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Ensino de Gramática Por Meio de HQs - Santos Revista Diálogos N.° 21 Mar. / Abr. 2019 35 O ENSINO DE GRAMÁTICA POR MEIO DAS “HQs”: INTERFACES ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA 1 Deividy Ferreira dos Santos (UCAM) 2 Resumo: O ensino tradicional como o próprio termo já expressa, objetiva por empregar uma abordagem não muito inovadora no processo de ensino e de aprendizagem de determinados conteúdos. À vista disso, percebe-se que com o passar dos tempos esse ensino vem se consolidando cada vez mais e muitos dos alunos vêm perdendo o interesse pelas aulas, quando estas envolvem à gramática. Alguns estudos têm nos elucidado a ideia de que se ensinar por um viés inovador, fugindo um pouco da rotina, talvez seja um grande facilitador no processo de aprendizagem não somente para o ensino de gramática, mas também para os outros campos (leitura e interpretação de texto) a que envolve a Língua Portuguesa. Assim sendo, pretende-se mostrar, neste trabalho, o quão importante é empregar uma metodologia inovadora, que chame a atenção dos alunos, para com o ensino de gramática, para que assim eles possam encarar este não como um “bicho de sete cabeças”, mas sim como uma área que é de fundamental importância para o processo de aprendizagem deles. Neste sentido, este estudo visa quebrar um pouco essa visão estereotipada de que o ensino de gramática é difícil e cansativo. Mostraremos, por meio de uma abordagem diferente (por meio das ‘HQs’), que o ensino de gramática pode ser trabalhado de forma diferenciada, inovadora, cativante e surpreendedora. O estudo aponta para a eficiência que o trabalho com as “HQs” tem em sala de aula, reforçando esse viés “interdisciplinar” e servindo de suporte e de engrenagem para o ensino de gramática. Palavras-chave: Ensino de gramática; “HQs”; Ensino de Língua Portuguesa; Interdisciplinaridade; Ensino e Aprendizagem. Abstract: Traditional teaching as the term already expressed, aims to employ a not very innovative approach in the process of teaching and learning certain contents. In view of this, it is noticed that over time this teaching has been consolidating more and more and many of the students are losing interest in classes, when these involve the 1 Trabalho final apresentado ao curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de Língua Portuguesa da Universidade Cândido Mendes (UCAM). 2 Especialista em Ensino de Língua Portuguesa (UCAM), Graduado em Letras (Português/Literatura) (UPE). É membro efetivo da Equipe Técnica da Revista Diálogos (UPE campus Garanhuns) e revisor da Revista Areia (PET/UFAL). Endereço eletrônico: [email protected]

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Ensino de Gramática Por Meio de HQs - Santos

Revista Diálogos – N.° 21 – Mar. / Abr. – 2019 35

O ENSINO DE GRAMÁTICA POR MEIO DAS “HQs”:

INTERFACES ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA1

Deividy Ferreira dos Santos (UCAM)2

Resumo: O ensino tradicional como o próprio termo já expressa, objetiva por

empregar uma abordagem não muito inovadora no processo de ensino e de

aprendizagem de determinados conteúdos. À vista disso, percebe-se que com o passar

dos tempos esse ensino vem se consolidando cada vez mais e muitos dos alunos vêm

perdendo o interesse pelas aulas, quando estas envolvem à gramática. Alguns estudos

têm nos elucidado a ideia de que se ensinar por um viés inovador, fugindo um pouco

da rotina, talvez seja um grande facilitador no processo de aprendizagem não somente

para o ensino de gramática, mas também para os outros campos (leitura e

interpretação de texto) a que envolve a Língua Portuguesa. Assim sendo, pretende-se

mostrar, neste trabalho, o quão importante é empregar uma metodologia inovadora,

que chame a atenção dos alunos, para com o ensino de gramática, para que assim eles

possam encarar este não como um “bicho de sete cabeças”, mas sim como uma área

que é de fundamental importância para o processo de aprendizagem deles. Neste

sentido, este estudo visa quebrar um pouco essa visão estereotipada de que o ensino de

gramática é difícil e cansativo. Mostraremos, por meio de uma abordagem diferente

(por meio das ‘HQs’), que o ensino de gramática pode ser trabalhado de forma

diferenciada, inovadora, cativante e surpreendedora. O estudo aponta para a eficiência

que o trabalho com as “HQs” tem em sala de aula, reforçando esse viés

“interdisciplinar” e servindo de suporte e de engrenagem para o ensino de gramática.

Palavras-chave: Ensino de gramática; “HQs”; Ensino de Língua Portuguesa;

Interdisciplinaridade; Ensino e Aprendizagem.

Abstract: Traditional teaching as the term already expressed, aims to employ a not

very innovative approach in the process of teaching and learning certain contents. In

view of this, it is noticed that over time this teaching has been consolidating more and

more and many of the students are losing interest in classes, when these involve the

1 Trabalho final apresentado ao curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino de

Língua Portuguesa da Universidade Cândido Mendes (UCAM).

2 Especialista em Ensino de Língua Portuguesa (UCAM), Graduado em Letras

(Português/Literatura) (UPE). É membro efetivo da Equipe Técnica da Revista

Diálogos (UPE – campus Garanhuns) e revisor da Revista Areia (PET/UFAL).

Endereço eletrônico: [email protected]

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grammar. Some studies have elucidated the idea that teaching through an innovative

bias, getting away from the routine, may be a great facilitator in the learning process

not only for grammar teaching, but also for other fields (reading and interpreting text)

that involves the Portuguese Language. Thus, it is intended to show in this work how

important it is to employ an innovative methodology that draws students' attention to

grammar teaching, so that they may regard this not as a "seven headed beast" , but

rather as an area that is of fundamental importance for the learning process of them. In

this sense, this study aims to break down this stereotyped view that grammar teaching

is difficult and tiring. We will show, through a different approach (through 'HQs'), that

grammar teaching can be worked on in a differentiated, innovative, engaging and

surprising way. The study points to the efficiency that work with the "HQs" have in

the classroom, reinforcing this "interdisciplinary" bias and serving as support and gear

for grammar teaching.

Keywords: Grammar teaching; "HQs"; Teaching Portuguese Language;

Interdisciplinarity; Teaching and learning.

INTRODUÇÃO

O ensino de gramática, nos dias atuais, tem passado por uma

série de questionamentos e discussões. Muitos desses questionamentos

devem-se ao fato da maneira como este é trabalhado em sala de aula,

que por, muitas vezes, prima-se pela abordagem mecanicista e

tradicional e isso, infelizmente, tem despertado uma série de

questionamentos negativos por parte da classe discente.

Espera-se, portanto, e é - talvez uma aposta para os estudos

críticos que atualmente vêm sendo desenvolvidos no Brasil - que o

ensino de gramática nas escolas brasileiras, sejam estas públicas e/ou

particulares, visem por uma abordagem interdisciplinar, recorrendo há

inúmeros mecanismos linguísticos que prendam e chamem a atenção

dos alunos. Diante dessas considerações, é importante ressaltar que o

trabalho quando voltado para uma interdisciplinaridade maior com os

aspectos da Língua Portuguesa, sem dúvidas, é eficaz e tem chamado à

atenção dos discentes.

Assim sendo, pretende-se mostrar, neste trabalho, o quão

importante é empregar uma metodologia inovadora, que chame a

atenção dos alunos, para com o ensino de gramática, para que assim

eles possam encarar este não como um “bicho de sete cabeças”, mas

sim como uma área que é de fundamental importância para o processo

de aprendizagem deles. Neste sentido, este estudo visa quebrar um

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pouco essa visão estereotipada de que o ensino de gramática é difícil e

cansativo. Mostraremos, por meio de uma abordagem diferente (por

meio das ‘HQs’), que o ensino de gramática pode ser trabalhado de

forma diferenciada, inovadora, cativante e surpreendedora. O estudo

aponta para a eficiência que o trabalho com as “HQs” tem em sala de

aula, reforçando esse viés “interdisciplinar” e servindo de suporte e de

engrenagem para o ensino de gramática.

Para atingir este objetivo, o trabalho está organizado da seguinte

forma: i) no primeiro tópico intitulado: “O ensino de gramática em sala

de aula: diálogos possíveis”, será frisado um pouco de como a

gramática é trabalhada na sala de aula, por quais mecanismos e

metodologias ela é utilizada; ii) no segundo tópico intitulado:

“Abordagem interdisciplinar do ensino de gramática: olhares para a

leitura e a interpretação de textos”, levando em consideração essa

mesma linha de raciocínio, mostraremos a importância que o ensino de

gramática tem para a leitura e a compreensão de textos por meio de uma

abordagem interdisciplinar; (iii) no terceiro tópico intitulado: “Período

simples e período composto por coordenação: um estudo a partir da

utilização das “HQs”, discutiremos os diálogos possíveis entre os

períodos e de sua utilização com as “HQs”, de como o trabalho pode ser

realizado; (iv) e, por fim, apresentaremos as considerações finais,

procurando trazer à luz toda a discussão que se empreendeu em torno

do trabalho e de suas principais contribuições para futuras pesquisas no

escopo da área.

1 O ENSINO DE GRAMÁTICA EM SALA DE AULA:

DIÁLOGOS POSSÍVEIS

No trabalho: “Ensinar gramática na escola”, escrito pelo

professor José Borges Neto e publicado no periódico ReVELL, no ano

de 2013, o professor supracitado coloca em discussão em seu artigo

algumas questões interessantes e norteadoras para com o ensino de

gramática no contexto escolar. Segundo Borges Neto (2013, p. 68):

“Falar em ensino de gramática na escola é despertar reações do tipo

“amor ou ódio””. Essa ideia apresentada pelo professor é bem

importante se pensarmos um pouco em como essa subárea está sendo

trabalhada em sala de aula. Muitos alunos, como já exposto, a partir do

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momento que começam a estudar essa linha/área da Língua Portuguesa

na escola, começam a vê o ensino como chato e cansativo, devido,

talvez, a maneira como a aula é conduzida. Essas relações de “amor e

ódio”, colocadas pelo professor, referem-se à maneira como os alunos

encaram e lidam com tal prática. Obviamente que a gramática tem sua

importância para a leitura e a compreensão de textos diversos3, mas se

não bem trabalhada ou se o professor não utilizar uma metodologia

inovadora, os alunos podem taxar essas aulas como cansativas, sem

importância, e acaba nutrindo um sentimento de “ódio” pela gramática,

o que, segundo Borges Neto (2013), é o mais provável.

Espera-se que as aulas de gramática aconteçam de maneira

diversificada e contextualizada, para que assim os discentes, em sua

totalidade, se sintam inseridos e sejam conduzidos à “aceitação” em sua

prática escolar. Seguindo esse raciocínio, estudos na área têm nos

apresentados que muitas das dificuldades dos estudantes com relação ao

ensino de gramática devem-se, em alguns momentos, à cultura

linguística dos estudantes, ou seja, os discentes não estão habituados a

seguirem “normas”, as quais, mesmo não sendo esse o objetivo, mas

que é isso que acaba acontecendo, são impostas pela gramática

normativa. Os estudantes, hoje, são e estão inseridos em uma cultura

linguística que não tem “acompanhado” os progressos da gramática e

que por esse motivo estão com sérios problemas no que tange à leitura e

à escrita.

É sabido que os docentes têm tentado, a custo trabalho, investir

na reversão desse quadro, mas não é muito simples, tendo em vista a

“não abertura” para o processo de ensino e de aprendizagem pelos

estudantes. A esse respeito, a estudiosa e professora Irandé Antunes

(2007, p. 27), assevera que:

Quando um professor se queixa de que “os alunos chegam

ao ensino fundamental e não conhecem as regras de

‘gramática“, evidentemente, está se referindo a outra

gramática, fora dessa primeira acepção, pois esta já se

encontra consolidada e pelo resto da vida. Quando outro

professor fala na “obrigatoriedade do uso da gramática”

também está falando de outra gramática. É que, nesse

primeiro sentido, não se trata de obrigatoriedade. A

3 Essas questões serão discutidas no tópico seguinte.

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gramática é constituída de língua, quer dizer: faz a língua

ser o que é. Nunca pode ser uma questão de escolha, algo

que pode ser ou deixar de ser obrigatório. Simplesmente

é, faz parte. Nem requer ensino formal (ANTUNES,

2007, p. 27).

De acordo com a estudiosa, quando os alunos chegam à escola

eles já se encontram com uma gramática internalizada que faz parte do

cotidiano e do convívio sócio cultural deles e isso, sem dúvidas, deve

ser levado em consideração pelo professor. O que é necessário frisar é

que o professor não deve dispensar o conhecimento que o aluno já

possui; pelo contrário, cabe ao docente tentar lapidar ainda mais esse

conhecimento do aluno. Além disso, a mesma coisa acontece com o

ensino de gramática: o aluno já chega à escola com seu conhecimento

de mundo, com suas próprias regras e quando se depara com inúmeras

normas/regras, que são impostas pela gramática normativa, é normal o

estranhamento de início. Agora que é papel do professor saber lidar

com tudo isso e mostrar para os alunos que eles devem aprender a

gramática normativa, mas sempre realçando a importância que o

conhecimento que eles já trazem é importante para o processo de ensino

e de aprendizagem dos mesmos.

Em vista disso, a pesquisadora Gorete R. G. Santos (2013, p. 13)

em seu trabalho monográfico: “O ensino da gramática normativa em

sala de aula: as dificuldades de aprendizagem no 6º ano do ensino

fundamental”, nos deixa claro que:

Atualmente tem-se visto a gramática apenas como

ditadura de regras e normas sobre como se escreve, o que

na verdade não se deve considerar como uma verdade

absoluta. Não há dúvida de que se deve ensinar a

gramática normativa nas aulas de Língua Portuguesa,

embora sabe-se que ela em si não ensina ninguém a falar,

a ler e a escrever com precisão. O dever da escola é

ensiná-la, oferecendo condições ao aluno de adquirir

competência para usá-la de acordo com a situação

vivenciada.

Não é com teoria gramatical que ela concretizará o seu

objetivo, pois isto leva os estudantes ao desinteresse pelo

estudo da língua, por não terem condições de entender o

conteúdo ministrado em sala de aula, resultando assim

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frustrações, reprovações e recriminações que se iniciam

pela própria escola e o preconceito linguístico. A

gramática não deve ser tida como verdade única, absoluta

e acabada, a língua falada pelo aluno deve ser valorizada.

Além do mais ela tem sua parcela de contribuição para a

formação e o desenvolvimento intelectual de todos os

indivíduos da sociedade brasileira (SANTOS, 2013, p.

13).

Percebe-se, pois, de acordo com a pesquisadora e já realçando o

que foi colocado anteriormente, que os professores precisam estar

conectados, interligados e concatenados com a vivência linguística,

cultural e social do aluno, respeitando seu vocabulário social. As

desistências e o desinteresse dos alunos pela gramática ocorrem,

conforme Santos (2013, p. 13), pelo fato de que “atualmente tem-se

visto a gramática apenas como ditadura de regras e normas sobre como

se escreve”, sem falar que quando se prima por esta abordagem do

ensino de gramática está se desconsiderando o real papel dela que é o de

transmitir ensinamentos oriundos de uma ramificação linguística de

sentidos, mas sem desconsiderar a gramática internalizada que o aluno

já possui.

No tópico seguinte, será discutido o ensino de gramática a partir

de uma abordagem interdisciplinar, já que afirmamos e acreditamos que

quando o trabalho volta-se para esta interdisciplinaridade o aluno tem

mais chances de captar o que se está ensinando, uma vez que essa

interdisciplinaridade permite com que ele volte as suas vivências sociais

o que aproxima, positivamente, o trabalho em sala de aula com sua

comunidade linguística local. E também, mostraremos a importância da

gramática para com o ensino de leitura e de interpretação textual.

2 ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DO ENSINO DE

GRAMÁTICA: OLHARES PARA A LEITURA E A

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

Os estudos interdisciplinares estão bastante em discussão nos

dias atuais, pois através destes nota-se uma grande eficácia para a

compreensão dos estudos de Língua Portuguesa, à guisa de

exemplificação. Quando se faz esse entrelaçamento entre diferentes

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discursos e diferentes formas de apresentar determinados conteúdos

através, conjuntamente, da inserção de uma metodologia inovadora que

chame a atenção dos alunos, verifica-se quanto ao grau de compreensão

e de inferências nas análises de textos diversos, que isso facilita

positivamente o processo de ensino e de aprendizagem apresentado

pelos estudantes.

Observa-se, portanto, que o investimento em metodologias

inovadoras para com o ensino tem surtido efeitos, pois os alunos

mostram-se interessados nas aulas e no querer “aprender”. No entanto, é

um desafio chegar a essas tais metodologias inovadoras, tendo em vista

que os alunos, atualmente, devido à inserção e a um contato próximo

deles com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) e,

assim, eles (os alunos) já chegam à escola dominando todas essas

ferramentas digitais e, portanto, nada basicamente é novo para eles, pois

já estão acostumados a vê e a viver nessa “turbulência”, que é mediada

pelas tecnologias digitais.

E quando o professor vai trabalhar determinado assunto em sala

de aula, ele precisa ter a coerência e a inteligência de procurar levar

algo diferente que o aluno ainda não conheça e que de preferência

chame a atenção deles, o que, por um lado, é bastante difícil e

questionador. A respeito do conceito de interdisciplinaridade, vejamos o

que nos esclarece Rauber (2005, p. 17 apud Kleiman e Morais (1999, p.

22)):

Segundo Kleiman e Moraes, a interdisciplinaridade

refere-se “a uma abordagem epistemológica dos objetos

de conhecimento questionando a segmentação entre os

diferentes campos do saber produzida por uma visão

compartimentada (disciplinar)” (RAUBER, 2005, p. 17

apud KLEIMAN e MORAIS, 1999, p. 22).

Visando a essa noção apresentada pelos autores, verifica-se que

algumas escolas, lamentavelmente, não têm trabalhado com esse viés

social e dinâmico para com o ensino de línguas e em especial ao ensino

de Língua Portuguesa. O que nota-se evidentemente é um ensino

fragmentado, preso a regras e que não prende a atenção dos alunos e

muito menos faz com que eles reflitam sobre o que se está estudando

e/ou aprendendo e que não permite uma leitura crítica sobre o real papel

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de se estudar os aspectos da língua (gem). Acreditamos que o trabalho,

por meio da interdisciplinaridade, deve e/ou deva proporcionar isso aos

discentes. Assim:

O ensino da Língua Portuguesa baseado na prática da

análise linguística contrapõem-se ao ensino anterior. A

língua é vista ou entendida como algo em constante

transformação, cria e recria-se a todo o momento,

resultado das interações entre os sujeitos. A metodologia

utilizada baseia-se na indução, ou seja, o aluno é

estimulado a chegar a “resposta correta”, e a compreender

todo esse processo, para isso parte-se de situações

vivenciados pelos alunos ou de seus conhecimentos a

respeito dos mesmos, como, por exemplo, a língua

trabalhada é a dos próprios alunos, produzida pela

interação entre os mesmos em diversas situações sociais.

A produção textual é incentivada, sendo esses textos

utilizados como objeto de trabalho, não retalhados, mas

trabalhados em sua forma e sentido original, completo.

Igualmente ocorre com os gêneros discursivos, os quais

são trabalhados em suas várias modalidades e funções,

pois estes fazem parte da língua também (WAAL, 2009.

p. 983).

Os estudos linguísticos principalmente aqueles voltados para a

Linguística Aplicada têm operado na defesa de que a língua é moldável

e multável, por estar em constante transformação. Isso é fato. É

inquestionável. Grandes linguistas brasileiros e internacionais têm nos

apresentado inúmeros trabalhos com escopo de pesquisa voltado para

essas questões, e é unânime, entre eles, a preocupação dessas questões,

que por natureza são naturais e questionadoras, que o ensino de Língua

Portuguesa e por que não também o ensino de gramática têm passado.

Ora, se a língua enquanto materialidade linguística é moldável e

multável, logicamente que ela muda conforme a cada processo

situacional cujos sujeitos estão inseridos.

A mesma coisa, pensando nisso, acontece com o ensino de

leitura e de interpretação de textos, de maneira geral. O professor

enquanto transmissor de conhecimento deve está sintonizado e

acompanhando essas mudanças que a língua está passando e que passa,

para que assim ele possa formar mentes pensantes e contextualizadas. O

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aluno precisa/necessita saber dessas questões, não a questões

notadamente científicas desprendidas de nenhuma explicação

conceitual, até porque o “mundo” locacional deles no momento é a

escola, é o ensino fundamental e médio; o professor deve explicar essas

noções da língua, mas de forma a que eles entendam, tendo em vista

que isso não se torne outro agravante ainda maior, para isso tem surgido

a Sociolinguística, outro campo de estudos que vêm somar às

discussões existentes entre língua e sociedade e como essa se porta em

comunidade.

É preciso mostrar a eficácia que os estudos gramaticais têm na

compreensão e na interpretação de textos. E como o professor pode

fazer isso? A resposta é clara e precisa: a partir da inserção de

metodologias inovadoras. No entanto, o professor só será capaz de

realizar tal tarefa a partir do momento que ele já tiver conhecimento das

reais necessidades dos alunos: de onde eles vieram, como é o grau de

aprendizagem, como é o repertório linguístico dos mesmos. Apenas

após esse conhecimento linguístico prévio dos discentes é que o

professor analisará dentro de seus limites, necessidades e possibilidades

o melhor caminho a ser seguido. Quando não se é trabalhado dessa

forma, ou melhor, quando não se é pensado em um ensino voltado para

essas questões:

a gramática transforma-se em “algo” nocivo à

aprendizagem, característica que é confirmada na prática

cotidiana em sala de aula, onde o objetivo do ensino da

Língua Portuguesa tem se restringido ao ensino das

estruturas e regras gramaticais da língua, ignorando seu

principal objeto de estudo: a linguagem em suas várias

formas de comunicação e interação humana (WAAL,

2009, p. 987).

E isso, sem espaço para dúvidas, é um grande problema a ser

resolvido. Mas pode, sim, ser solucionado, quando alguns professores

começarem a ter um novo olhar para o ensino de gramática e para seus

alunos, pois “[...] restringir-se, pois a sua gramática é limitar-se a um de

seus componentes apenas. É perder de vista sua totalidade e, portanto,

falsear a compreensão de suas múltiplas determinações” (ANTUNES,

2007, p. 41).

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Após todo esse excerto em que apresentamos algumas

considerações sobre a interdisciplinaridade e de sua funcionalidade para

o ensino de gramática, de leitura e de interpretação de textos diversos,

no tópico seguinte, cujo foco será dado ao corpus deste estudo,

discutiremos o período simples e o período composto por coordenação,

a partir da utilização das “HQs”. Nosso intuito é mostrar que esses

assuntos supracitados podem ser ensinados aos alunos de forma

diferenciada, instigante e inovadora com o uso das “HQs”, tidas,

atualmente, como uma valiosa ferramenta de estudo para o processo de

ensino e de aprendizagem.

3 PERÍODO SIMPLES E PERÍODO COMPOSTO POR

COORDENAÇÃO: UM ESTUDO A PARTIR DA UTILIZAÇÃO

DAS “HQs”

Começaremos este tópico com a apresentação e a explanação

geral dos conteúdos supracitados de acordo com a concepção teórica de

um grande especialista, professor e gramático brasileiro. Para atingir

este objetivo, achamos pertinente seguir o seguinte direcionamento: a)

faremos uma explanação breve e introdutória a respeito do período

simples e faremos algumas exemplificações e; b) discutiremos, em

seguida, o período composto por coordenação, a partir da utilização das

“HQs”. Os exemplos serão mostrados a partir das histórias em

quadrinhos, já que o objetivo deste trabalho, em linhas gerais, é

apresentar que o trabalho de ensino de gramática por meio dessa

utilização das “HQs” pode e tem gerado resultados positivos.

De acordo com a gramática normativa: “Novíssima Gramática

da Língua Portuguesa” (2000), do gramático brasileiro Domingos

Paschoal Cegalla, publicada em sua quadragésima terceira edição pela

Companhia Editora Nacional, o gramático nos apresenta a seguinte

conceituação acerca do período simples:

“O período é simples quando constituído de uma só oração”

(CEGALLA, 2000, p. 296). É importante deixar claro que inicialmente,

antes do período simples, é preciso ensinar para o aluno as noções de

frase, oração e período, pois acreditamos que é necessário que o aluno

compreenda essas noções antes, para depois ele adentrar no período

simples e no período composto. Vejamos:

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Ainda de acordo com a gramática normativa, frase é todo

enunciado que tem sentido completo. Exemplo: Boa tarde! Vou viajar

amanhã. Já a oração é a frase constituída de um verbo. Exemplo: Vou

viajar amanhã. Perceba que o verbo empregado é o “viajar”. E o

período seria as frases constituídas de mais de uma oração. Exemplo:

Comprei ontem na loja uma blusa, mas esqueci de pagar o boleto

bancário. Nota-se, evidentemente, que os verbos empregados são os

seguintes: “comprei” e “esqueci”. Como se nota, essas conceituações

precisam ser ensinadas para os alunos desde as séries iniciais, de

preferência mostrando-os sua finalidade e funcionalidade na vida dos

mesmos, explicando onde eles poderão encontrar e etc., tudo isso se

feito dessa forma, passará a ter mais sentido.

O período simples, portanto, é constituído apenas de uma só

oração como foi mostrado. O período composto acontece quando é

formado por mais de uma oração, segundo Cegalla (2000, p. 296) e

dentro da Língua Portuguesa há algumas subclassificações para o

período composto, a depender da funcionalidade que o mesmo está

empenhando dentro da frase e do contexto. Assim, o período composto

pode ser por coordenação e por subordinação. Nosso objetivo é o

trabalho com o período composto por coordenação.

Na Língua Portuguesa as frases precisam está concatenadas para

que elas passem a ter sentido para os usuários da língua e não seria

diferente com as orações e nem com os períodos. As orações elas

podem ser independentes, ou seja, sem precisar da junção de outras para

ter sentido completo e elas podem ser dependentes, neste caso,

precisando de outras para ter sentidos. O período composto por

coordenação, por exemplo, segue nessa direção, as orações não

precisam manter uma relação de dependência entre as demais, por que

elas por si só já conseguem ter essa finalidade. Elas classificam-se de

acordo com as relações semânticas que exercessem nas frases. Como

efeitos categóricos, temos as seguintes classificações:

a) Adversativas – quando exercem a função de oposição, de

adversidade entre as orações.

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Imagem 01

No exemplo acima, a partir da utilização da “HQ”, verifica-se

que o aluno consegue identificar claramente o tipo de relação existente

entre as orações. O conectivo “mas” tem a função nessa oração de

expressar uma noção de oposição, de adversidade entre as orações.

Acreditamos que todos os elementos multimodais que compõem a

“HQ”, como, por exemplo, o texto verbal, o texto não verbal, com

destaque, em especial, para a figura e as expressões faciais da

personagem, são pontos que facilitam a compreensão e a relação

existente entre as orações.

b) Aditivas – quando exercem a função de adição, de soma entre as

orações.

Imagem 02

Na “HQ” acima, percebe-se o trabalho com as orações

coordenadas sindéticas aditivas, a partir da utilização do conectivo “e”.

É importante mostrar e explicar para o aluno como essa relação de soma

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acontece entre as orações. No exemplo, o diálogo entre os personagens

acontece a partir do uso de um questionamento, de uma pergunta

retórica direcionada à personagem e ao respondê-la o outro personagem

afirma: “Dona Maria, a senhora toma muitos remédios e tornou-se

hipocondríaca”, veja que a utilização do conectivo “e” tem o

papel/finalidade, nesse contexto, de expressar uma relação de soma: a

personagem toma remédios e tem-se tornado hipocondríaca.

Acreditamos que esse trabalho com a imagem torna a explicação ainda

mais interessante, pois os alunos estão tendo o contato também com o

visual e o imagético, com as expressões gestuais dos personagens e isso

tudo, sem dúvidas, chama e prende a atenção deles, ao invés de ficarem

“presos” apenas as frases “soltas”.

c) Alternativas – quando exercem a função de alternância, alternativa e

exclusão.

Imagem 03

As orações coordenadas sindéticas alternativas têm a finalidade

de exercer nas orações uma relação de alternância e de escolha.

Pensando nessa ideia, a “HQ” acima ao relatar também um diálogo

entre os dois personagens têm como objetivo apresentar essa

alternância: um dos personagens questiona o outro perguntando se ele

vai fazer a prova para o ENEM e o outro responde que nem fará a

prova, nem trabalhará e nem estudará. Percebe-se, pois, que o conectivo

empregado “nem” permite essa relação de alternância entre as orações:

na verdade ele não quer fazer nem uma coisa e nem outra, ou seja, nada.

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Acreditamos que o professor precisa mostrar trabalhos a partir dessas

“HQs” aos discentes, por que isso chama a atenção deles e faz/faça com

que a aula se torne menos cansativa e mais produtiva.

d) Conclusivas – quando exercem a função de conclusão, dedução e

consequência.

Imagem 04

Como o próprio nome já indica: “conclusiva” refere-se a uma

ideia notadamente de conclusão. Na “HQ” logo acima, a ideia de

conclusão fica visivelmente marcada com a utilização do conectivo “por

isso”, que, neste contexto, pode sem sofrer alteração de sentidos, ser

trocada/substituída por “portanto”. Na historinha que é relatada no

quadrinho um dos personagens indignado com a situação crítica que o

Brasil está passando nos últimos tempos, questiona que medidas sejam

tomadas e que por isso/portanto é preciso calma, cautela para que os

problemas sejam resolvidos. Além disso, todo o conjunto multimodal

(imagens, cores, traços e textos) que compõem a “HQ” facilita o

entendimento e deixa tudo ainda mais clareado.

e) Explicativas – quando exercem a função de explicação, motivo e razão.

Imagem 05

Neste último exemplo, o conectivo empregado é o marcador

operacional “porque” que, sem efeitos de alteração de sentidos, pode ser

substituído por “pois”. No contexto da historinha acima a relação de

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explicação entre as ideias é visivelmente marcada, o que, por sua vez,

não gera dificuldades para com o entendimento. O gatinho mostra sua

inquietação ao fazer uma análise dos quadrinhos nos dias de hoje que

segundo ele ‘são um monte de cabeças falantes xerocadas’,

diferentemente dos quadrinhos de anos atrás que eram maiores, e para

tecer essa relação de explicação em seu discurso, o gatinho utiliza o

“porque”, dando a explicação, o motivo e a razão de que “não há espaço

para contar uma história decente ou pra mostrar ação”.

Diante de nossas análises feitas, é notório afirmar que a

utilização dessas “HQs” para a exemplificação dessas noções

gramaticais, leva o aluno a despertar o interesse pela gramática. É

preciso não se prender apenas a metodologias tradicionais, mecanicistas

e normativas, é necessário e urgente à inserção de métodos novos que

façam com que o aluno entenda, participe e questione o que se está

estudando. Diante disto, é relevante frisar que os alunos, nos dias de

hoje, têm um contato próximo com esses tipos de textos e eles gostam,

por que é diferente, chama a atenção e o professor deve levar em

consideração esse “gostar” do estudante e lançar métodos respeitando

os “limites” dos mesmos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todas as discussões empreendidas, neste estudo,

reafirmamos a importância e a necessidade da inserção de métodos

instigantes em sala de aula. A gramática deve ser ensinada respeitando

os limites e as relações linguísticas de cada aluno. Não se deve ensinar

apenas regras por regras, pois isso, de acordo com estudiosos na área, é

descontextualizado, não compreende um ensinamento em torno de

todos os aspectos, sejam cognitivos e sociais, da e/ou sobre a língua.

A língua como sabemos é multifacetada. Cada indivíduo tem o

seu grau de aprendizagem e de dificuldades e é importante que o

professor saiba reconhecer e identificar isso no aluno. Acreditamos,

diante disso, que o trabalho do ensino de gramática por meio das “HQs”

seja relevante em sala de aula, ao passo que as imagens, hoje, estão

tomando uma grande proporção e têm facilitado o processo de

construção de conhecimentos. Isso tem melhorado tanto a rotina diária

do professor que tem levado para a sala de aula propostas

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metodológicas diferenciadas, como também o processo construtivo de

aprendizagem do aluno.

Com este trabalho, podemos perceber o quanto a gramática

normativa ainda está enraizada nas escolas e nos professores, o que, por

um lado, não tem chamado muito a atenção dos discentes. Esse recorte

de um conteúdo gramatical, feito neste trabalho, a partir da utilização

das “HQs” nos mostrou e mostra que é possível, sim, fazer um trabalho

diferenciado que leve os discentes a entenderem ainda mais os

conteúdos, sem se prender aquela velha história do ensinamento

tradicional “regras por regras”. O estudo é uma pequena contribuição à

área, mas acreditamos que outras possibilidades de análises podem ser

inseridas, visando a melhoras. Esperamos que outras pesquisas possam

surgir e que assim como foi nosso objetivo: que os alunos sejam os

nossos maiores protagonistas, que tudo possa ser pensado e ensinado

neles e para eles.

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