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NO XVI - NÚMERO I - MÊS DE FEVEREIRO DE 2011 - GESTÃO “RECONSTRUIR O CALC" Jornal do Centro Acadêmico Luiz Carpenter Entidade dos Estudantes da Faculdade de Direito - UERJ Sede: Rua São Francisco Xavier, 524 - 7º andar/Bloco C/Maracanã Rio de Janeiro - Rj Coluna do Piolho Obama esteve no Brasil e alguém gritou: "O presidente é preto, mas a Casa ainda é branca." Para pensar no banheiro: “O Circo tá pegando fogo!" (Quase literalmente se é que vocês me entendem...) Por Felizberto Piolho DCE relata a greve e fala sobre as negociações, conquistas, frutrações e perspectivas do movimento da UERJ (pág 4) O professor Rodrigo Lychowski dá seu depoimento sobre a participação da Faculdade no movimento grevista (pág 3) Fim da Greve e Pauta de Reivindicações ainda não atendida. Corte no orçamento ainda maior para 2007 (Editorial e próxima edição). E o Movimento, como anda? ? LUIZ FUX É O NOVO MINISTRO DO STF Professor de Direito na UERJ é o primeiro indicado durante o governo Dilma. CALC o convida para ministrar a aula inaugural da turma 2011.1 (pág 6) A PREFEITURA NO BANCO DOS RÉUS Sob a vitória da cidade jaz um poço de ilegalidades, onde a legislação é desrespeitada pelo próprio Prefeito (pág 5) CALC ENTREVISTA VERA MALAGUTI A cientista Social e professora da Faculdade de Direito fala sobre a invasão da Vila Cruzeiro, políticas públicas, criminalização e termina com uma avaliação do Departamento de Direito Penal. (pág 3 e 4) SAIU A AVALIAÇÃO DE PROFESSORES Na hora de fazer a matrícula em uma disciplina, sempre ocorrem dúvidas. A avaliação de professores serve justamente para que o estudante possa compartilhar com as experiências de outros colegas, verificando qual é o professor mais adequado às suas expectativas. (pág 3) O Descabelado voltou. E parece que os caras dessa nova gestão não passam pente fino. Porque aqui estou eu, Felizberto Piolho. Vim para incomodar, e para me reproduzir. Mais velho na UERJ que o Dinossauro do terceiro andar, até porque ele é novinho, presente da FAPERJ. Quem precisa de bandeijão quando se tem um dinossauro? Sei de tudo que acontece pela UERJ. Pulo de cabeça e cabeça, estou presente nas salas de aula, nas sociais, nos gabinetes... O piolho está sempre por aí. Universidade de Polícia Pacificadora Outro dia estava eu, tomando um Whisky com a professora Vânia na sala dos professores, quando vi a foto de nosso Magnífico, Ricardo Vieralves, estampada nas páginas de um jornal. E o espaço custou barato! Entregou de bandeja a seu parceiro (e governador) Sérgio Cabral nossa esquecida autonomia universitária. O projeto de que tratava a notícia era fazer uma escola de polícia pacificadora na UERJ, a partir de convênio entre a PM e a Universidade. Estive presente nas últimas seções do Conselho Universitário (como seu gabinete, a cabeça do reitor também é muito confortável; pena que ele não seja sangue bom) e, mesmo não prestando muita atenção, tenho certeza que isso não passou pelo plenário. Lembro- me do caso da incorporação do IUPERJ, coincidência ou não, também apologistas do governo do estado. E o jornal ainda fala que haverá curso prático. O Magnífico diz que pretende “aproximar a polícia do ambiente universitário”. Parece estar seguindo os passos de Nilcéia Freire, ex-mulher e ex-reitora, que costumava chamar os tirar para resolver problemas com estudantes e permitia que os guardas andassem armados. Fico imaginando os policiais, andando pelos corredores, dando tapa na cara em estudante que tire xerox e reprimindo outros pequenos delitos, como a engenharia. Vou até avisar para alguns CAs amigos meus para tomar cuidado- afinal, já dizia Bezerra, “quando os homes da lei grampeiam, o grampo come toda hora”. Enigma do Piolho: (a) Porque ele tem vergonha de falar em público (b) Porque ele estava repetindo roupa (c) Porque os eventos são sempre na hora da novela ou da TV Globinho (d) Porque ele quer que o vice-diretor perca o prefixo O primeiro a acertar ganha um par de ingressos para o próximo jogo do Madureira 1`-> Os professores que dão aula na quarta-feira à noite podem ficar tranquilos que suas salas devem ficar mais cheias esse período- o Maracanã está em obras. 12`-> Deixou órfão não só os torcedores, mas também os estudantes e trabalhadores que dependiam do restaurante popular para almoçar (cadê o bandeijão, reitor?). Em tempo, pesquisas informam que nenhum deles terá dinheiro para assisitir os jogos da Copa no Maracanã. 27`->Estava descompromissadamente dando uma olhada no aluno offline e bati o olho na eletiva “Tópicos de Direito Civil: Inadimplemento das obrigações”. E lá estava de orientador o professor nota 2,2 em assiduidade e 1,7 em pontualidade. 42`->Depois do Prouni e do Reuni, o governo quer implementar o Dinouni, Dinossauro na Universidade, com apoio das agências de fomento como a FAPERJ. Além do exemplar que fica no 2° andar, bloco C, há um espécime na Faculdade de Direito que é chefe de departamento e julga absurdo que outros chefes dispensem o uso do terno, além de defender abertamente que a Faculdade deveria reprovar mais alunos. 60`->E tem professor pedindo chave para trancar os estudantes em sala. Não é preciso ser procurador da república para saber que isso caracteriza cárcere privado. Jornal CALC_abril 2011_diogo.pmd 3/25/2011, 12:56 AM 1

O Descabelado- Março de 2011

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Jornal do Centro Acadêmico Luiz Carpenter. Edição de março de 2011

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NO XVI - NÚMERO I - MÊS DE FEVEREIRO DE 2011 - GESTÃO “RECONSTRUIR O CALC"

Jornal do Centro Acadêmico Luiz CarpenterEntidade dos Estudantes da Faculdade de Direito - UERJSede: Rua São Francisco Xavier, 524 - 7º andar/Bloco C/MaracanãRio de Janeiro - Rj

Coluna doPiolho

Obama esteve no Brasil e alguém gritou:"O presidente é preto, mas a Casa

ainda é branca."

Para pensar no banheiro:

“O Circo tá pegando fogo!"(Quase literalmente se é que

vocês me entendem...)

Por Felizberto Piolho

DCE relata a greve e falasobre as negociações,

conquistas, frutrações eperspectivas do

movimento da UERJ(pág 4)

O professor RodrigoLychowski dá seudepoimento sobre aparticipação da Faculdadeno movimento grevista(pág 3)

Fim da Greve e Pauta de Reivindicações ainda não atendida.Corte no orçamento ainda maior para 2007 (Editorial e próxima edição).

E o Movimento, como anda?

?

LUIZ FUX É O NOVOMINISTRO DO STF

Professor de Direito na UERJ é o primeiro indicado durante ogoverno Dilma. CALC o convida para ministrar

a aula inaugural da turma 2011.1(pág 6)

A PREFEITURANO BANCODOS RÉUS

Sob a vitória da cidade jaz um poçode ilegalidades, onde a legislação édesrespeitada pelo próprio Prefeito

(pág 5)

CALC ENTREVISTAVERA MALAGUTI

A cientista Social e professora da Faculdade deDireito fala sobre a invasão da Vila Cruzeiro, políticaspúblicas, criminalização e termina com umaavaliação do Departamento de Direito Penal.

(pág 3 e 4)

SAIU AAVALIAÇÃO DEPROFESSORES

Na hora de fazer a matrícula em uma disciplina, sempre ocorrem dúvidas. A avaliação deprofessores serve justamente para que o estudante possa compartilhar com as experiênciasde outros colegas, verificando qual é o professor mais adequado às suas expectativas.

(pág 3)

O Descabelado voltou. E parece que os caras dessa nova gestão nãopassam pente fino. Porque aqui estou eu, Felizberto Piolho.

Vim para incomodar, e para me reproduzir. Mais velho na UERJ que oDinossauro do terceiro andar, até porque ele é novinho, presente daFAPERJ. Quem precisa de bandeijão quando se tem um dinossauro?

Sei de tudo que acontece pela UERJ. Pulo de cabeça e cabeça, estoupresente nas salas de aula, nas sociais, nos gabinetes... O piolho estásempre por aí.

Universidade dePolíciaPacificadora

Outro dia estava eu, tomando um Whiskycom a professora Vânia na sala dosprofessores, quando vi a foto de nossoMagnífico, Ricardo Vieralves, estampadanas páginas de um jornal. E o espaçocustou barato! Entregou de bandeja a seuparceiro (e governador) Sérgio Cabralnossa já esquecida autonomiauniversitária.

O projeto de que tratava a notícia erafazer uma escola de polícia pacificadora

na UERJ, a partir de convênio entre a PM e a Universidade. Estive presente nasúltimas seções do Conselho Universitário (como seu gabinete, a cabeça do reitortambém é muito confortável; pena que ele não seja sangue bom) e, mesmo nãoprestando muita atenção, tenho certeza que isso não passou pelo plenário. Lembro-me do caso da incorporação do IUPERJ, coincidência ou não, também apologistas dogoverno do estado.

E o jornal ainda fala que haverá curso prático. O Magnífico diz que pretende“aproximar a polícia do ambiente universitário”. Parece estar seguindo os passos deNilcéia Freire, ex-mulher e ex-reitora, que costumava chamar os tirar para resolverproblemas com estudantes e permitia que os guardas andassem armados.

Fico imaginando os policiais, andando pelos corredores, dando tapa na cara emestudante que tire xerox e reprimindo outros pequenos delitos, como a engenharia.Vou até avisar para alguns CAs amigos meus para tomar cuidado- afinal, já diziaBezerra, “quando os homes da lei grampeiam, o grampo come toda hora”.

Enigma do Piolho:

(a) Porque ele tem vergonha de falar em público(b) Porque ele estava repetindo roupa(c) Porque os eventos são sempre na hora da novela ou da TV Globinho(d) Porque ele quer que o vice-diretor perca o prefixo

O primeiro a acertar ganha um par de ingressos para o próximo jogo do Madureira

1`-> Os professores que dão aula na quarta-feira à noite podem ficartranquilos que suas salas devem ficar mais cheias esse período- oMaracanã está em obras.

12`-> Deixou órfão não só os torcedores, mas também os estudantes etrabalhadores que dependiam do restaurante popular para almoçar(cadê o bandeijão, reitor?). Em tempo, pesquisas informam quenenhum deles terá dinheiro para assisitir os jogos da Copa noMaracanã.

27`->Estava descompromissadamente dando uma olhada no alunooffline e bati o olho na eletiva “Tópicos de Direito Civil:Inadimplemento das obrigações”. E lá estava de orientador oprofessor nota 2,2 em assiduidade e 1,7 em pontualidade.

42`->Depois do Prouni e do Reuni, o governo quer implementar oDinouni, Dinossauro na Universidade, com apoio das agências defomento como a FAPERJ. Além do exemplar que fica no 2° andar, blocoC, há um espécime na Faculdade de Direito que é chefe dedepartamento e julga absurdo que outros chefes dispensem o uso doterno, além de defender abertamente que a Faculdade deveriareprovar mais alunos.

60`->E tem professor pedindo chave para trancar os estudantes emsala. Não é preciso ser procurador da república para saber que issocaracteriza cárcere privado.

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EXPEDIENTEDiretoria do CALC

Gestão 2011“Reconstruir o CALC"

André Luis Batalha (2o. período)Rodrigo Lanes (2o. período)

Wellington Oliveira (2o. período)João Luís Pereira (3o. período)Leonardo Peixoto (3o. período)Maísa Sampaio (3o. período)Tamina Rody (3o. período)

André Luis Matheus (4o. período)Fábio Lima (4o. período)

Fred "Conipton" (4o. período)Gustavo" Léo Moura" (4o. período)

Júlia Ribeiro (4o. período)Stéfanie Mazza (4o. período)

Wbiraci de Araújo (4o. período)Larissa Brauns (5o. período)Priscilla Terra (5o. período)

Raiana Figueiredo (5o. período)Vinícius Alves (5o. período)Vinícius Gaia (5o. período)

Vítor Mendonça (5o. período)Lucas Mourão (6o. período)

Thadeu Wilmer (6o. período)Vitória Regina (6o. período)

Ana Caroline Bispo (7o. período)Juliana de Augustines (7o. período)

Marco Antônio Sá (7o. período)David Silva (8o. período)

Nayara Costa (9o. período)Giovanni "Mineiro" (10o. período)

____________________

Colaboraram neste número:Diogo Flora (7o. período)

Editoração Eletrônica:Diogo Flora (7o. período)

Tiragem: 1.500 exemplares____________________

Venha construir a próximaedição conosco! O CALC é

entidade representativa detodos os estudantes e,

portanto, todos nós temosdireito de participar dos rumosda instituição, tomando voz nas

reuniões e colaborando nastarefas coletivas.

As informações veiculadas neste jornal sãode inteira responsabil idade da Diretoria doCentro Acadêmico Lu iz Carpenter. Os artigose colunas assinados ou opin iões pessoaisemit idas em entrevistas não sãonecessariamente as mesmas da Diretoria doCALC. A reprodução do conteúdo deste jornalé livre, desde que citada a fonte.

EDITORIAL

quinto de quinta

O ano de 2011 se inaugura com uma novagestćo eleita para o Centro Acadźmico LuizCarpenter, a gestćo “Reconstruir o Calc”, e, comela, a retomada de uma série de projetos queandavam mais presentes em panfletos eleitoraisdo que na realidade. Entre eles, destacamos oretorno da publicaēćo periódica do jornal ODescabelado - alguém lembra do que se trata?- que volta ąs origens.

Nesse sentido, convocamos desde jįtodos os estudantes a participar das reuniões doCALC, a utilizar de nossas dependźncias (quenćo sćo propriedade particular, mas propriedadecoletiva de todos os estudantes) e a discutir a pauta de cadaediēćo d’O Descabelado.

O jornal representa um instrumento fundamental deinformaēćo, participaēćo e integraēćo do estudante,informando o que acontece na Faculdade de Direito e naUniversidade como um todo (acreditem, a faculdade nćo estįalheia ao resto da UERJ e nćo flutuaria em caso de

desabamento do prédio).Além da cobertura de tudo que acontece na

faculdade e na UERJ e dos eventos que estćo paraacontecer, O Descabelado contarį com algumascolunas periódicas. A mais importante delas é aprestaēćo de contas da gestćo, jį que o dinheiro doCALC é de todos nós. Haverį, ainda, uma colunade opinićo, em que serćo publicados textosenviados por estudantes da faculdade. Como ODescabelado nćo passa pente fino, estarćo semprepresentes os comentįrios do Piolho, que de cabeēaem cabeēa se transformou no maior comentaristado que de pior acontece nessa faculdade.

Nesta ediēćo, contamos, ainda com uma entrevistaexclusiva com a Professora Vera Malaguti, secretįria-geral doInstituto Carioca de Criminologia, que falou sobre a polķtica deseguranēa pśblica no Rio de Janeiro, o caso da Vila Cruzeiro eas UPP’s, além de sobre o ensino jurķdico e o Departamentode Direito Penal. Excelente leitura!

As últimas eleiçõespara o CentroAcadêmico foramrealizadas nos dias03, 04 e 05 denovembro de 2010,sendo marcadaspor um recorde devotação na históriado CALC, com 894votos válidosapurados. Foi eleitapara a gestão doano de 2011 aChapa 2 -

Reconstruir o CALC - com 558 votos. Segue ao ladoo resultado por dia de votação e a contagem final dosvotos:

Dia 03 de Novembro de 2010Chapa 1: 120 votos;Chapa 2: 233 votos.

Dia 04 de Novembro de 2010Chapa 1: 114 votos;Chapa 2: 189 votos.

Dia 05 de Novembro de 2010Chapa 1: 102 votos;Chapa 2: 136 votos.

Resultado Final das eleições do CALC para oexercício 2011:Chapa 1 - Calc Livre: 336 votos;Chapa 2 - Reconstruir o CALC: 558 votos.

Resultado das eleições para o Centro Acadêmico

De 14 a 17 de janeiro, aconteceu no Rio deJaneiro o 13º CONEB, Conselho Nacional deEntidades de Base, da UNE. Trata-se de fórum domovimento estudantil, que congrega centros ediretórios acadêmicos de todo o Brasil para discutiros rumos políticos do movimento. O tema escolhidofoi “Nas ruas de hoje o Brasil de amanhã” e o CALCesteve presente e atuante, dialogando com diversasentidades, inclusive com a executiva da FENED, aFederação Nacional dos Estudantes de Direito.

Nos dias 14 e 15, não houve quaisqueratividades preparadas pela direção da UNE alémdo início do credenciamento e da mesa de abertura.Os estudantes da Faculdade de Direito da UERJparticiparam de atividades autogestionadas na UFF,organizadas pelos coletivos Levante, 21 de junho,Morena-CB, pelos DCEs da UFRJ, da UFSC, daUFMS e por membros dos DCEs da UFF, da UFESe da UFC, além de membros de vários centrosacadêmicos. As atividades incitaram a busca poruma nova práxis no movimento estudantil brasileiro,de caráter democrático, horizontal, radical e criativo.

Na programação dessas atividade paralelas,discussão sobre conjuntura, com Nildo Ouriques(UFSC) e Carlos Walter Porto Gonçalves (UFF).Em seguida, oficina “Não aos Leilões do NossoPetróleo e Gás”, em parceria com o SINDIPETRO.

Direção Majoritária da UNE faz CONEB-micaretaEstudantes, no entanto, preferem às ruas ao Maracanãzinho

Dinâmicas culminaram na plenária “A necessidade e osdesafios de uma nova práxis política no ME”. Já noalojamento, os estudantes participaram de debate sobre“Direitos Humanos e a criminalização da pobreza”, como deputado Estadual Marcelo Freixo e MC Leonardo,da APAFUNK. A noite terminou com uma roda de funk.

No domingo, estavam programados vinte e umdebates ao longo do dia, em auditórios do Centro deTecnologia da UFRJ. Muitos desses auditórios, porém,tinham baixa capacidade, e os estudantes interessadosnão puderam participar das discussões. Discussões que,na realidade, requereram ousadia dos estudantes paraintervenções, uma vez que a UNE organizou palestraspensadas para que os estudantes fizessem apenasperguntas, e após o fim das falas dos ilustres convidados.O CONEB funcionou como um conjunto de palestras deautoridades, em vez de cumprir seu papel de fomentaros debates apaixonados, as trocas de experiências entremilitantes de todo o Brasil, as discussões políticas sobrea realidade de nosso país e como o papel do estudantena transformação da educação e a sociedade.

Na segunda-feira, dia 17 de janeiro, a direçãomajoritária da UNE programou um ato dentro doMaracanãzinho. E não é preciso dizer que não fizeramvaler o tema desse CONEB, “Nas ruas de hoje o Brasilde amanhã”. A direção majoritária da UNE aparelha aentidade através de uma política subordinada às decisões

do governo. A UJS, juventude do PCdoB, desonra ohistórico de lutas da entidade, usurpando-a para fortalecersua política de apoio ao governo Lula e ao governoDilma.

A oposição de esquerda não se curvou aogovernismo e organizou um ato que reuniu cerca de 800pessoas nas ruas do entorno do Maracanã. Os estudanteslevantaram a bandeira de 10% do PIB para a Educaçãoe protestaram contra o corte de verbas para a área, alémde gritarem palavras de ordem sobre o descasogovernamental que gerou os desastres na região serranae sobre o aumento do salário parlamentar. Em frente àPetrobrás, defenderam o fim dos leilões para aexploração do petróleo no Brasil.

Na plenária final, dentro do Maracanãzinho,rápida leitura das propostas de resolução. Os centros ediretórios acadêmicos que enviaram delegados,escolhidos em reunião aberta, tinham direito a um votocada. O delegado do CALC foi Lucas Mourão (6º períodomanhã), que teve Maísa Sampaio (3º período manhã)como suplente e André Matheus (4º período noite) comosegundo-suplente. Em votação desorganizada,semelhante a uma micareta, venceram as propostas denúmero quatro, da UJS. Os delegados do CALC votaramnas de número um, assinadas pelos coletivos da oposiçãode esquerda da UNE.

O CALC está caprichando na recepçãoaos calouros. Nos dias 25, 26 e 27 de janeiro,data da pré-matrícula, o CALC se apresentou aosingressantes, que tiveram contato com váriosaspectos da dinâmica da Faculdade e daUniversidade. Foi um espaço para que os calourose suas famílias tirassem dúvidas sobre avaliação,professores, alimentação, chopadas, transporte...Os calouros receberam uma carta de boas-vindase, os que vieram de longe, tiveram acesso a um“banco de pensões” especialmente pensado paraeles.

No dia 16 de fevereiro, diretores do CALCcompuseram a mesa da palestra que precedeu ainscrição em disciplinas, no Salão Nobre. Elesparabenizaram os novos estudantes da Faculdadede Direito da UERJ e defenderam a importância

do movimento estudantil para que tenhamos um ensinopúblico, gratuito, de qualidade, voltado para a realidadee que sirva à população. O CALC esclareceu asdesinformações da Faculdade: os calouros podem, sim,cursar eletivas. Eles receberam dicas sobre essasdisciplinas, além de tirarem outras dúvidas.

Ainda no dia 16, os calouros receberam oManual dos Calouros, um guia prático e ilustradoelaborado pelo centro acadêmico. Ele traz as principaisinformações sobre a faculdade, disciplinas, o campus,almoço, lanches, bares da região, telefones úteis, etc.

No dia 22 de fevereiro, o CALC promoveupalestra sobre Ensino Jurídico, com o professor doutorJosé Ricardo Cunha, que lotou a sala Celso Mello, naqual rolaram um bate-papo e apresentações. Paramelhor acomodar os estudantes, o CALC providencioua transferência para o Salão Nobre. O professor

Rodolfo Noronha também compôs a mesa dessapalestra que foi muito elogiada por seu conteúdoelucidador. De quebra, os calouros já estrearam suashoras de atividade complementar. E é claro que a noiteterminou no bar.

No dia 24 de fevereiro, rolou uma sessão deCinema para Ver Direito: Z, de Costa-Gravas, noauditório 71. Os estudantes assistiram ao clássicovencedor de Oscar de melhor filme estrangeirosaboreando pacotinhos de pipoca à vontade e bebendorefrigerante. Ao final da sessão, o refrigerante deu lugarà cerveja no Belacap.

O CALC organizou ainda, no dia 24 de março,uma volta de apresentação da faculdade, em dois turnos.Em seguida, todos os calouros receberam uma camisade presente e houve lanche. Uma forma de integraçãoalternativa e construtiva.

PRESTAÇÃO DE CONTAS DOCALC

A nova gestão do Centro Acadêmico Luiz Carpenter,Reconstruir o CALC, está disponibilizandomensalmente a prestação de contas em seu sítio, Osgastos são aprovados e conferidos em reuniões abertas,onde todos os etudante têm voz e voto. não deixe deconferir, porque é seu direito saber onde gastamos onosso dinheiro.

www.calcuerj.com.br

Jornal CALC_abril 2011_diogo.pmd 3/25/2011, 12:56 AM2

SAIU A AVALIAÇÃO DOS PROFESORES*

Se os professores podem nos avaliar,nós também podemos avaliá-los. Foi com esseespírito que a gestão Reconstruir o CALCestabeleceu como uma de suas prioridades avolta da Avaliação de Professores, que foidivulgada em janeiro de 2011, um mês antesda inscrição em disciplinas.

Há cinco anos não se divulgava oresultado de uma avaliação de professores.É preciso reconhecer que o questionário foidistribuído duas vezes nesse meio tempo, àsvésperas das eleições de 2008 e às vésperasdas eleições de 2009. O resultado, no entanto,nunca foi divulgado. Suspeita-se que osmotivos tenham variado entre a preguiça deapurar os questionários e o medo de chatearalguns professores.

Nossa gestão acredita que a avaliaçãotem algumas funções fundamentais: evidenciarpara o Centro Acadêmico quais são osproblemas de cada turma, ao mesmo tempoem que o arma com dados empíricos sobre arelação dela com o professor, para asreivindicações ante os departamentos; ajudaro estudante na hora de realizar a inscrição emdisciplinas; por fim, mostrar para o professor

Mais de cinco anos depois, a avaliação dos professores volta a ser divulgada.Estudantes aproveitam para avaliar quem costuma avaliá-lose criticara forma

como a Coordenação de Graduação vem montando os horários.

como a turma vê o seu trabalho e em que podemelhorar. Precisamos reconhecer que algunsestudantes viram outra função para avaliação- ela serviu para muitos como um momento de

catarse depois de terem realizado todas asprovas do semestre.

Os comentários, muitos delesimpublicáveis, serão fundamentais para aatuação do Centro Acadêmico perante osdepartamentos, já que apresentam detalhesque a nota por si só esconde. Houve quemreclamasse de professor, quem o mandassefazer coisas que certamente não contariamcomo carga horária, quem suspeitasse dasanidade mental de alguns professores e,

pasmem, até muitos elogios aos professoresque, pelo conjunto das avaliações, semostraram dignos desses elogios. Houve atéquem clamasse: “Volta Áurea!”.

Um dos temas mais presentes noscomentários dos estudantes foi a forma comose monta a grade de horários da graduação.Muitas críticas à defasagem entre as turmasda manhã e da noite quanto aos professores,em especial em determinados departamentos.Criticou-se, ainda, a falta de eletivas no turnoda noite e a existência de disciplinasobrigatórias às 16h20, que tornam ainda maisdifícil a vida dos estudantes que precisamtrabalhar durante a graduação. O fato demuitos professores em estágio docente seremobrigados a dar eletivas que nada tem a vercom o tema de sua pesquisa também foidestacado.

Por último, os estudantes reivindicaramque o resultado fosse divulgado de maneiramassiva, inclusive para os professores.Informamos que o resultado estarápermanentemente exposto no mural do CALCe em seu sítio. Será, ainda, encaminhado àDireção e aos chefes de departamento, sendoapresentados nas reuniões de departamento.

Para conferir oresultado da avaliação,vá até o mural do CALCou visite o nosso sítio

na internet.

Professora visitante, atualmentelecionando a disciplina Criminologia ePolítica Criminal na Faculdade de Direitoda UERJ; Secretária-Geral do InstitutoCarioca de Criminologia; autora doslivros Difíceis Ganhos Fáceis e O Medona cidade do Rio de Janeiro.

PROFESSORA VERA MALAGUTI ÉENTREVISTADA PELO CALC

me encaminharam para essa escola tãofecunda.

2) Qual você acha que é a função do DireitoPenal nas sociedades capitalistas, emespecial nas latino-americanas?

Acho que a função do Direito Penal é conter opoder punitivo com suas permanênciashistóricas exterminadoras e seletivas.

(continua...)

1) A senhora é um dos nomes maisconhecidos da Criminologia latino-americana. Como foi sua aproximação coma produção da Criminologia Crítica? Quaissão os fundamentos dessa escola?

Minha aproximação foi através da minhanecessidade de compreensão mais profunda daquestão criminal que se tornou central a partirdos anos noventa no Brasil neoliberal. Minhamilitância política e minha relação com o Nilo

Acabou-se o suspense. A toga mais cobiçada dosúltimos meses terá um dono uerjiano. Luiz Fux, formadona nossa faculdade e professor titular da casa, iráintegrar a Suprema Corte a partir de 3 de março. Atualministro do STJ, Fux foi indicado para preencher odesfalque no STF deixado pela aposentadoria de ErosGrau em agosto do ano passado.

Contando novamente com 11 ministros, a corteconstitucional ficará enfim completa. Isso afastará apossibilidade de empates nas plenárias que acarretemsuspensão de decisões importantes, como ocorreu noatrapalhado – e por que não dizer desastroso -julgamento da Lei da Ficha Limpa, em setembro doano passado.

Em tempos de judicialização da política, a visibilidadedo novo cargo de Fux é notável. Longe de ficaremocultos atrás de acórdãos e decisões, os ministros dehoje têm rosto e voz e disputam audiência com a sessãoda tarde. Não era por menos. Afinal, a corte é capazde anular decisões parlamentares consideradasinconstitucionais, estabelecer interpretações a seu gostoe provocar o congresso a editar novas normas, entreoutras prerrogativas.

A atuação contramajoritária do STF no controle de

constitucionalidade traz à tona a questão da legitimidadedemocrática de um judiciário não eleito para fazerescolhas flagrantemente políticas. Uma das formas demitigar essa dificuldade é através da discussão ,acompanhamento e influência da sociedade na escolhados ministros, de modo que a composição do STF sejamais representativa das vontades do povo. No Brasil,o meio acadêmico, os movimentos sociais e a sociedadecomo um todo não se engajam tanto no processo deindicação. Assim, a escolha dos integrantes do STFdepende dos humores da presidência e de articulaçõespolíticas conjunturais. No caso do Fux, a indicação sedeu durante de estabelecimento do governo Dilma e adistribuição dos cargos dos ministérios e da chefia dasestatais. Como é de praxe, essa distribuição deveresultar em um arranjo delicado, que satisfaçaminimamente aos interesses dos partidos da basegovernista. Nesse contexto, a escolha de Fux, cujonome foi apresentado pelo governador Sérgio Cabral,calhou como uma forma de agradar a um PMDBsedento por cargos e insatisfeito com o quinhão que apresidente lhe reservou.

Muitos alunos, do sétimo andar, devem se identificarcom a biografia do novo ministro. Em um recentedepoimento sobre sua vida, Fux relembra seus anos deestudo no Colégio Pedro II, além de ter trabalhado,

Luiz Fux é indicado para o STFSerá que agora ele pede licença?

durante toda a graduação no turno da noite.Freqüentador dos bares e faixa preta de Jiu-jitsu, foi oorador da primeira turma a se formar no campusMaracanã. Iniciou sua vida jurídica advogando, para setornar promotor de justiça logo em seguida. Foipromovido por merecimento a Juiz de Direito,alcançando o cargo de ministro do STJ em 2001, apósindicação do então presidente da república FernandoHenrique Cardoso.

Nos últimos anos seu nome ganhou notoriedade pelopapel decisivo que exerceu presidindo a comissão deelaboração do anteprojeto do novo Código de ProcessoCivil, concluído em 8 de junho de 2010. Agora restaacompanhar seu desempenho em julgamentos que nãoenvolvam somente o conhecimento estrito doordenamento jurídico, mas posicionamentos políticosfirmes, como no caso da concessão de refugio ao italianoCesare Battisti.

Novo ministro é Luiz,mas não é Roberto.

Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nadaOs ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida,

fodidos e mal pagos:Que não são, embora sejam.

Que não falam idiomas, falam dialetos.Que não praticam religiões, praticam superstições.

Que não fazem arte, fazem artesanato.Que não são seres humanos, são recursos humanos.

Que não têm cultura, e sim folclore.Que não têm cara, e sim braços.Que não têm nome, têm número.

Que não aparecem na história universal, aparecem naspáginas policiais da imprensa local.

Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.(Galeano, Eduardo. O livro dos abraços)

Jornal CALC_abril 2011_diogo.pmd 3/25/2011, 12:56 AM3

3) Nesse sentido, gostaríamos que a senhoracomentasse a operação policial e militar naVila Cruzeiro no final do ano passado.

Creio que fazem parte deum paradigma deSegurança Pública verticale militarizado, construídopelo imperialismo para aocupação dos territórios aserem dominados.OZaffaroni mostra asmarcas desse modelo nodiscurso do inimigo noDireito Penal,principalmente na eraBush. Essas tecnologias,já derrotadas, estão sendooferecidas para a periferiana resolução da suaconflitividade social e política. É também umaeconomia, a indústria do controle do crime, comodisse Nils Christie. Se observarmos o noticiáriorecente veremos que atirar os policiais àmissões de guerra nas favelas é transformá-los naqueles “salteadores” que depois serãodemonizados.

4) Em entrevista recente ao Correio daCidadania, a senhora comparou o episódioda Vila Cruzeiro a Canudos. A senhora podeexplicar porque considera que a história vemse repetindo, no que diz respeito àsegurança pública?

Creio que não conseguimos sair desse modelode segurança contra os pobres “perigosos”. Éuma subjetividade muito profunda na almabrasileira, faz parte de uma experiência e umapedagogia da colonização: é assim no México,na Argélia, no Egito. O Zaffaroni diz que osgenocídios foram sempre praticados pela políciaou pelas forças armadas em papel de polícia.

5) E qual tem sido o papel da mídia nalegitimação desse tipo de política pública?

A mídia, como diz Nilo Batista, é hoje protagonistado sistema penal. Ela pauta a polícia e faz partedos negócios da indústria do controle do crime.Reparem como a cobertura foca nos

equipamentos, é uma ação publicitária.

6) Por que a repressão tem se voltado quaseque exclusivamente ao varejo da droga? Há

alguma razão para sedeixar em segundoplano outras atividadesmais danosas como oestabelecimento demilícias formadas poragentes estatais emcomunidades pobres e otráfico de armas?

Acho que as milíciastambém são alvo e sãotambém umaincompreensão doproblema de não optar pelocontrole pela legalidade do

segundo emprego dos agentes de segurança,como no varejo de drogas. Não adianta levar oolhar “do inimigo” para as chamadas milícias, éuma cultura policial que se alavancou na “guerracontra as drogas”.

7) O que a senhora acha da política das UPPs,em especial em relação aos objetivos que lhesão atribuídos e a forma como vem sendoconduzida?

Acho que as UPPsfazem partedaquele paradigmabélico. Não é nadainventado aqui ouoriginal. Estive emM e d e l l í nrecentemente e omodelo já estavaem baixa, comaumento crescentede homicídios eviolências contra ospobres. A ocupação militarizada não se sustentaa não ser que produza terror constante, é o queGizlene Neder chama de “obediência cadavérica”.A integração das favelas à cidade não é caso depolícia, como na República Velha. É um projetode cidade, coletivo, democrático e popular.

8) A senhora tem formação multidisciplinar,tendo passado pelas Ciências Sociais, pelaHistória e pelo Direito. O que a senhora achada forma como se ensina nas universidadesbrasileiras, em especial nas de Direito?Trata-se de ensino que faz o estudantepensar e produzir ou mera reprodução?

Na verdade não tenho formação em Direito,apesar da proximidade intensa com o objeto.Tenho muitas críticas à sociologia brasileira hoje,e apesar da formação isolacionista do Direito,creio que hoje o Direito e seus estudantes estãona vanguarda da compreensão da principalquestão política brasileira, a questão criminal

9) A antiga gestão do CALC vinhaconversando, nos gabinetes, sobre umareforma curricular no nosso curso.Entendemos que há a necessidade de sereformular o currículo em alguns pontos,mas às abertas, sendo os estudantesavisados e o debate amplo. Você reformariaem algum ponto o currículo do Departamentode Direito Penal?

Creio que seria uma arrogância minha opinarsobre o currículo do Direito Penal, os professoresda área sabem melhor que eu. Mas eu acredito

que quanto maior foro alcance do olharsobre História,Filosofia, Sociologiaem geral, e não “dodireito”, maispossibilidades seusalunos terão paraf o r m u l a rjuridicamente. Euacho que acapacidade de leituraé o principaldiferencial, por issobrinco com os alunos

que quem ler Os Sertões de Euclides da Cunhapode passar em qualquer concurso público.Acho que a Criminologia tem uma grandecontribuição a dar para a compreensão daquestão criminal.

Por Diogo Flora

Mega eventos e reforma urbanaA cidade do Rio de Janeiro está mudando e essa guinada derumos se intensificou desde que foi escolhida para sediaros mega eventos internacionais, como a Copa do Mundo eas Olimpíadas. Mega eventos porque exigem da cidade umainfra-estrutura urbana adequada, com transporte, segurançae todos os serviços públicos funcionando bem, além, é claro,de representar uma expansão sem precedentes para osnegócios e as empresas, nacionais e internacionais. O Rioserá, em muito breve, um canteiro de obras colossal.

Mas nem tudo são flores nesse mega mundo. Não erramaqueles que afirmam que esse período deixará a cidadereformada. Mas tão importante quanto essa constatação,só que muito menos popular para os governos e os meiosde comunicação, é outra: os mega eventos representarãouma “faxina social” (ou chacina, como seria mais correto)!Sob o argumento da reurbanização do Rio de Janeiro, quenão é ruim por si só, a Prefeitura está empreendendo o maiorbota-abaixo desde que Pereira Passos, no início do séculopassado, transformou o Rio na Paris dos trópicos.Esqueceu-se o antigo Prefeito, assim como o atual, que nóstemos muito mais pobres que a França. E, da mesma formaque naquela época se iniciou um brutal processo defavelização, agora o processo se amplia, mas para longedos nossos olhos.

Se os olhos não vêem a miséria, se o nariz não sente o fedore se nenhum pivete incomoda pedindo uma moeda no sinal,então, como num passe de mágica, tornamo-nos um país deprimeiro mundo, depois de séculos na fila. Mas, nos limitesda cidade, em toda a zona de conurbação urbana eprincipalmente na baixada fluminense, as favelas crescem.E crescem em um ritmo jamais visto. O contingente oriundodas remoções forçadas, da especulação imobiliária e dosdespejos ilegais empreendidos pela Prefeitura só aumentama vazão desse ritmo migratório. Para aqueles que gostam deler, Planeta Favela, de Mike Davis, faz um assustador relatodessa realidade.

Um pouco de direito: princípio da não remoçãoAlguns podem achar que estou pegando pesado demaisquando falo em remoção forçada e despejo ilegal. Afinal decontas, o fato é que seremos sede de importantes megaeventos e precisamos nos preparar. Até aí, tudo certo. Oproblema é que não pode ser a qualquer custo. Não estamosem nenhuma ditadura e nossos representantes são eleitospara nos proporcionarem uma boa vida, digna da nossacondição humana. Quando falamos em remoção e despejo,estamos falando de famílias que agora estão na rua. A própriaConstituição, lei maior do país, em seu artigo 6º coloca amoradia no mesmo nível de outros direitos sociais, como asegurança, a educação e a saúde. Ter um lar é um direitofundamental e questão de justiça social.

O Poder Executivo, a quem cabe respeitar e fazer cumprir asdeterminações legais, é o primeiro a ignorá-las sob osargumentos de que: é necessário se preparar, é importantecompreender, temos que juntar forças para não passarvergonha, e mais isso, e mais aquilo. Na prática, o tratorpassa por cima. O trator passa por cima dos preceitos legaise a Guarda Municipal conta os corpos, enquanto a políciado estado impede qualquer um de tentar se defender frenteà barbaridade. De um ano para cá, a Defensoria Pública doRio de Janeiro, através de seu núcleo especializado paraquestões fundiárias (Núcleo de Terras e Habitação)constatou que os atendimentos aumentaram 83%. Seconsiderarmos, ainda, que agora as comunidades removidassão bem maiores, os números extrapolam a razoabilidade.Apenas para a construção das vias rodoviárias que ligarãoos locais dos jogos, como a Transoeste e a Transcarioca, jásão, até dezembro do ano passado, 10.800 famílias afetadas.E o número vai crescer, está crescendo.

O procedimento da municipalidade é o mesmo, sempre.Chegam marcando as casas, como se ali não morasse gente.Junto às iniciais da Secretaria Municipal de Habitação (SMH),transformam uma família em um número. Emitem umanotificação para desocupação dos imóveis com prazo, nãoraro, de 24 horas – há casos onde consta prazo dedesocupação de zero hora. Voltam no dia seguinte, com umatropa de guardas do choque de ordem e policiais militaresarmados com fuzis. Passam o trator onde conseguem e, onde

não é possível,colocam homenscom marretas paraquebrar asparedes. Nalinguagem delesp r ó p r i o s ,descaracterizam olocal comomoradia, para queaqueles pobres“ va ga bund os”não voltem.

Aqui vai um trecho importante da Lei Orgânica do Município:“Art. 422 § 1º As funções sociais da Cidade compreendemo direito da população a moradia, transporte público,saneamento básico, água potável, serviços de limpezaurbana, drenagem das vias de circulação, energia elétrica,gás canalizado, abastecimento, iluminação pública, saúde,educação, cultura, creche, lazer, contenção de encostas,segurança e preservação, proteção e recuperação dopatrimônio ambiental e cultural.”

O Poder Público pode sim remover as pessoas de umdeterminado lugar para construir o que quer que seja para obem de toda a população, mas há princípios a seremobservados. Os moradores devem ser indenizados em um

processo de Desapropiação da Posse. Pode parecer estranho,mas a posse possui valor econômico e deve ser indenizada.Assim nos diz a doutrina e a jurisprudência dos nossosTribunais, inclusive em Agravo de Instrumento Nº 1.261.328– BA, cujo relator foi o nosso professor Luiz Fux, o maisnovo Ministro do STF. Mas em todos os casos, o queobservamos é que isso não é uma preocupação que orienteas condutas dos agentes públicos. Primeiro, eles derrubame, depois, acionados na justiça, são obrigados a reparar osdanos, embora isso não seja mais possível. Assim, começa opesadelo dos antigos moradores com alugueres sociaisinjustos e insuficientes que atrasam constantemente ouconjuntos habitac ionais erguidos às pressas, cominfiltrações, sem rede de saneamento, escola, hospital oucreche.

E então, o que fazer?Em assunto de direito à cidade, especialmente no que tangea moradia, os movimentos sociais lutam por uma reformaurbana em outros parâmetros. Precisamos de um projeto quenão seja baseado em interesses particulares de grandesempresários e especuladores. A cidade que queremos deveter como meta garantir a satisfação das necessidades daspessoas, principalmente das classes subalternas, que hojevivem em uma “Cidade de Exceção”, onde os direitos sãorestritos pela força e pela ignorância. Onde, muitas vezes, ocontrole populacional é realizado através das armas, comonas comunidades com varejo armado da droga; nascomunidades com UPP’s, onde os fuzis estão em tão violentasmãos; e nas comunidades que vivem sob o terror da milícia.

É contra isso que deve agir o Direito. E um dos instrumentospara essa ação é a Lei, conquista histórica que não foi escritapor piedade ou por acaso. Os mega eventos devem significarbem estar geral e não enriquecimento de poucos. Contra asegregação em curso militam os movimentos organizados,respaldados pela Constituição, pelos tratados e, no nossocaso, pela Lei Orgânica. Aceitar viver sob os brados dacivilização em barbárie atenta contra o Estado Democráticode Direito.

Como futuros profissionais do Direito e comprometidos coma justiça além do dire ito, t emos o dever ético e aresponsabilidade profissional de assegurar o cumprimentodas garantias legais, o avanço da legislação social e aresponsabilização pelos crimes cometidos pela Prefeituradurante esse novo bota-abaixo. Regredir nessa questão éabrir espaço para uma cidade cuja população vai sersubjulgada pela exceção permanente, pelo medo e,principalmente, pelo capital.

* Diogo Flora é estudante do 7º período de Direito naUERJ, militante do movimento “Direito Para Quem?” eestagiário do Núcleo de Terras e Habitação da DPGE/RJ.

A ocupação militarizada nãose sustenta a não ser que produzaterror constante, é o que GizleneNeder chama de “obediênciacadavérica”. A integração dasfavelas à cidade não é caso depolícia, como na República Velha.É um projeto de cidade, coletivo,democrático e popular.

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esperar pacivamente os resultados. Seu dever é construir as mudanças conosco,levando as demandas e ajudando nas soluções. Participe das reuniões e ajude a

transformar nossa faculdade e a nossa sociedade em lugares melhores, com menosdiferenças e mais justiça!

Jornal CALC_abril 2011_diogo.pmd 3/25/2011, 12:56 AM4

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