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O JULGAMENTO DE JESUS JOÃO CALVINO
Issuu.com/oEstandarteDeCristo
Traduzido do Inglês
Um sermão em Mateus 27:11-26, por João Calvino
Via: Monergism.com
Tradução por Camila Almeida
Revisão por Amanda Ramalho
Capa por William Teixeira
1ª Edição: Fevereiro de 2015
Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida
Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, sob a licença Creative
Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,
desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo
nem o utilize para quaisquer fins comerciais.
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O Julgamento de Jesus Por João Calvino
“E foi Jesus apresentado ao presidente, e o presidente o interrogou, dizendo: És tu
o Rei dos Judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes. E, sendo acusado pelos príncipes
dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu. Disse-lhe então Pilatos: Não ouves
quanto testificam contra ti? E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o presi-
dente estava muito maravilhado. Ora, por ocasião da festa, costumava o presidente
soltar um preso, escolhendo o povo aquele que quisesse. E tinham então um preso
bem conhecido, chamado Barrabás. Portanto, estando eles reunidos, disse-lhes Pila-
tos: Qual quereis que vos solte? Barrabás, ou Jesus, chamado Cristo? Porque sabia
que por inveja o haviam entregado. E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher
mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri
por causa dele. Mas os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram à multi-
dão que pedisse Barrabás e matasse Jesus. E, respondendo o presidente, disse-lhes:
Qual desses dois quereis vós que eu solte? E eles disseram: Barrabás. Disse-lhes
Pilatos: Que farei então de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja crucifi-
cado. O presidente, porém, disse: Mas que mal fez ele? E eles mais clamavam, dizen-
do: Seja crucificado. Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto
crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente
do sangue deste justo. Considerai isso. E, respondendo todo o povo, disse: O seu
sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos. Então soltou-lhes Barrabás, e, tendo
mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.” (Mateus 27:11-26)
Nós já vimos pelos versículos anteriores que o nosso Senhor Jesus assim ofereceu-Se de
Sua própria vontade como sacrifício de reparação por todas as nossas iniquidades por meio
de Sua obediência, e Ele estava disposto a ser condenado para limpá-los. É por isso que
se diz que Ele não respondeu a todas as acusações que foram levantadas contra Ele. Ele
tinha o suficiente com o que responder, mas Ele ficou em silêncio, como também é mencio-
nado pelo profeta Isaías. Isso não foi apenas para mostrar a Sua paciência, mas, a fim de
adquirir para nós a liberdade para estarmos hoje habilitados para a glória, em Seu Ser justo
e inocente diante de Deus (de fato, apesar de que a nossa consciência nos acuse e nos
condene), sabendo que Deus nos recebeu em misericórdia, e que todas as nossas faltas
são abolidas pela perfeição que foi encontrada em nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, en-
tão, foi como o Filho de Deus adquiriu para nós a liberdade de sermos capacitados para a
glória corajosamente, de forma que somos os filhos de Deus e considerados justos diante
dEle, isto é, quando Ele não quis oferecer nenhuma resposta para mostrar Sua integridade.
Além disso, pode-se num primeiro momento achar estranho que Ele seja, assim, capturado
e, no entanto, responde que Ele é o Rei dos Judeus. Pois, essas coisas parecem contradito-
rias; mas São João prossegue ainda mais longe, e diz que Ele declarou que Seu reino não
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era deste mundo, e então Ele também declarou que Ele era o Filho de Deus; de fato, Ele
protestou que tinha vindo ao mundo para dar testemunho da verdade. Mas tudo isso con-
corda com facilidade. Pois nosso Senhor Jesus certamente tinha que declarar-Se ser o Rei
dos judeus, a não ser que Ele desejasse rejeitar as profecias.
Além disso, Ele teve que ser declarado Filho de Deus. Mas isso não levou à Sua absolvição.
Isso foi, antes, para que não houvesse um julgamento prolongado, mas que Ele pudesse
ser condenado. Notemos bem, então, quando o silêncio de Jesus Cristo é citado, que era
na medida em que Ele não deseja oferecer qualquer desculpa. Quanto à Sua pessoa, Ele
manteve a Sua boca fechada. No entanto, Ele não deixou de fazer tal confissão como Ele
tinha que fazer. É também por isso que São Paulo diz que Ele fez uma boa confissão diante
de Pôncio Pilatos (1 Timóteo 6:13). Pois, se essa fosse uma questão de Jesus Cristo entrar
em Sua própria autodefesa, o juiz já teria sido convencido de Sua integridade. Ele poderia,
então, facilmente ter vencido o Seu caso com um discurso. Isso é o que maravilha Pilatos.
No entanto, nosso Senhor Jesus Cristo não deixou de prestar esse testemunho como Deus
havia confiado a Ele — não intencionando a instrução (pois aquele não era o lugar), mas
para confirmar e ratificar a doutrina da qual Ele já havia dado testemunho.
No entanto, temos de observar, por um lado, que o crime que mais perturbou os judeus foi
que Ele despertou problemas e impediu-os de pagar tributos ao imperador de Roma. Isso
também era para irritar o governador, um homem pagão que foi enviado para lá pelo Impe-
rador. Agora é muito certo que o nosso Senhor Jesus havia declarado ser Ele mesmo rei,
mas não um rei terreno. Como, de fato, vemos que quando os judeus desejam coroá-lO,
Ele retira-Se e esconde-Se no monte. Ainda mais, Ele embota o fio daquela calúnia, porque
teria sido uma calúnia contra o Evangelho, se Ele tivesse pervertido a ordem e a aplicação
da lei do mundo. Pois Aquele que veio para nos chamar para o reino celeste e fazer-nos
participantes dele não desejava abolir os reinos terrenos, uma vez que até mesmo eles são
sustentados por Ele e por Seu poder. O Evangelho, então, não precisa ser acusado, a me-
nos que Jesus Cristo viesse para usurpar qualquer poder ou autoridade terrenos. É por isso
que Ele disse a Pilatos especificamente que o Seu reino não é deste lugar.
Na verdade, o que aconteceria se o Reino de nosso Senhor Jesus Cristo estivesse na terra?
O que ganhamos com a esperança nEle, uma vez que a nossa condição é tão miserável
no mundo? Os incrédulos têm uma porção muito melhor do que nós, em relação às aflições
que temos que suportar. Verdade é que os castigos de Deus têm efeito em todos os lugares
e que aqueles que o desejam tanto quanto possivelmente não podem deixar de estarem
sujeitos a muitas misérias e aflições. Mas, mesmo assim, estejamos sempre prontos para
a disciplina mais rígida. Porque Deus deve começar Seus castigos em Sua casa e em Sua
Igreja. Se, então, nosso Senhor Jesus fosse um rei terreno, parece que estaríamos comple-
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tamente alienado dEle. Além disso, suponham que só tivéssemos facilidades neste mundo,
e que por meio do Filho de Deus tivéssemos aqui, por assim dizer, um paraíso, porém, a
nossa vida é apenas uma sombra. Nossa felicidade, então, seria muito breve e frágil. Então,
nós certamente devemos saber e estar inteiramente convencidos de que o reino de nosso
Senhor Jesus é celestial, a fim de que possamos alcançar a vida eterna para a qual somos
chamados. Isso, então, é como o reino de Jesus Cristo é eterno, porque não consiste em
nada que é deste mundo, aqui onde tudo é corruptível.
Aprendamos, portanto, a suportar pacientemente nossas adversidades, sabendo que elas
não diminuem nem prejudicam de modo algum a graça que foi adquirida para nós por nosso
Senhor Jesus Cristo. Porque, na verdade, essas são ajudas para a nossa salvação, como
São Paulo mostra em Romanos 8:28. Quando somos desprezados e ridicularizados pelo
mundo, temos que sofrer muitas injúrias, estamos com fome e com sede, nossas asas são
cortadas, somos perseguidos por todos os lados; devemos considerar: “Assim é que Deus
nos aceita”. É como se Ele nos dissesse: “Olhe para o alto. Não coloque sua mente sobre
o que está neste mundo”. Isso, em resumo, é o que temos de observar.
Na verdade, não é sem motivo que o nosso Senhor Jesus quis adicionar como uma confir-
mação de que Ele nasceu e veio ao mundo para falar a verdade. [...]. Por isso vemos que
é uma doutrina importante saber que o reino de nosso Senhor Jesus Cristo não é deste
mundo. Pois se fosse uma frase trivial, Ele a mencionaria brevemente. Mas quando Ele
declarou que Ele veio ao mundo para falar a verdade, é como se quisesse tornar-nos aten-
tos, e que cada um deveria meditar em seu coração, e aplicar bem o seu estudo nesta dou-
trina. Isto é, que nos retiremos do mundo e de todas as criaturas, a fim de chegar a este
Rei celestial, e buscar nEle os benefícios espirituais que nos são aqui comunicados, de
forma que possamos apreciá-los de acordo com a medida que Ele sabe ser útil para nós,
para a nossa salvação. Na verdade, de tudo o que vemos ser o resumo do Evangelho, ob-
servemos particularmente esta palavra: que Jesus Cristo veio ao mundo para falar a verda-
de, a fim de que possamos chegar à convicção de que, quando somos atentos à Sua dou-
trina, de maneira alguma seremos desapontados, uma vez que é uma coisa totalmente
segura e certa que o que Ele prometeu Ele fará acontecer. Quando Davi anela estar seguro
contra todas as tentações, ele diz que a Palavra de Deus é como prata purificada sete vezes
e que tem sido bem provada pelo fogo. Assim tão frequentemente como nós entramos em
dúvida sobre as promessas de nosso Senhor Jesus Cristo, e como seremos incomodados
e molestados (como o Diabo também usa tais artimanhas para nos desanimar e nos fazer
perder a coragem), voltemos a este testemunho, que, em qualquer caso, nosso Senhor
Jesus apareceu no mundo, a fim de ser para nós uma testemunha fiel. Esperemos hoje que
Ele mostre na prática que não é em vão que Ele nos deu todas estas promessas, porque
elas são infalíveis. Isso, então, em resumo, é o que temos que lembrar.
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Além disso, quando Pilatos diz: “Que é a verdade?”. Notemos que não era, por assim dizer,
por meio de um desejo de aprender que ele fez tal pergunta, mas era, por assim dizer, por
despeito e em zombaria, como hoje esse vício é visto em muitos. Quando falamos da verda-
de de Deus, estamos nos referindo à doutrina do Evangelho. São Paulo (em Efésios 1) lhe
atribui este título, a fim de que possamos ser capazes de distingui-lo de todos os outros
conhecimentos. Pois tenham certeza, se alguém nos oferece todo o relato de algo que
aconteceu, isso é verdade; mas quando Deus nos chama para Si mesmo, e Ele quer nos
retirar do mundo, a fim de que possamos chegar à vida celestial, esta é uma verdade que
deve ser colocada na posição soberana e por comparação todo o restante deve ser como
nada.
Agora, observemos como o mundo presta reverência para com a doutrina do Evangelho.
Os homens mais sábios do mundo (que são considerados como tal) são tão cegos pela
presunção que quando isso é falado a eles: “Como agora?”, eles dizem, “nós temos vivido
tanto tempo no mundo, e nós conheceríamos apenas o Evangelho e nada mais que existe?
Todos eles, em seguida, serão escandalizados quando for dito a eles que a verdade de
Deus foi ocultada e que agora é necessário guardá-la mais zelosamente. Ouvimos como
eles zombam da ideia. Assim foi com Pilatos. Pois, na medida em que ele foi enviado pelo
Imperador para ser seu representante na terra da Judéia, pareceu-lhe que um grande erro
foi feito a ele quando uma verdade foi dita ser desconhecida para ele. “E como assim?
Devemos, então, agir como tolos? Não há nada, senão mentiras em nós? Será que não
podemos discernir entre o bem e o mal? E eu que estou nomeado para o oficio, que tomo
o lugar do Imperador, que represento a sua pessoa, você deve me afrontar exatamente por-
que eu não conheci o que é a verdade?”. Esta, então, é a intenção de Pilatos. Ele está infla-
do com orgulho como um sapo e ele não deseja ter a reputação de não conhecer a diferença
entre o bem e o mal. Na verdade, não vemos que ele espera pela resposta de nosso Senhor
Jesus, mas ele lança esta palavra como que em despeito, e deixa o lugar. Já que é assim,
então, estejamos avisados. Se hoje há muitos Pilatos que recusam-se a serem ensinados
na escola de Deus e tornarem-se dóceis, como se eles já fossem sábios o suficiente, que
não sejamos impedidos de colocar-nos sob a obediência da fé, a fim de aceitar o que nosso
Senhor demonstrou e propôs a nós, isto é, reconhecendo que a verdade não cresce em
nossas mentes, na medida em que só há vaidade e falsidade ali, e estamos mergulhados
em escuridão até que o Senhor nos chame para fora dela. Reconheçamos, então, que a
verdade supera todos os nossos sentidos e faculdades, e Deus certamente deve ser o nos-
so Mestre a fim de nos manter nela; também que somos pequenos para receber o que Ele
nos mostra. Que possamos guardar essa verdade tão preciosa para que, quando dermos
uma volta no céu na terra, e parecer que aprendemos tudo, que saibamos que isso é ape-
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nas fumaça e que se provará efêmero até que estejamos firmados nesta Palavra, que é
certa e imutável. Isso, então, em resumo, é o que temos que lembrar.
Agora é dito: “E, estando ele assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não
entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele”. Não há dúvi-
da de que Deus desejou dar testemunho da inocência de Jesus Cristo, de muitas maneiras;
como até mesmo pela boca de Pilatos (como já mencionamos e como veremos ainda mais
plenamente), não que Deus já não tivesse designado o que seria feito por Seu Filho Unigê-
nito. Assim, desde que Ele quis que Ele fosse o Sacrifício para pagar pelos pecados do
mundo, as Escrituras tinham que ser cumpridas. No entanto, também nosso Senhor Jesus
tinha que ser mostrado justo e inocente, a fim de que nós pudéssemos conhecer tanto me-
lhor que Ele sofreu a condenação que era devida a nós e que merecemos e que podemos
sempre olhar para nossas falhas e pecados em tudo que está aqui nos relatado sobre a
morte e a paixão de nosso Senhor Jesus Cristo.
Sobre isso se diz: “Pilatos deseja ser capaz de absolver o nosso Senhor Jesus”. Pois,
embora ele tivesse autoridade soberana além de recurso, ele ainda permanecia em um país
estrangeiro e com um povo amotinado, embora tivesse uma guarnição na cidade, a sedição
o perturbou. É por isso que ele queria prosseguir por meio sutis e amáveis, a fim de que o
povo fosse apaziguado. Em seguida, é dito que ele apresenta o que era seu costume: “Ora,
por ocasião da festa, costumava o presidente soltar um preso, escolhendo o povo aquele
que quisesse”. Ele lhes permite escolher entre Jesus Cristo ou Barrabás, que era (como diz
São João) um ladrão. Os outros escritores dos Evangelhos dizem que ele era um malfeitor
conhecido, que até tinha sido um assassino, e havia instigado sedição e problemas na cida-
de. Ele é uma praga, e deveria ser detestável a todos. Ainda assim, não obstante, as pes-
soas clamam: “Queremos Barrabás, e deixem-no ser perdoado, e que Jesus Cristo seja
crucificado”.
Quanto a este costume de soltar um prisioneiro na Páscoa, vemos que os homens são guia-
dos por suas tolas devoções. Pois certamente parecia que a festa era muito melhor conser-
vada por libertar um prisioneiro, e que esse era um serviço a Deus. No entanto, tudo aquilo
era apenas uma abominação. Pois diz-se que aquele que justifica o malfeitor é tão condená-
vel diante de Deus como aquele que pune os inocentes. Deve haver, portanto, um senti-
mento de equidade naqueles a quem Deus enviou e estabeleceu no trono da justiça. Pois
ao armá-los com Sua espada, Ele não lhes disse: “Façam o que parecer bem aos vossos
olhos”. Ele certamente deseja que eles tenham um cuidado paternal sobre o povo e que
eles vigiem bem contra o aumento da crueldade e de fazer o mal aos outros por abusar de
seu crédito e autoridade, mas sim que eles sejam humanos e compassivos. No entanto, os
malfeitores devem ser castigados, e assim Deus ordena. Mas, o que os homens fazem?
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Eles imaginam que estão mantendo a festa da Páscoa, quando eles estão ofendendo a
Deus e estão transgredindo abertamente a Sua Palavra. Por meio disso, devemos ser ad-
vertidos a não seguirmos as nossas fantasias, quando se é uma questão de honrar a Deus,
mas agradar a Sua vontade em tudo e por meio de tudo. Então, não conjuremos qualquer
devoção de acordo com o que parece bom para nós, mas estejamos satisfeitos em fazer o
que Deus nos ordena a fazer e o que Ele aprova. Nós até mesmo vemos o que este costume
é, o que os homens fazem da lei hoje, que tudo o que é recebido como um estatuto comum
parece ser lícito. Embora isso possa ser, Deus não deixa de condená-lo. Nós vemos o
abuso que ocorreu, que esta corrupção provocou, a saber, que Barrabás foi preferido ao
Filho de Deus.
Também a princípio, pode-se achar estranho que o nosso Senhor Jesus seja, portanto, es-
carnecido e que um ladrão e assassino seja mais privilegiado do que Ele, que ele encontre
mais favor entre os homens, e que Jesus Cristo recebeu tal vergonha e desgraça. Pois, não
foi o suficiente que o Filho de Deus fosse crucificado e que Ele suportasse uma espécie de
morte cheia de opróbrio e que, além disso, houve grandes tormentos? Pois a morte pela
cruz era, por assim dizer, a punição de ladrões. Não era apenas como a forca seria hoje,
mas como a roda. Não teria sido suficiente, então, que Jesus Cristo, depois de ter sido açoi-
tado e cuspido na face, fosse mergulhado nas profundezas, com que fosse necessário por
comparação mostrar que Ele é execrável a todo o mundo? Pois, se julgarmos pelos nossos
sentidos e não olharmos para além da aparência, certamente seremos confundidos, mas
temos de elevar os olhos pela fé e chegar ao que temos mencionado anteriormente, a sa-
ber, que Deus governa tudo isso por Seu conselho. Não paremos, então, com o que o povo
fez com Pilatos, mas contemplem este decreto imutável de Deus: que para melhor humilhar-
nos, Ele quis que Seu Filho fosse mergulhado em completa confusão e que Ele mesmo
fosse posto abaixo de todos os malfeitores do mundo, à medida em que Ele foi crucificado
entre dois ladrões, como veremos mais tarde. Isso, então, é o que temos que observar
quando é dito aqui que Barrabás tinha que ser libertado e Jesus Cristo castigado em seu
lugar, como se fosse o homem mais detestável do mundo.
Pilatos, mesmo depois de tudo isso, tenta fazer com que o nosso Senhor Jesus escape,
mas por meios diabólicos, ou seja, ele chicoteia-O (o que era então chamado de “castigar”)
e queria soltá-lO depois de tê-lO, assim, castigado, como a quem tivesse cometido alguma
falha. Pelo que ele fingiu para acalmar as pessoas. Agora, se o nosso Senhor Jesus, assim,
escapasse, o que teria acontecido com o Evangelho, o que teria acontecido com a salvação
do mundo? Pois esta “correção” como Pilatos chamou, poderia para sempre ter sido uma
marca de vergonha, como se o Evangelho fosse uma doutrina perversa, uma vez que o juiz
do país a condenou, e nosso Senhor Jesus em Sua pessoa fora totalmente rejeitado. En-
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quanto isso, nós teríamos perecido, pois não havia nenhum outro meio para nos reconciliar
com Deus, a não ser pela morte de Seu Único Filho.
Esta, então, é a oferta da vida: a morte de nosso Senhor Jesus. Assim, vemos que o Diabo
esforçou-se mui fortemente para que, de modo algum, o nosso Senhor Jesus morresse. No
entanto, quem levou os sacerdotes e seus companheiros a perseguir a Jesus Cristo à
morte, a não ser o Diabo? Isso é verdade, pois ele trabalha, por assim dizer, como um lou-
co. De acordo como nós vemos que Deus envia um espírito de perturbação e de frenesi
sobre todos os homens maus para que eles se contradigam e sejam como ondas do mar
que batem um sobre o outro, deste modo o Diabo foi conduzido quando tentou abolir a
memória de nosso Senhor Jesus por um lado e, em seguida, no entanto, queria impedir a
redenção da humanidade. Mas Deus assim operou aquilo que Ele quis, de forma que a
inocência de Seu Filho fosse testemunhada através da própria boca do juiz; entretanto,
mesmo assim, Ele também quis que Ele morresse, a fim de fazer o sacrifício para a nossa
salvação e redenção. Deus tem apenas uma vontade única e simples, mas ela é admirável
para nós, e Ele tem tantas formas singulares de proceder, que devemos curvar nossas
cabeças em reverência e ainda reconhecer que o nosso Senhor Jesus sofreu, não de acor-
do com o desejo dos homens, mas porque nós tínhamos que ter uma tal medida do infinito
amor de nosso Deus, que Jesus Cristo teve que declarar isso a nós para mostrar quão
preciosas as nossas almas são a Ele, e quão cara é a salvação delas a Ele. Consideremos,
então todas essas coisas.
Além disso, é dito no final por São João, apesar de Jesus Cristo ter sido chicoteado, as pes-
soas ainda se esforçam mais por clamar que Ele fosse morto. Então Pilatos O questiona
novamente; sim, porque ele soube que Jesus fez de Si mesmo o Filho de Deus, e esta
palavra o afeta, e ele está mais assustado com Ele do que antes. É por isso que ele lhe
pergunta: “De onde és tu?”. Quando Jesus Cristo não responde: “Não me falas a mim? Não
sabes tu que tenho poder para te crucificar e tenho poder para te soltar?” [João 19:9-10].
Agora, aqui vemos por que os judeus trazem tal acusação contra o nosso Senhor Jesus
Cristo. É verdade que o crime que poderia melhor mobilizar o governador do país foi ter a-
tribuído a Ele mesmo o reino e o domínio; mas quando veem que a sua malícia é descoberta,
e que Pilatos também entende que eles são apenas mentirosos, por isso eles dizem: “Nós
temos a lei pela qual Ele deve morrer”. Pois esse privilégio tinha sido reservado a eles, a
fim de que eles não tivessem quaisquer disputas religiosas. Pois os Romanos, que eram
um povo profano e que serviam aos seus ídolos apenas através de cerimônia, queriam
manter seu império por meio de deixar cada um fazer de acordo com sua religião.
Diante disso, eles dizem: “Ele se fez o Filho de Deus e, assim, Ele blasfemou”. É verdade
que se o nosso Senhor Jesus não tivesse sido o Redentor do mundo, isso lhe teria rendido
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sujeição à pena de morte, fazer-Se o Filho Unigênito de Deus. Pois, nós todos somos filhos
de Deus quando Ele nos adotou por Sua graça. Essa é a maneira comum de falar disso na
Sagrada Escritura. Aqueles que receberam alguma graça especial são chamados de “filhos
de Deus” ainda em outra forma, como príncipes e magistrados. Com maior razão, então,
Jesus Cristo, que foi supremamente ungido com graças e poderes pelo Espírito Santo, pode
muito bem ser chamado de “Filho de Deus”. Mas se Ele não tivesse sido Redentor do
mundo, e chamasse a Si mesmo “Filho Unigênito de Deus” por excelência, este teria sido
realmente um crime mortal. Mas como é que os judeus O acusam disso? Isso é antes de
tudo, pela ignorância da Escritura, na medida em que eles não conhecem que Aquele que
deve ser o Redentor deve ser o Deus vivo manifesto. Desde que, então, eles não têm a real
compreensão das Escrituras, e eles não foram exercitados nela, mas foram feitos brutais
por sua indiferença, é por isso que eles são tão ousados ao condenar Jesus Cristo. Agora,
vemos semelhante temeridade em todas as pessoas ignorantes. Hoje, quando elas cla-
mam: “Herege!”. Não é que as provas estejam à disposição, mas as pessoas com mentes
mais fechadas são movidas por uma tal raiva que eles desejam ser fanáticos para honrar a
Deus, e eles não sabem nem por que e nem como. Além disso, era necessário investigar
se Jesus Cristo era o Messias ou não. Mas os judeus O rejeitaram, sem fazer qualquer in-
vestigação. Aprendamos com isso, se quisermos ter um zelo que Deus aprova: devemos
ser governados por verdadeiro conhecimento e ser ensinados por Sua Palavra. Pois nós
podemos ser capazes de tocar de leve a superfície, mas isso será apenas por argumentos
hostis de Satanás, se não falamos como estudiosos da verdade de Deus; porque Ele é o
único Juiz competente, e Ele reserva para Si o ofício de nos mostrar qual é a Sua vontade.
Já que é assim, então, sigamos a Palavra de Deus com simplicidade, e também sejamos
pacíficos. Em seguida, que o nosso zelo seja governado por isso. Isso é o que devemos
observar, em primeiro lugar.
Mas, quando se diz que Pilatos temeu mais do que nunca ouvir do citado Filho de Deus,
aqui vemos na pessoa de um pobre pagão alguma aparência de religião que o comove, e
o incomoda, e fala à sua consciência, de modo que ele não sabe que caminho tomar. Ali
está Jesus Cristo completamente desfigurado e com as marcas de espancamento ainda
sobre Ele. Ele já havia sofrido tanto opróbrio e ignomínia, tantas gotas de saliva, tantos
golpes na cabeça que tinham sido dados a ele na casa de Caifás. Resumidamente, aqui
está um homem que é desprezado e rejeitado por todos. Ainda assim, no entanto, o nome
de Deus comove Pôncio Pilatos e desperta nele medo e espanto. E sobre nós, então, quan-
do nos comportamos como animais selvagens? E quando alguém desejar falar-nos sobre
Deus, se não formos mantidos sob controle, o exemplo de Pilatos não nos condena até o
último dia? Nós vemos escarnecedores hoje, pessoas cheias de maldade. Se alguém lhes
propõe: “Olhe o que Deus nos mostra”, se alguém fala a eles sobre Sua Palavra, se alguém
deseja provar o que eles rejeitam; uma coisa é tão boa quanto a outra para eles. Eles tapam
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os seus ouvidos para nós, eles cerram os seus olhos, eles são totalmente preocupados em
seus sentidos naturais, e eles são tão orgulhosos que nem sequer consideram dar qualquer
audiência. Por que estão satisfeitos como eles são. “Nós já resolvemos isso”, eles dizem,
“e assim deve ser feito”. É mesmo? No entanto, aqui está Pilatos, que nunca tinha ouvido
uma única palavra sobre a doutrina de Deus, mesmo a lei era para ele um desdém, de mo-
do que tudo o que os Judeus fazem, ele considera ser uma invenção, e ele adora os seus
ídolos. No entanto, o nome de “Deus” o afeta, e ele é retido quando isto é falado. Isso é em
consideração de alguma majestade ou alguma pompa que ele vê em Jesus Cristo? Nem
um pouco. É apenas o nome de “Deus”, o que o inclina à reverência. Quantas pessoas, en-
tão, serão condenadas por esse temor de Pilatos, quando elas seguem o seu caminho e
nenhum progresso pode ser feito dentre eles, embora o nome “Deus” seja falado para eles,
e não apenas como uma palavra passageira, mas oferecendo-se para ensiná-los e mostrar-
lhes com o dedo os testemunhos das Escrituras! Se eles não condescendem nem a pensar,
nem a aplicar-se a qualquer diligência, o Diabo não deve possuí-los totalmente? Não devem
eles saber que eles são como que monstros, que aboliram todas as sementes da Religião,
na medida em que se fizeram obstinados contra Deus, por assim dizer, desafiando toda a
natureza? Isso é, então, o que temos que lembrar.
Embora isso possa ocorrer, no contrário, vemos também que todos os temores que os
homens têm, e todo sentimento e apreensão que eles têm ao honrar a Deus, serão, por as-
sim dizer, apenas um raio de luz que passa diante de seus olhos e imediatamente desapa-
rece. Pois como Pilatos teme a Deus? Nós vemos que isso absolutamente não o impede,
que ele apenas demonstra um grande orgulho tal, que lhe parece que Deus não é nada
mais. Isso, então, acontece com todos aqueles que não são regidos pelo Espírito de Deus
que terão de um lado alguns medos pelos quais ficam apreensivos, de modo que eles se
humilham por um tempo diante de Deus, mas eles não deixam de levantar seus chifres,
depois de esquecerem-se, e embotarem as suas consciências para fazer o mal. Como
vemos em Faraó, que às vezes ele é bastante assombrado. “E ore a Deus por mim”, ele
diz. E quando ele vê o poder de Deus, de modo aparente: “Oh, isto é o dedo de Deus”, diz
ele, “é preciso estar sujeito a Ele”. Mas logo depois ele torna-se pior do que nunca. Assim,
então, foi com Pilatos. Isso nos adverte para que não tenhamos qualquer temor de Deus,
como rajadas de vento, mas para que tenhamos uma boa raiz que permanece firme em
nossos corações. Pois como é que Pilatos temia a Deus? Isso é somente para torná-lo mais
indesculpável.
É por isso que Deus desperta as consciências dormentes, que desejam rejeitar todo o jugo,
e Ele as traz de volta e incita-as a pensarem de si mesmas mais seriamente, de modo que,
apesar de si mesmas, elas devem reconhecer sua pobreza e sentir seus vícios, embora
elas desejem dormir neles. Todos os escrúpulos, então, que os condenadores de Deus e
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todos os homens ímpios têm, devem ser considerados como intimações que Deus questi-
ona a fim de retirar deles todas as desculpas de ignorância. Mas então eles afrouxam as
rédeas, eles se atiram ao abandono, e por isso eles não são de modo algum retidos, como
vemos em Pilatos. No início, ele fica bastante surpreso, mas logo em seguida ele volta ao
seu eu natural. “Não sabes tu”, ele diz a Jesus, “que tenho poder para te crucificar e tenho
poder para te soltar?” [João 19:10]. Aqui observemos em primeiro lugar, se Ele fosse um
ladrão, não obstante, ele [Pilatos] não teria sido capaz de mover um dedo a menos que
Deus lhe desse o poder. Como é, então, que Pilatos se atreve a assumir tal licença ilimitada
como para condenar e libertar de acordo com seu desejo e em virtude de sua posição?
Pois, seria melhor que a averiguação fosse liberada de todos os assaltantes e que eles
tivessem liberdade para exercer sua crueldade nos bosques do que para as pessoas
sentarem-se em um trono tão honrado, pessoas que têm prazer no poder sem pensar em
suas consciências, enquanto isso, lançam o mundo em total confusão. Aqui vemos (como
tenho mostrado) que não havia raiz viva em Pilatos, mas apenas uma rajada de vento.
Então, aprendamos a temer a Deus de modo que haja uma constância firme em nós para
caminharmos em Sua obediência, e que possamos lutar virtuosamente contra tudo o que
poderia nos desviar, e que esta verificação sempre possa nos impedir de retroceder: não é
apropriado provocar a ira dAquele que tem todo o poder sobre nós. Isso é, em resumo, o
que temos que lembrar.
No entanto, também aqui consideramos como a glória que Pilatos atribui a si mesmo é, no
entanto, uma grande vergonha para ele. Pois os seus inimigos não o poderiam ter repre-
endido pior do que isso: a saber, que ele deseja sustentar e reputar a si não ter qualquer
discriminação entre o bem e o mal. No entanto, ele se orgulha disso. Vemos, então, na me-
dida em que os inimigos do Deus imaginam-se ser elevados, eles devem sempre se sentir
lançados em maior confusão. Deus coloca neles um tal sentimento de desaprovação que
eles se vangloriam de suas iniquidades, a fim de tornarem-se detestáveis tanto no céu e na
terra. O que, então, deve ser feito? Aprendamos a nos gloriarmos no bem, e consideremos
o que é lícito para nós. Pois, quanto àqueles que se gloriam em sua grandeza, é certo que
eles provocam a Deus, na medida em que muitas vezes adquiriram as suas riquezas e seu
crédito por meios ilícitos, pelo excesso, pela crueldade, e todos os tipos de extorsões.
Quando, então, eles se gloriam naquilo que, por assim dizer, desafia a Deus. Aquele que
tem saqueado de todas as partes dirão: “Eu tenho feito bem”. E ali há o sangue de pessoas
pobres que ele tem sugado. Ele dirá: “Eu o adquiri”. E como? Por fraudes, práticas iníquas,
saqueando um, devorando outro, e tendo pervertido toda a ordem. O outro, através de am-
bição e meios ilícitos terá chegado a alguma dignidade. Pelo que ele deseja ser tido em
reverência. Isto é desafiar a Deus abertamente.
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Aprendamos, então, (como já disse) a nos gloriarmos no que Deus aprova. É verdade que,
embora possa haver algo de bom em nós, não é lícito usurpar o louvor que Deus reserva
para Si, e por conta do que devemos prestar-Lhe honra, na medida em que Ele nos deu
tudo. Não é apropriado, então, aqui nos gloriarmos em nós mesmos, como se o que Deus
nos concede nos pertencesse. Mas eu digo que devemos nos gloriar apenas em que aprou-
ve a Deus nos adotar por Seus filhos, e na medida em que Ele nos dá a graça de andar
com temor dEle, na medida em que Ele nos dá o poder de nos abstermos do mal. Nisto
devemos nos gloriar. Então, se somos pequenos e desprezíveis de acordo com o mundo,
oremos para que Ele possa nos dar paciência, e que possamos preferir estar em tal condi-
ção em vez de sermos elevados e entrementes a nos divertirmos como as pessoas do
mundo fazem, os quais se fazem alegres, de modo que nada pode contê-los. Esta, em resu-
mo, é a forma como temos que nos gloriar, ou seja, que não desejemos ser mais do que
Deus nos permite, e que nós possamos desprezar tudo o que Ele desaprova, embora o
mundo possa aplaudir aqueles que exercem a tirania e que praticam todo o mal em exces-
so. Abandonemos, então, facilmente e de bom grado todas essas glórias, não buscando
nada, exceto ser reconhecidos e confessados diante de Deus como Seus filhos. Isso é, em
resumo, o que ainda temos que lembrar.
Em conclusão, é dito: “Então Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia,
tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste
justo”. Nós já declaramos que a inocência de nosso Senhor Jesus teve que ser provada e
foi testemunhada pela boca do próprio juiz. Pois, quando se diz que Jesus Cristo padeceu
sob Pôncio Pilatos e que Ele foi condenado, não é o suficiente ter ouvido o relato, mas de-
vemos estar plenamente conscientes de que Jesus Cristo não somente é inocente, mas
que Ele é a fonte de toda santidade e perfeição. Por que, então, Ele é condenado? Há aqui
duas coisas diferentes, ao que parece. Diz-se que Ele é o Cordeiro de Deus sem mácula.
Uma vez que Ele é o Cordeiro de Deus, Ele deve ser condenado ao sacrifício. A palavra
“Cordeiro” implica que Ele deve ser oferecido. E o que a Lei pronuncia sobre os sacrifícios?
Que eles representam os pecados e maldições. É por isso que se diz que nosso Senhor
Jesus foi amaldiçoado por nossa causa, isto é, que Ele recebeu a maldição que era devida
por nossos pecados. Esta, então, é a qualidade e condição sob a qual Ele é condenado,
uma vez que Deus o constituiu como um Cordeiro que deveria ser oferecido em sacrifício.
Mas também Ele teve que ser reconhecido sem qualquer mácula, e Sua pureza tinha que
vir diante de nossos olhos, a fim de que possamos compreender os nossos pecados, na
medida em que sabemos que Jesus Cristo é o espelho de toda a perfeição; e para que pos-
samos examinar nossas culpas para estarmos descontentes com elas e atravessarmos a
condenação, que foi preparada para nós, se não fôssemos libertados por Ele.
Agora, quando Pilatos tomou a bacia e a água para lavar as mãos, essa foi uma cerimônia
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muito frívola, como se ele pudesse ser absolvido diante de Deus por isso. Mas isso não era
para desculpar-se diante de Deus, quando ele tentou apaziguar a fúria do povo. Pois ele
não protestou diante de Deus que ele era inocente, mas ele somente disse ao povo: “Estou
inocente do sangue deste justo. Considerai isso”. Como se ele dissesse: “Vocês me força-
ram a isso”. Mas, tudo isso (como eu já disse) não é para desculpá-lo. Além disso, ele não
está desenvolvendo absolutamente o ofício de juiz. Pois, ele deveria antes morrer cem ve-
zes do que desviar-se de seu ofício. Quando ele viu todos os problemas do mundo, ele
deveria ter esta magnanimidade de fazer o que ele sabia ser bom e justo. Mas quando ele
vê que as pessoas estão tão exaltadas, ele se deixa levar. No entanto, isso tinha que ser,
maldito como era, que ele atestasse a inocência de nosso Senhor Jesus Cristo, e que a
partir de sua própria boca, ele O justificasse. No entanto, isso não o desculpa da condena-
ção, mas nisto repousa a nossa consolação. Pois sabemos que, se devemos ser levados
diante de Deus hoje para aparecermos diante de Seu trono, isso não seria para recebermos
condenação; mas o sangue de nosso Senhor Jesus foi derramado e é o verdadeiro purifica-
dor de nossas almas, Ele nos recebe como puros e limpos.
Aqui, então, é onde nós devemos ter o nosso recurso. No entanto, vemos a palavra que é
pronunciada pelos judeus. Pois eles são arremessados de cabeça de tal forma por Satanás
que eles dizem: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos”. Agora, eles eram a
herança de Deus, o povo eleito e escolhido dentre todas as nações da terra. No entanto,
eles renunciam a esta dignidade, e a todas as promessas de salvação, desta aliança sagra-
da que Deus estabeleceu com a linhagem deles. Eles são, então, privados de todos os
benefícios que Deus tinha distribuído anteriormente a eles, na medida em que eram des-
cendentes da raça de Abraão. E o sangue de nosso Senhor Jesus teve que cair sobre eles,
de fato, para a confusão deles e de todos os seus descendentes. Como também Ele já
havia declarado a eles: “A sua iniquidade virá completamente, e o sangue dos Mártires,
desde Abel, o justo, mesmo de Zacarias, filho de Baraquias, que foi assassinado há pouco
tempo, deve ser lançado sobre vocês, e vocês verão que sempre assassinaram os profetas
é por isso vocês têm lutado contra Deus e contra a Sua Palavra” (Mateus 23:34-36, Lucas
11:49-51, 2 Crônicas 36:15-16).
Isso, então, é como o sangue de nosso Senhor Jesus, que deveria ser a salvação para todo
o mundo, e de fato especialmente dos judeus, uma vez que o direito de primogenitura per-
tencia a eles, clamou por vingança contra eles. Mas agora aprendamos a olhar profunda-
mente dentro de nós mesmos, e a orarmos a Deus para que Ele venha sobre nós de outra
maneira, tanto sobre nós, e em particular, sobre os nossos filhos; ou seja, que sejamos
lavados e purificados, vendo que somos abomináveis diante de Deus por causa de nossos
pecados, até que sejamos lavados e experimentemos que o sangue que já foi derramado
para a nossa redenção venha sobre nós e que, assim, sejamos aspergidos pelo poder do
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Espírito Santo (1 Pedro 1:2 — assim diz São Pedro em sua Carta Canônica) e que possa-
mos ter o cuidado para não rejeitar a graça que nos é oferecida por Deus, da qual os judeus
foram privados por causa de sua ingratidão, e não fizeram nada, senão provocar mais e
mais a Sua vingança. Que possamos, então, hoje estar dispostos a receber a purificação
de nosso Senhor Jesus Cristo, que não pode ser apreendida, exceto pela fé. Oremos a
Deus para que não tenhamos recebido esta lavagem em vão, mas que no dia a dia, sejamos
purificados de todos os nossos defeitos. Que agrade ao nosso Deus produzir muito da pure-
za que foi adquirida por nosso Senhor Jesus Cristo, até que cheguemos em Seu reino, onde
seremos libertos de toda corrupção dos nossos vícios.
Agora, curvemo-nos em humilde reverência diante da majestade do nosso Deus.
ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO use este sermão para trazer muitos
Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.
Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!
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Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da
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Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida
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Confissão de Fé Batista de 1689
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Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel
Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon
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Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink
Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne
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Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink
Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink
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Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —
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Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação
dos Pecadores, A — A. W. Pink
Jesus! – C. H. Spurgeon
Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon
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Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston
Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.
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Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica
no Batismo de Crentes — Fred Malone
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2 Coríntios 4
1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;
2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,
na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está
encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória
de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo
Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,
que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,
para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,
este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.
9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10 Trazendo sempre
por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus
se manifeste também nos nossos corpos; 11
E assim nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na
nossa carne mortal. 12
De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13
E temos
portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,
por isso também falamos. 14
Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará
também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15
Porque tudo isto é por amor de vós, para
que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de
Deus. 16
Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
interior, contudo, se renova de dia em dia. 17
Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18
Não atentando nós nas coisas
que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se
não veem são eternas.