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DIRECTOR JORGE CASTILHO OPINIÃO Carlos Carranca João Caetano João Louceiro José d´Encarnação Luís de Miranda Rocha Paula Beirão Valente Renato Ávila Salvador Massano Cardoso Santos Cardoso PÁG. 17 a 21 DESPORTO Pólo aquático Prémios Salgado Zenha PÁG. 15 UMA PRENDA ORIGINAL | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO I N.º 21 (II série) De 21 de Fevereiro a 6 de Março de 2007 € 1 euro (iva incluído) Ofereça uma assinatura do “Centro” e ganhe uma obra de arte PÁG. 3 Inscreva-se em: Atelier de Pintura Iniciação em Artes Plásticas Conferências de Anatomia Artística Visite-nos em www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – Coimbra Telefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093 Exposição de pintura de David Torres até 15 de Março Mais de 250 obras de arte em catálogo PÁG. 2 e 3 PÁG. 8 e 9 João Araújo, D.O. OSTEOPATA Coimbra – Consultas à 5.ª feira Marcações pelo telefone: 239 703 715 Rua Brigadeiro Correia Cardoso, n.º 29 Telm. 962 829 280 Local de treino: Sala de Judo Estádio Cidade de Coimbra NO PRÓXIMO FIM-DE-SEMANA Lampreia vai reinar em Penacova TENSÕES POSTAS A NU PODERÃO SER BENÉFICAS Justiça portuguesa em crise Sol é mote para 100 eventos em 10 dias IX SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA PÁG. 5 PÁG. 14

O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

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Versão integral da edição n.º 21 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 21.02.2007. Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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Page 1: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

DIRECTOR JJOORRGGEE CCAASSTTIILLHHOO

OPINIÃO

nnCarlos CarrancannJoão CaetanonnJoão LouceironnJosé d´EncarnaçãonnLuís de Miranda RochannPaula Beirão ValentennRenato ÁvilannSalvador Massano CardosonnSantos Cardoso

PÁG. 17 a 21

DESPORTO

mmPóloaquático

mmPrémiosSalgadoZenha PÁG. 15

UMA PRENDA ORIGINAL

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO I N.º 21 (II série) De 21 de Fevereiro a 6 de Março de 2007 € 1 euro (iva incluído)

Ofereça uma assinaturado “Centro”e ganhe umaobra de arte

PÁG. 3

Inscreva-se em: Atelier de Pintura nn Iniciação em Artes Plásticas nn Conferências de Anatomia Artística

Visite-nosem www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – CoimbraTelefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093Exposição de pintura de David Torres

até 15 de MarçoMais de 250 obras de arte em catálogo

PÁG. 2 e 3

PÁG. 8 e 9

João Araújo,D.O.

OSTEOPATA

Coimbra – Consultas à 5.ª feiraMarcações pelo telefone: 239 703 715

Rua Brigadeiro Correia Cardoso, n.º 29

Telm. 962 829 280

Local de treino: Sala de JudoEstádio Cidade de Coimbra

NO PRÓXIMOFIM-DE-SEMANA

Lampreiavai reinaremPenacova

TENSÕES POSTAS A NU PODERÃO SER BENÉFICAS

Justiça portuguesa em crise

Solé motepara100 eventosem 10 dias

IX SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

PÁG. 5

PÁG. 14

Page 2: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

22 JJUUSSTTIIÇÇAA DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa– Rua da Sofia, 95, 3.º3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06Tiragem: 10.000 exemplares

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TENSÕES POSTAS A NU PODERÃO SER BENÉFICAS

Debate público desvenda crise da justiça portuguesaAs tensões há muito latentes no seio

da Justiça portuguesa começam, final-mente, a ser assumidas pelos seus prota-gonistas.

Uma abertura que poderá ter duasconsequências: por um lado, leva a quea generalidade da população se interro-gue sobre um sector que até aqui pairounum plano inatingível, quase sempresacralizado pelos seus membros e cujavulnerabilidade e subjectividade agoracomeça a emergir; por outro, as diver-sas classes profissionais que integramesta área começam a ousar questionar-se, publicamente, havendo mesmoalguns com a coragem de denunciar que“o rei vai nu”.

Claro que isso lhes pode ainda saircaro, como o prova o facto de o juizdesembargador Rui Rangel ter sido alvode um processo disciplinar, instauradopelo Conselho Superior da Magistratura(CSM), por causa das posições manifes-tadas num artigo de opinião sobre ochamado “Caso Esmeralda” (que levouà condenação a 6 anos de prisão de umsargento que não quer revelar onde estáa menina que adoptou e que agora estáa ser reclamada pelo pai biológico).

Esta circunstância levou a que oassunto tivesse sido tema do programade debate “Prós e Contras” promovidopela RTP, onde um dos participantes, o

juiz desembargador Eurico Reis, profe-riu algumas afirmações polémicas sobreo órgão de gestão e disciplina dos juí-zes, que levaram o CSM a avaliar ahipótese de lhe instaurar também pro-cesso disciplinar.

No referido programa, Eurico Reisteceu críticas ao funcionamento doCSM, considerando que este órgão serege pelo “princípio da oportunidade”na instauração de processos disciplina-res aos magistrados judiciais, numa ati-tude considerada persecutória em rela-ção a alguns juízes.

Como acima referimos, o CSM deci-diu abrir um inquérito disciplinar aojuiz desembargador Rui Rangel, alega-damente por este ter violado o dever dereserva ao comentar, num artigo de jor-nal, uma sentença proferida no âmbitodo “caso Esmeralda”.

Na sua próxima reunião, o CSMdeverá analisar o pedido de LaborinhoLúcio, membro daquele Conselho, paraque igualmente lhe seja aberto uminquérito, já que também comentoualguns aspectos do mesmo caso.

O antigo Ministro da Justiça tomou ainiciativa de pedir ao Conselho que lhefosse aberto um processo de averigua-ções por “uma questão de honestidadeintelectual”, uma vez que o CSM haviatomado tal decisão relativamente aojuiz Rui Rangel.

AS CUSTASE AS DIVERGÊNCIAS

No programa da RTP participaram,entre outros, os advogados José MiguelJúdice e Francisco Teixeira da Mota, osociólogo Boaventura de Sousa Santos,o jornalista António José Teixeira(entretanto demitido de Director do“Diário de Notícias”), e os juízes RuiRangel, desembargador, e Fisher SáNogueira, conselheiro jubilado doSupremo Tribunal de Justiça.

E foi uma surpreendente afirmaçãodeste último que veio revelar, de formasimbólica, uma certa confusão interpre-

tativa que reina no sector da Justiça emPortugal.

Segundo o juiz conselheiro, o factode o pedido de “habeas corpus” do sar-gento condenado a 6 anos ter sido recu-

sado pelo Supremo Tribunal de Justiça,implicava que cada um dos dez mil sub-scritores desse pedido tivesse de pagarcerca de 500 euros de custas!

A afirmação provocou grande celeu-ma, havendo a tomada de posição dediversos participantes que a contesta-vam.

José Miguel Júdice admitiu que, pelaletra da lei, poderia ser feita essa inter-pretação, mas acrescentou que a leideve ser interpretada com bom senso, euma decisão nesse sentido seria inad-missível.

Mas esta não foi a única questão con-troversa no debate.

Muitos outros pontos colocaram a nunão só os confrontos entre classes pro-fissionais no seio da Justiça, mas tam-bém divergências gritantes dentro damesma classe profissional, nomeada-mente a dos juízes.

Isso mesmo foi sublinhado porBoaventura de Sousa Santos (que hávários anos vem analisando o sector daJustiça em Portugal), que sustentou quea circunstância de ali terem ficado evi-denciadas as tensões existentes poderiaser um passo importante para que

comecem a ser tomadas medidas quemelhorem o sistema.

AS CRÍTICAS DE RUI RANGELPara se avaliar do clima tenso que se

vive no seio da magistratura, a seguirtranscrevemos o texto de opinião que ojuiz desembargador Rui Rangel publi-cou no “Correio da Manhã”:

“Na abertura do ano judicial, os dis-cursos sobre a Justiça voltaram a desilu-dir. Tivemos discursos jurídicos velhos,sem qualquer novidade digna de relevo,proferidos por gente ‘cansada’.

O que fica na memória é, apenas, apompa e circunstância e o ritualismo deuma solenidade que já se encontra ultra-passada e da qual as pessoas estão cadavez mais distantes. É, também, omomento que se aproveita para limpar evestir a toga e a beca, adornadas comcolares napoleónicos, sem qualquer sig-nificado para os destinatários da Justiça.

O que temos tido é uma constanterepetição de actos inúteis, que igual-mente têm servido para pequenos diálo-gos nos corredores, sem grande impor-

tância, entre os homens da justiça e dopoder político, que durante todo anovivem de costas voltadas uns para osoutros. Assim, este acto nenhum signifi-cado tem, não passando de um ‘desfile’

Eurico ReisJosé Miguel Júdice

Page 3: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

JJUUSSTTIIÇÇAA 33DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

O jornal “Centro” tem uma aliciante pro-posta para si.

De facto, basta subscrever uma assinaturaanual, por apenas 20 euros, para automatica-mente ganhar uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho da auto-ria de Zé Penicheiro, expressamente concebi-do para o jornal “Centro”, com o cunho bemcaracterístico deste artista plástico – um dosmais prestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível internacional,estando representado em colecções espalha-das por vários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seutraço peculiar e a inconfundível utilização deuma invulgar paleta de cores, criou uma obraque alia grande qualidade artística a um pro-fundo simbolismo.

De facto, o artista, para representar a Re-gião Centro, concebeu uma flor, compostapelos seis distritos que integram esta zona doPaís: Aveiro, Castelo Branco, Coimbra,Guarda, Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é representadopor um elemento (remetendo para respecti-vo património histórico, arquitectónico ounatural).

A flor, assim composta desta forma tão ori-ginal, está a desabrochar, simbolizando ocrescente desenvolvimento desta Região Cen-tro de Portugal, tão rica de potencialidades, deHistória, de Cultura, de património arquitec-

tónico, de deslumbrantes paisagens (desde aspraias magníficas até às serras verdejantes) e,ainda, de gente hospitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade de rece-ber já, GRATUITAMENTE, esta magnífi-ca obra de arte, que está reproduzida na pri-meira página, mas que tem dimensões bemmaiores do que aquelas que ali apresenta(mais exactamente 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a receberdirectamente em sua casa (ou no local que nosindicar), o jornal “Centro”, que o manterá

sempre bem informado sobre o que de maisimportante vai acontecendo nesta Região, noPaís e no Mundo.

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Jornal “Centro”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pedido deassinatura através de:

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e da justiça portuguesade discursos sem efeitos práticos nomelhoramento do sistema judicial.

É uma verdade histórica que a Justiçaprecisa de viver escudada por uma

grande carga simbólica. Os elementossimbólicos da Justiça fazem falta, masnão devem perder o sentido estético dascoisas, para não se tornarem desrespei-tados. Não devem perder o sentido daadequação à modernidade que não é

incompatível com aqueles, nem a sub-stância e a riqueza inovatória das men-sagens, que se querem perenes.

A simbologia deste acto fica sempremais negra do que as vestes solenes quepintam o salão nobre do STJ, porque aoferta é sempre a mesma, com discursosque se repetem há mais de cem anos,vagos, pobres, que não se identificamcom as pessoas e pejados de petições deprincípios que nunca se cumprem, comapelos a falsos consensos, que o dia-a-dia da vida se encarrega de denunciar.

Nunca temos discursos inquietantes,inovadores e singulares nos resultados,que abram as novas avenidas, de quenos fala António Sérgio, na Justiça. Éurgente repensar os seus valores simbó-licos e reinventar um novo discursojurídico, para que o povo não se afasteainda mais da Justiça, deslegitimando-a, com custos irreparáveis para o Estadode Direito.

JUSTIÇA CONSTITUCIONALDiga-se o que se disser sobre os

méritos da justiça constitucional, que

são inegáveis, não pode aceitar-se queeste tribunal leve dois anos para decidira legitimidade processual dos pretensospais adoptivos, na regulação do poderpaternal. E não pode aceitar-se porque aquestão jurídica em análise se afigurasimples.

E nesta instância ainda se torna maissimples, logo, mais injustificado o atra-

so, porque os juízes conselheiros que aíprestam funções têm todas as condiçõespara o exercício do cargo, com váriosassessores jurídicos, secretárias privati-vas e gabinetes ao nível dos membrosdo Governo. São verdadeiros ‘prínci-pes’, com condições que não têm para-lelo com as dos colegas que exercemfunções na Justiça comum, a mais pobree indigente de todas. No TribunalConstitucional, o Governo não regateiameios e condições. Portanto, nenhumarazão o povo encontra para este atraso.

SEGURANÇAÉ preocupante e a ter em considera-

ção o aumento registado na criminalida-de em 2006, de 2% a 4%, aumento esseque não se verificou em anos anteriores.

PACTO DE JUSTIÇAÉ com aplauso que se anota a inclu-

são, no Pacto da Justiça, de novas medi-das para o Conselho Superior daMagistratura. Autonomia financeira eadministrativa e novas regras, paravogais indicados pelo poder político, amerecerem atenção. Ainda bem.”

Rui Rangel

Boaventura Sousa Santos

Page 4: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 200744 RREEGGIIÃÃOO CCEENNTTRROO

PROJECTO PRETENDE LEVAR A CULTURA ÀS FREGUESIAS DE PENELA

Inverno CulturalO projecto “Inverno Cultural”, lança-

do pela Câmara Municipal de Penela,nasceu com o propósito de divulgar aarte e cultura locais e de a levar aosmunícipes, em especial a camadas soci-ais normalmente ausentes da produçãoe fruição cultural, permitindo a descen-tralização dos eventos culturais. Estainiciativa de dinamização sócio-culturaldo concelho de Penela reveste-se damaior importância, dado que pretendealargar o leque de ofertas culturais, bemcomo tornar-se um incentivo à partici-pação e criação local, proporcionandoainda a troca de saberes e conhecimen-tos entre os grupos locais e os de fora doconcelho. A crescente adesão de muní-cipes ao projecto, iniciado no ano 2000,tem servido de incentivo para que oSector Cultural da Câmara Municipalde Penela continue a programar iniciati-vas culturais nas diversas colectivida-des do concelho, desde música, teatro,folclore e etnografia, entre outras.

PROGRAMADia 24 de Fevereiro: actuação do Grupo

de Teatro de Santo Amaro e do Grupo deCantares da Casa de Pessoal dos CTT(21H00, no Centro Cultural da Cumieira);

Dia 25 de Fevereiro: actuação do GrupoEtnográfico da CerciPenela e da Quantuna(15H00, no Centro Cultural da Chainça eCamarinha); Dia 4 de Março: actuação doGrupo de Teatro da Cumieira e do Grupode Música Popular “Ou vai ou racha”(15H00, na Associação Cultural e Re-creativa da Louriceira);

Dia 11 de Março: actuação da Socie-dade Filarmónica do Espinhal e do RanchoFolclórico do Rabaçal (15H00, no CentroCultural de Santo Amaro);

Dia 17 de Março: actuação do Grupo deMúsica Popular “Terra Firme” e daOrquestra dos Antigos Tunos da Universi-dade de Coimbra, que contará com o Gru-po Coral Advocal (21H00, na SociedadeFilarmónica Penelense);

Dia 18 de Março: actuação do Grupo de

Música Popular “Ou vai ou racha” e doCoro dos Professores de Coimbra (15H00,na Associação Cultural e Recreativa dePodentes);

Dia 25 de Março: actuação do GrupoEtnográfico da CerciPenela e da SociedadeFilarmónica Penelense (15H00, no CentroCultural da Serra do Espinhal);

Dia 31 de Março: actuação do Grupo deTeatro da Cumieira e do Coral Quecofó-nico do Cifrão (21H00, na AssociaçãoCultural de Viavai);

Dia 1 de Abril: actuação do Grupo deTeatro de Santo Amaro e do Grupo deCantares “Arroz aos Molhos” (15H00, noCentro Cultural de Alfafar);

Dia 8 de Abril: Concerto de Páscoa,com a actuação da Sociedade FilarmónicaPenelense (17H00, no Auditório Municipalde Penela);

Dia 14 de Abril: actuação do Grupo deCordas Allegro e do grupo de fadosFadvocal (21H00, no Espaço-Museu daVilla Romana do Rabaçal);

Dia 15 de Abril: actuação da SociedadeFilarmónica do Espinhal e do GrupoKumytuna (15H00, no Centro Cultural dasCerejeiras).

OUTROS PROJECTOS

Para suceder ao “Inverno Cultural”,estão já agendadas pelo Sector Cultural doMunicípio de Penela as seguintes iniciati-vas: Mostra de Produtos Endógenos eFesta da Gastronomia 21 a 25 de Abril, noPavilhão Multiusos de Penela); Feira doQueijo do Rabaçal (18, 19 e 20 de Maio,no Rabaçal); Semana e Feira Medieval (21a 27 de Maio, na vila e castelo de Penela);Fim-de-semana da Juventude (15, 16 e 17de Junho, no castelo de Penela); Festival deMúsica e Dança (13 a 22 de Julho, no cas-telo de Penela); Feira do Mel (primeirofim-de-semana de Setembro, na vila doEspinhal); Feira anual de Penela, Feira daNoz e FAGRIP2007 (27 a 29 de Setembro,em Penela).

Coimbra iParque avançaO prazo para entrega das propostas para

a primeira fase do parque empresarial iPar-que (Coimbra), que visa a construção deinfra-estruturas, termina a 23 de Marçopróximo.

O preço-base para a construção dasinfra-estruturas do futuro parque de inova-ção, a ser construído em Antanhol, Coim-bra, é de 6,996 milhões de euros, de acor-do com o anúncio publicado no Diário daRepública.

Com um prazo de execução de 540 dias,a partir da data da atribuição do projecto,este é assim o arranque oficial do Coimbra

Inovação Parque, ou iParque, como éconhecido, que é uma área destinada aalbergar empresas que queiram investir eminovação, tecnologia e saúde.

Para a aposta nestes sectores específi-cos, o iParque inicia esta primeira fase comobras em 29,8 hectares (de um total de 98,6hectares), os quais permitirão libertar146.661 metros quadrados para lotes.

O presidente da empresa CoimbraInovação Parque, Horácio Pina Prata, con-sidera que “este é um projecto estruturantee estratégico para o desenvolvimento eco-nómico de Coimbra e da região”.

“Mais do que um espaço empresarial,o projecto emerge como um espaço deinteligência, oportunidade de negócios ede qualidade de vida”, sublinhou PinaPrata.

Para tal, “será estimulado o fluxo deconhecimento e tecnologia entre universi-dades, institutos politécnicos, instituiçõesde pesquisa, empresas e mercados”, acres-centou.

Recorde-se que também o Presidente daautarquia, Carlos Encarnação, já por diver-sas vezes salientou que este projecto será omais importante do seu mandato e decisivo

para o desenvolvimento de Coimbra e suaRegião. ACoimbra Inovação Parque é par-ticipada pela Câmara de Coimbra (51 porcento), Associação Tecnopolo de Coimbrae Coimbra Vita (cada uma delas com 12por cento), e mais sete parceiros com parti-cipações mais reduzidas, como a ParqueExpo, Associação Comercial e Industrialde Coimbra, Associação IndustrialPortuguesa, Banco Espírito Santo,S.U.C.H. (Serviços de Utilização Comumdos Hospitais), Clube de Empresários deCoimbra e Centro de Neurociências eBiologia Celular.

Mais de quinhentas crianças que fre-quentam duas escolas de Coimbra (o Ins-tituto de Lordemão e o Colégio de S. Mar-tinho), desfilaram na passada sexta-feirapela Baixa da cidade.

Tratou-se de uma iniciativa da ACIC(Associação Comercial e Industrial deCoimbra) que quis assinalar a quadra car-navalesca de forma significativa, promo-vendo este desfile - uma prática que temlevado a cabo em anos anteriores noCentro Histórico da Cidade.

Durante duas horas música, máscaras eanimação estiveram presentes em plenocentro da Cidade.

O Colégio de S. Martinho veio animaro Desfile com muita música brasileira.Diogo Matos, da Escola de Música do

Colégio, disse que gosta de enquadrar estedesfile “muito fixe”.

Para o Instituto de Lordemão o temaescolhido para este ano foram “As pala-vras Mágicas”. Alunos do 7º A distribuí-ram palavras mágicas às pessoas, para quenunca se esqueçam de incluir “se fazfavor, desculpe ou obrigado” no seu dia-a-dia.

Os comerciantes da zona mostravam-se satisfeitos com esta iniciativa daACIC. Segundo Pedro Cruz, da ÁgataJoalharias, este é um desfile que, anoapós ano, quebra a monotonia na Baixade Coimbra. Sublinhou ainda que inicia-tivas como esta são fundamentais paradar movimento à Baixa e terem repercus-sões positivas.

DESFILE DE CARNAVAL PROMOVIDO PELA ACIC

Meio milhar de criançasanimaram Baixa de Coimbra

Page 5: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007 CCOOIIMMBBRRAA 55

IX SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Sol é mote para 100 eventos em 10 diasUma centena de realizações em dez dias

compõem o diversificado programa da IXSemana Cultural da Universidade deCoimbra (UC), que decorre entre os dias 1 e10 de Março.

No Ano Heliofísico Internacional, a IXSemana Cultural da UC terá como motecentral o Sol, discutido e invocado nas suasacepções mais directas – de luz, imagem,energia, calor ou ambiente – mas tambématravés do seu forte valor simbólico: calorhumano, voluntariado, cidadania.

Subordinada ao título “Estou Vivo eEscrevo Sol – O Ambiente e os DireitosHumanos no Ano Internacional do Sol”, anona edição da Semana Cultural apresenta-rá cerca de uma centena de eventos, emespaços diversos de Coimbra, mas tambémde outras localidades, entre as quais Aveiro,Ílhavo, Cantanhede e Alcobaça.

De acordo com o Reitor da Universidadede Coimbra, Fernando Seabra Santos, aprincipal característica desta SemanaCultural é que «prossegue sob o signo datransgressão: no tema, por associar o sol aoutras interpretações; na duração, ao apre-sentar-se como semana, são quase duas; egeográfica, por ser não ser só da universida-de nem da cidade».

Por seu turno, o Pró-Reitor para aCultura, João Gouveia Monteiro, conside-rou o programa deste ano «o mais com-pleto de sempre, abrangendo todas asáreas científicas». A estrutura mantém-sedos anos anteriores – um núcleo coerentede eventos, entre a cultura, a ciência e odesporto, inspirado por um tema comum– tal como os objectivos ambiciosos: umagrande ligação com a cidade, a descober-ta da Universidade através do Dia Abertoe uma programação para todos os tipos depúblico. Serão exposições, conferências,colóquios e mesas-redondas, ateliês eseminários ou actividades desportivas,envolvendo áreas que irão do cinema àdança, da música ao teatro ou à poesia,

com a passeios e visitas de estudo, entreoutras actividades.

A Semana Cultural da Universidade deCoimbra é um evento de grande dimensão,sem paralelo em Portugal: no ano passado,ao longo de 11 dias, foram cerca de 15 milparticipantes, número que se prevê possacrescer ainda mais este ano.

A Semana Cultural da UC deste ano estáintegrada na programação oficial do AnoHeliofisico Internacional, uma iniciativa daOrganização das Nações Unidas, que sedestina a promover a colaboração internaci-onal sobre os temas ligados à Física Solar,da Heliosfera e das magnetosferas planetá-rias.

Destacam-se do programa os seguinteseventos:

Dia 1 de Março“Dia Aberto” - Faculdade de Letras,

Faculdade de Direito, Faculdade deCiências e Tecnologia (Dep. Matemática,Dep. Física, Dep. Eng. Civil, Dep. Eng.Electrotécnica, Dep. Ciências da Terra, Dep.Química), Faculdade de Medicina,Faculdade de Farmácia, Faculdade deEconomia, Faculdade de Psicologia e de

Ciência das Educação, Faculdade de Ciên-cias do Desporto e Educação Física, Museuda Ciência: Um dia de portas abertas para osalunos do básico e do secundário.

14H30 - “Sessão Comemorativa do 717ºAniversário da UC”, no Auditório da Rei-toria. Incluirá intervenções do Reitor daUniversidade de Coimbra e da Ministra daCultura, entrega do Prémio Universidade deCoimbra a Marcelo Viana e entrega doPrémio Bluepharma/Universidade deCoimbra.

21H30 - “Daqui em Diante” – Espectá-culo de Aniversário da Universidade deCoimbra, pela Companhia Olga Roriz, noTeatro Académico de Gil Vicente: Es-pectáculo de dança contemporânea inspira-do pela ficção Worstward Ho, de SamuelBeckett. O humor subtil, a tristeza, a ternurae a cruel beleza da realidade será o traço deunião nesse espaço colectivo onde se rees-crevem as lembranças.

Dia 3 de Março09H30-18H00 - Workshop: “A contri-

buição do Sol para o problema do aqueci-mento global da Terra”, no Auditório daReitoria. O aquecimento global do planeta

e suas consequências são dos assuntosmais discutidos por cientistas e políticos.São várias as correntes que atribuem esseaumento de temperatura a causas ligadas àactividade humana. Porém, o sol poderáter uma contribuição relevante para oaquecimento global da terra. Convidados:Filipe Duarte Santos (Coord. do ProjectoSIAM-“Climate Change in Portugal.Scenarios, Impacts and AdaptationMeasures”), Dalmiro Maia (Delegadopara as comemorações do Ano Inter-nacional do Sol, em Portugal), NatalieKrivova (Instituto Max-Planck, Alema-nha) e Ivo Alves (Director do Inst.Geofísico da UC).

Dia 5 de Março17H30 - Inauguração da exposição

“Estou Vivo e Escrevo Sol”, na BibliotecaGeral da Universidade de Coimbra.Exposição bibliográfica sobre a obra dopoeta António Ramos Rosa. Apresentaçãoda obra por Gastão Cruz e leitura de poemaspor João Grosso.

Dia 7 de Março17H30 - Mesa-redonda: “Os resíduos

como fonte de valor e energia”, noAuditório do Departamento de EngenhariaMecânica. Com a participação do Secretáriode Estado do Ambiente, Humberto Rosa, ede Alcides Pereira (“Resíduos radioactivos:o que fazer com eles?”), Raimundo MendesSilva (“Conhecimento e gestão dos resíduosna UC”) e Teresa Vieira (“Resíduos sólidosindustriais: poder-se-á exterminá-los?”).

Dia 10 de Março14H30-16H30 - Construção de relógios

de sol, no Departamento de Matemática.Construir relógios de sol, usando conceitosde matemática e explicar o seu funciona-mento. Actividade dirigida a alunos do ensi-no básico e secundário, aberta a pais e pro-fessores.

O Programa completo da IX SemanaCultura da Universidade de Coimbra estádisponível em www.uc.pt/semanacult.

Mercadinho no Jardim BotânicoNo próximo sábado, vai realizar-se o

já tradicional “Mercadinho” no JardimBotânico da Universidade de Coimbra,excepcionalmente aberto para esse efeito.

De facto, o Jardim Botânico da Uni-versidade de Coimbra passou recente-mente a estar fechado aos fins-de-sema-na e feriados, devido a cortes orçamen-tais.

Numa nota de imprensa, a Faculdadede Ciência e Tecnologia da Univer-sidade de Coimbra (FCTUC) anunciouver-se forçada a encerrar o JardimBotânico durante os fins-de-semana eferiados, “por imperativos decorrentesdo corte no financiamento ao EnsinoSuperior”.

Esta “difícil decisão” foi tomada peloDepartamento de Botânica, em conso-

nância com a direcção da FCTUC,depois de “fracassadas todas as tentati-vas no sentido de reforçar a capacidadefinanceira do Jardim Botânico, dotando-o de autonomia financeira e orçamentopróprio suficiente”.

Segundo a Presidente do Departa-mento de Botânica, Helena Freitas, “asUniversidades portugueses enfrentamdificuldades financeiras graves, sendoimpossível continuar a assegurar algunscompromissos importantes”.

No caso do Jardim Botânico da Uni-versidade de Coimbra, “o corte orçamen-tal de 2007 inviabiliza o pagamento dealguns serviços e obriga a Direcção doJardim Botânico a tomar opções muitodifíceis, mas inevitáveis”, lamenta.

O Jardim Botânico da Universidade

de Coimbra passa agora a estar aberto aopúblico, com acesso gratuito, apenas nosdias úteis, entre as 09:00 e as 17:30.

Mas no próximo sábado, como acimareferimos, aquele magnífico jardim esta-rá aberto ao público, para a realização do“Mercadinho” onde se comercializamprodutos naturais, muitos deles proveni-entes da chamada agricultura biológica.

Entretanto, a Direcção do JardimBotânico os Conselhos Directivo eCientífico da FCTUC estão a envidaresforços para que a situação seja rapi-damente ultrapassada, “dignificandoum Jardim singular na História dePortugal e um valioso património natu-ral da Universidade e da cidade deCoimbra”.

UM ANO DE SAUDADEOlá São:De repente é como se fosse sexta-feira 17 de Fevereiro, de um ano qualquer já passado.O casaco verde, os gestos expressivos, os olhos apreensivos, pelas notícias recentes, mas o olhar, sempre cor de

esperança… falávamos de futuro de projectos e tudo fazia sentido… Dia 18, o telefonema, o choque, a irrealidade, não,não a Ascensão não… A injustiça que não se pode reclamar em nenhum tribunal. Aquela dor que não tem anestesia, aslágrimas que caíam como a chuva desse dia, a tentativa de consolo “só Deus tem os que mais ama” dizia a canção dorádio do carro que nos transportava em silêncio mas de almas enlaçadas pelo mesmo sentir.

Em todos nós, ficará eterno o lema de vida que “roubou” a Sebastião da Gama “é pelo sonho que vamos” a este,acrescentou a garra de viver, o afecto que nos vincou as almas. Sim, os seus os nossos netos vão conhecê-la porque aeternidade existe para os que nos marcam. Até um dia São.

AnísiaO Centro de Saúde Fernão de Magalhães recorda com saudade a Enfermeira Ascenção Matias

Page 6: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

OS PAGADORESDE PROMESSAS

É melhor ganhar, mas é mais difícil.Quanta promessa feita em troca de umavitória arrancada à dúvida! Quantaexpectativa criada com a receita rápidade uma alteração legislativa! É agora, éagora... Já está, já está... Não custa nada.

Na noite do dia 11 comecei a ver apreocupação no rosto dos pagadores depromessas. Não me espantou. Sei quemuitos são sérios e a preocupação é aexpressão mais elementar da seriedadenesta questão. Senti que, sabidos os re-sultados, não me apetecia virá-los aocontrário. Fazer operações aritméticasque lembrassem que o Portugal do“sim” é menor que o Portugal do “não”e da abstenção ou que o resultado voltoua não ser vinculativo. Para quê, se elessabem? Mais útil perguntar: e agora?

Entregue a pergunta (três em um) aopovo português, a resposta foi, nessanoite, devolvida ao poder político:Assembleia da República, poder judi-cial, Governo. Inexoravelmente. Aospartidos que fizeram o “sim”, ao partidodo “nim” (patético o presidente do PSDa declarar que a posição do partido foiigual à de 98), ao partido do “não”. Edevolvida também a todos os que aolongo deste debate foram compondo aaridez do argumentário, preço da máxi-ma simplificação a que submeteram aquestão, esbatendo os seus contornos esubtraindo da reflexão geral as matériasque, embora a jusante e a montante dapergunta, eram e são essenciais à con-cretização do “sim”, à efectivação dasexpectativas criadas

(…)Mas também registámos ao longo de

toda a campanha o argumento, aliásinsólito, de que seria pela via do abortoque leis, já em vigor mas de certo modoincumpridas, seriam finalmente postasem prática: planeamento familiar, leislaborais, lei da maternidade e paternida-de, lei da adopção, educação sexual,etc... Segundo o “sim”, o incumprimen-to devia-se ao obscurantismo do “não”e à Igreja! Ficamos pois à espera queesta maioria faça cumprir as leis, impor-tantíssimas no combate ao aborto, agorasem falsos e fáceis alibis.

u Maria José Nogueira PintoDN 16/02/07

FEZ-SE A DIFERENÇADepois de uma campanha acesa e

mobilizadora (que, note-se, já termi-

nou!), a abstenção ainda ensombrou ainstituição do referendo. Mas o seu assi-nalável decréscimo afasta os agoirosmais pessimistas. Nem os portuguesesestavam alheados desta matéria, nemesta foi a terceira e última consultapopular. Em menos de dez anos a soci-edade portuguesa evoluiu em dois tra-ços essenciais da maturidade democrá-tica. A participação e a laicidade. Mo-tivos para celebrar.

u Joana Amaral Dias (psicóloga)DN 12/02/07

CONSCIÊNCIA DO MÉDICO(…) Fui dos que votaram “Não”,

pelo que faço parte do lote dos derrota-dos. Faço também parte daquele grupodos que há 30 anos, quando o abortoclandestino era de facto um problemamédico, teria votado “Sim”. Bem comoo teria feito neste referendo se estivesseunicamente em causa a questão legal docrime e da pena. Sou, pois, para além deum derrotado, um trânsfuga. (…)

u Pedro Nunes(Bastonário da Ordem dos Médicos)

Sol 17/02/07

O DESTINO EM MANOBRASFoi penoso observar como foi evolu-

indo, no terreno da campanha, a posiçãodo PSD no referendo. Começou numaneutralidade táctica que libertou deze-nas dos seus mais conhecidos quadrospolíticos para o campo adversário.Passou depois a um conúbio indisfarça-do com o “não”, a pretexto de ser essa alegítima posição pessoal do líder.Terminou com a adopção de uma acro-bática teoria que Marcelo Rebelo deSousa engendrara para sua própria pre-servação, mas que fazia perder milvotos para a abstenção por cada um quelograsse cativar.

Tudo isto correu tão mal que o PSDsurgiu mais penalizado do que o CDS(que segurou com força a trela do “não”e correu, ofegante, atrás dele durantequinze dias). (…)

u Nuno Brederode Santos (jurista)DN 18/02/07

JORNAISSaudades desses jornais ao mesmo

tempo clássicos e modernos onde a rea-lidade parecia, talvez, menos “real” mastambém, certamente, mais “possível”.Jornais onde uma primeira página podiaser composta só de texto e onde o pretoe branco bastavam para conseguir agama completa das cores imagináveis.Jornais onde uma fotografia era umacontecimento, uma obra de arte fazen-do-se desentendida. Jornais simples,bonitos. Grandes e portáteis, belosobjectos não solenes, desenho limpo empapel barato.

Jornais com menos palha e maispalavra.

Jornais abertos ao mundo mas comuma específica, única, forma de abrir omundo.

u Jacinto Lucas Pires (escritor)DN 17/02/07

UM SAQUE PÚBLICOA RTP levou muito a sério a sua mis-

são de escolher “o maior português detodos os tempos”. Páginas inteiras depublicidade nos jornais e nas revistas,uma intensa campanha de autopromo-ção em antena, cartazes em grande for-mato nas ruas das principais cidades.Poucas vezes a televisão usou tanta‘artilharia’ para promover um programatão caricaturalmente formal. É o provin-cianismo mais abstruso, “à moda portu-guesa”.

O grito da RTP parece ser – “o Paísprecisa de saber quem é o maior”.Enfim. A RTP começa a desviar-se docaminho que foi traçado há dois ou trêsanos e os resultados não são muito ani-madores

Uma novela em prime-time, muitomal feita e com resultados de audiênciamuito maus. E agora, a assunção desteprojecto nacionalista desesperado, àprocura de uma referência

Toda a gente sabe que o formato é daBBC e para os parolos que na RTP deci-dem estas coisas basta isso.

Esqueceram-se de verificar que aBBC passa coisas boas e más e que háprogramas que são pacíficos num país einadequados noutros. É por isso que atelevisão é um fenómeno iminentemen-te nacional. Falou mais alto o provincia-nismo português. E então, de umaforma pouco transparente, lá anda o ser-viço público a brincar com coisassérias. (…)

u Emídio Rangel (jornalista)CM 10/02/07

DIFÍCIL DE ENTENDER(…) Confesso estou a ficar sem paci-

ência. Há cerca de 30 anos que andonestas correrias, hoje numa escola,amanhã noutra, semanas que nemvenho a casa, a agenda completamentepreenchida até ao fim de 2008, a escritaatrasada, tudo porque as professoras metelefonam continuamente a pedir que váàs suas escolas falar com as crianças,tentar motivá-las para o prazer da leitu-ra, etc., etc.. E eu tenho muito gosto etento acudir a todas, e se digo que nãoposso ficam ofendidas, e acham que euestou a privilegiar Lisboa (que, porsinal, é a cidade onde menos escolas selembram de me convidar...) e que“claro, como toda a gente, se esquecedo interior do país...”.

O pior é que os professores, que rei-vindicam sempre melhores salários – ecom toda a razão!; que reivindicam opagamento das horas extra – e com todaa razão! – nunca percebem que eu tenhoo direito de fazer o mesmo, ou seja, deexigir ser paga pelo meu trabalho. Seuma escola me pede que vá lá – e háescolas onde eu chego a fazer seis ses-sões diárias para abranger todos os alu-nos - e depois acha que aquilo não é tra-balho, e que nem as deslocações devepagar – alguma coisa está mal. Se osprofessores não entendem isto – algumacoisa está mesmo muito mal. As horasque eu passo numa escola a falar com as

crianças são horas em que os professo-res não estão a dar aula, e horas em queeu não estou no meu trabalho de escrita.(…)

u Alice Vieira (escritora)JN 18/02/07

O PSD DIANTEDO SEU DESERTO

Sou um distraído e não sabia queJosé Miguel Júdice ainda valorizava asua condição de militante do PSD. Osargumentos de Júdice, que abandonou opartido, sendo pessoais e sérios podem,simultaneamente, parecer ingénuospara o frequentador da política. Masninguém pode duvidar da sinceridadedeles.

Evidentemente que as pessoas mu-dam; provavelmente J. M. Júdice mu-dou e o PSD não é o partido onde elecaiba, se é que as pessoas têm de caberem algum partido. Júdice considera queo PSD é, hoje, um partido “muito maisconservador do que há vinte anos”,quando Portugal acabava de entrar naUnião Europeia e Cavaco era primeiro-ministro. Há decerto algum simbolismona saída de J. M. Júdice do partido queajudou a criar, mas não sei se é aqueleque o próprio lhe atribui - na verdade, oPSD está actualmente a rever o seu pro-grama e existe uma comissão onde seencontram ou se encontravam os nomesde Manuela Ferreira Leite, AlexandreRelvas, José Pacheco Pereira ou DavidJustino.

Por isso mesmo é importante umaafirmação de Júdice que me pareceimportante “O PSD mudou muito denatureza e não consegue captar para oseu seio os dinamizadores ideológicosporque não tem nada para eles.” Tenhoinsistido nesse ponto desde a vitória deJosé Sócrates, não porque o PSD sejaobrigado a rever os seus princípios emfunção de ciclos eleitorais ou porque euseja parte interessada no assunto, umavez que não sou “eleitor pertinente” doPSD. Na verdade, o vazio do PSD cons-titui um assunto interessante do pontode vista sociológico e um dos exemplosda repulsa que a direita portuguesa tempelo seu tempo e que pode transformar-se em medo do seu tempo. (…)

u Francisco José Viegas (escritor)JN 19/02/07

CURSAR MEDICINA(…) quando na semana passada os

meios de comunicação social relatavamas preocupações espanholas pela fugade médicos para trabalhar em Portugal,não pude deixar de lembrar o drama detantos jovens portugueses que desespe-radamente quiseram cursar Medicina etiveram de abandonar essa vontade emfunção de “numerus clausus” definidospelas diversas universidades e faculda-des de medicina que hoje se confirmamcomo tendo sido absurda e/ou estrategi-camente insuficientes, gerando enge-nheiros, professores, emigrantes oujovens precocemente frustrados em vezde médicos. Os médicos espanhóis ou

DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 200766 OOPPIINNIIÃÃOO

itações

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de outras origens são muito bem vindosmas são também certamente desecono-mias nacionais que convém ir registan-do para não esquecer. (…)

u Elisa Ferreira (eurodeputada)JN 18/02/07

CARNAVALXexés e bebés parece coisa de refe-

rendo mas não, parece que era assim oCarnaval dos avós, com guerras de ovose farinha e... talvez antes de se ter des-coberto e imitado o Brasil aqui na santaterrinha, basta pôr um chapéu na cabe-ça, pintar um bigode ou macaquear afeminilidade do eterno feminino e já éCarnaval.

É uma festa hedionda para os excên-tricos e as exibicionistas que são as pes-soas mais sinceras durante todo o ano.Quando os vulgares de Lineu procuramextroverter-se, a coisa dá para o torto.Imaginem vedetas televisivas a julga-rem-se de grande ecrã, críticos feiíssi-mos a pensarem-se artistas, apresenta-dores a acharem-se criativos, estilistasque se tomam por alfaiates, decoradorasque, como os arquitectos se crêem deu-ses, animadores de gira-discos & pratosque sonharam ser músicos, jurispruden-tes que cometem imprudências! Não, aúnica coisa que assoma no corso lusita-no são uns mamilos túrgidos e umasnalgas geladas. (…)

u Rui Reininho (músico)JN 17/02/07

REFERENDARA REGIONALIZAÇÃO

A regionalização administrativa dePortugal é, na minha opinião, o proces-so indispensável para a verdadeiramodernização da vida social portuguesa.De facto, a desigualdade no desenvolvi-mento dos diversos distritos portuguesestem-se agravado, o que condiciona umacrescente migração para o Litoral e parao Sul, na busca de oportunidades queescasseiam no Norte e no Interior.

Retomar a discussão cívica da regio-nalização do continente portuguêstorna-se uma necessidade imperativaque conduza ao novo referendo e, destemodo, a uma definitiva participaçãodemocrática, e assim se procure encon-trar um modelo de administração maisjusto e equitativo para todos os portu-gueses.

Penso que o modelo de divisão regi-onal que tem dividido o continente por-tuguês em regiões centradas na baciahidrográfica dos grandes rios pode serum ponto de partida, considerando-seuma região norte, até à bacia do rioDouro, uma região centrada na baciahidrográfica do rio Mondego e umaregião sul, referente ao vale do Tejo evale do rio Sado.

Estas regiões teriam o Poder Execu-tivo para cumprir os programas legisla-dos pela Assembleia da República sobpropostas do Governo Central. (…)

u Nuno Grande(médico e professor universitário)

JN 15/02/07

GLOBALIZAÇÃOE EGOÍSMO ESCLARECIDO

(…) Continuam a morrer no mundo àfome milhões de seres humanos, o queé intolerável. É um imperativo éticoajudar os países pobres no seu desen-volvimento. Ora, sempre será preferívelajudar no desenvolvimento as pessoasnos seus próprios países a ter de levan-tar barreiras e muralhas à volta domundo desenvolvido e assistir à entra-da, sem controlo possível, de multidõesà procura de uma vida melhor, comtodos os efeitos de turbulência inevitá-vel a médio prazo.

Em última análise, é o modelo mo-derno de desenvolvimento, com a suaideologia do progresso ilimitado, queestá na base da crise ecológica e tam-bém da injustiça entre o Norte e o Sul.Assim, a construção da casa comum daHumanidade exige uma nova consciên-cia ética (veja-se a ligação entre ethos eoikos, com o significado de casa e habi-tação, em conexão com ética, economiae ecologia), aliada a uma nova propostapolítico-cultural global para uma novaordem económico-ecológica global.(…)

u Anselmo Borges(padre e professor de Filosofia)

DN 12/02/07

REFERENDOE REGIONALIZAÇÃO

(…) Se no dia 11 é evidente que con-tava a opinião de todos, mas só devevaler a opinião validamente expressa, jáno que toca à regionalização, o referen-do pode não ser o instrumento de apli-cação universal e generalizado, se pen-sarmos que a lógica dos interesses regi-onais não permite uma leitura nacional.Na organização politico-administrativado país, o Governo deve procurar sabercomo se defendem melhor os interessesde cada região e que sistema se revelamais eficiente na gestão dos recursosdisponíveis. Esta é uma decisão políti-ca, mas também técnica que não vejoque possa ou deva ser resolvida como setentou resolver a questão do aborto, per-guntando a todos.

É também por isso que acho absolu-tamente dispensável um novo referendoe, bem pelo contrário, se me afigura

muito interessante e inteligente a inicia-tiva daqueles que têm dito que a gestãoregionalizada do novo QREN é umaexcelente forma de testar as virtudes daregionalização.

Mais do que nos predispormos a gas-tar mais uns milhões dos contribuintespara ouvir uns tribunos a debitar pala-vrosos disparates, durante meses, aquiestá uma boa oportunidade para perce-ber se aqueles que têm opinião formadasobre o assunto também têm razão.Se me é permitido um prognóstico antesdo resultado, eu diria que também nestaquestão o “Sim” vai sair vitorioso. (…)

u Manuel Serrão (empresário)JN 14/02/07

POR UM ENSINO MELHORPortugal é o país europeu com pior

taxa de sucesso no Ensino Secundário edos que têm menor número de pessoascom formação universitária. E istoacontece apesar das despesas no sectorda educação serem superiores à médiaeuropeia e de o número de alunos porprofessor ser dos mais baixos em toda aEuropa.

O baixo nível médio de educação de-ve-se, sobretudo, à muito fraca eficiên-cia do nosso sistema de Ensino. Nosúltimos anos, tem aumentado o númerode licenciados, mestres e doutores, deuma forma superior à média europeia,mas é evidente a necessidade de umareforma no Ensino.

Parece importante conquistar e res-ponsabilizar os professores para ummelhor aprendizado dos alunos, contra-riando as elevadas taxas de abandonodo Ensino Secundário e Universitário.Será óbvia a necessidade de avaliaçãocriteriosa desse trabalho, que permitadistinguir o mérito, quer a nível remu-neratório quer a nível da progressão nacarreira.

Mas também será vantajoso criarcondições para que os alunos possamser envolvidos num ambiente que lhespermita sentir prazer em aprender, pelametodologia aplicada e pela conscien-cialização da importância da aquisiçãode conhecimentos para o seu desempe-nho futuro. (…)

u Luís Portela(médico e administrador de empresas)

JN 14/02/07

PREPOTÊNCIA ARROGANTENuma Europa a 27, em que tanto se

proclama o respeito das soberaniasnacionais dos estados membros, nãofaltam responsáveis políticos que sus-tentam a inevitabilidade da adopção dachamada Constituição Europeia, emvirtude de ela já ter sido aprovada em18 países, com referendo ou sem ele. Esta posição é sintomática de uma pre-potência arrogante, porque faz tábuarasa da soberania, da identidade e dosinteresses de cada um dos estados mem-bros e da sua capacidade autónoma dedecisão exactamente no ponto em quetudo isso é essencial para a estruturaçãodo conjunto. (…)

u Vasco Graça MouraDN 14/02/07

SUCESSÃOA Rússia já não é uma monarquia,

embora muitos críticos de Putin achemque sim. Estes pensam que o ex-agentesecreto tornado estadista, à beira de dei-xar, visivelmente, as rédeas do país,nomeou ‘sucessor’.

Este seria o durável ministro da defe-sa, Sergei Ivanov, que cultivou amigosem vários regimes, da Inglaterra Blai-rista a Paulo Portas. Ivanov é agora vi-ce-primeiro-ministro, e diz-se que olhao Kremlin como modo de vida.

Mas primeiro, claro, haverá eleições.Essa é a diferença em relação ao passa-do, cristão-imperial ou soviético.

u Nuno Rogeiro (politólogo)CM 18/02/07

VIDAS PERDIDAS E MORTEDOS NOSSOS LUGARES

O acidente registado na belíssimaLinha do Tua reveste uma dupla tragé-dia. Há vidas perdidas que, humana-mente, não podem ser choradas e la-mentadas só pelos familiares e amigos,mas por todos nós, que não somosinsensíveis a estas mortes. Estas mortesencerram ainda uma outra diferente“tragédia” a morte dos nossos lugares.A Linha do Tua já não poderia chamar-se linha ferroviária. Era uma linha ima-ginária, simbólica, de um lugar de pai-sagem paradisíaca. Daquelas que aNatureza nos oferece e que, por essepaís fora, se encobrem como tesourosescondidos. Às vezes, vamos à procuradeles para regalo dos nossos olhos.Não será assim para aqueles nossosconcidadãos que, por força de habitaçãoou por escassos recursos, estavam obri-gados a utilizá-la. Mas aqueles que amantinham – a Empresa Metro deMirandela ou a REFER –, não se podedizer que a exploravam - era, com cer-teza, por respeito aos poucos habitantesdaquelas paragens, ou, quando muito, apensar que o relançamento turísticodaquela linha, um dia, poderia vir a sernegócio. Aliás, sabe-se que, há muitotempo, a CP desejava fechar esta linha.(…)

u Paquete de Oliveira(sociólogo e professor do ISCTE)

DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007 OOPPIINNIIÃÃOO 77

“Portugal é o país europeu com pior taxa de sucesso no Ensino Secundário e dosque têm menor número de pessoas com formação universitária”.

Page 8: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

A lampreia é um peixe que, em ter-mos gastronómicos, se pode considerarcomo “do tudo ou nada” – isto é, ou seadora ou se detesta.

Mas os que gostam (e são muitos!)consideram-na como uma das maisrequintadas iguarias, não se poupando aesforços para poder saboreá-la.

Há quem ande centenas de quilómet-ros para vir deliciar-se com este manjarnaquela que é considerada como “a cap-ital da lampreia”: Penacova.

E é exactamente em Penacova quedecorre agora mais um “Fim-de-semanada lampreia”, nos próximos dias 23, 24e 25 (ou seja, de sexta-feira a domingo),envolvendo vários restaurantes queservirão esta especialidade aos apreci-adores – e, ainda por cima, a preçosmuito mais acessíveis do que é habitual.

Para além do mais, haverá outrospratos variados, para todos os gostos,todos eles coroados com a célebre doçariaconventual com raízes no Mosteiro doLorvão, de que avultam as “nevadas” –um verdadeiro “manjar celeste” – e ospastéis de Lorvão (sobremesas estas ofer-ecidas aos comensais pela autarquia).

São vários os restaurantes da zona dePenacova que aderiram a esta iniciativa,que conta com o apoio da CâmaraMunicipal de Penacova e da Região deTurismo do Centro.

Aliás, para além das delícias gas-tronómicas, a região de Penacova pro-porciona outras maravilhas, que são as

suas magníficas paisagens – tudo a jus-tificar uma visita inesquecível.

PROMOVER O TURISMO

A Câmara Municipal de Penacovaorganiza todos os anos um fim-de-sem-ana de promoção cultural e turísticavirado essencialmente para a gastrono-mia, em que promove a lampreia. Estainiciativa tem como objectivo divulgarainda mais este prato, tornando-o maisacessível durante estes dias. O eventoconta com a participação de diversosrestaurantes do concelho, que nesteperíodo praticam preços especiais aquem desejar comer o tão famoso pratogastronómico. A cargo da autarquia fi-cará a sobremesa, constituída pelosdoces conventuais: as deliciosasnevadas e os pastéis de Lorvão.

UMA TRADIÇÃO

Desde há muito que a lampreia nosmeses de Fevereiro, Março e princípiosde Abril faz parte das memórias dasgentes de Penacova. Durante este período,a lampreia sempre atraiu muitos visitantesao concelho. Uns vinham saborear o pratoàs mesas dos pequenos restaurantes àbeira da estrada. Outros iam para com-prar. E não eram poucos os que desciamaté à beira do Mondego para escolher aslampreias que, depois de capturadas, erammantidas vivas em caixas de madeira.

Para promover a lampreia, Penacovadenominou-se, em 1998, “Capital daLampreia”, com a criação do fim-de-semana da Lampreia.

Começou com 6 restaurantes colabo-radores, e neste momento conta comuma dezena e espera cinco mil visi-tantes.

Aautarquia diz pretender, com este even-to, atingir os seguintes objectivos: promovera cultura e o turismo deste concelho atravésdas suas especialidades gastronómicas;manter viva uma das especialidades gas-tronómicas mais conhecidas deste concelhoe da região e que traz a Penacova muitagente, aliando um passeio inolvidável asabores requintados dos pratos baseadosneste saboroso ciclóstomo; alertar para operigo de extinção desta espécie típica do rioMondego; divulgar o artesanato do concel-ho e a doçaria conventual.

A Câmara Municipal organiza todos osanos, um fim de semana de promoção cul-tural e turística virado essencialmente para agastronomia, promove a lampreia.

Uma vez que Penacova é considerada a“Capital da Lampreia”, esta iniciativa temcomo objectivo divulgar ainda mais esteprato, tornando-o financeiramente maisacessível. Este evento conta com o apoio de

restaurantes do concelho, que neste periodovão fazer um preço especial a que desejarcomer o tão famoso prato gastronómico. Acargo da autarquia ficará a sobremesa, con-stituída pelos doces conventuais, as deli-ciosas nevadas e pastéis de Lorvão.

CARACTERÍSTICASDA LAMPREIA

A lampreia é um ciclóstomo, assimchamada por ter a boca circular.

Os ciclóstomos têm esqueleto cartilagi-noso, que forma uma coluna vertebralincompleta, em que o encéfalo e o crâniosão rudimentares. Não possuem barbatanaspares nem escamas (têm a pele lisa).

São animais marinhos quando adultos,mas na época da reprodução voltam àságuas continentais com correntes (águadoce). A larva permanece em águas conti-nentais e as lampreias adultas vivem próx-imo da costa onde nasceram e em peque-nas profundidades (regiões costeiras tem-peradas). Os ovos são depositados emáguas de salinidade menor que a água domar, e o período larval dura de 3 a 7 anos.As adultas morrem após a desova.

São ectoparasitas pouco selectivos, ali-mentando-se de sangue e de fluídos corpo-

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Lampreia vai reinar em Penacova

Page 9: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

rais de outros peixes e até de mamíferosmarinhos. Têm uma boca em forma deventosa, com dentes e língua cartilaginosacom cerca de 100 dentículos de queratinaque são utilizados para raspar a pele dohospedeiro, para a perfurarem e lhe sug-arem o sangue. Nesta fase uma glândulasalivar produz uma substância anticoagu-lante que é aplicada na ferida, mantendo-aaberta.

A boca e os dentes formam um funil, otubo digestivo é linear sem formação deestômago, e apresenta uma glândula diges-tiva (pré-fígado) não existindo pâncreas.

Devido ao facto de ser fraca nadadora,utiliza a boca para se fixar às rochas, quan-do a corrente é demasiado forte, o que tam-bém faz quando tem necessidade de trans-por obstáculos durante as migrações.

Possuem no topo da cabeça um “olhopineal” translúcido e, à frente, uma única“narina”, o que é um caso único entre osvertebrados actuais (embora se encontreem alguns fósseis). Esta “narina”, é tam-bém chamada abertura naso-hipofisial,uma vez que liga ao órgão do olfacto e aum tubo cego que inclui a glândula pitu-itária ou hipófise.

Os olhos são relativamente grandes eestão equipados com cristalino, mas nãopossuem músculos oculares intrínsecos,como os restantes vertebrados. Atrás,abrem-se sete fendas branquiais. Umaoutra característica deste grupo de peixes éa inexistência de verdadeiros arcos bran-quiais – a câmara branquial é reforçadaexternamente por um cesto branquial carti-lagíneo. Os sentidos do tacto e olfactoestão extremamente desenvolvidos.

A pesca da lampreia é feita com redes eaparelhos, principalmente com tresmalhoderivante e estacada (rede mantida naposição vertical por estacadas de fundo atéà superfície com um comprimento de cercade 50 metros). A população de lampreiastem vindo a diminuir regularmente, devido

não só à só pesca mas, fundamentalmente,aos obstáculos à migração reprodutora, àdestruição dos locais de postura, à poluiçãoe às alterações dos caudais dos rios.

As medidas de conservação passam,entre outras, pela protecção rigorosa emanutenção das áreas de desova e cresci-mento, do aumento do período durante oqual a pesca é proibida, bem como pelaintensificação da fiscalização da pesca.

ESCADA DE PEIXE

Uma das maiores ameaças à lampreiaque sobe o rio Mondego para ir desovarsurgiu com a construção do Açude-Pontedo Choupal, em Coimbra, já que não foidotado com a indispensável “escada depeixe”, que permita a subida a esta e outrasespécies que sobem o rio para a desova.

Assim, os peixes deparam-se ali comum obstáculo que poucos conseguemtranspor pelos seus seus próprios meios.

Todos os anos é necessária a inter-venção de serviços do Estado para capturaros peixes, largando-os depois do Açude-Ponte para que possam prosseguir aviagem que lhes permita concluir o cicloreprodutivo.

Mas esse obstáculo é tambémaproveitado por pescadores furtivos, queactuam sobretudo durante a noite, tentandoiludir a vigilância das autoridades e assimcapturando os peixes que ali esbarram naobra tão mal concebida.

Por estranho que possa parecer, apesardos alertas e dos protestos todos os anosrepetidos por ambientalistas, desde hádécadas, só recentemente as forças políti-cas se puseram de acordo para pôr termo auma situação anómala que ameaça apreservação destas espécies piscícolas.

Espera-se, pois, que a indispensável“escada de peixe” rapidamente seja con-struída, para que Coimbra deixe de ser umobstáculo e uma ameaça a estas espécies.

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O Museu da Casa da Freira é uma casa-museu que se situa a meio da vilade Penacova, no trajecto para o Mirante Emigdyo da Silva. Trata-se de umacasa que foi doada à Sociedade de Propaganda e Progresso de Penacova ecuja origem, que se perde nos tempos, tem sido motivo de versões várias.

Alguns mais velhos dizem que foi habitada por uma criada das freirasdo Mosteiro de Lorvão, tendo sido ela que dali trouxe a receita dos Palermosou Nevadas de Penacova, um dos mais famosos e apreciados tipos de doçariaconventual da região.

A sala de entrada da Casa-Museu é dedicada ao património dos rios, eé ali que se podem ver alguns dos tradicionais utensílios usados para capturara lampreia. Lá estão o barqueiro, o pescador, a bateira e a barca serrana (quelevava Mondego abaixo, até Coimbra, as lavadeiras, a lenha e outros produ-tos para venda na cidade). Lá se encontram a vara, o croque, a vêrga, omoitão, a troça, a adriça, os estais; as ferramentas do calafate (estopa, esco-pro, maço, crespeiro); a lavadeira; a navegação comercial do Mondego noséc. XVIII; as armadilhas para pescar (tarrafa ou estremalho, cofo, guelricho,nassa, fisgas para a pesca da lampreia).

Vale a pena uma visita.

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No âmbito do Ciclo acima referido, foitambém feita uma visita ao Museu daCiência da Universidade de Coimbra, cujoDirector, Paulo Gama Mota, fez uma apre-sentação do projecto.

O museu, inaugurado no passado mêsde Dezembro pela Ministra da Cultura,está localizado no antigo “Laboratório Chi-mico”. Ali é possível o diálogo abertosobre temas que actualmente se colocamna agenda pública, como os transgénicos, autilização de células estaminais, o Pro-tocolo de Quioto ou os problemas quepodem decorrer do efeito de estufa, entremuitos outros. Aambição do novo museu éprecisamente difundir conhecimentos cien-tíficos à sociedade, contribuindo para atomada de consciência das relações entre

os diversos ramos da ciência e da ciênciacom a sociedade.

A Universidade de Coimbra detém umespólio invejável na área da museologia,sem comparação em Portugal, e que pro-porciona ao museu nível internacional. OLaboratório Chimico é ele próprio umapeça histórica de relevo, já que se trata deum dos primeiros edifícios europeus conce-bidos para laboratório e o mais antigo aindaexistente. Desenhado por GuilhermeElsden, o “Chimico” foi construído entre1773 e 1775, a mando do Marquês dePombal e especificamente para o ensino e ainvestigação da química em Portugal.Historicamente, o edifício é indissociáveldo complexo de ensino e investigação dasciências que se desenvolveu em Coimbra

na sequência da reforma da Universidadede 1772.

O projecto de recuperação do “Chimico”– da autoria de uma equipa de arquitectosliderada por João Mendes Ribeiro, e consti-tuída ainda por Désirée Pedro e CarlosAntunes – veio a revelar-se uma caixinhade surpresas, apresentando-se quase comoum palimpsesto, onde cada nova camadaescondia uma outra por trás.

Talvez a mais significativa de todas asdescobertas, segundo Paulo Gama Mota,sejam as estruturas do antigo refeitóriojesuíta, do século XVI, que não se sabia setinha sido reutilizado ou demolido, e que naverdade foi praticamente todo reutilizado.Para deixar perceber isto foi recuperada aestrutura do século XVIII, a chamada sala

dos trabalhos em grande que foi desenhadapara ser uma sala para a realização de traba-lhos em grande escala. A recuperação davolumetria dessa sala original, permite tam-bém revelar a anterior geometria do refeitó-rio do qual ficaram à vista três janelas e umpúlpito que estava emparedado.

À entrada pode ver-se a pia de pedra quese diz ter sido usada para fabricar pólvoradestinada à defesa da cidade de Coimbraaquando das invasões napoleónicas – umadas muitas lendas que acompanham a his-tória do magnífico edifício. A este propósi-to refira-se que as Edições Minerva-Coimbra têm editados dois romances histó-ricos contemporâneos daquela época, daautoria de Helena Rainha Coelho, e intitu-lados “O Tutor” e “As Taças da Ira”.

DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 20071100 CCUULLTTUURRAA

São cerca de dois milhões e meio oslivros e documentos bibliográficos exis-tentes nas 81 bibliotecas integradas naUniversidade de Coimbra, alguns delespeças preciosas (em termos históricos, dequalidade e de raridade). Um patrimónioúnico, dos mais valiosos nesta área não sóem Portugal, mas com grande importânciaem termos internacionais.

Esta realidade, por muitos desconhecida– mesmo no seio da própria Universidade –foi focada numa sessão que decorreu naBiblioteca Geral da Universidade deCoimbra (BGUC), no âmbito do ciclo“Coimbra – Uma candidatura a PatrimónioMundial”, promovido pela Livraria Miner-va, em colaboração com o Rotary Club deCoimbra Santa Clara.

DE PENITENCIÁRIA A CASADO CONHECIMENTO

O Director da BGUC, Carlos Fiolhais,fez uma palestra muito interessante,referindo números impressionantes.

Assim, referiu que se crê que ascendam a2.414.328 os documentos que compõem as81 bibliotecas da Universidade de Coimbra.Em termos de distribuição, estima-se que aBiblioteca Geral, que inclui também a mag-nífica Biblioteca Joanina, possua mais demilhão e meio de documentos (mais exacta-mente 1.541.105!). Aárea das ciências bási-cas possui 65.150 documentos, ciências dasaúde 69.453, ciências sociais 228.562,ciências da vida 46.625, engenharia, arqui-tectura e ciências da terra 72.368,humanidades 362.245, psicologia e ciênciasda educação 16.754 documentos. Os cen-tros de investigação possuem cerca de12.066 documentos.

Detentora do maior espólio, a BGUC lutaneste momento com falta de espaço, e

Carlos Fiolhais confessou-se desconsoladopelo facto de a sua proposta de transformara Penitenciária numa Casa do Conhe-cimento, que junte a BGUC com a Bi-blioteca Municipal, estar num impasse.Considerando essencial transformar a “arcade Noé” que é o imenso espólio bibliográfi-co da UC numa “nave espacial”, CarlosFiolhais referiu que com a Casa do Co-nhecimento o livro passaria a ser a “marca”de Coimbra.

PRECIOSIDADESBIBLIOGRÁFICAS

O espólio da BGUC torna-a numa dasmais importantes bibliotecas do país. Nocofre do edifício, resguardam-se tesouroscomo uma Bíblia Hebraica, do séculoXIII aproximadamente, produzida pelaescola de calígrafos hebraicos de Lisboa eparcialmente escrita sob a forma dedesenho que apenas pode ser lido comrecurso a uma lupa. Este exemplar terásobrevivido à Inquisição, permanecendo

sempre no país, provavelmente escondi-do, até que foi adquirida pela BGuc noséculo XIX. É conhecida como a bíbliaAbravanel, nome da família a quem terápertencido segundo várias assinaturasvisíveis na obra.

A BGUC tem, aliás, uma significativacolecção de bíblias, de algumas dezenas deexemplares, mas sobretudo uma das mel-hores colecções do país de livros de coro.Praticamente 30 exemplares produzidospara uso do Mosteiro de Santa Cruz e queconstituem um conjunto de peças que ilus-tram de uma maneira muito completa o queera o ordinário do mosteiro.

Um primeiro exemplar dos Lusíadas, de1572, um livro de horas com iluminuras eum exemplar único das chamadas tábuas,que acompanhavam o roteiro de D. João deCastro – o roteiro do mar Vermelho e oroteiro da Índia –, são outros dos tesouros daBGUC. Neles ele descreveu como é que seia de Portugal até lá, como é que se navega-va, os vários portos, as aguadas, os sítiosonde se podia ancorar, e em Coimbra está o

único exemplar que existe destas tábuas,que foram desenhadas à mão e coloridas aaguarela.

DOAÇÕES VALIOSAS

A BGUC vive também de algumasdoações valiosas, como a do Visconde daTrindade, Alberto Navarro, inclusive comcatálogo publicado. Uma biblioteca muitovaliosa sobre a Restauração e a Inquisiçãoque contém uma das maiores colecções defolhetos de autos de fé conhecida.

Finalmente, também a Biblioteca deSão Pedro constitui um fundo consideráv-el e a merecer destaque. Entre os 22 colé-gios universitários existentes em Coimbraaté 1834, contava-se o Real Colégio de SãoPedro, criado em 1545 pelo canonista RuiLopes de Carvalho, e instalado desde 1572junto ao Paço da Alcáçova, na Alta dacidade. O Colégio foi extinto em 1834,mas ao contrário do que aconteceu comoutros, a sua biblioteca conservou-se intac-ta por ter sido afecta ao uso da família reale do reitor. Na sequência da reforma de1901, foi incorporada na Biblioteca Geralda Universidade de Coimbra. Os cerca de8 mil volumes deste fundo, que tem catál-ogo impresso, foram instalados no salãonobre do ‘novo’ edifício, denominado pre-cisamente Sala de São Pedro, e umpequeno núcleo de obras jurídicas foiincorporado na biblioteca da Faculdade deDireito.

Ontem à noite (terça-feira, dia 6) decor-reu, na Livraria Minerva, mais uma sessão,com o tema “Um património chamadoRepúblicas”, que contou com a presença deactuais e antigos repúblicos de Coimbra – eque decorria ainda à hora do fecho destaedição, pelo que a ela aludiremos no próxi-mo número do “Centro”.

O FABULOSO PATRIMÓNIO BIBLIOGRÁFICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Cerca de 2,5 milhões de livrosespalhados por 81 bibliotecas

Visita ao Museu da Ciência da Universidade

Carlos Fiolhais apresentou a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, de que éDirector

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“Um património chamado Repú-blicas” foi o tema da penúltima sessãodo ciclo “Coimbra – Uma candidatura aPatrimónio Mundial”, iniciado emSetembro pela Livraria Minerva emcolaboração com o Rotary Club deCoimbra Santa Clara. Os convidadosdesta sessão foram Teresa Carreiro,autora do livro “Viver numa Repúblicade Estudantes em Coimbra”, e os anti-gos repúblicos José Luís Pio Abreu(Palácio da Loucura), Manuel da Costa(Baco) e Décio de Sousa e RuiNamorado (Pyn-Guyns).

Apesar dos riscos que correm de per-der a sua identidade, caracterização epassagem de testemunho entre gera-ções, as Repúblicas de Coimbra sãoainda, para muitos, um património deafectos. Mas há outro tipo de patrimóni-os que estão interligados com asRepúblicas. São eles, segundo TeresaCarreiro, “um património material, umpatrimónio simbólico e também o patri-mónio que representa a herança dopapel que as Repúblicas tiveram nastransformações políticas e sociais dopaís”.

Espaços encantatórios, em completaoposição ao mundo real, eram, asRepúblicas eram, na década de 60,espaços de natureza sociabilística econvivialidade que caracterizavam umacerta sub-cultura juvenil, onde apareci-

am “as partidas, as brincadeiras, a paró-dia, os ‘bruás’ – onomatopeia que signi-fica barulho e alegria – e uma certaliberdade de movimentos” que erampermitidos aos estudantes que habita-vam estas casas na época e que lhes per-mitiam uma vivência única e irrepetí-vel, que marcou gerações para a vida.

Décio de Sousa salientou o papelimportante das Repúblicas na manuten-ção e respeito pela tradição académica eRui Namorado lembrou a década de 60em que havia, entre os repúblicos, acapacidade de olhar para o outro. A vidanuma República “ensinava que cada umde nós não era tão importante quantoisso. Humanizava as coisas, dava-nos acapacidade de partilhar”, recordou.

José Luís Pio Abreu, por seu turno,recordou o ambiente do Palácio daLoucura, casa que sempre teve umaforte tradição musical e de onde saíramgrupos como a Brigada Victor Jara ou oGEFAC. Mas sobretudo a República“era, de facto, uma família notável”,assegurou. Mais. “Coimbra não seriaCoimbra sem as Repúblicas”, afirmou.“Sem o conjunto alargado dasRepúblicas, cada uma com uma identi-dade diferente, onde cada um tambémtinha uma identidade diferente, ondenão havia unanimidade mas onde nosconseguíamos completar uns aos out-ros”. A questão que se coloca nos dias

de hoje é, referiu, “como é que se vaipoder recuperar essas identidades”.

Repúblico já na década de 70,Manuel Costa recordou também o“forte espírito de entreajuda, de solida-riedade e de socialização”. Algo quehoje se perdeu, lamentou.Actualmente assiste-se auma “crescente descarac-terização das Repúblicas”,em que “as pessoas deixa-ram de conversar”, o quelevou à perda “da amizadee a solidariedade”.

Segundo a Reitoria daUniversidade de Coimbra,as Repúblicas remontamao século XIV, quando D.Dinis, por diploma régiode 1309, promovia a cons-trução de casas na zona deAlmedina, destinadas aestudantes, mediante paga-mento de um aluguer. Omontante seria fixado poruma comissão, expressa-mente nomeada pelo rei,constituída por estudantese por “homens bons” dacidade. É assim que a par-tir de um tipo de alojamen-to comum, permitindominimizar os encargosfinanceiros, viriam a sur-

gir, por evolução, as actuais Repúblicas.Ainda hoje as casas caracterizam-sepela exaltação de valores universais queunem o passado ao presente: a vida emcomunidade, a soberania e a democrati-cidade.

“A cultura é uma plataforma funda-mental para o desenvolvimento ecrescimento de Coimbra”, afirmou oPró-Reitor para a Cultura da Univer-sidade de Coimbra, João Gouveia Mon-teiro. “Uma das coisas que a cidadepode e deve fazer melhor é exploraruma indústria de cultura”. Mas umaindústria de cultura que seja “exem-plar”, desafiou. “Que não utilize a cul-tura e que não a transforme de umaforma excessivamente empresarial queacabe por a descaracterizar”. Dirigindo-se, nomeadamente, ao Presidente daRegião de Turismo do Centro, PedroMachado, presente na sessão, o Pró-Reitor recordou que a indústria culturalestá em ascensão registando já umíndice de crescimento superior ao daindústria automóvel.

João Gouveia Monteiro falava numapalestra denominada “D. João III e JúlioHenriques na história da Universidadede Coimbra”, que encerrou o ciclo“Coimbra – uma candidatura apatrimónio mundial”, promovido peloRotary Club de Coimbra Santa Claraem conjunto com a Livraria Minerva.

O Pró-Reitor para a Cultura recordouduas figuras históricas fundamentais, aoseu tempo, para o desenvolvimento daUniversidade — D. João III que a trans-

feriu definitivamente para Coimbra eJúlio Henriques que foi um dos maisimportantes directores do JardimBotânico, no tempo da reforma Pom-balina, período também muito marcantepara Universidade de Coimbra.

Também presente na sessão, oPresidente da Câmara Municipal deCoimbra, Carlos Encarnação, consider-ou o projecto do Museu da Ciência daUC “uma aposta de enorme dimensão”e “um dos projectos mais significativosdos últimos anos” na cidade.

A gestão do Museu irá ser feita poruma fundação constituída pela CâmaraMunicipal e pela Universidade deCoimbra. Inicialmente constituída pelaautarquia, a Fundação D. Pedro deveráser transformada numa aposta conjuntaentre as duas instituições e levará consi-go mais de um milhão de euros paragerir o projecto.

O autarca garantiu ainda que aCâmara “vai ter que se responsabilizarpela sua quota parte nas despesas anuaisde manutenção” de todo o equipamento.

Luís Ribeiro, presidente do RotaryClub de Coimbra Santa Clara, e IsabelGarcia, da Livraria Minerva, respon-sáveis pelo ciclo “Coimbra - uma candi-datura a património mundial”, prome-teram uma segunda parte, devido ao

sucesso atingido. “Quisemos apelar aoexercício da cidadania e combater ahabitual apatia dos conimbricenses”,afirmaram, “chamando a atenção para oriquíssimo património da Universidadee da Academia”.

A sessão contou também com as pre-senças de Paulo Gama Mota, Director

do Museu da Ciência da UC, CarlosFiolhais, Director da Biblioteca Geralda UC, João Rebelo, Vice-Presidente daCâmara Municipal de Coimbra, e JoãoPaulo Craveiro, Presidente da So-ciedade de Reabilitação Urbana “Coim-bra Viva”, também eles, em sessõesanteriores, convidados do ciclo.

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1122 CCUULLTTUURRAA DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

NA GALERIA DA ALBUQUERQUE E LIMA (DE 3/2/2007 A 15/3/2007)

Exposição de pintura de David TorresAAlbuquerque e Lima apresenta, na sua

Galeria de Exposições Temporárias, a pri-meira exposição individual de pintura domédico e pedagogo David Torres.

Apesar de se dedicar à pintura há mais dequarenta anos, estar representado em váriascolecções particulares e ter participado eminúmeras exposições colectivas - quandomuito instado - este autor, que sempre recu-sou o efémero e as homenagens, nunca acei-tou aparecer em exposições individuais.

A Pintura foi o seu primeiro CursoSuperior, que terminou com dezoito valo-res, tendo tido como professores, entre out-ros, Dórdio Gomes, Barata Feio e HeitorCramês. Todavia, a sua insatisfação peranteuma arte ainda demasiado académicalevou-o a trilhar outros percursos humanís-ticos, igualmente envolventes, como amedicina e o ensino. Parecia predestinadoque David Torres viria a ser essencialmenteum pedagogo.

Ainda muito jovem, concluiu o Curso deCiências Pedagógicas na Universidade deCoimbra e o Estágio para o MagistérioLiceal. Em 1970 foi colocado no Liceu D.João III, actualmente Escola Secundária JoséFalcão, em Coimbra, como ProfessorMetodólogo dos Liceus, cargo que exerceudurante alguns anos. Foi nessa altura que adisciplina de Desenho passou a designar-sepor Educação Visual. Mais do que uma sim-ples mudança de nome tal alteração tradu-ziu-se numa total e completa modificação doespírito daquela disciplina, tendo DavidTorres ajudado a implementar esta reformatão profunda e crucial.

Residindo, então, em Coimbra e aprovei-tando a sua permanência na Lusa-Atenaspara satisfazer outra paixão antiga, começoua frequentar a Faculdade de Medicina, lado alado com alguns dos seus anteriores alunosdo Liceu, tais como Silvério Cabrita, Ar-mando Carvalho, Adriano Rodrigues, NetoMurta, entre muitos outros. Foi assim que,em 1978, concluiu a Licenciatura em

Medicina, na Faculdade de Medicina daUniversidade de Coimbra. EstágiosClínicos, Saúde Pública, Serviço Médico àperiferia ocuparam a maior parte do seutempo, mas a arte nunca ficou para trás.Assim, em 1993 regressou novamente aoensino, convidado como professor deAnatomia Artística da Escola Universitáriadas Artes de Coimbra. Exerceu tal magisté-rio, durante vários anos, colaborando com osoutros professores de Anatomia que, entre-tanto, leccionaram na referida Escola deArtes (Norberto Canha e Mamede de Albu-querque). Continua a ser professor da EscolaUniversitária das Artes de Coimbra ensinan-do, actualmente, Geometria Descritiva I e II(Monge e Cónica).

Profissional bem informado, a sua pinturatem sofrido uma evolução constante e per-manente. Como professor de AnatomiaArtística e de Perspectiva, David Torres nãoteria qualquer dificuldade em desenhar aFigura Humana e expressar a realidade deforma tecnicamente irrepreensível. Com

conhecimentos sólidos nestes campos e nastécnicas de pintura, o caminho mais fácilseria, por certo, deixar-se enlear nalgum clas-sicismo. Todavia, não foi essa a sua opçãoestética. Sem nunca perder um elevado sen-tido de composição, procurou romper acade-mismos e conferir à sua pintura um perma-nente dinamismo na forma e na busca de lin-has de força originais, distribuindo inespera-dos nós de tensão de forma equilibrada e har-moniosa. As suas pinturas da década deoitenta caracterizam-se já por grandes super-ficies de côr, formas simplificadas e fortescontrastes cromáticos enquadráveis no “abs-tracionismo lírico”. No entanto, a sua evolu-ção tem continuado no sentido da simplifica-ção mais elementar e na procura de formas eritmos cada vez mais puros com grande dra-matismo cromático. A pintura que apresentaassume uma expressividade mítica e solene,desprovida de toda a ambiguidade. Nestemomento a sua actividade pictórica aproxi-ma-se de forma progressiva e inexorável deum certo “minimalismo geométrico”.

Influenciado por Rothko, Satael, Mather-wel e Still, David Torres usa uma paletareduzida, sem cores supérfluas, e grandesplanos que estabelecem ritmos em largoshorizontes dimensionados numa espaciali-dade precisa porque essencial.

Os quadros actualmente expostos naGaleria de Exposições Temporárias daAlbuquerque e Lima são as propostas esco-lhidas pelo próprio pintor e os que segundoele avançam, de uma forma mais explícita,na direcção do fruidor, procurando estabele-cer diálogo com ele, numa experiência con-sumada entre a pintura do autor e o aprecia-dor da sua arte. Em certa medida todas essaspinturas representam, segundo David Torres,camadas extraídas de um “continuum” cujaduração é a da vida deste artista.

Além das pinturas de David Torres expos-tas na Galeria da Albuquerque e Lima, estaEmpresa mantém, para os seus clientes, out-ros trabalhos do autor que estão disponíveisna NET (aelima.com) ou em LCD, podendoeste último ser consultado, na sede social daFirma, pelas pessoas interessadas na produ-ção artística deste conhecido médico e peda-gogo.

Adecisão da Albuquerque e Lima de pro-mover a primeira exposição individual deDavid Torres é tão justa quanto necessária.Justa porque devem ser reconhecidos osméritos pictóricos deste professor de Arteque se dedica há longos anos ao ensino nanossa Escola Universitária de Artes.Necessária porque Coimbra não pode nemdeve desprezar as oportunidades que lhe sur-gem de ter entre os seus todos aqueles quepor cá moram ou ensinam e podem ser capa-zes de a engrandecer como cidade do conhe-cimento, transformando-a numa verdadeiracapital da Arte. Para tal não chegam oPatrimónio, os Museus e as Escolas de Arte.É necessário que a cidade civil se empenheem constituir-se num ambiente propício àactividade artística capaz de apoiar e estimu-lar os seus Artistas.

A “Galeria SETE” inaugurou no passadodia 10 de Fevereiro a sua oitava exposição,intitulada “Ases & Trunfos > 1º sete - acervoaberto”.

Sobre o certame, afirmam os responsáveisda Galeria:

“A SETE apresentou-se desde logo comoum projecto eclético; com o título destaexposição anuncia que nela se mostra umprimeiro conjunto (1º Sete) de autores maisvelhos, amplamente reconhecidos, muitos deprimeiro plano nas artes plásticas portuguesase não só.

Assim, o público fica declaradamente aconhecer que, para além das exposições dejovens valores, potencialmente boas apostasfuturas, a galeria tem permanentemente umacervo de obras criteriosamente selec-cionadas de artistas considerados valoresseguros pelo mercado da arte, apetecíveis

para qualquer coleccionador ou investidorexigente.

Com esta exposição a Galeria SETEreforça-se como ponto de passagem sis-temático e obrigatório para qualquer ‘amantedas artes’, quer pela amplitude do seu acervo,quer pela frescura e qualidade dos jovens quedivulga”.

Na exposição “Ases & Trunfos > 1º sete -acervo aberto”, encontram-se trabalhos devários artistas consagrados, entre os quais:

Albuquerque Mendes, Álvaro Lapa, AnaPimentel, Ana Vidigal, Ângelo de Sousa,António Dacosta, António Olaio, AntónioPalolo, António Sena, Augusto Canedo,Baltazar Torres, Espiga Pinto, FernandoAzevedo, Fernando Calhau, Francisco Leiro,Francisco Relógio, Gerardo Burmester,Manuel Cargaleiro, Noronha da Costa, JaimeIsidoro, Joaquim Rodrigo, João Cutileiro,

João Penalva, João Vieira, João Queiroz,Jorge Martins, José de Guimarães, JoséLoureiro, José Pedro Croft, Julião Sarmento,Justino Alves, Júlio Resende, Leonel Moura,Luis Feito, Manuel Baptista, ManuelBotelho, Mário Cesariny, Matilde Marçal,Paula Rego, Pedro Cabrita Reis, PedroCalapez, Pedro Chorão, Pedro Proença,Pedro Tudela, Pires Vieira, René Bertholo,Rogério Ribeiro, Rui Cunha, Rui Chafes, RuiSanches, Sá Nogueira, Sandro Chia, SobralCenteno, Vanessa Beecroft, Vitor Pomar.

A exposição pode ser visitada até 24 eMarço, dentro do seguinte horário: de segun-da-feira a sexta-feira – das 11h às 13h e das14h às 20h; sábado – das 15h às 20h.

A Galeria Sete está instalada na AvenidaDr. Elísio de Moura, nº 53, em Coimbra,podendo ser contactada através do telefone239 702 929.

Trabalhos de autores consagrados em exposição na “Galeria Sete”

Paula Rego

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PPUUBBLLIICCIIDDAADDEE 1133DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

Page 14: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

1144 DDEESSPPOORRTTOO DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

LÍRIO BRANCO APONTA O PÓLO AQUÁTICO COMO UM EXCELENTE ESPECTÁCULO

“É bonito e agradável”

O Pólo Aquáticodo CNAC/Matobratem cada vez mais adeptos.O treinador Lírio Brancocongratula-se com o apoiorecebido pela equipa e apontaa recepção ao Sporting, marcadapara 17 de Março, comouma excelente oportunidadepara que a equipa possa actuar,finalmente, perante bancadascheias de adeptos do clubee da modalidade

António José Ferreira

O treinador Lírio Branco assumiu ocomando do Pólo Aquático do CNAC//Matobra no início da presente época.“Até agora o balanço é positivo”, afir-mou em conversa com o “Centro”,reconhecendo porém que “no campeo-nato poderíamos estar um pouco mel-hor. Mas para atingirmos o principalobjectivo, a subida de divisão, sódependemos de nós”. A atestar a confi-ança demonstrada, o técnico não poupaelogios ao grupo de trabalho: “Os joga-dores são assíduos e todos se têm empe-nhado muito. Temos tido sempre gentepara treinar, mesmo tendo em conta queos treinos são das 9 às 10H30 da noite e

que não é fácil treinar a esta hora.Nenhum dos jogadores é profissional.Estudam ou trabalham, têm família e oideal seria treinarmos mais cedo. Mastodos abdicam um pouco de tudo paravirem aos treinos. Este ano treinamostodos os dias, em S. Martinho ou naPedrulha, o que é óptimo”.

A escassez de trabalho de base noPólo Aquático torna tudo mais “difícil.Este ano estamos a tentar fazer formaçãomas não tem sido fácil porque os horá-rios que nos foram concedidos não per-mitem que ‘miúdos’ mais novos possamtreinar. Iniciam-se no Pólo Aquáticomais tarde e temos que lhes ensinar obásico, integrando-os com jogadoresmais evoluídos tecnicamente”. Tal comonoutras modalidades mais conhecidas,também no Pólo “o gesto técnico temque ser trabalhado. Há trabalho especifi-co de guarda-redes, de ‘pivot’, de rema-te. Em suma, é preciso muito trabalhotécnico que já deveria vir de base”.

No entender de Lírio Branco o PóloAquático “é bonito e agradável”. O pú-blico tem aderido, aos poucos, e a moda-lidade “já começa a ter mais gente.Recentemente fomos jogar a Loulé e aGuimarães onde as piscinas estavamcheias. Aqui em Coimbra também já vaitendo muita gente a ver. Os nossos ami-gos e as pessoas da natação mas também

algum público que começa a gostar damodalidade. Se calhar devia outro tipode divulgação, talvez a própria piscinadivulgar um pouco mais”. O crescimen-to da equipa e os consequentes bonsresultados também têm ajudado:“Ganhámos ao Arsenal 72, no passadosábado, e mantemo-nos na luta pelosprimeiros lugares. Depois vamos terdois jogos muito interessantes. Um emLousada, com a equipa que vai em pri-meiro, surpreendentemente, e depoiscom o Sporting, que este ano tem PóloAquático. A 2.ª Divisão está muito equi-librada o que torna tudo mais engraçadoe interessante”. A recepção ao Sportingé apontada como uma excelente oportu-nidade para o grupo de trabalho alcançarum desejo: “Em Coimbra nunca jogá-mos com a bancada cheia. Só com meiabancada. Com uma boa divulgação, ojogo com o Sporting é o momento idealpara podermos encher a piscina”.

A terminar, Lírio Branco aproveitouas páginas do “Centro” para “sensibili-zar as pessoas para virem ao PóloAquático. É um jogo extremamenteengraçado, duro, viril, de contacto, mascom muitos golos, muita emoção, tantomais na 2.ª Divisão onde está tudomuito equilibrado. Portanto quem vierver vai deparar-se com um espectáculodiferente. Com um bom espectáculo”.

RICARDO MOTA

Divertimento“Muitos atletas vieram da natação do

Náutico. Cada vez mais vamos jogandocomo um grupo, acima de tudo pelodivertimento. O desporto-rei é o futebol eCoimbra não foge à regra. Aos nossosjogos vêm os amigos, as namoradas.Damo-nos por contentes com o apoio quetemos, mas sem dúvida que era muitobom termos mais gente nos jogos”.

JOÃO SILVA

Apoio“Sou dos mais novos e gostei muito

da maneira como fui recebido. Pro-curei receber de igual forma os queentraram depois de mim. É importantea integração dos jogadores mais novospara que não se note muito a diferençaquando os mais velhos tiverem quesair. Em Coimbra o Pólo está a sercada vez mais divulgado. Criámosrecentemente um blog, de modo a queo nosso trabalho seja mais conhecido.Este ano temos tido grande apoio masainda não o que desejávamos. Estamosconvencidos que vai melhorar”.

HUGO ABADE

Formação“Estamos na 2.ª Divisão e, como

clube, a atravessar uma fase de transi-ção. Até há uns anos o Pólo Aquáticoera visto como um desporto para ex-praticantes de natação, mas hoje cadavez mais se começa a ver formação debase na modalidade. E claro que onível começa a ser outro e os resulta-dos também. Em Coimbra e particular-mente no Náutico está a ser complica-do, uma vez que ainda não temos ascondições ideias para arrancar com aformação, com espaços a horas em queos ‘miúdos’ possam treinar. Queremostrabalhar com um projecto bem estru-turado, para que daqui a uns possamosestar efectivamente a lutar por uma boaclassificação na 1ª Divisão”.

O triunfo sobre o Arsenal 72 (13-6), no passado sábado, confirmou asubida de rendimento verificada peloCNAC/Matobra. A equipa vinha deoutros dois resultados muito positivos(primeiro no terreno do líder Loule-tano, para o campeonato, e depoissobre o Gondomar, da 1:ª Divisão,para a Taça de Portugal) e está agorainstalada no meio da classificação,com menos um jogo e com tudo emaberto para atingir o objectivo a quese propôs, a subida de divisão (o acer-

to de calendário dá-se já no próximosábado, com o CNAC/Matobra a via-jar até Felgueiras para defrontar oFOCA, último classificado com ape-nas uma vitória).

Para a excelente exibição rubricadafrente ao Arsenal 72, que tornou fácilum jogo que se antevia difícil, a equi-pa de Lírio Branco contou com o pre-cioso contributo dos adeptos do clubee da modalidade, que têm aderido aosjogos de forma gradual e cada vezmais “ruidosa”. Nesse contexto, o

jogo com o Sporting é tido como umaexcelente oportunidade para que,finalmente os jogadores do CNAC//Matobra vejam cheias as bancadas daPiscina de S. Martinho (ou doComplexo Olímpico de Piscinas, umavez que estão a ser envidados todos osesforços para que o jogo possa serrealizado nesse local).

Mais informações sobre a equipasénior do CNAC/Matobra e sobre ascompetições em que está envolvida emwww.cnacpoloaquatico.blogspot.com.

CNAC/MATOBRA QUER FESTA NA RECEPÇÃO AO SPORTING

Casa cheia

Page 15: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

DDEESSPPOORRTTOO 1155DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

EDIÇÃO 2006 DOS PRÉMIOS SALGADO ZENHA

Os Melhores do DesportoO restaurante universitáriodo Pólo II da Universidadede Coimbra acolheu a cerimóniade entrega dos Prémios SalgadoZenha referentes ao ano de 2006.Oportunidade para reunira família do maior clubedesportivo do país

António José Ferreirae Nuno Cardoso

As diversas modalidades da Associa-ção Académica de Coimbra reuniram norestaurante do Pólo II da Universidade deCoimbra. Ocasião para se proceder àentrega dos Prémios Salgado Zenha, edi-ção 2006, cujas grandes decisões foramtomadas durante a tarde na reunião do júricomposto por Pedro Saraiva, pró-reitor daUniversidade de Coimbra (em substitui-

ção do reitor Seabra Santos que não pôdeestar presente por se encontrar na tomadade posse dos órgãos directivos daFaculdade de Direito), Paulo Fernandes,presidente da Direcção-Geral da AAC,

Bruno Sacadura, do Conselho Desportivoda AAC, Tiago Almeida, do Jornal SantaCruz, António Alves, do jornal As Beiras,Jorge Sales, do jornal Diário de Coimbra,César Pegado e José Lebreiro.

Atleta Ana Patrício Valente (Judo)

Atleta de Formação José Batista de Almeida (Rugby)

Equipa Futsal Sénior

Secção Ginástica

TreinadorPedro Rebelo (Basquetebol)

Dirigente João Nuno Soares (Ténis)

PrestígioCarlos Portugal (Basquetebol)

CarreiraHorácio Antunes (Andebol)

DedicaçãoCarmo Rebelo (Basquetebol)

EntidadeJunta de Freguesia de Santa Clara

Quadro de Honra

Campeões Nacionais em 2006 (In-dividuais):

Nuno Silvano e Denise Peters(Ginástica)

Hedson Trindade e Paulo Dias(Atletismo)

Miguel Silva (Lutas Amadoras) João Santos e Teresa Mesquita

(Desportos Náuticos)Ricardo Rodrigues (Boxe – Taça de

Portugal)

Campeões Nacionais em 2006(Equipas):

Infantis Masculinos de Tumbling(Ginástica): Nuno Silvano, João Sa-raiva e Pedro Rodrigues

Cadetes Femininos Basquetebol:Sofia Costa, Patrícia Fidalgo, SofiaCarolina, Soraia Seixas, Daniela Ro-drigues, Raquel Filipe, Tânia Farinha,

Sara Filipe, Soraia Rebelo, Inês Re-belo, Inês Cunha, Liliana Almeida,Rita Bigotte, Filipa Grade e RitaCanas

Veteranos Femininos Remo: An-nie Marques e Esmeralda Melo

Juniores Masculinos Remo: JoãoSimões, João Catarro, AlexandreAlmeida, André Ferreira, João Santos,Miguel alfaiate, Diogo Tomé, HugoGonçalves e Manuel Pita

Veteranos Masculinos Remo: Pe-dro Oliveira e António Neves

Veteranos Misto Remo: Pedro Oli-veira, António Neves, Annie Marques,Esmeralda Melo, Rui Coimbra, JoséSilva, Pedro Gonçalves, Carlos Vieirae Vera Oliveira

Seniores Masculinos Yolle (Remo):João Ferreira, Afonso Sousa, RubenLeite, Ricardo Reis e Manuel Pita

Cadetes Femininos Ténis: BárbaraLuz, Cristiane Macedo, Alina Sebas-tianova, Karina Karenik, NathalieGunthard e Mariana Costa

Seniores Femininos Ténis: Domi-

nica Gorecka, Bárbara Luz, CristianeMacedo, Ana Lozano e CatherineWerviken

Pares Masculinos Badminton:Nuno Baía e José Silva

Atletas Internacionais em 2006Pedro Quintal (Ginástica)Hedson Trindade (Atletismo)Luís Rodrigues, Dulce Machado,

Luís Godinho, Marco Ruel e FredericoSequeira (Voleibol)

José Dias, Miguel Caratao, SílvioSilva e João Castro (Basebol)

Sofia Carolina e Daniela Rodrigues(Basquetebol)

Rui Cordeiro, Eduardo Salgado,Rui Rodrigues, Cláudio Tenreiro,Tiago Coelho, Diogo Morais, RicardoFerreira, David Mateus e Tomás Pinto(Rugby)

João Santos (Remo – DesportosNáuticos)

Filipe Rosa, Rui Fonseca, AnaPatrício Vicente e Ana Filipa Vicente(Judo).

Francisco Salgado ZenhaFrancisco Salgado Zenha nasceu em

Lisboa no dia 2 de Maio de 1923. Os estu-dos trouxeram-no a Coimbra, onde frequen-tou a Faculdade de Direito e acabou por selicenciar. Foi também em Coimbra que cul-tivou o interesse pela política e pela vidaassociativa, tornando-se o primeiro alunoeleito como presidente da AssociaçãoAcadémica de Coimbra. Ocupou o cargoem finais de 1944, sendo demitido poucosmeses depois por se ter recusado a participarnuma manifestação de apoio ao regime sala-zarista. No ano seguinte foi um dos funda-dores do MUD-Juvenil e, mais tarde, doPartido Socialista. Fez parte de vários gover-nos provisórios, primeiro como Ministro daJustiça e depois como Ministro dasFinanças. Ao longo da sua vida travou lutassucessivas pelos direitos e pela liberdade,que o levaram varias vezes à cadeia, desta-cando-se o apoio expresso à candidaturapresidencial do General Humberto Delgado.Em 1986 foi candidato à Presidência daRepública, entregando para tal o cartão demilitante do PS, mas apesar dos apoios doPCP e do PRD não passou à segunda volta.A partir de então, reduziu ao mínimo a suaintervenção política. Em 1988 publica olivro “As Reformas Necessárias”, súmuladas principais ideias que defendeu na cam-panha presidencial. Morreu em 1 deNovembro de 1993. Quatro anos volvidossobre o desaparecimento de FranciscoSalgado Zenha, em 1997, o ConselhoDesportivo da Associação Académica deCoimbra instituiu os prémios a que deu onome do primeiro presidente eleito daquelaassociação estudantil. Irene Zenha, viúva deSalgado Zenha, tem marcado presença nacerimónia de entrega de prémios, o que vol-tou a suceder na edição deste ano.

Prémios Salgado Zenha 2006

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RETRATO DO PAÍSPortugueses não têm “testícu-

los” para dizer que referendo nãoé vinculativo, diz Jardim Ronaldoquer passar a ser o mais caro domundo, mas o Manchester achademasiado Morgado aperta ocerco a Pinto da Costa

(títulos do Público on-line)(publicado no blogue

em 14, 15 e 16 de Fevereiro)

TRATADO “COMO GENTE”

Acabo de sair dos HUC.Sinto-me bem.Tinha uma consulta externa ao início

da tarde.Fui atendido exemplarmente, a con-

sulta começou praticamente à hora mar-cada, obtive resposta para as minhasdúvidas (de hipocondríaco compulsi-vo).

Encontrei pela frente uma pessoaatenta e interessada.

Numa palavra: senti-me tratado“como gente”.

E senti que, desta forma, o dinheirodos meus impostos faz sentido.

(Até o facto de ter deixado o automó-vel a uns 600 metros de distância nãome pareceu exagerado...)

(publicado no blogueem 6 de Fevereiro)

TEXTO BRILHANTE

O director do “Campeão das Provín-cias”, Lino Vinhal, publica na edição dehoje daquele semanário um texto dequalidade superior, cuja leitura reco-mendo vivamente.

Num editorial intitulado “O nossorumo”, Lino Vinhal – pessoa que mehabituei há muito a admirar, pelo sentidojornalístico e pela capacidade empreen-dedora – faz uma reflexão sobre diversosaspectos da comunidade coimbrã.

Com a devida vénia, trago aqui trêsexcertos. O “link” para o texto comple-to está no final das transcrições.

* * * * *

AImprensa regional portuguesa atra-vessa um período deveras preocupante.O Governo aprovou um conjunto dediplomas que aguardam publicação,uns, promulgação, outros, todos eles lesi-vos não só dos direitos anteriormentereconhecidos como prejudiciais a váriostempos: desde logo porque parte dospequenos jornais vai acabar; depois,porque ao terminar completamente como porte pago para o estrangeiro tornaimpossível que a comunidade portugue-sa continue a manter com o país e com asua terra a ligação que os jornais lhe per-mitiam até agora. (…) Uma opção clara-mente errada, explicada para pouparmeia dúzia de tostões mas que constituium forte, cerrado e lesivo ataque à divul-gação da língua portuguesa pelo mundo.

* * * * *

Façamos fé no princípio da presunçãode inocência e estaremos certos queCoimbra inverterá um rumo que estava

a tomar e contra o qual nos propusemosassumidamente lutar. Coimbra não éuma terra qualquer. Chamem-nos pro-vincianos, chauvinistas, parolos, tudo oque quiserem.

Nem nos aquece nem arrefece. Masassumimos claramente que esta é umaterra diferente. Para melhor. A culturacomeça e passa pelo postura dos homense dissociá-la da parte comportamental éter dela um visão estreita que não parti-lhamos.

* * * * *

A certa altura, talvez na última dúziade anos, surgiu em Coimbra uma gera-ção de jovens políticos, frequentando osespaços partidários de um imagináriobloco central, que, de inegável capacida-de intelectual, sonharam enriquecerdepressa e à pressa. Foi-lhes dado, segu-ramente de boa fé, algum espaço demanobra e foi um descalabro. Gastarammal gastos rios de dinheiro do eráriopúblico, aqueles que por ali passaram.Estabeleceram cumplicidades e compa-drios que encheram os bolsos dos amigos.

(publicado no blogueem 8 de Fevereiro)

A PROPÓSITODO REFERENDO

O referendo sobre o aborto vai reali-zar-se depois de duas semanas em quese repetiu o que há de pior nas campa-nhas dos partidos políticos.

(Ainda há pouco vi um presidente deCâmara, aos berros, numa... creche!)

Do que li, ficou-me uma ideia origi-nal. Foi escrita por José António Lima,director-adjunto do semanário “Sol”, naedição de sábado passado.

Eis alguns excertos:

*

“Mas este referendo veio ainda, com-provar que é possível o pluralismo e acoexistência de opiniões divergentes nointerior de um mesmo espaço político”.[e seguem-se exemplos do CDS, do PS e doPSD]

*

“Em todos? Bem, em todos, em todos,não... Há duas fortalezas do pensamentoúnico e do seguidismo, o PCP e o Blocode Esquerda, onde não é possível regis-tar um só depoimento, uma voz, um sus-piro que seja contra a posição oficial dasdirecções partidárias”.

*“Até na rígida Igreja Católica, orto-

doxa por natureza na sua doutrina enos seus dogmas, é possível ouvirem-se algumas vozes da diferença(...)”.

*

“O dogmatismo e o unanimismo do

PCP e do BE excedem, neste referendo,os da própria Igreja Católica”.

(publicado no blogueem 9 de Fevereiro)

FILHA DE PEIXE

De acordo com o “Correio da Ma-nhã”, Maria Monteiro, filha do ex-mi-nistro António Monteiro, e que actual-mente ocupa o cargo de adjunta doporta-voz do Ministério dos NegóciosEstrangeiros, vai para a embaixada por-tuguesa em Londres.

Para que a mudança fosse possível,José Sócrates e o ministro das Finançasdescongelaram, a título excepcional, umacontratação de pessoal especializado.

Contactado pelo jornal, o porta-vozCarneiro Jacinto explicou que a contra-tação de Maria Monteiro já tinha sidodecidida antes do anúncio da reduçãopara metade dos conselheiros e adidosdas embaixadas.

As medidas de contenção avançadaspelo actual governo, nomeadamente ocongelamento das progressões na fun-ção pública, começam a dar frutos.

Os sacrifícios pedidos aos portugues-es permitem assegurar a carreira destajovem de 28 anos que, apesar da idade,já conseguiu, por mérito próprio e comuma carreira construída a pulso, atingirum nível de rendimento mensal superi-or a 9000 euros.

É desta forma que se cala a boca a muitagente que não acredita nas potencialidadesdo nosso país, os zangados da vida que sósabem criticar a juventude! Ponham osolhos nesta miúda... (excerto de textopublicado em “O Piolho da Solum”)

COMENTÁRIO: Só mudam as mos-cas...

(publicado no blogueem 14 de Fevereiro)

ABSTENÇÃO OU...BASQUETEBOL?

Acabo de ver/ouvir na RTP que aabstenção no referendo pode ser de 56-60 por cento.

Parece o resultado de um jogo debasquetebol...

[Poderia ser um resultado de futebol(5-8, por exemplo), de hóquei em patins(14-17), de andebol (23-28) ou, mesmo,de râguebi (35-40, por exemplo). Masnão. A confirmar-se, a abstenção pare-ce ser um resultado de basquetebol.]

(publicado no blogueem 11 de Fevereiro)

DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 20071166 AA PPÁÁGGIINNAA DDOO MMÁÁRRIIOO

Mário Martins

[email protected]

Page 17: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

OOPPIINNIIÃÃOO 1177DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

Pela mudança de políticas!

A CGTP-IN agendou para 2 de Marçonovo protesto nacional “Pela Mudança dePolíticas”. Se não queremos que as coisascontinuem por onde têm ido, é lá que vamosestar.

Ainda no fim-de-semana foi destaque aindignação em Valença do Minho. Tambémaqui o Governo quer encerrar as urgênciashospitalares. Volta a justificá-lo, contra todasas evidências, com a melhoria e, espante-se,por um esforço de proximidade dos serviços.Segundo os decisores nada teria a ver com ocorte despesas onde tal não deveria aconte-cer…

Mais um protesto, como outros justos pro-testos motivados pela extinção de serviços naárea da saúde ou, por exemplo, pelo desbra-gado abate de centenas e centenas de escolas.Também por isto se compreende o descon-tentamento.

José Sócrates não constituiu governo pararesponder à confiança e aspirações que osportugueses deram ao seu partido nas elei-ções de 2005. Asua governação tem promo-vido a destruição de serviços e tem atacadode forma sistemática direitos conquistados

pelos trabalhadores e pelas populações aolongo de muitos anos, numa ânsia epidémicade redução do défice. Ageneralidade dos por-tugueses vive pior. Pior no dia a dia; pior nassuas expectativas de futuro. Do Oriente che-garam, até, sórdidas declarações do ministroda Economia, a vender um país de baixossalários ao investimento dos empresários chi-neses.

Sócrates governa atirando portuguesescontra portugueses, cultivando ódios einvejas entre grupos profissionais, atribuin-do miríficas qualidades aos ataques queacabam por não deixa quase ninguém (?)incólume. Para facilitar a tarefa, instiga umaperigosa mentalidade de regressão social,fazendo da redução de direitos e condiçõesde vida de uns a justiça que tem para dar aosoutros.

O custo de vida galopa sem fim. Quemnão o sente? Os salários, esses, regridem,depreciados por repetentes políticas de“moderação”. A contratação colectiva estag-na, fruto do ambiente político criado e dovirar da casaca do partido do Governo face aoCódigo do Trabalho.

O desemprego é uma chaga, mesmo coma cosmética com que os seus números sãotratados. A precariedade torna-se numa ame-aça de proporções bíblicas, à qual só falta aanunciada “flexisegurança” que, nas mãos detal gente, seria mui “flexi”, “segurança” ne-nhuma.

Reduzem-se as pensões. Até o aumento daesperança de vida, conquista civilizacional

pela qual todos nos devíamos congratular, foitransformada em argumento numa nova fór-mula de cálculo para pagar menos ou obrigara trabalhar ainda mais.

As populações protestam com razão. Osgrupos profissionais protestam por justasrazões. Veja-se o caso dos professores. OGoverno, entre muitas outras lamentáveismedidas, impõe um Estatuto com um fito:pagar menos, muito menos. É esta a lógica dagovernação.

Os que protestam e os que ainda não ocomeçaram a fazer, devem perceber que,enquanto sentirem condições para isso,Sócrates e o seu governo procurarão levarainda mais longe o que já fizeram. Se aindanão mudaram de rumo, é porque ainda nãosentiram, verdadeiramente, o terreno fugir-lhes sob os pés.

Os protestos são legítimos, justos e neces-sários, mas para terem êxito é preciso cons-truir uma nova correlação de forças no país.É preciso retirar ao Governo condições parainsistir no errado caminho por que optou. Eisto exige uma outra dimensão do protesto,uma dimensão geral.

Seja pelo estatuto que nos impõem, peloencerramento de serviços com que nos mal-tratam, ou pelas condições de vida que nosretiram, só lá vamos obrigando a umaMudança de Políticas. Vamos dar força a istono dia 2 de Março!

* Dirigente do SPRC (Sindicato dosProfessores da Região Centro)

João Louceiro *

Eu votei “não”!

O segundo referendo ao aborto passou.Depois da inesperada e tangencial vitória do“não”, no primeiro referendo, em 1998, eisque, desta vez, o “sim” ganhou claramenteno país, com quase 60 por cento dos votosde quem votou (cerca de 25 por cento doseleitores recenseados). Mesmo nos distritosonde não ganhou, em comparação com osresultados do referendo de 1998, o “sim”conquistou terreno em relação ao “não”. Éverdade que a abstenção foi superior a 50por cento, o que faz com que o resultado doreferendo não seja juridicamente vinculati-vo, e que o “não”, em termos absolutos,também em comparação com os resultadosde 1998, aumentou em número de votos. Oque é certo, porém, é que o “sim” ganhou ea lei penal portuguesa vai ser alterada, nopressuposto de que a vida dos nascituroshumanos, até às dez semanas de gestação,não é digna de protecção, se for essa a von-tade da mulher grávida.

Não se sabe ainda qual vai ser o conteú-do da intervenção legislativa em curso,nomeadamente se vai ou não prever umprocedimento de aconselhamento obri-gatório às mulheres que manifestem a von-tade de abortar. Mas é previsível que, aocontrário do que foi sugerido e prometido,durante a campanha eleitoral, por destaca-dos defensores do “sim”, muito próximosou militantes do Partido Socialista, não ter-

emos uma lei semelhante à alemã. Esta,pelo menos em teoria, por tutelar a vida doembrião, considera o aborto um acto ilícito,mesmo nas situações em que o admite, peloque, logicamente, contempla mecanismosde dissuasão e de apoio às mulheres grávi-das em dificuldades. O Código Penalalemão é explícito na afirmação do valor davida humana intra-uterina: “O aconsel-hamento serve a protecção da vida que estápor nascer. Deve orientar-se pelo esforço deencorajar a mulher a prosseguir a gravideze de lhe abrir perspectivas para uma vidacom a criança. Deve ajudá-la a tomar umadecisão responsável e em consciência. Amulher deve ter a consciência de que o feto,em cada uma das fases de gravidez, tam-bém tem o direito próprio à vida e que, porisso, de acordo com o sistema legal, umainterrupção da gravidez apenas pode serconsiderada em situações de excepção,quando a mulher fica sujeita a um sacrifícioque pelo nascimento da criança é agravadoe se torna tão pesado e extraordinário queultrapassa o limite do que se lhe pode exi-gir” (§ 219).1

Afutura lei penal portuguesa seguirá, comelevadíssima probabilidade, um caminhodiferente: consagrará, nos termos da pergun-ta que foi sujeita a referendo, a figura do“aborto a pedido” (“modelo dos prazos combase na autodeterminação da mulher”), semindicação médica. Consequentemente,deixará de prescrever o respeito à vida doembrião. Não o fará sequer na medida emque o faz, actualmente, a lei alemã. Tal nãoinviabiliza, porém, a defesa de que se venha

a prever o aconselhamento obrigatório damulher grávida, acompanhada de medidas deapoio económico, social e psicológico. Édesejável que tal venha a acontecer, comofactor de moderação e de aproximação dasperspectivas opostas que existem, nasociedade portuguesa, sobre a questão doaborto voluntário.

O referendo já passou. Utilizo o advér-bio “já”, não porque esteja cansado, masporque caminhei. Na verdade, sinto queabri asas como as águias. Votei “não”, coma convicção e a determinação de quem nãose furtou ao debate, em condições muitodifíceis. Participei em sessões de esclareci-mento e em debates. Escrevi artigos. Estivena rua. Até o carro de som conduzi, no últi-mo dia da campanha. Vivi momentos extra-ordinários, que jamais esquecerei. Reforceia minha convicção de que vale sempre apena viver como se pensa e pensar como sevive, mesmo se contra ventos e marés. Seique não há uma oposição de natureza entreos portugueses. Por isso, desejo que osmeus adversários não sejam mais sábios doque eu.

Agora, o tempo é de levantar as hostes, devoltar ao debate e à rua, com a certeza de queo aborto é um mal entre muitos outros malesde que padece a sociedade portuguesa con-temporânea. Mais do que me dividir dos out-ros, os desafios de que falo levam-me aosoutros, com humildade e determinação.

1 Tradução apresentada por João Carlos SimõesGonçalves Loureiro, Aborto: algumas questões jurídico-constitucionais (A propósito de uma reforma legislativa),“Boletim da Faculdade de Direito da Universidade deCoimbra”, vol. LXXIV, Coimbra, 1998, p. 389.

João [email protected]

Page 18: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

É durante a infância que se começam aformar os hábitos alimentares. Poste-riormente será mais difícil modificá-los. Ahabituação da criança desde cedo aos vari-ados sabores e texturas dos alimentos,nomeadamente, frutos e legumes frescos,servirá para criar nela uma tendência paraescolhas alimentares mais adequadas naidade adulta. Esta tarefa de educação ali-mentar desde os primeiros meses de vidacabe essencialmente aos pais.

Por volta do primeiro ano de idade,desde que seja saudável, a criança devepassar a ter uma alimentação semelhan-te à do adulto. A diversificação alimen-tar permitir-lhe-á conhecer os diversospaladares e texturas, habituando-a aaceitá-los melhor no futuro. Por outrolado, é fundamental ensiná-la a roer,trincar e mastigar mesmo antes de terdentes. Uma alimentação baseada empapas e purés pode prejudicar o desen-volvimento da mandíbula, das maxilas ea adequada implantação dos dentes.

A partir dos doze meses o pequeno-almoço passa a ser uma refeição muitoimportante para a criança. Deve contertodos os alimentos de que ela necessita,designadamente leite e substi-tutos, pão ou cereais e fruta.Um bom pequeno-almoçoé a melhor forma de repora energia gasta duran-te a noite e obter aenergia necessáriaao corpo e, em par-ticular, ao cérebro.As crianças que inge-rem um pequeno-almoçoequilibrado têm menor ten-dência a sofrer de carênciasnutricionais.

Durante o se-gundo e terceiroanos, a veloci-dade de cresci-mento é menormas a actividadefísica é maior,pelo que a manu-tenção de cinco ouseis refeições diárias é essencial. Ou seja,além das três refeições principais (peque-no-almoço, almoço e jantar), devem ser-lhe servidas pequenas refeições intercala-res saudáveis. Nesta fase, é indispensávelgarantir à criança uma quantidade sufici-ente de nutrientes essenciais, nomeada-mente cálcio e ferro. Certo tipo de cozi-nhados, como os fritos, devem ser evita-dos e, no caso de tal não ser possível,devem escolher-se as gorduras correctaspara esse fim.

Este é um período óptimo para levar acriança a aceitar novos alimentos enovos sabores, que serão mais difíceis deintroduzir por volta dos três anos, altura

em que já saberá dizer segosta ou não de deter-

minado alimento. Normalmente,

a partir dostrês anos oapetite di-minui, eesse fac-

to causa na-turalmente preo-

cupação aos pais. Acriança manifesta en-tão um interesse re-duzido em comer e

uma atracção crescentepelo mundo à sua volta.Desenvolve, nessa al-tura, cortes alimenta-res, recusando comida

anteriormente aceite ouexigindo um produto par-

ticular em cada refeição. Éum período difícil para os pais, pois ten-dem a julgar tratar-se de uma reacção moti-vada por a alimentação não estar em con-dições. Nessas situações, forçar a criança acomer é errado e, na maioria dos casos, umprocedimento infrutífero. Nem uma atituderígida, nem um comportamento passivodão geralmente resultado. O mais impor-tante é respeitar o seu gosto e dar atençãoaos sinais de desagrado, substituindo osprodutos recusados por outros do mesmogrupo da roda dos alimentos, mas manten-

do a variedade. Na generalidade dos casos,esta reacção é temporária, e os pais acabampor controlar a situação e estabelecer limi-tes quanto aos comportamentos impró-prios. Nesta idade, devido a apetites variá-veis, a criança dá-se melhor com pequenasporções de comida, tomadas várias vezesao dia.

Por regra, uma criança alimenta-sequatro a seis vezes ao dia. Os lanchessão tão importantes como as refeiçõesprincipais, pelo que devem ser cuidado-samente preparados e tão densos emnutrientes quanto aquelas. Os alimentosdemasiado quentes e de odor forte ten-dem a ser rejeitados. Pratos como asopa, indispensáveis nesta idade, devemser servidos mornos. Por outro lado, ocansaço diminui o apetite da criança,sendo recomendável nesta situação umdescanso prévio.

O papel dos pais na educação alimen-tar da criança é insubstituível. A sua dis-ponibilidade e conhecimentos são fun-damentais na garantia de que as neces-sidades nutricionais, em qualidade equantidade, não são descuradas. Mas,hoje em dia, eles já não são os únicosresponsáveis no processo. As suas preo-cupações e exigências profissionais ten-dem a fazer com que os jardins de in-fância e as escolas assumam crescente-mente esse encargo. Torna-se, assim,cada vez mais necessário a estes estabe-lecimentos ministrar formação específi-ca e garantir o acompanhamento nutricio-nal das crianças por profissionais espe-cializados, para lhes assegurar uma ali-mentação e um crescimento saudáveis.

1188 SSAAÚÚDDEE DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

“Que brutos!”

Os momentos de lazer são cada vezmais raros. Sempre que posso, consumocada momento livre como se tratasse deuma laranja, ou seja, espremo-o aomáximo para lhe retirar o sumo, fonteprazer e de forças para os inúmerosembates que a idade e a responsabilida-de acarretam.

Aos Sábados de manhã refugio-me nopequeno café-esplanada da Ponte daPraça de Santa Comba. No último fim-de-semana cumpri o ritual. Agasalhado,como um autêntico diabo a viajar pelospólos, entrei no estabelecimento, já queera impossível ficar cá fora. Sentei-mediante de uma das duas janelas panorâ-

micas e comecei a bisbilhotar as notíciasdos jornais. O café é pequeno e quandoentrei só estava a jovem empregada.Passado algum tempo, entraram duassenhoras bem vistosas, uma na casa dosquarenta, a outra acabada de entrar nados trinta, transportando um "cestinho"com um bebé de poucas semanas – nãopor tê-lo visto, já que vinha cortinado poruma pequenina manta, mas pelo ar meioparido da mais nova. Sentaram-se àminha frente e colocaram a criancinhajunto da janela para se “aquecer”.Passado dois minutos, se tanto, cada umarapou um cigarro sem qualquer cerimó-nia. Fiquei abismado. O miúdo (vim asaber depois o sexo, no decurso da con-versa) começou a ser “acarinhado” pelofumo. Entretanto, três cavalheiros entra-ram e dirigiram-se à mesa. O mais velho,olhando para o quadro, disparou:

“– A fumarem! E com o bebé aolado!”.

Resposta, não da mãe, mas, da outrasenhora:

“– Não há problema. O menino tem amantinha a cobri-lo!”.

O senhor de mais idade olhou-me edeve ter reparado na minha concordân-cia com a sua observação.

Alguns minutos depois, entra umajovem mãe, ainda na casa dos vinte, comoutro “cestinho” de bebé, também cober-to com uma pequena mantinha. Pensei: –E vão dois! O que pensará esta mãe ao verque os vizinhos ao lado estão a fumar!Rapidamente deu-me uma resposta escla-recedora. Também começou a fumar.

Incrível. Mais uma. Já não conseguialer as notícias.

Entretanto, dois dos cavalheiros queacompanhavam as senhoras sentadas àminha frente começaram a fumar. Umdeles devia ser o pai. Eis que, de repen-te, o jovem marido da mãe mais jovemque se tinha sentado na mesa à minha

esquerda entrou no café e zás: puxoutambém de um cigarro. Logo a seguirentrou uma senhora sem “cestinho”,bem cuidada, que se senta na mesa entreas das duas mamãs e catrapus: puxoutambém de um cigarro. Ou seja, numcurto espaço de tempo, o ambienteagradável do café foi atacado por setepessoas em nove com boa dose de fumode tabaco. O ar do pequeno café tornou-se desagradável, obrigando-me a sair eir para casa a resmungar. Como é possí-vel que ocorram casos desta natureza,mães e pais que não têm respeito pelosoutros e, sobretudo, pelos próprios fil-hos de tenra idade.

Mais uma forma de violência!Violência contra os direitos dos outros eda saúde e bem-estar dos próprios filhos!

Que brutos! E o ministro da saúde éoutro! Já teve tempo mais do que sufici-ente para “botar” cá para fora a tal lei...É o “botas”!

MassanoCardoso

N u t r i c i o n a n d o ä

Paula BeirãoValente(Nutricionista)[email protected]

A alimentação na infância

ORTOPEDIA

uu Traumatologiauu Pareceres Médicos

uu Juntas de Recurso

A V A L I A Ç Ã OD O D A N O C O R P O R A L

Rua de Tomar - 2 r/c CcoimbraTelem. 963 785 605

MAMEDE ALBUQUERQUE

Page 19: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

OOPPIINNIIÃÃOO 1199DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

A nova redede serviços de urgência

Entre os problemas que o ServiçoNacional de Saúde (SNS) hoje enfrentareside a reorganização dos serviços deurgência hospitalares, segundo propostaelaborada por um grupo de técnicos,com o aval do Governo.

A metodologia seguida pelo Minis-tério da Saúde é passível de algumascríticas, tendo em conta não só o prob-lema dos serviços de urgência, como,também, outras alterações em curso,tais como encerramentos de serviços deatendimento permanente (SAP) de cen-tros de saúde, a reorganização dos mes-mos centros de saúde com a criação deunidades de saúde familiares que per-mitiram a mobilidade de médicos eenfermeiros os quais, por essa via,esvaziaram outros centros e extensões,a criação de centros hospitalares com oobjectivo de concentrar serviços queficam mais distantes, não só de utentescomo dos próprios médicos de famíliade cujo apoio especializado necessitam,a excessiva lista de espera nas consultashospitalares, para além da dificuldadeda marcação de consultas na maioriados centros de saúde o que leva, emgrande parte dos casos, a os utentes nãodisporem de outro recurso, mesmo emsituações não urgentes, do que procurarapoio directo no serviço de urgência dohospital mais próximo, fazendo excedera sua capacidade em termos qualita-tivos.

Essencialmente, a crítica principal aquaisquer alterações do SNS reside nanecessidade de serem devidamenteexplicadas às populações e aos profis-sionais dos serviços o que se pretendealterar, e criar primeiramente estruturasalternativas, incluindo o sistema detransporte dos utentes, e, só depois, pro-ceder a eventuais encerramentos deserviços cuja necessidade deixa de serreconhecida pela generalidade das pop-ulações.

Sendo consensual a indispensabili-dade do desempenho proeminente daMedicina Interna nas urgências hospita-lares, transcrevemos a carta que aSociedade Portuguesa de MedicinaInterna dirigiu ao Ministro da Saúde, aqual, em nossa opinião, documentalacunas significativas no referidorelatório:

«A Sociedade Portuguesa de Medici-na Interna (SPMI), como representantedos internistas portugueses, não podedeixar de responder ao repto de V. Exa.e vem por isso apresentar o seu contrib-uto para a discussão pública daProposta de Rede de Urgência apresen-tada no passado dia 30 de Setembro

Este é um assunto a que os internistas

atribuem particular atenção, pois temosconsciência de termos sido ao longo dasúltimas décadas o principal suporte dasurgências hospitalares do país, supor-tando o trabalho mais pesado que nestesServiços se produz.

Os internistas assumem de um modogeral a chefia das equipas, estão nastriagens, nos balcões de atendimento,nas salas de intermédios e nas salas deobservações (SO). Na prática os doen-tes que se dirigem a uma urgência hos-pitalar passam todos por nós, quer osque realmente ficam a nosso cargo (amaioria), quer os que depois são encam-inhados para as restantes especialidades(e frequentemente retornam à MedicinaInterna). A Medicina Interna constitui aplaca giratória que tem assegurado osServiços de Urgência (SU). Temos porisso uma responsabilidade particular euma sensibilidade única para a dis-cussão desta reestruturação. Se a Refor-mulação dos Serviços de Urgência temos doentes como principal alvo doseventuais benefícios que trará, terá nosmédicos, e nos internistas em particular,os seus principais executores que serãotambém os principais sacrificados sedeste processo não sair um melhor sis-tema de rede de Urgências.

Para enquadrar a discussão permiti-mo-nos transcrever:

“a new drug cannot be introduced...without exhaustive scientific trials, butwe usually introduce new ways ofdelivering health services with little orno scientific evaluation. We rationalise,change and formulate new systems,often based upon economic and politi-cal imperatives, and yet rarely evaluatetheir impact upon patients. Significantmorbidity and mortality may be associ-ated with new models of healthcaredelivery. If healthcare system changeswere submitted to the same scrutiny asnew drug evaluations, they would prob-ably not even be allowed to move fromthe animal to the human experimenta-tion stage”.

Hillman, K (1998) Restructuringhospital services. Medical Journal ofAustralia, 169(5):239

A Proposta de Rede de Urgênciaapresentada parece-nos ter ficadoaquém do necessário, e o que nos levan-ta maiores preocupações são os aspec-tos que não foram tidos em conta na suaelaboração.

As primeiras páginas do documentosão a definição do método de trabalhousado pela Comissão, definindo Níveisde Serviço de Urgência, Tempo deresposta, Tempo de trajecto, Pontos derede por capitação, Mobilidade sazonal,Risco de trauma e Risco industrial e aActividade mínima previsível do SU.As restantes são uma longa justificação,

aplicando caso a caso os critérios de-finidos no início.

Ressaltam imediatamente a quem lêessas páginas iniciais, quatro lacunasfundamentais, que poderão vir aimplicar erros graves na aplicação casoa caso da proposta apresentada, no-meadamente:

1) A ausência de definição de activi-dade máxima aceitável para cada nívelde Serviço de Urgência

2) Inexistência dum estudo de ade-quação dos recursos humanos exis-tentes a esta nova realidade

3) Opção por capitações definidaspara realidades completamente distintasdas nossas

4) Falta de definição da qualificaçãotécnica do pessoal e sua quantificação,para os diversos níveis de Serviço deUrgência previstos.

Esclareçamos melhor as nossas pre-ocupações:

1) Há alguns anos atrás o SU do H. S.José em Lisboa, tinha uma afluênciamédia de 1200 doentes por dia, e apesardos crescentes meios técnicos e humanospostos à sua disposição por sucessivosMinistros da Saúde, não conseguiadeixar de funcionar como um “Hospitalde campanha”, mesmo sem estarmos,felizmente, em guerra. O Hospital de S.Maria defrontava-se com situação idênti-ca. Os antecessores de V. Exa. decidiramentão a descentralização das Urgênciasde Lisboa para outras três novas localiza-ções, com imediata melhoria da quali-dade de atendimento em todas elas.

Não estando em todo o documento,definidos os máximos e mínimos pre-vistos de afluência média de doentes eas respectivas dotações em termos depessoal, para o regular funcionamentodum determinado nível de Serviço deUrgência, receamos que este aspectonão tenha sido tido em conta neste estu-do e que se corra o risco de voltarmos ater “hospitais de campanha” nalgunshospitais, por força do encerramento dealguns dos pontos de atendimento actu-ais.

2) Não vimos nesta Proposta qual-quer referência aos quadros humanosnecessários ao funcionamento dosServiços de Urgência, seu enquadra-mento e regime de trabalho. Nem míni-mos nem máximos, nem de enfermeirosnem de médicos. A proposta de reestru-turação das urgências deverá contem-plar/estipular as necessidades dasequipas, para os vários níveis de SU epara as diferentes frequências de atendi-mento. Sem este estudo prévio podere-mos estar a avançar para uma reformaimpossível de concretizar, ou em que aconcretização irá contra o seu desígnio– melhoria das condições assistenciaisda rede de urgências.

3) A definição dos Pontos de rede porcapitação foi baseada nas realidades depaíses como os EUA, a Dinamarca, aNoruega, a França, a Suécia, a Islândia,a Finlândia e o Reino Unido, paísesonde a Medicina tem contornos bas-tante distintos dos nossos, e onde, emalguns casos, os índices de qualidadeglobal da Medicina são inferiores aosPortugueses. Destes países a França,país em que Medicina Interna, como emPortugal, tem uma intervenção dedestaque nas urgências, define 110.000habitantes por SU Médico-cirúrgico ousuperior. No entanto a Comissãopreferiu os 200.000 habitantes daFinlândia e do Reino Unido, parecendosempre mais preocupada com o tempode acesso do que com a qualidade doatendimento. Curiosamente não foi tidaem consideração a realidade do paísvizinho, a Espanha, que em muitosaspectos tem uma realidade muito maispróxima da nossa e em que as capi-tações também são mais baixas, emboravariem nas diferentes autonomias.

4) A SPMI sente alguma preocupaçãopor não ver, neste documento, definidasas qualificações do pessoal médico quedeverá trabalhar nesta nova rede deUrgências. A Medicina Interna tem sidoo garante do funcionamento dos SU, eparece-nos que assim deverá continuara ser. Apesar de estarmos abertos à dis-cussão de novos modelos de constitu-ição de equipas de urgências, e sua ade-quação aos vários períodos do dia enoite, bem como a uma melhor inter-acção destas equipas com o restantehospital, achamos contudo que aMedicina Interna deverá continuar a ser,em simultâneo, o motor e o suporteessencial da urgência hospitalar. Para adefinição da qualificação técnica dopessoal de Medicina Interna para osdiversos níveis de SU, em função daafluência prevista, relembramos o tra-balho elaborado pelo Colégio daEspecialidade de Medicina Interna epublicado na revista da Ordem dosMédicos em Dezembro de 2005 (ano 21– nº63), “A Medicina Interna e osserviços de urgência hospitalares”.

A reorganização da Rede de Ur-gência é uma medida estruturante donosso Sistema de Saúde que urge reali-zar e que se justifica plenamente pelanecessidade de garantir melhores e maisacessíveis cuidados de saúde em situ-ação de urgência aos portugueses.

Os internistas estão seriamente em-penhados em que esta sua reforma sejaum êxito, e os contributos que apresen-tamos visam tão-somente esse objecti-vo.

Saiba V. Exa Senhor Ministro daSaúde que poderá contar com toda anossa colaboração que considere útil.».

HAJA SAÚDE

Santos Cardoso

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2200 OOPPIINNIIÃÃOO DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

Lembrando o meu tio Miguel

Recordo-o como se nunca tivés-semos sido separados pela lei davida, há mais de meio século.

Mesmo menino que eu era, nafase em que os acontecimentos e aspessoas ficam para sempre memori-zados, percebi que lidava com umapersonalidade vincada, diferente damaioria dos meus conhecimentos.

Desde que deixou a casa dos pais– com os quais rompeu para se casarcom quem tinha decidido, o que elescontrariavam – sempre ouvi dizerque o meu tio era muito cumpridordos seus deveres e trabalhador esti-mado, tanto na primeira profissãoque abandonou quando deixou a“terra”, como depois numa entãochamada Escola Normal, em Évora.

Utilizava uma pasta como as dosprofessores, na qual metia papeladada secretaria, de um lado par o outro,o que lhe valeu algumas vezes serchamado de doutor ou professor, oque logo se apressava a emendar.

Arectidão da sua vida de trabalhopermitiu-lhe a concretização do seugrande sonho: assegurar o futuro dosseus filhos. Duas foram professorasda primária, um médico, um veteri-nário e um bancário (que chegou aAgente do Banco de Portugal). Osexto filho não alcançou o final daFaculdade, pois doença má levou-ona juventude.

Eu visitava com frequência a suacasa, em boa verdade motivado pordois interesses: gostava da apreciar otoque de recolher do quartel situadodo outro lado da rua, em frente dajanela de onde o via; e, razão maisimportante, dinheiro. É que a moedade cinco escudos que sempre medava era um dinheirão que chegavapara amendoins, um bibe de cerejas,chocolates, tremoços e bolinhos.

O meu bom tio, como todos,usava chapéu, não de aba larga ourevirada, mas sim tão pequena quelhe fazia parecer a cabeça maior doque realmente a tinha, pormenor quefazia dele uma figura austera, masengraçada.

Certo era que todos os professo-res o consideravam muito e umdeles, mestre de desenho, fez-lheuma surpresa em dia de aniversário,oferecendo-lhe desenhos que guar-

dara ao longo dos anos, feitos poralunos mais habilidosos no risco,alguns a demonstrar veia artística.

Por sua vez o meu tio, tambémem dia de aniversário, o meu, ofere-ceu-me um desses desenhos, queainda conservo e aqui se reproduzpara apreciação geral.

VarelaPècurto

Vitória?

Venceu o sim à despenalizaçãodo aborto.

Doravante, todas as mulheresque, por qualquer motivo, desejemabortar até às dez semanas de gravi-dez, poderão fazê-lo sem qualquerimpedimento legal.

O SNS abrirá as suas portas paraque o consigam nas melhores condi-ções de higiene e segurança clínica.

Foi o voto do povo. Faça-se a suavontade.

Entendemos, no entanto, que avitória ainda vem longe.

Com mais ou menos apoio soci-al e estratégias dissuasoras, commaior ou menor facilidade de aces-so aos serviços médicos, os abor-tos clandestinos, infelizmente, irãocontinuar porque o problema, nofundo, é cultural. Estão em causavalores muito enraizados, ances-trais e desavisadas atitudes perantea saúde, uma anacrónica medicinapreventiva face ao atraso culturaldo país.

O respeito pela vida e a condena-ção social continuarão a vestir de

negro o aborto e a colocá-lo no planodos actos reprováveis; a gravidezprosseguirá no seu misterioso, bioló-gico e natural ciclo da vida das famí-lias e das comunidades sem o regu-lar acompanhamento clínico; o SNSnão alterará uma vírgula à sua atitu-de eminentemente curativa perante asaúde.

Há décadas de trabalho paradesenvolver: promoção cultural dascomunidades, educação sexual daadolescência e juventude, apropria-ção de hábitos de planeamento fami-liar, introdução no SNS duma políti-ca consistente de profilaxia.

Muito se tem falado e planeadosobre cada uma das vertentes, mas asobras estão por fazer. E os resultadossão por demais evidentes.

Reabrir as escolas aos mais vel-hos com campanhas de alfabetiza-ção, educação sanitária e ambiental einvestir em apelativos programastelevisivos que abranjam essas pro-blemáticas.

Efectivar nos curricula e activida-des circum-curriculares a educaçãosexual dos discentes jovens e adoles-centes e o correlativo apoio médico epsicológico.

Implementar uma vigorosa ver-tente preventiva na intervenção doSNS, quer através das políticas de

saúde familiar quer de campanhasregulares de prevenção e rastreio.Todo o cidadão deverá merecer umconsistente acompanhamento médi-co desde o primeiro vagido até aoúltimo suspiro. Uma menina que, aonascer, passou do obstetra para asmãos do pediatra e deste para omédico de família, com o regularacompanhamento e informaçãoginecológica, encarará, certamente,o problema da gravidez com umaatitude mais consciente e melhorsaberá lidar com a contracepção e,em última instância, com o aborto.

No nosso modesto entender, oproblema da IVG não se resolve uni-camente nas maternidades e estrutu-ras afins. É importante que não sealongue esta fase de transição daclandestinidade para a luz da inter-venção clínica. É fundamental que aquestão também seja enquadradapara além das dez semanas, a partirdas quais o aborto continuará a sercrime.

Pensamos que esta vitória só setornará efectiva se se conseguir que oproblema da IVG seja equacionadoa montante.

Será a melhor forma de, promo-vendo a maternidade consciente, res-peitar a vida do novo ser e a dignida-de da mulher.

RenatoÁvila

POIS...Um prémio! O Ministério da Educação, depois de ter

feito a vida negra aos professores; depois de lhes ter chama-do todos os nomes; depois de os ter tratado abaixo de cão –vem, com toda a solenidade, anunciar o prémio! Anualmente,está decretado a partir de agora, o Ministério premiará o mel-hor professor! O melhor professor? E ainda há (abençoadoseja!) quem acredite… no Pai Natal!

Joséd’Encarnação

João Paulo Simões

FILATELICAMENTE

D. Carlos I foi o 32º rei de PortugalNasceu em Lisboa em 1863, filho da rainha D. Maria Pia de Sabóia e

de D. Luís I. Sendo ainda príncipe herdeiro casou em Lisboa, a 22 de Maiode 1886, com a princesa senhora D. Maria Amélia Luísa Helena deOrléans, filha de Luís Filipe Alberto, conde de Paris, e neta de Luís Filipe,rei de França. Antes do casamento empreendeu uma viagem pelas princi-pais cidades da Europa, acompanhado pelo eminente homem de ciênciaAntónio Augusto de Aguiar, seu preceptor. Por motivo das últimas viagensde el-rei D. Luís I ao estrangeiro, ficou regente do reino várias vezes, sendoas suas proclamações datadas de 27 de Julho de 1882, 2 de Agosto de 1886e 30 de Julho de 1888. Por morte do mesmo monarca subiu ao trono em19 de Outubro de 1889, sendo aclamado, com todo o cerimonial do esti-lo, a 28 de Dezembro do referido ano.

El-Rei senhor D. Carlos é justamente considerado uma individualida-de artística, homem de ciência e habilíssimo em todos os exercícios físi-cos, tais como a caça, a pesca, equitação, etc. Espírito desde cedo muitoculto, tem pelas belas artes a paixão dum verdadeiro artista, distinguindo-se especialmente na aguarela e no desenho a pastel. Em quase todas asexposições nacionais tem apresentado os seus apreciados quadros, alcan-çando as mais altas distinções. Ainda ultimamente, em 24 de Janeiro de1905, se dignou Sua Majestade aceitar o diploma de académico de méri-to que lhe conferiu a Academia Portuense de Belas Artes. Seria difícil daruma lista completa das medalhas e diplomas de honra que El-Rei senhorD. Carlos tem recebido pelos seus trabalhos artísticos e científicos. Aosestudos oceanográficos tem Sua Majestade dedicado a mais particularatenção.

Os resultados dessas investigações receberam rasgados elogios dealguns sábios estrangeiros e constam dos quatro seguintes livros publica-dos: Yacht "Amelia" - Campanha oceanographica de 1896, Lisboa, 1897.Resultados das investigações scientificas feitas a bordo do yacht "Amelia"e sob a direcção de D. Carlos de Bragança Pescas maritimas - I - Apescado atum no Algarve em 1898 (avec un resumé en français) - Lisboa 1899.Buletin des Campagnes Scientifiques accomplies sur le yacht "Amelia"par D. Carlos de Bragança Vol. I - Rapport préliminaire sur lesCampagnes de 1896 à 1900 - Fascicule I - Introduction - Campagne de1896 - Lisbonne, 1902. Resultado das investigações scientificas feitas abordo do yacht "Amelia" e sob a direcção de D. Carlos de Bragança -Ichthyologia - II - Esqualos obtidos nas costas de Portugal durante as cam-panhas de 1896 a 1903 (Texto em portuguez e francez) Lisboa 1904.

(Baseado em http://www.arqnet.pt/dicionario/carlos1rei.html)

O busto de D. Manuel I aparece na Filatelia desenhado por ManuelDiogo Neto e a cercadura por José Sérgio de Carvalho e Silva.

É uma série de doze selos, que circularam de 1 de Maio de 1892 até 30de Abril de 1896. O papel é de porcelana pontinhado e denteado 11 1/12,12 1/12 e 13 ½. Em 1905, foram feitas reimpressões desta série, comnovas cores segundo a 5ª Convenção Postal Internacional, reunida emWashington, de 5 a 15 de Junho de 1887 que determinou novas cores paraos selos correspondentes aos portes de jornais e amostras, fazendo comque os nossos selos de 15, 25 e 50 reis, passassem respectivamente às coresverde, carmim e azul.

Um aspecto curiosoA moldura do retrato do soberano, tem dois escudos reais nos cantos

superiores, um ramo de louro no canto inferior esquerdo e um ramo de car-valho no canto inferior direito, que simbolizam assim, a realeza, a glória ea força.

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Interrogo-me frequentes vezes se não esta-rá a Poesia mais próxima da magia do que daliteratura.

Ora, o Poeta é um mágico, não é um lite-rato, porque a sua condição essencial é a dacriação poética, sendo na dimensão transfigu-radora da realidade que o Poeta se cumpre, enão no acervo de obras consultadas ou naprofusão de autores citados.

Não é citando os criadores que o Poetaexiste, é existindo que o Poeta é.

Vivemos num tempo em que os discur-sos soam a oco. Vivemos num tempo de

múltiplas palavras sem sentido, usadas noscomércios diários dos interesses; palavrasque se usam e deitam fora, palavras sempeso específico, sem leveza, em suma,sem valor.

Porque a Poesia passa pelo ritmo encade-ado das palavras, e porque ele, o ritmo, assen-ta na originalidade com que as juntamos ouseparamos, é que, ao confrontarmo-nos coma palavra poética, nos reencontramos com aoriginalidade, com o valor da palavra, a ora-ção do silêncio, da voz de alguém que procu-ra a palavra perdida e o seu lugar no homem–omundo como adjectivo: asseado, purifica-do, limpo.

Ao entrarmos na obra poética, penetramosna vida que se afasta da razão sem a dispen-sar, e se aproxima da pura sensibilidade.

Apoesia não brinca com as palavras, refazsentidos, dá-lhes outra coloração, transforma-as sem as deformar.

Há na Poesia uma primorosa conciliaçãoda disciplina com a liberdade, não misturapoema com ideias, elas estão lá, mas são aPoesia.

Não cede à facilidade, não transige com arima, dá-se uma entrega contida, lúcida, soli-dária.

São palavras depuradas pela sua nudez.São palavras recolhidas em si mesmas.Há na Poesia uma dimensão espiritual,

direi mesmo, religiosa, que entra em nós e serecolhe – é a nossa voz que ressoa e nos acor-da na transparência da voz do poeta.

Na ética e na religião, a questão essencialé saber se o homem se redime a si mesmo ou

se será redimido por outro; a sua obrigação équebrar as suas grilhetas ou, agrilhoado, irquebrar as grilhetas alheias.

A poesia tenta, pela palavra, libertar-nosdo ruído que aprisiona e, em função do outro,libertá-lo, religando-o à palavra perdida, noaperfeiçoamento do mundo.

No princípio era o verbo.Todas as coisas foram feitas pela palavra,

a palavra desocultadora do mundo, da vida,da beleza. Sabemos que a morte é a mentirae a verdade é a vida. Mas também sabemosque a única verdade objectiva é a morte por-que a vida é um conjunto de mentiras que nosservem de consolo.

Mas o poeta sabe, também, que a palavravence a morte e que é a palavra poética amais humana das obras.

OOPPIINNIIÃÃOO 2211DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

Quem vê os jornais de Lisboa e a cobertu-ra que eles fazem da chamada vida literária,tão raras e tão pequenas são as referências àchamada província, que se terá, porventura, aimpressão de que quase tudo se passa nacapital, um pouco no Porto, e o que se passano restante do País não chega a contar: não háautores, não há editoras, não se publicamlivros, e o mais da comunidade de interpre-tantes da literatura (professores, leitores,livreiros, leitores, etc.) é sustentado pela pro-dução que chega dos dois maiores centros.

O que se passa no domínio da literaturapassa-se noutros, também as artes plásticas,a música, o teatro, etc. Mas é o domínio daliteratura que aqui e agora nos ocupa.

A impressão dum (enorme, desalentador)predomínio de Lisboa (mais Porto) não é in-fundada. Todavia, na chamada província vi-vem e trabalham escritores, há editores, pu-blicam-se livros. Na maior parte dos casos, ointeresse é pequeno, estatístico, sociológico,pouco mais. Mas não é diferente do que sepassa em Lisboa ou no Porto, e há excepções.Uma delas está em Castelo Branco, e é An-tónio Salvado, um poeta, fundamentalmente.

Alguns aspectos distinguem este caso:Um, o facto de estarmos perante um dos

poetas mais produtivos da poesia portuguesanossa contemporânea, e de sempre a par depoucos outros casos, António Ramos Rosa, eque mais? Quantidade não implica directa-mente qualidade, e produtividade tambémnão é bem o mesmo que criatividade. Nocaso, porém, dizer isto não tem pertinência: aqualidade é quase ostensiva e insinua-semesmo como imagem forte de um autor e deuma obra, e a criatividade não menos do queisso.

Outro, António Salvado, de parte umacurta passagem por Lisboa e pela Univer-sidade, nos anos cinquenta, ter vivido até hojepraticamente toda a sua vida em CasteloBranco, terra natal. Curiosamente, o autorganhou alguma projecção em Espanha,sobretudo em Castela / Leão (Salamanca,Universidade), sem precisar de avale promo-cional de Lisboa.

Outro, que parte significativa da sua obra(poética, ensaística) tenha sido, até agora,publicada em Castelo Branco (Estudos deCastelo Branco, A Mar Arte, referência, esta,partilhada com Coimbra).

Outro, ainda, a já referida qualidade (por-que não alta qualidade?) sobretudo da obrapoética, desde os primeiros livros, emboramais nos últimos (ou mais recentes).

Só mais um, a ausência de AntónioSalvado da maior parte das antologias dapoesia portuguesa contemporânea as maisrepresentativas, com excepção da "Novíssi-ma" de Alberta Meneres e Melo e Castro, pri-meiras edições, princípios dos sessenta, ecom um destaque para a ausência na porven-tura mais criteriosa de todas, "Líricas...", deJorge de Sena.

Aestes aspectos poderíamos acrescentar aomissão que dele fazem histórias, panorâmi-cas, estudos vários, nestes domínios, publica-dos nas últimas décadas.

Haverá excepções, mas menos significati-vas. E o certo é que a bibliografia passiva doautor é hoje pequena, em flagrante contrastecom as dimensões da obra.

E, curiosamente (mas também significati-vamente), mais de metade dos títulos queAntónio Salvado publicou, publicou-os emLisboa (ainda que em editoras porventuramenos influentes), o que quer dizer que nãotemos, da parte do autor, algum corte com acapital. Pelo contrário, parece haver até a pre-ocupação de aparecer no mercado livreirocom a obra que vai publicando.

António Salvado aparece na cena da poe-sia portuguesa nos anos 50, ligado a "Folhasde Poesia" e outras referências de grupo, num

campo poético onde se cultiva a continuida-de das grandes tradições do lirismo e ascen-dentes diversos como o classicismo, o barro-co, o hermetismo, um secreto romantismo, omodernismo, a reflexão sobre o real, o mun-do, a existência, a vida, a morte e a lingua-gem, tudo isso tendo como horizonte de fun-do a recusa do realismo então ainda grandevaga de fundo.

Mas logo nos inícios, há cerca de cinquen-ta anos, ele faz uma poesia muito interessadanas objectividades do mundo e do real e naspotencialidades da linguagem, com bomgosto, destreza, segurança.

Um trabalho muito na linha das grandestradições líricas, de expressão contida, tensa eelíptica que depois se apura no sentido dopoético, como resultado de conexões refe-renciais e sobretudo grandes tensões internasao discurso, ao rigor da enunciação, a um tome a inflexões mais distintas da voz, da fala, nofluir verbal, na consistência do texto comoconstrução. Hoje, o que haveria de menosdefinido nas primícias e de menos consegui-do, pelo menos comparativamente, situa-senum difícil equilíbrio entre a tendência para oexcesso verbal e algum abstraccionismo noprocesso criador de referências, por um lado;por outro, num esforço de contenção expres-siva e emotiva, que limita, condiciona emolda formalmente a expressão, e na propen-são para a abstracção do processo criador dereferências que identifica e liga a poesia deAntónio Salvado a uma tradição de espiritua-lidade, idealismo, até religiosidade às vezes,e nalguns casos (este, desde logo), onde maisbem se exprimem as grandes inquietaçõescom as condições da vida e da existência, e sedesvendam os caminhos ensombrados dahumanidade, pessoal e social.

A obra poética de António Salvado foirecentemente publicada, toda, até agora, títu-lo "Obra", com chancela AMar Arte (CasteloBranco / Coimbra). Encontrável em algumaslivrarias. Encontráveis, ainda, alguns títulossaídos em Lisboa, chancela Ulmeiro ouOríon, por exemplo.

Num conjunto de meia centena (ou mais)de títulos publicados, é difícil seleccionaralgum ou alguns deles, os mais representati-vos do conjunto da obra, e, nesses os poemasporventura mais conseguidos embora meioséculo de trabalho poético sugira que o mel-hor poderá estar na produção mais recente.

Um pouco ao acaso, este poema do livromais recente, "Os Distantes Acenos"(Estudos de Castelo Branco, 2006), ondeparece ressoar toda a memória pessoal davida e do mundo, ligada, porém, a muito deconcreto no tempo e no espaço onde a expe-riência da existência se situa e aqui em textocorrido por razões de economia:

"Porque teimo em queimar / as imagensque os olhos recolheram / num multicorintemporal passado, / semeado d'espigas ed'estrelas, / de sol brilhante e cálido luar...

"Porque trago até mim / campos lavradoscampos semeados, / d´água surgida como umdom bem vindo / e que por eles mansa s'es-pelhava / (um corpo meigo um outro reves-tindo)...

"Árvores carregadas / de frutos a pedir ávi-das bocas / e canteiros de verdes e de flores /que nem o frio a neve trespassavam / comseus gumes de ferro ardendo em fôlego.../ Evozes muitas vozes / acalentando o fogo dalareira, / e risos ou temor dentro d'estórias /que se contavam pela noite fora / até eunum regaço adormecer..."

Apesar da vida quase toda vivida emCastelo Branco e de boa parte da obra publi-cada ali, em condições de grande discrição;apesar da falta de reconhecimento por partedos meios, da crítica, dos estudiosos, dosantólogos, historiadores, comentadores,António Salvado é autor de uma obra poéticade grande qualidade, que faz dele um doscasos mais interessantes da poesia portugue-sa contemporânea. Porque produzida onde ofoi, quase toda, onde o autor tem vivido evive, uma referência cultural de topo naRegião Centro. E aqui, desde logo, aquelesque se interessam por estas referências, não odevem, não o podem ignorar.

António Salvado, em Castelo Branco

Luís de [email protected]

REFERÊNCIAS

PRAÇA DAREPÚBLICA

Carlos Carranca

A MAIS HUMANA DAS OBRAS

À memória de Miguel Torga

Page 22: O Centro - n.º 21 – 21.02.2007

Foi uma quinzena em grande no quetoca a actuações ao vivo, a abrir com a

actuação dos Nine Inch Nails no Coliseudos Recreios em Lisboa a 10 de Fe-

vereiro, e a terminar com o excelente“set” dos 2 Many Dj’s na “Via Latina”(na passada sexta-feira, dia 16), que maisuma vez, mostraram as razões de serema minha dupla de dj’s preferida. Já nãome lembrava de ir à discoteca “ViaLatina”. No “warm up” estava o AfonsoMacedo, que já conheço há alguns anos,sobretudo porque trabalhava na lojaonde comprei os meus primeiros discos eque, recentemente, me tem aconselhadouma série de bons dj’s e produtores naárea do “electro”, nomeadamente osBlack Strobe ou Ivan Smagghe. Eramperto de quatro da manhã quando irmãosStephen e David Dewaele tomaram ocomando das operações para delírio dosmuitos presentes que lotaram aqueleespaço. Desde “Love Is In The Air” deJohn Paul Young, passando por “DigitalLove” dos Daft Punk e acabando nosAC/DC, esta dupla belga brindou-nos,mais uma vez, com a sua versatilidade ecoerência durante cerca de 2 horas. Osmeus parabéns à Cosa Nostra que ostrouxe a Coimbra.

Quanto a actuações ao vivo, há maistrês grandes nomes a juntar ao eventoque vai ter lugar a 8, 9 e 10 de Junho em

Algés. Depois das confirmações dosPearl Jam, há a confirmação dos LinkinPark (ambos no dia 8), dos “regressa-dos” Smashing Pumpkins (dia 9) e dosBeastie Boys (dia 10). De destacar, tam-bém, a actuação dos The Who, de PeteTownsend, a 16 de Maio, no PavilhãoAtlântico (Lisboa).

Tenho andado viciado em “A We-ekend In The City”, o novíssimo regis-to de originais dos Bloc Party. Ao con-trário do que patenteava o primeiro

avanço para este disco, “The Prayer”, amudança não é assim tão significativa,havendo temas que se encaixariam na

perfeição em “Silent Alarm”, como:“Uniform”, “Song For Clay”, ou “Wai-ting for The 7.18” – um dos meus temaspreferidos do disco. Ao mesmo tempo,há uma série de temas mais melódicos,como sejam: “Kreuzberg”, ou mesmo“Sunday”, dos quais gosto bastante eque não consigo parar de ouvir. É umdisco viciante, a ouvir de uma ponta àoutra, vezes sem conta. É o primeirogrande disco de 2007.

Para o fim, as sugestões da semanacom “Hurt” dos Nine Inch Nails e“Dig” dos Incubus a serem as minhassugestões para esta quinzena.

PARA SABER MAIS: - www.nin.com-http: / /www.2manydjs .%20org

-www.2manydjs.free.fr-www.cnostra.net-www.everythingisnew.pt- www.blocparty.com- Bloc Party “A Weekend In The

City” (Wichita)- Nine Inch Nails “The Downward

Spiral” (Interscope)- Incubus “Light Grenades” (Sony

BMG)

2222 MMÚÚSSIICCAA DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

Distorções

José Miguel [email protected]

OrquestraClássica do Centroem inédito concertocarnavalesco

A Orquestra Clássica do Centro(OCC) promoveu ontem (terça--feira, dia 20), em Coimbra, umconcerto verdadeiramente original.

Para assinalar a quadra car-navalesca, toda a Orquestra – in-cluindo o seu Maestro, VirgílioCaseiro – apareceu mascarada.

E mascarados estavam tambémmuitos dos espectadores, respon-dendo ao original desafio lançadopela Orquestra Clássica doCentro.

Um espectáculo que demon-strou que mesmo a brincar sepode tocar música séria e deforma muito séria – como é apa-nágio da OCC, cuja qualidade éunanimemente reconhecida.

“La Traviata”, uma das mais famosascriações de Giuseppe Verdi, vai ser apre-sentada no Centro de Artes e Espectá-culos (CAE) da Figueira da Foz, pelaÓpera Estatal de Ekaterinburg, emespectáculo que decorre na próximaquarta-feira, dia 28.

“La Traviata” é uma ópera em trêsactos, com libreto de Francesco MariaPiave, segundo “A Dama das Camé-lias”, de Alexandre Dumas Filho. Nestaobra, a sedução combina-se agilmentecom uma contundente degenerescênciafísica e desânimo na existência da deli-cada cortesã parisiense Violetta Valéry,que se expõe irremediavelmente a umaustero julgamento comunitário aoescolher partilhar a sua vida com umjovem de boas famílias.

Esta produção é apresentada pela

“Ópera Estatal de Ekaterinburg”, umadas mais antigas companhias da Rússia,conhecida pelo seu vasto e versátil re-pertório, pela sua cultura musical eartística e pela qualidade dos seus intér-

pretes. Ao longo da sua história realizoumuitos espectáculos no seu país e noestrangeiro, tendo recebido, por diver-sas ocasiões, prestigiados prémios pelaexcelência das suas produções.

POR COMPANHIA RUSSA DE ÓPERA

“La Traviata” na Figueira da Foz

Dos Zés-Pereiras do Minho ao corri-dinho algarvio, a paisagem etno-musi-cal portuguesa vai estar cartografadaeste ano num mapa virtual a cargo deJúlio Pereira e Henrique Cayatte, disseo músico à agência Lusa.

A ideia tem quase vinte anos, quandoJúlio Pereira editou em 1988 o álbum“Miradouro”, um LP que se fazia acom-panhar de um mapa ilustrado de Portu-gal com dezenas de referências à cultu-ra popular portuguesa.

O projecto, que deverá ser finalizadoeste ano e que conta com colaboração

do Instituto Camões, estará disponívelna Internet com ilustrações do designerHenrique Cayatte e textos de João LuísOliva.

Júlio Pereira irá interpretar músicastípicas de todas as regiões de Portugalcontinental, com os temas a serem dis-ponibilizados para audição no futurosite do mapa.

É um projecto dirigido sobretudopara o público escolar em Portugal e noestrangeiro, com a divulgação da etno-grafia musical portuguesa, esclareceuJúlio Pereira.

Actualmente, está disponível umaprimeira versão do mapa no site oficialde Júlio Pereira, repescando as ilustra-ções feitas por Henrique Cayatte para oálbum “Miradouro”.

No site explica-se, por exemplo, queo fandango é uma dança entre doishomens típica do Ribatejo, que os Zés-Pereiras são um “conjunto cerimonialpor excelência” de tocadores de bom-bos e de caixas da região do Minho eque o leva-leva é um canto de trabalhodos pescadores de sardinha do Al-garve.

Fred Mercury e os “Queen”evocados no Porto

A Orquestra Nacional do Porto promo-veu no passado sábado, na Casa da Música(Porto), um concerto de homenagem àbanda “Queen”, executando a obra“Queen Symphony”, de Tolga Kashif, queassegura a direcção musical da orquestra edo coro “Doublefvoice”. Desta forma, “osmíticos ‘Queen’são recordados no ano emque Freddy Mercury completaria 60anos”, como referiu a organização.

Aobra foi lançada pela editora em 2002e teve estreia mundial no Royal FestivalHall, com a Royal Philharmonic Orchestradirigida pelo compositor.

DISPONÍVEL AINDA ESTE ANO

Mapa de Portugal etno-musical

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IINNTTEERRNNEETT 2233DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

A Casa da Cultura é um projecto do Serviço de Edu-cação e Bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian e des-tina-se a promover a leitura junto do público mais jovem.Trata-se de um portal com o objectivo de servir como umincentivo à leitura nos meios familiares e escolares. Oportal Casa da Cultura disponibiliza cerca de 400 recen-sões de livros dirigidos à infância e adolescência, e dirige-se essencialmente a “mediadores” de leitura – professo-res, bibliotecários e pais, em particular. Bibliografias ebiografias são outra das apostas deste projecto, que é actu-alizado semanalmente. Sublinhe-se ainda que no site háuma área de resposta a dúvidas sobre práticas de leitura eduas salas importantes: uma é o Serviço de Orientação daLeitura, a outra intitula-se ABZ da Leitura.

CASA DA LEITURAendereço: http://www.casadaleitura.org | categoria:leitura

Whatever it Takes é um site onde se pode adquirirmerchandising escolhendo como pano de fundo um dostrabalhos artísticos doados por inúmeras personalidadesdo cinema, música, desporto e moda. O objectivo éangariar três milhões de dólares em três anos. As recei-tas revertem para instituições de solidariedade social.

Rolling Stones, Ringo Starr, Charlize Theron, Beni-cio del Toro, Adrien Brody, Penelope Cruz, Ewan Mc-Gregor, System Of A Down, George Clooney, NicoleKidman, Susan Sarandon, Green Day ou os Foo Figherssão apenas algumas das personalidades que se associa-ram a este projecto. A ideia é um importante e simbóli-co contributo para a paz mundial. Até ao momentoforam arrecadados cerca de um milhão de dólares.

WHATEVER IT TAKESendereço: http://www.whateverittakes.org/|categoria:beneficência

Gonçalo Mata tem 30 anos e é engenheiro informá-tico. Aventureiro e cansado da rotina diária, decidiupercorrer o caminho entre Buenos Aires e Nova Ior-que com a sua BMW RIII50 GS. São 30.100 quilóme-tros de viagem que podemos acompanhar no seu diá-rio de bordo – Buena York.

Este apaixonado por viagens vai cruzar mais de 15países e promete registar no seu diário de bordo asimpressões desta aventura. A viagem começou a 1 deFevereiro em Buenos Aires e deverá prolongar-se porsete meses. A par da sua mota e dos bens essenciais,Gonçalo leva consigo equipamento fotográfico versá-til e um computador portátil, o que lhe permitirá docu-mentar a viagem. A página é actualizada regularmen-te e o aventureiro vai ainda escrever crónicas regula-res na revista Visão.

BUENA YORKendereço: http://www.buenayork.com/ | categoria:viagens

Já apresentámos nas Ideias Digitais o jogo onlinedo momento: o Second Life (SL). Agora indicamosum blog para acompanhar o dia-a-dia de um grupo dehabitantes portugueses deste mundo alternativo. AnaLutetia, Cat Magellan, Gath Forager e Miguel Yeshe-yev – nomes virtuais – relatam no espaço Get A(Second) Life o que de mais interessante se passa uni-verso do SL.

O blog é uma espécie de guia sobre esta comunida-de virtual e, ao mesmo tempo, um diário de bordo dosseus autores e das suas aventuras neste espaço quemovimenta diariamente mais de 600 mil dólares reais.As últimas notícias dão conta de um concerto dos U2no SL. De rolos no cabelo no supermercado, a passe-ar pelos subúrbios do SL, a marchar pela paz nomundo, a discutir a política da vida real… são muitovariados os temas dos inúmeros posts que já preen-chem este diário de bordo ilustrado com imagens. Sejapara quem está no SL ou para quem prefere a vidareal, o Get A (Second) Life é definitivamente um espa-ço a visitar.

GET A (SECOND) LIFE!endereço: http://getasecondlife.net/ | categoria:

weblogs, comunidades virtuais.

Na rede desde 2005, o Konvulse é um espaço co-munitário que funciona como um colectivo de arteonline. É um portal colaborativo de artes gráficas, queengloba arte abstracta, vectorial, fotográfica e de ani-mação gráfica. Esta comunidade criativa recebe a visi-ta diária de mais de sete mil utilizadores.

O site está em permanente desenvolvimento e embreve deverá oferecer funcionalidades como mensa-gens privadas entre membros e páginas pessoais per-sonalizadas, à semelhança do projecto MySpace. Ogrande objectivo do Konvulse é torna-se no ponto deencontro da comunidade criativa da nova geração.Para já, é um espaço de visita obrigatório para quemgosta de arte contemporânea.

KONVULSEendereço: http://www.konvulse.com/ | categoria: cri-atividade

O Paper Toys é um site de passatempos, para pais efilhos. O desafio é montar brinquedos de papel. Re-cortar, pintar, dobrar e colar são as tarefas necessáriaspara criar divertidos e meticulosos brinquedos depapel.

As propostas que o site apresenta são inúmeras eestão disponíveis muitas dezenas de esquemas paraimprimir e montar. Os Paper Toys favoritos dos utili-zadores deste site são os carros e os famosos autocar-ros londrinos. Para quem tem mais jeito para bricola-ge, há sempre os míticos monumentos como o BigBen ou o Taj Mahal. Há ainda moldes mais direccio-nados para adultos como a guitarra de Jimi Hendrix ouuma Harley Davidson.

PAPER TOYSendereço: http://www.papertoys.com/ | categoria: pas-satempos

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do InstitutoSuperior Miguel Torga

CASA DA LEITURA

WHATEVER IT TAKES

BUENA YORK

KONVULSE

PAPER TOYS

GET A (SECOND) LIFE

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2244 TTEELLEEVVIISSÃÃOO DE 21 DE FEVEREIRO A 6 DE MARÇO DE 2007

TELEVISÃO AO CENTROÉ certo que em televisão nada será como até aqui.

No entanto, enquanto o panorama é este, há que fazeralguma coisa. Não é aceitável continuar com este es-tado de coisas. A televisão portuguesa mostra o Paísque quer e como quer, e, daí, constrói esse mesmoPaís tal como se produzisse um qualquer programa.

Foram agora conhecidos os resultados das monitori-zações feitas à oferta televisiva em Portugal (2006) e asconclusões, embora não tragam grande novidade, vêmreforçar as maiores reservasexistentes em relação à“nossa” televisão. Veremosmais à frente o que dizem osnúmeros. Por agora, é ne-cessário pensar um poucosobre a ausência da RegiãoCentro na televisão.

É, antes de mais, uma au-sência que está ligada a umacerta falta de dinamismo, deconvicção até, incompreen-sível numa boa fatia doPaís. Se o Norte é empresa-rial e o Sul começa na capi-tal e se prolonga pelos gran-des espaços abertos, o Cen-tro de Portugal é essencial-mente beirão e o ser beirão éser-se desconfiado. Bom,mas desconfiado.

A televisão foi sempre,ou quase sempre, uma “coi-sa” da capital. A partir dedeterminada altura, umacedência ao Porto. O Centro não tem quase presençana história da televisão em Portugal. Estejam atentosaos 50 anos da RTP e vejam se encontram algo signi-ficativo, para além do histórico emissor da Lousã.

Depois da experiência traumatizante da TV Saúde,da qual, inexplicavelmente, ninguém quer falar,ouvem-se rumores sobre novos projectos televisivospara o Centro. O Porto já passou pela fase NTV, dandolugar à RTP-N, e conta desde há uns meses com oPorto Canal distribuído através da TV Cabo. Agora oque nos reservarão estes projectos a emergir dos gru-pos empresariais do Centro? Eu receio muito que sedesencontrem do seu potencial público, mais uma vezpor pretenderem construir um País, ou uma parte dele,que se adeqúe aos seus interesses. Isto, num canal porcabo, pode até virar-se contra o próprio projecto e, sepensarmos em projecções para a futura TV digital, po-derá ser ainda muito pior. Objectivamente, no Centro,sobram empresários provincianos e, por outro lado,

faltam universitários humildes. Há, no entanto, umaoutra massa crítica e produtora que se situa nas diver-sas estruturas culturais e no já considerável número dejovens formados na área da Comunicação pelas esco-las da região. É neste meio que se encontra a soluçãopara um canal de televisão do Centro.

Mas as dúvidas persistem. O que poderemos espe-rar, por exemplo, de uma cidade como Coimbra?Entre a “alta cultura” fechada, contente consigo pró-pria, e o folclore de todos os tipos e gostos, resta aindao lado bacoco que nos reserva D. Carolina Salgadocomo atracção de festa de aniversário (ou coisa assim)de espaço público coimbrinha!

Afinal, há ou não há motivos para se ser beirão?

“CONHECIMENTO,ARTE E CULTURA: 3,8%”

A MediaMonitor, MMW/Telereport, revelou as au-diências televisivas no Portugal de 2006. Telenovelas,telejornais, divertimento, publicidade... É disto que as

televisões se alimen-tam, fazendo com queas massas consumam.Tudo. No fundo, elasaté nem têm culpa. Éo que os directores deprogramas lhes im-pingem no prime ti-me. Se olharmos commais atenção para aoferta, veja-se comoela é reduzida nas

áreas do Conheci-mento, Arte e Cultu-ra. A procura, emtempo, é inferior àoferta. Quer isto di-zer que mesmo opouco que passa tempoucos espectadores.O que é que se podeesperar? É que estestemas, em horárionobre, estão pratica-mente interditos. Na verdade, à sociedade do conheci-mento, a televisão contrapõe a sociedade do entreteni-mento e os seus “anestésicos pós-laborais”.

Há, claro, uma linguagem televisiva, um ambiente,uma encenação. Não é possível ignorar o meio. Masserá mesmo necessário cair ao ponto de dizer “Só hálugar para um!”? É que esta frase dramática está espa-

lhada por outdoors que promovem o programa da RTP1, “Os grandes portugueses”. Não se trata de um con-cursito idiota como todos os outros que enchem a tele-visão, sobretudo a pública. Trata-se de uma votaçãoaberta ao público sobre figuras da nossa história. Umavotação que até pode não ter significado, mas queserve de desculpa para uma série de documentários deautoria de convidados da RTP que, de uma forma ou deoutra, tomam o partido das figuras em causa.

O percurso que este programa tem seguido é deuma enorme irresponsabilidade. Há alguns dias, foidado a conhecer o documentário sobre Salazar. JaimeNogueira Pinto, um homem que sabe de televisão, atéporque lá trabalhou no tempo da ditadura, foi o convi-dado da RTP para a defesa de Salazar. E o que vimos?Ouvimos? Que Salazar sempre se preocupou apenascom Portugal. A PIDE não terá existido. Do campo doTarrafal, vagamente, um local onde faleceram “pordoença” (sic) alguns oposicionistas. Do atraso, da mi-séria, nada.

João Lopes escreveu, a propósito, no DN: “Comose não bastassem os limites, as amarguras e os erros danossa geração, agora torna-se ainda mais difícil trans-mitir aos mais novos seja o que for sobre a complexi-dade dos tempos que vivemos. Temos, por isso, quereconhecer a terrível evidência: não é possível contra-riar o simplismo imposto pela televisão pública. Sejaqual for a votação, perdemos.”

Mas se a evidência é terrível, ainda podemos exigirque nos digam de onde vem a irresponsabilidade. Ocanal público não pode passar ao lado das responsabili-dades perante o País. A ideia, aliás falsa, também ela ter-

rivelmente falsa, de que aRTP tem direcções indepen-dentes do poder político, nãopode servir de escudo atrásdo qual se esconde toda agente. As direcções são no-meadas pela Administraçãoe, por sua vez, esta é nomea-da pelo poder político. As-sim, vamos lá a explicarcomo esta deseducação, esteconhecimento distorcido,tem sido possível.

É que não é só o caso deSalazar. Também Aristídesde Sousa Mendes já foimotivo para uma tentativade reescrever a História. Sebem que José Miguel Jú-dice tenha assinado um ex-celente documentário sobreo cônsul português, que emBordéus salvou a vida amilhares de judeus, o certoé que a popularidade do co-

municador José Hermano Saraiva já se encarregara,em programa anterior, de menosprezar a tragédia quefoi a fase final da vida de Sousa Mendes.

Na altura, o Prof. Reis Torgal bem chamou a aten-ção para a diferença entre “história” e “História”, masentre a popular e televisiva presença de HermanoSaraiva e a razão, esta ficará sempre a perder.

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]