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Eis que nasce O Rato. Filho de quem acredita que um veículo daqui deve divulgar e dar espaço aos artistas locais, diminuindo o distanciamento entre a obra e o público e, principalmente, entre os próprios artistas. Curitiba não é só Paulo Leminski. Curitiba também é Claudio Kambé, Tiziu, Confraria da Costa e tantos outros que não podemos deixar esquecidos e que estão aqui dentro. Essa é a primeira edição do Rato. Outras como essa e com mais curitibaneidades estão por vir...

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Editorial

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“Curitiba, você é a única droga que eu vou admitir na minha vida...” já diria o Maxixe Machine.Curitiba é mãe de grandes artistas. Esquecidos ou não, ela é. E como mudar o papo de que, para fazer sucesso e ter seu trabalho reconhecido, é preciso sair daqui e tentar as grandes metrópoles, como São Paulo, ou até mesmo cair em terras estrangeiras?! E aquela velha história de que nas outras cidades todos apoiam a cena, que Curitiba não tem saída, é cheia das panelinhas, blá, blá, blá? Hora de virar o jogo.Eis que nasce O Rato. Filho de quem acredita que um veículo daqui deve divulgar e dar espaço aos artistas locais, diminuindo o distanciamento entre a obra e o público e, principalmente, entre os próprios artistas. Curitiba não é só Paulo Leminski. Curitiba também é Claudio Kambé, Tiziu, Confraria da Costa e tantos outros que não podemos deixar esquecidos e que estão aqui dentro.Essa é a primeira edição do Rato. Outras como essa e com mais curitibaneidades estão por vir...Esperamos que vocês roam com carinho.

Paulo Souza [Diretor Responsável // [email protected]]

Isabela Fausto [Edição // [email protected]]

César Fermino [Direção de Criação // [email protected]]

Victor Hugo Harmatiuk [Ilustração // [email protected]]

Lucas Cabanã [Redação // [email protected]]

Gabriel Fausto [Redação // Assessoria de Comunicação // [email protected]]

Colaboradores Mustache Filmes, Stephanie Koinczeski e Bruno Romã Mocelin

Jussara Nascimento Movimentto, Comunicação, Marketing e Produções [Comercial // [email protected]]

Anuncie n’O Rato [email protected] – Shows, festas e eventos [email protected]

A Revista “O Rato” é uma publicação mensal da Editora Money Marketing Eventos Ltda CNPJ 03997834/0001-01 e Resposta Direta Agência de Comunicação. Rua Nilo Peçanha, 59 – 1º Andar – São Francisco80520-000 - Curitiba - PR

Impressão - Gráfica Ignia

APOIO:

ANO 1 // DEZEMBRO 2012 // Nº 01

A revista O Rato é uma publicação de caráter informativo com circulação gratuita.

Todos os direitos reservados.

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião desta revista.

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INDICERATOEIRA 06

HUMOR DO RATO 09PSICODELIA BRASILEIRA 10

EMBAIXO DA POLTRONA 48

NÃO-ENTREVISTA COM UM VAMPIROPAG 16

A ARTE DE KAMBÉPAG 24

A NOSSA PESQUISA SOBRE IDENTIDADE CULTURAL PAG 44

ARRR! 12

CLIPES 49

19 SOTÃO20 ENTREVISTA: IVAN COSTA

29 ENTREVISTA: SIBA34 PRETO COM UM BURACO NO MEIO

40 RATPHONE

ENTREVISTA: CÍCERO 14

O RATO COMEU 50FINALEIRA 54

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Mais do que um grande chef de cozinha, Beto Batata é conhecido e reconhecido em Curitiba como um incentivador da cultura, um mecenas das artes, um entusiasta do livre pensamento. Neste bate-papo, transparece seu lado humanista, sua postura de cidadão que conhece e exige seus direitos, sua visão crítica afiadíssima e, o mais impressionante: sua verve incendiária. O Rato só conseguiu fazer uma pergunta. A resposta foi uma avalanche ininterrupta de ideias temperadas com uma mão cheia de amor pelo nosso País, por vezes carregadas na pimenta da indignação, em outros momentos marinadas pela esperança de mudanças urgentes, mas sempre servidas com um prato cheio de inteligência. Resumindo: uma delícia de entrevista. Se fosse você, eu roeria até a última migalha.

batata quenteRobert Amorim, o nosso Beto Batata

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O Rato: Beto, não faz muito tempo assistimos estarrecidos ao fechamento do seu restaurante numa ação policial marcada pela truculência e o uso de força desproporcional. Agora, os lugares públicos de lazer da cidade ou estão sendo privatizados ou estão ganhando um banho de regras e perdendo sua qualidade cultural, como a Pedreira, um grande exemplo. Como se explica esses acontecimentos lamentáveis em plena democracia?

Beto: A sociedade está ficando mal humorada demais. Essa democracia é falsificada, o Estado nunca foi tão fascista quanto agora. Nem nos tempos da ditadura seria admissível invadir um estabelecimento com alvará, perfeitamente dentro da lei, e fazer o que fizeram. Os policiais chegaram sem aviso, sem mandato, sem ofício, nada. Nenhum oficial de justiça. Só um monte de viaturas e policiais armados que foram entrando e expulsando todo mundo das mesas. Imagine a cena: tínhamos famílias, crianças começando a jantar, pessoas comemorando aniversário, confraternizando. Botaram todo mundo pra fora. Meus clientes queridos foram parar no meio da rua, assustados, sem entender absolutamente nada. Mas eu entendo. Vejo claramente que o cerco está se fechando em torno dos espaços de lazer da cidade. Espaços nos quais as pessoas podem se divertir e trocar ideias estão cada vez mais raros. Até os espaços públicos, que sempre foram responsabilidade do Estado fornecer aos cidadãos, estão sendo desumanizados e repassados para a iniciativa privada; se tornando assim fonte de renda, a serviço do mercantilismo mais rasteiro. Com isso vão consolidando a estratégia perversa de limitar o pensamento, estreitando a visão crítica e impondo o emburrecimento geral.

Veja a mediocridade que impera atualmente na música popular, nos programas de TV, nos valores. Toda a nossa energia agora está voltada para ganhar dinheiro e acumular bens materiais que só aumentam a nossa insatisfação, porque no fundo sabemos que estamos morrendo, definhando... O ensino no Brasil está pasteurizado, uniformizado, formatado para anular a criatividade. Não estamos mais “desencobrindo” o conhecimento. E essa deveria ser a função da escola. Pega o Voltaire, Nietzsche, Platão. Esses gênios já existiram, já nos

trouxeram até aqui. São a base. Mas temos sempre que avançar, olhando sobre os ombros dos gigantes. Mas o que as escolas e editoras fazem? Copiam e reproduzem, aos milhares, ideias padronizadas que vem de fora, e espalham pelo país inteiro, aniquilando a nossa vasta e riquíssima cultura, que se manifesta de diferentes formas em diferentes locais. É control C + control V. Massificação. Adolescentes que não conseguem entabular uma conversação. O mesmo pensamento igual na cabeça de todo mundo. Temos pessoas velhas com cabeças

pequenas, pensamentos inferiores, e pessoas muito jovens, como meu filho, que já está trabalhando e tomando atitudes de adulto e assumindo responsabilidades seríssimas, e por isso acredita ser tão maduro quanto eu.

Estamos esquecendo que viemos ao mundo para nos distrair e ser felizes, criar, amar. Nesse ritmo, perdemos contato com nossa condição humana, com nossa essência. Temos que voltar a acordar todos os dias procurando coisas belas. Aprender novamente a abrir os olhos.

A educação está voltada para o mercado, pragmática demais; perdeu a magia da descoberta. Eu estudei no Colégio Rio Branco, e nem cheguei a terminar meus estudos, mas nunca

esqueci minhas aulas de matemática, a Teoria dos Conjuntos. É ótima, não consigo entender porque está sendo retirada do currículo em algumas escolas. Uso até hoje para compreender as relações das pessoas com o mundo. Somando o círculo A com o B temos uma bolinha, portanto se somarmos o B com C teremos algo diferente. É assim que ainda calculo e tomo decisões, em qualquer plano, seja no cotidiano, no trabalho, na política... Temos que aprender a somar coisas. Somar para obter resultados diferentes.

O ensino no Brasil está pasteurizado, uniformizado, formatado para anular a criatividade. Não estamos mais “desencobrindo” o conhecimento. E essa deveria ser a função da escola.

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Quando eu fui pra Índia, achei sensacional. Descobri como eram feitas as pinturas naqueles tapetes incríveis. Os caras trituram uma lagosta fêmea e conseguem um pigmento azulado. Trituram o macho e obtém o esverdeado. Tudo completamente natural, sem químicas; fiquei maravilhado. A gente não sabe mais ver as cores de verdade. Tudo que enxergamos agora são pixels. Já dizia Nietzsche: meus pensamentos são cores. Dá uma olhadinha no livro Da Cor a Cor Inexistente, você vai entender o

que eu estou falando.

Quando eu era jovem, nem tinha vinte anos ainda, a gente lia a revista Realidade. Acho que está faltando realidade. Minha esperança é que você, com a sua revista, venha a fazer alguma coisa que influencie para o bem, que cutuque, que mexa com os brios das pessoas, porque estamos estagnados, num estado de conformação. (Aqui ele lembrou Noam Chomsky

e fez questão de que eu anotasse corretamente o nome do autor para ler mais tarde).

Numa das minhas viagens, indo de Berlim a Paris, cheguei à conclusão de que o Meridiano de Greenwich é uma imposição, uma arbitrariedade. (Beto exige papel e caneta e desenha uma esfera cortada por meridianos) Coisa nenhuma! Do meu ponto de vista, o Meridiano de Greenwich de qualquer pessoa é o ponto de referência no qual ela está naquele momento. Cada um possui o seu. E temos que aprender a respeitar este espaço de cada um. E também ter autoestima, respeitar a si mesmo. Se você se respeita, não dá trabalho para o outro. Você cria responsabilidade sobre seus atos. E isso implica em encarar suas frustrações sem subterfúgios. A química está anestesiando todo mundo. Se pinta um problema, ao invés de enfrentá-lo e aproveitar a oportunidade para crescer, tomamos Rivotril. Não há crescimento sem dor. Temos que aprender a coabitar alegre e despreocupadamente na tecnosfera e n’apsicosfera. Entende?! Isso você encontra se der ruma olhada nos escritos do Milton Santos.

(Nesse ponto, o Beto parou seu discurso frenético, e depois de uma breve comentada sobre algumas brasilidades, empostou a voz e recitou um poema de Fernando Pessoa. “Ultimatum”, que faz uma referência ao nosso país: ”E você Brasil, blague de Pedro-Álvares-Cabral, que nem te queria descobrir?!”. O Rato ficou pasmo. Sem mais perguntas, meritíssimo)

“No que eu teria me transformado se não tivesse entrado pros Stones? Em um vagabundo, mas num vagabundo classudo.”

Keith Richards

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/ o rato - 9 / Roteiro: MacGregor | Illustação: Victor Harmatiuk

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Sublime em sua simplicidade, este disco autêntico e garagero é um dos grandes exemplares do rock brasileiro em sua fase psicodélica.

Mesmo distantes do “centro” (a banda vem do Rio Grande do Sul), as composições e arranjos deixam muito claro que os guris estavam ligadões no que rolava na época: as guitarras são cheias de fuzz e melodias incomuns; a bateria, maravilhosa, toca samba e rock ao mesmo tempo, tudo misturado.

Único porém são algumas desafinadas no coral de vozes, mas nada gritante.

A banda só deixou esse disco. Um tempo depois, 4 destes 5 gaúchos formaram a não menos sensacional Bixo da Seda. Bate um google e seja feliz amigo!

“A arte é pouco difundida nas rádios...Têm cabeças preconceituosas (...) Não me preocupo com eles, parados no tempo. Não gosto de cinismo, de gente negativa, que joga para trás. Se não quiserem tocar minha música, tudo bem, mas sempre tem um que toca o Bixo da Seda e Fughetti Luz, e amanhã serão dois e eles abrirão à humanidade o caminho da arte.”

Fuguetti Luz, integrante do Liverpool, ao portal MusicaTri.

A psicodelia de Pindorama aconteceu em plenos anos de chumbo. Enquanto alguns pintavam as paredes do cérebro com todas as cores do arco-íris lisérgico, do lado de fora a escuridão vinha com tudo no Brasil: censura, tortura, execução sumária, perseguição a toda e qualquer manifestação artística e social que ameaçasse o regime. Muitos dos músicos brasileiros foram “convidados” ao exílio.

LIVERPOOL Por Favor Sucesso (1969)

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Houve aquela época em que só o seu irmão e os amigos dele usavam aquelas camisetas assustadoras do Black Sabbath ou do Ac/Dc, suadas e lavadas tantas vezes que a estampa era algo entre alguma coisa esbranquiçada e quebradiça. Enquanto as garotinhas do colégio caíam matando no escrito purpurizado no estilo “I know I’m sexy.” e outras barbaridades. E quem nunca ganhou aquela regata massa que virou pijama “Salvador – BAHIA” da sua avó, não é mesmo?! Mas, meu amigo... Se curte um “I Love NY”, só digo uma coisa: hora de se aposentar!

“Por que não vestimos a nossa cultura?”, Renato Oliveira.

Para manter o stailis nos trinquis, na base da originalidade e da criatividade: chega mais que o Renato Oliveira, responsável pelo projeto Zé da Venda, contou para O Rato quando e como começou a produção das suas camisetas. Saca só essa traçada:

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O Rato: Como e quando o Zé abriu o barraco para as vendas?!

Renato Oliveira/ Zé: O Zé da Venda existe faz alguns anos. Na verdade, só comecei a vender as camisetas por pressão dos meus amigos, não tinha visto isso como “mercado”. O meu intuito era e ainda é fazer camisetas relacionando as estampas com a cultura brasileira, valorizando a memória de nossos grandes artistas e divulgar a importância deles para a nossa “brasilidade”. Procuro não colocar o nome do homenageado para instigar a quem vê a camiseta. De certa forma, quero que as pessoas que as compram tenham certeza do que estão vestindo e que, se alguém vir a perguntar, que saibam responder quem é o artista estampado na camiseta que leva no peito.

Às vezes recebo encomendas de artistas que não conheço. Isso é bom para mim, assim conheço e redescubro coisas do meu país. Exemplo: Zé com fome ou Bide e Marçal, músicos brasileiros importantes, mas que dificilmente iria conhecer se não fosse pela encomenda.

R: E sobre o processo de produção, qual a técnica que você usa para fazer os desenhos, a estampa?!

Z: O processo de produção das camisetas ainda é bem artesanal e trabalhoso. A técnica que utilizo é estêncil. Recorto uma superfície com estilete e faço um molde vazado, depois com uma esponja

de cozinha aplico a tinta especial para tecido na camiseta.

R: Você tem alguma restrição, alguém que o Zé não vai colocar na banca nem pechinchando muito?

Z: Tem diversas restrições na verdade, a primeira delas é eu gostar da ideia de fazer a estampa, a outra e também muito importante é que os homenageados nas estampas sejam no mínimo “bacharéis” da cultura brasileira. Aqui não tem “ai se eu te pego” e nem “assim você mata o papai”, por esse critério já tem uma lista de banidos!

R: Você não tem loja física, como são feita as entregas?

Z: Então, para a moçada mais “chegadis” entrego as camisetas no Samba do Sindicatis que acontece a cada 15 dias no bar Estrela da Terra. Também deixo no 2º piso da Galeira Lúdica. Para outras cidades encaminho pelo correio.

R: Algum plano promissor?

Z: Tenho planos de até o final do ano conseguir montar um ateliê de serigrafia e começar a usar várias técnicas de ilustração, mas continuar sempre com o mesmo foco na nossa brasilidade

SERVIÇO: ZÉ DA VENDA Encomendas via: www.facebook.com/zedavenda Dica: Para quem quiser saber mais sobre “camisetas gráficas” e entender inglês, taí um documentário superbacana sobre o assunto! www.t-world.com.au/

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O Rato: O Teatro Paiol é conhecido em Curitiba por ser um espaço intimista pela proximidade com o público. Isso remete um pouco ao seu novo trabalho, Canções de Apartamento. Você sente que isso irá impactar para você de alguma forma em relação às outras apresentações que você fez?

Cícero: Acho que vai, sim. Show em teatro é uma coisa e em casa de espetáculo já é outro show, outras coisas ressaltam. Tem outro clima, parece que a catarse é um pouco maior, as pessoas estão em pé, em movimento, interagindo com você. Mas a percepção do que esta acontecendo ali no show também não dilui quando as pessoas estão no teatro, sentadas e tal. Elas ficam com o ouvido mais atencioso, prestam mais atenção nos detalhes. O show ganha outra finalidade, mas acho as duas coisas maneiras!

R: E dessa dinâmica que você falou sobre a composição do teu disco, tu fez ele todo na sua casa e como você conseguiu driblar essas diferenças?

C: Gravar em casa é bem diferente, porque lá não tem essa coisa de dinâmica. Eu fui gravando uma coisa em cima da outra com o passar dos dias. Eu não tinha que equacionar tudo isso em tempo real.

R: E quanto tempo você levou para finalizar o disco?

C: Putz, não sei cara. Porque como eu não tive data de começo, não tem como saber. Mas foi paralelo ao momento de eu ter me mudado. Comecei a morar sozinho... Então, devem ter sido uns dois anos.

R: Você fez tranquilamente, sem nenhuma pressão...

C: Tipo... Comecei sem saber quando e terminei terminando, sem saber como também! O que sei é que coloquei no ar, na internet, no dia 23 de Junho. O disco já estava pronto há um tempo. Daí tive que apreender a usar o Facebook e coisa e tal pra poder divulgar.

R: Você tem alguma preocupação com a estética quando você está compondo ou no processo de criação?

C: Eu acho que tudo é estética. O som, o quadro, enfim. São estéticas, mas com linguagens diferentes. A fotografia é um lance, a palavra, a poesia. Tudo é estético, saca? Por isso que pra mim é um pouco complicado desassociar a música da imagem que ela te remete e a aquele lugar que te inspira. Você está fazendo links com diversas estéticas na sua cabeça. Quando você se lembra de uma pessoa, a pessoa é estética, as pessoas são estéticas. Os sentimentos são estéticos.

O Rato foi até o Teatro Paiol bater um papo de camarim com a atual revelação do cenário musical nacional, o compositor e cantor, Cícero. A procura de ingressos para a apresentação pegou o carioca de surpresa, que abriu uma sessão extra para os fãs curitibanos. Nós não conseguimos assistir ao show, mas ficamos com ele durante toda a passagem de som, saca só! por Lucas Cabaña Fotos: Lucas Cabaña + Divulgação

Cícero

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R: Qual a sua relação com balões? Têm nos seus vídeos, letras, em shows...

C: Não sei... Fazer disco é como terapia para mim. Depois que você termina o disco, você nota que várias coisas se incorporam. É uma coisa de relação. Eu gosto dela, dessa sensação que me traz. Mas para cada um remete em alguma coisa. Dependendo do balão, você tem referência da sua infância e tu acaba linkando com algo semelhante a você.

R: E você ganhou o prêmio Multishow recentemente, como Melhor Versão e Melhor CD Compartilhado na Web, como classifica essa experiência?

C: Mídia. Porque mídia que dizer isso, meio. Então, assim, é mais um meio de se fazer as pessoas me conhecerem. Porque na verdade o que interessa não é o prêmio em si, mas é uma qualidade pelo teu trabalho estar ali, de quantas pessoas vão se interessar nele por você ganhar um prêmio e tal.

R: Ali você estava em contato com diversos músicos e também com a nova geração da MPB. O Nasi (do Ira!), disse em uma entrevista que essa nova música brasileira é um “mar de poodles”. Deu para entender que era uma referência não só a sua música, mas também a do Marcelo Jeneci, da Tiê, enfim, o que você acha disso?

C: Música pra Poodle? Minha tia tem um Poodle! Eu acho, pô, bom, música pra poodle é maneiro. Eu não tenho nada contra Poodle, eu não gosto muito de Pincher, eles são muito chatos, é, são estressados. O mundo já é estressante, e isso estressa mais ainda! O Poodle é maneiro, é tranquilo.

R: E tu, o que acha da nova geração da musica brasileira, isso que chamam de nova MPB?

C: Até eu fazer essas redes sociais para divulgar o meu disco eu era meio pirracento com tecnologia. Não tinha celular e redes sociais. Então estava por fora dessa nova MPB que estava rolando na internet. Foi quando lancei o disco e comecei a ser comparado que fui começar a escutar eles.

R: Daqui de Curitiba, conhece algum som?

C: Conheço a Banda Mais Bonita da Cidade, que veio trocar uma ideia comigo. Ah! E teve um pessoal que comentou sobre a banda Roído/mm, disseram que eu iria gostar

“O som, o quadro, (...) a fotografia é um lance, a palavra, a poesia. Tudo é estético, saca? Por isso que pra mim é um pouco complicado desassociar a música da imagem que ela te remete (...)”

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Curitiba dá o tom a toda a obra de Dalton Trevisan. É de suas ruas mais sórdidas que ele tira seu desfile de almas dilaceradas pela realidade mesquinha. Você mesmo já viu quantas vezes o eterno João tarado, num pé sujo da Tobias de Macedo, sempre à caça da próxima vítima?por MacGregor

Não-Entrevista com um Vampiro

Vejam ali na esquina da Riachuelo com a São Francisco, a epilética Maria, embriagada de frustrações e empurrada a um destino intransferível por uma avalanche de situações arquetípicas, incontornáveis, avassaladoramente cotidianas e quase repulsivas de tão banais. Sob a luz do poste no qual você parou para olhar a mulher do próximo, ele nos apresenta o lado escuro da lua de todos nós. Mas é uma luz mórbida a que se reflete no espelho das suas páginas. Você preferiria não ver, mas Dalton não deixa passar.

A realidade é a mesma em toda parte, mas parece mais densa e irreversível em Curitiba, apenas por conta de seu estilo mínimo, seco, sem floreios. Só o essencial interessa. O vampiro de almas não tem tempo a perder. Tem que contar sua história num suspiro. Basta um beijo baboso do velhinho ofegante na nuca branca da sempre a mesma colegial em suas meias três quartos e você já entendeu. Será um flashback daquela Maria normalista que sonhava ser professorinha e agora foi trabalhar na esquina?

Nosso autor mais consagrado se apropria do personagem com tanta frieza que pode por vezes parecer propositadamente cruel, a ponto de chocar o leitor, talvez pela ausência de uma ideologia que julgue ou de um código moral que condene ou inocente. Na criação de Dalton o ser humano é vítima e carrasco de si mesmo. Já nasce acorrentado a um destino atroz, pelo mero fato de ter nascido. É duro ler sua descrição isenta de simpatia pelo velhinho acometido de seus achaques, em meio à indiferença dos familiares enlouquecidos por seus pequenos dramas pessoais. Faz você desistir da aposentadoria.

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Seus diálogos exíguos, mais hard boiled do que em Hammett, ecoam o que ele ouve por aí, quando sai de casa com seus tênis e bonezinho, a ver pelas livrarias e banquinhas como andam as vendas do seu mais recente lançamento. Graças ao sangue que vai juntando das calçadas da nossa cidade sorriso – vai rindo, vai - nosso vampiro de estimação tem vigor para nos brindar todos os anos com novos retratos de típicos curitibanos acossados por suas vidinhas medíocres e nada exemplares. E olha que o cara já tem mais de oitenta!

Ao longo do tempo, o inventor de gente que já existe vai ficando cada vez mais resumido. E sumido. É tudo tão pequeno e ao mesmo tempo tão grande nos seus livros que o Dalton pode até se jactar de ter inventado a nano-literatura. E nós podemos nos jactar de nossa cidade ter parido um verdadeiro escritor, que inclusive foi agraciado recentemente com o Prêmio Camões, sabe o que é isso, mano? Vai pesquisar.

Dalton, você é nosso orgulho. Muito embora saibamos que não temos nada a ver com isso. Somos meros personagens em busca de uma Curitiba perdida, também.

- Melhor ficar mocado no seu canto, ô cara, antes que algum chapa do Dalton conte pra ele o que você anda

fazendo por aí. Pronto pra ser vampirizado?

- Antes numa página do Dalton do que na Tribuna...

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BEATS FOR DUMMIESJeito maneiro de pegar um verniz beatnick sem ter que cair na estrada com os livros de Jack Kerouac e sua gangue pesando na mochila.

Você faz de conta que tá curtindo uma graphic novel e mata numa sentada a essência do acontecido. Todos os caras que merecem ser mencionados – e até alguns de quem você nunca tinha ouvido falar - têm a sua historinha em quadrinhos contada em verso e prosa, ou melhor, em roteiro e arte, por diferentes artistas coordenados pelo roteirista Harvey Pekar. O time fez bem o dever de casa e apresenta uma pesquisa sólida, empacotada em formato divertido, sem a menor pretensão de seriedade acadêmica, o que é muito adequado ao espírito despojado, livre, irreverente e anárquico dessa trupe de artistas proto-hippies que inauguraram a chamada contracultura na América dos anos 50. E isso bem antes do Dylan apresentar a canabis aos Beatles que, aliás, só têm esse nome porque John Lennon sabia das coisas...

Excelente pra começar a gostar de ler. Aproveite o embalo e saia lendo tudo que você encontrar dessa tal Beat Generation.

OS BEATS Uma graphic history Ed. Benvirá, 197 pags.

“A globarbarização se apoia no mercado, sem dúvida. Sendo justo, o mercado teve ou talvez tenha – conheço-o pouco - produtos interessantes. Pena é que não se aposte nunca na beleza difícil.”

Tom Zé, em entrevista ao Jornal Telescópio

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O Rato: Velho, queria cavar uma coisa na sua memória. Há uns 10 anos atrás passei um ano novo na Ilha do Mel, e lembro que a única alternativa ao forró/pagode/reggae naquela ocasião era justamente uma banda em que você tocava, junto ao Alexandre, a Marina e mais uma galera, inclusive um guitarrista doidão de pedra, aquele cara não esqueço, rs.. Acho até que foi a primeira vez que escutei Mutantes. Só não me lembro se vocês já tinham músicas próprias. Como eram aqueles tempos? Foi a sua primeira banda?

Ivan: Essa banda se chamava Circo Louco, foi minha quarta banda na real, mas a primeira a realmente cair na estrada, ganhar uns cachezinhos, essas coisas. Nós tínhamos uma ou outra música própria, nosso lance era aquele repertório setentista clássico. Tocávamos quase tudo dos Mutantes e Secos & Molhados. Nós fomos pra Ilha com todo o equipamento na barca sem lugar certo pra tocar, fomos nos arranjando, de lá fomos tocar em Florianópolis, Itapema e Camboriú. Viajávamos sem

carro, sem grana e sem nada agendado. Dava pra fazer um daqueles filmes de banda viajando, até presos nós fomos! Tem muita história pra contar dessa época, nem vou me alongar!

R: De certa maneira, aquela banda foi também um embrião do que viria a ser o movimento Psicodália. Você chegou a tomar parte na organização ou idealização do festival alguma vez?

I: Sim, o primeiro festival foi em Angra dos Reis, mas ainda não se chamava Psicodália. Eu organizei junto, já foi um trampo animal, isso que eram só 2 ônibus e uma van. Não tinha refeitório, banheiro, nem palco, mas já foi um puta empenho e eu larguei mão de organizar. As bandas tocaram embaixo de uma daquelas torres de alta tensão. Ninguém nem imaginava que ia tomar as proporções que tem hoje.

R: Logo depois disso veio o Gato Preto. Lembro que cheguei a mandar um e-mail para a banda protestando pela mudança de nome para Confraria da Costa, e alguém respondeu: “estamos cansados

O vocalista e compositor, Ivan Halfon, da banda Confraria da Costa, aceitou dar essa entrevista cadavérica ao nosso Rato, frequentador antigo dos navios da cidade, em troca de alguns runs importados...

por Gabriel Fausto via email imagens do vídeo Confidencial/ Divulgação

ALTO LÁ, MARUJOS!

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“Me lembro de que ligaram pra dizer que nós estávamos tocando na rádio, e pelo telefone eu ouvi que a música era “Caravela Estelar”. E eu pensei : caralho, essa é a última música do Cd que eu tocaria na rádio!”, Ivan Halfon sobre o extinto programa da Rádio Educativa.

de ver nossos cartazes com gatinhos”. O engraçado é que o som ficou menos rock, porém, o show ficou bem mais agitado. Quando e como foi que deu esse estalo de mudar o som pro tal “tunga tunga”?

I: Pois é, fizemos o tunga tunga e gostamos da ideia. Já tínhamos umas músicas de pirata, mas no meio de um repertório com covers. Aí resolvemos tocar só as músicas próprias e os bares nos chamavam querendo ainda o repertório antigo. Achamos melhor mudar o nome pra acabar com essa confusão e pra dar uma identidade nova na banda. No começo uma galera gralhou (como você, rsrs), mas não me arrependo nem um pouco da mudança.

R: Você costuma participar de um monte de bandas, tocando bateria, baixo, cantando, etc. Você é autodidata em todos estes instrumentos ou teve estudo? E tem o xodózinho, aquele instrumento que você se diverte mais?

I: Eu estudei alguns deles, outros não. Comecei estudando violão, daí passei pra guitarra e depois pro baixo, que é meu instrumento favorito de longe. Comprei uma flauta porque queria um flautista na banda e nunca encontrei, mas só arranho. Peguei um clarinete porque um cara me vendeu por R$ 200,00, se eu não conseguisse tocar, poderia pelo menos revender mais caro, rsrs. Eu cheguei a fazer

umas aulas de baixo acústico, mas não engrenei também. Bateria foi de tanto tocar bêbado nas festas e no ano passado inteiro eu estudei canto pra ver se desafinava menos.

R: Depois de tanto tempo tocando, quais são os compositores que ainda são referência pra você? Existe alguma banda que você já foi fanático quando era piá, mas hoje olha meio de lado?

I: Minhas referências mudaram bastante. O rock clássico eu ainda curto, apesar de não colocar muito pra tocar. O que eu mais olho de lado hoje em dia é o rock progressivo e psicodélico, eu curtia muito King Crimson, Jefferson Airplane, Mutantes, hoje não curto mais. As referências que ficaram dessa época foram AC/DC, Toy Dolls, talvez um pouco do Jethro Tull. Hoje o que eu gosto mesmo é Tom Waits, Jonnhy Cash , Jerry Reed, Jorge Mautner, Andrew Bird.

R: Sabemos que o Abdul, batera do Confraria, é proprietário da Cantina Villa Bambu, ponto de encontro da moçada prumas beras ali no Largo da Ordem. E o resto do bando, como é que faz pra garantir o Rum no fim do mês? Vivem só de música ou são obrigados a lançar mão também da pirataria, saqueando supermercados, roubando velhinhas indefesas.. ?

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I: Então, o ideal seria isso, só tocar e roubar velhinhas indefesas, mas o pessoal tem suas atividades paralelas pra garantir o leite das crianças no fim do mês. O Marcello trampa com arquitetura, o Panta tá trabalhando no Sesc, o Jan tem umas atividades paralelas que ninguém sabe direito e eu acabei de sair depois de dez anos de um trampo fixo pra me dedicar só a música mesmo. Quando não tem onde tocar, eu jogo poker.

R: Por último, queria saber sua opinião sobre uma conversa que na verdade já morreu, haja visto o enorme engajamento político do brasileiro. Quando houve aquela mudança na direção da Rádio Educativa, várias bandas paranaenses entraram na programação, inclusive músicas do Confraria da Costa. Infelizmente, a falta de cuidado na inclusão destes artistas, com os novos agentes praticamente excluindo a programação antiga pra tocar em sua maioria rock independente, acabou sendo ainda pior pros músicos paranaenses: o Diretor Geral foi afastado e, consequentemente, as bandas não tocaram mais. Nem mesmo as que claramente se encaixam no perfil tradicional da rádio, músicos de qualidade incontestável, continuaram na

programação. Agora... Os amigos do diretor tocam todo dia: Lápis, Papel, Borracha, Apagador... Você concorda que uma rádio estatal paranaense privilegie a bossa nova em detrimento das bandas paranaenses, não nos deixando nem o horário pornô da madrugada?

I: Hahaha não, eu prefiro quando eles tocam as nossas músicas! Mas também me lembro de que ligaram pra dizer que nós estávamos tocando na rádio, e pelo telefone eu ouvi que a música era “Caravela Estelar”. E eu pensei : caralho, essa é a última música do Cd que eu tocaria na rádio! Tem um ritmo todo quebrado, o meio é todo instrumental, etc. Mas depois foram tocando outras, inclusive versões ao vivo com qualidade de gravação bem pior que do Cd, parecia que quem tava tocando isso nem estava ouvindo a música, nem conhecia as bandas. Dava a impressão de escolher as músicas aleatoriamente. Daí não tem como durar mesmo, a intenção foi boa, mas a execução nem tanto. Mas eu não sou de ficar chorando por essas coisas, aliás, piratas não choram, quer tocar nossas músicas pode tocar... Se não quiser, eu mato

“Se Capitu não traiu Bentinho, então Machado de Assis é José de Alencar.”

Dalton Trevisan

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Foi no interior paulista, na cidade de Taquaritinga, que Kambé iniciou a sua trajetória ao mergulhar no universo das cores durante um curso de pintura decorativa. Anos depois, participou da redação de uma série de jornais de movimentos contra a ditadura e ainda foi ilustrador da Folha de São Paulo. A pluralidade dos trabalhos de Kambé mantém até hoje um tom crítico e altamente recomendável para compreender a sociedade a partir da arte.

por Lucas Cabaña

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A ARTE DE KAMBÉ Antônio Cláudio Marcelino dos Santos é pintor, ilustrador, artista e não gosta do termo artista plástico. E para bom entendedor meia palavra basta.

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Conceitos e artimanhas ou patrulha ideológica, como ele mesmo diz, impedem o avanço da reflexão sobre o atual cenário sociopolítico. Inconformado com o que chama de “a miséria da mídia”, o artista procurou O Rato e propôs o lançamento da campanha Não Voto Obrigado. A ideia foi prontamente assimilada e veiculada em nosso site, poucos dias antes das eleições para prefeito. E o resultado artístico dessa indignação volta agora na revista impressa, como forma de estender e estimular essa reflexão. Afinal, o resultado das eleições, independente da facção política que tenha assumido o poder, marca apenas o começo de mais uma temporada de embates, lutas e confrontos entre as forças que se antagonizam na nossa cambaleante democracia - e nada como um artista multifacetado para traduzir este momento efêmero e sufocante. Dá-lhe, Kambé!

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SIBA

Foi lá nos primórdios da década de 1990 que o recifense Sérgio Veloso, o Siba, iniciou o seu trabalho nas ondas do Manguebeat com o multifacetado Mestre Ambrósio. Todo esse balacobaco carimbado e de imensa representação no cenário da musica nacional e na gringa ecoam até hoje e com a mesma intensidade depois de 20 anos. De lá pra cá, Siba passou por alguns grupos, foi para o exterior e atualmente está em divulgação do seu novo trabalho: Avante. O nome do disco fala por si só sobre a palavra-chave de impulso da vida do cantor. Por Lucas Cabaña Fotos: Talita Miranda

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“Acho que o instrumento é só o que a palavra diz, é uma ferramenta (...). Não tenho muito a relação de necessariamente ter a fidelidade ao instrumento em si (...)”, Siba.

O Rato: Eu estava lendo algumas coisas sobre você para a gente poder bater esse papo, e de todos os elementos que estão à sua volta, principalmente os sonoros, e também em relação as pessoas, ritmos, gêneros e o próprio ambiente teu, isso se reflete diretamente na sua música. Estou certo ou estou errado?

Siba: Rapaz, acho que isso é com todo mundo, né?! Eu tento refletir minha vida. Que o meu trabalho tenha conexão com quem sou, e que acompanhe as mudanças que a vida vai me propondo a fazer e o que eu quero fazer dela. Então, acredito nessa relação do artista, com o que ele faz e o que ele é. É alguma coisa que eu persigo. Não me sinto muito preso a um modelo específico de qualquer coisa que eu já tenha feito. Porque, sempre que me canso de mim mesmo, vou e invento outra. E isso também

vai refletindo os meus momentos de vida e claro, as pessoas que estão ao meu redor, o público, o lugar onde estou. Isso tem muita relação com o que sai enquanto resultado.

R: De que forma Pernambuco, os ritmos de lá influenciam no teu trabalho no momento de compor?

S: É minha base, é o lugar de onde eu venho, é o lugar onde eu virei a pessoa principal que eu sou e ao mesmo tempo eu construí todo um trabalho dialogando com esta questão da identidade local. Um momento onde tudo que representava essa identidade tinha uma grande carga pejorativa. Então, naquele momento era uma ação muito afirmativa em torno dessas questões de identidade e tudo isso foi me formando quanto artista e ao mesmo tempo tudo isso tem haver com a minha relação com o maracatu de baque solto, minha principal fonte de energias, de ideias, e que é uma coisa que continua. Mesmo eu não estando tão ligado no processo criativo em si ao maracatu, propriamente dito, mas como toda essa coisa esta muito junta, então não tem como eu sair disso, mesmo quando não aparece tanto, está muito ali, das coisas que aprendi nesse processo de lidar com a coisa da identidade local.

“Não me sinto muito preso a um modelo específico de qualquer coisa que eu já tenha feito. Porque, sempre que me canso de mim mesmo, vou e invento outra.”

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R: Em qual momento a rabeca se incorpora ao teu trabalho musical?

S: A rabeca ela teve muita importância no começo, com o Mestre Ambrósio, principalmente no começo dos anos 1990. Foi o instrumento que eu usei naquela época mais intensamente e a guitarra secundariamente. Depois, com a Fuloresta, o instrumento era a própria banda, uma orquestra com percussão e cantores. Eu foquei no instrumento e me deixei tocar e ter o transporte da poesia como a música. Agora é o momento que estou retomando uma coisa que, mesmo que tenha a letra como elemento central, a música esta sendo um instrumento importante também. E a construção musical está muito comigo. Eu vou tocar a guitarra, e ela agora é o instrumento central nesse momento do meu trabalho, no meu processo criativo. Mas acho que o instrumento é só o que a palavra diz, é uma ferramenta, um instrumento mesmo. Não tenho muito a relação de necessariamente ter a fidelidade ao instrumento em si, então, para mim, os instrumentos trazem uma carga de significado da cultura de onde vêm os valores que estão ali ao redor. Você tem que reforçar e questionar o quanto você

usa. O instrumento é uma ferramenta, hoje ele é um, amanhã ele pode ser outro. Só não garanto que eu vá aprender piano nessas alturas, mas pode ser que outras coisas por aí venham.

R: Das pessoas que trabalham contigo, na hora em que você vai montar um disco, existe um processo que antecede uma concepção ou ele vai ganhando forma aos poucos?

S: Varia. Eu sempre trabalho muito em função das pessoas que eu fui escolhendo ao redor de mim. Esse disco foi diferente. Fui fazendo o disco, me obrigando a usar uma formação muito reduzida e as pessoas que foram se estabilizando foram dando toda a importância da função delas ali. Então, foi meio que junto, o disco foi se fazendo na gravação e eu fui descobrindo o caminho dele. Mas ao mesmo tempo tentando limitar muito para um processo simples e descobrindo ele. Então cada pessoa que está comigo aqui, nesse momento da minha vida, é bem único e faz toda a diferença. Não são músicos contratados que mandam um substituto na outra noite. A equipe é essa. Mesmo que mude em breve, ainda assim é uma equipe fechada.

Lançado em janeiro de 2012, Avante traz composições que mostram o lado mais pessoal do artista.

O Rato indica a música Canoa Furada, faixa 6 do disco.

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R: Desse projeto o Radar, como você entrou em contato com todo esse pessoal que esta trabalhando nessa turnê? Porque hoje em dia, eu percebo que há muitos editais que possibilitam novos músicos a entrarem no cenário nacional, porque você já tem de certa forma a sua carreira consolidada. Como é que você lida com esses editais? Até mesmo esse projeto o Radar?

S: Essa coisa do edital e do dinheiro público tem um resultado contraditório eu acho, sabe? Porque ao mesmo tempo em que possibilita momentos como esse na diversidade de produção do país, onde ele passa por uma cidade como Curitiba que é importante pelo que ela representa e também para a classe musical. Então acho que o dinheiro público ele deve sim proporcionar esse tipo de momento. Mas ao mesmo tempo, tem uma contradição porque, proporcionando isso, deixa de acontecer coisas que a própria classe artística e as pessoas poderiam estar tendo a iniciativa de saber. Eu não tenho resposta pra isso não, acho muito complexo. Porque, como eu venho de um momento com pouco acesso a isso e tenho uma tendência a achar que isso é um momento positivo onde as coisas podem

acontecer com mais facilidade, que as pessoas estão começando agora a ter mais chances e esperanças. Para não necessariamente começarem em um lugar tão negativo de quando eu comecei. Mas, temos que tomar cuidado, saber lidar com isso, porque também é política e não é um fomento gratuito. Tem um preço que a gente paga ao receber e a usufruir. A gente tem que ficar discutindo isso, ficar muito atento para, no mínimo, saber o que quer.

R: E me diz uma coisa, como é que tu sai do calor, vem pra cá em plena primavera e pega esse frio, de que forma tu dribla essa transição de clima até a hora da apresentação. Comé’ que tu faz?

S: A gente já vive assim, né? Vive na estrada. Eu na verdade vim do Recife que estava muito fresquinho, passei por São Paulo que estava um gelo. Então deu uma amaciada no couro, mas a garganta está sentindo, a gente tem que escapar e ser nômade. Tem que estar onde deve estar, é assim mesmo, é normal.

No canal #revistaorato do Soundcloud você confere o áudio da entrevista na íntegra

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ENTREVISTA DO ALÉM

CartolaNossa entrevista extra-corpórea da vez é com o decantado Cartola, mestre indiscutível do autêntico samba de morro. À sombra de uma mangueira em flor, o Rato parou pra fumar um cigarrinho, e na fumaça que subia feito um balão de São João dava pra ouvir a voz do malandro, meio que sussurrando, meio assoviando:

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O Rato: Seu Agenor, dizem que Dona Zica ficou uma fera com o senhor por causa de certa cabrocha da Mangueira, o senhor confirma?

Cartola: Minha? Quem disse que ela foi minha? Se fosse seria a rainha.

O Rato: Negar sempre, até a morte, certo? Entendo perfeitamente… mas diz uma coisa: é verdade que o senhor era servente de pedreiro e foi por causa do chapéu-côco que usava pra se proteger que ganhou o apelido de Cartola?

Cartola: Se o operário soubesse reconhecer o valor que tem seu dia, por certo que valeria duas vezes mais o seu salário.

O Rato: Mas e esse negócio de que malandro que é malandro não trabalha?! Assim o senhor até parece um sindicalista…

Cartola: Sou maravilhoso vagabundo, pois acordo pro mundo sem som de clarim.

O Rato: Aí é bonito. Agora conta direito essa história de que o senhor vendia seus sambas por uma ninharia e passou necessidade a vida inteira, só chegando a gravar seu primeiro disco aos 66 anos!

Cartola: Passei fome e sede vendo água, arroz e feijão.

O Rato: E aí o Stanislaw Ponte Preta resgatou o senhor, já idoso, quando o reconheceu lavando carros na rua?

Cartola: Trabalho feito por minha mão, só encontrei exploração em todo lugar.

O Rato: Que pedreira, mestre. Não era fácil ganhar dinheiro com samba no seu tempo, fala aí pra nós.

Cartola: Fiz um samba lindo, botei no concurso, fui

desclassificado por unanimidade. Disseram que os versos eram de pé quebrado.

O Rato: Bom, nem tudo era tristeza, né? Ao que consta o pessoal da Mangueira não economizava no goró… seu compadrismo com o Carlos era mesmo baseado na Cachaça?

Cartola: Ou você acaba com essa economia, ou então acaba-se nossa amizade.

O Rato: Calma lá, mestre. Não quis ofender…

Cartola: Nunca use a injúria como arma de defesa.

O Rato: Combinado, mas o que é que o senhor pretende fazer agora? Vamos tomar uma bera?

Cartola: A sorrir eu pretendo levar a vida, pois chorando eu vi a mocidade perdida.

O Rato: Antes, passamos ali no Bar do Magrão…

Cartola: Deixe-me ir, preciso andar. Vou por aí procurar, rir pra não chorar

“Nunca escrevo de dia porque é como ir pelado a um supermercado - todos podem te ver.”

Charles Bukowski

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O RATO NO SEBORato de sebo assumido que sou, aproveito meu horário de almoço pra fuçar nos sebos da cidade. Acabo sempre roendo um vinilzinho maneiro, um gibizão esperto, um livrito massa… Nessas minhas passadas, aproveito para trocar uma ideia com o dono do local.Por MacGregor Fotos: Isabela Fausto

Manja o Espaço Alternativo, do meu brodinho Werkley? Véi, lugar bão pra descolar um disco de vinil taí. Estive lá outro dia, entrevistando o camarada para estas mal traçadas, e adivinhem? Ele fala! Tímido, é verdade, mas não a ponto de se esconder atrás do balcão quando entra moça bonita.

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O Rato: Werkley, mano véi, como é que você caiu nessa vida sebosa, meu rapaz?

Werkley: Comecei em 89, aqui em Curitiba, com uma loja de discos de vinil, a Alternativa Records. Fui bem até a explosão do CD. Aí a indústria chegou impondo a novidade. “CD não risca, é eterno, muito melhor. Vinil já era”.

R: Quanto vinil barato comprei nessa época! As pessoas dispensavam, jogavam fora, vendiam verdadeiras preciosidades por uma ninharia. O CD é que era “chique no úrtimo”.

W: Uma ova. Além de pegar fungo, facilita a pirataria. E a qualidade sonora, que alardeavam ser de outro mundo, é bem abaixo do vinil.

R: E o que dizer daquelas caixinhas de plástico chinfrim, que vivem quebrando? Quem nunca viu a capa de um vinil do Yes, dos anos 70, não sabe o que é um projeto gráfico que beira a obra de arte, dizaí...

W: Olha o absurdo: naquela febre, a galera vinha com a coleção completa em vinil do Black Sabbath e trocava por um CD. Hoje é o contrário. O cara chega com uma pilha de CD e sai com um vinil…

R: É sério esse papo de que a moçadinha redescobriu a parada? O vinil tá em alta com os moleques mesmo ou ainda é coisa de velhaco feito nós?

W: Ôrra, meu. Chamou de velho? Me nego a responder!

R: Magoa não, véi. Desembucha logo.

W: Tem muito piá comprando vinil clássico: Mutantes, Beatles, Stones, Iron, Zeppelin, Kiss, AC… Mas, o velhacos, como você diz, continuam aí, firmes e fortes.

R: Roendo tudo! Tô sabendo. O que vende mais? É rock?

W: Vendo de tudo. Hoje tem público pra todos os gêneros. Às vezes eu pego um lote de discos de rock e vem uns sertanejos pelo meio. Eu penso: esses vão ficar mofando aí. Pois são os primeiros que vendem!

R: Cacildis! Dá-lhe Tonico e Tinoco! Agora contaí pra rapeize quanto custa um vinil aqui no Espaço Alternativo.

W: Tenho desde a trilha de novela, por R$ 1,00, até disco importado na faixa de R$ 100,00. E um monte de ofertas pelo meio.

R: Qual o vinil mais caro do recinto?

W: Tá ali na parede, ó. Aquele do Sergio Dias Baptista, ex-mutantes. Autografado pelo cara. Faço pra você por R$ 130,00.

R: Bela bolacha, sem dúvida, mas eu só compro disco barato, você sabe.

W: Sei. Você é desses que quando vem vender, quer cinquenta. Depois resolve comprar de novo o mesmo disco e oferece cincão…

R: Você me conhece. Agora chega de amenidades: qual desses discos você reservou pra me dar de presente?

W: Já que sou obrigado, vou te dar esse aqui, do Elton John.

R: Sir Elton?! Tá me estranhando, véi? Respeite os meus cabelos brancos!

W: Pára com isso, você gosta que eu sei…

R: Pior que eu ouvia Crocodile Rock bagarái quando tinha uns doze anos… mas aos treze eu descobri o Kiss e me regenerei, viu? Eu juro! Semana que vem eu volto pra roer essas ofertas de um real aí. Fui!

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II A PRÉZA

Em toda entrevista rola um pedágio. O entrevistado é coagido a doar gentilmente um vinil para o Rato resenhar aqui no Preto Com Buraco No Meio. Meu destemido amigo Werkley, só pra me sacanear, me deu de presente o The Big Star, do Elton John(essa tem volta, Werkley. Aguarde). Bom, confesso que eu tava de olho era no The Doors, mas, vam’lá: este disco é uma coletânea recheada com algumas das baladas mais melosas e certeiras que Sir Elton lançou dos anos 80 pra cá. O cara realmente tem as manhas de compor um hit mega grudento. Aquele tipo de canção que basta ouvir uma vez pra sair assoviando, tá ligado? É a especialidade do mancebo. E nisso ele é magistral, temos que admitir. Praticamente todas as músicas do disco ainda tocam regularmente nas Easy FMs da vida. Quem nunca ouviu no motel: Blue Eyes, I Guess That’s Why They Call It The Blues, Sorry Seems to Be the Hardest Word, Empty Garden, Don’t Go Breaking My Heart, em dueto com Kiki Dee, e a minha preferida deste disco: Benny and The Jets, que passei a admirar depois de ouvir a versão personalíssima e cristalina, de rara beleza minimalista, perpetrada pelo tri-alternativo gaúcho Nei Lisboa em seu Hi-Fi. Mas, aí já é outro disco…

Serviço:

Sebo Espaço Alternativo Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 603 – São Francisco www.alternativo.estantevirtual.com.br [email protected] 41 – 3323.7603

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“Murder Ballads” dos pinheirais? Creo que no. Os piratas vem ao continente com seu segundo disco de inéditas. Se antes tínhamos a desilusão bêbada pelos 7 mares, hoje o terror tomou conta da tripulação. Cabeças vão rolar, maninho. Eles já soltaram algumas músicas na internet, e o show no Psicodália deste ano promete ser caótico e sanguinário. Confira a entrevista que fizemos com o capitão do navio na página 20.

O que me espanta no Dave Grohl é que o cara faz hoje exatamente o tipo de música que ele tirava sarro no início. As caídas harmônicas do Foo Fighters continuam as mesmas, e a produção é tipo um blockbuster hollywoodiano: baixo colado no bumbo, guitarra abafada no verso, paradinha no 3º refrão. E que porra de letras são essas?! Não faz qualquer diferença na realidade, já que esse wasting time é um enlatado com tiro certo.

Confraria da Costa, Canções de Assassinato

Foo Fighters, Wasting Light

VEM POR AÍ | CURITIBA | ROCK PIRATA

2011 | EUA | ROCK ALTERNATIVO

Cátia de França Os Galos

Tags: #cátia de frança, #palavras ao redor do sol, #zé ramalho, #1979

Rafael Castro e Os Monumentais Fobia aguda de pessoas que batucam mal

www.myspace.com/sabesp

6 minutos (Otto) Tão foda quanto pegar a gostosona da novela, deve ser perdê-la prum iate e uns dólares a mais. Otto ficou de cara e fez esta bela música. Nem todos curtem o sonho de uma casa pequena.

Música para seus ouvidos

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“Gosta de ter o dia livre / tudo que pinta satisfaz / dormiu com todos os amigos /sobreviveu a carnavais”. O grande lance desse disco é a faixa de trabalho, “Desinibida”. Até achei que tinha sido escrita pelo namoradão Rafael Castro, mas é da própria Tulipa com Tomás Cunha Ferreira, da banda portuguesa Os Quais. Entre tantas cantoras sem nada especial, Tulipa se destaca com seu estilo vocal entre o pop e a ópera, fazendo da sua voz um verdadeiro instrumento em suas músicas.

Você escuta e já dá aquela vontade de sair dançando passinhos marotos da Idade Média. As

músicas, que são releituras dos sons do século XX, ganham um toque especial com os arranjos

de instrumentos da banda - que não vemos com frequência nas calçadas curitibanas: clarineta,

sax, trompete, tuba e violino fazem o Klezmorim ter uma energia única e contagiante. Essa dá pra

tocar num festerê com os amigos!

Klezmorim, Klezmorim Tulipa Ruiz, Tudo tanto

2012 | SÃO PAULO | POP FLORESTAL 2011 | CURITIBA | KLEZMER

Fleet Foxes Mykonos

www.myspace.com/fleetfoxes

Sugarcubes Birthday

www.lastfm.com.br/music/The+Sugarcubes Joga no youtubiou!

Pro dia nascer feliz (Barão Vermelho)A maravilhosa estória de mandar todas a madrugada inteira, achar alguém, levar pra casa e, mesmo bebaco, tentar dar a segunda antes de o Sol nascer.

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Do you wanna? (Franz Ferdinand) Os caras do Franz Ferdinand estão decidindo se vão te dar a bunda ou não, afinal, o pincel do seu amigo artista eles já usaram, antes de você.

Jorge Mautner Quero ser Locomotiva

Tags: #jorge Mautner, #para iluminar a cidade

Metá Metá Obá Iná

http://soundcloud.com/metametaoficial

O Trem Fantasma voltou no tempo e encheu seus vagões de rifes e doideiras do tipo “Obscured by Clouds”. A atitude Pink Floydiana da banda, com viradas setentistas na batera e um órgão estouradaço, é a característica que a diferencia dos outros sons da cidade. “Oliver no Planeta do Sol” é uma boa pedida para embarcar nessa viagem. O Trem também tem um lado menos psicodélico e mais “pop”, com mensagens subliminares as “Capitus” curitibanas, mas sempre iluminado por embalantes solinhos de guitarra. Get on the board and have a nice trip!

Parece que os bons tempos voltaram! Neil Young e sua eterna banda de apoio Crazy Horse resolveram baixar o sarrafo geral. Ligue já praquele seu amigo que só anda de bike e prepare-se para muitas pedaladas lisérgicas ao som das faixas mais longas que você já ou(viu) na era do iPod. Todas têm mais de 16 minutos de puro desprezo pelas convenções do formato pop que tentam nos impingir por aí. Realmente, quando bate, parece um flashback (ou seria um déjà vu?).

EP Trem Fantasma

Neil Young, Psychedelic Pill

2010 | CURITIBA | ROCK

2012 | CANADÁ | FOLK ROCK

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Fãs nostálgicos do OK Computer ficaram tristinhos com esse disco. O FIM DA CANÇÃO, disseram outros, horrorizados. Conversa, preguiça, pança de mamute.. Radiohead é a única banda do planeta com o compromisso fiel de gravar apenas o que dá na veneta. Não precisam fazer mais uma música pro Carlinhos. Mais genial ainda foi o clip promocional de Lotus Flower com aquela dança irrepetível. Infelizmente, um tapa na cara do vazio, já que a grande maioria foi incapaz de rir da piada corretamente.

Esse também foi lançado faz tempo, mas parece que passou reto pelo gogó da gurizada. Discão.

Música de quem tem algo a dizer. O Mundo Livre clássico esta aí: balanço Jorge Ben, discurso

global e Fred O4 viciadão num delay. Destaque total para as faixas Cabôcocopyleft e A fumaça

do Pajé Miti Subitxxiii. A capa é bonitona e o disco inteiro vale a pena. Confira também o site

oficial da banda, onde encontramos uma piração mitológica que tenta fazer do disco um lance

conceitual.

Mundo Livre S/A, Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa

Radiohead, The King of Limbs

2011 | INGLATERRA | ROCK 2011 | RECIFE | MANGUEBEAT

Cansei de Ser Sexy I’ve Seen You Drunk

http://www.youtube.com/csstv

Muse Time Is Running Out

http://www.myspace.com/muse

Everybody’s got something to hide except for me and my monkey (Beatles)

John grita como um cavalo enquanto discorre minimamente sobre usar heroína. A instrumentação Beatles é primorosa, orquestrada para soar como o efeito da droga?

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A nossa pesquisa sobre identidade cultural e a musicalidade de Curitiba

Tiziu é uma personalidade respeitada no cenário musical curitibano. Não apenas por ser professor, músico, compositor, cantor e recentemente pai. Mas pela ampla sensibilidade que o artista mantém ao navegar por diversos estilos musicais sem perder a sua própria essência. Do rock aos elementos afros, a musicalidade de Tiziu é reconhecida no exterior, embora aqui na terra dos pinhões ainda permeie de forma sucinta. Mas ao completar a maioridade de sua carreira em 2012, o músico concedeu uma entrevista exclusiva ao Rato e relembra algumas das diversas histórias dos seus 18 anos de carreira.

por Jussara Nascimento e Lucas Cabaña fotos por Fotografia Orgânica - Juh Moraes e Viviane Rodrigues

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O Rato: Você trabalha com música em Curitiba há muitos anos, certo?

Tiziu: Há uns 18 anos mais ou menos, com música.

R: E durante essa trajetória você direcionou o seu trabalho em algum elemento específico da música?

T: Então, entrei na música brincando. Tinha uma banda de rock bem legal, a Equipe Espacial, um estilo de rock inglês. E no primeiro ano de faculdade de agronomia, em 1994, eu conheci o Gabriel Schwartz, ele era da minha sala, tocava flauta e fazia chorinho. E eu ficava de cara! Como é que toca isso?! E coisa e tal... Porque eu não sabia tocar e o meu negócio era guitarra. Ele chegou dizendo que era o violão de 7 cordas que comandava o chorinho. Aí, por ele fazer aula no Conservatório [de MPB], vim para o Conservatório pelo interesse em fazer choro. Foi aí que começou a minha vida.

Fiz o Conservatório, paralelo à faculdade, e nessa época comecei um grupo junto com o Daniel que é o Trio Quintina e até hoje estamos juntos. Chegou o momento em que a gente se olhou e perguntou: vamos viajar? Aí tranquei a faculdade e nós fomos nos aventurar pela América do Sul e Europa levando a música brasileira. A viagem nós fizemos ao todo em um ano e de forma mabembe, tocando na rua e viajando de carro. Eu tinha idade pra isso, hoje em dia com filho e tal eu não faria. Nesse período era eu e meu violão. Aí eu me apaixonei pela música brasileira, vi que era possível ser artista no Brasil. É difícil, mas é possível!

Daí passou essa fase de ser interprete, e é uma coisa que falo sempre aos meus alunos. Sou professor do Conservatório, e acho que existe uma diferença entre artista e músico. Você tocar o que já existe é muito bom para você aprimorar a sua técnica, conhecer a linguagem que esta sendo utilizada ali. Mas, o artista de verdade é o cara que quer pintar um quadro novo e não um quadro que já existe. E eu busquei isso na minha vida. Já tive momentos onde parei, olhei as coisas por cima e comecei a achar um caminho. E foi justamente essa junção da minha história com o choro, com a música instrumental, e uma linguagem e pesquisa dos elementos afros, que veio na minha vida depois a partir dos cultos.

Mas enfim, busquei esse caminho de fazer a instrumentação de choro regional, com bandolim, clarinete, violão e somar com a percussão africana. E eu estou muito feliz com o resultado.

R: Quando vocês voltaram para Curitiba depois de todas as experiências e formações que vocês tiveram nesse percurso, teve algum impacto que você sentiu em trabalhar em como você desenvolvia as suas atividades na cidade?

T: Cara, parei de me preocupar na verdade. Porque às vezes a gente fica aqui parado e reclamando e eu acho que quando você está há muito tempo no mesmo lugar, você começa a olhar para o chão. E quando você viaja você fica olhando pra cima, os detalhes, e eu voltei com essa inspiração. Buscar novas ideias. Curitiba é uma cidade legal, acho que ela tem tudo para ir pra frente como São Paulo e Rio.

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R: O que a mídia valorizou quando vocês voltaram, ao levar a música do Brasil, do Paraná, de Curitiba para o exterior. A mídia local valoriza?

T: A mídia, assim, são os mesmos contatos que a gente tem com o Trio Quintina, minha maior vivência com produção. A gente tem os contatos das rádios, apoio de algumas, volta e meia vamos para a TV, mas você pode ver que não é uma mídia que tem projeção nacional. É uma mídia local e que é angustiante. Saindo da mídia e indo para o circuito, você faz ideias novas, monta concerto, monta show, aí se apresenta no [Teatro] Paiol, no Guairinha e acaba se fechando o cerco, não sai muito disso. Eu sinto falta de uma produção em Curitiba. Inclusive,

eu acho que é um mercado onde quem souber fazer é promissor. Por exemplo, tú vai para São Paulo ou Rio, faz teu som, o cara gosta, sabe que o teu som é bom, te leva para a Europa e etc. Aqui, ou tu vai sozinho, ou na raça. É difícil. Poderia ser muito melhor.

R: E no meio disso tudo onde é que surge o teu disco, o Ectoplasma?

T: Ele foi bem nesse pulo, quando eu fiquei de saco cheio de ser interprete de música brasileira. Parei um pouco, dei uma respirada e vi que não estava feliz. Pensei em fazer uma banda de rock de novo, voltar para o passado... Mas, pensei que também não era o momento. Aí eu achei essa veia, e o engraçado é que parece ter sido uma coisa externa, porque eu já estava vivendo a umbanda e misturei com a minha vivência na música brasileira. E estou seguindo essa linha...

Foi então que surgiu a oportunidade de gravar no Paço [da Liberdade], o segundo disco. Eu mandei

o projeto e consegui! E fiz mais um disco nessa linha do afrochoro, inclusive o disco vai ser titulado Afrochoro. Nesse show misturei tudo e já está se criando essa linguagem e eu acho legal.

R: São os mesmos músicos que trabalham contigo nestes projetos?

T: Não, primeiro tive uma formação para gravar o Ectoplasma. Para o show houve outra formação e eu mantive esse formato. Os músicos precisam se virar e dão tiro de metralhadora para todos os lados. Eu já tive épocas assim, grava isso, aquilo e coisa e tal. Mas, consegui falar não para também investir no trabalho.

R: São coisas distintas o trabalho de criação do CD e do show. Você consegue levar as duas com a mesma linguagem e qualidade ou você tem uma exigência maior por um deles? Porque são linguagens completamente diferentes. No estúdio tem aquela coisa fria e no palco você não tem mais os aparatos. É você e o público.

T: Eu não separo muito devido ter essa formação acadêmica do Conservatório. Mesmo no show a gente liga o metrônomo, porque tú quer fazer a música direito e você se preocupa em deixar tudo lindo.

R: Vemos algumas coisas diferentes nos shows. Tanto nos gravados quanto em espetáculos. Algumas coisas mudam, acrescentam um pouco de brilho, né?

T: Sim, mas na verdade a gente deixa sempre aberto para as inspirações de momento e coisa assim. A música ao vivo ela acontece, deixamos acontecer. Tem coisas que saem do combinado e é legal acontecer.

“Você pode ver que não é uma mídia que tem projeção nacional. É uma mídia local e que é angustiante. Saindo da mídia e indo para o circuito, você faz ideias novas, monta concerto, monta show, aí se apresenta no [Teatro] Paiol, no Guairinha e acaba se fechando o cerco, não sai muito disso. Eu sinto falta de uma produção em Curitiba.” Tiziu sobre a valorização e falta de projeção dos artistas curitibanos.

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R: E acaba ficando bonito...

T: É! Como se fosse uma conversa, a gente se comunica sem falar, isso que é o legal da música.

R: Não tem como negar isso, às vezes você tem um parceiro que quando você olhou já sabe o que ele esta dizendo. No palco tem muito isso.

O que acho bacana é que no começo, às vezes, é difícil para o músico entender o que eu quero. Escrevo um arranjo da minha música aí chamo o cara para tocar, aí ele toca. Mas é diferente do que,

por exemplo, ele tocar uma, duas, três, um ano... Aí toca no segundo ano e começa a entender o que você quer. Na linguagem afro, por exemplo, um dos principais solistas do meu show é o Gabriel Castro, ele é argentino. Pô, o cara vem com a linguagem de tango e para ele era muito esquisito no começo. Agora, recentemente ele foi para a Bahia e hoje ensaiamos, pô... Outro som o do cara! Foi lá, ouviu um bando de batuque e voltou louco! Então, muitas vezes esse axé para entender a concepção da coisa é importante e tem um processo. Isso é vestir a camisa, na verdade. Tem que estar meio disposto.

R: Você está lançando três clipes neste ano, quais são?

T: Pois é, soltaram agora na internet. Tem um medley que são algumas músicas cantadas que fecham com o instrumental. Amor e Flor emenda em um canto para Iemanjá e depois fecha com uma música instrumental que é a Pemba. Aí, tem um outro vídeo que é de uma música chamada Sete Flechas, uma menção a uma entidade da umbanda, o Caboclo Sete Flechas. Depois um outro clipe é o Cobra Coral, uma outra menção a um Caboclo da linha de Xangô. Todo o disco é meio místico, eu busco esses elementos da umbanda e tal. Não falo em religião, mas falo de espírito.

R: Do Ectoplasma, tem alguma música que você fez em especial para alguém?

T: Tem várias! Uma que fiz para minha esposa, que é essa, Amor e Flor. O disco inteiro, na verdade, eu fiz em homenagem a minha Mãe de Santo, a Lucília. Ela é filha de Iemanjá. Então, tem uma faixa no disco que é o Canto para Iemanjá que fiz em homenagem à ela.

Entrevista exclusiva com Tziu + fotos + vídeos e links no site d’O Rato

“Mesmo no show a gente liga o metrônomo, porque tú quer fazer a música direito e se preocupa em deixar tudo lindo.”

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CIRCULAR – O FILME (2012)

GONZAGA – DE PAI PARA FILHO (2012)

CORAÇÃO VAGABUNDO (2008)

Cinco personagens com rotinas e objetivos distintos embarcam no Circular. O filme conta separadamente o dia anterior de cada um deles até o fatídico momento em que suas vidas se esbarram dentro do ônibus na manhã seguinte. Se você tiver paciência e quiser pegar o mesmo bonde, espere. Adianto que, pelo andar da carruagem, até a história se desenrolar, você ficará um tanto cansado. O longa-metragem não tem lá grandes sacadas no roteiro, mas é divertido ver Curitiba como o cenário da trama, coisa inédita e que vem aos poucos aparecendo por aí... Para uma primeira grande produção este é o caminho certo.

Do mesmo diretor de 2 Filhos de Francisco, Gonzaga é um filme que garante diversão. Tendo como pano de fundo a relação conflituosa

do músico com o seu filho Gonzaguinha, a biografia do Rei do Baião é contada com muito ritmo e desenvoltura. Mesmo nas

partes em que o diretor insere imagens reais da vida do músico pernambucano, não existe estranhamento por parte do público. A

escolha dos atores principais também se mostrou acertada. Ambos mostraram um carisma crescente ao longo do filme, cativando a

plateia a cada aparição.

O careta Caetano e sua opinião sobre tudo. Agora deu pra ser um velhinho lúcido, que faz duetos com Maria Gadú (vixe!). Junto à cenas cotidianas do baiano dando seus pitacos, conhecendo personalidades e tocando para brasucas nostálgicos em países distantes, o filme também flagra a derrocada do seu casamento com Paula Lavigne. Mais adiante, Caetano dá uma resposta elegante à Hermeto, que serve para nos lembrar de quem estamos falando: Caê não é careta. Ele é o oposto de qualquer submissão, de qualquer comodismo estético.

Papo de Cinema

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Já viu?! Ah, não?! Joga no youtubis! CARLA BRUNI - PÃO DE HAMBÚRGUER

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QUEM ME DERA – BANDA GENTILEZA

INDIGESTÃO DE UM DESERTOR – GIOVANNI CARUSO E O ESCAMBAU

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Acontece que numa dessas aventuras pelos encanamentos peguei o caminho errado e acertei no México! Até parecia que já me conheciam de outros becos. Logo de início, vi chegando aqueles Nachos SUPREME bem na minha direção. Farejei. Coisa boa! Nachos chips acompanhados de queijo cheddar, mozzarella, chili com carne, tomate, azeitonas pretas e cebolinha. Acrescentei a guacamole, prossegui com sour cream n’ salsa e: arriba! Tempero tranquilo e muito saboroso. Se você é dos que curtem sair baforando malaguetas por aí, as famosas pimentinhas Tabasco estarão na mão! Porque o negócio aqui é valorizar o tempero e levar a pimenta de uma maneira mais leve.

Adelante! Surpreendo-me com Margueritas Frozen de tequila sabor morango. Rapaz, sem palavras. Foi a minha primeira vez! Parecia até picolé de frutas alcoolizado. Isso no verão deve dar o que falar!

Mas, sabe como é. Rato gosta de voltar para casa bem alimentado. Encarei mais uma porção de Potato Skins e Quesadilhas de Frango. Se escolher as Potato’s peça também um acompanhamento. Já as Quesadilhas são bem recheadas e foi onde o rato ficou com o rei na barriga.

BUFUNFA:

Pra quem quer economizar, o pessoal da Soft Tacos está sempre lançando promoções via Facebook: http://www.facebook.com/softtacosbr

SERVIÇO:

SOFT TACOS Leve no tempero. Carregado no sabor.www.softtacos.com.br

E quem disse que rato não gosta de pimenta?! Ainda mais quando vem sob medida!

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Essas são algumas das belezuras que você também encontra em nosso site ...

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