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O NORDESTE CATARINENSE NO CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA
MUNDIAL: HISTÓRIA E MUSEALIZAÇÃO DO PASSADO.
WILSON DE OLIVEIRA NETO1.
1. Introdução.
O objetivo deste trabalho é apresentar os primeiros resultados obtidos com o projeto
de pesquisa “Um museu para a paz: narrativas sobre a Segunda Guerra Mundial e a Força
Expedicionária Brasileira através do Museu da Paz, em Jaraguá do Sul, Santa Catarina”.
Trata-se de uma investigação historiográfica com um ano de duração, entre fevereiro de 2015
e janeiro de 2016, financiada pelo Fundo de Amparo à Pesquisa da Universidade da Região de
Joinville – UNIVILLE.
A pesquisa tem como meta estudar as representações sobre a memória e a história da
Segunda Guerra Mundial, em geral, e da Força Expedicionária Brasileira – FEB, em
particular, existentes na exposição permanente do Museu da Paz, localizado no município de
Jaraguá do Sul, Santa Catarina. O Museu da Paz foi criado em 2009, pela Fundação Cultural
de Jaraguá do Sul. Contudo, suas origens estão situadas na década de 1990 e envolveram o
Núcleo Jaraguá do Sul, da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária
Brasileira – ANVFEB (PFIFFER, 2015).
O Núcleo Jaraguá do Sul da ANVFEB foi fundado em 1976, no contexto das
comemorações do centenário de Jaraguá do Sul. Inicialmente, sua diretoria foi composta
somente por ex-combatentes, entre os quais se destacou o Capitão Ferdinando Piske. Ao
longo de quase quarenta anos de existência, o “Núcleo Jaraguá do Sul”, desenvolve diversas
atividades ligadas à memória, à história e ao patrimônio histórico pertencentes à FEB, em
particular, aos veteranos nascidos ou radicados no Vale do Itapocú, microrregião catarinense
onde está localizado o município de Jaraguá do Sul, segundo informa Ivo Kretzer (2015),
atual secretário da Secção Regional, como também a entidade é conhecida.
O envolvimento brasileiro com a Segunda Guerra Mundial é um tema abordado pelo
memorialismo e pela historiografia, pelo menos, desde o final da década de 1940, quando
1 Departamento de História da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE. Pesquisa financiada pelo
Fundo de Amparo à Pesquisa – FAP/UNIVILLE.
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foram lançadas as primeiras obras sobre o assunto. Contudo, mesmo encerrada há setenta
anos, a Segunda Guerra Mundial, em particular, a participação brasileira, continuam a
surpreender historiadores e demais estudiosos. Recentemente, os trabalhos publicados pelos
alemães Sönke Neitzel e Harald Welzer (2014), por exemplo, produziram novas
interpretações sobre as práticas e as representações dos soldados alemães durante o conflito,
com destaque para o processo de banalização da violência extrema nas frentes de combate.
Em se tratando de Brasil, o livro de Durval Lourenço Pereira (2015) revisou narrativas
arraigadas sobre o envolvimento brasileiro com a Segunda Guerra Mundial, além de descrever
e documentar minuciosamente os ataques dos submarinos alemães contra navios da Marinha
Mercante brasileira, durante o primeiro semestre de 1942, que foram cruciais da para
declaração de guerra do Brasil à Alemanha e à Itália, em 31 de agosto de 1942.
A memória e a história da Segunda Guerra Mundial também estão relacionadas com o
estado de Santa Catarina. Os municípios catarinenses, principalmente aqueles que surgiram a
partir de antigas colônias alemãs, italianas e japonesas, sentiram os reflexos da declaração de
guerra brasileira de diversas formas. Predominam nos estudos históricos que abordam o tema,
o recrudescimento das leis de nacionalização no Estado e as perseguições às comunidades
teuto-brasileiras espalhadas por Santa Catarina, formadas por imigrantes alemães e seus
descendentes (FALCÃO, 1999; FÁVERI, 2004).
Contudo, outros trabalhos sugerem outros fatos relacionados ao contexto da Segunda
Guerra Mundial em Santa Catarina. Não negam os conflitos entre autoridades públicas e
comunidades teuto-brasileiras, porém destacam o esforço de guerra, as operações militares e o
envolvimento de diversos “teuto-brasileiros” com a Força Expedicionária Brasileira – FEB
(GUEDES, OLIVEIRA NETO e OLSKA, 2008; OLIVEIRA, 2008; OLIVEIRA NETO,
2007).
A hipótese que direciona este trabalho é que o patrimônio histórico vinculado a
Segunda Guerra Mundial exposto no Museu da Paz vai de encontro a uma narrativa histórica
que valoriza a experiência militar dos combatentes brasileiros, com destaque para aqueles
nascidos ou radicados no Vale do Itapocú, que contribuíram com a vitória aliada sobre o Eixo
na Europa e que serve para difundir valores de cidadania e paz, conforme almeja o próprio
Museu da Paz (PFIFFER, 2015 e 2014).
Para tanto, a pesquisa consiste na revisão da literatura sobre a Segunda Guerra
Mundial, a Força Expedicionária Brasileira, a memória, os museus e o patrimônio histórico.
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Ela também conta com a contextualização das origens do Museu da Paz, realizada através de
entrevistas orais (KRETZER, 2015 e PFIFFER, 2015) e consulta a documentos, tais como
atas de reuniões, fotografias e periódicos locais. O ápice da coleta de dados para a validação
ou refutação da hipótese deste trabalho está em curso e consiste na descrição e no estudo da
exposição permanente do Museu da Paz, conforme orienta a museóloga Marilia Xavier Cury
(2005) e outros autores, tais como o historiador Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses (2005).
2. Fundamentação teórica: museus e comunicação museológica.
O Museu da Paz é um museu histórico. As origens dos museus estão situadas no
mundo antigo, mais precisamente na região do mar Mediterrâneo, na Hélade. Elas também
estão relacionadas ao colecionismo de antiguidades e curiosidades que contagiou a elite
erudita europeia, a partir do início da Idade Moderna, no contexto do Renascimento. Contudo,
os museus tais como conhecemos, surgiram durante o século XIX, na América do Norte e na
Europa Ocidental. Neste sentido, servem de exemplos clássicos o Museu Britânico
(Inglaterra) e o Museu do Louvre (França), conforme explica a historiadora Elizabete
Tamanini (2000).
Também pudera, pois o século XIX foi uma época de grande desenvolvimento da
memória e do “espírito comemorativo”, vinculados aos movimentos nacionalistas europeus e
à fundação de diversos estados nacionais, como por exemplo, a Itália (1870) e a Alemanha
(1871). Em consequência, os oitocentos foram um século em que diversas tradições nacionais
foram inventadas ou reinventadas. As novas tradições que surgiram na Europa entre 1870 e
1914, oficiais ou não oficiais, tiveram como pano de fundo as profundas transformações
econômicas, sociais e, sobretudo, políticas pelas quais esta região vinha sofrendo desde o
início do século (HOBSBAWM, 1997; LE GOFF, 1996).
A comemoração apropria-se de novos instrumentos de suporte: moedas,
medalhas, selos de correio multiplicam-se. A partir do século XIX,
aproximadamente, uma nova vaga de estatutária, uma nova civilização da
inscrição [...] submerge as nações europeias. [...]. O desenvolvimento do
turismo dá um impulso notável ao comércio de souvenirs (LE GOFF, 1996,
p. 464).
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Junto com estes novos “instrumentos de suporte” estavam os museus, que não são
mais considerados lugares de curiosidades, mas instituições científicas. Os museus históricos
foram um dos tipos de museus que surgiram a partir destas circunstâncias. Desde cedo, eles
estiveram vinculados às tradições nacionais e aos discursos nacionalistas. No Brasil, os
museus históricos surgiram, como categoria distinta de museus, somente no começo do século
XX. Pois, no território brasileiro, durante os oitocentos, inicialmente foram fundados os
museus de história natural, como por exemplo, o Museu Nacional, na cidade do Rio de
Janeiro (MENESES, 2005).
Segundo Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses (2005), tradicionalmente, os museus
históricos são classificados como aqueles que reúnem, estudam, conservam e expõem
“objetos históricos”. Porém, adverte o autor, os objetos históricos expostos nos museus
históricos não existem naturalmente. Eles são resultados de escolhas e de conceitos que
permeiam estas escolhas. Ou seja, existe uma intencionalidade na sua escolha, no seu estudo,
na sua conservação e na sua exposição. Neste sentido, a definição de objeto histórico se
aproxima do conceito de “documento-monumento” de Jacques Le Goff (1996).
Se a escolha dos objetos que formarão a coleção de um museu histórico é intencional,
logo, é possível concluir que a própria exposição de um museu histórico, aliás, de qualquer
tipo de museu, é também intencional. Meneses (2005) a considera uma “convenção visual”,
uma “produção de sentidos”.
[...] aos museus históricos [...] não pode haver, nunca, exibição neutra ou
literal de artefatos. As premissas e os compromissos são sempre muito
densos. A exposição museológica pressupõe, forçosamente, uma concepção
de sociedade, de cultura, de dinâmica cultural, de tempo, de espaço, de
agentes sociais e assim por diante (MENESES, 2005, p. 33).
Se a exposição de um museu histórico é uma convenção visual ou uma produção de
sentidos, a comunicação é essencial. A exposição de um museu é uma das diversas formas de
comunicação museológica, compreendida neste trabalho como a “extroversão do
conhecimento em museus”, segundo definiu Marilia Xavier Cury (2005, p. 34). Para a autora,
a exposição é o meio mais importante da comunicação museológica, pois é através dela que
ocorrem a enunciação das narrativas dos museus e o estabelecimento de uma relação entre o
sujeito (visitante) e o objeto (coleção) exposto em um cenário expositivo.
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Para este trabalho, as considerações de Meneses (2005) e Cury (2005) são essenciais,
pois chamam a atenção para a intencionalidade das coleções e das exposições dos museus, em
particular dos museus históricos. Em consequência, sugerem a necessidade de contextualizar
os museus para compreendermos que tipo de narrativa eles oferecem ao público e no que elas
estão fundamentadas. Não se trata de avaliar se elas são verossímeis ou inverossímeis, mas de
descrever e interpretar suas representações acerca dos temas que aborda. No caso específico
do Museu da Paz, trata-se de descrever e interpretar suas representações a respeito da Segunda
Guerra Mundial e da Força Expedicionária Brasileira, através da trajetória do museu, da sua
coleção e exposição.
3. O Museu da Paz: primeiros resultados.
O Museu da Paz – MPZ está localizado na Avenida Getúlio Vargas, número 405, no
Centro da cidade de Jaraguá do Sul. Ele foi oficialmente criado em 10 de dezembro de 2009,
através da Lei Municipal 5.438/09, assinado pela prefeita Cecilia Konell. Na época, o
presidente da Fundação Cultural de Jaraguá do Sul era o Sr. Jorge Luiz da Silva Souza.
Contudo, as origens do MPZ são mais antigas. Elas estão situadas em meados da
década de 1990. Em 1996, durante a gestão do prefeito municipal Durval Vasel, foi criado um
“espaço museológico” dedicado à memória e à história da Força Expedicionária Brasileira –
FEB. Segundo o professor e historiador Ademir Pfiffer (2015), o prefeito Durval Vasel era
filho do veterano Frederico Kurt Vasel. Portanto, recorda o pesquisador, já existia na história
familiar do prefeito, um envolvimento afetivo com a FEB. Além disso, prossegue o depoente,
predominava na região o esquecimento acerca da participação de inúmeros cidadãos locais na
luta contra o Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial. Assim, diante deste contexto e
auxiliado pela equipe da Fundação Cultural de Jaraguá do Sul, com destaques para o então
presidente Balduíno Raulino e para a museóloga Alcioni Macedo Canuto, foi criado o “Museu
do Expedicionário”, instalado onde hoje, 2015, está localizado o terminal urbano de Jaraguá
do Sul.
O acervo do Museu do Expedicionário foi formado a partir de doações de veteranos
locais e da compra, por parte do poder público municipal, de uma volumosa coleção de
militaria que pertenceu ao colecionador João Luis Channe, de Curitiba, Paraná. Indagado
sobre esta aquisição, Pfiffer (2015, p. 1) recorda que:
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O Senhor João Luiz Channe tinha um relacionamento familiar com um
sobrinho que era músico e maestro da Banda Municipal. Assim, o contato
com o colecionador foi facilitado por esse músico. Dessa forma, o Poder
Público adquiriu, na forma da lei, a coleção que simbolizava a história do
patrimônio dos habitantes do sul do Brasil, como acervo militar, religioso, da
maçonaria, dos bombeiros, da segurança pública, da 1ª Guerra Mundial e da
FEB.
A formação de acervos de museus a partir da aquisição de coleções particulares é algo
comum. No município de Joinville, vizinho a Jaraguá do Sul, por exemplo, existe o Museu
Arqueológico de Sambaqui – MASJ. Fundado em 1963, a coleção que deu origem a este
museu pertenceu a um arqueólogo amador radicado em Joinville chamado Guilherme
Tiburtius (MUSEU ARQUEOLÓGICO DE SAMBAQUI DE JOINVILLE, 2015). O que
chama a atenção na coleção comprada junto a João Luis Channe é o seu tamanho e a
diversidade de temas históricos que ela abrange, não somente a Segunda Guerra Mundial e a
Força Expedicionária Brasileira. Ademir Pfiffer (2015) informa que, a maior parte da
exposição do Museu da Paz é formada por itens da coleção Channe e que muitos itens
expostos no Museu Histórico Emílio Silva (Jaraguá do Sul) também fazem parte da mesma
coleção.
O Museu do Expedicionário funcionou até 1997, quando foi desativado, junto com o
Museu Histórico Emílio Silva, na época, localizado na antiga estação ferroviária de Jaraguá
do Sul. A mudança de gestão municipal e a contenção de gastos são indicadas como as razões
para o fechamento dos museus. Como alternativa, durante o mandato do prefeito Geraldo
Werninghaus, surgiu a ideia de um único museu histórico, que deveria ser instalado no antigo
prédio da Prefeitura Municipal de Jaraguá do Sul, situado na Praça Angelo Piazera, no Centro
da cidade. O edifício foi inaugurado em 1941 e desocupado em 1997. Após um processo de
“revitalização”, em 19 de novembro de 2001, foi instalado o Museu Histórico Emílio Silva –
MHES, onde encontra-se até hoje (PFIFFER, 2015).
Uma das salas temáticas do MHES foi dedicada a Segunda Guerra Mundial e à Força
Expedicionária Brasileira. As exposições foram organizadas pela museóloga Alcioni Macedo
Canuto, em parceria com o curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da antiga
UNERJ (atual Católica de Santa Catarina). O atendimento ao público visitante, inicialmente,
foi confiado à Alcioni Macedo Canuto e à professora Eliza Ressel Diefenthaler, que
desenvolveram diversas atividades de monitoria junto à diversas turmas da rede pública
municipal de ensino que visitaram o MHES (PFIFFER, 2015).
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Durante a gestão do prefeito Moacir Antonio Bertoldi (2005 – 2008), foi retomado o
debate sobre a criação de um museu específico acerca da memória e da história da Segunda
Guerra Mundial e da Força Expedicionária Brasileira. Na época, o Núcleo Jaraguá do Sul da
ANVFEB era dirigido pelo veterano Alselmo Bertoldi (Presidente) e o Sr. Ivo Kretzer
(Secretário). Ademir Pfiffer (2015) defende que a participação da ANVFEB foi essencial para
a criação do Museu da Paz, junto com as contribuições de diversos funcionários da Fundação
Cultural de Jaraguá do Sul, entre os quais se destacam Alcioni Macedo Canuto, Eliza Ressel
Diefenthaler, Natália Lucia Petri e Sidnei Marcelo Lopes.
Em conformidade com este grupo de pensadores (inclusive o senhor
Balduino Raulino, ex-presidente da Fundação Cultural), o prefeito Moacir
Antonio Bertoldi e a vice-prefeita Rosemeire Puccini Vasel deram chancela
e ordenaram a execução para a realização da instalação da sala temática da 1ª
e 2ª Guerras Mundiais, no Centro Histórico (prédio da estação ferroviária
revitalizado), em dezembro de 2008 (PFIFFER, 2015, p. 5).
A “sala temática” à qual o depoente se refere é hoje o Museu da Paz, composto por
uma exposição de objetos históricos, distribuída ao longo de diversas salas e vitrines.
Também contribuíram para a criação do Museu da Paz e sua instalação na antiga estação
ferroviária de Jaraguá do Sul outros fatores, tais como a revitalização do centro histórico de
Jaraguá do Sul, do qual a estação faz parte, e o fato de que os “pracinhas do vale do Itapocú”
embarcaram para a guerra naquele local, partindo de trem para suas respectivas guarnições
(PFIFFER, 2015). Para completar o simbolismo em torno do lugar, em frente ao Museu da
Paz está localizado um monumento à FEB, onde, anualmente, é celebrado o aniversário do
“Dia da Vitória” (figura 1).
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Figura 1: monumento à Força Expedicionária Brasileira localizado no Centro de Jaraguá do Sul, em frente ao
Museu da Paz. Foto: Wilson de Oliveira Neto.
O local em que foi erguido o monumento é uma Praça, cujo nome original era Tenente
Leônidas Cabral Herbster. Em 15 de julho de 2009, ela passou a ser chamada “Praça do
Expedicionário”.
Foi neste pano de fundo que, 2009, foi criado e inaugurado o Museu da Paz. Mas, por
que um museu histórico dedicado à História Militar, recebeu este nome?
[...] a tendência à época era difundir essa conceituação tipológica de museu
vinculado ao conceito amplo da cultura da paz. É importante salientar [...]
que o recurso da guerra foi um meio determinante [...]. A guerra foi a
alternativa encontrada para combater as ideologias do Fascismo e do
Nazismo, colocando o fim no século das guerras. Assim, foi encerrado o
século de dizimação dos povos pela violência e o recurso das guerras.
Porém, outros fatores políticos ressuscitaram o clima tenso (Guerra Fria) e
preparatório de novas guerras ocultas, como o terrorismo, nova modalidade
de guerra sem fronteira e territorialidade, ainda presente neste terceiro
milênio (PFIFFER, 2015, p. 6).
A relação entre guerra e paz está presente na “missão” do Museu da Paz, segundo a
qual:
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O Museu da Paz tem a missão de salvaguardar o patrimônio material das
duas grandes guerras, que assolaram, principalmente, o mundo ocidental no
transcorrer do século XX. Através do acervo museológico de época,
almejamos difundir a memória e a identidade da Força Expedicionária
Brasileira, no Front italiano nos anos [19]40, em defesa da paz e no combate
aos regimes totalitários, como Fascismo e Nazismo (PFIFFER, 2015a, p. 1).
Portanto: “[...] esta instituição museológica é um espaço de diálogo e confrontação de
ideias, visando acima de tudo construir a cidadania plena, através de uma cultura de paz”
(PFIFFER, 2015a, p. 1).
3.1 Atividades e comunicação museológica.
A exposição sobre história militar, com ênfase na Segunda Guerra Mundial e na Força
Expedicionária Brasileira, é a atração principal do Museu da Paz e sua forma mais importante
de comunicação museológica. Para Marilia Xavier Cury (2005, p. 42), a exposição de um
museu consiste em:
[...] conteúdo e forma, sendo que o conteúdo é dado pela informação
científica e pela concepção de comunicação como interação. A forma da
exposição diz respeito à maneira como vamos organizá-la, considerando a
organização do tema [...] associados a outras estratégias que juntas revestem
a exposição de qualidades sensoriais.
Descrevê-la e interpretá-la consistirão nas próximas etapas deste projeto. Segundo
informa Ademir Pfiffer (2015), foi a museóloga Alcioni Macedo Canuto a profissional
responsável pela montagem a exposição histórica do Museu da Paz. Junto com a exposição,
há outras formas de comunicação entre o MPZ e seu público. Desde 2010, o professor e
historiador Ademir Pfiffer mantém um blogue relacionado ao Museu da Paz, denominado
“Febianos de memória” (http://febianosememoria.blogspot.com.br/), cujo objetivo é o registro
das atividades desenvolvidas pelo MPZ.
Outra forma de comunicação praticada pelo Museu da Paz esta relacionada com a
divulgação na imprensa local das atividades que a instituição promove, em particular, aquelas
voltadas para os alunos da rede pública municipal de Jaraguá do Sul. Foi o que noticiou, por
exemplo, o Jornal do Vale do Itapocu, em 12 de setembro de 2014. A matéria abordou uma
exposição alusiva ao centenário da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) organizada pelas
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turmas das séries finais do Ensino Fundamental da Escola de Educação Básica Valdete
Piazera Vindars, de Jaraguá do Sul. A montagem da exposição foi orientada pela arte-
educadora Cristina Pretti e aberta ao público nas dependências do Museu da Paz.
A parceria com as escolas de Jaraguá do Sul é mencionada com destaque por Pfiffer
(2015) que, inclusive, cita os nomes de Pretti e de outra professora, Marciana Ludero.
A primeira é sintonizada com o mundo das artes e com o trabalho efetivo na
EEB “Professora Valdete Inês Piazera Zindars”. Assim, por ocasião do
evento Primavera dos Museus, em 2013, ela organizou um trabalho de
pesquisa envolvendo estudantes da educação básica (fundamental e médio)
sobre os fatos marcantes da conjuntura do teatro da Primeira Guerra
Mundial. A segunda, organizou uma excursão no interior do Museu da Paz
com os alunos do 9º ano (EMEF Helmuth Guilherme Duwe), guiada por
Ademir Pfiffer e Rosane Neitzel Gonçalves (monitora). A partir da Ação
Educativa, com registro fotográfico, ela organizou uma exposição ligada aos
módulos expográficos e musealizados do patrimônio da Força
Expedicionária Brasileira (FEB), no ano de 2013 (PFIFFER, 2015, p. 1).
Outra parceria importante para o Museu da Paz é o núcleo local da ANVFEB.
Segundo seu secretário, Ivo Kretzer (2015), a ANVFEB e o MPZ promovem palestras para
jovens alunos da Educação Básica, além de cerimônias públicas em datas especiais, como por
exemplo, o Dia Mundial da Paz ou o Dia da Vitória. Ele também reforça que, a existência do
próprio Museu da Paz também está relacionada com a própria ANVFEB em Jaraguá do Sul.
Um fato importante na história da colaboração entre a ANVFEB e o MPZ foi o 22º Encontro
Nacional de Veteranos da FEB que foi realizado em Jaraguá do Sul, em 2010. Entre os dias
13 e 15 de novembro, ocorreram diversas atividades no Centro Histórico e na Sociedade
Cultural de Artística – SCAR em Jaraguá do Sul (PFIFFER, 2015a).
Considerações finais.
Procuramos neste trabalho apresentar e discutir os primeiros resultados obtidos pelo
projeto de pesquisa “Um museu para a paz”. Eles consistem na revisão da literatura, em
particular artigos e livros voltados para a Museologia, com vistas à organização de um quadro
teórico-metodológico. Em seguida, foi realizada a coleta de dados históricos com o objetivo
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de contextualizar as origens do Museu da Paz e listar suas atividades, seus parceiros e suas
formas de comunicação museológica.
No momento, está em curso uma nova e decisiva etapa do projeto que consiste na
descrição e na interpretação da exposição histórica do Museu da Paz. Inspirado no conceito de
“descrição densa”, elaborado pelo antropólogo Clifford Geertz (2008), será realizada uma
pequena etnografia da exposição, que revelará a história no Museu da Paz, em complemente
ao que foi feito até agora, a história do Museu da Paz.
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