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IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
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O ORÇAMENTO PÚBLICO COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE SOCIAL E ACCOUNTABILITY
RESUMO O presente artigo tem o intuito de demonstrar a existência de instrumentos de aproximação da sociedade com o Estado, com base nos pressupostos da accountability e do controle social, em busca de uma efetiva gestão fiscal transparente, com planejamento e fiscalização da destinação dos recursos públicos, contando com a participação e poder do próprio povo na elaboração e execução orçamentária para, assim, coagir a Administração Pública a atingir, por intermédio de seus atos, o interesse público. Palavras-chave: Accountability. Controle Social. Gestão Fiscal. Recursos Públicos. Orçamento.
ABSTRACT The presente work aims to demonstrate the existence of instruments of approximation with state and society, from the requirements of accountability and social control, in search of an effective fiscal transparent management, with planning and monitoring the allocation of public resources, with the participation and power of the people in developing and implementing the budget in order thereby to compelthe the Public Administration to achieve, through their actions, the public interest. Keywords: Accountability. Social Control. Fiscal Management. Public Resources. Budget.
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INTRODUÇÃO
iante da herança colonial de uma organização civil precária e
anêmica, do cenário movido por escândalos envolvendo desvios
de dinheiro público, a falta de investimento em áreas e setores
de interesse da sociedade, assim como, por consequência, a ausência de uma gestão
eficaz, é que trazemos a importante indagação acerca do poder emanado do povo e seu
uso como forma de garantir o destino dos recursos públicos.
Para tanto, é necessário compreender a organização política a qual se
submete o Brasil, traduzida nos estudos do Federalismo, relevante para demonstrar o
caminho que os repasses das verbas públicas percorrem, submetendo União, Estados,
Distrito Federal e Município a uma atuação conjunta.
Por ser pilar fundamental para melhor explanar como a gestão pública
brasileira deveria se comportar, garantindo os objetivos constituídos pela Constituição
Federal de 1988 e com a exigência de uma maior participação da sociedade, decorrente
da instalação da ordem democrática, apresenta-se uma nova forma de enxergar a
administração dos recursos: a adoção de alguns valores gerenciais adotados pelo setor
privado.
D
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O orçamento é a peça chave, um documento que apresenta todo o reflexo
econômico da Nação, seja em âmbito local ou Federal, e contém as perspectivas de
aplicação das finanças públicas, refletindo a ação governamental, marcada, na prática,
por entraves políticos e administrativos.
Este documento deve ensejar transparência e planejamento das finanças
públicas para uma gestão fiscal eficiente, preocupada com os anseios da sociedade, se
formando, conforme trouxe nossa atual Constituição, por um sistema que abarca três leis:
a que institui o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e, por fim,
a Lei Orçamentária Anual (LOA).
O processo orçamentário e de planejamento é interpretado por intermédio da
inclusão do conceito de resultado final, em que os recursos arrecadados devem retornar à
sociedade na forma de bens e serviços que, positivamente, dê nova forma a sua
realidade, objetivando o aperfeiçoamento do setor público no Brasil.
Sob esse enfoque, o controle social e a accountability ganham forma,
conduzindo, basicamente, os procedimentos da participação da sociedade civil no
processo de formação do orçamento, atuando a população no controle institucional, em
conjunto com os órgãos da própria Administração Pública, como uma maneira de forçar o
Poder Público a aplicar suas finanças em áreas de interesse comum a todos.
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Por ser solo quase inexplorado pela prática brasileira, a accountability ainda é
de certo modo termo de difícil acesso, visto que carece de tradução exata para o
português, sendo sua aplicabilidade questionada diante da conjuntura política e cultural
do Brasil, onde seu desenvolvimento conceitual desenrola-se em escassas bibliografias
nacionais, encontrando-se um estudo aprofundado e aplicável em bibliografias
estrangeiras.
Portanto, este trabalho também tem como objetivo demonstrar a existência
de ferramentas à disposição dos cidadãos, como o controle social e a accountability, em
face da realidade egoísta enfrentada pelo país, que, por interesses individuais e políticos,
afastam a finalidade da gestão pública, distorcendo os seus conceitos primordiais e
constitucionais, conduzidos, no final, ao esquecimento do verdadeiro interesse público.
Utilizamos, para o desenvolvimento da presente pesquisa, o método
dedutivo, uma vez que, partindo de teorias e leis gerais, focalizou-se a ocorrência de
fenômenos particulares.
A técnica de pesquisa foi a bibliográfica, constituída principalmente de livros,
leis e artigos a respeito do tema.
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1. FEDERALISMO BRASILEIRO
1.1 Noções Gerais
O Federalismo, um sistema de organização política que ainda hoje agrega
intrínsecas discussões e acompanha um significativo desenvolvimento, está presente na
vasta territorialidade do Brasil, se resumindo na descentralização do poder político, ou
seja, tem como principal característica a divisão de tal poder entre as entidades
autônomas, impulsionando, dessa forma, uma independência entre o governo central, ou
Federal, e os Estados, Distrito Federal e Municípios. (PORFÍRIO JÚNIOR, 2004, p. 2)
Dalmo de Abreu Dallari, ao tratar sobre o Estado Federal, lembra que tal
denominação é referência a uma forma de Estado, e não de governo, observando que
[...] há um relacionamento muito estreito entre a adoção da
organização federativa e os problemas de governo, pois quando se compõe uma
federação isto quer dizer que tal forma de convivência foi considerada mais
conveniente para que, sob um governo comum, dois ou mais povos persigam
objetivos comuns. (DALLARI, 1998, p. 91)
Dallari (1998, p. 91) expõe o Estado Federal em sua forma pura como sendo
um acontecimento contemporâneo, concebido em meados do século XVIII, e para buscar
o seu conceito, analisa a etimologia da palavra Federação. Traduz-se, assim, em pacto, ou
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aliança; ou seja, seu significado envolve a união de Estados, desde que certas
peculiaridades sejam atendidas a fim de emprestar à essa aliança o título de Federação.
Apesar de ser um evento recente, no que se refere à estrutura hoje delineada,
o Estado Federal tem seu berço em 1787 com a Constituição dos Estados Unidos da
América. Esta, por sua vez, sofreu fortes influências dos ideais apresentados por
Montesquieu com o princípio da separação dos poderes, afetando, por intermédio do
corpo constituinte, a composição governamental da Federação (DALLARI, 1998, p. 91). 1
Não obstante, edificar uma Federação implica em lançar mão de certos
instrumentos e dedicar atenção a alguns princípios, tais como:
1. a decisão constituinte criadora do Estado Federal e de suas partes indissociáveis, a Federação ou União, e os Estados-Membros;
2. a repartição de competências entre a Federação e os Estados-Membros;
3. poder de auto-organização constitucional dos Estados-Membros atribuindo-lhes autonomia constitucional;
4. a intervenção federal, instrumento para restabelecer o equilíbrio federativo, em casos constitucionalmente definidos;
5. a Câmara dos Estados, como órgão do Poder Legislativo Federal, para permitir a participação do Estado-Membro na formação da legislação federal;
1 Conforme explicita Dallari, a melhor forma de interpretar a Constituição dos Estados Unidos de 1787 é por
intermédio das linhas doutrinárias, publicadas em meados de 1787 e 1788 na imprensa de Nova York, e que, posteriormente reunidas, formaram o volume denominado “The Federalist”.
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6. a titularidade dos Estados-Membros, através de suas Assembléias Legislativas, em número qualificado, para propor emenda à Constituição Federal;
7. a criação de novo Estado ou modificação territorial de Estado existente dependendo da aquiescência da população do Estado afetado;
8. a existência no Poder Judiciário Federal de um Supremo Tribunal ou Corte Suprema, para interpretar e proteger a Constituição Federal, e dirimir litígios ou conflitos entre a União, os Estados, outras pessoas jurídicas de direito interno, e as questões relativas à aplicação ou vigência da lei federal. (HORTA, 1995, p. 347)
Sob a égide do Estado Democrático de Direito, temos que a base jurídica do
Estado é a Constituição, escrita e rígida, principal pacto de suporte sociopolítico que
prevê, de maneira adequada, as repartições das competências e atribuições da União e
das unidades federadas, bem como suas receitas e as despesas. 2
A respeito da dinâmica em que o exercício do poder político se manifesta,
Nelson Júnior ensina que existe “um poder central e de algum grau de descentralização,
de atribuição a órgãos periféricos – e subordinados – de certa competência administrativa
para tratar de questões locais” (PORFÍRIO JÚNIOR, 2004, p. 3).
2 Nessa linha de raciocínio, a forma de Estado Federal, adotada, portanto, pelo Brasil, está
primeiramente insculpida como cláusula pétrea no art. 1º da Constituição Federal de 1988.
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Os Estados inseridos em uma Federação possuem poderes próprios
outorgados pelo poder constituinte e derivados de um poder mais alto, sendo tal
atribuição observada por uma Lei Maior, de abrangência nacional, que traça ditames aos
quais a Constituição de cada Estado – ou a Lei Orgânica, no caso dos Municípios e do
Distrito Federal – deve obedecer quando de sua estruturação.
No tocante à repartição de competências, não se fala em hierarquia quanto a
organização federal. A distribuição dentro de um Estado Federal é feita, em regra, sem
uma cadeia hierárquica, pois cada esfera de Poder possui a competência que lhe cabe,
constitucionalmente prevista.
Paulo Bonavides (2007, p. 183), elencando algumas características basilares
do Estado Federado, apontou, principalmente, a participação e vontade política da
sociedade por meio da representação dos parlamentares e a autonomia dos entes que
compõem a Federação.
Para cada ente alcançar o objetivo descrito pelos princípios de uma
Federação, bem como dotar-se de autonomia política, é preciso atribuir fonte de rendas
suficientes a cada um deles, já que ao mesmo tempo em que se delimita uma
competência, encargos também serão suportados. (DALLARI, 1998, p. 93)
José Afonso da Silva leciona que a autonomia “significa capacidade ou poder
de gerir os próprios negócios dentro de um círculo prefixado por entidade superior”, isto
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é, como já enfatizado, compete à Constituição o poder de distribuir as competências
entre as esferas de governo, sendo que para a autonomia constitucional ser concedida a
uma entidade federada “é necessário que tenha, no mínimo, essas três capacidades:
auto-organização, autogoverno e auto-administração.” (SILVA, 2006, p. 159).
A estrutura complexa de um Estado Federal deve, dentre outros aspectos,
notar, adequar e obedecer a existência de regras, princípios e instrumentos aptos à
formação do Federalismo.
1.2 Federalismo Fiscal
A atividade financeira e tributária da Federação estatal tem, pois, sustentação
constitucional, com preceito inaugural à concretização do Estado Federal e disposições
quanto ao seu desenvolvimento organizacional. 3
Ricardo Lôbo Torres (2007, p. 2) destaca que o federalismo fiscal, enquanto
sistema, consubstancia-se na organização do conjunto de tributos distribuídos entre os
entes federativos, cujo embasamento constitucional hoje se encontra, basicamente, nos
artigos 148, 149, 153 e 156 da Constituição Federal de 1988.
3 No que se refere à inauguração do Estado Federal, consideramos o art. 1º da Constituição Federal de 1988
como dispositivo inicial consagrador de tal forma de Estado, atualmente adotada, sendo os demais preceitos descritos ao longo do texto constitucional responsáveis pelo seu desenvolvimento e dinâmica de funcionamento.
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Portanto, como forma de fomentar a gestão tributária, há atribuições e
recursos que necessitam da repartição – material e legislativa - entre os níveis de governo
que fazem parte do cenário econômico-político do país, destacado pela descentralização,
e é isso o que resume e sustenta a essência do federalismo fiscal.
Raul Machado Horta (1995, p. 349) relata que “a repartição de competências
é encarada como a 'chave da estrutura do poder federal', 'o elemento essencial da
constituição federal', a 'grande questão do federalismo, 'o problema típico do Estado
Federal”.
Enquanto Horta (1995, p. 349) relata um “problema típico do Estado Federal”,
Torres (1996), de maneira magistral, adverte para a importância de um pacto federativo
focado na questão fiscal e para com o desenvolvimento da cidadania. Melhor
complemento a tal tese não se faz, senão com suas próprias palavras
[...] O cidadão, titular de pretensões contra o poder local e de deveres
para com ele, desenhados inclusive na Constituição, coincide com o homem, no
plano universal, na forma das declarações de direitos e dos tratados e convenções, e
não apenas na dimensão do universalismo kantiano. A cidadania é sobretudo
cidadania local. Há, portanto, a necessidade de um novo pacto federativo, centrado
na questão fiscal, que envolve um pacto de cidadania. O imposto deve ser visto como
o preço da liberdade e do exercício da cidadania local. A CF de 1988 aumentou as
receitas dos Estados e Municípios, mas não lhes transferiu os serviços públicos
garantidores dos direitos humanos; ao mesmo tempo, manteve concentrado em
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mãos do Governo Federal o poder normativo em assuntos tributários. O projeto do
Presidente Fernando Henrique adota a política desestimuladora do que se
convencionou chamar pejorativamente de "guerra fiscal" entre as unidades
federadas e ainda procede a forte centralização normativa, com a criação do ICMS
federal. (TORRES, 1996,online)
A Federação enfrenta questões passíveis de mutações conforme a flutuação
da política, da economia – que, com a globalização, causa impacto no Sistema Tributário
Nacional – , assim como em toda a dinâmica social, interferindo nos anseios das políticas
públicas, e, diante desse suporte fático, “aumentando a complexidade das relações
intergovernamentais”. (REZENDE, 2006, p. 11)
As previsões constitucionais de repartição de receitas e competências, isto é,
a distribuição da economia Pública nas diferentes esferas federadas, atualmente insere-se
na estrutura tributária Nacional, desenvolvendo-se com suporte na organização político-
administrativa descrita pela Constituição Federal de 1988, que, em seu art. 18, dispõe a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios como entes autônomos. 4
4 Constituição Federal, Art. 18: “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta
Constituição.”
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Nosso Sistema Tributário, moldado pela Carta Magna, recebeu e entregou a
cada uma das pessoas políticas competências de instituir, criar e consequentemente
legislar sobre tributos, facilitando o funcionamento dos objetivos e anseios de cada ente
federado, e, segundo critérios, atingir questões relativas à expansão territorial de cada
um.
Nos moldes da descentralização e fortalecimento da autonomia, “a
Constituição vigente diversificou a repartição de competências (...)”, (GAMA, 2004, p.
142) restando elencadas da seguinte maneira:
I – competência geral da União (art. 21); II – competência de legislação
privativa da União (art. 22); III – competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios (art. 23); IV – competência de legislação
concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal (art. 24); V – competência
dos poderes reservados aos Estados (art. 25).
Às competências citadas, somam-se aquelas previstas nos arts. 29 e 31
da Constituição, entregues ao Município, e as competências tributárias previstas nos
arts. 145 a 156, distribuídas à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios. (GAMA, 2004, p. 142)
1.3 Federalismo Participativo
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O Federalismo no Brasil foi constitucionalmente adaptado para um modelo
que contribuísse com a cooperação entre as esferas de Poder, incentivando não a
competição, mas sim o trabalho conjunto entre os Estados e o Governo Central, para, em
harmonia, deliberarem interesses do país. Nesse sentido:
“No Brasil, a Constituição Federal prevê diversos mecanismos de
cooperação, como o estabelecimento de órgãos regionais de desenvolvimento, os
repasses obrigatórios de receitas tributárias (federais para os Estados-membros e
Municípios, e estaduais para Municípios), a concessão de subsídios e incentivos
fiscais e outros’. (PORFÍRIO JUNIOR, 2004, p. 9)
Em homenagem ao equilíbrio federativo, optado por nossa atual Constituição,
o exercício da autonomia, o qual nos referimos em linhas anteriores, apenas poderá
ocorrer “dentro dos limites preestabelecidos no texto constitucional, conforme se
depreende dos arts. 25, 29 e 32”. (GAMA, 2004, p. 141)
Com isso, e com a noção de autonomia que os entes federados possuem, os
Estados têm a competência para instituir e cobrar tributos, bem como o direito de
receber recursos fiscais, caracterizando o Federalismo Participativo. (PORFÍRIO JÚNIOR,
2004, p. 9)
Segundo leciona Evandro Gama (2004, p. 144), ao articular sobre a repartição
do produto da arrecadação, citando-o como segundo mecanismo de repartição de fontes
de receitas - já que o primeiro mecanismo seria a distribuição de competências para
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instituir e cobrar tributos -; o Texto Constitucional ditou regras para sua execução, “nas
quais é possível identificar duas formas de implementação: a) participação na
arrecadação de determinado tributo e b) pela participação em fundos”.
Kiyoshi Harada (2011, p. 48) expõe que o critério de participação de uma
entidade no produto de arrecadação de impostos de outra é um mecanismo que visa
assegurar recursos financeiros aos Estados-membros e Municípios, colaborando com o
desempenho de suas atribuições, contudo, relata afronta ao princípio federativo prezado
pelo constituinte ao reconhecer o “evidente gigantismo do poder central. A União, além
de concentrar em suas mãos os principais impostos, detém ,tradicionalmente, a
competência residual nessa matéria.”
Quanto a competência residual conferida à União, o texto constitucional, no
art. 154, permite, mediante lei complementar, a instituição de outros impostos,
observada a não cumulatividade e que não possuam o mesmo fato gerador ou base de
cálculo dos outros impostos de sua competência, elencados no art. 153.
Acerca das regras pertinentes à repartição de receitas, preceitua a
Constituição Federal, na Seção VI do Capítulo I, com incisos e parágrafos dos arts. 157 a
159, o que e qual porcentagem pertencem aos Estados e ao Distrito Federal (art. 157),
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aos Municípios (art. 158), e as entregas da União de produto de arrecadação aos fundos
de participação (art. 159). 5
Segundo Harada (2011, p. 51), quanto aos dispositivos mencionados, inseridos
no que se denomina de Repartição de Receitas Tributárias, foram estabelecidas as
seguintes modalidades de participação dos Estados, Distrito Federal e Municípios na
receita tributária da União e dos Estados:
(a) participação direta dos Estados, DF e Municípios no produto de
arrecadação de imposto de competência impositiva da União; (b) participação no
produto de impostos de receita partilhada; (c) participação em fundos.
Ensina ainda o ilustre autor que o legislador infraconstitucional tem a
liberdade de aplicar efeito jurídico diferenciado ou igual para as modalidades citadas,
sendo que pode acontecer, em certos casos, da própria Constituição, ao regular
determinada matéria, aplicar os mesmos efeitos às modalidades. E acrescenta:
“É o caso, por exemplo, do art. 212, que prevê os percentuais mínimos
da receita de impostos para a manutenção e desenvolvimento do ensino, cujo
5 Harada (2011, p. 53) explica que há diferenças pertinentes ao empregar o vocábulo
“pertencem”e “entregarão”, pois implicam em diferentes modalidades de repartição de receitas e reflete
nos efeitos jurídicos descritos pelas legislações infraconstitucionais ao tratarem de cada uma dessas
modalidades.
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conteúdo é delimitado pela disposição de seu §1º. Contudo, esse fato não faz
desaparecer a natureza jurídica própria que cada modalidade de repartição de
impostos ostenta. Da mesma forma, se houver determinação constitucional de
adicionar uma parcela da receita creditícia para o cálculo daqueles percentuais a
serem aplicados no setor educacional, esse fato não transformaria a receita de
operação de crédito em receita tributária”. (HARADA, 2011,p. 54)
Para evitar dissabores de natureza política na entrega de recursos, a Lei
Maior, em seu art. 160, veda a retenção ou restrição à entrega e ao emprego de recursos
provenientes da repartição de receitas, aos Estados, DF e Municípios, contudo, em seu
parágrafo único, não impede a União e os Estados de condicionarem a entrega do
recurso, o que, nos dizeres de Harada (2011, p.55) é um mecanismo “bastante complexo,
caro e dispendioso”, incompatível, portanto, com o federalismo. 6
2. INTRODUÇÃO A UMA GESTÃO PÚBLICA GERENCIAL
6 Constituição Federal, Art. 160: “É vedada a retenção ou qualquer restrição à entrega e ao
emprego dos recursos atribuídos, nesta seção, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, neles
compreendidos adicionais e acréscimos relativos a impostos.
Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo não impede a União e os Estados de
condicionarem a entrega de recursos”
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Nos últimos tempos mutações de cunho econômico e social realizaram
transformações necessárias à gestão da administração pública do Estado e, nesse sentido,
estudos até hoje empenham esforços para a construção e aperfeiçoamento de uma nova
administração, tendo como pilar a democracia e o interesse público.
Em passagem pelo século XIX, o Estado adotava uma política liberal,
experimentando o início de uma era burocrática na metade desse século, com regras e
impessoalidade, marcada pela contratação dos administradores públicos por concurso
público.
O alargamento territorial e populacional começara a exigir maior eficiência da
gestão pública em um período de afirmação do sufrágio universal, que, no século XX,
despontou para um Estado democrático social, implicando em um significativo aumento
da carga tributária para corresponder à demanda da sociedade.
Assim, a partir do ponto de vista econômico, para o cumprimento dos
objetivos fundamentais da República previstos na Constituição de 1988, é necessário que
o Estado estimule ou exerça atividade econômica, provendo o funcionamento de seus
órgãos e proporcionando a realização de suas funções. (CONTROLADORIA, 2008, p. 14)
O Estado democrático social da metade do século XX ou início do século XXI
preocupa-se em garantir a lei e prestar serviços com eficiência, o que implicará em outra
reforma: a do Estado gerencial. (BRESSER-PEREIRA, 2008, p. 175)
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Com a insistência da sociedade por um espaço seu na gestão pública, o que
decorreu do desenvolvimento democrático, a transferência dos conhecimentos da
administração gerencial do setor privado começou a ser pensada para o setor público,
atingindo o auge nos anos 80 no Reino Unido e nos Estados Unidos, ficando conhecida
como “a nova administração pública” (new public management), tornando-se referência
para o Estado no que tange a gestão do interesse público (PAULA, 2007, p. 27).
Por isso, hodiernamente, as práticas burocráticas vêm sendo substituídas por
um novo tipo de administração: a administração gerencial, com ideias, valores e práticas
cultivadas no domínio da administração de empresas privadas, contudo, usam-se critérios
diferentes. O lucro é substituído pelo interesse público e pela “realização das políticas
públicas democraticamente decididas” (BRESSER-PEREIRA, 2008, p. 176).
A finalidade do Estado é, basicamente, a realização do bem comum (HARADA,
2011, p. 4), atingida por meio do exercício da administração pública, isto é, envolve, em
seu sentido objetivo, a gestão dos interesses públicos, sendo “inafastável a conclusão de
que a destinatária última dessa gestão há de ser a própria sociedade, ainda que a
atividade beneficie, de forma imediata, o Estado” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 12)
Torres (2009, p.4) revela que a atividade financeira do Estado é constituída
por uma característica deveras importante: a instrumentalidade. O Estado deve arrecadar
para atingir objetivos políticos, econômicos ou administrativos. Portanto, envolve
questões de natureza fiscal, tributária e monetária.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
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Para o alcance da organização política-administrativa, financiamento das
políticas sociais e desenvolvimento do conjunto de atividades estatais, é preciso o
ingresso de receitas, originárias ou derivadas. Essa captação de recursos deve obedecer a
um instrumento eficaz, transparente e com possibilidades à fiscalização. Para tanto, é
indispensável o planejamento antecipado das receitas e despesas no âmbito público. 7
A base das receitas e dos gastos públicos está no planejamento e gestão dos
recursos financeiros concretizados através do orçamento, que deve levar em conta os
interesses da sociedade e é materializado a partir do referencial do PPA – Plano
Plurianual, da LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias e LOA – Lei Orçamentária Anual.
3. O ORÇAMENTO PÚBLICO
A realidade do Estado moderno afastou a limitada visão de que o orçamento
funcionaria apenas como um documento administrativo, apresentando ao cenário
contemporâneo sua importância enquanto reflexo econômico de toda a Nação.
Nas palavras de Harada (2011, p. 62):
7 As receitas originárias são captadas por meio da venda de bens e serviços do próprio
Estado, já as receitas derivadas decorrem do patrimônio privado, arrecadado do contribuinte, a exemplo
dos tributos.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
20
“No Estado moderno, não mais existe lugar para orçamento público que
não leve em conta os interesses da sociedade. Daí por que o orçamento sempre
reflete um plano de ação governamental. Daí, também, seu caráter de instrumento
representativo da vontade popular, o que justifica a crescente atuação legislativa no
campo orçamentário”.
Valdemir Pires (2001, p. 4), ao explicar, de forma bem didática, o que é
orçamento público, delineia a referência deste a um montante que prevê e compatibiliza
receita e despesa e insere-se no campo das Finanças Públicas. E complementa: “Um plano
com indicações de objetivos e meios financeiros para atingi-los, uma lei, um instrumento
de controle, um conjunto de decisões políticas que tem impacto sobre a vida econômica”
(PIRES, 2001, p. 6)
Orçamento é, pois, uma reunião de diferentes aspectos que devem ser
considerados – como o político e o econômico –, e recebem conceituação doutrinária em
diferentes palavras, mas que levam, ao final, a uma mesma conclusão: é instrumento de
planejamento econômico do Estado:
1. “como estrutura, um conjunto organizado de informações financeiras
em que se estima a receita e se prevêem as despesas de uma unidade de governo
para um período futuro. Trata-se, portanto, de uma previsão, embasada em
informações presentes e passadas e em objetivos futuros.
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2. um instrumento de planejamento e controle do (sic) recursos
financeiros dos governos, visando assegurar seu melhor uso e transparência na
aplicação.
3. como ato legal, uma lei (federal, estadual ou municipal, dependendo
da esfera a que se refira), constituindo previsão e autorização legislativa para que
Executivo, Legislativo, Judiciário, autarquias e empresas públicas façam despesas e
obtenham receitas em determinadas rubricas, até determinados valores (...)
4. a expressão de um conjunto de decisões políticas em torno da
arrecadação e da aplicação de recursos (escolhas, prioridades), visando
determinados objetivos (...)
5. uma das faces do governo na intervenção da economia”. (PIRES, 2001,
p. 6)
A Lei nº 4.320/64 foi responsável pela instituição dos princípios orçamentários
no Brasil e é, ainda hoje, a principal diretriz para a elaboração do Orçamento Geral da
União, dos Estados e dos Municípios, apesar de alterações realizadas ao longo dos últimos
anos.
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, em seus artigos 165 e 166, bem
como parágrafos, uma tramitação peculiar do projeto de lei orçamentária, de iniciativa do
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Poder Executivo, já que não exigiu quórum qualificado para aprovação, caracterizando-a
como lei ordinária, porém detentora de características que a difere das demais leis, pois a
lei orçamentária, enquanto lei ordinária é de efeito concreto e possui prazo determinado
de vigência (HARADA, 2011, p. 64).
O sistema orçamentário integrado, adotado pela Carta Política, com a
prerrogativa de elaboração do Poder Executivo, prevê a elaboração de três leis, que, em
homenagem ao princípio da universalidade, estão correlacionadas entre si: A Lei do Plano
Plurianual (PPA) – que substituiu o então plano plurianual de investimentos; a Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) – introduzida na Carta de 1988; e a Lei Orçamentária
Anual (LOA) que passou a ser balizada pelas duas leis anteriores.
Acerca da inovação proporcionada pela Constituição de 1988, confira-se a
exposição de James Giacomoni (2005, p. 200):
“A Constituição Federal de 1988 trouxe diretrizes inovadoras de grande
significado para a gestão pública. Em primeiro lugar, cabe destacar a criação dos
novos instrumentos: o plano plurianual e a lei de diretrizes orçamentárias. Com os
novos instrumentos, valoriza-se o planejamento, as administrações obrigam-se a
elaborar planos de médio prazo e estes mantêm vínculos estreitos com os
orçamentos anuais”.
Acrescenta o autor, a este discurso, o fato de a Constituição ter criado
condições de ordem objetiva, facilitando a aplicação do princípio da universalidade, que,
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por sua vez, consiste na reunião de todas as receitas e despesas envolvidas no processo
orçamentário.
Prediz a Carta Magna Brasileira de 1988, art 163, que cabe à Lei
Complementar Federal dispor sobre normas gerais de finanças públicas, compreendendo
o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização da Lei do Plano
Plurianual, da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual. Contudo,
enquanto citada Lei Complementar não entrar em vigor, a própria Constituição Federal,
no seu Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT, estabelece orientação
sobre a vigência e prazos de encaminhamento desses instrumentos de planejamento.
Além disso, ainda está em vigor a Lei nº 4.320/64, no que não contrapor com os
dispositivos Constitucionais e com as inovações trazidas pela Lei Complementar Federal
nº 101, de 4 de maio de 2000, denominada de Lei de Responsabilidade Fiscal.
Segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal, o planejamento transformou-se em
condição fundamental para o alcance da gestão fiscal responsável, cujos fundamentos
também se consubstanciam com a transparência, e o equilíbrio das contas públicas,
asseguradas através de regras próprias e a obediência de limites.
Ademais, os Estados e Municípios têm a faculdade de baixar normatização
específica sobre a matéria, desde que não confronte com as normas gerais estabelecidas
na Constituição Federal.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
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Assim, verifica-se que todos os atos normativos hierarquizados interligam-se
com objetivo de dotar o setor público de um processo de planejamento orçamentário que
espelhe um plano de governo racional a longo, médio e curto prazo, transformando-se
em instrumento indispensável para conduzir as ações do governo.
Por fim, resta salientar que a LRF, no seu art. 48, estabelece a realização de
audiências públicas durante os processos de elaboração e discussão dos projetos
referentes ao PPA, LDO e LOA, fornecendo, assim, a possibilidade de a população
conhecer e questionar a aplicação do dinheiro público.
3.1 Orçamento Participativo
Dentre todos os benefícios trazidos pela instauração da Ordem Democrática
no Brasil no final dos anos setenta e início dos anos oitenta, abandonando as rédeas da
ditadura, pode-se citar a grandeza da difusão do chamado “Orçamento Participativo”,
expressão que enseja a participação popular junto a Administração Pública.8
A Constituição Federal de 1988 trouxe mecanismos aptos a assegurar a
fiscalização orçamentária, “em todos os seus campos e sob os ângulos examinados”. São
eles o controle interno, externo e privado. (HARADA, 2011, p. 93)
8 Segundo Giacomoni (2005, p. 230), no Brasil as administrações municipais participativas viraram realidade
no final dos anos 70, dando continuidade nos anos 80, a partir da experiência pioneira realizada em Lages – SC, Boa Esperança – ES, Diadema – SP e Recife – PE.
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25
O controle interno tem previsão na parte final do art. 70 da Carta Magna, que
fixa, no art. 74, os parâmetros para a efetivação do sistema de controle interno de cada
Poder. Na esfera federal, compete à Controladoria Geral da União – CGU, enquanto órgão
central do controle interno do Poder Executivo, desenvolver funções inerentes a este
controle, promovendo, igualmente, ações relativas à transparência e prevenção da
corrupção.
O controle externo é exercido exclusivamente pelo Congresso Nacional,
conforme inteligência dos arts. 70 e 49, inciso X, da CF/88.
Quanto ao controle privado, análise esta que mais interessa ao
desenvolvimento do Orçamento Participativo, a Constituição Federal de 1988 inovou ao
trazer, no §4º do art. 74, que “qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato
é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o
Tribunal de Contas da União”. 9
Harada (2011, p. 97) inclui que o entendimento quanto a denúncia descrita no
dispositivo constitucional pode ser estendido ao Tribunal de Contas do Estado ou do
Município. E complementa: “A expressão na forma da lei não pode e nem deve servir de
pretexto para condicionar o exercício desse direito à prévia regulamentação da matéria
por lei”
9 O Tribunal de Contas da União – TCU é um órgão controlador, cuja função prepondera sobre a legalidade
dos atos que envolvem a execução orçamentária, ou seja, ele “julga as contas”, sendo que a decisão proferida por este órgão possui natureza administrativa e não opera coisa julgada nem a constitui, já que não faz as vezes de uma atividade jurisdicional.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
26
Aliás, no Brasil, é no âmbito municipal que o processo de elaboração do
orçamento público aperfeiçoa-se com a participação comunitária, diante da análise e
discussão dos problemas e soluções, afinal, a comunidade é a destinatária das políticas
públicas previstas nas leis orçamentárias. (GIACOMONI, 2005, p. 229) _______________
Democracias de diversos países, como os Estados Unidos da América (com a
Freedom of Information Act e Government in the Sunshine Act), oferecem medidas
normativas que, de diferentes maneiras, proporcionam a participação do povo no
processo de tomadas de decisões públicas (MENDIETA, 1996, p. 367).
Portanto, essa participação da população na formação do orçamento público,
diante da previsão de receitas e despesas, é algo mais aprofundado do que o simples
controle; é assunto de extrema relevância às nações democráticas, envolvendo um
instrumento utilizado pelo governo – que toma decisões pela comunidade –, para
contabilizar as finanças públicas provenientes, em sua maioria, dos tributos arrecadados.
Valdemir Pires (2001, p. 32) complementa o raciocínio:
“Partindo-se desta concepção, marcadamente liberal, o orçamento
público é, fundamentalmente, o instrumento através do qual a receita e o gasto
público são planejados levando em conta as diferentes opiniões, interesses e desejos
presentes entre os eleitores, expressos pela manifestação dos eleitos para exercerem
os poderes executivo e legislativo”.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
27
Pires (2001, p. 33) aponta importantes observações, como o fato de o
orçamento ser expressão de uma democracia representativa, sendo que o nível
democrático que será sopesado dependerá do elo entre representantes e representados,
já que essa força gera influências sobre o destino dos recursos públicos, pois, o que se
tem na teoria, é que as receitas públicas não pertencem a nenhum indivíduo, senão ao
próprio povo, à coletividade. Acrescenta ainda o autor o caráter formalmente
democrático do orçamento público, que somente assumirá tal característica se e somente
se:
“1.o sistema de representação funcionar a contento; 2. o aparato legal
permitir a intervenção dos diversos representantes (executivo e legislativo) no
processo decisório entre as receitas e as despesas; 3. os agentes concretos que
dispõem de mandatos dispuserem de competência política e capacidade técnica para
agir em defesa de seus representados”. (PIRES, 2001, p. 33)
A democracia participativa pode ser efetivada, pois, através de um diálogo
entre o Poder Público e a sociedade civil, por meio, por exemplo, de conferências,
audiências públicas, conselhos e mesas de negociação, somados aos impulsos e regras
que o Poder Público deve proporcionar para o aproveitamento e estímulo de todos.
4. O CONTROLE SOCIAL E A ACCOUNTABILITY
4.1 Aspectos do Controle Social
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28
O diálogo entre a sociedade e o Estado é algo recente, exposto à realidade
pela Carta Magna 1988 ante a influência do Federalismo e da participação popular em sua
própria elaboração, inaugurando, na história do País, a democracia, após a experiência do
regime militar.
A essência democrática se enaltece em um Estado envolvido pela
reciprocidade entre Poder e indivíduo, empenhado em oferecer aos cidadãos direitos
civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. (MENDES, 2008, p. 149).
A Federação enfrenta questões que sofrem mutações conforme a volatilidade
da política, da economia –que, com aglobalização, causa impacto no Sistema Tributário
Nacional –, assim como em toda a dinâmica social, interferindo nos anseios das políticas
públicas, “aumentando a complexidade das relações intergovernamentais”. (REZENDE,
2006, p. 11)
Diante de tal análise, podemos identificar o controle social como um
instrumento pelo qual uma vez disponibilizado à sociedade, tem o escopo de habilitar os
cidadãos na defesa de seus interesses em face da gestão e, consequentemente, da
destinação dos recursos públicos.
Participação e controle social são palavras que se chocam, relacionando-se.
Com a participação na gestão das finanças públicas, a sociedade adquire um poderoso
mecanismo de cooperação, atentando e pressionando a Administração Pública para a
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
29
adoção de medidas de interesse público, exercendo e exigindo, ao mesmo tempo, o
controle, a formulação de políticas públicas e a prestação de contas do gestor público.
(CONTROLADORIA, 2011)
Como já posto em destaque, no Brasil, os sistemas de controles existentes são
auxiliados por órgãos que compõem a Administração Pública, atuando, aqueles, na
prevenção, controle, investigação e repressão à corrupção10.
A extensão territorial do País é vasta, dividida em seus entes federativos,
principalmente no que se refere aos Municípios, pois presentes em números; por isso,
apesar da existência do controle realizado pelos órgãos, faz-se importante a participação
popular, por intermédio do controle social, contribuindo na aplicação dos recursos
públicos.
4.2 Exercício do Controle Social
Para o efetivo exercício do controle social existem mecanismos que se
conectam tanto ao planejamento como à execução das ações do Governo. São eles: 1.
controle social do planejamento orçamentário; 2. controle social da execução das
despesas públicas (CONTROLADORIA, 2008, p. 18).
10
É o caso do Ministério Público Federal, dos Ministérios Públicos Estaduais, Tribunal de
Contas da União, Tribunal de Contas dos Estados, Tribunal de Contas dos Municípios, as Controladorias dos Estados, a Polícia Federal, as Polícias Estaduais, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, entre muitos
outros.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
30
O primeiro, controle social do planejamento orçamentário, traduz-se nos
instrumentos de planejamento das políticas públicas, definidos na Constituição Federal,
quais sejam, PPA, LDO e LOA.
Na elaboração de cada um desses instrumentos a que o Estado faz uso, a
sociedade pode e deve participar, seja na fase de elaboração, como também no processo
de apreciação e votação em cada Casa do Congresso Nacional.
Já o segundo mecanismo de exercício do controle social, execução das
despesas públicas, abrange o momento posterior às formalidades procedimentais das
ferramentas orçamentárias, onde as despesas serão efetuadas.
E é na fase de realização das despesas públicas que deve haver um intenso
controle da população, em harmonia com as regras dispostas pelo ordenamento jurídico
(Lei das Finanças Públicas, Lei das Licitações e Lei de Responsabilidade Fiscal), para
garantir a aplicação do dinheiro público em seu destino final, de interesse público,
anteriormente previsto pelos instrumentos de planejamento orçamentário.11
4.3 Formas de Exercício do Controle Social
11
Quanto as referidas leis: Finanças Públicas – Lei nº 4.320/64; Licitações – Leiº 8.666/93 e
Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar nº 101/2000.
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31
A sociedade civil deve estar capacitada para exercer o controle das contas
públicas, com respaldo normativo e espaços para facilitar a participação dos cidadãos na
gestão do erário público.
Nesse diapasão, é essencial a educação política da população, assim como a
transparência e a informação, o que, até certo ponto, vem sendo implementado através
do uso da tecnologia, como é o caso do sítio eletrônico “Portal da Transparência”,
instituído pelo Decreto nº 5.482, de 30 de junho de 2005, com o objetivo de facilitar o
acompanhamento e destino do dinheiro público, e o Sistema Integrado de Administração
Financeira do Governo Federal – SIAFI, implementado no ano de 1987 e desenvolvido
pela Secretaria do Tesouro Nacional, cuja principal finalidade é o controle e
acompanhamento dos recursos da União, ambos por meio dos recursos eletrônicos
existentes, como a internet.
Posto isso, “O controle social pode ser exercido pelos conselhos de políticas
públicas ou diretamente pelos cidadãos, individualmente ou de forma organizada.”
(CONTROLADORIA, 2008, p. 21)
Quanto aos conselhos gestores de políticas públicas, a própria legislação
pátria traz sua existência, com atuação em todo o território Nacional ou restrito aos
Estados e Municípios, e resumem-se em espaços públicos disponibilizados aos cidadãos,
presentes no governo federal, estadual e municipal, e que proporcionam o diálogo entre
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
32
sociedade e Estado, assumindo as funções de fiscalização, mobilização, deliberação ou
consultoria. (CONTROLADORIA, 2008)
Essa aproximação entre sociedade civil e Governo é condição essencial, pois
diante do Estado Federal que recepcionamos, com a presença da descentralização, tal
ação facilita e garante o repasse de recursos do âmbito Federal para os Estados e
Municípios.
Independente da participação em um dos conselhos existentes, cada
indivíduo, enquanto cidadão, pode fiscalizar as contas públicas, seja de forma isolada ou
em parceria com entidades ou organizações civis.
“Cada um desses atores sociais pode, por exemplo, verificar se o
município, o Estado e a União realizaram, na prática, as obras das escolas conforme
previsto ou se os valores das notas fiscais e valores das compras e obras realizadas
são compatíveis com os preços de mercado”. (CONTROLADORIA, 2008, p. 24)
4.4 Compreendendo a Accountability
Sem correspondência exata em nosso vernáculo e com significativa
dificuldade em conhecer o termo e sua essência de desenvolvimento por parte das
poucas bibliografias nacionais que tratam o tema com maestria – e também por sua
insuficiência nos costumes da política brasileira – accountability tem origem anglo-saxã e
vem sendo apreciada como matéria relacionada à transparência dos atos públicos,
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
33
implicando em princípios, tais como a moralidade e a probidade. (ARRUDA NETO, 2010, p.
232-233)
A accountability é um atributo inerente ao Estado e peça fundamental para
qualquer sistema político democrático, onde a sociedade cidadã, ou um indivíduo, possui
o direito e o dever de conhecer os passos dados em seu nome pelo Poder Público,
devendo funcionar como um mecanismo hábil no combate de desvio de conduta da
gestão pública (SHAH, 2007, p. 15).
Como definição, accountability é uma obrigação de prestação de contas e de
responsabilidades por parte daqueles que governam, motivando condições de confiança
entre sociedade e governo (LEVY, 1999, p. 390).
Na literatura de Schedler (1999, p. 16), accountability pressupõe um poder
soberano que não deve ser eliminado, mas controlado por mecanismos que refletem
sanções àqueles que violem as regras envolvendo a gestão dos recursos públicos.
Arruda Neto (2010, p. 235), citando Amitai Etzioni demonstra a concepção do
termo conforme as seguintes maneiras: uma política que reflete as forças do sistema;
“checks and balances” como instrumento de regulação da função e dinâmica estatal; o
diálogo entre a comunidade política e a social sobre o alcance de resultados e objetivos.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
34
Guillermo O’Donnell (2000) inaugurou as expressões “accountability
horizontal”, “accountability vertical eleitoral” e “accountability societal vertical”,
estabelecendo distinções.
Para o autor, accountability horizontal consiste na existência de órgãos ou
agências do Estado
“que têm autoridade legal e estão realmente dispostas e capacitadas a
empreenderem ações que vão desde o controle rotineiro até sanções legais, ou
inclusive impeachment em relação a atos e/ou omissões de outros agentes ou
agências do Estado que podem, em princípio ou presumidamente, ser qualificados
como ilícitas”. (O’DONNELL, 2000, p. 1)
Seria, pois, sinonímia de checks and balances, onde o Estado se vale de seu
poder e capacidade para combater os atos ilegais emanados da própria figura estatal,
traduzida nos órgãos e agentes públicos.
A accountability vertical eleitoral abarca a existência da democracia, traduzida
na forma de escolha dos representantes do povo, ou seja, a eleição como mecanismo que
a sociedade dispõe para exercer o controle social e a prestação de contas, caracterizado
pela sua periodicidade, onde, a cada novo mandato, permite à população a avaliação e
julgamento dos agentes públicos.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
35
Já a accountability societal vertical está ligada às formas de liberdade do
indivíduo e da coletividade, dentre elas a de expressão e a de associação, permitindo a
participação e fiscalização popular nos assuntos políticos de interesse público, assim
como a liberdade dos meios de comunicação, que também devem participar desse
objetivo, divulgando, denunciando e investigando o andamento dos atos da
Administração Pública que impliquem em desvios de natureza ética e da gestão pública.
Como mecanismos de accountability, Arruda Neto (2010, p. 231-232) elenca o
controle e “a fiscalização de violações legais por parte de autoridades e agências
públicas”, bem como “as noções relativas ao monitoramento e a sanção de ações (ou
omissões) políticas, que não necessariamente envolvem o cometimento de delitos ou
infrações legais, envolvendo aí um juízo próprio de tipicidade das condutas”.
Anna Maria Campos (1990), em homenagem ao Estado Democrático e Social
de Direito, se voltou para similar raciocínio quanto ao desenvolvimento de planejamentos
e mecanismos de exercício da accountability, acrescentando a participação política da
população na dinâmica estatal, a prestação de contas daquele que administra a res
pública e práticas que garantam a transparência e o controle governamental.
A autora também se preocupou em questionar o campo prático do Brasil em
receber a accountability, já que as origens desse termo são de raízes oriundas de uma
estabilidade burocrática da Administração Pública, diferentemente da instituída em nosso
país.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
36
Apesar da dificuldade do cenário brasileiro em trazer a lume o conceito exato,
prejudicando o próprio desenvolvimento do tema, encontramos equivalência da
accountability com o Princípio da Transparência (contido da LRF no que se refere à Gestão
Fiscal), dimensionado na regência da Administração Pública e consequentemente do
orçamento público, inclusive apreciado por nossa Suprema Corte como “Princípio da
Accountability”.12 12
Pode-se considerar, a partir de uma análise minuciosa dos conceitos
apresentados em cada bibliografia sobre o assunto, que a accountability é atributo
inerente à sociedade e ao Estado, devendo este se municiar de mecanismos formais e
institucionalizados para proporcionar transparência na gestão fiscal, conquanto a
sociedade deva se valer deles para fiscalizar e pressionar, ou seja, é o próprio sinônimo do
controle social, que é instrumento da sociedade civil. Sendo assim, há nítida similitude
entre ambos os institutos, já que pressupõem atuação conjunta entre Estado e
Sociedade.
Sob a base da democracia representativa, Ferejohn (1999, p. 148) desenvolve
entendimento sobre a importância da população estar disposta a investir e se interessar
nos procedimentos de participação social, provocando o governo para as medidas de
interesse social, afinal os cidadãos devem ser os maiores interessados, pois usuários dos
12
Em algumas oportunidades jurisprudenciais, o Supremo Tribunal Federal – STF apreciou a
matéria. Vide Mandado de Segurança n. 25.181-6, Ementário nº 2237-1, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 16/06.2006.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
37
serviços públicos e destinatários das políticas públicas, além de contribuírem na
arrecadação tributária. E esse comportamento pode ser suportado tanto para o controle
social, quanto para a accountability, razão pela qual, quanto a este ponto, ambas se
igualam.
5. CONTROLE SOCIAL E ACCOUNTABILITY NO ORÇAMENTO
PÚBLICO
A partir da mencionada tipologia de maior influência, adotada por O'Donnell
(2000), onde o autor “distribuiu” o conceito de accountability nas expressões vertical e
horizontal, com suas derivações; acreditamos na importância da classificação feita como
accountability vertical, em seu sentido eleitoral e principalmente societal, para reforçar o
controle da sociedade sobre as dotações públicas.
É importante observar que o momento eleitoral que ocorre, no caso do Brasil,
de quatro em quatro anos, não é o bastante para superar as expectativas de
endereçamento dos recursos às necessidades e interesse público, isso porque,
comprovadamente, não se pode garantir a eficiência do desempenho político-
administrativo do governante, assim como também não se pode afirmar que os eleitores
confiam seus votos em candidatos portadores de uma boa avaliação ao longo de suas
vidas políticas. (VALENTE, 2004, p.125)
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
38
Diante dessa compreensão, a accountability societal vertical é mais palpável e
consistente, e deve ser trabalhada conjuntamente com a eleitoral, empregando esforço
mútuo. Para tanto, é importante um gesticulado e grandioso avanço na democracia do
País que exerce o controle, conforme Spink verbaliza: “Uma comunidade forte gera uma
democracia forte” (2003, p. 8).
Nessa linha, o controle social e a intensidade da democracia contribuem para
o interesse e desenvolvimento de mecanismos de controle desempenhados pela
participação da sociedade para com a gestão financeira e orçamentária do Estado,
valendo-se de instrumentos, tais como os conselhos ou mesmo os sindicatos e
associações, dentre inúmeros outros existentes ou que possam vir a se constituir; como
forma de constranger o Poder Público a realizar função voltada aos interesses dos
cidadãos, com ética e transparência, afinal o poder é também emanado do povo e deve
ser por ele exercido.
A accountability, conforme conceitos trazidos, é atributo da figura estatal e
nos remete à disponibilização de informações nas quais a Administração Pública deve
estar comprometida em fornecê-las, ou seja, é a transparência dos gastos públicos que
permite a conscientização da população e fomenta a utilização do controle social,
cultivando a colaboração e empenho entre poder público e sociedade.
Com isso, a importância de tais mecanismos para o orçamento público é mais
do que relevante, considerando a alocação e emprego dos recursos públicos, pois é com
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
39
aqueles que a sociedade civil cria oportunidades de apontar as suas necessidades e
preferências, buscando garantir uma satisfação coletiva.
O orçamento é o documento mais importante que cada governo tem em
mãos, sendo o meio pelo qual as políticas públicas são harmonizadas e concretizadas,
devendo respeito à transparência orçamentária, “definida como a completa
demonstração de todas as informações fiscais relevantes, de modo oportuno e
sistemático”. (ORGANIZAÇÃO, 2001, p.3)
Oportunamente, a LRF dedicou seu capítulo IX ao controle e fiscalização das
contas públicas, e, no art. 48, destaca os instrumentos de transparência da gestão fiscal,
que serão amplamente divulgados, sendo eles:
os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações
de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução
Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses
documentos.
A transparência é um dever, e não uma faculdade dos agentes públicos, que
permite à sociedade uma aproximação da gestão pública. Nesse sentido, as vantagens
que podem advir desse conjunto:
“Ganhos econômicos representados sobretudo pelo expressivo volume
de recursos que o controle social pode tomar à corrupção, ganhos sociais obtidos
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
40
com a elevação da qualidade dos serviços prestados pelo poder público e a melhora
de indicadores como aqueles ligados à saúde e à educação, e, finalmente, ganhos
culturais resultantes do enraizamento de valores especialmente diletos à cidadania,
como a responsabilidade diante da res pública e a solução comunitária de desafios
que afetam a condição de vida de todos – inclusive das gerações futuras”. (OLIVEIRA,
2002, p. 145).
A existência de leis e formalidades não são atributos suficientes para a
instauração da transparência dos atos e contas públicas. Há a necessidade de uma
sociedade capacitada e com interesses em controlar os passos do Poder Público. Uma
sociedade preocupada com a agenda da administração pública; fiscalizando-a,
monitorando-a, questionando-a e exigindo sua prestação de contas (FERREIRA, 2006, p.
23).
Com o exercício mútuo do controle social e da accountability, enquanto
termos que se complementam, a integração dos instrumentos e mecanismos que
compõem esse universo, quando aplicadas ao orçamento público, submete as contas da
administração pública a uma fiscalização cotidiana, revestida de uma linguagem de fácil
compreensão, e não mais a cada ano e com linguagem técnica, “ampliando cada vez mais
o número de controladores” (OLIVEIRA, 2002, p. 146).
Conforme Campos (1990, p. 31) explica, em estudo realizado há cerca de 20
anos atrás, a maior dificuldade do cenário brasileiro é o obstáculo do distanciamento que
encontramos entre os governantes e os governados, atrasando o aproveitamento de
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
41
ferramentas como o controle social e principalmente a accountability, já que termo
internacional e sem tradução exata em nossa cultura.
A preocupação do estudo que compreende o envolvimento da sociedade com
a formação e destinação dos recursos no orçamento público já se tornou uma inquietação
global, com aplicações em diversos países. Um exemplo de movimento de proporção
mundial é a International Budget Partnership, que visa conscientizar a importância das
sociedades civis na participação e desenvolvimento das políticas públicas, utilizando o
orçamento como ferramenta de transparência e eficácia governamental, bem como no
combate à pobreza.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O maior obstáculo da nação brasileira é ultrapassar a barreira de sua
educação e cultura, concebendo métodos que influenciem o cotidiano político e o
desenvolvimento público.
A sociedade é a pedra fundamental para o crescimento político-econômico do
país, na medida em que contribui para as receitas e enquanto destinatária das políticas
públicas, ou seja, é dever do Estado atuar em prol do interesse da coletividade, que
escolhe por vias democráticas os seus representantes.
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
42
Para tanto, os cidadãos precisam conscientizar-se a atuarem em parceria com
a Administração Pública, reconhecendo sua força perante a definição e elaboração
orçamentária, exigindo transparência e a destinação correta dos recursos públicos, isto é,
uma gestão fiscal eficiente em benefício dos maiores interessados: o povo.
Encontramos no controle social e na accountability instrumentos que, na
teoria, retiram do Estado o poder absoluto, repassando-o para a sociedade como uma
forma de atender os anseios da população e não apenas o interesse político e sua visão
de negócios, fruto de disputas entre partidos em busca de poder e vultosas quantias.
São modelos teóricos que se desenvolvem na prática em outros países, mas
também teriam capacidade de desencadear uma reforma no Brasil, desde que aliado ao
anseio da sociedade civil, pois dependente da vontade da coletividade em reconhecer o
seu próprio poder, visto que também são compatíveis com o sistema normativo vigente,
onde dispositivos constitucionais e infraconstitucionais, tal como a Lei de
Responsabilidade Fiscal, consagram o poder-dever dos agentes públicos e as sanções
aplicáveis pelo descumprimento, sob a restrição de que no poder público só se autoriza a
realização de determinados atos se a lei assim os permitir.
Enfim, a atividade financeira do Estado é a incumbência que o Estado tem de
administrar as finanças públicas, atendendo às necessidades da população de maneira
democrática, transparente e eficiente, através de seus gestores, regulada por um
IV Congresso Anual da Associação Mineira de Direito e Economia
43
conjunto de normas e princípios que formam um verdadeiro ciclo, pelas suas integrações
e previsões periódicas.
Desta forma, o orçamento público, compreendido pelo PPA, pela LDO e LOA, é
ferramenta de planejamento do administrador público e é o meio pelo qual, com base
nas despesas, se concretiza a aplicação das receitas.
Para que seja garantida a destinação dessas receitas, é preciso que a
sociedade acompanhe, participando da elaboração orçamentária, cobrando do governo o
estabelecimento de metas prioritárias, e fiscalize o gerenciamento dos recursos públicos.
Contudo, não basta uma reinvenção democrática do Estado, é preciso que a
sociedade civil se reestruture com base nos mecanismos políticos e participativos,
tornando-se apta ao pleno exercício do controle social.
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