15
PREPARATÓRIO: FUNSAÚDE MÓDULO: TERRORISMO PROFESSOR(A): TICIANO LAVOR O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO Esse termo “fundamentalismo” que, do ponto de vista teológico é uma manifestação religiosa onde os praticantes de uma determinada crença promovem a compreensão literal de sua literatura sagrada, teria surgido no século 20 (acredita-se que surgiu nos EUA, quando protestantes determinaram que a fé cristã exigisse acreditar em tudo que está escrito na Bíblia), mas só começou a se “popularizar” e a se tornar uma preocupação no mundo no final dos anos 1970, mas possivelmente em 1979, quando a Revolução Islâmica transformou o Irã num Estado teocrático e obrigou o país a um retrocesso aos olhos do Ocidente: mulheres foram obrigadas a cobrir o rosto, festas foram proibidas, etc. “Para quem aprecia as conquistas da modernidade, não é fácil entender a angústia que elas causam nos fundamentalistas religiosos”, escreveu Karen Armstrong no livro Em Nome de Deus: o Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo. A partir de 2001, com ataques de 11 de setembro nos EUA, organizados pelo grupo Al Qaeda, veio à tona, com toda força, a preocupação contra fundamentalistas e se criou um mito frequente: o de que todo fundamentalista é muçulmano, e ambos são terroristas. O que não é verdade. “Poucos grupos apelam para a violência”, diz o antropólogo Richard Antoun, autor de Understanding Fundamentalism: Christian, Islamic and Jewish Movements (“Entendendo o Fundamentalismo: Movimentos Cristãos, Islâmicos e Judaicos”, inédito no Brasil). Que fique bem claro! O fundamentalismo religioso está longe de ser exclusividade da religião mulçumana. Os fundamentalistas religiosos são encontrados entre religiosos diversos e pregam que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos à risca. Kach Kahane Chai, Neturei Karta e Satmar são exemplos, para que tenhamos uma ideia, de grupos fundamentalistas judaicos, e não muçulmanos. Pró-vida de Anápolis, Christian Voice, Universidade Bob Jones, por sua vez são exemplos de grupos fundamentalistas cristãos. Assim como existem também vários grupos fundamentalistas (terroristas ou não) que são muçulmanos. Muitos dos quais, muita gente nunca ouviu falar, tais como o Partido Frente Islâmica de Salvação (que pretende, pela via política, fundar uma república islâmica regida pelas leis do Alcorão na Argélia), o Al-Gama·a al-Islamiyya (que pretende, pela guerra santa, fazer do Egito um Estado islâmico) e o Abu Sayyaf (grupo ligado à Al Qaeda, que pretende criar um Estado islâmico nas Filipinas). O TERRORISMO O que pensamos quando se fala a palavra “terrorismo”? A maioria das pessoas pensa logo em bombas explodindo em metrôs, aviões sendo sequestrados e ações violentas de forma geral. Lembramos também do “11 de setembro”, das Torres Gêmeas nos EUA e , ainda, das inúmeras pessoas inocentes que foram vítimas desse tipo de ataque. Bem, todo mundo tem uma noção de senso comum do que é o terrorismo, mas será que existe um termo adequado para definir terrorismo? Não existe na comunidade internacional um consenso acerca da definição de terrorismo.

O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

  • Upload
    others

  • View
    8

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

PREPARATÓRIO: FUNSAÚDE

MÓDULO: TERRORISMO

PROFESSOR(A): TICIANO LAVOR

O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

Esse termo “fundamentalismo” que, do ponto de vista teológico é uma manifestação

religiosa onde os praticantes de uma determinada crença promovem a compreensão literal

de sua literatura sagrada, teria surgido no século 20 (acredita-se que surgiu nos EUA, quando

protestantes determinaram que a fé cristã exigisse acreditar em tudo que está escrito na

Bíblia), mas só começou a se “popularizar” e a se tornar uma preocupação no mundo no final

dos anos 1970, mas possivelmente em 1979, quando a Revolução Islâmica transformou o

Irã num Estado teocrático e obrigou o país a um retrocesso aos olhos do Ocidente:

mulheres foram obrigadas a cobrir o rosto, festas foram proibidas, etc. “Para quem

aprecia as conquistas da modernidade, não é fácil entender a angústia que elas causam

nos fundamentalistas religiosos”, escreveu Karen Armstrong no livro Em Nome de Deus:

o Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo.

A partir de 2001, com ataques de 11 de setembro nos EUA, organizados pelo

grupo Al Qaeda, veio à tona, com toda força, a preocupação contra fundamentalistas e se

criou um mito frequente: o de que todo fundamentalista é muçulmano, e ambos são

terroristas. O que não é verdade. “Poucos grupos apelam para a violência”, diz o

antropólogo Richard Antoun, autor de Understanding Fundamentalism: Christian,

Islamic and Jewish Movements (“Entendendo o Fundamentalismo: Movimentos Cristãos,

Islâmicos e Judaicos”, inédito no Brasil).

Que fique bem claro! O fundamentalismo religioso está longe de ser exclusividade da

religião mulçumana. Os fundamentalistas religiosos são encontrados entre religiosos diversos

e pregam que os dogmas de seus livros sagrados sejam seguidos à risca. Kach Kahane

Chai, Neturei Karta e Satmar são exemplos, para que tenhamos uma ideia, de grupos

fundamentalistas judaicos, e não muçulmanos. Pró-vida de Anápolis, Christian Voice,

Universidade Bob Jones, por sua vez são exemplos de grupos fundamentalistas cristãos.

Assim como existem também vários grupos fundamentalistas (terroristas ou não) que são

muçulmanos. Muitos dos quais, muita gente nunca ouviu falar, tais como o Partido Frente

Islâmica de Salvação (que pretende, pela via política, fundar uma república islâmica

regida pelas leis do Alcorão na Argélia), o Al-Gama·a al-Islamiyya (que pretende,

pela guerra santa, fazer do Egito um Estado islâmico) e o Abu Sayyaf (grupo ligado à Al

Qaeda, que pretende criar um Estado islâmico nas Filipinas).

O TERRORISMO

O que pensamos quando se fala a palavra “terrorismo”? A maioria das pessoas

pensa logo em bombas explodindo em metrôs, aviões sendo sequestrados e ações

violentas de forma geral. Lembramos também do “11 de setembro”, das Torres Gêmeas

nos EUA e , ainda, das inúmeras pessoas inocentes que foram vítimas desse tipo de

ataque. Bem, todo mundo tem uma noção de senso comum do que é o terrorismo, mas

será que existe um termo adequado para definir terrorismo? Não existe na comunidade

internacional um consenso acerca da definição de terrorismo.

Page 2: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

Todavia, podemos considerar que o terrorismo (que pode ter caráter religioso ou

não) é a prática de ações violentas com o intuito de intimidar uma população ou coagir

um governo, ou mesmo uma organização internacional, a fazer ou deixar de fazer algum

ato. Na nova ordem internacional, o terrorismo internacional surge como uma grande

ameaça à estabilidade e à paz internacional. Nas últimas décadas, percebemos que ocorreu

uma grande expansão do terrorismo, o que está diretamente relacionado ao choque de

civilizações resultante da globalização.

Nesse novo contexto, em que as distâncias entre os povos se tornam cada vez mais

reduzidas, as relações entre as culturas ocidentais e orientais tem se tornado complicadas.

No campo religioso, os cristãos e judeus se opõem aos muçulmanos na medida em que

“profanam” valores que no entendimento dos últimos deveriam ser respeitados. A

consequência é o uso do terror como arma daqueles que se julgam injustiçados: os

muçulmanos (mas de maneira alguma devemos associar terrorismo a islamismo ou vice-

versa. O terrorismo não é praticado apenas por extremistas islâmicos, nem são todos os

muçulmanos que se envolvem em ações terroristas). No entanto, é verdade que o

extremismo islâmico tem estado bastante em evidência, principalmente após os atentados

de 2001 nos EUA.

O maior e mais conhecido atentado terrorista já ocorrido foi o de 11 de setembro

de 2001, que, inclusive, provocou profundas transformações nas relações internacionais

contemporâneas. Na oportunidade, dois aviões se chocaram contra as Torres Gêmeas do

World Trade Center, local considerado o símbolo do capitalismo. Além disso, um avião

se chocou contra o Pentágono, que simboliza a hegemonia militar norte-americana. Por

fim, um quarto avião – que provavelmente seria destinado ao Capitólio – caiu em um

campo na Pensilvânia.

A partir dos atentados de 11 de setembro, os EUA declararam uma verdadeira

guerra contra o terror. O primeiro alvo foi o Afeganistão, tendo em vista que esse país

deu abrigo à Al Qaeda, organização terrorista que na época era chefiada por Osama Bin

Laden (morto em maio de 2011) e responsável pelos atentados. O terrorismo se apresenta

sob diversas formas, não se restringindo à vertente religiosa. As suas motivações podem

ser também nacionalistas, separatistas ou mesmo o dinheiro. Independentemente da

ideologia, o terrorismo se caracteriza pela imprevisibilidade de suas ações e dificuldade

de identificação de seus agentes, que podem agir em qualquer parte do mundo.

ENTENDENDO MELHOR O QUE É AL QAEDA

A Al-Qaeda teve seu embrião na Maktab al-Khadamat (MAK), uma organização

formada por Mujahidin que lutavam para instalar um estado islâmico durante a Guerra

soviética no Afeganistão nos anos 1980. A organização foi inicialmente financiada

pela CIA. Osama bin Laden foi um dos fundadores da MAK, juntamente com o

militante palestino Abdullah Yusuf Azzam. O papel da MAK era angariar fundos de

tantas fontes quanto possível (incluindo doações de todo o Oriente Médio), para treinar

pessoas de todo o mundo para a guerra de guerrilha e para transportar os combatentes

para o Afeganistão. A MAK foi custeada em sua maioria com doações de milionários

islâmicos, mas também foi abertamente auxiliada pelos governos do Paquistão e Arábia

Saudita, e indiretamente pelos Estados Unidos, que direcionou grande parte de seu apoio

através do serviço de inteligência paquistanês ISI (sigla para Inter-Services Intelligence).

Durante a segunda metade dos anos 1980 a MAK era um grupamento relativamente

pequeno no Afeganistão, sem combatentes afiliados, apenas concentrando suas atividades

no levantamento de fundos, logística, habitação, educação, auxílio a refugiados,

recrutamento e financiamento de outros Mujahidin. Em 1988, Osama Bin Laden,

juntamente com alguns ex-integrantes do MAK, fundou a Al-Qaeda a qual são atribuídos

inúmeros atentados terroristas, inclusive o realizado em 11 de setembro de 2001 nos EUA.

Page 3: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

Osama Bin Laden foi, até maio de 2011, o grande líder da Al Qaeda que possui relações

próximas com o Talibã, movimento extremista que governou o Afeganistão entre 1996 e

2001. Em 2001, com a invasão norte-americana ao Afeganistão, o regime Talibã foi

retirado do poder. Essa organização tem aumentado sua influência ao redor do mundo,

utilizando-se, para tanto, do aumento da velocidade das comunicações e do advento da

Internet. A Al Qaeda tem como principal motivação o combate àqueles que são inimigos

do Islã. Depois de uma longa e cara guerra que durou nove anos, a União Soviética retirou

suas tropas do Afeganistão em 1989. O governo socialista afegão de Mohammed

Najibullah foi rapidamente destituído em favor de partidários dos Mujahidin. Com a falta

de acordo dos Mujahidin na escolha de uma estrutura governamental, sua anarquia sofreu

as consequências de constantes mudanças no controle de territórios problemáticos,

sucumbindo sob alianças insurgentes e discórdias entre líderes regionais.

GRUPO TERRORISTA “ESTADO ISLÂMICO”

Responsável por alguns dos piores atentados dos últimos anos, o grupo extremista

autodenominado Estado Islâmico tem suas origens no período imediatamente anterior à

intervenção americana que derrubou o regime de Saddam Hussein, em 2003.

Em 2002, um ano antes da invasão americana, chegou ao Iraque o insurgente

jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, que havia criado um grupo extremista nos anos

1990 chamado de “Organização do Monoteísmo e da Jihad” e estabelecido campos de

treinamento no Afeganistão, onde conheceu o fundador da Al-Qaeda, Osama bin Laden.

Em 2004, Zarqawi jurou fidelidade a Bin Laden e transformou seu grupo na Al-

Qaeda Iraquiana (claro, no Iraque!), responsável por vários atentados nos anos seguintes,

quando o Iraque estava mergulhado em violência sectária - com membros da minoria

sunita, retirada do poder após a queda de Saddam Hussein, insurgindo-se contra a

presença americana e o novo governo, liderado pela maioria xiita e apoiado pelos Estados

Unidos.

Zarqawi foi morto pelas forças americanas em 2006, e a Al-Qaeda no Iraque

mudou de nome, para Estado Islâmico do Iraque, que tem como características: Grupo

fundamentalista (radical, extremista), terrorista, islâmico (muçulmano), sunita, que

combate a influência da cultura ocidental e que planejara a criação e expansão de um

“califado” (comandado por um califa, onde todos devem seguir à risca a Lei Islâmica, a

chamada “Sharya”). O grupo é tão radical que, métodos empregados pelo Estado

Islâmico, que incluem decapitações e crucificações, são considerados extremos até por

grupos como a própria Al-Qaeda. O Estado Islâmico também é caracterizado por ser um

grupo jihadista.

Mas, de onde vem esse termo “jihadista”?

A palavra "jihad" é amplamente utilizada – muitas vezes de maneira imprecisa –

por políticos ocidentais e pela mídia.

Em árabe, a palavra significa "esforço" ou "luta". No islã, isso pode significar a

luta interna de um indivíduo contra instintos básicos, o esforço para construir uma boa

sociedade muçulmana ou uma guerra pela fé contra os infiéis.

O termo "jihadista" tem sido usado por acadêmicos ocidentais desde os anos 1990,

e mais frequentemente desde os ataques de 11 de setembro de 2001, como uma maneira

de distinguir entre os muçulmanos não violentos e os violentos (geralmente terroristas).

Muçulmanos têm, a rigor, o objetivo de reordenar o governo e a sociedade de

acordo com a lei islâmica, chamada de sharia.

Page 4: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

No entanto, jihadistas entendem que a luta violenta é necessária para erradicar

obstáculos para a restauração da lei de Deus na Terra e para defender a comunidade

muçulmana, conhecida como umma, contra infiéis e apóstatas (pessoas que deixaram a

religião).

Se a umma é ameaçada por um agressor, eles sustentam que a jihad não é só uma

obrigação coletiva (fard kifaya), mas também um dever individual (fard ayn), que deve

ser cumprido por todos os muçulmanos capazes, assim como as preces rituais e o jejum

durante o Ramadã.

O termo "jihadista" não é usado por muitos muçulmanos porque eles acreditam

que se trata de uma associação incorreta entre um conceito religioso nobre e a violência

ilegítima. Em vez disso, eles usam o termo "pervertidos", com a ideia de que muçulmanos

envolvidos em atos violentos se desviaram dos ensinamentos religiosos.

Os Jihadistas compartilham dos mesmos objetivos básicos de expandir o islã e

contrapor-se ao perigo que pode atingi-lo, mas suas prioridades podem variar. Dentre tais

objetivos (que podem ou não ser comuns entre os jihadistas) podemos citar:

▪ Mudar a organização política e social do Estado. Por exemplo, o Grupo Armado

Islâmico (GIA) e o antigo Grupo Salafista para Pregação e Combate (GSPC) lutaram

por uma década contra as forças de segurança da Argélia, com o objetivo de derrubar

o governo e criar um Estado islâmico.

▪ Estabelecer soberania em um território percebido como ocupado ou dominado por não

muçulmanos. O grupo baseado no Paquistão Lashkar-e-Taiba (Soldados da Pureza,

em tradução livre) se opõe ao controle da Caxemira pela Índia, enquanto o grupo

Emirado do Cáucaso quer criar um Estado islâmico nas "terras muçulmanas" da

Rússia.

▪ Defender a umma de ameaças externas não muçulmanas. Isso inclui jihadistas focados

em lutar contra o que eles chamam de "inimigo próximo" (al-adou al-qarib) em áreas

confinadas – como árabes que viajaram para a Bósnia e a Chechênia para defender

muçulmanos desses locais contra exércitos não muçulmanos – e "jihadistas globais"

que combatem o "inimigo distante" (al-adou al-baid), que na maioria dos casos é o

Ocidente. A maioria destes é afiliada à Al-Qaeda.

▪ Corrigir o comportamento moral de outros muçulmanos. Na Indonésia, justiceiros

deixaram de usar paus e pedras e passaram a atacar pessoas com armas e bombas em

nome da "moralidade" e contra "desvios".

▪ Intimidar e marginalizar outros grupos muçulmanos. O grupo Lashkar-e-Jhangvi

(Soldados de Jhangvi, em tradução livre) realizou durante décadas ataques violentos

contra os xiitas paquistaneses, que eles consideram hereges. O Iraque também sofre

com a violência sectária.

Os jihadistas dividem o mundo em "reino do islã" (dar al-Islam), terras sob a lei

muçulmana, e o "reino da guerra" (dar al-harb), terras que não seguem a lei muçulmana

e onde, em determinadas circunstâncias, a guerra em defesa da fé pode ser aprovada.

Líderes e governos muçulmanos que os jihadistas acreditam terem abandonado as

recomendações da sharia são considerados como estando fora do "reino do Islã", o que

os tornaria alvos legítimos de ataque.

Grupos jihadistas atingiam civis antes do crescimento da Al-Qaeda, mas isso

resultou em violência contra eles mesmos, em uma escala que até então não tinham

imaginado.

Em 1998, Osama Bin Laden e os líderes de quatro grupos jihadistas no Egito, no

Paquistão e em Bangladesh assinaram uma declaração de guerra total contra os Estados

Unidos e seus aliados, e pediram que tanto soldados quanto civis fossem alvejados. No

entanto, o profeta Maomé disse que exércitos muçulmanos deveriam fazer o possível para

evitar machucar crianças e outros não combatentes.

Page 5: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

A declaração assinada pelos grupos, no entanto, afirma que matar os não

combatentes é um ato de reciprocidade pela morte de civis muçulmanos. Após os

acontecimentos de 11 de setembro de 2011, Bin Laden tentou justificar o ataque a civis

dizendo que, como cidadãos de um Estado democrático que elegeu seus líderes, eles

também eram responsáveis pelas ações dos governantes.

Atingir civis muçulmanos em ataques tem se provado ainda mais polêmico. Em

2005, o então segundo em comando de Bin Laden, Ayman Al-Zawahiri, aconselhou o ex-

líder da Al-Qaeda no Iraque, Abu Musab Al-Zarqawi, contra a ideia de matar civis xiitas.

Al-Zawahiri afirmou que "isso não será aceito pelo povo muçulmano não importa o

quanto você tente explicar".

O uso de táticas semelhantes no Iraque e na Síria pelo grupo autodenominado

"Estado Islâmico" (anteriormente conhecido como Isis), que nasceu da Al-Qaeda no

Iraque, foi um dos motivos pelos quais Al-Zawahiri, já ocupando o lugar de Bin Laden,

renegou o grupo em fevereiro de 2014.

Em uma declaração em 1998, Osama Bin Laden acusou os Estados Unidos de

"ocupar as terras do islã no lugar mais sagrado de todos, a península Arábica, saqueando

suas riquezas, impondo-se a seus líderes, humilhando seus povos, aterrorizando seus

vizinhos e transformando suas bases na península na ponta de lança com a qual lutam

contra os povos muçulmanos na região".

Segundo Bin Laden, esses "crimes e pecados" configuravam uma "clara declaração de

guerra contra Alá, contra seu mensageiro e contra os muçulmanos".

Em 2013, dois anos após a morte de Bin Laden, Ayman Al-Zawahiri escreveu em

suas "diretrizes gerais para a jihad" que "o objetivo de atacar a América é exauri-la e fazê-

la sangrar até a morte, para que ela tenha o mesmo destino da ex-União Soviética e desabe

sobre seu próprio peso, como resultado de suas perdas militares, humanas e financeiras.

Consequentemente, seu controle sobre nossas terras enfraquecerá e seus aliados cairão

um após o outro".

Curiosidade:

Alguns estudiosos costumam diferenciar os jihadistas xiitas dos jihadistas sunitas.

Há grupos militantes de muçulmanos xiitas que são, por natureza jihadistas. No entanto,

eles são muito diferentes dos grupos sunitas. De acordo com a tradição xiita, os mujtahids

– estudiosos religiosos mais antigos – possuem a autoridade para declarar uma jihad

"defensiva". Mas somente o 12º imã (alto líder religioso) – que desapareceu há 1.100

anos, mas é considerado vivo pelos xiitas – poderia declarar uma jihad "ofensiva" quando

retornar. Durante séculos, a maioria dos sacerdotes xiitas defendia o não posicionamento

político, enquanto esperavam o retorno do imã. Mas essa perspectiva mudou nos anos

1960 e 1970, dando origem ao ativismo que culminou na revolução de 1979 no Irã e no

estabelecimento de uma República Islâmica no país.

Veremos mais adiante que recentemente, a natureza sectária do conflito na Síria

(Guerra Civil Síria, iniciada em 2011) fez com que grupos xiitas apoiados pelo Irã

ajudassem as forças leais ao presidente sírio Bashar Al-Assad, membro da minoria xiita

alauíta da Síria. Os grupos e seus milhares de lutadores "voluntários" – que saem do

Iraque, do Irã, do Líbano e do Iêmen – dizem seguir para a Síria para defender o santuário

xiita de Sayyida Zaineb, em Damasco.

O grupo libanês Hezbollah (do qual já falamos um pouco anteriormente) diz que

seus membros mortos na Síria são mártires que morreram "cumprindo deveres jihadistas".

Da mesma forma, o avanço do "Estado islâmico" no Iraque em 2014 (falaremos melhor

sobre isso já já) também teve a mobilização de milícias xiitas para defender locais

sagrados contra o grupo sunita

Page 6: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

Voltando a falar do Estado Islâmico:

Deu para perceber que, o surgimento do grupo Estado Islâmico tem muito a ver

com a invasão militar americana e ocupação do Iraque. Mas há sim quem discorde que o

Estado Islâmico tenha suas origens na intervenção americana. Por exemplo, para o diretor

do centro de Segurança Internacional e Defesa da organização de pesquisa e análise Rand

Corporation, Seth Jones, "as origens são muito mais antigas, remontam à década de 1990

(quando Zarqawi criou seu grupo extremista)", disse Jones certa vez à BBC Brasil. Jones

observa, porém, que o início da retirada das tropas americanas, em 2011, foi um dos

fatores que ajudaram a criar as condições para o ressurgimento do grupo com força, em

2014.

Os substitutos de Zarqawi também foram mortos pelas forças americanas e, em

2010, Abu Bakr al-Baghdadi assumiu o poder dentro do grupo. Seis anos antes, em

2004, Baghdadi havia passado alguns meses na prisão americana de Camp Bucca, no sul

do Iraque. Segundo analistas, a prisão, que chegou a abrigar mais de 25 mil detentos,

muitos deles transferidos de Abu Ghraib (complexo penitenciário situado em Abu Ghraib,

cidade iraquiana, 32 km a oeste de Bagdá, construída pelos britânicos quando o Iraque

ainda era uma colônia da Grã-Bretanha. Foi local de torturas em diferentes graus e em

diferentes momentos: à época da ocupação britânica, sob o governo de Saddam

Hussein e, mais recentemente, sob a ocupação da coalizão Estados Unidos da América-

Reino Unido, quando se tornou internacionalmente conhecida como lugar

de torturas contra prisioneiros iraquianos) após o escândalo de torturas e abuso de

prisioneiros, e transformou-se em local de radicalização e colaboração entre extremistas.

Assim como Baghdadi, vários outros integrantes da cúpula do Estado Islâmico

passaram por Camp Bucca. Dentro da prisão, ao contrário das ruas do Iraque, esses

extremistas tinham liberdade para fazer contatos e trocar ideias. Há evidências de que os

radicais aproveitaram o fato de estarem concentrados em um único lugar para se conectar

uns com os outros.

A partir de 2011, no início da guerra na Síria (que veremos mais adiante), o Estado

Islâmico do Iraque expandiu suas operações para aquele país, sob o nome de frente Al-

Nusra.

Ayman al-Zawahiri, que passou a comandar a Al-Qaeda central após a morte de

Bin Laden, declarou a Al-Nusra como braço sírio da Al-Qaeda, mas a decisão foi rejeitada

por Baghdadi.

Ignorando a oposição de Zawahiri, Baghdadi rompeu de vez com a Al-Qaeda, por

volta de 2013, e anunciou a união de suas forças no Iraque e na Síria, mudando o nome

do grupo para “al-Dawla al-Islamiya fil Iraq wa’al Sham”. Esse nome trouxe confusão

para a mídia ocidental. Alguns veículos o traduziram como “Estado Islâmico do Iraque

e da Síria” (ISIS, sigla em inglês), já outros veículos traduziram como “Estado Islâmico

do Iraque e do Levante” (sigla ISIL, em inglês). As duas siglas são usadas na imprensa

internacional.

Em 2014, alegando ser “o califa”, descendente de Maomé, Baghdadi decretou a

criação de um califado, um “Estado” governado conforme sua interpretação da lei

islâmica, autoproclamou-se califa e conclamou muçulmanos ao redor do mundo a jurar

fidelidade e migrar para o território controlado pelo grupo. O nome adotado passou a ser

apenas “Estado Islâmico”. O EI transformou Raqa, na Síria, na capital de seu califado,

e foi nessa cidade que surgiu um outro termo conhecido como Daesh.

Page 7: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

A história do termo Daesh foi contada pelo ativista árabe Iyad el-Baghdadi à

revista Época. Segundo ele, cidadãos de Raqa contrários aos terroristas cunharam o termo

Daesh, que nada mais é do que as iniciais em árabe do nome “al-Dawla al-Islamiya fil

Iraq wa’al Sham”. Porém, Daesh é também um trocadilho. Ele soa parecido com a palavra

"Dahes", que significa "aquele que semeia a discórdia". Ou seja, é uma forma dos

ativistas negarem a qualidade de "Estado" ao grupo e, ao mesmo tempo, insultar os

terroristas. Não por acaso, os terroristas odeiam o uso do termo Daesh. Eles até

ameaçaram cortar a língua de quem for pego se referindo ao Estado Islâmico com a

palavra Daesh.

Muitos governantes e políticos do mundo estão preferindo utilizar o termo Daesh,

pois se recusam a dar ao EI o status de “Estado”. Também significa uma forma de tentar

passar a ideia de que, atacar o EI não significa atacar um “Estado”, nem mesmo uma

religião, pois segundo eles, o EI não representa o verdadeiro islamismo.

Como dissemos agora a pouco, os métodos empregados pelo Estado Islâmico, que

incluem decapitações e crucificações, são considerados extremos até por outras

organizações extremistas, como a Al-Qaeda. Mesmo muçulmanos que não aderem à sua

ideologia são considerados infiéis e alvo de ataques.

O grupo conquistou território no Iraque e na Síria e atraiu combatentes do mundo

inteiro, muitos deles jovens ocidentais que decidiram se unir organização ou promover

atentados em seu nome em seus países de origem. O fato de controlarem uma grande fatia

de território ajudou muito (a atrair combatentes). Além disso, eles usam as redes sociais

de maneira muito eficaz para encorajar as pessoas a virem ao seu autoproclamado

califado.

UMA DAS PRINCIPAIS BASES IDEOLÓGICAS DO ESTADO ISLÂMICO

O wahabismo, criado há mais de 200 anos por uma dos primeiros governantes da

Arábia Saudita, é uma forma rígida e conservadora do islamismo e é, nos dias de hoje, a

religião oficial da Arábia Saudita. Alguns afirmam que é o "pai ideológico" do Estado

Islâmico. Para muitos, o wahabismo (uma corrente ideológica muito antiga no Islã)

sempre foi descrito como a mãe de todos os movimentos fundamentalistas. É

extremamente literal na forma como aborda o texto da revelação e tende a condenar outros

muçulmanos que não compartilham desta ideologia.

Page 8: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

A DESTRUIÇÃO DE PALMIRA

Palmira é uma cidade fundada durante o período Neolítico, na chamada “pré-

história” (é o novo!). A cidade, localizada num oásis, foi documentada pela primeira vez

no início do segundo milénio a.C. como um local de parada de caravanas que

atravessavam o deserto Sírio. Em 1980, o local que é considerado um grande sítio

arqueológico, foi classificado como Património Mundial pela UNESCO. Com a Guerra

Civil Síria (iniciada em 2011, e que falaremos mais adiante) Palmira sofreu muitas

pilhagens e foi bastante danificada pelos combatentes, tanto pelos soldados do exército

sírio como pelos rebeldes.

Pois bem, em maio 2015 o grupo Estado Islâmico (que é também iconoclasta)

tomou o controle da cidade de Palmira, na Síria, e deu início a uma intensa destruição do

patrimônio cultural e histórico da cidade, destruindo construções antigas como templos,

estátuas e monumentos. Teatros levantados à época do antigo Império Romano viraram

palcos de execuções pelo EI.

De onde vem o dinheiro que financias as ações do Estado Islâmico?

Em 2015 o grupo Estado Islâmico chegou a ser considerado a organização

jihadista mais rica do mundo. O grupo afirmou algumas vezes que “seu” território

controlado no Iraque e na Síria (o qual foi declarado um "califado") ocupava uma área

equivalente ao território do Reino Unido.

Mas de onde viria o dinheiro que abastece o "EI"? Quem financiaria esse

grupo extremista?

Doadores privados e instituições de caridade islâmicas no Oriente Médio ─

principalmente na Arábia Saudita e no Catar ─ foram as primeiras fontes de renda do

grupo extremista. Os “benfeitores” sunitas já doaram muito dinheiro ao "EI" para tirar o

presidente sírio, Bashar al-Assad (que é um alauíta), do poder.

Uma informação divulgada no site http://www.bbc.com, em novembro de 2015,

afirmava que o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos estimara que, em 2014 o

"EI" tenha ganhado milhões de dólares por semana, ou US$ 100 milhões (R$ 377

milhões) no total, da venda de petróleo e derivados a intermediários. O combustível seria

vendido à Turquia e ao Irã, ou ao próprio governo sírio. Mas ataques aéreos contra a

infraestrutura do grupo extremista, como refinarias, por exemplo, ameaçam essa fonte de

recursos.

Os sequestros promovidos pelo grupo geraram pelo menos US$ 20 milhões (R$

75 milhões) em recompensas pagas em 2014. Um desertor diz que o "EI" tem um

departamento inteiramente dedicado a realizar sequestros, conhecido como "Aparato de

Inteligência". Jornalistas estrangeiros são os principais alvos. O sequestro também serve

como uma ferramenta de propaganda valiosa para a organização.

Outra fonte de renda do "EI" é a extorsão praticada contra milhões de pessoas que

vivem em áreas sob seu controle total ou parcial, de acordo com o Departamento do

Tesouro americano. Os pagamentos são feitos por aqueles que atravessam o território ou

mantêm negócios ali, ou mesmo moradores, em troca de serviços ou "proteção" por parte

do grupo extremista. O "EI" também se financia por meio de assaltos a bancos, pilhagem

e venda de antiguidades, e roubos de colheitas ou gado.

Page 9: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

As minorias religiosas também são forçadas a pagar um imposto especial,

chamado de "jizya". O EI chegou certa vez a divulgar um comunicado em mesquitas da

cidade iraquiana de Mossul, no norte do país, em 2014, convocando os cristãos a se

converter ao islamismo, pagar a jizya ou enfrentar a morte. "Vocês têm três opções:

(aderir ao) islã, o contrato dhimma – que envolve o pagamento da jizya -, ou a espada",

dizia o comunicado.

O "Estado Islâmico" também obtém receita ao vender meninas e mulheres

sequestradas como escravas sexuais. Quando o grupo extremista tomou a cidade de

Sinjar, no norte do Iraque, a minoria religiosa yazidi disse que milhares de meninas e

mulheres foram aprisionadas e muitas usadas como escravas sexuais. Na ocasião, uma

mulher yazidi, Hannan, disse ter escapado do "EI". Em entrevista à BBC, ela afirmou ter

sido levada junto a outras 200 meninas e mulheres a um mercado de escravas sexuais,

onde combatentes do grupo extremista faziam lances por elas, numa espécie de leilão

informal.

A RETOMADA DE PALMIRA

No dia 02 de março de 2017, o governo sírio anunciou que conseguira retomar o

controle da cidade de Palmira das mãos do grupo terrorista Estado Islâmico (como vimos,

a cidade foi tomada pelo Estado Islâmico em maio de 2015). Vale ressaltar que tal

retomada por parte do governo sírio já havia acontecido em março de 2016, mas o grupo

EI conseguiu se impor novamente na cidade em dezembro de 2016.

Desta vez, março de 2017, a retomada teria acontecido com a ajuda da Rússia

(aliada do regime de Bashar Al Assad da Síria) e também do Iraque, que se juntaram às

forças leais ao presidente da Síria, Bashar Al Assad e, segundo afirmou dia 02 de março

de 2017 o governo sírio, expulsaram os terroristas da cidade. No entanto, um dos

problemas que o governo sírio vai enfrentar após a anunciada expulsão dos extremistas

vai ser desativar as inúmeras minas terrestres colocadas no território pelo EI.

ABU BAKR AL-BAGHDADI PODE TER SIDO MORTO

Em notícia extraída no dia 16 de junho de 2017, do site brasil.elpais.com, a

Rússia estaria investigando a provável morte do líder do Estado Islâmico (EI), Abu Bakr

AL-Baghdadi. Vale ressaltar que a morte desse cara, que possui raríssimas aparições

públicas, já foi anunciada outras tantas vezes!

Segundo a Rússia, ele poderia ter sido morto durante um bombardeio lançado por

aviões russos na cidade síria chamada Raqa na noite de 27 para 28 de maio de 2017, no

qual “morreram altos dirigentes do grupo terrorista EI e mais de 300 militantes”,

segundo afirmou um documento oficial do Ministério da Defesa russo divulgado no dia

16 de junho de 2017. O alvo deste bombardeio era um encontro de líderes do Estado Islâmico,

do qual Baghdadi estaria participando.

Quando foi no dia 11 de julho de 2017, a ONG Observatório Sírio de Direitos

Humanos, que acompanha a Guerra Civil na Síria (iniciada em 2011, e que veremos mais

adiante), afirmou que o líder supremo do Estado Islâmico estaria mesmo morto, de acordo com a

France Presse. As circunstâncias da morte não ficaram claras. Fontes do Observatório na cidade

síria de Deir AL-Zor disseram ter sido informadas por integrantes do Estado Islâmico sobre a

morte do líder, "mas eles não especificaram quando". O governo dos Estados Unidos, no entanto,

disse no dia 11 de julho não ter informações que confirmem a morte.

A confirmação da morte de Al-Baghdadi seria uma vitória importante para os que

combatem o terrorismo, mas como já dissemos o líder do EI foi dado como morto em

várias ocasiões.

Page 10: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

Já no dia 27 de outubro de 2019, o presidente dos Estados Unidos, Donald

Trump, afirmou, em pronunciamento na TV que Abu Bakr al-Baghdadi, morreu em uma

operação militar americana na região nordeste da Síria. O presidente anunciou a morte do

líder terrorista ao mesmo tempo em que os EUA retiram suas tropas da mesma região na

Síria, onde davam apoio às forças curdas que combatiam o Estado Islâmico. Em seu

pronunciamento, Trump afirmou que Baghdadi detonou um colete com explosivos - além

dele, morreram três filhos do líder jihadista. A explosão ocorreu após agentes especiais

americanos o encurralarem em um túnel sem saída na Província de Idlib, na Síria, um

território fortemente militarizado e controlado por múltiplas nações e forças. "Ele era um

homem doente e depravado e agora ele se foi", disse Trump. "Ele morreu como um

cachorro, como um covarde."

O GRUPO ESTADO ISLÂMICO ESTARIA PERDENDO FORÇA A

PARTIR DE 2016?

Ao longo de 2016, como resultado de campanha liderada pelos Estados Unidos, o

Estado Islâmico vem perdendo vastas áreas sob seu controle no Iraque e na Síria, além de

partes de territórios que controlava em países como Líbia, Egito, Nigéria e Afeganistão.

Segundo dados da Rand, no fim de 2014 cerca de 11 milhões de pessoas viviam em

território controlado pelo Estado Islâmico. Até o início de 2017, o grupo já havia perdido

73% desse contingente populacional e 57% do território que controlava.

Como acabamos de ver, no dia 02 de março de 2017, o governo sírio anunciou

que conseguira retomar o controle da cidade de Palmira das mãos do grupo terrorista

Estado Islâmico. Em 16 de junho de 2017, foi anunciada a possível morte de AL-

Baghdadi.

Já em 22 de junho de 2017, uma aliança curdo-árabe chamada de Forças

Democráticas Sírias (FDS), que é apoiada por uma coalizão liderada pelos Estados

Unidos, consegue encurralar o EI na cidade de Raqa, na Síria. Essa cidade (cuja população

é 20% composta por curdos) era uma espécie de “capital” do EI. Todas as estradas, por

onde os membros do EI poderiam sair da cidade foram bloqueadas. O problema é que,

nesse tipo de ação, inúmeros civis também ficam encurralados e acabam sendo utilizados

como “escudos humanos” pelos extremistas do EI.

O impacto mais recente veio em julho de 2017 , quando o grupo extremista perdeu

o controle de Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, que dominou por mais de três

anos. A cidade era o bastião e santuário do EI no Iraque, considerada a capital do EI no

Iraque e foi retomada por forças iraquianas com apoio de militantes curdos e da coalizão

internacional liderada pelos Estados Unidos. Foram cerca de nove meses de operação para

a retomada de Mossul.

Com a redução do território, diminuíram também as fontes de financiamento

(entre elas impostos cobrados das populações que vivem nas áreas controladas) e o

número de combatentes, o que gera dúvidas sobre o futuro da organização. A partir de

então, diversos fatores podem determinar o futuro do grupo. Um deles é se conseguirão

santuário em outros territórios.

Page 11: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

Segundo analistas, ao perder território o grupo EI deverá recorrer a estratégias de

guerrilha em vez de confrontar as forças iraquianas ou sírias diretamente no campo de

batalha. E, mesmo com a perda de território, o Estado Islâmico deverá continuar sim

inspirando e dirigindo indivíduos a cometer atentados em seu nome. Muitos acreditam

que, a perda de território poderá levar o Estado Islâmico a buscar vingança contra os

Estados Unidos e a Europa, por terem ajudado a derrotá-lo, fazendo com que o grupo

promova, ou inspire, novos atentados pelo mundo (mais adiante iremos falar de alguns

atentados, atribuídos ao EI, que aterrorizaram a Europa e o mundo a partir de 2015,

principalmente). Por fim, alguns analistas acreditam na decadência do grupo em longo

prazo que, no mínimo, poderá perder a “capacidade de inspirar”.

De olho na notícia!

FRENTE AL NURSA

A Frente Al-Nusra surgiu oficialmente em janeiro de 2012, dez meses após o início

da revolta CONTRA O DITADOR Bashar al-Assad na Síria, que veremos mais adiante. Em

abril de 2013, a Frente Al-Nusra jurou lealdade ao líder da Al-Qaeda Ayman al-Zawahiri. Em

novembro do mesmo ano, este último proclamou esta organização como a única filial da Al-

Qaeda na Síria. A grande diferença entre a Frente Al-Nusra e o Estado Islâmico é o fato de

que a primeira se aliou a grupos rebeldes que lutam contra as tropas de Assad (o que veremos

na guerra civil síria) e construiu um apoio popular, enquanto o EI combate qualquer um que

não se submeter as suas ordens. Com a Al-Qaeda na Península Arábica (Aqap) e a Al-Qaeda

no Magrebe (Aqmi), a Frente Al-Nusra é também um dos mais poderosos membros da rede e

que tem sido ofuscada nos últimos anos pelo avanço do EI.

No entanto, em uma gravação difundida no dia 28 de julho de 2016, o chefe da Frente

Al-Nusra, Abu Mohammad al-Jolani, durante uma aparição inédita, anunciou que seu grupo

estaria rompendo seus vínculos com a rede Al-Qaeda. "Agradecemos aos comandos da Al-

Qaeda por terem entendido a necessidade de romper nossos vínculos", indicou o chefe do

segundo principal grupo jihadista atuante na Síria, destacando que esta decisão "visa a

proteger a revolução síria". Ele também anunciou que seu grupo "já não operava sob o nome

de Frente Al-Nusra", referindo-se à "criação de uma nova entidade”, a Frente Fateh al-Sham

(Frente da Conquista do Levante).

Page 12: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

BOKO HARAM

O Boko Haram é um grupo radical islâmico, fundamentalista, extremista, jihadista,

que surgiu por volta de 2002, no Norte e Nordeste da Nigéria, fundado por Mohammed

Yusuf, em Maiduguri, com o nome de “Jama'atu Ahlis Sunna Lidda'awati wal-

Jihad”, que significa "pessoas comprometidas com a propagação dos ensinamentos

do Profeta e Jihad". No início, o grupo consistia em um complexo religioso, que

incluiu uma mesquita e uma escola islâmica na cidade de Maiduguri. Com o alto

custo da educação no país e a resistência ao ensino ocidental na região, muitas

famílias muçulmanas pobres de toda a Nigéria e de países vizinhos, matricularam

seus filhos na escola. O termo "Boko Haram" significa "educação ocidental é

proibida" em tradução livre. O apelido foi criado pelos moradores da região onde se

localiza a escola, que promove uma versão do Islã que torna proibido (haram) para

os muçulmanos participar de qualquer atividade política ou social relacionada com a

sociedade ocidental.

A escola passou a servir então como um centro de formação e de recrutamento

de jihadistas e atuar politicamente contra as autoridades do norte da Nigéria, com

ataques direcionados a unidades policiais, bloqueios de estradas, instalações

militares, instituições governamentais e prisões. O grupo recruta boa parte dos seus

membros por conscrição – os moradores das vilas são forçados a aderir em massa ao

grupo sob ameaça de serem assassinados. O Boko Haram também contrata criminosos

pagando-os por ataques, às vezes com uma parte das riquezas pilhadas. Os laços étnicos

são muito fortes na Nigéria. A maioria dos combatentes do Boko Haram são kanuri – a

etnia do atual líder do grupo, Abubuakar Shekau (Em julho de 2009, eclodiram confrontos

entre a polícia e os membros do Boko Haram no nordeste da Nigéria, região onde tem maior

atuação. Em uma grande operação, o Exército matou 700 pessoas e capturou Yusuf, que foi

executado. Abubakar Shekau, que era o braço direito do líder executado, assumiu então o

comando do Boko Haram). Isso sugere que ele goza de influência sobre líderes tradicionais

do nordeste do país.

A partir de 2009, o Boko Haram (que segundo alguns especialistas teria

membros treinados pela AQMI - Al-Qaeda no Magrebe Islâmico - no norte do Mali, e que

estaria presente no Níger, Chade e Camarões, países que serviriam de base para o grupo) parte

para uma estratégia militar focada na conquista de territórios com o objetivo de

instaurar um califado.

Estimativas de 2015 davam conta de que o grupo dominava uma área de cerca

de 25 mil km² onde vivem cerca de 1,5 milhão de nigerianos. A região Norte do país

onde se concentra a atuação do grupo é habitada em sua maioria por muçulmanos e

72% vivem na pobreza, enquanto o sul do país é de maioria cristã e registra 27% da

população vivendo na pobreza. Logo, podemos perceber que o fortalecimento de

grupos terroristas como o Boko Haram tem relação com as péssimas condições de vida,

e o “vácuo” deixado pelo próprio estado, enfrentadas por pessoas que acabam sendo

recrutadas por tais grupos. Também percebemos que ascensão de grupos militantes

islamistas resulta, dentre outros fatores, de um processo de insatisfação das populações

pobres em razão da degradação das condições de vida em países africanos e do Oriente

Médio, por exemplo, e que o fato de a pobreza induzir à rebelião pode nos mostrar uma

espécie de similaridade entre o grupo Boko Haram, e o Estado Islâmico. Quando o Estado

fracassa em produzir desenvolvimento, permite que organizações terroristas tenham mais

pessoas para recrutar.

Page 13: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

Entre os atos terroristas do Boko Haram está o ataque à sede da ONU que matou 23

pessoas em Abuja, capital da Nigéria, em agosto de 2011. As ações terroristas do Boko

Haram cruzaram a fronteira com os Camarões. Seu líder, Abubakar Shekau, ameaçou

o país vizinho em uma mensagem de vídeo, e já realizou alguns ataques ao país, o

que levou o então presidente camaronês a pedir ajuda internacional para combater o

grupo. Já o governo nigeriano é bastante criticado por não conseguir controlar o

avanço do grupo extremista. Mas, sem dúvida alguma, a ação mais lembrada

promovida pelo Boko Haram foi o sequestro das cerca de 200 estudantes (o grupo radical

raptou um total de 276 adolescentes) da cidade de Chibok em 14 de abril de 2014 dizendo

que iria tratá-las como escravas e casá-las, numa referência a uma antiga crença islâmica

de que as mulheres capturadas em conflito fazem parte do "espólio de guerra". O Boko

Haram exigiu a libertação na Nigéria de membros do grupo criminoso em troca da

colocação em liberdade das jovens estudantes. De 2014 até agora (2017) algumas dessas

jovens conseguiram fugir, outras foram libertadas. Durante seu longo cativeiro, muitas

das crianças foram casadas à força com seus captores e violadas ou abusadas

sexualmente, o que provocou que algumas tivessem bebês. Mesmo assim, existem

fundadas suspeitas de que algumas delas possam ter sido vendidas em redes de tráfico em

países vizinhos, como Chade e Camarões, ou inclusive usadas como terroristas suicidas

em algum atentado. O sequestro comoveu o mundo e uma intensa campanha de denúncia

iniciada pelos pais e familiares das crianças contou com o apoio nas redes sociais de

personalidades que fizeram fotos com o lema #BringBackOurGirls (Tragam Nossas

Meninas de Volta), como a então primeira dama norte-americana Michel Obama. No

entanto, tiveram de se passar mais de dois anos para que as primeiras 21 garotas fossem

libertadas, em outubro de 2016, graças a negociações entre a seita radical e o Governo,

também com o apoio da Cruz Vermelha. Já no dia 07 de maio de 2017 o grupo libertou

outras 82 garotas, como confirmou em um comunicado o presidente nigeriano,

Mahamadu Buhari. Outras 113 jovens seguem em paradeiro desconhecido. Além das

crianças de Chibok, centenas de pessoas, entre elas mulheres e crianças, seguem

sequestradas por esse grupo jihadista radical.

DE ONDE VEM O DINHEIRO PARA BANCAR AS AÇÕES DO BOKO

HARAM?

Quando o grupo invade cidades normalmente saqueia seus bancos. O Boko Haram

também é acusado de extorquir dinheiro de empresários, políticos e figuras do governo.

Eles os ameaçam de sequestro se não pagarem as quantias exigidas. O Boko Haram

também invadiu muitas delegacias de polícia e bases militares na Nigéria, obtendo assim

um bom arsenal – incluindo blindados de transporte de tropas, caminhonetes, lança-rojões

e fuzis de assalto. Além disso, o grupo mantém fortes laços com contrabandistas de

armamentos que operam na vasta região do Sahel (faixa de aproximadamente 600

quilômetros de largura e 5,5 mil quilômetros de extensão, que corta o norte da África,

logo abaixo do deserto do Saara e acima da savana do Sudão). Muitas dessas armas teriam

sido contrabandeadas da Líbia, onde arsenais foram saqueados durante a revolta que levou

à queda do coronel Muamar Khadafi em 2011, assunto que veremos mais adiante. Porém,

boa parte das bombas usadas pelos militantes islâmicos é improvisada, construídas com

materiais baratos e de acesso relativamente fácil. Seus especialistas em explosivos,

segundo analistas de segurança nigerianos, são universitários recém-formados que não

conseguiram empregos. Além disso, o grupo também saqueia fábricas de cimento e

pedreiras em busca de dinamite e artefatos explosivos.

Page 14: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

O Boko Haram é ligado ao “Estado Islâmico”?

Shekau, o líder do Boko Haram, se referiu ao líder do autodeclarado "Estado

Islâmico", Abu Bakr al-Baghdadi, em um vídeo no ano passado como "califa". Ele

também elogiou Ayman al-Zawahiri, liderança da rede extremista Al-Qaeda - que disputa

com o "Estado Islâmico" a lealdade dos jihadistas ao redor do mundo. Porém, Shekau não

jurou aliança a nenhum dos dois grupos

O Líbano vive um período de instabilidade política. No fim do ano passado (2019), o

primeiro-ministro Saad Al-Hariri renunciou. O país viveu um período com um vácuo de poder,

até que Hassan Diab assumiu e anunciou a formação de um novo governo em janeiro de 2020.

Page 15: O FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO

Vale lembrar que é no Líbano que fica a “Base” do “Hezbollah, uma

organização política e paramilitar fundamentalista islâmica xiita que é responsável

por práticas terroristas. Ressalte-se que menos de 1/3 da população do Líbano é xiita. O

Irã (de maioria xiita) é acusado de apoiar o Hezbollah, que é um grupo fortemente

armado. O Hezbollah tem tanto poder dentro do Líbano que, muitos o consideram um

“Estado” dentro do “Estado”. O Hezbollah é um dos motivos principais das desavenças

entre o Líbano e Israel, por exemplo.