O Outro Lado Da Vanguarda

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    O OUTRO LADO DA VANGUARDA

    Msica na URSS e bloco de Leste no sc. XX

    Simbolistas ......................................................................................................2

    As Vanguardas Russas ....................................................................................4

    Cubo-Futurismo, microcromatismos e dodecafonismos .............................4

    Msica de Mquina os construtivismos................................................6

    Arte e ideologia............................................................................................7

    ARSSIA DE ESTALINE ....................................................................................... 8

    A Rssia de Schostakovitch............................................................................. 9

    Lady macbeth de Minsk.............................................................................10

    Congresso dos Compositores Soviticos de 1948.....................................11

    Realismo socialista musical .......................................................................12

    Outros......................................................................................................... 13

    Galina Ustwolskaja ....................................................................................14

    Edison Denisov ..........................................................................................15Depois de Estaline ........................................................................................ 16

    A abertura de Krutchov.............................................................................. 17

    Brejneff ......................................................................................................17

    AS NOVAS GERAES ....................................................................................... 17

    Sofia Gubaidulina .........................................................................................18

    Alfred Schnitke ..............................................................................................18 Peteris Vasks SLIDE 26 ................................................................................19

    Neo-Expressionismo Russo?.........................................................................21

    VANGUARDA A OESTE E LESTE .........................................................................22

    BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................25

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    Rssia nos confins da modernidade e do sc. XX

    01 RACHMANINOF

    SIMBOLISTAS

    SLIDE 2 Sabemos que a Rssia viveu a passagem do sc. XIX para o XX, em

    termos musicais, marcada por diversos factores importantes.

    Clique

    1. Desde logo a msica de influncia Europeia, simbolizada de alguma

    forma pela figura de Tschaikovsky de influncia germnica. Esta

    influncia germnica tambm patente nos Conservatrios atravs dos

    mltiplos professores de origem Alem dos mais diversos instrumentos

    (piano, sopros, direco, violoncelo, etc.).

    2. A vertente de msica Russa de Moussorsky, Rimsky-Korsakov, etc.

    onde as tcnicas Europeias eram temperadas e preenchidas pelo colorido,pelas infra-estruturas, pelas escalas, pela sensibilidade eslava.

    Estas duas vertentes iro marcar de forma indelvel a msica Russa do sc. XX,

    atravs de um misticismo religioso muito prprio, originrio na

    especificidade da religio crist ortodoxa e que se mescla com a prpria

    cultura eslava. Este misticismo est presente em quase todos os

    compositores Russos.

    atravs da aproximao cultura do povo Russo, gritada efusivamente nas

    composies oficiais do regime da URSS e, de forma estilizada, tambm

    na msica independente. Esta influncia revela-se no uso de ritmos,

    escalas, melodias populares, mas tambm em ideias fixas e smbolos

    prprios da cultura Russa: a estepe, a cultura rural dos mujiques, a sub-

    cultura judaico-Russa, a sub-cultura crist-ortodoxa, o misticismo

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    popular, um certo existencialismo Dostoievsky, a ideia de nao Russa,

    etc. E, por outro lado, uma esttica positiva, popular/proletria, onde o

    povo Russo e a sua classe mais avanada o proletariado representado

    pelo Partido Comunista so idealizados e tornados heris.

    CLIQUE

    atravs da mquina, smbolo da modernidade e do futuro, presente tanto

    nas manifestaes musicais oficiais (nos ttulos, na temtica, mesmo na

    estrutura), como tambm sob a forma de um modernismo mais ou menos

    prximo da experincia dodecafnics. Ambos de forte influncia Europeia

    de Hindemith ou Honegger a Schnberg.

    Na viragem do sc. XIX para o XX marcante a influncia simbolista, de forte

    direco Wagneriana e com um especial interesse na fuso das artes e da

    Gesamtkuunstwerk SLIDE 3 O Ring de Richard Wagner tinha sido dado a

    conhecer em 1902 em Moscovo. Em torno a um grupo de artistas e intelectuaisSLIDE 4 (Briussow, Baltrusaitis, Andrei Bely, Merechkovsky) encontramos o mais criativo

    dos compositores da poca, Alexander Scriabin. SLIDE 5 Scriabin e as suas

    ideias msticas, harmnicas, prximas do simbolismo Francs mas tambm do

    expressionismo musical de Schnberg, iro marcar a nova msica Russa ao

    longo das duas primeiras dcadas do novo sculo. 02 Scriabin

    Aps 1907 aparece um grupo de msicos mais jovens reunidos em Moscovo emredor de uma Sociedade para um Esttica Livre criada pelo poeta simbolista

    Briussow: SLIDE 6 Serguey Wassilenko (tambm muito importante na

    interpretao de msica antiga); Nicolai Medtner (pianista vistuoso); Emili

    Medtner (crtico musical) Alexander Goericke (conhecido professor do

    Conservatrio); Konstantin Igumnow (pianista); etc. Musicaram textos de Edgar

    Poe, Oscar Wilde, Maeternink, Bcklin, na senda do simbolismo do crculo deMallarm. Entre as inovaes deste grupo ainda marcadamente romntico

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    destacam-se obras de Vladimir Rebikow com declamao rtmica e poesia

    meldica, e as produes de Mikail Gnessin leituras musicais onde a

    declamao do texto se encontrava prxima do Sprechgesang que Schnberg

    usou em 1913.

    AS VANGUARDAS RUSSAS

    CUBO -F UTURISMO, MICROCROMATISMOS E DODECAFONISMOS

    Mas na segunda dcada do sc. XX iria aparecer um gerao de compositores

    que se distanciaria do simbolismo romntico e ps-romntico de Scriabin.Prximos dos modernismos latentes na Europa (Marineti visitou a Rssia em

    1914) e das vanguardas socio-artsticas da Agitprop, considerados mais tarde

    como a ala esquerda da arte Sovitica, iriam protagonizar inovaes sem

    dvida inusitadas para a poca: SLIDE 7

    Mikail Matiuschin, de S. Petersburgo,salientou-se pelas suas ideias cubo-

    futuristas pera experimental Vitria sobre o sol de 1913)

    Jefim Golyscheff, ucraniano, fazia em 1914 msica de 12 sons; esteve

    mais tarde ligado ao movimento Dada de Berlim performances em

    1919 ; tambm artista plstico (j na Rssia), esteve no Brasil depois da

    Guerra, vindo a morrer em Paris em 1970 )

    Nicolai Obuchov, de S. Petersburgo interessou-se por uma harmonia

    dodecafnica, e foi, segundo Wychnegradsky, o absoluto inventor do

    sistema de 12 sons temperados equilibradamente;

    Roslawetz, de Moscovo torna-se a partir de 1913 compositor atonal,

    compomdo a partir de uma harmonia sinttica;

    Ivan Wychnegradsky esteve ligado ao ultra-cromatismo;

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    Arthur Louri, de S. Petersburgo, trabalhou com 12 sons e tambm esteve

    ligado ao ultra-cromatismo.

    Os contactos desta gerao com a msica da Europa central, particularmente

    com Berlim, eram intensos, no s atravs de mltiplas execues de obras

    contemporneas na Rssia (Honneger, Alban Berg, Milhaud, Hindemith,

    Schnberg) como pelo intercmbio entre compositores (visitas mtuas a Berlim

    e Moscovo). 03 Lourie

    Em 1922, numa casa de Berlim de Richard Stein, reuniram-se compositores que

    se dedicavam ento ao ultra-cromatismo. Neste encontro estiveram presentes

    Wychnegradsky, Louri, assim como Jrg Mager, Willi Mllendorf e o checo

    Aloys Haba.

    Mas esta vanguarda Russa rapidamente se dissolveu por fora da emigrao dos

    seus protagonistas:

    Obuchov e Golyscheff emigraram em 1919;

    Wychnegradsky no regressou Rssia depois de sair em 1920;

    Louri saiu em 1922. 04 Lourie 2

    05 Roslawetz

    Roslawetz, em 1923, d a sua opinio sobre a premire do Pierrot Lunaire em

    Moscovo, num texto deveras interessante: SLIDE 8

    A imagem de Pierrot, como se apresenta na msica de Schnberg, jno tem nada a ver com o Pierrot espirituoso e lunar, onde os leves

    suspiros so quebrados pelo mundo sonoro de Debussy. o Pierrot

    de ao e beto, um filho da cidade moderna, industrial e gigantesca,

    um Pierrot ainda no conhecido da Humanidade, em cujos suspiros se

    misturam os rudos percutidos do metal, os fogo dos motores e o

    ulular das bombas1

    1

    Lunny Pjero Arnolda Schenberga, in K nowymm beregam nr3, 1923, pgina 32. Citado em Berlin/Moscow,1900-1950, Antonowa, Irina, Merkert, Jrn (herausgeber), Prestal, Mnchen, 1995.

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    MSICA DE MQUINA OS CONSTRUTIVISMOS

    Aparece neste texto um novo paradigma da cultura Russa do incio do sc. XX:

    a mquina. Aproximando-se dos constructivistas/realistas Russos (Malevitch, El

    Lissitzky, Alexander Rodchenko), SLIDE 9 e tambm das ideias da Bauhaus

    Alem, (no esquecer a participao na Bauhaus de Paul Hindemith e Hans

    Eisler), este novo paradigma d origem a uma msica de carcter spero, usando

    por vezes sons prximos dos intonarumori de Luigi Russolo, imitando o

    movimento mecnico, ritmado e austero dos novos paradigmas sociais (a cidade,

    a indstria, o automvel).

    Esta msica insere-se plenamente no iderio de uma cultura avanada, moderna,

    socialmente interveniente, prxima do iderio revolucionrio do Partido

    Comunista recm ascendido ao poder, tanto como organizao internacionalista

    como enquanto vanguarda do proletariado dos povos da Rssia.

    SLIDE 10Alexander Mossolov , talvez, o mais dinmico destes compositores. Mas esta

    esttica influenciou outros compositores como Vladimir Deschevov (pera Gelo

    e ao) e tambm os mais conhecidos Prokofieff ( Le pas dacier) e

    Schostakovitch. Alis, a msica sovitica tal como se viria a definir nos anos

    seguintes, muito deve a este , transformado depois

    num realismo socialista de carcter utilitrio, apologtico, exibindo modelossimplificados mais ao servio de paradas militares do que metfora de uma

    qualquer sociedade moderna. A obra Fundio de Ao, do balletAo de 1927,

    um exemplo desta outra vanguarda. 06 Mossolov

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    ARTE E IDEOLOGIA

    SLIDE 1107 Mossolov 2

    A arte (na sociedade socialista) no ir sentir falta de quaisquer

    exploses de energia colectiva, energia nervosa, e daquelas correntes

    energticas que impulsionam novas tendncias estticas e

    transformaes nos estilos. Sero em redor de escolas estticas que

    se formaro campos, isto , associaes de temperamentos, de

    gostos e de ideias. Numa luta assim imparcial e emotiva, que ter

    lugar numa cultura agora ainda em formao, a personalidade

    humana, com a sua imensa e bsica tendncia para o

    descontentamento, ir desenvolver e ficar mais delicada a todos os

    nveis. Na verdade, no temos razo para temer que haja um declnio

    da individualidade ou um empobrecimento da arte numa sociedade

    socialista. (TrotskyPoltica Comunista para a Arte 1923)

    Na Rssia dos anos 20, as duas mais notrias correntes musicais apareciam

    ligadas a 2 grupos socio-profissionais altamente politizados, representando de

    maneira clara duas correntes fundamentais do envolvimento da arte e da

    poltica:

    a A.S.M. (Associao da Msica Moderna) defendendo uma msica de

    vanguarda com uma forte componente de Agitprop (agitao poltica e

    propaganda), onde se encontram as vanguardas da musica ex maquina.

    a R.A.P.M. (Associao dos Msicos Proletrios), defendendo uma

    msica que fosse ao encontro das linguagens compreendidas pelo

    proletariado e assim servisse os interesses de classe.

    A luta entre estes dois grupos foi intensa, aproveitando-se de uma forte abertura

    a nvel econmico da chamada Nova Poltica Econmica, estabelecida por

    Lenine em 1921. O relanamento da economia contrabalanou a Guerra Civil, a

    fome e pobreza crescentes e as lutas internas no partido, servindo ainda como

    uma primeira Glasnostem termos culturais. 08 Miaskovsky

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    Mas esta abertura foi rapidamente ultrapassada pela tomada de poder de

    Estaline. Secretrio Geral do Partido em substituio de Lenine j em 1922, ir

    protagonizar uma luta e discusso interna no partido entre 1924 (ano da morte

    de Lenine) e 1927. O seu maior antagonista foi, como sabemos, Leon Trotsky,expulso em 1927 e depois exilado e assassinado por elementos da polcia

    poltica.

    A partir de 1927, ntida a evoluo anti-vanguardista na arte Russa, sendo

    fortemente reprimido qualquer veia de modernidade nos anos do Estalinismo.

    Em 1929 o nome Roslawetz banido da cultura musical sovitica e o

    compositor deportado para o Uzbequisto.

    A Rssia de Estaline

    SLIDE 12

    A Rssia de Estaline deu-se a conhecer atravs de uma srie de aces

    conducentes a um regime de culto da personalidade, fortemente autoritrio e

    repressivo. Algumas questes so relevantes:

    a represso mortfera das revoltas camponesas desde os anos 20,

    o assassnio de dissidentes e de opositores internos na conquista do poder, particularmente a partir de

    1928, e dos Processos de Moscovo (1936/39), onde os antigos Bolcheviks so liquidados,

    a assuno do socialismo num s pas contrrio ao tradicional internacionalismo socialista

    sovitico,

    o Pacto Germano-Sovitico de 1939, deixando o movimento comunista internacional de alguma forma

    orfo,

    A invaso da URSS pela Alemanha Nazi e a entrada da URSS na II Guerra Mundial (depois vitoriosa

    juntamente com os Aliados),

    o exlio interno de aldeias e povos inteiros, quer devido ao pretenso apoio aos alemes que por motivos

    de ordem interna,

    o terror e a represso (sistemtica, por vezes at aleatria) no s contra qualquer dissidncia como at

    contra algum que mantivesse alguma proximidade (fsica, familiar, relao de trabalho) com

    opositores internos, at concorrentes a cargos partidrios a diversos nveis cados em desgraa.

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    O regime de Estaline foi um regime de terror, somente reconhecido com o seu

    sucessor Krutchev (em 1956, 3 anos aps a sua morte). Temos hoje a noo de

    que um nmero indeterminado de pessoas, prximo dos 20 milhes, morreram

    vtimas da polcia interna.

    A URSS de Estaline foi tambm um dos pases mais fortemente penalizados

    pela Alemanha Nazi: Hitler quebrou o famoso pacto Germano Sovitico e

    invadiu a URSS. Mas tambm foi um pas vencedor aps a II Guerra. Foram os

    exrcitos soviticos a libertar Berlim e grande parte do espao Germano-Nazi

    em 1945. Estaline, o carrasco do povo, foi tambm visto como o salvador da

    ptria e como o promotor da moderna URSS, forte industrial e militarmente,

    verdadeiro polo de atraco em termos da geo-poltica mundial e dos povos e

    sociedades oprimidos.

    A RSSIA DE SCHOSTAKOVITCH

    No tempo de Estaline a atitude primeira da nomenclatura cultural foi recuperar

    os velhos escritores, figuras histricas e compositores da histria Russa,

    adornando-os de contornos soviticos passveis de uma leitura materialista.

    Foram recuperados Tchaikovsky, Rimsky-Korsacov e Moussorsky dentro de

    leituras actuais. E de facto a msica do Romantismo Russo continha

    elementos chave para uma compreenso neo-realista socialista:

    uma atitude de forte grandiosidade, expressividade e eloquncia no

    discurso,

    uma grande influncia da msica popular da grande Rssia,

    a assuno de modelos formais clssicos claramente testados.

    Apresentava-se a msica do passado com uma leitura actual, fornecendo um

    modelo esttico, propondo-o aos contemporneos como exemplo. Era, enfim,

    uma msica que no levantava qualquer tipo de questo no controlvel, era

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    amplamente compreendida e aceite pelo apparatchnike por um proletariado sem

    qualquer inteno de evoluo cultural.

    SLIDE 13

    O compositor mais notrio nesta poca e que viria a viver paralelamente ao

    regime sovitico Schostakovitch. Mais novo que Miaskovsky e Prokofiev,

    assistiu-se nos ltimos anos a um debate internacional (mais no espao anglo-

    saxnico) sobre a sua personalidade, a sua ligao ao regime, o seu interesse

    musical. Schostakovitch visto como:

    um dissidente encoberto ou um homem de mo do regime; um compositor de obras de grande sentido crtico ao regime sovitico

    presente em smbolos encriptados na prpria msica ou um

    representante do mais decadente neo-realismo socialista;

    um heri ou um fraco.

    Schostakovitch foi, sem dvida, um compositor apresentado como heri do

    regime sovitico, SLIDE 14 do regime estalinista, embora tenha entrado

    mltiplas vezes em choque com esse regime. Foi acusado de formalista, ou seja,

    de integrar elementos prprios de um discurso musical fugindo aos modelos,

    mais difcil de ser compreendido pelas massas populares, alienando o povo,

    fazendo o jogo da burguesia internacional, dos inimigos externos da URSS. 09

    Age of gold

    LADY MACBETH DE MZENSK

    SLIDE 15

    A pera Lady Macbeth de Mzensk teve um acolhimento ptimo e foi

    representada mais de 100 vezes a partir da sua estreia em 1934 no Teatro Maly

    de Leningrado. Em 1936, foi visitada por Estaline e Andrei Zdanov. Estaline

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    no bateu palmas e o pblico ficou atnito. Segundo se conta, Estaline disse que

    Isto caos, no msica. Em breve um artigo do Pravda daria o mote:E tudo isto spero, primitivo e vulgar. A msica geme e

    murmura, arfa e fica sem respirao para que as cenas de amorsejam representadas o mais naturalista possvel. E o amor em

    toda a pera apresentado da forma mais vulgar (...) O compositor

    de Lady Macbeth de Minsk devia retirar a msica nervosa,

    contrada, epilptica do Jazz para dar paixo aos seus heris.(...)

    Desde o primeiro minuto desta pera o ouvinte fica atordoado

    com o fluxo desarmnico e catico de sons (...) O compositor

    claramente no se deu ao trabalho de oferecer ao ouvinte o que o

    pblico de pera sovitico espera.(...) Tendo escrito

    conscientemente a sua msica com os sons ao acaso, pensou que

    seria somente para o gozo de estetas e formalistas cujo bom

    gosto esteja j h muito perdido. (Caos em vez de Msica,

    Pravda, 28 Janeiro 1936)

    Formalista e cosmopolita eram graves acusaes na URSS de Estaline.Schostakovitch

    claramente no se deu ao trabalho de oferecer ao ouvinte o que o

    pblico de pera sovitico espera.O moralismo sexual

    provinciano, o dio msica estrangeira (em especial ao jazz americano que

    Shostakovitch muito cultivou), SLIDE 16 a averso a sons menos usuais, a no

    aceitao do inesperado em termos estticos, so paradigmas do

    conservadorismo tpico Estalinista, emulados na China da Revoluo cultural e

    at nos dias de hoje, pela Coreia do Norte.

    CONGRESSO DOS COMPOSITORES SOVITICOS DE 1948

    No Congresso dos Compositores Soviticos de 1948, o novo chefe do

    aparelho musical estatal o compositor Tichon Nikolaiewich Chrennikow (n.

    1913) chefiou o combate s dissidncias estticas, passando formalista e

    cosmopolita a serem sinnimos de inimigo do povo. Schostakovitch, juntamente com outros compositores, foi acusado de formalista e teve que se

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    retratar. No nos podemos esquecer que, no regime estalinista, a mera suspeita

    de dissidncia era equivalente a crime, punvel com a deportao e a morte.

    Chrennikow veio a controlar a cpula estatal dos compositores da URSS durante

    mais de 40 anos. SLIDE 17

    Schostakovitch, segundo testemunhos, escapou s perseguies por diversas

    vezes, algumas por mero factor sorte: o seu indigitado inquiridor da polcia

    interna foi preso por rivais dentro do aparelho e, mais tarde, assassinado. Por

    outro lado, Schostakovitch, assim como muitos compositores no regime,

    conseguiu ir ao encontro das necessidades musicais desse mesmo regime, no

    abdicando, noutras obras (de cmara, privadas), da sua prpria expressividade.

    o caso, por exemplo, desteprefcio, de 1966. 10 prefacio

    . clique

    Meto-me a gatafunhar, de repente, sobre o papel; ouo, ento,

    assobios e o meus ouvido no se sente chocado, embora ande a

    torturar os ouvidos do mundo inteiro. Depois imprimo o que escrevi e

    esqueo-o para sempre. Este um Prefcio que poderia ser escrito

    no s s minhas obras completas mas tambm s obras completas

    de muitos outros compositores, soviticos e estrangeiros. E eis a

    assinatura : Dmitri Shostakovitch, Artista do povo da Unio das

    Repblicas Socialistas Soviticas, seguido de numerosos outros

    ttulos honorficos: Primeiro Secretrio, Unio dos Compositores da

    URSS, assim como muitos outros postos e funes de uma

    importncia considervel

    REALISMO SOCIALISTA MUSICAL

    Era comum, no regime sovitico, a encomenda de msica para filmes, cantatas,

    peras, programas de rdio, espectculos diversos, em louvor e honra das

    grandes figuras do regime e de momentos da histria sovitica. O anedtico

    estava no facto de ser difcil ao regime recusar uma oferta de encomenda de uma

    obra, por exemplo em louvor de Estaline, ou de uma Sinfonia Outubro

    Vermelho por parte de um compositor da Associao dos Compositores

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    Soviticos. A msica de tais obras era tinha de ser mais uma cpia dos

    mltiplos exemplos de realismo socialista musical:

    de contornos hericos,

    usando algumas melodias populares e/ou soviticas,

    usando estruturas musicais herdadas do romantismo mais simplista.

    Muitos compositores da URSS sobreviveram graas a esta forma de ganhar

    dinheiro. Alguns deles no abdicaram, no entanto de uma actividade

    independente, conhecida s entre os mais prximos, em concertos privados.

    SLIDE 18

    Shostakovitch comps, no entanto, obras marcantes da msica do sc. XX:

    sinfonias, quartetos, msica de cmara, etc. No foi um vanguardista dentro das

    estticas impostas a partir da Segunda Guerra Mundial Darmstadt: tal no

    era, na verdade, possvel na Rssia de Estaline. Mas a sua msica,

    assumidamente de tradio clssica, no abdica de elementos expressivos

    modernos, numa linguagem que alia a tradio do sc. XIX, os modernismos

    expressionistas da primeira metade do sc. e a caracteristicamente Sovitica

    Msica de Mquina. 11 trio

    12 Shostakovitch sinf n 14, op.135, 1 (1969) Garcia llorca (deo profundis)

    SLIDE 19

    OUTROS

    Para alm de Prokofieff (1891/1953), Kabalevsky (1904 1987 St.

    Petersburgo/Moscovo), Katchaturian (1903/1978), e Shostakovitch (1906/1975)

    destacaram-se no espao sovitico muitos outros compositores, alguns somente

    agora dados a conhecer ao pblico internacional: Gavriil Popov (1904-1972), o

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    chefe do aparelho da Associao de Compositores Soviticos at aos anos 80

    Tichon Nikolaiewich Chrennikow (1913 - Jeletz), Boris Tchaikocsky (1925

    Moscovo), Alexander Cholminov (1925 Moscovo), Otar Taktakischwili (1924

    Tiflis Georgia), assim como o mai inovadore Shchedrin (1932 Moscovo) 13Shchedrin msica de orgo de 1972, o ainda conservador Slonimsky (1932

    Leningrado) 14 Slonimsky preldio e fuga n 12 (de 24 prel. e fugas) (1994),

    Tischtschenko (1932 Leningrado), Jan Rats (1932 - Tartu) e outros

    compositores que, pior ou melhor, sobreviveram num meio hostil a qualquer

    transformao.

    Entre eles, encontramos alguns verdadeiramente vanguardistas, tendo vivido

    ainda a poca de Estaline.

    GALINA USTWOLSKAJA

    SLIDE 20

    Galina Ustwolskaja (Rssia 1919), , talvez, um caso paradigmtico de

    aceitao das normas, de resistncia esttica e de uma vanguarda herdeira da

    tradio modernista Russa de um experimentalismo primitivo (Roslawetz,

    Louri) e da Musica ex machina de Mossolov. Aluna de Schostakovitch entre

    1937 e 1947, manteve durante estes anos e os seguintes um contacto pessoal

    muito forte com este compositor, mas que acabou de forma abrupta, levando

    mesmo a Ustvolskaya a menosprezar esta relao em termos profissionais. 15

    Ustwolskaja concerto para piano e orq de cordas e timpanos (1949/50)

    Nesse tempo, como agora, rejeito determinantemente a sua msica

    (de Schostakovitch) e a sua personalidade infelizmente s intensificou

    esta atitude negativa. (...) Uma coisa clara como o dia: uma figura

    aparentemente eminente como a de Schostakovitch, para mim, no

    nada eminente. Pelo contrrio, ele queimou a minha vida e matou os

    meus melhores sentimentos. Thea Derks , Tempo 193, Julho de

    1995, Hollanda.

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    Viveu de encomendas para filmes, programas de Radio e, simultaneamente,

    continuou uma criao musical individual, privada, desconhecida e

    menosprezada at pouco tempo, assumidamente spera e primitiva, muito

    prxima de uma arte bruta tal como entendida nas artes plsticas da Europa. 16

    Ustwolskaja dona nobis pacem (1971) Ustwolskaja que baniu da sua lista de

    obras todas as que comps para o regime refugiou-se num certo ascetismo.

    Afirma nunca escrever msica de cmara, mesmo quando utiliza um nmero

    limitado de instrumentos. A sua msica oscila entre o fortssimo de 4 e 5 FFFFF

    e o pianssimo quase inaudvel, usando profusamente harmonias com clusters e

    melodias desconcertantes em tessituras extremas, que aparecem de uma forma

    agressiva agressivamente crua. A sua msica , no entanto, profundamente

    religiosa, visvel no s nos ttulos como tambm no uso de melodias prximas

    da liturgia ortodoxa e em passagens de um claro misticismo, prprio da msica

    Russa. Se nas suas obras de juventude est muito presente a influncia de

    Schostakovitch, logo a partir dos anos 50 se v uma flexo para as

    caractersticas que iro marcar a sua msica. E Ustwolskaja , a partir de ento,verdadeiramente vanguardista, usando indiscriminadamente qualquer objecto

    musical qualquer conjunto sonoro para desenvolver de uma forma clssica

    e aparentemente clara agressivamente clara as suas ideias. Longe da

    sensibilidade romntica, a sua msica , a meu ver, to desconcertante quanto a

    de John Cage, simplesmente usando meios sonoros diversos, explorando-os de

    uma forma exaustiva, assumindo uma crueza e expressividade extremas, cheiasde misticismo. 17 Ustwolskaja sonata para piano 6(1988)

    EDISON DENISOV

    SLIDE 21

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    Edison Denisov (1929-1996) , porventura, o representante do dodecafonismo

    Weberniano e do serialismo Darmstadtiano na Rssia dos anos 60. Admirador

    de Boulez, estudou os compositores da segunda Escola de Viena, assim como

    obras de Boulez, Nono, Stockhausen e Lutoslawski. Influenciou fortementecompositores de geraes vindouras. Acusado de formalista em 1979, exilou-se

    em Paris.

    DEPOIS DE ESTALINE

    A tnue abertura aps a morte de Estaline no significou o fim do realismo

    socialista. SLIDE 22 O texto que aqui se reproduz, j dos anos 60, revelador

    da esttica vigente: tambm anti-cosmopolita, de um moralista ataviante,

    fortemente combativa dos vanguardistas. 18 Denisov de La vie en Rouge (Boris

    Vian) Les bombes atomiques (1973)

    Ano a ano a msica dos pases socialistas est a conquistar uma

    posio cimeira no mundo da arte progressiva. Compositores de

    grande talento de todos os gneros de msica tm-se salientado

    nestes pases. Entre eles V. Dobias, D. Kardos, E. Suchon e J. Hanus

    (Checoslovquia), W. Lutoslawski, W. Rudzinski, K. Sikorski (Polnia),

    P. Dessau, E. Mayer, H. Eisler (RDA), I. Dumitrescu, P.

    Constantinescu (Romnia), P. Vladigerov, L. Pipkov, and P. Stainov

    (Bulgria), Z. Kodaly, F. Szabo e P. Kadosa (Hungria), Ma Se-chung,

    Ho Lu-ting (Repblica Popular da China).

    Idelogos reaccionrios no podem ignorar o facto de somente o

    socialismo criar condies para umboom sem precedentes na cultura

    musical, uma cultura posta ao servio do povo.

    SLIDE 22 O processo de formao da nova msica nos pases

    socialistas no corre suavemente, pois existe uma constante luta

    contra influncias externas. Foras hostis especficas no abandonam

    as muitas tentativas de desacreditar os princpios da arte socialista.

    Todo o gnero de alianas musicais de ndole modernista tentam

    estender a sua influncia a compositores destes pases, a dividir as

    suas posies e a envenenar a juventude, particularmente com o

    formalismo. Mas estas tentativas no levam a lado algum. A arterealista, chamada a servir o povo e a construo do socialismo, est

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    firme nestes pases. (Sovetskaya Musika, publicado em Music Journal

    (USA) 1962 68).

    A ABERTURA DE KRUTCHOV

    Mas a abertura de Krutchov favoreceu o aparecimento de novas obras, de estilos

    musicais mais livres, do estudo da modernidade vinda da Europa Central. E o

    aparecimento de uma nova cultura musical no bloco de leste, como o festival

    Outono em Varsvia a partir de 1956 (meses antes da represso do exrcito

    Vermelho na Hungria), e mais tarde tambm o de Zagreb. Nestes festivais ir-se-

    iam dar a conhecer obras formalistas dos mais diversos compositores, desde

    os Polacos Lutoslavsky, Penderecky e Gorecky, ou Schostakovitch e alguns dos

    compositores da nova gerao.

    BREJNEFF

    Na verdade, com o longo consulado de Brejneff a partir de 1964, a pequena

    abertura cultural sentida foi-se desvanecendo, aparecendo os velhos fantasmas

    estticos, polticos e policiais. O 6 Congresso da Unio dos Compositores

    Soviticos de 1979 veio acusar alguns compositores da nova gerao por

    mostrarem interesse no serialismo e no experimentalismo: eram compositores de

    formalistas, pr-ocidentais: Denisow, Gubaidulina, Alexander Knaifel (1943

    Taschkent), Dmitri Smirnov e Jelena Fersowa.

    As Novas Geraes

    SLIDE 24

    desta gerao que se encontram os compositores que hoje so os mais

    conhecidos do antigo espao sovitico:

    Sofia Gubaidulina (Rssia 1931)

    Alfred Schnittke ( 1934)

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    Arvo Prt 1935

    Gia Kancheli 1935

    Valentin Silwestrow (1937) Viktor Suslin 1942

    Alexander Knaifel (1943 Taschkent)

    Peteris Vasks (Letnia 1946)

    Dmitri Smirnov (1948)

    Jelena Fersowa (Rssia 1950)

    Devo destacar alguns, pela sua repercusso na msica internacional ... e pelo

    facto de ter conseguido recolher dados (e partituras) sobre as suas obras.

    SOFIA GUBAIDULINA

    SLIDE 25

    (Rssia 1931), talvez a mais conhecida na Europa, compe actualmente uma

    msica com fortes razes nos diversos povos do antigo espao sovitico. As suas

    obras dos anos 70 revelam um forte interesse pela msica de Jazz (uma

    caracterstica tambm de Shostakovitch) assim como pelo uso de

    dodecafonismo. Foi dos compositores acusados de formalismo em 1979. Mas

    Gubaidulina no deixa de revelar um forte pendor expressivo, unindo o

    classicismo e as novas tcnicas de composio ao misticismo e profundidade

    tradicionais Russos. 19 Gubaidulina Pro et contra (1989)

    ALFRED SCHNITKE

    (1934/1998), escreveu centenas de partituras para filmes e outras actividades do

    estado sovitico. A sua obra , muitas vezes, desconcertante, pois ao mesmo

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    tempo que usa tcnicas prximas da vanguarda Europeia, usa citaes (de

    compositores e de estilos) misturando at em composies individuais e

    livres pequenos excertos da sua produo estatal. De grande capacidade em

    termos de orquestrao e profundo conhecedor dos modelos clssicos, a sua obra

    prolfera na utilizao de simbologias musicais, usando para isso danas

    padronizadas, citaes e todo o tipo de material musical, histrico ou actual. Nos

    ltimos anos visto como prximo das perspectivas ps-modenas da Europa

    Ocidental e Amricas.

    PETERIS VASKS SLIDE 26

    (Letnia 1946) A Letnia pertence a um grupo de pases que a custo sobreviveu

    expanso cultural eslavo-sovitica. No sendo um pas eslavo, a sua msica

    e a de Peteris Vasks, o seu compositor mais conhecido reflecte essa luta por

    uma cultura autnoma, por sonoridades prprias reflectindo a cultura, a religio

    e o esprito de um povo. A msica de Peteris Vasks est nos antpodas das

    vanguardas histricas estruturalistas, assumindo todas as tcnicas instrumentais

    do sc. XX para uma msica feita para causar uma forte impresso no ouvinte.

    Neo-romntica, ou ps-moderna, ou neo-modalista, repetitiva, um pouco

    prxima de Arvo Prt e do georgiano Kancheli ou dos americanos minimalistas

    repetitivos dos anos 70, a msica de Vasks assume-se de uma forma muito

    marcante como um estilo pessoal, difcil de encaixar de uma forma mais

    abrangente pela sua proximidade histrica e pelas suas particularidades.Distingue-se pelo seu afastamento das tcnicas de composio clssicas, mesmo

    em quartetos de cordas. A sua msica flui de uma forma mais prxima do

    desenvolvimento motvico de Debussy, incorpora o modalismo, tcnicas

    instrumentais actuais, e uma conscincia harmnica muito forte. 20 Peteris

    Vasks Sinf. vozes vozes da vida (1991)

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    Jelena Fersowa SLIDE 27

    (Rssia 1950) Esta ser talvez a mais jovem compositora desta gerao. Casada

    com o compositor Dmitri Smirnov (1948), juntamente com o seu marido, com

    Denisov e Gubaidulina acusada de formalismo e perseguida em 1979, a sua

    msica nasce dos ensinamentos de Denisov dodecafonismo e serialismo

    mas aproxima-se claramente das sonoridades do expressionismo. Muito ligado

    figura de Ossip Mandelstam, poeta maldito na URSS que morreu num campo de

    concentrao, a sua msica, embora de grande elaborao

    contrapontstica/serial, reflecte o misticismo e a expressividade muito Russas,

    no abdicando de acordes, de harmonias mesmo tonais em algumas das suas

    obras. 21 Elena Fersowa suite n 2 para viola 1 and. (1967)

    23 Elena Fersowa cassandra (1993)

    Vivemos sem sentir o pas sob os ps,Nem a dez passos ouvimos o que se diz,

    E quando chegamos enfim meia fala

    O montanheiro do Kremlin l vem baila.

    Dedos gordurosos como vrmina gorda,

    A palavras certas como pesos de arroba.

    Riem-se os bigodes de barata,

    Reluzem-lhe os canos da bota alta.

    volta a escumalha guias de fina pescoo

    Nas vnias da semi-gente ele brinca com gozo.

    Um assobia, o outro geme, aquele mia,

    S ele trata por tu, escolhe companhia.

    Como ferraduras, lei atrs de lei ele oferta,

    Em cheio na virilha, olho e sobrolho e testa.

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    Cada morte que faz crime maligno

    E o peitao tem amplo, ossetino.

    NEO-EXPRESSIONISMO RUSSO?

    interessante verificar que vrios destes compositores (Ustwolskaya,

    Gubaidulina, Fersowa, assim como Schnitke e outros), conheceram a vanguarda

    estruturalista dos anos 50, histrica, usando muitos dos seus meios. Mas mais

    interessante ver como assumidamente e sem constrangimentos desde a

    Glasnost podem ser compositores livres enveredaram para umaexpressividade que revive algumas das caractersticas que falei no incio: SLIDE

    28

    o Misticismo, aparecendo como influncia religiosa oupotico/literria (presente em quase todos os compositores)a

    Cultura popular, atravs do uso de melodias do povo (no mais

    melodias do regime) (tambm presente em quase todos os

    compositores)

    A mquina, agora sob a forma de minimalismo, de

    composio/repetio automtica de passagens, presente ainda em

    alguns (Ustwolskaya, Gubaidulina, Schnitke)O resultado final muitas vezes prximo de uma continuao do

    expressionismo Austraco e Alemo, pondo de lado no as tcnicas mas oesprito militante anti-tonal da vanguarda de Darmstadt, no abdicando de

    compr obras que pretendem ser ouvidas, entendidas e amadas.

    Ser talvez interessante pensar num neo-expressionismo Russo, englobando

    estes e outros compositores da gerao nascida nos anos 40.

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    Vanguarda a Oeste e Leste

    Os acontecimentos ocorridos na evoluo da msica da Europa central depois da

    Segunda Guerra Mundial apontam para transformaes musicais que deram

    origem ao que hoje, cerca de meio sculo aps o seu aparecimento, se pode

    denominar vanguarda histrica.

    Alguns paradigmas so, desde logo determinantes:

    SLIDE 29

    1 O primeiro o hipottico fim do sistema tonal e afins (modal, neo

    modalismo, politonalidades vrias, etc.

    Clique

    2 O segundo e bsico paradigma o ideal do novo. O novo como

    oposio tradio, e como oposio ao romantismo; o novo de Adorno como

    atitude de crtica social ao meio musical vigente, o novo como critrio de arte.

    Clique

    3 O sistema dodecafnico e mais tarde o serialismo integral aparecem no s

    como infra-estruturas para a composio musical como em Schnberg

    mas tambm como ideias fundamentantes para a construo musical. Este ,

    talvez, o terceiro paradigma da vanguarda: o uso de diferentes sries e as suas

    consequncias desde o incio dos anos 50, tal como compreendidos e usados por

    Messiaen, Cage, Boulez, Stockhausen, etc.

    Clique

    4 Importante , tambm, a experimentao sonora, o jogo com objectos e

    estruturas sonoras, o constante questionar o material em si mesmo, a forma

    como escrito e comunicado; at o prazer nesta mesma prtica de

    experimentao.

    Clique

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    5 O quinto paradigma aparece como uma continuao do desenvolvimento

    tecnolgico: a mquina e o esprito mecnico e o seu uso musical, desde as

    primeiras experincias do incio do sculo, dos instrumentos a rumori dos

    futuristas, at Musique Concrte, aos elementos aleatrios em msica,software musical, electrnica ao vivo, etc.

    A totalidade destes princpios no so comuns aos compositores da ex-URSS.

    No entanto, encontramos alguns elementos que so semelhantes:

    SLIDE 30

    Evoluo tonal/modal,

    Clique

    o Herdeira de Wagner e do simbolismo, a evoluo tonal na ex URSS

    extravasa-se para diferentes formas, desde as vanguardas de Roslawetz

    e Louri, o serialismo de Denisov, at ao modalismo de muitos outros

    compositores. interessante verificar que mesmo compositores como

    Firssowa e Gubaidulina caminharam para infra-estruturas menos anti-

    romnticas, menos dissonantes, usando harmonias prximas do

    expressionismo.CliqueA herana popular, em especial a

    verdadeiramente popular e no a cultura sovitica do partido, so outra

    vertente que influencia esta mudana tonal/modal, j com tradio nos

    nacionalismo do sc. XIX.A herana popular religiosa, Russa e

    Oriental, ser ainda determinante no s nas sonoridades (melodias,

    texturas, timbres) da msica destes compositores como tambm no

    esprito, na temtica e no contexto da msica, carregada de

    misticismo.CliqueO Construtivismo, quer o cubo-futurista do incio do

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    sculo quer a mistura ideolgica com o proletarismo de origem industrial

    (Musica ex machina), levam ao aparecimento de

    o propostas inicias prximas do dodecafonismo e do serialismo da

    Europa central,

    o experincias micro-tonais (de grande importncia na msica dos

    anos 60 na Europa Central),

    o Msica de Mquina Russa, prximas de Hindemith e Eisler. E,

    curiosamente, tambm prximas dos minimalismo repetitivo dos

    anos 70, tambm usado em obras de Ligeti (Musica Ricercata, 2quarteto), John Cage (Music Landscape), e mesmo Ustwolskaya.

    O ideal do novo como procura incessante, como ideal Adorniano, no parece ser

    um paradigma da msica dos compositores da ex-URSS. E ser esse paradigma

    e a sua aco anti-clssica e anti-romntica na Europa central que definir, a

    meu ver, a vanguarda histrica de Boulez, Berio, Stockhausen, Pousseur, etc.

    Na ex-URSS, a modernidade no se transformar numa questo esttica e numanegao do passado. A modernidade ser uma questo poltica contra

    Estaline e essencialmente uma necessidade pessoal e colectiva em termos

    expressivos, redescobrindo o passado, os fundamentos mais profundos das

    diferentes culturas, o ser Russo e dos diferentes povos do espao sovitico.

    Apesar da represso das tradies das culturas populares, das religies, e do

    severo controle esttico imposto desde Zdanov e continuado por Chrennikow nocampo musical.

    Os mpetos de modernidade e vanguarda no espao sovitico foram fundados na

    prpria existncia humana, em especial nas suas necessidades espirituais, e na

    vivncia social e cultural especfica. E, desta forma, no se afastaram a meu

    ver da prpria existncia humana e da prpria cultural como conjunto de

    formas expressivas de afirmao colectiva.

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    Bibliografia

    Antonowa, Irina, Merkert, Jrn (herausgeber)(1995),Berlin/Moscow, 1900-1950, Prestal, Mnchen.

    MacDonald, Ian (s.d.),Music under soviet rule, http://www.siue.edu/~aho/musov/musov.html.