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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais
Curso de Ciências Econômicas
O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SEUS IMPACTOS SOBRE
A PREVIDÊNCIA SOCIAL E A SAÚDE PÚBLICA
Renato Vianna do Valle Júnior
Belo Horizonte 2010
Renato Vianna do Valle Júnior
O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SEUS IMPACTOS SOBRE
A PREVIDÊNCIA SOCIAL E A SAÚDE PÚBLICA
Monografia apresentada à disciplina de Monografia III do curso de Ciências Econômicas do Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Orientador: Pedro Paulo Pettersen
Belo Horizonte 2010
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais
Curso de Ciências Econômicas
Monografia apresentada ao Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para
obtenção do título de bacharel em Ciências Econômicas.
O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A PREVIDÊNCIA SOCIAL E A SAÚDE PÚBLICA
RESUMO DAS AVALIAÇÕES:
1. Do professor orientador --------
2. Da apresentação oral --------
3. Nota final --------
CONCEITO --------
Tenho a honra em dedicar essa monografia à minha mãe
Ângela e ao meu pai Renato, os quais desde criança me
ensinaram que um homem vale o coração que tem e a
inteligência que utiliza em sua jornada. Dedico também as
minhas irmãs Márcia, Flávia, Daniela e Izabel, grandes
conselheiras e amigas. E não poderia deixar de dedicar em
especial à minha querida filha Luiza, fonte inesgotável de
inspiração e amor que me impulsionam a buscar novos
horizontes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por todas as oportunidades que tem
colocado em minha vida e por todas as experiências pelas quais me tem feito
passar, que de uma forma ou de outra têm me lapidado e transformado em um
homem cada vez mais digno e experiente. Agradeço muito à minha família, por todo
apoio, compreensão e ajuda durante a realização desse curso. Agradeço finamente
aos meus caros colegas: Eduardo Gandra, Geraldo Eustáquio, Welbem Gomes,
Paula Pedrosa e Natália Gomes Ibrahim, pelo companheirismo e amizade
demonstrados durante essa longa jornada. Agradeço ao colegiado do curso, em
especial aos professores Duval Magalhães, Maria Letícia e ao orientador dessa
monografia Professor Pedro Paulo, grandes mestres que, além do apoio acadêmico,
tornaram mais fácil a realização desse trabalho. E por fim, agradeço a todos aqueles
que, mesmo aqui não mencionados, sabem que contribuíram para minha formação.
“A distância que você consegue percorrer na vida depende da
sua ternura para com os jovens, compaixão pelos idosos,
solidariedade com os esforçados e tolerância para com os
fracos e os fortes, porque chegará o dia em que você terá sido
todos eles”
George Washington
RESUMO
O processo de envelhecimento da população brasileira é um resultado do processo
da transição demográfica, que vem ocorrendo no país. A queda constante da
fecundidade iniciada na década de 60, acompanhada pela queda da mortalidade e
elevação da expectativa de vida, foram os grandes responsáveis por essa transição.
No Brasil, esse processo de envelhecimento tem ocorrido de forma mais acelerada
que em outros países. O aumento desse contingente populacional, certamente, gera
problemas aos agentes formuladores de Políticas Públicas. A previdência social
vislumbra uma realidade em que há cada vez menos contribuintes por beneficiário.
Enquanto na década de 60 havia oito contribuintes para cada beneficiário, hoje essa
relação está de aproximadamente dois para um. O Sistema Único de Saúde tem
sofrido um aumento nos gastos referentes a internações de idosos, motivados
principalmente por doenças crônico-degenerativas, tendo como destaque as
doenças do aparelho circulatório e as do aparelho respiratório. A alteração do perfil
populacional tem gerado enormes repercussões sociais e econômicas e se nada for
feito certamente a deterioração das contas públicas será inevitável.
Palavras Chave: Transição demográfica. Envelhecimento. Previdência Social.
Saúde Pública.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES (FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS)
Figura 1 – Fórmula para cálculo do fator previdenciário ........................................... 50
Gráfico 1 – Taxa de fecundidade no Brasil – 1940/2000 ........................................... 16
Gráfico 2 – Esperança de vida ao nascer Brasil – 1920/1999 ................................... 17
Gráfico 3 – Taxa de mortalidade no Brasil – 1940/1999 ........................................... 18
Gráfico 4 – Pirâmides etárias brasileiras: 1950, 1980, 2000 e 2050 ......................... 21
Gráfico 5 – Taxa de fecundidade total, Brasil, França e Itália, 1900-2050 ................ 27
Gráfico 6 – População total, Brasil, 1950-2050 (por mil) ........................................... 28
Gráfico 7 – Evolução da proporção de idosos e mais idosos na população brasileira por sexo – 1920-2020 ............................................................................................... 29
Gráfico 8 – Razão de dependência total, de jovens e idosos, Brasil, 1940-2050 (%) ........................ .......................................................................................................... 43
Gráfico 9 – Distribuição da população ocupada segundo grupos etários, Brasil 2000 (%) .............................................................................................................................46
Gráfico 10 – População total ocupada e contribuintes, segundo grupos etários, Brasil, 2000 ............................................................................................................... 47
Gráfico 11 – Relação contribuintes / beneficiários .................................................... 48
Gráfico 12 – Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 1980 .................................................. 52
Gráfico 13 – Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 1990 .................................................. 52
Gráfico 14 – Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 2000 .................................................. 53
Gráfico 15 – Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 2010 .................................................. 53
Gráfico 16 – Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 2020 .................................................. 54
Gráfico 17 – Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 2030 .................................................. 54
Gráfico 18 – Projeção de despesas da Previdência Social no atual sistema – RGPS (2007-2026) ............................................................................................................... 55
Gráfico 19 – Frequência de internações no SUS, por sexo e faixa etária – 2003 ..... 58
Gráfico 20 – Taxa de utilização do SUS, por sexo e faixa etária – 2003 ................... 59
Gráfico 21 – Custo Médio de internações no SUS, por sexo e faixa etária – 2003 ... 60
Quadro 1 – Comparativo entre RPPS e RGPS ......................................................... 37
Tabela 1 – Razão de dependência de jovens idosos e índice de envelhecimento, segundo as grandes regiões e unidades da federação - 1980/2000 ......................... 24
Tabela 2 – Razão de dependência total (%) do Brasil 1980-1991-2000 ................... 24
Tabela 3 – População de idosos por unidade de federação e ano, período: 1991, 1996-2007 ................................................................................................................. 44
Tabela 4 – População ocupada, segundo posição na ocupação e grupos etários, participação relativa (%) e total absoluto, 2000 ......................................................... 47
Tabela 5 – Procedimentos de internações segundo faixa etária – Brasil – 2009 ...... 62
Tabela 6 – Valor total por tipo de procedimentos e faixa etária – Brasil – 2009 ....... 63
Tabela 7 – Doenças do aparelho circulatório e doenças do aparelho respiratório, sexo: masc – Brasil – 2009 ....................................................................................... 64
Tabela 8 – Doenças do aparelho circulatório e doenças do aparelho respiratório, sexo: fem – Brasil – 2009 .......................................................................................... 64
LISTA DE SIGLAS
DATASUS – Departamento de Informática do SUS
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
PEA – População Economicamente Ativa
PIA – População em Idade Ativa
PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio
RDI – Razão de Dependência dos Idosos
RDJ – Razão de Dependência dos Jovens
RDT – Razão de Dependência Total
RGPS – Regime Geral da Previdência Social
RPPS – Regime Próprio da Previdência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11
2. DINÂMICA DEMOGRÁFICA .............................................................................. 15
2.1. Transição Demográfica e Envelhecimento Populacional. ............................ 15
2.2. Razão de Dependência .................................................................................... 22
2.3. O Processo de Envelhecimento Populacional Brasileiro ............................. 26
3. ASPECTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA SEGURIDADE SOCIAL ....... 31
3.1. Aspectos Conceituais da Seguridade Social. ................................................ 31
3.1.1. A Seguridade Social e Seus Componentes ................................................ 31
3.1.2. Seguro Social (Previdência Pública) ........................................................... 32
3.1.3. Saúde Pública ............................................................................................... 33
3.2. Breve Histórico da Seguridade Social. ........................................................... 33
3.3. O SUS (Sistema Único de Saúde): ................................................................... 39
4. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A PREVIDÊNCA SOCIAL ............................................................................................ 41
5. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SEUS IMPACTOS NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ................................................................................................... 56
6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 66
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68
11
1. INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é hoje um fenômeno global, o qual vem
ganhando cada vez mais espaço nas discussões referentes às Políticas Públicas.
Este fenômeno é o resultado do que chamamos de dinâmica demográfica. Já se
passaram aproximadamente 210 anos desde que Thomas Robert Malthus publicou
o seu mais famoso livro ―Ensaios Sobre a População‖1, onde de maneira objetiva e
didática mostrou todo o seu temor e preocupação em relação à explosão
demográfica.
Nesse livro Malthus defendia a teoria de que a população crescia em
progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos em progressão
aritmética. Sendo assim, chegaria um momento em que a população cresceria em
tal proporção que não haveria mais alimentos para todos, gerando uma situação
caótica. Essa teoria ficou muito famosa e seus princípios serviram e ainda servem
para muitos governantes, como base de políticas públicas.
Apesar da força teórica das idéias malthusianas, essa teoria não se aplica à
realidade contemporânea. Observa-se hoje que a produção de alimentos no mundo
é o suficiente para toda a população2, mesmo sabendo que o acesso a estes nem
sempre é de forma igualitárias. Além disso, nota-se também que a população agora
cresce muito lentamente e em alguns lugares, inclusive, está diminuindo.
O Brasil está deixando de ser um país jovem há algumas décadas e está
passando por uma intensa e acelerada transição demográfica. O número de idosos
vem aumentando, produzindo um impacto significativo na estrutura populacional. De
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007 o país
registrou uma população de 19,75 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que
representa aproximadamente 10,5% da população total do país. Coincidentemente,
os gastos com a previdência social e a saúde pública têm aumentado, o que pode
significar uma conseqüência desse novo perfil populacional.
Cabe esclarecer que os termos Previdência Social e Saúde representam
subsistemas da Seguridade Social. Em temos gerais, a Seguridade Social pode ser
1 Vide: MALTHUS, Thomas Robert. Ensaio Sobre a População. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
2 Esse foi um resultado dos avanços tecnológico, o qual possibilitou a produção de alimentos em
grande escala, com um melhor aproveitamento do solo e a criação dos transgênicos.
12
definida como ―o conjunto de políticas e ações articuladas com o objetivo de
amparar o individuo e/ou seu grupo familiar ante os eventos decorrentes de morte,
doença, invalidez, idade, desemprego e incapacidade econômica em geral‖
(OLIVEIRA, 1992, p.3).
Nas últimas décadas houve um aumento no uso desses componentes
(Previdência Social e Saúde Pública). Essa elevação está condicionada ao aumento
do número de beneficiários da Previdência e à elevação do período em que esses
beneficiários recebem o seguro. Além disso, houve um aumento das internações
ocasionadas por doenças crônicas degenerativas, muito presentes nesse
contingente populacional.
Deve-se destacar que o envelhecimento populacional é caracterizado pelo
aumento da proporção de idosos na população decorrente da diminuição da taxa de
fecundidade e do aumento da longevidade (CAMARANO, 2002). Nesse contexto
Tirado (1996) chama a atenção, para o fato de que, o processo de envelhecimento
nos países desenvolvidos ocorreu de forma gradual e coincidiu com transformações
sócio-econômicas que propiciaram significativas mudanças na qualidade de vida e
bem-estar da população, inclusive da população idosa.
No Brasil, esse processo está ocorrendo de forma acelerada e ―está se dando
em meio a graves crises econômicas, e sem que tenha havido um desenvolvimento
social pleno‖ (RAMOS, 1993, p. 3). Pode-se dizer, nesse caso, que não houve uma
preparação, no sentido de lidar com os efeitos do processo acelerado de
envelhecimento. Além disso, torna-se necessário lidar com problemas adicionais,
que exigem soluções imediatas, como o da Saúde Pública e a Previdência social.
Na visão de Chaimowicz (1998) os idosos costumam apresentar mais
problemas de saúde, quase todos de longa duração e, assim, o envelhecimento
populacional de um país ocasiona um impacto direto nos serviços de saúde. Nesse
sentido, Camarano (2002) afirma que será necessária uma intervenção do Estado
para que haja uma melhoria na qualidade de vida dessas pessoas, caso contrário,
irá ocorrer uma grande pressão nos gastos com a saúde.
Nunes (2004) aponta que a elevação da procura pelos serviços de saúde, tem
levado a um aumento das despesas com tratamento médico hospitalar e internações
no Sistema Único de Saúde (SUS). O autor concluiu que pelo menos no que se
refere ao SUS a elevação das despesas com saúde dos idosos é explicada pela
freqüência/consumo mais elevado e não pela elevação dos custos dos
13
procedimentos. Sendo assim, de acordo com o autor, os procedimentos de
internação de maior freqüência, tanto para homens quanto para mulheres a partir de
60 anos, são os problemas do aparelho circulatório e do aparelho respiratório.
Contudo, o estado terá de assumir maior responsabilidade no financiamento dos
serviços de saúde destinados a essa população (NUNES, 2004).
Além do problema na área da saúde, a modificação na estrutura etária
brasileira tem gerado impactos de grandes proporções no setor da Previdência
Social. Até a década de 60, para cada pessoa aposentado no Brasil havia outras oito
trabalhando, o que quer dizer que oito pessoas contribuíam para que um se
beneficiasse. Hoje, essa relação é de aproximadamente, dois para um. Se esse
ritmo se mantiver e as regras não forem mudadas, dentro de algumas décadas o
sistema não suportará as pressões. (CAMARANO e BELTRAO, 1998),
De fato a situação previdenciária vem se deteriorando com o passar do
tempo. Isso ocorre em razão dessa proporção de contribuintes na ativa estar se
reduzindo a cada ano, e também pela quantidade de beneficiários estar
aumentando. Diante disso ―se a atual situação da previdência social já é de
insolvência, presume-se que seu futuro seja absolutamente catastrófico, pois o
envelhecimento populacional passará a pesar mais fortemente.‖ (OLIVEIRA, et ali,
p.421, 2004).
Sendo assim, a necessidade do consumo de recursos sociais pelos idosos,
faz aumentar a demanda por medidas que possam estimar o valor e os esforços
disponibilizados pelo Estado. Dessa forma, torna-se clara a importância de estudos
sobre os efeitos do envelhecimento na população e seus impactos, visto que é
imprescindível à economia, pois estes estudos buscam ampliar os debates sobre o
assunto e dinamizar a respostas dos agentes públicos.
Diante disso este trabalho pretende contribuir para o estudo dos problemas
relativos ao processo de envelhecimento da população e seus impactos nos gastos
públicos na área da saúde e da Previdência Social. Podendo assim, apresentar
propostas, para uma melhoria nas pressões que esses gastos têm gerado nas
contas do Estado.
Após essa breve introdução, no capitulo 2 serão apresentados de maneira
direta conceitos como: envelhecimento, transição demográfica, pirâmide etária,
razão de dependência, entre outros fatores. Para isso foram utilizados gráficos
compilados do IBGE e alguns estudos realizados na área. O capítulo 3 tem por
14
objetivo apresentar os aspectos conceituais e históricos da Previdência Social e
Saúde Publica, assim como os regimes e reestruturações ocorridas nos dois
sistemas. Finalmente os capítulos 4 e 5 serão responsáveis por apresentar os
impactos que o envelhecimento populacional tem gerado nesses dois sistemas.
Sendo que no capitulo 4 será dado uma especial atenção ao fator previdenciário.
Para a análise nesses dois capítulos, foram utilizados dados compilados do IBGE e
do DATASUS (Departamento de Informática do SUS), além das contribuições
teóricas de estudiosos no assunto.
15
2. DINÂMICA DEMOGRÁFICA
O objetivo desse capítulo é apresentar alguns conceitos demográficos que,
certamente, fornecerão base para o entendimento do tema proposto. O estudo da
transição demográfica no que se refere ao envelhecimento populacional pode ser,
resumidamente, exposto pela combinação da redução das taxas de fecundidade e
aumento na expectativa de vida. O resultado dessa combinação é o envelhecimento
populacional. Esses serão, alguns dos assuntos tratados nesse capítulo.
Será dada especial atenção também à Razão de Dependência, a partir dessa
variável é possível observar como está o processo de envelhecimento no país, e
estimar os impactos em alguns setores da economia, como por exemplo, o da
Previdência Social.
O último assunto a ser tratado nesse capítulo é justamente esse processo de
envelhecimento, onde será feito também um comparativo do Brasil com outros
paises que já sofreram esse processo. O interessante a ser observado é que o
Brasil, diferentemente de outros países, está sofrendo um processo de
envelhecimento muito mais acelerado. Com isso o país ainda não teve condições de
se preparar para atender esse novo perfil populacional e as demandas proeminentes
destes.
2.1. Transição Demográfica e Envelhecimento Populacional.
A partir de meados do século XX a situação demográfica brasileira sofreu
algumas alterações. Essas alterações que se destacaram, principalmente na década
de 60, geraram no que chamamos hoje de transição demográfica. Atualmente o
envelhecimento populacional brasileiro tem gerado uma pressão considerável sobre
os gastos com saúde publica e previdência social. Para discutir esses impactos,
antes de mais nada, é de grande importância que seja analisado a situação
demográfica da população brasileira. Nessa analise será dada especial atenção à
dinâmica demográfica.
16
O envelhecimento populacional é hoje um fenômeno mundial. No Brasil, esse
comportamento natural tem sido cada vez mais influente na modificação da estrutura
etária da população. De acordo com Brito (2007) o crescimento e o envelhecimento
populacional, passaram a se destacar, mais, a partir da segunda metade do século
passado, com a redução da fecundidade e elevação da expectativa de vida ao
nascer (GRÁF. 1 e 2).
Gráfico 1: Taxa de fecundidade no Brasil – 1940/2000 Fonte: IBGE: ibgeteen, 2010
17
Gráfico 2: Esperança de vida ao nascer Brasil – 1920/1999 Fonte: IBGE: ibgeteen, 2010
Conforme é observado no gráfico 1, na década de 40 a taxa de fecundidade
no Brasil era em torno de 6,2. Essa taxa manteve-se estável até final da década de
60. Daí inicia-se uma queda constante da fecundidade3, chegando à taxa de 2,3 no
inicio da primeira década do século XXI. Associada a redução da fecundidade
(GRÁF 2) registra-se também a elevação da esperança de vida, observa-se que os
anos 20 e 40 são marcados por uma esperança de vida de 42 anos. Já a partir dos
anos 50 há uma elevação dessa expectativa, atingindo no final da década de 90 a
idade de 68 anos.
Brito (2007) também destaca que se tratando do processo de crescimento
populacional, podemos dividi-lo em duas fazes de transição demográfica. Sendo a
primeira ocorrida até a segunda metade da década de 60, com a redução da
mortalidade (GRÁF. 3) e manutenção da fecundidade (GRÁF. 1). E a segunda
ocorrendo logo em seguida, também com a redução da fecundidade e a
desaceleração do ritmo de crescimento da população.
3 Nesse ano (2010) comemorasse os 50 anos do surgimento da pílula anticoncepcional. Alguns
autores associam revolução feminina e a evolução da pílula à redução da fecundidade. Mendonça (2009) destaca que o intenso processo de urbanização verificado no Brasil, principalmente a partir da década de 60, foi o principal responsável pela redução das taxas de fecundidade e a conseqüente queda das taxas de crescimento demográfico. É na cidade que as informações e o acesso aos métodos contraceptivos são maiores e foi justamente a partir deste período que a pílula anticoncepcional passou a ser difundida na sociedade brasileira. De acordo com Bercovich e Massé (2004) a introdução da pílula no Brasil em meados de 1961, sem dúvida, provocou a diminuição no número de nascimentos.
18
Gráfico 3: Taxa de mortalidade no Brasil – 1940/1999 Fonte: IBGE: ibgeteen, 2010
Assim:
Segundo Camarano (2002), o crescimento da população idosa é conseqüência de dois processos: a alta fecundidade no passado, observada nos anos 1950 e 1960, comparada à fecundidade de hoje, e a redução da mortalidade da população idosa. Por um lado, a queda da fecundidade modificou a distribuição etária da população brasileira, fazendo com que a população idosa passasse a ser um componente cada vez mais expressivo dentro da população total, resultando no envelhecimento pela base. Por outro lado, a redução da mortalidade trouxe como conseqüência o aumento no tempo vivido pelos idosos, isto é, alargou o topo da pirâmide, provocando o seu envelhecimento. (CAMARANO, KANSO E MELLO, 2004. p. 26)
Chaimowicz (1998) chama a atenção para o fato de que a partir de 1940 até a
década de 70, inicia-se o processo de declínio da mortalidade, principalmente a
infantil. Tal processo era o maior obstáculo para se alcançar a idade adulta. Isto
porque a mortalidade infantil era muito elevada. Com a melhoria nos padrões medico
- sanitário, foi possível reduzir esse tipo de mortalidade, fazendo com que a
esperança de vida ao nascer aumentasse, passando de 42 anos em 1920 para 68
anos ao final da década de 90 (GRÁF. 2).
O autor ainda afirma que essa combinação entre redução de mortalidade e
elevadas taxas de fecundidade levaram ao aumento do crescimento vegetativo. Ou
seja, as elevadas taxas de fecundidade no passado associadas à redução da
mortalidade, fizeram com que a população brasileira crescesse, nesse caso saltou
19
de 41 milhões para 93 milhões de habitantes entre os anos de 1940 e 1970.
Gerando um crescimento em media de 2,8% ao ano.
Nas décadas de 40, 50 e 60 o aumento do contingente populacional era tão expressivo que a cada dez anos a população aumentava cerca de 30%. (...) os menores coortes surgidos neste período serão os determinantes do acelerado processo de envelhecimento populacional a ser experimentado pelo país no início do próximo século. Naquele período, porém, os jovens representavam ainda ampla maioria (em média 42,3% da população total). Apenas 2,5% da população tinha 65 anos ou mais. (CHAIMOVICZ, 1998, p. 25)
Essas alterações na estrutura etária da população deram inicio ao processo
de envelhecimento populacional brasileiro. Camarano, Kanso e Mello (2004)
observam que a redução da fecundidade gerou uma modificação na distribuição
etária da população, de forma que a população idosa passasse a ser um
componente cada vez mais expressivo da população total, tendo como resultado um
envelhecimento pela base da pirâmide, conforme se observa no gráfico 4.
Uma das formas mais utilizadas de se visualizar as alterações do perfil
demográfico de uma população é através da pirâmide etária. No caso do Brasil, a
pirâmide etária vem apresentando um estreitamento da base e alargamento do topo,
mostrando este ser um efeito da redução de natalidade e aumento do
envelhecimento, em especial o feminino, ocorrido entre os anos de 1940 e 2000.
(CAMARANO, KANSO e MELLO, 2004)
É importante destacar que a pirâmide etária é um excelente mecanismo para
se visualizar as alterações demográficas. O formato da pirâmide etária representa a
realidade da dinâmica populacional no país. Quando esta apresenta bases
extremamente largas e topo extremamente estreito, mostra a característica de um
país jovem, com altas taxas de natalidade. Porém se a pirâmide etária de um país
apresentar um achatamento de sua base e um alargamento da região central da
pirâmide, este país estará experimentando um processo de transição, onde
futuramente irá comportar uma população de idosos maior que em outras fases. Já
no caso do país que apresentar um formato de sua pirâmide etária quase uniforme
entre sua base e seu centro e um alargamento do topo, certamente já estará
comportando uma população de idosos em níveis extremamente elevados.
No caso do Brasil, observa-se que a evolução da pirâmide etária mostra um
país em acelerado processo de transição demográfica (GRÁF. 4). Nota-se que a
20
pirâmide de 1950, enquanto apresentava um topo extremamente estreito, possuía
uma base extremamente larga. Percebe-se 30 anos depois que a pirâmide de 1980
continuava apresentando uma forma clássica de pirâmide, onde cada grupo etário
mais velho era menor que o grupo etário anterior, mesmo tendo havido,
percentualmente, um estreitamento da base em relação ao ano de 1950.
Como resposta da contínua redução da taxa de fecundidade após a década
de 60, conforme já observada no gráfico 1, a pirâmide etária do ano 2000
apresentou 3 grupos etários mais jovens com percentagens menores que os grupos
de 15 a 19 anos. Ou seja, as alterações que ocorreram nas taxas de natalidade e
mortalidade, transformaram a população.
Nesse caso com menores taxas de natalidade e mortalidade, há uma
diminuição da representatividade de crianças e jovens e um aumento, num primeiro
momento da representatividade do grupo de adultos. Isso, teoricamente, irá
favorecer o aumento do grupo de idosos. Conforme pode ser observado na pirâmide
de 2050, onde fica clara essa maior representatividade do grupo de idosos. Quando
chegar essa época a estrutura etária da população assumirá uma forma retangular,
onde o percentual de idosos deverá ultrapassar o percentual de crianças,
principalmente no caso das mulheres. (ALVES, 2008)
21
Gráfico 4: Pirâmides etárias brasileiras: 1950, 1980, 2000 e 2050
Fonte: ONU - In: Alves (2008)
É importante destacar que as coortes4 de alta fecundidade, oriundas do
passado, foram progredindo através da pirâmide, aumentando hoje a proporção de
adultos. Chaimowicz (1998) afirma que esse fato conseqüentemente irá gerar um
aumento do contingente de idosos, conforme está sendo observado com o
alargamento do topo da pirâmide em 2050.
2 O termo ―coorte‖ designa um grupo de pessoas que compartilham uma experiência comum durante
determinado período de tempo, como por exemplo: os nascidos na década de 40.
22
O autor também analisa que entre 2000 e 2050 ocorrerá o mais rápido
incremento na proporção de idosos, fazendo com que esse contingente salte de
5,1% para 14,2%.
Isto se deverá basicamente a 2 fatores: a) a persistente redução das taxas de fecundidade (de 2,6 para 2,2 entre os períodos de 1995-2000 e 2015-2020) continuará contribuindo para a redução dos coortes de 15 a 64 anos, cujo crescimento absoluto e relativo será cada vez menor; b) os coortes remanescentes dos períodos de alta fecundidade progressivamente evoluirão para os grupos idosos até por volta de 2035, quando os coortes (de menor fecundidade) nascidos em 1970 fecharão o ciclo. (CHAIMOVICZ, 1998, p. 30)
Chaimowicz (1998) chama atenção de que, por volta de 2080 a proporção
entre o contingente de jovens e idosos irá se estabilizar, correspondendo-se
respectivamente 20% e 15% do total. A partir daí o autor afirma que novos aumentos
na proporção de idosos irão depender não mais do declínio da fecundidade e sim da
redução da mortalidade após os 64 anos como já ocorrido nos países
desenvolvidos.
Portanto Alves e Bruno (2006) denominam o processo de transição
demográfica, como sendo o fruto da queda das taxas de mortalidade e natalidade. O
que se percebe é que essa queda tem como resultado a rápida mudança da
estrutura etária brasileira. Tendo como efeito a redução da proporção jovem da
população, a imediata elevação da população adulta e, no longo prazo, uma
alteração significativa da população idosa.
2.2. Razão de Dependência
Outra variável, que se deve ter especial atenção é a razão de dependência
demográfica. ―A razão de dependência demográfica parte do pressuposto que a
população jovem, 0 a 14 anos, e a idosa, 65 anos e mais, podem ser consideradas
dependentes da população em idade ativa, 15 a 64 anos.‖ (BRITO, 2007, p. 21). O
autor afirma que mesmo os limites etários, sendo contestados como arbitrários essa
razão fornece resultados confiáveis, sendo assim, reconhecida internacionalmente.
O autor também destaca a importância de outras medidas de dependência,
como por exemplo: a razão de dependência total (RDT), a razão de dependência
23
dos jovens (RDJ) e a razão de dependência dos idosos (RDI). A RDT representa a
proporção de jovens mais os idosos, ou seja, os dependentes, em relação a PIA5.
Nessa relação seria possível destacar que os dependentes consumiriam mais do
que produzem e a população adulta produziria mais do que consome. Essa seria, de
acordo com Brito (2007), a relação básica para expressar a transferência entre as
gerações. As outras duas componentes, RDJ e RDI, representariam um
desdobramento da RDT. Sendo assim, a RDJ está relacionada a proporção de
jovens em relação a PIA, e a RDI em relação aos idosos.
5 O significado desse termo é: POPULAÇÃO EM IDADE ATIVA. Do ponto de vista das mudanças na
estrutura etária, três fenômenos devem ser considerados como decisivos para a formulação das políticas publicas no Brasil: a redução do peso relativo da população jovem, o aumento da população de idosos na população (envelhecimento populacional) e o aumento na proporção da população em idade ativa (PIA) até 2030 e de seu volume até 2050. (Ver em Brito, 2007)
24
TABELA 1 Razão de dependência de jovens idosos e índice de envelhecimento, segundo as grandes regiões e
unidades da federação - 1980/2000
Grandes Regiões e
Unidades de Federação
Razão de dependência (%) Índice de envelhecimento
6 (%) Dos jovens
7 Dos idosos
8
1980 1991 2000 1980 1991 2000 1980 1991 2000
Brasil 66,23 57,45 45,86 6,94 7,99 9,07 10,49 13,9 19,77 Norte 90,47 78,13 62,94 5,51 5,53 6,15 6,09 7,08 9,77 Rondônia 87,16 70,48 55,42 2,99 3,89 5,31 3,42 5,52 9,57 Acre 94,96 83,64 67,57 5,04 5,97 6,48 5,31 7,14 9,59 Amazonas 93,84 81,76 67,15 4,89 5,1 5,62 5,21 6,24 8,37 Roraima 83,22 66,34 65,34 4,01 3,55 4,42 4,81 5,35 6,76 Pará 88,39 78,36 62,79 6,05 5,92 6,5 6,84 7,55 10,35 Amapá 102,02 87,25 67,96 6,05 4,98 4,64 5,94 5,71 6,83 Tocantins 92,51 76,49 58,42 6,18 6,93 7,52 6,68 9,06 12,88 Nordeste 83,29 70,94 53,9 8,34 9,11 9,56 10,01 12,84 17,73 Maranhão 89,04 85,26 64,46 7,04 8,12 8,44 7,91 9,53 13,1 Piauí 89,58 75,27 55,29 7,37 8,35 9,42 8,22 11,1 17,03 Ceará 80,06 69,05 55,64 8,37 9,57 10,24 10,45 13,86 18,41 Rio Grande do Norte 77,66 65,78 50,99 9,61 10,43 10,33 12,37 15,86 20,27 Paraíba 82,54 68,23 51,31 10,38 11,71 11,75 12,58 17,17 22,9 Pernambuco 78,03 63,91 49,57 8,45 9,34 9,78 10,82 14,61 19,74 Alagoas 87,89 72,78 58,52 8,34 7,97 8,28 9,49 10,95 14,15 Sergipe 87,38 69,94 54,24 9,55 8,57 8,34 10,93 12,25 15,38 Bahia 84,84 71,46 51,33 8,02 8,61 9,21 9,46 12,04 17,94 Sudeste 55,38 49,06 39,88 6,8 8,08 9,52 12,27 16,46 23,88 Minas Gerais 65,8 55,43 43,36 6,94 8,13 9,49 10,55 14,67 21,88 Espírito Santo 67,58 57,36 43,64 6,6 7,14 8,4 9,77 12,45 19,26 Rio de Janeiro 48,78 43,19 37,31 7,37 9,06 11,02 15,11 20,97 29,55 São Paulo 52,41 47,79 38,94 6,48 7,73 9,05 12,37 16,17 23,23 Sul 60,58 50,6 41,55 6,41 7,88 9,39 10,58 15,57 22,6 Paraná 68,93 53,44 43,77 5,53 7 8,61 8,02 13,09 19,68 Santa Catarina 64 52,93 42,42 5,91 6,97 8,1 9,24 13,17 19,1 Rio Grande do Sul 51,6 46,9 39,04 7,41 9,11 10,78 14,36 19,43 27,61 Centro-Oeste 71,05 57,41 45,47 4,51 5,32 6,5 6,35 9,27 14,29 Mato Grosso do Sul 72,36 59,07 47,59 5,13 6,3 7,81 7,09 10,67 16,41 Mato Grosso 79,44 63,27 49,22 4,41 4,5 5,66 5,55 7,11 11,5 Goiás 70,97 55,58 44,41 5 5,89 7,08 7,04 10,6 15,95 Distrito Federal 62,47 53,2 41,63 2,71 3,82 4,82 4,34 7,17 11,58
Fonte: DATASUS – IBGE – Censos Demográficos 1980/2000.
TABELA 2 Razão de dependência total
9 (%) do Brasil 1980-1991-2000
Fonte: Adaptado de DATASUS – IBGE – Censos Demográficos 1980/2000 / Adaptação própria
6 Índice de envelhecimento = (Pop 65+ / Pop 0-14) *100.
7 Razão de dependência dos jovens = (Pop 0-14 / Pop 15-64) *100.
8 Razão de dependência dos idosos = (Pop 65+ / Pop 15-64) *100.
9 Razão de dependência total = (Pop < 15 + Pop > 65/Pop 15-64)*100
ANO 1980 1991 2000
RAZÃO 73,17 64,99 54,93
25
A tabela 1 apresenta a evolução da razão de dependência entre os jovens e
os idosos, e o índice de envelhecimento, observados nos censos de 1980, 1991 e
2000. De acordo com os dados da tabela referenciada, observa-se que a razão de
dependência entre os jovens tem sofrido uma redução, passando de 66,23% para
45,86% durante as três décadas analisadas, representando uma redução de
aproximadamente 30% do valor. Em contrapartida a razão de dependência dos
idosos está cada vez mais elevada, no período analisado passou de 6,04% para
9,07%, o que representa uma elevação de aproximadamente 50%. Essa elevação
pode ser justificada pelo aumento no índice de idosos, que durante o período passou
de 10,49% para 19,77%, esse índice representa a razão entre o número de idosos
com 65 anos ou mais e os jovens entre 0 e 14 anos.
Brito (2007) destaca que até a década de 70, antes do processo de declínio
da fecundidade, a razão de dependência total apresentava valores extremamente
altos. De acordo com analise do autor na década de 60, o seu valor era de 83%.
Conforme pode ser observado na tabela 2, no ano de 1980 esse valor já
apresentava uma redução, indicando aproximadamente 73%, o que significa que
para cada 100 pessoas na PIA, havia 73 jovens e idosos. E conforme observado na
tabela 1, mais especificamente, 66 jovens e seis idosos. Já em 2000 o valor da RDT
havia reduzido para aproximadamente 54%, sendo 45 jovens e nove idosos para
cada 100 pessoas na PIA.
Pode-se considerar que quanto menor o valor da RDT, maior o contingente da
PIA. Brito (2007) destaca que essa situação é uma boa oportunidade demográfica, já
que com um maior contingente de pessoas em idade ativa, maior é a oportunidade
econômica. Porém essa situação se depara com algumas barreiras, já que dentro
desse contingente parte se encontra trabalhando na formalidade, parte na
informalidade e parte já se encontra inclusive aposentada, ou até mesmo
desempregada.
Sendo assim, pode-se afirmar que os benefícios e os bônus demográficos,
representam grandes desafios devido à diversidade social. É de fundamental
importância para as políticas públicas que esses fatos sejam levados em
consideração, ―com o objetivo de justiça social, poderão bem aproveitar os bônus e
benefícios demográficos, assim como levar a sociedade a se preparar para enfrentar
os desafios gerados por essa mesma transição demográfica.‖ (BRITO, 2007, p. 27)
26
2.3. O Processo de Envelhecimento Populacional Brasileiro
O processo de envelhecimento populacional ocorrido nos países
industrializados teve outro contexto, se comparado com o processo de
envelhecimento populacional brasileiro. Nos países industrializados observou-se que
a queda das taxas de mortalidade e fecundidade foram resultados da ampliação da
cobertura dos sistemas de proteção social e melhorias das condições de
saneamento, habitação, alimentação e trabalho, ocorridos desde o século passado.
Já no caso do Brasil observou-se o declínio da mortalidade, como sendo, apenas,
um resultado da ação médico-sanitária do Estado. Não estando o mesmo preparado,
estruturalmente, para atender a esse novo contingente. (CHAIMOWICZ, 1988)
Essas ações ocorreram da seguinte forma:
Nas primeiras décadas do século XX através de políticas urbanas de saúde pública como a vacinação, higiene pública e outras campanhas sanitárias, e a partir da década de 40 pela ampliação e desenvolvimento tecnológico da atenção medica na rede pública. (CHAIMOWICZ, 1988, p. 35-36)
Porém, de acordo com o autor, o envelhecimento populacional, ao contrário
da esperança de vida ao nascer, é o resultado do declínio da fecundidade, e não da
taxa de mortalidade. Com isso ao se observar a queda da fecundidade ocorrida no
Brasil em meados do século passado, como já observado no gráfico 1, pode-se dizer
que nesse momento inicia-se o processo de envelhecimento populacional brasileiro.
Por outro lado, nota-se que a transição demográfica no Brasil está ocorrendo
de forma muito mais acelerada que nos países desenvolvidos. Brito (2007) observa
que o declínio da fecundidade no Brasil, já no início do século passado, foi muito
mais expressivo, se comparado com países como França e Itália. Nesses países
observa-se que os declínios da taxa de fecundidade total se deram de forma mais
suave nos cem anos seguintes, atentando para o fato de que suas transições
demográficas já tinham se iniciado no século anterior. Esse processo é possível ser
observado no gráfico 5.
27
Gráfico 5: Taxa de fecundidade total, Brasil, França e Itália, 1900-2050
Fonte: ONU (2004) e IBGE (2004). In: Brito, 2007
Observa-se que, no século passado, na Itália, a mulher em idade reprodutiva,
reduziu em média a fecundidade em 2,2 filhos, passando de 4,4 para 1,2. Já na
França essa queda foi de 0,9, passando de 2,8 filhos para 1,9. A queda da
fecundidade observada nos dois paises foi bem menos expressiva que as
observadas no Brasil, o qual apresentou, entre 1960 e 2000, uma queda da
fecundidade em média de 4 filhos, passando de 6,2 para 2,4. A tendência observada
no gráfico 5 é de que as taxas médias de fecundidade, entre os países, se
aproximem, chegando a se igualar entre 2040 e 2050.
Segundo o IBGE, o país alcançará entre 2010 e 2015 a taxa de fecundidade
de 2,1. E conforme projeção, a população brasileira apresentará uma situação
estacionária por volta do ano 2063. O que quer dizer que a população começaria a
diminuir em termos absolutos a partir daí, apresentando uma taxa de crescimento
zero entre 2045 e 2055 (GRÁF. 6). Brito (2007), chama atenção para o fato de que
mesmo com a notável redução da fecundidade, observada entre 1940 e 2000, a
população brasileira teve um incremento de 129 milhões de habitantes, o que pode-
se sugerir que a população certamente seria maior, se não fosse a queda acentuada
da fecundidade.
28
Gráfico 6: População total, Brasil, 1950-2050 (por mil)
Fonte: IBGE, 2008
Conforme situação mostrada no gráfico 6, mesmo com a queda da
fecundidade, espera-se um crescimento ainda expressivo da população brasileira
nas próximas décadas. Isso se deve em razão dos efeitos da fecundidade passada
sobre a estrutura etária. (BRITO, 2007)
Outra característica importante a ser observada do envelhecimento
populacional brasileiro é a participação dos maiores de 60 anos no total
populacional. De acordo com Camarano (2002) em 2001 a população de pessoas
acima dos 60 anos era na ordem de 15 milhões, já de acordo com a Pesquisa
Nacional de Amostra por domicilio (PNAD), em 2007 o país registrou um contingente
de 19,75 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.
Outro fato relevante é a participação desse contingente na estrutura
populacional, que dobrou nos últimos 50 anos, passando de 4% em 1940 para 8%
em 1996. A PNAD de 2007 apresentou uma população total de aproximadamente
190 milhões de habitantes e o quantitativo de idosos representou em torno de 10,5%
desse total. De acordo com projeções realizadas por Camarano (2002) em 2020
esse contingente seria responsável por 15% da população brasileira, o que mostra,
29
ainda, ser resultado da alta fecundidade observada nos anos 50 e 60 e à redução da
mortalidade, que beneficiou todos os grupos populacionais (GRÁF. 7).
Gráfico 7: Evolução da proporção de idosos e mais idosos na população brasileira por sexo — 1920-2020
Fontes: IBGE, vários censos demográficos. Projeções populacionais IPEA. In: Camarano (2002)
Observa-se que a parcela da população brasileira acima dos 80 anos, ou
seja, os ―mais idosos‖, também estão aumentando. Esse aumento está ocorrendo de
forma mais acelerada. No gráfico 7 observa-se que esse aumento, mesmo tendo
sido pequeno, representou o segmento populacional que mais cresceu. Em 1940
esse contingente era representado por 166 mil pessoas com mais de 80 anos, já em
1996 esse contingente passou para 1,5 milhão, o que representou 11,7% da
população idosa e 0,9% da população total.
Daí o grande problema enfrentado pelo estado brasileiro. Com um
contingente de idosos cada vez maior, o país deverá, cada vez mais, se preparar
para atender as demandas que serão exigidas por esse novo perfil populacional. O
país deverá estar preparado para enfrentar dificuldades, já que não se preparou
anteriormente, mesmo tendo em vista o que já estava ocorrendo em outros países,
como já citados, França e Itália.
30
O país se depara hoje com problemas como o aumento dos gastos na área
da saúde e o grande quantitativo de segurados da previdência social. Esses
problemas são agravados com a aceleração do envelhecimento, o que acaba
dificultando, ainda mais, os resultados a curto prazo das medidas que vem sendo
tomadas. Esses impactos do envelhecimento sobre a saúde pública e a previdência
social, serão discutidos nos próximos capítulos.
31
3. ASPECTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA SEGURIDADE SOCIAL
Este capítulo tem como objetivo apresentar os conceitos que envolvem o
tema. Estudar os impactos que o envelhecimento tem causado na Previdência
Social e Saúde é, sem sombra de dúvida, um assunto muito complexo que requer a
compreensão de alguns conceitos. Alem disso o conhecimento histórico em torno do
assunto também ajudará a entender e destacar os pontos que ajudaram na evolução
do sistema e o que pode ser mudado, para melhor equacionar as contas do governo.
Inicialmente serão apresentados os aspectos conceituais, onde será feito uma
breve abordagem ao assunto. E em seguida um histórico sobre a Previdência Social
e a Saúde Pública serão apresentados, dando uma especial atenção as
reestruturações ocorridas nos dois sistemas.
3.1. Aspectos Conceituais da Seguridade Social.
3.1.1. A Seguridade Social e seus componentes
Para o estudo dos impactos que a dinâmica demográfica tem gerado na
saúde pública e na previdência social, é de grande importância o conhecimento
desses componentes. Em termos gerais, a seguridade social é dividida em três
componentes (Seguro Social, Saúde e Assistência Social), sendo que este ultimo
não foi levado em consideração para o estudo10.
Define-se Seguridade Social como
...o conjunto de políticas e ações articuladas com o objetivo de amparar o individuo e/ou seu grupo familiar ante os eventos decorrentes de morte, doença, invalidez, idade, desemprego e incapacidade econômica em geral. (OLIVEIRA, 2004 p. 411)
10
Pode-se supor que os impactos do envelhecimento populacional são pouco significativos nessa componente. Dessa forma a análise das outras duas componentes irão responder, suficientemente, ao tema em estudo.
32
É importante frisar que as alterações advindas do envelhecimento tornam
essa estrutura cada vez mais pressionada. Já que com a elevação observada da
expectativa de vida haverá um aumento também no tempo de recebimento dos
benefícios. Isso exigirá cada vez mais de receita para pagamento desses benefícios.
3.1.2. Seguro Social (Previdência Pública)
O componente Seguro Social, também conhecido como Previdência social,
constitui-se em um programa de pagamentos em dinheiro e/ou serviços
feitos/prestados ao indivíduo ou a seus dependentes, como compensação
parcial/total da perda de capacidade laborativa, geralmente mediante um vinculo
contributivo (OLIVEIRA, 1992).
De acordo com o INSS11 a previdência Social é:
o seguro social para a pessoa que contribui. É uma instituição pública que tem como objetivo reconhecer e conceder direitos aos seus segurados. A renda transferida pela Previdência Social é utilizada para substituir a renda do trabalhador contribuinte, quando ele perde a capacidade de trabalho, seja pela doença, invalidez, idade avançada, morte e desemprego involuntário, ou mesmo a maternidade e a reclusão. (INSS, 2009)
Dessa forma percebe-se a grande importância do trabalho formal e do tempo
em que o individuo passa contribuindo. O que se percebe atualmente é que as
mudanças ocorridas na estrutura etária da população brasileira têm causado uma
modificação na relação contribuinte x beneficiário. Essa relação é percebida quando
se observa a quantidade de beneficiários, que por sua vez, têm sido crescentes.
Estes quando passam a receber os benefícios deixam de contribuir. Essa relação
será discutida melhor no capítulo 4.
Ainda, para frisar a questão do seguro, de acordo com Oliveira (1992) o
Seguro Social não deixa de ser um seguro na forma estrita ou pura, mas ele também
tem uma característica redistributiva. Ainda, o autor afirma que o objetivo
fundamental do seguro social é a reposição da renda do trabalhador, e seu caráter
redistributivo é nitidamente secundário.
11
Instituto Nacional do Seguro Social.
33
3.1.3. Saúde Pública
A componente Saúde pode ser entendida como:
...um conjunto de políticas e ações de natureza médica, sanitária, nutricional, educacional e ambiental, que visam a prevenção e a cura dos agravos ao bem-estar físico e mental do individuo, de seus dependentes bem como da comunidade em geral. Dependendo do sistema em particular, a clientela pode ser restrita em determinados grupos populacionais, dependendo de atributos tais como vinculo contributivo, condições de domicilio e/ou laboral, idade etc. (OLIVEIRA, 1992 p.4)
Dessa forma fica claro perceber, que a mudança do perfil demográfico é um
acontecimento inevitável e dentre outros fatores terá como conseqüência um
descontrole do sistema. Já que um sistema em que o número de idosos se eleva, o
perfil epidemiológico também se altera, conseqüentemente a procura por serviços
voltados ao atendimento desse contingente também se elevarão.
As ações e os serviços de saúde são providos pelo Sistema Único de Saúde.
A esse sistema deve-se ter especial atenção, tendo em vista que a elevação da
procura por esses serviços e ações, pode levar a um desequilíbrio e a uma pressão
nos gastos Públicos.
3.2. Breve Histórico da Seguridade Social.12
De acordo com dados obtidos no site do Ministério da Previdência Social
(2010), historicamente o desenvolvimento da Seguridade Social se deu no ano de
1821, quando um decreto, do Príncipe Regente Pedro de Alcântara, tornou-se o
primeiro texto legal onde foi registrado o tema Previdência Social no Brasil. Porém a
origem da Previdência brasileira propriamente dita se deu no ano de 1923 ―através
da criação e posterior fusão de varias caixas de aposentadorias e pensões para
determinados segmentos de trabalhadores, tendo como marco legal a Lei Eloy
Chaves‖ (OLIVEIRA et al, 2004, p.413).
12
Informações obtidas no site do Ministério da Previdência Social: www.inss.gov.br, Panorama da Previdência Social brasileira — 2 ed — Brasília: 2007.
34
O Ministério da Previdência Social aponta que a partir desta lei, o brasileiro
passara a contar com uma instituição que oferecia pensão, aposentadoria,
assistência médica e auxílio farmacêutico. É importante lembrar que a pensão e a
aposentadoria, são benefícios indispensáveis para que se caracterize uma
instituição previdenciária. Essa situação não ocorria antes, até o ano de 1923 as
instituições concediam apenas um dos benefícios. Na década de 30 com o
dinamismo político-econômico do início do processo industrial brasileiro, o modelo
previdenciário reestruturou-se, mantendo as bases corporativas. Assim,
paralelamente às Caixas, novos institutos de aposentadorias e pensões surgiram
restritos aos trabalhadores urbanos. Como por exemplo: Instituto de Aposentadoria e
Pensões dos Marítimos (IAPM), em 1933, Instituto de Aposentadoria e Pensões dos
Comerciários (IAPC), em 1933, Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários
(IAPB), em 1934, Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), em
1936, Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), em
1938.
Estes institutos, por sua vez, tinham como característica marcante a
desigualdade, já que cada um deles possuía sua estrutura especifica de benefício e
contribuições. Essa situação fazia com que surgisse uma grande disparidade entre
os níveis qualitativos e quantitativos de proteção social.
Ainda nos anos 30, houve uma organização da relação entre Estado e classe
operária, interligando-se três sistemas: sindicato, Justiça do Trabalho e política
previdenciária. Isso fez com que a cobertura previdenciária aumentasse
enormemente, fazendo com que ao final da década de 40, o número de segurados
tivesse um aumento de 10 vezes em relação ao ano de 1934.
Na década de 40 criou-se a (LBA) Legião Brasileira de Assistência, tendo
como principal função a proteção à maternidade e à infância, o amparo aos velhos e
desvalidos e a assistência médica às pessoas necessitadas. Essa legião deu grande
apoio aos soldados brasileiros no período da II Guerra Mundial.
Na década subseqüente, durante o governo de Juscelino Kubitschek, por
intermédio dos institutos, os recursos da Previdência Social ajudaram a financiar a
construção da nova capital. Este foi provavelmente o maior investimento imobiliário
dos institutos durante toda sua existência.
No ano de 1960, com a Lei Orgânica da Previdência Social (Lei nº 3.807, de
26 de Agosto de 1960) houve a unificação da legislação aplicável aos Institutos.
35
Anos depois, em 1966, criou-se o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social)
que possibilitou uma gestão unificada.
Em Julho de 1970, com a criação do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA), houve uma inovação na questão previdenciária, que
possibilitou em 1971 a criação do Programa de Assistência ao trabalhador Rural
(FUNRURAL). Esse programa concedia ao trabalhador rural os benefícios de
aposentadorias por velhice e invalidez, pensão por morte, auxilia-funeral, serviços de
saúde e serviço social.
No dia 1º de Setembro de 1977, com a Lei nº 6.439, surgiu o Sistema
Nacional de Previdência e Assistência Social, esse sistema tinha a difícil missão de
integrar as seguintes funções: ―Concessão e manutenção de benefícios, prestação
de serviços, custeio de atividades e programas, gestão administrativa, financeira e
patrimonial da Previdência e da Assistência Social‖ (INSS, 2004, p.9). Para
assegurar o cumprimento dessa missão, criaram-se alguns institutos, dentre eles o
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), Instituto
Nacional de Previdência Social (INPS) e o Instituto de Administração Financeira da
Previdência e Assistência Social (IAPAS).
Nos anos 80, coube à Constituição Cidadã de 1988 implantar um novo
conceito de Seguridade Social no Brasil. Em seu capítulo de ordem social foi
estabelecido que:
A seguridade é composta por três segmentos básicos: Previdência Social, Saúde e Assistência Social. Os seguintes princípios passaram a guiar o poder público: universalidade da cobertura e do atendimento, segundo os quais todos os cidadãos têm acesso à proteção social; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações rurais, mediante as quais o trabalhador rural passa a integrar o conjunto dos cidadãos, principalmente no âmbito previdenciário; seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços, pelas quais as necessidades individuais determinam os benefícios ou serviços que devem ser concedidos; irredutibilidade do valor dos benefícios; equidade na forma de participação no custeio; diversidade da base de financiamento — as contribuições devem incidir sobre múltiplos setores da economia e da produção, e ainda sobre os salários; caráter democrático e descentralizado da administração. (INSS, 2007, p.10)
No inicio da década de 90 o Ministério da Previdência e Assistência Social
passou por algumas alterações estruturais. Nesse período foram extintos os antigos
INPS e IAPAS, dando lugar ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Também
extinguiu-se o INAMPS, o qual foi substituído pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
36
Devido a essa evolução histórica ocorrida no Brasil, existem no país três
grandes regimes previdenciários, são eles: o Regime Geral, o qual é administrado
pelo Instituto Nacional de Seguro Social, os Regimes Próprios dos Servidores
Públicos e Militares e por fim a Previdência Complementar.
Esses regimes apresentam os seguintes conceitos:
a) o Regime Geral de Previdência Social, gerenciado pelo INSS, é compulsório e, atualmente com teto de R$ 3.038,99
13, atende ao setor
privado. Empregadores, empregados assalariados, domésticos, autônomos e trabalhadores rurais, são contribuintes do sistema. As aposentadorias por idade são concedidas aos homens com 65 anos e às mulheres com 60 anos na área urbana, e aos homens com 60 anos e mulheres com 55 anos na área rural. Aposentadoria por tempo de contribuição aos 35 anos para homens e 30 para as mulheres. A administração do sistema é publica; b) o Regime de Previdência dos Servidores Públicos é compulsório, com teto e subtetos definidos pela Emenda Constitucional no 41/2003. Excluem-se deste grupo os empregados das empresas públicas, os agentes políticos, servidores temporários e detentores de cargos de confiança, todos filiados obrigatórios do Regime Geral. A aposentadoria compulsória é concedida aos 70 anos para homens e mulheres e a aposentadoria por tempo de contribuição aos 35 anos para homens e 30 anos para mulheres. Os servidores que ingressaram desde 15/12/1998 estão sujeitos à idade mínima de aposentadoria de 60 anos para homens e 55 para mulheres. A administração do Sistema é pública; e c) a Previdência Complementar (PC) é voluntária e sua administração é privada. A PC possui arranjos variados, destacando-se os fundos patrocinados por empregadores e a previdência complementar associativa, e constitui-se num complemento ao benefício do RGPS/INSS. (INSS, 2007, p.12-13)
É importante destacar que o Regime Geral e o Regime dos Servidores Públicos
são autônomos, paralelos, com orçamentos separados e legislação especifica para
cada um deles. Enquanto isso, a previdência complementar pode atender a qualquer
um desses regimes.
A Reforma Previdenciária ocorrida no ano de 2003 teve como foco a
Previdência dos Servidores Federais, Estaduais e Municipais. As propostas
motivadoras para a reforma eram:
Estabelecer mais eqüidade social, reduzindo a distância de regras do
Regime Próprio com o Regime Geral e criando uma convergência de
longo prazo;
Estabelecer maior sustentabilidade no longo prazo;
13
O valor atual do teto do benefício é R$ 3.416,54. (valor compilado em tabela do INSS, no site: www.inss.gov.br)
37
Ajustar o Regime Próprio às transformações demográficas e aos
desejos da sociedade por mais solidariedade nos regimes, embora
autônomos entre si;
Em regra geral os trabalhadores do Regime Próprio de Previdência Social
(RPPS) e do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), antes dessa reforma se
deparavam com um tratamento diferenciado. Isso pode ser observado no quadro 1.
Quadro 1 – Comparativo entre RPPS e RGPS Fonte: INSS, 2007
A Reforma de 2003 teve como fundamento respeitar os direitos adquiridos,
atribuir conceituação previdenciária ao Regime Próprio e tentar reverter o quadro de
comprometimento do orçamento, provocado pelos desequilíbrios existentes. Com
essa reforma as futuras gerações, teriam um novo sistema, com regras convergentes
ao Regime Geral de Previdência Social. (INSS, 2007)
Os pontos principais da Reforma da Previdência Social no Brasil em 2003
foram:
Idade de referência para os atuais servidores sobe de 53/48 (H/M) para
60/55 (H/M), incluindo-se regras que desestimulam a aposentadoria
precoce;
RPPS RGPS
Sem teto de contribuição e
Benefícios
Com teto de contribuição e
benefícios
Idade mínima: 53/48 (transição) e
60/55 (permanente)
Sem idade mínima
Cálculo da aposentadoria por
tempo de contribuição: último salário
Cálculo da aposentadoria por
tempo de contribuição: média e fator
previdenciário
Paridade como regra de reajuste Reposição da inflação como regra
de reajuste
Alíquotas de contribuição
desalinhadas até 2003
Contribuição patronal de 20% e do
empregado de 8 a 11%
38
Nova regra permanente de cálculo de aposentadoria e pensões,
alinhada com a regra do Regime Geral;
Teto do RGPS também para futuros servidores públicos, desde que
esteja constituída a sua previdência complementar;
Contribuição solidária de aposentados e pensionistas à estabilidade do
RPPS;
Aplicação de teto remuneratório geral (federal, estadual, municipal),
coibindo benefícios abusivos;
Indexação de aposentadorias e pensões à inflação/fim da paridade
para novos beneficiários (exceto casos previstos nas regras de transição);
Incentivos à permanência em atividade dos que completam os
requisitos para aposentadoria;
Elevação real do teto do RGPS de R$ 1.869,34 para R$ 2.400,0014.
De acordo com as novas regras, àquele que já se aposentou ou completou as
condições estabelecidas para acesso ao benefício tem direito adquirido. Às novas
gerações ficou estabelecido que:
Quem ingressou no serviço público até a EC nº 20, ainda pode obter aposentadoria integral apenas se completa idade 60/55 (H/M), + 35/30 anos de contribuição (H/M) + 20 anos de serviço público, 10 anos de carreira e 5 anos no cargo. Na EC nº 47 acrescentou-se a regra de transição permitindo aposentadoria ―integral‖ para quem, na soma de idade e tempo de contribuição, possui 95 anos (homens) ou 85 anos (mulheres). Quem ingressou no serviço público antes de dezembro de 98, pode ainda aposentar-se antes da idade 60/55 ao completar as regras da EC nº 20, mas sofre desconto de 5% do valor da aposentadoria por ano de antecipação. (INSS, 2007, p. 16)
É importante frisar que a política voltada ao Regime Geral de Previdência
Social é formulada pelo Ministério da Previdência Social, tendo como Órgão
responsável o INSS.
O sistema previdenciário brasileiro em 1998 passou por ampla reforma. O
objetivo dessa reforma era gerar o indispensável equilíbrio financeiro e atuarial ao
sistema, atingindo principalmente a aposentadoria baseada no tempo de
contribuição. Na RGPS a principal alteração foi na desconstitucionalização da
fórmula de cálculo da aposentadoria.
14
Conforme já citado anteriormente os valores atuais para esses dados de acordo com tabela do INSS são: de R$ 1.708,28 até R$ 3.416,54.
39
Entre as principais mudanças, estão: (i) a eliminação gradual da aposentadoria proporcional; (ii) a nova exigência para a conversão de tempo especial trabalhado sob atividades consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física em tempo comum para fins de aposentadoria por tempo de contribuição; (iii) as novas exigências para as aposentadorias especiais; e (iv) a mudança na regra de cálculo do beneficio, com a introdução do fator previdenciário. (BRASIL, 2002, p.23)
Em Novembro de 1999, com a Lei nº 9.876, foram alteradas as regras de
cálculo do valor do benefício. Dessa forma:
Aumentou-se o período básico para o cálculo, que corresponde aos 80% melhores salários-de-contribuição desde julho de 1994, e criou-se o ―Fator Previdenciário‖
15. Esse mecanismo visa equilibrar o tempo e o valor
das contribuições e o tempo e o valor de recebimento da aposentadoria. O fator é aplicado às aposentadorias por tempo de contribuição, obrigatoriamente. Sua fórmula contém expectativa de vida, tempo de contribuição e idade do segurado no momento da aposentadoria, podendo reduzir ou aumentar o valor do benefício à medida que o segurado antecipe ou não sua aposentadoria. (INSS, 2007, p.26)
Silva e Queiroz (2008) chamam a atenção para o fato de que a situação
previdenciária brasileira tem gerado muitas discussões públicas, principalmente a
cerca do déficit público. Essa é uma situação que será discutida no capítulo 4.
3.3. O SUS (Sistema Único de Saúde):
O Sistema Único de Saúde é uma formulação política com o intuito de
reestruturar os serviços e ações de saúde, estabelecida pela Constituição de 1988.
O SUS tem sua doutrina e princípios regidos da mesma forma em todo o território
nacional, sob a responsabilidade de três esferas autônomas: Governo Federal,
Estadual e Municipal.
De acordo com a Constituição Federal:
Art. 198. (*) As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
15 A formula utilizada para o cálculo do fator previdenciário é: , essa fómula
será melhor analisada no capítulo 4.
40
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. Parágrafo único. O Sistema Único de Saúde será financiado, nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (VADEM MECUM, 2004, p. 89)
Sendo assim foi decretado e sancionado em Setembro de 1990 a Lei nº
8.080, conhecida como Lei Orgânica da Saúde16. Em seu Artigo 1º está disposto que
essa ‖lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde,
executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual por
pessoas naturais ou jurídicas de direito Público ou privado.‖ (BRASIL, 2004, p. 22)
É importante destacar também a Lei nº 8.212 (Lei Orgânica da Seguridade
Social) de Julho de 1991, seu 2º Artigo trata da Saúde e dispõe que:
A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Parágrafo Único. As atividades de saúde são de relevância pública e sua organização obedecerá aos seguintes princípios e diretrizes: a) Acesso universal e igualitário; b) Provimento das ações e serviços através de rede regionalizada e hierarquizada, integrados em sistema único; c) Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; d) Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas; e) Participação da comunidade na gestão, fiscalização e acompanhamento das ações e serviços de saúde;
f) Participação da iniciativa privada na assistência à saúde, obedecidos os preceitos legais. (VADE MECUM, 2004, p.1.189)
Tendo em vista estas disposições, conclui-se que será cada vez mais
importante que o estado formule políticas de atenção ao idoso. Já que uma das
principais conseqüências do envelhecimento populacional é o aumento da demanda
por serviços, como internações, pelo Sistema Único de Saúde. Esse assunto será
melhor analisado no capitulo 5, onde serão discutidos os impactos que esse novo
perfil populacional tem gerado nos gastos com internações do SUS.
16
Essa Lei assegura ao cidadão o direito a Assistência Social, sendo este um dever do estado.
41
4. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SEUS IMPACTOS SOBRE A
PREVIDÊNCA SOCIAL
O objetivo deste capítulo é analisar os impactos que o envelhecimento tem
causado sobre a Previdência Social. É importante frisar que o termo Previdência
Social é uma outra forma de se expressar Seguro Social. Para essa análise será
utilizada a expressão Previdência Social.
A Previdência Social, desde o inicio de sua existência, sempre foi motivo de
grande preocupação e cuidado por parte de nossos governantes e mesmo da
população, pois é ela quem garante à maioria das pessoas o mínimo de condições
de sobrevivência na velhice. Por esse motivo, ela se constituiu como um dos
componentes centrais do Estado do Bem Estar Social. De acordo com Dutra e Figoli
(2008) o ideal para um sistema de previdência social é que ele possa dar cobertura
a todos os idosos residentes naquele Estado, de forma que se busque uma
cobertura de 100%. Ainda, conforme as autoras, ao expandir a sua cobertura, o
sistema previdenciário estará protegendo os idosos da pobreza absoluta, de forma a
proporcioná-los o seu sustento, além de também contribuir para o equilíbrio da
distribuição de renda.
Após a constituição de 1988, com a reestruturação do sistema previdenciário,
muito se tem discutido sobre os impactos que o envelhecimento tem gerado sobre
os gastos públicos. Brito (2007) chama a atenção para o fato de que o processo de
envelhecimento se tornará acelerado nas próximas décadas. O autor afirma que
esse fato colocará desafios dramáticos para a sociedade brasileira, e que deve
haver ações urgentes pelas políticas públicas. Caso contrário a situação social de
parte da população idosa do Brasil se tornará insustentável no futuro, já que no
momento elas dependem de transferências maciças de renda originárias do
orçamento.
O comportamento da evolução do contingente de idosos pode ser observado
na tabela 3. Nota-se uma tendência constante ao crescimento dessa população,
estando presente em maior proporção principalmente nos estados de São Paulo, Rio
de Janeiro e Minas Gerais. Camarano (2002) chama a atenção para o fato de que a
42
proporção da população mais idosa17 tem sido o segmento populacional que mais
tem crescido. Embora represente um contingente ainda pequeno, seu ritmo de
crescimento tem sido bastante acelerado. Conforme já mencionado no capítulo 1, a
autora destaca que em 1940 esse contingente representava um universo de 166 mil
pessoas, enquanto em 1996 este já representava um contingente de 1,5 milhão.
Essa situação no mínimo é preocupante, se for analisado pelo lado da razão
de dependência essa preocupação aumenta ainda mais. Para a Previdência Social o
comportamento dessa taxa é de grande importância, já que ela mede a relação entre
a população dependente e a população em idade ativa (PIA). A população
dependente conforme já discutido, é representada pela população de 0 á 14 anos e
a população acima dos 65 anos, enquanto a PIA é representada pela população
entre 15 e 64 anos.
Beltrão e Camarano (2002) destacam que a partir de 2020 comportamento
dessa taxa de dependência do idoso, em relação a previdência social, irá acelerar,
com isso haverá mais beneficiários para cada contribuinte. Esse fato torna ainda
mais necessária a atenção do estado em relação aos impactos que isso irá gerar. As
autoras dão especial atenção ao equilíbrio financeiro-atuarial da previdência, o qual,
tudo permanecendo constante, é determinado pela razão gasto com benefícios e
receitas de contribuição. Lembrando que os gastos com benefícios, ao contrário do
que se pensa, não depende exclusivamente dos fatores demográficos. Estes
dependem também de fatores externos, como por exemplo: invalidez, perda do
cônjuge, entre outros.
Já as receitas de contribuição são determinadas por dois fatores, sendo eles:
a participação da população economicamente ativa (PEA) na população em idade
ativa (PIA) e também do grau de formalização das relações de trabalho desta
população. Cabe lembrar que nem sempre o aumento da taxa de ocupação significa
o aumento da taxa formalização, ―decorrente do fato de que, em épocas de crise, o
crescimento da ocupação faz-se principalmente via expansão do mercado de
trabalho informal‖ (BELTRÃO e CAMARANO, 2002, p. 11).
As autoras também observam que as transformações no mercado de trabalho
não são favoráveis à Previdência, visto que há uma tendência ao aumento do
17
Referência à população de 80 anos ou mais
43
desemprego estrutural e da informalização. Dessa forma o modelo padrão de
arrecadação da previdência, tem se tornado impróprio para as atuais tendências.
Assim,
A população de beneficiários depende, além do processo demográfico (nascimentos, mortes, casamentos, etc.), da legislação previdenciária. Em outras palavras, o número de aposentados e pensionistas é também determinado pela definição da idade de elegibilidade e carência para se alcançar o benefício e da acidentabilidade e morbidade (laboral ou não), esta última gerando aposentadoria por invalidez, pensões por morte e auxílio doença. Dadas as características atuais dos beneficiários, cuja idade média na DIB
18 na aposentadoria por tempo de serviço do RGPS
19 é
de cerca de 53 anos, contingente responsável pela maior fatia dos gastos, o equilíbrio contigencialmente depende de fatores extra-demográficos. A esperança de sobrevida, em 1995, para um homem de 53 anos foi cerca de 21,4 anos; para uma mulher, de 24,4 anos. Já a idade média na DIB da aposentadoria por invalidez é de 51 anos, com a sobrevida média de, respectivamente, 16 e 23 anos, para homens e mulheres (já considerando uma tábua de mortalidade específica para inválidos previdenciários). (BELTÃO e CAMARANO, 2002, p. 11-12)
De acordo com Brito (2007) deve ser dada especial atenção às oportunidades demográficas,
que deveriam ser usufruídas pela sociedade e pela economia no período de 2010 e 2030. Nesse
período a razão de dependência alcançará seus menores valores, em torno de 50% e, ainda, o peso
relativo dos idosos permanecerá menor que o dos jovens, o que pode ser observado no gráfico 8.
Gráfico 8: Razão de dependência total, de jovens e idosos, Brasil, 1940-2050 (%)
Fonte: IBGE, 2004. In: Brito (2007)
18
Data de Inicio do Beneficio. 19
Regimento Geral da Previdência Social
44
TABELA 3 População de idosos por unidade da federação e ano, período: 1991, 1996-2007
Unidade da Federação
1991 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Rondônia 42.845 54.997 39.520 30.651 47.296 72.062 74.978 77.803 80.623 86.553 89821 90013 97295
Acre 19.948 24.615 18.991 23.346 20.587 30.404 31.361 32.364 33.365 36.478 37715 37674 41710
Amazonas 88.805 108.038 97.161 116.596 118.459 137.060 142.550 147.274 151.993 160.975 166372 160366 177642
Roraima 7.233 9.117 11.035 6.981 5.877 13.128 13.866 14.449 15.032 16.256 16931 16674 17993
Pará 241.906 291.853 192.217 200.461 200.598 356.562 369.006 380.181 391.337 414.793 427716 417812 465063
Amapá 11.349 14.493 13.627 19.963 18.871 19.443 20.291 21.076 21.862 23.512 24422 26326 28595
Tocantins 51.871 64.461 75.170 73.213 74.110 78.412 80.929 83.483 86.034 91.396 94349 90410 100630
Maranhão 298.553 347.171 389.425 416.789 418.491 405.914 416.955 427.366 437.758 459.610 471647 403953 472383
Piauí 171.247 201.916 205.673 238.341 224.302 236.954 244.382 250.812 257.232 270.727 278165 214806 262087
Ceará 490.505 560.083 570.778 618.917 637.301 658.989 678.256 694.762 711.241 745.891 764980 670851 763797
Rio Grande do Norte 199.122 218.232 210.600 218.084 229.565 250.594 256.543 261.590 266.629 277.227 283064 252979 288507
Paraíba 289.756 314.067 354.767 339.636 373.451 350.566 356.986 362.897 368.797 381.205 388041 328420 384053
Pernambuco 559.068 614.231 617.709 644.781 694.705 704.886 720.826 735.048 749.246 779.098 795545 727325 822169
Alagoas 161.263 177.863 209.561 220.983 211.052 203.882 207.328 211.377 215.420 223.920 228605 209895 235643
Sergipe 101.182 113.330 127.380 122.316 135.836 131.171 134.287 137.198 140.103 146.214 149579 145719 163325
Bahia 816.890 939.712 1.140.769 1.061.713 1.161.021 1.077.901 1.105.596 1.130.979 1.155.237 1.207.965 1237196 1159163 1289097
Minas Gerais 1.188.992 1.394.026 1.553.266 1.563.984 1.653.095 1.624.981 1.670.690 1.713.040 1.755.318 1.844.215 1893192 1955518 2065463
Espírito Santo 175.001 207.915 225.427 231.138 238.257 250.196 258.530 265.874 273.206 288.622 297115 305605 325875
Rio de Janeiro 1.182.594 1.331.984 1.521.662 1.528.492 1.663.001 1.540.754 1.581.944 1.617.053 1.652.107 1.725.806 1766409 1799847 1883417
São Paulo 2.437.471 2.815.451 3.217.863 3.342.152 3.422.722 3.316.957 3.416.819 3.502.918 3.588.876 3.769.615 3869190 4112721 4290302
Paraná 577.423 687.294 704.064 770.630 765.450 809.431 834.568 857.175 879.745 927.202 953345 985353 1044351
Santa Catarina 306.806 359.897 371.264 406.159 396.080 430.433 443.887 455.937 467.969 493.267 507205 552296 580166
Rio Grande do Sul 815.302 933.528 970.810 998.980 1.017.965 1.065.484 1.093.232 1.117.667 1.142.062 1.193.353 1221611 1291063 1350294
Mato Grosso do Sul 104.852 129.429 133.823 148.573 152.045 157.093 163.032 168.148 173.255 183.991 189907 193411 207461
Mato Grosso 88.080 112.354 124.581 144.736 143.245 144.318 150.668 156.170 161.664 173.214 179577 189170 201893
Goiás 230.435 289.227 313.530 325.770 384.943 358.816 372.564 385.060 397.534 423.764 438215 451885 483110
Distrito Federal 64.206 83.394 91.157 100.986 104.478 109.638 114.154 119.022 123.446 132.745 137868 154019 162508
Total 10.722.705 12.398.678 13.501.830 13.914.371 14.512.803 14.536.029 14.954.228 15.326.723 15.697.091 16.477.614 16907782 16943274 18204829
Fonte: Adaptado de Datasus, 2010
45
Analisando o gráfico 8, pode-se notar que a partir da década de 30 a razão de
dependência torna a subir. Nesse momento, porém, essa elevação será ocasionada
pela proporção de idosos. Já que no período anterior a parcela jovem da população
já vinha sofrendo com uma diminuição, reflexo da redução da fecundidade
observada nas décadas de 60 e 70.
Brito (2007) observa que a razão de dependência vinha diminuindo desde a
metade do século passado (GRÁF. 8). Chegou a uma redução de 31%, devido à
queda da razão dos jovens, apesar de ter sido possível observar um grande
aumento relativo da razão de dependência dos idosos. O autor destaca que em
2000 a razão de dependência dos jovens era em torno de 6 vezes maior em relação
a dos idosos, já, em 2050 projeta - se que as duas razões de dependência (Jovens e
Idosos) assumirão valores bem aproximados, entre 28 e 30%.
O autor sustenta a idéia de que no período entre 2010 e 2030 quando essa
razão assumir aproximadamente 50% haverá uma grande oportunidade
demográfica. Já que para cada 100 pessoas em idade ativa, haverá apenas
cinqüenta jovens e idosos. Ou seja, apenas uma pessoa seria dependente de duas
potencialmente produtivas.
O grande problema a ser enfrentado é justamente a proporção da PEA que
contribui com a previdência. Brito (2007) em sua analise, observou que 96% dos
ocupados em 2000, tinham idades entre 15 e 64 anos, sendo que o grupo mais
representativo compreendia as idades entre 30 e 49 anos e de 15 a 29, sendo esta
última a mais jovem da PIA (GRÁF. 9). O autor também destaca que estes dois
grupos compreendiam 84% dos ocupados, enquanto a faixa mais madura da PIA
contribuía somente com 12%. Nota-se também que dos ocupados com menos de 15
anos apenas 1,7% contribuíam e dos maiores de 65 anos apenas 2,3%,
representando ao todo 4%.
46
Gráfico 9: Distribuição da população ocupada segundo grupos etários,
Brasil 2000 (%) Fonte: IBGE, 2000. In: Brito (2007)
Na tabela 4 observa-se que em 2000 os jovens ocupados não pertencentes a
PIA, ou seja, àqueles menores de 15 anos, quase 40% não recebiam remuneração e
28% eram empregados sem carteira, totalizando 68% (TAB. 4). Enquanto para os
grupos pertencentes à PIA as categorias que mais se destacam são as de
empregados e conta própria. Temos que para os dois maiores grupos da PIA, 15-29
e 30-49 anos, a quantidade de empregados sem carteira e conta própria, tem um
peso considerável.
47
TABELA 4 População ocupada, segundo posição na ocupação e grupos etários, participação relativa (%) e total
absoluto, 2000
Fonte: IBGE, 2000. In: Brito, (2007)
A analise de Brito (2007) mostra, ainda, que em 2000, entre os ocupados, que
contribuíam com a previdência social, totalizavam 34 milhões. Esse montante
representava aproximadamente um pouco mais da metade, 52%. Sendo que quase
a totalidade dos contribuintes fazia parte da PIA. Essa situação pode ser observada
no gráfico 10.
- contribuintes (linha inferior) - ocupados (linha superior)
Gráfico 10: População total ocupada e contribuintes, segundo grupos etários, Brasil, 2000 Fonte: IBGE, 2000. In: Brito (2007)
A contrapartida encontrada para a dita oportunidade demográfica encontra-se
justamente nesse ponto. Teoricamente os grupos mais representativos da PEA
48
encontram-se dentro da PIA, gerando receita e em tese, produzindo mais do que
consumem e ainda transferindo renda através de impostos e contribuições.
Por outro lado cumpre notar que há uma grande parcela que não contribui
com a previdência social. Esse fato mostra uma deficiência do sistema com base no
qual a previdência montou seu aparato arrecadador. Trazendo grande preocupação
por parte das políticas públicas. Vale supor que uma situação que favoreceria no
aumento da PEA, contribuinte com a previdência, seria a redução do peso dos
encargos sociais impostos aos empregadores e contribuintes individuais.
Todavia Oliveira et al (2004) sustentam a idéia de que o sistema
previdenciário vem se deteriorando com o passar do tempo. De acordo com os
autores a razão contribuintes / beneficiários20 vem caindo constantemente (gráfico
11). Observa-se que na década de 40, haviam cerca de 30 contribuintes para cada
beneficiário, ou seja, 30 pessoas contribuíam para que uma se beneficiasse. Porém,
as projeções dos autores, apontam que em 2030 essa relação será de 1,2 para um.
Certamente esse número pode ser considerado como um cenário, já que, se viesse
a ocorrer, o sistema quebraria antes.
Gráfico 11: Relação contribuintes / beneficiários
Fonte: Oliveira et al (2004)
Ribeiro e Figoli (2008) argumentam que a partir da década de 80, observou-
se um grande aumento do número de trabalhadores no setor informal. As autoras
ressaltam que, entre os trabalhadores do setor informal, o número de contribuintes é
20
Essa razão de contribuintes por beneficiários é o inverso do que é usualmente conhecido como razão de dependência previdenciário, ou seja, o número de beneficiários (dependentes) por contribuintes.
49
muito baixo e o aumento desse setor tem gerado impacto considerável na proporção
de contribuintes.
Nota-se ainda que a elevação da PEA não contribuinte, tem como efeito a
redução da relação contribuinte/beneficiário. Esse fato num sistema de Repartição
Simples21, como é no Brasil, pode levar a uma deterioração das contas
previdenciárias. O país vem apresentando desde 1995 déficits crescentes e
significativos atingindo um patamar deficitário de R$ 6,752 bilhões em 1998
(Ornélas, 1999 Apud Ribeiro e Figoli, 2008).
Esse fato, de acordo com Ribeiro e Figoli (2008), aliado à necessidade de
ajuste fiscal no país, deram um grande impulso para a reforma do sistema
previdenciário em 1998.
Sendo assim,
...em Dezembro de 1998 foi aprovada a emenda constitucional número 20, que dá redação ao artigo 201 da Constituição Federal, onde é definida uma Previdência contributiva e equilibrada atuarial e financeiramente. Assim, tornou-se necessário estabelecer um novo método de cálculo para a previdência social onde os benefícios previdenciários passam a estar estreitamente relacionados às contribuições. Esse novo método ampliou a base de cálculo do beneficio e introduziu o fator previdenciário. O objetivo do fator previdenciário é equiparar o tempo de contribuição com o de recebimento de benefícios, ou seja, promover o equilíbrio atuarial. (RIBEIRO e FIGOLI, 2008, p. 38)
Segundo as autoras a introdução do fator previdenciário no regime de
previdência brasileiro, possibilitou corrigir algumas injustiças presentes no sistema à
época. Com essa nova regra de cálculo, pessoas com a mesma idade e mesmo
histórico de salário-contribuição, mas com tempo de contribuição diferente,
receberiam valores diferentes. O mesmo se repetiria para aqueles que possuíssem o
mesmo tempo de trabalho, mesmo histórico de salário-contribuição, se estas
aposentarem em idades diferentes. Isso ocorre porque o fator previdenciário (FIG. 1)
21
Os regimes de financiamento de um sistema de previdência social podem ser basicamente de três tipos: i) REPARTIÇÃO SIMPLES: onde em cada período os contribuintes cobrem com suas contribuições os pagamentos feitos aos beneficiários. (esse é o atual sistema de previdência social no Brasil); ii) CAPITALIZAÇÃO (coletiva ou individual) – onde cada contribuinte (ou grupo de contribuintes) acumula (capitaliza) contribuições suficientes para suprir os benefícios quando da aposentadoria / morte; ou alternadamente quando os benefícios calculados a partir do montante capitalizado pelo contribuinte (ou grupo de contribuintes) quando beneficiários. iii) REPARTIÇÃO COM CAPITAIS DE COBETURA – onde em cada período os contribuintes arcam com os gastos necessários para constituir um fundo igual ao valor presente dos benefícios iniciados / gerados no período.
50
favorece aqueles que permanecem mais tempo no sistema, ou seja, quem se
aposentar mais tarde e começar a trabalhar mais cedo terá um fator previdenciário
maior, sendo assim, certamente o valor de seu benefício será maior.
Figura 1
Fórmula para cálculo do Fator Previdenciário:
Onde:
Tc = tempo de contribuição de cada segurado;
a = alíquota de contribuição (fixado em 0,31 para todos);
Es = expectativa de sobrevida do segurado na data da aposentadoria,
fornecida pelo IBGE, considerando a média única nacional para ambos os
sexos;
Id = idade do segurado na data da aposentadoria.
Dessa forma observa-se que na primeira parte da fórmula, ao multiplicar o
tempo de contribuição pela alíquota, é possível obter a quantidade de meses que o
beneficiário contribuiu, com seu salário médio para a previdência. Ao dividir esse
resultado pela expectativa de sobrevida, alcança-se a uniformidade entre o número
de meses contribuídos com o número de meses a receber o benefício. De acordo
com Ribeiro e Figoli (2008) essa equalização faz com que o fator seja atuarialmente
justo. Nota-se ainda, que a segunda parte da fórmula irá representar o prêmio que o
segurado recebe por permanecer no sistema. Sendo que quanto maior o tempo de
contribuição e a idade, conseqüentemente, maior será o fator.
Sendo assim, esse fator possibilitou que houvesse um desincentivo à
aposentadoria adiantada. Nesse ano de 2010 muito se tem discutido, pelos nossos
governantes, sobre o projeto de Lei n°3.299, de 2008, a qual trata do fim do fator
51
previdenciário. A pretensão dessa Lei é impor a mesma forma de cálculo22 utilizada
anteriormente. Isso faria com que houvesse um retrocesso no processo de redução
das despesas com benefícios previdenciários no Brasil. A defesa que sustenta a
continuação da utilização do fator para cálculo do benefício, apresenta que desde
2000 o fator previdenciário produziu uma economia de 10,1 bilhões de reais, além
de estimular uma parcela importante dos trabalhadores a adiar sua aposentadoria
(BRASIL, 2010).
Esses tipos de discussões fortalecem a necessidade de uma reforma no
sistema. A introdução do fator previdenciário foi, sem dúvida, um grande avanço.
Porém, não deixa de ser necessária a introdução de novos mecanismos para
impossibilitar a falência do sistema.
Assim ―se a atual situação da previdência social já é de insolvência, presume-
se que seu futuro seja absolutamente catastrófico, pois o envelhecimento
populacional passará a pesar mais fortemente‖ (OLIVEIRA et al, 2004, p. 421).
Observa-se nos gráficos (12 a 17) a evolução da pirâmide etária, a qual deixa claro o
crescimento do contingente de idosos em relação aos demais grupos populacionais.
De acordo com a projeção do IBGE, nota-se que há cada vez menos indivíduos na
base da pirâmide demográfica e há um constante alargamento no topo da mesma. O
efeito disso, certamente será uma redução do número de indivíduos ativos que,
teoricamente, contribuiriam para o INSS e um aumento no custo com aposentados e
pensionistas (GRÁF. 18).
22
Antes do fator previdenciário, para o cálculo do valor da aposentadoria, era utilizada a média salarial dos últimos 36 meses.
52
Gráfico 12: Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 1980 Fonte: IBGE: Censo Demográfico, 2010
Gráfico 13: Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 1990
Fonte: IBGE: Censo Demográfico, 2010
53
Gráfico 14: Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 2000
Fonte: IBGE: Censo Demográfico, 2010
Gráfico 15: Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 2010
Fonte: IBGE: Censo Demográfico, 2010 (Projetado)
54
Gráfico 16: Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 2020
Fonte: IBGE: Censo Demográfico, 2010
Gráfico 17: Brasil: Pirâmide Etária Absoluta, 2030
Fonte: IBGE: Censo Demográfico, 2010
55
Gráfico 18: Projeção de despesas da previdência social no atual sistema – RGPS (2007-2026) Fonte: Dutra e Figoli (2008)
Cabe ressaltar que o envelhecimento populacional, entre outros fatores,
compromete os gastos previdenciários. Resta, portanto a alternativa de, a partir das
políticas públicas, repactuar os direitos e obrigações do sistema previdenciário
brasileiro. Sendo esta uma árdua situação para os nossos governantes, já que este
tema envolve imediatamente prejuízos político-eleitorais. Porém se nada for feito
haverá uma inevitável falência do sistema.
56
5. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SEUS IMPACTOS NO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE
O estudo sobre os impactos do processo do envelhecimento seria incompleto
se não atentássemos para os impactos que tal processo tem gerado no Sistema
Único de Saúde. A elevação dos gastos na área da saúde é hoje um dos impactos
eminentes ocasionados pela transição demográfica, o qual vem acompanhada do
processo de transição epidemiológico. Esse capítulo irá analisar os impactos que o
envelhecimento tem causado nos gastos do SUS. Sendo este um sistema que
atende todas as camadas sociais, de forma a fornecer subsidio importante para as
discussões sobre o assunto23.
Acompanharam-se no século XX profundas modificações econômicas e
sociais, juntamente com desenvolvimento tecnológico e científico. Esses fatos
geraram um aumento na expectativa de vida da sociedade, resultando no processo
de envelhecimento populacional. Lourenço e Motta (1999) destacam que a
introdução de técnicas diagnósticas e a descoberta de substâncias e métodos
terapêuticos adequados, proporcionaram uma aceleração nesse processo.
Chaimowicz (1998) conceitua o processo de transição epidemiológica como
sendo um processo de modificações, ao longo do tempo, dos padrões de
morbidade, invalidez e morte, caracterizando assim, uma população específica e
que em geral coincide com outras transformações demográficas, sociais e
econômicas. O processo de transição epidemiológico ocorrido no Brasil se deu sem
que o país se preparasse para atender as demandas exigidas por essa nova
realidade.
É importante frisar que os principais fatores do processo de transição
demográfica foram a queda da fecundidade e o aumento da expectativa de vida ao
nascer. Conforme já observado no capitulo 2, o país sofreu uma acelerada redução
no índice de fecundidade passando de 6,2 filhos por mulher em 1940, para 2,3 já no
início da primeira década do século XXI. Seguidamente, notou-se uma redução
também nos níveis de mortalidade, favorecido pelo sucesso das políticas de controle
23
A analise será limitada aos gastos com internação do sistema único de saúde (SUS), o que não comprometerá o resultado, já que este representa um dos maiores custos para o SUS.
57
das doenças infecto-parasitárias. Resultando, com isso, o aumento da expectativa
de vida.
Com o aumento do contingente de idosos, surgiram as proeminentes doenças
crônico-degenerativas. No trabalho de Chaimowicz (1998, p.19), em sua introdução
o autor destaca que ―a sociedade já se depara com um tipo de demanda por
serviços médicos e sociais outrora restritas aos países industrializados‖. E ainda
chama a atenção, para o fato de que o país não possui estratégias para a efetiva
prevenção e tratamento das doenças crônico-degenerativas e suas complicações.
Estando o Estado sujeito as pressões desse contingente emergente de idosos.
Assim:
No caso específico da saúde, como o grupo dos idosos é o que mais utiliza os serviços, teme-se que ocorra uma sobrecarga nos hospitais brasileiros e uma competição do direcionamento dos recursos, uma vez que doenças características de idosos deverão competir com as demandas ainda não solucionadas de grupos etários mais jovens. Além disso, como as doenças crônicas, características do grupo dos idosos, demandam tratamentos mais prolongados, teme-se por um aumento nos gastos com saúde, sobrecarregando o sistema de saúde pública. (BARENSTEIN, NASCIMENTO e MACHADO, 2008, p. 2)
Berenstein, Nascimento e Machado (2008) chamam atenção para o fato de
que o aumento dos gastos, proporcionados pela idade, podem estar sendo
causados pelos indivíduos idosos que utilizam mais os serviços de saúde do que os
mais jovens. Sendo assim, essa parcela da população exerce grande influencia nos
gastos.
Nunes (2004) demonstra que ao se obter a taxa de utilização, tem-se a
oportunidade de medir, aproximadamente, o consumo de serviços de saúde do SUS.
Em sua análise ele supõe que o consumo de procedimentos ambulatoriais, exames
clínicos e diagnósticos, se comporte de forma semelhante ao das internações.
Sendo assim, tendo como base o ano de 2003, o gráfico 19 irá apresentar a
freqüência total de internações no SUS.
Nota-se que nas faixas etárias até 14 anos a freqüência de internações do
sexo masculino são superiores ao sexo feminino. A média de internações observada
nos homens nessa faixa etária é de 447 mil e nas mulheres de aproximadamente
352 mil. Nos períodos subseqüentes verifica-se que esse comportamento é alterado.
Na faixa etária de 15 à 24 anos, o sexo feminino apresenta um número bem superior
58
ao observado no masculino, chegando há 1,93 milhões de internações24, enquanto a
média para os homens nessa faixa etária, ficou em torno de 446 mil internações. De
25 a 34 anos as freqüências de internações femininas começam a declinar enquanto
a masculina à subir, porém, ainda com valores inferiores aos femininos.
Gráfico 19: Freqüência de internação no SUS, por sexo e faixa etária – 2003
Fonte: Nunes (2004)
Nunes (2004) destaca que a partir dos 45 anos o número de internações entre
homens e mulheres são praticamente semelhantes. Em seguida, verifica-se que a
freqüência entre os homens permanecerão superiores a das mulheres, até a última
faixa etária, quando, então, o número absoluto de internações entre as mulheres
voltam a se elevar.
Ao analisar a taxa de utilização no SUS (GRÁF. 20), a influência do
envelhecimento é mais visível. Essa medida é calculada pela razão entre a
freqüência de internação e a população de faixa etária. Verifica-se que a partir da
faixa etária de 45 a 54 anos o consumo de internações em relação aos homens é
sempre mais elevado e se torna crescente com a idade.
24
Essa elevação se deve pelo fato do grande número de internações relacionadas aos partos normais e cesarianas.
59
Gráfico 20: Taxa de utilização do SUS, por sexo e faixa etária – 2003 Fonte: Nunes (2004)
O autor verifica que:
A maior utilização da rede SUS pela população masculina fica mais evidente quando se analisa a razão de sexos nas taxas de utilização (...). O diferencial cresce com a idade. É consenso que o homem vive menos, não só no Brasil, como em todo mundo. É quase consensual que a mulher é mais avessa ao risco e, talvez por esse motivo, demande mais ações preventivas de saúde, quer dizer, consuma mais serviços de saúde preventivos. Essa poderia ser uma das partes das explicações da menor taxa de utilização do SUS pelo sexo feminino. (NUNES, 2004, p. 431)
Ao se tratar das despesas totais do SUS, em relação ao período analisado
pelo autor, 2003, foram em torno de R$ 5.862 milhões, sendo R$ 3.064 milhões
gastos com internações de mulheres e R$ 2.798 milhões com internações de
homens. O autor observa que o custo médio de internações25 (GRÁF. 21) até os 14
anos, pouco varia entre os sexos. Nota-se que na primeira faixa etária, até 1 ano, há
um custo médio elevado, assumindo o valor de R$ 600,00, enquanto já
aproximadamente aos 14 anos, cai para R$ 350,00. A partir da faixa dos 15 anos os
custos médios com internações do sexo masculino são mais elevados. Isso é
observado até a faixa etária dos 80 anos ou mais, a partir dessa faixa as mulheres
apresentam um maior custo médio.
25
Razão entre a despesa total por faixa etária e o número de internações em cada faixa.
60
Gráfico 21: Custo Médio de internações no SUS, por sexo e faixa etária – 2003
Fonte: Nunes (2004)
Percebe-se que o custo médio feminino apontado na faixa etária
correspondente ao período reprodutivo é bem inferior ao custo observado no sexo
masculino. Isso se deve certamente ao elevado volume de partos normais, sendo
este um procedimento de custo reduzido, fazendo com que os custos médios
assumam valores mais baixos. (NUNES, 2004)
Enquanto isso os custos médios masculinos vão assumindo valores cada vez
maiores até a faixa etária de 60 a 64 anos, quando atinge o seu ponto máximo, com
o valor de R$ 737,00. Já as mulheres, apresentaram o ponto de máximo na faixa
etária de 65 a 69 anos, quando atingem um custo médio R$ 634, 00. O autor chama
atenção para o fato de que nas faixas etárias mais elevadas, os custos médios caem
em razão da redução da eficácia de alguns procedimentos mais onerosos, já que
esses grupos, provavelmente, não responderiam satisfatoriamente a tais
procedimentos.
Com essa analise, Nunes (2004) chega a conclusão de que,
... pelo menos no que se refere aos serviços oferecidos pelo SUS, não se verifica a hipótese de que os custos médios dos procedimentos realizados em idosos sejam mais caros do que aqueles das idades mais jovens. A elevação das despesas com saúde dos idosos não é explicada pela elevação dos custos dos procedimentos e, sim, pela freqüência, ou seja, pelo consumo mais elevado destes. Medidas de saúde pública que objetivem melhorar a qualidade da atenção à saúde dos idosos, sem com isso necessariamente aumentar os gastos, devem priorizar a redução do número de internações. Uma alternativa são as medidas de promoção a saúde, melhora na qualidade de cada atendimento, de forma que o paciente volte menos vezes ao hospital. Alternativas concretas para realização deste
61
objetivo podem ser os programas de saúde em casa e a internação domiciliar. (NUNES, 2004, p. 433)
Conforme foi verificado na análise de Nunes (2004), a freqüência/consumo é
a grande responsável pela elevação dos gastos no SUS. Porém é importante
verificar também as tendenciosas doenças que fazem com que esses números
venham a se agravar num futuro próximo. Sendo que o conhecimento de seus
agravantes possibilitará uma melhor conduta das políticas públicas preventivas e de
promoção do bem estar.
A tabela 5 apresenta a relação de procedimentos médicos realizados em
relação a faixa etária acima dos 60 anos, no ano de 2009. Verifica-se que as
doenças que mais se destacam nos grupos de idade acima dos 60 anos, são as
doenças do aparelho circulatório e as doenças do aparelho respiratório. Se
avaliarmos apenas essas duas categorias, verifica-se que elas perfazem um total de
1.022.691 internações, o que corresponde a mais de 40% do total de internações.
Isso também influencia nos gastos relacionados ao tratamento dessas
doenças. De acordo com a tabela 6, onde há a relação de gastos totais dos
procedimentos médicos realizados em relação a faixa etária acima dos 60 anos, no
ano de 2009, nota-se que o Sistema Único de Saúde teve um gasto com doenças do
aparelho circulatório e doenças do aparelho respiratório, no valor de R$ 1,478
bilhão, isso corresponde a aproximadamente 53% do gasto total em relação aos
procedimentos observados.
62
TABELA 5 Procedimento de internação segundo faixa etária – Brasil - 2009
Procedimentos 60 a 69 70 a 79 80 ou + Total
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 67.185 61.906 47.747 176.838
II. Neoplasias (tumores) 96.658 68.021 26.615 191.294
III. Doenças sangue órgãos hemat e transt imunitár 8.095 8.960 7.184 24.239
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 47.645 44.779 32.084 124.508
V. Transtornos mentais e comportamentais 13.436 3.779 1.188 18.403
VI. Doenças do sistema nervoso 19.084 16.436 10.446 45.966
VII. Doenças do olho e anexos 14.114 14.170 5.318 33.602
VIII.Doenças do ouvido e da apófise mastóide 531 276 127 934
IX. Doenças do aparelho circulatório 252.356 232.720 144.434 629.510
X. Doenças do aparelho respiratório 127.257 145.318 120.606 393.181
XI. Doenças do aparelho digestivo 120.687 81.386 39.040 241.113
XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 16.953 12.077 7.431 36.461
XIII.Doenças sist osteomuscular e tec conjuntivo 21.708 14.190 6.530 42.428
XIV. Doenças do aparelho geniturinário 72.052 55.465 32.409 159.926
XV. Gravidez parto e puerpério 145 80 37 262
XVI. Algumas afec originadas no período perinatal 372 463 349 1.184
XVII.Malf cong deformid e anomalias cromossômicas 1.775 963 463 3.201
XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat 15.526 13.471 8.882 37.879
XIX. Lesões enven e alg out conseq causas externas 58.735 46.100 35.479 140.314
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 282 161 98 541
XXI. Contatos com serviços de saúde 12.665 9.171 5.179 27.015
Total 967.261 829.892 531.646 2.328.799
Fonte: Datasus, 2010
63
TABELA 6 Valor total por tipo de procedimentos e faixa etária – Brasil - 2009
Procedimentos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 ou + Total
I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 66.341.997 64.267.958 45.956.415 176.566.369
II. Neoplasias (tumores) 140.803.025 94.625.375 33.442.337 268.870.737
III. Doenças sangue órgãos hemat e transt imunitár 3.748.781 3.969.862 2.834.662 10.553.305
IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 23.830.145 21.274.535 14.493.022 59.597.702
V. Transtornos mentais e comportamentais 46.943.284 20.022.749 7.628.169 74.594.202
VI. Doenças do sistema nervoso 27.589.843 22.119.893 13.306.796 63.016.532
VII. Doenças do olho e anexos 12.601.500 10.620.447 3.630.506 26.852.454
VIII.Doenças do ouvido e da apófise mastóide 985.441 149.395 39.235 1.174.071
IX. Doenças do aparelho circulatório 506.688.138 411.118.331 191.750.555 1.109.557.024
X. Doenças do aparelho respiratório 124.672.358 138.420.891 105.706.376 368.799.625
XI. Doenças do aparelho digestivo 99.717.244 61.971.313 28.033.182 189.721.738
XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 9.401.759 7.056.812 4.236.835 20.695.407
XIII.Doenças sist osteomuscular e tec conjuntivo 38.654.640 28.598.840 12.452.476 79.705.955
XIV. Doenças do aparelho geniturinário 52.275.265 34.854.569 17.176.966 104.306.800
XV. Gravidez parto e puerpério 42.114 24.851 10.795 77.759
XVI. Algumas afec originadas no período perinatal 678.649 864.412 507.634 2.050.694
XVII.Malf cong deformid e anomalias cromossômicas 6.358.527 2.870.849 920.151 10.149.527
XVIII.Sint sinais e achad anorm ex clín e laborat 12.024.286 9.950.202 5.488.133 27.462.621
XIX. Lesões enven e alg out conseq causas externas 71.126.678 67.870.211 58.923.780 197.920.668
XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 268.699 181.510 116.446 566.656
XXI. Contatos com serviços de saúde 3.051.316 1.613.932 791.409 5.456.657
Total 1.247.803.690 1.002.446.937 547.445.877 2.797.696.503
Fonte: Datasus, 2010
64
Conforme já analisado ‖a partir da faixa etária de 15 a 24 anos, os custos com
internações do sexo masculino são mais elevados, com exceção do grupo etário de
80 anos e mais‖ (NUNES, 2004, p.432). Essa situação pode ser observada nas
tabelas 7 e 8. Verifica-se que os custos relacionados às doenças do aparelho
circulatório e doenças do aparelho respiratório no sexo masculino, são mais
elevados nas faixas etárias de 60 a 69 anos e de 70 a 79. Enquanto no sexo
feminino a partir da faixa etária de 80 anos ou mais, esse valor é superado,
chegando a uma diferença de aproximadamente 14% em relação ao mesmo gasto
verificado no sexo masculino. Entretanto, no valor global o custo referente ao sexo
masculino, tem maior peso.
TABELA 7 Doenças do aparelho circulatório e doenças do aparelho respiratório
sexo: masc – Brasil – 2009
Procedimentos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 anos e mais Total
IX. Doenças do ap. circulatório 300.146.359 225.161.422 89.958.614 615.266.396
X. Doenças do ap. respiratório 68.070.159 72.984.363 49.304.011 190.358.533
Total 368.216.519 298.145.785 139.262.625 805.624.928
Fonte: Datasus, 2010
TABELA 8 Doenças do aparelho circulatório e doenças do aparelho respiratório
sexo: fem – Brasil - 2009
Procedimentos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 anos e mais Total
IX. Doenças do ap. circulatório 206.541.779 185.956.909 101.791.941 494.290.629
X. Doenças do ap. respiratório 56.602.198 65.436.529 56.402.365 178.441.092
Total 263.143.977 251.393.437 158.194.306 672.731.721
Fonte: Datasus, 2010
Nunes (2004) destacou em sua análise que os procedimentos de custo total
mais elevados são os tratamentos das insuficiências cardíacas e coronarianas e das
doenças pulmonares. O autor aponta que em 2003 esses custos foram de R$ 20,4
milhões e R$ 17, 6 milhões respectivamente. E, além disso, o autor também
65
observou que as três principais causas de mortalidade nos idosos, foram: as
doenças pulmonares, a insuficiência cardíaca e coronariana e o AVC26 agudo.
Conforme observado, o processo de transição epidemiológica no Brasil são
um dos fatores causados pelo envelhecimento da população, sendo este, um
resultado da transição demográfica. Com um contingente de idosos cada vez maior,
os casos de doenças crônico-degenerativas hão de ser, conseqüentemente, cada
mais elevados. Dessa forma a procura pelos serviços de saúde também irão se
elevar, porém, exigindo uma demanda, pouco antes exigida.
Parece possível, então, pensar-se em um certo trade off entre freqüências de internações e melhoria da qualidade do atendimento. Medidas de saúde pública que objetivem uma melhor atenção ao idoso não precisam, necessariamente, elevar as despesas com saúde, mas sim substituir a quantidade de procedimentos de internação pela qualidade desse serviço, reduzindo assim as taxas de utilização, de forma que o paciente volte menos vezes ao hospital. Alternativas concretas para realização desse objetivo podem ser os programas de saúde em casa e a internação domiciliar. (NUNES, 2004, p. 449)
Assim, cabe entender que os agentes de políticas públicas, mais que nunca,
precisarão se preparar melhor para fornecer o amparo necessário a essas
demandas. Caso contrário, o Sistema não irá suportar as pressões.
26
Referente à Acidente Vascular Cerebral
66
6. CONCLUSÃO
O Brasil, assim como outros países, vem experimentando o processo de
transição demográfica. Tendo como principal efeito o aumento da expectativa de
vida e o aumento do contingente de idosos. Verificou-se nesse estudo que o
processo envelhecimento populacional é uma resposta à redução da fecundidade e
da mortalidade e ao aumento da expectativa de vida ao nascer. Os autores
utilizados nas análises concordam que o envelhecimento populacional tem gerado
uma elevação nos gastos da Previdência Social e Saúde Pública.
O país irá se deparar entre 2010 e 2030 com uma situação em que a razão de
dependência total assumirá seus menores valores, em torno 50%. Esse fato
representa no que é chamado de oportunidade demográfica. Isso significa que
haverá 100 pessoas em idade ativa para cada 50 idosos e jovens. Ou seja, apenas
uma pessoa dependente para cada duas potencialmente produtivas. Com isso se o
país aproveitar essa situação, incentivando tributariamente a formalização do
trabalho, certamente irá gerar uma grande vantagem financeira para as contas
previdenciárias.
No caso da introdução do fator previdenciário na fórmula de cálculo do salário
- beneficio, definitivamente foi um grande avanço do sistema previdenciário
brasileiro. Com este mecanismo, o sistema tornou-se mais justo atuarialmente.
Pagar mais para quem contribuiu por mais tempo e menos para quem contribuiu por
menos tempo, é mais que justo.
Verifica-se também um processo de transição epidemiológico no Brasil. Esse
processo é o resultado da elevação do contingente de idosos. De acordo com a
análise de Nunes (2004), foi possível observar que as proeminentes doenças
crônico-degenerativas, são responsáveis por um aumento nas contas do Sistema
Único de Saúde. Observou-se na análise que o envelhecimento é responsável por
uma elevação da freqüência de internações motivadas por doenças do aparelho
circulatório e doenças do aparelho respiratório. Sendo que a elevação dos gastos
são resultados não do aumento do valor dos serviços prestados e sim do aumento
da freqüência/consumo observada nas internações. Cabe ao estado, portanto,
colocar na agenda das políticas públicas, alternativas que possibilitem diminuir
67
essas pressões, uma boa alternativa de política seriam os programas de Bem-Estar
e o acompanhamento médico domiciliar.
Pode-se afirmar que os estudos referentes aos impactos que o
envelhecimento tem causado sobre os gastos públicos, sem sombra de dúvidas, são
bastante complexos. Dessa forma, nesse trabalho, foi utilizado um arcabouço teórico
que se limitou a apresentar conceitos e situações que possibilitaram o entendimento
em torno do tema.
Afirma-se então que o novo perfil populacional no Brasil tem gerado pressões
significativas nas contas públicas. O que se leva a crer que a elevação dos gastos
na área da saúde e Previdência Social, não são motivados pelo aumento do custo
do serviço e nem apenas pela redução da população ativa, mas sim pela mudança
do perfil sócio-demográfico daqueles que utilizam esses serviços.
Em suma, percebe-se que a mudança no perfil demográfico da população
brasileira, tem sido um reflexo da dinâmica demográfica. A população está
envelhecendo e o país não se preparou para atender as demandas desse novo perfil
populacional. Estando, o Estado, exposto aos impactos que essas demandas podem
provocar em suas receitas.
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