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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP MILENE SANTOS ESTRELLA O ARTESANATO EM OSSO NO MUNICÍPIO DE JARDIM, MS CAMPO GRANDE - MS 2014

O ARTESANATO EM OSSO NO MUNICÍPIO DE JARDIM, MS · diversos autores que possibilitaram uma análise histórica do artesanato em osso no desenvolvimento do município de Jardim em

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA – UNIDERP

MILENE SANTOS ESTRELLA

O ARTESANATO EM OSSO NO MUNICÍPIO DE JARDIM, MS

CAMPO GRANDE - MS

2014

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MILENE SANTOS ESTRELLA

ARTESANATO EM OSSO NO MUNICÍPIO DE JARDIM, MS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera - Uniderp, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.

Orientação: Prof. Dr.Gilberto Luiz Alves

CAMPO GRANDE – MS

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Anhanguera – Uniderp

Estrella, Milene Santos.

O artesanato em osso no município de Jardim, MS. / Milene Santos Estrella. -- Campo Grande, 2014.

68f. Dissertação (mestrado) – Universidade Anhanguera - Uniderp,

2014. “Orientação: Prof. Dr. Gilberto Luiz Alves.”

1. Artesanato – Mato Grosso do Sul 2. Osso I. Título.

CDD 21.ed. 745.45098171 599.74446

E85a

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a DEUS por me dar saúde para concretizar mais um objetivo

na minha vida.

Aos professores do mestrado, pela dedicação em me direcionar nesta

caminhada, em especial aos professores Dr. Gilberto Luiz Alves, Dr. Sandino

Hoff e Dra. Rosemary Matias, pelo auxílio e incentivo recebidos durante a

elaboração da minha dissertação.

À Coordenação do Programa de mestrado, nas pessoas do Prof. Dr.

Silvio Fávero e à Alinne Freitas Signorelli, secretária do curso.

Aos meus pais, que ao longo da minha vida sempre estiveram presentes

e jamais mediram esforços para me apoiar na minha trajetória acadêmica.

Á minha irmã Gisele pelo suporte, incentivo e pelo apoio nesta caminhada.

Aos colegas de turma, pelo companheirismo, alegria, solidariedade

dispensados nessa caminhada; essa turma foi especial na minha vida.

Ao Professor Dr. Gilberto Luiz Alves, meu respeito, admiração e

agradecimento pela acolhida como orientanda e por todo o incentivo à

realização deste trabalho.

À banca examinadora do trabalho, professores Dr. Gilberto Luiz Alves,

Dra. Rosemary Matias e Dra. Carla B. Zandavalli, agradeço pelo tempo e

paciência dedicados à leitura deste trabalho e por permitirem-se colaborar, pois

a pesquisa individual nos coloca diante de impasses que só o debate ajuda a

esclarecer.

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SUMÁRIO

1 Introdução Geral ................................ ....................................................... 06

2 Revisão de Literatura ........................... .................................................... 10

3 Referências Bibliográficas ..................... ................................................ 16

Artigo I ......................................... ................................................................ 19

Artesanato em osso no município de Jardim, MS

Resumo ........................................... ............................................................ 20

Abstract .......................................... .............................................................. 21

Introdução ........................................ ............................................................ 18

Materiais e Métodos .............................. ..................................................... 22

Resultados e Discussão ........................... ................................................. 26

Conclusão ........................................ ........................................................... 42

Referências Bibliográficas ....................... ................................................. 43

Artigo II ........................................ ................................................................ 46

Organização técnica do artesanato em osso no municí pio de Jardim, MS

Resumo ........................................... ............................................................ 46

Abstract ......................................... .............................................................. 47

Introdução ....................................... ............................................................ 47

Materiais e Métodos .............................. ..................................................... 52

Resultados e Discussão ........................... ................................................. 53

Conclusão ........................................ ........................................................... 66

Referências Bibliográficas ....................... ................................................. 67

Conclusão Geral ................................... ....................................................... 69

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1 Introdução Geral

Vivemos em um mundo que tem sido palco de grandes transformações

advindas de acontecimentos históricos distantes, como a Revolução Industrial

na Europa, por exemplo.

Hoje, no Século XXI, presenciamos outro momento no qual a

globalização emerge e se fortalece, agora, em nova forma cuja mola

impulsionadora é a tecnologia da informação. Começa-se a enxergar a

economia mundial como um grande mercado.

O mundo passa por mudanças radicais, as condições macroambientais

são novamente afetadas. Em resposta a essas mudanças, surgem as

cooperativas, associações, organizações não governamentais, grupos

informais do terceiro setor para os quais se busca a integração de alguns

segmentos, como o artesanato. No Brasil, cooperados e associados se

distribuem em 1.376 cooperativas e associações, conforme pesquisa do

Sebrae nas várias regiões brasileiras.

O processo de desenvolvimento local é construído a partir de um

segmento mobilizado e grupos organizados que gerem resultados comerciais

intensificando o crescimento de renda e emprego.

Tendo em vista esse contexto, inserimos o objeto desta pesquisa – o

processo de implantação e expansão do arranjo produtivo local de artesanato

em osso.

O artesanato em osso no município de Jardim-MS tem representado

uma atividade que utiliza matéria prima abundante da região, na produção de

peças artesanais exclusivas, transformando-as em produtos de consumo e

favorecendo o desenvolvimento local.

Com vistas a compreender o surgimento dessa atividade, delimitamos o

local da nossa pesquisa ao município de Jardim, que está localizado no

sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul. O município de Jardim constitui

um grande potencial no segmento do Turismo Histórico-Cultural, visto que

agrega vários monumentos relacionados à Retirada da Laguna, um dos

episódios da Guerra do Paraguai. É, também, pioneiro no artesanato em osso,

madeira e couro, conhecido e comercializado nacional e internacionalmente

(PREFEITURA MUNICIPAL DE JARDIM, 2008).

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O artesanato de osso, no município de Jardim, define-se como um

instrumento efetivo para prática do desenvolvimento local, sendo uma forma

alternativa de incentivo às economias de base local para assegurar a

preservação da identidade cultural do lugar, aliada à reutilização da matéria

prima abundante na região.

Sob o ponto de vista histórico, o estado de Mato Grosso do Sul possui

21,49 milhões de cabeças de gado (IBGE, 2012) e, nesse sentido, é

considerado o segundo maior rebanho de corte do país; praticamente, todo

material descartado pelos frigoríficos é aproveitado. A carne, além de

abastecer o mercado nacional também é exportada para a Europa. O couro vai

para a indústria de confecção, o sebo é vendido para as fábricas de sabão e

sabonete, a canela do boi é um produto fino para as indústrias de móveis, o

pelo da orelha é disputado pelos fabricantes de pincéis e o osso do animal tem

sido destinado e transformado em artesanato.

Uma compreensão mais apurada do que seja o conhecimento produzido

sobre o artesanato em osso no município de Jardim aponta características

peculiares, como o Projeto Mãos à obra, que incluiu a aprovação de uma verba

do Ministério de Desenvolvimento, destinada para a organização do processo

de produção das peças produzidas pela comunidade.

Para melhor apresentar nosso trabalho, dividimos o estudo em dois

momentos, organizados, aqui, na forma de dois artigos: no primeiro,

discorremos sobre o tema com base nas abordagens e contribuições dos

diversos autores que possibilitaram uma análise histórica do artesanato em

osso no desenvolvimento do município de Jardim em Mato Grosso do Sul.

Seguindo essa linha de raciocínio, elaboramos o segundo artigo com os

registros sobre a produção técnica do trabalho nas oficinas de artesanato em

osso no referido município. Mostramos, ainda, as etapas observadas na prática

individual ou coletiva de artesãos dentro da cadeia produtiva do artesanato,

assim organizada: capacitação; preparo da matéria- prima, desenvolvimento de

produto. Por fim, descrevemos como é feita a sistematização dessas etapas

no processo de divisão de trabalho realizado na oficina de artesanato do

Projeto Mãos à Obra.

Partindo das proposições até aqui elencadas, buscamos

encaminhamentos metodológicos por meio de procedimentos que incluíram,

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inicialmente, uma revisão de literatura, a fim de se buscarem as bases teóricas

para o tema, com autores como ROCHA (2000), SILVA FILHO (1987),

JACOBY (2001), CHITI (2003), ALVES (2014), SILVA (2013), RIBEIRO (1983),

dentre outros. A pesquisa prosseguiu com o levantamento de dados em

campo, observação sistemática, registros fotográficos, entrevistas e visitas a

diferentes postos de troca, lojas, cooperativas e feiras. A pesquisa demandou

leituras e atividades dialógicas que, como suporte para o significado de todo

um corpo de dados científicos, foram usadas para compor e compreender o

contributo do artesanato na transformação da matéria prima local em produtos

de consumo.

As entrevistas foram realizadas com os artesãos e o dirigente da oficina

Mãos à Obra; consultas em documentos oficiais, legislação, recomendações,

informações de jornais, revistas, livros de memórias, mapas e fotografias

fizeram parte, também, do processo de pesquisa. Os dados levantados junto

aos artesãos, nos documentos, ainda que de forma inicial, permitiram obter

informações suficientes para enunciar os objetivos da investigação.

Consideramos, como questão central, a necessidade de analisar

historicamente o artesanato no desenvolvimento do município de Jardim/MS e,

de forma mais específica, estabelecemos como propósito: a) descrever o

Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável (PDLIS) até a

implantação efetiva do Projeto Mãos à Obra ; b) analisar a organização técnica

do trabalho na oficina de artesanato em osso, no município de Jardim-MS .

Para atingir tais objetivos, foram realizadas visitas técnicas na oficina Projeto

Mãos à Obra, procurando registrar os fatos e aspectos vinculados, direta ou

indiretamente, ao artesanato local. Concomitante a essas ações, realizamos

um levantamento fotográfico, com formulário e aplicação de entrevista

semiestruturadas.

Na intenção de contribuir com esses encaminhamentos, concluímos o

estudo sugerindo que o apoio ao artesanato se mostra como boa alternativa

para se tentar alcançar o desenvolvimento local, uma vez que o setor

apresenta princípios básicos como a geração de emprego e de renda para

populações do município de Jardim/MS com baixa qualificação profissional.

2 Revisão de Literatura

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O objetivo deste trabalho é contemplar as discussões sobre a

caracterização da concepção histórica do artesanato em osso no município de

Jardim, em Mato Grosso do Sul e analisar a organização técnica dessa

atividade.

Na busca por compreender tais concepções, iniciamos investigando, na

literatura, sobre a palavra artesanato, que vem de Artesania e, em latim, entre

outras coisas, significava capacidade de fazer alguma coisa.

O mesmo termo é conceituado por ROCHA (2000, p.21) como a forma

de ocupação ou trabalho, geradora de bens materiais produzidos por meios

técnicos, geralmente tradicionais com a utilização de instrumentos

rudimentares.

Artesanato também é definido por SILVA FILHO (1987, p.34) como fruto

gerado da cultura popular, da feitura de objetos relacionados à temática

folclórica dos países com emprego de técnicas primitivas de fabricação.

Afirma JACOBY (2001, p.19) que a cultura dá fundamento à atividade

artesanal, salientando que não se trata de entendê-la em seu sentido

antropológico, mas como algo que interpreta a cultura no resultado do

desenvolvimento de atividades da sociedade humana, acumuladas e

selecionadas ao longo do tempo.

Nessa mesma direção, CHITI (2003, p.23) aponta que a cultura aplicada

ao artesanato está referenciada na arte, principalmente de natureza popular,

criada por pessoas de baixo poder aquisitivo, pertencentes às camadas menos

favorecidas. A arte popular artesanal, aqui defendida, não é aquela direcionada

para o entendimento das massas, mas a arte criada por estas, como

necessidade estética, funcional ou de sobrevivência.

Em se tratando da Arte, recorremos a SILVA (2013, p.29), que, em

contraponto, trata da realidade histórico-social e cultural como forma de

expressão e manifestação humana diante da natureza em sua totalidade,

transmitindo, assim, às novas gerações a forma de ler, compreender,

interpretar e registrar o mundo, em diferentes períodos da humanidade.

As reflexões originadas a partir dessa questão reportam-nos a um dos

conceitos mais usados de artesanato, proposto pelo Conselho Mundial de

Artesanato (SEBRAE/MG, 1991, p. 3): “[...] artesanato é toda a atividade

produtiva que resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou

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com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade,

destreza, qualidade e criatividade”.

Nesse embate, verifica-se que o conceito de artesanato, segundo

RIBEIRO (1983, p.31), não é suficientemente satisfatório para a complexidade

da investigação. Assim se expressa o autor:

As diferentes realidades que se escondem muitas vezes sob a capa do artesanato são bastante diversas e particulares. Desta forma, o artesanato é visto como uma forma de produção em que os trabalhadores desenvolvem uma forma de relação individualizada com o objeto de seu trabalho. Ou seja, o papel destes trabalhadores no processo produtivo coloca-os em uma posição importante face à construção do produto, que depende de sua capacidade e de seu conhecimento para ser criado. [...]. Mais ainda, o trabalhador das formas de produção artesanal necessita de um aprendizado que não é obtido na escola, mas na relação com o próprio trabalho.

Para CARDOSO (2003, p.18), o artesanato também está vinculado ao

mundo do trabalho, assumindo diferentes formas desde a Pré-história até os

dias atuais. Esse mesmo autor complementa:

[...] o artesanato com um mínimo de raciocínio é preciso mergulhar na história da humanidade e dela fazer uma nova leitura, ou seja, de como se determinou cada cultura; dos medos, que trouxeram consigo mudanças; das aprendizagens com cada medo passado; das formas de divisão do trabalho; e, principalmente, das formas para o desenho e a construção do seu tempo.

Para ALVES (2013, p.7), o artesão “[...] por realizar atividade que exigia

tanto os recursos de seu cérebro quanto a habilidade de suas mãos, se diz, [...]

um trabalhador qualificado”. Logo, o artesanato se contrapõe à manufatura que

introduz a divisão do trabalho, desapropriando o trabalhador das habilidades do

processo de trabalho como um todo. O trabalhador deixa de ser qualificado

para se tornar um especialista. O autor observa, ainda, que muitas atividades

“artesanais”, na atualidade, incorporam a organização técnica da manufatura e

não podem se configurar mais como artesanato. Essa organização técnica

manufatureira incorporada entre os “artesãos” está relacionada ao que ele

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denomina como ideologia do empreendedorismo disseminada por muitas

instituições sociais.

Instituições sociais como o Sebrae desempenham um papel importante na valorização do artesanato, em nossos dias, e na veiculação da ideologia do empreendedorismo entre os artesãos. Não se pretende aqui desqualificar a criação de alternativas econômicas para a empobrecida população que se dedica ao artesanato. Mas,o que essa ideologia não revela é a profunda transformação que vem se operando nas atividades ditas artesanais, inclusive na organização técnica que as lastreia, tornando-as, qualitativamente outra coisa que não o artesanato. Estimulando o espírito empreendedor do artesão, incentivando a modernização do trabalho, a produção com certa escala, a ampliação do mercado que se projeta nacional e internacionalmente, viabilizando, inclusive, a agregação de mais trabalhadores às oficinas, estas instituições ajudam a criar as condições para a instauração da divisão do trabalho. Incorporada por muitas oficinas e ateliês, a divisão do trabalho impõe uma organização técnica de caráter manufatureiro nesses espaços de trabalho. Portanto, as atividades aí realizadas já não são artesanais, mas manufatureiras. (ALVES, 2013, p. 77),

Com propriedade sobre o tema, ALVES (2013, p. 2) também classifica o

artesanato em três modalidades: o artesanato ancestral, o artesanato

espontâneo e o artesanato induzido.

[...] o artesanato ancestral envolve tanto o artesanato indígena quanto o produzido por grupos sociais precariamente articulados ao funcionamento da sociedade capitalista. É um artesanato de caráter coletivo [...]. O artesanato espontâneo é produzido individualmente por pessoas simples, que, no passado, exerceram atividades econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais [...]. O artesanato induzido vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas iniciativas filantrópicas vêem no desenvolvimento do artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e jovens que vivem situação de risco nas ruas. Alguns deles chegam a consagrar-se como artesãos. Mas essa não é a tendência dominante. (ALVES, 2012, p.2).

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Nos desdobramentos teóricos, LIMA (2006, p. 15) corrobora indicando

que o limiar no qual uma produção abandona seu processo artesanal e passa a

seguir um processo industrial é sutil:

Tomada em sua acepção original, a palavra artesanato significa um fazer ou o objeto que tem por origem o fazer ser eminentemente manual. Isto é, são as mãos que executam o trabalho. São elas o principal, senão o único, instrumento que o homem utiliza na confecção do objeto. O uso de ferramentas, inclusive máquinas, quando e se ocorre, se dá de forma apenas auxiliar, como um apêndice ou extensão das mãos, sem ameaçar sua predominância. (LIMA, 2007, p.15).

Dessa forma, no processo industrial, a participação do homem na etapa

de produção não fornece as características principais do produto final; ao

contrário do artesanato, é a máquina, criada para reproduzir o protótipo ou

partes dele, o fator predominante da produção.

Na definição do Programa de Apoio ao Artesão - PAB (2008, p.3),

“Artesão é o trabalhador que de forma individual exerce um ofício manual”, não

contempla a solução que os artesãos têm encontrado para baratear sua

produção ao realizarem seus trabalhos em equipe e, na medida do possível,

produzindo em série. Dentro e fora de cooperativas, os artesãos trabalham em

equipe e cada um deles é responsável por uma ou mais etapas da produção

artesanal.

A preocupação em fortalecer e preservar o valor cultural na produção

artesanal é evidenciada quando o PAB (2008, p. 4), antes de afirmar o que não

é artesanato, define:

[...] artesanato compreende toda a produção resultante da transformação de matérias-primas, com predominância manual, por indivíduo que detenha o domínio integral de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural (possui valor simbólico e identidade cultural), podendo no processo de sua atividade ocorrer o auxílio limitado de máquinas, ferramentas, artefatos e utensílios. As matérias-primas utilizadas na produção podem ser naturais, semiprocessadas, processadas industrialmente ou constituídas de materiais recicláveis.” (BRASIL, 2008).

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Para artesanato são oferecidas várias definições. Percebe-se, por

algumas apresentadas anteriormente, que elas destacam visões diferentes,

tendo em vista os diferentes aspectos da atividade artesanal. De acordo com o

HOUAISS (2006, p. 34), artesanato é a arte e a técnica do trabalho manual não

industrializado, realizado por artesão, e que escapa à produção em série; tem

finalidade, a um tempo, utilitária e artística. O artesanato é uma atividade

produtiva singular, tem um significado especial que lhe confere uma

característica peculiar e própria.

Para ÁVILA (2000, p. 9), o artesanato está diretamente ligado à questão

do desemprego. O estímulo à produção artesanal exige baixos investimentos e

resgata os valores humanos.

O artesanato constitui uma das respostas colocadas para o problema do

desemprego, caracteriza a revitalização de atividades econômicas tradicionais,

constitui uma estratégia de ocupação de mão-de-obra, dinamiza os mercados

locais, preserva os valores culturais, amplia os conhecimentos acerca das

características e valores locais, regionais e nacionais.

Conforme ÁVILA (2000, p.10), ainda, isso implica no desabrochamento

das capacidades, competências e habilidades de uma comunidade, no sentido

de ela mesma, com colaboração de agentes externos e internos, tornar-se apta

a agenciar gerenciar os seus potenciais, visando solucionar problemas,

necessidades e aspirações.

O desenvolvimento local nos países “desenvolvidos” tem como

expectativa a geração de emprego e renda e o aproveitamento das vantagens

comparativas, baseadas nas especificidades do lugar, diferentemente dos

mundos subdesenvolvidos, devido ao estágio de desenvolvimento em que se

encontram.

De acordo com ÁVILA (2001, p.11),

[...] o agente de desenvolvimento local de fato age, [...] trabalhando e influenciando para que a comunidade mesma desabroche capacidades, competências e habilidades de desenvolvimento, sem a imediatista pretensão de querer levar o desenvolvimento para a comunidade ou de querer erigir iniciativas desenvolvimentistas na comunidade, que não fluam de seu

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real estágio de cultura, condições e políticas de progresso coletivo.

No entanto, para SANTOS et al. (2004, p.151), o conceito de Arranjo

Produtivo Local (APL) só deve ser estabelecido com base em experiências

empíricas muito específicas. De maneira mais ampla, deve ser comum, a todos

os APLs, a cooperação como características fundamental, associada à

presença de pequenas ou médias empresas concentradas espacialmente em

alguns dos elos de uma cadeia produtiva, ou seja, os APLs representam

aglomerações de empresas de um determinado setor ou cadeia.

Baseando-nos no conceito de que Arranjo Produtivo Local (APL) são

aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais com foco

em um conjunto específico de atividades econômicas, reafirmamos o objetivo

de nossa pesquisa, de caracterizar a evolução recente do APL de artesanato

de osso no Município de Jardim. Entender esses aspectos não é somente

importante para se definir a expressão Artesanato; implica, também, rever os

velhos paradigmas em todo o novo, como as duas faces da moeda.

Segundo SCHIMIDT e DOBES (2009).

O APL de Jardim tem na exclusividade do produto final seu maior diferencial competitivo. O artesanato em osso dificilmente é encontrado em outras localidades e por ser uma mercadoria pouco produzida e com grande receptividade no mercado, tem alto valor agregado.

Assim, levantados os conceitos e aspectos teóricos necessários na

organização dos estudos, faz-se necessário buscar as contribuições da história

para refletir sobre a atividade do artesanato em osso, como possibilidade de

diversificação da economia local, inclusão dos produtores artesanais no

mercado, geração de empregos, capacitação de profissionais e promoção das

vocações regionais.

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3 Referências Bibliográficas

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Artigo I

Artesanato em osso município de Jardim, MS

Milene Santos Estrella 1

1Mestranda no Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento

Regional da Universidade Anhanguera – Uniderp

Resumo

Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa que teve por objeto o

artesanato em osso no desenvolvimento do município de Jardim-MS.

Centramos o Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável

(PDLIS) até a implantação efetiva do Projeto Mãos à Obra. A investigação

integra a linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional

Sustentável. O objetivo deste estudo é descrever, discutir e analisar

historicamente o artesanato em osso no município de Jardim-MS. Trata-se de

uma pesquisa bibliográfica e empírica por envolver coleta de dados por meio

de entrevistas com os artesãos e de observações in loco. Os pressupostos

teóricos tiveram por base leituras de autores como ALVES (2013), LIMA (2006)

e ÁVILA (2000), de documentos oficiais, legislação, recomendações,

informações de jornais, revista, livros de memórias, mapas e fotografias. Os

procedimentos metodológicos incluíram levantamento bibliográfico que exigiu

leituras e atividades de dialogicidade na pesquisa. Os indicativos apontam que

o artesanato caracteriza-se como uma revitalização de atividades econômicas

no Município de Jardim/MS, mas nessa direção salientam que as

possibilidades de melhoria dos programas e as possíveis transformações no

segmento, dependem do incentivo de políticas públicas eficientes.

Palavras-chave: Desenvolvimento , Artesanato em Jardim. Arranjo produtivo.

Abstract

This work has as purpose the craft and its impact on bone development in the

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city of Garden - MS. We focus the discussion on the early implementation of the

Local Development Programme, Integrated and Sustainable ( PSLIS ) until the

effective implementation of the Project Hands at Work. The research integrates

online research Society, Environment and Sustainable Regional Development.

The aim of this study is to describe, discuss and analyze historically the process

to assess the improvement in the quality of life of artisans living in the city, as

well as local productive arrangements. This is a literature and empirical

research because it involves data collection through interviews with artisans

and in situ observations. The theoretical assumptions were based on readings

from authors such as ALVES (2013), LIMA (2006 ) and AVILA (2000), official

documents, legislation, recommendations, information from newspapers,

magazines, memoirs, maps and photographs. The methodological procedures

included literature, which required many readings and dialogical research

activities. The results indicate that the craft is characterized as a revival of

traditional economic activities and constitutes an alternative to the problem of

unemployment, especially in the Municipality of Jardin/MS, but this direction

emphasize that the possibilities for improvement of programs and the possible

transformations the segment depend on the encouragement of efficient and

assertive policies to ensure the construction of local development.

Keywords: Local Development. Crafts. Productive arrangement.

Introdução

Esta artigo apresenta resultados de uma pesquisa que teve por objeto o

artesanato em osso no Município de Jardim – MS. Considerou-se o

envolvimento dos artesãos desse município que utilizam matérias primas

abundantes, como a madeira e o osso, para produzir peças artesanais

exclusivas, transformando-as em produtos de consumo, favorecendo o

desenvolvimento local por meio da geração de trabalho e, consequentemente,

de renda.

O local da pesquisa delimitou-se ao município de Jardim, que está

localizado na região Centro-Oeste do Brasil, no Estado de Mato Grosso do Sul.

Jardim possui um grande potencial no segmento do Turismo Histórico-Cultural,

detém vários monumentos relacionados à Retirada da Laguna, um dos

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episódios da Guerra do Paraguai. É, também, pioneiro no artesanato em osso,

madeira e couro, conhecido e comercializado nacionalmente e

internacionalmente (PREFEITURA MUNICIPAL DE JARDIM, 2008).

Justifica-se este estudo, em termos gerais, pela relevância que tem o

surgimento dessa atividade do artesanato no município, que transforma a

matéria prima local em produtos de consumo. Além disso, a atividade

possibilita a diversificação da economia local, a inclusão dos produtores

artesanais no mercado, a geração de empregos, a capacitação de profissionais

e a promoção de melhorias em infraestrutura básica e serviços que atendam

desde a comunidade local até os turistas.

Segundo MAIA (1985, p.11), o artesanato não deve ser somente

encarado como alternativa de fonte de renda, mas, também, como uma

atividade que oportuniza ao homem desenvolver a sua criatividade, além de

valorizar o seu trabalho.

O artesanato, hoje, é reconhecido como fonte geradora de trabalho e

renda, formador de mão de obra e conta com uma participação de 2% no PIB

brasileiro. (CORREIO DO ESTADO, 2012).

O estado de Mato Grosso do Sul possui 21,49 milhões de cabeças de

gado (IBGE, 2012), é o segundo maior rebanho de corte do país, cujo material

descartado pelos frigoríficos é quase que totalmente aproveitado. A carne

abastece o mercado nacional, é exportada para a Europa. O couro vai para a

indústria de confecção, o sebo é vendido para as fábricas de sabão e

sabonete, a canela do boi é um produto fino para as indústrias de móveis, o

pelo da orelha é disputado pelos fabricantes de pincéis e o osso do animal tem

sido destinado e transformado em artesanato.

Este estudo torna-se relevante, ainda, pelo fato de o conhecimento

sobre o artesanato em osso no município de Jardim tem características

próprias como o Projeto Mãos à obra, que incluiu a aprovação de uma verba do

Ministério de Desenvolvimento destinada para a organização do processo de

produção das peças produzidas pelo arranjo produtivo local.

Para a investigação na pesquisa foram realizadas entrevistas com os

artesãos e o dirigente da oficina Mãos à obra, consultas em documentos

oficiais, legislação, recomendações, informações de jornais, revistas, livros de

memórias, mapas e fotografias. Os dados levantados junto aos artesãos, nos

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documentos, permitiram obter informações suficientes para enunciar as

conclusões da investigação.

O objetivo deste artigo é contemplar a análise histórica do artesanato em

osso e seus impactos no desenvolvimento do município de Jardim em Mato

Grosso do Sul, a partir do que foi possível avaliar a melhoria na qualidade de

vida dos artesãos residentes no município, bem como os arranjos produtivos

locais.

Material e Métodos

O trabalho tem como local de pesquisa o Projeto Mãos à Obra,

localizado na cidade de Jardim-MS, à Rua Rui Barbosa, nº 297, Vila Camisão.

Nesse espaço, encontra-se instalada, provisoriamente, a empresa AMO BIO

design, que produz artesanato em madeira com detalhes em osso e cujo

trabalho tem sido realizado em parceria com o Projeto Mãos à Obra. Essa

empresa disponibiliza sobras de madeira que são utilizadas, no projeto, para

fins de acabamento no artesanato de osso.

O município de Jardim está situado na mesorregião sudoeste do Estado

de Mato Grosso do Sul (Figura 2), entre as coordenadas (UTM) 505.000 e

632.000 m de longitude oeste e 7.648.000 e 7.574.000 m de latitude sul (Figura

1). Possui uma superfície de aproximadamente 2.188 km (EMPRAPA, 2008).

É um dos três municípios sul-mato-grossenses que integram o complexo

turístico da Serra da Bodoquena (Figura 3). Detém vários pontos de atração

turística e de beleza natural, devido à heterogeneidade de ecossistemas e ao

elevado nível de concentração de calcário no solo da região oeste do

município, que imprime, aos rios, acentuada transparência e limpidez,

formando, também, cachoeiras e grutas de estalactites e estalagmites, de

elevado valor científico. Além do mais, parte de suas terras é abrangida pelo

Parque Nacional da Serra da Bodoquena.

Com o intuito de favorecer uma visão sobre a localização do município

lócus da pesquisa, inserimos, aqui, dois mapas que indicam a situação regional

(Figura 1), e intermunicipal (Figura 2) da cidade de Jardim.

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Figura 1. Situação regional. Localização do município de Jardim-MS no estado

de Mato Grosso do Sul. Fonte: Plano Diretor Municipal Participativo de Jardim

(2011).

Figura 2. Municípios vizinhos de Jardim-MS. Fonte: Plano Diretor Municipal

Participativo de Jardim (2011).

Os instrumentos empíricos utilizados para levantar as informações

necessárias à descrição da trajetória histórica do artesanato em osso

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associada ao desenvolvimento local no município de Jardim/MS constituíram-

se de fontes documentais e de fontes historiográficas. Para essa primeira etapa

realizamos estudos de fontes primárias junto à Prefeitura, à Câmara Municipal,

ao SEBRAE, a órgãos estaduais e federais. Na sequência, realizou-se o

levantamento de fontes secundárias por meio de revisão bibliográfica: teses,

dissertações e artigos dos bancos de Universidades, livros, periódicos

especializados, revistas e sites acadêmicos da Internet.

Foi justamente a teia da pesquisa que nos propiciou conhecer o texto

SILVA (2013, p. 311), no livro Vozes das Artes Plásticas, sobre a artista

plástica Sonia Alves Correa. A autora relata que Sônia encontrou, nos ossos

bovinos dos animais da sua fazenda, material para se tornar uma importante

escultora, obtendo o registro dos direitos autorais do trabalho em osso pela

Escola de Belas Artes - Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 16 de

junho de 1997. Em seus escritos a autora faz referências ao início da história

da produção do artesanato em osso no município de Jardim/MS:

Nessa fase, além de produzir muitas peças, Sônia eleva a oportunidade de ter expandido sua arte pioneira nos cursos ministrados. O cenário de uma dessas experiências foi no município de Jardim, MS, em 2002, quando a artista, trabalhou com mais de trinta pessoas sua arte em osso. Por iniciativa da Prefeitura, o curso oferecido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro Empresas (SEBRAE) objetivou aumentar a mão de obra na cidade e que Jardim tivesse a marca da criação em osso. (SILVA, 2013, p.311)

Para atender os pressupostos que identificam o artesanato em osso e

permitir o esclarecimento da sua trajetória, trabalhamos com levantamentos a

campo na sede atual do Programa Mãos á Obra (Figura 3), nos meses de

março e outubro de 2013. Foram realizadas entrevistas com os 8 artesãos e o

dirigente da oficina Mãos à Obra, David Ojeda. Os dados obtidos nos

ofereceram informações suficientes para trilhar o passo a passo do caminho

investigativo.

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Figura 3. Fachada da oficina Mãos à Obra no município de Jardim-MS.

Fonte: Arquivo da autora (2013).

Ressalta-se, na imagem abaixo (Figura 4), a logomarca do Programa

Mãos à Obra, em placa fixada na fachada da oficina, com a indicação da

parceria com a AMO Bio design.

Figura 4. Placa da Fachada da oficina Mãos à Obra no município de Jardim-

MS. Fonte: Arquivo da autora (2013).

Resultados e discussão

O desenvolvimento do município de Jardim-MS

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A história do Município de Jardim está ligada à Guerra do Paraguai,

Guerra da Tríplice Aliança. Localizado no sudoeste do estado de Mato Grosso

do Sul, na Região Centro- Oeste do Brasil, esse município foi palco da Retirada

da Laguna, marco histórico guiado por José Francisco Lopes sob o comando

de Carlos de Morais Camisão.

Os conflitos da Guerra do Paraguai transformaram Lopes em peça

fundamental para guiar os soldados brasileiros na retirada das tropas, por se

tratar de um grande conhecedor da região, uma vez que havia fundado, às

margens do Rio Miranda, a Fazenda Jardim, onde se dedicava à pecuária.

Jardim teve, como primeiros moradores, operários da construção da

rodovia que ligaria o Brasil à fronteira com o Paraguai, a qual permitiu ao

município tornar-se uma cidade-polo de situação geográfica privilegiada. A

economia da região está baseada na atividade primária (pecuária e agricultura)

e tem a maior arrecadação de imposto sobre circulação de mercadorias e

prestação de serviço (ICMS) no setor terciário, em que o segmento comércio é

o principal contribuinte. (www.jardim.ms.gov.br).

O município de Jardim oferece serviço de hospedagem e alimentação,

há oito hotéis na cidade, bares e restaurantes de boa qualidade.

Possui cinco agências bancárias, atendimento hospitalar e ambulatorial,

Corpo de Bombeiros, Quartel de Polícia Militar, Polícia Ambiental, Quartel do

Exército Brasileiro, Aeródromo, serviço de Atendimento ao Turista (CAT),

localizado próximo à prefeitura municipal e agências de turismo. A cidade

oferece uma boa estrutura para recepção de turistas. (KIRCH, 2008).

Segundo informações do Centro de Atendimento aos Turistas – CAT

(2008), os principais atrativos turísticos (Quadro 1) na cidade são:

Quadro 1. Produtos Ecoturísticos de Jardim. CAT- Centro de Atendimento ao

Turista

Produtos Ecoturísticos de Jardim Características

Atrativos Históricos

1 - Oficina de ossos Artesanato feito de reciclagem de ossos

bovinos, couro e restos de madeira,

focada na criação de renda sustentável

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para a população mais carente.

2 - Sr.Ramão - artesão da selaria Oficina de artesanato em couro, selaria,

de propriedade do Sr. Ramão,

conhecedor da história da região,

grande seleiro, e confecciona arreios

para animais.

3 - Museu da CER-3

Museu localizado no interior da 4 Cia.

de Engenharia de Combate

mecanizado, cujo acervo guarda parte

da história da Comissão de Estradas e

Rodagens, responsável pela construção

de rodovias e pontes de Aquidauana

até Bela Vista e Porto Murtinho.

Continuação do quadro 1...

3 - Balneário do Assis Capacidade estimada para 200

pessoas, o atrativo principal é o Rio da

Prata, onde se pratica o turismo de.

4 - Monumentos Históricos da

Retirada da Laguna

Trata-se de um cemitério localizado

próximo ao Rio Miranda, local onde

foram enterrados os heróis que

participaram da epopeia da retirada da

Laguna, episódio sangrento da Guerra

do Paraguai, onde foi erguido um

monumento em homenagem aos

mesmos.

Atrativos Naturais

1 - Buraco das Araras Uma gigantesca cratera com

aproximadamente 500 metros de

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diâmetro e 100 metros de profundidae

no meio do cerrado. O passeio recebe

visitantes de todo mundo, interessados

nas belezas e curiosidades do atrativo,

já que sua formação é única e

raríssima.

2 - Balneário do Anicésio

Sua atratividade principal é o Rio da

Prata, ideal para banho e trilhas. Possui

uma estrutura com sanitários,

churrasqueiras, estacionamento e área

de camping.

lazer e contemplativo

4 - Balneário Verano

Ideal para banho e camping. Está

localizado às margens do Rio da

Prata, que é sua principal atração.

Continuaçao do quadro 1...

Tem boa estrutura para

recepcionar seus visitantes.

5 - Recanto Ecológico

Rio da Prata

Um dos principais atrativos do

município, dispõe de um aquário

natural com observação da

ictiofauna. O empreendimento

oferece uma estrutura com

sanitários, estacionamentos,

restaurantes e uma completa loja

de souvenires e redários.

O estímulo aos produtos ecoturísticos do município de Jardim, sejam

atrativos históricos ou naturais, configura-se, portanto, como alternativa

recorrente em projetos relacionados ao Desenvolvimento Local (DL). Como

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potencialidades, entende-se aquilo que o local possui de melhor para oferecer

(ecoturismo, artesanato, produção agrícola etc.).

CASSIOLATO e LASTRES (2004, p.11) apud ALBAGLI (1999, p.32) afirmam:

O termo ‘local’ deve ser identificado como a idéia de ‘Lugar’ seguindo a perspectiva mais econômica, ou seja, espaço de realização de atividades técnico-científica, produtivas, comerciais, financeiras e correlatas que podem operar também em uma escala mais ampla.

Nesse contexto, trata-se, de impulsionar e articular as economias

territoriais, a fim de valorizar os recursos locais. Segundo AMARAL FILHO

(2001, p.4),

As tendências do debate acadêmico contemporâneo demonstram que a definição de desenvolvimento passa a ser estruturado a partir dos próprios atores locais, e não mais por meio do planejamento centralizado ou das forças de mercado.

Em relação a aspectos econômicos, o município de Jardim oferece

produtos turísticos, como atrativos históricos (monumentos, museu e

artesanato), atrativos naturais e agronegócio.

A seção seguinte abordará a importância da implantação do artesanato

utilizando o osso bovino e avaliará seus impactos no desenvolvimento local no

município de Jardim-MS, de forma a contribuir para um melhor entendimento

histórico sobre a implantação dessa modalidade e sua evolução até os dias de

hoje.

Tendo em vista as questões já elencadas até aqui, parece-nos

significativo apresentar informações específicas sobre o objeto central do

nosso estudo: o artesanato em osso.

Artesanato em Osso

O foco deste trabalho é caracterizar o setor de artesanato em osso no

município de Jardim e a sua relevância para o desenvolvimento local. O termo

artesanato se revela, neste estudo, com base na organização técnica do

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trabalho, em que o artesão tem o domínio teórico-prático de todas as

operações técnicas necessárias à produção do objeto artesanal.

ALVES (2012, p.2), em seu texto sobre ‘O Artesanato em Mato Grosso

do Sul: Análise Centrada na Organização Técnica do Trabalho’, discorre que “A

partir da organização técnica do trabalho artesanal e das razões que estiveram

em suas origens, distribui o artesanato em três modalidades: artesanato

ancestral, artesanato espontâneo e artesanato induzido.” Nesse sentido, relata:

O artesanato ancestral envolve tanto o artesanato indígena quanto o produzido por grupos sociais precariamente articulados ao funcionamento da sociedade capitalista. É um artesanato de caráter coletivo [...]. O artesanato espontâneo é produzido individualmente por pessoas simples, que, no passado, exerceram atividades econômicas que lhes permitiram ter certo domínio teórico-prático compatível ao que, no futuro, se caracterizaria como artesanato de peças ornamentais [...]. O artesanato induzido vem se tornando dominante em nossos dias. Muitas iniciativas filantrópicas vêem no desenvolvimento do artesanato uma válvula de escape para tirar crianças e jovens que vivem situação de risco nas ruas. Alguns deles chegam a consagrar-se como artesãos. Mas essa não é a tendência dominante [...].

CARDOSO (2003, p.18) observa que o artesanato também está

vinculado ao mundo do trabalho, assumindo diferentes formas desde a Pré-

história até os dias atuais. Assim, para definir o artesanato com um mínimo de

raciocínio é preciso mergulhar na história da humanidade e dela fazer uma

nova leitura, ou seja, de como se determinou cada cultura: dos medos, que

trouxeram consigo mudanças; das aprendizagens com cada medo passado;

das formas de divisão do trabalho e, principalmente, das formas para o

desenho e a construção do seu tempo.

Citando KARL MARX (1986, p.41), esclarece que

o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção do trabalhador [...] Seus meios de subsistência [...] devem ser suficientes para mantê-lo num estado normal de indivíduo trabalhador. Suas necessidades naturais, como alimento,

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roupas, combustível, abrigo, variam segundo o clima e outras condições físicas de seu país.

Observa-se, também, que o artesanato é visto como fonte de renda;

muitas pessoas dependem exclusivamente dessa atividade e já existem muitos

grupos de artesãos organizados de forma a gerar ainda mais renda para os

envolvidos.

Com esta perspectiva a Prefeitura do município de Jardim e instituições

políticas estimularam a formação de núcleos artesanais em suas comunidades,

incorporando essa ação aos programas de geração de emprego e renda, em

especial nas áreas que apresentam forte marginalidade e exclusão social. (Cf.

Figura 6).

Segundo SILVA (2013, p.29),

“No cenário atual, percebe-se que os modelos de desenvolvimento estão priorizando cada vez mais a capacidade das forças locais em criar e sustentar o seu desenvolvimento, tendência que vem se acentuando na área de Jardim.”

Nesse sentido, foi realizado, no município de Jardim, um fórum

promovido pelo Programa de Desenvolvimento Local e Sustentável (PDLIS),

em 1988, em que o turismo, o agronegócio e o artesanato foram selecionados

como as principais potencialidades do município de Jardim. Essa ação teve

como objetivo promover o desenvolvimento dos aspectos socioambientais e

econômicos do local, cujo processo está descrito na Figura 5, a seguir:

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Figura 5. O processo de desenvolvimento dos aspectos socioambientais e

econômicos no artesanato local.

Posteriormente, em 1999, os agentes locais começaram a colocar em

prática as duas primeiras potencialidades,

O SEBRAE/MS (2001, p.5) verificou que os objetos produzidos no

município estavam limitados ao artesanato típico para utilização em fazendas

ou na lida com animais, tais como: placas para fazenda, adereços, carros de

boi etc.

A partir dessa análise, essa entidade realizou um levantamento para

identificar outras matérias primas disponíveis da região e inseriu a utilização

do osso, do couro e da madeira como nova modalidade de artesanato,

disponibilizando oficinas de capacitação para os artesãos.

As primeiras oficinas tiveram como foco a limpeza e a preparação do

osso; a seguinte, teve a participação do designer VINACCIA (2002, n.p),

inserindo uma iconografia que representasse as características da natureza da

região, tais como: imagens de flores e animais, como tucano, arara, jacaré,

onça pintada, peixes entre outros (Figura 6).

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Figura 6 . Peças com icnografia regional. Fonte: http://www.pantanal-

brasil.com/page.aspx?pagina=251 (2011).

Nas palavras do coordenador David Ojeda, do Projeto Mãos à Obra, a

implantação das oficinas de osso seguiu uma sequência de eventos que estão

no quadro 2.

Quadro 2 - Linha de tempo da criação e implantação do artesanato em osso.

Linha de Tempo Dados

Ano de 1998 Fórum Desenvolvimento Local

Integrado e Sustentável (DLIS)

selecionou as três atividades

principais no município de Jardim-

Continuação do quadro 2 ...

MS: o turismo, o agronegócio e o

artesanato.

Ano de 1999 Agentes colocam em prática as

duas primeiras potencialidades.

Ano de 2001 O Sebrae iniciou um levantamento

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e identificou o crochê, tricô e

bordados e o artesanato típico

para utilização nas fazendas,

como as atividades artesanais

realizadas no município e

identificou outras matérias primas

na região, tais como osso, couro e

madeira.

Ano de 2002

Período das primeiras

capacitações e marca a visita do

designer italiano GIULIO

VINACCIA (2002), que

desenvolveu estudos sobre as

imagens que poderiam ser

utilizadas pelos produtores locais

para caracterizar o artesanato em

osso.

Ano de 2002

Início da implantação do Programa

Mãos à Obra com um curso de

capacitação.

Fonte: Quadro elaborado pela autora a partir de informações fornecidas por

DAVID OJEDA (2013).

A partir das capacitações o Projeto Mãos à Obra, iniciou-se a produção

de objetos, que passaram a ser comercializados para os turistas que visitavam

o local, tais como móveis, descansos de mesa, bandejas, petisqueiras,

luminárias, vasos, porta escritórios, chaveiros, brincos, bijouterias e etc.

O Projeto recebeu apoio da Prefeitura de Jardim, que forneceu todo o

material a ser utilizado pelos artesãos e disponibilizou um local para realização

das oficinas.

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Começaram a surgir, então, encomendas a partir da primeira exposição,

seguindo-se a exposição das peças no Museu de Arte Contemporânea

(MARCO), em Campo Grande, Capital de Mato Grosso do Sul. Os produtos

fizeram parte do Manual Iconográfico do Estado e foram reconhecidos em todo

Brasil.

O Projeto Mãos à Obra

O Programa Mãos à Obra começou em 2002 com um curso de

capacitação; em fevereiro de 2003 foi implantada uma oficina mantida pela

Gerência de Assistência Social de Jardim/MS, sediada no Centro Comunitário

da Vila Panorama.

Esse projeto foi incentivado na Gestão do Prefeito da época, com o

apoio do Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável

(PDLIS) e do SEBRAE (Figura 7), conforme já referido neste texto. No período,

o programa era coordenado pela Gerência de Assistência Social, que financiou

por muitos anos as instalações e os equipamentos para a produção artesanal.

Figura 7 . Caracterização do APL Programa Mãos à Obra.Fonte: Arquivo da

autora (2013).

De acordo com o site oficial da Prefeitura Municipal de Jardim, o poder

público local buscava um projeto que fosse integrado com as principais

atividades econômicas do município e região, tais como o turismo e a pecuária,

pois o artesanato local poderia possibilitar o aumento do número de turistas e,

assim, contribuir com a economia do município.

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O intento vislumbrava o desenvolvimento social, por meio de projetos

que proporcionassem capacitação profissional e geração de emprego e renda.

A perspectiva era a de criar possibilidade de ocupação para jovens que

necessitavam de uma segunda chance na sociedade, sendo essa uma

oportunidade de aprender um ofício e, consequentemente, de obter um

emprego.

Ainda segundo dados pesquisados, a parceria com o SEBRAE/MS

possibilitou o desenvolvimento do Projeto e, portanto, a atividade artesanal com

o osso.

Importante lembrar que anteriormente ao projeto o osso era utilizado

apenas para a fabricação de ração, apresentando baixo valor agregado e

utilizando reduzida força de trabalho.

Todas as oficinas foram desenvolvidas na comunidade na modalidade

de workshops com designers, dentro do programa de apoio ao artesanato,

juntamente com o SEBRAE/MS, para melhor aproveitamento da matéria prima

(Quadro 3).

Quadro 3 - Origens das matérias prima utilizadas no Projeto Mãos à Obra

Tipo Local de origem

Osso Frigorífico Guia Lopes – MS e

Açougues em Jardim-MS

Madeira Descarte de madeira das marcenarias

com autorização do IBAMA.

Fonte: Informação fornecida pela artesã Assunção Alves (2013)

O osso usado como matéria prima para a confecção das peças provém

de açougues e frigoríficos com selo da vigilância sanitária. Assim, o que seria

depositado de forma irregular, muitas vezes jogado em lixão ou em terrenos

abandonados, passou a ser reaproveitado. A madeira é coletada em

marcenarias e madeireiras da região, assim como de fazendas que extraem a

madeira com a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

O projeto social denominado Mãos à Obra visava, inicialmente,

proporcionar aos jovens uma perspectiva profissional que, por razões de

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abandono, abuso ou envolvimento com drogas, estavam excluídos da

comunidade, necessitando de uma oportunidade para se reinserirem no meio

social.

Atualmente, conforme verificamos in loco, o projeto possui 8 mulheres

na faixa de 30 a 50 anos atuando na confecção das peças. Estas senhoras

sustentam sozinhas suas famílias ou complementam a renda familiar.

Por meio de reciclagem, da geração de renda, da oportunidade de

emprego, do desenvolvimento cultural, entre outros aspectos, o Projeto Mãos à

Obra pode beneficiar tanto o meio ambiente quanto a qualidade de vida do

artesão, como demonstrado no quadro a seguir (Quadro 4).

Quadro 4 - Opinião das artesãs quanto ao que mudou em suas vidas a partir

do Programa Mãos à Obra.

Mudança Frequência

Melhorou a renda 5

Aumentou a auto estima 8

Qualidade de vida melhorou 8

Ciclo de amizades aumentou 8

Visão de consciência ambiental 8 Fonte: Arquivo da autora (2013).

Para os artesãos, o Projeto Mãos à Obra oportuniza a realização de

atividades, a participação nas decisões e ações realizadas pelo grupo, a

participação em eventos de comercialização e divulgação do artesanato, entre

outras.

Em virtude desse caráter social do Projeto Mãos à Obra, o artesanato

em osso de Jardim foi indicado e ganhou o prêmio TOP 100 do SEBRAE, no

ano de 2006. O valor do prêmio recebido possibilitou, juntamente com outros

recursos, a construção da sede própria do Projeto, situada na saída de Bela

Vista, às margens da BR-060.

A iniciativa do SEBRAE/MS tem como objetivo incentivar e destacar os

empreendimentos mais bem organizados no setor, do ponto de vista

mercadológico.

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37

Com base em levantamento prévio, verificamos que a sede própria do

Projeto Mãos à Obra encontra-se em fase final de construção. Conforme

relatos dos próprios artesãos, o Projeto recebeu o terreno da Prefeitura

Municipal por meio de doação para que fosse construída a sede.

Segundo o coordenador atual do Projeto Mãos à Obra, David Ojeda,

haverá a possibilidade de ampliar o quadro de artesãos, quando o projeto

estiver funcionando na nova sede, em função do espaço físico maior e das

melhorias da infraestrutura, podendo gerar, pelo menos, mais 25 novos

empregos diretos na cidade de Jardim. No momento o Projeto Mãos á Obra

trabalha na informalidade e no novo endereço tem como objetivo se tornar uma

cooperativa.

Desse modo aumentará também a demanda por novos cursos de

capacitação para os artesãos interessados em trabalhar no projeto.

Infraestrutura do Projeto Mãos à Obra

Em visita realizada no projeto, verificou-se no espaço físico uma mesa

comprida, onde os artesãos utilizam para realizar suas atividades. Nesse local

há um banheiro, dois quartos, que são utilizados como depósito para o estoque

dos ossos bovinos, uma cozinha onde é feito e servido o almoço para os

artesãos que moram mais distantes do local, além de um tanque (de lavar

roupas) usado para lavar os ossos.

Utilizam na confecção das peças, máquinas de uso odontológico, as

quais são adaptadas para possibilitar a troca de várias brocas, durante a

execução dos desenhos nos ossos (Figura 8). Dispõe de três esmeris, que são

utilizados para tirar lâminas dos ossos, nas quais, posteriormente, são feitos os

desenhos.

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Figura 8. Artesãs produzindo as peças de osso. Fonte: Arquivo da autora (2013).

Há, ainda, no local, dois fogões a lenha onde os ossos são levados à

fervura por várias horas, juntamente com procedimentos químicos, até que

fiquem brancos.

O projeto disponibiliza uma serra elétrica para serrar os ossos nas

medidas necessárias a cada peça. Dispõe, também, de um “Dremel”, máquina

que permite o trabalho em alto relevo nos ossos (Figura 9).

Figura 9. Peças finalizadas em alto relevo. Fonte: Arquivo da autora (2013).

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Reconhecimento do Projeto Mãos à Obra

O Projeto Mãos à Obra está, atualmente, inteiramente voltado para o

comércio (Quadro 5). Segundo o coordenador David Ojeda, a produção precisa

ser aumentada para que atenda à demanda de peças. Nesse caso, cabe

ressaltar que 85 % dos produtos são comercializados fora do município; os

países que mais compram produtos artesanais são a Itália e a Holanda, que

todos os anos renovam os pedidos.

Quadro 5 - Evolução da produção do artesanato em osso no Programa Mãos à

Obra

Anos Produção

Peças mês

Mercados

(%)

Total

(%)

Local Estado Brasil Exterior

2003 100 10% 15% 10% 0% 35%

2004 200 10% 15% 10% 10% 45%

2008 500 10% 20% 15% 10% 55%

2012 1000 10% 30% 20% 15% 65%

2013 1500 15% 45% 25% 15% 100%

Fonte: Tabela elaborada pela autora por meio dos dados cedidos por OJEDA (2013).

O Projeto já se tornou ponto turístico, pois quem visita a região e a

cidade passa pelo local para conhecer o processo de produção dos artesãos.

O Projeto Mãos à Obra obteve, junto ao Ministério de Desenvolvimento,

a aprovação de uma verba de R$ 210.000,00, que foi utilizada para a

conclusão da nova sede e para aquisição de brocas mais resistentes, que

reduzem o consumo de energia elétrica e possibilitam o crescimento do projeto.

Conclusão

Dentre os pontos refletidos, apontamos que a implantação do artesanato

em osso no município de Jardim diminuiu o impacto ambiental a partir do

melhor aproveitamento do descarte da matéria prima, anteriormente depositada

de forma irregular ou jogada no lixão.

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Com o Programa Mãos à Obra o osso bovino passou a ser aproveitado e

possibilitou o desenvolvimento de uma atividade artesanal que visa

proporcionar uma perspectiva profissional para as artesãs envolvidas no

projeto, gerando trabalho e renda.

O apoio do PDLIS, da prefeitura e do Sebrae possibilitou buscar uma

atividade econômica que interagisse com as questões sociais do município de

Jardim, gerando oportunidade de trabalho para as populações com baixa

qualificação profissional e potencializasse as vocações regionais, favorecendo

o desenvolvimento local.

Observou-se, no projeto, uma visão empreendedora por meio da

preparação das organizações e de seus artesãos para o mercado competitivo.

Com a instalação da nova sede o projeto aponta para um novo patamar de

desenvolvimento, que visa a um aumento da produtividade associado à técnica

de acabamento perfeito com a implantação de novos maquinários.

Esse desempenho reflete claramente a importância da mudança para o

novo espaço físico, cujo objetivo será desenvolver um produto mais competitivo

e mais bem aceito em outras regiões do país.

Diante do exposto, pode-se salientar que as possibilidades de melhoria

dos programas e as possíveis transformações no segmento dependem do

incentivo de se promoverem políticas públicas eficientes e assertivas, que

garantam a construção do desenvolvimento local

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Artigo II

Organização técnica do artesanato em osso no municí pio de Jardim, MS

Milene Santos Estrella 1

1Mestranda no Programa de Mestrado em Meio Ambiente e Desenvolvimento

Regional da Universidade Anhanguera – Uniderp.

RESUMO

O presente trabalho tem por objeto a organização técnica do trabalho de

artesanato em osso desenvolvido pelo Programa Mãos à Obra no município de

Jardim (MS). Neste artigo são tratadas as etapas do artesanato: preparo da

matéria-prima e desenvolvimento do produto. Integra a linha de pesquisa

Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento Regional Sustentável. Os elementos

analisados nas etapas de produção do artesanato em osso buscam revelar que

o Programa Mãos à Obra tem um caráter capitalista, e esta observação deve

ser o ponto de partida para a análise do fazer artesanal e de suas

possibilidades de avanço do Desenvolvimento Local (DL). O artesanato é

considerado atividade de geração de trabalho e renda para aqueles que não

conseguem se inserir no mercado formal de trabalho, considerando que grande

parte dessas pessoas encontra no artesanato uma forma de garantir a própria

subsistência. O reconhecimento e valorização de vocações produtivas de cada

região são fundamentais para o desenvolvimento de políticas públicas que

permitam assegurar a transformação local.

Palavras-chave: Organização técnica do trabalho, Desenvolvimento Local,

Artesanato em Jardim.

ABSTRACT

The present work aims at the technical organization of work of craftsmanship

bone developed by Hands to Work Program in the City of Gardens ( MS) . This

article shall be dealt steps crafts: preparation of raw materials, product

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development and production. Integrates the line of research Societ,

Environment and Sustainable Regional Development. The elements analyzed

in the stages of production of crafts seek bone reveal that Hands to the Work

Programme has a capitalist character, and this observation should be the

starting point for analyzing the craft and make your chances of advancement of

Local Development (DL). The craft activity is considered to generate

employment and income for those who are unable to enter the formal labor

market, considering that most of these people find in craft a way to ensure their

livelihood. The recognition and valuation of productive vocations of each region

are fundamental to the development of public policies that provide for local

processing.

Keywords: Data Organization, Local Development, Craft.

1 Introdução

Este artigo tem por objeto discutir a organização técnica do trabalho no

artesanato em osso realizado pelo Programa Mãos à Obra no município de

Jardim (MS). Considerou-se o envolvimento dos artesãos do município que

utilizam matérias-primas abundantes nesta região, como a madeira e o osso, e

produzem peças artesanais exclusivas, transformando-as em produtos de

consumo e favorecendo o desenvolvimento local.

Justifica-se este estudo, em termos gerais, pela relevância que tem o

surgimento desta atividade do artesanato no município, que transforma a

matéria-prima local em produtos de consumo.

Para a investigação deste trabalho foram realizadas visitas técnicas na

oficina do Projeto Mãos à Obra, do município de Jardim (MS), procurando

registrar as etapas da produção do artesanato local. Ao lado dessas atividades,

incluiu um levantamento fotográfico e entrevistas semiestruturadas.

Os dados levantados junto aos artesãos, nos documentos, permitiram

obter informações suficientes para atender a um dos objetivos da investigação.

O objetivo geral da investigação exposta neste artigo é analisar as

etapas da organização técnica do artesanato em osso desenvolvido pelo

Programa Mãos à Obra no município de Jardim (MS). Destina-se a apresentar

as etapas observadas na prática do desenvolvimento do produto: coleta da

matéria prima, operação de limpeza, serragem dos ossos até o processo de

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finalização, que envolve o lixamento, desenho e escultura das peças. Será feita

a sistematização destas etapas, que permitirá uma análise da organização

técnica desta produção artesanal e avaliar como ocorre o processo de divisão

de trabalho realizado na oficina de artesanato em osso no Projeto Mãos à

Obra.

No que se refere ao Brasil, tendencialmente as atividades artesanais são

desenvolvidas por núcleos familiares artesanais, majoritariamente situados em

regiões mais pobres, cuja produção artesanal apresenta uma grande variedade

de produtos e reaproveitamento de matérias-primas disponíveis. Ao longo dos

últimos anos, essa atividade tem apresentado um ritmo de expansão

acelerado, constituindo-se em uma atividade econômica com grande potencial

de crescimento, atuando, inclusive, como fonte geradora de emprego e renda.

Segundo PEREIRA (1979, p.17), a política de fomento ao artesanato

brasileiro assumiu um caráter sistematizado a partir de 1977, quando o

Governo Federal, por meio do Ministério do Trabalho, instituiu o Programa

Nacional de Desenvolvimento do Artesanato (PNDA).

Em Mato Grosso do Sul, a Fundação de Cultura (FCMS) lançou, em

maio de 2007, o catálogo do Centro Referencial de Artesanato de Mato Grosso

do Sul, no início da gestão do governador André Puccinelli. Segundo a

Fundação, com esta iniciativa, a instituição investiu no desenvolvimento da

economia da cultura ao promover e potencializar a importância do artesanato

no estado. O objetivo foi colocar à disposição do público local e dos turistas,

peças artesanais dos ícones do artesanato regional, que foram reunidas num

acervo de produtos culturais. As peças foram produzidas por 31 artesãos da

Capital e do interior, que desenvolvem atividades de artesanato em cerâmica,

madeira, fibra, tecelagem, cabaça, couro, madeira e osso, fibra e ferro, entre

outros materiais.

Para CALHEIROS1 o referido catálogo visa divulgar a produção

artesanal do estado. Na sequência foi criado um espaço cultural para expor o

trabalho desenvolvido e dar visibilidade ao trabalho dos artesãos.

1 Américo Calheiros, presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCCM) durante os dois mandatos do governador André Puccinelli (2007-2014).

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O artesanato é uma generosa fonte de emprego e renda e o estado tem cadastrado cerca de 5.000 artesãos que são beneficiados pela atividade e que melhora a qualidade de vida. O centro referencial é mais uma pequena peça que a Fundação de Cultura está inserindo na engrenagem que dá destaque ao artesanato e aos artesãos do Estado. CALHEIROS (2007).

Segundo o Termo de Referência da atuação do sistema SEBRAE no

artesanato e de acordo com a Pesquisa de Informações Básicas Municipais

(MUNIC, 2006), realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Cultura,

64,3% dos municípios brasileiros possuem algum tipo de produção artesanal,

liderando o percentual das manifestações culturais identificadas na pesquisa.

Essa produção tem grande importância na geração de ocupação e

renda no Brasil, onde milhões de artesãos são responsáveis por um movimento

financeiro que comprova a capacidade econômica desse setor.

De acordo com dados do Centro de Capacitação ao Empreendedor

(Capes), embora a profissão de artesão não seja regulamentada no Brasil, o

que dificulta o desenvolvimento de uma política para o setor, cerca de 200 mil

artesãos estão organizados em pequenas empresas, associações ou

cooperativas.

A potencialidade de cada região e o reconhecimento e valorização de

vocações produtivas são fundamentais para o desenvolvimento de políticas

públicas que consigam assegurar à população boas condições de vida e

ferramentas sustentáveis básicas.

Segundo SILVA (2013, p.24 ),

A história da humanidade desenvolve-se com base na luta pela sobrevivência da espécie humana, estando ligada à produção material da sua existência. O ser humano nasce da natureza, surge, emerge, afirma-se e realiza suas virtualidades. A realidade na qual está imerso é a produção, de sua atividade prática, produtiva.

O artesanato é considerado como uma dessas atividades alternativas de

geração de trabalho e renda para aqueles que não conseguem se inserir no

mercado formal de trabalho, considerando que grande parte dessas pessoas

encontra no artesanato uma forma de garantir a própria sobrevivência e a

manutenção do bem estar de seus familiares.

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No sistema produtivo manufatureiro que antecedeu ao capitalismo, o

processo de produção se dava sem a especialização das tarefas. A

necessidade de ampliação dos lucros constituiu-se fator decisivo na

transformação do artesanato ou da manufatura, em que há como característica

básica a introdução da divisão e especialização do trabalho e da maquinaria,

fazendo com que com base neste modelo o artesão dependa do seu ritmo de

produção. À medida que o homem avança no tempo, surgem novos

conhecimentos e novas tecnologias.

ALVES (2013, p.7), observa que muitas atividades “artesanais”, na

atualidade, incorporam a organização técnica da manufatura e não podem se

configurar mais como artesanato.

Para ALVES (2013, p.7), o artesão por realizar atividade que exigia tanto

os recursos de seu cérebro quanto a habilidade de suas mãos, se diz um

“trabalhador qualificado”. “O artesanato se contrapõe à manufatura por

introduzir a divisão do trabalho, expropiando o trabalhador das habilidades

exigidas pelo processo de trabalho como um todo. O trabalhador deixa de ser

qualificado para se tornar um especialista.”

Nesta perspectiva ALVES (2013, p. 7), afirma que:

As novas atividades ditas artesanais, surgidas pelo influxo da ação do Sebrae em Mato Grosso do Sul, incorporaram a organização técnica da manufatura. São manufaturas os ateliês de costura, por exemplo, onde há aqueles que desenham os modelos, os que cortam os tecidos, alguns costuram e outros pintam ou bordam. São manufaturas as oficinas de cerâmica, igualmente, onde trabalham, lado a lado, modeladores, pintores e operador do forno. São manufaturas, ainda, as oficinas de artesanato de osso e madeira.

No artigo Atuação do Sebrae no artesanato: dez anos de aprendizado e

sucesso, o gerente da Unidade de Atendimento Coletivo Comércio e Serviços

dá uma ideia geral das atividades desenvolvidas pelo Sebrae, no sentido de

induzir o desenvolvimento do artesanato brasileiro no interregno considerado.

Afirma, de início, que em 1997 foi “criado o Programa Sebrae de Artesanato,

com atuação em todas as 27 Unidades da Federação”. (GUEDES, 2008). No

ano de 2003, o

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Programa foi reavaliado e redesenhado a partir do compartilhamento das experiências bem-sucedidas realizadas nas 27 Unidades da Federação, sempre levando em conta estratégias e prioridades do Sistema Sebrae. Em março de 2004, promovemos o lançamento do Termo de Referência do Programa Sebrae de Artesanato, em solenidade no Palácio do Planalto com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outras autoridades. (GUEDES, 2008)

O dirigente resume, em seguida, os resultados quantitativos e

qualitativos decorrentes da atuação do Sebrae nos dez anos de vigência de

seu programa voltado para o artesanato.

Os 2.700 municípios atendidos e os 220 mil artesãos capacitados em cursos acima de 40 horas mostram o esforço do Sebrae nesses 10 anos de atuação do Artesanato. E além dos resultados quantitativos, obtivemos importantes resultados qualitativos: o sorriso ‘refeito’ pelo trabalho digno; melhoria de qualidade de vida; moradia; resgate da auto-estima, da cidadania, da dignidade; enfim, a realização de sonhos por meio da valorização dos saberes e fazeres de milhares de cidadão brasileiros que (sic) “têm orgulho de serem artesãos”. [Grifo nosso]. (GUEDES, 2008).

O arremate do artigo coloca em primeiro plano a visão ideológica que

informa a proposta do Sebrae.

A produção artesanal é de grande importância na geração de ocupação e renda no Brasil, com especial destaque em comunidades carentes. Para que o artesanato cumpra esse papel de forma eficaz, é preciso estimular o empreendedorismo e o associativismo, e esse tem sido um importante foco do Sebrae em dez anos de intenso trabalho com o setor. (GUEDES, 2008)

Em geral, salienta-se que as associações melhoram o desempenho da

produção artesanal com o foco no empreendedorismo, facilitam a resolução de

questões de ordem prática no dia-a-dia de trabalho, como a compra de

matéria-prima, a produção em série, a comercialização e distribuição

integradas, o cálculo dos preços dos produtos e a troca de aprendizado e de

informações mas descaracteriza a questão artesanal.

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O Programa Mãos à Obra teve início em 2002 com um curso de

capacitação com 17 pessoas, e em fevereiro de 2003 foi implantada uma

oficina mantida pela Gerência de Assistência Social Município de Jardim (MS),

sediada no Centro Comunitário da Vila Panorama. Possui, hoje, oito

integrantes envolvidos na produção do artesanato em osso.

Esse programa teve incentivo por meio da gestão municipal da época,

com o apoio do Programa de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável

(PDLIS). No período o programa era coordenado pela Gerência de Assistência

Social, que financiou por muitos anos as instalações e os equipamentos para a

produção artesanal e tem como objetivo estimular e desenvolver o exercício da

cidadania mediante a educação ambiental e capacitação para melhoria da

qualidade de vida da população local.

2 Material e Métodos

O presente trabalho foca o Programa Mãos à Obra, localizado no

município de Jardim (MS), sito à Rua Rui Barbosa, no. 297, Vila Camisão.

Nesse artigo são abordadas e discutidas as informações levantadas por

meio das entrevistas realizadas no local do Programa, bem como alguns

aspectos que foram observados, durante a visita, no local.

Considerando o universo total de oito pessoas, foram aplicadas

entrevistas a um dirigente da entidade, a seis artesãs filiadas ao Programa

Mãos à Obra e um funcionário que coleta a matéria-prima.

Na visita ao local, foram realizados registros fotográficos das atividades

desenvolvidas pelos artesãos durante a rotina de trabalho.

A utilização das entrevistas e o levantamento das informações junto aos

artesãos sobre a atuação do Programa Mãos à Obra permitiu que fosse

elaborado um quadro e expostos os avanços ou retrocessos resultantes dessa

associação.

Com base nesse panorama, identificamos o perfil destes artesãos,

avaliamos a melhoria da qualidade de vida, elaboramos um banco de dados e

identificamos em quais pontos a política pública foi mais eficiente. As respostas

das entrevistas de cada artesão foram tabuladas e analisadas para compor

este trabalho.

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Depois da conclusão das etapas metodológicas, foram realizadas a

análise de interpretação dos dados e a conclusão do estudo. Acredita-se que a

adoção dessa metodologia possibilitou a compreensão dos fenômenos e a

indicação de sugestões sobre a problemática em foco.

3 Resultados e Discussão

O Programa Mãos à Obra tem por objetivo coordenar e desenvolver

ações em nível estadual, e, segundo o Sebrae, visam à valorização do artesão,

elevando seu nível cultural, profissional e socioeconômico e, ainda, promover e

divulgar o artesanato regional.

Entre as linhas prioritárias de atuação, destacam-se: geração de

oportunidades de trabalho e renda; aproveitamento das vocações regionais;

formação de uma mentalidade empreendedora por meio da preparação das

organizações e de seus artesãos para o mercado.

Para maior compreensão da organização técnica do trabalho, foram

obtidos os dados das artesãs selecionadas para entrevista. A seguir, quadro

resumo com os dados coletados.

Quadro1. Dados dos artesãos cadastrados no Programa Mãos à Obra

Fonte: OJEDA (2012).

Em relação à caracterização dos artesãos que atuam no programa, seis

são mulheres e dois são homens (Figura 1).

Nome Idade Escolaridade Atividade anterior

Assunção Alves 45 Fundamental incompleto

doméstica

Artete de Mattos 42 Fundamental completo

doméstica

Rosilena Castilho 40 Fundamental completo

doméstica

Ariele Bento Gonçalves 30 Técn.em Enfermagem

comércio

Rosane Rodrigues 35 Fundamental incompleto

doméstica

Veroni Benites 31 Fundamental incompleto

doméstica

Luis Rodrigues 26 Ens.fundamental completo

Func.braçal

David Ojeda 35 Ens.fundamental completo

Coordenador

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Figura 1. Membros do Programa Mãos à Obra segundo o gênero.

Com sua economia centrada principalmente na agropecuária e no

turismo, o município de Jardim (MS) apresenta uma oferta de trabalho muito

limitada com baixos níveis de remuneração. Para conviver com essa realidade,

um grupo da população feminina dedica-se ao trabalho artesanal, por ser uma

das maneiras de se inserirem no mercado de trabalho.

Dos entrevistados, um se encontra na faixa etária de 20 a 30 anos, cinco

estão na faixa de 31 a 40 anos e um está na faixa de 41 a 50 (Figura 2).

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Figura 2 . Faixas etárias dos membros do Programa Mãos à Obra.Fonte: Elaboração própria (2013).

No que se refere à escolaridade, três possuem o ensino fundamental

incompleto, quatro o ensino fundamental completo e um possui o ensino

técnico (Figura 3).

Figura 3. Escolaridade dos membros do Programa Mãos à Obra.

De acordo com o que já foi apresentado, percebe-se que o aspecto da

escolaridade é relativamente significativo, uma vez que a maioria dos artesãos

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possui o ensino fundamental completo e incompleto, não havendo, nesse caso,

analfabetos.

Em relação à atividade anterior, sobre o trabalho que esses sujeitos

faziam antes de se dedicarem ao artesanato em osso, cinco eram domésticas,

um trabalhava no comércio, um exercia atividade braçal e o coordenador,

David Ojeda, exercia a função de artesão (Figura 4).

Figura 4. Atividade anterior dos membros do Programa Mão à Obra.

Essa descrição expressa as condições socioeconômicas nas quais

vivem os artesãos participantes da pesquisa, e a forma como se inseriram na

atividade do artesanato. Com base nos dados descritos na figura, pode-se

detalhar de que maneira o programa interferiu nas suas condições de vida.

As condições socioeconômicas são, em geral, bem parecidas, visto que

antes de entrar para o programa as mulheres trabalhavam como domésticas,

como vendedoras ambulantes, ou como donas de casa. São pessoas de baixa

renda, que buscaram se inserir no mercado de trabalho, se socializar, melhorar

a qualidade de vida por meio de uma atividade remunerada.

O Programa Mãos à Obra funciona em caráter informal, teve seis

coordenadores que recebiam remuneração da prefeitura para exercer a função.

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Em 2010 David Ojeda foi nomeado coordenador e por não ser

funcionário da prefeitura, passou a receber segundo proposta das artesãs o

valor de 10% do rendimento como remuneração.

Em 2002, no início da implantação do Projeto Mãos à Obra , 70% das

artesãs tinham rendimento que variavam entre R$ 250,00 a R$ 400,00. A partir

de 2012, 100% tiveram rendimentos com variações entre R$ 700,00 a R$

1.200,00. Essas informantes explicam que ainda não recebem aumentos

consideráveis, porque ainda estão no processo de investimento do projeto,

que, naturalmente, caminha para se tornar uma cooperativa quando se mudar

para a nova sede.

Essa atividade proporciona, às artesãs, a oportunidade de viajar para

participar de feiras em outros municípios e estados, conhecer diferentes tipos

de artesanato e culturas diversas, como relata a artesã Ariele Bento Gonçalves

(2013).

Etapas de produção do artesanato em osso

O processo de produção foi explicado com detalhes pela artesã Arlete

de Mattos (2013), que participa do programa desde o início e conhece

profundamente sua história e todo o processo produtivo das peças junto com o

coordenador do Programa Mãos à Obra, David Ojeda.

A artesã Assunção Alves relatou que também está no programa desde a

sua implantação e que participou de todos os cursos oferecidos para a

qualificação, incluindo o de manejo e escultura dos ossos. De acordo com o

planejamento da APL todas as artesãs devem conhecer as operações

produtivas, para que desta forma possam identificar habilidades específicas.

Para SANTOS et al. (2004, p.152),

O conceito de APL só deve ser definido a partir de experiências empíricas muito específicas. De maneira mais ampla, deve ser comum a todos os APLs a importância da cooperação como característica fundamental, associado à presença de pequenas ou médias empresas concentradas espacialmente em alguns dos elos de uma cadeia produtiva, ou seja, os APLs representam aglomerações de empresas de um determinado setor ou cadeia.

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A partir dessa seção, serão apresentadas as etapas de produção do

artesanato em osso, resultado das entrevistas aplicadas às seis artesãs que

trabalham no processo de produção. Inicialmente, o objetivo é apresentar as

características de cada etapa da organização técnica deste trabalho artesanal.

Serão apontadas as questões ligadas aos aspectos gerenciais, à produtividade

e à jornada de trabalho.

As etapas do processo produtivo estão relacionadas na figura 5.

Figura 5. Etapas da produção do artesanato em osso. Fonte: Elaboração própria (2013).

Na primeira etapa é feita a aquisição da matéria-prima (ossos bovinos).

Na sua maioria, provém dos açougues do comércio local e dos frigoríficos do

município vizinho, de Guia Lopes da Laguna (MS).

Uma bicicleta é utilizada como meio de transporte para coletar os ossos

nos açougues e frigoríficos (Figura 6).

Figura 6. Bicicleta utilizada para a coleta dos ossos nos frigoríficos locais. Fonte: Arquivo da autora (2013).

A prefeitura disponibiliza uma van como transporte, para participação em

feiras na localidade ou em outros estados. (Figura 7).

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Figura 7. Veículo utilizado para o transporte de artesãos para as feiras. Fonte: OJEDA (2012).

Na segunda etapa (Figura 8), inicia-se o processo de limpeza dos ossos,

que consiste em retirar os restos de carne raspando com a faca.

Figura 8. Foto da operação da limpeza dos ossos. Fonte: OJEDA (2012).

Atualmente as etapas de trabalho estão organizadas da seguinte forma:

duas artesãs ficam responsáveis pela limpeza dos ossos, que consiste em

retirar os restos de carne raspando com as facas.

Na sequência, a gordura retirada de dentro dos ossos (tutano) passa por

um processo de fritura para ser reaproveitada e utilizada na confecção de um

sabão para a limpeza dos ossos beneficiados pelas artesãs.

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Figura 8. Foto da operação da limpeza dos ossos. Fonte: OJEDA (2012).

Em 2003, segundo relato do coordenador David Ojeda, quando a

matéria prima chegava à sede do programa, todos deveriam trabalhar no

processo de limpeza. Na sequência, depois de aprender todo o processo,

poderiam passar para as outras fases e vivenciar todas as operações do

desenvolvimento do produto para que desta forma possibilitasse adquirir uma

visão geral do artesanato em osso e fossem identificadas as habilidades

individuais de cada artesã.

Na etapa seguinte os ossos são fervidos por oito horas em um caldeirão

colocado em fogões de barro montados no chão. (Figura 9).

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Figura 9. Foto da operação da primeira fervura dos ossos para beneficiar a matéria-prima do artesanato. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).

Esses fogões foram feitos pelos artesãos como forma de não utilizar o

GLP (gás liquefeito de petróleo) e reaproveitar os restos de pó de serra

decorrentes do lixamento da madeira. Esses ossos são fervidos várias vezes

para que saia toda a gordura dos mesmos. (Figura 10).

Figura 10. Foto da operação da segunda fervura dos ossos. Fonte: OJEDA (2012).

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Os ossos são fervidos duas vezes com o sabão, e são submetidos a

uma última fervura, com “água oxigenada” de volume 10. Atualmente a

quantidade de oxigenada foi reduzida em 80%, utilizando somente uma

quantidade mínima, para que o osso obtenha a coloração desejada. Logo

depois da etapa de cozimento, os ossos são expostos ao sol para que sequem

naturalmente.

A terceira etapa (Figura 11) consiste no processo de serrar as peças

com equipamentos adequados. Os ossos que não são utilizados de imediato

são estocados no depósito.

Figura 11. Foto da operação de serragem dos ossos. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).

Figura 12. Foto da artesã lixando o ossos no esmeril. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012)

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Na sequência, depois dos ossos serem serrados, inicia-se a operação

em que as peças são lixadas nas suas bases, para obter uma superfície plana

e nas medidas corretas (Figura 12).

Nessa etapa também há carência de uso de equipamento de segurança,

tais como óculos, luvas e máscaras para a proteção das narinas, pois ao lixar

os ossos é levantada grande quantidade de pó, que pode se acumular nas

narinas e dificultar a respiração.

O uso de equipamentos é extremamente importante para evitar o atrito

da pele com a lixa, mas a artesã Rosilena Castilho (2013) relatou que o uso do

equipamento dificulta o acesso às lâminas mais finas.

Na quarta etapa, inicia-se o desenho da iconografia escolhida para a

peça.( Figura13).

Figura13. Foto da operação do desenho na peça. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).

A operação do desenho é fundamental, pois, uma vez realizada, todas

as outras poderão ser finalizadas. Somente três artesãs possuem habilidades

de desenho dentro do programa.

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Figura 14. Foto da operação dos traços com a broca. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).

Depois do desenho, inicia-se, com broca específica, a realização dos

traços com uma ferramenta parecida com pirógrafo, para que na sequência as

peças sejam esculpidas.( Figura 14).

Figura 15. Foto da operação em alto relevo. Fonte: PANTANAL, BRASIL (2012).

Nesta etapa as formas ganham mais precisão e adquirem diferentes

usos e funções, tais como petisqueiras, vasos, brincos, chaveiros, copos, porta-

cartão, porta-canetas e objetos para escritórios em geral. São esculpidos

nomes, flores, símbolos, mas em sua maioria são desenhos que representam a

fauna sul-mato-grossense.( Figura 15).

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Durante as entrevistas, Ariele Bento Gonçalves relatou que em anos

anteriores o processo de produção, desde o entalhe nos ossos até o

acabamento final da peça, era realizado por um único artesão. Hoje a produção

é em série e cada um fica responsável por uma etapa do processo, pois assim

agiliza-se o processo de finalização das peças.

Para finalizar as peças, são lixadas com lixa fina e recebem um

acabamento de cera líquida para proporcionar um efeito espelhado.

Figura 16. Peças finalizadas. Fonte: Arquivo da autora (2013).

Condições de Trabalho

Nas etapas de produção foi observada a utilização de ferramentas de

risco, além do manuseio com produtos químicos. Constatou-se, também, no

local e mediante registro fotográfico, que as artesãs não utilizam os

equipamentos de proteção de forma adequada e com regularidade.

As artesãs têm consciência de que devem usar, até porque os

equipamentos estão disponíveis no programa, mas alegam que o uso dificulta o

manuseio no momento de trabalhar com lâminas de osso mais finas.

Neste sentido, acreditamos que esses cuidados com a segurança devem

ser levados em conta, pois, uma vez que o acidente ocorre, elas não têm

respaldo da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), e mesmo direitos da

Previdência Social, em razão de que são trabalhadores ainda em condições

informais.

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O direito à saúde significa o direito à integridade física e funcional

(inclusive mental), à uma alimentação balanceada, ao vestuário, à moradia, ao

saneamento básico, à proteção do meio ambiente, entre outros (SILVA, 2008).

Equipamentos de proteção individual – EPIs

O artigo 166 da CLT dispõe que a empresa é obrigada a fornecer,

gratuitamente, o equipamento de proteção individual (EPI) adequado ao risco e

em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas

de ordem geral não ofereçam completa proteção contra as ameaças de

acidentes e danos à saúde do(a)s empregado(a)s (PADILHA, 2001). A NR- 6

assim define equipamento de proteção individual (EPI):

Para fins de aplicação desta Norma Regulamentadora (NR), considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI), todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança.

As artesãs vivem na zona urbana do município de Jardim (MS). A rotina

de trabalho inicia-se às 8h e se estende às 17h30min. Porém, a jornada de

trabalho varia de acordo com as conveniências individuais, com os dias da

semana e com a época do ano. Nos fins de semana, quando o movimento é

mais intenso, e na época de maior fluxo turístico, as artesãs permanecem

ainda mais tempo nos espaços que, atualmente, encontram-se improvisados. No que se refere às horas trabalhadas, há que se destacar que a

jornada de trabalho é de oito horas. Todavia quando há muitos pedidos e com

prazos restritos de entrega estabelecidos previamente pelo comprador, as

artesãs trabalham mais que oito horas diárias.

Cabe ressaltar que a produção do artesanato em osso realizado no

Programa Mãos à Obra no município de Jardim (MS) incorpora uma divisão de

trabalho no seu processo produtivo, visando um aumento da produtividade

associado à técnica de acabamento perfeito, o que torna, assim, seu produto

mais competitivo e melhor aceito em outras regiões do país.

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Considerações finais Partindo do pressuposto de que as aglomerações de atividades

produtivas são uma alternativa de desenvolvimento local, podemos ressaltar

que o estímulo à atividade de artesanato no município de Jardim (MS) deve ser

encarado como alternativa exequível. Destacamos que o mesmo resulta de

uma ação oriunda da própria localidade, alcançado por meio de ações dos

próprios cidadãos, que agem como catalisadores do processo de

desenvolvimento, e que expressam uma consciência de pertencimento local.

O apoio à atividade artesanal na região de Jardim (MS) deve ser

contínuo, pois, além de esse setor ser gerador de emprego e renda, existem

vários fatores positivos que o impulsiona como, por exemplo, o potencial

turístico da região, e o aproveitamento da mão-de-obra local.

O artesanato constitui uma alternativa para a inclusão social e

produtiva das comunidades carentes, contribui com o meio ambiente

recuperando resíduos sólidos de origem animal, caracterizando uma

revitalização de atividades econômicas e potencializando as vocações

produtivas da região.

Atualmente o Programa Mãos à Obra encontra-se em um espaço

provisório, aguardando a mudança para a nova sede, que se encontra em

processo de finalização, e segundo o coordenador David Ojeda, quando o

programa estiver funcionando na nova estrutura, haverá a possibilidade de

contratar 25 novos artesãos, gerando mais emprego e renda.

O processo de divisão e especialização do trabalho e de introdução

de novas tecnologias no processo produtivo fez com que os artesãos se

submetessem aos ditames de produção.

As etapas de trabalho observadas na produção do artesanato em osso

no Programa Mãos à Obra evidenciam claramente que a divisão do trabalho

direciona para uma organização técnica de caráter manufatureiro e que a

produção em série é uma das características do programa. Portanto, as

atividades realizadas nesta associação já não são artesanais, mas

manufatureiras.

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Conclusão Geral A análise realizada e descrita no primeiro artigo; a reflexão resultante das

leituras que trataram sobre os conceitos de artesanato, sobre teoria do

desenvolvimento local, bem como de aglomerações produtivas na forma de

arranjos e as contribuições dos diversos autores possibilitaram o embasamento

teórico para a construção das seções seguintes deste trabalho. Sendo assim,

no que se refere ao desenvolvimento local (DL), de modo simples, podemos

entender que esse é um modelo que passa a ser estruturado a partir de atores

locais.

É de se notar que a tentativa de promover o DL vem sendo

constantemente estimulada pelas prefeituras, por meio de práticas voltadas

para atender à demanda do mercado.

O panorama dessa atividade é relevante para a região. Dessa maneira,

pode-se salientar que o apoio ao artesanato é uma boa alternativa para se

tentar alcançar o desenvolvimento local, isso porque o setor apresenta

princípios básicos como a geração de emprego e de renda para populações

com baixa qualificação profissional.

No segundo artigo deste trabalho, referente à organização técnica do

artesanato em osso, foram feitas reflexões acerca da divisão do trabalho, da

manufatura, das relações associativistas e da aproximação ou afastamento da

essência do fazer artesanal.

Foi observado in loco, na oficina do artesanato em osso, que o projeto

tem elevado interesse em ampliar o mercado. Atualmente existem muitos

pedidos, e, para atender a demanda do mercado nacional e internacional a

oficina tem que trabalhar de forma manufatureira.

As etapas de trabalho observadas na produção do artesanato em

osso, no Programa Mãos à Obra, evidenciam claramente que a divisão do

trabalho direciona para uma organização técnica de caráter manufatureiro e

que a produção em série é uma das características do programa. Portanto, as

atividades realizadas nessa associação já não são artesanais, mas

manufatureiras.

Dentro dessa perspectiva, podemos destacar a importância das

exposições e feiras enquanto principal espaço de divulgação e de distribuição

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dos produtos artesanais nas diferentes escalas do país (municípios, estados ou

regiões). Estas se constituem como acesso estratégico para a sobrevivência e

manutenção do fazer artesanal de grande parte dos artesãos, como foi

observado durante a pesquisa, sem, entretanto, desconsiderar-se a

significativa importância dos pontos fixos e permanentes de exposição.

Atualmente, o Programa Mãos à Obra acontece em um espaço

provisório, aguardando a mudança para a nova sede, que se encontra em

processo de finalização. Segundo o coordenador David Ojeda, quando o

programa estiver funcionando na nova estrutura, haverá a possibilidade de

contratar 25 novos artesãos, gerando mais emprego e renda.

Diante do exposto, é possível destacar que as possibilidades de

melhoria dos programas de artesanato e as possíveis transformações no

segmento não se esgotam por aqui. Projetos de desenvolvimento, que

melhorem a visibilidade do Projeto Mãos à Obra, que elevem o padrão de

qualidade e viabilizem a expansão de seu mercado irão contribuir para o

fortalecimento desse arranjo produtivo de artesanato em osso.