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II Seminrio Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010
Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR
ISSN 2178-8200
O GNERO PANFLETO NO ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA NUMA
PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA
ALVES, Andresa Guedes kaminski (PG UNIOESTE)1 COSTA-HBES, Terezinha da Conceio (UNIOESTE)2
RESUMO: O ensino de lngua, geralmente, est relacionado com prticas que utiliza-se
de textos como pretexto para o ensino de gramtica. No entanto, os Parmetros Curriculares Nacionais PCNS (BRASIL, 1998) e as Diretrizes Curriculares Estaduais
do Paran DCE (PARAN, 2008), documentos oficiais que apresentam os parmetros e as diretrizes curriculares do ensino de Lngua Portuguesa, apontam para a concepo sociointeracionista da lngua. Dessa forma, como a lngua no expresso do
pensamento nem instrumento de comunicao, e sim elemento social de interao, seu ensino no deve se dar a partir de elementos abstratos, mas atravs de situaes
concretas de enunciaes. Nesse sentido, vemos nos gneros dos discursos uma possibilidade de ensino da lngua, levando em considerao sua dimenso social para desenvolver, nos alunos, habilidades e capacidades de uso da lngua oral ou escrita,
permitindo-lhes seu uso adequado da mesma, nas diversas esferas sociais, de acordo com o objetivo almejado. Para tanto, tecemos reflexes sobre a proposta
sociointeracionista bakthiniana que prope como objeto de ensino o gnero discursivo inserido em situaes concretas de uso. Abordaremos esta perspectiva para nortear a anlise de um texto sob a forma do gnero panfleto, adotando, para isso, levando em
conta o mtodo sociolgico para estudo da lngua, proposto por Bakhtin (2006), o qual considera, no gnero, o contedo temtico, a estrutura composicional e o estilo.
Respaldamo-nos, portanto, em aportes tericos da Lingustica da Enunciao, principalmente nos ensinamentos de BAKTHIN (2003, 2006).
PALAVRAS-CHAVE: Sociointeracionismo; Ensino de lnguas; Gnero Discursivo.
1 Introduo
recorrente os questionamentos acerca dos mais profcuos aportes terico-
metodolgicos que devem dar suporte prtica pedaggica dos profissionais da
educao que tm como trabalho o ensino da Lngua Portuguesa. Assim, questionamos:
1 Aluna regular do Programa de Ps-graduao stricto sensu em Letras nvel de Mestrado, rea de
concentrao em estudos da linguagem, da Universidade Estadual do Oeste do Paran UNIOESTE. 2 Profa. Dra. em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina e Profa. d o Programa de
Ps-graduao stricto sensu em Letras nvel de Mestrado, rea de concentrao em estudos da
linguagem, da Universidade Estadual do Oeste do Paran UNIOESTE.
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qual concepo de lngua(gem) e que objeto de ensino devem embasar os trabalhos de
desenvolvimentos das habilidades de linguagem dos alunos, na sala de aula, por parte
dos professores de Lngua materna, para que se tenha um resultado profcuo?
Os Parmetros Curriculares Nacionais PCN (BRASIL, 1998) e as Diretrizes
Curriculares Estaduais DCE (PARAN, 2008) apresentam uma concepo de
linguagem sociointeracionista, apontando para uma necessidade de compreender a
lngua como um objeto social de interao entre os indivduos inseridos num
determinado tempo e espao e levanta a questo da importncia de se trabalhar com os
gneros discursivos3 no ensino de lngua materna.
No entanto, pressupomos que, nem sempre os profissionais inseridos no
contexto de sala de aula tm o conhecimento terico necessrio para trabalhar de forma
proficiente com esta proposta, e por falta disso, alguns educadores, pelo fato de
trabalharem com um determinado gnero como pretexto para ensino da gramtica,
acreditam estarem dando conta do objetivo proposto pelos documentos oficiais.
Tendo em vista essa realidade, buscamos refletir sobre a importncia da
concepo sociointeracionista da linguagem como norteadora do ensino da Lngua
Portuguesa. Para isso, recorremos aos principais conceitos norteadores da proposta,
dentre eles, os de Bakhtin (2003, 2006), na tentativa de esclarecer o percurso que pode
ser trilhado no trabalho com os gneros discursivos, de acordo com o mtodo
sociolgico para estudo da lngua proposto por Bakhtin/Volochinov (2006).
O trabalho se justifica tendo em vista que os estudos de Bakhtin so realidade no
solo brasileiro desde a dcada de 1970, e que os aportes tericos que subjazem a
proposta nos permitem uma reflexo acerca da relao entre a estrutura da lngua e sua
relao com as condies histricas e sociais.
Para dar cabo proposta, utilizamos como metodologia, a pesquisa bibliogrfica.
Como referencial terico, recorremos aos aportes da Teoria da Enunciao, ancorando-
nos, principalmente, em Bakhtin (2003), Bakhtin/Volochinov (2006) para quem os
gneros discursivos so a materializao dos discursos.
3 Gostaramos de lembrar que o termo gnero do discurso ancorado nos pressup ostos
tericos de Bakhtin, e o termo gnero textual refere-se aos aportes tericos de Bronckart.
Sem desconsiderarmos o termo de Bronckart, usaremos neste trabalho, gnero do discurso por estarmos fundamentados pelos ensinamentos de Bakhtin.
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O trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma: na primeira parte
apresentamos os aportes tericos que do suporte pesquisa; a seguir, tecemos uma
breve abordagem das caractersticas do gnero panfleto; em seguida, faremos uma
anlise do gnero proposto, abordando os trs elementos constituintes do gnero:
contedo temtico, estrutura composicional e estilo, de acordo com a ordem
metodolgica (mtodo sociolgico) para o estudo da Lngua proposta por
Bakhtin/Volochinov (2006); por fim, refletimos sobre o ensino da Lngua tendo como
objeto o gnero discursivo.
2 - As Marcas do Sociointeracionismo e do Dialogismo nos PCN e DCE
Os documentos oficiais que do suporte prtica educacional propem que o
ensino da lngua considere a sua dimenso social e, para isso, propem o gnero como
objeto de ensino. Neste sentido, cabe a escola propiciar situaes diferenciadas de uso
da lngua que possibilitem o desenvolvimento de habilidades para seu uso competente,
seja de forma oral ou escrita, nos mbitos pragmtico, semntico e gramatical, sempre
em funo da interao no convvio social. Vemos no ensino com os gneros essa
possibilidade.
Alm dos PCN, as DCE tm uma concepo de linguagem que vai alm de
lngua como sistema abstrato de signos, e a considera como estratificada pelos valores
ideolgicos. De acordo com o documento no processo de interao social que a
palavra significa, o ato de fala de natureza social (PARAN, 2008, p.16)
Assim, no se justifica o ensino de lnguas focalizado apenas na gramtica
normativa ou em textos-pretextos para o ensino desta, ou ainda em textos sem que se
leve em conta o sujeito e o contexto de produo. H que se trabalhar com o texto
levando em conta suas condies de produo (quem produziu, pra quem, como, onde,
por qu, quando, para circular em que veculo, em qual suporte etc.), atribuir-lhe um
sentido e compreender a funo social da lngua, o que no implica desconsiderar a
gramtica, at porque ela essencial para compreenso das regras que normatizam a
lngua e organizam o texto.
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A lngua considerada dialgica porque no processo de interao os homens no
falam ou escrevem por falar/escrever, mas porque tm, nas palavras de Bakhtin (2006),
um querer dizer que se dirige a um interlocutor concreto, situado na histria e na
sociedade. O interlocutor, por sua vez, assume para com o enunciado uma atitude
responsiva ativa, imediata ou mais tardia. Assim, o sentido do discurso (texto) se
constri medida que os interlocutores vo constituindo-o, por meio do dilogo. Todo
texto e, portanto, o querer-dizer/escrever de um locutor/autor que, ao fazer uso da
lngua, carrega-a de significado(s). Cabe ao ouvinte/leitor assumir uma posio ativa
nesse dilogo, questionando, argumentando, esforando-se para compreender o outro,
seu interlocutor. Nesse caso, compreendemos que no existe um nico sentido para um
texto, mas existe a possibilidade de mais de uma interpretao
Desta feita h que se levar em conta que no trabalho com o texto deve-se ter um
olhar mais amplo, para o contexto de produo, ultrapassando o nvel lingustico.
Vemos na proposta de trabalho com os gneros discursivos esta possibilidade de
avano. Por isso, no prximo tpico falaremos um pouco dos gneros e seus trs
componentes: o contedo temtico, o estilo e a construo composicional
3 - Gneros do discurso: conceito e elementos constituintes
Conforme Bakhtin, um dos maiores equvocos no estudo da Lngua se d pelo
fato de desconsiderar o enunciado como unidade real da comunicao verbal
(BAKHTIN, 2006, p. 293 - grifos do autor), pois
O emprego da lngua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e nicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo de atividade humana. Esses enunciados refletem as condies especficas e as finalidades de cada referido campo no s por seu contedo (temtico) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleo dos recursos lexicais, fraseolgicos e gramaticais da lngua mas, acima de tudo, por sua construo composicional. Todos esses trs elementos o contedo temtico, o estilo, a construo composicional esto indisoluvelmente ligados no todo do enunciado e so igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicao. Evidentemente, cada
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enunciado particular individual, mas cada campo de utilizao da lngua elabora seus tipos relativamente estveis de enunciados, os quais denominamos gneros do discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 261-262 grifos do autor)
Sendo assim, a menor unidade da comunicao verbal o enunciado, traduzido
por Brait e Melo como unidade de comunicao, necessariamente contextualizado
(BRAIT; MELO, 2008, p. 63). Dessa forma, para que uma frase, ou at mesmo uma
palavra sejam enunciados, necessitam estar inseridas num contexto. Para nos
comunicarmos, utilizamo-nos, de acordo com as necessidades de interao, de tipos
relativamente estveis de enunciados(BAKTHIN, 2003, p. 262), ou seja, dos gneros
discursivos.
Os gneros refletem as intenes e as especificidades do grupo de pessoas que
exercem a mesma atividade (esferas sociais) e tm como funo atender s necessidades
oriundas das interaes entre os homens em suas mltiplas aes, todas elas envolvendo
impreterivelmente a lngua. Por isso, os gneros tm como caracterstica a plasticidade,
pois se transformam para se adaptarem situao e, consequentemente, evoluo da
lngua.
Existem diversas esferas de atividade humana (esferas sociais), organizadas com
propsitos especficos de interao: poltica, familiar, escolar, jornalstica, acadmica,
jurdica, literria, cientfica, publicitria etc. Cada uma elabora suas formas
convencionais de interao, representadas nos diferentes gneros do discurso. Cada
gnero reflete as caractersticas e as intenes discursivas da esfera que representa. Os
gneros produzidos na jornalstica, por exemplo, apresentam a linguagem objetiva,
direta, prpria dessa esfera; os da publicitria, por sua vez, apresentam as marcas da
persuaso, do convencimento; e assim ocorre com os demais gneros.
So muitas as esferas sociais, assim tambm como so em nmero quase infinito
a quantidade de gneros existentes. O que determina qual o gnero adequado a ser
utilizado a esfera em que o sujeito se encontra, a posio social que ocupa no grupo
em que est inserido, sua inteno comunicacional, o interlocutor, o contedo temtico
da mensagem, o suporte e o veculo de circulao do discurso. Essas condies
determinam o gnero mais adequado para cada situao.
Sendo assim, nossa proposta do ensino da Lngua Portuguesa, tendo como objeto
de estudo o gnero, provm de uma viso mais apurada dos ensinamentos de
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Bakthin/Voloschinov (2006), os quais propem uma ordem metodolgica para o estudo
da lngua, apontando trs elementos essenciais que devem ser considerados:
1. As formas e os tipos de interao verbal em ligao com as condies concretas em que se realiza. 2. As formas das distintas enunciaes, dos atos de fala isolados, em ligao estreita com a interao de que constituem os elementos, isto , as categorias de atos de fala na vida e na criao ideolgica que se prestam a uma determinao pela interao verbal. 3. A partir da, exame das formas da lngua na sua determinao pela interao verbal (BAKTHIN/VOLOCHINOV, 2006, p. 124)
Essa mesma proposta retomada, posteriormente, na publicao do livro
Esttica da Criao Verbal. Ao abordar diretamente os gneros do discurso, Bakhtin
destaca os trs elementos componentes do gneros: contedo temtico, construo
composicional e estilo (BAKHTIN, 2003, p.261). Segundo ele, isto se justifica porque
atravs desses elementos que so revelados as condies especficas e as finalidades
de cada uma das esferas nas quais so produzidos, refletindo a necessidade do tema, a
escolha dos itens lexicais, e a forma como os enunciados esto dispostos em funo do
gnero escolhido, o contexto de produo e seus interlocutures.
Dessa forma, para que um enunciado concreto se torne uma enunciao, ou seja,
se torne compreensvel e cumpra sua funo social, mister que se leve em conta a
afirmao: a situao social mais imediata e o meio social mais amplo determinam
completamente e, por assim dizer, a partir do seu prprio interior, a estrutura da
enunciao. (BAKTHIN, 2006, p. 115-116).
Assim, ao trabalharmos com a anlise/leitura de gneros, o primeiro passo
identificar seu contedo temtico que, conforme o autor, est relacionado no s com a
significao lingustica do que est escrito/dito, mas tambm e, principalmente, com a
localizao desta significao situada no tempo e na histria, levando em conta os
fatores scio-histrico-culturais, ideolgicos e identitrios que se manifestam nestes
discursos, ou seja, seu contexto de produo imediato e mais amplo. Portanto,
esclarecemos que o tema no se refere apenas ao assunto de que trata o texto, como
comumente confudido, mas como este assunto se materializa, como ele produz sentidos,
tendo em vista seu contexto de produo.
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O prximo passo a anlise da estrutura composicional. De acordo com os
ensinamentos de Bakhtin, podemos afirmar que so as formas de construo de um
texto que o faz pertencer a um gnero e no a outro, reconhecidos nos tipos mais ou
menos instveis de enunciados que o constitui.
Aps abordarmos o contedo temtico e a estrutura composicional do gnero,
devemos considerar o estilo prprio do sujeito, ou seja, as marcas individuais que o
produziu, pois essas marcas subjetivas fazem parte do discurso, e s vezes aparecem
de forma mais evidente, outras vezes de forma mais velada, como tambm pode no
aparecer, dependendo do gnero que se produz. Isso pode se dar porque, por ser de
carter social, a lngua reflete e refrata as relaes que a constitui. Explicando melhor,
todo enunciado individual porque provm de um sujeito que o profere, embora este
sujeito se constitua numa relao dialgica por meio da interao social. Conforme
aponta Bakthin: o enunciado oral e escrito, primrio e secundrio, em qualquer esfera
de comunicao verbal [...] pode refletir a individualidade de quem fala (ou
escreve)(BAKTHIN, 2003, p. 202).
Os elementos constituintes do gnero - contedo temtico, estrutura
composicional e estilo - esto indissoluvelmente ligados, e muitas vezes, torna-se
difcil analisar um sem mencionarmos o outro. Dito isto, passemos anlise de um
texto.
4 - Anlise do Gnero Discursivo Panfleto
No incio do trabalho defendemos o ensino de lnguas tendo como objeto os
gneros do discurso. Dessa forma, para melhor compreenso de como se pode trabalhar
com os gneros, faremos uma breve anlise da estrutura do enunciado, organizado na
forma de um panfleto, que foi utilizado em uma situao concreta de comunicao. No
entanto, queremos deixar bem claro que a anlise apenas uma pequena parte de um
processo bem mais complexo de trabalho com os gneros discursivos4.
4Para melhor compreenso de uma metodologia na ntegra, sugerimos uma consulta ao material produzido por
professores do ensino fundamental anos inicias que frequantam um grupo de estudos, ligado Linha de Pesquisa Linguagem: prticas lingusticas, culturais e de ensino, do Programa de Ps-graduao Stricto Sensu em Letras
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Conforme a ordem metodolgica sugerida por Bakthin, faremos a anlise de um
panfleto produzido para atender a uma necessidade da Secretaria Estadual de Sade de
So Paulo no combate a dengue. Portanto, um enunciado concreto pertencente esfera
social da sade, atrelado aos recursos da esfera publicitria.
Por que identificamos o texto em anlise como um panfleto? Alm do suporte
prprio para esse gnero (uma folha avulsa, preenchida, geralmente, de um lado apenas)
e de seu veculo de circulao ( entregue diretamente s pessoas ou deixado em
lugares acessveis, a fim de que possa circular livremente), organiza seu enunciado de
forma que possvel identific-lo atravs das seguintes caractersticas: direto e
objetivo; tem poucas informaes; o texto composto por poucas e pequenas frases ou
unidades discursivas; traz as marcas dos patrocinadores atravs de logotipos; colorido
(na maioria das vezes); utiliza-se da linguagem verbal e no verbal; o tamanho e o tipo
de papel atravs do qual veiculado correspondem ao modelo convencionalmente
institudo pela sociedade.
Vejamos o texto selecionado para este estudo:
Nvel de Mestrado, da Universidade Estadual do Oeste do Paran UNIOESTE. Trata-se dos Cadernos Pedaggicos 01, 02 e 03, intitulados: Sequncia Didtica: uma proposta para o ensino da Lngua Portuguesa nas sries iniciais (AMOP, 2007a; AMOP, 2007b; COSTA-HBES e BAUMGARTNER, 2009), organizado pela Profa. Dra. Terezinha da Conceio Costa Hbes e pela Profa. Dra. Carmen Teresinha Baumgrtner, coordenadoras do grupo de
estudos que deu origem ao material. Este material composto por sequncias didticas com diversos gneros dos
discursos, e apresenta uma metodologia de trabalho direcionado aos anos iniciais do ensino fundamental.
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O panfleto circulou por ocasio do aumento no ndice de bitos por dengue no
Estado de So Paulo. No incio de 2010, o municpio encontrava-se entre os oito
Estados que apresentavam nmeros recordes de bitos nos ltimos trs anos em
decorrncia da dengue. Segundo o site de combate a dengue:
Em 2010, So Paulo registrou 2.310 casos graves de dengue, o que inclui as mortes por febre hemorrgica e de DCC (dengue com complicao). Com as 120 mortes j confirmadas, o ndice de letalidade da doena chega a 5,19% dos casos graves, taxa cinco vezes maior que o considerado aceitvel pela OMS (Organizao Mundial da Sade)
5.
Segundo o site, o aumento da doena ocasionado por vrios fatores, entre eles:
problemas no atendimento aos pacientes que se apresentam aos servios de sade; o
diagnstico tardio e um tratamento inadequado, alm da automedicao ao invs da
procura por assistncia mdica to logo quanto possvel. Como a dengue uma doena
de evoluo rpida, a procura pelo atendimento mdico, a tempo, pode significar a vida
do paciente. Uma das sadas imediatas para diminuir o problema educar a populao e
capacitar os profissionais de sade.
Diante do exposto, o governo Estadual de So Paulo, em parceria com a
Empresa metropolitana de Transportes Urbanos - EMTU/SP - uma sociedade annima
de economia mista e de capital fechado controlada pelo Governo do Estado de So
Paulo; com a Agncia Reguladora de Servios Pblicos Delegados de Transportes do
Estado de So Paulo ARTESP; com o Departamento de Vigilncia Sade de So
Paulo COVISA, entre outras, fez circular um panfleto que tinha como tema a dengue.
O objetivo era conscientizar a populao sobre os cuidados ao contrair a doena para
evitar mais complicaes e possveis bitos por dengue.
4.1 - Contextualizando o panfleto: contedo temtico
5 ( disponvel em:
http://www.combateadengue.com.br/?p=857. Acessado em 05 de setembro de 2010)
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sabido que a dengue uma doena transmitida pelo mosquito Aedes aegypti,
de carter infecciosa, causada por quatro diferentes sorotipos de um mesmo vrus. O
tratamento da doena a hidratao do paciente. Os sintomas da doena so: febre
acima de 38, dores fortes no corpo e nos olhos, dor de cabea e desnimo. A doena
pode evoluir muito rpido, todavia, uma das solues imediatas para sanar o problema
a educao da populao. Sendo assim a Secretaria da Sade do Estado de So Paulo
mandou confeccionar um panfleto informativo, destinado a circular nos rgos
pblicos, em especial nas diversas unidades da Secretaria de Sade do Estado,
abordando os principais sintomas e os cuidados a serem tomados para evitar possveis
complicaes da doena, ou a morte de pacientes, em decorrncia da automedicao e
ou falta de atendimento em tempo hbil.
A escolha do gnero panfleto, neste caso, se justifica porque permite, atravs de
suas caractersticas mais ou menos estveis, ser reproduzido num grande nmeros de
exemplares para cumprir a funo social de informar, se no todo, pelo menos uma
grande parte do pblico alvo que corresponde populao do Estado de So Paulo,
cerca de 41.384.039 habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica - IBGE. E por conta de sua forma e tamanho, facilita o manuseio pela
populao e sua circulao nas diversas unidades que compem a esfera da sade. Alm
disso, outro fato que determina a escolha deste gnero a relao entre os interlocutores
que no d pra acontecer boca a boca, em virtude de o pblico alvo ser composto por
um grande nmero de pessoas, por isso, tambm, a parceria com os meios de transportes
pblicos nos quais o panfleto ir circular para fazer chegar a informao ao pblico
alvo.
4.2 - Estrutura composicional
Os autores do texto profissionais da empresa contratada para confeccionar o
panfleto (provavelmente da esfera publicitria) se basearam nas caractersticas
convencionalizadas socialmente por este gnero, j que a organizao de seu enunciado
se apresenta mais menos da mesma forma em outros textos. Escreveram tendo em vista
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o interlocutor (cidados da cidade de So Paulo), os propsitos comunicativos (informar
ao pblico sobre os sintomas da dengue); a situao imediata (momento marcado pelo
aumento dos casos da doena); a situao mais ampla (geralmente a doena se alastra
em determinada poca do ano). Alm disso, o gnero permite intercalar a linguagem
verbal e a no verbal, o que o torna mais atrativo e acessvel a diferentes interlocutores.
No panfleto em foco, constatamos como caracterstica comum ao gnero: o
enunciado direto; tem poucas informaes; as frases ou unidades discursivas so
pequenas; traz as marcas dos patrocinadores atravs de logotipos; colorido; utiliza-se
da linguagem verbal e no verbal; o tamanho e tipo de papel atravs do qual veiculado
corresponde ao modelo convencional.
4.3 - Estilo
Mesmo mantendo as caractersticas gerais de um panfleto, os autores exploram
estilo prprio como: o texto iniciado com uma frase exclamativa que tem um tom
argumentativo: PODE SER DENGUE!. Exploraram bastante as cores, predominando
o preto, o vermelho e o amarelo; utilizaram o recurso dos sinais de adio, na cor preta,
para d um efeito somatrio dos sintomas, os quais se apresentam em forma de
desenhos sinonmicos sobre fundo de cores distintas em tons de amarelo, verde, roxo e
vermelho, e representado abaixo de cada desenho a forma verbal do sintoma sob forma
de letras garrafais preta. Na sequncia da representao dos sintomas, os autores
utilizam o sinal de subtrao em cor vermelha e, logo frente, o desenho de uma pessoa
assoando o nariz sobre fundo vermelho, escrito abaixo, RESFRIADO, em letras
garrafais vermelhas. Logo depois, em cor preta, o sinal de igualdade seguido da frase
(unidade discursiva injuntiva): procure um mdico ou posto de sade. E como
caracterstico do gnero, os logotipos das empresas responsveis pela confeco e
publicao do panfleto que fazem parceria com a Secretaria Estadual da Sade de So
Paulo, entre eles: a CONVISA, EMTU/SP, ARTESP, Governo estadual, entre outros.
O enunciado composto com utilizao de cores, figuras, sinais de adio,
subtrao e igualdade para facilitar a compreenso do interlocutor. E a utilizao das
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cores (predominando a cor vermelha, preta e amarela), alm de chamar a ateno do
interlocutor por tornar o texto mais atrativo visualmente, sugere outra interpretao:
vermelho pode estar relacionado com o perigo da doena; preto pode referir-se ao luto,
morte, pois uma vez no tratada devidamente, a dengue pode levar a pessoa bito; e,
finalmente, amarelo que sinal de alerta populao.
A estratgia de utilizar os sinais matemticos, provalvemente, se justifica pela
inteno de enfatizar, que a dengue apresenta todos os sintomas mencionados, menos
(-) o resfriado. Talvez estes recursos possam sinalizar para um pblico menos
esclarecido, mas que possuem contato com as operaes bsicas do dia a dia comum a
todos os cidados. Isso facilita a constituio do sentido pretendido pelos autores. Ou
seja, o sentido no nico, mas direcionado pelos locutores do texto.
5 - Consideraes Finais
Neste trabalho buscamos apontar alguns conceitos bsicos que devem ser
dominados para o trabalho com os gneros, bem como realizamos a anlise de um
enunciado materializado no gnero discursivo panfleto, de acordo com a ordem
metodolgica de estudo da lngua, conforme com a proposta de Bakhtin (2006),
atentando para os trs elementos constituintes do Gnero: contedo temtico, estrutura
composicional e estilo composicional.
Com isto pudemos perceber que o aprendizado da lngua no se d apenas com o
ensino de gramticas e suas partes, mas atravs dos enunciados concretos, ou seja,
todas as formas verbais e no verbais de interao, nas quais se materializam intenes
reais de comunicao de determinados grupos, ou conforme Bakhtin, esferas sociais,
que o ensino de lngua se justifica, levando em conta os interlocutores e o papel social
que representam, a inteno comunicacional, o veculo, o suporte de circulao e o
contexto social de produo. Assim os alunos podem compreender o porqu de estudar
lngua portuguesa e atentar para importncia de dominar as formas como se
materializam os discursos na lngua: os gneros dos discursos e sua funcionalidade na
sociedade.
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Referncias bibliogrficas
AMOP. Associao dos Municpios do Oeste do Paran. Sequncia didtica: uma
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AMOP - Associao dos Municpios do Oeste do Paran. Departamento de Educao.
Sequncia didtica: uma proposta para o ensino da lngua portuguesa nas sries iniciais. Organizao: Terezinha da Conceio Costa- Hbes. Cascavel: Assoeste, 2007b.(Caderno pedaggico 01)
BAKHTIN, M. Os gneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Esttica da criao verbal.
Traduo de Paulo Bezerra. So Paulo: Martins Fontes, 2003. ______; VOLOCHNOV, F. Marxismo e filosofia da linguagem. Traduo de Michel
Lahud & Yara Frateschi Vieira. 16. ed. So Paulo: Hucitec, 2006.
BRASIL, MEC. Parmetros Curriculares Nacionais: Lngua Portuguesa. Ministrio da Educao e do Desporto, Secretaria de Educao Fundamental, Braslia, 1998.
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