Upload
phamkiet
View
212
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
O CASO DO ALMANAQUE E DA BANDA LARGA: tentativas de abarcar os enigmas do mundo.
Maria das Dores Valentim Alves1 Beatriz Helena Dal Molin2
Resumo: Este artigo sintetiza a aplicação do trabalho realizado durante o primeiro semestre do ano de 2013 com estudantes do Ensino médio do Colégio Estadual Jardim Santa Felicidade no município de Cascavel, cujo foco consistia de uma motivação para os estudos de literatura brasileira utilizando o gênero Almanaque, através de meios como a tecnologia digital, bem como outros meios de Ensino/Aprendizado, a saber: o livro didático, o almanaque impresso, textos literários impressos: verbais e não verbais, a TV pendrive, o rádio, os aparelhos celulares e o recurso multimídia. Tendo como principal ferramenta metodológica o Blog, a fim de despertar o gosto por construir o próprio conhecimento em todos os envolvidos nesse fazer pedagógico. Há que se registrar também que a figura do herói foi o mote para essa proposta/estudo. A implementação do projeto de intervenção pedagógica realizada serviu de base para a os estudos desenvolvidos sobre o conceito de almanaque, de herói e para e a apreensão da natureza despretensiosamente pedagógica do almanaque e suas relações com a enciclopédia, e o ciberespaço, locaI de aprendizagens múltiplas. A dinâmica adotada foi de grande relevância, pois possibilitou aos estudantes um aprendizado prazeroso por meio da tecnologia digital e da internet, ferramentas capazes de despertar grande interesse e motivar o estudante, transformando assim os antigos modelos metodológicos e agregando conhecimentos significativos para a compreensão das relações sociais. Palavras-chave: Almanaque. Ciberespaço. Literatura. Herói.
1 Professora PDE, 2012. Mestre em Letras- Linguagem e sociedade pela Unioeste- universidade
Estadual do Oeste do Paraná.Licenciada em letras pela mesma instituição 2 DAL MOLIN, Beatriz Helena. Profª do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Letras,
pertencente ao colegiado de Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste. Coordenadora EAD/da mesma instituição superior de Ensino, membro dos grupos de pesquisa “Confluências da Ficção, História e Memória na Literatura”, linha linguagens em contextos inclusivos e idiossincráticos “Núcleo de Complexidade e Cognição (Antigo Núcleo de Ecoergonomia) UFSC, PCEADIS/UFSC/CNPq” e do grupo de pesquisa Linguagem: Práticas Lingüísticas, Culturais e de Ensino.e-mail: [email protected]. Orientadora da turma PDE desde 2000, orientada turma 2012
1. Introdução
A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do
processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura,
fora da boniteza e da alegria.
Paulo Freire
Vários são os meios pelos quais a humanidade tem registrado sua cultura:
documentos dão contas de desenhos e escritas em rochas, pergaminhos, pedras,
livros fotografias e, atualmente pelo acervo digital, pelas gravações
cinematográficas, televisivas e de outros meios modernos de aprendência3
presentes na sociedade atual. Muitos desses saberes estavam dispostos nas
Enciclopédias e nos almanaques que foram durante muito tempo a única fonte de
pesquisa da qual o homem comum tinha acesso.
O senso comum é, segundo Köche 1999, a forma mais usual que o homem
utiliza para interpretar a si mesmo, o seu mundo e o universo como um todo,
produzindo interpretações significativas, isto é, conhecimento.
Para muitos estudiosos essa forma de conhecimento está intimamente ligada
à subjetividade e não é capaz de se ser submetida a uma critica sistemática, uma
vez que se sustenta por crenças pessoais. Porém, essa forma de conhecimento é a
base do que entendemos como ciência moderna, uma vez que o homem sentiu a
necessidade de compreender os fatos e fenômenos aparentes no seu cotidiano. A
esse discurso, Chamou Rabelais: mediocritas: “O homem que se adaptou a
mediocritas adapta-se a todos os campos e a todos os meios sociais, não havendo
mais as tradicionais divisões entre o trabalho intelectual e manual.” (RABELAIS,
apud Oliver 2006, p.21).
O almanaque como gênero abarca esses saberes, tanto do senso comum
quanto do conhecimento cientifico erudito, que estão organizados em forma de
3 Segundo Assmann, “O termo pretende frisar o caráter de processo e personalização que está
semanticamente embutido na terminologia disponível em outros idiomas, por exemplo, no italiano apprendimento, no inglês learning, no alemão lernen. Em português temos aprendizado (foneticamente duro) e aprendizado (lavado com todas as águas behavioristas). Locuções com várias palavras são sempre possíveis, mas por vezes dão a impressão de circunlóquios de neologismo: O termo “aprendizagem” (“apprentissage”) deve ceder o lugar ao termo “aprendência” (“apprenance”), que traduz melhor, pela sua própria forma, este estado de estar-em-processo-de-aprender, esta função do ato de aprender que constrói e se constrói, e seu estatuto de ato existencial que caracteriza efetivamente o ato de aprender, indissociável da dinâmica do vivo.” (ASSMANN, 1998, p. 128).
textos variados, neles encontramos uma multiplicidade de forma e conteúdos que
nos orientam para a vida, desde os cuidados com o corpo e a saúde até a educação
para a alma. Ao definir o Almanaque como gênero literário, apoiamo-nos na
definição de Ariano Suassuna, no Seu Almanaque Armorial 2008:
O Almanaque, como gênero, recusa se àquelas friezas intelectuais, celebralistas e isoladoras e é, no mundo contemporâneo, um dos últimos herdeiros do Humanismo; da posição daqueles que procuravam ser fiéis, ao mesmo tempo, ao conhecimento e à beleza; à filosofia e a poesia; à ciência e à arte; ao claro real e ao enigma sombrio; ao cotidiano e ao sonho [...]. (SUASSUNA 2008, p.11)
Como nossa intenção é antes de tudo mais uma, dentre tantas propostas
possíveis, ao trabalhar com o Almanaque possibilitamos um contato com sua
natureza. O que nos motivou foi a sua forma/conteúdo, pois percebemos nele
grande potencial capaz de educar, politicamente. a nossa memória intelectual.
O caso do Almanaque: cultura e conhecimento.
Com objetivo de lançar um olhar pedagógico para alguns tipos de
almanaques – considerando-os como meios de comunicação, divulgação e
construção do conhecimento histórico – dentre eles, a versão digital do Almanaque
Brasil, disponível em: http://www.almanaquebrasil.com.br, sites de busca e de
relacionamento, a exemplo do Wikipédia, e do Facebook, Blogs com objetivos
pedagógicos, entre outros, propusemos uma unidade didática e a criação de um
blog Almanaque para abordar o ensino/aprendizado de literatura no Ensino médio.
Universal, esse gênero se renova e se perpetua através dos tempos. Sua forma
mais atualizada é a que podemos acessar quando abrimos o computador e nos
aventuramos através da internet em busca de referências para nossas leituras e
trabalhos acadêmicos ou de uma receita que queremos preparar para o jantar, e até
quando interagimos nas redes sociais, como por exemplo, o Facebook, e outros
sites da internet. Como nos fala a letra da música de Gilberto Gil, “[...] Rio Grande
do Sul, Germânia. Africano-ameríndio Maranhão. Banda larga mais demografizada.
Ou então não, não adianta nada. Os problemas não terão solução [...]” GIL (2008).
Seja por meio digital ou nos escritos tradicionais o que encontramos nos
almanaques é uma vasta área de conhecimento, um compendio das memórias
sociais, tais conhecimentos são fundamentais para a humanidade, uma verdadeira
produção e edição da própria vida e da historia das civilizações.
O almanaque, como gênero literário, é também um modelo que ilustra as
idéias e a maneira de ver o mundo, uma vez que tende a divulgar o conhecimento
sob a ótica das diversas ciências.
Sabemos que o almanaque evolui de acordo com a sociedade e, nesse caso,
não se estranha o fato de esse suporte circular nas imagens do cinema, da televisão
e da internet, ao mesmo tempo em que evocam emblemas inscritos na memória da
coletividade e do indivíduo.
Almanaque e literatura
Não é de hoje a preocupação dos professores da rede pública quanto a que
tipo abordagem dar aos conteúdos de literatura, a fim de promover maior interesse
por parte dos estudantes em interagir com as produções literárias, que fazem parte
do currículo. Muitas vezes, o desinteresse é gerado devido às estratégias, que nem
sempre são adequadas para atingir a demanda desse novo leitor, o adolescente
contemporâneo, que, exposto às influencias e ofertas facilitadas da cultura de massa
em todas as mídias, não desenvolve, na maioria das vezes, qualquer interesse em
conhecer as produções literárias, a cultura e as relações de poder que as produções
artísticas carregam em seu bojo. Outro fator que gera desinteresse por parte dos
estudantes são as metodologias ultrapassadas que, às vezes por falta de
oportunidades, ou do material necessário disponível, utilizamos em nossas aulas. A
forma como a abordagem literária é exposta nos livros didáticos e até mesmo a
maneira como é explorada pelo professor, são, a nosso ver, outro fator que gera
desmotivação.
A cultura de uma sociedade comporta o conhecimento estratificado dessa
mesma sociedade, está intimamente ligada aos saberes que foram construídos e
acumulados ao longo da história da humanidade. Tais saberes podem revelar tanto
o senso comum, como o conhecimento erudito. É consenso entre os educadores
que conhecimento científico é prioridade na escola, por outro lado, não podemos
negar a influência da cultura de massa, que cumpre a função de ensinar também
fora dos espaços escolares.
A cultura erudita é pertencente à academia, e seu caráter acadêmico se
distancia do jovem oriundo das camadas menos favorecidas da sociedade que pode
não se identificar com ela. Em contrapartida, se bem exploradas, Escolas como a
Romântica, por exemplo, criada pela burguesia e para ela, revela o modus operandis
dessa classe social e pode servir de mote para a abordagem da contextualização
das lutas de classe. Tal abordagem propusemos, também, através das outras
formas de cultura, como a Popular, por exemplo. Há que se esclarecer, contudo, que
existe grande distinção entre cultura de massa e cultura popular. Enquanto a cultura
Popular, embora contaminada pela de Massa, sobrevive de algum modo ao tempo, a
cultura de Massa, está ligada aos modos de produção da sociedade industrial.
portanto, relega o produto artístico cultural a simples mercadoria manufaturada,
extraindo dela seu conteúdo principal, a originalidade.
Mas não sejamos ingênuos a ponto de descartá-la de nossas aulas. não há
que se negar a influência dos modos de produção capitalista. Estes devem
necessariamente fazer parte de nossas abordagens e servir de mote para as
discussões sociológicas mais profundas.
O Caso da Banda Larga: Memória na rede.
O programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE),
possibilita ao professor da Rede Pública do Estado, ao ofertar essa modalidade de
curso, além de uma oportunidade, aos professores da Rede, de desenvolver estudos
que venham somar esforços para ampliar as possibilidades de renovação das
práticas escolares cotidianas, também a de ampliar seus estudos por meio das
ferramentas tecnológicas, uma vez que, na atualidade é impossível falar em
educação sem considerar o percurso da tecnologia e o uso das ferramentas
tecnológicas e digitais no ambiente escolar.
Previsto e contemplado pelas DCEs o uso dessas Ferramentas já é uma
prática escolar, uma vez que é consenso entre os educadores o discurso de que sua
adoção, na atual conjuntura se faz indispensável, pois essa ferramenta, além de
possibilitar amplitude de pesquisa, encurta tempo, distância e aproxima os pares no
ambiente virtual.
Levy (1993), nos fala do ciberespaço, e, para ele um ambiente virtual é
também preenchido pelo prazer, pelas emoções e pelo anseio de aventurar-se para
além dos limites territoriais ocupados pelo corpo físico, a realidade é um dado, assim
o cibernauta tem uma existência que o conecta com outros que podem com ele
construir conhecimento.
O objetivo de todo texto é o de provocar em seu leitor certo estado de
excitação da grande rede heterogênea de sua memória, ou então orientar
sua atenção para certa zona de seu mundo interior, ou ainda disparar a
projeção de um espetáculo multimídia na tela de sua imaginação (LEVY,
1993, p. 24).
A interatividade promovida pela adoção desses recursos, promove,
naturalmente, um aperfeiçoamento do aprendizado tanto para professores como
para estudantes, que, ao construírem seu próprio conhecimento serão capazes de
atuar nele com maior propriedade.
Em obra intitulada As Tecnologias da Inteligência, Lévy (1993), compara a
enciclopédia virtual e a física, apontando as vantagens que aquela tem sobre essa
no tocante a facilidade de manuseio e do acesso ao conteúdo pesquisado.
Infelizmente, o espaço escolar paranaense atual ainda não permite que nos
desfaçamos do livro impresso e adotemos o hipertexto como único meio, o que, sem
duvidas, seria mais prazeroso e facilitaria a aquisição e a partilha do conhecimento
para estudantes e professores, uma vez que o eu ligado por conexões possibilita
movimento e dinâmica contínuos, ainda que não estejamos, com isso negando o
valor dos livros e também dos materiais impressos, dada ainda o pouco investimento
na área da educação em equipamentos mais modernos e em uma internet mais
veloz e mais potente.
Sobre o hipertexto Lévy (1993) se expressa:
Não é apenas uma rede de microtextos, mas sim uma grande meta texto de geometria variável, com gavetas, com dobras. Um parágrafo pode aparecer ou desaparecer sob uma palavra, três capítulos sob uma palavra do parágrafo, um pequeno ensaio sob uma das palavras destes capítulos, e assim virtualmente sem fim, de fundo falso em fundo falso (LÉVY, 1993, p. 41).
A essência da cibercultura é, segundo Levy paradoxal, pois não há nela um
significado central, o que existe é uma desordem aparente, um labirinto ao qual ele
chama universal sem totalidade.
Um ponto muito comum entre as naturezas do almanaque com os
ciberespaços, é ao nosso ver, o fato de que o Almanaque também possui esse caos
aparente e, segundo Suassuna, a “tentativa, ainda que precária, mas totalizante de
abranger os enigmas da vida”.
Cultura, heróis e almanaque.
Nas as aulas de Língua portuguesa desenvolvidas durante o processo desse
trabalho, pudemos entrar em contato, com uma gama diversificada de heróis e
acompanhar suas transformações ao longo da história da civilização, alguns
figuraram em almanaques de HQS, e no cinema, outros na literatura, através dos
estudos das escolas literárias, incluindo a Romântica e a Realista. Encontramos
ainda, alguns anonimamente e os encontramos em ações cotidianas. Dispensamos
também atenção para alguns aspectos das representações artísticas dos super-
heróis em fotografias.
Desde a antiguidade clássica até os dias atuais, sejam nos livros, filmes,
estampas ou nos registros históricos, a que temos acesso através da historia oficial,
esses seres meio humanos meio divinos figuram em vários gêneros textuais e nos
convidam para a aventura de conhecer sua gênese, nos deleitarmos com suas
histórias e também de perceber a ideologia presente em suas características e
ações.
Os heróis fazem parte da cultura de todos os povos, seu arquétipo se renova
e se perpetua, sua existência está ligada ao desejo do ser humano em transcender
os limites da mortalidade e de sua própria impotência diante do tempo. Segundo
Viana (2003):
Em sentido amplo, o herói é um indivíduo que possui qualidades consideradas especiais, tais como habilidades físicas, mentais ou morais. A coragem é o atributo mais característico do herói. A qualificação de herói, no entanto, não é reservada apenas ao mundo da fantasia, pois ele é aplicável a indivíduos concretos que se destacam em nossa sociedade. O herói, portanto, possui uma existência real. Ele pode ser transportado para a literatura, às histórias em quadrinhos, o cinema, a televisão, etc.
4
Como Nascem os heróis:
4 Viana, Nildo. Revista espaço acadêmico. Ano II nº22 – Março de 2003. Mensal – ISSN 1519.6186.
Super-Heróis e Axiologia. Disponível em: < www.espacoacademico.com.br/022/22cviana.htm> . Acesso em: 10 de dez. 2007.
Há, também, na figura do herói uma ideologia que não pode passar
despercebida pelo professor de literatura. Os heróis não são inocentes, sob suas
capas, elmos e espadas, eles carregam os genes da cultura dominante: a clássica.
Os eruditos heróis representam forças individuais, poderes isolados, mas também
uma corrente de pensamento vigente. Servem a um propósito muito especifico o de
defender a ordem estabelecida.
Com os Heróis Clássicos, desenvolvemos estudos acerca de sua concepção
e de sua importância como elemento social redentor das mazelas humanas.
Ao discutir, por exemplo, a Escola Trovadorismo e Renascimento, Conteúdo
do Primeiro ano médio, aparecem o Cavaleiro Medieval, personagem que ficou
sacralizado na cultura oficial como um grande Cavaleiro, herói defensor dos
oprimidos; que mais tarde foi dessacralizado pela obra de Cervantes na figura de
Don Quixote. Nesse caso, trabalhamos com textos sons e imagens que possibilitem
a desconstrução política desse mito, ora, a figura do cavaleiro representa o ideal
dominante de ordem e manutenção do status quo. Do domínio de terra, portanto,
sempre estiveram a serviço do clero e da nobreza, e em nome dessas idéias,
construíram sua imagem valorosa.
O herói pícaro, por outro lado, se encontra out side, sua imagem é mais
presentes nas produções oriundas da cultura oral, como na obra de Cervantes, de
Ariano Suassuna e em outros personagens, cuja imagem se faz muito bem
exemplificada por Charles Chaplin, João Grilo, Mazzaropi, Django. São os
chamados heróis da resistência. Não se disfarçam, não fingem ser os salvadores do
povo. Tentam a todo custo salvar-se a si mesmo, inserindo-se de algum modo no
sistema, nem que para isso tenham que criar uma Farsa. Eles são os mais fracos, os
oprimidos de um sistema, o sistema industrial. A indústria, portanto fabrica os heróis.
E por fabrica-los, os fabrica de modo que possam divulgar a sua visão de mundo.
O maior exemplo de herói na cultura de massa é o Super-herói, criado para
divulgar produtos e ideologias. Sugerimos aos estudantes algumas visitas a sites e
museus on line com exposições de telas e fotografias sobre heróis.
Durante os estudos sobre a Escola Romântica, no Segundo ano Médio, o
herói indígena, se presentificou com os representantes do Mito do Bom Selvagem,
que também serviu ao homem branco, ou seja, ao colonizador.
Nas obras indianistas de Alencar: Iracema e o Guarani. trouxemos as
Estampas Eucalol5 com, sua versão do romance em textos e imagens, iluminados
pelas telas do computador, como forma de motivar os alunos a conhecerem a obra
literária do autor, disponibilizamos também alguns exemplares das obras impressas
durante as aulas de leitura. Discutimos sobre os preceitos da ideologia burguesa,
que, por meio de suas obras artísticas revela o modo de pensar e agir dessa classe
social.
A dimensão histórica das estampas pode ser percebida pelo depoimento de
Neide Medeiros em seu artigo intitulado Memórias Lobatianas e outras memórias
A literatura para adultos chegou às minhas mãos, quando tinha dez anos, através das estampas do sabonete Eucalol. As gerações mais novas não conheceram essas estampas, as mais antigas certamente se lembram. Nas estampas, vinham ilustrações dos personagens de romances brasileiros, das sete maravilhas do mundo, retratos de grandes compositores musicais do Brasil e do exterior, entre muitas outras coisas. Eu tinha um irmão mais velho que colecionava essas estampas e conseguiu reunir a história completa de Iracema, romance de José de Alencar. Era uma versão resumida do romance em estampas, tudo bem colorido. Vendo o grande interesse que eu tinha pela história, ganhei de meu irmão Iracema, O primeiro romance que li em versão integral, contudo aquela história comprida, sem ilustrações, não tinha o mesmo encanto das estampinhas do sabonete Eucalol. (2006, p. 61)
Após tais encaminhamentos, e motivações, exibimos o filme: O auto da
Compadecida, 2007, retomando o conceito de Auto, e o curta de animação sobre o
que é mais valia, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=R6e8MpySiSM,
com o intuito de, através das relações de João Grilo, Chicó e o Padeiro, exemplificar
as relações de trabalho que envolvem esse conceito. Nesse sentido, há na internet
inúmeros textos de fontes confiáveis que servem de referencial para desenvolver
aulas que esclareçam nossos estudantes de sua condição no mundo e, do processo
de alienação cultural que as mídias dominantes e o capital nos impuseram tempos,
afora para realizar sua educação estética e política.
5 Estampas pintados a bico de pena pelo artista plástico Percy Lao, vendidas como suplemento do sabonete
Eucalol pela perfumaria Myrta na década de 1930. As séries temáticas abordavam temas como: A vida de Santos Dummont, Heróis da Mitologia, Lendas brasileiras, entre outras.
Ao abordar esses aspectos políticos inerentes ao fazer artístico, o que
buscamos foi promover uma compreensão acerca da natureza estética e sociológica
dessas produções, que se organizam também como saberes escolares e revelam as
relações do homem com o tempo, consigo mesmo e com o seu meio
2. Considerações finais
O almanaque é um mundo? Nos dizeres de Paulo Freire (1995.p.11), “A
leitura do mundo precede a leitura da palavra.”, assim, ao trazer para a sala de aula
os conteúdos de almanaques, o que se pretendeu foi desfilar todo um vasto cortejo
de conteúdos e discursos que, ligados a outros, geram conhecimentos e posterior
tomada de posição por parte de quem aprende. O conceito de senso comum é então
visto aqui como um meio de se chegar a outro conhecimento mais profundo, o que
se convencionou chamar de Erudição. Não se espera, contudo, que os alunos, após
o desenvolvimento desse trabalho, sejam pessoas eruditas, o que se pretendeu
realmente foi promover uma dentre as tanta possibilidades para que isso possa vir a
ser, ou não, considerando o papel da escola como formadora de valores e geradora
de novos conhecimentos.
A pedagogia humanista pressupõe a retomada de valores morais, estéticos
e éticos relegados pelo modelo atual de sociedade, ao propor um trabalho mediado
pelos variados tipos de almanaques, o que se pretende é também uma tentativa de
resgatar esses valores e aproximar os conteúdos por eles veiculados á realidade
dos alunos. Isso no intuito de promover uma motivação que os leve à pesquisa e à
possibilidade de fazer as conexões necessárias entre esses saberes e sua vida
cotidiana.
Entendemos que as atividades propostas nas oficinas, contemplando várias
áreas do conhecimento através dos textos literários, cinematográficos e imagéticos,
bem como as teorias discutidas com os alunos durante as aulas, somadas à
construção do Blog /Almanaque nos quais estão dispostos parte dos saberes
adquiridos durante o desenvolvimento do projeto, promoverá a formação do senso
crítico e a valorização da pesquisa e do aprendizado por parte de todos os
envolvidos, que os acionarão sempre que necessário, retomando o que foi
apreendido e produzido, e agregando novos sentidos aos conteúdos ministrados
durante as aulas de variadas disciplinas.
Os conteúdos elencados nesse trabalho fizeram parte das aulas de Literatura no
Ensino médio no ano de 2013, abrangendo a discussão sobre o conceito de
Almanaque e Enciclopédia em aulas multimídias, e visita aos almanaques
disponíveis na internet, teorias e leituras sobre o herói, (gênese do herói da mitologia
até os da atualidade) e finalmente desenvolvemos um trabalho de leitura e releitura
com imagens de fotografia criadas pelos estudantes, orientados pela professora,
sobre o tema do Herói.
Elegemos duas dentre as produções dos estudantes como forma de
possibilitar a apreciação mais objetiva dos resultados obtidos.
Na primeira imagem a estudante A propôs uma livre interpretação do herói
pícaro de Charles Chaplin, interpretado por seu marido e na segunda a estudante B
retratou livremente a heroína de José de Alencar- Iracema.
Para a realização do trabalho utilizamos os seguintes recursos tecnológicos:
a Câmera do celular e o fotoscape disponível em:
<.http://www.photoscapeonline.com/> O texto inserido na imagem,1- (O ultimo
discurso do filme O grande Ditador, Chaplin, 1940) está disponível no endereço:
http://pensador.uol.com.br/autor/charles_chaplin. O texto utilizado na imagem 2. Está
disponível em:
<http://sphotos-d.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-rc1/376895_607078079305219_83758118_n.jpg.>
Fonte: Estudante A. 2013. Fonte Estudante B. 2013.
Este trabalho foi concebido e realizado visando, sobretudo a interação entre o
estudante e o conhecimento a que se propõe divulgar, o papel do professor, nesse
caso, foi o de atuar junto aos estudantes, orientando a pesquisa e a reflexão, a fim
de provocar neles maior curiosidade e interesse, prazer em conhecer, e, sobretudo
autonomia necessária para que o aprendizado realmente aconteça, pois, segundo
Paulo Freire (1981, p.79), ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre
si, mediatizados pelo mundo. O que se pretende com essa práxis pedagógica é
oportunizar a reflexão de todos os envolvidos nesse trabalho sobre a própria práxis
em relação à busca pelo conhecimento.
Oxalá esse fazer pedagógico promova também o desejo e a curiosidade de
acessar outros capítulos, histórias pertencentes a outros temas e conteúdos, sejam
eles de natureza cultural, científico ou político, o que no fundo faz parte, como diz
Ariano Suassuna, de uma mesma tentativa de compreensão ou explicação, precária,
mas totalizante do mundo e da vida em coletividade. Precária, na visão da
sociedade em que hora vivemos, mas totalizante da vida, e da história das
civilizações. Esse é o viés humanista do almanaque. Ele é político, artístico,
cientifico e atuante na educação, portanto um ótimo aliado do nosso modo de
conceber o conhecimento.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Milton José. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Cortez,
2004.
ASSMAN, Hugo. Reencantar a Educação: Rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad: Maria Ermantina Galvão. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
________. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento. Trad. Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec; Brasília: Editora da UnB, 1987.
________. Questões de literatura e estética. Trad.: Aurora F. Bernardini et alii.
São Paulo: Editora da Unesp, 1994.
BRASIL, Almanaque de Cultura Popular. Andreato comunicação e cultura; ano 12,
número 139. SP novembro 2010.
CALDART, Roseli S. &KOLLING, Edgar. J. Paulo Freire um educador do povo. SP:
Associação nacional de cooperativa agrícola- ANCA, 2005.
CHAUÍ, Marilena. A Linguagem: A importância da linguagem. In: Convite à
Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
DIRETRIZES CURRICULARES DE LINGUA PORTUGUESA DO PARANÁ. SEED.
Curitiba, 2006.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro, Paz e Terra.
2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
__________Pedagogia do Oprimido. 9 ed., Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra.
GIL, Gilberto. Banda Larga e Cordel. CD; Geléia Geral/Warner-2008.
HOLLANDA, Chico Buarque de. Almanaque/LP/Ariola/Philips, 1981 12
LÉVY, Pierre. O que é virtual. [Tradução Paulo Neves]. São Paulo: Editora 34,
1996.
___________. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da
informática. Rio de Janeiro, 19 Rio de Janeiro, 1993.
MEDEIROS, Neide/ LIMEIRA,Yolanda: Memórias Rendilhadas: vozes femininas (organizadoras). João Pessoa: UFPB: Editora Universitária, 2006
SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórico Crítica: primeiras aproximações.
Campinas SP: Autores Associados, 2003.
SUASSUNA, Ariano. Almanaque armorial. Seleção, organização e prefácio de
Carlos Newton Junior. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
_______________O auto da Compadecida, Rio de Janeiro: Editora Agir, 1984.
RABELAIS, François. Terceiro livro dos ditos e feitos heróicos do bom
Pantagruel. Tradução, introdução, notas e comentários de Oliver Élide Valarini e
Ateliê Editorial. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2006.
__________. Iniciação à estética. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.
SZESZ, Chistiane Marques. Os almanaques populares: leituras e apropriações em
Ariano Suassuna. Anais da ANPUH: R.S. 2008.
VIANA, Nildo: Super-Heróis e Axiologia. Revista Espaço Acadêmico-ano II-22 N◦
22- Março 2003- Mensal- ISSN- 1519.6186. Disponível em:
http://www.espacoacademico.com.br/022/22cviana.htm#_ftn2. Acesso em 22 de setem.2013
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS ACESSADOS
Extraído de: <http://www.infojovem.org.br/infopedia/>, em 18 de maio de 2012.
Extraído de: <http://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page>, em: 18 de maio de 2012.
Extraído de: <http://pt.scribd.com/doc/92132823/Links-para-Enciclopedias-
eletronicas>, em 15 de maio de 2012.
Extraído de:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co
_obra=17380>, em: 12 de junho de 2012.
Extraído de: http://www.youtube.com/watch?v=DivuakaVPOg, em: 20 de junho de
2012.
Extraído de: http://www.brasilcult.pro.br/lendas/lendas_brasil_sacy.htm, em: 06 de
julho de 2012.
Extraído de: http://www.brasilcult.pro.br/indios/iracema02.htm, em: 23 de agosto de
2012.
Extraído de: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mitologia-grega/jasao.php ,
em: 12 de Setembro de 2012.
Extraído de:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=uCXobII0BL8, em: 15
de outubro de 2012.
Extraído de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Novela_picaresca, em 20 de novembro de
2012.
Extraído de:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=yqbKJCxJ49k.Acesso ,
em: 20 de novembro de 2012.
Extraído de:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=R6e8MpySiSM , em:
20 de novembro de 2012.
Extraído de: http://tiradasdealmanaque.blogspot.com.br/2012/10/httpwww, em: 21 de
novembro de 2012.
Extraído de:
https://www.google.com.br/search?q=mostra+Zer%C3%B3is:+Ziraldo&rlz=1C1AVSA
_enBR425BR425&sugexp=chrome,mod%3D8&um=1&ie=UTF-8&hl=pt-, em: 26 de
novembro de 2012.
FILMOGRAFIA
O Auto da Compadecida, da obra de Ariano Suassuna: Brasil. Globo Marcas 2007.
Direção: Guel Arraes.
Django Livre/ Django Unchained: EUA/ 2012/ 165 min/ Direção: Quentin
Tarantino.