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O MIRACULOSO 06

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6º Edição do Jornal O MIRACULOSO

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PERGUNTA-SE: Com a eleição de AGNE-LO QUEIRÓZ para o GDF, a farra da corrupção em Brasília chega ao fim de um longo ciclo de desvios (de recursos públicos, do uso do solo, das políticas sociais, etc.)?

A resposta a essa pergunta será dada de for-ma inequívoca, com clareza e honestidade, pelo

novo governo. Não faltam desvios na conduta dos sucessivos governos eleitos de Brasília para que a própria autonomia política do Distrito Fe-deral seja colocada sob suspeição, tal o grau de corrupção nos negócios públicos, em tudo o que os Governos locais (passados) puseram as mãos.

Uma das mais importantes provas de que a corrupção chegou ao fim, ou de que recebeu tratamento de choque digno de uma Tropa de Elite será o TOTAL EMBARGO das obras do corruptíssimo Setor Noroeste. Esse “empreen-

dimento imobiliário ecológico” é um dos mais frontais ataques à preservação do Plano Piloto de Brasília, e é impressionante a desonestidade do Governo do Distrito Federal, que banca a maior mentira imobiliária de Brasília: de que o Setor Noroeste é um “Bairro Ecológico”.

Essa mentira, contudo, tem um FUNDO DE VERDADE: a população realmente gostaria de morar em Bairros Ecológicos, em lugares sadios, que respeitassem a ecologia do cerrado, que não destruíssem os recursos hídricos, que fossem si-nônimo de saúde e qualidade de vida. A popula-ção de Brasília quer isso, mas o GDF banca uma iniciativa imobiliária tão mentirosa que deve ser entendida como crime contra o consumidor e

contra o futuro de Brasília; pode-se provar com facilidade que o Setor Noroeste é EXATAMEN-TE O CONTRÁRIO dessa pretensão de “Bairro Ecológico”, e que o novo governo deve paralisar imediatamente esse crime ambiental:

1) EM PRIMEIRO LUGAR: Um Bairro Ecológico deve ser caracterizado pelo altíssimo

grau de compro-misso ambiental de cada um dos seus construtores, moradores e ges-tores. O que temos no Setor Noroes-te? EDUCAÇÃO A M B I E N T A L ZERO. Nem o GDF, nem as cons-trutoras e incorpo-radoras imobiliá-rias têm um plano de gestão ambien-tal que seja infor-mado, esclarecido, exigido, aos com-pradores – que não passam disso: C O M P R A D O -

RES, consumidores descompromissados com a ecologia de Brasília, investidores desinformados e que aprendem a mentir junto com o governo e os especuladores; esse é o pior exemplo de urba-

nismo e cidadania da história de Brasília;2) EM SEGUNDO LUGAR: Um Bairro

Ecológico não pode destruir o cerrado e subs-tituí-lo integralmente por gramados exóticos, gramados e mais gramados de analfabetos am-bientais (mas deslumbrados com o luxo fácil, cafona, ultrapassado, e que comem gramados); um Bairro Ecológico não impermeabiliza exten-sivamente o solo e impede a recarga do impor-tante aqüífero que existe, milenarmente, numa ocorrência notável EXATAMENTE DEBAIXO DO NOROESTE; um Bairro Ecológico tem um plano de manejo totalmente voltado para a preservação de fauna, flora, solo e ar, e NADA disso existe no Noroeste – nem nos mentirosos relatórios de impacto ambiental aprovados pelo corrupto GDF;

3) EM TERCEIRO LUGAR: Um Bairro Ecológico está associado à produção de alimen-

tos, a um estilo de vida saudável, sem armas, sem drogas, sem carros, sem consumo de luxo, sobre-tudo associado a um modo de vida CULTO, al-tamente qualificado e conectado com o mundo, com a cultura brasileira, com o clima brasileiro, com a natureza brasileira. NADA disso existe na proposta do Noroeste, nem nos demais lo-teamentos oficiais, de iniciativa de governos do Distrito Federal que parecem vindos do passado mais primitivo do Brasil, em completa contradi-ção com o urbanismo de Lúcio Costa.

A Ecologia dos Corruptos domina Brasília, neste exato momento. O primeiro sinal de que o governo Agnelo Queiróz é realmente honesto e diferente, de que representa uma mentalidade de consciência ambiental responsável, de compro-misso com a educação ambiental, com o futuro sustentável de Brasília, é o a realização de uma completa REQUALIFICAÇÃO do projeto do Setor Noroeste. Pelo fim da Ecologia dos Cor-ruptos em Brasília.

SETOR NOROESTE: A ECO-LOGIA DOS CORRUPTOS

BRASÍLIA

“Um Bairro Ecológico não pode destruir o cerrado e

substituí-lo integralmente por gramados exóticos, gramados e mais gramados de analfabetos

ambientais

nova capital e suas instalações por serem provisórias, seriam de madeira. O local

destinado ao comércio, indústria e serviços recebeu o nome de Cidade Livre, devido ao fato de todas as atividades estarem isentas

de impostos e taxas e os lotes destinados a estes fins terem sido arrendados.

Não havia interessados em se instalarem no núcleo pioneiro da futura capital, apesar de todos os incentivos. As ideias da nova

capital começaram a ser difundidas em Goiás e Minas, o que contribuiu para atrair

investidores.No final de 1956, havia no Núcleo Bandei-rante, apenas um restaurante, duas pada-rias, um hotel e um açougue, seis meses

depois, contavam-se mais de 100 estabe-lecimentos e mais de mil pessoas. Quando

a nova capital foi inaugurada, em 1960, a Cidade Livre tinha aproximadamente 20 mil

habitantes.O nome Núcleo Bandeirante veio devido

a muitas pessoas não gostarem do nome Cidade Livre e do fato de o então presidente

Juscelino Kubitschek chamar os grupos de homens que vinham para a nova capital em busca de trabalho, de “bandeirantes moder-

nos”. A cidade possui características interioranas, o que não é comum na maioria das cidades

do DF. Atualmente o Núcleo Bandeirante, assim como as demais Regiões Administra-

tivas do DF, enfrenta diversos problemas, principalmente relacionados à saúde e ao

transporte.

NÚCLEO BANDEIRANTE

Cidade LivreJardel Santana

No dia 19 do mês de dezembro comemora-se o aniversário de 56 anos do Núcleo Ban-deirante. A cidade tinha caráter provisório e foi planejada para existir durante a constru-ção de Brasília, ou seja, quatro anos. Com a inauguração de Brasília, houve pressões

para a transferência das pessoas que ali residiam, porém a comunidade se organizou e reivindicou a fixação da Cidade Livre como cidade satélite e após várias pressões o Nú-cleo torna-se a única cidade satélite nascida

por força de uma lei. Antes de dar início à construção de Brasília, era necessário construir um núcleo destinado ao comércio, indústria e serviço, esse núcleo deveria durar somente até a inauguração da

EDITORIALSempre contrariando as adversidades impostas a um Jornal Indepen-

dente e Livre, coletivamente conseguimos fazer nascer esta 6º Edição do MIRACULOSO.

O Jornal nasceu em março deste ano com a intenção de abrir um canal alternativo de comunicação para difusão de vozes, olhares e pers-pectivas para o Distrito Federal e o Brasil que não são reproduzidos pelo monopólio da comunicação no Brasil. Para nós do MIRACULOSO, que ralamos no árduo processo de construção e nascimento de cada dia, o compensador deste trabalho, é vermos O MIRACULOSO se espalhando pelos 4 cantos do Distrito Federal e indo inclusíve para outros estados do Brasil.

Aos que acreditaram que O MIRACULOSO não vingaria, cada edição é um resposta de que é possível e necessário lutarmos pela criação e exis-tência de novos espaços comunicativos. Agradecemos a todos os anun-ciantes, escritores, artistas, estudantes, trabalhador@s que ajudaram O MIRACULOSO de qualquer forma direta ou indiretamente. Apresentamos um novo formato, esperamos que gostem das mudanças.

Um 2011 repleto de MIRACULOSIDADES, luta e transformação, são nossos votos a tod@s @s Leitor@s.

Amem!

Prof. Frederico Flósculo Pinheiro Barreto - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB

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A inauguração do Memorial Darcy Ribeiro, apelida-do de Beijódromo, é uma realização inesquecível da reitoria atual da Universidade de Brasília. E inesque-cível, primeiramente, pelo fracasso que foi a organi-zação do cerimonial. Eles não são sequer capazes de receberem os seus convidados. A reitoria age como agem políticos oportunistas. O que se quer é mostrar obras! Obras!

Basta morar na Casa do Estudante ou usar o Centro Olímpico para saber que essa nova obra não é priori-dade. É um aproveitar-se do momento dos 50 anos de Brasília e da UnB, usando o nome de Darcy. E pior: o Lula discursando falácias sobre o que o Ministério faz pela Universidade, quando no fundo a Universi-

dade (em Brasília e no Brasil) vai de mal a pior. Nada contra a boa intenção da Fundação Darcy Ribeiro.

Darcy Ribeiro, que em tantos lugares disse e escre-veu que sua filha caiu no mundo e se prostituiu muito cedo, o grande articulador da UnB, saberia nos dizer hoje porque este Beijódromo não é fundamental para a Universidade. Já foi. Hoje não é mais.

É antes preciso que a água pare de escorrer no minhocão, como escorre há décadas. É urgente que a situação de improbidade e corrupção da FINATEC e suas novas negociatas seja questionada. É funda-mental que processos sejam abertos contra aqueles que, como reitores impunes, diretores incompetentes e chefetes imorais, lesam a cultura e o patrimônio da UnB.

Mais crucial do que o que se inaugurou dia 06 de dezembro será expandir a Biblioteca Central, perdi-da dentro de si por não saber o que fazer consigo e com sua própria história, desconhecida. Que venham novos prédios anexos para resolver o problema da biblioteca, uma biblioteca construída em cima de uma mina d’água, num terreno erroneamente escolhido

por Niemeyer. Enquanto burocratas se beijam e se dão tapinhas

nas suas costas largas, a Faculdade de Educação está com o assoalho ruindo, interditado, e o Dois Candan-gos (hoje com seu cinema extinto) espera reforma que nunca vem. O Teatro do IDA até um dia des-ses também estava jogado às traças. O espaço pi-loto abraça uma infiltração silenciosa. Enfim, seriam inúmeras as prioridades da Universidade de Brasília, todas esquecidas pelo cinismo das comissões de 50 anos.

Dizendo com todas as Letras: nunca se viu uma reitoria tão vil e oportunista, tão populista, e que fin-ge tão bem estar preocupada com as comemorações do vindouro 2012, enquanto o que devia ser priorida-de são os próximos 50 anos.

Antes que a UnB seja mais uma universidade nor-mal e normalizada, como quiseram os que a refor-maram na época do AI-5, é chegada a hora de uma reconsideração radical, às portas da nova Estatuinte.

Eudásio Gaio de Sousa, 89, aposentado.

UnB de hoje faz pão e cir-co dos sonhos de Darcy Ribeiro

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Beijódromo em 5 meses mas nova CASA DO ESTUDANTE não sai do papel! Falta recurso ou prioridade? Foto: Estadão

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Quando a esquizofrenia torna-se regra, dois mais dois são cinco e a barbá-rie aproveita pra por a mostra seus dentinhos sedentos de sangue inocente. Os jornais dão mostras de que a incivilização está tomando conta das mais diversas paragens, não mais se pode ir a um jogo de futebol, ou passear de mãos dadas na rua, por exemplo, sem que se sofra o real risco de ferir-se, agonizar e/ou perecer.

Os jornais também dão notícia de que grandes cérebros, em clara de-monstração de demência coletiva, descobriram como pacificar o Rio de Ja-neiro, tratando-se, tal fato, de algo inédito e de um exemplo a ser seguido mundo afora: trocar o jugo dos traficantes pela opressão da polícia.

Ninguém presume ou conjecturou que construir escolas; erigir um sistema penitenciário que reabilite os infratores; desmilitarizar a polícia e descrimi-nalizar o uso de drogas podem diminuir, de fato, os índices de violência? Ou estão todos cegos ou o esquizofrênico sou eu.

Escolas, com E maiúsculo, tal qual as particulares e com professores mo-tivados e remunerados de forma justa, sobre o controle da população e acessível a todos. Ninguém vê.

São mais de quinhentos mil encarcerados no sistema prisional brasileiro, na ociosidade graduando-se na criminalidade - além da inação propiciada pela cadeia, misturam-se presos de alta periculosidade com pais de família famélicos que meramente buscavam alimentar os seus. Porque não pro-fissionalizá-los, será algum cidadão brasileiro é contrário que os detentos trabalhem para o seu próprio sustento e com vistas a aprender um ofício? Ninguém vê.

A polícia deve ser civil e atender unicamente os interesses da popula-ção, interesses estes que devem ser votados nas comunidades, sob pena de demissão e prisão (se for o caso) como ocorre com todos os funcionários públicos (ou pelo menos deveria ocorrer). Ninguém vê.

A ciência, por meio das teorias mais recentes, dá conta de que o Homo sapiens originou-se na África a mais de duzentos mil anos, portanto, po-demos inferir que há pelo menos duzentos mil anos o homem utiliza-se de substâncias que alteram sua percepção do mundo, todas as culturas de alguma maneira fazem uso de drogas, é parte intrínseca à nossa cultura. A droga existe e sempre existirá. Sempre haverá alguém disposto a usar e ou-trem disposto a comercializar. Se o consumo de drogas deixar de ser crime os traficantes perderão sua razão de ser. Ninguém vê.

No Rio de Janeiro estão apenas preparando-se para a chegada dos turis-tas que virão à Copa do Mundo e às Olimpíadas, remanejando o indesejado para outros locais distantes do centro e menos privilegiados do ponto de vista do potencial turístico. Ninguém vê.

Volto a perguntar: o que seria dos narcotraficantes se ninguém os procu-rasse para conseguir drogas e se a juventude que normalmente eles recru-tam, tivesse chances iguais de profissionalizar-se e desenvolver suas apti-dões?

Enquanto ninguém nada vê ou eu mergulho fundo na mais esquizofrênica loucura, nossos governantes passeiam ao lado de seus amigos empresários em carros e helicópteros blindados, tomando um bom whisky dezoito anos, sem nunca esquecer das doses diárias de prozac e diazepan (que evidente-mente não são drogas).

Mas pensando bem, por que veriam? Afinal de contas que droga pode ser melhor que a ignorância?

COLUNA POLÍTICA

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O Rio de Janeiro tem duas guerras

“Infelizmente o combate mais

importante para a favela até hoje

não foi travado pelo Estado.”

LEONARDO ORTEGALDesde que teve início, a operação realizada nos morros

do Rio de Janeiro é uma das únicas coisas que se ouve falar nos jornais. Em pouco tempo o assunto já não valerá mais nada e será descartado pela mídia. Esse comportamento vampiresco dos grandes meios de comunicação é deveras prejudicial ao Brasil, e o caso do Rio é um grande exemplo disso.

Os números de mortos e feridos se amontoam nos jornais – não há novidades, as matérias são quase as mesmas. O dia a dia dos policiais da operação é o mais novo reality show da TV brasileira, e no primeiro dia da ocupação, o Jornal Nacio-nal poderia ter mudado de nome para Big Brother Favela. “A guerra no Rio de Janeiro” é uma das mais repetidas frases de efeito. Mas, afinal, de que guerra que estamos falando?

Desde quando a escravidão foi se tornando insustentá-vel e o capitalismo foi ganhando força, os pobres e escra-vos alforriados foram ocupando as margens da cidade e a periferia. O morro também é periferia, mas uma periferia vertical é que são periferias verticais. Falta de escola, em-prego, justiça, saúde, e até comida existiram por ali desde sempre. Falta de Estado, de poder público. E como sabe-mos, se o Estado não assume o poder, alguém vai assumir. No caso dos morros, foi o tráfico quem assumiu uma boa parte. E não digo traficantes, mas o tráfico mesmo. O traficante, por mais poderoso que pareça, é só mais um fantoche, um soldado que mata e que morre em nome de uma rede invisí-vel maior, que também lava dinheiro, compra políticos, faz tráfico de órgãos, de seres humanos, realiza travessias in-ternacionais com cargas enormes de drogas e armas, e tem sucursais em diversos países. Mas a maior parte do poder na favela foi assumida pela fome, pela ignorância, pelo desem-prego e pela doença, que fazem, de longe, mais vítimas que

o tráfico de drogas.Combater traficantes é isso: aproveitar um momento

para entrar no morro, na base de tanques e balas, numa apoteose da violência legitimada. Combater o tráfico é uma outra coisa: num mundo capitalista, o dependente químico é o cliente, a droga é a mercadoria, e o tráfico é o mercado. Os traficantes são apenas mercadores da droga, e a lei da oferta e procura continua imperando. Dessa forma, enquan-to não há saúde e políticas públicas para tratar dependência química, a droga seguirá como uma mercadoria de alta pro-cura e extremamente rentável. A reorganização do tráfico é uma forte pressão feita por diversos segmentos da mesma sociedade que hoje o execra.

Infelizmente o combate mais importante para a favela

até hoje não foi travado pelo Estado. Por mais violenta que seja, a realidade do tráfico de drogas não é capaz de ser mais violenta do que uma criança morrendo de fome, ou o analfabetismo político. Essa guerra está distante de ser en-frentada, e como já dizia o controverso Capitão Nascimento “O único braço do Estado que entra na favela é a polícia”. Depois da ocupação, alguns agentes de saúde até subiram o

morro, mas isso não representa nem o mínimo. Essa muni-ção não faz nem cócega no batalhão da anti-cidadania que assola as favelas. Além do mais, a ‘guerra’ que se vê na TV não foi decretada em combate ao tráfico de drogas, e nem em nome do povo, para que a dignidade ocupe o espaço deixado pela saída dos traficantes. Sem nenhuma ingenui-dade, essa foi uma ocupação ‘pra inglês ver’, literalmente, pois as olimpíadas e copa do mundo estão quase chegando, e mais próxima ainda está a consagrada virada de ano no Rio, quando a cidade enche de turistas, turistas que não pensarão duas vezes em mudar de destino caso se sintam inseguros. Além da bandeira do Brasil e do estado do Rio, hasteadas no cume do morro, deveria ter sido hasteada em um mastro mais alto a bandeira verde com um cifrão bem robusto no meio. Dinheiro, capitalismo. Os grandes coman-dantes dessa guerra.

Quando o Big Brother Favela perder a graça, a mídia vai

jogar fora esse assunto. Justo no momento de mais impor-tância: o de ver o que ocupará o lugar dos traficantes no morro. E agora, sem o sangue jorrando ladeira abaixo, sem a visibilidade do tráfico que invadia até o lugar das elites com suas drogas, quadrilhas organizadas e bem equipadas, que visibilidade vai ter aquela população da favela, que agora não tem voz para chorar sua dor nem com gritos de bombas e tiros? Pelo visto, a verdadeira guerra não será televisio-nada.

Leonardo Ortegal é assistente social e escreve também no blog www.cartadesmarcada.blogspot.com

por Solano Teodoro

Em terra de cego quem tem um olho é louco

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RECEITA DE CHOCO-NHAQUE: 1 litro de domec | 1 barra de chocolate derreta o chocolate em banho-maria, adicione o conhaque à gosto, comer com pão-de-queijo deitado.

Paloma Amorim | Fernando Aquino

“A verdade, espécie de erro que tem a seu favor o fato de não poder ser refutada, sem dúvida porque o longo cozimento da história a tornou inalterável”. Michel Foucault

Ao tirar a roupa em público ele traiu o cozimento da história, dissolvendo todo caldo nos olhos de quem passava. Mas e o corpo, onde e quando se determinou que estava minado de sua essência para se tornar anti-corpo? Por que ir de encontro a Deus vestido, se ele se põe nu enquanto vida.

Ele foi traidor da história e da cultura, quando na produção de poder rosnou um ge-mido utópico de cão sem dono, vasculhando as ruas pelado, alimentado-se de sol e noite, preferindo o anti-corpo ao corpo instituído. O Cão fuleiro, assina o asfalto, mija, transa, bebe da água da chuva que pinga, pinga, foge dos meninos, amaldiçoa os lixos. Um dia o cachorro da madade, triste e anêmico, observando o portão esquecido, deu um pinote, repiquiando nas ruas: “- Meu coração quer latir também!” Coitado, depois de duas esquinas, um quebra-mola e meia dúzia de pombos mancos, fora atropelado, mal sabia ele que pra latir também era preciso ter malícia.

O poder é indiferente a deus ou ao diabo, como o amor, coabita na criação dos ho-mens, capaz de faze-los descer tanto quanto subir. Latir sem perspicácia e malícia é vacilo, caçar o alimento sem maracutáia é desperdiço de força. Ele traiu a história quando mentiu o currículo para expor em galerias da praça onde vivia. O cachorro traidor é fuleiro, amansa o outro pra comer a namorada, as vezes transa com osdois, sabe engabelar mas também fazer chupeta. A ética aqui é o instinto, a pupila, os nervos, o faro, a pelugem, os músculos, a sede, e toda inteligência que cabe na sensibilidade dos poros. Esticado sob o sol, lembrou que fora traidor quando preferiu mijar na grama, na terra, na ferrugem , ao depositar no cubo branco sua produção diária. Dentro do cubo não há clara destribuição do(a) gozo(renda) quecircula, muitas vezes o charrocho dói(paga) pra dá(trabalhar), mas também tem aque-la coisa de botar a boca na sardinha, tora um cú (rador), sambateiar no orgulho. No fim da noite, bêbado e sozinho, sente de novo a dúvida: fudi ou fui fudido? Será que houve recíproca suficiente na suruba? O cão traidor foi traído, ele sabe, mas cão fuleiro também gosta de ser chachorrona que dá de graça. Tanto faz,novamente na rua abanando o rabo, chei-rando cuzinhos, na ética dos instintos ele miracula novas formas de trair a história... (não termina)

“Cão traidor”Márcio Mota

Primeira década [novo milênio]: alívio. Estandartes divertem o rabu-gento centro rodoviária!congresso!CONIC!Capital Federal! Marcas e galinhões, mar(ia-sem-ver)gonhas e frangos fritos, enceradeiras, cal-cinhas... jumentos deixavam deputados que permaneciam dentro do buraco, tal como tatus. Copérnico a bombordo dos juros altos. A franga chegou! Empinada, nova, bombástica... cabeluda e maitê. Empunhar uma enceradeira é de fato transformar a República Nacional numa Malaquias da Fuleragem. Enceramos a apoteótica rampa do Congres-so Nacional 6ª feira 26 de novembro de 2010 doze horas-horário este seria mediterrâneo resfuleiro Pilantra. Ministério da Magia só tem Mixuruca [paraíso da captura] pára isso! analgésico anal | para aquilo, confraternal? O próprio do mor-cego é: a bunda do movimento só |

a bula destilada do oco |fato acontecido do

arco.

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MiraculosoPalavra: Geração 80

Pergunta: Qual a mística de você estar em Bra-sília?

Bia MedeirosA mística pode ser a do fragmento. A do anti-freudiano. Pode ser a mística do sem família. Pode ser do errante contrário do traficante que fica, o ficante, o traerrante. Talvez o trafierrante seja a melhor resposta.

M: Frase: Dilma 1ª presidenta do Brasil.O centenário de Brasília será performático?

B: O fato de termos uma presidenta não sedimenta. Não é pelo fato de a pessoa ser mulher que fica melhor. O centená-rio de Brasília vai precisar andar muito ainda. Vai precisar conhecer o córrego do urubu, os buracos do Lago Oeste, vol-tar a ser selva na cidade pra poder ser realmente performáti-co. A posse, não de uma presidenta, mas de um ser gênero, um congênero, um todo-gênero, presidente. Talvez nem pre-sidente. Se uma matilha fosse presidente, talvez fosse mais interessante do que uma pessoinha qualquer.

M: É possível cozinhar a ética, encerar o desejo

e passar batido?

B: Uma ética cozinhada não existe. Porque a partir do mo-mento que ela for cozinhada, já se torna moral. Encerar o desejo não é recomendável, porque ele é melhor espinhen-to, com um pouquinho de lama, com espaço para escorrer alguma coisa e passar uma mãozinha, deixar mais lisinho. Não sou a favor de um desejo encerado, nem varrido. Talvez um desejo ventado, tempestado. Quando você passa batido, a roupa fica mal passada e o mal passado interessa porque revela as entranhas do linho e as escamas da camiseta, além de mostrar o outro engomadinho.

M: Qual a estratégia desta facção Corpos In-formáticos, uma vez que corpo e tecnologia são grandes temas atuais?

B: Corpos Informáticos vem sendo atacado com os temas “máfia do edital”, “lavagem de dinheiro” e “oligarquia cul-tural”. É interessante esse ataque porque revela o quanto um processo anarquista de criação como o Corpos Informáticos (“anarquistas entre aspas”. Pesquisa brincadeira, palhaçada, todo mundo junto, criação coletiva, workshop de 48h, não seria bem a palavra anarquia, mas o pro-cesso que se dá no fluxo.) ser atacado desses tantos nomes significa que o improviso já está sendo cercado e romper o cerco é muito diver-tido. O Corpos Informáticos não possui uma estratégia limitada, delimitada. Esta forma de ação, que eu não chamaria de es- tratégia, se constrói no processo e no coletivo. Eu também não sei se eu chamaria de facção. Mas o fato de estarmos sendo acatados de “máfia do edital”, eles estão pensando que talvez somos uma facção. Nós não somos facção! Corpos Informáticos é um vazamento, é um mal-hálito que permanece apesar da higiene da sociedade. É uma forma de construir, destruir, possuir pensamento e leva-lo às ruas. Quando Corpos Informáticos encera o Congresso Nacional ele não encera o desejo. Ele encera, desencera – porque as enceradeiras eram todas quebradas – esse processo da facção que agora se organiza em partidos e é essa verda-deira máfia do poder. O poder para o Corpos Informáticos é um poder que não pode. É uma política que não diz nem sim nem não, que não bota placa, nem tapa buraco porque as es-tradas não interessam. Interessa descer do carro e ser denovo trafierrante.

M: Qual a pedagogia da mar(ia-sem-ver)go-nha?

B: Pensando a pedagogia noutro dia, e tentando reconceituar exatamente o que é a pedagogia, pude verificar que termos

melhores existem para dizer não só pedagogia (Corpos Infor-mativos chegou à conclusão de que são necessárias novas pa-lavras para quase tudo neste hemisfério em que a gente vive). Então a pedagogia nada mais é do que secreções. Alguém se-creta e se contamina com aqueles que são chamados alunos. Naverdade, quase sempre, várias vezes são melhores que os professores. E os professores são os vadios que roubam dos alunos as idéias e acreditam que fazem melhor que os alunos. Os alunos é que fazem arte.

M: Circulações, circunstâncias, grupo. O PCPT é um grande marco da perfor-mance no Brasil. Poderíamos conside-rá-lo seu teatro de estádio?

B: Considero um elogio o Miraculoso dizer que o PCPT é um marco na história da performance.

Não interessa ser marco, porque ele fica lá parado no mo-numento e é um marco. Corpos Informáticos quando pensou o PCPT ele não tinha intenção de ser marco, mas de ser um pedaço de molécula de água passando no meio do rio, um pedaço de fulxo, um componente nas possibilidades. São muitos os eventos de performance no Brasil e esse ano pude particpar de vários, mas vários outros que o Corpos não pôde participar. O importante não é ser marco, é ser fluxo. Mas talvez a gente tenha sido sim um redemoinho numa geração de idéias, de bolhas que movimentam as pedrinhas do rio e agrupar outras águas que estavam passando de pessoas exi-gindo, pedindo, contaminando o público com a diferença de que corpos informáticos não é, nunca foi, nem nunca será, não sei, teatro. Nossa mar(ia-sem-ver)gonha explodem com essas sementinhas que voam no ar e crescem no improviso. Por isso não é teatro. Gostaria de citar Arranhane Musquini, do Theatro de Soleil, que é teatro, mas tem uma expressivi-dade na minha formação. Minha amiga de adolescência que teve bastante influência sobre mim Bia Medeiros, no final dos anos 70 e mais recen-temente a pesquisa se contamina de Mathew Barney, daquele cara que pinta os grafites na rua, o Blue, além do processo de secreções e contaminações, ou seja, essa pedagogia invertida Maycira Leão, Chyntia Carla, Alice Stefênia, Rita Gusmão, Milton Marques, Frederick Sidoul, Diego Azambuja, Fer-nando Aquino e tantos outros rizoma mar(ia-sem-ver)gonha: cuidado a semente pode explodir e cair no seu cercado.

ENTRE-VISTA

Bia Medeiros

“Arqueologia do Corpos Informáticos

se dá como processo de crescimento, in-

filtração, penetração ou importação va-

gabunda da mar(ia-sem-ver)gonha”

www.performan-cecorpopolitica.net

www.corpos.blogspot.com

Bia Medeiros é carioca, coordenadora do Grupo de Pesquisa Corpos Informáticos desde 1992. Com este grupo realizou em novembro de 2010 o evento Performance | Corpo | Política | Tecnologia, que foi de grande relevância para a arte da performance no Brasil.Seu pensamento filosófico tempera política, garga-lhada e sabor, afoga, auscuta na carícia. Pedagogia do corpo mixuruco, tecnologia nômade da escritura, secreções e contaminações fuleiras são instrumen-tos de sua vivência.

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por Fernando Aquino e Paloma Amorim

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“ Corpos Informáticos quando pensou o PCPT ele não tinha inten-

ção de ser marco, mas de ser um pedaço de molécula de água pas-sando no meio do rio, um pedaço de fulxo, um componente nas pos-

sibilidades.”

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M: Daqui há mil anos o Corpos Informáticos será segredo?

B: Tomara, porque só os segredos merecem ser contados no mais íntimo do ser. Calados. E como silêncio. Presença. Der-rida fala que uma teoria da Literatura só seria possível se fosse possível fazer uma teoria sem conceitos. Uma teoria do segredo. É interessante fazer parte de uma teoria do segredo, ou de uma não teoria, porque uma teoria do segredo seria impossível.

M: Qual a performance da Nova Era?

B: E tem nova era? Eu sempre achei que a questão da nova era do novo momento do séc. XX é uma inquietação que as pessoas trazem em si

M: Qual a circunstância en-tre a foda e a filosofia?

B: Primeiro eu vou ter que pensar se existe circunstância entre a foda e a filosofia. O que é um cir-cunstância, circunstância? Poderia responder que os dois são muito bom! E dá pra levar a vida só pensando essas duas coisas. Quando ficar cansado, se-ria interessante fazer de arte, rir um pouco, trocar de namorado, talvez de filósofo, mas não sei se existe uma circunstância entre a foda e a filosofia. Mas ins-tâncias podem ser criadas e podem ser muito interessantes, além de ser duas coisas essenciais para a vida.

M: Em seu livro Aisthesis a educação do corpo compõe com as tecnologias?

B: O livro Aisthesis publicado em 2005, precisa ser revisto e ampliado. Outro dia me peguei com uma informação minha citada por uma aluna. Falei: Caramba! Escrevi esta besteira! Então tem algumas coisas que deveriam ser revistas. Uma delas é o termo “educação para um corpo sensível”. Um corpo sensível se educa se há uma pedagogia para o corpo sensível e eu acabei de afirmar que a educação é secreções e contaminações. Quando se contagia, educa-se e abre-se a possibilidade de experiências. Então acredito que a educação do corpo sensível é uma impossibilidade. Ou o corpo sensí-vel é regado adubado. Você pode mostar para a flor aonde está o sol, mas não pode botar o sol na planta. Então a educa-ção do corpo sensível precisa ser revista.As tecnologias hoje em dia são onipresentes e verifica-se nas escolas que não há uma educação para as tecnologias. As crianças possuem um direcionamento natural para aquela presença. Assim como olham para as plantas, eles também olham o computador. Mas a sociedade leva as crianças mais para as tecnologias, então existe nas crianças um interesse muito maior pelas tecnologias. E é preciso que elas peçam aos pais que comprem mais e mais computadores, vídeo-ga-mes, wi-fi´s, do que propagandas na televisão no sentido de “plante uma árvore”, “que cheiro tem essa flor” ou “seja um trafierrante” então as tecnologias estão entrando na vida de nossas crianças sem controle e impostas por uma sociedade que necessita do consumo precipitado, impensável, posses-sivo e ao mesmo tempo descartável. Então há que haver o cuidado nesse compreender, entender, deixar encostar a tec-nologia no corpo sensível.

M: A arte é fuleragem porque o amor é mixuru-ca. Comente

B: A idéia de arte como fuleragem é um conceito que o Cor-pos Informáticos vem desenvolvendo, sobretudo a partir da participação do Fernando Aquino no grupo. O grande passo seria compreender o nosso trabalho como fuleragem. Permi-te mais liberdade, mais ousadia, menos compromisso e es-ses aspectos impulsionam a criatividade. Se você não tem o compromisso de que aquela estátua vai ficar na praça durante

mil e quinhentos anos, você se permite uma ação muito mais verdadeira e autêntica, do que se você tiver o conceito de que arte é obra. Por exemplo, todos os desenhos dos artistas, se você pegar de Leonardo a Egon Chili, Bia Medeiros, Rubens Gurschimam, os desenhos são melhores que as litografias, do que as gravuras. Quando a pessoa passa para uma linguagem mais estável, mais perene, o traço trava. E a fuleragem não trava o traço. Ela nem tem traço, só tem talvez o resto do resto como que o Evandro Nascimento: a arte seria o resto do resto. A fuleragem não tem compromisso e o não com-promisso permite o ser dar mais. O amor é mixuruca porque passa. Todos passam. Mas é incrível porque todas essas mi-xurucagens vão fazendo uma genealogia da pessoa. É uma

mixurucagem que deixa rugas mara-vilhosas, pedaços de enseadas crta-vadas no corpo da memória do amor do tesão do desejo do vácuo do não. Que bom que é mixuruca. Eu gosto!

M: Esta pergunta é um es-paço aberto para você falar o que quiser. O Miraculoso agradece.

B: Queria parabenizar a iniciativa do Miraculoso. É um es-forço bastante grande, eu sei. A gente já tentou fazer jornais em tempos mais difíceis e o quanto é difícil fazer um grupo, descolar grana, ir à empreitada mesmo quando ta chovendo, ou quando enlameou ou quando brigou. Queria dizer que o Corpos Informáticos é um presente pra mim. É um presente daqueles que você sua, deixa a alma, morre e mesmo assim acha bom como um amor mixuruca.

M: Qual arqueologia do Corpos Informáticos?

B: Arqueologia do Corpos Informáticos se dá como processo de crescimento, infiltração, penetração ou importação vaga-bunda da mar(ia-sem-ver)gonha, espécie denominada hjg-dshhfshdg, nome grego da mar(ia-sem-ver)gonha que cresce como rizoma sem ser rizoma e cresce como árvore sem ser árvore. Com aquelas florzinhas de umas flores mixurucas e com aquela potência de sua semente que explode e invade as áreas, sendo replantadas em todos os cantos lá no mais sombrio onde bate uma réstia de sol, lá onde a pessoa não percebe que ela existe e de repente brilha um roxo, um rosa e um bege e nesses canteiros os galhos estão conectados com o pensamento e a prática de Augusto Boal, teatro do oprimido, fora do teatro, na rua, no público, com o público atuando sendo preso no lugar do próprio artista. Zé Celso e o teatro oficina, UZINAUZONA, esse conglomerado no meio desse rio. Nós trouxemos pessoas do Pará até o Rio Grande do Sul. Fomos assistidos on-line em quase cem por cento do evento em Santa Maria e Uberlândia. Tivemos convidados do Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Diversas pessoas que vieram por vontade própria, financiando suas passagens como dois venezuelanos e um artista da Bahia. Tivemos a presença de um artista da Espanha e o pessoal de Belo Horizonte parti-cipando espontaneamente. Quanto a ser um foco de resistên-cia, a questão não se trata de resistir. Quem resiste vai con-tra. E não interessa ir contra, mas dançar junto. Mesmo que um dance tango e o outyro ande de skate. O interessante é conseguir coadunar esses elementos, e ir com o vento talvez seja uma posição política mais importante do que ir contra. Por exemplo, as pessoas perguntam muito “por que você, Bia Medeiros, escreve sobre a possibilidade de escrever arte, já que não existe uma linguagem capaz de falar sobre arte, se senta numa cadeira na CAPES ou no Conselho Nacional de Cultura, não seria isso uma contradição?” Não exatamente uma contradição, porque só a presença da persistência, só a presença da inssitência pode trabalhar, não diria contra, só com. Por isso mesmo que o Corpos Informáticos tirou da cartola o termo composição, para compor. Que pode ser

compor, decompor, incompor, pospor. Ser comparada com Zé Celso também, muito obrigada. Mas ele é muito pode-roso e nós aqui somos uns sei lá. É boni-to, mas eu acho que é muito. O Zé é um marco histórico e o Corpos Informáticos é um sopro no vento talvez. Ser sopro no vento interessa.

Ninguém ensina, por mais que se ex-plique, como piscar o olho, como fazer uma cantada, como virar aquela esquina ou não virar. E por causa dessa inquie-tude do não saber como reagir a cada momento “você quer um café?” há no ser humano uma tendência a achar que é tudo novo, e que estamos em crise. É óbvio que não sabemos. Não sabemos, senão não tinha graça. E a cada momento uma geração e ou-tra fica falando que é um novo momento, uma nova era, que é preciso acabar com a história e com a arte. Coitados! Será que eles não entenderam que que não tem uma regra? Sem-pre estivemos em crise, o porquê eu não sei. E a pessoa res-ponde “sim”, ”não”, “obrigado” porque ela não sabe se quer o café ou não e então ela acha que estamos em crise porque devemos tomar decisões que antes foram colocadas. Mas na realidade uma idéia de que sempre é novo, não. Sempre é (ponto). É (vírgula) como tal (ponto). E aí, que beleza, não precisamos mais de novos, nem de nova era. Vamos tomar uma cerveja? Vamos tomar um café?

M: E o verbo nesta história: está em crise? Qual a crise do verbo?

B: Eu gostei muito da colocação que fiz no Aisthesis, em que escrevo que no início não era o verbo, tal como afirma a igreja católica. Eu escrevi: “no início era Aisthesis”, e re-centemente estive pensando esta questão. Veja bem: no início é que início? É no início que posso identificar como início. Será que meu cachorro identifica algum momento como iní-cio? Resposta minha: não. Por quê? Ele não tem o verbo e por isso não pode dizer aqui começou. Ele só tem a aisthesis. Mas ele não pode dizer que tem a aisthesis porque não tem o verbo. Só quando ele tem o verbo ele consegue dizer que tem a aisthesis. Então eu errei. Talvez no início seja o verbo. Isso é importante. E esse verbo que torna consciente da exis-tência sendo o mais sexuado dos órgão do ser. A palavra tem que ser tomada. Você sabe como o passarinho fala e pra quê ele fala? Ele só fala porque quer namorar, porque ele precisa avisar pros filhos dele e pra namorada dele que o perigo está chegando. Ele fala porque ele quer cantar o outro. Então a pa-lavra que os animais não tem, ou não tem a consciência desse ter, é o mais sexuado dos órgãos dos animais. Pensa quanto tempo o passarinho fica assobiando para conseguir dar uma namoradinha. Tem que ser refinado o canto. E então quando o ser humano adquirr o verbo e desenvolve esta tecnologia, apesar da cantada, ele precisa domar esse órgão tão sexuado, a fala. E aí não há crise do verbo, mas a pequenês dele diante da aisthesis plena, pungente, urgente. Alguma coisa assim.

M: O tempo do verbo é o tempo da propaganda. Qual a elasticidade do seu tempo?

B: O passarinho fica na árvore cantando, fazendo propagan-da dele mesmo porque está doido para dar umazinha, doido para preservar a espécie. O lobo fica nas colinas a lua cheia inteira fazendo propaganda de si. Meu tempo não dá tempo. Sempre achei inútil dormir porque se perde muito tempo e de fato, parece que, contam as lendas, eu acordava todo dia quatro horas da manhã para brincar até umas cinco e meia e dormia denovo. Quando me tornei consciente, eu sempre achei inútil dormir.

www.corpos.org

Page 8: O MIRACULOSO 06

Por Cleudes Pessoa- Assistente Social pela Universi-dade Estadual do Ceará e militante da Economia Soli-dária desde 2002.

Nessa última década tenho trabalhado em projetos de inclusão social em comunidades de baixa renda de nosso país. Neste percurso tenho observado que os projetos que incluem o tema da economia solidária tem banalizado a concepção que traz esta temática. O fato é que muitos recursos públicos estão sendo aces-sados pela força que tem esse tema, e muitas vezes não passam de ações profissionalizantes precárias. Diante desta observação busco resgatar o histórico e intuíto da Economia Solidária.

Três fatores são imprescindíveis para o crescimento da Economia Solidária. O ideário das organizações de esquerda, que ao longo do século XX, tinha como pers-pectiva de transformação social a disputa do Estado. O processo de reestruturação produtiva, a adesão a novas tecnologias, como microeletrônica e robótica. E, por último, o terceiro ponto está ligado ao papel do Estado na organização da economia. A estagnação da economia brasileira, que nos anos 1980 apresentou-se

Economia solidária: a uma perspectiva revoluciónaria

de maneira mais acelerada.Uma das consequências destas mudanças foi a bus-

ca de novas utopias, capazes de dar respostas imedia-tas à problemas concretos como o desemprego e, ao mesmo tempo, servir como embriões de novas formas de organização da economia e da sociedade. Estavam assim, dados os parâmetros para a ampliação da Eco-nomia Solidária no mundo. No Brasil os movimentos sociais avançaram garantindo a I e II Conferência Nacional de Economia Solidária e lançado o Conselho Nacional de Economia Solidária – CONES.

Definir o conceito de economia solidária torna-se uma tarefa difícil, no entanto vou deixar aqui, alguns conceitos sistematizados à luz de alguns anos de estu-do e práticas.

É um tipo de movimento social ou, em outros ter-mos, de uma ideia, de uma força capaz de mobilizar diferentes sujeitos. Economia solidária, sócio-econo-mia solidária, economia social, economia popular: es-tes termos não são exatamente sinônimos, cada qual apresenta nuanças e acentos diferenciados em relação aos demais, mas todos tem em comum o fato de es-

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tarem se referindo às formas de organizar a produção, a distribuição, a comercialização e o crédito por prin-cípios solidários. Ou seja, economia solidária tem um caráter revolucionário à medida que se une o capital ao trabalho, que é o que o capitalismo separa.

Outro importante campo de atuação da Economia Solidária refere-se ao ensino e prática do consumo responsável. A profundidade da economia solidária com o consumo solidário e com o comércio justo, pode ser caracterizada como instituição e movimento social ideal para a conscientização de outro mundo possível. É urgente recuperar a capacidade das pessoas de pen-sar a vida social e econômica de forma estrutural, e a Economia solidária pode se encarregar desta tarefa, dando continuidade histórica às reflexões que até os anos 90 se faziam, tendo como parâmetro o socialis-mo real. Ou seja esta possui a tarefa fundamental de prover o campo e a capacidade de pensar a mudan-ça social e de fornecer uma narrativa que explique os porquês da vida sócio-econômica que o capitalista causou ao planeta e a vida da maior parte das pessoas que nele vivem.

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Page 9: O MIRACULOSO 06

NoelA chuva havia nos surpreendido na metade do

caminho; tinha se descarregado, raivosa, durante dois dias e duas noites.

Fazia já algumas horas que o sol tinha voltado, e as crianças andavam ao pé do morro buscando o jacaré caído do céu. O sol atacava as lamas das roças e a mata próxima, arrancando nuvens de vapor e aromas vegetais, limpos e embriagadores.

Nós estávamos esperando que um ruído de motores

anunciasse a continuação da viagem, e deixávamos passar o tempo, entre bocejos, sentados de costas contra a frente de madeira do armazém ou deitados sobre sacos de açúcar ou de milho moído.

Dos braços de uma mulher, ao meu lado, brotava, contínuo, um gemido débil. Envolvido em trapos, Noel gemia. Tinha febre; um mal tinha entrado pela orelha e tomado a cabeça.

Para lá dos campos amarelos de soja, se estendia um vasto espaço de cinzas e tocos de árvores corta-das e carbonizadas. Logo tornariam a se erguer, por trás desses desertos, as espessas colunas de fumaça das fogueiras que abriam caminho em direção ao fundo da mata invicta, onde floresciam, porque era época, as campainhas averme-lhadas dos lapachos. Esperando, esperando, adormeci.

Me despertou, muito depois, a agitação das pessoas que gritavam e erguiam pacotes, sacos e panelas. O caminhão, vermelho de barro seco, tinha chegado. Eu estava estendendo os braços quando escutei, ao meu lado, a voz da mulher:

- Me ajude a subir.Olhei para ela, olhei para o menino.- Noel não se queixa mais – disse.Ela inclinou a cabeça suavemente e depois conti-

nuou com a vista sem expressão, cravada nos altos arvoredos onde se rompiam as últimas luzes da tarde.

Noel tinha a pele transparente, cor de sebo de vela; a mãe já tinha fechado seus olhos. De repente, senti que minhas tripas se retorciam e senti a necessida-de cega de dar uma porrada na cara de Deus ou de alguém.

- Culpa da chuva – murmurou ela. – A chuva, que fecha os caminhos.

Mais que a tristeza, era o medo que apagava sua

Eduardo GaleanoNesse fim e começo de anos O MIRACULOSO trás como escritor homenageado o uruguaio Eduardo Galeano (1940). Sua obra está de-finitivamente incorporada à cultura latinoa-mericana, tendo, através de uma dezena de livros, difundido a riqueza cultural do conti-nente, seu sofrimento, seus heróis, histórias, conquistas e derrotas. Mergulhemos!

literatura

voz. Qualquer motorista sabe que dá azar atravessar a selva com um morto.

Subimos na carroceria. Os contrabandistas, os pe-ões do mato, os camponeses celebravam com cachaça a aparição do caminhão. Alguns cantavam. O caminhão partiu e todos ficaram em silêncio depois dos primei-ros trancos.

- E agora, por que você continua?Foi a primeira vez que olhou para mim. Parecia

assombrada. - Aonde?- Isso leva a gente para Corpus Christi.- Para lá é que eu vou. Vou até Corpus rezar para

que chegue o padre. O padre tem que fazer o batis-mo. Noel não está batizado e eu vou esperar até que chegue o padre com as águas sagradas.

A viagem se fez longa. Íamos aos trancos pela pica-da aberta na selva. Já era noite fechada e por aquela comarca também vagavam, disfarçadas em bichos espantosos, as almas penadas.

Obra retirada do livro MULHERES – Eduardo Galea-no. Ed. L&PM.

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Page 10: O MIRACULOSO 06

PRÉ-NATAL O Sermão da Manjedoura. Não me tragam ouro, incenso, nem mirra!Não me tragam pão, nem peixe, nem vinho!Nada atenua esta dor que se acirra:saber que fui eu quem tracei meu caminho. Judas, te apressa!, que Roma te espera.Corre, Caifás!, abre as portas do Templo.Façam da carne a mais crua quimera.Façam do sangue o mais sórdido exemplo. Mintam, depois: digam que não morri.Que vivo no céu, à direita de Deus.Que estão ao meu lado: Moisés e Davi.Que os anjos são todos discípulos meus. Mintam com a máxima sinceridade:talvez isso seja a mais pura verdade.

Luana Tavares da Silva

Samba meu Sou cria do sambaDe sangue de bambaPerfil de bacanaDe gente malandra Meu berço foi o terreiroCom swing o dia inteiroMeu brinquedo era o pandeiroPrecioso amuleto! Introjetado na veiaO batuque, a cadênciaMas jamais a ausênciaDe uma arte faceira Sambo sob o raiar do diaOu após o cair da noitePois o dormir da bateriaFaz do silêncio um açoite Continuarei a sambarImpossível pararE se o corpo arredarSambarei mais um pouco pra descansar Ta no pé, ta na mãoDa boca uma anunciaçãoA eternidade é uma afirmaçãoTraduzida no batuque do coração

Thiago Braz

Semitom Ao arrebentar a linha do meu somArranjei um abrir de olhos harmonizador. Comprometida, minha dama embrulhada foi E desacompanhado, logo um fio min-guado foi esticado.

Alisei seu corpo, balancei seus cabelos, fui em Mi maiorComunicar que meu vibrar foi costurado com ardor.Atrai-a ao meu notável colo, dei umas dedilhadas finadas, Puxei-a pelo pescoço e mandei brinda-rem a sua fênix

Contudo, quando bulida, minha dama chorou distorcidaParei de logo, apertei suas seis orelhas, conversei com elaSobre sua alteração de voz, e garanti não mais novamente feri-la. Com o repertório no estômago, bati com o coração nela,

Não soou. Tentei uma... Tentei quarto. Ela triste ecoou. Fui com arrojo ao arranjo, e ela definiti-vamente calou. Tivemos uma briga de arrancar cordas, e de no jornal por anúncio Foi quando um sol menor metabolizou em mim...Comprei outra e abandonei a velha.

Edgard Santos

BalançoNão vendo mais meu peixe. Passo fome.E por pensar demais perdi o jeito com as palavras.Estou em faltaNão tem mais no estoque.Manda buscar mais de mim!

Verônica Biano

FÉ DESFEITA... Olhou ao redor de tudo!Sentiu medo! Ouviu gritos!

Chorou...

Tremeu no escuro! Gemeu baixo...Esperou o pior... Fechava os olhos!

Rezou...

Clamou por ajuda! Escutava risadas...Passos próximos... Angustiava-se...

Gritou!

Vieram os delírios... Sonhou brevemen-te...Flutuou para longe... Não sentia mais medo...

Morreu.

(...)Breno Muinhos

miraculoso.com.br

Os dOis ladOs dO espelhO

No dia 26 de Novembro de 2010 tive a oportunidade de ver os dois lados do espelho: um refletido na Avenida Feliciano Sodré e outro na Estrada Francisco da Cruz Nunes, ambos em Niterói. A imagem que aparentemente era a mesma diferenciava-se em primeiro e segundo planos.

A faceEram 6 horas da manhã quando o ônibus

repleto de trabalhadores em que eu estava passou em frente aquela cena. Uma chuva fina caía e o céu ainda era escuro da noite, um homem estava deitado de barriga para cima, inconsciente, na calçada da Avenida Feliciano Sodré no centro da cidade.

O versoEram 2 horas da tarde quando o ônibus

em que eu estava passou em frente aquela cena. O sol estalava forte no asfalto e o céu

era como o azul do mar, um homem estava deitado de barriga para cima, inconsciente, na calçada da Estrada Francisco da Cruz Nunes na periferia da cidade.

Primeiro PlanoO homem da Avenida estava sendo

socorrido por algumas pessoas que busca-vam reanimá-lo e compreender o que se passava.

O homem da Estrada estava sozinho, perto de algumas pessoas sorridentes que sentadas conversavam banalidades.

Segundo PlanoO homem branco da Avenida vestia ber-

muda, blusa e tênis de marca e segurava uma sombrinha verde-água.

O homem negro da Estrada vestia uma bermuda rasgada e suja, estava descalço e sem camisa.

Maíra Marins verso do espelho

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Page 11: O MIRACULOSO 06

Nicolas Behrbrasília foi atropelada

pelos carros

o eixão caído no eixão

o arquiteto não presta socorro à

vitima

a única coisa que tenho a lhe ofereceré a solidão

com vista para o lago paranoá

Foto:

acha

bras

ilia.c

om

Depois de lançar BRASÍLIADA, o poeta Nicolas Behr nos apresenta as ruínas poéticas desta cidade, intitu-ladas: ESCOMBROS DE BRASILÍ-ADA. Confira dois de seus poemas inéditos!

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Page 12: O MIRACULOSO 06

Jornal O Miraculoso: Primeiro, gostaríamos que você fizesse um apanhado da questão do índio a nível nacional.

Santxiê Tapuya – Hoje a questão do Índio está praticamente largada. Durante a época do Fer-nando Henrique e do Collor de Mello houve um sucateamento muito grande e um abandono do planejamento que a Funai havia traçado ante-riormente para os povos indígenas. Através de decretos, eles tiraram da Funai as atribuições de cuidar da educação e da saúde dos povos in-dígenas. Junto com as atribuições, saiu também o dinheiro que deveria ser usado para manter a infra-estrutura de atendimento aos povos. A Fu-nai tem 47 anos, foi fundada em cinco de de-zembro de 1967, com a lei 5.371. Pois bem, num

dos primeiros artigos dessa lei está dito “garantir aos índios a posse de terra”. E nisso a gente fica muito aquém, por que o índio hoje não é proprie-tário das terras onde vive, ele é usufrutuário de uma terra que pertence à União. A OIT e a carta dos povos indígenas da ONU rezam que índio tem sim direito à propriedade das terras, mas a nossa Constituição de 1989 atribui ao índio a condição apenas de depositário do bem público que é a terra. Com isso vem uma série de dificuldades, por que o índio não pode vender, nem arrendar, nem alugar, nem doar, nem criar infra-estrutura, e nem receber financiamento para desenvolver qualquer atividade ali naquela terra.Há também essas ONGs que agenciam os índios, as “gigolôs de índios”, como diz um amigo meu, antropólogo, de Dourados. Elas são gigolôs por

que recebem dinheiro público e dinheiro de aju-da internacional, em troca de uma suposta re-presentação dos povos indígenas ou da prestação de serviços. Muitas delas não vão levar, a quem de direito, uma melhoria qualquer. Vou citar um caso só, o da Funasa, que estava deixando de prestar auxílio aos Ianomâmis. Foram mais de sete milhões de reais desviados. Miraculoso - Sobre essa questão interna-cional, hoje a gente tem a Bolívia, com o primeiro presidente indígena, Quéchua, da América Latina. Como você vê esses avan-ços?

Santxiê – Eu não tenho acompanhado muito de perto a questão da Bolívia, mas para o mundo tribal é um avanço significativo, já que foram sé-culos e séculos de massacre da parte dos espa-nhóis, dos portugueses. Hoje, na Bolívia, eles não tem mais vergonha de dizer “Jo soy indígena”, ao contrário de antes, quando se tinha vergonha de assumir a própria identidade. Conheci um cirur-gião dentista, na Bolívia, que colocou na porta do escritório dele essa inscrição, “Jo soy indígena, Quechua”. O próprio Darcy, um dos fundadores da UnB, já escrevia em seus livros que os índios terão de se proclamar enquanto nação. O cami-nho para a América indígena é a nação.

SantxiêTapuya

ENTREVISTA

Santxiê Tapuya, como é conhecido, é responsável pelo Santuário dos Pajés desde 1970, quando foi escolhido pajé de sua etnia, os Fulni-ô. Além de desenvolver suas funções rituais no santuário, ele mantém no local um her-bário do qual extrai ervas medicinais. Santxiê possui uma loja de produtos tradicionais indígenas e remédios fitoterápicos na sede da Funai, na Asa Sul. Para entrevistá-lo, fomos até o Santuário dos Pajés, reduto espiritual dos povos indígenas dentro do Plano Piloto de Brasília na noite escura e chuvosa de 1º de Janeiro. No escuro da OCA entrevistamos o sábio guerreiro Santxiê. Por questão de segurança não podemos fotografar Santxiê.

POR DIOGO RAMALHO, ANDRÉ SHALDERS E CAMILA VALADARES

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Page 13: O MIRACULOSO 06

Miraculoso - Santxiê, e essa questão das co-munidades indígenas atingidas pelas obras do PAC?

Santxiê – O Santuário dos pajés é vizinho aqui de uma das donas, de uma das criadoras do PAC. Daqui dá pra ver a Granja do Torto, bem ali, onde ela tá morando atualmente, a Dilma. O PAC não foi criado pensando em melhorar a vida dos povos tradicionais do país. Nem dos indígenas, nem dos ribeirinhos, nem dos quilombolas. É um programa excludente, que traz benefícios para uma elite do capitalismo brasileiro. São obras num valor impressionante, como a de Belo Monte. O impac-to todo dessas obras fica é com quem vive lá. É uma gente que vive, por exemplo, da pesca, que será atingida. Eles sequer serão beneficiados pela eletricidade gerada na usina. O Aritana, cacique dos Yawalapiti, no Xingu, disse que conversou com um engenheiro. O homem disse a ele que ficaria muito caro pra levar luz até a aldeia. Isso por que a aldeia fica a 40 km da usina.

Miraculoso – Como é que está acontecendo na prática a reestruturação da Funai, ins-tituída pelo decreto 7056/98? Como o se-nhor avalia esse processo? O que é que leva alguns grupos a acamparem ali na Esplana-da, como no início desse ano?

Santxiê – Eu creio que o decreto, ou qualquer decreto, não é a melhor forma de reestruturar a Funai. Esse decreto parte de um plano que o próprio Lula tinha, já no primeiro mandato, de modificar toda a estrutura da Funai. Bom, em qualquer construção, se faz primeiro o alicerce, e só depois se vai fazer as colunas, as paredes e o telhado. O problema é que esse decreto quer fa-zer o oposto, quer fazer a reestruturação de cima pra baixo, fazendo primeiro o telhado. Por exem-plo, as comunidades indígenas não foram consul-tadas sobre a reestruturação. O problema é que muitas vezes eles pegam um índio, que está to-talmente desinformado do contexto do seu povo e da economia política do branco, e colocam ele pra falar em nome de uma população inteira. Muitos foram mesmo subornados para dizer exa-tamente o que eles queriam. O CNPI [Conselho Nacional de Política Indigenista] acha que esse decreto é o que vai resolver a situação do índio. Mas não é verdade. Uma das mudanças introdu-zidas com esse decreto é o fechamento de vários postos indígenas. Esses postos são os que fazem a presença imediata do estado com a comunidade.

Miraculoso - E o Setor Noroeste? Essas obras vão chegando cada vez mais perto aqui do Santuário...

Santxiê – Até esse momento, são mais de 54 mil árvores derrubadas, uma grande área do cerrado que virou canteiro de obras. A gente tá até fazen-do fogueira aqui pra dar uma função pra elas... Nesse momento, as obras continua sendo to-cadas com base numa decisão do Gilmar Mendes. Estão a 150 metros aqui do Santuário. Nós esta-mos aqui fazendo a resistência contra os trato-res, contra as obras. É derrubar manilha aqui, cavar buraco ali, mexe com o Roriz pra lá, mexe com a Dilma pra cá... A resistência é 24 horas, fazendo ronda. Em um dos depoimentos que nós fomos prestar quando o trator passou aqui, perto do santuário, uma das autoridades tentou nos corromper, quan-do ele diz assim “você tem que morar numa casa com chão de cerâmica, com ar condicionado, com água encanada, e etc. O que é que vocês es-tão fazendo aí?” e coisas desse tipo. E não era um joão-sem-braço não, era uma autoridade alta do GDF. Isso fora as calúnias que andaram dizendo e escrevendo contra a gente. Eu já li matéria de jornal dizendo que a gente era mendigo, gente dizendo que o Korubo comia cachorro, esse tipo de coisa.Tem muita gente que ajuda a gente nessa luta. Tem os antropólogos do GT que está demarcan-do a área aqui, tem os meninos da UnB, a Érika Kokay. Foi ela que articulou, quando era distrital, aquela liminar que embargou o PDOT e as obras aqui. Tem a procuradora do MPDFT também, que sempre está junto. Essa ocupação que existe hoje do Santuário co-meçou em 1958, com os nossos ancestrais que vieram para a construção da cidade. Então, eles ficavam acampados na Vila Planalto e na Asa Sul e vinham aqui pra realizar alguns cultos secretos, como o Iatupã, que não podem ter a presença do caraíba, do homem branco. Esse lugar, espe-cificamente, é uma referência espiritual para muitos povos indígenas. Eu sou responsável por esse lugar desde 1970, quando substitui o último chefe, que morreu. Nós queremos agora é que o Agnelo venha aqui e se comprometa conosco a brecar a construção desse bairro. Miraculoso – Você tem esperança de que o Agnelo faça isso?

Santxiê - Tenho, na verdade tenho por que ele é a nossa última esperança né? Pelas informações que os petistas me dão, ele não quer se pronun-ciar ainda sobre o Noroeste. Algumas pessoas do Santuário foram conversar com ele e ele disse que a questão dos indígenas é federal, meio que já tirando o dele da reta. Ambero, cunhado de Santxiê - Engraçado que

quando os meninos da UnB ocuparam a sede da Funai, contra o Noroeste, o Márcio Meira, o presidente, disse que era uma questão distrital... Ele inclu-sive veio aqui no Santuário. Mas quando ele viu que aquele outro povo ali tava querendo dinheiro [indígenas vindos de Alagoas que moravam pró-ximos ao santuário e que estão em litígio com os Fulni-ô], ele se bandeou pro lado deles. Por que o índio que é índio, ele não negocia com terra. Quando cortaram nossa água, há uns três meses atrás, quando ela foi desviada para as obras do Noroeste, eu fui lá conversar com um engenheiro que fica junto deles. Ele me disse que já tinha comprado aquele pedaço do Manuel, que mora lá. Esse presidente da Funai é anti-índio. A políti-ca deles é de jogar uns contra os outros.

Miraculoso - Santxiê, o que é que o Sr. acha que deveria ser feito pra efetivar a igual-dade entre os povos que vivem no Brasil? Negros, brancos, índios?

Santxiê – Para nós, não serve todo mundo como que num caminhão de melancia, onde ninguém é ninguém. Não dá certo essa história de globa-lização, que embala tudo, confunde tudo numa grande peça de marketing. Cada raça tem sua tradição. O gaúcho come churrasco com chimar-rão, e usa uma bombacha e um lenço que não é do povo do Bin Laden. Ao falar de raças, passa-se à questão da igualdade entre elas. E enquanto não houver um respeito aos valores tradicionais de cada povo, não há como ter igualdade. O res-peito passa pelo direito de cada povo afirmar sua identidade, sem ser confundido, à força, com os outros. Então, de início, é preciso reconhecer os povos que convivem aqui, com suas característi-cas, suas tradições. E aí é possível que as intera-ções sejam mais fraternas.

Miraculoso: Santxiê, suas considerações fi-nais.

[Santxiê responde primeiro em Tupi-guarani, para depois traduzir] Eu disse foi o seguinte: que é uma grande benção de Tupã que a juventude como vocês ainda tenham a coragem de trazer para os homens a palavra daqueles que há cinco séculos vem sendo calados. Que os espíritos dos antepassados, dos que morreram, ajudem vocês do MIRACULOSO a ter um triunfo grande. E que esses rorizistas como o Cicinho Filisteu, que se calem, pois não são pessoas de fé pública. A voz de Tupã é a voz da Humanidade, e ele, o grande deus, criou o mundo para todos nós, para todas as pessoas, todas as raças e todas as nações. As raças precisam ser mais humanas. Se esse barco afundar, vai todo mundo junto.

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POLÍTICA

miraculoso.com.br

por Kamilla Pacheco

A mídia mais uma vez se calou e fez com o seminário internacional “Comu-nicações Eletrônicas e Convergências de Mídias” assim como fez com a 1ª Conferência Nacional de Comunicação: fingiu que não aconteceu. Isso tudo por-que ambos os eventos discutiram algo que revira o estômago de empresários e parlamentares: a regulação do setor das comunicações no Brasil. A realização de eventos desse tipo demonstra o ama-durecimento de setores da sociedade civil e do Estado em relação ao direito a comunicação no país. Regular signi-fica possibilitar o controle público da mídia e, acima de tudo, fazer valer o que já está definido na Constituição Federal sobre o assun-to. Os grandes meios de comunicação definitiva-mente não representam a sociedade brasileira em sua diversidade e a regulação pode conferir maior representatividade por meio da inclusão de grupos excluídos do atual cenário midiático, como sindicatos, rádios comu-nitárias, educativas, pro-dutores independentes, entre outros.

O seminário Comunicações Eletrôni-cas e Convergências de Mídias reuniu experiências dos processos regulatórios de radiodifusão e telecomunicações de países como Argentina, Espanha, Esta-dos Unidos e da União Europeia , além de estudos desenvolvidos sobre o tema pela Unesco. O objetivo do evento foi coletar subsídios para a elaboração do anteprojeto do Poder Executivo que prevê uma reforma no sistema de co-municação nacional. A repercussão des-te debate fundamental tanto para a sociedade quanto para os empresários, além de ter sido inexpressiva, apare-ceu, entretanto, de forma distorcida, tentando confundir o público ao insinu-ar que regulação é censura de conteú-do. Globo e Abril, por exemplo, noticia-ram como “ameaça” a fala do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, sobre a necessidade de regulação.

A situação do Brasil na área de comu-

nicação é ultrapassada e qualquer ten-tativa de debate sobre democratização é sabotada pela grande mídia. A regula-ção chega, ainda que tardiamente, para frear o “coronelismo eletrônico” que permeia o setor, os oligopólios e a aber-rante presença de parlamentares no controle dos meios de radiodifusão, que apesar de proibida pela Carta Magna, é uma prática comum. De acordo com o projeto Donos da Mídia, desenvolvi-do para determinar a concentração da mídia no Brasil, 271 políticos, entre se-nadores, deputados, prefeitos e gover-nadores são sócios ou diretores de 324 veículos de comunicação, apropriados como poderosos palanques virtuais. O partido Democratas, por exemplo, pos-sui 58 políticos a frente de veículos de

comunicação em todo o país. E, obvia-mente, parlamentares concessionários diretos de veículos de radiodifusão sem-pre votam a favor da renovação de suas próprias concessões, lançando os tentá-culos de suas oligarquias políticas regio-nais para o setor midiático. Resultado: até hoje, nenhum pedido de outorga ou renovação de concessão foi vetado. Sem dúvida uma prática danosa para a democracia, uma vez que concentra os meios de comunicação nas mãos de po-derosos e transforma a concessão numa arena de conflito entre o interesse pú-blico e o privado.

É necessário estabelecer critérios que descentralizem os processos de concessão para aumentar as opções comunicativas da sociedade. Somente com o reconhecimento da comunica-ção como um direito humano é que se poderá pensar numa comunicação de-mocrática, com a garantia de espaço no espectro para a pluralidade e para a verdadeira circulação de ideias.

DE ONDE VIE-MOS

E PARA ONDE VAMOS!

Caros leitores,Não, a questão em pauta não é um ques-

tionamento místico nem existencial, pelo contrário, é uma afirmação baseada na re-trospectiva desta coluna até aqui e na insinu-ação dos horizontes a serem alcançados nas próximas Curiosidades Miraculosas.

Os que leram a 1ª Curiosidade Miraculosa (O Miraculoso, 1ª Edição), certamente não se esquecerão nunca mais que já existiu um Papa mulher (a Papisa Joana) e seu trágico fim pelas mão da própria Igreja. Mas o im-portante é que se lembrarão que a questão le-vantada foi a igualdade de gêneros e que tal-vez esteja na hora disso acontecer outra vez.

Na 2ª Curiosidade Miraculosa (O Miracu-loso, 2ª Edição), por ocasião do aniversário da cidade, relembrei que Brasília é uma ci-dade inteiramente inspirada em uma cidade do Egito Antigo, que há 3.500 anos atrás foi construída em menos de 4 anos. Situava-se no centro geográfico do Egito, tinha um lago artificial (o primeiro lago artificial do mundo – Lago Moeris), a forma de um pássaro em vôo e era dividida em setores. No entanto, o importante foi perceber que a perspectiva de estarmos sendo constantemente conduzidos e manipulados sutilmente por pessoas e or-ganizações que detêm não só o poder, como o controle das informações é extremamente real e perigosa.

Depois, na 3ª Curiosidade Miraculosa (O Miraculoso, 3ª Edição), questionei a farsa mundial da Gripe A (H1N1), apresentando dados divulgados e debatidos apenas pela so-ciedade civil organizada crítica e consciente. Hoje, como todos podemos ver, a “Pande-mia” que ia devastar um terço da população mundial desapareceu e nem sequer se vê uma pequena nota na grande mídia, que, à época, através de uma hiper exposição do as-sunto contribuía para o alarme desnecessário. Sem deixar de mencionar que, aqui no Brasil, menos da meta-de das pessoas que se esperava que tomassem a vacina foram tomá-la, portanto, mais da metade das va-cinas compradas a preços exorbitantes de grandes laboratórios transnacionais terão de ser destruídas quando expirar o prazo de va-

Regular para fazer va-ler a lei

Curiosidade MiraculosaPor Andrés Sugasti

lidade, já que os laboratórios não aceitaram devoluções.

Além disso, repassei dois alertas. Um so-bre o que acontece em seu organismo quan-do você ingere uma lata de refrigerante (O Miraculoso, 4ª Edição), e outro sobre a pos-sibilidade dos brasileiros se libertarem para sempre da cobrança (indevida, pra dizer o mínimo) de assinatura mensal para telefones fixos residenciais e comerciais e indican-do uma maneira efetiva de ajudar na causa (O Miraculoso, 5ª Edição). Ou seja, sempre tentando divulgar informações relevantes que nunca nos chegam pela grande mídia e jamais chegarão, pois contrariam seus inte-resses.

Assim, agora o desafio é abordar temas ainda mais ousados e polêmicos, buscando a informação além do que querem nos deixar ver.

Veremos como a manutenção da absurda criminalização da Cannabis Sativa nos anos 50 pela ONU atende a interesses muito mais poderosos do que as pessoas sequer sonham.

Buscaremos entender porque a conven-ção astrológica atual não condiz mais com a conjunção astronômica, ou seja, os signos

estão sendo atribuídos por datas cronológi-cas estabelecidas há uns 2.000 anos atrás, mas o alinhamento do sol com a casa estelar do signo foi mudando lentamente e, por isso, provavelmente o signo que você acha que é não o seja.

E exploraremos também como funciona o sistema financeiro mundial e o sistema atual, no qual os Bancos Centrais emitem moeda sem necessidade de possuir os valores em

riquezas reais (ouro, por exemplo, como era quando surgiu o dinheiro em pa-pel).

Por isso, se você se in-teressou pelos assuntos, acesse www.miraculoso.com.br, leia as Curiosida-des Miraculosas na íntegra e fique à vontade para suge-

rir, criticar, enfim “miracular” com a gente.Abraços e não se esqueçam: “A liberdade

só depende de nós mesmos, basta querermos e lutarmos por isso todos os dias de nossas vidas”

“Ou seja, sempre tentando divulgar informações relevantes

que nunca nos chegam pela grande mídia e jamais chegarão, pois contrariam seus interesses.

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ExpedienteDiogo Ramalho - Coordenador Executivo e EditorMaíra Marins - Redatora Chefe e Editora de LiteraturaPaloma Amorim - Redatora Chefe e Editora de CulturaSolano Teodoro - Redator Político e DiagramaçãoFernando Aquino - Diretor de Arte e DiagramaçãoAndré Louvren – Coordenador de JornalismoBruno Borges - ColunistaJardel Santana - ColunistaLeonardo Ortega - ColunistaCamila Valadares - RedatoraAndrés Sugasti - Revisor

Publique n’O [email protected] n’O [email protected]

Tiragem: 25.000 exemplaresCNPJ: 04811 396/0001-08Caixa Postal 743 agência de correios do Lago NorteCEP: 71510-000

Pontos de DistribuiçãoCULT - 107 N, 204-210-215 S | Dom Bosco - 307 N | Sebinho - 406 N | DCE Bar - 406 N | Oscarito - 406 | Livraria técnica - 102 S | UnB | UniCEUB | Faculdade Alvorada | UniEuro | UCB | IESB | Rodoviá-ria | ALUB | CEAMs | Biblioteca Nacional | Ministérios | Congresso Nacional

HUMORAMOR

miraculoso.com.br

Criptograma do passadoMensagem da 1º Edição do JORNAL O MIRACULOSO: lançado em Março de 2010, a mensagem abaixo foi a única crítica recebida pelo jornal e publicado em seu painel dos leitores da 2º Edição (50 anos de quê?) A resposta do jornal é a própria 6º Edição e todas que virão.

Das profundezas e das trevas24 de março de 2010Meu Deus! levei um susto grande com a palavra MIRACULOSO – que diabo é isso – parece-me um jornal, coisa feia, afrontosa, mal gosto, cruel, anti-prazeroso. Tenho 45 anos de profissão e nunca vi título tão escabroso e deprimente. Millor Fernandes dizia que todo jornal ruim não passa de quinta edição, pois, a próxima é a cesta. E o que mais me irritou é a equipe de editoração, sinceramente, não dar para acreditar que essa turma seja de fato gabaritada. Outra coisa o jornal não tem diagramação, não tem formação e nenhum artifício gráfico. Eta jornalzinho ruim da porra, é feio do princípio ao fim.

Cícinho Filisteu

Pai-nel do Lei-tor:

Ministério pelo sistema de cotas.

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CAPA 2ª EDIÇÃO - abril 2010

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Não calo de nada Falo dos mortos,dos corpos feridos,dos loucos varridos,da escuridão.Falo dos becos,dos negros fugindo,soldado subindo,metralha nas mãos. Falo da morte,de um ESTADO falido,onde ELE é o bandido,que não dá opção.Falo do injusto,da mentira oficial,da matança legalno Alemão. Falo do sangue,do choro dos pais,do moleque-rapaz,no camburão.Falo do texto,a pretexto da ira,exibindo mentiras na televisão. Falo combate,chinelo e bermudas,cabeças desnudasde orientação.Falo do ESTADO,eterna ausencia,matando a inocência,paredando a Nação. Falo de tudo,não calo de nada,quem vai na estrada,ganhando o mundão.Ave Maria dos Desgraçados,teus filhos tombados,caídos no chão.

(Pedro Munhoz)