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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
O “RUÍDO” COMO AGENTE NOCIVO CARACTERIZADOR DE ATIVIDADE ESPECIAL E SEUS REFLEXOS NA APOSENTADORIA
ESPECIAL NO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
DEYSE FERREIRA
Itajaí [SC], Outubro de 2007.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
O “RUÍDO” COMO AGENTE NOCIVO CARACTERIZADOR DE ATIVIDADE ESPECIAL E SEUS REFLEXOS NA APOSENTADORIA
ESPECIAL NO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
DEYSE FERREIRA
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor MSc. Rodrigo de Carvalho
Itajaí [SC], Outubro de 2007
AGRADECIMENTO
A Deus por tudo que existe na minha vida;
A minha família pelo incentivo constante para a conclusão da Faculdade de Direito.
Ao Prof. MSc. Rodrigo de Carvalho pela grande participação, orientação e concretização desta
monografia.
A meus mestres que tiveram a paciência de demonstrar a arte de ensinar. Em especial aos professores Prof. MSc. Antonio Augusto Lapa,
Prof. Dr. Rosni Ferreira e Prof. MSc. Rodrigo de Carvalho.
Ao Prof. e Coordenador do Curso de Direito e a todos que, de alguma forma colaboram nesta
caminhada;
A todos, muito obrigada!
DEDICATÓRIA
Ao meu PAI e a minha MÃE, pelo amor, compreensão, eternos professores;
A minha filha, Natália pelo amor, esperança e sucessão;
Ao Danilo, Ediene e Eduardo para sempre meus amores;
Agradeço a todos pelo carinho destinado, pelo incentivo pertinaz, pela compreensão da minha
ausência.
Tenho orgulho de tê-los na minha vida!
A vocês dedico esta vitória!
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí(SC), __/__/2007
Deyse Ferreira Graduanda
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Deyse Ferreira, sob o título O “ruído” como agente nocivo caracterizador de atividade especial e seus reflexos na aposentadoria especial no regime geral de previdência social, foi
submetida em 27/11/2007 à banca examinadora composta pelos seguintes
professores: MSc. Rodrigo de Carvalho (Orientador e Presidente da Banca), Esp.
Fernando Laélio Coelho (Membro) e Esp. Ana Selma Moreira (Membro) e
aprovada com a nota 9,5 (nove virgula cinco).
Itajaí(SC), __/__/2007
Prof. MSc. Rodrigo de Carvalho Orientador e Presidente da Banca
Prof. MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade
AGRESP Agravo Regimental em Recurso Especial
MAS Apelação em Mandado de Segurança
CLPS Consolidação das Leis da Previdência Social
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CNPS Conselho Nacional de Previdência Social
CNS Conselho Nacional de Saúde
COFINS Contribuição para o Financiamento de Seguridade Social
CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
EC Emenda Constitucional
EDRESP Embargos de Declaração em Recurso Especial
EPI Equipamentos de Proteção Individual
FUNDACENTRO Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
IN Instrução Normativa
INPS Instituto Nacional da Previdência Social
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
LBPS Plano de Benefícios da Previdência Social
LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social
LTCAT Laudo Técnico de Condições Ambientais
MP Medida Provisória
PIS Plano de Integração Social
PPP Perfil Profissiográfico Previdenciário
RBPS Regulamento dos Benefícios da Previdência Social
RE Recurso Especial
RESP Recurso Especial
RGPS Regime Geral da Previdência Social
RMI Renda Mensal Inicial
STF Supremo Tribunal Federal
SUS Sistema Único de Saúde
TFR Tribunal Federal de Recursos
CNIS Cadastro Nacional de Informações Sociais
DRU Desvinculação das Receitas da União
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias1 que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2.
Agentes Nocivos
Agentes físicos, químicos ou biológicos que em função da concentração,
intensidade e fator de exposição podem ocasionar danos à saúde ou à
integridade física do trabalhador.3
Aposentadoria
Benefício de pagamento continuado da Previdência Social que substitui o
rendimento do trabalho do segurado, em caráter permanente ou duradouro,
podendo ser concedido em razão da idade avançada, do tempo de contribuição,
da invalidez e em decorrência do exercício de atividades consideradas especiais.4
Aposentadoria Especial
Espécie de aposentadoria por tempo de contribuição, com redução do tempo
necessário à inativação, concedida em razão do exercício de atividades
consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física.5
Atividade Comum
1 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia”. In
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias úteis para o pesquisador do direito. 7. ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002, p. 40.
2 “Conceito operacional [=cop] é uma definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. In PASOLD, Cesar Luiz. Op cit., p.40.
3 LAZZARI, J. B. Aposentadoria especial como instrumento de proteção social e de concretização do princípio da dignidade da pessoa humana. 2004. 129f. Dissertação (Mestrado em Ciência Jurídica) – Curso de Pós-Graduação Stricto sensu em Ciência Jurídica – CPCJ, Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Itajaí/SC, 2004. p. vi
4 LAZZARI, J. B. Aposentadoria especial como instrumento de proteção social e de concretização do princípio da dignidade da pessoa humana. 2004. p. vi
5 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário. Tomo I – Noções de direito previdenciário, São Paulo, Ltr, 1997, p. 187.
Aquela exercida em condições que não apresentam riscos à saúde ou à
integridade física do trabalhador.6
Atividade Especial
Aquela exercida em condições que podem causar prejuízos à saúde ou à
integridade física do trabalhador, por ser perigosa, insalubre ou penosa.7
Atividade Insalubre
“Aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os
empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados
em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos
seus efeitos”.8
Condições Especiais
Condições de trabalho capazes de causar prejuízos à saúde ou à integridade
física do trabalhador em virtude da periculosidade, insalubridade ou penosidade.9
Conversão do Tempo de Atividade Especial
Transformação do tempo trabalhado em atividades especiais em tempo comum,
aplicando-se um determinado acréscimo compensatório em favor do segurado
que esteve sujeito a trabalho prejudicial à saúde ou à integridade física.10
Equipamento de Proteção Individual 6 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social, 11. ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 356. 7 LAZZARI, J. B. Aposentadoria especial como instrumento de proteção social e de
concretização do princípio da dignidade da pessoa humana. 2004. p. vii 8 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Art.
189. Disponível em http://www.planalto.gov.Br>. Acesso em 10.10.2007. 9 RUPRECHT, Alfred. Direitos da seguridade social. São Paulo: LTr, 1996, p. 198. 10 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social, 11. ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 356.
Instrumento de uso individual utilizado para prevenir os acidentes laborais e para
elidir ou diminuir os efeitos dos agentes nocivos presentes nos locais de
trabalho.11
Previdência Social
“Sistema pelo qual, mediante contribuição, as pessoas vinculadas a algum tipo de
atividade laborativa e seus dependentes ficam resguardados quanto a eventos de
infortunística (morte, invalidez, idade avançada, doença, acidente de trabalho,
desemprego involuntário), ou outros que a lei considera que exijam um amparo
financeiro ao indivíduo (maternidade, prole, reclusão), mediante prestações
pecuniárias (benefícios previdenciários) ou serviços”.12
Regime Geral de Previdência Social
Regime previdenciário de caráter contributivo e de filiação obrigatória que
abrange os trabalhadores da iniciativa privada e os servidores públicos que não
participam de regime próprio de previdência.13
11 LAZZARI, J. B. Aposentadoria especial como instrumento de proteção social e de
concretização do princípio da dignidade da pessoa humana. 2004. p. viii 12 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário.
4 ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 61. 13 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Constituição das Leis da Previdência Social,
2ª ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1981, p. 34.
SUMÁRIO
RESUMO ..........................................................................................XIV
INTRODUÇÃO................................................................................... 15
CAPÍTULO 1 ..................................................................................... 18
O SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL ..................... 18 1.1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE SOLIDÁRIA...........................18 1.2 NATUREZA DO DIREITO E CONCEITO OPERACIONAL............................22 1.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL....................23 1.3.1 PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE DA COBERTURA E DO ATENDIMENTO...................24 1.3.2 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE E EQUIVALÊNCIA DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS ÀS POPULAÇÕES URBANAS E RURAIS .............................................................................25 1.3.3 PRINCÍPIOS DA SELETIVIDADE E DISTRIBUTIVIDADE NA PRESTAÇÃO DOS BENEFÍCIOS E SERVIÇOS.............................................................................................................25 1.3.4 PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS .............................26 1.3.5 PRINCÍPIO DA EQUIDADE NA FORMA DE PARTICIPAÇÃO NO CUSTEIO ....................27 1.3.6 PRINCÍPIO DA DIVERSIDADE DA BASE DE FINANCIAMENTO...................................28 1.3.7 PRINCÍPIO DO CARÁTER DEMOCRÁTICO E DESCENTRALIZADO DA ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ..................................................................................................................28 1.4 SISTEMA DE FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL......................29 1.4.1 PARTICIPAÇÃO DA UNIÃO................................................................................33 1.4.2 CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS ................................................................................35 1.4.2.1 Conceituação...........................................................................................37 1.4.2.2 Natureza Jurídica ....................................................................................39 1.4.2.3 Características Gerais ............................................................................43 1.4.3 Outras Receitas da Seguridade Social.....................................................46 1.5 DIVISÃO DA SEGURIDADE SOCIAL............................................................47 1.5.1 SAÚDE.........................................................................................................47 1.5.2 PREVIDÊNCIA SOCIAL ..............................................................................48 1.5.3 ASSISTÊNCIA SOCIAL...............................................................................50 Capítulo 2.............................................................................................................51 O REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL NO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO ........................................................................52 2.1 INTRÓDUÇÃO................................................................................................52 2.2 Dos Beneficiários do RGPS .........................................................................53 2.2.1 Segurados...................................................................................................53 2.2.2 Dependentes...............................................................................................54 2.3 Dos períodos de carência para a obtenção dos benefícios ......................56 2.4 Dos Benefícios DE RENDA MENSAL ..........................................................60 2.4.1 Da aposentadoria por invalidez ................................................................61 2.4.2 Da aposentadoria por idade ......................................................................62
2.4.3 DA APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO..........................................65 2.4.4 DA APOSENTADORIA ESPECIAL ........................................................................67 2.4.5 DO AUXÍLIO-DOENÇA.......................................................................................68 2.4.6 DO SALÁRIO-FAMÍLIA ......................................................................................69 2.4.7 DO SALÁRIO-MATERNIDADE.............................................................................70 2.4.8 DA PENSÃO POR MORTE ..................................................................................72 2.4.9 DO AUXÍLIO-RECLUSÃO ...................................................................................73 2.4.10 DO AUXÍLIO-ACIDENTE...................................................................................74 2.5 DA RENDA MENSAL DO BENEFÍCIO ..........................................................75 2.6 DO REAJUSTAMENTO DOS BENEFÍCIOS..................................................76 2.7 DA PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA DE BENEFÍCIOS......................................77
CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 79
CONSIDERAÇÕES SOBRE A APOSENTADORIA ESPECIAL E O AGENTE NOCIVO “RUÍDO”............................................................. 80 3.1 INTRODUÇÃO E HISTÓRICO LEGISLATIVO...............................................80 3.2 FONTES FORMAIS ........................................................................................84 3.3 O PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM NA APOSENTADORIA ESPECIAL E O ENQUADRAMENTO SEGUNDO A LEGISLAÇÃO DE REGÊNCIA................85 3.4 ESPÉCIES DE BENEFICIÁRIOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL..........92 3.5 BENEFICIÁRIO DA APOSENTADORIA ESPECIAL QUE RETORNA AO TRABALHO SUJEITO A AGENTES NOCIVOS ..................................................93 3.6 REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA APOSENTADORIA ESPECIAL......94 3.6.1 PERÍODO DE CARÊNCIA ...................................................................................94 3.6.2 COMPROVAÇÃO DO TEMPO DE TRABALHO PERMANENTE, NÃO OCASIONAL NEM INTERMITENTE, EM CONDIÇÕES ESPECIAIS QUE PREJUDIQUEM A SAÚDE OU A INTEGRIDADE FÍSICA, DURANTE O PERÍODO MÍNIMO FIXADO..............................................................94 3.6.3 COMPROVAÇÃO DA EXPOSIÇÃO AOS AGENTES NOCIVOS QUÍMICOS, FÍSICOS, BIOLÓGICOS OU ASSOCIAÇÃO DE AGENTES PREJUDICIAIS A SAÚDE OU À INTEGRIDADE FÍSICA, PELO PERÍODO EQUIVALENTE AO EXIGIDO PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO ...95 3.7 RENDA MENSAL INICIAL DA APOSENTADORIA ESPECIAL ....................96 3.8 DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO .................................................................96 3.9 CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO ......................................................96 3.10 ENQUADRAMENTO DE ATIVIDADES........................................................99 3.11 O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL DIANTE DA APOSENTADORIA ESPECIAL..........................................................................101 3.12 O ADICIONAL DE PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE E SUA RELAÇÃO COM A APOSENTADORIA ESPECIAL ..........................................102 3.13 ADICIONAL DE CONTRIBUIÇÃO EMPRESARIAL PARA FINANCIAMENTO DA APOSENTADORIA ESPECIAL.....................................103 3.14 PERMANÊNCIA OU RETORNO À EXPOSIÇÃO AOS AGENTES NOCIVOS DO SEGURADO APOSENTADO: CANCELAMENTO OU SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO? ......................................................................................................104 3.15 ENTENDIMENTOS DO INSS SOBRE ALGUNS ASPECTOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL..........................................................................106 3.16 O AGENTE NOCIVO RUÍDO COMO CAUSA DA APOSENTADORIA ESPECIAL ..........................................................................................................107
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................. 110
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS......................................... 112
RESUMO
O trabalho contido nesta monografia de conclusão de curso
traz em seu conteúdo o estudo científico sobre o Regime Geral de Previdência
Social no contexto do sistema previdenciário brasileiro. Os objetivos
investigatórios, em termos específicos, são os seguintes: a) investigar, delimitar e
descrever o sistema de seguridade social no Brasil, seu histórico, evolução,
natureza jurídica, princípios constitucionais e sistemática de financiamento; b) analisar e comentar sobre o Regime Geral de Previdência Social no Brasil,
modalidades de segurados, carência para a obtenção dos benefícios e as
espécies de benefícios disponíveis no RGPS; c) pesquisar, analisar e discorrer o
instituto da aposentadoria especial, bem como o agente nocivo “ruído” enquanto
elementos caracterizador de atividade especial e seus reflexos na aposentadoria
especial. O trabalho é justificado pelo necessário aprofundamento da pesquisa
sobre o tema, principalmente em face dos novos entendimentos jurisprudenciais
sobre a aposentadoria especial e sobre o agente nocivo “ruído”. A monografia
está composta de três capítulos que abordam a seguridade social como gênero, o
Regime Geral de Previdência Social e, finalmente, as atualidades envolvendo a
aposentadoria especial e o agente nocivo “ruído”. Na pesquisa foi utilizado o
método indutivo e a área de concentração é o Direito Público, tendo como linha
de pesquisa o direito previdenciário.
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto de estudo o “ruído”
como agente nocivo caracterizador de atividade especial e seus reflexos na
aposentadoria especial no regime geral de previdência social e, como objetivos:
institucional, produzir uma monografia14 para obtenção do grau de bacharel em
Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; geral, conhecer as
particularidades sobre o agente nocivo “ruído” como fato gerador da
aposentadoria especial no regime geral de previdência social.:
a) investigar, delimitar e descrever o sistema de seguridade
social no Brasil, seu histórico, evolução, natureza jurídica, princípios
constitucionais e sistemática de financiamento;
b) analisar e comentar sobre o Regime Geral de Previdência
Social no Brasil, modalidades de segurados, carência para a obtenção dos
benefícios e as espécies de benefícios disponíveis no RGPS;
c) pesquisar, analisar e discorrer sobre o instituto da
aposentadoria especial, bem como o agente nocivo “ruído” enquanto elementos
caracterizador de atividade especial e seus reflexos na aposentadoria especial
O trabalho é justificado pelo necessário aprofundamento da
pesquisa sobre o tema, principalmente com o aumento dos acidentes de trabalho
ocasionados pelo agente nocivo “ruído”, bem como pela estreita vinculação desse
agente com a aposentadoria especial no regime geral de previdência social
A validade do trabalho está nos destaques de certos
elementos jurídicos relativos ao objeto acima mencionado, que serão
apresentados no decorrer dos capítulos que foram identificados como resultado
da pesquisa científica.
14 O modelo de monografia foi elaborado pelo Prof. Dr. Álvaro Borges de Oliveira, Prof. MSc
Clóvis Demarchi e Esp. Sérgio Alexander Loback da Silva. Versão 6, e disponibilizado no site: <http://www.univali.br/cejurps>.
16
Esta monografia está dividida em três capítulos.
O primeiro capítulo faz uma abordagem do sistema de
seguridade social no Brasil, destacando pontos referentes à sua historia e
evolução, passando por sua natureza jurídica, princípios constitucionais regentes,
sistemática de financiamento e, ao final, à análise de suas espécies integrativas,
compostas pela saúde, previdência social e assistência social.
O segundo capítulo trás uma abordagem sobre o Regime
Geral de Previdência Social no Brasil, modalidades de segurados, carência para a
obtenção dos benefícios e as espécies de benefícios disponíveis no RGPS.
Por derradeiro, no terceiro capítulo, aborda-se o instituto da
aposentadoria especial, bem como o agente nocivo “ruído” enquanto elementos
caracterizador de atividade especial e seus reflexos na aposentadoria especial.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões
sobre o regime de previdência complementar privado no Brasil.
Decorrente dos mencionados objetivos investigatórios, foram
elaborados três problemas e respectivas hipóteses que servirão de base para o
desenvolvimento da pesquisa, cujo resultado está relatado nesta monografia.
Primeiro problema: Pela ótica constitucional, quais são os
direitos sociais assegurados pela Seguridade Social no Brasil? Hipótese: A
seguridade social, prevista no artigo 194 da Constituição Federal de 1988,
assegura os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Segundo problema: Quais os benefícios que são concedidos
no RGPS? Hipótese: os benefícios concedidos no RGPS são: auxílio-doença,
aposentadoria por invalidez, auxílio-acidente, aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de contribuição, auxílio reclusão, salário-família, salário-
maternidade, aposentadoria especial e pensão por morte.
17
Terceiro problema: O agente nocivo “ruído” guarda alguma
relação com o instituto da aposentadoria especial no RGPS? Hipótese: O agente
nocivo “ruído” mantém estreita relação com o instituto da aposentadoria especial
no RGPS, uma vez que a legislação o arrola como um dos eventos determinantes
para a concessão da aposentadoria especial ao trabalhador.
Além das constantes no rol das categorias, no decorrer
desta monografia serão apresentadas outras categorias e seus respectivos
conceitos operacionais.
Para encetar a investigação adotou-se o método indutivo
que, conforme PASOLD15, consiste em “pesquisar e identificar as partes de um
fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral” e,
dependendo do resultado das análises, no Relatório da Pesquisa poderá ser
empregada a base indutiva e/ou outra que for a mais indicada.16
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas do Referente17, da Categoria18, do Conceito Operacional19 e da
Pesquisa Bibliográfica.20
15 PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o
pesquisador do direito. 8ª ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003, p. 87. 16 Sobre os métodos nas diversas fases da pesquisa científica, vide Prática da Pesquisa
Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 8ª ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003, p. 87.
17 “explicitação prévia do motivo, objeto e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para a pesquisa”. PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 5ª ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2001, p. 105.
18 “palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 5ª ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2001, p. 229.
19 “definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 5ª ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2001, p. 229.
20 “técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 5ª ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2001, p. 240.
18
CAPÍTULO 1
O SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL
1.1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA SOCIEDADE SOLIDÁRIA
O avanço histórico das sociedades humanas começou a
desenvolver-se quando o ser humano observou a fragilidade que reinava entre os
nascituros, os doentes e os envelhecidos, que eram necessitavam do amparo dos
membros da comunidade em melhores condições físicas.
Neste primeiro momento, como observa J. R. Feijó
Coimbra21, o sentido do solidarismo ainda não aflorava em quantidade tal a
impressionar o ser humano ante os feridos, doentes neonatos e anciões, fazendo
com que abandonasse seus objetivos para debandar em seu socorro.
Muitas das vezes aquele que não pudesse mais
acompanhar o restante da tribo era esquecido à sua própria sorte, o que, no
ambiente hostil da pré-história, significava ser abatido por feras dezenas de vezes
superiores em força e vitalidade.
A inteligência, fator que separa o ser humano dos outros
animais, passou a desenvolver-se de tal forma que normas de conduta foram
eclodindo do seio de diversos agrupamentos, dando gênese ao Direito, tal qual é
dado a conhecer atualmente.
Destarte, cada membro de aglomeração começou a possuir
uma visão mais esclarecida da vida em comum, o que propiciou o
amadurecimento dos tratos sociais, advindos do respeito ao próximo e do repúdio
21 COIMBRA, J. R. Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 15. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio,
1980.
19
de determinadas atitudes alheias ao contexto da sociedade. Sobre o assunto,
Ferreira Coelho22 esclarece:
[...] o homem precisa, pois, para a realização deste fim – o aperfeiçoamento da humanidade, limitar os seus instintos naturais pelo respeito às regras sociais, cooperando com os seus semelhantes para a harmonia da coexistência e desenvolvimento da civilização.
A primeira manifestação social foi a família que, constituída
de grupos pequenos, era mais fácil de ser formada e lhe era garantido, em face
da pouca necessidade territorial ser mais profícua em sua própria defesa.
No entanto, com o avançar das necessidades advindas do
aumento dos grupos formados, houve a necessidade de expansão destes limites,
o que promoveu a aproximação de diferentes famílias, formando, com isto, as
primeiras tribos.
Nesse diapasão, era preciso multiplicar as forças existentes,
não só porque os bandos de outros animais haviam crescido consideravelmente
em face da abundância de alimento e da própria força física, como também
algumas unidades familiares começaram a lançar-se sobre as demais, usurpando
campos de caça, os pertences e, até mesmo, dos próprios membros.
Um dos primeiros modos de reunião girou em torno da
crença religiosa, onde a identidade de divindades estabelecia o elo entre os
diversos grupos.
A necessidade de acolher aos nascituros, aos doentes e aos
anciãos, que, por aspectos de desenvolvimento ou declínio físico, não
conseguiam defender-se das hostes contrárias, inauguraria, então, as primeiras
manifestações de solidariedade e assistência social. Colaborando para a
22 COELHO, Ferreira. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil – comparado, comentado e
analisado. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1920, v. II, p. 49.
20
formação da definição da categoria “assistência social”, vale traduzir o
pensamento de Wladimir Novaes Martinez23:
[...] assistência social é um conjunto de atividades particulares e estatais direcionadas para o atendimento dos hipossuficientes, consistindo os bens oferecidos em pequenos benefícios em dinheiro, assistência à saúde, fornecimento de alimentos e outras pequenas prestações”.
No mesmo sentido preleciona Sergio Pinto Martins24:
[...] a assistência social é, portanto, um conjunto de princípios, de regras e de instituições, destinados a estabelecer uma política social aos hipossuficientes, por meio de atividades particulares e estatais, visando a concessão de pequenos benefícios e serviços, independentemente de contribuição por parte do próprio interessado”.
Tal abraço comunitário restringiu-se aos próprios membros
das tribos, na tentativa de preservar seu número ante a carnificina dos combates
e a impedir a dilapidação de seus pertences, o que faria fenecer o ideal e
perpetuar a comunidade.
Não era, portanto, divergente dos outros animais que
defendem suas crias, enfermos e envelhecidos, colocando-os sob uma barreira
de indivíduos fortes e capazes. Com a ampliação dos vínculos sociais, reunindo
diversas tribos em cidades, passou-se a exigir de cada um de seus membros
esforços no sentido de tornar mais profícuo o cerne do agrupamento, através da
distribuição das tarefas necessárias entre todos os indivíduos.
Com o avançar das lides societárias, o advento da criação
de um governo para gerir aos anseios e necessidades do conglomerado social, e
as constantes guerras, que promoviam a miséria, as enfermidades e os destroços 23 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Subsídios para um modelo de previdência social. São Paulo:
LTr, 1992, p. 83. 24 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 484.
21
mentais e físicos da população, onde ninguém reunia forças financeiras para o
auxílio eficaz ao próximo, o Estado passou a ser, ao lado das iniciativas de cunho
particular, o responsável pela manutenção dos indivíduos sob sua guarda,
assumindo para si a tarefa da assistência social.
A respeito do assunto, oportuna é a manifestação cognitiva
explicitada por Mozart Victor Russomano25:
[...] até o século XVIII, não havia a sistematização de qualquer forma de prestação estatal, pois, de um modo geral, não se atribuía ao Estado o dever de dar assistência aos necessitados. A exceção registrada na História, a Poor Law, editada em 1601 na Inglaterra, instituía contribuição obrigatória para fins sociais, com intuito assistencial.
Na idade moderna, havia um fosso imenso separando a
classe operária da classe dos detentores dos meios de produção. E o Estado,
pela concepção liberal, limitava-se a assistir, inerte, às relações entre particulares,
sem estabelecer normas de limitação à autonomia pessoal. Desse modo, a
proteção social, até então voluntariamente feita por aqueles que se preocupavam
com a dignidade humana, muitas vezes só existia sob a forma de caridade.
Não obstante isso, como observa Carlos Alberto Pereira de
Castro e João Batista Lazzari,26 a intervenção estatal, no período do liberalismo
econômico, limitava-se a prestar benefícios assistenciais, ou seja, oferecia
pensões pecuniárias e abrigo aos financeiramente carentes.
A primeira vez em que tem lugar uma mudança na
concepção da proteção ao indivíduo ocorre na Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, em 1789, que inscreve o princípio da Seguridade Social
como direito subjetivo assegurado a todos: “Les secours publiques sont une dette 25 RUSSOMANO, Mozart Victor, apud CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João
Batista. Manual de Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 30-31. 26 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito
Previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 32.
22
sacrée”. Já se está diante do chamado liberalismo político, influenciado por
movimentos de trabalhadores, o que vai acarretar a deflagração da idéia de
assistência social pública, gerida pelo Estado, com participação de toda a sociedade.
1.2 NATUREZA DO DIREITO E CONCEITO OPERACIONAL
O direito da Seguridade Social é um direito social, de
natureza pública, nos termos do art. 6º da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988. A Carta relaciona a saúde, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância e a assistência aos desamparados, como direitos
prestacionais sociais de índole positiva no rol dos direitos fundamentais.27
A competência para legislar sobre seguridade social é
privativa da União, conforme dispõe o art. 22, XXIII da CRFB/88.
Pelo texto constitucional, na redação conferida pela Emenda
Constitucional nº 20/98, “a seguridade social compreende um conjunto integrado
de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”.28
Já para Celso Barroso Leite29, “a seguridade social
compreende o conjunto de medidas destinadas a atender às necessidades
básicas do ser humano”.
Portanto, o direito da seguridade social destina-se a garantir,
precipuamente, o mínimo de condição social necessária a uma vida digna,
atendendo ao fundamento da República, contido no art. 1º, III, da CRFB/88.
27 Paulo Bonavides demonstra a evolução histórica geracional dos direitos fundamentais na obra:
BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social, São Paulo: Malheiros, 1996. 28 Redação do artigo 194, caput, da Constituição Federal de 1988. 29 O conceito é exposto na obra Curso de Direito Previdenciário, organizada por. Wagner
Balera. São Paulo: LTr, 1992.
23
1.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, como norma,
fixar uma gama de princípios30 e objetivos regentes da Seguridade Social, e
outros deles, disciplinadores dos campos de atuação em que ela se desdobra.
O artigo 194 da CF/88 enumera, em sete incisos, os
chamados princípios constitucionais da Seguridade Social, in verbis:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos: I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).
30 Segundo Miguel Reale, os princípios gerais de direito são enunciações normativas de valor
genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. In REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 306.
24
Dessa forma passa-se a expor um a um cada princípio como
o da universalidade o qual entende-se que a proteção social deve alcançar todos
os eventos; o princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços
às populações urbanas e rurais trata de conferir tratamento uniforme a
trabalhadores urbanos e rurais; o princípio da seletividade e distributividade na
prestação dos benefícios e serviços pressupõe que os benefícios são concedidos
a quem deles efetivamente necessite; o princípio da irredutibilidade do valor dos
benefícios não pode ter seu valor nominal reduzido; o princípio da eqüidade na
forma de participação no custeio a participação eqüitativa de trabalhadores,
empregadores e Poder Público no custeio da seguridade social; o princípio da
diversidade da base de financiamento não ficando adstrita a trabalhadores,
empregadores e Poder Público; o princípio do caráter democrático e
descentralizado da administração gestão dos recursos, programas, planos,
serviços e ações nas três vertentes da Seguridade Social (Saúde, Previdência e
Assistência Social), em todas as esferas de poder, deve ser realizada mediante
discussão com a sociedade.
1.3.1 Princípio da universalidade da cobertura e do atendimento
Por universalidade de cobertura entende-se que a proteção
social deve alcançar todos os eventos cuja reparação seja premente, a fim de
manter a subsistência de quem dela necessite. A universalidade do atendimento
significa, por seu turno, a entrega das ações, prestações e serviços de seguridade
social a todos os que necessitem, tanto em termos de previdência – obedecido o
princípio contributivo – como no caso da saúde e da assistência social.
Para Marcelo Leonardo Tavares31, “a universalidade, além
do aspecto subjetivo, também possui um viés objetivo e serve como princípio: a
organização das prestações de seguridade deve procurar, na medida do possível,
abranger ao máximo os riscos sociais”.
31 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 6ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2005, p. 03.
25
1.3.2 Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais
O mesmo princípio, já contemplado no art. 7º da Carta
Magna de 1988, trata de conferir tratamento uniforme a trabalhadores urbanos e
rurais, havendo idênticos benefícios e serviços (uniformidade), para os mesmos
eventos cobertos pelo sistema (equivalência).
Como observam Carlos Alberto Pereira de Castro e João
Batista Lazzari,32 “tal princípio não significa, contudo, que haverá idêntico valor
para os benefícios, já que equivalência não significa igualdade. Os critérios para
concessão das prestações de seguridade social serão os mesmos; porém,
tratando-se de previdência social, o valor de um benefício pode ser diferenciado”.
1.3.3 Princípios da seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços
O princípio da seletividade pressupõe que os benefícios são
concedidos a quem deles efetivamente necessite, razão pela qual a Seguridade
Social deve apontar os requisitos para a concessão de benefícios e serviços. Vale
dizer, para um trabalhador que não possua dependentes, o benefício salário-
família não será concedido; para aquele que se encontre incapaz
temporariamente para o trabalho, por motivo de doença, não será concedida a
aposentadoria por invalidez, mas o auxílio-doença. Não há um único benefício ou
serviço, mas vários, que serão concedidos e mantidos de forma seletiva,
conforme a necessidade da pessoa.33
32 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito
Previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 81. 33 Para Luiz Cláudio Flores da Cunha, “o princípio da seletividade é aquele que propicia ao
legislador uma espécie de mandato específico, com o fim de estudar as maiores carências sociais em matéria de seguridade social, e que ao mesmo tempo oportuniza que essas sejam priorizadas em relação às demais”. FLORES DA CUNHA, Luiz Cláudio. “Princípios de Direito
26
Por distribuitividade, entende-se o caráter do regime por
repartição34, típico do sistema brasileiro, embora o princípio seja de seguridade, e
não de previdência. O princípio da distributividade, inserido na ordem social, é de
ser interpretado em seu sentido de distribuição de renda e bem-estar social, ou
seja, pela concessão de benefícios e serviços visa-se ao bem-estar e à justiça
social (art. 193 da Carta Magna vigente).
Segundo observam Carlos Alberto Pereira de Castro e João
Batista Lazzari35, ao se conceder, por exemplo, o benefício assistencial da renda
mensal vitalícia ao idoso ou ao deficiente sem meios de subsistência, distribui-se
renda; ao se prestar serviços básicos de saúde pública, distribui-se bem-estar
social, etc.
Por força desse princípio, o segurado, ao contribuir, não tem
certeza se perceberá em retorno do que contribuiu, porque os recursos vão todos
para o caixa único do sistema, ao contrário dos sistemas de capitalização, em que
cada contribuinte teria uma conta individualizada (como ocorre com o FGTS).
1.3.4 Princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios
Segundo Marcelo Leonardo Tavares36, “os benefícios da
seguridade social são prestações pecuniárias. Das três áreas de atuação do
sistema, a saúde é a única formada somente com os serviços; as demais – a
previdência e a assistência – possuem também prestações mediante pagamento
em dinheiro”.
Previdenciário na Constituição da República de 1988”. Direito Previdenciário – Aspectos Materiais, Processuais e Penais. 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1999, p. 39.
34 Regime de repartição é aquele que apresenta como característica um sistema de conta única e solidária, fundado no “pacto de gerações”, na qual os atuais ativos financiam os inativos, na expectativa de que novas gerações financiem os atuais ativos que passarão para a inatividade.
35 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 81.
36 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 6ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005, p. 05.
27
Princípio equivalente ao da intangibilidade do salário dos
empregados e dos vencimentos dos servidores, significando que o benefício
legalmente concedido pelo sistema de Seguridade Social não pode ter seu valor
nominal reduzido, não podendo ser objeto de desconto – salvo os determinados
por lei ou ordem judicial –, nem de arresto, seqüestro ou penhora.
Dentro da mesma idéia, o artigo 201, § 2º, da CF/88
estabelece o reajustamento periódico dos benefícios, para preservar-lhes, em
caráter permanente, seu valor real.
1.3.5 Princípio da equidade na forma de participação no custeio
Trata-se de norma principiológica em sua essência, visto
que a participação eqüitativa de trabalhadores, empregadores e Poder Público no
custeio da seguridade social é meta, objetivo, e não regra concreta.
Com a adoção deste princípio, busca-se garantir que aos
hipossuficientes seja garantida a proteção social, exigindo-se dos mesmos,
quando possível, contribuição equivalente a seu poder aquisitivo, enquanto a
contribuição empresarial tende a ter maior importância em termos de valores e
percentuais na receita da Seguridade Social, por ter a classe empregadora maior
capacidade contributiva, adotando-se, em termos, o princípio da progressividade,
existente no Direito Tributário, no tocante ao Imposto sobre a Renda e Proventos
de Qualquer Natureza (art. 153, 2º, da CF/88).
Em razão disso, a empresa passou a contribuir sobre o seu
faturamento mensal e o lucro líquido, além de verter contribuição incidente sobre
a folha de pagamentos.37
37 Segundo Marcelo Leonardo Tavares, “a eqüidade na forma de participação no custeio é
decorrência do princípio geral da isonomia. Não significa que todos os contribuintes do sistema de seguridade pagarão tributo da mesma forma, mas sim que deve haver igualdade de cobrança quando os financiadores se encontrarem sob a mesma situação fática”. TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 6ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005, p. 6-7.
28
1.3.6 Princípio da diversidade da base de financiamento
Estando a Seguridade Social brasileira no chamado ponto
de hibridismo entre sistema contributivo e não contributivo, o constituinte quis
estabelecer a possibilidade de que a receita da Seguridade Social possa ser
arrecadada de várias fontes pagadoras, não ficando adstrita a trabalhadores,
empregadores e Poder Público.
Assim, com base nesse princípio, existe a contribuição social
incidente sobre a receita de concursos de prognósticos, e a própria CPMF –
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira. Nesse sentido, está
prejudicada a possibilidade de estabelecer-se o sistema não contributivo,
decorrente da cobrança de tributos não vinculados, visto que o financiamento
deve ser feito por meio de diversas fontes e não de fonte única.
1.3.7 Princípio do caráter democrático e descentralizado da administração e gestão
A gestão dos recursos, programas, planos, serviços e ações
nas três vertentes da Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência
Social), em todas as esferas de poder, deve ser realizada mediante discussão
com a sociedade.
Para isso, foram criados órgãos colegiados de deliberação: o
Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, criado pelo artigo 3º da Lei nº
8.213/91, que discute a gestão da Previdência Social; o Conselho Nacional de
Assistência Social – CNAS, criado pelo artigo 17 da Lei nº 8.742/93, que delibera
sobre a política e ações nesta área; e o Conselho Nacional de Saúde – CNS,
criado pela Lei nº 8.080/90, discute a política de saúde. Todos estes conselhos
têm composição paritária e são integrados por representantes do Governo, dos
trabalhadores, dos empregadores e dos aposentados.
29
1.4 SISTEMA DE FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL
O financiamento da Seguridade Social é previsto no artigo
195 da Constituição Federal de 1988 como um dever imposto a toda a sociedade,
de forma direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de contribuições sociais.
Analisando os problemas que permeiam o sistema de
financiamento da Seguridade Social, vale destacar a manifestação de Mozart
Victor Russomano38:
O problema do custeio, em Previdência Social, é um dos pontos de relevância prática, pois está ligado, intimamente, à organização administrativa e à amplitude do funcionamento do sistema”. E, com bastante atualidade, assevera: A circunstância de o custeio de um sistema de Previdência Social (como se verifica no Brasil) depender, fundamentalmente, da contribuição de trabalhadores e empresários resulta de uma contingência, isto é, da impossibilidade prática de instalação, no País, de um regime mais amplo, de autêntica Seguridade Social, em que a responsabilidade pecuniária seja atribuída ao Estado. As demais fontes de receita do (então) INPS, na prática, são irrelevantes.
O modelo de financiamento da Seguridade Social previsto
na Carta Magna de 1988 se baseia no sistema contributivo, em que pese ter o
Poder Público participação no orçamento da Seguridade, mediante a entrega de
recursos provenientes do orçamento da União e dos demais entes da Federação,
para a cobertura de eventuais insuficiências do modelo, bem como para fazer
frente a despesas com seus próprios encargos previdenciários, recursos humanos
e materiais empregados.
O orçamento da Seguridade Social tem receita própria39,
que não se confunde com a receita tributária federal, aquela destinada
exclusivamente para as prestações da Seguridade Social nas áreas da Saúde 38 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Constituição das Leis da Previdência Social,
2ª ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1981. 39 Nesse sentido, vide a disposição contida no art. 165, § 5º, inciso III da CRFB/88.
30
Pública, Previdência Social e Assistência Social, obedecida a Lei de Diretrizes
Orçamentárias - LDO. Para tanto, este deve ser objeto de deliberação conjunta
entre os órgãos competentes – Conselho Nacional de Previdência Social,
Conselho Nacional de Assistência Social e Conselho Nacional de Saúde –, e a
gestão dos recursos é descentralizada por área de atuação.
Além das fontes de custeio previstas no texto constitucional,
este permite a criação de outras fontes, mediante lei complementar – consoante o
artigo 195, inciso I, da Carta Magna de 1988 –, seja para financiar novos
benefícios e serviços, seja para manter os já existentes, sendo certo que é
vedado ao legislador criar ou estender benefício ou serviços, ou aumentar seu
valor, sem que, aos menos simultaneamente, institua fonte de custeio capaz de
atender às despesas daí decorrentes.
Com a Emenda Constitucional nº 20/98 foram incluídos no
artigo 195 os §§ 9º, 10º e 11º, e alterado o § 8º, estabelecendo-se algumas
mudanças na sistemática de custeio do Sistema. Sobre o assunto, cite-se a
manifestação de Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari40:
As mudanças autorizam o legislador: a) a estabelecer alíquotas ou base de cálculo diferenciadas em função da atividade econômica das empresas ou da utilização de mão-de-obra, pretendendo, por um lado, espécie de benefício fiscal a empresas que invistam em novos postos de trabalho no mercado formal, bem como as microempresas e empresas de pequeno porte, e, por outro lado, aumentar a carga de contribuição sobre empresas cuja atividade econômica caracterize alto risco de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais – vide Lei nº 9.732/98; b) a evitar a “sangria” de recursos da Seguridade Social para o Sistema Único de Saúde – SUS e entidades beneficentes, em detrimento do pagamento de benefícios previdenciários. A contrario sensu, vedam a remissão ou anistia de débitos para com o INSS relativos a contribuições do empregador sobre a folha de pagamento e as retidas dos estipêndios dos empregados, cujo valor esteja acima do fixado por lei complementar.
40 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito
Previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 186.
31
No que se refere às contribuições, a Emenda Constitucional
nº 20/98 alterou as incidências previstas no caput do artigo 195 e seus incisos,
para permitir a exação sobre todo e qualquer tipo de pagamento remuneratório a
pessoa física, com vínculo de emprego ou não,41 pondo fim às acirradas
discussões sobre a constitucionalidade da cobrança de algumas contribuições,
como a COFINS e o PIS.
É importante salientar, ainda, que a redação do inciso II do
caput do artigo 195, ditada pela Emenda Constitucional nº 20, veda,
expressamente, a partir de sua promulgação, a exigência da contribuição social
do trabalhador já aposentado e do pensionista do regime geral previdenciário.
O próprio Governo Federal, sob a alegação de redução do
déficit público, tentou fazer tal exação por meio da Lei nº 9.783/99, cujo intento
era fazer incidir contribuição sobre proventos de aposentadoria e pensões dos
servidores dos servidores públicos, sujeitos a regime próprio, tendo a Suprema
Corte brasileira concluído pela inconstitucionalidade da cobrança.42
Tentou-se, a partir daí, a aprovação, no Congresso Nacional,
de proposta de Emenda Constitucional nesse sentido, resultando os esforços do
Governo na promulgação da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de
2003. Após inúmeras discussões entre os diversos segmentos da sociedade, uns
contra a cobrança de inativos e pensionistas, outros a favor, o Supremo Tribunal
Federal – STF declarou ser constitucional a cobrança previdenciária de servidores
inativos e pensionistas43, pondo-se fim à controvérsia que, há anos, dividia
opiniões entre a sociedade civil, a classe dos servidores públicos e os agentes
dos três poderes da República, Legislativo, Executivo e Judiciário.
41 Importante observar que, antes do advento da referida Emenda Constitucional, a redação
anterior da CRFB/88 se referia apenas à incidência sobre a “folha de salários” e também sobre a “receita ou o faturamento”.
42 Através da Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADIn nº 2.010-2/DF, relator Min. Celso de Mello, D.J. de 12. 04.2002.
43 Por intermédio da ADIn nº 3.105-8/DF (Relatora Min. Ellen Gracie, D. J. 18.02.2005), por 6 votos a 4, o STF considerou ser constitucional o art. 4º da Emenda Constitucional nº 41/2003, que instituiu a cobrança previdenciária sobre os proventos de inativos e pensionistas do serviço público da União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
32
Contudo, para evitar um vácuo legislativo, a Emenda
Constitucional nº 20/98 previu, em seu artigo 12, que, até que produzam efeitos
as leis que irão dispor sobre as contribuições de que trata o artigo 195 da
CRFB/88, são exigíveis as estabelecidas em lei, destinadas ao custeio da
Seguridade Social e dos diversos regimes previdenciários.
De acordo com o artigo 11 da Lei nº 8.212/91, em vigor na
data da publicação da Emenda nº 20/98, o orçamento da Seguridade Social, no
âmbito federal, é composto de receitas provenientes: a) da União; b) das
contribuições sociais; c) de outras fontes.
Wladimir Novaes Martinez44, nesse sentido, observa que:
Embora a técnica protetiva descrita nos artigos 194/204 da Constituição Federal não seja exatamente a seguridade social, a modalidade de financiamento agora evidenciado, por parte da sociedade, é uma sua característica, assinaladora da responsabilidade de todos na proteção de todos. Todavia, desfigura-se a referida técnica por não ter sido implementada a sua essência. A seguridade social não passa da somatória da Previdência Social anteriormente Social, anteriormente conhecida, com ações de saúde e assistenciárias.
O orçamento da Seguridade Social é autônomo, não se
confundindo com o orçamento do Tesouro Nacional, conforme previsto no item III
do § 5º do artigo 165 da Constituição Federal de 1988. Sendo assim, as
contribuições arrecadadas com fundamento no artigo 195 da Constituição vigente
ingressam diretamente nesse orçamento, não constituindo receita do Tesouro
Nacional. Nesse sentido, escreveu Hugo de Brito Machado45:
As contribuições, com as quais os empregadores, os trabalhadores e os administradores de concurso de prognósticos financiam diretamente a seguridade social, não podem constituir
44 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social. 4ª ed. São
Paulo: LTR, 1997, t II. 45 MACHADO, Hugo de Brito. Custo de direito tributário, 10ª ed., São Paulo, Malheiros, 1995, p.
316.
33
receita do Tesouro Nacional precisamente porque devem ingressar diretamente no orçamento da seguridade social. Por isto mesmo, lei que institua contribuição social, com fundamento no artigo 195, inciso I, da Constituição Federal, indicando como sujeito ativo pessoa diversa da que administra a seguridade social, viola a Constituição.
A Emenda Constitucional nº 20/98 introduziu o inciso X no
artigo 167 do Texto Constitucional vigente, vedando a utilização dos recursos
provenientes das contribuições sociais de que trata artigo 195, inciso I, letra a, e
inciso II, para a realização de despesas distintas do pagamento de benefícios do
Regime Geral de Previdência Social de que trata o artigo 201 da CRFB/88.
Como observam Carlos Alberto Pereira de Castro e João
Batista Lazzari46, “essa medida é muito salutar para a Previdência Social, pois
impede que o Poder Executivo destine recursos das contribuições sociais,
incidentes sobre a folha de salários e sobre rendimento do trabalho, para cobrir
outras despesas que não o pagamento de benefícios previdenciários”.
1.4.1 Participação da União
A Constituição Federal de 1988 estabelece no artigo 195,
caput, que a Seguridade Social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
O artigo 165, § 5º, inciso III, da Constituição Federal de 1988
fixam, ainda, a regra segundo a qual a lei orçamentária anual compreenderá “o
orçamento da seguridade social, abrangendo todas nas entidades e órgãos a ela
vinculados, da administração direita e indireta, bem como os fundos e fundações
instituídos e mantidos pelo Poder Público”.
46 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito
Previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 188.
34
Em verdade, a União não tem, efetivamente, uma
contribuição social. Ela participa atribuindo dotações do seu orçamento à
Seguridade Social, fixados obrigatoriamente na Lei Orçamentária, além de ser
responsável pela cobertura de eventuais insuficiências financeiras da Seguridade,
em razão do pagamento de benefícios de prestação continuada pela previdência
social (artigo 16 da Lei nº 8.212/91). Não há um percentual mínimo para ser
destinado à Seguridade Social, tal como ocorre com a educação (artigo 212 da
Constituição de 1988). É, como sempre foi, uma parcela aleatória.
De há muito não existem mais as chamadas “quotas de
previdência”, que eram taxas exigidas do público em geral com a finalidade de ser
transferida a receita deles decorrente ao então Instituto Nacional da Previdência
Social – INPS (artigo 135 da CLPS/84).
Segundo preleciona Celso Ribeiro Bastos47, “orçamento é
uma peça contábil que faz, de uma parte, uma previsão das despesas a serem
realizadas pelo Estado, e, de outra parte, o autoriza a efetuar a cobrança,
sobretudo de impostos e também de outras fontes de recursos”.
Sobre a participação do Estado no custeio da Seguridade
Social, escreve Wladimir Novaes Martinez48:
“Ficar o Estado (artigo 16, parágrafo único, do PCSS), particularmente a União, na retaguarda das obrigações assumidas pela Previdência Social (numa palavra, quedar-se a sociedade como última garantia dos recursos financeiros necessários às prestações) é uma tomada de posição de caráter filosófico. A União garante a Previdência Social. Com isso, tem-na estatizada e sob sua administração, ferindo a idéia de o seguro social ser um empreendimento dos trabalhadores. Na verdade, se os recursos canalizados pelas contribuições não forem suficientes, a sociedade é chamada, através do orçamento da União, a contribuir”.
47 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional, 19ª ed., São Paulo: Saraiva, 1998. 48 MATINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da Previdência Social. 4ª ed. São
Paulo: LTR, 1997, t II, p. 137.
35
Por outro lado, a União pode socorrer-se do “caixa” da
Seguridade Social para pagar seus “encargos previdênciários”. A União, para
fazer frente a esses encargos, é autorizada a utilizar-se dos recursos
provenientes das contribuições incidentes sobre o faturamento e o lucro (artigo 17
da Lei nº 8.212/91, com redação da Lei nº 9.771/98).49
Também podem ser utilizados os recursos da Seguridade
Social para custear despesas com pessoal e administração geral do INSS, salvo
os provenientes da arrecadação da contribuição sobre concursos de prognósticos,
cuja destinação é somente para custeio dos benefícios e serviços prestados pela
Seguridade Social (artigo 18 da Lei nº 8.212/91).
Entretanto, a Emenda Constitucional nº 20/98 acrescentou o
inciso XI ao artigo 167 da Constituição Federal de 1988, para vedar a utilização
dos recursos provenientes das contribuições sociais de que trata o artigo 195,
inciso I, letra a, e inciso II (incidentes sobre a folha de salários e demais
rendimentos do trabalho e do trabalhador e demais segurados da Previdência
Social), para a realização de despesas outras que não as decorrentes do
pagamento de benefício do Regime Geral da Previdência Social – RGPS.
1.4.2 Contribuições Sociais
A Constituição de 1988 tratou das contribuições sociais no
capítulo reservado as Sistema Tributário Nacional, estabelecendo, no artigo 149,
normas gerais sobre a instituição, e, no artigo 195, normas especiais em relação
às contribuições para a Seguridade Social. Estabelece o primeiro citado:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das
categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua 49 No ano de 2004, os Encargos Previdenciários da União (EPU) representaram o desembolso de
R$ 865.920.000,00 (oitocentos e sessenta e cinco milhões, novecentos e vinte e um mil reais) do caixa da Seguridade Social. Ressalte-se que, no mesmo ano, os cofres da Seguridade Social registraram uma arrecadação de R$ 152.684.048.000,00 (cento e cinqüenta e dois bilhões, seiscentos e oitenta e quatro milhões e quarenta e oito mil reais). In Informe de Previdência Social. Brasília: Ministério da Previdência Social, volume 15, janeiro de 2005, p. 10.
36
atuação nas respectivas áreas, observando o disposto nos arts.
146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
instituir contribuição, cobrada de seus servidores, para o custeio,
em benefícios destes, de sistemas de previdência e assistência
social.
§ 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio
econômico de que trata o caput deste artigo:
I – não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;
II – poderão incidir sobre a importação de petróleo e seus
derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível;
III – poderão ter alíquotas:
a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o
valor da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro;
b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada.
§ 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação
poderá ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei.
§ 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão
uma única vez. (Redação dada do artigo 149 conforme a Emenda
Constitucional nº 33/01).
Sobre a competência para instituição de contribuições
previdenciárias têm-se a ressaltar que não é privativa da União, mas estende-se
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para que instituam sistemas de
previdência e assistência social próprios para seus servidores, não sendo
37
possível a estes entes criarem regimes previdenciários para trabalhadores da
iniciativa privada, cuja competência é exclusiva da União. Nesse sentido,
transcreve-se a manifestação de Roque Antonio Carraza50:
Os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, enquanto organizam o sistema de previdência e assistência social de seus servidores, estão autorizados a instruir e a cobrar-lhes contribuições previdenciárias. Sob a Constituição de 1967/69, tal cobrança já se perfazia, mas enxameavam as divergências acerca de sua constitucionalidade. Agora inexistem dúvidas de que não só a União como as demais pessoas políticas, para o custeio da previdência e assistência social de seus servidores, têm competência para criar suas próprias contribuições previdenciárias, obedecendo, mutatis mutandis, às diretrizes acima apontadas.
1.4.2.1 Conceituação
Ao conceituar-se a contribuição social, está-se, de certa
forma, definindo as características dessa imposição estatal e sua natureza
jurídica, pontos que geram controvérsia entre os doutrinadores.
Para Gala Vallejo51, as contribuições sociais podem ser
conceituadas como “valores com que, a título de obrigações sociais, contribuem
os filiados, e os que o Estado estabelece para manutenção e financiamento dos
benefícios que outorga”.
Para Alfred Ruprecht52, a contribuição pode ser definida
como “uma obrigação legal que se impõe a entidades e indivíduos para que
contribuam para as despesas dos regimes de seguridade social, com base em
determinativos legais”.
50 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário, 9ª ed., São Paulo,
Malheiros, 1997, p. 351. 51 GALA, Vallejo, apud CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de
Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 192. 52RUPRECHT, Alfred. Direitos da seguridade social. São Paulo: LTr, 1996, p. 96.
38
O conceito de contribuição social dado por Hugo de Brito
Machado53 é de que o mesmo constitui uma “espécie de tributo com finalidade
constitucionalmente definida, a saber, intervenção no domínio econômico,
interesse de categorias profissionais ou econômicas e seguridade social”.
A contribuição para a Seguridade Social é uma espécie de
contribuição social, cuja receita tem por finalidade o financiamento das ações nas
áreas da saúde, previdência e assistência social.54
Constituem contribuições sociais, as quais são exigidas com
base nas leis que as instituíram, e que estão agrupadas no Regulamento da
Previdência Social:55
- as das empresas, incidentes sobre a remuneração para, devida ou
creditada aos segurados e demais pessoas físicas a seu serviço,
mesmo sem vínculo empregatício;
- as dos empregados domésticos, incidentes sobre o salário de
contribuição dos empregados domésticos a seu serviço;
- as dos trabalhadores, incidentes sobres seu salário de contribuição;
- as das associações desportivas que mantém equipe de futebol
profissional, incidentes sobre a receita bruta decorrentes dos
espetáculos desportivos de que participem em todo o território
nacional em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos
internacionais, e de qualquer forma de patrocínio, licenciamento de
53 MACHADO, Hugo de Brito. Custo de direito tributário, 10ª ed., São Paulo, Malheiros, 1995, p.
313. 54 Geraldo Ataliba observa que “a contribuição social é o tributo vinculado cuja hipótese de
incidência consiste numa atuação estatal indireta e mediata (mediante uma circunstância intermediária) referida ao obrigado (...) se o legislador ordinário federal batiza de contribuição um tributo, a finalidade em que deve ser aplicado o produto da arrecadação, necessariamente, será uma daquelas constitucionalmente previstas, quer no art. 149 da Constituição, quer nas outras disposições constitucionais referentes à matéria”. In ATALIBA, Geraldo. Hipóteses de incidência tributária. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 1996.]
55 O rol taxativo das contribuições encontra-se previsto no parágrafo único do artigo 195 do Decreto nº 3.048/99.
39
uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e transmissão de
espetáculos desportivos;
- as incidentes sobre a receita bruta proveniente da comercialização de
produção rural;
- as das empresas, incidentes sobre a receita ou faturamento e o lucro;
- as incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos.
1.4.2.2 Natureza Jurídica
A identificação da natureza jurídica das contribuições para a
Seguridade Social possui uma importância significativa, pois ajuda a compreender
as regras que lhes são aplicáveis.
Wladimir Novaes Martinez56 faz seu comentário:
A natureza jurídica da exação previdenciária é área na qual o Direito Previdenciário mais se relaciona com o direito tributário. Sede de formidáveis divergências entre publicistas e uns poucos previdenciaristas, tem estimulado enormemente os estudiosos e propiciando respeitável contribuição doutrinária”.
Várias teorias se formaram para definir a natureza jurídica
das contribuições sociais, dentre as quais destacam-se: a) a teoria fiscal; b) a
teoria parafiscal e; c) a teoria sui generis.
De acordo com a teoria fiscal, a contribuição para a
Seguridade Social tem natureza tributária, pois se trata de uma prestação
pecuniária compulsória instituída por lei e cobrada pelo ente público arrecadador
com a finalidade de custear as ações nas área da saúde, previdência e
assistência social.
56 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário. Tomo I – Noções de direito
previdenciário, São Paulo, Ltr, 1997, p. 241.
40
Demonstrando a natureza tributária da contribuição
seguridade social, vale transcrever a manifestação de Sérgio Pinto Martins57:
Na verdade, a contribuição tem natureza tributária, pois é uma prestação pecuniária, exigida em moeda ou valor que possa exprimir-se. É compulsória, pois independe da vontade da pessoa de contribuir. Tem previsão em lei. Não se constitui em sanção de ato ilícito e é cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada (lançamento). A contribuição está enquadrada no art.149 da Constituição, na parte final do dispositivo, quando faz referência à contribuição prevista no § 6º do art. 195 da Lei Maior. Trata-se, portanto, de tributo, na modalidade contribuição social. A execução judicial para a cobrança da Dívida Ativa da autarquia da União, que é o INSS, será regida pela Lei 6.830/80.
O fato de não se enquadrar como imposto, taxa ou
contribuição de melhoria, espécies de tributos relacionados no artigo 145 da
Constituição Federal de 1988 e artigo 5º do Código Tributário Nacional, não afasta
sua natureza tributária, isto porque a instituição das contribuições sociais está
prevista no artigo 149 da CRFB/88, que compõe o capítulo “Do Sistema Tributário
Nacional”.
Para os defensores da teoria parafiscal, há que se
diferenciar os tributos fiscais dos parafiscais. A contribuição para a Seguridade
Social teria a natureza da parafiscalidade, pois busca suprir os encargos do
Estado, que não lhe sejam próprios, no caso, o pagamento de benefícios
previdenciários. Sua arrecadação e administração são descentralizados, sendo
feitas por um órgão paralelo, no caso o Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS, que é uma autarquia federal, ente administrativo autônomo.
As receitas vão para um orçamento próprio, distinto do
orçamento da União, e o destino dos recursos é o atendimento das necessidades
econômicas e sociais de determinados grupos ou categorias profissionais e
57 MARTINS, Sérgio Pinto. Fundamentos de Direito da Seguridade Social, 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2002, p.34.
41
econômicas. Embora a exigência da contribuição seja compulsória, o regime
especial da contabilização financeira afasta a natureza fiscal.
Pela teoria da exação sui generis a contribuição à
Seguridade Social nada tem a ver com o direito tributário, não possuindo natureza
fiscal nem parafiscal. Trata-se de uma imposição estatal atípica, prevista na
Constituição Federal e na legislação, cuja natureza jurídica é especial.
Sergio Pinto Martins58, em sua exposição, defende que, a
partir da Constituição de 1988, as contribuições para a Seguridade Social
possuem natureza tributária. Segundo esse doutrinador, anteriormente à Carta
Magna de 1988, a natureza jurídica alterou-se em conformidade com as
modificações introduzidas no texto constitucional vigente:
No nosso entendimento a contribuição à Seguridade Social é tributo.
Tributo é gênero, do qual são espécies o imposto, a taxa, a contribuição de melhoria, as contribuições, ou até mesmo o empréstimo compulsório, segundo alguns juristas.
A jurisprudência vinha sendo pacífica no sentido de entender a contribuição à seguridade social como tributo até a edição da Emenda Constitucional nº 8, de 1977, que acrescentou o inciso X, do art. 43, à Emenda Constitucional nº 1, de 1969, e deu nova redação ao inciso I, do § 2º, do art. 21 da mesma emenda.
Com base nessas alterações passou-se a entender que o termo ‘contribuições sociais’ previsto no inciso X, do art. 43, da Emenda Constitucional nº 1, de 1969, tinha significado diverso da palavra ‘tributos’ contida no inciso I do mesmo artigo. O inciso I, do § 2º, do art. 21, da Emenda Constitucional nº 1, de 1969, com redação determinada pela Emenda Constitucional nº 8, não mais falava em interesses da previdência social, daí passou-se a entender que não mais tinha caráter tributário a contribuição securitária.
Com edição da Emenda Constitucional nº 8, de 1977, a Suprema Tribunal Federal passou a entender que não mais tinha a contribuição da seguridade social natureza de tributo, embora existam alguns julgados em sentido contrário naquela corte.
(...) No nosso entender o artigo 149 da Constituição (de 1988) consagra contribuições de natureza tributária, ao prever que compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de
58 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social, 11. ed. São Paulo: Atlas, 1999, p. 74-
75.
42
intervenção no domínio público e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, observados certos dispositivos constitucionais, e sem prejuízo do disposto no § 6º do art. 195 da Constituição, quanto às contribuições a que alude aquele preceito legal.
Roque Antonio Carrazza59 também defende a natureza
jurídica tributária das contribuições à Seguridade Social:
(...) as ‘contribuições’ são, sem sombra de dúvida, tributos, uma vez que devem necessariamente obedecer ao regime jurídico tributário. Insto é, aos princípios que informam a tributação, no Brasil. Estamos, portanto, que estas ‘contribuições sociais’ são verdadeiros tributos (embora qualificados pela finalidade que devem alcançar).
Em sentido contrário, Wladimir Novaes Martinez60 sustenta
que tal exação não possui natureza jurídica tributária:
Abrigando-se a existência de um Sistema Exacional Nacional, persistentes regras universais comuns às espécies tributárias e securitárias e inexistente menção à contribuição social previdenciária no art. 149 da Lei Maior – em face da especificidade da Previdência Social, o aporte ora cogitado econômico-financeiramente é salário socialmente diferido, e juridicamente, exação não-tributária.
Em nível jurisprudencial, deve-se observar a orientação
firmada pelo Supremo Tribunal Federal no sentido de que a contribuição para a
Seguridade Social é modalidade de tributo que não se enquadra na espécie de
imposto, taxa ou contribuição de melhoria.61
59 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário, 9ª ed., São Paulo,
Malheiros, 1997, p. 345. 60 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário. Tomo I – Noções de direito
previdenciário, São Paulo, Ltr, 1997, p. 272. 61 Nesse sentido, vide: RE nº 217.252-1/MG, 2ª Turma, rel. Ministro Nelson Jobim, DJU de
16.04.99; AGRAG nº 174.540-2/AM, 2ª Turma, rel. Min. Maurício Corrêa. DJU de 26.04.96.
43
Como base nas argumentações trazidas à baila pela
doutrina e pela jurisprudência, chega-se à conclusão de que, após a Constituição
de 1988, as contribuições destinadas ao financiamento da Seguridade Social
possuem natureza jurídica tributária, pois estão sujeitas ao regime constitucional
peculiar aos tributos, ressalvada apenas a previsão do § 6º do artigo 195 da Carta
Magna vigente.62
1.4.2.3 Características Gerais
As características gerais das contribuições sociais estão
previstas no art. 149 da Constituição Federal de 1988, que estabelece para a
instituição a observância das normas gerais do Direito Tributário e aos princípios
da legalidade e da anterioridade, ressalvando, quanto a este último, a regra
especial pertinente às contribuições para a Seguridade Social, cujo prazo de
exigibilidade é de noventa dias após a publicação da lei que institui, modifica ou
majora, de acordo com o previsto no art. 195, § 6º da Constituição Federal
vigente.
As normas gerais em matéria de legislação tributária, a que
estão sujeitas as contribuições sociais, estão previstas no Código Tributário
Nacional – Lei nº 5.172, de 25.10.66, a qual foi recepcionada pela Constituição de
1988 com status de lei complementar.63
62 Também conhecido como princípio da anterioridade mitigada ou anterioridade
nonagesimal, segundo o qual as contribuições sociais previstas no art. 195 da CRFB/88 somente poderão ser exigidas após decorridos 90 (noventa) dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, b da CRFB/88, segundo o qual é vedado ao Ente Público cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que o s instituiu ou aumentou.
63 Essa é a observação que faz Denerson Dias Rosa: “O Código Tributário Nacional, na época de sua publicação, ainda não denominado como tal, foi promulgado como lei ordinária, Lei n.º 5.172/66, sob a égide da Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 18/09/46, visto que não existia, perante este Diploma Constitucional, a figura da lei complementar. Quando da promulgação da Carta Constitucional de 1967, foi criada a figura da lei complementar e reservada a esta, pelo art. 18, §1º, abaixo transcrito, a competência para estabelecer normas gerais de direito tributário:
§1º Lei complementar estabelecerá normas gerais de direito tributário, disporá sôbre conflitos de competência tributária entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e regulará as limitações constitucionais do poder tributário."
44
A regulamentação das contribuições para a Seguridade
Social previstas no art. 195 da Constituição Federal de 1988 por meio de lei
ordinária (Lei nº 8.212/91) tem sido admitida, desde que não haja afronta às
normas gerais definidas na Constituição vigente e no Código Tributário Nacional.64
Como observam Carlos Alberto Pereira de Castro e João
Batista Lazzari65, “as contribuições destinadas ao financiamento da Seguridade
Social previstas nos Incisos I, II e III do art. 195 da Constituição podem ser
instituídas por lei ordinária. Todavia, para a instituição de outras fontes de custeio
destinadas a garantir a manutenção ou expansão da Seguridade Social,
estabeleceu o constituinte de 1988, no § 4º do art. 195, deve ser obedecida a
formalidade da edição de lei complementar a regular a matéria”. Nesse sentido,
dispõe a Carta Política de 1988:
Art. 154. A União poderá instituir:
I – mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição”.
Dessa disposição fica evidenciado, no tocante às
contribuições sociais, que a remissão trata, exclusivamente, da necessidade de lei
complementar para a criação de nova contribuição, uma vez que as outras
Como a Lei n.º 5.172/66 já disciplinava normas gerais em matéria tributária, foi esta recepcionada
pela Constituição de 1967 como lei complementar e, como se não bastasse a automática aplicabilidade do Princípio da Recepção, foi promulgado o Ato Complementar n.º 36, em 13/03/1967, que, em seu art. 7º, denominou esta lei de Código Tributário Nacional, conferindo-lhe status de lei complementar.
A Constituição Federal de 1969 manteve inalterado o §1º do art. 18 da Constituição Federal de 1967. Por conseguinte, tendo sido o Código Tributário Nacional recepcionado como lei complementar pela Carta Constitucional de 1967, e como a matéria por este tratada continuou, pelas Constituições posteriores, a de 1969 e a de 1988, reservada à lei complementar, manteve-se e mantém-se até hoje este código como lei complementar”. (ROSA, Denerson Dias. Da impossibilidade de suspensão do prazo prescricional nas execuções de débitos tributários. Dênerson Dias Rosa. Disponível em <www.fiscosoft.com.br> - Acesso em 01.07.2005).
64 Nesse sentido, vide os seguintes julgados do Supremo Tribunal Federal: AgR no RE nº 428.815-0/AM, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJU 24.06.2005 e ADI-MC 1802, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJU 13.02.2004.
65 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 197.
45
condições (não-cumulatividade, fato gerador e base de cálculo inéditos) são
específicas de espécie tributária, o imposto.
O Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de
que para a criação de nova contribuição social basta a observância do
pressuposto formal da lei complementar, o que pode ser verificado analisando-se
alguns julgados da Corte.66 E, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 138.284-
8/CE, na relatoria do Ministro Carlos Velloso, a Suprema Corte rejeitou o
argumento de inconstitucionalidade da contribuição incidente sobre o lucro das
pessoas jurídicas, por incidir sobre a mesma base de cálculo do imposto de
renda, nos seguintes termos:
Improcede, dessa forma, a alegação de inconstitucionalidade da contribuição social sobre o faturamento, a pretexto de que tem a mesma base de cálculo de impostos previstos na Constituição. Não ocorre bitributação vedada na Constituição entre a contribuição da Lei Complementar nº 70/91 e a contribuição para o Programa de Integração Social – PIS, por incidirem ambos sobre o faturamento. Não se revestindo a contribuição social da Lei Complementar nº 70/91 do caráter de imposto, nem se compreendendo entre as outras fontes de custeio previstas no art. 195, § 4º, não se aplica a vedação do inciso I do art. 154 da Constituição Federal. A existência de duas contribuições sobre a mesma base de cálculo – o faturamento – está autorizada na própria Constituição, em seus arts. 195, I, e 236, não se podendo falar em inconstitucionalidade, nem mesmo em antinomia entre normas constitucionais.
O princípio da anterioridade previsto no art. 150, III, letra b,
da Constituição Federal de 1988 veda a cobrança de tributo no mesmo exercício
financeiro em que haja sido publicada a lei que instituiu ou aumentou. O exercício
financeiro começa no dia 1º de janeiro e se prolonga até o dia 31 de dezembro de
cada ano.67
66 Como, por exemplo, a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.102-2, sendo Relator o Ministro
Maurício Corrêa, in DJU, seção I, de 17.11.95, p. 39205. 67 Importante observação a ser feita ao referido princípio diz respeito à publicação da recente
Emenda Constitucional nº 42, de 19 de dezembro de 2003 que, ao acrescentar a alínea “c” ao
46
Para as contribuições à Seguridade Social, a Constituição de
1988 estabeleceu a observância de uma norma de anterioridade especial68
prevista no art. 195, § 6º, no sentido de que só poderão ser exigidas após
decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado. Sendo assim, às contribuições sociais não se aplica o disposto no art.
150, III, b, da Constituição Federal vigente, podendo ser exigidas no mesmo
exercício financeiro, desde que respeitada a anterioridade dos noventa dias.
As contribuições sociais estão, em regra, sujeitas ao
lançamento por homologação. O sujeito passivo antecipa o pagamento respectivo
sem que a autoridade administrativa tenha examinado os elementos com base
nos quais foi a mesma calculada.
As normas sobre o lançamento por homologação estão
previstas no art. 150 do Código Tributário Nacional e no art. 32 da Lei nº 8.212/91,
o qual estabelece ser obrigação da empresa lançar mensalmente em títulos
próprios de sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos geradores de todas
as contribuições, o montante das quantias descontadas, as contribuições da
empresa e os totais recolhidos.
1.4.3 Outras Receitas da Seguridade Social
Segundo o art. 27 da Lei nº 8.213/91, constituem outras
receitas da Seguridade Social69: a) as multas (moratórias e por descumprimento
de obrigações acessórias), a atualização monetária e os juros moratórios; b) a
remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e cobrança
inciso III do art. 150, dispôs ser vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos “antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b”. Essa medida vem conferir maior garantia ao contribuinte, uma vez que, embora obedecido o já conhecido princípio da anterioridade, o lapso mínimo de 90 (noventa) dias terá que ser observado, ainda que a instituição do tributo ocorra em exercício financeiro subseqüente e diverso do qual foi instituído.
68 Também conhecido pela doutrina como princípio da anterioridade mitigada ou anterioridade nonagesimal.
69 A relação completa, bem como os detalhes sobre referidas receitas podem ser obtidas pela leitura do art. 27 da Lei nº 8.212/91.
47
prestados a terceiros – art. 274 do Decreto nº 3.048/99; c) as receitas
provenientes de prestação de outros serviços e de fornecimento ou arrendamento
de bens; d) as demais receitas patrimoniais, industriais e financeiras; e) as
doações, legados, subvenções e outras receitas eventuais; f) 50 % (cinquenta por
cento) dos valores obtidos e aplicados na forma do parágrafo único do art. 243 da
Constituição Federal de 1988; g) 40 % (quarenta por cento) do resultado dos
leilões dos bens apreendidos pela Receita Federal; h) outras receitas previstas
em legislação específica.
As companhias seguradoras que mantêm o seguro
obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de vias
terrestres, de que trata a Lei nº 6.194 de dezembro de 1974, deverão repassar à
Seguridade Social 50% (cinqüenta por cento) do valor total do prêmio recolhido,
destinado ao Sistema Único de Saúde – SUS, para custeio da assistência
médico-hospitalar dos segurados vitimados em acidentes de trânsito.
1.5 DIVISÃO DA SEGURIDADE SOCIAL
A Seguridade Social, segundo a exegese contida no art. 194
da Carta Magna de 1988, está dividida constitucionalmente em três segmentos:
saúde, previdência e a assistência social.
1.5.1 SAÚDE
O artigo 196 da Constituição Federal vigente assim define a
categoria saúde:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
48
Segundo o disposto na Lei Maior, a saúde é direito de todos.
Para tanto, estabelecer-se-ão políticas sociais e econômicas que objetivem
reduzir o risco de doença, bem assim facilitar o acesso aos serviços de
recuperação da higidez física e mental. Os Princípios e diretrizes básicas das
atividades de saúde estão assim discriminados no artigo 198 da Constituição
Federal de 1988:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade.
Na área da saúde, a atividade estatal não se limita ao
ataque às doenças. Antes, mais importante, é evitá-las. Por isso que as ações
sanitárias envolvem outros fatores e condicionantes, dentre os quais a
alimentação, a moradia, o saneamento básico, a prevenção do meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso a serviços e bens
essenciais.
Por fim, Marcelo Leonardo Tavares70 observa que não há
que se “confundir a exploração da saúde privada com a prestação de saúde
pública por entidades privadas. A primeira é livre aos profissionais habilitados
profissionalmente (art. 199), cobrando o preço que entenderem justo na prestação
de seus serviços”.
1.5.2 PREVIDÊNCIA SOCIAL
A Previdência Social tem como objetivo o acesso aos meios
indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego
70 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 6ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2005, p. 15.
49
involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares, reclusão e
morte. É vista como um sistema de seguro social público, através do qual são
distribuídos direitos àqueles que contribuem.
Esse sistema, nos termos do artigo 201 da Carta Magna
vigente, será organizado sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de
filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes.
Referentemente ao Regime Geral de Previdência Social,
administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS e aplicável aos
trabalhadores da iniciativa privada, bem como aos servidores ocupantes de
cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração71, a
regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à previdência social é
feita pelas Leis nº 8.212/91, 8.213/91 e pelo Decreto nº 3.048/99.
Já no que diz respeito ao sistema de previdência dos
servidores públicos titulares de cargos efetivos, a regulamentação dos
dispositivos constitucionais é feita pelas Leis nº 9.717/98 e 10.887/2004.
71 Importante observar que, com a promulgação da Emenda Constitucional nº 20, de 15 de
dezembro de 1998, e a inclusão do § 13 ao art. 40 da CRFB/88, “Ao servidor ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração bem como de outro cargo temporário ou de emprego público, aplica-se o regime geral de previdência social”.
50
1.5.3 ASSISTÊNCIA SOCIAL
A assistência social é outro sistema de proteção da pessoa,
cujos benefícios são entregues independentemente de qualquer contribuição. Sua
finalidade é não permitir que a pessoa humana seja relegada à condição de
indigência, despida de necessidades mínimas para uma sobrevivência digna.
Pata J. Franklin Alves Felipe72, “ao lado do seguro social
previdenciário, o Estado presta também assistência social em certas
circunstâncias (velhice, doença, etc.), em caráter normalmente geral e de forma
voluntária, posto que não retribui, nesses casos, contribuições recebidas”.
São objetivos da assistência social, de acordo com o artigo
203 da CRFB/88:
I - proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção de integração ao mercado de trabalho; IV - a habitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Por oportuno, nesse sentido, trazer à baila manifestação
exposta por Marcelo Leonardo Tavares73:
A principal característica da assistência social é ser prestada gratuitamente aos necessitados.
72 FELIPE, J. Franklin Alves. Previdência Social na Prática. 3ª ed., Rio de Janeiro: Forense,
1994. 73 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito Previdenciário. 6ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2005, p. 17-18.
51
A assistência social é um plano de prestações sociais mínimas e gratuitas a cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condições dignas de vida. É um direito social fundamental e, para o Estado, um dever a ser realizado através de ações diversas que visem atender às necessidades básicas do indivíduo, em situações críticas da existência humana, tais como a maternidade, infância, adolescência, velhice e para pessoas portadoras de limitações físicas.
A regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à
assistência social foi conferida à Lei nº 8.742/93, também conhecida como Lei
Orgânica da Assistência Social – LOAS.
CAPÍTULO 2
52
O REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL NO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO
2.1 INTRÓITO
Principal regime previdenciário na ordem interna, o RGPS
abrange obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, dentre os
quais destacam-se: os trabalhadores que possuem relação de emprego regida
pela Consolidação das Leis do Trabalho (empregados urbanos, mesmo os que
estejam prestando serviço a entidades paraestatais, os aprendizes e os
temporários), pela Lei nº 5.889/73 (empregados rurais) e pela Lei nº 5.859/72
(empregados domésticos); os trabalhadores autônomos, eventuais ou não; os
empresários titulares de firmas individuais ou sócios gestores e prestadores de
serviços; trabalhadores avulsos, pequenos produtores rurais e pescadores
artesanais trabalhando em regime de economia familiar; e outras categorias de
trabalhadores, como garimpeiros, empregados de organismos internacionais,
sacerdotes, etc. Segundo estudos, atinge cerca de 86% (oitenta e seis por cento)
da população brasileira amparada por algum regime previdenciário.74
É regido pela Lei nº 8.213/9175, intitulada “Plano de
Benefícios da Previdência Social”, sendo de filiação compulsória e automática
para os segurados obrigatórios, permitindo, ainda, que pessoas que não estejam
enquadrados como obrigatórios e não tenham regime próprio de previdência se
inscrevam como segurados facultativos, passando também a serem filiados ao
RGPS. É o único regime previdenciário compulsório brasileiro que permite a
adesão de segurados facultativos, em obediência ao princípio da universalidade
do atendimento – art. 194, I, da Constituição Federal de 1988.
Sua gestão é realizada pelo Instituto Nacional do Seguro
Social – INSS, autarquia federal responsável pela arrecadação de contribuições 74 STEPHANES, Reinold. Reforma da previdência sem segredos. Rio de Janeiro, Record, 1998,
p. 34. 75 A relação completa dos segurados do Regime Geral de Previdência Social está contida no art.
11 da Lei nº 8.213/91, regulamentada pelo Decreto nº 3.048/99.
53
sociais para a Seguridade Social e, também, pela concessão de benefícios e
serviços do RGPS.
2.2 DOS BENEFICIÁRIOS DO RGPS
Antes de iniciar a matéria em si, é necessário fazer uma
definição do que sejam beneficiários da Previdência Social.
Miguel Horvath Junior e Priscila Tanaca76 assim se
expressam quanto à categoria beneficiários, verbis:
Beneficiário é toda pessoa protegida pelo sistema previdenciário, seja na qualidade de segurado ou dependente. Os beneficiários são os sujeitos ativos das prestações previdenciárias.
Nas palavras de Rosni Ferreira77, em sintonia com o artigo
8° do Decreto n°.3.048/99, “são beneficiários do Regime Geral de Previdência
Social as pessoas físicas classificadas como segurados e dependentes [...]”.
2.2.1 Segurados
São pessoas físicas que contribuem de forma obrigatória ou
facultativa ao sistema de Previdência Social.
Para Miguel Horvath Junior e Priscila Tanaca78 “Os
segurados são as pessoas que mantêm vinculo com a previdência social [...]”.
Os segurados da Previdência Social são classificados em
facultativos79 e obrigatórios80.
76 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª
ed., São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.25. 77 FERREIRA, Rosni. Guia Prático de Previdência Social. Volume I, 3ª ed., atualizada. São
Paulo: LTr, 1999, p.44. 78 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª
ed., São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.25. 79 A relação completa dos segurados facultativos poderá ser verificada analisando-se o artigo 11
do Decreto nº 3.048/99.
54
Os segurados facultativos são aqueles que, por sua livre e
espontânea vontade, criam um vinculo com a Previdência Social, filiando-se ao
Regime Geral de Previdência Social.
Os obrigatórios são todas aquelas pessoas que possuem um
vinculo empregatício, exercendo qualquer atividade remunerada, seja de natureza
rural ou urbana.
Estas espécies de segurados estão dispostas no Decreto n°.
3.048/99 que, nos artigos 9° e 11, dispõem, respectivamente, sobre os segurados
obrigatório e facultativo.
2.2.2 Dependentes
Dependentes são pessoas que, segundo a lei, vinculam-se
economicamente aos segurados, cujo rol encontra-se taxativamente descrito no
art. 16 da Lei nº 8.213/91.
No magistério de Rosni Ferreira81:
Dependentes são aquelas pessoas que se vinculam à Previdência Social de forma reflexa, ou seja, através do segurado. O relacionamento entre o órgão segurador oficial e o dependente tem como fato gerador a relação do seguro social existente com o segurado, do qual depende economicamente.
Assim para existência da categoria dependente é necessário que exista o aspecto financeiro entre este e um segurado expressa indicação na lei.
Segundo o artigo 16 da Lei 8.213/91, os dependentes dos
segurados podem ser: o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não 80 Muito embora a legislação não faça uma definição precisa do termo “segurado obrigatório” do
Regime Geral de Previdência Social, a relação completa dos mesmos pode ser obtida analisando-se o artigo 9º do Decreto nº 3.048/99. Não os arrolamos ao presente estudo, tendo em vista o respeito à delimitação do tema, porque não é o objetivo principal da pesquisa e da monografia.
55
emancipado de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou invalido, os pais,
ou o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de vinte e um anos ou
invalido.
Nos balizados ensinamentos de Miguel Horvath Junior e
Priscila Tanaca82:
A dependência para o Direito previdenciário pode ser juridicamente ou jurídica e econômica a legislação previdenciária trata de dependentes presumidos e comprovados. Os dependentes presumidos são aqueles que não precisam demonstrar a dependência econômica, apenas o liame jurídico entre eles e o segurado. Já os dependentes econômicos são aqueles que devem provar que vivem as expensas do segurado.
A existência de dependente de qualquer das classes
constantes do art. 16 da Lei nº 8.213/91 exclui do direito às prestações os das
classes seguintes.
.Apesar do fato da Lei nº 8.213/91 fazer menção ao
companheiro(a) do sexo oposto, é matéria já pacificada nos tribunais a concessão
de pensão à companheiro ou companheiro homossexual ou homoafetivo, o que
está amparado pelo art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, na interpretação conferida pela
Instrução Normativa INSS n. 25/2000, sendo esse assunto objeto de pacífica
jurisprudência.83
Importante fato a ser observado é que a dependência
econômica das pessoas indicadas no inciso I do art. 16 da Lei nº 8.213/91 é
presumida e as das demais deve ser comprovada.
81 FERREIRA, Rosni. Guia Prático de Previdência Social. Volume I, 3ª ed., atualizada. São
Paulo: LTr, 1999, p. 59. 82 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª
ed., São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.38. 83 Nesse sentido, no STJ, vide: REsp 395.904/RS, Relator Ministro Hélio Quáglia Barbosa, 6ª
Turma, DJ 06.02.2006.
56
2.3 DOS PERÍODOS DE CARÊNCIA PARA A OBTENÇÃO DOS BENEFÍCIOS
Segundo a exegese do artigo 24 da Lei 8.213/91, o período
de carência é um período de tempo onde os segurados não têm direito a
determinadas prestações, em razão de ainda não haverem recolhido o número
mínimo de contribuições mensais exigidas para a obtenção do beneficio a ser
pleiteado.
Para Rosni Ferreira84 o período de carência “é o número de
contribuições mensais sem interrupção que determine a perda da qualidade de
segurado, ou seja, é o período de contribuição exigido por lei para que o
contribuinte adquira e mantenha a qualidade de segurado [...]”.
O artigo 24 da Lei nº 8.213/91 esclarece com precisão o
significado do período de carência85:
Art. 26. Período de carência é o número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências.
Comentando o artigo 24 da Lei n°. 8.213/91, Miguel Horvath
Junior e Priscila Tanaca86 arrematam:
O art. 24 da Lei n° 8.213/91 estabelece que o período de carência é o número mínimo de contribuições indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de sua competências.
De acordo com o artigo 28, e seus incisos do Decreto n°.
3.048/99, o período de carência inicia-se:
84 FERREIRA, Rosni. Guia Prático de Previdência Social. Volume I, 3ª ed., atualizada. São
Paulo: LTr, 1999, p.82. 85BRASIL. Decreto n°. 3.048/99. Disponível em http://www.planalto.gov.br. Acesso em 18 jun.
2007. 86 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª ed.,
São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.45.
57
Art. 28. O período de carência é contado:
I - para o segurado empregado e trabalhador avulso, da data de filiação ao Regime Geral de Previdência Social; e
II - para o segurado empregado doméstico, contribuinte individual, observado o disposto no § 4o do art. 26, e facultativo, inclusive o segurado especial que contribui na forma do § 2o do art. 200, da data do efetivo recolhimento da primeira contribuição sem atraso, não sendo consideradas para esse fim as contribuições recolhidas com atraso referentes a competências anteriores, observado, quanto ao segurado facultativo, o disposto nos §§ 3o e 4o do art. 11.
§ 1o Para o segurado especial que não contribui na forma do § 2o do art. 200, o período de carência de que trata o § 1o do art. 26 é contado a partir do efetivo exercício da atividade rural, mediante comprovação, na forma do disposto no art. 62.
§ 2º O período a que se refere o inciso XVIII do art. 60 será computado para fins de carência.
§ 3º Para os segurados a que se refere o inciso II, optantes pelo recolhimento trimestral na forma prevista nos §§ 15 e 16 do art. 216, o período de carência é contado a partir do mês de inscrição do segurado, desde que efetuado o recolhimento da primeira contribuição no prazo estipulado no referido § 15.
Sobre o período de carência para a concessão dos
benefícios no RGPS, lapidares são os comentários de Miguel Horvath Junior e
Priscila Tanaca87:
Inicia-se a contagem do período de carência para o segurado empregado e trabalhador avulso a partir da data da filiação ao
87 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª ed.,
São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.45.
58
Regime Geral da Previdência Social. Para os contribuintes individuais, empregados domésticos, segurados especiais (se contribuintes facultativos) e segurados facultativos, inicia-se a contagem a partir da data do pagamento efetivo da primeira contribuição sem atraso, não sendo consideradas para este fim as contribuições recolhidas com atraso referente a competência anteriores (art. 28, caput, do Decreto n°. 3.048/99).
Contudo, nem todos os benefícios dependem de um número
mínimo de contribuições a Previdência Social, visto que o artigo 26 da Lei nº
8.213/91 dispõe que independe de carência a concessão de determinadas
prestações:
Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:
I - pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente;
II - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Previdência Social a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado;
III - os benefícios concedidos na forma do inciso I do art. 39, aos segurados especiais referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei;
IV - serviço social;
V - reabilitação profissional.
59
VI – salário-maternidade para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa e empregada doméstica.
Em caso de ocorrência da perda da qualidade de segurado,
poderá o segurado utilizar-se das contribuições anteriores, a partir da nova
filiação, desde que conte com um número mínimo de contribuições.
Conforme disposto no artigo 27- A do Decreto n° 3.048/99:
Art. 27-A. Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa perda somente serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação ao Regime Geral de Previdência Social, com, no mínimo, um terço do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida no art. 29.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput ao segurado oriundo de regime próprio de previdência social que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social após os prazos a que se refere o inciso II do caput e o § 1º do art. 13.
Horvath Junior88 esclarece que:
Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa data só serão computadas para efeito de carência depois de o segurado contar, a partir da nova filiação a previdência social, com o mínimo de 1/3 do numero de contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida para o beneficio a ser requerido.
88 HORVATH JUNIOR, Miguel. Direito Previdenciário.4ª ed.São Paulo:Quartier Latin, 2004,
p.124.
60
2.4 DOS BENEFÍCIOS DE RENDA MENSAL
Benefícios são as prestações asseguradas pelo órgão
previdenciário aos beneficiários, quer em dinheiro (auxílios, aposentadoria e
pensão) ou em utilidades (serviços e remédios).89
Os benefícios do Regime Geral de Previdência Social são
classificados de três formas determinantes para a sua concessão:
I – quanto ao segurado: a) aposentadoria por invalidez; b)
aposentadoria por idade; c) aposentadoria por tempo de contribuição; d)
aposentadoria especial; e) auxílio-doença; f) salário-família; g) salário
maternidade; h) auxílio-acidente.
II – quanto ao dependente: a) pensão por morte; b) auxílio-
reclusão.
III – quanto ao segurado e dependente: a) serviço social;
b) reabilitação profissional.
O sistema previdenciário brasileiro oferece 10 modalidades
de benefícios além da aposentadoria. Que estão definidos na seqüência.
Os benefícios previdenciários são calculados com base no
salário-de-benefício.90
89 Disponível em: http: //www.centraljuridica.com/doutrina/54/direito_da_previdencia_
social.html. Acesso em 18 jun.2007. 90 O salário-de-benefício corresponde ao valor pecuniário que o segurado perceberá quando for
elegível a algum benefício do Regime Geral de Previdência Social - RGPS. Segundo o art. 3º da Lei nº 9.876/99, para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação da referida Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994.
61
2.4.1 Da aposentadoria por invalidez
A aposentadoria por invalidez será devida ao segurado que,
estando ou não em gozo de auxílio doença, for considerado incapaz e
insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a
subsistência, sendo-lhe pago enquanto permanecer nessa condição. Corresponde
a uma renda mensal de 100% do salário de benefício, inclusive a decorrente de
acidente de trabalho.91
Dispõe o artigo 43 do Decreto 3.048/99 que:
Art. 43. A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida a carência exigida, quando for o caso, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz para o trabalho e insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nessa condição.
Segundo o Ministério da Previdência Social, 92 é o beneficio
concedido aos trabalhadores que, por doença ou acidente, forem considerados
pela perícia médica da Previdência Social incapacitados para exercer suas
atividades ou outro tipo de serviço que lhes garanta o sustento.
Ainda destaca o Ministério da Previdência Social93 que não
tem direito à aposentadoria por invalidez quem, ao se filiar à Previdência Social, já
tiver doença ou lesão que geraria o benefício, a não ser quando a incapacidade
resultar no agravamento da enfermidade. Quem recebe aposentadoria por
invalidez tem que passar por perícia médica de dois em dois anos, sob pena do
beneficio ser suspenso. A aposentadoria deixa de ser paga quando o segurado
recupera a capacidade e volta ao trabalho.
91 Disponível em: http: //www.centraljuridica.com/doutrina/54/direito_da_previdencia_
social.html. Acesso em 18 jun.2007. 92BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em: http://www.mpas.gov.br/ Acesso em
18 jun.2007. 93 BRASIL. Ministeiro da Previdência Social. http://www.mpas.gov.br. Acesso em 18 jun. 2007.
62
Para ter direito ao benefício, o trabalhador tem que contribuir
para a Previdência Social por no mínimo 12 meses, no caso de doença. Se for
acidente, esse prazo de carência não é exigido, sendo, todavia, necessário estar
inscrito na Previdência Social.
Segundo Rosni Ferreira94:
A aposentadoria por invalidez é devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxilio- doença, for considerado, por exame médico- pericial, total e definitivamente incapaz para o exercício de atividade que lhe garante a subsistência. Em nenhuma hipótese os setores de benefícios poderão conceder aposentadoria por invalidez baseados em conclusão médica emitidas pelos Grupamentos Médicos- periciais em exame inicial, um vez que tal conclusão estará sujeita a revisão pelas Regionais de Perícias Médicas.
Utilizando-se do conceito de Russomano95, “aposentadoria
por invalidez é o beneficio decorrente da incapacidade do segurado para o
trabalho, sem perspectiva de reabilitação para o exercício de atividade capaz de
lhe assegurar a subsistência”.
A aposentadoria por invalidez tem sua previsão legal nos
artigos 42 a 47 da Lei 8.213/91 e nos artigos 43 a 50 do Decreto n°. 3.048/99.
2.4.2 Da aposentadoria por idade
É o beneficio que visa garantir ao segurado a sua
manutenção quando atingir idade avançada que o impossibilite de continuar a
exercer sua atividade profissional. 96
94 FERREIRA, Rosni. Guia Prático de Previdência Social. Volume I, 3ª ed., atualizada. São
Paulo: LTr, 1999, p.111. 95 Conforme: CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Op. cit., p.491. 96 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª ed.,
São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.76.
63
De acordo com o autor Carlos Alberto Pereira de Castro97 a
aposentadoria por idade, criada pela Lei Orgânica da Previdência Social – Lei n.
3.807/60 – e hoje mantida pela Lei n. 8.213/91, é devida ao segurado que,
cumprida a carência exigida, completar 65 anos de idade, se homem, ou 60 anos
de idade, se mulher.
Deve-se salientar que estes limites são reduzidos em cinco
anos no caso de trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam
suas atividades em regime de economia familiar. A Constituição Federal de 1988
em seu artigo 201, § 7°, inciso II, acrescenta ainda como trabalhador rural o
garimpeiro e o pescador artesanal.
Conforme destaca o artigo 51 do Decreto 3.048/99:
Art. 51. A aposentadoria por idade, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado que completar sessenta e cinco anos de idade, se homem, ou sessenta, se mulher, reduzidos esses limites para sessenta e cinqüenta e cinco anos de idade para os trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea "a" do inciso I, na alínea "j" do inciso V e nos incisos VI e VII do caput do art. 9º, bem como para os segurados garimpeiros que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido no § 5º do art. 9º.
Conforme o Ministério da Previdência Social98, para solicitar
este beneficio, os trabalhadores urbanos inscritos a partir de 25 de julho de 1991
precisam comprovar 180 contribuições mensais. Os rurais têm de provar, com
documentos, 180 meses de trabalho no campo. Para fins de aposentadoria por
idade do trabalhador rural, não será considerada a perda da qualidade de
segurado nos intervalos entre as atividades rurícolas, devendo, entretanto, estar o
segurado exercendo a atividade rural na data de entrada do requerimento ou na
data em que implementou todas as condições exigidas para o benefício.
97 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de Direito
Previdenciário, 4ª ed., São Paulo, LTr, 2003, p.497. 98BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em: http://www.mpas.gov.br/ Acesso em
19 jun.2007.
64
Deve-se salientar que aos segurados já vinculados ao
sistema previdenciário até a data da Lei 8.213/91 (em 24/07/1991), aplica-se a
tabela de transição prevista no artigo 142 da Lei citada.
Pode-se exemplificar a tabela do art. 142 da Lei 8.213/91 da
seguinte forma: para um segurado homem, que na data de 1999, completou a
idade de 65 anos, bastariam apenas 108 (cento e oito), contribuições, ou seja, 9
anos contribuindo para requerer o beneficio da aposentadoria por idade. Já neste
ano de 2007, se um homem completar 65 anos será necessário 156 contribuições
para o mesmo conseguir se aposentar por idade, perfazendo um total de 13 anos
contribuição.
De acordo com a Instrução Normativa/INSS/DC nº 96 de
23/10/2003, o trabalhador rural (empregado, contribuinte individual ou segurado
especial), enquadrado como segurado obrigatório do RGPS, pode requerer
aposentadoria por idade, no valor de um salário-mínimo, até 25 de julho de 2006,
desde que comprove o efetivo exercício da atividade rural, ainda que de forma
descontínua, em número de meses igual à carência exigida. 99
Segundo a Lei nº. 10.666, de 8 de maio de 2003, a perda da
qualidade de segurado não será considerada para a concessão de aposentadoria
por idade, desde que o trabalhador tenha cumprido o tempo mínimo de
contribuição exigido. Nesse caso, o valor do benefício será de um salário mínimo,
caso não hajam contribuições depois de julho de 1994.100
A Instrução Normativa/INSS/DC nº 96 de 23/10/2003, explica
que a aposentadoria por idade, requerida no período de 13/12/2002 a 08/05/2003,
vigência da Medida Provisória nº 83/2002, poderá ser concedida desde que o
segurado conte com, no mínimo, 240 (duzentos e quarenta) contribuições, com ou
sem a perda da qualidade de segurado entre elas. 101
99 BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em:. Acesso em 19 jun.2007 100 BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em 101 BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em:em 19 jun.2007.
65
Rosni Ferreira102 observa que a aposentadoria por idade é
irreversível e irrenunciável, uma vez que o beneficiário recebe o primeiro
pagamento o mesmo não poderá desistir do beneficio. E a extinção do beneficio
só se dá pela morte do segurado. O trabalhador não precisa sair do emprego
para requerer a aposentadoria, segundo o que estabelece o artigo 49 da Lei
8.213/91.
A aposentadoria por idade tem sua previsão legal nos
artigos 48 a 51 da Lei 8.213/91 e artigos 51 a 55 do Decreto n°. 3.048/99.
2.4.3 Da aposentadoria por tempo de contribuição
Antes da Emenda Constitucional nº 20/98, esta
aposentadoria era denominada aposentadoria por tempo de serviço e somente
após a referida Emenda Constitucional que passou a chamar-se aposentadoria
por tempo de contribuição. Segundo o Decreto 3.048/99:
Art. 56. A aposentadoria por tempo de contribuição será devida ao segurado após trinta e cinco anos de contribuição, se homem, ou trinta anos, se mulher, observado o disposto no art. 199-A.
Miguel Horvath Junior e Priscila Tanaca103 explicam que
“não há, após a Emenda em comento, a aposentadoria proporcional; só existe a
aposentadoria por tempo integral, ressalvado os casos daqueles que já estavam
filiados ao sistema antes da EC 20/98”.
Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari104
comentam que “considera-se tempo de contribuição, além daquelas em que
efetivamente houve o pagamento da contribuição pelo segurado, os períodos em
atividades previstas no art. 60 do Decreto n. 3.048/99[...]”.
102 FERREIRA, Rosni. Guia Prático de Previdência Social. Volume I, 3ª ed., atualizada. São
Paulo: LTr, 1999, p.117. 103 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª
ed., São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.80.
66
Em relação ao segurado empregado e trabalhador avulso,
as contribuições são consideradas como presumidamente realizadas, não sendo
necessária a comprovação das mesmas conforme artigo 34, I e 35 da Lei
8.213/91. É que a responsabilidade pelo recolhimento é conferido ao empregador,
no caso de empregado, e ao tomador de serviços, no caso do trabalhador avulso.
O segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social
até 16 de dezembro de 1998, cumprida a carência exigida, terá direito a
aposentadoria, com valores proporcionais ao tempo de contribuição, quando,
cumulativamente, contar cinqüenta e três anos ou mais de idade, se homem, e
quarenta e oito anos ou mais de idade, se mulher; e contar tempo de contribuição
igual, no mínimo, à soma de trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se
mulher; e um período adicional de contribuição equivalente a, no mínimo,
quarenta por cento do tempo que, em 16 de dezembro de 1998, faltava para
atingir o limite de tempo de contribuição de 30 anos para o homem e de 25 aos
para a mulher. (artigo 188, do Decreto 3.048/99).
O valor da renda mensal da aposentadoria proporcional será
equivalente a setenta por cento do valor da aposentadoria integral, acrescido de
cinco por cento por ano de contribuição que supere 30 anos, para o homem, e 25
anos para mulher, até o limite de cem do salário beneficio da aposentadoria
integral. (§2° do artigo 188, do Decreto 3.048/99).
A aposentadoria por tempo de contribuição tem sua
previsão legal nos artigos 52 a 56 da Lei 8.213/91 e artigos 56 a 63 do Decreto n°.
3.048/99.
É importante salientar-se que a essa aposentadoria aplica-
se, obrigatoriamente, o Fator Previdenciário, instituído pela Lei 9.876/99, que
considera as variáveis da idade, do tempo de contribuição e da expectativa de
sobrevida do segurado no momento do requerimento do benefício. Sua fórmula
pode ser assim expressa:
104 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de Direito
Previdenciário, 4ª ed., São Paulo, LTr, 2003, p.511.
67
Formula retirada do anexo da Lei 9.876/99105 onde:
f = fator previdenciário;
Es = expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria;
Tc = tempo de contribuição até o momento da aposentadoria;
Id = idade no momento da aposentadoria;
a= alíquota de contribuição correspondente a 0,31.
2.4.4 Da aposentadoria especial
A aposentadoria especial é um beneficio concedido aos
trabalhadores assegurados pela Previdência Social que tenham trabalhado em
condições prejudiciais a saúde ou a integridade física.
Miguel Horvath Junior e Priscila Tanaca106 explicam que:
É uma espécie do gênero da aposentadoria por tempo de contribuição. Neste caso, há requisitos essenciais que deverão ser cumpridos para sua concessão: tempo de carência exigido por lei e atividade que prejudique a saúde ou a integridade física, químico e biológicos ou associação de agentes prejudiciais acima do nível de tolerância aceito, ocorre a perda da integridade física e mental do trabalhador em ritmo mais rápido.
Neste sentido, assim expressa o artigo 64 §1° do Decreto n°.
3.048/99:
Art. 64. A aposentadoria especial, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso
105 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/Leis/L9876.htm. Acesso em:29/08/2007. 106 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª
ed., São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.85.
68
e contribuinte individual, este somente quando cooperado filiado à cooperativa de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
§ 1º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo segurado, perante o Instituto Nacional do Seguro Social, do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, exercido em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado no caput.
A aposentadoria especial tem sua previsão legal nos artigos
57 a 58 da Lei nº 8.213/91 e artigos 64 a 70 do Decreto n° 3.048/99.
2.4.5 Do auxílio-doença
Disciplinada nos artigos 59 a 64 da Lei nº 8.213/91 e nos
artigos 71 a 80 do Decreto n° 3.048/99O auxílio-doença é um beneficio concedido
ao segurado da previdência social que fique impedido de trabalhar por mais de 15
dias em razão de uma doença ou acidente. No caso dos trabalhadores com
carteira assinada, os primeiros 15 dias são pagos pelo empregador, e a
Previdência Social paga a partir do 16º dia de afastamento do trabalho. No caso
do contribuinte individual (empresário, profissionais liberais, trabalhadores por conta própria, entre outros), a Previdência paga todo o período da doença ou do
acidente (desde que o trabalhador tenha solicitado o benefício).
Para ter direito ao benefício, o trabalhador tem de contribuir
para a Previdência Social por, no mínimo, 12 meses. Esse prazo não será exigido
em caso de acidente de qualquer natureza (por acidente de trabalho ou fora do
69
trabalho). Para concessão de auxílio-doença é necessária a comprovação da
incapacidade em exame realizado pela perícia médica da Previdência Social. 107
Conforme prevê o artigo 71 e parágrafos do Decreto
3.048/99 o benefício auxílio-doença será pago pela Previdência Social a partir do
16º dia:
Art. 71. O auxílio-doença será devido ao segurado que, após cumprida, quando for o caso, a carência exigida, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos.
§ 1º Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão do benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.
§ 2º Será devido auxílio-doença, independentemente de carência, aos segurados obrigatório e facultativo, quando sofrerem acidente de qualquer natureza.
2.4.6 Do salário-família
Salário-família é um beneficio pago aos trabalhadores com
salário mensal de até R$ 676,27 (seiscentos e setenta e seis reais e vinte e sete
centavos), para auxiliar no sustento dos filhos de até 14 anos incompletos ou
inválidos. Deve salientar que são equiparados aos filhos, os enteados e os
tutelados que não possuem bens suficientes para o próprio sustento. O valor do
salário- família será de R$ 23,08 (vinte e três reais e oito centavos), por filho de
até 14 anos incompletos ou invalido, para quem perceber remuneração de até R$
449,93 (quatrocentos e quarenta e nove reais e noventa e três centavos). Para o
107 Disponível em: http://www.mpas.gov.br/pg_secundarias/beneficios_03.asp. Acesso em 19
jun. 2007.
70
trabalhador que receber de R$ 449,94 até 676,27, o valor do salário-família por
filho de até 14 anos incompletos ou inválido, será de R$ R$ 16,26 (dezesseis
reais e vinte e seis centavos).108
Ainda sob o enfoque conferido por Rosni Ferreira: 109
Salário-família será devido, mensalmente, ao segurado empregado, exceto o domestico, e ao trabalhador avulso, que tenha sob seu sustento filhos ou equiparados menores de 14 anos ou invalido considerado incapaz, pela perícia médica do INSS, para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência após os 14 anos de idade.
O salário-família será pago pelo empregador, ou pelo INSS, caso esteja recebendo beneficio do auxilio-doença ou aposentadoria.
É importante salientar que, para a concessão do salário-
família, a Previdência Social não exige tempo mínimo de contribuição.
O salário-família tem sua previsão legal nos artigos 65 a 70
da Lei nº 8.213/91 e artigos 81 a 92 do Decreto n° 3.048/99.
2.4.7 Do salário-maternidade
O salário-maternidade é devido às trabalhadoras mulheres
que contribuem para a Previdência Social, nos 120 dias em que ficam afastadas
do emprego por causa do parto.
Trata-se de um benefício com inicio vinte e oito dias antes e
término noventa e dois dias depois do parto, podendo ser prorrogado por mais
108 BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em: http:// www.mpas.gov.br/pg
secundarias/ beneficios 11.asp. Acesso em: 27 jun. 2007. 109 FERREIRA, Rosni. Guia Prático de Previdência Social. Volume I, 3ª ed., atualizada. São
Paulo: LTr, 1999, p.170.
71
duas semanas mediante atestado médico. Este benefício foi estendido também
para as mães adotivas.
Pelas esclarecedoras ilações do Ministério da Previdência
Social:110
O salário-maternidade é concedido à segurada que adotar uma criança ou ganhar a guarda judicial para fins de adoção:
- se a criança tiver até um ano de idade, o salário-maternidade será de 120 dias;
- se tiver de um ano a quatro anos de idade, o salário-maternidade será de 60 dias;
- se tiver de quatro anos a oito anos de idade, o salário-maternidade será de 30 dias.
Considera-se parto, o nascimento ocorrido a partir da 23ª semana de gestação, inclusive natimorto.
Nos abortos espontâneos ou previstos em lei (estupro ou risco de vida para a mãe), será pago o salário-maternidade por duas semanas.
O salário-maternidade é devido a partir do oitavo mês de gestação (comprovado por atestado médico) ou da data do parto (comprovado pela certidão de nascimento).
A partir de setembro de 2003, o pagamento do salário-maternidade das gestantes empregadas passará a ser feito diretamente pelas empresas, que serão ressarcidas pela Previdência Social. As mães adotivas, contribuintes individuais,
110 BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em: http:// www.mpas.gov.br/pg
secundarias/ beneficios 10.asp. Acesso em: 27 jun. 2007.
72
facultativas e empregadas domésticas terão de pedir o benefício nas Agências da Previdência Social.
Não é exigido um período mínimo de contribuição das
trabalhadoras para a concessão do salário-maternidade. E terão direito as
empregadas, empregadas domésticas e trabalhadoras avulsas, desde que
comprovem filiação nesta condição na data do afastamento para fins de salário
maternidade ou na data do parto.
O salário-maternidade tem sua previsão legal nos artigos 71
a 73 da Lei nº 8.213/91 e artigos 93 a 103 do Decreto n° 3.048/99.
2.4.8 Da pensão por morte
É um beneficio pago aos dependentes do segurado,
segundo os critérios estabelecidos pelo art. 16 da Lei nº 8.213/91, quando este
vem a falecer. O artigo 105 do Decreto 3.048/99 assim dispõe:
Art. 105. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data:
I - do óbito, quando requerido até trinta dias depois deste;
II - do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso I; ou
III - da decisão judicial, no caso de morte presumida.
§ 1o No caso do disposto no inciso II, a data de início do benefício será a data do óbito, aplicados os devidos reajustamentos até a data de início do pagamento, não sendo devida qualquer importância relativa ao período anterior à data de entrada do requerimento.
73
Para a concessão de pensão por morte, não há tempo
mínimo de contribuição, sendo necessário que o óbito tenha ocorrido enquanto o
trabalhador tinha qualidade de segurado.
Se o óbito ocorrer após a perda da qualidade de segurado,
os dependentes terão direito a pensão desde que o trabalhador tenha cumprido,
até o dia da morte, os requisitos para obtenção de aposentadoria, concedida pela
Previdência Social. 111
O benefício de pensão por morte tem sua previsão legal nos
artigos 74 a 79 da Lei nº 8.213/91 e nos artigos 105 a 115 do Decreto n° 3.048/99.
2.4.9 Do auxílio-reclusão
É um beneficio devido aos dependentes do segurado que for
preso, independente do motivo. Os dependentes têm direito a receber o auxilio-
reclusão durante todo o período da reclusão.
Para Miguel Horvath Junior e Priscila Tanaca112 é um
“beneficio previdenciário devido aos dependentes do segurado de baixa renda
que esteja recolhido à prisão”.
O Ministério da Previdência Social113 esclarece que “a partir
de 1º de abril de 2007, será devido aos dependentes do segurado cujo salário-de-
contribuição seja igual ou inferior a R$ 676,27 (seiscentos e setenta e seis reais e
vinte e sete centavos) independentemente da quantidade de contratos”.
Após a concessão do benefício, os dependentes devem
apresentar à Previdência Social, de três em três meses, atestado de que o
111 BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em: http:// www.mpas.gov.br/pg
secundarias/ beneficios 09.asp. Acesso em: 27 jun. 2007. 112 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo Jurídico de Direito Previdenciário, 2ª
ed., São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.103. 113 BRASIL. Ministério da Previdência Social. Disponível em: http:// www.mpas.gov.br/pg
secundarias/ beneficios 08.asp. Acesso em: 27 jun. 2007.
74
trabalhador continua preso, emitido por autoridade competente. Esse documento
pode ser a certidão de prisão preventiva, a certidão da sentença condenatória ou
o atestado de recolhimento do segurado à prisão.
Para a obtenção deste beneficio, não existe período mínimo
de contribuição, para que a família do segurado tenha direito ao benefício, mas o
trabalhador precisa ter qualidade de segurado.
O auxílio-reclusão tem sua previsão legal no artigo 80 da
Lei nº 8.213/91 e nos artigos 116 a 119 do Decreto n° 3.048/99.
2.4.10 Do auxílio-acidente
É um benefício pago ao trabalhador que sofre um acidente e
fica com seqüelas que reduzem sua capacidade de trabalho.
Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazarri114
sustentam que:
O auxilio- acidente é um beneficio previdenciário pago mensalmente aos segurado acidentado como forma de indenização, sem caráter substitutivo do salário, pois é recebido cumulativamente com o mesmo, quando após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza – e não somente de acidentes de trabalho-, resultarem seqüelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia [...]
Não há porque confundir com o auxilio- doença: este somente é devido enquanto o segurado se encontra incapaz, temporariamente, para o trabalho; o auxilio- acidente, por seu turno, é devido após a consolidação das lesões ou perturbações funcionais de que foi vitima o acidentado, ou seja, após a “alta médica”, não sendo percebido juntamente com o auxilio- doença, mas somente após a cessação deste ultimo[...].
114 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito
previdenciário. 7ªed. São Paulo: LTr, 2006, p.611.
75
O trabalhador empregado, trabalhador avulso e segurado
especial têm direito ao auxílio-acidente. O empregado doméstico, contribuinte
individual e o facultativo não recebem o benefício.
Para obter este beneficio não é exigido tempo mínimo de
contribuição, mas o trabalhador deve ter qualidade de segurado e comprovar a
impossibilidade de continuar trabalhando normalmente, por meio de exame da
perícia médica da Previdência social.
O auxílio-acidente tem sua previsão legal no artigo 86 da Lei
nº 8.213/91 e no artigo 104 do Decreto n° 3.048/99.
2.5 DA RENDA MENSAL DO BENEFÍCIO
A renda mensal do beneficio é o valor pecuniário final a ser
pago pela previdência social.
A Lei 8.213/91, em seu artigo 33, adverte que, “a renda
mensal do benefício de prestação continuada que substituir o salário-de-
contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado não terá valor inferior ao do
salário-mínimo, nem superior ao do limite máximo do salário-de-contribuição,
ressalvado o disposto no art. 45 desta Lei”.
O artigo 39 A do Decreto n°.3.048/99 dispõe que:
Art. 39. A renda mensal do benefício de prestação continuada será calculada aplicando-se sobre o salário-de-benefício os seguintes percentuais:
I - auxílio-doença - noventa e um por cento do salário-de-benefício;
II - aposentadoria por invalidez - cem por cento do salário-de-
benefício;
76
III - aposentadoria por idade - setenta por cento do salário-de-
benefício, mais um por cento deste por grupo de doze
contribuições mensais, até o máximo de trinta por cento;
IV - aposentadoria por tempo de contribuição:
a) para a mulher - cem por cento do salário-de-benefício aos trinta
anos de contribuição;
b) para o homem - cem por cento do salário-de-benefício aos
trinta e cinco anos de contribuição; e
c) cem por cento do salário-de-benefício, para o professor aos
trinta anos, e para a professora aos vinte e cinco anos de
contribuição e de efetivo exercício em função de magistério na
educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio;
V - aposentadoria especial - cem por cento do salário-de-
benefício; e
VI - auxílio-acidente - cinqüenta por cento do salário-de-benefício.
A renda mensal do beneficio de prestação continuada será
calculada aplicando-se sobre o salário de beneficio de acordo com os percentuais
acima citados do artigo 39 - A do Decreto n°.3.048/99.
2.6 DO REAJUSTAMENTO DOS BENEFÍCIOS
Segundo o artigo 40 do Decreto 3.048/99 “É assegurado o
reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor
real da data de sua concessão.”
77
Nos termos do Decreto n°3.048/99:
Art. 40 [...].
§ 1o Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados, anualmente, na mesma data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
§ 2o Os benefícios devem ser pagos do primeiro ao quinto dia útil do mês seguinte ao de sua competência, observando-se a distribuição proporcional do número de beneficiários por dia de pagamento.
4o Para os benefícios majorados devido à elevação do salário mínimo, o referido aumento deverá ser descontado quando da aplicação do reajuste de que trata o § 1o, na forma disciplinada pelo Ministério da Previdência Social.
Não se pode olvidar ainda a exegese do art. 42 do Decreto
3.048/99, segundo o qual ”nenhum benefício reajustado poderá ser superior ao
limite máximo do salário-de-contribuição, nem inferior ao valor de um salário
mínimo.”
2.7 DA PRESCRIÇÃO EM MATÉRIA DE BENEFÍCIOS
Segundo o entendimento de Carlos Alberto Pereira de
Castro e João Batista Lazzari 115:
[...] as prestações previdenciárias têm finalidades que lhes emprestam características de direitos indisponíveis, atendendo a
115 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito
previdenciário. 7ªed. São Paulo: LTr, 2006, p.664.
78
uma necessidade de índole iminente alimentar. Daí que o direito ao beneficio previdenciário em si não prescreve, mas tão somente as prestações não reclamadas dentro de certo tempo, que vão prescrevendo, uma a uma, em virtude da inércia do beneficiário.
Conforme disposto no artigo 103, § único da Lei 8.213/91 o
prazo para a prescrição das prestações previdenciárias é de 5 anos, conforme Lei
citada abaixo.
Artigo 103 - Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações vencidas ou quaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência Social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes, na forma do Código Civil.
Nesta linha de raciocínio continuam Carlos Alberto Pereira
de Castro e João Batista Lazzari 116:
Sem prejuízo do direito ao beneficio, prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriam ter sido pagas, o direito as prestações vendidas ou quaisquer restituições ou diferenças devidas pela previdência social, resguardados, na forma da lei civil, os direitos dos menores dos incapazes ou dos ausentes (artigo 103, parágrafo único, da lei n°.213/91), contra os quais não corre a prescrição, enquanto nesta situação. [...].
Diante do relato dos entendimentos dos autores citados
acima e da própria legislação, vê-se que, em matéria previdenciária, o fundo do
direito jamais prescreve. O que sofre a incidência da prescrição refere-se tão
somente às parcelas vencidas desse direito.
Por derradeiro, no tema em apreço, não se pode esquecer
do enunciado da Súmula nº 85 do STJ117, segundo o qual “nas relações jurídicas
de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não
116 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito
previdenciário. 7ªed. São Paulo: LTr, 2006, p.664-665. 117 Publicada no Diário da Justiça da União em 02.07.1993.
79
tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as
prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior à propositura da ação”.
CAPÍTULO 3
80
CONSIDERAÇÕES SOBRE A APOSENTADORIA ESPECIAL E O AGENTE NOCIVO “RUÍDO”
3.1 INTRODUÇÃO E HISTÓRICO LEGISLATIVO
A aposentadoria especial é uma espécie de aposentadoria
por tempo de contribuição devida ao segurado que tiver trabalhado sujeito a
condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante
quinze, vinte ou vinte e cinco anos. O fato gerador (contingência social) do
benefício é o cumprimento de tempo mínimo de trabalho sujeito a condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, condições estas que
ensejam a aposentadoria com tempo de contribuição reduzido.
A aposentadoria especial e, conseqüentemente, a atividade
especial para efeito de aposentadoria no RGPS, foram criadas pela Lei
n.3.807/60, denominada Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS, a qual
estabelecia que “a aposentadoria especial será concedida ao segurado que,
contando no mínimo 50 anos de idade e 15 anos de contribuição, tenha
trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos pelo menos, conforme a atividade
profissional, em serviços que, para esse efeito, fossem considerados penosos,
insalubres ou perigosos, por Decreto do Poder Executivo” (art. 31, caput). A Lei n.
3.807/60 foi então regulamentada pelo Decreto n. 53.831/64, que fixou relação de
serviços e atividades profissionais considerados insalubres, perigosos ou penosos
e o tempo de trabalho mínimo exigido.
A propósito da idade mínima de 50 anos para aposentadoria
especial, muito embora só tenha sido extinta formalmente pela Lei n. 5.440/68, a
jurisprudência não placitava este requisito, mesmo antes de sua extinção118, tanto
assim que o próprio INSS dispensou a idade mínima para a concessão de
aposentadoria especial, conforme Parecer n. 223/95, da Consultoria Jurídica do
Ministério da Previdência e assistência Social.
118 A respeito, cito a súmula n. 33, do TRF 1ª Região: “A aposentadoria especial decorrente do
exercício de atividade insalubre ou penosa não exige idade mínima do segurado.”
81
Posteriormente foi editada a Lei n. 5.890/73, que alterou a
legislação da previdência social, revogando o sobredito art. 31, da Lei n. 3.807/60,
e dispondo que “a aposentadoria especial será concedida ao segurado que,
contando no mínimo 5 anos de contribuição, tenha trabalhado durante 15, 20 ou
25 anos, pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que, para
esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por Decreto do
Poder Executivo” (art. 9º, caput). Sobreveio então o Regulamento dos Benefícios
da Previdência Social – RBPS, aprovado pelo Decreto n. 83.080/79.
Em seguida, foi editada a Lei n. 8.213/91, que dispõe sobre
o Plano de Benefícios da Previdência Social – LBPS, estabelecendo que “a
aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta
Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15, 20 ou 25 anos, conforme
a atividade profissional, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde
ou a integridade física” (art. 57, caput, redação original), bem assim que “a
relação de atividades profissionais prejudiciais à saúde será objeto de lei
específica” (art. 58, redação original), prevalecendo até a edição desta lei
específica a legislação anterior para efeito de aposentadoria especial (art. 152,
redação original).
Como assevera Roberto Luís Luchi Demo:119
Ocorre que esta lei específica jamais foi editada, de modo que o art. 58, da Lei n. 8.213/91, foi alterado pela Lei n. 9.528/97, para efeito de determinar que “a relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão de aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo”, sendo editado então o Decreto n. 2.172/97, passando a ser o Regulamento dos Benefícios da Previdência Social - RBPS.
119 DEMO, Roberto Luis Luchi. Atividade especial para efeito de aposentadoria no Regime
Geral de Previdência Social: atualidades, sucessão legislativa e jurisprudência dominante. Revista de Previdência Social. São Paulo: LTr, jan. 2007, p. 89.
82
Calha referir, neste passo, que o regime jurídico da atividade
especial positivado originariamente nos arts. 57 e 58, da Lei n. 8.213/91, não foi
alterado somente pela susomencionada Lei n. 9.528/97, mas também pelas Leis
ns. 9.032/95, 9.711/98 e 9.732/98, bem assim pela Emenda Constitucional n.
20/98, tornando inclusive complexa a legislação.
De fato, a EC n. 20/98 alterou o art. 201, §1º, da CF/88, para
vedar “a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social,
ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que
prejudiquem a saúde ou integridade física, definidos em lei complementar”.
Portanto, a partir da EC n. 20/98, é exigido lei complementar para disciplinar a
atividade especial no âmbito do Regime Geral da Previdência Social – RGPS,
embora, nos termos do art. 15, da EC n. 20/98, enquanto não for editada a
necessária lei complementar, permanece em vigor o disposto nos arts. 57 e 58,
da Lei n. 8.213/91, na redação vigente à data da publicação da Emenda.
Tendo em conta essa sucessão legislativa, vale salientar
então que, a propósito do reconhecimento da atividade exercida como especial, o
tempo de serviço é disciplinado pela lei em vigor à época em que efetivamente
exercido, por força do princípio tempus regit actum, passando a integrar, como
direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador. Desse modo, uma vez
prestado o serviço a égide de determinada legislação, o segurado adquire o
direito à contagem ponderada nos termos então vigentes, bem como à
comprovação das condições de trabalho na forma exigida à época, não se
aplicando retroativamente uma lei nova que venha a estabelecer restrições à
admissão do tempo de serviço especial.
O legislador constituinte de 1988 (art. 202, inciso II, parte
final) estabeleceu a aposentadoria com tempo reduzido (especial) no caso de
83
segurados sujeitos a trabalho sob condições especiais que prejudiquem a saúde
ou a integridade física, definidas em lei.120
A disciplina infraconstitucional foi dada pelos arts. 57 e 58 da
Lei nº. 8.213/91.
Já o enquadramento das condições especiais prejudiciais à
saúde ou à integridade física continuou sendo feito de acordo com a relação
vigente na data da publicação do Plano de Benefício da Previdência Social
(quadro anexo ao Decreto no 53.831/64 e anexos I e II do Regulamento de
Benefícios da Previdência Social – RBPS, aprovado pelo Decreto no 83.080/79),
relação esta que albergava dois critérios (de enquadramento): pelo exercício de
atividade profissional e pela efetiva exposição a agentes nocivos físicos,
químicos, biológicos ou associação de agentes.
Como observa José Leandro Monteiro de Macedo:121
A partir de 1995 a disciplina da aposentadoria especial foi profundamente alterada: a Lei nº. 9.032, publicada no DOU de 29.04.95, estabeleceu que a aposentadoria especial somente é devida nos casos de efetiva exposição a agentes nocivos físicos, químicos, biológicos ou associação de agentes, pondo fim à possibilidade de enquadramento por atividade profissional e extinguindo, também, a possibilidade de conversão de tempo de serviço comum em especial; a Medida Provisória no 1.523, de 13.10.96, convertida na Lei nº. 9.528/97, passou a exigir laudo técnico pericial para a comprovação da efetiva exposição aos agentes nocivos prejudiciais à saúde ou à integridade física; a Medida Provisória no 1.663, de 28.05.98, convertida na Lei nº. 9.711/98, extinguiu a possibilidade de conversão de tempo de serviço especial em comum exercido a partir de 28.05.98, autorizando a conversão do período anterior desde que cumprido um tempo mínimo de atividade especial previsto em regulamento; a Lei nº. 9.732/98 instituiu um adicional de contribuição
120 A Emenda Constitucional no 20/98 alterou a redação do art. 202 da Constituição Federal, deslocando (com ligeira alteração de redação) a previsão da aposentadoria especial para o § 1o do seu art. 201. 121 MACÊDO. José Leandro Monteiro de. Atualidades sobre a aposentadoria especial. Revista da Procuradoria Geral do INSS. Brasília: MPAS/INSS, 2001, p. 72.
84
empresarial para o financiamento da aposentadoria especial e estabeleceu sanção para o segurado aposentado (aposentadoria especial) que continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite a agentes nocivos prejudiciais à saúde ou à integridade física.
As alterações legislativas acima sumariadas representaram,
além da extinção da possibilidade de conversão de tempo comum em especial
(Lei nº. 9.032/95) e do tempo especial em comum (Medida Provisória no 1.663,
convertida na Lei nº. 9.711/98), o abandono do critério de enquadramento por
atividade profissional e a adoção do critério de enquadramento por efetiva
exposição a agentes nocivos, com necessidade de laudo técnico pericial para
comprovar a citada exposição.
Em razão dessas alterações legislativas, passou a haver
divergências quanto à aplicação dos novos critérios de enquadramento e de
comprovação de exposição a agentes nocivos a quem já era segurado na data
das citadas alterações, quanto ao período trabalhado antes das leis
alteradoras.122 Noutros termos, surgiu o seguinte problema de direito
intertemporal: os novos critérios de enquadramento e comprovação de atividades
especiais devem ser aplicados para o tempo de trabalho anterior às inovações
legislativas?
3.2 FONTES FORMAIS
A aposentadoria especial é prevista constitucionalmente no
art. 201, § 1o (redação dada pela Emenda Constitucional no 20/98), que tem a
seguinte redação: “É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para
a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência
social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física, definidos em lei complementar.”
122 Citam-se dois entendimentos: o do INSS, consubstanciado no Parecer CJ/MPAS no 1.331/98, e o do Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul, defendido na Ação Civil Pública no 2000.71.030435-2.
85
Enquanto não for editada a Lei Complementar a que se
refere o § 1º do art. 201 da Constituição Federal, acima transcrito, aplicam-se, por
força do disposto no art. 15 da Emenda Constitucional no 20/98, os arts. 57 e 58
da Lei nº. 8.213/91123, com a redação vigente à data da publicação da citada
Emenda.
Regulamentando os arts. 57 e 58 da Lei nº. 8.213/91, temos
os arts. 64 a 70 e o anexo IV do Decreto no 3.048/99 (Regulamento de
Previdência Social – RPS) e a Instrução Normativa INSS/DC no 57/2001
(publicada no DOU de 11.10.2001), arts. 139 a 196 – ato normativo que dá
cumprimento à decisão da Justiça Federal do Rio Grande do Sul, proferida na
Ação Civil Pública no 2000.71.030435-2.
3.3 O PRINCÍPIO TEMPUS REGIT ACTUM NA APOSENTADORIA ESPECIAL E O ENQUADRAMENTO SEGUNDO A LEGISLAÇÃO DE REGÊNCIA
A cada dia trabalhado em atividades especiais, realiza-se o
suporte fático da norma que autoriza a contagem desse tempo de serviço de
forma diferenciada, de modo que o tempo de serviço assim convertido resta
imediatamente incorporado ao patrimônio jurídico do segurado, tal como previsto
na legislação de regência.
Esse entendimento jurisprudencial tranqüilo124, aliás, passou
a ter previsão legislativa expressa com a edição do Decreto n. 4.827/03, o qual
introduziu o §1º do art. 70 do Decreto n. 3.048/99, atual Regulamento da
Previdência Social – RPS, verbis: “A caracterização e a comprovação do tempo
de atividade sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislação em
vigor na época da prestação do serviço”.
123 Artigos que disciplinam a aposentadoria especial na Lei de Benefícios da Previdência Social (Lei no 8.213/91). 124 STF, RE n. 174.150, Octavio Gallotti, 1ª T., DJ 4.4.2000; STJ: AGREsp n. 493.458, Gilson Dipp,
5ª T., DJ 23.6.2003 e REsp n. 491.338, Hamilton Carvalhido, 6ª T., DJ 23.6.2003.
86
Logo, definitivamente superada a antiga e equivocada
orientação administrativa do INSS, segundo a qual a norma jurídica de direito
público aplica-se de imediato, inexistindo direito adquirido à contagem de tempo
de serviço na forma da lei anterior, pois, não preenchidos os requisitos da
aposentadoria, ou seja, não ocorrido o fato completo e acabado, constata-se
apenas mera expectativa de direito.
Assim, no período de trabalho até 28 de abril de 1995,
quando vigentes a Lei n. 3.807/60, a Lei n. 5.890/73 e, posteriormente, a Lei n.
8.213/91, em sua redação original, é possível o reconhecimento da atividade
especial mediante: (i) comprovação de exercício das profissões relacionadas no
Código 2.0.0 do Quadro Anexo ao Decreto n. 53.831/64 e no Anexo II do Decreto
n. 83.080/79; oi (ii) simples demonstração da exposição aos agentes nocivos
relacionados no Código 1.0.0 do Quadro Anexo ao Decreto n. 53.831/64 e no
Anexo I do Decreto n. 83.080/79, mediante informações prestadas pela empresa
em formulário específico (SB-40 ou DSS-8030), dispensando destarte dilação
probatória e autorizando, inclusive a via expedita do mandado de segurança125.
Aqui quatro considerações.
Primeira: durante esse período, a prova da atividade
especial prescinde da apresentação de laudo técnico126.
Segunda: quando a atividade não for enquadrável como
especial nos decretos regulamentadores, ainda assim é possível o
reconhecimento da atividade como especial mediante prova pericial que
reconheça sua nocividade à saúde, nos termos da Súmula n. 198/ex-TFR
(“Atendidos os demais requisitos, é devida a aposentadoria especial, se perícia
judicial constata que a atividade exercida pelo segurado é perigosa, insalubre ou
penosa, mesmo não inscrita em Regulamento”), até porque os róis de atividades
descritas nos regulamentos são meramente exemplificativos.
125 TRF 4ª Região, AG n. 2005.04.01.052675-2, Luiz Antonio Bonat, 5ª T., DJ 26.4.2006. 126 TRF 4ª Região, EIAC n. 2000.04.01.035569-8, A. A. Ramos de Oliveira, 3ª Seção, DJ
27.11.2002.
87
Terceira: em relação aos agentes nocivos ruído e calor, é
sempre e sempre necessária a aferição do nível de decibéis e da temperatura por
meio de perícia técnica, carreada aos autos, noticiada em formulário emitido pela
empresa ou ainda feita judicialmente, a fim de se verificar a nocividade ou não
desses agentes127.
Quarta: a divergência existente entre a atividade constante
na carteira de trabalho ou no CNIS e a do formulário não é óbice a sua
caracterização como especial, desde que devidamente esclarecida128.
Como observa José Leandro Monteiro de Macedo:129
A partir de 1995 a disciplina da aposentadoria especial foi profundamente alterada: a Lei nº. 9.032, publicada no DOU de 29.04.95, estabeleceu que a aposentadoria especial somente é devida nos casos de efetiva exposição a agentes nocivos físicos, químicos, biológicos ou associação de agentes, pondo fim à possibilidade de enquadramento por atividade profissional e extinguindo, também, a possibilidade de conversão de tempo de serviço comum em especial; a Medida Provisória no 1.523, de 13.10.96, convertida na Lei nº. 9.528/97, passou a exigir laudo técnico pericial para a comprovação da efetiva exposição aos agentes nocivos prejudiciais à saúde ou à integridade física; a Medida Provisória no 1.663, de 28.05.98, convertida na Lei nº. 9.711/98, extinguiu a possibilidade de conversão de tempo de serviço especial em comum exercido a partir de 28.05.98, autorizando a conversão do período anterior desde que cumprido um tempo mínimo de atividade especial previsto em regulamento; a Lei nº. 9.732/98 instituiu um adicional de contribuição empresarial para o financiamento da aposentadoria especial e estabeleceu sanção para o segurado aposentado (aposentadoria especial) que continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite a agentes nocivos prejudiciais à saúde ou à integridade física.
127 STJ, REsp n. 689.195, Arnaldo Esteves Lima, 5ª T., DJ 22.805. 128 TRF 4ª Região, AMS n. 2000.71.08.001310-0, Luiz Carlos de Castro Lugon, 6ª T., DJU
13.12.00. 129 MACÊDO. José Leandro Monteiro de. Atualidades sobre a aposentadoria especial. Revista da Procuradoria Geral do INSS. Brasília: MPAS/INSS, 2001, p. 72.
88
Desse modo, no lapso temporal compreendido entre 29 de
abril de 1995 e 5 de março de 1997, em que vigentes as alterações introduzidas
pela Lei n. 9.032/95 no art. 57, da Lei n. 8.213/91, é necessária para efeito de
reconhecimento da atividade especial no Código 1.0.0 do Quadro Anexo ao
Decreto n. 53831/64 e no Anexo I do Decreto n. 83.080/79, a efetiva
demonstração da exposição, de forma habitual e permanente, a agentes nocivos
à saúde ou à integridade física, por qualquer meio de prova, considerando-se
suficiente para tanto e dispensando assim dilação probatória, a apresentação de
formulário padrão preenchido pela empresa (SB-40 ou DSS-8030), sem a
exigência de embasamento em laudo técnico.
A habitualidade e permanência traduzem o trabalho não
ocasional nem intermitente, no qual a exposição do segurado empregado,
trabalhador avulso ou contribuinte individual ao agente nocivo seja indissociável à
produção do bem ou à apresentação do serviço (art. 157, II, da IN INSS/PR n.
11/06, que atualmente estabelece os critérios a serem adotados pela área de
Benefícios.
Em outras palavras, os requisitos da habitualidade e da
permanência traduzem a não-eventualidade e efetividade da função insalutífera, a
continuidade e não-interrupção da exposição ao agente nocivo.
Assim, se o trabalhador desempenha diuturnamente suas
funções em locais insalubres, mesmo que apenas em metade de sua jornada de
trabalho (leia-se: trabalho intermitente), tem direito ao cômputo do tempo de
serviço especial, porque estava exposto ao agente agressivo de modo constante,
efetivo, habitual e permanente.
Ou seja, o fato de o contato com os agentes nocivos ser
intermitente e não permanente não retira a habitualidade, pois a exposição é
diuturna, inerente às funções habituais que o segurado exerce na empresa
cotidianamente, ensejando destarte o reconhecimento da atividade especial130.
130 TRF 4ª Região, AC n. 96.04.61708-7, Luiz Carlos de Castro Lugon, 6ª T., DJ 7.6.00. No mesmo
sentido: TRF 4ª Região, AC n. 2003.70.00011786-1, Otavio Roberto Pamplona, 5ª T., DJ 6.7.05.
89
Seguindo essa mesma linha de raciocínio, o direito ao
reconhecimento da atividade especial não é prejudicado quando o segurado
possui mais de um vínculo empregatício com tempo de trabalho concomitante
(comum e especial), desde que constatada a nocividade do agente e a
permanência em pelo menos um dos vínculos (art. 166, da IN INSS/PR n. 11/06).
Outrossim, a IN INSS/PR n. 11/06 positivou que “não quebra a permanência o
exercício de função de supervisão, controle ou comando em geral ou outra
atividade equivalente, desde que seja exclusivamente em ambiente de trabalho
cuja nocividade tenha sido constatada” (art. 157, §2º), o que aliás já era
entendimento jurisprudencial pacífico.
Registre-se, ainda, que estão incluídos no conceito de
trabalho permanente os períodos de descanso determinados pela legislação
trabalhista, inclusive férias, e os afastamentos que ensejam benefício
previdenciário, a exemplo do auxílio-doença e salário-maternidade, desde que à
data do afastamento o segurado estivesse exercendo atividade considerada
especial.
Na autoridade das palavras de José Leandro Monteiro de
Macedo:131
Os agentes nocivos à saúde ou à integridade física podem ser físicos (ruídos, vibrações, calor, frio, umidade, eletricidade, pressões anormais, radiações ionizantes, etc), químicos (névoas, neblinas, poeiras, fumos, gases e vapores de substâncias nocivas presentes no ambiente de trabalho, absorvidos pela via respiratória ou por meio de outras vias) e biológicos (bactérias, fungos, parasitas, bacilos, vírus etc). Nas associações de agentes que estejam acima do nível de tolerância, será considerado o enquadramento relativo ao que exigir menor tempo de exposição.
Outrossim, como já enfatizado, o conceito de permanência
para efeito de atividade especial não exige o cumprimento de jornada integral, de
modo que o tempo de exposição é importante tão-só para observar o grau de
131 MACÊDO. José Leandro Monteiro de. Atualidades sobre a aposentadoria especial. Revista da Procuradoria Geral do INSS. Brasília: MPAS/INSS, 2001, p. 72.
90
nocividade do agente em cotejo com o limite de tolerância que, ultrapassado,
enseja o reconhecimento da atividade especial.
Por sua vez, no interregno compreendido entre 6 de março
de 1997 e 6 de maio de 1999, em que vigente o Decreto n. 2.172/97, que
regulamentou as disposições introduzidas no art. 58 da Lei n. 8.213/91 pela Lei n.
9.528/97 (lei de conversão da MP n. 1.523/96), passou-se a exigir, para efeito de
reconhecimento de tempo de serviço especial no Anexo IV do Decreto n. 2.172/97
e no Anexo IV do Decreto n. 3.048/99, a comprovação da efetiva sujeição do
segurado a agentes agressivos por meio da apresentação de formulário-padrão,
embasado em laudo técnico das condições ambientais de trabalho para todos os
agentes nocivos, ou por meio de perícia judicial.
Portanto, a partir de 6 de março de 1997, já não é mais
possível o enquadramento automático da periculosidade, a exemplo das
atividades exercidas por vigilante e eletricista, sendo necessária pois a verificação
da periculosidade no caso concreto. Na hipótese de a empresa em que o
segurado trabalhou ter sido extinta, impossibilitando a coleta de dados in loco, é
admissível a perícia indireta em empresa ou equipamento similar a fim de não
prejudicar o segurado nem inviabilizar o exercício de seu direito132.
No que se refere à conversão do tempo de serviço especial
para comum a contar de 28 de maio de 1998, tal limitação temporal restou
afastada, por força da decisão do STF ao não apreciar o mérito da ADIn n. 1.884,
por entender que o art. 57, §5º, da Lei n. 9.711/98, lei de conversão da MP n.
1.663/98133, bem assim em virtude do acréscimo do §2º ao art. 70 do decreto n. 132 TRF 4ª Região, AC n. 200304010143040, Celso Krieger, 5ª T., DJ 4.5.2005. 133 Eis a íntegra da decisão, da lavra do Ministro Sydney Sanches:
“1. Na petição inicial da presente Ação Direta de Inconstitucionalidade, o partido dos trabalhadores, o partido democrático trabalhista e o partido comunista do Brasil impugnavam a revogação de § 5º do art. 57 da Lei n. 8.213, de 24.7.1991, constante do art. 28 da Medida Provisória n. 1.663-10 (fls. 02/30 e 35).
2. Após sucessivas reedições da Medida Provisória, com alterações no referido art. 28, este ficou assim redigido, a partir da Medida Provisória n. 1.663-13, até a 1.663-15 (fls. 97 e 142):
“Art. 28. O Poder Executivo estabelecerá critérios para a conversão do tempo de trabalho exercido até 28 de maio de 1998, sob condições especiais que sejam prejudiciais à saúde ou à integridade física, nos termos dos arts. 57 e 58 da Lei n. 8.213, de 1991, na redação dada pelas Leis ns. 9.032, de 28 de abril de 1995, e 9.528, de 10 de dezembro de 1997, e de seu
91
3048/99, pelo Decreto n. 4.827/03, o qual possibilitou a aplicação das regras de
conversão ao trabalho especial exercido em qualquer período, em consonância
aliás com a EC n. 20/98. Mesmo assim, a jurisprudência que prevalece é no
sentido de que após 28.5.98, já não é mais possível o reconhecimento da
atividade especial, por força do art. 28, da MP n. 1.663/98, a partir de sua 10ª
edição, convertida na Lei n. 9.711/98134.
Finalmente, a contar de 7 de maio de 1999, o
reconhecimento da atividade laborada em condições especiais no Anexo IV do
Decreto n. 3.048/99 também pressupõe a apresentação do formulário-padrão
preenchido pela empresa, com base em laudo técnico das condições ambientais
de trabalho para todos os agentes nocivos.
A comprovação dar-se-á pelo formulário DIR-BEM-8030
(antigos SB-40 e DSS-8030) até 31 de dezembro de 2003 e, a partir de 1º de
regulamento, em tempo de trabalho exercido em atividade comum, desde que o segurado tenha implementado percentual do tempo necessário para a obtenção da respectiva aposentadoria especial, conforme estabelecido em regulamento.”
3. A última reedição da Medida Provisória converteu-se na Lei n. 9.711, de 20.11.1998, cujo art. 28 é o supratranscrito. Não mais o constante da Medida Provisória n. 1.663-10, que pura e simplesmente revogara o § 5º do art. 57 da Lei n. 8.213, de 21.7.1991, e só por isso era impugnado na inicial.
4. Em face da substancial alteração ocorrida, resta prejudicada a Ação Direta de Inconstitucionalidade, enquanto proposta nos termos de fls. 2/30, pois as expressões que impugnava já não estão em vigor.
5. Assim, se o novo texto do art. 28 da Medida Provisória n. 1.663-15, de 22.10.1998, convertido no art. 28 da Lei n. 9.711, de 20 de novembro de 1998, é também inconstitucional e por outras razões, que as declinadas na inicial, poderá ser eventualmente impugnado em outra Ação Direta de Inconstitucionalidade. Não mais nestes autos, como pretendido com o aditamento de fls. 135/140, datado de 18 de fevereiro de 1999. Ao ensejo de nova propositura, se assim lhes parecer, cogitarão os autores da viabilidade da Ação Direta de Inconstitucionalidade também contra a Portaria n. 4.883, de 16.12.1998, do Ministério da Previdência e Assistência Social (fls. 146), como pretendido a fls. 135/140.
6. Com essas ressalvas, julgo prejudicada a presente Ação Direta de Inconstitucionalidade, proposta contra a Medida Provisória n. 1.663-10.
7. Publique-se. Int. 134 “Previdenciário. Conversão de tempo de serviço comum em especial. Termo final. 1. O art. 28
da Lei n. 9.711/98 estabeleceu o termo final de conversão de tempo de serviço comum em especial, a saber, 28.5.1998. 2. Recurso especial provido. (STJ, REsp n. 431.075, Arnaldo Esteves Lima, 5ª T., DJ 7.11.2005). No mesmo sentido: STJ, REsp n. 584.582, Hamilton Carvalhido, 6ª T., DJ 9.2.2004. Ainda: “A conversão , em tempo de serviço comum,, do período trabalhado em condições especiais somente é possível relativamente à atividade exercida até 28 de maio de 1998 (art. 28 da Lei n. 9.711/98” (Súmula n. 16, da Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência do juizado Especial Federal).
92
janeiro de 2004, pelo Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), o qual foi
instituído pelo §6º do art. 68 do Decreto n. 3.048/99, com as alterações dos
Decretos ns. 4.032/01, 4.729/03 e 4.882/03, a ser emitido pela empresa com base
em Laudo Técnico de Condições Ambientais – LTCAT expedido nos termos da
legislação trabalhista, inclusive para efeito de classificação dos agentes nocivos,
limites de tolerância e metodologia de avaliação pela IN n. 96/03 e, atualmente,
art. 178, da IN INSS/PR n. 11/06.
Em síntese, para efeito de enquadramento das categorias
profissionais, devem ser considerados os Decretos ns. 53.831/64 (Quadro Anexo
– Código 2.0.0) e 83.080/79 (Anexo II) até 28 de abril de 1995, data da extinção
do reconhecimento da atividade especial por presunção legal, em virtude da Lei n.
9.032/95. Já para o enquadramento dos agentes nocivos, devem ser
considerados os Decretos ns. 53.831/64 (Quadro Anexo – Código 1.0.0) e
83.080/79 (Anexo I) até 5 de março de 1997, o Decreto ns. 2.172/97 (Anexo IV)
no interregno entre 6 de março de 1997 e 6 de maio de 1999 e, finalmente, o
Decreto n. 3.048/99 (Anexo IV) a partir de 7 de maio de 1999. Além dessas
hipóteses de enquadramento, é sempre possível, como já registrado alhures, a
verificação da especialidade da atividade no caso concreto, por meio da perícia
técnica judicial, a teor da Súmula n. 198/ex-TFR135.
3.4 ESPÉCIES DE BENEFICIÁRIOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL
Os beneficiários da aposentadoria especial que podem pois
ter reconhecida a atividade especial são os segurados empregado, trabalhador
avulso e contribuinte individual. Porém, segundo orientação administrativa do
INSS, a partir da vigência da Lei n. 9.032/95, o contribuinte individual já não tem
mais direito ao reconhecimento da atividade especial para comum, porquanto não
há como aferir se no exercício da atividade laboral ele tava sujeito a condições
que prejudiquem sua saúde ou integridade física (vide art. 163, da IN INSS/PR
11/06).
135 STJ, AGREsp n. 228.832, Hamilton Carvalhido, 6ª T., DJ 30.6.2003.
93
Exceção à regra, o art. 1º, caput, da MP 83/02, convertida na
Lei n. 10.666/03, possibilitou a conversão da atividade especial em comum para o
segurado cooperado filiado à cooperativa de trabalho e produção que trabalhe
exposto a agentes nocivos, estabelecendo custeio específico para esta prestação.
Para a jurisprudência, entretanto, tal reconhecimento da atividade especial é um
direito que assiste a todos os contribuintes individuais, mesmo antes da entrada
em vigor da MP n. 83/02136.
3.5 BENEFICIÁRIO DA APOSENTADORIA ESPECIAL QUE RETORNA AO TRABALHO SUJEITO A AGENTES NOCIVOS
O beneficiário de aposentadoria especial que retornar ao
exercício de atividade que o sujeite a agentes nocivos, ou nela permanecer, na
mesma ou em outra empresa, qualquer que seja a forma de prestação do serviço,
ou categoria de segurado, a partir da data do retorno à atividade terá sua
aposentadoria automaticamente suspensa.
Esta é a inteligência do art. 57, § 8º, da Lei n. 8.213/91,
porquanto não há aqui possibilidade de cancelamento do benefício, eis que o
segurado não perde os requisitos para concessão de aposentadoria especial.
Diverso é o tratamento da aposentadoria por invalidez, que pressupõe a
incapacidade total e permanente para o trabalho, de modo que seu retorno à
atividade implica o cancelamento do benefício, em virtude da ausência da
necessária incapacidade, forte no art. 46, da Lei n. 8.213/91.
Nessa toada, a aposentadoria especial deve ser
restabelecida a partir do afastamento da atividade nociva à saúde. Finalmente, de
136 Nesse sentido: “O sócio-gerente de empresa e o trabalhador autônomo, na qualidade de
contribuintes individuais, podem ter reconhecido o tempo de serviço prestado em condições especiais, porquanto a legislação aplicável à espécie não faz distinção entre segurados a que aludem os arts. 11 e 18, inciso I, alínea d, da Lei n. 8.213, de 14.7.1991, para fins de conversão do tempo de serviço especial em comum, bastando, para tanto, a sua exposição de forma habitual e permanente a agentes nocivos à saúde ou à integridade física (arts. 57, caput e §§ 3º, 4º, 5º e 7º, e 58, caput e §§ 1º e 2º, do mesmo diploma legal, na sua redação original e com aquela conferida pelas Leis n. 9.032, de 1995, e n. 9.528, de 1997)” (TRF 4ª Região, AC n. 2000.71.00.017238-1, Nylson Paim de Abreu, 6ª T., DJ 18.11.2003).
94
se salientar a inexistência de óbice ao aposentado especial para retornar à
atividade laboral que não o sujeita a agentes nocivos.
3.6 REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA APOSENTADORIA ESPECIAL
Para a concessão da aposentadoria especial, exige-se a
presença dos seguintes requisitos:
3.6.1 Período de carência
Período de carência é o número mínimo de contribuições
mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício,
consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas
competências (art. 24, caput, da Lei nº. 8.213/91).
Dependendo da data de filiação do segurado ao Regime
Geral de Previdência Social, têm-se períodos de carência distintos:
a) para o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social a partir de 25.07.91: 180 contribuições (art. 25, II, Lei nº. 8.213/91);
b) para o segurado filiado ao Regime Geral de Previdência Social até 24.07.91: aplica-se a tabela de transição do art. 142 da Lei nº. 8.213/91.
3.6.2 Comprovação do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado
Considera-se trabalho permanente aquele em que o
segurado, no exercício de todas as suas funções, esteve efetivamente exposto a
agentes nocivos físicos, químicos e biológicos ou associação de agentes.
95
Considera-se trabalho não ocasional nem intermitente
aquele em que, na jornada de trabalho, não houve interrupção ou suspensão do
exercício de atividade com exposição aos agentes nocivos, ou seja, não foi
exercida, de forma alternada, atividade comum ou especial.
3.6.3 Comprovação da exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais a saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício
Entende-se por agentes nocivos aqueles que possam trazer
ou ocasionar danos a saúde ou à integridade física do trabalhador nos ambientes
de trabalho, em função de sua natureza, concentração, intensidade e exposição
aos agentes:
a) físicos: ruídos, vibrações, calor, pressões anormais, radiações ionizantes e não ionizantes etc;
b) químicos: manifestados através de névoas, neblinas, poeiras, fumos, gases, vapores de substâncias nocivas presentes no ambiente de trabalho etc;
c) biológicos: microorganismos como bactérias, fungos, parasitas, bacilos, vírus etc;
A comprovação da efetiva exposição do segurado aos
agentes nocivos será feita mediante formulário, na forma estabelecida pelo INSS
(formulário DIRBEN 8030), emitido pela empresa ou seu preposto, com base em
laudo técnico de condições ambientais do trabalho expedido por médico do
trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho nos termos da legislação
trabalhista.
96
3.7 RENDA MENSAL INICIAL DA APOSENTADORIA ESPECIAL
A renda mensal inicial da aposentadoria especial
corresponde a 100% do salário-de-benefício (art. 57, § 1o, da Lei nº. 8.213/91). O
salário-de-benefício, por sua vez, consiste na média aritmética simples dos
maiores salários-de-contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o
período contributivo (art. 29, inciso II, da Lei nº. 8.213/91).137 Para quem era
filiado na data da Lei nº. 9.876/99 (29.11.99), o período contributivo inicia-se em
07/94 (art. 3º da Lei nº. 9.876/99).
3.8 DATA DE INÍCIO DO BENEFÍCIO
Para o segurado empregado, a aposentadoria especial será
devida a partir:
a) da data do desligamento do emprego, quando requerida até noventa dias depois dessa data; ou
b) da data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando for requerida após o prazo previsto na alínea “a”.
Quanto aos demais segurados, a aposentadoria especial é
devida a partir da data da entrada do requerimento.
3.9 CONVERSÃO DE TEMPO DE SERVIÇO
Conversão de tempo de serviço é a possibilidade de
converter tempo comum em especial e vice-versa, tendo em vista o exercício
sucessivo de atividades comum e especial.
137 A referida média não sofre a incidência do fator previdenciário.
97
De acordo com o art. 57, § 3o, da Lei nº. 8.213/91, com a
redação vigente até 28.04.95 (edição da Lei nº. 9.032/95), era possível converter
tempo de serviço especial em comum, comum em especial e especial em
especial.
A partir de 29.04.95, somente é permitida a conversão de
tempo de serviço especial em comum e especial em especial (art. 57, § 5o, da Lei
nº. 8.213/91 com a redação dada pela Lei nº. 9.032/95).
A Medida Provisória no 1.663-10, de 28.05.98, revogou o §
5º do art. 57 da Lei nº. 8.213/91, extinguindo-se, em princípio, a possibilidade de
conversão de tempo de serviço especial em comum.
Como assevera Roberto Luís Luchi Demo:138
Na reedição da Medida Provisória no 1.663, de 27.08.98, mantevese a revogação do § 5o do art. 57 da Lei nº. 8.213/91, estabelecendo no seu art. 28 que “O Poder Executivo estabelecerá critérios para a conversão do tempo de trabalho exercido até 28 de maio de 1998, sob condições especiais que sejam prejudiciais à saúde ou à integridade física, nos termos dos arts. 57 e 58 da Lei nº.. 8.213, de 1991, na redação dada pelas Lei nº.. 9.032, de 28 de abril de 1995, e 9.528, de 10 de dezembro de 1997, e de seu regulamento, em tempo de trabalho exercido em atividade comum desde que o segurado tenha implementado percentual do tempo necessário para a obtenção da respectiva aposentadoria especial, conforme estabelecido em regulamento.”
Desse modo, restou possível a conversão de tempo de
serviço especial em comum exercido até 28.05.98, desde que cumprido
percentual do tempo necessário para a obtenção da respectiva aposentadoria
especial, nos termos estabelecidos em regulamento.
O Decreto no 2.782, de 14.09.98, regulamentando o art. 28
da Medida Provisória no 1.663-13, estabeleceu esse percentual mínimo em seu
138 DEMO, Roberto Luis Luchi. Atividade especial para efeito de aposentadoria no Regime
Geral de Previdência Social: atualidades, sucessão legislativa e jurisprudência dominante. Revista de Previdência Social. São Paulo: LTr, jan. 2007, p. 91.
98
art. 1o: “O tempo de trabalho exercido até 28 de maio de 1998, com efetiva
exposição do segurado aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou
associação de agentes nos termos do Anexo IV do Regulamento dos Benefícios
da Previdência Social – RBPS, aprovado pelo Decreto no 2.172, de 5 de março
de 1997, será somado, após a respectiva conversão, ao tempo de trabalho
exercido em atividade comum, desde que o segurado tenha completado, até
aquela data, pelo menos vinte por cento do tempo necessário para a obtenção da
respectiva aposentadoria especial, observada a seguinte tabela:
MULTIPLICADORES
TEMPO A CONVERTER
MULHER (PARA 30)
HOMEM (PARA 35)
TEMPO MÍNIMO
EXIGIDO
DE 15 ANOS 2,00 2,33 3 ANOS DE 20 ANOS 1,50 1,75 4 ANOS DE 25 ANOS 1,20 1,40 5 ANOS
(...)”
A Medida Provisória no 1.663-14 foi convertida na Lei nº.
9.711, de 20.11.98, que manteve a redação do art. 28 da citada Medida
Provisória, mas não revogou o § 5o do art. 57 da Lei nº. 8.213/91.
Existem, portanto, dois dispositivos legais vigentes acerca
da conversão do tempo especial em comum: O § 5o do art. 57 da Lei nº. 8.213/91
(com a redação dada pela Lei nº. 9.032/95) autorizando a conversão e o art. 28 da
Lei nº. 9.711/98 autorizando a conversão somente até 28.05.98 e estipulando o
percentual mínimo estabelecido em Decreto.
O INSS estava aplicando o art. 28 da Lei nº. 9.711/98, isto é,
somente era possível converter tempo especial em comum exercido
anteriormente a 28.05.98, desde que cumprido o percentual mínimo estabelecido
no Decreto no 2.782/98.
99
Na citada Ação Civil Pública no 2000.71.030435-2, proposta
pelo Ministério Público Federal perante a 4a Vara Previdenciária de Porto Alegre-
RS, foi concedida tutela antecipada sob os seguintes argumentos:
a) o art. 28 da Lei nº. 9.711/98 ficou sem sentido (e, portanto inaplicável) diante da não revogação do § 5o do art. 57 da Lei nº. 8.213/91; b) a CF/88 prevê a aposentadoria com tempo inferior para quem exerce atividade especial, sendo inconstitucional qualquer restrição em contrário; c) na tramitação da Emenda Constitucional no 20/98 constava do texto original do § 1o do art. 201 da Constituição Federal o termo “exclusivamente”, que foi retirado do texto aprovado, significando dizer que o legislador previu a possibilidade de conversão de tempo especial em comum.
Desse modo, por força da decisão proferida na Ação Civil
Pública no 2000.71.030435-2, ficou autorizada a conversão de tempo especial em
comum sem as restrições de período (até 28.05.98) e de percentual (20%)
estabelecidas pelo art. 28 da Lei nº. 9.711/98. Tal autorização está expressa na
Instrução Normativa INSS/DC no 57/2001 (arts. 159 a 161).
3.10 ENQUADRAMENTO DE ATIVIDADES
Até 28.04.95 (Lei nº. 9.032/95), o enquadramento para fins
de aposentadoria especial se dava por exposição a agentes nocivos e pelo
exercício de atividade profissional (quadro anexo ao Decreto no 53.831/64 e
anexos I e II do Regulamento de Benefícios da Previdência Social, aprovado pelo
Decreto nº 83.080/79).
A partir de 29.04.95, deixou de haver o enquadramento pelo
simples exercício de atividade profissional, devendo o segurado comprovar a
efetiva exposição aos agentes nocivos.
A Lei nº. 9.528/97 (conversão da Medida Provisória no
1.523/96) passou a exigir o laudo técnico pericial para a comprovação da efetiva
exposição aos agentes nocivos.
100
O INSS, acatando o entendimento emanado no Parecer
CJ/MPAS no 1.331, de 28.05.98 (DOU de 01.06.98), estabeleceu, na Ordem de
Serviço INSS/DSS nº. 600, de 02.06.98 (DOU 08.06.98), que somente o segurado
que havia implementado todas as condições para a aposentadoria especial até
28.04.95 fará jus ao enquadramento por atividade profissional e sem necessidade
de apresentação de laudo técnico (exceto para o agente físico ruído).
Conforme o mesmo entendimento, quem implementou as
condições para a aposentadoria especial a partir de 29.04.95, o enquadramento
seria feito por efetiva exposição ao agente nocivo para todo o período (inclusive
anterior a 29.04.95) e com a necessidade de apresentação do laudo técnico para
todo o período também.
Esse entendimento do INSS foi questionado judicialmente
através da mesma Ação Civil Pública no 200.71.030435-2, proposta pelo
Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul, tendo a MM. Juíza Federal
Substituta da 4a Vara Previdenciária de Porto Alegre/RS adotado o seguinte
entendimento:
“(...) o tempo de serviço anterior a esta alteração deve ser computado conforme legislação vigente à época do exercício da atividade considerada especial. Não se trata, como pretende a Autarquia, de mera expectativa de direito à aposentadoria, mas direito adquirido ao reconhecimento de tempo de serviço para concessão de posterior benefício, nos termos da lei então vigente. Na verdade, o segurado tem direito a ser computado o tempo de serviço conforme legislação vigente à época em que praticou a profissão. E esta é a interpretação mais justa, pois se naquela época a atividade ou o agente eram considerados nocivos à saúde e o segurado mesmo assim exercia o trabalho, submetendo-se àquelas condições, não é possível que lei posterior deixe de considerá-lo como tal, retroagindo em prejuízo do trabalhador para eliminar direito que já incorporou. A incorporação de tempo de serviço é algo que ocorre dia a dia, mês a mês, ano a ano, e não apenas ao final, quando do requerimento de algum benefício. E, justamente em virtude deste entendimento, no que pertine à forma de comprovação da efetiva exposição a agente (sic ) nocivos, também deve ser aplicada a lei vigente à
101
época do exercício da atividade. Afinal, se em determinada ocasião o trabalhador esteve exposto a agentes nocivos e a empresa preencheu corretamente sua documentação segundo a lei então vigente, não pode a Autarquia negar-lhe direito ao reconhecimento de desempenho de atividade especial, fazendo retroagir exigências que inexistiam na época, como, por exemplo laudo pericial ou perfil profissiográfico” (fls. 300 da Ação Civil Pública no 2000.70.00.030435-2).
Desse modo, o entendimento inicialmente adotado pelo
INSS, nos termos do Parecer CJ/MPAS no 1.331/98, teve que ser reformulado em
razão da citada Ação Civil Pública no 200.71.030435-2, não se exigindo mais
laudo técnico pericial para o período anterior a 29.04.95 e o enquadramento se
dando conforme a lista de agentes/atividades vigente na data da prestação do
serviço, nos seguintes moldes:
Período Trabalhado Enquadramento Até 28/04/1995
Quadro anexo ao Decreto nº. 53.831, de1964. Anexos I e II do RBPS, aprovado pelo Decreto nº. 83.080, de 1979. Sem apresentação de laudo técnico, exceto para o ruído.
De 29/04/1995 a 05/03/1997
Anexo I do Decreto nº. 83.080, de 1979. Código 1.0.0 do Anexo ao Decreto nº. 53.831, de 1964. Com apresentação de Laudo Técnico.
A partir de 06/03/1997
Anexo IV do Decreto nº. 2.172, de 1997, substituído pelo Decreto nº. 3.048, de 1999. Com apresentação de Laudo Técnico.
3.11 O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL DIANTE DA APOSENTADORIA ESPECIAL
A propósito dos Equipamentos de Proteção Individual – EPI,
é assente que “O simples fornecimento de equipamento de proteção individual de
trabalho pelo empregador não exclui a hipótese de exposição do trabalhador aos
agentes nocivos à saúde, devendo ser considerado todo o ambiente de trabalho”
(Enunciado n. 21, do Conselho de Recursos da Previdência Social).
No mesmo sentido, entende a jurisprudência que o uso de
Equipamento de Proteção Individual (EPI), ainda que elimine a insalubridade, no
102
caso de exposição a ruído, não descaracteriza o tempo de serviço especial
prestado” (Súmula n. 9, da Turma de Uniformização Especial Federal).
Assim é porque a utilização de equipamento de proteção
individual – EPI possui o escopo de resguardar a saúde do trabalhador, para que
não sofra lesões, não tendo o condão de descaracterizar a situação de
insalubridade nem a atividade especial, a qual não exige que o segurado venha a
sofrer danos efetivos à sua saúde, ou seja, a atividade especial não é aquela que
provoca necessariamente determinada seqüela139.
3.12 O ADICIONAL DE PERICULOSIDADE E INSALUBRIDADE E SUA RELAÇÃO COM A APOSENTADORIA ESPECIAL
Quanto ao recebimento de adicionais de insalubridade,
penosidade ou periculosidade, este fato por si não enseja direito ao
reconhecimento da atividade especial, já porque os pressupostos destes
adicionais no direito do trabalho eram diversos dos pressupostos da atividade
especial no direito previdenciário.
Assim, a jurisprudência consolidou entendimento segundo o
caráter insalubre ou perigoso da atividade exercida, reconhecido na Justiça do
Trabalho, assegura o direito à percepção do adicional correspondente, mas não
autoriza que o período seja considerado como tempo de serviço especial para fins
previdenciários140.
Entretanto, essa desvinculação entre a legislação trabalhista
e a legislação previdenciária foi superada a partir do Decreto n. 4.882/03, que
acresceu o §11 ao art. 68, do Decreto n. 3.048, dispondo que “As avaliações
ambientais deverão considerar a classificação dos agentes nocivos e os limites de
tolerância estabelecidos pela legislação trabalhista, bem como a metodologia e os
139 TRF 1ª Região, MAS n. 2001.38.00041299-2, José Amílcar Machado, 1ª T., DJ 9.5.05. 140 TRF 4ª Região, AC n. 96.04.13003-0, Nylson Paim de Abreu, 6ª T., DJ 17.5.00.
103
procedimentos de avaliação estabelecidos pela Fundação Jorge Duprat
Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – FUNDACENTRO”.
Logo, a partir da vigência do Decreto n. 4.882/03, vale dizer,
a partir de 19 de novembro de 2003, o simples fato de o segurado ser detentor de
adicional de insalubridade demonstra a atividade especial para efeito
previdenciário.
Nesse diapasão, há autorização para que seja buscada a
classificação de agentes agressivos da legislação trabalhista quando ausente o
amparo na legislação previdenciária, suprindo, assim, a necessidade de
realização de perícia judicial para a configuração da especialidade de atividades
sujeitas a agentes nocivos sem enquadramento nos decretos pertinentes, como
exigido pela Súmula n. 198/ex-TFR, mas abarcados pelas normas trabalhistas141.
3.13 ADICIONAL DE CONTRIBUIÇÃO EMPRESARIAL PARA FINANCIAMENTO DA APOSENTADORIA ESPECIAL
Os §§ 6º e 7º do art. 57 da Lei nº. 8.213/91, com a redação
dada pela Lei nº. 9.732/98, estabeleceram a contribuição adicional para o
financiamento da aposentadoria especial, nos seguintes termos:
“Art. 57. (...)
§ 6º O benefício previsto neste artigo será financiado com os recursos provenientes da contribuição de que trata o inciso II do art. 22 da Lei nº. 8.212, de 24 de julho de 1991, cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a serviço da empresa permita a concessão de aposentadoria especial após quinze, vinte ou vinte e cinco anos de contribuição, respectivamente. (Redação dada pela Lei nº. 9.732, de 11.12.98).
141 TRF 4ª Região, AC n. 2003.71.02.001571-3, Otavio Roberto Pamplona, 5ª T., DJ 7.12.05.
104
§ 7º O acréscimo de que trata o parágrafo anterior incide exclusivamente sobre a remuneração do segurado sujeito às condições especiais referidas no caput. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº. 9.732, de 11.12.98).
(...)”
Com efeito, a contribuição prevista no art. 22, inciso II, da Lei
nº. 8.212/91, incide sobre o total das remunerações de todos os segurados
empregado e trabalhador avulso a serviço da empresa, ao passo que a
contribuição adicional para o financiamento da aposentadoria especial incide
somente sobre as remunerações daqueles segurados empregado e trabalhador
avulso sujeitos a condições especiais prejudiciais à saúde ou integridade física
que lhes dão direito à aposentadoria especial com tempo abreviado.
3.14 PERMANÊNCIA OU RETORNO À EXPOSIÇÃO AOS AGENTES NOCIVOS DO SEGURADO APOSENTADO: CANCELAMENTO OU SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO?
O derrogado § 6º do art. 57 da Lei nº. 8.213/91, com a
redação dada pela Lei nº. 9.032/95, estabelecia que “É vedado ao segurado
aposentado nos termos deste artigo continuar no exercício de atividade ou
operações que o sujeitem aos agentes nocivos constantes da relação referida no
art. 58 desta Lei.”
Essa proibição de retorno à atividade sujeita aos agentes
nocivos constantes da relação referida no art. 58 da Lei nº. 8.213/91 não veio
acompanhada da respectiva sanção (suspensão ou cancelamento do benefício,
multa etc).
A sanção foi criada pelo § 8o do art. 57 da Lei nº. 8.213/91,
com a redação dada pela Lei no 9.732/98, ao estabelecer que “Aplica-se o
disposto no art. 46 ao segurado aposentado nos termos deste artigo que
105
continuar no exercício de atividade ou operação que o sujeite aos agentes
nocivos constantes da relação referida no art. 58 desta Lei.”
O art. 46 da Lei nº. 8.213/91, por sua vez, determina que “O
aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade terá sua
aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.”
De acordo com o art. 46 acima transcrito, o segurado
aposentado por invalidez que retornar ao trabalho terá o seu benefício cancelado,
uma vez que se presume, pelo retorno à atividade, que a incapacidade não mais
existe.
Todavia, segundo Como Roberto Luís Luchi Demo:142
A aposentadoria especial, no entanto, é concedida não em decorrência da efetiva incapacidade do segurado, mas pela exposição a agentes nocivos que presumidamente prejudicam a saúde ou a integridade física, motivo pelo qual não existe razão lógica, como se dá com a aposentadoria por invalidez, para o cancelamento do benefício.
O INSS, interpretando o § 8o do art. 57 da Lei nº. 8.213/91,
no item 165 da Instrução Normativa INSS/DC no 57/2001, estabelece que “sob
pena de suspensão da aposentadoria especial, requerida a partir de 29-4-95, o
segurado não poderá retornar ou permanecer em atividade sujeita a condições
especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física constantes do Anexo
IV do Decreto 3.048/1999, ou, se afastado, não poderá voltar ao exercício dessas
atividades.”
Assim, de acordo com a orientação exposta no parágrafo
anterior, o retorno ou permanência em atividade sujeita a condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física constantes do anexo IV do Decreto
142 DEMO, Roberto Luis Luchi. Atividade especial para efeito de aposentadoria no Regime
Geral de Previdência Social: atualidades, sucessão legislativa e jurisprudência dominante. Revista de Previdência Social. São Paulo: LTr, jan. 2007, p. 93.
106
no 3.048/99 enseja a suspensão do benefício de aposentadoria especial enquanto
permanecer exercendo a atividade referida.
3.15 ENTENDIMENTOS DO INSS SOBRE ALGUNS ASPECTOS DA APOSENTADORIA ESPECIAL
São considerados, também, como período de trabalho sob
condições especiais, para fins de benefícios do RGPS, o período de férias, bem
como de benefício por incapacidade acidentária (auxílio-doença e aposentadoria
por invalidez) e o período de percepção de salário-maternidade, desde que, à
data do afastamento, o segurado estivesse exercendo atividade considerada
especial (art. 157 da Instrução Normativa INSS/DC nº 57/2001).
O período em que o empregado esteve licenciado da
atividade para exercer cargo de administração ou de representação sindical,
exercido até 28.04.95, será computado como tempo de serviço especial, desde
que, na data do afastamento, o segurado estivesse exercendo atividade especial
(art. 158 da Instrução Normativa INSS/DC nº 57/2001).
A partir de 29.04.95, considerando que o trabalhador
autônomo presta serviço em caráter eventual e sem relação de emprego, a sua
atividade não poderá ser enquadrada como especial, uma vez que não existe
forma de comprovar a exposição a agentes nocivos prejudiciais à saúde e à
integridade física, de forma habitual e permanente, não ocasional nem
intermitente (art. 166 da Instrução Normativa INSS/DC nº 57/2001).
A utilização de equipamento de proteção não descaracteriza,
por si só, o enquadramento da atividade. Se do laudo técnico constar a
informação de que o uso de equipamento de proteção individual ou coletivo
elimina ou neutraliza a presença do agente nocivo, não caberá o enquadramento
da atividade como especial (art. 151 da Instrução Normativa INSS/DC no
57/2001).
107
Quando da concessão de benefício, exceto aposentadoria
especial, para segurado que exerce somente atividade com efetiva exposição a
agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes que
sejam prejudiciais à saúde ou à integridade física, durante todo o período de
filiação à Previdência Social e que, para complementação do tempo de serviço
necessário, apresente apenas o tempo de serviço militar, mandato eletivo,
aprendizado profissional, tempo de atividade rural, contribuinte em dobro ou
facultativo, período de certidão de tempo de serviço público (contagem recíproca),
benefício por incapacidade previdenciário (intercalado), cabe a conversão do
tempo especial em comum, em virtude de estar caracterizada a alternância do
exercício de atividade comum e em condições especiais (art. 161 da Instrução
Normativa INSS/DC no 57/2001).
Através do Parecer CJ nº 2.549, de 23.08.2001 (DOU de
30.08.2001), ratificando orientação anteriormente firmada pelo INSS, ficou
estabelecido o entendimento segundo o qual não é possível a conversão do
tempo de serviço sujeito a condições especiais para fins da contagem recíproca
de que trata o § 9º do art. 201 da Constituição Federal.
3.16 O AGENTE NOCIVO RUÍDO COMO CAUSA DA APOSENTADORIA ESPECIAL
Especificamente sobre o agente nocivo ruído, questão
presente em diversas ações judiciais previdenciárias, merece atenção o nível
mínimo para determinar a insalubridade da atividade, o qual fora fixado
inicialmente em 80 dB(A), no Quadro Anexo do Decreto n. 53.831/64, revogado
pelo Anexo I do Decreto n. 83.080/79, que então elevou o nível para 90 dB(A).
Na vigência dos Decretos ns. 357/91 611/92, houve a
incorporação do Anexo I do Decreto n. 83.080/79, que fixou o nível mínimo de
ruído em 90 dB, e do Anexo do Decreto n. 53.831/64, que estabeleceu o nível
mínimo de ruído em 80 dB(A).
108
Durante tal período, que abrange 7 de dezembro de 1991 a
5 de março de 1997, estão pois a incidir níveis mínimos de ruído diferentes, o que
impõe superar a evidente antinomia caracterizada com o afastamento, nesse
particular, da incidência de um dos Decretos que produziram a contradição, o que
faz à luz da natureza previdenciária da norma, adotando-se destarte a solução pro
misero para fixar o nível mínimo de ruído mais benéfico ao segurado, ou seja, 80
dB(A) até 5 de março de 1997, data imediatamente anterior à publicação do
Decreto n. 2.172/97.
Desse modo, até 5 de março de 1997, é considerada nociva
à saúde a atividade sujeita a ruídos superiores a 80 decibéis, conforme previsão
mais benéfica do Decreto n. 53.831/64143. Posteriormente, com o advento do
Decreto n. 2.172/97, bem como quando entrou em vigor o Decreto n. 3.048/99,
voltou o nível mínimo de ruído a 90 dB(A), até que, por fim, editado o Decreto n.
4.882/03, passou o índice ao nível de 85 dB(A)144.
Nesse sentido, não se pode perder de vista o conteúdo da
Súmula nº 32 da Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência dos
Juizados Especiais Federais (DJU 04.08.2006), com o seguinte teor:
O tempo de trabalho laborado com exposição a ruído é considerado especial, para fins de conversão em comum, nos seguintes níveis: superior a 80 decibéis, na vigência do Decreto n. 53.831/64 (1.1.6); superior a 90 decibéis, a partir de 5 de março de 1997, na vigência do Decreto n. 2.172/97; superior a 85 decibéis, a partir da edição do Decreto n. 4.882, de 18 de novembro de 2003.
Não se pode esquecer o entendimento do STJ145 no sentido
de que não só o período de exposição permanente a ruído acima de 90 dB deve
ser considerado como insalubre, mas também o acima de 80 dB, conforme 143 STJ, AGREsp n. 727.497, Hamilton Carvalhido, 6ª T., DJ 1.8.05. 144 STJ, EDREsp n. 614.894, Hamilton Carvalhido, 6ª T., DJ 1.7.05; TRF 1ª Região, AC n.
2001.3300000019-2, Antonio Sávio de Oliveira Chaves, 1ª T., DJ 7.3.05. 145 STJ, REsp n. 720082/MG, 5ª T. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJU 10.04.2006.
109
previsto no Anexo do Decreto 53.831⁄64, que, juntamente com o Decreto
83.080⁄79, foram validados pelos arts. 295 do Decreto 357⁄91 e 292 do Decreto
611⁄92.
Para o STJ146, o ruído abaixo de 90 dB deve ser
considerado como agente agressivo até a data de entrada em vigor do Decreto
2.172, de 5⁄3⁄97, que revogou expressamente o Decreto 611⁄92 e passou a exigir
limite acima de 90 dB para configurar o agente agressivo.
Segundo esse tribunal147, fato de a empresa fornecer ao
empregado o Equipamento de Proteção Individual – EPI, ainda que tal
equipamento seja devidamente utilizado, não afasta, de per se, o direito ao
benefício da aposentadoria com a contagem de tempo especial, devendo cada
caso ser apreciado em suas particularidades.
Em resumo, é admitida como especial a atividade em que o
segurado ficou exposto a ruídos superiores a 90 decibéis no interregno de 6 de
março de 1997 até 18 de novembro de 2003; e finalmente, ruídos superiores a 85
decibéis a partir de 19 de novembro de 2003, conforme a alteração trazida pelo
Decreto n. 4.882/03 ao Decreto n. 3.048/99, que unificou as legislações
trabalhistas e previdenciárias no tocante à atividade especial148.
146 STJ, REsp n. 720082/MG, 5ª T. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJU 10.04.2006. 147 STJ, REsp n. 720082/MG, 5ª T. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJU 10.04.2006. 148 Calha anotar o entendimento jurisprudencial do TRF 4ª Região que, partindo da premissa
segundo a qual o novo critério de enquadramento da atividade especial positivado a partir do Decreto n. 4.882/03 veio a beneficiar os segurados expostos a ruídos no ambiente de trabalho, bem como tendo em vista o caráter social do direito previdenciário, é cabível a aplicação retroativa da disposição regulamentar mais benéfica, considerando-se especial a atividade quando sujeita a ruídos superiores de 85 decibéis desde 6.3.1997, data da vigência do Decreto n. 2.172/97. Assim, conforme a jurisprudência do TRF 4ª Região, é admitida como especial atividade em que o segurado ficou exposto a ruídos superiores a 80 decibéis até 5.3.1997 e, a partir de então, acima de 85 decibéis. Vide, por exemplo: AC n. 2001.71.08.00041-5, Victor Luiz dos Santos Laus, 5ª T., DJ 5.7.06.
110
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente monografia teve como objeto de estudo o “ruído”
como agente nocivo caracterizador de atividade especial e seus reflexos na
aposentadoria especial no regime geral de previdência social.
O interesse despertado pelo tema deu-se em razão de sua
atualidade e relevância, principalmente porque inúmeros segurados do Regime
Geral de Previdência Social têm sofrido acidentes do trabalho ocasionados pelo
agente nocivo “ruído”, bem como pela estreita vinculação desse agente com a
aposentadoria especial no Regime Geral de Previdência Social
Para seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido em
três capítulos.
O primeiro capítulo abordou, sinteticamente, o sistema de
seguridade social no Brasil, seu histórico, evolução, princípios constitucionais,
sistemática de financiamento e os ramos integrantes da seguridade social.
A investigação sintetizada no segundo capítulo ocupou-se
em analisar o Regime Geral da Previdência Social no Brasil, modalidades de
segurados, carência para a obtenção dos benefícios e as espécies de benefícios
disponíveis no RGPS.
Por derradeiro, no terceiro capítulo, cuidou-se em abordar o
instituto da aposentadoria especial, bem como o agente nocivo “ruído” enquanto
elementos caracterizador de atividade especial e seus reflexos na aposentadoria
especial.
Relembrando os problemas e respectivas hipóteses, serão
procedidas as comparações necessárias e a análise das hipóteses, limitadas aos
objetivos gerais e específicos indicados na introdução desta monografia.
Primeiro problema: Pela ótica constitucional, quais são os
direitos sociais assegurados pela Seguridade Social no Brasil? Hipótese: A
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seguridade social, prevista no artigo 194 da Constituição Federal de 1988,
assegura os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Análise: A hipótese foi confirmada pelo resultado da pesquisa e se justifica pelo
conteúdo da própria hipótese.
Segundo problema: Quais os benefícios que são concedidos
no RGPS? Hipótese: os benefícios concedidos no RGPS são: auxílio-doença,
aposentadoria por invalidez, auxílio-acidente, aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de contribuição, auxílio reclusão, salário-família, salário-
maternidade, aposentadoria especial e pensão por morte. Análise: A hipótese foi
confirmada pelo resultado da pesquisa e se justifica pelo conteúdo da própria
hipótese.
Terceiro problema: O agente nocivo “ruído” guarda alguma
relação com o instituto da aposentadoria especial no RGPS? Hipótese: O agente
nocivo “ruído” mantém estreita relação com o instituto da aposentadoria especial
no RGPS, uma vez que a legislação o arrola como um dos eventos determinantes
para a concessão da aposentadoria especial ao trabalhador. Análise: A hipótese
foi confirmada pelo resultado da pesquisa e se justifica pelo conteúdo da própria
hipótese.
A presente monografia serviu para estimular o
aprofundamento sobre o referido tema, não exaurindo-se no presente trabalho,
devendo a pesquisa continuar no objetivo de que se colham mais informações
com vistas ao enriquecimento científico.
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