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O DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS
SOB O ASPECTO SUSTENTÁVEL: O
CASO DO ROBÔ AMBIENTAL HÍBRIDO,
PROJETADO PARA ATUAR EM ÁREAS
DE VÁRZEA NA AMAZÔNIA
BRASILEIRA
Mara Telles Salles (UFF)
Jaqueline Colares Viegas (UFF)
Ney Robinson Salvi dos Reis (UFF)
A busca cada vez mais intensa por novas fontes de energia, bem como
a disponibilização e uso eficiente daquelas já existentes exige
estratégia. No Brasil, sociedade, governo, indústria e academia unem
esforços para buscar novas soluções parra um país mais sustentável,
numa visão de médio e longo prazo. O presente artigo tem como
objetivo apresentar uma contribuição para uma metodologia de
desenvolvimento de produtos sustentáveis. O trabalho se desenvolve
tomando como base a metodologia para projeto de produtos
industriais proposta por Eppinger e Ulrick, inserindo as diretrizes
propostas por Manzini e Vezzoli para produtos sustentáveis, com isso,
montando uma nova proposta de metodologia para projeto de produtos
sustentáveis. Para validar a nova proposta é feito o acompanhamento
do caso do Robô Ambiental Híbrido, criado para atuar em áreas de
várzea na Amazônia brasileira sem causar impacto ambiental
significativo, sob a ótica dos conceitos contidos na nova metodologia.
E os resultados alcançados satisfazem, na medida em que se consegue
fazer a correspondência do desenvolvimento do estudo de caso, nas
suas várias fases, com as fases e ações propostas pela metodologia.
Palavras-chaves: Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis,
Sustentabilidade, Amazônia
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1 Introdução
O conceito de sustentabilidade tem se tornado cada vez mais relevante na sociedade, nas
políticas públicas, nos governos, na indústria, na economia e, sobretudo nas ONGs que
abordam as questões sociais, ambientais e econômicas e nas instituições de ensino e pesquisa.
A crescente preocupação com a preservação do Planeta e dos seus recursos naturais tem como
principais motivos as mudanças climáticas e a escassez de recursos. Segundo Manzini e
Vezzoli (2008), ao considerar as mudanças climáticas como um quadro problemático no qual
se encontra o planeta Terra, o conceito de sustentabilidade ambiental refere-se à não
interferência das atividades humanas nos ciclos naturais para proteger as gerações futuras e o
capital natural.
O termo Triple Bottom Line, criado nos anos 1990 por John Elkington, fundador da
SustainAbility (LAVILLE, 2009), apresenta uma abordagem aos modelos de gestão de uma
empresa baseados no tripé da sustentabilidade relacionando os fatores sociais, econômicos e
ambientais. Assim uma organização pode crescer de forma sustentável.
Quando se trata de preservação do meio ambiente em território brasileiro, logo se pensa em
uma fonte de riqueza natural que é a Amazônia brasileira. Considerando que a Região
Amazônica é definitivamente parte do cotidiano de todo o planeta, a Amazônia deve ser
tratada como um tema referente às questões ambientais bem como às questões estratégicas
(REIS, 2010). As tecnologias devem surgir para reduzir ao máximo o impacto ambiental das
atividades humanas na Amazônia brasileira, cada vez mais frequentes em territórios antes
desconhecidos.
Em função deste cenário e para reforçar a tendência de se agir de maneira mais sustentável, o
INPI irá iniciar um programa piloto de patentes verdes para tecnologias limpas e com o tempo
de concessão reduzido para menos de dois anos, segundo o site da Revista Sustentabilidade –
Inovação para uma economia verde. Essa iniciativa incentiva a pesquisa por tecnologias mais
limpas e também a proteção do conteúdo técnico para que estas tecnologias tenham valor no
mercado.
2 Revisão da Literatura
2.1 A Sustentabilidade no Projeto de Produto
A expressão “desenvolvimento sustentável” teve a sua formalização no Relatório Brundtland
– Nosso Futuro Comum em 1987 pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (ZYLBERSZTAJN E LINS, 2010). Para Pinto-Coelho (2009) um marco
para o crescimento da consciência ambiental é o documento Agenda 21 na Eco92,
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,
realizada no Rio de Janeiro. Segundo o site RIO+20 – Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, o evento Rio+20 será realizado de 13 a 20 de junho de 2012,
na cidade do Rio de Janeiro, marcando os vinte anos de realização da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e tem como objetivo a renovação
do compromisso político com o desenvolvimento sustentável.
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De acordo com Manzini e Vezzoli (2008) para propor novas soluções sustentáveis em
produtos e serviços, as novas combinações entre a demanda e a oferta de produtos e serviços
estão relacionadas com a dimensão técnica e a dimensão sociocultural da inovação. Para eles
a mudança cultural e a mudança tecnológica foram fatores significativos para deixar mais
clara a discussão sobre soluções sustentáveis (e não sustentáveis) em produtos inovadores e já
existentes no mercado.
Manzini e Vezzoli (2008) sugerem uma série de indicações no projeto de um produto
sustentável, dentre as quais:
facilitar reutilização
intensificar uso
usar materiais e processos de baixo impacto
usar fontes energéticas com baixo impacto
minimizar conteúdo de material
minimizar perdas e refugos
minimizar energia na produção do produto
minimizar embalagens
minimizar consumos do transporte
minimizar consumo de recursos durante o
uso
minimizar e facilitar movimentos e
operações de desmontagem e separação
usar sistemas de junções reversíveis
prever tecnologias específicas e formas
especiais para desmontagem destrutiva
adotar a reciclagem em efeito cascata
facilitar coleta e transporte após o uso
minimizar número de materiais
incompatíveis entre si
facilitar limpeza
2.2 O Desenvolvimento de Produtos e os Conceitos Atuais de Sustentabilidade
A metodologia de desenvolvimento de produtos proposta por Ulrich e Eppinger (2007) e
aplicada no MIT - (Massachusetts Institute of Technology) é composta por etapas que dão
suporte ao desenvolvimento de projeto de produtos industriais. Esta será a metodologia na
qual este trabalho propõe adaptações. Um breve resumo das etapas é apresentado na Tabela 1.
Os conceitos atuais de sustentabilidade, que podem ser relacionados ao desenvolvimento de
produtos têm como representantes créditos de carbono, indicadores de sustentabilidade, ciclo
de vida dos produtos, logística reversa, reciclagem, coleta seletiva, políticas ambientais e
certificações ambientais. Lombardi (2008) afirma que desde que os temas relacionados ao
aquecimento global e sustentabilidade tornaram-se relevantes e obrigatórios nos grandes
centros empresariais e financeiros, também é crescente a preocupação com o estado e o futuro
das empresas. Quanto aos créditos de carbono, refere-se a uma redução nas emissões de
carbono na atmosfera. Segundo Bellen (2006), o objetivo dos indicadores é agregar e
quantificar informações de forma mais simplificada para melhorar o processo de
comunicação. A Análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta que considera o impacto
ambiental associado ao ciclo de vida do produto, ou seja, desde a extração de matérias-primas
utilizadas na produção até o descarte do produto (CHEHEBE, 1997). Leite (2009) comenta
que os primeiros estudos sobre logística reversa se iniciaram nas décadas de 1970 e 1980
relacionando o retorno de bens a serem processados em reciclagem de materiais, denominados
e analisados como canais de distribuição reversos e que a partir da década de 1990, o tema
tornou-se mais visível no cenário empresarial. A reciclagem é uma forma de economizar
energia e poupar recursos, e também na geração de menos lixo (PINTO-COELHO, 2009). A
coleta seletiva é um sistema de recolhimento de materiais que podem ser reciclados como
papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos define Pinto-Coelho (2009) e que estes materiais
devem ser previamente separados na fonte geradora para que sejam vendidos às indústrias de
reciclagem e aos sucateiros. O relacionamento entre Governo, Indústria e Consumidores está
baseado no claro entendimento dos papéis de cada um e de suas responsabilidades afirma
Chehebe (2002) e que o governo deve ajudar a estabelecer limites e regular quando
necessário. Moreira (2006) comenta que a série de normas ISO 14000 refere-se à série de
normas ambientais e que, desde a sua origem, buscou afinidades com a série da Qualidade,
integrando os conceitos de Qualidade e Meio Ambiente.
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Etapas de
Desenvolvimento de
Produtos
Metodologia
Processos de
Desenvolvimento
e Organizações
Apresenta o processo de desenvolvimento de produtos de forma geral e mostra como as
variáveis deste processo são utilizadas em diferentes situações industriais. Discute a forma
como os indivíduos estão organizados em grupos, a fim de empreender projetos de
desenvolvimento de produtos
Planejamento
do Produto
Apresenta um método para decidir quais os produtos a desenvolver. Como resultado deste
método é o planejamento e a declaração de missão para um projeto particular
Identificação das
Necessidades do
Consumidor
A identificação das necessidades do cliente é uma parte integrante da fase do processo de
desenvolvimento do conceito do produto. As necessidades do cliente resultantes são utilizadas
para orientar a equipe a estabelecer as especificações do produto gerando conceitos de
produtos e selecionando um conceito de produto para o desenvolvimento
Gerenciamento de
Projeto de
Desenvolvimento
de Produto
Apresenta alguns conceitos fundamentais para a compreensão e representação das tarefas do
projeto de interação, juntamente com um método para planejamento e execução do
desenvolvimento de um projeto
Especificações
do Produto
As necessidades dos clientes são geralmente expressas na "língua do cliente". A fim de
fornecer orientações específicas sobre como design e engenharia de um produto, as equipes de
desenvolvimento estabelecem um conjunto de especificações para expor em detalhes precisos
e mensuráveis que o produto tem que fazer para ser bem sucedido comercialmente. As
especificações devem refletir as necessidades do cliente, diferenciar o produto a partir dos
produtos competitivos e ser tecnicamente e economicamente realizável
Geração de
Conceitos
O conceito do produto é uma descrição aproximada da tecnologia, os princípios de trabalho e
a forma do produto. O grau em que um produto satisfaz os clientes e pode ser comercializado
com sucesso depende em grande medida da qualidade do conceito
Seleção de
Conceitos
A seleção de conceitos é o processo de avaliação de conceitos com respeito às necessidades
dos clientes e outros critérios, comparando os pontos fortes e fracos dos conceitos e
selecionando um ou mais conceitos para posterior investigação ou desenvolvimento
Teste do
Conceito
O teste do conceito solicita uma resposta direta a uma descrição do conceito do produto de
clientes potenciais no mercado-alvo. O teste de conceito é distinto da seleção de conceitos em
que se baseia em dados recolhidos diretamente de potenciais clientes e se baseia em um grau
menor pela equipe de desenvolvimento
Arquitetura do
Produto
Discute as implicações da arquitetura do produto sobre a mudança do produto, variedade de
produtos, a padronização de componentes, o desempenho do produto, custo de fabricação e
gerenciamento de projetos que em seguida apresenta um método para estabelecer a arquitetura
de um produto
Desenho
Industrial
Discute o papel do designer industrial e como questões humanas de interação, incluindo
estética e ergonomia, são tratadas no desenvolvimento do produto
Projeto para
Manufatura
Discute técnicas usadas para reduzir custo de produção. Estas técnicas são principalmente
aplicadas durante as fases do processo do nível de sistema e do projeto detalhado
Prototipagem Apresenta um método para assegurar que os esforços de criação de protótipos são aplicados
de forma eficaz
Projeto
Robusto
Explica métodos para a escolha de valores das variáveis de projeto para assegurar
desempenho confiável e consistente
Economia para o
Desenvolvimento
de Produtos
Descreve um método para a compreensão da influência dos fatores internos e externos sobre o
valor econômico de um projeto
Projeto de
Patente
Apresenta uma abordagem para criar um pedido de patente e discute o papel da propriedade
intelectual no desenvolvimento de produtos
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Tabela 1: As etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos
Fonte: Adaptada de Ulrich e Eppinger (2007)
2.3 As Áreas de Várzea na Amazônia Brasileira
Há algum tempo, a Região Amazônica passou, definitivamente, a fazer parte do cotidiano de
todo o planeta e tal tema nos leva, cada dia mais, às questões ambientais, bem como às
questões estratégicas. Além disso, é crucial que os brasileiros a conheçam em detalhe, a fim
de que seja possível traçar e aplicar estratégias eficientes, assim como propor políticas
públicas adequadas às suas especificidades. Sobre a questão do território regional da
Amazônia segundo Becker (2004), é apresentada na citação abaixo.
“No caso da Amazônia, perduram imagens obsoletas sobre sua realidade,
verdadeiros mitos que dificultam a tomada de decisão nas políticas públicas,
complicadas também por fortes conflitos de interesses quanto ao uso do
território regional.”
A problemática das áreas de várzea na Amazônia brasileira refere-se às dificuldades de
acesso, mobilidade e locomoção em grande parte das áreas alagadas e/ou alagáveis de
Florestas Úmidas Tropicais. Assim como os componentes naturais das áreas inundáveis, as
populações locais devem adotar estratégias de adaptação entre as fases aquáticas e terrestres.
A malha hídrica apresenta ciclos de cheia, vazante, seca e enchente, característicos da Região
Amazônica (REIS, 2010). Considerando não só os efeitos das mudanças climáticas, a
existência nas várzeas dos rios de extensos tapetes de vegetação flutuante (macrófitas
aquáticas), conforme Figura 1, podem interromper os barcos a remo ou a motor (CARRIL
apud REIS, 2010).
Figura 1: Tipo de vegetação flutuante que cobre a superfície da água dos rios
Fonte: Reis (2010)
2.4 A Robótica e o Meio Ambiente
Sempre que a sociedade se defronta com situações onde o ambiente pode ser classificado
como hostil à presença do ser humano, são desenvolvidos artefatos com o intuito de aumentar
a capacidade adaptativa do homem a este cenário.
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A robótica é um dos ramos da tecnologia que lida preferencialmente com sistemas compostos
por máquinas e partes mecânicas automáticas e controlados por dispositivos mecânicos e/ou
circuitos integrados (micro-processadores). Como produtos, são obtidos sistemas mecânicos
motorizados, controlados manual ou automaticamente por circuitos elétricos, por
computadores ou tele-operados.
Na prática, um robô é um dispositivo autônomo ou semi-autônomo que realiza trabalhos sob
comando humano. Além de ser usado como redutor de custos pela indústria, a grande vocação
dos robôs é para a realização de tarefas em locais inóspitos ou impróprios à presença do ser
humano. Locais mal iluminados, ruidosos, poluídos ou contaminados quimicamente,
ambientes radioativos, hiper ou hipobáricos, todos são candidatos ao uso de tais sistemas.
A Robótica tem um grande potencial como ferramenta multi e transdisciplinar, pois pode
religar fronteiras anteriormente estabelecidas entre várias disciplinas. Independente de suas
origens, a robótica está se tornando mais conhecida, mas ainda hoje, o termo é utilizado sem
que haja um consenso no âmbito mundial sobre o seu real significado. Essas tecnologias
podem e devem se somar aos estudos e conhecimentos já conseguidos no campo da
biomimética, que é a ciência que relaciona a robótica e a biologia com o objetivo de estudar
as estruturas biológicas e suas funções, para que, junto com a tecnologia possa desenvolver
protótipos com características e movimentos de elementos da natureza. A busca em emprestar
da natureza algumas características é um enorme passo. A junção da robótica com a
biomimética para propor algo que lide em cenários de várzea pode ser mais eficiente e
sustentável (REIS, 2010).
3 Metodologia de Pesquisa
O presente estudo tem um formato metodológico pois, segundo Vergara (2010) a pesquisa
metodológica caracteriza-se como um instrumento para avaliar a forma de atingir um
determinado objetivo. O trabalho se desenvolve a partir da análise da metodologia de
desenvolvimento de produtos proposta por Ulrich e Eppinger (2007) onde, através de análise,
são inseridas contribuições sustentáveis a cada etapa da metodologia com base nos conceitos
de Produtos Sustentáveis (MANZINI E VEZZOLI, 2008). Daí resulta uma nova proposta de
metodologia de projeto de produtos. A fim de verificar se essa análise é aplicável, é
apresentado um estudo de caso sobre o desenvolvimento de um produto que tem como
conceito a sustentabilidade. O estudo de caso refere-se ao desenvolvimento do Robô
Ambiental Híbrido, desenvolvido em uma empresa petrolífera para atuar em áreas de várzea
da Amazônia brasileira.
4 A Sustentabilidade e o Desenvolvimento de Produtos
De acordo com a metodologia, já apresentada, aplicada no MIT no desenvolvimento de
produtos, as quinze etapas que devem ser consideradas em projeto de produtos foram
divididas em macro etapas (Figura 2) de forma adaptada para inserir inicialmente os aspectos
sustentáveis (Figura 3) que podem ser atribuídos para cada macro etapa.
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Figura 2: As etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos
Fonte: Adaptada de Ulrich e Eppinger (2007)
A macro etapa planejamento corresponde à fase inicial do projeto para o processo de criação
do produto. Em seguida, a macro etapa apresentada é o desenvolvimento do conceito que
considera a identificação das necessidades do consumidor e do mercado alvo, alinhando as
expectativas dos consumidores e da empresa.
A próxima macro etapa a ser considerada é o planejamento do sistema que avalia o sistema de
módulos do produto em subprodutos e componentes e, também, o design do produto. Esta
macro etapa representa o layout geométrico do produto e a especificação funcional. A macro
etapa projeto detalhado refere-se à análise da disposição dos recursos e o processo produtivo.
O teste e refinamento corresponde à construção de protótipos para testar e avaliar o
desempenho do produto.
A análise financeira e aspectos legais é a macro etapa que avalia a viabilidade econômica do
projeto (que agora já leva em conta a economia sustentável), o direito do consumidor e da
sociedade e, por último, o direito de propriedade industrial (das características técnicas do
produto).
Processos de
Desenvolvimento
e Organizações
Planejamento do
Produto
Identificação das
Necessidades do
Consumidor
Gerenciamento de
Projeto de
Desenvolvimento
de Produto
Especificações do
Produto
Geração de
Conceitos
Seleção de
Conceitos Teste do Conceito
Arquitetura do
Produto Desenho
Industrial
Projeto para
Manufatura
Prototipagem Projeto Robusto Economia para o
Desenvolvimento
de Produtos
Projeto de Patente
Planejamento
Desenvolvimento do Conceito
Planejamento do Sistema Projeto Detalhado
Teste e Refinamento Análise Financeira e Aspectos Legais
Legais
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Figura 3: As macro etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos sob o aspecto sustentável
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Fonte: Adaptada de Viegas (2011)
5 Estudo de Caso: O Desenvolvimento do Robô Ambiental Híbrido em Áreas de
Várzea na Amazônia Brasileira
As jazidas de gás natural e óleo leve descobertas no interior da Floresta Amazônica nas
décadas de 70 e 80 trazem uma questão: como colocar tão nobre recurso natural à disposição
dos centros consumidores de modo eficiente, econômico e sustentável, garantindo, ao mesmo
tempo a confiabilidade e segurança das operações e instalações industriais necessariamente
situadas em áreas alagadas de vegetação densa?
Como resposta uma complexa malha de dutos foi indicada como solução para transportar o
gás natural produzido no município de Urucu-AM que apresenta inegáveis vantagens se
comparado ao diesel, atualmente usado como base da matriz energética da cidade de Manaus
e seu entorno. Diante disso, novas questões passam a ser consideradas para atender
operacional e ambientalmente as faixas de influências desta malha que atualmente conta com
800 km de dutos.
Tais questionamentos incitam oportunidades de desenvolvimento em várias áreas
tecnológicas, mormente no que se refere à mobilidade e acessibilidade em tal região. Se faz
necessário o exame e a proposta um novo conceito de locomoção (de pessoas, equipamentos e
mercadorias), em locais de dificílimo acesso e condições inóspitas. Um veículo com ênfase
ambiental que, desde as primeiras especificações, seja concebido para tais cenários e propicie
aos responsáveis mantenedores de tal empreendimento condições de mobilidade e
acessibilidade sustentáveis em regiões sensíveis da várzea amazônica.
O Robô Ambiental Híbrido surgiu a partir da visita de um integrante da equipe do Laboratório
de Robótica do CENPES na Amazônia, o Eng Ney Robinson dos Reis, para conhecer o
Projeto do Gasoduto Coari-Manaus da Petrobras. Os primeiros desenhos e esboços do Robô
Ambiental Híbrido tiveram grande importância na concepção do produto, pois se basearam na
propriedade da flutuação de um inseto típico local (imitação da natureza).
A proposta do Projeto de desenvolvimento do Robô Ambiental Híbrido tem como base um
novo conceito de veículo como alternativa de locomoção com condições de mobilidade e
acessibilidade sustentáveis em regiões da várzea amazônica. Por sua capacidade de
locomoção em lugares onde pesquisadores não conseguem chegar com embarcações simples,
o Robô Ambiental Híbrido pode agregar muitas funções como é o caso da coleta de
parâmetros da água em tempo real e a coleta de espécies e o recurso da visão com câmeras
acopladas proporcionando o conhecimento de uma Amazônia ainda desconhecida. A criação
do Robô Ambiental Híbrido contribuiu para o trabalho de conhecimento da região Amazônica
durante a construção do gasoduto (Figura 4).
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Figura 4: Robô Ambiental Híbrido em atuação
Fonte: Reis (2010)
A equipe de trabalho verificou também que os membros participantes do Projeto do gasoduto
deveriam aprender com a comunidade ribeirinha. A população, mesmo com condições
precárias de qualidade de vida, desenvolveu, ao longo do tempo, estratégias de locomoção e
moradia em áreas de várzea. O levantamento das informações junto à comunidade ribeirinha e
a experiência de conhecer algumas regiões da Amazônia brasileira por parte do Projeto do
gasoduto proporcionaram a vontade de desenvolver um veículo que pudesse ir até onde o
homem não conseguia chegar sem impactar o meio ambiente. O Robô Ambiental Híbrido é
um robô por ser tele-operado, ambiental por impactar o menos possível o meio ambiente e
híbrido por atuar em áreas de várzea com características de cheia e seca dos rios onde é
possível flutuar e andar em terra firme, a possibilidade de ser um veículo tele-operado ou
dirigido e pelos diversos tipos de energia que podem alimentá-lo.
6 Resultados
Com base na metodologia de desenvolvimento de produtos proposta por Ulrich e Eppinger
(2007), o estudo de conceitos atuais que abordam a sustentabilidade nos Produtos (MANZINI
E VEZZOLI, 2008), o resultado da análise referente ao projeto de produtos sustentáveis
apresenta alguns exemplos de atribuições sustentáveis às etapas da metodologia de
desenvolvimento de produtos como uma contribuição para a proposta de uma metodologia de
desenvolvimento de produtos sustentáveis (Figura 5).
O conceito da biomimética foi usado quando se estabeleceu que o mesmo deveria ter um
sistema de suspensão com capacidade de atingir ângulos diversos que fossem compatíveis
com os movimentos necessários para o deslocamento em áreas alagadas ou de terra firme sem
danificar a vegetação local, semelhante aos movimentos observados nos insetos patinadores.
Considerando que a Amazônia brasileira é conhecida por suas características naturais,
desenvolver um produto para atuar em áreas desconhecidas visando à preocupação da
preservação ambiental e o conceito da sustentabilidade proporciona como vantagem a redução
dos impactos ambientais e a possibilidade de deslocamento de difícil acesso para estudos da
biodiversidade natural. Porém, como desvantagem apresenta de forma contraditória o avanço
em áreas desconhecidas o que de fato pode causar impacto ambiental.
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O estudo de metodologias voltadas para o desenvolvimento de produtos sustentáveis contribui
para direcionar o projeto para a perspectiva da sustentabilidade. Os requisitos ambientais,
sociais e econômicos relacionados ao desenvolvimento de produtos contribuem para a geração
de conceito sustentável e proporcionando na fase projetual o nascedouro do conceito de
produto sustentável.
Como pode ser notado na figura 5, em todas as etapas propostas no modelo, o Robô
apresentou correspondência de aspectos sustentáveis compatíveis com os propostos na nova
metodologia.
Figura 5: Algumas atribuições sustentáveis às etapas da metodologia de desenvolvimento de produtos
Fonte: Viegas (2011)
7 Conclusão
O desenvolvimento de produtos sob o enfoque da sustentabilidade pode ser considerado uma
forma de repensar o conceito do produto e seus processos produtivos. Trata-se de uma
mudança cultural e tecnológica.
Processos de
Desenvolvimento
e Organizações
Planejamento do
Produto
Identificação das
Necessidades do
Consumidor
Gerenciamento de
Projeto de
Desenvolvimento
de Produto
Especificações do
Produto
Geração de
Conceitos
Seleção de
Conceitos Teste do Conceito
Arquitetura do
Produto Desenho Industrial
Projeto para
Manufatura Prototipagem
Projeto Robusto Economia para o
Desenvolvimento
de Produtos
Projeto de Patente
Sistema de Gestão
Ambiental Análise do Ciclo de
Vida do Produto Educação Ambiental
Aspectos e Impactos
Ambientais
Vida Útil dos
Materiais Conceito Sustentável
Análise de Risco
Ambiental
Indicadores de
Sustentabilidade
Montagem e
Desmontagem Ecodesign
Recursos e Processos
Sustentáveis Prototipagem Virtual
Desempenho
Ambiental Economia Verde Inovações
Sustentáveis
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A metodologia proposta se mostrou eficiente neste estágio de desenvolvimento. É, portanto
possível e desejável que se implemente melhorias a ela e investimento também no estudo de
outras, pois o mundo demanda contribuições urgentes nesta área.
O papel das empresas e das indústrias é produzir produtos que possam reduzir ao máximo os
impactos ambientais e sociais, com o pensamento de manter a economia atual, mas
protegendo as gerações futuras.
O grande desafio dos projetistas de produtos é proporcionar formas que possam contribuir
para a redução do impacto sócio-ambiental e a preservação do meio ambiente, e isso foi o que
se pode observar ao estudar o caso do Robô Ambiental Híbrido, cujo projetista, mesmo não
tendo tido contato com a metodologia, aplicou todos os princípios aqui preconizados.
8 Referências
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