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o PALEOZÓICO IBÉRICO E OS MoviMENTOS, CALEDÓNICOS E HERCíNICaS
(BREVE ENSAIO DE PALEOGEOGRAFIA)
POR
CARLOS TEIXEIRANATURALISTA DO MUS. E LAR. MIN. E <lEOL. DA UNIV. DO PÔR~Q
BOLSEIRO DO INSTITVTO PARA A Ar,TA ClJLTURA;
Num trabalho anterior tentamos seguir o desenrolar dosmovimentos hercínicos no território português ("). Esboçamos,assim, breve reconstituição paleogeográfica do Paleozóico superior do nosso País, procurando interpretar sôbre a, estratigrafiaconhecida os fenómenos tão complexos dos enrugamentosantigos, marcar a posição, datar tais acontecimentos. Seguimosnesse trabalho a nomenclatura de H. Stille, procurando a correspondência, em Portugal, das fases orogénicas hercínicas por êleestabelecidas para o conjunto da Europa (3), avaliar da suamaior ou menor intensidade, da sua mais ou menos forte acçãodentro do território que hoje ocupamos.
Diversos trabalhos publicados posteriormente, ou de quesó posteriormente tivemos conhecimento (3,4,5), revelando-nos
(1) C. TEIXEIRA - Os movimentos hercínicos na tectónica portuguesa.- BoI. da Soe. Geai. de Portugal) voI. I, fase. II -1942.
(2) H. STlLI.E-Gz:undfragen der vergleíchenden Tektonik, Berlim, 1924.(3) M. R. FALCÓ YR. MADARIAGA - Aportaeión aI estudio de los terrenos
Carbonifero y Permiano en 'Espana.-Bol. dei Instituto Geai. y Minero deEspana, tômo LV, Madrid, 1941. .
(4) P. H. SAMPELAYO - EI Sistema Siluriano, Memorias dei InnitutoGeai. y Minero de Espana, Madrid, 1942.
(5) M. SAN MIGUEL DE LA CÁMARA - Publieaciones alemanas sobre Geologia de Espana (Traducídas bajo la díreccíõn de). Instituto «José Acosta»,M,,,iT;,i 1Q4?
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factos novos, observações mais pormenorizadas, rectificandointerpretações que aceitáramos como boas e que julgaramoscertas, permitem-nos, hoje, rever algumas das conclusões' a quechegamos, precisá-las em certos pontos, confirmá-las noutros e,numa palavra, ampliar o estudo então apresentado estendendo-oao conjunto do território peninsular. Não deixará por isso opresente trabalho de ser ainda um simples esbôço, um plano deestudos futuros, uma rápida análise das modificações sucessivasporque passou, nos recuados tempos do Paleozóico, a regiãoque é hoje a Península Ibérica.
.A Geologia das formações paleozóicas peninsulares está,ainda, em grande parte por estudar ou .apenas nos foi reveladanas suas grandes linhas. Faltam-nos não só, em muitos casos,estudos regionais minuciosos e observações locais precisas,numerosas, que sirvam de base aos trabalhos de conjunto, comonos faltam, no geral, os estudos comparativos das diversas formações, o estabelecimento da correspondência exacta de camadase de fâcies, a sincronização de afloramentos afastados, a síntesecrítica de tôda a estratigrafia. O que há feito é muito, semdúvida, mas não chega. Será necessário ainda rever e ampliargrande parte dêsse estudo, sistematizar e verificar muitas observações, assentar em bases paleontológicas largas e seguras a suaclassificação.
A publicação de um trabalho de síntese geológica doPaleozóico que abrangesse tôda a Península, anàlogamente aoque fêz para Portugal o Sr. Prof. Carríngton da Costa, em 1931,seria de um grande alcance cientifico e de manifesta utilidade.Os estudos de P. H. Sampelayo sôbre o Câmbrico e o Silúricode Espanha, êste último recentemente publicado, constituem,sob êsse aspecto, valiosos elementos.
Relativamente aos tempos ante-câmbricos são reduzidosos nossos conhecimentos. Pela sua metamorfização intensa,pela ausência completa de fósseis, únicos elementos segurosde classificação, as formações ante-câmbricas são dificilmentedistinguíveis, confundindo-se não só entre si, como, em grandenúmero de casos. com as da base do Paleozóico. sem aue seia
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possível estabelecer sincronização segura, seriação estratigráficaperfeita. Não poucas vezes acontece, diante de uma formação,ficarmos sem poder dizer se se trata de camadas arcaicas, algônquicas, cârnbricas, silúricas, ou mesmo outras.
Muitos autores admitem a existência de concordância entreo Câmbrico e o Silúrico peninsulares, quando existem conjuntamente. A verificar-se isto, indiscutivelmente, lógico será, portanto, admitir para as formações sôbre as quais o Silúricoassenta em absoluta discordância (discordância angular) idadeante-câmbrica. Certos-jreõlogos assinalam também a concordância estratigráfica entre o Câmbrico inferior eas formaçõesimediatamente subjacentes, algônquicas. Assim se encontradescrito por Nery Delgado, relativamente a Vila-Boim, ondeseriam concordantes o pré-Câmbrico, o C b, e o C bll • Sahemos,porém, quanto estas classificações são falíveis.
Hernández Pacheco fala de discordância entre o Câmbricoinferior e o terreno arcaico na Estremadura, em Sevilha, naSerra Morena' e na Serra-de-Córdova. Macpherson diz observar-se em Sevilha a base do Câmbrico, formada por calcáriosinferiores com Archaeocyathus, descansando sôbre o Arcaicopor meio de conglomerado, que poderia ser indicio de movimentos ante-câmbricos. P. H. Sampelayo escreve, porém, nãoter sido possível até agora confirmar quer a discordância angu-.lar, quer a existência de conglomerados da base do Câmbrico (6).
Sabe-se, por outro lado, que o Algônquico superior écaracterizado por relativa calma, não se tendo notado qualquerdobramento no largo espaço de tempo compreendido entre êstee o Silúrico, considerado, por isso, como período inter-orogénico,
Sôbre tão contraditórias opiniões e com, tão frágeis e discutíveis elementos, não é possível basear quaisquer consideraçõestectónicas.
Relativamente, à acção dos movimentos hurónicos naPenínsula nenhuma conclusão segura se pode estabelecer combase na estratigrafia. Sem dúvida que aqui se sentiram os seus
(6) P. H. SAMPELAyo--EI Sistema Cambriano. Madrid, 1934 (págs. 133'" B4\_
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efeitos, dada a extensão e a amplitude que tiveram, mas encontram-se hoje tão diluídos e apagados, tão modificados pelasacções das orogenias subseqüentes, que não será fácil distingui-los, pô-los a descoberto.
Não temos elementos que nos permitam estabelecer divisões no Arcaico- e Algônquico peninsulares. Daí a dificuldadeem estabelecer qualquer conclusão importante relativamente aosmovimentos ante-paleozóicos. ~A discordância entre os terrenosditos arcaicos e as formações câmbricas ou silúricas que sôbreêles repousam poderia atribuir-se à orogenia eosuecofenidica,desenrolada no final do Arcaico, sincrónica da orogenia iaurênfica da América-do-Norte e da orogenia protoafrlctdica daÁfrica do Sul.
.Quanto às orogenias neosuecofentâicas do Algônquico inferior (com as correspondentes orogenias americana - algomânica- e africana - mesoafrictdlca -) (7) é desconhecida a acção
(que tiveram na Península Ibérica.
Do Câmbrico conhecem-se em Portugal as formações doAlto Alentejo, com fauna especial,· considerando-as uns autorespertencentes ao Georgiano (8), enquanto outros, como Fleury eSampelayo, as colocam no Acadiano.
O que é certo é que a fauna dêstes xistos é distinta .dasfaunas conhecidas do Câmbrico espanhol, embora possam supor-seleves semelhanças entre as formas de tribolites de Aragão e asde Vila-Boim.
A presença de Paradoxides (?), Pordiila, Microdiscus, etc.,leva P. H.· Sampelayo a suspeitar que se trate do meso-Cârnbrico (4.). Superiores aos xistos com fósseis de Vila-Boimencontram-se calcários que, possivelmente, estão em continuaçãoou poderão ser paralelizados com os calcários com Archaeocyathus de Córdova e. Sevilha, classificados no Acadiano. Oscalcários são, de resto, constantes no Acadiano de tôda a Espanha.
(7) Cf.:M. SAN MIGUEL DE tA (AMARA - Las fases.orogénicas más antíguas de la tíerra, según Krenkel. Las Ciências. Ano II, n.O 2.-Madrid, 1935.
(8) CARRfNGTON DA COSTA - O Paleozóico português (Síntese e crítica),Pôrto, 1931.
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As formações inferiores deverão, possivelmente, em nosso entender e considerando que é duvidosa a presença de Paradoxides,representar o Georgiano, como o concluíra Nery Delgado edefendeu o Sr. Prof. Carríngton da Costa; elas são, tale qualcomo no Georgiano de Espanha, constituidas por quartzitos,xistos 'e grauvaques de cõr verde.
Tem-se admitido a existência de uma lacuna correspondente à parte superior do Câmbrico, a qual abrangeria tõda aextensão do Potsdamiano. No inicio do Acadiano ter-se-ia dadoum ° levantamento do fundo do mar que pôs a descoberto osestratos até então formados, desaparecendo por erosão parte dosdepósitos superficiais. E, assim, quando no inicio do Silúricose produziu nova imersão, os sedimentos então formados depositaram-se sôbre camadas muito mais antigas (8).
Isso significaria a existência de movimentos epírogénicospaleozóicos, ° ante-silúricos.
Recentemente,porém, o geólogo espanhol Eng. Don Prí-/. -,
mitivo Hernández Sampelayo pretende ter reconhecido a exis-tência de formações potsdamianas no nosso Pais. Na Serra deSanta Luzia, em Pampilhosa-da-Serra, diz o ilustre cientista terencontradovsucedendo aos quarzitos ordovicianos com Vexiüame Scotithus Dufrenoi, xistos com Lingulella Heberti, fóssilfreqüente no .Potsdamiano galego, atribuindo por isso aquêlesxistos a êste andar. O conjunto dos estratos representaria, assim,uma série que vai desde o Potsdarniano até ao Silúrico superior(Wenlock). Ao Gotlandiano refere aquêle autor camadas comcrinóides e xistos nodulares com Oeisonoceras af. timidum (II).
Na Espanha são conhecidos numerosos afloramentos doCâmbrico médio, bem caracterizados paleontolõgicamente, comfósseis típicos e idênticos aos das formações do resto daEuropa (6).
Por outro lado, estudos recentes parecem comprovar oaparecimento do Câmbrico inferior (na Andaluzia, por exemplo),
(9) PRIMITIVO HERNÁNDEZ SAMPELAYO - Nota acerca de la geologia dePortugal-Notas y comunicaciones dei Instituto Geologico y Minero deEspana,n,? 8, 1941, págs. 203-4.
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considerando-se também largamente representado o Potsdamiano,que seria constituído por quartzitos e xistos com Lingulas[Lingtüafkur«}.
W. Schriel descrevendo o Câmbrico da Serra da Demanda,considera representados os seus três andares. Porém, P. H.Sampelayo discorda, em parte, da classificação apresentada.Introduzindo-lhe algumas modificações, mas julgando presentes, pelomenos, o. Georgiano e o Potsdamiano, êste muito possante.
Nas Astúrias, Aragão, etc., conhece-se o Acadiano indiscutível, com Paradoxides, Canocoryphe, etc., representado porgrauvaques e xistos, indicativos de mar relativamente profundo fiO).
o limite entre o Câmbrico e o Silúriéo é puramenteconvencional e baseado apenas em dados paleontológicos. Ora,em tôda a Península faltam até hoje tais dados, pois, os depósitosimediatamente inferiores ao Skidaviano são estéreis.
Os geólogos espanhóis consideram como não existente nasformações do seu país o Tremadociano, cuja ausência marcará,portanto. lacuna estratigráfica da base do Silúrico, indicando'os quartzitos com Cruziana do Skidaviano transgressão de marpouco profundo. O único ponto de Espanha em que se haviamcitado formações tremadocianas é Papiol, nos arredores deBarcelona. Verificou-se mais tarde que se tratava, porém, decamadas'do Carbónico inferior (1.).
Em Portugal, inferiormente aos quartzitos com bilobites,Vexlüam e Scolithus pertencentes ao Skidaviano, encontram-seconglomerados e grauvaques, brechàs e quartzitos sem fósseis,grés grosseiros estéreis, etc., que têm sido incluídos no Trema-dociano (II). ,
Faltando, contudo, em tôda a Península as camadas comDlctvonema características do Potsdamiano superior, não seconhecendo, por outro lado, quaisquer fósseis que indiquem o
(lO) Cf.: BERMUDO MELENDEZ e ISABEL HEVIA CANGAS - Tectónica deI
Cambrico Aragonés- Com. Congro do Pôrio (1942); P. H. SAMPELAYO-EI
Sistema Cambriano, cito (nota 6).
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Tremadociano indiscutível, difícil será estabelecer a cronologiaexacta das formações inferiores aos quartzitos com bilobitese marcar o limite entre Câmbrico e Silúrico. O critério litolõ-.gico e a posição das formações são, neste caso, insufl-:cientes.
Segundo os vários autores o Silúrico assenta em discordância paralela. sôbre as formações câmbrícas, quando estasexistem, embora relativamente a Portugal se cite a existênciade discordâncias angulares (8). Quanto a Espanha, P. H. Sampelayo diz, com efeito, que parece existir concordância aparenteentre o Câmbrico e o Silúrico, acentuando contudo o carácteressencialmente detrítico e litoral do Ordoviciano e a impossibilidade de estabelecer -a série estratigráfica completa ou marcaro limite entre os dois períodos, em virtude de ser desconhecido.o Tremadociano.
A natureza das rochas subjacentes ao Skidaviano, peloseu carácter grosseiro, conglomerático, não está em desacõrdócom a existência de movimentos tectónicos que tivessem modificado as condições de erosão e sedimentação.
Se lançarmos a vista para a geologia da África do Norte,intimamente ligada com a geologia peninsular, veremos que oGeorgiano, representado por calcários de Archaeocyaihus e poroutras rochas, e o Acadiano, constituído por xistos eomParadoxides, Conocorvphe, etc., se mostram bastante desenvolvidos emMarrocos, mas falta, ao que parece, o Potsdamíano. Note-seque é de presumir a existência do Silúrico inferior nesta região,observando-se passagem insensível do Câmbrico para o Silürico, de modo a ser necessário designar certas formações com onome de cambro-ordovícíanas (11).
No que diz respeito ao sistema silüríco peninsular, observa-se continuidade estratigráfica em tôda a sua extensão.
(11) H. TERMIER-Études geologíques sur le Maroc Central et le MoyenAtlas Septentrional-Noies et Mem. âu Servo des Mines et de la Carie Geai.ãu Maroc. - Rabat, 1936 (pág. 191).
Encontra-se sucessão regular de camadas, do Ordovicíano aoOotlandiano. Em certas regiões nota-se, contudo, a existênciade lacuna entre as duas séries. Nas Astúrias, por exemplo,parece terem-se produzido fen6menos de denudaçâo durante oOrdoviciano superior. Logo em seguida, porém, ter-se-la dadoampla transgressão.
Estas modificações do fundo do mar silürico devem considerar-se como débil e fraco reflexo dos movimentos caled6nicos antigos; tais modificações podem, pois, representar longínqua acção da orogenia tacânica.
Em Portugal parece ter-se verificado gradual abaixa-. mento do fundo do mar a partir do Silúrico inferior, seguindo
-se-lhe um movimento em sentido contrário do Caradociano aoValentiano. Foi ainda no Ordoviciano que se deu a erupçãodiabásica e a formação dos xistos diabãsicos do Buçaco, localizadas no Caradociano. O Gotlandíano, ao contrário do queparece ter acontecido com o Ordoviciano, foi, pelo menos nonosso País, uma idade de calma relativa, facto que se traduzpela homogeneidade das suas formações.
A passagem do Silúrico ao Devónico faz-se por meiodos grés «downtouianos», conservando-se, de modo-geral, concordantes as camadas dos dois sistemas. Assim é descrito porgrande número de autores.
Tal como a fase tacõnica, as fases ardênica e érica dosmovimentos caled6nicos, isto é, a orogenia neocaledónica,parece ter tido na Península apenas débil importância.
O facto de no tôpo do Gotlandiano aparecerem quásisempre sedimentos grêsosos, quando as rochas desta série sãofinas e- argilosas, indica a existência de mar pouco profundo,e portanto modificação de condições do meio. . ~
O Devónico apresenta na Península reduzida área, emrelação com as formações do período anterior. Em Portugal oDevónico inferior aparece somente ao Norte do maciço azõicode Évora, notando-se uma lacuna correspondente ao meso-Dev6nico. E o Dev6nico superior só é conhecido para Suldaquele maciço.
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o Eodev6nico aparece no nosso Pais sempre em contactocom o Ootlandiano. Nenhuma lacuna se assinala: os doissistemas continuam-se regularmente. A profundidade das águasdeve ter diminuído de modo notável no fim do Silúrico (IS),conseqüência talvez da orogenia neocaledónica ou ardénico-érica,originando notável mudança de fácies.
Na Espanha são concordantes, também, em muitas regiõeso Silúrico superior e o Devõnico, Barrois diz que nas Astúriasnão pode comprovar-se qualquer discordância entre êles, e, omesmo parece acontecer na zona central dêste pais. Porém,Kegel, . contràriamente às observações de Barrois, pretendedemonstrara existência de movimentos anteriores aos hercínicos (') no Ootlandiano astúrico. Além dêste, outros autoresfalam de discordância. .
Dereims refere movimentos tectónicos locais no SistemaIbérico entre êstes dois períodos; O. Tarin assinalou a existênciade discordância entre o Sílürico superior e o Devónico naprovíncia de Badajoz e êste mesmo autor e L. Oamboa falam dediscordância idêntica na Serra Morena, mas, segundo Alvarado,esta não é clara (l».
Schriel considera movimentos semelhantes em Papíol, Moncada, Burguês e Montseny (Barcelona) e o Prof. San Miguel dela Câmara diz tê-los comprovado, também, no maciço de Tibidabo, Oavá, zona de Pifieda e Malgrat Montseny.
Segundo êste autor, quando se observem com atenção oscontactos do Ootlandiano com o Dev6nico, encontrar-se-à maisíreqüenteniente do que se julga a existência de discordânciasentre êles.
Conclui-se, pois, logicamente, que se os movimentos neo-. -caledónicos atingiram a Península Ibérica, a sua acção foi de
pequena amplitude e intensidade (5); além disso se na regiãooriental parecem existir factos que comprovam essa acção.cêstesfaltam, sem dúvida, nas regiões ocidentais.
(12)Cf.: CARRINGTON DA COSTA-Subs. para o est.do Gen, Hamtüonotus-Pôrto, 1940.
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Também no- território marroquino parece ter havido, emcertos pontos ao menos, sedimentação continua do Silúricoao Devõníco. Os depósitos ludlovianos e os do conjuntodowntoníano-gediníano são, de modo idêntico, gresosos. Contudo, em Christian e Tedders aparece o Emsiano transgressivosôbre o Gotlandiano, com possível discordância, que é, noentanto, dificilmente observável. .
. Segundo H. Termier a orogenia neo-caledónica atingiu aregião marroquina, mas de um modo' tão fraco. e amortecidoque a sua acção não pode ser separada de um simples movimento epirogénico post-gotlandiano e ante-ernsíano (ti).
No território português, tanto o Gediniano como o Coblenciano encontram-se representados com certa extensão, mas sósão conhecidos a Norte do maciço de Évora. O Coblenciano éconstituído geralmente por xistos finos e argilosos, concordantescom as camadas do Gediniano, como se observa, por exemplo,em Rates. O Devónico médio não foi encontrado em partealguma; porém, ao Sul do maciço de Évora apareceram formações incontestáveis do Neodevõníco. Revela-se, assim, lacunaque abrange todo o Mesodevónico, fenómeno que se verificanoutros pontos, como na Orã-Bretanha, mas que não encontra .correspondência em Marrocos, onde o sistema Dev6nico é contínuo e regular, nem em Espanha, onde êste período está bemrepresentado na região das Astúrias' e em manchas de maispequenas dimensões noutros pontos.
Trata-se, pois, de movimentos com carácter mais ou menoslocal ou de fen6menos de denudação que eliminaram uma partedas formações.
. Com o Devónico superior contactam em 'muitas regiõesformações dinancianas, mantendo-se o paralelismo que verificamos existir,de modo geral, nas formações peninsulares,desde o Câmbrico, através' do Silúrlco e do Dev6nico. Issoé prova de relativa tranqüilidade durante o Paleoz6ico antigona região que hoje é a Península Ibérica, não se notandonas suas formações mais que débil acção da orogenia caledónica.
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** *
Ao contrário do .que aconteceu com os movimentos caledõnícos, cuja acção na Península, como acabamos de ver, foidiminuta e apagada, os movimentos da orogenia hercinlca ouvarisca caracterizam-se por notável violência e tiveram o principalpapel na génese dos enrugamentos pre-mesozõicos peninsulares.De facto, se quanto aos primeiros não encontramos vestígiosmarcados da sua acção, os segundos deixaram bem assinaladanas formações geol6gicas da Península a importância e a violência que acompanharam algumas das suas fases.
Segundo StilIe os movimentos hercínicos ou variscosdesenrolaram-se em quatro fases principais, denominadas:
Bretã entre o Dev6nico superior e o Carbónico inferior;Sudética entre ó Carbónico inferior e a base do Carbónico
superior;Astârica que se teria dado entre o princípio e o final dó
Carbónico superior;Saâlica cuja acção se situa entre o Pérmíco inferior e o
superior.Á estas há ainda a acrescentar a fasePalatina entre o Pérmico superior e o Triásico inferior,
que não deve ter sido mais do que fraco movimento póstumoda orogenia hercínica.
Como atrás dissemos, encontra-se nitidamente marcada naPenínsula Ibérica a acção desta orogenía, à qual se deve a suaarquitectura e estrutura geológicas fundamentais.
As fases bretã e sudética, precursoras da orogenia principal,não atingiram, contudo', na Hispânia grande amplitude. Em geralé concordante o Dinanciano com o Devõnico superior. Assinalam-se, .no entanto, discordâncias em alguns sítios, notando-separticularmente a existência de uma importante lacuna estratigráfica que .abrange, em alguns casos, o Devõnico superior e aparte inferior do Dínancíano, O Prof. San Miguel de Ia
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Cámara notou tal' discordância no maciço de Tibidabo e naSerra do Levante, nos arredores de Barcelona, e Schriel cita-a,também, em Papiol, Santa Creu de Olorde, Oavã e Montsney (6).
Contudo, na região cántabro-astúríca nota-se paralelismoentre as camadas carbónicas mais baixas e as formações subjacentes, constituídas por terrenos do Devónico superior, doDevónico médio ou do Silúríco, sem que no entanto haja continuidade estratigráfica regular. As camadas carbónicas mais baixaspertencem já ao Viseano superior - «caliza amigdaloide oumarmol griotov-c-caracterizado pela presença de Goniatites crentstria, Pronorites cvctotoõus, Prolecanites henslowi, Mürzsteroceras Malladae, etc. (18). Em Candas, por exemplo, o calcário«grioto» repousa sôbre o Dev6nico superior, em Naranco sôbreos grés e xistos do Dev6nico médio, a Leste de Oviedo, no valeda Sela, em Covadonga, etc., sôbre os xistos silüricos.
Revela-se, pois, importante lacuna estratigráfica, que mostra que a região esteve emersa durante o Dinanciano, tendo sidoinvadida pelas águas no fim dêste. Aparece marcada, dêste
. modo, a larga transgressão do mar viseano.Idêntico fenómeno transgressivo se encontra na Ouipúscoa
e Navarra, onde a: base do Carbónico é constituída, de igualmodo, pelo calcário viseano com Olyphiaceras crenistria, etc.,correspondente ao calcário amigdal6ide da região cantábrica.
Na província de Huesca é, ainda, o Viseano que constituia base dos terrenos carbónicos. É o calcário do tipo I/grioto",com Otyphloceras crenistria, que assim nos aparece nas manchasde Cherito, Sumport e Puente SalIent. Às vezes alternam como calcário «grioto» camadas de grés micáceo com vegetais.
Nas províncias de Lérida e Gerona o Dinanciano aparece,também, em alguns sítios. Junto da bacia de Seo de Urgel,por exemplo, podem ver-se, em- pequenas manchas, os calcáriosamígdalõídes com Otvptuoceras crenistria e outros f6sseis viseanos, acompanhados de grés e conglomerados (8).
(13) Cf, por ex.: G. DELÉPINE - Le Carb, du Sud de la France (Pyr. etMont. Noire) et du Nord Ouest de I'Espagne (Asturies) - C. R. Congro Strat,Carb., Heerlen, 1935.
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o Carbónico inferior marinho está representado na província de Córdova, mas a sua classificação e sucessão não sãoainda suficientemente conhecidas, Na província de Huelvaocupa, também, esta formação extensa área, em continuação damancha portuguesa do Alentejo e Algarve e com idênticascaracterísticas.
No território português o Carbónico marinho abrangegrande parte das províncias acimá citadas. Contudo, apenasnum local, na região da Carrapateira, se afirmou a existênciado Turnêsiano, onde será constituído por camadas com Merocanites algarbiensis, Pericyctus princeps e Caniniacomucopiae (14).A área restante é ocupada pelo Viseano e pelo Moscoviano.Na parte oriental do Alentejo, na região do Pomarão e a Nortedesta localidade encontra-se o Viseano inferior, cujas camadas
.contactam com o Devónico. São as formações com Ooniatitesstriatus e Posidonomya Becheri que aí se vêem, sucedendo-lhecamadas com OIYfJ~ioceras que, segundo Pereira de Sousa,
" constituem o tôpo do Viseano e fazem a transição para o Moscoviano com Oastrioceras, Otvohioceras e Pterinopecten.
O mar turnesiano ocuparia pois, no que diz respeito aPortugal, apenas uma pequena região do litoral actual, após aregressão do fim do Devõníco, facto já pôsto em evidência porPereira de Sousa (15, 16):
Em Espanha conhecem-se depósitos atribuídos ao Carbónico inferior nos arredores de Barcelona' e na província deTarragona, representados em grande parte pela sua fácies culm.As manchas barcelonesas foram primeiro atribuídas ao Silúrico.Na de Horta, constituída por grauvaques, assinalou Almera aexistência de· Calamites tenuissimus Ooepp., C. transitionisGoepp., Archaeooteris lyra Stur, A. pachyrachis Ooepp., A. tchermaki Stur, Archaeocalamites radiata Brongn., cujo conjunto
(14) PEREIRA DE SOUSA - Sur le Carbonífêre inferieur et moyen enPortugal - C. R. Ae. Se•• 170-1920 (pág. 116).
(15) PEREIRA DE SOUSA - La Serra de Monchique - Bull. Soe. Geai.rr: tômo 26.° -1926, n.OS 6, 7 e 8 (pág. 350).
(16) PEREIRA DE SOUSA - Aperçu sur le Carbonííêrede la rive droitedu Guadiana - Com. Servo Geai. de Portugal, tômo15.°-1924..
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indica um nível baixo do Carbónico. Nas manchas de Motinsdei Rey e Papiol distingue-se um horizonte inferior, formado deliditos, assentando em discordância sôbre o Silúrico ou oDevõnico, um horizonte médio constituído por xistos comPhillipsia e um horizonte superior, formado também por xistos,com raros vestígios de Posidonomya e grauvaques, O nível dePhillipsia de Papiol deu Orthotetes crenistria, Productus longispinus, Splrifer subtamellosus e muitos outros fósseis, apare-'
-cendo misturadas, nas listas, espécies víseanas e turnêsianas.Nos grauvaques foi assinalada a flora seguinte: Diplo
tmema dissectum Ooepp., Archaeopteris Iyra Stur, Carâiopterlsfrondosa Ooepp., Aneiooterlâium Muensteri Ooepp., Archaeocatamites tschermaki Stur, Calamües tenutssimas Ooepp., Stigmaria ficoides Brongn., Leptdodendron, Sigillaria, etc., onde háformas características de níveis diferentes desde a base do Carbónico. Estas listas carecem, por isso, de verificação e rectificação. No entanto, esta flora pode considerar-se, talvez, comodo Viseano inferior.
Na mancha de Oavâ, formada porIiditos, nota-se a discordância do Carbónico com o Devõnico, sendo aquêle recoberto,também discordantemente, pelo Triássico.
Na província de Tarragona parece encontrar-se, de igualmodo, o Culm. Na mancha deReus e Falset descobriu VilasecaArchaeopteris palmaeFaura, e outros fósseis, atribuindo a formação ao culm inferior (II). O Culm encontra-se representado,além disso, na Ilha de Minorca, onde se conhecem depôsitoscomSphenopterldium dissectum [Sph, cf. tshermaki?) e talvez Adiantites tenuitotius (li). '
A estratigrafia geral da Península revela-nos, portanto,nitidamente, uma larga transgressão viseana, após a regressãonão menos acentuada do- Turnêsiano, Êste avanço do maratingiu, de um lado, todo o Sul de Portugal e grande parte daprovíncia de Huelva, e, por outro lado, abrangeu a larga regiãocantabro-astürica, a Navarra, Guipúscoa, 'Huesca e cobriu parteda região de Lérida e Oerona. É a transgressão clássica, conhecida também na Floresta Negra, na Bretanha, em Marrocos, noSahará. etc.
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Na regtao marroquina, por exemplo, nota-se uma lacunaimportante correspondente ao Turnêsíano e ao Viseano inferior.
Em quási tõda a parte o Viseano superior assenta sôbre oDevónico ou o Silúrico, sem que haja discordância visível.Do Turneslano, embora com fácies particular, conhecem-senumerosos retalhos nesta parte da África, a partir dos quais sepode mesmo desenhar, até certo ponto, a linha de costa do marturnesíano. .Verifica-se, assim,· que a maior parte do territórioa que nos vimos-referindo estava, nesta altura, emerso. Portôda a parte o Viseano aparece em clara transgressão (li).
Nos pontos em que se encontram em contacto o Viseanoe o Turnêsiano, como em Marchand e N'Kheila, verifica-se quehá passagem insensível de um para outro, isto é, que houve continuidade de sedimentação (li).
Ascendendo na escala estratigráfica, nota-se existir, nasformações peninsulares. regular concordância e continuidade entreo Dinanciano e o Moscovíano.. Em Portugal, aos xistos e calcários viseanos sucedem xistos finos com Homoceras beyrichianum que, segundo Pereira de Sousa, representam a base doMoscoviano, seguindo-se-lhe grauvaques e xistos com Oastrioceras Listeri, a. carbonarium, etc., encontrando-se depoisformações com Orthotetes crenistrta. Nos xistos de São-Teoténio, por exemplo, assinala-se uma fauna namuriana com Homoceras beyrichlanum, Reticutoceras reticulatum, PasiâanomvaBecheri e Pterinopecten papyraceus ("). Deve admitir-se a mesmasucessão no Carbónico de Huelva, em Espanha, pela continuidade
. em que se encontra com o afloramento português. A abundânciade restos de vegetais carreados que se observa em tôda a extensão da formação carbonífera portuguesa indica a proximidadede terras emersas. Entre êsses vegetais citaremos, em especial,Asterocalamites scroõtcutatas, Mesocalamites HaueriStur., M. eistiformis Stur., Sphenopteris sp., Annularia cf. raâiata, etc.
Nas, Astúrias nota-se, de igual modo, continuidade do
(lT) CARRíNGTON DA COSTA - o dínancíano entre Grândola e Odemira"'~ K6,,~ .. 1n" Min." nMl. da Fae, de Ciene: do Põrio, n.O 30- 1943.
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Viseano para o Moscoviano. Os chamados calcários de «loscartones», que se seguem aos calcários «griotos», e a zona dexistos e calcários do «tramo de Lena" correspondem, segundoos últimos estudos, ao Vestefaliano inferior (II). Na parte altado calcário de II10s caüones- assinalaram-se várias Fusulineias,entre elas a espécie moscoviana F. Bocki e outras formas indicadoras do Moscoviano (1I)~ Mas, enquanto que a série do calcário amigdalóide e do calcário lide montaãa» é essencialmentemarinha, nas formações que se lhe seguem, ainda que constituídas na sua maior parte por camadas marinhas, encontram-serepetidas alternâncias com camadas de fácies continental.
O carácter continental acentua-se, depois, progressivamentee, então, é o fenómenoInverso que se observa. O Vestefalianomédio, correspondente à chamada zona de «Ias generalas» e àparte superior das camadas de Lena, apresenta numerosas intercalações marinhas, assinaladas por formações com abundante
" fauna, situadas no tecto das camadas e que marcam os sucessivosmovimentos do mar (8). São as manifestações dos fenómenosde subsidência, tão conhecidos.
Do andar de «Ias generalas» cita Renier, entre outras,as espécies: Sphenopteris rotundifolia, Mariooteris muricata,Alethopteris tonchitica, A. Sertii, Neuropteris heterophylla,N. obliqua, Sphenophylium cuneifolium, Lepldodenâron aculeatum, Sigillaria scuteüata, Calamites Suckowi, etc., que indicam,segundo parece, um nível correspondente ao Vestefaliano C.Delépine considera a posição de «las generalas» no limite entreo Vestefaliano médio (A +B) e o Vestefaliano superior (C + O).Nas camadas de calcário recolheu também Renier as formasAlethopteris lonchitica, Neuropteris gigantea, Linopteris obliqua,Lepiâodendron Veltheimi, Sigillaria scutellata, etc.; Madariagacita das camadas mais baixas do Carbonífero de TevergaAlethopteris lonchitica Schloth., Sphenopteris trifoliata Artis,S. númmularia Andrae, Neurooteris gigantea Sternb.T"), etc.,que indicam um nível relativamente baixo.
À assentada de Lena e ao grupo de camadas Idas generalas»sucedem-se as «camadas de Sarna", com intercalações marinhasde Ooniatites e Pusutinas, consideradas equivalentes do Vesteía- .liano suneríor ou da assentada de Bruav. na Franl'lI Oe: /i",nn.
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sitos marinhos desta assentada correspondem, com efeito, muitoprovãvelmente, a um nível elevado do Moscoviano da EuropaCentral e Oriental (lS). A revisão sistemática da flora destaformação resolveria fàcilmente o problema.
Os fósseis vegetais são abundantes nas camadas de Samamas a sua repartição vertical não é bem conhecida. ZeilIer eMallada citam entre outras as seguintes espécies: Splienophyllamcuneifoüum Sternb., S. emarglnatum Brongn., S. saxifragaefoüum Sternb., Sphenopteris formosa Outb., Mariopteris latifolia.Brongn., Neurooterts.seieantea Sternb., N. tenuifotia Schloth.,N. heterophyllaBrongn., N. Scheuchseri Hoff. N. flexuosaSternb., Linopteris sub-Brongniarti O. Eury, Pecopteris aõbreviataBrongn., P. dentata Brongn., Alethopteris lonchitica Brongn.,A. Sertii Brongn., Lepidodendron aculeatum Sternb., L. longlfo..liam Brongn., L. dlchotomum Sternb., L. crenatum Sternb.,
. Uiodendron punctatum L. e Hutt., Lepidophlolos laricimus Sternb.,Sigillaria Doarnaisi Brongn., S. mammillaris Brongn., S. Utscheinederi Brongn., S. Saullii Brongn., S. Candollel Brongn.,S. Schlotheimi Brongn., S. cortei Brongn., S. augusta Brongn.,S. contracta Brongn., S. intermedia Brongn., S. tessellata Brongn.,S. elegans Sternb., Stigmaria ficoides Brongn., etc., No seuconjunto esta flora, embora tenha de ser posta em dúvida umaou outra espécie, indica um nível elevado do Vestefaliano epensamos não errar muito classificando-a no Vesteíalíano D.
Observam-se, assim, no Carbónico asturiano as sucessivasmodificações que se deram durante a deposição das suas camadas,podendo reconstituir-se os aspectos paleogeográficos de umlargo período de sedimentação. Ao calcário «grioto» ou amigdalóide, que forma a base da «calíza de montaãa» e assenta emconcordância sôbre o Devónico ou o Silúrico, sucede o calcáriode «los caüones-, em cuja parte superior se encontra FusulinellaBocki; vem em seguida a assentada de Lena, com Statfeüasphaeroidea, Anthracoceras e, superiormente, com AnthracomyaWardi, Fusulina cylindrica e Anthracomya Phitliosi; a estasucede a assentada de Sarna, onde domina já o carácter 'continental, mas onde se encontram intercalações marinhas comPusuüna (13).
Sôbre as camadas de Sarna repousam as camadas de Tineo,
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pertencentes ao Estefaniano, como adiante veremos. Antes disso,passemos em revista o aspecto e a extensão do Vestefaliano noresto da Península.
Na província de Huesca aparece o Vestefaliano em Sumport, onde se registam xistos com Sphenopteris oõtusitoõaBrongn.~Neuropteris Schlehani Stur, Mariopteris acuta Brongn,M. muricata Schloth., Sigillaria sp., Lepidodendron sp., etc. (')que podem, talvez, classificar-se no Vestefaliano C. Nas províncias de Lérida e Gerona vamos encontrar o Carbónicode Erill-Castell, observando-se em certos pontos, Aguiró porexemplo. os calcáreos de Ooniatites associados a séries hulheiras, nas quais Dalloni distingue: na parte inferior, conglomerados, grés e xistos com Alethopterts valida Boul., Neuropterisheterophvtla Brongn., atribuíveis aoVesteíaliano B-C; em seguidaxistos argilosos, negros, micáceos, onde abundam Pecoptertscrenuiata Brongn., Alethopteris Serlii Brongn., Neuropteris tenuifolia Schloth., N. Scheuchxeri Hoff., Linopteris euõ-BronpniartiOro Eury, L. neuropterolâes Gutb., representando um nível umpouco mais elevado; finalmente, encontram-se xistos e gréscom Lepidodendrtm dichotomum Sternb., Pecopteris lamuriensisHeer, P. unita Brongn., P. plumosa Art., Linopterls obliqua Bunb.,Mixoneura ovata Hoff., Sphenooteris obtusiioõa Brongn., etc. (li)que devem situar-se no Vestefaliano D.
Na região de Burgos, segundo Mallada, a mancha carbónica de San Adrian y Brieva apresenta uma flora vestefalianatípica: Sphenophylium emarginatum, Neuropteris gigantea, N.flexuosa, Lepidadendron dlchotomum, L. aculeatum, Pecopterisarborescens, P. mlttoni, Peco poiymorpha, etc., que deve incluir-se,seguramente, no Vestefaliano D.
Na província de Córdova fica situada a bacia carboníferade Belmez, representando o principal afloramento carbónico doSul de Espanha. A sua estratigrafia é muito complicada e abacia é atravessada por vários ilhéus de porfíros anfibólicos (3).Encontra-se aqui uma zona inferior de calcáreos que,segundoMallada, é equivalente do calcáreo de "10s caüones» de Oviedo,Leon, Palencia e Santander. Seguem-se-lhe niveis de grés.conglomerados, etc.. Dos xistos das camadas hulheíras cita.MaUada as espécies: Sphenophyllum emarginatumçNeuropteris
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gigantea, N. flexuosa, N. heteroohylla, N. Scheuchseri, Atethopteris Serlli, Pecopteris hemiteüotdes, Neuropteris auricutata,N. cordata, Sigiltaria tesseüata, etc., onde se misturam formasvestefalianase estefanianas (S).
Idêntico facto sucede com as espécies citadas por êsteautor para a bacia de Villanueva deI Rio, na provínci a deSevilha, onde só é conhecido o Carbónico continental.
No território português conhecem-se, também, depósitoscontinentais vesteíalianos. O Carbónico de Santa Suzana, no Alentejo, mostra uma flora abundante, em que sobressaiem as espécies: Pecopteridium [ongmansi P. B., Pecopteris plumosa Artis,P. cyathea Schloth., P. unita Brongn., P. Pluckeneii Schloth.,Linopteris obliqua Bunb., Aiethopteris Davreuxi Brongn., Sphenopteris obtusitoba Brongn., Sohmoohytlum emarginatum Brongn.,Lepidoâendron dichotomum Sternb., abundam as sigitarias do tipocanelado, etc., cujo conjunto permite atribuir a esta formaçãouma idade correspondente ao Vestefaliano D. Não são conhecidas as relações que possam existir entre êste afloramento e oCarbónico marinho do Sul do Pais, com parte do qual pode tersido contemporâneo. .
Nos arredores do Pôrto encontra-se, também, um pequenoretalho de Vestefaliano, separado do Carbónico produtivo,estefaniano, por camadas silúricas. Da sua flora fazem parteAlethopteris tondütifotia P. B., Pecopteris unita Brongn., P. crenulata Brongn., P. plumosa Artis, P. Pluckeneti Schloth.,Pecopteridlum Armasi Zeiller, Pecopteridium Cuvelettei P. B.,Mixoneura ovata Hoff., Linopteris obliqua Bunb., Leoidodendronaculeatum Sternb., etc., conjunto que permite classificar estascamadas no Vestefaliano D.
Observa-se, dêste modo, a existência de continuidade entreo Dinanciano e o Moscoviano ou o Vestefaliano nas formaçõespeninsulares, notando-se a passagem gradual do regime marinhoao regime continental, com movimentos repetidos de invasão erecuo do mar. Assim se explica a alternância de camadasmarinhas e continentais que se encontra em muitas bacias,nomeadamente nas cantabro-astüricas. Após a transgressão
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viseana, O mar foi sucessivamente abandonando o solo peninsular, de modo que no Vestefaliano superior é o regime continental que domina por completo. As próprias bacias parálicasque vimos formarem-se nas regiões litorais, deixam, de certaaltura em diante, de ter comunicação com o mar.
Na África do Norte nota-se fenómeno idêntico. Em Marrocos, por exemplo, observa-se, de igual modo, a continuidadede sedimentação entre o Viseano médio e superior e éertas formações que H. Termier atribui ao Namuriano inferior. Nabacia de Dierada há, também, alternância de camadas marinhase de camadas continentais, límnicas, demonstrando, pois, queesta bacia estava próxima da costa e foi íreqüentemente invadidapelo mar. O mesmo se verifica em Kenadza, onde houve, pelomenos, quatro invasões marinhas, datadas pela fauna de goniatites. Em ambas as bacias, porém, se encontra continuidade desedimentação, desde o Viseano ao Namuriano e Vesteíalíano.
No conjunto da Península, como em Marrocos e noutrasregiões, aparece, portanto, nitidamente marcada a regressãonamuriana ou do Vestefaliano inferior, contemporânea da orogenia sudética e possivelmente relacionada com ela.
Estavam depositadas as formações do Vestefaliano superior,atrás referidas, quando se deu a orogenía astúrica, que não sódobrou o conjunto das camadas até aí formadas, como fêzrecuar o mar moscoviano que ainda cobria uma parte doSudeste da Península. Dentro dos movimentos hercínicos éesta a primeira fase que, na Península, nos aparece caracterizadapor extrema violência e marcada por efeitos de larga, extensão.E assim é que ela se encontra assinalada em tôda a' largurado território hispânico, não só por discordâncias estratigráficasnotáveis, como pela orientação que predomina nos enrugamentosque originou. De facto, por tôda a parte o Estefaniano semostra em discordância sôbre as formações precedentes.
Nas Astúrias, por exemplo, o Estefaniano fortemente pregueado repousa, discordantemente, sôbre o Vestefaliano O. Ascamadas inferiores do orimeiro são consideradas eauivalentes do
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nível de Rive-de-Oler, tipicamente do Estefaniano inferior (18).Constituem a base do Estefaniano conglomerados ou brechas,aparecendo em seguida xistos e grés com leitos de carvão. Entreas espécies citadas, provenientes das camadas esteíanianas, encontram-se: Sphenoohyltum oblongífolium Oermar, S. angustifoliumOerrnar, S. verttctüatum Schloth., Pecopteris feminaeformlsSchloth., P. oreopteridea Schloth., P. arborescens Schloth.,P. cyathea Schloth., P. polymorpha Brongn., P. Bucklandi,P. unita Brongn., Alethopterls Orandini Brongn., OâontopterisBrardi Brongn., Taeniopteris jejunata O. Eury, Sigillaria BrardiBrongn., Walchia piniformis Schloth., etc., onde há formas típicasdo Estefaniano médio e superior, indicando pois a presença deníveis bastante elevados.
Entre o Estefaniano e o conjunto ante-esteíaniano a discordância é'l1o dizer de diversos autores, absoluta, total (19), marcando bem a posição do fenómeno, datando-o com tôda a precisão: a orogenia astúrjca situa-se, assim, entre o Vestefalianosuperior e o Estefaniano inferior ou, se adoptarmos mais recentenumenclatura, entre o Vestefaliano D e o Vestefaliano E.É a discordância clássica das camadas de Sama e de Tineo,que tem o seu paralelo na discordância não menos notável dascamadas de Otweiler sôbre as camadas de Saarbrück, na bacia.do Sarre.
Na Ouipúscoa e Navarra encontra-se o Estefaniano, formado por grés, xistos e conglomerados, repousando sôbre oSilúrico ou o Devónico; na parte francesa verificou P. Termiera sua discordância com o Carbónico inferior. Nos jazigos deRhune e de Ibantelley encontrou Zeiller: Pecopteris arborescensSchloth., P. cvathea Schloth., P. oreopteridea Schloth., P. DaubreeiZeil., P. polymorpha Brongn., P. unita Brongn., P. feminaeformis Schloth., Callipteridinm pteridium Schloth., Alethopteris Orandini Brongn., Odontopteris Brardl Brongn., Linopteris Brongniarti
(18) P. COMTE - La tectonique des terraíns antestephaniens de la cordíllêre cantabrique dans le Nord de Léon, C. R. Ae. Se., 208, 1929, pág. 1.660.
(19) P. COMTE-La structure du bord Sud de la Cordíllêre Cantabríqueen Léon et les mouvements orogeníques qu'elle revele. C. R. Ae. Sc., 208, 1939,náll.2.008.
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típicos, permitiu caracterizar grande número dessas formaçõescomo pérrnicas,
Em Seo de UrgeI, por exemplo, observam-se os grés vermelhos do Pérmico assentando em absoluta concordância sõbreo Estefaniano, passando-se em muitos pontos insensivelmente deum a outro terreno. O mesmo facto se manifesta com oPérmíco de Gerri, onde, sôbre os xistos estefanianos, repousa,em concordância, uma série de psamitos e xistos com Walchiapiniformis Schloth., W. filiciformis Schloth., Ulmania frumentaria
. Schlot., Sphenophyl!um Thoni Mahr, Catüoteris conferia Sternb.,C. Nicklesi ZeiI., Odoniopteris Dufresnoyi Brongn., O. DupontiZeil., O. Minor Zeil., Taenlopteris muãlnervis Weiss, Neuropteris Planchardi Zeil., etc., seguindo-se-lhe conglomerados deelementos grosseiros e grés micáceo, vermelho. De igual modo,na bacia de Puertollano observa-se a passagem gradual do Estefaniano para o Autuniano, formado por grés vermelhos e xistoscom Walchia piniformis e Calüpteris conferta, sem que sejapossível marcar a linha limite das duas séries (S).
O Pérmico existe, também, na região Cantábrica. Patacencontrou nos xistos de Puente Vergueres Catüpteris conferta,Walchia piniformls, Pecooteris arborescens (90), etc., formas queindicam o Pérrnico, em discordância com o Carb6nico inferior, .ante-esteíaniano. .Na bacia de Viar (Sevilha) o Pérmico é formado por grés e conglomerados, com p6rfiros inter-estratiíicados,alternando com as camadas sedimentares, a que se seguem grésfeldspáticos e conglomerados vermelhos. Citam-se daqui asespécies: Odontopteris Brardi Brongn., Sphenoohvüum ThoniMahr, Caltlpteridium eteas Gutb., Walchia piniformis Schloth.,W. imbrlcata Schimp., W. bvonoides Brongn., etc ..
Quanto a Portugal, o Pérmicoestá representado peloRotliegende inferior do Buçaco; tal formação é constituída porxistos, grés vermelhos e psarnitos, abundando em particular osconglomerados. A sua flora contem Calüpterls conferia Sternb.,Taeniopteris multlnervis Weis., T. [ejunata O. Eury., Lebachia
(20) J. PATAC - La formación uraliense asturiana - Gíion, 1920.
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laxifotia Flor., L. parvifolia Flo~., Odontopterls minor Brongn.,O. osmunâaeformis Schloth., O. Brardi Brongn., Sphenopterispecopterotdes Landskr., Caltipteridium gigas Outb., Pecopteriscyathea Schloth., P.- unita Brongn., P. polymorphn Brongn.,Sphenophyllum Thoni Mahr, S. obtoneitotium Oermar, S. angustifolium Oermar, Neuropterls Planchardi Zeil., Mixoneuraneuropteroides Ooepp., etc., conjunto que permite paralelizar aformação portuguesa com as de Puertollano, Astúrias, etc.A formação do Buçaco apresenta-se, porém, separada e independente do Estefaniano, embora não seja impossível que assuas camadas mais baixas pertençam ainda a êste andar.
A sucessão e concordância regular que se observa, demodo geral, entre o Estefaniano e o Pérmico inferior indica-nosum período de calma relativa. Citam-se apenas movimentosde certa importância no Sul da Europa, localizados entre uma eoutra destas formações (21).
Em Portugal poderia ter-se dado, também, um movimentode carácter local, sincrónico daqueles e relacionado com aintrusão granítica das Beiras. O Estefaniano foi cortado e profundamente metamorfizado por êste granito, que lhe é portantoposterior. As camadas autunianas do Buçaco parecem menosdobradas e menos atingidas pela compressão do que as do Estetaníano e isso, aliado à independência das duas formações,poderia indicar, talvez, um movimento local post-estetaniano eante-pérmico,
As formações pérmicas de Marrocos interessam-nos grandemente para a interpretação da geologia peninsular. O Autuniano é conhecido em Bou-Achouch, discordante sôbre o Viseanoe com grande abundância de Walchia, Oallipteris, Sphenophstlum longifolium, Taenionterls, etc., e em Keniíra, onde assentaem discordância sôbre o Viseano ou sôbre terrenos mais antigos,com uma flora que compreende Walchia piniformis, Odontopteris sub-cremüata, Sphenaphyllum lonçifolium, etc. Esta última
(21) R. CHOUBERT - Reeherehes sur la genése des ehaines paleozotqueset anteeambriennes. Re», de Geog. Phys. et de Geol, Dyn., vol, VIII, fase; 11935.
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formação, cuja base pode incluir-se ainda no Estetaníano, fornececarvão do tipo lignito, caso único em formações desta idade.
. Além destas, observam-se no Norte de ÁfriCa uma série deformações que os geólogos denominam a Permo-Triãssíco 'J ecujo estudo nos interessa. Em Kenifra o Perrno-Triássico énitidamente distinto do Autuniano, sôbre o qual parece repousarem discordância. As camadas superiores desta formação compreendem o Retiano (Mechra-Benabbou) e, talvez, mesmo oHetangiano em certos pontos do Prerif. Fora desta regiãoconhecem-se outros pontos em que o tôpo do Perrno-Triássicoé constituído por camadas do Lias, com íaunas bem datadas, doHetangiano ou do Sinemuriano.
A discordância entre o Autuniano e as formações perrno-triâssícas marca uma outra fase orogénica hercínica - a fasesaálica - que, como vamos ver, teve na Península importânciaconsideràvelmente grande. Esta fase dos movimentos hercínicossitua-se entre o Rotliegende inferior e superior e é a responsávelpelos dobramentos que atingiram as formações pérmicaspeninsulares atrás citadas, sôbre as quais aparece em díscordância o Triássico ou um complexo idêntico ao Perrno-Triássico de Marrocos.
Em Portugal é bem nítida esta discordância, pois, sôbre ascamadas autunianas do Buçaco. quási erguidas até à vertical,repousam as formações do Triássico superior, muito próximasda horizontalidade. Nos Pirineus franceses do departamentodo Ariege, em Saint Gírons, etc., observa-se o Pérmico inferiorem concordância com o Estefaniano mas, discordante com oPérmico médio ou Saxoniano, (5), localizando, assim. perfeitamente. a orogenia saãlica. No Nordeste de Espanha o Triássicoé discordante com o Estefaniano. Sôbre o Carbónico de Aguiró,cuja parte superior vimos corresponder ao Vestefaliano D,repousam com notável discordância angular formações permo-triássicas, atribuindo-se o dobramento das camadas carboníferas à orogenia astúrica (J9).
(22) Cf.: ALEJANDRO H. SAMPELAYO-Notas sobre la cuenca carboníferade Erill-Castell (Lérida). Notas y Comunicaciones dei Instituto Geológico yMinero de Espana, n.O 10-1942 (págs. 69-87).
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Em muitas outras regiões se encontra o complexo permo-triãssico, englobando terrenos formados após a orogenia saálica,no qual é impossível' separar o Pérmíco do Tríãssíco. NosPirineus orientais, Serra do Cadi e nos Pirineus aragoneses r'),observa-se, como em Marrocos, a passagem dêste complexo aoLias ou ao Cretácico, cujas camadas constituem o tôpo daformação. Isso mostra que ap6s a fase saálica houve umperíodo longo de relativa calma. A acção dos movimentos dafase palatina, última manifestação da orogenia hercínica não tevena Penfnsula influência visível.
No fim do Estefaniano nota-se na Península certa mudança nas condições mesol6gicas. Ao clima úmido e quenteque permitiu o intenso desenvolvimento da vegetação do Carbónico superior, sucede clima árido, com chuvas torrenciais,como é revelado pelas formações geológicas.
É êste o clima que domina durante todo o Pérmíco ecaracteriza ainda os primeiros tempos do Mesoz6ico..
** *
Pelo ligeiro esbôço paleogeogrãíico que atrás fizemos,podem avaliar-se as modificações profundas por que passou oterrit6rio que hoje é a Penfnsula Ibérica, no decorrer dostempos paleoz6icos e como do mar cambro-silúríco foram emergindo, pouco e pouco, as suas terras, de modo a apresentar nofim desta Era contornos quãsi idênticos aos actuais.
Relativamente aos tempos ante-câmbricos bem reduzidossão os nossos conhecimentos. Dos movimentos hur6nicos nadaou quãsí nada se pode dizer, nem quanto à sua importância,nem quanto à sua orientação e localização.
No fim do Câmbrico ou no inicio do Silúrico notam-semovimentos de certa amplitude, de natureza epírogénica, revelados pela lacuna ante-skidavíana, conhecida também na EuropaCentral e noutras regiões europeias (911). Autores há que rela-
(29) Cf.: A. DEMAY - Contribution à la synthêse de la ehaine hercymienne d'Europe-« Rev, de Geog, Phys. ei de Géol. Dyn.,vol. VII, fase. 3-1934.
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cionam êste facto com a primeira arremetida da orogenia eocaledónica, isto é, com a fase inicial dos movimentos tacónicos,
. cuja acção se traduziria pela formação de um geo-anticlinal,onde estavam compreendidas as regiões peninsulares. O queé certo é as formações do Silúrico inferior ou, melhor, ante-skidavianas serem, no geral, grosseiras, conglomeráticas, grêsosas, parecendo indicar o desgaste e a erosão de relê vosimportantes.
De igual modo, a lacuna que se observa entre o Ordoviciano superior e o Ootlandiano tem sido considerada comoresultante da última fase da orogenia tacónica, traduzida identicamente por um movimento epirogénico. Com o Ootlandianoa profundidade do mar que cobre as regiões hispânicas aumentae os depósitos tornam-se finos e argilosos. Para o fim da série,porém, de novo aparecem os sedimentos grosseiros, grêsososde mar pouco profundo, condições que se mantêm ainda nosprimeiros tempos do Devónico. Por isso se encontra em quãsitôda a parte passagem gradual e insensível de uma série paraoutra, mostrando débil acção dos movimentos neocaledónicosnesta parte da Europa. Apenas na região nordeste da Penínsulase assinalam discordâncias de certa importância.
O mar do Devónico inferior cobria ainda em grande parteas terras ibéricas; porém, no Devónico médio nota-se umaregressão em certas regiões, relacionada, talvez, com a fase finaldos movimentos éricos. No fim do Devónico superior a regressãoacentua-se e a quâsi totalidade das terras peninsulares ficaemersa; aparece-nos pela primeira vez em tô.ía a sua extensãoa Meseta Ibérica ou, mais propriamente, Maciço Hespérlca,maciço imenso sobressaindo dos mares paleozóicos. É lógicosupor que a esta fase final da emersão das terras peninsularesnão seja estranha a acção da orogenia bretã, provocando movimento epírogénico de larga amplitude.
O mar turnêsíano cobre apenas pequena zona do litoralportuguês; na região Nordeste formam-se, ao mesmo tempo,os primeiros depósitos continentais doCulm, numa regiãolitoral, freqüentemente invadida pelo mar. Logo em seguida,porém, no Viseano, regista-se larga e profunda transgressãoe o mar cobre de novo tôda a região cantabro-astúrica,
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abrangendo, para oriente, os territórios da Navarra, Huesca,Lérida e Gerona, etc., enquanto ao Sul invade o Alentejo e oAlgarve e penetra na Espanha cobrindo grande parte da regiãode Huelva. A orogenia sudética pode estar intimamente relacionada com esta transgressão, a qual marcaria o seu inicio, asua primeira arremetida; logo no principio do Moscoviano oudo Vestefaliano inferior se inicia nova regressão, a regressãonamuriana, contemporânea do paroxismo principal dos movimentos da fase sudética. O extenso mar do Carbónico inferiorreduz-se. então. pouco e pouco, a espaço relativamente limitado. Do mar que no fim do Viseano e nos primeiros temposdo Moscoviano cobria a região cantabro-astúrica, e que não eramais do que um prolongamento ocidental do mar que abrangiaas regiões do Leste- pois o calcário de "los canõnes» é, apenas,uma formação equivalente do calcário de fusulinas do Moscoviano alpino 'e russo-, ficam somente reduzidas bacias litorais, asquais vão constituir as bacias parálicas do Vesteíaliano, Notam-se,então, nestas zonas, períodos sucessivos de avanço e recuo domar ~ evidenciados pela alternância de sedimentos marinhos ede sedimentos de fácies continental. Assim se originam, pormovimentos de subsidência, grande parte dos leitos de carvãoasturianos.
O regime continental acentua-se a pouco e pouco, a vegetação. mercê de um clima quente e úmido, torna-se variada eluxuriante; no interior do Maciço Hespéríco formam-se numerosas bacias límnicas independentes.
Nos últimos tempos do Vestefaliano as próprias bacias.parâlicas fecham-se por completo e o mar deixa de as invadirperiodicamente, transformando-se em bacias límnicas. Sãoexemplo flagrante desta evolução as bacias carboniferas dasAstúrias.
É neste momento, no fim do Vestefaliano superior ouVestefaliano D, que os movimentos da fase astúrica sacodemviolentamente a Península,· provocando enrugamentos e efeitosgeológicos de larga envergadura. No decorrer do Paleozóicoé a primeira vez que o território peninsular sofre tão violentaconvulsão. Surgem. assim,cadeias de montanhas e relevosimportantes. A nosso ver, a orogenia astúrica representa, na
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Península Ibérica, a fase principal, o paroxismo máximo dosmovimentos hercínicos. A discordância que 'Se encontra portôda a parte entre o Estefaniano e o Vestefaliano ou formaçõesanteriores marca. bem a violência do fenómeno, data-o comprecisão.
Segue-se depois período de calma, longo e demorado,em que as cadeias de montanhas recém-formadas são erodidasfortemente. Os depósitos conglomeráticos do Estefaniamo inferior demonstram-no plenamente. A Península continua semeadade bacias interiores, limnicas-onde pulula uma fauna de bivalves,crustáceos e outros artrópodes de água doce, peixes, etc., - comregiões baixas, pantanosas, por entre cuja vegetação luxuriantee densa se cruzam insectos variados. .
Nos últimos tempos do Estefaniano e nos alvores doPérmico nota-se, porém, mudança completa. O clima é, então,árido; aos xistos do Carbónico superior sucedem grés e conglomerados de larga possança, argilas vermelhas, etc. A floracaracteriza-se pelo aparecimento de Calüpteris,
Estava já depositado o Autuniano inferior quando novafase orogénica veio atingir e sacudir violentamente a Península,dobrando e pregueando a série permo-estefaniana e as formaçõesanteriores. É a fase saálica dos movimentos hercínicos, que naregião peninsular representa, verdadeiramente, o último paroxismo dêstes movimentos. Parece, contudo, que certas formações estefanianas, como as de Portugal, teriam sido atingidasanteriormente por acções orogénicas. Trata-se, mesmo queassim seja, de movimentos de carácter local, talvez relacionadoscom erupções graníticas que metamorfizam o Estefaniano (I').
De modo geral, e onde se encontram juntamente, 'oEstefaniano e o Autuniano são concordantes e existe transiçãoinsensível de uma para outra série. Foi sôbre êles que vieramassentar, mais tarde, discordantemente, as formações permo-trlãssícas:
O clima mantém-se durante todo o Pérmíco com carácter
(84) Os granitos do Marrocos Central são considerados, também, post-astúricos e anteriores à deposição do Autuniano, portanto ante-saâlicos,Cf.: H. TERMIER. cit•.(nota 11) pág. 683.
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árido; é êste ainda que domina nos primeiros tempos do Mesozóico, no Tríãssíco, As formações são grosseiras, grêsosas, conglomeráticas, vermelhas e tão idênticas que impossível se tornaseparar as camadas pérmicas das triássicas. .
No inicio da Era Mesozóica a Península apresentavasensivelmente os contornos que hoje tem provàvelmente commaior extensão para Ocidente. Assim ficará ainda duranteo Triássico inferior. Logo em seguida, porém, com a transgressão do Mushelkalk o mar vai invadir grande parte daregião mediterrânea; pela regressão do Keuper retoma, umavez mais, os limites anteriores, mas em seguida a transgressãoliássica provoca a imersão de largas zonas litorais. A mudançadas condições geográficas e climatéricas é, nesta altura, profunda.
A concordância aparente e passagem regular que se observanas formações perrno-triássicas, em cujo cimo repousam comfreqüêncíà paralelamente camadas hetangíanas, slnemuríanaeou de formações mais modernas revela-nos o longo período decalma relativa de que gozou a Península nos últimos temposdo Paleozóico e início do Mesozóico. A fase palatina, derradeira manifestação da orogenia hercínica, não deixou nas formações peninsulares qualquer indício que acuse a sua acção.Depois disso, apenas se notam movimentos de carácter epírogénico, provocando ora emersões, ora imersões.
Dêste modo, o início da Era Mesozóica não foi assinaladona Península, por nenhum facto orogénico notável.
Pôrto, Março de 1943.