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O papel do Correio da APPOA
Dezembro. 2013
Gestão 2013-2014
Presidência Marta Pedó1ª Vice-Presidência Liz Nunes Ramos2ª Vice-Presidência Eduardo Ely Mendes Ribeiro1ª Secretaria Gerson Smiech Pinho 2ª Secretaria Fernanda Breda Maria Elisabeth Tubino 1ª Tesouraria Marcia Helena de Menezes Ribeiro 2ª Tesouraria Ieda Prates da Silva
Mesa DiretivaAlfredo Néstor JerusalinskyAna Laura GiongoAna Maria Medeiros da CostaBeatriz Kauri dos ReisDeborah Nagel PinhoEduardo Ely Mendes RibeiroFernanda BredaGerson Smiech PinhoLúcia Alves MeesLucia Serrano PereiraMarcia Helena de Menezes RibeiroMaria Ângela BulhõesMaria Ângela Cardaci BrasilNorton Cezar dal Follo da Rosa JúniorRenata Maria Conte de AlmeidaRobson de Freitas PereiraSidnei Artur GoldbergSilvia Raimundi FerreiraSimone Goulart KasperSimone Madke BrennerTatiane Reis Vianna
Correio da APPOA / Associação Psicanalítica de Porto Alegre. – Ano. 1, n. 1 (1993). – Porto Alegre, APPOA, 1993 –
Mensal ISSN 1983-5337 1. Psicanálise 2. Periódicos. I. Associação Psicanalítica de Porto Alegre – APPOA.
CDU 159.9(05)
Bibliotecária Responsável: Luciane Alves Santini CRB10/1837
dezembro 2013 l correio APPOA .1
editorial.
Nesta edição, comemoramos o final de uma etapa da história do
Correio da APPOA e o início de uma outra: o fim das edições impressas,
e o começo da versão 100% digital. A despedida não é fácil, muitos
lamentam o fim da materialidade do papel em suas mãos, as edições
organizadas na estante, o envelope que mensalmente alegra a abertura
da caixa de correio – praticamente um depósito de contas e folhetos de
propaganda nos dias de hoje. As cartas ainda existem, mas são cada vez
mais um objeto que resiste por nossa nostalgia, não por sua função de
comunicação, suplantada por e-mail, telefone, redes sociais. É nosso lado
mais nostálgico que também tem dificuldade de abrir mão do Correio
impresso em papel, parece que termina uma era e que nada mais será
como foi um dia. De fato, não será – aliás, como bem sabemos, nunca foi.
Em vez de distribuir lenços de papel para enxugar as lágrimas
causadas pelas saudades antecipadas, decidimos transformar essa úl-
tima edição impressa em uma comemoração, resgatando a história do
informativo que virou quase uma revista ao longo de seus 20 anos de
história. Descobrimos, em nosso mergulho nos arquivos do Correio, que
sua história se confunde com a história não apenas da APPOA, mas da
própria cidade, do país, do mundo. O correio, com seu caráter ágil e
correio APPOA l dezembro 20132.
editorial.
antenado nas questões da atualidade, acompanhou as transformações
da pólis ao longo desse tempo.
Não é só por questões de economia de recursos – financeiros e natu-
rais, ao sabor de nossos tempos – que decidimos migrar o Correio para o
meio digital. O que poderia ser uma “traição da tradição” prova ser justo o
contrário, como nos mostra um passeio pela história da publicação: fazer
circular, de forma ágil e prática, informações relevantes para a instituição.
Nisso estão incluídas não apenas as notícias e divulgações de eventos, mas
as questões que nos fazem trabalhar – e que trabalho já deram, e dão! –,
em um movimento que faz circular, aumentar, proliferar as possibilidades
e transferências de trabalho. Também vão ao encontro de um movimento
do Correio de abertura cada vez maior para fora da APPOA, circulando em
outras associações, instituições, consultórios, universidades...
Buscamos, com o novo Correio, manter fidelidade ao seu espírito,
bem como fazer uma transição o mais suave possível – reconhecemos
que é um salto e tanto, e não queremos que ninguém se machuque! Para
quem ainda não tem muita afinidade com as telas, haverá possibilidade
de imprimir a edição com facilidade. Para quem quiser se aventurar com
elas, a navegação deverá ser instintiva e próxima à experiência de leitura
de uma publicação impressa. Para quem já é íntimo das novas tecnologias,
queremos incluir recursos que enriqueçam a experiência interativa, com
ferramentas de compartilhamento e busca mais sofisticadas.
E, para não perdermos o enlace com a origem do nome, pois tratava-
-se, no início, de um informativo distribuído por correio entre associados,
as novas edições seguirão chegando aos assinantes mensalmente por
correio – eletrônico.
Boa leitura!
dezembro 2013 l correio APPOA .3
notícias.
Mudança de endereço e telefone
Luciana Loureiro comunica seu novo endereço eletrônico:
dezembro 2013 l correio APPOA .5
temática.
Breve histórico do Correio da APPOA
Jaime Betts
Marta Pedó
A primeira edição do Correio da APPOA foi em janeiro de 1993.
Foram oito páginas xerocadas de um original impresso com impressora
matricial, trazendo diversas notícias sobre o funcionamento da Asso-
ciação. Dentre elas, a divulgação da primeira mudança na presidência e
diretoria da Associação e renovação de 1/3 da mesa diretiva, bem como
das coordenações das comissões. A primeira Jornada Clínica foi anun-
ciada abordando o tema “A Função Paterna e o Estatuto do Sintoma”; o
primeiro Relendo Freud e Conversando sobre a APPOA foi programado
como “Fim de Semana de Trabalho” para discutir o texto “Além do Prin-
cípio do Prazer”, deixando “a tarde e a noite para discussões informais,
ampliação dos debates e interlocução entre membros e participantes da
nossa instituição.” Foi criada a comissão do Correio, vinculada à de
correio APPOA l dezembro 20136.
temática.
Publicações, tendo como primeiros coordenadores Jaime Betts e Maria
Auxiliadora Sudbrack.
Depois de três anos de trabalho desde sua fundação, o volume de infor-
mações, atividades e reuniões na APPOA cresceu muito, e junto com isso
o volume de correspondências e telefonemas entre os associados também
aumentou. Assim, como se pode ler no primeiro editorial, o Correio da
APPOA surgiu com a finalidade de “facilitar a circulação de informação
na comunidade dos integrantes e amigos da APPOA”, “concentrando men-
salmente em cada edição notícias e informações dos diversos setores da
instituição (...), bem como dar a conhecer as posições da Mesa Diretiva em
relação a questões concernentes à Associação e à psicanálise em geral.”
Daí o nome: Correio da APPOA.
Com a criação do Correio se buscava também fazer uma questão de
economia de tempo, trabalho e dinheiro. Podem imaginar a trabalheira
que dava e tempo que consumia colecionar as páginas de cada uma das
várias correspondências mensais, dobrar, etiquetar e levar aos correios:
na época, o fax era novidade, e e-mails pouca gente tinha (internet mais
no âmbito da Universidade, poucas pessoas começavam a se aventurar
– era discada, lenta, chata, alguns de nós tínhamos PCs – na maioria
PCxT…). Tínhamos que enviar as notícias (quaisquer) oficiais pelo correio
(cartas!). Ou falávamos pelo telefone (alguns, gigantescos, celulares; em
geral, telefone fixo).
Buscando melhorar a qualidade da impressão e diagramação, os origi-
nais do segundo número do Correio (e alguns seguintes) foram produzidos
no PCat (tecnologia de ponta na época!) e rodados na impressora laser da
casa da Marta Pedó, depois xerocados e distribuídos pelos Correios.
A Seção Debates do Correio foi criada a partir do quarto número e
bem mais adiante foi criada a Seção Temática, que já faz tempo compõe o
principal conteúdo do mesmo, tendo em vista que a divulgação de infor-
mações, atividades e comunicação entre associados foi sendo rapidamente
substituída pelo e-mail.
dezembro 2013 l correio APPOA .7
O papel do Correio da APPPOA.
A rapidez das mudanças tecnológicas coloca novos desafios, encruzi-
lhadas e possibilidades. Também para o Correio da APPOA, que passará
a ter sua edição publicada virtualmente na nuvem digital, podendo ser
acessado internacionalmente e feito o download para o hardware pessoal
dos interessados de forma quase imediata. Um Correio sintonizado com
a diacronia e sincronia de seu tempo.
dezembro 2013 l correio APPOA .9
temática.
O primeiro Correio a gente nunca esquece
Robson de Freitas Pereira
Este esboço de título faz uma paráfrase de um antigo comercial de tv,
acho que mais velho do que a idade do Correio da Appoa, que comple-
tou vinte anos neste 2013. O anúncio tinha uma locução que falava das
memórias e do inesquecível primeiro sutiã, tanto para as meninas quanto
para os meninos, dependendo do ponto de vista. Outro dia, revendo minha
coleção, desde os primeiros números e diferentes capas e formatos, topei
com um artigo que escrevi com esta citação inicial.
Estive envolvido com o Correio desde seu “pré-natal”. Conforme
meus colegas escreveram, ele surgiu como efeito do próprio crescimento
da APPOA. De algumas necessidades e outros desejos. Um deles: que a
instituição pudesse ter mais um “canal de comunicação” (melhor colocar
aspas para que fique bem entendido que psicanalistas sabem dos limites
da soi disant comunicação) com seus associados e a comunidade que se
interessa pela psicanálise. Na época, ficamos com duas publicações; a
correio APPOA l dezembro 201310.
temática.
outra era a Revista, também nascida do Boletim da Appoa. Aperiódicos
veio depois.
Para mim, devido a uma experiência jornalística anterior, tinha o
objetivo de que ele pudesse ser um veículo ágil, por isto mensal, suporte
para a informação e também para nossa formação. Explico: percebemos
que os textos poderiam ser uma forma de abrir espaço para a produção
dos membros. Sem a exigência de um texto para a revista, um “work in
progress”, mas não uma garatuja, uma vez que não estávamos abrindo
uma oficina de escrita. Passados esses anos, verificamos que os textos do
Correio serviram de referência local e nacional e mesmo quem ia para o
exterior sentia-se acompanhado ao poder ler. Chegamos a receber pedidos
de que ele estivesse indexado para que pudesse ser citado em trabalhos
acadêmicos. Mesmo muitas pessoas de outros Estados se aproximaram
da APPOA através dos textos. Cumpriu sua função. Talvez pudéssemos
observar que com o passar do tempo os textos não eram bem um “work in
progress” e começaram a exigir tanto quanto qualquer outra publicação.
Sinal dos tempos, mas também do cuidado com sua edição que foi se apri-
morando, com revisores da comissão e profissionais. Apesar da exiguidade
dos prazos, lembro de muitos artigos tendo que ser discutidos com os au-
tores, ou mesmo de sua pertinência editorial. Neste caso, ficava evidente
a diferença de um correio qualquer; pois ali não valia aquela advertência:
“os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores”. Afinal,
tratava-se de uma publicação institucional.
A experiência de fazer parte da Comissão do Correio é singular para
cada um. Entretanto, foi visível a dedicação e empenho dos integrantes
das diversas formações da comissão. Quem ficava mais tempo, podia
testemunhar do grau de aprendizado sobre a vida institucional, com seus
efeitos transferenciais aparecendo de diferentes maneiras a cada número.
Tentar lembrar de todos os nomes seria impossível, mas Jussara Porto
que emprestou seu registro profissional e trabalhou em todos estes anos
na sua divulgação merece ser referida.
dezembro 2013 l correio APPOA .11
O papel do Correio da APPPOA.
O que nos leva a um dos problemas da publicação: sua circulação e
distribuição. Este sempre foi um nó górdio, enfrentado com a determi-
nação de que uma publicação não pode ser o sumidouro dos recursos da
instituição. Em determinados momentos, onde a seção temática chamava
atenção além dos psicanalistas, a edição esgotou. Em outros, encalhou.
Vicissitudes da vida das publicações. Tivemos que reformular a impressão
algumas vezes, renovar estratégias de assinaturas e vendas avulsas, até
chegarmos ao ponto de transformá-lo virtualmente. Esta será sua nova
fase. Me dou conta de que escrevo no plural, mesmo quando não participei
diretamente do processo (este da virtualização por exemplo). Mas discuti
e incentivei o que achava que era importante para que nossos escritos e
ideias pudessem ter o suporte mais adequado. Acredito que este é um
dos legados desta experiência: falar em nós, sendo uns e outros, mesmo
não estando mais na comissão, é reconhecer que algo se transmitiu neste
tempo. Vários puderam assumir a edição e tomar iniciativas de abertura
de textos e temas, tanto que acompanhassem a vida institucional, como
as jornadas, relendos e percursos quanto os números dedicados ao ensino
dispensado ou aos eventos da cultura que nos parecessem “dignos de nota” (leia-se de um número).
Vamos para outro formato, novo suporte para o Correio da APPOA. Na
verdade, acho que também podemos dizer que o primeiro correio pode ser
esquecido. Não precisamos ser saudosistas. Já temos a memória inscrita
no corpo, testemunhamos uma transmissão da experiência, compartilha-
mos a aposta nos fundamentos. Assim, podemos renovar a disposição de
lidar com as faltas, vivenciar as surpresas e desejar longa vida para nosso
novo correio.
dezembro 2013 l correio APPOA .13
temática.
Quem te viu, quem te vê
Marcia da R. Lacerda Zechin
Depois de vinte primaveras, o Correio da APPOA cresceu. Das
primeiras cartas até seus mais recentes números, tem-se muita história
pra contar.
Para mim o Correio da APPOA significa um espaço do vivo da ins-
tituição. Tudo aquilo que de certa maneira circula enquanto produção,
questionamentos, debates, apostas de trabalho, a escuta da clínica, do
cotidiano no nosso social, as transformações e percorridos do mesmo,
desde questões mais simples até temas mais pungentes, culminando com
os diálogos que a psicanálise tem feito com outras disciplinas e fazeres.
A APPOA, por sua vez, como uma representante privilegiada neste
espaço sendo mensalmente apresentada e dando a ver sua posição. Mais
especificamente na composição de cada Editorial, que não se limita a falar
sobre a temática de cada número, mas sempre cuida de fazer as ligações
que se acham necessárias a cada momento das produções em torno da
psicanálise, no dentro e fora da instituição.
correio APPOA l dezembro 201314.
temática.
Como leitora passei a recebê-lo em novembro de 1996. Lê-lo, naquela
época, extrapolava a necessidade de qualquer jovem profissional recém-
-formado em abastecer-se das questões da psicanálise vistas sob o ângulo
dos mestres que cada iniciante busca nutrir-se. Era algo nosso, aqui de
Porto Alegre, que nos incitava a continuar a difícil tarefa de estudar/
transmitir a psicanálise.
Fazia conhecermos esta instituição que se abria de um modo muito
interessante. Sem arrogância e soberba, com um acolhimento sempre muito
simpático, mesmo que nada ingênuo, ainda bem, em relação à proposta da
ética psicanalítica. Apostando, mas dirigindo a cada um o compromisso
que começava no particular, mas que se estendia à Associação.
Ali nos abastecíamos e tínhamos a possibilidade de começar a inte-
grar este espaço institucional da Associação. O Correio abria esta porta,
noticiando, convidando, deixando transito livre ao desejo de cada um no
seu processo produtivo, bem como o de fazer parte da Associação.
Penso que ainda produz este efeito, mesmo que, ao longo de todos esses
anos, seu formato tenha passado por transformações que apontam para o
crescimento desta instituição. Obviamente muita coisa mudou, mas não
no sentido do cerne, daquilo que lá nos primeiros números estava escrito
e inscrito. Já no primeiro editorial somos informados: O Correio seria o
veículo, o canal no qual a APPOA, além de fazer circular as informações
na “comunidade dos integrantes e amigos da APPOA”, daria a “conhecer
as posições da Mesa diretiva em relação a questões concernentes à Asso-
ciação e à psicanálise em geral” (I Editorial, n° 1, 1993).
Em setembro de 2007 passei a integrar a comissão. O que posso dizer
nesse pequeno espaço de tempo numa história de quase 20 anos? Quando
os colegas me convidaram a responder esta pergunta logo pensei, não é
tanto tempo assim, para se falar de memórias.
Mas de um lugar a outro, percebi que mais do que uma publicação
mensal, seus números também iam computando uma historiografia, não
só da APPOA e da psicanálise em Porto Alegre, como também do nosso
dezembro 2013 l correio APPOA .15
O papel do Correio da APPPOA.
social. Uma memória viva, vários números contando sobre nossa história.
O “Fim de Semana de Trabalho” aos poucos foi se nomeando “Relendo
Freud”, e depois se renomeando “Relendo Freud e conversando sobre a
APPOA”. Há muitos outros achados e histórias que podemos resgatar na
releitura dos Correios da APPOA.
Dentro da comissão percebi o grande compromisso que cada número
representa com a transmissão da psicanálise. Sempre acompanhando
os debates e questionamentos em curso, o Correio dialoga, se posiciona,
transmite.
O que posso falar destes sete anos de Correio é de um trabalho muito
aplicado e cuidadoso por parte da comissão tanto na perspectiva daquele
que escreve quanto daquele que lê. Cada número é pensado e articulado
sempre com um bom debate e uma abertura que possa viabilizar a sua cir-
culação. O Correio da APPOA guarda espaço para falar de si, dos trabalhos
da Associação, com os frutos colhidos a partir daí, tal como os números
que apresentamos o Relendo Freud, o Percurso de Escola da APPOA, O
Instituto APPOA, as Jornadas e Congressos e alguns grupos e seminários
que se tornaram mais que frequentes, virando números com data certa
para publicação. Mas também se abre para interlocuções outras.
Recordando os instrumentos e ferramentas que o Correio já se valeu
para fazer veicular seu discurso, percebemos os momentos que demonstram
a evolução tecnológica pelas quais passamos. No seu início as notícias
chegavam datilografadas, depois passamos ao disquete e hoje utilizamos
o recurso da rede onde recebemos grande parte do conteúdo via e-mail,
mas ainda com espaço para a produção direta da comissão, naquilo que
é montado e articulado em nossos encontros de trabalho. Ainda usamos
o papel e a caneta!
O que dizer sobre esse novo momento, em que se abre um novo for-
mato, mais do que isso, uma ampliação do Correio da APPOA ainda não
totalmente computada por nós? Num mundo das novas tecnologias, o que
chamamos espaço virtual passou a ser uma realidade cotidiana inques-
correio APPOA l dezembro 201316.
temática.
tionável, um caminho sem volta, o que na verdade pode nos reportar a
tantas outras inovações do passado que tanto assombraram no momento
de sua aparição, mas que aos poucos foram inscritas como uma passagem
necessária.
É o homem redescobrindo novas maneiras de se pronunciar, de fazer
seu discurso circular, chegar mais próximo de um número maior de leitores.
Penso que o papel, enquanto veículo de informação e comunicação, não
vai se extinguir, sempre terá seu espaço e seu glamour, porque não?! Mas
aos poucos, a velocidade das inovações redefinem nossos instrumentos,
de acordo com o arranjo ou acomodação das necessidades e demandas
das novas gerações.
Na esteira desta passagem necessária e inevitável pensamos o Correio
Virtual como uma nova aposta. Não receberemos mais em nossa casa uma
edição que foi montada, editorada e enviada a uma gráfica, mas lançada
diretamente na rede. Obviamente que não é apenas uma mudança dos
meios, mas uma abertura de nosso limite, até onde vamos estar.
Ainda estaremos nos dirigindo a “comunidade dos integrantes e ami-
gos da APPOA”, com certeza. Muitos ainda terão que se acostumar com
a nova proposta. Saudosismo à parte, estamos em cheio no momento em
que somos convocados a nos dirigir a um número maior de leitores via
rede. É um novo jeito de fazer funcionar o nosso sempre renovado desejo
pela divulgação e transmissão da psicanálise. Apostamos na agilidade e
abrangência que o virtual nos permitirá, sem deixar de lado a responsabi-
lidade acerca da ética psicanalítica.
Os efeitos e frutos que vamos colher, só o tempo nos dirá, mas com
certeza, será algo do qual poderemos dizer que somos parte.
dezembro 2013 l correio APPOA .17
temática.
O Correio e suas capas
Que não se pode julgar um livro pela sua capa, já sabemos. Mas isso
não quer dizer que as capas não possam contar uma história. A seguir,
em ordem cronológica, os diferentes layouts de capa que o nosso Correio
já teve. Bom, não se pode julgar a qualidade de um livro pela sua capa;
mas sua idade, talvez…
correio APPOA l dezembro 201318.
temática.
dezembro 2013 l correio APPOA .19
O papel do Correio da APPPOA.
correio APPOA l dezembro 201320.
temática.
dezembro 2013 l correio APPOA .21
O papel do Correio da APPPOA.
correio APPOA l dezembro 201322.
temática.
dezembro 2013 l correio APPOA .23
temática.
O Correio, por ele mesmo
Ao longo destes 20 anos, o Correio nos contou uma história: a nos-
sa história, a história da APPOA. Mais do que isso, o Correio também
narrou a história do mundo – evidência de que, para nós, a Psicanálise
só opera enquanto leva em conta a Cultura, enquanto interpreta e se
mantém curiosa por aquilo que acontece todos os dias. Se a clínica é do
“cotidiano” é porque estamos sempre atentos ao que está do lado de fora
da janela dos consultórios; a nossa prática, enfim, se dá no mundo e é por ele interrogada.
Sendo assim, convidamos os leitores a lerem a sua própria história,
narrada pelo Correio do APPOA:
Correio n° 2“(…) numa das notas da Comissão de Ensino estão as seguintes
q’estões: quais as consequências que produz, sobre aquilo que se ensina,
o fato desse ensino estar inscrito no trabalho de uma instituição? Qual a
correio APPOA l dezembro 201324.
temática.
articulação entre o conceitual e os efeitos inconscientes do discurso na
transmissão da psicanálise? Até que ponto e sob quais condições um ensino
tem efeitos de formação de um psicanalista?”
Correio n°4
“Completaram-se já três anos da Ata de Fundação da APPOA...foi
aprovado o relatório moral, em que foi enfatizada a distinção entre institui-
ções fundadas sobre a exploração e perpetuação do amor de transferência
com a decorrente captura e alienação nas escolhas narcísicas, daquelas
fundadas sobre a dissolução contínua desse amor, permitindo uma trans-
ferência de trabalho em que cada um tenha a chance de se confrontar com
o significante que o faz dividido. Seguiu-se longa reflexão em torno da
questão do projeto de formação e ensino na instituição e das dificuldades
para responder à demanda de formação de modo a não impossibilitar a
transmissão da psicanálise.
Como afirmamos na Ata de Fundação, a psicanálise é uma prática que
questiona as condições que acuam o sujeito à necessidade de um consolo.
Decorre disso que suportemos os descentramentos e estranhamentos que
esse questionamento produz”.
Correio n° 5 “A proposta da Seção Debates é a colocação rápida em discussão
de questões que vão surgindo no decorrer do mês, fazendo circular entre
membros e participantes fragmentos da vida associativa e da sua relação
com a pólis, segundo membros e participantes situem essas questões, tendo
sempre no horizonte o pano de fundo da sua relação com a psicanálise;
em última instância, um registro de percurso da formação do analista, que
é sempre longa e indeterminada”.
dezembro 2013 l correio APPOA .25
O papel do Correio da APPPOA.
Correio n° 12
“A edição de março traz como principal destaque o Programa de
Ensino e formação de 1994. A Comissão e os coordenadores de Ensino
trabalharam em 93 sobre a questão da formação do analista, do ensino da
psicanálise e sua transmissão na APPOA. O programa é um dos efeitos
desse esforço. Em 1994 estamos dando início ao Percurso de Escola (…)
Percurso e escola implicam manter em aberto a interrogação singular de
cada um a respeito do percurso de sua inscrição subjetiva no campo da
psicanálise ao mesmo tempo em que os conceitos fundamentais são con-
struídos via escola”.
Correio n° 22
“(…) um trabalho da envergadura que a APPOA vem propondo
não é feito sem a disponibilidade e responsabilidade das pessoas que
integram seus quadros associativos ou participando das mais diversas
instâncias. Disponibilidade, estilo e criatividade para suportar as di-
ficuldades que a vida institucional, leia-se social, impõe a cada um...
desejar saber, fazer alguma coisa diferente do que a simples repetição
de nossos sintomas é dar estatura a um real interesse na psicanálise.
Não recuar nesta proposta de constante renovação e firmeza do corte
psicanalítico, base de fundação da APPOA, também é um dos sentidos
da renovação da mesa diretiva”.
Correio n° 23
“Com a realização da Assembléia Geral Extraordinária de seus mem-
bros, a APPOA reviveu um dos momentos mais importantes do trajeto
institucional... no momento da Assembléia renova-se o ato simbólico de
fundação da APPOA. É uma ocasião ímpar dos membros poderem ratifi-
car seu engajamento nesta proposta institucional que visa a preservação
do que há de mais vivo, expressivo da experiência analítica, dos efeitos
correio APPOA l dezembro 201326.
temática.
dessa prática legada por Freud e Lacan (…) ao buscar romper com uma
relação especular, principalmente em suas práticas institucionais, espe-
ramos que uma renovação – da Mesa – seja signo de um desejo vital de
rompimento com a morbidez. Para que a psicanálise não fique relegada
aos interesses narcísicos e de prestígio. Para que possamos ter consciência
da responsabilidade de que ao reconhecer uma falta, estejamos conformes
a uma ética que não é a do conforto prometido pelo discurso dominante.
Sabemos que nisto os psicanalistas não estão sós, nem querem a solidão
da auto-suficiência mortificante. Bem vindas as discussões enunciadas
dos mais diversos cantos e saberes”.
Correio n° 25
“Este ano encontramos uma denominação para a atividade que até então era apenas conhecida como ‘Fim de semana de Trabalho’: Relendo
Freud, nome que surge como consequência desses encontros”.
Correio n° 27
“Quais os efeitos da realização deste desejo de estarmos cada vez
mais em contato com as manifestações culturais/intelectuais da cidade?
Neste esforço de exogamia, como estamos lidando para fazer a difusão da
psicanálise, sem que ela perca a força subversiva e o valor que sempre
caracterizou a descoberta freudiana?”
Correio n° 28
“A psicanálise, desde Freud, não se propõe como visão de mundo
Weltanschäung e, tampouco acredita que seja dona da verdade. Reconhece
esta falta radical que a qualquer momento demonstra que a verdade, como
A mulher, é não-toda. Por isso os psicanalistas se reúnem em congressos,
jornadas, simpósios com o intuito de dialogar sobre o que e como estão
fazendo, elaborando sua prática”.
dezembro 2013 l correio APPOA .27
O papel do Correio da APPPOA.
Correio n° 29
“Estamos no ano do centenário e a psicanálise figura na mídia im-
pressa com intensidade (…) não faltaram opiniões contrárias de terapeutas
dos mais diversos ramos e de soi-disant psicanalistas que afirmam que a
psicanálise está morta e enterrada.
Diferente de outras disciplinas que também chegam ao final do século
XX, para a psicanálise, os restos são a marca do que não pode ser aprisio-
nado pelo vocabulário do conhecimento. A verdade não se confunde com o
saber e esta separação nos permite desejar apesar do mal-estar na cultura”.
Correio n° 30
“A abertura de dois novos espaços de discussão na APPOA (…) soma-
dos aos já existentes (…) e a possibilidade de diálogo (que tivemos) quando
da passagem de Elisabeth Roudinesco (por Porto Alegre,) suscitam alguns
comentários que merecem registro.
(…) Garantir esta possibilidade é uma das maneiras de permitir que
um sujeito possa devolver para sua comunidade algo que foi elaborado
a partir de sua inserção e trânsito nesta comunidade. Dizendo de outra
forma: um psicanalista paga sua dívida com a psicanálise de diversas
maneiras, entre elas, colocando sua produção publicamente, reinserindo
na cultura aquilo do qual é tributário. Demonstrando em ato a operação
de seu bem fundado interesse na psicanálise... saindo do isolamento que
a vida cotidiana frequentemente nos coloca.
(…) Simultaneamente, o encontro destinado aos psicanalistas (na
segunda-feira pela manhã) propiciou que diversas questões fundamentais
da prática psicanalítica (o tempo da sessão, o enquadre, a interpretação,
a imigração dos psicanalistas para a América do Norte, a diferença entre
psicologia e a psicanálise, entre outras – pudessem ser debatidas entre os
membros da Associação e participantes de instituições psicanalíticas das
mais diversas orientações). A biografia intelectual de Lacan e a história da
correio APPOA l dezembro 201328.
temática.
psicanálise na França permitiram uma reflexão sobre a prática e a história
da psicanálise em nosso meio”.
Correio n° 31
“O mês de dezembro é especialmente importante para a Associação.
(…) Além de tradicionalmente ser uma época agradável – verão, festas na-
talinas, jacarandás em flor nas ruas de Porto Alegre (…) marca a passagem
de mais um aniversário da APPOA.
(Os psicanalistas, de uma maneira geral, em sua prática não estão
muito preocupados com o tempo cronológico. Afinal, a atemporalidade
é uma das formas pelas quais Freud caracterizou o inconsciente. Entre-
tanto,) em se falando da história de uma instituição psicanalítica, 17 de
dezembro de 1989 tem um valor de ato, este que o sujeito só reconhece
os efeitos posteriormente.
Diferentemente de uma ação qualquer, um ato marca a história de uma
pessoa ou de uma comunidade de maneira irreversível, tendo cada um a
responsabilidade de arcar com as consequências desta irreversibilidade,
pois cada sujeito tem uma forma particular de mostrar seu estilo.
Do ato de fundação da APPOA nós somos testemunhas de seus efeitos.
Das mais diferentes maneiras, ao longo destes anos, lidamos, nos ocupa-
mos com a importância de ter uma instituição psicanalítica como lugar de
referência. No mínimo para tentar dar conta das questões que envolvem
o reconhecimento e as possibilidades de transmissão da psicanálise, só para citar dois assuntos”.
Correio n° 33
“Depois de seis anos intensos (…) de trabalhos, projetos comparti-
lhados, elaborações dialogadas (…) estamos em nova sede. Além de todo
o significado que uma mudança representa, o próprio espaço físico novo
coloca algumas particularidades (…) viveremos a partir de agora, uma
forma diferente de compartilhar o espaço (…)
dezembro 2013 l correio APPOA .29
O papel do Correio da APPPOA.
(…) Não foi por acaso que tivemos como um dos temas de pauta em
nossa última reunião da Mesa Diretiva, ( na sede antiga,) o Fórum – esta
iniciativa tomada há alguns anos, para atender uma demanda clínica
dirigida a instituição e, permitir uma reflexão sobre a especificidade
deste tipo de trabalho. Hoje...podemos reconhecer a necessidade de
mudanças na proposta. Para iniciar, a garantia de um espaço real para o
Fórum, na nova sede, a fim de que um novo projeto possa ser discutido
e elaborado.
Por falar em novo projeto, estamos dando a conhecer o novo programa
de Ensino (…) comentar todas as atividades seria descabido (pelo menos
neste espaço). Entretanto, uma observação deontológica impõe-se: ensino
da psicanálise só se justifica se ele é efeito de um discurso. Este discurso
que desde Freud permite e responsabiliza os psicanalistas a se colocarem
em causa.
Colocar-se em causa porque a transmissão da psicanálise – para que
não seja mais uma forma de religião ou de missão impossível – implica
que o sujeito questionado saiba lidar com os efeitos da castração. A trans-
missão e a possibilidade do sujeito, está jogada neste intervalo entre o
saber e a verdade”.
Correio n° 35
“Maio é o mês das noivas, das mães e também comemora-se o Dia
Internacional do Trabalho. Temos três temas muito caros a nossa vida: o
trabalho, a conjugalidade e a maternidade.
A psicanálise reconhece sua dívida neste assunto (…) pois o que seria
de Freud se não acreditasse no desejo de sua mãe (Amália); ou se não tivesse
se apaixonado por Martha... a convivência com as primeiras analisandas
e psicanalistas (aliás), o que a psicanálise nos ajuda a descobrir é que o
desejo é essencialmente desconhecimento, falta, uma vez que conhece-
mos aquilo que não desejamos...os psicanalistas tiveram a oportunidade
de reconhecer que com relação ao desejo, não se trata de uma questão de
correio APPOA l dezembro 201330.
temática.
gênero, mas de uma posição discursiva, leia-se simbólica, que permite
situar o outro lugar ao qual nos endereçamos e do qual recebemos nossos
desígnios. Falar em mãe ou esposa apresenta simultaneamente o marido
e o pai. Uma posição implica a outra, não existe sem a outra, são como
dois significantes, só podemos identificá-los porque podemos reconhecer
sua diferença. Dois elementos articulados por uma falta...nos interessa
discutir quais os efeitos ou possibilidades de uma articulação onde até nas situações de dualidade mais extrema, este terceiro, este outro lugar,
mesmo negado, forcluído ou castrado está aí, organizando o jogo”.
Correio n° 40
“As discussões a respeito dos sintomas sociais hodiernos continuam
em pauta (…) e ao que tudo indica terá lugar por bastante tempo ainda).
(…) Aos psicanalistas interessa mais em pensar algumas interpretações
possíveis que levem em conta esta falta radical do valor universal que
enfim, nos organizaria de uma vez por todas. Nem promessas da ciência
moderna, nem promessas religiosas atualizadas.
A tarefa requer esforço e solidariedade dos próprios praticantes da
psicanálise, neste momento, onde o pensamento hegemônico é da exac-
erbação do individualismo. Entretanto, uma das dívidas que podemos
reconhecer com nossa experiência de análise é que apesar de nossa solidão
frente à responsabilidade de nossos atos, estes mesmos atos só podem ter
suas consequências analisadas em uma articulação com os outros. Neste
sentido, parafraseando Lacan (citado por M. Safouan), entre dois sujeitos é a palavra ou a morte. A relação especular é necessária, mas não suficiente
para nossa sobrevivência.
(Sobrevivência e atualização da própria psicanálise) onde sobreviver
não quer dizer simplesmente reproduzir-se, manter-se alheio aos sin-
tomas que gritam nos consultórios e instituições psicanalíticas ou não.
Solidariedade, então, com uma forma de transferência de trabalho e, não
simplesmente como uma reprodução do amor de transferência”.
dezembro 2013 l correio APPOA .31
O papel do Correio da APPPOA.
Correio n° 41
“Freud teve a intuição do alcance que suas obras teriam se ele não
cuidasse de cultivar esse suposto saber que cada texto psicanalítico possui.
Assim, a instituição aparece como um lugar de garantia(...depois do retorno
a Freud, proposto e defendido por Lacan,) as instituições psicanalíticas
têm a função de preservar a psicanálise – seu corte – e possibilitar a con-
tinuidade da formação de seus membros, sabendo que esta não finaliza
com o término de uma análise. Possibilitar esta tarefa interminável, uma
vez que um analista sempre terá formações a percorrer, implica também
em barrar a especularidade que advém da transferência amorosa, seja com
um mestre ou com um paciente... o exercício desse ‘des-encantamento’ é constante, requer coragem e capacidade de invenção; pois não se trata de
reproduzir fórmulas ou palavras de ordem”.
Correio n° 64
“Você está bem no seu lugar? Nem sempre, nem sempre. É impossível
estar bem no ‘seu’ lugar”.
Correio n° 66
“Estamos em março e, como diz a música (‘Águas de Março’), são as
águas que fecham, bem como a promessa que abre. Mas, como os psica-
nalistas não pautam seu trabalho orientados por promessas, é o tempo de
enunciar os projetos do ano. É o tempo que se convencionou recomeçar.
Neste ano, a vida institucional se reorganiza, com a renovação na condu-
ção da APPOA. A cada dois anos, procede-se à substituição de um terço
da mesa diretiva e também da função da presidência. Assim, refunda-se
o pacto institucional, ampliando-se as responsabilidades nas decisões
dos rumos da instituição, na medida em que mais colegas passam a par-
ticipar diretamente da sua condução. Felicidades à nova direção e que
correio APPOA l dezembro 201332.
temática.
continuemos mantendo a força de uma vitalidade que é tão particular e
tão característica da APPOA”.
Correio n° 67
“O que Lacan fez com o texto freudiano, toca-nos fazer com o texto
lacaniano. Mas aqui encontramos dificuldades adicionais. Como Lacan
deu grande valor ao aspecto oral de seu ensino, e ainda convivemos com
os que foram seus alunos, volta e meia topamos com o que Lacan disse e
não simplesmente com o que ele escreveu”.
Correio n° 68
“APPOA foi fundada em 17 de dezembro de 1989. Começamos, hoje, a
transitar pelo seu décimo ano. Beira de uma data decimal, que reatualiza a
imaginária equação do fim de qualquer coisa e a esperança de algo novo.
Torna-se então propício lembrarmo-nos do que inspirou sua fundação e
algumas de suas consequências.
Pelo menos três pontos cabe destacar nessa origem: o primeiro é o da
renúncia à complacência egóica. Com efeito, a APPOA se forma à partir
da dissolução de transferências particulares, canalizadas em direção à pessoa de seus primeiros organizadores e fundadores. Sendo que esse
gesto acabou por transformar-se em princípio, a tal ponto que aqueles que
não se mantiveram nessa posição acabaram por ficar fora de seu processo
criativo. No cerne dessa renúncia se articulou a condição para a quebra
incessante de qualquer tentativa de mestria permanente – mestria, então,
somente como lugar de passagem obrigatório do discurso. Ou seja, a rup-
tura constante do par amo-escravo.
O segundo ponto orientou, e orienta, nosso trabalho de um modo
decisivo: a demonstração de que não há solução de continuidade entre
intenção e extensão. Acabamos, por isso, dando vida às teses que, na leitura
exegética de Freud, Jacques Lacan formalizou sobre a articulação – não
somente possível, mas necessária – entre a clínica individual e a social.
dezembro 2013 l correio APPOA .33
O papel do Correio da APPPOA.
Nesse item, temos que destacar as precisas contribuições de Contardo
Calligaris, quem, com toda a generosidade, colocou nas nossas mãos al-
gumas ferramentas metodológicas que se mostraram de grande valor para
assegurar a presença da psicanálise na pólis.
No terceiro ponto, situamos nossa invenção de conjunto: esse delicado
mecanismo de relojoaria, que temos montado cuidadosamente durante
todos esses anos, que hoje conceitualizamos sob o título de ‘os destinos da
transferência’. Eis que a APPOA aposta numa contribuição possível para
a instituição psicanalítica: colocar o acento na produção de cortes signifi-
cantes, que não confiam a nenhum dispositivo em particular – e admitem,
por isso, uma grande diversidade deles – a imprescindível redistribuição
incessante das transferências em jogo.
Tal o singular estilo de passe que, no andar mesmo de nossa experiên-
cia, tem se gerado não como evento de uma cerimônia ou de um instante,
mas como expressão de um processo, e merece toda a nossa atenção e um
cuidadoso debate.
Esses três pontos são os que têm garantido nossa formação de psica-
nalistas e, ao mesmo tempo, que a transferência entre nós seja fundamen-
talmente de trabalho.
Na última semana de maio, teremos a oportunidade de dar uma nova
torção às voltas de nosso trabalho: no já tradicional evento ‘Relendo Freud
e conversando sobre a APPOA’, estaremos debatendo o texto de S. Freud
‘Análise terminável e interminável’ e abrindo o leque das questões que
nos preocupam enquanto ao andamento de nossa produção. A esse res-
peito tem surgido a questão dos Departamentos ou Seções (estão em curso
de organização o de Psicoses e o de Crianças). É claro que o que justifica
uma especificidade da psicanálise é a diferença da relação do sujeito com
o significante. No caso da criança (a particular torção temporal, a dila-
tação do registro imaginário, e o excesso de real) e no caso das psicoses
(a precipitação do significante no real, o retorno alucinatório do suporte
imaginário do significante, e o funcionamento da linguagem como uma
correio APPOA l dezembro 201334.
temática.
língua estrangeira) tudo se inclina a provocar uma prática diferenciada,
que propicia a reunião daqueles que encontram seu desejo de analistas
situado nessas particulares posições do fantasma”.
Correio n° 75
“É evidente que o aniversário de uma instituição não tem o mesmo
sentido que o aniversário de um ser humano. A diferença está, é claro,
no valor lógico de seus tempos. Enquanto o ser humano joga o baralho de
sua vida com tempos marcados pela passagem perecível de seu corpo, o
corpo institucional se revela, na medida em que aumenta a sua extensão,
cada vez mais atrelado às circunstâncias discursivas que o sustentam.
O ponto de articulação entre ambos é essa pequena partícula da língua
que chamamos de significante. Pequena e sensível dobradiça que une, ao
mesmo tempo que separa, a instituição de seus membros.
Grifamos esta última palavra porque não deixa de nos chamar a aten-
ção a precisão com que a língua destaca com delicadeza o caráter material
de sua presença – a dos membros – advertindo-os sobre o viés corporal
de sua existência.
Presença efetiva, fazendo exercício dos significantes que desdobram
o viés discursivo, no qual a instituição se suporta (no duplo sentido de
suporte e tolerância). Tal o cerne disso que chamamos Instituição.
Se ela for Psicanalítica, então os significantes que nela se articulam
precisam cumprir uma particular função: a de transmitir um saber – o
saber sobre a ignorância. Por acréscimo, e de modo fundamental, debelar
a farsa da ingenuidade. Este último chama-se de Ética, que é, nem mais
nem menos, simplesmente se fazer responsável pelas consequências de
seu ato sobre o outro.
A Associação Psicanalítica de Porto Alegre celebra nesse 17 de de-
zembro de 1999 dez anos de exercício de uma ética”.
dezembro 2013 l correio APPOA .35
O papel do Correio da APPPOA.
Correio n° 81
“A festa é convocada: 500 anos do Brasil! E o débil semblante se desfaz:
uma nau que não navega, um relógio de contagem regressiva é incendiado,
o poder público se divide, os índios finalmente (demasiado tarde) se deci-
dem a impedir o desembarque, tatuagens contra gravatas, penas coloridas
versus ternos de burberrys. Estar celebrando o quê, estar repudiando o
quê, cada vez fica mais difícil defini-lo. As consciências dançam de uma
posição a outra sem encontrar um pivô que lhes permita reorganizar seu
pensamento. E, quando acreditam ter encontrado alguma pista, ela se
mostra anacrônica, fragmentar, falha, estranha à nossa realidade cotidiana.
Instala-se um incômodo: fazer uma festa num velório, onde não dá para
saber de quem é o luto, nem de quem é o aniversário – ou pior, onde o
ideal seria que o cadáver assoprasse as velinhas”.
Correio n° 85
“Quando se constata que surgem novas gerações de psicanalistas,
que mantêm o sujeito do inconsciente como o endereçamento de seu ato
e a orientação de sua ética, verifica-se que tem acontecido a transmissão
dessa forma tão particular de saber que é a psicanálise.
É porque os conceitos fundamentais têm sido ensinados fora de qual-
quer molde acadêmico e inseridos na sua posição operatória que se torna
possível traçar a borda do real, o simbólico e o imaginário. Mais do que
um ensinamento, então, tem se enviado cada um a interrogar o limite
entre o saber e a ignorância, que lhe permite ser às expensas do sentido,
ou encontrar um sentido às expensas do ser.
O exercício de dar conta a seus pares daquilo que, pela torção par-
ticular do fantasma, possibilita o ato analítico constitui uma tomada de
responsabilidade que se evidencia nos textos que seguem e constituem o
eixo desse número do Correio.
correio APPOA l dezembro 201336.
temática.
Os que têm percorrido alguns textos fundamentais de Freud e Lacan,
e participaram nas jornadas de encerramento dessa trajetória que deno-
minamos Percurso, testemunham essa persistência e essa transmissão.
Por isso estamos gratos a eles”.
Correio n° 88
“Quando esse Correio estiver ‘na rua’, o Fórum Social Mundial terá finalizado. Este Editorial está sendo escrito justamente antes dele começar.
Dito de outro modo, estas letras não podem senão refletir esse instante
de brecha, de intervalo, entre o momento da expectativa e o momento da
inconclusão que toda realização humana comporta.
Momento da expectativa em que o sujeito se contempla numa cena
futura e imaginária, como tendo se apropriado das soluções que o con-
duzem ao ideal.
Momento de inconclusão, no qual se arrisca um sentimento de fra-
casso e de nostalgia, porque qualquer solução criada requer o abandono
de alguns fragmentos de nossos ideais nas praias do passado.
Nesse intervalo, eis aqui alguns textos de ‘obra nova’, novas penas que
se agregam àqueles que confiamos, na chance de, se não é possível afastar
o drama, ao menos fazer da vida de todos algo menos trágico”.
Correio n° 95
“Em nosso desamparo de sujeitos modernos, que dispensamos deus,
cabia a ilusão da invulnerabilidade e plena potência de alguns, os esco-
lhidos; teria sido essa ilusão que desabou com as torres gêmeas?”
Correio n° 110
“Você já está pensando nas leituras das férias, aquelas, tão esperadas,
que diminuiriam a torre de livros que cresce na sua mesinha de cabeceira
ou ao lado de sua poltrona favorita? Você é daqueles que leva ‘leituras sé-
dezembro 2013 l correio APPOA .37
O papel do Correio da APPPOA.
rias’, basicamente, ou daqueles que incluem ‘leituras leves’ na bagagem?
Qual das pilhas voltam intocadas, aumentando sua culpa?
Na sociedade da euforia, que partilhamos, as férias tornam-se, frequen-
temente, mais um item de nossa apertada agenda de compromissos; daí que
os livros na bagagem podem cumprir outras funções, como aliviar nossa
culpa por dispor do tempo livre das férias com algo ‘útil’, digamos, o que
autorizaria o gozo das férias. Os livros na bagagem também podem fazer
a função de um objeto contra-fóbico, isto é, tornar esse tempo de redução
de demandas e de proximidades afetivas, mais suportável”.
Correio n° 121
“Ano Novo, Vida Nova. Pelo menos assim reza nossa mitologia. Neste
janeiro de 2004, a APPOA inicia seu décimo quinto ano de trabalho. Tempo
de renovar as propostas que nortearam seu ato de fundação. Renovar tanto
no sentido de reafirmar como de fazer as modificações/invenções que a
prática associativa nos ensinou”.
Correio n° 134
“Os textos que compõem o corpo principal desse Correio situam-se
na esteira de um acontecimento relevante: neste ano inicia o Percurso em
Psicanálise de Crianças na APPOA, articulado ao Curso de Formação em
Psicanálise de Crianças do Núcleo de Estudos Sigmund Freud. Se ambos
percorridos seguem trajetórias autônomas que respondem aos princípios
formativos de cada instituição, há uma série de seminários compartilhados
que serão assistidos em forma conjunta – assim como ditados conjunta-
mente – pelos alunos de ambos grupos.
Tal acordo de trabalho, mereceu uma prolongada elaboração que es-
teve a cargo de um cartel na APPOA integrando uma comissão conjunta
com os colegas do NESF (ou “Sigui”, como gostam de chamá-lo)”.
correio APPOA l dezembro 201338.
temática.
Correio n° 146
“A Seção Temática deste Correio comemora os 150 anos do nascimento
de Sigmund Freud. As datas ‘redondas’, ainda mais quando atravessam
dois séculos, tem um sentido especial. Talvez porque nos permitam ter a
ilusão de que o tempo pode ser delimitado, sintetizado naquele número,
ou mesmo porque simultaneamente podemos testemunhar que fazemos
parte da história. O transcurso do tempo, a passagem do outro, marca al-
guma experiência ao longo de nossa vida. Aniversários são efemérides que
trazem consigo a festa pelo nascimento e o prenúncio da morte, inevitável.
Quando se trata de um personagem tão importante para nossa cultura, os
cento e cinquenta anos tornam-se um belo momento para homenagear
suas contribuições e fazer um balanço de sua atualidade”.
Correio n° 160
“Seguimos nosso trabalho, nossas vidas. Mas há momentos em que
somos afetados de forma particular e intensa, é importante referi-los.
Mesmo que o que se possa dizer sobre eles não tenha como dar conta do
acontecido. Não podemos simplesmente seguir sem registrar o abalo, acusar
o golpe. O acidente de avião ocorrido recentemente (voo Porto Alegre – São
Paulo), com todas as suas mortes, nos afeta hoje profundamente. Encontro
com algo do horror que saiu do muito familiar, voo de nossa cidade, prati-
camente de nossas casas, todos temos laços que hoje encontram um luto.
Temos falado recentemente também, no duro lugar que é aquele do
testemunho. Somos neste momento, testemunhas”.
Correio n° 168
“Pensamos que valeria a pena fazer este número, referente aos quarenta
anos do Maio de 68, a partir dos pressupostos que costumam embasar a
produção da APPOA: tomar seriamente as questões da cultura e os efei-
tos do social para o sujeito. Neste tema específico, levando em conta que
dezembro 2013 l correio APPOA .39
O papel do Correio da APPPOA.
estes episódios foram representativos de todo um movimento histórico de
transformações que se colocava desde o início dos anos 60”.
Correio n° 176
“Neste mês, iniciamos o vigésimo aniversário de fundação da APPOA.
Reconhecemos os efeitos deste ato ao longo de uma trajetória e nos surpre-
endemos ao nos depararmos com sua vigência e transmissão em momentos
e lugares inesperados. Como devem ser as formações do inconsciente, as
quais procuramos dar lugar e reconhecer o impossível que as organiza”.
Correio n° 182
“Os textos que compõem a Seção Temática deste número do Correio
foram produzidos por seus autores para a I Jornada o Instituto Appoa, ou
a partir dela, e não constituem a totalidade dos trabalhos apresentados
na Jornada, ocorrida em 27 e 28 de junho últimos, mas vão permitir ao
leitor ter uma idéia do que abordamos no evento e do que representou
sua realização”.
Correio n° 191
“Neste 2010 temos a primeira Copa do Mundo na África do Sul mais
precisamente. Local onde o apartheid esteve vigente até os anos 90. Afora
as seleções locais, a do Brasil é quem reúne maior torcida e identificação
dos irmãos africanos. Afinal, o que seria do nosso futebol sem a presença
fundamental do negro (para lembrar Mário Filho). Sem falar que este tor-
neio, de certa forma, está sendo uma preliminar, uma preparação para a
Copa do Mundo de 2014 que será em nosso território, envolvendo a vida
de diversas cidades diretamente e do país em geral”.
correio APPOA l dezembro 201340.
temática.
Correio n° 196
“Ao contrário da Argentina, Chile e Uruguai, o Brasil continua tendo
apreço e deferência por seus torturadores e se destaca, no contexto latino
americano, como país que jamais levou ao banco dos réus um único tor-
turador que atuou no período da ditadura civil-militar no país. Em maio
deste ano, o Supremo Tribunal Federal julgou uma ação movida pela
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) defendendo um novo encami-
nhamento à lei da anistia de 1979 já que a tortura, como todos sabem, é crime lesa-humanidade não sendo passível de prescrição e nem de anistia.
O Brasil é signatário da Declaração Universal de Direitos Humanos de
1948, ratificada pela Declaração de Direitos Humanos de Viena de 1993,
que proíbe a tortura e defende o direito universal à verdade e à justiça,
também ratificou a Convenção internacional contra a tortura e outras pe-
nas ou tratamento cruéis, desumanos e degradantes da ONU, bem como
a Convenção americana de Direitos Humanos. Porém, de costas para a
legislação internacional, a alta corte brasileira indeferiu a solicitação,
perdendo assim uma chance histórica de justiça.
Muitos pesquisadores demonstram que nos países onde houve jul-
gamento de tais atos criminosos a tortura em crimes comuns diminuiu
significativamente. No Brasil, como sabemos, a tortura insiste como prática
cotidiana.
A psicanálise não pode se furtar a este debate pois sua ética não é consonante com a indiferença aos traumas de uma nação, a nossa nação.
Todos conhecem bem a histórica e contundente luta de Hélio Pellegrino,
Helena Besserman Viana e outros em relação a este episódio da história
da psicanálise brasileira e à história do país. Ao denunciar Amílcar Lobo,
candidato a analista pela SPRJ (Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro) e
médico atuante nas sessões de tortura e seu analista didata Leão Cabernite,
provocaram a expulsão e perseguição de vários membros da SPRJ. O livro
de Helena Besserman Viana ‘Não conte a ninguém’ reconta em detalhes
esse momento da história em que a Psicanálise, os psicanalistas e a his-
dezembro 2013 l correio APPOA .41
O papel do Correio da APPPOA.
tória do país se enlaçaram de forma a relançar inúmeras e fundamentais
perguntas para o futuro.
Todo psicanalista tem um compromisso com seu tempo e nunca é de-
mais lembrar a lúcida afirmação de Jacques Lacan no final do seu clássico
‘Função e Campo da fala e da linguagem em psicanálise’ onde lembra que
deve renunciar a prática da psicanálise todo analista ‘que não conseguir
alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época. Pois, como poderia
fazer de seu ser o eixo de tantas vidas quem nada soubesse da dialética
que o compromete com essas vidas num movimento simbólico.’Reunimos aqui alguns textos para relançar esta importante discussão”.
Correio n° 199
“O verbo conjugado com o carnaval já foi, não por acaso, o brincar.
No passado, ‘brincava-se carnaval’, em uma alusão direta ao infantil e à fantasia. ‘Mamãe, eu quero mamar’ entoava a música também rememo-
rativa da infância.
O carnaval chegou ao Brasil por volta do século XVII, sob influência
das festas carnavalescas da Europa. Na Itália e França, a festa consistia em
desfiles urbanos, nos quais os carnavalescos usavam máscaras e fantasias.
Personagens como a Colombina, o Pierrô e o Rei Momo também foram
incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem européia.
No Brasil, no final do século XIX, começam a aparecer os primeiros
blocos carnavalescos, cordões e os corsos. Nestes últimos, a brincadeira
consistia no desfile de carruagens enfeitadas – e, posteriormente, de
automóveis sem capota –, repletos de foliões. Ao se cruzarem, os grupos
fantasiados, ocupantes dos veículos, lançavam uns nos outros, confetes,
serpentinas e esguichos de lança-perfume. Os corsos deram origem aos
carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais.
No século XX, o carnaval foi se tornando cada vez mais popular no
Brasil. As marchinhas carnavalescas ajudaram no engrandecimento da
festa, deixando-a cada vez mais animada.
correio APPOA l dezembro 201342.
temática.
Freud, no artigo de 1908 ‘O criador literário e a fantasia’, já estabe-
lecera a relação entre a brincadeira e a fantasia, ao referir o brincar da
criança como a primeira manifestação da fantasia, precursora da atividade
imaginativa.
‘Fantasia é um troço que o cara tira no carnaval’ diz João Bosco,
brincando com os conceitos.
Pois na APPOA, mesmo depois do carnaval, não abandonaremos a
fantasia, ao contrário, a temática do infantil e do fantasma norteará o
trabalho do primeiro semestre do ano.
A Jornada de Abertura sobre o infantil na Psicanálise iniciará o debate,
na perspectiva que o infantil não se atem à cronologia do início da vida,
e sim se estende à estrutura psíquica do sujeito que, mesmo que consti-
tuída na infância, permanece vigente também no adulto. Existe, assim,
um infantil no psiquismo que não se dissolve com a infância, embora ela
seja sua matriz.
O ‘Relendo Freud’, em maio, dará continuidade à discussão através
do texto de 1919, ‘Uma criança é espancada’, ou na tradução mais justa:
‘Bate-se numa criança’. Neste, Freud dá ensejo a indagações plurais, como
por exemplo: qual a origem da perversão? Quais as implicações entre dor,
prazer, gozo e amor? Em que medida a fantasia de espancamento é constitu-
tiva do sujeito? Qual a função do pai no fantasiar? Quais as diferenças entre
as fantasias femininas e as masculinas? Quais os estatutos do bater: amor,
punição, gozo ou função paterna? Trata-se de sadismo ou masoquismo?
Até depois do carnaval, mas ainda sobre a fantasia e o infantil”.
Correio n° 213
“Estamos próximos da data de realização do V Congresso Interna-
cional de Convergencia; portanto, dedicamos este número do Correio a
textos relativos ao Movimento (Convergencia, Movimento Lacaniano para
a Psicanálise Freudiana) e ao tema do Congresso propriamente dito – O
ato psicanalítico, suas incidências clínicas, sociais, políticas e criativa.
dezembro 2013 l correio APPOA .43
O papel do Correio da APPPOA.
Nessa Seção Temática, reunimos textos tanto de autores membros
da APPOA como de colegas de outras instituições da Convergencia, que,
como nós, têm trabalhado preparando o Congresso, seja em cartéis ou em
eventos. Para situar melhor a amplitude desse Congresso, publicamos na
Seção Notícias informações sobre os vários encontros preparatórios que
tomaram lugar em diversas cidades brasileiras e fora de nosso país”.
Correio n° 222/223
“O autismo ocupa um lugar privilegiado no cenário onde atualmen-
te se debatem os novos paradigmas da psicopatologia. Esse lugar está determinado pelo fato de que o autismo se encontra tanto na borda da
viabilidade de um sujeito quanto na borda das variantes orgânicas que
incidem sobre o psiquismo. Em equilibro instável, variável e indetermina-
do, sua etiologia e sua abordagem terapêutica balançam entre o orgânico
e o psíquico, trazendo novamente à tona – nas vertentes reducionistas – o
dualismo mente – corpo que se acreditava enfim superado. As vastas e
rigorosas demonstrações, nos campos da psicanálise e das neurociências,
da recíproca incidência das transformações entre ambos os domínios pare-
cem não ser suficientes para elucidar o modus operandis da causalidade,
seja nessa particular patologia quanto em outras tantas manifestações de
transtornos mentais na infância. Nesse sentido, veja-se, por exemplo, o
TDAH, na razão de em que medida esse pretenso quadro se confunde com
as neuroses infantis, e também a Síndrome de Asperger, considerando
que essa suposta síndrome se superpõe com psicoses infantis paranoicas
e com sintomas obsessivos.
De fato, a coisa chega ao extremo de que nem bem se escreve ‘patologia’ para aludir ao autismo, surge a dúvida se não se trata meramente de uma
‘condição’, ou apenas uma particularidade nos processos de maturação
e/ou de constituição do sujeito.
Lamentavelmente, o interessante e frutífero debate que deveria acon-
tecer fica obscurecido por uma luta de prevalência que tem como fundo a
correio APPOA l dezembro 201344.
temática.
angústia dos pais e sua ansiedade para encontrar uma resposta e solução
definitiva. Esse debate também fica enuviado pelos gestos de reserva de
mercado esgrimidos por práticas médicas, psicanalíticas e psicológicas
pouco responsáveis que fraca ou nenhuma relação mantêm com o corpus
teórico, clínico e científico que fundamenta as respectivas práticas dessas
disciplinas.
Se, por um lado, a urgência e a emergência dos pais se encontram
altamente justificadas pelo sofrimento que os assola, por outro, os ataques
contra a psicanálise efetuados pelos setores positivistas e reducionistas
da psiquiatria e da psicologia, constituem uma grave falha ética na co-
munidade científica internacional e uma astuciosa tentativa de desviar o
foco da questão para elidir o reconhecimento dos limites de seus próprios
conhecimentos. Tanto mais grave se torna o evento quando, como ora está a acontecer, se atacam instituições que levaram décadas de árduo trabalho
para se estabelecer (como CRIA e o CAPS de Itapeva, e todos os CAPSi
do Estado de São Paulo) e que transformaram significativamente o triste
panorama anterior da saúde mental em nosso país.
Perante essa desenfreada avalanche de falácias proferidas contra a
psicanálise, perante o descarado desconhecimento ativo da magna obra
que a psicanálise tem produzido nos últimos 120 anos no campo da saúde
pública e mental e das falsificações com que se atacam seus fundamentos
científicos, nos vemos obrigados a romper nosso silêncio e tomar posição.
Apoia mos, então, o Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública que,
recentemente constituído, se ocupa da problemática que acabamos de referir.
É por isso que dedicamos este número de nosso Correio para difun-
dir o Manifesto desse Movimento e diversos textos produzidos em forma
coletiva pelos grupos de trabalho, e apresentados na assembleia realizada
em São Paulo (USP) no dia 23 de março de 2013.
Os episódios políticos que nesta edição são relatados demonstram até que ponto ‘quando uma prática não logra se sustentar pelos princípios de
sua ética, acaba se degradando no exercício de um poder’ (Lacan)”.
dezembro 2013 l correio APPOA .45
agenda.
agenda
dia hora atividade
próximo número
13 e 20 14h Reunião da Comissão da Revista
13 e 20 16h Reunião da Comissão de Aperiódicos
9 20h30min Reunião da Comissão do Correio
5, 12 e 19 19h30min Reunião da Comissão de Eventos
12 20h Reunião da Comissão da Biblioteca
5 21h Reunião da Mesa Diretiva
dezembro. 2013
Psicanálise na Cultura
eventos do ano
2014
data evento local
12 de abril Jornada de abertura Plaza São Rafael – Porto Alegre – RS
30 e 31/maio e 1/junho Relendo Freud Hotel Continental – Porto Alegre – RS
25 e 26 de outubro Jornada clínica Plaza São Rafael – Porto Alegre – RS
normas editoriais do Correio da APPOA
O Correio da APPOA é uma publicação mensal, o que pressupõe um trabalho de seleção temática – orientado tanto pelos eventos promovidos pela Associação, como pelas questões que constantemente se apresentam na clínica –, bem como de obtenção dos textos a serem publicados, além da tarefa de programação editorial.
Tem sido nosso objetivo apresentar a cada mês um Correio mais elabo- rado, quer seja pela apresentação de textos que proporcionem uma leitura interessante e possibilitem uma interlocução; quer pela preocupação com os aspectos editoriais, como a remessa no início do mês e a composição visual.
Frente à necessidade de uma programação editorial, solicitamos que sejam respeitadas as seguintes normas:
1) os textos para publicação na Seção Temática, Seção Debates, Seção Ensaio e Resenha deverão ser enviados por e-mail para a secretaria da APPOA ([email protected]);
2) a formatação dos textos deverá obedecer às seguintes medidas: – Fonte Times New Roman, tamanho 12 – O texto deve conter, em média, 12.000 caracteres com espaço – Notas de rodapé em fonte tamanho 103) as notas deverão ser incluídas sempre como notas de rodapé;4) as referências bibliográficas deverão informar o(s) autor(es), título da
obra, autor(es) e título do capítulo (se for o caso), cidade, editora, ano, volume (se for o caso);
5) as aspas serão utilizadas para identificar citações diretas;6) citações diretas com mais de 3 linhas devem vir separadas do corpo do
texto, com recuo de 4 cm em relação à margem, utilizando fonte tamanho 10;7) o itálico deverá ser utilizado para expressões que se queira grifar, para
palavras estrangeiras que não sejam de uso corrente ou títulos de livros;8) não utilizar negrito (bold) ou sublinhado (underline);9) a data máxima de entrega de matéria (textos ou notícias) é o dia 05,
para publicação no mês seguinte;10) o autor, não associado a APPOA, deverá informar em uma linha como
deve ser apresentado. A Comissão do Correio se reserva o direito de sugerir alterações ao(s) autor(es) e de efetuar as correções gramaticais que forem ne-cessárias para a clareza do texto, bem como se responsabilizará pela revisão das provas gráficas;
11) a inclusão de matérias está sujeita à apreciação da Comissão do
Correio e à disponibilidade de espaço para publicação.
c o r r e i o
A P P O AÓrgão Informativo da APPOA
Associação Psicanalítica de Porto Alegre
Rua Faria Santos, 25890670-150
Porto Alegre RSFone: 51 3333 2140
Fax: 51 3333 [email protected]
www.appoa.com.br
Comissão do Correio
Coordenação Luciano Assis Mattuella
Regina de Souza Silva
Integrantes Ana Paula Melchiors Stahlschmidt
Fernanda Pereira BredaLuciana Kohlrausch
Lúcia Martins Costa BohmgahrenMarcia Helena de Menezes Ribeiro
Márcia da Rocha Lacerda Zechin Mercês Sant Anna Ghazzi
Paulo GleichSilvia Raimundi Ferreira
Tatiana Guimarães Jacques
Jornalista responsável Jussara Porto
Capa e projeto gráfico Rosana Pozzobon
Foto de capa Reprodução de texto lacaniano
Editoração eletrônicaClo Sbardelotto
Impressão Gráfica Calábria
Tiragem 350 exemplares
Editorial 1
Notícias 3
Temática 5
Breve histórico do Correio da APPOA 5 Jaime Betts Marta Pedó
O primeiro Correio a gente nunca esquece 9 Robson de Freitas Pereira
Quem te viu, quem te vê 13 Marcia da R. Lacerda Zechin
O Correio e suas capas 17
O Correio por ele mesmo 23
Agenda 45