Upload
elia-rejany
View
222
Download
10
Embed Size (px)
Citation preview
Autor: Manuel Camilo dos Santos
Slides: Élia Rejany
1-Deus escreve em linhas tortas
Tão certo chega faz gosto
E fez tudo abaixo dele
Nada lhe será oposto
Um do outro desigual
Por isto o mun do é composto
2-Vejamos que diferença
Nos seres do Criador
A águia um pássaro tão grande
Tão pequeno um beija-flor
A ema tão corredeira
E o urubu tão voador
3-Vê-se a lu a tão formosa
E o sol tão carrancudo
Vê-se um lajedo tão grande
E um seixinho tão miúdo
O muçu tão mole e liso
O jacaré tão cascudo
4-Vê-se um homem tão calado
Já outro tão divertido
Um mole, fraco e mofino
Outro valente e atrevido
Às vezes um rico tão tolo
E um pobre tão sabido
5-É o caso que me refiro
De quem pretendo contar
A vida d’um homem pobre
Que mesmo sem estudar
Ganhou o nome de sábio
E por fim veio a enricar
6-Esse homem nunca achou
Nada que o enrascasse
Problema por mais difícil
Nem cilada que o pegasse
Quenguista que o iludisse
Questão qu’ele não ganhasse
7-É o caso que me refiro
De quem pretendo contar
A vida d’um homem pobre
Que mesmo sem estudar
Ganhou o nome de sábio
E por fim veio a enricar
8-Esse homem nunca achou
Nada que o enrascasse
Problema por mais difícil
Nem cilada que o pegasse
Quenguista que o iludisse
Questão qu’ele não ganhasse
9-Era um tipo baixo e grosso
Musculoso e carrancudo
Não conhecia uma letra
Porém sabia de tudo
O povo o denominou
O Sabido Sem Estudo...
10-Um dia chegou-lhe um moço
Já em tempo de chorar
Dizendo que tinha dado
Cem contos para guardar
Num hotel e o hoteleiro
Não quis mais o entregar
11-O Sabido Sem Estudo
Disse: - isto é novidade?
Se quer me gratificar
Vamos lá hoje de tarde
Se ele entregar disse o moço:
- Dou ao senhor a metade
12-O Sabido Sem Estudo
Disse: - você vá na frente
Que depois eu vou atrás
Quando eu chegar se apresente
Faça que não me conhece
Aí peça novamente
13-O Sabido Sem Estudo
Logo assim que lá chegou
Falou com o hoteleiro
Este alegre o abraçou
O rapaz nesse momento
Também se apresentou
14-O Sabido Sem Estudo
Disse: - Eu quero me hospedar
Me diga se a casa é séria
Pois eu preciso guardar
Quinhentos contos de réis
Pra depois vir procurar
15-Respondeu o hoteleiro:
- Pois não, a casa é capaz
Agora mesmo eu já ia
Entregar a este rapaz
Cem contos que guardei dele
Há pouco dias atrás
16-Nisto o dono do hotel
Entrou e saiu ligeiro
Com um pacote, disse ao moço:
- Pronto amigo, seu dinheiro
Confira que está certo
Pois sou homem verdadeiro
17-Aí o Sabido disse:
- Ladrão se pega é assim
Você enganou o tolo
Mas foi lesado por mim
Vou metê-lo na polícia
Ladrão, safado, ruim
18-O hoteleiro caiu
Nos pés dele lhe rogando:
- Ó meu senhor não descubra
Disse ele: - só me dando
A metade do dinheiro
Que você ia roubando
19-O hoteleiro prevendo
A derrota em que caía
Além de ir pra cadeia
Perder toda freguesia
Teve que gratificar-lhe
Se não ele descobria
20-Foi ver os cinquenta contos
No mesmo instante lhe deu
Outros cinquenta do moço
Ele também recebeu
E disse: - nestas questões
Quem ganha sempre sou eu
21-E assim correu a fama
Do Sabido Sem Estudo
Quando ele possuía
Um cabedal bem graúdo
O rei logo indignou-se
Quando lhe contaram tudo
22-Disse o rei: - e esse homem
Sem nada ter estudado
Vive de vencer questão?
Isso é pra advogado
Vou botá-lo num enrasque
Depois o mato enforcado
23-O rei mandou o chamar
E disse: - eu quero saber
Se o senhor é sabido
Como ouço alguém dizer
Vou decidir sua sorte
Ou enricar ou morrer
24-Você agora vai ser
O médico do hospital
E dentro de quatro dias
Tem que curar afinal
Os doentes que lá estão
De qualquer que seja o mal
25-Se você nos quatro dias
Deixar-me tudo curado
De forma que fique mesmo
O prédio desocupado
Ganhará cinco mil contos
Se não será degolado
26-Está certo disse ele
E saiu dizendo assim:
- O rei com essa asneira
Pensa que vai dar-me fim
Pois eu vou mostrar a ele
Se isto é nada pra mim
27-E chegando no hospital
Disse à turma de enfermeiros:
- Vocês podem ir embora
Eu sou médico verdadeiro
De amanhã em diante aqui
Vocês não ganham dinheiro
28-Porque amanhã eu chego
Bem cedo a qui neste canto
Mato um de stes doentes
E cozinho um tanto ou quanto
Com o caldo faço remédio
E curar os outros eu garanto
Foram embora os enfermeiros
29- E ele saiu calado
Os doentes cada um
Ficou dizendo cismado
- Qual será o que ele mata?
Será eu? Isto é danado!...
30-Outro dizia consigo:
- Será eu o caipora?
Mais tarde um disse: - E eu
Estou sentindo melhora
Outro levantou e disse:
- Estou melhor, vou embora
31-Um amarelo que estavaBatendo o papo e inchadoLevantou-se e disse: - Eu
Estou até melhoradoPois já estou me achando
Mais forte, gordo e corado
32-Já estou sentindo calor
De vez em quando um suor
Um doente disse: - Tu
Estás é muito peior
Disse o amarelo: - Não
Vou embora, estou melhor
33-E assim foram saindo
Cada qual para o seu lado
Quando chegava na porta
Dizia: - Vôte danado!
O diabo é quem fica aqui
Pra amanhã ser cozinhado
34-Um moço disse que ouviu
Um mudo e surdo dizer
Que um cego tinha visto
Um aleijado correr
Sozinho de madrugada
Já com medo de morrer
35-De fato um aleijado
Que tinha as pernas pegadas
Foi dormir, quando acordou
Não achou os camaradas
A casa estava deserta
E as camas desocupadas
36-Com medo pulou da cama
E as pernas desencolheu
Rasgou a "péia" no meio
E assombrado correu
Dizendo: - Fiquei dormindo
E nem acordaram eu!...
37-No outro dia bem cedo
O Sabido Sem estudo
Chegando no hospital
Achou-o deserto de tudo
Sorriu e disse consigo:
- Passei no rei um canudo
38-O Sabido Sem Estudo
Chegou no prazo marcado
Na corte e disse ao rei:
- Pronto já fiz seu mandado
Os doentes do hospital
Já saiu tudo curado
39-O rei foi pessoalmente
Percorrer o hospital
Não achando um só doente
Disse consigo afinal:
- Aquele ou é satanás
Ou um ente divinal
40-Deu-lhe o dinheiro e lhe disse:- Retire-se do meu reinado
O Sabido Sem EstudoLhe disse: - Muito obrigadoPra ganhar dinheiro assim
Tem às ordens um seu criado
Campina Grande, PB, 21/11/1955