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O RELATO INTEGRADO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA NO CONTEXTO DA ECONOMIA SOCIAL
Maria Brízida Faria de Sousa Tomé
Mestranda em Contabilidade e Finanças Instituto Politécnico do Porto/ISCAP
Deolinda Aparício Meira
Professora Adjunta Instituto Politécnico do Porto/ISCAP/CECEJ
Área Temática: H) Responsabilidade Social Corporativa
Palavras-Chave: Economia Social, Responsabilidade Social, Relato Integrado,
Interesse Geral, Associação Mutualista,Transparência.
81h
2
O RELATO INTEGRADO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA NO
CONTEXTO DA ECONOMIA SOCIAL
Resumo
Partindo da delimitação e princípios da Responsabilidade Social das Empresas (RSE),
constata-se que as entidades da economia social estão vinculadas a adotar
comportamentos socialmente responsáveis. O instrumento contabilístico adequado
para divulgar tais comportamentos é o relato integrado. Para o efeito, apontam-se os
indicadores que deverão constar do mesmo, de modo a que a informação divulgada
permita avaliar o nível de responsabilidade social da empresa. Constatou-se que as
Associações Mutualistas não elaboram relato integrado, nem sequer relatório de
sustentabilidade, contrariando a exigência de transparência reclamada pela Lei de
Bases da Economia Social.
Resumen
A partir de la definición y los principios de la Responsabilidad Social Corporativa
(RSC), parece ser que las entidades de economía social estánobligados a
adoptaruncomportamiento socialmente responsable. Elinstrumentocontableadecuado
para promover ese tipo de comportamientoses la presentación de informes integrados.
Para este propósito, se apuntanlos indicadores para que la información divulgada
permita evaluar el nivel de responsabilidad social de las empresas.Seconstactó que
las Mutuas no redactan informes integrados, incluso el informe de sostenibilidad, pese
a las exigencias de transparencia que exige la Ley de Economía Social.
Palabras-Clave: Economía Social, Responsabilidad Social, Informe Integrado, Interés
General, Mútuas, Transparencia.
3
INTRODUÇÃO
Tendo em conta que a Responsabilidade Social das Empresas (RSE)integra o código
genético das entidades da economia social, uma vez que estas prosseguem
simultaneamente objetivos nos domínios empresariais e sociais, numa ótica de
complementaridade (Meira, 2011 e 2012), esta comunicação pretende refletir sobre as
especificidades que o relato integrado das entidades da economia social deve
assumir, de forma a evidenciar que o seu comportamento é socialmente responsável.
Neste contexto, os regimes jurídico e contabilístico destas entidades terão por base
um paradigma social que está em consonância com os princípios fundamentais da
responsabilidade social da empresa, sendo notória a forte influência destes princípios
na Lei n.º 30/2013, de 8 de maio, denominada Lei de Bases da Economia Social
(LBES) - (Meira, 2013),no Decreto-Lei º 72/1990, de 3 de março, que institui o Código
das Associações Mutualistas (CAM) e ainda no Decreto-Lei nº 36-A/2011 de 9 de
março, que estabelece o Regime de Normalização Contabilística das ESNL (Entidades
do Setor Não Lucrativo), diplomasque servirãode enquadramento para o nosso estudo.
Nesta comunicação, começaremos por caracterizar o conceito de RSE, sobretudo a
partir de documentos emitidos pela UE (União Europeia),para depois nos centrarmos
nos princípios orientadores da Economia Social, enunciados na LBES, os quais devem
ser observados pelas Associações Mutualistas.
De seguida, centrar-nos-emos numa Associação Mutualista do setor da Saúde e Bem-
Estar, procurando aferir se a mesma elabora relato integrado, ou se a divulgação feita,
para além do relato financeiro, permite evidenciar de forma adequada que o seu
comportamento é socialmente responsável
Para o efeito, partimos de um conceito de relato integrado construído a partir de um
conjunto de indicadores que assentam nos princípios da RSE.
4
1. Conceito e princípios da RSE
O conceito da RSE foi definido pela Comissão das Comunidades Europeias em 2001,
no Livro Verde1 – Promover um quadro social europeu para a responsabilidade social
das empresas, reportando-se às “empresas que decidem, numa base voluntária,
contribuir para umasociedade mais justa e para um ambiente mais limpo”.(Comissão
das Comunidades Europeias, 2001-http://ec.europa-eu).
Os objetivos da RSE enquadram-se na política social traçada pela União Europeia
(UE), seguindo uma estratégia a favor do desenvolvimento sustentável, que abrange o
respeito pelos valores europeus, relativos a direitos humanos, a proteção ambiental,
redução de poluição e utilização racional de recursos naturais, inovação em matéria
social e ambiental, proteção do trabalho, aprendizagem contínua e empregabilidade
dos trabalhadores, inclusão dos grupos mais desfavorecidos no mercado de trabalho,
melhoria da saúde pública, entre os outros (Comissão Europeia, 2013- http://www.eur-
lex.europa.eu).
Este conceito de RSE tem vindo a consolidar-se ao longo dasúltimas décadas, pelo
que faremos uma análise de literatura que retrospetivamente nos detalhe a evoluçãoe
importância que a RSE tem vindo a assumir no domínio empresarial. Destacaremos as
principais teorias que defendem a sua inserção nas estratégias empresariais e as
consequentes alterações quanto ao conceito de empresa.
Passamos a enunciar, então,as principais teorias relativas ao conceito de RSE.
Começamos pela Teoria dos Shareholders (Friedman, 1970)que, partilhando do
princípio de Adam Smith da “mão invisível do mercado” numa perspetiva de
autorregulação, defende que a responsabilidade corporativa se deve circunscrever à
maximização do retorno acionista, devendo a gestão organizacional ter em conta
apenas a lei e os princípios éticos geralmente aceites.
Outra teoria de referência é a Teoria Institucional, que surge inicialmente em 1977
(Meyer & Rowan) e mais tarde, em 1983 (Dimaggio & Powell),a qual inclui no conceito
empresarial a cada vez maior necessidade de legitimação junto dos grupos de
interesses que interagem com a empresa, pretendendo aproximar-se dos mesmos,
através de estratégias mais ou menos miméticas, isomórficas, proactivas ou coercivas,
1Sucessivamentealterado por iniciativas posteriores.
5
queconfiraà empresa a necessária visibilidade e notoriedade.
Ateoria de Stakeholders (Freeman, 1984)tem em conta a existência de externalidades
em mercados competitivos que se mostram ineficientes, pelo que esta teoria alarga o
leque de objetivos empresariais, que passam acontemplar preocupações que
ultrapassam o lucro acionista, centradas em atitudes e comportamentostransparentes,
responsáveis e éticos junto de todos os stakeholders.
Tendo em conta estas teorias, poderemos defender que a prática da RSE que assume
como compromisso voluntário, que vai para além das convenções regulamentares e
coercivas, posicionando as empresas que a assumam num elevado patamar de
exigência de desenvolvimento social, proteção ambiental e defesa dos direitos
fundamentais, promovendo para o efeito estratégias de gestão que contemplem os
interesses de todas as partes, visando a qualidade e o desenvolvimento sustentável.
Acresce que na linha de pensamento deJamali &Mirshak (2006), que os objetivos e
posicionamentos da empresa perante a RSE podem ser de grande variabilidade.
Ainda a este propósito aponte-se estudos de Carroll (1979 e 1991), citados por Jamali
& Mirshak (2006), que propõem a subdivisão do modelo conceptual da RSE em quatro
níveis de atuação: o económico, o legal, o ético e o discricionário. Estes níveis de
atuação aparecem hierarquizados em pirâmide. Assim se a empresa pretende adotar
uma atitude de responsabilidade ética, tal significa que a empresa já assumiu as suas
responsabilidades ao nível da atuação económica e legal.Com esta classificação,
Carroll pretende evidenciar o posicionamento estratégico das organizações, face à
RSE, podendo este posicionamento ser reativo, defensivo, acomodatício ou proactivo.
Acrescente-se ainda que a RSE pode ser desenvolvida a vários níveis – interno,
externo ou ambos, conforme destacado por Melo Neto & Froes (1999).
Na mesma linha, Castelo-Branco (2006) apresentauma hierarquização das motivações
que levam as empresas a empreenderem ações de RSE, subdividindo-as em três
categorias: a perspetiva economicista, a conformista e a de aproximação positiva e
proactiva.
Tendo em conta todas estas teorias e estudos, consideramos que a orientação da
política de RSE de cada empresa dependerá dos seus objetivos estratégicos,
alinhados com a sua missão e os seus valores.
6
De facto, atendendo à multiplicidade de posicionamentos possíveis por parte de cada
empresa, em conformidade com a estratégia empresarial que a mesma tenha
delineado, os objetivos de RSE que a empresa em causa se proponha prosseguir
serão diferenciados: i) se a empresa se propuser obter maiores resultados a nível de
cultura organizacional, orientará a sua política de RSE mais para o ambiente interno;
ii) se a empresa se propuser obter maiores resultados ao nível de melhoria dos seus
valores intangíveis, como a reputação e a marca, orientará a sua política de RSE mais
para o ambiente externo.
Destaque-se, todavia, que o facto de a empresa procurar ser socialmente responsável
não significa que esta abandone o seu objetivo de obtenção de vantagens
competitivas. A RSE não é incompatível com a procura do lucro, que é o objetivo
último das empresas capitalistas.
Aliás, tem sido destacado que o envolvimento da empresa com a sociedade é um fator
valorizado e reconhecido por todos osStakeholders, podendo mostrar-se diferenciador
na análise da performance empresarial por parte daqueles, de forma positiva ou
negativa. Deste modo, ser socialmente responsável pode afetar a tomada de decisões
dos Stakeholders, condicionando, por sua vez, a obtençãodos resultados esperados
por parte da empresa.
Além disso, é reconhecida a capacidade de alavancagem da RSE. De facto, ao nível
interno, esta poderá traduzir-se numa maior motivação dos trabalhadores da empresa
envolvida e, consequentemente, numa melhoria de produtividade e cultura
organizacional no seu todo. Ao nível externo, a RSE contribuirá para o aumento do
prestígio, notoriedade e reputação da empresa,reforçandoestes bens intangíveis e
criando maior dificuldade de replicação dos mesmos. Ao mesmo tempo,a RSE confere
à empresa legitimidade e vantagem concorrencial.
Em suma, se,para além do lucro financeiro visado, as empresas optarem
paralelamente por uma atitude de compromisso social e comportamento ético nos
negócios, contribuindo para o desenvolvimento da Comunidade em que estão
inseridas, tal significa que as Empresas criam valor e promovem o Bem-Estar e o Bem
Comum, numa relação win-win. Esta é a perspetiva defendida por Kiran & Sharma
(2011).
Esta conceção da RSE não é, todavia, consensual, porquanto muitos autores
consideram que as empresas pretendem como fim último e exclusivo tirar partido da
sua participação social, maximizando resultados, pelo que a RSE não será genuína,
significando a adesão à mesma uma dissimulação hipócrita por parte da empresa.
(Clement, J-2005; Murray-2005 citados por Jamali & Mirshak, 2006).
7
Nesta nossa tentativa de delimitação do conceito de RSE, aponte-se,ainda,
aperspetiva economicista de Heal (2005), segundo a qual a política de RSE basear-se-
á na antecipação e minimização de conflitos entre as empresas e a sociedade,
prosseguida através do alinhamento de custos privados e sociais ou por uma
repartição dos mesmos. Esta gestão dos conflitos, via programas de RSE, poderá
revelar-se eficiente, com benefícios a vários níveis, destacando-se a minimização do
risco de negócio e do custo de capital, reforço de Brand Equity, promoção das
relações humanas e produtividade dos trabalhadores, redução de desperdícios e de
poluição e melhoria de relacionamento com reguladores.
Toda esta reflexão feita a partir da RSE é aplicável às entidades de economia social,
porquanto estas prosseguem simultaneamente objetivos nos domínios empresariais e
sociais, tendo incorporado no seu ADN os princípios fundamentais da RSE.
Efetivamente, estas entidades têm vindo a alargar e a desenvolver os seus grupos de
interesses, em que atualmente já incluem, para além dos seus beneficiários
(associados), os seus trabalhadores, fornecedores e organismos públicos, reforçando
a sua estratégia empresarial, cultura organizacional e comportamento ambiental,
melhorando a sua oferta de produtos e serviços, o seu relacionamento com a
Comunidade, gerindo melhor a captação e afetação de recursos, promovendo,
consequentemente, a sua sustentabilidade (Nicolau & Simaens - 2008).
2. ASSOCIAÇÕES MUTUALISTAS E A RSE
As Associações Mutualistas integram o setor da Economia Social[(al. b) do art.4º da
LBES)] .
O Código das Associações Mutualistas (CAM), no seu art.1º,define as Associações
Mutualistas como “instituições particulares de solidariedade social com um número
ilimitado de associados, capital indeterminado e duração indefinida que,
essencialmente através da quotização dos seus associados praticam, no interesse
destes e de suas famílias, fins de auxílio recíproco”, sendo consideradas como IPSS
(Instituições Particulares de Solidariedade Social) e, por isso,supletivamente regidas
pelo Estatuto das IPSS (DL Nº 119/83, de 25 de fevereiro).
8
Refira-se ainda que as Associações Mutualistas, registadas nos termos legais,
adquirem automaticamente a qualidade de pessoas coletivas de utilidade pública,
(art.16º do CAM)2.
As Associações Mutualistas têm como fim geral o auxílio recíproco, praticado no
interesse dos seus associados e de suas famílias (art.1º do CAM). A este acrescem
finalidades especiais, desde a “concessão de benefícios de segurança social e de
saúde” (nº1 do art.2º) e, cumulativamente, extensíveis a “outros fins de proteção social
e de promoção da qualidade de vida, sempre visando o desenvolvimento moral,
intelectual, cultural e físico dos seusbeneficiários” (nº2 do art.2º).Ainda como fins
específicos, é alargada a sua atividade ao âmbito da segurança social (prestações
várias de invalidez, velhice, sobrevivência e outras complementares de doença,
maternidade, desemprego, acidentes de trabalho ou doenças profissionais), conforme
o disposto no art.3, e ao âmbito da saúde (prestação de cuidados de medicina
preventiva, curativa e de reabilitação à assistência medicamentosa), definidos no
art.4º. Todas estas modalidades são, portanto, passíveis de seremdesenvolvidas pelas
Associações Mutualistas.
Enquanto entidadesque integram o setor de Economia Social, as Associações
Mutualistas desenvolvem atividades económico-sociais, que devem“prosseguir o
interesse geral da sociedade, quer diretamente, quer através da prossecução dos
interesses dos seus membros, utilizadores e beneficiários, quando socialmente
relevantes”, conforme o disposto no nº 2 do art.2º da LBES.
Esta associação feita pelo legislador, ligando o conceito de Economia Social à
prossecução do interesse geral, vincula de modo intrínseco as entidades da economia
social à adoção de comportamentos socialmente responsáveis.
Assim se compreende que um dos princípios orientadores da Economia Social seja o
do “primado da pessoa e dos objetivos sociais”, desde logo sobre o capital[(al.a) do
art.5.º da LBES)].
De tudo isto resulta que as Associações Mutualistas prosseguem simultaneamente
objetivos nos domínios empresariais e sociais, numa ótica de complementaridade.
2O Estatuto de Utilidade Pública foi aprovado pelo DL 460/77, de 07 de novembro, alterado e republicado pelo DL
391/2007, de 13 de dezembro, constituindo base de atribuição deste estatuto quer a associações ou fundações, a
pessoas coletivas privadas que prossigam fins de interesse geral, quer a pessoas coletivas de utilidade pública
administrativa.
9
Estamos perante entidades que se constituem sob a égide de um fim não lucrativo, o
que não significa ausência total de resultados (porquanto o seu desempenho e
continuidade requerem sustentabilidade), mas que a título principal visam a satisfação
das necessidades dos seus associados e,reflexamente, da comunidade em que a
entidade está inserida.
Tendo em conta o quadro legal das Associações Mutualistas, deverá defender-se que
existe um dever jurídico que recai sobre os órgãos dasAssociações Mutualistas, no
sentido de que, ainda que centrados na satisfação das necessidades dos seus
associados, deverão trabalhar para conseguir o desenvolvimento sustentável da sua
comunidade, segundo os critérios aprovados pelos associados em Assembleia Geral.
Acresce que o próprio objeto social das Associações Mutualistas reside, como vimos,
na satisfação de necessidades dos associados (tais como o acesso à saúde, a
regimes complementares de segurança social, entre outros), traduzindonecessidades
que não são adequadamente satisfeitas pelos operadores societários presentes no
mercado, o que evidencia a função social das Associações Mutualistas.
Esta função social está presente no próprio regime económico destas entidades,uma
vez que as mesmasnão dispõem de capital social, mas de fundos patrimoniais,
destinados a satisfazer os respetivos encargos, não havendo lugar à existência de
dividendos, já que os fundos são indivisíveis e não distribuíveis.
Nos termos do nº1 do art.52º do CAM é vedada a distribuição de excedentes (incluindo
os técnicos), ainda que seja permitido “reajustar os benefícios ou as quotas” (nº2 do
art.52º e art.53º do CAM), numa lógica conjugada de atividade social com equilíbrio
técnico e financeiro das modalidades (sustentabilidade).
Esta regulação normativa vem de encontroao princípio enunciadona al. g) do art.5º da
LBES, que limita a “afetação dos excedentes à prossecução dos fins das entidades da
economia social de acordo com o interesse geral”.
Assim, os órgãos responsáveis pela governação das Associações Mutualistas não
podem alhear-se da função social desempenhada por estas entidades.
Por isso,consideramos que tais órgãos terão o dever de integrar na respetiva atividade
os valores fundamentais da RSE (WCBSD, 2013; BCSD, 2013), adotando as melhores
práticas quanto à solidariedade, igualdade e não discriminação, coesão social, justiça
e equidade, transparência, responsabilidade individual e social partilhada, práticas
estas que são considerados princípios orientadores pela al. e) do art.5.º da LBES.
10
3. A RSE NO REGIME CONTABILÍSTICO DAS ASSOCIAÇÕES
MUTUALISTAS. ESPECIAL REFERÊNCIA AO RELATO INTEGRADO.
Do ponto de vista contabilístico, as Associações Mutualistas estão sujeitas ao Sistema
de Normalização Contabilística para as ESNL (SNC-ESNL)3.
O regime constante do SNC-ESNL só se aplica com carácter obrigatório para as
entidades com vendas e outros rendimentos superiores a 150.000€, em dois
exercícios consecutivos, sendo que senão se verificarem esses requisitos não se
aplicará o regime normativo. As entidades que não fiquem sujeitas a este regime de
normalização contabilística ou que a ele não anuam, ficam obrigadas à apresentação
de contas em regime de caixa.
Neste normativo contabilístico não encontramos, todavia,expressamente consagrado a
obrigatoriedade de elaboração de um relato integrado, nem sequer de um relatório de
sustentabilidade.
O legislador não teve portanto em conta as iniciativas que têm vindo a ser
desenvolvidas nas últimas décadas e queapontam para a adoção de relatórios de
sustentabilidade. De entre, destaque-se aGRI-Global Reporting Initiative, que em
colaboração com a United Nations Global Compact, a OCDE – Organization
forEconomic Co-operation and Development, a IFC – International Finance
Corporation, a ISO – International Organization for Standardization’s ISO 26000 e
SA8000, apresentam a estrutura internacional que promove o uso dos referidos
relatórios de sustentabilidade e do relato integrado [(International Integrated Reporting
Council (Conselho Internacional para relato integrado –IIRC)] como meios de tornar as
organizações mais sustentáveis e, consequentemente, como contributo para o
planeamento, gestão e controlo do desenvolvimento sustentável.
A visão definida pelo IIRC pressupõe um pensamento integrado, conducente à
alocação eficiente e produtiva de capital, funcionando como força motriz e conferindo
estabilidade financeira e sustentabilidade à prossecução dos objetivos de cada
3Aprovado pelo Decreto-Lei n 36-A/2011, de 9 de Março, entrado em vigor com caráter obrigatório em 1 de janeiro de
2012, logo, aplicável a entidades que desenvolvam atividades sociais.
O SNC-ESNL revoga os planos setoriais anteriores, que no caso das IPSS eram definidos pelo DL 78/89 e no caso das
Associações Mutualistas pelo DL 295/95.
11
organização, permitindo a divulgação da criação de valor, via relato integrado, de
forma clara, simultânea e não estática dos elementos. (Bakker, 2013),
Os princípios a seguir, sugeridos quer pela GRI como pelo IIRC, advogam um relato
que evidencie melhoria a nível de accountability e sustainalibilty.
É assim atribuída à estrutura internacional de relato integrado uma função orientadora
e definidora de princípios estruturantes que possam contribuir para impulsionar a
inovação do relato corporativo, traduzindo-se num aumento de eficiência do próprio
processo de relatar: - “as organizações deixarão de produzir comunicações
numerosas, desconexas e estáticas, baseando-se essencialmente no pensamento
integrado e na conetividade de informação”(IIRC, 2013).
Tais princípios estruturantes são suficientemente flexíveis para permitir a adequação
às diferentes realidades das organizações, garantindo, no entanto, a comparabilidade
necessária. Não são, por isso, impostos indicadores específicos de desempenho,
mensuração ou divulgação.
Na definição de relatório integrado apresentada pela IIRC, este passará a ser um
documento “conciso sobre como a estratégia, a governança, o desempenho e as
perspetivas de uma organização, no contexto de seu ambiente externo, levam à
geração de valor em curto, médio e longo prazo” (IIRC, 2013).
Os indicadores preconizados, quer pela GRI como pelo IIRC, visam abordar as
envolventes interna e externa de cada entidade, traçando princípios básicos que
abrangem a estratégia e perfil organizacional, liderança, ética, integridade e outros
aspetos materiais relevantes.
Embora estes elementos devam ser considerados na generalidade, deverá ainda
divulgar-seinformação noutras categorias de nível Económico, Social e Ambiental, que
por sua vez ainda possam dividir-se em subcategorias que se mostrem adequadas.Os
aspetos a relatar dependerão da adequação à estratégia e posicionamento de cada
entidade, mas de uma forma mais ou menos estandardizada poderemos sintetizar
como sendo os mais relevantes, os que constam da tabela abaixo, elaborada a partir
dos GuidelinesG4 da GRI (General Standard Disclosures and Aspects per sector):
12
Tabela 1 – Divulgação por parte das ESNL
Categoria Económica Ambiental Social Subcategorias Política/
condições Laborais
Direitos Humanos
Sociedade Produto Responsabilidade
Aspetos Performance Económica
Materiais Emprego Investimento Comunidade Local
H&S do Cliente
Presença Mercado
Energia Saúde ocupacional Segurança
Não-discriminação
Anticorrupção Normas Etiquetagem produtos
Impactos Económicos Indiretos
Água Formação Educação
Liberdade de Associação
Políticas Públicas
Comunicação Marketing
Práticas Procurement
Biodiversidade Diversidade igualdade
Trabalho infantil
Normas Boa Concorrência
Privacidade do Cliente
Alocação Recursos
Emissões Política remuneratória
Práticas de Segurança
Conformidade Conformidade
Investimento socialmente responsável
Produtos Serviços
Seleção de fornecedores por política laboral
Direitos Humanos – Fornecedores
Assessoria a fornecedores-impactos sociais
Afetação Stakeholders - relacionamento
Angariação Fundos ética
Atendimento Cliente
Mecanismos reclamação
Mecanismos reclamação
Mecanismos reclamação
Reclamações e ações
Igualdade de género -diversidade
Consciencialização - Defesa dos interesses públicos
Coordenação
Fonte: Elaboração própria baseado em GRI (2014)
Assim, destaca-se neste sentido a proposta deManuel Castelo-Branco (2006), quanto
à necessária criação de indicadores adequados às várias categorias de ações
prosseguidas, visando o seu planeamento, controlo e divulgação. A classificação
destas categorias poderá ser subdividida quanto ao seu âmbito de atuação, desde os
recursos humanos, ao meio ambiental, produtos e consumidores e, ainda, de
envolvimento com a comunidade, além da ótica económica.
Contudo, é de salientar a dificuldade de definição destes indicadores, sobretudo
atendendo à diversidade de ações e práticas possíveis, acrescida da difícil
mensurabilidade de algumas dessas categorias ou subcategorias.
Neste contexto, refira-se ainda que segundo Socias & Horrach (2013), haverá
parâmetros cuja valorização de mercado será imediata, outros suscetíveis de
valorização monetária ou mesmo de difícil valorização. Estes indicadores poderão ser
avaliados através do impacto quer a nível económico (ex. excedentes e sua aplicação;
valor acrescentado ou geração futura de riqueza, num dégradé de valorização
respetiva de: possível, suscetível ou difícil), quer através dos impactos sociais (ex.
vendas/serviços e gastos de formação; criação/estabilidade/produtividade no emprego;
13
satisfação ou cooperação externa e melhoria da qualidade de vida dos beneficiários,
numa idêntica classificação de: possível, suscetível ou difícil, respetivamente).
Muitos destes elementossão já relatados por algumas entidades de economia social,
mas outros, até agora não contemplados, são vivamente recomendados pela GRI
como parâmetros a incluir nos relatórios de sustentabilidade daquelas entidades. A
propósito destes relatórios de sustentabilidade, cumpre destacar o seu desfasamento
temporal relativamente aos relatórios financeiros, o que implica perda de dinamismo e
dificuldades na obtenção de uma informação completa quanto à atuação da entidade
nos vários domínios.O relato integrado surge como a resposta a estas fragilidades do
relato de sustentabilidade, dado que integra o relatório financeiro e o de
sustentabilidade, evitando esses desfasamentos temporais na informação prestada.
A obrigatoriedade do relato integrado nas Associações Mutualistas e demais entidades
da Economia Social reveste-se de importância extrema, quer para os membros ou
beneficiários, quer para os terceiros que operam com a entidade, quer para as
entidades públicas. Para estas últimas, o relato integrado permitirá um controlo
externo mais eficaz das mesmas. De facto, por força do art.80º da Constituição da
República Portuguesa, que consagra o Princípio da proteção do setor cooperativo e
sociale dosart.s10.º e 11.º da LBES, que consagram a obrigatoriedade do fomento das
entidades da economia social por parte dos poderes públicos, estas entidades
beneficiam de uma discriminação positiva relativamente às outras entidades privadas
que operam no mercado, a qual se traduz na atribuição de benefícios fiscais, de
condições mais favoráveis no acesso ao crédito e outras medidas materiais que
permitam o seu desenvolvimento (Meira, 2013). Este tratamento diferenciado, em
sentido mais favorável, que se fundamenta no facto de estas entidades prosseguirem
objetivos de interesse geral, acentua a necessidade de um controlo interno e,
sobretudo externo, eficaz e apropriado, o que implica a existência de instrumentos
contabilísticos que atestem essa mesma prossecução.
Além disso, as Associações Mutualistas,enquanto IPSS,estão sujeitas a inspeções por
parte do Ministério da Tutela, que visam, entre outras, a referida prossecuçãodo
interesse geral (o mesmo é dizer comportamento socialmente responsável), o que
reforça a necessidade de adoção de práticas de relato que forneçam tal informação.
Neste sentido, o relato integrado surge como o instrumento contabilístico mais
adequado para assegurar a necessária transparência da atuação destas entidades.
Neste contexto, apresentamos uma proposta de Indicadores a serem adotados no
relato integrado (Tabelas 2, 3, 4, 5 e 6).
14
As tabelas que se seguem categorizam um elenco de vertentes em que podemos
analisar o comportamento socialmente responsável das entidades de economia social,
agrupadas em 5 categorias: Recursos Humanos (Tabela 2); Produtos/Serviços (Tabela
3); Sustentabilidade (Captação e Afetação de Recursos- (Tabela 4); Relacionamento
com a Comunidade (Tabela 5) e Comportamento Ambiental (Tabela 6).
Pretendemos estabelecer a correlação entre relato prestado em cada uma destas
categorias com os princípios Mutualistas, de solidariedade, igualdade, coesão social e
funcionamento em rede, por forma a aferirmos se a Associação Mutualista evidencia
(ou não) o seu comportamento socialmente responsável. Para o efeito, ordenámos os
indicadores propostos dentro de cada categoria, pela sua relação com cada princípio
enunciado.
Tabela 2 – Indicadores sobre o comportamento socialmente responsável das EES.
Categoria: RECURSOS HUMANOS
PRINCÍPIOS
Solidariedade Igualdade Coesão Social Funcionamento em
Rede
Criação de emprego
Emprego minorias
Nº Trabalhadores
Igualdade de género sexo feminino / masculino
Política remuneratória
Remunerações atribuídas
Formação / educação
Desenvolvimento de projetos, partilha e otimização de recursos em articulação com entidades da ES
Elaboração própria
Como se pode verificar na Tabela 2, os indicadores propostos para esta categoria de Recursos Humanos estão relacionados individualmente com cada princípio Mutualista, sendo estas as sugestões seguidas na de análise de conteúdo prosseguida no estudo de caso.
Seguidamente, na Tabela 3, apresentam-se os indicadores propostos na ótica da categoria de Produtos e Serviços, seguindo a mesma lógica na análise de conteúdo subsequente:
Tabela 3 – Indicadores sobre o comportamento socialmente responsável das EES.
Categoria: PRODUTOS E SERVIÇOS
PRINCÍPIOS
Solidariedade Igualdade Coesão Social Funcionamento em
Rede
15
Auscultação das necessidades
comunidade/relação proximidade
Igualdade de tratamento (situações
matrimoniais/familiares/género/raça‐ Ex.
Requisito idade nas pensões; proteção
mulher na Maternidade)
Alargamento da oferta
Novos projetos/ serviços:
‐ Projetos de integração social
(exclusão/pobreza/disfunções familiares)
Não discriminação Inclusão Social
‐Programas de proteção social / Grupos Risco
(tradicionais e/ou novos)
Não discriminação
‐Programas de promoção de
Qualidade de Vida (Ex. regimes
complementares ao da Segurança
Social)
Não discriminação Alternativa aos regimes do Setor Público
Desenvolvimento de projetos, partilha e
otimização de recursos em
articulação com entidades da ES
Elaboração própria
Na mesma linha dos indicadores anteriores, e análise posterior, a proposta da Tabela 4 assenta na categoria de Sustentabilidade:
Tabela 4 – Indicadores sobre o comportamento socialmente responsável das EES.
Categoria: SUSTENTABILIDADE
PRINCÍPIOS
Solidariedade Igualdade Coesão Social Funcionamento em
Rede
Captação de recursos Estado
‐ Donativos Mercado
‐ Subsídios Outras Entidades
‐ Quotas
Afetação Recurso Estado
Reservas Outras Entidades Desenvolvimento de novos negócios sociais Outros apoios públicos
Elaboração própria
Relativamente à categoria de Relações com a Comunidade, apresentam-se as propostas de indicadores considerados adequados à análise a efetuar, conforme tabela 5:
Tabela 5 – Indicadores sobre o comportamento socialmente responsável das EES.
Categoria: RELAÇÕES COM A COMUNIDADE
PRINCÍPIOS
16
Solidariedade Igualdade Coesão Social Funcionamento em
Rede
Eventos (conferências, eventos desportivos, culturais, etc.)
Defesa do Utente (qualidade / segurança serviço ou produto)
Não deslocalização
Sinergias em Rede entre Entidades de ES
Elaboração própria
Por último, apresentamos na Tabela 6 os indicadores a considerar para aferição do comportamento socialmente responsável referentes às questões ambientais:
Tabela 6 – Indicadores sobre o comportamento socialmente responsável das EES.
Categoria: AMBIENTAL
PRINCÍPIOS
Solidariedade Igualdade Coesão Social Funcionamento em
Rede
Informação quanto a impactos ambientais sobre:
‐ Produtos
‐ Processos
‐ Eficiência
‐ Gastos Energéticos
Informação sobre práticas que traduzam consciencialização ecológica/ambiental
Desenvolvimento de projetos, partilha e otimização de recursos em articulação com entidades da ES
Elaboração própria
Com base nestas propostas, prosseguiremos na secção seguinte a um Estudo de Caso, com base numa Associação Mutualista da área da Saúde e Bem-Estar.
ESTUDO DE CASO
Como referido na Introdução, a metodologia seguida neste trabalho, baseado
previamente numa revisão de literatura, prossegue com um Estudo de caso, por
análise de conteúdos, que recai sobre uma Associação Mutualista do Setor da Saúde.
17
Selecionamos pois a da Liga dasAssociações de Socorro Mútuo de Vila Nova de
Gaia, já que cumpria com os requisitos de inserção no modelo que nos propomos
analisar.
A Liga das Associações de Socorro Mútuo de Vila Nova de Gaia (LASMVNG), foi
constituída em 1905.
Sediada na Rua Serafim Rodrigues da Rocha, 39, 4400-306 Vila Nova de Gaia.
Contactos: Tel: 223771015; Fax: 223771016; web-page:http://www.ligagaia.pt;e-mail:
Faturação 2013: 5,377.883,39 €
Nº Trabalhadores: 35
Agrega 3 Associações da mesma localidade, sendo a Associação Oliveirense de
Socorros Mútuos (de 1893), A Vilanovense - Associação Mutualista(desde 1882, com
50.000 associados) e o Montepio Vilanovense de Socorro Mútuo Costa Goodolphim
(de 1921), inicialmente constituídas para prestarem serviços complementares
diversos, como subsídios de funeral.
Esta instituição, de âmbito nacional, tem por objeto social o fornecimento de serviços
complementares de segurança social (complementos de subsídio de desemprego e de
reforma, poupanças reforma) e serviços de assistência médica e medicamentosa, que
são extensivos às suas associadas.
Estes serviços de Saúde e Bem-Estar centram-se atualmente na Farmácia da Liga, na
Clínica da Liga, com 25 especialidades clínicas, de enfermagem e de análises clínicas
e a Clínica de Estética, com oferta de medicinas complementares, terapias de
reabilitação, tratamentos de estética e acompanhamento farmacêutico, indo ao
encontro das necessidades auscultadas junto da Comunidade. Atualmente
desenvolvem uma participação de funcionamento em rede, com a Rede Mut e a
Mutuália, otimizando sinergias e alargamento de serviços complementares de saúde
domiciliária e de seguros, reforçando a oferta de benefícios dos seus associados.
Tendo em conta aproposta de Indicadores acima apresentada (Tabela 2, 3, 4, 5 e 6),
que se agrupam em 5 categorias: Recursos Humanos; Produtos/Serviços;
Sustentabilidade (Captação e Afetação de Recursos); Relacionamento com a
Comunidade e Comportamento Ambientalpretende-se aferir essencialmente a
performancede relato da LASMVNG, como se apresenta de seguida, na Tabela 7.
18
Esta tabela apresenta para além da relação anteriormente proposta (tabela 2) uma
reorganização também do foro dos 3 níveis de RSE normalmente avaliados
(Económico, Social e Ambiental) e detalha para cada item uma proposta de
quantificação / avaliação do indicador, de mensurabilidade variável (M+, M- ou M0).
Os resultados da análise do estudo de caso são vertidos nesta tabela, com a
classificação de s=sim, n=não e p=parcial, para posterior avaliação.
Tabela 7 – Indicadores propostos para divulgação de RSE em EES e respetiva classificação no estudo de caso. Categoria: RECURSOS HUMANOS
MENSURABILIDADE ESTUDO DE CASO
NÍV
EL
Princípios INDICADORES
M+ M- M0 LASMVNGS Criação de emprego Relação entre nº de
trabalhadores no Ano N e N-1 - - M0 n
S Nº Trabalhadores Nº Trabalhadores Ano N e N-1 - - M0 p
S Política remuneratória Salário médio / Divulgação -planos e ações próprias
M+ - M0 p
S Benefícios Sociais Volume total de prestações M+ - - n I Remunerações
atribuídas Remunerações gestores e órgãos sociais
M+ - - n
I Igualdade de género (feminino / masculino)
Política de inclusão e não discriminação laboral
- - M0 n
S Auscultação das necessidades dos trabalhadores
Divulgação de meios de comunicação utilizados
- - M0 n
S Política promocional %de promoções (com base no valor ou nº promoções)
M+ - M0 n
S Saúde e segurança Gastos em H&S / Trabalhadores incluídos
M+ - - n
CS Satisfação dos trabalhadores
Taxas absentismo / Produtividade
M+ - - n
CS Emprego minorias (risco exclusão)
%de trabalhadores no total do emprego criado
- - M0 n
S Formação / educação %de trabalhadores participantes em formação
- - M0 n
SO
CIA
L
FR Projetos conjuntos, otimização de recursos com outras entidades ES
Evidência de programas articulados (por ex.: IFEP ou outros organismos)
- - M0 n
Fontes: GRI (GR4); Moneva, Ortas & Acero (2013), Socias & Horrach (2013) – Elaboração própria
Tabela 8 – Indicadores propostos para divulgação de RSE em EES e respetiva classificação no estudo de caso. Categoria: Produtos e Serviços
19
S Auscultação das necessidades da comunidade /relação proximidade
Adequação/ação interna-avaliação e controlo
M+ - - s
S/CS Alargamento da oferta Novos produtos e/ou serviços - - M0 s
Novos projetos/serviços:
S/CS - Integração social (exclusão/pobreza)
Qualificação e quantificação de produtos/serviços
M+ - - s
S/CS - Proteção social / Grupos de Risco
Qualificação e quantificação de produtos/serviços sociais
M+ - - n
S/CS - Programas de promoção de Qualidade de Vida
Alternativa aos regimes do Setor Público
M+ - - s
I Não discriminação Evidenciação - - M0 n
S Política de Qualidade Avaliação da satisfação dos Utentes/adequação organizacional
M+ - - s
SO
CIA
L
FR Projetos conjuntos, otimização de recursos com outras entidades ES
Divulgar, qualificar e se possível quantificar
M+ - - s
Fontes: como referido na tabela 7– Elaboração própria
Tabela 9 – Indicadores propostos para divulgação de RSE em EES e respetiva classificação no estudo de caso. Categoria: Sustentabilidade
S/CS Captação de Recursos Rácio entre recursos reais e
recursos previstos (Eficiência) M+ - - n
S/CS Donativos (Estado/mercado/setor privado)
Relação entre proveniência dos recursos
M+ - - n
S/CS Subsídios (Estado/mercado/setor privado)
Rácio entre recursos públicos e privados
M+ - - n
S/CS Quotas Evolução das quotizações M+ - - s
S/CS Provenientes de atividade comercial
Evolução das vendas produtos / serviços
M+ - - s
S/CS Afetação Recursos Rácio entre custos totais e custos previstos (Eficiência)
M+ - - n
S Reservas Volume do reinvestimento e sua proporção nos benefícios gerados
M+ - - p
EC
ON
ÓM
ICO
S/CS Desenvolvimento de novos negócios sociais
Investimento responsável / Total de Investimento
M+ - - p
Fontes: como referido na tabela 7 – Elaboração própria
Tabela 10 – Indicadores propostos para divulgação de RSE em EES e respetiva classificação no estudo de caso. Categoria: Relacionamento com a Comunidade
20
S Eventos (conferências, eventos desportivos, culturais, etc.)
Workshops,ações de formação, Conferências realizadas na Comunidade
M+ - - s
S Defesa do Utente (qualidade / segurança serviço ou produto)
Implementação de Sistemas de qualidade, de Responsabilidade Social
M+ - - s
S/CS Não deslocalização
Manutenção e reforço de proximidade
- - M0 s
CS Participação em ações sociais
Impacto na política organizacional, implementação, controlo
- M- - n
CS Relação com concorrentes
Normas de boa conduta - - - n
CS Compras a Fornecedores locais
Contribuição de desenvolvimento local
- M0 n
SO
CIA
L
FR Sinergias em Rede entre Entidades de ES
Divulgar, qualificar e se possível quantificar
M+ - - s
Fontes: como referido na tabela 7 – Elaboração própria
Tabela 11 – Indicadores propostos para divulgação de RSE em EES e respetiva classificação no estudo de caso. Categoria: AMBIENTAIS
Informação quanto a impactos ambientais sobre:
S - Produtos - - M0 p
S - Processos
Divulgação de especificidades com impacto ambiental
- - - p
S - Eficiência - M- - n
S - Gastos Energéticos
Implementação de medidas de controlo de consumo(s)
- M- - n
S/CS Seleção de Fornecedores
Evidenciar critérios ambientais na seleção de Fornecedores
- - M0 n
S/CS Informação sobre práticas que traduzam consciencialização ecológica/ambiental
Adesão a políticas ambientais (Ex. SA8000; ISO26000; ISO14000; ISO9001)
M+ - M0 s
M+ - - n
AM
BIE
NT
AL
FR Projetos conjuntos, otimização de recursos com outras entidades ES
Investimentos ambientais
- -
Fontes: como referido na tabela 7 – Elaboração própria
Esta Associação (LASMVNG) não elabora relato integrado, nem sequer de
sustentabilidade, que no caso português é comum a todas as Associações do setor
Mutualista. Efetivamente, não encontrámos nenhuma entidade, nem mesmo de maior
dimensão como as da área Financeira, que tenha elaborado o Relatório de
Sustentabilidade, contrariamente à tendência manifestada noutros países, como
Espanha, tal como é evidenciado por Moneva, Ortas & Acero (2013).
21
Em resultado da análise dos relatórios de contas da LASMVNG (2011, 2012, 2013),
que tem por base contabilística o SNC-ESNL (desde 2011), bem como os planos de
ação e orçamentos anuais de 2012, 2013 e 2014, encontrámos evidência de que a
instituição reporta inúmeros dados além dos financeiros exigidos e, embora não tenha
adotado ainda relatório de sustentabilidade (nem relato integrado), presta de facto um
conjunto relevante de informações sobre a sua gestão e perfil organizacional, objetivos
estratégicos e políticas diversas. Desta informação resulta a preocupação da entidade
com o desenvolvimento do Mutualismo e dos seus princípios, nas envolventes interna
e externa.
22
Da análise efetuada sobre a performance da Associação, extrapolámos os resultados
que evidenciamos de seguida, nas tabelas 12, 13, 14, 15 e 16, fazendo refletir os
mesmos desta vez por cada Princípio Mutualista sob o qual pretendemos apurar o a
evidência de divulgação e o seu impacto sobre a perceção de comportamento
socialmente responsável por parte desta Entidade de Economia Social.
Tabela 12 – Resultados do Indicador de Solidariedade
Categoria Solidariedade(17 indicadores)
Divulgação sim não parcial total Recursos Humanos 6 75% 2 25% 8 47% Produtos e Serviços 2 100% 2 12% Sustentabilidade 1 100% 1 6% Relações c/Comunidade 2 100% 2 12% Ambientais 4 100% 4 24%
4 23,5% 10 58,8% 3 17,6% 17 100% Elaboração própria
Como se pode verificar na Tabela 12 predomina onão com 58,8%.Porém quanto aos
Produtos e Serviços e Relações com a Comunidade verificou-se a totalidade do sim,
embora o peso relativo correspondente seja de apenas 24%, atendendo à relação por
categoria, em que os Produtos e Serviços representam 12% e as Relações com a
Comunidade 12%, no total dos17 indicadores.
Tabela 13 – Resultados do Indicador de Igualdade
Categoria Igualdade(3 indicadores)
Divulgação sim não parcial total Recursos Humanos 2 100% 2 67% Produtos e Serviços 1 100% 1 33% Sustentabilidade Relações c/Comunidade Ambientais 3 100% 3 100%
Elaboração própria
23
A Tabela 13 mostra que relativamente ao indicador de igualdade as respostas foram
todas não, mantendo-se o peso relativo nos Recursos Humanos de 67% e nos
Produtos e Serviços de 33%.
Tabela 14 – Resultados do Indicador de Coesão Social
Categoria Coesão Social (5 indicadores)
Divulgação sim não parcial total Recursos Humanos 2 100% 2 40% Produtos e Serviços Sustentabilidade Relações c/Comunidade 3 100% 3 60% Ambientais 5 100% 5 100%
Elaboração própria
Na Tabela 14 pode-se verificar que a coesão social, com 5 indicadores propostos,
apresenta todas as respostas não, fazendo corresponder as percentagens totais
aoscorrespondentes seus pesos relativos, por categoria, situados para os Recursos
Humanos nos 40% e para as Relações com a Comunidade nos 60%.
Tabela 15 – Resultados do Indicador de Solidariedade e Coesão Social
Categoria Solidariedade e Coesão Social (14 ind.)
Divulgação sim não parcial total Recursos Humanos 0 Produtos e Serviços 3 75% 1 25% 4 29% Sustentabilidade 2 29% 4 57% 1 14% 7 50% Relações c/Comunidade 1 100% 1 7% Ambientais 1 50% 1 50% 2 14% 7 6 1 14 100%
Elaboração própria
24
A tabela 15 mostra que para a Solidariedade e Coesão Social predomina o sim, com
percentagens que variam entre os 75% para Produtos e Serviços, 100% para as
Relações com a Comunidade e 50% para a categoria Ambiental, pese embora que no
peso relativo de cada uma destas categorias, aquelas percentagens se situem em
23%, 8% e 15% respetivamente, já que os 57% de não na categoria de
Sustentabilidade (com um peso relativo de 54%), lhes reduz substancialmente a
expressão.
A seguir apresenta-se a Tabela 16 com a análise do indicador Funcionamento em
Rede.
Tabela 16 – Resultados do Indicador de Funcionamento em Rede
Categoria Funcionamento em Rede (4 indicadores)
Divulgação sim não parcial total Recursos Humanos 1 100% 1 25% Produtos e Serviços 1 100% 1 25% Sustentabilidade Relações c/Comunidade 1 100% 1 25% Ambientais 1 100% 1 25% 2 2 4 100%
Elaboração própria
Com a Tabela 16 pode-se constatar que o Funcionamento em rede, com 4 indicadores
verificados, apresenta informação quanto aos produtos e serviços de percentagem
total e peso relativo de 25% para todas as categorias, tendo sido no entanto 50% de
respostas não, quanto aos Recursos Humanos e às questões ambientais, e 50% de
respostas sim, no que respeita às categorias de Produtos e Serviços e Relações com
a Comunidade.
Em síntese, dos resultados acima enunciados podemos concluir que a LASMVNG
alcança níveis de divulgação positivos nos princípios mutualistas de Solidariedade e
Coesão Social, e de Funcionamento em Rede (total de 18 indicadores), sempre com
maior relevo nas categorias de Produtos e Serviços e de Relações com a
Comunidade.
25
Já no que respeita à Igualdade e Coesão Social(no total de 8 indicadores), os
resultados são nulos. No caso da Solidariedade (17 indicadores) voltam a sobressair
as mesmas categorias de Produtos e Serviços e de Relações com a Comunidade com
expressão positiva, contrariamente a parâmetros de Recursos Humanos,
Sustentabilidade e Ambientais (com expressão negativa).
26
CONCLUSÕES
Salientamos as seguintes conclusões:
1. A Economia Social, em cujo código genético se insere a RSE, não é alheia à
evolução que se verifica no próprio conceito de RSE, transportando as entidades de
economia social a uma maior exigência quanto à prossecução de uma gestão
estratégia mais abrangente, mais preocupada com as suas envolventes interna e
externa, a todos os níveis: Económico, Social e Ambiental. A definição e planificação
estratégica adequada às novas realidades, processos de implementação, ação e
controlo mais eficazes,bem com o reforço da governação, a ética e a integridade, farão
com que o objeto social que se propõem prosseguirseja atingido, gerando valor e
traduzindoo seu comportamento socialmente responsável,ao mesmo tempo que
lhesconferelegitimação e credibilidade.
2. As entidades de economia social devem evidenciar de forma transparente esse
mesmo comportamento responsável, tendo em conta o interesse geral visado com a
sua atuação.
3. Daí a exigência da divulgação da sua performance, em termos não apenas
financeiros (relatório financeiro), mas também em termos de sustentabilidade (relatório
de sustentabilidade ou relato integrado), o que se revela de extrema relevância para
todos os seusStakeholders.
4. Neste contexto, propomos a adoção, com caráter obrigatório, de um relatório
que integralmente possa cumprir com a necessidade de divulgação constatada através
do relato integrado. Desta forma, tornar-se-á a informação mais dinâmica, atual e
concisa, conferindo às entidades de economia social a transparência reclamada por
todos os grupos de interesses.
5. O estudo de caso permitiu-nos constatar haver ainda grande dificuldade a nível
da divulgação requerida, embora se tenha concluído que a Associação Mutualista em
análise tem preocupações de relato que vão muito além do exigido legalmente exigido.
6. Como principais limitações a este estudo salientamos a inexistência de
entidades de economia social que elaborem relatórios de sustentabilidade (menos
27
ainda de relato integrado),sendo de referir igualmente as dificuldades com que nos
deparámos para aceder às prestações de contas em geral, apesar dos contactos
diretos estabelecidos com inúmeras Associações Mutualistas.
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