O Estado Na Era Vargas

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FACULDADES INTEGRADAS DO EXTREMO SUL DA BAHIA ANDRESSA DA SILVA MONTARGIL

A INFLUNCIA DA RELIGIO NA CULTURA

Eunpolis 2011

ANDRESSA DA SILVA MONTARGIL

Trabalho apresentado s Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia, no Curso de Direito, 2 perodo matutino, como requisito parcial de avaliao na Disciplina de Antropologia e Cultura Brasileira, sob orientao do Professor Valdemir Tutrut.

Eunpolis 2011

SUMRIO

1. Introduo...............................................................................................................04 2. O Brasil e a Pluralidade .........................................................................................05 2.1 A cultura das Regies..................................................................................05 3.Religies mais discriminadas..................................................................................07 3.1 Candombl...................................................................................................07 3.2 O Estado corporativista e a crise do capitalismo.........................................08 3.3 A legislao sindical e o Estado corporativista............................................08 3.4 Comunistas versus integralistas..................................................................09 3.5 A Intentona Comunista................................................................................10 3.6 O golpe de 1937..........................................................................................10 4. Dutra e o governo democrtico de Vargas.............................................................11 4.1 O governo Dutra (1946-1951)......................................................................11 4.2 As eleies de 1950.....................................................................................12 4.3 O governo democrtico de Vargas (1951-1954)..........................................12 4.4 O nacionalismo econmico..........................................................................13 4.5 A crise do governo Vargas...........................................................................14 5. O Estado Novo.......................................................................................................16 5.1 A ditadura de Vargas (1937-1945)...............................................................16 5.2 O Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial.............................................17 5.3 A cultura do Estado Novo............................................................................18 5.4 O fim do Estado Novo..................................................................................18 6. Concluso...............................................................................................................20 7. Bibliografias............................................................................................................21

INTRODUO

Getlio Vargas, poltico dos mais hbeis, presidiu a uma verdadeira revoluo social controlada, que transformou as estruturas da I Repblica. Conduziu as reformas de maneira lenta e gradual, o que atenuou choques e venceu resistncias. O Brasil, na era de Vargas, comeou a perder sua afeio de pas agrrio e semicolonial e a adquirir caractersticas de nao moderna e em desenvolvimento. Criou a grande siderrgica e encaminhou a soluo do problema do petrleo em regime de monoplio estatal. Lanou as bases de uma avanada legislao trabalhista, arregimentou o proletariado em sindicatos e fundou o Partido Trabalhista Brasileiro (1945), dando aos operrios, pela primeira vez, participao no jogo poltico. Inaugurou, assim, o populismo e a interveno do Estado na ordem econmica. Foi membro da Academia Brasileira de Letras.

O Estado na Era Vargas2.1 O governo provisrio de Vargas

Em 3 de novembro Getlio Vargas assumiu o governo federal em carcter provisrio. Na qualidade de chefe do governo provisrio, Vargas buscou atender s reivindicaes das foras polticas que lhe haviam dado sustentao. Mas logo ocorreram divergncias entre os grupos que subiram ao poder: civis (classe mdia urbana, banqueiros, industriais e latifundirios), que desejavam a democracia do pas por meio de eleies livres, um governo forte e centralizado, capaz de empreender a racionalizao da economia e a modernizao das estruturas do Estado. 2.2 Poltica: medidas e tenses Uma das primeiras medidas do governo provisrio foi substituir a Constituio de 1891 pelo Decreto n 19.398, que dissolveu o Poder Legislativo nas instncias federal, estadual e municipal. Dessa forma Vargas acumulou os poderes Executivo e Legislativo e passou a governar por meio de decretos-leis. Vargas promulgou o Cdigo dos Interventores, que legalizava e definia a competncia dos tenentes nomeados interventores para substituir os antigos governadores dos estados.Contudo, devido resistncia da populao, eles ficaram pouco tempo no poder. A ascenso dos militares enfrentou ainda a resistncia das oligarquias estaduais, principalmente de So Paulo, que defendiam a volta da normalidade constitucional e exigem a imediata convocao de uma Assembleia Constituinte. O Movimento Constitucionalista de 1932 (tambm conhecido como Revoluo Constitucionalista), em So Paulo, representou a maior demonstrao estadual de repdio ao governo Vargas. 2.3 O movimento constitucionalista de 1932 A partir de 1931, como reflexo da crise de 1929, os preos do caf despencaram. Retomando a politica de valorizao do produto. Vargas comprou e queimou milhares de sacas de caf e proibiu novas plantaes. Milhares de camponeses que trabalhavam nas fazendas de caf migraram para as cidades paulistas, agravando os problemas sociais j existentes nos centros urbanos. A situao poltica de So Paulo tambm era tensa. A nomeao do tenente Joo Alberto Lins de Barros, veterano da Coluna Prestes e que no era paulista, frustrou o Partido Democrtico de So Paulo, que haviaapoiado o movimento de 1930 e esperava alcanar o governo do Estado por meio da indicao de um interventor civil e paulista. O Partido Democrtico aliou-se ao velho Partido Republicano Paulista e , juntos, sob o nome de Frente nica Paulista, passaram a exigir o fim do governo provisrio, a convocao imediata de uma Assembleia Nacional Constituinte e eleies gerais no pas. Diante da crise, Vargas anunciou eleies para a Assembleia Constituinte. Todavia, o anncio no deteve a conspirao paulista. Nos dias 22 e 23 de maio de 1932, confrontos de rua resultaram na morte de quatro estudantes de Direito: Martins, Miragaia, Drusio e Camargo. Suas iniciais batizaram o movimento cvico MMDC, que preparou a luta armada. O movimento rebelde teve incio em 9 de julho. Os paulistas esperavam que mineiros, gachos e mato-grossenses os apoiassem, mas apenas estes ltimos efetivamente o fizeram. Em outubro, aps trs meses de luta contra as foras

federais, os paulistas se renderam. Vargas, porm, plenamente consciente da importncia da elite paulista, da qual pretendia obter apoio, cedeu exigncia de uma Constituio. As eleies de 1933 para deputados e governadores obedeceram aos dispositivos do novo Cdigo Eleitoral, elaborado no governo de Vargas. Na legislao, estavam incorporados tradicionais reivindicaes dos constitucionalistas, como o voto direto, secreto e facultativo a todos os brasileiros maiores de 21 anos, com exceo dos analfabetos, mendigos, soldados e padres. Tambm foi criada a justia Eleitoral, com o objetivo de combater a fraude nas eleies. Tais medidas representaram um grande avano para o sistema poltico nacional. Os constituintes formavam dois grupos distintos: os deputados eleitos pela representao dos estados e os deputados eleitos pelos sindicatos profissionais, chamados deputados classistas (que defendiam uma classe de trabalhadores). Em 16 de julho de 1934, foi promulgada a nova Constituio, que contava com 187 artigos. Quatro dias depois, Getlio Vargas era empossado como presidente constitucional, eleito pelo Congresso Nacional, portanto, por via indireta. Seu mandato duraria at 1938 e seu sucessor seria escolhido por eleio direta. 2.4 O novo jogo social e a poltica governamental Em termos sociais, a Revoluo de 1930 foi possibilitada pela ascenso e pelas reivindicaes dos empresrios urbanos e pela expanso da classe mdia e do operrio, que no tinham representatividade poltica dentro do sistema corrupto das eleies fraudulentas da primeira repblica. Seu resultado, todavia, no foi a diluio, mas o deslocamento da tradicional oligarquia paulista do centro do poder. Na prtica, porm, nenhum dos setores sociais vitoriosos teve condies, isoladamente, de legitimar o novo regime ou de oferecer uma soluo crise econmica. Desde sua chegada ao poder, porm, Vargastomou medidas que indicavam a direo de suas polticas sociais e econmicas. Em novembro de 1930 foi criado o Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio; em dezembro, o governo decretou uma lei para garantir que as empresas estrangeiras tivessem dois teros de trabalhadores brasileiros em seus quadros. No ano seguinte foi decretada a Lei de Sindicalizao, para regular as relaes entre patres e empregados, e foi representado o anteprojeto da LEI DO Salrio Mnimo (que s em 1943 seria aprovado). A legislao passou a regulamentar frias, o trabalho de menores e das mulheres, e estabeleceu convenes coletivas de trabalho. 2.5 A poltica econmica Do ponto de vista econmico, os primeiros anos do governo de Vargas caracterizaram-se pela persistncia das dificuldades derivadas da crise e da depresso mundiais, mas tambm pelo crescimento industrial. A crise mundial trazia como consequncia uma produo agrcola sem mercado, a runa dos fazendeiros e o desemprego nas grandes cidades. As dificuldades financeiras cresciam: caa a receita das exportaes e a moeda conversvel se evaporava. (...) O governo Vargas no abandonou e nem poderia abandonar o setor cafeeiro. Tratou, porm de concentrar a poltica do caf em suas mos. Em maio de 1931, o controle dessa poltica passara das mos do Instituto do Caf (CNC) (...). Em

fevereiro de 1933, o rgo foi extinto e substitudo pelo Departamento Nacional do Caf (DNC), processando-se ento, efetivamente, a federalizao da poltica cafeeira. (FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. So Paulo> Edusp, 2007. P. 333) Foi do excedente acumulado com o capital cafeeiro que nasceu a industrializao, sendo que no perodo da Grande Crise ele encontrou as condies para se desenvolver; (...) acrescentava-se uma oferta de trabalho muito grande e um aumento no poder de presso do setor secundrio sobre o Estado. Assim, foram tomadas medidas protecionistas indstria de bebidas e vesturios em 1930 e 1931. (MENDES, Jr., Antnio; MARANHO, Ricardo. Brasil Histria. 1981, p. 172) A produo industrial brasileira cresceu consideravelmente a partir de 1930: entre 1930 e 1939, o ndice foi de 11,2% ao ano. A poltica econmica protecionista de Vargas nesse perodo foi o alicerce para o posterior desenvolvimento das indstrias de base, no qual o Estado teve papel essencial. O governo Constitucional 3.1 O governo constitucional (1934-1937) A nova Carta Magna de 1934 mesclava caractersticas jurdicas liberais, autoritrias e corporativas. Dentre alguns pontos destacavam-se: a manuteno da separao dos poderes Executivos, Legislativos e Judicirio; a preservao do federalismo e do sistema presidencialista de governo; a incluso dos captulos dedicados ao trabalho, a educao, a sade publica e a famlia. No que diz a respeito as questes do trabalho, a Constituio estabeleceu a proibio de diferenas salariais por questes de idade, sexo, nacionalidade e estado civil; instituiu o salrio mnimo; reduziu a jornada de trabalho para oito horas dirias; proibiu o trabalho de menores de 14 anos; criou o repouso semanal remunerado, frias anuais remuneradas e indenizao do trabalhador demitido sem justa causa. No campo econmico, o governo estabeleceu uma poltica de incentivo as atividades industriais. Para tanto, abriu linhas de crditos para a instalao de novos estabelecimentos e estimulou a criao de conselhos, companhias e fundaes para debater e controlar a produo industrial. Para impulsionar a agricultura, aperfeioar suas tcnicas de produo e ampliar a variedade de produtos da pauta de exportao, o governo criou organismos especializados, como o Instituto do Acar e do lcool (1931) e o Conselho Federal de Comercio Exterior (1934). A educao tambm mereceu cuidados do governo. Em suas metas educacionais, o Estado privilegiou os nveis de ensino superior e secundrio. O ensino religioso nas escolas privadas e publicas, embora fosse facultativo, foi incentivado, bem como o ensino diferenciado para meninos e meninas (que, segundo o governo, desempenhavam papeis diferentes na sociedade). O novo governo estabeleceu ainda o ensino primrio publico gratuito e de frequncia obrigatria. A redefinio dos papeis familiares atribudos principalmente a mulher e a criana completou esta cruzada moral lanada sobre a classe trabalhadora, que, na representao dos dominantes, apareceu associada a imundcie, a doena, a degenerao moral e ao enfraquecimento da raa. A mulher foi designada o triste destino de vigilante do lar e de me de famlia. Todos os comportamentos que se produziam fora destes parmetros recobriram-se do estigma da culpabilidade e da

imobilidade. Entre as figuras da Santa Maria e da Eva, nenhum espao foi permitido a mulher, a despeito de todas as solicitaes que o mundo industrial lanava sobre ela. Pea fundamental na empresa da moralizao do trabalhador, o modelo rgido e asctico da esposa-me-dona-de-casa deveria atuar no sentido de introduzir nos sentimentos de no trabalho, para a privacidade da estreita vida domestica. (RAGO, Margareth. Do cabar ao lar: a utopia da cidade disciplinar: Brasil 18901930). 3.2O Estado corporativista e a crise do capitalismo A ideia da estruturao de um Estado corporativista surgiu na Europa aps a Primeira Guerra Mundial, um perodo de fortes criticas ao liberalismo, que pregava a no interveno do Estado na economia e nas relaes entre patro e empregado. A situao de muitos pases depois do conflito mundial era catica. Fome, desemprego, misria, adaptao a vida civil de milhares de soldados faziam parte dos problemas da sociedade europeia. O clima de instabilidade poltica ainda foi agravado pela crise econmica mundial de 1929. Em tais condies, algumas sociedades buscaram uma alternativa poltica que representasse o fim dos problemas sociais e econmicos. Na Itlia, por exemplo, diante da desordem poltica, e na tentativa de encontrar uma melhor forma de relacionar Estado e sociedade civil, o governo fascista implementou o corporativismo, ou seja, passou a controlar as negociaes entre os sindicatos patronais e de empregados, promovendo a colaborao entre esses dois segmentos. 3.3 A legislao sindical e o Estado corporativista O modelo corporativo italiano inspirou a poltica de Vargas. A primeira iniciativa do governo Vargas no sentido de atender a algumas reivindicaes dos trabalhadores e ao mesmo tempo control-los foi a criao do Ministrio do Trabalho, em novembro de 1930. No ano seguinte, foram regulamentados direitos e deveres de todas as classes patronais e operarias que exercessem profisses idnticas, similares ou conexas e que se organizassem em sindicatos. Estabeleceu-se que em cada localidade poderia existir um nico sindicato por categoria profissional, desde que fosse reconhecido pelo governo. Essa medida impedia o funcionamento de sindicatos independentes. Assim, embora a Constituio promulgada em 1934 houvesse permitido a volta da pluralidade sindical, mantinha-se a exigncia do reconhecimento dos sindicatos pelo Ministrio do Trabalho. Um decreto determinou que a jornada diria de trabalho fosse de oito horas e que o trabalhador teria direito a um dia de folga a cada seis dias de trabalho. Desse modo, foi instituda a semana de trabalho de 48 horas. No caso de prolongamento das jornadas para ate 10 ou 12 horas, mediante acordo coletivo, caberia o pagamento das horas extras ao empregado. O trabalho da mulher e da criana passou a merecer regulamentao especial. As mulheres deveriam receber salrios iguais aos dos homens quando exercessem a mesma atividade, ficando proibido o trabalho noturno em bares e restaurantes e, em geral, nos servios considerados perigosos e insalubres. Concediam-se as mulheres grvidas garantia no emprego e licena-maternidade. Alm disso, aps a volta ao emprego elas deveriam gozar de perodos de descanso para amamentao.

O trabalho dos menores nas indstrias tambm di regulamentado, impondose as empresas varias exigncias, como idade mnima de 14 anos, necessidade de autorizao expressa dos pais, atestados de sade e comprovao de que sabiam ler, escrever e contar. A simples existncia das leis trabalhistas no garantia, contudo, sua aplicao; por isso, os sindicatos e a interferncia do poder publico nas relaes entre patres e empregados eram necessrios para que essas leis fossem respeitadas. Medidas posteriores criaram o imposto sindical, contribuio obrigatria paga anualmente pelo empregado, sindicalizados ou no, correspondentes a um dia de trabalho, e a Justia do Trabalho, cuja funo era intermediar os conflitos entre patres e empregados. Em 1943, foi promulgada a Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), sistematizado a legislao trabalhista. Se por um lado essas medidas oferecerem benefcios reais aos trabalhadores, por outro forneceram ao Estado instrumentos para combater, quando julgasse oportuno, o movimento operrio organizado. 3.4 Comunistas versus integralistas: O governo constitucional de Vargas foi marcado por forte instabilidade, com manifestaes provenientes tanto da direita quanto da esquerda. A direta, o governo viu-se pressionado pela Ao Integralista Brasileira (AIB). Liderada por Plnio Salgado e com caractersticas fascistas. A esquerda, Getlio enfrentou a Aliana Nacional Libertadora (ANL). Composta de comunistas e simpatizantes, liderada pelo Partido Comunista do Brasil (PCB). A ANL reunia tambm socialistas e a ela esquerda dos tenentes, e seu presidente de honra era Lus Carlos Prestes, que se opunha a Vargas desde a Revoluo de 1930. Condenava o imperialismo, o fascismo e a diviso fundiria, que concentrava muitas terras nas mos de poucos. Defendia um programa de natureza democrtica baseado na realizao de reformas estruturais profundas, que contestavam a ordem econmica e social em vigor. Em poucos meses a ANL ganhou grande projeo e conseguiu arregimentar pessoas dos mais diferentes segmentos sociais, especialmente operrios, militares e outros setores das camadas medias. Entretanto, seus dirigentes hesitavam entre uma tentativa de consolidao de uma aliana de classe e uma insurreio para tomar o poder. A AIB nasceu logo aps o Movimento Constitucionalista de 1932. Seus membros defendiam o corporativismo e o fortalecimento do Estado, representado pelo chefe na nao. Diziam combater o socialismo, o liberalismo e o capitalismo financeiro. Os integralistas ganharam forte adeso de parte das classes medias urbanas, da juventude e, em menor grau, dos militares. Valendo-se de rituais e smbolos, a AIB organizava desfiles com seus adeptos vestindo camisas verdes e braadeiras que continham a letra grega sigma. Como saudao, gritavam, com o brao estendido, a palavra indgena anau, uma verso tropical da saudao nazista. A dcada de 1930, os camisas-verdes integralistas enfrentaram nas ruas os militares do movimento operrio e, a partir de 1933, da ANL. Havia traes comuns entre a corrente autoritria e o integralismo totalitrio, mas eles no eram idnticos. O integralismo pretendia alcanar seus objetivos

atravs de um partido que mobilizaria as massas descontentes e tomaria de assalto o Estado. A corrente autoritria no apostava no partido e sim no Estado; no acreditava na mobilizao em grande escala da sociedade, mas na clarividncia de alguns homens. Para ela, no limite, um partido fascista levaria a crise do Estado; o estadismo autoritrio, ao contrario, conduziria ao seu reforo. (FAUSTO, Boris. Historia do Brasil. So Paulo: Edusp, 1995). 3.5 A Intentona Comunista No inicio de 1935, o governo federal, apoiado pela Lei de Segurana Nacional, colocou a ANL na ilegalidade e fechou diversos sindicatos de orientao comunista. Apesar disso, a ANL estimulou seus quadros militares, ligados basicamente ao PCB, a programas um levante armado em novembro de 1935. Planejavam assim tomar o poder a partir dos quartis e apoiar as aes militares com greves e manifestaes de massa. O levante da ANL conhecido pejorativamente como Intentona Comunista teve inicio no Rio Grande do Norte, com a vitria dos militares rebeldes sobre a policia. Posteriormente, as foras revolucionarias travaram combates contra tropas de outros estados, sendo derrotadas. A represso foi violenta. Os aliancistas foram presos ou deportados e a perseguio se estendeu a todos os setores da esquerda. Lus Carlos Prestes ficaria dez anos na priso; sua esposa, Olga Benrio, judia e alem de nascimento, seria deportada, grvida, para Alemanha e enviada aos campos de concentrao nazistas. Estava aberto o caminho para a escalada do autoritarismo que tomaria conta do Brasil entre 1937 e 1945. 3.6 O golpe de 1937 Na campanha presidencial para as eleies de janeiro de 1938, foram lanados trs candidatos: Armando de Sales Oliveira, representante da oligarquia paulista; Plnio Salgado, lder da AIB, e Jos Amrico de Almeida, candidato da situao apoiado pela maioria dos governadores. Durante a campanha, Vargas agiu com aparente neutralidade, pois nada fez para promover o candidato oficial nem se mostrou simptico as demais candidaturas. No entanto, o governo relembrava o movimento militar de 1935 e insistia na possibilidade de uma nova ameaa comunista ao pais. Era a preparao para o golpe de Estado que asseguraria a permanncia de Vargas no poder. O pretexto foi um suposto plano de insurreio comunista, em setembro de 1937. Tratava-se de um documento forjado que se tornou conhecido como Plano Cohen, pois de acordo com fontes oficiais, trazia a assinatura de um certo Cohen militante comunista e judeu __, que pretendia tomar o poder, com apoio sovitico, as vsperas das eleies de 1938. O congresso Nacional acreditou na existncia do plano comunista e concordou com a mudana dos rumos polticos. Dessa forma, apoiado pela cpula das Foras Armadas, por intelectuais e pelo integralistas, Vargas deu um golpe de Estado em novembro de 1937, estabelecendo o Estado Novo. O presidente suspendeu a Constituio e aboliu os partidos polticos, iniciando uma era de autoritarismo que duraria ate 1945. Os integralistas, que haviam apoiado o golpe, viram a AIB ser colocada na ilegalidade de dezembro, juntamente com os demais grupamentos polticos. Alguns

deles chegaram a tentar um levante contra o governo em maio de 1938 (conhecido como Intentona Integralista), no Rio de Janeiro, mas foram rapidamente derrotados. Se, por um lado, Getlio Vargas garantiu condies de trabalho mais justas para o trabalhador brasileiro, que se consolidaram na promulgao da CLT,por outro sua poltica em relao aos sindicatos pode ser entendida como uma forma de controlar a ao do operrio e suas organizaes. Dutra e o governo democrtico de Vargas 4.1 O governo Dutra (1946-1951) Nas eleies presidenciais, o general Eurico Gaspar Dutra, ministro da guerra no estado novo e candidato apoiado pelo PSD, venceram as eleies com pouco mais de 55% dos votos validos. Contando com o apoio de Vargas e com a maioria dos setores da UDN, Dutra enfrentou a oposio exclusiva do Partido Comunista. O incio do governo Eurico Gaspar Dutra coincidiu com os primeiros momentos da Guerra Fria. Logo que assumiu o governo, Dutra convocou uma Assembleia Constituinte para dar incio elaborao de uma nova Constituio para o pas. A assembleia reuniu representantes dos diferentes partidos polticos brasileiros, com predominncia da ala conservadora. Mas isso no impediu que a Carta fosse emoldurada por princpios liberais. O partido Comunista ressurgiu com fora total, elegendo 15mebrospara a Assembleia Constituinte. Lus Carlos Prestes candidato a senador pelo PCB, foi o mais votado no Distrito Federal, com 157.397 votos. A Constituio promulgada em 1946 garantia a autonomia dos poderes Legislativo, Executivo e Judicirio e estabelecia eleies diretase obrigatria para os cargos executivos e legislativo municipais, estaduais e federais. Diferentemente do que ocorrera na Constituio de 1934, quando o direito do sufrgio foi estendido s mulheres maiores de 21 anos, todas as mulheres com idade superior a 18 anos tambm se tornaram eleitoras, mas s eram obrigadas a votar aquelas que exerciam funes pblicas remuneradas. Ficavam excludos do direito de voto os analfabetos e os praas (militares no-graduados). Dutra deu ao seu governo um carter liberal e alinhado aos Estados Unidos. Por conta disso, em maio de 1946, o presidente decidiu demitir todos os funcionrios pblicos comunistas. Meses depois, apoiando-se em um dispositivo da Constituio que autorizava excluir da atividade politica os partidos considerados antidemocrticos, o governo colocou o PCB na ilegalidade. No ano seguinte, Dutra rompeu relaes diplomticas com a Unio Sovitica. Entre os anos de 1947 e 1951, o governo tentou incentivar a industrializao com medidas que facilitavam a importao de combustveis, mquinas, e equipamentos industriais, principalmente do Sudeste do pas. Essa iniciativa representou os primeiros passos para o Plano Salte- Sade, Alimentao, Transportes e Energia (1950), que tinha o proposito de promover uma ampla modernizao e industrializar o pas. Seguidor fiel da Constituio, o governo controlou a classe trabalhadora proibindo greves e intervindo em sindicatos. Porm, acostumados aos discursos inflamados de Vargas, os operrios resistiam constantemente s propostas do novo governo. Sem bases populares, os partidos, majoritrios (PSD E UDN) encontravam dificuldade em organizar coligaes fortes para concorrer s eleies para a Presidncia da Republica.

4.2 As eleies de 1950 No fim dos anos 1940, a sociedade brasileira estava mobilizada para a escolha de um novo presidente. Os partidos comeavam a apresentar seus candidatos em um cenrio poltico no qual ainda no surgira nenhum nome expressivo. Vargas, apoiado pelo PTB, sobressaiu com um discurso renovado, forjado uma imagem de democrata, bem diferente do modelo autoritria do perodo estadonovista. A nova roupagem poltica do ex-presidente foi despertando cada vez mais a simpatia das camadas baixas e mdias urbanas. Pelas ruas das principais cidades brasileiras, o samba Retrato do velho, Cantado por Francisco, o rei da voz tornou-se o maior sucesso do carnaval de 1951: Bota o retrato do velho outra vez Bota no mesmo lugar O sorriso do velhinho Faz a gente trabalhar Eu j botei o meu E tu, no vai botar? J enfeitei o meu E tu vais enfeitar? O sorriso do velhinho Faz a gente trabalhar A UND fazia oposio a Getlio Vargas, sobretudo depois que ele ganhou o apoio do PSD, cujo candidato, Cristiano Machado, no conseguira decolar. Em 3 de outubro de 1950, o pleito se realizou e o resultado no trouxe surpresas: com 48,7% dos votos vlidos, elegeu-se Getlio Vargas. O velhinho cantado por Francisco Alves voltava ao poder, dessa vez pelo voto direto. 4.3 O governo democrtico de Vargas (1951-1954) To logo assumiu a Presidncia da Republica, Getlio Vargas encaminhou ao Congresso Nacional um programa de governo que apresentava a expanso da indstria como propriedade. Para atingir essa meta, deu-se ateno especial a quatro pontos essenciais: 1) investimento na relao entre Estado e empresrios; 2) priorizao da empresa pblica para os investidores industriais, visando estimular o ainda frgil capital nacional 3) fundao de um banco de investimento- o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico, BNDE, com o intuito de assegurar financeiramente o Plano de Reaparelhamento Econmico (Plano Lafer); 4) elaborao de um projeto de desenvolvimento que integrasse a agricultura, a indstria pesada e a emergncia politica das massas. A gesto da economia do governo Vargas foi marcada por uma contradio. De um lado, Getlio assumiu o compromisso de dar continuidade ao projeto industrial brasileiro. De outro, enfrentou a necessidade de conter a inflao, que aniquilava o poder de compra dos salrios e gerava tenses sociais. Restou ao presidente tentar estabelecer uma poltica anti-inflacionria combinada com o desenvolvimentismo.

Para a execuo de seu plano de governo, Vargas precisou recorrer a emprstimos externos. Porm, um dos maiores parceiros econmicos do Brasil, os Estados Unidos, decidiu suspender os emprstimos a partir de 1953, em retaliao poltica nacionalista adotada pelo governo. Outro mecanismo polmico utilizado por Vargas foi um aumento de 15% sobre o imposto de renda. Os empresrios reagiram com veemncia. 4.5 O nacionalismo econmico O fragmento abaixo faz parte do primeiro discurso de Vargas ao Congresso Nacional. Seu teor revela a politica econmica que o presidente pretendia adotar: A elevao dos nveis de vida, num pas como o Brasil, depende, assim, muito menos da justa distribuio da riqueza e do produto nacional, do que do desenvolvimento econmico. A grande verdade que temos pouco que dividir. Devemos, portanto, por um lado, atender ao problema de justia, corrigindo atravs de melhores nveis de consumo, mas, por outro lado, no devemos permitir que uma distribuio insensata venha prejudicar o potencial de capitalizao necessrio ao desenvolvimento econmico geral, e assim, criao de maiores e mais amplas oportunidades de emprego e de salrios.(..) O progresso nacional se vincula solidamente ao desenvolvimento econmico. O Governo no poupar esforos para favorecer a cumulao de recursos pblicos e privado, que se destinam ampliar a produo nacional, e assim, melhorar, pelo emprego e pela abundancia, as condies de vida do nosso povo. (...) Em 1952, o governo Vargas inaugurou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (BDNE) e props a criao da Eletrobrs. No ano seguinte, criou a Petrobras, estabelecendo o monoplio estatal da explorao do perodo brasileiro. Instituiu tambm a Comisso de Desenvolvimento Industrial, de onde saiu a sub Comisso de Desenvolvimento Industrial, de onde saramsubcomisso de fabricao de jipes, tratores, caminhes e automveis, estratgica para a implantao da indstria automobilstica no pas. Com a criao da Petrobras, ficou evidenciado o carter nacionalista do governo de Getlio Vargas. E nesse momento tornou-se explicito o confronto entre os chamados pejorativamente de entreguistas. Paralelamente, a Unio Nacional dos Estudantes (UNE) organizou debates visando mobilizar a opinio em torno da palavra de ordem O petrleo nosso. Em 1953 foi sancionada a Lei n 2.004, que estabeleceu a Petrobras como empresa totalmente nacional, com participao majoritria do Estado. Este passou a controlar todas as etapas da indstria petrolfera, exceto a da distribuio dos derivados de petrleo. A disputa entre a burguesia, dependente do capital internacional, e o Estado nacionalista levou a um clima tenso, que progressivamente foi se tornando insuportvel. O papel da impressa foi importante no processo de agravamento das questes polticas no Brasil. O jornal Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, opunha-se ltima Hora, fundado pelo Jornalista Samuel Wainer, porta-voz do governo federal.

4.6 A crise do governo Vargas

A vitria de GetlioVargas em 1950 dividiu a nao. O centro da oposio nacional ficou nas mos da UDN e dos militares de direita. Vargas contava com algum apoio entre os militares nacionalistas e tentou atrair os adversrios para seu lado, mas fracassou. A animosidade entre os dois grupos militares e as acusaes formuladas por parte da direita de que o ministro da Guerra, Estillac Leal, teria ligaes com os comunistas resultaram na renncia deste, em maro de 1952. Em 1953,foi decretada uma lei que previa punies para aqueles que cometessem crimes contra o Estado, o que inclua a organizao de comcios, greves e manifestaes sem a autorizao da polcia. Indiferentes proibio, cerca de 500 mil pessoas participaram de uma manifestao que ficou conhecida como Panela Vazia, campanha que criticava o aumento abusivo do custo de vida no pas. No mesmo ano, as lideranas do Partido Comunista do Brasil, na legalidade, organizaram em So Paulo um movimento grevista reivindicando aumento salarial e controle da inflao. A greve reuniu cerca de 300 mil trabalhadores de diferentes categorias, tais como construo civil, metalrgicos, carpinteiros, vidreiros e grficos. Aps um ms de greve , os trabalhadores aceitaram um reajuste de 32% e a garantia de que os lderes do movimento no seriam punido e que os dias de paralisao seriam pagos. Um dos resultados da greve foi o enfraquecimento do governo Vargas, acusado pelos empresrios de ter fomentado o movimento. Nesse instante, os oposicionistas, liderados por Carlos Lacerda, criaram o Clube da Lanterna para por fim ao governo de Getlio. Diante de tais dificuldades, o presidente optou pela reforma ministerial como instrumento para reorientar sua poltica. Entre os novos ministros estavam Osvaldo Aranha, indicado para o Ministrio da Fazenda, e Joo Goulart, para o Ministrio do Trabalho. Goulart era visto com desconfiana pela oposio, por conta da sua ligao com os sindicatos e com o PTB, do qual era presidente nacional. Ele foi um dos responsveis pela organizao dos sindicalistas pelegos, que atuavam nos sindicatos com o objetivo de facilitar a ao do governo junto aos trabalhadores. Tambm auxiliou na formao dos sindicatos rurais e garantiu a participao desse grupo nas discusses acerca do salrio mnimo. Dois importantes acontecimentos contriburam para abalar ainda mais a situao poltica do presidente Vargas: o aumento do salrio mnimo em 100% e o crime da RuaToneleros. O aumento do salrio mnimo foi decretado pelo prprio Vargas, durante as comemoraes do Dia do Trabalhador. A reao dos empresrios e de parte da impressa, que criticava a inviabilidade da medida, veio com uma bomba. A oposio chegou a pedir o impeachment do presidente. Um documento assinado por 2coronis foi publicado. Nele, as medidas de Getlio Vargas eram criticadas, principalmente o aumento do salrio mnimo, que praticamente colocava o salrio dos trabalhadores em p de igualdade com o dos oficiais do exercito. Esse episdio agravou ainda mais a situao poltica nacional. Devido repercusso negativa do fato, Vargas optou por substituir os ministros da Guerra, general Ciro do Espirito Santo Cardoso, e do trabalho, Joao Goulart, que formalmente renunciou. No dia 5 de agosto, Carlos Lacerda, acompanhado de seu segurana, o major-aviador Rubens Florentino Vaz, sofreu um atentado na RuaToneleros, no Rio de Janeiro. O Major foi morto e Carlos Lacerda foi baleado no p. O episodio logo se tornou conhecido como o atentado da Toneleros. As constantes denuncias de

Lacerda contra Vargas contriburam para que o crime ganhasse um teor poltico. O presidente foi acusado de ser o mandante, e o chefe de sua segurana pessoal, Gregrio Fortunato, foi apontado como articulador do atentado. A investigao do atentado levou priso Clemrio Euribes de Almeida, que confessou ter contratado, a mando de Gregrio Fortunato, o pistoleiro de nome Alcino. A oposio reuniu-se e organizou um documento que sugeria o afastamento do presidente. Em 24 de agosto, Getlio Vargas, que se recusava a deixar o cargo e diante da impossibilidade de contornar a situao, suicidou-se com um tiro no peito. Deixou uma carta-testamento dirigida sociedade brasileira: Mais uma vez, as foras e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. No me acusam, insultam; no me combatem, caluniam, e no me do o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ao, para que eu no continue a defender, como sempre defendi o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me imposto. Depois de decnios de domnio e espoliao dos grupos econmicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revoluo e venci. Iniciei o trabalho de libertao e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braos do povo. A campanha subterrnea dos grupos internacionais aliou-se dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinrios foi detida no Congresso. Contra a justia da reviso do salrio mnimo se desencadearam os dios. Quis criar liberdade nacional na potencializao das nossas riquezas atravs da Petrobrs e, mal comea esta a funcionar, a onda de agitao se avoluma. A Eletrobrs foi obstaculizada at o desespero. No querem que o trabalhador seja livre. No querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionria que destrua os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcanavam at 500% ao ano. Nas declaraes de valores do que importvamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhes de dlares por ano. Veio a crise do caf, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preo e a resposta foi uma violenta presso sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado ms a ms, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma presso constante, incessante, tudo suportando em silncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a no ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de algum, quer continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereo em holocausto a minha vida. "Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vs e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a fora para a reao. Meu sacrifcio vos manter unidos e meu nome ser a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue ser uma chama imortal na vossa conscincia e manter a vibrao sagrada para a resistncia. Ao dio respondo com o perdo. "E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitria. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo no mais ser escravo de ningum. Meu sacrifcio ficar para sempre em sua alma e meu sangue ser o preo do seu resgate. Lutei contra a espoliao do

Brasil. Lutei contra a espoliao do povo. Tenho lutado de peito aberto. O dio, as infmias, a calnia no abateram meu nimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereo a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na Histria. (Getlio Vargas, 24 de agosto de 1954).

O estado novo 5.1 A ditadura de Vargas (1937-1945) Imediatamente aps o golpe, Getlio Vargas dissolveu o Congresso e outorgou uma Constituio que estruturou o Estado brasileiro com elementos inspirados no fascismo italiano. Contudo, no se pode dizer que o governo do Estado Novo fosse fascista - alm da falta de um partido poltico forte, que promovesse a identificao entre Estado e povo, no havia um compromisso histrico entre o lder (no caso italiano, o duce, condutor da nao) e uma suposta misso nacional, por maior que fosse o carisma de Vargas. A cidade recebeu, ontem, com calma, os acontecimentos polticos que determinaram a entrada em vigor de uma nova Constituio para o Brasil, revogando-se, implicitamente, a de julho de 1934. O presidente Getlio Vargas, no discurso que pronunciou a noite, ao microfone do Departamento Nacional de Propaganda, falou a Nao com franqueza e desassombro, mostrando os erros e os vcios que vinham deturpando a essncia do regime democrtico e a necessidade de dar a nossa democracia uma nova forma, capaz de assegurar o prestigio de autoridade e dar ao governo maiores possibilidades de resolver os grandes problemas nacionais. O presidente da Republica, com as intenes melhores de servir ao Brasil, deu-lhe uma nova Constituio, a Carta Magna, trabalho inteligente, de cuidadoso exame das nossas necessidades sociais, econmicas e politicas, que possui uma uniformidade de pensamento que no foi possvel imprimir a Carta efmera de 1934. (Dirio Carioca, 11 nov. 1937) De qualquer modo, as medidas tomadas pelo governo foram duras. A imprensa escrita, o cinema e o radio foram submetidos a rgida censura controlada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Foi instituda a pena de morte, que seria aplicada em casos de crimes contra a ordem publica e a organizao do Estado; os direitos individuais foram suspensos; os estados perderam sua autonomia e os poderes Legislativo e Judicirio ficaram subordinados ao Executivo. As greves e o lock-out (paralisao da produo por iniciativa do empregador) foram proibidos. A vigilncia do DIP: Pedia-se que as escolas produzissem cidados cujas atitudes conduzissem ao desenvolvimento nacional. Os tcnicos experimentavam novas abordagens, que visavam a nacionalizao da cultura e difuso emocional de valores nacionais. O rgo mais importante do Estado Novo e o mais envolvido com essas novas abordagens era o Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP (...). As atribuies do departamento incluam a censura de toda a mdia publica, assim como a responsabilidade de promover o sentimento nacionalista mediante eventos pblicos e tambm por meio do sistema escolar (...). O DIP no s censurava a imprensa, como sugeria que editores publicassem a matria produzida pelo departamento. Os que se recusava a faz-lo corriam o risco de ver tiragens

inteiras de seus jornais apreendidas ou queimadas. (LEVINE, Robert M. Pai dos Pobres: O Brasil e a era Vargas. So Paulo: Companhia das Letras, 2001.) A politica ditatorial deu continuidade a construo do aparelho de Estado que caracterizou toda a era Vargas. Uma iniciativa importante foi a criao do Departamento Administrativo do Servio Publico (Dasp) com o objetivo de melhorar a eficincia dos servios pblicos, formando quadros somente com funcionrios concursados. Com relao poltica econmica, o Estado passou a realizar investimentos diretos, assumindo os papis de interventor e empresrio. O governo instalou a Companhia Siderrgica Nacional (CSN), a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a Companhia Hidreltrica do So Francisco (Chesf), alm de investir no setor financeiro. Surgiram depois o Instituto Nacional do Mate, o Instituto Nacional do Pinho e o Conselho Nacional do Petrleo (1938). 5.2 O Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial Na poltica externa, Vargas optou por uma linha de neutralidade e pragmatismo, negociando com quem oferecesse maiores vantagens ao governo. Dessa forma, assinou acordos comerciais tanto com Gr-Bretanha e os Estados Unidos quanto com a Alemanha. No incio da segunda Guerra Mundial (1939-1945), o governo brasileiro manteve-se neutro, apesar da simpatia de muitos de seus integrantes pelos pases do Eixo (Alemanha, Itlia e Japo). Mas os ataques japoneses a Pearl Harbor, base militar dos Estados Unidos, em dezembro de 1941, alterou os rumos do conflito e a posio de neutralidade brasileira, pois os Estados Unidos entraram na guerra e passaram a pressionar o Brasil pelo rompimento de relaes diplomticas e comerciais com os pases do Eixo. O ataque a navios brasileiros, supostamente realizado pelos alemes, em fevereiro de 1942, possibilitou a entrada do pas no conflito mundial. A contribuio brasileira na luta contra o nazifascismo se deu por meio de cooperao produtiva, com fornecimento de matrias-primas como borracha e minrio de ferro; logstica, com a concesso de bases militares em Belm, Natal, Recife, Salvador e outros ncleos; pela participao direta da Fora Expedicionria Brasileira (FEB) e da Fora Area Brasileira (FAB) nos combates contra os alemes na Itlia e nos cus da Holanda. Em contrapartida, o governo Vargas recebeu crditos para a recuperao das jazidas de ferro de Minas Gerais e da ferrovia do Vale do Rio Doce e para a construo da usina siderrgica de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. 5.3 A cultura do Estado Novo O Brasil conheceu uma intensa vida cultural nos anos 1930 e 1940, ainda que boa parte dela tenha sido controlada pelo DIP ou at mesmo tenha estado a servio do regime. O rdio, com seus programas de auditrio, musicais e novelas, tornou-se um dos divertimentos preferidos da populao. O Reprter Esso e o programa oficial do governo, a Hora do Brasil, eram responsveis pelas notcias do pas e do mundo. Este ltimo foi usado insistentemente na propaganda e na veiculao das ideias do regime. O rdio tambm foi um importante veculo para a divulgao da msica popular brasileira, tornando conhecidos cantores como Orlando Silva, Francisco

Alves, Vicente Celestino, Dalva de Oliveira, Carmen Miranda e o Bando da Lua, Emilinha Borba, Marlene e muitos outros. A valorizao do samba deu-se em virtude do rdio, dos desfiles oficiais das escolas (por meio da criao da Unio Geral das Escolas de Samba do Brasil, no governo Vargas) e dos bailes nos clubes. Dorivel Caymmi passou a ser reconhecido nacionalmente com a msica O que que a baiana tem?.Graas interpretao de Carmen Miranda, a qual foi tambm grande responsvel pela divulgao da Musica Popular Brasileira (MPB) nos Estados Unidos. Ary Barroso fez sucesso com sua Aquarela do Brasil, quando Walt Disney escolheu a cano para musicar o filme Saludos Amigos (Al, amigos). A rdio Nacional colocou no ar uma das futuras paixes nacionais: a novela, com a estreita, em 1941, de Em busca da felicidade. Na literatura, importantes obras foram lanadas, com Vidas Secas, de Graciliano Ramos; A estrela sobre, de Marques Rebelo; Perto do corao selvagem, de Clarice Lispector; e Terras do sem fim, de Jorge Amado. O arquiteto Oscar Niemeyer, cujo arquitetnico mais famoso viria a ser a cidade Braslia, pde colocar em prtica suas ideias inovadoras no Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte, construo contratada pelo ento prefeito Juscelino Kubistchek. O Instituto Nacional do Cinema (INC), rgo criado pelo governo Vargas, obrigou a apresentao de pelo menos um filme nacional por ano nas salas de projeo, o que contribuiu para o nascimento de companhias como a Atlntida e a Cindia. 5.4 O fim do Estado Novo O envolvimento brasileiro na luta contra o nazifascismo impulsionou as mobilizaes democrticas no pas. O Brasil lutara na guerra em favor das democracias; logo, no fazia sentido manter-se como ditadura. Diante dessa incoerncia, a oposio questionava: '' Se a liberdade fora defendida l fora, que fosse respeitada aqui dentro''. A presso crescente levou o governo a marcar para 2 de dezembro de 1945 a realizao de eleies gerais. O ltimo flego: Apesar da represso, as manifestaes em favor da abertura se realizaram com uma frequncia cada vez maior. No final de 1943, a UNE (Unio Nacional dos Estudantes) organizou em So Paulo uma passeata em que os participantes caminhavam amordaados em sinal de protesto. O ato, dissolvido a tiros pela polcia, acabou em duas mortes. Um ano depois, no incio de 1945, o Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores, tambm em So Paulo, transformou-se num ato pblico pr-democracia, um dos ltimos a serem censurados. (...) Em junho, nova presso foi desencadeada com a volta apotetica dos primeiros pracinhas. Cada navio que chegava da Itlia ressaltava a contradio entre a realidade domstica e a mundial, incomodando cada vez mais a sociedade. Afinal, ao desfilar pelas avenidas das capitais, os soldados da FEB representavam a contribuio brasileira para a derrota do nazifascismo, o que era devidamente capitalizado pelos defensores da democracia. (PILAGALLO, Oscar. O Brasil em sobressalto: 80 anos de histria contada pela Folha. So Paulo: Publifolha, 2002). Neste nterim, foram autorizadas a formao de partidos polticos e a organizao de campanhas publicitrias dos candidatos ao governo. Entre os partidos polticos de maior expresso estavam:

- a Unio Democrtica Nacional (UDN), partido composto de adversrios do regime, que apresentou a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes Presidncia da Repblica; - o Partido Social Democrtico (PSD), composto de polticos ligados a Vargas e ao Estado Novo, que lanou a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra; - o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), nascido sob a cobertura poltica de Vargas, que tinha como base eleitoral as camadas populares urbanas beneficiadas pela obra social e trabalhista do Estado Novo e apoiava o candidato do PSD. - o Partido Comunista do Brasil (PCB), novamente legalizado e com milhares de adeptos no pas, que lanou como candidato Presidncia Iedo Fiza. Enquanto os candidatos desenvolviam suas campanhas, Vargas manobrava nos bastidores anistiando Lus Carlos Prestes e decretando a Lei Malaia (antitruste), que previa a desapropriao de empresas ligadas ao capital estrangeiro. Com isso, caiu no desfavor dos empresrios, principalmente dos udenistas. Ao mesmo tempo, ocorria um movimento popular que defendia a convocao de uma Constituinte, com Vargas no poder. Esse movimento era apoiado pelo PCB e pelo prprio Prestes. Por causa de seu lema, ''Queremos Getlio!'', ficou conhecido como queremismo. A situao se agravou quando Getlio nomeou seu irmo, Benjamin Vargas, para cargo de chefe da polcia do Distrito Federal, tradicionalmente ocupado por militares. A oposio pressionou at que, em 30 de outubro de 1945, Getlio foi intimado pelos militares a renunciar. A Presidncia da Repblica passou interinamente ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Jos Linhares. As eleies realizaram-se na data prevista, com vitria do candidato da coligao PSD-PTB, Eurico Gaspar Dutra. O ex-ditador, beneficiado pela lei eleitoral, disputou ao mesmo tempo a funo de senador e a de deputado. Eleito, escolheu ser senador pelo PSD gacho. Em sua propriedade em So Borja, no Rio Grande do Sul, Vargas aguardaria o momento para retornar ao governo federal em 1951, quando seria eleito pelo voto popular.

CONCLUSOAps um breve perodo de estudos em Ouro Preto Vargas, alistou-se no 6 Batalho de Infantaria, em So Borja, ingressando, em seguida, como cadete na Escola Preparatria e de Ttica de Rio Pardo, de onde se desligaria por solidariedade a um grupo de colegas punidos. Terminou o servio militar em Porto Alegre. A se matriculou na faculdade de direito. Em 1903, a questo do Acre e a ameaa de guerra coma Bolvia levaram-no a apresentar-se como voluntrio ao Exrcito e a seguir para Corumb, conde ficaria at a assinatura do tratado de Petrpolis. Em 1950, assinou sua candidatura pelo Partido Trabalhista Brasileiro e, aps curta e vigorosa campanha, em 3 de outubro, 20 aniversrio da sua vitria em 1930, estava eleito. A volta de Vargas assinala dois eventos importantes no campo administrativo: a criao da Petrobrs e a da Eletrobrs. Vargas publicou as seguintes obras: a nova poltica do Brasil ( 1938-1943), As Diretrizes da Poltica do Brasil ( 1942), Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras ( 1944), A Poltica Trabalhista no Brasil ( 1950), A Campanha presidencial ( 1951), O Governo trabalhista do Brasil ( 1952).

BIBLIOGRAFIASCENTENRIO DO NASCIMENTO DE GETULIO VARGAS. Disponvel em: http://www.psg.com/~walter/getulio.html. Data de acesso: 24/10/2011 Era Vargas Governo Democrtico (1951 1954). Disponvel em: http://www.brasilescola.com/historiab/getulio-vargas.htm. Data de acesso:24/10/2011 Getlio Dornelles Vargas (1883 1954). Disponvel em: http://www.culturabrasil.org/vargas.htm. Data de acesso: 23/10/2011 Getlio Vargas e a Era Vargas. Disponvel em: http://www.suapesquisa.com/vargas/ Data de acesso: 23/10/2011 Quem foi Getlio Vargas, principais realizaesde seus governos, forma de governar. Disponvel em: http://www.historiadobrasil.net/getuliovargas/. Data de acesso: 24/10/2011