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O Segredo dos Kirineus

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Mirra tinha um passado que preferia guardar para si. Carregar o estigma de ser uma Elementária do ar já era o bastante, não precisava de mais que aquilo. E nada tinha sido mais conveniente do que ser escolhida como uma das protetoras do século. Um novo século estava começando e com ele uma nova criança Kirineu nascia. Elas eram a maior preocupação das criaturas mágicas. Elas precisavam ser protegidas, mas apesar de toda a proteção que forneciam, as criaturas sentiam medo. Kirineus eram perigosos, não eram? Por que outro motivo seus protetores os abandonavam após os cem anos? Saiba mais em: http://maniacaporlivros.wordpress.com/

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Page 1: O Segredo dos Kirineus

Laury Alves

Page 2: O Segredo dos Kirineus

— Porque nem tudo que se ouve é a verdade

Page 3: O Segredo dos Kirineus

“Começou como um sentimento

Que cresceu e se tornou uma esperança

Que se transformou num pensamento silencioso

Que se transformou numa palavra silenciosa

E então essa palavra cresceu mais e mais alto

Até ser um grito de guerra”

—The Call, Regina Spektor

Prefácio

Page 4: O Segredo dos Kirineus

Aterrissei em solo humano e logo me coloquei de pé. Analisei minha nova

forma com curiosidade, essa sem duvida era uma espécie bonita, não ligaria de

permanecer nela pelos próximos cem anos. Estava em um local cercado por

construções extremamente parecidas, casas humanas que se diferenciavam apenas

pela cor. Eram impessoais e pareciam sem criatividade, ou aquilo era simplesmente

monótono em comparação com os locais onde já havia estado e tudo que eu havia

conhecido. Eu era uma Elementária, já havia estado em praticamente todos os lugares

e mundos.

Suspirei e segui para onde o chamado me guiava.

Em uma das construções a quase dois metros de distancia, uma humana estava

em trabalho de parto. Eu sabia que levaria menos de dez minutos para uma criança

chorona vir ao mundo e esse fato me intrigava, afinal, onde estavam as outras três

criaturas que deveriam me acompanhar na missão?

— Vocês são tão voláteis.

Segui a direção da voz e encarei uma forma humana que eu sabia não ser

humana.

— Por acaso se refere a mim? — perguntei com uma pitada de raiva na voz,

como aquela criatura ousava se referir a mim daquela forma?

— Não sou eu que causo um furacão por puro tédio. — respirei fundo, eu sabia

o que ela estava tentando fazer.

— Não tente mexer com a minha mente, estamos aqui por um único propósito.

E caso não saiba, esse furacão não foi minha responsabilidade. — há alguns séculos

por razão nenhuma, uma Elementária do ar causou um furacão que arrasou com todos

os mundos, fazendo com que todas as Elementárias desse elemento carregassem o

estigma de serem voláteis e a qualquer momento poderem causar uma catástrofe.

— Nossa missão ainda não começou. A criança ainda não nasceu. — um sorriso

presunçoso tomou conta daquela forma humana. Cimotos eram tão irritantes.

— Vocês mal se conheceram e já começaram a brigar? — a pergunta foi

seguida por uma risada divertida de uma criatura mágica que acabara de surgir. Será

que eu era a única ali que estava realmente preocupada com a missão?

Estava pronta para discutir, gritar, fazer o que fosse preciso para que eles

entendessem a importância daquilo, quando uma criatura imponente surgiu agachada

Page 5: O Segredo dos Kirineus

um pouco mais distante de nós. Deveria ser a quarta criatura. Torci internamente para

que ela fosse mais comprometida que os outros dois que estavam a minha frente.

A forma humana se levantou e veio em nossa direção em passos largos.

— Quanto tempo para o nascimento? — ele perguntou encarando a construção

e ignorando a discussão que acontecia ao seu redor.

— Três minutos. — respondi feliz por não ser a única ali que se importava com

a criança e tudo o que ela significava.

— O que pretendem fazer para pegá-la? — a criatura que acabara de chegar,

perguntou pela primeira vez olhando em nossa direção.

— Ainda não discutimos isso. — respondi me sentindo uma incompetente.

— E o que faziam antes que eu chegasse? — ele perguntou parecendo sem

paciência, e não fui capaz de responder, mas a Cimoto pareceu não ter dificuldade

nenhuma nisso.

— Eu estava conversando com nossa querida volátil, não que isso seja da sua

conta, afinal você não é nenhum líder aqui. — a voz da criatura que até agora eu tinha

como a mais irritante foi carregada de presunção, uma característica dada como forte

nos Cimotos.

— Você é o que? Uma criança? — a irritação na voz da ultima criatura parecia

torna-lo ainda maior — Parece ter lhe caído bem essa forma, pois parece agir

exatamente como seu corpo sugere, uma adolescente humana.

— Sou uma Cimoto de 500 anos e exijo respeito. — ela falou com rispidez, se

aproximando dele e tentando colocar seu rosto na mesma altura.

— Você não exige nada de mim. O fato de ser uma Cimoto me é indiferente. E

se quer algum respeito, deve agir de forma a merecê-lo. Você por acaso sabe o valor

da criança que está para nascer? — sua voz se elevou e fiquei com medo de

chamarmos a atenção de algum humano.

— É apenas uma Kirineu insignificante. Tão frágil que precisa da proteção de

quatro criaturas. — o responsável pela risada de pouco tempo atrás respondeu com

desdém.

— O Destino deve ter errado pela primeira vez ao escolher os protetores dessa

criança. E você, o que acha dessa missão? — a pergunta dele era feita a mim e por

mais que eu tivesse gostado de todas as suas atitudes até aquele momento, o olhar

Page 6: O Segredo dos Kirineus

duro que estava usando me irritava profundamente. Eu estava naquela missão com o

mesmo comprometimento que ele, que direito tinha de me repreender daquela forma

sem motivo?

Abri a boca para lhe responder da forma mais dura possível, mas não tive a

chance, pois o som do choro de uma criança recém nascida invadiu nossos ouvidos.

Quatro criaturas mágicas foram direto ao chão. A pressão que invadiu nossos corpos

foi tamanha que não conseguimos aguentar o peso e nossos joelhos cederam.

Durante os próximos cem anos nossas almas estariam marcadas, e abandonar

aquela missão, abandonar a criança era proibido. A deserção era paga com a própria

vida.