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Excelentíssima Senhora Doutora Juiza de Direito do Juizado da Infância e Juventude da Comarca
de Goiânia – GO.
O Ministério Público por seu órgão de execução com assento e sede nesta comarca
vem, a presença de Vossa Excelência com o costumeiro respeito, propor:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com cominação de obrigação de fazer, contra:
ESTADO DE GOIÁS, representado pelo Procurador Geral do Estado12, Dr.
RONALD CRISTIAN ALVES BICCA, com endereço profissional Praça Pedro
Ludovico Teixeira, n.º 26, centro, nesta capital, e,
SECRETÁRIA ESTADUAL DE CIDADANIA E TRABALHO, representado pelo Sr.
Secretaria Estadual de Cidadania e Trabalho, HENRIQUE PAULISTA ARANTES,
com endereço profissional a Avenida Universitária, n.º 609, Setor Leste
Universitário, nesta capital, pelos fatos e fundamentos a seguir.
I – DOS FATOS
O Estado de Goiás desenvolve em diversas cidades o programa de atendimento ao
adolescente autor de ato infracional, que tiveram contra sí imposto medida sócio-educativa de
semiliberdade e internação.
Em Goiânia, funcionam 3 Unidades de Atendimento Sócio Educativo a adolescentes
em regime de Internação, são elas:
• - Centro de Internação Provisória – Situado na Avenida Milão, s/nº, área especial,
Jardim Europa, área física do 7º Batalhão da Polícia Militar.
1 - Art. 118 da Constituição do Estado de Goiás – A Procuradoria Geral do Estado, incumbida da representação judicial do Estado, integrada pelos Procuradores do Estado e quadro próprio de pessoal para seus serviços auxiliares tem por Chefe o Procurador-Geral, nomeado pelo Governador.
2 - Art. 3º À Procuradoria-Geral do Estado, órgão integrante da Governadoria do Estado, compete: I - exercer com exclusividade, a representação judicial e a consultoria jurídica do Estado de Goiás, ressalvada a representação judicial, a consultoria e o assessoramento técnico-jurídico do Poder Legislativo, nos termos do § 3o do art. 11 da Constituição Estadual;
• - Centro de Internação para Adolescentes – Situado na Avenida Americano do Brasil,
s/nº, área especial, Setor Marista – área física da Base Administrativa da Polícia Militar.
• - Centro de Atendimento Sócio Educativo – Situado na rua Augusto Santana, área pública
municipal, Conjunto Vera Cruz I.
Além das Unidades de Atendimento supra, consta ainda a Secretária Estadual de
Cidadania e Trabalho, junto a Delegacia de Apuração de Atos Infracionais – DEPAI – equipe que
resolveu denominar PLANTÃO INTERINSTITUCIONAL, que está situado na Avenida Z, Qd. A,
Parque da Criança, Jardim Goiás, nesta capital.
Estas Unidades, estão instaladas em prédios próprios e por vezes adequados ao
atendimento do adolescente em cumprimento de medida sócio-educativa, em outras vezes, como se
da na hipótese em especial de GOIÂNIA (CIA/CIP), estão precariamente instaladas em Batalhões
da Polícia Militar sem a infraestrutura mínima necessária para o adequado atendimento sócio-
educativo. Tais fatos estão sendo apurados em procedimento administrativo em trâmite junto a 4ª
Promotoria de Justiça, e em breve, espera o Ministério Público, terão solução.
Todas as Unidades localizadas nesta capital, prestam serviço de atendimento ao
adolescente autor de ato infracional, sendo que as Unidades de Internação procedem o
encaminhamento dos adolescentes em cumprimento de Internação, seja provisória ou definitiva, a
audiências judiciais, atendimento médico, realização de visita aos familiares dos adolescentes,
busca de alimentação, encaminhamento a atividades externas (profissionalização, educação)
dentre outros.
O Plantão Interinstitucional realiza o primeiro atendimento do adolescente autor de
ato infracional junto a Delegacia de Polícia. Realizam entrevista com o adolescente, seus
familiares, realizam a entrega do adolescente aos familiares em suas residências, oportunidade em
que aproveitam para realizar visita social. Considerando que a Equipe do Plantão Interinstitucional
é a responsável pelo encaminhamento social do adolescente, a alimentação dos adolescentes
enquanto apreendidos junto a DEPAI fica a cargo da Equipe Técnica, que se responsabiliza por
buscar os gêneros alimentícios e o preparo.
Bem se vê que grande parte das atividades realizadas com o adolescente autor de
ato infracional entregue as Unidades supramencionadas são realizadas fora da Unidade de
Atendimento, sendo necessário para que tais procedimentos ocorram necessário se faz a presença
de equipe de pessoa (para a condução e a segurança) é veículo para que seja realizado o transporte
do pessoal e do adolescente.
Ocorre que já a algum tempo as Unidades de atendimento acima não consta com
apoio de veículos para realizar os atendimentos citados. A verdade, visando contenção de despesas
a Secretaria de Cidadania estabeleceu que os veículos devem ser agendados os atendimentos,
ficando os mesmos junto a sede da Secretaria, que os despacha sempre que o atendimento for
solicitado com antecedência.
Em razão disto vários atendimentos aos adolescentes deixaram de ser prestados,
sendo assim por vezes não são encaminhados aos médicos, já ocorreu de não serem os
adolescentes encaminhados a audiência, ou mesmo realizada visita domiciliar. Em resposta a ofícios
requisitórios de informações expedidos por esta Promotoria de Justiça, assim vem dizendo os
coordenadores das entidades de atendimento.
“Ofício n.º 001/10 – PI
Goiânia, 26 de abril de 2010.
….....................................
Atendendo a solicitação de Vossa Excelência, referente ao ofício n.º 90/10 da 4ª
PJ, temos a informar que não dispomos do veículo na Unidade desde meados do mês
de agosto/09. Porém algumas vezes conseguimos viabilizar encaminhamentos através
de carros locados na SECT, mas não sistematicamente.
Quanto a alimentação, ou seja, busca do pão e leite na panificadora também foi
prejudicada e, para a realização deste serviço contamos com a parceria da DEPAI e
também de educadores, os quais utilizam o próprio veículo. Em recente contato com o
Sr. Marco Antônio, Chefe do Setor de Transporte da SECT, informou-nos que a
frota estava sucateada, mas consta um procedimento de licitação para locação de
veículos para as Unidades do sócioeducativo.” fls. 03.
“Ofício n.º 013/10
Goiânia, 14 de junho de 2010.
Cumprimentando-o, e em atenção ao Of. n.º 167/10, desta promotoria, informo que
desde 15/03/10 esta Unidade não dispõe de veículo próprio.
Os encaminhamentos vem sendo realizados precariamente, com veículos da Secretária
da Cidadania, priorizando as audiências, haja vista que para a realização das visitas
domiciliares bem como encaminhamentos médicos rotineiros raramente tem sido
disponibilizado o veículo, ressaltando que no período noturno bem como nos finais de
semana o CIP (Centro de Internação Provisória0 fica totalmente desprovido de
condução.
O café da manhã e lanche vespertino dos adolescentes estão sedo buscados,
diariamente por funcionários desta Unidade em seus veículos particulares.
Informo ainda que nestas condições não temos conseguido garantir todos os direitos
legais dos adolescentes internos.” fls. 07.
“Of. N.º 095/10.
Goiânia, 17 de junho de 2010.
Cumprimentando-o, em resposta ao Of. n.º 166/10, temos um veículo (KIA –
BESTA), que atende ás necessidades às necessidades do CASE no período diurno, com
autorização da Secretaria de Cidadania e Trabalho, para atender, somente ao
Município de Goiânia – GO., incluindo visitas domiciliares.” fls. 08.
“Of. Nº 070/10
Goiânia, 14 de junho de 2010.
Cumprimentando-o, em resposta ao Ofício de n.º 168/2010 informamos a V. Exa.,
que não temos nesta Unidade veículo próprio disponível para procedimentos de
trabalho externo, tais como atendimentos e visitas domiciliares.” fls. 09.
Estes ofícios resposta, encaminhados no ano de 2010, dão nota da situação em que
se encontravam as Unidades de Atendimentos localizadas em Goiânia, deixando claro que os
atendimentos estavam prejudicados em razão da ausência do carro, o que acarretou prejuízo a
saúde de muitos adolescentes, ao atendimento domiciliar (visita aos familiares), também de muitos
adolescentes. O atendimento não podia deixar de ser mais precário.
Já naquela ÉPOCA apresentava a SECRETARIA DE CIDADANIA E TRABALHO com
a ideia salvadora da PATRIA DO SISTEMA SÓCIOEDUCATIVO EM GOIÁS, que é a
REGIONALIZAÇÃO do atendimento, que já vinha precariamente sendo realizado, com o
encaminhamento dos adolescentes a esta CAPITAL, em razão de haver aqui UNIDADES DE
INTERNAÇÃO. Ocorre que, na verdade o que fez o ESTADO, trouxe os adolescentes para esta
CAPITAL isolando-os dos familiares, já que não dispõe a UNIDADE DE INTERNAÇÃO de meios
para fazer o transporte quer dos adolescentes até seus familiares, quer dos familiares até os
adolescentes, e quem trabalha no sistema socioeducativo tem conhecimento da IMPORTÂNCIA
DA FAMÍLIA NO PROCESSO DE SOCIO-EDUCAÇÃO DOS ADOLESCENTES.
Apesar das diversas tentativas de tratativas com a SECRETARIA ESTADUAL DE
CIDADANIA E TRABALHO, já que diversos ofícios foram encaminhados solicitando resposta do
porque desta situação estar ocorrendo, fls. 04 – SECRETARIA FLÁVIA MORAIS, fls. 12,
15/16/17 – SECRETARIO DINELVAN RAMOS DE OLIVEIRA, ofícios estes encaminhados no ano
de 2010.
Penso que, entrando nova administração no ESTADO DE GOIÁS, a situação seria
alterada, ou seja, as UNIDADES DE ATENDIMENTO localizadas em GOIÂNIA, receberiam os
veículos e prestariam um serviço pouco mais eficiente, fizemos encaminhamento de ofícios as
coordenações das UNIDADES e as mesmas responderam negativamente, ou seja, a situação
continua a mesma:
“Of. Nº 002/11
Goiânia, 11 de janeiro de 2011.
….....................
Cumprimentando-o, e em atenção ao Ofício n.º 17/11 dessa promotoria, informo que
o CIP não dispõe de veículo permanente destinado ao atendimento dos adolescentes
internos bem como para a prestação de serviços diversos.
Os veículos são solicitados previamente à Gerência de Execução do Sistema Sócio
Educativo, e são disponibilizados de acordo com designação do setor de transportes,
da Secretaria de Cidadania e Trabalho.
Ressalto que são priorizados os atendimentos para as audiências, em detrimento de
visitas domiciliares e atendimentos médicos de rotina, ficando o trabalho com a
família restrito à vinda das mesmas à unidade.
Os atendimentos médicos de urgência são realizados através do SAMU ou nas
oportunidades em que o setor de transporte dispõe de veículo para encaminhar à
unidade, sendo raro o atendimento imediato. No período noturno e finais de semana,
a unidade fica totalmente desprovida de veículo.
Os lanches matutinos e vespertinos dos adolescentes são transportados nos veículos
particulares de funcionários do CIP.
Informo ainda que no pátio desta unidade, encontram-se dois veículos – Cllio, sem
condições de uso, sendo que um deles há mais de um ano vem sendo danificado pelo
sol e chuva, sem nenhuma providência no sentido de conserta-los seja tomada, apesar
de reiteradas solicitações desta coordenação.” fls. 24.
“Of. Nº. 001/11
Goiânia, 10 de janeiro de 2011.
…..............................................................
Vimos por meio deste informar que os veículos para saídas são locados pela Secretaria
de Cidadania e Trabalho e é feito antecipadamente (uma semana) um cronograma de
saídas (agendamento) e enviado à SECT/Transporte via fax.
Para as saídas (visitas ou audiências) em outros municípios além de constas no
cronograma é solicitado via memorando à gestão das medidas socioeducativas via fax.
Considerando que o veículo do tipo Besta anteriormente à disposição da unidade,
encontra-se danificado e sem previsão para o conserto, as saídas tem sido feitas em
com um veículo locado (tipo UNO) para atender a demanda nesta capital e o
necessário para atender às agendas externas em outros municípios.” fls. 25.
“Ofício n.º 001/11
Goiânia, 11 de janeiro de 2011.
….....................................
Atendendo solicitação de Vossa Senhoria, referente ao ofício n.º 014/11 – 4ª PJ,
temos a informar que até o momento não dispomos de veículo na Unidade desde
meados do mês de agosto/09. Porém, eventualmente alguns casos são resolvidos
através de solicitação em caráter de urgência, junto ao departamento de transporte
da SECT.
Sendo assim, a falta do veículo permanente na Unidade tem causado transtornos,
principalmente nos finais de semana e feriados, visto que, os adolescentes liberados
pela DEPAI (atos leves), as vezes permanecem apreendidos de maneira inadequada
aguardando encaminhamento. Vale citar que diante á problemática, técnicos
plantonistas já realizaram encaminhamentos em seu próprio veículo.” fls. 26.
“Ofício nº 002/11
Goiânia, 12 de janeiro de 2011.
…........................................................
Ao cumprimentá-lo, e em resposta ao ofício 016/11 – 4ª PJ, de procedimento em
curso nesta Promotoria de Justiça, informo que atualmente contamos com um veículo
marca gol, ano, duas portas e em estado ruim de conservação, para prestação de
serviço nesta unidade. Informamos ainda que a Secretaria de Cidadania e Trabalho
tem enviado ultimamente m carro locado pela mesma, a fim de suprir as necessidades
da unidade, porém o mesmo só fica disponível no período entre 08:00 e 12:00 horas e
13:00 e 17:00 horas, o que não tende todas as necessidades.
Complementando informo que com frequência a equipe militar de segurança do CIA
tem se recusado a fazer a escolta policial, por defender o argumento de que o veículo
é inadequado para a função, colocando em risco adolescentes e equipe de trabalho.”
fls. 27.
Em busca novamente de informações, agora com a nova administração, foram
enviados ofícios a Secretaria de Cidadania e Trabalho – SECRETARIO HENRIQUE PAULISTA
ARANTES, fls. 29/30/31. Desta vez a Secretaria respondeu a informação solicitada
encaminhando o ofício a SUPERINTENDENCIA DE GESTÃO, PLANEJAMENTO e FINANÇAS, fls.
32, que informou repassar a relação dos veículos a disposição (o que não fez), fls. 33, e por fim,
juntou um Ofício, que dá bem a demonstração do desmando pelo qual está passando a
SECRETARIA e o sistema SOCIOEDUCATIVO em GOIÁS.
“PORTARIA N.º 045/2011 – GAB.
O SECRETÁRIO DE ESTADO DE CIDADANIA E TRABALHO, no uso de suas
atribuições legais e nos termos do Art. 40 da Constituição Estadual,
CONSIDERANDO, a necessidade de assinaturas de documentos.
RESOLVE:
Art. 1º – DESIGNAR o Superintendente Executivo, Senhor EVANGEVALDO MOREIRA
DOS SANTOS, para substituí-lo no período de 28 a 31/03/2011, nos atos
administrativos da Secretária de Cidadania e Trabalho.
Art. 2º – Esta Portaria entra em vigor na data de 28 de março de 2011.”fls. 34.
Ou seja, a Secretária tinha Secretario ausente, que delegou a terceiro, função de
responder Ofício endereçado pessoalmente, e mais, o prazo para resposta aos ofícios encerrou-se
no dia 21 de fevereiro de 2011 (of. Fls. 30) e dia 20 de março de 2011 (of. Fls. 31), portanto em
datas anteriores a resposta oferecida, aliás, “remendo de resposta” já que não veio completa.
Entretanto, novamente imaginando o Ministério Público tratar-se de dificuldades de
início de gestão, encaminhou novamente ofício as Unidades de Atendimento, e a situação continua a
mesma, apesar da tão apregoada REGIONALIZAÇÃO do ATENDIMENTO SÓCIO EDUCATIVO
EM GOIÁS.
“Ofício n.º 002/11
Goiânia, 12 de maio de 2011.
…....................................
Conforme solicitação de Vossa Senhoria, referente ao ofício n.º 131/11 – 4ª PJ,
temos a informar que até o momento não dispomos de veículo para o trabalho da
Unidade.” fls. 40.
“Ofício nº 029/10
Goiânia, 12 de Maio de 2011.
…..................................................
Cumprimentando-o, e em atenção ao Of. Nº 133/11 dessa promotoria, informo que
desde 15/03/10 esta Unidade não dispõe de veículo próprio.
Os encaminhamentos vêm sendo realizados precariamente, com veículos da Secretaria
da Cidadania, priorizando as audiências, ressaltando que no período noturno bem como
nos finais de semana o CIP (Centro de Internação Provisória) fica totalmente
desprovido de condução.
Os lanches matutinos e vespertinos dos adolescentes estão sendo buscados,
diariamente por funcionários desta Unidade em seus veículos particulares.
Informo ainda que nestas condições, não temos conseguido garantir todos os direitos
legais dos adolescentes internos.” fls. 41.
“Of. Nº. 069/11
Goiânia, 12 de maior de 2011.
…..............................................
Cumprimentando-o, informamos que os veículos que atendem a esta Unidade são
locados de empresa terceirizada pela Secretaria de Cidadania e Trabalho. É realizado
semanalmente cronograma de saídas e enviado à Secretaria para que seja
disponibilizado o veículo. Para as saídas em outros municípios, além de constar no
cronograma, é solicitado antecipadamente veículo extra, via memorando.
Vale ressaltar que não há um veículo fixo para atendimento exclusivo da Unidade,
onde para toda saída ocorre requisição do veículo à Secretaria, seja na forma de
cronograma ou memorando referidos, ou sem casos imprevistos que necessite
subitamente do veículo, de forma direta via telefone.
Apesar de este procedimento ser padrão, ultimamente, mesmo mediante requisição,
por vezes o veículo não está atendendo a todas as solicitações necessárias, ocasionado
pelo contingente reduzido da frota que atende à Secretária.” fls. 42.
“Oficio nº 081/11
Goiânia, 17 de maio de 2011.
…..............................................
Em resposta ao ofício n. 132/11 informamos que a unidade possuí um veículo marca
Volksvagem, modelo Gol, ano 1998/1999, que atende às necessidades do CIA.
Infelizmente o veículo mencionado não consegue suprir toda a demanda da unidade,
devido ao estado em que o mesmo se encontra.” fls. 43.
A paciência esgotou, vendo então o MINISTÉRIO PÚBLICO que nada irá mudar, que
as coisas continuarão do mesmo modo, ou seja, o atendimento aos adolescentes infratores
continuará a ser negligenciado pela SECRETARIA DE CIDADANIA E TRABALHO e seu secretario,
que não se dispõe a disponibilizar veículo e motorista para o atendimento as Unidade e assim aos
adolescentes infratores, contribuindo para o processo sócio-educativo e portanto para a
recuperação e reeducação destes adolescentes, chegou a hora de pedir providências judiciais, o
que fazemos através desta petição.
II – DA COMPETÊNCIA
O Estatuto da Criança e do Adolescente seguindo determinação constitucional que
dá a crianças e adolescentes prioridade absoluta, determinou fosse no âmbito do Poder Judiciário
criadas Varas Exclusivas, com competência pré-definida para atendimento a esta parcela da
população especialmente protegida.
Assim, o artigo 148 do Estatuto da Criança e do Adolescente determina qual a
competência da JUSTIÇA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE, sendo determinado no inciso IV, que
compete a ela conhecer, processar e julgar ações civis que tenha por fundamento a defesa de
interesses individuais, coletivos e difusos de crianças e adolescentes3.
Determinada a competência da Justiça da Infância e Juventude para o presente
caso, qual deverá ser a comarca em que a ação deverá ser proposta? Segundo o próprio Estatuto
da Criança e do Adolescente, no artigo 148, IV, fica determinado seja observado o artigo 209, que
diz sem competente o local de onde deva ser realizada ação ou omissão, sendo que este Juízo terá
competência absoluta para o processo4.
A Secretária Estadual de Cidadania e Trabalho, a Procuradoria Geral do Estado de
Goiás tem sede nesta capital, portanto este JUÍZADO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE é
competente para conhecer, processar e julgar o presente processo.
Este tem sido o entendimento da doutrina e dos Tribunais sobre o tema:
“Apelação Cível. Ação Cível Pública. Incompetência. Efeitos da decisão. Limites da
competência territorial. Requisição de informações diretamente a instituição financeira,
independentemente de ordem judicial. Requisitos indispensáveis para justificar o dever de
indenizar. Dano moral coletivo. Não comprovação. Multa. Exorbitância. Redução. I – Se os
danos se estenderem a mais de um foro, mas não chegarem a ter caráter estadual ou
nacional, o inquérito civil público ser instaurado e a ação civil pública proposta seguindo os
3 - Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente para: IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o disposto no art. 209;
4 - Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores.
critérios de prevenção. II – É procedente o argumento do Banco/Apelante quanto aos
efeitos da decisão, estando ele obrigado a atender as requisições do Ministério Público,
por meio dos promotores de justiça das comarcas de Minaçu e São Miguel do Araguaia.
III – Em se tratando de investigação que envolva dinheiro ou verbas públicas, pode o
Ministério Público requisitar informações diretamente a instituição financeira,
independentemente de autorização judicial. A alegação de que os recursos já haviam
ingressado em contas particulares não justifica a recusa no atendimento a requisição, isso
porque a irregularidade investigada era exatamente o desvio de tais recursos, com
destinação ilegal para contas pessoas de terceiros. IV – Não há ilícito cometido pelo
banco na negativa de informações perante o “Parquet”, de forma que o dano moral causado
a coletividade não restou evidenciado. V – O montante fixado a título de multa deve
obedecer os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, devendo ser eficaz na sua
função de coercibilidade e ser minorado quando se apresente exorbitante. Apelo conhecido
e parcialmente provido.” TJGO, 3ª Câmara Cível, Rel. Desembargador João Waldeck Felix de
Souza, Apelação Cível 126337-5/188.
“Agravo de Instrumento. Vara de Infância, Juventude e Fazenda Pública. Competência.
Decisão nula, proferida por Juiz Incompetente. I – Competência absoluta da Vara da
Infância e da Juventude, em razão da matéria, prevalendo a mesma, por ser especial em
relação a regra geral da competência das Varas da Fazenda Pública; II – Tendo em vista
que a hipótese dos autos refere-se justamente quanto aos interesses afetos as crianças e
adolescentes, evidente a competência do Juízo da Infância e Juventude para processar e
julgar a ação cível pública manejada. De consequência é de ser declarada nula a decisão
monocrática vez que proferida por Juiz absolutamente incompetente. Agravo conhecido e
provido. Decisão nula. Remessa dos autos ao Juízo da Infância e Juventude de Caldas
Novas.” TJGO, 3ª Câmara cível, Rel. Desembargador Walter Carlos Lemes, Agravo de
Instrumento 56728-6/180.
Portanto, inexiste qualquer dúvida sobre o Juízo competente para conhecer,
processar e julgar a presente ação civil pública, ficando desde já determinado como competente o
Juizado da Infância e Juventude de Goiânia, em razão da matéria posta para apreciação, bem
assim, pela qualidade da parte ré (competência territorial).
III – DA LEGITIMIDADE
O Estatuto da Criança e do Adolescente elegeu algumas entidades como legitimadas
a propor ação em defesa dos direitos de crianças e adolescentes. De a muito tempo o Ministério
Público tem esta função, tanto que algumas promotorias tem a denominação de CURADORIA DOS
MENORES, em razão do disposto no antigo Código de Menores.
Alterada a legislação, a forma de tratamento de crianças e adolescentes, passando
a ser estes sujeitos de direitos e não mais meros instrumentos de intervenção do Estado, a
legitimidade também foi acrescida, entretanto o MINISTÉRIO PÚBLICO continua a ser defensor
dos direitos desta parcela da sociedade.
O Estatuto da Criança e do Adolescente diz em seu artigo 201, inciso V5, que o
Ministério Público é competente para promover inquérito civil púbico e ação civil pública para
proteção dos interesses individuais, difusos e coletivos de crianças e adolescente.
Complementando o dispositivo acima, em reforço a tese de que o Ministério Público é legitimado a
defesa dos direitos de crianças e adolescentes o artigo 210, inciso I, diz: “Para as ações cíveis
fundadas em interesses coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente: I – o
Ministério Público.
Não resta portanto dúvida sobre a legitimidade ativa do Ministério Público para a
proposição da presente ação.
IV – DO DIREITO
As Nações Unidas, por mais de uma vez declarou os direitos de crianças e
adolescente, inicialmente as Diretrizes Para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de
Riad): estabelece a importância da família no processo de prevenção a atos infracionais, e por
consequência, no atendimento ao sócio educando.
Novamente as Nações Unidas editarão normas visando a proteção de crianças e
adolescentes, desta vez, em Beijing, as conhecidas REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS
5 - Art. 201. Compete ao Ministério Público: V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
PARA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. REGRAS DE
BEIJING – UNICEF, que diz:
“26 . 1 A capacitação e o tratamento dos jovens colocados em instituições têm
por objetivo assegurar seu cuidado, proteção, educação e formação profissional
para permitir-lhes que desempenhem um papel construtivo e produtivo na
sociedade. .
26 . 2 Os jovens institucionalizados receberão os cuidados, a proteção e toda a
assistência necessária social, educacional, profissional, psicológica, médica e
física que requeiram devido à sua idade, sexo e personalidade e no interesse do
desenvolvimento sadio.”
Diz ainda, as Nações Unidas em outro documento (REGRAS MÍNIMAS PARA A
PROTEÇÃO DOS JOVENS PRIVADOS DE LIBERDADE - UNICER:
“I. PERSPECTIVAS FUNDAMENTAIS
8. As autoridades competentes procurarão, a todo momento, que o público
compreenda, cada vez mais, que o cuidado dos jovens detidos e sua preparação para a
reintegração à sociedade constituem um serviço social de grande importância e,
deverão ser adotadas medidas eficazes para fomentar os contatos abertos entre os
jovens e a comunidade local.
I . EFEITOS E APLICAÇÃO DAS REGRAS
11 . Devem ser aplicadas, aos efeitos das presentes Regras, as seguintes definições:
12. A privação da liberdade deverá ser efetuada em condições e circunstâncias que
garantam o respeito aos direitos humanos dos jovens. Deverá ser garantido, aos
jovens reclusos em centros, o direito a desfrutar de atividades e programas úteis que
sirvam para fomentar e garantir seu são desenvolvimento e sua dignidade, promover
seu sentido de responsabilidade e fomentar, neles, atitudes e conhecimentos que
ajudem a desenvolver suas possibilidades como membros da sociedade.
H. DETENÇÃO MÉDICA
49. Todo jovem deverá receber atenção médica adequada, tanto preventiva como
corretiva, incluída a atenção odontológica, oftalmológica e de saúde mental, assim
como os produtos farmacêuticos e dietas especiais que tenham sido receitados pelo
médico. Normalmente, toda esta atenção médica deverá ser prestada aos jovens
reclusos através dos serviços e instalações sanitários apropriados da comunidade onde
esteja localizado o centro de detenção, com o objetivo de evitar que se estigmatize o
jovem e de promover sua dignidade pessoal e sua integração à comunidade.
50 . Todo jovem terá o direito a ser examinado por um médico, imediatamente depois
de seu ingresso em um centro de jovens, com o objetivo de se constatar qualquer
prova de maus-tratos anteriores e verificar qualquer estado físico ou mental que
requeira atenção médica.
51. Os serviços médicos à disposição dos jovens deverão tratar de detectar e cuidar
de toda doença física ou mental, todo uso indevido de substância e qualquer outro
estado que possa constituir um obstáculo para a integração do jovem na sociedade.
Todo centro de detenção de jovens deverá ter acesso imediato a instalações e
equipamento médicos adequados que tenham relação com o número e as necessidades
de seus residentes, assim como a pessoal capacitado em saúde preventiva em
tratamento de urgências médicas . Todo jovem que esteja doente, apresente sintomas
de dificuldades físicas ou mentais ou se queixe de doença, deverá ser examinado
rapidamente por um funcionário médico.
52. Todo funcionário médico que tenha razões para estimar que a saúde física ou
mental de tenha sido afetada, ou possa vir a ser, pela prolongada reclusão, greve de
fome ou qualquer circunstância da reclusão, deverá comunicar este imediatamente ao
diretor do estabelecimento e a autoridade independente responsável pelo bem-estar
do jovem.
53. Todo jovem que sofra de uma doença deverá receber tratamento numa instituição
especializada, sob supervisão médica independente. Serão adotadas medidas, de
acordo com organismos competentes, para que, caso seja necessário, possa continuar
o tratamento sanitário mental depois da liberação.
J. CONTATOS COM A COMUNIDADE EM GERAL
59. Deverão ser utilizados todos os meios para garantir uma comunicação adequada
dos jovens com o mundo exterior, comunicação esta que é parte integrante do direito
a um tratamento justo e humanitário e é indispensável para a reintegração dos jovens
à sociedade. Deverá ser permitida aos jovens a comunicação com seus familiares, seus
amigos e outras pessoas ou representantes de organizações prestigiosas do exterior;
sair dos centros de detenção para visitar seu lar e sua família e obter permissão
especial para sair do estabelecimento por motivos educativos, profissionais ou outras
razões importantes. Em caso de o jovem estar cumprindo uma pena, o tempo passado
fora do estabelecimento deverá ser contado como parte do período de cumprimento da
sentença.”
Vale citar que estas regras da NAÇÕES UNIDAS, por haverem sido adotadas pelo
BRASIL, através de decreto legislativo6, tem força constitucional, estando mesmo superior as
regras constitucionais.
Estas regras, são marco mundial no atendimento ao adolescente em conflito com a
lei. Até então, o adolescente era sujeito de intervenção, sendo certo que, o adolescente infrator
não tinha seus direitos preservados, não lhe sendo dispensado atendimento adequado a sua
condição peculiar de desenvolvimento.
Após as regras de Beijing, a Constituição Federal do Brasil adotou de maneira
absoluta o princípio da proteção integral, determinando prioridade absoluta por parte da
sociedade, família e Estado.
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
Esta regra, contida na Constituição Federal é única. Em nenhuma das normas de
proteção a direitos sociais (educação, saúde, meio ambiente, etc), ou qualquer das pessoas
elencadas na como merecedoras de atendimento especial (mulher, idoso, índios, etc), tem a
prioridade absoluta conferida a criança e ao adolescente. Assim sendo, compete ao Estado
garantir a crianças e adolescentes, com prioridade absoluta todos os atendimentos e
encaminhamentos necessários a educação e/ou sócio-educação. A prioridade se constituí,
inicialmente em políticas públicas, ou seja, quando o administrador tratar de política pública,
qualquer que sejam os direitos que se pretende proteger ou garantir, o Estado deve voltar
6 - Decreto Legislativo n.º 28, de 14 de setembro de 1990, ratificado em 24 de setembro de 1990, promulgado pelo DECRETO N.º 99.710, de 21 de Novembro de 1990.
inicialmente o olhar para crianças e adolescentes. Quando, apesar das políticas públicas a criança
está em risco por várias condições externas ou própria, deve o Estado com prioridade absoluta
garantir que, este risco seja eliminado, estabelecendo medidas, denominadas no Estatuto da
Criança e do Adolescente, como sendo protetivas7. Ultrapassadas as medidas protetivas,
cometendo o adolescente ato infracional, ao mesmo deverá ser aplicada medida denominada pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente, sócio-educativa que tem como princípio básico a sócio-
educação do adolescente. Estamos tratando destes último.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece os direitos dos adolescentes
privados de liberdade, elencando dentre eles:
“Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes:
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;
V - ser tratado com respeito e dignidade;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de
seus pais ou responsável;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los,
recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à
7 - Apesar da disposição expressa constante do artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente, as medidas de proteção não se restringem as previstas em lei. Trouxe o legislador norma de ampliação quando dispós no mesmo artigo: “...dentre outras”. Assim pode ser aplicada medida protetiva de matricula de adolescente em estabelecimento de ensino médio, apesar da não previsão expressa. Isto dá a clara noção do que venha a ser prioridade absoluta ou proteção integral.
vida em sociedade.”
É de conhecimento fácil, que para a execução de políticas mínimas de atenção, seja
ao adolescente privado de liberdade, seja ao adulto, também privado de liberdade, necessário o
uso de equipamentos públicos para o pronto atendimento, hospitais, postos de saúde, cursos de
profissionalização, estudos psico-sociais, ingresso no mercado de trabalho e outros. Para que haja
deslocamento dos internos (adolescente/adultos) necessário a utilização de veículos. Não se
imagina nos dias de hoje que policiais saiam armados pelas ruas de GOIÂNIA, a pé, conduzindo
internos a hospitais para atendimento médico, que seja.
Este transporte portanto deve ser feito em veículo. Ocorre que, por mais que seja
eficiente o serviço por agendamento, como atualmente funciona os centros de internação desta
capital e plantão interinstitucional, existem emergências, finais de semana e feriados que ficam
descoberto, onde portanto o risco ao adolescente é claro.
Também não é produtivo pedir(exigir) de educadores, técnicos ou policiais que
utilizem seus próprios veículos para realizarem tais transportes, porque, além de particular,
imputar um gasto desta natureza ao particular (funcionário público ou não) em nada contribuirá
para que o ESTADO assuma sua responsabilidade, com responsabilidade, que é o que se pretende.
Portanto é inimaginável que uma UNIDADE DE ATENDIMENTO EM REGIME DE
INTERNAÇÃO como as que temos aqui, funcionem sem que haja um veículo a disposição, com
motorista para que sejam feitos encaminhamentos de praxe e emergenciais. O sistema não
funciona de maneira eficiente como está posto, e desta forma os direitos de adolescentes autores
de ato infracional estão sendo negligenciados reiteradamente.
Estão a ocorrer casos, como relatados nos ofícios, em que adolescentes não estão
sendo encaminhados a audiência por falta de veículos, ou porque o veículo posto a disposição não
oferece segurança. Adolescentes doentes não estão sendo levados a atendimento médico na
medida da necessidade porque o agendamento não confere com a necessidade médica, e mais,
casos de emergência não estão sendo atendidos, ou remediados ante a falta de veículo para
transporte.
No dia 12/06/2011 (DOMINGO), estava eu na DELEGACIA DE POLICIA, realizando
oitiva informal, PLANTONISTA SEMANAL QUE ERA. Ao terminar os atendimentos, determinei a
entrega de adolescentes aos seus familiares, posto não ser o caso de mante-los internados (atos
infracionais sem consequências graves). A Equipe do Plantão Interinstitucional sem veículo
solicitou apoio a Equipe do Centro de Internação para Adolescentes, recebendo como resposta que
seria cedido o veículo (aquele gol velho e sem condições de uso), desde que a Equipe do Plantão
Interinstitucional abastece-se o carro, um absurdo, cometido pela SECRETARIA DE CIDADANIA
E TRABALHO contra os adolescentes.
Na comparação do adolescente infrator com o adulto criminoso, compete ao Estado,
por determinação legal constante, como vimos, da Constituição Federal priorizar o adolescente,
cercando-o de todos os instrumentos físicos, materiais, humanos e pedagógicos necessários a sua
sócio-educação com qualidade.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 4º determina no inciso IV do
parágrafo único que a prioridade absoluta deverá ser observada pela “destinação privilegiada de
recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e a juventude.”
O comando legislativo é claro, não cumpri-lo como tem feito o Governo do Estado de
Goiás não pode ser tolerado. Determinando a lei que, os recursos para infância e juventude devem
ter destinação privilegiada, cumpre ao Estado acatar o comando legal e no orçamento impor
recursos visando o amparo a esta parcela da sociedade. O que o Estado tem feito entretanto é
negar recursos a está área. Gastar verdadeiras fortunas com publicidade institucional (programas
matinais, patrocínios em emissoras de televisão, rádio, jornais e revistas), gastos com viagens
absurdos. Enquanto isto, crianças e adolescentes ficam com migalhas. Para tanto basta ver os
orçamentos previstos e executados ao longo da história. Ocorreram anos em que a previsão
orçamentária teve execução zero em investimentos. Infelizmente a primeira área que se pensa
quando se fala em contenção de despesas, em contingenciamento de recursos é a de assistência
social, e portanto a da infância e juventude.
Estamos diante de um comando legal que não é cumprido, a chamada “lei que não
pegou”, verdadeiro absurdo que tem neste País sido adotado. O legislador constitucional elegeu
criança e adolescente como prioridades absoluta, entretanto o Estado, através dos
administradores elegem outras prioridades, ou seja, construção de praças, asfalto, publicidade,
viagens, festas comemorativas. A bem da verdade, estas são as prioridades dos eleitos. É bom
lembrar que, antes da eleição a criança e o adolescente são prioridade, após são esquecidos e
somente lembrados nas próximas eleições. Como se comenta: “antes da eleição o político dá o
pirulito, após toma o pirulito”.
Os Tribunais tem enfrentado o tema e apontado que, a destinação privilegiada de
recursos deve ser observada quando da elaboração dos orçamentos e portanto o princípio da
prioridade absoluta.
“EMENTA: CONSTITUICIONAL. OMISSÃO DO PODER EXECUTIVO NA CONSTRUÇÃO
DE ABRIGOS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. DETERMINAÇÃO DO PODER
JUDICIÁRIO PAR CUMPRIMENTO DE DEVER CONSTITUCIONAL. INOCORRÊNCIA DE
OFENSA AO PRINCÍPIO DE SEPARAÇÃO DE PODERES E À CLÁUSULA DA RESERVA DO
POSSÍVEL. A dignidade da pessoa humana, notadamente a da criança e do adolescente, é
tutelara pela Constituição Federal e pela Lei n. 8.069/90. Assim, é dever inafastável dos
Municípios de Carangola, de São Francisco Glória, de Fária Lemos e de Fervedouro
empreenderem todos os esforços que efetivem o princípio fundamental de proteção
integral à criança e adolescente, assegurando abrigo, apoio sócio-educativo, sócio-familiar
e assistência material, moral, médica e psicológica, nos termos do art. 227, da CF, e 4º,
6º, 7º, 15, 70, 86, 88, 90 da Lei n. 8.069/90. O Poder Judiciário, no exercício de sua
alta e importante missão constitucional que garante proteção integral à criança e ao
adolescente, sob pena de compactuar e legitimar com omissões que maculam direitos
fundamentais das crianças e adolescentes, o que é vedado pelo texto constitucional. O
posicionamento adotado não macula o princípio constitucional da separação de poderes. O
referido princípio não pode ser empregado para justificar a burla à Constituição e para
contraria o interesse público. A omissão dos municípios de Carangola, de São Francisco
Glória, de Faria Lemos e de Fervedouro, para solucionar o grave problema de abandono e
desabrigo dos menores em situação risco, se arrasta há anos. Falta interesse em resolver
o problema. Enquanto nada é feito pelo Poder Executivo, à saúde, à vida, a dignidade, a
integridade e a cidadania das crianças e adolescentes ficam ameaçadas e violadas. Tal
situação gera angústia, sofrimento, perplexidade, apreensão e revolta nas crianças e
adolescentes em situações de risco e na comunidade local. Maior violação a Constituição
não há, pois valores constitucionais fundamentais estão sob constante e permanente lesão.
A se admitir que o Poder Judiciário nada pode fazer ante tanto abuso e violação a
direitos e garantias fundamentais constitucionais, estar-se-á rasgando o texto
constitucional, condenando as crianças e adolescentes a situações degradantes,
humilhantes, aflitivas, dolorosas que muitas vezes conduzem à marginalidade, à
prostituição, e, às vezes, á morte, além de se atribuir ao Poder Judiciário papel
decorativo ou de “mero capacho” do Executivo.” Apelação Cível n.º 1.0133.05.027123-8/001 –
Comarca de Carangola – Relatora Exma. Sra. Desembargadora Maria Elza, 5ª Câmara Cível,
Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
Recentemente o Supremo Tribunal Federal, em decisão de seu então Presidente,
Ministro Gilmar Mendes, em Suspensão de Liminar n.º 235-0, do Estado do Tocantins, determinou
ao Estado do Tocantins que construísse centro de internação para adolescentes, atendendo ao
princípio da Prioridade Absoluta e a teoria da Proteção Integral, Trago neste momento partes
desta decisão, marco no controle judicial das decisões administrativa do Executivo em matéria de
atendimento aos direitos de Crianças e Adolescentes.
“No presente caso, discute-se possível colisão entre (1) o princípio da separação dos
Poderes, concretizado pelo direito do Estado do Tocantins definir discricionariamente a
formulação de políticas públicas voltadas a adolescentes infratores e (2) a proteção
constitucional dos direitos dos adolescentes infratores e de uma política básica de seu
atendimento. Eis o que dispõe o artigo 227 da Constituição: “Art. 227. É dever da
família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. § 1º - O Estado promoverá programas de
assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de
entidades não governamentais e obedecendo os seguintes preceitos: [...] V - obediência
aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa
em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; [...]”
É certo que o tema da proteção da criança e do adolescente e, especificamente, dos
adolescentes infratores é tratado pela Constituição com especial atenção. Como se pode
perceber, tanto o caput do art. 227, como seu parágrafo primeiro e incisos possuem
comandos normativos voltados para o Estado, conforme destacado acima. Nesse sentido,
destaca-se a determinação constitucional de absoluta prioridade na concretização desses
comandos normativos, em razão da alta significação de proteção aos direitos da criança e
do adolescente. Tem relevância, na espécie, a dimensão objetiva do direito fundamental à
proteção da criança e do adolescente. Segundo esse aspecto objetivo, o Estado está
obrigado a criar os pressupostos fáticos necessários ao exercício efetivo deste direito.
Como tenho analisado em estudos doutrinários, os direitos fundamentais não contêm apenas
uma proibição de intervenção (Eingriffsverbote), expressando também um postulado de
proteção (Schutzgebote). Haveria, assim, para utilizar uma expressão de Canaris, não
apenas uma proibição de excesso (Übermassverbot), mas também uma proibição de
proteção insuficiente (Untermassverbot)(Claus-Wilhelm Canaris, Grundrechtswirkungen um
Verhältnismässigkeitsprinzip in der richterlichen Anwendung und Fortbildung des
Privatsrechts, JuS, 1989, p. 161). Nessa dimensão objetiva, também assume relevo a
perspectiva dos direitos à organização e ao procedimento (Recht auf Organization und auf
Verfahren), que são aqueles direitos fundamentais que dependem, na sua realização, de
providências estatais com vistas à criação e conformação de órgãos e procedimentos
indispensáveis à sua efetivação. Parece lógico, portanto, que a efetividade desse direito
fundamental à proteção da criança e do adolescente não prescinde da ação estatal positiva
no sentido da criação de certas condições fáticas, sempre dependentes dos recursos
financeiros de que dispõe o Estado, e de sistemas de órgãos e procedimentos voltados a
essa finalidade. De outro modo, estar-se-ia a blindar, por meio de um espaço amplo de
discricionariedade estatal, situação fática indiscutivelmente repugnada pela sociedade,
caracterizando-se típica hipótese de proteção insuficiente por parte do Estado, num plano
mais geral, e do Judiciário, num plano mais específico. Por outro lado, alega-se, nesta
suspensão de segurança, possível lesão à ordem e economia públicas, diante de
determinação judicial para implantação de programa de internação e regime de
semiliberdade, em unidade especializada (a ser construída), com prazo determinado de 12
meses. Nesse sentido, o argumento central apontado pelo Estado do Tocantins reside na
violação ao princípio da separação de poderes (art. 2º, CF/88), formulado em sentido
forte, que veda intromissão do Poder Judiciário no âmbito de discricionariedade do Poder
Executivo estadual. Contudo, nos dias atuais, tal princípio, para ser compreendido de modo
constitucionalmente adequado, exige temperamentos e ajustes à luz da realidade
constitucional brasileira, num círculo em que a teoria da constituição e a experiência
constitucional mutuamente se completam. Nesse sentido, entendo inexistente a ocorrência
de grave lesão à ordem pública, por violação ao art. 2º da Constituição. A alegação de
violação à separação dos Poderes não justifica a inércia do Poder Executivo estadual do
Tocantins, em cumprir seu dever constitucional de garantia dos direitos da criança e do
adolescente, com a absoluta prioridade reclamada no texto constitucional (art. 227). Da
mesma forma, não vislumbro a ocorrência de grave lesão à economia pública. Cumpre
ressaltar que o Estatuto da Criança e do Adolescente, em razão da absoluta prioridade
determinada na Constituição, deixa expresso o dever do Poder Executivo dar primazia na
consecução daquelas políticas públicas, como se apreende do seu art. 4º: “Art. 4º. É
dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia
de primazia compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
pública; c) preferência na formulação e na execução de políticas sociais públicas; d)
destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à
infância e à juventude.” Não se pode conceber grave lesão à economia do Estado do
Tocantins, diante de determinação constitucional expressa de primazia clara na formulação
de políticas sociais nesta área, bem como na alta prioridade de destinação orçamentária
respectiva, concretamente delineada pelo ECA. A Constituição indica de forma clara os
valores a serem priorizados, corroborada pelo disposto no ECA. As determinações acima
devem ser seriamente consideradas quando da formulação orçamentária estadual, pois se
tratam de comandos vinculativos. Ressalte-se que no próximo dia 13 de julho se
comemorarão os 18 (dezoito) anos de promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que tem se cristalizado como um importante avanço na delimitação das
políticas públicas voltadas à criança e ao adolescente. Ademais, a decisão impugnada
está em consonância com a jurisprudência dessa Corte, a qual firmou entendimento, em
casos como o presente, de que se impõe ao Estado a obrigação constitucional de criar
condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, a efetiva proteção de direitos
constitucionalmente assegurados, com alta prioridade, tais como: o direito à educação
infantil e os direitos da criança e do adolescente. Nesse sentido, destacam-se os
seguintes julgados: RE-AgR 410.715/SP, 2ª T. Rel. Celso de Mello, DJ 03.02.2006; RE
431.773/SP, rel. Marco Aurélio, DJ 22.10.2004. Do julgamento do RE-AgR 410.715/SP,
2ª T. Rel. Celso de Mello, DJ 03.02.2006, destaca-se o seguinte trecho: “[...] A
educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se
expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da
Administração Pública, nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental. Os
Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil
(CF, art. 211, § 2º) - não poderão demitir-se do mandato constitucional, juridicamente
vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da República, e
que representa fator de limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes
municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art.
208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de
simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole
social. - Embora resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a
prerrogativa de formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao
Poder Judiciário, determinar, ainda que em bases excepcionais, especialmente nas
hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição, sejam estas
implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão - por importar em
descumprimento dos encargos político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter
mandatório - mostra-se apta a comprometer a eficácia e a integridade de direitos sociais
e culturais impregnados de estatura constitucional. [...]” Não há dúvida quanto à
possibilidade jurídica de determinação judicial para o Poder Executivo concretizar políticas
públicas constitucionalmente definidas, como no presente caso, em que o comando
constitucional exige, com absoluta prioridade, a proteção dos direitos das crianças e dos
adolescentes, claramente definida no Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim
também já decidiu o Superior Tribunal de Justiça (STJ-Resp 630.765/SP, 1ª Turma,
relator Luiz Fux, DJ 12.09.2005). No presente caso, vislumbra-se possível proteção
insuficiente dos direitos da criança e do adolescente pelo Estado, que deve ser coibida,
conforme já destacado. O Poder Judiciário não está a criar políticas públicas, nem usurpa
a iniciativa do Poder Executivo. A decisão impugnada apenas determina o cumprimento de
política pública constitucionalmente definida (art. 227, caput, e §3º) e especificada de
maneira clara e concreta no ECA, inclusive quanto à forma de executá-la. (...) Dessa
forma, remanesce íntegra a decisão, quanto à possibilidade de multa por abrigar
adolescentes infratores em cadeias comuns, em detrimento de abrigá-los em outras
unidades especializadas existentes no Estado. Destaco, contudo, que não se impede a
fixação de multa por descumprimento de decisão judicial. O que não se pode perder de
vista é a possibilidade de vultoso prejuízo à coletividade, por multa fixada em decisão
liminar baseada em juízo cognitivo sumário. Portanto, a determinação constitucional de
absoluta prioridade na proteção dos direitos da criança e do adolescente (art. 227,
CF/88) evidencia tanto a dimensão objetiva de proteção destes direitos fundamentais,
quanto a proibição de sua proteção insuficiente pelo Estado de Tocantins, por
impossibilitar condições fáticas e concretas de implantação de programa de internação e
semiliberdade na Comarca de Araguaína/TO. Não há violação ao princípio da separação dos
Poderes quando o Poder Judiciário determina ao Poder Executivo estadual o cumprimento
do dever constitucional específico de proteção adequada dos adolescentes infratores, em
unidade especializada, pois a determinação é da própria Constituição, em razão da
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento (art. 227, §1º, V, CF/88). A proibição
da proteção insuficiente exige do Estado a proibição de inércia e omissão na proteção aos
adolescentes infratores, com primazia, com preferencial formulação e execução de
políticas públicas de valores que a própria Constituição define como de absoluta prioridade.
Essa política prioritária e constitucionalmente definida deve ser levada em conta pelas
previsões orçamentárias, como forma de aproximar a atuação administrativa e legislativa
(Annäherungstheorie) às determinações constitucionais que concretizam o direito
fundamental de proteção da criança e do adolescente. Assim, não vislumbro grave lesão à
ordem e economia públicas, com exceção da fixação de multa por não construção, em doze
meses, de unidade especializada para abrigar adolescentes infratores na Comarca de
Araguaína/TO. Diante o exposto, defiro parcialmente o pedido de suspensão, tão-somente
quanto à fixação de multa diária por descumprimento da ordem judicial de construção de
unidade especializada, em doze meses, na comarca de Araguaína/TO. Dessa forma, diante
da determinação da Constituição e do Estatuto da Criança e do Adolescente, mantenho os
efeitos da decisão impugnada quanto à (1) implantação, em doze meses, de programa de
internação e semiliberdade de adolescentes infratores, na comarca de Araguaína/TO e (2)
de proibição, sob pena de multa diária, de abrigar adolescentes infratores em outra
unidade que não seja uma unidade especializada (nos termos do ECA).” Grifos nosso.
Ora, se possível determinação ao Executivo para construção de Unidade de
Internação, atendendo aos princípios da Prioridade Absoluta (estampado na Constituição Federal),
bem como a determinação de “destinação privilegiada de recursos públicos”, igual determinação
deverá haver quando, existentes Unidades de Internação, entretanto limitados os recursos
materiais necessários ao atendimento adequado, ademais, constatando que tal providência é meio
necessário a assegurar ao adolescente não só o atendimento adequado, mas a realização de um
direito
A falta deste equipamento mínimo, veículo, acarreta prejuízo não só ao atendimento
deste adolescente quanto as suas demandas pessoais, mas também a UNIDADE, posto que em
razão de não ter verificado a realização de um seu direito, o adolescente por vezes se rebela
contra o sistema, contra a guarda, contra a Unidade, provocando motim e rebelião. Temos
verificado aumento destas ocorrências ultimamente.
VI – DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE
Estabelece o Código de Processo Civil em seu artigo 330, a possibilidade de ser
proferida antecipadamente sentença final, quando a questão for tão somente de direito.8 Nestas
hipóteses o magistrado, atendo ao já apresentado pelas partes quando da petição inicial e
contestação julgará o mérito da questão, estabelecendo o direito. Isto ocorre porque, as partes
quando das primeiras manifestações (petição inicial e contestação) devem trazer aos autos todas
suas alegações e com ela todos os argumentos e provas que pretendem produzir.
No presente caso as provas são tão somente documentais e o mérito resume-se a
análise do direito evocado pelas partes. Não existe matéria de fato cuja produção de prova
necessite ser produzida em audiência. Os dados trazidos na inicial, apresentados pelo Estado de
Goiás no Inquérito Civil Público anexo são suficientes para demonstrar todo o direito em discussão
e a desnecessidade da produção de novas provas.
Os Tribunais sobre o tema assim tem se pronunciado.
“AÇÃO ANULATÓRIA DE PROTESTO. CHEQUE. IMPOSSIBILIDADE DA DISCUSSÃO
DA CAUSA DEBENDI. INTEMPESTIVIDADE DA CONTESTAÇÃO INOCORRENTE.
8 -Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença: I - quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência;
MATÉRIA DE DIREITO. JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE. FACULDADE
CONFERIDA AO JUIZ DA CAUSA. I - INEXISTENCIA DE REVELIA, EM FACE DE
CONTESTAÇÃO OFERECIDA ATEMPADAMENTE PELO REU. II - DISCUSSÃO DA
CAUSA DEBENDI INADMISSÍVEL NA ESPÉCIE, POR SE TRATAR O CHEQUE DE
TÍTULO AUTÔNOMO. III - TRATANDO DE QUESTÃO SOMENTE DE DIREITO PODE
O JUIZ ANTECIPADAMENTE A LIDE (CPC, ART. 330, I). RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO. SENTENCA MANTIDA.” TJGO, Apelação Cível 133476-/188, 3ª Câmara Cível,
Relator Desembargador Geraldo Gonçalves da Costa.
“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. CONCESSÃO DE TRANSPORTE.
INEXISTÊNCIA DE LICITAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. RECURSO ESPECIAL.
CERCEAMENTO DE DEFESA. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 7/STJ. SUSPENSÃO DO
PROCESSO. DESNECESSIDADE. NÃO OCORRÊNCIA DE PRESCRIÇÃO. SITUAÇÃO DE
IRREGULARIDADE QUE SE RENOVA DIA A DIA. I - Não há a alegada ofensa aos
arts. 332 e 420, parágrafo único, do CPC pelo indeferimento de prova pericial. Como bem
consignou o acórdão recorrido, a discussão dos autos é apenas de direito: necessidade ou
não de prévia licitação para a concessão de serviço público de transporte coletivo (fl.
639). Desnecessária, portanto, a prova técnica. Ademais, a produção de provas visa à
formação da convicção do julgador quanto aos fatos controvertidos. O Juiz é o
destinatário da prova e a ele cabe selecionar aquelas necessárias à formação de seu
convencimento. Analisar se premissas ensejadoras de julgamento antecipado da lide estão
ou não satisfeitas demandaria reexame do conjunto de provas. II - Não prospera também
a alegada necessidade de suspensão do processo até o julgamento da representação de
inconstitucionalidade nº 2002.007.00019. Segundo movimentação no sítio do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio de Janeiro (anexo), a referida ação já foi julgada. O processo
foi extinto sem julgamento de mérito, ao argumento de que não cabe ação direta de
inconstitucionalidade em face de lei de efeito concreto. III - Bem demonstrou a
agravante que houve o prequestionamento da matéria referente ao artigo 21 da Lei n.
4717/65. Ocorre que, segundo a iterativa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a
licitação passou a ser princípio fundamental para a Administração Pública, não se podendo
negar que, em princípio, inconstitucional a operação de linhas não licitadas, com base em
lei complementar municipal. Daí é que, na hipótese vertente, não há falar em prescrição a
contar da data em que editada a referida lei complementar, porquanto a alegada
inconstitucionalidade - consistente na delegação de linhas de transporte sem licitação -
renova-se dia a dia, enquanto perdurar o funcionamento das linhas de ônibus apontadas
como irregulares.” STJ, Agravo Regimental no Recurso Especial 1100830/RJ, Relator Ministro
Francisco Falcão.
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – ATO DE
IMPROBIDADE – CONTRATAÇÃO DE SERVIDORES PARA A SECRETARIA DE SAÚDE DO
ESTADO DO ACRE SEM A REALIZAÇÃO DE CONCURSO PÚBLICO – PROVA – OFENSA
AO ART. 11 DA LEI 8.429/92 – FALTA DE PREQUESTIONAMENTO: SÚMULA
282/STF. 1. Incide o óbice da Súmula 282/STF quando o Tribunal de origem, sequer
implicitamente, emite juízo de valor sobre tese defendida em sede de recurso especial. 2.
Acórdão recorrido que julgou improcedente a demanda por inexistência de prova quanto à
prática de ato de improbidade pelo réu. 3. Embora seja possível presumir que o réu, na
qualidade de ordenador de despesas e gestor dos pagamentos dos salários dos contratados
irregularmente, possa, em tese ser responsabilizado, não é possível condená-lo, por ato
de improbidade, com base em simples presunção. 4. Inexiste cerceamento de defesa em
razão do julgamento antecipado da lide se a prova cuja produção foi requerida pela parte
autora se mostra inservível para demonstrar a veracidade de suas alegações. 5. Alegação
de ofensa aos arts. 131, 330, I e 333 do CPC que se rejeita.”STJ, Recurso Especial
852953/AC, Relatora Ministra Eliana Calmon.
“AÇÃO ORDINARIA DE RESCISAO DE PROMESSA DE VENDAS E DE CESSÃO E
CONSTRUÇÃO DE OBRA EMBARGADA PELO GOVERNO DO ESTADO. NOMEAÇÃO A
AUTORIA (ART. 63 DO CPC). O ART. 63 DO CPC TEM DE SER APLICADO EM
COMBINAÇÃO COM O ART. 65 DO MESMO ESTATUTO PROCESSUAL, FICANDO A
EXCLUSIVO CRITÉRIO DO AUTOR ACEITAR OU NÃO O ATO DE NOMEAÇÃO.
INEXISTE NEGATIVA DE VIGENCIA DO ART. 70, III, DO CPC, PELA NÃO
ACEITAÇÃO DA DENUNCIAÇÃO A LIDE DO ESTADO, VEZ QUE, NO CASO DOS
AUTOS, A LEI NÃO ESTABELECESSE, EXPRESSAMENTE, A RESPONSABILIDADE DO
CONCEDENTE DA AUTORIZAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO POSTERIORMENTE
EMBARGADA, NÃO TENDO ESTE, AINDA, PARTICIPADO DO CONTRATO FIRMADO
PELOS AUTORES E REUS DA AÇÃO. A DECISÃO RECORRIDA NÃO VIOLOU O ART.
460 DO CPC, SEJA PORQUE A SENTENÇA ENCONTRA-SE EXATAMENTE DENTRO DOS
LIMITES DA INICIAL, QUER PORQUE OS RECORRENTES, NA VERDADE, LIMITAM-
SE A APONTAR OMISSAO DA SENTENÇA E DO ACÓRDÃO CONSISTENTE NO NÃO
JULGAMENTO DA AÇÃO DECLARATORIA INCIDENTAL, DEIXANDO, ENTRETANTO,
DE INTERPOR OS NECESSARIOS EMBARGOS DECLARATORIOS. INEXISTÊNCIA DE
CERCEAMENTO DE DEFESA EM VIRTUDE DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE,
VEZ QUE NÃO HAVIA CONTROVERSIA SOBRE OS FATOS NECESSARIOS AO
DESLINDE DA DEMANDA. PELO MESMO MOTIVO, NÃO SE CARACTERIZOU O
PRETENDIDO DISSIDIO JURISPRUDENCIAL. NÃO PREQUESTIONAMENTO DO ART.
1.058 DO CÓDIGO CIVIL, TENDO A DECISÃO RECORRIDA DECIDIDO A QUESTÃO
COM BASE NO ART. 43, II, DA A LEI N. 4.591/64, VERSANDO A LIDE, NO CASO,
SOBRE CONTRATO DE EXECUÇÃO IMEDIATA E NÃO CONTINUADA, COMO QUEREM
OS RECORRENTES, PRODUZINDO A SUA RESCISAO EFEITO 'EX TUNC'. NÃO TENDO
O PREJUIZO DOS AUTORES DECORRIDO DE ATO ILICITO, E CONSIDERANDO QUE
OS MESMOS LIMITARAM O PEDIDO AO QUE PERDERAM, NÃO POSTULANDO PERDAS
E DANOS, DESCABE, NO CASO, A INCIDENCIA DE CORREÇÃO MONETÁRIA.
RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS CONHECIDOS E PROVIDOS EM PARTE, PARA
EXCLUIR DA CONDENAÇÃO A CORREÇÃO MONETÁRIA.” STF, Recurso Extraordinário
91783/Rio de Janeiro, Relator Ministro Cunha Peixoto.
Assim, inexiste qualquer impedimento a que retarde a prestação jurisdicional, ou
seja, inexiste necessidade de produção de provas em audiência, a matéria em discussão é tão
somente de direito, sendo portanto possível e mesmo imprescindível a prestação jurisdicional como
forma de pacificar a controvérsia e dar a sociedade o direito.
Lembramos neste momento que o principal mal que acomete o Poder Judiciário é a
demora na prestação jurisdicional. Diversas tem sido as ações legais (alterações legislativas) e
mesmo administrativas (realização de mutirões, informatização, realização de concurso para
contratação de pessoal) visando acelerar a prestação jurisdicional.
VII – DA LIMINAR
Necessário ser dada solução urgente a questão. Não se pode tolerar mais que
adolescentes fiquem sem o atendimento imediato em razão da falta de veículos, que audiências não
se realizem ou atrasem em razão da falta de veículo para transporte. Que adolescentes infratores
não sejam encaminhados a atendimentos médicos por falta de veículos, que familiares de
adolescentes deixem de ser contactados e assim realizado estudo social, em razão da falta de
transporte para os técnicos, ainda mais sendo estas, unidades regionais de atendimento
socioeducativo.
Pelo até o momento demonstrado a presença dos requisitos essenciais, quais sejam,
FUMAÇA DO BOM DIREITO e PERIGO DA DEMORA estão presentes, razão pela qual deve ser
concedida a medida liminarmente, como forma de garantir a proteção integral e a prioridade
absoluta no tratamento desta parcela da sociedade, encarcerada e carente de assistência, que
deve ser prestada pelo Poder Público.
Vale citar que já superada a necessidade de que seja ouvido o poder público antes
de ser concedida medida liminar. A determinação legal viola o princípio constitucional do acesso a
justiça – art. 5, inciso XXXV da Constituição Federal. E mais, os Tribunais, entre eles o próprio
Supremo Tribunal Federal define que, em casos de urgência, não havendo prejuízo ao Poder Público
e garantindo direitos aos cidadãos, que se continuarem a serem violados as consequências são
maiores, a medida liminar deve ser concedida, como forma de preservação do individuo, em
condição de proteção menor e portanto necessário de socorro do Poder Judiciário.
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. LIMINAR DEFERIDA. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. INDISPONIBILIDADE DE
BENS. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. LIMITE DA RESTRIÇÃO. 1- O
Ministério Público possui legitimidade para promover ação civil pública para proteger danos ao
erário, quando este for o cerne da questão, mesmo que envolva discussões inerentes a
matérias previdenciárias, sendo a ação em referência adequada ao fim pretendido. 2 - Não
carece de fundamentação a decisão que defere liminar após a apreciação, de forma clara e
precisa, dos requisitos legais exigidos, consubstanciados no “fumus boni juris” e “periculum in
mora”. 3 - Segundo entendimento pacífico nesta Corte de Justiça, as decisões que concedem
liminares somente podem ser reformadas na instância recursal quando contiverem em seu bojo
ilegalidade ou abuso de poder, a fim de preservar o livre arbítrio motivado do juiz de
primeiro grau, cujos vícios não foram constatados no presente caso. 4 - Não há impedimento
legal à indisponibilidade de bens que foram adquiridos em data anterior ao advento da lei que
regulamenta a questão, cuja restrição deve se limitar ao valor atribuído aos danos praticados
contra o Erário, devidamente corrigido. 5 - RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE, APENAS
PARA LIMITAR A INDISPONIBILIDADE DOS BENS AO VALOR DO DANO PATRIMONIAL
APONTADO PELO AUTOR.“ TJGO., 4ª Câmara Cível, Relator Desembargador Gerson Santana
Cintra, Agravo de Instrumento 244595-31.2010.8.09.0000.
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSENCIA DE CERTIDÃO DE
INTIMAÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA. TEMPESTIVIDADE. VERIFICAÇÃO POR OUTRO
MODO. POSSIBILIDADE. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA CONTRA PODER PÚBLICO.
RESTRIÇÃO. EXCEPCIONALIDADE ADMITIDA. 1. A simples ausência da certidão de
publicação não tem o condão de impedir o conhecimento do agravo de instrumento, sobretudo
se possível a análise da tempestividade por outro modo. 2. Conquanto não se olvide a
restrição legal à concessão de liminares contra atos do Poder Público que esgotem o objeto
da ação (Lei nº 8437/92, art. 1º, § 3º), a jurisprudência do e. Superior Tribunal de
Justiça já encampou entendimento no sentido de admitir exceções a esse comando normativo,
pelo que seu rigor deve ser mitigado (REsp. 945.775/DF, Quinta Turma, DJ de
16/02/2009). 3. Presentes os requisitos para a antecipação da tutela recursal, o seu
deferimento é medida que se impõe. AGRAVO CONHECIDO E PROVIDO.” TJGO, 5ª Câmara
Cível, Relator Desembargador Alan S. de Sena Conceição, Agravo de Instrumento 450805-
17.2010.8.09.000.
VIII – DA OBRIGAÇÃO DE FAZER E A ASTREINTE9
Postula o Ministério Público a disponibilidade por parte do Estado de Goiás de
veículo nas Unidades de Internação (Centro de Atendimento Sócio Educativo, Centro de
Internação para Adolescentes, Centro de Internação Provisória e Plantão Interinstitucional) com
motorista, para o atendimento as demandas dos mesmos, no atendimento aos adolescentes
privados de liberdade. Assim, requer obrigação de fazer personalíssima, ou seja, somente o estado
poderá prestar esta obrigação, pessoalmente ou por entidade a quem terceiriza o ato.
O Ministério Público, conforme consta do Inquérito Civil Público em anexo, tem
9 - palavra de origem francesa, com significação de adstringir, compelir, obrigar.
tentado reiteradamente e até de forma insistente resolver a questão, entretanto sequer os
ofícios encaminhados ao Secretario de Cidadania e Trabalho são respondidos, e os adolescentes
estão privados do atendimento adequado. Os(as) adolescentes infratores não podem esperar a boa
vontade do Estado, e mesmo a compreensão de que a lei deve ser cumprida, razão pela qual
propomos a presente ação.
“NATUREZA DA AÇÃO – Quando a ação civil pública é voltada para obtenção de
providência jurisdicional em que se determina ao réu uma obrigação de fazer ou não fazer,
a tutela perseguida terá nítido caráter preventivo, no sentido que já afirmamos
anteriormente, qual seja o de que, com a decisão mandamental, previnem-se novos danos
ou a continuação dos danos anteriores. Na verdade, está é a tutela que maior efetividade
protetiva traz aos interesses difusos e coletivos resguardados, podendo-se mesmo
afirmar, com JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA que está e que deve ser a tutela
primária, ao passo que a indenizatória há de ter cunho subsidiário, só que necessária
quando não houver mais qualquer meio de evitar o dano aos interesses protegidos.”10
Quando pede o Ministério Público seja o Estado condenado a disponibilizar veículo
nas Unidades mencionadas, pede-se um fazer, visando evitar danos aos adolescentes em conflito
com a lei que cumpram medida sócio-educativa sob a coordenação da Secretária do Estado de
Cidadania e Trabalho.
O decreto final (sentença) deve ser condenatório, qual seja, condenar o Estado de
Goiás a que realize disponibilize veículos nas Unidades de Atendimento CIA, CIP, CASE e Plantão
Interinstitucional, localizados em GOIÂNIA, visando um adequado atendimento aos adolescentes
em conflito com a lei.
Como o Estado reluta em cumprir a ordem legal, para que tenha efetividade a
decisão necessário, além do comando judicial a imposição de penalidade em caso de
descumprimento. No presente caso a imposição é de multa, denominada astreinte. Através desta
cominação, quer o Ministério Público que o Estado de Goiás, que como dito reluta a realização de
concurso público, veja-se coagido ao cumprimento da decisão judicial em prazo razoável.
10 - Ação Civil Pública, José dos Santos Carvalho Filho, Editora Lumen Juris, 3ª edição, p.69/70.
O Estatuto da Criança e do Adolescente trás dispositivo expresso sobre a
permissão a autoridade judiciária da fixação da multa cominatória no artigo 213, §2º11. Pela
interpretação do texto da lei, o magistrado poderá conceder tutela específica, ou seja, determinar
a realização de concurso, fixando multa diária ao réu, até o adimplemento da obrigação.
“Prestar atividade devida, como está na lei, tem o sentido de que a sentença cominou ao
réu um obrigação positiva, ou seja, uma conduta de fazer alguma coisa. Significa também
que a obrigação era devida: o réu estava submetido, de algum modo, ao cumprimento da
obrigação, embora não a estivesse cumprindo. Quando o juiz decide dessa forma,
reconhece que o réu não estava cumprindo a obrigação que lhe competia e que, em virtude
dessa injurídica omissão, estavam sendo prejudicados os interesses difusos ou coletivos
cuja tutela o autor perseguiu na ação.”12
Ainda sobre o tema, assim diz a doutrina:
“Como independe de requerimento expresso, o valor da multa deve ser fixado por
arbitramento do juiz, em importância adequada e compatível com cada obrigação a ser
adimplida.”13
A pena pelo descumprimento da obrigação de fazer ora requerida, deve ser
tal que impulsione o administrador, Estado de Goiás, a cumprir a obrigação. Não pode ser fixada,
portanto, em pequeno valor de tal forma que se sinta incentivado o descumprimento da obrigação,
tampouco elevada que acarrete a falência do aparelho estatal. Lembramos que, apesar da pena não
incidir sobre o patrimônio pessoal do administrador, o disposto no artigo 461, §5º do Código de
Processo Civil permite seja pelo juiz tomadas providências visando dar efetividade a decisão
judicial. Como se trata de medida simples, que deveria ser tomada independentemente da
providência aqui do MINISTÉRIO PÚBLICO, entende-se que o prazo para o cumprimento da
determinação não deve ultrapassar 10 dias, mesmo porque a cada dia de atraso, aumenta o
sofrimento dos adolescentes e o desrespeito aos seus direitos.
11 - Art. 213. Na ção que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. §2º, O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento.12 - Ação Civil Pública, José dos Santos Carvalho Filho, Ed. Lumen Juris, 3ª edição, p.325.13 - A Ação Civil Pública após 20 anos: efetividade e desafios, Coordenador Édis Milaré, Editora Revista dos Tribunais, título: Tutela antecipada e tutela específica na ação civil pública ambiental, autor Marcelo Buzaglo Dantas, p. 407.
IX – CONCLUSÃO
Isto posto, requer:
1 – Seja a presente ação recebida e devidamente autuada;
2 – Seja o Estado de Goiás nas pessoas do Procurador Geral do Estado de Goiás e Secretaria
Estadual de Cidadania e Trabalho, citados para querendo contestarem a ação, pena de revelia;
3 – Seja liminarmente determinado ao Poder Público que imediatamente coloque a disposição as
unidades: a) Plantão Interinstitucional; b) Centro de Internação Provisória; c) Centro de
Internação para Adolescentes e d) Centro de Atendimento Sócio Educativo, veículo, em bom
estado de conservação, em período integral, todos os dias da semana, inclusive sábado, domingo e
feriados, com motorista para atendimento as necessidades das Unidades no atendimento aos
adolescentes autores de ato infracional.
4 – Seja procedido julgamento antecipado da lide, nos termos do artigo 330, I do Código de
Processo Civil;
5 – Seja a presente Ação Civil Pública julgada procedente para condenar o Estado de Goiás a que
mantenha nas unidades de atendimento: a) Plantão Interinstitucional; b) Centro de Internação
Provisória; c) Centro de Internação para Adolescentes e d) Centro de Atendimento Sócio
Educativo veículo, em bom estado de conservação, em período integral, todos os dias da semana,
inclusive sábado, domingo e feriados, com motorista para atendimento as necessidades das
Unidades no atendimento aos adolescentes autores de ato infracional.
6 – Seja fixada pena em caso de descumprimento da sentença judicial condenatória, item 4 e 5
supra, em valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais) por dia de descumprimento, até o adimplemento da
obrigação.
7 – Dá a presente ação o valor de R$ 100,00 (cem reais) para efeitos meramente fiscais;
T. Em que,
P. Deferimento.
ALEXANDRE MENDES VIEIRA
PROMOTOR DE JUSTIÇA
Goiânia, 28/06/2011.