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O céu pode esperar

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Histórias e Estórias Médicas Volume VII

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O céu pode esperar...

Luciano Silveira Eifl erCirurgião Geral

Os servi ço s d e at endi m ento pr é-ho spi t al ar r eal i zamatendimento em diversas situações e horários. As soli citações desocorro são recebidas pel o m édi co que, de manei ra rápida eobj eti va, entr evi sta o sol i ci tante para esti mar a gravi dade edeterminar a pertinência do chamado. Alguns atendimentos sãotrivi ai s e se tornam quase uma roti na, outros são realm enteinusi tados e se destacam por sua raridade. Mas naquel e dia, ochamado foi absolutamente pertinente, breve e claro: “estamosem um si mpósi o, o professor hom enageado está em paradacardíaca, vem logo, é uma emergência!”

A l i gação partiu de uma médi ca que dizia presenciar umaparada cardíaca de um dos parti cipantes. O suporte básico dereanimação já estava sendo reali zado na cena, poi s havia mai s de50 m édicos presentes no local .

O deslocamento foi bastante rápido e em m enos de dezmi nuto s a equi pe de at endi m ento pr é-ho spi tal ar entrava noaudi tóri o. A cena era impressi onante! O professor em paradacardíaca no chão, sendo reanimado por col egas diante de umapl at éi a totalm ente i ncr édul a. Estava ci anóti co e sem pul so.Rapi dam ent e f oi i n i ci ado o suport e avançado . As pás dodesfibri lador em contato com o tórax mostravam uma fibri l açãofi na. Si mul tan eam ente à i ntubação e ao acesso veno so, foidi sparada uma carga i ni ci al de 360 j oul es. Si l ênci o total noaudi tório. Com o olhar fixo no monitor, podia ser vi sto, após ochoque, um ritmo sinusal organizado e sentido um pul so cheioà palpação. A atuação foi muito rápida e em minutos o professorestava sendo removido para uma unidade coronariana. O sucesso

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do atendim ento aconteceu pel a presença de manobras bási casreali zadas no local , pela efi ci ência da equipe pré-hospitalar e talvezporque aquel a ainda não fosse a hora do querido professor nosabandonar. Em situações como essa, exi ste a chamada “correnteda sobrevivência” e todo processo de atendimento depende deuma séri e de etapas, como os elos de uma corrente, interl igadose fortes desde o chamado até o atendimento definitivo.

Com a massagem cardíaca e venti lação, o paci ente mantémainda uma atividade el étri ca no coração, o que possibi l i ta auti l i zação do desfibri lador e a reversão da parada cardíaca. Nãohá tempo de haver morte celul ar e o paci ente é l i teral m enteressusci tado sem apresentar sequelas.

Foi o que aconteceu naquel e dia.

Chegando ao hospital de destino, sob o olhar atento deum corr edor de observador es di ant e de acont eci m ento tãoincomum, a equi pe de atendim ento pré-hospi tal ar apareceu,trazendo o professor “ressusci tado”. No oxím etro, a saturaçãomostrava 99% e o pul so 95 batimentos por minuto. Dizem al gunsque naquel e instante, no momento do choque, percebeu-se umpequeno tremor de terra. A vida fez-se novam ente! Afinal decontas, o céu podia esperar...