O Princípio da Confiança Legítima

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    Revista CEJ, Braslia, Ano XI I, n. 40, p. 11-19, jan./mar. 2008

    Raphael Manhes Martins

    THE PRINCIPLE OF LEGITIMATE TRUST AND THE STATEMENTNO. 362 ISSUED AT THE 4TH CIVIL LAW MEETING

    O PrincPiO da cOnfianaLegtima e O enunciadO n. 362da iV JOrnada de direitO ciViL

    fo Lops

    DIREITO CIVIL

    RESUMO

    Analisa os contornos, pressupostos e undamentos do princpioda conana legtima, no mbito do Direito brasileiro a partirde consideraes em torno do Enunciado n. 362 da IV Jornadade Direito Civil bem como sua relao com os princpios dasegurana jurdica e da boa-.Arma que o Direito brasileiro ainda carece de um debate maisaproundado a respeito do princpio da conana legtima, con-siderando precipitada a edio de um enunciado interpretativosobre o tema.Destaca a importncia da adequada proteo da conana le-gtima para a segurana das relaes sociais e para o ortaleci-mento da prpria conana no ordenamento jurdico.

    PALAVRAS-CHAVE

    Direito Civil; Princpio da conana legtima pressupostos,undamentos; segurana jurdica; boa-; Enunciado n.362 IVJornada de Direito Civil (CEJ/CJF); Direito das Obrigaes.

    ABSTRACT

    The author assesses the outlines, prerequisites and oundationsor the principle o legitimate trust within the Brazilian Lawscope starting rom considerations made on StatementNo. 362 issued at the 4th Civil Law Meeting as well as itsconnection with the principles o judicial security and good-aith.He states that Brazilian Law still calls or a deeperdiscussion on the principle o legitimate trust, andhe considers the publishing o a hermeneuticstatement on the subject to be precipitate action.He stresses the importance o an adequate guardianshipo legitimate trust in order to saeguard social relationsand to strengthen the very reliance on the legal system.

    KEYWORDS

    Civil Law; principle o legitimate trust prerequesites,oundations or; judicial security; good-aith; 4th Civil LawMeeting (CEJ/CJF) Statement No. 362; Contracts Law.

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    1 COnSIDERAES InICIAIS

    O elo social mais orte e mais ecundo o que tem por base a conana recproca entre o homem e a mulher,entre pais e lhos, entre um chee e os homens que ele dirige,entre cidados de uma mesma ptria, entre doente e mdico,entre alunos e proessor, entre prestamista e prestatrio, entre

    indivduo empreendedor e comanditrios ao passo que,inversamente, a desconana esteriliza.

    (Alain Peyrette,A Sociedade de Conana).

    Desde 2002, o Conselho da Justia Federal vem realizandoas denominadas Jornadas de Direito Civil. Contando com aparticipao de estudiosos e operadores do Direito, esses en-contros tm por objetivo debater e elaborar Enunciados, quesirvam de orientao para a interpretao do Cdigo Civil.

    Na ltima Jornada, promovida no nal de 2006, chamou aateno a aprovao do Enunciado n. 362, que busca orientaro entendimento sobre o art. 422 do Cdigo Civil. Seus termos

    so:A vedao do comportamento contraditrio (venire contraactum proprium)unda-se na proteo da conana, tal comose extrai dos arts. 187 e 422 do Cdigo Civil.

    O objetivo do Enunciado oi assentar a gura da vedaodo comportamento contraditrio (ou, como mais conhecido,venire contra actum proprium) como uma maniestao dosprincpios da boa- (art. 422) e da proteo da conana. Trata-se de gura cada vez mais aceita pela jurisprudncia brasileira eque comea a despertar o interesse de nossa doutrina1.

    Entretanto, o ponto mais interessante a reerncia proteo da conana. Conorme o Enunciado, cuja redaopoderia ter sido mais caprichada, entende-se que a proibio

    do comportamento contraditrio undar-se-ia na proteo daconana que ser reerido como princpio da conana le-gtima, proteo que, por sua vez, seria uma decorrncia doprincpio da boa-, previsto expressamente nos arts. 187 e 422do Cdigo Civil.

    ser entendido como uma decorrncia do princpio da boa-?;e qual a relao entre o princpio da boa- e o princpio daconana legtima?

    , portanto, a partir dos questionamentos e relexesem torno desses trs pontos, decorrentes da leitura do Enun-ciado n. 362, que podemos iniciar os debates sobre a apli-cao e a justiicao do princpio da coniana legtima no

    Direito brasileiro.

    2 TRAAnDO OS COnTORnOS DO

    PRInCPIO DA COnfIAnA LEgTIMA

    2.1 OS COnTORnOS DA COnfIAnA E A nECESSIDADE

    DE SUA PROTEO PELO ORDEnAMEnTO JURDICO

    Tendo em vista a reerida decincia no desenvolvimentodo princpio da conana legtima sendo comum a sua uti-lizao mais como uma gura de retrica e menos como umprincpio jurdico, propriamente , necessrio tecer algumasconsideraes sobre seus contornos.

    Embora a conana tenha diversos matizes e graduaes

    (FRADA, 2004, p. 17-18), a idia bsica que os sujeitos ade-rem a relaes jurdicas especcas em virtude de representa-es maniestadas por terceiros, independentemente de umamaior ponderao sobre todas as conseqncias causais dessaadeso3. E esse ato ocorre, exclusivamente, pela conana de-positada na outra pessoa ou na prpria relao jurdica (COR-DEIRO, 1997, p.1.234). Importa notar, entretanto, que essa con-ana no signica inconseqncia ou mesmo ingenuidade. Oconar nada mais do que uma necessidade social. Anal, oser humano precisa eliminar algumas das possibilidades quelhe so diuturnamente oerecidas, para reduzir a complexidadesocial e permitir uma interveno mais ecaz nas suas redes derelaes.

    Mas, se verdade que a atuao movida pela conana i.e., irrefetida ou indierente4 permite e propicia o de-senvolvimento de certas atividades5, bem como a tomada dedecises de orma mais eciente, devemos reconhecer tam-bm a conseqncia desastrosa que ela cria para as relaesintersubjetivas. Ao conar, o sujeito abaixa suas guardas, nolevando em considerao o que pode vir a ocorrer caso suaconana seja violada6. o caso da me que cona o lho auma bab, ou do motorista que cona em que os demais carrosobedecero s regras de trnsito7. Sabe-se l de todos os eeitosque uma violao dessa conana pode representar...

    V-se que a proteo da conana no apenas uma ques-to meramente tica ou moral8. Ela se consubstancia em umanecessidade do prprio modelo jurdico e do contexto socialcontemporneos. Isto porque, conorme apontado pela prpriadoutrina brasileira9, a proteo da conana legtima assumeduplo papel no ordenamento: i) atua como uma proteo daslegtimas expectativas; e ii) ao mesmo tempo unciona comojusticativa da vinculabilidade das partes relao jurdica.

    Assim, no que poderamos chamar de sua dimenso ne-gativa, ela busca proteger as expectativas legtimas criadas pelaconduta de terceiros. Nessa dimenso, a conana permite aos

    indivduos prosseguir com suas atividades, protegidos de umaeventual conduta leviana, ou melhor, contraditria, de terceiros,em quem se conou.

    Numa perspectiva positiva, entretanto, a proteo da con-

    V-se que a proteo da confana no apenas uma questo meramente tica ou

    moral. Ela se consubstancia em umanecessidade do prprio modelo jurdico e do

    contexto social contemporneos.Se essa interpretao do aludido Enunciado estiver correta,

    necessrio azer algumas ressalvas.Em primeiro lugar, o Direito brasileiro ainda carece de um

    debate mais aproundado sobre o princpio da conana legti-ma2. Some-se a essa carncia o ato de que, mesmo em pasescom mais tradio no tema (principalmente, Portugal e Alema-nha), no h consenso sobre a matria, como ser exposto maisabaixo. Parece, portanto, um pouco precipitada a edio de umenunciado interpretativo sobre o tema.

    Alm disso, e sem esquecer a ressalva anterior, para bos-

    quejarmos uma compreenso sobre o princpio, importanteuma refexo a respeito dos seguintes pontos: em que consisti-ria o princpio da conana legtima?; qual seria o undamentode validade do princpio, ou, mais especicamente, ele poderia

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    ana pelo ordenamento unciona comoverdadeira justicao da vinculabilidadede terceiros aos negcios jurdicos deque participam10. Anal, se aceitamosque a relao obrigacional surge no docontrato, mas do prprio contato socialentre as partes, e a partir desse ponto a

    relao se desenvolve, teleologicamente,rumo satisao do interesse das partesenvolvidas11, torna-se certo que a con-ana entre as partes um importanteelemento da vinculabilidade destas re-erida relao. E da vinculabilidade pelaconana exsurgem os deveres de nocriar ou sustentar indevidamente as ex-pectativas das outras partes, bem comode prevenir a ormao de representa-es alsas, temerrias ou inundadas(MARTINS-COSTA, 2006, p. 99).

    No absurdo ou meramente ret-rico, portanto, armar que, sem uma ade-quada proteo da conana legtima, osistema jurdico sequer estar cumprindoseu papel. Anal, o homem que cona,necessariamente, coloca-se numa posi-o mais rgil12 e vulnervel dentro dedeterminada relao jurdica13. Para com-pensar essa vulnerabilidade, cabe ao or-denamento jurdico garantir um mnimode segurana para o desenvolvimentodas atividades do indivduo.

    Nesse ponto importante perce-ber que, com a adequada proteo daconana legtima, o ordenamento noapenas garante a segurana e a conabi-lidade nas relaes sociais, mas tambm,de maneira refexa, acaba por ortalecera prpria conana no ordenamentojurdico.

    necessrio, assim, proteger a con-ana depositada, como meio de orta-lecer o papel da auto-responsabilizaodos sujeitos na relao jurdica e tambma segurana jurdica, tanto nessas rela-es como no ordenamento14.

    2.2 CRITRIOS PARA A

    APLICAO DO PRInCPIO

    DA COnfIAnA LEgTIMA

    A grande diculdade de trabalharcom o princpio da conana legtima,entretanto, no so as discusses sobre asua importncia, ato pouco controverso.Os problemas que permeiam sua aceita-

    o pela jurisprudncia e pela doutrinaenvolvem quase sempre estabelecer oscontornos do princpio15. Isto porque,dada sua maleabilidade e seus mltiplos

    graus de aplicao, dicil encontrar quetipo de vinculao merece proteo doordenamento jurdico.

    Tal ato decorre, principalmente,de a conana ser um estado subjetivo,logo, de dicil perquirio, e que podemaniestar-se de uma mirade de ormas.

    Por outro lado, uma proteo jurdicademanda ou, pelo menos, recomenda a presena de determinados elementosbastante objetivos, que permitam aerirno s a existncia da conana comoa responsabilidade pela sua quebra. Istosem se perder numa multiplicidade desituaes e maniestaes.

    tanto que ligadas a eventos anteriores,paralelos ou similares; ou a pessoa ou aconduta do contraente; ou a armaespor ele produzidas ou suscitadas por suaconduta; ou nas condies de inteligibili-dade plena e adequada.

    A inexistncia desta conduta vin-

    culante no implica, por certo, que nohaja conana de uma das partes em de-terminada situao jurdica. O que alta um elemento essencial para a aplicaoda proteo jurdica da conana, que aauto-responsabilizao daquele que deuensejo conana de outrem, pela suaprpria conduta. Sem esse elemento por

    necessrio, assim, proteger a confana depositada, comomeio de ortalecer o papel da auto-responsabilizao dos

    sujeitos na relao jurdica e tambm a segurana jurdica,tanto nessas relaes como no ordenamento.

    Diante da diculdade inicial, cadadoutrinador parece ter seu critrio paratentar objetivar a conana16 proble-ma que, diga-se, no exclusivo desseprincpio. Tendo em vista a conusodoutrinria, preere-se os critrios apon-tados por Jos de Oliveira Ascenso, quetem encontrado algum consenso na dou-trina e na jurisprudncia17 lusitanas, ontemais direta para o estudo do princpioem anlise, no Direito brasileiro.

    Segundo o indigitado jurista, paraque a conana violada merea proteodo ordenamento jurdico, necessria apresena de quatro elementos concomi-tantes, quais sejam: i) a conana deveundar-se na conduta de outrem; ii) eladeve ser justicada; iii) o agente deve ter eito o chamado investimento de con-ana; e iv) h um comportamento querustra a conana criada e as providn-cias nela undadas (ASCENSO, 2006).

    Inicialmente, temos a conduta jus-ticada de outrem, que tambm de-nominada de conduta vinculante. Estadeve traduzir-se na tomada de posiode quem a pratica, em relao a deter-minada situao jurdica18. Ou seja, eladeve ser uma exteriorizao inequvocada inteno do agente de criar, denir,xar, modicar, rearmar, extinguir ou es-clarecer uma dada situao jurdica. Essa

    exteriorizao, ou, como aponta JudithMartins-Costa (2006, p. 100), esse siste-ma de reerncias extracontratual, podemaniestar-se de qualquer orma, con-

    parte daquele que oi objeto de conan-a, esta no possui ora suciente para ainvocao de uma proteo jurdica, por-tanto no podemos armar que houveuma expectativa legtima da outra par-te19. Da decorre que no haver violaodo princpio quando se estiver diante desituaes em que a inteno do agenteno est clara ou quando a suposta viola-o decorrer de uma percepo errneapor parte de quem cona20. Em situaestais, alta a conduta vinculante, portan-to, o elemento denidor da auto-respon-sabilizao do agente.

    Acrescentamos ainda ao critrio daconduta vinculante a necessidade deque esta esteja inserida na mesma situ-ao jurdica em que ocorrer a condutacontrria conana, independentemen-te de uma pluralidade de sujeitos. No necessrio que a relao jurdica sejacriada pela conduta vinculante, masesta deve ser relevante para a situaojurdica em que se insere.

    Portanto, oge do mbito de aplica-o do princpio aquele sujeito que conaem outro, com base no comportamentoque este teve em outra situao jurdica,ainda que, neste caso, aquele que conaesteja ou possa vir a ser protegido pelaboa-. o caso, por exemplo, da pessoaque, tomando conhecimento da promes-

    sa eita por algum a terceiro, resolveadotar determinado comportamento como comprar aes de uma empresa,vender um imvel ou mesmo deixar de

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    prosseguir com determinado projeto. O descumprimento dapromessa eita a terceiro no pode ser considerado como viola-o sua conana, para ns de tutela jurdica.

    Por igual motivo, necessrio que a conana seja justi-cada, ou seja, ela deve ter uma relao estreita com a condutavinculante. Assim, a conduta do agente que cona (e pratica oabaixo reerido investimento de conana) deve encontrar sua

    justicativa, principalmente, na conduta vinculante. No ne-cessrio que o investimento de conana esteja undamentado,exclusivamente, na conduta vinculante, mas tambm certo queesta deva ser relevante o suciente para justicar aquela.

    O terceiro elemento o denominado investimento deconana. Trata-se de questo extremamente penosa de preci-sar e, talvez por isso, pouco abordada na doutrina.

    Primeiramente, importante compreender que papel doDireito, mediante sua ora ordenadora e direcionadora, orientaros esoros individuais e supra-individuais em prol do que podeser denominado bem comum. Isso porque, conorme expeRodolo Vigo (1983, p. 174): El bien comn es en denitiva,

    es a plenitud ordenada de los bienes necesarios para la vidahumana perecta, la satisaccin de las necesidades materialesy espirituales del hombre, y de ah que el bien comn ser msperecto cuanto mayor suciencia posea de los instintos bieneshumanos. E isso eito, mormente, no por meio de polticassociais ou propostas moralizantes, mas da simples imposiode uma responsabilidade individual pelos atos que determina-do sujeito pratica, perante terceiros ou mesmo perante toda acomunidade.

    Assim, importante que quem quebra a conana em sidepositada por outro deve restabelecer a ordem anterior, res-ponsabilizando-se pelo ressarcimento dos prejuzos causados.E, a contrario sensu, aquele que investe seus bens materiaisem determinada relao jurdica, quebrada pelo comporta-mento contraditrio da outra parte da relao, tem o direito deser ressarcido, mesmo como orma de restabelecer o statusquo ante. Nesse sentido, o que pode parecer um termo vago,como investimento de conana, ganha um carter bastanteobjetivo e aervel.

    do comportamento de quem abusou da conana de outrem.Mas importante ressaltar, como exposto acima, que

    a simples realizao do investimento de coniana, semque o agente objeto da coniana pratique alguma condutavinculante, no suiciente para gerar sua proteo. Nestecaso, no exagerado airmar que aquele que investiu narelao deixou de tomar os cuidados mnimos necessrios,

    conorme exige o Direito.O ltimo elemento a necessidade de um comportamen-

    to contrrio conana depositada21. Embora sua aceitaono se revista de maiores diculdades, pois no comportamentocontrrio conana est implcita a noo de violao desta,ainda assim a doutrina tem discutido sobre o que poderia sercongurado como comportamento contraditrio.

    Neste debate, a principal divergncia consiste em saber sea violao da conana depende do exerccio de um direito sub-jetivo por parte daquele que viola a conana(C. BORDA, 2000,p. 67), ou se bastaria o comportamento contraditrio, mesmoque no seja pelo exerccio de um direito subjetivo (MESA;

    VIDE, 2005, p. 110). Trata-se, entretanto, de debate j pacicadopela doutrina, que se tem posicionado, e com inteira razo, nosentido de que o comportamento contraditrio independe doexerccio de um direito subjetivo, ou melhor, que o comporta-mento contraditrio basta, por si, para ensejar a proteo doordenamento jurdico.

    3 OS fUnDAMEnTOS DO PRInCPIO

    DA COnfIAnA LEgTIMA

    Feita a anlise sobre os contornos e os pressupostos doprincpio da conana legtima, az-se necessrio perquirir sobreseus undamentos de validade e a orma como ele se relacionacom os demais princpios do ordenamento jurdico. Pelo debateque vem sendo travado, at ento, em nossa doutrina, os doisprincpios de reerncia sero os princpios da boa- e o dasegurana jurdica.

    3.1 O PRInCPIO DA COnfIAnA LEgTIMA COMO

    PRInCPIO IMPLCITO DO ORDEnAMEnTO BRASILEIRO

    O primeiro passo para estudar a undamentao do princ-pio da conana legtima compreender o que so os denomi-nados princpios implcitos do ordenamento jurdico22.

    Em um sistema jurdico existem determinados princpiosque independem de disposio legislativa especca23, j quesua presena no ordenamento jurdico independe da manies-tao do legislador. Isto porque tais princpios, longe de seremquesto de mera convenincia e oportunidade para o legisladorordinrio, representam o prprio undamento do sistema. ocaso, no Direito brasileiro, do princpio da segurana jurdicaque, mesmo no tendo qualquer previso legislativa sobre suaexistncia ou contedo, to nsito ao nosso sistema jurdicoque ignor-lo seria o mesmo que ignorar o ordenamento comoum todo. Tambm, como apontou Maurcio Jorge Mota (2006),seria o caso do princpio do avor debitoris, cuja existncia, re-fetida nos inmeros dispositivos que assegurariam o benecio

    ao devedor, nsita ao nosso ordenamento privado.Anal, esses princpios, enquanto concretizaes da idiade justia material, uncionam como a base do prprio ordena-mento jurdico ao lado, claro, de princpios explcitos, que

    [...] aquele que investe seus bens materiais emdeterminada relao jurdica, quebrada pelo

    comportamento contraditrio da outra parte da

    relao, tem o direito de ser ressarcido, mesmocomo orma de restabelecer o status quo ante.

    Se, do ponto de vista dogmtico, o investimento de con-ana a opo inconsciente daquele que cona na prtica dedeterminada conduta, sem se resguardar de todas as conseqn-cias que possam advir do comportamento contrrio condutainicial do outro, equivalendo ao sujeito que abaixa suas guar-das, por outro lado, do ponto de vista material, ele representaum elemento concreto e objetivo da relao. Ele corresponde,portanto, do ponto de vista material, ao ato, comportamento

    ou conduta que o sujeito pratica, em decorrncia da conanalegtima que tem em determinada pessoa ou relao jurdica.Assim, a proteo do investimento de conana vem a

    ser, justamente, a busca do equilbrio material que existia antes

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    possuam a mesma relao com a idiade justia material. Isto porque, comoKarl Larenz expe ao tratar do que deno-minou de princpios ticos-jurdicos:

    [Estes princpios ticos-jurdicos] Distinguem-se dos princpios tcnico- jurdicos, que se undam em razes de

    oportunidade, pelo seu contedo mate-rial de justia; por este motivo, podem serentendidos como maniestaes e espe-cicaes especiais da idia de Direito,tal como este se revela na conscinciajurdica geral, neste estdio da evoluohistrica (LARENZ, 2005, p. 599).

    E complementa:Trata-se de um desenvolvimento do

    Direito superador da lei de acordo comum princpio tico-jurdico, quando umtal princpio, ou tambm um novo m-

    bito de aplicao de tal princpio, co-nhecido pela primeira vez e expresso demodo convincente. O motivo para issoconstitui-o, as mais das vezes, um caso,ou uma srie de casos de igual teor, queno pode ser solucionado de um modoque satisaa a sensibilidade jurdicacom os meios de interpretao da lei ede um desenvolvimento do Direito ima-nente lei(LARENZ, 2005, p. 599).

    Assim, embora tais princpios es-tejam alm da norma ormal e de umainteno explcita do legislador, eles en-contram respaldo e extraem sua oracogente de uma natureza substancial-mente superior, isto , da prpria idiade Direito(CANARIS, 2002, p. 120). Seureconhecimento, portanto, nada maissignica do que privilegiar a ratio juris,em detrimento de um lapso24 da ratiolegis. E o princpio da conana legtima um desses princpios implcitos emnosso ordenamento jurdico25. Mesmosem disposio legislativa expressa con-sagrando-o, sua existncia permeia todoo ordenamento jurdico, o que se refeteem inmeras disposies consagradasno plano legislativo.

    So maniestaes desse princpio,por exemplo, as vrias situaes em quea conana expressamente protegida,no Cdigo de Deesa do Consumidor26,a proteo dada teoria da aparncia

    (KONDER, 2006, p. 111 e ss.) no nossosistema civilstico, a proteo geral con-

    tra o comportamento contraditrio27

    , e aproteo dada conana na esera darelao entre o particular e a Administra-o Pblica28.

    Todas so maniestaes que eviden-ciam a presena do princpio em exame.

    3.2 A SEgURAnA JURDICA,

    A BOA-f E O PRInCPIO DA

    COnfIAnA LEgTIMA

    Um dos pontos geradores de gran-

    de celeuma na doutrina consiste emidenticar como o princpio da conan-a legtima se relaciona com os demaisprincpios jurdicos, ou melhor, como elese insere em uma suposta escala de prin-cpios e sub-princpios.

    adiante que a posio alem, em recen-te estudo Anderson Schreiber (2005, p.90) undamenta o princpio da conan-a como contedo da boa- objetiva eorte expresso da solidariedade social30,justicando o assento constitucional doprincpio da conana.

    Numa posio mais temperada,em seu relevante trabalho sobre o tema,Sylvia Calmes (2001, p. 227) assevera: Lexigence de bonne oi est invoque,en Suise souvent, en Allemagne parois,comme tant la source directe du prin-

    Em um sistema jurdico existem determinados princpiosque independem de disposio legislativa especfca,

    j que sua presena no ordenamento jurdico independeda maniestao do legislador.

    Para compreender a magnitude doproblema, chamamos a ateno para oato de que, nos poucos trabalhos sobreo assunto, sem muito esoro, encontra-mos opinies que vo desde considerar aconana como decorrncia do princpioda boa-, a opinies de que o princpioda boa- que seria uma decorrncia doprincpio da conana, e mesmo a opinio,aqui deendida, de que boa- e conanaso princpios da mesma hierarquia.

    Primeiramente, destaque-se que adiscusso no tem impactos somenteno plano acadmico. Ao contrrio, pelasdiscusses em torno da relao entre osprincpios da boa-, conana legtima esegurana jurdica, pode-se compreen-der de que orma cada um dos reeridosprincpios atua no ordenamento e refe-te-se nas relaes e situaes jurdicas.

    Como no poderia deixar de ser, areerncia obrigatria ao se tratar da boa- (e de sua relao com a conana) oDireito alemo. Nesse sistema, mais doque conhecida a ligao entre conana eboa-, principalmente sendo esta quasesempre denida como a proteo daque-la. Nesse sentido Karl Larenz j denia:Nesse sentido Karl Larenz j denia: O undamento da Boa (Treu und Glau-ben) extrai o sentido do seu termo do atode que cada um deve cumprir a prpria palavra dada, que a conana (Ver-trauen), que compe o undamento vitalde toda a relao humana, no pode ser

    rustrada ou mal utilizada, e que cada umdeve agir da orma como os demais po-dem legitimamente esperar29.

    No Direito brasileiro, e indo mais

    cipe de protection de la conance. Maissi elle en constitue bien un lment on-damental, elle ne nous parat, dans touslescas, entrer en ligne de compte quentant que condition devant ncessaire- ment tre remplie pour la protectionpuisse eectivement jouer31.

    Entendemos, entretanto, seguindo alinha de Jos de Oliveira Ascenso (2006),que boa- e conana so grandezas queno se tocam mas se complementam, oumelhor, so princpios que coexistem deorma independente um do outro, e noum em decorrncia do outro.

    Conorme nossa doutrina aponta,o princpio da boa-, na sua vertenteobjetiva32, representa um padro de con-duta imposto a todas as partes de umarelao jurdica. Esse padro, do pontode vista uncional, aproxima o contedoda relao de uma verdadeira relao decooperao, pela qual, respeitando-se osinteresses legtimos do outro, h a im-posio de deveres s partes ou mesmolimitaes aos direitos destas. Isto, com oobjetivo de concretizar os ns da relaoobrigacional (NEGREIROS, 2002, p.123)como um todo.

    Nessa perspectiva, que at o mo-mento no soreu sria contestao, huma separao ontolgico-uncional en-tre os princpios da boa- e da conanalegtima. Anal, a conana no se identi-ca com o dever de cooperao imposto

    s partes, mas, antes, liga-se, conormeasseverou Judith Martins-Costa (2006,p.98), gerao de expectativas leg-timascuja manuteno pode constituir

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    um dever jurdico (dever jurdico de manter a conana sus-citada) e cuja rustrao pode ocasionar responsabilidade pordanos (responsabilidade pela conana). (Grios no original).

    Trata-se de uma dierenciao sutil, verdade, mormenteporque, na relao jurdica concreta, os dois princpios costu-mam incidir de orma complementar. E mais, a distino entreviolao da conana e violao da boa- objetiva no , nem

    poderia ser, uma diviso absoluta, em que as hipteses de vio-lao de um dos princpios no atingem o outro. Tal ato seriaincogitvel, tendo em vista a ausncia de limites horizontais aprioripara a aplicao deles (CANARIS, 2002, p. 79 e ss.).

    Vemos isto, por exemplo, nas exigncias de probidade, li-sura e correo de condutas impostas pela boa- s partes deuma relao jurdica, nas quais tambm se insere a exignciade no suscitar ou sustentar indevidamente a conana de ou-trem, evitando que a outra parte crie representaes alsas outemerrias. Isto, principalmente, quando na relao existe umadisparidade de oras (MARTINS-COSTA, 2006, p. 99).

    Mesmo assim, embora a proximidade de ambas possa,

    primeira vista, induzir ao erro, essa dierenciao undamentalpara compreender as inmeras relaes nas quais existe apenasum dos dois princpios, sem que isso implique menor prote-o relao ou situao jurdica criada. o que acontece,por exemplo, ao contratado que, embora no tenha a menorconana do contratante, ainda assim tem de agir conorme asregras da boa- para com aquele33.

    Por outro lado, nos casos em que a conana se unda naaparncia de legitimidade jurdica de outra pessoa, no h qual-quer relevncia a invocao e a aplicao do princpio da boa-

    (KONDER, 2006, p.114). Nesses exemplos ca claro que soprincpios que coexistem, sem uma relao de hierarquia.

    Uma vez deseitos os mistrios sobre a relao entreboa- e conana legtima, surge como quase natural umaoutra, entre os princpios da conana legtima e da seguranajurdica. Neste caso, entretanto, a relao meio-m, to nsita relao entre princpios e sub-princpios, aparece de ormamais orte e evidente.

    O princpio da segurana jurdica, presente em nosso orde-namento, a proteo da imobilidade34, ou melhor, da estabi-lidade das relaes jurdicas, contra todas aquelas tentativas deinov-las, por meios que vo contra o que poderamos deno-minar as regras do jogo. Nessa perspectiva, e no mbito doDireito Privado35, ela implica a proteo da conana legtimaque a pessoa deposita em determinada relao jurdica, de or-ma que mudanas de comportamento no possam mudar asexpectativas geradas, por quem quer que seja.

    A conana legtima, portanto, assume a uno de umadas projees da segurana jurdica nas relaes jurdicas. Esseentendimento oi reerendado em recente deciso proeridapelo Pleno do STF no Mandado de Segurana n. 24.268, emacrdo relatado pelo Ministro Gilmar Mendes, no mbito doDireito Pblico. Nele entendeu-se o princpio da conanacomo elemento do princpio da segurana jurdica. Presenade um componente de tica jurdica (BRASIL, 2004). Nesse sen-

    tido, a Pro Judith Martins assim concluiu sobre a relao entresegurana jurdica e conana legtima: A essa lgica de con-ana corresponde uma dierenciao no statusnormativo doprincpio da segurana jurdica, ao qual ca reservado, antes

    de mais, o status de um undamento, no sentido dicionarizadode aquilo sobre que se apia quer um dado domnio do ser,quer uma teoria ou um conjunto de conhecimentos (e ento oundamento o conjunto de proposies das quais esses co-nhecimentos se deduzem).O princpio da segurana jurdicapossui tal carter ou razo de ser na medida que caracterizaum elemento do Estado de Direito.

    J a conana, adjetivada de legtima, um verdadeiroprincpio, isto , uma norma imediatamente nalstica, que es-tabelece o dever de atingir um estado de coisas (o estado deconana) a partir da adoo de determinados comportamen-tos. Como princpio que , a conana articula-se, no jogo deponderaes a ser necessariamente procedido pelo intrprete,com outros princpios e submete-se a postulados normativos,tais quais o da proibio do excesso e o da proporcionalidade

    (MARTINS-COSTA, 2004, p. 114-115).

    4 RETOMAnDO AS DISCUSSES

    SOBRE O EnUnCIADO n. 362

    Feitas as digresses acima, podemos retomar o debate so-bre os acertos e os erros do enunciado n. 362 da IV Jornada deDireito Civil.

    Em primeiro lugar, independentemente das concluses aque se chegue sobre o reerido Enunciado, seu maior mritoconsiste em colocar em debate o princpio da conana leg-tima, que, injusticavelmente, apenas recentemente comeoua chamar a ateno de nossa doutrina e jurisprudncia. Nose trata apenas de um interesse acadmico, ou mesmo de umpreciosismo tcnico, mas sim da importncia que a conanaassume nas relaes sociais, sendo, muitas das vezes, a causaprincipal da adeso de uma pessoa a determinada relao ju-rdica e, portanto, elemento de extrema relevncia em dadassituaes jurdicas.

    No reerido enunciado, se nossa interpretao sobre seucontedo estiver correta, a reerncia de que o princpio da pro-teo da conana legtima extrair-se-ia da boa- (arts. 187 e 422do Cdigo Civil) mostra-se de todo equivocada. Isto porque, con-orme o acima exposto, boa- e conana so princpios de igualhierarquia e que uncionam numa relao de complementarida-de. Os dois, portanto, atuam na relao obrigacional para atingiros ns desta, qual seja, a consecuo dos interesses das partes.

    No existe, como alude o enunciado, uma relao princ-pio/sub-princpio entre os dois. Anal, se, como admite parteda doutrina, o princpio da boa- tem sua onte no princpioda solidariedade social, o princpio da conana encontra seusundamentos, principalmente, na concretizao do princpio dasegurana jurdica, to caro a qualquer ordenamento jurdico. E,como j reerimos, tal ato no prejudicado por qualquer altade meno ao princpio, pelo legislador positivo. Isto porque oprincpio da conana assume undamental papel para a con-cretizao da idia de Direito, sendo sua presena implcita noordenamento jurdico.

    Se o enunciado n. 362, da IV Jornada de Direito Civil, objeto de crticas e ressalvas, o mesmo no pode ser dito

    do Enunciado n. 363, da mesma Jornada, que asseverou: Osprincpios da probidade e da conana so de ordem pbli-ca, estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar aexistncia da violao.

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    Embora tal enunciando tenha sidoproposto na interpretao do art. 422 doCdigo Civil, que consagra a boa- e,portanto, ainda possa ser alvo das crticasacima ormuladas, ca claro o papel quea conana assume neste novo momen-to de revitalizao do Direito Civil.

    nOTAS1 A esse respeito, chamamos a ateno, prin-

    cipalmente, para o recente trabalho do Pro.Anderson Schreiber (2005).

    2 Dos poucos trabalhos que se aventuraramsobre o tema, chamamos a ateno para osseguintes, desenvolvidos nos ltimos anos:Schreiber (2005); Konder (2006, p. 111-135);Marques (2002). Tem especial destaque orecente parecer da Proessora Judith Martins-Costa (2006, p. 87-126).

    3 Conorme jocosamente coloca Niklas Luhman(1968, p.1), sem conar, o homem no seriacapaz de sequer sair da cama, ao acordar.

    4 Indierenz: Man schliet durch Vertrauen gewisse Entwicklungsmghlichkeiten vonder Bercksichtigung aus. Man neutralisiert

    gewissse Geahren, die nicht ausgerumtwerden knnen, die aber das Handeln nicht

    irritieren sollen. (LUHMAN, 1968, p. 23).5 Segundo Alain Peyrette (1999, p. 23), [...]

    denitivamente a mola do desenvolvimento reside na conana depositada na iniciativapessoal, na liberdade empreendedora e criati-va numa liberdade que conhece suas contra-

    partidas, seus deveres, seus limites, em suma,sua responsabilidade, ou seja, sua capacidadede responder por si mesma.

    6 Niklas Luhman (1968, p. 22), ao comentaresse ponto, chama a ateno para a irraciona-lidade do prprio conar. Anal, a conana undamentalmente um processo pelo qualaquele que cona aceita certas representaes,independentemente de quo terrveis sejamas conseqncias em caso de mostrarem-sealsas. Nas palavras do indigitado: Vertrauen

    bezieht sich also stets au eine kritische Alterna-tive, in der der Schaden beim Vertrauensbruch

    grer sein kann als der Vorteil, der aus demVertrauenserweis gezogen wird.

    7 Alis, relevante que o princpio da conanavenha sendo bastante usado como justicativada auto-responsabilizao do motorista quepratica ato culposo, que possa ser considera-do uma violao da conana de terceiro. Essaposio j pacicada no TJ-RS (abr. 2007),onde j se assentou: Princpio da Conana,que consiste em que cada um dos envolvidos

    no trego pode esperar dos demais condutaadequada s regras e cautelas de todos exigi-das. evidente a conduta culposa do motoris-ta que desenvolve alta velocidade em direo aixa repleta de pedestres, especialmentequando o semoro lhe exige especial atenoou lhe impede a passagem.

    8 Conorme j deendido em MARTINS (no prelo).9 No plano exclusivamente ecacial a expresso

    princpio da conana (legtima) indica olimite ao exerccio de direitos e poderes orma-

    tivos (dimenso negativa) quando violadoresde uma conana legitimamente suscitada e/ou afonte produtora de deveres jurdicos (di-

    menso positiva), tendo em vista a satisao

    das legtimas expectativas criadas no alter,pela prpria conduta. (MARTINS-COSTA, 2006,p. 97). (Grios no original).

    10 Conorme Luiz Edson Fachin (1998, p. 117):Deende-se a idia segundo a qual, undadana relevncia jurdica da conana, a obriga-o de indenizar independe de prova magis-tral da existncia de vnculo contratual ormal,desde que sucientemente evidenciada a vio-

    lao do interesse negativo.11 Essas noes inspiraram o relevante trabalho

    de Clvis V. do Couto e Silva, A obrigaocomo processo. Nele, o autor j apontava: Coma expresso obrigao como processo tencio-

    na-se sublinhar o ser dinmico da obrigao,as vrias ases que surgem no desenvolvimen-to da relao obrigacional e que entre si se

    ligam com interdependncia [...] K. Larenz che- gou mesmo a denir a obrigao como umprocesso, embora no curso de sua exposio no se tenha utilizado, explicitamente, desseconceito. A obrigao, vista como processo,compe-se em sentido largo, do conjunto deatividades necessrias satisao do interes-

    se do credor. (SILVA, C.,1976, p.10)12 evidente que o conar no um processoautomtico e acrtico, sendo, reqentemente,algo gradual e que se ortalece a partir da rec-proca experimentao das partes e do ortale-cimento do contato social entre elas, s vezesat mesmo atravs de testes de conana.Entretanto, tal ato no desnatura os eeitosda conana acima apontados, pois, como umestado subjetivo, a conana um sentimentoque se ortalece (ou enraquece), e no algoque possa ser constatado de um momentopara outro.

    13 Nesse sentido: Na medida em que conam,os sujeitos abdicam de alguma orma daque-

    la prudncia e diligncia com que, noutras

    circunstncias, actuando sozinhos, averigua-riam, acautelariam ou prosseguiriam os seus interesses. Ao despirem-se nesse sentido decertas precaues que de outro modo toma-

    riam, tornam-se particularmente expostos aos perigos decorrentes da rustrao das suasexpectativas em virtude de uma conduta deoutrem (FRADA, 2004, p. 475).

    14 Nesse sentido azemos reerncia s palavrasde Alejandro Borda:Es que es dable exigir a las

    partes un comportamiento coherente ajeno a los cambios de conducta perjudiciales, desesti-mando toda actuacin que implique un obrar incompatible con la conanza que merced aactos anteriores se ha suscitado en el otro con-

    tratante [...]Nadie puede ponerse de tal modoen contradiccin con sus propios actos ejercien-do una conducta incompatible con la asumidaanteriormente . (BORDA, 2000, p. 53).

    15 No por outro motivo que Manuel Frada(2004, p. 348-349), ao tentar estabelecer oscontornos de um sistema de responsabilida-de civil baseado na conana, j declarou: As

    regras que num determinado sistema jur-dico consagram uma responsabilidade pelaconana podem ser mais ou menos abran-

    gentes. Contudo, a j aludida impossibilida-de de calcular todas as situaes em que as

    representaes do sujeito meream proteoaz com que, apenas arquitectando o sistemada responsabilidade pela conana de modo

    muito geral, esta capaz de desempenharadequadamente sua uno. E complementao autor lusitano: Se ho-de ser diversssimosos contedos e circunstncias das expectativas

    singulares susceptveis de serem relevados, asnormas nas quais se h-de exprimir tambmessa moldura genrica tero de apresentar-

    se (em larga medida, ao menos) desprovidasde coloraes materiais situacionadas, que

    seriam necessariamente especcas e restrin-giriam o seu campo de aplicao.

    16 Um excelente levantamento e debate sobreesses critrios pode ser encontrado em Mesa;

    Vide, (2005. p. 110 e ss.).17 Nesse sentido: Processo 26074, Tribunal da

    Relao de Lisboa, Rel. Simo Quelhas, julg.22/05/2002; Processo 902/04-2, Tribunal daRelao de Guimares, Rel. Vieira e Cunha,julg. 26/05/2004; Processo 250901, Tribunalda Relao do Porto, Rel. Fonseca Ramos, julg.16/09/2002. Disponvel em: . Acesso em: 27 nov. 2006.

    18 A ttulo exemplicativo:Da anlise dos autos,verica-se que oi ormalizado acordo entre as

    partes junto ao PROCON, relativo ao dbitoexistente da linha n 9429-5575. Aps a cele-

    brao do acordo a apelante no s bloqueouo uso da linha celular titularizada pelo consu-

    midor, como tambm eetuou as cobranas relativas s parcelas englobadas no acordo,desrespeitando, assim, o pactuado (BRASIL,jan. 2007).

    19 Este caso oi bem retratado na Apelao Cvel n.70016296030, em trmite no TJ-RS. Consumi-dor comprou automvel de revendedor e, pos-teriormente, teve o carro tomado, em virtudede penhora realizada em demanda trabalhista.Do voto do relator extrai-se: A empresa-r de-

    senvolve suas atividades na rea de comercia-lizao de produtos e o autor adquiriu o ve-culo como destinatrio nal. Desimporta, pois,atuar a apelante como mera intermediria. O

    ato que o autor-apelado com ela estabele-ceu vnculo e tem direito a ver cumpridas suas

    legtimas expectativas em relao ao negcio,expectativas estas rustradas rente perda do

    bem em razo da constrio trabalhista. (BRA-SIL, 2006).

    20 Nesses casos, em que pode haver a aplicaoda teoria da aparncia, a proteo ao agenteque cona pode decorrer do princpio da boa-, mas no do princpio da conana, que seencontra em uma posio secundria, incapazde induzir na responsabilidade do agente. Situa-o peculiar ocorre, entretanto, na seara doscontratos de massa, em que existe uma situa-o originria de desequilbrio entre as partes,demandando uma maior proteo da conan-a daquele que contrata. Em sentido contrrio,

    c. Konder, (2006, p. 123 e ss.).21 Exemplos desse comportamento contradi-trio so muitos em nossa doutrina. A ttuloexemplicativo, temos a Apelao Cvel n.2006.001.69389, em trmite perante o TJ-RJ.Nela, embora o relator no tenha eito umaclara distino entre o princpio da conana eo da boa-, demonstrado de orma bastanteparadigmtica como esse comportamento con-traditrio maniesta-se: verica-se que o meroenvio de boleto reerente ao ms de abril de

    2006 para pagamento pelo apelado, quitadoem 10/04/06, juntamente com a carteira do

    segurado com validade at 31/12/07, atesta a inteno da apelante em dar continuidade contratao, no podendo se locupletar com a

    resciso do contrato, em detrimento do segu-rado que, h vrias dcadas, desde 1974, vemse esorando para manter a cobertura de seuplano de sade. Tal procedimento viola, irreu-

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    tavelmente, a boa- objetiva que deve nortear as relaes privadas, e avedao ao comportamento contraditrio, extrada da conhecida expres-

    so latina venire contra actum proprium , que, desde o Direito Romano,como colorrio do princpio da conana, buscava inibir atuaes dbiascomo a maniestada pela apelante, as quais provocam desequilbrio ao

    pacto rmado. (BRASIL, ev. 2007).22 Explicando o que seriam esses princpios implcitos a um ordenamento

    jurdico, Bobbio (1997, p. 159) assim esclareceu: Ao lado dos princpiosgerais expressos h os no-expressos, ou seja, aqueles que se podem tirar

    por abstrao de normas especcas ou pelo menos no muito gerais:so princpios, ou normas generalssimas, ormuladas pelo intrprete, quebusca colher, comparando normas aparentemente diversas entre si, aquiloa que comumente se chama o esprito do sistema .

    23 Conorme esclarece vila (2005, p. 22):Normas no so textos nem o con-junto deles, mas os sentidos construdos a partir da interpretao sistem-tica de textos normativos. Da se armar que os dispositivos se constituem

    no objeto da interpretao; e as normas, no seu resultado. O importante que no existe correspondncia entre norma e dispositivo, no sentidode que sempre que houver uma norma dever haver um dispositivo que

    lhe sirva de suporte. Em alguns casos h norma, mas no h dispositivo.Quais so os dispositivos que prevem os princpios da segurana jurdicae da certeza do Direito? Nenhum. (Grios no original).

    24 Utilizamos o termo lapso aqui de orma evidentemente jocosa. No po-deramos e nem seria recomendvel exigir do legislador que enunciasse

    todos os princpios de nosso ordenamento jurdico, apenas para assegurarsua aplicao.25 A j reerida IV Jornada de Direito Civil consagrou, expressamente, o princpio

    da conana legtima como princpio do Direito brasileiro, no enunciado 363,assim redigido:363 Art. 422. Os princpios da probidade e da conana sode ordem pblica, estando a parte lesada somente obrigada a demonstrar aexistncia da violao. Comentaremos esse Enunciado mais abaixo.

    26 Que se refete na proteo dispensada ao consumidor diante da publicida-de enganosa, na manuteno do vnculo que surge a partir da oerta eitapelo ornecedor e tambm na proteo do verdadeiro interesse do consu-midor, que aderiu a contratos de gaveta. Nesse sentido:Importa identicara linha divisria que separa a margem de suportabilidade da margem de

    rustrao das expectativas legtimas que o ordenamento jurdico e seumicrosistema de deesa do consumidor intenta manter inclume, preser-vando a integridade dessas expectativas sancionando o seu desrespeitoe restaurando sua congurao primria, com base na ora jurdica do

    princpio da conana. (BRASIL, mar. 2007)27 Sobre o tema, undamentalmente, Schreiber (2005).28 O conceito de Estado de Direito compreende vrios componentes, dentre os

    quais tm importncia especial[...] d) a proteo da boa ou da conana(Vertrauensschutz) que os administrados tm na ao do Estado, quanto

    sua correo e conormidade com as leis. (SILVA, A., 1987, p.46).29 Lhbh s Shlhs: allgemeiner Teil. 1. Band. Mchen: Beck,

    1982. p. 116. Traduo do autor [No original: Der Grundsatz vom,Treu und Glauben besagt seinem Wortsinn nach, da jeder in, Treu zuseinem gegebenen Worte stehen und das Vertrauen, das die unerllicheGrundlage aller menschlichen Beziehungen bildet, nicht enttuschenoder mibrauchen, da er sich so verhalten soll, wie es von einem redlichDenkenden erwartet werden kann]. Alejandro Borda vai no mesmosentido: Una construccin derivada del principio general de la buena ees la teora de los propios actos, que se enmarca dentro de los lmites

    que la buena e impone, y que reuerza la seguridad negocial; por lodems la contradiccin con una conducta anterior constituyes en grannmero de casos una inraccin al principio general de la buena e . Emigual sentido: MESA; VIDE, 2005,p. 92)

    30 Essa posio tambm deendida por Luiz Edson Fachin (1998, p. 117).31 E complementa: Ainsi, mme si lexigence de bonne oi qui simpose

    toutes les personnes parat requrir le respect de la conance lgitimesuscite, conc parat constituer sa source [...], il nous semble quen n decompte cest la protection de la conance lgitime qui induit la prise encompte de la bonne oi de la personne prive , au sein du mcanismetechnique auquel elle renvoie invariablement, et donc qui lenglobe dans

    ses lments constitutis.32 Na vertente subjetiva, temos a boa- identicada com a crena de um sujei-

    to na retido de sua conduta. , portanto, o estado psicolgico de ignornciado sujeito ao ato de estar lesando direitos ou interesses alheios, ou decrena justicada na aparncia de certa situao jurdica.

    33 Nesse sentido, j observou Manuel Carneiro Frada (2004, p. 467):No in-teressa portanto por si aquilo em que a vtima da violao da regra da

    boa-s acreditou. Quando muito, pode ser de averiguar se ela deveriapoder conar no comportamento do outro. Mas as expectativas neste sen-

    tido razoveis ou legtimas de um sujeito no so seno uma projecode exigncias objectivas de comportamento impostas pela ordem jurdica.

    Por outras palavras: a tutela das expectativas mediante a regra da boa- apenas refexa. Revela somente no quadro das exigncias de probidadee equilbrio de conduta que aquela veicula.

    34 Em proundo estudo sobre a aplicao desse princpio pelas nossas cortessuperiores, assim concluiu a Proa. Judith Martins-Costa: Para o SupremoTribunal Federal, o princpio da segurana jurdica como se osse umatraduo jurdica do enmeno da imobilidade, marcando o que, nas rela-

    es jurdicas entre a Administrao e os administrados, deve permaneceresttico, imvel como esttua, permanente no tempo. [...] O valor imedia-tamente atribudo segurana jurdica , pois, o valor da permanncia ou

    imutabilidade. (MARTINS-COSTA, 2004, p.113)35 No mbito do Direito pblico a reerncia obrigatria est no trabalho de

    SILVA, A. (1987).

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    Artigo recebido em 8/8/2007.

    rphl mhs ms advogado e proessor da Univer-sidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).