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Campus Académico de Vila Nova de Gaia (Decreto-Lei nº 468/88, de 16 de Dezembro) Escola Superior de Educação Jean Piaget / Canelas O Astro Errante 1º Ano do Curso de Licenciatura em Educação Socioprofissional Unidade Curricular: Dinâmicas do Mundo Contemporâneo Docente: Dr.ª Helena Pinheiro Alunos: Carlos Couto Cidália Castro Tiago Oliveira João Miguel Ferreira Ano Lectivo: 2008/2009 Dinâmicas do Mundo Contemporâneo

O Astro Errante

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Page 1: O Astro Errante

Campus Académico de Vila Nova de Gaia

(Decreto-Lei nº 468/88, de 16 de Dezembro)

Escola Superior de Educação Jean Piaget / Canelas

O Astro Errante

1º Ano do Curso de Licenciatura em Educação

Socioprofissional

Unidade Curricular: Dinâmicas do Mundo Contemporâneo

Docente: Dr.ª Helena Pinheiro

Alunos: Carlos Couto

Cidália Castro

Tiago Oliveira

João Miguel Ferreira

Ano Lectivo: 2008/2009

Dinâmicas do Mundo Contemporâneo

Page 2: O Astro Errante

INTRODUÇÃO

Se pudéssemos agora admirar o planeta Terra visto do espaço sideral,

certamente perceberíamos a pequenez e a insignificância da nossa existência,

enquanto seres humanos, em relação ao Universo. Mas, só desde a segunda

metade do século XX nos foi possível admirar a beleza do nosso próprio

planeta de fora para dentro e questionarmo-nos, com maior profundidade,

acerca do que realmente andamos a fazer a nós e a todos os outros habitantes

da Terra.

Por isso, quando a modernidade chegou, prometeu mundos e fundos,

prometeu aventuras fantásticas, prometeu a felicidade a todos os humanos,

prometeu a certeza das coisas, através desse progresso tecnocientífico

inevitável, grandioso e que nos levaria a alcançar feitos extraordinários. Pois…

seguimo-la como um autêntico rebanho! Contudo, nem todos acreditaram nas

promessas da modernidade! Mas eram poucos! A modernidade seguiu

pomposa e triunfante na sua caminhada, até que a ética antropocêntrica

devolveu as ideologias radicais, as guerras, o horror, a destruição ambiental, o

desrespeito do Homem pelo Homem e pela natureza. E a modernidade quanto

mais alto se elevou, maior foi a queda!

Hoje em dia, já duvidamos das certezas e acreditamos, antes, na

incerteza das certezas. Como diz Morin (1991), vivemos a crise da era

planetária, vivemos o nosso subdesenvolvimento moral, intelectual e afectivo.

Por isso, esta crise, que acreditamos ser transitória, acarreta problemas para a

humanidade! O recrudescer do neofundamentalismo devolve-nos à memória

ideologias nazis, assim como traz consigo o terrorismo internacional, entre

outras questões de ordem social, cultural, religiosa e política. Já o

neomodernismo mostra uma inquietante passividade em relação ao que

acontece entre a humanidade.

Perante tantas opiniões divergentes, o destino da Homem é, como diz

Morin (1991), embarcar numa “aventura desconhecida”! Encontrar o futuro é

pensar a complexidade dos problemas actuais e “rearmarmo-nos

intelectualmente”. O desígnio da humanidade deverá ser o de “civilizar a Terra”!

Procurar perceber a complexidade do destino da humanidade e tentar

reencaminha-la para que encontre, novamente, a sintonia com a natureza do

próprio planeta e com a natureza cósmica é o desafio proposto pelo trabalho

Dinâmicas do Mundo Contemporâneo

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desenvolvido no âmbito da unidade curricular de Dinâmicas do Mundo

Contemporâneo, cujo tema é “O Astro Errante”!

1 - O ASTRO ERRANTE

1.1 - A Modernidade

Falar da Modernidade obriga-nos a recuar no tempo e entender que a

ela era, segundo Morin (1991), uma crença na ciência materialista, na razão

laica e no progresso histórico que se impusera contra a religião professada. A

fé no progresso da ciência, da técnica e da razão era o suporte que conduzia

os seguidores do Modernismo, acreditando estes piamente que esta época

moderna traria o progresso irreversível. Aliás, Morin (1991) dá o exemplo de

grandes personalidades do passado histórico, como Condorcet, Lamarck,

Darwin, Auguste Comte e Marx, para explicar a fé vivida por estes quanto à

infinita evolução da humanidade. Na linha de pensamento de Morin (1991),

Bauman (2007) explica, também, que a modernidade prometeu trazer, à vida

humana, o brilho e a pureza que só a razão podia consagrar. Segundo Brito e

Ribeiro (s/d), certamente, havia quem duvidasse deste progresso inabalável

(Nietzsche, Weber, entre outros) mas o desenvolvimento natural que decorre

do tempo dava razão ao Modernismo.

Eis que, porém, as duas primeiras grandes guerras do século XX põem

“água na fervura” colocando em causa a certeza do progresso mas, mais uma

vez, os fiéis da modernidade viram nestes trágicos acontecimentos o momento

marcante para um futuro mais brilhante. Contudo, o que Morin (1991) afirma é

que a crise do progresso já se havia iniciado entre as duas grandes guerras,

com o surgimento do nazismo e do comunismo estalinista. O caso

paradigmático da ambivalência no progresso científico é, segundo Morin

(1991), o lançamento da bomba atómica em Hiroshima no ano de 1945, ao

qual se sucedem, nos anos 70, os problemas ambientais que explicam a

“ambivalência no desenvolvimento técnico e no crescimento industrial” e a

queda do estalinismo, através do desmembrar das repúblicas socialistas

soviéticas, da queda do muro de Berlim, e da derrocada do maoísmo.

Dinâmicas do Mundo Contemporâneo

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1.2 - A Problemática do Presente

Repescando o exemplo de Morin (1991) sobre a ambivalência, Bauman

(2007) refere que a humanidade está cada vez mais consciente da

ambivalência dos seus projectos de vida, das suas escolhas e identidades. A

modernidade não trouxe um futuro brilhante e Bauman (2007) já não acredita

que isso possa acontecer, porque não foi capaz de cumprir o que havia

prometido. Dessa forma, para este pensador, o pós-modernismo traz a ideia de

reconciliação com a ambivalência e o tempo para que a humanidade possa

aprender a viver com um mundo que é irremediavelmente ambivalente, um

mundo que tem sempre dois lados contraditórios.

Por isso, Morin (1991) menciona a “cegueira” da própria ciência que não

reconhece o bem e o mal que transporta dentro de si. Sendo a ciência criação

do próprio Homem, Morin (1991) considera que a consciência humana é ela

própria dominada, ocasionalmente, pelo seu inconsciente e que o Homem vive,

ainda, na pré-história do espírito humano, reflectido no seu próprio

subdesenvolvimento moral, intelectual e afectivo, originado no e pelo próprio

desenvolvimento tecnocientífico. Vive-se, assim, uma “crise da era planetária”!

Estabelece-se, deste modo, uma relação com a ideia de Grün (s/d) que

afirma que o estado actual da humanidade se deve ao que ele designa de ética

antropocêntrica, pois o Homem, pensando ser o centro de todas a coisas, é o

principal responsável pela incerteza do rumo do seu próprio destino e do

destino do próprio planeta.

É perante o estado actual da humanidade que Arendt (2001) reflecte

sobre a falta da mais pura actividade que o homem é capaz de fazer: a

actividade de pensar. Arendt (2001) esclarece que o Homem deve reflectir

sobre o que anda a fazer ao seu próprio habitat e, consequentemente, a si

mesmo, pois, através da pesquisa tecnológica, o Homem tem aumentado o seu

poder, mas num sentido inverso, não tem tido capacidade de controlar as suas

consequências.

Assim, Morin (1991) conclui que o progresso nada assegura à

humanidade, pois é de incertezas que vivemos e que a crise é o símbolo do

passado e do presente, e possivelmente, do futuro. “Vivemos conjuntamente a

crise do Passado, a crise do Futuro, a crise do Devir. A crise do Passado, a dos

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Fundamentos, havia sido aberta pela própria modernidade. A crise do Futuro e

a do Devir puseram em crise a modernidade.” (Morin, 1991, p. 12)

1.3 - Resposta à Crise da Modernidade

Chegado a esta crise generalizada, global, planetária, qual a resposta

que o Homem encontra dentro de si? O neofundamentalismo e o

neomodernismo!

Serão estes movimentos a resposta adequada à crise planetária? Morin

(1991) duvida destas atitudes ideológicas, até porque se o

neofundamentalismo, sob formas nacionalistas, religiosas e étnicas, tem como

objectivo o regresso à rotatividade, ao tempo cíclico, esta mesma atitude

ideológica usufrui dos meios tecnológicos e científicos para combater a

modernidade. As armas que os neofundamentalistas usam são as mesmas

armas que procuram destronar! Já o neomodernismo ou pós-modernismo vai

de encontro à ideia de que o que é novo não significa que seja melhor.

Contudo, a sua visão é limitada por pensar que tudo está definido, que mais

nada há a acrescentar na história da humanidade, quando na realidade, de

acordo com Morin (1991), tudo é incerto, tudo é possível!

Para Magnoli (s/d) a crise é apenas a transição entre períodos de

estabilidade. Assume esta crise das ideias que pode levar a nacionalismos e a

neoconservadorismos e entende que a humanidade está numa fase de

transição dum mundo conhecido para um mundo, ainda com contornos

indefinidos.

1.3 - Que Rumo Para a Humanidade?

Então, seguindo a linha de pensamento de Magnoli (s/d), que destino

estará reservado à humanidade?

Morin (1991) fala-nos no embarcar de uma aventura desconhecida, pois

a história não revela um futuro brilhante, mas também não se encontra

estagnada nem perto do seu fim. Refere, aliás, que desde os tempos

modernos, a humanidade já navega em águas desconhecidas, embora não o

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soubesse. Por isso, Morin (1991), não desenha um futuro concreto para a

humanidade. Para além de este autor se referir ao destino da humanidade

como o rumo ao desconhecido, explica, ainda, que estamos no inominado,

porque não podemos dar um rosto ao nosso tempo presente nem ao tempo

futuro e, dessa forma, não nos é permitido empregarmos “pós” ou “anti” em

conceitos estabelecidos.

Então o que poderemos fazer, enquanto seres humanos, para dar

definição à nossa existência?

Morin (1991) acredita que devemos dissipar as ilusões cegas do

modernismo, a ideia de Arkhe do neofundamentalismo e a estagnação do pós-

modernismo.

Aliás, Cícero (2009) nem sequer acredita em expressões como pós-

modernismo ou pós-moderno, porque a modernidade não sendo superável,

não significa o fim da história. Para Cícero (2009) a modernidade encontra-se

numa espécie de cogito ultracartesiano, ou seja, num pensamento complexo

que vai para além da existência do homem apenas como ser pensante. Ainda,

segundo este autor, a modernidade não se encontra onde pensaríamos que

supostamente estivesse, ou seja, numa etapa histórica, num desenvolvimento

económico ou tecnológico, nem no materialismo, nem no relativismo ou no neo-

liberalismo.

Dessa forma, Morin (1991) fala num rearmamento intelectual que nos

instrua a pensar a complexidade como forma de descobrirmos o caminho do

futuro. Fazendo-o como? Desenvolvendo “a consciência da ambiguidade dos

processos científicos e técnicos, a consciência da incerteza do nosso devir.

Devemos desenvolver a racionalidade autocrítica no seio da nossa razão.”

(Morin, 1991, p. 15)

Morin (1991) encontra na democracia a solução para o progresso,

embora ela seja particularmente problemática porque possui dentro de si a

capacidade de se anular. No entanto, o progresso não é garantido nem

definitivo. Ele precisa constantemente de se auto regenerar e, por isso, o futuro

não deve ser programável, nem deve tentar ser programado, mas orientado

pelas ideias da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade!

Civilizar a Terra é a proposta de Morin (1991), que vai de encontro à

ideia contida na obra de Morin e Kern (2001) designada de “Terra – Pátria”, em

que a tomada de consciência do Homem em relação ao seu habitat natural

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deverá constituir o acontecimento – chave do fim do milénio. Deveremos estar

solidários neste e com este planeta que é a nossa Terra – Pátria.

Também Comparato (2001) refere-se à questão do futuro da

humanidade apoiando-se na ideia da construção de um mundo novo que

busque a felicidade para o Homem. Deste modo, contrapõe ao individualismo

excludente, o espírito de uma nova civilização conjugada a uma fraternidade

universal, a uma organização humana solidária e que tenha como propósito a

defesa de valores como a paz, a justiça, a igualdade e a liberdade.

Considerações Finais

Na verdade, estamos, ainda, muito longe do conceito de civilização

idealizado por Morin e isso é visível na forma como a relação do Homem com o

ambiente e com o próprio Homem se vai degradando. Somos, actualmente,

uma espécie consumista dos recursos naturais e não olhamos a meios para

conseguir satisfazer esta nossa vontade, diríamos mesmo, esta nossa

ganância. E que futuro poderemos garantir às gerações vindouras? A incerteza

como marca registada do porvir!

Agredimos, degradamos e destruímos tanto os recursos naturais como

as relações entre povos! Impomos a nossa cultura à fauna e à flora deste

planeta! A ambição do Homem é desmedida e poderá ser fatal não só para a

própria espécie humana como para todas as espécies que habitam o planeta

Terra. O Homem não é dono do planeta! Por isso a humanidade deveria

desenvolver a capacidade de tomada de consciência e auto-reflectir sobre as

suas acções neste mundo que é de todos. Só assim, a humanidade poderia,

possivelmente, rumar a bom porto e encontrar-se a si mesma e encontrar o

respeito pela fauna e flora da Terra. Segundo Morin (1991), a trindade

Liberdade-Igualdade-Fraternidade é o caminho a seguir para “civilizar a Terra”.

Pensamos que a educação é a base deste objectivo!

No fundo, somos, ainda, como uma criança que está a aprender a

caminhar e, por isso, ainda cambaleamos no nosso processo de

desenvolvimento. Dessa forma, habitamos num astro que tem um rumo

delineado com os seus movimentos de rotação e translação perfeitos, mas nele

conduzimos o nosso destino de forma errante!

Dinâmicas do Mundo Contemporâneo

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