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HAMELL, Gary. O futuro da Administração/ Gary Hamel, Bill Breen; tradução Thereza Ferreira Fonseca. Rio de Janeiro: Campus, 2007.
José Fernando Vasconcelos Santos*
Em seu livro, Gary Hamell fala sobre crenças herdadas, as quais impedem que as
empresas do século XXI superem novos desafios. Com uma análise, ele explica como
transformar sua empresa em uma inovadora em gestão. O livro reúne várias inovações na
gestão e procura detalhá-los e apresentá-los como a verdadeira vantagem competitiva das
empresas sendo mais importante que a inovação em produtos. A intenção é desafiar os
modelos de gestão para o século passado e apresentar novos paradigmas para a gestão
moderna das empresas.
O autor ressalta que esse é um livro para sonhadores e executores. É para qualquer
pessoa que se sente manipulada pela burocracia, que se preocupa com o fato de o Sistema
estar sufocando a inovação, que secretamente acredita que os obstáculos estão na alta
administração, que acha os funcionários bastante inteligentes, para se auto-administrar, que
sabe que a gestão, como ela é praticada atualmente. No primeiro capítulo são apresentadas
características que mostram que a tecnologia de gestão evoluiu nos últimos tempos. A
hierarquia ficou mais nivelada, mas não desapareceu, pois continua-se com a idéia de que a
estratégia deve ser determinada pelas organizações e que as decisões são tomadas pelas
pessoas que possuem os cargos e salários mais altos. Essa baixa evolução da gestão fez com
que esse modelo atingisse o topo de um penhasco próximo. A intenção não é desvalorizar as
conquistas desse modelo, pois se temos carros, televisão e celular, devemos isso a esse
modelo.
Ocorre que o preço que pagamos por esse modelo criou uma série de trade-offs
preocupantes que exigem um pensamento ousado e original. O maior preço pago foi que as
pessoas rebeldes e de espírito livre adaptem-se a condições e regras, mas isso fez com que
elas desperdiçassem quantidades imensas de imaginação e iniciativa. Esse é um dos trade-offs
de que o livro fala, pois trouxe disciplinas nas operações, mas coloca em risco a flexibilidade
da organização, em que a disciplina e a liberdade não sejam exclusivas. O desafio proposto é
aprender a coordenar os esforços das pessoas sem criar uma hierarquia opressiva de
administradores, mantendo o controle sobre os custos sem sufocar a imaginação humana e
construir organizações em que a disciplina e a liberdade não sejam mutuamente exclusivas.
Os autores definem o conceito de inovação na gestão como sendo qualquer coisa que altera as
formas organizacionais costumeiras e, como resultado, faz progredir as metas da organização,
mudando a forma que os gestores trabalham, e o faz de uma maneira que aprimora o
desempenho organizacional. A inovação na gestão e os processos de gestão de uma empresa
as fórmulas e rotinas que determinam como o trabalho de gestão é realizado diariamente.
Esses processos estabelecem protocolos padrão para tarefas comuns de gestão, avaliando um
funcionário ou analisando uma solicitação de orçamento. Propagando melhor a prática ao
transformar técnicas bem sucedidas em ferramentas.
Um dos atributos fundamentais para que uma empresa atinja o sucesso duradouro é a
inovação em gestão: novas maneiras de reunir talentos, distribuir recursos e formular
estratégias. Embora alguns avanços com relação à “tecnologia de gestão” já venham
ocorrendo desde o século passado, ainda falta, à maioria das empresas, um processo detalhado
e rigoroso desse conceito.
A inovação em gestão é apresentada como responsável pelos avanços importantes na
prática de gestão que provocam mudanças significativas na posição competitiva surgindo
vantagens duradouras para as empresas pioneiras. A inovação em gestão depende
fundamentalmente da cultura e do clima organizacional propício ao desenvolvimento das
pessoas. Um clima que gere motivação, ou seja, em encontrar o motivo para ação nas pessoas.
Como seres humanos, somos definidos pelas causas a que servimos e pelos problemas em que
lutamos para superar e pela paixão em solucionamos os problemas extraordinários que criam
o potencial de realizações extraordinárias. O objetivo é tornar a inovação uma
responsabilidade de todos. Para não ficarem apenas no sonho, os autores apresentam casos de
empresas que apresentam inovação na gestão. Entre elas, não poderia deixar de destacar o
Google.
O Google mudou profundamente os negócios de software, o crescimento vertiginoso
do Google já faz parte do folclore do Vale do Solício ao oferecê-los na Internet sob a forma
de serviços on-line, ao contrário da Microsoft, em conseqüência, o Google não enfrenta as
complexidades de desenvolvimento da Microsoft quando ela busca fazer um upgrade de um
componente importante de sua linha entrelaçada de produtos. Os fundadores do Google,
Sergei Brin e Larry Page, dão uma lição de humildade ao reconhecer que o sucesso inicial da
empresa deveu-se muito a um feliz acaso e que, ao invés de se enxergarem como as pessoas
mais inteligentes do mundo, o que mais importa é a descontinuidade e não a vantagem
competitiva de uma empresa em um único momento, mas sua vantagem evolucionária ao
longo do tempo.
Diante disso, a intenção é que a empresa evolua rapidamente quanto à própria Web e
que a única maneira de o Google manter sua liderança é inovar incansavelmente, entendendo
que a lucratividade de amanhã depende da evolução de hoje. O Google investiu pesado na
criação de uma rede de comunicação no trabalho que torne fácil para os funcionários trocarem
idéias, fazer pesquisas de opinião entre os colegas, recrutar voluntários e formar grupos de
mudança tudo isso exige muito mais que um bom sistema de e-mail. É a transparência interna
do Google e o feedback contínuo entre colegas e não um quadro enorme de gerentes de nível
médio, que mantém as iniciativas díspares da empresa no caminho certo. A única maneira de
administrar é aplicar o talento coletivo nas pequenas e grandes decisões e isso exige
franqueza, transparência e muita comunicação horizontal.
Em resumo, o livro lança uma série de desafios para aqueles que acreditam que
alguma coisa precisa ser feita para que os modelos de gestão evoluam, para que a criatividade
e a imaginação possam fluir com maior facilidade dentro das organizações, mas ressalta que
esse é um caminho sem volta, embora cheio de obstáculos para as organizações que desejam
sobreviver no ambiente de extrema competividade dos tempos atuais. A visão dos autores é a
construção de modelos de gestão que se assemelha ao modelo da Internet devido as suas
características de adaptabilidade, envolvimento e inovação onde todos têm o direito de opinar,
a capacidade conta mais do que cargos e credenciais, o comprometimento é voluntário, quase
tudo é descentralizado, as idéias competem em pé de igualdade e onde as decisões são
tomadas entre os usuários.
Esse é um livro para sonhadores e executores, na busca do futuro adequado para
construir oportunidades de gestão que realmente mereça, respeite e trate com carinho a
iniciativa, a criatividade e a paixão do ser humano, componentes esses que são sensíveis e
essenciais para o sucesso neste novo milênio. Fazendo com que construímos uma organização
que é totalmente humana, e está totalmente preparada para as extraordinárias oportunidades
que o futuro reserva.