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Nome do(a) Professor(a) PDE: LUCILENE POLOTO Disciplina/Área: PEDAGOGIA IES: UEM Orientador(a): JANIRA SIQUEIRA CAMARGO Título da Produção Didático-Pedagógica: A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM Tipo de Produção Didático-Pedagógica: CADERNO PEDAGÓGICO

Nome do(a) Professor(a) PDE: LUCILENE POLOTO · Temos que considerar que se deu de diversas maneiras pela evolução da ... habilidade de comunicação. 5. ... para adquirir meios

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Nome do(a) Professor(a) PDE: LUCILENE POLOTO

Disciplina/Área: PEDAGOGIA

IES: UEM

Orientador(a): JANIRA SIQUEIRA CAMARGO

Título da Produção Didático-Pedagógica:

A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

Tipo de Produção Didático-Pedagógica: CADERNO PEDAGÓGICO

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CADERNO PEDAGÓGICO

TÍTULO: A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

INTRODUÇÃO

Com a elaboração desse material pretendemos subsidiar a ação

docente dos professores da Rede Estadual de Ensino, no que diz respeito

ao processo ensino-aprendizagem sob a perspectiva da função social da

escola. Queremos mostrar que a prática pedagógica está em relação

direta com os resultados do processo educativo, sendo assim, o professor

deve ser analisado e entendido por diversos ângulos, procurando alcançar

uma visão da realidade da escola e das variáveis que interferem em seus

resultados.

Dessa forma, toda e qualquer prática pretendida no espaço escolar,

deverá ser estudada e apropriada pelos professores. Esse não é um

trabalho fácil, precisa do seu comprometimento na prática pedagógica

que ocorre diariamente no âmbito da escola.

O objetivo principal de nosso trabalho é subsidiar a re/construção

de uma prática pedagógica mediadora, entre o conhecimento cotidiano e

o cientifico, possibilitando ao aluno fazer uma leitura crítica da realidade

concreta como agente de transformação social. No entanto, para atender

este objetivo, é fundamental que os professores conheçam as teorias

pedagógicas que permitem identificar as problemáticas existentes na

realidade da escola, buscando mecanismos eficientes de ação e

reconhecendo que a prática pedagógica não é neutra, mas influenciada

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por ideologias que determinam o modelo de educação e de escola que se

tem.

Apoiando-se nesse objetivo central, buscaremos encaminhar a

discussão sobre as formas como tem se efetivado o processo de ensino e

aprendizagem, perpassando pela prática pedagógica do professor, o que

possibilitará aos mesmos a percepção real das variáveis envolvidas em

seu trabalho.

Conscientizar-se sobre qual é a função da prática pedagógica, é

fator fundamental e determinante da educação que queremos e fazemos.

Toda prática é determinada pela função, que acreditamos, tenha a

educação. A questão que se coloca, é o como adquirir essa consciência?

Acreditamos ser necessário conhecer os determinantes da situação

educacional na qual estamos inseridos enquanto educadores. Assim,

precisamos pensar a função da escola, qual a finalidade maior de

educação escolar, pensando o processo ensino-aprendizagem e a prática

pedagógica, para chegarmos a entender o que realmente vem

acontecendo em nossa realidade educacional.

1. A FUNÇÃO DA ESCOLA

Existem muitas teorias sobre a função da educação, mais

especificamente da educação escolar. Precisamos conhecê-las para

elaborarmos nossas idéias e estabelecer conclusões que permitam

direcionar nossa prática pedagógica. Assim, a nossa prática, enquanto

pedagogo e professor deve ser consciente e guiada por uma ideologia.

Sabendo que toda prática traz no seu bojo uma ideologia, é preciso que

estejamos consciente por qual ou quais ideologias guiamos a nossa

atuação profissional.

Primeiramente é preciso ter claro que a educação sempre esteve

presente nas sociedades, desde as mais primitivas até a atualidade.

Temos que considerar que se deu de diversas maneiras pela evolução da

humanidade, até assumir o formato atual, como conhecemos a educação

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escolar. Mas, com a certeza de que é um processo e que vai assumindo

diversas funções e formatos de acordo com a realidade vivenciada em

determinada época, sempre fazendo parte de um contexto social.

Pensamos como Freire (2000, p.67) “Se a educação sozinha não

transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Por isso, é

importante a aceitação de que a educação está presente em toda

sociedade a serviço desta para a sua preservação. Conforme Cury (1989,

p. 87).

O papel mediador da educação, sua ligação com a totalidade, a partir das relações sociais permite [...] pensá-la no conjunto do movimento das relações sociais próprias de dada sociedade. Se o pressuposto dessa sociedade são as relações sociais inerentes ao capitalismo, ainda que em geral, então a densidade histórica da educação estará em relação com as necessidades da produção social.

Assim, o autor, ao colocar o papel mediador da educação, apesar da

complexidade do fenômeno educativo, destaca os elementos pelo qual se

efetiva as relações sociais dentro do processo educativo. Sendo eles, as

idéias pedagógicas que possuem a tendência totalizante da manifestação

da concepção de mundo da classe dominante, tendo como suporte as

instituições pedagógicas, consideradas organizações culturais a serviço

das ideologias. Nesse sentido, a educação reproduz as necessidades

sociais da sociedade na qual está inserida.

Ao abordar esses aspectos, Demo (1993), esclarece que a educação

de um povo determina seu grau de desenvolvimento, pois ao longo da

história, observamos que povos conseguem uma mobilidade econômica

ascendente na medida em que passam a valorizar a educação,

desenvolvendo mecanismos que fazem acontecer o salto qualitativo

pretendido. Isto porque, a

educação é componente substancial de qualquer política de desenvolvimento, não só como bem em si e como eficaz instrumentação da cidadania, mas igualmente como

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primeiro investimento tecnológico. [...] educação faz parte do processo emancipatório (construção de um projeto próprio de desenvolvimento), mas igualmente o reconhecimento de que a modernidade passa pela educação. Um dos fatores mais decisivos para as oportunidades de desenvolvimento é a produção de conhecimentos próprio e sua disseminação popular (ciência e tecnologia), o que torna a educação relevante não somente em termos políticos (cidadania), mas também em termos econômicos (produtividade). (DEMO, 1993, p.22)

Conscientes de que vivemos numa sociedade capitalista, que somos

frutos dessa sociedade temos que adquirir a clareza que ela tem

determinado nossa prática pedagógica, bem como, nossas vidas. Então,

se faz necessário o entendimento de que toda a situação educacional

vivenciada em nossas escolas tem uma finalidade e atende a algum

interesse.

Em decorrência, como aponta Mello (1991 apud DEMO, 1993, p.24)

que evidencia como se dá a ação do capitalismo através da educação

ofertada nos bancos escolares:

Entre outras expectativas, educação assume a função de um dos fatores positivos em termos de conduzir o crescimento econômico no rumo da melhoria da qualidade de vida e da consolidação da democracia. A nova realidade econômica é cada vez mais sensível a atributos educativos como visão de conjunto, autonomia, iniciativa, capacidade de resolver problemas, flexibilidade. Formação básica torna-se mais estratégia que especialização profissional, já que o processo produtivo tem sua qualidade e competitividade condicionadas à capacidade de organização processual, prevenção de falhas, incremento qualitativo de processos e etapas, reinterpretação de situações, exigindo raciocínio analítico, habilidade e rapidez para processar informação e tomar decisões. Torna-se desafio primeiro da educação domínio de códigos instrumentais da linguagem e da matemática, e dos conteúdos científicos, essência das dita “disciplinas Básicas”, capazes de garantir habilidade cognitivas e sociais, tais como: compreensão, pensamento analítico e abstrato, flexibilidade de raciocínio para entender situações novas e solucionar problemas, bem como formação de competências sociais como liderança, iniciativa, capacidade de tomar decisões, autonomia no trabalho, habilidade de comunicação.

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Tais colocações expressam a realidade que temos vivenciado em

educação, uma vez que as mudanças impostas decorrem das

necessidades sociais e expressam a força do mercado econômico

“mundializado”. Temos uma educação voltada para as necessidades de

mercado econômico, cujos direcionamentos visam construir indivíduos

capazes de atuar e satisfazer as necessidades desse mercado, induzidos

pela crença de que esse é o caminho para melhorar sua condição de vida

e viver plenamente a democracia, enfim há uma descaracterização do

indivíduo, ele deve pensar e fazer aquilo que interessa ao crescimento

econômico.

Continuando na busca de uma perspectiva teórica que defina a

função da escola, Gómez (1998), estabelece duas: primeiro é a de

socialização (processo de aquisição por parte das novas gerações de suas

conquistas sociais, com o objetivo de sua incorporação ao mundo do

trabalho) e segundo, a formação do cidadão/ã para a sua intervenção na

vida pública.

Neste sentido a socialização, a escola transmite e consolida, algumas vezes de forma explícita e em outra implicitamente, uma ideologia cujos valores são o individualismo, a competitividade e a falta de solidariedade, a igualdade formal e oportunidades e a desigualdade “natural” de resultados em função de capacidades e esforços individuais. Assume-se a idéia de que a escola é igual para todos e de que, portanto, cada um chega onde suas capacidades e seu trabalho pessoal lhes permitem. Impõe-se a ideologia aparentemente contraditória do individualismo e do conformismo social. (GÓMEZ, 1998, p. 16)

A imposição da ideologia dominante por meio da educação é

abordada por Saviani (2002), que é taxativo em afirmar que os dominados

só podem se libertar da dominação à medida que dominam os

conhecimentos dos dominantes. Questiona em que grau se está fazendo o

jogo da dominação existente, ao aceitarmos a tendência que desvaloriza

ou secundariza a cultura erudita em detrimento da cultura popular. “A

escola seria uma forma do homem do povo ter acesso ao saber elaborado,

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sem o que esse tipo de saber fica privilégio das elites.” (SAVIANI, 2002,

p. 1)

Hoje a escola deixou de cumprir seu papel principal de educar e

formar o cidadão, está centrada no “assistencialismo”, na “maquiagem

estatística” e na “onda de privatizações”. Devemos ter presente a

tendência de diferenciar as escolas das massas e das elites. O discurso

que justifica as mudanças nos induzem à idéia de que as mudanças

realmente se fazem necessárias, sendo esse o único caminho viável para a

democracia. É preciso considerar os fatores alienantes presentes nos

discursos e nas políticas educacionais que vão se sucedendo na medida

em que florescem novos interesses econômicos. De acordo com Saviani

(2002, p.2)

outro componente dessa visão ideológica é que os conhecimentos que a população precisa dominar são mais os do dia a dia. O importante não é estar empregado, mas ser empregável. Ser empregável significa ter flexibilidade e capacidade de adaptação. E você se adapta na medida em que você convive, se relaciona. Então os conhecimentos sistemáticos tendem a ser secundarizados. A questão que se põe que precisa ser pensada é se isto tenderia a alterar substantivamente o caráter da escola. Se isto é um indicador de que a sociedade está mudando e que, com a mudança da sociedade, a natureza da escola também está mudando.

O entendimento do que acontece em nossas escolas, passa pelo

entendimento da ideologia presente através das idéias transmitidas e/ou

comunicadas.

A função educativa da escola, portanto, imersa na tensão dialética entre reprodução e mudança, oferece uma contribuição complicada, mas específica: utilizar conhecimento, também social e historicamente construído e condicionado, como ferramenta de análise para compreender, para além das aparências superficiais do status quo real - assumido como natural pela ideologia dominante -, o verdadeiro sentido das influências de socialização e os mecanismos explícitos ou disfarçados que se utilizam para sua interiorização pelas novas gerações. (GÓMEZ, 1998, p.22, grifo do autor).

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Dessa forma, Gómez (1998) considera ser um desafio para a escola,

amenizar as conseqüências da desigualdade, preparando cada educando

como cidadão para atuação no cenário social, devidamente habilitado em

relação aos seus direitos e deveres, enfim atuar eficazmente no cenário

social.

Saviani (1991, p.39), afirma “a educação visa o homem”, ou seja a

promoção do homem. Reforçando a idéia já vista da presença da

educação ao longo de toda a história da humanidade, pois “uma visão

histórica de educação mostra como esta sempre esteve preocupada em

formar certo tipo de homem. Os tipos variam de acordo com as diferentes

exigências das diferentes épocas”, mostrando a existência de uma

estreita relação entre educação e a consciência que o homem tem de si

mesmo. A promoção do homem se dá, tornando-o cada vez mais capaz de

tomar consciência de todos os elementos envolvidos numa determinada

situação, para adquirir meios de intervir e transformá-la, tendo presente

a liberdade de ação e a comunicação e colaboração com os demais

integrantes da realidade. É preciso ter clareza sobre que tipo de homem

se pretende atingir com a educação e principalmente pensar em quais

são os objetivos da educação do nosso país. Sabendo que quanto mais

adequado for o nosso conhecimento da realidade, tanto mais adequados

serão os meios de que dispomos para agir sobre ela.

No bojo de sua teoria Histórico-Crítica, Saviani (2005) coloca como

questão central o saber. O saber é o que deve direcionar todo o trabalho

educativo. Na escola devemos ter presente como fim a atingir a

tramsmissão-assimilação do saber sistematizado, elaborado, científico, a

cultura letrada.

Isto porque o homem não se faz homem naturalmente; ele não nasce sabendo ser homem, vale dizer, ele não nasce sabendo sentir, pensar, avaliar, agir. Para saber pensar e sentir; para saber querer, agir ou avaliar é preciso aprender, o que implica o trabalho educativo.Assim, o saber que diretamente interessa à educação é aquele que emerge como resultado do processo de aprendizagem, como resultado do trabalho educativo. Entretanto, para chegar a

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esse resultado a educação tem que partir, tem que tomar como referência, como matéria-prima de sua atividade, o saber objetivo produzido historicamente. (SAVIANI, 2005, p.7)

Como afirma Saviani (2005, p.77-78), o ensino é o meio de

transformar o saber elaborado em saber escolar. Mas “o saber

sistematizado continua a ser propriedade privada a serviço do grupo

dominante”, porque a “consciência de classe passa pela questão do

domínio desse saber”. Nesse sentido a prática pedagógica pode ser vista

como um caminho para se chegar a teoria, tratando da materialidade

dessa ação.

Quando entendemos que a prática será tanto mais coerente e consistente, será tanto mais qualitativa, será tanto mais desenvolvida for a teoria que a embasa, e que uma prática será transformada a medida que exista uma elaboração teórica que justifique a necessidade de sua transformação e proponha a prática a partir da teoria. Mas é preciso também fazer o movimento inverso, ou seja, pensar a teoria a partir da prática, porque se a prática é o fundamento da teoria, seu critério de verdade e sua finalidade, isto significa que o desenvolvimento da teoria depende da prática. (SAVIANI, 2005, p.107)

2. O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

A escola como espaço que prima pela aprendizagem, tem toda uma

organização, que prioriza a construção gradual de conhecimentos, isto é,

conforme as etapas vão sendo vencidas, há a complementação desses

conhecimentos. Nesse espaço destaca-se a importância do educador ter

definido sua concepção teórica, porque isto significa ter claro que

indivíduo quer formar e que metodologia vai utilizar, possuindo a clareza

da forma como o aluno se apropria do conhecimento e das possibilidades

de efetivar sua prática educativa.

É preciso que conheçamos as teorias que se referem ao processo de

aprendizagem, para podermos definir que caminhos e quais mecanismos

serão mais efetivos para atender ao aluno e buscar nos pensadores da

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educação o embasamento teórico que o capacite a entender a

problemática educacional ora vivenciada.

Ao abordarmos Piaget e Vygotsky observamos que para ambos, no

processo de aquisição de conceitos, é impossível ao educador oferecer o

conhecimento pronto ao seu aluno. Para Piaget, a “construção do

conhecimento é processo individual e prioriza o ponto de vista da

criança” (apud FONTANA e CRUZ, 1997, p. 109), assim, o papel do

professor é o de criar e/ou possibilitar situações para que o seu aluno

possa formular conceitos e construir sua aprendizagem. Para tanto, as

situações deverão permitir ação e expressão de suas elaborações. O

aluno, ao receber a informação, transforma-a, tornando-se condutor do

processo de aprendizagem. Dessa forma, na perspectiva piagetiana, a

aprendizagem é centrada na genética e no desenvolvimento biológico.

De acordo com Fontana e Cruz (1997, p.111, grifo das autoras),

Vygotsky, evidencia a necessidade de oportunidades para a criança

adquirir novos conceitos, com a mediação do professor, pois “na escola a

criança e o adulto interagem numa relação social específica [...] a

criança, no papel de aluno é colocada diante da tarefa de compreender as

bases dos conceitos sistematizados ou científicos, o professor é

encarregado de orientá-la”. Sabe-se que para Vygotsky a atuação e

intervenção do professor se dá no desenvolvimento proximal da criança

quando ainda não está pronta para conhecer, sistematizar e apreender

sozinha, ela precisa da mediação do professor para a sistematização de

conhecimentos. Isto requer o domínio de informações e de operações

intelectuais, que a criança ainda não possui, mas com a mediação do

professor consegue realizar. A aprendizagem está centralizada nas

relações sociais, nas interações com as pessoas e o seu meio histórico-

cultural.

Entre estes teóricos, temos que considerar ainda Wallon, com sua

teoria da emoção, que considera o ser humano geneticamente social, não

separando os fatores biopsicossocial. Para esse pensador a pessoa é

corpo, é mente e é uma construção social, estabelece relações da

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aprendizagem com a afetividade, pois a aprendizagem que acontece na

escola não é só de conteúdos, junto a ela aprende-se atitudes e posturas.

Wallon (apud GALVÃO, 2000, p. 43) “vê o desenvolvimento da pessoa

como uma construção progressiva em que se sucedem fases com

predominância alternadamente afetiva e cognitiva”.

3. A PRÁTICA PEDAGÓGICA

Definirmos como se aprende é importante, porém mais importante

ainda é definir quem são nossos alunos, quais são suas condições e

perspectivas de vida e de futuro. Isso vai possibilitar o entendimento,

pelos professores, da maioria das problemáticas presentes hoje em

nossas salas de aula.

Que somos frutos da história isso já é fato, mas temos que

considerar que a história se constrói a cada dia, assim o que se vive hoje

é parte histórica da construção de vida de nossos alunos. Essa construção

não se dá ao acaso, ela é determinada pelas interações decorrentes do

sistema vigente. Nós vivemos numa sociedade capitalista, com a

globalização mudaram-se as relações de trabalho, ampliando-as para

esferas que exigem um novo perfil de homem e de trabalhador, sendo que

a educação deve servir de instrumentalização do homem para atender a

essa demanda capitalista.

O educador, consciente dessa realidade, deve definir qual vai ser

sua prática pedagógica, quais caminhos seguir, que conhecimentos

considera importante trabalhar junto aos seus alunos. Enfim, que

diferença pretende fazer na vida deles.

Ao definir o direcionamento de sua prática pedagógica, deve

considerar alguns estudiosos atuais, como Vasconcellos (1994), que

estabelece uma diferenciação clara entre o ensino tradicional e o

dialético. Na metodologia tradicional, expositiva, conforme Vasconcellos

(1994, p. 20), “o aluno recebe tudo pronto, não problematiza, não é

solicitado a fazer relação com aquilo que já conhece ou a questionar a

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lógica interna do que está recebendo e acaba se acomodando”, sendo o

grau de interação entre sujeito-objeto (aprendizagem) muito baixo, o que

politicamente, forma o homem passivo e não crítico, alienado. A

metodologia dialética entende que em sala de aula “O conhecimento tem

sentido quando possibilita o compreender, o usufruir ou o transformar

a realidade” (VASCONCELLOS, 1994, p.34, grifo do autor). A finalidade

do conhecimento é que possa colaborar na formação global do educando

(consciência, caráter e cidadania), assim, o educador deve ter clareza dos

objetivos que pretende atingir, deve ter convicção daquilo que pretende

com o seu trabalho, deve saber o conteúdo e saber muito bem para poder

fazer as mediações que desencadeiem em seus alunos, as relações e as

problematizações necessárias à transformação da realidade social.

Os objetivos propostos nos estudos de Saviani (2005, p. 15), que

trata da apropriação do saber elaborado/sistematizado, é de que “a escola

existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam

o acesso ao saber elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos

rudimentos do saber”, fazendo distinção entre pedagogia geral (noção de

cultura como tudo que o homem produz) e pedagogia escolar (ligada ao

saber sistematizado), clareando as idéias quanto ao papel da escola e em

conseqüência o caminho que o educador deve seguir:

Ora, clássico na escola é a transmissão-assimilação do saber sistematizado. Este é o fim a atingir. É aí que cabe encontrar a fonte natural para elaborar os métodos e as formas de organização do conjunto das atividades da escola, isto é, do currículo. E aqui nós podemos recuperar o conceito abrangente de currículo: organização do conjunto das atividades nucleares distribuídas no espaço e tempo escolares. Um currículo é, pois, uma escola funcionando, quer dizer, uma escola desempenhando a função que lhe é própria. (SAVIANI, 2005, p. 18)

4. A REALIDADE EDUCACIONAL

É preciso entender o momento atual em que vivemos, pois fazemos

parte de uma sociedade capitalista que trabalha, produz, consome e

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habita um determinado espaço, já bastante modificado, tanto pela ação

da natureza, quanto, principalmente, pela ação do homem, que está

sempre em busca de sobrevivência e de lucro. Estamos inseridos no

mundo da globalização econômica, das comunicações, dos meios de

transportes e da cultura, sendo que fatos de qualquer natureza são

transmitidos em tempo real para o mundo todo, possibilitando assistir e

acompanhar acontecimentos de qualquer parte da Terra, no exato

momento em que estão ocorrendo. Na denominada “aldeia global” é

possível comprar produtos fabricados em vários países, em luxuosos

shoppings e até na barraquinha do vendedor ambulante da esquina.

Temos a “revolução técnico-científica” com a indústria da informática,

que por meio dos computadores (softwares e internet) invadiram

repartições públicas e privadas, hospitais, fábricas, comércios, escolas e

residências, trazendo as novidades em tempo real, mesmo que o acesso

seja sempre para uma pequena parcela da população. A biotecnologia,

que é aplicada à medicina, à agricultura e à produção de alimentos,

apresenta uma nova forma de viver. As palavras genoma (código

genético), transgênicos (geneticamente modificados) são destaques no

vocabulário da mídia, de um modo geral. A preocupação com a

preservação ambiental e a aversão às guerras e à corrupção é tema

global, cuja responsabilidade de todos é amplamente divulgada e

meticulosamente elaborada e incutida.

Neste mesmo contexto, a globalização apresenta seu lado triste: a

mesma tecnologia que trouxe conforto e melhoria de vida para algumas

pessoas, reduziu os postos de trabalho e conseqüentemente aumentou a

pobreza. A demanda de mão-de-obra qualificada aumentou e a oferta para

trabalhadores sem o preparo necessário diminuiu. Houve uma

massificação da cultura divulgada por músicas, filmes e informações que

sugerem um padrão de vida, de cultura e de consumo que deve ser

seguido para alcançar a felicidade, desconsiderando valores, culturas e

identidades próprias de cada povo. As atividades do crime organizado e

das guerras também se beneficiaram das facilidades tecnológicas e das

comunicações do mundo globalizado.

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Estamos inseridos neste contexto mundial e não poderíamos ficar à

margem dos acontecimentos e das conseqüências, nem sempre positivas.

A educação deveria ser beneficiada e privilegiada com os avanços

tecnológicos, porém, infelizmente não é devidamente contemplada como

deveria, afinal, mesmo considerada prioridade pelos órgãos

governamentais, continua de modo geral, obsoleta em tecnologia e

elitista, na qual os menos favorecidos lutam por uma escola pública de

maior qualidade e por um acesso à universidade mais democrático e

menos excludente.

Sabedores desse contexto, os alunos observam uma situação crítica

o que lhes provoca desestímulo e falta de perspectiva em relação às suas

vidas e ao futuro. Isso tudo, acaba por desencadear elevados índices de

repetência e evasão escolar, ou seja, insucesso. Somam-se a isso outros

problemas de ordem pessoal, social e familiar que comprometem o

processo ensino-aprendizagem, uma vez que afloram na escola e no meio

próximo a esta.

Somos induzidos, por essa realidade e a acreditar que em educação

tudo vai mal, que nada mais tem jeito e que não há nada para se fazer.

Instala-se um conformismo generalizado, em que o professor faz de conta

que ensina e o aluno faz de conta que aprende.

Ora o que podemos fazer diante de tal situação? É preciso não só

teorização, pois esta desvinculada de qualquer prática não tem nem ao

menos, razão de ser. É preciso reflexão sobre o que realmente tem

acontecido em nossas escolas, nossas salas de aula, com nossos alunos e

com os professores que ali atuam. É preciso nesse momento,

concordarmos com Freire (1996, p. 22), quando diz que “ A reflexão

crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática

sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”.

Temos que ter clareza que a escola como um todo, no nosso caso as

escolas públicas, não atuam a esmo, antes são direcionadas por leis

federais e estaduais, sendo que toda a sua ação é regida pelos órgãos

competentes (Ministério da Educação e Cultura e Secretaria Estadual de

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Educação). Mas ainda assim o que vemos atualmente é uma escola que

não ensina, que não consegue satisfazer as orientações e exigências das

instâncias superiores, uma escola que vive atolada em tantos afazeres,

em cumprir tantos projetos, que os conteúdos acadêmicos mínimos ficam

impossibilitados de serem desenvolvidos plenamente e como seria de

direito dos alunos e de obrigação da escola enquanto instituição

educativa. Moysés (1995, p. 10) evidencia isso, ao afirmar que “um dos

problemas mais graves da nossa escola em todos os níveis é o baixo nível

de aproveitamento dos alunos; a aprendizagem dos conteúdos escolares é

algo que envolve os processos mentais superiores e se dá no interior de

um ser social e historicamente contextualizado”. E o sistema gestor não

se apercebe dessa realidade e continua a inundar a escola com novos

afazeres, novas teorias e exigências, destituindo-se de qualquer culpa.

Considerando o já exposto, devemos ter como ponto de partida a

análise do que acontece em nossas salas de aula, sendo de suma

importância as intervenções do professor. Decorrente dessas análises,

Gómez (1998, p.70) nos mostra isso:

O ensino nas sociedades contemporâneas se desenvolve em instituições sociais especializadas para cumprir essa função. A aprendizagem do alunos/as ocorre em grupos sociais nos quais as relações e as trocas físicas, afetivas e intelectuais constituem a vida do grupo e condicionam os processos de aprendizagem. Assim para que o professor/a possa intervir e facilitar os processos de reconstrução e transformação do pensamento e da ação dos alunos/as deve conhecer as múltiplas influências que, previstas ou não, acontecem na complexa vida da aula e intervêm decisivamente no que os estudantes aprendem e nos modos de aprender.

O que tem acontecido com nosso(s) aluno(s)? Por que tanto

desinteresse? Por que não aprendem? De quem será a culpa? É

justamente esta a grande questão da problemática educacional, pois as

respostas a estas perguntas parecem não interessar a quem de direito

tem a responsabilidade.

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Observamos que tem sido mais fácil jogar a culpa no aluno ou no

professor. A escola e o professor não podem se isentar totalmente de

culpa, mas é preciso antes, entender a problemática ou parte desta,

envolvida no cotidiano escolar. Alguns apontamentos podem tornar mais

fácil essa percepção, que nesse nosso trabalho, não visa resolver os

problemas, mas antes listá-los para tornar mais fácil, aos leitores,

enquadrarem-se dentro da problemática, assumindo sim, sua parcela de

responsabilidade, somente naquilo que lhe couber.

Buscamos em Vasconcellos (1994, p.12) o entendimento de “que

nossa atenção deve estar em torno da sala de aula, onde todo dia o

professor tem sua prática, seleciona os conteúdos, passa posições

políticas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores”. A posição do

professor em sala de aula, diante do processo ensino-aprendizagem que

se instaura a todo momento, nas dinâmicas educativas estabelecidas, é

fator de análise. Pois, parodiando Sacristán (1995, p.68), os professores

não produzem o conhecimento que são chamados a reproduzir, nem

determinam as estratégias práticas de sua ação.

Precisamos atentar para o que aborda Esteve (1995, p. 100) e que

tão bem mostra o que tem acontecido no interior da escola e a que o

professor foi reduzido.

Há um autêntico aumento das exigências que se fazem ao professor, pedindo-lhe que assuma um número cada vez maior de responsabilidades. No momento atual, o professor não pode afirmar que a sua tarefa se reduz apenas ao domínio cognitivo. Para além de saber a matéria que leciona, pede-se ao professor que seja facilitador da aprendizagem, pedagogo eficaz, organizador do trabalho de grupo, e que, para além do ensino, cuide do equilíbrio psicológico e afectivo dos alunos, da integração social e da educação sexual, etc.; a tudo isto pode somar-se a atenção aos alunos especiais integrado na turma.

Dito de outra forma, a prática social inevitavelmente está atrelada à

cultura e aos contextos sociais de seus personagens, como mostra

Sacristán (1995, p. 66) ao afirmar que “o ensino é uma prática social [...]

reflectem a cultura e contextos sociais a que pertencem”.

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O que temos hoje é que o professor não usufrue de uma posição

social elevada. Os motivos seriam, conforme Hoyle (1987, in

SACRISTÁN, 1995, p.66-67):

1) a origem social do grupo, que provém de classes média e baixa; 2) o tamanho do grupo profissional que por ser numeroso, dificulta a melhoria substancial do salário; 3) a proporção de mulheres, manifestação de uma seleção indireta, na medida em que as mulheres são um grupo socialmente discriminados; 4) a qualificação acadêmica de acesso, que é de nível médio para os professores de ensino infantil e primário; 5) o status dos clientes; 6) a relação com os clientes, que não é voluntária, mas sim baseada na obrigatoriedade do consumo do ensino. (grifo do autor)

Esteve (1995), aponta ainda outros fatores que influenciam na

prática educativa do professor e nos resultados de sua ação: aumento das

exigências em relação ao professor; inibição da responsabilidade da

família como agente de socialização; aumento das fontes de informações

alternativas; presença multicultural e multilíngue no seio da escola;

aumento das contradições no exercício da docência; a configuração do

sistema educativo passou de um ensino para as elites para um ensino

para as massas; o apoio da sociedade mudou pais incertos quanto ao

futuro dos filhos e a extensão e massificação do ensino também não

produziu a igualdade e a promoção social esperada; caiu o status social

do professor; o avanço das ciências e a transformação das exigências

sociais requerem uma mudança profunda dos conteúdos curriculares; a

massificação do ensino e o aumento das responsabilidades dos

professores não se fizeram acompanhar de uma melhoria efetiva dos

recursos materiais e das condições de trabalho em que exerce a docência.

Hoje em dia, o ensino de qualidade é mais fruto do voluntarismo dos

professores do que conseqüência natural de condições de trabalho

adequadas às dificuldades reais e às múltiplas tarefas educativas;

mudança nas relações entre professores e alunos, tornaram-se

conflituosas; fragmentação do trabalho do professor . “ Para além das

aulas, devem desempenhar tarefas de administração, reservar tempo

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para programar, avaliar, reciclar-se, orientar os alunos e atender os pais,

organizar atividades várias, assistir a seminários e reuniões de

coordenação, de disciplina ou de ano, porventura mesmo vigiar edifícios e

materiais, recreios e cantinas.” (ESTEVE, 1995, p. 108)

A rotina do trabalho escolar faz com que o trabalho do professor

desencadeia alienação, assim como sua práxis, que induz à alienação,

como bem coloca Francioli (2005, p. 40-41):

No caso específico do trabalho educativo, é importante atentar que ele está submetido à fragmentação, à hierarquização, à desqualificação e à alienação, sendo expropriado seu saber da totalidade. A realidade do trabalho docente implica operações tais como: escrever exercícios repetitivos no quadro-negro, dar aulas a cada cinqüenta minutos em uma sala de aula, ensinar somente os conteúdos da sua disciplina sem se preocupar em estabelecer relações com as demais matérias, chamar constantemente a atenção dos alunos que não demonstram interesse para estudar, preencher documentos burocráticos para o sistema educacional – que lhe toma tempo precioso de estudos –, atender outros programas sociais – como campanhas de saúde. Tudo isso durante o pouco tempo que tem para ensinar os conteúdos. [...] A predominância dessa prática profissional faz com que o pensamento intelectual do professor seja eliminado progressivamente e substituído pela execução repetitiva das funções e pela engrenagem do sistema. Seu trabalho está cada dia mais dividido em partes e quanto mais esta divisão se desenvolve, menor é a tarefa atribuída a ele. Ele torna-se um especialista da disciplina que leciona e não estabelece relações ou mediações com a realidade social e nem com as demais disciplinas. Esse professor cumpre, normalmente 40 horas semanais, uma jornada de trabalho extensiva, pelo fato de ser um educador, um profissional que lida com o ensino e a formação das crianças e dos jovens estudantes. Para cumprir a jornada de trabalho, o professor tem que fazer tudo programado e rapidamente e o conhecimento é tratado como uma mercadoria para a qual dever haver qualidade e economia no tempo de sua aquisição.

É fácil chegar à definição que a posição do professor é muito

delicada. Se por um lado lhe é imposta uma culpa pelo fracasso, pelo

insucesso do processo ensino-aprendizagem, no formato que acontece em

nossas escolas, por outro concluímos, diante da realidade vista e

conforme Moysés (1995, p. 11), que o “professor a quem falta quase

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tudo: das condições materiais de trabalho ao apoio pedagógico; da boa

formação ao reconhecimento do seu valor profissional”

Tudo o que acontece no contexto escolar, bem como no seu meio

social ao qual se insere, marca a vida desses indivíduos, em relação à

prática pedagógica do professor e vale a pena salientar que

o professor trabalha de forma fragmentada, perdendo a autonomia, o conhecimento do todo e fica incapaz de trabalhar independentemente do capital; a atomização do trabalho pedagógico inibe as forças intelectuais do professor, já que a produção intelectual, o conhecimento, concentra-se a serviço do capital e confronta-se com o trabalhador como força estranha e dominadora; a mecanização do trabalho docente expropria o saber do professor sobre suas ações pedagógicas, tornando-o incapaz de pensá-lo e concebê-lo na sua totalidade; a desqualificação docente priva-o do debate das grandes questões sociais: salários, desemprego, guerras; transformando o espaço escolar em espaço do silêncio, da aceitação e do conformismo; a forma como o sistema educacional atende às necessidades do capital, obriga o professor a um trabalho cansativo, apático, indiferente, condicionando-o a produzir algo que lhe permita ganhar a vida. Quando o sistema exige mudanças de concepções, de metodologias – e isto ocorre, quase sempre, a cada mudança de governo – do educador exige-se a mudança de sua prática pedagógica e o cumprimento da nova ordem estabelecida. (FRANCIOLI, 2005, p. 47-48)

5. POSSIBILIDADES DE MUDANÇAS

Sabemos que mudanças são necessárias, mas o que de fato pode ser

modificado que nos leve a uma ação pedagógica de sucesso?

Vimos que são muitas as variáveis envolvidas no processo

educativo, mas que a ação decente é fator determinante do que acontece

dentro da sala de aula.

Não podemos deixar de considerar a idéia de Vasconcellos (1994, p.

11) sobre a importância do professor estar “antenado” com todas a

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variáveis envolvidas no processo educativo: “conhecer como se dá o

conhecimento no processo pedagógico é ajudar a eliminar a determinação

social dos destinos dos alunos. Para o professor, é importante este

conhecimento a fim de melhor saber como interagir com a criança, no

sentido de favorecer seu desenvolvimento e sua emancipação.”

Acreditamos que o professor deve assumir-se enquanto educador,

acreditando como Freire (1996) que o ato de ensinar cria as

possibilidades para a produção ou construção de conhecimentos, sendo

que na relação docente / discente “Quem ensina aprende ao ensinar e

quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.23). Assim,

Sou tão melhor professor, então, quanto mais eficazmente consiga provocar o educando no sentido de que prepare ou refine sua curiosidade, que deve trabalhar com minha ajuda, com vistas a que produza sua inteligência do objeto ou do conteúdo de que falo. Na verdade, meu papel como professor, ao ensinar o conteúdo a ou b, não é apenas o de me esforçar para, com clareza máxima, descrever a substantividade do conteúdo para que o aluno o fixe. Meu papel fundamental, ao falar com clareza sobre o objeto, é incitar o aluno a fim de que ele, com os materiais que ofereço, produza a compreensão do objeto em lugar de recebe-la, na íntegra, de mim [...] (FREIRE, 1996, p. 118)”

Sendo de suma importância a percepção de que a nossa prática

não pode ser neutra, exige sim, uma definição, uma tomada de posição,

pois tão importante quanto ensinar os conteúdos é o nosso testemunho

ético, a coerência com os nossos alunos.

É preciso lembrar Moysés (1995, capa/verso e p.14) que busca

entender “Qual a razão de bons resultados que alguns professores obtêm

com seus alunos? O que os distingue de seus pares? Como é a sua

prática?” Considera que saber ensinar é “ tarefa complexa, requer

preparo e compromisso; envolvimento e responsabilidade. É algo que se

define pelo engajamento do educador com a causa democrática e se

expressa pelo seu desejo de instrumentalizar política e tecnicamente o

seu aluno, ajudando-o a construir-se como sujeito social.” .

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Apresentando a competência profissional como fator de peso para a

melhoria da qualidade de ensino, sem deixar de considerar que “é óbvio

que ele, o professor, por si só, não é capaz de transformar a realidade que

extrapola a própria escola e tem suas raízes no econômico e no

sóciopolítico”. (MOYSÉS, 1995, p.14).

Zagury (2006, p.12-13) propõe a necessidade de estudos

abrangentes sobre os problemas ligados a educação, é preciso mais

pesquisa.

Quem não tem por hábito questionar ou investigar as informações que recebe (origens e autores) começa a repetir o que ouviu. Muitos dos que falam sobre Educação ( e que por vezes nunca deram aulas, por exemplo, no Ensino Básico) o fazem com tal segurança e até certo ar de superioridade, que inibem os que os escutam. Em geral, começam assim: “todos sabem que...”; “como é de conhecimento geral”... Quem os ouve, e não está embasado, acaba achando que é um pressuposto incontestável. E assim se criam mitos, modas e manias em educação [...].

Propõe ainda três pontos fundamentais para a educação, sendo que

sem eles dificilmente corrigiremos os desvios, insucessos, influências e

contaminações não desejadas na escola, como seu uso político, por

exemplo: “Continuidade nas experiências e projetos pedagógicos

iniciados; [...] Acompanhamento e avaliação sistemáticos e abrangentes

de processo e de produto [...] e Análise final dos resultados” (ZAGURY,

2006, p.13-14).

Zagury (2006, p.18 e 19) também evidencia, ao questionar se a

educação brasileira não está tomando rumos equivocados, escolhendo

“estratégias ou reformas educacionais sem embasar essas escolhas na

realidade das salas de aula” (p.18) que a culpa do fracasso não pode estar

no professor, deve situar-se no sistema. Apresenta como uma medida

para evitar fracassos, “ouvir o docente”, considerando suas colocações,

fazendo-o “como rotina, com respeito profissional e levando em conta, de

fato, o que foi dito”. É o docente que pode realmente expressar o que

acontece no interior da sala de aula e que apesar de toda gama de

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dificuldades, “continuam dispostos em busca de ensinar qualitativamente

bem”.

Tendo presente todas essas considerações, devemos nesse

momento refletir sobre a nossa realidade e sobre a nossa ação educativa

procurando delinear possíveis caminhos. Como vimos não é tarefa fácil

ser educador, mas é preciso assumirmos nossa função com

responsabilidade e respeito.

CONCLUSÃO

A educação assume, acima de tudo, a função de reproduzir e

perpetuar a sociedade onde se insere. Assim, a função social da escola é

regida pelas ideologias dessa sociedade, reproduzindo suas necessidades.

Nós que vivemos em uma sociedade capitalista é de fundamental

importância o entendimento do que acontece em nossas escolas em

função do determinismo dessa ideologia. Entendendo como se dá o

processo ensino-aprendizagem que tem determinado seus sucessos e

fracassos, o papel do professor e a função da sua prática pedagógica

nesse processo, para a percepção real do que realmente vem

acontecendo em nossa realidade educacional.

São muitas as variáveis envolvidas no processo educativo, mas a

ação docente é fator determinante do que acontece dentro da sala de

aula. Desta forma é sobre o professor e a sua prática pedagógica que

recai a responsabilidade de ensinar os alunos e formá-los enquanto

cidadãos para atuarem nessa mesma sociedade. Este é o ponto principal

discutido nesse texto, pois sabendo que toda prática traz no seu bojo uma

ideologia, é preciso que o educador esteja consciente por qual ou quais

ideologias guia a sua ação. Propusemos, como forma de entender as

problemáticas presentes na sala de aula, o estudo das teorias da

aprendizagem e o entendimento da realidade educacional. Esta última

pode ser alcançada através da análise das variáveis econômicas, sociais

e culturais vivenciadas pelos alunos, que tem levado a tanto desinteresse

e fracasso escolar e dos problemas enfrentados pela escola, que não

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consegue ensinar pois está subjugada a orientações e exigências que a

atropela com tantos afazeres e projetos que inviabilizam o

desenvolvimento de conteúdos mínimos necessários aos alunos.

Apresentar a competência profissional como fator de peso para a

melhoria da qualidade de ensino não resolve os problemas educacionais,

ficou evidente que existem outros responsáveis, é necessário, que os

verdadeiros responsáveis assumam suas responsabilidades dentro do

contexto educacional. O educador sozinho não pode levar toda a culpa,

ele também é sujeito das relações sociais decorrentes da ideologia

capitalista. Hoje, sua situação é muito delicada e vulnerável, pois falta-

lhe quase tudo, condições materiais de trabalho, apoio pedagógico, boa

formação, reconhecimento do seu valor profissional, enfim, sua rotina do

trabalho escolar é alienante e desencadeia alienação.

Somente a partir da consciência dessa realidade o educador estará

em condições de definir sua prática pedagógica, conduzindo-a de forma

consciente. É preciso muito estudo e muita pesquisa em educação para

alcançarmos uma melhora qualitativa.

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REFERÊNCIAS:

CURY, Carlos Roberto Jamil. Educação e contradição: elementos metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno educativco. 4ª ed.. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1989.

DEMO , Pedro. Desafios Modernos da Educação. 2ª ed.. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

ESTEVE, José, M. Mudanças sociais e função docente. In: NÓVOA, Antonio (org.). Profissão Professor. 2ª ed. Cidade do Porto: Porto Editora, 1995, p. 93-124 (Coleção Ciências e Educação).

FONTANA, Roseli e CRUZ, Maria Nazaré. Psicologia do trabalho Pedagógico. São Paulo: Atual, 1997.

FRANCIOLI, F. A. S. Profissão docente: uma análise dos fatores intervenientes na prática educativa. Ponta Grossa: Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2005 (Dissertação de Mestrado).

FREIRE, Paulo. Pedagogia da auntonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura)

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos.. São Paulo: Editora UNESP. 2000.

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. 8ª ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. (Educação e Conhecimento).

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GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. In SANCRISTÁN, J. Gimeno & GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. 4ª Ed.. Porto Alegre: Artmed, 1998, p. 13-25 e 67-91 (Coleção Ciências e Educação).

MOYSÉS, Lúcia Maria. O desafio de saber ensinar. 2ª ed., Campina: Papirus; Rio de Janeiro: Editora da Universidade Federal Fluminense, 1995.

SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 10ª ed. .São Paulo: Cortez: Autores associados, 1991.

____________________. Domínios, dominadores e dominados. Jornal da UNICAMP. Universidade Estadual de Campinas – SP. 14 a 20 de outubro de 2002. nº 194, ano XVII, p. 5.

___________________. Pedagogia histórico crítica: primeiras aproximações. 9ª ed.. Campinas: Autores Associados, 2005. Col. Educação Contemporânea.

SACRISTÁN, J.Gimeno. Consciência e acção sobre a prática como libertação profissional dos professores. In: NÓVOA, Antonio (org.). Profissão Professor. 2ª ed.. Cidade do Porto: Porto Editora, 1995, p. 63-92 (Coleção Ciências e Educação).

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Construção do conhecimento em sala de aula. 2ª ed.. São Paulo: Libertad, 1994. [Cadernos Pedagógicos do Libertad; 2]

ZAGURY, Tânia. O professor refém: para pais e professores entenderem por que fracassa a educação no Brasil. 4ª ed.. Rio de Janeiro: Record. 2006.

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ATIVIDADES:

1. Após leitura e análise do texto, defina qual tem sido a função da

escola onde você atua? E quais são as possibilidades de mudança?

2. Como você analisa a sua prática pedagógica? Em qual teoria

educacional ela se apóia?

3. Faça um levantamento das determinantes positivas e negativas da

sua realidade educacional em relação a escola, ao professor, ao

aluno e ao sistema educacional.

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4. Quais mudanças você acredita serem necessárias para reverter o

quadro educacional que temos? (Não tenha medo de sonhar!)

SUGESTÕES: NÃO DEIXE DE LER E VER!

Livros:

1. “ Mediação Pedagógica na sala de aula” - Roseli Ap. Cação

Fontana.

2. “ A prática educativa: como ensinar” – Antoni Zabala

3. “ Didática: processo de trabalho em sala de aula” – Anair Altoé et

all / Maringá: EDUEM, 2005.

( Indicados pelos Professores do Grupo de Trabalho em Rede –

GTR):

4. “História e História da Educação: o debate teórico-metodológico

atual” – Demerval Saviani

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5. “Resiliência: A Construção de uma Nova Pedagogia para Uma

Escola Pública de Qualidade” - Celso Antunes

6. “Educar em tempo de desencanto” – Pablo Gentile

7. “ A relação entre a família, a escola e a aprendizagem” – Isabel

Parolin

8. “Problemas na escola” – Kathryn Boesel Dunn e Aluison Boesel

Dunn

9. “Democratização da Escola Pública: a Pedagogia Crítico-Social dos

Conteúdos” – José Carlos Libaneo

10.“ Disciplina: Construção da Disciplina Consciente e Interativa

em Sala de Aula e na Escola” – Celso Vasconcellos

Filmes: ( Indicados pelos Professores do Grupo de Trabalho em

Rede – GTR):

1. Escola da desordem

2. Mentes perigosas

3. Mandadayo

4. Matilda

5. Meu adorável Professor

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