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Est
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Homenagem
Milton Santos (1926-2001), geógrafo brasi-leiro, continua vivo em sua obra. Temos
o consolo de senti-lo presente em seus escri-tos e sua vasta obra continua nos instigando à descoberta, à pesquisa e ao novo. Santos possibilitou visibilidade à geografia brasileira e autoestima aos geógrafos em 1994, ganhando o Vautrin Lud, o maior prêmio internacional da Geografia.
Dentre tantas obras importantes escritas pelo geógrafo, em Por uma Geografia nova (1978) insistiu no fato de que a geografia crí-tica, para ser útil e utilizada, tem que ser ana-lítica e não apenas discursiva. Após uma longa fase de exílio, voltou ao Brasil e intensificou a observação e a leitura analítica do território brasileiro, uma vez que o considerava como o melhor observatório do que se passa no país.
Na obra O Espaço do Cidadão (1987), es-crita no calor dos debates sobre a nova Cons-tituição Brasileira, discorreu sobre a supressão sistemática e brutal da cidadania da maior
Nosso geógrafo Milton SantosELE EVIDENCIOU A TRANSFORMAÇÃO DO CIDADÃO EM CONSUMIDOR
parte da população brasileira, que se dá con-comitantemente à evolução da sociedade de consumo, o verdadeiro ópio contemporâneo, regredindo na escala de valores. Santos evi-denciou o processo de transformação do ci-dadão em simples consumidor, insatisfeito, alienado e que aceita ser chamado de usuá-rio; servindo ao economicismo, mostrando a vitória do consumo como fim em si mesmo e das empresas no comando do território, na construção de uma sociedade corporativa, da qual o Brasil é um exemplo.
A crise da cidade, hoje, não apenas reflete como resume todas as outras crises do nos-sa tempo, as crises econômica, financeira, cultural, moral, política. Diríamos que essa crise urbana se define porque a cidade já não presta para o grande capital, sobretudo, e já não presta para o homem. Ela inviabilizou o capital, que exige que a cidade esteja sempre a se reformular, a se reformar, o que é feito com o dinheiro público, e porque isso é feito
Joyce Pires é mestranda em Ciências Sociais pela Unesp de Marília, realizou estágio docente em Geografia Social e é professora de Geografia na rede estadual de ensino.
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JOYCE PIRES
UNESPCIÊNCIA | JUNHO 2018
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com o dinheiro público; os estados não dis-põem recursos para cambiar as populações, e as cidades se tornam inviáveis para o homem.
É evidente que essa crise existe em Nova York, como em Londres, Paris, mas é diferente em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, porque nos países desenvolvidos existe uma dispersão maior das acomodações, enquanto que nos países subdesenvolvidos os elemen-tos de vida da sociedade se concentram em certos pontos privilegiados, como resultado do modelo econômico e político, esse é o caso do Brasil. O nosso modelo econômico e po-lítico se baseou exatamente na violência, na expropriação legalizada das possibilidades, inclusive de trabalho, dos indivíduos, como nos mostrou Milton Santos em suas várias obras e projetos de pesquisas desenvolvidos no Brasil. Desta maneira, o nosso modelo admitiu que reduzir o trabalho é uma das possibilidades de saída da crise.
Estamos vendo que a recessão extrema-mente bem orquestrada é uma das causas do desemprego. A violência, por sua vez, é uma consequência da crise e a crise é o apodreci-
mento da sociedade. No mundo atual, uma parte da sociedade deseja esse apodrecimen-to e imagina que ele é uma forma de se safar da crise. Então, a violência de certo modo é gerada por aqueles que imaginam combatê-la.
No livro Por uma outra globalização (2006), Santos dissertou sobre os pilares da globaliza-ção, suas consequências territoriais e sociais e desenha um futuro cheio de esperança, de potência, conclamando todos para a busca de uma outra globalização na qual não haja lugar para a globalização financeirizada e dominada pelo capital, o que ele denomina de globalitarismo, esse existe para reproduzir a globalização.
Nos dois últimos livros citados encontra-mos a sua colaboração para a desalienação do indivíduo. Oferece-nos esperança para que acreditemos que uma outra globalização é possível, na qual predominará a solidariedade local e horizontal, substituindo as verticali-dades opressivas das empresas hegemônicas, das grandes corporações e estados nacionais, onde a luta cotidiana do povo poderá abrir novos caminhos.
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia nova. São Paulo: Hucitec-Edusp, 1978.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2006.
25JUNHO 2018 | UNESPCIÊNCIA