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O QUE COMPREENDEMOS POR - gepem.org · Ela: "Eu vou pegar esse Fred!" Ele volta para sua carteira ... (na aula de inglês): "Eric, você sabe o que é ‘she ... uma de suas melhores

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O QUE COMPREENDEMOS POR CONFLITO?

Os conflitos interpessoais ocorrem quando há

um desequilíbrio nas interações sociais, tendo,

como essência, a oposição entre as partes

envolvidas.

PRESSUPOSTO

“O conflito interpessoal é visto habitualmente como algo que causa distanciamento, não aproximação, e, portanto, deve ser evitado (...). Tal perspectiva deve-se, provavelmente, aos desfechos pouco satisfatórios que os conflitos têm, cujas consequências mais comuns são, não só o distanciamento, mas até o rompimento definitivo de relações (...). Contudo, o conflito pode até aproximar pessoas, e, se bem resolvido, pode contribuir para o desenvolvimento psicológico em qualquer etapa do ciclo da vida”. LEME (2011)

INTRODUÇÃO

• Aumento dos conflitos

• Conhecimento e boas intervenções

• Complexidade do tema

• Variáveis que interferem (Desenvolvimento,

Agentes de socialização, Gênero, Contexto,

Personalidade, Julgamento Moral)

OBJETIVOS

• Identificar, nos conflitos entre os alunos de 3 a 14

anos, quais as causas, as estratégias e as

finalizações mais frequentes em cada etapa do

desenvolvimento.

• Comparar as causas, as estratégias e as

finalizações dos conflitos entre os alunos de 3 e 4

anos, 5 e 6, 8 e 9, 11 e 12 e 13 e 14 anos.

MÉTODO

• Estudos pilotos

• 250 Participantes

• 370 horas de observação sistemática

• Entrevista posterior

• Estudo descritivo e comparativo

• Combinação de métodos quantitativos e qualitativos

• 2009; 2012; 2013

Categorias de causas dos

conflitos entre os alunos de 3 a 14 anos

1 – Acusação duvidosa (AD)

2 – Agressão física (AF)

3 – Agressão verbal (AV)

4 – Delação (DL)

5 – Deslealdade (DS)

6 – Discordância das regras

do jogo (DI)

7 – Disputa de amigos (DA)

8 – Disputa física (DF)

9 – Disputa por poder/status (DP)

10 - Exclusão (EX)

11 – Inveja (IN)

12 – Provocação (PR)

13 – Reação ao comportamento perturbador (RC)

14 – Súplica ignorada (SI)

15 – Trapaça (TR)

16 – Violação de regra (VR)

17 - Menosprezo (ME)

RESULTADOS

Provocação: dupla postura hostil e de humor

LORENA (11) chora baixo em sua carteira. FRED (12):

"Lorena chorona!" (ao passar pela carteira dela).

LORENA fala alto: "Eu vou bater nesse Fred". FRED se

aproxima novamente sorrindo e diz próximo ao ouvido

dela: "Lorena chorona!" Ela: "Eu vou pegar esse Fred!"

Ele volta para sua carteira.

RESULTADOS Provocação - JOGOS INTERSEXUAIS

NATALIA (13) e RAFAEL (14) estão sempre juntos. Os alunos da sala dizem que a

menina é apaixonada pelo menino, mas que não é correspondida. RAFAEL tira a

presilha do cabelo de NATALIA e a prende em seu boné. NATALIA tenta pegar, mas

ele não deixa. O menino sai correndo pela sala e a menina tenta pegá-lo, correndo

também. NATALIA segura o menino pelo moletom, mas, mesmo assim, ele

consegue fugir. Cansada, ela diz: “Vai te catar, então!” NATALIA volta a desenhar

em sua carteira, emburrada. RAFAEL responde sorrindo, enquanto devolve a

presilha para ela: “Tó, NATALIA!” Ela sorri para ele.

RESULTADOS Reação ao comportamento perturbador: motivação do outro é periférica

RENAN (12) (na aula de inglês): "Eric, você sabe o que é ‘she’?

Que página do livro que é?" ERIC (12) (gritando): "Renan,

pare de perguntar, pergunte pra professora, saco!" RENAN: "É

só uma dúvida, pô!" PROFESSORA: "Renan, o que você está

perdido?" ERIC: "Ele só fica me perguntando a página,

professora, me irritando!" PROFESSORA: "É a página 27,

pegue a apostila agora!" RENAN obedece.

• Disputa física decai significativamente;

• Nos mais novos – controle pelo espaço físico (DAWE,

1934);

• Mais velhos – controle do espaço social;

• Aumento da provocação como jogo intersexual;

• Reação ao comportamento perturbador

– Não amigos, impulsividade, maior emprego de estratégias

físicas e impulsivas, falta de polidez, intenção não atenua

– diminui significativamente – maior controle dos impulsos, maior

tolerância

• Diferenças entre gêneros;

• Mais provocações em conflitos intersexuais e entre meninos;

• Disputa física é mais frequente nos meninos;

Categorias das estratégias dos episódios de conflito

RESULTADOS Estratégias Físicas e Impulsivas

As crianças brincam no parque com as folhas que

caem das árvores. LUCA (3) puxa as plantinhas

da mão de LEVI (3) que grita: “Seu feio!”. LUCA

bate em LEVI e os dois se afastam, sem nada

dizerem.

RESULTADOS Estratégias Unilaterais - terceirização

No intervalo, as participantes de nossa pesquisa brincam

com crianças de outra série, de “Vingadores”, que é um

desenho animado. IRIS (8) reclama para a funcionária

que cuida do recreio, que GISELE (8), que brincava junto,

também, falou para os meninos do primeiro ano para

xingarem de palavrão.

RESULTADOS Estratégias Unilaterais: Justificativa do motivo, provocação, recuo, ameaça.

A professora, para explicar a localização da América do Norte e da Europa Ocidental, fala: “Coloca o ALEXANDRE (14) e o PEDRO (13) juntos”. Os meninos sorriem e ALEXANDRE brinca, dizendo: “Tô fora!” GUSTAVO fala: “Coloca o MARCOS e o...” MARCOS interrompe e diz: “E a sua mãe!” GUSTAVO grita: “Você tá apelando, moleque, eu não falei da sua mãe. Se eu começar a falar, você não aguenta.” MARCOS responde: “Você que tá folgando...” Rindo, sem graça. GUSTAVO responde: “Tô falando sério”. A professora, com expressão irritada, diz: “Vamos parar com isso, agora!” Ela continua a explicação do conteúdo e os meninos ficam quietos.

RESULTADOS Estratégias Cooperativas - esquiva e reparação sincera IASMIN (13) gosta de um menino de outra escola. Em uma festa de aniversário, em que IASMIN não estava, o menino pediu para “ficar” com GABRIELA (13), uma de suas melhores amigas. IASMIN tem certeza que eles “ficaram” e, por isso, parou de conversar com a amiga. GABRIELA nega ter ficado com o menino, diz ter apenas conversado com ele. GABRIELA me disse que tentou conversar com IASMIN, mas que ela não a ouviu e que, além disso, ficou espalhando para as outras meninas que ela ficou com o menino. GABRIELA afirma que dará um tempo para a amiga. No outro dia, as duas me contam que IASMIN foi conversar com GABRIELA em uma rede social para esclarecer a situação. As meninas dizem ter acreditado uma na outra, mas que a amizade ainda não é a mesma, pois continuam magoadas.

• As estratégias Físicas e Impulsivas ainda são

utilizadas, mas em menor frequência;

• •Mudança na concepção do conflito, na tomada de

perspectiva e na autorregulação;

• As meninas utilizam significativamente mais

estratégias cooperativas do que os meninos;

As finalizações dos episódios de conflitos

ABANDONO

VERÔNICA (11) e LAIS (12) viram suas carteiras e

sentam-se em dupla para copiar a lição da lousa.

ALICE (12) pede para sentar junto e aproxima sua

carteira, formando um trio. DIEGO (12) olha a cena

e diz: "Maria vai com as outras!" LAIS responde:

"Cala a sua boca, quem manda na minha vida sou

eu e ela senta onde quiser!" Ele olha para trás e diz

mais uma vez sorrindo: "Maria vai com as outras".

LAIS não responde mais e ele olha para frente, em

direção à lousa.

SATISFAÇÃO UNILATERAL

As meninas andam pelo pátio de mãos dadas. GIULIA

(8) não quer dar a mão para a irmã de IRIS (8)

porque, devido ao calor, a transpiração fica

excessiva e mão dela está suada. A irmã de IRIS para

de caminhar, porque quer andar de mãos dadas.

Giulia se irrita porque IRIS diz que vai esperar a

irmã. Logo depois, Giulia cede contrariada e dá a

mão para a irmã de IRIS. Giulia dizia para a

pequena:

─Vem, vem logo!

O conflito termina.

INSATISFAÇÃO BILATERAL

FABIANA (14), com calor, prendeu o cabelo todo para cima. ADRIANA (14),

ANGELA (14) e JULIANA (13) falam para a menina soltar o cabelo, que estava

muito feio. FABIANA responde que não e afirma brava que o cabelo é dela e ela

faz o que achar melhor. ADRIANA, ANGELA e JULIANA, irritadas com a resposta

da colega, dizem que ela já é “zuada” na sala e que se continuar assim, só vai

piorar a situação. FABIANA não responde, ignora o comentário. Já no intervalo,

ADRIANA, ANGELA e JULIANA se juntam a DÉBORA (13) e FLÁVIA (14) para falar

de FABIANA. Elas dizem que a menina se acha muito. Em lugares opostos do

pátio, as meninas trocam olhares. Bate o sinal, os alunos voltam para sala.

FABIANA, olha com desaprovação para ADRIANA, ANGELA e JULIANA. ANGELA

irritada diz: “Fica olhando que você vai vê menina...” FABIANA fecha a cara e vira

para frente.

INSATISFAÇÃO BILATERAL

ADRIANA, ANGELA e JULIANA continuam trocando olhares com

FABIANA. ANGELA olha para a colega e diz: “Ah, menina vai

colocar duas calcas leggins pra ter bunda, vai!!” FABIANA não

responde, mas continua olhando.

SATISFAÇÃO BILATERAL SIMPLES

DIEGO (12) fica cantando com uma caneta na boca, próximo ao

rosto da VERÔNICA (11). Ela pede para ele parar e bate com seu

caderno na cabeça dele. Ele pega uma folha que cai do caderno

dela e ela fala: "Professora, olha o DIEGO aqui..." A professora

não faz nada. VERÔNICA, então, explica para o DIEGO: "É a

minha prova, é importante, devolve, vai..." (em tom de

sedução). DIEGO devolve. Ela volta para seu lugar

SATISFAÇÃO BILATERAL PELO COMPROMISSO

PEDRO (13) fica cutucando FLÁVIA (14). Cutuca em

seu ombro, em seu braço, em seu rosto e tenta

alcançar sua barriga. No começo a menina sorri e

ele continua. Após um tempo sendo cutucada,

FLÁVIA se cansa da brincadeira, fecha a cara e diz:

"Para!!" PEDRO fica olhando fixamente para ela.

FLÁVIA pergunta: "Que que foi menino?" PEDRO

abre os braços e abraça FLÁVIA , que tenta sair,

mas fica. Ambos riem.

• Abandono é o mais frequente nas cinco faixas etárias;

• Provocação, Reação ao Comportamento perturbador

e Estratégias com maior nível de coerção levam ao

Abandono;

• As estratégias do tipo cooperativa levam,

significativamente mais, a satisfação bilateral simples.

IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

O conflito possui características distintas e significados

específicos ao longo do desenvolvimento.

Tal conhecimento, por sua vez, ajuda a adequar as

intervenções propostas a cada faixa etária, para que se

configurem como situações desafiadoras que

realmente favoreçam os desequilíbrios cognitivos

necessários à construção de novas concepções.

● Espaços institucionais planejados e frequentes– distantes da

mera transmissão de conhecimentos -, que incentivem:

○ mediação

○ conflitos hipotéticos

○ dramatização

○ clima escolar

A arte de viver é simplesmente a arte de conviver... Simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!

Mário Quintana