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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” O ASPECTO COGNITIVO DA CRIANÇA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE ACORDO COM AS ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DE PIAGET SIMONE DOS ANJOS BARREIRA LEITE GOMES ORIENTADOR: PROF. MESTRE ROBSON MARTEKO RIO DE JANEIRO AGOSTO / 2001

O ASPECTO COGNITIVO DA CRIANÇA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE ... DOS ANJOS BARREIRA LEITE GOMES.pdf · Aborda-se o assunto com a finalidade de considerar ... a falta de conhecimento

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O ASPECTO COGNITIVO DA CRIANÇA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE ACORDO

COM AS ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DE PIAGET

SIMONE DOS ANJOS BARREIRA LEITE GOMES

ORIENTADOR:

PROF. MESTRE ROBSON MARTEKO

RIO DE JANEIRO

AGOSTO / 2001

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O ASPECTO COGNITIVO DA CRIANÇA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE

ACORDO COM AS ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO

SIMONE DOS ANJOS BARREIRA LEITE GOMES

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para a obtenção do Grau

de Especialista em Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO

AGOSTO / 2001

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Agradeço a todos que direta ou

indiretamente contribuíram para

a execução desta pesquisa e em

especial, a Deus, a minha família,

pela compreensão nos momentos

em que me ausentei e ao

Orientador Prof. Robson Marteko,

pela fundamentação teórica que

me forneceu.

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Dedico este trabalho de pesquisa

a todos os educadores, em

especial aos de Educação Infantil,

comprometidos com a Educação

Brasileira.

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“Pensar é voar sobre o que não

se sabe. Não existe nada mais

fatal para o pensamento que o

ensino das respostas certas.

Para isso existem as escolas: não

para ensinar as respostas certas,

mas para ensinar as perguntas.

As respostas nos permitem andar

sobre a terra firma. Mas somente

as perguntas nos permitem entrar

pelo mar desconhecido.”

(Rubens Alves)

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SUMÁRIO

RESUMO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – A HISTÓRIA DE PIAGET 10

CAPÍTULO II – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 12

CAPÍTULO III – PIAGET E A PRÁTICA PEDAGÓGICA 15

CAPÍTULO IV – ESTÁGIOS DA EVOLUÇÃO COGNITIVA HUMANA 18

4.1. Sensório-Motor 19

4.2. Pré-Operacional 20

4.2.1. Simbólico 21

4.2.2. Intuitivo 22

4.3. Operacional Concreto 22

4.4. Operacional Formal 23

CAPÍTULO V – FATORES DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO 25

5.1. Hereditariedade 25

5.2. Ambiente Físico 25

5.3. Fator Social 25

5.4. Equilibração 26

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CAPÍTULO VI – EXPERIMENTOS PIAGETIANOS 27

6.1. Conservação 27

6.1.1. Conservação de Quantidades Contínuas 28

6.1.2. Conservação de Quantidades Descontínuas 29

6.1.3. Alteração da Forma De Uma Porção De Massa 30

6.1.4. Conservação de Volume 32

6.1.5. Conservação de Comprimento 33

6.2. Classificação 34

6.2.1. Classificação Aditiva Visual 34

6.3. Seriação 35

6.3.1. Seriação Simples 36

6.3.2. Seriação Complexa 36

6.4. Construção do Número 37

6.4.1. Experimento com Conjuntos 38

6.5. Conceito de Espaço 39

6.6. Conceito de Ordem 41

CONCLUSÃO 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

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RESUMO

Aborda-se o assunto com a finalidade de considerar importante os

experimentos piagetianos, bem como demonstrar a etapa do desenvolvimento da

criança. E também, traçar o aspecto cognitivo das crianças de Educação Infantil

e saber quais as respostas dadas aos experimentos de acordo com a sua faixa

etária.

Para tanto, a metodologia utilizada foi através de pesquisa bibliográfica

e de levantamento de dados, a qual foi realizada através de experimentos

aplicados em crianças de Educação Infantil na faixa etária de três a seis anos de

escola que adota a linha construtivista.

Conhecendo-se os comportamentos predominantes em cada etapa do

desenvolvimento, verifica-se que as idades cronológicas são meros marcos

referenciais, não podendo ser tomadas como sempre acontece, como verdades

absolutas e definitivas; pois elas dependem da experiência anterior dos

indivíduos, e não somente de sua maturação, dependem principalmente do meio

social que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estágio, ou mesmo

impedir sua manifestação. O mais importante é esperar, respeitar o nível em que

cada criança se encontra, não esquecendo porém, de desafiá-la a crescer.

Devido sua amplitude e flexibilidade, a teoria piagetiana jamais poderá

ser sintetizada em uma pesquisa monográfica. Portanto, acredita-se ser esta

uma obra em aberto, ou seja, o começo da organização de um trabalho na linha

piagetiana, que se faz necessário outros estudos para abordar o tema.

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INTRODUÇÃO

É de fundamental importância a aplicabilidade de experimentos que

demonstram a etapa de desenvolvimento da criança, visto que, em pleno novo

milênio, a falta de conhecimento sobre os experimentos na linha piagetiana leva

alguns docentes a considerar a turma homogênea, deixando de lado a

individualidade de cada um.

Muitos autores vêm discutindo a relação entre desenvolvimento e

aprendizagem, principalmente a partir das idéias de estudiosos europeus que

realizaram na primeira metade do século XX.

A partir da difusão da teoria dos experimentos de Jean Piaget nas

décadas de 50 e 60, temos hoje, no Brasil, uma grande variedade de propostas

pedagógicas alternativas, com uma verdadeira onda redentora que trazia Piaget

como resposta para os problemas educacionais, o que gerou dificuldade por

parte de alguns docentes na aplicação da teoria cognitiva.

Tanto a escola quanto a família não tem tratado com seriedade a

individualidade da criança, promovendo assim comparações insensíveis.

Não há como ignorar a situação de que cada criança aprende de

acordo com sua maturidade e ritmo próprio.

Aborda-se o assunto com a finalidade de considerar importante os

experimentos piagetianos, bem como demonstrar a etapa de desenvolvimento da

criança. E também, traçar o aspecto cognitivo das crianças de Educação Infantil

e saber quais as respostas dadas aos experimentos de acordo com a sua faixa

etária.

Diante do que ocorre hoje, é preciso que a escola juntamente com a

família assumam a responsabilidade de estimular esta inteligência cognitiva da

criança, visto que o centro de todo o processo são as mudanças

comportamentais pelas quais a criança passa durante esta fase.

“A obra de Piaget nos ajuda a compreender a

seqüência de desenvolvimento do modelo de mundo que uma criança vai construindo ao longo de cada período de sua vida; nos ajuda também a compreender os “erros”

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cometidos pelas crianças, percebendo-os como resultados de uma maneira particular de interpretar a realidade, a partir de um modelo particular de mundo que se tem. (...)

Outra tese piagetiana é que o desenvolvimento cognitivo é processo seqüencial marcado por etapas caracterizadas por estruturas mentais diferenciadas. Em cada uma dessas etapa a maneira de compreender os problemas e resolvê-los é dependente da estrutura mental que a criança apresenta naquele momento. (...)” (GOULART, 2000: 16-18)

Para tanto, a metodologia utilizada será através de pesquisa

bibliográfica e de levantamento de dados; o qual será realizado através de

experimentos piagetianos aplicados em crianças de Educação Infantil na faixa

etária de três a seis anos de escola que adota a linha construtivista.

Considera-se muito importante as respostas da criança, que quando

estimulada aprende por si só, do seu próprio modo. Sendo assim, atualmente,

é de grande relevância o conhecimento do aspecto cognitivo de cada criança,

tornando-a independente, criativa e crítica, sendo capaz de transformar a

sociedade em que vive.

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CAPÍTULO I

A HISTÓRIA DE JEAN PIAGET

Jean Piaget (1896-1980), biólogo, epistemologista, nascido em

Neuchâtel, Suíça, desde muito cedo se interessou pelas ciências, editando

aproximadamente vinte artigos sobre moluscos e temas zoológicos. Seu primeiro

trabalho científico foi publicado quando tinha onze anos e não parou mais de

escrever, publicando cerca de mil e quinhentos trabalhos de cunho científico, que

abordam temas que vão da biologia e psicologia até a lógica, entre os quais

destacam-se: O Nascimento da Inteligência (1936), A Construção Real da

Criança (1937), Classes, Relações e Números (1942), Formação do Símbolo da

Criança (1945), Psychologie del Intelligence (1947), Introdução à Epistemologia

Genética (1950), Tratado de Lógica (1950), Logique et Équilibre (1957),

Sabedoria e Ilusões da Filosofia (1965), Lógica e Conhecimento Científico (1966),

Biologie et Connaissance (1967), L’Équilibration des Strutures Cognitives (1975)

e outros.

“Durante a adolescência e juventude Piaget dedicou-

se a leitura nas áreas de filosofia, religião, biologia, sociologia e psicologia. Algumas das idéias que expressou, neste período, indicavam o aparecimento de conceitos teóricos, que só se desenvolveriam muito mais tarde.” (CAMPOS, 2000: 253)

Na Universidade de Neuchâtel, Piaget licenciou-se em 1915, aos

dezenove anos; doutorando-se em ciências naturais em 1918. Começou a dirigir

sua atenção para a pesquisa sobre a inteligência humana; preocupado com a

prática do desenvolvimento cognitivo, acreditava que a compreensão do ser

humano se daria somente a partir da perspectiva evolutiva. Elaborou toda uma

teoria do desenvolvimento que visa, fundamentalmente, mapear momentos

cognitivos que a criança passa até chegar a idade adulta. Piaget não despreza

os aspectos afetivos e sociais, mas se limita ao cognitivo.

Piaget estudou psicologia nos laboratórios de G. E. Lippis e

Wreschener, na clínica psiquiátrica de Bleuler (1857-1936) e nos cursos

prático da Sorbonne. Também trabalhou no laboratório criado por Alfred Binet

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(1875-1911), observando os processos pelos quais a criança chegava as

respostas, mesmo as respostas incorretas.

“No início da década de 1920, Piaget familiarizou-se com a teoria

freudiana e, particularmente, interessou-se pela concepção psicanalítica do

funcionamento cognitivo, como oposto ao afetivo.” (Ibid: 255)

Piaget ocupou inúmeros cargos, entre os quais: titular de filosofia em

Neuchâtel, onde lecionou de 1925 a 1929; professor de história do pensamento

científico de 1929 a 1939; diretor, durante vários anos, da Faculdade de Ciências

Econômicas e Sociais da Universidade de Genebra; Doutor Honoris Causa da

Universidade de Harvard em 1936; professor de sociologia da Faculdade de

Ciências Econômicas da Universidade de Genebra, de 1939 a 1952 e fundador

do Centro Internacional de Epistemologia Genética em Genebra, 1955, cujo

objetivo é o estudo de problemas genético-epistemológicos.

Marcado pela biologia, Piaget tinha profundo interesse pela gênese dos

processos psicológicos, adotando abordagens teóricas centradas

simultaneamente sobre a história e os mecanismos da aquisição ao longo do

desenvolvimento; defendia a constituição de uma epistemologia científica livre de

influências filosóficas ou ideológicas, com o objetivo central de elucidar a

atividade científica a partir de uma psicologia da inteligência.

“(...) nos Estados Unidos, somente a partir da década

de 60 é que as idéias de Jean Piaget voltam a ser lembradas, justamente porque o ano de 1957 com o lançamento de Sputnik, os russos passavam à frente dos Estados Unidos na corrida espacial. A partir deste fenômeno científico, mas também político, os americanos até então, voltados para a educação baseada em idéias behavioristas, vêem que o comportamentalismo não respondia à nova necessidade de formação de pessoas criativas que mais tarde viriam contribuir intelectualmente com a ciência, agora encarada como fator de segurança nacional.” (LEITE, 1989: 19)

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CAPÍTULO II

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

“Segundo os inatistas, o conhecimento é pré-formado, ou seja, já nascemos com as estruturas do conhecimento, e elas se atualizam à medida que nos desenvolvemos. Konrad Lorenz, um psicofisiologista, tentou provar esta tese, e uma de suas experiências sobre o imprinting ou impressão evidencia que aprendizagens complexas acontecem facilmente no momento em que o organismo está preparado para elas. (...)

Em oposição a este grupo de teóricos, os empiristas admitem que o conhecimento tem origem e evolui a partir da experiência que o sujeito vai acumulando. Levado a extremo, o empirismo se expressa no determinismo ambiental, posição segunda a qual o homem é produto do ambiente. (...)

Um terceiro grupo de teóricos, os construtivistas, admite que o conhecimento resulta da interação do sujeito com o ambiente. Como adeptos desta tese temos o epistemólogo suíço Jean Piaget, o psicólogo francês Henri Wallon e os russos L. S. Vigotski, A. N. Leontiev e A. R. Luria.

O construtivismo explica os processos de desenvolvimento e aprendizagem como resultados de atividades do homem na interação com o ambiente. Piaget explica esta interação valendo-se dos conceitos de assimilação, acomodação e adaptação , termos tomados pela Biologia. A assimilação é a incorporação de um novo objeto ou idéia ao que já é conhecido, ou seja, ao esquema que a criança já possui. A acomodação, por sua vez, implica na transformação que o organismo sofre para poder lidar com o ambiente. Assim, diante de um objeto novo ou de uma idéia, a criança modifica seus esquemas adquiridos anteriormente, tentando adaptar-se à nova situação. (...)” (GOULART, 2000: 13-15)

Construtivismo é a aplicação pedagógica dos estudos de Jean Piaget,

que reformulou , em bases funcionais, as questões sobre pensamento e

linguagem. Ao mesmo tempo pensador e cientista experimental, a Piaget

interessava uma visão transformadora da Epistemologia.

“A Teoria de Piaget é uma teoria do desenvolvimento

cognitivo,voltada principalmente para a verificação de como e

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13 quando se estabelece o conhecimento. Para Piaget as

crianças não devem ser ensinadas mas, serem levadas a aprender partindo de experimentações sobre situações concretas. (...)” (LEITE, 1989: 3)

A teoria do conhecimento de Piaget tem como pressuposto uma

perspectiva cognitivista-interacionista apoiada nos mescanismos de modelo

biológico no que se refere à dinâmica do desenvolvimento, mas também por uma

concepção sistêmica do pensamento, quando se refere aos diferentes patamares

estruturais que este é capaz de alcançar ao longo da infância e adolescência.

Portanto, esta perspectiva prioriza as estruturas operatórias do pensamento e

secundariza o papel da linguagem do desenvolvimento do pensamento ou da

consciência da criança.

“Um dos aspectos mais notáveis da teoria piagetiana

é sem dúvida alguma a preocupação da mesma para com o estudo desenvolvimento cognitivo, sem se preocupar com o conteúdo ou ainda com a função do mesmo. Piaget desejou sempre saber como se realizava a aquisição do conhecimento. (...)” (LEITE, 1989: 130)

Segundo suas pesquisas, o conhecimento é construído através da

integração do sujeito com o objeto. O desenvolvimento cognitivo se dá pela

assimilação do objeto de conhecimento a estruturas anteriores presentes no

sujeito e pela acomodação dessas estruturas em função do que vai ser

assimilado. Para Piaget, a criança se apodera de um conhecimento se “agir”

sobre ele, pois aprender é modificar, descobrir e inventar. Nesse enfoque, a

função do professor é propiciar situações para que a criança construa seu

sistema de significados, o qual, uma vez organizado na mente, será estruturado

no papel ou oralmente.

A criança é o próprio agente de seu desenvolvimento, ela constrói seu

modelo de mundo e ao longo de cada período da sua vida, exercita os esquemas

já construídos, entra em contato, recebe, interage com os dados novos e no

momento seguinte, apropria-se desses dados, incorpora-os e também transforma

esses esquemas iniciais de assimilação.

A assimilação refere-se aquilo que é fundamental a todo o

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conhecimento, ou seja, invariavelmente, critérios comuns e generalização

numa dada situação; acomodação refere-se aquilo que é particular, novo e

diferente, proporcionando assim a base para mudança e aprendizagem.

“Enquanto que na assimilação os modos de reagir

modificam a realidade a ser assimilada pelo sujeito, na acomodação os modos reacionais é que se modificam para se acomodar à realidade que, então, se impõe ao sujeito sem ser alterada. (...)” (CAMPOS, 2000: 264)

Em conseqüência disso, vê-se que a construção do conhecimento

apoia-se num sistema de ação que visa equilibrações sucessivas: o sujeito

assimila, acomoda e alcança um novo equilíbrio que é sempre provisório, fica

pronto para ser novamente de desafiado, entra em desequilíbrio, assimila o

novo e continua o processo.

“Do equilíbrio desses dois processos (...) advém uma adaptação ao

mundo cada vez mais adequada e uma conseqüente organização mental.”

(GOULART, 2000: 15)

“O processo de equilibração é concebido como um

mecanismo de transição, que impulsiona o desenvolvimento da criança, através de sucessão ontogenética. Opera continuamente, propiciando estados de equilíbrio sucessivos, essencialmente descontínuos, isto é, sistema de ação organizados, como o sensório-motor, (...), o operacional concreto etc.” (CAMPOS, 2000: 257)

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15 CAPÍTULO III

PIAGET E A PRÁTICA PEDAGÓGICA

“Por volta dos anos 50 já se encontravam assentadas as balizas fundamentais que demarcariam o campo paradigmático do construtivismo genético da Escola de Genebra. Naquele momento, Piaget já acumulara mais de 30 anos de estudos sobre o pensamento infantil. (...)” (LAJONQUIÈRE, 2000: 39)

Piaget se opõe ao associacionismo empirista, no qual o professor é o

centro do processo educativo e sua tarefa limita-se a expor conceitos de forma

objetiva, restando ao aluno apenas a função de assimilá-los de forma eficiente e

rápida e, ao idealismo racionalista, que enfatiza os fatores inatos e maturacionais

como determinantes do processo de aquisição de conhecimentos. Sendo assim,

a perspectiva construtivista desloca a ênfase do professor para a criança,

atribuindo-lhe um papel preponderantemente ativo, tendo-o como responsável

por seu próprio processo de aquisição de conhecimentos, no qual a construção

se faz adaptar-se a ele para sobreviver e realizar o potencial vital do organismo.

Da década de 70 até hoje, Jean Piaget trouxe inúmeras contribuições

para o trabalho pedagógico. A mais importante delas foi, certamente, a

colocação da criança no centro do processo de aprendizagem e não mais os

conteúdos que precisariam ser “ensinados”. Com isso, passamos a entender

como se dá o processo de construção do conhecimento, no qual cada criança

constrói o seu próprio modelo de mundo, onde os pontos principais são a própria

ação do sujeito e o modo pelo qual isto se converte num processo de construção

interna, e as formas próprias da criança constituir sentimentos e consciência de si

própria em interação com outras crianças, com adultos e com o meio.

Portanto, as atividades espontâneas da criança, a criatividade, a

autonomia na resolução de situações-problemas, os “erros” infantis ganham

relevo dentro do processo ensino-aprendizagem, sendo utilizados na

compreensão do seu modo de pensar.

“Na medida em que reflete sobre o desenvolvimento da criança e sobre

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suas maneiras de adquirir conhecimentos, o professor se torna capaz de se

aproximar e penetrar no mundo do pensamento infantil.” (SOUZA, 1993: 33)

Logo, o papel do professor é de desafiador, provocando desiquilíbrios –

conflitos cognitivos – para que a criança seja estimulada a descobertas e por

conseguinte, à construção do conhecimento.

“A criança age sobre situações concretas criadas pelo educador e,

assim agindo, assimila novos conceitos e adquire novas habilidades, refaz

conceitos anteriormente adquiridos, ou seja, refaz suas estruturas mentais. (...)”

(LEITE, 1989: 3)

Piaget não propôs método de ensino, porém sua teoria de

conhecimento, também conhecida por teoria da equilibração, tem sido muito

utilizada por pedagogos e professores, por representar uma nova perspectiva

para pensar os processos de aprendizagem.

“A perspectiva cognitivista de Piaget reduz toda a compreensão da construção do conhecimento à construção da inteligência lógico-matemática. Dessa maneira, outras formas de conhecimento, que têm como base a expressão da realidade através das mais diversas manifestações culturais que o homem é capaz de produzir, tornam-se irrelevantes.” (SOUZA, 1993: 34)

O conhecimento não é uma qualidade estática e sim, uma relação

dinâmica. A forma de um indivíduo abordar a realidade é sempre uma forma

construtiva e, portanto, tem a ver com a sua disposição, com o seu conhecimento

anterior e com as características do objeto. Por outro lado, uma coisa só é objeto

de conhecimento quando existe interação entre ela e o organismo cognitivo que a

constitui como objeto.

Fazendo um estudo de Piaget, percebe-se que a aprendizagem se

provoca através de dois movimentos simultâneos e integrados, mas de sentido

contrário: a assimilação e a acomodação. Pela assimilação o organismo explora

o ambiente, toma parte dele, transformando-o e incorporando-o a si. A mente

também assimila o mundo exterior, através de um processo de percepção, de

interpretação, de assimilação à sua própria estrutura. Para isto a mente tem

“esquemas de assimilação”: ações previamente realizadas,conceitos previamente

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aprendidos, configuram esquemas mentais que permitem assimilar novos

conceitos. Estes esquemas se desenvolvem pela estimulação que o ambiente

exerce sobre o organismo. Em conseqüência, uma criança que cresce em um

ambiente rico em estímulos desenvolverá mais ativamente seus esquemas de

assimilação. Pela acomodação o organismo transforma sua própria estrutura

para adequar-se à natureza dos objetos que serão apreendidos.

“ (...) Para Piaget, avaliar o desenvolvimento cognitivo de uma criança, desde os primeiros tempos de suas pesquisas, era interagir com ela através de diálogos, sendo que nunca fazia perguntas cujas respostas devessem ser esperadas ou padronizadas segundo um contexto previamente elaborado: suas entrevistas transcorriam de forma a colocar a criança totalmente à vontade para falar, orientando-se apenas pelas hipóteses imaginadas por ele. (...)” (AZENHA, 1993: 69)

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18 CAPÍTULO IV

OS ESTÁGIOS DA EVOLUÇÃO COGNITIVA HUMANA

Segundo Piaget, o desenvolvimento de uma pessoa depende da

maturação biológica (isto significa que o desenvolvimento acontece por causa da

programação genética que ela traz em suas células desde a sua concepção) e da

estimulação (que se aplica na criança, criando comportamentos novos,

considerando assim que o desenvolvimento é causado por algo que vem de fora

do sujeito e da interação do sujeito com o seu meio).

“(...) a psicologia genética tem identificado três grandes períodos evolutivos no desenvolvimento cognitivo: um período sensório-motor que culmina na construção da primeira estrutura intelectual, (...), um estádio de inteligência representacional (dos 2 até os 10 ou 11 anos) que culmina na construção das estruturas operatórias concretas, e, por último, um estádio de operações formais que desemboca na construção das estruturas intelectuais próprias do raciocínio hipotético-dedutivo por volta dos 12/15 anos. (...)

(...) a ênfase principal deve ser dada ao sujeito, suas tentativas para solucionar um problema, seus bloqueios, dificuldades recorrentes, contradições e/ou flutuações de seu raciocínio. (...) em qual nível de desenvolvimento encontra-se uma criança, daí para frente, é possível esperar pacientemente que “mature”, como se fora um fruto, ou, pelo contrário, programar (metódica e cientificamente) uma série de atividades (psico) pedagógicas a “exercitar” e “reforçar” noções ainda não “adquiridas”. (LAJONQUIÈRE, 2000: 31-33)

As diferenças qualitativas de modo de cognição, ao longo do

desenvolvimento intelectual, se relacionam à teoria dos estágios de Piaget.

Segundo ele, em cada idade temos uma maneira de nos relacionar com o meio,

que é determinado por uma estrutura mental característica e que é determinante

uma forma particular de raciocínio.

Piaget não teve a preocupação de fixar a cronologia desses estágios,

mas a sucessão deles, já que seu objeto de estudo era o processo do

conhecimento e o estudo do desenvolvimento humano foi apenas o recurso que

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19 ele usou para atingir seu objeto. Ao se fazer uma verificação em uma criança de

dez anos que atingiu o nível operacional formal, tal constatação não invalida as

conclusões piagetianas; a invalidação seria possível se constatasse que ela

chegou às operações formais sem antes passar pelas operações concretas.

“As idades estabelecidas para cada período seguem

as etapas de desenvolvimento indicadas por Jean Piaget. (...) Para Piaget, o tempo que a criança leva para atingir um determinado nível não tem maior significação. O importante é que, independente do tempo, a criança alcance cada uma das etapas do desenvolvimento.” (LIMA, 2000: 103)

O desenvolvimento cognitivo é processo seqüencial marcado por

períodos que caracterizam estruturas mentais distintas. Em cada um desses

períodos a maneira de entender os problemas e resolvê-los dependem da

estrutura mental que a criança apresenta naquele momento. E para atingir um

certo estágio, é necessário ter construído as pré-estruturas que permitem o

processo.

“O processo de desenvolvimento é concebido, por

Piaget, como uma sucessão de estruturas, que entram em equilíbrio. Nesta sucessão, as formas de equilíbrio das diferentes estruturas variam (...). Desta maneira, é reduzido o equilíbrio atingindo na fase sensório-motora e seu progresso vai sendo alcançado, à medida que vão se sucedendo fases mais adiantadas do desenvolvimento cognitivo.” (CAMPOS, 2000: 260)

Piaget observou os vários tipos de assimilação e acomodação

realizados pelas crianças e concluiu a existência de quatro estágios ou fases no

desenvolvimento da inteligência. Em cada um dos estágios há características

marcantes pelas quais o sujeito constrói seu conhecimento da realidade.

4.1. Sensório-Motor

Estágio que ocorre aproximadamente do nascimento aos dois/três anos

e tem como principal característica a ausência da função semiótica, ou seja, a

criança não apresenta mentalmente os objetos, se comporta como se estivesse

frente a um mundo sem objetos e no qual o próprio espaço constituísse um meio

sólido. Não tendo a imagem mental, não tem linguagem. A inteligência trabalha

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20 as percepções (sensório) e a ação, deslocamentos do próprio corpo (motor).

“A criança leva aproximadamente dois anos neste processo,

terminando por construir a função semiótica e adquirindo a linguagem.” (LIMA,

2000: 51)

É nesse período que a criança apresenta exercícios reflexos que geram

satisfação, condicionamentos estáveis e relações circulares primárias,

como sucção, deglutição, preensão palmar, etc. Devido a ação recíproca da

maturação e estimulação ambiental, vão surgindo novos esquemas, os da

diferenciação e da coordenação, que levam a criança apresentar

comportamentos de agarrar, bater, etc.

A formação do objeto ocorre aproximadamente aos dezoito meses,

representa a aquisição do esquema de objeto constante; ou seja, as coisas do

mundo físico estão ganhando estabilidade e permanência que não possuíam

antes.

“(...) o período sensório-motor apresenta uma

coordenação dos movimentos e deslocamentos, os quais, centrados inicialmente no próprio corpo, se descentralizam gradualmente e atingem um estádio em que a criança se percebe como um elemento entre outros e descobre o objeto permanente. (...) (GOULART, 2000: 28-29)

No final do estágio sensório-motor, pela separação entre ação e

pensamento, a criança torna-se capaz da noção de objeto permanente e idêntico

a si mesmo, ainda que ele não esteja mais presente e sendo manipulado por ela.

Como conseqüência dessa dissociação, a criança passa a ser capaz de

representar seu pensamento num comportamento simbólico.

4.2. Pré-Operacional

Estágio que ocorre aproximadamente dos dois anos aos sete anos, no

qual a criança atinge o domínio do simbolismo, onde um objeto ou gesto pode

representar algo distinto do que é percebido. Este estágio se subdivide em:

simbólico e intuitivo.

“Esse período é o que maior atenção mereceu de Piaget; sintetizá-lo é,

por isso difícil, e ainda mais difícil esquematizá-lo em subperíodos.” (GOULART,

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21 2000: 31)

O período pré-operacional é o mais experimentado, observado e

conhecido momento da obra piagetiana, no qual a criança começa a se adentrar

no mundo dos adultos – um mundo abstrato, complexo e que apresenta uma

série de regras, simbolismos e relatividades, as quais são completamente

inatingíveis para as crianças da primeira infância.

4.2.1. Simbólico

Este sub-estágio ocorre no período dos dois/três anos até os

quatro/cinco anos, e é caracterizado pela função simbólica e pelo aparecimento

da intuição das operações.

“De 2 a aproximadamente 4 anos, instala-se a função simbólica e tem início a interiorização dos esquemas de ação em representações. A linguagem, o jogo simbólico, a imitação diferida e, provavelmente, os primórdios da imagem mental, concebida como uma imitação interiorizada, vão se organizando, permitindo, então, caracterizar este estágio pelo surgimento da representação.”(Ibid: 30)

Neste período, a criança já possui capacidade que lhe habilita trabalhar

símbolos, rompendo desta forma com as ações puras do período sensório-motor,

mas ainda não atingiu a mobilidade dos adultos.

É a idade da fantasia, do “faz de conta”, por isso gosta de ouvir

histórias e atribui vida aos objetos (animismo). A criança é extremamente

egocêntrica, conversa sozinha e brinca com seus brinquedos, inventando

histórias ou reproduzindo situações vivenciadas por ela; seu esquema de

assimilação é simbólico, sendo capaz de transformar o mundo simbolicamente,

para atender uma necessidade sua, dizer por exemplo, que um pedaço de pano

é seu filho; seu pensamento é irreversível, ou seja, as transformações não

podem voltar ao que eram antes.

“A criança é egocêntrica nas representações mentais,

desenvolvendo a percepção centrada, sem considerar o ponto de vista do outro. Pouco esforço faz em adaptar a sua linguagem às necessidades do ouvinte. Não consegue pensar

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sobre o seu próprio pensamento.” (http://www.psicopedagogia.com.br/personalidades)

4.2.2 Intuitivo

“Mais ou menos em torno dos quatro anos, em média, a criança começa a entrar no que Piaget chamou de estágio do pensamento intuitivo. (...) as crianças deste nível raciocinam e dão explicações na base de intuições ou pressentimentos. (...) Também observamos que apesar do grande progresso intelectual que fizerem, ainda são muito fracas em coisas tais como, compreender a ordem dos eventos, explicar relações, compreender números e suas relações, compreender com precisão o que as outras pessoas falam e compreender regras.” (CHARLES, 1991: 6)

Neste estágio, as crianças demonstram um interesse especial pelas

causas dos fenômenos e é por isto que perguntam tudo a todo tempo; também

conhecida como a “idade dos porquês”.

“Neste estágio a criança se caracteriza por ser ainda

bastante egocêntrica, isto é, ter dificuldade de se colocar no ponto de vista de outros. Sua inteligência apresenta-se como intuição, que Piaget define como: ato de captar o aspecto aparente da realidade, ver a realidade de um único ponto de vista.” (FALCÃO, 1995: 85)

A criança supera o animismo, passando para o artificialismo, no qual

atribui tudo que existe no mundo à obra do homem; sendo assim, se lhe

perguntamos quem ensinou determinada coisa, ela responde que ninguém, ela

sempre soube.

“O pensamento intuitivo desconhece a reversibilidade e a conservação.

Por isto, não é ainda uma lógica, mas uma semilógica, e, à falta de operações

inversas, não tem uma estrutura operativa. (...)” (GOULART, 2000: 31)

4.3. Operacional Concreto

Estágio que ocorre dos sete/oito anos – período em que o pensamento

infantil torna-se reversível – até os onze/doze anos.

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“(...) a criança adquire o conceito de reversibilidade: no pensamento, as

idéias podem ser retomadas, a situação original pode ser restaurada,

as coisas transformadas podem voltar às suas origens.”

(http://www.psicopedagogia.com.br/personalidades)

A criança apresenta algumas características fundamentais durante este

estágio: a conservação de número, de substância, de peso e volume e, a

reversibilidade. Se apresentarmos uma casa construída em papelão e uma

série de desenhos feitos de diferentes pontos de vista, a criança, sem sair do

lugar, é capaz de dizer de onde foi feito cada um dos desenhos. A criança

também tem a capacidade de seriação e classificação, organizando o mundo de

forma lógica, ou seja, é capaz de incluir conjuntos, de ordenar elementos por

suas grandezas, usando critérios do conjunto. Também é capaz de concentração

por longo período e de executar tarefas que envolvam seqüências e regras.

“(...) a criança atua no estágio das operações

concretas, quando é capaz de: organizar experiências num todo consistente, fazer juízo racional de suas experiências, fazer classificações e agrupamentos, conservar estas classificações e agrupamentos, tornar reversíveis as operações que efetua sobre eles e pensar sobre um evento de diferentes perspectivas, simultaneamente.

(...) grande parte da linguagem da criança era egocêntrica, não comunicativa. Agora tornou-se bem mais comunicativa, embora ela ainda seja observada falando consigo mesma, ocasionalmente. As palavras também tornaram-se o instrumento do processo do pensamento – a criança cada vez mais, pensa com palavras em vez de visualizações.” (CHARLES, 1991: 15-16)

A criança passa a ter grande interesse em estar com outras crianças,

em jogos em grupo, em formar grupinhos e clubes.

4.4. Operacional Formal

“O quarto estádio das operações lógico-formais ocorre de 11-12 a 14-15 anos e apresenta como característica essencial a distinção entre o real e o possível: o adolescente, ao tomar em consideração um problema, é capaz de prever todas as relações que poderiam ser válidas e logo procura

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24 determinar, por experimentação e análise qual dessas

relações possíveis tem validez real. (...)” (GOULART, 2000: 47)

Trata-se de uma etapa em que a criança se libertou inteiramente do

concreto, tornando-se capaz de raciocinar e deduzir, não somente sobre os

objetos manipuláveis, mas sobre hipóteses, preposições. Tem início os

processos de pensamento hipotético-dedutivo, com base em hipóteses

levantadas a serem testadas através da linguagem. Está interessado nas

transformações sociais, na tecnologia. Na linguagem pode manter

discussões com argumentos e nas relações sociais, vive em grupo, é capaz de

estabelecer regras e cooperação.

“O estágio das operações formais começa no início da

adolescência. O adolescente pode raciocinar dedutivamente, fazer hipóteses a respeito de soluções para o problema, pensar simultaneamente em várias hipóteses. É capaz de raciocínio científico e de lógica formal e pode aceitar a forma de um argumento.

Considera leis gerais e se preocupa com o hipoteticamente possível e também com a realidade.

Já não precisa limitar sua percepção a situações imediatas e ao concreto. O indivíduo que atingiu as operações formais tenta pôr à prova suas hipóteses, seja mentalmente ou através de experimentos reais.” (http;//www.psicopedagogia.com.br/personalidades)

Desde doze anos, o adolescente se torna capaz de raciocinar sobre

enunciados verbais, proposicionais; de manipular hipóteses, de raciocinar a partir

do ponto de vista de um outro, sem acreditar nas proposições sobre as quais

raciocinamos. São capazes de manipulá-las de uma maneira formal e hipotético-

dedutiva.

“Agora que (...) está se tornando capaz de usar

abstrações, ele torna-se ainda mais influenciado pela linguagem formal. (...) Mais do que nunca usa a linguagem como veículo do pensamento, especialmente para o pensamento abstrato onde os objetos concretos não existem.

É somente neste estágio de desenvolvimento mental que surge a noção adequada de experimentação. O aluno pode pensar: “Se eu fizer assim e assim, resultará isto”. Depois ele pode organizar um experimento para verificar se está certo.” (CHARLES, 1991: 22-23)

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25

CAPÍTULO V

FATORES DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

O desenvolvimento cognitivo sofre interferências de diferentes fatores.

5.1. Hereditariedade

“Esse fator deve certamente ser retido em todos os pontos de vista, mas é insuficiente porque não existe nunca no estado puro ou isolado. Se um efeito de maturação intervém em toda parte, ele permanece indissociável dos efeitos do exercício da aprendizagem ou da experiência. A hereditariedade não é pois um fator que aja isolado ou seja isolável psicologicamente.” (PIAGET, “s.d.”: 224)

5.2. Ambiente Físico

“Contudo, (...) traz consigo a capacidade de se desenvolver, através da atuação sobre o meio. E isso ele faz gradual, conseqüente e inexoravelmente, não importando as particulariedades do meio. (...) Quando digo “meio”, não me refiro apenas ao mundo físico em constante mutação, mas também a um meio humano adaptativo, que em qualquer tempo e qualquer espaço inclui o próprio corpo de uma pessoa e os corpos de outros seres humanos.(...)

Esse é o meio em que crianças nascem, e através do qual, e no qual atingem as estruturas gerais de funcionamento que por fim reconhecemos como inteligência.(...)” (FURTH, 1989: 16)

Constitui um fator essencial, mas também não pode estar isolado dos

demais.

5.3. Fator Social

“(...) o aspecto psico-social, quer dizer tudo o que a criança recebe

do exterior, aprende por transmissão familiar, escolar, educativa em geral. (...)”

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(PIAGET, “s.d.”: 211)

“...Fator determinante, naturalmente, no

desenvolvimento, ele é por si só insuficiente, por essa razão

evidente que para que uma transmissão seja possível entre o adulto e a criança ou entre o meio social e a criança educada, é necessário haver assimilação pela criança do que lhe procuram inculcar do exterior. Ora, uma assimilação é sempre condicionada pela leis desse desenvolvimento parcialmente espontâneo. (...)” (Ibid: 224)

5.4. Equilibração Este fator é fundamental, pois intervém nos outros fatores, fazendo com

que eles se equilibrem.

“O equilíbrio leva tempo, naturalmente, mas a equilibração pode ser

mais ou menos rápida. (...)” (Ibid: 225)

Os estágios de desenvolvimento constituem um processo de

equilibrações sucessivas, seqüências para o equilíbrio. Desde que o equilíbrio

seja atingido num ponto, a estrutura está integrada num novo sistema em

formação, até um novo equilíbrio sempre mais estável e de campo sempre mais

extenso.

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CAPÍTULO VI

EXPERIMENTOS PIAGETIANOS

“Entre 1923 a 1929, realizou algum trabalho preliminar sobre as reações da criança às mudanças na forma das substâncias, como a argila, cujas transformações não alteram seu peso e volume. Daí originaram-se estudos mais completos sobre número e quantidade, nas décadas de 1940 e 1950. Neste período, os novos progressos da investigação de Piaget advieram de uma série de estudos feitos com a colaboração de sua esposa, na observação detalhada da conduta espontânea e provocada de seus próprios filhos. Estas observações proporcionaram os dados necessários sobre os fundamentos precoces do desenvolvimento cognitivo e a relação entre a organização do período sensório-motor inicial, pré-simbólico e os períodos subseqüentes do pensamento simbólico.”(CAMPOS, 2000: 225)

Esses experimentos destinam-se a educadores que buscam a melhor

maneira de ensinar a aprender, e a aprender a aprender com as crianças e a

entender a evolução dos aspectos da cognição humana. Neste caso, o educador

é o aplicador e observador, interagindo com a criança sem interferir no seu modo

de pensar, agir, criar e elaborar conclusões, devendo somente orientá-la quando

necessário.

“Criado para transmitir conceitos lógico-matemáticos, se mostrou, ao

longo de diversas e variadas experimentações uma fonte inesgotável de

surpresas não só para as crianças como para educadores.” (LEITE, 1989: XII)

Piaget introduz materiais concretos para que as crianças manipulem à

medida em que o diálogo vai se desenvolvendo; tornando os experimentos mais

ressaltados no período pré-operacional, os quais são bastante diversificados

qualitativamente e quantitativamente.

6.1. Conservação

“A conservação é uma noção operatória que permite à criança compreender que alterações da forma não causam

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28 alteração da quantidade, peso ou do volume. Crianças em nível pré-operatório do desenvolvimento

parecem raciocinar apenas sobre estados ou configurações, desprezando as transformações.”(GOULART, 2000: 82)

6.1.1. Conservação de Quantidades Contínuas Figura 1 – Transvasamento dos Líquidos

Tome 2 copos estreitos e altos (iguais) e 1 taça larga e baixa, capaz de

conter a mesma quantidade de água de um dos copos.

Encha de água os 2 copos, mostrando à criança que há, em ambos, a

mesma quantidade de água.

Diante da criança, vire o conteúdo de um dos copos na taça e pergunte:

- E agora ? Onde tem mais água? No copo ou na taça? Por quê?

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29

Fonte: (GOULART, 2000: 76-77)

Crianças em nível pré-operatório de desenvolvimento apenas observam

o estado final, que é a água no copo e na taça e desprezam a transformação

observada, que foi o derramar da água.

Algumas crianças, afirmam que a taça tem mais água, enquanto outras,

consideram o copo. Mas a partir dos seis anos, por já terem a reversibilidade

desenvolvida, as crianças já reconhecem que a quantidade de água permanece a

mesma.

6.1.2.Conservação de Quantidades Descontínuas

Figura 2 – Transvasamento de Sólidos

Tome 1 copo e 1 taça. Coloque numa caixa várias continhas de

plástico ou grãos de feijão.

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Usando as duas mãos, vá colocando, simultaneamente, 1 grão no copo

e outro na taça. Diante da criança, repita isso sucessivamente.

Interrompa e pergunte: onde há mais grãos?

Fonte: (GOULART, 2000: 80-81)

Durante este experimento, as crianças de três a cinco anos também

não percebem que a quantidade permanece a mesma. Porém, algumas crianças

de seis anos já respondem que os dois têm a mesma quantidade.

6.1.3. Alteração da Forma de uma Porção de Massa

Figura 3 – Alteração de Forma

Tome uma porção de argila ou massa plástica e divida-a ao meio

com uma faca.

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31

Com as duas porções de massa faça 2 bolas iguais. Mostre que as

2 contêm a mesma quantidade de massa.

Diante da criança, enrole uma das bolas de massa plástica

transformando-a em salsicha.

Pergunte à criança: - Onde tem mais massa? Na bola ou na

salsicha?

Fonte: (GOULART, 2000: 79-80)

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A resposta das crianças de três a cinco anos varia, ora é a salsicha por

ser comprida, ora é a bola por grande. Já as crianças de seis anos, consideram

que as duas têm a mesma quantidade de massa.

6.1.4. Conservação de Volume

“A conservação do volume é uma noção alcançada quando a criança

compreende que alterações de forma, posição, diferenças de peso não estão,

necessariamente associadas às variações de volume.” (GOULART, 2000: 89)

Figura 4 – Copos D’Água e Massa Plástica

Tome 2 copos iguais de água e 2 bolas iguais de massa plástica.

Coloque as bolas no copo d’água, para que a criança perceba como

sobe o nível da água.

Transforme uma das bolas em um biscoito alongado.

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33 Diga: agora, se você puser o “biscoito” no copo d’água, o nível da

água vai aumentar a mesma quantidade que aumentará se você puser a bola?

Por quê?

Fonte: (GOULART, 2000: 86)

Durante este experimento, todas as crianças de três a seis anos, ora

dizem que o nível de água aumenta mais no copo com biscoito, ora dizem que é

no copo com bola, ou porque o biscoito é comprido ou porque a bola é grande, ou

porque tem mais massa em um do que noutro.

6.1.5. Conservação de Comprimento

A conservação do comprimento é mais fácil de ser compreendida do

que a conservação de quantidades contínuas, volume e peso.”(GOULART,

2000: 90)

Figura 5 – Lápis ou Varetas

Tome 3 lápis ou varetas do mesmo tamanho e disponha-os sobre a

mesa , de modo que seus extremos coincidam.

Chame a atenção da criança para que ela perceba que todos são

igualmente longos.

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34

Adiante um dos lápis 5 cm em relação aos demais.

Pergunte à criança: os lápis são igualmente longos?

Fonte: (GOULART, 2000: 92)

Na fase pré-operacional, a criança é incapaz de centrar sua atenção em

dois ou mais aspectos ao mesmo tempo. Por isso que crianças até cinco anos

consideram o lápis que foi ressaltado como o mais longo; enquanto que as

crianças de seis anos apresentam a resposta correta, exceto a minoria.

6.2. Classificação

6.2.1. Operação Lógica de Classificação Figura 6 – Classificação Aditiva Visual

Construa, em cartolina, conjuntos de quadrados e círculos, em cor azul

e vermelha, em 2 tamanhos.

Inicialmente, deixe a criança manipular os objetos, descrevendo-os

verbalmente (Ex.: isto é um quadrado grande, vermelho, etc.).

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Peça à criança que organize o material em classes de acordo com um

atributo (cor, tamanho, forma).

Fonte: (GOULART, 2000: 96)

Crianças até quatro anos organizam as peças de maneira que não

percebem os critérios. A partir de cinco e seis anos, as crianças já classificam,

embora algumas ainda fiquem presas ao critério anterior, não percebendo assim o

critério atual utilizado.

6.3. Seriação

“A seriação ou ordenação é uma operação lógica que

consiste em ordenar, dispor os elementos segundo sua grandeza crescente ou decrescente. (...)

Inicialmente, a criança domina a seriação simples e depois as seriações complexas. (...)”(GOULART,2000: 109)

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6.3.1. Seriação Simples

Figura 7 – Seriação de Círculos

Recorte círculos de papelão em 10 tamanhos.

Disponha 5 dos círculos, deixando 3 espaços vazios e coloque ao

lado os círculos que sobraram.

Peça à criança que preencha os espaços vazios com os círculos que

estão faltando.

Fonte: (GOULART, 2000: 107)

Apenas as crianças de seis anos conseguem preencher os espaços

vazios obedecendo o critério.

6.3.2. Seriação Complexa

Figura 8 – Seriação de Varinhas

Tome 10 varinhas ou pauzinhos de picolé cortados em tamanhos

que variem de 5 a 15 cm.

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Entregue à criança as varinhas sem ordená-las.

Peça à criança que ordene as varinhas da menor para a maior.

Fonte: (GOULART, 2000: 107)

Esta situação experimental é bastante simples, fornece-se à criança

dez varinhas, de tamanhos diferentes, podendo-lhe ser apresentada

antecipadamente a seriação montada ou não, solicitando-se desta, que a refaça

começando a reconstrução a partir da menor de todas as varinhas, sendo o

tamanho o único critério exigido.

As crianças de três a cinco anos não percebem a ordem, formando

assim pares desordenados. Mas as crianças de seis anos procuram a menor das

varinhas e as coloca em ordem; apenas a minoria trocava uma ou duas peças de

lugar.

6.4. Construção do Número

“A criança antes dos 7 anos, (...) tem noção de

número como quantidade, ou seja, ela consegue perceber quanto é 5 bolinhas, mas não tem noção que para formar as 5 bolinhas ela precisou de 1+1+1+1+1. (...), assim, (...), ela precisa passar por algumas etapas de construção da noção de número até chegar à quantificação.” (KNÜPPE, 2000: 5)

“Piaget demonstrou que a criança não pode

conceituar adequadamente o número até que compreenda classes e relações. Com outras palavras, a criança tem de ser capaz de “conservar” – para compreender que a quantidade permanece a mesma independente de como é dividida em partes – antes que adquira o conceito de número.

Esta observação toma muitos de surpresa, por acharem que tão logo a criança seja capaz de contar, ela está

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38 pronta para começar a trabalhar com números. As

investigações de Piaget mostram que a contagem e a conservação de números são operações bem distintas e

que o conceito de número não segue imediatamente a habilidade de contar. Ao contrário, ela vem consideravelmente mais tarde.” (CHARLES, 1991: 10)

6.4.1. Experimento com Conjuntos

Figura 9 – Equivalência de Conjuntos de Xícaras e Pires

Etapa 1

Tome 6 xícaras e 6 pires. Disponha os pires em fila sobre a mesa,

diante da criança, peça a ela que faça uma fileira de xícaras que contenha o

mesmo número de elementos.

Etapa 2

Mantenha a fileira de pires e aumente o espaço entre as xícaras de

modo que os extremos não se correspondam.

Pergunta: Há mais pires ou xícaras?

Etapa 3

Coloque as xícaras juntas, ao lado dos pires. Pergunte: há mais

xícaras ou mais pires?

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Fonte: (GOULART, 2000: 125)

Até cerca de seis anos a criança tem um conceito intuitivo de número e

acredita que a quantidade se altera quando se muda a disposição espacial dos

elementos. Por isso basta espaçar os elementos de um conjunto para a criança

julgar que aumentou a quantidade de elementos.

Quando se pede às crianças de três e quatro anos que identifiquem o

que há mais; algumas consideram as xícaras, outras os pires. Já as crianças de

cinco anos ficaram equivocadas, admitindo que havia maior número de pires,

pois estavam mais espaçados. E as crianças de seis anos ora acertam, ora

erram; sendo que a maioria conta a quantidade e percebem que apenas as

xícaras foram colocadas mais próximas.

6.5. Conceito de Espaço

“O conceito de espaço é bastante complexo; supõe a formação da

noção de distância, a noção de longitude, a noção de superfície e a medida

espacial.” (GOULART, 2000: 130)

“O conceito de espaço constitui-se independentemente do conceito de

número, mas em estreito isomorfismo com ele.” (Ibid: 133)

Figura 10 – A Noção de Distância

Use 2 árvores feitas de papelão, de aproximadamente 25 cm de

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altura, que possam ser colocadas de pé.

Coloque as 2 árvores sobre uma mesa, a uma distância de,

aproximadamente, 50 cm.

Coloque, entre as 2 árvores, um anteparo de cartolina e pergunte:

As árvores estão tão próximas quanto estavam antes?

Fonte: (GOULART, 2000: 130-131)

Freqüentemente, as crianças até cinco anos, consideram que o

anteparo aproxima as árvores. Enquanto que, as crianças de cinco e seis anos,

às vezes admitem que o anteparo aproxima as árvores, outras admitem que não.

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6.6. Conceito de Ordem

Figura 11 – Ordem Linear

Apresente à criança um arame no qual estão enfiadas bolas

coloridas.

Coloque à disposição da criança outros 2 arames semelhantes e

várias bolas coloridas.

Peça à criança que organize o segundo arame exatamente como o

primeiro, ou seja, com bolas coloridas na mesma ordem. Guarde-o.

Depois, peça à criança que organize o terceiro arame na ordem

inversa à do primeiro.

Fonte: (GOULART, 2000: 137)

Entre os três e seis anos, as crianças reproduzem a ordem correta, mas

não conseguem construir a ordem inversa. Porém, as crianças de seis anos e

meio, também constróem a ordem inversa.

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CONCLUSÃO

Tendo em vista os aspectos observados, conclui-se que o

desenvolvimento se dá por causa da relação que se estabelece entre o sujeito

com toda a sua carga genética e dispositivos biológicos, bem como sua história

pessoal acumulada e o meio onde ele está inserido. Acredita-se que este

terceiro enfoque nos oferece um horizonte de visão bem mais ampla que os

outros e que pode revolucionar nossa prática pedagógica.

Sabe-se que essas idéias têm revolucionando as ciências humanas e,

especialmente, modificado amplamente a metodologia educacional, instigando e

incentivando os professores para a realização de um trabalho mais rico,

dinâmico, envolvente e produtivo.

Para que isso aconteça, é preciso que a escola estimule os processos

já em curso, no organismo e, que o professor entenda que a construção do

conhecimento não é uma teoria pedagógica ou uma concepção metodológica de

caráter solitário, não social, nem exclusivo.

O ensino construtivismo piagetiano leva em consideração que o homem

é agente do seu processo de desenvolvimento, um ser pensante, capaz de

raciocinar; e o papel do professor é garantir que os desequilíbrios estejam

sempre presentes, levando o organismo a construir novas estruturas. Sendo

assim, o professor deve ser o facilitador e orientador do processo de

desenvolvimento, visando a cooperação, a iniciativa e a autonomia, propondo

situações e servindo de alavanca ao processo de construção e à descoberta.

Conhecendo-se os comportamentos predominantes em cada etapa do

desenvolvimento, verifica-se que as idades cronológicas são meros marcos

referenciais, não podendo ser tomadas , como sempre acontece, como verdades

absolutas e definitivas; pois elas dependem da experiência anterior dos

indivíduos, e não somente de sua maturação, dependem principalmente do meio

social que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estágio, ou mesmo

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impedir sua manifestação. O mais importante é esperar, respeitar o nível em que

cada criança se encontra, não esquecendo porém, de desafiá-la a crescer.

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