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Passa lá em casa
O Meio: Entre nádegas
Fernanda Machado de Farias
Junho de 2013
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Concepção da capa: Fernanda Machado de Farias sob ilustração de Yoko Tanji
Contracapa: Lucrezia Crivelli de Leonardo da Vinci
Acesse o blog do livro: Passa lá em casa Cultura Pop
ou
http://fantasmassolitarios.wordpress.com/
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“No sonho não existe espaço para verdade ou inverdade, para a lógica ou a
fantasia. No sonho está o homem inteiro, com tudo aquilo que ele não sabe
conscientemente e com tudo aquilo que ele não sabe e talvez possa não saber
jamais. Se a criação e o próprio homem não são nunca outra coisa que um
sonho, então esta é a sua indestrutível verdade. E tudo existe como existe
o homem. Porque existe o homem que sonha”. Roberto Sicuteri
“O que era a vida cotidiana? Provavelmente um enigma sem solução”.
Yukio Mishima
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CREPUSCULARES
λανήτης1
Silêncio!
Há três fatores a serem observados:
1º A amplidão da estrela que entrará em colapso e se transformará numa supernova;
2º O planeta que orbita a estrela em breve avançará sua atmosfera;
3º Um asteroide tem como rumo o Planeta;
A estrela, uma hipergigante vermelha com massa 300 vezes a do Sol, aproxima-se do fim.
Pertencente a um sistema binário ejetava material a anã branca. Sua expansão gradativamente puxa
corpos próximos fazendo chocar se em cataclismos.
As duas estrelas vagam solitárias formando um inferno de existência com o único planeta que
orbita seu sistema. Os filamentos de plasma da estrela jorram para o pontilhado universo. Sendo uma
hipergigante o tempo de sua existência é curto e está próximo do fim. O fim que leva consigo o
Planeta.
Ela clareia apenas uma esfera negra que gira em sua orbita.
Coberto de um manto escuro e espesso, o gigantesco planeta é atraído pela força de maré. O
colapso se anuncia para os três corpos.
Por esse fato outros corpos celestes foram atraídos de encontro ao gigantesco Planeta
telúrico. Presos em seu campo gravitacional os noventa satélites que orbitavam o Planeta foram
fragmentados e serviram para bombardear seu solo.
Se pensa que há formas de vida lá? Não há.
1 planeta (do grego πλανήτης, forma alternativa de πλάνης "errante");
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Há incontáveis anos em que permanece envolto numa densa camada de gás carbônico e
poeira.
Não há como ver nem um minúsculo ponto de luz, exceto pelas colunas em lava. Por raios
que rasgam a escuridão.
Essas seriam as únicas fontes de luz.
Cadeias vulcânicas expelindo colunas imensas de lava por centenas de anos. E se esgotam,
e tudo retorna ao escuro absoluto. Em outro ponto cadeias vulcânicas expelem lava formando um
filamento de fogo que jorram para a atmosfera. A chuva de acido nítrico desaba há milhares de anos
e esteriliza o solo. Com sucessivas quedas de corpos celestes.
O asteroide que há milhares de anos se direciona ao Planeta Negro. Avança para sua
atmosfera numa viagem que leva outros tantos anos. Ao penetrá-la parte-se em bilhões de pedaços.
Na rotação veloz do planeta, diferentes pontos são bombardeados. Cada fragmento que impacta o
chão poderia ser substituído por um numero incontável de bombas atômicas.
Mesmo com o interior do planeta queimando, a luz não consegue alcançar as fronteiras do
gás que rodeia sua circunferência. Mesmo o poder de uma hipergigante vermelha não consegue
atravessá-lo. Torna seu fogo um assunto reservado. Terremotos varrem todo seu terreno fazendo
levantar suas placas tectônicas num tremor estrondoso.
Ondas com muitos quilômetros de altura invadem seu interior em sons ensurdecedores, se
elevam e varrem.
A lava e o fogo, evaporizam as água que se acumulam em sua atmosfera, formando uma
camada que para atravessá-la levaria centenas de anos.
Um tempo incontável se passa para que ela, a chuva, caia mais uma vez de forma
ininterrupta.
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Segundos depois estaria acabado. Existiria em pedaços, depois da explosão. Pedaços que
ainda orbitavam a estrela. Chegada a hora a estrela explodiu para uma supernova. A supernova
ofuscou parte da galáxia.
Dela, outras estrelas e planetas surgirão.
Augusto estava pensando no seu câncer. Tinha Nervoso nas pernas dormindo
profundamente. O gato tremia. Na varanda gourmet, Cotonete esfriava a barriga na cerâmica do piso.
Para tal efeito abria bem as patas traseiras e dianteiras. De tempos em tempos mudava de lugar.
Assim mantinha sua barriga fria. Miautralha vinha da ala intima e se dirigia para ala de serviço.
Quitéria apareceu para dizer que iria servir o lanche da tarde.
— Sirva na varanda.
— Com o fedo do rio?
— Meu nariz já está anestesiado ─ gritou rindo.
Para lá ela se dirigiu. Levou uma toalha rendada e uma bandeja linda trabalhada em prata
com peças raras em porcelana do século XVIII. Coisas da Jordâna. Depois levou outra bandeja onde
tinha o croissant de chocolate, queijo e biscoitos amanteigados.
Augusto levantou e pôs Nervoso nos ombros. Apertou sua barriguinha contra a cabeça e
sentiu a quentura. Sapateou junto com Carmen Miranda um samba assim:
E vim descendo, batucando os meus tamancos
Abandonado a malandragem e o barracão
Embora sendo nascida no morro e criada na orgia
Vi que essa gente não tem civilização2.
Sentou a mesa de frente para Quitéria.
2 Cabaret no morro – Herivelto Martins (1912 – 1992);
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— Aí seu Augusto, ouvi dizer que a estrela vai explodi ─ Quitéria comia biscoito e encheu
uma xícara de café.
Ele não responde de imediato, mastigava croissant. Ela olhou para o céu com filamentos fulva
no horizonte cortados pelos prédios altos.
— Isso vai demorar.
— Mas qual das duas?
Duas bolas queimavam no céu. Uma branca do tamanho de um satélite como a Lua e outras
cinco vezes maior mostrava sua face escarlate.
— A maior, a que os cientistas chamam de hipergigante. A menor vai se afastar e roubar um
pouco da força de hipergigante.
— Deus do céu! Vai ser horrível.
— Horrível é guerra no Iraque.
Transcorreu o resto do lanche em silencio.
Era domingo e Augusto voltou a se sentar na varanda ao entardecer. Pelo menos trinta e seis
satélites cheios eram vistos de sua poltrona. Com uma coloração furta-cor das estrelas que refletiam
era um afago a visão.
Ele não gostava da pessoa de Deus. Na verdade o achava abstrato demais para ser levado
em consideração. Porem apenas um detalhe o fazia baixar a cabeça. A coloração azul e fulva do céu.
Considerava o seguinte:
“É um presente”.
Deus existe por apenas um detalhe, o azul do céu.
Esfera.
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Deteve-se no assunto. O circulo um desenho sem começo meio e fim. Se fosse plano o que
seria de suas bordas? Conheceríamos seus limites. Pensava nisso e em seu câncer. Depois se
fechava em tristeza.
Acariciou a cabeça da Cotonete e sorriu pra ela.
— Será aterrorizante Cotonete, mas...
Augusto sabia que daqui milhares de anos ele não existiria mesmo.
Olhou para o céu e viu:
Trinta e seis satélites e um ponto de luz em chama.
εριφορα
Escutem!
O Universo surgiu num espaço de tempo tão curto (trilionésimo de um segundo) que é difícil
transpô-lo para o nosso dia-a-dia. Depois de 380 000 anos a formação primordial que ecoa há mais
de 13 000 000 000 de anos aconteceu. Simplesmente aconteceu a separação, esfriamento, junção e
foi.
Acontece que os telescópios conseguem mirar a mais de 46 000 000 000 de anos algo
bastante confuso para quem tem 13 000 000 000 de anos (ver física quântica se ajuda). Foi aí (380
000 depois do Big Bang) que começou a formação de estrelas, planetas, galáxias, matéria escura etc.
Note, 100 anos (a idade de Oscar Niemeyer) é muito diferente de 100 000 anos, (estamos
falando de milhares de anos) o tempo que o arquiteto precisaria para atravessar a Via láctea. É claro
que uma nave construída por humanos não duraria tantos anos. Digamos que é muito provável que
não, dado o desconhecimento humano em relação a total composição do Universo. É provável
também que os ossos do arquiteto (ele estaria morto há muito tempo e isso é fato) vagariam sozinhos
pelo espaço.
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Ou muito provável que os ossos também não existissem mais. Levando outro fator em
consideração de que o Universo não é espaço vazio e sim composto de tudo que conhecemos de
ouvir falar (aproximadamente 5%) além de Matéria Escura e Energia Escura (mais de 90%). Por
causa, em especial da gravidade, seus ossos seriam esmigalhados fazendo parte, quem sabe, dos
Pilares da Criação.
Ver Pilares da Criação da Nebulosa Tarântula na Galáxia satélite da Via láctea, Grande
Nuvem de Magalhães.
O que é para se escutar é o principio.
Algo mantinha seguros em fios como marionetes num equilíbrio termodinâmico entre radiação
e matéria. As finas linhas romperam e os dois separaram e nasceu o corpo negro. Esse barulhinho de
fundo foi capturado por antenas que não estavam dispostas a tal. Quer dizer, foi um acidente.
Pois foi justamente esse som capturado que confirmou o inicio.
Inicio.
A fecundação de Augusto se deu em segundos que após trinta horas passou a se dividir em
partes especificas etc., etc. Sua formação uterina se fez na data prevista pelo médico. Nasceu de
parto natural com 3.450 quilos, 51 centímetro, branquinho, de cabeça careca. Levou o safanão, foi
limpo e posto ao lado de Carmélia.
Augusto tem 14 anos e é o inicio.
Inicio para o Buggy à jato.
O televisor, assim vamos nos referir a ele, muito velho com seu tubo preso a uma caixa de
aglomerado exasperava Augusto. Nessa época, Levy, os gêmeos e Augusto moravam nos Campos
Elíseos, na mesma rua. A casa dos três eram parecidas, pois fora projetada pelo mesmo arquiteto.
Os pais, três homens, eram amigos desde que nasceram. Um foi padrinho do casamento do outro. Os
pais desses três homens eram amigos de longa data e previam casar seus filhos, uns com os outros.
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As tias de Augusto se rebelaram e não quiseram casar com o pai de Levy e nem com o pai dos
gêmeos. As tias não casaram e eles casaram com outras.
As três casas que moravam já foram demolidas e eles não sabem o que construíram em seu
lugar.
Pensou em assistir o desenho na casa de um dos dois, Levy ou gêmeos.
Girava a antena para todos os lados guiados por sua imaginação e não num raciocínio lógico.
Correu para a cozinha e pediu a Quitéria um pedaço de esponja de aço.
Na sala fez dois chumaços e arrumou nas pontas.
Chiava! Abriu a portinha no painel do lado esquerdo do aparelho. Girou todos os botões na
esperança. A música de abertura soava e Augusto resolveu ligar para o Levy.
O disco de acrílico do telefone girou conforme Augusto inseria o dedo nos círculos. Os
números de Levy. Pensou no televisor dele que tinha até controle remoto com fio. Ele não estava em
casa e o título do desenho foi anunciado e ele não ouviu. Voltou na disputa. Brilho, contraste,
volume... Girava todos.
A mãe chamou um técnico semana passada, que deu uma carga no aparelho que voltou sem
apresentar problema. Era segunda vez na semana que perdia um episodio do Buggy à Jato e ainda
estava no meio da semana. Ouviu a voz do Cosmo, o líder da turma.
Intervalo.
A chance.
Virou de todas as maneiras as hastes e quase quebrou.
Correu para o telefone e os gêmeos estavam em casa lutando com seu aparelho. Disseram
que estavam indo para casa de Augusto.
Em minutos os gêmeos estavam no portão na Vitorino Carmilo.
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— Duvido que a gente consiga ver alguma coisa – Adamastor choroso.
— Dá pra ouvir algo – disse Augusto irado.
— É só colocar Bombril – Ananias.
Sentaram frente ao aparelho. Chuviscos e chiados.
Eles não sabem, mas aquilo que o COBE confirmou alguns anos depois estava presente
naquele casarão em estilo eclético. 1% do que suas antenas com esponja de aço captaram é
justamente o que os cientistas chamam de Radiação de Fundo. Enfim, quando a matéria se
desacoplou da radiação 380.000 anos depois do Big Bang e começou a formação do Universo. Ou
como alguns cientistas chamam o corpo negro de 2.726 K: o primeiro “fóssil” do Universo.
Buggy à jato, Decolar!
Φαέθων3
Exato momento.
Os dois irmãos se impacientavam na espera. O pior para eles era raciocinar sob algo que
simplesmente não acreditavam. Teriam que controlar a humildade, a falta de crença e se apegar as
cegas. Não isso. Na verdade deveria deixar o preconceito para o lado de fora das portas que se
abriam.
— Ele pode recebê-los agora – a secretaria veio informar.
Num imponente conjunto comercial no Brooklin em NY foram “recebidos” pela Sociedade ***.
O piso em mármore de uma arquitetura modernista mostrava um ambiente de trabalho, e era.
As torres se erguiam.
Entraram numa sala pouco mobiliada.
Um senhor que com muita dificuldade levantou da poltrona estendeu a mão.
3 Em grego "faetonte", que significa "iluminado";
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Sempre com um sorriso nos lábios parecia ter mais de cem anos de idade. Ele também
parecia surpreso com a pouca idade dos dois cientistas.
— Por favor, sentem.
— Se importa que ligue o gravador?
— De forma alguma, fiquem a vontade.
— O senhor sabe a que viemos?
— Sim. Por quê?
— Porque de todos que conversamos a respeito de mitos e lendas o senhor é dos mais... Eu
não sei como classificá-lo... – o mais velho procurava palavras.
— Tudo bem. Vamos ao propósito da visita de vocês.
— Sobre o mito...
— Esqueça o mito. Pelo menos dentro dessas paredes vamos vislumbrar os acontecimentos
reais.
— Sim. Da forma como realmente aconteceram.
— Um dilúvio hoje confirmado pelos cientistas. Às vezes agregado a eras glaciais. Porém
teve testemunhas que o registraram. Não é mito, é fato.
— Isso foi quando? – perguntou após ligar o gravador.
— No ano 2370 AEC.
— Anterior a essa data podemos ter um hiato maior?
— Sim.
— Todos os povos têm esse acontecimento vivo. Seria um registro histórico. Talvez superior
a documentos. Há mais de 270 historias conhecidas sobre o dilúvio. – comentou o mais velho.
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— Todo e qualquer povo tem esse relato vivo. Passado de geração a geração. Tem também
documentado. Os Maias têm tal registro. É algo que não se pode negar. A ciência nega porque se
tornou arrogante e desmerece toda e qualquer crença por achar que não há base. Se parasse um
instante descobriria que assim como diversos historiadores a bíblia também pode ser agregada a um
livro de crônicas e historia. Os cientistas poderiam ter muito mais respostas.
— De onde vieram as águas?
— Dos céus – respondeu o ancião.
— Moisés? Como saberia disso?
— Qual a resposta para O Paradoxo do Sol fraco4?
Os dois vasculharam a mente em busca de algo que sabiam superficialmente. Em seu
socorro o ancião levantou e se preparou para falar.
— Dizem que nos primórdios desse planeta ele recebia apenas 75% de luz solar. O que seria
suficiente para congelar absolutamente tudo. Por que apenas 75% dos raios solares penetravam a
Terra?
Foram lembrando-se de um intrigante quebra-cabeça cientifico. O satélite de Saturno, Titã
veio logo a memória.
— Por que buscar em Titã a resposta? Amônia seria a resposta? Duvido. A resposta é mais
simples. Quem melhor retém o calor que a água? Como um planeta que recebia apenas 75% dos
raios solares mantinha todos seus mares líquidos, sem gelo? Como? Será que não falta mais
humildade dos cientistas em analisarem pistas deixadas por outros estudiosos, mesmo carregadas de
mitos? Lenda é aquilo que foi esquecido em detalhes.
4 O Paradoxo do Jovem Sol Fraco ou problema descreve a contradição aparente entre observações
de água líquida no início da história da Terra, e a predição astrofísica de que o brilho do
Sol na época era de apenas 70% em relação ao presente, insuficiente para manter água no estado
líquido em condições terrestres do presente;
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— A resposta está no Sol não na Terra – o mais velho sem acreditar no que dissera.
Realmente, apenas de forma superficial conhecia o fato.
— Sendo assim eu busco Titã5. A resposta está na Terra. De que são feitos os mares de
Titã? De que são feitos os mares da Terra?
Com dificuldade em andar e um semblante calmo, sentou frente a sua mesa.
— O apostolo Pedro fala claramente em 2 Pe 3:5, 6. O texto apoia a passagem descrita por
Moises em Genesis. “Romperam-se todos os mananciais de vasta água de profundezas e abriram-se
as comportas dos céus”. Tudo foi coberto. O livro dos mortos diz a mesma coisa. Os geólogos e
paleoclimatologistas quando falam de regiões cobertas por um período curto de tempo, os mais altos
dos montes. Os animais marinhos encontrados longe do mar – disse o velho da Sociedade ***.
— Bom, isso a ciência explica... – o mais velho foi interrompido.
— Naturalmente que explica.
— Onde está a água?
— Você sabe que aqui mesmo. Se não fosse a profundeza dos oceanos a água subiria a uma
milha e meia.
— Sobre a variedade que constitui a natureza.
— Segundo sabemos, variedade muito maior se considerarmos as catástrofes na Terra. Claro
que o dilúvio não foi à primeira. E não será a última. Sobre a variedade, todos sabemos que se
tivermos em media 43 “espécies” de mamíferos, 74 “espécies” de aves e 10 “espécies de repteis,
podiam muito bem produzir a variedade que temos hoje. Se prestamos atenção no que Darwin diz,
não duvido que seus estudos estejam muito longe das lendas. A seleção natural é óbvia assim como
a criação.
5 Um dos satélites naturais de Saturno apresenta situação semelhante a que foi a Terra há
bilhões de anos;
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Os dois irmãos sentiram-se desconfortáveis a respeito da ultima afirmação.
— Será que esse prédio foi feito de um amontoado de material e o arquiteto sentou frente a
ele esperando que do nada surgisse? Tudo tem um principio. Nada é mais complexo que o ser
humano nesse planeta, então temos aí um projetista. Eu diria um grande projetista.
Nenhum dos dois respondeu.
— Tudo bem, esqueçam.
— Não. Prometemos vir aqui sem preconceitos. Mas devemos ser sinceros. Como acreditar
em algo que foi criado pelo homem? Se deus criou o homem, sou levado a crer que o homem criou
deus.
— Dificilmente eu diria que é mesmo ingênuo acreditar que de um társio veio o homem. Isso
é brincadeira de criança. É como forçar um quebra-cabeça.
— Como explica as patas com cinco dedos? Isso nos parece óbvio. Mesmo as datações com
carbono-14, potássio argônio, urânio, tório, termo luminescência, dendrocronologia.
— Seriam invalidadas todas as datas anteriores às catástrofes. Catástrofes como a que
ocorreu há 65 milhões de anos ou a que ocorreu há 12 mil anos. Todas essas datas estariam erradas.
— 12 mil anos?
— Platão não fala disso? Os Maias não falam disso? Ela foi documentada junto com o dilúvio.
Tiveram testemunhas.
— Testemunhas?
— Apenas a pressão da água, 2 toneladas por polegada quadrada seria suficiente para
fossilizar fauna e flora. Quanto dessa radiação não está errada devido não considerarmos o
cataclismo?
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— Melhor voltarmos ao dilúvio. – era primeira vez que o mais jovem falava. – Não há dúvidas
de que um dilúvio realmente aconteceu. Que de 40.000 m³ da arca couberam os animais que hoje
compõem a nossa fauna.
— Tenho que lhes dizer algo que... – pensou em não continuar. Apenas dizer. – A água que
hoje se encontra aqui pertencia a outra esfera.
— Bom – começou o mais velho – é natural que perguntemos o que quis dizer com isso.
Abriu a Bíblia.
— Toda a água que hoje faz parte da Terra não estava aqui antes do dilúvio.
— E onde ela estava? – incrédulo.
O mais novo virou o rosto na direção do velho.
— Ela estava na atmosfera.
Como dizer a este homem que acreditar em Deus era pedir muito? Acreditar na Bíblia era
pedir muito.
— A Bíblia foi um livro escrito por homens.
— A Bíblia fala isso. Basta ver o livro de...
— Talvez não tenha entendido direito sobre as águas.
— Havia uma separação de águas. Essas águas empurraram montes, o leito se aprofundou,
continentes inteiros desapareceram. Mas isso vocês já sabem.
— Há mais uma coisa. Os mamutes.
— Claro, os mamutes.
— Eles são a maior prova do dilúvio.
— O fato de terem morrido numa catástrofe repentina?
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— Não – respondeu o mais velho.
O ancião mantinha o semblante sereno. Pegou a bíblia que se encontrava na mesa mais
publicações de sua organização.
Continuou:
— O apostolo Pedro fala claramente em 2 Pedro 3:5, 6. O texto apoia a passagem descrita
por Moises em Genesis. “Romperam-se todos os mananciais de vasta água de profundezas e
abriram-se as comportas dos céus”. Tudo foi coberto. O livro dos mortos diz a mesma coisa. A
mitologia hindu... A paleontologia e geologia são claras quando falam de regiões cobertas por um
período curto de tempo os mais altos dos montes. Os animais marinhos encontrados longe do mar.
— Bom isso a ciência explica... – foi interrompido.
— Naturalmente que explica.
— Não explica? ─ o mais velho encarou o ancião.
— Vejamos o que diz Genesis, capitulo 1 e versículo 6 à 8.
Leu:
“E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e
águas. E fez Deus a expansão e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e
as águas que estavam sobre a expansão. E chamou Deus à expansão dos Céus”.
— Expansão. Há sim uma separação entre um volume de águas. Um sobre a atmosfera outro
sob a atmosfera que conhecemos hoje. Pois o que havia sobre desceu e inundou tudo e onde há
águas congeladas, pois lá que estão.
O mais novo se aproximou da mesa do homem. Mantivera-se em pé.
— O fato curioso de se encontrarem aos montes no mesmo lugar.
— Uma vasta manada imigrou para o local em busca de pasto.
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— É o que dizem seus estômagos. Eles aguardavam. Foram rejeitados. Eis o frigorífico
siberiano. Dezenas de espécies muito mais fortes que elefantes e leões foram exterminados de
repente. Isso quer dizer que alguém os reuniu e os dispensou.
— É nisso que acredita? – perguntou o mais novo se apoiando na mesa.
— É nisso que os paleontólogos me fazem acreditar.
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Interpretações:
Vanuccia acariciava os seios e num momento de hedonismo se concentrou exclusivamente
neles por longo tempo. Um hiato que não estava na sua visão à fez parar.
“Que coisa chata”.
Pela primeira vez achou mesmo interessante que não houvesse mais aquela divisão de
águas. A massa de água que permanecia estável desde a...
Então ela desceu e sepultou continentes e fazendo uma pressão grande no leito oceânico
que ficou abaixo das águas mudando a topologia.
Pensou rápido. Fez o cálculo e chegou a um espelho côncavo de escamas que brilharia
frente aos raios solares iluminaria aquela parte escura de um sol que não nascera.
Com o espelho e a atmosfera viria o azul e a bola grande de plasma se projetaria.
“...factus domus templi Portugalis procurator, hoc construxit castrum Palumbare, Tomar, Ozezar,
Cardig, ET hoc ad Almourol6”
Lucrezia fugia e Yvian a seguia sem muita vontade. Quando chegaram a uma das torres
pousaram e abaixo avistaram o rio Tejo7. Seriam encurraladas e descendo as escadas se
encaminharam para a outra torre. Acreditavam ser inútil.
6 Castelo Almourol, Distrito de Santarém, Portugal;