, demarcar e tornar visível aalteridade destas minorias étnico-religiosas, a par do crescendo de leis que obrigam àseparação espacial de mouros e judeus em bairros próprios. Por fim atem-se àsinteracções entre os concelhos e as comunas de judeus e mouros ou entre os concelhose membros individualizados das minorias, e à transgressão dos interditos legislativos, oque aponta para um relacionamento social frequente entre todos no quotidiano de vidae de trabalho.
8 A análise das leis contidas nas Ordenações Afonsinas respeitantes a judeus é objecto de
estudo de Ricardo Rodrigues, que analisa trinta e três títulos relativos os judeus, que secondensam no Livro II. Na dilucidação do conteúdo de tais leis, agrupa-asdicotomicamente em privilégios – quer quanto à autonomia das comunas de judeus,quer quanto aos direitos e garantias dos judeus perante os cristãos – e em limitações.Nestas limitações começa por referir o regime fiscal; em seguida as leis de afastamentoentre a maioria cristã e a minoria judaica; depois as leis de carácter económico-financeiro e contratual; as leis sobre ofensas dos judeus ao cristianismo; ou ainda outrasproibições e penas, como, por exemplo, a interdição de porte de armas. Acentua, aterminar, a existência nas Ordenações Afonsinas de uma transposição do Direito Canónicopara o Civil, anota o balanço legislativo entre os privilégios e as proibições, para vir adar conta, por fim, de um endurecimento da política legislativa contra os judeus apartir do século XV.
9 Os judeus continuarão a estar presentes nesta obra pela marca indelével das judiarias
na paisagem urbana medieval, temática abordada na terceira parte deste livro.
Medievalista, 28 | 2020
279
10 Jean Passim propõe-nos a reconstituição, a partir de textos e da arqueologia, dos
bairros judaicos de Toledo. A Grande Judiaria da cidade, composta por três bairros dedesiguais dimensões, começou a ser abandonada depois do progrom de 1391 para seesvaziar completamente em 1492, tendo sofrido ao longo de cinco séculos profundastransformações. O Autor estuda os três primeiros séculos da sua existência, bairro porbairro. Havia ainda uma outra judiaria apartada na colina de Alacava, destruída em1355, que possuía uma sinagoga e uma escola rabínica (midrash). Acrescentavam-se-lhesmais o bairro de Caleros com outra sinagoga, abandonado depois do referidomovimento antijudaico de 1391. Percebe-se claramente através deste estudo, bemapoiado em imagens, a inserção da comunidade judaica no tecido urbano da cidade deToledo.
11 E de Toledo passamos a Lisboa, desenhando-nos Manuel Fialho Silva, apoiado em
elucidativas reconstituições cartográficas, a morfologia urbana das Judiarias Velha eNova de Lisboa. Permitem-lhe estas um estudo comparado, que não se pode estender àjudiaria de Alfama, cuja forma urbana não foi ainda reconstituída, nem ao núcleopopulacional da Pedreira, que permanece ainda bastante desconhecido. A morfologiaurbana da Judiaria Grande ou Velha, situada no Arrabalde Ocidental, local privilegiadode comércio, foi condicionada pela orografia da colina ocidental do castelo e pelosistema viário romano ainda existente e caracterizava-se por uma disposição de ruas ecasario organizada em torno da sinagoga, situada no centro da judiaria. Já a JudiariaPequena ou Nova, resultante de um plano de reestruturação da Ribeira, levado a cabopor D. Dinis, apresenta uma estrutura linear com lotes muito provavelmente iguais aolongo da rua que separava a Judiaria Pequena das Tercenas régias. Percebe-se assimcomo as diferentes géneses das duas Judiarias de Lisboa plasmam uma opostamorfologia urbana, a primeira de complexa matriz mediterrânica, afeiçoada pordiversas condicionantes, a segunda baseada numa organização linear, testemunho domodo de urbanização de finais de Duzentos.
12 De Sul para Norte, somos levados pelo estudo de Maria do Carmo Ribeiro, que se apoia
em fontes escritas, cartografia e iconografia, a conhecer a inserção da comunidadejudaica no urbanismo da cidade de Braga em tempos medievais. Não existia, até finaisdo século XIV, um local exclusivo de fixação dos judeus em Braga, os quais sedispersavam por diferentes casas e tendas, situadas nas variadas artérias da cidade,ainda que se detecte uma maior concentração na Rua da Sapataria. A primeira Judiariada cidade, a dita Judiaria Velha, resultante do aumento do número de judeus na urbe,deverá ter sido criada na primeira metade do século XV. Era aberta e situava-se na Ruada Erva, inserindo-se, portanto, no sector urbano da cidade de malha bastante regularde artérias, herdada da ocupação romana, e na centralidade da cidade cristã,demarcada pela catedral, paços do concelho e açougues, pólo de um vivo fluxocomercial. A Judiaria Nova, para onde se transferiu a comunidade judaica a partir de1466, estabeleceu-se também na parte sul do núcleo amuralhado, na Rua da Triparia.Estava, porém, numa área mais afastada da catedral, menos urbanizada e concentrava-se numa rua mais estreita e menos extensa, que poderia ser melhor controlada peloscristãos. Os contrastes entre as duas judiarias, que a Autora destaca a concluir, bemcomo a dispersão de alguns judeus a morarem fora delas, são sinais do jogo dasinclusões e exclusões que se detectam entre a comunidade judaica e a cristã, ditado porfluxos migratórios e por diferentes objectivos políticos do poder real e do poderreligioso e civil da cidade.
Medievalista, 28 | 2020
280
13 Emerge pelo estudo de Tiago Ramos, Alcina Camejo e Daniel Martins o enquadramento
da Judiaria da Guarda. Data esta de finais do século XIII e situava-se no espaçoamuralhado da cidade, na área noroeste, encontrando-se mesmo adossada à muralha, einseria-se também num espaço privilegiado do núcleo urbano, nas proximidades daPraça e da Rua de S. Vicente, numa área de propriedade régia. Os Autores, à luz doscontributos das intervenções arqueológicas nela realizadas, revêm anteriores propostashistoriográficas sobre a sua morfologia e os seus espaços religiosos – sinagoga, banhosrituais e cemitério – ou espaços domésticos, apelando ao incremento de estudoscriteriosos e científicos, apoiados numa metodologia interdisciplinar, que permitamconhecer melhor o caso concreto da comunidade judaica da Guarda em particular edesta minoria religiosa da sociedade medieval no seu todo.
14 As perspectivas da arqueologia, que deixam perceber, através da cultura material,
sinais da inclusão e da exclusão, integram a quarta parte desta obra.
15 Moisés Alonso Valladares e Alberto García Porras detêm-se sobre a cronologia do sector
setentrional das muralhas da alcáçova de Granada. Os Autores dão conta das diversas econtroversas cronologias propostas por historiadores e arqueólogos ao longo dostempos, bem como dos resultados de recentes escavações realizadas no século XXI. E separecem aceitar que a muralha interna da cidade data do século XI, afirmam que adatação da muralha externa continua a ser muito controversa. Exigida esta novamuralha pela expansão urbana dos arrabaldes, deve ter sido construída na épocaalmóada, ainda que com tramos mais tardios dos finais do emirado nazari(provavelmente entre 1425 e 1456). A construção de uma porta e de mais um lanço demuralha podia estar relacionada com a vontade de segregar as propriedades reais faceao entorno urbano mais próximo, ainda que possam também admitir-se outrashipóteses interpretativas de natureza militar, urbanística ou arquitectónica,enunciadas pelos Autores.
16 Inés María Centeno Cea, Maria J. Negredo García, Ángel L. Palomino Lázaro, Manuel
Moratinos García estudam, com base em investigações documentais e intervençõesarqueológicas, o nascimento de La Mota, que se integra no município de Castrillo Motade Judios, situado próximo de Burgos. Este município, antigamente conhecido comoCastrillo Matajudios, por vontade dos seus dirigentes locais e da sua população, mudoude nome, em consonância com a realidade histórica, e adoptou uma política activa deuma mais correcta e científica memória judaica e sefardita da localidade. De facto, emLa Mota existiu, entre os séculos XI e XIV, uma importante judiaria e foram essesjudeus, já convertidos ao cristianismo, que depois deram origem à actual localidade deCastrillo. As escavações arqueológicas recentemente realizadas deram a conhecer que a
cerâmica encontrada data dos séculos XII e XIII e é de diferentes tipos, muitodetalhadamente estudados pelos Autores, constando de objectos domésticos, sobretudocom fins culinários, e de certas peças especificamente judaicas, os candis, utlizados naconhecida festa das luzes desta religião. As análises arqueobotânicas e arqueozoológicasdos materiais escavados são também do maior interesse, permitindo conhecer avocação agrícola e ganadeira da comunidade e a sua dieta vegetal e carnívora, o quereforça o valor patrimonial material e imaterial desta judiaria, cujo conhecimento seráacessibilizado ao público no Centro de Memória Sefardita da localidade.
17 Ainda nesta quarta parte do livro, Catarina Meira recua no seu trabalho para tempos
romanos, que nos revelam o sítio do Loteamento do Quintal, na cidade de Viseu, junto àigreja de S. Miguel do Fetal. Aí existiu uma necrópole romana, localizada no exterior da
Medievalista, 28 | 2020
281
cidade junto à porta oriental, que se manteve durante a Alta Idade Média como a maisimportante área cimeterial ao redor da mencionada igreja. A Autora remete para asmais antigas e recentes escavações arqueológicas no local e para os seus resultados,
estando o abundantíssimo material recolhido a ser analisado pela própria para aelaboração da sua tese de doutoramento. Como nos dá a saber, o mesmo elucida-nossobre as diferentes produções cerâmicas, sobre as múltiplas tipologias dos objectos,entre peças de servir à mesa, de armazenamento, de cozinha e de contentores delíquidos, e sobre os circuitos de trocas comerciais da cidade. O estudo finaliza com ademonstração e explicação das cinco fases de utilização/abandono desse local, que nostestemunham o dinamismo de ocupação e transformação de um espaço da cidade deViseu desde a Antiguidade Tardia à Alta Idade Média.
18 Esta obra contempla ainda duas outras problemáticas de inclusão e exclusão, olhadas a
partir dos pobres e dos estrangeiros.
19 Assim, na parte segunda da mesma, que se agrupa sob a designação Instituições e
Processos, engloba-se especialmente a questão das franjas sociais decorrentes dapobreza, sob diversos contextos políticos.
20 Ana María Carballeira Debasa, tratando fontes árabes de natureza histórica, biográfica e
jurídica, analisa a pobreza na comunidade islâmica do Al-Andaluz. Começa porcaracterizar o pobre, distinguindo a pobreza involuntária da pobreza voluntária,assumida por ideais ascéticos e místicos. Discute, em seguida, os comportamentossociais face à pobreza, seja marginalizando-a, tanto do ponto de vista religioso comosocioeconómico, o que, no limite, podia remeter o pobre para a criminalidade, sejaintegrando-a por meio de actos particulares ou públicos de caridade, assumidos tantocomo uma obrigação religiosa como também como uma responsabilidade social. Erematará afirmando que a sociedade islâmica não pretendia erradicar a pobreza, quereligiosamente era mesmo necessária para que o preceito corânico da esmola secumprisse, mas antes mitigar as suas consequências e assegurar que ela não pudesse serum factor que levasse a subverter ou a ameaçar a ordem social estabelecida.
21 Pablo Ortego Rico atenta na comunidade mudéjar de Madrid durante a Baixa Idade
Média, buscando rastrear os mecanismos de integração económica desta minoriareligiosa. Na verdade, se a legislação a marginaliza, o papel económico desta minoria noseio das sociedades urbanas promovia a sua integração e mesmo ascensão social, ligadaao desempenho de certos ofícios especializados. Predominam os mudéjares que sededicavam à actividade artesanal – 67,7% – seguidos dos que se dedicavam à actividadecomercial – 22,2% – e por fim os que desempenhavam algum ofício institucional oureligioso – 10,1%. Comprovadamente se evidencia que as interacções económicas entrecristãos e muçulmanos nestes sectores produtivos relegavam para um segundo plano asdiferenças religiosas e conduziam a uma convivência social pacífica.
22 José Manuel Triano Milán fixa-se no sistema de taxação fiscal em Sevilha no século XV
para perceber os diversos níveis de enquadramento social. Demonstra como a inscriçãodo nome do contribuinte nestas listas de fiscalidade era a mais cabal evidência dacondição de vizinho, que, todavia, como sabemos, contem em si muitas distinções.Todavia, não menos importante se torna atentar nos que não vêem os seus nomesinscritos em tais listas, que se agrupam, tripartidamente, em privilegiados, minoriasreligiosas e os que não tinham rendimentos suficientes para contribuir nos impostos,seja os pobres fiscais ou os pobres de solenidade que nada possuíam por velhice, viuvezou doença. O autor verifica que os padrões fiscais hispalenses e as estratégias das
Medievalista, 28 | 2020
282
oligarquias municipais que nela se espelham dão conta de um grande dinamismo emobilidade sociais e evidenciam processos de inclusão e exclusão de vária natureza econotações de sentido positivo ou negativo.
23 Os dois últimos estudos desta parte da obra incidem sobre a institucionalização dos
pobres e doentes.
24 Ana Rita Rocha centra-se sobre a rede hospitalar de Coimbra, considerando a sua
inserção no tecido urbano, social, religioso e político. Logo a abrir apresenta odesenvolvimento das instituições assistenciais por séculos, verificando-se o seufortíssimo crescimento no século XIV, e aponta para um total de 45 hospitais,albergarias, mercearias e gafarias entre os séculos XII e XV. Percebe-se, aoparticularizar a sua implantação urbana, que a maior parte destas casas se encontra nosarrabaldes e não na Almedina, o que a Autora descreve com desenvolvimento. E virá aconcluir que em Coimbra, à semelhança de outras cidades e regiões, as instituiçõeshospitalares se situavam preferencialmente junto dos principais eixos viários, emligação com portas e pontes, pois que a maioria dos seus ocupantes eram gente que semovimentava, entre pobres, doentes, peregrinos e viajantes, havendo, porém, algumasoutras junto a edifícios de prestígio, o que mais comprovava a sua integração nasociedade urbana, que deste modo as protegia mas também melhor as controlava.
25 Por sua vez Pablo Alberto Mestre Navas estuda o Hospital de São Lázaro de Sevilha, que
data de época próxima da conquista da cidade (1248) e cuja fundação se ficou a dever àiniciativa real de Fernando III ou Afonso X de Castela, havendo este último monarca,bem como Afonso XI, obrigado todos os leprosos do arcebispado de Sevilha e do bispadode Cádis a ingressar nele. Foi instalado numa construção islâmica, nas imediações dacidade, que assim o vigiava, mas também amparava. O Autor deixa-nos entrever as suasfontes de rendimento, as autoridades que o regiam, os privilégios que detinha e asnormas religiosas e económicas que orientavam a vida no Hospital. E virá a referir que,apesar dos favores concedidos pela Igreja e pela Coroa, o estabelecimento subsistiusempre em condições precárias devido à má administração e aos sucessivos atropeloscometidos pelos seus oficiais.
26 Termina este livro com uma última parte intitulada: Acolher ou excluir: os estrangeiros na
cidade.
27 Abre-a Gisela Naegle que procura elucidar as atitudes de acolhimento ou expulsão dos
forasteiros na França e na Alemanha na Baixa Idade Média, numa perspectiva dehistória política e jurídica comparada. No contexto da Guerra dos Cem Anos, o rei deFrança perseguiu uma política de acolhimento dos forasteiros, justificando-a com anecessidade de aprovisionamento da população, enquanto as cidades pretendiamexcluir os intrusos e proteger os seus interesses. Anota, por exemplo, casos de genteespecializada repudiada (por exemplo os juristas, em especial nas cidades comerciaisalemãs) ou procurada, como os artesãos altamente qualificados. Na realidade, como aAutora vem a evidenciar, a inclusão e a exclusão são duas faces da mesma medalha, queestão ligadas à honra e à prosperidade económica e demográfica da cidade. A nível dosdiscursos as atitudes justificam-se com o argumento do bem comum e, no caso derefugiados de guerra, com o da caridade, argumentação que encobre por vezes osverdadeiros móbeis das atitudes para com os forasteiros, podendo estes englobar todasas camadas da sociedade medieval.
28 Elena Maccioni estuda um pleito ocorrido em 1433 entre barceloneses e genoveses,
levado perante a rainha de Aragão, por causa de um imposto, que teve grandes
Medievalista, 28 | 2020
283
implicações diplomáticas e políticas. Sabemos que Barcelona detinha uma forte políticaprotecionista e hostil à presença estrangeira no seu território, que o rei Afonso V deAragão apoiava. O processo deixa conhecer o nome de mercadores italianos e osprodutos que comercializavam, mas igualmente permite averiguar as decisões políticas,económicas e fiscais aplicadas pelas elites mercantis e navais catalãs aos estrangeiros,em particular aos genoveses. A quebra da paz fiscal entre as duas cidades levou Génova,na segunda metade do século XV, a preferir negociar com Valência, como aliás ofizeram outros mercadores estrangeiros.
29 Javier Añibarro Rodriguez coloca-nos perante a realidade da presença de navegantes do
Norte de Castela nos portos irlandeses, nos finais da Idade Média, a partir do caso deestudo de San Vicente de la Barquera e de Laredo. Começa justamente por ilustrar aconvivência entre marinheiros castelhanos e mulheres irlandesas, que, tal com noutraspartes, era no geral uma fonte de problemas que as normativas procuravamregulamentar. Os cântabros receberam também licenças para pescar nos mares daIrlanda e estabeleceram trocas comerciais com os naturais ou emprestaram-lhesmesmo navios, o que dinamizava a economia local e a enriquecia com o pagamento detaxas fiscais. Mas se havia relações pacíficas também existiam algumas conflituosas,embora as relações de interação, ainda que descontínuas dada a sua característica desazonalidade, se sobrepusessem às de exclusão, e comprovem mesmo umrelacionamento estreito com os senhores locais e os poderes eclesiásticos.
30 Enrique José Ruiz Pilares perscruta a presença de estrangeiros no governo das cidades
da Andaluzia em finais da Idade Média. Percebemos, por exemplo, que em Sevilhamarcavam presença, entre os regedores, vários membros da família portuguesaPortocarreiro e, entre os jurados, homens de famílias italianas; em Sanlúcarascenderam ao poder alguns ingleses; em Cádis encontravam-se certos dirigentes deorigem genovesa. Mas, como vem a concluir a Autor, apesar da integração dosestrangeiros nas cidades e vilas andaluzas, a sua penetração nos governos urbanos émuito limitada até meados do século XVI. Também, por sua vez, a comunidadeestrangeira estaria mais interessada no controlo do mercado e da fiscalidade que noexercício do poder local.
31 A finalizar a derradeira parte da obra, Lorenzo Lage Estrugo debruça-se sobre os casos
dos genoveses Manuel Pessanha e Egídio Bocanegra, ao serviço das Coroas de Portugal eCastela, comparando as suas diferentes trajectórias de integração. Analisando comminúcia as especificidades de recrutamento de ambos para o almirantado pelos reis D.Dinis de Portugal e Afonso XI de Castela, evidencia como no primeiro caso se está aimplantar, sob a supervisão da Coroa, o cargo de almirante de uma forma estável econtínua, enquanto no segundo se recrutava um reformador da marinha castelhanapara as lutas a haver no estreito de Gibraltar. Torna-se claro, todavia, que as duascontratações responderam a necessidades de reconfiguração das instituições navais,quando ambas as Coroas pretendiam projectar-se maritimamente, recorrendo aestrangeiros com provas dadas no domínio do mar Mediterrâneo.
32 Espero ter demonstrado, com o que deixei exposto nesta nota de leitura, que, para
conhecer e aprofundar a temática da inclusão e da exclusão, a nível daconceptualização, das metodologias e das concretizações históricas, sob múltiplasabordagens e manejando diversas fontes, este livro se torna imprescindível. Em boahora o escreveram os seus Autores, o creditaram os seus Avaliadores, o organizaram osseus Coordenadores e o subsidiaram os seus Patrocinadores.
Medievalista, 28 | 2020
284
33 Os conceitos de inclusão e exclusão, relacionados com tantos outros, desde logo os de
identidade e alteridade, afeiçoam as duas faces de Janus e imbricam-se na complexidadeda sociedade medieval percorrida por estrageiros, pobres e viandantes e composta pormaiorias e minorias religiosas devidamente hierarquizadas. Fronteiras, limites,marginalização, interacção, integração, composição descobrem-se nas políticas, nosactos e nos comportamentos sociais ao ler este livro.
34 Creio não ser preciso mais acrescentar para que todos desejem mergulhar na sua
leitura, sentindo-se incluídos no seu saber e excluídos do seu desconhecimento.
AUTORES
MARIA HELENA DA CRUZ COELHO
Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, Centro de História da Sociedade e da Cultura
3004-530 Coimbra, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0002-8030-4578
Medievalista, 28 | 2020
285
CLÉMENT, François (dir.) – Épidémies, épizooties. Desreprésentations anciennes auxapproches actuelles. Rennes: PressesUniversitaires de Rennes, 2017 (264pp.)André Filipe Oliveira da Silva
REFERÊNCIA
CLÉMENT, François (dir.) – Épidémies, épizooties. Des représentations anciennes aux
approches actuelles. Rennes : Presses Universitaires de Rennes, 264 pp.
1 O livro sobre o qual se redige esta recensão resulta dos trabalhos de duas jornadas de
investigação, relacionadas com dois projetos realizados em unidades de investigaçãodas Universidades de Nantes e de Poitiers. Tratando-se de uma obra coletiva – são 17 osautores que colaboram neste volume de 12 capítulos, aos quais se acrescentam umanota introdutória e um posfácio do diretor do volume F02D , importa julgar a coerência dacomposição de uma obra que deve ser mais do que uma amálgama de capítulos. Furtar-me-ei, assim, a fazer micro-recensões por capítulo, que adulterariam a leitura da obra eo seu propósito. Este livro é o segundo número de uma nova coleção, sendo antecedidopor uma obra igualmente resultante dos projetos suprarreferidos1.
2 A Epidemiologia Histórica tem conhecido avanços extraordinários nesta última década,
fruto do trabalho multi e interdisciplinar e intercomunicante. Também em Épidémies,
épizooties parece ser esse o caso. As quase duas dezenas de autores constituem umaequipa multi-geracional, de investigadores em fase de pós-doutoramento a professoreseméritos, verificando-se igual variedade frutuosa nos diversos backgrounds
Medievalista, 28 | 2020
286
disciplinares: paleoclimatólogos, filólogos, historiadores sociais, do ambiente, dasciências e das mentalidades, arqueozoólogos, biólogos, arqueólogos, arabistas,bizantinistas e hebraístas, enfim, uma constelação multidisciplinar que contribui emmuito para uma obra coerente, ainda que diversa nos seus conteúdos, métodos eformas. Poder-se-á apontar uma certa ‘endogamia nacional’, pois, entre os 17 autores,apenas um, proveniente do Museu Comarcal de l'Urgell-Tàrrega, na Catalunha, não seencontra filiado a uma instituição sedeada em França. Porém, isto dever-se-á mais àconstituição das equipas dos projetos em causa do que a uma preferência nãojustificada ou a um desconhecimento do que se faz fora da esfera francófona, nãoresultando em nenhum prejuízo do produto final.
3 As abordagens e as questões metodológicas são a peça central desta obra e o grande fio
condutor entre os seus capítulos. Estes sucedem-se seguindo um critério tripartido, masharmonioso – a) a cronologia do tema, b) a doença ou fenómeno estudado e c) o tipo deabordagem. Creio que, assumindo essa organização, poder-se-á distinguir três grandesblocos. No primeiro, partimos da Antiguidade e vamos até ao final da Idade Média emseis capítulos dedicados à Peste e à compreensão coletiva e erudita dos fenómenosepidémicos, passando pelos universos culturais greco-romano, islâmico, judaico,bizantino e cristão latino, indo das análises textual e lexical a uma reflexão e ponto desituação sobre o estado da arte do tema, nesse caso concreto sobre a peste no espaçobizantino. No segundo bloco, no qual incluo o sétimo, oitavo e nono capítulos2, sãorepensadas as aborgadens históricas feitas a diversas doenças: no primeiro caso, avárias doenças num determinado contexto geográfico e cronológico – o PróximoOriente alti-medieval; no segundo, a abordagem médica do persa Razes (c. 825-c. 925),que distinguiu pela primeira vez a rubéola da varíola; no terceiro, uma críticametodológica e retrospetiva ao estudo histórico do paludismo/malária. O terceiro eúltimo bloco que individualizo incide sobretudo, mas não exclusivamente, sobre fontesmateriais, mormente arqueozoológicas e antropológicas; assim, em três capítulos,apresenta-se o estudo sobre um enterramento coletivo romano como exemplo de fontepotencial para o estudo de crises sanitárias, uma proposta metodológica de estudomultidisciplinar de fenómenos epizoóticos e a apresentação de achadosarqueozoológicos e respetiva análise individual para deteção de potenciais sinais deepizootia ou crise de mortalidade animal numa área partilhada entre as atuais França eSuiça, em várias fases da Idade Média.
4 Todos os capítulos recorrem a abundantes fontes e bibliografia, entre os clássicos e a
mais recente produção. Obras em línguas vernáculas, latim, grego, árabe e hebraicoconstituem o cerne dos textos analisados, com excertos na língua original citados emnota de rodapé, no corpo do texto ou em tabelas, permitindo uma visãoverdadeiramente transversal, ainda que sempre em forma de amostra exemplificativa.Poder-se-á sentir falta de alguma bibliografia não-francófona em alguns capítulos, masa existência de diversos estudos de caso, muitas vezes pouco frequentes ou com rarosparalelos, pode justificar essa ausência. Nos capítulos onde o mote é uma reflexão maisalargada, a bibliografia em inglês, italiano, alemão, castelhano e catalão, para nomearas mais representadas, vai enriquecendo e consolidando as propostas desenvolvidaspelos diversos autores. Nota também para a existência de tabelas em vários capítulos,no corpo do texto quando o tamanho permite, ou em anexo, sistematizando informaçãoou fornecendo dados individuais, aos quais se acrescentam fotos, desenhos e mapas,concentrados sobretudo no terceiro bloco de capítulos, e que permitem a todos osleitores menos familiarizados com a terminologia e análise arqueozoológica e
Medievalista, 28 | 2020
287
paleopatológica compreender melhor os temas e casos abordados, não sendo em nadaafetados pela impressão a preto e branco.
5 Aproveito para deixar algumas observações sobre outros aspetos da obra como objeto
de trabalho. A edição, em capa mole, permite o manuseamento e transporte fáceis, oque nem sempre acontece neste tipo de edições académicas. O preço de capa, 21€,representa uma agradável surpresa, contrastando com edições do mesmo género queatingem facilmente valores 3, 5 ou até 10 vezes superiores. Se este preço érelativamente acessível em Portugal, muito mais o será em França, país onde foieditado, e é um exemplo que deveria ser seguido de perto por outras editorasacadémicas, cuja principal função deverá ser sempre divulgar e difundir oconhecimento produzido sob o seu patrocínio.
6 Terminando esta breve digressão por Épidémies, épizooties, cumpre dizer que é uma obra
de qualidade, onde os critérios de seleção e organização, que são sempre questionáveis,conduzem a um resultado francamente positivo e que, mais do que constituir umasíntese – que nunca é proposta -, ou uma amálgama de capítulos sem coerência sob umtítulo vagamente interconectante, apresenta vários pontos de partida ou reflexões depercurso, uma verdadeira troca multidisciplinar e mais um contributo coletivo parauma área entusiasmante que tem sido decisiva para o avanço do conhecimentohistórico global, integrado e transversal a todas as cronologias.
NOTAS
1. CLÉMENT, François (dir.) F02D Histoire et nature: Pour une histoire écologique des sociétés
méditerranéennes (Antiquité et Moyen-Age). Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2011. ISBN
978-2753517202. 312 pp.
2. Os capítulos não estão numerados, e a contagem que faço exclui as já referidas notas de
introdução e posfácio.
AUTORES
ANDRÉ FILIPE OLIVEIRA DA SILVA
Universidade do Porto, Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”/
Universidade de Évora, Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades 4150-564 Porto,
Portugal / 7000 Évora, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0003-0223-8314
Medievalista, 28 | 2020
288
MUÑOZ GÓMEZ, Víctor – El poderseñorial de Fernando “el de Antequera”y los de su Casa. Señorío, redesclientelares y sociedad feudal en Castilladurante la baja Edad Media. Madrid:Consejo Superior de InvestigacionesCientíficas, 2018, (533 pp.).Arsenio Dacosta
REFERENCIA
MUÑOZ GÓMEZ, Víctor – El poder señorial de Fernando “el de Antequera” y los de suCasa. Señorío, redes clientelares y sociedad feudal en Castilla durante la baja EdadMedia. Madrid : Consejo Superior de Investigaciones Científicas, (533 pp.)
1 La obra objeto de esta reseña es, posiblemente, una de las más solventes y ambiciosas
de las que, últimamente, han abordado el periodo bajomedieval en la Corona de Castilla.Como otras, forma parte de una renovación historiográfica española, sólida y silenciosa,superviviente de los rigores de una política científica miope y cortoplacista en nuestropaís. Su autor, Víctor Muñoz, es uno de tantos jóvenes investigadores cuyo currículumdebería enrojecer a algunos responsables académicos y políticos. En un contexto tanpoco propicio Víctor Muñoz defendió su tesis doctoral en la Universidad de Valladoliden enero de 2016, ofreciéndonos en este volumen la sección central de la misma. Suobjeto es el análisis de la conformación y gestión del poder señorial de la Casa deFernando de Trastámara y su esposa Leonor de Alburquerque, dos figuras centralespara comprender el juego de poderes en las Corona de Castilla y, también, de Aragón en
Medievalista, 28 | 2020
289
el tránsito del siglo XIV al XV. Aunque da buena cuenta de ello, la obra no se centra enla vida política del infante Fernando en Castilla ni su ascenso a monarca en Aragón trasel Compromiso de Caspe. El objeto es otro, claramente definido y desarrollado: desvelarcómo se construyó un estado señorial de extraordinarias dimensiones –que sirvió aaquellos objetivos políticos – y cómo se mantuvo merced a una no menosextraordinaria red clientelar. La monografía conserva el espíritu formal del original,perfectamente organizado en una amplísima introducción de casi cien páginas, yseguida de una segunda sección que la cuadruplica en extensión y se subdivide en cincocapítulos.
2 La Introducción es rotunda por cuanto plantea las cuestiones de fondo que han ocupado
– y ocupan – el debate historiográfico en el seno del Medievalismo europeo. ¿Cuálesfueron las características y alcance de la crisis bajomedieval? ¿Cómo reaccionaron losseñores, si es que hubo una única y uniforme respuesta? ¿En qué medida dicha crisistransformó la sociedad castellana? ¿Cuál es la naturaleza del poder señorial, o lo que eslo mismo, qué es eso que llamamos “feudalismo”? Nada de ello se aborda a la ligerapero tampoco con temor: el autor reconoce a cada paso las sólidas bases de susplanteamientos teóricos: de Bloch a Valdeón, de Estepa a Monsalvo, de Guerreau aMorsel, de McFarlane a Coss, se repasa con sorprendente agilidad un debate multiformey complejo en torno a la aludida crisis, a la definición de “aristocracia” bajomedieval, alsentido de la voz “señorío”, y a sus manifestaciones concretas en la longue durée al finaldel Medievo en la Corona de Castilla. No es posible penetrar aquí en todos susargumentos pero sí destacaré el enfoque novedoso de acompañar a tan solventesprecedentes con una revisión profunda y crítica de los mismos, particularmente lascategorías de la propiedad feudal de Estepa y el alcance de la metodología “sistémica”del poder que encontramos en Monsalvo. Además, Muñoz hace algo que ya no es raro,pero sigue siendo necesario: aporta un enfoque abiertamente antropológico a suanálisis, enriqueciendo los debates del medievalismo con aportaciones de algunosdestacados teóricos franceses. Su reivindicación de la oeconomica de Otto Brunner esloable, y le sirve de andamiaje para su ulterior análisis de la Casa señorial de Fernandoel de Antequera y Leonor de Alburquerque, aunque merece una revisión más detenida.Lo mismo ocurre con la definición sociológica de “linaje”, algo que ni Duby, ni Guerreau(ni Bourdieu, véase la nota 56) han resuelto, aunque contemos con el diagnóstico deMorsel y con las orientaciones – no atendidas aún – de Jack Goody. Otro aspectoabordado en esta sección inicial que quiero destacar es la selección y tratamientodocumental: si la primera es sorprendentemente amplia, con análisis de un amplísimocorpus repartido en innúmeras publicaciones y abundantísimos archivos, el segundoestá magníficamente resuelto, con un atinado equilibrio entre la perspectiva macro queexige el objeto de estudio y el gusto por el detalle y el dato, nunca superfluo.
3 Adoptada una visión “sistémica” del poder señorial, la parte analítica se inicia con una
descripción detallada de la dotación de los infantes y de su acrecentamiento durante elreinado de Enrique III y la minoría de Juan II, periodo en el que se consolidan y amplíanlos derechos sobre numerosos lugares de Castilla. Se analiza incluso la adquisición dederechos materiales y sobre todo simbólicos de la extinta Casa de Lara, la más poderosade Castilla junto a la de Vizcaya, desde la unificación de Castilla y León hasta los alboresdel triunfo Trastámara. El trabajo continúa con un capítulo dedicado a aplicar lascategorías de la propiedad feudal definidas por Carlos Estepa, simplificando su esquemay haciéndolo más operativo para la cronología y objeto escogidos. Sigue el trabajo con
Medievalista, 28 | 2020
290
un análisis detallado de los aspectos económicos del poder señorial de Fernando yLeonor. He de señalar que, más allá de los cálculos económicos, Muñoz nos ofrece unanálisis social de sus implicaciones y, particularmente, de los agentes involucrados enel mismo: donantes (fundamentalmente los monarcas castellanos), recaudadores yadministradores y, he aquí un punto de enorme interés, los beneficiarios del sistema deredistribución de la renta feudal, esto es, la clientela de la Casa. Es en este punto dondese nota que el autor ha sacrificado material del original para componer esta necesaria –y exitosa – versión de su trabajo. Ya en el capítulo 2 se hacía alusión a la composiciónheterogénea y abrumadoramente amplia de la red de deudos del infante Fernando, y denuevo aquí se retoma la cuestión de la mecánica de la retroalimentación del amor y delservicio que tantos prelados, nobles, hidalgos y plebeyos ofrecieron al regente y futurorey. Me consta que ese material y ese análisis existe; esperemos que en todo suexuberante detalle nos lo pueda ofrecer pronto. El último capítulo se destina a cómo seorganiza, manifiesta y retroalimenta el poder feudal en los concejos bajo jurisdicción dela Casa: como era de esperar, los mecanismos que encontramos emulan los que EnriqueIII fundamentalmente trata de implementar durante su reinado, particularmente elprimitivo corregimiento castellano.
4 Dejo para el final el capítulo que, en toda obra académica, es el más importante: el
conclusivo. El autor cumple sobradamente, de nuevo, demostrando su abrumadoracapacidad de síntesis; además de resumir todo lo abordado, reflexiona sobre el objetoúltimo ya anunciado: las manifestaciones del poder – y la competencia – señorial en uncontexto de crisis y con una multitud de actores que desbordan las fronteras de unreino. La red de vínculos y favores es tan tupida que es prácticamente imposible dedeslindar para este periodo y para las dimensiones de una corona tan extensa como lacastellana. Desde la corte regia hasta las élites concejiles, no hay persona relevante queno esté inserta en estas redes de favor y dependencia. O, quizá, como sugiere la lecturade este trabajo, el enfoque deba ser el inverso: es merced a la participación en dichasredes clientelares como se procura la ascensión social y se posicionan políticamente losprivilegiados en la Castilla bajomedieval.
5 El trabajo se completa con los correspondientes apéndices referidos a las fuentes y
bibliografía utilizada por el autor, acompañados de una sección de informacióngenealógica que, aunque sobrada y práctica, merecería una codificación gráfica algomás sofisticada. Es difícil afear nada a una obra compacta y ambiciosa, respetuosa yrenovadora, que recuerda en su rigor a maestros como Valdeón, Mattoso o García deCortázar.
AUTORES
ARSENIO DACOSTA
Universidad de Salamanca 37007 Salamanca, Espanha. [email protected]. https://orcid.org/
0000-0002-3069-028X
Medievalista, 28 | 2020
291
LADERO QUESADA, Miguel Ángel – Ciudades de la España Medieval.Introducción a su estúdio. Madrid:Dykinson, 2019 (264 pp.)Paula Pinto Costa
REFERÊNCIA
Ciudades de la España Medieval. Introducción a su estúdio. Madrid : Dykinson, (264 pp.)
1 Miguel Ángel Ladero Quesada traz a público uma síntese sobre cidades da Espanha
medieval organizada em oito capítulos ilustrados e enriquecidos por um conjunto devinte e oito plantas de cidades, na sua esmagadora maioria peninsulares, a que juntououtras, de centros urbanos centro-sul americanos. A estas soma-se um significativoconjunto de mapas, imagens, fontes documentais escritas e selos municipais,distribuídos ao longo da obra.
2 Neste livro começa por colocar a problemática das cidades na Idade Média, procurando
traçar um enquadramento para a boa explanação do assunto. O tema da história urbanatem colhido desde há muito o interesse dos investigadores e esta obra reflete o amploconhecimento que o seu autor tem do mesmo. Move-se ao longo de uma cronologiabastante ampla, que se situa entre os séculos XI e XV. Reafirma que o século XI coincidecom o renascimento urbano europeu, já apontado por inúmeros autores, abrindo-se apartir daí um tempo profícuo de fundação de cidades novas e de renovação da vidaurbana. Embora estas delimitações cronológicas sejam válidas em termos gerais, adiversidade de áreas geográficas em que este estudo incide dá lugar a umaproblematização destes limites e a uma necessária adequação a cada uma delas emconcreto. A formação da rede urbana hispânica teve lugar entre 1060-1330, em sintoniacom a conquista, ocupação e colonização do território e teve implicações no traçadourbanístico e no sistema económico das cidades. O livro incide sobre a Espanha, em
Medievalista, 28 | 2020
292
sentido alargado, a Hispânia, deixando num plano secundário a emergência política dosvários reinos no contexto da reconquista, e acaba por fazer uma chamada de atençãopara a realidade Quinhentista da América centro-sul pelo facto de poder serconsiderado um espaço de prolongamento da cidade hispânica de tempos anteriores.Em termos gerais, são abordadas a organização urbanística, a dinâmica social,nomeadamente a multiplicidade das hierarquias e das possibilidades de mobilidadesocial, a ordenação jurídica, fazendo-se a distinção entre a tutela régia, a episcopal e asenhorial sobre diferentes cidades, e a dimensão religiosa e cultural dos espaçosurbanos.
3 No primeiro capítulo, dedicado à discussão sobre regiões e cidades entre os séculos XI e
XV, é avançada uma geografia das mesmas que ultrapassa a espacialidade da Espanhacontinental, nesta obra seccionada em grandes áreas, a saber: o caminho de Santiago,compreendendo os focos de urbanização entre Jaca e Compostela, Castela e Leão,Portugal, Navarra, Aragão e Catalunha, incluindo ainda dados sobre Granada e asCanárias. As singularidades e os principais traços de cada uma destas áreas sãoapresentados de forma bastante sistematizada. Deste modo, o autor refere que noCaminho de Santiago apareceram novas cidades quase sempre de iniciativa régia everificou-se a renovação e o crescimento de cidades pré-existentes, fatores que tiveramimpacto na redistribuição da população e na atratividade das próprias cidades. Já paraCastela e Leão, evidencia a importância da colonização com origem nos meios rurais e aconsolidação dos meios urbanos que asseguravam a fronteira, reforçados com aconcessão de foros e de privilégios jurídicos e económicos. A sul do Douro, nas áreascorrespondentes a Castela e a Leão, é entendido que a cidade assumiu o papel de cabeçade uma “tierra, término o alfoz”, tratando-se de um modelo hierarquizado, em que acolonização e a defesa do território eram prioritários. Em relação a Portugal, évalorizada a importância da tradição urbanística anterior e o papel da monarquia que,por vezes, concedeu a jurisdição sobre alguns núcleos urbanos, sobretudo às OrdensMilitares. Já da Andaluzia e de Múrcia é reafirmado o aproveitamento das estruturasurbanas pré-existentes, não se justificando a fundação de novos núcleos em temposmedievais. Acrescenta que a organização destes centros urbanos se baseou na grandeexperiência obtida em situações anteriores de colonização de novos territórios eassentou na definição dos chamados repartimientos e de foros que favoreceram ogoverno desses núcleos, referindo que na zona mais a norte de Navarra e de Aragãoapenas se registou o desenvolvimento decorrente do Caminho de Santiago, enquanto naCatalunha Vieja, a necessidade de demarcar os vários condados deu lugar à fundação ouà promoção de alguns núcleos urbanos. Faz notar que, em contraste, em Granada e nasCanárias, o fenómeno urbano em apreço revelou-se tardio. O reino de Granada foiconquistado pelos Reis Católicos, que tinham uma força política incomparável com ados monarcas anteriores, razão pela qual o direito real terá sido a matriz do governourbano.
4 O capítulo segundo é dedicado à inserção das cidades nas suas paisagens, enquanto
indicador privilegiado da consciência da formulação da identidade da própria cidade.Topografia, morfologia e urbanismo são elementos essenciais para a sistematização queo autor nos proporciona. Assim, são alvo de reflexão a relação da cidade com os seusterritórios envolventes, a sua articulação com a rede de caminhos, bem como algumasdas preocupações com o espaço público e mesmo com a saúde pública no contextourbano.
Medievalista, 28 | 2020
293
5 No capítulo três, a cidade é vista como centro económico, sendo salientada a
articulação profunda com o mundo rural, tanto na perspetiva de que a cidade dependedesse entorno, sobretudo por razões de abastecimento de alimentos, de matérias-primas e de população e, por consequência, de mão-de-obra, como o influencia etransforma, afirmando-se como centro dirigente e regulador do mercado na suacomplexa globalidade. O artesanato e o comércio, atividades que se distinguiam nacidade, por vezes concentravam-se em algumas zonas do espaço urbano, o quecontribuía para o seu dinamismo e singularidade e, também, para o estabelecimento desociabilidades únicas nem sempre marcadas por relações pacíficas.
6 Por sua vez, no capítulo quatro, o autor fala sobre a ordem e as hierarquias sociais.
Começa por insistir na profunda articulação entre os mundos urbano e rural, emborasaliente as especificidades da economia urbana que influenciavam certos fenómenosímpares de estratificação e de mobilidade social, contemplando tanto as franjas desseamplo espectro social, compostas por diversas elites e patriciados urbanos e pelosmarginais, como os vizinhos, os judeus e os muçulmanos.
7 O papel desempenhado pela cidade no contexto do poder político constitui o objetivo
do capítulo cinco. Explica-se que o direito local, plasmado em documentos que nageneralidade se podem designar por foros e costumes, privilégios e ordenanças, foiadquirindo contornos cada vez mais elaborados. É também alvo de atenção a questão daautonomia municipal com base num recorte geográfico, e com um sentido evolutivo aolongo da cronologia em estudo. Neste capítulo são ainda focados os lugares de exercíciodo poder, bem como os títulos, símbolos e insígnias com que se punha de manifesto aimagem política da cidade e alguns traços da sua identidade.
8 As milícias concelhias e as estruturas defensivas, como muralhas e castelos, são os
objetos centrais do sexto capítulo. Realça-se que a prestação de serviço com armas eracrucial em tempos medievais peninsulares, sendo estas milícias parte integrante doexército régio, a par de outros corpos militares, o que as expôs a uma intervençãocrescente por parte da monarquia. Em causa estava tanto a defesa da ordem pública,como a mobilização e a participação na guerra em territórios mais ou menos afastados,o que exigia esforços, por vezes conjuntos e que poderiam envolver mais do que umacidade. Em cenários em que a guerra pontuava com alguma frequência, emergia adimensão real e simbólica das estruturas defensivas.
9 A profunda relação entre a Igreja e a cidade é explanada no capítulo sete, parte da obra
em que se destaca tanto a importância do fator eclesiástico ao nível da origem e dasidentidades de algumas cidades, como o papel socioeconómico do clero. Mostra-se queSés catedrais e outros edifícios eclesiásticos foram pontos axiais dos mais diversosespaços urbanos e, frequentemente, veículos de transmissão de memórias escritas e deacervos documentais ímpares para a investigação histórica.
10 Por fim, no capítulo oitavo, é feito um apanhado sobre certos aspetos da cultura urbana
e sobre a teoria da cidade em termos globais. Destacam-se a este nível a festa no espaçopúblico, encabeçada pela procissão do Corpus Christi, o ensino em geral e a Universidadeem particular, as retóricas literárias, iconográficas e cartográficas, domínios especiaisde manifestação de aspetos simbólicos e de afirmação da identidade de algumascidades. Sem que o livro inclua uma conclusão formal, este último capítulo apontanesse sentido, sobretudo quando, a partir de algumas fontes históricas, se aproxima dateoria da cidade e da conceção da cidade ideal.
Medievalista, 28 | 2020
294
11 Curiosamente, o autor optou por atribuir ao livro o subtítulo “Introducción a su estúdio”,
alertando, ainda que de forma velada, para o facto de haver muito para estudar natemática em foco. Como suporte à presente obra e à prossecução da investigação sobreo tema em si mesmo, o livro conta com uma bibliografia seletiva, organizada emdiferentes categorias temáticas e em várias áreas geográficas. Em síntese, o livrooferece uma excelente sistematização de dados históricos, alguns dos quais de naturezaquantitativa, e proporciona uma explicação organizada e clara sobre as cidades daEspanha medieval, a qual é de grande utilidade no âmbito da historiografia ibérica.
AUTORES
PAULA PINTO COSTA
Universidade do Porto, Faculdade de Letras 4150-564 Porto, Portugal. [email protected].
https://orcid.org/0000-0002-1926-2276
Medievalista, 28 | 2020
295
DONNELLY, Andrew - Cooking pots,and cultural transformation in Imperialand Late Antique Italy. PhD thesis.Loyola University Chicago, 2016 (298pp.)José Carlos Quaresma
REFERÊNCIA
DONNELLY, Andrew - Cooking pots, and cultural transformation in Imperial and LateAntique Italy. PhD thesis. Loyola University Chicago, (298 pp.)
1 Já com três anos de vida, a tese que apresentamos nesta recensão é de uma importância
maior para Historiadores e Arqueólogos da Antiguidade Tardia, que se debrucem sobrea evolução da dieta humana e dos utensílios para a sua confecção e degustação – nocaso vertente, a evolução das cerâmicas de uso culinário, sob o ponto de vista funcionaldas morfologias.
2 Desde a formulação do conceito de Antiguidade Tardia, por Peter Brown, em 19711 – à
época, um sucedâneo ao marcante estudo sobre o Later Roman Empire de A. H. M. Jones,editado em 19642 –, que se marcou no tempo, em definitivo, uma nova etapa de estudoconjugando séculos de profunda transformação entre o sistema tardo-romano e o novomundo alto-medieval. A definição conceptual de um mundo tardo-antigo permitiaabandonar a dicotomia simplista entre um mundo civilizado, romano, de tradiçãoclássica, e um mundo bárbaro, multifacetado étnica e geo-politicamente e que, emboraparcialmente herdeiro de mundividências romanas, era tradicionalmente visto pelaHistoriografia e pela Arqueologia como o fim de um tempo áureo.
Medievalista, 28 | 2020
296
3 Essa ideia, mormente a acumulação neste meio-século de estudos que apontam para
tantos vectores de continuidade, ainda tem defensores mais ou menos acérrimos, quevêem na queda de Roma, no ano de 476, o fim definitivo de um mundo ocidentaleuropeu. Esta tese fez sucesso editorial, ainda recentemente, nos anos 2000, através dolivro redigido por Brian Ward-Perkins, académico de Oxford, com o inequívoco título deA queda de Roma e o fim da civilização3.
4 Por norma, este tipo de estudos baseia-se muito mais em dados de cariz eminentemente
historiográfico, i.e., fontes escritas, do que eminentemente arqueológico, i.e., culturamaterial. Esse pecado original, embora justificável pelas dinâmicas ainda poucoconseguidas e constantes entre estes dois saberes do passado humano, torna-se menosjustificável em face dos profundos avanços que a Arqueologia fez do ponto de vista dametodologia estratigráfica, tão crucial (como em qualquer período…) para aidentificação dos fenómenos tardo-antigos na cultura material.
5 Na verdade, fontes históricas como a Crónica do Bispo Idácio de Chaves 4, escrita por
volta do ano de 470, marcaram ambos os campos científicos, com a sua imagem negativa
da turbulência política do período em que viveram homens como o sacerdote flaviense.A sua mundividência, então suevo-visigótica, estava eivada de pessimismo, umsentimento que marcava muitas das elites cristãs desde o século IV, pelo menos. Poroutro lado, até há bem poucas décadas atrás, a falta de dados arqueológicos para oséculo V em diante era o resultado da persistência de escavações com pouca ounenhuma base metodológica, que assim destruíram, sem registo, os ruídos, por vezestoscos e heterogéneos, que se sobrepunham estratigraficamente às estruturasarquitectónicas, rurais ou urbanas, de época romana. A isto se podia ainda juntar atentativa de conjugar dados historiográficos com dados arqueológicos, que originaram,por exemplo, a identificação de níveis de destruição em cidades como Conimbriga, comas descrições de abandono urbano descritas pelo bispo flaviense, para os anos de465-468. Hoje sabe-se que esta cidade, como outras amiúde, mantiveram-se vivas, aindacom aparente configuração urbana nalguns casos; noutros, com ocupações pontuais,como provas o estudo de López Quiroga, em 20135.
6 Serve este longo introito para enquadrar a falta de estudos tipológicos no âmbito da
ceramologia tardo-antiga, já que – num mundo em que muitas das linhas comerciaisestavam enfraquecidas ou extintas, e muitos sítios residenciais, urbanos ou rurais, paraalém de centros produtores, haviam sido abandonados –, identificar, no casopeninsular, estratigrafias posteriores à primeira metade do século V, constitui tarefaárdua. Na verdade, com a escassez ou mesmo inexistência de materiais finos deimportação, em circulação, identificar essas realidades pós-romanas exige o estudoaprofundado das cerâmicas comuns, um fenómeno de matriz profundamente local eregional, longe das grandes tipologias de cerâmicas finas de grande circulação. Mas, oque os estudos vão indicando, pouco a pouco, é também que, apesar da evidenteatomização do mundo tardo-antigo, algumas linhas de contacto de longa-distânciapermanecem, por exemplo, entre o extremo Mediterrâneo Oriental e o Atlântico, deque são exemplo primeiro a chegada de Late Roman Amphorae e de Terra Sigillata
Foceense Tardia à fachada atlântica peninsular e à Britannia, particularmente atémeados do século VI, mas com extensões posteriores; ou o envio de um grandecarregamento de cereais por parte do Bispo de Alexandria, João, o Esmoler, para oterritório britânico, em carestia, já no século VII6.
Medievalista, 28 | 2020
297
7 A tese de doutoramento de Andrew Donnelly, defendida em 2016 na Loyola University
Chicago, versa o estudo comparativo entre fontes históricas, relativas à gastronomiatardo-antiga, e as cerâmicas culinárias encontradas nas estratigrafias do espaço itálico,entre os séculos IV/V e VII d.C.. Do ponto de vista estratigráfico, esta tese propõe-seassim analisar criticamente as morfologias funcionais de cozinha, e subjacentes hábitosalimentares, ao longo de depósitos que atravessam o período tardo-romano, ostrogodo(em parte sob a influência comercial do reino vândalo, instalado no Norte de Áfricaentre 439 e 533 d.C.), bizantino e lombardo.
8 Do ponto de vista historiográfico, analisa três grandes fontes: Vinidário, que representa
a tradição romano-gótica, no século V ou VI; Anthimo, que terá trabalhado nas cortesdo rei franco Teodorico e do rei ostrogodo homónimo, no século VI, e finalmente obispo de Sevilha, Isidoro, já do século VII.
9 A tese divide-se em quatro grandes capítulos:
10 - um primeiro, dedicado às cerâmicas de cozinha: vocabulário, contexto e uso do ponto
de vista arqueológico;
11 - dois outros capítulos, consagrados às cerâmicas de cozinha e suas referências nas
fontes escritas;
12 - um último, votado à análise das estratigrafias urbanas e rurais, no espaço itálico, que
possuem cerâmicas culinárias: evolução cronológica e espacial dos tipos e morfologias edas funcionalidades decorrentes.
13 Este estudo, tal como muitos dos que vão saindo amiúde, e que procuram fazer uma
análise antropológica dos espólios arqueológicos, aplica um método quase que diríamosestruturalista, identificando dois polos básicos: uma gastronomia de matriz clássica-romana que se conjuga com uma gastronomia de cariz bárbaro, multifacetadageopolítica e etnicamente. Tal é-nos revelado por dois grandes conjuntos cerâmicosfuncionais: o tacho como grande representante dos guisados e da preferência pelos ovi-caprinos, aos quais se pode juntar, em muito menor grau, a sobrevivência do pratocovo/frigideira, para frituras com azeite; a panela como grande representante daconfecção de cozidos e da preferência pelo gado vacum. Os tachos (e pratos covos/frigideiras) representam a manutenção do gosto clássico; as panelas crescem emnúmero com a consolidação progressiva do mundo pós-romano.
14 Esta dicotomia é já abordada em outros autores7 e muito deve, não só às novas
realidades políticas e étnicas que marcam o mundo ocidental europeu, mas também àconsolidação do novo período climático denominado como Dark Ages Cold Period, ou seja,do período glaciar vivido entre os séculos IV e VIII, sucedâneo do período interglaciarpuro, denominado por Roman Warm Period, que havia durado entre os séculos II a.C. e oséculo III/IV d.C.. Este novo contexto ambiental influi cumulativamente nas novasrealidades políticas que vão separando lentamente o Continente do Mediterrâneo e esteúltimo do Atlântico.
15 No espaço itálico, para além da consolidação progressiva da panela, vemos, porém, até
meados do século VI, um papel ainda marcante do tacho, por vezes, e sobretudo emRoma, acompanhado pelo prato covo/frigideira. Para o autor, na Itália ostrogoda dosséculos V e VI, ocorre um aumento significativo do consumo de carne, atestado pelasfontes escritas e no registo arqueológico dos sítios rurais (em clara oposição aos dadosreferentes ao período médio-imperial), que agora estão menos constrangidos pelasregras fundiárias romanas. A verdadeira ruptura deste mundo tardo-antigo, do ponto
Medievalista, 28 | 2020
298
de vista alimentar, dar-se-á por volta de meados do século VI e deverá relacionar-secom a crise demográfica, nos espaços mais ligados ao poder bizantino, entretantoreconquistador do Norte de África, de parte de Itália e do Sul hispânico. A Renovatio
Imperii de Justiniano é marcada não só por guerras esgotantes a Ocidente, mas tambémpor uma praga de consequências devastadoras e contornos geográficos ainda pordeterminar com precisão no Mediterrâneo ocidental (e no Atlântico?).
16 A pertinência do estudo de Andrew Donnelly é hoje evidente, em face do avanço dos
estudos crono-estratigráficos e crono-tipológicos, um pouco por todos os espaços daAntiguidade Tardia, mas assume uma importância maior quando comparado com osdados, por exemplo, que a investigação arqueológica está a obter em regiões tãodistantes como Lisboa, importante porto da fachada atlântica peninsular, onde sectorescomo o das Escadinhas de São Crispim, com fases de 500-525 e 525-550 d.C., apontampara um equilíbrio entre tachos e panelas, dando-se a ruptura definitiva em 550-575d.C., segundo os dados de um sector próximo, o do Palácio dos Condes de Penafiel8.
17 Do ponto de vista comercial, a investigação arqueológica já havia começado a intuir
uma quebra ao longo do século V, seguida de retoma pontual tardo-vândala, noMediterrâneo ocidental, com extensão em menor grau ao Atlântico. E que o segundoquartel/meados do século VI representavam um novo decréscimo acentuado dasimportações, que no caso do território lusitano se tornam mesmo efémeras a partirdesse ponto temporal9. O que a investigação da cerâmica comum em estratigrafiacomeça a anunciar é um paralelismo transregional (que urge ainda estudar emquantidade, estando longe de especificado!) ao nível dos hábitos culinários, que sofremuma atomização clara, não só a partir das convulsões do século V, mas novamente, e emmaior grau, a partir de meados do século VI.
NOTAS
1. BROWN, Peter – O fim do mundo clássico. De Marco Aurélio a Maomé. Lisboa: Verbo, 1971.
2. JONES, Arnold Hugh Martin – The later Roman Empire. 284-602. A social economic and
administrative survey. Oxford: Basil Blackwell, 1964-1973.
3. WARD-PERKINS, Bryan – A queda de Roma e o fim da civilização. Lisboa: Aletheia, 2005.
4. TRANOY, Alain – Hydace. Chronique. 2 vols. Paris: Les Éditions de Cerf, 1974.
5. LÓPEZ QUIROGA, Jorge (ed.) – Conimbriga tardo-romana y medieval. Excavaciones arqueológicas en la
Domus Tancinus (2004-2008) (Condeixa-a-Velha, Portugal). Archaeopress. (Bar International Series 2466),
2013.
6. QUARESMA, José Carlos – Economia antiga a partir de um centro de consumo lusitano.
Terra sigillata e cerâmica africana de cozinha em Chãos Salgados ( Mirobriga?). Lisboa:UNIARQ (Estudos e Memórias, 4), 2012.
7. Por exemplo, ARTHUR, Paul – “Pots and boundaries. On cultural and economic areasbetween Late Antiquity and the Early Middle Ages”. in BONIFAY, M., TRÉGLIA, J.-M.
Medievalista, 28 | 2020
299
(eds.) – LRCW 2. Late Roman Coarse Wares, Cooking Wares and Amphorae in the Mediterranean.
Archaeology and Archaeometry. BAR-IS 1662 (I), 2007, pp. 15-27.
8. QUARESMA, José Carlos – “Late contexts from Olisipo (Lisbon, Portugal): Escadinhasde São Crispim”. in DUGGAN, M.; TURNER, S.; JACKSON, M. - Ceramics and Atlantic
Connections: Late Roman and early medieval imported pottery on the Atlantic Seaboard.
International symposium. New Castle University, March 26-27th 2014. Oxford: Archaeopress(Roman and Late Antique Mediterranean Pottery; 15), 2020, pp. 94-107.
9. QUARESMA, José Carlos – Economia antiga a partir de um centro de consumo lusitano…; REYNOLDS,
Paul – Hispania and the Roman Mediterranean. AD 100-700. Ceramics and trade. London: Duckworth,
2010.
AUTORES
JOSÉ CARLOS QUARESMA
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais 1070-312 Lisboa, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/
0000-0003-3139-1975
Medievalista, 28 | 2020
300
Apresentação de Teses
Medievalista, 28 | 2020
301
Arquivos e práticas arquivísticas defamílias de elite (Portugal, séculos XV-XVII). Tese de Doutoramento emHistória/Arquivística Histórica,apresentada à FCSH-UNL emNovembro de 2019. Orientação daProfessora Doutora Maria de LurdesRosaAlice Borges Gago
1 Quando, em 2014, nos propusemos realizar o doutoramento, foi-nos sugerido pela
Professora Maria de Lurdes Rosa um arquivo – o Almada e Lencastre Bastos (ALB),depositado na Biblioteca Nacional. O acervo, apesar de utilizado por algunsinvestigadores, não tinha um verdadeiro instrumento de descrição documental, apenasumas listas, muito genéricas, elaboradas nos anos 50 do século XX, o que fazia com que,prática e efetivamente, se desconhecesse o seu conteúdo. Complementavam estas listaso inventário de seis caixas do acervo, que Pedro Pinto publicou em apêndice a umpequeno estudo sobre a história custodial do arquivo, nas atas do colóquio Arquivos de
Família, séculos XIII-XX: Que presente, que futuro?, organizado por Maria de Lurdes Rosaem 2010.
2 E foi desta forma que, praticamente às escuras sobre o conteúdo do acervo, iniciámos o
longo trabalho de inventariação, caixa a caixa, folha a folha, descobrindo famílias,pessoas, casas, cartórios. Reconhecendo nomes, estabelecendo ligações familiares.
Medievalista, 28 | 2020
302
3 O objetivo desta dissertação foi estudar os arquivos e as práticas arquivísticas de
famílias das elites portuguesas pré-modernas e demonstrar em que sentido é que essaspráticas foram fundamentais na estruturação e consolidação dessas famílias.
4 A tese é composta por dois volumes: o primeiro, dividido em cinco capítulos, e o
segundo que contém dois anexos: o primeiro é constituído pelos ficheiros deautoridade/biografias dos produtores documentais das famílias estudadas e o segundopelo inventário que realizámos do fundo Almada e Lencastre Bastos (ALB).
5 O primeiro capítulo, intitulado “A História, a Arquivística e os arquivos de família”,
incide sobre os conceitos e as problemáticas em torno da Arquivística Histórica e dosarquivos de família e nele são apresentados os pressupostos teóricos e métodosarquivísticos que nos permitiram estabelecer o quadro de classificação adotado para aproposta de organização do ALB.
6 O capítulo está dividido em três partes: a primeira aborda a Arquivística Histórica
enquanto conceito interdisciplinar que reúne e articula conceitos da História e daArquivística, concebida esta como uma Ciência da Informação. São apresentadas asnovas perspetivas de estudo sobre os arquivos, considerando estes como objeto deestudo em si mesmo.
7 Em seguida faz-se o estado da arte no que diz respeito à História, referindo os principais
e mais recentes trabalhos, nacionais e internacionais, sobre as elites e oligarquias,refletindo ainda, no que diz respeito à Arquivística, sobre os pressupostos teóricos e osmétodos arquivísticos aplicados aos arquivos de família, e onde apresentamos o modelosistémico, teorizado por Armando Malheiro da Silva, segundo o qual o Arquivo deFamília é entendido como um sistema de informação. Dos vários modelos possíveis parao seu estudo, optámos por aquele que nos permitiu, por um lado, estudar a história dasfamílias e dos seus elementos, proporcionar um conhecimento mais aprofundado docontexto social e económico das elites de Antigo Regime. Por outro lado, permitiuestudar as formas de organização do arquivo, as suas construções e reconstruções equal a sua importância para a preservação da memória documental das famílias nelerepresentadas, assim como propor uma nova forma de acesso à informação.
8 O modelo proposto por Armando Malheiro da Silva tem a vantagem de ser dinâmico,
aplicar-se independentemente do volume de documentação existente, permitircompreender a distribuição cronológica e contextual da documentação, assim comoanalisar e descrever a documentação, respeitando a forma como foi ordenada atravésda elaboração de um quadro orgânico-funcional. O recurso a regras internacionais dedescrição multinível, como as ISAD(G)1 e as ISAAR 2, permitem uma normalizaçãodescritiva que, com alguns ajustes à teoria sistémica, imprimem uma certauniformidade ao sistema de informação. Na prática, segundo este autor, o sistemafamiliar é visto à luz de um quadro orgânico-funcional, cujos subsistemas são osdocumentos produzidos no exercício de um cargo ou incorporados por matrimónio oudoação, e por sua vez organizado em tantas secções arquivísticas quantas as geraçõesenvolvidas, reservando-se as subsecções para inserir o casal representante da linhagem,a documentação de cada um deles, e depois dos seus familiares.
9 A abordagem interdisciplinar proporcionada pela Arquivística Histórica permitiu-nos
reconhecer e estabelecer as relações que existiram entre produtores e os documentosproduzidos, assim como compreender mais completa e aproximadamente os contextosde produção e de conservação documental e, consequentemente, um conhecimento
Medievalista, 28 | 2020
303
mais aprofundado do arquivo e dos seus produtores. O que vem em linha decontinuidade com os vários trabalhos que têm vindo a ser feitos sobre arquivos defamília, nomeadamente na Universidade Nova de Lisboa, mas também na Universidadedo Porto.
10 No segundo capítulo “O Sistema de Informação Almada e Lencastre Bastos – história
custodial e arquivística”, apresentamos o corpus documental do arquivo.
11 Trata-se da junção de dois cartórios – o dos Viscondes de Vila Nova de Souto del Rei
(famílias Almada Melo) e Forjaz Coutinho, cujo último representante foi titulado condeda Feira em 1820.
12 Para tal foi fundamental procedermos à reconstituição da sua história custodial
elaborada a partir dos elementos que pudemos apurar quer no arquivo quer embibliografia acessória. Neste aspeto começámos o nosso trabalho pelo fim. Ou seja,numa primeira fase procurámos saber como tinha chegado à Biblioteca Nacional dePortugal, quem o tinha vendido. Recuperámos o seu processo de venda, as pessoas e asfamílias envolvidas, as relações de parentesco que tinham. Elaborar a história custodialdo arquivo foi um elemento determinante para se perceber as dinâmicas do mesmo, astransmissões de família em família, as ligações familiares, as quebras de varonia, asheranças, as suas condições de conservação, os locais onde esteve guardado.
13 Assim, chegámos à seguinte história custodial:
14 Em 1957, João de Almada e Lencastre Bastos, um dos últimos proprietários, propõe a
venda do acervo; em 1958, iniciou-se a sua avaliação, interrompida por doença eposterior morte de João de Almada e Lencastre Bastos; em 1961, Maria José Sousa Teles,prima de João Almada e Lencastre Bastos, depositou a sua parte na Torre do Tombo; em1970, faleceu Isabel de Almada, tia de João Almada e Lencastre Bastos e por fim, em1974, efetuou-se a compra aos herdeiros e depósito da “totalidade do arquivo” naBiblioteca Nacional de Portugal.
15 Como já referimos, o arquivo tem como instrumentos de descrição documental, mais
recentes, as listas elaboradas pela comissão de avaliação das três cotas e o inventário dePedro Pinto (apenas seis caixas da cota ANTT3), para além dos inventários oitocentistasdos dois cartórios, que no seu todo perfazem um total de duzentas e noventa e umaunidades de instalação.
16 Os documentos encontram-se acondicionados em caixas de cartão acid-free e caixas de
arquivo originais, dentro das quais se encontram os maços, encimados por um cartãoreaproveitado do cartório da Casa da Feira. Nesses maços podemos encontrar osdocumentos que conseguimos identificar dos dois cartórios – Viscondes de Vila Nova deSouto del Rei com numeração infrapaginal e resumo no interior do documento; para aCasa da Feira, com capilha numerada. No mesmo capítulo explicamos como se processaa sua disponibilização ao público, apresentando um mapeamento das cotas do seuacervo, falhas detetadas, etc.
17 No terceiro capítulo “Proposta de reorganização e classificação: famílias e sistemas de
informação, séculos XV-XVII”, propomos a reorganização e classificação do acervosegundo o modelo sistémico, delimitando a investigação, no vasto corpus documental, aum conjunto de famílias da Baixa Idade Média/primeira Época Moderna. Nele sãodefinidas, justificadas e apresentadas as propostas de reconstituições orgânicas daprodução de informação dos subsistemas de informação, por gerações de produtores,
Medievalista, 28 | 2020
304
assim como os quadros de classificação do acervo, seguidos da apresentação dasfamílias estudadas.
18 Mediante os quadros orgânicos estabelecidos, foi elaborada uma base de dados
prosopográfica dos elementos que, por limitação de espaço, foi colocada no volume II,em anexo. A enumeração de todos os produtores de informação por geração permitiu-nos compreender as formas de organização dos subsistemas de informação, suasconstruções e reconstruções, as suas incorporações, em que momento se deram e qual asua importância para a preservação da memória da família, assim como apreender astendências de produção documental, explicadas através dos percursos individuais queserviram propósitos de manutenção do status socioeconómico de acrescentamento e demobilidade social ascendente das várias famílias.
19 Assim, de entre as várias famílias que compõem o ALB delimitámos a nossa análise a um
conjunto de famílias pertencente às elites urbanas ou senhoriais da região do Entre-Douro-e-Minho, que apresentavam claros percursos de ascensão social; uma muitofrequente, por vezes cerrada, prática de instituição de vínculos até ao terceiro quarteldo século XVI e por fim, a existência de comportamentos oligárquicos, afins aos deoutros grupos de poder urbanos, um pouco por todo o reino de Portugal e pelo conjuntoda Península Ibérica.
20 O modelo de sucessão vincular permitiu a estas famílias concentrarem, não
dispersarem e aumentarem a propriedade ao restringirem a um elemento, geralmenteo varão primogénito, a sucessão e administração dos bens vinculados,responsabilizando-o também pela sua manutenção e acrescentamento económico esocial, quer através de compra ou da incorporação de propriedade por via de casamentocom elementos de famílias do mesmo estrato social ou superior. A instituição devínculos mas, sobretudo, a gestão de património morganático, instituído, administradoe transmitido por mulheres e homens, foi uma das formas que mais contribuiu para queestes arquivos familiares chegassem aos nossos dias. Cremos que foi em função destestrês parâmetros que as famílias em estudo produziram um muito significativo volumede documentos, constituindo os núcleos documentais a elas associados exemplos muitoricos e diversos no que ao estudo da produção, gestão e usos dos arquivos de família dizrespeito. Foram seis as famílias escolhidas, que passamos a apresentar: os Valadares (doPorto, com vários elementos ligados à vereação da cidade); os Ribeiro (do Porto,elementos ligados à corte); os Magalhães (senhores da Barca); os Carvalho (de Lisboa eGuimarães, dois elementos pertencentes ao Desembargo do Paço); os Cunha (deMonção, com elementos ligados ao serviço militar à coroa e ao Desembargo do Paço) epor fim os Barreto (de Aveiro e Porto, ligados à vereação desta última cidade eMisericórdia do Porto)4.
21 No capítulo quarto, intitulado “Uma história social do arquivo: produção, usos
documentais e institucionais da informação”, pretendemos demonstrar que a produção,os usos documentais e institucionais da informação e os arquivos contribuíram para aestruturação e consolidação das famílias pré-modernas. O capítulo foi dividido em três
alíneas. A primeira analisa a produção documental e os usos documentais das seisfamílias/subsistemas e respetivas secções produtoras, acompanhadas de gráficosrepresentativos das tipologias documentais associadas.
22 Dessa análise concluímos que a administração dos bens vinculados implicava um
profundo conhecimento dos mesmos e da utilização de práticas de gestão informacionaladvinda, em parte, da progressiva literacia das novas gerações – muitas frequentaram a
Medievalista, 28 | 2020
305
universidade (Carvalhos, Cunhas, Machuchos), outros movimentavam-se na esfera dacoroa (Carvalhos, Cunhas), outros ainda desempenhavam cargos há longos anos ligadosao registo escrito (Valadares, Carneiros, Barretos) quer nas vereações queradministrando negócios próprios (Carneiros), outros ainda no desempenho de funçõesjurisdicionais (Magalhães).
23 Para todas estas funções era necessário o controlo da informação e, portanto, da
propriedade e dos rendimentos que dela provinham, o que levou à necessidade daconservação documental. Dela encontramos vestígios nos vários testamentos que noschegaram – conservaram-se documentos em arcas, em taleigos, em barjuletas, emcaixas, em cofres, em cartórios.
24 E eram desses locais que eram retirados para resolver qualquer pendência ou para
justificar qualquer direito; eram entregues a herdeiros, a filhos e filhas como dote decasamento. Eram nesses locais que se depositavam documentos de compras depropriedade, ou das que entravam por via de casamentos realizados entre famílias damesma categoria social ou superior. Os casamentos proporcionaram novas relaçõesfamiliares e de poder, assim como permitiam a entrada de novos domínios territoriaispor via de dote e, consequentemente, dos documentos que atestavam a sua posse, paraalém de, também por esta via, se terem transmitido práticas de produção e arquivagemdocumental. A mobilidade da documentação dentro do acervo pôde ainda serdemonstrada pelas incorporações documentais por via de heranças e nomeações deparentes na administração de vínculos, quando os próprios não tinham descendentesdiretos.
25 Para controlar a informação e sobretudo o seu crescente volume foram redigidos
inventários, inventários-cartulários, róis de documentos. As designações são variadasmas o propósito o mesmo – controlar de alguma forma a documentação pertencente aum vínculo e à família. A prova perante as instituições régias e os tribunais e o recursoa estes para defesa de direitos e da propriedade levaram, também, à crescente enecessária conservação documental.
26 A produção de inventários foi, por isso, uma forma de controlar a documentação ao
longo dos séculos, como pudemos observar pelos vários que pudemos detetar no ALB.
27 Foram várias as famílias que os produziram e conservaram até meados do século XIX –
Carvalhos, Magalhães, Pereiras, Almadas e Lencastres. Organizados aleatoriamente oupor vínculos, como no caso dos Almadas e Lencastres, Viscondes de Vila Nova de Soutodel Rei, os inventários foram um instrumento de recuperação documental, de conteúdoinformativo e utilização prática e ainda uma resposta ao registo vincular que severificou em meados do século XIX e que extinguiu esses mesmos vínculos. Essaextinção fez com que os documentos que lhes estavam adscritos deixassem de ter valorde prova, o que originou uma certa dispersão dos cartórios. No caso do ALB algunsdocumentos foram dispersos, mas um conjunto ainda considerável permaneceu naposse dos seus últimos proprietários, apesar de muito desarrumado face à ordem dadapelos últimos inventários conhecidos.
28 Práticas arquivísticas efetuadas pela nobreza ou nobreza de corte, letrada, mas também
por mercadores, homens ligados à vereação das cidades, por elites. Por homens emulheres, casados, viúvas, solteiras, por famílias. Todos com uma caraterística comum– representavam e estavam ligados a alguma forma de poder. Poder político, social,
Medievalista, 28 | 2020
306
familiar e linhagístico, económico, que se refletiu e se reproduziu nos seus arquivos,porque tinham consciência da importância do registo escrito.
29 Por fim, após o trabalho desenvolvido na descrição das famílias/sistemas de informação
na terceira parte da tese, chegamos à disponibilização ao utilizador dos documentosproduzidos e/ou acumulados por cada um desses sistemas.
30 Baseada na proposta de quadro de classificação orgânico, esta organização do arquivo
foi disponibilizada publicamente através de uma aplicação informática AtoM, alojadano servidor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. A base AtoM adapta-se a estemodelo, uma vez que é uma base de dados multinível, cuja flexibilidade confere grandeinteligibilidade ao modelo de organização dos sistemas de informação familiares, o quepermite a compreensão historiográfica e arquivística dos vestígios documentaisdeixados por múltiplas famílias de Antigo Regime, num equilíbrio na aliança entre aHistória e a Nova Arquivística.
31 A base de dados contempla não só os registos de autoridade dos produtores, mas
também a produção documental associada de cada elemento das famílias estudadas nadissertação. Embora tenha sido necessário restringir o número de registos nesta base –por falta de tempo disponível dentro do prazo útil da tese – o seu preenchimento, feitosequencial e cronologicamente a partir do produtor do documento mais antigoconservado, pode ser completado a qualquer momento, quer na introdução de novossubsistemas e subsubsistemas, secções, subsecções, quer na introdução de descriçõesdocumentais, sem desvirtuar o trabalho feito anteriormente.
Em conclusão
32 Produção documental, conservação e transformação de documentos em arquivos ou,
como refere Eric Ketelaar, em monumentos com valor de memória, foi uma atividadetransversal na sociedade portuguesa de Antigo Regime. O património familiar e a suagestão geraram a acumulação de grande número de documentos que justificaram aposse sobre os bens, transmissões de posse e gestão de direitos, assim como todas ascircunstâncias que implicaram o aumento ou diminuição do património.
33 Terminamos referindo alguns aspetos que gostaríamos de ter feito, e que fica como um
roteiro para a investigação futura. Por um lado, dado que apenas uma parte de toda aprodução documental destas famílias chegou aos nossos dias, esta dissertação nãoesgota todas as possibilidades de investigação sobre o sistema de informação ALB esobre os arquivos de família nele contidos. Por outro lado, estamos conscientes de quealguns ficaram por desenvolver. No caso dos subsistemas Valadares, Ribeiro, Magalhãese Barreto, não pudemos proceder à comparação entre o que terá sido produzido, o quefoi inventariado no século XIX, e o que nos chegou, tal como fizemos para ossubsistemas Carvalho e Cunha. Esse impedimento adveio por um lado do facto de osinventários da família Pereira Forjaz estarem incompletos e por outro pela volumosadocumentação, especialmente no caso da família Barreto. Esse trabalho requeria algumtempo que, de todo, se verificou inexequível no prazo disponível para a investigação eredação da tese. Ficou também por aprofundar a relação entre as características sociaise culturais dos grupos familiares e a produção documental/conservação de arquivos,tanto nos grupos estudados, como noutros possíveis de isolar. Com novos fundos
Medievalista, 28 | 2020
307
familiares, outros atores poderão ajudar a tornar mais claros os usos da documentaçãoe dos arquivos. A investigação não se encerra por aqui.
34 Novas e quase infindas possibilidades de trabalho aguardam o interesse dos
investigadores. Sobre outras famílias, sobre outras épocas, sobre outras temáticas.Urbanismo, toponímia, onomástica, história económica, história do direito e dasinstituições, história política, história da arte, história do livro e das bibliotecas. Sobresociabilidade – recordamos a este propósito as largas dezenas de cartas enviadas porprocuradores aos seus senhores, trocadas entre maridos e mulheres, irmãos e irmãs,entre mulheres, revelando assuntos comezinhos do dia-a-dia, combinações dematrimónio ou desavenças familiares. Sobre história militar, invasões e guerras, sobreos seus atores – vencedores e vencidos. De todos reza a História… e todos estãopresentes neste arquivo, que temos a satisfação de ter tornado mais acessível.
NOTAS
1. CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS - ISAD (G). Norma internacional de descrição
arquivística. [em linha]. 2.ª edição. Lisboa: Ministério da Cultura, Torre do Tombo, 2002.
[Consultado a 11 janeiro 2020]. Disponível em http://arquivos.pt/wp-content/uploads/sites/
11/2010/08/isadg.pdf.
2. CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS - ISAAR (CPF). Norma internacional de registo de
autoridade arquivística para pessoas colectivas, pessoas singulares e famílias. [em linha]. 2.ª edição.
Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, 2004. [Consultado a 11 janeiro 2020].
Disponível em http://arquivos.dglab.gov.pt/wp-content/uploads/sites/16/2013/10/isaar.pdf.
3. Parte do acervo que pertenceu a Maria José de Almada Teles, que esteve em depósito no
Arquivo Nacional da Torre do Tombo entre os anos de 1961 e 1974.
4. Estas famílias encontram-se resumidas nos quadros apresentados em GAGO, Alice BorgesF02D Arquivos e práticas arquivísticas de famílias de elite (Portugal, séculos XV-XVII). Lisboa: Universidade
Nova de Lisboa, 2019, pp. 128, 130, 137, 141, 144, 148. [Consultado a 17 Junho 2020]. Tese de
Doutoramento. Disponível em http://hdl.handle.net/10362/91290.
AUTOR
ALICE BORGES GAGO
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais 1070-312 Lisboa, Portugal. [email protected]. http://orcid.org/
0000-0003-3680-1195
Medievalista, 28 | 2020
308
Paisajes monásticos. El monacatoaltomedieval en los condados catalanes(siglos IX-X). Tese de Doutoramentoem História apresentada àUniversidade de Barcelona(Espanha), Julho de 2019. Orientaçãodas Professoras Blanca Garí e MariaSoler-SalaXavier Costa Badia
1 La tesis doctoral que aquí se presenta plantea una aproximación global y holística al
paisaje monástico de los condados catalanes altomedievales con el objetivo de ofreceruna visión del fenómeno en su conjunto y, al mismo tiempo, conocer mejor lasrelaciones que este entretejió con su entorno físico y social.
2 Este planteamiento, que pretende superar la tradición historiográfica de analizar los
distintos monasterios de forma aislada e individualizada, se fundamenta en dospremisas básicas: 1) el principio de que todos los cenobios, a pesar de sus numerosaspeculiaridades, formaban parte de un mismo fenómeno histórico con unas lógicascompartidas que se pueden historiar; y 2) la idea de que cada centro monásticoparticipaba de un paisaje más amplio, entendido como un geosistema complejo en elcual todos los elementos que configuraban la realidad, ya fueran de carácter natural oantrópico, se encontraban profundamente interrelacionados y mutuamente
influenciados (fig. 1). En otras palabras, el estudio parte del supuesto que, sin tener encuenta el conjunto de los casos conocidos, así como su contexto histórico y geográfico,sería del todo imposible comprender la razón de ser de los monasterios altomedievalesy el rol que jugaron en la articulación y significación de la sociedad de su tiempo.
Medievalista, 28 | 2020
309
3 Estudiar el monacato desde una perspectiva de paisaje, sin embargo, es una tarea
compleja que plantea importantes dificultades conceptuales y metodológicas. Paravisualizar correctamente las relaciones sincrónicas que se establecieron entre losdiferentes elementos que compartieron un mismo tiempo y un mismo espacio, no solodebe ponerse en valor la variable espacial dentro de la Historia, muchas vecesmarginada en pro de la cronológica, sino que también debe superarse la diacroníapropia del discurso textual. Por ese motivo, la tesis presentada empieza por definir unainnovadora metodología diseñada para sistematizar todos los datos disponibles yexplotarlos conjuntamente teniendo en cuenta tanto su cronología como su ubicación;un objetivo que alcanza gracias a las múltiples posibilidades que ofrecen las tecnologíasde la información y, especialmente, los Sistemas de Información Geográfica (SIG).
Fig. 1 - Diagrama que muestra a los monasterios como parte de un geosistema complejo enque todos los elementos que configuran la realidad están profundamenteinterrelacionados.
© Xavier Costa Badia
4 El resultado es un complejo sistema de bases de datos relacionadas y debidamente
georreferenciadas que, a través de su proyección en una cartografía secuencial porintervalos de diez años, muestra la distribución espacial y la evolución temporal devarias realidades vinculadas al fenómeno estudiado. En concreto, se presentan dosproyectos cartográficos complementarios: uno en el cual se representa la progresión delos distintos cenobios documentados en los condados catalanes antes del año mil; y otroen el que se mapean las propiedades de aquellos centros que se estudian con mayorprofundidad en el interior del texto, visualizando con claridad cómo se conformaronsus dominios patrimoniales, en qué zonas se concentraron sus principales intereses,qué estrategias de expansión y gestión siguieron, así como las comunidades con las quese relacionaron. Por lo tanto, la cartografía elaborada adopta un rol central dentro de latesis y es utilizada como una verdadera fuente de información sobre la cual analizar
Medievalista, 28 | 2020
310
patrones de comportamiento espacial y formular nuevas hipótesis que formular nuevashipótesis que permiten entender mejor, permiten entender mejor el fenómenomonástico.
5 Este particular planteamiento teórico y metodológico, en el cual la aproximación visual
a las realidades sincrónicas juega un papel primordial, condiciona de manera evidentetoda la investigación, hasta el punto de que la propia memoria de tesis se estructura demanera no lineal y analiza el paisaje monástico a través de dos zooms con una escala yun grado de detalle diferentes. Así pues, en primer lugar, se presenta un apartado másgeneral, centrado en el estudio comparativo de todos los monasterios de los condadoscatalanes de manera conjunta, para pasar después a un segundo bloque, mucho másacotado a nivel geográfico, en el cual, a través del análisis minucioso de tres paisajesconcretos, se precisa de manera detallada la relación de influencia mutua que seestableció entre los diferentes cenobios y su entorno más próximo.
6 Entrando más a fondo en las características del primer bloque, cabe destacar que su
objetivo principal es la creación de una cartografía sólida y bien documentada de todoslos cenobios de los condados catalanes altomedievales capaz de sustentar un estudiocomparativo de su ubicación geográfica y, a partir de ahí, definir unos modelos conunos patrones de comportamiento compartidos. Antes de afrontar este reto, sinembargo, se dedican no pocos esfuerzos a elaborar un catálogo completo de todos loscentros monásticos fundados en ese período. Para ello, se analiza toda ladocumentación conservada y, además, se plantea una profunda reflexión sobre qué era un monasterio en la Alta Edad Media y cuáles son los rasgos que permiten identificarlosen las distintas fuentes disponibles, ya que, en los siglos IX y X, ni el monacato era unfenómeno con unas características perfectamente definidas, ni la documentación serefería siempre a él con un lenguaje inequívoco. Gracias a este trabajo previo,finalmente, se presenta una extensa relación de 144 monasterios documentados antesdel año mil en el ámbito geográfico en el que se circunscribe la tesis, incluyendoalgunos que hasta ese momento no habían sido reconocidos como tales y excluyendootros que, a pesar de habérseles atribuido la condición de antiguos cenobios, no se han
encontrado evidencias suficientes para poderlo corroborar (fig. 2).
Medievalista, 28 | 2020
311
Fig. 2 - Mapa de todos los monasterios documentados en los condados catalanes durante los siglosIX y X.
© Xavier Costa Badia
7 Una vez elaborado este catálogo y la correspondiente cartografía secuencial, se procede
a valorar comparativamente las características de los distintos monasterios, tantodesde el punto de vista de su emplazamiento como de su evolución histórica. Esteejercicio permite identificar cinco arquetipos con unos patrones de comportamientobien definidos: 1) los monasterios situados en valles de montaña o en otros territoriosgeográficamente coherentes sobre los cuales adoptaron un rol central en la articulacióndel espacio y de su población; 2) los cenobios encaramados en lo alto de montañasaisladas con una sacralidad telúrica motivada por su propia singularidadgeomorfológica; 3) las pequeñas celdas situadas en el centro de las extensas llanuraslitorales, con un evidente carácter económico, y las abadías de su periferia; 4) losmonasterios emplazados en el frente litoral, muy condicionados por la presenciainmediata del mar; y 5) los cenobios urbanos, nacidos en torno a las principales ciudades condales. Por lo tanto, realmente se consiguen distinguir unos modelosmonásticos que vinculan entre sí varios cenobios con unas dinámicas compartidas,avanzando así en el estudio comparado del fenómeno monástico en la Alta Edad Media.
8 Esta última cuestión es uno de los temas en los que más se incide en la segunda parte de
la tesis. Sin embargo, aún en el primer bloque, también se presta atención a dosevidencias negativas que nos muestran los mapas elaborados. La primera es lainexistencia de fundaciones monásticas en el amplio y fértil valle de la Cerdaña, undesajuste que abre la puerta a valorar, como ya se ha hecho en otras partes de Europa,hasta qué punto, en la Edad Media, la estructura de la propiedad de la tierra podíacondicionar el desarrollo del monacato en algunas regiones concretas. No en vano, unode los pocos elementos diferenciales que se detectan entre ese territorio y los vallesvecinos es la presencia de un paisaje especialmente antiguo, con muchos elementosheredados de época romana, y con una propiedad de la tierra muy fragmentada. En
Medievalista, 28 | 2020
312
consecuencia, se plantea la hipótesis de que el monacato podría haber tenido una incidencia menor en la zona de la Cerdaña por el hecho de que las autoridades condalesno habrían tenido que servirse de él para reorganizar aquel territorio y, al mismotiempo, porque no habría existido una élite local de pequeños propietarios concapacidad suficiente para reunir los bienes necesarios para dotar una fundaciónmonástica de manera adecuada.
9 La segunda evidencia negativa sobre la cual se reflexiona es la poca presencia que el
monacato femenino tuvo en el conjunto de los condados catalanes, ya que, para un totalde 140 monasterios masculinos, solo encontramos 4 de femeninos, dos de los cuales,además, tuvieron una vida efímera. Este evidente desequilibrio, que contrasta con elgran número de devotae y deodicatae que aparecen dispersas en la documentación, llevaa plantear la existencia de otros espacios de espiritualidad no reglada en los cualeshabrían vivido esas mujeres dedicadas a la vida religiosa. De hecho, a través de unalectura atenta de las fuentes, se consigue probar que muchas de ellas desarrollaron suvivencia espiritual en casas particulares situadas cerca de iglesias seculares o, incluso,de cenobios masculinos; unos espacios que, a pesar de aparecer muy raramente en losdocumentos por su poca entidad institucional, podrían haber tenido una fuerteincidencia social y haber terminado por sustituir a los monasterios como principalescentros de religiosidad femenina en los condados catalanes, como mínimo hasta el sigloXI. Así pues, en este último apartado del primer bloque se demuestra que, a través deun análisis comparativo, incluso la falta de evidencias puede ser una vía muy fructíferapara conocer mejor el fenómeno monástico y ver como el contexto paisajístico de losmonasterios condicionó su evolución y su implantación territorial.
10 En la línea de estas últimas observaciones, como ya he indicado anteriormente, en la
segunda parte de la tesis se insiste en la forma como los monasterios se relacionaroncon el paisaje de su entorno, transformándolo profundamente; pero, al mismo tiempo,viéndose muy condicionados por él. Para hacerlo, ante la imposibilidad de estudiartodos los cenobios identificados en el bloque anterior, se focaliza únicamente en tresejemplos concretos, cada uno correspondiente a un paisaje bien definido con varioscenobios que marcaron profundamente su evolución histórica.
11 El primer estudio de caso que se analiza es el de los condados de Pallars y Ribagorza,
dos territorios con un gran número de monasterios y con unas fuentes que, a pesar deser relativamente pocas, presentan una cronología muy amplia que cubre todo elperíodo estudiado. Esto los convierte en un ejemplo especialmente adecuado paraofrecer una primera aproximación a la evolución del monacato a lo largo de la AltaEdad Media e insistir en algunos aspectos interesantes como, por ejemplo, las causasque llevaron a la fundación de los primeros cenobios en esos territorios, los cambiosque sufrieron a medida que el contexto histórico fue evolucionando así como la formaen que contribuyeron a transformar el paisaje de su entorno. No olvidemos, en esesentido, que las fuentes escritas, debido a su naturaleza esencialmente económica, sonespecialmente indicadas para visualizar cómo los diferentes cenobios levantaron susdominios patrimoniales e, indirectamente, articularon unas redes sociales muycomplejas que vinculaban un gran número de actores diferentes, entre los cuales secontaban las autoridades francas, las élites locales y los pequeños propietarios dellugar.
12 Profundizando en las principales conclusiones derivadas de este primer estudio, cabe
destacar su aportación a nuestro conocimiento sobre las causas del rápido
Medievalista, 28 | 2020
313
resurgimiento monástico que experimentaron los condados pirenaicos a principios delsiglo IX. No en vano, frente a una tradición historiográfica que tendía a vincular esefenómeno a la acción colonizadora de las nuevas autoridades carolingias, se proponeuna relectura de las fuentes primarias que, obviando aquellas que en los últimos años seha demostrado que eran falsas, permite poner en valor el papel que también jugaron enese proceso los precedentes monásticos de la región y, sobre todo, las élites locales. Así,se termina por concluir que la proliferación de monasterios que se produjo a lo largodel siglo IX no tuvo una única causa exógena, sino que constituyó un fenómeno muchomás complejo que solo fue posible por la convergencia de una serie de circunstanciasmuy particulares: 1) la existencia de un substrato monástico previo que habíasobrevivido al período de dominio islámico; 2) la presencia de unas élites locales quenecesitaban consolidar su poder dentro del ámbito local y frente a los nuevosgobernantes francos; y 3) la irrupción de unas autoridades con bases muy lejanas querequerían de instituciones con una buena implantación territorial que les ayudasen a hacerse presentes sobre el territorio, a introducirse en las redes sociales que regían las relaciones de poder entre sus habitantes y, al mismo tiempo, a reorganizar el espacio anivel político y religioso.
13 Derivado de esta última observación, este primer ejemplo también pone de manifiesto
que detrás de la fundación y/o promoción de un cenobio no había una única causa, sinouna combinación de motivaciones muy diversas y prácticamente imposibles de separar.Los patrones, como resalta la tesis aquí tratada, establecían monasterios con claraspretensiones de carácter religioso y simbólico, esperando contribuir a la salvación de sualma y a la construcción de una imagen pública del poder. Sin embargo, también podíantener intenciones mucho más prosaicas como, por ejemplo, la de utilizarlos paraintroducirse en las comunidades locales, hacerse presentes de manera más eficaz sobreel territorio y, a través de ellos, reorganizar sus estructuras sociopolíticas. Así pues, encada fundación monástica debe verse esta multiplicidad de causas y significados quepara la población del momento eran del todo consubstanciales y que, por lo tanto,deben ser historiadas conjuntamente, evitando caer en simplificaciones que soloconseguirían dificultar aún más nuestra aproximación a ese complejo fenómeno.
14 A parte de estas interesantes precisiones, como ya he comentado, el estudio del
monacato pallarense y ribagorzano también se muestra muy útil para ver cómo loscenobios fundados a principios del siglo IX se adaptaron a los cambios contextuales quese fueron sucediendo. En este sentido, se puede ver con gran claridad como la apariciónde un linaje condal privativo en esos territorios provocó importantes transformacionesen el paisaje monástico previo, ya que, pasados unos primeros momentos de dudas, losnuevos condes tomaron el relevo a los viejos representantes del poder carolingio comoprincipales fundadores de cenobios. Además, haciendo gala de una gran capacidadeconómica, procuraron hacerse con el control de muchas abadías prexistentes. Se trató,sin duda, de una operación premeditada que, más allá de su significado religioso,pretendía reforzar la imagen de poder de las nuevas autoridades, aumentar supresencia sobre el territorio y, a través de la apropiación de antiguos monasterios,poner bajo su patronazgo todas las estructuras sociales, políticas y religiosas que, comoprincipales protagonistas de la reorganización de aquella región, habían idoconstruyendo durante el siglo anterior. De nuevo, por lo tanto, este apartado poneblanco sobre negro la importancia de los centros monásticos como articuladores del
Medievalista, 28 | 2020
314
espacio y, sobre todo, como nodos en el complejo entramado social que vinculaba todasu población.
15 El ejemplo del Pallars y la Ribagorza, finalmente, también resulta muy interesante para
visualizar cómo los monasterios se sirvieron de la centralidad que les daba su rolpolítico-religioso para obtener importantes beneficios económicos y construir grandes
dominios patrimoniales que se extendían a lo largo de toda la región (fig. 3). Así, porejemplo, se puede apreciar con claridad como su creciente capacidad financiera, perosobre todo los vínculos de patrocinio que los unían a los grandes poderes del país, losconvirtieron en vecinos muy poderosos para todos aquellos que vivían en su entorno,muchos de los cuales acabaron por darles parte de sus bienes, o la totalidad de ellos,para ponerse bajo su protección y/o progresar socialmente.
Fig. 3 - Distribución de las propiedades adquiridas por los monasterios de los condados dePallars y Ribagorza antes del año mil.
© Xavier Costa Badia
16 Además, como defienden cada vez más historiadores, ello pone de manifiesto que los
monasterios no fueron actores pasivos en la construcción de sus patrimonios, ya que,incluso en las adquisiciones de propiedades más lejanas, se observa que estas no teníanun carácter accidental, sino que eran bienes muy apreciados, bien controlados ydirectamente relacionados con la voluntad de conformar unos dominios lo másdiversificados posible. Así pues, en contra de la idea tradicional que atribuía los bienesmás lejanos de los distintos cenobios al azar de las donaciones, la tesis aquí presentadademuestra que detrás de toda transacción, y sobre todo cuando eran hechas porpersonas acomodadas, se daba un proceso de negociación más o menos largo quepermitía a los monasterios obtener de sus donantes aquellos bienes que másinteresantes les resultaban.
Medievalista, 28 | 2020
315
17 Sus intereses, sin embargo, no siempre eran de carácter únicamente agrícola, ya que el
análisis de la expansión de los dominios monásticos pallarenses y ribagorzanos a partirdel siglo X permite apreciar que la ganadería tuvo también un papel determinante a lahora de definir las estrategias expansivas de los cenobios altomedievales. Prueba de elloes que, a pesar de ser una práctica escasamente representada en las fuentes escritas,probablemente por la poca utilidad que tendría el documento resultante como título depropiedad para unos bienes semovientes, la cartografía elaborada en este apartadomuestra que muchos de los alodios monásticos dispersos seguían una lógica claramentetrashumante y estaban situados cerca de las zonas donde se concentraban los pastosestivales o de las numerosas cañadas que los comunicaban con las llanuras másmeridionales, lugar de estabulación del ganado durante el invierno. Por lo tanto, lainvestigación realizada para estos territorios contribuye a reforzar la idea de que laganadería constituía una de las principales prácticas económicas de los cenobiosaltomedievales, siendo muy posible que en esas fechas tan tempranas ya hubieraempezado a articularse una primera red trashumante de corta y media distancia.
18 Muchas de las observaciones comentadas para el ámbito pallarense y ribagorzano,
sobre todo por lo que se refiere a los diversificados intereses económicos de losmonasterios y a la multiplicidad de roles que tomaron en la reorganización de lospaisajes previos, también se ven corroboradas en el estudio de los centros monásticosfundados en la comarca natural del Ripollés, que es el segundo ejemplo planteado en latesis. Esto se debe a que se trata de unos territorios muy parecidos, tanto por suscaracterísticas geográficas y físicas como por los antecedentes culturales con los quecontaban.
19 Este segundo ejemplo, sin embargo, es especialmente adecuado para profundizar en
uno de los temas que el estudio referido al Pallars y a la Ribagorza solo permiteapuntar: el rol que los nuevos linajes condales autónomos, en este caso la casa deBarcelona, otorgaron a esas instituciones para que les ayudaran a consolidar su poder,legitimar su posición de fuerza y controlar aquellos territorios más importantes desdeun punto de vista geoestratégico. En este sentido, debemos recordar que losmonasterios de Ripoll y Sant Joan de les Abadesses fueron fundados a finales del siglo IXcomo parte de un proyecto encabezado por el conde Guifré el Pelós que, además detener un profundo sentido religioso y simbólico para mostrar su poder y preservar sumemoria, también debía contribuir a reorganizar y controlar en nombre de su familiaunos territorios que, hasta ese momento, habían escapado a su autoridad y que, debidoa la gran cantidad de caminos que los surcaban, presentaban un claro interésgeoestratégico.
20 En cuanto a la forma en que los cenobios podían contribuir a ese proceso de
reorganización, San Joan y su abadesa Emma constituyen un ejemplo paradigmático. Noen vano, su extenso archivo, uno de los mejor conservados de todos los condadoscatalanes, permite vislumbrar claramente como, a través de compras sucesivas, elmonasterio pudo hacerse un lugar cada vez más preponderante dentro de la esferalocal, cosa que terminó propiciando que sus vecinos se mostrasen progresivamente másinteresados en vincularse a él a través de nuevas donaciones y, así, de manera indirecta,entrar también dentro de la red de fidelidad de los condes, sus patrones. Por lo tanto,este ejemplo permite entender un poco mejor la complejidad de las transacciones quebeneficiaban a las instituciones monásticas; unos actos que, más allá de una meratransferencia de bienes inmuebles, propiciaban el establecimiento de una relación
Medievalista, 28 | 2020
316
vinculante entre el donante, la institución monástica, los santos que allí se veneraban ylos patrones laicos que pudiera tener detrás, generalmente las autoridades condales.
21 El caso del Ripollés, finalmente, constituye también un buen ejemplo para observar
como el contexto sociopolítico de los monasterios, y especialmente las disputas entornoa su patrocinio, pudieron condicionar su vida interna. Esto es así porque, a medida quelas relaciones entre los descendentes de Guifré el Pelós se fueron deteriorando a lolargo del siglo X, los cenobios de aquella comarca se convirtieron en verdaderoscaballos de batalla y se vieron profundamente afectados por ello. Los efectos, sinembargo, fueron muy dispares, ya que Ripoll salió reforzado de la crisis, pues todos lossucesores de Guifré se esforzaron en su promoción para mostrarse como sus legítimosherederos; mientras que Sant Joan salió fuertemente damnificado, sobre todo porque,ante su apropiación por el conde Sunyer de Barcelona, muchos bienes le fueronusurpados y los condes de Besalú, que no querían perder influencia en el Alto Valle delTer, fundaron el cenobio de Sant Pere de Camprodon en sus inmediaciones. De hecho, latesis plantea la posibilidad de que la conocida decisión del conde Bernat Tallaferro deBesalú, patrón del cenobio, de substituir la comunidad femenina de Sant Joan por unacanónica masculina en 1017 podría haber escondido, en realidad, la voluntad de romperlos vínculos de aquella institución con sus primos, los condes de Barcelona, y evitar asíque pudieran seguir reclamando derechos de patrocinio sobre ella. No hay duda, pues, que los cambios contextuales acontecidos fuera de los cenobios tenían importantesrepercusiones en su interior, llegando al punto de provocar la desaparición de algunascomunidades.
22 El tercer estudio de caso que se presenta, el más breve de todos, se centra en el análisis
de los monasterios fundados en el litoral mediterráneo, sobre todo para ofrecer uncontrapunto a los dos paisajes analizados anteriormente, con un claro perfil de media yalta montaña. Así pues, este tercer ejemplo se centra en dilucidar si existían similitudesentre las causas que motivaron la fundación de nuevos cenobios en los territoriospirenaicos y costeros así como en los condicionantes que marcaron su evolución y laforma que tomaron sus dominios. En este sentido, permite comprobar que el mar y elpaisaje litoral, con sus evidentes singularidades, tuvieron una influencia muy elevadasobre los monasterios que allí se asentaron. No en vano, el mar constituía al mismotiempo una fuente de inestabilidad permanente que dificultaba su consolidación y unrecurso económico de primera importancia que, con el paso de los años, les permitiódotarse de un gran poder e influencia, especialmente en aquellos casos, como Sant Feliude Guíxols, que controlaban un puerto mercantil de primer orden.
23 Al lado de estas particularidades, sin embargo, el análisis de los monasterios litorales
también permite observar algunos paralelismos interesantes. Por ejemplo, muestra quelos patrones de esos cenobios también les otorgaron un rol fundamental en lareorganización del territorio. Buena prueba de ello es que su fundación por parte de lasprincipales familias condales y vicariales del país se produjo en el mismo momento enque la costa, hasta entonces una zona de peligro prácticamente olvidada por lasautoridades políticas, empezaba a verse como un posible espacio de expansión quedebía ser controlado y administrado. Por lo tanto, este último caso permite confirmar laidea de que los cenobios eran instituciones muy complejas que, más allá de su vidainterna de carácter espiritual, jugaron un papel primordial en la transformación de lospaisajes donde se asentaban, contribuyendo a estructurar su población y a vincularla aunos nuevos poderes políticos que, progresivamente, iban consolidándose.
Medievalista, 28 | 2020
317
24 También se observan paralelismos interesantes al estudiar la formación de los dominios
monásticos de los cenobios litorales, pues, aunque la proximidad del mar dio a susposesiones nucleares algunas características muy particulares, se sigue constatando uninterés evidente de los monasterios para conformar patrimonios lo más diversificadosposible. De hecho, al tiempo que muchos monasterios pirenaicos acumularonimportantes bienes en las zonas costeras, los cenobios del litoral no dudaron en hacerse
con numerosas propiedades en entornos de montaña (fig. 4). Esta evidencia, de nuevo, permite intuir que la ganadería habría jugado un rol fundamental en el sustento de esasinstituciones religiosas, reforzando la hipótesis de que, a pesar de su clarainfrarrepresentación en las fuentes escritas, su explotación habría sido un rasgo comúnde todo el monacato altomedieval y, probablemente, de todas las comunidadeshumanas de ese período. Así pues, este último ejemplo resulta también muy útil paraavanzar en el concomimiento de los dominios monásticos y, sobre todo, de lasestrategias que tenían detrás.
Fig. 4 - Distribución de las propiedades adquiridas por los monasterios del litoral catalán antes del añomil.
© Xavier Costa Badia
25 Llegados al final de este extenso resumen, se puede concluir que la tesis presentada
propone una innovadora aproximación conceptual y metodológica al monacato,ofreciendo una herramienta muy útil y eficaz para estudiarlo desde una perspectivaholística que pone el acento en los procesos compartidos por los distintos cenobios y lasrelaciones que establecieron con su entorno físico y social. Constituye, por lo tanto, unnotable avance en el conocimiento del fenómeno monástico altomedieval y nos permitecomprender mejor su extrema complejidad, así como el papel que jugó en la articulación de los condados catalanes, que en ese momento estaban en proceso deformación.
Medievalista, 28 | 2020
318
AUTOR
XAVIER COSTA BADIA
Universitat de Barcelona, Facultat de Geografia i Història, Departament d’Història i Arqueologia
08001 Barcelona, España. [email protected]. https://orcid.org/0000-0003-2454-1584
Medievalista, 28 | 2020
319
The Discourses of Holy War and theMemory of the First Battles of Islam. Al-Andalus, 10th - 13th centuries. Tese dedoutoramento em HistóriaMedieval, apresentada àUniversidad Autónoma de Madrid,2020. Orientação dos ProfessoresCarlos de Ayala Martínez eMercedes García-ArenalJavier Albarrán Iruela
Beyond the imposing walls of Theodosius and at the foot of the hill where the famousPierre Loti café sits –a place where you can enjoy one of the best panoramic views ofthe Golden Horn–, there is one of the most sacred corners of Istanbul: the mosqueknown as Eyüp Sultan. This building, pilgrimage destination and a sacred place chosenby thousands of adorned children who celebrate the rite of circumcision, was orderedby the Ottoman Sultan Mehmet II to house the tomb where it is believed that theremains of Abū Ayyūb al-Anṣārī (d. 674) rest.
After the fall of Constantinople in the year 1453, the remains of this companion of theProphet Muḥammad, who was killed and buried under the walls of the Byzantinecapital during the first Islamic siege of the city, were rediscovered in this location1. Inthis way, Mehmet connected the city of the Bosphorus to the Islamic sacred history,thus creating a link of legitimacy between the early days of Islam and the Ottomanconquest. Significantly, it was in this memory locus of holy war and of the origins of theumma, where the Turkish sultans received the sword of Osman (‘Uthmān Ghāzī, d.
Medievalista, 28 | 2020
320
1326), founder of the dynasty, in a performance representing the ascension to power.Furthermore, it was also the place where they blessed their ceremonial weapons beforeeach military campaign.
This is not the only place in Istanbul where the remembrance of jihād and the battles ofthe early Islamic community are revealed through the evocation of the Muslimwarriors who participated in them, as well as in the primitive attacks onConstantinople. In the mosque known as the Arabs’ Mosque (Arap Çamii), in the districtof Galata, rests the presumable tomb of Maslama b. ‘Abd al-Mālik, the Umayyadcommander who led the siege to the Byzantine city in the year 715. The populartradition says that he founded the mosque and that the first call to prayer overByzantium was issued from there. In addition, between Sultanahmet and Hagia Sophia,right next to the great square formed by the ancient Roman hippodrome, lies thealleged tomb of ‘Abd al-Raḥmān al-Shāmī, who was the banner-bearer of Abū Ayyūb al-Anṣārī himself.
In these locations, particularly in the Eyüp Sultan mosque, the two main issues thatoccupy this doctoral dissertation intermingle: the ideology of holy war and the memoryof the first battles of Islam. The Ottoman sultans used the memory –and the symboliccapital– of one of the protagonists of the inaugural Islamic expansion as part of thestaging of their jihād expeditions, as well as a framework in which the dynasticcontinuity and its legitimacy were ritualized.
This research examines how both parts of this binomial were developed and linked toeach other in al-Andalus; that is, my aim was to study the articulation of the discourseof holy war and its relation to the remembrance of the maghāzī and the futūḥ. Likewise,I have analyzed with special interest how jihād and memory constituted a main powertool, as it was also for the Ottoman rulers. Therefore, this Ph.D. dissertation, framedwithin the fields of Medieval History and the knowledge of the Islamic West, isintended as a contribution to several grounds of debate on historiography andhumanities, such as the study of religious violence –especially focused on the notion ofholy war and jihād–, the analysis of the configuration of power and its legitimacy, or theso-called Memory Studies.
The time framework I have chosen for this study covers the period between the rise tothe throne of ‘Abd al-Raḥmān III until the fall of the Almohad caliphate, from the year912 to 1269. As for the geographical framework, although my focus is primarily on al-Andalus, I will also refer to the reality of the Islamic West as a whole. Both scenarios areinseparable from numerous points of view: demographic, intellectual, economic,religious, cultural, etc. In addition, the vast majority of powers established in theAndalusi territory were also settled, to a greater or lesser extent, in the Maghreb, fromthe Umayyads of Cordoba to the Almohads, including the Almoravids or the Zirids.
The choice of the Andalusi context as a framework for this study has also allowed me tobring a new perspective to a historiographic debate that has been developing amongspecialists for decades: was the Andalusi society unreceptive to the ideology of jihād?
The hegemonic historiographic vision presents the Andalusi population as lacking a“warrior spirit”2. The scarce militarization of the Andalusi society in comparison withthe Christian kingdoms of northern Iberia has been underlined as one of the historicaland structural causes of al-Andalus’ own disappearance3. One of the evidences that aremost invoked when explaining the alleged scarce militarization of Andalusi society is atext of the well-known Memories of ‘Abd Allāh, the Zirid king of Granada, that talks
Medievalista, 28 | 2020
321
about the military reforms that Almanzor carried out at the end of 10th century, andthe impact they had on al-Andalus. The ‘Amiri leader would have suppressed therecruitment that affected the whole of the inhabitants of al-Andalus to leave militaryobligations in the hands of a professional army composed mainly of Berbermercenaries. Thus, the military function was exclusively in the hands of the centralpower and ceased to permeate the social network4.
Researchers have also stressed that from the Zirid king’s speech –“they were notprepared to fight”, “they were not people of war”– it should be deduced that the poorinclination of Andalusi society towards warlike purposes would not have begun withAlmanzor’s reforms, but were rather the reflection of a social configurationunfavorable to a “warrior spirit”. This issue has led scholars to affirm that in theMuslim populations of al-Andalus there was some difficulty in assuming ideological anddiscursive presuppositions such as that of holy war.
In this sense, Dominique Urvoy, for example, argued that the religious elites of al-Andalus were not able to reinvent the concept of jihād, so that the Muslim populationwas not involved in the fight against Christians, and the dependence of the Maghrebiarmies became increasingly important. He also defended that in the entire Andalusiperiod only one jurist, who had been linked to the holy war, could be highlighted: Abū‘Alī al-Ṣadafī, better known as Ibn Sukarra5.
However, the scholar who has contributed the most to prop up this historiographicvision has been the great reformer of Andalusi studies: Pierre Guichard. He pointed outthat, ideologically, the Andalusi social environment was very little receptive to thenotion of holy war, that there was a “lack of sensitivity to jihād”6. Moreover, he saw astructural inferiority of al-Andalus in the lack of dedication of resources to maintain amilitary sector comparable to the feudal elite. Likewise, he also questioned thedevelopment in the 12th century, in al-Andalus, of a true mobilizing ideology of holywar, at the same time popular and official, comparable to the one that effectivelyencouraged the eastern “counter-crusade” under the Zenkids, Ayyubids and Mamluks.In addition, he defended, as Urvoy had already done, that great intellectuals such as IbnḤazm and Ibn Rushd were unable to innovate in the ideology of holy war. This wasnothing more than an instrument of state policy that did not respond to any demandfrom popular sensibility7.
Certainly, this relationship that has been established between a poorly militarizedAndalusi society and a poor rooted notion of holy war in al-Andalus is very problematicand needs to be qualified8. For example, such an argument would then lead us to affirmthat the greater militarization of feudal social structures is due, among other things, toa strong presence of holy war ideology, which is something difficult to sustain.
The historiographical vision of the scarce warlike, warrior and jihād spirit of theAndalusis has perhaps been propitiated by a reductionist perspective of thephenomenon of holy war, as well as by a somehow uncritical and “literalist” reading ofcertain texts such as that of ‘Abd Allāh, without attending to the ideological andlegitimizing factors present in these sources. In this Ph.D. dissertation, therefore, Ihave tried to contribute with new arguments and perspectives to this debate, especiallyto the question of whether or not jihād's notion and ideology had important roots in al-Andalus.
The concept of “holy war” has been used, in different religious traditions, to describediverse phenomena: war acts inspired directly by the divine will, military
Medievalista, 28 | 2020
322
confrontations led by religious authorities, wars carried out in defense of religion or forits expansion, campaigns in which combatants are spiritually remunerated, etc9. In thisstudy, I propose a way of application of this concept through which all these different –but at the same time, I believe, compatible– realities can be covered. For this aim, Ihave focused on two issues. First, the set of images and symbols of the discourse of holywar, through which it can be affirmed that we are facing a war action that wasunderstood as sacred by those who carried it out. Second, its functionality as a powertool in different contexts will be underlined.
Therefore, holy war is basically an ideology of justification of violence acting as adiscursive tool which appeals to sacred elements accepted and shared by those towhom it is addressed. Thus, I underline the perspective of those who carry out the holywar. With its articulation, a great legitimation framework is constructed for carryingout different actions in order to obtain and consolidate authority. Also, this ideology –the discursive tool that we call holy war– has a specific language that manifeststhrough a symbology and its own features, as well as a mise-en-scène, a liturgy andrituals that have been described, especially by the German tradition, as the“phenomenology of holy war”.
The discursive features that I have considered most important when analyzing holywar and its language, and therefore detecting its presence, are those listed below. Inturn, as we shall see, they have their own elements of ritualization.
- God’s presence in war and divine help to his warriors. It can be seen through imagessuch as the appearance of angels in battle or miracles. Likewise, there are also a seriesof symbols and rituals that show the direct participation of God in war: blessedbanners, war liturgy and use of relics as means of connection with the divinity in themilitary context, carrying out campaigns on festivities considered sacred, etc.
- Missionary nature of war and defense of the “true” religion against adversariesconceptualized as enemies of God. It manifests itself, for example, through rituals suchas the invitation to conversion, campaign announcements or the purification ofconquered territory and the destruction of the enemy’s religious symbols.
- Meritorious, and even salvific, nature of war from a religious point of view. The bestdiscursive evidence of this feature is martyrdom, although there are also others such asthe need for warriors to enter into battle in a state of purity.
All these discursive features and this phenomenology have been taken into account andstudied in this dissertation when analyzing the discourse of holy war in al-Andalus.
On the other hand, this broad approach to the analysis of holy war leads me not to limitthis notion terminologically in the Arab-Islamic lexicon. That is, although the termjihād has been used as the main synonym for holy war, where it has been necessary andevident following my conceptual proposal10, there are other words such as ghazwa, qitāl,ḥarb or fatḥ that I have also used in that way. And, even, I have also defined as holy warother phenomena in which some of the discursive features mentioned above arepresent, although in the sources they are not described with terms relative to thesemantic field of war.
The second issue on which I have focused my proposal for the conceptualization of holywar is its functionality as a power tool, as I have said before. The discourse of holy warand its conduction and realization became a powerful instrument for the constructionof authority and political justification. In order to study this feature of holy war I have
Medievalista, 28 | 2020
323
used the model of centralized versus decentralized jihād that Michael Bonner proposedfor the eastern context of the Arab-Byzantine frontier, and that other scholars likeDeborah Tor later on developed11.
This model defends that the central authority, represented by a warrior-ruler, a ghāzī-sultan, pursues the monopoly of religious violence, especially of holy war, and thelegitimacy it confers. Jihād –centralized– thus becomes a political tool against thecentrifugal power of, for example, border lords or warrior-scholars, who in turn alsouse jihād –decentralized– as a means of legitimization and construction of authority.That is, this model emphasizes the struggle that various powers hold for the politicaland symbolic capital granted by the leading of holy war.
Regarding the memory of the first battles of Islam, I have considered the maghāzī andfutūḥ texts as the main producers and reproducers of this remembrance. Halfwaybetween historiographical texts and epic narratives, these reports broadly refer to thefirst battles and conquests carried out by the Islamic community. Particularly, themilitary expeditions led by the Prophet Muḥammad in the case of the maghāzī, and theconquests made by the first caliphs of Islam in that of the futūḥ.
Although I have not limited the study of the memory of these first Islamic expeditionsto these genres, they have been the most important tool for it. In this sense, mymethodological proposal to analyze these works is inserted in the epistemologicaltrend that understands “memory” as the repeated impulse to remember the past fromshifting perspectives in the present. That is, the phenomenon of production,reproduction, circulation and transformation of narratives about a collective past;remembering as an act of creation of meaning in the present that intertwines currenttopics of interest with reports about the past.
As events of a “golden era”, the narrations of the first battles of Islam become lieux de
mémoire, a notion created by Pierre Nora and a concept that I have used in my approachto the maghāzī and futūḥ12. Places of memory are signals and references, such as facts,objects, places or institutions, which represent certain values, symbols of collectiveinterest that become part of the memory. Likewise, as Sean Anthony says, “maghāzī arealso sites of sacred memory”, events and stories of sacred history that left their markon the collective memory of the community of believers13. They are also disputedepisodes, whose memory generates identities, consensus and obligations.
In summary, when studying the commemoration of the first battles of Islam through itsreports and narrations –and, to a lesser extent, other memory mediators as objects orrituals– what I have carried out is an exercise in “mnemohistory”. Coined by Assmann,this term “is concerned not with the past as such, but only with the past as it isremembered. It surveys the story-lines of tradition, the webs of intertextuality, thediachronic continuities and discontinuities of reading the past”14. My focus has been onthe history of memory, that is, I understand that the episode itself, in this case theexpeditions of early Islam, is less important –for my study– than the way it isremembered or forgotten. Therefore, the interest has not only been the reality of themaghāzī and futūḥ, but their subsequent impact, reception, reinvention andrecontextualization, the creation of memory around them. Thus, one of the aims of thisdissertation has been to study how the process of “memorialization” andcommemoration of the first battles of Islam constituted an important element of theconduction and legitimization of holy war in al-Andalus and the Islamic West15.
Medievalista, 28 | 2020
324
On the other hand, in addition to the works of maghāzī and futūḥ, for the realization ofthis Ph.D. dissertation I have used a wide range of Arab-Islamic sources that includechronicles, biographical dictionaries, legal and doctrinal texts, or documentary andepistolary material. I have also tried to complement the information obtained aboutsome episodes in the Islamic sources by resorting to Christian works. Moreover, I haveused several manuscripts –most of them from Moroccan archives and libraries, but alsosome of them preserved in France and Spain– that have helped me, above all, toexamine in greater detail that memory of the first battles of Islam. The most importantof them are the Gayangos XVIII manuscript of the Royal Spanish Academy of History,which contains a compendium of futūḥ works titled al-Durr al-nafīs; the manuscript3/164 of the Ibn Yūsuf library in Marrakech, which includes the text titled Ḥijāb mawlā-
nā Ya‘qūb al-Manṣūr, a talisman that evidences the sanctification process of the Almohadcaliph due to the conduction of holy war; and, finally, the manuscript 296 of the al-Qarawiyyīn library in Fes, which contains a maghāzī work from the Almohad periodtitled Kitāb al-rawḍāt al-bahiya al-wasīma fī ghazawāt al-nabawiyya al-karīma.
Therefore, throughout this doctoral dissertation, I have shown how jihād and itsleadership became a powerful device for the construction of authority and politicaljustification. What I have called centralized holy war and its embodiment in the figureof the ghāzī-caliph, was but a powerful political tool manifested through the attempt tomonopolize the discourse of religious violence, of jihād, by the different central powersthat ruled in the Islamic West. I have seen how in the Umayyad Caliphate period thesources point out that holy war was an obligation, “the greatest of duties”, and that theUmayyad sovereign did not stop fulfilling it, fighting against the enemies of God. Thetriumph in this endeavour, moreover, brought safety as well as well-being to hispopulation, according to the chroniclers.
Likewise, this position as a defender of Islam and its community was one of the mainreasons that justified the auctoritas that he possessed. The campaigns launched by theCordovan power were a magnificent political asset with a strong discursive componentdirected towards the internal audience. It is not surprising that, when describing thegovernment of ‘Abd al-Raḥmān Sanchuelo, the chroniclers commented that, under hisrulership, the war expeditions ceased, the civil war was declared and the dynasty wasdestroyed, thus transmitting the idea that it was the victorious leadership of holy war –even though the sovereign did not physically lead the campaign, as in the case of al-Ḥakam II– which had prevented the disintegration of al-Andalus.
That is to say, that jihād and its discursive performance must be understood not as areflection of a permanent confrontation between religions, but as one of the powertools that Cordova had, which served diverse purposes. Therefore, although the mainenemies in the discursive articulation of jihād and its leader, the ghāzī-ruler, were theinfidels, throughout the Umayyad period holy war was also directed against otheropponents who, a priori, were not Christians. They were discursively turned intoenemies of God through a policy of takfīr, usually implicit, although sometimes quiteexplicit, and in that way the war carried out against them was sacralised.
Similarly, holy war was also an effective tool for centralization and for the control ofthe frontier: the fight against the infidel served as a justification framework for thecontrol and submission of centrifugal powers, thus becoming a powerful element ofcohesion whose main aim was, on many occasions, more internal than external.
Medievalista, 28 | 2020
325
On the other hand, I have shown how the discourse of centralized holy war wascompleted and presented through a series of rituals and symbols – a protocol of jihād
that I have analysed through elements such as exhortations, parades, banners,announcement of victory or the creation of a particular season for the fight against theinfidel – that allowed the sacredness of its actions to be recognizable and recognized bythe audience.
In the Taifa era, a period characterized more by the struggle between the differentrulers and the pacts with the Christian kingdoms than by the leading of jihād, there aresome traces suggesting that, despite this negative context, the discourse of holy warand the use of the figure of the ghāzī-ruler continued to be an effective ideologicaldevice. However, this could only be implemented on limited occasions, due to thesituation of political fragmentation and the Christian advance of the period. Theparadigmatic example is that of the reconquest of Barbastro, where al-Muqtadir,presented as king-warrior, obtained great legitimacy and authority with his victory.
The model of centralized holy war reappeared strongly with the Almoravids, a dynastylinked from its origins to the conduction of jihād. Its fulfilment, headed by Yūsuf b.Tāshufīn, winner of the battle of Zallāqa, was the most repeated argument by thesources to justify the arrival and conquest of the Iberian Peninsula by the BerberEmpire. Likewise, with the Almoravids the combination of jihād with asceticism in thecase of centralized holy war is observed for the first time. The appearance of thisbinomial – more related to an individual character of jihād – makes visible thetransmission of notions between the centralized and decentralized models of holy war.
In this period, jihād was also an effective tool of centralization, of unification of thedifferent independent Islamic powers that operated in the region. In this sense, theAlmoravids justified their conquest of the Taifa territories due to their failure in therealization of holy war, as well as their rebellion. For this aim, and as can be seen in thefatwa with which al-Ghazālī responded to the request of Abū Muḥammad b. al-‘Arabī,they came to sacralise the fight against the Andalusi rulers.
Although in the Taifa period we find almost no ritualization of holy war – or at least thesources do not depict it, perhaps due to the shortage of campaigns of this type –, underthe Almoravid rule this phenomenology of jihād is recovered. However, it will do so to alesser extent than in the Umayyad period, maybe because of the lack ofcontemporaneity of the sources we have available to carry out the analysis, owning tothe loss of the Caliphate dignity, or to a lower consolidation of the organizational andadministrative structures of the Almoravid power.
As for the Almohad period, holy war and the figure of the ghāzī-sultan were one of themain axes of this movement, reaching absolute levels. Since the beginning, this imageof the warrior-ruler appears in Ibn Tūmart’s depiction in the sources, although thisidea will be best shaped by his successors, ‘Abd al-Mu’min, Abū Ya‘qūb Yūsuf and AbūYūsuf Ya‘qūb al-Manṣūr. After Las Navas and the death of al-Nāṣir, it seems that thispolitical and rhetorical discourse was abandoned, although some evidence leads me tothink that the appeal to holy war might have continued to be an effective legitimationtool for the caliphs.
Once more, the Almohad period shows, perhaps more clearly than any other throughthe progressive process of ḥisba, takfīr and, finally, jihād, that holy war and itsdiscursive performance not only served to confront the infidels and obtain significantlegitimacy, but it was also a powerful tool for the unification of the Islamic territory
Medievalista, 28 | 2020
326
and for cohesion and centralization of power. All those Muslims who did not adhere tothe Almohad movement and who did not recognize their power, were converted intoinfidels, and the struggle against them was sacralised. The Almoravids and IbnMardanīsh were the main victims of this policy.
The power with which the Almohads launched the centralized holy war model and itsritualization even exceeded that of the Umayyad caliphate. The recovery of theCaliphal dignity, together with the development of an enormous level of warreligiosity, made the jihād “protocol” to be intensely developed. The vanguard of theAlmohad army, the so-called sāqa, is the best example of this process.
However, as I have stated, so that violence can be justified through religion, and inorder to define holy war as a political tool, its discourse needs to be effective: it mustproduce a result in the audience to whom it is addressed, who must accept and adhereto that speech legitimizing violence and the authority that it confers.
In this sense, I have shown how the different powers analysed used various devices toaddress their audience and to attract and link it to the discourse of holy war, anideology that, therefore, would be alive and effective amongst the Andalusi society. Thepre-campaign parades, for example, were used by the ruler as propaganda todemonstrate that he fulfilled his duty to conduct jihād, and also served as a publicostentation to “propitiate the spirits of the people”16, that is, to involve his communityin his warlike actions, thus obtaining legitimacy through popular support.
Another of the procedures was the sending of letters, both of exhortation to holy warand of victory, which were read in the different great mosques and that, therefore,were addressing the whole of the umma. If these public readings were not effective,what was the point of its performance? A good example is the Almohad kutub al-fatḥ, orthe letter written in Marakech by the Almoravid kātib, Ibn Abī al-Jiṣāl, on March 25th of1114 on behalf of the emir ‘Alī b. Yūsuf, and addressed to the entire people of al-Andalus. In this text, among other things, jihād was exhorted and believers were askedto beg God for the triumph.
Victory rituals were also part of this same phenomenon that suggests that the Andalusisociety, or at least a part of it, was fully involved in that ideology of holy war. Thesources even show us the attendance to these ceremonies of scholars that travelledlong distances for it. The ritualization of the architecture where these ceremonies werecarried out in the Almohad era, through its decoration with inscriptions related tojihād, would have helped to complete this process.
Along with the centralized model of jihād, a decentralized model of the fight against theinfidel appeared, which also gave legitimacy to its protagonists, questioning and thuslimiting the authority of the rulers through the disputation of the monopoly of theleadership of holy war.
In the Umayyad case, for instance, this peripheral model is observed clearly throughthe figure of the governors or lords of the frontiers, and of the volunteers who settledin the thughūr. Linked to this, and through the circulation and analysis of works, suchas al-Fazārī’s Kitāb al-siyar or Ibn Abī Zamanīn’s Kitāb qudwat al-ghāzī, the merits ofthose who participate in combat, the bonding of asceticism with jihād, or the correctintention, niyya, of the combatant, I have also traced the existence of a certain“individual” nature of holy war. Undoubtedly, this phenomenon is perfectly illustratedin the figure of the scholar-warriors. A significant number of members of the religiousand intellectual elite of al-Andalus participated in war activities, many of them
Medievalista, 28 | 2020
327
considered as jihād, as volunteers, thus contributing to the existence of that holy war of“individual” tendency. Moreover, I have been able to verify that the notion of the fightagainst the infidel and in defence of Islam as a socially meritorious war that grantedprestige and recognition, existed among Andalusi society. The fulfilment of ribāṭ is alsopart of this reality, an issue that I have been able to analyse through the examplesfound in the different biographical dictionaries. The privileged area for this practice,undoubtedly due to the number of settlements and the amount of military activity thatwas taking place, was the northeast corner of the Iberian Peninsula, around the easternsector of the Duero River and along the Ebro.
Throughout the chapters of this doctoral dissertation, I have also analysed the specificlanguage of holy war, its features and its own symbology. The three fundamentaldiscursive elements that I have examined are martyrdom, the best image of the salvificcharacter of the struggle; the divine help in battle represented through symbols such astakbīr, premonitory dreams or the appearance of angels; and the performing of thevictory of the true faith through the purification of the enemy and his possessions. Thepresence of these features, to a greater or lesser degree, in the three periods analysed,have led me to conclude that, without doubt, there was an important development ofjihād ideology in al-Andalus, and that this was a powerful discursive tool used by thedifferent powers.
However, certain issues allow me to trace some changes in the discourses of holy warbetween the different periods. For example, from the eleventh century onwards, anddue to the advance of the Christian kingdoms, a providentialist vision of war will beenhanced with its eschatological reading, as can be seen in the letter of AbūMuḥammad b. ‘Abd al-Barr about the fall of Barbastro, in the Fatḥ al-Andalus, or in theexplicit appearance of the idea of “God's judgment”. Moreover, in the Almohad period Ihave added a fourth discursive feature that takes on special prominence: the linking ofthe metaphor of light –and its idea of rebirth or revival– with the ideology of holy war.
After the analysis of the different discourses of holy war and its phenomenology,symbology and representation, I have studied how the memory of the first battles ofIslam was part of the ideological dimension of jihād. For this purpose, I have examinedthe data related to the production and transmission of maghāzī and futūḥ works in al-Andalus during the different periods.
In the Umayyad Caliphate era, the circulation of this type of texts was constant (mainlythose of Ibn Isḥāq/Ibn Hishām and Mūsā b. ‘Uqba), although works of this genre werebarely written in the Andalusi territory. The memory of the futūḥ was transmitted notthrough this type of works, but through general “histories”, such as the chronicles ofKhalīfa b. Khayyāṭ, al-Ṭabarī and Ibn Abī Khaythama. It seems, therefore, that at thisstage there was an important transmission of the memory of the first battles of Islam,but not a production of it, at least not mediated by texts of maghāzī and futūḥ. Thisremembrance was expressed in an unsystematic way, only through sporadic imagesthat highlight the existence of that cultural memory and its use, but without amethodical nature. The best example of this phenomenon is the urjūza of ‘Abd al-Raḥmān III that Ibn ‘Abd Rabbihi included in his al-‘Iqd al-farīd. The Umayyad caliph wasdepicted performing the same holy war that Muḥammad had accomplished, thusrenewing the triumphant and victorious cycle that the Prophet had already launched.Additionally, in the discourse of jihād, the instrumentalization of the memory of thefirst Islamic expeditions was combined with the commemoration of the “war memory”
Medievalista, 28 | 2020
328
of the Umayyad dynasty itself, as I have shown through the cases of Abū Sufyān or thebattle of Marj Rāhiṭ. This issue must be linked to the historiographical process,promoted by the Cordovan court, which took place in al-Andalus in the 10th centurywith the composition of works such as Ibn al-Qūṭiyya’s Ta’rīkh iftitāḥ al-Andalus. TheUmayyads attempted to reconfigure the narrative about their past and clearly bond itwith the previous path of the dynasty in Damascus.
As for the Taifa and Almoravid period, there was an exponential growth in thecomposition and transmission of works in which the first expeditions and conquests ofIslam are a main issue. The most important texts on which the memory of the Prophet'sexpeditions was built remained to be the Ibn Isḥāq’s/Ibn Hishām’s Kitāb sīrat rasūl Allāh,followed by the Durar fī ikhtiṣār al-maghāzī wa al-siyar by the Andalusi Ibn ‘Abd al-Barr.That is, the works produced in al-Andalus began to have importance. Regarding thefutūḥ texts, sources of this genre did circulate in this context: for example, Sayf b.‘Umar’s Kitāb al-ridda wa al-futūḥ, al-Azdī’s Kitāb futūḥ al-Shām or Ibn ‘Abd al-Ḥakam’sKitāb futūḥ Miṣr wa Ifrīqiya. Works of this type were also produced in the Andalusiterritory, such as Abū ‘Umar al-Ṭalamankī’s Futūḥ al-Shām or Ibn Ḥazm’s futūḥ epistle. Itcan be said that in this period there was an increase of the transmission and productionof the memory of the early days of Islam, and of the remembrance of the triumph of theumma, thus creating a counter-present in response to the territorial retreat.
The work by Abū ‘Umar al-Ṭalamankī is a clear example of how the model ofdecentralized holy war was also legitimized through the memory of the first battles andconquests of Islam. Al-Ṭalamankī, in the framework of ribāṭ and of the growingChristian threat, found in the memory of the futūḥ the ideal vehicle for exhortation tojihād. Meanwhile, in his Durar fī ikhtiṣār al-maghāzī wa al-siyar, Ibn ‘Abd al-Barrsummarized the Prophet’s expeditions through works such as those of Mūsā b. ‘Uqbaand Ibn Isḥāq through Ibn Hishām. The analysis of the materials he decided to includeconvey the idea of the importance of the defence of Islam and the need to resistinfidelity in order to obtain the final triumph, particularly in times of notoriousdanger. That is, in recovering the figure of Muḥammad and the first Muslims, he madea call to the resistance of the umma in a context in which no one led jihād or protectedthe borders. Similarly, in the Risāla fī jumal futūḥ al-islām, Ibn Ḥazm makes use of thememory of the Islamic expansion with the aim of provoking a reaction on the Andalusisociety in a period of fitna and retreat, a matter closely related to the revitalizationtrend of a certainly offensive jihād that he suggests in another of his works. For thisaim, he underlines the need for a holy war of a centralized nature and uses theexperience of figures such as that of Maḥmūd of Ghazna –whom he “turned” into aẓāhiri– to give a solution for al-Andalus. In his Jawāmi‘ al-sīra al-nabawiyya –hissummary of the Prophet’s biography–, the survival in al-Andalus of a pro-Umayyadfilter when commemorating the battles of the Prophet can be perceived, a reality thatcould also be seen, although to a lesser extent, in Ibn ‘Abd al-Barr’s work. Moreover,contrary to the tendency observed in the Durar, Ibn Ḥazm’s text seems to bet more onan unlimited jihād.
In the Almoravid context, a recontextualization of the first battles of Islam was carriedout related to the conduction of holy war by the ruler. As in the Umayyad period, thiscommemoration did not occur through a specific production of works, but through aseries of images meaningful for the Islamic cultural memory, such as the comparison of
Medievalista, 28 | 2020
329
the battles of Yarmūk, al-Qādisiyya or Badr with the victory of Zallāqa, which aredisplayed, above all, in the historiographical discourse.
In the Almohad period, the linking of the centralized holy war with the memory of thefirst battles of Islam, through the production of specific works on this theme, reachedits peak. Moreover, the general use of memory as a discursive and legitimizing toolreached its zenith, an issue that undoubtedly has to do with the fact that the Mu’minid
movement presented itself as the rebirth of a golden age. I have studied thisrecontextualization of the past, and particularly its connection with the jihād discourse,by analysing several elements: the creation of a parallel with the life of the Prophet; therecovery and imitation of the early days of Islam; the recourse to the Andalusi pastthrough the Umayyad memory, the revival of the fatḥ al-Andalus, and the memory ofthe great Iberian battles; the remembrance of the Almohad period itself; and thecommemoration of the first battles of Islam.
As for the number of transmissions of maghāzī and futūḥ works, it remains quite stablewith respect to the Taifa-Almoravid period, taking into account that the latter waslonger. However, the production of this type of works almost doubled. The mostimportant texts on the expeditions of the Prophet remained to be Ibn Isḥāq’s/IbnHishām’s Kitāb sīrat rasūl Allāh, followed by texts written in al-Andalus such as al-Suhaylī’s Kitāb al-rawḍ al-unuf fī sharḥ al-sīra li-Ibn Isḥāq, composed in the Almohadperiod itself, and Ibn ‘Abd al-Barr’s Durar fī ikhtiṣār al-maghāzī wa al-siyar. On the otherhand, the works dedicated to the life of Muḥammad produced in al-Andalus were ofvarious types, thus confirming the interest in this topic in the Almohad era: fromexegetical comments of Ibn Isḥāq/Ibn Hishām’s Sīra, like that of al-Suhaylī, to worksdirectly dedicated to narrating the maghāzī, such as those of al-Kalā‘ī and Ibn al-Qaṭṭān.Secondly, futūḥ texts such as al-Azdī’s Kitāb futūḥ al-Shām and Sayf b. ‘Umar Kitāb al-
ridda wa al-futūḥ continued to be transmitted, and al-Balādhurī’s Kitāb futūḥ al-buldān
reached al-Andalus for the first time. Likewise, works of this genre were also composedin the Almohad context itself, specifically the Kitāb al-ghazawāt by the Andalusi IbnḤubaysh and al-Kalā‘ī’s Kitāb al-iktifā’.
Regarding these works, Ibn Ḥubaysh’s and Ibn al-Qaṭṭān’s were directly commissionedby the Almohad caliphs, a phenomenon that we had not testified so far in any of theprevious periods analysed and that shows the degree of the use by the Mu’minids of thememory of the first battles of Islam. However, this discourse, although it wasemphasized to the maximum, is not original, since it must be rooted in the process ofrevitalization and commemoration of the maghāzī and the futūḥ initiated in theeleventh century by authors such as al-Ṭalamankī. That is, the Almohads, in theirpolicy of updating the early days of Islam, understood as a golden age, brought to itsmaximum splendour a trend that had begun previously.
Thus, Ibn Ḥubaysh’s Kitāb al-ghazawāt, in addition to participating in the Mu’minid
attempt to build its project as a return to a pure origins, also played an important rolewithin Abū Ya‘qūb Yūsuf’s ideology of jihād –and its exhortation–, for whom the workwas written. As for al-Kalā‘ī’s Kitāb al-iktifā’ fī maghāzī al-muṣṭafā wa al-thalātha al-
khulafā’, it was written in a context of setback and decomposition of the Almohadpower in al-Andalus and the Maghreb, situation in which this work is presented as aninstrument with which to seek, through the example of the Prophet and the firstMuslims, the individual war effort of each believer. Finally, Ibn al-Qaṭṭān’s Kitāb al-
rawḍāt al-bahiya al-wasīma fī ghazawāt al-nabawiyya al-karīma, became one of the
Medievalista, 28 | 2020
330
discursive tools with which the caliph al-Murtaḍā, through the creation of a parallelbetween the times of the Prophet, those of Ibn Tūmart, and his own, tried to revitalize adying Almohad movement.
In conclusion, contrary to the generalized historiographical cliché that has beendiscussed before, I believe that the discourses of holy war were fully active, in force androoted in al-Andalus between the 10th-13th centuries. Likewise, these were not a mererhetorical tool used by the central powers without any echo on the umma. On thecontrary, the society of the Islamic West adhered to these discourses, making them asource of legitimacy and authority, and even participated in them, as I have shown,mobilized through the existence of an “individual” notion of jihād. The presence, ashave been shown, of a remarkable “culture of martyrdom”, also evidences that reality.Moreover, these discourses were deeply developed through their ritualization,symbology and phenomenology. It can also bestated that the memory of the firstbattles of Islam was a fundamental discursive component of this reality, an elementthat helped its legitimacy and its strength as a power tool.
For all these reasons, I think that it is not possible to assert, as has been done, that thelack of jihād’s ideology was one of the reasons for the scarce militarization of Andalusisociety –something that undoubtedly need also to be clarified– and, above all, it is notpossible to argue that was one of the causes of the impossibility to resist the Christianadvance. Likewise, if we approach some of the specific arguments that have been madein this regard, we will realize that they are not quite solid. Let me take a look on threeof them. As I have mentioned, Noth and Urvoy defended the almost total non-existenceof scholar-warriors in al-Andalus, something that I have denied through the analysis ofseveral biographical dictionaries. Not only there were scholars that participated in waractivities, but also this fact granted social prestige. Also, Urvoy, and subsequently,Guichard, affirmed that Andalusi ‘ulamā’, such as Ibn Ḥazm, were unable to propose arenewed vision of the idea of holy war with which to try to curb Christian advance. Inthis regard, I have shown how the Cordovan scholar himself, among others, proposed anew reading of jihād, oriented to the resistance against the infidel, not only in his legalworks but also in his texts of maghāzī and futūḥ. The different works of this typologythat I have analyzed for the Taifa-Almoravid and Almohad periods must be understoodin this sense, that of a renewal and revitalization of the discourse of jihād by thereligious elites and the different powers.
On the other hand, authors like Guichard have also argued that comparing the situationof the Islamic West with that of the East evidences this lack of ideology of holy war inal-Andalus. However, a careful analysis of both realities shows that they share many ofthe elements I have been examining. The figure of the ghāzī-ruler developed equallywith rulers such as Nūr al-Dīn and Saladin17, who likewise used the link betweenasceticism and jihād18; there was an equivalent ritualization and phenomenology of theholy war19; the appearance in the sources of volunteers is similar20; the importance ofthe niyya in warlike context was emphasized21; faced with a situation of growing threat,the providentialist conception of war was underlined22; and the memory of the firstbattles of Islam was an important element of jihād’s discourse23. Moreover, at both endsof the Mediterranean, the rulers commissioned works related to holy war, which wereeven transmitted amongst both territories. That is, if the so-called “counter-crusade”triumphed in the East, it was not because there was a greater spirit of holy war or
Medievalista, 28 | 2020
331
because this ideology was more developed, but simply because the political situationwas very different.
Finally, many of these holy war features were shared between not only the Islamic Westand the East, but also between other religious traditions, as I have noted throughoutthis dissertation. The symbology of the Christian holy war, its discourse, itsphenomenology and its ritualization had much in common with the reality of jihād.There is no doubt that both traditions, with a common anthropological substrate, werein permanent contact and fed each other, thus creating a transcultural discourse andculture of holy war.
NOTES
1. BONNER, Michael – Jihad in Islamic History. Doctrines and Practices. Princeton: Princeton
University Press, 2006, p. 79; COOK, David – Martyrdom in Islam. Cambridge: Cambridge University
Press, 2007, pp. 23-30; PICARD, Christophe – Sea of the Caliphs: The Mediterranean in the Medieval
Islamic World, Cambridge: The Belknap Press of Harvard University Press, 2018, pp. 57-58.
2. For a good synthesis of this historiographic debate, see GARCÍA FITZ, Francisco – Las Navas de
Tolosa. Barcelona: Ariel, 2012, p. 266 and the following; GARCÍA SANJUÁN, Alejandro – “La noción
de yihad en la época nazarí: el tratado de Ibn Hudayl”. in AYALA, Carlos, PALACIOS, Santiago y
RÍOS SALOMA, Martín (Eds.) – Guerra santa y cruzada en el estrecho: el Occidente peninsular en la
primera mitad del siglo XIV. Madrid: Sílex, 2016, pp. 369-398; SUÑÉ, Josep – “El ejército andalusí y
su actuación guerrera según la historiografía: aspectos desatendidos y explicaciones renovadas”.
Índice Histórico Español 131 (2018), pp. 115-139. For the rest of the studies dedicated to the analysis
of jihād in al-Andalus, see the bibliography included in the PhD dissertation itself.
3. BARCELÓ, Miquel – “Vísperas de feudales. La sociedad de Sharq al-Andalus justo antes de la
conquista catalana”. in MAÍLLO, Felipe (Ed.) – España. Al-Andalus. Sefarad: síntesis y nuevas
perspectivas. Salamanca: Universidad de Salamanca, 1988, pp. 99-112; BARCELÓ, Miquel – “El Califa
patente: el ceremonial omeya de Córdoba o la escenificación del poder”. in PASTOR, Reyna (Ed.) –
Estructuras y formas de poder en la Historia. Salamanca: Universidad de Salamanca, 1991, pp. 51-72;
MAÍLLO, Felipe – ¿Por qué desapareció al-Andalus?. Buenos Aires: Cálamo de Súmer, 1997, pp. 18-19;
GUICHARD, Pierre – Al-Andalus frente a la conquista cristiana: los musulmanes de Valencia. Valencia:
Universidad de Valencia, 2001, pp. 525-527.
4. ʿABD ALLA H – Mudhakkira t al-amir ʿAbd Allah, akhir muluk Bani Ziri bi-Gharna ta(469-483), al-musamma bi-Kitab al-tibyan . Ed. Évariste Lévi-Provençal. Cairo: Dar al-Maʿarif, 1955, pp. 16-17.
5. URVOY, Dominique – “Sur l'évolution de la notion de Ğihād dans l'Espagne musulmane”.
Mélanges de la Casa de Velázquez 9 (1973), pp. 335-371.
6. GUICHARD, Pierre – Al-Andalus frente a la conquista cristiana…, pp. 528-529; GUICHARD, Pierre –
Esplendor y fragilidad de al-Andalus. Granada: Universidad de Granada, 2015, p. 283.
7. GUICHARD, Pierre – Al-Andalus frente a la conquista cristiana…, pp. 116, 136, 198 ff.; GUICHARD,
Pierre – Esplendor y fragilidad…, pp. 281 ff.
8. Some researchers have already qualified these assessments. See, for example, LAGARDÈRE,
Vincent – “Évolution de la notion de djihad à l'époque almoravide (1039-1147)”. Cahiers de
Medievalista, 28 | 2020
332
Civilisation Médiévale 161 (1998), pp. 3-16; BURESI, Pascal – “La réaction idéologique almoravide et
almohade à l'expansion occidentale dans la péninsule Ibérique (fin XIe-mi XIIIe siècles)”. in
L'expansion occidentale (XIe - XVe siècles) Formes et conséquences XXXIIIe Congrès de la S.H.M.E.S. Paris:
Publications de la Sorbonne, 2003, pp. 229-241; GARCÍA SANJUÁN, Alejandro – “La noción de
yihad…”, pp. 369-398; TORRÓ, Josep – “Was the Christian conquest of al-Andalus irreversible?”.
Journal of Medieval Iberian Studies 4/1 (2012), pp. 59-65; SUÑÉ, Josep – “Indicios de participación
ḏimmí o muladí en los asedios carolingios a Tortosa (804/806-809)”. Anuario de Estudios Medievales
46/2 (2016), pp. 975-1008; SUÑÉ, Josep – Ǧihād, fiscalidad y sociedad en la Península Ibérica (711-1172):
evolución de la capacidad militar andalusí frente a los reinos y condados cristianos. Ph.D. Dissertation,
Barcelona: Universitat de Barcelona, 2017.
9. Alexander P. Bronisch wrote a good summary of them. BRONISCH, Alexander P. – Reconquista y
Guerra Santa. La concepción de la guerra en la España cristiana desde los visigodos hasta comienzos del
siglo XII. Granada: Universidad de Granada, 2006, p. 277 and the following.
10. Patricia Crone stated that, although “holy war” is a term of the Western tradition, it seems
appropriate to describe the war ordered by God, which is how, according to her, jihād was
conceived. As she argues, “[t]he holiness lays entirely in the fact that God’s will was being done”.
CRONE, Patricia – God’s Rule: Six Centuries of Medieval Political Thought. New York: Columbia
University Press, 2004, pp. 362-363. On the other hand, my conceptual proposal also avoids legal
limits to the concept of jihād according to legal treaties. That is, I will not seek to verify whether a
campaign is “legal” or not analyzing whether it meets all the requirements of the legal doctrine
of jihād. I believe that the discourse of holy war in Islam and its presentation in various types of
sources is much broader, more complex and multifaceted.
11. BONNER, Michael – Aristocratic Violence and Holy War. Studies in the Jihad and the Arab-Byzantine
Frontier. New Haven: American Oriental Society, 1996; TOR, Deborah – “Privatized Jihad and
Public Order in the Pre-Seljuq Period: The Role of the Mutatawwi‘a”. Iranian Studies 38/4 (2005),
pp. 555-573; TOR, Deborah – Violent Order: Religious Warfare, Chivalry, and the ‘Ayyār Phenomenon in
the Medieval Islamic World. Istambul-Wurzburgo: Orient-Institut-Ergon Verlag, 2007. What I have
called decentralized jihād, Tor called it “privatized”. A good summary of that model can be found
in HAUG, Robert – “Frontiers and the State in Early Islamic History: Jihād Between Caliphs and
Volunteers”. History Compass 9/8 (2011), pp. 634-643.
12. NORA, Pierre – “Between Memory and History: Les Lieux de Mémoire”. Representations 26
(1989), pp. 7-24. See also HO TAI, Hue-Tam – “Remembered Realms: Pierre Nora and French
National Memory”. The American Historical Review 106/3 (2001), pp. 906-922. For an example of the
use of the concept of “place of memory” in Islamic studies see HARTMANN, Angelika –
“Rethinking memory and remaking history: methodological approaches to ‘lieux de mémoire’ in
Muslim societies”. in PELLITTERI, Antonino (Ed.) – Maǧāz: culture e contatti nell’area del
Mediterraneo. Il ruolo dell’Islam. Palermo: Facoltà di Lettere e Filosofia dell’Università di Palermo,
2003, pp. 51-61; BORRUT, Antoine – Entre mémoire et pouvoir. L'espace syrien sous les derniers
Omeyyades et les premiers Abbassides (v. 72-193/692-809). Leiden: Brill, 2011, pp. 177-228.
13. MA‘MAR B. RĀSHID – Kitāb al-maghāzī. Ed. Sean W. Anthony. New York: New York University
Press, 2014, p. xviii.
14. ASSMANN, Jan – Moses the Egyptian: The Memory of Egypt in Western Monotheism. Cambridge:
Harvard University Press, 1997, p. 54. One of the first examples of “mnemohistory” in Medieval
Studies is DUBY, George – Le dimanche de Bouvines 27 juillet 1214. Paris: Gallimard, 1973.
15. On the use of memory in the discourse of jihād see, for example, ANOOSHAHR, Ali – The Ghazi
Sultans and the Frontiers of Islam. A comparative study of the late medieval and early modern periods.
London-New York: Routledge, 2009; SHOSHAN, Boaz – The Arabic Historical Tradition and the Early
Islamic Conquests. Folklore, Tribal Lore, Holy War. London: Routledge, 2016.
Medievalista, 28 | 2020
333
16. IBN ḤAYYĀN – Al-Muqtabas V. Al-Muqtabas li-Ibn Hayyān al-Qurṭubī (al-juzʾ al-khāmis) . Eds.
Pedro Chalmeta, Federico Corriente y Mahmud Ṣubḥ. Madrid-Rabat: Instituto Hispano-Árabe de
Cultura-Kulliyat al-Ādāb, 1979, p. 157.
17. ALBARRÁN, Javier – El sueño de al-Quds. Los musulmanes ante la conquista cruzada de Jerusalén
(1099-1187). Madrid: La Ergástula, 2017, pp. 79, 115, 163.
18. ALBARRÁN, Javier – El sueño de al-Quds…, pp. 115, 163.
19. ALBARRÁN, Javier – “‘He was a Muslim knight who fought for religion, not for the world’. War
and religiosity in Islam: A comparative study between the Islamic east and west (12th century)”.
Al-Masaq: Journal of the Medieval Mediterranean 27/3 (2015), pp. 191-206.
20. ALBARRÁN, Javier – “‘He was a Muslim knight who fought for religion, not for the world…”,
pp. 191-206.
21. ALBARRÁN, Javier – El sueño de al-Quds…, p. 68.
22. ALBARRÁN, Javier – El sueño de al-Quds…, p. 68.
23. Ibn al-Zakī (d. 1192), the preacher in charge of giving the victory sermon after the conquest
of Jerusalem by Saladin, said: “You have renewed for Islam the glorious days of al-Qādisiyya, of
the battle of Yarmūk, of the siege of Khaybar and the impetuous attacks of Khālid b. al-Walīd”.
IBN KHALLIKĀN – Kitāb wafayāt al-aʿyān wa anbāʾ abnāʾ al-zamān . Trans. Barón De Slane. Paris:
Oriental translation fund of Great Britain and Ireland, 1843-1871, vol. II, pp. 635-636.
AUTHOR
JAVIER ALBARRÁN IRUELA
Universidad Autónoma de Madrid 28049 Madrid, España. [email protected]. https://
orcid.org/0000-0002-8838-8841
Medievalista, 28 | 2020
334
Varia
Medievalista, 28 | 2020
335
Materialidades e Devoções (sécs. V-XV)Materialities and Devotions (5th-15th centuries)
Vincent Debiais
NOTA DO EDITOR
Texto originalmente publicado em 14/12/2019 no blogue de visu – cultures visuelles du
Moyen Âge en perspectives, consultável em: https://devisu.hypotheses.org/351. Traduçãode Miguel Metelo de Seixas (IEM – NOVA FCSH).
1 Entre os dias 6 e 9 de Novembro de 2019, teve lugar no Mosteiro da Batalha (Portugal)
um vasto congresso dedicado ao tema "Materialidades e Devoções". Reunindo mais desessenta investigadores provindos de uma dúzia de países diferentes, este evento muitoconcorrido propôs aos participantes o questionamento da dimensão objectal da relaçãocom o divino no contexto de uma longa Idade Média, percorrendo, de leste a oeste e denorte a sul, uma extensa Europa. Foi uma oportunidade para descobrir ou redescobririmagens e artefactos que medeiam ou traduzem várias formas de devoção.
2 Livros, cálices, móveis, tectos, pinturas monumentais, vestes, amuletos, túmulos,
relicários, letreiros. Os cerca de 2.000 diapositivos que desfilaram durante quatro diaspelos auditórios do mosteiro da Batalha não esgotaram decerto a diversidade materialda Idade Média, mas permitiram apreciar a variedade dos materiais utilizados, dastécnicas dominadas, dos conhecimentos mobilizados e, mais geralmente, dos meioshumanos e económicos envidados para produzir os objectos postos em acção nocontexto das devoções medievais. Esta inesgotável diversidade de formas requer o usoda forma plural para todos os descritores de tais fenómenos: devemos falar dedevoções, religiosidades, liturgias, experiências rituais que ocorrem em contextosculturais e sociais precisos, determinados por uma série de factores históricos que nãopodem ser reduzidos a um modelo único de relações entre objecto e devoção.
Medievalista, 28 | 2020
336
3 Não era intenção dos organizadores do colóquio da Batalha, naturalmente, propor tal
análise estrutural, que empobreceria necessariamente a especificidade do discurso emimagens, a empatia própria de cada acto de devoção, as condições particulares - porquesociais - dos rituais medievais. Por esta razão, Miri Rubin (Queen Mary, University ofLondon), na conferência plenária que pronunciou, teve o cuidado de não "concluir" ocolóquio, preferindo apresentar um exercício de autocrítica em relação ao seuimportante livro Corpus Christi. The Eucharist in Late Medieval Culture (Cambridge, 1991)mediante o prisma das tendências historiográficas actuais: a activação dos sentidos, ogénero de práticas devocionais, uma abordagem antropológica da liturgia, a dimensãoperformativa dos rituais, a espacialidade e os objectos de culto...
4 Este balanço pleno de pistas ainda por explorar no estudo da cultura material medieval
veio, de forma geral, revelar a forma como o material turn tem tendido - e por vezescontinua a fazê-lo - a esvaziar dois aspectos que são, no entanto, fundamentais na
relação com o divino. O primeiro diz respeito à dissimulação do social pelo material.Poder-se-ia esperar que a atenção dada aos objectos, ao seu valor, ao seu significado, àsua função, conduzisse a investigação para o ser humano que encomenda, fabrica,vende, compra, manipula, conserva, destrói, transmite o artefacto; esperar-se-iafinalmente uma incorporação do objecto na esfera social e a sua instituição nas relaçõesentre indivíduos e grupos: relações comerciais, relações de poder, relações estéticas...Contudo, as comunicações apresentadas na Batalha mostraram que tal raramenteacontece: as imagens, as formas colectivas ou individuais de devoção, os objetosexistiriam por si próprios, desencarnados, instrumentos fora-de-solo de práticascapazes de dispensar qualquer ancoragem no mundo vivido. Em semelhante contexto, omanuscrito não precisa nem de leitor nem escriba, tal o livro cerimonial dispensaqualquer liturgia, a imagem qualquer espectador, o relicário qualquer relíquia, a igrejaqualquer comunidade, o material quaisquer propriedades. O segundo esvaziamento dizrespeito à dimensão espiritual da relação dos objetos com o divino. A atenção prestadaà cultura material da prática religiosa amputa a dimensão transcendente de talexperiência. A devoção, a contemplação, a oração, a meditação, quando consideradaspor via dos objectos e das imagens que as medeiam, vêem-se amiúde reduzidas a umaacção desprovida de efeito, ou então a uma eficácia de ordem mágica. Tudo acaba por sepassar como se a cultura material não pudesse conter em suas formas as intençõesespirituais dos homens e das mulheres da Idade Média. O recurso ao conceito deaffordance, formulado no final dos anos 70 por James Gibson, entre outros, permite-nospor um lado pensar o objecto e o homem nas possibilidades das suas interacções, masacaba por reduzir a função da cultura material a quanto ela autoriza no campomecânico; desaparece de tal análise, logo, tudo quanto ela induz necessariamente nocampo imaterial da relação com o transcendente, a qual, devido ao seu carácterinefável, se torna, portanto, resistente à abordagem historiográfica.
5 Estas duas tendências – o objeto como extra-social e o objeto como uma in-
transcendência – constroem de facto uma abordagem museográfica das materialidades;artefactos pensados sem contexto e sem efeito, exibidos na vitrine de uma abordagemabertamente dessacralizada; uma colecção de objectos que são apenas rasto e traço desi próprios, que não se reenviam a nada que possa, de uma ou outra forma, escapar aohistoriador. Esta é uma visão assaz redutora – e, portanto, falsa – do que a antropologiahistórica tem permitido tirar da exploração das fontes materiais da Idade Média. E foisobre isto, aliás, que Jean-Claude Schmitt (École des hautes études en sciences sociales,
Medievalista, 28 | 2020
337
Paris) insistiu na sua palestra inaugural. Tal como Miri Rubin – é interessante notá-lode um ponto de vista retórico e heurístico – Jean-Claude Schmitt optou também porcomentar um trabalho essencial sobre esta questão da ligação entre materialidades edevoções, o livro Christian Materiality de Caroline Walker Bynum (New York, 2011). Esteorador situou, assim, o paradigma da Encarnação no centro da ligação entre visível einvisível, não separando, na relação com o real, quanto releva da experiência dossentidos (o ritmo marcado pelos sinos, o contacto das imagens...) e da transcendênciaque ela sinaliza.
6 Claro que é caricatural extrair de tal forma estas duas tendências do programa
riquíssimo do colóquio, e as comunicações apresentadas na Batalha proporcionaram defacto muitas pistas de investigação para pensar as devoções medievais. Entre tais pistas,podem assinalar-se três temáticas transversais. A primeira diz respeito aos fenómenosdo efémero. A concepção museográfica dos objectos leva-nos, por inércia, a pensarneles num quadro de estabilidade e permanência que é, na realidade, estranho àencenação destes objectos e imagens. É preciso, pelo contrário, considerar umaalternância entre exposição e confinamento, entre manipulação e repouso, entreinstalação definitiva e mostra temporária. A cultura material, inclusive na suautilização devocional, assume uma fluidez de princípio que se manifesta de formaevidente nas cerimónias pontuais da liturgia (paramento do altar, instalação de“decoração”, alternância das cores litúrgicas), mas que se manifesta também noutrosdomínios (deposições funerárias de objectos litúrgicos, transformação de objectosquotidianos em “relíquias”, entesouramento de manuscritos). A segunda temáticatransversal é a da tensão entre símbolo e instrumento. Várias comunicações insistiramno facto de que os objectos e as imagens manipulados no quadro das práticasdevocionais não passavam afinal de símbolos, sinais tangíveis de uma entidadeinatingível da qual eles manifestavam desde logo a existência, e em seguida a presençano mundo sob uma determinada forma: o crucifixo para Cristo, o relicário para orespectivo santo, o vinho para o sangue, o livro para a palavra. Ao mesmo tempo, estessinais constituem os instrumentos do procedimento devocional, que permite atingirpela mediação dos sentidos aquilo que está fora de si, fora do mundo. Ora, tal tensãovem interrogar o estatuto do próprio objecto: o cálice permanece cálice fora dosacrifício eucarístico? O que dizer das imagens pintadas num manuscrito quando o livrose encontra fechado? É esta tensão que subjaz ao conceito de agency de Alfred Gellquando descreve o processo de virtuosidade activo na eficiência do objecto. O que nosleva à terceira temática, que diz respeito à dimensão multimodal dos objectos dedevoção que operam sempre na matéria e simultaneamente além dela, mobilizandodiversos sentidos, gestos, movimentos, para a elaboração de discursos complexos. Adevoção apresenta-se, assim, ligada por natureza ao conceito de performance que colocao objecto em relação com aquilo que ele permite atingir. A multiplicação dasimpressões materiais da devoção (insígnias de peregrinação, imagens votivas,medalhas, ex-votos) testemunha a necessidade de apropriação de objecto e imagem, deincorporá-la, de transformar a matéria em corpo, por fim, na prática devocional, numaespécie de gigantesca analogia cristã do processo eucarístico.
7 O quadro monumental do mosteiro da Batalha forneceu um eco peculiar a estas
questões históricas e antropológicas. Uma organização sem mácula, debates de bomnível e trocas intensas contribuíram para que estas jornadas decorressem num climaestimulante. No final, o conceito de objecto ou de imagem devocional continua a
Medievalista, 28 | 2020
338
alimentar muitas questões quanto à sua pertinência para as culturas cristãs do Ocidentemedieval e para as suas traduções na matéria e no visual.
AUTOR
VINCENT DEBIAIS
École des Hautes Études en Sciences Sociales, Centre de Recherches Historiques, Anthropologie
Historique du Long Moyen Âge 75006 Paris, France. [email protected]. https://orcid.org/
0000-0002-3397-4421
Medievalista, 28 | 2020
339
novas pistas de trabalho
Investigando os cancioneirosmedievais galego-portuguesesnovas pistas de trabalho
New research trails on medieval galician-portuguese songbooks
Margarida Leme e Graça Videira Lopes
NOTA DO EDITOR
Este estudo insere-se no âmbito do projeto STEMMA. Do canto à escrita – produção
material e percursos da lírica galego-portuguesa (PTDC/LLT-EGL/30984/2017), projeto cujosite está disponível em https://stemma.fcsh.unl.pt/.
1 No âmbito do projeto “STEMMA - Do canto à escrita: produção material e percursos da
lírica galego-portuguesa” (PTDC/LLT-EGL/30984/2017), decidimos partilhar, desde já,alguns dados que a investigação até agora desenvolvida nos permitiu apurar. São dadosque dizem respeito
2 1) ao percurso moderno do Cancioneiro da Ajuda, tanto no que se refere ao próprio
manuscrito, como às suas cópias mais antigas e
3 2) a António Ribeiro, o célebre «quel da Ribera» citado por Angelo Colocci numa
conhecida nota manuscrita que se encontra numa das suas miscelâneas (Vat. Lat. 4817),e que teria sido o portador do «libro di portughesi» aí também referido, decerto ocancioneiro perdido a partir do qual Colocci mandou fazer as duas cópias sobreviventes(os hoje designados Cancioneiro da Biblioteca Nacional e Cancioneiro da Vaticana).
4 Trata-se, em ambos os casos, de dados novos e que consideramos interessantes, até por
dizerem respeito a matérias onde a escassez documental é quase a regra. Emborapreliminares, a sua publicação nesta breve nota parte da nossa certeza de que acirculação da informação entre a comunidade dos especialistas e demais interessados éum instrumento fundamental para o avanço científico.
Medievalista, 28 | 2020
340
1. O percurso moderno do Cancioneiro da Ajuda:alguns contributos
1. 1. O Cancioneiro da Ajuda esteve em Tomar?
5 Ignorado durante séculos, o Cancioneiro hoje designado da Ajuda irá aparecer, cerca de
1810, na biblioteca do Colégio dos Nobres1. Desconhece-se como terá chegado à referidabiblioteca, aventando-se geralmente a possibilidade de ter pertencido a algum colégiojesuíta, uma vez que o Colégio dos Nobres se instalou, depois da sua instituição em 1761,na casa que havia sido o Noviciado da Cotovia, da Companhia de Jesus (expulsa dePortugal em 1759)2.
6 O percurso desse Cancioneiro, desde a sua execução, em finais do século XIII até ao seu
reaparecimento moderno, tem sido estudado por diversos autores3. O que se traz hojeaqui é apenas mais uma hipótese para a determinação desse percurso, na sua vertentemoderna.
7 Já Carolina Michaëlis, no seu magno estudo sobre o Cancioneiro da Ajuda, e no capítulo
dedicado ao elenco de todas as referências históricas ao mesmo4, cita um texto, datadode 1846, do erudito francês Ferdinand Denis (1798-1890), que refere a possibilidade deter existido no final do século XVIII, no Convento de Cristo em Tomar, um cancioneirode D. Dinis. A referência de D. Carolina é muito breve e sem qualquer comentárioadicional. A investigação que temos vindo a desenvolver permitiu-nos agora completá-la com alguns dados novos. Assim, foi-nos possível apurar que já muito antes, emOutubro de 1800, o viajante inglês Robert Southey5 enuncia a mesma hipótese, mas,neste caso, citando como fonte dessa informação Francisco Dias Gomes (1745-1795), umpoeta e crítico literário então muito reputado6 (e que foi também a fonte da notaposterior de F. Denis, como este nos diz7). Dias Gomes escreve, de facto, num textopublicado em 1793 nas Memórias da Litteratura Portugueza8:
“Deixemos também as Poesias anteriores ao Século de quinhentos, muitas das quaesexistem em algumas bibliothecas antigas, como as d’ElRei D. Diniz na doConvento da Ordem de Christo em Thomar, e outras andão empregadas nocélebre Cancioneiro de Resende, collecção preciosa, donde se podem extrahir asmaiores luzes a respeito da natureza, e origem da nossa Poesia”.
8 Dias Gomes não refere a fonte para esta sua informação, embora o que diz um pouco
mais adiante (no contexto da história crítica da língua portuguesa que se propõe fazernessas páginas9) deixe no ar a suspeita de que terá lido e eventualmente tido contactodireto com as próprias poesias de D. Dinis (ou que acreditava serem dele):
“As Poesias dos Reis D. Diniz, D. Pedro I, e vários fragmentos de escritos daquellestempos estão consignados em huma linguagem tão confusa e bárbara, que quasi nãose entendem”10.
9 Seja como for, o certo é que, aquando da sua segunda viagem a Portugal, Robert
Southey se dispôs a apurar in loco a veracidade da informação de Dias Gomes. E assim,em Outubro de 1800, em carta dirigida ao seu amigo Charles Danvers11, escreve:
“I have business with a MSS. at Thomar – a collection of very early Poems, collectedby King Diniz”.
10 A ida a Tomar concretiza-se apenas em Abril de 1801. Mas sem lograr, infelizmente, o
que pretendia. Com efeito, escreve no seu Diário:
Medievalista, 28 | 2020
341
“I sought, as Francisco Dias Gomes directed, the Poems collected by K[ing] Diniz.They were not at Thomar, and the Fathers fancied that they had with othervaluable MSS. been removed by John IV to Torre do Tombo. Adjoining the Librarywas a room of books and Mss. rotting with damp and scattered without anyarrangement – many even on the floor”12.
11 As informações de que dispomos indicam, de facto, que pelo menos uma parte da
documentação administrativa do Convento de Cristo (livros da Chancelaria, tombos)teve a Torre do Tombo como destino (embora apenas a partir de finais do século XVIII).Já sobre a antiga biblioteca do convento, pouco se sabe em concreto, embora, emtermos gerais, se possa avaliar ter sido bastante rica13. Foi-nos, no entanto, impossívelapurar, pelo menos de momento, se a informação dada pelos frades a Robert Southey erelativa a uma eventual intervenção de D. João IV neste âmbito, tem algumacredibilidade14.
12 De qualquer forma, e como referido, alguns anos depois da viagem de Robert Southey a
Tomar, o manuscrito hoje designado Cancioneiro da Ajuda será localizado no Colégiodos Nobres. E, em data indeterminada, o próprio Southey dele manda fazer uma cópia(ver ponto seguinte). Mas parece-nos, mesmo assim, que os dados acima referidos sobrea eventual passagem do manuscrito por Tomar abrem uma nova linha de investigação,que iremos evidentemente prosseguir.
1. 2. As primeiras cópias do Cancioneiro da Ajuda
13 Logo depois da notícia do aparecimento de um Cancioneiro no Colégio dos Nobres
(entre 1802 e 1810)15, ele foi copiado mais do que uma vez, sendo que uma dessas cópiasserviu para a sua já célebre 1ª edição, datada de 1823 e realizada por Lord Stuart16.
14 Essas cópias iniciais modernas, se bem que sem grande utilidade para a fixação dos
textos, têm alguma relevância, porque nos permitem ter uma imagem relativamentefiel da fisionomia do manuscrito na época, antes da introdução dos fóliosposteriormente encontrados em Évora, levada a cabo por D. Carolina Michaëlis segundoum plano que está longe de ser consensual. A própria D. Carolina refere duas cópiascompletas precoces, uma delas mandada efetuar por Lord Stuart (e cuja localizaçãodesconhecia à data) e a outra por Robert Southey (que estaria em Berlim – cf. nº 2,adiante). E desde então pouco mais se tem avançado nesta matéria, salvo no que dizrespeito à nova localização dessa cópia de Berlim, hoje em Cracóvia (por razões que seprendem com a transferência dos manuscritos de Berlim aquando da Segunda GuerraMundial)17. Tem havido, no entanto, alguma discussão sobre a cronologia das cópias etambém sobre qual delas corresponde ao manuscrito de Cracóvia. No estudo maisrecente sobre o assunto, Mariña Arbor Aldea e Carlo Pulsoni, contrariando D. Carolina,defendem que se trata da cópia de Lord Stuart18, o que consideramos improvável (pelosmotivos que expomos adiante). Retomamos, pois, o assunto aqui, com o resumo do queconseguimos apurar.
15 As cópias iniciais de A foram, a saber:
16 1) A que pertenceu a Lord Stuart, executada por Bernardo José de Figueiredo e Silva19,
terminada em Maio de 1810 (cf. citação em baixo). Arrematada em leilão em 185520, foicomprada pelo colecionador britânico Thomas Phillipps21, e vendida, anos após a suamorte em 1872, a alguém que se desconhece. Foi a cópia que serviu para a edição de
Medievalista, 28 | 2020
342
Paris de 1823 e foi compulsada por Raynouard22, a quem Lord Stuart a emprestou, e quea descreve nos seguintes termos:
“Le chevalier Charles Stuart, ambassadeur d’Angleterre en France, avait faitprendre une copie de ce manuscrit pendant son séjour à Lisbonne. Il a bien voulume le communiquer, et il m’a autorisé à en prendre des extraits. [...] La copie quepossède le Ch. Stuart est terminée par ces mots: Copiado e conferido por mimBernardo Jozè de Figueiredo e Silva, com faculdade regia para autenticardocumentos de letra antiga. Lisboa 19 de mayo 1810. Bernardo Jozè de Figdo e Sa”.
17 2) A de Robert Southey, que foi vendida, em 1844, no leilão da sua biblioteca. Poderá ser
a cópia que foi executada depois de 181423 e se encontra atualmente em Cracóvia(Polónia). Adquirida por Carl Herman von Thile (1812-1889)24, foi por este doada àBiblioteca Real de Berlim, passando posteriormente para a Biblioteka Jagiellońska deCracóvia, atualmente com reprodução disponível online25. Como esta cópia não contémqualquer informação sobre a sua execução, não pode ser a que pertenceu a Lord Stuart,terminada por Figueiredo e Silva em Maio de 1810, como já sabemos26. O próprio papelda cópia de Cracóvia tem marcas de água datadas de 1811-1814 (informação do siteonde a cópia está digitalizada), o que também não se coaduna com a data de 1810.
18 3) Por fim, existirá talvez uma terceira cópia anterior à edição de 1823. O olissipógrafo
Gustavo de Matos Sequeira, em Depois do Terramoto27, refere ter visto, entre adocumentação que consultou na Torre do Tombo, um Aviso dos Governadores do Reino,datado de 16 de Abril de 1810, dirigido ao reitor do Colégio dos Nobres, quedeterminava o empréstimo do Cancioneiro “a Francisco José Dias, para que delepudesse copiar uma parte um tal Mr. Harent”28. Dada a proximidade de datas (Abril eMaio de 1810), será esta a cópia executada por Figueiredo e Silva para Lord Stuart, ounão? Até à data, não nos foi possível apurar quem seria este Mr. Harent29.
2. Quem era António Ribeiro?
19 Citado por Angelo Colocci na nota já antes referida, o nome de António Ribeiro («quel da
Ribera») parece ser indissociável do processo das cópias italianas de um desaparecidoCancioneiro medieval galego-português. Ainda que a sua intervenção no dito processoseja lateral – simples portador do manuscrito original – António Ribeiro acaba porganhar uma importância acrescida por ser, efetivamente, o único elemento conhecidodeste misterioso percurso. Foi Elsa Gonçalves a primeira investigadora a situar aquestão e a adiantar alguns dados sobre esta figura. Tratar-se-ia, sem grande margempara dúvidas, de “António Ribeiro, camarário de Clemente VII, encarregado peloPontífice, em 1525, de levar a Rosa de ouro ao Rei de Portugal e de lhe expor verbis oque o embaixador D. Miguel da Silva havia explicado per litteras acerca da gravíssimasituação da Cristandade”30. Um pouco mais tarde, Sylvie Deswarte acrescentou novosdados à sua biografia, reforçando a sua proximidade à notável figura de eruditohumanista que foi o Bispo de Viseu, D. Miguel da Silva, uma proximidade que dataria já,pelo menos, de 151631.
20 Ora, na investigação que temos vindo a desenvolver, deparámo-nos com dois
homónimos, claramente diferenciados pelas assinaturas. Um deles é o António Ribeiro,próximo de D. Miguel da Silva (então já embaixador em Roma), que de Bordéus escreveao Secretário António Carneiro, em Abril de 1516 (na carta citada por Deswarte,exatamente). Diz ele nesta carta:
Medievalista, 28 | 2020
343
“O embaixador escreve a V. M. de minha demora nesta terra e por isso não digomais, somente que como me achar em boa disposição logo me partirei do que estoumuito desejoso. E quanto ao negócio sobre que vim de D. Miguel já creio que terálá recado porque por via de Lião o mandei.”
“Assinatura de António Ribeiro (I)”.
(Fonte: Carta de António Ribeiro ao Secretário António Carneiro, de Bordéus, 18 de Abril de 1516. ANTT - Corpo Cronológico, pt.1, mç. 20, n.º 18.)
21 Deste António Ribeiro (I) temos pelo menos três documentos na Torre do Tombo,
incluídos na coleção denominada Corpo Cronológico, datados respetivamente de 151632,152533 e 152834, todos eles assinados, constatando-se pelas assinaturas pertencerem àmesma pessoa. No documento datado de 1528, António Ribeiro (I) é dito «escudeiro da
casa d’el rei». Será também ele provavelmente o António Ribeiro referido numa cartadatada de 1532, enviada pelo embaixador em Madrid, Álvaro Mendes de Vasconcelos,que propõe ao rei D. João III a sua nomeação como «correio-mor» por morte do anteriordetentor do ofício, Luís Homem35.
22 Na realidade, pela análise das assinaturas verifica-se, como dissemos, que este António
Ribeiro (I), se bem que contemporâneo, não é o mesmo António Ribeiro clérigobracarense, que em Roma foi camareiro do Papa (e, segundo Elsa Gonçalves e SylvieDeswarte, secretário pessoal do bispo D. Miguel da Silva e provavelmente o “quel da
Ribera” mencionado por Colocci). É este António Ribeiro (II) que em 155836, ao escreverde Roma à rainha, pedindo-lhe que interceda acerca da usurpação de um benefício quetinha recebido em Portugal, se diz familiar e criado do Papa Júlio III e a viver em Romahá 40 anos. Como se pode verificar na imagem infra, a sua assinatura é inteiramentediferente.
“Assinatura de António Ribeiro (II)”.
(Fonte: Carta de António Ribeiro à rainha D. Catarina, de Roma, 20 de Fevereiro de 1558. ANTT - CorpoCronológico, pt. 1, mç. 102, n.º 77)
23 Também este António Ribeiro (II) parece ter sido próximo de D. Miguel da Silva. É
plausível, pelo menos, que seja ele o “António Ribeiro que aqui faz os negócios do bispode Viseu” referido nestes termos numa carta que um tal António de Barros dirige aoinfante D. Luís, em 12 de junho de 154037. Escrita pouco tempo depois da morte do
Medievalista, 28 | 2020
344
cardeal-infante D. Afonso e cerca de um mês antes da fuga de D. Miguel para Roma, é jávisível na carta uma certa animosidade para com o Bispo de Viseu e os da sua casa,nomeadamente nas informações que o autor da carta dá sobre a manifesta (e para elenefasta) influência que D. Miguel tem na Cúria, em particular através do cardealFarnese, neto do papa e afilhado do mesmo D. Miguel38. E é neste contexto que nosinforma ainda que “o dito António Ribeiro está com o dito cardeal Frenese e come seupaom e bebe seu vinho”.
24 A localização agora feita destes dois homónimos, ambos com relações documentadas
com o Bispo de Viseu, vem, pois, juntar mais alguma incerteza a um problema já de sicomplicado. Sendo certo que António Ribeiro (II), camareiro do Papa e procurador de D.Miguel da Silva parece mais apto a ser o “quel da Ribera” referido por Colocci, o factode António Ribeiro (I) viajar e tratar de negócios de D. Miguel (como em França, em1516) não deixa de gerar justificadas dúvidas sobre a sua identidade. Enfim, se ahomonímia é uma situação corrente na época, estes dois homónimos ao serviço doBispo de Viseu, e na mesma época, acrescentam alguma perplexidade a essas dúvidas.Seja como for, aqui deixamos estes novos dados, enquanto a nossa investigaçãoprossegue.
ANEXOS
Página do catálogo da biblioteca de Sir Thomas Phillipps, com o Cancioneiro Português
Medievalista, 28 | 2020
345
NOTAS
1. Instituído em 1761 com a designação de Colégio Real de Nobres, teve os seusestatutos publicados na mesma data. Neles se estabelece, nos títulos XVIII e XIX, que ocolégio terá não só um cartório como uma livraria (biblioteca). Cf. AGUILAR, ManuelBusquets de – O Real Colégio de Nobres (1761-1837). Lisboa: Tip. da Ciência Penitenciária deLisboa, 1935. O fundo primitivo da biblioteca terá sido constituído pelos livrosduplicados da Biblioteca Real e por aqueles que haviam pertencido aos extintos colégiosjesuítas. Cf. CARVALHO, Rómulo de – História da fundação do Colégio Real dos Nobres de
Lisboa. Coimbra: Atlântida, 1959.
2. Mas é interessante anotar que o Catálogo do Colégio dos Nobres integra oCancioneiro como um «acrescento» ao catálogo inicial (CEPEDA, Isabel – “Antiga cotado Cancioneiro da Ajuda.” in À volta do Cancioneiro da Ajuda. Actas do colóquio «Cancioneiro
da Ajuda (1904-2004). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2016, pp. 65-66.[Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em https://books.google.pt/books?id=VqbCCwAAQBAJ&pg=PA61&lpg=PA61&dq=Isabel+Cepeda,+%22Antiga+cota&source=bl&ots=NDel5ZysQS&sig=ACfU3U1UkV6aRhcTWc4i188Io_bXU-84HQ&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwikkKeX2MToAhXQx4UKHffkCjEQ6AEwCnoECAkQAQ#v=onepage&q=Isabel%20Cepeda%2C%20%22Antiga%20cota&f=false
3. Cf. por todos, VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de – Cancioneiro da Ajuda. Halle: MaxNiemeyer Buchdruckerei des Weisenhauses, 1904, 2 vols.; ARBOR ALDEA, Mariña;PULSONI, Carlo – “Il «Cancionerio da Ajuda» prima di Carolina Michaëlis (1904).” Critica
del Testo 2 (2004), pp. 721-789; RAMOS, Maria Ana – O Cancioneiro da Ajuda: confecção e
escrita. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2008, 2 vols. Tese de Doutoramento.4. VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de – Cancioneiro da Ajuda... Vol. 2, pp. 235-236.
5. Robert Southey (1774-1843), filho de um negociante de Bristol, foi um escritor, historiador e
poeta que se especializou na História de Portugal e do Brasil. Esteve por duas vezes em Portugal,
em 1796 e em 1800-1801. De ambas as vezes esteve instalado em casa de seu tio Robert Hill
(1749-1828), capelão da feitoria inglesa em Lisboa entre 1782 e 1807. A sua correspondência está
disponível em http://romantic-circles.org/editions/southey_letters. [Consultado a 27 Março
2020]. Cf. também SOUTHEY, Robert – Journals of a residence in Portugal, 1800-1801 and a visit to
France, 1838: supplement by extracts from his correspondence (ed. Adolfo Cabral). Oxford: The
Clarendon Press, 1960.
6. Filho de um pequeno comerciante de Lisboa, estudou na Universidade de Coimbra mas teve
que regressar Lisboa por morte do pai, para dirigir o negócio da família. Embora desenvolvendo a
sua atividade literária e crítica apenas nos tempos livres, foi sócio da Academia das Ciências. Vide
COELHO, J. do Prado– “Francisco Dias Gomes, Crítico Literário.” Revista da Faculdade de Letras de
Lisboa 13 (1971), II Série (Separata).
7. DENIS, Ferdinand – Portugal. Paris: Firmin Didot Frères, 1846, p. 31.
8. Memorias da Litteratura Portugueza. Tomo IV. Lisboa: Academia Real das Sciencias de Lisboa,
1793, p. 33. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em
https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=uc1.b3763628&view=1up&seq=537.
9. Grande admirador de Voltaire e dos iluministas, Dias Gomes tem um olhar muito crítico sobre
a Idade Média, que considera, genericamente, um tempo bárbaro. Desta forma, a literatura
portuguesa começa, para ele, apenas em Sá de Miranda (como se pode ler no mesmo texto).
10. Também Ferdinand Denis parece, de resto, convencido que Dias Gomes teria visto o próprio
Cancioneiro em Tomar, quando, no seu texto, escreve: “Les poésies du roi Diniz, écrites à peu
près dans le style dont se servit Alphonse le Sage, furent longtemps conservées à Thomar; la
bibliothèque du couvent de l’ordre du Christ possédait encore ce précieux dépôt en 1793”, DENIS,
Ferdinand – Portugal…, nota à mesma p. 31.
Medievalista, 28 | 2020
346
11. Charles Danvers (c.1764-1819), abastado mercador de Bristol, amigo de Southey desde a
juventude. Cf. http://romantic-circles.org/editions/southey_letters/people.html . [Consultado a
27 Março 2020].
12. SOUTHEY, Robert – Journals of a residence in Portugal, 1800-1801 and a visit to France, 1838:
supplement by extracts from his correspondence … .
13. Dos pouquíssimos estudos sobre o assunto, destacamos o de Ana Cristina da Cunha
MACHADO, o qual, versando em específico sobre o restauro de dois livros de coro sobreviventes,
inclui, no âmbito do contexto geral desses manuscritos, uma breve história da biblioteca: Estudo e
intervenção de códices dos Séculos XVII e XVIII do Convento de Cristo, de Tomar. Tomar: Instituto
Politécnico de Tomar, 2013. Relatório de Estágio. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em
https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/5902.
14. D. João IV era um amante de música e mesmo um notável músico, pelo que não seria
impossível que se interessasse pela rica coleção de Tomar, descrita nestes termos pelo frade
espanhol agostiniano Frei Hieronimo Roman (que, em 29 de julho de 1523, assistiu à cerimónia da
tomada de posse do Mestrado de Cristo por D. João III). “A livraria de cantochão são quarenta
tomos da maior grandeza que pode haver em pergaminho e rica e fortemente encadernados
tendo ferros e cantoneiras e as demais reais e esfera e divisa e empresa dos Reis de Portugal e a
Cruz de Cristo tudo com tanto primor que não há mais que pedir nem desejar…” (COTA, Cristina –
“A música no Convento de Cristo em Tomar – desde finais do séc. XV até finais século XVIII”. Lisboa:
Edições Colibri, 2007, p. 133. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em https://run.unl.pt/
handle/10362/36277 .
15. Descoberto pelo reitor, Ricardo Raimundo Nogueira, foi descrito por Ribeiro dosSantos, antes de 1818, em “Noticia de hum Cancioneiro inédito”, mss. 4061 e 4602 daBNL. Cf. VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de – Cancioneiro da Ajuda…, vol. II, pp. 2-4.
16. Lord Charles Stuart of Rothesay (1779-1845), diplomata britânico, enviado extraordinário e
ministro plenipotenciário em Lisboa entre 1810 e 1814 e depois entre 1825 e 1826. Desempenhou
um papel importante nas negociações que culminaram no reconhecimento por Portugal da
independência do Brasil. Foi feito por D. João VI conde de Machico e Marquês de Angra (Brasil)
por D. Maria II. Era embaixador em Paris em 1823 quando publicou à sua custa Fragmentos de hum
cancioneiro inedito que se acha na Livraria do Real Collegio dos Nobres de Lisboa. Para referências sobre
Stuart, vide RAMOS, Maria Ana – O Cancioneiro da Ajuda …, vol. I, pp. 33-34, nota 4.
17. O estado da questão foi inicialmente feito por SHARRER, Harvey L. – “Estado actual de los
estudios sobre el Cancioneiro da Ajuda”. O Cancioneiro da Ajuda, cem anos despois. Congreso
Internacional, 25 a 28 de Maio 2004. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, 2004, pp. 41-54.
18. “Il Cancioneiro da Ajuda prima di Carolina Michaëlis (1904).” Critica del testo VII/2 (2004), pp.
721-789. [Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em
https://www.academia.edu/4111484/
_Il_Cancioneiro_da_Ajuda_prima_di_Carolina_Micha%C3%ABlis_1904.
19. Figueiredo e Silva foi funcionário da Torre do Tombo, habilitado a assinar cópias e certidões,
pelo menos desde 1783. Cf. ANTT – Registo Geral de Mercês de D. Maria I, liv.14, f. 309.
20. Catalogue of the Valuable Library of the Late Right Honourable Lord Stuart de Rothesay,
Including Many Illuminated and Important Manuscripts ...: Which Will be Sold by Auction byMessrs. S. Leigh Sotheby & John Wilkinson, Auctioneers ... the 31st Day of May, 1855,and Fourteen Following Days.21. Sir Thomas Phillipps (1792-1871) foi um dos maiores, senão o maior colecionador de
manuscritos do seu tempo. O catálogo da sua biblioteca, que foi publicando em fascículos ao
longo de mais de trinta anos, com o título Catalogus librorum manuscriptorum in bibliotheca d.
Thomae Phillips, Bt., contava mais de 60.000 manuscritos. Com o nº 14162 aparece o Canzionero
Portuguezo, cuja descrição corresponde exatamente à cópia de Lord Stuart. Em Anexo incluímos a
Medievalista, 28 | 2020
347
imagem da página. A partir de 1885, a biblioteca começou a ser vendida pelo seu neto Thomas
FitzRoy Fenwick, mas num processo extremamente lento, que durou mais de 50 anos. Sobre o
assunto, ver http://www.historyofinformation.com/detail.php?id=1525. [Consultado a 27 Março
2020].
22. François Juste Marie Raynouard (1761-1836), historiador, filólogo e dramaturgo francês. O
comentário encontra-se na obra Grammaire comparée des langues de l’Europe latine dans leurs
rapports avec la langue des troubadours. Paris: F. Didot, 1821, p. XLI, n. 3.
23. As marcas de água do papel datam de 1811-1814. Cf. http://info.filg.uj.edu.pl/fibula/pl/
content/lus-fol-1. [Consultado a 10 Janeiro 2020].
24. Diplomata alemão e, posteriormente, ministro dos negócios estrangeiros da Prússia. Como
diplomata, um dos postos que ocupou foi Londres.
25. Disponível em https://jbc.bj.uj.edu.pl/dlibra/publication/380697/edition/362767/content.
[Consultado a 27 Março 2020]. No manuscrito é visível o ex libris de Von Thile.
26. Mariña Arbor e Carlos Pulsoni argumentam que faltará a página onde esta informação se
encontrava, mas o argumento não parece ter qualquer fundamento.
27. SEQUEIRA, Gustavo de Matos – Depois do Terramoto. Lisboa: Academia das Ciências, 1967. Vol. I,
p. 308.
28. Matos Sequeira não fornece a cota do documento, que até agora não foi possível localizar no
ANTT.
29. D. Carolina refere ainda mais duas cópias, sem indicar qualquer data (mas referindo que a
informação lhe chegou de Teófilo Braga), uma para o Morgado de Mateus e outra para a Casa de
Villareal (Cancioneiro da Ajuda… p. 103). A primeira encontra-se efetivamente no espólio de Teófilo
Braga (Biblioteca Pública e Arquivo Regional, Angra do Heroísmo). Cf. BITAGAP manid 4042.
30. “Quel da Ribera.” Cultura neolatina 44 (1984), pp. 219-224; republicado em «Pressupostos
históricos e geográficos à crítica textual no âmbito da lírica medieval galego-portuguesa: (l) «Quel
da Ribera»; (2) A Romaria, de San Servando», no volume De Roma ata Lixboa. Estudos sobre os
cancioneiros galego-portugueses. A Coruña: Real Academia Galega, 2016.
31. Il Perfetto Cortegiano. D. Miguel da Silva. Roma: Bulzoni Editore, 1989; o livro retoma e alarga um
artigo aparecido no ano anterior, em DESWART, Sylvie – “La Rome de D. Miguel da Silva
(1515-1525)”. Lisboa: separata de Publicações do II Centenário da Academia de Ciências, 1988.
[Consultado a 27 Março 2020]. Disponível em
https://www.academia.edu/12491251/
_La_Rome_de_D._Miguel_da_Silva_1515-1525_in_O_Humanismo_Portugu%C3%AAs_1500-1600_._Primeiro_Simp%C3%B3sio_Nacional_21-25_de_Outubro_de_19
32. ANTT – Corpo Cronológico, pt.1, mç. 20, n.º 18.
33. ANTT – Corpo Cronológico, Gaveta 2, mç. 10, nº 20.
34. ANTT – Corpo Cronológico, pt.1, mç. 39, n.º 80.
35. Carta de Álvaro Mendes de Vasconcelos para D. João III, Madrid, 10 de Novembro de1532. ANTT – Corpo Cronológico, pt.1, mç. 50, n.º 32. António Ribeiro acabou por nãoconseguir o lugar (Cf. MACHADO, Luís Guilherme – “Luís Homem e a criação do ofício decorreio-mor do Reino em 1520”, Códice 6 (2009), II Série).
36. Carta de António Ribeiro para a rainha D. Catarina, de Roma, 20 de Fevereiro de 1558. ANTT -
Corpo Cronológico, pt. 1, mç. 102, n.º 77.
37. ANTT – Corpo Cronológico, pt.1, mç. 67, n.º 108.
38. Segundo o autor da carta, António Ribeiro, recebendo, por mensageiro especial, a notícia da
morte de cardeal-infante D. Afonso antes que chegasse a Roma a notícia oficial, tê-la-ia feito
chegar ao Papa e a outras altas figuras da Cúria, que logo se teriam apressado a estabelecer
barreiras quanto ao futuro preenchimento do seu lugar.
Medievalista, 28 | 2020
348
AUTORES
MARGARIDA LEME
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais 1070-312 Lisboa, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0002-0726-0572
GRAÇA VIDEIRA LOPES
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais 1070-312 Lisboa, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/0000-0002-9213-2910
Medievalista, 28 | 2020
349
Um pintor português em Itália nas vésperas do Renascimento
Exposição MNAA: Alvaro Pirezd’ÉvoraUm pintor português em Itália nas vésperas do Renascimento
Alvaro Pirez d’Évora. A portuguese painter in Italy on the eve of the Renaissance
Isabel Cristina Fernandes
1 Esteve patente no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), entre 29 de novembro de
2019 e 15 de março de 2020, a notável exposição “Alvaro Pirez D’Évora. Um pintorportuguês em Itália nas vésperas do Renascimento”, organizada por este museu emcolaboração com o Polo Museale della Toscana (Itália). Comissariada por LorenzoSbaraglio e Joaquim Oliveira Caetano, contou com o patrocínio da Fundação La Caixa/BPI, parceiro do MNAA e o apoio de várias outras entidades. As obras expostas foramemprestadas por privados e por museus europeus de renome, como a Gallerie degliUffizi (Florença), a Pinacoteca Nazionale di Siena, o Museo Nazionale di San Matteo(Pisa), o Museo di San Marco (Florença), a Galleria d’ Arte Moderna (Milão), aGemaldegalerie de Berlim, o Musée du Petit Palais (Avignon), o Szépmuvészeti Múzeumde Budapeste, entre outros. De Portugal, os painéis selecionados provieram das coleçõesdo Museu de Évora e do MNAA.
2 Álvaro Pirez nasceu em Évora (c. 1370/80), mas desenvolveu a sua formação e produção
artística em Itália, documentada entre 1410 e 1434. É referido pelo pintor, arquiteto ebiógrafo Giorgio Vasari como “Alvaro di Piero di Portogallo”. O principal objetivo damostra foi a apresentação do percurso de trabalho do pintor, dando a conhecer oenquadramento cultural em que decorreu e as influências que teve. A maior parte dasua produção centrou-se na Toscana – Volterra, Lucca, Pisa e Prato –, considerando-seque foi em Pisa que teve lugar o período de maior maturidade da sua produção e o maisduradouro, embora tivesse realizado obra mais abundante para as igrejas de Volterra.Trabalhou também noutras partes de Itália, como Cagliari (Sardenha) e Nola (Nápoles).É considerado um pintor do tardo-gótico, seguidor da tradição de Trezentos mas comclara influência de mestres florentinos como Gherardo Starnina, Lorenzo Ghiberti,Lorenzo Monaco e, mais tarde, de Gentile da Fabriano.
Medievalista, 28 | 2020
350
3 A exposição foi organizada em sete núcleos. O primeiro, dedicado aos “Grandes
Mestres”, expôs “A Anunciação”, requintada e preciosa obra que pertenceu aochanceler Konrad Adenauer e foi atribuída a Álvaro Pirez pelo professor Frederico Zeri.Recentemente adquirida pelo MNAA, foi a escolhida para imagem de cartaz. Nesta salade abertura mostraram-se obras de outros pintores que terão feito parte da formaçãode Álvaro Pirez e contribuído para a definição do seu estilo. De entre as obras expostasdestaquem-se duas de Fra Angelico e a “Virgem da Humildade”, de Gentile da Fabriano.
4 O segundo núcleo, “Mediterrâneo”, foi concebido para evocar a circulação artística no
espaço mediterrânico e particularmente as relações entre a Península Ibérica e a Itália,lembrando as passagens de Starnina e Veneziano por Toledo e o seu contributo para arenovação tardo-gótica florentina. Aqui se expôs o magnífico “Cristo RessuscitadoAbençoando”, de Álvaro Pirez (c. 1430-1435).
5 O terceiro centrou-se em “Portugal”, para relacionar os novos ambientes da dinastia de
Avis com o gótico pujante e internacionalizado dos estaleiros da Batalha, asencomendas pictóricas e escultóricas da corte. O núcleo destacou o Retrato de D. João I euma interessante seleção de esculturas.
6 Os núcleos seguintes (4 a 7) correspondiam às escolas pictóricas das cidades onde o
pintor mais trabalhou – Lucca, Pisa, Volterra e Prato. Na sala de “Lucca” (4) foramevidenciados os pintores Spinello Aretino, Angelo Puccinelli, Battista di Gerio eGherardo di Starnina, e a influência de Álvaro Pirez na formação de pintores da geraçãoseguinte, como Priamo della Quercia e Borghese di Piero, mostrando-se, deste último,uma grande cruz que dominava a parede frontal da sala. Este núcleo incluiu também areconstrução parcial de um políptico de Pirez (c. 1424).
7 Na sala dedicada a “Pisa” (5), evocaram-se artistas de Siena que aqui trabalharam, em
inícios do séc. XV, como Taddeo di Bartolo e Martino di Bartolomeo, nomeadamente napintura de bandeiras das confrarias, de que se puderam admirar três, de di Bartolo, queé reconhecido como o mestre de Álvaro Pirez. A peça nuclear da sala foi a belíssima“Virgem com o Menino e Anjos”, que Pirez pintou para a Igreja de Santa Croce inFossabanda e que exibe a inscrição em português: ALVARO PIREZ D’EVORA PINTOV.
8 O núcleo 6, “Volterra”, organizou-se apenas com obras de Álvaro Pirez, entre as quais a
tábua “A Virgem com o Menino e Dois Anjos” (c. 1425-1430) e a reconstituição do“Políptico de Santa Catarina”.
9 A participação de Pirez com pintores florentinos, em 1411, no programa de frescos (que
não subsistiram) do Palácio Dattini, da cidade de Prato, motivou, no núcleo 7, “Prato”, aapresentação cenográfica de um conjunto de desenhos preparatórios desses frescos.Desta última sala destaque-se ainda, de Niccolò di Pietro Gerini, o “Cristo em Piedadecom os Símbolos da Paixão” (c. 1400-1405).
10 A exposição mereceu elogiosas apreciações nacionais e internacionais, de historiadores
e críticos de arte, nomeadamente de Geoffrey Nuttal (Courtland Institute of Art,Universidade de Londres).
11 O catálogo faz jus à excelência da exposição, com artigos de especialistas que convidam
o leitor a um aprofundamento do percurso e da leitura artística das obras de ÁlvaroPirez e de outros grandes nomes do quattrocento italiano, representados nesta mostra.
Medievalista, 28 | 2020
351
Fig. 1 - Cartaz da exposição.
© MNAA.
Fig. 2 - Aspeto do núcleo 4 da exposição, dedicado a “Lucca”
© MNAA.
Medievalista, 28 | 2020
352
Fig. 3 - Aspeto do núcleo 7 da exposição, dedicado a “Prato”.
© MNAA.
Fig. 4 - Gentile di Niccolò di Giovanni di Massio, dito Gentile da Fabriano, Virgem da Humildade, final dasegunda década do século XV, têmpera e ouro sobre madeira. Pisa, Museo Nazionale di San Matteo,inv. 4909.
© Su concessione del Ministero per i beni e le attività culturali – Polo Museale della Toscana –Firenze. Foto: Nicola Gronchi, Pisa, Italy.
Medievalista, 28 | 2020
353
Fig. 5 - Álvaro Pirez d’Évora, Santa Luzia, 1430, têmpera e ouro sobre madeira. Nola, Convento deiCappuccini.
© Diocesi di Nola, Ufficio Beni Culturali.
Fig. 6 - Álvaro Pirez d’Évora, Cristo Ressuscitado Abençoando, c. 1430-1435, têmpera e ouro sobrepainel de freixo. Budapeste, Szépművészeti Múzeum, inv. 51.801.
© Szépművészeti Múzeum - Museum of Fine Arts Budapest, 2019.
Medievalista, 28 | 2020
354
Fig. 7 - Álvaro Pirez d’Évora, Virgem com o Menino e Anjos, c. 1425-1430, têmpera e ouro sobremadeira. Pisa, Igreja de Santa Croce in Fossabanda.
© Chiesa di Santa Croce in Fossabanda. Foto: Nicola Gronchi, Pisa, Italy.
BIBLIOGRAFIA
Desdobrável da exposição “Alvaro Pirez d’Évora - um Pintor Português em Itália nas Vésperas do
Renascimento”, DGPC, Museu Nacional de Arte Antiga, 2020.
Press Release da exposição “Alvaro Pirez d’Évora - um Pintor Português em Itália nas Vésperas do
Renascimento”, DGPC, Museu Nacional de Arte Antiga, 2020.
CAETANO, Joaquim – Descobrir as Coleções do MNAA – Álvaro Pires d’Évora – «Anunciação», DGPC,
MNAA, 2018 - Vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=7FVkJwAKdDg
CAETANO, Joaquim e SBARAGLIO, Lorenzo (coord. cient.) – Álvaro Pirez d’Évora, um pintor português
em Itália nas vésperas do Renascimento. Catálogo da exposição. Lisboa: Museu Nacional de Arte
Antiga / Polo Museale della Toscana / Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2020.
PEREIRA, Fernando António Baptista – “Álvaro Pirez de Évora: Um Pintor Português na Itália dos
Alvores do Renascimento”. Jornal de Letras (fevereiro 2020), pp. 23-24.
Medievalista, 28 | 2020
355
AUTOR
ISABEL CRISTINA FERNANDES
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais; Gabinete de Estudos sobre a Ordem de Santiago (Município de Palmela) 1070-312
Lisboa; 2954-001 Palmela, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/
0000-0003-0725-7768
Medievalista, 28 | 2020
356
Jornadas Internacionais
Terra, Pedras e Cacos do Garb al-AndalusJornadas Internacionais
Earth, Stones and Sherds of Gharb al-Andalus. International Congress
Isabel Cristina Fernandes
1 Entre 23 e 25 de janeiro de 2020 realizou-se em Palmela as Jornadas Internacionais
“Terra, Pedras e Cacos do Garb al-Andalus”, com coordenação científica do Grupo CIGA1
e organização, em parceria, do Município de Palmela e do Campo Arqueológico deMértola.
Medievalista, 28 | 2020
357
2 A ideia de realizar esta reunião partiu do Grupo CIGA que, doze anos após a sua criação
e na senda das regulares investigação e publicação de estudos em torno da cerâmicamedieval islâmica, considerou prioritário o relançamento do debate sobre este período.Vários aspetos contribuíram para a constatação dessa necessidade: o grande número deescavações de emergência do período islâmico nas últimas décadas; a reduzidadivulgação dos resultados; algum esmorecimento do interesse público por este períodohistórico, depois da visibilidade do final da centúria passada; a necessidade de umincremento do diálogo entre a Arqueologia e a História.
3 As jornadas foram estruturadas em quatro sessões: Sessão 1 - Revelações e novas
abordagens sobre o Garb no século XXI; Sessão 2 - Arqueologia preventiva: transformar
salvaguarda em conhecimento do Garb al-Andalus; Sessão 3 - O Garb e o Mediterrâneo; Sessão4 - Da história à arqueologia e da arqueologia à história do Garb al-Andalus. Seguindo esteelenco temático, foi elaborado um programa que incluiu oradores convidados,comunicantes e autores de posters.
4 Na sessão inaugural dos trabalhos teve lugar uma breve evocação do historiador francês
Christophe Picard, vinte anos após a publicação da sua obra de referência para o estudodo Garb: Le Portugal Musulman (VIIIe-XIIIe siècle). L’Occident d’al-Andalus sous domination
islamique, editada pela Maisonneuve & Larose, Paris. Pioneiro na construção de umahistória em diálogo com a arqueologia, impulsionou a investigação do período islâmicoem Portugal e fê-lo insistindo no cruzamento da informação documental escrita com aleitura das materialidades.
5 A comunicação de abertura coube ao Grupo CIGA, que após um breve historial do grupo
e do trabalho desenvolvido, apresentou doze peças do período islâmico, selecionadaspor cada um dos membros, segundo critérios diversos.
6 A Sessão 1 iniciou-se com abordagens histórico-arqueológicas de Manuel Luís Real e
Paulo Almeida Fernandes: a primeira centrada no contexto político da presúria deCoimbra de 878, com interpretações coadjuvadas pela análise de um capitel e duasepígrafes; a segunda, sobre as dinâmicas artísticas moçárabes, questionando períodos elugares de desenvolvimento para, a partir de materialidades de Lisboa, traçar umasíntese sobre aspetos vários da população moçárabe do Garb. Catarina Tente prosseguiuesta sessão com inferências de âmbito económico-social, de gestão do território e dearticulação dos poderes, no séc. X, a partir dos dados do registo arqueológico na regiãofronteiriça da Beira Alta. O estudo do território e do povoamento da diocese/ kura deOssónoba/Ocsonoba, entre a antiguidade tardia e o período islâmico, foi objeto daanálise histórico-arqueológica de Helena Catarino, com incidência particular noscastelos de Alcoutim e Relíquias. As sínteses desta sessão seriam completadas pelacomunicação de Maria Antónia Martínez Núñez e Pilar Delgado Blasco, uma reflexãosobre a importância da epigrafia para o conhecimento do Garb, através doconhecimento que proporciona a vários níveis: cronológico, antroponímico,toponímico, ideológico, político, cultural, matizando com frequência os dadosfornecidos pela arqueologia ou pelos textos.
Medievalista, 28 | 2020
358
Fig. 1 – Momento de debate da sessão 1.
© Isabel Cristina Fernandes
Fig. 2 – Comunicação de Maria Antónia Martínez Núñez e Pilar Delgado Blasco,apresentada pela segunda (sessão 1).
© Isabel Cristina Fernandes
7 Trabalhos arqueológicos recentes proporcionaram várias abordagens com novidade:
Maria José Gonçalves, Carlos Oliveira e Miguel Costa relançaram a discussão sobre alocalização de espaços de culto na Xīlb islâmica, com base em novos dadosarqueológicos apoiados em informação da documentação escrita; o estudo da atividademetalúrgica no sítio fortificado de Albalat (Cáceres, Espanha), através de estruturas,escórias e produções identificadas arqueologicamente, permitiu a Sophie Gilotte e
Medievalista, 28 | 2020
359
Pauline De Keukelaere uma aproximação ao trabalho desenvolvido pelos ferreiroslocais, às matérias e às técnicas que utilizaram; Teresa Ricou da Ponte, Luciana de Jesuse Vasco Abegoaria apresentaram estudo sobre numismas – felus emirais, provenientesdo sítio da Quinta do Estácio 3, Beja, escavado em 2018 e onde se registaram vestígiosromanos, tardo-antigos e emirais; no Alto da Vigia, em Colares, Sintra, onde antes selocalizou um santuário romano, foram registados arqueologicamente uma mesquita,silos e uma necrópole, estruturas de um ribat muçulmano, descoberta transmitida aestas jornadas por Alexandre Gonçalves e Helena Catarino.
8 Através de posters, Fábio Capela informou sobre a ocupação emiral do castelo de
Alferce e a intenção de avançar com um projeto de investigação arqueológica no local eCézer Santos, Fernando Henriques e Nuno Barraca anunciaram a possível identificaçãode níveis de ocupação islâmica no Largo do Castelo da Bemposta (Penamacor), onderealizaram sondagens arqueológicas.
9 No capítulo da cerâmica islâmica, o Grupo CIGA, com Pilar Lafuente, realizou uma
síntese sobre aspetos técnicos, estéticos e iconográficos dos ornamentos na cerâmica doGarb al-Andalus, procurando, através deles, uma crescente precisão das atribuiçõescronológicas. Para cerâmicas do século XIV da mouraria de Moura, Santiago Macias eJosé Valente deram a conhecer um conjunto de peças de produção local e algumasimportações.
10 Várias arqueociências tiveram a sua representação nesta reunião, mostrando a
importância do seu contributo para clarificar e completar a percepção das ocupaçõesdo período islâmico. Foram os casos: do estudo arqueométrico de um conjunto decerâmica islâmica de Mértola (séculos X-XII), apresentado por Massimo Beltrame,Susana Gómez e José Mirão, com resultados para a proveniência e as tecnologias deprodução; da reflexão crítica de Maria João Valente sobre o alcance dos estudoszooarqueológicos no Garb, através de uma metodologia de análise que permita chegar amodelos da utilização/gestão animal no período e no território em questão, e sobre ofuturo da investigação das arqueofaunas. Ainda neste âmbito temático, expuseram-setrês posters: um sobre as faunas medievais do castelo de Palmela (Cleia Detry e IsabelFernandes), outro sobre análise multi-isotópica de material osteológico de necrópolesmuçulmanas e cristãs de Évora (Rebecca Macroberts et. al.) e um terceiro sobre dieta epadrões de mobilidade através da análise de ossadas de necrópoles de Loulé e Cacela-a-Velha (Judith López-Aceves et. al.).
11 A sessão 1 encerrou com uma abordagem inovadora de Bruno Almeida à questão da
terminologia cerâmica, partindo de uma perspetiva linguística e conceptual erecorrendo à análise e à organização de terminologia multilingue, com o intuito de vir acriar um recurso terminológico a disponibilizar on-line.
12 A Sessão 2, focada nas ações e nos resultados da arqueologia preventiva,
complementou a sessão anterior no que se refere a novas descobertas, lograndodemonstrar o que a temática anunciava: a construção de mais e melhor conhecimentodo Garb a partir deste tipo de ações.
13 O ponto de situação das intervenções de categoria C do período islâmico em Portugal,
apresentado pelo Grupo CIGA, revelou que se realizaram, nos últimos 25 anos, 1500intervenções arqueológicas nesta categoria, quais os seus principais condicionalismos eresultados, e destacou exemplos de especial relevância.
Medievalista, 28 | 2020
360
14 Nos estudos de caso de maior abrangência geográfica, evidenciaram-se: a reflexão de
Ricardo Costeira da Silva sobre Coimbra alto-medieval, partindo dos trabalhosrealizados no antigo fórum e criptopórtico de Aeminium para ir revisitando váriosoutros locais de investigação arqueológica da cidade e problematizando até que ponto asalvaguarda tem revertido para conhecimento; o ponto de situação dos registosarqueológicos funerários de Mérida (sécs. VIII-XIII), por Miguel Alba, que proporcionouuma visão da organização, implantação e evolução das áreas funerárias e, através delas,da extensão e das dinâmicas de uma cidade de capital importância no Garb.
Fig. 3 – Comunicação de Ricardo Costeira da Silva (sessão 2).
© Isabel Cristina Fernandes
Fig. 4 – Comunicação do Grupo CIGA (sessão 2).
© Isabel Cristina Fernandes
Medievalista, 28 | 2020
361
15 Este painel integrou ainda um variado conjunto de comunicações que deram a conhecer
investigações arqueológicas do período islâmico, originadas de planos de prevenção esalvaguarda, algumas muito recentes e expressivas da riqueza dos achados. Neste grupoincluem-se: uma panorâmica, por Susana Duarte, Joaquina Soares e Carlos Tavares daSilva dos registos islâmicos em Setúbal, decorrentes de intervenções do Museu deArqueologia do Distrito de Setúbal, entre os quais se inclui uma necrópole; o estudo deuma epígrafe funerária do século XII, também de Setúbal, da autoria de Artur Fontinha,M. Antónia Martínez Núñez e Maria João Cândido; os novos registos arqueológicos docastelo de Palmela, dados a conhecer por Luís Pereira e Michelle Santos,proporcionados por uma intervenção na encosta sul, e que incluem o registo de siloscom abundantes materiais de finais da ocupação islâmica e início da portuguesa.
16 Para a região do Algarve, dois posters deram conta do avanço do conhecimento do
período islâmico através da arqueologia: o de Carlos Oliveira e Maria José Gonçalves,sobre materiais arqueológicos de uma vasta área escavada na Rua da Arrochela (Silves)e o de Isabel Luzia et. al., sobre os banhos islâmicos de Loulé.
17 Neste grupo de comunicações que correspondem a descobertas recentes, Lisboa teve
um enfoque especial, mostrando bem as dinâmicas de investigação arqueológica nacidade e as suas importantes aportações para o conhecimento da urbe medieval: dosArmazéns Sommer, intervencionados entre 2004 e 2016, foram apresentados por PauloRebelo, Vanessa Filipe, Ricardo Ribeiro, Virgílio Martínez e Nuno Neto, aspetos daevolução arquitetónica doméstica e defensiva, esta última com incidência na cisterna/muralha desde a antiguidade tardia ao período islâmico; do Largo da Atafona (Lisboa),com intervenção em 2018, Vanessa Filipe, José Pedro Henriques, Vasco Vieira e TiagoPereira apresentaram um estudo das cerâmicas islâmicas exumadas, procurando umaleitura da produção oleira de Lisboa nesse período; sobre os trabalhos na Praça daFigueira (escavações entre 1999 e 2001), Rodrigo Banha da Silva, André Bargão, SaraFerreira, Inês Pires e Duarte Mira mostraram, através de uma síntese do estudo dascerâmicas provenientes de contextos do arrabalde ocidental da cidade, aspetosevolutivos entre o final das taifas e o período almorávida; por fim, Vanessa Filipe, NunoNeto, José Pedro Henriques, Sara Brito, Alice Toso, Sílvia Casimiro, Raquel Granja, JoanaInocêncio e Sónia Ferro forneceram uma panorâmica da necrópole da área oriental daLisboa islâmica, através de dados recolhidos nas escavações realizadas na Calçadinha doTijolo, em 2014, no Largo do Sequeira, em 2016 a 2018 e no Largo de Santa Marinha, em2019. Dois dos posters expostos eram também consagrados a Lisboa: o de TâniaCasimiro, Vanessa Filipe e José Pedro Henriques sobre escavações no Largo dos Lóios eanálise do respetivo espólio, e o de Andreia Rodrigues, sobre os silos da igreja de S.Lourenço (Mouraria).
18 A Sessão 3, sobre os pontos de contacto entre o Garb e o Mediterrâneo, abriu com uma
reflexão sobre Madïna Mayürqa, de Guillermo Rosselló Bordoy, autor de primordiaisestudos sobre cerâmica do al-Andalus. As relações entre o Garb e o Sharq através dascerâmicas foram tratadas por Rafael Azuar, que concluiu pela intensidade de contactoscosteiros, entre o Atlântico e o Mediterrâneo, tanto ao nível económico como cultural,desde o califado omíada até ao período merínida (século XIV). Tocando igualmente aquestão das relações das costas do Garb com o mundo mediterrânico, a comunicação deCristina Tété Garcia e Patrícia Dores partiu da análise de cerâmicas do período almóadade Cacela-a-Velha.
Medievalista, 28 | 2020
362
Fig. 5 – Comunicação de Guillermo Rosselló Bordoy (sessão 3).
© Isabel Cristina Fernandes
19 No que respeita às relações com o Norte de África, Yaiza Hernández Casas, Bilal Sarr e
Luca Mattei propuseram-se apresentar um corpus, em construção, de cerâmica medievaldas costas do Rif, incluindo produções berberes locais, valorizando os intercâmbios como al-Andalus. Por seu lado, Fernando Villada e Rodrigo Álvarez González apresentarammateriais cerâmicos dos períodos califal, taifa e merínida de dois silos de Ceuta,estabelecendo afinidades com peças registadas no Garb.
20 A original abordagem de Patrice Cressier, sobre questões de imagem no al-Andalus,
colocou em relevo aspetos usualmente menos trabalhados, como a relação entre adifusão da imagem e o seu suporte, a identificação do encomendante e dos difusores, asmotivações dos destinatários, para além do questionamento sobre o significado do temada imagem, nas suas diversas expressões, selecionando para o efeito a representaçãohumana e animal.
Medievalista, 28 | 2020
363
Fig. 6 – Comunicação de Patrice Cessier (sessão 3).
© Isabel Cristina Fernandes
21 A Sessão 4 teve como propósito estimular abordagens de evidente interligação entre a
história a arqueologia. José Avelino Gutiérrez mostrou como os avanços da investigaçãoarqueológica estão a comprovar a importância da presença islâmica no Nortepeninsular (Astúrias, Leão, Zamora) para a fase omíada inicial (711-722),correspondente a um impacto da conquista até há pouco não reconhecido e agoraevidenciado, nomeadamente, nas estruturas defensivas de hispano-visigodos emuçulmanos. Alejandro García Sanjuan debruçou-se sobre a pertinente questão darelação entre Garb al-Andalus e Burtuqāl, provando, a partir das fontes árabes, que nãoexiste entre eles uma identificação absoluta e como os nomes evoluiram na dimensãogeográfica e, no caso de “Portugal”, também na dimensão política.
22 A região de entre Tejo e Sado contou com quatro comunicações neste apartado. Rui Gil
e Rafael Santiago ensaiaram hipóteses sobre a Sesimbra almorávida, através dadocumentação escrita e de cerâmicas provenientes do castelo, que registaram comoproduções de Lisboa. Para o território entre Palmela e Alcácer do Sal, espaço defronteira na segunda metade do século XII e primeiras décadas do XIII, Isabel CristinaFernandes procurou desenhar aspetos da paisagem social e política, recorrendo àsmarcas materiais do quotidiano em articulação com as fontes escritas. Manuel Fialhofez um percurso pelas visões da historiografia ocidental em relação ao urbanismoislâmico, para se fixar na sua própria interpretação do modelo das cidades medievaishispano-muçulmanas, partindo do caso de Lisboa e fundamentando-se em dadosarqueológicos e documentais. Filomena Barros transportou-nos aos bairros oleirosmuçulmanos de Lisboa, permitindo-nos vislumbrar particularidades da tessitura sociale económica do período pós-conquista portuguesa. Santarém esteve presente no posterde Javier Albarrán, que nos trouxe uma análise da ideologia de jihād na expediçãoalmóada a esta cidade.
Medievalista, 28 | 2020
364
Fig. 7 – Sessão 4, no auditório da Biblioteca de Palmela.
© Isabel Cristina Fernandes
23 O sul do Garb foi também abordado por vários autores. A partir do Muqtabis de Ibn
Hayyan, Fernando Branco Correia centrou-se na análise da revolta do berbere MahmudIbn al-Ğabbar e seguidores, na Mérida do século IX, seguindo a geografia dos seusmovimentos para chegar a uma leitura de aspetos do quotidiano do grupo.Hermenegildo Fernandes explicou o projeto almóada de reocupação de Beja, comrecurso a um variado leque de fontes muçulmanas e cristãs. Santiago Macias dedicou asua intervenção à identificação de sítios do período islâmico, com base arqueológica nocaso de Laqant (concelho de Moura) e a partir das fontes muçulmanas e da toponímiapara a identificação de Halq az-Zawiya e de Kanisat al-Gurab, colocando como hipótesea sua correspondência, respetivamente, ao ribāṭ de Arrifana e à zona de Porches.
24 Na sessão de encerramento das jornadas, Cláudio Torres tomou a palavra para
sublinhar o enquadramento mediterrânico do Garb e incitar a comunidade científica aprosseguir com afinco a investigação arqueológica e histórica do período islâmico noterritório português.
Medievalista, 28 | 2020
365
Fig. 8 – Sessão de encerramento, com intervenção de Cláudio Torres.
© Isabel Cristina Fernandes
25 As visitas orientadas incluídas no programa deste evento completaram, de forma
harmoniosa, a visão teórica dos estudos arqueológicos e permitiram conhecer de pertotrês importantes projetos de musealização de sítios intervencionados em Lisboa: osArmazéns Sommer, hoje o Lisboa Eurostars Museum, cuja visita foi guiada por PauloRebelo e Nuno Neto; o Núcleo de Interpretação da Muralha de D. Dinis – Museu doDinheiro/Banco de Portugal, com percurso guiado por Artur Rocha; o núcleoarqueológico da Muralha Fernandina – Corpo Santo Hotel, com visita orientada porAntónio Valongo.
26 Uma nota final para a apresentação de um livro, por André Teixeira, no final do
segundo dia das jornadas: Scripta Manent. Inventario de Signos lapidarios de Ceuta / I. La
ciudad, da autoria de Gabriel Fernández Ahumada e Fernando Villada Paredes, datadode 2017 e editado pela Ciudad Autónoma de Ceuta. A obra enquadra-se num projeto emcurso, de recolha de marcas de canteiro e de grafitos traçados nos rebocos das muralhasde Ceuta, que resultou num inventário numeroso e muito significativo de exemplares,de que se publica o desenho e, nalguns casos, a leitura interpretativa. Os motivos dosgrafitos aparecem ordenados nas seguintes categorias: antropomorfos, armamento,arquitetónicos, cordiformes, contas, elementos de localização, elementos de mira,emblemas, epigráficos, geométricos, navais, religiosos, vegetais, zoomorfos, tabuleirosde jogo e indeterminados. Nas palavras dos autores, estes signos “(...) são uma janelaaberta (...) à vida quotidiana de homens e mulheres de outros tempos cujos nomes nãofiguram nos anais da história, que nos oferecem um valioso testemunho paracompreender os seus anseios, inquietudes e, em definitivo, a sua forma de entender omundo”.
Medievalista, 28 | 2020
366
NOTAS
1. GRUPO CIGA (Cerâmica Islâmica do Garb al-Andalus): FERNANDES, Isabel Cristina;GOMÉZ MARTÍNEZ, Susana; BUGALHÃO, Jacinta; CATARINO, Helena; CAVACO, Sandra;COVANEIRO, Jaquelina; GOMES, Ana Sofia; GONÇALVES, Maria José; INÁCIO, Isabel;LIBERATO, Marco; LOPES, Gonçalo; SANTOS, Constança.
AUTOR
ISABEL CRISTINA FERNANDES
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos
Medievais; Gabinete de Estudos sobre a Ordem de Santiago (Município de Palmela) 1070-312
Lisboa; 2954-001 Palmela, Portugal. [email protected]. https://orcid.org/
0000-0003-0725-7768
Medievalista, 28 | 2020
367