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O perfil do aluno do primeiro ano do curso de Letras da PUC-SP frente à
modalidade semipresencial
Adolfo Tanzi Neto
Angelita Quevedo
Introdução
Desde o advento da internet tem se discutido o impacto da tecnologia em
nosso trabalho, educação, cultura, identidade, relações pessoais e até mesmo lazer.
Nos tempos modernos em que vivemos, é inegável a velocidade com que novas
tecnologias de informação e de comunicação (TIC) invadem o mercado e estão
disponíveis para todos. Como educadores devemos pensar na formação do cidadão
para uma sociedade mais tecnológica e digitalizada e, mais especificamente entramos
em um outro campo do saber, que tem se desenvolvido desde a década de 70,
chamado de Educação para as Mídias.
A Educação para as Mídias tem como objetivo formar cidadãos-usuários
ativos, críticos e criativos de todas as tecnologias de informação e comunicação
(Belloni, 2009). Para a UNESCO, a educação para as mídias é condição sine qua non
da educação para a cidadania, pois a
educação para as mídias abrange todas as maneiras de estudar, de aprender e de
ensinar em todos os níveis [...] e em todas as circunstâncias, a história, a criação, a
utilização e a avaliação das mídias enquanto artes plásticas e técnicas, bem como
o lugar que elas ocupam na sociedade, seu impacto social, as implicações de
comunicação mediatizada, a participação e a modificação do modo de percepção
que elas engendram o papel do trabalho criador e o acesso às mídias. (UNESCO,
1984 apud Belloni, 2009: 12).
Consequentemente, devemos pensar na integração das novas tecnologias na
educação, em primeiro lugar, de modo criativo e critico para desenvolver autonomia e
reflexão nos usuários de modo que não sejam apenas receptores de informações. Em
segundo lugar, para desenvolver habilidades e competências necessárias para que esse
aluno-usuário possa aprender significativamente em um ambiente digital. Queiroz
(2005: 02) pondera:
A utilização de tecnologia na educação amplia as possibilidades de
desenvolvimento de trabalhos pedagógicos mais significativos para o aluno. No
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entanto, não dispensa a realização de planejamento de situações educacionais,
principalmente aquelas que buscam levar o aluno a: “aprender a aprender”,
“aprender a fazer”, “aprender a ser” e “aprender a conviver”, pilares da proposta
de Delors (1998) para educação no século XXI. (Queiroz, 2005: 02).
Por um lado, a aprendizagem em um ambiente digital pode se realizar por
meio dos mais variados tipos de atividades de aprendizagem: discussões em fóruns,
sessões pré-agendadas de chat, leituras de texto, discussões sobre vídeos assistidos,
trabalhos individuais ou em grupos, tarefas colaborativas; no entanto, o ambiente
virtual de aprendizagem (AVA) exige que o professor esteja preparado e disposto a
criar e inovar, valorizando a tecnologia como um canal de comunicação e
aprendizagem e não como um fim. Por outro lado, devemos também considerar quão
apto está o aluno-usuário para uma nova forma de aprender, um aprender por meio do
uso de ferramentas tecnológicas. Para Valente (1999: 08) em um AVA
O aluno deixa de ser passivo, de ser o receptáculo das informações, para ser ativo
aprendiz, construtor do seu conhecimento. Portanto, a ênfase na educação deixa
de ser a memorização da informação transmitida pelo professor e passa a ser
construção do conhecimento realizada pelo aluno de maneira significativa, sendo
o professor, o facilitador desse processo de construção. (Valente, 1999: 08).
Para tanto, consideramos que as práticas pedagógicas em um AVA devam ser
inovadoras, flexíveis, dinâmicas, articuladas, devam também permitir reflexões e
transformações nas experiências de aprendizagem dos alunos. Entretanto, no Brasil,
os fatores que propiciam uma aprendizagem mediada por ambientes digitais, a
didática apropriada ao aprender online, a formatação de cursos mediados por AVA e
outras questões são temas que merecem ser pesquisados.
Nossa pesquisa busca compreender o perfil do aluno de um curso de
graduação que cursa uma disciplina na modalidade semipresencial, ou seja, uma
modalidade de educação que reúne práticas da educação presencial com práticas de
educação a distância. Ao escolher esse tema, esperamos contribuir para a ampliação
de conhecimento teórico sobre o processo de aprendizagem online.
1. Sobre a fundamentação teórica
Nessa pesquisa, utilizamos o aporte da teoria da atividade porque entendemos
que aprender por meio de ambientes virtuais de aprendizagem é uma atividade
humana e consequentemente possui um sistema próprio, com ferramentas, regras,
divisão de trabalho e estrutura própria.
Escolhemos a Teoria da Atividade porque acreditamos que quando lidamos
com aprendizagem mediada pela tecnologia, nos parece fundamental termos um
embasamento teórico que integre tanto a aprendizagem como a mediação. A nosso
ver, os princípios da teoria da atividade tratam da combinação da aprendizagem e da
mediação como componentes inseparáveis de qualquer atividade humana.
Além disso, de acordo com a teoria da atividade, o indivíduo se constrói em
função do objeto de sua atividade e dos artefatos que a medeiam. Dessa forma, é
possível detectarmos o perfil do aluno conforme as relações que são estabelecidas no
sistema de atividade estudos. Essas relações são responsáveis pelo contexto e pelo
significado das ações individuais (Engeström, 1987). Essas relações foram percebidas
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com base nas manifestações escritas dos alunos. Por meio da manifestação escrita
(intenção consciente), o aluno interagiu com o ambiente segundo determinados
objetivos (conscientes ou não) para realizar certas metas. A seguir apresentamos o
contexto em que a pesquisa foi desenvolvida.
2. Sobre o contexto de pesquisa
A modalidade de educação semipresencial foi introduzida no atual currículo de
Letras da PUC-SP. O curso de Licenciatura em Língua Portuguesa possui 6
disciplinas oferecidas ao longo de 3 anos e, os cursos de Licenciatura em Língua
Portuguesa e Língua estrangeira (Espanhol, Francês ou Inglês) possuem 8 disciplinas
oferecidas ao longo dos 4 anos de curso. Dessa forma, acreditamos que os alunos se
beneficiam do potencial da educação a distância para o seu desenvolvimento pessoal e
profissional.
A implementação da educação semipresencial é acompanhada por uma
pesquisa longitudinal cujo aporte metodológico é de estudo de caso porque baseia-se
em um contexto específico de pesquisa, faz uma análise contextual detalhada das
informações sobre um evento em particular e por meio dele examina-se todas as
variáveis e suas interrelações para uma completa compreensão do caso em questão.
Utilizamos tanto o paradigma qualitativo quanto o quantitativo.
Nessa pesquisa, trabalhamos com os dados da disciplina Tecnologias Digitais
– primeira disciplina na modalidade semipresencial, oferecida no primeiro período do
curso para os alunos ingressantes em 2009. Nossos objetivos foram a) analisar o perfil
do aluno na disciplina no que se refere às competências e habilidades necessárias para
uma aprendizagem no ambiente digital, e b) observar o desempenho de cada perfil ao
longo da disciplina. Um total de 96 alunos, distribuídos em 5 salas de aula abertas no
ambiente virtual de aprendizagem Moodle, dos turnos matutino (41) e noturno (55),
participaram da pesquisa.
1.1. Sobre a disciplina Tecnologias Digitais
Tecnologias Digitais é uma disciplina cuja carga horária de 40h é distribuída
em 20 semanas. Em seu plano de ensino, encontramos os seguintes objetivos:
Oferecer: a) arcabouço teórico e prático para que o aluno desenvolva uma postura
crítica frente à informação encontrada na Internet, tendo em vista o processo contínuo
de construção, organização e produção de conhecimento; b) respaldo teórico/ prático
para que o aluno desenvolva habilidades para pesquisar, analisar, avaliar e articular
informações obtidas na WWW; c) a oportunidade para o aluno experienciar algumas
formas de interação mediadas pelo computador; e d) condições para o aluno vivenciar
experiências educacionais em contextos digitais e para refletir criticamente sobre seu
potencial mediador de aprendizagem.
Essa disciplina está na sua quarta edição e procura oferecer aos alunos a
oportunidade de aprender como a) fazer pesquisas mais eficientes na Internet, usando
estratégias de busca; b) analisar a informação encontrada na rede; e c) como aprender
em um ambiente virtual de aprendizagem.
A equipe de professores responsáveis pela disciplina, procurou desenvolver
noções sobre a) educação a distância, b) informação e pesquisa na internet e c) análise
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e avaliação da informação encontrada na internet. Dentre as práticas utilizadas nessa
disciplina, a equipe fez uso de fóruns de discussão. Ao todo, foram usados três tipos
de fóruns: a) fóruns para dúvidas, b) fórum para jogar conversa fora e c) fóruns
educacionais. Os fóruns educacionais são fóruns ligados tematicamente às unidades
tratadas na disciplina.
Além dos fóruns, as seguintes ferramentas do ambiente Moodle foram usadas:
(i) tarefa – para exercícios individuais, entregues conforme prazos estipulados pelo
professor; (ii) webquest – para exercícios em pares e em grupos; (iii) pesquisa de
opinião; (iv) glossário e (v) base de dados.
1.2. Sobre os procedimentos de coleta de dados
Nosso estudo utiliza dados coletados com base em registros de mensagens
postadas a) no fórum de Dúvidas [FD] e no fórum Jogando Conversa Fora [FJCF]; no
primeiro fórum educacional denominado “Expectativas”. Esse fórum continha as
seguintes perguntas:
1) Vocês já fizeram um curso à distância antes? Ou já estudaram com o apoio da
Internet? Como foi a experiência?
2) Quais são suas expectativas com relação ao nosso curso? Apreensões?
Perguntas?
Além dos fóruns, coletamos também os dados avaliativos elaborados pelos
professores das respectivas salas virtuais. Mediante uma metodologia de análise
quantitativa e qualitativa, as respostas dos alunos foram analisadas. Realizamos uma
análise estatística e interpretativista dos dados que apresentamos a seguir.
2. Sobre a análise e discussão dos dados
Para chegarmos ao perfil do aluno, analisamos o conteúdo de suas
manifestações escritas observando palavras ou expressões que denotassem atitudes
relacionadas à modalidade de educação a distância. Agrupamos os alunos cujo teor
de mensagens fizessem uso de palavras ou expressões semelhantes e identificamos
três grupos de atitudes:
Atitude Aberta: alunos cujos relatos contém palavras ou expressões que
denotam uma atitude positiva ao ensino a distância, como mostram os
exemplos abaixo:
“...a EAD de certa forma aproxima mais os alunos, envolvendo-os em um
ambiente no qual é possível a discussão, interação e debate de certos
temas entre estudantes e professores.” (Aluno 1)
“....sinal de que o EAD é a ferramenta do momento e que o sucesso dele
nos trará novas surpresas em termos de ensino.” (Aluno 2)
“...eu achei isso muito interessante pra mim, já que eu por ter vergonha
de falar em público não consigo expor minhas opiniões em sala de aula.”
(Aluno 3)
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Atitude Semi-aberta: alunos cujos relatos contém palavras ou expressões que
denotam alguma restrição ao ensino a distância, mas que contém expressões
que denotam abertura para uma nova experiência, como mostram alguns
depoimentos abaixo:
“... dentro do contexto de EAD, fiquei fascinada e curiosa, deixei vir a
expectativa de conhecer outro universo...” (Aluno 11)
“EAD pode ser um possível "empurrar com a barriga..." (Aluno 12)
“...uma certa rejeição para esse tipo de disciplina.” (Aluno 14)
“...ainda me questiono como será o processo de interação pessoal
durante o curso.” (Aluno 15)
Atitude Fechada: alunos cujos relatos contém palavras ou expressões que
denotam total restrição ao ensino a distância.
“...não acredito que possam substituir o ''face to face.'' (Aluno 20)
“...fiquemos presos a esse contato “frio...” (Aluno 24)
“...a EAD não ajuda em nada na relação professor aluno, ou
melhor, torna esta relação totalmente mecânica e distante. Não
adianta dizer que o professor se comunica mais com os alunos, um
contato através de uma máquina não é um contato propriamente
dito ou verdadeiro.” (Aluno 26)
“Deveríamos ter uma matéria que nos introduzisse ao mundo
tecnológico, pois ele é essencial a todos principalmente a nós,
contudo o ensinar a distância já é uma tecnologia que não nos
acrescenta nada no universo educacional.” (Aluno 27)
Dos 96 alunos, temos uma realidade um pouco diferente se considerarmos o
turno em que o aluno estuda. O gráfico 1 nos mostra o perfil dos alunos no turno
matutino.
Gráfico 1: Perfil dos alunos do turno matutino
Vemos que uma pequena parcela (5%) apresenta-se determinantemente contra
a modalidade a distância. Dentre os motivos mencionados temos o argumento de que
a distância impede o processo de aprendizagem. É necessária que haja um contato
face-a-face para que a aprendizagem se realize, além disso há menção de que não
confiam na qualidade dos cursos a distância.
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O perfil semi-aberto corresponde a 49% dos alunos e o perfil aberto foi
encontrado em 46% dos alunos. Esses índices talvez tenham ocorrido pelo fato da
grande maioria dos alunos pertencerem a uma população que tem mais acesso ao
computador e à Internet. Essa população em sua maioria já vem de escolas onde as
TIC são de certa forma usadas, não como disciplinas formais, mas como atividades
complementares com fins educacionais. Além disso, na sua maioria, os alunos do
matutino são mais novos e ainda não estão trabalhando em seu primeiro período de
curso.
O gráfico 2 nos mostra a realidade encontrada nas turmas do noturno.
Gráfico 2: Perfil dos alunos do turno noturno
Os alunos do noturno mostram uma realidade um pouco diferente. Há um
aumento do perfil fechado (14%) se comparado com o matutino (5%). Os alunos do
noturno são mais velhos e a maioria divide-se entre empregos de tempo integral e a
universidade. Há também uma diferença sócio-econômica, os alunos do matutino
vem, em grande parte, de escolas particulares ao passo que a maioria dos alunos do
noturno vem de escolas públicas onde o uso das TIC ainda não foi implantado. Muitos
alunos não possuíam computador e acesso à Internet, tendo que usar os laboratórios
da universidade ou lan-houses.
O gráfico nos mostra que temos 43% dos alunos com o perfil aberto e o mesmo
índice para o perfil semi-aberto.
Depois de identificados os perfis, acompanhamos o desempenho de alguns
alunos1, conforme perfil apresentado inicialmente, durante a disciplina. O
desempenho do aluno na disciplina foi observado com base nas tarefas propostas e
posteriormente avaliadas pelo professor, na prova e na participação nos fóruns de
discussões.
Por lidarmos com docentes diferentes, temos pequenas variações no tocante às
avaliações usadas. Dependendo do docente, os alunos foram avaliados em 4 ou em 5
momentos. As atividades pedagógicas que foram avaliadas são listadas a seguir:
1) unidade 1: duas atividades de fórum (Internet: o que será amanhã e crimes
cibernéticos);
2) webquest: “Pesquisando na net” (trabalho em pares sobre o uso das
distintas ferramentas de pesquisa de informação que existem na
rede);
3) prova presencial sobre os tópicos discutidos durante o curso;
4) unidade 3: fórum “Qual a estratégia de pesquisa”;
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5) trabalho final: trabalho em grupo de 4 pessoas sobre como distinguir “boa”
informação de “má” informação na net;
6) participação do aluno em fóruns de discussão e tarefas entregues durante
todo o curso.
De qualquer maneira, é importante lembrar que nos guiaremos pelos perfis
encontrados. Os gráficos 3 e 4 mostram o desenvolvimento de alunos de turmas
diferentes mas oriundos do mesmo docente. O gráfico 3 mostra o desempenho de um
aluno de perfil fechado e o gráfico 4, de um perfil semi-aberto.
!
Gráfico 3: Perfil fechado – consequente desistência da disciplina
O aluno I registrou em seu primeiro depoimento: “Nunca fiz nenhum curso a
distância e pra falar a verdade não acredito que possam substituir o ''face to face''.
Parece ficar claro sua atitude negativa em relação ao ensino a distância. Seu
depoimento gerou várias reações no fórum da turma e isso o levou a ter de participar
mais para defender sua opinião quanto ao uso das tecnologias educacionais. No início
da disciplina, o aluno participou dos fóruns para socializar e não com fins
educacionais. Ao longo do semestre, o aluno desistiu.
!
Gráfico 4: Perfil semi-aberto – insegurança e medo
O aluno L inicialmente registrou o depoimento abaixo.
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“Devo ser sincero e dizer que no início, quando descobri que teríamos
aula virtual, fiquei bastante assustado; afinal nunca havia participado de
uma aula online, menos ainda, imaginaria que na faculdade teria uma
disciplina pela internet. Fiquei bastante surpreso. Mas agora posso dizer
que já estou me acostumando com a idéia. Até passei a preferir, pois não
gosto muito de falar durante as aulas, e por isso deixo minha participação
"a desejar", e esse meio será uma forma mais fácil de expressar minhas
opiniões e interagir com todos. Acredito que se houvessem dúvidas elas
cessaram com o vídeo, pois este é muito expositivo e nos demonstra
claramente os objetivos desse método de "trabalho”.”
O depoimento de L revela uma atitude semi-aberta com dúvidas e medo a
respeito do funcionamento da disciplina. A menção do vídeo inicial parece tê-lo
ajudado a superar parte dos obstáculos em relação à EAD. Ao longo do semestre, o
aluno fez uso constante do fórum de dúvidas pedindo aos colegas de classe para
ajudá-lo em muitas situações. Tal procedimento parece indicar que o aluno conseguiu
superar o medo e a insegurança iniciais devido à interação social que estabeleceu nos
fórum de dúvidas.
O gráfico 5 nos mostra um perfil fechado que, ao longo da disciplina, gerou
um comportamento diferenciado do gráfico 3.
!
Gráfico 5: Perfil fechado – superação das barreiras pelo social
O aluno A registrou em seu depoimento:
“A Educação a Distância é ótima se você visar o individual, o particular.
Em um mundo que necessita cada vez mais de interação e união, batemos
de frente com uma quase que total falta de contato humano. Tendo em
vista que estamos em um curso de formação de educadores, a EAD não
ajuda em nada na relação professor aluno, ou melhor, torna esta relação
totalmente mecânica e distante. Não adianta dizer que o professor se
comunica mais com os alunos, um contato através de uma máquina não é
um contato propriamente dito ou verdadeiro. (...) Assim como o cinema
nunca substituirá o teatro e os e-books, os livros em papel, a EAD nunca
substituirá a sala de aula e muito menos o educador. Não posso chamar
isto de Educação, mas quem sabe Ensino à Distância. (...) o professor a
distância não tem contato suficiente para trabalhar com a realidade de
cada um; (...) A idéia de “relacionar-se com uma máquina” é tão vazia
que não tem objetivo maior para mim. Deveríamos ter uma matéria que
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nos introduzisse ao mundo tecnológico, pois ele é essencial a todos
principalmente a nós, contudo o ensinar a distância já é uma tecnologia
que não nos acrescenta nada no universo educacional, a não ser o
conhecimento tecnológico por si só.”
Apesar de mostrar um perfil fechado, seu comportamento ao longo da
disciplina surpreendeu. O aluno contribuiu constantemente no fórum “Jogando
Conversa Fora” convidando os amigos de classe para o cinema, mostra de filmes e
também registrando endereços de sites de filmes que ele assistiu. Tal comportamento
parece indicar uma busca de socialização – o bate-papo entre amigos, talvez como
meio para superar os obstáculos mencionados em seu depoimento. É interessante
observar também que nos momentos de avaliação individual (unidade 2, prova e
unidade 4), o aluno apresenta queda em seu rendimento. O gráfico 6 nos mostra o
desempenho do aluno H.
!
Gráfico 6: Perfil aberto – dificuldade com o ambiente
A aluna H registrou em seu depoimento inicial
“Eu também nunca havia participado de um EAD anteriormente. No
começo não entendia muito bem o que era esse moodle, e qual a intenção
dele. Mas com o passar da primeira atividade eu fui entendendo melhor
as expectativas do programa e acho que só tem a acrescentar no nosso
aprendizado.” Após ver o vídeo vi quantas vantagens há nesse ensino,
como proporcionar para alunos um horário de aprendizado mais aberto,
e também os tímidos podem se sentir avontade de fazer perguntas sem ter
muita exposição. Como a Carla, estou ansiosa para ver o resultado desse
novo método de ensino.”
Seu depoimento aponta para o perfil aberto no entanto, ao longo da disciplina,
a aluna teve problemas com o ambiente e com algumas ferramentas. Para superar as
dificuldades fez uso constante do fórum de Dúvidas.
O gráfico 7 nos mostra um perfil aberto com desempenho excelente
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Gráfico 7: Perfil aberto – desempenho excelente
A aluna T registrou em seu depoimento
“Eu nunca fiz um curso a distância antes, e pra ser sincera, eu nunca
havia colocado muita fé nessa história de "curso pela internet" e nunca
tinha parado para pensar nos diversos benefícios que pode trazer, como a
questão do tempo, lugar, acesso a hora que lhe for melhor. Fiquei
surpresa com a informação do vídeo em que certos cursos semi-
presenciais de graduação tem o mesmo valor que o diploma. Adorei saber
disso e ter refletido sobre, não só as questões em relação a conteúdo e
comodidade, mas também as questões sociais, essa idéia de participar, de
todos poderem dar sua opinião (e isso é ótimo para os tímidos hehehe).
Apesar da minha idéia arcaica em relação ao aprendizado pela internet,
quando você não tem tempo ou condições para ficar se deslocando,
pagando curso aqui e ali, a internet é um ótimo recurso. Eu posso dizer
que estudei, e muito, pela internet e sem dúvida alguma, existem sites de
excelente qualidade, sobre diversos assuntos, que podem lhe ajudar.
Utilizei tanto para pesquisas do colégio quanto para estudos sobre música,
mitologia e outros assuntos. A experiência foi boa! Ótima!”
Além do perfil aberto, a aluna participou ativamente nos fóruns propostos durante o
período e teve um excelente rendimento nas outras atividades avaliadas pelo professor.
A importância de tomarmos consciência da existência dos diferentes perfis
será apreciada a seguir.
3. Considerações Finais
Os dados apresentados nesse artigo exemplificam tipos de perfis que parecem
influir no processo de aprendizagem do aluno. O perfil fechado apresentou duas
tendências de desenvolvimento: a) desistência (Aluno I) e b) superação (Aluno A). O
perfil semi-aberto originou-se, na maioria das vezes, da insegurança e do medo tanto
do ambiente como da proposta educacional em si. Ao longo da disciplina, os alunos
de perfil semi-aberto conseguiram um bom desempenho com base no apoio dos
colegas e do professor. Os alunos de perfil fechado que conseguiram um bom
desempenho no final da disciplina foram alunos participativos nos fóruns previstos.
A aprendizagem é uma atividade coletiva e, portanto, seu aspecto social parece
ser um instrumento transformador do indivíduo e, ao mesmo tempo, facilitador do
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processo de aprendizagem em ambientes digitais por promover a aprendizagem por
meio da interação entre seus participantes. Todos os alunos dessa pesquisa foram
unânimes em apontar a importância da interação entre os participantes da sala virtual
em seus depoimentos. Alguns, apontaram também que a forma como a disciplina foi
projetada, as instruções e os recursos usados também atuaram como elementos
facilitadores da aprendizagem. Sobre esse aspecto, Moran (s/d) pondera:
A maior parte dos cursos presenciais e on-line continua focada no conteúdo,
focada na informação, no professor, no aluno individualmente e na interação com
o professor/tutor. Convém que os cursos hoje – principalmente os de formação –
sejam focados na construção do conhecimento e na interação; no equilíbrio entre o
individual e o grupal, entre conteúdo e interação (aprendizagem cooperativa), um
conteúdo em parte preparado e em parte construído ao longo do curso.
Os dados parecem indicar a primazia da interação como elemento principal
para o bom desempenho. Nesse sentido, duas concepções passam a ser importantes: a
linguagem como instrumento de mediação, por meio do qual o indivíduo interage e se
desenvolve dentro do contexto sócio-histórico em que está inserido e a aprendizagem
humana vista como experiência social em que a interação se dá pela linguagem
(QUEVEDO & CRESCITELLI, 2005). É por intermédio da linguagem que o homem
faz conexões ou cria significados, e ao mesmo tempo, ao realizar essas conexões,
aprende, apreende e constrói o conhecimento.
Adolfo Tanzi Neto PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Angelita Quevedo PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Nota
1 Para preservar a identidade dos alunos os identificamos aqui com letras que assim seguem: aluno I, L,
A, H e T, e para os nomes dos colegas de classe usados em seus depoimentos foram usados nomes
fictícios com o mesmo objetivo.
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Referências
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Ed. rev. – Coleção polêmicas do nosso tempo; 78)
BRAGA, D. B. & Ricarte, Ivan.Letramento na era digital: construindo sentidos através da
interação com hipertextos. Revista da ANPOLL, IEL-UNICAMP, v. 18, p. 59-82, 2005.
DELORS, J. The four Pilars of Education. UNESCO Task Force on Education for the
Twenty-First Century. 1998. Disponível em:<http://www.unesco.org/delors/>. Acesso em 20
jul. 2001.
ENGESTRÖM, Yrjö. Learning by Expanding: An Activity – Theoretical Approach to
Developmental Research. 1987 [Disponível]
http://lchc.ucsd.edu/MCA/Paper/Engestrom/expanding/toc.htm. Acessado em 08/06/2004.
MORAN, José Manuel. Textos sobre Tecnologias e Comunicação in
<www.eca.usp.br/prof/moran> Acesso 15/06/2010.
QUEIROZ, Vera C. Atividades e Exercício On-line. Disponível:<
www.grupolusofona.pt/.../4EA249137CB906D0E040A8C01E0874B6>. 2005. Acesso:
15/02/2010.
QUEVEDO, Angelita & CRESCITELLI, Mercedes F. de Canha. Recursos tecnológicos e
ennsino de língua materna e estrangeira (a distância ou semipresencial) In Linha D’Agua, no
18., pp. 43-60. 2005.
QUEVEDO, Angelita & CRESCITELLI, Mercedes F. de Canha. Recursos tecnológicos e
ennsino de língua materna e estrangeira (a distância ou semipresencial) In Linha D’Agua, no
18., pp. 43-60. 2005.
VALENTE, J Armando. Análise do diferentes tipos de software na educação. In J. A Valente
(org.) O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: UNICAMP/NIED, 1999.
Resumo
Esse artigo pretende relatar os resultados iniciais de um estudo de caso que se insere na
interface das seguintes áreas: educação a distância (EAD) e formação de professores para
contextos digitais. Nesse estudo, analisamos o perfil do aluno ingressante no curso de Letras
da PUC-SP no que diz respeito às competências e habilidades necessárias para uma
aprendizagem no ambiente digital e observamos o desempenho de cada perfil ao longo da
disciplina. Um total de 96 alunos teve seus perfis analisados com base em seu engajamento na
primeira disciplina oferecida na modalidade semipresencial do curso. A participação nos
fóruns de discussão, a realização das tarefas e as avaliações obtidas foram aspectos
considerados para o engajamento dos alunos. Os dados coletados basearam-se nas expressões
escritas registradas nos fóruns da disciplina. Mediante uma metodologia de análise
quantitativa e qualitativa, as expressões escritas dos alunos foram analisadas e interpretadas.
Os resultados apontam para três tipos de perfil: aberto, semi-aberto e fechado e, a observação
do desempenho de cada um traz contribuições significativas sobre aspectos de desenho de
curso e da importância da interação entre seus pares.
Palavras-chave: educação a distância, formação de professores, perfil de aluno.
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Abstract
This article presents initial results of a study case that is inserted in the following interfaces:
distance learning and development of Language Teachers for digital educational contexts.
This study analyzed the profile of first-year-college students of the Language Teaching
Courses at PUC-SP in relation to core competences and abilities that are necessary in digital
learning environment. A total of 96 students had their profiles analyzed according to their
engagement in the first blended learning discipline offered in their course. Students’
engagement was considered as to their participation in the discussion forums, accomplishment
of the tasks and their evaluation results. This study uses data collected from the students’
posts in the discussion forums of the discipline and the teachers’ evaluation. An interpretative
and statistical data analysis was done and the results demonstrated three types of profiles:
open, semi-open and closed. The analysis of the way each type of profile engaged to the
course may bring significant contributions as to course design and interaction importance
among peers.
Key words: distance learning, teachers’ development, student profile.