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André Cupolo, ex-boy e dono de um clube de sexo nos Barris, fala sobre seus ofícios e a cena gay soteropolitanaEm parceria com Luis Fernando LisboaJornal da Facom, nº 21, agosto de 2009
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� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �� � � ! "André Cupolo, ex-boy e dono de um clube de sexo nos Barris, fala sobre seus ofícios e a cena gay soteropolitana
LUIS FERNANDO LISBOA
VERENA PARANHOS
A bandeira colorida na
porta de uma discreta
casa nos Barris faz pen-
sar que ali há algo ou alguém que
não merece passar despercebido.
As suspeitas são constatadas ao
entrarmos e conhecermos An-
dré Cupolo, que, desde criança,
já se diferenciava por seu sonho
diferente. Aos 11 anos, Cupolo
já sabia que queria ser prosti-
tuto. Apesar de suas irmãs dize-
rem que isso não era profissão
e chamarem-no de louco, ele
argumentava: “Não é para a sua
mentalidade religiosa!”.
Cupolo chegou a ser eleito
o dono do abdômen mais bo-
nito de Salvador e foi campeão
de fisi-culturismo. Talvez não
soubesse que estava dando os
primeiros passos para a realiza-
ção do seu sonho. Quando tinha
18 anos, numa aca-
demia de ginástica,
foi convidado para
fazer o primeiro
show como stripper.
“Do strip-tease veio
a prostituição e de-
pois todo o resto”,
conta. Hoje, aos
41 anos, após
ter vivido muito
tempo na Europa
como garoto de
programa e strip-
per, é dono de um
clube de sexo para
gays em Salvador.
A idéia do clube,
localizado nos
Barris, veio, diz,
para suprir uma
carência do merca-
do gay soteropoli-
tano, oferecendo coisas que aqui
não existiam, como o sistema de
dark room e cabines.
Ao criar o clube, Cupolo dei-
xou de se prostituir, mas não
perdeu o contato com garotos de
programa. Passou a ser usuário
assíduo do “produto” que ele
mesmo vendia, talvez pelo fato
de ser sexualmente compulsi-
vo, como ele mesmo diz. “Se o
boy me interessar, eu pago. Di-
nheiro pra mim não é problema.
Prefiro ter um bom serviço que
uma chateação”. Dono de opini-
ões polêmicas, Cupolo é radical
quanto à sua opção sexual: “Se
você disser: ‘Vamos sair com
uma mulher’, eu dou um tiro na
testa dela. Eu odeio mulher.” Diz
que não teria relações sexuais
com uma mulher nem que “Tom
Cruise dissesse: ‘Só vou com
você, se você for com ela.’”
Um dos casos que contou,
entre gargalhadas, gestos e pi-
ruetas, foi o de quando contra-
tou um garoto de programa que
anunciava num jornal: “Deus
Grego, loiro, 22 cm, ativo”. A
primeira coisa que disse quan-
do viu o boy foi: “Eu acho que
você deveria mudar seu perfil,
porque de Deus grego você não
tem nada, nem os 22 cm”. Na
hora da “pegação”, o rapaz não
se mostrou ativo e Cupolo o es-
crachou de vez: “Nós acertamos
uma coisa ao telefone, mas você
não está correspondendo. Saia
daqui agora, não vou te dar nada,
nem o dinheiro do transporte”.
Mas o divertimento sexual do
ex-boy não se limita a garotos de
programa. Ele diz que “cansa”
de cantar homens heterosse-
xuais em qualquer lugar e julga
seu método como agressivo.
“Quando o cara me interessa,
digo: ‘Nossa, que pedaço de mau
caminho’, como qualquer outra
pessoa diria. Ele pode até me dar
um murro, mas eu canto.” Geral-
mente, a primeira resposta ob-
tida é: “Eu tenho mulher.” Mas
Cupolo retruca: “Não foi essa
a pergunta que fiz. Eu não me
interesso por sua mulher. Tenho
interesse é em você.”
Durante sua trajetória como
boy, André Cupolo teve que
fazer a barba, malhar, escovar
os cabelos mais do que qualquer
outro homem, pois sua profissão
exigia. Para ele, o pior problema
de ser prostituto é ter que man-
ter o “produto”. “Estar sempre
arrumado é um stress”, conta.
Entretanto, diz orgulhoso se
diferenciar dos outros por sem-
pre ter trabalhado em high level:
ter etiqueta, saber se aproximar
dos clientes, entregar cartões,
etc. “Eu não conversava sobre
coisas profissionais em festas,
mas discretamente ia ao ba-
nheiro, retocar a maquiagem”,
revela sua estratégia. Ele se gaba
de sempre ter sido profissional:
enquanto os prostitutos daqui
cobravam 50 reais, ele cobrava
400. Assim, economizou para
abrir o clube.
O “Príncipe dos Barris” não
perde a oportunidade de tentar
mostrar o quanto aprendeu na
Europa: a maioridade na Rús-
sia é de 14 anos, a prostituição
na Suiça é tributada. Mas res-
salta que se sentiu um analfabe-
to quando passou a frequentar
bares e clubes europeus, pois só
falava um pouco de inglês (se-
gundo ele, português não conta),
enquanto os outros prostitutos
falavam três ou quatro idiomas.
Hoje, se gaba de falar alemão,
francês e inglês e defende que
um boy pode ter mais habili-
dades que aspirantes a jornalis-
tas, como nós, que só arranham
no inglês.
Cupolo parece bastante mar-
cado pelo preconceito de uma
sociedade religiosa e a critica
ferrenhamente. “Só na cabeça
de gente hipócrita que prostitui-
ção é ilegal e ilícita”. Para ele, a
cultura brasileira não se adequa
ao talento das pessoas: “Por que
é melhor fazer faculdade de Di-
reito se o meu talento é outro?”,
questiona. O ex-boy trata ativi-
dade e passividade, outro ponto
polêmico na seara da prostitui-
ção masculina, com naturalidade
semelhante, dizendo que esses
conceitos são coisas da Igreja.
“Não tem nada a ver quem ‘dá’ e
quem ‘come’, nem com a sexua-
lidade”. Para ele, cada um deve-
ria ter liberdade de escolher se
quer sair com um travesti, um
boy ou uma mulher. “Cada um
pode escolher o prato que come.
Um dia você come caviar, no
outro come bacalhau”.
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