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–Estrias. Estrias esponjosas. Chamadas de caverno-
sas. Que se incham de sangue. Isso perfaz um pau
duro, maior orgulho e glória de um homem. A honra de
poder apresentar ao mundo uma ereção... eis o que os
homens querem, mais do que tudo, em suas vidas. Arte,
ciência, fé, amor, tudo isso é secundário diante da capa-
cidade de preencher com sangue venal uma esponja de
carne pendurada entre as pernas. De que vale, afinal, você
realizar uma obra-prima, se o seu pau permanece mole?
Para que desvendar os mistérios do Big Bang se, depois,
aquele específico pedaço do universo continua frio e
vazio como antes? Qual a importância da existência ou
não de Deus, perante um pau que não consegue apontar
para cima? Rebaixem um homem ao máximo, chamem
sua mãe de puta suja, invadam a sua pátria estuprando as
suas filhas; nada será pior do que torná-lo inapto a endu-
recer seu pênis. Com todas as graves doenças que assolam
a humanidade, o remédio mais vendido do mundo é
para evitar esta suprema humilhação. “Não, isso não.” Um
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homem confessará qualquer coisa, roubos, fraudes, per-
versões, assassinatos, mas jamais irá admitir que tem um
pau flácido. Setenta gramas de carne: um hambúrguer, se
for esmagado.
– Muito interessante. Mas não é um assunto que me
atraia.
– Eu sei. Por que você acha que eu te amarrei na ca-
ma? Para chupar seu pau maravilhoso? Seu pau resplan -
decente? Não. Foi para você ouvir o que não quer. A mais
dolorosa de todas as verdades. Que você, e todos os
homens, não são absolutamente nada sem os seus paus.
Tirem a vagina de uma mulher, e ela vai comemorar
o fim das menstruações e das depilações, rapidamente
encontrando uma nova saída para o xixi. Tirem o pênis
de um homem, e ele deixa de existir como ser humano.
E já que um pau murcho não serve para nada, toda a dig-
nidade se concentra na possibilidade de dei xá-lo rígido.
Roxo de firme. A proa da fragata. A lança do guerreiro.
Sabe como os chineses chamam seus pênis?
– Não, nem quero saber.
– “A Haste de Jade”, “Pilar do Dragão Celestial”.
Chaplin chamava o pau dele de “oitava maravilha do
mundo”. Picasso se orgulhava mais de seu pau do que de
sua arte. Não há lugar para modéstia quando o assunto é
ele, sua excelência, o mais honrado e venerável membro
do corpo masculino. Sua majestade, grande alteza, prín-
cipe regente. Comandante em chefe de todas as forças de
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defesa e ataque. “El Zorro”, senhor meritíssimo, acima
de todo e qualquer julgamento. Um pau é feio? Um pau
é bonito? Não importa, um pau é um pau. E não existe
nada mais importante para um homem do que mantê-lo
altivo e sadio. Um homem tosse por dois meses e não
vai a um médico; ponham umas bolhas em sua glande
e no dia seguinte ele estará no urologista. Onde aproveita
para examinar a próstata, por via das dúvidas. Só mesmo
a hipótese de não poder mais intumescer o pênis para
deixar um homem aliviado com um dedo no cu. Mil
dedos no cu vocês aguentariam, só para manter o divino
poder da ereção. A grande mágica que encanta a todos,
há centenas de gerações. Ohhhhhhh! Vejam! Ele fica de
pau duro! Ele é mesmo um homem! Ele é um homem
de verdade!
– Chega, tá? Já entendi.
– Não, não entendeu. Mas vai entender. Nem que
eu tenha que deixar você aí por uma semana. Escutando
tudo isso, repetidas vezes. Até compreender ao que você
está reduzi do. A um pau duro pingando. Igual a esses
que desenham nos banheiros. Você e todos os outros, não
estou colocando você nem acima nem abaixo de ninguém.
Todos os homens são seus paus. Apenas e simplesmen-
te. Por isso não reclamam tanto da vida: vocês estarão
basicamente felizes, desde que seus paus permaneçam
fortes e corados. Coisa relativamente fácil. Cachorros e
macacos vivem com seus paus duros. Ou seja, falta de
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inteligência nunca será um problema. Falta de dinheiro
também não: pobres passam a vida de pau duro, tendo
filhos. A potência do pau independe das circunstân-
cias, mendigos lazarentos se masturbam embaixo dos
viadutos. Políticos desviam verbas hospitalares durante
o dia e fodem putinhas durante a noite. O pau parece
ter a força com efe maiúsculo, não é à toa que as espadas
dos Jedi são pirocas fluorescentes. Porém, há um perigo.
Em toda fortaleza, esconde-se o caminho para sua fragi-
lidade. Os homens, por mais sabidos que sejam, por mais
dinheiro que eles ganhem, jamais ficam sabendo como
fazem para ficarem de pau duro. O pau vai e fica, é isso.
Muitas vezes, inclusive, vocês não querem que ele fique,
e ele fica. Tudo bem, melhor assim. Melhor sobrar do
que faltar. Mas o fato é que o processo em si, do mole
para o duro, é completamente automático. O maior mis-
tério para vocês mesmos. Aliás, vocês acham até melhor
nem pensar muito nisso, com medo de, no desvendar
do segredo, perder-se a magia da varinha. Só que, en-
quanto vocês não pensam a respeito disso, nós pensamos.
Mulheres passam dias e dias encasquetadas em por que
um mesmo pau fica duro por causa dela, num dia, e no
outro, não. Quer dizer: vocês, homens, abrem uma bre-
cha na própria muralha. Imagine se as mulheres decifra-
rem este enigma antes de vocês? Hein? E se as mulheres,
de repente, acharem a chave do mecanismo de sobe e
desce? Simples: vocês perderiam o controle do mundo
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da noite para o dia. Passando a ser escravos de quem
escravizavam... o pior de todos os pesadelos. Resumindo,
então: quer que um homem morra? Quer mesmo? Não lhe
dê um tiro na testa; faça dele um brocha. Mesmo porque,
de tiro na testa, há os que sobrevivem.
– É isso que você quer? Que eu morra?
– Diria que sim. A vingança é o pau duro da mulher.
Retirem de uma mulher a possibilidade de se vingar e
esta rão acabando com sua energia para a vida. É o que nos
resta, o que nos sobrou da partilha do planeta. Já que os
homens são seus paus, conforme já foi dito, e em paus não
se pode confiar. Paus não obedecem nem a seus donos.
Pelo contrário: o que vemos são donos obedecendo aos
seus paus. Homens vão para onde seus paus apontam, sem
pensar duas vezes. O sangue que desce, para inundar as es-
ponjas, esvazia o coração e o cérebro. Vocês são impotentes
diante de um pênis potente. E nós, mulheres, podemos
o quê, diante disso? Aguentar as consequências. Não
te mos paus, nem duros nem moles. Temos um buraco
que nem enxergamos direito. Um vácuo sugador de hor-
mônios. Assim, se são os paus duros que comandam o
mundo, e se os paus ficam duros para se enfiar em nossas
bocetas, ora bolas, não há o que se fazer a respeito, a
não ser tentar terminar inteiras. Sofrer, e aguentar esse
sofrimento, portanto, é o que nós podemos, diante da
milenar ditadura do falo. Sofrer, para depois nos vin-
gar. Sem a vingança, toda essa dor terá sido em vão.
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Sendo melhor morrer. Ou pior: melhor envelhecer de
vez. Se ainda tentamos parecer sempre belas e jovens, é
porque queremos, um dia, nos vingar. Nem só de vocês,
é verdade... as mulheres querem se vingar de tudo e de
todos. Da mãe, da irmã, do avô. Do padre e do primeiro
conquistador. Do santinho e do pecador. Olha bem para
mim... devo estar corada e mais bonita, agora, não estou?
É por causa do espírito da vingança. Ao qual me entrego,
pronta para dar o melhor de mim, nesse ancestral ritual
feminino. Oferecer em altar aquilo que há de mais certo
e poderoso em minhas entranhas: o calculismo frio. O
delírio equacionado. Horas, horas e horas de planeja-
mento doentio. Acumuladas, lá dentro. Guardadas a sete
chaves numa gaveta escondida. Mil planos mirabolantes
para uma guerra inacabável. Vencer será, enfim, lutá-la.
Enfim poder mostrar o seu ponto de vista da maneira
mais drástica possível. “Olha o que você fez comigo: che-
gar a este nível! De me vingar de você tão baixamente!”
Culpa de quem?
– Minha, claro.
– Exatamente, mas é melhor você deixar de lado essa
sua ironiazinha masculina. Só vai prolongar sua privação
de liberdade. Não quero deixar você amarrado, quero
soltar você de volta à vida. Sou uma defensora da natu-
reza, faço questão de liberá-lo à selva. Onde você não irá
sobreviver, já que estará inutilizado. Tipo esses animais
selvagens que são devolvidos aos seus habitats naturais,
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após viver em cativeiro, e não duram nem um dia, pois
perderam seus instintos de sobrevivência.
– Você está ameaçando cortar o meu pau fora, é
isso?
– Simbolicamente. Veja bem, ereções são reflexos.
Um pau fica ou não fica duro por reflexo. É como um
cachorro salivando: o bicho não sabe por que a baba
aparece em sua boca, nem tem como controlar aquele
fluxo. Os milhões de glândulas salivares dele reagem a
um estímulo, que ninguém sabe direito de onde vem,
produzindo automaticamente aquela baba toda. Algo tão
cheio de variáveis que só o cérebro, sozinho, em sua in-
finita capacidade de processamento, consegue resolver.
Lembra do Pavlov? Aquele dos reflexos pavlovianos?
Pois é, então. É assim que eu vou cortar o teu pau fora:
manipulando esse teu reflexo. Como o Pavlov fez com os
cachorros dele. Lembra do experimento? Ele tocava uma
campainha, pééé, e depois dava um pouco de comida para
os cachorros. Até que os bichos começaram a salivar só
com a campainha. Pééé, e eles babavam. Vindo comida ou
não, depois. Vindo nada. Quer dizer, o Pavlov conseguiu
manipular um reflexo inato, mesmo sem entender como
isso funciona precisamente. Toda vez que aqueles cachor-
ros escutarem uma campainha, pééé, eles vão salivar. Se o
dedo que aperta essa campainha for de alguém que quer
se vingar deles por algum motivo, alguém que, sei lá,
foi mordido por eles, esses pobres bichos estão perdidos.
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À mercê da pior sádica: aquela pessoa que se acha cober-
ta de motivo e razão. Está entendendo?
– Estou entendendo que você ficou maluca.
– Está entendendo tudo errado, então, presta
atenção. Se eu fosse uma maluca, já teria enfiado uma
faca no teu peito. Não. Estou aqui, calma, explicando
para você como será o seu fim. Feito aqueles vilões de
filme de James Bond, que explicam como vão acabar
com o mundo dali a poucos minutos. Faço isso por
uma única razão: pela primeira vez, sua consciência
funcionará a meu favor. Eu quase que necessito que você
tenha to tal consciência disso, o que vou fazer com você,
para obter sucesso. Não é um hipnotismo, entende? É
algo muito mais sofisticado que isso. É como um royal
straight flush levando todas as fichas da mesa, sem que
ninguém esperasse. O adversário precisa ver para crer
e aceitar. Para se entregar à derrota. Para, antes, falando
quan ticamente, levar a si mesmo à derrota. Sem controlar
nada disso, entendeu agora? Toda vez que, por algum
motivo, seu reflexo for ficar de pau duro, você não ficará.
Porque eu terei manipulado o modo como seu corpo
reage àquele estímulo. Não quero parecer exagerada-
mente técnica, mas boa parte da graça da vingança está
em explicá-la. Bem direitinho. Para ninguém achar que
você agiu de maneira insana, ou precipitadamente. En-
tenda, então: eu vou linkar a sensação de ficar de pau
duro a algo muito terrível. Algo insuportavelmente no-
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jento. Algo que o seu cérebro não será capaz de esquecer.
Jamais. Calculo que, para conseguir este efeito perma-
nente, 24 horas bastarão, mas, como disse, estou disposta
a não estabelecer limites. Assim, depende mais de você.
Se você ficar lutando contra o procedimento, podemos
ficar aqui por dias e dias. Encho tua boca de absorventes
para você não gritar. Alimento você por soro. Prefiro, en-
tretanto, que você perceba logo que está perdido e acabe
facilitando o desenrolar da coisa. Tente se acostumar de
vez com a ideia: a partir de hoje, você não será mais ca-
paz de ficar de pau duro. Melhor dizendo: toda vez que
você começar a ficar de pau duro, vai automaticamente
ficar de pau mole. Porque seu reflexo estará condiciona-
do. Por mim. E você não poderá fazer nada a respeito.
Nem cinquenta anos de análise resolveriam. Já que eu
chegarei a níveis máximos de baixeza e covardia. É uma
vingança, lembra? Vale tudo. Vale o golpe mais sujo, o
mais asqueroso dos truques. Vale a nojeira impensável.
Portanto, se eu fosse você, eu desistiria. Sua última e der-
radeira ereção completa foi aquela que você gastou em
mim, horas atrás. Espero que tenha aproveitado. E não
pense que não sei o que você está pensando, nesse mo-
mento, porque eu sei.
– Sabe?
– Sei. Você já está mais calmo, depois de ouvir quais
são as minhas intenções. Está até com vontade de rir,
achando tudo meio ridículo. “O que que ela está pen-
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sando? Que vai me fazer uma lavagem cerebral? Coitada,
patética.” Acertei?
– Não. Para com isso. Me solta.
– Quanto mais cedo você se entregar ao seu destino,
menos doloroso será para nós dois. Não pense que é
bom ser o carrasco; torturadores treinam em si mesmos,
torturando-se após cada caso. Culpas são implacáveis. Vi-
ve rei com a culpa de torturar um ser humano para o
resto de minha vida, não tenho dúvida. Quanto mais
rápido terminarmos com isso, então, melhor. Busque um
pouco de heroísmo... está aí, em algum lugar de sua alma
masculina. Faça o seguinte: veja-me como a guilhotina,
a glande sendo a sua cabeça. Não aconselho, mas há até
a possibilidade de se conseguir pensar numa morte mais
representativa. Doe seu pau para a ciência. Os médicos
estão usando a pe le do prepúcio, de crianças circunci-
dadas, em vítimas de queimadura. Um prepúcio pode
produzir 23 mil metros quadrados, o bastante para cobrir
um campo de beisebol. Tirei esse dado da internet, por
isso a medida em beisebol. Bom, vamos começar?
– Começar o quê?
– O processo dessa sua morte. É realmente um pro -
cesso, entende? Vamos começar agora, evoluindo dentro
dele até que o efeito desejado seja alcançado e se con-
firme, mas você só vai morrer de vez mesmo quando se
conscientizar disso, daqui a alguns dias, na solidão des-
se seu apartamentinho, na frente do com pu tador. Na
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tela, vários filminhos de sacanagem aber tos, várias ninfetas
se masturbando. E você com o pau irremediavelmente
mole na mão. Mais morto do que o Michael Jackson. O
único sinal de vida, em você, serão as ânsias de vômito.
Momento em que terei consumado a minha maravilho-
sa vingança. Que começa nesse instante solene: tá-dá!
– Que é isso?
– Miúdos de boi. Comprei no açougue, enquanto
você estava apagado. Peguei 100 reais na sua carteira e
gastei tudo em miúdos e intestinos. Tem mais não sei
quantos quilos lá no chão da sala, apodrecendo. Quanto
mais fedidos ficarem, melhor. É importante envolver
todos os seus cinco sentidos na experiência: visão, tato,
audição, sabor e olfato. Vou esfregar essa porcariada na
sua cara, toda hora que você ficar de pau duro.
– Eu não vou ficar de pau duro.
– Vai, sim. Porque você não tem controle sobre isso.
E eu estou disposta a fazer de tudo. Chupar meladamente,
lamber seu saco pela costura do meio, bater punheta até
esfolar. E vi que você tem Viagra no armário do banheiro,
tolinho, deve ser para tomar com ecstasy e foder as suas
amiguinhas clubbers. Pois bem, enfio cinco na tua boca,
se for preciso. Mas vou conseguir despertar teu reflexo
animal. Seguidas vezes. Dez, vinte, trinta vezes. Quantas
forem necessárias para que aquele instinto inicial se apa-
gue para sempre. Igual a um isqueiro Bic.– Não tem graça.
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– Não tem, eu sei. Estou rindo de excitação. Garotas
gostam de se divertir. Quero uma vingança de categoria,
que dê filme para televisão, com a Rebecca De Mornay.
Por exemplo, olha essa lista que eu fiz. Olha o capricho.
– Lista de quê?
– É a tradução de pau em várias línguas. Não pênis,
pau. Quero que marque o ritmo das punhetas. São todos
nomes curtos e grossos, não sei por quê, mas gostei das
sonoridades. Acho que falam um pouco sobre os homens
e em como eles são iguais em todas as partes do mundo.
Quero evocar esses nomes enquanto estiver te tocando,
uma coisa meio Alto Xingu, meio Wicka. Vou ler para
você e você vai entender.
– Não precisa.
– Shhh. Em ordem alfabética. Alemão: schwanz. Ára-
be: ayir. Bulgáro: pischka. Catalão: titola. Chinês: yinjing.
Dinamarquês: tissemand. Espanhol: pene. Na Estônia:
munn. Finlandês: kulli. Grego: poutsos. Holandês: plas-
ser. Húngaro: fasz. Indiano: lavda. Indonésio: kontol. Em
inglês tem dois: cock e dick. Iraniano: kir. Em islandês
é um pouco maior: tiltlingur. Israelense: zayin. Italia-
no: cazzo. Japonês: chimpo. Chimpo! Norueguês: pikk.
Pikk! Polonês: chuj. Romeno: pula. Pula, pula, pula!
Sueco: kuk. E ucraniano: khuy. Khuy é fofo, não é?
– Tira a mão de mim.
– Schwanz-ayir, pischka-titola-yinjing-tis se-
man d, pene-munn, kulli-poutsos, plasser-fasz, lavda-
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kontol, cock-dick, kir-tiltlingur, zayin-cazzo-chimpo,
pikk-chuj-pula, kuk-khuy.
– Para, Adriana!
– Schwanz-ayir, pischka-titola-yinjing-tissemand, pene-
munn! Kulli-poutsos! Plasser-fasz-lavda-kontol!... Arrá!
Voilá!
– Não faz isso!
– Bucho na cara!
– Nhgrcrnvfnmuvf...!
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CINCO HORAS ANTES
S
eu corpo treme inteiro. Os pelos dos braços e pernas
estão eriçados, o couro cabeludo está dormente. Sen-
te frio, mesmo que a noite seja de um verão inclemente;
e que, em meio ao gelado que lhe parece, haja em seu rosto
algumas poças de suor: abaixo dos olhos, dos lábios, em
toda a parte superior da testa. As axilas, também, exalam
um cheiro doce, mistura de perfume e suas enzimas mais
íntimas. Exaurida, mexeu e remexeu todo o seu interior.
Agora, friorenta e constrangida, enfia-se embaixo das
co ber tas; um edredom murcho, branco-encardido. Não
gostaria de ter que falar, ou coisa parecida, então ela tenta
se concentrar em algo, algo este distante do corpo que
tem ao seu lado. Distante de sua realidade, sua língua, sua
cultura; distante de sua compreensão. Encontra o que
precisa: pensa no livro que leu recentemente, Os versos
satânicos. No primeiro parágrafo: os dois atores indianos
que caem do céu, após um acidente de avião. Caem em
Londres. Seria bom se ela caísse, assim, em Londres. Só
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que esse paralelo não foi válido, então Adriana logo tra-
ta de mudar de pensamento. Pois a intenção desse jogo
é pensar em algo que não lhe diz respeito em nada. Nada,
aí, incluindo tudo. Mas nem conseguiria ir tão longe, já
que o corpo, que apenas suava ao seu lado, inicia uma
série de beijinhos cretinos em suas costas. Beijos com
sons de boquinhas de peixes. Se é que peixe produz sons,
crê que já os tenha escutado. “Peixes de aquário, isso!”
Faz sentido: na sala do apartamento em que está, há dois
peixes num pequeno aquário. Estava lá, olhando para
eles, antes de irem para o quarto. Ela e o do no dos peixes.
Conversaram, tomaram duas garrafas de vinho, beijaram-
se por um tempo. Esforçando-se ao máximo para serem
atraentes e incríveis um para o outro. Tudo com a trilha
sonora de uma dupla de peixes borbulhantes, num mix
com a música que tocava, na verdade uma longa playlist
toda programada para um clima de sedução. É isso, ele
está dando beijos de peixes nas costas dela, porque é isso
que ele considera ser “beijos sedutores”. Ela não está exa-
tamente gostando, mas, “vindos dele... até que é legal”.
Fica quietinha; aconchega-se e ri risinhos silenciosos. Ele
interpreta isso como um incentivo e continua com os
beijos mais para baixo. Ela se sente grata, e pensa no
quanto tem sorte por tê-lo ali, grudando bocas molhadas
em sua coluna lombar. Estremece outra vez, agora de
súbita emoção – é uma mulher apaixonada. “Lógico que
sou”, confirma para si mesma. Se não fosse, jamais esta-
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ria ali, naquele apartamento quarto e sala, com um ator
desempregado, que tem dois peixes meio inchados em
um aquário porcaria e barulhento, pessimamente loca-
lizado no meio da salinha de teto rebaixado. Portanto, é
uma mulher apaixonada e não está a fim de ficar falando
sobre isso. Também não gostaria que ele tentasse. “Es-
tou apaixonada e, sabe?... Ele não é muito inteligente.”
“Meu Deus! Que pensamento horroroso para se ter
sobre alguém que se ama!” “Eu amo ele? Pensei isso,
realmente?” Adriana fecha os olhos e tenta guardar este
improvável pensamento, bem trancado, numa gaveta
com chave. Uma gaveta secreta em sua mente, aquela em
que esconde seus maiores segredos. Recentemente, foi a
uma astróloga famosa, de Brasília, que estava de passagem
por São Paulo, e a mulher disse que Adriana teria de
rever suas perspectivas sobre o masculino e o feminino.
Pelo que Adriana entendeu, ela tem esses dois aspectos
em gêmeos. Ambos na mesma casa. Pelo que conseguiu
compreender, fique claro, parece que ela tem um certo
conflito em se definir, ou talvez, melhor dizendo, não
tem uma avaliação bem definida sobre o seu “ eu-ho-
mem” e o seu “eu-mulher”, conversa que a esgotou pro-
fundamente. E lembrar disso, agora, com um homem
por demais pesado e quente grudado nela, nesta posição
de conchinha, deixa-a hipocondríaca aguda; e, apesar de
estar com certeza apaixonada, tem uma certa vontade
de empurrá-lo longe. Acredita mesmo que, se não lhe
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der um chega pra lá e sair correndo até o banheiro, para
realizar uma boa lavagem íntima, vai ter algum tipo de
reação ginecológica ao esperma que guarda em si. Não se
passaram mais do que alguns minutos desde que ele go-
zou – bem depois dela, inclusive – mas para ela já é mais
do que suficiente. Sente vários efeitos adversos tomando
conta do seu sistema reprodutor. Adriana não quer, po-
rém, que ele imagine que ela sente nojo dele, ou de seus
restos, então fica ali jogada, meio que fingindo apreciar
a situação. Consegue, pensando bobagens como os “an-
jos” de Salman Rushdie. Que a levaram a constatar que
talvez ame quem está com ela, mesmo que ele seja leve-
mente burro. Elaborando sobre o que a astróloga lhe disse.
Para finalmente chegar a um autodiagnóstico de candi-
díase. Ao menos conseguiu gozar, lembra agora. Não lá
dentro, ou seja, não por causa daquele que constata amar,
já que ela precisou se tocar no clitóris. Quer dizer, podia
ter feito isso em casa. Não teria um cara de 1,87m se
fazendo passar por peixe, nas suas costas, contudo. Isso é
bom, não é? Não é o que toda mulher queria? Ter um
bonitão encaixado? Beira à melancolia, ao recordar o es-
forço que teve de fazer, antes, para não dizer para ele:
– Para! Chega! Se não gozou, não vai mais gozar, es-
quece! Porque seu pau está me assando, tira ele daí! Que
cara chato! Com esse pau maior do que o necessário!
Não, não diria isso jamais. Imagina. Ela tirou a sorte
grande quando o conheceu, depois de tantas decepções.
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Ele se demonstrou superinteressado, insistindo em saber
o seu telefone, e apostando naquela relação incomum.
Ela nem achou que ele ligaria. O que um cara novo,
bonito daquele jeito, iria querer com ela? Tudo bem, ela
também é bonita, e não raro atrai o interesse dos homens
que conhece. Mas quase sempre eles são casados e que-
rem apenas uma transa rápida e descompromissada. Já
que ela é uma mulher que tem 38 anos e ainda é solteira,
sem filhos. Um mito urbano. Com uma carreira notável
de designer de joias, vale dizer, e de família rica; culta e
viajada. Uma mulher madura que já sabe, há tempos, que
o amor perfeito não existe; por isso não se constrange
em ter alguns relacionamentos sem futuro. Com esses
homens de quarenta e tantos, que estão amortecidos em
seus casamentos de anos, sem poder se separar porque,
hoje em dia, depois de três décadas de separações, as pes-
soas sabem que divórcios custam uma fortuna e não são
bons para a formação das crianças. Estranhamente, agora,
ali, com um belo ator de 24 anos, livre e desimpedido,
grudadinho nela, após ter um orgasmo até que razoá-
vel, Adriana sente vontade de chorar. Lembrando-se de
coisas que não têm nada a ver. Que, há pouco, sofreu
um aborto involuntário. Não tem sentido lembrar isso,
nesse momento. Além do mais, essa “ferida já está ci-
catrizada”. Deve seguir adiante, principalmente porque
o roteiro de Deus tem sido bastante generoso com ela
– pensa bem: se ela não tivesse perdido o bebê, não te-
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ria correspondido aos olhares dele, na noite em que se
conheceram. Era uma festa pra lá de cretina, cheia de
gente malvestida de teatro; nada além de boba diversão
poderia esperar daquilo. E agora não estaria apaixonada,
talvez amando, banhada de esperma fresco. Eles estão tão
juntos, tão enamorados, que nem mais usam proteção.
Camisinha? Eles, os homens, odeiam. Elas, as mulheres,
também. E por motivos nem tão diferentes. Para eles,
o pau perde sensibilidade, a fricção fica comprometida
e, por isso, eles demoram a gozar. Decerto, em muitos
casos, demorar a gozar é encarado como uma vantagem;
mas, com o tempo, demorar cansa. Para elas, a camisinha
rouba a lubrificação natural das vaginas, produzindo uma
sensação de ressecamento; e eles demoram a gozar. Pen-
sando nisso, Adriana tem uma visível melhora: de von-
tade de chorar, passa para vontade de rir. “Ah, como o
ser humano é engraçado.” “Os machos creem que con-
seguir conter a ejaculação é um supernegócio, mas, para
as fêmeas, seria muito melhor que gozassem logo, para
poderem ajudar no que interessa: o estímulo clitoriano.”
“Tanto fuk-fuk-fuk não nos adianta em picas, na quase
totalidade das vezes. Só para as que fingem gozar o maior
tempo é uma vantagem, pois lhes rende melhores atua-
ções.” Adriana, entretanto, não é mais uma mulher que
precisa simular orgasmos. Quando percebe que não vai
chegar lá, ela simplesmente se ocupa em fazer com que
o parceiro ejacule mais rápido e pronto. Aí, dependendo
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do seu grau de intimidade, após o fato, aproveita aquela
papa e fica se esfregando até gozar. Confessa sentir-se
mais excitada depois que o parceiro ejacula, deixando-a
coberta com sêmen. Para tal, todavia, é preciso a ausência
da camisinha, claro. A porcaria da camisinha, difícil de
tudo: de colo car, de não colocar. Acabou decidindo que,
quando não houver “necessidade” da camisinha ( decisão
que depende de um cálculo complicado, todo feito à base
de mentiras, sonhos e credulidade), deve deixar as coisas
rolarem. E aproveitar o brinde que vem com o perigo,
o adendo coloidal da porra, e se masturbar sem culpa. Fa-
zendo, depois, uma coisa que os homens, em sua maioria,
enquanto héteros, odeiam: meter os dedos besuntados
em suas bocas. Nas bocas deles, entenda-se. “Homens...
Odeiam trepar de camisinha e odeiam porra.”
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