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MESTRADO EM SOCIOLOGIA
O Impacto das TIC: no Desenvolvimento e Aprendizagem das Crianças e no Papel da Escola
Gonçalo Miguel de Oliveira Pereira
M 2019
Gonçalo Miguel de Oliveira Pereira
O Impacto das TIC: no Desenvolvimento e Aprendizagem das
Crianças e no Papel da Escola
Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Sociologia, orientada pelo Professor
Doutor João Teixeira Lopes
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
setembro de 2019
O Impacto das TIC: no Desenvolvimento e Aprendizagem
das Crianças e no Papel da Escola
Gonçalo Miguel de Oliveira Pereira
Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Sociologia, orientada pelo
Professor Doutor João Teixeira Lopes
Membros do Júri
Professor Doutor João Teixeira Lopes
Faculdade de Letras - Universidade do Porto
Professora Doutora Isabel Dias
Faculdade de Letras – Universidade do Porto
Doutor João Paulo Valente Aguiar
Instituto de Sociologia - Universidade do Porto
2
Sumário
Declaração de honra ................................................................................................................... 4
Agradecimentos ........................................................................................................................... 5
Resumo ......................................................................................................................................... 6
Abstract ........................................................................................................................................ 7
Índice de Tabelas ......................................................................................................................... 8
Índice de Gráficos ....................................................................................................................... 8
Introdução .................................................................................................................................... 9
Motivação, Relevância e Enquadramento Teórico .............................................................. 9
Objetivos e Questões ............................................................................................................. 10
Organização da Dissertação ................................................................................................. 11
Capítulo 1 – Sociologia da Infância ......................................................................................... 12
1.1) A criança como objeto de estudo ............................................................................. 12
1.2) Surgimento da Sociologia da Infância ..................................................................... 14
1.3) Tradições Linguístico-Culturais .............................................................................. 19
1.4) Paradigmas e Correntes ............................................................................................ 20
1.5) Ocupação dos tempos livres: a importância das brincadeiras .............................. 22
Capítulo 2 – O Impacto das TIC nas sociedades, indivíduos, crianças e escolas ................. 24
2.1) Importância e Aumento do Uso das TIC................................................................. 24
2.2) O Impacto das TIC na Escola e na Criança, mudanças nos “ofícios” .................. 26
2.3) Os Riscos da Utilização das TIC .............................................................................. 32
2.4) Conclusão ................................................................................................................... 35
Capítulo 3 - Metodologia de Investigação ............................................................................... 36
3.1) Amostra e População Estudada ............................................................................... 38
3.2) Grupos Focais ............................................................................................................ 40
3.3) Entrevistas ................................................................................................................. 42
3.4) Inquéritos ................................................................................................................... 44
As tecnologias na aprendizagem, em casa e na escola: Análise e interpretação de Dados . 46
Dados da Amostra ................................................................................................................. 46
Tecnologias ............................................................................................................................. 49
Riscos Associados às TIC e Medidas Preventivas .............................................................. 55
3
Caso Particular ...................................................................................................................... 61
Conclusão ................................................................................................................................... 64
Ação do Governo e Papel do Sociólogo ............................................................................... 67
Referências bibliográficas......................................................................................................... 70
Anexos ........................................................................................................................................ 73
Anexo 1 - Esboço Questões – Grupos Focais ...................................................................... 74
Anexo 2 - Questionário ......................................................................................................... 75
Anexo 3 – Entrevista a Professores ...................................................................................... 76
Anexo 4 - Entrevista a Pais ................................................................................................... 78
Anexo 5 – Guião de Entrevistas ........................................................................................... 80
Anexo 6 – Análise de Profissões Mediante a Classificação Portuguesa das Profissões de
2010 ......................................................................................................................................... 82
Anexo 7 – Quantificação das Respostas dos Grupos Focais .............................................. 83
Anexo 8 – Questões de Resposta Aberta – Grupos Focais ................................................. 84
4
Declaração de honra
Declaro que a presente dissertação, é de minha autoria e não foi utilizado previamente
noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros
autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da
atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências
bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a
prática de plágio e auto plágio constitui um ilícito académico.
Porto, 28 de setembro de 2019
Gonçalo Miguel de Oliveira Pereira
5
Agradecimentos
Quero agradecer a amigos e família, a amigos que são família e à família que são os
melhores amigos. Sinto-me grato por todas as pessoas incríveis com quem me tenho cruzado na
vida, que sempre me acolheram e apoiaram e que me trataram como se fizesse parte das suas
famílias. Ao amor e conforto que transmitiram, não só ao longo dos anos de Faculdade, mas desde
sempre e, principalmente, nos maus momentos que foram surgindo ao longo da vida.
Como não podia deixar de ser, tenho de agradecer os meus pais que, apesar de todos os
problemas, sempre me incentivaram para que continuasse a estudar dando o apoio necessário para
tal. Aos bons valores, princípios e educação que sempre se preocuparam em transmitir. À minha
mãe, por toda a dedicação e, sobretudo, por toda a paciência, conversas e palavras sábias que foi
dando. Ao meu pai, por sempre me fazer ver as coisas de outra forma, por não me deixar limitar
por estereótipos e discriminações que foram acontecendo, fazendo-me lutar sempre por mais.
Um agradecimento especial à Sílvia, que também me aturou bastante nos últimos meses,
devido, por vezes, a diferenças na forma de estar e lidar com algumas coisas. Agradeço também
por todas as vezes que me ouviu, às minhas queixas e frustrações que iam surgindo ao longo da
tese. Obrigado por teres procurado sempre palavras e gestos de ternura que me permitissem
acalmar e voltar a tentar uma e outra vez. Pela tua sensibilidade que muitas das vezes, me
permitem ver o mundo com outros olhos.
Agradeço ao colega de trabalhos e longas conversas por chamada, que a Universidade me
deu, por ter de ouvir as minhas piadas, misturadas com atentados à sanidade mental. Posto isto,
aproveito para dizer desde já, que não precisas de pedir desculpa por ter de te ouvir e ver nos
últimos cinco anos, por ter de te explicar as coisas umas 90 vezes, ou pela complicação que fazes
com tudo. Fora isto, és uma pessoa em condições, talvez tirando as vezes que chegas atrasado ou
te esqueces de alguma coisa. Se ignorarmos isso és porreiro, se calhar tentando também esquecer
a tua incapacidade de síntese. Sem contar com nada disto, és sem dúvida daquelas pessoas que
não há mesmo nada de negativo a apontar.
Um obrigado aos meus amigos de longa data, pelo exemplo que são e pela influência que
tiveram na minha vida. Porque além de amigos, são família, são um exemplo. Por todos os
momentos passados juntos, desde horas de jogo, a jantares e a viagens surpresa a Lisboa, assim
como, os momentos de desabafos e conselhos. Espero ser capaz de demonstrar regularmente o
meu apreço por vocês e pela nossa amizade, que esta se mantenha e que possamos ainda viver
muitas aventuras, partilhar e comemorar as diversas etapas da vida de cada um.
Por fim, mas não menos importante, queria deixar o meu enorme agradecimento ao
professor Dr. João Teixeira Lopes, por todo o seu contributo na elaboração desta dissertação.
Obrigado pela disponibilidade, conselhos e preocupação demonstrada.
6
Resumo
O tema da presente dissertação surgiu em seguimento das diversas notícias onde
se referiam as desapontantes notas das provas de aferição. Visto que o fator apontado
como principal razão para estas mesmas notas fora o uso excessivo das Tecnologias de
Informação e Comunicação – TIC, o objetivo desta dissertação passa por se percecionar
de que modo as TIC, que cada vez mais invadem as nossas vidas, impactam o
desenvolvimento das crianças na contemporaneidade, no que toca à ocupação dos tempos
livres, assim como na educação.
Posto isto, o modelo de análise da dissertação terá por base a Sociologia da
Infância, assim como a Sociologia das Tecnologias. Será feita, também, a definição do
objeto de estudo e das dificuldades inerentes em se limitar esse grupo de indivíduos,
devido à por vezes difícil interpretação de quando é que um indivíduo deixa de ser
considerado criança. Além da definição do conceito de criança, importa igualmente expor
a definição de infância e algumas das alterações que se têm vindo a suceder, na forma
como percecionamos a própria infância no geral e a criança num plano mais particular.
Deste modo, a escola também será um ponto crucial, assim como as suas
alterações nos últimos anos, e a pressão existente para esta mudar e constantemente se
adaptar com a cada vez maior introdução das TIC, que se traduzem em mudanças no papel
de criança, no sistema de ensino e na sociedade.
Finalmente, serão analisados, integrados e interpretados os dados, de modo a
identificar e criticar lacunas existentes, assim como para que se possa elaborar um
conjunto de sugestões de políticas públicas. O método utilizado será o Método Misto,
com a mobilização de procedimentos tanto Quantitativos, neste caso serão aplicados
Inquéritos, como Qualitativos, optando-se aqui pelas Entrevistas e os Grupos Focais.
Palavras-chave: Sociologia; Infância; Tecnologias; Crianças; Educação
7
Abstract
The theme of the present dissertation emerged from several news that referred to the
disappointing grades of the scoring tests. Since the main reason appointed for these grades
was the excessive use of Information and Communication Technologies (ICT), the aim
of this dissertation is to understand how ICT, which increasingly invades our lives,
impacts the children development in contemporary times, regarding the occupation of
leisure time, as well as in education.
Thus, this dissertation analysis model was based on the Sociology of Childhood, as
well as the Sociology of Technologies. Additionally, we defined the object of study and
the inherent difficulties in limiting this group of individuals, due to the frequent difficult
interpretation of when an individual cease to be considered a child. In addition to defining
the concept of child, it is also important to expose the definition of childhood and some
of the changes that have been taking place as we perceive childhood itself and the child
on a more particular level.
That way, school will also be a crucial point, just like its changes in recent years, and
the pressure to change and constantly adapt to the ever-increasing introduction of ICT,
which translates into changes in the role of children, in the education system and in
society.
Finally, data was analyzed, integrated and interpreted in order to identify and criticize
existing gaps, as well as in elaborating a set of public policy suggestions. The method
used was the Mixed Method, with the mobilization of both Quantitative procedures, in
this case applied to Surveys, as Qualitative, choosing here the Interviews and Focus
Groups.
Key Words: Sociology; Childhood; Technologies; Children; Education
8
Índice de Tabelas
Tabela 1 – Três Estudos/Abordagens Distintas da Nova Sociologia da Infância ..… 21
Tabela 2 – Análise da Profissão dos Pais …………………………………………. 49
Tabela 3 – TIC Utilizadas ………………………………………………………... 50
Tabela 4 – Utilização das TIC ……………………………………………………. 51
Tabela 5 – TIC Utilizadas (4º Ano) ………………………………………………. 61
Tabela 6 – Caso Particular do 4ºAno …………………………………………….. 61
Tabela 7 – Utilização das TIC (4º Ano) …………………………………………. 62
Índice de Gráficos
Gráfico 1 – Número de Alunos por Ano Letivo ………………………………….. 47
Gráfico 2 – Idade dos Inquiridos …………………………………………………. 47
Gráfico 3 – Sexo dos Inquiridos …………………………………………………. 47
9
Introdução
Motivação, Relevância e Enquadramento Teórico
As consequências negativas das TIC são um tema de crescente importância nas
sociedades contemporâneas e os seus efeitos têm trazido repercussão no desenvolvimento
das crianças e aquisição de determinadas aptidões. Os resultados obtidos nas últimas
provas de aferição são prova disso e, mais do que o choque dos resultados obtidos, é o
significado e as razões para tal que mais comoção origina nos media e entidades
responsáveis pelo ensino nas escolas e educação das crianças do país. São exatamente
estas provas, resultados e consequências do uso das TIC, que impulsionaram o tema desta
mesma dissertação a que me proponho desenvolver.
Tanto o impacto das TIC mencionado no parágrafo anterior, como a criança e a
infância, são objetos de estudo recentes para a sociologia, só se destacando como tal ao
longo do século XX. (Sarmento, 2009; Qvortrup, 1995). Durante este século muito fora
feito, tanto nos estudos sobre a criança e infância, como no desenvolvimento dos direitos
destes indivíduos. No entanto, a definição de criança nunca foi simples de se realizar,
originando-se diferentes definições, mediante culturas e perspetivas distintas.
Muitas das vezes, houve grandes dificuldades em se separar a criança da sua
condição de aluno, sendo que, por essa mesma razão, muitos dos estudos não olhavam ao
estatuto social da criança, assim como os diversos impactos que estas tinham na
sociedade.
Também aqui neste caso, será dada maioritariamente atenção à criança no seu
papel de aluno, uma vez que, e como já fora dito, foram os resultados das provas de
aferição e as possíveis causas apresentadas para tal, que suscitaram interesse e vontade
de analisar melhor este tema. As TIC têm vindo a desenvolver-se de uma forma célere,
tornando-se cada vez mais, parte integrante dos nossos dias, o que cria uma necessidade
contínua de aprendizagem, mas, também, de estar constantemente em cima dos
acontecimentos. Vivemos numa época em que as TIC têm um impacto enorme nas
sociedades contemporâneas, abrangendo inúmeras áreas, desde a economia, ao ensino,
cultura e lazer. Assim, por essa mesma razão, seria um risco menosprezar as tecnologias
nos tempos que correm. (Castells, 2011). No entanto, esta dependência que se vai criando
10
em torno das TIC acarreta consequências a nível comportamental, mas também a nível
do desempenho dos indivíduos, principalmente quando estes indivíduos são ainda
crianças.
O que faz das crianças um alvo mais suscetível aos riscos associados às TIC, é o
facto de estas serem mais facilmente influenciadas, no caso da publicidade constante, de
serem mais facilmente enganadas, no caso de não saberem com quem falam e possíveis
casos de pedofilia ou burla, e até no caso de quererem saber e fazer mais, levando-os a
mexer e descobrir sozinhos e a arriscarem em ações que desconhecem. (Turkle, 2005;
Ferreira, 2009).
Objetivos e Questões
Os objetivos traçados para esta dissertação, passam pela análise da forma como é
compreendido o papel da criança na sociedade; pela interpretação e compreensão das
mudanças ocorridas nos últimos anos, ao nível do uso das tecnologias, assim como no
papel da escola na sociedade; e sobretudo, tem como objetivo identificar as lacunas
existentes no que toca à educação das crianças para a utilização das TIC, por parte da
escola e dos pais.
De modo a atingirem-se os objetivos apresentados, elaborou-se uma questão de
partida, de forma a nos guiar nesse mesmo sentido, sendo que, posteriormente, e de forma
a simplificar, essa mesma questão foi posteriormente decomposta em outras menos
abrangentes.
➢ À luz dos últimos resultados das provas de aferição, terá o uso intensivo das
Tecnologias de Informação e Comunicação, impactos evidentes no
desenvolvimento das crianças, a nível da aprendizagem, assim como no papel da
escola nas sociedades contemporâneas?
➢ Quais os possíveis impactos que as TIC poderão ter na preponderância da escola
como instituição de ensino de longo alcance?
➢ Quem deve ser o principal responsável por uma educação adequada para a
utilização das TIC?
11
➢ Quais as mudanças que as TIC vieram impor, no que diz respeito ao papel da
criança na sociedade atual?
➢ Quem ou o quê, está a falhar, para que haja uma educação adequada para as TIC?
Organização da Dissertação
A dissertação estará dividida em três capítulos, sendo dois deles de
enquadramento teórico, o primeiro mais dedicado à Sociologia da Infância e a definição
do grupo social e conceito de criança, e o segundo com uma abordagem mais direcionada
para a Sociologia das Tecnologias e os diversos impactos e riscos das TIC. O terceiro
capítulo abordará a metodologia a utilizar, descrevendo as técnicas a aplicar e justificando
o porquê das escolhas realizadas. A presente dissertação terá ainda uma fase de recolha e
análise de dados, onde serão descritos os resultados obtidos. Tais resultados, levarão à
elaboração de uma conclusão, onde haverá uma conotação crítica associada e onde os
resultados analisados nos guiarão à real perceção do que está errado, do que pode ser
melhorado, daquilo que já é feito, e o que pode ainda vir a ser implementado, pelas escolas
e, em última instância, pelo Governo, para uma melhor educação para o uso das TIC.
Em relação à metodologia a utilizar, primeiramente seriam recolhidos dados
utilizando técnicas do Método Qualitativo, com a utilização de Entrevistas e Grupos
Focais. No entanto, com a necessidade de desenvolver e aplicar Inquéritos, o método
desta investigação acabará então por ser um Método Misto. As Entrevistas, serão
aplicadas a pais e professores, enquanto que, os Grupos Focais, assim como os Inquéritos,
serão aplicados a crianças. Todos os envolvidos nas técnicas mencionadas, pertencerão à
Escola Básica da Fonte da Moura.
12
Capítulo 1 – Sociologia da Infância
1.1) A criança como objeto de estudo
A criança é desde há muito tempo, referida em diversos estudos. Ainda assim, a
criança e a infância passaram a ser consideradas como objeto sociológico somente no
último quarto do século XX, sendo que se evidenciou um grande aumento no número de
estudos e na importância dada ao tema, a partir da década de 90. Apesar destas datas,
mencionadas por Manuel Jacinto Sarmento em diversos dos seus artigos e que são tidas
como referência, o autor dinamarquês Jens Qvortrup refere que, a Sociologia da Infância,
já é mencionada, desde os anos 30. (Qvortrup, 1995, 8).
Manuel Jacinto Sarmento afirma que o estudo da criança é um fator de uma
enorme importância para que se desenvolva uma pesquisa e uma consequentemente
compreensão mais completa e aprofundada do estado atual da sociedade, “… nunca como
hoje as crianças foram objeto de tantos cuidados e atenções e nunca como hoje a infância
se apresentou como a geração onde se acumulam exponencialmente os indicadores de
exclusão e de sofrimento. (…) a Sociologia da Infância insere-se decisivamente na
construção da reflexividade contemporânea sobre a realidade social.” (Sarmento, 2009,
3). Uma outra possível explicação para o crescimento do interesse da criança como objeto
de estudo, poderá ser, como refere Qvortrup, a redução do número de crianças na
sociedade, sendo este um dos paradoxos da infância. (Qvortrup, 1991, 1995). Posto isto,
o gradual aumento de importância dada à criança nas mais variadas sociedades do mundo
não é surpreendente. Já em pleno século XIX, haviam sido realizadas um número
significante de investigações sobre a infância e/ou com a criança como objeto de estudo.
No entanto, foi ao longo do século XX, o “século da criança”, que esta ganhou um maior
protagonismo e interesse por parte de académicos e investigadores de múltiplas áreas,
como a sociologia e a psicologia, tendo sido criado o Fundo as Nações Unidas para a
Infância em 1946, assinada a Declaração dos Direitos da Criança em 1959 e, mais tarde,
em 20 de Novembro de 1989, adotada a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos
da Criança.
13
Jens Qvortrup, é um dos autores que refere ainda a existência de uma outra
dimensão de marginalidade, mas neste caso por parte da Sociologia no estudo da criança.
(Qvortrup in Sarmento, 2009,5). Essa sua posição advém do facto de a Sociologia se
dedicar em grande parte ao estudo da criança na condição de aluno, sendo, portanto, uma
abordagem limitada, pouco ou nada direcionada para o estatuto social da criança,
ignorando questões de relevo como por exemplo, a idade mínima para conduzir, votar ou
até trabalhar. Partindo do princípio que definir as idades mínimas para este tipo de
atividades contribui também para a definição do que é, ou de quem é ou não, criança na
sociedade, fica deste modo patente que, ao deixar de ser criança, há um acréscimo de
responsabilidades de direitos e deveres dos indivíduos na sociedade.
Um facto que pode contrariar esta ideia de marginalidade das crianças, por
exemplo no plano económico, é a necessidade de consumo, como com brinquedos ou
jogos existentes dos diversos desenhos animados que são transmitidos nos media e aos
quais muitas crianças gostam de assistir. “Essa importância verifica-se, antes do mais,
(…), porque em torno delas se constituiu um mercado global de produtos para a infância
de importância económica estratégica…” (Sarmento, 2009, 7). Esta mesma necessidade
de consumo pode, até certo ponto, moldar o próprio plano social das crianças, uma vez
que, ter ou não brinquedos, ou ter ou não os mais atuais, pode impactar se uma
determinada criança é ou não aceite em certos grupos de brincadeira, podendo isso moldar
a imagem que as restantes têm e transmitem dessa mesma criança, trazendo
consequentemente e em ultima instância, impactos nos grupos de pares que serão
desenvolvidos e criados.
“A sociologia da infância propõe o estabelecimento de uma distinção analítica no
seu duplo objecto de estudo: as crianças como atores sociais, nos seus mundos de vida, e
a infância, como categoria social do tipo geracional, socialmente construída.” (Sarmento,
2009, 7). Embora a Sociologia da Infância procure estudar as crianças, estas não podem
ser vistas como um objeto de estudo fechado em si mesmo e independente de tudo o resto.
Como Sarmento refere no artigo “Sociologia da Infância: Correntes e Confluências”, a
criança revela dependência do adulto para a sua sobrevivência, mesmo no caso de uma
criança que se encontre por alguma razão institucionalizada, ou seja, não precisa de ser
obrigatoriamente um dos pais a fazê-lo. Ainda sobre o mesmo artigo e reproduzindo as
palavras do autor, as crianças evidenciam uma relação assimétrica para com os adultos,
14
no que toca ao poder, rendimento e ao status social, (Sarmento, 2009). É de enaltecer que
toda esta posição de alguma inferioridade da criança para com o individuo adulto é tida
em conta nos trabalhos investigatórios da área da Sociologia da Infância.
Um fator que pode, até certo ponto, dificultar a definição do objeto de estudo é a
idade, como já fora anteriormente mencionado de uma forma superficial. Torna-se
fundamental limitar até que idade um indivíduo é criança, e, embora se tenha
convencionado que a infância vai até aos 18 anos, é para todo nós difícil de colocar no
mesmo “saco” um indivíduo de 4 anos e um de 17 anos, por exemplo. Alguns autores
atribuem o conceito de infância à modernidade, até porque, apesar de hoje em dia haver
legalmente uma idade mínima para começar a trabalhar, em outros tempos tal não se
verificava, existindo inclusive profissões mais comummente associadas às crianças
devido em grande parte à sua maior sensibilidade e menor dimensão dos corpos e claro
está, das mãos e dedos.
Desengane-se quem julgar que a dificuldade em estudar este grupo geracional se
encontra apenas na definição do que é ou não criança. Como no estudo de qualquer outro
grupo social, as crianças têm também as suas diferenças, como classe social, etnia,
género, crenças e valores e muitas outras variáveis que podem ter impacto nos grupos de
pertença que se desenvolverão, na educação obtida e no desenvolvimento da própria
criança em adulto. Revela-se assim, logo à partida, a complexidade no estudo deste grupo
de indivíduos, dado as inúmeras especificidades do objeto de estudo em causa, assim
como a dificuldade em recolher os dados necessários, uma vez que pode em diversos
casos, ser difícil de aplicar alguns das técnicas de pesquisa, como por exemplo a entrevista
ou inquérito, devido não só à credibilidade das respostas, mas também em grande parte a
questões inerentes ao consentimento e a questões éticas associadas a tal processo.
1.2) Surgimento da Sociologia da Infância
Émile Durkheim foi muito provavelmente o pai da Sociologia da Infância através
de diversos contributos, sendo que, em 1913, lecionava uma unidade curricular na
universidade de Sorbonne em Paris com o nome de A Ciência da Educação e Sociologia.
Em 1903 publicara “Pedagogie et Sociologie”, obra que serve como um dos vários
15
exemplos das investigações e inúmeras teses publicadas por Durkheim na área da
educação, domínio onde a Sociologia da Infância recai bastante, ou seja, o estudo da
criança no registo de aluno, nas relações em ambiente escolar. Durkheim menciona em
diversas ocasiões a transmissão de conhecimento, saberes e valores entre gerações, sendo
este um ponto fulcral na educação de uma criança e o que pauta, em grande parte, as
relações sociais de uma criança. “Por otra parte, todas las prácticas educativas, de
cualquier tipo que puedan ser, sea cual fuere la diferencia que existe entre ellas, tienen en
común un carácter esencial: son todas ellas el resultado de la acción ejercida por una
generación sobre la generación que le sigue, a fin de adaptar a esta última al ambiente
social en el que está llamada a vivir.” (Durkheim, 1976, 117). Os estudos desenvolvidos
tinham por base a teoria da Socialização, dando-se um grande enfoque à socialização
primária, ou seja, às relações familiares, de âmbito escolar, ou grupos de pares por
exemplo.
No entanto, esta mesma teoria que servirá de base ou de ponto de partida para a
Sociologia da Infância, viria a sofrer alterações pelo menos na forma como era tida em
conta e aplicada no estudo das crianças. Alguns autores afirmam, inclusive, que a criança
não tem um papel unicamente de recetor de informação aquando do seu relacionamento
em determinado momento com indivíduos mais velhos, como os próprios pais ou avós.
Prova disso mesmo poderá ser, por exemplo, o caso de um neto ensinar os avós a utilizar
uma nova tecnologia, com a qual os indivíduos mais velhos, e claro está, de uma outra
geração, não saibam lidar e/ou não tenham tido capacidade de acompanhar a evolução,
seja por que motivo for.
William Corsaro, outro grande nome da Sociologia da Infância, é um dos autores
que afirma que a criança não é apenas um recetor na sociedade, mas sim um reprodutor
ativo, ou seja, o que é transmitido a uma criança não só se repercute no adulto que será,
mas também com outros adultos, através das suas próprias interpretações do que lhes foi
transmitido, pelos indivíduos mais velhos. Surge então deste modo, a teoria de Corsaro,
da “reprodução interpretativa”. Em termos sucintos, a criança recebe informação,
interpreta do seu modo e transmite a informação recolhida mediante a forma como a
interpretou.
16
O termo “reprodução interpretativa” foi utilizado para que houvesse um
afastamento propositado, de modo a evitar confusão, com o termo “socialização”, “The
very term socialization remains a problem. (…) Therefore, I have offered the term
interpretative reproduction.” (Corsaro, 2012, 488).
Corsaro refere que as crianças pertencem a duas culturas distintas que se
interligam na sociedade, a cultura das crianças e dos adultos. A cultura de pares entre as
crianças torna-se, então, um dos pontos centrais para a teoria deste mesmo autor,
chegando inclusive a destacar duas diferentes rotinas em crianças com idade pré-escolar
e que o autor considera serem rotinas universais, ou seja, que acontecem de igual modo
ou com bastantes semelhanças a níveis estruturais por todo o mundo.
“Approach-Avoidance Play”, ou seja, jogar a aproximar e evitar, um tipo de
apanhada com a nuance de existir uma interpretação de um papel assustador, de quem as
crianças eventualmente fogem, é uma dessas rotinas. Consiste num momento inicial onde
as crianças se aproximam e se cria alguma tensão e suspense até que, a partir de um
determinado momento, as crianças fogem de uma outra que interpreta um papel
aterrorizador, seja de uma bruxa, ou ladrão, ou um monstro qualquer, por exemplo.
Segundo o autor, a brincadeira serve como meio das crianças transporem medos reais
para as brincadeiras, de forma a aprenderem a lidar com medos e ansiedades, havendo
ainda autores que afirmem que atividades semelhantes vão sendo realizadas por
adolescentes e até alguns adultos.
A outra rotina mencionada é o “Dramatic Role Play”, a interpretação de papéis,
como brincar aos médicos ou aos professores por exemplo. As crianças procuram
desempenhar o papel de adultos, gostam de, por uns momentos, sentirem-se em controlo,
empoderados pelos papéis habitualmente desempenhados pelos adultos, como quando
querem ser os pais de uma família imaginária, “Kids feel empowered when they take on
adult roles.” (Corsaro, 2012, 494). Esta brincadeira em particular, serve não só para as
crianças irem descobrindo o papel do género, sempre baseado nos estereótipos presentes
na sociedade, mas também como meio das crianças elaborarem e embelezarem o
comportamento e postura do adulto em determinadas circunstâncias. Esta rotina, como o
autor lhe chama, leva as crianças a exporem as suas interpretações dos papéis dos adultos
em realidades distintas, sendo que, à medida que a brincadeira progride, as crianças têm
de procurar resolver e lidar com as situações que se desenrolam, o que resulta numa
17
aprendizagem da complexidade da vida adulta. “Rita had a glimpse, however, into the
complexity of role relationships.” (Corsaro, 2012, 499).
Gregory Bateson (Bateson in Corsaro, 2012), defende que, com estas brincadeiras,
as crianças adaptam a sua perceção sobre o papel a desenvolver quando interpretam um
indivíduo com uma especifica posição social, mas também aprendem a adaptar o seu
comportamento mediante o contexto e o comportamento das outras “personagens”
envolvidas, contribuindo assim a cultura de pares e para moldar como é percecionada a
realidade pelas crianças. Isto serve assim como modo de aprendizagem e interiorização
de regras, alternativo à anteriormente teoria apresentada da socialização existente entre
adultos e crianças.
Importa então realçar que as rotinas e observações das mesmas, mencionadas por
W. Corsaro, têm sido analisadas e observadas em culturas distintas, sendo que os
resultados dos diversos autores corroboram o ponto de vista de Corsaro, enaltecendo não
só o papel do autor na Sociologia da Infância, mas também a importância da sua teoria.
“Nessa perspectiva interpretativa da sociologia da infância, a socialização não é
considerada somente matéria de adaptação e internalização de uma cultura maior, mas
também um processo de apropriação, reinvenção e reprodução.” (Seixas, 2012, 549).
Acresce à revisão científica do conceito de Socialização, “…o facto da Sociologia
se ter vindo a ocupar progressivamente das dimensões sociais do espaço privado e
individual.” (Sarmento, 2009, 5), são estas mesmas alterações que vieram proporcionar
uma nova perspetiva sobre a teoria da socialização na Sociologia da Infância. A própria
dissertação que aqui me proponho a desenvolver tem uma vertente focada em dimensões
sociais do espaço privado e individual, uma vez que procurarei, numa fase mais
desenvolvida, obter informação sobre a ocupação dos tempos livres, em casa, em pleno
ambiente familiar, por exemplo.
Os estudos da criança nem sempre tiveram por base ou como ciência mais
representativa a sociologia. Inicialmente, grande parte dos estudos derivavam da
Psicologia do Desenvolvimento e estas mudanças trazem implicações e transformações
na forma como a criança é perspetivada. Com a abordagem mais sociológica do que a
tradicional primordialmente centrada na Psicologia do Desenvolvimento, a criança
deixou de ser vista apenas no futuro, ou seja, como um indivíduo incompleto, um adulto
ainda em desenvolvimento e em formação onde se observa a criança em determinado
18
meio e se estudam algumas variáveis, como a classe social, etnia ou sucesso escolar, e se
procura, posteriormente, prever o impacto dessas mesmas variáveis no adulto que
eventualmente surgirá. Por outro lado, a abordagem sociológica introduziu a perspetiva
de um estudo da criança no presente, unicamente focada no momento atual, no momento
da investigação, como grupo social complexo e com os seus próprios traços distintos e
característicos, com as suas próprias regras. Em suma, a criança deixou de ser considerada
como um indivíduo desinteressante e com menos impacto na sociedade e passou a ser
visto como qualquer outro indivíduo. Assim como o indivíduo adulto, a criança passou a
ser vista como um ser de pleno direito. (Sarmento, 2013).
A Sociologia da Infância, “É uma disciplina científica, filiada à Sociologia, que
objetiva conhecer a infância como categoria social e as crianças enquanto membros da
sociedade, atores sociais e agentes de cultura.” (Sarmento, 2013,20). Como qualquer
outra Sociologia, também esta é alvo de críticas, críticas essas que têm fundamento na
incapacidade de se desenvolver uma rutura epistemológica perfeita, ou por completo.
Assim sendo, é inevitável que cada investigador tenha a sua própria rede conceptual,
acontecimentos e experiências que influenciam as conclusões da investigação, a forma
como determinada ação, ou objeto de estudo é percecionado. A existência de diversas
escolas de Sociologia, em regiões distintas do globo, com realidades e culturas diferentes,
permite depois traçar semelhanças e diferenças entre as crianças de diferentes regiões,
“Algumas revisões da literatura em Sociologia da Infância procuram estabelecer a
distinção entre diferentes abordagens a partir da tradição das escolas de pensamento
sociológico enraizadas em distintos países, regiões do mundo ou universos linguísticos.”
(Sarmento, 2013, 23).
Traçar estas semelhanças e diferenças traduziu-se em diversos impactos na
produção de obras e desenvolvimento de pesquisas, sendo cada vez mais comum,
trabalhos desenvolvidos por autores em áreas do Globo distintas, mas que trabalham em
conjunto. Isto veio permitir não só evidenciar diferentes países com circunstâncias em
comum, mas também procurar soluções para problemas existentes, mediante
especificidades históricas a nível social, político e intelectual, “Each of these countries
derives its particular interests in childhood from its specific social, political, and
intellectual history; and it has been observed, for instance for Australia, that studies in
19
English, from the UK and Nordic countries, have been influential in establishing bases
for further development.” (Mayall, 2013, 32).
Em Portugal, a Sociologia da Infância é vista como estando ainda em
desenvolvimento e, como Berry Mayall refere na sua obra A History of the Sociology of
Childhood, em Portugal foi criado um “Institute of Child Studies”, o CIEC – Centro de
Investigação em Estudos da Criança, na Universidade do Minho em Braga. A criação
deste centro de investigação veio contribuir para evolução desta área da sociologia no
país, originando relações com outras universidades, um pouco por todo o território
nacional, assim como com a criação do mestrado em Sociologia da Infância. Consta ainda
que, com as relações internacionais, dá-se o surgimento de publicações em português no
Brasil, “International networks have also been established, especially with Brazil, where
some publications in Portuguese have begun to appear.” (Mayall, 2013, 33).
1.3) Tradições Linguístico-Culturais
A Sociologia da Infância de produção Anglo-Saxónica engloba sociólogos das
mais variadas áreas e analisa a criança em diversos meios, em realidades distintas, mas
por sua vez dá uma importância bastante reduzida à criança no registo de aluno. Por outro
lado, a de origem Francófona, deu desde sempre grande atenção ao ambiente escolar e
evidenciou uma maior abertura para com outras ciências, em comparação com a de
produção Anglo-Saxónica.
No que toca aos estudos de origem portuguesa, bastante mais recentes do que os
anteriormente referidos e por isso menos explorados, estes sofreram uma migração por
parte dos sociólogos da juventude, que, por sua vez, atraíram sociólogos da educação, o
que nos deixa antever que a Sociologia da Infância produzida em Portugal terá um forte
pendor educacional. Aliás, em Portugal a Sociologia da Infância tem uma “…articulação
com as políticas públicas, nomeadamente nos campos da educação e das políticas
sociais.” (Sarmento, 2009, 14).
20
1.4) Paradigmas e Correntes
Como fora mencionado anteriormente, diversas escolas e diferentes correntes
manifestaram-se no estudo da Infância. No que diz respeito à tradicional teoria de
Durkheim, podemos destacar o modelo determinista, assim como o modelo construtivista.
Apesar de ambos os modelos apresentarem o mesmo ponto de partida, ou seja, a teoria da
Socialização, o modelo determinista vê a criança como um mero recetor, que contribui
em pleno para o processo de reprodução social, sem causar qualquer impacto na
sociedade, sendo por isso mesmo este modelo criticado. Alguns dos autores que se
destacaram neste modelo foram Foucault e Bourdieu.
Por outro lado, o modelo construtivista, de onde fazem parte Piaget e Vigotski,
debruça-se sobre o percurso de vida do indivíduo, no desenvolvimento individual, sendo
a critica apontada aos autores deste modelo, a preocupação exagerada com o percurso,
mas pouca refletividade sobre a capacidade das crianças em moldar ou recriar a realidade
social.
A teoria que William Corsaro desenvolveu, contribuiu para o surgimento da Nova
Sociologia da Infância e também ela apresenta diferentes correntes, a estruturalista e a
construtivista.
Surgem autores a defender a ideia de que as diversas correntes se cruzam ou que
se complementam de uma maneira ou de outra. “Esta distinção é intencionalizada por
uma preocupação analítica, mas não se sustenta na suposição da irredutibilidade dos seus
termos; com efeito, há trabalhos de fronteira que cruzam dois ou mesmo os três tipos de
abordagem que se identificam de seguida.” (Sarmento, 2009, 17), surgindo com esta
distinção três estudos distintos: os estudos estruturais, estudos interpretativos e os estudos
de intervenção.
21
Tabela 1: Três Estudos/Abordagens Distintas da Nova Sociologia da Infância
Fonte: Manuel Jacinto Sarmento in Sociologia da Infância: Correntes e Confluências
Estudos
Estruturalistas
Estudos
Interpretativos
Estudos de
Intervenção
Breve
Definição
Estuda a condição
social da infância,
mediante a região na
qual é estudada, assim
como a relação entre a
infância e os restantes
indivíduos que a
rodeiam (Adultos e
Idosos).
Estuda de que forma
as crianças
interpretam e aplicam
a informação, valores,
crenças…em suma, a
herança cultural,
transmitida pelas
outras gerações.
Estuda a criança
como indivíduo
excluído, marginal
socialmente, procura
com os seus estudos
alterar isso mesmo,
dando uma maior
importância à
criança em diversos
planos da sociedade.
Principais
Métodos de
Investigação
Estudos Extensivos:
Métodos Estatísticos;
Estudos Documentais
Estudos Etnográficos:
Estudos de Caso;
Outros métodos
Qualitativos
Investigação Ação;
Investigação
Participativa
Principais
Temas
Estudo
desconstrucionista das
imagens históricas da
infância;
As Políticas Públicas;
A Demografia e a
Economia;
Os direitos e a
cidadania
Desconstrução do
imaginário social
sobre a infância; ação
social das crianças;
interações intra e
intergeracional; as
culturas da infância;
as crianças no interior
das instituições; as
crianças no espaço
urbano; os media e as
TIC; o jogo, o lazer e
a cultura lúdica
A dominação
cultural;
A dominação
patriarcal e de
género;
Os maus tratos à
infância;
As políticas públicas
para a infância;
A infância e os
movimentos sociais
22
1.5) Ocupação dos tempos livres: a importância das brincadeiras
A brincadeira é vista entre as crianças como um momento de extrema importância,
mas menosprezada por alguns adultos e por vezes até por quem estuda e trabalha
regularmente com crianças. O que me proponho referir neste último ponto do primeiro
capítulo é a importância dos brinquedos e brincadeiras não só para as crianças, mas
também para os sociólogos da infância, por tudo o que representa o momento da
brincadeira, como a cultura de pares que é produzida nesses momentos, quais são os
grupos e como é que esses grupos são formados. Essa cultura de pares produzida com as
brincadeiras, contribui para a criação de noções de pertença, de comportamento, de
regras. Em suma, contribui para a socialização entre as crianças, com todas as
condicionantes que uma socialização impõe, ou seja, de modo simplista, os indivíduos
influenciam-se mutuamente, de maneira a criarem um grupo de indivíduos com a mesma
cultura. “Porém, sabemos que a brincadeira absorve a criança por completo, desenvolve
noções de regras, de comportamento, além de promover uma ampla experiência de
socialização entre as crianças.” (Leontiev in Azevedo, 2017, 32).
Recuperando a teoria da “Socialização Interpretativa” mencionada por William
Corsaro, pode-se ainda enaltecer a importância do momento de brincadeira como
momento de transmissão de crenças, valores ou outro qualquer traço cultural; é, em suma,
um dos momentos onde as crianças se influenciam umas às outras, deixando por terra a
ideia de indivíduos passivos na sociedade. Esta ideia fica claramente evidente nas rotinas
das crianças, como Corsaro refere em algumas das suas obras quando fala das
observações por si realizadas. Rotinas essas que foram anteriormente mencionadas neste
capítulo, de forma a facilitar a compreensão da teoria deste mesmo autor e o modo como
a “Socialização Interpretativa”, viria a revolucionar a forma como as crianças eram
perspetivadas na sociedade por parte da comunidade investigadora no geral.
Os jogos, principalmente para as crianças, evidenciam também uma enorme
importância no que toca, por exemplo, à interiorização de regras, revelando-se, portanto,
uma atividade lúdica, o que consequentemente significa que podem servir como meio de
aprendizagem e complemento ao que se pretende ensinar em sala de aula. “Children learn
by seeing and doing rather than reading, listening and understanding.” (Önder, 2018,
147).
23
Existem inúmeros estudos que demonstram a capacidade das brincadeiras e dos
jogos em contribuir para o desenvolvimento de crianças mais criativas, ou extrovertidas,
assim como com uma maior capacidade de se socializarem com outros indivíduos, ao
contrário daquelas que não participam nesse tipo de atividades em conjunto.
Fica deste modo evidente que as atividades desenvolvidas no tempo livre, seja no
intervalo das aulas ou até fora do ambiente escolar, muito têm a contribuir, tanto para o
desenvolvimento da criança, como para os estudos sobre a criança por parte da Sociologia
da Infância. Tendo isto em consideração, e refletindo na atual conjuntura, surgem pontos
bastante pertinentes, como, por exemplo, a enorme e cada vez mais crescente dependência
das tecnologias, das redes sociais e jogos online, e a forma como essa mesma dependência
vem alterar as atividades de lazer, lúdicas, ou as brincadeiras. Assim, é preciso prestar
atenção às mudanças na sociabilidade por parte das crianças, uma vez que as relações
virtuais e as a nível pessoal e presencial, não são propriamente a mesma coisa. Por último,
recorre-me enaltecer o impacto que a falta de brincadeiras e jogos, juntamente com o
número elevado de horas com as ditas tecnologias, poderá ter na prática de atividades
práticas e físicas por parte das crianças.
24
Capítulo 2 – O Impacto das TIC nas sociedades, indivíduos,
crianças e escolas
Após o capítulo inicial sobre a Sociologia da Infância, importa agora abordar e
fundamentar a segunda variável do tema a que me proponho estudar, as Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC) e, consequentemente, a Sociologia das Tecnologias.
Procurarei referir, entre outros temas, algumas das funções de relevo das TIC, assim
como: os impactos positivos e negativos das tecnologias no nosso dia a dia; de que forma
os avanços tecnológicos têm alterado a vida dos indivíduos e as desigualdades sociais, e,
sobretudo, os impactos no desenvolvimento das crianças e seus hábitos, e as mudanças a
nível das atividades escolares.
É dada uma enorme preponderância à história, à cultura do meio onde as crianças
crescem e se desenvolvem, como sendo as variáveis que definem “…as condições e as
possibilidades, em cada formação social e em cada momento concreto, desse brincar onde
ocorre a reconfiguração de valores, ideais e da experiência acumulada.” (Sarmento, 2011,
583). O desenvolvimento e a grande banalização das TIC na sociedade, com destaque
para o enorme aumento do uso das mesmas por parte das crianças, teve um impacto no
papel e comportamentos deste grupo de indivíduos, assim como nos valores e noções de
cultura absorvidas pelas crianças, trazendo consequentemente mudanças “…na
configuração dos mundos sociais e culturais em que as crianças contemporâneas estão
imersas, convém recordar esta dimensão de mudança, de imprevisibilidade e de incerteza
em que se joga a história contemporânea da infância.” (Sarmento, 2011, 583).
2.1) Importância e Aumento do Uso das TIC
Atualmente, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) estão de tal
forma presentes e envolvidas na sociedade que a utilização das mesmas deixa de ser
realizada com a devida moderação, criando-se uma dependência. O seu uso deixa
também, de ser realizado com as devidas precauções, deitando muitas vezes por terra a
importância e a verdadeira dimensão dos impactos que as TIC têm nas sociedades atuais,
“O exagero profético e a manipulação ideológica que caracteriza a maior parte dos
discursos sobre a revolução da tecnologia da informação não deveria levar-nos a cometer
25
o erro de subestimar sua importância verdadeiramente fundamental. Esse é, como este
livro tentará mostrar, no mínimo, um evento histórico da mesma importância da
Revolução Industrial do século XVIII, induzindo um padrão de descontinuidade nas bases
materiais da economia, sociedade e cultura.” (Castells, 2011, 68). A verdade é que as
sociedades atuais dependem muito das TIC, ao ponto de ser difícil imaginar uma
sociedade atual, com grande nível de progresso tecnológico e poder económico, sem
acesso à internet, por exemplo.
A capacidade e nível de acesso à informação, revela ser, hoje em dia,
preponderante para diversas realidades como a obtenção de um emprego, ou a formação
académica, e, desse modo, torna-se importante combater a inacessibilidade às TIC por
parte de grandes grupos de indivíduos existentes na sociedade. “As sociedades modernas
dependem do acesso à informação, como tal o combate à infoexclusão deve ser visto
como um desafio.” (Ferreira, 2009, 88).
Na obra de Paula Ferreira e de Ana Francisca Monteiro, “Riscos de Utilização das
TIC”, são analisados diversos dados estatísticos de enorme relevo para o tema desta
mesma dissertação e que deveriam ser alvo de estudo e posteriormente de ações de
sensibilização para o público em geral.
O que os dados permitem concluir é que, já em 2007 cerca de metade da população
nacional tinha um computador em casa e muitos já teriam acesso à internet. Permite
concluir, também, que eram os indivíduos pertencentes a faixas etárias mais baixas que
mais utilizavam as TIC, principalmente o computador e a internet. A análise dos dados
deixa patente, que o uso das TIC varia não só com a idade como fora mencionado antes,
mas também com o nível de escolaridade, uma vez que à medida que esta variável
aumenta, também o uso das tecnologias tende a aumentar. “De igual modo, quanto maior
a escolaridade maior é a procura das tecnologias.” (Ferreira, 2009, 90).
O mesmo artigo refere as conclusões obtidas através do Eurobarómetro de 2006,
onde foram realizados inquéritos a pais e onde se pode verificar que muitos permitem
uma utilização completamente livre, sem qualquer tipo de limitação, das TIC e que a
grande maioria dos inquiridos pouco ou nada domina na área do uso das tecnologias.
“A regra mais mencionada foi o limite de tempo, por 60% dos inquiridos, 51% proíbe a
visita a determinados sites e 14% a transmissão de informação pessoal. A maioria dos
26
inquiridos (68%) assumiu necessitar de mais informação sobre como proteger as
crianças.” (Ferreira, 2009, 90).
Diversos outros estudos têm sido realizados nesta mesma área, onde se evidencia
o crescimento das TIC nas casas portuguesas, mas também uma maior necessidade no
acesso a estas mesmas tecnologias por questões relacionadas com atividades escolares.
Estes estudos permitem também analisar as atividades mais realizadas, como por exemplo
a troca de mensagens eletrónicas, fóruns ou salas de chat. Estas atividades podem, por si
só, ser uma porta de acesso para inúmeros perigos, principalmente se tivermos em
consideração e conjugarmos com outros fatores apurados através do estudo “E-
Generation os usos de Media pelas crianças e jovens em Portugal”, realizado em 2007
pelo CIES/ISCTE (Centro de Investigação e Estudos em Sociologia, Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa), onde, não só iniciam a utilização da internet numa
tenra idade e cada vez mais jovens, como 29,2% dos jovens admite fazer-se passar por
outras pessoas, 32% diz mesmo ter amigos virtuais sem que os conheçam e 22% desses
já conheceu pessoalmente esses “amigos desconhecidos”.
Posto isto, fica patente não só a enorme variedade de riscos aos quais as crianças
estão sujeitas ao utilizar as TIC, como também a falta de conhecimento que pais e
restantes familiares muitas das vezes evidenciam, tanto a nível de utilização,
conhecimento dos riscos ou formas de os superar e evitar.
2.2) O Impacto das TIC na Escola e na Criança, mudanças nos “ofícios”
São inevitáveis os impactos e o grande crescimento do uso das TIC tanto em
ambiente escolar, como em casa. Com isto, surgem inúmeras medidas e projetos para
facilitar o acesso às TIC por parte dos estudantes, passando por medidas que facilitem a
aquisição de equipamentos, como o conhecido caso do computador Magalhães,
computador esse desenvolvido especificamente para os trabalhos escolares e de baixo
custo, ou por outro lado aumentando o número de computadores disponíveis na escola
e/ou renovando os já existentes.
27
Acontece que, apesar dos inúmeros programas desenvolvidos, há ainda um longo
percurso a percorrer para que se atinjam os níveis esperados e desejáveis no uso das TIC
nas escolas, pois não há nem recursos nem formação adequada para que tal aconteça. Há
ainda alguns autores que afirmam que os próprios professores criam uma determinada
resistência no uso das TIC, devido a um receio de eventualmente perderem o seu papel
central no que toca à aprendizagem. (Tobin e Dawson at Ferreira 2009).
Muitos dos impactos das TIC focam-se em plena sala de aula e,
consequentemente, nas crianças, alterando o seu papel na sociedade e o que é ser criança
e aluno. Como Manuel Jacinto Sarmento refere no artigo “A Reinvenção do Ofício de
Criança e de Aluno”, e como o próprio título indica, o ser-se criança, assim como o ser-
se aluno, são papeis que têm sofrido inúmeras alterações. A própria infância encontra-se
constantemente em mudança no que toca aos indivíduos que a constituem, uma vez que
há constantemente indivíduos a nascer, envelhecer e morrer. Apesar de ser uma fase
transitória da vida de um indivíduo, também este grupo social tem elementos de inúmeras
e muito diversificadas origens, o que se traduz em diferentes oportunidades, condições de
vida e acesso às TIC. No entanto, “… há elementos comuns que caracterizam todas as
crianças e possibilitam a consideração desta realidade social colectiva distinta, a infância:
a peculiar situação de vulnerabilidade e dependência social, económica e jurídica dos seus
membros; a ausência de direitos cívicos e políticos formais; o conjunto de concepções
socialmente produzidas que, sendo heteróclitas e contraditórias, têm o poder de
referenciar distintivamente o que é ser “criança”. Estes elementos comuns não são
estáticos, transformam-se ao longo dos tempos, tanto quanto dos espaços geográficos e
sociais, mas configuram condições específicas de existência para as crianças em cada
espaço-tempo concreto. A história marca indelevelmente a geração da infância.”
(Sarmento, 2011, 584).
Também os adultos, a par das já mencionadas variáveis, têm um enorme impacto
nas crianças, não só por serem pais e responsáveis por transmitir valores e crenças, mas
também como indivíduos que controlam e tomam decisões na sociedade e ocupam lugares
importantes como políticos, médicos e professores.
28
Como já fora mencionado no capítulo anterior, e como Sarmento faz questão de
referir, importa não esquecer ainda o impacto que as próprias crianças têm neste grupo
social denominado de infância, através da forma como estes interpretam o mundo e tudo
aquilo que lhes é transmitido.
Segundo o autor, a normatividade da infância na contemporaneidade assenta em
quatro eixos diversos, sendo eles: a escola pública; a família nuclear; um conjunto de
saberes institucionalizados e a administração simbólica. “O conjunto de injunções
decorrentes destes quatro pilares associados contribuíram, desde há cerca de dois séculos
e meio, para consignar à criança um lugar social próprio, cuja desenho e topografia
corresponde à representação social dominante da infância.” (Sarmento, 2011, 586). Daqui
surgiu o conceito de “ofício de criança”, antes referido mais comummente como “ofício
de aluno”. O que importa salientar é que, todas as alterações na sociedade implicam,
consequentemente alterações no “ofício de criança”, sendo as TIC e a sua grande
utilização e invasão dos nossos dias, causadoras de diversas mudanças a nível dos
comportamentos e forma de estar das crianças, tanto na escola como em casa, ou em
qualquer outra dimensão das suas vidas. Exemplos dessas alterações são, possivelmente,
o desenvolvimento físico, com variações na atividade física realizada, ou nos hábitos
alimentares.
“Com a escola, a criança assume o estatuto de ser social, objecto de um processo
intencional de transmissão de valores e saberes comuns, politicamente definidos, e
destinatário objectivo de políticas públicas.” (Sarmento, 2011, 588). Foi com a escola que
surgiu o grupo social criança, daí a utilização tanto do termo “ofício de aluno” e “ofício
de criança”, e estarmos muitas das vezes perante o paralelismo criança-aluno.
A escola pública procura dar acesso ao mesmo conhecimento a todas as crianças,
independentemente da classe de pertença, etnia, género ou outra qualquer variável. A
criança era vista como uma tela em branco, despojada de crenças e valores, como uma
argila pronta para ser trabalhada pela escola, que tentava uniformizar o conhecimento
adquirido pelas crianças, pelo menos numa fase inicial. O aluno era um aprendiz de um
mestre que neste caso seria o professor, uma vez que a escola tinha adotado o modelo
fabril no que toca à sua organização. No entanto, a escola tem vindo a sofrer inúmeras
alterações, numa tentativa de se ir adaptando as exigências da sociedade e também à
evolução tecnológica, “O papel fundamental da escola já não é o de preparar uma pequena
29
elite para estudos superiores e proporcionar à grande massa os requisitos mínimos para
uma inserção rápida no mercado de trabalho. Pelo contrário, passa a ser o de preparar a
totalidade dos jovens para se inserirem de modo criativo, crítico e interveniente numa
sociedade cada vez mais complexa, em que a capacidade de descortinar oportunidades, a
flexibilidade de raciocínio, a adaptação a novas situações, a persistência e a capacidade
de interagir e cooperar são qualidades fundamentais.” (Ponte, 1995, 1).
A falta de credibilidade por parte dos indivíduos na sociedade, ou seja, no Estado,
nas instituições e nos serviços, leva, segundo Sarmento, a “…comportamentos e
interesses que exponenciam o individualismo e a busca competitiva da auto-satisfação
individual.” (Sarmento, 2011, 591), o que consequentemente se traduz em diversas
desregulações na sociedade e numa busca feroz pelo novo e pelo melhor, o que não só
alimenta o capitalismo desmedido, mas também cria desequilíbrios e desigualdades entre
os indivíduos, uma vez que nem todos têm a mesma capacidade de acesso aos bens
disponíveis no mercado.
“Nestas circunstâncias, o ofício de aluno é construído em torno da procura
concorrencial de trajectos diferenciados – que se podem exprimir, ou não, em vias
alternativas, duais e/ou estratificadas, de prosseguimento da escolaridade – com uma
redefinição do mérito como ideologia do sucesso, devidamente aferido e balizado por
políticas definitórias da “qualidade”, as quais, et pour cause, são fortemente sustentadas
em processos avaliativos e selectivos.” (Sarmento, 2011, 592). A escola deixa de ver os
alunos como telas brancas e uniformes, sendo que o individualismo cada vez se destaca
mais, atribuindo-se o sucesso de cada aluno ao mérito de cada um, o que por sua vez
alimenta a competitividade entre os mesmos. De se destacar ainda que o percurso escolar,
o sucesso ou não que o aluno tem na escola, traz repercussões na sua inserção social, o
que por si só também revela a importância que tem proporcionar um acesso global e até
certo ponto igualitário, às Tecnologias de Informação e Comunicação.
O surgimento deste trabalho mais solitário ou mais autónomo por parte dos alunos,
foi uma das mudanças que foram surgindo no “ofício do aluno”, mas sem que houvesse
uma completa liberdade, uma vez que se manteve a necessidade de criar momentos
regulares de avaliação dos estudantes, facto que Manuel Sarmento refere de paradoxal.
Esta nova situação não só parece uma falsa autonomia do aluno, olhando as limitações
impostas e obrigações a cumprir, como, e uma vez mais, faz ressaltar as desigualdades
30
sociais, onde alguns dos alunos ficam privados de uma certa autonomia. Em vários casos
podem até acabar o seu “oficio de aluno”, sendo de certo modo forçados a sair da escola,
tanto por falta de condições, como por insucesso.
A escola atual prepara os alunos para a aquisição de saberes e princípios que
tornem a criança num bom aluno, sendo esse um dos seus principais focos, enquanto que,
por outro lado, peca pela falta de formação e prática de diversas outras atividades
caracterizadoras, não só do papel de aluno, mas principalmente do de criança. Assim, “O
ofício de aluno como ofício de criança é por isso incompleto, imperfeito e parcial.”
(Sarmento, 2011, 593). O autor aponta as TIC como principal exemplo disso mesmo, pois
se por um lado as TIC podem ajudar a adquirir e a ter acesso a conhecimento, por outro
lado, podem ser causa de distrações em plena sala de aula. Se por um lado facilitam o
contacto com diversas pessoas online e a cultura de pares, por outro podem dificultar a
comunicação com quem está ao redor. É com estas questões sobre a legitimação do uso
das TIC, que o autor introduz o conceito de “E-ofício de criança”.
Segundo Sarmento, existem três fatores em particular, para o surgimento deste
conceito, sendo um dos fatores a constante introdução de novas tecnologias em pleno
ambiente escolar. Isto é algo que já acontece há um longo período, dando inclusive o
autor o exemplo da evolução das canetas ou o fim do uso das sebentas.
Outro fator mencionado é o facto das TIC serem uma porta para um mundo de
conhecimento e aprendizagem, o que implica mudanças mais profundas na escola e no
papel de aluno, tal e qual como a conhecemos. Deste modo, as crianças não dependem da
escola para aprender, o que pode pôr em causa a importância do papel da escola na
sociedade, o que implica, uma vez mais na história, a que haja adaptações por parte dos
estabelecimentos de ensino.
O terceiro e último fator é o impacto que as TIC têm nos hábitos das crianças, na
ocupação dos tempos livres, uma vez que os mesmos aparelhos que permitem aprender,
também permitem realizar uma enorme quantidade de outras atividades, como por
exemplo, ver filmes, ouvir música ou até jogar. “Estes espaço-tempos (na sala de aula, no
ATL ou em casa), anteriormente claramente distintos, tendem a diluir as suas fronteiras
e a integrar-se sob a forma de uma actividade idêntica (estar no computador), ainda que
com conteúdos diferentes. O e-ofício envolve e agrega a criança e o aluno na mesma
identidade funcional.” (Sarmento, 2011, 595).
31
Diversos estudos demonstram a grande diversidade de atividades que são
realizadas por crianças com as TIC pelo mundo, mas, é de destacar a existência de dados
que apontam para diferentes formas de estar e interagir com as mesmas, mediante a
cultura ou região do Globo em que habita, ou a própria classe social de pertença. O acesso
às TIC pode ou não ser condicionado, assim como o acesso à Internet e a atividades
online, como por exemplo, a compra de bens.
Toda esta elevada utilização das TIC repercute-se em alterações no ofício de
criança, e acarreta mudanças nos seus comportamentos, formas de estar e cultura. Uma
das mudanças, que pode inclusive ser observada e sentida, por parte dos grandes
utilizadores de tecnologias, é o facto de as relações criadas serem fugazes, ou seja,
temporárias, sem fortes ligações e até, em determinados casos, baseadas em bases falsas,
uma vez que online podemos ser quem nós quisermos e como quisermos. Esta nova forma
de comunicar, implica mudanças na forma que indivíduos se relacionam, são e estão uns
com os outros, não retirando o papel e a importância da relação face-a-face. Outras duas
alterações que Manuel Sarmento apresenta no seu artigo “A Reinvenção do Ofício de
Criança e de Aluno”, são os impactos que a comunicação à distância tem no léxico, na
capacidade oratória e de escrita das crianças, uma vez que estas passam a maior parte do
tempo a escrever sem regras ou, por outro lado, numa escrita com características muito
próprias, o que acabam por se repercutir na aprendizagem.
A última alteração causada pelas TIC que o autor refere está associada às classes
sociais e às diferenças no acesso a determinados bens e tecnologias, como já foi
brevemente referido. Com as mudanças que ocorrem na contemporaneidade, as grandes
empresas viram-se forçadas a adaptarem-se e a criar aplicações, jogos, ou até brinquedos
didáticos mais tecnológicos ou para serem usados em computadores, tablets ou em
telemóveis. “Nesse sentido, o e-ofício tendencialmente globaliza-se. Mas não da mesma
maneira, para todos. As desigualdades sociais, com efeitos no acesso e uso da cultura
material para as crianças, implicam e reproduzem-se em desigualdades entre as crianças
no acesso às fontes de configuração contemporânea das culturas da infância. O estudo das
desigualdades no acesso à cultura material das crianças não pode, por isso, deixar de ser
adequadamente considerado nas transformações da condição social da infância.”
(Sarmento, 2011, 598).
32
Esta circunstância, acaba por se traduzir num acesso desigual ao conhecimento,
às ferramentas facilitadoras de aprendizagem, relembrando quão importante são os
condicionalismos sociais estruturais.
2.3) Os Riscos da Utilização das TIC
Embora haja consenso sobre o aumento do uso das TIC e da necessidade de serem
acessíveis, as dúvidas e receios começam a surgir quando o assunto são os riscos que
estas podem representar, sobretudo quando os utilizadores são crianças, porque estas
tendem a agir, mais do que refletir e ponderar antes de fazer, “These school-age children’s
primary interest in computers is in what they can do with them. This stage is dominated
by action, not reflection. The hards and the softs, the girls and the boys, are looking for
challenges to meet: to beat a game, to produce startling visual effects. Their interests are
to make, to do, to master.” (Turkle, 2005, 131). Os riscos não se limitam ao que é visto e
até ouvido nos aparelhos, mas também às consequências dos longos períodos de tempo
em que se está a utilizar as TIC e se fica privado de qualquer atividade física, fator esse
de extrema importância no desenvolvimento do indivíduo.
A questão que se levanta e que dificulta o que poderia ser uma simples resolução
destes problemas, é que não se pode proibir o acesso às tecnologias por parte das crianças,
tendo em consideração a sociedade atual. Encontramo-nos numa sociedade extremamente
competitiva e o domínio das TIC é um ponto fundamental para o sucesso no mercado de
trabalho e não só.
Os riscos associados às TIC são variadíssimos, desde o conteúdo a que se pode
aceder, mas também a casos de crianças indefesas às mãos de adultos mal intencionados,
às radiações de telemóveis, e ao vício, que consequentemente poderá levar a uma vida e
hábitos extremamente sedentários, entre muitos outros exemplos. O vício da Internet é já
considerado uma nova desordem e “…algumas pessoas ficam preocupadas quando não
conseguem controlar o tempo que passam online e começam a prejudicar as relações e o
emprego.” (Ferreira, 2009, 94), o que por si só demonstra a dimensão dos impactos deste
vício, que, no entanto “… não se trata de uma doença reconhecida, tal como o vício do
telemóvel.” (Ferreira, 2009, 94).
33
O uso excessivo das TIC apresenta-se diretamente relacionado com o aumento da
obesidade infantil, havendo dados que apontam para tal, em diversas regiões do globo.
“A Internet em si não é boa nem é má, depende do uso que se faça dela”, …, a
Internet, para além de um possível risco, é sobretudo, uma oportunidade.” (Ponte e Vieira
in Ferreira, 2009, 92). A ideia que esta afirmação pretende transmitir é a de que a Internet
e as TIC no geral não são por si só coisas más ou boas, tudo depende da forma que estas
são utilizadas, sendo que, o que importa desenvolver e incutir nos utilizadores,
principalmente os mais novos, é um sentido de responsabilidade, ponderação e
moderação, uma sensibilização orientada para o uso correto das TIC. Não são raras
atualmente, as reportagens sobre estes riscos, não só sobre pedofilia, como os casos dos
jogos mortais, jogo da Baleia Azul, ou o jogo da MOMO, casos estes extremamente
recentes e com consequências a nível mundial. Assim como estes exemplos podem-se
ainda referir certos riscos que não envolvem um perigo físico, como o roubo de
informação pessoal, a questão dos direitos de autor, ou até os vírus.
A Internet permite viver fora deste mundo, o que promove o isolamento, assim
como a dependência. Parece ser dada uma preferência ao “contacto” e convívio através
de uma plataforma digital, em detrimento do convívio face a face.
Muitas empresas que geram milhões de euros atualmente não podem abdicar do
marketing online, destacando-se ainda as próprias redes sociais, onde os criadores das
mesmas são dos indivíduos mais ricos do mundo. Todos estes empresários exploram ao
máximo todo o potencial que a Internet disponibiliza, procurando chamar toda a atenção
para os seus produtos, websites, redes-sociais, aliciando os indivíduos, “A sedução pelo
simbólico e os recursos semióticos aliciadores utilizados pelos meios para atrair o usuário
à Internet realçam o fator de que o meio social e a necessidade crescente de contacto com
os media desempenham um importante papel na dependência.” (Sá, 2012, 135).
O vício na internet pode ser tão nocivo e causar danos na saúde mental, como um
vício no álcool ou em drogas, e isso é muito importante que se transmita e se fale
abertamente em escolas e em diversos meios de comunicação.
34
Desde o seu surgimento que se referem possíveis malefícios da Internet, sendo
que o difícil é não se realizar uma investigação à luz da psiquiatria, mantendo o foco nas
demais ciências sociais. Por isso mesmo, tanto na presente dissertação como na obra “À
frente do computador: a Internet enquanto produtora de dependência e isolamento” de
Gustavo Malafaya Sá, haverá referências às consequências do uso das TIC nessa mesma
perspetiva, “No entanto, tratar de temas como esses, sem cair no campo da psiquiatria,
acaba por ser um grande desafio por parte dos pesquisadores das ciências sociais. Aqui,
a abordagem proposta visa navegar pelos dois campos. Isso porque, nos estudos sociais,
não há dissociações dessa natureza. Entende-se o indivíduo como um todo e sua relação
com o meio social.” (Sá, 2012, 137).
Atualmente já existem alguns centros de ajuda psiquiátrica em alguns países,
especializados em tratar casos de dependência da Internet. Importa destacar que nem
sempre foi classificado como vício o uso da Internet, uma vez que esta não envolve o
consumo de qualquer tipo de químicos, sendo que o problema se centra no
comportamento do usuário, no tempo em que este passa “online”. Estes comportamentos
tendem a piorar quando se fala de crianças, uma vez que estas têm por norma um menor
controlo nos seus impulsos e tempo passado com as TIC. De ressalvar ainda que os
sintomas de dependência são algo graduais e nem sempre evidentes, sendo que os
comportamentos se vão modificando lentamente, fazendo com que os utilizadores não se
apercebam em muitos dos casos de que padecem de uma dependência pela Internet.
O vício na Internet pode revelar problemas de diversas naturezas, como por
exemplo, com o trabalho e, ou problemas a nível familiar, “Os afetados chegam a perder
seus empregos e, muitas vezes, colocam em risco os relacionamentos. Optam, seduzidos
pelo meio virtual (e suas inúmeras possibilidades), por relacionamentos pautados na
fantasia, em detrimento dos da realidade tradicional.” (Sá, 2012, 139). Este vício, esta
sedução existente pelo mundo offline, leva a que os indivíduos priorizem as relações
virtuais em detrimento das pessoais, ou reais. Por essa mesma razão, o isolamento é uma
consequência e sinal óbvio da existência de vício na Internet. Características como a
timidez, falta de autoconfiança, falta de dinheiro, entre outras, são algumas das causas do
rápido crescimento da dependência, uma vez que podem ser sinais que indiquem que estes
indivíduos possam eventualmente evidenciar uma preferência em viver num mundo
virtual. Por esta razão torna-se de extrema importância identificar fatores de risco, assim
35
como alertar para os mesmos e desenvolver medidas preventivas. “A Internet, por sua
natureza sedutora (pelo novo, moderno, ...), pode estimular o acesso excessivo, mas,
geralmente, só ficam adictos os sujeitos psicologicamente propensos. Na realidade,
entende-se que os fatores são externos.” (Sá, 2012, 145). Esta citação da obra de Gustavo
Sá, deixa assim a ideia de que eventualmente será possível prever ou identificar possíveis
casos de adição à Internet e às TIC, denotando-se ainda a necessidade de se desenvolver
bastante investigação sobre o tema.
2.4) Conclusão
Em suma, torna-se mais do que evidente a importância presente e futura das TIC.
É praticamente impossível imaginar um sistema de ensino, de saúde ou até de pequenos
negócios, sem a utilização destes mesmos recursos. Assim sendo, e como cortar o
contacto com as tecnologias não é uma opção válida, revela ser mais prudente apostar
numa formação adequada, num ensinamento focado nos mais novos, sobre o bom uso das
TIC, alertando-os para os riscos. Importa criar e desenvolver uma sensibilização para os
potenciais perigos, uma vez que “…o que se agrava com o excesso de auto-confiança dos
jovens, que acreditam dominar as tecnologias e que consideram que nada os pode
afectar.” (Ferreira, 2009, 97).
Resta ainda saber, quem fica a cargo dessa mesma formação, ou ação de
sensibilização, se os pais ou os professores. Quem tem esta responsabilidade e quem tem
formação suficiente para o fazer?
36
Capítulo 3 - Metodologia de Investigação
Neste terceiro e último capítulo antes da recolha de dados e posterior análise dos
mesmos, proponho-me não só a discutir a metodologia a ser utilizada, como também o
porquê da escolha de determinadas técnicas, evidenciando possíveis vantagens e, ou
desvantagens perante outros.
Importa desde já destacar a importância que as crianças têm nesta dissertação e a
sua relação com o objeto de estudo, as TIC. Este grupo de indivíduos é munido de
características muito próprias, que importam ter em consideração. Juntando isto ao tipo
de dados que se pretende recolher, houve forçosamente a necessidade de se fazer uma
escolha cuidada e ponderada dos métodos e técnicas a utilizar na presente dissertação.
Uma vez que se procura obter e posteriormente analisar uma grande quantidade
de informação sobre um número reduzido de variáveis, a metodologia qualitativa pareceu
desde logo a mais adequada. Acontece que, e como já fora mencionado, o público-alvo é
maioritariamente composto por crianças. Portanto, seria complicado realizar entrevistas
ou pelo menos garantir a seriedade e veracidade das respostas e por outro lado, seria uma
tarefa imensa entrevistar todos os pais, ou pelo menos um deles, de todas as crianças
envolvidas, o que faz surgir então a necessidade de se aplicar inquéritos, de modo a
complementar as restantes técnicas, para que se possa recolher dados que nos permitam
identificar e traçar variáveis importantes como, por exemplo, identificar a classe social
de pertença das crianças envolvidas e também o local onde a escola se encontra, ou seja,
classificar o meio de pertença da instituição de ensino em causa.
Podemos desde já concluir que, para se estudar o tema em causa, será então
utilizado o método Indutivo, uma vez que se procurará através de um número reduzido
de casos, perspetivar a realidade geral. Será ainda uma investigação interpretativa e
construtivista. Interpretativa, uma vez que o trabalho terá de ser desenvolvido do ponto
de vista de quem compõe o grupo social, através dos olhos dos indivíduos a serem
estudados, de modo a se compreender o mundo social mediante as suas interpretações, ou
por outras palavras, a forma como é compreendida determinada realidade por quem
compõe determinado grupo social. “The social world must be interpreted from the
perspective of the people being studied, rather than as though those subjects were
incapable of their own reflections on the social world.” (Bryman, 2012, 399).
37
Uma vez que será utilizada uma metodologia qualitativa, terá o construtivismo
como orientação ontológica, até porque a criança está em constante estado de
aprendizagem e o conhecimento não é algo inato ou imposto pelos objetos, o
conhecimento surge pela interação com os objetos e as interpretações formadas através
dessas mesmas interações.
Posto isto, as técnicas pelas quais se optou para esta mesma dissertação foram: a
Entrevista (Anexo 3 e Anexo 4), o Grupo Focal (Anexo 1) e o Inquérito (Anexo 2). Estas
técnicas pareceram ser as mais adequadas para o tema em causa e também tendo em
consideração o objeto de estudo (crianças com idade igual ou inferior a 10 anos),
possibilitando uma grande quantidade de informação para que se possa aprofundar o
estudo das variáveis em causa, mas também e como foi dito anteriormente, para
possibilitar a compreensão do tema através dos olhos dos indivíduos que compõem este
grupo social.
Importa ainda mencionar que as diversas técnicas escolhidas apresentam um
grande nível de complementaridade, sendo que cada um deles tem uma enorme
importância na realização da dissertação, e podendo inclusivamente, em algumas
ocasiões, suceder-se a hipótese de se recolher informações completamente opostas, ou,
por outro lado, acontecer o caso de haver alguma informação que só seja possível
recolher-se com uma única técnica. Exemplo disso será a recolha de dados sobre os
hábitos de ocupação dos tempos livres das crianças quando estas se encontram em casa,
onde se dará preferência e será mais apropriado o uso das entrevistas com alguns pais,
para a obtenção deste tipo de informação.
Por outro lado, serão realizados grupos focais. Importa com esta técnica, dar
alguma liberdade para debate entre os diversos indivíduos, mas dentro de alguns limites
e prestando atenção à interação que possa ocorrer entre os participantes.
A escolha de várias técnicas prende-se também com a possibilidade de se cruzar
os dados recolhidos das diversas fontes, corroborando a informação que se vai obtendo,
o que consequentemente se traduz numa maior validade dos resultados através do
conceito de triangulação, “When applied to the present context, it implies that the results
of an investigation employing a method associated with one research strategy are cross
checked against the results of using a method associated with the other research
strategy.” (Bryman, 2012, 635).
38
3.1) Amostra e População Estudada
Pode-se desde já concluir que, nesta investigação estamos perante um caso de
amostra intencional, uma vez que houve critérios que nos levaram a predefinir
estrategicamente que tipo de indivíduos nos interessaria estudar. Assim sendo, o público-
alvo serão crianças estudantes do 1º ciclo básico, onde se procurará recolher dados
relacionados com os hábitos de utilização das TIC.
Com a amostra intencional, podemos retirar da equação a total aleatoriedade,
estudando-se, assim, apenas indivíduos de relevo para o que se pretende investigar.
Segundo Bryman, citando os autores Glaser e Strauss (2012: 419), o tipo de amostra
intencional aqui em causa é a amostra teórica, uma vez que neste caso há primeiramente
uma investigação teórica, onde é realizada uma análise que permite definir qual os
critérios mais vantajosos, em termos de obtenção de uma melhor amostra e
consequentemente resultados mais interessantes, ou válidos para a investigação,
“…theoretical sampling ‘is the process of data collection for generating theory whereby
the analyst jointly collects, codes, and analyzes his data and decides what data to collect
next and where to find them, in order to develop his theory as it emerges.”. Acontece que,
na amostra teórica, é possível que mais tarde se venham a acrescentar outros indivíduos
à amostra, sendo que para isso, é necessário analisar se tal facto é ou não proveitoso para
a recolha de dados e elaboração teórica.
“Given the theoretically unlimited possibilities of
integrating further persons, groups, cases, and so on it is
necessary to define criteria for a well-founded limitation of
the sampling. These criteria are defined here in relation to
the theory. The theory developing from the empirical
material is the point of reference. Examples of such criteria
are how promising the next case is and how relevant it
might be for developing the theory.” (Flick, 2009, 118).
39
O caso particular desta dissertação será exemplo disso mesmo, uma vez que, numa
fase mais avançada da investigação, a amostra será um pouco aumentada, com o
acréscimo de alguns docentes e pais que serão alvo de entrevistas, de modo a que possam
fornecer uma perspetiva do que ocorre em salas de aula e em casa, bem como
pensamentos e limitações de quem está encarregue da educação das crianças envolvidas
na investigação, tornando-se assim um ponto de vista relevante para a investigação.
Parte do processo de definição da população a estudar passava por se encontrar
pelo menos uma escola onde se pudesse desenvolver e aplicar as diversas técnicas de
recolha de dados. Foi com muito esforço e tempo despendido, e apenas após recorrer a
contactos pessoais, que tal foi possível de se realizar. De destacar, desde já, que o meio
onde se encontra a escola terá por si só influência na amostra, dadas as características dos
indivíduos que a frequentam. O processo de encontrar uma escola onde investigar, foi
algo a definir desde o começo da dissertação, não só devido à própria dificuldade em se
conseguir contactar os responsáveis pelos estabelecimentos de ensino, mas também
devido a possíveis questões burocráticas, como por exemplo, pedidos de autorização, o
que poderia tornar o processo moroso. De apontar que apenas numa única escola foi dada
luz verde para que se realizasse a investigação.
A escola em questão é a Escola Básica da Fonte da Moura, pertencente ao
Agrupamento Vertical Manoel de Oliveira. Localiza-se na cidade do Porto, mais
propriamente no bairro social da Fonte da Moura. A escola é apenas do 1º ciclo, sendo
que, as crianças que a frequentam encaixam perfeitamente nos critérios desejados e
predefinidos para a amostra.
Neste estabelecimento de ensino, e mediante o que fora combinado em reuniões
com o diretor do agrupamento e com a diretora da escola, os Grupos Focais serão
realizados na única turma de 1º ano, nas duas existentes do 3º ano e nas duas do 4º ano,
mas, no entanto, os inquéritos só serão aplicados nas turmas dos anos mais avançados.
40
3.2) Grupos Focais
Como já fora referido previamente, uma das técnicas de recolha de dados
escolhida é a elaboração de Grupos Focais (Anexo 1). Sendo este uma técnica qualitativa,
a sua escolha foca-se no público alvo, uma vez que a sua realização pode revelar uma
maior facilidade no que toca à sua aplicação, mas pode revelar também uma maior
atratividade para as crianças que participarão nas atividades. Posto isto, importa agora
brevemente definir o conceito de grupo focal, não só para uma melhor compreensão de
como elaborar a recolha de dados, mas, sobretudo, para a clarificação do porquê da
escolha desta técnica em detrimento de outras hipóteses.
Uma das características que desde logo se destaca nesta ferramenta, é o facto de
se poder recolher informação e opiniões de diversos indivíduos com conhecimento e/ou
experiência do que se pretende estudar num mesmo momento, assim como o facto de
neste caso, não ser necessário uma grande estruturação das questões, “The original idea
for the focus group—the focused interview—was that people who were known to have
had a certain experience could be interviewed in a relatively unstructured way about that
experience.” (Bryman, 2012, 503). Assim sendo, o grupo focal evidencia desde já
características vantajosas, tanto para ser realizado com crianças, mas também na própria
escola, uma vez que reduz não só o tempo de entrevista, como evita qualquer tipo de
tempo a sós com uma criança, o que seria claramente mais complicado de realizar e
também de obter autorização, tanto da escola, como eventualmente dos encarregados de
educação. Outro ponto importante já mencionado, é o facto de não haver qualquer tipo de
necessidade para que haja uma estruturação rigorosa da entrevista, ou das perguntas a
colocar, pois embora haja um guião de perguntas, nada impede de se vaguear um pouco
na conversa e debate gerado, o que muito provavelmente irá suceder, até porque será
realizado com crianças. Importa sempre deixar em aberto a possibilidade de surgirem
outros temas, e de que haverá sempre alguma imprevisibilidade característica das
interações, principalmente de uma idade tão nova.
41
O surgimento de debate e consequente apresentação de diferentes opiniões sobre
o tema questionado, é uma das várias vantagens desta técnica de recolha de dados, sendo
que contribui para uma recolha de diversos pontos de vista e possíveis respostas, de uma
forma rápida e simples, evitando-se por exemplo, entrevistar-se dezenas de indivíduos.
“These possibilities mean that focus groups may also be very helpful in the elicitation of
a wide variety of different views in relation to a particular issue.” (Bryman, 2012, 503).
O grupo focal será aplicado em algumas turmas onde, em plena sala de aula e
através de uma lista de tópicos pertinentes para a dissertação a desenvolver, serão
colocadas questões e consequentemente será dado tempo para resposta e debate entre as
crianças. Contudo, e por conselho de docentes e diretores da escola e agrupamento
vertical, as questões serão colocadas de forma a que se possa quantificar, ou seja,
independentemente do debate e diversas opiniões, serão colocadas questões que
permitam, por exemplo, saber quantas crianças têm determinado objeto, ou quantas
praticam determinada ação.
Outro possível obstáculo, e que, limitar a uma quantificação poderia ajudar, é o
facto de haver a possibilidade de não se conseguir conter o entusiasmo das crianças e
acabarem por falar várias ao mesmo tempo, tornando-se difícil registar o que diz cada
uma, quem diz o quê, ou até as reações que poderão ir acontecendo. A gravação do grupo
focal, seria certamente uma ajuda para alguns destes obstáculos e por isso mesmo será
posta em prática. Com esta técnica não importa só recolher as diversas respostas, mas
também a forma como as respostas são dadas, podendo por exemplo, o entusiasmo de
uma determinada resposta, ou falta dele, transmitir também informação importante.
42
3.3) Entrevistas
A segunda técnica de recolha de dados escolhida foi a entrevista individual
(Anexo3, Anexo 4), ou por outras palavras a entrevista um a um. Aqui importa escolher
a quem será feita a entrevista, uma vez que os indivíduos selecionados, não podem hesitar
em partilhar as ideias, hábitos e práticas do dia a dia. “For one-on-one interviewing, the
researcher needs individuals who are not hesitant to speak and share ideas, and needs to
determine a setting in which this is possible.” (Creswell, 2007, 133). Por esta razão, a
entrevista será realizada a adultos ao invés de crianças, uma vez que os adultos
desenvolverão mais as respostas. As crianças, por outro lado, muito provavelmente não
iriam fornecer dados com qualidade numa entrevista um a um, “The less articulate, shy
interviewee may presente the researcher with a challenge and less than adequate data.”
(Creswell, 2007, 133).
A entrevista (Anexo 3, Anexo 4) é um ótimo meio para aprofundar alguns dos
temas abordados nos grupos focais, mas também para se recolher informação mais
pessoal, ou seja, as práticas e representações de pais e professores a respeito das TIC. Esta
técnica de recolha de dados permitirá também adquirir informação referente ao que se
passa em plena sala de aula, assim como nas casas de muitas crianças. Desta forma,
teremos dados que, de outra forma, seriam extremamente difíceis de obter, uma vez que
seria impraticável elaborar observações sistemáticas em salas de aula, devido a
perturbações constantes no funcionamento das aulas, subjacentes, por exemplo, a
alterações nos comportamentos das crianças e perdas de atenção, ou elaborar observações
sistemáticas em casa de algumas destas crianças.
Para a elaboração da presente dissertação, as entrevistas serão realizadas na Escola
Básica da Fonte da Moura, onde, aliás, serão realizadas todas as recolhas de dados para a
investigação em curso. Pretende-se aplicar esta técnica a dois ou três professores e
também a dois ou três pais de crianças que frequentem o referido estabelecimento de
ensino.
O guião das entrevistas (Anexo 5) será elaborado apenas após a realização dos
grupos focais e dos inquéritos, dos quais falaremos melhor a seguir. A razão para tal se
suceder prende-se com o facto de toda essa informação contribuir para uma melhor
elaboração das questões e para que se saiba de antemão que tipo de informação poderá
43
estar a faltar, ou em que fatores já estudados e possivelmente questionados, será
necessário obter alguma informação complementar para que se compreendam
determinados fenómenos. “Advance preparation is essential to the interaction and
outcome of an interview. A substantial part of the investigation should take place before
the tape recorder is turned on in the actual interview situation” (Kvale, 1996, 126).
A entrevista a desenvolver será semiestruturada, uma vez que é desejável que os
entrevistados desenvolvam as respostas e que se possa dar espaço para que o imprevisto
aconteça, mas também, apesar de haver no momento das entrevistas temas em concreto
para os quais se deseja obter mais informação, importa que os entrevistados partilhem as
suas perspetivas, os seus pareceres sobre o assunto e as questões colocadas, sendo que,
em alguns dos casos, espera-se mesmo que nos consigam dar sugestões para possíveis
resoluções de problemas existentes no uso e relação das TIC com as crianças e
aprendizagem. Posto isto, poderá muito certamente acontecer que se venham a colocar
questões que possam não estar no guião desenvolvido (Anexo 5), ou até que se façam as
questões por uma ordem diferente, sendo esta flexibilidade mais uma característica
especifica de uma entrevista semiestruturada e que a distingue, de uma entrevista
estruturada utilizada em investigações quantitativas. “As a result, qualitative interviewing
tends to be flexible, responding to the direction in which interviewees take the interview
and perhaps adjusting the emphases in the research as a result of significant issues that
emerge in the course of interviews.” (Bryman, 2012, 470).
Importa alertar que, previamente ao início da entrevista, é de extrema importância
comunicar clara e abertamente a intenção em gravar a mesma, uma vez que tal só pode
ocorrer com o consentimento do entrevistado. Deste modo, e graças à realização da
gravação da entrevista, será necessário transcrever, ou seja, passar para suporte escrito,
perguntas e respostas que surgirão na entrevista, mas também possíveis conversas de
algum modo off topic, exemplos dados e reações e traços comportamentais de relevo, caso
se aplique, uma vez que todos estes aparentes pormenores podem também transmitir
dados importantes, para a elaboração da presente dissertação.
44
3.4) Inquéritos
Por último, utilizar-se-á também a técnica do inquérito (Anexo 2), onde serão
aplicados uns questionários de pequena dimensão. Como fora mencionado previamente,
há dados importantes aos quais seriam difíceis aceder ou recolher de uma outra forma,
tanto devido à impossibilidade da escola fornecer dados pessoais dos pais das crianças,
como devido à impraticabilidade de questionar todos os pais de todas as crianças que
estarão envolvidas nos grupos focais. Assim sendo, e tendo em consideração os dados
que já vão sendo recolhidos com as outras duas técnicas, os dados que ainda importam
recolher e de forma a não ser extremamente complexo e longo, tendo em consideração a
tenra idade do público alvo, decidi aplicar um pequeno inquérito, que não deverá ter mais
de cinco ou seis questões. Entre outros temas, questionar-se-á a profissão dos pais, ou a
que tipo de TIC, estas crianças têm acesso.
O inquérito é, muito provavelmente, a técnica de recolha de dados mais famosa e
recorrentemente mencionada, até porque, certamente, muitos dos indivíduos já foram
interpelados nas ruas, ou mesmo à porta de casa, sobre a possibilidade de responderem a
um inquérito, para as mais variadíssimas razões, como por exemplo, estudos de mercado,
ou sobre a satisfação acerca de determinado bem ou serviço. “Questionnaires that are
completed by respondents themselves are one of the main instruments for gathering data
using a social survey design, along with the structured interview...” (Bryman, 2012, 232).
Embora atualmente seja comumente utilizado o inquérito em suporte online, nesta
época caracterizada pela dependência das tecnologias, como aliás já fora mencionado e é
parte do tema central desta mesma tese, os inquéritos neste caso serão realizados
presencialmente em sala de aula, após a realização dos grupos focais, assim será possível
esclarecer qualquer tipo de dúvida que possa eventualmente surgir, não só por parte do
investigador, mas também por parte do professor ou professores que se encontrem na sala
de aula nesse mesmo momento. Para que se evite ao máximo qualquer tipo de dúvidas e
a interferência de qualquer outro indivíduo e a inconsciente influência nas respostas dadas
pelos inquiridos, há aspetos a ter em consideração na elaboração do próprio inquérito,
tanto na construção das questões, como na forma que se dá para se responder, uma vez
que se pretende ao máximo que as respostas aos inquéritos sejam realizadas
individualmente. Tendo isto em consideração, assim como os grupos focais, que
45
precisaram de certo modo de ser adaptados ao publico alvo, também os inquéritos tiveram
de ser elaborados com isso em mente. Umas das primeiras considerações será o facto de
estes terem de ter um tamanho reduzido de modo a não haver falta de respostas pelo
desinteresse ou aborrecimento por parte das crianças, mas também de modo a não se
exceder em demasia o tempo em que irá ocupar das aulas. Outro ponto a ter em
consideração na elaboração do inquérito prende-se com o facto de as perguntas e as
respostas estarem devidamente identificadas e claras, tanto na sua interpretação como na
delimitação de espaços, evitando-se, assim, algum tipo de sobreposição, sendo claro em
como se assinala a opção de resposta e onde termina e começa uma nova questão. “Also,
if questions are too close together, there is a risk of a tendency for them to be inadvertently
omitted.” (Bryman, 2012, 237). Possíveis soluções para estes problemas passam pela
própria formatação do inquérito, o que para muitos pode parecer algo óbvio, mas que na
verdade é um fator que contribuirá para o aumento da obtenção de respostas válidas e que
por isso importa mencionar. Assim sendo, e além dos espaços, podem-se também colocar
as questões a negrito, ou com um tamanho de letra superior ao das opções de resposta.
De forma sintética, o que importa é que o inquérito tenha um aspeto limpo, simples e
curto.
Tendo em conta o que foi referido ao longo do capítulo, o pequeno inquérito a
desenvolver, além da questão da idade, terá como única questão de resposta aberta a
pergunta sobre a profissão dos pais, uma vez que é um fator importante a ter em
consideração. Esta questão tem obviamente uma gama de hipóteses de resposta
demasiado ampla, para que se pudesse realizar de forma a ter escolha múltipla, ou seja,
seria pouco prático tornar esta uma questão de resposta fechada, como por exemplo,
quando se pergunta se praticam desporto fora do ambiente escolar, onde há apenas 2
possibilidades de resposta claramente predefinidas, sim e não.
Em suma, o inquérito, embora esta seja uma investigação qualitativa, revelou ser
uma das técnicas mais apropriadas para se aplicar e complementar os dados obtidos
através das entrevistas e dos grupos focais, não só olhando para o tipo de dados que se
pretendia recolher, mas também à facilidade e rapidez com que se poderia administrar.
46
As tecnologias na aprendizagem, em casa e na escola: Análise e
interpretação de Dados
Dados da Amostra
Como forma de iniciar o presente capítulo, onde decorrerá uma análise dos dados
recolhidos através das diversas técnicas aplicadas, será feita uma revisão à informação
obtida, de modo a caracterizar a própria amostra envolvida, mas também a família mais
direta das crianças, sendo que, através disso mesmo, procurar-se-á definir também,
características do meio em que a escola se insere.
As entrevistas realizadas foram aplicadas a dois professores da Escola Básica da
Fonte da Moura e a dois pais que atualmente têm os filhos a estudar nesta mesma escola.
Deste modo, o Grupo I de perguntas das entrevistas, servia exatamente como uma
pequena forma de recolha de dados sobre os entrevistados. Após as transcrições, logo se
percebeu que se destacavam alguns traços em comum entre os 4 indivíduos. Neste caso,
e como seria obviamente de esperar, todos os 4 entrevistados mantêm regularmente algum
tipo de relação e, por isso mesmo, algum tipo de contacto com crianças com idades até os
10 ou 11 anos. São também todos eles utilizadores regulares de diversas TIC, embora uns
se sintam mais seguros e mais capazes a utilizá-las, e mais aptos a aprender, do que outros,
“Obviamente que não me considero um especialista,
há muita coisa que eu não sei, mas não tenho problema
nenhum em experimentar, procurar, telefonar a alguém
para perceber como se faz.”, (Entrevista 1).
No que toca às crianças envolvidas nas atividades elaboradas na escola, houve no
total 84 participantes nos grupos focais (Anexo 7, Anexo 8), sendo que destes 84, 16 são
do 1º ano e, por essa mesma razão, devido principalmente à sua idade, fora aconselhado
a não participarem nos inquéritos, sendo que apenas participaram alunos do 3º e 4º ano,
dando assim um total de 68 alunos a responderem aos inquéritos aplicados.
47
Gráfico 1 Gráfico 2
Gráfico 3
Destes 64 alunos, e recorrendo à informação presente nas tabelas apresentadas,
podemos concluir que a amostra se encontra irmãmente dividida, havendo 34 alunos do
3º ano e 34 alunos do 4º ano (Gráfico 1). A amostra acabou por ter idades compreendidas
entre os 8 e os 11 anos, embora tivesse sido inicialmente proposto, estudar-se apenas
casos até aos 10 anos. Segundo os inquéritos, 17 dos inquiridos tinham 8 anos, 30 tinham
9 anos, 17 tinham 10 anos e por fim, 4 tinham 9 anos (Gráfico 2). Outra característica da
população estudada que os inquéritos permitem analisar, é o sexo dos indivíduos, e
também neste aspeto, a amostra evidencia ser bem balanceada, sendo que 35 dos
inquiridos são do sexo masculino e os restantes 33, são do sexo feminino (Gráfico 3).
17
30
17
4
0
5
10
15
20
25
30
35
Idade
I D A D E D O S I N Q U I R I DO S
8 Anos 9 Anos 10 Anos 11 Anos
34 34
0
10
20
30
40
Ano Letivo
N Ú ME R O D E A L U N O S
PO R A N O L E T I VO
3º ANO 4º Ano
35 33
0
10
20
30
40
Sexo
S E X O D O S I N Q U I R I D OS
Masculino Feminino
48
A questão 3 e a questão 4 do inquérito diziam respeito às profissões dos pais das
crianças inquiridas, e, através da informação recolhida deste modo, elaborou-se a Tabela
I, presente em Anexo. Embora saibamos que a própria escola se situa num bairro social,
foi feito um levantamento das profissões dos pais, para que deste modo se possa traçar
uma imagem, uma aproximação, da classe de pertença das crianças em questão. As
respostas obtidas foram posteriormente classificadas e agrupadas, mediante a
Classificação Portuguesa das Profissões de 2010 (CPP2010).
Após uma primeira observação da tabela, há desde logo 4 respostas que se
destacam, sendo elas: o Grupo 5, ou seja, trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção
e segurança e vendedores; o Grupo 9, que representa os trabalhadores não classificados;
assim como as respostas inerentes ao grupo dos desempregados e ao grupo NS/NR, ou
seja, as crianças que não sabem ou não quiseram responder à questão. Este último grupo,
merece ser destacado, não pelo impacto dos valores, uma vez que não tem um grande
impacto percentual, mas por aquilo que pode representar, uma vez que quase todos estes
casos são relacionados ao pai e que estas crianças responderam NS/NR por não saberem
quem é o pai e isto claramente contribuir para a definição da classe de pertença da criança
e, porventura, da área onde a escola se situa. Uma vez que os inquéritos foram
respondidos na minha presença, e por isso mesmo, por vezes, com a minha ajuda, aquando
solicitada, isso permite-me afirmar que grande parte, senão todos, os casos onde as
crianças disseram não saber a profissão do pai, as mesmas prendiam-se com o facto de
estas não saberem quem é, ou não viverem com o pai, devido a separação (Ver Anexo 6).
De forma a se perspetivar melhor o cenário relativo à situação económica e
consequentemente classe social da área onde se encontra a escola e dos alunos que nela
frequentam, recorreu-se ao dados inerentes à profissão dos pais, e, através de uma seleção
de casos, escolheu-se apenas aqueles casos onde pelo menos 1 dos pais tem um emprego
não qualificado e, ou, é desempregado. Deste modo, conclui-se que em 52 das 68 das
famílias das crianças envolvidas no inquérito, ou seja, em cerca de 76,47% dos casos, há
pelo menos um dos pais em que no momento da investigação se encontrava ou
desempregado, ou com um emprego não qualificado. Se a estes casos já calculados e
mencionados acrescentarmos ainda os aqueles onde se registam respostas referentes à
hipótese NS/NR, o número de famílias a compor o grupo em causa sobe para 57, o que
deixa transparecer desde logo a classe de pertença das crianças inquiridas e possíveis
49
condições de vida das mesmas, principalmente no que toca a rendimentos do agregado, e
sempre tendo em consideração que esta mesma análise é a possível de se realizar com os
dados que foram permitidos obter. Estes 57 casos representam cerca de 83,82% dos 68
em análise, o que revela a pertinência da variável e consequentemente levanta possíveis
preocupações sobre as condições de vida e condições de aprendizagem destas crianças,
algumas delas inclusive, estarão muito provavelmente longe de ter um ambiente favorável
ao processo de aprendizagem e aquisição de capital cultural.
Tabela 2 – Análise da Profissão dos Pais
n de Casos
Grupo 9 + Desempregados
n de Casos
Grupo 9 + Desempregados +
NS/NR
Frequência 52 57
Percentagem 76,47 83,82
Tecnologias
Um dos objetivos do inquérito era fazer um levantamento, não só das tecnologias
que estas crianças têm em casa, e que por isso usam e convivem regularmente, mas
também dos principais usos aplicados às mesmas tecnologias, ou seja, de que forma e
para quê que utilizam as TIC.
Ao analisar as entrevistas há um ponto que desde logo se destaca, por ser comum
tanto a pais, como a professores. Refiro-me ao facto de que, embora afirmem que a escola
e professores tenham um papel importante na educação das crianças para as tecnologias,
os principais responsáveis serão sempre os pais, o que neste caso, se alastra a todos os
restantes adultos, que vivam e convivam com as crianças em causa, como por exemplo
avós ou tios, não sendo obrigatoriamente ou unicamente algo de responsabilidade dos
50
pais. Isto é, há uma concordância sobre este tipo de educação, ter a sua principal base na
habitação das crianças e no tempo passado fora da escola.
Posto isto, as seguintes tabelas de frequência servem para evidenciar as
tecnologias mais presentes nas casas destas crianças, expondo assim, de algum modo, as
prioridades aquando da aquisição deste tipo de bens para a casa, mas também e como fora
dito previamente, que tipo de atividades são mais realizadas com as TIC em casa, o que,
por sua vez, servirá para expor possíveis limites, ou falta deles, sobre o que as crianças
veem e fazem com as tecnologias e como organizam e despendem o tempo livre em casa.
Tabela 3 – TIC Utilizadas
Internet Telemóvel Computador Rádio Televisão Tablet Consola
Frequência 65 61 34 16 59 41 36
Percentagem 95,6 89,7 50 23,5 86,8 60,3 52,9
Com a análise das respostas obtidas nos Grupos Focais, que serão descritas mais
à frente, podemos desde logo, concluir que, numa percentagem considerável de casos,
não há qualquer tipo de controlo por parte dos pais no que toca ao tempo em que as
crianças passam a utilizar as TIC. Esta falta de controlo torna-se ainda mais preocupante
quando relacionada com outras variáveis, como por exemplo, 95,6%, ou seja, 65 das 68
crianças têm internet em casa e 89,7% (61 de 68) já têm telemóvel ou usam regularmente
o de alguém em casa. Para além destes valores mencionados, sendo estes os de maior
impacto, pode-se também destacar que metade (50%) dos alunos têm computador em casa
e ainda que, 60,3% dos inquiridos têm um tablet. Ainda a tom de curiosidade, pode-se
destacar o desuso e decadência da importância do rádio entre os mais novos, sendo que,
apenas 23,5% afirma ouvir rádio, mas que grande parte deste pequeno grupo, diz fazê-lo
apenas quando anda de carro.
51
Tabela 4 – Utilização das TIC
Tendo em consideração os dados apresentados no parágrafo anterior, podemos
afirmar que fica de algum modo demonstrada a falta de controlo por parte dos pais e,
principalmente, a grande facilidade no acesso ao mundo virtual através do uso das TIC
por todas estas crianças. Assim sendo, e ainda como forma de aprofundar e corroborar
esta mesma ideia, importa analisar a Tabela 3, sendo esta referente às atividades mais
frequentemente realizadas pelas crianças com as diversas TIC.
As 68 crianças que responderam a este inquérito tiveram que responder a uma
questão de escolha múltipla onde, de uma lista de possíveis atividade que se pode realizar
com o auxilio de alguma TIC, pretendia-se que escolhessem aquelas com que mais se
identificam, ou seja, aquelas que mais ocorrem nos seus dias. Assim sendo, importa
alertar para vários dos resultados obtidos, mas também para o facto de muitas destas
atividades ocorrerem fora do tempo de aulas, acontecendo maioritariamente em casa,
longe da responsabilidade dos professores e consequentemente do estabelecimento de
ensino. Atividades como estudar, ler ou fazer trabalhos, obtiveram os resultados de 23
(33,8%), 10 (14,7%) e de 31 (45,6%) respetivamente, sendo das várias possibilidades de
resposta, as que tiveram menos escolha. Estes resultados são chocantemente muito
baixos, principalmente os referentes à leitura, e pioram se tivermos ainda em consideração
o facto de várias crianças terem afirmado, quando se aplicou o inquérito, que praticamente
só realizam tais atividades na escola, como por exemplo, quando utilizam os
computadores existentes na biblioteca, sendo que pouco ou nenhum do seu tempo em
casa seja ocupado com alguma destas 3 ações.
Estudar Ouvir
Música
Ler Jogar Fazer
Trabalhos
Ver
Filmes/Séries
Utilizar
Redes Sociais
Frequência 23 54 10 61 31 49 43
Percentagem 33,8 79,4 14,7 89,7 45,6 72,1 63,2
52
Analisando-se os restantes valores obtidos, verifica-se que as atividades mais
aparentemente relacionadas com os momentos de lazer são nitidamente maiores do que
as anteriormente mencionadas, havendo 54 das 68 crianças (79,4%) a dizer que utilizam
as TIC para ouvir música, 61 (89,7%) dizem que jogam regularmente, 49 (72,1%) vêm
filmes ou séries e 43 (63,2%), apesar das suas tenras idades, afirmam que utilizam as TIC,
para passar o seu tempo livre em redes sociais.
Tais conclusões e dados apresentados provenientes dos inquéritos, são ainda mais
cimentados através dos dados obtidos com a elaboração dos Grupos Focais, dados esses
que passamos agora a analisar. Na questão 1B, onde se pergunta se costumam usar as TIC
nos tempos livres, 89,29% respondeu que sim, destacando-se ainda o facto de que a turma
de 1º ano que participou nesta atividade era composta por 16 alunos e que todos eles,
admitiram usar as TIC no seus tempos livres. Em relação às questões que procuram
explorar sobre os hábitos de utilização das TIC, apenas 36,9% das crianças afirma já ter
utilizado as TIC para estudar ou fazer trabalhos (Questão 3A), enquanto 83,33% diz que
utiliza mais para brincar e passar o seu tempo livre do que para atividades relacionadas
com a escola (Questão 3B). É ainda de enaltecer que todas as 84 crianças dizem ser difícil
fazer trabalhos no computador, por considerarem que no computador se distraem
demasiado e com muita facilidade (Questão 3C).
Até agora, no que toca à análise dos dados recolhidos sobre as tecnologias e o
seu uso, podemos concluir que o acesso às TIC é generalizado e algo realizado com
extrema facilidade, assim como o facto de haver uma clara preferência no seu uso para
atividades de lazer em detrimento do uso para trabalhos e qualquer atividade de
aprendizagem.
Nas entrevistas aplicadas aos adultos, ou seja, professores e pais, procurou-se
também, percecionar-se a perspetiva destes sobre o uso excessivo de tecnologias por parte
das crianças nos dias que correm. Por esta mesma razão, o Grupo II, de questões das
entrevistas, focava-se na massificação das TIC e a criança no papel de aluno. Uma vez
mais, foi interessante ver que, tanto pais como professores, em diversas questões, davam
respostas que divergiam para os mesmos pontos. Todos os indivíduos envolvidos nesta
técnica de recolha de dados concordaram, sem hesitação, que a massificação do uso das
TIC é um fenómeno que tem crescido muito no seio das crianças, assim como também
todos consideraram que este uso de tecnologias generalizado tem o seu lado bom, mas
53
também um lado mau e todos afirmaram concordar com uma maior introdução das TIC
nas salas de aula, embora nem todos se sintam confortáveis para ajudar nesse aspeto.
Contudo, mesmo havendo semelhanças nas respostas às questões 6, 7 e 8, nas restantes
questões, 9, 10 e 11 deste Grupo II, tal não se verifica, pelo menos não entre todos os
entrevistados. Na questão 9, onde se pretende saber se pais e professores seriam capazes
de ajudar as crianças no caso de haver uma cada vez maior dependência das TIC na escola
e aprendizagem em geral, embora todos tenham dito que dependia de pessoa para pessoa,
alguns apontaram ainda o fator idade como definidor da maior ou menor capacidade de
manusear, ou de maior ou menor facilidade de aprendizagem, no que toca à utilização de
novas tecnologias.
“Acho que a faixa etária mais nova, já está integrada
nisso e a mais velha, também já está integrada, só que não
tem tanta à vontade como tem um jovem de 20 anos, isso é
indiscutível, porque eles nasceram na época das
tecnologias.” (Entrevista 2).
O que vai de acordo com a informação que já tinha sido recolhida e mencionada
no capítulo teórico, relacionado com as tecnologias.
A questão 10, não obteve uma grande variedade de respostas também, mas, se
por um lado os professores acham de imediato que as escolas estão atrasadas, os pais
ainda acham que alguma coisa já fora feita, embora entendam que há ainda um longo
caminho a percorrer para que a escola em questão, neste caso em particular a Escola
Básica da Fonte da Moura, se possa considerar apta para uma melhor educação no que
toca às TIC. Por último neste grupo de questões, a questão 11 pergunta de forma direta,
o que deveria ser feito para se inverter a situação atual da escola em relação a esta vertente.
Na primeira entrevista é enaltecida na resposta, a perspetiva das crianças, fazer as coisas
e adaptar ao mundo deles, aos olhos com que as crianças veem o mundo, de forma a ser
mais atrativo e com alguma continuidade.
54
“Eles precisam mesmo de, eu acho que o primeiro
passo, é fazer uma ligação com o mundo das crianças, com
as vivências deles, se aquilo que estivermos a falar não fizer
sentido nenhum para eles, não tiver nenhuma ligação com
a experiencia deles, não adianta, pode ser muito giro, pode
ser espetacular, pode mante-los em silencio durante algum
tempo, mas depois fica-se muito pela novidade, aquilo e
giro porque e novidade, porque e espetacular, tem muita
luz, tem muita cor, tem muita ação, mas depois não ensina
mesmo, não chega lá onde a gente quer, é o grande
problema…”(Entrevista 1).
Na entrevista 2 e 3, a resposta centrou-se no aumento de equipamento,
enquanto na entrevista 4 focou-se a educação para as TIC, assim como um maior
acompanhamento por parte do Governo.
“Um crescimento na educação, acho que passa por
tudo, não é só pelo equipamento tecnológico, mas por
infraestruturas e professores e funcionários, mas é preciso
muito ainda. Uma ajuda e acompanhamento do governo,
não vão ser os pais que vão equipar uma escola, podem
ajudar, mas pagamos os impostos todos, é para isso, para
alguma coisa.” (Entrevista 4).
Fica claro que a massificação das TIC, é um fenómeno evidente para todos,
mas, no entanto, não parece haver uma posição clara, sobre se as TIC são algo bom ou
mau. Por outras palavras, há uma evidente noção do que de mau pode haver devido a
estas tecnologias, a existência de riscos é algo conhecido pela população geral. Destaca-
se ainda a incerteza do que importa fazer para melhorar esta relação entre escola,
tecnologias e crianças e qual o papel que cada um pode desenvolver para contribuir, para
uma melhoria desta mesma relação.
55
Riscos Associados às TIC e Medidas Preventivas
Posto isto, e lembrando que apesar da idade muitas destas crianças são
utilizadoras de redes sociais, importa agora analisar os dados inerentes a este mesmo
tema, e também a posição dos pais perante os riscos das tecnologias e ocorrências no
mundo virtual. O Grupo 4 de questões dos Grupos Focais procura recolher dados
exatamente sobre esses temas, sendo inclusive a primeira questão, “Sabem o que são redes
sociais?”, à qual 51 das crianças (60,71%) responderam que sim. A segunda pergunta
deste grupo, por sua vez, permitiu concluir que 25 destas crianças (29,76%) já têm a sua
própria conta numa qualquer rede social e, embora as respostas positivas tenham registado
um crescimento com a idade, não se pode negligenciar que as crianças envolvidas na
presente atividade têm idades compreendidas entre os 5 e os 11 anos.
Em relação às questões inerentes aos riscos e papéis dos pais das crianças na
sua educação e prevenção dos diversos riscos associados às redes sociais, pode-se dizer
que os resultados obtidos estão longe de ser os esperados, ou pelo menos os desejados.
Apenas 15 das 84 crianças, ou seja, apenas 17,86% dos indivíduos, afirmam ter havido
algum tipo de diálogo por parte dos pais sobre redes sociais no geral e sobre os riscos a
elas inerentes em particular, valor este preocupantemente baixo, tendo em consideração
a facilidade de acesso e uso de redes sociais por parte destas crianças. Continuando a
analisar este tema, com a questão 4D, apenas 40,48% das crianças (34 de 84) dizem já ter
havido uma tentativa de os pais saberem que aplicações estas instalam no telemóvel,
tablet ou computador, sendo que algumas delas inclusive afirmaram até, que os pais
recebem notificações nos seus e-mails quando algum tipo de aplicação é descarregada no
telemóvel ou outra TIC. Embora esta seja uma boa medida, peca por não ser realizada por
todos, ou pelo menos pela grande maioria dos pais destas crianças, e, embora seja este
um começo para que haja algum tipo de controlo e alerta para os perigos, pode ficar
aquém do desejado, uma vez que mesmo aplicações utilizadas regularmente do
conhecimento e com o consentimento dos pais, podem ser portas para muitos desses
riscos, como por exemplo o Facebook ou o Instagram, que se encontram instalados na
grande maioria dos telemóveis de hoje em dia.
56
A última questão do grupo, a 4E, tinha o objetivo de perspetivar se as crianças
estavam, de algum modo, familiarizadas com os riscos a que podem estar expostas através
das TIC, e, uma vez mais, menos de metade sabia o que isso era. Mais precisamente,
apenas 38 das 84 (45,24%), tinham ouvido falar sobre tal, em alguma ocasião da sua vida.
Como já fora mencionado e citado anteriormente no segundo capítulo, o
método mais comumente aplicado, de forma a desenvolver uma disciplina no que toca ao
uso das TIC, e a salvaguardar dos seus riscos, é a aplicação de um limite de tempo para
quem as estejam a utilizar. Ainda assim, na amostra aqui tida em consideração apenas 38
(45,24%) das crianças afirma que essa mesma regra seja aplicada nas suas casas, o que
pode, uma vez mais, deixar transparecer a ideia de que mais poderia e deveria ser feito,
por parte dos responsáveis pela educação das crianças em casa e fora do tempo de aulas.
O último grupo de questões dos Grupos Focais, também ele está ligado a regras
e limitações impostas no uso das tecnologias, neste caso não relacionado com o mundo
virtual, mas sim com educação e maneiras de estar em determinados locais, como por
exemplo, utilizar o telemóvel em plena sala de aula. Em 55 dos casos (65,48%) é costume
ser proibido estar com alguma TIC à mesa durante as refeições (Questão 6A), sendo que
os outros locais mais mencionados onde estas mesmas crianças dizem achar que não se
deveria utilizar o telemóvel, são por exemplo, na praia, no rio, no barco, na casa de banho,
a conduzir, no médico ou igreja (Questão 6B). A pergunta 6C perguntava diretamente
sobre o uso do telemóvel em sala de aula, e, neste caso, nenhuma das crianças afirmou
que se deveria usá-lo neste espaço ou durante o tempo em que decorrem as aulas. Na
última questão, elaborou-se uma tentativa de levantamento das diferentes identidades que
procuram incutir e educar estas crianças para a não utilização das TIC na sala de aula e
concluiu-se que todas as crianças responderam ser o professor a transmitir e impor essa
regra, salvo raras exceções, onde fora dito que os pais também o faziam.
Com o Grupo III das entrevistas, procurou-se obter informações sobre as
consequências do uso das TIC, ou pelo menos a perceção e opinião sobre as mesmas,
mediante o olhar dos professores e pais, com o propósito de se cruzar com os dados
obtidos através das crianças, para se comprovar a veracidade dos mesmos e se todos os
indivíduos de posições diferentes têm a mesma perspetiva do problema. O grupo inicia
com uma questão diretamente apontada aos impactos do uso das TIC na escola, e, por
talvez ter sido focado o uso na escola, alguns dos entrevistados afirmaram que é algo
57
bom, mas não esquecendo a importância, ou o problema que é, algumas destas crianças,
não terem acesso a determinadas tecnologias em casa, e que, por isso mesmo, não há uma
continuidade no exercício de utilização das TIC, sem ser para atividades de lazer.
“É assim, é bom, aqui, se neste caso, eles não
tiverem o que têm na escola, em casa, eles não conseguem
dar continuidade e depois acabam por não praticar…”
(Entrevista 3).
Outro problema mencionado, foi o impacto comportamental que as TIC, e o
que nelas pode ser visto, poderá ter no comportamento das crianças, sendo que na
Entrevista 4 o entrevistado demonstra preocupação com o aumento da agressividade de
várias crianças.
“Aí…também está um caso problemático…acho
que cada vez os miúdos são mais agressivos, respondem
mais aos pais, por exemplo, são agressivos entre eles
também.” (Entrevista 4).
No entanto e uma vez mais, há um ponto que surge em comum, em várias
respostas, sendo ele o sentido de necessidade de se disciplinar e educar as crianças para
o uso das TIC.
De seguida, procurou-se fazer um levantamento de várias consequências do
uso excessivo das TIC (Questão 13), onde se obteve respostas como: problemas de visão;
perda de ligação com a realidade; falta de destreza manual para se escrever, referindo-se
mais a nível da ortografia por exemplo; falta de comunicação por parte das crianças com
outros indivíduos sejam eles crianças ou não; o vicio e o sedentarismo, que por sua vez
pode levar à obesidade e outros problemas relacionados. Consequentemente, a questão
14 direcionava-se às razões que levariam à dependência das TIC, onde houve uma comum
referência ao conceito de vício, mas também de hábito e facilitismo. Vício esse que pode,
segundo as respostas obtidas, ser incutido até pelos próprios pais, como quando estes
recorrem às tecnologias para acalmar as crianças na hora das refeições.
58
“. Eu estava-me a lembrar de uma colega, que ela já
é avó e quando a neta tem dificuldade em comer, ela pega
na tablet e põe lá o que ela gosta, que é o Panda e o Ruca e
isso. Eu acho que temos aqui uma parte importante que é
saber gerir isso, porque nós se formos mais um bocadinho
atras, nós arranjávamos maneiras que as crianças comessem
sem nada disto.” (Entrevista 3).
Já o hábito e facilitismo, foram mencionados devido ao facto de que num
simples telemóvel, que anda connosco o tempo quase todo e cabe no bolso das calças,
ser-se possível fazer uma infindável quantidade de ações, como consultar o e-mail, tirar
fotografias, ver vídeos, consultar sites, etc.
“. Quando dou conta, já estive aqui uma hora a ver
tudo, menos aquilo que eu ia ver. Porque as vezes vou aqui
ver o e-mail, mas, entretanto, apareceu-me aqui uma coisa
qualquer, e eu fui ver, atras de uma vejo n coisas e é mais
complicado.” (Entrevista 2).
Houve, ainda na questão 14, uma resposta diferente das demais e a meu ver
curiosa, onde o entrevistado defende que esta dependência pode, de certo modo, estar
associada com o facto de as pessoas hoje em dia não saberem aquilo em que são bons, e
que, portanto, se agarram mais às tecnologias. (Entrevista 1).
A última questão do grupo, num sentido um pouco provocador, principalmente
para com os professores, questionava se as TIC têm, ou poderiam vir a ter, capacidade
para extinguir ou fazer com que a escola tal e qual como a conhecemos hoje em dia,
pudesse vir a perder parte da sua preponderância no que toca ao ensino e transmissão de
saberes de modo geral, ou seja, se a imagem que temos da aprendizagem, tanto no passado
como na contemporaneidade, pode mudar. Embora atualmente já se aprenda muita coisa
sozinho, com vídeos e tutoriais na internet, sendo então esta, possivelmente uma fase de
transição, para algo diferente. No entanto, após este cenário ter sido colocado, os
professores acharam que tal poderia de facto acontecer, embora um aceite essa ideia mais
59
facilmente do que o outro. São os pais que ficam claramente mais de pé atrás em relação
a esta ideia, o que pode de certo modo demonstrar a responsabilidade, confiança, e até
certo ponto dependência, que os pais ainda e sempre depositaram e têm da escola, no que
toca a educar os filhos e a ocupá-los grande parte do dia, sendo talvez por isso que não
acreditam que a escola possa de algum modo, vir a ser substituída pelas TIC, pelo menos
a curto ou médio prazo.
As entrevistas também abordam as possíveis medidas preventivas dos riscos
inerentes às TIC, sendo feitas questões sobre o que poderia ser feito pelos pais e
professores. Este raciocínio culmina na questão 21, onde se questiona diretamente, sobre
quem deveria cair a responsabilidade de educar as crianças, para o uso das TIC.
Em relação ao que poderia ser feito pelos pais, as medidas mencionadas para
educar para o uso das TIC passavam por se definir o que as crianças poderiam ou não ver,
definir-se um tempo limite para a utilização das TIC, mas, principalmente, que houvesse
um acompanhamento por parte dos pais, em estarem presentes e saberem o que os filhos
gostam e costumam fazer nos seus tempos livres, enquanto utilizam as TIC. Um dos pais
inclusive, critica a atitude de muitos outros que recorrem às TIC de uma forma constante
como meio de calar e acalmar os filhos.
“Controlar mais, não oferecer novas tecnologias só
para calar as crianças e dizer que aquilo é uma ferramenta
de trabalho, em vez de ser uma ferramenta só de diversão,
é uma ferramenta também de trabalho.” (Entrevista 4).
No que toca a evitar os perigos associados às tecnologias e ao mundo virtual,
referiu-se à aplicação de bloqueadores de conteúdo por parte dos pais. No entanto também
se mencionou, que as tecnologias atuais já deveriam trazer tais bloqueadores de origem,
até porque nem todos os pais sabem como instalar uma ferramenta dessas. Apontou-se
aqui uma vez mais o acompanhamento por parte dos pais e restantes adultos da família,
sendo que estes deveriam ter conversas e investir tempo a explicar de que se trata e quais
são estes riscos que tanto se fala hoje em dia.
60
Já em relação aos professores as mesmas questões foram colocadas, obtendo-
se como resposta, a criação de ações de sensibilização por parte das escolas, junto dos
pais e das crianças.
“É fazer ações de sensibilização. (…) …já tem
existido algumas ações de sensibilização para os miúdos e
os pais também deveriam ser alertados para os perigos que
os filhos correm. Só o facto de postarem as fotos dos
meninos, só por si, já é um risco.” (Entrevista 2).
Um dos pais afirma que se deveriam criar equipas compostas por professores e
psicólogos, desenvolvendo assim uma maior envolvência dos pais com a escola.
“São vinte e tal alunos, vinte e tal crianças, todas
elas diferentes, com necessidades diversas e por exemplo,
acho que deveria estar emparelhado um psicólogo, que era
para poder verificar quais as crianças que têm mais
necessidade ou não e chegar aos pais, nem que fosse
inicialmente individualmente, ir chamando e envolver, por
exemplo...” (Entrevista 3).
No entanto, um dos professores e um dos pais entrevistados defendem que a
escola já faz atualmente o que lhe compete, e que, se há algo mais a fazer, então tem de
ser de responsabilidade dos pais, tem de partir de casa.
Na última questão deste Grupo IV, onde se perguntava em quem deveria recair
a responsabilidade de educar esta nova dimensão da vida das crianças, os 4 entrevistados
foram unânimes, dizendo que deveria vir de casa, dos pais, embora a escola devesse fazer
sempre a sua parte, que pode claramente ser um papel importantíssimo.
61
Caso Particular
No último grupo de questões das entrevistas, procurou-se recolher a opinião
dos professores e pais sobre o facto de, em alguns dos casos e tendo em consideração as
dificuldades financeiras das famílias das crianças na escola onde se desenvolveu a
investigação, as crianças terem consolas da última geração, mas no entanto não têm nem
nunca tiveram um computador em casa. Importa aqui realçar, antes da própria análise de
dados, que um dos professores inquiridos, de forma a aproveitar e a envolver-se com as
TIC, publica vídeos onde se explica a matéria dada, de forma a facilitar, e até certo ponto
aliciar, o estudo e a mais fácil compreensão dos alunos, sobre a matéria dada. No entanto,
e como já se viu anteriormente, nem todos os alunos têm computador em casa, e, mesmo
analisando apenas os alunos do 4º ano, apenas cerca de metade tem computador (52,9%),
quase tantos como os que têm consola (47,1%). Ainda assim, o valor que mais importa
referir, é que 20,6% das crianças do quarto ano têm uma destas consolas, mas não têm
computador em casa.
Tabela 5 - TIC Utilizadas (4º Ano)
Tabela 6 - Caso Particular do 4ºAno
Internet Telemóvel Computador Rádio Televisão Tablet Consola
Frequência 33 30 18 8 32 19 16
Percentagem 97,1 88,2 52,9 23,5 94,1 55,9 47,1
Casos com Consola,
mas sem Computador
Restantes Casos Total
Frequências 7 27 34
Percentagem 20,6 79,4 100
62
Mesmo em relação às atividades realizadas com as TIC, tendo agora em
consideração unicamente os alunos do 4º ano, não se verificam grandes alterações no que
toca aos seus comportamentos, sendo as atividades mais realizadas as relacionadas com
o lazer, sendo que 94,1% dos inquiridos afirma utilizar as TIC regularmente para jogar e
ainda 85,3% diz utilizar regularmente para ouvir música. Do outro lado da balança, as
atividades menos realizadas estão relacionadas com a escola e aprendizagem, havendo
apenas 14,7% a utilizar as TIC regularmente para ler e 50% para a realização de trabalhos.
Apesar de tudo, este já é um valor consideravelmente positivo.
Tabela 7 – Utilização das TIC (4º Ano)
Voltando agora às entrevistas, após esta contextualização que fora ela também
feita aquando da realização das entrevistas, pediu-se para que os pais e professores
partilhassem a sua interpretação desta mesma situação. Analisando-se as respostas
obtidas, as opiniões que prevalecem são as que defendem que os pais destas crianças são
vítimas da publicidade, sendo eles convencidos e levados a desejar determinados bens.
“Se os pais não fizerem este trabalho de perceber,
para onde é que querem encaminhar o filho…como é que
hei de dizer… até se calhar de outra forma, se nós não nos
quisermos dar ao trabalho de pensar, alguém vai pensar por
nós e então aí entra a publicidade, nós somos bombardeados
constantemente por “olha isto que é espetacular” e os
amigos também igual, “ei pah, tive a jogar isto…”, pronto,
eles vão comprar aquilo que acham mais espetacular e o que
os vai fazer mais felizes e por aí fora, é isto, se calhar é um
problema da sociedade.” (Entrevista 1).
Estudar Ouvir
Música
Ler Jogar Fazer
Trabalhos
Ver
Filmes/Séries
Utilizar
Redes Sociais
Frequência 18 29 5 32 17 23 25
Percentagem 52,9 85,3 14,7 94,1 50 67,6 73,5
63
Outras respostas obtidas e defendidas pelos entrevistados prendem-se com o
facto destes pais, preferirem viver de aparências, assim como terem as suas prioridades e
valores trocados, conjugando com isso às baixas expectativas em relação ao percurso do
filho como estudante.
“A ideia aqui no geral até é, ter novas tecnologias,
novos telemóveis e depois às vezes passarem fome em casa.
Não digo fome literalmente, mas pronto, o resto é tudo
cortado, acho que as pessoas vivem cada vez mais de
aparências e pronto…” (Entrevista 4).
“Sabe que aqui os valores são muito invertidos para
estas pessoas, mas eles a maioria, tem tablets. Eles não
valorizam se calhar tanto o computador. As expectativas
que eles têm em relação aos filhos também são baixas, as
expectativas da maioria destes pais também são baixas…”
(Entrevista 2).
Um dos entrevistados, mencionou ainda o facto de a grande maioria destes pais
não utilizar o computador no trabalho e, portanto, não dar valor ao computador.
“Provavelmente, porque os pais se calhar não têm
computador, porque os pais não utilizam computador na sua
vida profissional e como não utilizam, então é uma coisa
que para eles não interessa. Então não têm.” (Entrevista 3).
64
Conclusão
Após a análise de dados e a recolha dos mesmos, alguns pontos foram-se
destacando, deixando bem claro, que muito há ainda a fazer em prol de uma educação
adequada para a utilização das TIC. Importa aqui, e desde já destacar que, a presente
dissertação não pretende, de modo algum, servir como manual ou guia de instruções para
a resolução de todos os problemas existentes, mas sim, como meio para identificar,
informar e alertar, para possíveis lacunas na educação das crianças, principalmente no
que toca às TIC, bem como para o papel da escola na sociedade e mais especificamente,
no paradigma da aprendizagem.
Atualmente são mais do que evidentes as capacidades e vantagens que as TIC
possibilitam, assim como o mundo virtual da internet e as funções variadíssimas das redes
sociais. No entanto, nos dias que correm, também já é, ou deveria ser, de conhecimento
público que as TIC também têm inerentes a elas mesmas diversos riscos, e, mesmo assim,
perdura a ideia de que muito mais poderia estar a ser feito.
Com a análise dos dados e com as diversas conversas informais que se foi tendo
ao longo da elaboração da tese, é curioso que a grande maioria dos sujeitos defenda e
compreenda que a responsabilidade de educar e disciplinar as crianças sobre o uso das
TIC deva partir de casa, tanto dos pais, como de todos os adultos que passem mais tempo
com as crianças. No entanto, e tendo consciência de tal facto, os dados deixam bem claro
que pouco é feito em casa, em prol de uma educação para a relação e forma de estar das
crianças com as tecnologias. Atitudes como utilizar as TIC para ocupar e calar as crianças
em variadas situações, em particular na hora das refeições, claramente não contribuem
em nada para essa disciplina e aprendizagem de quando e onde as devem usar ou não.
Como fora dito numa das entrevistas, as TIC passam a ter uma imagem de satisfação
rápida e de fácil acesso e, por isso, aparentemente, não há uma razão clara para não as
utilizar. Esse acesso facilitado muitas vezes pelos pais, e cada vez em idades mais novas,
parecem claramente contribuir para essa maior dependência que hoje em dia se verifica.
65
Para além dos perigos de pedofilia, rapto, burla, jogos mortais, sedentarismo e
muitos outros de uma longa lista de riscos já mencionados de alguma forma nos media,
as TIC podem também ter outros pontos negativos que prejudiquem o desenvolvimento
destas crianças.
Um dos primeiros problemas que desejo aqui comentar, é a facilidade com que os
utilizadores das TIC dizem distrair-se, mesmo quando pretendem trabalhar. Não só se
revela extremamente difícil um indivíduo se limitar a fazer o que era esperado, como um
trabalho, por exemplo, sem que acabe por fazer uma panóplia de outras atividades, mais
relacionadas com o lazer, ou de prazer pessoal. Acontece que a internet, e não só, não
facilita a concentração e a eficiência no trabalho dos indivíduos uma vez que, quando
ligados à internet, estamos constantemente a ser bombardeados com publicidade, ligações
e sugestões para o consumo de outros bens, aplicações, ou apenas para a realização de
outras atividades, o que eventualmente nos desvia do propósito inicial.
Embora alguns dos adultos entrevistados tenham referido este problema, também
muitas das crianças o fizeram em conversas durante as atividades desenvolvidas na
escola. O que torna esta situação complicada de contornar e resolver, prende-se com o
facto de que, mesmo com a instalação de bloqueadores de publicidade, as empresas
acabarão sempre por arranjar forma de ultrapassar essas barreiras, para que consigam
cumprir os seus objetivos. Além do mais, mesmo com a questão da publicidade de parte,
continua a ser difícil um indivíduo não se distrair, e se já é complicado para um adulto,
como ficou provado nas entrevistas, ainda mais difícil será conseguir incutir o nível de
disciplina necessários nas crianças, para que estas se mantenham a trabalhar ou a cumprir
alguma obrigatoriedade, em vez de começarem a jogar, a ver vídeos, ou ouvir música
assim que lhes apeteça. Para este caso, em particular, surge-me afirmar que, embora não
me pareça que haja uma solução milagrosa para este mesmo problema, tudo depende da
educação que é dada à criança, assim como o acompanhamento que os pais poderiam
fazer, estando perto do filho quando este tem algum trabalho ou estudo para realizar.
Este caso da distração é só um dos muitos exemplos onde são os pais e não a
escola e professores que podem fazer a diferença, sendo que em muitas das circunstâncias
mencionadas, a educação para as TIC será de exclusiva responsabilidade dos pais. Facto
que também ficou provado com os dados recolhidos para a elaboração da presente
dissertação, foi o de que as crianças do estabelecimento de ensino em questão utilizam
66
com muita frequência as TIC nos tempos livres e que muitas delas não têm qualquer tipo
de limites impostos ou qualquer tipo de acompanhamento ou mesmo um controlo por
parte dos pais.
A passagem constante das responsabilidades para a escola parece claramente uma
saída fácil para quem não está disposto ou não tem tempo para educar uma criança, mas
tendo em consideração que todas estas crianças usam mais as TIC para atividades de lazer
fora da escola, torna-se evidente que, qualquer argumento a desresponsabilizar pais e
outros familiares sobre a educação para as TIC, cai logo por terra. Posto isto, importa que
haja uma consciencialização por parte dos pais, tanto no que toca aos perigos existentes
e riscos deles inerentes, mas também do que podem fazer, para melhor educar os seus
filhos para o uso das várias tecnologias. Para tal, poder-se-ia aproveitar e multiplicar uma
das ideias referidas nas entrevistas, a de se desenvolver ações de sensibilização, tanto para
crianças como para pais, avós, tios e outros encarregados de educação. Importa, também,
trabalhar junto destes adultos a noção do impacto que a educação, princípios e valores
incutidos em casa têm para o desenvolvimento destas crianças. Acredito e arrisco ainda
afirmar, que a mesma disciplina que pode desde já ser incutida na aplicação de limites de
tempo de uso das TIC, ou por exemplo, no controlo sobre as aplicações utilizadas, pode,
eventualmente, tornar-se a mesma disciplina necessária para que um indivíduo não se
distraia tanto com a publicidade, ou outro qualquer estímulo que possa entretanto surgir.
A última questão da entrevista, assim como o último subcapítulo da análise de
dados, demonstram que, por muita boa vontade que um professor ou uma escola possa ter
em se adaptar à constante evolução das TIC e em procurar dar uma melhor educação aos
seus alunos, tal fenómeno não depende deles, ou unicamente destes indivíduos ou
estabelecimento de ensino. Neste caso em particular, um dos professores procura
ativamente adaptar as suas aulas e a matéria a lecionar às novas tecnologias, criando,
inclusive, vídeos que publica no Youtube, para possibilitar o acesso dos alunos ao que
fora ensinado, com o intuito de facilitar o processo de aprendizagem.
Embora esta seja aparentemente uma boa ideia, a sua eficiência dependerá sempre
da capacidade e possibilidade que estas crianças tenham em aceder a estes mesmos
vídeos. O objetivo da parte final da análise de dados prende-se exatamente com esta
questão, da possibilidade de aceder aos conteúdos disponibilizados, uma vez que,
registou-se a existência de vários casos em que as crianças até têm uma consola de última
67
geração, mas que, no entanto, não possuem computador nem têm internet em casa. Outra
variável que pode citar o sucesso ou insucesso desta iniciativa, de um dos professores
entrevistados, é a já falada educação para as TIC realizada pelos pais e o devido
acompanhamento, ou seja, é importante que os pais façam o seu papel em incentivar os
filhos a procurar e utilizar esses mesmos vídeos, para auxilio na elaboração de trabalhos
de casa ou simplesmente para um tempo dedicado ao estudo em casa. O que se impõe
aqui dizer, é que mesmo que todas as crianças tivessem acesso aos vídeos, provavelmente
faltaria iniciativa por parte destas crianças para os consultar, pelo menos olhando à tabela
sobre as atividades mais desenvolvidas com as TIC.
O ponto fulcral de toda esta situação é o de que a escola está forçosamente
limitada, em relação às medidas a aplicar, para uma educação para o uso das TIC, mas
também para uma educação recorrendo ao uso das TIC. Uma vez mais, acredito que a
solução deveria partir de casa, de forma a ser possível desenvolver-se uma continuidade
com o trabalho realizado na escola, principalmente quando a escola e os professores,
trabalham nesse sentido.
Estou certo de que há questões que não podem ser postas de parte, como a classe
social das famílias das crianças em questão, no entanto, uma grande percentagem destas
crianças diz ter uma consola de última geração, o que pode levar a interpretações e
conclusões de que mais do que que um problema de classe social, estamos perante um
problema de socialização, influenciando assim as prioridades dos indivíduos.
Ação do Governo e Papel do Sociólogo
O governo, neste caso, terá sempre uma palavra a dar e será sempre a entidade
responsável para elaborar políticas adequadas à circunstância. Para tal, o Governo terá de
ter sensibilidade nas suas medidas, uma vez que nem todas as famílias e
consequentemente as crianças, têm todas as mesmas possibilidades. Por essa mesma
razão, as famílias não se encontram todas em pé de igualdade, no que toca a recursos
disponíveis para educar da melhor forma os filhos para o uso das TIC.
68
Sendo que o problema parte de casa, também o governo terá um raio de ação muito
limitado. No entanto, proporcionar condições para que os diferentes agrupamentos
verticais e consequentemente as diversas escolas continuem a desenvolver ações de
sensibilização, pode ser uma possível solução, para que indiretamente se possa “entrar”
em casa destas crianças e adultos, para os orientar e/ou informar, numa tentativa de se
proporcionar a tal continuidade necessária na educação para as TIC que a escola já
possibilita. É importante, ainda, que as mesmas ações de formação consigam e tenham
como objetivo a consciencialização por parte dos encarregados de educação sobre o
impacto que os mesmos podem ter na educação e desenvolvimento destas crianças, assim
como a importância de um uso regrado e vigiado das tecnologias e de uma participação
ativa dos pais na escola.
Outra ideia que foi surgindo durante a aplicação das técnicas de recolha de dados,
foi o famosíssimo projeto do computador Magalhães. Uma iniciativa recordada e
mencionada com saudade, por professores, pais e diretores, como algo positivamente
criado, que possibilitou a muitas famílias a oportunidade de adquirir computadores, à
semelhança do que acontecera com o projeto E-escolas. Ainda assim, e mesmo existindo
vontade de que haja de novo tais iniciativas, foi também referido que estas medidas
necessitam de uma continuidade, pois muitas das escolas que se equiparam à data destes
projetos, encontram-se agora com aparelhos desatualizados ou até avariados e sem
capacidade para os substituir e de acompanhar a constante e rápida evolução das TIC. A
esta chamada de atenção, juntam-se ainda as diferenças existentes nos apoios financeiros
de um agrupamento para outro, sendo essa mais uma possível forma de manter ou até
estimular o crescimento das diferenças entre a qualidade de ensino de umas escolas para
outras e entre contextos de classe social distinta.
Por último, tendo uma vez mais em consideração as respostas obtidas nas
entrevistas, parece-me ser de alguma importância a criação de planos de formação, neste
caso destinado a professores, principalmente com o intuito de aumentar e melhorar o seu
conhecimento sobre o uso das tecnologias. Uma vez que, com todas as mudanças que
ocorrem e que muitas das vezes influenciam os comportamentos das crianças, importa
que os professores estejam ao corrente dos temas de conversa e das atividades realizadas
nas TIC pelas crianças no seu quotidiano, assim como, e principalmente, para fornecer
ferramentas que permitam uma utilização das tecnologias mais informada, variada e
69
atrativa para os alunos durante as aulas. Deste modo, estes professores sentir-se-iam cada
vez mais capazes de alertar para os perigos do mundo virtual, mas também para ajudar os
alunos a trabalhar com as TIC.
Resta-me agora, destacar um ponto que foi ficando registado, e que me marcou ao
longo da elaboração desta dissertação. Refiro-me à falta de menção da figura e do possível
trabalho do sociólogo em todo este cenário. A análise dos meios e casos onde se evidencia
uma maior urgência de intervenção, fazendo-se por exemplo, como fora realizado neste
mesmo trabalho, uma análise dos recursos que cada uma das crianças tem, são apenas
alguns dos papeis que os sociólogos podem desenvolver nos contextos escolares. O fim
de um sistema homogeneizado de transmissão de saberes nas escolas, para a
implementação de um sistema mais moldável, possibilitaria um ensino mais adequado e
eficiente, uma vez que, de escola para escola, há uma inúmera quantidade de variáveis
que se alteram.
Ainda sobre o possível papel do sociólogo, as ações de sensibilização aos pais, ou
até as ações de formação aos professores, poderiam, eventualmente, ser realizadas
também elas pelo sociólogo, possivelmente, e recuperando uma ideia apresentada numa
das entrevistas, em conjunto com um psicólogo e diretores dos estabelecimentos de
ensino.
Deste modo, aproveito a presente dissertação, não só para de um modo muito
sucinto, expor algumas das possíveis áreas de ação de um sociólogo neste tipo de
realidades, mas também para apelar à inclusão de um profissional na área de Sociologia
em cada agrupamento vertical.
Finalizo a minha dissertação por partilhar que as atividades desenvolvidas para
recolha de dados na escola permitiram-me sentir um pouco, ou pelo menos ter uma outra
perceção, da frustração que estes professores sentem ao lutarem por um futuro melhor e
uma melhor educação destas crianças já que, o pouco que vão construindo é, em alguns
dos casos, destruído ou não consolidado em casa. As crianças são inocentes em tudo isto,
mas a responsabilidade dos atores educativos e dos governos é imensa!
70
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73
Anexos
74
Anexo 1 - Esboço Questões – Grupos Focais
1A – Costumam utilizar tecnologias, como telemóveis, tablets, computador ou consolas?
1B – Costumam utilizá-los nos vossos tempos livres?
2 – Na vossa opinião, acham bom ou mau utilizar as TIC?
3A – Utilizam as TIC para fazer trabalhos da escola e estudar?
3B – Usam mais para estudar e fazer trabalhos, ou para brincar, jogar ou ouvir música?
3C – Distraem-se muito quando estão a tentar fazer os trabalhos no computador por
exemplo?
4A – Sabem o que são redes sociais?
4B – Algum de vocês tem Facebook, Instagram, ou outra rede social?
4C – Os vossos pais costumam falar sobre redes sociais com vocês?
4D – Os vossos pais tentam saber que aplicações têm e o que fazem nos telemóveis e
restantes TIC?
4E – Conhecem, ou já ouviram falar nos perigos nas redes sociais e da internet em geral?
5 – Costumam ter limite de tempo para utilizar as TIC?
6A – É comum dizerem-vos para não utilizarem o telemóvel, tablet, ou outra tecnologia
à mesa?
6B – Em que outros sítios acham que não se deve utilizar o telemóvel?
6C – E na sala de aula? Acham que se deve utilizar o telemóvel à vontade?
6D – Alguém vos costuma dizer, ou chamar à atenção para não utilizarem o telemóvel
nas aulas? Quem?
75
Anexo 2 - Questionário
1) IDADE: 2) SEXO: 1) Masculino 2) Feminino
3) Profissão do Pai: ______________________________________________________
4) Profissão da Mãe: _____________________________________________________
5) Praticam Desporto/Atividade Física fora da escola?
1) SIM 2) NÃO
6) Que Tecnologias utilizam?
1) Internet 2) Telemóvel 3) Computador 4) Rádio
5) Televisão 6) Tablet 7) Consola (Playstation, Xbox, Nintendo)
7) Para que atividades costumam utilizar as Tecnologias?
1) Estudar 2) Ouvir Música 3) Ler (livros, jornais, blogues…)
4) Jogar 5) Fazer Trabalhos 6) Ver Filmes e Séries
7) Redes Sociais (Facebook, Instagram…)
76
Anexo 3 – Entrevista a Professores
1 – Pode-me dizer a sua idade?
2 – Há quantos anos é professor?
3 – Sempre lecionou a crianças do 1º ciclo?
4 – O/A professor/a é um utilizador/a regular das tecnologias?
5 – Como classificaria a sua capacidade de utilização das novas tecnologias?
6 – Tem visto algum aumento no uso das TIC, ao longo dos anos, por parte das crianças
das suas turmas e da/s escola/s onde trabalhou?
7 – Na sua opinião, considera positiva ou negativa esta massificação do uso das TIC nos
últimos anos? Porquê?
8 – Concorda que haja uma cada vez maior introdução das TIC nas salas de aula? Sente-
se confortável para ter de o fazer caso seja necessário?
9 – Como acha que reagiria a maior parte dos professores, se se deparassem com uma
situação dessas?
10 – Acha que as escolas estão preparadas, ou têm capacidade para acompanhar esta
tendência tecnológica e a rapidez da sua evolução?
11 – O que deveria ou poderia ser feito nesse sentido?
12 – Quais são para si os impactos mais visíveis nas crianças em plena sala de aula/escola,
com a cada vez maior utilização das TIC? (como por exemplo a nível comportamental ou
a nível de aprendizagem)
13 – A longo prazo, quais julga ser as consequências dos longos períodos de tempo que
as crianças hoje em dia passam a utilizar as TIC?
14 – Na sua opinião quais as principais razões que levam à dependência das tecnologias?
15 – Já em alguma ocasião, teve algum aluno que tivesse plagiado num trabalho? (o
chamado copy/paste)
16 – Acredita que a escola poderá eventualmente extinguir-se, ou pelo menos perder
alguma da sua preponderância, devido a novos meios de transmissão de saberes?
17 – Em relação aos pais o que deveriam ou poderiam estes fazer para uma melhor
educação dos filhos em relação ao uso das TIC?
18 – Que medidas poderiam estes aplicar para evitar os diversos perigos das TIC?
77
19 – …e a escola e seus professores, o que deveria ou poderia ser feito por estes, para se
desenvolver uma melhor educação das crianças, no que toca ao uso das tecnologias?
20 - …e para evitar os diversos perigos das TIC?
21 – A quem deveria recair a responsabilidade de educar ou preparar as crianças e
porventura adolescentes, sobre a utilização das TIC? Escola, pais ou ambos?
22 – Após a atividade realizada aqui na escola, deparei-me com alguns casos onde as
crianças até tinham consolas e até da última geração, mas que por outro lado não têm nem
nunca tiveram computador em casa. Como é que interpreta este fenómeno e que
consequências acha que este tipo de acontecimentos pode ter na vida e desenvolvimento
das crianças?
78
Anexo 4 - Entrevista a Pais
1 – Pode-me dizer a sua idade?
2 – Que idade tem os/as seu filhos/as?
3 – É costume lidar com crianças com idades menores a 10 anos?
4 – O/A pai/mãe é um utilizador/a regular das tecnologias?
5 – Como classificaria a sua capacidade de utilização das novas tecnologias?
6 – Tem visto algum aumento no uso das TIC, ao longo dos anos, por parte das crianças
com quem lida, ou até dos próprios filhos?
7 – Na sua opinião, considera positiva ou negativa esta massificação do uso das TIC nos
últimos anos? Porquê?
8 – Concorda que haja uma cada vez maior introdução das TIC nas salas de aula e até
trabalhos de casa? Sente-se confortável para ter de ajudar os seus filhos caso necessário?
9 – Como acha que reagiria a maior parte dos professores e pais, se se deparassem com
uma situação dessas, onde teriam de ajudar os alunos/filhos com as TIC?
10 – Acha que as escolas estão preparadas, ou têm capacidade para acompanhar esta
tendência tecnológica e a rapidez da sua evolução?
11 – O que deveria ou poderia ser feito nesse sentido?
12 – Quais são para si os impactos mais visíveis nas crianças em termos de
comportamento, com a cada vez maior utilização das TIC? (como por exemplo a nível de
diálogo ou a nível de concentração)
13 – A longo prazo, quais julga ser as consequências dos longos períodos de tempo que
as crianças hoje em dia passam a utilizar as TIC?
14 – Na sua opinião quais as principais razões que levam à dependência das tecnologias?
15 – É costume o/a seu filho/a utilizar as TIC para fazer trabalhos relacionados com a
escola?
16 – Acredita que a escola poderá eventualmente extinguir-se, ou pelo menos perder
alguma da sua preponderância, devido a novos meios de transmissão de saberes?
17 – Em relação aos pais o que deveriam ou poderiam estes fazer para uma melhor
educação dos filhos em relação ao uso das TIC?
18 – Que medidas poderiam estes aplicar para evitar os diversos perigos das TIC?
79
19 – …e a escola e seus professores, o que deveria ou poderia ser feito por estes, para se
desenvolver uma melhor educação das crianças, no que toca ao uso das tecnologias?
20 - …e para evitar os diversos perigos das TIC?
21 – A quem deveria recair a responsabilidade de educar ou preparar as crianças e
porventura adolescentes, sobre a utilização das TIC? Escola, pais ou ambos?
22 – Após a atividade realizada aqui na escola, deparei-me com alguns casos onde as
crianças até tinham consolas e até da última geração, mas que por outro lado não têm nem
nunca tiveram computador em casa. Como é que interpreta este fenómeno e que
consequências acha que este tipo de acontecimentos pode ter na vida e desenvolvimento
das crianças?
80
Anexo 5 – Guião de Entrevistas
Grupo Sub-Tema Questões
I – Introdução/
Dados dos
Professores/ Pais
1 – Recolher informação sobre a idade do
docente/pai/mãe (Alguns autores afirmam
que a idade do professor pode ter impacto no
uso e opinião sobre as TIC).
2 – Registar há quantos anos o docente tem
de carreira como professor do 1º ciclo.
3 – Procurar perceber o nível de capacidade
de utilização das TIC, por parte dos
entrevistados.
1; 2; 3; 4; 5
II – Massificação
das TIC e a
Criança no Papel
de Aluno
1 – Percecionar a sensação da variação do uso
das TIC pelas crianças, aos olhos do
professor e pais
2 – Conhecer a opinião do professor ou dos
pais sobre a grande utilização das TIC por
parte dos alunos/crianças.
3 – Perceber até que ponto os professores e
os pais vêm com bons olhos a introdução das
TIC na escola e até que ponto se sentem
confortáveis com essa mesma ideia.
4 – Recolher informação sobre os meios
disponíveis e a capacidade da escola ou os
pais em acompanhar a rápida evolução das
TIC.
6; 7; 8; 9; 10; 11
III –
Consequências do
Uso das TIC
1 – Descobrir quais as consequências mais
óbvias, nas crianças, do uso em excesso das
TIC.
2 – Perceber de que forma a massificação das
TIC pode ter influenciado as dinâmicas na
sala de aula e em casa.
3 – Perspetivar, mediante os olhos dos
professores e dos encarregados de educação,
as razões que originam a dependências das
TIC.
4 – Registar possíveis casos de plágio.
5 – Descobrir a opinião existente sobre a
possível ameaça das TIC, à escola tradicional
como a conhecemos.
12; 13; 14; 15; 16
81
IV – Medidas
Preventivas dos
Riscos
1 – Fazer um levantamento das medidas
preventivas que pais e professores poderiam
tomar para um melhor uso das TIC por parte
das crianças.
2 – Fazer um levantamento das medidas que
pais e professores poderiam tomar para
proteger as crianças dos riscos das TIC.
3 – Perceber, segundo a perspetiva de pais e
professores, sobre quem deveria recair a
responsabilidade da educação sobre o uso das
tecnologias.
17; 18; 19; 20; 21
V – Conclusão/
Caso Particular
1 – Recolher dados sobre a interpretação e a
explicação deste facto, aos olhos dos pais e
docentes entrevistados.
2 – Perspetivar possíveis consequências deste
tipo de acontecimentos/decisões por parte de
alguns encarregados de educação, no
desenvolvimento das crianças.
22
82
Anexo 6 – Análise de Profissões Mediante a Classificação Portuguesa das
Profissões de 2010
Frequência
Absoluta
Percentagem Relativa
PAI MÃE PAI MÃE
Grupo 0 - PROFISSÕES DAS FORÇAS
ARMADAS --- --- --- ----
Grupo 1 - REPRESENTANTES DO
PODER LEGISLATIVO E DE ÓRGÃOS
EXECUTIVOS, DIRIGENTES,
DIRECTORES E GESTORES
EXECUTIVOS
---
---
---
---
Grupo 2 - ESPECIALISTAS DAS
ACTIVIDADES INTELECTUAIS E
CIENTÍFICAS
---
1
---
1,5
Grupo 3 - TÉCNICOS E PROFISSÕES
DE NÍVEL INTERMÉDIO 1 --- 1,5 ---
Grupo 4 - PESSOAL
ADMINISTRATIVO 2 --- 2,9 ---
Grupo 5 - TRABALHADORES DOS
SERVIÇOS PESSOAIS, DE
PROTECÇÃO E SEGURANÇA E
VENDEDORES
15
22
22,1
32,4
Grupo 6 - AGRICULTORES E
TRABALHADORES QUALIFICADOS
DA AGRICULTURA, DA PESCA E DA
FLORESTA
---
---
---
---
Grupo 7 - TRABALHADORES
QUALIFICADOS DA INDÚSTRIA,
CONSTRUÇÃO E ARTÍFICES
8
---
11,8
---
Grupo 8 - OPERADORES DE
INSTALAÇÕES E MÁQUINAS E
TRABALHADORES DA MONTAGEM
3
1
4,4
1,5
Grupo 9 - TRABALHADORES NÃO
QUALIFICADOS 22 21 32,4 30,9
DESEMPREGADO
6
22
8,8
32,4
NS/NR
11
1
16,2
1,5
TOTAL
68
68
100
100
83
Código das
Perguntas
NºTOTAL de
Alunos por Turma
Anexo 7 – Quantificação das Respostas dos Grupos Focais
1º
16
3º B
16
3ºA
18
4ºA
18
4ºB
16
Total
Percentagem
1A 16
(100%)
16
(100%)
18
(100%)
18
(100%)
16
(100%)
84
(100%)
1B 16
(100%)
10
(62,5%)
18
(100%)
18
(100%)
13
(81,25%)
75
(89,29%)
2 (Sim) 16
(100%)
13
(81,25%)
14
(77,78%)
6
(33,33%)
15
(93,75%)
64
(76,19%)
3A 4
(25%)
2
(12,5%)
10
(55,56%)
6
(33,33%)
9
(56,25%)
31
(36,90%)
3B (Brincar) 16
(100%)
16
(100%)
10
(55,56%)
16
(88,89%)
12
(75%)
70
(83,33%)
3C (Sim) 16
(100%)
16
(100%)
18
(100%)
18
(100%)
16
(100%)
84
(100%)
4A 7
(43,75%)
4
(25%)
12
(66,67%)
15
(83,33%)
13
(81,25%)
51
(60,71%)
4B 0
(0%)
4
(25%)
7
(38,89%)
8
(44,44%)
6
(37,5%)
25
(29,76%)
4C 0
(0%)
2
(12,5%)
6
(33,33%)
2
(11,11%)
5
(31,25%)
15
(17,86%)
4D (Sim) 4
(25%)
4
(25%)
5
(27,78%)
13
(72,22%)
8
(50%)
34
(40,48%)
4E (Sim) 0
(0%)
10
(62,5%)
12
(66,67%)
8
(44,44%)
8
(50%)
38
(45,24%)
5 (Sim) 6
(37,5%)
11
(68,75%)
8
(44,44%)
7
(38,89%)
6
(37,5%)
38
(45,24%)
6A (Sim) 8
(50%)
14
(87,5%)
9
(50%)
16
(88,89%)
8
(50%)
55
(65,48%)
6B N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. N.A.
6C (Sim) 0
(0%)
0
(0%)
0
(0%)
0
(0%)
0
(0%)
0
(0%)
6D N.A. N.A. N.A. N.A. N.A. N.A.
Legenda: N.A. - Não se Aplica (algumas das questões realizadas não se limitaram a uma
contabilização, pois não seria possível obter resposta de sim ou não,
sendo dado um momento de resposta livre, onde se ouviu algumas das
opiniões)
Nota: Todos os arredondamentos realizados, foram feitos às 2 casas decimais.
84
Anexo 8 – Questões de Resposta Aberta – Grupos Focais
2 Bom:
Ver vídeos
Fazer trabalhos
Jogar
Ver mais coisas
Mau:
Faz mal aos olhos
Faz mal a cabeça
4E Pode ser fraude
Pode-se ser raptado
Pode ter coisas de terror
Jogo da MOMO
6B Barcos
À mesa – 2 vezes
Água – 2 vezes
Esquadra (Posto da Polícia)
Pontes
Passadeiras
Cinema
Hospital
Igreja
Pesca
A conduzir – 2 vezes
Sanita – 3 vezes
6D Professor (Mais mencionado)
Pai
Mãe