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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 1. Inquérito policial; notitia criminis .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01 2. Ação penal: espécies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05 3. Jurisdição; competência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 4. Prova (artigos 158 a 184 do CPP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 5. Prisão em flagrante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 6. Prisão preventiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 7. Prisão temporária ...................................................................... 24 (Lei n.º 7.960/1989) ...................................................................... 25

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. Inquérito policial; notitia criminis.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 012. Ação penal: espécies. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 053. Jurisdição; competência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104. Prova (artigos 158 a 184 do CPP). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115. Prisão em flagrante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186. Prisão preventiva. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217. Prisão temporária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24(Lei n.º 7.960/1989) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

INQUÉRITO POLICIAL; NOTITIA CRIMINIS.

DIREITO PROCESSUAL PENAL Em sentido estrito, os direitos fundamentais têm como precei-

to a aplicação de direitos inerentes à figura do ser humano, tendo reconhecimento positivista nas Cartas Magnas dos respectivos Es-tados, sendo, portanto, direitos dos homens juridicamente consti-tuídos, com caráter de inviolável, intemporal, e universal, âmbitos ou predisposições subjetivas que ensejam de forma acertada direi-tos objetivamente vigentes em uma ordenamento jurídico- positivo que tem como, finalidade o bem comum, primariamente, enfatizan-do a relação democrática do Estado e sues institutos que se voltam para a proteção da coletividade; seja na função de proteção ou de-fesa da liberdade, prestação social, no tocante a boas condições de vida “lazer, moradia, trabalho,” e na proteção de direitos inerentes a terceiros, em não discriminação, onde os iguais devem ser tratados como iguais e os desiguais como o mesmo.

Cabendo ressaltar que a própria doutrina paulatinamente con-ceituam ou utilizam como sinônimos os direitos do homem e direi-tos fundamentais, sendo que o primeiro tem como característica a expressão de direitos validos em todo o globo, precisamente direi-tos inerentes a todos os povos sem qualquer distinção, em qual-quer tempo ou sem cunho de determinação temporal, advindos da própria subjetividade ou natureza humana, sendo, invioláveis, intemporais e universais. Enquanto que os direitos fundamentais são aqueles juridicamente constitucionalizados garantidos em um documento, objetivamente vigentes em uma ordem sócio- jurídica, sendo o reconhecimento, em plano jurídico das prerrogativas fun-damentais destinadas ao cidadão.

As garantias fundamentais que suplantam nossa Carta Mag-na têm um caráterassecuratório, onde sua finalidade é de propi-ciar mecanismos ou instrumentos de proteção, reparação, pleito e reingresso quando tais direitos fundamentais forem violados pelo poder estatal, na instrumentalização de ações ou conhecidamente denominados de remédios constitucionais ou jurídicos, oHabeas Corpus e Habeas Data, o direito a reposta, e a prevista indenização, direitos previamente expostos no art. 5º da Constituição Federal.

O direito amplamente positivado no caput do art.5º da Consti-tuição Federal, de nosso Estado Federativo:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re-sidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”

Sobre a ótica formal, as garantias fundamentais têm como re-lação ou binômioo direito individual e coletivo, grande e ferio ter-reno de inúmeros conflitos doutrinários em relação a perspectivas de ordem objetiva e subjetiva, em relação à aplicação predisposição dos direitos fundamentais, onde aprimeira tem como característica básica a figura do interesse individual onde o detrimento se da de forma negativa na relação Estado e cidadão, já a segunda perspecti-va se traduz na ordem objetiva que nada mais é do que a confirma-ção dos interesses subjetivos só que na alvorada coletiva, ou seja, a afirmação do direitos fundamentais em caráter positivo, dando ênfase a figura individual no âmbito do interesse conjunto em cor-relação com o Estado.

A referência de direitos fundamentais suplantados na perspec-tiva de direito subjetivo tem como fundamento a noção ou predis-posição da figura de um único titular do direito fundamental, dando ao mesmo possibilidade jurídica de requerer ou impor seus interes-ses de âmbito jurídico em relação a um destinatário, meio pelo qual se aperfeiçoa ou aparece o instituto da ação ou processo penal ou civil para o enquadramentos das garantias suprimidas pelo Estado ou pelo individuo em relação ao seu semelhantes.

Processo Penal e as Garantias Fundamentais

Não são precisas as relações ou indagações teóricas ineren-tes a teorização do processo penal, que apresenta como mecanis-mo temporal de elaboração a eminente queda do absolutismo em meados do XVIII, onde o processo penal tem como fundamento ou instrumentalidade a garantia individual em relação ao Estado, gran-de detentor da persecução penal, tendo grande influencia tanto no processo penal quanto, na aplicação das leis emanadas pelo Estado através do processo e se confirmando ou configurando na pena a célere e celebre obra Dos Delitos e Das Penas de “Cesare Beccaria, que norteou novos horizontes na relação penal entre Estado e for-mas de aplicação da punibilidade por parte do mesmo. Após tais assertivas inerentes ao passado do processo penal cabe ressaltar que o mesmo é o instrumento pelo qual é garantido ao individuo contra eventuais abuso estatais, seja pela forca ou por dissídios que levam em conflito preceitos fundamentais inerentes a sociedade como coletividade ou de forma individualizada.

Entre os princípios intrínsecos no processo estão do juiz na-tural, da ampla defesa, contraditório e da afirmação da inocência antes da condenação definitiva, ou seja, só será considerado como culpado ate que todos os procedimentos e ações inerentes ao pro-cesso sejam escoados ou mais precisamente tenham transitado em julgado a lide, deixando bem claro a relação entre o direito pro-cessual e as garantias fundamentais inerentes a figura do individuo diante do Estado.

Em regra o Direito Processual penal tem como fundamento a persecução penal por meio das ações penais públicas, visando à relação punitiva que o mesmo possui, precisamente como elen-ca alguns autores o poder jurisdicional que o Estado possui como mecanismo de apaziguar e propiciar seu poder punitivo através do processo, sendo o meio formal da viabilização do cumprimento do preceito de punibilidade penal ou intervenção penal, quando ne-cessário para salvaguardar preceitos dos direitos fundamentais.

Inquérito Policial

O Inquérito Policial é o procedimento administrativo perse-cutório, informativo, prévio e preparatório da Ação Penal. É um conjunto de atos concatenados, com unidade e fim de perseguir a materialidade e indícios de autoria de um crime. O inquérito Policial averígua determinado crime e precede a ação penal, sendo consi-derado, portanto como pré-processual.

Composto de provas de autoria e materialidade de crime, que, comumente são produzidas por Investigadores de Polícia e Peritos Criminais, o inquérito policial é organizado e numerado pelo Escri-vão de Polícia, e presidido pelo Delegado de Polícia.

Importante esclarecer que não há litígio no Inquérito Policial, uma vez que inexistem autor e réu. Apenas figura a presença do investigado ou acusado.

Do mesmo modo, há a ausência do contraditório e da ampla defesa, em função de sua natureza inquisitória e em razão d a polí-cia exercer mera função administrativa e não jurisdicional.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Sob a égide da constituição federal, Aury Lopes Jr. define:

“Inquérito é o ato ou efeito de inquirir, isto é, procurar informa-ções sobre algo, colher informações acerca de um fato, perquirir”. (2008, p. 241).

Em outras palavras, o inquérito policial é um procedimento ad-ministrativo preliminar, de caráter inquisitivo, presidido pela autori-dade policial, que visa reunir elementos informativos com objetivo de contribuir para a formação da “opinio delicti” do titular da ação penal.

A Polícia ostensiva ou de segurança (Polícia Militar) tem por função evitar a ocorrência de crimes. Já a Polícia Judiciária (Civil e Federal) se incumbe se investigar a ocorrência de infrações penais. Desta forma, a Polícia Judiciária, na forma de seus delegados é res-ponsável por presidir o Inquérito Policial.

Entretanto, conforme o artigo 4º do Código de Processo Pe-nal Brasileiro, em seu parágrafo único, outras autoridades também poderão presidir o inquérito, como nos casos de Comissões Parla-mentares de Inquérito (CPI’s), Inquéritos Policiais Militares (IPM’s) e investigadores particulares. Este último exemplo é aceito pela ju-risprudência, desde que respeite as garantias constitucionais e não utilize provas ilícitas.

A atribuição para presidir o inquérito se dá em função da com-petência ratione loci, ou seja, em razão do lugar onde se consumou o crime. Desta forma, ocorrerá a investigação onde ocorreu o crime. A atribuição do delegado será definida pela sua circunscrição poli-cial, com exceção das delegacias especializadas, como a delegacia da mulher e de tóxicos, dentre outras.

Os destinatários do IP são os autores da Ação Penal, ou seja, o Ministério Público ( no caso de ação Penal de Iniciativa Pública) ou o querelante (no caso de Ação Penal de Iniciativa Privada). Excepcio-nalmente o juiz poderá ser destinatário do Inquérito, quando este estiver diante de cláusula de reserva de jurisdição.

O inquérito policial não é indispensável para a propositura da ação penal. Este será dispensável quando já se tiver a materialidade e indícios de autoria do crime. Entretanto, se não se tiver tais ele-mentos, o IP será indispensável, conforme disposição do artigo 39, § 5º do Código de Processo Penal.

A sentença condenatória será nula, quando fundamentada ex-clusivamente nas provas produzidas no inquérito policial. Confor-me o artigo 155 do CPP, o Inquérito serve apenas como reforço de prova.

O inquérito deve ser escrito, sigiloso, unilateral e inquisitivo. A competência de instauração poderá ser de ofício (Quando se tratar de ação penal pública incondicionada), por requisição da autorida-de judiciária ou do Ministério Público, a pedido da vítima ou de seu representante legal ou mediante requisição do Ministro da Justiça.

O Inquérito Policial se inicia com a notitia criminis, ou seja, com a notícia do crime. O Boletim de Ocorrência (BO) não é uma forma técnica de iniciar o Inquérito, mas este se destina às mãos do de-legado e é utilizado para realizar a Representação, se o crime for de Ação de Iniciativa Penal Pública condicionada à Representação, ou para o requerimento, se o crime for de Ação Penal da Iniciativa Privada.

As peças inaugurais do inquérito policial são a Portaria (Ato de ofício do delegado, onde ele irá instaurar o inquérito), o Auto de prisão em flagrante (Ato pelo qual o delegado formaliza a prisão em

flagrante), o Requerimento do ofendido ou de seu representante legal (Quando a vítima ou outra pessoa do povo requer, no caso de Ação Penal de Iniciativa Privada), a Requisição do Ministério Público ou do Juiz.

No IP a decretação de incomunicabilidade (máximo de três dias) é exclusiva do juiz, a autoridade policial não poderá determi-ná-la de ofício. Entretanto, o advogado poderá comunicar-se com o preso, conforme dispõe o artigo 21 do Código de Processo Penal, em seu parágrafo único.

Concluídas as investigações, a autoridade policial encaminha o ofício ao juiz, desta forma, depois de saneado o juiz o envia ao pro-motor, que por sua vez oferece a denúncia ou pede arquivamento.

O prazo para a conclusão do inquérito, conforme o artigo 10 caput e § 3º do Código de Processo Penal, será de dez dias se o réu estiver preso, e de trinta dias se estiver solto. Entretanto, se o réu estiver solto, o prazo poderá ser prorrogado se o delegado encami-nhar seu pedido ao juiz, e este para o Ministério Público.

Na Polícia Federal, o prazo é de quinze dias se o indiciado esti-ver preso (prorrogável por mais quinze). Nos crimes de tráfico ilícito de entorpecentes o prazo é de trinta dias se o réu estiver preso e noventa dias se estiver solto, esse prazo é prorrogável por igual pe-ríodo, conforme disposição da Lei 11.343 de 2006.

O arquivamento do inquérito consiste da paralisação das inves-tigações pela ausência de justa causa (materialidade e indícios de autoria), por atipicidade ou pela extinção da punibilidade. Este de-verá ser realizado pelo Ministério Público. O juiz não poderá deter-minar de ofício, o arquivamento do inquérito, sem a manifestação do Ministério Público

O desarquivamento consiste na retomada das investigações pa-ralisadas, pelo surgimento de uma nova prova.

Procedimento inquisitivo: Todas as funções estão concentradas na mão de única pessoa,

o delegado de polícia.Recordando sobre sistemas processuais, suas modalidades são:

inquisitivo, acusatório e misto. O inquisitivo possui funções concen-tradas nas mãos de uma pessoa. O juiz exerce todas as funções dentro do processo. No acusatório puro, as funções são muito bem definidas. O juiz não busca provas. O Brasil adota o sistema acusató-rio não-ortodoxo. No sistema misto: existe uma fase investigatória, presidida por autoridade policial e uma fase judicial, presidida pelo juiz inquisidor.

Discricionariedade: Existe uma margem de atuação do delegado que atuará de

acordo com sua conveniência e oportunidade. A materialização dessa discricionariedade se dá, por exemplo, no indeferimento de requerimentos. O art. 6º do Código de Processo Penal, apesar de trazer diligências, não retira a discricionariedade do delegado. Dian-te da situação apresentada, poderia o delegado indeferir quaisquer diligências? A resposta é não, pois há exceção. Não cabe ao dele-gado de polícia indeferir a realização do exame de corpo de delito, uma vez que o ordenamento jurídico veda tal prática. Caso o de-legado opte por indeferir o exame, duas serão as possíveis saídas: a primeira, requisitar ao Ministério Público. A segunda, segundo Tourinho Filho, recorrer ao Chefe de Polícia (analogia ao art. 5º, §2º, CPP). Outra importante observação: O fato de o MP e juiz rea-lizarem requisição de diligências mitigaria a discricionariedade do

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

delegado? Não, pois a requisição no processo penal é tratada como ordem, ou seja, uma imposição legal. O delegado responderia pelo crime de prevaricação (art. 319 do Código Penal), segundo a dou-trina majoritária.

Procedimento sigiloso:O inquérito policial tem o sigilo natural como característica em

razão de duas finalidades: 1) Eficiência das investigações; 2) Resguardar imagem do investigado.

O sigilo é intrínseco ao IP, diferente da ação penal, uma vez que não é necessária a declaração de sigilo no inquérito. Apesar de sigiloso, deve-se considerar a relativização do mesmo, uma vez que alguns profissionais possuem acesso ao mesmo, como é o exemplo do juiz, do promotor de justiça e do advogado do ofendido, vide Estatuto da OAB, lei 8.906/94, art. 7º, XIX. O advogado tem o direito de consultar os autos dos IP, ainda que sem procuração para tal.

Procedimento escrito:Os elementos informativos produzidos oralmente devem ser

reduzidos a termo. O termo “eventualmente datilografado” deve ser considerado, através de uma interpretação analógica, como “di-gitado”. A partir de 2009, a lei 11.900/09 passou a autorizar a docu-mentação e captação de elementos informativos produzidos atra-vés de som e imagem (através de dispositivos de armazenamento).

Indisponível: A autoridade policial não pode arquivar o inquérito policial. O

delegado pode sugerir o arquivamento, enquanto o MP pede o ar-quivamento. O sistema presidencialista é o que vigora para o trâmi-te do IP, ou seja, deve passar pelo magistrado.

Importante ilustrar que poderá o delegado deixar de instaurar o inquérito nas seguintes hipóteses:

1) se o fato for atípico (atipicidade material); 2) não ocorrência do fato; 3) se estiverem presentes causas de extinção de punibilidade,

como no caso da prescrição.Contudo o delegado não poderá invocar o princípio da insig-

nificância com o objetivo de deixar de lavrar o auto de prisão em flagrante ou de instaurar inquérito policial. No que tange à exclu-dente de ilicitude, a doutrina majoritária entende que o delegado deve instaurar o inquérito e ratificar o auto de prisão em flagrante, uma vez que a função da autoridade policial é subsunção do fato à norma.

Dispensável: Dita o art. 12 do CPP:

Art. 12 - O inquérito policial acompanhará a denúncia ou quei-xa, sempre que servir de base a uma ou outra.

O termo “sempre que servir” corresponde ao fato de que, pos-suindo o titular da ação penal, elementos para propositura, lastro probatório idôneo de fontes diversas, por exemplo, o inquérito po-derá ser dispensado.

Segundo o art. 46, §1º do mesmo dispositivo legal:

“Art. 46 - O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 (cinco) dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 (quinze) dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso,

se houver devolução do inquérito à autoridade policial (Art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.

§ 1º - Quando o Ministério Público dispensar o inquérito poli-cial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação.”

OUTRAS FORMAS DE INVESTIGAÇÃO CRIMINALa) CPIs: Inquérito parlamentar. Infrações ou faltas funcionais e

aqueles crimes de matéria de alta relevância;b) IPM: Inquérito policial militar. Instrumento para investigação

de infrações militares próprias;c) Crimes cometidos pelo magistrado: investigação presidida

pelo juiz presidente do tribunal;d) MP: PGR/PGJ;e) Crimes cometidos por outras autoridades com foro privile-

giado: ministro ou desembargador do respectivo tribunal.

Os elementos informativos colhidos durante a fase do inqué-rito policial não poderão ser utilizados para fundamentar sentença penal condenatória. O valor de tais elementos é relativo, uma vez que os mesmos servem para fundamentar o recebimento de uma inicial, mas não são suficientes para fundamentar eventual conde-nação.

PROCEDIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL1ª fase: Instauração;2º fase: Desenvolvimento/evolução;3ª fase: Conclusão1ª fase: Instaurado por peças procedimentais:1ª peça: Portaria;2ª peça: APFD (auto de prisão em flagrante delito);3ª peça: Requisição do juiz/MP/ministro da justiça;4ª peça: Requerimento da vítima

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

A peça de encerramento chama-se relatório, definido como uma prestação de contas daquilo que foi realizado durante todo o inquérito policial ao titular da ação penal. Em outras palavras, é a síntese das principais diligências realizadas no curso do inquérito. O mesmo só passa pelo juiz devido ao fato de o Código de Processo Penal adotar o sistema presidencialista, já citado anteriormente. En-tretanto, apesar dessa adoção, este caminho adotado pela autorida-de policial poderia ser capaz de ferir o sistema acusatório, que é ado-tado pelo CPP (pois ainda não há relação jurídica processual penal).

Os estados do Rio de Janeiro e Bahia adotaram a Central de in-quéritos policiais, utilizada para que a autoridade policial remetesse os autos à central gerida pelo Ministério Público. Os respectivos tri-bunais reagiram diante da situação.

INDICIAMENTO

O indiciamento é a individualização do investigado/suspeito. Há a transição do plano da possibilidade para o campo da probabi-lidade, ou seja, da potencialização do suspeito. Na presente hipóte-se, deve o delegado comunicar os órgãos de identificação e estatís-tica. Sobre o momento do indiciamento, o CPP não prevê de forma exata, podendo ser realizado em todas as fases do inquérito policial (instauração, curso e conclusão).

Não é possível desindiciar o indivíduo uma vez que representa uma espécie de arquivamento subjetivo em relação ao indiciado.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Em contrapartida, há posicionamento diverso, com assenta-mento na ideia de que o desindiciamento é possível pelo fato de o IP ser um procedimento administrativo. Assim sendo, a autoridade policial goza de autotutela, ou seja, da capacidade de rever os pró-prios atos.

Com relação às espécies de desindiciamento, o mesmo pode ser de ofício, ou seja, realizado pela própria autoridade policial e coato/coercitivo, que decorre do deferimento de ordem de habeas corpus.

PRAZOS PARA ENCERRAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL

No caso da justiça estadual, 10 dias se acusado preso; 30 dias se acusado solto. Os 10 dias são improrrogáveis, os 30 dias são prorrogáveis por “n” vezes. No caso da justiça federal, 15 dias se o acusado estiver preso; 30 dias se o acusado estiver solto. Os 15 dias são prorrogáveis por uma vez, enquanto os 30 dias são prorrogáveis por “n” vezes.

No caso da lei de drogas (11.343/2006), o prazo é diverso: 30 dias se o acusado estiver preso, 90 dias se estiver solto. Nessa mo-dalidade, os prazos podem ser duplicados. Com relação aos crimes contra a economia popular (lei 1.521/51, art. 10, §1º), o prazo para conclusão do IP é de 10 dias, independente se o acusado estiver preso ou solto.

MEIOS DE AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO1) Primeiramente, oferecer denúncia, caso haja justa causa. Em

regra, o procedimento é o ordinário. (Sumário: cabe Recurso em sentido estrito, vide art. 581, I, CPP). Do recebimento da denúncia, cabe habeas corpus. Da rejeição da denúncia no procedimento su-maríssimo, cabe apelação. (JESPCRIM, prazo de 10 dias);

2) O MP pode requisitar novas diligências, mas deve especifi-cá-las. No caso do indeferimento pelo magistrado, cabe a correição parcial;

3) MP pode defender o argumento de que não tem atribuição para atuar naquele caso e que o juiz não tem competência. Nes-se caso, o juiz pode concordar ou não com o MP. No caso de não concordar, o juiz fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender, como menciona o art. 28 do CPP;

4) MP pode pedir arquivamento. Se o juiz homologa, encerra--se o mesmo. Trata-se de ato complexo, ou seja, que depende de duas vontades.

A natureza jurídica do arquivamento é de ato administrativo judicial, procedimento que deriva de jurisdição voluntária. É ato ju-dicial, mas não jurisdicional. Com relação ao art. 28 do CPP e a obri-gação do outro membro do Ministério Público ser ou não obrigado a oferecer a denúncia, existem duas correntes sobre o tema.

A primeira corrente, representada por Cláudio Fontelis, de-fende o argumento de que o promotor não é obrigado a oferecer denúncia porque o termo deve ser interpretado como designação, com base na independência funcional. A segunda corrente, majori-tária, defende o ponto de que o termo deve ser interpretado como delegação, atuando o promotor como “longa manus” do Procurador Geral de Justiça. Diante da questão trazida, estaria a independência funcional comprometida? Não, pois o novo promotor pode pedir a absolvição/condenação, uma vez que o mesmo possui tal liberdade.

A importância do inquérito policial se materializa do ponto de vista de uma garantia contra apressados juízos, formados quando ainda não há exata visão do conjunto de todas as circunstâncias de determinado fato. Daí a denominação de instituto pré-processual, que de certa forma, protege o acusado de ser jogado aos braços de uma Justiça apressada e talvez, equivocada. O erro faz parte da essência humana e nem mesmo a autoridade policial, por mais competente que seja, está isenta de equívocos e falsos juízos. De-legados e advogados devem trabalhar em prol de um bom comum, qual seja, a efetivação da justiça. Imprescindível a participação do advogado, dentro dos limites estabelecidos pela lei, na participação da defesa de seu cliente. Diante disso, é de imensa importância que o inquérito policial seja desenvolvido sob a égide constitucional, respeitando os direitos, garantias fundamentais do acusado e, prin-cipalmente, o princípio da dignidade da pessoa humana, norteador do ordenamento jurídico brasileiro.

Acerca do tema dita o Código de Processo Penal:Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de

quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autorida-de policial e encaminhará os autos para a instância de revisão mi-nisterial para fins de homologação, na forma da lei.(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dis-puser a respectiva lei orgânica.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detri-mento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamen-to do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investi-gado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não per-secução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumu-lativa e alternativamente:(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impos-sibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do cri-me; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito dimi-nuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da exe-cução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezem-bro de 1940 (Código Penal);(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Códi-go Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de au-mento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguin-tes hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéri-tas;(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo in-vestigado e por seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua volun-tariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abu-sivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu de-fensor.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que ini-cie sua execução perante o juízo de execução penal.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequa-ção a que se refere o § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Mi-nistério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá co-municar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Públi-co como justificativa para o eventual não oferecimento de suspen-são condicional do processo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecu-ção penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, ex-ceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução pe-nal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade.(In-cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá re-querer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

NOTITIA CRIMINIS

O Inquérito Policial se inicia com a notitia criminis, ou seja, com a notícia do crime.

A Notitia criminis é a comunicação que alguém faz à autoridade pública da infração penal, praticada por ela ou por outra pessoa. É o instrumento processual utilizado para comunicar uma infração penal à autoridade competente. Não se confunde a notícia criminal com a denúncia, que é o instrumento inicial da ação penal. A notícia não instaura uma ação penal, mas apenas o inquérito policial.

A notitia criminis de cognição indireta pode dar-se por:Delacio Criminis que é a comunicação por escrito ou verbal,

prestada por pessoa identificada. (CPP, art. 5º, II). Somente auto-rizará a instauração do inquérito policial nos crimes de ação penal pública Incondicionada.

No que concerne à delacio criminis inautêntica, ou seja, a dela-ção ou denúncia anônima, apesar de a Constituição Federal vedar o anonimato, o Supremo Tribunal de Justiça se manifestou a favor de sua validade, desde que utilizada com cautela.

Notitia Criminis de Cognição Coercitiva - (CPP, art. 301 e 302) Esta, ocorre no caso de prisão em flagrante. Na notitia criminis de cognição coercitiva, a comunicação do

crime é realizada mediante a própria apresentação de seu autor por servidor público no exercício de suas funções ou por particular.

DA AÇÃO PENAL: ESPÉCIES.

Ação Penal

Trata-se do direito público subjetivo de pedir ao Estado-juízo a aplicação do direito penal objetivo ao caso concreto.

Ação não é pretensão. Ação é simplesmente o direito de provo-car a tutela jurisdicional do Estado. Absolutamente errado falar, por exemplo, que ação penal é o exercício da pretensão punitiva estatal, visto que se estaria ligando ao conceito de ação o objeto que se pede, vinculando direito abstrato com direito material, como faz a doutrina imanentista.

Ação penal, repito, é o direito de provocar a jurisdição penal. Por isso que o direito de ação é exercido contra o Estado, pois o Estado é quem possui, única e exclusivamente, o poder-dever de dizer o direito.

Assim, erram promotores e Procuradores da República que, na denúncia, escrevem: “ofereço ação penal pública incondicionada contra fulano de tal...” A ação não é contra fulano. A ação é contra o Estado (provocando o Estado), para dizer o direito substantivo pe-nal aplicável EM FACE de fulano.

CaracterísticasA) Autônoma: ela não se confunde com o direito material.

Preexiste à pretensão punitiva.B) Abstração: independe do resultado do processo. Mesmo

que a demanda seja julgada improcedente, o direito de ação terá sido exercido.

C) Subjetiva: o titular do direito é especificado na própria le-gislação. Em geral, é o MP, excepcionalmente sendo um particular.

D) Pública: a atividade provocada é de natureza pública, sendo a ação exercida pelo próprio Estado.

E) Instrumental: é um meio para se alcançar a efetividade do direito material.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Condições da Ação ou Condições de Procedibilidade

Conceito

Trata-se dos requisitos necessários e condicionantes ao regular exercício do direito de ação.

Condição da ação (ou de procedibilidade) é uma condição que deve estar presente para que o processo penal possa ter início.

Possibilidade Jurídica do Pedido

O pedido deve ser legalmente amparável na seara do Direito Penal ou não deve ser vedado. Por exemplo, ao se denunciar um membro de um corpo diplomático, o juiz deve intimar a represen-tação do país de origem para ver ser eles abrem mão da imunidade diplomática. Caso negativo, deve o juiz extinguir o processo por im-possibilidade jurídica do pedido.

Interesse de Agir

Subdivide-se e materializa-se no trinômio necessidade/ade-quação/utilidade.

O interesse-necessidade objetiva identificar se a lide pode ou não ser resolvida na seara judicial. Ela é presumida, em função da proibição da autotutela, tendo como exceção a transação penal.

O interesse-adequação se manifesta com a utilização do ins-trumento adequado para a manifestação da pretensão. V.g., não pode a parte pleitear trancar com HC ação penal cuja sanção má-xima cominada à conduta seja de multa, já que seu direito à livre locomoção não se encontra ameaçado.

Já o interesse-utilidade se manifesta quando o exercício do di-reito de ação possa resultar na realização do jus puniendi estatal. Daqui decorre justificativa para se acatar a prescrição da pena em perspectiva.

Legitimidade

A ação só pode ser proposta por quem é titular do interesse que se quer realizar e contra aquele cujo interesse deve ficar subor-dinado ao do autor.

A pessoa jurídica tem legitimidade para figurar no polo passivo da demanda penal nos casos previstos em lei, devendo a ação tam-bém ser movida contra a pessoa física responsável por sua admi-nistração (teoria da dupla imputação). Também poderá figurar no polo ativo, devendo ser representada por aqueles designados nos contratos ou estatutos sociais.

Réu Menor no Processo Penal: Ilegitimidade ou Incompetên-cia?

Se o réu for menor, não deverá o processo ser extinto por im-possibilidade jurídica do pedido ou por ilegitimidade da parte, mas sim por ausência de competência do juiz penal para apreciar o feito.

Casos de Inimputabilidade (que não a Menoridade): Recebimento da Denúncia

Se o sujeito for inimputável, deverá a denúncia ser recebida? Obviamente que sim, visto que ele pode sofrer absolvição impró-pria com consequente aplicação de medida de segurança. Inclusive, o CPP expressamente veda a absolvição sumária em caso de inim-putabilidade:

Art. 397.Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e pa-rágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acu-sado quando verificar:

II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade;

Justa Causa ou Aptidão Material da Denúncia

Trata-se do lastro probatório mínimo de autoria e materialida-de delitivas necessário à propositura da ação penal.

A justa causa é compreendida como conjunto de provas sobre o fato criminoso, suas circunstâncias e respectiva autoria capaz de alicerçar, embasar a acusação contida na denúncia. Esse conjunto de provas, de elementos informativos serve para dar verossimilhan-ça à acusação. Evidentemente, não se exige para a instauração da ação penal prova completa, plena ou cabal (induvidosa); este tipo de prova é exigido para fundamentar a sentença condenatória. Para a instauração da ação penal basta que haja alguma prova idônea, lícita, que demonstre a verossimilhança da acusação. Deve haver prova da materialidade e indícios de autoria.

E se o juiz, malgrado a ausência de justa causa, recebe a de-núncia? Haverá constrangimento ilegal porquanto injustificável a ausência de justa causa. Cabe recurso contra esta decisão? Não, não há recurso contra a decisão de recebimento da denúncia. Possí-vel, no entanto, a impetração de habeas corpus para trancar a ação penal. Ou em uma linguagem mais técnica, habeas corpus para ex-tinguir o processo penal sem resolução de mérito, com fundamento no artigo 648, I do CPP.

Lembrar que a falta de justa causa é motivo de rejeição da de-núncia ou queixa, havendo um dispositivo específico que separa este tema da rejeição por inépcia formal (diz-se que a falta de justa causa é causa de inépcia material):

Art. 395.A denúncia ou queixa será rejeitada quando: [...] III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. Não há justa causa para a ação penal quando a demonstração

da autoria ou da materialidade do crime decorrer apenas de prova ilícita (assim como ocorre com a denúncia fundada apenas em In-quérito Policial viciado)

Síntese sobre a justa causa:1. Trata-se do lastro probatório mínimo de materialidade e

autoria necessário para o recebimento da inicial;2. Inexistindo justa causa, a denúncia deve ser rejeitada com

fulcro no art. 395, III, do CPP (diz-se que há inépcia material);3. Somente cabe HC para trancar o processo penal (extinguir

sem julgamento do mérito) se houver evidente atipicidade da con-duta, causa extintiva de punibilidade ou ausência total de indícios de autoria;

4. Não há justa causa se a ação penal decorrer apenas de prova ilícita ou de IP viciado.

Espécies de Ação Penal

Inicialmente, ressalta-se que a regra é que a ação seja pública incondicionada. Isso porque a CR/88 dispõe que a ação penal públi-ca de natureza condenatória é promovida privativamente pelo MP

Ação Penal Pública Incondicionada

Conceito e Titularidade

É aquela ação titularizada pelo Ministério Público e que pres-cinde da manifestação da vítima ou de terceiros para seu exercício. Somente pode ser exercida pelo Parquet, por expressa e exclusiva atribuição da Constituição da República (art. 129, I).

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Ação Penal Pública Condicionada

Também é ação proposta pelo MP, mas cujo exercício válido está condicionado à representação ou à requisição, conforme o caso. Ambas têm natureza jurídica de condição de procedibilidade. A condição se materializa nos seguintes institutos:

a) Representação: é um pedido autorizador feito pela vítima ou seu representante legal, sem o qual a persecução penal não se inicia. Frederico Marques a chama de delatio criminis postulatória, já que quem a formula não somente dá notícias do crime como também pede que se instaure a persecução penal. Nem mesmo o IP pode ser iniciado e o APFD lavrado sem a autorização da vítima (BO pode).

i. Destinatários: ela se destina à autoridade policial, ao MP ou ao próprio juiz. Nas duas últimas hipóteses, será submetida à auto-ridade policial para investigações, podendo, no entanto, se houver os elementos necessários, já ser oferecida de imediato a denúncia. Se o MP entender que não houve infração, deverá pedir o arquiva-mento.

ii. Ausência de rigor formal: de acordo com o STF, ela é peça sem rigor, que poderá ser apresentada oralmente ou por escrito, sem necessidade de fórmulas sacramentais nem nada específico. A representação do ofendido, como condição de procedibilidade, não exige nenhuma formalidade. Qualquer manifestação de vontade do ofendido, desde que inequívoca, no sentido da punição do autor do crime, constitui verdadeira representação. Constitui verdadeira representação o fato de o ofendido se dirigir à polícia para registrar a ocorrência do crime ou se submeter a exame de corpo de delito ou, ainda, prestar declarações incriminatórias, tudo isso vale como representação.

De acordo com o STJ, se a vítima oferecer queixa-crime, achan-do tratar-se de ação de iniciativa privada, poderá esta ser tida como representação.

iii. O prazo e sua contagem: a representação deve ser ofertada no prazo decadencial de seis meses, contados do conhecimento da autoria da infração (e não do fato). Tal prazo é de direito material, incluindo-se, em sua contagem, o primeiro dia, e excluindo-se o úl-timo.

Nas leis dos Juizados Especiais, a representação será feita oral-mente, na audiência preliminar, caso frustrada a composição civil. Porém, como aquela pode demorar a ser marcada, é bom que seja colhida quando da elaboração do TCO, a fim de obstar a decadência.

iv. O menor representado: se a vítima for menor de 18 anos, a representação poderá ser exercida por seu representante legal. Mesmo se for emancipada, não poderá representar por si só. Deve-rá a ela ser nomeado curador especial (por provocação do MP ou de ofício), ou então, que aguarde completar 18 anos para representar, somente se iniciando a contagem do prazo decadencial no primeiro dia da maioridade.

v. Substituição processual: em caso de morte ou declaração de ausência da vítima, o direito de representar passa, preferencial e taxativamente, ao CADI(cônjuge, ascendente, descendente ou ir-mão).

As pessoas jurídicas podem representar, quando vítimas, por intermédio de seus representantes designados em seus atos consti-tutivos; não havendo, por seus diretores ou sócio-administradores.

vi. Ausência de vinculação do MP: a autorização e o pedido ao MP para que ofereça denúncia se materializa na representação, não obrigando o membro do Parquet a oferecê-la. Ademais, o promo-tor poderá, inclusive, enquadrar em diferentes fatos típicos os fatos alegados pela vítima.

vii. Eficácia objetiva: se a vítima indica na representação ape-nas parte dos envolvidos, o MP poderá ofertar a denúncia contra todos, sem necessidade de nova manifestação. Veja que é diferente

a questão da representação em face de alguns crimes e em face de alguns dos autores. A REPRESENTAÇÃO LIMITA OS CRIMES PELOS QUAIS PODE O MP DENUNCIAR, MAS NÃO LIMITA OS RÉUS.

viii. Retratação: enquanto não OFERECIDA a denúncia , a vítima pode se retratar da representação. A doutrina majoritária entende que a vítima pode se retratar da retratação e reapresentar a repre-sentação quantas vezes entender conveniente, desde que dentro do prazo decadencial.

Em relação aos crimes previstos na Lei Maria da Penha, somen-te será admitida a renúncia perante o juiz, em audiência especial-mente designada com tal finalidade, antes do recebimento da de-núncia e ouvido o MP . Logo, aqui o marco não é o oferecimento da denúncia. O mesmo momento (recebimento) vale para o caso das ações sujeitas ao juizado especial

Ação Penal Privada

Conceitos e Considerações

Hipótese de ação penal em que a persecução criminal é trans-ferida ao particular, que atua em nome próprio. O autor, aqui, se chama querelante, enquanto o réu, querelado. O fundamento de sua existência é evitar o constrangimento do processo permitido por uma ação penal de natureza pública, deixando a cargo do ofen-dido a escolha por iniciar ou não a ação. Também tem como funda-mento a inércia do MP.

Existe fundamento constitucional para a ação privada? Perfei-tamente. Isso porque o art. 129, I, da CR/88 confere ao MP a titula-ridade exclusiva apenas da ação penal pública, o que faz entender que existe ação penal privada também.

Como a legitimidade do MP para a ação pública é ordinária, a do particular, a do ofendido, para promover a ação privada, quer seja privada propriamente dita, quer se trate de ação privada sub-sidiária, é sempre extraordinária, o particular sempre atuará como substituto processual.

Nesses casos, não há coincidência entre a titularidade do direi-to de ação que o Estado transfere ao particular e a titularidade do direito material, que é a titularidade de punir que o Estado guarda consigo. O Estado não transfere ao particular o direito de punir, ele transfere o direito de acusar.

Dispõe o Código Processual Penal:

(...)

TÍTULO IIIDA AÇÃO PENAL

Art. 24.Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exi-gir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

§ 1oNo caso de morte do ofendido ou quando declarado au-sente por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

§ 2oSeja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal será pública.

Art. 25.A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.

Art. 26.A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Art. 27.Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, for-necendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e in-dicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autorida-de policial e encaminhará os autos para a instância de revisão mi-nisterial para fins de homologação, na forma da lei.(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dis-puser a respectiva lei orgânica.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detri-mento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamen-to do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investi-gado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprova-ção e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajus-tadas cumulativa e alternativamente:(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impos-sibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do cri-me; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito dimi-nuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da exe-cução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezem-bro de 1940 (Código Penal);(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Códi-go Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de au-mento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguin-tes hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei;(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéri-tas;(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo in-vestigado e por seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua volun-tariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua legalidade.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abu-sivas as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo, com concordância do investigado e seu de-fensor.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que ini-cie sua execução perante o juízo de execução penal.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequa-ção a que se refere o § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Mi-nistério Público para a análise da necessidade de complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu descumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá co-municar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Públi-co como justificativa para o eventual não oferecimento de suspen-são condicional do processo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecu-ção penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, ex-ceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução pe-nal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade.(In-cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá re-querer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 29.Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Pú-blico aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

Art. 30.Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para represen-tá-lo caberá intentar a ação privada.

Art. 31.No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou pros-seguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Art. 32.Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para pro-mover a ação penal.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

§ 1oConsiderar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família.

§ 2oSerá prova suficiente de pobreza o atestado da autoridade policial em cuja circunscrição residir o ofendido.

Art. 33.Se o ofendido for menor de 18 (dezoito) anos, ou men-talmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofí-cio ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal.

Art. 34.Se o ofendido for menor de 21 (vinte e um) e maior de 18 (dezoito) anos, o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu representante legal.

Art. 35. Revogado)Art. 36.Se comparecer mais de uma pessoa com direito de

queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone.

Art. 37.As fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser represen-tadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes.

Art. 38.Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu re-presentante legal, decairá no direito de queixa ou de representa-ção, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

Parágrafo único.Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.

Art. 39.O direito de representação poderá ser exercido, pes-soalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Pú-blico, ou à autoridade policial.

§ 1oA representação feita oralmente ou por escrito, sem as-sinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu represen-tante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida.

§ 2oA representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria.

§ 3oOferecida ou reduzida a termo a representação, a auto-ridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for.

§ 4oA representação, quando feita ao juiz ou perante este re-duzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito.

§ 5oO órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.

Art. 40.Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pú-blica, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia.

Art. 41.A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato crimi-noso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

Art. 42.O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.Art. 43. (Revogado).

Art. 44.A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais escla-recimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.

Art. 45.A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem cabe-rá intervir em todos os termos subseqüentes do processo.

Art. 46.O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.

§ 1oQuando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação

§2oO prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, conta-do da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demaistermos do pro-cesso.

Art. 47.Se o Ministério Público julgar necessários maiores es-clarecimentos e documentos complementares ou novos elementos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer auto-ridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.

Art. 48.A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivi-sibilidade.

Art. 49.A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá.

Art. 50.A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com po-deres especiais.

Parágrafo único.A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do di-reito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do pri-meiro.

Art. 51.O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o re-cusar.

Art. 52.Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, o direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu represen-tante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição do outro, não produzirá efeito.

Art. 53.Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao cura-dor que o juiz Ihe nomear.

Art. 54.Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á, quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52.

Art. 55.O perdão poderá ser aceito por procurador com pode-res especiais.

Art. 56.Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o dis-posto no art. 50.

Art. 57.A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os meios de prova.

Art. 58.Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação.

Parágrafo único.Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a puni-bilidade.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Art. 59.A aceitação do perdão fora do processo constará de de-claração assinada pelo querelado, por seu representante legal ou procurador com poderes especiais.

Art. 60.Nos casos em que somente se procede mediante quei-xa, considerar-se-á perempta a ação penal:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua inca-pacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extin-guir sem deixar sucessor.

Art. 61.Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer ex-tinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.

Parágrafo único.No caso de requerimento do Ministério Públi-co, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o pra-zo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final.

Art. 62.No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declara-rá extinta a punibilidade.

(...)

JURISDIÇÃO; COMPETÊNCIA

Jurisdição e Competência

Com relação ao lugar do ajuizamento da ação, aplica-se por analogia o disposto no art. 100, § único do Código de Processo Ci-vil: “Nas ações de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local de fato”, podendo o autor ter o privilégio de escolher entre esses dois foros civis. De acordo com Fernando Capez, e ca-minhando no mesmo sentido o Superior Tribunal de Justiça, além dessas duas opções, que são privilégios renunciáveis do autor da ação, existe a possibilidade de aplicação da regra geral, que é a do domicílio do réu.

Frise-se que apesar de se consagrar a separação da jurisdição, prevalece a justiça penal sobre a civil, nas hipóteses de indenização por um crime, garantindo que não haja contradições.

Destarte, o sistema adotado no Direito brasileiro é o da inde-pendência da jurisdição, mas com certa atenuação.

Competência

Competência é a divisão do poder/dever de exercer a jurisdi-ção entre os diversos órgãos judiciários, sendo ela que confere le-gitimidade às decisões e permite aferir a ilegitimidade de outras.

O estabelecimento das competências jurisdicionais, além de racionalizar o trabalho do Poder Judiciário, confere efetividade ao princípio dos juiz natural.

Critérios

Leva em conta as características da questão criminal sub judice, devendo ser estudada em três aspectos:

a) Critério ratione materiae: objetiva indicar qual a Justiça competente e os critérios de especialização, levando em conta a natureza da infração;

b) Critério ratione personae: art. 69, VII, CPP. Leva em consi-deração a importância das funções desempenhadas por determina-das pessoas, enfocando o foro por prerrogativa de função;

c) Critério ratione loci: visa a identificar o juízo territorial-mente competente, considerando como parâmetros o local da con-sumação do delito, além do domicílio ou residência do réu.

Competência Material

Objetiva indicar qual a Justiça competente e os critérios de es-pecialização, levando em conta a natureza da infração, aquilo que está sendo discutido na ação penal.

Competência Funcional

Leva em conta o elemento de distribuição dos atos processuais praticados no curso do processo, devendo ser analisada sob três aspectos:

A) Fase do processo: a depender do juiz que atua, é um ou ou-tro competente para determinar atos, como ocorre com o juiz que julga e o juiz na fase de execução criminal;

B) Objeto do juízo: há uma distribuição de tarefas na decisão das várias questões trazidas durante o processo, como ocorre entre o juiz togado e os juízes leigos no Júri;

C) Grau de jurisdição: é a chamada competência funcional ver-tical, de acordo com a atribuição de julgar os recursos interpostos.

Conexão e Continência

Não são bem um critério de fixação de competência; antes, de modificação das mesmas, atraindo para um determinado juízo os crimes ou infratores que poderiam ser julgados separadamente, por órgãos diversos.

Assim, a separação de processos é uma faculdade do juiz quando:

a) As infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes; ou

b) Houver excessivo número de acusados;

Vide que se as infrações tiverem ocorrido nas mesmas circuns-tâncias de tempo ou de lugar, como, por exemplo, em decorrência de concurso formal de crimes, o juiz não está autorizado a promo-ver a separação.

Conexão

Trata-se da ligação existente entre duas ou mais infrações, le-vando a que sejam apreciadas perante o mesmo órgão jurisdicio-nal. A conexão é uma questão de fato, que pode ter como efeito a reunião dos processos conexos no juízo prevento ou no juízo sem igual competência territorial que primeiro recebeu a denúncia, ou, ainda, no local do crime mais grave.

Logo: conexão (e continência) é fato, alteração da competência em decorrência dela é efeito.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Para que haja conexão, deve haver a pluralidade de condutas delituosas, e não só de resultados. Assim, se houver concurso for-mal de crimes (um tiro, duas mortes, sem ou com desígnios autôno-mos, por exemplo), não há se falar em conexão.

Existem várias hipóteses de conexão (art. 76, I, CPP):a) Conexão intersubjetiva: quando as infrações praticadas es-

tão interligadas pela autoria de duas ou mais pessoasb) Conexão objetiva, material, teleológica ou finalística (art. 76,

II, CPP): ocorre quando uma infração é praticada para ocultar ou facilitar uma outra, ou para conseguir vantagem ou impunidade re-lativamente a outra infração.

c) Conexão instrumental ou probatória (art. 76, III, CPP): tem cabimento quando a prova de uma infração ou de suas elementares influir na prova de outra infração.

Continência

É o vínculo que une vários infratores a uma única infração, ou a reunião de várias infrações num só processo por decorrerem de conduta única, ou seja, do resultado de concurso formal próprio ou impróprio de crimes. Tem-se:

a) Continência por cumulação subjetiva (art. 77, I, CPP): quan-do duas ou mais pessoas concorrem para a prática de uma mesma infração, o que se dá com a coautoria ou participação.

b) Continência por cumulação objetiva (art. 77, II, CPP): implica na reunião, em um só processo, de vários resultados lesivos advin-dos de uma só conduta (concurso formal).

Limite Temporal para Reconhecimento da Conexão/Continên-cia

Se um dos processos já houver sido julgado, não mais devem os feitos ser reunidos. Isso porque, além de ter encerrado o juízo de primeira instância de um deles, não cabe reunião de feito sob instrução com feito já julgado, perante o Tribunal, sob pena de su-primir instância.

Separação de Processos

Mesmo havendo conexão ou continência, é possível que os processos tramitem separadamente, seja por força de lei, seja por obediência aos preceitos constitucionais. A separação poderá ser obrigatória ou facultativa.

Prevista em rol não taxativo no art. 79 do CPP. Hipóteses:a) Concurso entre jurisdição comum e militar:b) Concurso entre jurisdição comum e o juízo de menores: por

força do art. 104 do ECA e do art. 228 da CR/88.c) Superveniência de doença mental: em havendo corréus, ad-

vindo insanidade em um deles, restará a separação de processos, pois o procedimento irá evoluir em razão do imputável.

d) Fuga de corréu: havendo fuga, o processo ficará suspenso em relação ao corréu fugitivo. Nesse caso, o processo segue separa-damente para os demais.

e) Recusas no júri: não mais é possível no júri a separação de processos face a recusa mútua dos jurados pelos advogados. O má-ximo que poderá ocorrer é o adiamento da formação do Conselho de Sentença (art. 469, § 1º, CPP).

f) Crime contra a vida praticado em concurso de agentes, com um deles tendo prerrogativa de foro prevista na CR/88: nesse caso, impõe-se a separação de processos: a pessoa que não possui prer-rogativa de função será julgada no Tribunal do Júri, enquanto a que possui, será julgada perante o foro por prerrogativa de função.

Separação Facultativa

Prevista no art. 80, CPP. Ocorre nas seguintes hipóteses, me-diante decisão do juiz:

a) Infrações praticadas em circunstâncias de tempo e lugar di-ferentes;

b) Número excessivo de acusados.

PROVA (ARTIGOS 158 A 184 DO CPP)

Prova, é o ato ou o complexo de atos que visam a estabelecer a veracidade de um fato ou da prática de um ato tendo como finali-dade a formação da convicção da entidade decidente - juiz ou tribu-nal - acerca da existência ou inexistência de determinada situação factual. Em regra, é produzida na fase judicial com a participação dialética das partes (contraditório real e ampla defesa que são ela-borados perante o juiz).

Destarte a prova é o elemento fundamental para a decisão de uma lide. Tem como objeto fato jurídico relevante, isto é, aquele que possa influenciar no julgamento do feito. Assim, não é qualquer fato que carece ser provado, mas sim, aquele que, no processo pe-nal, possa influenciar na tipificação do fato delituoso ou na exclusão de culpabilidade ou de antijuridicidade.

Convém lembrar, ainda, que o objeto da prova é fato e não opinião, muito embora, em alguns casos (especialmente quando se trata de dosar a pena) a opinião da testemunha pode ter relevo para a fixação da pena quando ela afirma, por exemplo, que o réu é honesto, trabalhador e bom pai de família.

Objeto de prova

Tem a prova um objeto, que são os fatos da causa. O objeto da prova consiste nos fatos cuja evidenciação se torne imprescindível, no processo, para o juiz convencer-se de sua veracidade. Em outras palavras, objeto da prova é o fato ilícito alegado na peça acusatória.

Em toda ação penal, deve-se provar dois pontos cruciais, a sa-ber: a materialidade e a autoria do fato criminoso. Além disso, é preciso dar conhecimento ao juiz de todas as circunstâncias objeti-vas (aspectos externos do crime) e subjetivas (motivos do crime e aspectos pessoais do agente) que possam determinar a certeza de sua convicção sobre a responsabilidade criminal. As circunstâncias que cercam o caso concreto devem ser provadas, ainda, em razão de serem relevantes no momento de fixação da pena.

Contudo, a atividade probatória deve restringir-se aos fatos relevantes, aqueles que são pertinentes e úteis ao julgamento da ação penal. Observe-se portanto que, que existe um critério para a produção de provas numa ação penal.

Desnecessidade da prova

De acordo com a redação do art. 400, § 1o, CPP diz que o juiz poderá “indeferir (as provas) consideradas irrelevantes, imperti-nentes ou protelatórias”.

Temos, então, que será o juiz quem estabelecerá o que deve ser provado, de acordo com o que julgar relevante para a formação do seu convencimento.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Entretanto, existe a desnecessidade de se provar alguns fatos, quais sejam: os evidentes, os notórios e as presunções legais.

Evidentes são os fatos que prescindem de prova para serem tidos como verdadeiros. São fatos incontroversos, evidentes por si mesmos, intuitivos, axiomáticos.

Notórios são fatos que também prescindem de prova. São os acontecimentos ou situações de conhecimento geral, como as datas histórias, os fatos políticos ou sociais de conhecimento público – ou seja, fatos que pertencem ao patrimônio cultural do cidadão médio.

Já as presunções legais são os fatos presumidos verdadeiros pela própria lei, que podem ser duas ordens: absoluta e relativa. A presunção absoluta (“juris et de jure”) não admite fato em contrá-rio. Exemplo disso é o art. 27, CP que diz que menor de 18 anos é inimputável. Já a presunção relativa (“juris tantum”) admite prova em contrário, como no caso do art. 217-A, CP que diz que a vulnera-bilidade do menor de 14 anos é relativa. Essa flexibilidade justifica--se diante da possibilidade de se prejudicar o réu.

Ônus da prova

De acordo com a primeira parte do art. 156, CPP o ônus da prova é a prova da alegação por quem a fizer. Cabe ao autor da ação penal (MP ou querelante) o exercício da atividade probatória principal. Incumbe-lhe demonstrar a existência dos fatos constituti-vos afirmados na pretensão, devendo provar a existência do ilícito penal e sua autoria.

Por outro lado, sobre o acusado só recai o ônus de provas o áli-bi que apresentar. Contudo, se apresentar fatos impeditivos, modi-ficativos ou extintivos, relacionados com a pretensão acusatória, ele será obrigado a prová-los. Nesse caso, inverte-se o ônus da prova. Exemplo: alegação de legítima defesa.

Segundo o princípio da comunhão da prova, quando a prova in-gressa no processo deixa de ser exclusiva da parte que a produziu. O juiz examina todo o contexto da prova podendo inclusive valorá-la de modo prejudicial a quem a apresentou. Ou seja, a utilização das provas por qualquer das partes é de ser plenamente aceita, inde-pendentemente de quem a tenha produzido, porque interessa ao juiz descobrir a verdade.

Já na segunda parte e incisos do art. 156, CPP é facultado ao juiz, de ofício, ordenar a produção de provas e determinar a realiza-ção de diligências. Vê-se aqui que o juiz tem poderes para influir na produção de provas unilateralmente.

No inciso I identificamos os poderes inquisitórios, que permi-tem ao juiz influir livremente nas provas. O legislador permitiu ao juiz ordenar a produção de provas antes do oferecimento da de-núncia e, ao fazer isso, o magistrado substitui a autoridade policial ou o promotor (MP) – e isso fere o princípio da imparcialidade do juiz. Esse é um dispositivo amplamente criticado. (Crítica: o ato uni-lateral (sem provocação) do juiz pode ser considerado parcial, na prática?)

No inciso II identificamos os poderes instrutórios, onde o juiz pode interferir na prova para resolver ponto relevantes, indepen-dente de requerimento das partes. Esse dispositivo está relaciona-do à instrução do processo e é plenamente aceito. O inciso II está intimamente ligado com o descobrimento da verdade, uma vez que o juizpode solicitar a produção de provas para formação do seu con-vencimento.

Princípio do juiz natural

No art. 5º, LIII, CF tem-se que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. Em seu inciso XXXVII, tem-se que “não haverá juízo ou tribunal de exceção”.

Esse princípios constitucionais relacionam-se com a produção de provas, conforme veremos a seguir.

O art. 399, §2o, CPP dita que “o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença”,evidenciando a aplicação princípio da identidade física do juiz.

No processo civil, o art. 132, CPC dita que, caso o juiz não possa julgar a lide (por motivos como aposentadoria, afastamento ou con-vocação), os autos passarão para o seu sucessos. Ocorre que o CPP silencia quanto a essa questão. Assim, valendo-nos do seu art. 3o, é possível que aplique-se as disposições do art. 132, CPC.

A Lei 8.038/90 estabelece os procedimentos nos casos em que uma pessoa é processada nos casos de competência originária do STF ou STJ. Em seu art. 3o, III temos a exceção ao princípio da iden-tidade física do juiz a medida que juízes e desembargadores serão convocados para auxiliar na coleta de provas. Portanto, a lei autori-za essa exceção ao princípio da identidade física do juiz.

Momentos probatórios

Para podermos adentrar a discussão acerca dos momentos probatórios, é necessário que façamos as seguintes considerações iniciais: as provas só podem ser produzidas no processo, que é quando haverá o contraditório. São sujeitos processuais principais no processo penal a acusação (MP ou querelante), defesa (réu e defensor) e o juiz.

Compreendido isso, são 4 os momentos para produção de provas:

Propositura da prova, que se dá na fase postulatória. Para a acusação, isso dar-se-á na peça acusatória (denúncia ou queixa-cri-me), enquanto que para o acusado, será na sua resposta, na sua defesa.

Admissibilidade das provas, que é o deferimento judicial dos requerimentos formulados pelas partes, ou seja, quando o juiz es-tabelece quais provas serão apresentadas ou não (no processo civil é o despacho saneador).

Produção da prova, que, em regra, se dá na audiência de ins-trução e julgamento, na qual todos os sujeitos participam. Nesse momento, serão tomadas as declarações do ofendido, haverá o interrogatório do acusado, inquirição das testemunhas arroladas, esclarecimentos dos peritos etc.

Valoração da prova, que significa dizer que o julgador, ao fun-damentar a sentença, deve manifestar-se sobre todas as provas produzidas.

Vale dizer que, havendo recurso, a prova será sempre substan-cial, i.e., será reavaliada.

OS MEIOS DE PROVA

Desde o princípio desse debate vale a ressalva: meio de prova é diferente de objeto de prova. Meio de prova pode ser todo fato, documento ou alegação que sirva, direta ou indiretamente, ao des-cobrimento da verdade. Ou seja, meio de prova é todo instrumento que se destina a levar ao processo um elemento, uma informação a ser utilizada pelo juiz para formar a sua convicção acerca das ale-gações.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Prova pericial

No Código de Processo Penal a prova pericial é tratada nos arts. 158 usque 184.

A perícia é a diligência realizada ou executada por perito, a fim de esclarecer ou evidenciar certos fatos, de forma científica e técnica. Perito é aquele que tem conhecimento técnico sobre de-terminada área e sua função é a da verificação da verdade ou da realidade de certos fatos.

No processo penal, a perícia é, via de regra, realizada por pe-rito oficial, ligado ao Estado, sendo que cada estado da federação possui seu próprio instituto de criminalística. O perito é um auxiliar da justiça, não está subordinado a autoridade policia, estando sua autonomia garantida.

Conforme o art. 184, CPP a prova pericial cabe somente quan-do for útil para o descobrimento da verdade.

No art. 159, CPP temos que o laudo pode ser subscrito por ape-nas um perito. A conclusão do perito pode ou não ser subjetiva. (Ex: perícia psicológica x perícia toxicológica)

A defesa pode formular quesitos ao perito. No processo penal, isso não é comum porque geralmente a perícia é realizada logo de-pois do acontecimento do crime. Portanto, essa perícia pode ser questionada em juízo porque à época de sua realização não havia defensor constituído. Isso é o que se chama de contraditório diferi-do (postergado, transferido).

De acordo com o art. 5o, LVIII, CF o criminoso “civilmente identificado não será submetido a identificação criminal”. A Lei 12.037/09, em seus arts. 2o, 3o e 5o apresenta esclarecimentos e requisitos quando a identificação do criminoso.

A realização do exame de DNA (ácido desoxirribonucléico) também é um meio eficaz de identificação do criminoso. O DNA constitui parte dos cromossomos, sendo encontrado no núcleo das células dos seres vivos. São transmitidos de geração em geração, sendo 50% do pai e 50% da mãe.

Na realização do exame de DNA temos a prova invasiva e a pro-va não invasiva. A primeira é aquela que necessita de intervenção no organismo humano. A segunda é aquela onde não há necessida-de de se penetrar no organismo humano.

Para a produção da prova invasiva é absolutamente necessária a obtenção do consentimento. Na produção da prova não invasiva não depende do contato físico. É o juiz que decide a validade da prova não invasiva. (ex.: fio de cabelo, saliva no copo)

Exame de corpo de delito

Em relação aos crimes que deixarem vestígios, será indispensá-vel a realização do exame de corpo de delito (art. 158,CPP)

Corpo de delito é o conjunto dos vestígios que caracterizam a exis-tência do crime. Não se confunde corpo de delito com o exame das lesões da vitima. O primeiro é gênero do qual o segundo é espécie.

O exame de corpo de delito envolve inclusive o processamento da cena do crime e pode ser tanto direto (art. 161) quanto indireto (art. 167, CPP).

A materialidade dos fatos muitas vezes deve ser comprovada por meio de exame pericial. Nesse sentido, podemos ter 3 situa-ções: exame de lesões corporais, exame necroscópico e exumação. Analisaremos cada uma dessas situações a seguir.

Exame de lesões corporais

Esse é um meio de prova relacionado a um tipo penal (lesão corporal, art. 129, CP), que visa estabelecer a natureza da gravidade da lesão provocada na vitima. O procedimento (art. 394, CPP) de-pende da gravidade da lesão, e, portanto, da pena. Contudo, temos duas exceções a aplicação desse exame.

A primeira refere-se ao caso de lesão corporal de natureza leve, quando o juízo competente será o JECRIM. Nessa hipótese, o proce-dimento será sumaríssimo, que é célere e informal. Assim, não será exigido o exame de lesões corporais. A lei 9.099, art. 77, §1o diz que essa prova pode ser substituída pelo boletim medico ou prova equivalente.

A segunda exceção trata dos crimes domésticos, sobretu-do os praticados contra a mulher, que estão disciplinados na Lei 11.340/06. No art. 12, §3o, temos que as provas podem ser laudos ou prontuários médicos. Isso porque, na prática, o Ministério Públi-co pode atuar exofficio em casos graves.

Exame necroscópico

O cadáver aqui é o objeto da prova. Sua finalidade é estabele-cer a causa mortis (art. 162). Esse exame será realizado sempre que a morte estiver relacionada a um fato criminoso. Do texto do Pará-grafo Único do dispositivo extrai-se que esse exame é desnecessá-rio nos casos de morte violenta e não haja infração penal a ser apu-rada (como é o caso, por exemplo, dos acidentes automobilísticos) ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa mortis.

Exumação

Com previsão no art. 163, CPP, a exumação tem como objeto da prova o cadáver já sepultado. A exumação só pode ser feita me-diante autorização judicial e em dois casos: a) caso deva ter sido realizado o exame necroscópico e não foi, gerando, depois do se-pultamento, dúvidas a respeito da causa da morte; e b) casos que coloquem em duvida o laudo necroscópico.

Prova documental

Documento é todo objeto material que condense em si a ma-nifestação de um pensamento ou fato a ser reproduzido em juízo. Considera-se objeto material todo material visual, auditivo, audio-visual, bem como o registrado em meios mecânicos óticos ou mag-néticos de armazenamento.

A prova documental está disciplinada no CPP nos arts. 231 us-que 238.

Documento eletrônico

Consiste em uma seqüência de bytes, e em determinado pro-grama de computador se torna a representação de um fato. Os cri-mes que são praticados por meio da internet ou por outros meios cibernéticos têm conseqüências no que dizem respeitos à provas.

Um dos meios para combater esse tipo de ilícito penal é recru-tar os crackers para trabalharem a favor da polícia.

Importante ressaltar a distinção entre os hackers e os crackers: os primeiros ultrapassam barreiras de segurança para se gabar, en-quanto que os segundos invadem sistemas para causarem prejuízo, visando lucro.

Sigilo telemático

É um mecanismo de proteção do usuário do aparelho, o que gera certa dificuldade para obter informações e muitas vezes será necessária autorização judicial para o acesso de dados.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Quando se tratar de crime em que a polícia tem o dever e a obrigação de apurar, tem-se as delegacias que estão incumbidas de investigar crimes cibernéticos

Ata notarial

Constatação de um fato ou de um ato que é atestada pelo ta-belião, com fé publica. Feito isso, e apresentado ao delegado, tere-mos uma prova pré-constituída e com fé-pública. Isso é bom para as provas nos meio eletrônico que podem ser apagadas instanta-neamente. Estamos diante de uma presunção de verdade relativa, podendo, portanto, ser impugnada. Pode servir como prova tanto na esfera penal quanto na esfera civil.

Prova emprestada

Prova emprestada é aquela que é transladada em forma de do-cumento para um processo penal no qual se discutirá a sua validade e o seu valor probante.

Geralmente a prova emprestada no processo penal se relacio-na com depoimento de vítima ou uma declaração que foi dada em um caso e a testemunha após um tempo morreu, desapareceu, etc.

Do ponto de vista da acusação é interessante que a prova seja emprestada de tempo que foi dada, e que seja encarada como uma prova testemunhal, de inteiro teor, e não apenas como um docu-mento. Do ponto de vista da defesa, o que se alega é que o princípio da ampla defesa não foi respeitado pois se caso o réu morreu, não teve tempo de contestar, ou caso de testemunha desaparecida, que não houve possibilidade de perguntas da defesa para tal.

São requisitos para a utilização da prova emprestada: a) que no processo anterior tenha sido respeitado o princípio

do contraditório; b) que a prova no processo anterior tenha sido produzida pelo

juiz natural; e c) que o réu tenha comparecido no outro processo.

Prova oral

A prova oral, prevista no art. 201, CPP, refere-se principalmente às declarações do ofendido.

Os sujeitos processuais podem ser principais ou secundários. Os principais são o Ministério Público, o querelante, o réu e o juiz. Os secundários são a testemunha, o perito e o escrivão. O ofendido é tradicionalmente esquecido.

Com a Lei 9.099/95, o Estado passa a olhar para a vítima de modo distinto. Essa lei trata do procedimento sumaríssimo, que tem como característica principal o surgimento da transação penal entre o autor do fato e o ofendido para que seja tentado ao menos a auto composição das partes. Em 2008 o legislador altera o art. 201, CPP. A partir dai, o ofendido é o sujeito passivo da infração penal.

A oitiva da vítima na ação penal não é obrigatória. Se a vítima for intimada a comparecer em juízo e não o fizer, poderá ser condu-zida à presença da autoridade. A vítima não presta o compromisso de dizer a verdade. Parte-se do princípio que a vítima está dizendo a verdade porque tem interesse na sentença condenatória e numa eventual reparação do dano.

Quanto se tratar do querelante, ele estará obrigado com a ver-dade. Caso contrário, poderá responder pelo crime de denunciação caluniosa.

Prova testemunhal

Testemunha é a pessoa que atesta a veracidade de um fato. Portanto, a testemunha presta o compromisso de dizer a verdade (art. 203, CPP).

Uma das mais inseguras do processo, a prova testemunhal está prevista no CPP nos arts. 202 e 255. Do ponto de vista quantitativo, é uma prova interessante. Do ponto de vista qualitativo, não.

Diz-se isso porque a testemunha pode não se lembrar com exatidão dos fatos. Ou então, aliada ao critério subjetivo das con-vicções pessoais da vítima, pode influenciar no depoimento da tes-temunha. Ainda, há também o temor da testemunha sofrer repres-sões em virtude de suas declarações.

O número de testemunhas

O nosso sistema processual penal é regido por procedimento. Dependendo do crime, ele deve obedecer determinado procedi-mento, podendo arrolar ou não testemunhas, tendo que obedecer ao número permitido.

O número de testemunhas depende do procedimento, confor-me passaremos a demonstrar.

No procedimento ordinário (art. 394, CPP), é possível arrolar até 8 testemunhas (art. 401, caput, CPP). No procedimento comum sumário, podem ser arroladas até 5 testemunhas (art. 532, CPP). Já no procedimento comum sumaríssimo, não há referência expressa. O art. 81 da Lei 9.099 diz que pode-se arrolar de 3 a 5 testemunhas.

Para entendermos a questão das testemunhas no Tribunal do Júri, é preciso entender seu procedimento bifásico. Na primeira fase se encerra por meio de uma decisão, que pode ser: decisão de absol-vição sumaria, decisão de desclassificação, decisão de impronúncia (efeito semelhante ao arquivamento) ou decisão de pronúncia. Caso haja pronúncia, prossegue-se para a próxima fase. Essa segunda fase cuida da preparação do julgamento e do julgamento em plenário.

Superada a explicação, temos o seguinte: na primeira fase os atos seguem a seqüência do procedimento comum ordinário, ou seja, até 8 testemunhas podem ser arroladas (art. 406, §2o e 3o, CPP). Na segunda fase podem ser arroladas até 5 testemunhas (art. 422, CPP).

A Lei 11.3434, em seu art. 34, trata do tráfico de drogas. Esse crime admite procedimento especial, podendo arrolar até 5 teste-munhas, com previsão no art. 54, III, e 55, §1o.

Por fim, nos casos complexos o juiz pode intervir para que se-jam arroladas mais do que 8 testemunhas. As testemunhas exce-dentes são inquiridas como testemunhas do juízo.

A desobrigação de testemunhar

Em princípio, toda pessoa pode ser testemunha, até mesmo um menor. Porém, uma vez que a testemunha é intimada a depor, esta não pode deixar de depor, sob pena de ser conduzida coerciti-vamente, ou até mesmo de responder criminalmente por desobe-diência.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Existem alguma pessoas que se tornam desobrigadas, pela lei, a prestar o testemunho, segundo disposição dos arts. 206 e 208, CPP. Se o juiz, mesmo assim, quiser ouvir as declarações desta pessoa, tal testemunha não estará obrigada em prestar compromisso com a verdade. Neste caso, será ouvida na condição de informante. De acordo com o art. 207, serão proibidas de depor aquelas que em ra-zão de função, ofício ou profissão devam guardar segredo, salvo se desobrigadas pela parte interessada, quiserem prestar testemunho.

Interrogatório

Quando tratamos de interrogatório como meio de prova, é im-portante observar que três correntes se formaram.

A primeira corrente, no princípio, entendia como o interroga-tório sendo um meio de prova. A segunda, por sua vez, dizia que o interrogatório era um meio de defesa. Já a terceira e mais acei-ta corrente afirma que o interrogatório é predominantemente um meio de defesa, mas não deixa de ser um meio de prova, pois o juiz pode levar em conta o que o réu está falando para formular a sua convicção.

Ressalte-se que o interrogatório é um ato pessoal do juiz, não podendo delegar para qualquer outra pessoa. Além disso, deve ser realizado na presença de um defensor, inclusive no JECRIM, sob pena de nulidade, e cada réu tem que ser ouvido separadamente.

No tocante ao procedimento, o art. 400, CPP dita que o réu será o último a ser interrogado, para que possa ter conhecimento de toda as provas produzidas contra ele. Já no Tribunal do Júri o réu será interrogado duas vezes, a saber: pela polícia e na plenária.

A realização do interrogatório é obrigatória. Contudo, é previs-to o direito de o sujeito interrogado manter-se calado, vez que nin-guém pode ser obrigado a produzir provas contra si mesmo.

Confissão

Confissão é o ato de reconhecimento, pelo acusado, da imputa-ção que lhe é feita. Alguns doutrinadores entendem que a confissão é um meio atípico de prova, uma vez que seria declaração de vonta-de do réu em sua defesa.

Na Idade Média, a confissão era considerada a rainha das pro-vas (“Regina probatorium”), válida ainda que obtida por meio de tortura.

De acordo com as disposições do Código de Processo Penal a confissão deve ser corroborada por outras provas. No processo pe-nal não predomina a idéia do fato incontroverso, como no processo civil.

A confissão não supre o exame pericial a medida que é neces-sário confirmar a materialidade do delito. O valor da confissão é o mesmo que das outras provas.

Delação premiada

Esse é um instituto que está ligado ao réu. A delação premia-da ocorre quando o acusado admite a prática do crime e delata a participação de outrem ou de outras pessoas, fazendo-o em troca da redução da pena ou até mesmo da obtenção do perdão judicial.

A delação premiada somente pode ser apresentada por um co--réu, posto que irá delatar para se beneficiar. Caso não tenha bene-fício será apenas uma testemunha. Não há garantia de que co-réu seja beneficiado, pois não existe nenhum diploma disciplinando tal instituto.

Essa delação não tem o mesmo valor que o depoimento de tes-temunha. Isso se explica à medida que as testemunhas prestam o compromisso de dizer a verdade, e o co-réu está numa posição de mero informante, devendo suas alegações serem confirmadas.

De acordo com o princípio da obrigatoriedade da ação penal, o membro do Ministério Público não pode simplesmente alocar o de-lator como testemunha. Em verdade, deve admitir o delator como co-réu e, posteriormente, considerar sua redução de pena ou per-dão judicial por ter colaborado com suas importantes declarações.

Instrumentos do crime

Todos os objetos usados para a consumação do crime deverão ser analisados e periciados, com o fim de lhes verificar a natureza e a eficiência. Além da necessidade de se examinar o instrumento utilizado na atividade criminosa, deve-se também elaborar o auto de avaliação (art. 172, CPP)

Indícios

Disciplinados no art. 239, CPP, os indícios não são considerados como provas diretas, mas sim fazem parte do contexto de prova indireta (ou prova circunstancial).

Os indícios podem ser utilizados para efeitos de formação do convencimento do juiz, mas não pode haver condenação apenas com base neles. Essa regra aplica-se apenas ao julgador togado, vez que os jurados do Tribunal do Júri podem convencer-se através de indícios, considerando-os suficientes para condenação.

Para a utilização de indícios no convencimento do juiz, impõe--se que eles sejam graves, precisos e concordantes com o fato que se quer provar.

Busca e apreensão

Com previsão legal nos arts. 240 usque 250, CPP, a busca e apreensão depende de autorização judicial. Trata-se, em verdade, de uma medida cautelar, sendo considerada um meio atípico de prova – diz-se, então, que é instrumento de obtenção da prova.

Considerando a previsão constitucional de inviolabilidade da privacidade, da intimidade, do domicilio, a decretação da busca e apreensão é medida só pode ser autorizada pelo juiz competente e em decisão fundamentada.

Por se tratar de medida assecuratória (ou cautelar),o juiz só pode deferi-la se ficar convencido de que naquele caso específico que lhe é apresentado existem elementos de que o que está sendo alegado possui verossimilhança e que há necessidade da urgência (fumus boni juris e periculum in mora).

Na prática, a busca e apreensão pode ser pleiteada pelo de-legado ao juiz por meio de uma representação. Em sua manifesta-ção, o promotor de justiça pode reforçar a necessidade ou se opor a isso. A busca e apreensão pode ser requerida antes do inquérito, durante a investigação ou no curso da ação penal. Pode ainda ser requerida pela defesa, se lhe for interessante.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

A busca e apreensão também pode ser determinada de ofício pelo juiz, segundo o art. 242, CPP. Contudo, não é conveniente que o juiz o faça, vez que isso pode comprometer sua imparcialidade.

Pode-se buscar e apreender aquilo que estiver previsto no art. 240, mas o rol não é taxativo. Tudo que estiver relacionado com a elucidação de um crime pode ser objeto de busca e apreensão.

Com base no art. 5o, XI, CF, temos que, mesmo sendo expedido o mandado de busca e apreensão, a autoridade policial não poderá ingressar o domicílio alheio durante o período de repouso noturno. Assim, o cumprimento do mandado judicial deverá aguardar até a manhã.

Se no flagrante delito forem apreendidos objetos relativos a outros crimes, a jurisprudência diz que a apreensão será convalida-da mesmo sem mandado de busca e apreensão específico para isso.

Ainda, é possível que haja a busca pessoal como medida pre-ventiva, como por exemplo a revista da pessoa, sem a exigência de mandado para tanto.

Dita o Código Processual Penal:

(...)

CAPÍTULO IIDO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAS EM GERAL

Art. 158.Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri--lo a confissão do acusado.

Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva:(Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência. (Incluído dada pela Lei nº 13.721, de 2018)

Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de to-dos os procedimentos utilizados para manter e documentar a his-tória cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhe-cimento até o descarte.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais seja detectada a existência de vestígio.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsá-vel por sua preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a produção da prova pericial; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e rela-cionado aos vestígios e local de crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se en-contra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial pro-duzido pelo perito responsável pelo atendimento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à aná-lise pericial, respeitando suas características e natureza; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas, para poste-rior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua pos-se;(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do ves-tígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações re-ferentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, pro-tocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas caracte-rísticas biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por peri-to;(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em condições adequadas, do material a ser processado, guardado para realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vin-culação ao número do laudo correspondente; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio, respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada prefe-rencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento neces-sário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou pro-cesso devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por de-talhar a forma do seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remo-ção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude proces-sual a sua realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza do material.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações so-bre seu conteúdo.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai pro-ceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do res-ponsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes ao novo lacre utilizado.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestí-gios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de proto-colo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distri-buição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do ves-tígio.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio de-verão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocor-rência no inquérito que a eles se relacionam.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armaze-nado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da ação.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer. (Incluí-do pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar determinado material, deverá a autori-dade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do dire-tor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 159.O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.

§ 1oNa falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili-tação técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 2oOs peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 3oSerão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 5oDurante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados

comantecedênciamínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pare-ceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 6oHavendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizadonoambiente do ór-gão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de peri-to oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

§ 7oTratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descre-verão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos que-sitos formulados. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

Parágrafo único.O laudo pericial será elaborado no prazo má-ximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos ex-cepcionais, a requerimento dos peritos. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

Art. 161.O exame de corpo de delito poderá ser feito em qual-quer dia e a qualquer hora.

Art. 162.A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julga-rem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto.

Parágrafo único.Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verifi-cação de alguma circunstância relevante.

Art. 163.Em caso de exumação para exame cadavérico, a auto-ridade providenciará para que, em dia e hora previamente marca-dos, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.

Parágrafo único.O administrador de cemitério público ou par-ticular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a au-toridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará do auto.

Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, to-das as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. (Reda-ção dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

Art. 165.Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas foto-gráficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.

Art. 166.Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exu-mado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identi-ficação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.

Parágrafo único.Em qualquer caso, serão arrecadados e auten-ticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para a identificação do cadáver.

Art. 167.Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Art. 168.Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pe-ricial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

§ 1oNo exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.

§ 2oSe o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que de-corra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

§ 3oA falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

Art. 169.Para o efeito de exame do local onde houver sido pra-ticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esque-mas elucidativos. (Vide Lei nº 5.970, de 1973)

Parágrafo único.Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos. (Incluído pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

Art. 170.Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão ma-terial suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.

Art. 171.Nos crimes cometidos com destruição ou rompimen-to de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instru-mentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.

Art. 172.Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coi-sas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do crime.

Parágrafo único.Se impossível a avaliação direta, os peritos pro-cederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem de diligências.

Art. 173.No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.

Art. 174.No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á o seguinte:

I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for encontrada;

II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente re-conhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida;

III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exa-me, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimen-tos públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados;

IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escre-va o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.

Art. 175.Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar a natureza e a eficiência.

Art. 176.A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.

Art. 177.No exame por precatória, a nomeação dos peritos far--se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz depre-cante.

Parágrafo único.Os quesitos do juiz e das partes serão transcri-tos na precatória.

Art. 178.No caso do art. 159, o exame será requisitado pela au-toridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o laudo assinado pelos peritos.

Art. 179.No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará o auto respectivo, que será assinado pelos peritos e, se presente ao exa-me, também pela autoridade.

Parágrafo único.No caso do art. 160, parágrafo único, o laudo, que poderá ser datilografado, será subscrito e rubricado em suas folhas por todos os peritos.

Art. 180.Se houver divergência entre os peritos, serão consig-nadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autori-dade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos.

Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o lau-do.(Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

Parágrafo único.A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente.

Art. 182.O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.

Art. 183.Nos crimes em que não couber ação pública, observar--se-á o disposto no art. 19.

Art. 184.Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

PRISÃO EM FLAGRANTE

Prisão em Flagrante (arts. 301 a 310)

É uma medida restritiva de liberdade, de natureza cautelar e caráter eminentemente administrativo, que não exige ordem escri-ta do juiz, porque o fato ocorre de inopino (art. 5º, LXI, CR/88). É uma forma de autopreservação e autodefesa da sociedade, facul-tando-se a qualquer do povo a sua realização, sendo que os poste-riores atos de documentação ocorrerão normalmente na delegacia de polícia.

Relativamente à proteção ao lar, a pessoa pode ser presa em flagrante delito a qualquer tempo, de acordo com o art. 5º, XI, da CR/88.

A Lei 13.964/2019, passou a vigorar e trouxe grandes e impor-tantes mudanças no que diz respeito a prisao em flagrante: os juízes não podem mais decretar prisões preventivas de ofício. Só poderão fazê-lo a requerimento do Ministério Público, do assistente de acu-sação ou “por representação da autoridade policial”.

A prisão em flagrante, agora após 24 (vinte e quatro) horas após a sua realização, deverá ser feita a audiência de custódia. Caso seja verificado pelo juiz que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória.

Há também uma previsão de penalidade administrativa, civil e penal, caso o juiz sem motivação idônea não realize a audiência de custódia no prazo estabelecido.

Após a edição da Lei 12.403/11 e a previsão no artigo 310, II do CPP de conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva, parte da doutrina passou a entender que essa modalidade de de-tenção teria perdido sua natureza cautelar e passado a flertar com uma natureza pré-cautelar, que em termos práticos, obrigaria o juiz a fundamentar a análise da formalidade e juridicidade do auto de

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

prisão em flagrante, e como não o realizava, em notória prática au-toritária, pois decidia concordar com um ato do Delegado sem a devida fundamentação.

Em outras palavras, ao alterar a nomenclatura em “converter a prisão em flagrante em preventiva” impeliu o judiciário à obrigato-riedade da motivação face o nomen iuris prisão preventiva, alteran-do a redação do artigo 315 do CPP apenas utilizando a expressão “decisão”, substituindo a nomenclatura anterior que se referia a “despacho”.

A Lei 13.964/2019 Ainda acrescentou a necessidade de revisão da prisão preventiva a cada 90 (noventa) dias, sob pena de se tornar prisão ilegal.

Espécies de Flagrante

Flagrante Próprio, Propriamente Dito, Real ou Verdadeiro(art. 302, I e II do CPP)Nele, o agente é surpreendido com a mão na massa, cometendo

a infração penal ou quando acaba de cometê-la. A prisão deve ocor-rer de imediato, sem o decurso de qualquer intervalo de tempo.

Flagrante Impróprio, Irreal ou Quase-Flagrante (art. 302, III)Flagrante em que o agente é perseguido logo após a infração,

em situação que faça presumir ser o autor do fato. Não existe prazo certo para a expressão logo após, sendo equivocada a doutrina que aponta o prazo de 24 horas.

Não havendo solução de continuidade, isto é, se a perseguição não for interrompida, mesmo que dure dias ou até mesmo sema-nas, em havendo êxito na captura do perseguido, estar-se-á diante de flagrante delito.

Flagrante Presumido, Ficto ou Assimilado(art. 302, IV)Flagrante em que o agente é preso após cometer a infração,

quando encontrado com instrumentos ou produtos do crime, ar-mas, objetos ou papéis que permitam presumir ser ele o autor da infração.

Nessa espécie de flagrante não se exige perseguição. Exige-se, entretanto, que a autoridade ponha-se a procurar o agente logo após ter notícia do acontecimento do crime.

Flagrante Compulsório ou ObrigatórioAlcança a atuação das forças de segurança englobando as po-

lícias civis, militares, federal, rodoviárias, ferroviárias e o corpo de bombeiros. Elas têm o dever de, enquanto em serviço, efetuar a prisão em flagrante.

Flagrante FacultativoÉ a permissão constitucional de que qualquer do povo efetue

a prisão em flagrante. Ela abrange também as autoridades policiais fora de serviço.

Flagrante Esperado Não está disciplinado na legislação, sendo uma idealização

doutrinária. Ocorre quando a polícia, sabendo que um crime irá se consumar, fica de tocaia, realizando a prisão quando os atos execu-tórios são deflagrados. Apesar de não indicado, o particular tam-bém poderá efetuar o flagrante esperado.

Flagrante Preparado ou ProvocadoFlagrante em que o agente é induzido ou instigado a cometer

o delito, sendo preso no ato. É artifício onde verdadeira armadilha é maquinada no intuito de prender em flagrante aquele que cede à tentação e acaba praticando a infração.

Dispõe a Súmula 145, STF: “Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.

A súmula para o STF, com a preparação do flagrante e conse-quente realização da prisão, existiria crime só na aparência, já que o resultado da prática supostamente delituosa já era conhecido pela polícia de antemão e ela já estaria com toda a estrutura montada para prender o agente logo após a conduta. Assim, haveria verda-deiro crime impossível, por absoluta ineficácia do meio ou absoluta impropriedade do objeto criminoso.

Entretanto, se, preparando o flagrante, o agente consegue con-sumar o delito e fugir, o crime restará plenamente caracterizado.

Não é flagrante preparado o caso de se prender alguém, que adentra no território nacional portando drogas, após o recebimen-to de notícias sobre esse fato. A polícia esperará a pessoa chegar e efetuará a prisão. Note-se que o indivíduo já estava com o crime em andamento.

Flagrante Prorrogado, Retardado, Diferido, Postergado ou Ação Controlada

Ocorre quando a polícia deixa de efetuar a prisão, mesmo pre-senciando o crime, pois do ponto de vista estratégico seria a melhor opção.

Previsto no art. 2º, II, da Lei nº 9.034/95 (Lei de Combate às Organizações Criminosas). Não é necessária autorização judicial nem prévia oitiva do MP, cabendo à autoridade policial administrar a conveniência ou não da postergação. Ela não pode ser utilizada para abarcar atividades de quadrilhas ou bandos, apenas de orga-nizações criminosas.

Já no flagrante diferido previsto na Lei nº 11.343/06, é necessá-ria autorização judicial e prévia oitiva do MP, além do conhecimento do provável itinerário da droga e dos eventuais agentes do delito ou colaboradores.

Flagrante ForjadoÉ o flagrante armado, fabricado para incriminar pessoa ino-

cente. Evidentemente é ilícito, sendo o único infrator aqui o agente executor da prisão.

Flagrante por ApresentaçãoNão é flagrante propriamente dito, pois quem se entrega à po-

lícia não se enquadra em nenhuma das hipóteses legais autorizado-ras do flagrante. Assim, não será lavrado APFD, apesar de poder o agente ter sua prisão preventiva decretada pela autoridade policial.

Flagrante VedadoSão hipóteses em que a autoridade não pode, de forma algu-

ma, decretar o flagrante delito, sob pena de ilegalidade manifesta.Assim, não se decreta a prisão em flagrante, ou seja, se decre-

tada, deverá ser relaxada:1. Com o advento da lei dos juizados especiais criminais,

aquele que for capturado em flagrante pela prática de crimes de menor potencial ofensivo, e assumir o compromisso de comparecer ao Juizado, a ele não será imposta a prisão em flagrante (será elabo-rado o Termo Circunstanciado). Assim, praticamente, todas as hipó-teses em que o réu se livra solto estão abrangidas pelo conceito de crime de menor potencial ofensivo (por isso que caiu em desuso). A jurisprudência majoritariamente (STJ e STF) entende que os cri-mes de menor potencial ofensivo são os crimes com pena máxima de até 02 anos. Assim, a hipótese de incidência do artigo 323 será aplicada na hipótese excepcional de o indivíduo não assumir o com-promisso (aliás, o descumprimento do compromisso de compareci-mento não traz qualquer consequência para o indivíduo, mesmo se ele não comparecer).

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

2. A Lei nº 9.503/97 (CTB) (artigo 301) prevê que ao condu-tor por delito de trânsito NÃO se imporá a prisão em flagrante se ele prestar pronto e integral socorro à vítima.

3. No caso do art. 28 da Lei de Drogas.

Flagrante nas Várias Espécies de Crimea) Crimes permantentes: enquanto não cessada a perma-

nência poderá haver flagrante a qualquer tempo.b) Crime habitual: de acordo com Tourinho, não é possível o

flagrante no crime habitual, já que este ocorre somente quando a conduta típica se integra com a prática de diversas açoes. Se houver o flagrante antes da consumação, os atos realizados serão indife-rentes penais, não passíveis de configurar qualquer crime.

c) Crime de ação penal privada e ação pública condicionada: nada impede a realizaçao do flagrante nestes crimes. Porém, para a lavratura do APFD, deverá haver manifestação de vontade da pessoa legitimada a propor a ação ou a representar. Caso a vítima não possa ir imediatamente à delegacia, por ter sido conduzida ao hospital ou por qualquer outro motivo relevante, poderá fazê-lo no prazo de entrega da nota de culpa. Caso preso o agente em flagran-te e a vítima não autorize, não poderá ser lavrado o auto, devendo o agente ser liberado.

d) Crime continuado: o flagrante se dará de forma fracionada, já que as várias ações são independentes entre si, somente havendo a continuidade para fins de diminuição da pena quando da dosime-tria penal. O flagrante é possível para cada crime isoladamente.

e) Infração de menor potencial ofensivo: não haverá lavratu-ra de APFD, e sim de TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), desde que o infrator seja imediatamente enaminhado ao JECrim ou assuma o compromisso de lá comparecer na data designada pela autoridade policial. Entretanto, se ele se negar a tanto, lavra-se o APFD, recolhendo-se o infrator ao cárcere, salvo se for admitida e paga a fiança. Lembrar que, no crime do art. 28 da Lei nº 11.343/06, é absolutamente impossível a prisão.

Nos crimes particados com violência doméstica contra a mu-lher, não se aplica a Lei nº 9.099/95; assim, mediante uma infraçao de menor potencial ofensivo, ao invés de TCO será lavrado APFD (art. 41, lei nº 11.340/06).

Sujeitos do Flagrante

Sujeito Ativo

É aquele que efetua a prisão. Pode ser qualquer pessoa, poli-cial ou não. Não se confunde o sujeito ativo com o condutor, que é a pessoa que apresenta o preso à polícia (evidentemente, poderão ser a mesma pessoa).

Sujeito Passivo

É aquele detido na situação de flagrância. Em regra, pode ser qualquer pessoa, respeitadas as exceções de determinados indiví-duos, quais sejam:

A) Presidente da República: nunca poderá ser preso em flagran-te ou por outra prisão cautelar (art. 86, § 3º, CR/88).

B) Diplomatas estrangeiros: podem não ser presos em flagran-te, a depender de tratados e convenções internacionais.

C) Membros do Congresso Nacional e Assembleias Legislati-vas: só podem ser presos em flagrante delito por prática de crime inafiançável, devendo os autos, no caso, ser remetidos à respec-tiva Casa para que, mediante provocação de partido e pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão (art. 53, § 2º, CR/88).

D) Magistrados: só poderão ser presos em flagrante por crime inafiançável, devendo os autos serem encaminhados ao Presidente do respectivo Tribunal (art. 33, II, LOMAN).

E) Membros do MP: idem, devendo os autos serem encaminha-dos ao respectivo Procurador-Geral (art. 40, III, LONMP).

F) Advogados: somente poderá ser preso em flagrante, por mo-tivo de exercício da profissão, em caso de crime inafiançável, sen-do necessária a presença de representante da OAB para se lavrar o auto, sob pena de nulidade (art. 7º, § 3º, EOAB).

G) Menores de 18 anos: penalmente inimputáveis, somente poderão ser privados da liberdade, mediante determinação escrita e fundamentada do juiz ou mediante flagrante de prática de ato infracional (art. 106, ECA).

H) Motoristas: no caso de crime de trânsito, se prestarem pron-to e integral socorro à vítima de acidente de trânsito no qual se envolveu, não poderá ser preso em flagrante nem poderá ser-lhe exigida fiança (art. 301, CTB).

Autoridade Competente

Via de regra, é competente para presidir a lavratura do auto a autoridade policial da circunscrição onde foi efetuada a prisão (art. 290, CPP).

Procedimentos e Formalidades Legais

De acordo com Luís Flávio Gomes, a prisão em flagrante conta com quatro momentos distintos:

A) Captura do agente;B) Condução coercitiva até a presença da autoridade policial

ou judicial;C) Lavratura do auto de prisão em flagrante;D) Recolhimento ao cárcere.

Deve ser dada especial atenção ao aspecto formal do ato, com a documentação da prisão efetuada em razão da captura. Deve-se, pois, seguir os seguintes passos:

A) Comunicação à família do preso ou pessoa por ele indicada sobre a prisão, antes de lavrar o auto (art. 5º, LXIII, CR/88).

B) Oitiva do condutor: quem apresentou o “meliante” na dele-gacia deverá ser ouvido, sendo suas declarações reduzidas a termo, colhida sua assinatura e entregue cópia do termo e recibo de entre-ga do preso (esse recibo tem função acautelatória para o próprio condutor).

C) Oitiva das testemunhas: suas declarações serão reduzidas a termo e assinadas. Devem ser, no mínimo, duas testemunhas para o flagrante ser regular, ainda que uma ou ambas sejam meramen-te instrumentárias, aquelas simplesmente presentes na delegacia e que são convidadas a assinar como testemunha o ato de ver a entrega do agente.

D) Oitiva da vítima: não é requisito imposto pela lei, mas é prá-tica corrente no procedimento, até mesmo para fortalecer o valor probatório.

E) Oitiva do conduzido: o preso será ouvido, podendo, entre-tanto, calar-se. Admite-se a presença do advogado, o qual, entre-tanto não é imprescindível. Lembrar que o procedimento pré-pro-cessual não é contraditório. Se o interrogatório não for realizado por força maior, o ato não restará viciado.

F) Decisão da autoridade: se a autoridade estiver convencida de que o flagrante é legítimo, determinará ao escrivão que lavre e encerre o auto de flagrante. Porém, também poderá liberar o deti-do caso verifique ilegalidade.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

LOGO, O POLICIAL TAMBÉM PODE EFETUAR O RELAXAMEN-TO DE PRISÃO. Decorre do princípio administrativo da autotutela, pelo qual a Administração deve anular seus próprios atos quando ilegais.

Nota de Culpa

A nota de culpa se presta a informar ao preso os responsáveis por sua prisão e os motivos de fato da mesma, contendo o nome do condutor e das tetemunhas, sendo assinada pela autoridade (art. 306, § 2º, CPP).

Será entregue em 24 horas da realização da prisão, mediante recibo. Se o preso se negar a assinar, 02 testemunhas suprirão o ato.

A ENTREGA DA NOTA DE CULPA É DE VITAL IMPORTÂNCIA PARA A VALIDADE DA PRISÃO. Com a nota de culpa, a garantia da informação é assegurada, tendo o preso a cientificação formal dos motivos pelo qual foi encarcerado, com a indicação de seus respon-sáveis.

Remessa à Autoridade e Manifestação sobre o Flagrante

Em 24 horas da realização da prisão, será encaminhado à auto-ridade judicial competente o APFD acompanhado de todas as oiti-vas colhidas e demais documentos e, caso o autuado não indique advogado, será remetida cópia integral à defensoria pública (art. 306, § 1º).

Recebidos os autos, o juiz poderá relaxar a prisão, se tiver sido ilegal, concederá a liberdade provisória com ou sem medida caute-lar, ou decretará a prisão preventiva, se presentes alguma das situa-ções do art. 312 e se não se revelarem adequadas ou suficientes as medidas cautelares previstas no art. 319.

Tudo isso terá que ser feito de forma fundamentada.

Ao observar a nova redação do artigo 310 do CPP, as providên-cias, que se mantêm as mesmas em seus incisos, serão decididas no contexto da audiência judicial de custódia, obrigatória em qualquer hipótese de prisão em flagrante, com a presença da acusação e da defesa, restando cristalina a impossibilidade do juiz decretá-las de ofício.

Antes dessa lei a prisão em flagrante passava pelo crivo ho-mologatório judicial, como ocorre hoje, porém sem a expedição de uma outra ordem de detenção até que o inquérito policial com investigado preso fosse remetido ao Judiciário no prazo máximo de 10 dias, tendo o agente ministerial o dever de oferecer denúncia no prazo de 5 dias, sob pena de relaxamento da prisão. Recordamos que sempre houve análise judicial da prisão em flagrante, portanto, a judicialização se operava, contudo, sem a nomenclatura de prisão preventiva. Ademais, os fundamentos para a manutenção da prisão em flagrante eram os mesmos da prisão preventiva, sem as medi-das cautelares diversas da prisão.

Atualmente, o judiciário ao converter a prisão em flagrante em preventiva, fundamenta da mesma forma que antes, alterando apenas o rótulo. A alteração, como dito alhures, foi uma forma po-lítica de provocar uma melhor prestação jurisdicional nas decisões interlocutórias, banalizadas com fundamentações deficientes que muitas vezes reproduziam o texto legal.

Senão vejamos:

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-são, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - relaxar a prisão ilegal; ou II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre-

sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve-larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou

III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o

agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamen-te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de revogação.(Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que inte-gra organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão pre-ventiva.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

O art. 310 impede que ocorra as situações do sujeito ficar pre-so indefinidamente em flagrante. Ou ele é solto, ou é decretada sua prisão preventiva ou alguma medida cautelar. A não adoção de alguma dessas determinações constituirá flagrante ilegalidade por desrespeito à lei processual.

Prisão em Flagrante: Réu Preso e Excesso de Prazo

É muito comum de ocorrer a manutenção do flagrante sem de-cretação da prisão preventiva, o que não deveria se dar. Logo que recebe os autos, o juiz teria que, necessariamente, se manifestar sobre o cabimento ou não.

Logo, a prisao em flagrante deve ocorrer pelo tempo suficiente para análise dos autos pelo juiz, e não como justificativa para o con-denado ficar encarcerado até seu julgamento, o que é ilegal.

A ilegalidade pode ocorrer até mesmo em função da demora da remessa dos autos do flagrante da repartição policial para o juízo.

PRISÃO PREVENTIVA

A prisão preventiva é uma espécie de prisão cautelar de natu-reza processual, consistente na medida restritiva de liberdade, em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, a ser decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a re-querimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial.

A prisão preventiva somente poderá ser decretada quando houver prova da existência do crime e indícios suficientes de au-toria.

Note-se que a prisão preventiva, nos termos do artigo 313, do Código Processual Penal, somente poderá ser decretada nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; se tiver sido condenado por outro crime doloso,

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

em sentença transitada em julgado. Contrário a isso, o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezem-bro de 1940 - Código Penal; se o crime envolver violência domésti-ca e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.

1-Fundamentação:Arts. 311 a 316 do CPP

A prisão preventiva não é uma pena aplicada antecipadamente ao trânsito em julgado, é uma medida cautelar. Por esse motivo, não viola a garantia constitucional depresunção de inocência se a decisão for devidamente motivada e a prisão estritamente neces-sária.

É uma prisão cautelar que tem o objetivo de evitar que o réu cometa novos crimes ou ainda que em liberdade prejudique a co-lheita de provas ou fuja. De acordo com o processualista Paulo Ran-gel, « se o indiciado ou acusado em liberdade continuar a praticar ilícitos penais, haverá perturbação da ordem pública, e a medida extrema é necessária se estiverem presentes os demais requisitos legais» (RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 12. ed. rev. atual. ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 613).

Pode ser decretada inclusive na fase investigatória da persecu-ção criminal, ou seja, durante o inquérito policial.

É prisão provisória na medida em que ainda não pesa con-denação contra o possível criminoso; medida cautelar, pois tenta resguardar a harmonia social da ordem pública ou da ordem eco-nômica; excepcional, decorrente do poder geral de cautela dado ao magistrado; subsidiária, muito mais após a promulgação da lei 12.403/2011, sendo somente permitida quando a lei não assegurar outra medida cautelar substitutiva.

2-Enfoque constitucionalÉ cediço pelo artigo 5º, LVII, da CF/88 que ninguém será con-

siderado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal con-denatória.

Aos adeptos da corrente garantista extremada, a interpretação gramatical desta regra supra, poderia mergulhar em conclusões no sentido de que qualquer prisão cautelar seria inconstitucional.

Para quase a maioria esmagadora da doutrina, contudo, não se trata de um instituto que atenta a Carta Política de 1988, mas sim, uma medida indispensável para a manutenção da ordem social e para administração da justiça.

Segundo CLAUS ROXIN, “ entre as medidas que asseguram o procedimento penal, a prisão preventiva é a ingerência mais gra-ve na liberdade individual; por outra parte, ela é indispensável em alguns casos para a administração da justiça penal eficiente.” [02]

3-Bases legaisTendo por base o artigo 312 do CPP, para que se decrete a pre-

ventiva é necessária à demonstração de prova da existência do cri-me, trazendo à tela a materialidade e indícios suficientes da autoria ou de participação no fato típico.

Interessante notar que o delito deve ter ocorrido incontesta-velmente, e sua comprovação pode ser feita pelos diversos meios de prova admitidos em direito, entretanto, no que toca a autoria, apenas se tem a necessidade de indícios de vinculação do individuo à prática do crime.

Ainda nesse pensamento, há de se ressaltar os pressupostos da preventiva e esses formam exatamente ofumus commissi delicti, que oferece o básico de segurança para a decretação da medida.

Pelo entendimento do artigo 313 do CPP, a preventiva somen-te possui envergadura em crimes dolosos, cuja pena, via de regra, ultrapasse quatro anos. Logo, crimes culposos e contravenções pa-recem ser rechaçados pelo instituto.

É de se observar que caso o réu seja reincidente e com respeito ao que reza o artigo 64, I do Código Penal, pode-se aplicar a prisão preventiva ainda que o novo crime não tenha pena maior que qua-tro anos.

Com ressalva de parte da doutrina, pode ser decretada a medi-da cautelar de segregação da liberdade em tela também quando da dúvida sobre a identidade civil do agente e ele não forneça elemen-tos de comprovação de esclarecimentos. A doutrina que vê como medida extrema excepcional revela cabimento na hipótese do acu-sado se recusar a se submeter a identificação criminal.

No artigo 311 do CPP reside determinação no sentido de se permanecer viva a possibilidade de decretação da preventiva em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal. Assim, é medida que tem alicerce em qualquer fase da persecução crimi-nal.

Necessário notar que apesar de reclamar maior cuidado, a de-cretação da preventiva ainda no inquérito policial é fato costumeiro na prática penal cotidiana, onde quase sempre há a segregação cau-telar da liberdade sem a devida preocupação.

Observação importante é que não mais se faz presente no or-denamento jurídico após a lei 12.403/2011 qualquer opção de pri-são preventiva obrigatória. Frise-se que apenas autoridade judiciá-ria competente, em consonância com artigo 5º, LXI, da CF/88 pode decretar a prisão preventiva.

Pressupostos

A prisão preventiva não é uma punição aplicada antecipada-mente, inclusive porque a legislação brasileira proíbe a ocorrência de qualquer sanção antes da condenação judicial.

Essa modalidade de prisão é determinada pela Justiça para im-pedir que o acusado (réu) atrapalhe a investigação, a ordem pública ou econômica e aplicação da lei.

O réu pode ser mantido preso preventivamente até o seu jul-gamento ou pelo período necessário para não atrapalhar as inves-tigações.

Caso exista a necessidade, a prisão preventiva pode ser decre-tada inclusive na fase inicial do inquérito policial, e não dá ao acu-sado o direito de defesa prévia.

A prisão preventiva é a prisão de natureza cautelar mais am-pla existente, sendo uma eficiente ferramenta de encarceramento durante toda a persecução penal, já que pode ser decretada tanto durante o IP quanto na fase processual.

A prisão preventiva, por ser medida de natureza cautelar, só se sustenta se presentes o lastro probatório mínimo a indicar a ocor-rência da infração e os eventuais envolvidos, além de algum motivo legal que fundamente a necessidade de encarceramento.

Admite-se a decretação da preventiva até mesmo sem a ins-tauração do IP, desde que o atendimento aos requisitos legais seja demonstrado por outros elementos indiciários.

Ela é medida de exceção e deve ser aplicada restritivamente, a fim de compatibilizá-la com o princípio constitucional da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CR/88).

Se a prisão em flagrante busca sua justificativa e fundamenta-ção, primeiro, na proteção do ofendido, e, depois, na garantia da qualidade probatória, a prisão preventiva revela a sua cautelaridade

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

na tutela da persecução penal, objetivando impedir que eventuais condutas praticadas pelo alegado autor e/ou por terceiros possam colocar em risco a efetividade do processo.

Referida modalidade de prisão, por trazer como consequência a privação da liberdade antes do trânsito em julgado, somente se justifica enquanto e na medida em que puder realizar a proteção da persecução penal, em todo o seu iter procedimental, e, mais, quando se mostrar a única maneira de satisfazer tal necessidade.

A prisão preventiva, somente deve ser aplicando, como regra, quando as outras medidas cautelares não forem suficientes.

Em razão da sua gravidade, e como decorrência do sistema de garantias individuais constitucionais, somente se decretará a prisão preventiva “por ordem escrita e fundamentada da autoridade judi-ciária competente”, conforme se observa com todas as letras no art. 5º, LXI, da Carta de 1988.

È possível a DECRETAÇÃO DA PREVENTIVA, NÃO SÓ NA PRE-SENÇA DAS CIRCUNSTÂNCIAS FÁTICAS DO ART. 312, CPP, MAS SEM-PRE QUE FOR NECESSÁRIO PARA GARANTIR A EXECUÇÃO DE OUTRA MEDIDA CAUTELAR, DIVERSA DA PRISÃO (ART. 282, § 4º, CPP).

A prisão preventiva, apresenta duas características bem defini-das, a saber:

a) autônoma, podendo ser decretada independentemente de qualquer outra providência cautelar anterior;

b) subsidiária, a ser decretada em razão do descumprimento de medida cautelar anteriormente imposta.

Existem ainda quatro situações claras em que poderá ser im-posta a prisão preventiva:

a) A qualquer momento da fase de investigação ou do pro-cesso, de modo autônomo e independente (art. 311, CPP);

b) Como conversão da prisão em flagrante, quando insu-ficientes ou inadequadas outras medidas cautelares (art. 310, II, CPP);

c) Em substituição à medida cautelar eventualmente des-cumprida (art. 282, § 4º, CPP);

d) Quando houver fundadas dúvidas sobre a identidade do acusado, devendo ele ser imediatamente liberado assim que con-firmada for.

De outro modo, não será cabível a preventiva:a) Para os crimes culposos, contravenção penal ou se no

caso concreto está presente qualquer causa excludente de ilicitude, isso decorre do postulado da proporcionalidade, na perspectiva da proibição do excesso, a impedir que uma medida cautelar seja mais grave e onerosa que o resultado final do processo condenatório;

b) Quando não for prevista pena privativa da liberdade para o delito (art. 283,§ 1º, CPP).

Dita o Código Penal:

(...)CAPÍTULO III

DA PRISÃO PREVENTIVA

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro-cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a re-querimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,

quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1ºA prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo-tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 313.Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva:(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberda-de máxima superior a 4 (quatro) anos;(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em senten-ça transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-digo Penal;(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defi-ciência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgên-cia;(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

IV - (revogado).(Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).§ 1ºTambém será admitida a prisão preventiva quando houver

dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for-necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de-corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 314.A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có-digo Penal.(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis-tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica-ção da medida adotada.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão deci-dida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou-tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no proces-so capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julga-dor;(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí-do pela Lei nº 13.964, de 2019)

VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revo-gar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como nova-mente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Reda-ção dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

PRISÃO TEMPORÁRIA

A prisão temporária é a única prisão de natureza cautelar com prazo de duração preestabelecido, cabível, exclusivamente, na fase pré-processual, durante o inquérito policial, cujo objetivo é o en-carceramento em razão das infrações seletamente indicadas na le-gislação, para possibilitar uma investigação policial eficiente e sem obstáculos que poderiam ser opostos pelo investigado.

É espécie de prisão cautelar com prazo determinado decretada no curso das investigações quando a prisão for indispensável para a colheita de elementos probatórios relativos às infrações do artigo 1, III, da Lei nº 7.960/89 e de crimes hediondos e equiparados.

Originou-se da medida provisória nº 101, de 1989. Hoje MP não pode versar sobre Direito Processual Penal, conforme EC 32/01, o que fez com que muitos discutissem a constitucionalidade da pri-são temporária.

a) Paulo Rangel entende que seria inconstitucional. Para ele te-ria um vício de inconstitucionalidade formal, mas esta posição não é majoritária.

b) O STF julgou a ADI 162 sobre o assunto e rejeitou a tese, en-tendendo pela constitucionalidade da lei a prisão temporária.

Decretação

Ela está adstrita à cláusula de reserva jurisdicional, somente podendo ser decretada pela autoridade judiciária, mediante repre-sentação da autoridade policial ou a requerimento do MP.

A PRISÃO TEMPORÁRIA NUNCA PODERÁ SER DECRETADA DE OFÍCIO PELO JUIZ, assim como não poderá a vítima requerer a sua decretação. Evidencia isso a própria natureza da medida, já que, se ela visa a uma efetividade do procedimento investigatório, somente quem investiga (MP ou polícia judiciária) poderia saber sobre sua necessidade ou não.

Cabimento

É essencial a presença do fumus comissi delicti (materialidade) e do periculum libertatis para sua decretação. Ou seja, o fumus boni iuris seria a materialidade, enquanto o periculum in mora seria o perigo representado pela liberdade do investigado para as investi-gações. Além disso, o art. 1º da Lei nº 7.960/89 exige:

i. Imprescindibilidade para as investigações do inquérito poli-cial: deve haver elementos suficientes que demonstrem que a liber-dade do indiciado poderá frustrar as investigações.

ii. Indiciado não ter residência fixa ou não fornecer elementos para sua identificação: aqui, é necessário que haja um risco efetivo do indivíduo fugir. Não basta a ausência de residência fixa. Relativa-mente à identificação, a autoridade deve proceder a identificação criminal caso não seja possível a identificação civil, permanecendo o indiciado em liberdade.

iii. Quanto houver fundada suspeita de autoria ou participação nos seguintes crimes (taxativos): homicídio doloso, sequestro ou cárcere privado, roubo, extorsão, extorsão mediante sequestro, es-tupro, atentado violento ao puder, epidemia com resultado morte, envenenamento de água potável, quadrilha ou bando, genocídio, tráfico de drogas, crime contra o sistema financeiro, crimes hedion-dos ou equiparados.

A corrente majoritária admite a prisão temporária desde que esteja obrigatoriamente presente uma das hipóteses da letra “c” conjugada com as das letras “a” ou “b”, alternativamente.

Decretação da prisão temporária requer: inciso III+ incisos I ou II

Não é apenas o indiciado, sujeito formalmente apontado pela autoridade policial como autor da infração penal, que estará sujeito à prisão temporária, mas também outras pessoas que influam na investigação criminal.

Prazosa) Regra geral: 05 dias, prorrogável por mais 05 em caso de ex-

trema e comprovada necessidade. Se o pedido de prorrogação vier da polícia, o MP necessariamente deverá ser ouvido.

b) Crimes hediondos e equiparados: prazo de 30 dias, prorro-gável por mais 30, em caso de comprovada e extrema necessidade.

São prazos limites, não sendo o juiz obrigado a decretar sempre por 30 dias. Se ele entender que 10 dias são suficientes, basta.

a) Se pessoa se apresenta às 23 horas já vale como um dia.b) Decorrido o prazo da prisão temporária, o preso deverá ser

colocado em liberdade, salvo se tiver sido decretada sua prisão pre-ventiva.

A prorrogação, se pedida pela autoridade policial, deverá ser precedida obrigatoriamente da oitiva do MP. Entretanto, ela sem-pre deverá ser fundamentada, devendo o legitimado demonstrar ao juiz o que fez no primeiro período e o que pretende fazer no segundo.

O prazo da prisão temporária será acrescentado ao prazo que a autoridade policial possui para concluir o IP.

Procedimentoa) Representação policial ou requerimento do MP;b) Despacho fundamentado do juiz, em 24 horas, decidindo

sobre a temporária, ouvindo o MP se tiver havido representação;c) Expedição de mandado de prisão em duas vias, sendo uma

entregue ao preso como nota de culpa;d) Durante o prazo da temporária, pode o juiz, de ofício ou a re-

querimento do MP ou do defensor, determinar que o preso lhe seja apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito;

e) Decorrido o prazo legal, o preso deve ser posto imediata-mente em liberdade, salvo se decretada a prisão preventiva;

f) Como a liberdade é imeditada, é desnecessário ao delegado receber o alvará de soltura para liberar o investigado, salvo se para soltar antes do prazo fixado pelo juiz, hipótese em que deve haver o alvará de soltura expedido pelo juiz.

Por fim, lembrar que o preso temporariamente deve permane-cer obrigatoriamente separado dos demais detentos.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

(LEI N.º 7.960/1989)

LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989.

Conversão da Medida Provisória nº 111, de 1989(Vide Lei nº 13.869, de 2019)(Vigência)

Dispõe sobre prisão temporária.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1° Caberá prisão temporária:I - quando imprescindível para as investigações do inquérito

policial;II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer

elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer

prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1°

e 2°);c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°,

2° e 3°);f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223,

caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combina-

ção com o art. 223, caput, e parágrafo único); (Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)

h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)

i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia

ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285);

l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro

de 1956), em qualquer de sua formas típicas;n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro

de 1976);o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de

junho de 1986).p) crimes previstos na Lei de Terrorismo. (Incluído pela Lei nº

13.260, de 2016)Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da

representação da autoridade policial ou de requerimento do Minis-tério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.

§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.

§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do requerimento.

§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta-do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito.

§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e servirá como nota de culpa.

§ 4º-AO mandado de prisão conterá necessariamente o perío-do de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste ar-tigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado. (Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019)

§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi-ção de mandado judicial.

§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal.

§ 7ºDecorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au-toridade responsável pela custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019)

§ 8ºInclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo de prisão temporária. (Redação dada pela Lei nº 13.869. de 2019)

Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato-riamente, separados dos demais detentos.

Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965, fica acrescido da alínea i, com a seguinte redação:

“Art. 4° ...............................................................i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de

medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade;”

Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão tem-porária.

Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 21 de dezembro de 1989; 168° da Independência e 101° da República.

PROCESSOS DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS.

O Código de Processo Penal definiu nos artigos 513 a 518 um rito especial para a apuração dos crimes praticados por funcioná-rios públicos contra a administração pública. Desde já é importante ressaltar que este procedimento diferenciado não abrange:

1 – Crimes cometidos por funcionários públicos contra parti-cular;

Exemplo:

Art.150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamen-te, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: [...]

§ 2º - Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder.

2 – Delitos cometidos por particulares contra a AdministraçãoPública;Exemplo:

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.3 – Crimes contra a Administração da Justiça;Exemplo:

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, in-quérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

4 – Crimes de Abuso de Autoridade Î Possuem procedimento especial definido na própria lei instituidora (Lei 4.898/65).

Visto isto, chegamos a um importante questionamento: Mas qual a abrangência da palavra funcionário público dentro do nosso país? Para responder a esta pergunta devemos recorrer ao Código Penal, que dispõe:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos pe-nais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.

PROCEDIMENTO ESPECIAL

Para tratarmos deste tema, tínhamos que diferenciar o proce-dimento dos crimes afiançáveis do rito para os delitos inafiançáveis.

Todavia, com o implemento da lei nº 12.403/11, não há mais delitos inafiançáveis praticados por funcionários públicos contra a administração.

Antes, tínhamos o excesso de exação e a facilitação de contra-bando ou descaminho.

CRIMES AFIANÇAVEIS

Nos crimes funcionais afiançáveis, a seguinte ordem dos atos deverá ser observada:

1. Oferecimento da denúncia ou queixa: a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossi-bilidade de apresentação de qualquer dessas provas (art. 513).

Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públi-cos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justifica-ção que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas. (grifo nosso)

2. Autuação e notificação para a resposta preliminar: estando a denúncia ou queixa em devida forma e, portanto, não sendo o caso de rejeição liminar (art. 395), o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.

Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias.

1. Recebimento ou rejeição da inicial. Após a apresentação da resposta e análise do juiz, este terá duas opções: Rejeitar a denún-cia ou queixa: se convencido, pela resposta do acusado ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação (art. 516).

Art. 517. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação.

Receber a denúncia ou queixa: ocasião em que deverá citar o acusado para, no prazo de dez dias, responder à acusação (arts. 396 e 396-A).

Art. 516. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado ci-tado [...].

2. Com o recebimento da denúncia, prossegue conforme o rito ordinário (art. 518).

Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do proces-so, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Livro.

HABEAS CORPUS

Habeas Corpus (art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal de 1.988 e arts. 647 a 667, Código Processual Penal)

O habeas corpus teria sua origem remota no direito romano, onde todo o cidadão podia reclamar a exibição do homem livre de-tido ilegalmente por meio de uma ação privilegiada, conhecida por interdictum de libero homine exhibendo. Entretanto, somente se delineou um instrumento que possa ser identificado como habeas corpus a partir da “Magna Carta”, em 1.215, imposta pelos barões ingleses ao rei João Sem-Terra, especialmente com o writ of habeas corpus ad subjiciendum, daí evoluindo cada vez mais por meio do habeas corpus Act de 1.679 e do habeas corpus Act de 1.816. Do di-reito inglês foi levado para as colônias da América do Norte, sendo, posteriormente, incorporado na Constituição de 1.787 dos Estados Unidos da América.

No Brasil o habeas corpus entrou, pela primeira vez, na nos-sa legislação, de forma expressa, com a promulgação do Código de Processo Criminal, em 1.832 (art. 340), embora estivesse contido implicitamente na Constituição do Império de 1.824 (art. 179, § 8º). Atualmente, na Constituição da República de 1988, o habeas corpus está previsto no art. 5º, inciso LXVII.

O HC é uma ação constitucional de natureza jurídica de ação penal destinada especificamente à proteção da liberdade de loco-moção quando ameaçada ou violada por ilegalidade ou abuso de poder.

Está previsto na Constituição da República, e será concedido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer viola-ção ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

Preventivamente, o HC é ajuizado quando o cerceio de liber-dade estiver em vias de se concretizar. Repressivamente, quando a violação da liberdade de locomoção já tiver se concretizado.

A ação do HC é de conhecimento, podendo dela resultar uma tutela declaratória, constitutiva ou, até mesmo, condenatória, mas sempre tendo caráter mandamental, já que desnecessária e inexis-tente fase posterior de execução para dar efetividade à ordem.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Condições da Ação

As condições de ação devem ser vistas da mesma forma que nas demais ações.

Assim, temos como primeira condição de ação a possibilidade jurídica do pedido, que consiste na ausência de vedação legal a de-terminada demanda, como ocorre com a vedação constitucional ao HC para combater punições disciplinares militares (art. 142, § 2º, CR/88).

Admite-se a utilização do HC como sucedâneo recursal, quando não houver recurso apto a proteger a liberdade da pessoa. Nesse caso, a sentença que decidir o HC terá efeitos em outro processo. Logo, para tal, este último processo não pode já ter sido encerrado.

A causa de pedir no Habeas Corpus é a violação à liberdade de ir e vir do indivíduo. O HC pode se dirigir contra a prisão ilegal, contra a ameaça de prisão e contra inquérito policial, procedimento criminal ou processo penal cuja conclusão possa resultar em pena privativa de liberdade.

De acordo com o art. 648 do CPP, a coação considerar-se-á ile-gal quando:

a) Não houver justa causa;b) Alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;c) Quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;d) Houver cessado o motivo que autorizou a coação;e) Não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que

a lei autoriza;f) O processo for manifestamente nulo;g) Estiver extinta a punibilidade.

Senão vejamos:

Código Processual PenalCAPÍTULO X

DO HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO

Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: I - quando não houver justa causa; II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que de-

termina a lei; III - quando quem ordenar a coação não tiver competência

para fazê-lo; IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos

em que a lei a autoriza; VI - quando o processo for manifestamente nulo; VII - quando extinta a punibilidade.

Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua jurisdi-ção, fará passar imediatamente a ordem impetrada, nos casos em que tenha cabimento, seja qual for a autoridade coatora.

Art. 650. Competirá conhecer, originariamente, do pedido de habeas corpus:

I - ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no Art. 101, I, g, da Constituição;

II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de violência ou coação forem atribuídos aos governadores ou interventores dos Estados ou Territórios e ao prefeito do Distrito Federal, ou a seus secretários, ou aos chefes de Polícia.

§ 1o A competência do juiz cessará sempre que a violência ou coação provier de autoridade judiciária de igual ou superior juris-dição.

§ 2o Não cabe o habeas corpus contra a prisão administrativa, atual ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor perten-cente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em fazer o seu re-colhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado de prova de quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a prisão exceder o prazo legal.

Art. 651. A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá termo ao processo, desde que este não esteja em conflito com os fundamentos daquela.

Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nuli-dade do processo, este será renovado.

Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas corpus, será condenada nas custas a autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.

Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Públi-co cópia das peças necessárias para ser promovida a responsabili-dade da autoridade.

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Pú-blico.

§ 1o A petição de habeas corpus conterá:

a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;

b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor;

c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quan-do não souber ou não puder escrever, e a designação das respecti-vas residências.

§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

Art. 655. O carcereiro ou o diretor da prisão, o escrivão, o oficial de justiça ou a autoridade judiciária ou policial que emba-raçar ou procrastinar a expedição de ordem de habeas corpus, as informações sobre a causa da prisão, a condução e apresentação do paciente, ou a sua soltura, será multado na quantia de duzentos mil-réis a um conto de réis, sem prejuízo das penas em que incorrer. As multas serão impostas pelo juiz do tribunal que julgar o habeas corpus, salvo quando se tratar de autoridade judiciária, caso em que caberá ao Supremo Tribunal Federal ou ao Tribunal de Apela-ção impor as multas.

Art. 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o paciente, mandará que este Ihe seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar.

Parágrafo único. Em caso de desobediência, será expedido mandado de prisão contra o detentor, que será processado na for-ma da lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja tirado da prisão e apresentado em juízo.

Art. 657. Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará a sua apresentação, salvo:

I - grave enfermidade do paciente;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a detenção;

III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz ou pelo tribunal.

Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que o paciente se encontrar, se este não puder ser apresentado por motivo de doen-ça.

Art. 658. O detentor declarará à ordem de quem o paciente estiver preso.

Art. 659. Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violên-cia ou coação ilegal, julgará prejudicado o pedido.

Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz decidirá, fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se por outro motivo dever ser mantido na prisão.

§ 2o Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem a ilegalidade da coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse ime-diatamente o constrangimento.

§ 3o Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o pacien-te admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que po-derá ser prestada perante ele, remetendo, neste caso, à autoridade os respectivos autos, para serem anexados aos do inquérito policial ou aos do processo judicial.

§ 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo--conduto assinado pelo juiz.

§ 5o Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade que tiver ordenado a prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a fim de juntar-se aos autos do processo.

§ 6o Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja o da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará de soltura será expedido pelo telégrafo, se houver, observadas as formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único, in fine, ou por via postal.

Art. 661. Em caso de competência originária do Tribunal de Apelação, a petição de habeas corpus será apresentada ao secre-tário, que a enviará imediatamente ao presidente do tribunal, ou da câmara criminal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro tiver de reunir-se.

Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1o, o presidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada como coatora informações por escrito. Faltando, porém, qualquer daque-les requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for apresentada a petição.

Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão ordenadas, se o presidente entender que o habeas corpus deva ser indeferido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou turma, para que delibere a respeito.

Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar--se o julgamento para a sessão seguinte.

Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos. Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte na vota-ção, proferirá voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente.

Art. 665. O secretário do tribunal lavrará a ordem que, assina-da pelo presidente do tribunal, câmara ou turma, será dirigida, por ofício ou telegrama, ao detentor, ao carcereiro ou autoridade que exercer ou ameaçar exercer o constrangimento.

Parágrafo único. A ordem transmitida por telegrama obedece-rá ao disposto no art. 289, parágrafo único, in fine.

Art. 666. Os regimentos dos Tribunais de Apelação estabele-cerão as normas complementares para o processo e julgamento do pedido de habeas corpus de sua competência originária.

Art. 667. No processo e julgamento do habeas corpus de com-petência originária do Supremo Tribunal Federal, bem como nos de recurso das decisões de última ou única instância, denegatórias de habeas corpus, observar-se-á, no que Ihes for aplicável, o disposto nos artigos anteriores, devendo o regimento interno do tribunal es-tabelecer as regras complementares.

(...)

LEI Nº 12.830, DE 20 DE JUNHO DE 2013.

Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia.

Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infra-ções penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurí-dica, essenciais e exclusivas de Estado.

§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade poli-cial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inqué-rito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da auto-ria das infrações penais.

§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de po-lícia a requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.

§ 3º (VETADO).§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em

curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por superior hierár-quico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse pú-blico ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação.

§ 5º A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.

§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.

Art. 3º O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o mesmo tratamento pro-tocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do Ministério Público e os advogados.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.Brasília, 20 de junho de 2013; 192º da Independência e 125º

da República.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS

(Assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, San José, Costa Rica, em 22 de novembro de

1969)

PREÂMBULO

Os Estados americanos signatários da presente Convenção,

Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de li-berdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direi-tos essenciais do homem;

Reconhecendo que os direitos essenciais do homem não de-rivam do fato de ser ele nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o di-reito interno dos Estados americanos;

Considerando que esses princípios foram consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem e que foram reafirmados e desenvolvidos em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbito mundial como regional;

Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, só pode ser realizado o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas condições que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e

Considerando que a Terceira Conferência Interamericana Ex-traordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a incorporação à pró-pria Carta da Organização de normas mais amplas sobre direitos econômicos, sociais e educacionais e resolveu que uma convenção interamericana sobre direitos humanos determinasse a estrutura, competência e processo dos órgãos encarregados dessa matéria,

Convieram no seguinte:

PARTE IDEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS

CAPÍTULO IENUMERAÇÃO DE DEVERES

Artigo 1. Obrigação de respeitar os direitos 1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a res-

peitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua ju-risdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qual-quer outra condição social.

2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.

Artigo 2. Dever de adotar disposições de direito internoSe o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo

1 ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou de ou-tra natureza, os Estados Partes comprometem-se a adotar, de acor-do com as suas normas constitucionais e com as disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.

CAPÍTULO IIDIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

Artigo 3. Direito ao reconhecimento da personalidade jurídicaToda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personali-

dade jurídica.

Artigo 4. Direito à vida 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse

direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.

2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.

4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos, nem por delitos comuns conexos com delitos po-líticos.

5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no mo-mento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez.

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anis-tia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquan-to o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade compe-tente.

Artigo 5. Direito à integridade pessoal 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade

física, psíquica e moral. 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou

tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade ine-rente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente. 4. Os processados devem ficar separados dos condenados, sal-

vo em circunstâncias excepcionais, e ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento.

6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados.

Artigo 6. Proibição da escravidão e da servidão 1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou a servidão, e

tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas.

2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa da liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode ser interpretada no sentido de que proíbe

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

o cumprimento da dita pena, imposta por juiz ou tribunal compe-tente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a capa-cidade física e intelectual do recluso.

3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste artigo:

a. os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa re-clusa em cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços devem ser executados sob a vigilância e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os executarem não devem ser postos à disposição de particulares, companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado;

b. o serviço militar e, nos países onde se admite a isenção por motivos de consciência, o serviço nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;

c. o serviço imposto em casos de perigo ou calamidade que ameace a existência ou o bem-estar da comunidade; e

d. o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

Artigo 7. Direito à liberdade pessoal 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pe-

las causas e nas condições previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas pro-mulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramen-to arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e notificada, sem demora, da acusação ou acusa-ções formuladas contra ela.

5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem de-mora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garan-tias que assegurem o seu comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados Partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal compe-tente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.

7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limi-ta os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.

Artigo 8. Garantias judiciais 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garan-

tias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal compe-tente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presu-ma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

a. direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tra-dutor ou intérprete, se não compreender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal;

b. comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusa-ção formulada;

c. concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua defesa;

d. direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livre-mente e em particular, com seu defensor;

e. direito irrenunciável de ser assistido por um defensor pro-porcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio nem nomear de-fensor dentro do prazo estabelecido pela lei;

f. direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no tri-bunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos;

g. direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada;

h. direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.

3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.

4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.

5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessá-rio para preservar os interesses da justiça.

Artigo 9. Princípio da legalidade e da retroatividade Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no

momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acor-do com o direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais gra-ve que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinqüente será por isso beneficiado.

Artigo 10. Direito a indenização Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a lei, no

caso de haver sido condenada em sentença passada em julgado, por erro judiciário.

Artigo 11. Proteção da honra e da dignidade 1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reco-

nhecimento de sua dignidade. 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abu-

sivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou re-putação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais inge-rências ou tais ofensas.

Artigo 12. Liberdade de consciência e de religião 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de re-

ligião. Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, indi-vidual ou coletivamente, tanto em público como em privado.

2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças.

3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita unicamente às limitações prescritas pela lei e que sejam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos ou liberdades das demais pessoas.

4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus filhos ou pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde com suas próprias convicções.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Artigo 13. Liberdade de pensamento e de expressão 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de

expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e idéias de toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulte-riores, que devem ser expressamente fixadas pela lei e ser necessá-rias para assegurar:

a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou

b. a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas.

3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou parti-culares de papel de imprensa, de freqüências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura pré-via, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para prote-ção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.

5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que consti-tua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.

Artigo 14. Direito de retificação ou resposta 1. Toda pessoa atingida por informações inexatas ou ofensivas

emitidas em seu prejuízo por meios de difusão legalmente regula-mentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas con-dições que estabeleça a lei.

2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras responsabilidades legais em que se houver incorrido.

3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publi-cação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou televi-são, deve ter uma pessoa responsável que não seja protegida por imunidades nem goze de foro especial.

Artigo 15. Direito de reunião É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O

exercício de tal direito só pode estar sujeito às restrições previstas pela lei e que sejam necessárias, numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem públi-cas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

Artigo 16. Liberdade de associação 1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente

com fins ideológicos, religiosos, políticos, econômicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer outra natureza.

2. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às restrições previstas pela lei que sejam necessárias, numa sociedade democrá-tica, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direi-tos e liberdades das demais pessoas.

3. O disposto neste artigo não impede a imposição de restri-ções legais, e mesmo a privação do exercício do direito de associa-ção, aos membros das forças armadas e da polícia.

Artigo 17. Proteção da família 1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade

e deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado. 2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraí-

rem casamento e de fundarem uma família, se tiverem a idade e as condições para isso exigidas pelas leis internas, na medida em que não afetem estas o princípio da não-discriminação estabelecido nesta Convenção.

3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos contraentes.

4. Os Estados Partes devem tomar medidas apropriadas no sentido de assegurar a igualdade de direitos e a adequada equiva-lência de responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, du-rante o casamento e em caso de dissolução do mesmo. Em caso de dissolução, serão adotadas disposições que assegurem a proteção necessária aos filhos, com base unicamente no interesse e conve-niência dos mesmos.

5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nasci-dos fora do casamento como aos nascidos dentro do casamento.

Artigo 18. Direito ao nome Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus

pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma de assegurar a todos esse direito, mediante nomes fictícios, se for necessário.

Artigo 19. Direitos da criança Toda criança tem direito às medidas de proteção que a sua

condição de menor requer por parte da sua família, da sociedade e do Estado.

Artigo 20. Direito à nacionalidade 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo

território houver nascido, se não tiver direito a outra. 3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionali-

dade nem do direito de mudá-la.

Artigo 21. Direito à propriedade privada 1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus bens. A lei

pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social. 2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo me-

diante o pagamento de indenização justa, por motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na forma estabelecidos pela lei.

3. Tanto a usura como qualquer outra forma de exploração do homem pelo homem devem ser reprimidas pela lei.

Artigo 22. Direito de circulação e de residência1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Es-

tado tem direito de circular nele e de nele residir em conformidade com as disposições legais.

2. Toda pessoa tem o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive do próprio.

3. O exercício dos direitos acima mencionados não pode ser restringido senão em virtude de lei, na medida indispensável, numa sociedade democrática, para prevenir infrações penais ou para proteger a segurança nacional, a segurança ou a ordem públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode tam-bém ser restringido pela lei, em zonas determinadas, por motivo de interesse público.

5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional, nem ser privado do direito de nele entrar.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

6. O estrangeiro que se ache legalmente no território de um Estado Parte nesta Convenção só poderá dele ser expulso em cum-primento de decisão adotada de acordo com a lei.

7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em ter-ritório estrangeiro, em caso de perseguição por delitos políticos ou comuns conexos com delitos políticos e de acordo com a legislação de cada Estado e com os convênios internacionais.

8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entre-gue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco de violação por causa da sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões políticas.

9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.

Artigo 23. Direitos políticos 1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e

oportunidades: a. de participar na direção dos assuntos públicos, diretamente

ou por meio de representantes livremente eleitos; b. de votar e ser eleitos em eleições periódicas autênticas, rea-

lizadas por sufrágio universal e igual e por voto secreto que garanta a livre expressão da vontade dos eleitores; e

c. de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país.

2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivos de ida-de, nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental, ou condenação, por juiz competente, em processo penal.

Artigo 24. Igualdade perante a lei Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm

direito, sem discriminação, a igual proteção da lei.

Artigo 25. Proteção judicial 1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a

qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais com-petentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos funda-mentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.

2. Os Estados Partes comprometem-se: a. a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sis-

tema legal do Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;

b. a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e c. a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competen-

tes, de toda decisão em que se tenha considerado procedente o recurso.

CAPÍTULO IIIDIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

Artigo 26. Desenvolvimento progressivo Os Estados Partes comprometem-se a adotar providências,

tanto no âmbito interno como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir progressi-vamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.

CAPÍTULO IVSUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO

Artigo 27. Suspensão de garantias 1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emer-

gência que ameace a independência ou segurança do Estado Par-te, este poderá adotar disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação al-guma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social.

2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direi-tos determinados seguintes artigos: 3 (Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica); 4 (Direito à vida); 5 (Direito à integrida-de pessoal); 6 (Proibição da escravidão e servidão); 9 (Princípio da legalidade e da retroatividade); 12 (Liberdade de consciência e de religião); 17 (Proteção da família); 18 (Direito ao nome); 19 (Direitos da criança); 20 (Direito à nacionalidade) e 23 (Direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos.

3. Todo Estado Parte que fizer uso do direito de suspensão de-verá informar imediatamente os outros Estados Partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos, das disposições cuja aplicação haja suspendi-do, dos motivos determinantes da suspensão e da data em que haja dado por terminada tal suspensão.

Artigo 28. Cláusula federal 1. Quando se tratar de um Estado Parte constituído como Es-

tado federal, o governo nacional do aludido Estado Parte cumprirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas com as matérias sobre as quais exerce competência legislativa e judicial.

2. No tocante às disposições relativas às matérias que corres-pondem à competência das entidades componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamente as medidas perti-nente, em conformidade com sua constituição e suas leis, a fim de que as autoridades competentes das referidas entidades possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta Conven-ção.

3. Quando dois ou mais Estados Partes decidirem constituir entre eles uma federação ou outro tipo de associação, diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário respectivo contenha as dis-posições necessárias para que continuem sendo efetivas no novo Estado assim organizado as normas da presente Convenção.

Artigo 29. Normas de interpretação Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada

no sentido de:a. permitir a qualquer dos Estados Partes, grupo ou pessoa, su-

primir o gozo e exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a nela prevista;

b. limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos de acordo com as leis de qualquer dos Estados Partes ou de acordo com outra convenção em que seja parte um dos referidos Estados;

c. excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da forma democrática representativa de governo; e

d. excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e outros atos interna-cionais da mesma natureza.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Artigo 30. Alcance das restrições As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao

gozo e exercício dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promul-gadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual houverem sido estabelecidas.

Artigo 31. Reconhecimento de outros direitos Poderão ser incluídos no regime de proteção desta Convenção

outros direitos e liberdades que forem reconhecidos de acordo com os processos estabelecidos nos artigos 76 e 77.

CAPÍTULO VDEVERES DAS PESSOAS

Artigo 32. Correlação entre deveres e direitos 1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade

e a humanidade. 2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos

demais, pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem comum, numa sociedade democrática.

PARTE IIMEIOS DA PROTEÇÃO

CAPÍTULO VIÓRGÃOS COMPETENTES

Artigo 33 São competentes para conhecer dos assuntos relacionados

com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção:

a. a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Comissão; e

b. a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante de-nominada a Corte.

CAPÍTULO VIICOMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1 — Organização

Artigo 34 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-se-á

de sete membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade mo-ral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos.

Artigo 35 A Comissão representa todos os membros da Organização dos

Estados Americanos.

Artigo 36 1. Os membros da Comissão serão eleitos a título pessoal, pela

Assembléia Geral da Organização, de uma lista de candidatos pro-postos pelos governos dos Estados membros.

2. Cada um dos referidos governos pode propor até três can-didatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado membro da Organização dos Estados Americanos. Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles de-verá ser nacional de Estado diferente do proponente.

Artigo 37 1. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só

poderão ser reeleitos uma vez, porém o mandato de três dos mem-bros designados na primeira eleição expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da referida eleição, serão determinados por sorteio, na Assembleia Geral, os nomes desses três membros.

2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de um mesmo Estado.

Artigo 38 As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se devam à ex-

piração normal do mandato, serão preenchidas pelo Conselho Per-manente da Organização, de acordo com o que dispuser o Estatuto da Comissão.

Artigo 39 A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação

da Assembleia Geral e expedirá seu próprio regulamento.

Artigo 40 Os serviços de secretaria da Comissão devem ser desempenha-

dos pela unidade funcional especializada que faz parte da Secreta-ria-Geral da Organização e devem dispor dos recursos necessários para cumprir as tarefas que lhe forem confiadas pela Comissão.

Seção 2 — Funções

Artigo 41 A Comissão tem a função principal de promover a observância

e a defesa dos direitos humanos e, no exercício do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições:

a. estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;

b. formular recomendações aos governos dos Estados mem-bros, quando o considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como dis-posições apropriadas para promover o devido respeito a esses di-reitos;

c. preparar os estudos ou relatórios que considerar convenien-tes para o desempenho de suas funções;

d. solicitar aos governos dos Estados membros que lhe propor-cionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos;

e. atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem;

f. atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e

g. apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Organi-zação dos Estados Americanos.

Artigo 42 Os Estados Partes devem remeter à Comissão cópia dos relató-

rios e estudos que, em seus respectivos campos, submetem anual-mente às Comissões Executivas do Conselho Interamericano Econô-mico e Social e do Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela vele por que se promovam os direi-tos decorrentes das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Artigo 43 Os Estados Partes obrigam-se a proporcionar à Comissão as

informações que esta lhes solicitar sobre a maneira pela qual o seu direito interno assegura a aplicação efetiva de quaisquer disposi-ções desta Convenção.

Seção 3 — Competência

Artigo 44 Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-gover-

namental legalmente reconhecida em um ou mais Estados mem-bros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado Parte.

Artigo 45 1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu

instrumento de ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece a compe-tência da Comissão para receber e examinar as comunicações em que um Estado Parte alegue haver outro Estado Parte incorrido em violações dos direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.

2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ser admitidas e examinadas se forem apresentadas por um Estado Parte que haja feito uma declaração pela qual reconheça a referi-da competência da Comissão. A Comissão não admitirá nenhuma comunicação contra um Estado Parte que não haja feito tal decla-ração.

3. As declarações sobre reconhecimento de competência po-dem ser feitas para que esta vigore por tempo indefinido, por perío-do determinado ou para casos específicos.

4. As declarações serão depositadas na Secretaria-Geral da Or-ganização dos Estados Americanos, a qual encaminhará cópia das mesmas aos Estados membros da referida Organização.

Artigo 46 1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acor-

do com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será ne-cessário:

a. que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da juris-dição interna, de acordo com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;

b. que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;

c. que a matéria da petição ou comunicação não esteja pen-dente de outro processo de solução internacional; e

d. que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a na-cionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a pe-tição.

2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando:

a. não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;

b. não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e

c. houver demora injustificada na decisão sobre os menciona-dos recursos.

Artigo 47 A Comissão declarará inadmissível toda petição ou comunica-

ção apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 quando:a. não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo

46; b. não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos ga-

rantidos por esta Convenção; c. pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for ma-

nifestamente infundada a petição ou comunicação ou for evidente sua total improcedência; ou

d. for substancialmente reprodução de petição ou comunica-ção anterior, já examinada pela Comissão ou por outro organismo internacional.

Seção 4 — Processo

Artigo 48 1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação na

qual se alegue violação de qualquer dos direitos consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte maneira:

a. se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunicação, solicitará informações ao Governo do Estado ao qual pertença a au-toridade apontada como responsável pela violação alegada e trans-creverá as partes pertinentes da petição ou comunicação. As referi-das informações devem ser enviadas dentro de um prazo razoável, fixado pela Comissão ao considerar as circunstâncias de cada caso;

b. recebidas as informações, ou transcorrido o prazo fixado sem que sejam elas recebidas, verificará se existem ou subsistem os motivos da petição ou comunicação. No caso de não existirem ou não subsistirem, mandará arquivar o expediente;

c. poderá também declarar a inadmissibilidade ou a improce-dência da petição ou comunicação, com base em informação ou prova supervenientes;

d. se o expediente não houver sido arquivado, e com o fim de comprovar os fatos, a Comissão procederá, com conhecimento das partes, a um exame do assunto exposto na petição ou comunicação. Se for necessário e conveniente, a Comissão procederá a uma inves-tigação para cuja eficaz realização solicitará, e os Estados interessa-dos lhes proporcionarão todas as facilidades necessárias;

e. poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação pertinente e receberá, se isso lhe for solicitado, as exposições ver-bais ou escritas que apresentarem os interessados; e

f. pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fim de chegar a uma solução amistosa do assunto, fundada no respeito aos direi-tos humanos reconhecidos nesta Convenção.

2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realizada uma investigação, mediante prévio consentimento do Estado em cujo território se alegue haver sido cometida a violação, tão somen-te com a apresentação de uma petição ou comunicação que reúna todos os requisitos formais de admissibilidade.

Artigo 49 Se se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com

as disposições do inciso 1, f, do artigo 48, a Comissão redigirá um re-latório que será encaminhado ao peticionário e aos Estados Partes nesta Convenção e, posteriormente, transmitido, para sua publica-ção, ao Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos. O referido relatório conterá uma breve exposição dos fatos e da solu-ção alcançada. Se qualquer das partes no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação possível.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Artigo 50 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for

fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao relatório as exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos interessados em virtude do inciso 1, e, do artigo 48.

2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não será facultado publicá-lo.

3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e recomendações que julgar adequadas.

Artigo 51 1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados

interessados do relatório da Comissão, o assunto não houver sido solucionado ou submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a questão submetida à sua consi-deração.

2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe com-petirem para remediar a situação examinada.

3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, se o Estado tomou ou não medidas adequadas e se publica ou não seu relatório.

CAPÍTULO VIIICORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1 — Organização

Artigo 52 1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Estados

membros da Organização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em maté-ria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos.

2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.

Artigo 53 1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo

voto da maioria absoluta dos Estados Partes na Convenção, na As-sembleia Geral da Organização, de uma lista de candidatos propos-tos pelos mesmos Estados.

2. Cada um dos Estados Partes pode propor até três candida-tos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Es-tado membro da Organização dos Estados Americanos. Quando se propuser uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

Artigo 54 1. Os juízes da Corte serão eleitos por um período de seis anos

e só poderão ser reeleitos uma vez. O mandato de três dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três anos. Ime-diatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão por sor-teio, na Assembleia Geral, os nomes desses três juízes.

2. O juiz eleito para substituir outro cujo mandato não haja expirado, completará o período deste.

3. Os juízes permanecerão em funções até o término dos seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionando nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos.

Artigo 55 1. O juiz que for nacional de algum dos Estados Partes no caso

submetido à Corte, conservará o seu direito de conhecer do mes-mo.

2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacio-nalidade de um dos Estados Partes, outro Estado Parte no caso po-derá designar uma pessoa de sua escolha para fazer parte da Corte na qualidade de juiz ad hoc.

3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum for da nacionalidade dos Estados Partes, cada um destes poderá designar um juiz ad hoc.

4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52.

5. Se vários Estados Partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no caso, serão considerados como uma só Parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte decidirá.

Artigo 56 O quorum para as deliberações da Corte é constituído por cin-

co juízes.

Artigo 57 A Comissão comparecerá em todos os casos perante a Corte.

Artigo 58 1. A Corte terá sua sede no lugar que for determinado, na As-

sembleia Geral da Organização, pelos Estados Partes na Conven-ção, mas poderá realizar reuniões no território de qualquer Estado membro da Organização dos Estados Americanos em que o consi-derar conveniente pela maioria dos seus membros e mediante pré-via aquiescência do Estado respectivo. Os Estados Partes na Con-venção podem, na Assembleia Geral, por dois terços dos seus votos, mudar a sede da Corte.

2. A Corte designará seu Secretário. 3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir às

reuniões que ela realizar fora da mesma.

Artigo 59 A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e funcionará

sob a direção do Secretário da Corte, de acordo com as normas ad-ministrativas da Secretaria-Geral da Organização em tudo o que não for incompatível com a independência da Corte. Seus funcionários serão nomeados pelo Secretário-Geral da Organização, em consulta com o Secretário da Corte.

Artigo 60 A Corte elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da

Assembleia Geral e expedirá seu regimento.

Seção 2 — Competência e funções

Artigo 61 1. Somente os Estados Partes e a Comissão têm direito de sub-

meter caso à decisão da Corte. 2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é neces-

sário que sejam esgotados os processos previstos nos artigos 48 a 50.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

Artigo 62 1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu

instrumento de ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial, a compe-tência da Corte em todos os casos relativos à interpretação ou apli-cação desta Convenção.

2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob con-dição de reciprocidade, por prazo determinado ou para casos espe-cíficos. Deverá ser apresentada ao Secretário-Geral da Organização, que encaminhará cópias da mesma aos outros Estados membros da Organização e ao Secretário da Corte.

3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das disposições desta Conven-ção que lhe seja submetido, desde que os Estados Partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida competência, seja por declaração especial, como preveem os incisos anteriores, seja por convenção especial.

Artigo 63 1. Quando decidir que houve violação de um direito ou liber-

dade protegidos nesta Convenção, a Corte determinará que se as-segure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam reparadas as conseqüências da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada.

2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.

Artigo 64 1. Os Estados membros da Organização poderão consultar a

Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros trata-dos concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Esta-dos Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

2. A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais.

Artigo 65 A Corte submeterá à consideração da Assembléia Geral da

Organização, em cada período ordinário de sessões, um relatório sobre suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças.

Seção 3 — Procedimento

Artigo 66 1. A sentença da Corte deve ser fundamentada. 2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a opinião

unânime dos juízes, qualquer deles terá direito a que se agregue à sentença o seu voto dissidente ou individual.

Artigo 67 A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de di-

vergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a Corte interpre-tá-la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que o pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data da notificação da sentença.

Artigo 68 1. Os Estados Partes na Convenção comprometem-se a cum-

prir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes. 2. A parte da sentença que determinar indenização compensa-

tória poderá ser executada no país respectivo pelo processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado.

Artigo 69 A sentença da Corte deve ser notificada às partes no caso e

transmitida aos Estados Partes na Convenção.

CAPÍTULO IVDISPOSIÇÕES COMUNS

Artigo 70 1. Os juízes da Corte e os membros da Comissão gozam, des-

de o momento de sua eleição e enquanto durar o seu mandato, das imunidades reconhecidas aos agentes diplomáticos pelo Direito Internacional. Durante o exercício dos seus cargos gozam, além dis-so, dos privilégios diplomáticos necessários para o desempenho de suas funções.

2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo algum dos juízes da Corte, nem dos membros da Comissão, por votos e opi-niões emitidos no exercício de suas funções.

Artigo 71 Os cargos de juiz da Corte ou de membro da Comissão são

incompatíveis com outras atividades que possam afetar sua inde-pendência ou imparcialidade conforme o que for determinado nos respectivos estatutos.

Artigo 72 Os juízes da Corte e os membros da Comissão perceberão ho-

norários e despesas de viagem na forma e nas condições que deter-minarem os seus estatutos, levando em conta a importância e inde-pendência de suas funções. Tais honorários e despesas de viagem serão fixados no orçamento-programa da Organização dos Estados Americanos, no qual devem ser incluídas, além disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para tais efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de orçamento e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral, por intermédio da Secretaria-Geral. Esta última não poderá nele introduzir modificações.

Artigo 73 Somente por solicitação da Comissão ou da Corte, conforme

o caso, cabe à Assembleia Geral da Organização resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos casos previstos nos respectivos estatutos. Para expedir uma resolução, será necessária maioria de dois terços dos votos dos Estados Membros da Organização, no caso dos membros da Comissão; e, além disso, de dois terços dos votos dos Estados Partes na Convenção, se se tratar dos juízes da Corte.

PARTE IIIDISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

CAPÍTULO XASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, EMENDA,

PROTOCOLO E DENÚNCIA

Artigo 74 1. Esta Convenção fica aberta à assinatura e à ratificação ou

adesão de todos os Estados membros da Organização dos Estados Americanos.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de ratificação ou de adesão na Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houverem de-positado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de ade-são. Com referência a qualquer outro Estado que a ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor na data do depósito do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

3. O Secretário-Geral informará todos os Estados membros da Organização sobre a entrada em vigor da Convenção.

Artigo 75 Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformi-

dade com as disposições da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de 1969.

Artigo 76 1. Qualquer Estado Parte, diretamente, e a Comissão ou a Cor-

te, por intermédio do Secretário-Geral, podem submeter à Assem-bleia Geral, para o que julgarem conveniente, proposta de emenda a esta Convenção.

2. As emendas entrarão em vigor para os Estados que ratifi-carem as mesmas na data em que houver sido depositado o res-pectivo instrumento de ratificação que corresponda ao número de dois terços dos Estados Partes nesta Convenção. Quanto aos outros Estados Partes, entrarão em vigor na data em que depositarem eles os seus respectivos instrumentos de ratificação.

Artigo 77 1. De acordo com a faculdade estabelecida no artigo 31, qual-

quer Estado Parte e a Comissão podem submeter à consideração dos Estados Partes reunidos por ocasião da Assembleia Geral, pro-jetos de protocolos adicionais a esta Convenção, com a finalidade de incluir progressivamente no regime de proteção da mesma ou-tros direitos e liberdades.

2. Cada protocolo deve estabelecer as modalidades de sua en-trada em vigor e será aplicado somente entre os Estados Partes no mesmo.

Artigo 78 1. Os Estados Partes poderão denunciar esta Convenção de-

pois de expirado um prazo de cinco anos, a partir da data da entra-da em vigor da mesma e mediante aviso prévio de um ano, notifi-cando o Secretário-Geral da Organização, o qual deve informar as outras Partes.

2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado Parte interessado das obrigações contidas nesta Convenção, no que diz respeito a qualquer ato que, podendo constituir violação dessas obrigações, houver sido cometido por ele anteriormente à data na qual a denúncia produzir efeito.

CAPÍTULO XIDISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Seção 1 — Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Artigo 79 Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral pedirá

por escrito a cada Estado membro da Organização que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário-Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresen-tados e a encaminhará aos Estados membros da Organização pelo menos trinta dias antes da Assembleia Geral seguinte.

Artigo 80 A eleição dos membros da Comissão far-se-á dentre os candi-

datos que figurem na lista a que se refere o artigo 79, por votação secreta da Assembleia Geral, e serão declarados eleitos os candi-datos que obtiverem maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados membros. Se, para eleger todos os membros da Comissão, for necessário realizar várias vota-ções, serão eliminados sucessivamente, na forma que for determi-nada pela Assembleia Geral, os candidatos que receberem menor número de votos.

Seção 2 — Corte Interamericana de Direitos Humanos

Artigo 81 Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral solici-

tará por escrito a cada Estado Parte que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a juiz da Corte Interamerica-na de Direitos Humanos. O Secretário-Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados Partes pelo menos trinta dias antes da Assembleia Geral seguinte.

Artigo 82 A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os candidatos que

figurem na lista a que se refere o artigo 81, por votação secreta dos Estados Partes, na Assembleia Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maioria ab-soluta dos votos dos representantes do Estados Partes. Se, para ele-ger todos os juízes da Corte, for necessário realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na forma que for determinada pelos Estados Partes, os candidatos que receberem menor número de votos.

QUESTÕES

01. (DPE-MA - Defensor Público - Ano: 2015 - FCC) O inquérito policial

(A) após seu arquivamento, poderá ser desarquivado a qual-quer momento para possibilitar novas investigações, desde que haja concordância do Ministério Público.

(B) em curso poderá ser avocado por superior por motivo de interesse público.

(C) poderá ser instaurado por requisição judicial, a depender da análise de conveniência e oportunidade do delegado de polícia.

(D) nos casos de ação penal privada e ação penal pública con-dicionada poderá ser instaurado mesmo sem a representação da vítima ou seu representante legal, desde que se trate de crime he-diondo.

(E) independentemente do crime investigado deverá ser impre-terivelmente concluído no prazo de 30 dias se o investigado estiver solto.

02. (PC-CE - Escrivão de Polícia Civil de 1ª Classe – 2015 - VU-NESP) A Lei nº 7.960/89 estabelece, em seu art. 1º, inciso III, o rol de crimes para os quais é cabível a decretação da prisão tem-porária quando imprescindível para as investigações do inquérito policial. Esse rol inclui

(A) o crime de assédio sexual.(B) o crime de receptação qualificada.(C) o crime de estelionato.(D) o crime de furto qualificado.(E) os crimes contra o sistema financeiro.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

03. (MPE-SE - Analista – Direito - 2013 - FCC) Em relação ao inquérito policial,

(A) o ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado pode-rão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

(B) nos crimes de ação penal de iniciativa pública, somente pode ser iniciado de ofício.

(C) a autoridade policial poderá mandar arquivar os autos de inquérito policial em caso de evidente atipicidade da conduta in-vestigada.

(D) se o indiciado estiver preso em flagrante, o inquérito poli-cial deverá terminar no prazo máximo de cinco dias, salvo disposi-ção em contrário.

(E) é indispensável à propositura da ação penal de iniciativa pública.

04. (MPE-SP - Analista de Promotoria - 2015 – VUNESP) A pri-são em flagrante, cautelar, realiza-se

(A) sem necessidade de avaliação posterior por autoridade ju-diciária, porque pode ser relaxada, a qualquer tempo, pela autori-dade policial.

(B) diante de aparente tipicidade (fumus boni juris), mas confir-mados ilicitude e culpabilidade.

(C) no momento em que está ocorrendo ou termina de ocorrer o crime.

(D) mediante expedição de mandado de prisão pela autoridade judiciária.

(E) única e tão somente pela polícia judiciária.

05. (PC-SP -Investigador de Polícia - VUNESP/2014) O inqué-rito policial

(A) somente será instaurado por determinação do juiz compe-tente.

(B) pode ser arquivado por determinação da Autoridade Poli-cial.

(C) estando o indiciado solto, deverá ser concluído no máximo em 10 dias.

(D) nos crimes de ação pública poderá ser iniciado de ofício.(E) não poderá ser iniciado por requisição do Ministério Públi-

co.

06. (TJ-SE - Titular de Serviços de Notas e de Registros – Provi-mento -CESPE/2014) No curso da tramitação do inquérito policial, o delegado de polícia,

(A) nos crimes em que a pena máxima cominada não extrapole oito anos de reclusão, poderá conceder liberdade provisória, inde-pendentemente de fiança.

(B) independentemente de pronunciamento do juiz compe-tente, deverá proceder à instauração de incidente de insanidade mental do indiciado, desde que este apresente indícios dessa in-sanidade.

(C) a requerimento de qualquer pessoa, poderá deferir a inter-ceptação das comunicações telefônicas de indiciado.

(D) quando verificada a inexistência de indícios de autoria, de-verá arquivar os autos do inquérito policial.

(E) ao ter conhecimento da infração penal, deverá proceder ao reconhecimento de pessoas e coisas e providenciar a realização de acareações.

07. (SEDS-TO - Analista Socioeducador – Direito - FUN-CAB/2014) Considerando os temas inquérito policial e ação penal, assinale a alternativa correta.

(A) A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

(B) O inquérito deverá terminar no prazo de 30 dias, se o in-diciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventiva-mente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão.

(C) O Ministério Público poderá desistir da ação penal.(D) O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu pre-

so, será de 30 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial.

08. (PC-SP - Investigador de Polícia - VUNESP/2014) A prisão preventiva

(A) é decretada pelo juiz.(B) somente poderá ser decretada como garantia da ordem pú-

blica.(C) não poderá ser revogada pelo juiz.(D) poderá ser decretada pelo delegado de polícia.(E) é admitida para qualquer crime ou contravenção.

09. (PC-GO - Delegado de Polícia - UEG/2013) Sobre a prisão em flagrante, tem-se o seguinte:

(A) o auto de prisão em flagrante deverá ser lavrado pela auto-ridade do local do crime onde foi efetivada a captura, sob pena de nulidade absoluta.

(B) em até 24 (vinte e quatro) horas da realização da prisão, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pelo juiz, sendo que a errônea capitulação dos fatos no mencionado documento gera nulidade do flagrante.

(C) o reconhecimento da nulidade do auto de prisão em fla-grante atinge unicamente o seu valor como instrumento de coação cautelar, não tendo repercussão no processo-crime.

(D) a falta de comunicação, no prazo legal, da prisão em flagran-te à autoridade judiciária nulifica-a, devendo o magistrado, após oi-tiva do Ministério Público, determinar seu imediato relaxamento.

10. (TJ-RO – Juiz - Ano: 2011- PUC-PR/2011) O flagrante presu-mido consiste na prisão do agente que:

(A) É encontrado logo depois do fato, com instrumentos, armas ou objetos que estejam relacionados com o fato.

(B) É surpreendido na prática efetiva do crime.(C) É surpreendido logo depois do fato.(D) É perseguido e encontrado logo depois do fato.(E) É preso logo após o fato e reconhecido por testemunhas.

RESPOSTAS

01. B. De acordo com a Lei n. 12.830/13 Art. 2.(...)§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei

em curso somente poderá ser avocado ou redistribuído por supe-rior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público ou nas hipóteses de inobservância dos procedi-mentos previstos em regulamento da corporação que prejudique a eficácia da investigação.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

02: E.De acordo com a Legislação:Art. 1° Caberá prisão temporária:(...)III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer

prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes:

(...)o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de

junho de 1986).

03. A.Código Processual Penal:Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado

poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

04. C.Código Processual Penal:Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:I - está cometendo a infração penal;II - acaba de cometê-la;III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou

por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência.

05. D.A) ERRADA: O IP pode ser instaurado por diversas formas (de

ofício, por requisição do MP, etc.).B) ERRADA: A autoridade policial NUNCA poderá mandar arqui-

var autos de IP, nos termos do art. 17 do CPP.C) ERRADA: Estando o indiciado solto o prazo para a conclusão

do IP é de 30 dias, prorrogáveis.D) CORRETA: Item correto, pois nos crimes de ação penal públi-

ca o IP pode ser instaurado de ofício, ainda que seja necessário, no caso de crimede ação penal pública condicionada à representação, que a autoridade já disponha de manifestação inequívoca da vítima (representação) no sentido de que deseja a persecução penal.

e) ERRADA: Item errado, pois o IP pode ser instaurado por re-quisição do MP.

06. E.CPP - Art. 6oLogo que tiver conhecimento da prática da infra-

ção penal, a autoridade policial deverá:VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a aca-

reações;

07. A.Dispõe o artigo 17 do CPP: A autoridade policial não poderá

mandar arquivar autos de inquérito.

08. A. Conforme o Art. 238 do CPP:Art. 283.Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli-

to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.

09. C.Código Processual Penal:Art. 306.A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encon-

tre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Mi-nistério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada

§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla-grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.

10. A.Código Processual Penal:Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:I – está cometendo a infração penal;Flagrante próprio.II – acaba de cometê-la;Flagrante próprioIII – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou

por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; Flagrante impróprio ou quase flagrante

IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.

Flagrante presumido ou ficto

Referências

PACHECO, Eliana Descovi Pacheco. Disponível em:http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=artigos_leitura_pd-f&artigo_id=3913

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DUARTE, Leonardo Lopes de Almeida. Uma breve análise sobre o inquérito policial brasileiro. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 114, jul 2013. Disponível em: <http://ambito-juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12936&revis-ta_caderno=22>. Acesso em mar 2016.

TÁVORA, Nestor; ARAÚJO, Fábio Roque. Direito Processual Pe-nal. 2ª ed. revisada e atualizada - Niterói, RJ: ed, Impetus, 2013.

Disponível em: http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=re-vista_artigos_leitura&artigo_id=14345&revista_caderno=22. Aces-so em 05 de março de 2020.

Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/arti-go,prisao-preventiva-garantia-da-ordem-publica-e-seus-concei-tos,47506.html. Acesso 05 de MARÇO de 2020.

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OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Processo Hermenêutica Na tutela Penal dos Direitos Fundamentais. Rio de Janeiro: Lumen Juris; 2ª. Ed; 2009.

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SILVA, Marco Antonio Marques; COSTA, José de Faria. Direito Penal Especial, Processo Penal e Direitos Fundamentais. São Paulo: Quartier Latin; 1. Ed; 2006

VADE MECUM/ obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windit e Livia Céspedes- 8 ed. Atual. E ampl.- São Paulo: Saraiva. 2009.

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