18
ISEPE - Instituto Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão. Homicídio Privilegiado Figuras típicas e matéria relacionada. Trabalho realizado pelos acadêmicos do Curso de Direito do 4º período de 2010/1, do ISEPE- Guaratuba, para obtenção de nota complementar à primeira nota do semestre letivo, na disciplina de Direito Penal III, ministrada pelo Prof.º Noel. Guaratuba, abril, 2010. Direito 4º Período. 2010/1 Bruna Pizani Carine Rodrigues João G. de A. Santos Lorena Santos Vanessa Andrade Rúbia Ferch GUARATUBA 2010

O Homícidio Privilegiado no Sistema Penal Brasileiro - ISEPE 2010

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Análise acadêmica acerca da legalidade do privilégio no crime de homicídio. Aspectos doutrinais, jurisprudenciais e uma análise sob a ótica acadêmica. João Guilherme de Albuquerque Santos.

Citation preview

ISEPE - Instituto Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Homicídio Privilegiado

Figuras típicas e matéria relacionada.

Trabalho realizado pelos acadêmicos do Curso de

Direito do 4º período de 2010/1, do ISEPE-

Guaratuba, para obtenção de nota complementar à

primeira nota do semestre letivo, na disciplina de

Direito Penal III, ministrada pelo Prof.º Noel.

Guaratuba, abril, 2010.

Direito – 4º Período. 2010/1

Bruna Pizani

Carine Rodrigues

João G. de A. Santos

Lorena Santos

Vanessa Andrade

Rúbia Ferch

GUARATUBA

2010

2

3

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4

1. HOMICÍDIO: ......................................................................................................... 5

2. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO: .................................................................................... 6

Figuras Típicas: ..................................................................................................... 6

Motivo de relevante valor social e/ou moral: .......................................................... 7

Violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima: .................................... 9

Emoção Violenta: ................................................................................................. 10

Injusta provocação da vítima: .............................................................................. 11

A DIMINUIÇÃO DA PENA NO ART. 121, § 1º, É FACULDADE OU OBRIGAÇÃO DO

JUIZ? ................................................................................................................ 12

CONCLUSÃO .................................................................................................... 16

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 17

4

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo primário a abordagem sob o enfoque

acadêmico do tema “Homicídio Privilegiado”.

Ao confeccionarmos o material que segue, definimos algumas prioridades,

que serão explanadas. Para início de compreensão, analisamos o conceito geral sobre

Homicídio, e então seguimos para os fatores que o tornam Privilegiado.

Lançamos mão de alguns recursos para pesquisa, sobretudo, a internet, para

localização de Jurisprudências relacionadas ao tema. No que tange à abordagem

doutrinal, obras clássicas de autores renomados no âmbito do Direito Penal nos

nortearam. Podemos mencionar a influência direta de Damásio de Jesus, Nelson

Hungria e Celso Delmanto, com seu Código Penal Comentado. As referências estão

devidamente relacionadas, para ratificação de nossas informações.

O objetivo desta obra acadêmica é estabelecer os padrões que regem o

Homicídio Privilegiado, uma das ramificações de aplicação que se embasa no artigo

121 do Código Penal Brasileiro. Nossa intenção é clarear as diferenças entre o

Homicídio Privilegiado e o Homicídio Simples com atenuantes. Fazemos uma

abordagem das atenuantes genéricas, e como identificá-las.

Ao definirmos a linha que seguiríamos, entendemos que o molde que iríamos

empregar seria, e de fato é, a análise técnica do tema definido em aula. Pontos de

vista serão explanados de forma pessoal, em debate, ao apresentarmos em classe.

Todos os membros desta equipe participaram da confecção do trabalho, e

estão cientes e de pleno acordo com seu conteúdo.

Passemos à apreciação.

5

1. Homicídio:

O termo “Homicídio”, como entrada no Dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa, é “Ação de matar um ser humano.”(...).

O Código Penal Brasileiro traz a ocorrência de Homicídio em seu artigo 121,

em que verte:

Homicídio simples1

Art 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Do latim, a palavra homicídio é grafada por "hominis excidium", que consiste

no ato de uma pessoa matar outra.2

O homicídio está inserido no capítulo relativo aos crimes contra a vida do

Código Penal, sendo o primeiro delito por ele tipificado.

Nelson Hungria3, já falecido, cita a definição de Carmignani, que caracteriza

homicídio pela violenta hominis caedes ab hominis injuste patrata, que em português

significa ocisão violenta de um homem injustamente praticada por outro homem.

O Código Penal Brasileiro, a partir daqui grafado como CP, faz a divisão de

tipos, da seguinte forma:

Homicídio simples - art. 121, caput;

Privilegiado - §1°;

Qualificado - §2°;

Culposo Simples - §3°, e;

Culposo Qualificado - §4°.

O último parágrafo do artigo (§5°) diz respeito ao perdão judicial, aplicável ao

homicídio culposo.

1 (Penal 1940)

2 (Wikipedia 2010)

3 (Hungria 1942)

6

O termo em foco é amplamente usado no meio jurídico, visto ser o termo

técnico correto a ser empregado. No entanto, um sinônimo que pode muito bem fazer

às vezes do termo técnico é “Assassinato”. Esta expressão é popularmente mais

usada, tratando o réu como Assassino, e não tanto como Homicida, embora sejam

sinônimos diretos.

Porém, vale mencionar que este termo retro relacionado é mais empregado

quando se refere ao Homicida Doloso, onde há a clara intenção de matar. O termo

técnico, de acordo com o entendimento dos alunos que assinam esta obra, é

empregado com maior freqüência quando relacionado à culpa, ou ainda, ao tipo

privilegiado.

Após esta breve explanação acerca do homicídio, passemos então à análise

do tema central, enfim, Homicídio Privilegiado.

2. Homicídio Privilegiado:

Para compreendermos o princípio envolvido no tópico, é fundamental a

compreensão do que envolve as penas para homicídio. Em breves linhas, discorremos

que as penas para Homicídio variam de 6 a 20 anos, incondicionais.

Quando falamos em Privilegiado, o termo relaciona-se diretamente ao tempo

da pena, que para este tipo, é reduzido.

Figuras Típicas:

Para valer esta vertente, o agente precisa enquadrar-se em algumas figuras

que configuram o tipo. Alistamos abaixo as 3 (três) figuras típicas:

1) matar alguém impelido por motivo de relevante valor social;

2) matar alguém impelido por motivo de relevante valor moral;

3) matar alguém sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta provocação

da vítima.

O fato de o sujeito cometer o delito impelido por pelo menos alguma das figuras

típicas acima, faz com que o juiz possa reduzir a pena de um sexto a um terço.

7

Embora a Lei diga que é apenas uma possibilidade, tem prevalecido a tese da

obrigatoriedade da redução da pena, em virtude da aplicação dos princípios gerais de

Direito Penal, que compelem ao intérprete da Lei a fazê-lo da forma mais favorável

ao Réu.

Para Damásio Evangelista de Jesus, “(...) No tipo, não temos elementos ou

elementares, mas circunstâncias legais especiais ou específicas. (...).” 4

Motivo de relevante valor social e/ou moral:

Os motivos de relevante valor social e moral estão previstos no art.65, III, a,

do CP como circunstâncias atenuantes. Aqui, o legislador transformou tais

circunstâncias em causas de diminuição de pena. Quando isso ocorre, não incidem as

atenuantes genéricas. De outra maneira, o homicida seria beneficiado duas vezes em

face do mesmo motivo. Bis in idem.

Para alguns, o CP é redundante ao falar em motivo social ou moral, uma vez

que, segundo eles, um abrange o outro. Na verdade, as duas expressões evitam

interpretação duvidosa.

Motivo de relevante valor social ocorre quando a causa do delito diz respeito

a um interesse coletivo. A movimentação, então, é ditada em face de um interesse que

diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade. Ex.: o sujeito mata o traidor da

pátria.

Aqui temos um elemento que merece uma reflexão. A aplicação do

entendimento de relevante valor social ou moral só pode existir em uma sociedade

com valores sociais e morais concretos, sem exageros ou extravagâncias. Precisa ter

um fator objetivo. Caso não seja valorado, podemos dar brechas para fanatismo, uma

vez que uma crença arraigada em alguém pode ter sim, para o agente, relevante valor

moral, como matar alguém que não respeite sua entidade superior, de acordo com sua

crença.

Quando vemos essa porta aberta, o entendimento é que torna o ato em um

grau de menor ilicitude, embora não seja um excludente de ilicitude. Porém, esse

menor grau de ilicitude não basta para fundamentar o privilégio, funcionando como

4 (Jesus 1999)

8

mero indício da diminuição sensível da culpa. Também se exige que o agente esteja

dominado pelos motivos em causa, para que eles revistam a personalidade do agente,

fazendo-o crer na necessidade de cometer o homicídio. Quando temos esta situação,

torna-se claro que o seu discernimento foi afetado e por isso, sua capacidade de

determinar o que é aceito em nossa sociedade está seriamente agredido, quase que

inoperante.

O motivo de relevante valor moral diz respeito a um interesse particular. Ex.: o

sujeito mata o estuprador de sua filha.

Mas e o que dizer se, por exemplo, o sujeito simplesmente “achar” que a

futura vítima de relevante valor moral é o estuprador, simplesmente porque alguém lhe

disse, mas que na realidade não é o agente delituoso? Tal pergunta tem o perfil do

ilustre Professor Dr. Noel, em suas aulas de Direito Penal. Como responder a esta

questão levantada? Usamos aqui, novamente, o mestre Damásio, que nos ensina que

“(...) Se o sujeito, levado a erro por circunstâncias de fato, supõe a existência do

motivo (que, na verdade, inexiste), aplica-se a teoria do erro de tipo (CP, art. 20), não

se afastando a redução da pena (...)” 5

Abaixo relacionamos uma recente notícia, onde se verifica claramente a

aplicação do privilégio sobre o homicida:

Júri condena acusado de homicídio privilegiado ocorrido na Capital

A Vara do Tribunal do Júri da Comarca da Capital, em sessão realizada nesta

quinta-feira (18/03), condenou Cristiano Souza de Lima, vulgo "Tiano" ou "Zoinho", à

pena de 5 anos e 10 meses de reclusão, em regime inicialmente semiaberto, pelo

homicídio privilegiado praticado contra Gilberto Carvalho Nunes, vulgo "Betinho".

Para os jurados, o crime foi praticado por motivo de relevante valor moral. (GN)

Segundo os autos, no dia 29 de maio de 2008, o réu foi avisado de que a vítima

estaria caminhando pelas dunas situadas a 200m da Servidão Dois Irmãos, no bairro

dos Ingleses, na Capital. Cristiano se dirigiu ao local para vingar a morte de seu

irmão Luiz de Souza Lima, ocorrida dias antes, ao que tudo indica, provocada pela

vítima. (GN) Lá chegando, ao deparar-se com Gilberto, desferiu-lhe inúmeros

disparos, causando-lhe a morte.

O júri foi presidido pelo juiz de direito Luiz Cesar Schweitzer e contou com a

participação do promotor de justiça Alceu Rocha e do advogado Alexandre José

Biem Neuber, na defesa do réu (Autos n.º 023.08.043253-3). 6

5 (Jesus 1999)

6 (Judiciário 2010)

9

Violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima:

A última figura típica privilegiada descreve o homicídio cometido pelo sujeito

sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido.

Não se confunde com a atenuante genérica do art. 65, III, c, parte final, do

CP: no homicídio privilegiado, o agente se encontra sob o domínio de violenta emoção

e há de realizar a conduta logo após a provocação da vítima; na atenuante genérica,

ele se acha sob a influência da emoção, não exigindo o requisito temporal.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 121, §

2º, IV, DOCP. JÚRI. QUESITOS. HOMICÍDIO PRIVILEGIADO.

ATENUANTE. CONTRADIÇÃO. INOCORRÊNCIA.

I - Não há que se ter como contraditória a decisão dos jurados que não

vislumbra a ocorrência do homicídio privilegiado e, de outro lado,

reconhece a incidência da atenuante prevista no art. 65, III, a, do Código

Penal (Precedente).

II - O privilégio contido no parágrafo 1º, do art. 121, do CP, não se

confunde com a atenuante génerica do art. 65, III, a, do mesmo diploma

legal. Writ denegado.7

Apenas para traçarmos um conceito padrão para esta análise, como

acadêmicos, entendemos que emoção é um estado súbito e passageiro de

instabilidade psíquica.

Para o Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, “(...) é perturbação transitória da

afetividade.(...)”

Abrange a paixão, que constitui um estado emocional intenso e permanente.

Para configurar o violento estado de emoção, alistamos 3 (três) requisitos

para a figura típica:

1. Emoção violenta;

2. Injusta provocação da vítima; e

3. Sucessão imediata entre a provocação e a reação.

7 (Jurisprudência/STJ 2005)

10

Estas situações são colocadas para definir que, com base no grau de

emoção e a necessidade emocional de agir para solucionar o conflito, em sua

concepção. Entende que a emoção é a causa do crime (“foi levado a matar”).

Emoção Violenta:

Entende-se como um estado psicológico que não corresponde ao normal do

agente, encontrando-se afetadas a sua vontade, a sua inteligência e diminuídas as

suas resistências éticas, a sua capacidade para se conformar com a norma.

Chegamos à conclusão que o agente perde o controle, e como aprendemos na

psicologia, deixa de agir com o seu superego, e o ego, suprimido, dá total vazão ao

seu idi.

“A compreensível emoção violenta é um forte estado de afeto emocional

provocado por uma situação pela qual o agente não pode ser considerado e à qual

também o homem normalmente “fiel ao direito” não deixaria de ser sensível. O

requisito da “compreensibilidade” da emoção representa por isso ainda uma exigência

adicional relativamente ao puro critério de menor exigibilidade subjacente a todo o

preceito".8 (Jurídico 2010)

Um sentimento que é comumente colocado como gerador de conflitos é a

compaixão. Tanto em autêntica situação como a de alguém próximo a ele. Neste caso,

houve um conflito interno prévio, e a decisão homicida só surge ao fim de uma longa e

desgastante luta interior que acaba por se tornar insuportável. A prática jurídica

entende que o agente, movido por compaixão, merece ser protegido. Porém, mantêm-

se o princípio de que é necessário que o motivo exerça uma forte pressão sobre o

agente de forma a alterar a sua capacidade de determinação, afetando sua vontade e

diminuindo sua capacidade.

Alguns juristas defendem que o desespero seja enquadrado como violenta

emoção. Embora muito próximo da emoção violenta, entendemos como acadêmicos,

que há algumas diferenças. Cremos nisso porque para chegar a um grau de

desespero, a situação vem se arrastando na corrente do tempo, fruto de pequenos

conflitos mal solucionados. Logo, o agente, por negligência, deixa-se entrar numa

8 (Jurídico 2010)

11

situação sem saída, perdendo a esperança, para que desta forma, entre em um

estado de violenta emoção.

A lei, mais uma vez, não exige apenas que o agente esteja desesperado, mas

que tal desespero diminua sensivelmente a sua culpa.

Injusta provocação da vítima:

É necessário que a vítima somente tenha provocado o sujeito ativo. Se a

provocação tomar ares de agressão, não caracteriza Homicídio Privilegiado, mas sim

legítima defesa, que exclui a antijuridicidade do fato do homicídio, pelo que o sujeito

não responde pelo crime. O CP exige imediatidade entre a provocação injusta e a

conduta do sujeito. De acordo com a figura típica, é indispensável que o fato seja

cometido "logo em seguida" a injusta provocação do ofendido. A expressão significa

quase imediatidade: é indispensável que o fato seja cometido momentos após a

provocação. Um homicídio cometido horas ou dias depois da provocação injusta não é

privilegiado. Na realidade, pode até mesmo ser caracterizado como premeditado.

A errônea suposição de ter sido o sujeito provocado injustamente aproveita,

aplicando-se os princípios atinentes à legítima defesa putativa (CP,art. 20, § 1º)9.

Não é necessário que o homicida seja o provocado. Assim, a provocação

pode ser contra um terceiro e até contra um animal. Consiste a provocação em

qualquer conduta injusta capaz de provocar a violenta emoção.

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICIDIO AO MESMO TEMPO PRIVILEGIADO E QUALIFICADO. COMPATIBILIDADE DAS DUAS MODALIDADES:

A) ''O REU COMETEU O CRIME SOB O DOMINIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, LOGO EM SEGUIDA A INJUSTA PROVOCAÇÃO DA VITIMA'' (CP, ART. 121, PARAGRAFO 1), B) ''O CRIME FOI PRATICADO DE MANEIRA A TORNAR DIFICIL OU IMPOSSIVEL A REAÇÃO DA VITIMA'' (CP, ART. 121, PARAGRAFO 2., IV). IRRELEVANCIA DA ORDEM DE COLOCAÇÃO DOS RESPECTIVOS QUESITOS, PARA SEREM RESPONDIDOS PELO CONSELHO DE SENTENÇA. NEGATIVA DE VIGENCIA AOS ARTS. 121, PARAGRAFOS 1., E 2., IV, DO CODIGO PENAL E 564, III, ''K'' E PARAGRAFO UNICO, DO CODIGO DE PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

10

9 (Penal, Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.)

10 (Jurisprudência/STJ 1991)

12

Não será privilegiado, portanto, o homicídio decorrente de ódio antigo, ou

que venha a ser cometido tempos depois da agressão da vítima, pois isto retira a

suposição de que o agente estava com suas faculdades mentais diminuídas em

decorrência de violenta emoção.11 (Wikipedia 2010)

A diminuição da pena no art. 121, § 1º, é faculdade ou obrigação do

juiz?

Para traçarmos um conceito acerca dos dispostos acima, como acadêmicos,

não temos know-how sobre o tema. Nosso potencial de definição e formação de

opinião ainda é restrito aos bancos escolares.

Primariamente, elencamos um documento abaixo, onde se verifica uma

discussão sobre o poder discricionário do magistrado:

CRIMINAL. HC. NULIDADE. TRIBUNAL DO JÚRI. EXPLICAÇÕES DA MAGISTRADA, SOBRE QUESITO DE HOMICÍDIO PRIVILEGIADO, QUE TERIAM EXTRAPOLADO SUAS FUNÇÕES. NÃO-VERIFICAÇÃO. NULIDADE RELATIVA. AUSÊNCIA DE ARGÜIÇÃO NO MOMENTO OPORTUNO. ORDEM DENEGADA. I. Tendo a Magistrada Presidente da Sessão do Júri se limitado a ler e explicar o sentido legal dos quesitos, verifica-se que o procedimento observou os limites determinados pelo art. 479 do CPP. II. Tratando-se de nulidade relativa, eventual irregularidade na formulação de quesitos ao Tribunal do Júri deve ser argüida no momento oportuno, sob pena de restar convalidada. III. Ordem denegada.

12

Portanto usamos aqui, novamente, mas sem menor importância que

ocorrências anteriores, o conceito do ilustre Dr. Damásio, que discorre sobre o tema

afirmando que “(...) A redução da pena é obrigação do juiz, não obstante o emprego

pelo CP da expressão "pode" e o disposto no art. 492, § 1º do CPP, que fala em

"faculdade". Reconhecido o privilégio pelos jurados, não fica ao arbítrio do julgador

11

(Wikipedia 2010) 12

(Jurisprudência/STJ 2002)

13

diminuir ou não a pena. A "faculdade" diz respeito ao quantum da redução. (...)” 13

(Jesus 1999)

Abaixo, colocamos algumas questões alimentadas pelos juristas, em relação

a situações que podem surgir. São as seguintes: Qual a solução se o sujeito comete

homicídio com emprego de asfixia, impelido por motivos de relevante valor moral ou

social, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da

vítima? Admite-se homicídio qualificado-privilegiado?

Em suma: é possível a incidência do privilégio do homicídio às formas

qualificadoras?

Para Damásio de Jesus, “(...) é caso de conflito aparente de normas. Num

primeiro momento de apreciação, vê-se que o fato se amolda a um tempo na

disposição que prevê o privilégio e na norma que descreve a qualificadora. (...) 14

(Jesus 1999)

Em outro ponto de análise, Delmanto analisa que “(...) Nada impede que um

homicídio privilegiado seja também qualificado. Por exemplo, é o caso do agente que

utiliza meio cruel para realizar o homicídio sob violenta emoção logo em seguida de

injusta provocação da vítima. (...)” 15 (Delmanto 2008)

Apresentamos matéria jurisprudencial que nos fornece base para análise:

HABEAS CORPUS. REGIME PRISIONAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO. CONCESSÃO PARCIAL DA ORDEM.

1. O homicídio qualificado-privilegiado é estranho ao elenco dos crimes hediondos. 2. A concessão de progressão de regime e de livramento condicional são questões que devem ser levadas ao Juízo da Execução, a quem cabe, por primeiro, examiná-las (artigo 66, inciso III, alíneas "b" e "e", da Lei nº 7.210/84). 3. Ordem parcialmente concedida.

16

Entendemos que pode sim haver qualificadoras para o homicídio privilegiado,

haja vista que os meios que são empregados podem ser cruéis inclusive pela violenta

13

(Jesus 1999) 14

(Jesus 1999) 15

(Delmanto 2008) 16

(Jurisprudência/STJ 2002)

14

emoção em que o agente está envolto. A prática jurídica discute sobre isto em virtude

de as circunstâncias legais contidas na figura típica do homicídio privilegiado são de

natureza subjetiva. Na do homicídio qualificado, algumas são objetivas (§ 2º, III e IV,

salvo a crueldade), outras, subjetivas (nos. I, II e IV).

De acordo com nossa posição, o privilégio não pode concorrer com as

qualificadoras de natureza subjetiva. Não se compreende homicídio cometido por

motivo fútil e, ao mesmo tempo, de relevante valor moral. De acordo com Damásio de

Jesus, “o privilégio, porém, pode coexistir com as qualificadoras objetivas.17 A

circunstância do relevante valor moral (subjetiva) não repele o elemento objetivo.

No entanto, como afirmamos, não é pacífico o entendimento desta matéria, e

por objetivo clarificar o que afirmamos, segue matéria jurisprudencial comprobatória:

PROCESSO PENAL - HOMICÍDIO - CONTRADIÇÃO ENTRE OS

QUESITOS FORMULADOS - INOCORRÊNCIA - COEXISTÊNCIA

ENTRE O HOMICÍDIO PRIVILEGIADO E QUALIFICADO -

POSSIBILIDADE.

- Os quesitos foram corretamente formulados, tendo o Júri verificado a

existência de legítima defesa putativa para um Réu e negado para o

outro, o que não caracteriza a alegada contradição.

- No que concerne à alegação de inviabilidade de coexistência entre o

homicídio privilegiado e o qualificado, o writ, igualmente, improcede.

Esta Corte, em inúmeros julgados, tem entendido que a qualificadora,

desde que de caráter objetivo, pode, em tese, coexistir com a forma

privilegiada do homicídio, cujas hipóteses são de natureza subjetiva.

Neste sentido, c.f. REsp 196.578/RO (Rel. Ministro FELIX FISCHER).

- Ordem denegada.18

RECURSO ESPECIAL. ALEGADA INCOMPATIBILIDADE ENTRE HOMICIDIO PRIVILEGIADO E QUALIFICADO. POSIÇÃO CONTUDO, SUSTENTADA PELA DOUTRINA E COPIOSA JURISPRUDENCIA.

1. INEXISTE CONTRADIÇÃO NAS RESPOSTAS DOS JURADOS, QUANDO DECIDEM QUE O DUPLO HOMICIDIO FOI COMETIDO SOB O DOMINIO DE VIOLENTA EMOÇÃO, AGINDO O AUTOR MEDIANTE SURPRESA. 2. A DOUTRINA E JURISPRUDENCIA RECONHECEM A PERFEITA COMPATIBILIDADE ENTRE CIRCUNSTANCIAS SUBJETIVAS E OBJETIVAS, TAIS AS VERIFICADAS NA HIPOTESE VERTENTE. 3. RECURSO NÃO CONHECIDO.

19

17

(Jesus 1999) 18

(Jurisprudência/STJ 2000) 19

(Jurisprudência/STJ 1997)

15

Pelo material já apresentado, é fato que a abordagem do homicídio com

privilégios abre campo para grande discussão, tanto no âmbito jurídico profissional,

como no próprio ambiente acadêmico, que é o verdadeiro celeiro intelectual de nosso

país. A ocorrência simultânea de privilégios e qualificadores são cada vez mais

abrangidos, visto ter como uma das figuras típicas para o privilégio, a violenta emoção,

que é causa geradora de atrocidades, tidas como crueldade, dentro dos agentes

qualificadores.

Passemos finalmente à conclusão.

16

CONCLUSÃO

O Homicídio Privilegiado visa trazer para perto o que a Lei muitas vezes

distancia: a realidade social. O indivíduo é vítima de suas próprias emoções, impulsos

e insatisfações. Quando está inflado desses sentimentos, está mais sujeito a cometer

delitos, e isso é compreendido pelos privilégios.

O Art. 121 do CP tipifica de forma clara o que deve ser considerado como

privilégio, e mostra ser bem coerente. Concordamos como grupo acadêmico, que é

plenamente correto a aplicação da Lei quando homicídio praticado por motivo de

relevante valor social ou moral no § 2.º do art. 121, e delas em dispositivos outros (§§

3.º e 4.º).

Não deve ser considerado como apologia ao crime, embora seja

constantemente requerido em ações penais, como forma de beneficiar o réu.

Concluímos ainda que é possível a coexistência de agentes privilegiadores e

qualificadores, sem contradições. Decidimos não abordar o tema sob o parecer da

Eutanásia e Ortotanásia, haja vista entendermos que a discussão se estenderia além

do limite definido para este debate. Deixamos apenas para constar que

os tribunais brasileiros têm enquadrado, embora esta não seja

ainda jurisprudência pacífica, a eutanásia como homicídio privilegiado.

Sentimo-nos satisfeitos com esta abordagem, onde fica a certeza de que o

Direito Penal Brasileiro é um dos mais, se não o mais, completo e abrangente sistema

de penas do mundo contemporâneo.

A vida de um homem até o seu último momento é uma contribuição para a

harmonia suprema do Universo e nenhum artifício humano, por isso mesmo, deve

truncá-la. No entanto, quando isso ocorrer, que seja levado em conta o caminho do

crime, o que o ocasionou, e entender o motivo da ação do homicida, lembrando,

sobretudo, que somos seres movidos por emoções, e que, de forma alguma, podemos

julgar sem nos emocionar.

Prezemos os privilégios, pois privilegiam a dor daqueles que por emoção,

deixam de agir com a razão, e merecem nossa compreensão.

17

BIBLIOGRAFIA

Delmanto, Celso. Código Penal Comentado. 7ª Edição. São Paulo: Renovar, 2008.

HC 18261 / RJ HABEAS CORPUS. 2001/0102018-1 (STJ - T6 - SEXTA TURMA, DJ 01/07/2002 p.

401 / RDTJRJ vol. 57 p. 137 / RSTJ vol. 161 p. 524 5 de março de 2002).

HC 21716 / SP HABEAS CORPUS. 2002/0047242-0 (STJ - T5 - QUINTA TURMA, DJ 17/03/2003 p.

246 17 de dezembro de 2002).

Hungria, Nelson. Comentários ao Código Penal. Vol. V. Rio de Janeiro: Forense, 1942.

Jesus, Damásio Evangelista de. Direito Penal. Vol. II. São Paulo, SP: Saraiva, 1999.

Judiciário, Poder. “Júri condena acusado de homicídio privilegiado em Florianópolis.” JusBrasil

Notícias. 19 de Março de 2010. http://www.jusbrasil.com.br/noticias/2124209/juri-condena-

acusado-de-homicidio-privilegiado-ocorrido-na-capital (acesso em 21 de Março de 2010).

Jurídico, Octalberto Saber. Octalberto. 20 de Março de 2010.

http://octalberto.no.sapo.pt/homicidio_priviligiado.htm (acesso em 21 de Março de 2010).

Oliveira, Lucielly Cavalcante de. “Homicídio passional: qualificado ou privilegiado?” Revista Jus

Vigilantibus, 2006: 3.

Penal, Código. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Brasília: Imprensa Oficial,

1940.

—. Página Oficial do Planalto. 20 de Março de 2010.

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm (acesso em 20 de Março de

2010).

REsp 3082 / PR RECURSO ESPECIAL. 1990/0004461-8 (STJ - T6 - SEXTA TURMA, DJ 15/04/1991

p. 4309 / RJM vol. 115 p. 184 / RSTJ vol. 21 p. 303 25 de fevereiro de 1991).

REsp 73510 / MG RECURSO ESPECIAL. 1995/0044287-6 (STJ - T6 - SEXTA TURMA, DJ

16/06/1997 p. 27410 12 de maio de 1997).

STJ - HABEAS CORPUS: HC 14451 RO. 2000/0100890-0 (STJ, 13 de dezembro de 2000).

STJ - HABEAS CORPUS: HC 47448 MS. 2005/0144683-2 (STJ, 6 de dezembro de 2005).

Wikipedia. Wikipedia, a enciclopédia livre. 6 de Março de 2010.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Homic%C3%ADdio (acesso em 20 de Março de 2010).

Finaliza aqui.i

18

i Este material acadêmico foi confeccionado com base em pesquisa, discussão e desenvolvimento de idéias, em um esforço conjunto dos acadêmicos do 4º Semestre do Curso de Direito do ISEPE, Guaratuba, que assinam esta obra. Utilizamos referências e citações devidamente indicadas ao longo das laudas, e as referências bibliográficas foram devidamente elencadas. Esperamos a apreciação do Ilmo. Professor Noel Rosa.