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Página - 1 O Breve seculo XX UM MUNDO, DUAS GRANDES GUER- RAS MUNDIAIS, DOIS SISTEMAS OPOS- TOS: 1914 – 1945. Introdução. O processo de críticas, contradições e crises do modelo capita- lista, presente no século passado com as alternativas socialistas, os movimentos operários e as disputas entre as potências pela par- tilha colonial afro-asiática, dentre outros, atinge seu grau máximo no século XX. O século XX assiste à implantação do primeiro estado dito socialista (a partir da Revolução Russa, ocorrida em outubro de 1917), à eclosão de duas Grandes Guerras Mundiais (expressão maior da contradição do sistema) e à Crise de 1929, a mais pro- funda da história do capitalismo. O amplo questionamento do sistema, as suas crises e contradi- ções, que perde a sua forma monopolista, típica de fins do século XIX, e adquire, freqüentemente, o caráter “intervencionista de Estado”, como nos pós-guerras ou no período da Grande Depres- são (anos 30), para correção abaladas pelos conflitos ou crises. Dentro ainda do novo modelo capitalista apoiado no Estado (por vezes), surgem as ditaduras de “direita” (chamadas de fascistas), contrapondo-se às ditaduras de esquerda (como a do Estado Sovié- tico). Mesmo nas tradicionais democracias americanas, percebe-se o fortalecimento do caráter intervencionista do Estado na economia, como no referido momento da Grande Depressão, dos anos 30. A Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918) Causas Gerais: O problema das causas dos grandes acontecimentos é um caso particular de um problema que topamos inúmeras vezes ao anali- sar o processo histórico. Quer se trate de revoluções, que se trate de guerras, metodologicamente filosoficamente, o problema é o mesmo: como é que o novo pode sair do velho? Como se passa de um estado de coisas a outro, de um regime a uma revolução, de uma situação de paz internacional a um conflito mundial? As respostas são múltiplas e várias, dependendo da posição ide- ológica do analista. Certas causas, circunstanciais e imediatas, podem ser postas de pronto por uma análise cronológica. O estopim da guerra foi o Incidente em Saravejo, ocorrido em 28 de junho de 1914, com o assassinato do príncipe herdeiro do trono austríaco, o arquiduque Francisco Ferdinando pela organi- zação secreta Sérvia Mão Negra, que lutava contra o poder dos Habsburgos (Áustria-Hungria). A proposta do governo Áustro- Húngaro, de ampliar a esfera de influência do país rumo às re- giões vizinhas, causa o seu assassinato na cidade de Saravejo, na Bósnia-Herzegovina. Sabe-se que o crime conta com a aquies- cência do próprio governo sérvio, o que leva o Império Áustro- Húngaro a declarar guerra à Sérvia, no culminar de uma série de atritos entre ambos, conforme já mencionado. Com a declaração de Guerra, entra em ação todo o processo desencadeador do 1º conflito mundial, podendo assim tal fato ser considerado a causa imediata da Grande Guerra. Essa, contudo, não deixa de ser uma resposta hipócrita e provi- sória. De acordo com o historiador René Rémond, o incidente de 28 de junho teve tais conseqüências, a razão é porque surgiu num contexto que encerrava as possibilidades de guerra. Em outros momentos, o mesmo acidente teria comovido a opinião pública, mas não teria tido conseqüências tão graves. Ele veio acrescentar- se a uma soma de fatores anteriores. São as causas preexistentes, as engrenagens, os mecanismos dessa máquina infernal que urge desmontar. Mas antes de mais nada, acredito que a principal causa da I Grande Guerra Mundial reside na vontade de guerra de uma vá- rias potências, que desejariam instaurar sua hegemonia. O Imperialismo Europeu ou a Partilha da África e da Ásia. Uma outra explicação para a guerra é de ordem econômica: a guerra teria provindo da conjuntura e da inadequação das es- truturas econômicas. Na transição do século XIX para o XX, as principais potências industriais, Inglaterra e França, adquirem um vasto império colonial na África e na Ásia, em detrimento da Ale- manha, cuja sua industrialização estava em plena ascensão, e da Itália, que chegaram tardiamente à corrida imperialista e obtêm menos territórios. O desenvolvimento alemão exigia mais e me- lhores mercados, entretanto, tais se encontravam com a França e com a Inglaterra. Entre esses lados configura-se uma acirrada disputa pela áreas coloniais, constituindo-se assim, a principal causa do 1º conflito mundial da era moderna, em outras palavras, a conflagração do conflito de 1914 proviria, portanto, diretamen- te, do Imperialismo econômico, o que ilustraria a tese clássica do marxismo-leninismo (Revolução Russa). Entretanto, a Alemanha não reconheceu a hegemonia francesa sobre o Marrocos, ameaçando guerra caso a França não se reti- rasse deste território. Esta crise foi resolvida em 1906, na Confe- rência de Algeciras, com a intervenção da Inglaterra, redundando num temporário enfraquecimento da Tríplice Aliança. Mas até que ponto é valida esta explicação (de que a guerra ocorreu em virtude da corrida imperialista alemã)? De acordo com René Rémond, “todos os trabalhos dos histo- riadores e, nomeadamente, os do historiador francês P. Renouvin, lhe reduzem o alcance. Ela é demasiado esquemática: a economia alemã não se achava em dificuldades, nada havia que tornasse inelutível o recurso à guerra. Outras possibilidades se ofereciam a ela. Não é verdade que a economia alemã estivesse acuada e só lhe restasse a alternativa da guerra”(grifo nosso). Neste sentido é forçoso reduzir as causas da guerra apenas a questões econômicas. Diferentes fatores psicológicos, militares e políticos devem ser tomados em consideração. Rivalidade Inglaterra X Alemanha Apesar de possuir poucas colônias, o crescimento industrial do Império Alemão ocorre de forma vertiginosa no início do século XX. O país conta com um solo propenso a diversos cultivos; ob- tém a Alsácia Lorena, tomada dos franceses desde 1871 (Guerra franco-prussiano), região produtora de carvão e minério de ferro; desenvolve o parque siderúrgico, a marinha mercante e de guerra (ameaçando a posição da Inglaterra de “Senhora dos Mares”) a tecnologia e o sistema bancário. Esse crescimento da Alemanha também se registra no setor militar e os ingleses passam a temer o expansionismo militarista alemão. Ameaçada de perder a con- dição de primeira potência industrial do globo, a Inglaterra busca uma aproximação mais estreita com a França.

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O Breve seculo XXUM MUNDO, DUAS GRANDES GUER-

RAS MUNDIAIS, DOIS SISTEMAS OPOS-TOS: 1914 – 1945.

Introdução.O processo de críticas, contradições e crises do modelo capita-

lista, presente no século passado com as alternativas socialistas, os movimentos operários e as disputas entre as potências pela par-tilha colonial afro-asiática, dentre outros, atinge seu grau máximo no século XX.

O século XX assiste à implantação do primeiro estado dito socialista (a partir da Revolução Russa, ocorrida em outubro de 1917), à eclosão de duas Grandes Guerras Mundiais (expressão maior da contradição do sistema) e à Crise de 1929, a mais pro-funda da história do capitalismo.

O amplo questionamento do sistema, as suas crises e contradi-ções, que perde a sua forma monopolista, típica de fins do século XIX, e adquire, freqüentemente, o caráter “intervencionista de Estado”, como nos pós-guerras ou no período da Grande Depres-são (anos 30), para correção abaladas pelos conflitos ou crises.

Dentro ainda do novo modelo capitalista apoiado no Estado (por vezes), surgem as ditaduras de “direita” (chamadas de fascistas), contrapondo-se às ditaduras de esquerda (como a do Estado Sovié-tico). Mesmo nas tradicionais democracias americanas, percebe-se o fortalecimento do caráter intervencionista do Estado na economia, como no referido momento da Grande Depressão, dos anos 30.

A Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918)Causas Gerais:

O problema das causas dos grandes acontecimentos é um caso particular de um problema que topamos inúmeras vezes ao anali-sar o processo histórico. Quer se trate de revoluções, que se trate de guerras, metodologicamente filosoficamente, o problema é o mesmo: como é que o novo pode sair do velho? Como se passa de um estado de coisas a outro, de um regime a uma revolução, de uma situação de paz internacional a um conflito mundial?

As respostas são múltiplas e várias, dependendo da posição ide-ológica do analista.

Certas causas, circunstanciais e imediatas, podem ser postas de pronto por uma análise cronológica.

O estopim da guerra foi o Incidente em Saravejo, ocorrido em 28 de junho de 1914, com o assassinato do príncipe herdeiro do trono austríaco, o arquiduque Francisco Ferdinando pela organi-zação secreta Sérvia Mão Negra, que lutava contra o poder dos Habsburgos (Áustria-Hungria). A proposta do governo Áustro-Húngaro, de ampliar a esfera de influência do país rumo às re-giões vizinhas, causa o seu assassinato na cidade de Saravejo, na Bósnia-Herzegovina. Sabe-se que o crime conta com a aquies-cência do próprio governo sérvio, o que leva o Império Áustro-Húngaro a declarar guerra à Sérvia, no culminar de uma série de atritos entre ambos, conforme já mencionado. Com a declaração

de Guerra, entra em ação todo o processo desencadeador do 1º conflito mundial, podendo assim tal fato ser considerado a causa imediata da Grande Guerra.

Essa, contudo, não deixa de ser uma resposta hipócrita e provi-sória. De acordo com o historiador René Rémond, o incidente de 28 de junho teve tais conseqüências, a razão é porque surgiu num contexto que encerrava as possibilidades de guerra. Em outros momentos, o mesmo acidente teria comovido a opinião pública, mas não teria tido conseqüências tão graves. Ele veio acrescentar-se a uma soma de fatores anteriores. São as causas preexistentes, as engrenagens, os mecanismos dessa máquina infernal que urge desmontar.

Mas antes de mais nada, acredito que a principal causa da I Grande Guerra Mundial reside na vontade de guerra de uma vá-rias potências, que desejariam instaurar sua hegemonia.

O Imperialismo Europeu ou a Partilha da África e da Ásia.

Uma outra explicação para a guerra é de ordem econômica: a guerra teria provindo da conjuntura e da inadequação das es-truturas econômicas. Na transição do século XIX para o XX, as principais potências industriais, Inglaterra e França, adquirem um vasto império colonial na África e na Ásia, em detrimento da Ale-manha, cuja sua industrialização estava em plena ascensão, e da Itália, que chegaram tardiamente à corrida imperialista e obtêm menos territórios. O desenvolvimento alemão exigia mais e me-lhores mercados, entretanto, tais se encontravam com a França e com a Inglaterra. Entre esses lados configura-se uma acirrada disputa pela áreas coloniais, constituindo-se assim, a principal causa do 1º conflito mundial da era moderna, em outras palavras, a conflagração do conflito de 1914 proviria, portanto, diretamen-te, do Imperialismo econômico, o que ilustraria a tese clássica do marxismo-leninismo (Revolução Russa).

Entretanto, a Alemanha não reconheceu a hegemonia francesa sobre o Marrocos, ameaçando guerra caso a França não se reti-rasse deste território. Esta crise foi resolvida em 1906, na Confe-rência de Algeciras, com a intervenção da Inglaterra, redundando num temporário enfraquecimento da Tríplice Aliança.

Mas até que ponto é valida esta explicação (de que a guerra ocorreu em virtude da corrida imperialista alemã)?

De acordo com René Rémond, “todos os trabalhos dos histo-riadores e, nomeadamente, os do historiador francês P. Renouvin, lhe reduzem o alcance. Ela é demasiado esquemática: a economia alemã não se achava em dificuldades, nada havia que tornasse inelutível o recurso à guerra. Outras possibilidades se ofereciam a ela. Não é verdade que a economia alemã estivesse acuada e só lhe restasse a alternativa da guerra”(grifo nosso).

Neste sentido é forçoso reduzir as causas da guerra apenas a questões econômicas. Diferentes fatores psicológicos, militares e políticos devem ser tomados em consideração.

Rivalidade Inglaterra X AlemanhaApesar de possuir poucas colônias, o crescimento industrial do

Império Alemão ocorre de forma vertiginosa no início do século XX. O país conta com um solo propenso a diversos cultivos; ob-tém a Alsácia Lorena, tomada dos franceses desde 1871 (Guerra franco-prussiano), região produtora de carvão e minério de ferro; desenvolve o parque siderúrgico, a marinha mercante e de guerra (ameaçando a posição da Inglaterra de “Senhora dos Mares”) a tecnologia e o sistema bancário. Esse crescimento da Alemanha também se registra no setor militar e os ingleses passam a temer o expansionismo militarista alemão. Ameaçada de perder a con-dição de primeira potência industrial do globo, a Inglaterra busca uma aproximação mais estreita com a França.

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Nacionalismo exagerado.Entre tantos fatores, o fenômeno do nacionalismo foi uma das

causas determinantes das hostilidades entre os povos: o movi-mento das nacionalidades, a aspiração à independência nacional, a reivindicação da unidade ou do separatismo, conforme as situa-ções. Os nacionalismos desempenharam seu papel no advento do conflito. Desde 1905, a febre aumenta, exacerbam-se as paixões até levar tudo de roldão em 1914. Desse ponto de vista, a guerra de 1914 resulta, com efeito, dos movimentos que vimos surgir e entrecruzar-se no século XIX e início do XX.

Entre as propostas de unificações nacionais destacam-se os rus-sos (Pan-Eslavismo), os alemães (Pan-Germanismo) e os Sérvios (Questões Balcânicas).

O Pan-eslavismo.Os russos, buscando ampliar sua esfera de influência no Conti-

nente europeu, anunciam o Pan-Eslavismo – proteção, inclusive militar, aos povos eslavos, de semelhanças sócio-culturais com os russos (sérvios, croatas, búlgaros, tchecos, dentro outros).

O Pan-Germanismo.Os alemães, por sua vez, pregam o Pan-Germanismo, protegen-

do os povos germânicos (austríacos, holandeses, dinamarqueses, dentre outros). O culto à nação também está presente na disputa entre a Alemanha e a Rússia por áreas de influência.

Questões Balcânicas.Crises envolvendo a península Balcânica, no sul da Europa,

subdividida em três episódios:

Rivalidade Sérvia X Império Áustro-Húngaro.A Sérvia assume, no início do século atual, uma posição de des-

taque na região balcânica e pretende, a fim de consolidar a sua for-ça econômica, obter uma saída para o mar. A conquista da Bósnia-Herzegovina poderia representar uma solução para o problema, mas o império Áustro-Húngaro conquista a região bosníaca antes dos sérvios, numa clara tentativa de barrar a formação da “Grande Sérvia”. Nota-se, com o fato, um exemplo da disputa por áreas de influência na região balcânica, entre austríacos e sérvios.

1ª Guerra Balcânica – 1912O decadente Império Otomano (Turquia) é derrotado pela Liga

Balcânica, constituída pela Sérvia, Romênia, Grécia e Bulgária, interessadas em áreas que os otomanos ainda possuem no terri-tório balcânico. Tal conflito exacerba a inimizade entre sérvios, líderes da Liga, e turcos.

2º Guerra Balcânica – 1913A Bulgária, insatisfeita com a divisão dos despojos turcos, entra

em choque com o restante da Liga Balcânica e é esmagada pela mesma. Tal episódio gera animosidades sobretudo entre búlgaros e sérvios, ainda líderes da região.

Transformações no Império Otomano: A Revolu-ção dos Jovens Turcos.

Em 1906, sob a influência da Revolução Russa de 1905 – o Ensaio Geral – estourou uma revolta na Turquia (Império Otomano), conhecida como Revolução dos Jovens Turcos. A liderança desta revolta ficou nas mãos de jovens oficiais do exército turco, que se dispunham a realizar uma série de refor-mas sociais e políticas no país, dotando-o de condições indis-pensáveis para seu desenvolvimento industrial. O impulso re-volucionário se alastrou para Ásia, com levantes na Pérsia e na China. Estas revoltas colocaram todas as potências européias em sobressalto, reforçando a influência política dos setores mi-litares, principalmente na Alemanha e na Áustria.

Paz Armada.

A partir de 1910, a situação internacional caracteriza-se pelo que se chama de a paz armada. A expressão associa dois elementos ca-racterísticos: a corrida armamentista e os sistemas de alianças.

Antes de 1914, o clima na Europa já é tenso, num prenúncio de que um grande conflito poderia eclodir a qualquer momento. As nações ampliam seu aparato militar, fabricando e modernizan-do armas, prolongando o serviço militar, e os governos destinam cada vez mais verbas para o setor bélico – trata-se da “corrida armamentista”.

Outro aspecto da “Paz Armada” é a política da formação de Alianças Militares, com vistas à guerra vindoura: em 1882, for-ma-se a Tríplice Aliança entre as chamadas Potências Centrais, ou seja, entre a Alemanha, o Império Áustro-Húngaro (fazendo valer o Pan-germanismo) e a Itália. Esta última, necessitando de proteção germânica para obtenção de colônias e temerosa de uma possível ajuda francesa ao papa, para que este recuperasse os territórios perdidos pela Igreja quando da unificação italiana, se aproxima da Alemanha, embora mantivesse com os austríacos uma rivalidade particular em torno das Províncias Irredentais (Ís-tria, Tretino e Trieste), de maioria italiana, mas pertencentes aos austríacos. Aliás, essa disputa faz com que, em plena guerra, a Itália se desligue da Tríplice Aliança e passe a lutar a favor de seus inimigos.

Em resposta à formação deste bloco, em 1907, constitui-se a Tríplice Entente, formada pelos inimigos da Alemanha: Inglater-ra, França e Rússia. Deve-se acrescentar que a Rússia, extrema-mente atrasada, dependia economicamente dos franceses e dos ingleses, com quem mantinha negócios em seu território.

Diante do poderoso capital alemão, no final do século XIX, a França e a Inglaterra deixaram de lado as antigas controvérsias e disputas e acertaram novo pacto de alianças. Na opinião dos di-plomatas destes países, esta aliança serviria para apoiar um novo equilíbrio de forças capaz de manter a paz dentro da Europa, ou uma vitória, no caso de uma guerra.

Foi assim que nasceu o pacto entre a Inglaterra e a França, co-nhecido como Entente Cordiale Anglo-Francesa, cujos detalhes foram concluídos em abril de 1904.

Neste acordo, a França reconhecia a posição dominante da In-glaterra no Egito e adjacências. E, em troca, a Inglaterra prometia não mais colocar objeções às pretensões francesas em relação ao Marrocos. Com relação à Ásia, ficou também acertada a divisão do Ceilão em duas áreas de influências, uma para cada participante do Acordo. Por fim, ambos os países acertaram um tratado de mú-tuo apoio, no caso de alguma potência “estrangeira” (entenda-se Alemanha) colocar empecilhos à realização dos itens deste acordo. Como vemos, com a assinatura da Entente Cordiale, a França e a Inglaterra consideraram todas as antigas divergências encerradas e cercavam fileiras para enfrentar um inimigo comum: a Alemanha.

Do lado russo, a virada do século também trouxe grandes no-vidades: a derrota vergonhosa sofrida na guerra Russo-Japonesa, por um lado, pôs ponto final nas pretensões imperialistas do Czar; por outro lado, aumentou a dependência da Rússia em relação aos capitais ingleses e franceses.

A Guerra em si.Todos esses episódios, combinados com outros de menor im-

portância, contribuíram para aumentar a tensão dentro da Europa. Os países da Tríplice Aliança tendiam a aumentar sua agressivi-dade, ao passo que os países da Tríplice Entente aumentavam sua resistência em tudo o que se referia à nova partilha das colônias em qualquer lugar do mundo. Por volta de 1910, o cenário da guerra estava montado, e as atenções de todos os estrategistas eu-ropeus se voltavam para a tensão região dos Bálcãs, disputada pelas potências dos dois sistemas de aliança e agitada por levan-

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tes nacionalistas, de onde surgiria o motivo que todos esperavam para começar a guerra.

Depois do Incidente de Saravejo, o Império Austro-Húngaro apro-veitou-se para realizar antigos sonhos de anexação da Sérvia. Por sua vez, o governo alemão havia se decidido por esta oportunidade para iniciar um conflito, aproveitando o despreparo dos membros da En-tente, e rapidamente concluir uma vitória sobre os dois adversários mais poderosos da Europa continental: a França e a Rússia.

Após algumas consultas entre os governos alemão e austríaco, a Áustria-Hungria decidiu invadir a Sérvia, declarando guerra a este país no dia 28 de julho de 1914. No dia 29 de julho a Ingla-terra anunciou que não se manteria neutra no caso de uma invasão à França e à Bélgica.

Apesar da postura agressiva assumida pela Inglaterra diante da disputa, a Alemanha, sabendo que os países da Entente não ti-nham concluído seus preparativos para a guerra, resolveu tomar a dianteira. No dia 1º de agosto do mesmo ano, a Alemanha decla-rou guerra à Rússia e, no dia 3, à França.

Na noite de 03 de agosto, a Alemanha iniciou a invasão da Fran-ça. No dia 04, reagindo ao avanço alemão, a Inglaterra declarou guerra à Alemanha. Foi assim que, na fria manhã do dia 04 de agosto de 1914, o mundo inteiro ficou sabendo, através dos jor-nais que a Grande Guerra havia começado.

Da guerra européia à guerra mundial.Desde que começou, a guerra na Europa se desenvolveu em três

frentes de batalha: a frente ocidental, onde os alemãs combatiam os franceses, ingleses e belgas; a frente oriental, onde os alemães combatiam contra os russos; e a frente dos Bálcãs, importância secundária, onde os austríacos lutavam contra os sérvios.

Logo depois de começada a guerra, o Japão, aproveitando o enfraquecimento da presença européia na Ásia, iniciou uma série de movimentos procurando anexar as colônias alemãs no pacífico e consolidar a sua influência no Extremo Oriente.

O Império Otomano entrou na guerra para conquistar algumas ilhas do mar Egeu (Mediterrâneo). Em outubro de 1914, este país declarou guerra à Rússia e estendeu os campos de batalha para todo o Oriente Próximo.

No final deste primeiro ano, a guerra alcançou também a África, onde ingleses e franceses disputavam algumas colônias.

As dimensões do conflito, todavia, não se restringiram ao conti-nente europeu: ele estendeu-se aos outros por um processo duplo. De um lado, em razões dos laços que sujeitam os territórios co-loniais às potências européias. É o caso da África, nove décimos do continente, em 1914, são possessões coloniais. As colônias seguem os destinos das metrópoles, participam dos esforços de guerra, fornecem combatentes e servem até de teatro de opera-ções, como aconteceu quando os franco-britânicos ocuparam, uma depois da outra, as colônias alemãs da África, os Camarões, o Togo e o Sudoeste da África Oriental.

Um segundo fator determina a extensão do conflito a outros continentes além da Europa: a determinação de alguns Estados, por motivos semelhantes aos que ditaram a beligerância da Itália. Tal é o cálculo dos japoneses, que julgam obter maiores vantagens entrando na guerra do que ficando neutros; em agosto de 1914 o Japão declara guerra à Alemanha. Não só em virtude do tratado que o liga à Grã-Bretanha desde 1902, mas também porque a oca-sião lhe parece azaca para apropriar-se das bases alemãs na China, sobretudo no Xantum. A China também entra na guerra para não se inferiorizar diante do Japão.

Depois da África, a Ásia, o continente Americano. Ao todo onze países do hemisfério ocidental tomam parte na luta. A participa-ção da maioria continua simbólica. O mesmo porém, não se pode

dizer da intervenção dos Estados Unidos. Em abril de 1917, o Presidente Wilson propõe ao Congresso que o país saia da posição de mero espectador a declare efetivamente Guerra à Alemanha, enviando, inclusive, tropas para o front europeu.

Ao todo, contando os domínios britânicos, franceses e Alemães, uns trinta e cinco Estados participaram da guerra. Todos os conti-nentes foram arrastados a ele: centenas de milhões de homens. É a primeira vez na história da humanidade que uma conflagração assume tamanha amplitude e essa extensão decorre do prolonga-mento da guerra. Foi porque a luta durou tanto tempo que nume-rosos países sobrepujaram as próprias hesitações, ou acabaram cedendo à pressão dos primeiros beligerantes. O objetivo é sem-pre romper o equilíbrio ou restabelecê-los se for ameaçado.

De uma guerra curta, para uma guerra longa.A I Grande Guerra Mundial foi uma guerra longa para os mol-

des europeus que, desde as guerras napoleônicas, início do século XIX, não conheciam um conflito que durasse tanto anos. As úni-cas guerras longas que a Europa conheceu depois disso foram as que ela travou no ultramar, como a Guerra dos Bôeres, em que se digladiaram, durante três anos, o corpo expedicionário britânico e o povo bôer, que defendia a sua independência.

No século XIX, houve uma guerra que durou tanto tempo quan-to vai durar a I Grande Guerra Mundial, mas trata-se de uma guerra civil: a Guerra de Secessão (EUA), que se prolongou por exatamente quatro anos, de abril de 1861 a abril de 1865. Trata-se de um conflito entre o norte, abolicionista e o sul, escravista. No final, o sul sai derrotado, o norte fortalecido e a escravidão abolida nos EUA.

Não podemos nos esquecer que na metade do século XIX, no cone sul do Continente Americano, desenvolveu-se uma guerra regional envolvendo o Brasil, a Argentina e o Uruguai (Tríplice Aliança) contra o Paraguai. Trata-se da Guerra do Paraguai, que durou 05 anos (1865 a 1870). De um lado o Paraguai, o único país da América Latina que era totalmente independente, e do outro Brasil, Argentina e Uruguai, todos dependentes da Inglaterra, que não aceitava a situação paraguaia. A Tríplice Aliança, contando com a ajuda inglesa derrotou o Paraguai, que saiu destruído e to-talmente dependente depois da guerra.

As guerras longas, portanto, correspondem a formas determina-das de conflito, conflitos coloniais travados a milhares de quilô-metros das metrópoles, ou conflitos internos e regionais.

Por isso mesmo, todos pensarão que a guerra durará algumas semanas ou, na pior das hipóteses, alguns meses. A estratégia dos beligerantes repousa no postulado de uma guerra curta, cuja deci-são será obtida nos primeiros encontros: é a guerra de movimento (de agosto a novembro de 1914). Essa estratégia inspira não só plano alemão de envolvimento nos frontes francês, a oeste, mas também esperanças postas pela Entente no avanço, a leste, do rolo compressor russo.

Mas a guerra vai durar. Nos primeiros meses nenhum beligeran-te consegue alcançar a vantagem decisiva capaz de propiciar-lhe a vitória e o fim da guerra: nem os alemães na França, depois do reerguimento imprevisto dos franceses no começo de setembro de 1914, nem os russos, na Prússia Oriental, onde são vencidos na Batalha de Tannenberg.

Eis aí os beligerantes obrigados a rever seus planos, impelidos por acontecimentos que não se tinham podido prever. As duas par-tes instalam-se na guerra, imobiliza-se o front, e a guerra de mo-vimento, seguida da corrida para o mar, é substituída pela guerra de posição (novembro de 1914 a março de 1918), com uma frente contínua que impossibilita a penetração. A luta se reveste, então, de características inesperadas. “É o retorno à guerra de antanho, a guerra de assédio, mas um assédio do tamanho dos Estados mo-

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dernos, que, em lugar de limitar-se a algumas praças fortificadas, se desenrola numa extensão de centenas de quilômetros, do Mar do Norte à fronteira Suíça, do Báltico aos Cárpatos, e opõe uns aos outros milhões de homens”, afirma René Rémond.

Entretanto, a partir de março de 1918, a guerra entra no seu sus-piro final. São as ofensivas de 1918, momento em que a introdução de novas tecnologias, como a introdução dos tanques de guerra, desde 1916, a maior eficiência dos caças, bombardeios e aviões de observações e a entrada de 1.200.000 americanos dão à Entente um fôlego necessário para impor a derrota aos Impérios Centrais.

Novas formas de luta: de uma guerra parcial, para uma guerra total.

Precisamente por ser uma guerra de posições, a luta exige a par-ticipação de forças cada vez maiores. É a primeira experiência a cujo propósito se pode empregar, sem exagero, o termo de “guerra total”. Está visto que é menos total – se assim podemos dizer – do que a II Grande Guerra Mundial; mas já apresenta características tão originais que assinala uma mudança profunda, um rompimen-to com os hábitos tradicionais.

Os efetivosEm primeiro lugar, observa-se a mobilização dos efetivos le-

vada a um grau até então desconhecido. Na França – o país que levou mais longe a mobilização dos efetivos – arregimentaram-se cerca de 8,5 milhões, numa população que não chegava então a 40 milhões, ou seja, mais de um quinto da população francesa estava envolvida diretamente na guerra.

A mobilização dos recursos e as novas armas.Ora, urge abastecer estes milhões de homens, dar-lhe munições.

O grande temor dos estados-maiores e dos ministros da guerra no outono de 1914 é menos a ruptura do front ou a falta de homens do que a possibilidade de se esgotarem os estoques de munições: ninguém contara com uma guerra comprida e, no princípio do outono, as reservas estão exauridas. Foi preciso, portanto, forjar completamente, a partir do nada, uma indústria de guerra, criar fábricas de armamentos, recrutar uma mão-de-obra substituta, em grande parte feminina, que rendessem os homens mandados para as frentes de batalha. Também chamaram de volta os especialis-tas em armamentos para desenvolverem novas armas e munições mais potentes.

O fim da guerra.A saída dos russos do conflito em 1917, devido à Revolução

Bolchevique, com a assinatura do tratado de paz de Brest-Lito-wsky, deu aos alemães melhores condições, pois na medida em que não precisavam se preocupar mais com o front leste. Mas não conseguiram os seus objetivos que eram conseguir vitórias no front oeste, além da derrota dos exércitos franco-britânicos antes da chegada dos reforços americanos.

Em setembro começou a derrota final dos Impérios Centrais. Em 29 de outubro a Bulgária capitulava-se, no dia seguinte foi a vez do Império Otomano assinar a sua rendição incondicional. A derrota austríaca na frente italiana levou ao desmoronamento final da monarquia dos Habsburgos. No mês de outubro, os tchecos, os croatas, os eslovenos, os sérvios e os húngaros proclamaram suas independências, dividindo a velha monarquia multinacional em vários Estados nacionais hostis entre si. Neste mesmo momento, vários levantes nas fileiras do exército dos Habsburgos impediram a continuação da guerra e, a 3 de novembro, a Áustria-Hungria, ou melhor, o que restava dela, assinou o armistício.

O pesado fardo que o povo alemão foi obrigado a sustentar, para manter a guerra, terminou por desencadear uma revolta po-pular, sem precedentes, por toda a Alemanha. Os levantes se su-cediam, o movimento operário se reorganizava, e por toda parte

surgiam sovietes (conselhos operários, a exemplo do movimento revolucionário russo de 1917) que se encarregavam da adminis-tração das cidades que haviam escapado ao controle do governo central. A monarquia desmoronava na Alemanha. Nos primeiros dias de novembro de 1918, a revolução estourou em Berlim e o imperador Guilherme II foi obrigado a abdicar, num gesto que contou com o apoio, inclusive do alto comando do exército, que não via alternativa para a situação em que se encontrava na frente da batalha. Era o fim do II Reich. Substituindo-o, instalou-se a chamada República de Weimar no território alemão.

No dia 11 de novembro de 1918, derrotada em todas as frentes, a Alemanha terminou por assinar o armistício com as forças da Entente.

Etapas da Guerra (esquema):1914:

• O Império Austro-húngaro declara guerra à Sérvia (08 de julho);• A Rússia, fazendo cumprir o pan-eslavismo, se coloca a favor

da Sérvia.• A Alemanha, de acordo com o Pan-germanismo e com os prin-

cípios da Tríplice Aliança, se coloca ao lado dos austríacos, decla-rando guerra à Rússia.

• Sabendo do apoio francês aos Russos (Tríplice Entente), a Alemanha declara guerra à França.

• A Alemanha invade a França pela fronteira belga, mesmo sem a permissão do rei da Bélgica para que os alemãs atravessassem seu território com suas tropas – essa violação da neutralidade bel-ga pelos alemães representa o pretexto para a entrada oficial da Inglaterra no conflito, declarando guerra aos alemães. Nesse ins-tante, pela presença de colônias britânicas, a guerra se transforma de Européia para Mundial, com a exclusão até o momento, apenas das Américas.

• O Japão declara guerra aos alemães, pois tem interesses em áreas da Alemanha no território chinês.

• A Turquia, pelos ressentimentos com a Sérvia, adere ao confli-to ao lado da Tríplice Aliança.

1915• Pelas mesmas razões da Turquia, a Bulgária adere às potências

centrais (Alemanha e Império Austro-húngaro).• A Itália rompe relações com as potências centrais e se transfe-

re para o lado da Entente, sob a promessa de ingleses e franceses de obtenção das províncias Irredentais dos austríacos.

• Até este instante, o conflito, já profundo e certamente longo, pende a favor das potências centrais: a Alemanha sai vitoriosa das duas frentes de combate: a do oeste sobre a França e a do Leste sobre a Rússia, presa frágil, incapaz de se autodefender e impos-sibilitada de receber ajuda de seus aliados bretões e franceses, devido às dificuldades que também eles passam no momento e aos bloqueios impostos pelos alemães, por terra, mas e ar, para que o socorro não chegue aos russos.

1917:• Este é o ano chave do conflito e a partir do qual a situação ten-

de a se inverter favoravelmente à Entente. Dois motivos, expostos a seguir, explicam a afirmativa: Eclode na Rússia, a Revolução Russa de 1917, derrubando

o Czar e implantando o comunismo no país. A nação se retira do conflito, assinando com os Alemães uma paz em separado (Paz de Brest-Litowsky). Uma das plataformas dos revolucionários co-munistas é a retirada do país da Guerra, por considerá-la uma dis-puta do mundo capitalista, distante de seus interesses e lesivas à nação, arrasada pelos alemães. Além disso, torna-se incompatível sustentar uma revolução interna com uma guerra externa, ambas

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de grande magnitude e complexidade. Longe de prejudicar os in-teresses da Entente, a atitude russa causa-lhes uma preocupação a menos: o fim do compromisso de ajudar os russos, da forma difí-cil como tal ajuda se processava. (Não se afirma aqui, entretanto que o triunfo da Revolução Russa tenha sido bem recebido pelo lado ocidental; ao contrário, pois os franceses e ingleses perderam seus lucrativos negócios no país com o novo governo comunista) Entram decisivamente no conflito, ao lado de franceses e in-

gleses os Estados Unidos da América, embora já enviassem armas e mantimentos para a Entente, apesar de oficialmente neutros até então. Sua entrada rompe o equilíbrio reinante em 1917, pois não sofreram os desgastes e destruições que vitimam ambos os lados beligerantes. Os americanos escolhem o momento exato para en-trar, vencer e, é claro, participar dos despojos dos derrotados.

1918• Rendem-se, sucessivamente: Bulgária, Império Otomano e

Império Austro-húngaro.• O presidente Woodrow Wilson, dos Estados Unidos, propõe

ao rei (Kaiser) Alemão Guilherme II uma rendição com base em 14 pontos. Apoiada em tal propostas, por não considerá-la tão lesiva aos seus interesses e sem condições de permanecer como única nação de seu bloco ainda a lutar, a Alemanha se rende e as potências da Entente vencem a 1ª Grande Guerra Mundial, em novembro de 1918.

Quadro Geral do Conflito

Tríplice Aliança Tríplice EntenteAlemanha

Itáliamuda de lado 1915Império Áustro-Húngaro

BulgáriaImpério Otomano

SérviaInglaterra

FrançaRússiaSaiu em 1917

EUAentrada em 1917

DERROTADOS VITORIOSOSConseqüências Gerais.

A luta e a vitória da Entente contra os Impérios Centrais (Ale-manha, Áustria-Hungria e Império Otomano) tiveram conseqüên-cias múltiplas e decisivas. Não deixam praticamente nada no es-tado em que a guerra encontrou os beligerantes em julho de 1914. A figura da Europa e a fisionomia do mundo saem profundamente transformadas desses quatro anos de conflito.

A Europa, depois da I Grande Guerra Mundial, já não era a mesma. Havia perdido a influência no mundo. Mergulhava rapi-damente em uma crise que duraria até às vésperas da II Grande Guerra Mundial.

A Alemanha teve quase dois milhões de mortos; a França e a Inglaterra juntas, mais de dois milhões. A Rússia, incluindo a fase de guerra civil, perdeu cerca de 5 milhões de seus habitantes. En-fim, a quantidade de mortos deixava qualquer outro conflito ante-rior parecer uma pequena batalha perto da carnificina provocada pela Primeira Grande Guerra Mundial.

Os prejuízos materiais eram incalculáveis. Todos os gover-nos, depois da guerra, apresentavam déficits constantes de mais de 100%. O comércio estava praticamente reduzido a zero. Na verdade, somente os países que ficaram distantes dos palcos de guerra, como os Estados Unidos e o Japão conseguiram tirar pro-veito do comércio europeu. Há que se acrescentar aqui o relativo benefício que o conflito trouxe para a América Latina.

A I Grande Guerra Mundial foi o prenúncio da crise total que abrangeria a Europa, dividida e enfraquecida, ao mesmo tempo que marcava a mudança do eixo de decisões para o outro lado do Atlântico. Também acirrou as contradições do capitalismo, ao

ponto de provocar o aparecimento da primeira nova forma de so-ciedade, que nasceu com a Revolução Socialista Russa, em outu-bro de 1917.

Características gerais e principais tratados do após-guerra.

• Foi, sem dúvida, o maior conflito mundial até então é também o maior em número de participantes (65 milhões) e de mortes (10 milhões).

• Queda da taxa de natalidade, uma vez que o conflito faz viti-mas sobretudo entre 20 e 40 anos de idade.

• Ampliação do índice de desemprego, devido à volta de mi-lhões de pessoas dos campos de batalha e à lentidão do reapare-lhamento do processo produtivo dos países, uma vez que estes estavam voltados basicamente para o setor bélico.

• Intervencionismo dos Estados europeus em suas economias, visando à sua recuperação no pós-guerra, o que representa o declí-nio do liberalismo econômico na Europa. Em certos países, como Itália e Alemanha, a intervenção também se dará na esfera políti-ca, abalando a democracia reinante no continente.

• Ampliação da dívida pública dos governos, uma vez que cabe a eles a responsabilidade de reconstruir as suas nações após 1918.

• Incentivo à Revolução Russa, uma vez que as derrotas dos países na guerra abalam definitivamente o poder czarista, levando o povo à revolução. Deve-se entender, no entanto, que a 1ª Guerra Mundial mais representa uma aceleração que uma causa do pro-cesso revolucionário, originário de muitos anos antes.

• Modificação do equilíbrio europeu, com a Alemanha e a Rús-sia deixando temporariamente a condição de potências e os Im-périos Áustro-Húngaro e Otomano, definitivamente. Além disso, mesmo as nações vitoriosas como a França e a Inglaterra, passam a depender economicamente dos EUA, o que leva ao declínio do poder econômico do continente europeu.

• Advento dos EUA como 1ª potência mundial, pois além de não se destruir com a guerra, torna-se ao final, a principal nação produtora, exportadora e credora do globo, auxiliando diretamen-te os governos europeus na reconstrução do continente destruído.

• A Finlândia, Estônia, Lituânia, Letônia, Polônia, Hungria, Tchecoslováquia e Iugoslávia tornam-se nações independentes.

• Surgimento da Liga das Nações, organismo internacional ob-jetivando a paz mundial, mas de curta duração e sem condições de cumprir o seu propósito, dadas as difíceis circunstâncias do entre-guerras e à precariedade composição do órgão, com apenas 27 nações. Os próprios Estados Unidos, optando pelo neutralis-mo internacional, não fazem parte da Liga, embora sejam os seus idealizadores.

Tratados de pós guerra impostos aos derrotados:A monarquia dual Áustro-Húngaro se desmembra: o Tratado

de Trianon impõe punições e perdas à Hungria e o Tratado de Saint-Germain, à Áustria. Por este último, os austríacos perdem consi-derável parcelas de suas terras, ficam proibidos de qualquer união futura com os alemães e cedem as Províncias Irredentais à Itália.A Bulgária, dos derrotados, é a que menos sofre punições;

perde alguns territórios pelo Tratado de Neuily.O Império Otomano sofre drásticas perdas com o Tratado de

Sèvres, o que leva uma grande reação dos seus habitantes. Pos-teriormente, suas perdas são revistas e atenuadas pelo Tratado de Lausanne.Finalmente, o mais célebre dos Tratados é o de Versalhes (18

de janeiro de 1919), impondo à Alemanha inúmeras atrocidades, num claro descumprimento da paz proposta pelos 14 pontos de Wilson, o que gera profundo ódio no povo alemão. Pelo Dicktad

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(Ditado) de Versalhes, a Alemanha:a) É a única responsável pela guerra;b) Perde suas colônias para a França, Inglaterra e Japão.c) Paga indenização da ordem de US$ 33 bilhões para os vence-

dores, por ser considerada a causadora do conflito.d) Cede a rica região carbonífera do Sarre à França.e) Fica proibida de manter marinha ou aeronáutica de guerra

e tem permissão para um pequeno exército de voluntários de no máximo 100 mil soldados (disposição não cumprida por Hitler).

f) Entrega todas as suas armas de guerra, de terra e de mar, so-brando apenas seis encouraçados e alguns navios de menor porte.

g) Deve desmilitarizar a Renânia (fronteira com a França e a Bélgica), o que Hitler também não cumpre.

h) Desmembra-se, ficando a Prússia Oriental separada do res-tante do país pelo corredor polonês, região de Dantzig, pertencen-te agora à Polônia.

Dos 14 pontos proposto por Wilson, o Tratado de Versalhes cumpre apenas três:Devolução da Alsácia-Lorena à FrançaIndependência da BélgicaCriação da Liga das Nações.A opinião pública alemã não aceitou esse julgamento. Era o ar-

tigo 231 do Dicktad que, ao atribuir a responsabilidade da guerra às potências centrais e sobretudo à Alemanha. A explicação, para os Aliados, era simples: por que procurar alhures? A Alemanha é culpada pela guerra por que era dela a vontade da guerra. Era o artigo que legitimava as reivindicações dos Aliados. Por ser res-ponsável pela guerra, a Alemanha devia assumir suas responsabi-lidades até o fim e indenizar os vencedores de todas as perdas que a guerra lhes causara.

Hoje em dia, ninguém mais sonharia em empregar de novo, tal e qual, o artigo 231 e sustentar que a I Grande Guerra Mundial se deveu exclusivamente à vontade de guerra do governo alemão. Isso não lhe diminui as responsabilidades, mas este deve ser par-tilhada por todos os participantes do conflito.

Não se admira, portanto, que o espírito alemão pós-Versalhes seja de Revanchismo, sobretudo contra norte-americanos, ingle-ses e franceses.

Mas tal espírito também assola outra nação no pós-guerra: a Itália. Vencedora do conflito, não recebe mais que as prometidas Províncias Irredentais dos austríacos, considerado muito pouco para compensar seus esforços de guerra.

Assim, os italianos se unem ideologicamente aos alemães rumo à forra: uma nova guerra, onde essas nações venham a obter o que não conseguiram com a 1ª Grande Guerra. O Revanchismo causa a tensão tão característica do mundo de Entre-Guerras e será bem explorada, nesse período, pelos regimes fascistas, para a ascensão de Hitler e Mussolini ao poder. Percebe-se que a 1ª Grande Guerra é apenas o início, um ensaio: sua continuação virá de forma mais profunda e cruel, envolvendo mais países e pessoas, num conflito de maior duração, a partir de 1939: a 2ª Grande Guerra Mundial.

A Revolução Russa de 1917Introdução e antecedentes.

Entende-se por Revolução Russa ou Revolução Bolchevista ou ainda Revolução Comunista de 1917, o conjunto de transfor-mações revolucionárias por que passa a Rússia, culminando em 1917 com o surgimento do primeiro Estado Socialista do mundo, eliminando o modo de produção capitalista e estabelecendo um governo do proletariado.

Sabe-se que, até 1917, a Rússia é uma nação pobre e subdesen-

volvida, apresentando em pleno século XX fortes traços feudais e uma economia diversos séculos atrasada em relação às primeiras nações da Europa.

A estrutura de poder até a data da Revolução apresenta o Czar Nicolau II da dinastia dos Romanov governando de forma cruel e autoritária, ladeado pelos grupos dominantes dos Kulaks (ricos proprietários de terras e chefes militares, lembrando os senhores feudais medievais), do exército, que garantia a ordem czarista e da Igreja Ortodoxa. Esta última com amplas regalias políticas e financeiras e útil ao regime, na medida em que confirma perante o povo a tese de que o Czar é um representante de Deus na terra (isso em pleno século XX).

No plano externo, a forte dependência econômica da Inglater-ra, e sobretudo da França, faz com que exista no país uma bur-guesia externa desenvolvendo os seus negócios. Há também uma burguesia nacional, mas bastante incipiente face à concorrência internacional do comércio e da indústria, às péssimas condições internas do país (falta de recursos financeiros, de tecnologia, de mão-de-obra especializada) e ao descaso do governo.

Em contrapartida, encontra-se na base da pirâmide social uma maioria de milhões e milhões de habitantes, entre camponeses, operários, soldados etc, numa situação de completa miséria, opressão e marginalização política, econômica e política.

Causas da Revolução.• Autoritarismo do Czar (como por exemplo, cita-se a atuação

de seu temível polícia política – Okhrana);• Gastos exagerados da Corte;• Má situação econômico-financeira do país;• Forte dependência externa• Miséria popular• Influência das idéias de Marx e Engels (Socialismo Cientí-

fico). Diferentemente das Revoluções burguesas, que foram in-fluenciadas ideologicamente pelo Liberalismo, a Revolução Russa é marcada pela ideologia socialista. Assim, têm-se nas primeiras movimentos burgueses enquanto esta última é popular. A própria fragilidade da burguesia russa fê-la distanciar-se dos segmentos populares, ao contrário das Revoluções do Ocidente, onde a clas-se burguesa conduz o povo.

• Surgimento dos principais partidos de oposição: em 1903, o Partido Operário Social-Democrata (POSDR) cinde-se em dois:Menchevique: minoria. Acredita que a derrubada do Czar e a

passagem para o Socialismo deve ser gradual com o apoio da bur-guesia inicialmente. Apresenta uma tendência moderada, liberal e burguesa, por isso aos poucos perde a credibilidade popular.Bolchevique: maioria. Defende a derrubada simultânea do

Czar e dos privilégios burgueses, com a adoção imediata do so-cialismo. Sua tendência é radical e popular, ligado ao proletariado urbano. Nele começa a se destacar a figura de Lênin, principal líder revolucionário de 1917.

Além desses, há ainda os partidos:Constitucional Democrata: (Kadete) não socialista, burguês,

parlamentarista e constitucionalista, defende a adoção de uma na-ção progressista, sob o modelo inglês.Socialista Revolucionário: Revolucionário, pregando uma re-

volução urbana e rural com apoio inclusive do campesinato.• 1904: preocupado com a crescente oposição, sobretudo vinda

dos operários (a classe cresce à medida em que o país se indus-trializa), o Czar provoca, no plano externo, a Guerra Russo-Japo-nesa visando derrotar o Japão e aumentar o seu prestígio interno. Contrariando os diagnósticos, a Rússia torna-se presa fácil para os japoneses, sofrendo humilhante derrota, em grande parte devido

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à incapacidade do Czar de conduzir o conflito e às ultrapassadas forças militares do país. O prestígio de Nicolau II sofre sério aba-lo, exemplificado pelas manifestações que se fazem contra a sua figura, abafadas de forma sangüinária pelas suas tropas, matando, em praça pública, centenas de civis – episódio chamado de Do-mingo Sangrento (09.01.1905).

• 1905: O Ensaio Geral – tentativa fracassada de derrubada do Czar, que se sustenta graças à ajuda estrangeira, financeira e militar. Os estrangeiros não vêem com bons olhos as propostas socialistas do povo russo, sobretudo no tocante à nacionaliza-ção de seus negócios e tomada do poder pelos trabalhadores. O Czar, no entanto, faz algumas concessões: convoca eleições para a Duma (Assembléia de representantes do povo) a fim de redigir uma Constituição para o país. Mas o fortalecimento de Nicolau II com a ajuda externa, o progressivo distanciamento da burgue-sia em relação ao povo, temerosa de que as conquistas populares abalassem suas posições, e a própria inexperiência política dos revolucionários esvaziam os trabalhos da Duma, que se dissolve poucos anos mais tarde.

• 1914 – A Rússia, honrando os compromissos com a Tríplice Entente, entra na 1ª Grande Guerra Mundial, ao lado dos france-ses e ingleses. O Czar espera vitórias e ampliar o seu prestígio interno. De fato, durante algum tempo, o sentimento patriótico surte efeito, se sobrepujando à má situação do país em nome da grandeza nacional. Porém, as sucessivas derrotas frente à Ale-manha, em razão do total despreparo do exército russo, abalam definitivamente o governo czarista, que passa a ser responsabili-zado pelas derrotas militares e morte de milhões de pessoas. Os socorres franceses e ingleses, do lado oposto do continente, não chegam em função do bloqueio alemão. Aos poucos a população se conscientiza de que a guerra nada tinha a ver com a Rússia e sim com os compromissos do governo czarista, e a ira contra Nicolau II torna-se incontrolável. Tal situação Lênin anteviu com sagacidade anos antes: indagado sobre o que achava a respeito da entrada da Rússia na guerra, responde que “Czar jamais po-deria dar tão belo presente à Revolução”. Por essa época atuam decisivamente os sovietes, comitês formados por operários e sol-dados, organizados nos mais diversos pontos do país, numa clara demonstração de mobilização popular, com vistas a um governo proletário que estava por vir.

Fases da Revolução.1ª Fase Fevereiro de 1917:

• Derrubada do Czar e estabelecimento de um Governo Provi-sório, com as seguintes características:

• Kerensky, menchevique, torna-se primeiro ministro;• Proclama-se uma República, de tendências Liberais e ligada

aos interesses da burguesia.• Permissão para que os exilados do governo czarista retornem

ao país (o que ocorre com Lênin e seu futuro chefe militar, o men-chevique Trotsky).

• Manutenção da Rússia na 1ª Guerra Mundial.

2ª Fase – Outubro de 1917– TODO PODER AOS SO-VIETES!

• Derrubada de Kerensky e ascensão dos Bolcheviques ao po-der

• Governo de Lênin.• Retirada imediata da Rússia da 1ª Guerra Mundial, com a as-

sinatura de uma paz em separado com os alemães pelo Tratado de Brest-Litowsky;

• Adoção das primeiras medidas socialistas: expropriação dos latifundiários; nacionalização de terras, bancos e fábricas; distri-buição das terras aos camponeses, fazendo cumprir o lema Bol-

chevique: “Paz, terra e pão!”;• O poder se divide entre os Sovietes, que escolhem o governo

por intermédio do Conselho dos Sovietes. Toda essa situação é garantida pela Guarda Vermelha de Trotsky.

• Decretada a libertação das nações subordinadas à Rússia (Fin-lândia, Geórgia, Armênia, entre outras);

• 1918: o Partido Bolchevique se transforma em Partido Comu-nista da Rússia.

• 1922 – A Rússia reintegra em torno de si várias províncias, dando origem à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e o Partido Comunista da Rússia, se transforma em Partido Comunis-ta da União Soviética – PCUS.

Rússia pós-revolucionária – Fases.1ª Fase - 1918-1921 – Comunismo de Guerra e Guerra Civil.

• A grave situação econômica leva o Estado a fazer requisições forçadas de alimentos e produtos em geral, a serem distribuídos; a crise econômica e social chega a níveis insuportáveis, num dos piores momentos atravessados por um povo em toda a história.

• O trabalho torna-se obrigatório• Estoura a Guerra Civil entre os Exércitos brancos, ligados aos

interesses da burguesia nacional e estrangeira opostos ao regime socialista e os Exércitos Vermelhos, liderados por Trotsky, de for-mação Bolchevista. Estes últimos conseguem a vitória, após difí-ceis combates em três anos.

2ª Fase – 1921-1927: Nova Política Econômica - NEP• Proposta por Lênin, numa conciliação de socialismo com capi-

talismo. Segundo Lênin, é preciso, temporariamente, abrir a nação à iniciativa privada capitalista, uma vez que a situação do Estado não permite ao mesmo a absorção da mão-de-obra dos desempre-gados, o crescimento do processo produtivo até o nível necessário, a normalização do abastecimento e distribuição da produção etc. Assim, apela-se para a iniciativa particular e o sucesso se reflete no crescimento nacional mais dinâmico, embora cabendo ainda ao Estado o controle dos principais segmentos econômicos da nação. (cabem à iniciativa privada a liberdade para o comércio interno, a pequena indústria, inclusive estrangeira, e a exploração da terra. O Estado mantém o controle do comércio externo, da grande indústria e dos bancos, além da propriedade da terra).

• A sucessão de Lênin: em 1924, com a morte de Lênin, em pleno andamento da NEP, estabelecem-se duas frentes para sua sucessão: Trotsky, defensor da internacionalização do comunismo e Stálin, defensor do socialismo apenas na União Soviética com o objetivo de consolidá-lo. Hábil político, Stálin consegue se so-brepor, exilando Trotsky (ordenando inclusive o seu assassinato em 1940) e inaugura uma nova era de poder na URSS, até sua morte em 1953, marcada por uma das mais ferrenhas ditaduras da História.

3ª fase – A partir de 1928: Planos Qüinqüenais.• Colocados em prática durante a Era Stanilista, representam

planejamentos para a economia com a definição de metas básicas a serem atingidas para os próximos cinco anos.

• 1º Plano (1928-1933) – Metas atingidas.Fim da propriedade individualAumento da produçãoPrioridade para a indústria de bens de produção e não de con-

sumoOrganização de dois tipos de fazendas: Sovkhozes (estatais,

onde os trabalhadores são empregados pelo governo) e Kolkhozes (fazendas coletivas, onde os trabalhadores dividem os lucros da

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produção). •Com o sucesso do primeiro plano a URSS torna-se uma potên-

cia industrial.

O Mundo entre-guerras (1918-1945): a crise das democracias liberais.A ascensão do Nazi-Fascismo.

A ascensão do Nazi-Fascismo, juntamente com as crises das democracias liberais e a irradiação socialismo soviético consti-tuem-se as três linhas de força que compreendem o período do após Primeira Grande Guerra Mundial.

As ditaduras fascistas representaram um fenômeno original. Seus adeptos repudiavam a luta de classes, o internacionalismo e o parlamentarismo liberal. Definiam-se como revolucionários; propunham uma solução nacional, autoritária e corporativa para problemas sócio-econômicos.

As contradições decorrentes da Grande Guerra acentuaram o extremado nacionalismo dos fascistas. Seu anticomunismo in-transigente colocava-se na dependência do grande capital: seu anticapitalismo não passava de fachada.

Entretanto, não foi apenas na Itália e na Alemanha que surgiram regimes ditatoriais. Na Espanha (General Franco), em Portugal (Salazar), na Polônia, na Iugoslávia e na Grécia. Cada regime ti-nha feições próprias, e o termo fascista aplica-se mal a regimes totalitários como os da Hungria, Romênia ou Turquia.

As grandes exceções do período foram os Estados Unidos, a Inglaterra e a França, onde dominaram democracias liberais.

A Itália: ascensão do Fascismo.A crise da Itália no pós-guerra e a incapacidade do parlamenta-

rismo e do liberalismo em conter o avanço comunista deu chance à ação dos fascistas que tomaram o poder em 1922. Eles elimina-ram a oposição e instalaram uma ditadura, um Estado Totalitário, representado pela figura todo-poderosa chefe, ou simplesmente, o Duce, que pretendia encarnar a vontade das massas, sustentado por um partido único.

Os fascistas chegaram ao poder facilitado pela anarquia rei-nante na Itália. A partir de 1920, os Camisas Negras passaram a organizar expedições punitivas contra as sedes de organizações de esquerda e até de sindicatos. Destruíam tudo, matavam os líde-res ou os obrigavam a tomar maciças doses de óleo de rícino. As autoridades, temerosas, faziam vistas grossas. A ação arrasadora partiu de Trieste, na planície do Pó, e se estendeu a toda a Itália a partir de 1921.

A divisão da esquerda impediu a reação comum. Proprietários rurais, comerciante e industriais dava cada vez maior apoio aos fascistas. O Partido Fascista, fundado oficialmente em novembro de 1921, cresceu depressa, recrutando membros entre os milhares de desempregados. O número de filiados passou de 200.000 em 1919 para 300.000 em 1921.

Em agosto de 1922, sindicatos anarquistas e socialistas con-vocaram greve geral para protestar contra os métodos fascistas. Mussolini ameaçou: se o governo não agisse, os fascistas “resta-beleceriam a ordem”. Em outubro, eles deram uma demonstração de força ao obrigar a Central Geral dos Trabalhadores Italianos (a CGIL) a cancelar a greve geral. O caminho para o poder se escancarava.

No Congresso do Partido Fascista, realizado em Nápoles em 24 de outubro de 1922, Mussolini anunciou a Marcha sobre Roma para o dia 26.

Assim, no dia 26 de outubro de 1922, Benito Mussolini, chefe do Partido Fascista Italiano, lidera a Marcha sobre Roma de 50

mil militantes do Partido Fascista (os chamados “Camisas Ne-gras”) e é “convidado” pelo então rei Vítor Emanuel III a ocupar o cargo de Primeiro-Ministro da Itália. Os Camisas Negras desfi-laram pelas ruas de Roma sem resistência alguma.

Para sustentar o regime de autoritarismo imposto pelo Duce Mussolini, era fundamental mobilizar a juventude, para eliminar o espírito crítico e criar uma “alma nacional”. Os jovens deviam pertencer mais ao Estado que à família. Usavam uniforme e se dedicavam a exercícios militares, tendo por lema: “Crer, obedecer e combater”.

Principais realizações do Duce:• Resolução da Questão Romana. Um conflito envolvendo a

sede da Igreja Católica que perdeu a soberania sobre o Vatica-no durante a unificação italiana, em 1871, onde o papa Pio IX considerou-se prisioneiro, se recusando a qualquer tentativa de conciliação. Somente em 1929, com o assinatura do Tratado de Latrão, assinado entre o Duce e o Papa Pio XI é que a questão foi definitivamente resolvida.

• Estabelecimento da Carta do Trabalho, com o objetivo de re-solver as questões trabalhistas. Pela Carta do Trabalho, estabe-lecia-se que cada profissão teria dois sindicatos: um dos patrões e outro dos empregados. As greves passaram a ser consideradas prejudiciais ao Estado, que passou a ser juiz dos conflitos traba-lhistas. Os sindicatos se transformaram em elementos de colabo-ração e de cooperação entre as classes. A legislação era avançada: garantia férias pagas, previdência social e formação profissional. Os sindicatos se encarregavam de diminuir o ímpeto revolucioná-rio da classe trabalhadora, organizando formas de lazer e de recre-ação fora do trabalho. Forma corporativa era mais uma fachada, que preservava a estrutura tradicional do capitalismo italiano.

• Incentivo ao crescimento populacional. O crescimento da po-pulação, estimulado pelo regime, ampliou os problemas econô-micos. O governo tratou de edificar muitas obras públicas, como estradas, aquedutos, estações ferroviárias, sempre no estilo gran-dioso ao gosto do fascismo.

• Impulso à industrialização. A industrialização teve um impul-so a partir de 1927, com a estabilização da Lira, a moeda nacional. Cresceram os setores elétricos, naval e aeronáutico; o de automó-veis, em 1938, passou a ser o sexto do mundo. Isto impulsionou também a siderurgia e a indústria mecânica. O arranque industrial agravou a divisão sócio-econômica entre o norte desenvolvido e o sul atrasado.

• Respostas à crise mundial de 1929. Com a crise mundial do capitalismo em fins de 1929, a Itália será obrigada a tomar uma sé-rie de medidas para garantir a sua economia, uma vez que bancos irão quebrar e o desemprego aumentar consideravelmente, crian-do um clima de insatisfação e desconfiança. A alternativa para esse sentimento seria uma guerra, onde os ânimos nacionalistas dos italianos seriam exaltados. Em 1935, o general Badoglio ata-cou a Etiópia, ao norte da África, e tomou a capital Adis-Abeba. Mas as sanções econômicas determinadas pela Liga das Nações fez a Itália recuar e buscar apoio alemão.

Alemanha do pós-guerra, um país em crise.Pouco antes de terminar a guerra, a derrota dos soldados ale-

mães era esta: crise, estancamento da economia, fome e insatis-fação geral.

A revolta no exército e na marinha lembrava a Revolução So-cialista Russa. Um importante exemplo foi o levante da base de Kiel, ocupada por operários e Marinheiros. Formaram-se conse-lhos de operários e soldados em várias regiões do país. No final da guerra, a frente de batalha estava estagnada.

No dia 07 de novembro foi proclamada a República da Baviera

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e, no dia 9 Guilherme II abdicou. Foi proclamada a República Alemã pelo setor mais conservador do Partido Social-Democrata, liderado por Friedrich Ebert.

Os setores da esquerda do Partido Social-Democrata, os cha-mados espartaquistas (spartakusbund), liderados por Rosa Lu-xemburgo e Karl Liebkneht, se agruparam criando o Partido Co-munista Alemão. Este grupo tentou, num levante, se apoderar de Berlim, em Janeiro de 1919, para proclamar um Estado Socialista, e foram massacrados por oficiais de direita do exército alemão.

Em Fevereiro de 1919, Ebert foi eleito da República de Weimar (assim a ser designada a República Alemã). Foi esse governo que assinou o Tratado de Versalhes, que, como vimos, ficou conhecido como a Paz dos Vencedores, dado o seu caráter espoliativo e im-perialista. Para a opinião pública, principalmente para a pequena burguesia e dos soldados desmobilizados, foi o governo da traição nacional, o governo que apunhalou a Alemanha pelas costas.

A agitação política crescia na Alemanha do pós-guerra. Os ope-rários sem condições mínimas de sobrevivência, faziam reivindi-cações através de seus partidos. Estavam agrupados na esquerda da social-democracia, ou no recém-fundado Partido Comunista Alemão. A pequena burguesia e as classes médias se atemorizavam diante do risco de empobrecimento e proletarização. A economia estagnada e as dívidas extorsivas impostas pelos imperialistas an-glo-franceses impediam qualquer possibilidade de recuperação.

O grande capital queria, com ansiedade, que a disciplina do tra-balho fosse restaurada, para que o processo de acumulação con-tinuasse; empresas como a I. G. Farben, a Krupp, a Siemens ou a Telefunken não poderiam suportar mais tal estancamento, provo-cado pelas agitações operárias inspiradas na Revolução Socialista Russa. O “perigo vermelho” precisava ser controlado, para que o capital pudesse retomar o caminho da concentração.

Nessa conjuntura, setores de desempregados, politicamente confusos, ex-combatentes, pequenos empresários temeroso do “perigo vermelho”, lumpemproletários (marginais de modo geral) formaram pequenos grupos armados e começaram a lutar contra os partidos de esquerda. Um desse grupos acabou se transforman-do em um partido no começo de 1919: o Partido dos Trabalhado-res Alemães, sob a liderança de Drexler.

Esse pequeno partido, fundado por desocupados, iria se trans-formar. Em 1920, um pequeno-burguês, também desocupado, que participou da I Grande Guerra Mundial e havia sido condecorado por atos de bravura, chamado Adolf Hitler, assistiu a uma reunião do chamado Partido dos Trabalhadores Alemães. Nesta reunião, este desocupado, que já havia tentado militar no Partido Social-De-mocrata, tentado ser pintor e tinha ideais racistas e autoritários, fez um discurso que atraiu a atenção dos militantes do Partido. Logo em seguida, Adolf Hitler tornou-se chefe do grupo, que se entusias-mou com seu discurso. Como primeira medida mudou o nome do Partido, passando a chamar-se de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou simplesmente, Partido Nazista.

Assassinatos de líderes da esquerda e tentativas de golpes de Estado de setores conservadores do exército faziam parte do pa-norama político alemão da década de 20.

No nível econômico, a Alemanha viu-se impossibilitada de pa-gar as reparações de guerra, exigida pelo Tratado de Versalhes. A França como represália, ordenou a invasão da região do Ruhr, em 1923. A indignação do povo alemão foi geral. A inflação atingiu níveis nunca antes imagináveis. Era um cenário de hiper-inflação, a ponto de US$1,00 ser cambiado por 8.000.000.000,00 (oito bi-lhões) de marcos. A crescente agitação da classe operária levou alguns dirigentes, ligados ao Partido Comunista Alemão, a tentar um levante em Hamburgo, que foi violentamente esmagado.

Em 1933, a República de Weimar, nome adquirido pela Alema-

nha no período de entre-guerras, assiste à ascensão ao poder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista) sob o comando de Adolf Hitler, chanceler do então pre-sidente Von Hindenburg. Dez anos antes, Hitler tenta um golpe de estado que fracassa (conhecido como o “Putsh da Cervejaria”, em Munique), é preso e, detido, escreve o livro que sintetiza todas as idéias nazistas: o “Mein Kampf” (Minha Luta).

Pré-condições para a ascensão do Nazi-Fascismo.Como se observa, o período de Entre-Guerras mostra a ascen-

são na Itália e Alemanha dos regimes de direita (fascistas). Mas quais as pré-condições necessárias para a subida de tais partidos?

• O resultado da I Grande Guerra Mundial, mostrando a derrota alemã e sua destruição pelo Tratado de Versalhes e a insatisfação dos italianos, vitoriosos, pelas reduzidas premiações recebidas. Tal situação gera o revanchismo alemão e italiano.

• A má situação econômica dos países, após a I Grande Guerra Mundial, com a necessidade de reconstrução em meio à inflação, desemprego e falta de recursos financeiros e produtivos. (No caso alemão, nota-se o agravamento de tal situação com a crise de 1929)

• O receio da propaganda comunista, em franca expansão, ge-rando o temor dos governos e da burguesia, que passa a financiar a propaganda de extrema direita (anticomunista), como uma forma de preservar suas posições e propriedades. Nota-se, antes mesmo da ascensão de Hitler e Mussolini, perseguições a sindicalistas, comunistas e todos aqueles ligados às aspirações das massas.

• O carisma pessoal de Hitler e Mussolini, através de sua no-tável oratória, denunciando as atrocidades das demais potências conta a Alemanha e Itália na I Grande Guerra Mundial, os abusos do comunismo e fazendo promessas messiânicas de elevação do nível de vida em nome do partido, em função do qual as pessoas devem viver, como único caminho para a melhoria.

Características do Nazi-Fascismo.• Totalitarismo: implantação de um Estado forte de direita;• Antiliberalismo: censura, por parte do Estado, dissolução de

partidos políticos de oposição, controle das liberdades individu-ais, fim do direito de greve, regulamentação da economia pelo Estado, dissolução dos sindicatos.

• Antiparlamentarismo: reação contra a democracia parlamen-tar e a filosofia liberal, inspiradora dos regimes democráticos que triunfaram em 1918.

• Militarismo: preparação militar para uma revanche militar. • Anticomunismo: perseguições aos líderes e aos partidos co-

munistas e profunda ligação com grandes grupos industriais capi-talistas que sustentam o governo (FIAT, Krupp, Siemens, Merce-des-Benz, IBM etc) e suas idéias.

• Nacionalismo: desenvolvimento desvinculado do capital es-trangeiro e crescimento da propaganda patriótica, condutora dos povos italiano e alemão à II Grande Guerra Mundial.

Diferenças entre o Nazismo e o Fascismo.• A propaganda Nazista atinge mais intensamente toda a nação

alemã, inclusive o campo.• O Nazismo se reveste de um cunho mais fanático;• Apenas o Nazismo é racista, pregando a supremacia da raça

ariana, como a mais forte e capaz do globo (arianismo). Esse ra-cismo, conotação extrema do nacionalismo alemão, é responsável pelas perseguições e mortes de raças ditas inferiores: negros e ju-deus, por exemplo. Quanto aos últimos, são perseguidos também pelo nacionalismo econômico exacerbado no país, não permitin-do lucros para outros povos dentro da Alemanha.

• O Estado italiano é corporativista, pregando a ação conjunta de patrões e empregados em função do crescimento da nação.

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O Fascismo torna-se elemento essencial no quadro da Europa nos anos trinta, um dos componentes do sistemas de forças e, a partir de 1935, a opção entre fascismo e antifascismo passa a ser a principal linha divisória, a ponto de eclipsar – momentaneamente – certos conflitos igualmente profundos e mais antigos, como o que opunha, havia diversas gerações, a democracia de inspiração liberal à democracia socialista.

A crise de 1929: o crash da Bolsa de Nova York – o capitalismo dá sinais de fraqueza.O “American way of life”: o mundo das ilusões.

Com o fim da I Grande Guerra Mundial, os Estados Unidos da América se colocam na condição de primeira potência do globo, “celeiro mundial”, abastecendo os mercados europeus, afetados pela guerra, além dos seus, internos, transformando-se no país mais rico do mundo.

Assiste-se, na lavoura e na indústria americanas a uma notável expansão; os bancos tornam-se credores da reconstrução euro-péia; a sociedade americana torna-se mundialmente conhecida e respeitada – vive-se nos anos 20 o período da Grande Euforia.

Todos os países envolvidos no conflito, principalmente a Fran-ça e a Inglaterra, passaram a dever enormes quantias de dólares para os EUA, decorrentes de empréstimos e compras de gêneros alimentícios e armamentos, necessários à manutenção de seus exércitos.

A França e a Inglaterra pressionavam a Alemanha para pagasse as reparações de guerra, estipulados no Tratado de Versalhes. De 1921 a 1922, a Alemanha pagou aos Aliados (França e Inglater-ra, principalmente) 22 bilhões e 891 milhões de marcos-ouro. E todo esse dinheiro, na sua grande maioria foi enviado aos Estados Unidos como pagamento de juros dos empréstimos e das dívidas das compras feitas durante a guerra e imediatamente após seu tér-mino.

O dinheiro fez com que a indústria e a agricultura dos Estados Unidos conhecessem altos índices de crescimento. Foi uma época de prosperidade material, a ponto dos Estados Unidos tornarem-se o exemplo, e serem seguidos como modelo de sociedade em oposição ao socialismo, movimento sócio-político em ascensão na Rússia Soviética.

As fábricas de automóveis, principalmente a Ford, produziam veículos que eram vendidos a prazo. Esse fato proporcionava, a uma grande parcela da população, a oportunidade de possuir seu veículo. Para se ter uma idéia da prosperidade americana, até 1929 existia, nos Estados Unidos, um automóvel para cada 5 pes-soas, enquanto na Europa, a proporção era de uma automóvel para cada 85 habitantes.

Outro setor que cresceu também foi o setor de eletrodomésti-cos, em especial o rádio, pois até 1926 foram vendidos cerca de 60 milhões de aparelhos americanos. A partir de então, os ameri-canos não perdiam seus programas, ou suas novelas, irradiados diariamente, ajudando a forma esse mundo de ilusões, enaltecen-do implicitamente aquele tipo de sociedade.

Esta euforia econômica se refletia nas manifestações culturais. Foi um período de grande produção musical no gênero que ficou mundialmente famoso: o jazz. Louis Armstrong já era conhecido na década de 20. Foi também uma época moralista e violenta. Instaurou-se a proibição da venda de bebidas alcóolicas: era a fa-mosa “Lei Seca”, que propiciou o aparecimento de um comércio clandestino de bebidas feito por gangsters. Entre ele, a figura que mais se destacou foi a de Al Capone, imortalizada pela indústria cinematográfica americana como o “Poderoso Chefão”. Dentro do gangsterismo e da corrupção figuravam altos funcionários do governo, envolvendo desde senadores até simples contínuos: esta

era a realidade da prosperidade e do sonho americano. As cidades cresciam verticalmente, gerando uma arquitetu-

ra que seria um marco no estilo americano: o “arranha-céu”. O exemplo clássico desse tipo de construção foi o Empire State Building, terminado em 1931.

Toda essa riqueza era fruto do rigoroso trabalho dos operários americanos e, por isso mesmo, sua combatividade em termos de reivindicações foi bastante grande. Apesar da direção da AFL (American Federal Labor – Federação Americana de Trabalha-dores), que se submetia aos interesses dos grandes empresários, houveram várias greves.

Foi uma época de conservadorismo político e moral. O Partido Comunista Americano foi posto fora da Lei na terra da democra-cia. O racismo contra os negros se difundia: ressurgiu a organiza-ção terrorista de direita chamada de Ku Klux Klan.

Isolacionismo: assim ficou conhecida a política realizada pelos vários governos dos Estados Unidos nesse período. Nenhuma in-gerência nos assuntos políticos europeus; os EUA só mandavam representantes como simples observadores. É claro que estamos nos referindo às relações diplomática porque, no campo econômi-co, a presença dos Estados Unidos era uma constante.

Se, em relação à Europa, os Estados Unidos mantinham um certo distanciamento diplomático, o mesmo não se pode dizer em relação à América Latina. Em nossa região, os EUA não só tinham grandes interesses econômicos, como chegaram várias vezes a invadir militarmente algumas regiões, quando esses inte-resses entravam em jogo. Isto não é novidade, pois desde meados do século XIX que tal prática já vinha ocorrendo. Primeiro com a Doutrina Monroe – A América para os Americanos, depois com o Big Stick – O Grande Porrete.

Entre 1923 a 1933, os Estados Unidos, de uma forma ou de outra, intervieram militarmente na América Central. Uma das rea-ções mais famosas a estas intervenções foi o levante na Nicarágua ocorrida em 1933, comandada pelo general Augusto César San-dino, de características bastante populares. Uma das mais famo-sas declarações de Sandino pode ser resumida na seguinte frase: A América do Norte, para os norte-americano; a América Latina para os latino-americanos.

Poucos se apercebem de que a expansão, entretanto, tem como destino um abismo profundo e abrupto; a euforia desenfreada é o caminho para uma crise sem precedentes na história de todo o mundo capitalista e que desemboca em 1929.

As origens da Crise.À medida em que a Europa se recupera dos efeitos da Guerra,

reconstruindo fábricas, recuperando campos, gerando empregos, etc., fica menos dependente do dinheiro e produtos americanos. O ritmo acelerado da produção dos Estados Unidos, com a crescente redução do mercado europeu (e a gradativa concorrência do mes-mo), gera um descompasso entre produção e consumo, fazendo-se notar uma superprodução no país, sem consumidores.

A solução é, no correr dos anos 20, recorrer á necessária redu-ção da produção, o que leva ao desemprego. A escala crescente de desemprego desestimula ainda mais a produção, pois diminui o poder de compra da população.

O capitalismo está fadado a viver, constantemente, em crises.

No sistema capitalista, voltado para a obtenção do lucro, há uma tendência, aparentemente contraditória: a redução da taxa desse lucro. Como se dá este fenômeno?

O capital estaria dividido em duas partes: uma seria o capital variável, empregado na aquisição da força de trabalho, na mão-de-obra (pagamento de salários, por exemplo); outra, o capital

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constante, que é empregado nas fábricas, nas máquinas, matéria prima, novos equipamentos. Podemos dizer que o capital constan-te + capital variável = capital total.

O capitalista, dono da indústria, tende, cada vez mais a aplicar na aquisição de novas máquinas automáticas e equipamentos moder-nos, ou seja, no capital constante. Ao mesmo tempo há uma tendên-cia para que o capital variável diminua em decorrência da própria aplicação no capital constante. Sabe-se que o lucro é gerado no ca-pital variável, pois, é aí que se transfere valor ao produto, máquinas não transferem valor ao produto. Portando há, contraditoriamente, uma tendência para a queda da taxa de lucros dos capitalistas.

Podemos exemplificar esta tendência para a crise com o se-guinte argumento: em pleno auge da euforia do sonho americano, da riqueza fácil, havia constantemente um número de desempre-gados. Em 1921, 4 milhões de pessoas encontravam-se sem tra-balho. Era uma riqueza desfrutada por parte do país e não pela maioria. Por exemplo, as regiões do sul do país, principalmente os habitantes das partes montanhosas, viviam em total isolamento e pobreza extremada. Esta situação ficou imortalizada nas histórias em quadrinhos da Família Busca-pé (Brejo Seco) de autoria do crítico cartunista americano Al Capp.

No entanto, a produção cada vez mais automatizada crescia ver-tiginosamente, e o consumo desses produtos não acompanhava o mesmo ritmo. Mas a ilusão da euforia parecia ter cegado a grande maioria dos americanos, que se recusavam a enxergar esse fenô-meno. Mas o sonho ia acabar numa Quinta-feira. Para ser mais exato, o sonho iria acabar no dia 24 de outubro de 1929.

Não é uma Revolução Industrial. Não se origina de uma inova-ção das forças produtivas. É uma crise. Tampouco é a primeira, visto que as crises econômicas se tinham reproduzido no século XIX em ritmo quase regular, a ponto de parecer constitutivas do próprio sistema capitalista; o espetáculo dessas crises desempe-nhara um papel decisivo no advento do pensamento socialista: pareciam, de certo modo, a contrapartida das leis naturais e da concorrência. Mas a crise de 1929 difere das anteriores, sobretudo nas suas repercussões.

A Crise.Em 1929, fazendas e fábricas, sem condições de sobreviver face

ao restrito mercado consumidor, vão à falência, ampliando para milhões o número de desempregados. Bancos credores perdem seus capitais investidos no processo produtivo e também falem (o número de falências no sistema bancário norte americano chega à impressionante cifra de 5 mil bancos).

Trata-se a princípio de uma crise de crédito, que explode na Bolsa de Nova York em Wall Street, uma falha, que se cuida mo-mentânea do mecanismo de crédito A situação de ruína conduz à quebra da Bolsa de Nova York, em 24 de outubro de 1929 – a chamada Quinta-feira Negra. Os títulos oferecidos, em proporção alarmante não encontram tomadores. 70 milhões de títulos são jogados no mercado sem contrapartida. As cotações desmoronam: avalia-se a perda total de US$ 18 milhões. Reproduz-se o fenôme-no nos dias seguintes, amplifica-se por um processo cumulativo que abala a confiança, mola do crédito na economia liberal. O parentesco dos dois termos, confiança e crédito, sublinha a inter-dependência dos dois aspectos.

Essa crise de crédito acentua a superavaliação dos valores: a maioria tinha uma cotação muito superior ao seu valor real e comercializável. A crise castiga, portanto, uma especulação ex-cessiva, uma inflação de crédito. Crêem os especialistas que se trata de um acidente técnico, destinado a sanear o mercado e a permitir uma reordenação, e o Presidente dos Estados Unidos, o republicano Hoover, que só está há alguns meses na Casa Branca, afiança aos compatriotas que o fim da crise não demora e que a

prosperidade está na esquina; e repetirá o mesmo refrão durante quatro anos.

Ao contrário, porém, da expectativa geral dos técnicos, do pre-sidente dos Estados Unidos e dos eleitores que tinham votado nele, a crise instala-se: dura e ganha outros setores da economia norte americana, outros países também.

A crise se torna mundial porque filiais de bancos e indústrias ame-ricanas quebram em diversos pontos do globo e a instabilidade leva os governos a se precaverem, adotando uma postura protecionista nos anos 30, através da elevação das taxas alfandegárias e conten-ção dos gastos com importações. Assim, a redução do comércio internacional é uma das características do período da Grande De-pressão a que o mundo capitalista assista na década de 30.

As repercussões da crise se prolongaram até 1933. A quebra da Bolsa arruinou os especuladores, reteve as vendas a crédito e impossibilitou os que receberam financiamentos de quitar suas dívidas. Em três anos:

• Faliram 4000 bancos;• Os preços dos produtos industriais caíram 27% e 85000 em-

presas faliram;• O valor da produção nacional desceu à metade do nível ante-

rior à crise;• Os preços agrícolas despencaram, os agricultores perderam

suas terras hipotecadas aos bancos, a produção parou;• Os salários abaixaram em 20%;• O número de desempregados subiu de 4 milhões para 14 mi-

lhões em 1933.Essa situação aflige também as nações periféricas, dependentes

das compras das grandes potências, sobretudos de produtos pri-mários, agora sem condições de efetuá-las.

No Brasil, a cafeicultura é drasticamente afetada, pois o café, único grande produto nacional, não é mais comprado pelos EUA. Os cafeicultores, detentores inclusive do poder político, perdem muito de sua força econômica, o que abala substancialmente tam-bém seu prestígio político, possibilitando o advento da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, que faz emergir novas for-ças políticas no cenário político nacional.

Uma proposta para amenizar a crise: o New Deal.Nos anos 30, assume a presidência dos EUA, Franklyn De-

lano Roosevelt. Sua principal realização no período da período da Depressão é um plano econômico elaborado em conformi-dade com o economista inglês John Maynard Keynes, denomi-nado de New Deal, visando reduzir os efeitos da crise. Muitas das propostas do novo plano, expostas a seguir, são adotadas em várias potências afetadas:

• O Estado assume a responsabilidade de salvar a nação, re-gulamentando a sua economia. O New Deal propõe, portanto, a intervenção do estado na economia, uma vez que a superprodução originária da crise também se deveu ao liberalismo excessivo do governo norte-americano em sua economia.

• Concessão por parte do Estado, de empréstimos aos falidos, mediante emissões controladas.

• Redução da jornada de trabalho para dar oportunidade a mais pessoas de trabalharem reduzindo o desemprego.

• Ampliação do salário do operariado para ampliar o mercado consumidor interno

• Aumento dos benefícios da Previdência Social, como a cria-ção do seguro-desemprego.

• O Estado promove a geração de empregos públicos nos se-tores urbanos não produtivos (arborização das cidades, coletas de lixo, restauração de prédios públicos e ruas etc.), uma vez

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que a atividades como a industrial ou agrícola não devem ab-sorver mão-de-obra em razão da superprodução. Estimula-se, assim, o consumo, sem aumentar a produção.

• Ampliação da autonomia sindical e de sua capacidade de ne-gociação.

• Entre 1933 e 1937, o número de desempregados baixou dos 14 milhões para 7,5 milhões.

• Os preços subiram 31%.• A produção industrial cresceu 64%• A renda nacional cresceu em 70%• As exportações cresceram 30%• O número de filiados aos sindicatos passou de 2 milhões para

10 milhões entre 1932 a 1941.• O Estado incrementa o setor bélico e amplia os quadros de ser-

viço militar, uma clara preparação com vistas à II Grande Guerra Mundial. O militarismo utilizado para gerar empregos é simul-taneamente uma atenuante dos efeitos da crise e um resguardo diante do crescimento das forças militares nazi-fascistas.

Se no fim dos anos 30 percebe-se o sucesso das medidas do New Deal, constata-se, por outro lado a rudeza da crise de 29; o protecionismo e o militarismo decorrentes da mesma estão entre as principais causas da II Grande Guerra Mundial.

Um paralelo: o Nazi-Fascismo e a Crise de 1929.A crise de 1929 favorece, mas não é a causadora da ascensão

dos regimes de exceção na Alemanha e na Itália, pois:• Tornar-se mais difícil a situação econômica dos países, o que

aumenta ainda mais a força das promessas messiânicas de melho-ria do nível de vida, propostas pelos nazi-fascistas como único caminho para a dignidade e a prosperidade.

• Abala definitivamente o liberalismo econômico e a democra-cia política, responsabilizados pelo descontrole do processo pro-dutivo que leva à crise, reforçando a tese nazi-fascista do Estado Totalitário e anti-liberal.

A II Grande Guerra Mundial – 1939-1945As causas básicas da II Grande Guerra Mundial estão expressas

anteriormente. São elas: os resultados da I Grande Guerra Mun-dial, gerando a insatisfação de alemães e italianos; a ascensão do Nazi-Fascismo, com sua política externa militarista e agressiva e a Crise de 1929, de falências e desempregos, o que estimula a preparação militar como fonte de trabalho e reduz o nível de comércio e cooperação internacional, contribuindo para acirrar a tensão mundial.

O conflito de 1939 a 1945 foi, este sim, uma verdadeira guerra mundial. Todos os continentes se envolveram, dada a existência de quatro fronts de batalha: Europa Ocidental, Europa Oriental; Norte da África e Pacífico. Ficaram neutros apenas alguns países europeus e latino-americanos. As operações no Pacífico tiveram a mesma importância que as da Europa. A Inglaterra, por sua con-dição de ilha, foi o único país europeu que os alemães não ocu-param.

Os Estados Unidos garantiram a vitória dos aliados por sua enorme produção industrial e participação militar; no Pacífico, guerrearam praticamente sozinhos contra os japoneses.

A União Soviética teve papel decisivo ao quebrar a espinha dor-sal do exército nazista na Batalha de Stalingrado.

As novas tecnologias bélicas, como os bombardeios maciços, associados à política de extermínio adotada pelos nazistas em campos de concentração e à decisão americana de inaugurar a ar-rasadora bomba atômica, fizeram dos civis as grandes vítimas. Os militares, mais bem nutridos e protegidos, podiam fazer retiradas

estratégicas quando se viam diante de uma situação adversa.Sabe-se, pois, que “esta Guerra é uma continuação da anterior”,

e os anos 30, tomados em conjunto, contribuem também decisiva-mente para o desenrolar do 2º conflito mundial, fazendo com que este período seja visto como uma trégua entre as potências.

Senão vejamos:• 1931: o Japão, procurando ampliar sua área territorial, ocupa

a Manchúria (nordeste da China), província rica em petróleo, car-vão e minério de ferro;

• 1935: a Itália ocupa militarmente a Etiópia, na África;• 1936: é assinado um pacto de amizade e não-agressão entre

Hitler e Mussolini – o Eixo Roma-Berlim. É também assinado um pacto Anti-Komitern (anticomunista)

• 1936: a Alemanha remilitariza a Renânia, na fronteira com a França, contribuindo para o acirramento da tensão local.

• 1936: tropas do Eixo auxiliam o Golpe de Estado de Franco, na Guerra Civil Espanhola, fazendo nascer mais um estado ditato-rial de direita na Europa. Além da obtenção de uma Espanha alia-da, o Eixo pode testar a real capacidade de suas forças armadas, o que se dá com pleno êxito, ante a surpresa e tensão do restante do continente.

• 1938: Hitler anexa a Áustria (Anschluss).• 1938: Hitler anexa a região de sudetos, na Tchecoslováquia,

alegando a existência, ali, de população alemã. França e Inglater-ra, até então tolerantes com o expansionismo alemão, convocam o Führer para a Conferência de Munique. Tal conferência é con-siderada o apogeu da política do apaziguamento, uma vez que é a última tolerância franco-britânica às conquistas de Hitler, que consegue “permissão” para a tomada da região, desde que encer-rasse as suas investidas daí por diante. Na verdade, franceses e ingleses se curvam diante do poderio nazista.

• 1939: novas conquistas sobre a Tchecoslováquia, numa clara demonstração de não-cumprimento do acordo de Munique.

• 1939: os italianos anexam a Albânia.• 1939: Hitler, temendo uma união da Inglaterra, França e

União Soviética, assina com Stálin (líder soviético) um pacto de não-agressão: o Pacto Nazi-Soviético. A união francesa, inglesa e russa não se concretiza, fundamentalmente, pela existência de sis-temas econômicos divergentes (os socialistas acreditam que uma aliança com o Ocidente é um retrocesso e os capitalistas temem a infiltração da doutrina comunista em seus meios). Ao assinar o Pacto, Hitler garante a concretização de um velho sonho: a ocu-pação da Polônia (que seria dividida com a União Soviética), com a certeza da não-intromissão das tropas soviéticas em favor dos poloneses. A tomada do corredor polonês, na região de Dantzig, pode possibilitar à Alemanha juntar novamente a Prússia Oriental ao restante do país, uma vez que a região está isolada geografica-mente desde o Tratado de Versalhes.

• 1939: a Alemanha invade a Polônia no dia 1º de setembro. Dois dias mais tarde, Hitler recebe uma declaração de guerra con-junta de ingleses e franceses. Está iniciada a II Grande Guerra Mundial.

Principais episódios.1939 a 1941 – A expansão do Eixo.

• Em três semanas a Alemanha ocupa a Polônia.• Fulminantes ataques nazistas, através da “Blitzkrieg” (Guerra

Relâmpago), ocupam a Bélgica, a Holanda, Dinamarca, Noruega e 2/3 do território francês.

• Ataques nazi-fascistas na Europa Oriental e África do Norte.• O Japão adere ao Eixo e no Extremo Oriente prosseguem suas guer-

ras de conquistas (Norte da China, Sudeste Asiático e Pacífico Sul)

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1941 a 1943 – O Equilíbrio dos Aliados.• Violando o Pacto Nazi-Soviético, Hitler ataca a URSS (1941),

sendo violentamente derrotado no ano seguinte após perigosa pe-netração em grande extensão do território soviético. Os russos, até então neutros no conflito, aderem aos aliados menos por sim-patia aos mesmos e mais pela necessidade de deter o inimigo co-mum maior naquele momento: a Alemanha. Na verdade, a atitude hitlerista se explica pelo já citado temos alemão de uma união ocidental com os soviéticos. Portanto, era preciso eliminar esses soviéticos antes de seu fortalecimento militar e de sua entrada no conflito. Hitler apenas não contava com a fulminante derrota sofrida no inverno russo.

• O Japão ataca a base naval de Pearl Habor, no Havaí, e dá aos EUA um pretexto para sua entrada oficial no conflito (1941), em-bora o país já mandasse armas e víveres sobretudo para ingleses e franceses (tal como ocorrera na I Grande Guerra Mundial). Os aliados detêm ofensivas do Eixo na África do Norte e Austrália. A entrada de americanos e russos é decisiva para o equilíbrio do conflito.

1943-1945 – A derrota do Eixo.• Em 1943 a Itália é ocupada; os fascistas perdem o poder; Mus-

solini é deposto e morto, e o país se rende, embora se encontre até 1945, em seu território nazista, contra a qual também lutarão as tropas da FEB (Força Expedicionária Brasileira).

• Na Europa Oriental a URSS rende as tropas nazistas. Liber-tando várias nações da ocupação alemã, fator que levará os rus-sos pós-guerra a reconstruir tais nações sob sua tutela e modelo comunista.

• Em 1944, com o desembarque de tropas aliadas na Normandia (no chamado Dia “D”), a França é libertada.

• Em 1945, após sucessivos recuos, os alemães invadidos são cercados por americanos, ingleses, franceses e soviéticos, com a capital Berlim sendo bombardeada. Em 30 de abril, Hitler se suicida, ao lado de grandes líderes nazistas e, em 08 de maio, a Alemanha se rende.

• O Japão, único sobrevivente do Eixo, resiste ferozmente no Oriente, o que retarda o fim definitivo do conflito.

• Apenas com a destruição das cidades de Hiroshima e Nagasaki pelas bombas atômicas norte-americanas, respectivamente em 06 e 09 de agosto, os japoneses capitulam-se (02 de setembro), fa-zendo terminar a II Grande Guerra Mundial. Deve-se salientar aqui que a destruição do Japão pelas bombas se deve ao temor norte-americano de que a URSS ocupasse o Japão e reivindicasse a sua reconstrução no pós-guerra, sob o molde socialista; assim, é preciso, para os EUA, chegar e destruir o território japonês pri-meiro, o que ocorre de fato. Tem-se nesse episódio a demonstra-ção clara dos choques de interesses entre americanos e soviéticos, tão característicos do pós-45, com a Guerra-Fria.

Principais conferências e Tratados durante a II Grande Guerra Mundial.

As principais conferências reúnem, durante a Guerra, os três Grandes (EUA, URSS e Inglaterra), representados pelos seus principais dirigentes: Franklin Roosevelt, Joseph Stálin e Winston Churchill, respectivamente.

• 1943: Conferência de Teerã (no Irã) - debatem propostas de uma futura paz, com a colaboração mundial.

• 1945: Conferência de Ialta (Turquia): Convocação da Confe-rência de São Francisco para a criação da ONU; Divisão da Co-réia em duas Zonas de influência: do Norte, Soviética e a do Sul, norte-americana; Reafirmação do desmembramento alemão; De-finição da fronteira soviética-polonesa; Delineamento de áreas de influência das grandes potências em diversas regiões do globo.

•1945: Conferência de Potsdã (Alemanha): Reunida após a ren-dição alemã; Harry Truman, novo presidente americano, substitui Roosevelt, falecido há pouco.

Debate em torno da Alemanha: tomada de suas armas, perda da Prússia Oriental, que fica repartida entre a Polônia e a URSS, di-minuição sensível do poderio industrial do país e dos grupos que financiaram o nazismo e divisão do território alemão em quatro zonas de ocupação (russa, americana, inglesa e francesa), sendo que em 1949 as duas últimas são incorporadas à norte-america-na, surgindo daí a Alemanha Ocidental ou República Federal da Alemanha, e a zona em poder dos soviéticos se transforma em Alemanha Oriental, ou República Democrática da Alemanha.

O custo II Grande Guerra Mundial.A II Grande Guerra Mundial custou 413,25 bilhões de Libras

esterlinas, contra 75,07 bilhões da I Grande Guerra Mundial. Os cinco principais aliados dividiram assim os 168, 25 milhões de libras que gastaram (em milhões de libras):

• Estados Unidos: 84,5 • União Soviética: 48• Grã-Bretanha: 28 • Canadá: 4 • França: 3.75As potências do Eixo gastaram 105,5 milhões de libras (em mi-

lhões de libras):• Alemanha: 68 • Itália: 23,5 • Japão: 14.Nove países dividiram os lucros de 2,27 bilhões de libras em

reservas de ouro. Os seis principais ganhadores foram (em mi-lhões de libras):

• Estados Unidos: 1.422 • Argentina: 230• África do Sul: 173,5 • Suíça: 160,2• Romênia: 88 • Brasil: 80,5Os perdedores de reservas de ouro foram (em milhões de li-

bras):• Grã-Bretanha: 5 • Noruega: 5.• Tchecoslováquia: 5,5 • Itália: 25.• Canadá: 46,25 • Japão: 62,5.• Holanda: 182 • França: 335.É difícil calcular as perdas humanas. Algumas fontes chegam a

falar em 50 milhões de mortos. O número mínimo chegaria a 37, 6 milhões. Os doze países mais sacrificados foram:

• União Soviética: 20 milhões • Polônia: 4,32 milhões.• Alemanha: 4,2 milhões • China: 2,2 milhões.• Iugoslávia: 1,7 milhão • Japão: 1,2 milhão.• França: 600 mil • Romênia: 460 mil.• Hungria: 420 mil • Itália: 410 mil.• Estados Unidos: 406 mil • Grã-Bretanha: 388 mil.Morreram, proporcionalmente, mais civis que militares. A guer-

ra mecanizada, de movimentos rápidos, fez mis prisioneiros que mortos entre os militares, enquanto os bombardeios dizimaram populações inteiras. Além disso, houve os campos de concentra-ção, com o extermínio de membros da resistência, comunistas, liberais e 5,9 judeus: um dos maiores genocídios da humanidade. Eles foram vítimas da paranóia anti-semita de Hitler e ideólogos nazistas, que os responsabilizavam pelo caos em que a Alemanha viveu depois da I Grande Guerra Mundial e dos tratados de paz.

O MURO QUE DIVIDIA O MUNDO CAIU. E DAÍ? O MUNDO DE 1945 AOS NOSSOS DIAS.

A presente unidade tratará de questões que, de uma forma geral, mudaram as diretrizes assumidas pelas grandes potências e pelos chamados países periféricos nos últimos 50 anos do atual século. Apesar de várias destas questões já terem sido resolvidas ou abor-

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dadas, torna-se necessário o seu estudo para melhor entendimento dos dias atuais, na transição do século XX para o XXI.

Para melhor compreensão desta unidade, dividiu-se o tema proposto em duas partes: o Pós-Guerra e as Grandes questões da atualidade. Esta divisão de caráter didático, deve ser compreendi-da para uma assimilação mais acessível do tema proposto, porém sem deixar de lado a interação entre essas partes.

Deve-se salientar que é inesgotável a temática de cada um dos assuntos abordados. Impõe-se, portanto, um limite aos mesmos, por força dos objetivos do presente estudo.

O PÓS-GUERRA.Várias foram as questões oriundas da II Grande Guerra Mun-

dial. Dentre elas podemos destacar:

A criação da ONU – Organização das Nações Unidas.A II Grande Guerra Mundial trouxe conseqüências para a maior

parte dos países envolvidos de forma direta ou indireta no con-flito. Como forma de se tentar resolver questões que impedissem novos conflitos é criada em 24 de outubro de 1945, na Confe-rência de São Francisco, através da Carta das Nações Unidas, a Organização das Nações Unidas – ONU.

Este órgão, com sede em Nova York, surge para cobrir as falhas da Liga das Nações, procurando, dentre outros objetivos, preser-var e assegurar o desenvolvimento sócio-econômico e a convi-vência pacífica entre as nações.

A ONU possui alguns grandes objetivos:• Manter a paz em todo o mundo;• Fomentar relações amigáveis entre as nações;• Trabalhar em conjunto para uma vida melhor dos indivíduos

reduzindo do mundo a pobreza, a doença e o analfabetismo e en-corajando o respeito pelos direitos e liberdades.

• Ser um centro para ajudar as nações a alcançarem estes obje-tivos.

Órgãos representativos da ONU:• Secretariado: o secretariado é chefiado pelo secretário Geral

(o mais alto funcionário das Nações Unidas) e é escolhido para um mandato temporário. A ele é atribuído o mesmo tipo de poder político dos chefes dos estados membros.

• Assembléia Geral: formada por representantes de todas as nações membros. É o órgão central das Nações Unidas, no qual todas as nações podem falar e ser ouvidas sobre qualquer assunto. Nela estão representados todos os membros das Nações Unidas.

• Conselho de Segurança: manter a paz e a segurança interna-cionais. Qualquer país, membro ou não das Nações Unidas, ou o Secretário Geral, pode alertar o Conselho de Segurança para um litígio ou ameaça à paz. Seus membros permanentes, mais pri-vilegiados, possuem o direito de veto nas questões de segurança levadas à votação.

• Corte Internacional de Justiça: é o principal órgão das Nações Unidas que elabora sentença judiciais. Só os países e não as pes-soas é que podem apresentar casos no Tribunal. Quando um país concorda em submeter o caso ao Tribunal, tem de comprometer-se a acatar a sua decisão. O Tribunal se reúne em Haia, na Holan-da, e está em sessão permanente, regulamentando as questões da justiça internacional.

• Conselho Econômico e social: ocupa-se de problemas econô-micos, tais como o comércio, os transportes, a industrialização e o desenvolvimento econômico e de questões sociais, que incluem a população, as crianças, a habitação, a segurança social, a ju-ventude, o meio ambiente, a alimentação etc. Também formula recomendações sobre a forma melhorar as condições de educação e da saúde e de promover o respeito e a observância dos direitos e

liberdades das pessoas, em todo o mundo.

Alguns órgãos Especiais ligados à ONU:• OIT – Organização Internacional do Trabalho, com sede em

Genebra, Suíça.• FAO – Organização da Agricultura e Alimentos, com sede em

Roma, Itália.• Banco Mundial, com sede em Washington, EUA.• UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação,

Ciência, Cultura e Infância, com sede em Paris, França.• OMS – Organização Mundial de Saúde, com sede em Gene-

bra, Suíça.• FMI – Fundo Monetário Internacional, com sede em Washing-

ton, EUA.• OMC – Organização Mundial do Comércio, com sede em Ge-

nebra, Suíça.

Descolonização Afro-AsiáticaPretendendo demarcar suas áreas de influência, os EUA e a

URSS iniciam apoio às colônias afro-asiáticas, como forma de se libertarem de seus colonizadores. Estas regiões, dominadas desde fins do século XIX (neocolonialismo), participantes de duas guer-ras, viam, agora a possibilidade de se tornarem independentes. Mas elas se mantêm economicamente dependentes das superpo-tências.

Neste processo de independência, estas nações realizam elei-ções e autogoverno. Na África inicia-se um processo contra a sub-nutrição, o analfabetismo e contra a presença européia em suas terras. É o chamado Pan-Africanismo.

Diversas razões explicam a descolonização, muitas delas liga-das à própria II Grande Guerra Mundial:

• Declínio político-econômico das metrópoles tradicionais (In-glaterra e França), destruídas pela guerra e substituídas por outras potências.

• Crença nos ideais do Liberalismo Ocidental, vigente com o fim da Guerra e traduzido para a forma de emancipação política.

• Apego aos ideais socialistas de igualdade, levados também ao plano das relações internacionais.

• Auxílio, nas guerras de independência, da URSS e dos EUA, interessados em ampliar suas áreas de influência.

• Crescimento do sentimento de patriotismo e nacionalismo nas populações coloniais.

• Desenvolvimento, durante a guerra, dos setores militares das colônias, fazendo com as mesmas acreditem numa ruptura pelo uso da força, uma vez que, obrigadas a lutar ao lado da metrópole, adquiriram experiência militar e consciência de vitória.

No processo de descolonização, estas colônias tentam uma dissociação dos blocos capitalistas e socialistas, mas através de golpes militares, governos progressistas são derrubados e há a instalação de governos ligados aos EUA e à URSS, numa exten-são da Guerra Fria. Devido à rápida mudança política em muitos territórios e à existência de diversas etnias ou religiões não é de se surpreender que a descolonização tenha se dado de forma violen-ta, culminando na instalação de regimes repressores.

Formas de descolonização:• Concessão gradativa da metrópole do direito de soberania à

colônia para manter a dominação econômica através de uma polí-tica pacifista (Inglaterra);

• Através da luta armada (França e Portugal): tentativa de con-ter os movimentos de independência pela força, fortalecendo as-sim, os antagonismos metrópole/colônia. A tendência natural de oposição ideológica foi a via socialista (Argélia, Vietnã, Angola,

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Moçambique).Em 1955, durante a conferência de Bandung (Indonésia), al-

guns países afro-asiáticos subdesenvolvidos pretenderam um for-talecimento político, econômico e social soberano, independente do conflito leste/oeste. Foi a fórmula encontrada pelo Terceiro Mundo de se fazer presente no cenário mundial.

A partir desta postura, surgiu, mais tarde, o movimento dos não-alinhados, países que pretendiam se isolar da Guerra Fria, não se vinculando a nenhuma das duas potências hegemônicas. Mas, no contexto internacional, bipolarizado, e face à extrema dependên-cia do 3º Mundo, o alinhamento ideológico torna-se inevitável e com ele, as condições precárias do subdesenvolvimento.

A Expansão do ComunismoO comunismo se expande pela Europa Oriental, China e Cuba.

A questão cubana e a alemã serão tratadas adiante.

Europa Oriental.Durante a ocupação nazista, na II Grande Guerra Mundial, vá-

rias nações foram se organizando na forma de resistência popular, com o apoio do governo soviético, numa forma de lutar contra a presença dos nazistas. Após a derrota e expulsão dos nazistas, foram-se formando governos de cunho Social-Democrata, demo-crata e comunista.

Adotaram o socialismo como sistema de governo os seguintes países: Polônia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Albânia, Alemanha Oriental e Bulgária. Já em países como a Hungria e a Romênia, que não tiveram nenhuma frente popular anti-nazista, a instalação de governo pró-Moscou se deu de forma bem menos democrática, através da pressão direta do exército soviético.

Em países que contestassem a presença do modelo soviético havia a imposição através de golpes que afastavam as resistências ao regime comunista.

Somente a Tchecoslováquia, que se manteve como socialista e independente do governo soviético até 1968, ano da intervenção militar soviética (Primavera de Praga) e a Iugoslávia, sob a Li-derança de Josip Tito (conhecido como mão-de-ferro), souberam resistir a esta influência.

[Primavera de Praga: tentativa de renovar o socialismo vigente, tornando-o mais democrático e menos central-burocrático, onde a população possa participar de forma mais ativa das decisões do Estado através de liberdades sindicais e individuais, independen-temente da hegemonia soviética. O movimento foi reprimido pela força militar soviética.]

Fatores que propiciaram a expansão do comunismo:• Surgimento da URSS como potência de primeira grandeza• Contradições do capitalismo (fome, superprodução econômi-

co e social, etc.)• Necessidade de um sistema opcional para os povos margina-

lizados e oprimidos.

A Revolução Chinesa (1949)Desde o século XIX, a China se viu dominada pelo imperialis-

mo europeu, americano (início do século XX) e japonês (desde a I Grande Guerra Mundial). Na década de 20, iniciou-se a luta pela sua independência. Mesmo com os acordos temporários entre as forças de Mao-Tsé-Tung (socialista) e Chiang-Kai-Chek (capi-talista) face ao inimigo japonês, a guerra civil aumentou após a derrota japonesa na II Grande Guerra Mundial.

Os maoístas, com decisivo apoio popular (camponeses), der-rotaram os nacionalistas de Chiang-Kai-Chek, obrigando-os a se refugiarem na ilha de Formosa, onde, com o apoio americano, fundam a China Nacionalista. Ao mesmo tempo, em 1949, era proclamada a República Popular da China, sob o governo de Mao-

Tsé-Tung, que a partir desse momento iniciou a nacionalização e socialização de sua economia, independente da esfera soviética, principalmente após a Revolução Cultural, na década de 60.

Desde então, a China tem se desenvolvido como um mundo à parte do modelo soviético, como colocado por Eric Hobsbawm ao dizer que ela “não pode ser encarada simplesmente como uma subvariedade do comunismo soviético, e menos ainda como parte do sistema de satélites soviético”.

Em 1978, dois anos após a morte de Mao-Tsé-Tung, assume o governo Deng Xiaoping que promove uma série de reformas pró-capitalistas no país, como o fim de grande parte das propriedades coletivas e privatização de vários setores da economia, mas sem aceitar a democratização, mantendo o poder monopolizado nas mãos do Partido Comunista Chinês (PCC).

A Guerra FriaDe acordo com o historiador Eric Hobsbawm, no seu A Era dos

Extremos, a “II Grande Guerra Mundial mal terminara quando a humanidade mergulhou no que se pode encarar, razoavelmente, como uma Terceira Grande Guerra Mundial, embora uma guerra muito peculiar”.

Com o final da II Grande Guerra Mundial, inicia-se um período onde as relações entre os Estados Unidos (capitalista) e a URSS (socialista) vão ser as responsáveis por uma nova ordem mundial. Os demais países, de acordo com os seus interesses e necessida-des, vão se posicionar a favor de um ou de outro pólo. Mas, tanto o pólo capitalista (oeste) quanto o socialista (leste) têm o intuito de aumentar a área de influência e de se mostrar ao seu opositor como um bloco forte e poderoso.

As diferenças e divergências entre os dois blocos, capitalista e socialista, se evidenciam no período conhecido como Guerra Fria, ou seja, em fins da II Grande Guerra Mundial até a tran-sição dos anos 80/90.

Têm-se o que conhecemos por Guerra de Nervos, ou seja, uma guerra ideológica onde um não conhece as verdadeiras potenciali-dades do outro. Com isso tem-se um conturbado período histórico onde a tensão leste-oeste vai se agravando cada vez mais numa busca de novas áreas de dominação.

As duas superpotências, nesta bipolarização do poder mundial, buscam demarcar a sua área de influência, reforçando o sistema de alianças a nível político e militar, de ajuda econômico-financeira, principalmente na reconstrução da Europa, palco do II Grande Conflito. Nesta divisão, surge a chamada Cortina de Ferro, ou seja, o isolamento da região oriental em relação ao Ocidente.

Questões advindas da Guerra Fria• Plano Marshall: plano no qual, pela disputa de demarcação

de áreas de influência com os soviéticos, os EUA destinam ver-bas para a reconstrução da Europa Ocidental, Turquia, Grécia e Japão;

• Doutrina Truman: ajuda financeira e militar oferecida pelos Estados Unidos para combater o comunismo;

• Marcartismo: o senador republicano Joseph McCarty promo-ve uma violenta perseguição aos comunistas, nuca características “caça às bruxas”.

• Plano Molotov: Ajuda soviética para a demarcação de áreas de influência e reconstrução da Europa Oriental;

• Organizações do Cooperação Econômicas:MCE – Mercado Comum Europeu, exclusivamente para os pa-

íses do bloco capitalista.COMECON – Conselho de Assistência Econômica Mútua, ex-

clusivamente para os países do bloco socialista.• Organizações Militares:

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OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, 1949, atendendo aos países capitalistas.

Pacto de Varsóvia – Atendendo aos socialistas (foi extinto com o colapso do Socialismo na URSS).

Guerra da Coréia (1950-1953)Em 1950, cinco anos depois de derrotar a Alemanha nazista, os

Estados Unidos e a URSS, ex-aliados, entram em conflito pelo controle da Coréia, uma nova zona de influência, arriscando pro-vocar uma Terceira Guerra Mundial. A península da Coréia é cor-tada pelo paralelo 38, uma linha que divide os dois Estados, desde 1948:Norte:República Popular Democrática da Coréiapró-

soviéticaCoréia do Norte.Sul: República da Coréia (pró-EUA)Coréia do Sul.Fronteira: área de choques e incidentes constantes.Esta divisão está amparado pela ONU, que promoveria eleições

gerais para houvesse a formação de uma Coréia unificada e sobe-rana, fato que não ocorreu, prevalecendo a divisão.

Ambos os governos reivindicavam a jurisdição sob a totalidade do território, iniciando-se os conflitos entre as duas Coréias. Em 1950, a Coréia do Norte, incentivada pela Revolução Chinesa, ataca a Coréia do Sul. Dois dias após a invasão, os EUA, sob o comando do general McArthur, desembarcam tropas para apoiar o Sul, com o intuito de frear o comunismo, numa nítida postura ideológica influenciada pelo Marcartismo.

A violência do conflito foi tamanha que as tropas das Nações Unidas, através da invasão da Coréia do Norte se aproximaram da fronteira chinesa. Com isso, o governo de Pequim monta uma ofensiva enviando trezentos mil homens para ajudar a Coréia do Norte.

A Coréia do Norte é devastada. Os suprimentos enviados pela União Soviética são interceptados pelas forças das Nações Uni-das. Durante quase três anos, o povo coreano, uma das mais notá-veis culturas da Ásia, é envolvido em uma brutal guerra fratricida. Milhares de prisioneiros amontoados em campos de concentração esperam ansiosamente por um armistício.

O general McArthur insiste em um ataque direto à China. Este fato acaba provocando o recuo de suas tropas. A intransigência do general levou Truman a demiti-lo, fato que levou ao início das conversações sobre o armistício confirmando a divisão da Coréia, pelo paralelo 38º, feita em 1948. Vale lembrar que na guerra core-ana morreram cerca de três milhões de pessoas.

Coexistência PacíficaNa segunda metade dos anos 50, há uma aproximação temporá-

ria entre os EUA e a URSS, denominada de Coexistência Pacífica, apresentando uma política de distensão (Detente)

Fatores responsáveis por esta aproximação:• Política pessoal de Krushev (URSS) e Kennedy (EUA);• Surgimento de novas forças mundiais, como a China, que

rompeu com o bloco socialista soviético e gerou instabilidade no equilíbrio mundial;

• Ressurgimento da Inglaterra e da França como forças concor-rentes por áreas de influência no bloco capitalista.

• Neutralidade assumida pelos países do Terceiro Mundo na Conferência de Bandung, na Indonésia, em 1955.

• O resultado do equilíbrio da Guerra da Coréia, onde as duas potências demonstraram igualdade de forças.

O Fim da DetenteFoi curta a duração da coexistência pacífica. Logo os antagonis-

mos se tornaram mais fortes e a Guerra Fria retornou, revestida de

intensa violência, como nas questões que se seguem:

A questão CubanaA partir do fim do colonialismo espanhol, em 2898, Cuba passa

à tutela econômica dos Estados Unidos, que auxiliam sua inde-pendência.

Em 1901, através da Emenda Platt, que cedia aos americanos direitos militares (base naval e direito de intervenção para manter a ordem interna) e econômicos (exploração de carvão), consolida-se o imperialismo dos EUA sobre a ilha.

Na década de 30, com o governo de Fulgêncio Batista (aliado dos EUA) aumentam as concessões e privilégios ao capital norte-americano. Com esta política de dependência, Cuba mantém-se subdesenvolvida, com uma economia estagnada, ainda voltada para os moldes coloniais: latifúndio e monocultura agro-expor-tadora de açúcar.

A indústria, diante da concorrência norte-americana não tem como se desenvolver e quem sofre as conseqüências é toda uma população que vive miseravelmente, despojada das mínimas con-dições de sobrevivência, sendo obrigada a viver de migalhas dos norte-americanos. A ilha transformou-se em um verdadeiro pa-raíso sexual para os americanos. A prostituição infantil era uma regra, o tráfico e a violência inerentes ao modo de vida dos cuba-nos.

Diante deste fato, em 1959, Fidel Castro, com um trabalho de conscientização dos camponeses contra a ditadura de Fulgêncio Batista e com a ajuda de guerrilheiros como o argentino Ernesto Chê Guevara, implanta em Cuba, depois de um processo Revolu-cionário, uma República Popular Nacionalista.

Ao tomarem o poder, Fidel e seus companheiros, que, inicial-mente não tinham pretensões em instalar o socialismo em Cuba, mas tinham vontade de mudança radical, começaram pela Refor-ma Agrária. Era a ideologia social-revolucionária que os incitava ao processo de mudanças radicais numa sociedade corroída pela corrupção e pelo abuso de poder, heranças de Batista.

No processo de socialização da ilha é implantada a estatização das empresas estrangeiras, fato que provocará a ira dos Estados Unidos que, em represália, promovem a sua expulsão da OEA (Organização dos Estados Americanos) e lançam o embargo co-mercial, isolando-a política e econômicamente.

A partir desses ideais de mudanças ocorreu a aproximação com o comunismo visto que, diante de um regime que criasse aos Es-tados Unidos um antagonismo, natural seria a aproximação sua maior rival, na vigência da Guerra Fria. Numa tentativa de blo-quear os ideais socialistas, os Estados Unidos invadem a ilha em 1961, através da invasão da Baía dos Porcos, sendo mal sucedidos nesta empreitada.

A Invasão da Baía dos Porcos foi patrocinada pelos Estados Unidos sendo feita pelos exilados cubanos. As tropas fiéis a Fidel Castro entram em ação e capturam quase todos os invasores, tro-cando-os posteriormente por suprimentos não-militares.

A proximidade geográfica e a humilhação política levam aos EUA a denunciar a presença de mísseis soviéticos na ilha, que são, posteriormente, desarmados. É o que se convencionou deno-minar de Crise dos Mísseis.

Já ocorre nessa época, a mencionada aproximação com a União Soviética, com os cubanos recebendo ajuda financeira para remo-delar o país de acordo com os moldes socialistas. Com esta ajuda, Fidel desenvolveu um amplo programa de reformas sociais onde a população, em contraste com os tempos de Fulgêncio Batista (prostituição, violência, miséria, analfabetismo), passa a dispor de uma assistência maior. O analfabetismo ficou reduzido a me-nos de 5% da população e a taxa de mortalidade se tornou a mais

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baixa da América Latina. É a implantação de um modelo socia-lista bem próximo da maior potência capitalista, em sua área de influência no continente americano.

A questão do Vietnã.Um conflito de maiores proporções se desencadeia entre 1961 e

1975: a Guerra do Vietnã.Durante vários anos, o povo vietnamita lutou contra o governo

colonial por uma libertação nacional. O Vietnã tinha sido colô-nia francesa durante 100 anos. A região compreendia o Camboja, Tonquim (Vietnã do Norte), Laos, Anã e Cochinchina (Vietnã do Sul).

Durante a II Grande Guerra Mundial (1939-1945), a região passou para o domínio japonês. Em 1941, no Vietnã do Norte estabeleceu-se o Vietminh (Liga Revolucionária), de tendência socialista, que lutava contra a ocupação nipônica. Em 1945, com a derrota do Japão, no norte foi proclamada a República Demo-crática do Vietnã, com um sistema socialista. Ao mesmo tempo, a França reocupou o Laos, o Camboja e o Vietnã do Sul, declaran-do-o independente, mas fazendo parte da União Francesa.

O movimento de Descolonização gerou a Guerra da Indochina, que só terminou em 1954, com a derrota francesa. Pelo Acordo de Genebra, a França retirou suas tropas e reconheceu a independên-cia da região (Laos, Camboja e Vietnã do Sul). Pelo mesmo acor-do, foram previstas futuras eleições para a formação de um Estado unificado envolvendo os dois vietnãs. As eleições não acontece-ram e, em 1960, houve uma guerra civil no sul, onde os vietcongs (socialistas) recebiam o apoio do Vietnã do Norte.

Temendo a expansão do comunismo na região os Estados Uni-dos prestaram auxílio militar e financeiro ao Vietnã do Sul, en-viando tropas militares (chamados de “Conselheiros Militares” – os boinas verdes). Atacam o norte (aéreo) e ampliam o conflito, penalizando a população civil.

Durante oito anos, os americanos jogaram cerca de 8 milhões de toneladas de bombas no norte. Mas a superioridade bélica dos Estados Unidos não conseguem vencer a guerrilha dos vietnami-tas, causando um abalo psicológico nos americanos. A crescente oposição nos Estados Unidos à guerra, somada à determinação dos vietcongues e vietnamitas, forçam o governo americano a ad-mitir a derrota.

Dá-se o cessar fogo e, em 1973, através do Acordo de Paris, tem-se a retirada das tropas americanas e a formação de um con-selho para organizar eleições no sul.

Durante os 15 anos de engajamento militar no Vietnã, 56 mil soldados americanos morrem e mais de 300 mil voltam para casa mutilados ou com deficiências permanentes. Os vietnamitas per-dem dois milhões de vidas na luta pela independência do seu país. É uma das piores páginas da história norte-americana.

Entre os anos de 1973 e 1975, o conflito se transformou numa guerra civil entre os vietcongues e as tropas governamentais sul-vietnamitas. Nesta vietnamização do conflito tem-se a vitória do Vietnã do Norte.

A derrota americana foi um grande desprestígio internacional para o governo de Nixon, que pouco tempo depois renunciou ao mandato em virtude dos escândalos administrativos de seu gover-no. Tais escândalos ficaram conhecidos como o “caso Watergate”.

Tentativas de Reafirmação nas Áreas de Influência.A partir do final da década de 50, com o esvaziamento da Coe-

xistência Pacífica, e principalmente nas décadas seguintes, nota-se uma dificuldade maior para a manutenção de uma hegemonia coesa em ambos os blocos.

Da mesma forma que os EUA, a URSS utiliza, não raro, a força militar para manter sob sua tutela os países de sua influência.

Dentre os exemplos mais característicos da cisão no bloco so-cialista, dentro e fora do Leste Europeu, citam-se:

• Invasão da Hungria, em 1956, alegando, para a violenta re-pressão militar, o desvio do país da linha socialista.

• Repressão e ocupação militar, em 1968, da Tchecoslováquia, no episódio conhecido como Primavera de Praga.

• Ocupação do Afeganistão, entre 1979 e 1988, justificada pela ingerência americana no vizinho Paquistão, pelos constantes atri-tos entre os dois países fronteiriços e, principalmente, pela guerri-lha dos muçulmanos contra a influência soviética.

• Manutenção da Polônia sob repressão política, com a dissolu-ção do Sindicato Solidariedade e a prisão de seu líder Lech Wa-lessa, entre 1980 e 1982.

Os EUA, da mesma forma, enfrentaram a ruptura do bloco ca-pitalista:

• Na Revolução Islâmica, em 1979, com a deposição do Xá Reza Pahlevi (aliado norte-americano) e a consolidação no poder do líder religioso Aiatolá Khomeini, promovendo-se assim o afas-tamento da interferência americana.

• Na América Central, com destaque para os choques em Hon-duras e em El Salvador, invasão de Granada, deposição do go-verno do Panamá e, sobretudo, com a Revolução Sandinista na Nicarágua, os Estados Unidos vêm lançando mão, com freqüên-cia do expediente da força militar para fazer valer sua hegemonia na região.

• Na Guerra das Malvinas (1982), entre a Argentina e a Ingla-terra, os EUA sofreram um desgaste em sua hegemonia no conti-nente ao apoiar a Inglaterra vencedora, desrespeitando a Carta do Rio de Janeiro, conhecida como TIAR (Tratado Inter-Americano de Assistência Recíproca), que previa o apoio à Argentina, pelo fato de ser um país do continente.

AS GRANDES QUESTÕES DA ATUALIDADEO Oriente Médio.

O Oriente Médio está localizado na confluência dos continentes europeu, africano e asiático, sobretudo no último. Pode englobar regiões do centro asiático, como a Índia e o Paquistão. O conceito de Oriente Médio é, por vezes, confundido com o de Oriente Pró-ximo, o que, para muitos, não representa um erro. Em geral, ad-mite-se como Oriente Próximo a mencionada confluência dos três continentes, incluindo-se áreas mais ocidentais, como a Península Balcânica, no sudeste europeu e a Líbia, na África.

Na região do Oriente médio, em geral, fala-se a língua árabe e segue-se a religião muçulmana (islâmica ou maometana), subdi-vidas em seitas, a saber:

• Sunitas: o chefe do Estado islamita e sucessor de Maomé deve ser eleito pelos representantes de todo o Islão. Suas crenças reli-giosas são fundadas nos atos e na vida do profeta, à margem do Corão. Representam o Islão democrático.

• Xiitas: só pode ocupar o mais alto posto político e religioso quem for aparentado com o Profeta (pelo sangue ou pelo casa-mento). Representam o ideal absolutista; contrários à ocidenta-lização e à secularização (substituição dos valores religiosos por valores não-religiosos);

• Sufistas: seita exclusivamente religiosa (as outras duas têm caráter político e religioso). Adeptos de um ideal místico e ascéti-co (contemplativo). A única verdade é a que precede da revelação divina e o homem só pode participar dessa revelação pela tortura do corpo, que liberta a alma para a união mística com Deus (fa-quires da Índia);

• Drusos: raízes históricas do islamismo xiita. Tendência sepa-

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ratista na Síria e na região de Golã, ocupada por israelenses.Deve-se saber que, embora utilizados alternadamente, os ter-

mos “árabe” e “muçulmano” possuem suas diferenças:• “árabe” é um termo subjetivo, abrangendo aspectos geográfi-

cos (Arábia Saudita e adjacências), lingüísticos (aqueles que fa-lam a língua árabe) e culturais em geral.

• “muçulmano” embora religioso (aqueles que seguem o Isla-mismo ou religião muçulmana), pode ser também étnico e cultu-ral, na sua forma mais geral.

Deve-se lembrar que nem todos os árabes são muçulmanos (há cristãos entre a comunidade árabe) e nem todos os muçulmanos são árabes (na Turquia, no Afeganistão e no Irã, por exemplo, adota-se o Islã, mas não a língua nacional árabe).

HistóricoO Oriente médio representa, historicamente, o berço da civili-

zação, dos primeiros inventos e descobertas, da primeira religião. Até o século XII, aproximadamente, assiste a um “desfile das civilizações”(assírios, caldeus, babilônios, etc.). Até o presente, possui diversas religiões, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.

Uma particularidade antiga, capaz de explicar muitos proble-mas atuais, é que, em meio a tantas conquistas, responsáveis pela constituição de uma das mais ricas culturas de toda a história, o Oriente Médio não se acostumou ao modelo de democracia oci-dental, desconhecendo, salvo raras exceções, o “censo da liberda-de”. Já se incorporaram à História do Oriente, como exemplo do que se mencionou os califas (sucessores de Maomé) e os faraós. Na atualidade, diversas ditaduras sob a Monarquia ou a República podem ser mencionada (Saddam Hussein, no Iraque e Reza Pah-levi e Khomeini, no Irã, entre outros).

Desde os tempos do Império Romano, os judeus se vêem víti-mas do anti-semitismo, ou seja, de perseguições religiosas, políti-cas, econômicas e raciais.

Nos séculos seguintes, os judeus foram se reunindo em regi-ões do Leste europeu. Nestas regiões desenvolveram atividades comerciais, sobretudo no século XIX, fato este que acirrou o anti-semitismo, visto que este grupo se destacava economicamente. Foram obrigados a emigrar para a Europa Ocidental e lá, também, não eram bem vistos.

Como forma de se tentar resolver a questão de “espaço” para os judeus tem-se em 1896, a criação do movimento sionista com o intuito de levar os judeus de volta à sua terra natal: Jerusalém.

Durante as primeiras décadas do século XX, a região da Pa-lestina, habitada por árabes, foi recebendo um número cada vez maior de judeus. Não havia planos para a integração entre as duas culturas.

O objetivo dos judeus era retomar a terra que, a seu ver, per-tencia a eles. Iniciam-se assim, os conflitos entre árabes e judeus, cada um tentando garantir o “seu” território.

Nos anos da II Grande Guerra Mundial (1939-1945), a situação na região ficou mais tensa. Com o fim do conflito, a Inglaterra que mantinha a região sob seu controle desde a I Grande Guerra Mundial, se retirou e passou para a ONU o encargo de resolver a questão fundamental: dar uma pátria aos judeus. Este fato gera a questão palestina, um conflito entre árabes e israelenses.

A Questão PalestinaQuando, em 14 de maio de 1948, têm-se a criação do Estado de

Israel, os palestinos não foram consultados. Receberam a deter-minação da ONU e esperava-se que eles aceitassem o fato de for-ma pacífica. Só que isto não ocorreu e nem poderia. Como aceitar calmamente um “convite” que os obriga a sair dessa terra, porque

agora ela pertence a outra raça. É uma situação inimaginável. A partir deste fato, a região se viu às portas de infindáveis conflitos armados.

Os palestinos, ao perderem espaços em seus territórios, parte pela ação da ONU e parte pela ação dos judeus, que iniciam um expansão em direção às terras vizinhas, criam, em 1964, a Orga-nização para a Libertação da Palestina, a OLP, liderada por Yasser Arafat, cujo objetivo básico é reaver a pátria perdida, ainda que pela ação militar com a conseqüente destruição do Estado de Is-rael.

O mundo árabe, vizinho a Israel, em sua quase totalidade tem apoiado a causa palestina, deixando os judeus ilhados e ameaça-dos permanentemente.

Essa situação leva Israel, em 1967, a uma fulminante ofensiva militar com arsenal adquirido junto aos EUA. Nesta ofensiva, co-nhecida com a Guerra dos Seis dias, Israel conquista as Colinas de Golã (Síria), a Cisjordânia (Jordânia), a Faixa de Gaza e a Pe-nínsula do Sinai (Egito).

Derrotados, os palestinos e o mundo árabe lançam um contra-ataque sobre Israel, em 1973, no dia do Yom Kippur (Dia do Per-dão e feriado religioso no calendário judaico). É a Guerra do Yom Kippur, onde os árabes são novamente derrotados.

Em 1978, há a assinatura do Acordo do Campo David. Este acordo é assinado em separado por Israel e Egito, onde Israel se compromete a devolver o Sinai ao governo egípcio em troca da sua neutralidade. Em conseqüência da assinatura desse acordo, o Egito passa a ser isolado do mundo árabe.

Com o intuito de conseguir a paz para a região, alguns acordos têm surgido, com a mediação dos Estados Unidos e da Rússia, mas estes não significam a paz em definitivo. O principal deles foi assinado em 13 de setembro de 1993, entre judeus e a OLP, re-presentados por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, respectivamente. O acordo previa:

• reconhecimento, por parte de Israel, da OLP como represen-tante do povo palestino;

• reconhecimento, pela OLP, do Estado de Israel.• Devolução, pelos judeus, de Gaza e Cisjordânia (esta gradual-

mente) aos palestinos.Israel reconhece a OLP como legítima reorganização dos pa-

lestinos, não reconhecendo, contudo, a Palestina como legítimo Estado desse povo.

A Questão do Líbano.Como resultado da Questão Palestina, o Líbano é disputado mi-

litar e politicamente por muçulmanos e cristãos. De acordo com o censo não-oficial de 1984, de uma população de 3,1 milhões de habitantes, 53,8% são muçulmanos, de maioria xiita e, 46,2 são cristãos.

Os conflitos entre árabes e israelenses agravaram em muito a questão dos refugiados palestinos. Eles eram expulsos de seus ter-ritórios e se instalavam nas regiões vizinhas, fundando campos de refugiados, inicialmente provisórios, depois permanente, já que não era apresentada solução para o seu problema.

Os palestinos expulsos da Jordânia rumaram para o Líbano e lá instalaram a sede da OLP. Desta forma, Beirute, a capital do Líbano, se viu dividida entre uma zona cristã, ligada aos judeus e outra, muçulmana, ocupada por palestinos.

Em 1982, os palestinos do sul do Líbano são violentamente massacrados por uma nova ofensiva dos judeus.

A justificativa para a Geopolítica israelense de ocupação das aldeias do sul e da própria capital é a antiga questão de segurança de fronteira contra palestinos e muçulmanos xiitas.

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Acirra-se, na questão libanesa, a divergência entre Israel e Síria, este último, país árabe muçulmano controlador da região norte do Líbano. Essa questão, como tantas outras no Oriente Médio, ainda se encontra sem solução pacífica definitiva. Lamenta-se que a Guerra do Líbano represente a destruição de seu modelo demo-crático, cuja existência é uma rara exceção no Oriente Médio.

A Revolução Islâmica do Irã (1979).No início do século XX, o Irá se viu dividido em duas áreas de

influência: russa e inglesa. Durante a II Grande Guerra Mundial, o Xá Mohamed Reza Pahlevi, com o apoio dos Estados Unidos, assume o governo, dando continuidade à sucessão dinástica dos Pahlevi, que se iniciou em 1925.

Nos anos 70, os Estados Unidos, numa nítida demarcação de área de influência, começa a dar suporte bélico aos iranianos. Foi a forma encontrada para que não houvesse aproximação do Irã com os Emirados Árabes.

Principais características do Governo do Xá Pahlevi:• Forte ditadura;• Corrupção generalizada;• Dominação econômica externa;• Ocidentalização dos costumes.O governo Pahlevi foi marcado por críticas, principalmente

no que diz respeito à ocidentalização dos costumes, fato inaceitá-vel para uma população de maioria de muçulmanos xiitas. Desta forma, crescem os grupos de oposição desejosos da volta de seu líder político-religioso, o Aiatolá Ruholá Khomeini, exilado no Iraque.

A pedido do Xá Reza Pahlevi, o governo iraquiano determina o banimento de Khomeini, que se exila agora em Paris, continuando a liderar a oposição e insuflando no povo iraniano um crescente sentimento de ódio ao Iraque.

Com as crescentes manifestações de estudantes tradicionalis-tas, contrários ao governo, Pahlevi, a pedido dos Estados Unidos, renuncia e se exila com a família e uma imensa fortuna em di-versos países. Assume o governo o oposicionista Chapur Baktiar (01/01/1979), logo derrubado pelo Aiatolá Khomeini, que retorna triunfalmente do exílio. Com a vitória da oposição na Revolução, é proclamada da República Islâmica do Irã, a parti de 1979.

Principais características da República Islâmica do Irã:• Crescente oposição ao Iraque e aos Estados Unidos;• Violenta repressão aos oposicionistas, através de torturas,

mortes, etc., na chamada guerra santa.• Inquisição ideológica• Identificação Estado-Religião, simbolizada pelo próprio Kho-

meini, líder político e religioso.• Crescente redução do feminismo, com a degradante posição

das mulheres, oprimidas na sociedade• Terrorismo como política estatal.O fanatismo religioso em Alá (o Deus dos muçulmanos) pro-

move o extermínio no Irã e em outras regiões do predomínio mu-çulmano, levando a ações extremistas, ações estas responsáveis por crises de âmbito internacional, como a Guerra Irã X Iraque.

A Guerra Irã X Iraque (1980 – 1988).O conflito entre o Irã e o Iraque, com um saldo de mais de um

milhão de mortos, é considerado um dos mais sangrentos episó-dios da recente História da Humanidade.

A Guerra, como em geral as questões acerca do Oriente Médio, possui variadas causas, dentre elas destacam-se:

Divergências sobre a partilha das águas do rio Chatt-el-Arab, na fronteira dos dois países e única saída do Iraque para o Mar.

• Ódio pessoal de Khomeini (Irã) ao Iraque• Disputas internas entre fanáticos grupos muçulmanos (xiitas e

sunitas) cobiçando o poder político nos dois países;• A questão dos curdos (povos não-árabes e nômades, que habi-

tam o norte do Irã e do Iraque): seus movimentos separatistas no Irã são apoiados por Bagdá e, no Iraque, por Teerã.

• Necessidade de controle de maiores áreas de petróleo – prin-cipal riqueza da região.

Esta guerra alastra-se sobre o golfo Pérsico, onde alvos civis, dos dois lados, são atingidos, além da destruição de parques in-dustriais no Irã.

Quando se deu o cessar fogo, através de mediações do Secre-tário Geral da ONU, em 1988, o Irã dá início às negociações de paz e algumas das vantagens obtidas pelo Iraque são devolvidas ao Irã, em 1990-1991, em troca da não adesão deste último às forças de coalizão contra o Iraque, na Guerra do Golfo. Assim, oito sangrentos anos de lutas são parcialmente esquecidos pelos dois governos.

A Guerra do Golfo PérsicoA mais recente e mundial (pela participação mais intensa do

Ocidente) das guerras no Oriente Médio é a Guerra do Golfo Pér-sico, cujos limites ultrapassam bastante as áreas banhadas pelas águas do Golfo.

Quando a Guerra Irã x Iraque findou, o Iraque ficou com uma altíssima dívida externa. Com uma economia voltada para a ex-portação de petróleo e com o preço do mesmo em declínio, Sa-ddam Hussein ficou sem ter como arcar com este ônus.

De acordo com o governo iraquiano, o Kuwait era o respon-sável por esta queda no valor do petróleo, pois o mesmo estava vendendo uma quantidade maior que a estabelecida pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Saddam tam-bém acusa o Kuwait de lhe roubar US$ 2,4 bilhões em petróleo e por isso deveria perdoar a sua dívida de US$ 10 bilhões. Sabe-se porém, que existe o nítido desejo do Iraque de obter uma saída para o mar (através do Golfo Pérsico).

A invasão do Kuwait, em 02 de agosto de 1990, marca o início do conflito. Após uma série de investidas das tropas de segurança da ONU, o Iraque se rende em 28 de fevereiro de 1991 e George Bush, presidente dos EUA anunciam o cessar-fogo.

A África do Sul.O regime de segregação racial da África do Sul, conhecido com

Apartheid (desenvolvimento em separado de raças), ameaçou o país no decorrer desde século, vitimando as diversas raças não-brancas, sobretudo a negra, maioria da população, oprimida pelo governo branco, minoria.

Embora prevista em lei antes de 1948, é a partir desta data que a política segregacionista ganha ímpeto, com a subida ao poder do Partido Nacional.

Com a discriminação:• Os negros vinham sendo impedidos de freqüentar lugares pú-

blicos, tais como clubes, cinemas, praias, reservados aos brancos (existiam os locais determinados para os negros);

• As melhores escolas eram reservadas aos brancos (o que–ex-plica, em parte, o índice de analfabetismo no país: 7% entre os brancos e 68% entre os negros);

• As organizações negras como o Congresso Nacional Africano (CNA) são considerados ilegais e seus líderes presos, incluindo o líder do CNA, Nelson Mandela (preso de 1962 a 1990);

• Os negros não têm direito ao voto.Diante deste quadro, a ONU aprova em 1968, a suspensão das

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relações comerciais, esportivas, culturais e científicas com a Áfri-ca do Sul. O boicote econômico fez que com que, até 1989, pelo menos 135 empresas estrangeiras, de acordo com dados da pró-pria ONU, encerrassem suas atividades no país.

Contradições do Apartheid:• A defesa do problema racial atenua, em muitos os casos, a luta

pela igualdade e pela busca de novas alternativas de sistema eco-nômico pela população não-branca, tornando o movimento anti-apartheid, nesse caso, paradoxalmente interessante para a minoria branca que detém o poder;

• O problema racial da África do Sul desvia a tenção mundial para o país, em detrimento de problemas sócio-econômicos, tam-bém graves, nas nações vizinhas do continente africano, tais como a fome, elevada mortalidade infantil, analfabetismo, etc.. Mes-mo a população sul-africana pobre e discriminada pelo proble-ma étnico ainda possui um nível de vida médio superior àquele apresentado por quase todas as populações dos demais países em desenvolvimento.

• Durante vários anos, a maioria da população negra do país se colocou contra as sanções econômicas feitas à África do Sul pelo exterior, uma vez que os melhores empregos e salários e os pro-gressos e avanços tecnológicos conseguidos também nas comuni-dades negras eram originários dos grandes grupos multinacionais que, devido ao boicote, fecharam suas atividades no país. Assim, numa análise de curto prazo, o boicote internacional piorou o ní-vel de vida da maioria da população sul-africana.

• As sanções culturais e científicas isolaram o país, fazendo com que apenas os brancos detentores de melhor poder aquisiti-vo, tivessem acesso à modernidade do mundo, ampliando no nível interno a submissão do negro, culturalmente mais afastado das elites brancas. Inversamente, não se permite a própria divulgação das manifestações da maioria negra para fora do país, o que pode-ria valer um fortalecimento de sua causa.

Na atualidade, outra grande dificuldade vivida pela África do Sul para a sua estabilidade não as disputas políticas inter-tribais, sobretudo em seus Bantustões (regiões autônomas com governo negro). Nesse contexto, destaca-se a oposição entre as duas prin-cipais organizações negras do país:

• CNA, de Nelson Mandela (Xhosas)• Inkhata de Mogosuthu Buthelesi (Zulus)Desde a liberação de Mandela, em 1990, o CNA vem mantendo

conversações com o governo de minoria branca, visando a cons-tituição de um Estado multirracial, com o que não concorda o Inkhata. São sobretudo fortes os conflitos em Soweto, subúrbio de Joanesburgo, que representa o maior conglomerado negro urbano do país, com cerca de 1 milhão de habitantes, a maioria ligada ao CNA.

A derrubada gradual do Apartheid, uma das características mar-cantes da transição dos anos 80/90, é exemplificada pela abertura gradativa dos locais públicos para a freqüência indistinta entre ne-gros e brancos; libertação de presos políticos defensores da causa negra, inclusive Nelson Mandela; eleição do presidente Frederick de Klerk (1989), prometida e esperada como a última sem o direi-to de voto aos negros.

Reconhecendo que o regime está em declínio, a ONU retira as sanções contra a África do Sul em 1991.

Em 1992, De Klerk convoca um plebiscito e a maioria bran-ca, quase 70% vota pelo fim do Apartheid e pela manutenção das reformas. Isto, contudo, não significa que a maioria étnica tenha conseguido o pleno gozo de seus direitos enquanto cidadãos. Este processo vai ser lento, principalmente pelo longo passado de sub-missão externa e interna. Os obstáculos começaram a ser trans-postos, mas é apenas a ponta de um gigantesco iceberg.

As eleições de 1994 já contavam com a participação dos negros, com Nelson Mandela sendo eleito presidente, tendo Frederick de Klerk como seu vice. Com o fim de quatro décadas de segrega-ção, a tensão entre brancos e negros é relativamente pequena em termos coletivos, mas pode se acirrar no plano individual, onde alguns brancos continuam rejeitando a idéia de viver em uma so-ciedade africanizada.

A última Constituição é recente – foi adotada em 1996 – e ga-rante igualdade social e racial para todos. A Carta, de cuja redação participaram todas as forças políticas do país, demorou cinco anos para ficar pronta. “Neste momento, encerramos um capítulo im-portante desta luta heróica”, disse Mandela em discurso quando foi aprovado texto final da Carta Magna.

Esta Constituição, apesar de registrar o compromisso com a igualdade e a justiça, deixou de contemplar uma série de reivindi-cações das minorias e na prática consagrou a imposição dos inte-resses da maioria negra. Muitas famílias brancas que integram a elite intelectual do país estão emigrando.

As leis que negavam direitos primários aos negros, cerca de 77% da população da África do Sul, foram reformuladas, como a que declarava ilegais as uniões inter-raciais, punidas com sete anos de cadeia.

O papel e a realidade, no entanto, ainda não se encontram: não é comum ver nas ruas casais mistos. Mas a mistura ra-cial não é tão problemática hoje quanto à sócio-econômica. As favelas ainda predominam nos bairros negros, embora desde 1994, o governo tenha levado luz elétrica para 1,2 milhão de casas e água potável para 1,7 milhão de pessoas. Mas de um quarto dos adultos ainda é analfabeta.

O Declínio do Socialismo dito real.Continente Europeu.

Na transição dos anos 80/90, temos o questionamento do so-cialismo instalado na Europa no pós II Grande Guerra Mundial representado pela ditadura política e social e pelo intervencionis-mo estatal na economia. Justamente por fugir totalmente do que preconizava Marx, Engels – teóricos do socialismo – e Lênin – o revolucionário Russo que liderou a primeira revolução socialista na História da Humanidade – o que se instalou nos países do Leste europeu e até mesmo na ex-URSS após o governo de Stálin foi denominado de Socialismo dito real.

O socialismo dito real se baseava na instalação de um regime fechado com censura aos meios de comunicação, opressão dos direitos individuais e coletivos (direitos de ir e vir, direito de orga-nização e de greve, direito de voto), repressão do Estado aos mo-vimentos de contestação, ausência da propriedade privada (preva-lecendo a propriedade estatal dos meios de produção), controle da economia pelo aparelho de Estado e unipartidarismo (na maioria dos casos o Partido Comunista).

A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) antes de sua desagregação era uma das maiores superpotências militares, com armas nucleares, e a 2ª maior economia mundial, só sendo superada pelos EUA, fato esse que ajudou a demover os países capitalistas de uma investia em seu território.

Mesmo após a política de desarmamento da era Gorbachov (1985-1991), a URSS continuou com um grande arsenal militar. Contudo este sistema, por se tornar inoperável, não foi suficiente-mente forte para conter o colapso e a desagregação dos países do leste europeu. Há a partir do final da década de 80, uma queda no PNB soviético, indo de um crescimento de 5,9% no período de 56 a 60 para um crescimento negativo de –6,0% em 1990. Com isso, a economia soviética passa de 2º para o 4º lugar sendo superada pela Alemanha e pelo Japão, países que saíram perdedores da II

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Grande Guerra Mundial.Quando Gorbachov, em 1985, assume o cargo de Secretário

Geral do PCUS, o perfil soviético vai se modificando. Ele inicia um programa de reformulação interna e externa na política, na administração e na economia.

Com a Glasnost (transparência), internamente, surge uma políti-ca de abertura, com uma campanha contra a corrupção e ineficiên-cia administrativa, reduzindo a censura e a repressão, ampliando o direito de greve, aumentando o direito dos cidadãos e quebrando o monopólio político exercido pelo Partido Comunista. Na âmbito externo, promove a aproximação com os dirigentes do bloco capi-talista, firmando acordos de redução do arsenal militar, inclusive nuclear.

Com a Perestroika (reestruturação), há a abertura aos investi-mentos privados e externos em vários setores da economia.

Com estas aberturas surgirão oportunidades de questionar:• O Partido Comunista da União Soviética - PCUS – como

dirigente político;• O sistema “socialista” adotado pela União Soviética como

modelo econômico;• O Estado Soviético como mantenedor de ambos;• A figura de Gorbachov como dirigente de tal estrutura.Mesmo com estas propostas, ou por causa delas, a URSS não

mais resiste ao sistema que a governa. Eric Hobsbawm, diz que “o que levou a União Soviética com rapidez para o precipício foi a combinação de Glasnost, que eqüivalia à desintegração de autoridade, com um Perestroika que eqüivalia à destruição dos velhos mecanismos que faziam a economia mundial funcionar, sem oferecer qualquer alternativa; e consequentemente o colapso cada vez mais dramático do padrão de vida dos cidadãos”.

Com isso há um aprofundamento das divisões políticas internas na URSS, com a formação de duas correntes antagônicas:

• Ultra-reformistas: desejando acelerar o ritmo das mudanças propostas, consideram Gorbachov muito lento. Conta com a li-derança de Boris Yeltsin (presidente da República Russa, eleito pelo voto popular) e com o apoio da maioria da população e do Ocidente, uma vez que a proposta do grupo é a adoção de uma economia de mercado.

• Conservadores: desejando conter as mudanças propostas, fa-zendo retornar o Estado Socialista tradicional. As medidas libe-ralizantes são consideradas “perigosas” pelo risco de convulsão social, “ineficazes” diante do quadro de miséria e capazes de con-duzir à dependência para com o Ocidente. Mantém oposição à Gorbachov, idealizador de tais mudanças. Esta ala é composta por lideranças tradicionais do Partido Comunista, como militares e burocratas do velho Estado Soviético.

Para conter o avanço da onda ultra-reformista de Ieltsin e apro-veitando-se do desprestígio de Gorbachov, os conservadores ten-tam um golpe de estado em agosto de 1991.

Ieltsin se torna o grande vitorioso (com apoio interno e externo) ao propor o programa separatista da Rússia e o fim dos símbolos socialistas (bandeiras, estátuas, monumentos, etc.), sendo acom-panhado por todas as demais Repúblicas.

Desta forma, vai crescendo a busca pela liberdade e as Re-públicas Bálticas (Letônia, Estônia e Lituânia) são as primeiras repúblicas socialistas a terem a sua independência reconhecida externa e internamente.

Diante destes fatos, a própria URSS não resiste e em 21 de dezembro de 1991 desintegra-se, com a independência de suas Repúblicas, transformadas em Comunidade dos Estados Indepen-dentes (CEI), sem um governo central.

Em 25 de dezembro do mesmo ano, Gorbachov renuncia ao cargo de presidente de uma nação não existe mais, e Boris Yeltsin, governante da Rússia, passa a deter o controle sobre o arsenal nuclear existente em sua República.

Ao assumir o governo russo, Yeltsin adota um plano de cres-cente abertura à economia de mercado, não conseguindo, porém, solucionar os problemas internos, como a miséria, a inflação e o desemprego.

Surge uma nova era para estas nações que estão (re) surgindo, onde o unipartidarismo cede lugar ao pluripartidarismo com elei-ções livres e ocorre a transição para a economia de mercado.

Ao longo dos anos 90 a Rússia passa por crescente crise só-cio-econômica, recebendo grande ajuda financeira internacional e sem conseguir melhorias para a população em geral, vítima de graves problemas sociais.

Seguindo o modelo soviético, vão surgimento questionamentos em todo o bloco socialista sobre a manutenção ou não do modelo vigente. Há por parte das populações, uma grande insatisfação quanto à política tirânica e corrupta, como se observa em alguns casos particulares, citados como exemplos, a seguir:

A RomêniaO fim do regime socialista se deu a partir da deposição do gover-

no de Nicolae Ceausescu. Esta transição para um governo demo-crático foi feita de forma sangrenta, com a atuação da Securitate (polícia política que manteve o presidente como ditador) que matou milhares de pessoas uma semana antes da queda do regime.

O governante, responsabilizado pelo massacre e pela corrupção, foi deposto, preso e fuzilado, em dezembro de 1989, juntamente com sua mulher. Com a queda do governo comunista, um clima de distúrbios é instalado no país, com uma grave crise social, po-lítica e econômica.

O novo governo, formado pelo Conselho da Frente de Salva-ção Nacional (FSN), iniciou um processo de mudanças políticas e econômicas: convocação de eleições livres para o ano de 1990 e abertura econômica.

Em 1993, a Romênia ingressa na União Européia (UE), o que não a livrou de grandes dificuldades econômicas. É o primei-ro país do leste a ingressar na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Nas eleições presidenciais de 1996, vence a oposição democrática, com Emil Constantinescu sendo eleito presidente e Victor Ciorbea no cargo de primeiro-ministro.

A HungriaEm 1989, abre suas fronteiras com a Áustria ao romper as cer-

cas eletrificadas, permitindo a fuga de milhares de alemães orien-tais para o lado capitalista (Alemanha Ocidental), pois o trânsito de pessoas era livre dentro dos países do leste europeu.

É também a primeira nação a adotar eleições livres e pluriparti-darismo, ainda no ano de 1990, sendo posteriormente seguida por outras nações do leste europeu.

PolôniaSeu governo comunista, no poder por mais de quatro décadas,

estava sendo questionado por uma forte oposição, representada pelo Solidariedade, central sindical recém saída da clandestinida-de. Após acordos que levariam a termos várias greves no ano de 1988, o país não mais seria o mesmo.

Eleições parlamentares parcialmente livres mostrariam esta nova face a um mundo que ainda se achava dividido em dois blo-cos.

Em 1991, Lech Walessa (líder do Solidariedade) é eleito presi-dente da Polônia e inicia a passagem do país para uma economia de mercado, aproximando-se dos EUA. Em 1995, a derrota de

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Lech Walessa à reeleição à presidência da Polônia daria um novo perfil ao país, que seria governado por Aleksander Kwasniewski, então líder da Aliança Democrática da Esquerda (ADE).

China.Desde a implantação do socialismo, vivendo sob governos tirâ-

nicos e centralizadores que promoviam uma forte censura e onde os opositores era perseguidos, a China se viu, durante os anos 80 e 90 diante de perspectivas de mudanças.

Quando Deng Xiaoping assume o governo, começa a haver uma abertura a investimentos externos, acompanhados de uma busca por maiores liberdades internas, com questionamentos e revoltas diante de uma situação política e econômica que se tornou insus-tentável para a maioria de seus habitantes.

Na metade da década de 1980, quando estudantes que mani-festavam contra o governo de Deng Xiaoping foram duramente reprimidos, teve-se o perfil de seu governo: opressão total a todo e qualquer tipo de revoltas ou questionamentos.

O mesmo se repetiu na primavera do ano de 1989, quando os estudantes se reuniram na Praça da Paz Celestial para tentar pro-mover uma mudança no regime de governo de forma mais demo-crática e pacífica e foram também reprimidos com violência.

O episódio conhecido como o Massacre da Praça Celestial ou Primavera de Pequim, mostrou ao mundo a opressão do governo comunista chinês à base de tropas e blindados. E qual o crime cometido por estes manifestantes? Pedir por reformas políticas e econômicas e pelo fim da corrupção do país. E que “castigo” receberam? O fim de suas vidas, de seus amigos e familiares, num número que ainda hoje não se tem com exatidão, podendo ter che-gado aos milhares. Ou seja, mesmo diante das insatisfações popu-lares, o governo se faz presente deixando à mostra a primazia do Partido Comunista Chinês.

Em 1989, Deng, talvez justificando a sua atitude, em conversa com um jornalista assim se pronunciou:

“Se desejarmos uma democracia que não corresponde ao grau de desenvolvimento do país não teremos nem desenvolvimento, nem democracia. E em nosso país reinarão as desordens. Estou convencido disso: já fizemos a experiência da Revolução Cultural e vimos suas conseqüências [...]. Nossa população é grande e cada um tem seu ponto de vista. Se permitirmos que um se manifeste hoje, e amanhã outro, a cada dia teremos mais gente nas ruas. E a economia? [...] Se cada um dos jovens insistir em seu ponto de vista, chegaremos a uma guerra civil [...]. Não precisaremos necessariamente de espingardas e canhões. Bastarão punhos e bastões de madeira”

Eram os ventos de uma economia de mercado que estavam sen-do soprados nos países do leste europeu e que não agradavam aos governantes chineses. Os conservadores queriam manter os líde-res do movimento democrático à distância e acabar com qualquer forma de alimento para a propaganda.

Com isso, a iniciativa privada se viu atacada, visto ser foco de proliferação desta ideologia, onde seus trabalhadores adquiriram autonomia e o governo perdia o controle sobre eles. Também as instituições de ensino tiveram sobre si uma atenção especial, por motivos óbvios.

Dentre as atitudes para dinamizar a economia chinesa, Deng manteve contatos com o mundo capitalista, além de negociações com a ex-primeira-ministra inglesa Margareth Tatcher. Como resultado destes encontros ficou acertada a devolução de Hong Kong à China, em 01 de julho de 1997. Hong Kong encontrava-se sob domínio inglês desde 1842 (Guerra do Ópio). São feitas, ain-da, negociações com o governo português, prevendo a devolução de Macau, no ano de 1999.

Com a morte de Deng, em fevereiro de 1997, seu sucessor Jiang Zemim, anuncia manter as propostas de mudanças iniciadas pelo seu antecessor. Com isso a China, diante de um quadro popula-cional de mais de um bilhão e duzentos milhões de habitantes, poderá despontar como uma grande potência, assim, como tam-bém poderá sofrer as conseqüências advindas de uma economia de mercado.

E, com a devolução de Hong Kong, será testada a convivência de dois sistemas econômicos – um capitalista (Hong Kong) e so-cialista (restante da China) – em um mesmo país. É o início da abertura econômica, mas ainda sob o autoritarismo político.