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TIAGO FILIPE VILELA SOBRAL O JULGAMENTO MORAL E A TRÍADE NEGRA DE PERSONALIDADE UNIVERSIDADE DO ALGARVE Faculdade de Ciências Humanas e Sociais 2016

O JULGAMENTO MORAL E A TRÍADE NEGRA DE ...Estudos recentes sobre o julgamento moral referem que uma decisão utilitária é uma resposta racional dada no sentido de maximizar o bem-estar

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TIAGO FILIPE VILELA SOBRAL

O JULGAMENTO MORAL E A TRÍADE NEGRA DE PERSONALIDADE

UNIVERSIDADE DO ALGARVE Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

2016

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TIAGO FILIPE VILELA SOBRAL

O JULGAMENTO MORAL E A TRÍADE NEGRA DE PERSONALIDADE

Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde

Trabalho efetuado sob a orientação de: Prof.ª Dra. Ana Teresa Martins

Prof. Dr. Luís Faísca

UNIVERSIDADE DO ALGARVE Faculdade de Ciências Humanas e Sociais

2016

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O JULGAMENTO MORAL E A TRÍADE NEGRA DE PERSONALIDADE

Declaração de Autoria de Trabalho

Declaro ser o autor deste trabalho, que é original e inédito. Autores e trabalhos

consultados estão devidamente citados no texto e constam da listagem de

referências incluída.

_______________________________________________

(Tiago Filipe Vilela Sobral)

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Copyright Tiago Filipe Vilela Sobral A Universidade do Algarve reserva para si o direito,

em conformidade com o disposto no Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos,

de arquivar, reproduzir e publicar a obra, independentemente do meio utilizado, bem

como de a divulgar através de repositórios científicos e de admitir a sua cópia e

distribuição para fins meramente educacionais ou de investigação e não comerciais,

conquanto seja dado o devido crédito ao autor e editor respetivos.

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AGRADECIMENTOS

Quero agradecer, em primeiro lugar, aos meus pais e irmã, pois sem eles, todo o caminho percorrido até a este momento não teria sido possível. A eles, estou muito grato por me apoiarem incondicionalmente.

Um obrigado sem fim à Marta e à Ana, por tudo o que elas significaram nos últimos tempos e pelas horas passadas a ouvir falar sobre isto, quando, por vezes, era a última coisa de que se queriam lembrar. Com a vossa presença, tudo foi mais fácil.

À Xana, agradeço a imensa prontidão ao entrar nesta aventura comigo, o seu companheirismo, as partilhas, a ajuda mútua e o trabalho que desenvolvemos em conjunto, foi uma mais-valia sem dúvida. E um agradecimento enorme à prof.ª Ana Teresa, por toda orientação prestada, pela simplicidade e compreensão em tudo e, sobretudo, pelo apoio prestado ao longo deste ano que permitiu desenvolver um bom trabalho. Por fim, agradecer ao prof. Faísca pelo grande contributo que nos prestou, pela a sabedoria passada e pelas observações pertinentes que permitiram um melhor trabalho.

A todos, um grande obrigado!

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RESUMO

Estudos recentes sobre o julgamento moral referem que uma decisão utilitária é

uma resposta racional dada no sentido de maximizar o bem-estar do maior número de

pessoas, ainda que isso possa implicar o sacrifício de uma pessoa inocente. Pelo

contrário, uma decisão não-utilitária é considerada uma decisão emocional e empática,

em que o sacrifício de alguém não é aceite ainda que tenha como finalidade atingir o

bem maior para uma maioria. Esta distinção entre respostas utilitárias e não utilitárias

evidencia o papel que as emoções desempenham na decisão moral. Deste modo, um

contexto emocional (por exemplo, quando somos expostos a uma situação de stresse)

pode ser um fator com impacto decisivo no julgamento moral. Embora indivíduos sob

stresse realizem menos julgamentos utilitários comparativamente a indivíduos com

níveis de stresse reduzido, algumas evidências parecem indicar que a personalidade

(normal e patológica) tem um processamento emocional distinto que pode influenciar o

julgamento moral.

Neste contexto, fomos avaliar um grupo de participantes da denominada Tríade

Negra da personalidade com traços maquiavelistas (n = 12) e narcisistas (n = 10), e um

grupo de 18 sujeitos saudáveis, distribuídos aleatoriamente por duas condições

experimentais (condição stresse vs. condição controlo). Solicitou-se a estes

participantes que completassem uma tarefa de julgamento moral que envolvia dilemas

hipotéticos, tendo-se registado dados fisiológicos (batimento cardíaco) e de autorrelato

(níveis de ansiedade).

De um modo geral, os participantes da Tríade Negra tomaram mais decisões

utilitárias do que os participantes saudáveis. No entanto, sob stresse, os participantes

maquiavélicos apresentaram uma decisão mais emocional face a dilemas mais

aversivos. Pelo contrário, os participantes narcísicos mantiveram um padrão utilitário

(frio e calculista) independentemente de estarem expostos ou não a stresse, o que

sugere que sujeitos com uma estrutura narcísica parecem mais impermeáveis às

alterações emocionais, revelando respostas mais racionais e menos empáticas.

Palavras-chave: Stresse, Julgamento Moral, Tríade Negra da Personalidade.

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ABSTRACT

Recent studies on moral judgement state that a utilitarian decision is a rational

response given to maximize the welfare of the greatest number of people, even though

that might turn out in the sacrifice of an innocent person. On the contrary, a non-utilitarian

decision is considered to be an emotional and empathic decision where the sacrifice of

someone is not accepted even if it the purpose is to obtain the greatest good for a

majority. This distinction between utilitarian and non-utilitarian responses reveals the role

that emotions play on moral decision. Therefore, an emotional context (e.g. when

exposed to a stressful situation) can be a decisive factor with impact on moral judgment.

Although under stress, individuals make less utilitarian judgments relatively to individuals

in a non-stress situation, there are some evidences that indicate that personality (normal

and pathological) has a distinct emotional processing that can influence moral judgment.

In this context, we evaluated a group of participants of the known Dark Triad of

personality with machiavellian (n = 12) and narcissistic (n = 10) traits, and a group of 18

normal subjects, randomly divided into two experimental conditions (stress-inducing

condition vs. control condition). Participants were asked to complete a moral judgment

task involving hypothetical dilemmas while physiological (heart beat) and self-report

(stress level) data were collected.

In general, Dark Triad participants made more utilitarian decisions than normal

participants. However, under stress, the machiavellian group presented more emotional

decisions towards the more aversive dilemmas. On the contrary, narcissistic participants

maintained a utilitarian pattern (callous and scheming) regardless of being under stress

or not, what suggests that subjects with a narcissistic structure are less permeable to

emotional variations revealing more rational and less empathic responses.

Key-words: Stress, Moral Judgment, Dark Triad.

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................... 1

2. METODOLOGIA .................................................................................................... 6

2.1. Participantes ................................................................................................... 6

2.2. Instrumentos ................................................................................................... 7

2.3. Procedimento Experimental ............................................................................ 9

2.3.1. Indução de stresse e condição de controlo .............................................. 9

2.3.2. Tarefa de Julgamento Moral...................................................................... 10

2.4. Recolha de Dados ........................................................................................ 10

3. RESULTADOS .................................................................................................... 11

3.1. Avaliação do processo de indução de stresse .............................................. 11

3.2. Efeito do stresse e dos traços da Tríade Negra nos julgamentos utilitários .. 12

3.3. Associação entre a resposta individual de stresse, percentagem de

julgamentos utilitários, traços de personalidade da Tríade Negra e o nível de

empatia e de afetos negativos ................................................................................. 15

4. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 17

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 23

ANEXOS ..................................................................................................................... 26

Anexo I - Inventário de Personalidade Short Dark Triad ......................................... 27

Anexo II- Entrevista Semi-Estruturada.................................................................... 29

Anexo III – Subteste das Matrizes de Raven .......................................................... 31

Anexo IV – Dilemas utilizados na tarefa de julgamento moral ................................ 42

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Representação esquemática da ordem de apresentação dos dilemas através

do programa informático. ............................................................................................ 10

Figura 2. Procedimento do grupo experimental. ......................................................... 11

Figura 3. Percentagem de respostas utilitárias nos dilemas morais pessoais por grupo

(controlo vs. experimental) e por traço de personalidade (média ± erro-padrão). ........ 14

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Indicadores de stresse (medidas fisiológicas e de autorrelato): efeito da

manipulação experimental. ......................................................................................... 12

Tabela 2. Percentagem de julgamentos utilitários nos dilemas morais pessoais e

impessoais em função do grupo (controlo vs. experimental) e do traço de personalidade

(maquiavélico, narcísico e saudável). ......................................................................... 13

Tabela 3. Tempos de reação aos dilemas morais pessoais e impessoais em função do

grupo (controlo vs. experimental) e do traço de personalidade (maquiavélico, narcísico

e saudável). ................................................................................................................ 15

Tabela 4. Correlação de Pearson entre a resposta individual de stresse, percentagem

de julgamentos utilitários, traços de personalidade da Tríade Negra e o nível de empatia

e de afetos negativos na totalidade da amostra. ......................................................... 16

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1. INTRODUÇÃO

O estudo da moralidade alcançou importantes contribuições com as abordagens

desenvolvimentistas de Piaget e Kohlberg, no entanto, a sua visão racionalista

subestimava o papel dos processos emocionais na resposta moral (Olivera-La Rosa &

Rossello, 2014). Apesar de, inicialmente, se atribuir a processos exclusivamente

racionais e lógicos do pensamento, estudos mais recentes começaram a atribuir ao

julgamento moral também uma componente emocional (Forbes & Grafman, 2010).

Estas inferências foram realizadas a partir de estudos experimentais recentes, em

diferentes grupos clínicos e não clínicos, com recurso a métodos tanto comportamentais

como de neuro-imagem.

Um dos procedimentos mais utilizados na compreensão dos processos mentais

envolvidos no julgamento moral tem sido o uso de dilemas morais. Um dilema moral é

uma pequena história onde é narrada uma situação hipotética que pode acontecer no

dia-a-dia do sujeito e que requer a tomada de decisão sobre ações que são, do ponto

vista moral, controversas (Rosen, Rott, Ebersbach, & Kalbe, 2015). Quando confrontado

com o dilema, o sujeito tem de fazer uma escolha entre dois cursos de ação

contraditórios e que envolvem uma violação moral (Gleichgerrcht, Torralva, Roca, Pose,

& Manes, 2011).

Os dilemas morais podem ser divididos em diferentes categorias, uma divisão

possível opõe dilemas pessoais a dilemas impessoais. Os dilemas morais pessoais

envolvem uma violação que pode causar sérios danos físicos, danos que recaem numa

pessoa em particular ou num conjunto de indivíduos, mas não são resultado do desvio

da ameaça existente para uma terceira parte (e.g. empurrar uma pessoa de uma ponte

de modo a parar um comboio, para que este não atinja cinco pessoas). Por outro lado,

os dilemas morais impessoais envolvem uma ação indireta no dano causado ou na

violação de uma lei (e.g. carregar num botão para desviar o curso do comboio de modo

a não atingir cinco pessoas, embora isso o faça atingir uma outra pessoa). Podem

também referir-se os dilemas não-morais cuja ação a tomar não envolve qualquer tipo

de violação moral (e.g. escolher entre ir de autocarro ou de comboio para chegar a

tempo ao destino) (Greene, Nystrom, Engell, Darley, & Cohen, 2004). Perante estes dilemas, a decisão do indivíduo pode, por um lado, resultar de um

cálculo utilitário de como maximizar o melhor bem-estar possível (resposta utilitária), ou

pode, por outro lado, revelar uma não concordância em relação à ação proposta

(resposta não-utilitária) (Koenigs et al., 2007).

A maioria das pessoas da população geral faz julgamentos utilitários quando se

depara com dilemas não morais, no entanto, perante dilemas morais pessoais ou

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impessoais, por estes induzirem um maior conflito emocional relativamente à decisão

que se tem de tomar, muitas vezes envolvendo ações emocionalmente aversivas e

moralmente reprováveis, o padrão de respostas tende a não ser utilitário (Starcke,

Ludwig, & Brand, 2012).

O estudo dos processos neurobiológicos que estão na base do julgamento moral

permitiu concluir que decisões utilitárias têm na sua origem processos cognitivos

racionais, enquanto respostas não-utilitárias envolvem decisões emocionais

automáticas (Koenigs et al., 2007). A partir do estudo de pacientes com lesões cerebrais

frontais, áreas descritas como responsáveis pelo processamento de emoções, os

autores observaram que estes sujeitos davam muitas mais respostas utilitárias perante

dilemas morais pessoais, indicando que alterações no processamento de emoções

resultavam em respostas mais racionais e menos empáticas (Koenigs et al., 2007).

Outros estudos se seguiram utilizando grupos clínicos com perturbações do

desenvolvimento como, por exemplo, o Síndrome de Asperger (e.g.Gleichgerrcht et al.,

2013). Neste caso particular, como o processamento de emoções está alterado, a

decisão moral parece ser predominantemente guiada também por processos cognitivos,

resultando em respostas “frias” e calculistas aos dilemas morais.

Estas conclusões suportam a noção de que as emoções desempenham um papel

importante na decisão moral. Deste modo, alguns autores têm estudado o impacto das

variações emocionais no julgamento de dilemas morais, nomeadamente, ao nível do

stresse, pois este afeta a resposta emocional do indivíduo ao apresentar um impacto

em muitas das mesmas áreas do cérebro envolvidas no processamento das emoções

(Dedovic, D'Aguiar, & Pruessner, 2009).

Folkman, Lazarus, Dunkelschetter, Delongis, e Gruen (1986) sugerem que os

indivíduos tendem a experienciar múltiplas emoções em qualquer situação stressante

pois estes eventos apresentam várias implicações para o seu bem-estar e cada sujeito

possui diferentes formas de lidar com eventos stressantes. O stresse ocorre quando a

relação entre a pessoa e o ambiente é avaliada como desafiadora ou excede os seus

recursos, e põe em perigo o seu bem-estar (Lazarus & Folkman, 1984).

Sob stresse, a capacidade do indivíduo para pensar racionalmente sobre dilemas

altamente aversivos pode estar dificultada (Caviola & Faber, 2014). Isto parece

acontecer porque o stresse inibe o controlo cognitivo que é necessário para deter

respostas emocionais automáticas (Banich et al., 2009) que afetam o processo de

tomada de decisão (Starcke & Brand, 2012) e, consequentemente, a redução de

respostas utilitárias. De facto, processos cognitivos como a atenção (Elling et al., 2011)

e a memória de trabalho (Luethi, Meier, & Sandi, 2009), todos estes essenciais para a

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realização de decisões utilitárias racionais, parecem esgotados quando sob stresse

agudo.

Sendo que o stresse pode influenciar o processo de tomada de decisão, um estudo

recente investigou a exposição ao stresse no julgamento moral (Youssef et al., 2012).

Os autores testaram um grupo de participantes inicialmente expostos a uma tarefa de

indução de stresse denominada Trier Social Stress Test (Kirschbaum, Pirke, &

Hellhammer, 1993). Era-lhes pedido que fizessem um discurso e que resolvessem uma

tarefa aritmética perante um painel de peritos em psicologia, de seguida, era realizada

uma tarefa de julgamento moral. Os autores utilizaram a medição do cortisol como

medida indicadora de stresse. Os resultados indicaram que os participantes expostos a

uma situação de stresse faziam menos julgamentos utilitários nos dilemas pessoais e

que a resposta individual de stresse estava negativamente correlacionada com o

número de julgamentos utilitários. Concluiu-se, assim, que o stresse inibia os processos

cognitivos controlados, necessários para a decisão de julgamento utilitários, originando

respostas mais emocionais.

Baseado no estudo anteriormente descrito, Starcke, Ludwig e Brand (2012)

decidiram replicá-lo mas com um diferente tipo de stressor, uma cover-story, e uma

diferente medida de stresse, a frequência do batimento cardíaco. O método da cover-

story, que demonstrou produzir respostas subjetivas e endócrinas de stresse, consistia

em informar os participantes que teriam de fazer um discurso sobre o tópico: “Como

avalio as minhas capacidades cognitivas?”, na presença de dois psicólogos depois de

terminarem um conjunto de testes neuropsicológicos. Era-lhes dito também que de

modo a compararem o seu desempenho com a sua autoavaliação, os psicólogos iriam

fazer perguntas sobre possíveis discrepâncias entre ambos. Durante a manipulação

experimental, uma câmara era montada de forma a acreditarem que o discurso e a

entrevista que se seguiriam, após os testes, iriam ser gravados.

Os resultados do estudo permitiram sugerir que os participantes expostos a uma

situação de stresse faziam menos julgamentos utilitários do que os sujeitos não

expostos e que a resposta individual de stresse se correlacionava positivamente com

julgamentos não-utilitários, resultados estes que vão ao encontro dos obtidos no estudo

de Youssef e colaboradores (2012). No entanto, nem todos os resultados foram

congruentes entre os dois estudos, enquanto no estudo conduzido por Starcke, Ludwig

e Brand (2012) os participantes expostos a stresse necessitaram de mais tempo para

tomarem as decisões, os resultados de Youssef e colaboradores (2012) não

encontraram uma diferença significativa nos tempos de resposta. Ainda no primeiro

estudo, os participantes expostos a stresse fizeram menos julgamentos utilitários tanto

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nos dilemas morais pessoais como impessoais, já no segundo estudo, apenas os

dilemas pessoais pareceram ter sido afetados pelo stresse.

A partir destas conclusões, podemos afirmar que o stresse, enquanto resposta

fisiológica conducente a uma forte carga emocional e a uma inibição do controlo

cognitivo, parece intensificar a emotividade desencadeada pelos julgamentos morais.

Ainda assim, alguns dos resultados não são consistentes, o que embora possa ser

atribuído a diferenças metodológicas entre estudos, pode igualmente dever-se a fatores

individuais. Estas diferenças individuais na decisão moral podem ser explicadas pelo

fato dos participantes responderem de forma diferente ao stresse.

Como referido por Kudielka, Hellhammer, e Wüst (2009), diferentes características

individuais (e.g. fatores fisiológicos, experiências de vida, estados de stresse crónico,

intervenções psicológicas, personalidade e psicopatologia) podem influenciar a resposta

individual ao stresse. A personalidade é uma das variáveis psicológicas que pode

influenciar a capacidade para processar emoções, regular a ansiedade e responder às

exigências morais e sociais. Uma revisão de Starcke e Brand (2012) e uma recente

meta-análise (Starcke & Brand, 2016) examinaram a personalidade como variável que

de acordo com o stresse influencia a decisão moral. Deste modo, dependendo das

características individuais do sujeito, podem-se originar diferentes reações perante um

mesmo stressor.

Os estudos que avaliam a reação emocional ao stresse sugerem que tem de existir

uma maior análise também dos traços de personalidade dos sujeitos. De acordo com

alguns autores, parece existir uma associação entres os traços de personalidade e os

estilos de coping (Connor-Smith & Flachsbart, 2007). No caso de sujeitos com

características narcísicas podemos observar a presença de um estilo de coping

emocionalmente mais controlado e orientado para a resolução dos problemas, enquanto

os indivíduos maquiavélicos e psicopatas utilizam estratégias mais emocionalmente

orientadas, o que sugere uma maior reação emocional ao stresse (Birkás, Gács, &

Csathó, 2016).

Parece então consensual, entre investigadores, que diferentes tipos de

personalidade apresentam um padrão de funcionamento emocional e cognitivo distinto

(American Psychiatric Association (APA), 2002), neste contexto, sugere-se que distintas

personalidades afetarão de forma diferenciada os julgamentos morais. Neste sentido,

alguns autores têm procurado compreender como diferentes tipos de personalidade

(patológica e subclínica) respondem a dilemas de julgamento moral.

A Tríade Negra da personalidade (Paulhus & Williams, 2002), conhecida como um

conjunto de três personalidades subclínicas consideradas socialmente aversivas –

maquiavelismo, narcisismo e psicopatia – tem sido alvo de estudo neste sentido, pois

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partilham características como o carácter socialmente perverso com tendências

comportamentais para a autopromoção, frieza emocional, dissimulação e agressividade,

e, consequentemente, uma diminuição de ideais pró-sociais (Jonason, Li, & Teicher,

2010).

Estas características parecem antever a existência de uma cognição social

inoperante e, por consequência, dificuldades no processamento de emoções e de

julgamento moral. Os estudos têm revelado que sujeitos com traços da Tríade Negra

apresentam défices ao nível da empatia e sintomas de alexitimia (Jonason & Krause,

2013; Wai & Tiliopoulos, 2012), o que revela dificuldades na identificação e

compreensão de emoções no outro e uma inabilidade para descrever os próprios

sentimentos.

Tendo em conta que as decisões morais baseadas na perspetiva de ferir ou matar

alguém levantam a dúvida sobre a capacidade do sujeito em experienciar emoções

sociais e morais, uma relativa inabilidade em ser altruísta e um défice empático podem

influenciar as respostas aos dilemas morais e contribuir para uma inclinação utilitária

(Djeriouat & Trémolière, 2014).

Alguns estudos recentes sugerem esta hipótese, Noser e colaboradores (2015)

tiveram como objetivo avaliar as preocupações morais num conjunto de sujeitos com

caracteristicas patológicas da personalidade com base no DSM-V através de medidas

de autorrelato. Os resultados indicaram que a manipulação, a desonestidade e a

grandiosidade, caracteristicas partilhadas pela Tríade Negra, se correlacionavam

negativamente com uma precoupação pelo outro no que toca a causar-lhe dano ou em

situações de injustiça (Noser et al., 2015).

Djeriouat e Trémolière (2014) estudaram em particular os efeitos da Tríade Negra

da personalidade no julgamento moral, utilizando apenas dilemas morais pessoais e

observaram uma correlação significativa entre estes traços de personalidade e a tomada

de decisões utilitárias. De uma forma geral, estes resultados parecem revelar que os

sujeitos com diferentes traços de personalidade da Tríade Negra apresentam um padrão

atípico de julgamento moral quando comparados com indivíduos que não apresentam

estes traços patológicos de personalidade. Contudo, parecem existir algumas

dissemelhanças no julgamento moral entre estes traços patológicos. Neste estudo, os

resultados revelaram que o traço de psicopatia era o maior preditor de utilitarismo dos

traços da Tríade Negra, sendo o narcisismo o mais fraco.

Num outro estudo, onde se pretendeu avaliar o julgamento moral em sujeitos mais

conservadores (considerados mais insensíveis) e outros mais liberalistas (considerados

mais altruístas), observou-se que apenas o traço maquiavélico se associava

positivamente a decisões mais utilitárias (Arvan, 2013).

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Ainda que, na sua maioria, os principais estudos sobre os traços apresentados

revelem resultados que sugerem um padrão inadequado de respostas a situações

dilemáticas, parecem existir algumas questões merecedoras de serem empiricamente

investigadas.

Em primeiro lugar, ainda são em número insuficiente os estudos que procuram

analisar separadamente cada uma das facetas da Tríade Negra da personalidade, facto

que nos parece relevante, dada a variabilidade de resultados obtidos no âmbito da

resposta moral de cada traço. Em segundo lugar, se a reação emocional ao stresse

destes traços de personalidade, nomeadamente, entre maquiavélicos e narcísicos, é

diferenciada, podemos antever um processamento de emoções distinto e,

consequentemente, um padrão moral dissemelhante.

Desta forma, e uma vez que o stresse parece amplificar a emotividade

desencadeada pela situação dilemática, surge a necessidade de criar um contexto

emocional intenso com o objetivo de compreender se uma variabilidade de resultados

pode dever-se ao modo como a Tríade Negra lida com as emoções geradas pelos

dilemas morais.

Em suma, o nosso principal objetivo foi avaliar de que forma um grupo de

participantes com traços subclínicos de personalidade pertencentes à Tríade Negra,

maquiavelismo vs. narcisismo, respondem a uma tarefa de julgamento moral,

comparativamente com um grupo de participantes saudáveis, quando expostos a níveis

de stresse de modo a perceber se a emotividade assim induzida explica as diferenças

encontradas entre traços de personalidade no julgamento moral.

Consistente com estudos anteriores, esperamos que: 1) os participantes expostos a

stresse (grupo experimental/GE) realizem menos julgamentos utilitários do que os

participantes na situação controlo (grupo controlo/GC), por estarem expostos a um

contexto emocional mais intenso; 2) os participantes que exibem traços de

personalidade da Tríade Negra realizem mais julgamentos utilitários do que o grupo de

participantes saudáveis; e 3) o efeito dos traços de personalidade dependam do

contexto emocional em que o julgamento moral é realizado, na medida, em que os

traços da Tríade Negra se diferenciem na sua resposta moral na situação de stresse e

que o grupo saudável apresente um padrão menos utilitário no mesmo contexto.

2. METODOLOGIA

2.1. Participantes

No presente estudo, com recurso a um instrumento de avaliação de traços

subclínicos de personalidade, foi avaliado um grupo com traços de personalidade

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maquiavélica (N = 12, Midade = 21.08 ± 4.58; Mescolaridade = 13.25 ± 1.49; 42% do sexo

masculino); um grupo com traços de personalidade narcísica (N = 10; Midade = 21.70 ±

4.67; Mescolaridade = 13.60 ± 1.96; 60% do sexo masculino); e um grupo de participantes

saudáveis (N = 18; Midade = 20.39 ± 2.36; Mescolaridade = 14.17 ± 1.38; 0% do sexo

masculino). Foram selecionados apenas os participantes que se situaram acima do

ponto de corte de 70% (≥34 pontos) e abaixo do de 30% (≤20 pontos) nos traços de

maquiavelismo e narcisismo. O traço de psicopatia não foi incluído no estudo devido a

um reduzido número de indivíduos encontrados na amostra recolhida com pontuações

acima do ponto de corte neste traço.

Os três grupos possuíam uma distribuição não equitativa entre sexos (X2(1) =

13.33, p =.001), mas não apresentavam dissemelhanças quanto à idade [F (2, 39) = .41,

p =.668] nem quanto à escolaridade [F (2, 39) = 1.29, p =.288].

Posteriormente, os participantes de cada um dos grupos foram distribuídos

aleatoriamente por duas condições experimentais (stresse vs. controlo), ficando o GE

(indução de stresse) constituído por 21 participantes e o GC (sem indução de stresse)

constituído por 19 sujeitos.

Os participantes foram recrutados, por conveniência, na Universidade do Algarve

e constituíram critérios de exclusão doença neurológica ou psiquiátrica prévia, doença

crónica ou aguda, fobia social ou stresse crónico, determinados por uma ficha de

informação sociodemográfica.

2.2. Instrumentos

Para a avaliação dos traços subclínicos de personalidade foi utilizada a versão

traduzida para a língua portuguesa do Short Dark Triad (SD3; Jones & Paulhus, 2010),

feita por dois peritos independentes em psicologia cuja língua materna era o português

(cfr. Anexo I) (Sobral & Martins, 2015). Seguindo as recomendações de Brislin (1986),

depois da análise de concordância, o inventário foi retrovertido por um perito bilingue.

Trata-se de um inventário de personalidade patológica para a avaliação de traços de

maquiavelismo, narcisismo e psicopatia. Esta escala é constituída por 27 questões (por

exemplo, “Não é inteligente contar os seus segredos”), às quais os participantes

respondem numa escala do tipo Likert (de 1 = descordo fortemente a 5 = concordo

fortemente). A avaliação da presença dos traços referidos é realizada através de 9

questões para cada um dos traços, sendo que a pontuação obtida pode variar entre 9

(mínimo) e 45 (máximo) pontos, quanto maior for a pontuação obtida em cada traço,

maior será a presença deste no individuo.

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8

De forma a medir as alterações na resposta individual de stresse no GE e no

GC, foram utilizados indicadores comportamentais e fisiológicos. O batimento cardíaco

dos participantes foi registado continuamente (batimentos por minutos, bpm) através de

um medidor de frequência cardíaca (marca Crivit) constituído por um cinto peitoral

colocado sob o músculo peitoral, que realizava a leitura dos batimentos, e um relógio de

pulso recetor dos mesmos. Após a colocação do cinto no início do procedimento, aos

participantes era pedido que se sentassem de forma confortável, de forma a evitar

artefactos, enquanto realizam as tarefas propostas pelo investigador. Os valores dos

batimentos cardíacos foram registados antes e depois da situação indutora de stresse.

Neste contexto, foi igualmente avaliado os níveis de stresse experienciados

através do Inventário de Ansiedade Estado-Traço (STAI-Y) (Spielberger, Gorsuch,

Lushene, Vagg, & Jacobs, 1977), adaptado para a população portuguesa por Silva

(2003). Este questionário é de autorresposta, composto por duas subescalas, cada uma

com 20 itens, que avaliam a ansiedade-estado (condição transitória caracterizada por

tensão, apreensão e hiperatividade do sistema nervoso autónomo) e a ansiedade-traço

(tendência geral que um indivíduo tem em responder com ansiedade aos estímulos do

ambiente), cuja resposta é dada numa escala do tipo Likert de 1 (“nada”) a 4 (“muito”)

pontos. No nosso estudo, apenas se teve em conta a escala associada à ansiedade-

estado.

Tendo em conta que o estado emocional pode influenciar o julgamento moral, as

reações emocionais foram incluídas como covariável através da Escala de Afeto

Positivo e Negativo – PANAS (Galinha & Ribeiro, 2005; Watson, Clark, & Tellegen,

1988) que consiste em 20 itens em que 10 estão associados a afetos positivos (e.g.

“interessado”, “entusiasmado”) e os restantes 10 itens associados a afetos negativos

(e.g. “perturbado”, “culpado”) que descrevem como o sujeito se sente no momento. As

respostas estão organizadas numa escala do tipo Likert de cinco pontos de 1 (“nada ou

muito ligeiramente”) a 5 (“extremamente”). Obtém-se uma pontuação total tanto para os

afetos positivos como para os afetos negativos através do somatório das pontuações

atribuídas aos itens correspondentes a cada dimensão, ambas variando entre 10

(mínimo) e 50 (máximo).

Foi utilizado também como covariável o Índice de Reatividade Interpessoal – IRI

(Limpo, Alves, & Castro, 2013). Trata-se de uma escala multidimensional de avaliação

da empatia e baseia-se em quatro subescalas (tomada de perspetiva, preocupação

empática, desconforto pessoal e fantasia), tendo sido tomado o valor médio das

subescalas como um valor global de empatia de cada sujeito. Esta escala é constituída

por 24 itens de resposta Likert de cinco pontos, de 0 (“Não me descreve bem”) a 4

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9

(“Descreve-me muito bem”). A pontuação é obtida pela média de itens atribuídos em

cada subescala.

Por último, de modo a obter uma medida sócio-perceptiva e sócio-cognitiva da

situação de stresse, aplicou-se uma entrevista semi-estruturada aos participantes do

GE com o objetivo de perceber o que estes sentiram e pensaram em relação à situação

e as emoções associadas à mesma (cfr. Anexo II). Esta é constituída por duas questões

abertas (e.g. “Como se sentiu quando lhe foi pedido que elaborasse um discurso acerca

das suas capacidades cognitivas perante especialistas em Psicologia?”) e por uma

escala do tipo Likert (de 1: “nada” a 7: “extremamente”) para a nomeação e descrição

da intensidade de seis emoções básicas (e.g. “alegria”, “medo”) e 10 emoções sociais

(e.g. “vergonha”, “inutilidade”).

2.3. Procedimento Experimental

2.3.1. Indução de stresse e condição de controlo

Para a indução de stresse no grupo experimental, fez-se recurso a uma cover-

story: o sujeito era informado de que teria de elaborar um discurso perante dois

especialistas em Psicologia acerca do tópico “Como é que eu avalio as minhas

capacidades cognitivas?”, e que todo este processo seria filmado com recurso a uma

câmara de vídeo. É depois dito a cada sujeito que, antes do discurso, terão que realizar

um teste de inteligência, com o intuito de confirmar as capacidades a relatar por estes.

Depois de dadas as instruções, informava-se o participante que dispunha de dois

minutos para pensar no discurso, sem fazer anotações, e era colocada a câmara de

vídeo enquanto pensava no mesmo.

Após esta reflexão e antes da suposta gravação, é administrada a prova de

inteligência constituída por um subteste das matrizes de Raven, designado por

“Instrumento R”, que consiste numa versão curta e falsificada do original, tendo como

objetivo torná-la impossível de resolver (cfr. Anexo III). Para a realização desta prova

modificada, cada participante dispunha de apenas três minutos, logo após a realização

desta, era realizada a tarefa de julgamento moral e só depois o sujeito era informado do

seu insucesso na prova de inteligência e que por este motivo já não realizaria o discurso

nem a gravação, uma vez que realizar a prova com sucesso seria uma condição

fundamental para efetuar o discurso.

Aos sujeitos do GE não era induzido stresse, não lhes sendo solicitado qualquer

discurso ou prova, pelo que apenas foi pedido que pensassem num dia das suas últimas

férias que tenha sido agradável antes da realização da tarefa de julgamento moral.

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10

2.3.2. Tarefa de Julgamento Moral

Foi aplicada uma tarefa de julgamento constituída por 26 dilemas, adaptados

para a língua portuguesa por Martins e Reis (2007), originalmente construídos por

Greene e colaboradores (2004). Destes, doze são dilemas morais pessoais, oito são

morais impessoais e seis são dilemas não morais (cfr. Anexo IV). Perante todos os

dilemas, o sujeito tinha que dar uma resposta, cada uma remetia para uma alternativa

utilitária e outra não-utilitária, sendo que cada dilema deveria ser respondido com “sim”

(decisão utilitária) ou “não” (decisão não-utilitária). Para além do total de respostas

utilitárias (“sim”), também os tempos de tomada de decisão foram analisados. A

apresentação dos dilemas, o registo das respostas e dos tempos das mesmas foram

obtidos com recurso ao software Presentation (versão 0.7)

(http://nbs.neurobs.com/presentation) instalado num computador portátil. Não havia

tempo limite para a leitura do dilema apresentado, no entanto, o participante dispunha

apenas de um período máximo de 25 segundos para responder após o surgimento da

questão (Figura 1). Os dilemas foram apresentados a cada um dos participantes em três

ordens distintas, de modo a não condicionar uma tendência de resposta.

2.4. Recolha de Dados

Antes do início do estudo, foi obtida uma aprovação ética pelo conselho científico

da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve. No momento seguinte, foi aplicado a um total de 191 estudantes universitários,

o Inventário de Personalidade SD3. Foram apenas selecionados os participantes que

obtiveram pontuações elevadas ou baixas nos traços subclínicos de personalidade, e

contactados posteriormente para participação no estudo.

Os dados foram recolhidos em sessões individuais com uma duração média de

50 minutos numa sala reservada. O procedimento realizou-se segundo os passos

Ecrã •500 ms

Dilema •Sem tempo limite

Decisão •25 s

25x

Figura 1. Representação esquemática da ordem de apresentação dos dilemas através do programa informático.

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detalhados na figura 2. O GC realizou os mesmos passos, expeto a produção do

discurso e a prova de inteligência modificada. Ao invés, este grupo foi instruído para que

pensasse em um dia das suas últimas férias. Após a recolha de dados, ao GE era feito

um debriefing e os participantes recebiam um certificado pela sua participação.

3. RESULTADOS

3.1. Avaliação do processo de indução de stresse

De modo a avaliar o efeito do procedimento de indução de stresse, realizou-se

uma análise da variância com medidas repetidas (ANOVA), considerando como fator

intrasujeito o momento de avaliação (antes e após a indução de stresse) e como fator

intersujeito o grupo (controlo vs. experimental). Nesta análise considerou-se como

variável dependente quer a frequência cardíaca quer a medida de autorrelato da

ansiedade (Tabela 1).

Relativamente à medida fisiológica (frequência cardíaca), observámos uma

interação, de elevada magnitude, entre o momento de avaliação e o grupo [F (1, 38) =

88,49, p ≤ .001, ηp2 =.70]. Os resultados dos dois grupos antes do procedimento indutor

de stresse apresentaram níveis de frequência cardíaca semelhantes (média ± dp: GC =

88.10 ± 9.53; GE = 84.32 ± 11.72; d = 0.354; t(38) = -1.12, p = .268) mas manifestaram

diferenças marcadas após a indução de stresse, com níveis de frequência cardíaca

bastante superiores no grupo experimental (média ± dp: 101.32 ± 18.093)

Consentimento Informado

Ficha de Informação Sociodemográfica

IRI

STAY-Y (1º)

PANAS

1º Momento de

Registo da Frequência Cardíaca

Cover-story

Prova de Inteligência Modificada

Tarefa de Julgamento Moral

2º Momento de

Registo da Frequência Cardíaca

STAY-Y (2º)

Entrevista Semi-Estrutura

Debriefing

15 Minutos 5 Minutos 20 Minutos 10 Minutos

Figura 2. Procedimento do grupo experimental.

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comparativamente com o grupo de controlo (média ± dp: 76.29 ± 7.34; d = 1.81; t(38) =

5.84, p ≤ .001).

Tabela 1. Indicadores de stresse (medidas fisiológicas e de autorrelato): efeito da manipulação experimental.

Indicador de Stresse F df MSE p ηp2

Frequência cardíaca

Momento de avaliação 2.87 1, 38 134.37 .098 .070

Grupo 9.03 1, 38 2252,30 .005 .192

Grupo x Momento 88.49 1, 38 4139.57 .001 .700

Ansiedade-Estado

Momento de avaliação .552 1, 38 24.26 .462 .014

Grupo 2.17 1, 38 262.75 .149 .054

Grupo x Momento .506 1, 38 22.21 .481 .013

No que toca à medida de autorrelato de ansiedade, os participantes de ambos

os grupos revelaram pontuações similares no STAY-Y Estado antes e após indução de

stresse, resultando numa interação não significativa entre o momento de avaliação e a

condição de stresse [F (1, 38) = 0,51, p = .481, ηp2 = .01].

Em relação aos dados obtidos através da entrevista semi-estrutrada aplicada ao

GE, na sua maioria, os participantes sentiram-se ansiosos/nervosos (78.6%) por terem

de realizar o discurso e referiram ter pensado na estruturação do mesmo (50%),

enquanto 35.7% desvalorizou as suas capacidades cognitivas. As emoções associadas

à experiência de stresse mais referidas foram a surpresa (73.5%), a ansiedade (71.4%)

e a vergonha (56.1%).

No geral, os indicadores fisiológicos e os dados da entrevista semiestruturada

sugerem que a indução de stresse foi bem-sucedida.

3.2. Efeito do stresse e dos traços da Tríade Negra nos julgamentos utilitários

No que diz respeito à análise das respostas utilitárias aos dilemas, foi realizada

uma ANOVA com medidas repetidas sendo considerado como fator intrasujeito o tipo

de dilema (morais pessoais vs. morais impessoais) e como fatores intersujeitos, o efeito

da indução do stresse (grupo de controlo e grupo experimental) e a personalidade

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(grupo de personalidade com traço maquiavélico, narcísico e grupo saudável); a variável

dependente foi a percentagem de julgamentos utilitários, expressa pela percentagem de

respostas “Sim” exclusivamente nos dilemas morais (Tabela 2).

Tabela 2. Percentagem de julgamentos utilitários nos dilemas morais pessoais e impessoais em função do grupo (controlo vs. experimental) e do traço de personalidade (maquiavélico, narcísico e saudável).

Observou-se um efeito significativo de elevada magnitude do tipo de dilema [F

(1, 34) = 35,66, p ≤ .001, ηp2 =.512], resultante dos participantes realizarem mais

julgamentos utilitários perante dilemas morais impessoais do que perante dilemas

morais pessoais.

Foi igualmente encontrado um efeito de magnitude média da manipulação

experimental [efeito do grupo: F (1, 34) = 6,54, p =.015, ηp2 =.161], o que revela que o

GE (exposto a stresse) realizou menos julgamentos utilitários do que o GC. No entanto,

não houve interação entre o fator grupo e dilema, ou seja, o efeito do stresse na redução

de respostas utilitárias foi o mesmo tanto para os dilemas morais pessoais como para

os morais impessoais.

Foi também observado um efeito de magnitude elevada do fator personalidade

[F (2, 34) = 5,87, p =.006, ηp2 =.257]. As comparações post-hoc de Tukey sugerem que

este efeito resulta dos indivíduos com traço subclínico (tanto maquiavélico como

narcísico) realizarem uma maior percentagem de julgamentos utilitários (43.34 ± 3.25 e

41.89 ± 3.56, respetivamente) quando comparados com sujeitos saudáveis (30.43 ±

2.67). No entanto, estas diferenças entre participantes com traços de personalidade da

Tríade Negra e participantes de personalidade saudável não aprece ser afetada pelo

nível de stresse a que os participantes estão expostos; na verdade, a interação entre o

Percentagem de julgamentos utilitários F df MSE p ηp2

Tipo de dilema 35.66 1, 34 11648.05 <.001 .512

Grupo 6.54 1, 34 1654.77 .015 .161

Grupo x Dilema .335 1, 34 109.49 .566 .010

Personalidade 5.87 2, 34 1486.77 .006 .257

Personalidade x Grupo 0.93 2, 34 234.93 .405 .052

Personalidade x Dilema 0.00 2, 34 0.46 .999 .000

Personalidade x Dilema x Grupo 1.38 2, 34 450.59 .265 .075

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fator grupo e o fator personalidade não é significativa [F (2, 34) = 0,93, p =.405, ηp2 =

.052].

Embora a indução de stresse não pareça ter afetado as diferenças entre grupos

de personalidade manifestadas na percentagem de respostas utilitárias, procedeu-se a

uma análise descritiva destas respostas para os dilemas morais pessoais (Figura 3).

Podemos concluir que perante estes dilemas pessoais, os indivíduos que apresentam

um traço maquiavélico e os do grupo saudável dão menos respostas utilitárias na

situação de stresse do que na situação de controlo, tendo apenas no grupo saudável

sido encontrada uma diferença significativa (GC: 24.77 ± 10.69; GE: 11.46 ± 12.55; d =

1.18; t(16) = -2.43, p =.027). Por outro lado, os participantes com traço narcísico

apresentam uma percentagem semelhante de respostas utilitárias, tanto na condição

experimental como na condição de controlo, não apresentando diferenças

estatisticamente significativas (GC: 28.64 ± 15.98; GE: 30.00 ± 24.01; t(8) =.106, p

=.918). Deste modo, apesar da análise global não ter alcançado significância estatística,

os resultados parecem sugerir que o stresse possa afetar de forma diferente os

indivíduos da Tríade Negra na realização de julgamentos morais.

Em relação aos tempos de reação (expressos em milissegundos), os resultados

reportam-se apenas aos tempos das respostas utilitárias e revelam apenas um efeito

significativo do fator dilema [F (1, 29) = 7.37, p =.011, ηp2 =.203], independentemente

do grupo experimental ou da personalidade dos participantes (Tabela 3). O que significa

que, no geral, os participantes necessitaram de maior tempo para tomar uma decisão

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Maquiavelismo Narcisismo Saudável

Julg

amen

tos

Util

itário

s (%

)

GE

GC

Figura 3. Percentagem de respostas utilitárias nos dilemas morais pessoais por grupo (controlo vs. experimental) e por traço de personalidade (média ± erro-padrão).

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utilitária perante os dilemas morais pessoais (5549.35ms ± 2271.04) comparativamente

aos dilemas morais impessoais (4654.14ms ± 1478.40).

Tabela 3. Tempos de reação aos dilemas morais pessoais e impessoais em função do grupo (controlo vs. experimental) e do traço de personalidade (maquiavélico, narcísico e saudável).

A inclusão da medida de avaliação dos afetos positivos e negativos como covariável

não influenciou os efeitos descritos, não se verificando contributo significativo desta

covariável para a explicação da percentagem de respostas utilitárias (p>.05).

3.3. Associação entre a resposta individual de stresse, percentagem de

julgamentos utilitários, traços de personalidade da Tríade Negra e o nível de empatia e de afetos negativos

Após a análise dos principais resultados obtidos foi realizada uma análise de

correlação de Pearson entre as variáveis alvo de estudo e as variáveis de controlo

exploradas (nível de empatia e os afetos positivos e negativos), uma vez que estas se

relacionam com os constructos em estudo e podem permitir uma melhor compreensão

das relações encontradas.

Primeiramente, para a obtenção de uma medida da resposta fisiológica individual

de stresse, procedeu-se ao cálculo da diferença entre os registos da frequência cardíaca

no segundo momento (depois da indução de stresse) relativamente ao primeiro

momento (antes da indução de stresse). Os valores da Tríade Negra da personalidade

foram obtidos através da soma da pontuação total obtida em cada uma das dimensões

avaliada pelo SD3 (maquiavelismo, narcisismo e psicopatia).

Como demonstra a tabela 4, foi realizada uma análise correlacional com a

totalidade da amostra e, posteriormente, foram realizadas duas análises em separado,

de acordo com o nível de stresse (GE e GC), de forma a perceber como os traços de

personalidade reagiram ao impacto do stresse.

Tempos de Reação F df MSE p ηp2

Dilema 7.38 1, 29 23388550.40 .011 .203

Dilema x Grupo 0.47 1, 29 1475882.97 .501 .016

Dilema x Personalidade 1.87 2, 29 5941809.67 .172 .114

Dilema x Grupo x Personalidade 1.00 2, 29 3158968.77 .382 .064

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Tabela 4. Correlação de Pearson entre a resposta individual de stresse, percentagem de julgamentos utilitários, traços de personalidade da Tríade Negra e o nível de empatia e de afetos negativos na totalidade da amostra.

Notas: Tríade Negra - soma da pontuação total obtida em cada um dos traços avaliados, JMI - percentagem de julgamentos utilitários nos dilemas morais

impessoais, JMP - percentagem de julgamentos utilitários nos dilemas morais pessoais. *p≤.05, **p≤.01.

Variáveis M DP 1 2 3 4 5 6 7 8 9

1. Tríade Negra 72.58 16.61 ─

2. Maquiavelismo 28.55 7.50 .889** ─

3. Narcisismo 25.33 6.64 .831** .586** ─

4. Psicopatia 18.70 5.45 .812** .621** .510** ─

5. Resposta Individual de

Stresse 1.88 17.42 -.037 -.017 -.160 .106 ─

6. Empatia 2.46 .46 -.216 -.225 -.173 -.139 .210 ─

7. Afetos Negativos 51.05 13.98 .222 .282 .068 .205 .462** .010 ─

8. JMI 49.60 17.62 .314* .405** .212 .140 -.209 -.509** -.086 ─

9. JMP 25.08 18.61 .375* .260 .301 .420** -.215 -.083 -.191 .061 ─

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No grupo experimental, a resposta individual de stresse correlacionou

negativamente com o traço narcísico da personalidade (r = -.54; p =.018) e com o nível

de afetos positivos (r = -.55; p =.015) e, positivamente, com o índice de empatia (r =.56;

p =.013). Também, o traço maquiavélico se relacionou positivamente com o nível de

afetos negativos (r =.49; p =.032) e o traço de psicopatia negativamente com o tempo

de reação a julgamentos utilitários nos dilemas morais pessoais (r = -.57; p =.026). Por

último, o índice de empatia correlacionou negativamente com os julgamentos utilitários

nos dilemas morais impessoais (r = -.51; p =.017).

No grupo de controlo, os julgamentos utilitários nos dilemas morais impessoais

correlacionaram positivamente com o traço maquiavelista (r =.51; p =.018) e

negativamente com o índice de empatia (r = -.51; p =.017). Os julgamentos utilitários

nos dilemas morais pessoais ainda correlacionaram positivamente com o traço de

psicopatia (r =.59; p =.005).

4. DISCUSSÃO

O principal objetivo do presente estudo foi avaliar de que forma um grupo de

participantes com traços subclínicos de personalidade pertencentes à Tríade Negra,

maquiavelismo e narcisismo, respondem a uma tarefa de julgamento moral,

comparativamente com um grupo de participantes saudáveis, quando expostos a níveis

de stresse de modo a perceber se a emotividade assim induzida explica as diferenças

encontradas entre traços de personalidade no julgamento moral.

Para tal, fez-se recurso de uma cover-story que criava uma situação indutora de

stresse. De acordo com os resultados, o procedimento experimental utilizado foi eficaz,

visto que a frequência cardíaca nos indivíduos expostos ao stresse revelou-se

significativamente superior aos indivíduos na condição de controlo; na sua maioria, os

participantes expostos à condição indutora de stresse relataram ter sentido

ansiedade/nervosismo em relação à situação experienciada.

Relativamente aos principais resultados, observamos que o GE realizou menos

julgamentos utilitários do que o GC, o que sugere, tal como esperado, que o stresse

parece ter um impacto no julgamento moral, originando respostas mais emocionais.

Estes resultados vão ao encontro dos obtidos em estudos anteriores (Starcke et al.,

2012; Youssef et al., 2012) que sugeriram que o stresse parece predispor os indivíduos

a dar respostas emocionais automáticas, não utilitárias, em dilemas morais de forte

conflito, suportando a noção de que as emoções desempenham um papel importante

na decisão moral.

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De acordo com literatura consultada, a forte carga emocional provocada no

indivíduo ao experienciar uma situação stressante parece promover uma dificuldade na

capacidade de pensar racionalmente sobre dilemas morais (Caviola & Faber, 2014),

ativando um maior envolvimento emocional, uma vez que se trata de decidir salvar um

conjunto de pessoas perante o sacrifício de uma outra (Greene et al., 2004).

Consequentemente, o processo de tomada de decisão conduz a uma resposta mais

emocional por parte do indivíduo, ao contrário de uma mais racional e utilitária que

parece estar inibida por influência do stresse (Banich et al., 2009).

Quanto aos dilemas em estudo, o efeito do stresse na redução de respostas

utilitárias foi o mesmo tanto para os dilemas morais pessoais como para os morais

impessoais, estes resultados foram encontrados igualmente por Starcke e

colaboradores (2012). Contudo, no estudo de Youssef e colaboradores (2012), apenas

os dilemas pessoais pareceram ter sido afetados pelo stresse. De certa forma era

esperado que este tipo de dilemas sofresse mais influência do stresse porque envolvem

ações emocionalmente aversivas que provocam maior conflito emocional e requerem

um envolvimento pessoal por parte do indivíduo comparativamente aos dilemas

impessoais. No entanto, esta divergência de resultados, entre autores, pode dever-se a

motivos metodológicos, uma vez que a seleção de dilemas foi diferente entre os

estudos, o que poderá ter conduzido a uma dissemelhança no impacto emocional

provocado.

Em relação aos tempos de reação, foi observado que os participantes

necessitaram de mais tempo para tomar uma decisão utilitária perante dilemas morais

pessoais do que nos dilemas morais impessoais. A investigação refere que os tempos

de latência na tomada de decisão diferem a respeito do tipo de dilema e do tipo de

escolha, sendo que nos dilemas pessoais, os participantes necessitam de maior tempo

para tomar uma decisão utilitária (Greene et al., 2004).

No entanto, o stresse não alterou significativamente os tempos de reação aos

dilemas apresentados, resultados que divergem de estudos anteriores. Isto pode ser

explicado pelo facto de o stresse ativar preferencialmente processos emocionais

conhecidos pela sua componente automática, processamento rápido, conduzindo o

individuo a reagir mais rapidamente (Youssef et al., 2012). Como a resposta ao stresse pode ser influenciada por características individuais,

como a personalidade, foi um dos objetivos deste estudo averiguar se um contexto

emocional intenso, como o stresse, revela os efeitos da personalidade perante dilemas

morais. Alguns autores defendem que personalidades pertencentes à denominada

Tríade Negra da personalidade (com traços maquiavélicos, narcisistas e psicopáticos),

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revelam dificuldades no processamento de emoções sociais e um desenvolvimento

moral atípico.

No nosso estudo, tal como esperávamos, os indivíduos com traços de

personalidade da Tríade Negra realizaram mais julgamentos utilitários do que o grupo

de participantes saudáveis, o que sugere que os indivíduos da Tríade Negra têm uma

resposta mais racional, fria e calculista perante dilemas morais (tanto pessoais como

impessoais), cuja intensidade emocional é forte. Os resultados vão ao encontro de

estudos anteriores (Arvan, 2013; Djeriouat & Trémolière, 2014) que apontam para que

os indivíduos com estes traços apresentam um padrão atípico no seu julgamento moral

quando comparados com indivíduos da população geral.

De acordo com Djeriouat e Trémolière (2014), estes traços de personalidade

tendem a apresentar uma inclinição mais utilitária devido a uma diminuição na

preocupação pelos principios morais associados à proteção da integridade física do

indivíduo e por uma menor preocupação em aceder a comportamentos altruístas e pró-

sociais.

Apesar das diferenças na atribuição de respostas utilitárias entre os grupos de

personalidade subclínica não serem afetadas de forma estatisticamente significativa

pelo stresse, uma análise mais detalhada dos resultados sugere que a reação aos

dilemas morais pessoais em situação de stresse pode depender da personalidade. Na

verdade, embora se tenha observado nos indivíduos narcisistas um padrão utilitário

semelhante em situação de stresse e em situação sem stresse, nos indivíduos

maquiavélicos e no grupo saudável constatou-se uma diminuição das respostas

utilitárias perante a situação stressante. Deste modo, os resultados parecem sugerir que

um contexto de maior emotividade evidencia as diferenças entre os traços de

personalidade dominantes do indivíduo no que toca à forma como estes processam as

emoções na realização de julgamentos morais.

Esta diferença pode dever-se ao facto dos narcísicos lidarem com o stresse de

forma mais adaptativa do que os maquiavélicos, que apresentam uma maior reação

emocional perante este (Birkás et al., 2016) e, por tal, suscitar uma maior emotividade

perante os dilemas morais.

O narcisismo apresenta estratégias de coping mais dirigidas a alterar ou resolver

a situação stressante e, geralmente, é associado a um alto nível de autocontrolo

(Jonason & Tost, 2010). Este aspeto autorregulador é uma característica essencial no

coping do narcísico que se torna numa estratégia efetiva para controlar as reações

emocionais em situações stressantes (Folkman & Moskowitz, 2004) e que pode

contribuir para a manutenção de um padrão utilitário mais racional perante dilemas

morais.

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20

No sentido contrário, o maquiavelismo tende a promover estratégias de coping

emocionalmente mais orientadas (Birkás et al., 2016), bem como, revela uma

associação a altos níveis de ansiedade-traço, o que sugere indivíduos extremamente

ansiosos e com uma maior consciência de consequências negativas. Esta ligação pode

evidenciar as características da “mente maquiavelista” que a diferenciam de outras

personalidades patológicas semelhantes (Al Ain, Carre, Fantini-Hauwel, Baudouin, &

Besche-Richard, 2013), inclusive, num padrão moral distinto.

Podemos então concluir que, pela forma como estes traços se diferenciam

perante situações emocionalmente carregadas, possa existir um processamento de

emoções distinto nestes indivíduos. Embora a investigação revele que os traços da

Tríade Negra revelem dificuldades de empatia no geral, o narcisismo apresenta uma

capacidade aumentada para inferir o estado mental do outro (teoria da mente), o que

indica que os défices referidos são provavelmente de natureza afetiva, enquanto um

nível da empatia cognitiva se mantém (Vonk, Zeigler-Hill, Ewing, Mercer, & Noser, 2015;

Wai & Tiliopoulos, 2012). Isto permite reter a sua capacidade para ler e avaliar as

emoções dos outros e, subsequentemente, utilizar esta informação sensitiva para

manipular e explorá-lo, enquanto a sua diminuída empatia afetiva pode conduzir a

ignorar os possíveis danos infligidos ao outro durante este processo.

No entanto, o maquiavelismo revela uma associação negativa com a teoria da

mente, sendo possível concluir que dificuldades em perceber os estados mentais dos

outros poderá contribuir para uma desconfiança sobre estes e conduzir a uma maior

reatividade e instabilidade emocional (Vonk et al., 2015). Logo, o processamento

emocional do maquiavélico poderá conduzi-lo a comportar-se de forma mais próxima do

grupo saudável, enquanto que os narcísicos ao não serem afetados tanto pelas

variações emocionais, tornam-se menos permeáveis ao stresse e às respostas

automáticas e emocionais esperadas.

Esta reação diferente aos dilemas morais parecem antever uma desregulação

emocional superior no caso dos maquiavélicos e, neste contexto, a investigação tem

revelado que características como a grandiosidade e exibicionismo nos narcísicos estão

relacionadas a uma maior regulação perante experiências emocionais (Zeigler-Hill &

Vonk, 2015). Uma vez que a tarefa de indução de stresse era constituída por uma

avaliação das capacidades intelectuais do individuo, esta pode tido um efeito menor no

narcísico devido a estas suas características que o conduzem a exibir e hipervalorizar

as suas capacidades.

As correlações realizadas apontam nesse sentido ao encontrar uma associação

negativa entre o narcisismo e a resposta individual do stresse, o que sugere uma menor

reação ao stresse por parte destes indivíduos. Uma associação na situação de stresse

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21

entre o maquiavelismo e o nível de afetos negativos foi igualmente encontrada, esta

característica tende revelar uma maior sensibilidade a ameaças (Noser et al., 2015), o

que pode conduzir o indivíduo a fortes preocupações em proteger-se a si e aos outros

de possíveis danos e, por sua vez, traduzir-se numa maior concordância com as regras

e regulações em termos morais (Oxley et al., 2008).

Por fim, foi encontrada uma associação negativa entre o índice de empatia e

julgamentos utilitários, embora apenas nos dilemas morais impessoais. Existem

evidências na literatura que uma reduzida empatia pelas vítimas dos dilemas parece

conduzir a soluções mais utilitárias devido a uma tendência embotada para experienciar

emoções negativas face aos dilemas aversivos (Patil & Silani, 2014).

Esta perspetiva pode corroborar a teoria de Bartels e Pizarro (2011) que

defendem que uma solução utilitária pode não expressar sempre a intenção de atingir o

bem maior para todos, mas, pelo contrário, refletir uma indiferença em relação aos

princípios morais básicos durante o processo de decisão. Deste modo, o efeito da Tríade

Negra da personalidade nos dilemas morais é possivelmente mais atribuível a um

funcionamento emocional deficitário, inclinado a encarar a ética moral como irrelevante,

do que à aprovação, à primeira vista, do utilitarismo como estratégia principal (Djeriouat

& Trémolière, 2014).

Neste seguimento, para além do nível de empatia, outras características

consideradas aversivas têm revelado também uma fraca relação com valores morais

(Djeriouat & Trémolière, 2014; Noser et al., 2015); por exemplo, indivíduos com alto nível

de antagonismo revelam uma menor preocupação em proteger os outros de ameaças

ou injustiças quando realizam julgamento morais, estes resultados podem dever-se a

uma tendência dos indivíduos antagonistas a serem dissimulados, manipuladores e

agressivos (Paulhus & Williams, 2002). Indivíduos com alto nível de spitefulness,

dispostos a sacrificar-se e causar danos a si próprio de forma a prejudicar ou causar

dano ao outro, demonstram um padrão moral semelhante, possivelmente por um

reduzido nível de culpabilidade (Zeigler-Hill, Noser, Roof, Vonk, & Marcus, 2015).

Em suma, os resultados deste estudo parecem reforçar a noção de que um

contexto emocional como o stresse influencia o julgamento moral e, por sua vez,

evidencia as diferenças entre os traços de personalidade na forma como estes gerem

as emoções na realização de julgamentos morais. Deste modo, foi observado que

indivíduos com traços de personalidade subclínicos dão respostas morais menos

altruístas e emocionais em comparação com indivíduos sem estes traços, porém, num

contexto emocional stressante, maquiavélicos e narcísicos parecem apresentar uma

regulação emocional que tem implicações distintas na moralidade de cada traço.

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Apesar dos resultados deste estudo nos parecerem interessantes e passíveis de

serem empiricamente aprofundados, algumas limitações foram encontradas ao longo

do estudo. Em primeiro lugar, o número insuficiente de participantes por grupo de

personalidade e uma distribuição não equilibrada dos sexos nestes grupos. Este facto

não permitiu a realização de análises estatísticas mais robustas ou de conclusões mais

generalizáveis.

A avaliação dos traços de personalidade da Tríade Negra através de uma

medida de autorresposta pode ter sido influenciada pela desejabilidade social dos

participantes, conduzindo a uma relutância em afirmar determinadas características por

estas serem consideradas socialmente aversivas. A mesma desejabilidade social pode

também ter influenciado as respostas dadas aos dilemas morais, uma vez que soluções

utilitárias podem demonstrar uma frieza emocional no indivíduo e conduzir a

julgamentos menos utilitários, deste modo, os resultados devem ser relativizados por

poderem não transmitir a verdadeira decisão moral do indivíduo.

Por último, o cansaço do participante inerente à morosidade da tarefa

experimental poderá igualmente ter tido uma influência nos resultados, na medida em

que a atenção e concentração do sujeito podem diminuir ao longo do tempo e contribuir

para um aumento nos tempos de decisão nos dilemas.

Embora o estudo apresente as limitações referidas, os resultados obtidos

parecem revelar um pequeno contributo para a discussão em torno da influência do

stresse na moralidade. As conclusões encontradas vêm reforçar o papel das emoções

na decisão moral e o efeito que a personalidade do indivíduo tem neste processo.

Em futuras investigações, será importante a avaliação de um maior grupo de

participantes, nomeadamente, de um grupo clinico de personalidade patológica. A

avaliação dos traços de personalidade e do julgamento moral do indivíduo poderá

também beneficiar de outros métodos de investigação através da utilização de outras

medidas que não apenas de autorresposta. O aprofundar da regulação emocional

destes traços de personalidade da Tríade Negra, em contextos emocionais, poderá

melhor explicar as características diferenciadoras da personalidade na decisão moral.

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ANEXOS

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Anexo I - Inventário de Personalidade Short Dark Triad

Instruções: Por favor, classifique o grau com que concorda com as seguintes afirmações de acordo com a escala seguinte. Seja sincero nas suas respostas, todas estas serão confidenciais.

Discordo Fortemente

1

Discordo um Pouco

2

Não concordo nem discordo

3

Concordo um Pouco

4

Concordo Fortemente

5

Discordo Fortemente

Discordo um

Pouco

Não concordo

nem discordo

Concordo um Pouco

Concordo Fortemente

1. Não é inteligente contar os seus

segredos. 1 2 3 4 5

2. A maioria das pessoas que

progride na vida leva vidas

moralmente limpas.

1 2 3 4 5

3. De um modo geral, as pessoas

não trabalham arduamente a menos

que o tenham de o fazer.

1 2 3 4 5

4. Nasce um idiota a cada minuto. 1 2 3 4 5

5. Custe o que custar, há que ter as

pessoas importantes do seu lado. 1 2 3 4 5

6. Cuidado com o que se diz porque

nunca se sabe quem pode ser útil no

futuro.

1 2 3 4 5

7. É inteligente guardar informação

que se possa utilizar contra as

pessoas mais tarde.

1 2 3 4 5

8. Deve-se esperar pelo momento

certo para se vingar das pessoas. 1 2 3 4 5

9. Há coisas que não se devem

contar aos outros pois estes não

precisam de saber.

1 2 3 4 5

10. As pessoas veem-me como um

líder. 1 2 3 4 5

11. Odeio ser o centro das atenções. 1 2 3 4 5

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12. Muitas atividades de grupo

tendem a ser aborrecidas sem mim. 1 2 3 4 5

13. Eu sei que sou especial porque

toda a gente me diz isso. 1 2 3 4 5

14. Aqueles com talento e boa

aparência não os devem esconder. 1 2 3 4 5

15. Gosto de me relacionar com

pessoas importantes. 1 2 3 4 5

16. Sinto-me envergonhado(a)

quando alguém me elogia. 1 2 3 4 5

17. Já fui comparado(a) a pessoas

famosas. 1 2 3 4 5

18. É provável que me exiba se tiver

a oportunidade. 1 2 3 4 5

19. Gosto de me vingar das

autoridades. 1 2 3 4 5

20. Evito situações perigosas. 1 2 3 4 5

21. Procuro emoções fortes. 1 2 3 4 5

22. A vingança deve ser rápida e

desagradável. 1 2 3 4 5

23. As pessoas costumam dizer que

estou fora de controlo. 1 2 3 4 5

24. É verdade que posso ser cruel. 1 2 3 4 5

25. Quem se mete comigo

arrepende-se sempre. 1 2 3 4 5

26. Nunca tive problemas com a lei. 1 2 3 4 5

27. Gosto de me meter com os

falhados. 1 2 3 4 5

Por favor, certifique-se de que respondeu a todas as afirmações. Obrigado pela colaboração.

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Anexo II- Entrevista Semi-Estruturada

Leia cuidadosamente cada uma das perguntas seguintes e responda com a maior

sinceridade.

Como se sentiu quando lhe foi pedido que elaborasse um discurso acerca das

suas capacidades cognitivas perante especialistas em Psicologia?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

O que pensou quando lhe foi pedido que elaborasse o mesmo discurso?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

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Na tabela que se segue estão presentes emoções básicas e emoções sociais. Indique

com que intensidade sentiu cada uma das emoções seguintes, quando lhe foi pedido que

elaborasse um discurso acerca das suas capacidades cognitivas perante especialistas na

área de Psicologia.

Leia cada palavra e marque a resposta com uma cruz (X) de acordo com a escala

seguinte:

Nada 1

2

3

4

5

6

Extremamente 7

Alegria Indiferença Raiva Inutilidade Surpresa Vaidade Vergonha Desprezo Tristeza Ansiedade Incapacidade Humilhação Medo Angústia Orgulho Nojo

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Anexo III – Subteste das Matrizes de Raven

(versão adaptada falseada)

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Anexo IV – Dilemas utilizados na tarefa de julgamento moral

(Martins & Reis, 2007)

DILEMAS NÃO MORAIS (N=6) 1. Colheita de Nabos

Você é um agricultor e conduz uma máquina de colher nabos.

Está a aproximar-se de dois trajetos. Se optar pelo trajeto da esquerda colherá dez

nabos. Se optar pelo trajeto da direita colherá vinte nabos. Se nada fizer a sua máquina

voltará para a esquerda.

Para conseguir colher os vinte nabos em vez de dez optaria por voltar a sua

máquina para a direita?

2. Bolachas Decidiu fazer bolachas de chocolate para si próprio. Abre o seu livro de receitas

e encontra uma receita de bolachas de chocolate. Na receita diz para acrescentar

nozes. No entanto, você não gosta de nozes mas gosta de amêndoas. Acontece que

tem ambos os tipos de frutos secos disponíveis.

A fim de evitar comer as nozes optaria por substituí-las pelas amêndoas? 3. Exame

Um representante respeitável de uma organização nacional de sondagens,

telefona-lhe para casa enquanto está a jantar calmo e tranquilamente. O representante

explica-lhe que se estiver disposto a despender 30 minutos do seu tempo para

responder a algumas perguntas sobre os serviços prestados pela sua organização,

enviar-lhe-á um cheque de 200 €.

Para ganhar os 200 euros optaria por interromper o seu jantar? 4. Tipo genérico

Você está com dor de cabeça. Vai a uma farmácia com a intenção de comprar

um medicamento de marca que costuma tomar. Quando chega à farmácia, o

farmacêutico diz-lhe que não tem o medicamento que pretendia. Contudo, o

farmacêutico, em quem tem muita confiança, diz-lhe que tem um medicamento

genérico "exatamente igual" ao produto que necessitava.

Optaria pela compra do genérico em vez de procurar pelo medicamento da

marca que pretendia?

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5. Rota Um velho amigo convida-o a passar o fim-de-semana na sua casa de férias,

situada a alguns quilómetros acima da costa onde você mora. Pretende viajar até lá de

carro mas existem dois caminhos pelos quais pode optar: pela autoestrada ou por uma

estrada secundária pela costa. O caminho pela autoestrada, levá-lo-á à casa do seu

amigo aproximadamente três horas, mas a paisagem é muito aborrecida. O caminho

pela costa, demora cerca de três horas e quinze minutos e a paisagem é muito bonita.

Para observar a paisagem bonita optaria pela vez pela costa? 6. Comboio ou Autocarro

Precisa de viajar de Lisboa ao Porto a fim de participar numa reunião que

começa às 14h00. Tem duas alternativas, ou viaja de comboio ou de autocarro. O

comboio chega à hora da sua reunião, aconteça o que acontecer. Estima-se que o

autocarro chegue uma hora antes da reunião, no entanto pode atrasar-se várias vezes

por causa do trânsito. Seria agradável chegar uma hora antes da reunião, mas não

pode correr o risco de se atrasar.

Para não chegar atrasado à reunião optaria pelo comboio em vez do autocarro? DILEMAS MORAIS IMPESSOAIS (N=8)

(TOTAL DAS MÉDIAS DE INTENSIDADE EMOCIONAL: 2.21, NUMA ESCALA DE 1

A 7)

1. Dica para a Bolsa Você é gestor de contas numa empresa de consultadoria e está a trabalhar num

caso para um cliente importante. Esta posição permite-lhe ter acesso a informação

confidencial que seria muito útil aos investidores. Tem uma amiga que joga na bolsa

de valores e lhe deve uma soma considerável de dinheiro. Se lhe der uma determinada

informação confidencial você poderá ajuda-la a ganhar muito dinheiro, muito mais do

aquele que lhe deve. Se lhe cedesse esta informação, ela anularia a sua dívida. No

entanto, dar informações confidenciais é proibido por lei.

Para pagar a dívida à sua amiga optaria por lhe dar a informação?

2. Fumo Você é o guarda-noturno de um hospital. Devido a um acidente na porta ao lado

do seu edifício, começam a surgir fumos mortais e que passam através do sistema da

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ventilação do hospital. Num dos quartos do hospital estão três doentes e num outro

quarto há apenas um único doente. Se não fizer nada, o fumo chegará ao quarto e

causar-lhes-á a morte. A única maneira de evitar as mortes destes três doentes será

premir um determinado interruptor que fará com que o fumo contorne o quarto onde se

encontram. No entanto, esta opção fará com que o fumo entre no quarto onde se

encontra o doente sozinho, causando a sua morte.

Para evitar a morte dos três doentes optaria por premir o interruptor? 3. Escultura

Você está a visitar um jardim de esculturas de um colecionador de arte muito

rico. Do jardim é possível ver um vale onde passam umas linhas-férreas. Nas linhas

encontra-se um homem a trabalhar e uma carruagem está a aproximar-se do homem.

A única forma de salvar o trabalhador é empurrar uma das galardoadas esculturas para

cima dos carris para travar a carruagem, ao fazer isto vai destruir a escultura.

Para salvar a vida do trabalhador optaria por destruir a escultura? 3. Currículo

Tem tentado, ultimamente, encontrar um trabalho sem muito sucesso. No

entanto, considera que seria mais provável encontrar um trabalho se tivesse um

currículo melhor. A colocação de informações falsas em muito melhoraria o seu

currículo. Ao fazer isto pode finalmente começar a trabalhar, excluindo assim diversos

candidatos mais qualificados que você.

Para encontrar emprego optaria por colocar informações falsas no seu currículo? 4. Impostos

Você é o proprietário de uma empresa de pequeno porte. Ocorre-lhe que

poderia fazer diminuir os seus impostos fingindo que algumas de suas despesas

pessoais são despesas referentes ao seu negócio. Por exemplo, poderia fingir que a

aparelhagem do seu quarto está a ser usada no seu escritório, ou que os jantares com

sua esposa no restaurante são jantares com clientes.

A fim de diminuir os seus impostos optaria por omitir que determinadas

despesas pessoais eram despesas de negócios?

5. Carteira Perdida Você está a andar pela rua quando vê uma carteira no chão. Abre a carteira e

encontra várias centenas de euros em dinheiro e a carta de condução do dono. Repara

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também, pelo número de cartões de crédito e por outros documentos, que o dono da

carteira é rico. Por outro lado, você tem tido períodos financeiros bastante duros e um

dinheiro extra fazia-lhe jeito. Ocorre-lhe enviar a carteira ao proprietário sem o dinheiro.

Para ficar com mais dinheiro para si, optaria por enviar a carteira sem o dinheiro? 6. Barco Rápido

Você está de férias numa ilha longínqua. Encontra-se a pescar numa doca e

observa um grupo de turistas a bordo de um barco pequeno a navegar para uma ilha

próxima. Logo depois da sua partida, ouve no rádio que há uma tempestade violenta

a aproximar-se e tem a certeza que a tempestade vai intercetar o grupo de turistas. A

única maneira de garantir a segurança destes, é pedir emprestado um barco rápido

para os avisar. O barco rápido pertence a um miserável homem de negócios que não

irá aceitar emprestar-lhe o barco de que precisa.

Para prevenir os turistas da aproximação da tempestade optaria por pedir o

barco emprestado?

7. Almoço ilegal Você é um advogado que se encontra a trabalhar num caso importante. O juiz

que irá estar no julgamento é um velho amigo que estudou consigo na faculdade. Eram

bastante amigos, mas agora, décadas mais tarde, parece que seu velho amigo não se

recorda de si. No entanto, tem a certeza de que se falar com ele durante o almoço

poderia fazer que este se recordasse de si, o que seria muito bom para o seu caso. É

ilegal que juízes e advogados se encontrem socialmente quando estão envolvidos no

mesmo caso jurídico.

Para o ajudar a ganhar o caso optaria por encontrar-se com o juiz socialmente?

DILEMAS MORAIS PESSOAIS (N=12)

(TOTAL MÉDIAS INTENSIDADE EMOCIONAL: 5.7, NUMA ESCALA DE 1 A 7) 1. Transplante

Você é médico. Tem cinco doentes, cada um deles poderá vir a morrer por mau

funcionamento de um órgão. Tem um outro doente que é saudável. A única maneira

de poder preservar as vidas dos primeiros cinco doentes é transplantar cinco de órgãos

deste homem saudável (contra a sua vontade) para os corpos dos outros cinco

doentes. Se fizer este transplante, o homem saudável morrerá, mas os outros cinco

doentes viverão.

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A fim de salvar a vida dos cinco doentes optaria por realizar este transplante? 2. Ponte

Uma carruagem vai na direção de cinco trabalhadores que serão mortos se o

comboio não alterar o seu percurso atual. Você está numa ponte por cima dos carris,

entre o comboio e os cinco trabalhadores, e ao seu lado surge um homem

desconhecido muito grande. A única maneira de salvar a vida dos cinco trabalhadores

é empurrar o desconhecido para fora da ponte, para que este caia em cima dos carris

de forma a que o seu corpo trave o comboio. O desconhecido morrerá mas os cinco

trabalhadores serão salvos.

Para salvar a vida dos cinco trabalhadores optaria por empurrar o desconhecido

para os carris?

3. Arquiteto Você é um arquiteto novo que vai visitar uma das suas construções com o seu

patrão. O seu patrão é um indivíduo desprezável que faz com que todos em torno dele

se sintam miseráveis incluindo você. Ocorre-lhe que se o empurrasse do edifício todos

pensariam que a sua morte tinha sido um acidente.

Para o colocar fora da sua vida optaria por empurrar o seu patrão do edifício? 4. Choro do bebé

Soldados inimigos invadiram a sua aldeia. Têm ordens para matar todos os

civis. Você e alguns habitantes da cidade procuram o refúgio na adega de uma casa

grande. Lá fora ouvem as vozes dos soldados que vieram procurar na casa artigos de

valor. O seu bebé começa a chorar muito alto e tapa-lhe a boca para o silenciar. Se

tirar a mão da boca do bebé chamará a atenção dos soldados que o matarão a si, a

sua criança e restantes que se encontram escondidos na adega. Para se salvar a si e

os restantes terá que asfixiar a sua criança até à morte.

A fim de salvar a sua vida e dos outros optaria por asfixiar a sua criança? 5. Infanticida

Você é uma menina de quinze anos e ficou grávida. Durante a gravidez, usou

deliberadamente roupa larga e controlou o peso para manter a sua gravidez em

segredo. Um dia, na escola, as suas águas rebentam. Corre até à casa de banho das

raparigas e esconde-se por diversas horas até ao nascimento do bebé. Tem a certeza

que não está preparada para cuidar deste bebé e pensa para si própria que seria um

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grande alívio limpar simplesmente tudo o que sujou, envolver o bebé em algumas

toalhas e deixá-lo num caixote do lixo atrás da escola, agindo como se nada tivesse

acontecido.

A fim de fazer a sua vida normal optaria por deixar o bebé no caixote do lixo? 6. Sacrifício

Você, o seu marido, e as suas quatro crianças estão a atravessar a montanha

em direção à sua casa. Inadvertidamente acampam em cima de um cemitério sagrado

de uma tribo local. O líder da tribo diz que de acordo com as leis locais, você e sua

família devem ser condenados à morte. Contudo, o seu marido e os seus três filhos

mais novos poderão viver se você matar o seu filho mais velho.

A fim de salvar o seu marido e as suas outras crianças optaria por matar o seu

filho mais velho?

7. Tempos Difíceis Você é um chefe de uma família pobre num país em vias de desenvolvimento.

As suas colheitas falharam pelo segundo ano consecutivo, e parece que não tem

nenhuma maneira de alimentar sua família. Os seus filhos, de oito e dez anos, são

demasiado novos para trabalhar fora da cidade, mas a sua filha poderia fazer com que

a situação da sua família melhorasse. Conhece um homem da sua vila que vive na

cidade e que faz filmes sexuais explícitos com crianças da idade da sua filha. Ele diz-

lhe que com um ano de trabalho no seu estúdio, a sua filha ganharia dinheiro suficiente

para manter sua família alimentada por muito tempo.

A fim de alimentar a sua família optaria por empregar a sua filha na indústria

pornográfica?

8. Asfixia por Euros Você está na sala de espera do hospital para visitar um amigo que está doente.

Um homem senta-se ao seu lado e diz-lhe que o pai dele está muito doente. Os

médicos acreditam que tem uma semana de vida na melhor das hipóteses. Explica

ainda que o pai tem um seguro de vida que expira à meia-noite. Se o pai deste senhor

morrer antes da meia-noite, ele receberia uma quantia elevada de dinheiro. Ele diz-lhe

que o dinheiro significaria um ótimo negócio para ele e que não lhe interessaria que o

seu pai vivesse mais uns dias. Oferece-lhe metade de um milhão de euros se for até

ao quarto do pai e o asfixiar com uma almofada.

A fim de ganhar o dinheiro proposto optaria por matar o pai deste homem?

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9. Queda do Avião

O seu avião caiu nos Himalaias. Os únicos sobreviventes foram você, um outro

homem e um menino novo. Após a queda, viajaram vários dias com um frio extremo e

vento. A única hipótese de sobreviver é encontrar o caminho para uma pequena vila

no outro lado da montanha mas que levaria vários dias desde o local onde se

encontram. O rapaz tem uma perna partida e não se pode mover rapidamente. A

hipótese do rapaz sobreviver à viagem é nula. Sem alimentos, você e o outro homem,

também morrerão. O outro homem sugere-lhe que sacrifique o menino e que comam

os seus restos durante os dias seguintes.

Para que ambos sobrevivam a esta viagem com toda a segurança optaria por

matar o menino?

10. Eutanásia Você é o líder de um pequeno grupo de soldados. Quando estão na volta de

uma missão concluída no território inimigo, um de seus homens pisa uma armadilha

montada pelo inimigo e fica gravemente ferido. A armadilha está ligada a um dispositivo

de rádio que alerta o inimigo da vossa presença e rapidamente fará com que vos

encontrem. Se o inimigo encontrar o seu homem ferido irá torturá-lo e de seguida matá-

lo. Ele implora-lhe para não o deixar, mas se você o fizer, o grupo inteiro será

capturado. A única maneira de impedir que este soldado ferido seja torturado é disparar

sobre ele.

A fim de impedir que o soldado seja torturado pelo inimigo optaria por disparar

sobre ele?

10. Bomba Você está a negociar com um terrorista, poderoso e determinado, e que está

determinado a fazer rebentar uma bomba numa área cheia de pessoas. A sua

vantagem é que tem, sob a sua custódia, o filho dele adolescente. Há somente uma

coisa que poderá fazer para o impedir de detonar a bomba que mataria milhares de

pessoas. Deve contatá-lo, por uma ligação via satélite que este estabeleceu, e, em

frente da câmara, partir um dos braços do filho do terrorista e ameaçar partir o outro

braço, caso não desista.

A fim de impedir que milhares de pessoas morram optaria por partir o outro

braço do filho do terrorista?

11. Vacina

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Uma epidemia viral está a contaminar milhões de pessoas em todo o mundo.

Você desenvolveu duas substâncias no seu laboratório e sabe que uma das

substâncias é uma vacina, mas não sabe qual delas é. Sabe também que a outra

substância é mortal. No entanto, a substância que é a vacina pode salvar milhões das

vidas. Tem perto de si duas pessoas que estão sob o seu cuidado, e a única forma de

identificar qual das substâncias é a vacina é injetar em cada uma destas pessoas uma

das substâncias. Uma pessoa viverá, a outra morrerá, e assim poderá começar a salvar

vidas com a sua vacina.

A fim de identificar a vacina que tem a capacidade de salvar milhões de vidas

optaria por matar uma destas pessoas com uma injeção mortal?