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O Serviço Social em Defesa pelo Direito à
cidade: Limites e Possibilidades da
Intervenção Profissional
Tânia Maria Ramos de Godoi Diniz
Londrina, Agosto de 2011
O direito à cidade é um direito coletivo, isto
é, direito a tudo que a cidade oferece para
a reprodução da vida de todos e todas que
nela habitam (Carta Mundial pelo Direito à Cidade).
Trata-se do direito a um sistema de
proteção para viver dignamente,
construído a partir do reconhecimento da
vontade coletiva, da convivência dos
diferentes e do enfrentamento das lutas e
das contradições sociais que resultam em
solidariedade e urbanidade.
Princípios da Reforma Urbana:
Direito à cidade
Defesa da função social da propriedade e
da cidade
Gestão democrática das cidades
Análise a partir de três eixos :
Determinações econômicas e políticas
(final dos anos 1970 do século XX até o
início do século XXI)
Questão urbana
Serviço Social: limites e possibilidades
da intervenção profissional
1. Contexto econômico, político e sócio-
cultural:
Debates sobre as cidades desde a
primeira metade do século XIX
Lutas operárias na segunda metade do
século XIX
Pós segunda guerra mundial: capitalismo
central x periferia do capital
Ofensiva do capital: crise da década de
1970
Dados nos revelam a coexistência planetária de uma
polaridade: riqueza e pauperismo.
25% dos adultos que habitam a terra detém 50% de
toda a riqueza ao passo que cabe aos 50% de adultos
mais pobres somente 15% dela.
O número de pessoas em todo o mundo vivendo
com menos de US$ 1 por dia cresceu 20% no período
compreendido entre 1995 e 2000, elevando-se de 1
bilhão para 1,2 bilhão, embora toda a população
mundial tenha aumentado apenas 6,9% (Vieira,
2004).
É importante ressaltar que não há uma polaridade
entre mundo rico e mundo pobre.
Contexto brasileiro:
As elites brasileiras fazem concessões
mas não viabilizam direitos.
Direito à cidade e estratégias de lutas e
reivindicações: participação política das
classes populares (governo Vargas,
governo JK, regime militar, década de
1970, anos 1980, anos 1990, atualidade).
2. Sobre a questão urbana:
O crescimento populacional do mundo
durante os próximos 30 anos estará
concentrado nas cidades.
Segundo as previsões, em 2050 a taxa de
urbanização no mundo chegará a 65%.
Quem são os moradores de áreas precárias
no mundo?
921 milhões em 2001, 1 bilhão em 2005 que
correspondem a 6% da população urbana dos
países desenvolvidos e 78,2 dos habitantes
urbanos dos países menos desenvolvidos (Davis,
2006).
É a expressão de uma espoliação e
vulnerabilidade socioeconômica e civil (Kowarick,
2009), dados os efeitos perversos do redesenho
do Estado e das macro políticas econômicas,
respondendo às demandas da ideologia
neoliberal.
O processo de urbanização no Brasil recria
o atraso através de novas formas:
O Brasil apresenta um crescimento das cidades (190 milhões de
habitantes, 80% nas áreas urbanas, 40% nas áreas
metropolitanas) e aumento das cidades de porte médio.
O país tem ainda uma forte herança resultante do intenso
processo de urbanização entre os anos 1940 (população urbana
era de 23,3% do total) e 2000 (população urbana é de 81,2% do
total), que gerou um enorme déficit habitacional urbano e rural,
estimado em 7,9 milhões de unidades habitacionais e um
número muito significativo de assentamentos precários, onde se
alojam cerca de 3,2 milhões de famílias.
No Brasil, 34,5 milhões de pessoas não são atendidas pelas
redes de esgotos nas cidades. Somando-se a estes os domicílios
que contam apenas com fossa séptica, teremos 50% do total da
população brasileira. Além disso, 80% do esgoto coletado não
são tratados, sendo despejado nos cursos de água
Perfil da sociedade brasileira:
concentração da terra, renda e riqueza
Ao final da primeira década do século XXI são 1,87
milhões de pessoas (1 %) que detém 13% da renda do
trabalho; por outro lado, são 18,7 milhões de
trabalhadores e trabalhadoras (10% mais pobres) que
ficam com apenas 1,1% da renda do trabalho e os 10%
mais ricos concentram 44,7% da renda do trabalho.
E mais ainda, com relação às propriedades rurais, no
Brasil, são 2.214.983 minifúndios (até 1 módulo fiscal)
que dispõem de 7,5% da área rural, enquanto apenas
104.744 grandes propriedades (de 15 a 600 módulos
fiscais) concentram 58,1%.
Brasil: População segundo as divisões territoriais - 1991, 2000 e 2010
Brasil, metrópoles e
demais municípios
1991 2000 2010
Belém 1.401.306 1.795.536 2.040.843
Belo Horizonte 3.522.908 4.357.942 4.882.977
Campinas 1.866.022 2.338.148 2.798.477
Curitiba 2.101.680 2.768.394 3.168.980
Florianópolis 530.619 709.407 877.706
Fortaleza 2.401.539 2.984.689 3.525.564
Goiânia 1.259.545 1.672.589 2.091.335
Grande Vitória 1.136.841 1.438.596 1.685.384
Manaus 1.134.988 1.572.137 2.021.722
Porto Alegre 3.230.732 3.718.778 3.960.068
Recife 2.919.980 3.337.565 3.688.428
RIDE DF 2.161.708 2.958.196 3.716.996
Rio de Janeiro 9.637.049 10.710.515 11.602.070
Salvador 2.435.810 2.940.122 3.353.704
São Paulo 15.444.942 17.878.703 19.672.582
15 Metrópoles 51.185.669 61.181.317 69.086.836
Demais municípios 95.630.146 108.617.853 121.645.858
Brasil 146.815.815 169.799.170 190.732.694
Fonte: IBGE: Censos de 1991, 2000 e 2010
É fundamental entender o pacto federativo
no Brasil: 5574 municípios
Atualmente, 60% da população urbana vive em 224
municípios com mais de 100 mil habitantes, dos quais,
94 pertencem a aglomerados urbanos e regiões
metropolitanas com mais de um milhão de habitantes,
a maior parte deles localizados nas regiões sul e
sudeste do país.
Ainda, apenas 5 (cinco) municípios concentram 25%
do PIB brasileiro e 50 municípios concentram 50% do
PIB brasileiro (Le Monde Diplomatique Brasil, ano 3,
no. 32, março 2010).
Distribuição dos municípios e da população
brasileira segundo faixas populacionais - 2010
Faixas
Populacionais
No. de
Municípios
2010
% População
2010
%
Até 50.000 habitantes 4958 89,1 64.063.131 33,6
De 50.001 a 500.000
habitantes
569 10,2 70.831.087 37,1
Mais de 500.000
habitantes
38 0,7 55.838.476 29,3
Total 5565 100,0 190.732.694 100,0
Analisar a distribuição populacional com
base na complexidade da rede urbana
brasileira é fundamental para a elaboração de
políticas sociais e econômicas no país,
principalmente pensadas numa perspectiva
regional.
As políticas de saúde, transporte
(mobilidade), saneamento, dentre outras,
requerem articulações entre os entes
federativos inseridos nas metrópoles, pois
qualquer ação isolada de um desses entes
federados, principalmente, os municípios,
poderá haver conseqüências indesejadas
para todo o território metropolitano.
3. Desafios para o Serviço Social:
O direito à cidade na perspectiva da
emancipação.
Demandas postas aos assistentes sociais na
atualidade:
práticas de pesquisa e classificação para a
gestão da pobreza
precarização das condições de trabalho
condições materiais e organizacionais do
seu trabalho
processo de gestão do trabalho social
Perspectivas teóricas
Uma que compreende a ação profissional a
partir de uma perspectiva de totalidade.
Outra que compreende a ação profissional
como um campo de fragmentos, restrita às
demandas do mercado de trabalho.
O fortalecimento de uma ou outra tendência
depende, dentre outros fatores, das opções
teórico-metodológicas e ético-políticas da
profissão no limiar do século XXI.
Desafios contemporâneos para o exercício da
profissão respondem, fundamentalmente, por
três dimensões:
Consistente conhecimento teórico-
metodológico
Realização dos compromissos ético-
políticos estabelecidos pelo Código de
Ética Profissional dos Assistentes
Sociais
Capacitação técnico-operacional
O que possibilita aos assistentes sociais:
Atuar na perspectiva da totalidade
Participar na luta pela ampliação dos espaços
democráticos de decisão
Atuar na perspectiva da distribuição
democrática das possibilidades de conquista do
poder
Buscar mecanismos para exigir e consolidar os
direitos
Reafirmar permanente, contínua e
cotidianamente os valores e princípios do nosso
projeto ético-político profissional.
Marco legal
Art, 182 e 183
Estatuto da Cidade
Lei 11.124, de 16 de junho de 2005
Lei 11.888, de 24 de dezembro de 2008
Lei 11.977 de 7 de julho de 2009
Instrução Normativa no. 8, de 26 de
março de 2009
Habitação
Habitação é uma questão de política de Estado
Luta pela aprovação da PEC Moradia
Importância do financiamento de longo prazo para a população de baixa renda
Aprimorar Resolução sobre mediação de conflitos
Lutar pela implantação do SNH, os planos e políticas devem se tornar leis
Retomar a proposta do Planhab
Saneamento
Lutar pela aprovação do Plansab
Universalização do acesso
Articulação com as políticas de desenvolvimento urbano e regional
Abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente
Saneamento básico é determinante na qualidade da moradia
Transporte e Mobilidade
Urbana
Inverter a lógica do transporte como
mercadoria para serviço público essencial
Assumir o espaço da rua como espaço de
mobilidade
Lutar pela aprovação do marco regulatório
da política de transporte urbano
Gestão democrática do solo
urbano
Lutar pela elaboração e implementação da
PNDU
Não há estruturas necessárias para o trato
da questão fundiária na exigência do
cumprimento da função social da
propriedade
Pouca efetividade dos instrumentos
urbanísticos e fundiários:planos diretores
democráticos
MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE, Mato Grosso do Sul Conjuntos Habitacionais Periféricos com tipologia horizontal
CONJUNTO VIDA NOVA I
Densidade: 92 hab/ha – 18,40 unidades/ha
Unidades – 250 Casas
Área total Conjunto – 13,58 ha
PRODUÇÃO PÚBLICA RECENTE DE HIS: REPETIÇÃO DE VELHOS MODELOS
Expansão das fronteiras urbanas / baixas densidades
Referências Bibliográficas
• ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. Ensaio sobre a afirmação e a negação do
trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 1999
• BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação social no Brasil. 3ª. Edição. São Paulo: Estação
Liberdade: FAPESP, 1998
• BRESCIANI, Maria Stella M. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. 8ª.
edição. São Paulo: Brasiliense, 1994
• DAVIS, Mike. Planeta Favela. Tradução Beatriz Medina. São Paulo: Boitempo, 2006
• HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. Tradução Carlos Szlak. 1ª. edição. São
Paulo: Annablume, 2005
• IASI, Mauro. As metamorfoses da consciência de classe. O PT entre a negação e o
consentimento. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2006
• LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. Tradução de Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Editora
Moraes, 1991
• MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. 2ª. edição. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2001
• MUMFORD, Lewis. A cidade na história suas origens, transformações e perspectivas.
Tradução Neil R. da Silva, São Paulo: Martins Fontes, 2004
• VIEIRA, Evaldo Amaro. Os direitos e a política social. São Paulo: Cortez, 2004
• WACQUANT. Loic. Punir os pobres. A nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Tradução
de Sérgio Lamarão. Rio de Janeiro: Revan, 2003