112
Presidente Delmar Stahnke Vice-Presidente João Rosado Maldonado Reitor Ruben Eugen Becker Vice-Reitor Leandro Eugênio Becker Pró-Reitor de Administração Pedro Menegat Pró-Reitor de Graduação da Unidade Canoas Nestor Luiz João Beck Pró-Reitor de Graduação das Unidades Externas Osmar Rufatto Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Edmundo Kanan Marques Pró-Reitor de Assuntos Institucionais e Comunitários Jairo Jorge da Silva Pró-Reitora de Ensino a Distância Sirlei Dias Gomes Capelão Geral Gerhard Grasel Ouvidor Geral Eurilda Dias Roman OPINIO Disponível eletronicamente pelo site www.editoradaulbra.com.br Indexador: LATINDEX Comissão Editorial Ana Regina F. Simão Iria Margarida Garaffa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero Conselho Editorial Cézar Roberto Bitencourt (PUCRS) Juan José M. Mosquera (PUCRS) Maria Cleci Martins (RF) Maria Emilia Camargo (ULBRA) Oscar Claudino Galli (UFRGS) Paulo Schmidt (UFRGS) Rui Otávio Berdardes de Andrade (CFA) Marcos Locatelli Endereço para submissão Av. Farroupilha, 8001 CEP: 92425-900 - Canoas/RS - Brasil Fone: (51) 3477.9151 - Fax: (51) 3477.1313 E-mail: [email protected] EDITORA DA ULBRA E-mail: [email protected] Diretor: Valter Kuchenbecker Coordenador de periódicos: Roger Kessler Gomes Projeto e capa: Everaldo Manica Ficanha Editoração: Solicita-se permuta. We request exchange. On demande l’échange. Wir erbitten Austausch. Endereço para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Martinho Lutero - Setor de aquisição Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 05 - 92425-900 - Canoas/RS E-mail: [email protected] O conteúdo e estilo lingüístico são de responsabilidade exclusiva dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida, com referência à fonte. O61 Opinio : revista do Centro de Ciências Econômicas, Jurídicas e Sociais / Universidade Luterana do Brasil. N. 1 (jan./jun. 1998)- . Canoas : Ed. ULBRA, 1998- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1808-964X 1. Ciências sociais aplicadas periódicos. 2. Direito. 3. Ciências econômicas. 4. Serviço social. 5. Administração. 6. Ciências políticas. 7. Ciências contábeis. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 65:3(05) OPINIO Revista de Ciências Empresariais, Políticas e Sociais o N 19 - Jul./Dez. 2007 ISSN 1808-964X

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PresidenteDelmar Stahnke

Vice-PresidenteJoão Rosado Maldonado

ReitorRuben Eugen Becker

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Pró-Reitor de AdministraçãoPedro Menegat

Pró-Reitor de Graduação da Unidade CanoasNestor Luiz João Beck

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Pró-Reitora de Ensino a DistânciaSirlei Dias Gomes

Capelão GeralGerhard GraselOuvidor Geral

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OPINIODisponível eletronicamente pelo site www.editoradaulbra.com.br

Indexador: LATINDEX

Comissão EditorialAna Regina F. Simão

Iria Margarida Garaffa

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero

Conselho EditorialCézar Roberto Bitencourt (PUCRS)Juan José M. Mosquera (PUCRS)Maria Cleci Martins (RF)Maria Emilia Camargo (ULBRA)Oscar Claudino Galli (UFRGS)Paulo Schmidt (UFRGS)Rui Otávio Berdardes de Andrade (CFA)

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O conteúdo e estilo lingüístico sãode responsabilidade exclusiva dos autores.Direitos autorais reservados.Citação parcial permitida, com referência à fonte.

O61 Opinio : revista do Centro de Ciências Econômicas, Jurídicas e Sociais / Universidade Luterana do Brasil. N. 1 (jan./jun. 1998)- .

Canoas : Ed. ULBRA, 1998- . v. ; 27 cm.

Semestral. ISSN 1808-964X

1. Ciências sociais aplicadas periódicos. 2. Direito. 3. Ciências econômicas. 4. Serviço social. 5. Administração. 6. Ciências políticas. 7. Ciências contábeis. I. Universidade Luterana do Brasil.

CDU 65:3(05)

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1 - MODALIDADES DE PUBLICAÇÃO1.1 - artigos originais que expressem opiniões e posicionamentos acerca de questões atuais

das ciências empresariais, políticas e sociais, cientificamente embasados;1.2 - artigos de atualização são artigos empíricos, idéias e revisões teóricas. Nossos artigos

de atualização visam satisfazer nosso público leitor com conceitos novos e já conhecidos para que nosso público tenha um continuado acesso ao conhecimento necessário;

1.3 - relatos onde apresentamos artigos que relatem episódios nas áreas de conhecimento referidas com descrições de opiniões e experiências oriundas do desenvolvimento de pesquisas científicas;

1.4 - resenha crítica de obras relativas a essas áreas, resumo de teses, comunicações, documentos;

1.5 - matérias de divulgação da Universidade;1.6 - matérias informativas sobre participação em eventos científicos e tecnológicos.

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editor compatível com Windows 95/98 (formatos doc ou txt, exceto em formato rtf), acompanhados de uma cópia impressa;

2.2 - o texto dos artigos deverá ter de 10 a 20 laudas; resenhas e relatos não deve ultrapassar 10 laudas;

2.3 - um resumo de aproximadamente 200 palavras em língua portuguesa e em inglesa (abstract), deverão introduzir o artigoacompanhados de palavras-chave e key words;

2.4 - endereço eletrônico (e-mail) do autor;2.5 - uma nota de rodapé com a apresentação do autor deve constar: nome, profissão, última

titulação e local onde realizada; e cargo que ocupa (se relevante);Obs.: somente os títulos acadêmicos de nível stricto sensu (Mestre e Doutor) devem ser

escritos com inicial maiúscula.2.6 - as citações diretas e indiretas, notas e referências bibliográficas devem seguir as

normas da ABNT (NBR 6023), ou outra de reconhecido valor ( p. ex., APA), e o padrão da revista Opinio que pode ser obtido com a Comissão Editorial no endereço mencionado no expediente ou pelo e-mail [email protected];

2.7 - a estrutura do artigo é a de um trabalho científico, contendo partes tais como: introdução, desenvolvimento, material, métidos, resultados, discussão e conclusão, segundo as características próprias de cada domínios de conhecimento;

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Editorial ou de outros consultores designados pela Comissão Editorial, de acordo com as especificidades do tema. Em se tratando de material elaborado por aluno(as), o mesmo deverá ser visado por um professor da área;

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3.4 - havendo necessidade de alteração quanto ao conteúdo ou inadequação às normas, o artigo será devolvido para correção estando sujeito a recusa na falta de atendimento das solicitações (adequação lingüística e copidescagem estão a cargo da comissão editorial e núcleo de publicações periódicas);

3.4 - os autores receberão 2 (dois) exemplares. Arquivos em PDF disponíveis pelo site www.editoradaulbra.com.br.

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oN 19 - Jul./Dez. 2007ISSN 1808-964X

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 1

Sumário

2 Editorial

Artigos3 A economia argentina contemporânea: da crise a um novo apogeu?

Stefano José Caetano da Silveira, Régis Rathmann

13 A logística reversa em empresas transportadoras do Estado do Rio Grande doSulDalva Santana

26 As preferências de sua excelência: o consumidorRaquel Vendeling, Janete Stoffel

43 Uma breve avaliação da eficácia do Bolsa-Família na distribuição de renda noBrasilRégis Rathmann, Stefano José Caetano da Silveira

56 Classe média: uma nova perspectiva de consumoLuciane Schallemberg Spiegel, Janete Stoffel

72 Relações entre o estudo da cognição e a gestão de pessoasSelma França e Silva da Costa

84 Estudo preliminar de análise da estrutura organizacional baseada na empresaAuxiliadora Predial Ltda. sob a perspectiva da Gestão SistêmicaAdriana T. R. Capellão, Ana Paula Ferrari

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Opinio, n.19, jul./dez. 20072

Editorial

Neste início de ano, a economia mundial desponta como a grande questão a serenfrentada, diante de sinais claros de uma recessão nos Estados Unidos, as altas históricasdo petróleo e as implicações da globalização, com sua ênfase nas questões de mercadoe nos aspectos administrativos e gerenciais das organizações privadas e públicas. Arevista Opinio, em sua proposta de estimular o debate acadêmico e a pesquisa de temáticasrelevantes para a análise de questões históricas e contemporâneas, oferece ao públicoleitor sete artigos de pesquisadores de diferentes instituições de ensino.

Embora os trabalhos estejam situados no amplo espectro das Ciências SociaisAplicadas, esta edição mostra-se afinada com a preocupação que desponta com forçaneste novo ano: três artigos examinam aspectos centrais da economia, com destaquepara a questão do consumo, enquanto outros três estudos focam assuntos relativos àadministração de empresas, sobretudo nos âmbitos da gestão e logística. E como apolítica, entendida em seu sentido mais amplo, será sempre um tema por excelênciade nossa revista, restaria salientar a pesquisa sobre a eficácia do programa “bolsa-família” para a distribuição de renda nacional.

Assim, resta desejar a todos uma boa leitura.

Comissão Editorial

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 3

A economia argentina contemporânea: dacrise a um novo apogeu?*

Stefano José Caetano da SilveiraRégis Rathmann

RESUMO

O presente artigo busca analisar o momento econômico vivido pela Argentina, os motivosque levaram o país a enfrentar uma das maiores crises econômicas e sociais de sua história,bem como as políticas implantadas desde então para reerguer a nação. Para tanto, apresentar-se-á a síntese do momento histórico deste país, desde a redemocratização, em 1983, abordando,além dos aspectos econômicos, os quadros político e social da Argentina, bem como suascausas e conseqüências.

Palavras-chave: Argentina. Crise. Currency board.

The contemporary economy of Argentina: from the crisis to a newapogee?

ABSTRACT

The present article searchs to analyze the economic moment lived by Argentina, thereasons that had taken the country to face one of the biggest economic and social crises of itshistory, as well as the implemented politics since then to recover the nation. For in such a way,it will to present the synthesis of the historical moment of this country, since theredemocratization, in 1983, approaching beyond the economic aspects, the pictures socialpolitician and of Argentina, as well as its causes and consequences.

Key words: Argentina. Crisis. Currency board.

1 INTRODUÇÃOA Argentina discute uma solução para seus graves problemas econômicos desde

o término do último ciclo de governos militares, que neste país durou sete anos (entre1976 e 1983). Seu derradeiro ato foi a derrota para a Inglaterra na guerra das Malvinas,em 1982, que para alguns autores foi um conflito que não passava de uma tentativados militares de se manter no poder, despertando o espírito nacionalista dos argentinos.

Stefano José Caetano da Silveira é bacharel em Economia, UFRGS. E-mail: [email protected]égis Rathmann é bacharel em Economia, UFRGS; mestrando do CEPAN-UFRGS. E-mail:[email protected]

*Agradecemos os comentários e as sugestões do professor Luiz Paulo Nogueról (PPGE-UFRGS). Os erros eimperfeições porventura encontrados, entretanto, são de inteira responsabilidade dos autores.

Opinio n.19 p.3-12 jul./dez. 2007Canoas

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Opinio, n.19, jul./dez. 20074

Com a posse de Raúl Afonsin, primeiro presidente civil desde a deposição deIsabelita Perón (1976), em substituição ao general Leopoldo Gualtieri, o governoargentino impôs uma nova política econômica, buscando, ao mesmo tempo, debelar ainflação e promover crescimento econômico e distribuição de renda. Para tantopromoveu um choque heterodoxo.

Tal medida impôs um congelamento generalizado de preços e salários, além datroca do padrão monetário do país – do desvalorizado peso ao esperançoso austral –que entre outras coisas cortou três zeros nas cifras e estabeleceu políticas monetária efiscal passivas (LOPES, 1968).

Todavia, assim como aconteceu no Brasil do Plano Cruzado, de acordo comBelluzo e Almeida (2002), o Plano Austral mostrou-se posteriormente insuficiente e ocrescimento inflacionário voltou a se acentuar, inclusive com o surgimento dahiperinflação, a partir de 1989. O gráfico abaixo mostra as taxas de inflação anuais,em percentuais, entre 1980 e 1990 no país.

GRÁFICO 1 – A inflação da Argentina pelo Índice de Preços ao Consumidor (1980- 1990).Fonte: Elaborado com base no INDEC (2007).

Diante desta problemática, qual seja de um cenário de instabilidade econômica,foi somente em 1991, durante o primeiro mandato do presidente Carlos Menen, coma implantação do plano econômico que levou o nome do ministro da Fazenda, DomingoCavallo, que os índices inflacionários reduziram-se consideravelmente1 . Isto foipossível devido ao currency board, ou seja, à plena paridade cambial e conversibilidadecriada entre o novo peso argentino e o dólar norte-americano que, aliadas às altastaxas de juros, baratearam as importações e estimularam o ingresso de capitalestrangeiro no país (BELLUZZO; ALMEIDA, 2002).

O currency board estabelecia ainda que a emissão de passivos monetários sópoderia acontecer se houvesse reservas da moeda exercendo a função de lastro (nocaso, o dólar). O principal objetivo do currency board é “... mitigar a capacidade do

1 O Índice de Preços ao Consumidor atingiu 171,7% em 1991, 24,9% em 1992, 10,6% em 1993 e 4,2% em 1994(Fonte: BID, 2007).

0,00

500,00

1000,00

1500,00

2000,00

2500,00

3000,00

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1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 5

Estado Nacional de fazer política monetária e cambial, garantindo assim a supressãoda possibilidade de abusos inflacionários, mediante excessiva emissão de moeda emaxidesvalorização da taxa de câmbio.”. Sua adoção foi decidida após dez tentativasfrustradas de estabilização financeira que ocorreram no país, a partir do Plano Austral(OLIVEIRA, 2003).

Quando observados alguns agregados macroeconômicos, constata-se umrelativo sucesso do Plano Cavallo. Entretanto, a crise se anunciava por meio daacumulação de sucessivos déficits em transações correntes, e principalmente, pelainsuficiência do aumento de produtividade em diversos setores da economiaassociada à internacionalização dos setores produtivos de base. Estes fatores, entreoutros tantos, fizeram com que no ano de 2001, em meio a uma crise econômica esocial sem precedentes, fosse abandonada a política econômica que vigorava háuma década.

A partir daí, lograram-se medidas que permitiram uma rápida recuperação daeconomia argentina, a qual atualmente cresce a taxas superiores inclusive às do Brasil,podendo estar entre as causas deste fato, a análise e a compreensão correta dasnecessidades atuais em termos de política econômica.

Frente a esse contexto, este artigo tem como objetivo analisar a situaçãoeconômica contemporânea da Argentina, passando pela recente crise financeira e socialvivida pelo país, bem como as ações governamentais tomadas desde então para quefosse possível a melhoria em seus agregados macroeconômicos. Para isso, buscar-se-á verificar as causas e conseqüências da crise, passando pela análise do auge da mesma,em 2002, redundando na situação atual da nação.

2 AS CAUSAS DA CRISE DO INÍCIO DA DÉCADA DE 2000 Ao longo de uma década, o governo argentino manteve a paridade cambial e

permitiu, desde então, a livre circulação de moedas estrangeiras dentro do país. Tornou-se possível pagar contas, receber salários, efetuar depósitos e aplicações bancárias emqualquer unidade monetária que as partes contratantes concordassem em adotar. Naprática, porém, deu-se preferência ao dólar e ao peso, com maior preponderância damoeda norte-americana. No entanto, segundo Belluzzo e Almeida (2002), o programade conversibilidade, no caso argentino, apenas consolidou o processo de dolarizaçãoque se intensificou depois da crise da dívida da primeira metade da década de 1980 edo fracasso do choque heterodoxo de 1985.

Durante a concepção do Plano, estabeleceu-se que a base monetária deveria serigual ao nível de reservas internacionais, que incluía títulos públicos estrangeiros apreços de mercado, sendo que, neste caso, poderiam perfazer no máximo 20% dasreservas em situações “normais”, podendo atingir 33% nos momentos de crise.Conseqüentemente, uma saída de capitais externos do país seria absorvida peladiminuição da quantidade de moeda ofertada (OLIVEIRA, 2003).

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Opinio, n.19, jul./dez. 20076

Neste momento, é importante frisar uma sensível diferença existente entre aseconomias argentina e brasileira em relação ao comércio exterior. Enquanto o Brasilbuscou diversificar sua pauta de exportações desde o início do Processo de Substituiçãode Importações (PSI), em 1930, tornando-se menos dependente do café – processoeste que veio a ser consolidado com a ênfase à produção de bens de capital e bensintermediários, a partir de 1974, durante a vigência do II Plano Nacional deDesenvolvimento (II PND) – isto não ocorreu na Argentina. Ao contrário do Brasil,que ampliou seu leque de mercadorias vendidas no exterior, ficando menos sujeitoaos efeitos de choques adversos no cenário internacional, a Argentina continuou aapostar na especialização e comercialização de poucos produtos – principalmenteaqueles que entendia possuir vantagens comparativas, como o trigo e a carne bovina.Tal política fragilizou o país, deixando-o mais suscetível aos efeitos de crisesinternacionais (CASTRO, 1985; REZENDE, 1999).

Com a sobrevalorização do peso, a Argentina passou a ter recorrentes déficitsem sua Balança Comercial, uma vez que seus produtos de exportação tornaram-seexcessivamente caros no exterior. A contrapartida disto deveria ocorrer por meio deganhos de produtividade através de reformas econômicas e de privatizações, permitindoàs mercadorias argentinas continuarem competitivas no mercado externo, o quedesoneraria a produção e dinamizaria as exportações, resolvendo o problema do déficitda Balança de Transações Correntes no médio prazo. Até que isto fosse alcançado, osrecursos externos que entrariam no país via conta capital e financeira, equilibrariam oBalanço de Pagamentos.

Esta dinâmica decorria do pensamento da equipe econômica de que a aberturacomercial inibiria o aumento dos preços domésticos devido à concorrência estrangeira.Da mesma forma, acreditavam que a desregulamentação da Balança de Capitaiscompensaria o desequilíbrio das Balanças Comercial e de Serviços devido ao capitalestrangeiro (OLIVEIRA, 2003).

Entretanto, tal estratégia não se realizou como planejada, pois uma aberturanesses moldes deixa qualquer país muito suscetível a choques externos, uma vez quequalquer reversão do nível de liquidez externa, em geral, exerce impacto negativosobre a economia, cuja magnitude dependerá da quantidade de recursos externosvoluntários requeridos para equilibrar o Balanço de Pagamentos.

Apesar de um significativo aumento no saldo (entradas menos saídas) de recursosexternos no país, passando de um déficit de US$ 5,17 bilhões em 1990, para umsuperávit de US$ 20,41 bilhões em 1993, com a crise mexicana de 1994, os investidoresinternacionais, dentro de um contexto de globalização, retiraram grande parte de seusinvestimentos dos países em desenvolvimento, devido à incerteza no futuro da economiadestas nações e do risco de desvalorização de suas moedas. O saldo de recursosestrangeiros na Argentina caiu de U$ 20,41 bilhões em 1993, para U$ 4,9 bilhões em1995, sendo que neste mesmo ano, o PIB apresentou-se deficitário em 2,8%(OLIVEIRA, 2003).

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Fluxos de CapitalUS$ bilhões

1992-1994

US$ bilhões

1995-2000

%

1992-1994

%

1995-2000Fluxos do capital ao setor público 3,2 8,8 27,5 68,6

Privatizações 2,3 1,2 19,5 9,3Empréstimos externos 0,9 7,6 8,0 59,3

Fluxos do capital ao setor privado 8,6 4,0 72,5 31,4Setor financeiro (excl. BACEN) 1,1 0,7 9,6 5,1Empréstimos externos ao setorfinanceiro

3,3 3,6 27,6 28,3

Outros movimentos de capital 1,1 -6,1 8,9 -47,3IED & inversão de carteira 3,1 5,8 26,4 45,3

Total 11,8 12,8 100,0 100,0

QUADRO 1 – Entradas médias anuais de capital estrangeiro líquido (1992-2000).Fonte: Elaborado com base no INDEC (2007).

Necessitando de dólares para pagar os juros da sua dívida externa e manter aparidade peso-dólar prescrita em lei, o governo intensificou o processo de privatizaçõesde empresas e serviços estatais (dos ramos de saúde, previdência, correios,telecomunicações, etc.), reestruturou o sistema financeiro do país, de modo a facilitara entrada de bancos estrangeiros na tentativa de tornar o referido sistema mais sólido– isto ficou comprovado quando da crise asiática de 1997, se comparado à mexicana–, e buscou, de forma cada vez mais acentuada, financiamentos internacionais, cujosrecursos obtidos serviram para aumentar as reservas cambiais argentinas econseqüentemente superar o déficit em transações correntes da nação.

A adoção destas medidas fez com que as entradas de capital estrangeiro no país,ao contrário do que ocorreu entre 1992 e 1994, passassem a ser destinadasmajoritariamente ao setor público, conforme descrito no Quadro 1. O mesmo demonstraque após a crise do México, devido ao “efeito tequila”, o currency board passou a serfinanciado através de endividamento externo. Como os recursos de privatização eempréstimos são finitos, tal estratégia não poderia ser empregada indefinitivamente.

A acumulação de sucessivos déficits em transações correntes, o aumentoinsuficiente de produtividade em diversos setores da economia para compensar amanutenção da moeda local no mesmo valor que o dólar e o nível elevado da taxa dejuros, agravaram a percepção dos investidores estrangeiros na falta de capacidade dogoverno argentino de honrar seus compromissos. Em 1999, já durante o mandato dopresidente Fernando de La Rúa, a taxa de risco-país chegou aos 610 pontos acima dosbônus do Tesouro dos Estados Unidos (BBC Brasil, 2006).

Em maio de 2000, o governo argentino anunciou cortes nos gastos públicos naordem de US$ 938 milhões, o que gerou manifestações contrárias em todo o país. Nomesmo ano, o déficit público ficou acima do previsto na ordem de US$ 500 milhões eanunciou-se um escândalo de subornos no Senado, no qual o executivo teria compradovotos favoráveis de alguns senadores às reformas propostas pelo governo. Como efeito,ocorreu a renúncia do vice-presidente Carlos Alvarez, por ser contrário a forma comoo gabinete presidencial havia lidado com o fato.

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No final deste mesmo ano, a Argentina conseguiu ajuda do Fundo MonetárioInternacional (FMI) na ordem de US$ 40 bilhões e prometeu que a partir daí, dariafim à crise. Entretanto, isto não aconteceu, agravando-se o problema durante o ano de2001. Neste ano o risco-país bateu em mais de seis mil pontos, a dívida pública brutasuperou 50% do PIB (apesar de, segundo dados apresentados pelo Ministério daFazenda, no Brasil superar os 65% do PIB atualmente), diariamente postos de trabalhofecharam, passeatas e manifestações contra o governo tomaram as ruas e a economiaentrou em colapso.

Diante desta crise, o presidente nomeou novamente Domingo Cavallo comoministro da Economia, ao mesmo tempo em que o Congresso aprovou poderes“especiais” para este Ministério, que lhe permitiu tomar medidas econômicas em caráterde exceção, ou seja, sem passar por votação no Congresso.

Após tentativas frustradas de recompor a economia local, como da adoção deuma “cesta” de moedas fortes (dólar e euro, predominantemente) que ancorariam opeso, o governo implementou um bloqueio de ativos nos bancos do país, em dezembrodeste mesmo ano, em uma tentativa de conter a fuga de dólares para o exterior. Estamedida impopular, batizada de “corralito”, foi o último ato do governo Fernando DeLa Rúa. Tanto o presidente, quanto o ministro Cavallo, não resistiram à pressão erenunciaram no mesmo dia. Este ato decretou, na prática, o fim da paridade cambialno país.

3 O INÍCIO DA RECUPERAÇÃOUma vez descrito o cenário que levou a Argentina a esta situação, deve-se centrar

a análise no momento econômico atual, resultante das políticas implantadas desde oprincípio de 2002.

Como efeito colateral do processo de controle inflacionário, houve um aumentoexplosivo da dívida externa argentina, que passou de US$ 7,8 bilhões no início dogoverno militar, em 1976, para US$ 215 bilhões em meados de 2004. Isto ocorreu,pois, entre 1992 e 1999, período de plena vigência do Plano Cavallo, o valor da dívidapraticamente dobrou (INDEC, 2007).

Como herança de uma política econômica que provocou ao longo da décadapassada a demissão de servidores públicos, a diminuição dos gastos sociais e a reduçãodos salários de 140 mil funcionários do Estado, a Argentina chegou a enfrentar umataxa de desemprego oficial de 18,3% da população economicamente ativa e convivercom 41% dos argentinos vivendo abaixo da linha de pobreza. Além disso, os reflexosdo “corralito” – praticamente extinto no final de 2002 – ainda puderam ser sentidosno país durante algum tempo, principalmente em função da falta de credibilidade queo sistema bancário nacional adquiriu junto ao povo.

Com a posse do novo presidente eleito, o peronista Nestor Kirchner, no princípiode 2003, após a renúncia do presidente De La Rúa, em 20 de dezembro de 2001, cujo

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mandato foi completado por cinco presidentes substitutos, sendo que alguns deles nãochegaram a ficar mais de duas semanas no cargo, as centrais sindicais fecharam umaespécie de trégua com o novo governo, dando-lhe suporte inclusive nas reformas demaior emergência. A principal delas foi atribuída ao então ministro da Economia,Roberto Lavagna.

Lavagna, que também havia sido ministro do último presidente “tampão” quecompletou o mandato de De La Rúa, Eduardo Duhalde, foi o principal responsávelpela reestruturação dos sistemas econômico e bancário do país, inclusive na elaboraçãodo cronograma de liberação do dinheiro retido nos bancos por conta do “corralito”.Coube a ele a tarefa de negociar o “default” imposto pelo governo de seu país com osinvestidores estrangeiros privados – onde a Argentina mostrou-se disposta a quitarapenas 25% do valor devido, bem como negociar um novo contrato de ajuda financeiracom o FMI. Um dos pontos de entrave, porém, além da questão da inadimplência comos credores internacionais, foi o percentual do superávit primário que o país teria deatingir. Enquanto o Fundo exigia 3,5%, o governo argentino não parecia disposto apassar de 3%. Depois de muita negociação, prevaleceu o menor percentual.

Na tentativa de reativar a indústria local nacional que sobrara, após o período deintensa internacionalização, o governo Kirchner restringiu o ingresso de manufaturasde outros países na Argentina, mesmo de países sócios do Mercosul, como no caso dachamada indústria “branca” que reúne as máquinas de lavar, os televisores e asgeladeiras do Brasil.

Entretanto, através destas medidas, os agregados macroeconômicos do paíscomeçaram a mostrar avanços significativos. Sem esquecer que em 2002 o PIB nacionalregrediu 10,9%, houve uma melhora neste indicador no ano seguinte, com umcrescimento de 8,8%, enquanto a inflação ficou em 3,7%. Em 2004 e 2005, ocrescimento do Produto Interno Bruto foi superior a 9%, devido ao maior consumopor parte da população, ao aumento das exportações, às taxas de juros mais baixas eao crescimento do comércio exterior. Os índices inflacionários foram 6,1% e 12,2%,respectivamente (INDEC, 2007).

Já o exercício de 2006, após previsões que apontavam um incremento de apenas4,5% nas riquezas da nação, apresentou um índice positivo de 8,5%, estimuladoprincipalmente pela construção civil – que vem apresentando um crescimento inédito,visto pela última vez em meados do século passado –, pela agricultura e pela indústria,com inflação anual situando-se em 9,8% (INDEC, 2007).

Atualmente a Argentina passa por dificuldades, causadas pela pior crise energéticada história do país e pelo momento de instabilidade política decorrente das suspeitas decorrupção envolvendo membros do primeiro escalão do governo federal. Estas distorçõespodem vir a impactar negativamente no crescimento observado dos últimos anos.

A ocorrência de um vigoroso inverno, que por um lado tem impactos positivos,em especial decorrentes de incremento turístico, por outro fazem com que hajapreocupação em torno do aumento do consumo energético. Neste sentido, mostra-se a

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necessidade de investimentos em infra-estrutura energética, uma vez que se trata deum setor vital para a formação de base à manutenção do crescimento econômico.

Ilustrando a dramaticidade desta situação, constatou-se que a energia disponívelnão seria suficiente para atender as indústrias, as residências e os automóveis, o queresultou em um racionamento de eletricidade que, somente no mês de julho deste ano,atingiu mais de 300 fábricas e quase cinco mil indústrias (KROEHN; GARCEZ, 2007).

A crise energética vivida pela nação platina já criou problemas a mais de 30 miltáxis que circulam pela capital, o que levou o governo a fazer um acordo com asmaiores empresas do ramo de petróleo em operação no país – Petrobrás e YPF – paraque o preço da gasolina fosse reduzido. Porém, não menos grave, é a ameaça quepaira sobre os países que comercializam com a Argentina, como o Chile – que, atéentão, importava de lá 90% do gás que consume –, o Paraguai – que viu sua cota degás de cozinha (GLP) recebida da Argentina ser reduzida drasticamente – e o Brasil –cujo trigo e farinha, presentes na gastronomia local, são 75% procedentes do vizinhoplatino que, sem energia, reduziu a produção, o que pode causar uma crise de oferta,provocando uma alta de preços (KROEHN; GARCEZ, 2007).

Esta difícil situação – que poderia até ser surpreendente para uma nação queexportava energia até o ano passado, cujo produto representou US$ 5 bilhões, dosUS$ 12,7 bilhões de superávit comercial obtido no período, pode ser creditada aopopulismo praticado pelo governo Kirchner, cuja política econômica congelou tarifaspúblicas, ao passo que manteve a proposição adotada desde o governo Menem, emmeados da década de 1990, de não usar dinheiro público para novas inversões nosetor. Estes investimentos deveriam partir do capital privado. Entretanto, devido ao jácitado congelamento de preços, aliado a falta de perspectivas para o segmento, nãohouve novas propostas de projeto.

Somando-se os insuficientes investimentos em infra-estrutura, consumo crescentee um frio intenso, o resultado acaba sendo o racionamento de energia, restrito, em umprimeiro momento, as fábricas e indústrias, porém, podendo ser estendido àsresidências, se tal situação perdurar.

Como se a crise energética não fosse motivo suficiente de preocupação para aCasa Rosada, eis que surgiram mais dois escândalos de corrupção, desta vez envolvendoa então ministra da Economia, Felisa Miceli, e a secretária de Meio Ambiente, RominaPicolotti, que podem vir a abalar a confiabilidade em termos da credibilidade emtorno da política econômica, fato necessário e básico para a sustentação de qualquereconomia.

4 CONSIDERAÇÕES FINAISSegundo alguns analistas, tais como Naím (2000), a situação vivida pela Argentina

no início dos anos 2000 é decorrente do país ter seguido as orientações do FMI e o

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Consenso de Washington durante a década de 1990, o que nos parece serexageradamente simplista.

Sobre outros fatores parecem estar as causas mais relevantes para a crise logradano início da década de 2000. Entre eles, o não cumprimento rigoroso das propostas dereforma da primeira fase da cartilha do Consenso de Washington, tais como o controlerígido dos gastos do governo, a reforma tributária, a criação de condições para oincremento do investimento estrangeiro direto e a desregulação da economia. Alémdisso, deve-se mencionar não terem sido realizadas as reformas de segunda geração(as chamadas reformas pós-consenso), como foco específico em medidas para distribuirmelhor a renda, ajuste na política fiscal, criação de reservas internacionais apropriadase flexibilização do mercado de trabalho formal (BENECKE; NASCIMENTO, 2003).

Não se pode esquecer, também, que o país manteve uma relação de paridadeentre a moeda local e o dólar americano durante dez anos e que a artificialidade destaparidade foi sustentada, particularmente a partir de 1995, por um processo crescentede endividamento público externo e não pela solidez fiscal, pelo aumento daprodutividade e pela sustentabilidade do regime do currency board.

Quando um país decide lançar um plano de estabilização financeira buscandoacabar com índices inflacionários altíssimos, a paridade cambial pode ser empregadadurante um determinado período que possibilite a nação habituar-se à idéia de umamoeda forte que permita planejamento econômico. No longo prazo, porém, o remédiopode tornar-se veneno, uma vez que inibe as exportações e facilita as importações,fazendo com que o país atinja recorrentes déficits em sua Balança Comercial, o queinvariavelmente provoca dificuldades em fechar o Balanço de Pagamentos, obrigando-o a recorrer a Balança de Capitais invariavelmente na rubrica empréstimosinternacionais.

A recuperação econômica do país começou efetivamente com as austeras políticasmonetária e fiscal adotadas pelo governo Kirchner no início de seu mandato,explicitadas pela maneira como foram reestruturados os sistemas econômico e bancáriodo país, bem como a forma como foi solucionado o problema da moratória com osinvestidores estrangeiros privados. Isto permitiu, em termos de comércio internacional,que a Argentina prossiga na busca da reconquista do espaço perdido. Apesar de, emum primeiro momento, a ênfase ocorrer sobre o setor primário – pelo investimento emtécnicas agrícolas inovadoras, cujos produtos o país possui vantagens comparativas –, o governo central planeja inserir a nação no mercado global, através de seus produtosindustrializados. Para isto acontecer, no entanto, deverá ocorrer a intensificação damodernização de seu parque industrial – processo semelhante ao vivido pelo Brasildurante o governo Geisel, batizado por Antonio Barros de Castro (1985) como “MarchaForçada” –, buscando continuamente o aumento da produtividade e redução de custos.Objetivamente, este parece ser o principal foco do projeto de governo da atual primeira-dama, Cristina Kirchner, que herdará, uma vez eleita, entre ônus e bônus, uma criseenergética que exige solução imediata.

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Assim como diversos países já entraram e saíram de processos depressivoscrônicos, espera-se que a Argentina continue avançando na busca de soluções aosseus problemas econômicos, uma vez que o auge da crise parece já ter ficado nopassado. Não poderia esperar-se outra coisa de uma nação rica em recursos naturais,possuidora do 34º Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo e segundamaior parceira econômica do Brasil.

REFERÊNCIASBBC Brasil. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/portuguese/economia>. Acesso em:09 maio 2006.BELLUZZO, L. G. M.; ALMEIDA, J. S. G. Depois da Queda. São Paulo: ed.Civilização Brasileira, 2002, p. 9-21.BENECKE, D. W.; NASCIMENTO, R. Consenso de Washington Revisado. In:Cadernos Adenauer, v.4, n.2, 2003, p.13-32.BID. Banco Interamericano de Desenvolvimento. Disponível em: <http://www.iadb.org>. Acesso em: 13 set. 2007.CASTRO, A. B. de. Ajustamento x transformação: a economia brasileira de 1974 a1984. In: CASTRO, Antônio Barros de; SOUZA, Francisco Eduardo Pires de. Aeconomia brasileira em marcha forçada. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.INDEC. INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICA Y CENSOS. Disponível em:<http://www.indec.gov.ar>. Acesso em: 09 jul. 2007.KROEHN, M.; GAMEZ, M. A Argentina entra numa gelada. Revista Istoé, 18 jul.2007.MINISTÉRIO DA FAZENDA. Disponível em: <http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=397816>. Acesso em: 14 set. 2007.NAÍM, M. Ascensão e queda do Consenso de Washington. O Consenso de Washingtonou a Confusão de Washington? Revista Brasileira de Comércio Exterior, Rio de Janeiro,jul./set./ago. 2000, n.64, FUNCEX.OLIVEIRA, G. C. Liberalização, desregulamentação e currency board: a experiênciaargentina na década de 1990. Revista da FAE, Curitiba, maio/dez. 2003, v.6, n.02,p.39-51.LOPES, F. L. P. O Choque Heterodoxo: Combate à Inflação e Reforma Monetária.Rio de Janeiro: Campus, 1968.REZENDE, C. de B. Economia brasileira contemporânea. São Paulo: Contexto, 1999,p.75-152 (Coleção Manuais).

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A logística reversa em empresastransportadoras do Estado do Rio Grande

do Sul

Dalva Santana

RESUMO

A logística reversa é uma ferramenta que começa a ser empregada pelas empresas nosentido de agregar valor a seus canais reversos. Entende-se por logística reversa o gerenciamentodo fluxo de bens e informações que ocorre do ponto de consumo para o de obtenção, denominadofluxo reverso, nos quais, uma parcela dos produtos distribuídos retorna ao ciclo produtivo,envolvendo também reutilização de materiais, disposição de resíduos e outros. Este trabalhode pesquisa foi realizado com empresas transportadoras instaladas no Estado do Rio Grandedo Sul, com o objetivo de investigar de que forma adotam os preceitos da logística reversa.Também busca identificar a forma de tratamento dos resíduos gerados. A pesquisa aplicadarevela que a logística reversa está inserida na cultura organizacional. As empresas, entretanto,enfrentam dificuldades para colocá-la em prática nas suas operações logísticas cotidianas.

Palavras-chave: Logística reversa. Empresas transportadoras. Retorno.

Reverse logistics in transport companies in the State of RioGrande do Sul

ABSTRACT

Reverse Logistics is a tool starting to be used by companies to add values to its reversechannels. Reverse Logistics is meant to administrate the flow of goods and information whichhappens since the consuming point up to the acquisition point, called reverse flow and is a partof the distributed products return to the producing cycle also involving reused materials, disposalof refuse and other materials. This research was realized with transport companies in RioGrande do Sul aiming to investigate which way of the principles were adopted and also tryingto identify how the disposals were treated and generated.

This applied research reveals that the Reverse Logistics is part of an organizing culture,otherwise, companies have been facing difficulties to practice its day by day logistics operations.

Key words: Reverse Logistics. Transport Companies. Return.

Dalva Santana é professora da ULBRA Canoas no curso Tecnólogo em Logística, mestranda em Gestão Ambientalda UFRGS. Membro do Núcleo de Logística Reversa do RS – SETCERGS. E-mail: [email protected]

Opinio n.19 p.13-25 jul./dez. 2007Canoas

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1 INTRODUÇÃOSegundo Stock (1998:20), no caso de logística reversa em uma perspectiva de

negócios, o termo refere-se “ao papel da logística no retorno de produtos, redução nafonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição de resíduos,reforma, reparação e remanufatura...”. O conceito reflete a necessidade de pesquisarsua aplicabilidade no universo empresarial.

A logística reversa é um conceito em evolução. Os autores Leite (2003) eChristopher (1997) consideram que a logística reversa constituiu-se em uma área deestudo englobada pela Logística Empresarial, a qual trata da movimentação ou fluxode bens e produtos e das informações ao longo da cadeia produtiva.

Nas operações logísticas de transporte existem alguns fatores que podem servircomo restrição ao negócio, porém, outros, por vezes, poderão tornar-se umaoportunidade. Estamos falando da logística reversa inserida nas operações logísticasque, na prática é pouco aplicado.

O presente artigo aborda uma pesquisa sobre a logística reversa com empresastransportadoras e operadores logísticos do estado do Rio Grande do Sul. Foi percebidaa viabilidade de estudar este tema nesse setor, devido às características das atividadesdesenvolvidas, pois geram um grande volume de resíduos que podem ser reutilizadosou reciclados tais como pneu, óleo e outros. Buscamos também identificar como estãosendo empregados os conceitos da logística reversa e sua eficácia.

O estudo está sedimentado na necessidade percebida pela pesquisadora, umabusca por novos conhecimentos que poderão ser utilizados não somente no universoacadêmico, como por empresas de diferentes ramos de atividade.

O artigo está estruturado em tópicos para melhor compreensão que, passa poruma revisão conceitual da logística reversa e suas origens e se encaminha para exemplosde ações sendo desenvolvidas no RS com o objetivo de traçar um cenário deentendimento do conceito. Por último apresenta-se a pesquisa desenvolvida e resultadosalcançados.

2 UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA DOS CONCEITOS DELOGÍSTICA REVERSAAs diversas definições e citações de logística reversa até o momento revelam

que o conceito ainda está em evolução, em face das novas possibilidades de negóciosrelacionados com o crescente interesse empresarial.

Segundo o CLM – Council of Logistics Management (1993:323): “Logísticareversa é um amplo termo relacionado às habilidades e atividades envolvidas nogerenciamento de redução, movimentação e disposição de resíduos de produtos eembalagens...”

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Para Leite (2003:16-17), a logística reversa como a área da logística empresarialque planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, doretorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao cicloprodutivo , por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor dediversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa,entre outros.

Portanto, a logística reversa, por meio de sistemas operacionais diferentes emcada categoria de fluxos reversos, objetiva tornarem possível o retorno dos bens ou deseus materiais constituintes ao ciclo produtivo ou de negócios. Agrega valor econômico,ecológico, legal e de localização ao planejar as redes reversas e as respectivasinformações e ao operacionalizar o fluxo desde a coleta dos bens de pós-consumo oude pós-venda, por meio dos processamentos logísticos de consolidação, separação eseleção, até a reintegração ao ciclo.

Em uma evolução do conceito, no ano de 2001, o CLM – Council of LogísticsManagement, define a logística reversa como: “... parte do processo da cadeia desuprimento que planeja, implementa e controla de modo eficiente e eficaz o fluxodireto e reverso e o estoque de bens, serviços e informação entre o ponto de origem eo ponto de consumo com o propósito de atender os requisitos dos clientes”.

Em outras palavras, a logística reversa trata de mover o produto da destinaçãofinal para o retorno ao ciclo de negócios, ou para disposição final adequada.

Segundo Rogers, Tibben e Ronalds (1998), as atividades da logística reversaconsistem basicamente em coleta de materiais usados, danificados ou rejeitados,produtos fora de validade e a embalagem e transporte do ponto do consumidor finalaté o revendedor.

Já Lambert e Stock (1981), descreveram a distribuição reversa como o produtoseguindo na contramão de uma rua de sentido único pela qual a grande maioria dosembarques de produtos flui em uma direção. Barnes (1982) empregou o termo logísticareversa para dar importância crescente à reciclagem em benefício dos negócios e dasociedade.

No entanto, a mais antiga referência data do inicio da década de 70, Zikmund eStanton (1971), da University of Colorado, utilizaram o termo reverse distribution,fazendo referência à similaridade dos conceitos de distribuição aplicados no sentidoinverso à necessidade de recolhimento de materiais sólidos provenientes dos pós-venda e pós-uso para reutilização pelo produtor.

Na década de 70, Ginter e Starling (1978) utilizaram o termo reverse distributionchannels enfocando a questão da reciclagem e suas vantagens econômicas e ecológicas,além da importância dos canais de distribuição reversos como fator fundamental naviabilidade econômica do processo de recuperação dos materiais.

Para a organização profissional não lucrativa com sede nos Estados Unidos,Reverse Logístics Executive Council (RLEC), a logística reversa é o processo de

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movimentação de produtos da sua típica destinação final para outro ponto, com opropósito de capturar valor ou envia-lo para o destino adequado.

2.1 Logística reversa no Estado do Rio Grande do SulO Estado do Rio Grande do Sul é uma referência nacional quando se trata de

evidenciar a coleta seletiva, ou seja, a capital Porto Alegre está na estatística dosindicadores de excelência no assunto, juntamente, com a cidade de Curitiba, capitaldo estado do Paraná. Segundo o DMLU – Departamento Municipal de Limpeza Urbana(2007), em Porto Alegre/RS, o crescimento vegetativo é muito baixo (típico de cidadesgrandes e desenvolvidas), mas as quantidades de lixo aumentam a cada ano. A populaçãoflutuante na cidade, chega a atingir índices de 2 milhões de pessoas por dia, em buscade serviços (característica vocacional produtiva das cidades) pessoas que geram lixoaqui e depois voltam aos seus municípios. A coleta seletiva de Porto Alegre coleta 60ton/dia e abastece 13 unidades de triagem e 01 de triagem e compostagem, atendendo700 pessoas com renda entre R$ 400,00 a R$ 450,00. Ela passa 1 vez por semana nosbairros e em 11 bairros, 2 vezes por semana. A coleta 3 vezes é somente para grandesgeradores e não nos bairros. A cidade de Montenegro destaca-se na reciclagem doóleo de fritura com o aproveitado em automóvel; a cidade de Santa Rosa o destaque épara a reciclagem e transformação energética.

Segundo Leite (2003), bens ou materiais constituintes transformam-se emprodutos denominados de pós-consumo e podem ser enviados a destinos finaistradicionais, como incineração ou aterros sanitários, considerados meios seguros de“estocagem” e eliminação, ou retornar ao ciclo produtivo por meio dos canais de‘desmanche”, “reciclagem” ou “reuso” em extensão de sua vida útil.

Atualmente, a Prefeitura de Porto Alegre lançou juntamente com o DMLU –Departamento Municipal de Limpeza Urbana, o Projeto de Reciclagem de óleo deFritura com o objetivo de dar uma destinação correta ao resíduo. Foi assinado convêniocom três empresas da região que recolherão o óleo nos 22 pontos de coletalogisticamente estratégicos na cidade e serão encaminhados para a reciclagem. Apopulação levará até os pontos de coleta e cada uma das empresas terá oito postos derecolhimento do material, que depois de reciclado, poderá ser utilizado na produçãode resina para tintas, sabão, detergente, glicerina, ração para animais, biodiesel e etc.Esta iniciativa é um exemplo de como a cidade de Porto Alegre se posiciona na questãona Gestão Ambiental e os canais reversos: Logística Reversa de Pós-consumo eLogística Reversa de Pós-Vendas.

Pode-se evidenciar no exemplo acima, preocupação que vai além da questãoambiental, ou seja, de reinserção ao ciclo produtivo propiciado pelos canais reversosde pós-vendas ou pontos de coleta estrategicamente planejados através de rotas ondeas empresas credenciadas irão coletar este óleo de fritura e inseri-lo novamente aociclo de negócio através da reciclagem.

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Partindo destes conceitos de Logística e dos seus canais reversos de pós-consumoe pós-vendas podem-se visualizar mais um exemplo no estado: O Projeto Reciclar emparceria com a Rede Âncora, maior rede de lojas autopeças do Brasil, SEBRAE,FEPAM, Petrobrás e MB Engenharia, tem com objetivo aumentar o recolhimento dasembalagens de óleo lubrificantes do Estado RS, pois o material tanto a embalagem eóleo, ambos são recicláveis.

A destinação final correta das embalagens plásticas de óleo lubrificante para veículostem sido um dilema para o setor de revenda do produto. O Rio Grande do Sul gera 170toneladas/mês de embalagens desse óleo. “Com o Reciclar, conseguiremos elevar opercentual de retirada do meio ambiente em pelo menos 50% desse volume”, prevê ogerente regional da rede Âncora. A MB Engenharia já atua no recolhimento de 45 toneladas/mês de embalagens plásticas e coordenará o trabalho de recolhimento do Reciclar. 1

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSEste estudo de abordagem quantitativa empregou a metodologia de pesquisa

descritivo-exploratória, que segundo Gil (2002) é desenvolvido com base em objetivosque buscam aprimorar idéias ou descobrir intuições. Neste caso o objetivo é identificarcomo os conceitos da logística reversa são empregados por empresas do setor detransportes no RS.

Para a construção do objeto de investigação foi realizada uma pesquisabibliográfica sobre conceitos de logística reversa. Com este embasamento, foiconstruído o instrumento de pesquisa, um questionário. Para tanto, utilizou-se de umaamostra não probabilística por conveniência, onde os elementos da amostra sãoselecionados de acordo com a conveniência do pesquisador. São empresas que estãono alcance do pesquisador e dispostos a responder um questionário de 10 questõesfechadas e abertas, onde foram fornecidas as prováveis respostas do entrevistado, e assemi-abertas, onde ocorre a junção de uma pergunta fechada e uma aberta, em que emprimeiro instante o entrevistado responde a fechada e depois justifica a resposta.

O estado do RS tem hoje 4.600 empresas transportadoras segundo o SETCERGS– Sindicato de Transportes do Rio Grande do Sul. A pesquisa foi realizada nos mesesde junho, julho, agosto e setembro de 2007, com empresas transportadoras de todo oestado do Rio Grande do Sul. Foram enviados 110 questionários, sendo devolvidos73 questionários. Após triagem e conferência, apenas 50 questionários foram analisadose tratados estatisticamente (apuração simples e cruzamentos).

4 RESULTADOS OBTIDOS COM A PESQUISAOs resultados da pesquisa demonstram à compreensão da logística reversa (LR)

1 ASN, SEBRAE/RS 08/maio /07, disponível www.sebrae.com.br , acesso em 19 Set. 2007

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do setor no RS. Ao analisarmos os dados podemos ressaltar algumas questões queenvolvem a logística reversa quanto ao reaproveitamento de materiais.

Inicialmente na questão 1 investigamos “Que tipos de materiais são reutilizadosou reciclados”. Das 50 empresas analisadas, 80% responderam que o tipo de materialreaproveitado ou reciclado á papel, 54% pneus e 48% óleo lubrificante. A questão dareciclagem de pneu apresenta algumas soluções interessantes desde o reaproveitamentopara deter a erosão até o aproveitamento como matéria-prima para outros subprodutos,como podemos visualizar aqui no RS: uma parceria de coletas dos pneus para areinserção mercadológica em subprodutos como escova, tapete de banheiro, balde e oasfalto ecológico. Segundo Plínio Gomes, da empresa Stilflex2 , a empresa atua nomercado desenvolvendo produtos em borracha reciclada de pneus e está apostando nofuturo, por este motivo possuí uma grande variedade de artigos que são produzidossob encomenda. Alguns dados demonstram o volume de carcaças que vão para triageme depois comercializados como material reciclado para empresas para seremprocessadas em novos subprodutos. Na empresa Transpaulo (Canoas/RS), são 304pneus carcaças por ano que são encaminhados para reciclagem através de doação,para viabilizar o processo, a empresa é responsável pelo transporte até o local ondeserá realizada a triagem e posteriormente a reciclagem. Segundo a Engª. Lisiane Sberbe,da empresa ATR Transportes, o volume de carcaça gerada é muito baixa, 15 carcaçaspor semestre (dados de 2006), a empresa trabalha com a reutilização do produto,através da, estendendo o ciclo de vida do pneu até a sua 3ª ou 4ª vida, conformeconstatado, o descarte do pneu (carcaça) torna-se mais um custo a ser gerenciado.

Na questão 2 buscamos também identificar se as empresa “já possuem certificaçãoISO 14001 ou SASMAQ”. Conforme os resultados, obtidos, das 50 empresaspesquisadas,14% (7 empresas) possuem ISO 14001 e 38% (19 empresas) possuemSASSMAQ.. Verifica-se um crescimento de aquisição da certificação da SASMAQ –Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade, nas empresas transportadoras de cargasperigosas. De acordo com Claudia Nunes, Gerente Administrativo da empresa AGRRodasul 3 a SASMAQ é uma ferramenta de trabalho muito importante, pois ajuda aminimizar os riscos envolvidos nas operações de transporte e distribuição de produtosquímicos e petroquímicos, agrega valor ao negócio, através da confiança e fidelizaçãodos clientes, contribui para a evolução e melhoria contínua dos serviços prestados,além de gerar benefícios à sociedade, através dos controles de qualidade, meioambiente, saúde e segurança do trabalho.

A questão 3 da pesquisa diz respeito “a disposição dos resíduos gerados naempresa”. Os resultados demonstram conforme o gráfico 1 que a maioria das empresastransportadoras (78%) quando indagadas sobre a disposição de resíduos disseram queo fazem através de parceiros ou tratam na sua própria empresa e depois utiliza a parceriapara o transporte ao local adequado. O restante da empresas (30%) utiliza o serviçomunicipal de coletiva seletiva.

2 Stilflex, www.stilflex.com.br, acesso em 24 /Set/ 2007.3 Rodasul Transportes, www.agr-rodasul.com.br, disponível em 17/Set/2007.

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GRÁFICO 1 - Como uma empresa do segmento de transportes faz a disposição dos seus resíduos?

Na questão 4 buscamos avaliar se a empresa conhece os conceitos de logísticareversa. Conforme os resultados demonstrados na tabela 1, do total de empresaspesquisadas, 86%, conhecem os conceitos de logística reversa e 12 % desconhecem.

TABELA 1 - A empresa conhece os conceitos de logística reversa?

Fonte: Coleta de dados, 2007

Segundo Felizardo (2005), em uma pesquisa realizada na cidade de Curitiba/PRcom empresas que industrializam materiais plásticos, buscou-se identificar o nível deconhecimento sobre logística reversa neste segmento. Conforme os resultados dapesquisa, em 58% das empresas o nível de conhecimento é regular, 21% bom e 7%ótimo. Embora o ramo de atividade não seja o mesmo, os dados nos servem comoreferência para efeitos de verificação na identificação do interesse e conhecimentosobre a logística reversa. A presente pesquisa aponta avanços sobre o conhecimentodos conceitos da LR.

Na questão 5 buscamos identificar com as empresas respondentes, qual o retornoobtido com a aplicação dos conceitos de logística reversa, especialmente quanto aoreaproveitamento de produtos ou reciclagem de resíduos gerados. Conforme os dadosanalisados, 26% das empresas declaram que o retorno obtido é de até 25% e em 24%das empresas o retorno obtido é de 45% do total gerado.

8%

12%

30%

32%

46%

Aterro sanitário

Outros

Utiliza o serviço municipal

Faz algum tratamento na própria empresa e depois

utiliza empresa parceira para transporte em local

apropriado

Empresa parceira que faz este serviço de disposição

Resposta Nº Empresas %

Sim 43 86Não 6 12

Não resposta 1 2Total 50 100

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Opinio, n.19, jul./dez. 200720

Esta percepção visualizada na pesquisa nas transportadoras traduz que hávantagens no investimento desta ferramenta assim como nos exemplos citados.

Na questão 6 avaliamos se, em termos de competitividade, houve o retorno daempresa na aplicabilidade da logística reversa. Conforme os resultados, 68% dasempresas pesquisadas declaram que a LR contribui para a competitividade da empresa.32 % declaram que não obtiveram retorno.

Os resultados da presente pesquisa vão ao encontro aos dados de uma pesquisaapresentada por Rogers, Tibben e Reinolds (1999) onde 65,2% das empresas declaramter aumento de competitividade por operar em canais reversos.

A questão 7 busca identificar se a empresa, em suas operações faz a transferênciade excedentes de estoques de uma empresa (matriz) para as suas filiais ou de filiais parafiliais. Os dados apontam que 64 % das empresas usam canais reversos para transferênciasde excedentes da matriz para filiais e entre filiais. É importante ressaltar que excedentesde estoques, erros de expedição, mercadorias em consignação, liquidação de estação devendas, pontas de estoques retornam ao ciclo de negócios através da redistribuição emoutros canais de vendas. Um exemplo disso são as transferências de roupas e calçadosde estação para outras lojas para inserção mercadológica com o objetivo de estender aomáximo a estação e por conseqüência a vida útil do bem.

Na questão 8 avaliamos se a empresa participa com seu cliente no planejamentode rotas de coletas de resíduos, transferência de estoques de uma filial a outra ou dedevoluções de mercadorias. Os resultados demonstram que 60 % das empresas planejamjuntamente com o cliente as transferências de estoques, a disposição dos resíduos e asdevoluções de mercadorias. Esta participação ressalta a preocupação de ambos nabusca em conjunto de soluções de redução de resíduos e na maior reutilização dosseus produtos através dos canais reversos.

A questão 9 avalia se é importante para as transportadoras terem a preocupaçãocom a distribuição de produtos e seus impactos no ambiente. A frase: distribuiu tem querecolher é uma preocupação hoje para quem transporta e para quem contrata o serviçode transporte? Conforme tabela 2, foram 50 empresas participando e 43 empresasresponderam (86%) que a frase: distribuiu tem que recolher é uma preocupação paraquem faz a operação logística de transporte e também para quem contrata o serviço detransporte. Um exemplo, citado em Leite (2003), a empresa Sony Eletronics anunciou,em outubro de 2000, um acordo com a empresa Waste Management Inc. estabelecendoum programa de coleta (take back) de seus produtos após uso, sem ônus para oconsumidor. Segundo Felizardo (2005), a logística reversa não precisa necessariamenteser feita pela empresa que fabricou os produtos, e sim, recolhida através de empresasque reprocessam o material descartável. Em muitos casos, se faz parcerias de fabricantesque preparam sua própria rede de coleta e reprocessamento.

É importante as transportadoras terem a preocupação com a distribuição deprodutos e seus impactos no ambiente? A frase: distribuiu tem que recolher é umapreocupação hoje para quem transporta e para quem contrata o serviço de transporte?

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 21

TABELA 2 - Preocupação com a distribuição de produtos e seus impactos no ambiente.

Fonte: Coleta de dados, 2007

Na última questão buscamos identificar quais os itens críticos considerados pelastransportadoras em relação à logística reversa, identificados por critério de importância.O gráfico 2 demonstra os resultados mensurados por ordem de importância. Os itensavaliados foram: Localização geográfica das origens e destino; Baixatransportabilidade, freqüência e dispersão geográfica; Baixo valor agregado eCaracterísticas físicas do produto.

GRÁFICO 2 - Itens críticos considerados pelas transportadoras em relação à Logística Reversa versa.Fonte: Coleta de dados, 2007.

Quanto ao item localização geográfica da origem e destino dos resíduos, 66,7%consideram muito importante ou importante para a operação de transporte naLogística. A localização geográfica é um dos fatores críticos na implantação doscanais reversos pelo envolvimento do custo. Segundo Fontana (2001), quanto maisseparados os materiais, mais simples se torna sua seleção, porém, o custo detransportes aumenta na mesma proporção. Quanto maior o número de frações aserem coletadas, mais complexo torna-se o sistema. As questões ligadas à freqüêncianeste bolsão além da localização são importantes devido ao custo da logística comumque é preocupação natural nas transportadoras em geral, o ideal neste caso é balancearas cargas por número de vezes na semana de coletas, quinzenais ou mensais pararecolhimento quando se tratar de localização fora do âmbito onde se localiza a

Resposta Nº Empresas %

Sim 43 86

Não 5 10

Não resposta 2 4

Total 50 100

12,8%

21,3%

14,9%

19,1%

31,9%

10,4%

20,8%

25,0%25,0%

18,8%

8,3%

16,7%

31,3%

20,8%22,9%

16,7%

6,3%

10,4%

18,8%

47,9%

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Localização geográfica das

origens e destino

Baixa transport. freqüência e

dispersão geográf.

Baixo valor agregado Características físicas do

produto

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Opinio, n.19, jul./dez. 200722

transportadora. Segundo Novaes (2007) é fundamental em decorrência da fortecompetição entre as empresas e passou-se a buscar a redução de custos em todos osníveis e de forma sistemática. É fundamental esta preocupação da redução dos custosnas estratégicas de canais reversos pois uma das ocorrências do Supply ChainManagement é uma boa gestão do retorno.

Outra questão interessante é a preocupação com as características físicas doproduto conforme nos aponta o gráfico 1 da pesquisa, 31,9% consideram este itemcomo uma segunda restrição na operação de transporte. A característica física doproduto deve ser analisada pela densidade, dimensões e morfologia; segundo Novaes(2007), a densidade da carga afeta a escolha do tipo de veículo mais adequado aoserviço e consequentemente, tem impacto no custo de transporte. Mercadorias de baixadensidade acabam lotando o veículo por volume e não por peso. As dimensões e amorfologia da carga afetam seu transporte devido ao formato e acabam afetando seuarranjo, o manuseio e o transporte.

Também foram analisados outros itens como a baixa transportabilidade,freqüência, dispersão geográfica e o baixo valor agregado que afetam o gerenciamentodos canais reversos na tomada de decisão quanto à implantação dos mesmos. Afreqüência num bolsão pode facilmente ser resolvida com propostas de coletas quepodem ser: semanais, quinzenais e mensais e já contempla uma solução para a dispersãogeográfica que, é um dos itens de restrição nas transportadoras.

Ao fazer um cruzamento estatístico de alguns itens do gráfico 1 com os dadosdas outras questões investigativas, encontramos as seguintes situações relevantes paraeste estudo:

- Quando analisamos dados se as empresas conhecem os conceitos de logísticareversa e se possuem certificação SASMAQ (para transporte específico de cargasperigosas), das 36 empresas que responderam a esta pergunta, 19 empresas já conhecemo conceito e que 17 (entre as 19 empresas) possuem a SASMAQ.

- Quando confrontamos os dados da questão 1 (tipos de materiais reutilizadosou reciclados) e relacionamos com o item baixa transportabilidade, freqüência edispersão geográfica (questão 10) verificamos que: 39 empresas participaram para oitem papel, sendo que, 46,10% acreditam na importância de terem a preocupação comeste item devido às questões de freqüência, baixa transportabilidade (volume e nãopeso) e isso preocupa as empresas com relação ao custo benefício. O ideal quandotrabalhar com este item é ter no portfólio outros itens de alto valor agregado e cujarestrição acima citada não seja um problema, mas, sim um diferencial para fazer acompensação nos custos.

Ao analisarmos o item óleo lubrificante em relação à baixa transportabilidade,freqüência e dispersão geográfica notam-se 29,20% acreditam na importância da análisedesta operação com relação à restrição proposta, 45,8% ficam indiferentes e 25%acreditam que é pouco importante a esta análise. Ao analisarmos o item pneu

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relacionando a baixa transportabilidade, freqüência e dispersão geográfica verificam-se o seguinte cenário: 38.5% das empresas acreditam na importância de verificar oitem à restrição proposta; 34,6% ficam indiferentes nesta análise e 26,9% e acreditamser pouco ou não ter muita relevância esta análise.

Estas análises são importantes por serem estratégicas na implantação de canaisreversos numa empresa onde a mesma deverá levar em consideração todas estasrestrições acima citadas e verificar a viabilidade do projeto. Através dessa análise, aempresa poderá decidir algumas questões, como por exemplo: o resíduo gerado pelaempresa é de alto ou baixo valor agregado ou se o ciclo reverso será fechado ouaberto. Esta pergunta enuncia se a empresa vai implantar uma reciclagem na própriaplanta ou se vai desenvolver um parceiro para fazer isso.

Segundo Felizardo (2005), a logística reversa não precisa necessariamente serfeita pela empresa que fabricou os produtos, e sim, recolhida através de empresasque reprocessam o material descartável. Conforme Leite (2003), nos casos em queo produto de pós-consumo é de natureza durável em condições de reutilização e dealto valor relativo, observa-se a tendência de ciclos fechados e totalmente integrados,para garantir a integridade deles, com utilização de empresas prestadoras de serviçoslogísticos especializados. Nos casos de produtos de pós-consumo originados deprodutos descartáveis de baixo valor e, portanto, de reduzido interesse derevalorização econômica, mas com objetivos de revalorização ecológica ou legal, adecisão tende a ser de uma rede reversa aberta com associações de empresas (pool)do setor.

- Finalmente, a última análise de confrontação entre a localização geográficadas origens e destino (questão 10) X se a empresa participa com seu cliente noplanejamento de rotas de coletas com o objetivo de recolher resíduos, transferênciade estoques de uma filial a outra ou de devoluções de mercadorias? (questão 8).Num total de 32 empresas participantes deste questionamento, 66,67% acreditamna importância de pleitearem no planejamento do projeto de distribuição física estasquestões que podem ser restritivas quando não evidenciadas no projeto inicial. Cabesalientar que 11 empresas, ou seja, 23%, nesta análise consideram pouca ou nenhumaimportância este confronto entre os dois itens. Na elaboração de um projeto de redelogística reversa se faz necessário o planejamento com relação a,localização docliente dentro da cadeia de abastecimento (fornecedores, seus clientes, suas filiais)com objetivo de solucionar futuras restrições que possam interferir na viabilidadedo mesmo.

Segundo Leite (2003), a contratação de serviços de empresas especializadas emplanejamento e projeto, coletas e desmontagem, consolidação e separação, processoindustrial de reciclagem, entre outros, tem sido muito utilizada.

Também identificamos a média sobre os itens críticos considerados pelasempresas pesquisadas, numa escala de 1 a 5, obtivemos os dados do gráfico 3:

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Opinio, n.19, jul./dez. 200724

GRÁFICO 3 - Itens críticos considerados pelas transportadoras em relação à logística reversa.Fonte: Coleta de dados, 2007

Observamos que todos os itens são relevantes, a localização geográfica dasorigens e destino é muito importante nas estratégias de canais reversos, porém, ascaracterísticas físicas dos produtos passam a ser fundamentais, assim como a baixatransportabilidade, freqüência e dispersão geográfica.

5 CONSIDERAÇÕES FINAISNa realização desta pesquisa, procurou-se identificar a aplicabilidade dos

conceitos de logística reversa nas transportadoras gaúchas. Podemos concluir que86% das empresas pesquisadas conhecem os conceitos de logística reversa no ramodas transportadoras, segmento pesquisado entre junho a agosto de 2007. A pesquisarevela que 80% do material reaproveitado ou reciclado são de papéis e depois seguidosdo pneu e óleo lubrificante. Um dado interessante é que 64% destas empresas já utilizamos canais reversos para transferências de excedentes da matriz para filiais e entrefiliais. Este dado evidencia o crescimento destas práticas não somente nas transferênciasde excedentes, mas, uma vez instalados estes canais poderão otimizar outros serviços,como por exemplo: devoluções, substituição de componentes, garantias e etc.

É importante ressaltar que ao analisarmos os itens críticos a implantação de canaisreversos fica claro que 47,9% das empresas responderam que a localização geográficadas origens e destino é uma preocupação para a operacionalização dos mesmos e que éum desafio para o negócio. Em seguida, 31,9% acreditam que as características físicasdo produto é uma restrição na operação devido ao custo volume/peso.

Ao fazermos um cruzamento entre a localização geográfica das origens e destinoe se a empresa tem participação com seu cliente no planejamento de rotas de coletascom o objetivo de recolher resíduos, transferência de estoques de uma filial a outra oude devoluções de mercadorias se verifica que 87,8% têm esta preocupação norteada nassuas discussões como um item a ser estudado e implementado neste planejamento em

3.2

3.3

3.4

3.8

1 2 3 4 5

Baixo valor agregado

Baixa transportabilidade, frequencia e

dispersão geográfica

Características físicas do produto

Localização geográfica das origens e

destino

Média de Importância

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 25

conjunto. Ao mensurarmos os itens críticos a implantação dos canais reversos por médianuma escala de 1 a 5 , se verifica que as características físicas do produto é o item quevem em segundo plano como preocupante à operação enquanto na primeira análise abaixa transportabilidade, freqüência e dispersão geográfica vêm em segundo plano.

Finalmente, pode-se concluir que as empresas deste segmento pesquisado estãobuscando o uso da ferramenta e ao mesmo tempo dar soluções aos itens que podem serentraves na operacionalização da logística reversa no dia-a-dia da Logística. Para novaspesquisas, sugere-se um aprofundamento no tema, principalmente nas questões que aindapodem ser restrições bem como a expansão do mesmo a outras regiões do país.

REFERÊNCIASCHRISTOPHER, Martin. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos:estratégias para a redução de custos e melhoria dos serviços. São Paulo: Pioneira-Thomson Learning, 1997.CLM. Council of logistics management. Disponível em: <http://www.clm1.org/>. Acessoem 10/09/2007.DMLU – Departamento Municipal de Limpeza Urbana, Porto Alegre, set./2007.EPA. U.S. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Disponível em:www.epa.gov>. Acesso em 22.09.2007.FELIZARDO, Mari Jean. Logística Reversa: Competitividade com desenvolvimentosustentável. Rio de Janeiro: Papel Virtual, 2005.FILHO-CAIXETA, Vicente João; MARTINS, Silveira Ricardo. Gestão Logística doTransporte de Cargas. São Paulo: Atlas, 2001.GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas,2002.GINTER, Peter M.; STARLING, Jack M. Reverse distribuition chanels for recyclingv.20, n.3. California Review, 1978.LAMBERT, Douglas; STOCK James. Strategic physical distribuition management.Homewood II Irwin, 1981.LEITE, Roberto Paulo. Logística Reversa. Meio Ambiente e Competitividade. São Paulo:Prentice Hall, 2003.NOVAES. Galvão A. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição. 3.ed. SãoPaulo: Ed. Campus, 2007.ROGERS, Dale S.; TIBBEN-LEMBKE, Ronald S. Going backwards: reverse logisticstrends and practices. Reno: Reverse Logistics Executive Council, 1998.RLEC. Reverse logistics executive council. Disponível em: <http://www.rlec.org/>.Acesso em: 03/09/2007.SEBRAE/RS. Serviço de apoio às micro e pequenas empresas do Rio Grande do Sul.Disponível em: <www.sebrae-rs.com.br>. Acesso em 19/09/2007.STOCK, James. Reverse logistics in the supply chain. Revista Transport & Logistic, 2001.ZIKMUND, Willian G.; STANTON, Willian J. Recycling solid wastes: a channel ofdistribution problem. Journal of Marketing, jul. 1971.

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Opinio, n.19, jul./dez. 200726

As preferências de sua excelência: oconsumidor

Raquel VendelingJanete Stoffel

RESUMO

O consumidor deseja consumir a maior quantidade possível de bens e serviços quesatisfaçam plenamente suas necessidades, porém encontra restrições em sua renda e nos preçosdos bens ou serviços que adquire. Dessa forma irá procurar maximizar seu consumo escolhendocestas de produtos que supram suas necessidades dentro de seu orçamento, se possível o maisdistante dos eixos dos gráficos de indiferença, o que significa consumir mais e melhor. Portanto,o consumidor leva em conta, além de suas preferências, o efeito renda, efeito preço e seusgostos para efetuar suas escolhas na hora de optar por consumir somente produtos normais outrocá-los por inferiores, substitutos e complementares. Dessa forma, o consumidor vai apresentarreações diversas e adversas em situações de consumo com que se depara.

Palavras-chave: Preferências. Restrição orçamentária. Escolha. Consumidor.

The preferences of your excellence: The consumer

ABSTRACT

The consumer wishes to consume the biggest possible quantity of goods and servicesthat satisfy fully their needs, however it finds restrictions in its income and in the goods orservices prices that acquires. Thus is going to try to maximize your consumption choosingproducts baskets that supply her needs within your budget, if the furthest possible in theindifference graphs axises, what means to consume more and better. Therefore, the consumercarries in account besides her preferences, the effect income, effect price and your tastes tomake her choices in the hour to opting only for consuming normal products or change them forinferior, substitute and complementary, thus the consumer is going to present several andadverse reactions in consumption situations with that comes come acrossed.

Key words: Preferences. Budgetary restriction. Choice. Consumer.

1 INTRODUÇÃOA microeconomia é a ciência que estuda o comportamento do consumidor na

busca pela satisfação de suas necessidades (demandas), bem como a forma deste lidarcom o fato de ter recursos limitados. Estuda ainda as empresas pela óptica da oferta ea maneira como se comportam no mercado.

Raquel Vendeling é acadêmica em Administração na ULBRA Carazinho.Janete Stoffel é Mestre e professora da ULBRA Carazinho.

Opinio n.19 p.26-42 jul./dez. 2007Canoas

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 27

Este artigo tem por objetivo demonstrar as preferências e os gostos do consumidorna hora de comprar alimentos necessários para sua sobrevivência. E, de acordo comEaton e Eaton (1999) são as preferências que irão nortear os gastos de cada individuoe a forma como vai distribuir a renda de que dispõe.

Outro ponto a ser considerado é a restrição orçamentária que acaba por balizaras compras do consumidor. É de acordo com a renda de que dispõe que irá analisar aimportância de uma marca e o preço embutido nela na hora de comprar. Funcionacomo um limitador financeiro, um termômetro que mede o aquecimento da economiaou seu desaceleramento.

Dessa forma é possível observar com maior clareza o comportamento dosconsumidores em cada nível social. Pois é a partir de sua renda, dos preços dos bense de suas preferências que se faz possível estudar a forma como reagirá a cada elementoque se altera e que em uma seqüência de cadeia provoca oscilações em toda a relaçãomercado e consumidor.

Para a elaboração deste artigo foi realizada uma pesquisa junto a um grupo deconsumidores para tentar visualizar com maior clareza as semelhanças entre eles, bemcomo seu comportamento frente ao aumento de preços de produtos que costuma utilizarno seu dia a dia. Além de seus desejos a respeito de produtos que gostariam de consumir,mas que sofrem restrições de cunho orçamentário, e que, no entanto, continuam emsuas listas de preferências.

2 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDORA partir de suas preferências o consumidor visualiza combinações de diferentes

produtos que estão disponíveis e acessíveis à renda de que dispõe. É a renda o grandebalizador do consumo, juntamente com os preços que funcionam como suas travas.Aliados, renda e preço, determinam até que ponto o consumidor pode comprar, nosgráficos de indiferença a reta orçamentária representa essa restrição e limita a opçãode cestas de mercado (BYRNS; STONE JR., 1996).

Para Pindick e Rubinfeld (2002) os consumidores têm comportamento distintono que se refere às suas preferências, mas no geral como os produtos não são todosindividualizados, permitindo apenas combinações diferentes, é possível fazercomparações em um âmbito geral. Logo, é possível chegar a conclusões generalizadassobre os hábitos dos consumidores.

2.1 As preferências do consumidorCada consumidor possui gostos diferentes mas que podem ser comungados por

outros também. Para tanto se aplicam as cestas de mercado para avaliar suaspreferências. As cestas são conjuntos de produtos que compõem diferentes opções deconsumo a serem escolhidos pelo consumidor (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

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Opinio, n.19, jul./dez. 200728

Para efeito de razão e racionalidade há de se analisar se as preferências sãocompletas quando os consumidores podem comparar e ordenar todas as cestas; outroponto é a transitividade onde uma cesta é preferida à outra, caracterizando a consistênciade sua escolha, e, que mais é melhor do que menos. Pressupondo-se que todas asmercadorias são desejáveis, tem-se que os consumidores acabam por não ficartotalmente saciados, passando pelo raciocínio de que mais é melhor mesmo custandoum pouco a mais (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

As curvas de indiferença representam graficamente as preferências do consumidore as escolhas compensatórias que faz, a partir de uma análise das diferentes combinaçõespossíveis que o satisfaçam. Ou seja, determina as quantidades de cada produto quepodem satisfazer suas necessidades de acordo com seus gostos (PINDICK;RUBINFELD, 2002).

De acordo com Eaton e Eaton (1999, p. 46) outro pressuposto relevante no quetoca às referências diz que: “o pressuposto da continuidade de preferências garanteque os indivíduos estão sempre dispostos a fazer tradeoffs”. Significa que estãodispostos a fazer escolhas compensatórias.

O consumidor ainda pode escolher produtos de cestas diferentes para satisfazersuas necessidades. Os mapas de indiferença mostram as várias curvas de indiferençaque o consumidor pode apresentar relacionando as mais diversas combinações deprodutos. Isso significa as escolhas das cestas indiferentes nas curvas que passam porelas. Há de salientar-se que em nenhum momento as curvas se interceptam, uma vezque cada uma delas corresponde a um nível próprio de satisfação (PINDICK;RUBINFELD, 2002).

Nesse ponto nota-se que o consumidor pode fazer diferentes associações dentrode uma cesta de produtos, desde que satisfaça sua necessidade de consumo naquelemomento. No momento que ele realiza escolhas dentro de uma mesma cesta deprodutos, usando as variáveis representadas na curva de indiferença, o ponto desatisfação movimenta-se dentro dessa curva (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

A partir do momento que o consumidor parte da análise de uma terceira variávelque não se encontra representada nessa curva de indiferença, então está relacionandoprodutos de cestas diferentes e o movimento é representado pelo deslocamento paraoutra cesta de produtos. No entanto, deve-se ressaltar mais uma vez que esta não irá seinterceptar com outra cesta (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

A taxa marginal de substituição demonstra a quantidade de uma mercadoria daqual o consumidor estaria disposto a abrir mão em detrimento de uma quantia maiorde outra. As curvas que a representam são arqueadas para dentro, tornando-se menosnegativa à medida que se desce para o eixo X (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

As curvas de indiferença apresentam diferentes formas, a estritamente convexamostra que a reta sobre a curva sempre irá apresentar cestas preferíveis as cestas deindiferenças nos pontos extremos. A não convexa demonstra que as cestas na reta nãosão preferíveis às da extremidade da curva. Já a fracamente convexa mostra que

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 29

independente da escolha não haverá preferências entre as cestas da curva como podeser observado na Figura 1 (EATON; EATON, 1999).

FIGURA 1 – Formatos de curvas de indiferença.Fonte: Eaton e Eaton (1999, p.54).

Para o consumidor quanto mais longe do ponto de origem, que é próximo aoseixos e limita seus gastos, melhor, pois representa que está consumindo mais dosprodutos que lhe proporcionam uma satisfação maior (EATON; EATON, 1999).

Outro detalhe a respeito nas curvas de indiferença é demonstrado quando oconsumidor adquire um produto substituto ou complementar. Quando o indivíduo estádisposto a permutar um bem por outro sem prejuízo, a curva de indiferença passa a teruma forma reta, indicando que os bens são substitutos perfeitos. Enquanto que os benscomplementares perfeitos formam ângulos retos. No que toca aos gráficos, pode-se dizerque qualquer um dos bens pelo qual optar satisfará sua necessidade ou a complementaráda mesma forma, como é possível observar na Figura 2 (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

FIGURA 2 – Substitutos perfeitos e complementares perfeitos.Fonte: Pindick e Rubinfeld (2002, p.70).

Produto 2 (x2)

Produto 1 (x1)Estritamente Convexa

Produto 2 (x2)

Produto 1 (x1)Não Convexa

Produto 2 (x2)

Produto 1 (x1)Fracamente Convexa

Produto 2 (x2)

Produto 1 (x1)Não Convexa

4

3

2

1

4321

Suco demaçã (copos)

Suco de laranja (copos)

0

Substitutos perfeitos

4

3

2

1

4321

Sapatosesquerdos

Sapatos direitos

0

Complementares perfeitos

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Opinio, n.19, jul./dez. 200730

De acordo com Pindick e Rubinfeld (2002), o consumidor leva em conta autilidade de cada bem, representando-a numericamente na curva de indiferença. Atravésda função de utilidade é possível atribuir níveis de importância que cada cesta possuipara o consumidor.

Conforme Eaton e Eaton (1999), a função utilidade têm por objetivo atribuir umíndice de utilidade à determinada cesta de produtos, satisfazendo aos pressupostos de:preferências completas, consistência de dois termos, transitividade, continuidade enão-saciedade, que são inerentes aos consumidores. É possível construir uma funçãoutilidade para qualquer conjunto de cestas e obter o índice, que na curva representa asatisfação do consumidor.

A utilidade pode ainda ser ordinal ou cardinal dependendo da função que estejarepresentando. A utilidade ordinal classifica as cestas de mercado quanto a sua preferênciapelo consumidor, enquanto que a utilidade cardinal procura demonstrar o quanto umacesta é preferível à outra na hora do consumo (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

De acordo com Thompson Jr. (1998), o consumidor buscará a maximização dautilidade e para tanto deverá usar toda sua renda, seja comprando bens ou poupando,mas de forma que satisfaça suas necessidades, de maneira eficaz, até o último centavogasto. Ou seja, o consumidor irá distribuir sua renda objetivando saciar sua necessidademesmo que momentaneamente.

2.2 As restrições orçamentáriasPara os consumidores, o que importa é consumir, e quanto mais, melhor, o que

aponta novamente para o fato de que quanto mais longe do eixo estiver a reta, maiorserá seu nível de consumo. O ideal seria estar muito longe do eixo, mas isso não se fazpossível porque o consumidor possui restrição quanto a sua renda, ou seja, ele nãodispõe de recursos infinitos para comprar tudo do que necessita (EATON; EATON,1999).

Assim pode-se dizer que o consumidor possui restrição orçamentária que balizaseu consumo. Portanto ele terá que optar por cestas de mercado que estejam dentro deseu orçamento, podendo mover-se entre as diferentes cestas dentro dessa faixa restritiva.O orçamento por sua vez é dado de acordo com a renda que o consumidor possui paraconsumir (EATON; EATON, 1999).

Conforme Pindick e Rubinfeld (2002) a renda limitada, e em geral fixa, cria umarestrição orçamentária que é representada no gráfico das curvas de indiferença poruma reta que baliza o consumo dos indivíduos.

A linha do orçamento indica todas as combinações possíveis que o consu8midorpoderá fazer para satisfazer-se. Para procurar maximizar sua satisfação o consumidorirá procurar optar por uma cesta de mercado no ponto da reta de restrição orçamentáriamais distante dos eixos, ou seja, onde seu consumo seja maior, bem como seu grau de

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satisfação dentro da renda que possui (PINDICK; RUBINFELD, 2002). De acordocom os mesmos autores, a reta de restrição orçamentária pode sofrer alteraçõesdecorrentes de variações na renda do consumidor e dos preços dos produtos.

Ao modificar-se a renda, a tendência é de que a reta da restrição orçamentáriadesloque-se para a direita, paralelamente a reta anterior, quando a renda aumentar,proporcionando uma margem maior para o consumidor adquirir bens. No caso dediminuição da renda a reta desloca-se para a esquerda, logo o consumidor precisaráfrear seus gastos (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

Fato parecido ocorre com a variação nos preços dos produtos no que toca a alteraçãona reta de restrição orçamentária. Pressupondo-se que em um comparativo entre doisprodutos um deles tenha seu preço alterado para mais, a tendência é de que a rotação nareta ocorra para a esquerda no eixo do produto com preço modificado. Esse movimentoindica que o consumidor irá consumir menos desse produto. Logo, pode-se afirmar queo inverso é verdadeiro, se um produto tem seu preço reduzido, a tendência é de que areta seja deslocada para a direita, indicando que o consumidor tenderá a consumir maisdele conforme ilustra a Figura 3 (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

FIGURA 3 – Efeitos de uma modificação na renda sobre a linha do orçamento.Fonte: Pindick e Rubinfeld (2002, p.77).

De acordo com Pindick e Rubinfeld (2002, p.79), para o consumidor:

Seu poder aquisitivo é determinado não apenas por sua renda, mas tambémpelos preços. Por exemplo, o poder de compra do consumidor poderia serdobrado tanto em virtude da duplicação de sua renda como de uma redução,pela metade, de todos os preços das mercadorias que viesse a adquirir.

Outro ponto a ser levado em consideração na restrição orçamentária é o fatorcusto de oportunidade, onde o consumidor escolhe uma opção de produto em detrimentodo outro. Ou seja, ele prefere consumir uma unidade a mais do produto a ao custo deduas unidades do produto b porque isso o satisfará mais. Dentro da ciência econômica

8 0

60

40

20

40 80 120 160

L 3

(I=$40)L 1

(I=$80)L 2

(I=$160)

Vestuário(unidadespor semana)

Alimento(unidades por semana)

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o custo de oportunidade corresponde ao custo da opção que foi abandonada ao tersido efetuada uma escolha. Considera-se que a opção feita foi a melhor em detrimentode outra que também poderia garantir satisfação (EATON; EATON, 1999).

A partir das preferências do consumidor que são balizadas por sua restriçãoorçamentária é possível chegar a uma análise do comportamento do consumidor eentender suas escolhas. Individualmente cada consumidor faz escolhas dentro dascestas de mercado que lhe permitam atingir curvas de indiferença mais altas dentro desuas restrições (EATON; EATON, 1999).

De acordo com Pindick e Rubinfeld (2002) o consumidor sempre vai procurarmaximizar sua satisfação adquirindo bens dentro de seu orçamento que é limitado porsua renda disponível. Para tanto sempre procurará estar sobre a linha orçamentáriaconsumindo bens e serviços que estejam em uma cesta de mercado capaz de satisfazê-lo ao máximo.

Mesmo que, para isso ocorrer o consumidor adquira somente um bem da cesta,o que é conhecido como solução de canto porque a escolha não transita sobre a linhaorçamentária, mas fica somente em um eixo de produto, não consumindo nenhumaunidade do outro produto. Logo, ao maximizar sua satisfação somente com um produtoo consumidor definirá que a variação de preço pode não interferir em suas preferências,conhecida também como preferência revelada. Nesse caso não haverá igualdade entrebenefício e custo marginal (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

Outro ponto interessante no que se refere às preferências do consumidor toca àutilidade marginal de um determinado bem. Dado um bem, quanto mais o consumidorconsome, logo a quantidade para satisfazê-lo será menor porque sua utilidade vaidiminuindo à proporção que a necessidade vai sendo satisfeita (PINDICK;RUBINFELD, 2002).

Os consumidores procuram sempre consumir bens chamados normais que seencontram nas cestas de mercado, são aqueles bens considerados como os de suapreferência. No entanto quando ocorre variação na renda ou nos preços a tendência éo consumidor optar por bens inferiores, que são aqueles consumidos como uma segundaopção. Por isso, quando a renda do consumidor aumenta, a tendência é de que eleaumente a demanda por bens normais, logo, pode-se perceber que se trata de bens quereagem positivamente a alterações na renda, chamado de efeito renda. Por outro lado,os bens inferiores reagem negativamente, ou seja, se aumentar a renda, reduz o consumoe vice-versa (PINDICK; RUBINFELD, 2002).

Por outro lado o consumidor também consome bens em que a demanda sofreinfluencia de outros bens, é o caso dos complementares e substitutos. Em uma relaçãodireta entre preços e quantidades de outros bens, e tudo mais se mantendo constante,está se falando de bens substitutos. Por exemplo, se o preço da carne de primeirasubir, a tendência é haver um aumento no consumo de carne de segunda. Entretanto,quando há uma relação inversa entre o preço de determinado bem e a procura poroutro, está se identificando bens complementares, onde, por exemplo, se baixar o

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preço da gasolina o consumidor tenderá a usar mais o carro para se locomover(VASCONCELLOS; GARCIA, 2005).

3 METODOLOGIAEsse artigo foi elaborado a partir de uma pesquisa com consumidores, na

disciplina de Microeconomia, procurando entender suas preferências e seucomportamento frente às restrições orçamentárias de sua renda mensal. Para tanto foiutilizado como roteiro um questionário, composto por 22 perguntas fechadas a fim deauferir resultados mais precisos.

Além da pesquisa de campo que contou com a colaboração de Acadêmicos emAdministração na ULBRA Carazinho1 , também foi realizada a revisão bibliográfica afim de buscar entender melhor os resultados pesquisados. Para tanto, pesquisou-sesobre as preferências do consumidor na hora de satisfazer suas necessidades, seucomportamento quanto à restrição que enfrenta e suas escolhas para maximizar suasatisfação frente aos obstáculos de renda e preço que enfrenta na hora de consumir umbem ou serviço de que precisa.

A partir da pesquisa realizada pelo método de abordagem aleatória simples, ouseja, uma amostra da população de consumidores dos municípios de Chapada eCarazinho, na região Norte do Estado do Rio Grande do Sul, foi possível chegar aresultados que exemplifiquem o comportamento de um grupo de consumidores.Ressalte-se que a amostra utilizada foi de 30 consumidores.

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSAo realizar a pesquisa foi possível levantar dados que demonstram o

comportamento dos consumidores pesquisados no que se refere ao consumo de bensalimentícios, e a maneira como distribuem sua renda nesses itens.

TABELA 1 – Local de realização da entrevista.

Questão 1 Resposta PercentualVia Pública 5 17%Local de trabalho 9 30%Escritório 10 33%Loja de confecções 1 3%Outros 5 17%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

1 Acadêmicos em Administração na ULBRA Carazinho que participaram da pesquisa com consumidores: CarlosEduardo Cavallini e Giovane Roberto Scherer.

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Na Tabela 1, pode-se perceber que a maioria dos pesquisados foi entrevistadaem seu local de trabalho/em escritórios, e alguns poucos casos responderam a pesquisaem via pública ou em outros locais.

TABELA 2 – Gênero dos entrevistados.

Questão 2 Resposta PercentualMasculino 15 50%Feminino 15 50%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

A Tabela 2 mostra que do total de entrevistados 50% foram do sexo feminino e50% do sexo masculino, o que vai revelar preferências de ambos os sexos na hora deconsumir. É importante a ressalva de que esta amostra foi escolhida aleatoriamente, oque revela uma coincidência nestes percentuais.

TABELA 3 – Residência dos entrevistados.

Questão 3 Resposta PercentualPrópria 19 63%Alugada 11 37%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

A maioria dos entrevistados possui casa própria, como mostra a Tabela 3 o quepode ser visto como um fator que colabora para se ter uma renda maior, uma vez queo gasto com aluguel deixa de existir. Despesa esta que precisa ser deduzida da rendapor aqueles consumidores que residem em casa alugada.

TABELA 4 – Estado civil.

Questão 4 Resposta PercentualSolteiro/Separado 20 67%Casado 10 33%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

A Tabela 4 demonstra que grande parte dos pesquisados é solteiro ou separado oque, dependendo do caso, representa um poder de consumo maior para este consumidor.Em função de que pessoas solteiras ou que não tenham custos familiares, tendemtambém a ter um conjunto menor de gastos.

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TABELA 5 – Se o entrevistado tem filhos.

Questão 5 Resposta PercentualSim 16 53%Não 14 47%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Na Tabela 5 é possível observar que o percentual de diferença entre quem temfilhos e de quem não tem, é muito pequeno. Para os consumidores que tem filhos oconjunto de gastos pode ser maior na alimentação, saúde, escola, lazer, atividadesextracurriculares, entre outras despesas que oneram o orçamento familiar.

TABELA 6 – Número de filhos.

Questão 6 Resposta PercentualUm 9 56%Dois 5 31%Três 1 6%Quatro 1 6%Total 16 100%

Fonte: Autoras do artigo

Dentre os entrevistados que informaram ter filhos (Tabela 5) foi verificado onúmero de filhos. Na Tabela 6 observa-se que 56% daqueles que tem filhos, têm apenasum. Em seguida aparecem aqueles com dois filhos. Nesta questão observou-se quemais de 80% dos entrevistados que informaram ter filhos, tem no máximo 2.

TABELA 7 – Nível de escolaridade.

Questão 7 Resposta PercentualEns. Fund. Inc. 2 7%Ens. Fund. Comp. 4 13%Ens. Médio Inc. 1 3%Ens. Médio Comp. 8 27%Curso Técnico 1 3%Ens. Sup. Inc. 10 33%Ens. Sup. Comp. 2 7%Pós Graduado 2 7%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Através da Tabela 7 percebe-se que o nível de escolaridade da amostra deconsumidores entrevistada concentra seus maiores percentuais, 33% e 27% em ensinosuperior completo e ensino médio completo, respectivamente. Esse recorte mostra umperfil de consumidor que em sua maior parte percebe e entende sua renda comolimitador para alcançar cestas de mercado que lhe causem maior satisfação.

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TABELA 8 – Renda familiar mensal.

Questão 8 Resposta PercentualDe 1 a 2 salários mínimos 3 10%De 2 a 4 salários mínimos 13 43%De 3 a 10 salários mínimos 13 43%Mais de 10 salários mínimos 1 3%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Na Tabela 8, pode-se ver que em sua maior parte os consumidores entrevistados,possuem uma renda familiar mensal de entre 2 e 10 salários mínimos. Com mais de 10salários mínimos foi baixo o percentual. Esse fato remete a diferentes tipos de retas derestrição orçamentária e é a partir destas que o consumidor irá escolher as cestas quemais se adaptem ao seu perfil.

É importante destacar também que o nível de escolaridade demonstrado na Tabela7 vem corroborar com a renda familiar na Tabela 8, ilustrando que quanto maior ograu de instrução, maior a tendência de se auferir renda superior, logo, nesse caso, umpotencial de maior consumo.

TABELA 9 – Pessoas que contribuem na renda.

Questão 9 Resposta PercentualApenas uma pessoa 11 37%Duas pessoas 15 50%Três pessoas 4 13%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Através da Tabela 9, é possível notar que 50% dos entrevistados responderamque duas pessoas contribuem na obtenção da renda familiar – 37% dos entrevistadosinformaram que apenas uma pessoa contribui e em 13% são três pessoas que colaboramcom a renda. Pode-se observar famílias dentro do atual padrão, em que mais de ummembro trabalha a fim de obterem uma receita mensal maior, logo, um consumo decestas mais diversificadas para satisfazer as necessidades familiares.

Tabela 10 – Hábito de fazer poupança.

Questão 10 Resposta PercentualNão 17 57%Sim - qual o percentualmensal, em relaçãoà renda: % 13 43%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

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Quanto ao hábito de fazer poupança, a Tabela 10 revela que o percentual dediferença é pequeno, no entanto 57% dos entrevistados informaram que não guardamdinheiro. Somente 43% fazem reservas financeiras para consumo de bens no futuro.Quando perguntados sobre qual o percentual da renda que costumam poupar, a maioriarespondeu que varia entre 5% e 10%.

TABELA 11 – Decisão onde realizar as compras.

Questão 11 Resposta PercentualOnde o preço é mais baixo 9 30%Amizade com proprietário ou vendedores 3 10%Pela qualidade dos produtos ser melhor 10 33%Onde tem mais opções de produtos 8 27%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

A partir da Tabela 11 é possível perceber que a qualidade dos produtos, preçomais baixo e maiores opções de produtos são fatores relevantes na hora do consumidorpesquisado fazer suas compras. Pode-se perceber que este consumidor irá procurarconsumir em empresas que ofereçam uma gama maior de produtos de melhor qualidade,ou ao menos similar e com preços variados.

TABELA 12 – Meios utilizados para pagar as compras.

Questão 12 Resposta PercentualA vista 18 60%A prazo 12 40%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

A Tabela 12 mostra a preferência destes consumidores em realizar suas compras àvista, dessa forma pode-se perceber que procuram controlar suas despesas de acordocom sua renda. Ou seja, 60% da amostra procura não extrapolar seu orçamento e nemcontrair dívidas de longo prazo; enquanto que 40% utiliza o método de compra a prazo.

TABELA 13 – Instrumentos na compra a prazo.

Questão 13 Resposta PercentualCheque 8 27%Carnê 9 30%Cartão de crédito 8 27%Anotar no caderno 4 13%Nenhuma das opções 1 3%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

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A partir da Tabela 13, nota-se que quando compram a prazo, 30% dosentrevistados prefere realizar parcelamentos no carnê, diretamente no estabelecimento.Percebe-se ainda que cheque e cartão de crédito são utilizados em escala menor, 27%ambos. Quanto ao cheque pode-se salientar o fato de este ser um instrumento depagamento quase ultrapassado, mas que em comparação com o cartão de crédito fazum contraponto no sentido deste último ser um meio de pagamento relativamentenovo no mercado. A forma de anotar no caderno que é muito antiga, ainda existeprincipalmente em estabelecimentos pequenos, geralmente os mercadinhos de bairrosonde as pessoas têm um relacionamento mais estreito.

TABELA 14 – Parcelamento na compra a prazo.

Questão 14 Resposta PercentualAté 2 vezes 5 17%De 3 a 5 vezes 20 67%De 6 a 10 vezes 4 13%Mais de 15 vezes 1 3%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Na Tabela 14, observa-se que a maioria dos consumidores entrevistados parcelasuas compras a prazo de 3 a 5 vezes com 67%, e logo em seguida até 2 vezes, com17%, ou seja, procuram comprometer sua renda pelo menor prazo de tempo, o quedemonstra também uma certa consciência de que parcelando em prazo menor, estarãopagando menor valor em juros. Consequentemente estes consumidores potencializammelhor sua renda e garantem um poder aquisitivo maior por pagar menor montante dejuros. Pois diante das opções de parcelamento que o mercado oferece, pode-se dizerque a maioria dos pesquisados prefere prazos mais curtos.

TABELA 15 – Tipo de cartões utilizados.

Questão 15 Resposta PercentualBanricompras 5 17%Visa 14 47%Mastercard 2 7%Quero-quero 1 3%Outro 8 27%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Através da Tabela 15, percebe-se que quando utiliza cartão de crédito para efetuarsuas compras a maioria dos entrevistados opta pelo cartão Visa.

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 39

TABELA 16 – Tipos de produtos que compra.

Questão 16 Resposta PercentualOs mais caros 1 3%Os mais baratos 4 13%Aquelas marcas que já conheço 22 73%Sou fiel à marca(s) 3 10%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

A partir da Tabela 16, é possível verificar que os consumidores preferem comprarprodutos que já conhecem, esse fato remete a idéia dos produtos normais, ou seja,aqueles que ele sempre vai procurar consumir. Dentro das cestas de mercado oconsumidor procura adquirir bens normais, ou o mais próximo possível para satisfazersuas necessidades. No caso da pesquisa realizada, os consumidores que indicaramfidelidade às marcas citaram as mais presentes em seu dia-a-dia, exemplos de bensnormais como: arroz Tio João, café Melita, produtos da Predilecta e o refrigeranteCoca-Cola.

TABELA 17 – Percentual de renda x alimentos.

Questão 17 Resposta PercentualAté 40% da renda mensal 24 80%De 40 a 60% da renda mensal 6 20%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

A Tabela 17 demonstra quanto os consumidores estão inclinados a dispor de suarenda mensal ao adquirir alimentos. Em sua grande maioria, 80% dos consumidorespesquisados utilizam até 40% de sua renda mensal na compra de itens alimentícios,logo os outros 60% são distribuídos nas demais necessidades. Porém se fosse analisadauma cesta de mercado com apenas dois grupos de produtos – alimentos e vestuário -esse grupo de pessoas usaria a maior parte de sua renda na aquisição de roupas.

TABELA 18 – Alterações no consumo de carne diante de mudanças nos preços.

Questão 18 Resposta PercentualPermanecerá comprando a mesma quantidadee reduzirá o consumo de outros produtos 4 13%Irá diminuir a quantidade comprada, mas continuará comprandoa mesma qualidade de carne 13 43%Permanecerá comprando a mesma quantidade de carne, mas iráprocurar aquelas de menor preço 13 43%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

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Na Tabela 18, que trata do consumo de carne, é possível ver uma divisão arespeito de continuar comprando a mesma carne, mas diminuir a quantidade, e continuarcomprando a mesma quantidade, porém de menor preço. A análise que pode ser feitaé de que parte dos consumidores não abre mão de consumir os bens normais, enquantoque outros preferem adquirir bens inferiores e que caibam em seu orçamento. Dentroda faixa dos consumidores que preferem diminuir a quantidade, mas continuaradquirindo a mesma qualidade de carne, percebe-se que pode haver uma correlaçãocom o fato da maior parte dos entrevistados terem maior grau de instrução e maiorrenda familiar, logo uma concepção de que a qualidade prevalece à quantidade nessecaso específico.

TABELA 19 – Alterações no consumo de arroz e feijão diante de mudanças nos preços.

Questão 19 Resposta PercentualPermanecerá comprando a mesma quantidade e reduziráo consumo de outros produtos 7 23%Irá diminuir a quantidade comprada, mas continuará comprandoa mesma qualidade de arroz e feijão 6 20%Permanecerá comprando a mesma quantidade destes produtos,mas irá procurar aquelas de menor preço 17 57%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Na Tabela 19 que trata do consumo de arroz e feijão a situação mostra-se diferentedos dados da tabela anterior. A maior parte dos consumidores opta por permanecercomprando a mesma quantidade de produto, porém com preços mais baixos. Esse fatopode demonstrar que a qualidade da carne tem peso maior na hora do consumidorfazer suas compras, visto que enquanto nos demais produtos, são comprados àquelesde menores preços, no que tange à carne o consumidor prefere permanecer comprandoo bem normal.

TABELA 20 – Alterações no consumo de leite e pão diante de mudanças nos preços.

Questão 20 Resposta PercentualPermanecerá comprando a mesma quantidade e reduzirá oconsumo de outros produtos 9 30%Irá diminuir a quantidade comprada, mas continuará comprandoa mesma qualidade de leite e pão 10 33%Permanecerá comprando a mesma quantidade de leite e pão,mas irá procurar aquelas de menor preço 11 37%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Quanto ao consumo de leite e de pão, representado na Tabela 20, há uma situaçãodiferente, em que ocorre quase que uma divisão equânime de opiniões. Percentualmente,37% dos consumidores permaneceriam comprando a mesma quantidade de leite e

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pão, porém com preços mais baixos, 33% diminuiriam a quantidade, mas comprariamo mesmo produto, e 30% continuariam comprando a mesma quantidade, mesmo quefosse necessário consumir menos de outros itens alimentícios.

TABELA 21 – Alterações no consumo de frutas e verduras diante de mudanças nos preços.

Questão 21 Resposta PercentualPermanecerá comprando a mesma quantidade e reduzirá oconsumo de outros produtos 7 23%Irá diminuir a quantidade comprada, mas continuará comprandoa mesma qualidade de frutas e verduras 6 20%Permanecerá comprando a mesma quantidade de frutas e verduras,mas irá procurar aquelas de menor preço 17 57%Total 30 100%

Fonte: Autoras do artigo

Porém, na Tabela 21 que representa o consumo de frutas e verduras, a maioriados consumidores prefere continuar comprando a mesma quantidade de produtos aum preço menor. Ao analisar essa linha de produtos pode-se concluir que são bens defácil substituição, até porque estes são bens sazonais que têm safras definidas paracada tipo de fruta ou verdura.

Tabela 22 – Produto de desejo de consumo.

Questão 22 Resposta PercentualNão 23 77%Sim - Qual? 7 23%Total 30 100%

Produto citado: Cereais em flocosFonte: Autoras do artigo

A Tabela 22 mostra que dentre os consumidores entrevistados a grande maioria,costuma comprar os produtos que deseja, satisfazendo suas necessidades dentro doconsumo de alimentos.

A partir da amostra da população de consumidores foi possível observar diferentesposicionamentos em relação ao efeito renda e efeito substituição em diferentes tipos deprodutos. Há casos em que o fator preço é determinante, optando por consumir produtosmais baratos, em outros casos há uma clara divisão e parte deles prefere consumir menorquantidade sem abrir mão da qualidade, não importando o preço pago.

5 CONCLUSÃOAtravés desse artigo é possível ressaltar o comportamento de um grupo de

consumidores frente à disposição em satisfazer suas necessidades. Cada pessoa busca

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soluções para alcançar cestas de mercado que a agradem de forma onde mais é melhorsempre em sua concepção de satisfação.

A partir da amostra dos 30 consumidores que responderam ao questionárioPesquisa com Consumidores, em especial as questões 18 a 21 que tratavam do consumode produtos específicos, há de se destacar que um percentual elevado não deixaria deconsumir carne, leite e pão dentro da categoria dos bens normais. Entretanto, no quese refere ao arroz, feijão, frutas e verduras o percentual de consumidores que optariampela substituição por produtos inferiores, em especial aqueles afetados pelasazonalidade de sua produção, passa a ser maior, mostrando uma relação inversa aoconsumo dos bens normais.

Em um apanhado geral da pesquisa é possível observar que pelo fato de haverum percentual maior de entrevistados com um grau de instrução de médio para superiore com uma renda familiar que varia de 2 até 10 salários mínimos, o nível de escolhadas cestas de mercado que satisfaçam suas necessidades é alto. Inclusive, porque háfatores que contribuem na hora de consumir como: adquirir produtos conhecidos,escolher o local de compra pela qualidade dos itens a serem adquiridos, em especialquando se têm filhos ou quando se mora sozinho, e ainda, a opção de fazer poupançapara consumo futuro. A partir desses argumentos o consumidor irá procurar soluçõesdentro de sua renda para obter bens que satisfaçam ao máximo suas necessidades,preferencialmente cestas de mercado longe da reta de restrição orçamentária.

Logo, embora todo consumidor seja único, pode-se demonstrar através de umaamostra que as suas preferências, suas restrições e seus gostos não variam em um grauelevado de diferenças. É possível notar semelhanças em seu comportamento na horade buscar satisfazer suas necessidades.

REFERÊNCIASASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: informação edocumentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro: 2002.______. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio deJaneiro: 2002.______. NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódicacientífica impressa: apresentação. Rio de Janeiro: 2002.BYRNS, Ralph T.; STONE JR., Gerald W. Microeconomia. São Paulo: Makron Books,1996.EATON, B. Curtis; EATON, Diane F. Microeconomia. São Paulo: Saraiva, 1999.PINDICK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 5.ed.. São Paulo:Prentice Hall, 2002.THOMPSON JR., Arthur A. Microeconomia da firma: teoria e prática. 6.ed. Rio deJaneiro: Prentice Hall, 1998.VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de; GARCIA, Manuel Enriquez.Fundamentos de economia. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 43

Uma breve avaliação da eficácia do Bolsa-Família na distribuição de renda no Brasil*

Régis RathmannStefano José Caetano da Silveira

RESUMO

A intenção deste artigo é apresentar a problemática atual do Programa Bolsa-Família emrelação à distribuição de renda no Brasil, utilizando como ferramenta de apoio o relatório doBanco Mundial de 2004 (WDR 2004), em consonância com os dados atuais dos gastos com oPrograma e com suas fontes de financiamento. Tem-se como objetivo verificar se as normas deregulação estão sendo seguidas, quais os impactos reais dessa entrada de dinheiro na economiae como a teoria trata a eficácia deste tipo de programa na redistribuição de renda. Para isso,utilizam-se pesquisas nos atos normativos de institucionalização do mesmo, de dados do ladoreal da economia e pesquisa de teorias da economia do setor público. Conclui-se que existeuma falta de interação entre os poderes, ou seja, uma inexistência de “accountability”, além dequestionar se o Bolsa-Família atingiu seu principal objetivo, qual seja distribuir renda.

Palavras-chave: Setor público. Distribuição de renda. Programa Bolsa Família.

Short evaluation of the effectiveness of Bolsa-Família in thedistribution of income in Brazil

ABSTRACT

The intention of this article is to present problematic the current one of the Bolsa-FamíliaProgram in relation to the distribution of income in Brazil, being used as support tool thereport of the World Bank of 2004 (WDR 2004), in accord with the current data of the expenseswith the Program and its sources of financing. It is had as objective to verify if the regulationnorms are being followed, which the real impacts of this money entrance in the economy andas the theory deals with the effectiveness this type of program in the income redistribution. Forthis, research in the normative acts of institutionalization of exactly is used, of data of the realside of the economy and research of theories of the economy of the public sector. It concludesthat a lack of interaction between exists being able them, or either, one inexistence of“accountability”, besides questioning if Bolsa-Família reached its main objective, which eitherdistributing income.

Key words: Public sector. Income distribution. Bolsa-Família Program.

Régis Rathmann é bacharel em Economia, UFRGS; mestrando do CEPAN-UFRGS. E-mail:[email protected] José Caetano da Silveira é bacharel em Economia, UFRGS. E-mail: [email protected]

* Agradecemos os comentários e as sugestões do professor Luiz Paulo Nogueról (PPGE-UFRGS). Entretanto,os erros e imperfeições porventura encontrados são de inteira responsabilidade dos autores.

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1 INTRODUÇÃOO gabinete do atual presidente da república, Luis Inácio Lula da Silva, lançou,

logo após sua posse em 2003, dois programas sociais cujo principal objetivo era amelhoria da situação das camadas menos favorecidas da população brasileira por meioda redistribuição de renda. Os mesmos foram batizados de Fome-Zero – inspirado noPrograma Natal sem Fome, idealizado pelo sociólogo Herbert de Souza, – e Bolsa-Família – cuja criação remete à unificação do Bolsa-Escola, do Programa Nacional deAcesso à Alimentação, do Bolsa-Alimentação e do Programa Auxílio-Gás, bem comoalguns itens do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).

Quando da sua criação, o Bolsa-Família visava atingir os lares brasileiros cujarenda era de até R$ 100,00 per capita mensais (este valor é de R$ 120,00 atualmente),buscando dar prosseguimento ao combate à fome e à miséria iniciados pela gestãoanterior, bem como ampliando a possibilidade de emancipação das famílias mais pobresresidentes no território nacional. Da mesma forma que os programas que o precederam,o Bolsa-Família exige como contrapartida dos beneficiados que estes mantenham seusfilhos na escola, além de seus respectivos cartões de vacinação atualizados. Entretanto,desde sua criação, algumas distorções ocorridas no acesso ao benefício, como aconcessão de valores do mesmo a pessoas que não se enquadram nas regras derecebimento, assim como a não fiscalização das regras para a manutenção da bolsa,vem sendo amplamente divulgadas pela imprensa.

A adoção pelos mais diversos governos nacionais de programas como este vemganhando espaço na agenda mundial, demonstrando o reconhecimento das nações deque o sistema capitalista de produção distribui a renda de forma desigual, devendoassim, sempre que houver geração de renda, a intervenção pela sua distribuição deforma mais igualitária (GALBRAITH, 1998). Daí decorre a defesa dos mesmos porum grande número de economistas (apesar de seus objetivos políticos divergentes),ora ligados à corrente heterodoxa, ora à neoclássica, estando entre os citados: FrederickHayek, Milton Friedman, Mario Henrique Simonsen, Paul Singer e Eduardo Suplicy(SUPLICY, 1993).

Os mecanismos para a obtenção do benefício no Brasil, ao exigirem dosparticipantes contrapartidas em educação e saúde, possuem lógica econômica, pois,por um lado levam, teoricamente, à “qualificação” de uma futura massa detrabalhadores, e por outro permitem a diminuição dos gastos com saúde pública, pormeio da prevenção às doenças. Tais atribuições vão ao encontro daquilo que Sen(1999) defende, ou seja, que políticas econômico-sociais de distribuição de renda nãotêm o alcance desejado se não vierem acompanhadas de medidas públicas que anseiama diminuição da exposição das pessoas a agentes infecciosos, bem como a promoçãoda educação em massa da população.

As distorções que o Programa vem sofrendo podem ser creditadas a interesseseleitorais espúrios, a falhas institucionais intrínsecas ao processo, às complicadasnormas que a concessão do beneficio requer, bem como o beneficiamento ilícito a

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partir de atos de corrupção. Como o cadastramento é de responsabilidade dasprefeituras, tais situações eram, até então, recorrentes – apesar da existência do cadastroúnico nacional para pleitear o recebimento do benefício –, sendo que somenterecentemente a preocupação com o preenchimento correto do referido cadastro – atravésde cursos de capacitação de seus operadores – intensificou-se dentro dos órgãosmunicipais do país. Por isso, em muitos casos, este tipo de beneficio pode redundarem um atendimento ineficiente às famílias realmente necessitadas, demonstrando umaineficácia distributiva, pois o mesmo termina, algumas vezes, privilegiando a classemédia, o que acaba remetendo a uma concentração maior da renda.

Portanto, tem-se como intenção neste estudo, a partir da problemática da gestãodo Programa Bolsa-Família, verificar se as normas de regulação do mesmo estão sendoseguidas, fazendo a análise de forma inter-relacionada com a discussão do WorldDevelopment Report 2004 do Banco Mundial (WORLD BANK, 2004).

Além disso, buscar-se-á efetuar o levantamento dos gastos atuais e das fontes definanciamento do Programa, bem como apontar se o principal objetivo do mesmo,qual seja o de distribuir renda, vem sendo atingido. Por fim, pretende-se fazer umabreve discussão sobre possíveis medidas a serem adotadas para uma maior eficácia doBolsa-Família, baseadas tanto na interpretação do referencial teórico utilizado, quantonas conclusões propostas no relatório do Banco Mundial.

Para tanto, o artigo inicia fazendo uma breve apresentação do Programa Bolsa-Família e suas atribuições, seguindo com uma análise crítica das distorções que omesmo vem enfrentando, para então serem apresentados, tanto o levantamento dosseus gastos, quanto dos seus impactos na distribuição de renda. Por fim, será exibidoum resumo do WDR 2004, de forma a tornar possível a inter-relação com os resultadosapresentados pelas seções anteriores.

2 O PROGRAMA BOLSA-FAMÍLIA E SUASATRIBUIÇÕESCriado em 09 de janeiro de 2004, através da Lei nº 10.836, o Bolsa-Família é

destinado às ações de transferência de renda com condicionalidades à camada dapopulação menos favorecida. Visto que a pobreza está diretamente ligada ao nível deescolaridade, a principal exigência para obtenção do benefício é a manutenção detodas as crianças e adolescentes em idade escolar, pertencentes à determinada famíliaassistida pelo Programa, em sala de aula. Unificando os procedimentos de gestão eexecução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente doPrograma Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação (o Bolsa-Escola); doPrograma Nacional de Acesso à Alimentação (PNAA); do Programa Nacional de RendaMínima vinculado à Saúde (o Bolsa-Alimentação); e do Programa Auxílio-Gás, bemcomo de elementos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), asfinalidades do mesmo, de acordo com o Quadro 1, são:

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QUADRO 1 – Finalidades e destinação do Programa Bolsa-Família.Fonte: BRASIL (2004).

Além disso, o Programa tem como objetivos: a) permitir o acesso à rede deserviços públicos, em especial, de saúde, educação e assistência social; b) combater afome e promover a segurança alimentar e nutricional; c) estimular a emancipaçãosustentada das famílias que vivem em situação de pobreza ou de extrema pobreza; d)combater a pobreza e; e) estimular a intersetorialidade, a complementaridade e asinergia das ações sociais do poder público (BRASIL, 2004).

Quando de seu lançamento, o valor mensal dos benefícios poderiam variar deR$ 50,00 para famílias com renda per capita de até R$ 50,00 (posteriormente reajustadopara R$ 60,00), assim como de R$ 15,00 por beneficiário, até o limite de R$ 45,00,para famílias com renda per capita de até R$ 100,00 (posteriormente reajustado paraR$ 120,00), devendo o mesmo ser concedido por meio de depósito, em dinheiro, emuma conta corrente previamente cadastrada junto ao sistema bancário público. Cabe àCaixa Econômica Federal (CEF) a emissão dos cartões magnéticos a seremconfeccionados, com base no cadastro efetuado pelas prefeituras municipais, devendoo crédito dos valores acima referidos serem efetuados em conta bancária,preferencialmente em nome da mulher responsável pelo lar.

Cabe ressaltar, no que concerne a esses valores, que o Governo Federal vinhaestudando a possibilidade de reajuste dos valores pagos pelo Programa, através detrês propostas apresentadas: pela correção pelo INPC (Índice Nacional de Preços aoConsumidor) acumulado desde outubro de 2003 até a data do aumento; pela utilizaçãoda inflação de uma cesta de alimentos do INPC específico para alimentação; ou pelacomposição do percentual de alimentação no reajuste do valor básico do Bolsa-Famíliaem conjunto com o INPC geral para a variável do Programa. Os valores a seremempregados para a concessão do reajuste já se encontravam disponibilizados dentroda verba para o Programa no Orçamento da União de 2007 (cerca de R$ 8,6 bilhões),o que ocorreu devido ao cancelamento de benefícios pagos em duplicidade a umamesma família a partir de critérios mais rigorosos no preenchimento do cadastro único,cujas informações sobre renda familiar, número de filhos, nível de escolaridade e demoradia tornaram-se mais precisas.

Em consonância com este quadro, a partir de agosto de 2007 os benefícios doPrograma Bolsa-Família foram reajustados em 18,25%, baseando-se, para tanto, na

Finalidade Destinação

Benefício básicoUnidades familiares que se encontram em situação de extremapobreza, ou seja, a chamada pobreza crônica, quando o principalgestor da família encontra-se desempregado a mais de dois anos.

Benefício variável

Unidades familiares que se encontram em situação de pobrezatransitória (quando a família sofre por um problema de rendatemporário) ou de extrema pobreza que tenham em sua composiçãogestantes, nutrizes, crianças entre zero e doze anos ou adolescentes deaté 15 anos de idade.

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primeira proposta de reajuste apresentada (com a diferença que a correção pelo INPCacumulado desde outubro de 2003 estendeu-se até maio de 2007 e não agosto, comoinicialmente previsto). Esta foi a primeira vez que os valores pagos pelo Programasofreram reajuste desde sua criação. Com o aumento, o menor valor pago passou de R$15,00 para R$ 18,00 e o máximo de R$ 95,00 para R$ 112,00, tendo o benefício básicosido reajustado de R$ 50,00 para R$ 58,00 e o variável de R$ 15,00 para R$ 18,00 – esteúltimo pago para famílias com filhos até 15 anos, limitado ao número máximo de trêscrianças.

Tal medida, de acordo com pronunciamento da secretária nacional de Renda eCidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, Rosane Cunha,busca fazer com que haja recuperação do poder de compra das famílias de baixa rendaatendidas pelo Bolsa-Família em todo o país.

3 A EXECUÇÃO DO PROGRAMA BOLSA-FAMÍLIA ESUAS DISTORÇÕESA lei que criou o Programa condiciona a manutenção do benefício a periódicas

avaliações. São elas:

- exame pré-natal;

- acompanhamento nutricional;

- acompanhamento de saúde;

- freqüência escolar mínima de 85% em estabelecimento de ensino regular.

No entanto, os administradores públicos responsáveis pelo controle do Bolsa-Família (prefeituras municipais) apontam que não conseguem efetuar a fiscalizaçãoacerca dos itens acima, alegando, preponderantemente, que têm carência de funcionáriospara a sua execução (CLICNOTÍCIAS, 2004).

Ainda existem distorções que são originadas pela própria forma como é concebidoo Programa, sendo um exemplo, a forma como é feito o cadastramento, no caso,declaratório. Este se baseia em informações prestadas pelas pessoas que desejam obteracesso ao serviço, onde o declarante informa quanto aufere em renda mensalmente,munido da cópia de seu RG e acompanhado de uma testemunha.

Assim sendo, colocam-se inúmeros problemas:

- impossibilidade de conferência da renda de trabalho informal, a qual remete aque sejam aceitas as informações na íntegra;

- defasagem de informações, o que conduz a que pessoas com renda recebam obenefício (quando efetuou o cadastro estava desempregado, porém depois arrumouemprego e continuou recebendo);

- falta de informação para as camadas mais pobres da existência do Programa;

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- indivíduos que não fazem parte da camada mais pobre da população recebendoo beneficio;

- famílias com alunos em estado de evasão escolar continuam beneficiarias, ouseja, na ocasião do cadastro estavam estudando, porém, posteriormente, deixaram defreqüentar a escola.

Todos os problemas acima foram apontados pelos próprios funcionáriosresponsáveis pelo cadastramento ao Programa. Todavia, estes vêm sendo combatidospelo Governo Federal. Neste sentido, vem se implantando em muitas escolas afreqüência eletrônica dos estudantes, que permite que as prefeituras possam fiscalizarsemanalmente a ocorrência da evasão escolar. Além disso, os sistemas de informaçãodos mais diversos ministérios vêm sendo integrados, tornando-se possível, por exemplo,cruzar informações bancárias, previdenciárias e do imposto de renda, permitindo quehaja a conferência dos rendimentos declarados pelos beneficiários para obtenção doBolsa-Família, com outras fontes de informação (BRASIL, 2005).

4 O PROGRAMA BOLSA-FAMÍLIA EM NÚMEROS ESEUS IMPACTOS EM TERMOS DA DISTRIBUIÇÃO DERENDA NO BRASILO resumo demonstrativo do Bolsa-Família por unidade da Federação, para o mês de

referência março de 2005, mostra uma participação de 99,50% de municípios brasileirosrecebendo o beneficio, sendo que a participação não atinge a totalidade das cidades somentenos estados de Goiás, Pernambuco, Piauí, Rondônia, São Paulo e Tocantins. O número defamílias atendidas foi de 6.562.155, perfazendo um montante de R$ 430.198.315,00 nomês citado, sendo o valor médio por beneficio de R$ 65,56 (BRASIL, 2004).

Cabe ressaltar que esses valores se referem unicamente ao Bolsa-Família, tendosido destinado aos demais benefícios: R$ 61.131.660,00 (Bolsa-Escola); R$ 887.775,00(Bolsa-Alimentação); R$ 5.267.850,00 (Cartão-Alimentação); e R$ 76.842.705,00(Auxilio-Gás). Então, o total de “gastos” do Governo com benefícios de distribuiçãode renda totalizou, para o mês de março de 2005, R$ 574.628.305,001 .

Assim, ao se avaliarem os valores acima de forma agregada para o ano de 2005,pode-se chegar às seguintes conclusões:

a) o gasto realizado com o Programa Bolsa-Família neste ano foi de R$5.162.379.780,00 o que representou cerca de 0,24% em relação ao Produto InternoBruto (PIB) total deste mesmo ano – estimado na nova série em R$ 2,148 trilhões pelo

1 Quando o Bolsa-Família foi lançado, continha uma cláusula que previa que, caso a migração dos programasremanescentes (Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Cartão-Alimentação e Auxílio-gás) para o Bolsa-Famíliaimplicasse em perdas financeiras às famílias beneficiárias, estas seriam enquadradas no Benefício Variável deCaráter Extraordinário (BVCE), o que na prática implicava em receber o maior valor. Todavia, nestes casos, omontante concedido é calculado caso a caso e possui prazo de prescrição, deixando de ser pago após esta data,nos termos da Portaria MDS/GM número 737, de 15/12/2004 (Fonte: MDS, 2007).

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IBGE –, valor que decresceu em relação ao ano de 2004, quando este representoumais de 0,5% do PIB (BRASIL, 2005a);

b) este total equivale a cerca de 4% do total do gasto público com o pagamentodos juros da dívida interna em 2005 (IPEA, 2007a);

c) o Programa Bolsa-Família atingiu, no transcorrer do exercício em análise, cercade 6% da população total do Brasil, o que representou mais de onze milhões de seuscidadãos recebendo o auxílio, para complementar a renda familiar. No entanto,considerando-se a parcela da população que vive abaixo de linha da pobreza, observa-se que cerca de 75% não foi agraciada com o benefício (BRASIL, 2005a; IBGE, 2006).

d) parte do financiamento deste gasto social foi proveniente de um empréstimoque o Brasil obteve junto ao Banco Mundial (BIRD), de US$ 572 milhões em 2005, oqual foi reflexo da concordância da instituição com as políticas econômico-sociaisadotadas no Brasil, cujo foco foi, segundo a própria entidade, “(...) a consolidaçãodos quatro principais programas de transferência condicional de renda (Bolsa-Escola,Bolsa-Alimentação, Cartão-Alimentação e Auxílio-Gás) e o aprimoramento daarquitetura básica do Programa Bolsa-Família” (WORLD, BANK, 2005a).

A análise desses números mostra, em um primeiro momento, que a o gastorealizado por meio da concessão do beneficio do Bolsa-Família frente ao PIB foirelativamente baixo em relação ao indicador do ano de 2005 (0,24%). Isto se tornamais evidente quando se compara o mesmo índice para o ano de 2004, quandorepresentou mais de 0,5% do PIB.

Outra situação que mostra a “timidez” dos gastos com o Programa, ocorre quandoeste é comparado com outros desembolsos da União no mesmo período. Observando-se o total dos pagamentos realizados com juros da dívida interna em 2005 (mais de R$100 bilhões), nota-se que o gasto social – não apenas o Bolsa-Família – ainda é muitopequeno perante o montante dos gastos do Governo. Tal fato parece estar associado àsaltas taxas de juros praticadas no período 1994-2004, o que levou o somatório dosjuros pagos da dívida interna pelo poder público a aumentar cada vez mais, remetendoa um problema que concerne às fontes de financiamento destes gastos.

Neste sentido, ressalta-se que os juros da dívida interna são pagos sem restriçõesorçamentárias, ou seja, se o caixa público não é suficiente para pagar todos os encargosda dívida, o Governo pode tomar empréstimos (através da emissão de mais títulos). Estaopção, no entanto, não existe para gastos sociais, fazendo com que haja, por conseguinte,pressão sobre os últimos. Tal fato é o que parece ter ocorrido no ano de 2005.

Outros dois fatores ainda devem ser observados, os quais parecem ser centrais einter-relacionados às principais distorções que o Programa ainda apresenta: a formade distribuição dos recursos e sua origem.

O primeiro se refere à eficácia do Bolsa-Família, na medida em que este deveriater atingido o maior número possível de famílias abaixo da linha pobreza. Neste sentido,pode-se observar que apenas 25% deste total são alcançados, se levado em conta que

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não existam distorções, ou seja, que o auxílio somente seja oferecido para beneficiáriosque efetivamente vivam em condições de extrema pobreza, o que já foi apontadoanteriormente que não ocorre em sua totalidade. Ainda devem-se mencionar osproblemas de fiscalização, os quais muitas vezes fazem com que pessoas que tenhammelhorado sua condição sócio-econômica ainda recebam a bolsa.

O segundo remete a uma das formas de financiamento adotada para a concessãodo beneficio: empréstimos junto a organismos internacionais de crédito. Aqui cabeum questionamento, que tem como base o fundamento econômico da distribuição derenda, sob o qual está embasado, conforme citado anteriormente, o arcabouço teóricodos programas de redistribuição de renda. O país gerou renda para distribuir?

Essa pergunta torna-se fundamental, pois o valor obtido junto ao BIRD foirepassado como empréstimo. Logo, surge a idéia de que essa renda já existia para serdistribuída, pois assim haveria como pagar o valor emprestado.

Neste sentido, em virtude de uma política econômica que não beneficia adesconcentração de renda, principalmente em função da taxa de juros praticada que“privilegia” a esfera financeira ao invés do circuito produtivo, vem ocorrendo umanão-absorção de níveis crescentes de trabalhadores desempregados. Decorrente dessaconjuntura observa-se, no Gráfico 1, que o rendimento real médio do trabalhador,entre fevereiro de 2004 e fevereiro de 2007, caiu de R$ 1.131,55 para R$ 1.107,49.

GRÁFICO 1 – Rendimento real médio efetivo das pessoas ocupadas no Brasil (fev./02–fev./07).Fonte: www.ipeadata.gov.br. Acesso em jul.2007.

Muito embora tenha se observado que não houve geração de renda por parte dostrabalhadores para ser redistribuída, e mais do que isso, tenha havido até mesmodecréscimo em termos reais entre 2002 e 2007, o Programa (aqui também considerandoseus antecessores, como o Bolsa-Educação) vem fazendo com que algumas mudançaspositivas venham ocorrendo2 .

R$

1.131,55 1.107,49

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2 Apesar da queda da renda média dos trabalhadores, entre 2004 e 2007, pode-se constatar que não houvevariação negativa do PIB nestes anos (5,7% em 2004, 2,9% em 2005 e 3,7% em 2006, de acordo com o IBGE),pois os lucros e aluguéis não caíram necessariamente.

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Recente relatório publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada(IPEA), que analisou a desigualdade da renda familiar per capita no Brasil entre 2001-2004, aponta que neste período houve melhorias nestes índices. Em suma, os resultadosindicam que o Índice de Gini da distribuição do rendimento domiciliar per capita(RDPC) caiu de 0,594 em 2001 para 0,566 em 2005, ou seja, redução de 2,8 pontospercentuais em quatro anos neste indicador. O estudo ainda mostra que a percentagemda renda apropriada pelos 10% mais ricos caiu de 47,2% em 2001 para 45,0% em2005, ao mesmo tempo em que a percentagem da renda total recebida pelos 5% maisricos cai de 33,8% para 32,0%. Tal situação foi acompanhada de um acréscimo naparcela de renda apropriada pelos 50% mais pobres, qual seja de 12,7% em 2001 para14,2% em 2005 (IPEA, 2007).

O estudo, por fim, aponta que o Bolsa-Família está entre os programasresponsáveis por esta melhoria na redução da desigualdade da distribuição da renda,devendo ser destacados outros dois tipos de transferências, entre tantas outras, paraesta redução: a) as pensões e aposentadorias públicas e; b) o Benefício de PrestaçãoContinuada (BPC). Em suma, tem-se que estes três componentes contribuíram de formasimilar, em torno de 10% cada, para tal condição.

Diante de todos os apontamentos já realizados neste estudo, quais sejam, daapresentação do Bolsa-Família, suas atribuições, distorções e impactos em termos dadistribuição de renda do Brasil, deve-se agora mencionar o World Development Report– 2004 (WDR 2004) do BIRD, de forma a proporcionar a análise inter-relacionadacom a problemática da gestão do Programa. Além disso, com este arcabouço teórico,pretende-se fazer uma breve discussão sobre possíveis medidas a serem adotadas parauma maior eficácia do Bolsa-Família.

5 APRESENTANDO O WORLD DEVELOPMENT REPORT(WDR 2004) DO BANCO MUNDIALEm essência, o relatório elaborado pelo BIRD para 2004 procura demonstrar,

utilizando-se de amplos exemplos empíricos, como se dá atualmente o acesso porparte da população, em nível mundial, aos serviços básicos de responsabilidade doEstado, como saúde, educação, saneamento, eletricidade e água. Introduz o termoaccountability como a solução principal dos problemas atuais, o qual será apresentadoposteriormente (WORLD BANK, 2004). Mesmo sabendo ser o foco deste trabalho oBrasil, e mais especificamente o Programa Bolsa-Família, não se podem deixar delado as conclusões principais do Relatório, pois as mesmas são totalmente factíveis narealidade brasileira.

Uma das principais proposições do mesmo é que o crescimento econômico nãonecessariamente é revertido em benefício aos pobres, pois os gastos em saúde eeducação, assim como os gastos em geral, favorecem muito mais os ricos. Essasdistorções são apontadas também pelas Metas do Milênio, as quais sugerem que a

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pobreza “está a caminho” de diminuir, devido a um único país-potencial: a China.

No que tange a esta última informação, cabe citar que tais dados demonstram-se“enganadores”, pois cem milhões de indivíduos passaram a ganhar, apenas, mais deum dólar por dia (antes ganhavam menos de US$ 1), o que não garante o atendimento,tampouco, às necessidades básicas das pessoas.

Os recursos não atingem, muitas vezes, a camada mais pobre da população, poralguns fatores apontados pelo Relatório:

- “patronagem” e “clientelismo” na prestação do serviço público e na concessãode benefícios;

- serviços e prestação de serviço público disfuncionais, que por muitas vezesfazem com que as pessoas que realmente necessitem do auxílio não o acessem, orapor falta de informação da sua existência, ora por conta do benefício ser disponibilizadoa quem não necessita;

- distância social entre provedores e clientes;

- falta de cobrança sobre a qualidade da prestação do serviço público;

- ausência de cumprimento e observação de toda a regulamentação de acessoaos benefícios públicos;

- baixo nível técnico dos prestadores do serviço público;

- falta de incentivo ao servidor público.

Assim, o relatório apresenta como solução-chave para o funcionamento do serviçopúblico, e mais do que isso, para a eficácia no atingimento dos seus objetivos, a relaçãointerativa entre policy makers, funcionalismo e população, que nada mais é do que atradução correta do termo accountability, ou seja, precisa haver uma comunicaçãointerativa entre esses agentes, assim como uma total prestação de contas e avaliaçãoda qualidade do serviço público.

Todos estes fatores parecem estar no âmago da problemática e das distorçõesque atualmente são enfrentadas pelo Programa Bolsa-Família, como foi discutido aolongo deste estudo.

6 CONSIDERAÇÕES FINAISPrimeiramente, a intenção neste artigo foi verificar se as normas de regulação

do Programa Bolsa-Família vêm sendo seguidas, para então se realizar a busca dolevantamento dos gastos atuais e das fontes de financiamento do Programa, bem comoapontar se o principal objetivo do mesmo, qual seja, o de distribuir renda, está sendoatingido.

Pode-se constatar que o Bolsa-Família vem apresentando algumas distorções,

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quais sejam: estar assistindo apenas cerca de 25% da população que vive abaixo dalinha de pobreza, e que, portanto, faz jus ao benefício; problemas na comprovaçãodos dados informados no cadastro de beneficiários do Programa, permitindo quepessoas que não se enquadram nas regras para recebimento do mesmo obtenham orecurso; e, redistribuição de renda não gerada, uma vez que entre fevereiro de 2001 efevereiro de 2004, houve queda na renda real do trabalhador brasileiro, de cerca de2,13%3 .

Ainda, no que tange aos gastos e às fontes de financiamento, pode-se inferir queo montante despendido pelo Governo com o benefício em 2005 foi baixo em relaçãoao PIB (0,24%), fato que pode ser constatado quando comparado ao mesmo índicepara o ano de 2004, quando representou cerca de 0,5% do indicador. Da mesma forma,este mesmo dispêndio foi equivalente a cerca de apenas 4% do total do gasto públicocom o pagamento dos juros da dívida interna em 2005. Além disso, parte dos recursosdo Bolsa-Família, do exercício em questão, foram oriundos de organismosinternacionais de crédito, sob forma de empréstimos.

Quanto ao objetivo de distribuir renda, deve-se destacar que algumas mudançaspositivas podem ser constatadas. Segundo o IPEA, entre os anos de 2001 e 2004,houve melhorias em alguns indicadores que medem estes índices, como o Índice deGini da distribuição do rendimento domiciliar per capita, que apontou uma queda de2,8% ao longo do referido período. De forma análoga, o percentual de renda apropriadopela camada da população mais rica caiu em torno de 2%, ao passo que os mais pobresviram sua participação na renda nacional crescer 1,5%. Tal situação pode serparcialmente creditada ao Bolsa-Família, bem como aos programas que o antecederam,como o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação, o Cartão-Alimentação e o Vale-Gás.

Ainda que o Bolsa-Família tenha contribuído para a redução da desigualdade dadistribuição de renda no Brasil, este não foi o principal fator dessa melhoria, poisquando comparado ao coeficiente de Gini da distribuição da renda do trabalho, percebe-se que este participa com mais de 75% da renda total (IPEA, 2007).

Como mostra Hoffmann (2006), é comum que políticas públicas visem à obtençãode resultados de curto prazo, na medida em que estes são capazes de gerar maiorimpacto na opinião pública. No entanto, também é usual o caráter assistencialista detais políticas, sendo mais desejável o alcance de resultados duradouros (como as quebuscam a criação de postos de trabalho), que somente são obtidos por meio das políticaspúblicas de longo prazo.

Em persistindo a preferência por adoção de medidas de curto prazo, e não seinvestindo na geração de vagas de trabalho (típica ação de longo prazo), em especialos jovens recém-chegados ao mercado serão os mais atingidos. Tal fato fará com queesses, por não encontrarem alocação para a sua força de trabalho, venham a procurarformas alternativas de obterem seu sustento e o de suas famílias, o que levará esse

3 Ver nota de rodapé número 2.

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contingente de pessoas fora da produção, ou ligados à mesma precariamente, a setornarem os depositários do Programa Bolsa-Família.

Portanto, devem-se criar condições sustentáveis de redução da desigualdade dadistribuição de renda no Brasil, merecendo destaque a necessidade da existência depolíticas consistentes de criação de novos postos de trabalho, fazendo com as famíliasnão mais necessitem deste tipo de auxílio.

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Classe média: uma nova perspectiva deconsumo

Luciane Schallemberg SpiegelJanete Stoffel

RESUMO

Este trabalho analisa o comportamento de consumo, principalmente de produtosalimentícios. A amostra foi de indivíduos que possuem renda entre dois e dez salários mínimos,os quais para o estudo em questão caracterizam-se como classe média. A região de abrangênciadeste estudo é o Norte do Rio Grande do Sul, na qual foram realizadas as entrevistas. Inicialmentefoi apresentada uma abordagem teórica que embasa o artigo e posteriormente foram apresentadosos resultados obtidos na amostra pesquisada. Os resultados da pesquisa permitem constatarque o poder de consumo da amostra de classe média sofreu algumas transformações de modoa provocar mudanças de hábitos e quebra do que se conceituava como tradicional. O trabalhomostra que nesta faixa de renda, considerada como classe média, existem comportamentosbem importantes de serem observados pelas empresas.

Palavras-chave: Preferências. Restrições. Comportamento. Consumo.

Middle class: a consumption new perspective

ABSTRACT

This work analyzes the consumption behavior, mostly of alimentary products. The samplebelonged to individuals who own income between two and ten minimum wages, the whichones for the study at issue they characterize as average class. The inclusion region of this studyis Região Norte do Rio Grande do Sul, in which were accomplished the interviews. It initiallywas presented a theoretical approach that bases the article and were afterwards presented theresults obtained in the searched sample. The research results allow to verify that the sampleconsumption power of average class suffered any transformations so as to provoke habits andbreakage changes than judged as traditional. The work exhibition that in this income band,considered as average class, there are very important behaviors of are observed by the companies.

Key words: Preferences. Restrictions. Behavior. Consumption.

1 INTRODUÇÃOOs estudos acerca do consumidor têm crescente relevância à medida que auxiliam

as empresas com informações vitais para a tomada de decisões em negócios e nos

Luciane Schallemberg Spiegel é acadêmica do curso de Administração da ULBRA Carazinho. E-mail:[email protected] Stoffel é Mestre, professora do curso de Administração da ULBRA Carazinho. E-mail:[email protected]

Opinio n.19 p.56-71 jul./dez. 2007Canoas

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processos de conquista e fidelização de seus clientes. Estes por sua vez buscammaximizar a satisfação de suas necessidades e aspirações, de acordo com as restriçõesorçamentárias que possuem. O comportamento de consumo é justificado tanto pelosconceitos tradicionais de utilidade e de escolhas indiferentes, quanto por abordagensde maior amplitude, que levam em conta fatores extra-econômicos.

Para os economistas, o interesse próprio motiva toda atividade econômica e issosignifica que os indivíduos fazem as escolhas que lhes permitem obter a classificaçãomais alta possível em suas ordenações de preferências. A escassez é o fator que obrigaas pessoas a efetuar estas escolhas.

Neste artigo verifica-se de que forma os indivíduos fazem escolhas racionais.Especificamente como ocorre este comportamento na classe média, que também temsido afetada pelas profundas mudanças mercantis que diminuem o poder aquisitivodas pessoas e estabelecem uma nova perspectiva de consumo, utilizando-se de dadospercentuais.

Para tanto, além da introdução, este trabalho divide-se em três partes, iniciandocom a apresentação de conceitos e abordagens que privilegiam a análise docomportamento do consumidor. Seguindo com a apresentação dos procedimentosmetodológicos utilizados para mensurar o consumo e as características do consumidor.E por fim, são discutidos os resultados obtidos na pesquisa efetuada com consumidorese, deles, retiradas algumas conclusões.

2 PREFERÊNCIAS E ESCOLHA DO CONSUMIDORO comportamento do consumidor é melhor compreendido quando examinado

em três etapas. A primeira baseia-se em analisar as preferências, para descrever porque as pessoas preferem uma mercadoria à outra. A segunda etapa se refere ao fato deque os consumidores estão sujeitos a restrições, pois sua renda é limitada. E a terceirareúne as preferências do consumidor e as restrições orçamentárias, objetivando adeterminação das escolhas do consumidor.

Segundo Pindyck e Rubinfeld (1999), pode-se pensar nas preferências em termosde comparações de cestas de mercado. Uma cesta de mercado é um conjunto de umaou mais mercadorias, contendo itens como os alimentícios, de vestuário, de lazer, oucombinações destes. A escolha entre estes produtos para compor a cesta de mercadodepende de cada consumidor. Desta forma, é possível perguntar se determinada cestade mercado pode ser preferida em relação à outra.

Há três premissas básicas a respeito das preferências das pessoas por uma cestaou outra. A primeira revela que as preferências são completas, onde dois consumidorespoderiam comparar e ordenar todas as cestas de mercado, pois conhecem todos osprodutos incluídos. A segunda premissa diz que as preferências são transitivas, ondeum consumidor prefere a cesta de mercado A em vez da cesta B e prefere B em vez deC, então este consumidor preferirá a cesta A em relação a C, o que assegura a

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racionalidade. A última premissa refere-se ao fato de que todas as mercadorias sãodesejáveis, visto que os consumidores sempre preferem quantidades maiores de umamercadoria. No entanto, em se tratando de preferências, para Pindyck e Rubinfeld(1999) não se considera o fator preço, mas sim questões subjetivas.

Dados dois bens ou um conjunto de bens, pode ser estabelecida uma comparaçãoque resulta em A preferível a B, B preferível a A e tanto faz A ou B e que mostra quea escolha é indiferente. Seguindo este pensamento, o axioma da transitividade,juntamente com o axioma da comparação, levam à preposição do ordenamento daspreferências, que de acordo com Holanda (2003), para qualquer número concebívelde bens é sempre possível o consumidor classificá-los, de forma consistente, por ordemde preferência, o que designa a Lei de Preferência.

Sem desconsiderar as preferências, normalmente um bem é considerado substitutoou competidor de outro bem. De acordo com Pindyck e Rubinfeld (1999), para medira quantidade de uma determinada mercadoria da qual um consumidor estaria dispostoa desistir para obter um maior número de outra, utiliza-se a taxa marginal desubstituição. Mas eles também podem ser complementares entre si, onde um bemprecisa de outro para ter alguma utilidade.

Desta forma, as preferências de um consumidor em relação às combinações debens ou serviços podem ser as mais variadas possíveis, variando também de indivíduopara indivíduo. Porém, as preferências não explicam por completo o comportamentodo consumidor. As conseqüentes escolhas são também influenciadas pelas restriçõesorçamentárias, as quais, em face aos preços, limitam a possibilidade das pessoasfazerem suas opções efetivas de consumo. Para Rossetti (2000, p. 453), “Embora oconsumidor possa ser indiferente a uma multiplicidade de combinações possíveis,dados os preços dos produtos envolvidos, a restrição orçamentária é que indicará oponto de máxima satisfação possível”. Não é possível adquirir todos os bens que sedesejaria consumir, pois existem os preços como obstáculos e a renda como restrição.

O princípio da restrição orçamentária, como comenta Holanda (2003), se expressagraficamente pela “linha do orçamento” e esta traduz, a nível individual, a mesmalimitação que ocorre pelo princípio da escassez no plano social. Dados os preços dosprodutos, definem-se as possibilidades máximas de aquisição do consumidor ou seupoder aquisitivo. Nesta linha de orçamento, o dinheiro gasto será igual à renda disponível.Portanto, a renda do consumidor e os preços dos bens, formam as combinações dequantidades de bens que podem ser adquiridos, como mostra a figura 1.

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FIGURA 1 - Reta de restrição orçamentáriaFonte: Rossetti (2000)

Na reta orçamentária acima, para uma determinada renda disponível paraconsumo e dados os preços de R$12 para o produto X e de R$100 para o produto Y,várias são as combinações possíveis. Dessa forma, além das indicadas pelos pontosextremos, podem ocorrer também as combinações a, b e c, como muitas outras.

De acordo com Byrns e Stone (1996), o efeito-renda está relacionado aos ajustesque as pessoas fazem porque o poder de compra de uma determinada renda é alteradoquando os preços variam. O poder de compra aumenta quando os preços caem e vice-versa. A renda é, portanto um elemento objetivo, de natureza econômica, essencial nadeterminação da procura dos bens. Porém, outros fatores também influenciam taiscomo: patrimônio, expectativa de preços futuros, gostos dos consumidores, variaçõesde clima, moda, costumes.

Conhecendo as restrições e os limites impostos, o consumidor procurará o nívelmais elevado de satisfação distribuindo os seus gastos da forma mais racional possível.Neste momento, ele é obrigado a realizar escolhas. A escolha da cesta maximizadoradeverá atender a duas condições: ela deverá estar sobre a linha do orçamento e deverádar ao consumidor sua combinação preferida de bens e serviços. A cesta de mercadoque maximiza a satisfação estará então situada sobre a curva de indiferença mais elevadacom a qual a linha de orçamento mantém contato e quando a taxa marginal desubstituição for igual à razão entre os preços.

Para explicar como as pessoas realizam as escolhas dos bens, examinam-se osconceitos de utilidade. Segundo Rossetti (2000), a utilidade é um conceito passível demensuração, pois o seu grau, atribuível a um mesmo produto por diferentes pessoas,pode variar devido a fatores subjetivos, dependendo também do número de unidadesdo produto já possuídas ou consumidas. A utilidade total é aditiva, até determinadoponto de saturação. Se apenas um bem é adquirido, a satisfação que ele proporcionatem uma utilidade total. No entanto, a satisfação dada pelo consumo de mais umaunidade deste, designa uma utilidade marginal.

A expressão utilidade marginal é empregada para indicar a utilidade adicionadapela última unidade disponível de um produto. Somente para a primeira unidade,

10

8

6

4

2

12

y

0 20 40 60 80 100 120 x

(c)

(b)

(a)

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a utilidade total é igual à marginal. Daí em diante, embora a utilidade totalpossa aumentar, os aumentos serão decrescentes, até um ponto em que sejamiguais a zero. Este é, em síntese, o princípio da utilidade marginal decrescente.(ROSSETTI, 2000, p. 447)

Thompson e Formby (1998) apresentam uma relação importante com a poupança,entendida como o não-dispêndio da renda, seja para se precaver contra emergências,acumular patrimônio ou adiar seus gastos ao futuro até que tenham condições de pagarà vista. O ato de não gastar, ou poupar, pode proporcionar a mesma utilidade do ato deconsumir. O consumidor deve analisar se a utilidade marginal de um real gasto nacompra de bens é maior do que a utilidade marginal de um real poupado. Se for, oconsumidor deve comprar o que lhe fornece a mais alta utilidade marginal por realgasto. Se não, é melhor poupar o seu dinheiro. Portanto, a maximização da utilidadenão exige que o indivíduo gaste toda a sua renda, pois a poupança possui utilidade eatende outras necessidades.

As condições para a maximização da utilidade ou da satisfação, para Holanda(2003), primeiro se referem ao fato de que se tratam de bem econômicos, em que maisé melhor que menos. E segundo, obedecem aos postulados de que a renda deve serutilizada de forma que a última unidade monetária gasta com qualquer bem proporcionea mesma utilidade ou satisfação marginal que a última unidade monetária gasta comos demais bens e de que a utilidade marginal fornecida pelas últimas unidades adquiridasdos diferentes bens deve ser proporcional aos respectivos preços.

Em condições de equilíbrio a diferença entre utilidade marginal e preço, deveser nula, pois enquanto a utilidade de um bem estiver acima de seu preço, o consumidortenderá a reduzir as aquisições do bem. Assim, somente no ponto em a utilidade marginalda última unidade comprada é igual ao seu preço, ele terá encontrado o seu pontoótimo ou de equilíbrio, que lhe garante máxima satisfação, dentro dos seus limitesorçamentários. Em outras palavras, os consumidores compram uma unidade extra deum bem apenas se a utilidade marginal esperada não for ultrapassada por seu preço.Isso acontece porque se tem um excedente do consumidor, que para Byrns e Stone(1996, p. 126), “é a diferença entre as quantias que as pessoas estariam dispostas apagar por várias quantidades de um bem específico e as quantias que elas pagam apreços de mercado”.

Desta maneira, forma-se o pressuposto de que a procura tem uma relação negativacom o preço, mas positiva com a renda. No caso da renda quanto mais alta ela for,maiores serão as quantidades procuradas, o que designa, de um modo geral, os bensconsiderados normais. No entanto, se aumentar a renda e reduzir a procura pordeterminado bem, tem-se um bem inferior. Segundo Byrns e Stone (1996), todos osbens incorporam uma variedade de características relevantes de utilidade, isto é,atributos. A complexidade das combinações de atributos apresentados na maioria dosprodutos dificulta muitas decisões. Todavia, todos precisam tomar decisões em ummundo imperfeito e onde a incerteza predomina.

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A suposição econômica diz que as pessoas sempre tentam pagar os preços maisbaixos por qualquer bem ou recurso. No entanto, os desejos por serviços melhores eas tentativas de evitar desagradáveis surpresas são igualmente importantes.Conseqüentemente, os indivíduos estão dispostos a pagar os preços conforme asqualidades observadas. Pagarão mais pelas “políticas de segurança” implícitasdestinadas a garantir a qualidade e a não ocorrência de erros causados pela incertezae pela informação imperfeita.

Porém, quando os preços e a qualidade de dois bens são de mesma importância,necessários para atribuições diferentes, e quando o consumidor possui recursosfinanceiros para escolher apenas um deles, ele é obrigado a optar por uma solução ditacomo extrema. Revela-se em que condições as pessoas decidirão por não consumiruma determinada mercadoria. De acordo com Pindynk e Rubinfeld (1999, p. 89),“Quando a taxa marginal de substituição de um consumidor não se igualar à razãoentre os preços em nenhum nível positivo de consumo, então aparece uma solução decanto. O consumidor maximiza sua satisfação consumindo apenas um dos dois bens”.

Outro ponto importante a considerar nos processos de escolha, além de variáveiseconômicas como as preferências, utilidades do bem e restrições de renda e preço, é aexistência de fatores extra-econômicos, os quais também contribuem na determinaçãodo comportamento do consumidor. De acordo com Sandhusen (2003) os estímulosque influem nos processos de tomada de decisão do consumidor e no seucomportamento podem ser classificados em interpessoais que incluem grupos sociaise culturais como os baseados na família, no gênero, na etnia, na religião; e intrapessoais,que incluem tendências, percepções e atitudes.

Os grupos de referência, por exemplo, como os de filiação e de aspiração, expõemas pessoas a novos produtos e comportamentos, induzem a atitudes e criam pressõespara a conformação às normas grupais. O grupo com influência mais direta nocomportamento de compras é o da família de procriação, que compreende o cônjugee os filhos do consumidor. As mulheres ainda tomam decisões de compra relacionadasa itens domésticos e o casal participa em conjunto na compra especialmente de bensduráveis. Também as crianças influenciam em compras domésticas. O tamanho médiodo conjunto familiar define a natureza e o tamanho das compras. Assim, quanto maisfilhos, maior o valor gasto pela família (SANDHUSEN, 2003).

Segundo o mesmo autor, o gênero, homem ou mulher, tem necessidades epreferências diferentes e os mercados se diferenciam de região para região. Na maioriados países asiáticos e islâmicos as mulheres são impedidas de trabalhar fora de casa elegalmente, proibidas de dirigir carros, fazendo do homem o responsável pelas compras.Já no Suécia, por exemplo, mais de 45% dos cargos administrativos e de gerência sãoocupados por mulheres.

Também a presença de classes sociais tem papel significativo. Estas são umadivisão relativamente homogênea e duradoura de uma cultura em que os componentesdividem valores, interesses e comportamentos semelhantes. São estruturadas

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hierarquicamente e a posição de um indivíduo como parte de uma classe social dependede diversas variáveis, como quantidade e tipo de renda, ocupação, tipo de casa e áreade residência. Pessoas de uma mesma classe social tendem a atuar de forma maiscomum que os membros de classes diferentes.

Para Pride e Ferrell (2000) a classe social influencia em muitos aspectos denossas vidas, assim como nas decisões de compra. Tem importância significativa nosgastos, na poupança e nas práticas de crédito das pessoas. Até certo ponto, determinaa qualidade, o tipo e a quantidade de produtos que a pessoa compra e usa. Em relaçãoà classe média, Kotler e Armstrong (2000) afirmam que ela é constituída pelosexecutivos e trabalhadores especializados, geralmente com maior nível de escolaridade,e que recebem salários na média dos respectivos setores. Residem em melhores bairrose no centro das cidades e tentam fazer sempre o que é mais apropriado. Para se manterematualizados com as tendências, compram com freqüência produtos populares.Preocupam-se com a moda e procuram as melhores marcas. Tem casa própria e osfilhos estudam em boas escolas. Também gastam mais dinheiro em experiências quevalham a pena.

A classe média é possuidora de um poder aquisitivo, padrão de vida, e de consumorazoáveis, que além de suprir suas necessidades básicas também permite o acesso deformas variadas de lazer e cultura, embora sem chegar aos padrões de consumoconsiderados exagerados das classes superiores. Conforme IBGE (2007) e com baseno seu último senso, o Brasil tem pouco mais de 15,4 milhões de famílias de classemédia, o que é equivalente a 57,8 milhões de pessoas. Em novembro de 2005, a rendafamiliar per capita desse segmento social oscilava entre 1,7 salários mínimos per capitae 19,4 salários mínimos. Como reflexo da característica da industrialização do país,há uma concentração nos grandes centros urbanos, pois 57,2% das famílias de classemédia estão na região Sudeste e 18,3% na região Sul.

Nos últimos anos, a maior parte da classe média tem enfrentado dificuldadesgeradas pelo baixo crescimento econômico e sem continuidade. De acordo com aRevista Época (2005), profissionais liberais, funcionários com cargos intermediáriosnas empresas, servidores sociais, e outras categorias, vivem uma nova realidade. Omercado de trabalho ficou mais congestionado, por dois motivos, poucos empregos euniversidades formando muita gente. As despesas aumentam, o governo cobra maisimpostos e não garante os direitos dos cidadãos. O resultado é uma drástica queda darenda e dos padrões de compra.

A pressão no meio da pirâmide social subiu. Em Revista Época (2007) comenta-seum estudo realizado pelo economista da Unicamp, Márcio Pochmann, que observa oestrago que ocorreu a partir de 1995. Ele considerou em sua pesquisa como pertencentesà classe média aqueles indivíduos que recebem mais de cinco salários mínimos mensais.Estes, em 1995, detinham 20% da renda do país. Em 2005, essa participação caiu para11,5%, conseqüência da queda da renda. Nesse período de dez anos, o ganho médio dostrabalhadores da classe média caiu 19,4%. Apesar de o Brasil ter crescido nos últimosanos e ter melhorado as condições de vida e a renda das classes sociais mais baixas (que

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recebem benefícios sociais e incentivos através de políticas públicas) as remuneraçõestípicas da classe média não evoluíram. Segundo o estudo, o Brasil eliminou 3,1 milhõesde ocupações com mais de cinco salários mínimos, na última década.

Isso se explica pelo fato de ter mais gente qualificada disputando as mesmasvagas, muitas das quais se encontram em extinção. Com maior concorrência, os valoresdos salários diminuem. Só de 2001 para 2003, o acesso à universidade cresceu 26%,sendo criada neste período, em média, uma faculdade por dia. Se por um lado, facilitou-se a ascensão social, por outro favoreceu o congestionamento do mercado de trabalho.

Diminui-se então o poder de compra da classe média e a recuperação recente daeconomia ainda não foi suficiente para reverter a situação. Para manter o padrão devida ou ao menos uma parte dele, a classe média ficou visivelmente mais endividada.Ela não consegue mais pagar planos particulares e cortou despesas com carro e itensmais luxuosos, ao passo que aumentou o consumo de itens mais básicos e aprendeu apoupar. Nas atuais circunstâncias econômicas mundiais só não economizam e esbanjamem supérfluos, aqueles que realmente são muito ricos e não correm riscos quanto asua estabilidade financeira, o que é algo raro de se encontrar.

3 METODOLOGIAA análise da pesquisa realizada na região Norte do Rio Grande do Sul acerca do

comportamento de consumo da classe média segue os procedimentos utilizados porVergara (2000). Para a classificação da pesquisa, a autora a qualifica em relação adois aspectos, quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto a seus fins, este trata-se deuma investigação explicativa, que tenta, além de descrever, também justificar os motivospara os comportamentos delimitados, esclarecendo quais fatores contribuem, de algumaforma, para a ocorrência dos fenômenos. Para isso, pressupõe-se que a pesquisadescritiva é a base das explicações.

Quanto aos meios da investigação, foi utilizada inicialmente a pesquisabibliográfica, desenvolvida com base em materiais publicados em livros, revistas, jornais,redes eletrônicas, materiais acessíveis ao público em geral e que fornecem instrumentalanalítico para as conclusões apresentadas. Em seguida, partiu-se para a pesquisa decampo, investigação empírica efetuada no local ou região em que ocorre o fenômeno ouque dispõe de elementos para explicá-lo. A amostra populacional totalizou 30questionários respondidos. Essa amostra é uma parte do universo em questão, ou seja,classe média da região norte gaúcha. Salienta-se que para o presente trabalhoestabeleceram-se como integrantes desta classe social os indivíduos que possuem rendaentre 2 a 10 salários mínimos e que, portanto correspondem a maioria dos entrevistados.Não existe uma regra clara em relação à renda da classe média. O IBGE (InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística) por exemplo, considera como classe média aquelesque possuem entre 1,7 salário mínimo per capita a 19,4 salários mínimos.

A seleção da amostra utilizou o critério de seleção aleatória simples, onde aescolha dos elementos é feita através de uma tabela de números aleatórios, de modo

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que cada membro da população tenha a mesma chance de ser incluído na amostra, oque acontece casualmente.

Quanto aos sujeitos da pesquisa, estes são os mais variados possíveis, que incluemdiversas profissões, idades, ambos os sexos e de diversas cidades. Em relação às técnicasde coletas de dados, optou-se, pelo questionário, que se caracteriza por uma série dequestões apresentadas ao respondente por escrito. Para o trabalho aqui apresentadoforam elaboradas 22 questões, a maioria fechadas, em que o respondente fez escolhasou ponderou diante de alternativas. Dentre estas questões, algumas são semi-abertas,onde há possibilidade de respostas livres. A apresentação do tema do questionário, oobjetivo, e instruções para preenchimento foram feitas pessoalmente, assim como aentrega e a devolução. Além disso, a forma como foram conduzidos e discutidosoralmente os questionários com os respondentes e os pesquisadores revela os mesmoscomo entrevistas.

Para Vergara (2000), os objetivos são alcançados com a coleta, o tratamento, eposteriormente com a interpretação dos dados. Os dados foram tratados de formaquantitativa e qualitativa. A forma quantitativa utiliza procedimentos estatísticos maisdescritivos, no caso através de análise de correlação e proporção. Já a forma qualitativacodifica os dados de forma mais estruturada, analisando-os subjetivamente em suaprofundidade.

Após a escolha dos métodos de procedimentos e da técnica de pesquisa, definiu-se o método de abordagem. Este é então predominantemente dialético, devido àcomplexidade exigida no levantamento das reflexões. É um método que compreendeproblemas e suas formulações, como delimitados pelas condições de existência. Épermeado por interesses, representações da realidade e ambigüidade, correspondendoao movimento da sociedade, suas lutas e acordos. Distingue aparência de essência,chama a atenção para o caráter contraditório das coisas e das afirmações de pensamentoe observa os objetos e as produções humanas como elementos que se relacionam econstituem um processo totalizante.

Trabalha-se, portanto as leis da unidade e a luta dos contrários, das transformaçõesquantitativas em qualitativas, com conteúdo e forma, necessidade e causalidade, causae efeito, possibilidade e realidade, singular e universal. Tudo é parte de um todo e comeste se relaciona. Também nada é eterno ou absoluto, pois os objetos sofrem constantestransformações. Parte-se do particular em busca do geral, relacionando o todo com aspartes. Por isso, o método dialético oferece alguns riscos ao pesquisador, que devedispor de certo rigor, para não cair em simplificações, como o desvio mecanicista, quepode confundir dialética com abordagens positivistas.

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOSApós a aplicação do questionário sobre uma amostra de 30 pessoas, residentes

na região Norte do Rio Grande do Sul, chegou-se a resultados notadamente relevantes

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e que merecem atenção, visto que muitas vezes, fatos deste tipo passam despercebidospelos olhares capitalistas dos empresários e até mesmo dos consumidores.

As entrevistas foram em sua maioria realizadas no local de trabalho dosentrevistados, o que soma 40% do total. As demais entrevistas ocorreram nos seguinteslocais: 27% em universidades, 20% em escritórios, 10% em vias públicas e 3% emsupermercados. A partir destes dados já é possível observar que esta amostra representaum consumidor que está trabalhando e também estudando em nível superior, fator quecaracteriza um público com renda melhor.

Do sexo masculino totalizou-se 70% da amostra, e 30% do sexo feminino. Otipo de residência em 77% é própria e apenas 23% alugada. Conforme IBGE (2007),na Pesquisa de Orçamentos Familiares ocorrida no período de 2002 a 2003, as despesascom o item aluguel consomem 17,27% dos rendimentos das pessoas que recebem atéR$ 400,00. As classes sociais mais altas investem uma parcela maior de seus orçamentosem aquisição de imóveis, do que a classe social mais baixa, que não tem condiçõesfinanceiras de possuir casa própria.

No que se refere ao estado civil, 70% dos entrevistados são solteiros ou separadose 30% são casados. Do total de entrevistados, 43% têm filhos. Para estes foi entãoperguntado sobre o número de filhos que cada um tem, e nesta indagação verificou-seque: 47% têm dois filhos, 38% um filho e 15% três filhos. No passado era muitocomum os casais terem um grande número de filhos, seja pela maior necessidade demão de obra, seja pela ausência de métodos contraceptivos. Hoje, possuir muitosfilhos têm outros significados, tais como falta de informações, principalmente nasfamílias mais pobres. As classes sociais de maior renda já preferem um numero menorde filhos, geralmente entre um ou dois, para que seja possível garantir crescimento,educação e formação de maior qualidade.

O nível de escolaridade também pode diferenciar as classes sociais. Geralmente,pessoas com maior poder aquisitivo possuem melhores condições para estudar eescolher melhor qualidade de ensino. O gráfico abaixo mostra o nível de escolaridadepara a amostra pesquisada:

GRÁFICO 1 - Nível de escolaridadeFonte: Construção dos autores

7% 3% 3%7%

27%53%

Ensino Fundamental lncompleto Ensino Médio Incompleto

Curso Técnico Ensino Fundamental Completo

Ensino Médio Completo Ensino Superior Incompleto

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Nota-se no Gráfico 1 que mais da metade dos entrevistados está cursando onível superior e que 27% possui o Ensino Médio Completo. Pode-se concluir que onível de escolaridade diminui na mesma proporção que a renda, a qual é um forteindicador para a possibilidade de estudo. No caso desta amostra a média de rendapara os entrevistados, é maior que três salários mínimos. Até um salário mínimo somam-se 3% dos entrevistados, de um até dois salários mínimos 10%, de dois até três saláriosmínimos 37% e de três até dez salários mínimos 37%. Ainda as pessoas que recebemmais de dez salários mínimos totalizam 13%. Trata-se de uma amostrapredominantemente de renda média, que vai de baixa classe média até alta classemédia, onde praticamente todos conseguem suprir suas condições básicas desobrevivência, têm acesso à saúde, educação, alimentação, vestuário e lazer e, portantonão podem ser consideradas pobres.

Interessante observar quantas pessoas contribuem para a formação da renda,dado que hoje não somente o homem exerce papel de sustentar a família, como tambéma mulher e os filhos que já estiverem aptos e com idade para isso. Na classe média issovem ocorrendo cada vez com maior freqüência, visto que para manter os padrões deconsumo em meio às dificuldades impostas pela eterna crise da economia e da sociedadebrasileira, todas as formas de prover recursos precisam ser utilizadas. O gráfico 2apresenta esta realidade:

GRÁFICO 2 – Formação da renda.Fonte: Construção dos autores.

Observa-se no Gráfico 2 que em 64% da amostra, duas pessoas contribuem paraa formação da renda familiar, o que geralmente significa o homem e a mulher. Três equatro pessoas que contribuem para a renda totalizam 16%. Isso significa que quantomais pessoas da família trabalham, melhor. Esse é um fato que já não é mais novidadeentre os brasileiros, que também estão mais preocupados com futuro, cada vez maisincerto e imprevisível.

No entanto, muitos não têm o hábito de guardar dinheiro na forma de poupançamensal, principalmente os indivíduos da classe social estudada, talvez porque acreditamque o amanhã será como o hoje e para as eventualidades se dá o famoso “jeitinho”brasileiro. Com renda sempre disponível julgam, em sua maioria, não ser necessário

20%

64%

13%3%

Apenas uma pessoa Duas Pessoas

Três Pessoas Quatro Pessoas

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guardar um pouco, embora no consumo já estejam poupando em alguns itens comoserá discernido adiante. Aqueles que guardam dinheiro em poupança somam 23%enquanto 77% afirmaram que não costumam guardar dinheiro. Dentre aqueles quecostumam poupar, o percentual da renda mensal poupado varia entre 15 e 30%, o queé um percentual significativo.

Em se tratando de consumo, pesquisou-se qual o fator que leva à decisão dascompras. Observou-se que grande parte da amostra respondeu: “onde os preços sãomais baixos”. Isto significa que mesmo aqueles que têm uma renda maior que a maioriadesta população, pesquisam preços e preferem os lugares mais baratos. Constata-se ofenômeno com o gráfico 3.

GRÁFICO 3 - Fator que decide pelas comprasFonte: Construção dos autores

No Gráfico 3 há percentuais que mostram características próprias da classe média,como também percentuais que revelam comportamentos de consumo. Estescomportamentos estão relacionadas ao fato de que 30% dos entrevistados optam emcomprar onde o preço é menor. No entanto, o fator que decide as compras para amaioria é onde tem mais opções de produtos (33%). A melhor qualidade do produtotambém é um fator importante representando 27% do total. Alguns também compramporque no estabelecimento escolhido mantém amizade com os proprietários ou comvendedores. A resposta com menor incidência percentual foi aquela que afirma que aescolha se deve ao fator de a empresa vender a prazo.

Da amostra pesquisada, 77% preferem comprar à vista. Do percentual de 23%que compra ou já comprou a prazo, o instrumento mais utilizado é o cheque (40%). Ocarnê, fornecido pelas grandes lojas e redes como de eletrodomésticos, é utilizado por33% da amostra e 27% prefere o cartão de crédito. Quanto ao número de parcelas,40% responderam que pagam em até duas vezes, outros 40% responderam que asprestações variam entre 3 a 5 vezes e somente 20% responderam que efetuam comprasentre 6 e 10 vezes. Este último número de parcelas, dado as altas taxas de juros donosso país, somente é interessante quando realmente não é possível comprar de outraforma e se necessita muito adquirir tal produto.

Constatou-se que no caso do uso do cartão de crédito, o mais utilizado é o cartão

30%

27%

33%

7% 3%

Onde o preço é mais baixo Pela qualidade dos produtos ser melhor

Onde tem mais opções de produtos Amizade com o proprietário ou vendedores

Na empresa que vende a prazo

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Visa (30%), em segundo lugar o cartão Quero-Quero (20%) - muito empregado naregião Norte do Rio Grande do Sul devido ao grande número de lojas da rede Quero-Quero instaladas nas cidades circunvizinhas - e 10% possuem o Mastercard, enquantoque 33% dos indivíduos não utilizam nenhum tipo de cartão.

Referindo-se ao consumo, optou-se por pesquisar como ocorre a compra de itensalimentícios, que são de grande utilidade e que geralmente têm importância significativano orçamento familiar. Quando perguntado o que direciona a escolha de alimentos,87% das pessoas responderam que preferem as marcas conhecidas. É comum e naturalque as melhores marcas sejam lembradas em primeiro lugar, enquanto que 13%escolhem os produtos mais baratos. Mas a preferência nem sempre é o que determinaa compra. As restrições orçamentárias também tem importante papel.

O percentual da renda mensal comprometido com a aquisição de itensalimentícios, lembrando que se refere a uma amostra populacional de renda média, éem maior proporção menor que 40% da renda mensal, como mostra o gráfico 4:

GRÁFICO 4 - Percentual da renda comprometido com itens alimentíciosFonte: Construção dos autores

Conforme o Gráfico 4, verifica-se que 74% das pessoas responderam que gastamaté 40% do orçamento com a compra de alimentos, 23% gastam entre 40% e 60% eapenas 3% gasta entre 60% e 80% da renda com produtos alimentícios. Sabe-se quequanto maior a parte da renda comprometida com o consumo de alimentos, menor arenda disponível do indivíduo ou da sua classe social para outras finalidades deconsumo. O que se nota de interessante nestes dados, é que apesar da maioria se tratarde pessoas de classe média, 23% delas já gasta metade ou mais da sua renda nosupermercado, e isso pode indicar uma nova realidade, a de que as pessoas com umorçamento familiar maior estão gastando mais com alimentos e talvez menos comprodutos supérfluos ou com menor utilidade, lembrando que estas conclusões sãoválidas para a amostra utilizada. Em caso de expandir as conclusões para a população,torna-se necessário efetuar uma pesquisa com amostra maior.

Supondo que a renda dos entrevistados fosse diminuir ou que os preços fossem

74%

23%

3%

Até 40% da renda mensal

De 40 a 60% da renda mensal

De 60 a 80% da renda mensal

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aumentar, haveria também mudanças específicas no consumo de alguns alimentos.Quanto à carne, que é um dos itens que mais pesam no bolso do consumidor, a imposiçãode uma renda menor ou preços mais altos levaria 50% das pessoas a comprar a mesmaquantidade da carne, mas procurariam aquelas com preços menores, 33% comprariamuma menor quantidade com a mesma qualidade e 17% iriam comprar a mesmaquantidade de carne e menor quantidade de outros produtos. Isso mostra que algunsnão abrem mão da qualidade da carne para o churrasco do final de semana, por exemplo,e a maioria já procura preços mais baixos.

Ainda em relação ao consumo da carne, segundo IBGE (2007), este é o tipo dealimento consumido pelas famílias brasileiras que mais pesa nas despesas.Considerando apenas alimentação no domicílio, o grupo de carnes, vísceras e pescadossão o que tem maior representatividade no orçamento (18,34%); seguido de leites ederivados (11,94%); panificados (10,92%); e cereais, leguminosas e oleaginosas(10,36%).

As mudanças de consumo de arroz e feijão para uma diminuição na renda ouaumento no preço, ocorrem de maneira semelhante ao caso da carne, pois 40% dosentrevistados, optariam inicialmente em continuar comprando a mesma quantidadedo produto em questão, mas de preço menor, 27% buscariam a mesma quantidade dearroz e feijão e menos de outros produtos menos importantes e 33% optariam pormenor quantidade com a mesma qualidade. Sendo que o arroz e feijão compõem oprato mais comum, típico e indispensável no cardápio de qualquer brasileiro, a opçãopelos mais baratos quando diminui o poder aquisitivo revela que até no indispensávele do que supostamente não se poderia abrir mão da qualidade, o preço e a renda sãocapazes de interferir.

Eles interferem do mesmo modo no café da manhã das pessoas, no consumo doleite e do pão. Metade dos entrevistados (50%) procuram consumir o leite e o pão demenor preço para poder continuar comprando a mesma quantidade deles. 33% iriapermanecer comprando a mesma quantidade e reduziria o consumo de outros produtos.Enquanto que 17% diminuiria a quantidade comprada em favor de manter a mesmaqualidade de pão e de leite. A questão da qualidade dos produtos aparece em últimolugar, exceto no consumo de frutas e verduras, que transmitem a idéia de saúde e boaforma e que são necessários ao bom funcionamento do corpo e por isso precisammanter a boa qualidade mais que os outros alimentos.

Esta talvez seja uma das prováveis explicações para 30% das pessoas compraremmenos das mesmas para não haver alterações na qualidade. No entanto, as restriçõesorçamentárias fariam com que 23% da população comprasse a mesma quantidade defrutas e verduras e menor quantidade de outros produtos e que 47% buscasse tambéma mesma quantidade, mas de preço menor.

Para o IBGE (2007), comparando os tipos de produtos consumidos nas duasclasses extremas de rendimento mensal familiar, observa-se que a classe social maisalta (mais de R$ 4.000) gasta um percentual maior de sua despesa total de alimentação

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com frutas, 3,54% contra 2,44% da classe até R$ 400,00. Para a Classe média que ficano meio dos dois extremos, o consumo de frutas se dá de forma semelhante às classessociais altas.

Assim, clareia-se o fato de que a perda do poder aquisitivo interfere de formasignificativa nos hábitos de consumo e atualmente, não mais somente nas classes sociaisbaixas, como também na classe média, que luta para manter os mesmos padrões deconsumo ou comprar a mesma quantidade de produtos do que antes.

Assim, pesquisando preços, administrando e planejando melhor a renda familiarainda é possível adquirir todos os produtos desejados. Por fim, então perguntou-se noquestionário se, para o respondente, existe algum produto que não sendo acostumadoa comprar, tem vontade de adquirir e 67% respondeu que não, o que comprova aafirmação anterior. Em meio à crise da economia e da sociedade em geral, éimprescindível que se consuma de forma racional e depois de pesquisas e cálculos.Isso resulta em novos hábitos, que por sua vez, estão formando o novo comportamentodo consumidor de classe média.

5 CONCLUSÕESOs resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que cada vez mais a

classe média vem sofrendo os impactos da crise do emprego, da economia e dasociedade em geral. Ela teve que se adaptar a novos hábitos de consumo, secomportando quase como aqueles que sobrevivem com menos de um salário mínimopor mês, ou seja, correndo atrás do mais barato.

Constatou-se que quanto menor o nível de escolaridade, maior o número defilhos, menor a renda, não possuem casa própria e pertencem a classes inferiores. Seos salários percebidos são relativamente maiores, ocorre o inverso. Mas o que é comumpara ambas às classes são a existência de restrições orçamentárias e a elevação docusto de vida, que devem ser tratadas de forma a continuar vivendo bem e com saúde.

Para as empresas, cabe enxergar as novas realidades, não só do mercado, comotambém do consumidor e do púbico-alvo que pretendem atingir. Se este for a classemédia, aí está uma nova condição, oferecer produtos diferenciados, de boa qualidade,que permitam a maximização da satisfação com a combinação preferida de bens, porémcom preços mais acessíveis.

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 71

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Opinio, n.19, jul./dez. 200772

Relações entre o estudo da cognição e agestão de pessoas

Selma França e Silva da Costa

RESUMOA cognição e a gestão de pessoas nas organizações é atualmente assunto bastante discutido

pelos estudiosos das ciências humanas, pois é tema referente a processos que envolvem relaçõesentre conhecimento adquirido, específico ou não, e a compreensão de quem está na posição degerir funções. O artigo analisa a necessidade da aquisição de aprendizagem atualizada sobre acognição humana para integrar a percepção dos gestores dentro das organizações em relaçãoao trabalho de seus colaboradores, propiciando refletir e verificar como as organizações utilizamesta aprendizagem e participam da mesma. Constata-se a existência de significativa necessidadede ligação entre a teoria proposta pelo estudo e a prática evidenciada na realidade de trabalho.Percebe-se que a construção, a aquisição e utilização do conhecimento devem ser constantes,assim como oportunidades para o desenvolvimento dessas habilidades proporcionadas pelosgestores, os quais em comunhão com as organizações necessitam, cada vez mais, deter talcompreensão para otimizar seus processos de desenvolvimento e produtividade.

Palavras-chave: Gestão de pessoas. Conhecimento. Organizações. Cognição.

The relationship between cognition and people management

ABSTRACTCognition and people management in the organizations is a topic of great discussion

nowadays among researchers of the human sciences, because it is a subject that refers toprocesses involving the relation between getting knowledge, specific or not, and thecomprehension of those in managing positions. The article also analyses the need of gettingcurrent knowledge about the human cognition in order to integrate the perception of managersinside the organizations in relation to the work of colaborators, providing reflection and verifyinghow the organizations utilyse this knowledge in an integrative manner. There is the need of abinding theory and of conclusions about the practical way of working. So, the construction,acquisition and utilization of this knowledge must be periodically reviewed, as an opportunityfor the development of these abilities offered by managers, who in communion with theorganizations needs, more and more every day, must reach this comprehension to optimyzetheir processes of development and productivity.

Key words: Management of people. Knowledge. Organizations. Cognition.

Selma França e Silva da Costa é docente do curso de Pós-Graduação em Gestão de Pessoas e DesenvolvimentoHumano. Universidade Luterana do Brasil. Canoas-RS. E-mail: [email protected]

Opinio n.19 p.72-83 jul./dez. 2007Canoas

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1 INTRODUÇÃOEste estudo apresenta conceitos de cognição e gestão de pessoas, como

capitalização intelectual, para que se torne possível uma maior compreensão do eloque existe entre ambas as questões e a necessidade de uma análise atualizada, tendoem vista que organizações detentoras de visão abrangente em âmbito global, estãodespontando assumidamente, para a já iniciada era do conhecimento.

A trajetória de toda a história da administração percorreu diversas fases atravésde teorias variadas. Estilos diferenciados a cada época, marcaram profundamente “ohomem” em seu universo profissional e pessoal. Culturas e conceitos distintos, criadosde acordo com crenças e costumes, influenciaram modelos gerenciais no decurso detoda a caminhada dos recursos humanos, desde que eram consideradas meras peçasdescartáveis de alguma engrenagem maior, até os dias atuais onde se discorre sobremodelos diferenciados de gestão de pessoas.

A evolução cultural e tecnológica transpôs a era da informática assumindo que,para ocorrer o desenvolvimento necessário, é imprescindível a aquisição doconhecimento. Este reconhecimento conduz a observar a cognição dentro dasorganizações e a influência da mesma nas relações profissionais entre gestor ecolaborador.

A questão aqui desenvolvida concerne à percepção do gestor de pessoas comrelação à aquisição de conhecimento específico de trabalho de seus colaboradores.Assim como o pensamento e as ações deste gestor, influenciado por uma cultura globalem uma era, onde conhecimento adquirido é diferencial significativo que exprimepreeminência para quem o detém.

Relações entre cognição e gestão de pessoas, conceitos novos e já existentes,percepções e atitudes, são importantes temas a serem perscrutados para o crescimentoe maiores chances de sucesso a serem atingidos, através dos homens e organizaçõesos quais possuem similar dependência.

Observa-se que a sociedade contemporânea está atravessando um período degrandes transformações sociais, econômicas, políticas e culturais. No ambiente laboral,o impacto dessas mudanças revela-se bastante significativo, também. A intensa ecrescente competição que se estabelece, traz como conseqüência a incorporação deconhecimento em novas tecnologias, produtos e serviços. Configura-se como novodesafio às empresas, desenvolver rapidamente atributos que lhes garantam certo nívelde competitividade atual e futuro.

Nesse ambiente de incertezas, onde negócios mudam da noite para o dia e novastecnologias se proliferam, a busca pela competitividade torna-se complexa, impondoa profissionais e empresas a necessidade de obter competências, que lhes permitamfazer frente às ameaças e oportunidades do mercado. Parece evidente que o sucessode uma organização será, cada vez mais, determinado pelas aptidões de seus membros.

A indústria em todos os cantos do planeta, sempre viveu ciclos fundamentais

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para o seu desenvolvimento. Atualmente, empresas pequenas, médias ou grandes sãoo que são graças a estas constantes mudanças da indústria mundial. Do período emque a produção em massa ditava as normas do crescimento e difusão da tecnologia,muito mudou. Nesse sentido, hoje em dia, a ênfase é sobre o conhecimento.

Assim, de alguns anos para cá muito se tem ouvido falar em gestão de pessoas eem conhecimento – cognição. Tudo começou no início da década de 90, quando váriasempresas que viam seus funcionários mais antigos irem embora passaram a notar oprejuízo que isso causava. Em muitos casos, os substitutos não conseguiam resolversituações corriqueiras para os seus antecessores, a chegada do prejuízo era mera questãode tempo.

Opiniões de empresários, de pensadores e dos mais experimentados consultoresgarantem que no futuro, a maior parte do lucro estará nas mãos de quem melhor soubertrabalhar e explorar a sua informação. Mais do que nunca, o conhecimento é um aliadofortíssimo para quem o possui. Nas últimas décadas, as empresas somente sepreocuparam com a gestão de produtos e redução de custos na linha de produção.Hoje em dia, isso não é mais suficiente e não gera tanto diferencial competitivo nomercado. O conhecimento, por sua vez, pode ser considerado um dos melhores produtospara ser comercializado.

O conhecimento não reside em um livro, em um banco de dados, em um programade computador; estes contêm apenas informações. O conhecimento está sempreincorporado a uma pessoa, é transportado por ela, é criado ampliado ou aperfeiçoadopor ela (DRUCKER apud COSTA, 1993).

Apesar da diversidade e complexidade da função gestora, há uma concordânciatácita entre a maioria dos autores na classificação de algumas de suas atribuiçõesbásicas, como dirigir, organizar e controlar pessoas, ou grupos de pessoas. O acordo éunânime, quando a sua característica essencial é a função que lida diretamente comseus pares.

Nesse sentido, a gestão de pessoas é uma área muito sensível à mentalidade quepredomina nas organizações. Ela é contigencial e situacional, pois depende de váriosaspectos, como a cultura que existe em cada organização, a estrutura organizacionaladotada, as características do contexto ambiental, o negócio da organização, atecnologia utilizada, os processos internos e uma infinidade de outras variáveisimportantes (CHIAVENATO, 1999).

Além dos fluxos de informação e de trabalho, uma empresa possui fluxoscognitivos entre os “trabalhadores intelectuais” (aqueles que ditam os rumos a seremseguidos). A gestão do conhecimento tem como meta guiar esses fluxos para umverdadeiro patrimônio de conhecimento que possa ser usado como grande permanênciana estrutura da empresa. Aliando isso com o constante apoio à formação de funcionários,especialização daqueles que já tem algum tipo de conhecimento superior, tudo serámais fácil para quem administra uma empresa. Se, além disso, a empresa ainda tiver amente aberta para realizar intercâmbios com outras empresas, promover troca de

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experiências, a capacitação de todos será ainda maior. O que se pretende mostrar éque as empresas têm que estar atentas as mudanças do mundo. Quem estagnar, hojemais do que nunca, vai desaparecer inevitavelmente. É preciso estar sempre aprendendoe se adaptando.

O artigo objetiva propor reflexões atualizadas sobre um tema de concepçãointerdisciplinar, por envolver múltiplas áreas de conhecimento - administração,psicologia, antropologia e educação - sobre as pessoas que trabalham, com aintencionalidade de buscar novos elementos de discussão, para gestores que trabalhamcom questões de complexidade, no acompanhamento e avaliação de equipes de trabalho.

2 CAPITALIZAÇÃO COGNITIVA E GESTÃO DE PESSOAS

Cognição é a ação efetiva, é o processo de acoplamento estrutural no qual fazemergir as interações com o mundo interno e externo. Através da cognição é possívelacompanhar as mudanças externas e estruturais visando manter e conservar suaorganização viva, ou seja, é a capacidade de obter conhecimentos, absorver informaçõeselaborando-as. Sendo assim, é um objeto de estudo contínuo. “A cognição compreendea aquisição de conhecimento, capacidade de reconhecimento do que se aprende,utilização do aprendizado, memória, inteligência, linguagem, razão, etc.” (OLIVIER,2003, p.1).

De acordo com a definição de Olivier compreende-se que cognição não é apenasaprendizado, porém o modo como se utiliza o conhecimento com métodos e ferramentaspróprios de cada um diferencialmente neste sentido, o processo de cognição, consistena criação de um campo de comportamentos através da conduta dentro do seu domíniode interações. Platão (apud STERNBERG, 2000, p.24) acreditava que “as idéias sãoinatas e precisam apenas ser desencavadas dos esconderijos às vezes secretas e dasfrestas da mente”. Aristóteles (apud STERNBERG, 2000, p.24) diz que por outro lado“acreditava que as idéias não são inatas, mas adquiridas a partir das experiências”.Descartes (apud STERNBERG, 2000, p.24) chegou à forte conclusão de que a ‘‘plenaevidência dos sentidos deve ser considerada incerta, negativa mesma falsa. As idéiassão inatas não adquiridas pela experiência dos sentidos. Locke (apud STERNBERG,2000 p.24) diz que essa “concepção é tábua rasa, que significa ́ quadro em branco` emlatim. A vida e a experiência `escrevem` o conhecimento em nós. Ele acreditava quenão havia absolutamente idéias inatas”).

Segundo Crawford (1994, p.21), no dicionário Webster, “conhecimento é definidocomo fatos, verdades ou princípios adquiridos a partir do estudo ou investigação;aprendizado prático de uma arte ou habilidade; a soma do que já é conhecido com oque ainda pode ser aprendido”. As idéias dos autores complementam o conceito anteriore leva a compreender que: cognição é o modo como as pessoas percebem, aprendem,recordam e pensam sobre a informação, pois esta é a essência da aquisição de

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conhecimento. A informação é a matéria prima para o conhecimento, ou seja, ahabilidade e capacidade de utilizar/aplicar informações transformam-se emconhecimento. Enquanto a percepção diz respeito às informações obtidas peloindivíduo, não apenas assimilar, mas refletir sobre o aprendizado processando todasas informações para fazer uso das mesmas.

Se retomarmos a definição de cognição como designando o estudo clássico dosfuncionamentos da inteligência humana, vê-se que se trata, em grande parte de analisare de mobilizar atividades e processos de percepção, de memorização ou de fenômenose procedimentos de aprendizagem. O pensamento de Vignaux (1991) quando definecognição para o estudo das ciências cognitivas indica, assim como Sternberg (2000),que memória e percepção são partes integrantes e de grande importância para oaprendizado. Assim, a aprendizagem pode ser considerada como a aquisição de nossosconhecimentos, enquanto a memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos.A memória é uma faculdade cognitiva extremamente importante, porque ela forma abase para a aprendizagem. Portanto, a aprendizagem e a memória são suportes paratodo o nosso conhecimento. Se não houvesse uma forma de armazenamento mental derepresentações do passado (informações, percepções). Portanto a aprendizagem e amemória surgem como uma ferramenta de retenção de informações no qual nossasexperiências são “arquivadas” e recuperadas quando as “chamamos”.

De acordo com Neisser (apud STERNBERG, 1967 p.24), “cognição é o processode entrada de dados sensoriais que são transformados, reduzidos, elaborados,armazenados, recuperados, como atividades mentais”. Esses dados elaborados earmazenados citados, referem-se, assim como os demais autores, aos processos depercepção do indivíduo em relação a tudo o que lhe é apresentado. Deste modo trata-se da aprendizagem absorvida individualmente, da qual é apreendido o conhecimentopara somente, então ser socializado. O conhecimento não reside em um livro, em umbanco de dados, em um programa de computador; estes contêm apenas informações.O conhecimento está sempre incorporado a uma pessoa, é transportado por ela, écriado ampliado ou aperfeiçoado por ela (DRUCKER apud COSTA, 1993, p.165).

3 GESTÃO DE PESSOASO contexto de gestão de pessoas é formado por pessoas e organizações. As pessoas

passam parte de suas vidas dentro de organizações, e estas dependem das mesmaspara funcionar e alcançar sucesso. De um lado o trabalho toma considerável tempo devida e de dedicação das pessoas, que dele dependem para sua subsistência e sucessopessoal. Separar o trabalho da existência das pessoas é muito difícil, quase impossível,em face da importância e impacto que nelas provoca. Assim, as pessoas dependem dasorganizações onde trabalham para atingir seus objetivos pessoais e individuais.

Para Mattos (1985, p.29), “função gerencial é empregado no sentido mais extenso,englobando os conceitos de dirigir, chefiar, supervisionar, presidir, administrar ecorrelatos”. Apesar da diversidade e complexidade da função gerencial, há uma

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concordância tácita entre a maioria dos autores na classificação de algumas de suasatribuições básicas, como dirigir, organizar e controlar pessoas ou grupos de pessoas.O acordo é total quando a sua característica essencial é uma função que lida diretamentecom pessoas, ou seja, “seu objeto” deve ser os recursos humanos do órgão.

Para Dutra (2002, p.17), podemos caracterizar a gestão de pessoas como “umconjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação de expectativas entre aorganização e as pessoas para que ambas possam realizá-las ao longo do tempo”.Partindo desta perspectiva, compreende-se que o gerenciamento de pessoas precisaser realizado em acordo por aqueles que definem objetivos e metas e os demaisparticipantes deste processo, compartilhando as expectativas para alcançar suas metase objetivos de interesse comum.

Dentro da abordagem sistêmica apresentada por Dutra (2002, p.18), “...a gestãode pessoas é vista como um sistema inserido em um sistema maior com o qual interage.Como um sistema, a gestão de pessoas é vista, também, como constituída por subsistemasque interagem entre si e modificam o todo”. A interação empresa/pessoa faz-se necessáriapara que haja a evolução dos interesses de ambos, visto que a organização e pessoassofrem pressões internas e externas, às quais exigem transferência mútua de conhecimento,investimento e potencialização do aprendizado para um maior desenvolvimento.

A gestão de pessoas é uma área muito sensível à mentalidade que predomina nasorganizações. Ela é contigencial e situacional, pois depende de vários aspectos comoa cultura que existe em cada organização, a estrutura organizacional adotada, ascaracterísticas do contexto ambiental, o negócio da organização, a tecnologia utilizada,os processos internos e uma infinidade de outras variáveis importantes (CHIAVENATO,1999, p.6).

Chiavenato, (1999) em seu conceito de gestão de pessoas, propõe que é precisoter visão amplamente aprofundada da organização e do quadro global ao seu redor.Aspectos importantes, porém, não isolados devido aos demais fatores como:necessidades dos funcionários e da organização, evolução tecnológica, tendênciaseconômicas, demandas do contexto em que a empresa está inserida e muitos outros,os quais, são participantes do desenvolvimento constante nas áreas relacionadas aosinteresses internos e externos. Ainda descreve mais de um conceito, de autoresdiferenciados, sobre gestão de pessoas, sendo denominada em alguns comoAdministração de Recursos Humanos (ARH).

Administração de Recursos Humanos (ARH) é o conjunto de políticas e práticasnecessárias para conduzir os aspectos da posição gerencial relacionados com as“pessoas” ou recursos humanos, incluindo recrutamento, seleção, treinamento,recompensas e avaliação de desempenho (CHIAVENATO apud DESSLER, 1999, p.8).

ARH é função administrativa devotada à aquisição, treinamento, avaliação eremuneração dos empregados. Todos os gerentes são, em um certo sentido, gerentesde pessoas, porque todos estão envolvidos em atividades como recrutamento,entrevistas, seleção e treinamento (CHIAVENATO apud DESSLER, 1999, p.8).

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Diante do citado acima, o autor propõe que todos aqueles que participam degerências são gestores de pessoas. Liderar pessoas, em qualquer setor organizacional,supõe estar em contato direto com as mesmas, portanto, recrutar, treinar, avaliar, etc.,integram as funções de qualquer gerente. Utilizando-se de sua posição, quem estivercom a incumbência de gerir pessoas deverá possuir capacidade para equilibrar asexigências de funcionários e organização. “ARH é o conjunto de decisões integradassobre as relações de emprego que influenciam a eficácia dos funcionários e dasorganizações” (CHIAVENATO apud MILKOVICH, 1994, p.3).

ARH é a função na organização que está relacionada com provisão, treinamento,desenvolvimento, motivação e manutenção dos empregados (CHIAVENATO apudCENZO/ROBBINS, 1999, p.8). Relações, provisão, motivação, desenvolvimento,manutenção, são palavras que permitem compreender o valor do “material humano”dentro de uma organização. Manter e desenvolver qualitativamente funcionários sãode infinita importância dentro das interligações exigidas no contexto organizacional.O gerente, que trabalha com pessoas, precisa possuir conhecimento do significadoque a posição por ele ocupada implica em todo seu valor e extensão, pois se tornaresponsável por desenvolver as relações, entre funcionários e organização, de acordocom os interesses das partes envolvidas, para que ocorra o aperfeiçoamento funcional,dentro da estrutura do ambiente em que se encontram. Ambiente este, em parâmetrosinterno e externo, que atuam com forte influência nos meios onde estão inseridas asorganizações, atingindo-as em sua estrutura interna.

Gestão de Pessoas, ARH, independente da denominação proposta para ogerenciamento de pessoas, será sempre uma função, visando aprimorar odesenvolvimento humano e organizacional. Em resumo, as organizações sãoconstituídas de pessoas e dependem delas para atingir seus objetivos e cumprir suasmissões. E para as pessoas, as organizações representam o meio pelo qual elas podemalcançar vários objetivos pessoais, os quais jamais poderiam ser alcançados apenaspor meio do empenho pessoal isolado. As organizações surgem para aproveitar asinergia das pessoas que trabalham em conjunto. Tal movimento é necessário paracolaboradores e organizações, devido à indispensabilidade de um para o outro, ambosformam uma interdependência para atingir metas e objetivos pré-estabelecidos. Semorganizações e sem pessoas não haveria a gestão de pessoas.

Antes de refletir sobre o estilo gerencial adaptado à era do conhecimento,torna-se importante conceituar “homem” e “administração”, no decorrer da teoriaadministrativa. A teoria clássica pretendia atender às perspectivas racionaisnecessárias à revolução industrial. Por sua vez, a teoria das relações humanascontestava a visão mecanicista e impessoal da eficiência clássica por meio daimportância dispensada à motivação e ao desenvolvimento pessoal. Apesar decontestadora, não atingiu muitos de seus propósitos, mascarando em demasia arelação entre o chefe e os empregados. Algumas ramificações da teoriacontemporânea desejam resgatar o processo interno das organizações, visando atenderas múltiplas faces do contexto em que estão inseridas.

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Faz-se interessante uma discussão sobre os modelos de homens predominantesem cada uma das escolas administrativas. A importância de explorar essa classificaçãoestá no fato de mostrar que, com o desenvolvimento da teoria administrativa, muitosaspectos foram se transformando na organização e conduzindo à mudanças no estilogerencial, tanto no que se refere ao modo de orquestrar as pessoas como na maneirapela qual as decisões são tomadas.

Dessa forma, o homem operacional, alicerce da teoria clássica, é aqueleconsiderado como um recurso da organização a ser maximizado, como produto físicomensurável e totalmente dependente do sistema em que se encontra inserido. O homemé visto como uma peça da engrenagem da fábrica, tal como qualquer máquina disponívelpara a produção, necessitando apenas de “manutenção”. Esse tipo de homem écalculista, motivado somente por recompensas materiais. A organização, por sua vez,não considera as implicações psicológicas do comportamento humano.

O modelo de homem associado à escola de relações humanas é o do homemreativo. Essa denominação se deve ao fato de que, embora os psicólogos sociaisestivessem realmente preocupados como o homem, principalmente com suas emoçõese sentimentos, não procuraram alterar os valores. O objetivo principal dessa escolaera o ajustamento do homem ao contexto do trabalho, mas não dispondo de autonomiapara interferir na organização.

Com a emergência da era do conhecimento, caracterizou-se, assim, um novomodelo de homem, chamado de parentético1 . O homem parentético diferencia-se dosoutros modelos ao responder, consciente e criticamente, ao sistema em que se encontra.Não aceita mais ser dominado pelos valores da organização com os quais ele nãoconcorda; deseja participar, intervir e modificar aquilo com o que não está de acordo.

Dentro dessa perspectiva de evolução do homem, do seu estilo decisório e doambiente, o mundo evolui para a era do conhecimento sendo este o principal fatorcompetitivo. Por este motivo, as organizações passam a dar uma importância cada vezmaior à administração, baseada na capacidade intelectual, a qual busca valorizar autilização do conhecimento no âmbito organizacional sendo que a empresa que detémo conhecimento, desenvolve o novo produto e domina o mercado.

Segundo Stewart (2002, p.16), “as empresas que dominam a agenda doconhecimento são aquelas que triunfarão no século XXI”. O conhecimento tornou-seo mais importante fator de produção e os ativos do conhecimento são hoje os maispoderosos vetores de riqueza, os líderes e organizações que assumirem o controle deseu próprio conhecimento galgarão os pícaros da competição em qualquer ramo deatividade e qualquer tipo de organização. O autor afirma que é possível aumentar aprodutividade na ordem de 6% a 7% devido às novas idéias surgidas a partir deconhecimentos obtidos e que atualmente estes conhecimentos estão embutidos, cadavez mais, em todos os produtos de uso cotidiano.

1 Derivado da noção de Hurssel “entre parênteses” ou “em suspenso”.

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O desenvolvimento dos meios de produção tem apresentado naturezas diversas naforma de estruturação e gerenciamento do trabalho humano. Se no principio os artesãosgeriam seus meios de subsistência e, portanto, possuíam autonomia nas suas decisões,com a Revolução Industrial o panorama exigiu métodos diferentes de organização dotrabalho. Surgiram as organizações permeadas de hierarquias, com um padrão rígido dedivisão do trabalho, que desempenharam importante papel na construção organizacionalde sua época. No entanto, com a evolução da sociedade para a era do conhecimento, hámuitas questões a respeito de como lidar com esse novo momento, principalmente noque refere ao seu ativo mais importante: o conhecimento humano.

A partir do momento que afirmamos que o conhecimento é o principal fatorcompetitivo e que Drucker (apud COSTA), citado anteriormente, afirma que “oconhecimento está incorporado a uma pessoa”, podemos concluir que o indivíduoinserido em uma organização faz parte do capital desta organização.

Crawford (1994, p.22) diz que “conhecimento pode ser considerado como umaforma de capital, coloca que o aumento da produtividade traz mais riqueza para aorganização”. Portanto o capital citado por Crawford é o Intelectual e o conhecimentoreferido por Stewart é a riqueza, esta, resultado da aquisição do conhecimento peloindivíduo, que posteriormente será compartilhado resultando em um produto ou serviço,se bem gerido.

As atividades de gerir e liderar pessoas na organização vêm-se aprimorandomediante as necessidades de cada momento e do contexto organizacional. Os primórdiosda administração delinearam uma liderança baseada no comando e no controle, naautoridade e na subordinação. Aos poucos, essa concepção foi sendo questionada esubstituída por uma visão mais comportamental pela qual as pessoas deveriam sermotivadas de outras formas além da remuneração. A organização contemporânea, quevem enfrentando uma série de mudanças, passa também a questionar os valoresassumidos em busca de uma realidade mais condizente com seus anseios. Diante dessefato, a questão pertinente é refletir sobre o estilo gerencial que mais se adapta àsorganizações da era do conhecimento.

O trabalho humano dependerá cada vez mais do conhecimento, pois ele é a baseda criatividade e inovação. O processo de aquisição de conhecimento pelas pessoas édenominado “processo cognitivo” e as organizações dependem deste processo para asua sobrevivência. Cabe ao gestor, reter e aprimorar este conhecimento de acordocom a missão, visão e objetivos da organização.

O gestor deve inicialmente criar a demanda para a aquisição do conhecimento,habilidades e atitudes, esta demanda, pode ser por rotação de cargos ou estabelecimentode metas pouco acima da capacidade das pessoas em atingi-las já que o ser humanocresce quando recebe um desafio superior a sua capacidade atual (CAMPOS, 1995p.41). Nesse sentido, pós o estabelecimento da demanda, o líder deve fornecer suporte,aliado ao desafio, caracterizando a aprendizagem e a autoconfiança de seussubordinados, elevando assim o seu conhecimento.

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Todo o indivíduo, ao ingressar em uma organização, vem com seusconhecimentos, atitudes, competências, crenças e habilidades, absorvidos durante suavida familiar, escolar e profissional, estes devem ser reorganizados e renovados deacordo com a cultura desta organização. Cabe ao gestor de pessoas adaptar esteindivíduo ao seu novo papel dentro da empresa, provocando assim um crescimentomútuo, pois o gestor aprende com as experiências do novo contratado, podendo atémodificar sua atuação e o contratado recebe uma gama de informações que serãoelaboradas e acrescentadas as suas convicções, reelaborando-as, provocando assimum novo conhecimento.

Stewart (2002, p.354), afirma que “as pessoas não são empregados nem ativos,mas sim investidores, pois os acionistas investem dinheiro e os empregados investemtempo, energia e, principalmente, inteligência, que é fruto de seus conhecimentosagregados”. O autor proporciona a reflexão de que empregados não são escravosassalariados, nem ativos intangíveis, mas investidores esclarecidos que esperam umretorno, pois investem seu capital humano pessoal, sendo o mesmo o somatório detudo que sabem, tudo que fazem e tudo que podem vir a ser.

O estudo da influência da cognição no desenvolvimento de estratégiasorganizacionais vem sendo realizado principalmente dentro da chamada abordagemcognitiva da estratégia. Esta abordagem tem como ponto de partida que uma daschaves do processo estratégico reside no pensamento dos dirigentes, de seus conteúdose mecanismos, ou seja, as estratégias adotadas para elevar o nível da organização sãoinfluenciadas pelo processo cognitivo do mesmo, como ele assimila as informaçõesque devem ser elaboradas e entendidas, para que este possa tomar decisões que irãoafetar o rumo da empresa.

Stewart (2002, p.370) diz que “o local de criatividade não é a sala do conselhode administração ou a suíte do CEO; é a equipe”. Exemplifica com o depoimento doCEO da PJM Interconnection, onde o mesmo diz que parece estar dando resultado asreuniões de grupos de indivíduos para atender a determinada necessidade. Apontacomo princípio essencial a este atendimento será ter à disposição pessoas capazespara fazer algo novo, criando um lugar (incubadora), promovendo um clima quefomente a inovação. A inovação requer desafios. Para o autor, as organizações devemser agressivas, com relação à tecnologia adotada, ou seja, fazer algo que ninguémmais possa fazer, deve assumir riscos, deve dar autonomia para a equipe que detém oconhecimento, para colocá-lo em prática, permitindo assim melhor possibilidade quantoa criação de novos produtos/serviços.

O autor relembra que a Revolução Industrial narrada pelos livros escolares é umrelato de novas idéias – máquinas a vapor, teares, descaroçador de algodão, ferrovias,rádios, telefones, enfim, uma profusão de invenções. O valor das idéias não é ensinadopela economia neoclássica tradicional. A inovação é tratada como fator externomisterioso. Esclarece que o capital intelectual e a gestão do conhecimento são hoje ostópicos mais quentes em negócios. As habilidades, capacidades, expertise, cultura,lealdade e assim por diante, são ativos de conhecimento que compõem o capital

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intelectual e determinam o sucesso e o fracasso de uma organização.

As reflexões apresentadas podem sugerir novos estudos sobre a importância deum conhecimento atualizado, articulando questões sobre a capitalização daaprendizagem humana, formas diferenciadas de investigá-la, assim como apossibilidade de definir o papel do profissional formado para exercer funções gestorasem múltiplas organizações de trabalho, levando-se em consideração a aquisição denovas consciências, que promovam formas mais qualificadas de acompanhar,aperfeiçoar e avaliar pessoas em situações laborais.

Conclui-se que as idéias aqui expostas sobre a aquisição do conhecimento e anecessidade de analisar, mais detalhadamente, as áreas que envolvem esta questão noâmbito do trabalho humano, podem promover dados atualizados aos que trabalhamcom o desenvolvimento de pessoas, tendo em vista a diversidade de contribuiçõesadvindas de distintas ciências. Os gestores necessitam, por sua vez, demonstraraprendizagens voltadas às questões subjetivas, que podem oferecer pistasesclarecedoras sobre as formas e processos de pensamento que geram ações, observadasobjetivamente no tempo vivido em ambientes de trabalho.

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 83

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Opinio, n.19, jul./dez. 200784

Estudo preliminar de análise da estruturaorganizacional baseada na empresa

Auxiliadora Predial Ltda. sob a perspectivada Gestão Sistêmica

Adriana T. R. CapellãoAna Paula Ferrari

RESUMO

Este trabalho é um primeiro estudo sobre as metodologias da Gestão Sistêmica aplicadanas organizações empresariais. A idéia central é analisar a estrutura organizacional daAuxiliadora Predial, sendo esta utilizada como instrumento para realização deste trabalho. Oobjetivo dessa análise é identificar os pressupostos teóricos que cercam a gestão sistêmica etraçar um paralelo entre estes pressupostos e a organização, utilizando quadros comparativoscomo instrumento de análise da estrutura da empresa. Além destes quadros, foi utilizada atécnica de observação direta, baseada na experiência vivencial. Como resultado desse estudo,entendemos que, realmente, existem condições de analisarmos a complexidade de uma estruturaorganizacional à luz das teorias da gestão sistêmica.

Palavras-chave: Estrutura organizacional. Aprendizagem organizacional. Gestãosistêmica.

Preliminary study of analysis of organizational structure based onthe company Auxiliadora Predial under the of Systemic

Management

ABSTRACT

This work is a first study on the methodologies of Systemic Management applied inbusiness organizations. The central idea is to analyse the organizational structure of theAuxiliadora Predial, being that it is being used as an instrument for the realization of thiswork. The objective of this analysis is to identify the theoretical prerequisites that circle thesystemic management and tracing a parallel between these prerequisites and the organization,using comparative frames as an instrument of analysis of the company’s structure. Besidesthese frames the technique of direct observation was used, based on experiential experience.As a result of this study we understand that conditions really exist for us to analyse the complexityof a business organization in the light of the theories of systemic management.

Key words: Organizational structure. Organizational learning. Systemic management.

Adriana T. R. Capellão é Mestre em Gestão de Negócios.Ana Paula Ferrari é aluna do curso de Administração da ULBRA Canoas.

Opinio n.19 p.84-83 jul./dez. 2007Canoas

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007 85

1 INTRODUÇÃOVivemos em um tempo de grandes mudanças em todos os âmbitos, principalmente

tecnológicos, políticos e sociais, o que acaba fazendo com que as empresas vivam emconstantes processos de atualização e inovação. A capacidade de aprendizagemorganizacional é um fator diferenciado para a manutenção da competitividade nestaeconomia global, é um componente essencial para mudar a forma de pensar das pessoas,possibilitando que elas adquiram e exercitem uma visão sistêmica da realidade, quequer dizer, uma visão do todo e não de forma individual, percebendo que os sistemasem todos os âmbitos estão interligados e agir de acordo com esta inter-relação, o queseria uma condição básica para que a aprendizagem contínua se torne uma característicaintrínseca da cultura organizacional (BERTOLINI; SILVEIRA, 2006).

Neste contexto, inserimos o pensamento sistêmico que é uma estrutura deconhecimentos e conceitos úteis que pode facilitar a compreensão de situações complexase revelar maneiras mais eficazes de administrá-las (NARDELLI; GRIFFITH, 2000).

A idéia de que as empresas são organismos vivos e que o todo gera um resultadomaior do que a soma das partes faz com que gestores usem deste conceito paraadministrar seus negócios de forma mais consciente.

Neste estudo, utilizaremos como base a Empresa Auxiliadora Predial Ltda. Umaempresa familiar, com 75 anos e que tem como presença forte em seu histórico ainovação e o pioneirismo.

A empresa possui 10 agências espalhadas pelo estado, são oito em Porto Alegre,uma no Vale dos Sinos e uma no Litoral. O foco do atendimento ao cliente é nasagências, porém a base operacional é centralizada na matriz, que fica localizada emPorto Alegre.

Abaixo segue o organograma da empresa, o qual será motivo de análise:

FIGURA 1 – Organograma da Auxiliadora Predial Ltda.Fonte: Auxiliadora Predial Ltda., 2005.

Arquivo

Ger.

Sup.

Dir.

Dir.Opera Dir. Dir. Dir. Dir.

Superv.

Assess

Assist

Fiscal

Estagi

Ger.

Analis

Atend

Coord. Coord. Coord. Superviso

Sup.

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Contas

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Cadas.

Cadas.

Ger.

Sup.

Corret

Anal.

Atend

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Atend

Secret

Assis.

Assis.

Capta

Ger.

Assess

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Ger.

Asses.

Asses.

Assist

Recep

Fiscal

Agenc

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Opinio, n.19, jul./dez. 200786

As pressões por parte do mercado acabam obrigando as organizações, de umaforma geral, a reestruturar-se internamente. Principalmente neste caso onde a empresa élíder de mercado e seus principais concorrentes, são de porte significativamente menor.Muitas vezes estas mudanças acontecem desalinhadas à cultura da empresa, ou seja,mudanças baseadas nas práticas (modas) de mercado, o que nem sempre é a melhorsolução para determinada empresa. Redução de custos é um exemplo, do caso em questão,para uma empresa que nunca poupou recursos para atingir os objetivos propostos.

Portanto, utilizaremos as teorias da Gestão Sistêmica para analisarmos estasituação atual, em que a empresa passa por um momento de mudanças. Este modelode gestão mostra alguns caminhos para a empresa transformar-se em uma empresacom a visão sistêmica. Esta análise será centralizada sob o organograma da empresa eem observações vivenciais.

2 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAISSegundo Vasconcellos e Hemsley (1997), a estrutura de uma organização

geralmente é definida como o resultado de um processo através do qual a autoridadeé distribuída, as atividades são especificadas entre todos os níveis na empresa e umsistema de comunicação é formado para permitir que as pessoas realizem suas atividadese exerçam sua autoridade sempre com a visão do resultado final conforme Figura 3.

O conceito definido por Mintzberg (2003), sobre a estrutura organizacional falada soma total das maneiras pelas quais o trabalho é segmentado em tarefas separadase como a coordenação é realizada entre estas tarefas.

De acordo com Oliveira (2002), para estabelecer a estrutura organizacional, deve-se adequá-la aos objetivos e estratégias delineadas pela empresa. Ela é o instrumentobásico para concretizar o processo organizacional, que inicia com a ordenação e oagrupamento das atividades e dos recursos sempre com vistas aos objetivos e resultados.

Para Oliveira (2002), toda empresa possui dois tipos de organização: a formal ea informal.

Pode-se definir organização formal como a organização planejada e representadana maioria das vezes através de um organograma (OLIVEIRA, 2002).

Já a organização informal é mais difícil de se identificar, pois ela nem sempre éplanejada. Acaba surgindo nos momentos mais inesperados. Ela nasce das relaçõespessoais e sociais que não são criadas pela estrutura formal (OLIVEIRA, 2002).

De forma geral, o autor resume o assunto da seguinte forma: “A abordagem naestrutura informal está nas pessoas e em suas relações, enquanto a estrutura formal daênfase a posições em termos de autoridades e responsabilidades” (OLIVEIRA, 2002, p.86).

2.1 Formas de análise de uma estrutura organizacionalSegundo Robbins (2003), os elementos da organização são divididos em:

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- especialização do trabalho: grau em que as tarefas na organização sãosubdivididas em trabalhos separados;

- departamentalização: base pela qual os trabalhos são agrupados;

- cadeia de comando: linha contínua de autoridade, que se estende do topo daorganização até o escalão mais inferior, esclarecendo quem se reporta a quem;

- margem de controle: quantos subordinados um gerente consegue dirigir comeficácia e eficiência;

- centralização e descentralização: centralização é o grau em que a decisão éconcentrada em um único ponto da organização e descentralização é quando o pessoalde nível inferior fornece subsídios ou é de fato dotado de arbítrio para tomar decisões;

- formalização: é o grau de padronização dos trabalhos na organização.

Num modelo mais recente, Mintzberg (2003), divide a estrutura organização emcinco partes (Figura 4), são elas:

- Núcleo operacional: é a base da organização onde ficam os operadores que sãoas pessoas responsáveis pelo trabalho básico de fabricar os produtos e prestar serviços;

- Cúpula estratégica: é responsável pela supervisão direta dos operadores;

- Linha intermediária: a medida que a empresa vai crescendo torna-se necessáriaa criação de uma hierarquia de autoridade entre o núcleo operacional e a cúpulaestratégica;

- Assessoria de apoio: formada por unidades especializadas que são criadaspara apoiar a organização fora do fluxo de trabalho operacional;

- Tecnoestrutura: é composta pelos analistas que estão à serviço da organizaçãopara tornar o trabalho de outras pessoas mais eficaz.

FIGURA 2 – As cinco partes básicas da organização.Fonte: Mintzberg, 2003.

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Outros autores descrevem estes elementos de diferentes formas, porém paraestruturação deste trabalho serão utilizados estes como parâmetros, por se entenderque são os que descrevem da melhor forma o corpo de uma organização.

2.2 Modelos de estruturas organizacionaisDurante muito tempo, uma série de formas estruturais foram aplicadas pelos

mais variados tipos de organizações. Estes tipos ficaram conhecidos como estruturastradicionais (VASCONCELLOS; HEMSLEY, 1997). Segundo os mesmos autores,esse tipo de organização só foi efetivo em empresas onde as atividades funcionavamde forma repetitiva e o ambiente era estável.

De acordo com Oliveira (2002), as estruturas organizacionais possuem diferentestipos que são caracterizados de acordo com a forma de departamentalização:

- Departamentalização por quantidade: a empresa agrupa algumas pessoas quepossuem um mesmo superior e estas pessoas tem a obrigação de realizar as tarefas.

- Departamentalização funcional: as pessoas são agrupadas de acordo com suasfunções e é um dos modelos mais utilizados nas organizações.

- Departamentalização territorial ou por localização geográfica: normalmenteutilizado em organizações que são dispersas. Neste sistema todas as atividades daqueleterritório devem ser concentradas e comandadas por um único administrador.

- Departamentalização por produtos ou serviços: neste sistema o agrupamentoacontece levando em consideração às atividades que se referem a cada um dos produtosou serviços da empresa.

- Departamentalização por clientes: neste caso as atividades são agrupadas deacordo com as necessidades dos clientes.

- Departamentalização por processo: as atividades são organizadas de acordocom as etapas dos processos da empresa. Normalmente é empregado emestabelecimentos industriais e nos níveis mais baixos da organização.

- Departamentalização por projetos: as atividades e as pessoas recebem tarefastemporárias. Ao término do projeto as pessoas são deslocadas para outros setores daempresa ou para novos projetos.

- Departamentalização matricial: este estilo de departamentalização surgiu peladificuldade das estruturas tradicionais no momento da realização de situações maiscomplexas. Essa estrutura acontece no momento da fusão entre a estrutura funcional ea estrutura por projetos. Normalmente é uma estrutura que não possui somente umúnico líder e é neste contexto que acabam acontecendo os conflitos.

- Departamentalização mista: é normalmente muito utilizada, pois aqui, cadaparte da empresa define a estrutura que melhor se adapta a ela.

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2.3 Estruturas inovativasPara Maximiano (2004), a adhocracia busca encontrar novos conhecimentos,

por meio de equipes multidisciplinares que trabalham em projetos. Porém, com oaumento da velocidade de mudança e transformação nos dias de hoje, as condiçõespara a condução de uma estrutura tradicional, já estavam totalmente desfavoráveis. Efoi então que surgiram as estruturas inovativas.

As principais características destas organizações são inversas às estruturastradicionais. Essas organizações possuem baixo nível de formalização, utilização deformas avançadas de departamentalização, multiplicidade de comando, diversificaçãoelevada e comunicação horizontal e diagonal (VASCONCELLOS; HEMSLEY, 1997).

Para que fique mais clara a diferença entre as estruturas tradicionais e asinovativas, Oliveira (2002) faz um comparativo utilizando as estruturas tradicionais,que ele chamada de rotina, e as inovativas (Quadro 1).

QUADRO 1 – Características das estruturas de rotina e de inovação de acordo com os componentes daestrutura.

Fonte: Oliveira, 2002.

Mas ainda assim, a estrutura inovativa não conseguiu acompanhar o rápidodesenvolvimento e a necessidade de se possuir atividades integradas. “A Matriz é umaforma de manter as unidades funcionais criando relações horizontais entre elas”(VASCONCELLOS; HEMSLEY, 1997, p.51).

De acordo com Vasconcellos e Hemsley (1997), a forma matricial surgiu comosolução devido à inadequação da estrutura funcional em atividades que necessitaminteração entre as áreas funcionais.

Componentes da estruturaorganizacional

Características derotina

Características inovativas

Formalização Maior Menor

Processo decisório Menos rápido Mais rápido

Comunicação - Menor possibilidade deruído

- Menos intensiva

- Mais formal

- Maior possibilidade deruído

- Mais intensiva

- Mais informal

Critérios dedepartamentalização

Funcional e processos Projeto e matricial

Assessoria Menor necessidade Maior necessidade

Especialização de trabalho Maior Menor

Delegação de autoridade Menor Maior

Descentralização Menor grau Maior grau

Amplitude de controle Maior Menor

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3 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONALPara que possamos entender o papel da aprendizagem organizacional no processo

de mudança de uma organização, é necessário que primeiramente, se compreenda oque é conhecimento organizacional. De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997, p.1):“(...) conhecimento organizacional é a capacidade de uma empresa de criar novoconhecimento, difundi-lo na organização como um todo e incorporá-lo a produtos,serviços e sistemas”.

Conforme Nonaka e Takeuchi (1997), o Ocidente vem desenvolvendo uminteresse grande pelo tema conhecimento, grandes autores vem escrevendo que estáiniciando uma nova economia ou sociedade, à qual se referem como sociedade doconhecimento. Onde este conhecimento é o único recurso significativo atualmente emuma organização, fazendo com ela obtenha sua vantagem competitiva.

Porém para Fleury e Oliveira Junior (2001), a visão de conhecimento está inseridano fato da empresa ser uma comunidade social, cujo principal papel é administrar seuconhecimento de uma forma mais eficiente que seus competidores. Ainda os mesmosautores abordam o conhecimento como o ativo mais relevante estrategicamente dentroda organização. Porém os dois autores colocam o conhecimento como uma vantagemcompetitiva. O conhecimento deve estar na organização como um todo, e não deixarque ele fique somente no indivíduo, o que na prática tem ocorrido na maioria dasempresas.

Porém, levando em consideração o foco deste trabalho, que é Gestão Sistêmica,entende-se que o conhecimento deve ser destacado da seguinte forma:

Não haverá nenhum ponto importante a destacar na abordagem focada noconhecimento, se ela capturar apenas os mesmos fenômenos e produzir osmesmos insights obtidos em uma abordagem de tomada de decisão positivistaconvencional. Se pudermos entender a análise organizacional e a teoriaadministrativa além dos fenômenos que podem ser capturados e tratados emum modelo científico racional, então, temos a promessa de ajudar os gerentesa lidar com os muitos assuntos de julgamento (...) (FLEURY; OLIVEIRAJUNIOR, 2001, p.27)

O campo da aprendizagem organizacional cresceu muito rapidamente,principalmente, em razão de fatores externos como a velocidade da mudançatecnológica, o avanço da globalização e o crescimento da competição entre as empresas.

Na visão de Senge et al. (1999), a construção de uma organização paraaprendizagem, é proveniente de uma mudança profunda nas estruturas que comandama lógica organizacional. Senge et al. (1999), propõe a institucionalização da prática decinco disciplinas para melhorar a forma como as pessoas pensam, se comunicam etomam decisões nas organizações. São elas:

a) domínio pessoal: é a disciplina que possibilita esclarecer e aprofundar nossa

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visão pessoal, concentrar nossas energias, desenvolver a paciência e ver a realidadede forma objetiva;

b) modelos mentais: são pressupostos profundamente arraigados, imagens queinfluenciam nossa forma de ver o mundo e de agir;

c) visão compartilhada: a empresa deve ter uma missão forte para que as pessoasdêem o melhor de si e adotem uma visão compartilhada, na qual prevaleça ocompromisso e o comprometimento em lugar da aceitação;

d) aprendizagem em equipe: a unidade de aprendizagem moderna é o grupo enão o indivíduo;

e) Pensamento sistêmico: esta é a quinta disciplina, a que integra todas as outras,fundindo-as em um corpo coerente de teoria e prática. O pensamento sistêmico ajudaa perceber as coisas como parte de um todo e não como peças isoladas.

De acordo com Cardoso (2000), é importante se ter uma visão de processo sobrea Aprendizagem organizacional e não só de resultado, bem como é importante voltarseu estudo para a organização e não só no indivíduo, sem ignorar o pressuposto quetoda aprendizagem ocorre através das pessoas.

Essa aprendizagem em grupo proporciona o máximo aproveitamento das sinergiasdele, que se torna capaz de desempenhos muito bons, possibilitando aos indivíduosum desenvolvimento mais rápido do que se passassem por um processo deaprendizagem individual (SENGE, 2004).

3.1 Barreiras impostas à aprendizagem organizacionalAs barreiras impostas à aprendizagem organizacional podem aparecer em

diferentes níveis da organização, surgindo desde sua estrutura e cultura até a resistênciados próprios indivíduos.

Para Morgan (1996, apud SALINAS, 2001), o processo de aprendizagemorganizacional esbarra com freqüência na burocracia que existe nas organizações queacaba impondo aos funcionários estruturas de pensamento separadas, vetando que aspessoas pensem por si próprias. Em muitos casos a própria estrutura da organizaçãoleva os indivíduos a demonstrar pouco interesse no que está acontecendo naorganização, pois não tem estímulos para esta integração.

De acordo com o mesmo autor acima, outro fator relevante neste aspecto é aquestão do “princípio de responsabilidade burocrática”, que mantém os funcionáriosresponsáveis pelos seus desempenhos dentro de um sistema que recompensa o sucessoe pune as falhas. Sendo assim, o funcionário sempre encontrará uma forma de seesconder dos problemas pois ele sabe que será punido.

De acordo com Carvalho (2007), entre as barreiras, cita-se a incapacidade de secolocar em prática o ciclo do conhecimento, uma vez que nem sempre as ansiedades

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dos usuários são compatíveis com as necessidades dos clientes, desmotivando aparticipação do processo e interação de colaboração que possibilitem a melhoriacontínua e a aprendizagem organizacional. Outra barreira percebida é o feedbackineficiente quanto da participação dos funcionários e da implementação das normasque, conseqüentemente, não propicia mudança de comportamento e desenvolvimentode novas idéias

4 ABORDAGEM SISTÊMICA NA ORGANIZAÇÃOA introdução de abordagens sistêmicas na teoria organizacional está diretamente

relacionada ao aumento da complexidade das organizações humanas. Assim surgeuma necessidade de melhorar a capacidade de solucionar problemas complexos. Muitosdestes problemas estão vinculados ao fator humano.

Neste fato estão inseridos tantos outros fatores como social, político e econômico,o que acaba refletindo diretamente no trabalho e no dia-a-dia da empresa. Sendo assim,cada vez mais percebe-se a influência do meio em que vivemos, constituindo assimum todo.

Neste sentido entende-se que a gestão sistêmica diferencia-se das idéias clássicasde organização e estruturas, pois refere-se a padrões dinâmicos de gestão e não estáticos.Segundo Andrade, et al. (2006, p.51) “os fluxos de matéria, energia e informação –que realizam ou geram as interações que configuram a existência de um todo”.

Para Cavalcanti, de Paula (apud. MARTINELLI; VENTURA, 2006), aabordagem sistêmica permite a resolução de problemas a partir de um olhar para otodo, em vez de uma análise das partes. Essa visão do todo é conceituada como visãosistêmica, sendo uma alternativa à metodologia analítica empregada em problemassimples, pois como aumentou a complexidade nas questões empresariais, a resoluçãode forma isolada não tem mais efeito algum.

De acordo com Cavalcanti, de Paula (apud MARTINELLI; VENTURA, 2006),para que se possa compreender melhor a abordagem sistêmica deve-se compará-lacom a abordagem analítica, conforme o quadro adaptado pela autora (Quadro 2).

QUADRO 2 – Adaptação – Comparação de Abordagem Analítica e Sistêmica.Fonte: Martinelli et al., 2006.

ABORDAGEM ANALÍTICA ABORDAGEM SISTÊMICAÊnfase Nas partes No todo

Tipo Relativamente fechado Aberto

Ambiente Não definido Um ou mais

Entropia Tende para a entropia Não aplicável – o sistema interage como ambiente

Metas Manutenção Mudança e aprendizado

Estado Estável Adaptativo, busca novo equilíbrio

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4.1 Teoria geral de sistemasO ponto inicial da teoria geral de sistemas é a idéia de sistema. Cientistas e

filósofos há muito vêm trabalhando com a idéia de sistema, para ajudar a entender edar soluções complexas para problemas complexos.

Como precursores desta teoria cita-se Ludwig von Bertalanffy na sociologia eKenneth Boulding na economia e nas ciências sociais. Ambos introduziram este conceitoporque precisavam resolver situações complexas que a metodologia analítica não resolvia.

De acordo com Cavalcanti, de Paula (apud MARTINELLI; VENTURA, 2006),o termo teoria geral de sistemas foi formulado por uma equipe multidisciplinar nosanos 30 e o principal motivador foi Bertalanffy.

Mais que uma metodologia, a Teoria Geral de Sistemas é um esqueleto, ummodelo de análise do mundo empírico, um modelo de como analisar fenômenoscomplexos enquanto sistemas, um todo com partes inter-relacionadas.(CAVALCANTI; DE PAULA, apud MARTINELLI; VENTURA, 2006, p.8)

Entre tantos conceitos que existem para os sistemas, três elementos estão em quasetodos eles. Segundo Donaires (apud MARTINELLI; VENTURA, 2006), são eles:

- subsistemas: são elementos que podem ser identificados de forma independenteum dos outros, mesmo eles sendo partes constituintes de um sistema;

- relações: são as relações dinâmicas entre os elementos, são elas que tornam ossistemas mais do que a simples soma dos seus elementos;

- propósito: todo sistema deve possuir um propósito ou um objetivo. Aidentificação de um sistema está intimamente relacionada à identificação do propósitodo sistema. Se for descoberto o objetivo do sistema, é mais fácil descobrir sua estruturae seu comportamento.

Bertalanffy (apud MAXIMIANO, 2004), formulou duas idéias básicas sobre ateoria geral de sistemas:

A primeira delas fala sobre a “Interdependência das Partes”. Ele dizia que épreciso analisar não apenas os elementos, mas também suas inter-relações e isso acabaexigindo a exploração de muitos sistemas no universo.

A segunda idéia fala do “Tratamento Complexo da Realidade Complexa”, quedescreve a necessidade de aplicar vários enfoques para entender uma realidade cadavez mais complexa.

A tecnologia e a sociedade hoje tornaram-se tão complexas que as soluçõestradicionais já não são suficientes. É necessário utilizar abordagens de natureza

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holística ou sistêmica, generalistas ou interdisciplinares. (BERTALANFFY apudMAXIMIANO, 2004, p.365)

De acordo com Bertalanffy (apud MAXIMIANO, 2004, p.380), a teoria geralde sistemas é a “reorientação do pensamento e da visão do mundo a partir da introduçãodos sistemas como novo paradigma científico” que contrasta com o paradigma analítico,mecânico e linear de causa e efeito da ciência clássica.

Qualquer sistema pode ser representado como conjunto de elementosinterdependentes, que se organizam em três partes: entradas, processo e saída(MAXIMIANO, 2004).

As entradas são os elementos ou recursos físicos e abstratos de que o sistema éfeito, incluindo todas as influências recebidas do meio ambiente. São as informações,energia, conhecimento, pessoas e os materiais. É tudo que o sistema importa ou recebedo seu mundo exterior.

O processo é todo dinâmico, ele possui processos que interligam os componentese transformam os elementos de entrada em resultados. E a transformação das entradasem saídas através dos componentes do sistema.

As saídas são os resultados finais da operação de um sistema, os objetivos que osistema pretende atingir. Através da saída, o sistema exporta o resultado de suasoperações para o meio ambiente.

O feedback é um sistema de comunicação de retorno da saída do sistema à suaentrada, no intuito de comparar a maneira como o sistema funciona em relação aopadrão estabelecido para ele funcionar. O feedback reforça ou modifica ocomportamento do sistema.

Quando identificamos um sistema, ele é dividido em duas partes que secomplementam: o sistema e o ambiente.

Segundo Donaires (apud MARTINELLI; VENTURA, 2006), os sistemas aplicamuma transformação às entradas produzindo assim, as saídas. Os estados internos dosistema interferem no processo de transformação enquanto eles também sofremmudanças. Perturbações vindas do ambiente podem impactá-lo também.

Essas características são vistas em sistemas abertos, pois eles estabelecem estatroca com o ambiente que estão inseridos.

Já os sistemas fechados foram criados, pois eles se estabelecem em condiçõesideais para viabilizar um tratamento matemático rigoroso e é mais fácil de se estabelecerleis gerais sobre eles, sendo assim, não possuem nenhuma troca com o ambiente.

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4.1.1 Cibernética

Segundo Martinelli, Ventura (2006), foi o matemático norte-americano NobertWiener quem resgatou o termo e lhe deu uma conotação mais acadêmica, designandoo domínio da teoria da comunicação e do controle.

Para Bertalanffy (apud MARTINELLI; VENTURA, 2006), a cibernética é ateoria dos sistemas de controle baseada na comunicação entre o sistema e o meio edentro do sistema e do controle da função dos sistemas com respeito ao ambiente.

De acordo com Martinelli, Ventura (2006), alguns são os fatores que definem acibernética:

- Homeostase: é um fenômeno que busca constantemente condições de equilíbriofavoráveis;

- Regulação: é quando existe a regulação através de uma informação negativa;

- Aprendizagem: os sistemas que aprendem exibem a capacidade de se adaptaràs mais diversas condições expostas;

- Auto-organização: o papel do organizador é criar um mecanismo deaprendizagem diante da exposição a novas situações perturbadoras, modificando oregulador para que ele possa manter a capacidade de regulação;

- Adaptação: os sistemas se adaptam para que possam se manter sob controlemesmo diante de grandes mudanças no ambiente.

Para Martinelli, Ventura (2006), a cibernética, como teoria, procura mostrar queos sistemas, possuindo esta característica de retroalimentação, constituem a base docomportamento finalístico das máquinas construídas pelo homem, assim como osorganismos vivos e os sistemas sociais.

4.2 Pensamento sistêmico

4.2.1 Do pensamento analítico ao pensamento sistêmico

Para que se possa compreender a evolução do pensamento sistêmico é precisouma contextualização e um entendimento do pensamento analítico.

Segundo Ackoff (1981, apud KASPER, 2000), foi por volta da Segunda Guerra queocorreu uma mudança que começa a esboçar uma sociedade industrial contemporânea. A“era das máquinas” acaba dando lugar à “era dos sistemas”. Na “era das máquinas”, ouniverso era entendido como uma grande máquina, onde todas as coisas nele eram vistascomo partes separadas bastando dividí-las para que se pudesse entender. Porém, a “erados sistemas” acaba acontecendo em conseqüência do grande crescimento dainterdependência gerada por inúmeros sistemas complexos construídos pelo homem.

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Pensamento Analítico Pensamento Sistêmico

Desmembrar o conteúdo ou fenômenoa ser explicado

Identificar o todo que contém a parte ou objeto(subsistema) de interesse

Explicar as partes isolando-as no seucontexto

Explanar as partes em termos do papel ou funçãodentro do todo contingente

Explicar o todo adicionado asexplanações das partes

Explanar o todo do qual o objeto a ser explicado éparte

Objeto Sistema

Elementos ou partes constituintes Organização ou estruturas sistêmicas

Relação causa-efeito entre partes oublocos de construção

Interações entre os fatores configurados através deprocessos dinâmicos

Reducionismo Contextualização

Determinismo Causalidade contingente

Análise Síntese

Universo mecânico Organismo, máquinas auto-reguladas e processadorasde informação, redes, fluxo e transformação

Como cita Ackoff (1981, apud KASPER, 2000), o pensamento analíticoconsolidado por Newton define o conteúdo em quatro termos: análise, reducionismo,determinismo e mecanicismo.

a) Análise: significa adotar como fundamento de investigação a suposição deque todos os fenômenos podem ser compreendidos examinando separadamente suaspartes (KASPER, 2000).

b) Reducionismo: todas as partes podem ser decompostas em seus elementosfundamentais.

c) Determinismo: estabelece que todas as relações entre os fenômenos e entre aspartes de um fenômeno podem ser reduzidas a relações causais simples.

d) Mecanicismo: relação de causa e efeito entre dois fenômenos. A causa énecessária para provocá-lo e suficiente para explicar o efeito.

De acordo com Andrade et al. (2006), a necessidade do pensamento sistêmicosurge no momento em que a maioria dos problemas e situações nas empresas apresentamcaracterísticas mais complexas, tornando o pensamento mecanicista analítico incapazde resolvê-las.

A emergência do movimento sistêmico é uma resposta à incapacidade da ciênciaanalítica de lidar com as diversas formas de complexidade. (KASPER, 2000,p.28)

O quadro 3 apresenta um resumo comparativo entre o pensamento analítico e opensamento sistêmico.

QUADRO 3 – Comparativo do pensamento analítico e do pensamento sistêmico.Fonte: Percepções do autor.

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Seguindo esta linha entende-se que pensamento sistêmico é o pensamento voltadopara o todo, onde nenhuma ação é empreendida sem se considerar seu impacto emoutras áreas da organização e da sociedade. Podemos dizer que é o conjunto deconhecimentos e ferramentas desenvolvidos para esclarecer os padrões como um todoe ajudar a ver como modificá-los efetivamente.

4.2.2 Introduzindo o pensamento sistêmico

Segundo Kasper (2000), ainda que o termo sistema não fosse empregado, algumasdas idéias básicas utilizadas nas concepções sistêmicas tem suas raízes nos primórdiosda filosofia e ciência ocidental.

De acordo com Capra (1997), as idéias sistêmicas surgem como tema usual naciência através das concepções holísticas em oposição a concepções mecanicistas.Ainda de acordo com Capra (1997), o primeiro movimento opositor ao pensamentoanalítico, foi esboçado pelos poetas românticos alemães. Dentre eles destaca-se Goethe,pioneiro no uso do termo “morfologia”, dando o sentido de dinâmico e dedesenvolvimento de formas vivas.

Segundo Morin (1977), o primeiro grande abalo na concepção mecânica douniverso ocorreu com a formulação do conceito de entropia. Este conceito acabourevelando uma deficiência na ciência analítica.

Por volta do início do século, vários biólogos entraram em desavença com asidéias mecanicistas que explicavam a vida. E das novas teorias desenvolvidas surgiramas primeiras noções do pensamento sistêmico. Segundo Capra (1997), são elas:

a) o conceito de organização como a “configuração de relações ordenadas” (p.39);

b) o Pensamento sistêmico é a “compreensão de um fenômeno dentro de umcontexto” (p.39);

c) a complexidade organizada que caracteriza a existência de diversos tipos evários níveis de complexidade;

d) a noção de hierarquia que designa a tendência dos sistemas vivos deestruturar-se em vários níveis;

e) a expressão propriedades emergentes que são as características dosfenômenos complexos organizados.

Para Kasper (2000), o crescimento da complexidade também aconteceu nasorganizações humanas, exigindo de engenheiros e administradores habilidades pararesolução de problemas que envolvem um grande número de elementos.

O pensamento sistêmico surge a partir de uma série de eventos, os quaismostram o trabalho de cerca de cinqüenta anos de desenvolvimento da teoria geralde sistemas, culminando com o surgimento da aprendizagem organizacional, na

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década de 90, tendo o pensamento sistêmico como uma das suas mais importantesdisciplinas.

Para Senge et al. (1999, p.40) o pensamento sistêmico é:

(...) uma estrutura conceitual, um conjunto de conhecimentos e instrumentosdesenvolvido nos últimos 50 anos, que tem por objetivo tornar mais claro oconjunto e nos mostrar as modificações a serem feitos para melhorá-lo.

E é neste momento que nos encontramos hoje, momento de mudança deparadigma, de postura dentro das organizações, mudança de estruturas, fazendo comque as empresas trabalhem de forma sistêmica.

4.2.3 Modelos mentais

Para que se compreenda a questão de aprendizagem organizacional nas empresasaliada ao pensamento sistêmico, é preciso entender de que forma os modelos mentaiscontribuem neste processo.

De acordo com Gama (2005), os modelos metais são filtros influenciados pelacultura, eles condicionam nossa forma de ver e interpretar o mundo. Esses modelospodem mudar de acordo com uma explicação e revisão de um pensamento.

Segundo esta mesma linha, Haines (2003), define que os modelos mentais sãocheios de crenças e suposições, determinando assim, o modo como entendemos omundo e nele atuamos. As pessoas, de uma forma geral, acabam nem percebendo oquão presente eles estão no cotidiano, pois eles já estão tão introjetados que acaba nãopercebendo suas tendências e predisposições.

Segundo esse raciocínio, Senge (2004), descreve que duas pessoas com modelosmentais diferente observam o mesmo evento e cada uma delas tem sua percepçãosobre ele, cada uma enxerga de seu modo, isso chama-se observação seletiva, vemosaquilo que conhecemos.

Conforme o mesmo autor, não existem modelos mentais certos ou errados, elessão simplificações da realidade de cada pessoa. O grande problema dos modelos mentaisé quando não se percebe a sua existência, quando eles são tácitos, e o que se pensatorna-se uma verdade indiscutível. Porem é necessário que exista esta tarefa deentendimento dos modelos mentais, pois as mudanças são constantes e é necessáriosaber fazer as adaptações coerentes ao momento atual (SENGE, 2004).

Para Senge (2004), o pensamento sistêmico sem os modelos mentais perde muitode sua potência. As duas disciplinas caminham de forma conjunta, “uma se concentraem expor premissas ocultas e a outra focaliza em alternativas para reestruturar aspremissas, a fim de resolver as causas de problemas significativos” (p.230).

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4.2.4 O pensamento sistêmico e a aprendizagem organizacional

Conforme examinado no decorrer do trabalho, hoje em dia, a questão daaprendizagem organizacional entra como uma forma efetiva de melhoria de desempenhonas organizações.

O modelo sistêmico de aprendizagem organizacional formulado por Senge (2004),tem como fundamento principal a crença de que a melhoria do desempenho emorganizações acaba envolvendo a criação de um ambiente onde as pessoas aprendemde forma contínua.

Ainda segundo Senge (2004), pensamento sistêmico é a “pedra fundamental”para construir uma mentalidade que torne possível construir organizações comaprendizagem duradoura.

A partir dessa visão da realidade descrita por Senge et al (1999), aponta-se trêsprincípios sistêmicos centrais que devem ser observados, principalmente quandotratamos de sistemas humanos:

a) A estrutura influencia o comportamento: em sistemas complexos, pessoasdiferentes, quando imersos no mesmo padrão de interações, tendem a produzirresultados semelhantes;

b) Em sistemas complexos existem ações potenciais de alavancagem: estes pontossão pontos em que pequenas mudanças podem gerar efeitos significativos.

c) Resistência à mudança de políticas: qualquer tentativa de mudança que nãoaltere substancialmente os fatores relevantes na determinação ao comportamento dosistema (integrantes da estrutura sistêmica), tenderão a ser contrabalançados e anuladospelo sistema.

Trazendo esta visão sistêmica para dentro das organizações percebemos queesta é mais do que uma estrutura organizacional e sim uma forma de entender aorganização como sendo um sistema integrado inclusive à sociedade. Justamente porser um sistema integrado, o desempenho de um componente pode afetar não apenas aprópria organização, mas todas as suas partes interessadas.

4.3 Gestão sistêmicaAs profundas e rápidas mudanças no mundo atual exigem dos profissionais uma

revisão de suas formas de atuação. Uma nova forma de gestão aparece no momento emque levamos adiante o estudo do pensamento sistêmico. Chamamos de Gestão Sistêmica,o modo de gerir a empresa. Através dele o gestor poderá repensar suas práticas e construirnovas formas de ação, permitindo não só lidar de modo mais eficaz com situaçõescomplexas e inesperadas, como interagir em redes mais amplas de relações.

Para que isso aconteça nas organizações, utiliza-se como ferramenta, o pensamentosistêmico, que é responsável por fazer as pessoas pensarem em conjunto, fazendo com

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que haja sinergia entre os grupos, tentando organizar a empresa em processos. Atravésdo pensamento sistêmico, podemos perceber claramente aonde devem ser feitas asmodificações na empresa, pois com ele tem-se uma visão geral da organização.

Outro fator importante na condução da gestão sistêmica é a sua relação com aaprendizagem dentro das organizações. Muitas vezes para que se consiga uma mudançabem sucedida dentro da empresa é necessária a utilização da aprendizagem, onde aspessoas possam trocar suas experiências, deixando sempre as melhores práticas comoaprendizagem para o futuro.

Para Bériot (1992), a gestão sistêmica consiste em orientar as transformações eas alterações entre o sistema que se é responsável e o ambiente que ele está inserido.Este conceito mostra que o gestor deve manter relações com os sistemas de nívelsuperior, com os subsistemas e com o mercado em geral.

Ainda segundo Bériot (1992), esta gestão pode ocorrer desde o desenvolvimentoda empresa com relação ao mercado e à provável evolução das fronteiras até aorientação a um subordinado, auxiliando a modificar seu comportamento e seudesenvolvimento.

5 METODOLOGIAFoi utilizada uma pesquisa de natureza aplicada e exploratória com o objetivo

de proporcionar uma visão geral acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa érealizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícilsobre ele, formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. Para que o objetivo fosseatingido, a pesquisa foi desenvolvida mediante técnica de levantamento bibliográfico,sendo a organização em estudo considerada como o instrumento para realização dosestudos. Por se tratar de um assunto novo e até certo ponto complexo, foi necessárioum embasamento teórico completo e o levantamento bibliográfico bem amplo.

A coleta de dados deu-se por meio de observação direta, realizadas no dia-a-diada empresa, baseando-se na experiência vivencial de 2 anos e 8 meses de atividadeprofissional desenvolvida na empresa em estudo e da utilização de quadroscomparativos desenvolvidos para análise da estrutura da organização.

Após o levantamento bibliográfico, foi realizada uma análise comparativa entreo comportamento da organização e as variáveis relacionadas pelos teóricos citados.

6 ANÁLISE DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL NAAUXILIADORA PREDIAL LTDA.

6.1 Formas de análise da estrutura organizacionalO primeiro passo para analisarmos a estrutura organizacional é o estudo de sua

missão e visão. Para falarmos desta organização vale ressaltar, que estes itens foram

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definidos no planejamento estratégico feito em 2005, onde reuniram-se os diretores egerentes da empresa para traçar os objetivos e metas para os próximos anos.

Missão: “Entender o cliente para satisfazer suas necessidades imobiliárias”.

Com relação à missão da empresa, podemos perceber a idéia de ouvir o clientee fazer disso a motivação para o trabalho. O que se percebe hoje é que, em algunsmomentos, esta missão não está aplicada de forma integrada na empresa. Em funçãode não praticarem a Gestão Sistêmica, o atendimento ao cliente está focado na áreacomercial, porém é de extrema importância que a área operacional tenha a mesmamissão em mente, ou seja, a implantação do conceito de Gestão Sistêmica, onde aspessoas precisam entender seu papel no processo e a missão da empresa é uma grandealiada. No momento que todas as pessoas da empresa estiverem coesas com a missão,a satisfação das necessidades dos clientes será conseqüência de um bom trabalho.

Visão da Empresa: “Ser a empresa preferida no mercado imobiliário brasileiroaté 2010”.

Esta visão nos mostra a preocupação da empresa com o aperfeiçoamento ecrescimento. Neste sentido fica evidente que será necessário que a empresa implanteuma estratégia para que a aprendizagem organizacional faça parte do dia-a-dia daspessoas. O referencial teórico deste trabalho nos mostra que no mundo de hoje, asempresas que tem planos ousados, precisam fazer da aprendizagem uma ferramentana busca da excelência, onde as pessoas vão poder trocar as experiências e os gestoresadotarem as melhores práticas. A palavra preferida é muito mais trabalhosa do que apalavra maior, pois além do crescimento que a empresa se propõe, ele deve ser feitocom toda qualidade para que as pessoas percebam isso e que façam a opção pelaAuxiliadora Predial, não somente pela sua grandeza e sua estabilidade no mercado,mas sim por qualidade no atendimento.

Outro conceito utilizado na análise da organização é o de Robbins (2003), ondeutilizamos alguns dos seis elementos:

- Especialização do trabalho:

A empresa possui uma série de níveis hierárquicos, tentando desta forma, dividiro trabalho de acordo com a especialização da cada funcionário. As atividadesnormalmente são independentes entre os setores, o em alguns momentos comprometeo desempenho. Se analisarmos este elemento através da visão sistêmica, as atividadesdeveriam ser interligadas, além da otimização do tempo, aconteceria também a reduçãode custos.

- Departamentalização:

Cada setor da empresa possui uma forma de departamentalização. Aquidemonstraremos a forma de cada parte da empresa. Utilizaremos o organogramacomo forma de entendimento do processo de departamentalização dentro daAuxiliadora Predial.

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Na cúpula da organização, percebe-se uma departamentalização funcional, oque vem causando nos últimos tempos, uma separação entre os setores operacional ecomercial. O impacto deste tipo de departamentalização se torna significante enquantoa empresa não estiver numa situação de padrão de desempenho adequado (Figura 3).

FIGURA 3 – Cúpula da organização, conforme a departamentalização funcional.Fonte: Percepções do autor.

Esta parte do organograma demonstra a departamentalização territorial, pois aempresa possui dez agências, o que faz com que cada uma delas tenha umaindependência muito limitada, em função da centralização da operação na matriz. Oque é uma das limitações da gestão tradicional que a empresa enfrenta por ter umcrescimento não muito ordenado. Cada agência possui sua carteira de clientes, o quefaz com que eles sejam atendidos lá, porém muitas das solicitações dos clientes devemser encaminhadas à matriz, causando assim, demora na obtenção do retorno que ocliente necessita (Figura 4).

FIGURA 4 – Parte do organograma que retrata as agências da empresa, demonstrando adepartamentalização territorial.

Fonte: Percepções do autor.

Na área operacional (diretoria corporativa e operacional) o tipo dedepartamentalização que mais se encaixa neste nível é a de processos. Cada processopossui sua estrutura particular. Neste nível da organização percebe-se uma falta delinha de cargos. Outra questão é o posicionamento do Setor de Recursos Humanos,pois hoje ele fica subordinado à diretoria corporativa, isso acaba limitando muito aatuação do RH. Com esta parte do organograma fica evidente que não existe umapolítica de cargos e salários dentro da organização (Figura 5).

Dir.Presidente

Dir.Operacional

Dir.Corporativo

Dir. Mercado Dir.Financeiro

Dir.Comercial

Ger. Ag.CC

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Recepcionista Recepcionista Recepcionista Recepcionista Recepcionista Recepcionista Recepcionista Recepcionista RecepcionistaRecepcionista

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.CG

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.CE

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.FL

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.MD

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.MO

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.NH

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.ZN

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.ZS

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

Ger. Ag.PT

Asses.Condom.

Asses.Alug.

Assistente

Fiscal

AgenciadorAlug.

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FIGURA 5 – Parte do organograma que demonstra as áreas operacional e corporativa, exibindo umadepartamentalização por processos.

Fonte: Percepções do autor.

A conclusão que se chega é que a empresa possui uma departamentalizaçãomista, que é a mais utilizada hoje em dia, porém analisando este organogramapercebemos que existe uma série de questões que devem ser revistas.

- Centralização e descentralização:

A empresa possui uma administração muito centralizada. Os diretores são parteativa em quase todos os processos da organização, sendo assim falta certa autonomiaprincipalmente aos gerentes das agências, pois cada uma delas possui uma realidadeum tanto diferente, sendo que duas delas são em outras cidades, o que acaba gerandoum custo alto com telefone, sedex, malotes entre outros.

- Formalização:

A organização desenvolveu um trabalho muito forte neste aspecto no ano de2005 e início de 2006, o que fez com que conquistassem o Troféu Bronze do ProgramaGaúcho de Qualidade e Produtividade, onde praticamente todos os processos daempresa foram descritos. Porém com a entrada de novas pessoas na empresa o trabalhopode perder a continuidade, portanto é importante que se mantenha sempre ematualização para que a empresa não perca seu foco na Gestão da Qualidade, que acabasendo um primeiro passo no processo da Aprendizagem.

Faremos também uma composição entre as cinco partes da estruturaorganizacional descritas por Mintzberg (2003), e a estrutura organizacional daAuxiliadora Predial Ltda. (Figura 6).

Arquivista

Sup.Financeiro

Dir.OperacionalDir.Corporativo

Superv.Manuten.

Coord.Manutenção

Assistente

Fiscal

Estagiário

Ger.Tecnologia

Analista

Atendente

Coord.Finan./Cobran.

Coord.Arquivo

Coord. Pessoal Supervisor RH

Sup.Cobrança

AssistenteContasPagar

ContasReceber

Assistente

Estagiário

Sup.Expedição

Office-boy

Assessor Assessor

Estagiário

Ger.Operacional

Assessor

Assistente

Gestor

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FIGURA 6 – Adaptação do modelo de estrutura definido por Mintzberg trazido para a realidade da AuxiliadoraPredial.

Fonte: Adaptação Mintzberg (2003).

De acordo com o que podemos analisar a empresa possui uma “tecnoestrutura”muito pesada, existe uma grande quantidade de pessoas concentradas na área de apoio.Na origem do conceito de tecnoestrutura, estas pessoas estariam aptas para tornarmais fácil o trabalho de outros colegas, porém em alguns casos esta relação não se dácomo poderia em função da falta de visão do cliente, justamente pela falta de visãosistêmica dos processos, inviabilizando uma visão do todo da empresa, fazendo comque essas pessoas não visualizem o seu papel no fluxo da operação.

6.2 A visão da Auxiliadora Predial acerca das teoriasabordadas na gestão sistêmicaPara iniciarmos este paralelo entre a Auxiliadora Predial e as teorias da Gestão

Sistêmica, faz-se uma comparação e análise da atual situação da empresa, parapercebermos se ela está próxima a estrutura de rotina ou estrutura inovativa. Para issoserá utilizado um quadro de Oliveira (2002) (Quadro 4.

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QUADRO 4 – Características das estruturas de rotina e de inovação em comparação com a estruturaorganizacional da Auxiliadora Predial Ltda.

Fonte: Adaptação de OLIVEIRA, 2002, p.142.

Diante deste quadro temos a idéia de que a empresa não está totalmente voltadapara uma estrutura de rotina, e sim está entre as duas. Em alguns aspectos comoformalização e comunicação a empresa está próxima a uma estrutura de inovação,onde a formalização não é muito grande e a comunicação é um tanto frágil. Porém,demais aspectos ela está voltada para a estrutura de rotina como por exemplo: o processodecisório mais lento, a departamentalização por processos e funcional e o menor índicede delegação da autoridade.

No próximo quadro, temos a visão de Senge (2004), que propõe ainstitucionalização da prática de cinco disciplinas para melhorar a forma como aspessoas pensam, se comunicam e tomam decisões nas organizações – a aprendizagemorganizacional. Utilizaremos as cinco disciplinas e faremos um comparativo delascom a realidade da Auxiliadora Predial (Quadro 5.

Componentes daestrutura

organizacional

Característicasde rotina

Característicasinovativas

Auxiliadora Predial

Formalização Maior Menor Menor

Processo decisório Menos rápido Mais rápido Menos rápido

Comunicação - Menorpossibilidade deruído

- Menos intensiva

- Mais formal

- Maiorpossibilidade deruído

- Mais intensiva

- Mais informal

- Maior possibilidade deruído

- Menos intensiva

- Mais informal

Critérios dedepartamentali-zação

Funcional eprocessos

Projeto e matricial Funcional e processos

Assessoria Menor necessidade Maior necessidade Menos necessidade

Especialização detrabalho

Maior Menor Maior

Delegação deautoridade

Menor Maior Menor

Descentralização Menor grau Maior grau Menor grau

Amplitude decontrole

Maior Menor Maior

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QUADRO 5 – Definição da Auxiliadora Predial conforme as cinco disciplinas da Aprendizagem organizacionalsegundo Senge (2004).

Fonte: Percepções do autor.

Segundo Araújo (2006), duas razões traumáticas à mentalidade de aprendizadoorganizacional:

1ª Modelos Tradicionais – Baseados em Hierarquias – pela Natureza Indolentedo Ser Humano:

Nesta razão encontramos a Auxiliadora Predial, por ela possuir uma estruturacom muitos níveis hierárquicos e sem muita padronização. Por isso é preciso que aempresa passe por uma reestruturação neste sentido, fazendo com que os processossejam mais enxutos e sem muitos cargos decisores, deixando a empresa mais leve emais ágil.

2ª Culturas Organizacionais que Evoluem Lentamente:

A Auxiliadora Predial possui uma cultura organizacional muito enraizada. Porse tratar de uma empresa com 75 anos de existência, esse aspecto é de extremarelevância, pois a cultura da empresa é de inovação e pioneirismo desde o início, masmesmo assim faz-se necessário uma evolução em alguns aspectos como a aproximação

Disciplina Percepção da EmpresaDomínio Pessoal Deste aspecto a e mpresa ainda está distante, é preciso que se

tenha um RH mais forte e com uma autonomia maior, parapoder trabalhar de forma mais próxima das pessoas, ajudando -as a chegar a este domínio.

Modelos Mentais Os modelos mentais da Auxiliadora Predial são muitopresentes nas pessoas e na empresa de uma forma geral. Parauma mudança de gestão será necessário que se trabalhe muitoforte esta questão, fazendo com que as pessoas aprendam a selibertar de preconceitos e deixem sua mente aberta para novasexperiências e novos modelos mentais.

Visão Compartilhada Na visão compartilhada a questão mais importante é a missãoda organização. É preciso que todas as pessoas da empresa atenham como motivadora, conforme falado anteriormente.Porém, na Auxiliadora Predial este ainda é um problema, poisas pessoas não fazem dela seu dia -a-dia, o que torna a visãocompartilhada mais distante.

Aprendizagem em Equipe Esta é uma disciplina que na medida do possível a organizaçãoestudada procura trabalhar. Normalmente são criados grupos detrabalho, porém ainda não se tem claro neles que um dosobjetivos seja a Aprendizagem, portanto existem os grupos masnão com a intenção de troca de experiências.

Pensamento Sistêmico Este conceito novo de pensamento sis têmico ainda não fazparte da realidade da organização. Para isso ainda é necessárioque haja uma maior integração entre os setores dentro daorganização e que eles utilizem o conceito do “todo”.

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dos diretores com os clientes. Nos dias atuais o relacionamento é um dos diferenciaisdas organizações, principalmente para as prestadoras de serviço. E a velocidade comque o mundo evolui deve ser a mesma que as empresas evoluem, desde sua culturaorganizacional e os modelos mentais até a prática diária.

Com relação à teoria geral de sistemas, a empresa está trabalhando para umamelhora na questão da padronização dos processos, onde possamos enxergar as entradase as saídas de cada um deles.

Levando em consideração o conceito de Cibernética aplicado neste estudo,faremos um quadro considerando os cinco fatores que determinam a cibernética,segundo Martinelli, Ventura (2006) (Quadro 6).

QUADRO 6 – Análise da atual situação da empresa com relação à Cibernética.Fonte: Percepções do autor.

Com base no quadro acima, percebemos que a empresa não possui de formaestruturada sua comunicação entre os sistemas. As coisas acontecem, porém de formamuito casual, sem que haja uma definição anterior e uma padronização das atividades.

Neste quadro faz-se uma análise da empresa de acordo com as abordagensanalítica e sistêmica. O principal objetivo aqui é entender em que momento aAuxiliadora Predial se encontra. A abordagem analítica mostra a empresa de umaforma muito individualista, já a abordagem sistêmica, como seu próprio nome, traz aatuação da empresa no contexto dos sistemas integrados (Quadro 7).

Fatores Percepções da EmpresaHomeostase A empresa está passando exatamente por este momento de busca de

equilíbrio. Tanto internamente com seus colaboradores, quantoexternamente com o mercado em geral.

Regulação A questão da regulação acaba acontecendo em um segundo momento,onde a empresa já possua claramente seus processos e exista uma formade controle de qualidade, para sabermos se o que estamos entregando éexatamente o que prometemos.

Aprendizagem Como visto anteriormente, a empresa está caminhando para este lado daAprendizagem, e se a empresa realmente quer se manter entre asmaiores e ser a preferida este é um dos pontos mais importantes.

Auto-organização Considerando que o papel do organizador é criar forma de aprendizagemdiante de situações novas e complexas, nota-se que a empresa não possuiesta pessoa de fato, mas existem pessoas com esta capacidade, fazendocom que a experiência passada se transforme em resolução agora.

Adaptação Este fator é de extrema importância, pois hoje em dia não vivemos emambientes constantes e para isso se faz necessária a adaptação diantedestes novos cenários. A empresa faz isso porém de forma um tantodesordenada.

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QUADRO 7 – Adaptação da Comparação de Abordagem Analítica, Sistêmica e a Auxiliadora Predial.Fonte: Adaptação de Martinelli et al., 2006.

Percebe-se a tendência da empresa para a abordagem analítica, tendo rarosmomentos da abordagem sistêmica. Isso demonstra que para a empresa continuar comsua visão de futuro é preciso que realmente haja uma mudança significativa, e a idéiaé que se utilize os conceitos estudados neste trabalho como facilitadores nesta conduçãoda mudança. Outro ponto importante é que a aplicação da gestão sistêmica na empresaseja facilitada com a utilização da metodologia da aprendizagem organizacional, quefaz com que a empresa se desenvolva de forma evolutiva, que quer dizer, crescimentocom qualidade.

7 CONCLUSÃOApós um grande estudo sobre uma forma de gestão chamada Gestão Sistêmica,

suas aplicações, teorias e aspectos, conseguimos definir os pressupostos básicos que acercam. Entre eles, destacamos os principais que são: a estrutura organizacional, aaprendizagem organizacional, a teoria geral de sistemas, a Cibernética e o pensamentosistêmico.

Todos estes conceitos foram descritos de forma detalhada, porém, ainda temosmuito a aprender e descobrir acerca desta forma de gestão.

A partir dos pressupostos definidos aqui, o estudo foi realizado com o foco naanálise da organização. Em função desta, utilizamos quadros comparativos que mostramque a empresa ainda precisa de um desenvolvimento no sentido de uma gestão mais“evolutiva”, onde as pessoas possam se ver parte do processo.

A empresa vive um momento das “partes”, cada um habita o espaço, os limitesapenas da sua função, não conseguem perceber sua contribuição para o “todo”. Aprodução dos resultados da soma destas partes acaba não ocorrendo, o que torna cadaprocesso dentro da organização um processo independente.

Percebemos também que a estrutura da empresa é pesada, com diversos níveis

ABORDAGEMANALÍTICA

ABORDAGEMSISTÊMICA

AUXILIADORAPREDIAL

Ênfase Nas partes No todo Nas partes

Tipo Relativamente fechado Aberto Relativamente fechado

Ambiente Não definido Um ou mais Não definido

Entropia Tende para a entropia Não aplicável – osistema interage com oambiente

Tende para a entropia

Metas Manutenção Mudança e aprendizado Manutenção

Estado Estável Adaptativo, busca novoequilíbrio

Adaptativo, busca novoequilíbrio

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hierárquicos e com cargos indefinidos. Neste sentido, o estudo das estruturasorganizacionais e da gestão da mudança nos mostrou que existem maneiras de se fazeruma mudança de estrutura de forma com que as pessoas assumam e acreditem nela, oque facilitará a condição da organização se predispor a compreender seus pontos frágeise fazer com que estes sejam minimizados ao longo do tempo, considerando é claro,não um longo prazo, mas a médio e curto prazos.

Conseguiu-se traçar um paralelo entre as abordagens analítica e sistêmica e ainserção da Auxiliadora Predial neste contexto foi a melhor forma de entendermos aviabilidade e, neste caso, a necessidade de uma cultura organizacional de aprendizagem,pois para a empresa tornar-se a “preferida no mercado imobiliário nacional”, énecessário que haja adaptações na sua forma de gestão e no posicionamento frente aospressupostos que sustentam este estudo.

Ainda existe muito a se estudar e desenvolver em termos teóricos parafundamentar a prática da Gestão Sistêmica. Porém, é necessário que se acredite nesteideal, pois com certeza, a empresa que se propor a uma mudança de paradigmas,sobreviverá neste mundo mutante e competitivo dos dias de hoje.

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Opinio, n.19, jul./dez. 2007110

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O61 Opinio : revista do Centro de Ciências Econômicas, Jurídicas e Sociais / Universidade Luterana do Brasil. N. 1 (jan./jun. 1998)- .

Canoas : Ed. ULBRA, 1998- . v. ; 27 cm.

Semestral. ISSN 1808-964X

1. Ciências sociais aplicadas periódicos. 2. Direito. 3. Ciências econômicas. 4. Serviço social. 5. Administração. 6. Ciências políticas. 7. Ciências contábeis. I. Universidade Luterana do Brasil.

CDU 65:3(05)

Normas editoriais

1 - MODALIDADES DE PUBLICAÇÃO1.1 - artigos originais que expressem opiniões e posicionamentos acerca de questões atuais

das ciências empresariais, políticas e sociais, cientificamente embasados;1.2 - artigos de atualização são artigos empíricos, idéias e revisões teóricas. Nossos artigos

de atualização visam satisfazer nosso público leitor com conceitos novos e já conhecidos para que nosso público tenha um continuado acesso ao conhecimento necessário;

1.3 - relatos onde apresentamos artigos que relatem episódios nas áreas de conhecimento referidas com descrições de opiniões e experiências oriundas do desenvolvimento de pesquisas científicas;

1.4 - resenha crítica de obras relativas a essas áreas, resumo de teses, comunicações, documentos;

1.5 - matérias de divulgação da Universidade;1.6 - matérias informativas sobre participação em eventos científicos e tecnológicos.

2 - APRESENTAÇÃO DOS ORIGINAIS2.1 - os artigos deverão ser apresentados em disquete, de preferência em MS Word ou outro

editor compatível com Windows 95/98 (formatos doc ou txt, exceto em formato rtf), acompanhados de uma cópia impressa;

2.2 - o texto dos artigos deverá ter de 10 a 20 laudas; resenhas e relatos não deve ultrapassar 10 laudas;

2.3 - um resumo de aproximadamente 200 palavras em língua portuguesa e em inglesa (abstract), deverão introduzir o artigoacompanhados de palavras-chave e key words;

2.4 - endereço eletrônico (e-mail) do autor;2.5 - uma nota de rodapé com a apresentação do autor deve constar: nome, profissão, última

titulação e local onde realizada; e cargo que ocupa (se relevante);Obs.: somente os títulos acadêmicos de nível stricto sensu (Mestre e Doutor) devem ser

escritos com inicial maiúscula.2.6 - as citações diretas e indiretas, notas e referências bibliográficas devem seguir as

normas da ABNT (NBR 6023), ou outra de reconhecido valor ( p. ex., APA), e o padrão da revista Opinio que pode ser obtido com a Comissão Editorial no endereço mencionado no expediente ou pelo e-mail [email protected];

2.7 - a estrutura do artigo é a de um trabalho científico, contendo partes tais como: introdução, desenvolvimento, material, métidos, resultados, discussão e conclusão, segundo as características próprias de cada domínios de conhecimento;

2.8 - quanto à forma: os grifos no texto devem ser todos em itálico, exceto quando houver necessidade de diferenciação.

3 - PUBLICAÇÃO3.1 - os trabalhos remetidos serão aceitos para submissão caso estejam dentro dos padrões

da revista;3.2 - os trabalhos aceitos para submissão serão submetidos à apreciação do Conselho

Editorial ou de outros consultores designados pela Comissão Editorial, de acordo com as especificidades do tema. Em se tratando de material elaborado por aluno(as), o mesmo deverá ser visado por um professor da área;

3.3 - os autores serão comunicados da aceitação ou recusa de seus artigos. A Comissão Editorial não se responsabiliza pela devolução dos originais remetidos;

3.4 - havendo necessidade de alteração quanto ao conteúdo ou inadequação às normas, o artigo será devolvido para correção estando sujeito a recusa na falta de atendimento das solicitações (adequação lingüística e copidescagem estão a cargo da comissão editorial e núcleo de publicações periódicas);

3.4 - os autores receberão 2 (dois) exemplares. Arquivos em PDF disponíveis pelo site www.editoradaulbra.com.br.

OPINIORevista de Ciências Empresariais, Políticas e Sociais

oN 19 - Jul./Dez. 2007ISSN 1808-964X