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Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9) www.monergismo.com 1 O Que é a Graça? Roger L. Smalling “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens...” — Tito 2:11. Posto que a graça traz salvação, é crucial compreender o que a graça significa. Se perguntarmos a alguns cristãos o que pensam sobre a graça, provavelmente muitos estariam de acordo com a seguinte definição: “A graça é a bondosa disposição de Deus para perdoar aos pecadores arrependidos.” Desafortunadamente, esta definição é somente uma meia verdade para descrever melhor o que é a “misericórdia.” Algumas vezes as Escrituras usam a graça como um sinônimo de misericórdia. Contudo, seria grave limitá-la a isto somente. 1 Assim como os fundamentos mal feitos podem ocasionar que se desmorone um edifício, as doutrinas defeituosas podem trazer conseqüências devastadoras às doutrinas vitais. Graça significa “favor divino não merecido.” O termo grego no original é charis, que deriva do verbo charizomai. Esta palavra significa “mostrar favor para” e assume a bondade do doador e a indignidade do receptor. 2 Quando charis é usada para indicar a atividade de Deus, significa “favor não merecido.” 3 A graça e a misericórdia têm duas distinções importantes. Primeiro, a misericórdia é universal, a graça é particular. A misericórdia se baseia no mandato universal de Deus para que nos arrependamos. “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam;” Atos. 17:30. Inerente a este mandamento se assume que o pecador arrependido será perdoado. Existe uma oferta divina de misericórdia para toda a humanidade. Por esta razão, Deus nunca pode ser acusado de injusto meramente porque alguns recebem uma graça especial. Deus nunca rejeita a um pecador arrependido. 1 Exemplos de “graça” usada nesta forma em Ef.1: 7; Ef. 2:4-5; 1Tm. 7: 12 - 7 4; Hb. 4:7 6. No entanto, poderia argüir-se que estes textos significam que a misericórdia é um componente da graça em lugar de um sinônimo. 2 É interessante que a Enciclopédia Britânica define este termo com a mesma precisão: “Na teologia cristã, o presente não merecido, espontâneo do divino favor na salvação dos pecadores, e a influência divina operando no homem para sua regeneração e santificação.” O termo em inglês é a tradução usual do grego “charis,” que ocorre no Novo Testamento em torno de 150 vezes (dois terços destes nos escritos que se atribuem a Paulo). Ainda que a palavra deve algumas vezes ser traduzida em outras formas, o significado fundamental no Novo Testamento e no uso teológico subseqüente é o conteúdo na carta de Paulo a Tito: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens (2:11).” Enciclopédia Britânica, Computer Edition, 2001 Search Criteria, “Grace” 3 A graça se aplica na vida cristã de diferentes formas. Neste particular estamos tratando somente da graça salvadora.

o Que e Graca Smalling

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    O Que a Graa? Roger L. Smalling

    Porquanto a graa de Deus se manifestou salvadora a todos os homens... Tito 2:11.

    Posto que a graa traz salvao, crucial compreender o que a graa significa.

    Se perguntarmos a alguns cristos o que pensam sobre a graa, provavelmente muitos estariam de acordo com a seguinte definio: A graa a bondosa disposio de Deus para perdoar aos pecadores arrependidos.

    Desafortunadamente, esta definio somente uma meia verdade para descrever melhor o que a misericrdia. Algumas vezes as Escrituras usam a graa como um sinnimo de misericrdia. Contudo, seria grave limit-la a isto somente.1 Assim como os fundamentos mal feitos podem ocasionar que se desmorone um edifcio, as doutrinas defeituosas podem trazer conseqncias devastadoras s doutrinas vitais.

    Graa significa favor divino no merecido. O termo grego no original charis, que deriva do verbo charizomai. Esta palavra significa mostrar favor para e assume a bondade do doador e a indignidade do receptor.2 Quando charis usada para indicar a atividade de Deus, significa favor no merecido.3

    A graa e a misericrdia tm duas distines importantes. Primeiro, a misericrdia universal, a graa particular. A misericrdia se baseia no mandato universal de Deus para que nos arrependamos.

    Ora, no levou Deus em conta os tempos da ignorncia; agora, porm, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; Atos. 17:30.

    Inerente a este mandamento se assume que o pecador arrependido ser perdoado. Existe uma oferta divina de misericrdia para toda a humanidade. Por esta razo, Deus nunca pode ser acusado de injusto meramente porque alguns recebem uma graa especial. Deus nunca rejeita a um pecador arrependido.

    1 Exemplos de graa usada nesta forma em Ef.1: 7; Ef. 2:4-5; 1Tm. 7: 12 - 7 4; Hb. 4:7 6. No entanto, poderia argir-se que estes textos significam que a misericrdia um componente da graa em lugar de um sinnimo. 2 interessante que a Enciclopdia Britnica define este termo com a mesma preciso:

    Na teologia crist, o presente no merecido, espontneo do divino favor na salvao dos pecadores, e a influncia divina operando no homem para sua regenerao e santificao.

    O termo em ingls a traduo usual do grego charis, que ocorre no Novo Testamento em torno de 150 vezes (dois teros destes nos escritos que se atribuem a Paulo). Ainda que a palavra deve algumas vezes ser traduzida em outras formas, o significado fundamental no Novo Testamento e no uso teolgico subseqente o contedo na carta de Paulo a Tito: Porquanto a graa de Deus se manifestou salvadora a todos os homens (2:11). Enciclopdia Britnica, Computer Edition, 2001 Search Criteria, Grace 3 A graa se aplica na vida crist de diferentes formas. Neste particular estamos tratando somente da graa salvadora.

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    Ademais, a graa nunca foi oferecida a todo o mundo nem sequer aos eleitos. A graa no uma oferta. uma ddiva no merecida e particular no sentido de que Deus outorga um favor somente a alguns, no a todos. Vemos isto mais claramente na relao entre graa e eleio.

    ...sobrevive um remanescente segundo a eleio da graa. Rm. 11:5.

    Portanto, vemos que as distines principais entre misericrdia e graa so as seguintes: A misericrdia universal e oferecida a todos. A graa particular, outorgada a alguns.

    Os Aspectos Importantes Da Graa

    A graa eterna

    Que nos salvou e nos chamou com santa vocao; no segundo as nossas obras, mas conforme a sua prpria determinao e graa que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, 2Tm.1:9

    A eternidade no tempo linear que se estende indefinidamente, mas uma dimenso sem tempo onde Deus reside.4 A graa se originou ali, alm do controle humano. Nada em nossa dimenso tempo-espao contnuo foi causa de Sua graa e nada poderia mudar a mente de Deus agora.

    A graa no merecida

    Note de novo que 2Tm.1:9 exclui as obras da graa e propsito de Deus. No somente a graa no est associada com os mritos, mas ela diametralmente oposta, tal como Paulo esclarece em Romanos 11:6

    E, se pela graa, j no pelas obras; do contrrio, a graa j no graa....

    Igualmente, a graa no depende da obedincia Lei.

    ...pois no estais debaixo da lei, e sim da graa. Rm. 6:14.

    Uma forma segura para demolir a graa mistur-la com algum mrito qualquer que seja.

    A graa uma qualidade divina

    A graa uma caracterstica de cada um dos membros da Trindade.

    4 Is. 57:15 Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade....

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    Do Pai: Rm. 1:7 ...graa a vs outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.

    Do Filho: Gl. 6:18 A graa de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmos, com o vosso esprito. Amm!

    Do Esprito Santo: Zc. 12:10 E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalm derramarei o esprito da graa. ... Heb.10:29 ...e ultrajou o Esprito da graa?

    A graa soberana

    Para expressar que a graa soberana, Paulo a associa com Seu beneplcito, que propusera em Si mesmo. Parece que Deus no consultou a ningum ao eleger os receptores de Sua graa, nem esperou pela permisso de ningum. Veja Ef. 1:7-9 (Traduo Almeida Revista e Corrigida, edio 1995).

    A graa a nica base de nossa aceitao

    Para louvor da glria de sua graa, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, Ef.1:6.

    Por conseguinte, qualquer ensino que oferea frmulas ou tcnicas para obter a aceitao de Deus, que no seja pela graa somente, falso. O perdo de pecados, a redeno por meio do sangue de Cristo, a sabedoria e o entendimento e todas as bnos espirituais so concedidos somente pela graa. Veja Ef. 1:1-5.

    A graa santa

    Porquanto a graa de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixes mundanas, vivamos, no presente sculo, sensata, justa e piedosamente, Tt. 2: 11-12.

    Inclusive durante o primeiro sculo existiram movimentos que associavam a graa com a libertinagem. Os apstolos nos advertiram sobre isto. Como por exemplo no versculo 4 do livro de Judas:

    Pois certos indivduos se introduziram com dissimulao, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenao, homens mpios, que transformam em libertinagem a graa de nosso Deus...

    Qualquer insinuao de que a graa d aos cristos liberdade para atuar de forma carnal heresia. Os que ensinam tais coisas provam que no tm a graa.

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    A graa para poucos, no para todos

    Assim, pois, tambm agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleio da graa. Rm. 11:5.

    Um remanescente, por definio, se refere a uns poucos entre um grupo grande. A nica razo para que exista um remanescente a salvo a graa de Deus.

    A graa um mistrio

    A graa no se fundamenta em mritos humanos. A pergunta: por que alguns a recebem e outros no? permanece um mistrio. Isto parece injusto at que nos damos conta que Deus no deve nada a ningum. Ironicamente, as tentativas de resolver o mistrio da graa terminam em heresia.

    Pregar o evangelho significa pregar a graa

    ...e o ministrio que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graa de Deus. Atos. 20:24.

    O ministrio do evangelho no tem outra mensagem seno a graa de Deus em Cristo. Se isto no o que se prega, ento no estamos pregando o evangelho.

    PERGUNTA CHAVE: a salvao uma obra de cooperao entre Deus e o homem?

    Os telogos discutem este ponto com duas palavras: sinergismo e monergismo.

    O sinergismo vem de duas palavras gregas: syn significa juntos e ergos significa obra. Significa que a salvao uma obra de cooperao entre Deus e o homem. Segundo este modo de pensar, o homem contribui em algo para sua salvao. No entanto, sua contribuio no suficiente e necessita ser suplementada por Deus.

    Se o sinergismo est correto, ento Deus um assistente do homem em seus esforos para salvar a si mesmo. Deus o agente passivo que espera que o homem pea ajuda. Deus responde iniciativa do homem.

    O monergismo vem de duas palavras gregas: mono significa s, sozinho e ergos significa trabalho. Significa que a salvao um trabalho de Deus

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    somente. O homem no capaz de contribuir. Portanto, Deus o agente ativo e o homem responde iniciativa de Deus.5

    Qual o correto, o sinergismo ou o monergismo? A resposta vai depender de, se a f salvadora em si mesma uma obra da graa de Deus ou no.

    Poucos textos-chave resolvem o assunto:

    Transbordou, porm, a graa de nosso Senhor com a f e o amor que h em Cristo Jesus. 1Tm.1:14.

    Aqui, a graa traz as virtudes da f e o amor.

    ...aqueles que, mediante a graa, haviam crido; Atos. 18:27.

    A graa foi claramente a causa da f dos que creram.

    Porque vos foi concedida a graa de padecerdes por Cristo e no somente de crerdes nele, Fp. 1:29.

    O termo concedida aqui CHARIZOMAI em Grego, que significa dar livremente por graa. Significa mais do que mera permisso para crer. O Crer foi algo que Deus obrou naqueles crentes.

    E prosseguiu: Por causa disto, que vos tenho dito: ningum poder vir a mim, se, pelo Pai, no lhe for concedido. Jo. 6:65.

    Se vir a Cristo significa crer nEle, ento a f vem de Deus Pai como um presente.

    Textos similares so: Atos 13:48; Hb.2:2; Joo 6:44; Tt.1:1

    Uma vez que uma pessoa salva, como operam a graa e a f?

    Um pecador est morto em seus pecados, incapaz de gerar por seu livre arbtrio a f salvadora at que Deus trabalhe poderosamente nele por meio do Esprito pelo Evangelho.

    No entanto, uma vez que o pecador salvo, a f ativamente transfere a graa para o viver cristo. A f est j ali para que o crente a use para conseguir mais graa ainda.

    A graa, neste ponto, mostra sua natureza multifacetada. ( ...a multiforme graa de Deus 1Pe. 4:10). Uma vez que um pecador salvo pela graa, ele comea a aprender a viver pela graa. O maior erro que um cristo pode cometer supor que a graa j no necessria.

    5 O nico ramo da teologia crist que apia o monergismo o Reformado. Todos os demais apiam o sinergismo e diferem somente no tipo de contribuio que o homem faz para atrair a graa de Deus.

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    A graa pe-nos a trabalhar

    Mas, pela graa de Deus, sou o que sou; e a sua graa, que me foi concedida, no se tornou v; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, no eu, mas a graa de Deus comigo. 1Co.15:10.

    A graa ativa, no passiva. Ainda que no possamos obter a graa por nossas obras; no obstante, a graa resulta em obras. Quando Lucas disse sobre os apstolos: abundante graa era sobre todos eles, quis dizer que eles eram produtivos pelo poder de Deus.

    A graa, pela f, nos faz estar firmes

    Por intermdio de quem obtivemos igualmente acesso, pela f, a esta graa na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperana da glria de Deus. Rm. 5:2.

    A graa nos permite aproximar-nos de Deus com firmeza

    Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graa, a fim de recebermos misericrdia e acharmos graa para socorro em ocasio oportuna. Hb. 4:16.

    A graa vence o pecado

    Nada mais o faz.

    A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim tambm reinasse a graa pela justia para a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Rm. 5:21.

    s vezes cristos tentam vencer o pecado por meio de todo tipo de coisas... o legalismo, as boas obras, incluindo o maltrato fsico do corpo. No entanto, a graa faz a obra porque nada mais pode faz-la.

    Tais coisas, com efeito, tm aparncia de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor asctico; todavia, no tm valor algum contra a sensualidade. Cl. 2:23.

    Os Meios de Graa

    Embora a graa seja soberana na vida do crente, Deus nos d meios para nossa santificao. Estes meios so a Palavra, a orao e os sacramentos da Igreja. Conforme vamos aplicando estes meios, Deus continua dando-nos sua graa para que possamos caminhar com Ele. Deus no dependente destes meios nem

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    ns deveramos assumir que temos merecido a graa porque os temos aplicado. Ns dependemos somente da graa de Deus, porm reconhecemos nossa responsabilidade de aplicar os meios para o fim que Ele providenciou.

    Porque Deus quem efetua em vs tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. Fil. 2:13.

    Resumo:

    A graa salvadora um favor de Deus no merecido por ns. soberana e depende exclusivamente da Vontade Divina. A graa oposta ao mrito. Ainda que Deus oferea misericrdia a toda a humanidade, sob a condio de arrependimento, Sua graa concedida a um grupo eleito. A graa a causa nica da salvao; portanto, esta no se baseia em nenhuma contribuio humana.

    A graa na vida do crente multiforme. A graa nos possibilita a caminhar com Deus e nos d poder para fazer Sua obra. S Deus a causa da graa, mesmo que Ele requeira que os cristos apliquem fielmente os meios que Ele ps a sua disposio para crescer.

    Neste estudo temos aprendido o seguinte:

    1. A graa um favor divino no merecido. uma qualidade divina eterna, santa e poderosa.

    2. A graa e a misericrdia so semelhantes porm no idnticas. A misericrdia oferecida a todos, mas a graa outorgada a alguns.

    3. A f salvadora uma obra da graa.

    4. Os crentes dependem de Deus somente, por Sua graa sustentadora enquanto aplicam os meios. Os meios so: a Palavra, a orao e os sacramentos da igreja.