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MACE - BRASIL OCUPAR E RESISTIR : AS MOBILIZAÇÕES ESTUDANTIS EM ALAGOAS @Mii!fi :j ANO 1 • N º 1 • JANEIRO/ ABRIL • 2017 O PORQUÊ DO X N&iiifild A PIOR IMPRENSA DO MUNDO @Mii&IJ

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MACEIÓ - BRASIL

OCUPAR E RESISTIR: AS MOBILIZAÇÕES ESTUDANTIS EM ALAGOAS

@Mii!fi:j

ANO 1 • N º 1 • JANEIRO/ ABRIL • 2017

O PORQUÊ DO X N&iiifild

A PIOR IMPRENSA DO MUNDO

@Mii&IJ

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EDITORIAL O ano de 2016 foi marcado por um

golpe institucional, trazendo a tona

o debate sobre a democratização

da mídia. Os grandes veículos de

comunicação, não só conduziram,

como legitimaram a implantação

de um projeto político jamais

escolhido pelo povo.

A mídia no Brasil está nas mãos de

apenas 11 famílias e, apesar de vedado

pela Constituição, 40 parlamentares

são sócios de empresas prestadoras de

serviço de radiodifusão : os "coronéis da

mídia".

Em outras palavras, nossos

representantes não ill1fringem a lei

somente nos escândalos de corrupção,

mas o fazem diariamente, projetando

na mídia suas visões políticas - o que,

sem dúvida, gera impactos no direito á

liberdade de expressão.

Além disso, apesar da forte política

de austeridade defendida pelo atual

governo, foram investidos 2,4 milhões

em publicidade, o que, em comparação

VIRN'\UNDO ANO 1. N 2 1

JANEIRO/ABRIL 2017

com o mesmo período de 2015,

corresponde ao aumento de 1.855%

(mil oitocentos e cinquenta e cinco por

cento).

Este cenário produz favorecimento

político, violação do direito de acesso

à informação e diminui o espaço de

debate livre, ou seja: enfraquece a

democracia.

Nesse sentido, questionamos: é

possível viver uma democracia de fato

quando o governo é um dos maiores

financiadores da criminalização dos

movimentos sociais promovida pelos

coronéis da mídia?

Acreditamos que não. Apesar da

aparente sensação democrática,

abalada em 2016, vivemos uma censura

velada.

Na contracorrente desta mídia

hegemônica e impulsionados pela

internet, os meios de comunicação

alternativos resistem e lutam em prol

da democratização da comunicação no

país.

Equipe Editorial

Alessandra Marchioni

Ana Luiza Albuquerque

Carlos Roberto Cavalcanti

Felipe Feitosa

Flávio Kummer

Kar en Pimente l

Lucas Soare s

Mateus Magalhães

Paula Aguiar

Rikartiany Car doso

Assim, o Jornal VIRAMUNDO surge da

necessidade de criação de um canal de

comunicação dentro da Universidade

Federal de Alagoas, como grupo

de extensão vinculado ao NEDIMA

(Núcleo de Estudos em Direito

Internacional e Meio Ambiente),

financiado pela PROEX (Pró-Reitoria

de Extensão) ,e com inspiração no

Jornal A MARGEM (UFPB).

Em nossa primeira edição, temos como

matéria principal a pixação ocorrida

no mês de setembro na Faculdade

de Direito de Alagoas. Com a ideia

de dar voz aos que não são ouvidos,

discutiremos a concretude do pixo

ao denunciar os conflitos sociais, sua

simbologia e criminalização. A edição

traz uma reflexão sobre a "grande

mídia" brasileira, considerada "A

pior imprensa do mundo", além de

levantar discussões sobre as ocupações

estudantis no estado de Alagoas.

Assim, convidamos você a virar o

mundo com a gente. Boa leitura!

Diagramação/Projeto Gráfico/Ilustração

Dorgi Barros

(82 ) 99698-0680

Tiragem

1000 exemplares

Periodicidade

Tri mestra l

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• A PIOR IMPRENSA

DO MUNDO

Os dados são da organização internacional Repórter sem Fronteiras (Reporters sans Frontieres): em matéria de liberdade de

imprensa o Brasil ocupa o 104° lugar. Há

seis anos, ficava em 58°. Quem revela essa vergonha é o

jornalista norte-americano Glenn Greenwald, conhecido

por ter denunciado o escândalo da rede de grampos da NSA,

que mora no Rio de Janeiro e é um analista atento da política

e da ação da imprensa no país.

O ranking da ONG parece contraditório com o grau de

avanço técnico da mídia brasileira, sem falar do alto padrão

econômico - mesmo com a crise - que sustenta o sistema de

comunicação no país. Afinal, é uma posição que nos coloca

atrás da Libéria, por exemplo. Traduzindo: a imprensa

brasileira é menos livre que a imprensa da Libéria, de El

Salvador, do Peru de mais 100 países. Para quem sempre

identificou imprensa com democracia, essa lanterna moral

é uma chave a ser considerada. Afinal, desenvolvimento e

tecnologia, em matéria de jornalismo, não querem dizer

qualidade de informação, pluralidade de vozes e menos

ainda liberdade de expressão. Temos uma imprensa rica e

ruim. E ruim porque comprometida com os ricos, não com

a informação. O padrão Globo de qualidade, por exemplo,

serve para fazer propaganda, não jornalismo.

Extraído de:

Mas, afinal de contas, o que é tão ruim na imprensa brasileira,

quando se toma como referência a liberdade, como faz a

ONG internacional? Em primeiro lugar a concentração, com

características monopolistas e familiares. Para sustentar

esse pecado de origem, a imprensa brasileira ainda é virgem

de controles no campo da defesa contra o monopólio,

deixando sem regulamentar princípios constitucionais de

1988. Em seguida, a partidarização vergonhosa da cobertura

recente, que fez dos jornais e empresas noticiosas de

todas plataformas agentes políticos de desestabilização da

democracia. Nos últimos anos não se fez jornalismo entre

nós, conforme consagrado pela história liberal dos meios

de comunicação, mas pura ação conspiratória, desabrida

e irresponsável. Para completar, a intensa conexão de

classe, em matéria de visão de mundo, comportamento e

valores, fazendo cessar o pluralismo em nome do chamado

pensamento único.

O que parece ser algo normal para quem lê jornais no Brasil,

com seus colunistas orgânicos e coberturas editorializadas,

se afigura como um dos maiores absurdos para quem

compreende a

imprensa como instrumento de denúncia dos excessos de

toda forma de poder. Além disso, os jornais não exercem o

papel de equalização democrática por meio do debate de

ideias e, sobretudo, não se constituem como instrumento

de busca da verdade com base em trabalho sistemático de

apuração dos fatos . Para os parâmetros internacionais,

nossos jornais são panfletos, no melhor dos casos. A imprensa

brasileira toma bomba nos três quesitos : é serva do poder,

serva da ideologia única, serva da manipulação. Quem

se curva a tantos senhores não tem condição de arrogar

liberdade. Não é um acaso que a melhor cobertura sobre a

política brasileira, hoje, venha dos jornais de outros países

ou de blogs e experiências jornalísticas independentes. E isso não quer dizer identidade com o governo, mas liturgia

dos fatos e dedicação à inteligência.

https ://WWW.brasildefato.com.br/2016/06/1 O/a-pior-imprensa-do-mundo/

VIRAMUNDO • MACEIÓ/BRASIL • ANO 1 • N 2 1 • JANEIRO/ABRIL - 2017

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Em setembro de 20 16, estudantes e professores da

Faculdade de Direito de Alagoas (FDA) se depararam com

uma pixação no corredor principal de acesso ao bloco

com os dizeres "FORA TEMER". As marcas na parede

desencadearam uma série de comentários e debates. A

FDA não se manifestou sobre o ocorrido em seus meios

de comunicação oficiais. fá o Centro Acadêmico, em nota aberta, declarou-se contra a pixação, afirmando

que se tratava de um ato de vandalismo e degradador

do patrimônio público. Este fato gerou discussões

acaloradas nas redes sociais que inspiraram a elaboração

desta matéria.

CONCRETO VS. VIRTUAL

Estamos inseridos num mundo em que o meio virtual, mais

especificamente nas redes sociais, ganha espaço como campo

de debate dos conflitos sociais e se firmam como fontes de

informação. Entretanto, não são todos aqueles possuem a oportunidade de ter suas considerações políticas trazidas à

tona pela "grande mídia". Pelo contrário, a maioria tem sua

voz reprimida ou adulterada.

O pixo transmite mensagens, geralmente curtas e simples,

mas que têm muito a dizer. É a linguagem daqueles que não

possuem fala nos meios de comunicação convencionais. A

pixação reflete a pluralidade e diversidade de sujeitos e de

vozes. Não existem gritos afinados. Não se pode esquecer

que é próprio dela o caráter de protesto, de ato político.

Além disso, é um método efetivo por três motivos: o choque

estético, o afronte à legalidade e a indiscutível visibilidade.

Os três elementos combinados ganham força e expressão

incontestáveis, que ultrapassam os limites espaciais e temporais próprios do campo virtual. Não se pode excluir

o pixo do campo de visualização urbano de uma hora pra

outra com um toque na interface do computador. Não que

ele não possa ser apagado depois, mas a sua materialidade, é

infinitamente superior à da comunicação virtual.

Sobre o conteúdo da pixação na FDA, não nos custar pensar

em demasia para entender uma proposição única e direta:

"não reconheço um governo encabeçado por alguém que

foi ilegitimamente posto nele, desrespeitando a vontade

democrática".

PIXO: MUITO MAIS QUE TINTA

A linguagem do pixo expressa muito mais do que a tinta

consegue imprimir na parede. Não necessariamente pelo

conteúdo do que é pintado, mas pelo simples fato de ocupar

um espaço criativo na normalidade urbana. Seja uma

frase de efeito, desenhos cheios de cores ou símbolos para

muitos indecifráveis, o pixo não somente muda a paisagem,

ele coloca o "dedo na ferida" dos centros urbanos. Sai

dos subterrâneos da sociedade para expressar o que está engasgado na garganta daqueles que não têm voz através dos

meios tradicionais de comunicação.

Especialmente, o pixo incomoda as autoridades estatais,

estas que têm como missão preservar a ordem remexida

pelas cores destoantes do cinza-concreto da cidade. Toda

expressão que fuja à conduta esperada do cidadão médio

deve ser reprimida em prol da manutenção da ordem e da

almejada harmonia social.

Não vivemos numa sociedade homogênea, que a estética

padronizada das cidades tenta nos fazer engolir. O invólucro

de aço e vidro, às vezes atrapalhado por alguma propaganda

colorida, tenta nos dizer que: "olha em volta, está tudo bem".

Nada incomoda, mas também nada emociona.

Reprimir o pixo é asfixiar expressões populares da dinâmica

urbana. Apenas mascara os problemas que seguem existindo,

deslocando-os para outros muros da cidade. Pixar é

escancarar os conflitos sociais que se mantêm encobertos por uma "falsa" normalidade. É muito mais que rabiscos

na parede, fáceis de cobrir com uma demão de tinta, pelo

contrário, denuncia os diversos conflitos que estão na base

de uma sociedade dividida em classes.

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CRIMINALIZAÇÃO l@fJff t((@ A relação entre arte, estética e intervenção perfaz o

entendimento dos pixadores de que a cidade é livre e de

todos. Porém, este não é o entendimento do senso comum e

do poder público: desde que surgiu, nos anos 1980, o pixo é

visto como uma poluição visual e comparada ao vandalismo,

sendo considerado um ataque à propriedade. Na década de

1990, a chamada política de Lei e Ordem, surgida nos Estados

Unidos, passou a coibir qualquer t ipo de ação considerada

fora dos padrões da vizinhança.

As pixações foram um dos principais alvos dessa política,

que tinha como objetivo diminuir os níveis de criminalidade

a paitir da manutenção da ordem. O pixo certamente fugia à ordem estabelecida, já que essa pressupõe um nível de apat ia

estética condizente com o marasmo social esperado. Nas

paredes, nada além daquilo que nos forjam para ser: cidadãs

e cidadãos de bem, que consomem e

pagam suas contas em dia.

Nesse sentido, o pixo é um crime,

talvez assim como já foi o samba,

a capoeira, a umbanda. A Lei dos

Crimes Ambientais, de 1 998, condena

a prática de pixar com detenção de

até um ano e multa. Considerado

crime de menor potencial ofensivo,

a punição seria convertida em penas

alternativas, não levando ninguém à

cadeia, em teoria.

Ocorre que comumente vê-se a tentativa do Ministério

Público (e do Poder Judiciário em geral) de enquadrar

também os pixadores no crime de formação de quadrilha,

com o objeto de agravar consideravelmente a situação dos

detidos.

Apesar disso, importante passo para a descriminalização

desta intervenção urbana ocorreu em 2011. A alteração da

Lei dos Crimes Ambientais permitiu a prática de grafite

realizada mediante manifestação artística em dois casos:

com autorização dos proprietários de bem privado ou

mediante autorização do órgão competente para os bens

públicos.

Desta forma, o Brasil conserva uma dicotomia na legislação

penal, distinguindo a arte do sujo. Com isso, surgem

movimentos nacionais de combate à pixação através do

grafite, "diferenciando a arte do crime" mediante políticas

públicas de incentivo à expressão individual e coletiva,

principalmente das camadas mais jovens e periféricas da

sociedade, a partir de oficinas e atividades de revitalização

de espaços.

Assim, vê-se dois vieses por parte da retórica jurídica: o

discurso repressivo, que criminaliza o pixo e difunde a ideia

no imaginário social de que este é sujeira, imoralidade e

contravenção; e, por outro lado, o discurso domesticador­

reabilitador, que o entende como uma consequência da

desigualdade social e que precisa ser vencido a partir de

políticas públicas.

Isso demonstra que o Direito é também

formado por uma simbologia própria e

que cria discursos. Inclusive, uma das

principais questões debatidas dentro

da área jurídica é o questionamento

do que é e para que serve o Direito.

Segundo o senso comum: "Direito é

Justiça". Ao pensar na figura que melhor

o representa, surge à mente a imagem

da Deusa Grega Themis, representada

com os olhos vendados, portando na mão

esquerda uma balança e, na mão direita,

uma espada.

Tomando por base essa figura simbólica, temos uma breve

ideia do que o Direito pretende ser : uma justiça imparcial

e equilibrada, dotada de força para se impor. Logo,

teoricamente, atos contrários ao ordenamento confrontam essa justiça "incorruptível", devendo ser reprimidos.

No entanto, omite-se que o Direito, antes de propagador

de uma justiça pura e imparcial, na realidade, funciona

como sustentáculo para a manutenção de uma ordem social

fundada na divisão de classes. Essa ordem deve ser mantida,

sob pena de demolição da estrutura de relações de poder

desenvolvida e consolidada ao longo de séculos. Portanto,

dentro do próprio Direito, estão postas as regras que

determinam a sua manutenção: criminalizando tudo aquilo

que afronte ou questione suas razões de ser.

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@ fJ@(t c;ll'!l/! l@t«

As mídias alternativas possuem uma maneira única de se comunicar. E a assinatura dessas expressões populares é contestação. O pixo não foge desse conceito, e nele a sua compreensão é muito mais fácil: é uma forma violenta, rápida e certeira de se comunicar.

No nível da sintaxe, escrever "pixo", trocando o "eh" pelo

"x", já é um claro exemplo do espírito rebelde e da função

de negar as normas que limitam a mensagem, sejam elas

do Estado, dos meios de comunicação tradicionais ou até

mesmo da gramática do português brasileiro. Ele é violento,

também, em sua composição. Porque a forma escolhida para

passar a mensagem é igualmente impactante, independente

do que for escrito no muro.A preferência pelas letras grandes,

riscadas e desencontradas, cheias de detalhes, em caráter

nada usual, desperta preconceitos em relação ao pixo.

No submundo dos muros e das tintas, gangues e torcidas organizadas abdicam do "título de arte", utilizando o pixo

como meio de comunicação para transformar as paredes em

panfl etos daquilo que consideram sua ideologia. Ent retanto,

resumir a pixação a essas manifestações é fechar os olhos

para todo um universo, que remonta às frases de protesto

idealizadas durante a Ditadura Militar, gênese do movimento

brasileiro, nascido em São Paulo, único no planeta.

Apesar disso, há um necessário questionamento. Será que

o pixo precisa ser considerado uma expressão artística? Ou,

pensando mais além, será que o pixo deseja ser considerado

uma expressão artística?

É importante lembrar que o seu maior combustível é

a subversividade. Livres de qualquer riqueza poética

tradicional, as palavras escolhidas procuram agredir e

incomodar. Nesse sentido, o local escolhido pelo pixador

também contribui para a caracterização de sua mensagem.

O reconhecimento através do "corre", como chamam os

pixadores, se dá tanto nas periferias quanto nos locais

centrais da cidade. A pixação é uma forma de expressão

explosiva, assumidamente contra o sistema. E é essa

composição marginal, de não se compreender como arte,

que a mantém viva.

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• /////VIRADAS CULTURAIS

PARA LER Deriva nas Ruínas (Imprensa Oficial Graciliano Ramos/2016), de Arthur Buendía

Neste livro de poesia, um dos melhores lançados em Alagoas na década, o autor apresenta os

delírios típicos dos que dialogam com as vanguardas artísticas do século XX. Ao melhor estilo

Roberto Piva, e ecoando os gritos distantes do Conde de Lautreamont, Arthur Buendía desponta

como um dos grandes nomes contemporâneos de uma escola que ainda não teve o devido

reconhecimento em solo brasileiro: a surrealista.

Ideal para quem gosta de Walter Benjamin, Roberto Piva, Claudio Willer, Arthur Rimbaud.

Você pode encontrá-lo na sede da Imprensa Oficial de Alagoas, na Livrari.a Leitura e em

diversas bancas de revista.

PARA ASSISTIR Rua das árvores (produção independente/2013), de Alice Jardim

O documentário de 20 minutos é uma das mais aclamadas produções audiovisuais do

estado, e fala de uma Maceió que só existe nas fotografias e nas memórias dos mais velhos,

sob a perspectiva de um casal que morava na icônica Rua das Árvores, no Centro da cidade.

A direção é de Alice Jardim.

Ideal para quem gosta de Medianeras.

Você pode encontrá-lo no site alagoar.com.br.

NA UNIVERSIDADE, CONTE A VE.ROAD1: AOS SEUS ALUNOS ...

Vou ficar aqui um bimestre falando sobre coisas que

desconheço e vocês nem notarão.

PARA OUVIR Ivete (produção independente/2016), de Wado

O nono disco do compositor alagoano Wado é um mergulho numa das suas expressões

musicais favoritas: o axé. Produzido pelo próprio músico, o álbum traz parcerias com Zeca

Baleiro, Momo e Marcelo Camelo, além de regravações de Gilberto Gil e Moreno Veloso.

Ideal para quem gosta de Curumin, Baiana System, Fino Coletivo.

Você pode encontrá-lo no site wado.com.br, no Spotify, no Deezer e em plataformas

semelhantes de streaming.

Em dois anos, os mais espertos irão entender que aqui não é um templo do conhecimento e sim um mercadinho imoral de

dip'lornas. \.

Quando saírem desta ilha da fantasia, vocês irão trabalhar de sol a sol

sem seQuer saber Quem lhes oprime.

\

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OCUPAR E RESISTIR: AS MOBILIZAÇÕES ESTUDANTIS EM ALAGOAS 2016 entra para a história brasileira como o ano do maior levante de estudantes da América Latina. Foram mais de mil escolas e universidades ocupadas em todo o país. Deliberadas em assembleias, essas ocupações tinham como pautas unificadas: o posicionamento contrário à aprovação da PEC 55 (241), contra a Reforma do Ensino Médio (MP 746) e avessa à Lei da Mordaça. Para além dessas reivindicações, pediam o atendimento de questões locais, referentes a particularidade de cada instituição de ensino.

Estudantes de escolas estaduais do agreste e sertão, dos campi do Instituto Federal de Alagoas, da Universidade Federal de Alagoas e da Universidade Estadual contribuíram

na construção de um novo modelo de educação. Protagonizadas majoritariamente por discentes, que debateram, convocaram, organizaram e articularam

assembleias e atividades com a sociedade civil.

Na contramão da prática democrática participativa nas escolas, Governos Federal e Estadual tentaram, a todo custo, minar as mobilizações estudantis. O Ministério da Educação encaminhou a reitores de Universidades e Institutos Federais recomendações para ,que fossem delatados estudantes, técnicos e professores que estivessem participando de ocupações ou outras mobilizações, a exemplo de greves. Ações de reintegração de posse não tardaram a aparecer. Decisões judiciais passaram a funcionar como um

instrumento de coação.

Em nosso estado, comprovou-se o posicionamento conservador do judiciário a partir de dois atos: (a) o interdito proibitório concedido pela justiça estadual, que impediu novas ocupações nas escolas estaduais, sob multa de 10

mil reais em caso de descumprimento; e (b) a concessão dos pedidos de reintegração de posse feitos pelo Reitor do

Instituto Federal de Alagoas, após declaração de apoio do CONIF (Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica) - fórum

que integra reitores, pró-reitores e diretores gerais de todo o Brasil - às pautas que levaram às ocupações.

Monocraticamente, e desconsiderando as deliberações coletivas e o diálogo com os estudantes- que entregaram uma pauta de reivindicações locais -, o Reitor do IFAL ingressou com as ações que culminaram nas desocupações. Destaca-se a singularidade da decisão referente à ocupação do Campus Murici, em que o pedido liminar de reintegração de posse foi

negado, condicionando-o à oitiva dos estudantes.

Um grupo de juristas e estudantes apresentou, em novembro, a Carta de juristas e estudantes à sociedade alagoana em defesa das ocupações estudantis. Defendendo a liberdade de expressão e associação dos discentes, o manifesto apresenta os principais ataques aos direitos da juventude brasileira, dentro e fora da escola.

Para aqueles que subscrevem a nota, "nossos/as estudantes são o despertar de uma nação cujo próprio futuro está sob

ameaça. Precisamos estimular e fortalecer o diálogo, a horizontalização dos processos de tomada de decisão e os princípios norteadores de uma democracia substantiva, não meramente formal, para promover e zelar pelos

direitos humanos de toda a sociedade. O protagonismo da atuação estudantil nas discussões públicas sobre temas tão relevantes é fator de realização de uma sociedade mais justa, igualitária e solidária, de acordo, portanto, com os princípios do - surrado - Estado Democrático de Direito brasileiro".

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