o Princípio Do Desenvolvimento Sustentável Como Vetor Hermenêutico No Estado

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Artigo demonstrando a importância do desenvolvimento sustentável.

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O PRINCPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL COMO FORMA DE PROTEO A PESSOA HUMANAJlio Edstron S. Santos[footnoteRef:1] [1: Mestre em Direito Internacional Econmico pela Universidade Catlica de Braslia (UCB). Professor dos cursos de graduao em Direito e Relaes Internacionais e cursos de especializao na UCB.]

Grazielle Rodrigues[footnoteRef:2] [2: Graduanda em Direito pela Universidade Catlica de Braslia.]

Tiene Brando"O reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio enriquece e refora os direitos humanos existentes e traz tona outros direitos em novas dimenses"[footnoteRef:3] [3: Trindade, Antnio Augusto Canado. "Meio Ambiente e Desenvolvimento: Formulao, Natureza Jurdica e Implementao do Direito ao Desenvolvimento como um Direito Humano" RPGE, Fortaleza, 9,11: 11-42, 1992.]

RESUMOO presente artigo visa demonstrar que o princpio constitucional do desenvolvimento sustentvel deve ser utilizado como um vetor hermenutico no Estado Democrtico de Direito como forma de proteo pessoa humana. Sendo assim, por meio de uma reviso bibliogrfica da doutrina e da jurisprudncia pertinente apresentou-se a evoluo histrica e jurdica dos conceitos sobre o desenvolvimento. Destarte, analisou-se o conceito de desenvolvimento desde os seus primrdios at sua mais moderna vertente, que o desenvolvimento sustentvel e no mbito internacional e nacional. Demonstrou-se, que os princpios so comandos deodnticos, que possuem um alto grau de abstrao e que vinculam a interpretao jurdica, de maneira a efetivar direitos fundamentais, principalmente por possurem eficcia constitucional. Demonstrou-se a proteo constitucional e sua vinculao com a jurisprudncia brasileira, principalmente no mbito do Tribunal Regional Federal da 1 Regio e do Supremo Tribunal Federal. Por fim, conclui-se que o princpio do desenvolvimento sustentvel um vetor hermenutico que impe que a tutela constitucional, seja utilizada, como forma de proteo da presente e das futuras geraes.Palavras-chave: Desenvolvimento sustentvel. Direitos Humanos. Meio Ambiente.SUMRIOINTRODUO..02, 2 DO ENRIQUECIMENTO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL.. 03, 3O PRINCPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTVEL..07, 3.1 Princpio do Desenvolvimento Sustentvel..10, 4 O PRINCPIO CONSTITUCIONAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL COMO INSTRUMENTO HERMENUTICO DE PROTEO A PESSOA HUMANA..11, CONCLUSO..14, REFERNCIA..16INTRODUOAssegurar o direito humano o propsito de qualquer outro direito, posto que no h sentido proclamar direitos, sem que estes se relacionem com a humanidade. Sendo assim, o Estado existe para garantir direitos e impor deveres, de modo que a principal tutela de direito pertence ao homem.No Direito Brasileiro, a proteo dignidade da pessoa humana um dos fundamentos da Repblica, sendo citado no primeiro artigo da lei maior (BRASIL, 1988, art. 1, III). Uma das formas encontradas pela constituinte para proteger essa dignidade, foi promovendo a proteo do meio ambiente ecologicamente equilibrado, considerando seu uso essencial sadia qualidade de vida.O artigo 225, caput da CF discorre sobre o Princpio do Desenvolvimento Sustentvel, adotado na Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992). A ONU reconhece que o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente s geraes futuras.[footnoteRef:4] [4: Princpio 3 da Declarao do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Disponvel em ]

O princpio impe que o meio ambiente natural seja utilizado sob a gide de sua proteo, tanto na forma de resguardo dos recursos ambientais para a presente gerao, quanto para as vindouras. Enfatiza tambm, a importncia da proteo ao meio ambiente como prerrogativa para o direito vida e o dever do Estado de agir para preserv-lo.

2 DO ENRIQUECIMENTO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

A sociedade passou por transformaes na busca pela aquisio e manuteno de bens, de modo que foram criadas diversas formas econmicas e sociais para o crescimento econmico e a transformao do capital.Esta viso de mundo, influenciou a forma que o planeta foi tratado, impondo uma viso em que o meio ambiente natural visto apenas como um fornecedor de commodities, com uma capacidade quase ilimitada.Na busca pelo desenvolvimento, vrias correntes de pensamento vem se alternando. Desta forma:(...) trs so os entendimentos acerca do desenvolvimento, sendo dois deles mais comumente divulgados, at mesmo por serem bastante simplistas. J o terceiro entendimento seria de maior complexidade, o que, em muitos casos, acaba por ser um empecilho para a sua disseminao. (VEIGA, 2010)Comment by Edy Tudo 4: gina

Em um primeiro momento, o desenvolvimento um meio de crescimento econmico para determinado pas, no se importando o impacto que este crescimento tenha sobre determinadas parcelas da sociedade ou mesmo sobre o meio ambiente.Destaca-se que, sob o prisma do desenvolvimento econmico como forma de crescimento, no h o que se falar em preservao intergeracional. Basta ver que a preocupao latente com o bem estar momentneo, viso esta imediatista e consumista. De acordo com Nalini (2009): o tema ambiental suscita uma das polmicas mais acirradas entre os mais ferrenhos defensores da natureza, em confronto com os desenvolvimentistas que entendem incompatvel a ideia de preservao com a necessidade de queimar etapas em busca do estgio ideal de progresso. (NALINI, 2009, p.294)

J Veiga (2010), entende que:a mais frequente tratar o desenvolvimento como sinnimo de crescimento econmico. Isto significa a tarefa de responder pergunta, pois dois sculos de pesquisas histricas, teorias e empricas sobre o crescimento econmico reduziram bastante a margem de dvida sobre essa noo, muito embora persistam- e talvez tenham at aumentado as dvidas sobre os seus princpios determinantes.(VEIGA, 2010)Comment by Edy Tudo 4: gina

Por outras razes, das dvidas sobre se o desenvolvimento enquanto como crescimento econmico, nasceu uma segunda corrente, que entre a doutrina brasileira se destaca os estudos do professor Celso Furtado, que assim leciona:A segunda corrente nega a existncia do desenvolvimento, tratando-o como um mito. Aos pensadores que partilham essa idia deu-se o nome de ps-modernistas. Para o grupo, a noo de desenvolvimento sustentvel em nada altera a viso de desenvolvimento econmico, sendo ambas o mesmo mito. Assim, o desenvolvimento poderia ser entendido como uma "armadilha ideolgica construda para perpetuar as relaes assimtricas entre as minorias dominadoras e as maiorias dominadas" (SACHS, 2004, p.26).

Pode-se afirmar que a noo de desenvolvimento como forma de crescimento econmico duramente criticada, tendo em vista, que o crescimento econmico trouxe severos problemas sociais, como diferenas abissais entre naes, multides de excludos e danos virtualmente irreparveis ao planeta.No se deve esquecer que o desenvolvimento, no momento, possui outra grande via, iniciada pelo economista indiano Amartya Sen.O terceiro e mais complexo entendimento ganha fora com o primeiro Relatrio do Desenvolvimento Humano em 1990, e obtendo maior consistncia nas palavras Amartya Sen em 1996 e 1997 com a noo de desenvolvimento como liberdade de modo que s poderia ocorrer se fossem garantidos a todas as pessoas os seus direitos individuais, que efetivariam a sua liberdade. Assim, liberdade em nenhum momento poderia se restringir e ser entendida como renda per capta, devendo abranger questes culturais, sociais, entre outras Essa a noo que mais se aproxima das discusses atuais sobre o desenvolvimento sustentvel, tendo grande importncia nesse processo de transformao. (VEIGA, 2010).Comment by Edy Tudo 4: pgina

Nota-se, que a viso apontada por Sen a que mais se aproxima de uma construo a nvel constitucional, tendo em vista a previso do artigo 3 da Carta Magna Constituem objetivos fundamentais da Repblica Federativa do Brasil: ! - construir uma sociedade livre, justa e solidria.(BRASIL, 1988)Contudo, mesmo esta terceira via, enfrenta crticas por alguns doutrinadores, como Arrighi (1997), que assim expe:

Riqueza renda de longo prazo. Se as alegaes da anlise dos sistemas mundiais tm alguma validade, a observao da distribuio de rendas entre as diversas jurisdies polticas da economia capitalista mundial, ao longo de perodos de tempo relativamente longos, deveria revelar a existncia de trs padres separados de riqueza que correspondem riqueza oligrquica dos Estados do ncleo orgnico, riqueza democrtica dos Estados semiperifricos e no riqueza, isto , pobreza, dos Estados perifricos. Deveria tambm revelar que a grande maioria dos Estados tem sido incapaz de transpor os golfos que separam a pobreza dos Estados perifricos da riqueza modesta dos Estados semiperifricos, e a riqueza modesta dos Estados semiperifricos da riqueza oligrquica dos Estados do ncleo orgnico (ARRIGHI, 1997)Comment by Edy Tudo 4: pgina

Os primeiros questionamentos quanto ao modelo hegemnico de desenvolvimento (industrial, progressista), ocorreram nos ano 60 e 70 em meio a discusses sociais e ambientais. Para Gabriela Scotto (2007, p.15-17), os questionamentos ocorrem principalmente em razo da no conformidade com o modelo materialista, blico, individualista, competitivo e degradador do meio ambiente da sociedade de consumo". Para a autora, a partir dessa lgica e sentimento de inconformidade que se aprofundam as crticas e questionamentos acerca do conceito de desenvolvimento, justificando assim, a transio para o conceito de desenvolvimento sustentvel, que requer, segundo Ignacy Sachs, uma mudana imediata de paradigma (SACHS, 2004, p.17).A primeira vez que a mudana de paradigma foi mencionada foi em 1987, com o Relatrio Brundtland.O relatrio conceitua o desenvolvimento sustentvel como: "aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas prprias necessidades" (ONU, 1991, p.46).Assim, h uma clara mudana na definio, de que o desenvolvimento tenha um cunho meramente econmico, para uma viso mais ampla, que deve se preocupar permanentemente entre a tenso econmica e social.Desta maneira, Sach (2004) ressalta que: embora tenha sofrido (...) severas crticas, o desenvolvimento sustentvel conseguiu se manter na crista das discusses, precisando sofrer as devidas refinaes, que vieram a lhe garantir um importante avano epistemolgico (SACH, 2004).Comment by Edy Tudo 4: pginaPortanto, observa-se que o desenvolvimento s pode ser obtido, de maneira sustentvel, tendo em vista, a necessidade que a humanidade preserve os recursos para as geraes futuras.

3 O PRINCPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

Antes de abordarmos o princpio do desenvolvimento sustentvel, queremos diferenciar a distino entre princpios e regras sob a gide do Estado Democrtico de Direito, baseada principalmente no critrio de generalidade que h entre eles.As regras so comandos especficos, destitudas de pesos ou dimenses. J os princpios, so comandos abrangentes, com alto grau de abstrao.No Estado Liberal, havia uma clara predileo pelas regras, na busca da segurana jurdica. No Estado Democrtico de Direito, prevalecem os princpios, enquanto comandos nucleares, que na viso de Robert Alexy so comandos de otimizao, tendo funes inclusive interpretativas das normas jurdicas.Comment by Edy Tudo 4: refernciaImpe-se a lio do professor Fernando Rodrigues:

Deve-se comear por chamar a ateno para duas caractersticas. Em primeiro lugar, os princpios que compem o Direito brasileiro so explicitados no texto constitucional. Quando o aplicador do Direito a casos concretos interpretar esses casos luz de princpios, ele, em geral, estar referindo-se a princpios que se encontram positivados no texto constitucional, e no a princpios que estariam para alm das normas positivadas do Direito. Ainda que esses princpios possam vir a fazer parte da estrutura moral da sociedade brasileira, quando a eles se recorre no mbito jurdico, a justificativa para deles se utilizar est, antes, no fato de eles pertencerem explicitamente ao Direito brasileiro positivado. No se pode, desse modo, pelos menos com relao aos princpios constitucionais identificveis na Constituio, dizer que eles esto para alm do Direito positivado. Eles so, antes, elementos componentes do Direito brasileiro positivado. (RODRIGUES, 2014)Comment by Edy Tudo 4: pgina

Nota-se que, desta forma, os princpios so normas jurdicas com vinculao constitucional, devendo ser utilizadas para a resoluo dos casos concretos que forem apresentados ao Poder Judicirio.Uma das bases do Direito Ambiental, seja em sede internacional ou nacional, o Princpio do Desenvolvimento Sustentvel, considerado um dos pilares do atual sistema de proteo do Meio Ambiente. Na doutrina de Sampaio:

H um prima principium ambiental: o do desenvolvimento sustentvel, que consiste no uso racional e equilibrado dos recursos naturais, de forma a atender s necessidades das geraes presentes, sem prejudicar o seu emprego pelas geraes futuras. Significa, por outra, desenvolvimento econmico com melhoria social das condies de todos os homens e em harmonia com a natureza. (SAMPAIO, 2003)Comment by Edy Tudo 4: pgina

Sendo assim, o referido princpio institui que haja um equilbrio entre as aes que buscam o desenvolvimento e as melhorias nas condies de vida dos envolvidos e as geraes futuras.Alm das relaes sociais, o princpio do desenvolvimento sustentvel, tambm se identifica com a necessidade humana de proteo ao meio ambiente, j que a preservao do planeta uma forma de efetivao dos Direitos Humanos Fundamentais.Ou ainda, conforme Fiorillo:O princpio do desenvolvimento sustentvel tem por contedo a manuteno das bases vitais da produo e reproduo do homem e de suas atividades, garantindo igualmente uma relao satisfatria entre os homens e destes com o seu ambiente, para que as futuras geraes tambm tenham oportunidade de desfrutar os mesmos recursos que temos hoje a nossa disposio. (FIORILLO, 2012)Comment by Edy Tudo 4: pgina

Assim, pode-se afirmar que o princpio do desenvolvimento sustentvel, uma norma jurdica que visa efetivar a proteo social do acesso aos meios de sobrevivncia da presente e das futuras geraes.O marco histrico foi no ano de 1987, quando a ento presidente da Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Gro Harlem Brundtland, apresentou para a Assembleia Geral da ONU, o documento "Nosso Futuro Comum[footnoteRef:5], que ficou conhecido como Relatrio Brundtlan. [5: Traduo nossa.]

A literatura aponta que o Relatrio Brundtlan, pode ser considerado o ponto histrico da humanidade onde o desenvolvimento sustentvel, pode ser utilizado como um pacto que envolve a humanidade, no presente no para o futuro.Tendo incio jurdico/conceitual no Relatrio Brundtlan o princpio do desenvolvimento sustentvel, foi utilizado em todas as outras declaraes e tratado internacional de Direito Ambiental, que foram celebrados, sendo reconhecido como um dos pilares da Ordem Internacional.Assim, por influncia externa, o constituinte brasileiro de 1988, positivou em nossa Carta Magna, o princpio do desenvolvimento sustentvel, da seguinte forma:Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para a presente e futuras geraes.

Temos, por previso constitucional expressa, o princpio do desenvolvimento sustentvel, com eficcia constitucional, e positivado no artigo 5, 1, tem-se que o mesmo possui aplicao imediata, impondo ao poder pblico e a toda sociedade o dever de efetivar aquele preceito constitucionalNeste sentido, utilizamos mais uma vez, das preciosas lies do mestre Fiorillo:(...) o legislador constituinte de 1988 verificou que o crescimento das atividades econmicas merecia um novo tratado. No mais poderamos permitir que elas ( as atividades econmicas) se desenvolvessem alheias aos fatos contemporneos. A preservao do meio ambiente passou a ser palavra de ordem, portanto, sua continua degradao implicar na diminuio da capacidade econmica do Pas, e no ser possvel nossa gerao e principalmente s futuras desfrutar de uma vida com qualidade. (FIORILLO, 2014)Comment by Edy Tudo 4: pgina

Sobre este princpio, o Supremo Tribunal Federal se pronunciou na ADI 3.540-MC / DF Relator: MIN. CELSO DE MELLOA QUESTO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL (CF, ART. 3, II) E A NECESSIDADE DE PRESERVAO DA INTEGRIDADE DO MEIO AMBIENTE (CF, ART. 225): O PRINCPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL COMO FATOR DE OBTENO DO JUSTO EQUILBRIO ENTRE AS EXIGNCIAS DA ECONOMIA E AS DA ECOLOGIA. O princpio do desenvolvimento sustentvel, alm de impregnado de carter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obteno do justo equilbrio entre as exigncias da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocao desse postulado, quando ocorrente situao de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condio inafastvel, cuja observncia no comprometa nem esvazie o contedo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito preservao do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras geraes. Cabe salientar que uma das diretrizes do Programa Nacional de Direitos humanos PNDH3 busca a efetivao de modelo de desenvolvimento sustentvel, com incluso social e econmica, ambientalmente equilibrado e tecnologicamente responsvel, cultural e regionalmente diverso, participativo e no discriminatrio.[footnoteRef:6] [6: Disponvel em < http://pndh3.sdh.gov.br/>]

4 O PRINCPIO CONSTITUCIONAL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL COMO INSTRUMENTO HERMENUTICO DE PROTEO PESSOA HUMANA

Apenas para fins deste artigo, temos como conceituao que a Hermenutica o meio de sistematizar os mtodos de interpretao jurdica possveis. Portanto, quando usamos termo hermenutica constitucional, trata-se de um sistema que compatibiliza os mtodos constitucionais interpretativos, assim como os princpios constitucionais pertinentes.J com a pretenso apenas de normalizar a nomenclatura do presente trabalho, a interpretao constitucional a ao explicativa que busca extrair o sentido e o alcance das normas constitucionais.E assim, sem a pretenso de esgotar o tema, temos que a hermenutica um sistema e interpretao uma ao reflexiva sobre determinado enunciado jurdico.Deve-se notar que a utilizao dos procedimentos hermenuticos e interpretativos so necessrios para o resguardo da pessoa humana, que a primeira destinatria desta proteo, tendo em vista, que o desenvolvimento sustentvel uma forma de proteo e promoo da dignidade da pessoa humana. Ou conforme a literatura:

At poucos anos atrs os estudos relativos ao meio ambiente no recebiam muita ateno. Esse cenrio se alterou, e a mudana decorre, especialmente, dos graves sinais da crise ecolgica que se apresentam para a humanidade. (GUERRA, 2013, p. 328)

No mbito do judicirio, o princpio do direito sustentvel foi assim tratado:A tutela constitucional, que impe ao Poder Pblico e a toda coletividade o dever de defender e preservar, para as presentes e futuras geraes, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial sadia qualidade de vida, como direito difuso e fundamental, feito bem de uso comum do povo (CF, art. 225, caput), j instrumentaliza, em seus comandos normativos, o princpio da precauo (quando houver dvida sobre o potencial deletrio de uma determinada ao sobre o ambiente, toma-se a deciso mais conservadora, evitando-se a ao) e a conseqente preveno (pois uma vez que se possa prever que uma certa atividade possa ser danosa, ela deve ser evitada) , exigindo-se, assim, na forma da lei, para instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente, estudo prvio de impacto ambiental, a que se dar publicidade (CF, art. 225, 1, IV)" (AC 0002667-39.2006.4.01.3700/MA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.172 de 12/01/2014).

Torna-se evidente, que o princpio do desenvolvimento sustentvel utilizado como um meio que impe a utilizao do meio ambiente leve em conta a necessidade da atual gerao humana, bem como das que ainda viro.A sua tutela constitucional impe que o Poder Pblico instrumentalize os meios, para o princpio do direito sustentvel seja efetivado em nosso Pas.

III - De outra banda, a proliferao abusiva dos incidentes procedimentais de suspenso de segurana, como instrumento fssil dos tempos do regime de exceo, a cassar, reiteradamente, as oportunas e precautivas decises tomadas em Varas ambientais, neste pas, atenta contra os princpios regentes da Poltica Nacional do Meio Ambiente (Lei n 6.938/81), sob o comando dirigente do princpio da proibio do retrocesso ecolgico, no que fora sempre prestigiado internacionalmente pelo Projeto REDD PLUS (Protocolo de Kyoto, COPs 15 e 16 - Copenhague e Cancn) com as garantias fundamentais do progresso ecolgico e do desenvolvimento sustentvel, consagradas nas convenes internacionais de Estocolmo (1972) e do Rio de Janeiro (ECO-92 e Rio + 20), agredindo, ainda, tais decises abusivas, os acordos internacionais, de que o Brasil signatrio, num esforo mundialmente concentrado, para o combate s causas determinantes do desequilbrio climtico e do processo crescente e ameaador da vida planetria pelo fenmeno trgico do aquecimento global e do aumento incontrolvel da pobreza e da misria em dimenso mundial.(AC 0002667-39.2006.4.01.3700/MA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA TURMA, e-DJF1 p.172 de 12/01/2014).

No presente julgado, temos que a utilizao dos recursos naturais, devem seguir os preceitos constitucionais, assim como os tratados internacionais e as declaraes em que o Brasil for signatrio.Esta tambm a posio do Corte Interamericana de Direitos Humanos que em seu julgado Povo Indgena Kichwa de Sarayaku Vs. Equadorassim sentenciou:

Adems, como se desprende de La jurisprudencia de este Tribunal[192]y de la Corte Europea de Derechos Humanos[193], existe una relacin innegable entre La proteccin Del medio ambiente y La realizacin de otros derechos humanos. Las formas en que La degradacin ambiental y los efectos adversos del cambio climtico hanafectado al goce efectivo de los derechos humanos enel continente ha sido objeto de discusin por parte de La Asamblea General de La Organizacin de los Estados Americanos[194]y ls Naciones Unidas[195]. Tambin se advierte que un nmero considerable de Estados partes de La Convencin Americana ha adoptado disposiciones constitucionales reconociendo expresamente El derecho a unmedio ambiente sano[196]. Estos avances em el desarrollo de los derechos humanos em el continente han sido recogidosenel Protocolo Adicional a la Convencin Americana sobre Derechos Humanos em materia de Derechos Econmicos, Sociales y Culturales Protocolo de San Salvador (Corte Interamericana de Direitos Humanos, 2014)Comment by Edy Tudo 4: Traduo como rodapPor preceito constitucional o meio ambiente deve ser utilizado, mas tendo-se como objetivo, sua preservao e manuteno, como meio de desenvolvimento. Ou conforme lio concisa:

A preocupao ambiental se espraia no mundo, exigindo maior engajamento de todos na busca de instrumentos para impedir ou diminuir a degradao ambiental e os consequentes problemas que emergem no mago da sociedade de risco. (GUERRA, 2013, p. 328)

Neste sentido, h uma necessidade de que o desenvolvimento sustentvel alcance xito em tornar-se um sistema de proteo tanto interno quanto internacional, que possibilite a utilizao racional dos meios naturais que nos cercam. Ainda conforme a doutrina:

Dessa forma, o principio em analise vem assumindo novas feies, calcadas na ideia de cooperao entre os Estados para que o direito de todos os povos ao desenvolvimento seja alcanado e, simultaneamente, sejam garantidas as condies de afirmao dos direitos humanos fundamentais e de proteo do meio ambiente. (WOLD, 2003, p.13)

Tambm, o Supremo Tribunal Federal, tem apontado que:[...] princpio do desenvolvimento sustentvel, alm de impregnado de carter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obteno do justo equilbrio entre as exigncias da economia e as da ecologia, subordinada, no entanto, a invocao desse postulado, quando ocorrente situao de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condio inafastvel, cuja observncia no comprometa nem esvazie o contedo essencial de um dos mais significativos direitos fundamentais: o direito preservao do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras geraes" (ADI-MC n 3540/DF - Rel. Min. Celso de Mello - DJU de 07/02/2006).

Nossa Corte Excelsa, na presente jurisprudncia, aponta mais uma vez, o princpio do desenvolvimento sustentvel como vetor hermenutico, tanto no direito nacional como internacional, que impe que as situaes de conflito entre a proteo ao meio ambiente e os postulados econmicos sejam resolvidos em prol da sociedade atual e futura, garantindo-se a proteo a pessoa humana

CONCLUSO

Pelo que foi exposto, houve uma evoluo do conceito de desenvolvimento, existindo basicamente trs grandes correntes de pensamento, que se alternam na busca pela demonstrao do que o desenvolvimento.Hodiernamente, o desenvolvimento visto sobre o prisma do desenvolvimento sustentvel, ou seja, aquele que busca conciliar o crescimento econmico com a preocupao com o desenvolvimento social.Por outro lado, comprova-se que os princpios so nucleares, que buscam a efetividade do Ordenamento Jurdico.Desta forma, o princpio do desenvolvimento sustentvel uma norma jurdica, com reconhecimento constitucional e internacional que visa a proteo jurdica do meio ambiente para a presente e futura gerao.A doutrina aponta que o princpio do desenvolvimento sustentvel uma das bases do Direito Ambiental, tendo seu nascimento no famoso Relatrio Brundtlan e sendo utilizado em todas as outras declaraes e tratados de Direito Ambiental da atualidade.J a jurisprudncia tanto do egrgio Tribunal Regional Federal 1, quando do pretrio excelso demonstram que o princpio do desenvolvimento sustentvel um sustentculo constitucional que deve ser utilizado, na resoluo dos casos concretos, para a proteo social.Por fim, tem-se que o princpio do desenvolvimento sustentvel, deve ser utilizado, enquanto direito fundamental, capaz de impactar tanto a atual realizada, quando efetivar o pacto intergeracional. necessrio buscar um equilbrio entre os direitos humanos, o direito ao desenvolvimento e o direito a um meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado.

REFERNCIAS

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