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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO O CONCURSO DE AGENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO DIOGO ALEXANDRE FISCHER Itajaí, Novembro de 2008

O CONCURSO DE AGENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO …siaibib01.univali.br/pdf/Diogo Alexandre Fischer.pdf · AGRADECIMENTOS A Deus, pela vida maravilhosa e pelas oportunidades que Ele

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O CONCURSO DE AGENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

DIOGO ALEXANDRE FISCHER

Itajaí, Novembro de 2008

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

O CONCURSO DE AGENTES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

DIOGO ALEXANDRE FISCHER

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. Rogério Ristow

Itajaí, Novembro de 2008

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida maravilhosa e pelas oportunidades que Ele me deu.

A meus pais, Gregório e Idalina, pela educação que ultrapassa as fronteiras dos livros.

Aos meus irmãos, Marileni, Viviane, Marilani, Adilson, Marilisi e Marcos, pelo companheirismo e

amizade que vai além dos laços de sangue.

DEDICATÓRIA

Esta Monografia dedico incondicionalmente aos meus pais; pessoas dedicadas, pais presentes,

amigos inseparáveis.

iv

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a

Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, Novembro de 2008

Diogo Alexandre Fischer Graduando

v

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Diogo Alexandre Fischer, sob o

título “O Concurso de Agentes no Ordenamento Jurídico Brasileiro, foi submetida

em novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: MSC. Rogério Ristow (Presidente e Orientador) e MSc. Carlos

Roberto da Silva (Examinador) aprovada com a nota ______.

Itajaí, Novembro de 2008

Professor MSc. Rogério Ristow Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

vi

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACR Apelação Criminal

Ampl. Ampliada

Ap. Cri. Aplicação Criminal

Art. Artigo

Atual. Atualizada

Cam. Câmara

Cap. Capítulo

CEJURPS Centro de Ciências Sociais e Jurídicas

CF Constituição Federal

Com. Comarca

CP Código Penal

Crim. Criminal

Des. Desembargador

Ed. Edição

Min. Ministro

nº, n. Número

OAB-SC Ordem dos Advogados do Brasil – Santa Catarina

p. Página

Rev. Revisada

Rel. Relator

Segs. Seguidos ou seguintes

Tít. Título

TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais

TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

T Turma

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

Ver. Versão, verificada

Vol. Volume

vii

ROL DE CATEGORIAS

Rol das categorias1 que o autor considera estratégicas à

compreensão deste trabalho, com seus respectivos conceitos2 operacionais:

Autoria (autor)

Autor é aquele que realiza o tipo penal, ou seja, é aquele que pratica atos que se

enquadram no modelo legal de crime. Sua ação ou omissão é decisiva para a

ocorrência do resultado delituoso praticado em concurso. 3

Autoria mediata

Chama-se autoria mediata aquela em que o autor de um crime não o executa

pessoalmente, mas através de um terceiro não culpável. 4

Co-autoria

É uma divisão de tarefas para a obtenção de um resultado comum. 5

Conduta

É a ação ou omissão humana consciente e dirigida à determinada finalidade. 6

1 "Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia".

PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 6. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002. p. 40.

2 “Quando nós estabelecemos ou propomos uma definição para uma palavra ou expressão, com desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expomos, estamos fixando um Conceito Operacional”. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. p. 108.

3 LEAL, João José. Direito penal geral. 3. ed. rev. e atual. Florianópolis:OAB/SC Editora,2004 p. 527. 4 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Resumo de direito penal (parte geral). 18ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 92. 5 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 93.

viii

Concurso de Agentes (de pessoas)

A ciente e voluntária participação de duas ou mais pessoas na mesma infração

penal. 7

Crime

Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou

detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de

multa; contravenção, a infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão

simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente’. 8

Crime Comum

É o que pode ser praticado por qualquer pessoa. 9

Crime Próprio

Crime próprio ou especial é aquele que exige determinada qualidade ou condição

pessoal do agente. 10

Crime de Infanticídio

Trata-se de um crime próprio, uma vez que somente a mãe pode ser autora da

conduta criminosa em face ao tipo. 11

6 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, volume 1: parte geral. 28 ed. ver. São Paulo:Saraiva, 2005. p. 227. 7 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. v. 1. São Paulo: Atlas, 1985. p. 223. 8 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal: parte geral, volume 1. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p.263. De acordo com a Lei de introdução ao Código Penal Brasileiro. 9 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, volume 1: parte geral. p.188. 10 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 268. 11GHEDIN, Rodrigo. Concurso de pessoas. Disponível em www.rodrigoghedin.com.br/arquivos/dto_penal_-_concurso_de_pessoas.doc. Acesso em 27 out 2008.

ix

Crime de Mão Própria

É aquele que só pode ser praticado pelo agente pessoalmente, não podendo

utilizar-se de interposta pessoa (falso testemunho, adultério, prevaricação). 12

Crime de Concurso Eventual

Crime de concurso eventual ou monossubjetivo pode ser cometido por um ou

mais agentes. 13

Crimes de Concurso Necessário

Crimes de Concurso Necessário são os que exigem mais de um sujeito. 14

Culpa

É o elemento normativo da conduta. A culpa é assim chamada porque sua

verificação necessita de um prévio juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela

está ou não presente.

Dolo

O dolo é conceituado como representação e vontade em referência a um fato

punível, praticado pelo agente com o conhecimento de sua ilicitude. 15

Partícipe (participação)

Partícipe é a pessoa física que concorre na ação de outrem, contribuindo para a

realização do tipo de ilícito. Segundo acepção comum, participar é tomar parte em

12 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 268. 13 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1: parte geral (arts. 1º a 120). 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 261. 14 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 205. 15 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 240.

x

algo, é colaborar para um fato alheio. 16

Preterdolo

É aquele em que o legislador, após descrever uma conduta típica, com todos os

seus elementos, acrescenta-lhe um resultado, cuja ocorrência acarreta um

agravamento da sanção penal. 17

16 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 356. 17 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 215/216.

xi

SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................... XIII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 .................................................................................... 04

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO CRIME E SEUS AGENTES ....... 04 1.1 CRIME.............................................................................................................04 1.2 CONDUTA ......................................................................................................08 1.2.1 Características ..........................................................................................10 1.2.2 Formas de Conduta....................................................................................11 1.2.3 Elementos ...................................................................................................13 1.2.4 Elementos Subjetivos da Conduta ...........................................................14 1.2.4.1 Dolo .........................................................................................................14 1.2.4.2 Culpa .......................................................................................................15 1.2.4.3 Preterdolo ................................................................................................16 1.3 SUJEITOS DO DELITO..................................................................................17 1.3.1Sujeito Passivo............................................................................................17 1.3.2 Sujeito Ativo ..............................................................................................18 1.4 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO SUJEITO............................19 1.4.1 Crime Comum.............................................................................................19 1.4.2 Crime Próprio ............................................................................................20 1.4.3 Crime de Mão Própria ................................................................................28 1.5 CRIME DE CONCURSO EVENTUAL E DE CONCURSO NECESSÁRIO.....21 1.5.1 Crime de Concurso Eventual ...................................................................21 1.5.2 Crime de Concurso Necessário ................................................................22

xii

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 23

O CONCURSO DE AGENTES NO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO 23 2.1 DO CONCURSO DE AGENTES.....................................................................23 2.1.1 Requisitos ..................................................................................................26 2.1.1.1 Pluralidade de Conduta ..........................................................................26 2.1.1.2 Relevância Causal das Condutas ..........................................................27 2.1.1.3 Nexo Subjetivo entre os Agentes ..........................................................28 2.1.1.4 Identidade de Infrações ..........................................................................29 2.2 FORMAS.........................................................................................................30 2.2.1 Co-autoria ..................................................................................................30 2.2.2 Participação................................................................................................33 2.3 PARTICIPAÇÃO EM CRIME MENOS GRAVE ..............................................36 2.4 PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA ..............................................38 2.5 CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS........................................................41

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 43

ASPECTOS DESTACADOS ACERCA DO CONCURSO DE AGENTES E ASPECTOS CONTROVERTIDOS .............................. 43 3.1 DA AUTORIA MEDIATA ................................................................................43 3.2 O CONCURSO DE AGENTES NOS CRIMES OMISSIVOS...........................46 3.3 O CONCURSO DE AGENTES NOS CRIMES CULPOSOS...........................48 3.4 O CONCURSO DE AGENTES NOS CRIMES DE INFANTICÍDIO.................51

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 55

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 57

RESUMO

A presente monografia trata do Concurso de Agentes no

Ordenamento Jurídico Brasileiro, um tema presente no nosso dia-a-dia que

abrange toda a sociedade. O Concurso de Agentes, ou Concurso de Pessoas,

como também é chamado, acontece quando duas ou mais pessoas cometem

um delito, um crime, uma conduta típica. São participantes de um mesmo delito

e por ele devem responder de acordo com a intensidade de sua participação na

ação delituosa. O Concurso de Agentes ocorre, por exemplo, durante um

assalto, onde um indivíduo executa a ação e o outro comparsa fica na espera

para a fuga; ambos cometeram o delito, sendo um o autor e o outro o partícipe

que é aquele que participou de alguma forma da ação. Tanto o autor do delito

quanto o partícipe sofrerão as penas impostas no Código Penal. Assim, para o

completo entendimento do tema proposto nesta monografia, trouxe-se à tona

vários conceitos, concepções do que seja o Concurso de Agentes e

considerações gerais de tudo que o envolve juridicamente, chegando a um

ponto razoável e comum que servirá de base para a explanação do tema do

presente Trabalho de Conclusão de Curso. Para a realização da pesquisa

utilizou-se o método indutivo.

INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objeto abordar sobre o

Concurso de Agentes no Ordenamento Jurídico Brasileiro.

Seus objetivos são: institucional - produzir uma Monografia

para obtenção do Título de Bacharel em Direito Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI; geral - estudar (pesquisar) sobre o Concurso de Agentes no

Ordenamento Jurídico Brasileiro; e específicos - Investigar sobre o Concurso de

Agentes, verificar o que envolve o Concurso de Agentes; analisar e pesquisar

sobre o Concurso de Agentes no Ordenamento Jurídico Brasileiro.

O escopo da presente monografia é o de aprofundar os

conhecimentos sobre o Concurso de Agentes no Ordenamento Jurídico

Brasileiro, visando um aprendizado sobre a autoria, co-autoria, partícipe, crime e

seus tipos, conduta e suas formas para assim obter um estudo mais abrangente

sobre o tema.

O Concurso de Agentes é um tema que envolve a

sociedade em geral e que abrange todas as classes sociais, idades, cleros,

sendo por este motivo, um tema atual e relevante.

Cabe destacar os problemas para a pesquisa, que nesta

assertiva são os seguintes:

a) A chamada autoria mediata é uma forma de Concurso de

Agentes?

b) Os crimes culposos admitem Concurso de Agentes?

c) É possível o Concurso de Agentes no crime de

infanticídio?

2

Para os problemas levantados, apresentaram-se as

seguintes hipóteses:

a) Não existe a possibilidade de se falar em concurso de

agentes em autoria mediata.

b) Nos crimes culposos, admite-se o concurso de agentes.

c) Pode ocorrer o concurso de agentes no crime de

infanticídio.

Esta Monografia está dividida em Três capítulos.

No primeiro capítulo faz-se uma consideração acerca do

crime e seus agentes. O conceito de crime e de conduta, características, formas

de conduta, elementos, sujeitos do delito, além de abordar os tipos de crimes

em geral. O crime, ou delito, é a infração penal praticada por um ou mais

indivíduos. È uma conduta proibida pela sociedade. O sujeito através de

conduta duvidosa pratica o crime.

No segundo capítulo explana-se sobre o Concurso de

Agentes no Código Penal Brasileiro. O conceito de Concurso de Agentes, os

requisitos para que ele ocorra, bem como as formas de participação dos sujeitos

e as circunstâncias incomunicáveis.

No capítulo terceiro aborda-se sobre os Aspectos

destacados acerca do Concurso de Agentes e Aspectos Controvertidos, onde

são vistas as disposições gerais sobre a autoria mediata, bem como também

sobre o concurso de agentes nos crimes omissos, culposos, de infanticídio,

inclusive sobre o crime de quadrilha ou bando em concurso com o furto e roubo

qualificado pelo Concurso de Agentes.

O presente Relatório de Pesquisa apresenta dispositivos

que incluem o pensamento doutrinário e as decisões jurídicas sobre o tema,

sendo finalizado com as Considerações Finais, nas quais são mostrados os

3

pontos principais, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das

reflexões sobre o Concurso de Agentes no Ordenamento Jurídico Brasileiro.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na

Fase de Investigação18 foi utilizado o Método Indutivo19, na Fase de Tratamento

de Dados o Método Cartesiano20, e, o Relatório dos Resultados expresso na

presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente21, da Categoria22, do Conceito Operacional23 e da

Pesquisa Bibliográfica24.

18 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

19 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.

20 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de Oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

21 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.

22 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.

23 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.

24 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luis. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 239.

CAPÍTULO 1

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO CRIME E SEUS AGENTES

1.1 CRIME

De acordo com Bitencourt25 a Lei de introdução ao Código

Penal brasileiro - Decreto-lei n. 3.914/4126 - faz a seguinte definição de Crime:

‘Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou

detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de

multa; contravenção, a infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão

simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente’.

A idéia de “crime”, ou “delito”, salienta Acosta27 “tem íntima

correspondência com o verbo delinqüir, que indica a ação dos que o praticam, daí

a expressão delinqüente, muito usada técnica e vulgarmente”.

Sobre o Crime, Leal28 ensina sobre sua a origem e

terminologia, a saber:

Em latim de onde se origina (crimen, inis) o termo crime significa queixa, calúnia, injúria, erro. Enfim, tem uma acepção, semântica relacionada com a idéia de mal, o que ainda hoje expressa o seu verdadeiro sentido. Do ponto de vista terminológico, deve-se esclarecer que infração penal, conduta delituosa, conduta criminosa, ilícito penal, tipo penal, fato punível, são termos que, em sentido amplo, podem ser utilizados como sinônimos da entidade jurídica denominada crime, pois dizem respeito ao mesmo objetivo de estudo. Até mesmo o termo delito, que em alguns sistemas jurídicos, dele se distingue quantitativamente,

25 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral, p.263. 26 BRASIL, Lei nº 3.914, de 09 de dezembro de 1941. Altera a Lei de Introdução do Código Penal (Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940) e a Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei Nº 3.688, de 3 de outubro de 1941) 27 ACOSTA, Walter P. O processo penal: teoria, prática, jurisprudência e organogramas. 9. ed., Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1973. p. 18. 28 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 180.

5

pode também ser empregado na linguagem jurídica com o mesmo sentido jurídico – semântico.

Sob o olhar de conceituados autores de direito penal, o

Crime pode ser entendido sob os aspectos material, formal ou analítico. Veja:

a) Aspecto material:

Diz Capez29 que

É aquele que busca estabelecer a essência do conceito, isto é, o porquê de determinado fato ser considerado criminoso e outro não. Sob esse enfoque, crime pode ser definido como todo fato humano que, propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social.

Para Bitencourt30, no aspecto material “crime é a ação ou

omissão que contraria os valores ou interesses do corpo social, exigindo sua

proibição com a ameaça de pena”.

Já Delmanto31 apresenta um breve conceito material, onde

“crime é a violação de um bem jurídico protegido penalmente”.

Materialmente, explica Jesus32, “tem-se o crime sob o ângulo

ontológico, visando a razão que levou o legislador a determinar como criminosa

uma conduta humana, a sua natureza danosa e conseqüências”.

A concepção material, salienta Leal33, “busca apresentar o

crime como uma conduta contrária aos valores éticos fundamentais ou aos

legítimos interesses do grupo social (o que nem sempre é verdadeiro, pois há

interesses de classe protegidos pela ordem jurídica)”.

29 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1: parte geral (arts. 1º a 120). p. 112 30 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 261 31 DELMANTO, Celso... (et al). Código penal comentado. 6. ed. atual. E ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. p. 18 32 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, volume 1: parte geral. p. 150. 33 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 181

6

b) Aspecto formal:

O aspecto formal apresentado por Leal34 diz que “o crime

pode ser definido como sendo a conduta (ação ou omissão) contrária à lei penal,

o que nos dá, sem dúvida, a idéia do que é uma infração penal.” E complementa:

Trata-se de um conceito meramente formal, pois não nos esclarece qual a natureza dessa conduta, nem porque é ela assim considerada. (...) Segundo a concepção formal, crime é a conduta proibida e sancionada pela lei penal. é exatamente esse caráter de pura contrariedade forma ao Direito, que é acentuado nessa definição; crime é toda ação ou omissão proibida pela lei, sob ameaça de pena. É como se a novicidade, a perversidade, a imoralidade ou o caráter anti-social da conduta ilícita surgisse com a promulgação da norma incriminadora ou fosse pura criação desta.

Na análise formal, de acordo com Capez35,

O conceito de crime resulta da mera subsunção da conduta ao

tipo legal e, portanto, considera-se infração penal tudo aquilo que

o legislador descrever como tal, pouco importando o seu

conteúdo. Considerar a existência de um crime sem levar em

conta sua essência ou lesividade material afronta o princípio

constitucional da dignidade humana.

Para Bitencourt36, no aspecto formal “crime é toda a ação ou

omissão proibida por lei, sob ameaça de pena”.

Formalmente, salienta Jesus37, “conceitua-se o crime sob o

aspecto da técnica jurídica, do ponto de vista da lei”.

Já Delmanto38 apresenta o conceito de crime no aspecto

analítico, onde “somente o comportamento humano positivo (ação) ou negativo 34 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 181. 35 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 112 36 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 261 37 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 150 38 DELMANTO, Celso... (et al). Código penal comentado. p. 18

7

(omissão) pode ser considerado crime”.

c) Aspecto analítico:

O aspecto analítico trás divergências entre os conceitos

apresentados pelos doutrinadores.

Na visão de Capez39, o crime no aspecto analítico pode ser

conceituado da seguinte forma

È aquele que busca, sob um prisma jurídico, estabelecer os

elementos estruturais do crime. A finalidade deste enfoque é

propiciar a correta e mais justa decisão sobre a infração penal e

seu autor, fazendo com que o julgador ou intérprete desenvolva o

seu raciocínio em etapas. Sob este ângulo, crime é todo fato típico

e ilícito. Dessa maneira, em primeiro lugar deve ser observada a

tipicidade da conduta. Em caso positivo, e só neste caso, verifica-

se se a mesma é ilícita ou não. Sendo o fato típico e ilícito, já

surge a infração penal. a partir daí, é só verificar se o autor foi ou

não culpado pela sua prática, isto é, se deve ou não sofrer um

juízo de reprovação pelo crime que cometeu. Para a existência da

infração penal, portanto, é preciso que o fato seja típico e ilícito.

Para Bitencourt40, o aspecto analítico traduz o conceito de

crime como a “ação típica, antijurídica e culpável”.

O conceito de crime no aspecto analítico é também

chamado de dogmático. Leal41 explica que “o crime passou a ser definido, do

ponto de vista dogmático, como a conduta humana, (ação propriamente dita ou

omissão), típica, antijurídica e culpável”.

Assim, pode-se dizer que o conceito analítico é o mais aceito

nas vias penais e o mais adequado na opinião de diversos autores de direito 39 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 112 40 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 261 41 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 184.

8

penal.

1.2 CONDUTA

Para Jesus42 “conduta é a ação ou omissão humana

consciente e dirigida à determinada finalidade”.

De acordo com Delamanto43

Conduta é a manifestação de uma vontade, (...) uma vez que o Direito Penal não pune a mera intenção. Assim, para que haja crime é indispensável a existência de uma conduta, que se pode traduzir tanto em um comportamento positivo (comissivo) ou negativo (omissivo), por isso, jamais haverá conduta, em ação ou omissão involuntária (p. ex.: motorista que, desconhecendo tivesse problemas cardíacos, sofre infarto e vem a atropelar uma pessoa.

Capez44 explica conduta como sendo “a ação ou omissão

humana, consciente e voluntária, dirigida a uma finalidade”.

E complementa:

Os seres humanos são entes dotados de razão e vontade. A mente processa uma série de captações sensoriais, transformadas em desejos. O pensamento, entretanto, enquanto permanecer encastelado na consciência, não representa absolutamente nada para o Direito Penal (pensiero non paga gabella: cogitationis poena nemo patitur). Somente quando a vontade se liberta do claustro psíquico que a aprisiona é que a conduta se exterioriza no mundo concreto e perceptível, por meio de um comportamento positivo, a ação (“um fazer”), ou uma inatividade indevida, a omissão (“um não fazer o que era preciso”).

Diante do acima exposto, Capez45 refaz o conceito de

42 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 227. 43 DELMANTO, Celso... (et al). Código penal comentado. p. 19. 44 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 114. 45 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 116.

9

conduta chegando a conclusão de que “conduta penalmente relevante é toda

ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dolosa ou culposa, voltada a

uma finalidade, típica ou não, mas que produz ou tenta produzir um resultado

previsto na lei penal como crime”.

Zaffaroni e Pierangeli46 analisam a Conduta pelo conceito

finalista, causalista e social.

Conceito Finalista de Conduta: Conduta é um fazer voluntário, vontade implica finalidade, conduta é um fazer final.

Conceito Causalista de Conduta: Conduta é um fazer voluntário; a vontade pode separar-se da finalidade; conduta é um fazer final, mas nela não se considera a finalidade.

Conceito Social de Conduta: É conduta somente a que tem ‘relevância social’: por tal se entende que a transcende a outro (alguns requerem que seja em forma socialmente lesiva).

Jesus47 salienta que “a conduta não se confunde com o ato.

Este é um momento daquela. Se um indivíduo mata outro com diversos golpes,

há vários atos, mas uma só conduta”.

No mesmo sentido, Capez48 diferencia conduta e ato:

A conduta é a realização material da vontade humana, mediante a prática de um ou mais atos. Exemplo: o agente deseja matar a vítima; a sua conduta pode ser composta de um único ato (um disparo fatal contra a cabeça) ou de uma pluralidade deles (95 estiletadas na região abdominal). Já o ato é apenas uma parte da conduta, quando esta se apresenta sob a forma de ação. De acordo com o número de atos que a compõem, a conduta pode ser plurissubsistente ou unissubisistente.

Neste sentido, salienta Leal49

46 ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro, volume 1: parte geral. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 369. 47 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 228. 48 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 139.

10

Do ponto de vista jurídico, há uma diferença entre conduta e ato. Uma conduta pode ser constituída de diversos atos ou ações: o agente pode cometer um homicídio mediante diversos golpes de faca (diversas ações ou atos), mas realizando uma só conduta delituosa ou uma só ação no sentido restrito do termo.

A conduta é eminente da pessoa humana; somente o

homem (em sentido genérico) pode ter uma conduta positiva ou negativa.

1.2.1 Características

Na explicação de Jesus50, a conduta possui características,

a saber:

a) A conduta se refere ao comportamento do homem, não

dos animais irracionais. O ato do homem, por sua vez, só

constitui conduta como expressão individual de sua

personalidade. (...) o sujeito ativo do delito nas infrações

penais comuns só pode ser uma pessoa física. A pessoa

jurídica não é capaz de delinqüir no tocante a crimes

comuns, como o furto, o homicídio etc. de ver-se que a Lei n.

9.605, de 12-2.1998, em seus arts. 3º e 21 a 24, admite a

responsabilidade penal da pessoa jurídica em relação a

delitos ambientais.

b) Cogitations poenam nemo patitur. Só as condutas

corporais externas constituem ações. O Direito Penal não se

ocupa da atividade puramente psíquica.

c) A conduta humana só tem importância para o Direito

Penal quando voluntária.

d) O comportamento consiste num movimento ou

49 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 213. 50 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p.227.

11

abstenção de movimento corporal.

São características que fazem da Conduta um

comportamento típico humano.

1.2.2 Formas de Conduta

Como nos ensina Capez51, há duas formas de conduta: ação

e omissão. E conceitua:

a) Ação: comportamento positivo, movimentação

corpórea, facere.

b) Omissão: comportamento negativo, abstenção de

movimento, non facere.

Na mesma linha de pensamento, ensina Bitencourt52

Ação é o comportamento humano voluntário conscientemente dirigido a um fim. A ação compõe-se de um comportamento exterior, de conteúdo psicológico, que é a vontade dirigida a um fim, da representação ou antecipação mental do resultado pretendido, da escola dos meios e a consideração dos efeitos concomitantes ou necessários e o movimento corporal dirigido ao fim proposto.

Omissão, como assinalou Armin Kaufmann, “é a não-ação com possibilidade concreta de ação; isto é, a não-realização de uma ação finalista que o autor podia realizar na situação concreta”.

E complementa dizendo que os conceitos de ação e de

omissão devem ter função de elementos básicos. Veja:

Para desempenhar a função de elemento de união com os demais elementos constitutivos do crime, os conceitos de ação e de

51 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 140. 52 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 270.

12

omissão devem ser valorativamente neutros (...). No entanto, essa função de elemento básico, ao contrário do que se imaginou, erroneamente, por exagero do pensamento sistemático, não implica a necessidade de pertencerem à ação ou à omissão todos os elementos do tipo injusto, doloso ou culposo.

Jesus53 apresenta denominação própria para o conceito de

ação e a omissão. De acordo com suas palavras

Ação é a que se manifesta por intermédio de um movimento corpóreo tendente a uma finalidade. (...) A maioria dos núcleos dos tipos se consubstancia em modos positivos de agir, como matar, apropriar-se, destruir, danificar etc. Quando o crime é cometido por essa forma positiva de agir diz-se que foi praticado mediante comissão. Há duas teorias sobre a natureza da omissão: a) teoria naturalística, e b) teoria normativa. De acordo com a concepção naturalística, a omissão é uma forma de comportamento que pode ser apreciada pelos sentidos, sem que seja preciso evocar a norma penal. (...) Para os partidários da teoria normativa, a omissão não é um simples não-fazer, mas não fazer alguma coisa. O fundamento de todo o crime omissivo constitui uma ação esperada. Sem ela (ação pensada, esperada) não é possível falar em omissão no sentido jurídico. Assim, a omissão, por si mesma, não tem relevância jurídica. (sem grifo no original

Neste sentido, explica Leal54

A conduta realizadora do tipo penal pode se manifestar na forma de ação positiva ou comissa (matar, ferir, roubar, estuprar, corromper etc), ou de omissão (deixar de socorrer pessoa em perigo de vida ou com grave lesão, de prestar assistência material ou intelectual a pessoa juridicamente dependente e mais uns poucos casos de crimes omissos puros). A conduta omissiva deve ser entendida como ausência de um comportamento que o indivíduo, nas circunstancias, tinha o dever jurídico de realizá-lo. Assim a omissão só tem relevância penal, isto é, somente assume a categoria jurídico-penal de conduta, quando o indivíduo tem obrigação jurídica de agir e não o faz.

53 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 237/238. 54 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 212/213.

13

Salienta Capez55 que, “enquanto as condutas comissivas

desatendem a preceitos proibitivos (a norma mandava não fazer e o agente fez),

as condutas omissivas desatendem mandamentos imperativos (a norma mandava

agir e o agente se omitiu)”.

Para Bitencourt56, “a ação e omissão, em sentido estrito,

constituem as duas formas básicas do fato punível, cada uma com estrutura

completamente diferente: a primeira viola uma proibição (crime comissivo), a

segunda descumpre uma ordem (crime omissivo)”.

1.2.3 Elementos da Conduta

São Elementos da Conduta, de acordo com Jesus57:

a) Um ato de vontade dirigido a uma finalidade: dirigido a

um fim;

b) Atuação positiva ou negativa dessa vontade no mundo

exterior (manifestação da vontade por meio de um fazer

ou não fazer):é o movimento ou abstenção do movimento

corpóreo.

Capez58, por sua vez, apresenta quatro elementos da

conduta: a) vontade; b) finalidade; c) exteriorização (inexiste enquanto

enclausurada na mente); d) consciência. E observa: “só as pessoas humanas

podem realizar conduta, pois são as únicas dotadas de vontade e consciência

para buscar uma finalidade. Animais irracionais não realizam condutas, e

fenômenos da natureza não as constituem”.

Estes elementos são de grande valia na construção da

conduta, propriamente dita.

55 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 140. 56 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 271. 57 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p.227/228. 58 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 139.

14

1.2.4 Elementos Subjetivos

São Elementos Subjetivos da Conduta:

1.2.4.1 Dolo

Jesus59 conceitua Dolo como sendo “a vontade de concretizar as características objetivas do tipo”.

Para os defensores de um conceito psicológico-normativo de culpabilidade, expressa Leal60, “o dolo é conceituado como representação e vontade em referência a um fato punível, praticado pelo agente com o conhecimento de sua ilicitude”.

Já Zaffaroni e Pierangeli61 conceituam Dolo como “o elemento nuclear e primordial do tipo subjetivo e, frequentemente, o único componente do tipo subjetivo (nos casos em que o tipo não requer outros)”.

Para Bitencourt62 “dolo é a consciência e a vontade de realização da conduta descrita em um tipo penal”. E complementa:

O dolo, elemento essencial da ação final, compõe o tipo subjetivo. Pela sua definição, constata-se que o dolo é constituído por dois elementos: um cognitivo, que é o conhecimento do fato constitutivo da ação típica; e um volitivo, que é a vontade de realizá-la. O primeiro elemento, o conhecimento, é pressuposto do segundo, a vontade, que não pode existir sem aquele.

Capez63 traz Dolo como sendo “a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo legal. Mais amplamente, é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta”.

De acordo com Leal64 são espécies de Dolo: a) dolo direito ou determinado (o agente atua querendo como certa a realização de um

59 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p.287. 60 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 240. 61 ZAFFARONI, Eugenio Raúl, et at. Manual de direito penal brasileiro. p. 413. 62 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 333. 63 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 198. 64 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 242/243.

15

determinado tipo penal, que deve corresponder plenamente ao fato desejado pelo agente), e b) dolo indireto ou dolo eventual (quando o agente, embora não desejando diretamente o resultado, considera como seriamente provável que sua conduta poderá realizar o tipo penal previsto e concorda com sua possibilidade).

1.2.4.2 Culpa

Para Bitencourt65 Culpa é “a inobservância do dever objetivo

de cuidado manifestada numa conduta produtora de um resultado não querido.

Objetivamente previsível. A culpa, stricto sensu, tem suas raízes no Direito

Romano, mas especificamente na Lex Aquilia”.

Na versão de Capez66 Culpa “é o elemento normativo da

conduta. A culpa é assim chamada porque sua verificação necessita de um prévio

juízo de valor, sem o qual não se sabe se ela está ou não presente”. E cita as

espécies de culpa67:

a) Culpa inconsciente;

b) Culpa consciente ou com previsão;

c) Culpa imprópria, também conhecida como culpa por extensão,

por equiparação ou por assimilação;

d) Culpa presumida;

e) Culpa mediata ou indireta;

A culpa depende da ação exercida pelo indivíduo. A sua

conduta no delito definirá qual será a sua culpa e, consequentemente, a infração

cometida.

65BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 347. 66 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 205. 67 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 210-212.

16

1.2.4.3 Preterdolo

Conforme Capez68 “é aquele em que o legislador, após

descrever uma conduta típica, com todos os seus elementos, acrescenta-lhe um

resultado, cuja ocorrência acarreta um agravamento da sanção penal”. E

complementa:

O agente quer praticar um crime, mas acaba excedendo-se e produzindo culposamente um resultado mais gravoso do que o desejado. É o caso da lesão corporal seguida de morte, na qual o agente quer ferir, mas acaba matando (CP, art. 129, § 3º). Exemplo: sujeito desfere um soco contra o rosto da vítima com intenção de lesioná-la, no entanto, ela perde o equilíbrio, bate a cabeça e morre. Há um só crime: lesão corporal dolosa, qualificada pelo resultado morte culposa, que é a lesão corporal seguida de morte. Como se nota, o agente queria provocar lesões corporais, mas, acidentalmente, por culpa, acabou gerando um resultado muito mais grave, qual seja, a morte. Na hipótese, diz-se que o autor fez mais do que queria, agiu além do dolo, isto é, com preterdolo. (grifo nosso)

Diz Jesus69 que

Crime preterdoloso (ou perintencional) é aquele em que a conduta produz um resultado mais grave que o pretendido pelo sujeito. O agente que um minus e seu comportamento causa um majus, de maneira que se conjugam dolo na conduta antecedente e a culpa no resultado (conseqüente). Daí falar-se que o crime preterdoloso é um misto de dolo e culpa: dolo no antecedente e culpa no conseqüente, deriva da inobservância do cuidado objetivo. Constitui elemento subjetivo-normativo do tipo (o dolo é o elemento subjetivo; a culpa, o normativo).

O crime preterdolo, com explica Capez70, “compõem-se de

um comportamento anterior doloso (fato antecedente) e um resultado agravador

culposo (fato conseqüente). Há, portanto, dolo no antecedente e culpa no

68 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 215/216. 69 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p.308. 70 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 216.

17

conseqüente”.

Ensina Leal71 que

O crime preterdoloso se caracteriza por um misto de dolo e culpa, ou seja, o agente quer um resultado e acaba dando causa a um outro mais grave, este último involuntário. É o exemplo de quem desfere um golpe com a intensão de ferir (animus laedendi), mas a vítima vem a morrer por traumatismo craniano, causado por sua queda sobre uma pedra (art. 129, § 3º, do CP) e não de homicídio. O crime preterdoloso se caracteriza, portanto, por uma conduta inicial dolosa (o agente quer realmente ferir a vítima) e por um resultado involuntário mais grave, que vai além do que foi por ele desejado. Por isso, a doutrina moderna prefere a denominação de crime qualificado pelo resultado em vez de crime preterdoloso.

Assim, pode-se dizer que o crime preterdolo determina um

crime menos grave ora superado por um resultado mais grave.

1.3 SUJEITOS DO DELITO

O Delito nada mais é que uma conduta proibitiva, que vai

contra os princípios morais.

Delito, para Zaffaroni e Pierangeli72,

é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivo legal (tipo) que revela sua proibição (típica), que por não estar permitida por nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é contrária à ordem jurídica (antijurídica) e que, pode ser exigível do autor que agisse de maneira diversa diante das circunstancias, é reprovável (culpável).

São Sujeitos do Delito, de acordo com Leal73:

71 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 195. 72 ZAFFARONI, Eugenio Raúl, (et al). Manual de direito penal brasileiro. p. 338. 73 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 185-188.

18

1.3.1 Sujeito Ativo

A grande maioria dos crimes pode ser praticada pelos

indivíduos em geral, sem distinção de sexo, atividade profissional, ou condição de

ordem pessoal. (...)

Alguns crimes, no entanto, somente podem ser cometidos

por uma pessoas que apresente determinada condição ou requisito e assim são

chamados de crimes comuns ou de autoria aberta. Toda pessoa, com capacidade

pena geral, pode cometer qualquer um destes crimes. São os Sujeitos Ativos.

Crimes próprios ou de autoria fechada são também os

crimes de infanticídio (art. 123) e de omissão de notificação de doença (art. 269):

no primeiro caso, somente a mãe pode ser sujeito ativo do crime: no segundo, a

lei exige a condição de médico.

1.3.2 Sujeito Passivo

É o titular ou beneficiário do bem jurídico atingido pela

conduta criminosa. (...) Pode ser a pessoa humana que, no crime de homicídio,

de lesão corporal ou de furto tem respectivamente a sua vida, a sua integridade

física ou o seu patrimônio atingido pela ação delituosa: pode ser a pessoa jurídica

(crimes contra o patrimônio de sua sociedade comercial ou civil); pode ser o

Estado (crimes contra a administração pública), e pode ser também a própria

coletividade (crimes contra a fé pública e a saúde pública).

Sendo o crime a violação da lei do Estado, este seria

sempre o sujeito passivo formal ou constante, que seria distinto do sujeito passivo

material ou eventual. Assim, no crime de furto, sujeito passivo formal é o Estado,

atingido pela violação do preceito contido na norma penal e sujeito passivo

material ou eventual é o dono do objeto subtraído.

19

1.4 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES QUANTO AO SUJEITO

1.4.1 Crime Comum

De acordo com o conceito descrito por Jesus74, “crime

comum é o que pode ser praticado por qualquer pessoa. Ex.: homicídio, furto,

estelionato etc”.

No mesmo sentido Bitencourt75 conceitua Crime Comum

como sendo “o que pode ser praticado por qualquer pessoa (lesão corporal,

estelionato, furto)”.

Seguindo a mesma linha de pensamento, Capez76 conceitua

Crime Comum como aquele que “pode ser cometido por qualquer pessoa. A lei

não exige nenhum requisito especial”.

Para Leal77 Crime “Comum é a infração penal que pode ser

cometida por qualquer pessoa, desde que tenha alcançado a maioridade penal. É

o crime cuja descrição do tipo penal encontra-se no Direito Penal comum (CP e

demais leis extravagantes)”.

Este crime tem o pressuposto de não obrigar-se a seguir

regras e qualificações do sujeito que executou determinado crime dito como

comum.

1.4.2 Crime Próprio

Para Jesus78 crime próprio é o que só pode ser cometido por

determinada categoria de pessoas, pois pressupõe no agente uma particular

condição ou qualidade pessoal, podendo exigir do sujeito uma particular condição

jurídica (acionista, funcionário público); profissional (comerciante, empregador, 74 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p.188. 75 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 268. 76 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 261. 77 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 194. 78 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p.188.

20

empregado, médico, advogado); de parentesco (pai, mãe, filho); ou natural

(gestante, homem).

Já Bitencourt79 expressa que “crime próprio ou especial é

aquele que exige determinada qualidade ou condição pessoal do agente”.

Capez80 designa Crime próprio como aquele que “só pode

ser cometido por determinada pessoa ou categoria de pessoas, como o

infanticídio (só a mãe pode ser a autora) e os crimes contra a Administração

Pública (só o funcionário público pode se autor). Admite a autoria mediata, a

participação e a co-autoria”.

Leal81 explica que

a infração penal que somente pode ser praticada por uma categoria específica de pessoas é denominada de crime próprio, de autoria determinada ou especial. Esses crimes só podem ser cometidos por determinados sujeitos ativos: por funcionário público (art. 312 e segs do CP), pela mãe (infanticídio, art. 123) ou pelo médico (art. 269). A lei exige que o sujeito ativo seja portador de determinada condição ou qualificação jurídica para que possa cometer esse tipo de infração penal. Por isso são chamados de próprios ou de autoria assinalada ou especial, para distingui-los das demais infrações comuns, que podem ser praticadas por qualquer indivíduo.

O Crime Próprio determina o sujeito em particular que

pratica o crime.

1.4.3 Crime de Mão Própria

De acordo com Jesus82 os Crimes de Mão Própria “são os

que só podem ser cometidos pelo sujeito em pessoa. Ex.:falso testemunho,

incesto e prevaricação”. 79 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 268. 80 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 261. 81 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 194. 82 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p.188.

21

É, no que expressa Bitencourt83, “aquele que só pode ser

praticado pelo agente pessoalmente, não podendo utilizar-se de interposta

pessoa (falso testemunho, adultério, prevaricação)”.

Leal84 explica que

São aqueles que, por sua natureza ou modo de execução, somente podem ser cometidos pelo sujeito ativo de forma pessoal ou própria. Por isso, tal infração é também chamada de crime de mão própria, já que o sujeito ativo não pode praticá-lo através de outra pessoa (caso de autoria mediata) em regra, não pode haver co-autoria em crime desta natureza, mas pode haver participação, sob a forma de auxílio ou incitação ao autor dessa espécie de crime. O falso testemunho (art. 342) e a falsidade ideológica de atestado (art. 302) são espécies de crimes de autoria pessoal.

Já Capez85 diz que o Crime de mão própria (de atuação

pessoal ou de conduta infungível) “só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa,

como o delito de falso testemunho (art. 342). Somente admite o concurso de

agentes na modalidade de participação, uma vez que não se pode delegar a

outrem a execução do crime”.

Assume a obrigatoriedade do sujeito em pessoa cometer

determinado crime.

1.5 CRIME DE CONCURSO EVENTUAL E DE CONCURSO NECESSÁRIO

1.5.1 Crime de Concurso Eventual

Determina Capez86 que o “Crime de concurso eventual ou

monossubjetivo pode ser cometido por um ou mais agentes (homicídio – art. 121;

roubo – art. 157 etc)”.

83 BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal. p. 268. 84 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 194. 85 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 261. 86 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 261.

22

Desta maneira, este crime pode ser cometido por uma

pessoa, apenas, ou mais. Contudo, não determina a quantidade exata para ser

caracterizado como crime de concurso eventual ou monossubjetivo.

1.4.4 Crime de Concurso Necessário

Diz Jesus87 que “Crimes de Concurso Necessário são os

que exigem mais de um sujeito. Dividem-se em: a) crimes coletivos, de

convergência ou plurissubjetivos, e b) crimes bilaterais ou de encontro”.

Conceitua Capez88 como sendo “Crime de concurso

necessário ou plurissubjetivo o que exige pluralidade de sujeitos ativos (rixa – art.

137; quadrilha ou bando – art. 288 etc)”.

Para Leal89 são aqueles que

exigem obrigatoriamente a participação de duas ou mais pessoas para sua realização. Daí serem classificados como crimes de concurso necessário ou plurissubjetivos. Os crimes de quadrilha ou bando e de rixa são exemplos de crimes de concurso necessário, pois somente poderão ser cometidos com o concurso de três ou mais pessoas.

Assim, o crime de concurso necessário deixa claro a

participação de duas pessoas ou mais para caracterizá-lo.

Neste Capítulo abordamos as considerações acerca do

crime e seus agentes, a conduta e suas características, formas e elementos, os

sujeitos do delito e a classificação dos crimes.

No Capítulo 2 abordaremos sobre o Concurso de Agentes

no CP, do concurso de pessoas, requisitos, pluralidade e relevância causal das

condutas, o nexo subjetivo entre os agentes e a identidade de infrações.

87 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 205. 88 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. p. 265. 89 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 202.

23

CAPÍTULO 2

O CONCURSO DE AGENTES NO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

2.1 DO CONCURSO DE PESSOAS

Quando um crime envolve mais de um autor, ou seja, duas

ou mais pessoas, diz-se que houve um Concurso de Pessoas. É também

chamado por alguns doutrinadores de Concurso de Agentes, co-delinqüência.

No Concurso de Pessoas duas ou mais pessoas concorrem

entre si, associando-se para a prática de um crime.

Concorrer, nas palavras de Jesus90 “significa convergir para

o mesmo ponto, cooperar, contribuir, ajudar e ter a mesma pretensão de outrem.

O verbo expressa claramente a figura do concurso – ato de se dirigirem muitas

pessoas ao mesmo lugar ou fim, segundo os léxicos”.

Para Silva91, “existe co-delinqüência quando mais de uma

pessoa, cientes e voluntariamente, participam da mesma infração penal (crime ou

contravenção)”.

Igualmente pensa Führer92: “Há concurso de pessoas

quando dois ou mais indivíduos concorrem para a prática de um mesmo crime”.

Sobre o tema discorre Leal93.

Além da ação delituosa individual são freqüentes os casos de crimes praticados em concurso, ou seja, com a colaboração ou com participação de dois ou mais agentes (...) de comum acordo,

90 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 425 91 SILVA, Ronaldo. Direito penal parte geral. Florianópolis: Momento Atual, 2002. p. 169. 92FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, (et. al) . Resumo de direito penal (parte geral). p. 89. 93 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 521.

24

cometem um ou mais crimes de homicídio, de furto, de estupro etc. Isto significa que o crime pode ser praticado individualmente (um só agente) ou em conjunto (mais de um agente).

Nesse sentido, leciona Jesus94:

A infração penal (...) nem sempre é obra de um só homem. Com alguma freqüência, é produto da concorrência de várias condutas referentes a distintos sujeitos. Por vários motivos, quer para garantir a sua execução ou impunibilidade, quer para assegurar o interesse de várias pessoas em seu consentimento, reúnem-se repartindo tarefas, as quais, realizadas, integram a figura delitiva. Assim, o crime de furto pode ser planejado por várias pessoas: uma rompe a porta da residência, outra nela penetra e subtrai bens, enquanto uma terceira fica de atalaia. Neste caso, quando várias pessoas concorrem para a realização da infração penal, fala-se em co-delinqüência, concurso de pessoas, co-autoria, participação, co-participação ou concurso de delinqüentes (concursus delinquentium). O CP emprega a expressão “concurso de pessoas” (art. 29).

Mirabette95 resume Concurso de Pessoas como sendo “a

ciente e voluntária participação de duas ou mais pessoas na mesma infração

penal”.

Destaca-se a contribuição de Noronha96 a respeito do

Concurso de Pessoas, ou como o próprio autor designa, “co-delinqüência”:

Existe co-delinqüência quando mais de uma pessoa, ciente e voluntariamente, participa da mesma infração penal (crime ou contravenção). Há convergência de vontades para um fim comum, aderindo uma pessoa à ação da outra, sem que seja necessário prévio concerto entre elas.

O Concurso de Pessoas apresenta-se na jurisprudência de

acordo com o entendimento do TJMG:

94 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 405 95 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. v. 1. São Paulo: Atlas, 1985. p. 223. 96 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal, volume 1, introdução e parte geral. Atualizada por Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha. 34. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 211.

25

Tóxicos – Tráfico – Porte ilegal de armas de uso permitido – Concurso de agentes – Inocorrência – Crime hediondo – regime de cumprimento de pena integralmente fechado. Se a prova dos autos não gera a certeza de terem os co-réus participado do tráfico de entorpescentes e da posse ilegal de arma de fogo atribuído a um dos agentes, não há falar em co-autoria ou associação eventual ou permanente para a prática daquela infração, devendo prevalecer a absolvição dentro do princípio “in dúbio pro reo”. Com a edição da lei 8.072/90, os condenados por delitos considerados hediondos, ou a eles equiparados, devem cumprir a pena integralmente no regime fechado, não tendo direito à progressão. Recursos conhecidos, improvido o da defesa e provido parcialmente o do Ministério Público. (TJMG – 1ª C. Crim. – ACR 1.0105.04.115352-6/001 – Rel. Des. Gudesteu Biber – j. 07.06.2005)97.

Leal98 destaca o Código Penal apresentando um conjunto de

agravantes em relação ao Concurso de Pessoas:

No tocante ao concurso de pessoas, prevê o CP uma agravante específica para quem:

1) “promove, organiza ou dirige a atividade dos demais agentes”;

2) “coage ou induz outrem à execução material do crime”;

3) “instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não punível”; e

4) “executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa” (art. 62, inc. I a IV). Nessas hipóteses, o agente receberá a pena do crime cometido em conjunto, que será aplicada de acordo com a sua culpabilidade e as circunstâncias de caráter pessoas, acrescida de uma dessas agravantes, se for o caso.

O Concurso de Pessoas, então, acontece quando o autor e 97 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p. 499. 98 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 536.

26

o co-autor, ou autor, co-autor e partícipe atuam num mesmo delito, cada qual com

sua função pré-determinada na ação.

2.1.1 Requisitos

O Concurso de Pessoas vem acontecendo de maneira cada

vez mais freqüente nos dias atuais. Nos noticiários policiais há mais casos de

duas ou mais pessoas que cometem um delito do que um só indivíduo.

Mas para que o Concurso de Pessoas se concretize, de fato,

são indispensáveis alguns requisitos. São eles:

2.1.1.1 Pluralidade de Conduta

A Pluralidade de Conduta é quando outros contribuem de

maneira indireta para que o delito ocorra.

Diz Jesus99

Na participação há agentes que praticam o núcleo do tipo e outros que, não cometendo atos preparatórios ou executórios (em princípio atípicos), contribuem para o desdobramento físico da série de causas do evento e respondem pelo fato típico em razão da norma de extensão.

Na visão de Ferraz100, “enquanto alguns praticam o fato

material típico, representado pelo verbo núcleo do tipo, outros limitam-se a

instigar, induzir, auxiliar moral ou materialmente o executor ou executores

praticando atos que, em si mesmos, seriam atípicos”.

Na explicação de Dotti101

O concurso de pessoas na infração penal, em qualquer de suas 99 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 420. 100 FERRAZ, Esther de Figueiredo. A co-delinqüência no moderno direito penal brasileiro. São Paulo: Bushatshy, 1976. p. 25. 101 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 353.

27

modalidades, é, em síntese, a soma de comportamentos individuais que realizam a figura do ilícito. Há necessidade, portanto, de duas ou mais condutas dirigidas ao mesmo objetivo, i. e., à realização do verbo indicado pelo núcleo do tipo legal de crime. É fundamental, no entanto, que o concorrente seja imputável, tenha consciência da ilicitude do fato (ou possa adquirir tal consciência) e que, nas circunstâncias do caso concreto, poderia e deveria agir de outro modo. Sem tais requisitos não se caracteriza, quanto a ele, o concurso na forma prevista pelo art. 29 do CP, com efeito, o texto exige, como elemento típico, a capacidade de culpa daquele que, “de qualquer modo, concorre para o crime” para receber a pena adequada à sua culpabilidade.

De acordo com o art. 29 do CP, “Quem, de qualquer modo,

concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua

culpabilidade”.

Desta maneira, tanto a participação de um único indivíduo

como a participação de dois ou mais contribuem para a realização do delito e

assim todos têm que responder por tal ato.

2.1.1.2 Relevância Causal das Condutas

Tem suma importância na análise do delito em si, daqueles

que dele participam e suas condutas.

Aduz Jesus102 que

A participação delituosa tem por base o conceito de conduta. (...) A simples manifestação de adesão a uma prática delituosa não é participação. Assim, se A diz que vai concorrer no homicídio a ser cometido por B contra C, não há participação. Isso porque a exteriorização do designo criminoso não foi seguida de uma conduta. Agora, se A instiga B a matar C, ocorrendo pelo menos tentativa de homicídio, existe participação. É que no concurso de agentes também tem eficácia a máxima cogitationis poenam nemo patitur. Da mesma forma, não é partícipe quem apenas aplaude intimamente a realização de um delito.

102 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 421.

28

Mirabete103 destaca as várias condutas existentes nas

pessoas, o nexo causal e o resultado.

Existentes condutas de várias pessoas, é indispensável (...) que haja nexo causal entre cada uma delas e o resultado. Havendo essa relação entre a ação de cada uma delas e o resultado, ou seja, havendo relevância causal de cada conduta, concorrem essas pessoas para o evento e por ele serão responsabilizadas.

No entendimento de Dotti104, “Para ser punível a atividade

deve ser causa próxima ou remota do evento”.

Na instrução de Leal105

Não basta uma simples e vaga participação dos agentes. É preciso que a contribuição de cada um destes tenha relevância jurídica, em relação ao evento delituoso examinado. A simples presença no local do crime, em regra, não configura por si só participação no crime praticado por outro (s), da mesma forma, o conhecimento de que alguém está decidido a cometer um crime não constitui forma de co-participação.

Salienta-se, ora, que, para a comprovação da participação

no delito é preciso que se prove que o comportamento do indivíduo em questão

levou, de alguma forma, ao desfecho criminal. A eficácia causal deve ser

comprovada.

2.1.1.3 Nexo Subjetivo entre os Agentes

No que diz Jesus106

As várias condutas não são suficientes para a existência da participação ou co-autoria. Imprescindível é o elemento subjetivo, pelo qual cada concorrente tem consciência de contribuir para a realização da obra comum. (...) Assim, exige-se o vínculo

103 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. 23. ed.. São Paulo: Atlas, 2006. p. 227. 104 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 353/354. 105 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 521. 106 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 421

29

subjetivo (vontade de contribuir para o crime).

Igualmente pensa Führer107.

Para a caracterização da co-autoria deve existir uma cooperação consciente recíproca, expressa ou tácita, entre os agentes, resultante de acordo prévio ou de um entendimento repentino surgido durante a execução. A vontade de contribuir para o resultado comum deve ser bilateral. (...) Na participação, ao contrário, a cooperação pode ser unilateral, ou seja, pode ser exercida sem que o autor principal consinta ou saiba do auxílio prestado. Exemplo clássico de participação unilateral é o da empregada que deixa aberta de propósito a porta da casa do patrão, para facilitar a ação do ladrão, que sabe estar rondando a área.

Para Prado108 “a consciência deve ser idêntica ou

juridicamente uma unidade para todos a contribuir para uma obra comum”.

Dotti109 salienta de forma clara e coesa que

Não se exige um pactum sceleris ou um simples acordo para a configuração do elemento subjetivo. Basta a consciência de cooperar, de qualquer modo, em maior ou menor grau, para a ação de outrem visando praticar o fato punível. A reciprocidade do elemento subjetivo também é necessária, pois se um dos concorrentes não souber da colaboração de outrem no mesmo fato não haverá, para ele, o concurso.

Deste modo, para que haja o Concurso de Pessoas é

preciso que exista um nexo subjetivo entre os participantes do delito.

2.1.1.4 Identidade de Infrações

Observa Jesus110 que “não se trata, propriamente, de um

107 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 90. 108 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, volume 1, parte geral, arts. 1º a 120. 7ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 486 109 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 354.

30

requisito, mas de conseqüência jurídica em face das outras condições”. E

salienta:

O CP, em seu art. 31, reza que o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. Extrai-se da interpretação da disposição o seguinte: se o Código exige crime tentado ou consumado para que haja participação, é evidente que todos os participantes respodem pelo mesmo delito. Mudando o nomen júris do crime para um dos participantes, a operação de desclassificação estende-se a todos.

Segundo Prado111 “o delito deve ser idêntico ou

juridicamente uma unidade para todos”.

Assim, para que se configure o Concurso de Pessoas é

preciso que o empenho dos indivíduos concorrentes seja totalmente voltado ao

delito praticado, e este ser único.

2.2 FORMAS

Apesar do CP não apresentar de maneira clara as formas do

concurso de agentes, dar-se-á por co-autoria ou por participação.

2.2.1 Co-autoria

Na essência, explana Führer112, “a co-autoria é uma divisão

de tarefas para a obtenção de um resultado comum”.

Na co-autoria (reunião de autorias), esclarece Jesus113,

(...) o co-autor realiza o verbo típico ou concretiza parte da descrição do crime, ainda que, no último caso, não seja típica a conduta perante o verbo, desde que esteja abarcada pela vontade

110 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 424 111 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p. 486. 112 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 93. 113 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 410.

31

comum de cometimento do fato. É a prática comunitária do crime. Cada um dos integrantes possui o domínio da realização do fato conjuntamente com outro ou outros autores, com os quais tem plano comum de distribuição de atividades. Há divisão de tarefas, de maneira que o crime constitui conseqüência das condutas repartidas, produto final da vontade comum. E nenhum deles é simples instrumento dos outros.

A visão de Leal114 demonstra que todos os envolvidos

diretamente no crime são chamados de co-autores.

Num crime praticado mediante concurso de pessoas, todos aqueles que tiverem praticado diretamente atos de execução do tipo penal serão considerados co-autores. Portanto, co-autor é aquele que comete com outros agentes a ação ou omissão configuradora de um determinado crime.

No magistério de Silva115

Co-autor é quem executa, juntamente com outras pessoas, a ação ou omissão que configura o delito. Assim, se duas pessoas disparam suas armas, alvejando a vítima e causando-lhe a morte, responderão como co-autores. Também são co-autores, por exemplo, aqueles que ameaçam a vítima como os que subtraem a coisa do crime de roubo. A co-autoria é, em última análise, a própria autoria. Funda-se ela sobre o princípio da divisão do trabalho. Casa autor colabora com sua parte no fato, e os demais na parte da totalidade do delito e, por isso, respondem pelo todo. Há, na co-autoria, a decisão comum para a realização do resultado e a execução da conduta (...).

Numa outra linha de pensamento, explana Prado116

(...) será co-autor aquele que realiza parcialmente a conduta típica, ou, ainda que não o faça, detenha o domínio funcional do fato. Portanto, o sujeito que tem o domínio funcional realiza o fato em conjunto com aqueles que executam diretamente a conduta típica. (...) O co-autor não deve necessariamente realizar atos

114 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 528. 115 SILVA, Ronaldo. Direito penal parte geral. p. 171. 116 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p. 488.

32

executivos, embora deva intervir na fase de execução do delito antes de sua contribuição, não terá praticado nenhuma conduta típica.

Para Mirabete117, “a co-autoria é, em última análise, a

própria autoria. Funda-se ela sobre o princípio da divisão do trabalho; cada autor

colabora com sua parte no fato, a parte dos demais, na totalidade do delito e, por

isso, responde pelo todo”.

Observa Dotti118:

O CP, antes da Lei nº 7.209, de 11.7.1984, regulava a

matéria através do Tít. IV, impropriamente designado “DA CO-AUTORIA” (arts. 25

a 27). Com a Reforma de 1984, o aludido título foi adequadamente nominado:

“DO CONCURSO DE PESSOAS” (arts. 29 a 31). Como é evidente, a co-autoria é

uma das hipóteses do concurso e com ele não se confunde.

Este título prevalece até hoje, apesar da recente reforma.

Nos ensinamentos de Jesus119, a co-autoria pode ser:

a) direta: todos os sujeitos realizam a conduta típica. Ex.:

diversas pessoas agridem a vítima produzindo-lhe lesões corporais;

b) parcial ou funcional: há divisão de tarefas executórias

do delito. Trata-se do chamado ‘domínio funcional do fato’, assim denominado

porque alude à repartição de atividades (funções) entre os sujeitos. Ex.: no roubo,

são divididas as ações de apoderamento do dinheiro, constrangimento dos

sujeitos passivos mediante ameaça, vigilância e direção do veículo; no estupro,

um a ameaça com emprego de arma e outro mantém com ela conjunção carnal;

c) simples: ex.: dois executores da conduta típica; e

117MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. 2006. p. 230. 118 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 359. 119 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 410/411.

33

d) complexa: um executor e outro co-autor intelectual ou

funcional.

Já o co-autor pode ser:

1º) direito: ele é um dos sujeitos que executa o verbo do

tipo;

2º) intelectual: na repartição de tarefas, é autor da idéia

delituosa (caso do mandante que detém o domínio do fato) ou lhe incumbe

organizar o plano criminoso; e

3º) funcional: cabe-lhe, na missão criminosa, executar parte

do comportamento típico.

Desta maneira, o co-autor torna-se peça indispensável para

a execução de determinado delito e relevante quando da estipulação da pena.

2.2.2 Participação

A Participação se dá quando o indivíduo, mesmo não sendo

o autor do delito, concorre, colabora de alguma forma para que o delito aconteça.

Assim, aquele que participa do ato criminoso é chamado de partícipe.

No conceito de Noronha120 “Partícipe é o agente que,

embora não pratique atos executórios, concorre de qualquer modo para o

resultado. Partícipe, assim, é o que pratica um ato que contribui para a realização

do crime, ato este diverso do realizado pelo autor ou autores”.

Em outras palavras, destaca Dotti121 “Partícipe é a pessoa

física que concorre na ação de outrem, contribuindo para a realização do tipo de

ilícito. Segundo acepção comum, participar é tomar parte em algo, é colaborar

120 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 212 121 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 356.

34

para um fato alheio”.

Desta forma, o Partícipe nada mais é que aquele que tem

participação no delito.

Nesse sentido, Silva122 descreve Participação como sendo

(...) a atividade acessória daquele que colabora para a conduta do autor com a prática de uma ação que, em si mesma, não é penalmente relevante. Essa conduta somente passa a ser relevante quando o autor ou co-autores iniciam, ao menos, a execução do crime. O partícipe não comete a conduta descrita pelo preceito primário da norma, mas pratica uma atividade que contribui para a realização do delito.

No discernimento de Prado123

Entende-se por participação stricto sensu a colaboração dolosa em um fato alheio. É a contribuição dolosa – sem o domínio do fato – em um fato punível doloso de outrem. Cuida-se de um conceito referencial, já que a participação é sempre acessória ou dependente de um fato principal (...).

Nessa mesma linha assertiva, explana Leal124 “A

participação é, em seu sentido restrito, contribuição ao crime realizado por

outrem, apresentando-se sob a forma de instigação ou cumplicidade”.

De acordo com os ensinamentos de Jesus125, “são, pois,

características da participação: 1ª) a conduta não se amolda ao núcleo da figura

típica (o verbo); 2ª) o partícipe não tem nenhum poder diretivo sobre o crime, i, e.,

não possui o domínio finalista do fato”.

Führer126 destaca que “a forma mais comum de participação

122 SILVA, Ronaldo. Direito penal parte geral. p. 171 123 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p. 492/493. 124 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 529. 125 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 411. 126 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 89.

35

é a cumplicidade, que consiste numa atividade extra típica acessória, de auxílio

ou colaboração com o autor, como no fornecimento de uma viatura, no

empréstimo consciente de uma arma para o fim delituoso, ou na vigilância dos

arredores”. (grifo do autor)

Comporta anotar os dizeres de Mirabete127:

Fala-se em participação, em sentido estrito, como a atividade acessória daquele que colabora para a conduta do autor com a prática de uma ação que, em si mesma, não é penalmente relevante. (...) o partícipe não comete a conduta descrita pelo preceito primário da norma, mas pratica uma atividade que contribui para a realização do delito.

Segundo Jesus128 a participação pode ser: (a) moral: é o fato

de incutir na mente do autor principal o propósito criminoso ou reforçar o

preexistente; e (b) material: é o fato de alguém insinuar-se no processo da

causalidade física.

Veja os exemplos apresentados pelo autor:

A aconselha B a matar C. Praticada a figura típica do

homicídio, A é partícipe moral do fato delituoso cometido por B (autor principal).

A, sabendo que B pretende matar C, empresta-lhe uma

arma. Praticada a conduta criminosa, A é partícipe material do comportamento

principal de B.

Ainda no que diz respeito à participação material Führer129

destaca a instigação “que consiste no convencimento de outrem à prática do

crime”.

127 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. p. 231. 128 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 425. 129 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 89.

36

Outra lição importante nos passada por Führer130 é a

redução de pena por delação de co-autor e partícipe. Observe:

No crime de extorsão mediante seqüestro, o co-autor que denunciar o fato à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá a pena reduzida de um a dois terços (art. 159, § 4º, do CP).

O mesmo benefício se estende ao partícipe e as associado no caso de crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo, na hipótese de bando ou quadrilha (art. 288 do CP), conforme Lei 8.072/90, arts. 7º e 8º e parágrafo único.

E a Lei 9.034/95, de forma mais ampla, de modo a abranger toda e qualquer espécie de crime vinculado a quadrilha ou bando (organização criminosa), reduz também a pena, de um a dois terços, quando a colaboração espontânea do agente levar ao esclarecimento de infrações penais e sua autoria.

Fuhrer131 explica que “a co-autoria e a participação podem

ocorrer até a consumação do crime. Após a consumação não há mais concurso

de agentes, podendo, contudo, existir outro delito autônomo, como o

favorecimento real (art. 349 do CP)”.

Nessa linha de entendimento, podemos dizer que co-autor é

aquele que exerce papel fundamental na execução do delito; o braço direito do

autor; já o participante, ou partícipe, exerce papel secundário, dependendo do

autor e do co-autor para executar sua função no delito.

2.3 PARTICIPAÇÃO EM CRIME MENOS GRAVE

De acordo com o § 2º do art. 29, CP, “Se algum dos

concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena

deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o

130FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 95 131 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 89.

37

resultado mais grave”.

Na explanação de Prado132

Determina-se claramente que, em caso de desvio subjetivo de conduta – quando um dos intervenientes queria (dolo) participar do delito menos grave e não do mais grave realizado por outro concorrente (participação de crime menos grave) -, a culpabilidade seja mensurada individualmente, com a aplicação proporcional da pena. Todavia, responderá partícipe pelo crime menos grave, com a pena aumentada até a metade, em lhe sendo previsível o resultado (art. 29, § 2º, CP).

Führer133 observa que “a pena é graduada na medida da

culpabilidade de cada agente”.

Leciona Dotti134

O texto legal é aplicável à hipótese em que o partícipe (instigador ou cúmplice) pretendia concorrer para um resultado menos grave que o efetivamente produzido pelo autor, como ocorre com o mandato para o delito de lesão corporal, mas o executor comete homicídio em razão da violência empregada.

Expressando o seu entendimento sobre o tema Noronha135

relata:

No caso de excesso qualitativo o participante que desejou o crime menos grave responderá apenas por ele, já que falta a relação de causalidade, uma vez que o ato praticado não se situa na linha de desdobramento causal da ação desejada pelo outro agente, como também lhe falta o elemento subjetivo que se dirija ao outro crime.

Leal136, por sua vez, exemplifica a respeito.

132 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p.496. 133 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 89. 134 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 358. 135 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 219. 136 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 534/535.

38

É o exemplo de quatro indivíduos que penetram numa residência para furtar, sendo que um deles comete também um homicídio por decisão pessoal e sem a participação direta dos demais. Estes serão punidos pela prática do crime de furto qualificado em co-autoria, cuja pena poderá ser aumentada até o dobro, se o cometimento do homicídio era-lhes previsível por terem conhecimento de que o outro comparsa estava armado e se tratava de pessoa violenta; este responderá pelo cometimento dos crimes de furto qualificado e de homicídio em concurso (...).

Assim, pode-se dizer que a pena se baseia no grau de culpa

do indivíduo na ação criminosa.

2.4 PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA

Aquele que colabora de alguma forma com um crime,

mesmo sendo uma participação de menor importância, também sofre sanções

penais de acordo com a gravidade de seu ato.

Füher137 preconiza que “a Reforma Penal de 1984 adotou a

teoria monista138, equiparando autores e partícipes: quem, de qualquer modo,

concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua

culpabilidade (art. 29 do CP)”.

E observa salientando que “(...) o Código Penal deu um

tratamento especial à participação de menor importância, aproximando-se da

teoria dualística139”.

Esse “tratamento especial” no qual se refere o autor acima

diz respeito ao § 1º do art. 29, CP, que explana “Se a participação for de menor

importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço”.

137 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 88. 138 Para Führer (p. 88), “a teoria monista considera que no concursos de pessoas há um só crime; a teoria pluralista, que há vários crimes (...)”. 139 Para Führer (p. 88), “a teoria dualística é a que há um crime em relação aos autores e outro crime em relação aos partícipes”.

39

Esclarece Leal140

Quando a participação de qualquer concorrente for considerada como substancialmente secundária (menor importância), este poderá ser beneficiado com uma redução em sua reprimenda. Neste caso, o CP (art. 29, § 1º) lançou mão da solução dualista, reconhecendo a presença de autores e de partícipes no crime cometido em concurso.

No mesmo sentido, salienta Prado141

Como decorrência lógica da orientação insculpida no art. 29, caput, do Código penal, surge essa causa redutora de pena, de caráter obrigatório, em sendo a contribuição do partícipe de menor ou apouca relevância para o delito (art. 29, § 1º, CP). Pode, nesse caso, ser aplicada a sanção penal aquém do mínimo legal.

Destarte, Dotti142 salienta sobre o tema

A verificação concreta da menor importância da conduta participativa é aferida em razão de sua eficiência quanto ao evento típico, considerando-se como de pequena importância aquela de leve eficiência causal. Trata-se de uma causa especial de redução obrigatória da pena e não de mera faculdade judicial. A redução de pena em tal caso é obrigatória (CP, art. 29, § 1º).

Noronha143, por sua vez, faz quatro observações quanto à

Participação de Menor Importância. Veja:

a) Em primeiro lugar, aplica-se somente ao partícipe, pois

incompatível com a posição do autor. Quem realiza o tipo obviamente não pode

agir com pequena parcela para o crime.

b) Em segundo lugar, por “menor importância”, somenos,

deve ser entendida a de leve eficiência causal.

140 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 536 141 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p. 496. 142 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 358. 143 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. p. 218.

40

c) Em terceiro, é incompatível com as agravantes contidas

no art. 62, todas elas referentes ao concurso de pessoas. Isto porque ninguém

pode ter uma participação de somenos e ao mesmo tempo promover, coagir etc.

d) Por derradeiro, a redução da reprimenda é facultativa e

não obrigatória. O verbo, da forma usada – “pode ser” -, indica uma faculdade

judicial a ser usada com prudência e não arbítrio. Ou, se desejarem, o

consagrado e tão mencionado “prudente arbítrio do juiz”.

Mirabete144 faz importante explanação a respeito.

A circunstância de ter o partícipe desenvolvido uma atividade de menor importância que o autor ou co-autores levou o legislador a estabelecer uma causa geral de diminuição de pena apenas para a participação de menor importância, ao contrário da lei anterior, que previa apenas uma atenuante genérica quando a cooperação no crime fosse de somenos importância.

A participação de menor importância só pode ser a colaboração secundária, dispensável, que, embora dentro da causalidade, se não prestada não impediria a realização do crime. Não deve ser reconhecida a causa de diminuição de pena quando o agente participou da idealização do crime, forneceu instrumento indispensável à prática do ilícito etc.

A jurisprudência tem se manifestado a respeito. Veja:

Apelação – Júri – Decisão manifestadamente contrária a prova – Depoimentos de co-réus e testemunhas – Concurso – participação de menor importância – Redução operada – Grau de participação. Não é manifestamente contrária a decisão dos jurados que reconheceu o concurso dos apelantes na morte da vítima com base em parte considerável da prova recolhida. Quem livre e conscientemente participa de invasão armada, derrubando cercas e atirando se não quer a morte da vítima que ocupava a propriedade, pelo menos assumiu o risco do

144 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. p. 237.

41

resultado, perfeitamente previsível. O juiz opera a redução pela participação de menor importância de acordo com o que o contexto fático demonstra sobre o grau de participação na ação delituosa. Perfeitamente adequada e fundamentada a operação no mínimo de 1/6. Negado Provimento. (TJRS – 3ª C.Cr. – Ap. Cr. 70009818584 – Rel. Elba Aparecida Nicolli Bastos – j. 07.04.2005145.

A Participação de Menor Importância, por sua vez, não

afasta do indivíduo sua culpabilidade no delito. O mesmo responderá por seu ato

criminal e sua pena proporcional à ele.

2.5 CIRCUNSTÂNCIAS INCOMUNICÁVEIS

De acordo com o art. 30, CP, “Não se comunicam as

circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do

crime”.

Prado146 cita o art. acima e destaca a incomunicabilidade

das circunstâncias da seguinte maneira:

Atuantes sobre a medida da culpabilidade – são as condições ou qualidades que se referem à pessoa do agente (reincidência, menoridade, motivos, relacionamento agente-vítima). Efeito: incomunicabilidade, salvo exceção (quando elementares, isto é, quando seja dado essencial e peculiar da natureza do injusto específico). È indispensável que a qualidade ou condição do sujeito ativo seja conhecida pelo partícipe.

Nesse sentido, leciona Jesus147

Em caso de co-autoria ou participação, os dados inerentes à pessoa de determinado concorrente não se estende aos fatos cometidos pelos outros participantes. Ex.: A (reincidente) induz B

145 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p. 499. 146 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p. 496/497. 147 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 439.

42

(primário) a cometer um delito. A agravante prevista no art. 61, I, do CP (recidiva) não se estende a B.

Neste caso, a condição que envolve um dos indivíduos é

incomunicável com aquela que permeia outrem; estas circunstâncias são

incomunicáveis umas com as outras, de um indivíduo em relação a outrem.

O Capítulo que ora se encerra apresentou o Concurso de

Agentes no Código Penal brasileiro, abordando sobre seus requisitos formas e

participações, além das circunstâncias incomunicáveis.

No Capítulo 3º será explanado sobre os Aspectos

destacados acerca do Concurso de Agentes e Aspectos Controvertidos, iniciando

com a Autoria Mediata, o Concurso de Pessoas nos Crimes Omissos, nos Crimes

Culposos, de Infanticídio e, finalizando com o Crime de Quadrilha ou Bando em

Concurso com o Furto e Roubo Qualificado pelo Concurso de Pessoas.

43

CAPÍTULO 3

ASPECTOS DESTACADOS ACERCA DO CONCURSO DE

AGENTES E ASPECTOS CONTROVERTIDOS

3.1 DA AUTORIA MEDIATA

A Autoria mediata se dá quando um indivíduo pratica um

crime pelas mãos de outro, ou seja, influência o outro de tal maneira que aquele

comete o delito em seu lugar, a seu mando.

De acordo com Führer148

Chama-se autoria mediata aquela em que o autor de um crime não o executa pessoalmente, mas através de um terceiro não culpável. Esse terceiro não culpável, utilizado pelo autor mediato, pode ser um menor inimputável ou alguém sob coação irresistível. Ou alguém que nem saiba estar participando de um crime, como, por exemplo, uma enfermeira que ministra veneno a um paciente, por ordem do médico, pensando tratar-se de medicamento. Nestes casos, não há concurso de agentes. Só há um agente, o autor mediato.

Nesse sentido explica Leal149

É também, considerado autor aquele que, embora não praticando diretamente o tipo penal, consegue comete-lo através de outra pessoa, que age sem culpabilidade, seja porque é inimputável (doente mental ou menor), seja porque não se lhe pode exigir conduta conforme o direito (coação moral irresistível), seja ainda, por ter sido levado a erro por terceiro (no caso, pelo próprio autor mediato). São os chamados casos de autoria mediata, nos quais o agente direito transforma-se num simples instrumento da vontade delitiva do verdadeiro autor da infração penal. Nesses casos, não

148 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 92. 149 LEAL, João José. Direito penal geral. p. 528.

44

há propriamente concurso de pessoas e o crime será imputado somente ao autor mediato, pois o autor direto, sendo apenas um instrumento da resolução criminosa daquele, não será punível.

Na mesma linha de raciocínio expressa Prado150

Assume como premissa que aquele que realiza a conduta típica sempre tem o domínio do fato. Entretanto, nas hipóteses de autoria mediata, aquele que realiza a conduta típica carece do domínio do fato e não poderia, consequentemente, ser considerado autor. O instrumento não tem, portanto, o domínio final do fato – e sim o autor mediato – e, no entanto, realiza a conduta típica.

Ainda de acordo com Prado151

Não cabe autoria mediata nos casos de: o autor direito (intermediário) é inteiramente responsável; nos delitos especiais (instrumento não qualificado) e de mão própria – só pode haver participação (ex.: art. 342, CP – falso testemunho ou falsa perícia).

Tem-se autoria mediata, conforme complementa Prado, em

síntese, nas hipóteses seguintes:

1) Na coação moral irresistível (art. 22, CP), pois

responde pelo delito o co-autor, figurando o coacto –

inculpável pela inexigibilidade de conduta diversa –

como um mero instrumento em suas mãos;

2) Na obediência hierárquica (art. 22, CP), dado que

responde como autor mediato o autor da ordem, uma

vez que ao inferior hierárquico não se pode exigir

conduta diversa;

3) Na indução a erro ou nos casos em que o autor

mediato se aproveita da situação de erro de tipo ou de 150 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p.488. 151 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. p.490.

45

proibição do sujeito;

4) Na utilização de inimputável;

5) Na utilização como instrumento de pessoa amparada

pela presença de uma causa de justificação.

Informa Mirabete152 ressalvando que “Não há possibilidade

de autoria mediata nos crimes de mão própria. É possível, porém, a participação

nesses ilícitos, como, também, nos crimes e contravenções de mera conduta

(instigação, mandato, auxílio material etc)”.

A denominada autoria mediata, de acordo com Jesus153,

pode resultar de:

1º) ausência de capacidade penal: caso do inimputável por

menoridade penal que é induzido a cometer um ato descrito em lei como crime;

2º) inimputabilidade por doença mental: caso do louco a

quem se determina a prática de um crime;

3º) coação moral irresistível: em que o executor pratica o

fato com a vontade submissa à do co-autor;

4º) erro de tipo escusável determinado por terceiro: em que

o executor pratica o fato induzido a erro essencial, excludente da tipicidade;

5º) obediência hierárquica.

Vale destacar os ensinamentos de Jesus154 que preconiza

que entre o autor mediato e a pessoa executora do fato típico não existe concurso

de pessoas. No entanto, com a participação de uma terceira pessoa acarretará:

152 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. p. 232. 153 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 418. 154 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 416.

46

Na autoria mediata não há concurso de pessoas entre o autor mediato, responsável pelo crime, e o executor material do fato. É possível, entretanto, participação entre o autor mediato e terceiro. Ex.: o terceiro induz o autor mediato a servir-se de outrem para a execução do fato criminoso. Pode ocorrer também a hipótese de co-autores mediatos.

No tocante ao domínio do fato, leciona Jesus155, configura-se o autor mediato.

A autoria mediata caracteriza-se essencialmente pelo abuso do homem não livre, e somente quem possui o domínio do fato pode abusar de alguém para sua realização. O autor mediato controla, desde o princípio até o fim, o desenrolar dos acontecimentos. (...) Como dirigente da conduta do autor direto, converte-se em autor mediato.

Assim, o autor mediato apresenta-se como meio para a

atividade-fim, e o ato tipificado como crime em lei, bem como sofre, mesmo que

de forma mais branda, as conseqüências do ato delitivo.

3.2 O CONCURSO DE AGENTES NOS CRIMES OMISSIVOS

O Concurso de Agentes nos Crimes Omissivos ou omissos

acontece quando um indivíduo instiga, determina a outrem que faça algum tipo de

delito omissivo, como omissão de socorro etc.

No que decorre Mirabete156

É possível a participação em crime omissivo puro, ocorrendo o concurso de agentes por instigação ou determinação. Assim, se o agente instiga outrem a não efetuar o pagamento de sua prestação alimentícia, responderá pela participação no crime de abandono material. O mesmo ocorre quanto à conduta do paciente que convence o médico a não comunicar a autoridade competente a moléstia de que é portador e cuja notificação é compulsória.

155 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p.417. 156 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. p. 233.

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Também é possível a participação por omissão em crime

comissivo, observa Mirabete157. Se um empregado que deve fechar a porta do

estabelecimento comercial não o faz, para que terceiro possa mais tarde praticar

uma subtração, há participação criminosa no furto em decorrência do não-

cumprimento do dever jurídico de impedir a subtração.

Nesse sentido, conceitua Dotti158

O crime comissivo por omissão é aquele normalmente praticado por uma conduta positiva (homicídio ou as lesões corporais), mas que pode também resultar da omissão exigível do agente. As hipóteses mais referidas dessa categoria de infrações são a da mãe que deixa de amamentar o filho, causando-lhe a morte e a do policial que se abstém de socorrer a vítima de uma agressão física.

Lecionando sobre o tema Führer159 explica

Na essência, a co-autoria é uma divisão de tarefas para a obtenção de um resultado comum. Assim, não parece possível a caracterização da co-autoria em crime omissivo, porque a tarefa de nada fazer não comporta divisão de trabalho, sendo cada omissão completa e autônoma por si. (...)

Todavia, o concurso de pessoas em crime omissivo é tema de pouca freqüência na prática e de muita dúvida na doutrina.

Em contrapartida, Jesus160 se manifesta de maneira

controversa em relação aos outros doutrinadores. Argumenta:

A teoria do domínio do fato, que rege o concurso de pessoas, não tem aplicação aos delitos omissivos, sejam próprios ou impróprios, devendo ser substituída pelo critério da infringência do dever de agir. Na omissão, autor direito ou material é quem, tendo o dever de agir para evitar um resultado jurídico, deixa de realizar a exigida conduta impeditiva, não havendo necessidade de a

157 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. p.233/234 158 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 367. 159 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, et al. Resumo de direito penal. p. 93. 160 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 434.

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imputação socorrer-se da teoria do domínio do fato.

E remete ainda

É admissível participação por ação no crime omissivo próprio com autor omitente qualificado (ex.: induzimento). Na hipótese do crime do art. 269 do CP, suponha-se que um leigo (extraneus) induza o médico a omitir-se: há participação. Não por omissão, que não é admissível, mas por ação.

Assim, resta-nos respeitar as lições dos doutrinadores no

sentido de haver ou não Concurso de Agentes em Crime de Omissão, apesar de

tudo indicar que não é possível.

3.3 O CONCURSO DE AGENTES NOS CRIMES CULPOSOS

Nos Crimes Culposos o Concurso de Agentes se manifesta

quando dois indivíduos, por exemplo, colaboram entre si na causa do delito, mas

não do resultado involuntário do ato.

Nessa mesma tocada é a doutrina de Führer:

Pode haver co-autoria em crime culposo, como no caso de dois médicos imperitos realizando juntos uma operação. (...) Entende a doutrina que no crime culposo não pode haver partícipe, vez que a colaboração consciente para o resultado só existe no crime doloso.

Comporta anotar os dizeres de Mirabete161

De há muito está assentada a possibilidade de concurso em crime culposo. Existente um vínculo psicológico entre duas pessoas na prática da conduta, ainda que não em relação ao resultado, concorrem elas para o resultado lesivo se obrarem com culpa em sentido estrito. São co-autores, por exemplo, dois empregados que lançam imprudentemente uma tábua do andaime, ferindo um transeunte; duas pessoas que preparam uma fogueira, causando

161 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. p. 233/234.

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por negligência um incêndio etc. também haverá co-autoria entre o motorista que dirige em velocidade incompatível com o local e o passageiro que o instigou a tal, causadores ambos de lesões corporais ou mortes decorrentes das condutas imprudentes.

Complementando o acima exposto, Dotti162 explana:

O crime é culposo quando o agente produz um dano (lesão) a um bem juridicamente tutelado, mediante um comportamento imprudente, negligente ou imperito (CP, art. 18, II). A punibilidade dos fatos culposos depende de expressa previsão legal (CP, art. 18, parág. único) e tais tipos são identificados de maneira literal como p.ex.:”Se o homicídio é culposo”; “Se a lesão é culposa”; “Se culposo o incêndio (...)”, etc.

É certo salientar a informação de Mirabete163 que explana a

respeito do Concurso de Agentes no crime culposo:

O concurso de agentes no crime culposo difere do ilícito doloso, pois se funda apenas na colaboração da causa e não do resultado (que é involuntário). Disso deriva a conclusão de que é autor todo aquele que causa culposamente o resultado, não se podendo falar em participação em crime culposo. Nessas hipóteses, há sempre co-autoria porque os concorrentes realizam a conduta típica, concretizam o tipo pela inobservância do dever de cuidado, não praticando simplesmente uma conduta que, em si mesma, seria penalmente irrelevante.

E arremata o autor:

Deve-se distinguir o concurso de agente em crime culposo da concorrência de causas (ou de culpas), em que duas ou mais pessoas contribuam para um resultado sem que haja o conhecimento por qualquer delas de que está colaborando na conduta de outrem. Assim, numa colisão de veículos em que os dois motoristas atuaram com imprudência, vindo com isto a causar a morte de terceiro, não há concurso de agentes, mas culpas concorrentes. Não se pode prescindir, quanto ao acolhimento da responsabilidade penal, da existência do nexo psicológico, qual

162 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. p. 369. 163 MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. p. 234.

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seja a consciente vontade do comparsa de concorrer para a conduta culposa de outrem.

Trazendo à tona o concurso de agentes por participação em

crimes culposos, Greco164 traz à baila a tendência quase unânime de rechaçar

essa possibilidade. Mas ainda restam algumas hipóteses ainda discutidas, quais

sejam: a participação culposa em crime culposo e a participação dolosa em crime

culposo. Conforme segue:

Não há participação dolosa em crime culposo. Ex.: se A, desejando matar C, entrega a B uma arma, fazendo-o supor que está descarregada e induzindo-o a acionar o gatilho na direção da vítima, B, imprudentemente, aciona o gatilho e mata C. Não há participação criminosa, mas dois delitos: homicídio doloso em relação a A; e homicídio culposo em relação a B. O exemplo fornecido traduz, na verdade, um caso de erro determinado por terceiro, previsto no § 2º do art. 20 do Código Penal. Sendo inescusável o erro, o agente deverá responder pelo resultado a título de culpa, e o terceiro que o determinou será responsabilizado pelo seu dolo (...); se for escusável o erro, somente aquele que o provocou responderá pelo resultado por ele pretendido inicialmente, a título de dolo. A doutrina refuta com veemência tal situação, uma vez que o concurso de pessoas exige, como regra geral, em face da adoção da teoria monista, a identidade de infração penal, dividida por todos aqueles que concorreram para a sua prática.

Para a participação culposa em crime culposo, segundo

Greco165, há a possibilidade de participação, embora contrário a muitos

doutrinadores: “Autor será aquele que praticar a conduta contrária ao dever

objetivo de cuidado; partícipe será aquele que induzir ou estimular alguém a

realizar a conduta contrária ao dever de cuidado”.

Conforme o supra exposto, o concurso de agentes nos

crimes culposos, na visão da corrente majoritária, existe somente como co-

autoria. É o caso de dois indivíduos que realizam conjuntamente a mesma

164 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, p. 479. 165 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, p. 480.

51

conduta, produzindo um resultado não desejado. Esta corrente entende não haver

possibilidade de participação neste tipo de crime, uma vez que colaboração

consciente para o resultado só existe em crime doloso. Há uma corrente

minoritária que é vastamente criticada pela maioria por admitir o partícipe nos

crimes culposos.

3.4 O CONCURSO DE AGENTES NO CRIME DE INFANTICÍDIO

O Crime de Infanticídio é um crime que envolve o aspecto

emocional e psicológico na execução do delito.

De acordo com Noronha166, “Trata-se de crime privilegiado,

em face do estado puerperal a mãe que mata o filho durante o parto ou logo

após”.

O infanticídio se expressa através do art. 123 do CP que diz:

“Matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo

após: pena – detenção, de dois a seis anos”.

E reforçando o disposto no artigo acima, Jesus167 destaca

É certo e incontestável que a influencia do estado puerperal constitui elementar do crime de infanticídio. De acordo com o que dispõe o art. 30, “não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”. Assim, nos termos da disposição, a influencia do estado puerperal (elementar) é comunicável entre os fatos dos participantes.

O crime de infanticídio é considerado um crime próprio, pois

somente a mãe pode ser autora do delito. Porém, a doutrina não afasta a hipótese

de participação de outro neste crime.

Para que ocorra o concurso de agentes no crime de

166 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal, p. 221. 167 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 445.

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infanticídio é preciso que se tenha presente alguns elementos, como leciona

Capez168:

Esse crime é composto pelos seguintes elementos: ser mãe, (crime próprio); matar; o próprio filho; durante o parto ou logo após; sob influência do estado puerperal. É o crime em que a mãe mata o próprio filho, durante o parto ou logo após, sob influência do estado puerperal. Essa é a descrição típica contida no art. 123 do Código Penal.

Nesta assertiva, existem três correntes que explanam a

respeito do concurso de agentes no crime de infanticídio: a corrente que afirma

ser admissível, a corrente que acredita ser inadmissível e a corrente que acredita

ser admissível somente como partícipe.

Jesus, citado por Teles169, entende que é possível a

concorrência neste tipo penal, de acordo com o disposto no art. 30 do CP, que

considera incomunicáveis as circunstâncias de caráter pessoal, exceto as

elementares do crime:

Tema interessantíssimo é o do concurso de pessoas no infanticídio. O co-autor ou partícipe responderá por ele ou por homicídio, uma vez que o tipo de infanticídio contém, como elemento subjetivo personalíssimo, a influência do estado puerperal, que só pode afetar, é óbvio, a mãe. Damásio, mesmo considerando a solução injusta, entende que, em face do disposto no art. 30 do Código Penal, que considera incomunicáveis as circunstâncias de caráter pessoal, exceto as elementares do crime, o concorrente do infanticídio por ele responderá. Sugere que, de lege ferenda170, seja criada norma que defina o infanticídio como uma espécie de homicídio privilegiado, quando, então, o problema não mais existiria.

168 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal:parte geral. p. 334

169 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte especial, arts. 121 a 212, p. 168. 170 Neste sentido, lege ferenda é, segundo o Dicionário Latim: lei a ser promulgada. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/dicionario_latim/x/92/33/923/>. Acesso em 10/05/2008.

53

Discordando desta vertente, Cernicchiaro, apud Jesus171,

explana:

Não é de repelir-se a co-delinqüencia no infanticídio (homicídio privilegiado). Chegar-se-á, evidentemente, a absurdo biológico, visto não poder ser considerada sob a influência de estado puerperal senão a parturiente. A conclusão, contudo, decorre do ordenamento jurídico.

Fragoso apud Teles172, não admitindo o concurso de

agentes para o infanticídio entende que:

[...] deve ser adotada a lição de Hungria, fundada no direito suíço, segundo a qual o concurso de agentes é inadmissível. O privilégio se funda numa diminuição da imputabilidade, que não é possível estender aos partícipes. Na hipótese de co-autoria (realização de atos de execução por parte do terceiro), parece-nos evidente que o crime deste será o de homicídio.

A terceira corrente admite concurso de agentes, porém

apenas na forma de partícipe.

Leciona Capez173:

Parte da doutrina observa que o concorrente, para responder unicamente por infanticídio, deve ter participação meramente acessória na conduta do autor principal, induzindo, instigando ou auxiliando a parturiente a matar o próprio filho.

Euclides Custódio da Silveira, citado por Jesus174, traz o

mesmo entendimento, de que “é evidente que a participação há de ter caráter

meramente acessório, caso contrário o partícipe terá praticado um homicídio”.

O partícipe, então, para concorrer no crime de infanticídio

deve ter atuação meramente acessória, instigando. Induzindo ou auxiliando a 171 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 443. 172 TELES, Ney Moura. Direito Penal: parte especial, arts. 121 a 212, p. 168. 173 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal:parte geral. p. 335 174 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. p. 443.

54

mãe. Caso esta atuação seja intrínseca para a prática do delito, o partícipe não

estaria mais concorrendo em crime de infanticídio, estaria praticando um

homicídio.

Desta forma, pode-se observar que há entendimentos

diversos sobre o Concurso de Agentes no crime de infanticídio.

Neste capítulo estudou-se sobre os aspectos destacados e

controversos acerca do concurso de agentes, bem como a autoria mediata e o

concurso de agentes nos crimes omissivos, culposos e de infanticídio.

Ao final deste, observa-se a intenção do presente trabalho

de apresentar elementos capazes de trazer novas discussões a este respeito e

não com a intenção de se esgotar o assunto.

55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Concurso de Agentes no ordenamento Jurídico Brasileiro

apresenta determinados preceitos de conduta que o fazem distinto de qualquer

outro modelo imposto no mundo. Desta forma, temos no nosso ordenamento um

concurso de duas pessoas ou mais que possui previsão no vigente Código Penal

como qualificante de diversos crimes.

A sociedade em si tem consciência do Concurso de Agentes

por ser esta prática comum, não só nos grandes centros urbanos, mas também

nas pequenas cidades e no meio rural.

Neste sentido, procura-se aplicar as penas cabíveis a cada

um dos participantes como forma de punição pela conduta tipificada como

proibida e imprópria para se praticar numa sociedade.

Assim, extrai-se que o Concurso de Agentes percorre todos

os tipos de crimes previstos e tipificados no Código Penal, sendo possível em

grande parte a sua efetivação e concretização.

Nessa premissa se expressa, então, o papel do Concurso de

Agentes no ordenamento jurídico brasileiro em que a conduta dos participantes é

cabível de sanções penais e composta de infrações tipificadas no Código Penal.

Quanto as hipóteses levantadas no início da pesquisa,

observa-se:

Quanto à primeira hipótese: A chamada autoria mediata é

uma forma de Concurso de Agentes? Hipótese confirmada. Na autoria mediata

considera-se autor aquele que, embora não praticando diretamente o tipo penal,

consegue comete-lo através de outra pessoa, que age sem culpabilidade, pois é

levada ao erro por terceiro (o autor mediato). Assim, o agente direto transforma-se

56

num simples instrumento da vontade do verdadeiro autor, não há o concurso de

agentes, pois o crime será imputado somente ao autor mediato.

Quanto à segunda hipótese: Os crimes culposos admitem

Concurso de Agentes? Hipótese Confirmada. No entendimento majoritário da

doutrina, o crime culposo admite concurso de agentes, porém apenas na forma de

co-autoria. È o caso em que dois indivíduos realizam conjuntamente a mesma

conduta, produzindo um resultado não desejado. Uma parte minoritária da

doutrina entende existir a possibilidade de participação em crimes culposos, no

entanto, esta hipótese caiu no desuso e é totalmente rechaçada pela maioria dos

doutrinadores.

Quanto à terceira hipótese: É possível o Concurso de

Agentes no crime de infanticídio? Hipótese confirmada. É perfeitamente

admissível o concurso de agentes no crime de infanticídio, no entanto, temos três

correntes versando sobre este tema. A primeira corrente admite de forma

incontestável a existência de co-autoria e partícipe no crime de infanticídio,

baseando suas explicações no artigo 30 do C.P. A segunda corrente admite a co-

autoria, porém versa sobre a impossibilidade da ocorrência de participação no

crime de infanticídio. E a terceira corrente afirma não existir concurso de agentes

no crime de infanticídio, pois somente a parturiente pode praticá-lo, de forma que

o terceiro responderia por homicídio.

Ao final deste, observa-se a intenção do presente trabalho

de apresentar elementos capazes de trazer novas discussões a respeito do

Concurso de Agentes e não com a intenção de se esgotar o assunto.

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ACOSTA, Walter P. O processo penal: teoria, prática, jurisprudência e organogramas. 9. ed., Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1973. BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de direito penal: parte geral, volume 1. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. BRASIL, Lei nº 3.914, de 09 de dezembro de 1941. Altera a Lei de Introdução do Código Penal (Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940) e a Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei Nº 3.688, de 3 de outubro de 1941) CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1: parte geral (arts. 1º a 120). 9. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005. DELMANTO, Celso... (et al). Código penal comentado. 6. ed. atual. E ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2000. FERRAZ, Esther de Figueiredo. A co-delinqüência no moderno direito penal brasileiro. São Paulo: Bushatshy, 1976. FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo, FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Resumo de direito penal (parte geral). 18ª ed. São Paulo: Malheiros, 2001. GHEDIN, Rodrigo. Concurso de pessoas. Disponível em www.rodrigoghedin.com.br/arquivos/dto_penal_-_concurso_de_pessoas.doc. Acesso em 27 out 2008. JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, volume 1: parte geral. 28 ed. ver. São Paulo:Saraiva, 2005. LEAL, João José. Direito penal geral. 3. ed. rev. e atual. Florianópolis:OAB/SC Editora,2004 LEITE, Eduardo de Oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. MIRABETTE, Julio Fabrini. Manual de direito penal. v. 1. São Paulo: Atlas, 1985 _________________________________________. 23. ed.. São Paulo: Atlas, 2006 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal, volume 1, introdução e parte geral. Atualizada por Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha. 34. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1999.

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