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Mirra tinha um passado que preferia guardar para si. Carregar o estigma de ser uma Elementária do ar já era o bastante, não precisava de mais que aquilo. E nada tinha sido mais conveniente do que ser escolhida como uma das protetoras do século. Um novo século estava começando e com ele uma nova criança Kirineu nascia. Elas eram a maior preocupação das criaturas mágicas. Elas precisavam ser protegidas, mas apesar de toda a proteção que forneciam, as criaturas sentiam medo. Kirineus eram perigosos, não eram? Por que outro motivo seus protetores os abandonavam após os cem anos? Saiba mais em: http://maniacaporlivros.wordpress.com/
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Laury Alves
— Porque nem tudo que se ouve é a verdade
“Começou como um sentimento
Que cresceu e se tornou uma esperança
Que se transformou num pensamento silencioso
Que se transformou numa palavra silenciosa
E então essa palavra cresceu mais e mais alto
Até ser um grito de guerra”
—The Call, Regina Spektor
Prefácio
Aterrissei em solo humano e logo me coloquei de pé. Analisei minha nova
forma com curiosidade, essa sem duvida era uma espécie bonita, não ligaria de
permanecer nela pelos próximos cem anos. Estava em um local cercado por
construções extremamente parecidas, casas humanas que se diferenciavam apenas
pela cor. Eram impessoais e pareciam sem criatividade, ou aquilo era simplesmente
monótono em comparação com os locais onde já havia estado e tudo que eu havia
conhecido. Eu era uma Elementária, já havia estado em praticamente todos os lugares
e mundos.
Suspirei e segui para onde o chamado me guiava.
Em uma das construções a quase dois metros de distancia, uma humana estava
em trabalho de parto. Eu sabia que levaria menos de dez minutos para uma criança
chorona vir ao mundo e esse fato me intrigava, afinal, onde estavam as outras três
criaturas que deveriam me acompanhar na missão?
— Vocês são tão voláteis.
Segui a direção da voz e encarei uma forma humana que eu sabia não ser
humana.
— Por acaso se refere a mim? — perguntei com uma pitada de raiva na voz,
como aquela criatura ousava se referir a mim daquela forma?
— Não sou eu que causo um furacão por puro tédio. — respirei fundo, eu sabia
o que ela estava tentando fazer.
— Não tente mexer com a minha mente, estamos aqui por um único propósito.
E caso não saiba, esse furacão não foi minha responsabilidade. — há alguns séculos
por razão nenhuma, uma Elementária do ar causou um furacão que arrasou com todos
os mundos, fazendo com que todas as Elementárias desse elemento carregassem o
estigma de serem voláteis e a qualquer momento poderem causar uma catástrofe.
— Nossa missão ainda não começou. A criança ainda não nasceu. — um sorriso
presunçoso tomou conta daquela forma humana. Cimotos eram tão irritantes.
— Vocês mal se conheceram e já começaram a brigar? — a pergunta foi
seguida por uma risada divertida de uma criatura mágica que acabara de surgir. Será
que eu era a única ali que estava realmente preocupada com a missão?
Estava pronta para discutir, gritar, fazer o que fosse preciso para que eles
entendessem a importância daquilo, quando uma criatura imponente surgiu agachada
um pouco mais distante de nós. Deveria ser a quarta criatura. Torci internamente para
que ela fosse mais comprometida que os outros dois que estavam a minha frente.
A forma humana se levantou e veio em nossa direção em passos largos.
— Quanto tempo para o nascimento? — ele perguntou encarando a construção
e ignorando a discussão que acontecia ao seu redor.
— Três minutos. — respondi feliz por não ser a única ali que se importava com
a criança e tudo o que ela significava.
— O que pretendem fazer para pegá-la? — a criatura que acabara de chegar,
perguntou pela primeira vez olhando em nossa direção.
— Ainda não discutimos isso. — respondi me sentindo uma incompetente.
— E o que faziam antes que eu chegasse? — ele perguntou parecendo sem
paciência, e não fui capaz de responder, mas a Cimoto pareceu não ter dificuldade
nenhuma nisso.
— Eu estava conversando com nossa querida volátil, não que isso seja da sua
conta, afinal você não é nenhum líder aqui. — a voz da criatura que até agora eu tinha
como a mais irritante foi carregada de presunção, uma característica dada como forte
nos Cimotos.
— Você é o que? Uma criança? — a irritação na voz da ultima criatura parecia
torna-lo ainda maior — Parece ter lhe caído bem essa forma, pois parece agir
exatamente como seu corpo sugere, uma adolescente humana.
— Sou uma Cimoto de 500 anos e exijo respeito. — ela falou com rispidez, se
aproximando dele e tentando colocar seu rosto na mesma altura.
— Você não exige nada de mim. O fato de ser uma Cimoto me é indiferente. E
se quer algum respeito, deve agir de forma a merecê-lo. Você por acaso sabe o valor
da criança que está para nascer? — sua voz se elevou e fiquei com medo de
chamarmos a atenção de algum humano.
— É apenas uma Kirineu insignificante. Tão frágil que precisa da proteção de
quatro criaturas. — o responsável pela risada de pouco tempo atrás respondeu com
desdém.
— O Destino deve ter errado pela primeira vez ao escolher os protetores dessa
criança. E você, o que acha dessa missão? — a pergunta dele era feita a mim e por
mais que eu tivesse gostado de todas as suas atitudes até aquele momento, o olhar
duro que estava usando me irritava profundamente. Eu estava naquela missão com o
mesmo comprometimento que ele, que direito tinha de me repreender daquela forma
sem motivo?
Abri a boca para lhe responder da forma mais dura possível, mas não tive a
chance, pois o som do choro de uma criança recém nascida invadiu nossos ouvidos.
Quatro criaturas mágicas foram direto ao chão. A pressão que invadiu nossos corpos
foi tamanha que não conseguimos aguentar o peso e nossos joelhos cederam.
Durante os próximos cem anos nossas almas estariam marcadas, e abandonar
aquela missão, abandonar a criança era proibido. A deserção era paga com a própria
vida.