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Entenda como funcionam as agências e operadoras de turismo em nosso imenso Brasil. O turismo é muito importante para o desenvolvimento econômico do país.
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ESTUDOS DA COMPETITIVIDADE DO TURISMO BRASILEIRO
O SEGMENTO DE AGNCIAS E OPERADORAS DE VIAGENS E TURISMO
PRESIDENTE DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASILLuiz Incio Lula da Silva
MINISTRO DO TURISMOWalfrido dos Mares Guia
SECRETRIO EXECUTIVOMrcio Favilla Lucca de Paula
SECRETRIA NACIONAL DE PROGRAMAS DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMOMaria Luisa Campos Machado Leal
SECRETRIO NACIONAL DE POLTICAS DE TURISMOAirton Nogueira Pereira Junior
DEPARTAMENTO DE RELAES INTERNACIONAISPedro Gabriel Wendler
COORDENAO-GERAL DE RELAES MULTILATERAISFernanda Maciel Mamar Arago Carneiro
COORDENAO-GERAL DE RELAES SUL-AMERICANASPatric Krahl
GESTO TCNICAAdriane Correia de SouzaCamila de Moraes TiussuClarice Mosele
CENTRO DE GESTO E ESTUDOS ESTRATGICOSLucia Carvalho Pinto de MeloPresidentaLlio Fellows FilhoChefe da Assessoria Tcnica
COORDENADORES RESPONSVEISLuciano CoutinhoFernando SartiUniversidade de Campinas - NEIT/UNICAMP
APRESENTAO Nos ltimos quatro anos, o turismo brasileiro vem respondendo aos desafios representados pelas metas do Plano Nacional do Turismo. Governo Federal, empresrios, terceiro setor, estados e municpios trabalharam juntos para colocar em prtica uma nova poltica para o turismo. Pela primeira vez na histria, o turismo tornou-se prioridade de Governo, com resultados positivos para a economia e o desenvolvimento social do Pas. O Ministrio do Turismo contabiliza muitas vitrias conquistadas: a ampliao da oferta de roteiros tursticos de qualidade; aumento dos desembarques nacionais; incremento no nmero de estrangeiros visitando o Pas; aumento dos investimentos diretos; elevao na entrada de divisas e gerao de renda e empregos para os brasileiros. No entanto, algumas reflexes se impem sobre o futuro do turismo brasileiro. Um mundo cada vez mais dinmico e competitivo e as transformaes da economia mundial trazem novas e desafiadoras exigncias para todos, sem exceo. Dentre elas, a de que necessrio assegurar os interesses nacionais e um desenvolvimento sustentado e sustentvel. Como fazer isso em longo prazo? E mais: qual o padro de concorrncia vigente no mercado internacional; qual estratgia o turismo brasileiro deve assumir para competir; qual o melhor modelo de desenvolvimento para o turismo no Pas; quais as oportunidades esto colocadas para as empresas brasileiras e, ao mesmo tempo, que ameaas existem para elas nesse mercado? Finalmente, o desafio maior: como promover uma insero ativa e competitiva do turismo brasileiro na economia mundial? Buscando analisar esse cenrio e encontrar respostas aos desafios que ele coloca, o Ministrio do Turismo realizou um trabalho junto com o Centro de Gesto e Estudos Estratgicos (CGEE), que resultou neste rico material. Os Estudos de Competitividade e Estratgia Comercial renem o trabalho de grandes especialistas de vrios centros de pesquisa do Brasil. Os Estudos foram idealizados com o objetivo de incentivar o debate sobre os rumos do turismo brasileiro, considerando seus principais aspectos e segmentos. O Brasil aqui comparado com casos internacionais de sucesso para fazer face aos desafios que se pem: as novas tecnologias, as alianas estratgicas, fuses, aquisies e o processo de concentrao, o fortalecimento e a internacionalizao de nossas empresas, a sustentabilidade ambiental e a preservao das culturas locais. O Ministrio do Turismo convida todos os agentes do setor a uma ampla discusso para a construo coletiva e democrtica de um futuro Programa de Competitividade Para o Turismo Brasileiro. As bases para este futuro sustentado esto aqui, nestes Estudos de Competitividade e Estratgia Comercial para o Turismo.
Walfrido dos Mares Guia
Ministro do Turismo
NOTA: O presente documento propriedade do Governo Federal e disponibilizado gratuitamente para avaliao dos profissionais do turismo brasileiro. Seu objetivo ampliar o debate nacional sobre o futuro do setor, assim como de fomentar a pesquisa nesse campo do conhecimento, consistindo numa verso preliminar, que dever sofrer alteraes ao longo do primeiro semestre de 2007, incorporando sugestes e crticas a partir de debates com agentes selecionados do turismo brasileiro. Seu contedo no representa a posio oficial do Ministrio do Turismo, sendo de inteira responsabilidade de seus autores.
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
Resumo Executivo
O segmento das agncias e operadoras de viagens e turismo exerce um
papel fundamental de intermediao de servios tursticos, constituindo um
dos principais elos da cadeia do turismo, entre os provedores de servios e
consumidores finais (turistas).
As principais transformaes no setor de turismo internacional tm sido
a integrao (horizontal e vertical) e a formao de alianas estratgicas entre
empresas/grupos tursticos (ambas intra e inter-pases), bem como sua
crescente internacionalizao. O principal efeito dessas transformaes tem sido
a intensificao da concentrao no setor de turismo e, especificamente, no
segmento de agncias nas mos de grandes grupos tursticos integrados e
internacionalizados.
Outra transformao relevante tem sido a difuso da tecnologia da
informao (TI) na cadeia do turismo, com importante contribuio para os
processos de desintermediao (conexo direta entre provedores ou operadoras
e consumidores) e de reintermediao (desenvolvimento de funes de
consultoria ou da especializao da atividade de agenciamento para atender a
um determinado perfil de consumidor).
As mudanas recentes no segmento de transporte areo tm contribudo
para o enfraquecimento do papel de intermediao tradicional das agncias,
devido comercializao direta de passagens areas no mercado consumidor
com o auxlio da tecnologia da informao, e para a reduo de sua principal
fonte de receita: o comissionamento das empresas areas. Elas podem afetar a
estrutura do segmento de agncias, levando reduo do nmero de
integrantes e elevao de seu grau de concentrao, bem como suas
estratgias, estimulando o processo de reintermediao. Isto tende a compensar
o enfraquecimento do papel de intermediao tradicional das agncias e a
reduo do comissionamento recebido. Contudo, a reintermediao deve ser
tratada com cautela, considerando que no apresenta escala para a atividade de
agenciamento.
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
As agncias ainda desempenham um importante papel de intermediao
tradicional, especialmente nas vendas de passagens areas (mostrando o carter
limitado da desintermediao), e ainda dependem primordialmente da
negociao de servios tursticos em mercados mais amplos, mantendo como
sua principal fonte de receita o comissionamento recebido de provedores e de
operadoras (mostrando o carter limitado da reintermediao). Portanto, os
processos de desintermediao e reintermediao se encontram em estgio
inicial. Entretanto, podem se desenvolver em futuro prximo com a importante
contribuio da maior difuso da tecnologia da informao no segmento.
O segmento de agncias e de operadoras tem um pequeno peso relativo
no setor de turismo brasileiro (considerando o nmero de empresas, pessoal
ocupado, receita e valor adicionado). Todavia, em termos absolutos, agrega um
elevado nmero de empresas, emprega grande quantidade de trabalhadores e
exerce uma importante funo de intermediao tradicional de servios
tursticos, sendo ainda o principal responsvel pela comercializao de pacotes
tursticos e de passagens areas. Como a principal fonte de receita das agncias
brasileiras ainda o comissionamento recebido de provedores e operadoras,
elas so especialmente vulnerveis aos processos de desintermediao e de
reduo de comissionamento pagos pelas empresas areas.
O futuro das agncias brasileiras depende no somente da evoluo do
comissionamento recebido, mas tambm de sua capacidade de agregar
gradativamente valor s suas atividades (por exemplo, com o desenvolvimento
de funes de consultoria e do agenciamento especializado), utilizando
inclusive os avanos tecnolgicos atualmente disponveis, para gerar novas
fontes de receita.
O segmento encontra-se dividido entre uma grande quantidade de micro
e pequenas empresas (em geral, agncias varejistas e receptivas) e uma pequena
quantidade de grandes empresas (operadoras). As operadoras exercem um
relevante papel de articulao de um conjunto heterogneo de empresas em
torno de um produto turstico.
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
H uma forte concentrao no segmento brasileiro de agncias de
turismo, especialmente nas mos da principal operadora de turismo do pas
(CVC). Esta operadora mantm um posicionamento privilegiado dentro da
cadeia analisada devido a seu superior poder de negociao perante os demais
integrantes. Ocupa, portanto, uma posio fundamental de controle sobre a
cadeia de turismo brasileira.
A CVC tem adotado basicamente estratgias competitivas semelhantes s
das grandes operadoras que atuam no mercado mundial, diferenciando-se
quanto intensidade das estratgias praticadas. Ela privilegia a reduo de
custos e dos preos dos produtos como seu principal elemento competitivo,
para a qual contribui a formao de uma extensa rede de parcerias e alianas
que mantm com seus fornecedores. Como seu foco o mercado interno, a
empresa busca ganhos de escala, concentrando esforos para ampliar o
mercado, expandindo sua capacidade de venda, elevando o nmero de
agncias credenciadas e novos pontos de venda dos seus pacotes. A empresa
pouco integrada verticalmente e pouco internacionalizada e ainda no possui o
porte dos grandes grupos tursticos internacionais.
O segmento de agncias brasileiro tem apresentado um bom
desempenho nos ltimos anos, com crescimento significativo do nmero de
empresas, do pessoal ocupado e do faturamento. Nele predomina a
formalizao do emprego e uma remunerao mdia mais elevada, associada a
um maior grau de escolaridade de seus empregados (sinais de melhores
condies de trabalho e de um nvel razovel de capacitao de seus recursos
humanos). Todavia, a difuso da tecnologia da informao recente e ainda
limitada nas agncias e operadoras. Existe, portanto, um espao para o
desenvolvimento da capacitao dos recursos humanos, assim como para a
difuso tecnolgica no segmento analisado. O aumento dos investimentos
possui um papel primordial para a evoluo da capacidade competitiva das
agncias brasileiras.
ndice
1) Introduo e objetivos .................................................................... 2
2) Caracterizao geral ........................................................................ 3
2.1) Funes e tipologia das agncias de turismo ........................... 3
2.2) Posicionamento e papel das agncias na cadeia de turismo .. 5
3) Transformaes recentes no setor de turismo internacional: impactos sobre o segmento de agncias e operadoras ...................
10
3.1) Integrao e internacionalizao ................................................ 10
3.2) Difuso da Tecnologia da Informao (TI) ............................... 21
3.3) Transformaes no segmento de transporte areo ................. 27
4) Importncia e grau de concentrao do segmento brasileiro de agncias de turismo .......................................................................
31
4.1) Participao e importncia para o setor de turismo brasileiro ..............................................................................................
31
4.2) Anlise do grau de concentrao ............................................... 39
4.3) Estudo de caso da CVC ............................................................... 41
5) Capacidade competitiva das agncias de turismo brasileiras .. 53
5.1) Indicadores de desempenho ....................................................... 53
5.2) Indicadores de capacitao ......................................................... 55
6) Concluso ........................................................................................ 59
Referncias bibliogrficas ................................................................... 65
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
1) Introduo e objetivos
O setor de turismo brasileiro tem elevado potencial de gerao de
emprego e renda e de atrao de investimentos, sendo um fundamental
estmulo ao desenvolvimento das regies mais atrasadas e menos beneficiadas
pelo crescimento econmico. O segmento das agncias e operadoras de viagens
e turismo possui um papel fundamental na organizao, na intermediao e na
promoo de servios tursticos brasileiros, formando um dos elos mais
importantes da cadeia do setor.
O objetivo geral desta nota tcnica contribuir para a caracterizao do
segmento brasileiro de agncias e de operadoras e para a anlise de sua
capacidade competitiva, procurando perceber suas principais dificuldades e
oportunidades no sentido de subsidiar a proposio de uma agenda de polticas
pblicas voltadas ao desenvolvimento das capacidades competitivas gerais do
setor de turismo brasileiro e especficas do segmento de agncias e de
operadoras do pas.
Esta nota tcnica do segmento de agncias se encontra dividida em 6
sees, alm desta introduo (seo 1), que tratam, respectivamente, da
caracterizao geral do segmento (seo 2, que inclui o posicionamento das
agncias na cadeia de turismo); das transformaes recentes no setor de turismo
internacional (seo 3); do grau de concentrao do segmento brasileiro de
agncias e do estudo de caso da CVC (seo 4); da evoluo recente da
capacidade competitiva (seo 5, que inclui a anlise dos indicadores de
desempenho e de capacitao); e, por fim, da concluso do trabalho (seo 6).
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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2) Caracterizao geral
Esta seo apresenta, em primeiro lugar, uma tipologia de agncias,
desenvolvida e utilizada no meio acadmico e profissional (item 2.1). Em
segundo lugar, esclarece o posicionamento e o papel do segmento de agncias
de turismo na cadeia do setor de turismo (item 2.2).
2.1) Funes e tipologia das agncias de turismo
Com base nas definies adotadas por alguns dos estudos existentes
sobre agncias1, pode-se afirmar que uma agncia de turismo responsvel
pela promoo dos destinos e servios tursticos e/ou assessoria, concepo,
organizao e/ou operao de programas de viagens e/ou realizao de
reservas e vendas dos servios, organizados ou no em pacotes, atuando como
intermediria entre as prestadoras dos servios e o usurio final, para atingir
objetivos tursticos, comerciais ou de outra natureza. Em outras palavras, as
agncias de turismo podem exercer as seguintes funes bsicas: promoo
(divulgao), assessoria (consultoria), concepo, organizao, comercializao
e operao (implementao).
Diversos estudiosos do tema desenvolveram diferentes tipologias para
captar as diversas nuances da atividade de agenciamento, utilizando uma
terminologia atual e prxima da realidade acadmica, profissional e do
mercado mundial e brasileiro.
Segundo Tomelin (2001: 24-26), baseado em diferentes estudos, as
agncias de turismo podem ser classificadas em:
Agncias de viagens detalhistas (conhecidas no mercado nacional como agncias de viagens ou agncias varejistas) geralmente
no elaboram seus prprios produtos, mas principalmente
comercializam viagens com roteiros preestabelecidos (pacotes),
organizados por agncias maioristas ou operadoras de turismo, e
1 Por exemplo, Acerenza (1990); Tomelin (2001); Ministerio da Ciencia y Tecnologa y Fundacin IBIT (2001); Tomelin e Teixeira (2005).
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
podem ou no oferecer servios de receptivo. Mas agncias
detalhistas podem montar pacotes customizados para clientes
especficos, incluindo todos os tipos de servios tursticos.
Algumas optam por trabalhar com segmentos de mercado
especficos (ex: agncias de intercmbio), alm de atender o
pblico em geral.
Agncias de viagens maioristas (conhecidas no mercado nacional como agncias atacadistas) elaboram programas de viagens
(pacotes), que so repassados s agncias detalhistas para a
venda ao consumidor final; no operam seus prprios programas
e geralmente no vendem diretamente ao pblico.
Agncias operadoras (conhecidas no mercado nacional como operadoras) - elaboram e operam seus prprios programas de
viagens (pacotes) com seus prprios equipamentos ou
subcontratao de operadores terrestres locais, e podem vender
seus produtos s agncias detalhistas e ao pblico em geral
atravs de seus escritrios locais. No Brasil, as maioristas e as
operadoras de turismo geralmente se confundem.
Agncias de viagens receptivas (conhecidas no mercado nacional como receptivas) prestam servios para as operadoras de
turismo e as demais agncias de viagens por meio do
oferecimento ao turista de uma gama variada de servios, como
translados (transfers) entre aeroporto e hotel (e vice-versa) e
passeios pela cidade (city tours e sightseeing); assessoram o turista
enquanto estiver no destino da viagem; e elaboram e vendem ao
turista passeios e programas locais, cobrados parte do pacote
turstico.
Agncias de viagens consolidadoras (denominao comum no mercado informal) consolidam servios junto s transportadoras
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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areas repassando bilhetes s agncias que no possuem
credenciais para este fim.
Agncias de viagens e turismo escola empresas-laboratrio de instituies educacionais de cursos superiores de Turismo,
legalmente constitudas, que desenvolvem aes didtico-
pedaggicas e operacionais a fim de atender s necessidades de
ensino-aprendizagem para o desenvolvimento de habilidades e
competncias profissionais do egresso como agente de viagens.
No que se refere tipologia apresentada, vale ressaltar alguns aspectos
importantes. Em primeiro lugar, deve-se lembrar que tipologias so
classificaes disponveis na literatura, que devem servir somente como
referncias para a compreenso do mundo real, considerando que alguns casos
especficos podem no corresponder perfeitamente s categorias previamente
definidas ou significar uma combinao de categorias das tipologias. Em
segundo lugar, esta tipologia pode e ser utilizada para ampliar a compreenso
do posicionamento e das funes exercidas pelas diferentes agncias na cadeia
do setor de turismo, analisada no prximo item deste trabalho.
2.2) Posicionamento e papel das agncias na cadeia de turismo
Para uma anlise do posicionamento e do papel exercido pelas agncias e
operadoras na cadeia do setor de turismo, faz-se necessrio observar
inicialmente sua estrutura.
A cadeia do setor de turismo constituda basicamente por (Figura 1):
Fornecedores formam o nvel bsico da cadeia, pois so responsveis pelo fornecimento (proviso) dos servios tursticos.
Agncias de turismo formam o nvel intermedirio da cadeia, entre os fornecedores (provedores) e os consumidores finais dos
servios tursticos, pois so responsveis basicamente pela
organizao e comercializao dos servios prestados pelos
fornecedores.
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
O nvel intermedirio inclui:
Agncias detalhistas (agncias de viagens)
Agncias operadoras (operadoras)
Agncias receptivas (receptivas)
Internet integrante do nvel intermedirio da cadeia, principalmente por sua importncia crescente para a organizao
e a comercializao dos servios tursticos.
Consumidores formam o nvel final da cadeia, pois so os consumidores finais, individuais ou coletivos, dos servios
tursticos prestados pelos fornecedores.
Figura 1 Cadeia do setor de turismo
Fonte: Elaborao prpria a partir de dados de vrios estudos (European Comission (EC), 2003; Ministrio de Ciencia y Tecnologa y Fundacin IBIT (Espaa), 2001; Tomelin e Teixeira, 2005).
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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A figura 1 mostra claramente que os fornecedores formam o nvel bsico
da cadeia, considerando sua importncia na prestao dos servios tursticos,
que incluem servios de transporte (areo, martimo e terrestre); servios de
hospedagem (redes hoteleiras, pousadas, campings); servios de alimentao
(restaurantes, bares, cafs); e servios complementares (locao de veculos,
parques temticos, cassinos, boates, shows, e atraes tursticas em geral).
O segmento de agncias e operadoras de viagens e turismo integra a
cadeia no nvel intermedirio, entre os fornecedores (provedores) e os
consumidores (clientes) finais dos servios tursticos. Utilizando a tipologia de
agncias anteriormente mencionada (item 2.1), deve-se destacar a posio e o
papel relativo das agncias de viagens (detalhistas), das operadoras e das
receptivas, dentro da cadeia analisada.
As agncias de viagens (detalhistas) geralmente no elaboram seus
prprios produtos (ou seja, no costumam montar pacotes tursticos como as
operadoras) e comercializam os roteiros previamente elaborados por agncias
maioristas ou por operadoras, enquanto as ltimas servem como intermedirias
entre os fornecedores de servios tursticos e as prprias agncias. No entanto,
as agncias podem organizar programas de viagem de forma customizada para
atender s necessidades especficas de determinado cliente ou grupo de turistas,
servindo de intermedirias entre os fornecedores e os clientes finais (sem a
utilizao da operadora), podendo ou no contratar os servios de receptivo
diretamente. Esta funo de intermediao, exercida pelas agncias detalhistas,
se concretiza no processo comercial entre a agncia e o consumidor. Este o
processo que relaciona o fornecedor (provedor ou prestador de servios) ao
consumidor (cliente ou turista). Nessa relao, deve-se lembrar que as agncias
de viagem recebem comisso (ou porcentagem do preo de venda) tanto dos
fornecedores quanto das operadoras pelos produtos comercializados. Isto
constitui sua principal fonte de renda.
As operadoras, que elaboram e operam seus prprios programas de
viagens (pacotes), podem vend-los diretamente ao consumidor final, atravs
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
de seus escritrios locais, ou indiretamente, atravs das agncias de viagens.
Mas sempre mantendo seu papel de intermediao entre os fornecedores e os
consumidores finais. Alm disso, podem operar com seus prprios
equipamentos e pessoal e/ou podem subcontratar agncias receptivas locais.
No caso de comercializao atravs das agncias (detalhistas) e de
subcontratao das receptivas, pagam comisso sobre o produto/servio
comercializado/prestado.
Por sua vez, as agncias receptivas podem ser subcontratadas pelas
operadoras ou pelas prprias agncias de viagens ou mesmo diretamente pelo
turista para servios, principalmente, de transporte e de organizao de
passeios e visitas a atraes locais, funcionando como um elo intermedirio
entre os servios e/ou atraes fornecidas e os turistas.
Vale lembrar que a internet tem sido recentemente considerada como a
mais nova integrante do nvel intermedirio da cadeia. Pode ser utilizada
diretamente pelos consumidores finais para levantamento de informaes,
planejamento e organizao de programas de viagem e reserva e compra de
servios tursticos, mas que tambm pode e deve ser crescentemente utilizada
pelos demais elos intermedirios (como agncias e operadoras), como uma
ferramenta fundamental para o exerccio de todas as suas funes (promoo,
assessoria, concepo, organizao, comercializao e operao). As agncias
podem acessar atualmente sistemas de reserva no ambiente internet (como os
sistemas de distribuio globais GDS)2, tornando a atividade de agenciamento
muito mais eficiente. O desenvolvimento da internet permitiu inclusive o
surgimento de agncias exclusivamente eletrnicas (agncias virtuais), que
operam em tempo real no ambiente internet, freqentemente em parceria com
2 Os GDS incluem, em sua base de dados, informaes sobre passagens areas e outros servios tursticos, tais como acomodaes em hotis, aluguel de carros, emisso de bilhetes de nibus e trens, informaes sobre programas de entretenimento, emisso de entradas para shows, etc (nota temtica: Tecnologia da Informao, 2006). Atualmente, os mais importantes GDS so: Amadeus, Galileo, Sabre e Worldspan.
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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distintos sistemas de reserva (GDS). Neste caso, as agncias virtuais estariam se
juntando s agncias tradicionais no nvel intermedirio da cadeia de turismo.
Por fim, a internet e os GDS podem ser tambm utilizados pelo nvel bsico da
cadeia (provedores) que desejam divulgar e comercializar seus servios
tursticos sem intermediao e, conseqentemente, sem o pagamento de
comisso s agncias.
Os consumidores, que formam o nvel final da cadeia, podem procurar
diretamente os fornecedores de servios tursticos, principalmente aqueles que
viajam de forma independente (fora de grupos): fazendo reservas e compras de
passagens (areas, rodovirias ou martimas) diretamente nas empresas
transportadoras; fazendo reservas e realizando pagamentos de hospedagem,
diretamente nas redes hoteleiras ou pousadas; e freqentando (fora de pacotes)
restaurantes e atraes tursticas. Eles tambm podem utilizar o acesso
internet (inclusive agncias virtuais) para fazer consultas, reservas e compras
dos mais diversos servios tursticos, utilizando este importante canal de
divulgao e comercializao. Neste caso, estariam utilizando a internet como
intermediria nas transaes com os provedores dos servios tursticos.
Ademais, os clientes finais podem tambm procurar a assessoria e a
organizao de sua viagem atravs de uma agncia, comprando ou no pacotes
tursticos (elaborados e executados por operadoras de turismo), com a
participao ou no de agncias receptivas. Desta forma, os consumidores
estariam utilizando o nvel intermedirio da cadeia formado pelas agncias
tradicionais, o que certamente mais comum no caso de consumidores
coletivos (grupos de turistas).
Portanto, considerando as funes e a tipologia das agncias de turismo,
bem como o posicionamento do segmento de agncias e operadoras de viagens
na cadeia do setor de turismo, podemos destacar seu papel de intermediao,
constituindo-se em elo fundamental entre os fornecedores e os consumidores
finais dos servios tursticos.
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3) Transformaes recentes no setor de turismo internacional:
impactos sobre o segmento de agncias e operadoras
Esta seo trata principalmente das transformaes recentes observadas
no setor de turismo internacional que tenham afetado ou possam vir a
modificar a estrutura do segmento e as estratgias das agncias e operadoras.
Em primeiro lugar, ressalta o movimento de integrao horizontal e vertical, a
formao de alianas estratgicas e a internacionalizao dos principais grupos
tursticos mundiais (item 3.1). Em segundo lugar, destaca a difuso da
Tecnologia da Informao (TI) em todos os nveis da cadeia do turismo (item
3.2) e, por fim, aborda as mudanas no segmento de transporte areo mundial
(item 3.3).
3.1) Integrao e internacionalizao
Uma das transformaes recentes no setor de turismo internacional, que
tem principalmente afetado a estrutura do segmento de agncias no plano
nacional e mundial, a integrao de empresas tursticas decorrente de
movimentos de fuso e aquisio (quadro 1).
A integrao inclui movimentos horizontais, que envolvem empresas de
um mesmo nvel da cadeia de turismo (por exemplo, integrao entre agncias
e operadoras, no nvel intermedirio, ou entre redes hoteleiras, no nvel dos
fornecedores de servios tursticos), e movimentos verticais, que envolvem
empresas de distintos nveis da cadeia analisada (por exemplo, agncias e
operadoras, empresas areas e redes hoteleiras). A integrao vertical pode
ocorrer no sentido da base da cadeia, geralmente quando uma empresa do nvel
intermedirio (agncia ou operadora) adquire ou cria empresas provedoras de
servios tursticos, como hospedagem e/ou transporte. Esta integrao pode
ocorrer tambm no sentido da ponta da cadeia, geralmente quando os
fornecedores (empresas areas ou redes hoteleiras) adquirem ou criam agncias
ou operadoras, ou mesmo quando as ltimas entram no varejo do turismo,
comercializando diretamente seus prprios pacotes.
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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Quadro 1 Tendncias no setor de turismo internacional: impactos sobre o segmento de agncias e operadoras
Tendncias Significado Impactos sobre Agncias
Integrao (horizontal e vertical)
movimentos de fuso e aquisio entre empresas tursticas do mesmo
nvel ou de diferentes nveis da cadeia do turismo (plano nacional e
internacional) Alianas estratgicas realizao de acordos e parcerias ou
formao de joint-ventures entre grupos tursticos
(plano nacional e internacional) Internacionalizao - instalao de subsidirias prprias
em outros pases
- integrao horizontal ou vertical de grupos tursticos no plano
internacional
- realizao de alianas estratgicas internacionais
- mudanas na estrutura
do segmento de agncias de turismo:
predomnio quantitativo de
pequenas e mdias empresas e aumento da concentrao nas mos
de grandes grupos integrados e
internacionalizados (plano nacional e
internacional)
- mudanas nas estratgicas das
agncias de turismo Difuso da tecnologia da informao (TI)
- crescente uso de sistemas de reserva computadorizados (CRS), de sistemas de distribuio global (GDS) e da internet por todos os
nveis da cadeia do turismo
- difuso do comrcio eletrnico (B2B e B2C)
mudanas no papel das agncias de turismo e
em suas estratgias (desintermediao e
reintermediao)
Desregulamentao do segmento de transporte areo e reestruturao interna das empresas areas
permisso de entrada de novas empresas areas e movimento de
reduo de custos
efeitos:
-aumento de alianas internacionais ou de fuses e aquisies entre
empresas areas
- aumento da concorrncia (entre alianas internacionais) e da
concentrao no segmento de transporte areo
- uso da tecnologia para venda direta de passagens ao consumidor
- guerra de tarifas
substituio das agncias na
intermediao (desintermediao) e
reduo de seu comissionamento na venda de passagens
areas
Fonte: Elaborao prpria.
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
Em ambos os casos integrao horizontal e vertical , os servios
tursticos, anteriormente sob a responsabilidade de vrias empresas, passam a
ser controlados diretamente por um nico grupo econmico. A motivao dos
movimentos de integrao tem sido basicamente a diversificao, a obteno de
economia de escala e a ampliao do controle sobre a cadeia do turismo num
contexto de acirrada competio. As operadoras tm desempenhado um papel
ativo, especialmente no movimento de integrao vertical (tanto no sentido da
base, ocupando o nvel de fornecimento dos servios de transporte e
hospedagem, quanto no sentido da ponta, assumindo a funo de
comercializao). O objetivo ganhar escala e aumentar seu controle sobre a
cadeia de turismo, reduzindo custos e preos dos servios prestados.
Esses movimentos de integrao tm se verificado no plano nacional,
principalmente dentro de pases europeus. Vale lembrar que existem poucas
empresas tursticas norte-americanas realmente integradas, com a exceo do
maior grupo turstico do pas: Carlson Companies. Por sua vez, os principais
grupos tursticos espanhis do incio da dcada atual, como Barcel, Sol Meli,
Iberostar, Express, Piero, Marsans e Globalia, estavam presentes em quase
todos os nveis da cadeia de turismo do pas (Ministerio de Ciencia y
Tecnologa y Fundacin IBIT, 2001: 15-16). Os grandes grupos alemes, como
Touristik Union International (TUI)-Preussag, Condor & Neckermann Touristik
(C&N) e Lufttransport (LTU), e os principais grupos de origem britnica
(alguns atualmente pertencentes a outros grupos europeus), como Thomson,
Airtours, First Choice e Thomas Cook (JMC), tambm passaram por processos
de integrao horizontal e vertical dentro dos prprios pases.
Exemplificando, no final dos anos 1990, o diversificado grupo alemo
Preussag entrou no setor de turismo atravs da aquisio da maior operadora
alem TUI. Na mesma poca, o grupo alemo C&N foi fundado a partir de uma
fuso entre uma operadora de um grande conglomerado varejista alemo e a
diviso de vos charter de uma empresa area alem (Lufthansa). Em 2000, o
grupo LTU (formado por empresa area e operadora de turismo) tambm foi
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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adquirido pelo diversificado conglomerado alemo Rewe Touristik
(WTO, 2002).
Por sua vez, ao longo dos anos, os grupos britnicos passaram a
controlar todos os diferentes nveis da cadeia de turismo do pas (as principais
operadoras britnicas controlavam empresas areas e/ou hotis e agncias de
viagem) (quadro 2). Isto levou a uma grande concentrao do mercado turstico
britnico (as 4 operadoras citadas no quadro controlavam 54% do nmero de
passageiros em 1999 Petrochi e Bona, 2003: 56-570). Esta concentrao pode
ser observada atualmente, considerando que alguns dos maiores grupos
britnicos foram recentemente adquiridos por grupos alemes.
Quadro 2 Operadoras britnicas: integrao vertical (2000) Integrao pela base Integrao pela ponta Companhias areas Operadoras Agncias de viagens
Britannia Airways Thomson Travel Lunn Poly Airtours Aviation Airtours Going Places e
Travel World Air 2000 First Choice Holidays Travel Choices,
Bakers Dolphin e Holiday Hypermarket
JMC Air JMC Holidays Thomas Cook Fonte: Petrochi e Bona, 2003: 57.
A integrao tambm atingiu o plano internacional (especialmente
regional), como dentro da Unio Europia. Em 2000, o maior grupo turstico
alemo (TUI-Preussag) adquiriu um dos maiores grupos britnicos (Thomson
Travel) e a principal operadora austraca (Gulet Touropa Touristik GTT),
assim como iniciou uma crescente participao acionria em um grupo francs
(Nouvelles Frontires). Em 2001, o grupo comprou parte (10%) da principal
operadora italiana (Alpitour). O segundo grupo turstico alemo (C&N)
tambm adquiriu a famosa operadora turstica britnica Thomas Cook (JMC) no
incio da dcada atual, passando a utilizar seu nome, internacionalmente
reconhecido, a partir de 2001. A operadora britnica Airtours tambm tem
expandido suas operaes geograficamente, realizando uma srie de aquisies
nos ltimos anos, como a compra de participao acionria no grupo espanhol
Hotetur e na operadora americana Travel Services International (TSI) no ano
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
2000, consolidando uma extensa rede de distribuio (800 agncias sob a marca
Going Places).
A realizao de alianas estratgicas com a participao de grandes
grupos tursticos de diversos pases, envolvendo desde acordos de cooperao
at a formao de joint-ventures, no plano nacional ou internacional, tambm
tem sido comum no setor de turismo, afetando igualmente a estrutura do
segmento de agncias (quadro 1). A motivao das alianas estratgicas tem
sido basicamente a troca e/ou o compartilhamento de recursos, riscos e
oportunidades com vistas expanso e ao fortalecimento da presena de
mercado dos grupos envolvidos, mas tambm freqentemente uma defesa
contra a ameaa de concorrentes, que possam oferecer custos e preos mais
atrativos.
Um exemplo a formao de uma joint-venture (Carlson Wagonlit Travel
- CWT), no ano 2000, entre o principal conglomerado do turismo norte-
americano e mundial (Carlson Companies) e um dos mais importantes grupos
franceses (Grupo Accor), para explorar o mercado de turismo corporativo, pois
a empresa tem como principal funo a gesto e a consultoria de viagens de
negcios em vrios pases. O conglomerado norte-americano acabou
comprando recentemente (2006) a participao do grupo francs no
empreendimento, mas manteve um acordo, que assegura a distribuio
preferencial dos hotis do grupo francs pela CWT, alm de sua designao
como agncia de viagem preferencial do Grupo Accor
(http://www.businesstravel.com.br acessado em 03/09/2006). Outro
exemplo a formao de uma rede global de negcios de turismo (chamada
TQ3 Travel Solutions) pelo grupo Preussag (atravs da TUI), pela Maritz Travel
(EUA), pela Internet Travel Group (Austrlia), pela Protravel (Frana) e pela
Britannic Travel (Reino Unido), tambm em 2001 (WTO, 2002). Pode-se citar
igualmente a formao de uma joint-venture, em 2002, entre a maior agncia de
turismo chinesa, China International Travel Service (CITS) e o grupo norte-
americano American Express (Amex) (WTO, 2003: 48).
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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Cabe tambm destacar, no que se refere s alianas, a cooperao
internacional entre instituies diversas (como rgos governamentais) de
alguns pases e empresas tursticas (como agncias) de outros (por exemplo, a
cooperao direta entre embaixadas de pases europeus e algumas agncias
chinesas previamente selecionadas, relativa aos procedimentos de pedido e de
expedio de vistos de turismo WTO, 2003).
Outra transformao recente do setor a internacionalizao de grandes
grupos tursticos, especialmente atravs dos movimentos de integrao
horizontal e vertical envolvendo empresas de diferentes pases
principalmente europeus, como foi anteriormente citado , mas tambm atravs
da realizao de alianas estratgicas no mbito internacional neste caso, com
participao americana ou mesmo atravs de instalao de subsidirias
prprias em outros pases (quadro 1).
Os movimentos de integrao (horizontal e vertical) e a realizao de
alianas entre grupos tursticos tm acarretado mudanas na estrutura do
segmento de agncias no plano nacional e internacional, acompanhadas pelo
aumento da participao de mercado de seus principais integrantes, assim
como pela elevao de seu controle sobre a cadeia do turismo. Isto demonstra
uma concentrao crescente do setor de turismo em geral e do segmento de
agncias em particular nas mos de grandes grupos tursticos integrados, e cada
vez mais internacionalizados, apesar do predomnio de pequenas e mdias
empresas em todos os nveis da cadeia de turismo (quadro 1).
Em primeiro lugar, vale destacar a existncia de um grande nmero de
agncias de turismo e sua concentrao geogrfica no mbito mundial. No final
da dcada de 1990, estavam especialmente concentradas nos EUA e na Europa
(grfico 1). Nos EUA se localizava quase metade das agncias existentes,
seguidos pelos pases europeus, especialmente Espanha, que detinha o maior
nmero de agncias dentre os pases da Unio Europia, alm da Alemanha e
do Reino Unido (Ministerio de Ciencia y Tecnologa y Fundacin IBIT, 2001:
38). Isto demonstra claramente uma concentrao geogrfica das agncias nos
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
pases que apresentam os maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) relativos ao
setor de turismo (em ordem decrescente: Estados Unidos, Japo, Frana, Reino
Unido, Alemanha, Itlia, Espanha e China) e Consumo Turstico (em ordem
decrescente: Estados Unidos, Japo, Alemanha, Reino Unido, Frana, Itlia,
China e Espanha)3. Estas caractersticas do segmento de agncias mundial
grande nmero de empresas e concentrao geogrfica no parecem ter se
alterado ao longo da dcada atual. Os dados mais recentes (2000) apontam para
a existncia de 26 mil agncias somente nos EUA (dados da American Society of
Travel Agents (ASTA), citados em WTO, 2002: 60).
Grfico 1 Distribuio mundial das agncias de turismo (1997)
48%
30%
9%
7%6%
EUA
Europa, Oriente Mdio efricaAmrica Latina
Regio sia-Pacfico
Canad
Fonte: WTO (1997).
3 Dados extrados da apresentao dos resultados parciais do projeto O Turismo no Brasil: panorama geral, avaliao da competitividade e propostas de polticas pblicas, realizada no Ministrio do Turismo pela coordenao do NEIT/IE/UNICAMP em junho de 2006 (fonte original: WTO).
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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Em segundo lugar, cabe mostrar a concentrao nas mos de grandes
grupos tursticos integrados e internacionalizados (tabela 1), considerando que
so principalmente originrios dos EUA e Europa, onde tambm se concentram
as agncias de turismo, como observado no grfico acima. O setor de turismo
representa grande parte das vendas totais dos principais grupos tursticos
mundiais, com exceo dos grupos alemes TUI-Preussag (48%) e Rewe
Touristik (10%). O conglomerado norte-americano Carlson Companies,
presente em todos os nveis da cadeia do turismo, incluindo hotis, empresas
martimas e agncias de turismo, lidera a lista dos principais grupos tursticos
mundiais, atendendo tanto ao turismo de negcios quanto ao turismo de lazer.
O segundo grupo mundial tambm de origem norte-americana (Amex), sendo
especialmente focado no turismo corporativo. Por sua vez, o Japan Travel
Bureau (JTB) concentra suas atividades na organizao de turismo de grupos,
planejando e organizando viagens para convenes e eventos internos, o que
gera grande parte de sua receita (WTO, 2002).
Tabela 1 Principais grupos tursticos mundiais (2000)
Grupos Pas de
origem
Vendas totais
(US$ bilhes)
Vendas turismo
(US$ bilhes)
Participao % de
vendas (turismo)
sobre total Carlson Companies(1) EUA 31,4 - - American Express EUA 22,1 17,4 79 Japan Travel Bureau Japo 14,0 14,0 100 TUI-Preussag Alemanha 19,2 9,3 48 Airtours Reino Unido 6,5 6,5 100 Accor Frana 6,6 6,2 94 C&N Touristik(2) Alemanha 4,2 4,2 100 LTU-Rewe Touristik Alemanha 35,5 3,7 10 First Choice Reino Unido 2,7 2,7 100 Kuoni Gruppe Sua 2,5 2,5 100 (1) Vendas de 1999. No foi possvel determinar a proporo das vendas relacionadas ao setor de turismo, mas certamente o maior grupo mundial. (2) Em 2001, a C&N adotou o nome Thomas Cook, do grupo britnico recentemente adquirido. Fonte: Tabela elaborada a partir de dados da WTO, 2002.
A concentrao tambm est presente no setor de turismo
norte-americano, com o predomnio das grandes empresas areas, que exercem
significativo controle sobre a cadeia de turismo domstica. Ademais,
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observa-se especificamente a concentrao no segmento de agncias norte-
americanas (tabela 2), com a ressalva de que suas empresas no so to
integradas verticalmente como as empresas europias. A exceo fica por conta
do grupo turstico Carlson Companies, que atua no segmento de agncias
atravs da Carlson Wagonlit Travel (CWT).
Tabela 2 Principais agncias norte-americanas (1999)
Posio (1999)
Agncias Vendas (US$ milhes)
Posio (1998)
1 American Express 13.700 1 2 Carlson Wagonlit Travel 11.000 2 3 WorldTravel 4.300 4 4 Rosenbluth International 4.200 3 5 Navigant International 3.300 6 6 Maritz Travel 1.740 5 7 Liberty Travel 1.390 7 8 Sato Travel 1.200 8 9 Travelocity 1.200 19 10 Expedia 832 25 Fonte: Tabela elaborada a partir de dados da WTO, 2002.
Recentemente, as agncias americanas tm iniciado um movimento de
integrao no plano interno e externo ou tm sido alvo de processos de
integrao de empresas europias, indicando uma mudana na situao
anterior. Por exemplo, a agncia norte-americana Navigant International
adquiriu a empresa canadense Global Travel Solutions (GTS) em 2000,
fortalecendo sua posio como distribuidora de passagens areas, atravs de
seus escritrios nos EUA, Canad, Reino Unido e Amrica do Sul. A CWT
recentemente (2006) adquiriu a Navigant, aumentando a concentrao do
segmento de agncias nos EUA e no exterior
(http://www.businesstravel.com.br acessado em 03/09/2006). Por sua vez, o
grupo britnico Airtours fortaleceu sua presena no mercado dos EUA com a
aquisio da norte-americana Travel Services International (TSI) em 2000,
desenvolvendo a reunio de seus negcios de transporte areo e martimo,
aluguel de carros, hospedagem e agenciamento no plano internacional
(WTO, 2002).
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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No entanto, o que merece ser destacado o desenvolvimento do
agenciamento eletrnico no mercado americano, mais do que em qualquer
outro, acarretando a entrada de agncias exclusivamente virtuais, como
Travelocity e Expedia, bem como sua crescente participao dentro do
segmento domstico. Por exemplo, a Expedia estava na 25 posio no
segmento de agncias americano em 1998, passando a ocupar a 10 posio no
ano seguinte, o que revela seu enorme crescimento em curto tempo. Cabe
ressaltar tambm a importncia de agncias especializadas em turismo
corporativo, como a American Express, a Carlson e a Rosenbluth, que dominam
o mercado norte-americano.
A concentrao est igualmente presente no setor de turismo europeu,
onde existe um grande nmero de pequenas e mdias empresas, mas a
concentrao em grupos tursticos diversificados e integrados, muitos deles
especialmente controlados por operadoras, o que certamente se diferencia do
caso americano (tabelas 3 e 4).
As tabelas de diferentes fontes contendo dados de grupos tursticos
europeus para o ano 2000 e 2003 mostram que os principais grupos alemes tm
claramente dominado a movimentao de capital e o faturamento relativo ao
turismo no mercado europeu, seguidos por grupos britnicos e franceses,
alguns deles recentemente adquiridos ou com forte presena acionria dos
grupos alemes, como foi esclarecido anteriormente. Em 2003, o grupo espanhol
Iberostar aparece na sexta posio dentro do mercado europeu, reafirmando a
fora do setor de turismo espanhol.
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
Tabela 3 Principais grupos tursticos europeus (2000)
Grupos Pases de origem Volume de capital movimentado ( bilhes)
1. TUI-Preussag Alemanha 40,5 2. C&N Touristic(1) Alemanha 19,0 3. Thomson(2) Reino Unido 18,0 4. LTU-Rewe Touristik Alemanha 14,9 5. First Choice Reino Unido 11,9 6. Kuoni Gruppe Sua 10,2 7. Club Meditrrane Frana 7,2 8. Nouvelles Frontires(3) Frana/Alemanha 4,9 9. Hotelplan Alemanha 4,1 (1) Em 2001, a C&N adotou o nome Thomas Cook, da recentemente adquirida empresa britnica. (2) Apesar do grupo britnico Thomson ter sido adquirido pelo grupo alemo TUI-Preussag, ainda foi listado separadamente pela publicao utilizada. (3) Com participao acionria do grupo TUI-Preussag. Fonte: Tabela elaborada a partir de dados da European Comission (EC), 2003.
Tabela 4 Principais grupos tursticos europeus (2003)
Grupos Pases de origem Faturamento ( bilhes) 1. TUI-Preussag Alemanha 12,7 2. Thomas Cook (C&N) Alemanha 7,2 3. Airtours Reino Unido 6,2 4. Rewe Touristik (LTU) Alemanha 4,1 5. First Choice Reino Unido 3,2 6. Iberostar Espanha 2,2 7. Kuoni Sua 2,1 Fonte: Tabela elaborada a partir de dados da Capgemini Consulting (maro, 2005).
Dentro da Alemanha, a participao de mercado dos cinco maiores
grupos tursticos chegou a aproximadamente 73% no incio da dcada atual,
enquanto os dois primeiros grupos (TUI e C&N) foram responsveis por quase
50% do mercado alemo (em termos de volume de negcios e de clientes)
(Ministerio de Ciencia y Tecnologa y Fundacin IBIT, 2001: 16). Os principais
grupos alemes no somente esto presentes em todos os nveis da cadeia
interna do turismo, controlando grande parte do segmento intermedirio (90%
das agncias e operadoras alems pertencem a grupos tursticos diversificados e
integrados verticalmente), como tambm esto se tornando crescentemente
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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internacionalizados, o que foi exemplificado anteriormente. Atualmente (2006),
o principal grupo alemo TUI possui aproximadamente 52 mil funcionrios,
3.700 agncias distribuidoras, 80 operadoras de turismo, que atendem a mais de
18 milhes de pessoas por ano, sete empresas areas com mais de 100 avies,
290 hotis com mais de 150 mil leitos (http://www.magazine-deutschland.de
acessado em 03/09/2006). O segundo grupo alemo Thomas Cook (ex-C&N)
emprega 26 mil funcionrios e possui 3.600 agncias distribuidoras (Capgemini
Consulting, 2005).
Por sua vez, o segmento de agncias da regio sia-Pacfico
extremamente fragmentado e pouco concentrado, com a exceo do segmento
de agncias japonesas, onde as 3 maiores operadoras detm 60% do mercado,
atendido por um total de 8 grandes empresas (WTO, 2002). Uma delas,
inclusive, constitui o terceiro maior grupo turstico do mundo: Japan Travel
Bureau (JTB).
Em suma, os movimentos de integrao e a formao de alianas
estratgicas (intra e inter-pases) intensificaram a concentrao no setor de
turismo em geral e no segmento de agncias em particular (mantendo-se o
predomnio quantitativo de pequenas e mdias empresas no segmento) nas
mos de grandes grupos integrados e internacionalizados, com participao
expressiva de grupos americanos, japoneses e europeus, especialmente alemes.
Portanto, a crescente integrao, internacionalizao e concentrao so
fenmenos que devem ser ressaltados no setor de turismo internacional, pois
afetam diretamente a estrutura do segmento de agncias, tanto dentro de cada
pas quando no plano mundial.
3.2) Difuso da Tecnologia da Informao (TI)
Outra tendncia observada no setor de turismo internacional a difuso
da Tecnologia da Informao (TI), inicialmente atravs do uso de sistemas de
O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
reserva computadorizados (CRS Computer Reservation Systems)4 e,
posteriormente, do uso de sistemas de distribuio globais (GDS - Global
Distribution System)5 pelos provedores de servios tursticos e pelas agncias e,
mais recentemente, a utilizao da internet por todos os nveis da cadeia do
turismo (incluindo os consumidores finais, tanto pessoas fsicas quanto
jurdicas), para obteno de informaes, realizao de reservas e
compras/vendas de servios tursticos variados (quadro 1).
O uso da internet intensificou o comrcio eletrnico (e-commerce) de
servios tursticos, tanto do tipo business-to-business (B2B) quanto do tipo
business-to-consumer (B2C), e est associado potencial difuso do comrcio
mvel (m-commerce), a partir da combinao da telefonia mvel com a
tecnologia WAP (wireless application protocol), que converte pginas da internet
para um formato que pode ser lido por aparelhos celulares, permitindo a
comercializao atravs da telecomunicao mvel (WTO, 2002: 5).
A difuso de tecnologias da informao pelos diversos nveis da cadeia
do turismo tem transformado o papel desempenhado pelos seus integrantes,
com destaque para as agncias e operadoras de turismo, certamente exigindo
mudanas em suas estratgias.
4 Na dcada de 1960, a American Airlines, com apoio da IBM, desenvolveu um sistema de informao e de reserva de passagens areas em computador, chamado de Sabre (Semi-Automatic Business Research Environment). Posteriormente, outras empresas areas passaram a desenvolver seus prprios sistemas de informao, conhecidos genericamente como CRS (Computer Reservation Systems). O CRS fundamentalmente uma base de dados dinmica que permite s empresas areas gerenciar, em tempo real, sua situao quanto a pedidos, reservas, disponibilidades, etc, e tornar acessvel essas informaes a seus parceiros distribuidores (agncias de viagens e operadoras) (NEIT/IE/UNICAMP, Nota Temtica Parcial Tecnologia da Informao Aplicada ao Turismo, junho de 2006). Este tipo de sistema foi instalado pela primeira vez numa agncia de viagens em meados dos anos 1970, iniciando a automao do processo de reservas de passagens areas das agncias. 5 Os CRS (restritos inicialmente s informaes sobre passagens areas) evoluram para os GDS (Global Distribution Systems). Os GDS incluem, em sua base de dados, informaes sobre outros servios tursticos, tais como acomodaes em hotis, aluguel de carros, emisso de bilhetes de nibus e trens, informaes sobre programas de entretenimento, emisso de entradas para shows, etc (NEIT/IE/UNICAMP, Nota Temtica Parcial Tecnologia da Informao Aplicada ao Turismo, junho de 2006). Atualmente, os mais importantes GDS so: Amadeus, Galileo, Sabre e Worlspan.
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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Cabe mencionar o processo de desintermediao, ou seja, o
enfraquecimento do papel de intermediao da negociao dos servios
tursticos ou do papel de distribuio/comercializao exclusiva dos servios
tursticos oferecidos pelos provedores atravs das agncias. Isto significa um
desafio ao papel de intermediao tradicional das agncias, que inclui tanto a
programao/organizao das viagens (busca de informaes, seleo de
provedores, realizao de reservas) quanto a efetiva comercializao
(compra/venda) dos servios tursticos separados ou em pacotes.
Esta intermediao tradicional das agncias tem sido muitas vezes
substituda pela internet, que permite o contato direto entre provedores de
servios tursticos (de transporte, de hospedagem) e consumidores, ou mesmo
entre as operadoras (que montam os pacotes com servios de vrios
provedores) e os consumidores. Do ponto de vista dos provedores (como
empresas areas) e das operadoras, eles passaram a contar com um canal de
distribuio alternativo de seus servios ou de seus prprios pacotes, vendidos
diretamente ao consumidor atravs da internet, evitando o pagamento de
comisses s agncias. Por outro lado, do ponto de vista dos consumidores, eles
podem buscar informaes, programar e organizar suas viagens, fazendo
reservas e comprando servios de provedores diversos ou de um nico
fornecedor de um pacote turstico utilizando a internet.
No entanto, o uso da internet no processo de intermediao apresenta
alguns problemas, especialmente enfrentados pelos consumidores, como as
dificuldades de acesso e de uso da internet para no-iniciados; o tempo gasto na
busca de informaes; a impessoalidade; a insegurana na realizao de
transaes financeiras e de transmisso de dados pessoais atravs da internet; a
desatualizao de informaes (de alguns sites); assim como a falta de
informao suficiente sobre produtos e servios negociados e sobre as formas
de pagamento (WTO, 2002: 4) ou a falta de garantia de resposta imediata (que
inclusive pode no ser enviada). Esses problemas associados ao uso da internet
contribuem para desestimular a substituio das agncias, ou seja, dificultam a
desintermediao.
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Ademais, o recurso agncia continua trazendo muitas vantagens tanto
para o consumidor por exemplo, a relao pessoal e a customizao dos
servios em termos de gosto e renda, alm de acesso a preos mais baixos de
pacotes por elas negociados quanto para o prprio provedor por exemplo, a
venda antecipada e garantida de grandes quantidades do produto fornecido,
seja nmero de quartos de um hotel ou de passagens (WTO, 1997: 99). O cliente
corporativo, por exemplo, continua privilegiando o contato com as agncias,
principalmente as grandes empresas, que preferem negociar os servios
tursticos, por exemplo, a compra de passagens areas, atravs de agncias de
turismo (Mason, 2002).
Em geral, as agncias ainda so preferidas na comercializao de alguns
servios tursticos, como transporte areo, cruzeiros martimos e hospedagem
internacional, o que se pode observar a partir dos resultados de uma pesquisa
realizada pela American Society of Travel Agents (ASTA), entidade que
regulamenta as agncias de viagens americanas (tabela 5). Segundo os dados
apresentados, a internet parece ter ainda um peso restrito na comercializao de
servios tursticos, com maior participao na venda de passagens areas. Cabe
destacar que, apesar dos dados refletirem a realidade americana, eles podem
certamente servir como um referencial mais geral para avaliar o peso das
agncias de diversos pases na comercializao de alguns servios tursticos,
especialmente considerando a importncia do mercado americano no setor de
turismo mundial.
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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Tabela 5 Canais de comercializao de servios tursticos no mercado norte-americano (1998)
(Em %) Canais de Comercializao Servios
Agncia de viagem
Internet Telefone Diretamente no local
Empresas areas 55 16 23 5 Hotis (nos EUA) 31 9 30 27 Hotis internacionais 55 11 13 16 Locao de automveis 23 3 40 35 Cruzeiros martimos 83 8 7 - Fonte: Tabela elaborada a partir de dados apresentados por Petrocchi e Bona (2003: 78) fonte original: 1998 ASTA Consumer Travel Purchase Report.
Por outro lado, o uso da tecnologia pelas prprias agncias (por exemplo,
atravs do uso de sistemas de distribuio global GDS ou do uso mais geral
da internet) permite o acesso a um amplo, detalhado e atualizado conjunto de
informaes sobre disponibilidade e preo dos servios tursticos. Isto contribui
para uma maior eficincia e rapidez do agenciamento e para a elevao das
vendas e dos lucros. Sendo assim, a tecnologia pode ser utilizada para
aprimorar o trabalho de intermediao tradicional das agncias, tornando-o
mais eficiente, rpido e seguro.
Ademais, a tecnologia pode ser fundamental para uma mudana de
estratgia das agncias no sentido da diferenciao dos servios por elas
oferecidos. Esta estratgia de diferenciao pode ser considerada o ponto de
partida de um processo de reintermediao, incluindo desde a agregao de
valor ao agenciamento at mesmo um amplo redirecionamento do papel de
intermediao das agncias de turismo. Este redirecionamento poderia ocorrer
atravs da incorporao ou do desenvolvimento de uma atividade de
consultoria (busca, seleo e fornecimento de informao ao cliente e ampliao
da customizao de servios) e/ou da especializao do agenciamento
(montagem e venda de pacotes tursticos para um determinado perfil de
consumidor, como aposentados, solteiros, religiosos, homens de negcio, gays,
ou grupos de turistas).
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Este tipo de reintermediao tende a substituir o comissionamento
recebido basicamente de provedores e de operadoras pela cobrana de taxas de
reintermediao, como honorrios pela consultoria prestada ao cliente,
valorizando a personalizao do servio, evitando a impessoalidade. Isto pode
certamente estimular uma crescente fidelizao (lealdade) dos clientes,
extremamente importante para o segmento das agncias de turismo (85% da
clientela das agncias varejistas so clientes habituais) (WTO, 1997: 105-106).
Por fim, vale lembrar que a reintermediao pode incluir igualmente o
surgimento de agncias exclusivamente eletrnicas (agncias virtuais), que
operam em tempo real no ambiente internet, freqentemente em parceria com
distintos sistemas de reserva (GDS), claramente um resultado do amplo
desenvolvimento e utilizao da tecnologia da informao no negcio turstico
(Tomelin, 2001). Neste caso, as agncias virtuais estariam substituindo as
agncias tradicionais no processo de intermediao.
Neste contexto, vale destacar que as transformaes no setor de turismo
internacional (integrao, alianas estratgicas e internacionalizao) podem ser
potencializadas com a difuso da tecnologia da informao. Ou porque a
desintermediao, provocada pelo crescente uso da tecnologia, pode favorecer
movimentos de integrao (fuses e aquisies) ou de formao de alianas
iniciados por agncias melhor posicionadas no mercado (ou que no tenham
sofrido os efeitos da desintermediao com a intensidade de seus concorrentes).
Ou porque a tecnologia tende a facilitar diretamente a integrao de empresas e
a formao de alianas estratgicas, especialmente no plano internacional.
Em suma, a difuso da TI na cadeia do turismo pode provocar um
processo de desintermediao, principalmente devido conexo direta que
permite entre provedores ou operadoras e consumidores. No entanto, este
processo parece se encontrar em estgio inicial, pois as agncias ainda exercem
um importante papel de intermediao tradicional, especialmente nas vendas
de passagens areas. Elas so inclusive preferidas pelo fundamental mercado
corporativo. Por sua vez, o processo de reintermediao tem certamente um
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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alcance limitado, pois pressupe uma estratgia de diferenciao atravs,
principalmente, do desenvolvimento da funo de consultoria e/ou de uma
maior especializao que, se agregam valor s atividades das agncias, no
proporcionam escala para a atividade de agenciamento. Sendo assim, a maioria
das agncias ainda depende de seu papel de intermediao tradicional, ou seja,
de negociao de servios tursticos em mercados mais amplos, mantendo o
comissionamento recebido de provedores, mas principalmente de operadoras,
como sua principal fonte de receita.
3.3) Transformaes no segmento de transporte areo
Algumas tendncias relacionadas especificamente ao segmento de
transporte areo mundial devem finalmente ser destacadas por seu importante
impacto sobre o segmento de agncias de turismo. Uma delas a
desregulamentao do segmento de transporte areo em vrios pases, que
reduziu a regulao sobre tarifas e sobre a entrada de novas empresas areas.
Outra a difuso de programas internos de reestruturao das empresas areas
com vistas reduo de custos e tarifas (quadro 1). Ambas tm provocado o
aumento da concorrncia efetiva e potencial no segmento de transporte areo,
assim como a realizao de acordos e parcerias entre as empresas integrantes,
com impactos significativos sobre os demais segmentos da cadeia do turismo,
em especial sobre o segmento de agncias.
A desregulamentao do transporte areo, principalmente nos EUA e na
Europa, incentivou a concorrncia entre empresas j atuantes no segmento
atravs das tarifas oferecidas aos consumidores, mas tambm viabilizou a
concorrncia de entrantes ao facilitar o surgimento e o rpido crescimento de
novas empresas areas com baixos custos e baixas tarifas (low-cost/low-fare
airlines). A realizao de alianas entre empresas areas tambm tem se tornado
comum para enfrentar esse novo cenrio competitivo.
As alianas geralmente significam acordos cooperativos entre duas ou
mais empresas, que podem variar segundo a natureza e o grau de envolvimento
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dos parceiros nos negcios um do outro. Por exemplo, compartilhamento de
rotas especficas ou alianas comerciais, como acordos de marketing conjunto,
planos de vo combinados, padronizao de servios e coordenao de
cronograma de vo e de transporte de bagagem, ou mesmo compartilhamento
de receitas e lucros e estabelecimento de acordos de preos. Isto acarreta o
oferecimento de uma maior variedade de destinos por uma empresa sem que
ela necessariamente execute o servio de transporte e a reduo de custos pelo
compartilhamento das instalaes de aeroportos, de equipamentos de
manuteno e de servios de alimentao. Parece claro que a realizao das
alianas no elimina a competio entre os participantes.
O aumento do nmero de alianas internacionais, ou at mesmo de
fuses e aquisies entre empresas de diferentes pases, dependendo da
imunidade antitruste concedida pelos governos s empresas areas, tm levado
a concorrncia para um outro patamar. Na realidade, a concorrncia no
segmento de transporte areo se verifica entre grupos de empresas areas no
plano internacional, com impactos importantes sobre a cadeia do turismo
mundial.
O resultado tem sido uma crescente guerra de tarifas entre as empresas
integrantes do segmento areo, com efeitos significativos sobre os preos das
passagens areas, sobre o papel desempenhado pelos canais de comercializao
(especialmente s agncias de turismo), assim como sobre o comissionamento
que as agncias recebem. Por um lado, a guerra de tarifas e a reduo dos
preos das passagens areas tm tornado os servios vendidos pelas agncias
mais baratos, podendo provocar elevao das vendas ao consumidor (somente
de passagens ou mesmo de pacotes tursticos, a maior fonte de receita das
agncias). Por outro lado, a queda dos preos de passagens areas tem reduzido
a vantagem da compra do bilhete includo em pacotes vendidos pelas agncias,
at mesmo incentivando o consumidor a comprar diretamente das empresas
areas (que tm desenvolvido canais de venda de passagens ou at mesmo de
seus prprios pacotes com ajuda da internet). Principalmente, a guerra de
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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tarifas tem reduzido o comissionamento das agncias na emisso de passagens
areas (Tomelin, 2001: 58).
Portanto, isto tenderia a contribuir para o estrangulamento de uma
importante fonte de receita das agncias e/ou para um processo de
desintermediao (no limite, substituio das agncias na comercializao), com
impactos graves sobre a estrutura do segmento analisado (reduo do nmero
de empresas atuantes nos mais diversos pases) (quadro 1).
Por sua vez, os programas internos de reestruturao das empresas
areas, que objetivam a reduo de custos e de tarifas neste novo ambiente
competitivo marcado pela desregulamentao, tm acentuado os efeitos acima
apontados (aumento da concorrncia e formao de alianas). Considerando
que o pagamento de comissionamento s agncias de turismo a quarta
despesa mais importante das empresas areas, depois dos recursos humanos,
do combustvel e das compras de aeronaves (WTO, 2002: 59), compreende-se o
esforo de eliminao (via venda direta) ou de reduo do comissionamento
como um elemento fundamental da reestruturao das empresas areas com
vistas queda dos custos operacionais.
Exemplificando a tendncia de reduo do comissionamento
apresentada pelo segmento de transporte areo mundial, destaca-se que a Air
Canada abaixou para 5% as comisses pagas s agncias de turismo que
comercializam suas passagens de vos domsticos. A Lufthansa, a British
Airways e a Swissair, e suas parceiras qualificadas por alianas, cortaram as
comisses de 9% para 7% no mercado francs. Em 1999, a United Airlines
reduziu as comisses de 8% para 5% nos mercados americano e canadense. Em
2001, a American Airlines anunciou uma reduo de 60% nas comisses pagas
s agncias de turismo que comercializam seus bilhetes areos (WTO, 2002: 60).
No Brasil, houve reduo recente (a partir de 2000) do comissionamento das
agncias na emisso de passagens areas. Em recente pesquisa realizada junto a
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algumas agncias do pas6, 84,6% delas reportaram reduo, a maioria reportou
receber entre 5 e 8% de comisso das empresas areas (54% das agncias se
encontravam nesta faixa de comissionamento no caso de passagens nacionais e
67,7% no caso de passagens internacionais).
Os efeitos sobre o segmento de agncias de turismo j podem ser
sentidos em alguns pases, como o enfraquecimento do papel tradicional das
agncias (intermediao) e a reduo de uma importante fonte de receita
(comissionamento das empresas areas). Isto pode acarretar at mesmo o
fechamento de agncias, afetando a estrutura do segmento no que se refere ao
nmero de empresas atuantes e ao grau de concentrao. Nos EUA, o nmero
de agncias atuantes era de 33 mil em 1994, passando para 26 mil em 2000
(dados da American Society of Travel Agents (ASTA), citados em WTO, 2002:
60). Apesar de ainda existir um grande nmero de empresas no segmento
americano, houve uma significativa reduo recente, que mostra uma tendncia
de encolhimento e de concentrao no segmento de agncias de turismo, com
inegvel contribuio das tendncias observadas no transporte areo mundial.
Resumindo, esta seo procurou destacar as transformaes recentes do
setor de turismo internacional (como integrao, alianas, internacionalizao,
difuso da tecnologia da informao, desregulamentao do setor de transporte
areo) com o intuito de mostrar seus impactos sobre o segmento de agncias de
turismo. Foram ressaltadas as principais mudanas provocadas em sua
estrutura e nas estratgias de suas principais empresas, com especial destaque
para os movimentos de concentrao, de desintermediao e de
reintermediao.
6 Esta pesquisa foi realizada no segundo semestre de 2006 no mbito do projeto O Turismo no Brasil: panorama geral, avaliao da competitividade e propostas de polticas pblicas, do qual faz parte esta nota tcnica setorial sobre agncias e operadoras de turismo. Com auxlio da Associao Brasileira de Agncias de Viagens (ABAV), foram enviados questionrios para diversas agncias, cujas respostas foram sistematizadas e utilizadas pela equipe de pesquisa nas notas temticas e tcnicas. A amostra da pesquisa foi formada por 98 empresas.
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O Turismo no Brasil: Panorama Geral, Avaliao da Competitividade e Propostas de Polticas Pblicas para o Setor Neit-IE-Unicamp
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Procurou-se esclarecer que o processo de reintermediao pode incluir a
agregao de valor ao agenciamento ou mesmo um redirecionamento do papel
de intermediao das agncias de turismo, com o desenvolvimento de funes
de consultoria ou da especializao da atividade para atender a um
determinado perfil de consumidor. Afirmou-se que a reintermediao tende a
compensar o enfraquecimento do papel de intermediao tradicional das
agncias e a reduo do comissionamento recebido de provedores (como
empresas areas) e das operadoras. Entretanto, buscou-se tratar o processo de
reintermediao com cautela, considerando que no apresenta escala para a
atividade de agenciamento. As agncias, portanto, ainda exercem
primordialmente seu papel de intermediao tradicional, ou seja, de negociao
de passagens e de pacotes tursticos para mercados mais amplos, considerando
o comissionamento pago por provedores e, principalmente, por operadoras,
como sua principal fonte de receita.
4) Importncia e grau de concentrao do segmento brasileiro de
agncias de turismo
Em primeiro lugar, esta seo dimensiona, em termos qualitativos e
quantitativos, a importncia do segmento de agncias e operadoras para o setor
de turismo brasileiro (item 4.1). Em segundo lugar, analisa o grau de
concentrao existente no segmento brasileiro (item 4.2). Por ltimo, apresenta
um estudo de caso sobre a maior operadora de turismo brasileira (CVC)
(item 4.3).
4.1) Participao e importncia para o setor de turismo brasileiro
Antes da anlise do grau de concentrao do segmento de agncias e
operadoras de turismo, seria interessante dimensionar sua importncia para o
setor de turismo brasileiro, tanto em termos quantitativos (relativos e absolutos)
quanto qualitativos (tendo em vista sua posio privilegiada e seu potencial
poder de comando sobre a cadeia de turismo).
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Analisando os dados do Cadastro Central de Empresas (CCE) do IBGE
(2003), pode-se observar que o segmento de agncias e operadoras de turismo
constitudo por um grande nmero de empresas. Em 1996, havia 12.262
empresas cadastradas neste segmento no Brasil, empregando 61.488 pessoas
(CCE, IBGE, 1996). O nmero de empresas cadastradas aumentou para 17.708
em 2003, passando a empregar 72.453 pessoas (tabela 6).
Tabela 6 Participao de dados selecionados das agncias e operadoras no setor de turismo e na economia brasileira (2003)
Dados selecionados
Agncias e
Operadoras
Setor de
Turismo Economia Brasileira
% das agncias
sobre turismo
% das agncias
sobre economia
% do turismo
sobre economia
No. de Empresas 17.708 598.424 5.185.573 2,9 0,3 11,5 Pessoal Ocupado 72.453 3.131.069 35.674.496 2,3 0,2 8,8 Salrios (R$ mil) 434.726 20.513.409 340.789.684 2,1 0,1 6,0 Nota: Pessoal ocupado em 31/12/2003. Fonte: CCE (IBGE) (2003).
Este nmero expressivo de agncias, no entanto, responde por cerca de
3% do total de empresas que atuam no setor de turismo e 0,3% do total de
empresas da economia brasileira. Quanto ao total de pessoal ocupado e de
salrios nas agncias e operadoras, observa-se que elas representam 0,2% do
total de pessoas ocupadas em toda a economia e 2,3%, aproximadamente, do
pessoal ocupado no setor turstico e 0,1% do total dos salrios pagos em toda a
economia e 2,1% dos salrios pagos no setor7.
Outra fonte de dados que pode ser utilizada para analisar o setor de
turismo e o segmento de agncias e operadoras a Pesquisa Anual de Servios
(PAS) do IBGE. Observando os dados mais recentes desta pesquisa (tabela 7),
constata-se a existncia de 11.362 empresas no Brasil, um nmero menor de
agncias quando comparado ao observado no CCE do IBGE no mesmo ano.
7 Os dados de participao do segmento de agncias no setor de turismo e na economia brasileira tm se mantido desde meados dos anos 1990, o que se pode observar a partir das informaes fornecidas pelo CCE para os anos 1996, 2000 e 2003. Apenas os dados referentes ao ano 2003 foram includos na tabela e citados no texto, j que no houve alterao significativa na ltima dcada.
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Tabela 7 Participao de dados selecionados das agncias e operadoras no setor de turismo (2003)
Dados selecionados
Agncias e
Operadoras
Setor de
Turismo
% das agncias no
setor Nmero de empresas 11.362 389.515 2,9 Pessoal ocupado 61.784 2.538.165 2,0 Gastos com pessoal (R$ mil) 691.975 28.163.175 2,5 Receita operacional lquida (R$ mil) 1.763.260 97.655.829 1,8 Valor adicionado (R$ mil) 1.092.041 47.413.488 2,3 Fonte: PAS (IBGE) (2003).
Os dados da PAS mostram no apenas o nmero de empresas do
segmento e o pessoal ocupado, mas tambm a receita operacional lquida das
empresas, bem como o valor por elas adicionado. Para o conjunto de empresas
pesquisado pela PAS, pode-se observar que o segmento emprega diretamente
mais de 61 mil pessoas e apresentando uma receita operacional lquida de
aproximadamente 1,76 bilhes de reais e um valor adicionado de 1,09 bilhes
de reais em 2003.
A participao do nmero de agncias e operadoras no total do setor de
turismo brasileiro se encontra em quase 3% (mesmo percentual calculado a
partir dos dados do CCE). A participao do pessoal ocupado no total de 2,0%
e o gasto com pessoal em torno de 2,5%. A receita operacional lquida
representa apenas 1,8% da receita total do setor e o valor adicionado 2,3% do
total no ano de 2003. Todos os percentuais calculados a partir da PAS se
aproximam daqueles calculados a partir de informaes do CCE, apresentadas
anteriormente, o que permite a utilizao de ambas as fontes de dados do IBGE
sem perda de preciso na informao.
Comparando os dados citados com a participao do valor adicionado
pelas agncias e operadoras no total do valor adicionado pelo setor de turismo
apresentado na Conta Satlite do Turismo (CST) da Embratur (1999), verifica-se
que o nvel desta participao ainda reduzido, apesar de ter apresentado um
pequeno aumento de 1,9% em 1999 (CST/Embratur) para 2,3% em 2003
(PAS/IBGE).
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Desta forma, observando os dados acima, o segmento de agncias e de
operadoras tem uma pequena participao relativa em termos de nmero de
empresas, pessoal ocupado, receita e valor adicionado no total do setor de
turismo brasileiro (variando em torno de 2 a 3%). No entanto, composto, em
termos absolutos, por um nmero grande de empresas, especialmente micro e
pequenas, que empregam em conjunto um nmero considervel de pessoas.
Os dados mencionados escondem uma caracterstica importante deste
segmento: a diviso entre agncias de viagens (principalmente as detalhistas) e
operadoras. Esta diviso, que aparece claramente na tipologia de agncias,
apresentada no incio deste trabalho, no captada pelas estatsticas e pelos
dados oficiais, pois os dados no so apresentados separadamente. Cabe
destacar, inclusive, que esta separao , por vezes, de difcil execuo, j que
muitas empresas exercem simultaneamente o papel tpico de agncias de
viagens (detalhistas) e de operadoras de turismo. Apesar da dificuldade da
diviso dos dados, sabe-se ainda que este nmero expressivo de empresas
existentes no segmento de agncias inclui um nmero significativamente maior
de micro e pequenas agncias de viagens (detalhistas) e um pequeno nmero de
grandes empresas maioristas e/ou operadoras, evidenciando uma grande
concentrao no segmento (questo analisada no prximo item 4.2).
Alm dos dados apresentados acima (IBGE), o Ministrio do Turismo,
atravs da Embratur, realiza um cadastramento das empresas que atuam no
setor turstico. O nmero de empresas cadastradas menor que o total de
empresas em atividade no pas, e menor que os apresentados tanto no CCE
quanto na PAS (IBGE). Os dados de empresas cadastradas na Embratur por
regio brasileira e sua evoluo so apresentados na tabela 8.
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Tabela 8 - Nmero de agncias cadastradas na Embratur (por regio brasileira)
(2000-2004)
Regio 2000 2001 2002 2003 2004 Var. %
(2004/2000) Norte 300 347 291 326 380 26,7 Nordeste 1065 1392 1117 1146 1346 26,4 Sudeste 4215 5020 3846 3766 3845 (8,8) Sul 1794 2331 2004 2003 2080 15,9 Centro-oeste 631 823 638 683 770 22,0 Total 8005 9903 7896 7924 8421 5,2 Fonte: Cadastro Embratur (Mtur) (2000-2004).
Os dados revelam que o nmero total de agncias tursticas cadastradas
na Embratur apresentou um aumento de 5,2% entre 2000 e 2004. O crescimento
das empresas cadastradas, no entanto, no foi uniforme em todo o perodo. Ao
contrrio, houve uma grande expanso no ano 2001 seguida por uma forte
retrao no ano 2002, a partir de quando o crescimento tornou-se constante. O
ano 2002 provavelmente apresentou os reflexos da crise que ocorreu no setor de
turismo com os atentados nos EUA em setembro de 2001.
O crescimento observado no perodo analisado (5,2%) tambm no foi
uniforme em todo o pas. Quando se analisa sua distribuio regional,
percebe-se que ocorreu um crescimento mais significativo de empresas
cadastradas nas regies norte e nordeste do pas, possivelmente ocasionado
pela expanso do nmero de pequenas agncias de turismo e de receptivas
locais, cadastradas no ano de 2004, em funo do crescimento da demanda
turstica ocorrida na regio neste perodo. Chama ateno a diminuio do
nmero de empresas cadastradas na regio sudeste, entre 2000 e 2004, nica
regio brasileira em que este fato ocorreu, e que pode estar relacionado a um
movimento de concentrao de mercado no sudeste, sede das maiores agncias
e operadoras de turismo.
Alm das agncias tradicionais, deve-se destacar a existncia de agncias
virtuais atuantes no mercado brasileiro, que seguem um novo conceito de
intermediao, utilizando os avanos da tecnologia. Algumas delas so:
Decolar.com (maior site de viagens da Amrica Latina pertencente ao grupo
Despegar.com, que mantm parceira com o GDS Amadeus); TurismoNet
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(hospedado no site uol.com.br e parceiro do GDS Galileo); Reserve.com.br
(criado por uma agncia brasileira em parceria com o GDS Sabre e a agncia
Travelocity); Viajo.com (utilizando o sistema de reserva internacional Galileo) e
a Bargain.com (que incorporou uma operadora brasileira, entrando no
segmento de turismo corporativo) (Tomelin, 2001: 95).
Outra informao que pode contribuir para o dimensionamento da
importncia do segmento de agncias na cadeia do turismo a evoluo da
participao percentual da forma de organizao de viagens (atravs ou no de
agncias) por parte de turistas brasileiros que se direcionam ao exterior
(turismo emissivo) (tabela 9).
Tabela 9 Turismo Emissivo: forma de organizao da viagem (1997, 1999, 2001-2003)
(Em %) Forma de organizao 1997 1999 2001 2002 2003 No organizada por agncia 52,8 62,1 66,7 62,9 64,7 Organizada por agncia 47,2 37,9 33,3 37,1 35,3 Fonte: Estudo da Demanda Turstica Internacional (diversos anos), Ministrio do Turismo.
No Brasil, os turistas que partem rumo ao exterior parecem estar
utilizando menos as agncias (35,3% em 2003) do que utilizavam no passado
(47,2% em 1997), o que pode significar uma reduo do papel das agncias
como organizadoras de viagens internacionais, talvez substitudas pelo prprio
turista que organiza sua viagem com o auxlio das vrias ferramentas
disponveis na internet (processo de desintermediao, ressaltado na seo 3).
Vale acrescentar que este turista geralmente mais diferenciado do que o
turista interno no sentido de ter acesso privilegiado internet e maior interesse
em uma participao mais direta na organizao de sua viagem. Ademais, o
papel da agncia no caso de viagens internacionais pode estar mudando no
sentido